Cultivar 50

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12

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 7º andar Pelotas – RS 96015 – 300

Menos espaço

www.grupocultivar.com

Redução do espaçamento entre linhas constitui-se em eficiente método de controle de invasoras

Diretor-Presidente Newton Peter Diretora Administrativa Cely Maria Krolow Peter Diretor Financeiro e de Redação Schubert K. Peter Secretária Geral Simone Lopes

Soja transgênica

Cultivar Grandes Culturas Ano V - Nº 50 Maio / 2003 ISSN - 1518-3157 www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 86,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 12,00

17

Será que vale mesmo a pena cultivar a soja geneticamente modificada?

Assinatura Internacional: US$ 52,00 48,00 • Editor:

25

Charles Ricardo Echer • Redação

Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo

Danos ao trigo Brusone causa sérios prejuízos à triticultura. Porém, várias medidas podem ser adotadas para evitá-los

• Revisão

Carolina Fassbender • Design Gráfico e Diagramação

Fabiane Rittmann _____________

• Gerente Comercial

Neri Ferreira

• Assistente de Vendas

Pedro Batistin

Avaliação de herbicida

_____________

• Gerente de Circulação

Mari Holz

27

• Assinaturas

Especialista avalia a eficácia do produto para controlar plantas daninhas

Luceni Hellebrandt • Assistente de Promoções

Pedro Largacha

• Assistente de Vendas

Jociane Bitencourt Fabiana Maciel • Expedição

Edson Krause • Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL / ASSINATURAS:

3028.4008 • REDAÇÃO:

3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:

3028.4004 • FAX:

3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

índice

Nossa capa

Diretas

04

Basf - Fipronil

06

Coluna da Aenda

08

Sinon do Brasil

10

Soja - Espaçamento reduzido

12

Soja - Redução de perdas

14

Soja - Aspectos econômicos da transgenia 17 Trigo - Mudanças na adubação

24

Trigo - Controle de Brusone

25

Trigo - Eficácia de herbicida

27

Informe técnico - Cooplantio

30

Agronegócios

32

Mercado agrícola

34

Foto Capa / Dirceu Gassen Vagem de soja seccionada


diretas Isonomia fiscal

Pulgão no milho

As indústrias nacionais de fertilizantes estão pressionando o governo federal para obter isonomia fiscal em relação ao produto importado. Segundo Carlos Alberto Pereira da Silva, diretor da Associação Nacional Para Difusão de Adubos (Anda), o adubo importado, que atende por 55% do consumo nacional, está isento de ICMS nas operações interestaduais. ”Considerando-se ICMS, PIS e Cofins, a desvantagem é da ordem de 15%”, calcula. Em 2002, as importações foram de 10,5 milhões de toneladas, enquanto a produção nacional foi de 8,25 milhões. “Investimos US$ 300 milhões nos últimos 4 anos na produção e temos capacidade instalada para aumentar nossa participação”, diz.

Trigo no RS

Sandra Pires

A Embrapa Trigo lançou cinco novas cultivares de trigo durante a 35ª Reunião da Comissão Sul-brasileira de Pesquisa de Trigo, em

Passo Fundo. As novas variedades são BRS Louro, BRS Umbu, BRS Camboatá, BRS Buriti e BRS Guabiju, indicadas para cultivo no Rio

Grande do Sul. As variedades foram desenvolvidas em parceria com a Fundação Pró-Sementes de Apoio à Pesquisa.

Comunicação Sandra Pires é a responsável da Syngenta pela área de Comunicação, Propaganda e Promoção. Uma das novidades propostas por Sandra para 2003 é o CNT – Circuito Nacional de Tecnologia -, um novo modelo de dia de campo que procura dar tratamento personalizado aos produtores.

Contratação Basf Depois de haver trabalho na Aventis e na Bayer CropScience, o engenheiro agrônomo Jefferson Bressan agora está na Basf. Jefferson começa a trilhar nova carreira à frente da molécula Fipronil - recémadquirida pela empresa - para a região Sul. As expectativas são as melhores, porque essa molécula é a líder no mercado de inseticidas.

Dario Hiromoto

Resistente à ferrugem Depois de contabilizar um prejuízo de cerca de 1 milhão de toneladas, ou US$ 200 milhões, na presente safra de soja, a Fundação Mato Grosso anunciou que parte dos cultivares disponíveis para a safra 2003/04 estará imune à ferrugem asiática. De acordo com Dario Hiromoto, diretor de pesquisas da entidade, a comercialização será realizada de forma experimental e em três anos os novos cultivares estarão atendendo aos produtores estaduais.

04

Cultivar

O entomologista Rodolfo Bianco (IAPAR) alerta os produtores de milho da região de Doutor Camargo, a 100 quilômetros de Campo Mourão, para a maior incidência nesta época do ano do pulgão do milho – Rhopalosiphum maidis. Bianco visitou alguns agricultores e afirmou que a praga está se reproduzindo em larga escala. “Mas ainda é cedo para alarde, pois temos que aguardar a floração do milho”, explica.

Milho Safrinha De 05 a 08 de maio acontece o 7º Seminário Nacional de Milho Safrinha. O evento, promovido pela Associação Brasileira de Milho e Sorgo em parceria com diversas empresas e instituições de pesquisa, reuniu alguns dos maiores pesquisadores da área e contou com palestras que abordaram temas de grande relevância à agricultura nacional.

Bayer: nova presidência A Bayer CropScience Brasil e Cone Sul tem novo presidente. Marc Reichardt, espanhol, assumiu a posição no início de abril. Antes de iniciar seu trabalho no Brasil, Marc era diretor da Bayer CropScience Argentina, Presidente da Câmara de Comércio Argentina de Agroquímicos e Fertilizantes e da Federação de Câmaras de Tecnologia Agropecuária da Argentina. Marc Reichardt

Basf América Latina O alemão Markus Heldt assumiu a vice-presidência da unidade Agro da BASF para a América Latina em janeiro de 2003. A carreira profissional de Markus iniciou-se na área comercial da empresa Boehringer Ingelheim, na Alemanha, em 1978. Heldt passou por outras empresas em diversos países, entre elas a Cyanamid, na Alemanha. Atuou como diretor da Unidade Agro da BASF AG para Alemanha, Áustria, Suíça e região de Benelux (Holanda, Bélgica e Luxemburgo). Agora, faz parte do Comitê Executivo da empresa para a América do Sul. Markus Heldt (esq.)

Trigo no Centro-Oeste A Embrapa Agropecuária Oeste indicou três novas variedades de trigo (BRS 193, BRS 208 e BRS 210) para o cultivo no sul de Mato Grosso do Sul em 2003. Segundo Paulo Gervini Sousa, pesquisador da Embrapa na área de Melhoramento de Trigo, essas cultivares foram desenvolvidas pela Embrapa Soja e Embrapa Trigo. No entanto, através de pesquisas locais tiveram a sua indicação aprovada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a partir deste ano.

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Encontro Técnico A Bayer Cropscience, em parceria com a Coodetec, realizou o 5º Encontro Técnico, em Cascavel (PR). O evento teve por objetivo informar e atualizar os profissionais que trabalham com o trigo sobre questões relevantes relacionadas à cultura. Ao todo, 320 profissionais participaram do Encontro. Segundo o gerente técnico Cooplantio, Dirceu Gassen, o Brasil está passando pelo melhor período para o cultivo do trigo. “A importação no momento é inviável pela alta do dólar, o estoque nacional está reduzido. Além disso, houve aumento no preço do trigo, o que está animando os produtores. Só no Paraná acontecerá um aumento na área de plantio em 13%”, conta.

Maio de 2003



Produtos

Basf amplia negócios Empresa adquiriu a molécula de inseticida líder de mercado, sucesso em 70 países, e se prepara para assumir a dianteira na venda de defensivos agrícolas no Brasil; novos produtos vêm aí

D

e olho na liderança de mercado, a Basf ampliou o seu portifólio para o segmento agrícola com a aquisição de um pacote de defensivos da Bayer CropScience, no valor de 1,33 bilhões de Euro. A compra incluiu o inseticida líder de mercado Fipronil, além de fungicidas exclusivos para o tratamento de sementes. Com essa aquisição, a empresa passou a comercializar com exclusividade o ingrediente ativo Fipronil, inseticida da categoria fenil-pirazol, já comercializado em 70 países. Entre as marcas comerciais do produto já conhecidas, estão o Regent 800WG, Regent 20 G, Standak, Klap e o Blitz, todos para aplicação agrícola, indicados para os cultivos de cana-de-açúcar, arroz, milho, soja, algodão, batata e reflorestamento. Também incluídos na compra estão os fungicidas para o tratamento de sementes Triticonazole Iprodione, Prochloraz, Pyrimethanil e o Fluquinconazole. Segundo o diretor de Negócios da Divisão Agro no Brasil, Maurício Marques, a produção da molécula Fipronil continuará sendo feita na fábrica que a Basf adquiriu em Elbeuf, na França, e a formulação , no Brasil, continuará na fábrica da Bayer, em Portão, no Rio Grande do Sul. Ao comentar a aquisição, Marques destaca que a empresa está “pronta para assumir a liderança de defensivos agrícolas no Brasil, que responde por 65% do mercado consumidor na América Latina”. “Estamos caminhando para oferecer ao produtor um portifólio cada vez mais completo e ainda em 2003 teremos o lançamento de sete novos produtos: seis para o segmento de hortaliças e frutas e um herbicida . para arroz”, afirma. CR 06

Cultivar

INSTRUÇÕES DE USO PARA STANDAK CULTURA

PRAGA Nome Comum Nome Científico

DOSE ml p.c. /100 kg de sementes

DOSE g.i.a. / 100 kg de sementes

ARROZ

Bicheira-de-raíz do Arroz Oryzophagus oryzae

250

62,5

CEVADA

Coró Diloboderus abderus

100 – 150(*)

25,0 – 37,5

FEIJÃO

Tamanduá da Soja Sternechus subsignatus

200

50,0

Vaquinha – Patriota Diabrotica speciosa

200

50,0

PASTAGEM

Cupins (Cornitermes cumulans) Saúva parda (Atta capiguara)

20 – 40 ml/ha(**)

5,0 – 10,0 g/ha

SOJA

Tamanduá da Soja Sternechus subsignatus Vaquinha verde-amarela (Diabrotica speciosa) Lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus) Piolho de cobra (Porcellio laevis) Coró (Phyllophaga cuyabana) Torrãozinho (Aracanthus mourei)

200

50,0

200

50,0

200

50,0

80

20,0

100

25,0

100

25,0

Coró Diloboderus abderus

100 – 150(*)

25,0 – 37,5

TRIGO

(*) Utilizar a dose maior em condições de alta ocorrência da praga na área (**) Distribuir o produto na quantidade de sementes a ser utilizada para semear 1 (hum) hectare p.c. = produto comercial i.a. = ingrediente ativo

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Maio de 2003


Indicações para uso em tratamento de sementes

O

sucesso das grandes colheitas sem dúvida nenhuma começa com um bom preparo de solo e a utilização de sementes de boa qualidade na implantação de uma lavoura. Porém, com o passar dos anos, as grandes culturas têm sido duramente atacadas pelas pragas de início de ciclo, que quando não levam à necessidade do replantio, contribuem para perdas de rendimento que podem variar de acordo com a intensidade do ataque na área. As culturas de soja, arroz, milho, trigo, cevada, pastagem etc. sofrem com a ocorrência das pragas de início de ciclo como o tamanduá da soja (Sternechus subsignatus); a bicheira do arroz (Oryzophagus oryzae); a lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus); os corós (Phyllophaga cuyabana e Diloboderus abderus); o piolho de cobra (Diplópodes); cupins e formigas cortadeiras em geral. Segundo a Emater-RS, para o Rio Grande do Sul no ano de 2001 foram priorizadas cerca de 20 espécies de pragas de solo naquele Estado, estando entre elas os corós, a bicheira da raiz do arroz, a lagarta elasmo, cupins, tatuzinhos, lagarta rosca, larva alfinete etc. A cultura da soja, por exemplo, é danificada por um grande número de pragas de início de ciclo, porém a praga que vem se tornando importante devido à expansão da área de cultivo e das mudanças no sistema de cultivo é o “tamanduá da soja” (Sternechus subsignatus), que ataca preferencialmente as culturas da soja e do feijão e vem ocorrendo em maior intensidade nos Estados da Região Sul do país, Mato Grosso do Sul e Bahia. Sabe-se que se o ataque desta praga ocorrer no início do estádio vegetativo, o dano é irreversível, ocorrendo a morte das plantas, o que pode acarretar em perda total da área infestada. Quando o ataque ocorre tardiamente, com as plantas em desenvolvimento, a postura pode ser feita na haste principal, com conseqüente desenvolvimento das galhas, deixando as plantas vulneráveis à ocorrência de ventos e/ou chuvas, tornando-as quebradiças, ou ainda interrompendo o fluxo de seiva resultando, conseqüentemente, na redução de rendimento. De um modo geral, todas as plantas cultivadas sofrem com o ataque de pragas de Maio de 2003

solo, que na maioria das vezes passam despercebidas pelos agricultores devido a seu hábito de vida. Na proteção inicial da plantas, contra uma ampla gama de pragas mastigadoras, a BASF S/A adquiriu recentemente o produto STANDAK, um novo inseticida do grupo dos fenil pirazois registrado para o tratamento de sementes, que atua de forma única sobre os insetos, interferindo no sistema nervoso central dos mesmos. Interrompe o fluxo de íons cloro através da membrana das células nervosas, levando os insetos à morte prematura. O uso do produto em tratamento de sementes é amplamente favorável à preservação dos inimigos naturais das pragas, além de ser seguro para o meio ambiente. STANDAK possui baixa solubilidade em água e é ca-

racterizado como praticamente imóvel no solo, o que confere ao produto segurança quanto à lixiviação para o lençol freático. Das vantagens do uso do produto em tratamento de sementes, sem dúvida, a alta eficiência sobre os insetos pragas das plantas cultivadas é seu diferencial quando comparado aos concorrentes. STANDAK www.cultivar.inf.br

permite a implantação de sua lavoura com “stand” adequado para cada cultura, conferindo maior retorno pelo investimento realizado.

FICHA TÉCNICA Nome Comercial: STANDAK Nome Técnico: Fipronil Nome Químico: (+-)-5-amino-1-(2,6diclhoro-a,a,a-trifluoro-p-tolyl)-4-trifluoromethylsulfinyl-pyrazole-3-carbonitrile Formulação: Suspensão Concentrada para Tratamento de Sementes Concentração: 250 gramas de fipronil por litro de produto formulado Classe: Inseticida de Contato e Ingestão Classe Toxicológia: IV

INFORMAÇÕES ÚTEIS • Caso seja necessário, produtos específicos deverão ser utilizados para complementação ao controle durante o ciclo da cultura, se a infestação da praga permanecer por um período muito longo; • Não recomendamos o tratamento das sementes diretamente na caixa da semeadora, devido à baixa eficiência, resultando em pouca aderência e cobertura desuniforme das sementes; • STANDAK é compatível com fungicidas usualmente utilizados para tratamento de sementes; • STANDAK nas doses registradas e da forma que é recomendado se mostrou muito seletivo contra a maioria dos insetos benéficos das plantas cultivadas; • Não é recomendada a mistura de STANDAK com produtos de reação fortemente alcalina; • Proceda a regulagem das semeadoras com as sementes já tratadas, pois poderá haver alteração na fluidez das mesmas. Para as culturas de soja e feijão, utilizar no máximo 600 ml da calda inseticida para 100 kg de sementes, pois poderá haver absorção de excesso de umidade pelo tegumento, o que poderá alterar a qualidade das mesmas quanto à flui. dez, germinação e vigor vegetativo. Sérgio Zambon, BASF S.A Cultivar

07


AENDA

Defensivos Genéricos

Burocracia sufoca agroquímicos A desorganização dos órgãos públicos responsáveis pela regulamentação do setor de agroquímicos gera custos e incertezas a esse segmento

O

setor de produção e distribuição de defensivos agrícolas representa essencial atividade para o sucesso do agronegócio brasileiro. Os avanços ocorridos na oferta de agroquímicos mais eficazes do ponto de vista agronômico, ambiental e toxicológico contribuíram para a consolidação da agricultura nacional e o aumento das exportações de produtos in natura e processados. As unidades industriais instaladas no país seguem em geral rigorosos padrões de segurança, adequação ambiental e boa prática de fabricação. No tocante ao mercado, observa-se uma concorrência que tem produzido importantes ganhos de competitividade aos produtores agrícolas, que direcionam de 10 a 40% dos seus custos de produção para a preservação das colheitas. Apesar do alto custo de comercialização que incorrem as empresas de defensivos, forçadas a vender a prazos de safra para preencher a importante lacuna do crédito agrícola, o custo da cesta média de produtos utilizados em cada cultura foi mantido estável nos últimos anos, graças à presença ainda significativa dos produtos ditos genéricos. Manter-se nesse setor com um negócio saudável do ponto de vista econômico-financeiro não tem sido uma tarefa fácil. Não é suficiente analisar os efeitos provenientes dos chamados custos sistêmicos presentes num país que ainda enfrenta severas restrições nas contas públicas, problemas na área monetária e desequilíbrios externos. O segmento do agroquímico enfrenta também, e esse tem

sido importante fator gerador de custos e incertezas, a desorganização dos órgãos públicos responsáveis pela regulamentação do setor. Na esfera federal, o setor depende para o registro de um produto da avaliação e aprovação de três entidades, do MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, da ANVISA e do IBAMA. Qualquer procedimento, uma exportação, uma importação, uma alteração de fornecedor, uma inclusão de nova cultura em rótulo e bula, um projeto de pesquisa, tem que ser submetido aos três organismos. Por sua vez, em geral, as estruturas existentes nessas unidades são precárias tanto do ponto de vista numérico quanto na sua capacitação para acompanhar a própria legislação que impõe ao setor. Normalmente, a primeira conseqüência desse desaparelhamento é a imprevisibilidade nos prazos e a ocorrência de um número expressivo de procedimentos desnecessários na fase de análise dos pedidos de registro. Uma empresa que tenha uma programação que dependa do registro de um produto, submetido à aprovação das instâncias governamentais, não tem nenhuma segurança de quanto tempo irá necessitar para dispor da autorização para produzir e comercializar seu produto. Mais grave, não dispõe de qualquer elemento que permita iniciar os investimentos fabris necessários à adequação de sua planta industrial, nem poderá assumir qualquer compromisso de aquisição de insumos. A análise e aprovação de um registro podem tramitar durante um prazo que varia de um ano a três anos.

Uma simples exportação implica em geração de documentos e dependência de fiscalizações mais rigorosas que o país importador. O Brasil gera barreiras técnicas contra seus próprios produtos. Exatamente neste momento o MAPA está criando os procedimentos para incluir as importações do setor no Siscomex. Há exigências que não constam em qualquer manual de bom senso. Não satisfeitos com as práticas burocráticas, cresceu no setor público a prática de geração de receita cuja origem não provém do sistema tributário nacional. As taxas, vide IBAMA e ANVISA, são criadas a profusão. Conferência de documentos: R$ 319,00; avaliação ambiental: 22.363,00; manutenção anual da avaliação: R$ 7.454,00; registro de produto R$ 8.000,00; revalidação do registro a cada 5 anos: R$ 7.200,00 e muitos outros. Custos e mais custos que irão afetar a rentabilidade dos produtores agrícolas ou das empresas, cujos investimentos, em ambos os casos, são comprometidos. Mesmo a introdução do critério de avaliação de um registro pela sistemática da similaridade FAO, recém introduzida pelo governo federal, não surtiu efeitos de redução de custo ou de tempo na análise de um produto, justamente pelos desencontros entre os três órgãos avaliadores. Num país que desejar dispor de empresas competitivas dentro do contexto de uma economia aberta, não é possível conviver com aberrações regulatórias apenas como expressão do desejo do burocrata circunstante ou com a falta de coordenação entre os órgãos . responsáveis.



Informe empresarial

Sinon chega ao Brasil Empresa presente em mais de 60 países oferecerá grande variedade de produtos a preços competitivos, maximizando as opções do agricultor

P

ara aumentar as opções de parceiros para os agricultores, chega ao Brasil a Sinon Corporation, empresa de Taiwan com negócios em mais de 60 países. O foco inicial das atividades será a venda de produtos fitossanitários, iniciando-se com o herbicida Glister (glifosato). Num segundo momento, haverá lançamento de um fungicida à base de Carbendazim. Ainda este ano os executivos da empresa esperam ofertar seis produtos aos agricultores brasileiros, todos em fase de registro no Ministério da Agricultura. Até 2004, serão 10 produtos, conforme expectativa do diretor da empresa no Brasil, Alberto Massanori Koshiyama. Embora em atividade no Brasil desde 2000, a empresa foi apresentada oficialmente aos agricultores durante a 4ª Expodireto, em Não-Me-Toque (RS), onde o presidente mundial da Sinon expôs um dos princípios da empresa quando disse: “estamos aqui para ficar, para criar oportunidades para os agricultores brasileiros”. Mas nem só eles serão beneficiados. Com 4 mil funcionários ao redor do mundo, a Sinon também movimentará o mercado de trabalho brasileiro. Nas próximas semanas, novos postos de trabalho serão abertos.

Estande destacado marcou a primeira experiência da Sinon em feira agropecuária brasileira

EXPERIÊNCIA E CONFIABILIDADE A Sinon iniciou suas atividades com uma pequena fábrica e atualmente é um conglomerado de empresas com mais de dez negócios diferentes, desde química fina até programas para computadores e Fotos Charles Echer

times de baseball profissional. Outro ponto interessante do negócio é a compra da produção dos agricultores, num sistema semelhante ao utilizado por grandes empresas brasileiras do ramo de suínos e aves. A Sinon possui em Taiwan uma rede de supermercados, onde revende ao consumidor final os produtos agrícolas. Wen-Bem Yang explica que a estratégia faz parte da visão de parceria desenvolvida pela empresa. Através desse sistema, existe a possibilidade de produtores brasileiros fazerem negócios na Ásia, principalmente com . soja convencional. Alguns produtos que a Sinon do Brasil oferecerá aos agricultores brasileiros nos próximos anos INSETICIDAS Abamectin Acefato Methamidophos Cypermethrin Chlorpyrifos Diflubenzuron

Presidente mundial da Sinon (esq.) prestigiou a primeira participação da empresa em evento rural no Brasil

10

Cultivar

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FUNGICIDAS Carbendazim Chlorothalonil Thiophantate Methyl Iprodione Benomyl

HERBICIDAS Glifosato Paraquat Diquat MSMA Metsulfuron Methyl Butachlor Chlorimuron-Ethyl

Maio de 2003



Soja

Redução do espaçamento entre linhas na soja traz diversos benefícios ao sojicultor

Espaço reduzido O

potencial de rendimento da soja é determinado geneticamente, e o quanto deste potencial vai ser atingido depende do efeito de fatores limitantes que estarão atuando em algum momento durante o ciclo da cultura. O efeito desses fatores pode ser minimizado pela adoção de um conjunto de práticas de manejo que faz com que a comunidade de plantas tenha o melhor aproveitamento possível dos recursos disponíveis no ambiente de produção. A soja apresenta capacidade de se adaptar às condições ambientais e de manejo, por meio de modificações na morfologia da planta e nos componentes do rendimento. A forma com que tais modificações ocorrem pode estar relacionada com fatores como altitude, latitude, textura do solo, fertilidade do solo, época de semeadura, população de plantas e espaçamento entre linhas, entre outros, sendo importante o conhecimento das interações entre estes, para definição do conjunto de práticas que resultaria em respostas mais favoráveis à produtividade agrícola da lavoura. Recentemente, como estratégia para redução dos custos de produção, alguns produ12

Cultivar

tores vêm diminuindo o espaçamento entre as linhas da cultura, de maneira a aumentar a eficiência de competição da soja com as plantas daninhas, e, conseqüentemente, reduzir as doses e o número de aplicações de herbicidas de ação pós-emergente. Ao reduzir o espaçamento entre Fotos Gil Câmara linhas sem o devido ajuste da densidade de plantas na linha, o produtor poderá estar contribuindo para o acamamento da cultura. A ocorrência de plantas acamadas contribui para o aumento das perdas, pois, as mesmas não são recolhidas pela máquina, permanecendo no campo após a sua passagem. Estima-se que em lawww.cultivar.inf.br

vouras com até 60% de plantas acamadas, as perdas de colheita chegam a 15%. Por outro lado, se o ajuste da densidade resultar em poucas plantas por metro, os cultivares poderão crescer menos em altura e ramificar mais, porém, com maior probabilida-

Lavoura com espaçamento de 50 cm entre linhas

Maio de 2003


Cultivar

As vantagens na redução do espaçamento entre linhas são abordadas por Gil

de de aumentar as perdas de colheita, devido à formação de vagens muito próximas ao solo, situadas abaixo do nível da barra de corte e à quebra de galhos, ambos não recolhidos pela colhedora, assim reduzindo a produtividade. Dessa forma, a faixa populacional de 300.000 a 400.000 plantas de soja por hectare, oficialmente recomendada para o Brasil desde os anos 80, em algumas regiões vem sendo reduzida para valores entre 200.000 e 300.000 plantas por hectare, ora mantendo, ora perdendo produtividade, conforme a combinação dos fatores cultivar, época de semeadura e população de plantas (espaçamento x densidade de plantas), adotada pelo produtor. Em função dos fatos expostos, desenvolveu-se pesquisa em área experimental da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba – SP, durante a safra agrícola 2001/2002, cujos principais objetivos foram avaliar a maneira como a planta de soja se adapta a diferentes arranjos espaciais e identificar o arranjo espacial que melhor representasse ou possibilitasse associar o manejo de um cultivar com alta produtividade agrícola. Mediante os resultados obtidos com o cultivar Conquista, semeado em 4 de dezembro de 2002, em solo de média para alta fertilidade, concluiu-se que para a faixa populacional de 70.000 a 350.000 plantas de soja por hectare, o aumento da população através da redução do espaçamento entre linhas ou do aumento da densidade de plantas na linha, constitui-se em estratégia de manejo para aumentar a altura de planta e a altura de inserção de 1ª vagem, possibilitando porte mais compatível com a colheita mecanizada da cultura, sem risco de acamamento de plantas. Além disso, independente da população de plantas utilizadas, a redução do espaçamento entre linhas constitui-se em eficiente método de controle cultural das plantas daninhas. Com relação à produtividade de grãos, o Maio de 2003

cultivar Conquista apresentou ampla adaptabilidade, ajustando os seus componentes de produção aos diferentes arranjos espaciais, sem que ocorressem significativas diferenças estatísticas, porém, observou-se maior produtividade de grãos para os seguintes arranjos espaciais: a) 0,40 m entre linhas com 11 plantas por metro (população de 280.000 plantas por hectare) produzindo 2.740 kg/ha; b) 0,50 m entre linhas com 18 plantas por metro (população de 350.000 plantas por hectare) produzindo 2.677 kg/ha. Tais produtividades, aquém daquelas estimadas

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para o cultivar Conquista, justificam-se devido ao fator semeadura em época tardia, associado ao fator pouca disponibilidade de água na fase mediana e final da granação das vagens. Levando-se em consideração o desenvolvimento pleno da cultura da soja, em altura de plantas, altura de inserção de primeira vagem, número de ramificações, produtividade agrícola, além do grau de acamamento, controle de plantas daninhas e mecanização da colheita, recomenda-se, mediante aos resultados obtidos neste trabalho, que a soja seja cultivada na faixa populacional de 280.000 a 350.000 plantas por hectare, com espaçamento entre linhas va. riando de 0,40 a 0,50 m. Lília Sichmann Heiffig e Gil Miguel de Sousa Câmara, ESALQ/USP

Cultivar

13


Nilton da Costa

Soja

Colheita mais segura As perdas no momento de colher a soja são imensas no Brasil. Na safra 01/02, o prejuízo foi superior a 50 milhões de reais. Estudos realizados pela Embrapa Soja e pela Emater (PR) apontam maneiras para que se evite tais danos

A

colheita mecânica da soja é considerada uma etapa de custos elevados e, geralmente, proporciona obtenção de matéria-prima comprometida, em função da falta de manutenção das colhedoras e de ajustes dos sistemas de trilha, separação e limpeza do produto colhido. A crescente modernização da agricultura brasileira tem exigido dos diferentes setores, mudanças profundas no sentido de racionalização do processo produtivo. Dentro desse contexto, pode-se afir14

Cultivar

mar que a colheita mecânica, quando não efetuada rigorosamente, pode proporcionar perdas expressivas tanto em quantidade como em qualidade do produto colhido. Diversos estudos têm indicado que a colheita mecânica da soja é considerada uma etapa de custos elevados e, geralmente, proporciona obtenção de matéria-prima comprometida, em função da falta de manutenção das colhedoras e de ajustes dos sistemas de trilha, separação e limpeza do produto colhido. Basta termos anwww.cultivar.inf.br

dado uma única vez sobre um campo de soja recentemente colhido, e teremos observado grãos e vagens sobre o solo ou plantas germinadas de sementes não recolhidas. O que poucos sabem, no entanto, é quanto se perde sobre o total produzido. A Embrapa Soja, de Londrina, juntamente com a Emater do Paraná, realizou, ao longo das duas últimas décadas, intensos estudos de avaliação dessas perdas, bem como seu impacto econômico e as principais causas desse desperdício, que é o mais Maio de 2003


inaceitável de todos, porque ocorre no final do ciclo produtivo, quando todas as outras eventuais restrições à produção já foram vencidas. O resultado obtido dos primeiros levantamentos feitos sobre o volume de perdas na colheita da soja, no final dos anos 70, indicaram que o mesmo se situava em torno de 4 scs/ha. Um índice preocupante, que desencadeou um intenso programa de treinamentos para técnicos, produtores e operadores de colhedoras, permitindo uma redução para os atuais 2 scs/ha, considerando ainda muito alto. Segundo o padrão tolerável pelos Estados Unidos, o aceitável seria até 1 sc/ ha. Embora aconteçam desperdícios de grãos ao longo de toda a cadeia produtiva da soja, é no processo da colheita onde ocorrem as perdas mais significativas, motivadas, principalmente, por um mau manejo da máquina pelo operador e por desajustes nos mecanismos de corte e trilha das colhedoras. Trabalhos conduzidos pela Embrapa Soja e Emater-Paraná, indicam que mais de 80% das perdas são atribuídas ao mau funcionamento da plataforma de corte das máquinas e da inadequação da velocidade de avanço com relação à velocidade do molinete.“13%” podem ser atribuídas à falta de ajustes dos mecanismos internos da colhedora (Tabelas 1 e 2). Para apoiar os produtores de soja na complexa tarefa de avaliar o seu nível de perdas durante o processo da colheita, a Embrapa Soja desenvolveu um “Copo Medidor”, capaz de fornecer em poucos minutos, o grau do desperdício na operação de colheita em curso, permitindo ao proprietário a tomada de medidas corretivas, como regulagens na máquina e mudanças de comportamento do operador das colhedoras, quando as perdas estiverem acima do índice aceitável. Este copo, com seu respectivo manual, encontra-se disponível na Embrapa Soja, não apenas para medir as perdas em soja, como, também, em milho, arroz e trigo. Na safra 2001/2002, os produtores de soja deixaram de colher mais de 1,5 milhão de toneladas, decorrente das perdas que ocorreram durante a colheita, proporcionando prejuízos superiores a 950 milhões de reais (Tabela 3).

TAB. 1. Perdas totais, perdas na plataforma de corte e perdas nos mecanismos internos, resultantes da colheita mecânica com duas velocidades de trabalho de 4 cultivares de soja com diferentes teores de água nas sementes, na safra agrícola 1995/96. EMBRAPA SOJA. Londrina, PR. 2002

Cultivar BR-16 BR-37 BR-30 EMBRAPA 4

Teor de Água(%) 11,5 11,9 12,2 14,9

P. Totais2

P. Plat. de Corte2

P. Mec. Internos3

V*1

V+2

V1

V2

V1

V2

2121a 151b 135c 152b

60a 61a 51a 52a

185a 145b 120b 135b

53a 50a 44a 46a

27 6 15 17

7 11 7 6

Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5%. Cada valor representa a média em kg/ha de 4 repetições. Valores obtidos pela diferença entre Perdas Totais e Perdas na Plataforma de Corte. * Velocidade de trabalho = 8 km/h + Velocidade de trabalho = 4,5 km/h 1 2 3

TAB. 2. Diferenças nas perdas totais e nas perdas na plataforma de corte, obtidas entre duas velocidades de trabalho durante a colheita mecânica, de quatro cultivares de soja na safra agrícola 1995/96. EMBRAPA SOJA. Londrina, PR. 2002.

Cultivar BR-16 BR-37 BR-30 EMBRAPA-4 MÉDIA

Perdas Totais Diferença (V*1 – V+2) kg/ha % 152a 71,7 90c 59,6 84c 62,2 100b 65,8 106,5b 64,8

Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Duncan ao Cada valor representa a média em kg/ha de 4 repetições. Valores obtidos pela diferença entre Perdas Totais e Perdas na Plataforma de Corte. * Velocidade de trabalho = 8 km/h + Velocidade de trabalho = 4,5 km/h 1

Perdas na Plataforma de Corte Diferença (V1 – V2) kg/ha % 132a 71,4 95b 65,5 76c 63,3 89b 65,9 98b 66,5

nível de 5%.

2 3

TAB. 3. Dignóstico e avaliação das perdas na colheita de soja, correspondente à safra 2001/2002

ÁREA BRASIL SOJA 2001/2002 - (em ha) PRODUÇÃO SOJA NO BRASIL 01/02 - (em t) PERDA DE SOJA 01/02 - (em sc/ha) Valor médio saca de soja de 60 kg em 15/07/02-(em R$) Perdas em 15.839.700 ha - (em sacas de 60 kg) Perdas em 15.839.700 ha - (em toneladas) Perdas em 15.839.700 ha - (em reais)

15.839.700,00 41.116.200,00 2,00 30,00 31.679.400,00 1.900.764,00 950.382.000,00

New Holland

ÍNDICES DE RENDIMENTO DA SOJA De acordo com Gasparetto et al. (1977), o que se espera de um mecanismo de trilha é a eliminação das perdas de sementes durante o processo, redução dos danos mecânicos macro e microscópicos transmitidos às sementes e a separação dos grãos. Acrescentam ainda que, considerando esses parâmetros, a operação de trilha, com os sistemas atualmente empregados, ainda está longe do nível desejado de eficiência. Os níveis de danos mecânicos e de perdas são reduzidos quando as sementes/

Com o avanço da pesquisa, já é possível diminuir bastante as perdas na colheita

...

Maio de 2003

www.cultivar.inf.br

Cultivar

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...grãos atingem a maturidade de campo, na

faixa de umidade entre 12% a 14%, onde se obtêm os maiores níveis de vigor e de viabilidade. A obtenção de matéria-prima abaixo dos níveis dos padrões de qualidade poderá comprometer, no futuro próximo, a competição de mercado da soja brasileira. A respeito do tema, Carvalho (1992) enfatiza que a ocorrência de danos mecânicos em sementes e de seu significado para a economia de empresas produtoras e agricultores teve início a partir da década de 20, quando a mecanização das atividades agrícolas começou a ser realizada em escala cada vez maior. Sabe-se que o manuseio constante da semente, desde a colheita até o armazenamento, geralmente levam a minidanificações, cuja somatária final possibilita o declínio acentuado da qualidade da semente. Desta forma, os produtores de sementes de soja devem ter o máximo de cuidado, com época ideal de colheita e com os ajustes do sistema de trilha da colhedoras, pois, essas etapas são críticas do ponto de vista de controle da qualidade. Ainda deve-se enfatizar que a estrutura embrionária da soja é extremamente vulnerável a qualquer lesão física, uma vez que as partes vitais da semente de soja, como radícula e hipocótilo, estão situadas bem próximo ao tegumento, cuja estrutura oferece pouca proteção a qualquer tipo de lesão que venha ocorrer no eixo-embrionário. De um modo geral, pode-se sugerir que um dos métodos mais práticos e eficazes da caracterização de danos mecânicos, lesões de percevejos e sementes que apresentam problemas de deterioração por umidade é através do teste de tetrazólio.

MENOS DESPERDÍCIOS E MAIS QUALIDADE Diversos estudos têm indicado que perdas de sementes/grãos durante a colheita mecânica permanecem como um Embrapa Soja

Nilton fala sobre redução de perdas na colheita da soja

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Cultivar

Fig. 01 - Resultados médios de percentuais de proteína, óleo e índice de acidez de sementes/grãos de cultivares de soja, diversas cultivares de soja, produzidas em diferentes regiões do Brasil. Embrapa Soja e CNPq, Londrina, PR, 2002

dos problemas mais graves na produção de soja. Por outro lado, a demanda do mercado consumidor tende a projetar maiores restrições a produtos de baixa qualidade. Nessa linha, supõe-se que os aspectos físicos como níveis de grãos quebrados e de danos mecânicos não visíveis, possam influir na qualidade de produtos de processamento, como teor de óleo, farelo, proteína, além das qualidades fisiológicas e sanitárias. Acredita-se que estes fatores são determinantes para a competição no mercado internacional, exigindo dos países produtores um controle cada vez maior na qualidade de operação de colheita. Diante dos fatos, a Embrapa Soja, Emater/PR, Emater/MG e outras instituições, vêm executando uma série de estudos em nível de Brasil sobre avaliação dos índices de perdas na colheita e sobre a qualidade de sementes/grãos das principais regiões produtoras. Como exemplo dessas ações, conseguiu-se reduzir as perdas de cerca de 4 sacas/ha em 1979 para 2 sacas/ha em 2001, proporcionando retornos econômicos superiores a 6 bilhões de reais só para o Brasil e mais de 2 bilhões de reais para o Estado do Paraná. Apesar de o país ser o segundo produtor mundial de soja e dispor de uma tecnologia simples e eficiente no processo de www.cultivar.inf.br

monitoramento das perdas na colheita, através do emprego do copo medidor, ainda há muitos produtores que desconhecem essa metodologia e, por conseguinte, não avaliam as perdas ou, quando o fazem, utilizam métodos alternativos que podem resultar em erros de sub ou superestimativa dos valores das perdas, que ocorrem em suas lavouras. Ainda observou-se que o índice de acidez do óleo também manteve-se dentro de padrões de excelente qualidade (Figura 1).

CONSIDERAÇÕES GERAIS Com base em alguns estudos, podese afirmar que: 1) no programa de redução de perdas ao longo de 20 anos, o Brasil economizou, segundo dados estimados, cerca de 5,4 bilhões de reais; 2) as perdas tendem a aumentar de forma acentuada com velocidades de trabalho superiores a 7 km/hora; 3) os teores de óleo de diferentes cultivares testados de diferentes regiões produtoras mostraram valores elevados e com baixos índices de acidez; 4) o índice de acidez do óleo não foi afetado pelos elevados índices de danos mecânicos e de ruptura do tegumento; e 5) lotes de sementes que apresentam problemas de qualidade antes da semeadura, devem ser submetidos, quando possível, ao emprego do Diacom para avaliação da qualidade da semente de soja, pois a metodologia possibilita com precisão o controle . de qualidade das sementes. Nilton Pereira da Costa e Cezar de Mello Mesquita, Embrapa Soja Maio de 2003


Nossa capa Dirceu Gassen

Lucro Lucro com com aa transgênica? transgênica? Especialistas projetam redução no custo de produção e aumento de área plantada com OGM´s

U

ma planta transgênica é aquela na qual foi introduzido um gene de outro organismo por métodos diferentes do melhoramento tradicional. A engenharia genética nas plantas tem sido objeto de controvérsias desde 1971, quando o primeiro organismo geneticamente modificado foi desenvolvido. Com a comercialização das sementes de plantas transgênicas, a biotecnologia tem tomado lugar de destaque na agricultura. Enquanto os primeiros testes com culturas transgênicas foram conduzidos nos Estados Unidos e França, a República Popular da China foi o primeiro país a comercializar sementes transgênicas no início dos anos 90, com a introdução do tabaco resistente a vírus. Em 1994, os Estados Unidos iniciaram o plantio do tomate de maturação prolongada. A partir daí, o desenvolvimento e uso das culturas transgênicas ganhou força. Em 1997, a área global sob culturas transgênicas era de 12,8 milhões de hectares, 4,5 vezes os 2,8 milhões de hectares de 1996. O grande aumento no cultivo de produtos transgênicos em 1997 ocorreu nos Estados Unidos, seguido da Argentina e Canadá. Maio de 2003

Considerando todas as culturas, a proporção de área com transgênicos, nos países industrializados, aumentou de 57% em 1996 para 74% em 1997. A partir de 1997, a área mundial com transgênicos não parou de aumentar (Tabela 1). Mesmo nos países em desenvolvimento em que, segundo James (1998), a área decresceu de 1996 para 1997, a partir desse ano, voltou a aumentar. Atualmente, a maior área de cultura transgênica no mundo é de soja resistente a herbicida, seguida de milho Bt, algodão Bt e canola resistente a herbicida. Essas culturas ocupam praticamente 100% da área total com organismos geneticamente modificados (Tabela 2). As maiores mudanças ocorridas em relação à utilização de transgênicos estão correlacionadas com os seguintes aspectos: • o aumento da área de transgênicos entre 1996 e 1997, nos países industrializados, foi quase 4 vezes maior que nos países em desenvolvimento (7,9 milhões de hectares contra 2,0 milhões de hectares); • a soja e o milho contribuíram com 75% do aumento global de trasgênicos entre 1996 e 1997; • os transgênicos tolerantes a herbicidas www.cultivar.inf.br

foram responsáveis por 63% (6,2 milhões de hectares) do aumento global na utilização de culturas geneticamente modificadas, entre 1996 e 1997; resistência a insetos contribuiu com 29% e resistência a vírus com 7%. As análises preliminares indicam que existem significantes e múltiplos benefícios com o uso de culturas geneticamente modificadas. Entretanto, isso não implica que esses benefícios sejam igualmente divididos entre companhias produtoras (que detêm a patente), produtores de sementes, produtores de grãos, industriais e consumidores. Alguns benefícios resultantes do uso de OGM (Organismos Geneticamente Modificados), em diferentes culturas podem ser: 1. tabaco resistente ao vírus, na China, aumentou a produtividade de folhas em 5% a 7%, com diminuição de 2% a 3% na aplicação de inseticidas para controlar os vetores; 2. algodão resistente a insetos, com o gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), permitiu uma redução de custos de aplicação de inseticidas entre US$140,00 e US$280,00 por hectare, nos Estados Unidos; 3. milho resistente ao ataque de coleópteros (Bt) apresentou benefícios estimados em

...

Cultivar

17


...US$19 milhões em 1996 e US$190 milhões em 1997, nos

Tab. 01. Área global de culturas transgênicas de 1997 a 2002 1997 milhões ha 8,40 1,10 1,54 1,54 0,12 <0,10 12,80

País Estados Unidos China Argentina Canadá Austrália México África do Sul Total

1998 milhões ha 19,60 1,40 3,90 2,70 0,10 0,10 27,80

1999 milhões ha 27,60 1,50 7,56 2,90 0,12 0,12 0,10 39,90

2000 milhões ha 29,40 1,50 9,80 3,00 0,16 0,14 0,20 44,20

2001 milhões ha 35,60 1,50 11,80 3,20 0,20 0,10 0,20 52,60

Estados Unidos; 4. a soja resistente a herbicida, nos Estados Unidos, em 1996, resultou em economia de 10% a 40% no requerimento de herbicida, melhor controle de plantas daninhas e umidade do solo, melhora na produtividade, menor resíduo de herbicida no solo e maior flexibilidade no manejo da cultura. Após algumas considerações de caráter geral a respeito de OGM e sua adoção, será discutido mais especificamente o caso da soja resistente ao herbicida glyphosate. Como já foi comentado, a área mundial semeada com soja geneticamente modificada (transgênica), teve um aumento bastante significativo, principalmente nos Estados Unidos e na Argentina. Nos Estados Unidos, dados de pesquisa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que nas safras de 2000, 2001 e 2002, as médias das áreas totais do país foram de 54%, 68% e 75%, respectivamente, com cultivar RR (Roundup Ready). A distribuição das áreas, por Estado encontra-se na Tabela 3. No caso da Argentina, a adoção foi maior que nos Estados Unidos. Partindo em 1997 de 0,25%, chega em 2000/ 2001 entre 90% e 95%, conforme dados do INTA - Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Tabela 4).

2002 milhões ha 39,00 2,10 13,50 3,50 0,20 0,20 0,20 58,70

Fonte: James (2002)

Tab. 2. Evolução da área global cultivada com culturas transgênicas (1996 a 2002) Culturas Soja Milho Algodão Canola Outras Total

1996 0,5 0,3 0,8 0,1 1,1 2,8

1997 5,1 3,2 1,4 1,2 1,9 12,8

1998 14,5 8,3 2,5 2,4 0,1 27,8

1999 21,6 11,1 3,7 3,4 0,1 39,9

2000 25,8 10,3 5,3 2,8 0,0 44,2

2001 33,3 9,8 6,8 2,7 0,0 52,6

Fonte: James (2002)

Tab.3 . Percentual da área semeada com soja transgênica por Estado produtor nos EUA nas safras 2000 a 2002 Estado AR IL IN IA KS MI MN MS MO NE ND OH SD WI Outros Estados 1/ Estados Unidos

Percentual Arkansas Illinois Indiana Iowa Kansas Michigan Minnesota Mississipi Missouri Nebraska Noth Dakota Ohio South Dakota Wisconsin -

2000

2001

2002

43 44 63 59 66 50 46 48 62 72 22 48 68 51 54 54

60 64 78 73 80 59 63 63 69 76 49 64 80 63 64 68

68 71 83 75 83 72 71 80 72 85 61 73 89 78 70 75

PERSPECTIVAS DA PRODUÇÃO BRASILEIRA Não há dúvida de que, qualquer projeção realizada a respeito da taxa de crescimento anual da área de soja resistente ao herbicida glyphosate é, necessariamente, um exercício de futurologia. No entanto, procura-se, dentro das pressuposições, analisar o comportamento das principais variáveis envolvidas no processo e projetar sua tendência de acordo com os dados disponíveis. A suposição da teoria econômica envolvida nas projeções é de concorrência perfeita. A sua definição é a seguinte: “a concorrência perfeita é um modelo econômico de um mercado, em que cada agente econômico é tão pequeno em relação ao mercado que não pode exercer influência perceptível no preço. O produto é homogêneo e há uma livre mobilidade de todos os recursos, incluindo livre e fácil entrada e saída das empresas. Além disso, todos os agentes econômicos gozam de completo e perfeito conhecimento dos fatores do mercado”. Portanto, tomando como base esta definição, será descrito um cenário econômico provável, a partir dos dados disponíveis até o final do mês de abril de 2003, para uma possível liberação do plantio da soja trasgênica na safra de verão 2003/ 2004. O cenário é baseado exclusivamente em fatos e projeções perfeitamente realizáveis, não havendo, em nenhuma hipótese, qualquer tendência ou viés ideológico a respeito da utilização de produtos geneticamente modificados. Para a descrição desse cenário, deve-se levar em conta o aumento da taxa anual de crescimento da área, produção e produtividade da soja com taxas semelhantes ou pouco abaixo das conseguidas nos últimos 10 anos (1990-2000). Assim, as pressuposições básicas para este cenário devem ser as seguintes: • a recuperação da economia mundial, crescendo nos próximos anos de acordo com taxas semelhantes à média dos últimos 10 anos, não considerando os picos econômicos nem as acentuadas depressões; • a melhoria acentuada na distribuição de renda nos países em desenvolvimento e sub-desenvolvidos; • a diminuição gradativa do valor do preço mínimo americano no caso da soja; • a aceitação da soja transgênica pelo mercado mundial, principalmente pela União Européia, que é o maior importador do produto;

Fonte: USDA. 1/ Outros Estados incluem todos que participaram do programa de estimativa de produção de soja do USDA

Tab. 4. Sementes de soja RR e convencional: evolução da área cultivada e do preço na Argentina Ano

Superficie RR/Total %

Preço Soja convencional U$/kg

Preço Soja RR U$/kg

1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01

0,25 20/25 50/60 85/90 90/95

0,33 0,33 0,32 0,30 0,28

0,70/0,8 0,42 0,50* 0,45

Fonte: INTA. dados de estudo da Estação Experimental Agropecuaria de. Pergamino. *semente de “bolsa branca”.

Tab. 5. Taxa anual de crescimento da produtividade de soja nos principais Estados produtores do Brasil, nos Estados Unidos, na Argentina, na China, na Índia e no Mundo Estado/País Mato Grosso Mato Grosso do Sul Goiás Minas Gerais Bahia São Paulo Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Brasil Estados Unidos Argentina China Índia Mundo

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Cultivar

Taxa de crescimento* anual da produtividade de soja (%) 1980-2000 1980-1990 1990-2000 2,31 1,92 2,70 1,67 1,20 2,88 2,41 0,54 4,97 1,63 0,27 3,36 7,40 —— 3,20 0,75 -0,01 2,27 1,47 -0,40 3,40 3,80 1,18 6,53 1,78 0,63 3,33 2,09 0,54 3,40 1,71 1,60 1,11 0,87 0,51 0,51 2,36 2,65 2,31 1,76 1,93 0,68 1,59 1,23 1,70

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• a realização de maiores investimentos na matriz de transportes no Centro-Oeste, Norte e Nordeste brasileiros; • a reforma tributária, eliminando tanto impostos que incidam em cascata como o ICMS para produtos primários; • a manutenção dos preços da soja no mercado internacional nos níveis históricos; • o aumento da parcela do PIB alocado na pesquisa agropecuária, inclusive de soja; • a aceleração na transferência da indústria de processamento do Sul para o CentroOeste do Brasil; • a manutenção da taxa de crescimento populacional em torno de 2% ao ano; • a manutenção da taxa de câmbio em torno de R$3,00/US$ na época de comercialização da safra em 2004; • a inflação voltando a cair, após um pico de 20% anual, em junho/julho de 2003; • a queda do risco Brasil; • a queda dos juros (SELIC) em 2004, que deverá se situar em torno de 16%; • a dívida líquida total do setor público permanecendo ao redor de 53% do PIB e a dívida externa em torno de 30% do PIB. Diante dessas pressuposições básicas, o cenário em questão pode ser considerado otimista.

HISTÓRICO NO BRASIL E NO MUNDO Para se realizar uma projeção do crescimento da área, produção e produtividade da

soja deve-se considerar o crescimento anterior. Nos últimos 10 anos, no Brasil, registrouse a maior taxa anual de crescimento, principalmente da produtividade (Tabela 5).

= Ae rt

= Ae rt

= Ae rt

onde: V = valor decorrente de uma determinada taxa de mudança no tempo; A = termo constante; e = base dos logaritmos neperianos; r = taxa instantânea de variação; t = tempo (medido em anos) Além do aumento da produtividade, houve, em vários países, e particularmente no Brasil, aumento de área semeada com soja. Isso provocou um aumento significativo da produção mundial dessa oleaginosa. Em 1990, a produção mundial de soja era de 104 milhões de toneladas. Em 2000 esse volume alcançou 168 milhões de toneladas, que representa um aumento de 64 milhões de toneladas ou 61,5% em 10 anos. Na década anterior o acréscimo de produção foi menor, passando de 80 milhões de toneladas em 1980 para 104 milhões de toneladas em 1990, com um aumento de 24 milhões de toneladas. O aumento da área e da produção estão apresentados na Tabela 6. Os dados da Tabela 6 são importantes para

nortear a estimativa do crescimento da área que será projetada. Não existem indicativos sólidos que corroborem com taxas de crescimento da produção brasileira e mundial de soja até 2010 acima das apresentadas na Tabela 6.

PROJEÇÕES Utilizando o cenário descrito e considerando suposições adicionais que serão em seguida especificadas, tentar-se-á elaborar o avanço na produção de soja até o ano 2010. Quando se projeta taxas de crescimento em qualquer setor produtivo da economia, deve-se levar em conta a tendência dos principais fatores que influenciam aquele setor. Dessa forma, as tendências utilizadas, neste caso, para a taxa de crescimento das principais variáveis foram: a) variação do crescimento da renda “per capita” nos principais países consumidores de soja, com base nos dados do Banco Mundial; b) variação da renda “per capita” no Brasil com base em projeções da Macrométrica; c) taxa de crescimento populacional com base em projeções da Macrométrica; d) elasticidade-renda da demanda brasileira de soja de acordo com cálculos realizados por Yoshihiko et al. (1998); e) elasticidade-preço da demanda de soja dos Estados Unidos com base em cálculo realizado por Sullivan et al. (1989);

...


Tab. 6. Taxa anual de crescimento da área e produção de soja nos principais Estados produtores do Brasil, nos Estados Unidos, na Argentina, na China, na Índia e no Mundo Taxa de crescimento anual da área e produção de soja % 1980-2000 1980-1999 1990-1999 Estado/País Área Produção Área Produção Área Mato Grosso Mato Grosso do Sul Goiás Minas Gerais Bahia São Paulo Paraná Rio Grande do Sul Brasil Estados Unidos Argentina China Índia Mundo

14,92 0,43 7,61 5,45 28,37 0,38 1,05 -1,28 2,14 0,30 7,20 0,52 12,47 1,93

17,23 2,10 10,02 7,08 35,77 1,13 2,52 0,50 4,23 2,01 8,07 2,88 14,23 3,52

31,68 5,21 14,03 12,94 —0,25 -0,54 -1,58 3,42 -2,01 10,18 0,43 14,80 1,22

33,60 6,41 14,57 13,21 —0,24 -0,94 -0,40 3,96 -0,41 10,69 3,08 16,73 2,45

7,18 -0,85 4,73 1,44 12,60 0,51 3,95 -0,68 2,83 2,82 6,84 1,41 7,94 3,23

Tab. 7. Demanda e oferta de soja até 2012 considerando o cenário descrito (toneladas)

Produção 9,88 2,03 9,70 4,80 15,80 2,78 7,35 2,65 6,23 3,93 7,35 3,72 8,62 4,93

Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Demanda D=p+ng + exp 32.344.600,00 37.218.300,00 41.906.900,00 49.647.300,00 52.479.181,99 56.010.506,15 60.157.468,01 65.103.374,40 70.263.988,69 75.704.107,75 81.278.049,79 86.977.835,59 92.994.092,48

Fonte: cálculo baseado no cenário descrito. exp=(demanda externa) exportação

Fonte dos dados básicos: USDA/CONAB

Tab. 8. Necessidade de área para atender a demanda estimada (mil ha) Ano

Área necessária para atender a demanda

Produtividade Estimada kg/ha

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

13.505,05 13.556,14 16.324,40 17.956,30 18.700,00 19.605,42 20.664,37 21.924,81 23.198,77 24.504,82 25.793,20 7.060,78 28.365,27

2.395,00 2.719,60 2.567,13 2.764,90 2.806,37 2.856,89 2.911,17 2.969,39 3.028,78 3.089,36 3.151,14 3.214,17 3.278,45

Fonte: Cálculo baseado nas suposições

Tab. 9. Projeção da área e produção de soja no Brasil considerando o cenário descrito

Ano

Área (mil ha) Tradicional

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

13.505,05 13.556,14 16.324,40 17.956,30 13.090,00 11.763,25 11.365,40 8.769,93 9.279,51 8.576,69 9.027,62 9.471,27 9.927,84

Área (mil ha) Produção (mil t) Produção (mil t) Transgênica Tradicional Transgênica 5.610,00 7.842,17 9.298,97 13.154,89 13.919,26 15.928,13 16.765,58 17.589,51 18.437,42

32.344,60 37.218,30 41.906,90 49.647,30 36.735,43 33.606,30 33.086,61 26.041,35 28.105,60 26.496,44 28.447,32 30.442,24 32.547,93

15.743,75 22.404,20 27.070,86 39.062,02 42.158,39 49.207,67 52.830,73 56.535,59 60.446,16

Fonte: Cálculo realizado com base no cenário proposto

...

f) custos de produção de soja brasileira de acordo com levantamentos realizados pela Embrapa Soja nos principais Estados produtores, no período de maio a junho de 2000; g) evolução dos preços da soja, utilizando dados da FGV e USDA. Para a estimativa do comportamento do mercado para os próximos 10 anos foi utilizada a seguinte equação:

20

Cultivar

D = p + ng onde: D = demanda efetiva; p = taxa de crescimento populacional; n = elasticidade-renda da demanda de soja; g= taxa de crescimento da renda “per capita”. Na Tabela 7 apresentam-se as projeções de demanda, que se supõem iguais à oferta, levando em conta o cenário descrito. Essas projeções foram feitas sem levar em conta a liberação do plantio da soja transgênica no Brasil, mesmo porque essa possibilidade não modifica em nada a oferta total de soja. Essa consideração será feita após a estimativa de crescimento da produção até o ano 2012. As próximas projeções serão baseadas nas Tabelas 7 e 8 e na suposição da liberação da soja transgênica no Brasil, já a partir da safra 2003/2004. Para tanto, deverá ser considerado, no cenário já descrito, as suposições adicionais referentes exclusivamente à presença dessa tecnologia. As principais suposições são as seguintes: a) custo de produção da soja transgênica, deverá ser, pelo menos inicialmente, cerca de 20% menor que o custo da soja tradicional; porém, com o passar do tempo, a diferença será irrelevante, chegando em 2012 ao mesmo custo devido às próprias forças da economia de mercado; b) custo inicial do pacote “semente mais herbicida”, para o produto transgênico, deverá ser menor que o pacote “semente mais herbicida” do produto tradicional, tendendo à equiparação enquanto houver lucro puro de qualquer agente envolvido no negócio; c) não haverá restrições de oferta de sementes de cultivares transgênicas

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adaptadas às diferentes regiões e, sobretudo, não haverá desestruturação do sistema de produção de sementes; d) não haverá diferença de qualidade do produto em decorrência do emprego de diferentes tecnologias, ou seja, a soja continua sendo uma “commoditie” e portanto, homogênea; e) a produtividade da soja transgênica deverá ser igual ou, no máximo, 5% inferior que a da soja tradicional; f) o sistema econômico onde se inserem todas as transações em relação à soja é considerado, teoricamente, de “concorrência perfeita”, ou seja, nem o produtor, nem a tecnologia utilizada conseguem afetar o preço do produto. Em termos de projeções, na Tabela 9 são apresentados dados referentes a área e produção brasileiras de soja tradicional e transgênica. Nesta Tabela, a área de soja transgênica, a partir da safra 2003/2004, foi estabelecida levando em conta a área já existente na ilegalidade incorporada no total. Dessa forma, já se inicia com uma área de 5,6 milhões de ha de soja transgênica. É importante enfatizar que essa área pode estar subestimada, uma vez que não se tem nenhuma estatística oficial que possa ser utilizada como ponto de partida. Tomando como base os valores constantes na Tabela 9, foram feitas também estimativas de retornos econômicos conseqüentes à adoção da soja transgênica. Nesse sentido, calculou-se o diferencial de renda através da multiplicação da produção pelo preço do produto menos o custo, para a soja convencional e transgênica, respectivamente, sendo depois subtraída a receita obtida com a soja transgênica da receita obtida com a soja tradicional. O total do diferencial da receita com a adoção da tecnologia trans-

Maio de 2003

...



Tab. 10. Estimativa da receita líquida com adoção da soja transgênica Ano

Custo Soja Tradicional US$/t

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Total

83,33 86,67 88,81 93,10 111,46 133,75 153,81 169,19 177,65 182,98 188,47 192,24 196,09 -

Custo Soja Transgênica US$/t Preço da Soja US$/t 89,17 113,69 138,43 160,73 168,77 177,49 184,70 190,32 196,09 -

164,70 162,00 164,70 193,50 198,00 203,40 200,00 198,00 199,00 210,00 210,00 210,00 210,00 -

Diferença de Receita (mil US$) 350.954,53 449.484,31 416.383,67 330.452,52 374.479,17 270.125,07 199.142,84 108.685,15 2.499.707,26

Fonte: Cálculo realizado com base nos cenários propostos

...gênica, levando em consideração as su-

posições adotadas, no período considerado, será em torno de 2,5 bilhões de dólares (Tabela 10). Em relação às estimativas econômicas, é importante assinalar que não se está discutindo qual será a divisão da posse da renda gerada. Não há elementos suficientemente confiáveis para que se possa projetar a divisão dessa receita entre detentores da patente, agricultores, produtores de sementes, processadores do produto e consumidores. Deve-se levar ainda em conta que os cálculos estimados são referentes apenas ao valor direto da produção, não considerando os efeitos ao longo do sistema agroindustrial. Não existe dúvida que projeções podem não se concretizar, dependendo apenas da mudança da tendência das variáveis consideradas. O próprio USDA estimou a produção brasileira de soja para 2005 num total de 31 milhões de toneladas. Sabe-se que a safra 2002/2003 já está fechando com 50 milhões de toneladas. Isso não significa que sob o aspecto metodológico a projeção do USDA estivesse mal elaborada. Acontece que algumas variáveis se comportaram de maneira muito diferente da suposição anteriormente feita. De qualquer maneira, o uso de OGM´s (organismos geneticamente modificados) é, sob o ponto de vista científico, mais um grande passo em direção à substituição da massiva utilização da “química fina” tanto na agricultura como no tratamento dos seres humanos. A polêmica que se criou em torno da soja RR é natural, principalmente pelo fato de que é uma tecnologia que está ligada à venda de um produto químico (herbicida), envolvendo considerável valor econômico. No entanto, a utilização de OGM´s na agricultura não se restrin-

22

Cultivar

ge a plantas resistentes a herbicidas, ao contrário, sua aplicação é bem mais ampla. Pode-se ter no futuro resistência a doenças, resistência a pragas, estabilidade de produção, tolerância a estresse hídrico, tolerância a alumínio tóxico, melhoria de qualidade nutricional e outros. Finalmente, vale citar que o avanço da ciência é inexorável. O princípio da precaução é desejável, no entanto, dificilmente haverá avanços importantes . sem qualquer efeito colateral. Antonio Carlos Roessing, Joelsio José Lazzarotto e Heveraldo Camargo Mello, Embrapa Soja

Dirceu Gassen

Sob o ponto de vista científico, o uso de OGM´s é um grande passo para a agricultura

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Maio de 2003



Trigo

Mudanças na adubação Conheça as alterações propostas para a adubação na triticultura paranaense. As principais modificações ocorreram na aplicação de nitrogênio

N

o último seminário técnico sobre a cultura do trigo no Paraná - no qual reúnem-se alguns dos maiores especialistas dessa cultura - algumas alterações relativas à adubação foram propostas.

NITROGÊNIO As principais mudanças para o nitrogênio foram: a simplificação da tabela de adubação, levando-se em consideração somente a cultura anterior( soja ou milho) e a re-

tirada do sistema de cultivo (convencional ou mínimo e plantio direto). Outro ponto importante foi o aumento das doses de N, dividindo-as em base e cobertura, sem considerar a altura das plantas de trigo. Esta simplificação foi em função de a grande maioria dos cultivos de trigo no Paraná serem efetuados, principalmente, após a soja ou milho e o sistema de cultivo ser basicamente o plantio direto. Quanto à altura das plantas de trigo, prevalecem as de porte intermediário e baixa.

Tab. 22 - Adubação nitrogenada para a cultura do trigo no Paraná Cultura anterior

Semeadura

Soja Milho

10-30 25-50

Cobertura N (kg/ha) 30-60 30-90

REDAÇÃO ATUAL A adubação nitrogenada deverá ser parcelada aplicando-se parte na semeadura e o restante em cobertura. O aumento da dose de N no sulco é sugerida, pois os resultados de pesquisa indicam que a aplicação do nitrogênio deve ser realizada nas fases iniciais do desenvolvimento da cultura. A aplicação de cobertura deverá ser feita no perfilhamento, a lanço, independente da cultura anterior, visando complementar a adubação realizada no sulco de semeadura, conforme indicado na Tabela 22. Doses maiores de N devem ser aplicadas quando se pretende obter altas produtividades, em cultivares resistentes ou moderadamente resistentes ao acamamento e com alto potencial de rendimento. . César de Castro, Embrapa Soja

OBS: Tabela anterior que foi modificada Tab. 22. Adubação nitrogenada (kg/ha) para a cultura do trigo no Paraná Sistema de cultivo

Altura da planta Baixa Intermediária/alta Base Base cobertura cobertura

Soja

Convencional ou mínimo Plantio direto

10 10

20 20

10 10

20 20

Milho, algodão e Gramíneas em geral

Convencional ou mínimo Plantio direto

20 30

30 30

15 25

25 25

Cultura anterior

FÓSFORO: para a adubação fosfatada foram aumentados os limites de interpretação no solo (Teor de P) e as doses de fósforo aplicadas (P2O5 kg/ha), conforme tabela abaixo

Tab. 23. Adubação fosfatada para a cultura do trigo no Paraná Teor de P* (mg/dm3) <5 5–9 >9

* Extraído pelo método de Mehlich-1

P2 O 5 60 40 20

-

(kg/ha) 90 60 40

POTÁSSIO: Para o potássio foram criadas faixas de adubação potássica e aumento das doses de K2O

Tab. 24. Adubação potássica para a cultura do trigo no Paraná Teor de K* (cmolc/dm3) < 0,10 0,10 – 0,30 > 0,30

K2O (kg/ha) 60 40 30 -

80 60 40

* Extraído pelo método de Mehlich-1

OBS: Tabela anterior que foi modificada Tab. 24. Adubação potássica para a cultura do trigo no Paraná Teor de K* (cmolc/dm3) < 0,10 0,10 – 0,30 > 0,30

K2O (kg/ha) 60 45 30

* Extraído pelo método de Mehlich-1

OBS: Tabela anterior que foi modificada Tab. 23. Adubação fosfatada para a cultura do trigo no Paraná Teor de P* (mg/dm3) <4 4–9 >9 * Extraído pelo método de Mehlich-1

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Cultivar

P2O5 60 30 10

-

(kg/ha) 90 60 30

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OBS: Estas modificações visam basicamente se adequar às novas cultivares de trigo lançadas no mercado, mais responsivas à aplicação de insumos; as modificações foram basicamente feitas com base nos trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Soja, IAPAR, Fundação ABC, FAPA, COODETEC e UEPG

Maio de 2003


Augusto Goulart

Trigo

Os danos causados por brusone são gravíssimos, pois o principal ataque acontece diretamente na espiga

Direto no alvo A

s perdas em rendimento provocadas pela incidência de doenças nas plantas variam, entre outros fatores, conforme a cultura, o tipo de patógeno, a localidade, as condições ambientais, a suscetibilidade da cultivar e as medidas de controle empregadas. Considerando-se estes aspectos, é difícil dizer quanto uma planta poderia tolerar uma doença, sem sofrer perdas significativas na produtividade. A intensidade da perda na produção é determinada, geralmente, pela época em que ocorre a infecção e pelo órgão afetado na planta. No caso do trigo, os produtos da fotossín-

Maio de 2003

tese elaborados nas folhas situadas na porção superior do colmo (principalmente a folha bandeira) e nas aristas são responsáveis pela maior parte da produção. As folhas inferiores contribuem com 15 a 20% do total da produção. Esse fato explica por que as plantas de trigo podem tolerar uma infecção acentuada nas folhas inferiores e ainda produzir razoavelmente, desde que as partes superiores da planta não sejam afetadas intensamente. As doenças estão entre os fatores que mais têm contribuído para a limitação de produtividade da triticultura brasileira, sendo favorecidas pelo excesso de chuvas (com períodos

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longos e freqüentes de molhamento foliar - o que também pode ser proporcionado pela irrigação) e por temperaturas elevadas. A determinação de perdas causadas por um determinado patógeno deveria ser uma das primeiras e mais importantes atividades a ser desenvolvida dentro da Fitopatologia. Entretanto, a principal dificuldade na determinação de perdas é a disponibilidade de um método que seja adequado e confiável para essa finalidade. Algum progresso tem sido obtido no que se refere à determinação de perdas causadas por algumas doenças do trigo no Brasil, como,

...

Cultivar

25


BRUSONE DO TRIGO A brusone do trigo, causada por Pyricularia grisea (Cooke) Sacc. (sinonímia Pyricularia oryzae Cavara), teleomorfo Magnaporthe grisea é a doença mais recente detectada no trigo no Brasil. Ela foi primeiramente identificada em 1985 no Estado do Paraná. Nos anos subseqüentes o patógeno disseminou-se para novas áreas, sendo que, atualmente, sua presença já foi registrada nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Goiás e na região dos cerrados do Brasil Central, estando presente nas principais regiões tritícolas do Brasil. A severidade da brusone do trigo varia grandemente em função da região e das condições climáticas. A doença vem sendo considerada como sendo de importância econômica nos locais onde tem ocorrido, devido à intensidade dos sintomas que produz nas folhas e principalmente nas espigas. Entretanto, não há um efetivo e econômico controle químico e cultivares resistentes à esta enfermidade. Assim, torna-se necessário que suas perdas sejam devidamente quantificadas, uma vez que pouca informação existe a esse respeito. Embrapa Agropecuária Oeste

Augusto fala sobre as perdas ocasionadas por brusone

26

Cultivar

Percentagem de espigas infectadas, rendimento de grãos e perdas causadas por Pyricularia grisea em trigo, cv. Anahuac

Local

Rio Brilhante1 Rio Brilhante2 Dourados3 Itaporã4 Itaporã4 Itaporã4 Média

Ano

1988 1989 1990 1990 1991 1992 -

Espiga infectada (%) 51 45 93 86 86 86 74

Rendimento de grãos (g/m2) Real Potencial

kg/ha

%

Infecção precoce

Infecção tardia

213 229 128 192 157 187 184

274 270 892 1.034 1.842 1.770 1.014

11 10 40 32 53 49 32

29,0 47,0 59,0 64,0 71,0 74,0 57,3

14,5 18,0 25,0 40,0 47,0 59,0 34,0

240 256 217 296 341 364 286

Perda em relação à espiga sadia (%)

Perdas

PERDAS

conseqüência, a maioria desses grãos é eliFoi conduzido, de 1988 a 1992, no Mato minada no processo de colheita e beneficiaGrosso do Sul, um trabalho com o objetivo de mento. Isso explica a baixa incidência de P. avaliar os danos causados por Pyricularia gri- grisea no trigo comercial ou em sementes fissea (agente causal da brusone) em trigo, isola- calizadas. damente da ocorrência de outras doenças. Notou-se também que em grande núTrabalhou-se em condições naturais e sem o mero de espigas infectadas ocorria abaixo do emprego de fungicidas, em lavouras e parce- ponto de estrangulamento da ráquis, uma las experimentais com a cultivar Anahuac, nos produção de grãos de tamanho bem maior municípios de Rio Brilhante, Dourados e Ita- que o normal, fruto de maior acúmulo de porã. A perdas variaram de acordo com a região tritícola Influência de época de infecção das espigas de trigo por avaliada. Em 1988 e 1989, Pyricularia grisea no peso do hectolitro das sementes em Rio Brilhante, as perdas no rendimento de grãos foPeso do hectolitro (kg) Ano Local ram, em média, de 10,5% da Infecção precoce Infecção tardia Sadia produção total estimada. A incidência foi de 48% de es1990 Dourados 71 < 66 66 pigas com brusone, em am1990 Itaporã 70 68 < 66 bos os anos. No ano de 1990, 1991 Itaporã < 66 66 75 em Dourados, as perdas fo1992 Itaporã 76 < 66 67 ram maiores do que aquelas registradas em 1988 e 1989, representado 892kg/ha ou 40% da produção total estimada, com uma nutrientes nesse local. Dessa forma, a transmédia de incidência de espigas com brusone locação de seiva ficou restrita a essa região da de 93%. No mesmo ano, em Itaporã, as per- espiga, uma vez que a ação do fungo na rádas foram de 1.034kg/ha, as quais representa- quis impediu a passagem da mesma para a ram 32% do rendimento, com 86% de espi- parte superior da espiga, prejudicando o degas com brusone. Em 1991 e 1992, em Itapo- senvolvimento de grãos nessas região. Isso rã, as perdas foram superiores àquelas consta- sugere uma compensação de produção por tadas nos anos anteriores, alcançando, em parte da planta. Observou-se, ainda, que as média, 1.806kg/ha ou 15% do rendimento de espigas infectadas por P. grisea, apresentangrãos, com incidência média de 86% de espi- do-se brancas, sobressaiam-se das demais gas com brusone. Nos cinco anos de avalia- (verdes e sadias), o que determinava uma iluções, as perdas em peso por espiga foram mai- são visual de estimativas de níveis de infecores (57,3%) quando a infecção foi precoce ção e de perdas superiores às reais. No caso da brusone do trigo, as maioem comparação à infecção tardia (34,0%), independente da localidade. Verificou-se que res perdas ocorrem quando a infecção tem o PH das sementes de trigo foi reduzido em início nas fases de florescimento e formafunção da época de infecção das espigas por P. ção de grãos, o que pode ser considerado grisea (< 66,0 para a infecção precoce, 66,8 como sendo a “infecção precoce” deterpara a infecção tardia e 73,0 para as sadias). minada nesse trabalho. No caso desta doA importância econômica desta doença ença, a situação ainda é mais séria, uma decorre das reduções que provoca no rendi- vez que o principal órgão afetado pela . mento e na qualidade de grãos, que, quando doença é a espiga. infectados, apresentam-se enrugados, pequenos, deformados e com baixo peso específi- Augusto César Pereira Goulart, co, conforme observado nesse trabalho. Em Embrapa Agropecuária Oeste Tab. 2

determinar perdas no rendimento de grãos de trigo causadas por Gibberella zeae (Reis et al., Summa Phytopahologica, v.22, n.2, p.123137, 1996) e por Pyricularia grisea (Goulart & Paiva, Summa Phytopathologica, v. 26, n.2, p.279-282, 2000).

Tab. 1

...por exemplo, as metodologias que permitiram

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Maio de 2003


Trigo

Dirceu Gassen

Cultivo sem invasoras

Especialista avalia a eficácia do herbicida Hussar -Iodosulfuron Methyl Sodium - no controle de plantas daninhas

O

trigo é uma das poucas e mais lucrativas opções de cultivo nas lavouras do sul do Brasil. A área de cultivo com o cereal vem aumentando em razão dos melhores preços e do lançamento de cultivares de alta capacidade de produção, levando a uma maior tecnificação dos produtores, que para obterem melhores produtividades também utilizam maiores quantidades de insumos. Entre estes insumos, os herbicidas vêm sendo cada vez mais utilizados, visto que a maior parte das regiões onde ele é cultivado utiliza o plantio direto, exigindo o controle químico das plantas daninhas. Essas devem ser controladas no início do desenvolvimento da cultura, fase onde a mato-competição é mais crítica (Mundstock, 1999). Atualmente existem herbicidas eficazes para o controle da maioria das espécies que infestam a cultura, podendo mantê-la, se não limpa, pelo menos com baixa densidade durante todo o ciclo (Iapar, 2001). Maio de 2003

Para o controle de plantas daninhas em pós-emergência no trigo alguns herbicidas são tradicionalmente utilizados. Entre esses encontra-se o metsulfuron-methyl, pertencente ao grupo das sulfoniluérias. É um produto que objetiva o controle de espécies de folhas largas. Como estas espécies predominam no sul do Paraná (Iapar, 2001), o uso do metsulfuron-methyl tem sido utilizado com bons resultados de controle e seletividade (Ronzelli Junior et al., 1997). Outro herbicida, o diclofop-methyl, pertence ao grupo dos difenil-éteres e é basicamente de ação graminicida, sendo utilizado para o controle de aveia e azevém na cultura do trigo (Rodrigues e Almeida, 1998; Andrei, 1999). O iodosulfuron methyl sodium é um herbicida pertencente ao grupo das sulfoniluréias, ainda em fase de registro para o trigo, e desde que avaliada sua eficácia e seletividade à cultura, pode constituir em mais uma opção de controle. Nesse sentido, realizou-se o presente trabalho que teve como objetivo avaliar a eficáwww.cultivar.inf.br

cia e seletividade do herbicida Hussar (iodosulfuron methyl sodium) no controle de plantas daninhas em pós-emergência da cultura do trigo (Triticum aestivum L.).

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado na Fazenda Escola “Capão da Onça” da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Município de Ponta Grossa, PR, em um Cambissolo háplico distrófico de textura argilosa, no ano 2001. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, com sete tratamentos e quatro repetições. As parcelas apresentaram área total de 18,0 m2 (6,0 x 3,0 m). O sistema de plantio utilizado foi o “plantio direto na palha”, com semeadura realizada mecanicamente em fileiras espaçadas de 0,17 m, semeando-se em média 130 kg.ha de sementes, a uma profundidade de 0,04 a 0,05 m. A cultivar utilizada foi Iapar-53, com semeadura efetuada em 04/07/01. A emergência das plantas ocorreu no dia 12/07/01. A adubação consis-

...

Cultivar

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pulverizador costal, à pressão constante de 30 lb/pol2, pelo CO2 Nome Dose Nome Dose Época de aplicação3 comprimido, Comum (g ia.ha) comercial (pc.ha) 38 com pontas de 1. Iodosulfuron methyl sodium1 2,5 Hussar 50 g 38 jato plano “le2. Iodosulfuron methyl sodium 3,5 Hussar 70 g 38 que” XR 1103. Iodosulfuron methyl sodium 5,0 Hussar 100 g 38 4. Metsulfuron methyl 2,4 Ally 4g 38/51 02. Aplicou-se o 5. Diclofop-methyl2 284/284 Iloxan 1,0/1,0 L 38/51 equivalente a 6. Testemunha capinada —— —— —— —— 200 L.ha de cal7. Testemunha sem capina —— —— —— da. A primeira Aos tratamentos 1 a 5 foi adicionado espalhante adesivo a 0,5% v.v (1,0 L.ha de Hoefix); Tratamento aplicado seqüencialmente; aplicação dos Época em dias após a emergência tratamentos foi realizada no dia 19/08/01, com início às 9:00 Quadro 2 - Avaliação visual de controle (%) para Lolium multiflorum e Raphanus raphanistrum aos 13, 27 e 45 dias após a aplicação (DAA) dos tratamentos na cultura do trigo. Fazenda Escola. Ponta Grossa, horas. Na pulvePR. 2001 rização, a temperatura do ar era 13 DAA 27 DAA 45 DAA de 22oC, o tem1 Tratamentos Controle para Lolium multiflorum Dose (pc.ha) po estava parci65,0 bc 88,7 b 91,2 b 1. Hussar 50 g almente nubla75,0 ab 100,0 a 100,0 a 2. Hussar 70 g 85,0 a 100,0 a 100,0 a 3. Hussar 100 g do (50 % de nu17,5 d 23,7 c 32,5 c 4. Ally 4g vens), sem ven2 55,0 c 85,0 b 88,7 b 5. Iloxan 1,0/1,0 L tos, umidade re8,9 3,4 2,6 —C.V. (%) lativa do ar de Controle para Raphanus raphanistrum 80% e o solo en1. Hussar 50 g 82,5 d 100,0 100,0 contrava-se 2. Hussar 70 g 87,5 c 100,0 100,0 úmido. Na apli3. Hussar 100 g 93,2 b 100,0 100,0 cação, as plantas 4. Ally 4g 98,5 a 100,0 100,0 de trigo encon5. Iloxan 1,0/1,0 L2 0,0 e 0,0 0,0 travam-se na 6. Test. capinada —100,0 100,0 100,0 7. Test. sem capina —0,0 0,0 0,0 fase de perfilhaC.V. (%) —3,0 —— —— mento, no estáMédias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem pelo teste de Tukey (p<5%); Dose do produto comercial por hectare; dio 25 da escala Aplicação seqüencial; C.V. = coeficiente de variação de Zadoks et al. (1974). A aplicação da segunda dose Quadro 3 - Produtividade de grãos (kg.ha) e fitotoxicidade (%) do trigo em função de diferentes do Iloxan foi retratamentos de controle de plantas daninhas. Fazenda Escola. Ponta Grossa, PR. 2001 alizada no dia Tratamentos Dose Produtividade Fitotoxicidade (%) 01/09/01, com (nome comercial) (pc.ha)1 (kg.ha) 13 DAA2 27 DAA 45 DAA início às 10:00 horas. Na apli1. Hussar 50 g 2.920 a 0 0 0 2. Hussar 70 g 3.079 a 0 0 0 cação, as plantas 3. Hussar 100 g 2.870 a 0 0 0 de trigo encon4. Ally 4g 2.845 a 0 0 0 travam-se na 3 5. Iloxan 1,0/1,0 L 2.719 a 0 0 0 fase de elonga6. Test. capinada —2.977 a 0 0 0 ção do colmo, no 7. Test. sem capina —1.615 b 0 0 0 C.V. (%) —8,0 ———estádio 32 da escala de Zadoks et Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem pelo teste de Tukey (p<5%); Dose do produto comercial por hectare; Dias após a aplicação dos tratamentos; Aplicação seqüencial; C.V. = coeficiente de variação al. (1974). As plantas daninhas presentes no experitiu da aplicação de 250 kg/ha de adubo de mento foram Lolium multiflorum (azevém) e fórmula 05-25-25 na semeadura e 45 kg.ha Raphanus raphanistrum (nabo) com 37 e 46 de nitrogênio (na forma de uréia), aplicado plantas/m2 respectivamente. Na aplicação dos em cobertura, no início da fase de perfilha- herbicidas as plantas de azevém estavam na mento. fase de perfilhamento e as de nabo com 4 a 8 Os nomes comum e comercial dos trata- folhas. mentos utilizados, com respectivas doses e As avaliações de controle de plantas daniépoca de aplicação, encontram-se no Quadro nhas foram efetuadas visualmente aos 13, 27 1. Os herbicidas foram aplicados através de e 45 dias após a aplicação (DAA) dos trataQuadro 1 - Nomes comum e comercial, doses em gramas do ingrediente ativo (g ia.ha) e produto comercial (pc.ha) por hectare e época de aplicação dos tratamentos utilizados no experimento com trigo. Fazenda Escola - UEPG. Ponta Grossa, PR. 2001

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Cultivar

www.cultivar.inf.br

mentos. A metodologia de avaliação utilizada foi a visual, comparando-se o controle exercido pelos herbicidas com a testemunha sem capina, onde “0%” correspondeu a “sem controle” e “100%” a “controle total”. As avaliações de fitotoxicidade foram efetuadas nas mesmas datas das de controle. A colheita foi efetuada no dia 26 de outubro de 2001, manualmente, utilizando-se as plantas da área útil das parcelas. Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância pelo teste F e as diferenças entre as médias comparadas pelo teste de Tukey no nível de 5 % de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO No decorrer do experimento as condições de clima foram adequadas ao desenvolvimento do trigo e das plantas daninhas, que encontravam-se em plena atividade metabólica na época da aplicação dos herbicidas. Os herbicidas mostraram uma ação inicial mais lenta no controle para Lolium multiflorum, sendo menores as porcentagens de controle observadas aos 13 dias após a aplicação dos (DAA) tratamentos em relação às avaliações mais tardias (Quadro 2). Aos 27 DAA observa-se que o Hussar em todas as doses e o Iloxan mostraram controle eficiente, que se manteve até 45 DAA. Nas avaliações aos 27 e 45 DAA, o Hussar na dose de 50 g.ha, apesar de ter-se mostrado eficiente, foi de controle inferior às demais doses do produto, mas superior ao Ally e similar ao Iloxan. No controle para Raphanus raphanistrum (Quadro 2), observa-se que aos 13 DAA o potencial de controle dos herbicidas ainda não estava totalmente exteriorizado, mas era eficiente para o Hussar e para o Ally. Nessa avaliação, embora todas as doses do Hussar tenham se mostrado eficientes, as maiores promoveram maiores porcentagens de controle, e o Ally foi o tratamento de melhor controle. Aos 27 e 45 DAA o controle foi total (100%) para esses herbicidas. O Iloxan não mostrou controle para essa espécie em nenhuma avaliação. As diferenças no controle promovido pelos herbicidas não foram suficientes a ponto de se refletir na produtividade, que foi similar entre esses (Quadro 3). No entanto, todos evitaram perdas de produção pela ocorrência das plantas daninhas, já que a produtividade mostrada por esses foi superior à verificada para a testemunha sem capina e similar à da testemunha capinada. Em relação à fitotoxicidade, não foram observadas alterações na coloração e no crescimento do trigo que pudessem ser atribuídas aos herbicidas utilizados (Quadro 3), indicando serem os mesmos sele. tivos à cultura. Jeferson Zagonel, UEPG Maio de 2003



TRIGO

Adubo na medida Para buscar máxima rentabilidade e produtividade é necessário estabelecer raciocínio lógico que direcione ao atendimento total das necessidades da cultura

N

o momento em que transcorre a colheita de uma das melhores safras de Soja no RS, preparamo-nos para iniciar a semeadura da nova safra de Trigo que, tudo indica, terá um expressivo crescimento de área. Cabem algumas reflexões sobre a fertilidade do solo, levando em conta que, cada vez mais, devemos pensar na adubação do Sistema Plantio Direto e não mais isoladamente na cultura a ser implantada. É oportuna uma reflexão sobre a adubação e, principalmente, sobre a cobertura nitrogenada do Trigo e as possíveis implicações destas decisões, não só sobre a produtividade do trigo, mas na safra de soja subseqüente.

EXPORTAÇÃO DE NUTRIENTES Para iniciarmos nossa reflexão, é importante atentarmos para as quantidades exportadas de cada um dos principais macro e micronutrientes, respectivamente pela Soja e pelo Trigo (tabela 1). Esta é a quantidade de nutrientes que é removida da lavoura no momento da colheita, ou seja, é uma “perda” de nutrientes do sistema. Muitas vezes, nosso zelo conservacionista, com plantio direto bem conduzido, aparente ausência de erosão e bom manejo da área, com rotação, palhada abundante e demais práticas agronômicas de menor impacto, desviam nossa atenção deste ponto: quanto maior a produtividade, proporcionalmente maior é a quantidade removida destes nutrientes! Observe com atenção que, do ponto de vista de exigência nutricional das culturas, uma tonelada de soja remove 4,4kg de Fósforo e 5,4kg de Enxofre (ambos considerados na forma elementar, P e S). Soma-se este fato à constatação de um grande número de análises de solo (inclusive já deste ano) onde os teores de Enxofre estão baixos (teores <10mg), devido ao grande volume de chuvas que tivemos com a incidência do fenômeno “El Nino”, arrastando este elemento -muito móvel no solopara camadas mais profundas, fora da zona de coleta da amostra de solo e, em muitos casos, fora da zona de absorção das raízes. Ora, se estamos pensando num SISTEMA e se a soja exporta mais enxofre do que fósforo, ignorando convenções humanas que tendem a valorizar os nutrientes proporcionalmente ao seu custo

de aquisição, esta é a hora apropriada para decidirmos nossa estratégia de adubação, utilizando formulações que tenham garantias de enxofre e/ou optando pela cobertura nitrogenada com produtos que contemplem, além de nitrogênio, o enxofre, visando suprir este elemento tão importante e atender às necessidades das culturas, especialmente da exigente soja.

IMPACTO DA PRÁTICA NA PRODUTIVIDADE Trabalhos conduzidos durante 3 anos em Cascavel-PR pela OCEPAR (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), sob a coordenação do Eng. Agr.(MS) Edson Feliciano de Oliveira, com apoio do SN Centro (Centro de promoção e pesquisa Sulfato de Amônio), mostraram que as produtividades mais altas foram conseguidas com o emprego de mais fertilizantes no plantio do que a média utilizada pelos produtores e pela utilização de fonte nitrogenada com enxofre, no caso o Sulfato de Amônio, na cobertura nitrogenada do trigo. Neste trabalho, foi medido o impacto desta prática tanto na produtividade do trigo (gráfico 1) quanto no efeito residual na cultura de soja subseqüente, implantada na mesma área (gráfico 2). Na cultura do trigo, observamos um acréscimo significativo de 19 sacos/ha em relação ao tratamento NPK tradicionalmente utilizado pelo produtor paranaense, e de 9 sacos/ha em relação ao tratamento NPK recomendado. Para a soja, tivemos um acréscimo de 17 sacos de soja/ha em relação ao tratamento tradicional, e de 13,6 sacos/ha em relação à área com adubação recomendada. Estas diferenças se devem unicamente ao residual de enxofre da aplicação nitrogenada na cultura do trigo.

OUTRA EXPERIÊNCIA Trabalho semelhante ao acima referido foi conduzido em Guariba-SP, pela FEALQ - Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, comparou a produtividade entre cobertura nitrogenada somente com uréia e desta associada a Sulfato de Amônio. Neste trabalho, a utilização do Sulfato de Amônio na cobertura nitrogenada, fornecendo 20 kg/ha de enxofre, aumentou a eficiência des-

ta e impactou positivamente o resultado final, aumentando em significativos 6,7 sacos/ha em relação à área com aplicação de uréia isoladamente (gráfico 3). Apesar da significância dos resultados, é importante a avaliação dos resultados econômicos proporcionados pela utilização desta fonte alternativa de nitrogênio, contemplando também o enxofre. A seguir, apresentamos os resultados destas análises, para apreciação dos leitores (tabelas 2, 3 e 4), onde vemos que, em todas as situações analisados nos experimentos, houve impacto positivo na lucratividade do produtor. E é a lucratividade que alavanca todo o processo.

COMENTÁRIOS FINAIS Podemos extrapolar estes dados do Paraná e de São Paulo para a realidade do Rio Grande do Sul? Não literalmente, mas, em tese, sim, pois estamos falando da mesma seqüência de cultivos (Trigo + Soja) e de uma condição específica de resposta destas culturas numa situação de baixa disponibilidade de um determinado nutriente essencial, no caso o Enxofre.,Baixa disponibilidade esta já referida anteriormente nas análises de solos do RS. Observadas características diferentes de clima, solo, época de plantio etc., podemos estabelecer um raciocínio lógico que nos direcione na busca do atendimento da totalidade das necessidades nutricionais das culturas analisadas, buscando a maximização da produtividade e da rentabilidade. E isto vale para qualquer local, pois a velha “Lei do Mínimo” (Fig.1) é aplicada aos nutrientes, independentemente do local do planeta aonde vier a ser implantado algum cultivo de interesse econômico. E não espere os sintomas visuais aparecerem, pois antes disto, a fome oculta já poderá estar decretando reduções de produtividade! A hora é agora e das decisões que tomarmos dependerá o tamanho das próximas safras, tanto de trigo quanto de soja. E veja que, muitas vezes, esta decisão nem envolve maiores custos, mas sim. plesmente a escolha certa! Decida certo e BOA SAFRA!

Flávio Danilo Haas, Cooplantio


Tab. 01 - Soja e Trigo - exportação de nutrientes por tonelada

Gráf. 1 - Produtividade do Trigo em função da adubação de base + cobertura (OCEPAR)

Kg/t

g/t

Soja 1

N 51

P 4,4

K 16,6

Ca 3

Mg 2

S 5,4

Zn 40

B 20

Mn 30

Trigo 2

22,4

3,5

4,4

0,4

1,4

2

70

40

-

Fonte: 1 - Embrapa Soja, Londrina (1997) 2 - Morrison, Alimentos e Alimentação

Tab. 02 - Análise Econômica dos Resultados do Experimento de Trigo (OCEPAR, Cascavel) Adubação Nitrogenada

Dose 05-20-20

Dose Custo(1) Produtividade Sulf. Amônio Adubação

kg/ha

NPK usual NPK recomendado + Sulfato de Amônio Custo Adicional Aumento Receita Aumento do Lucro Líquido

120 300

0 250

Receita(1)

Retorno(1) Financeiro

R$/ha

Saca/ha

R$/ha

R$/ha

46,80 190,50 143,70

32 51

537,20 860,20

490,40 669,70

323,00 179,30

Fonte: SNCentro

Gráf. 2 - Produtividade da Soja após o Trigo em função da adubação residual (OCEPAR)

(1) Preços praticados em maio, 2002. (2) Renda Bruta menos o custo da adubação nitrogenada

Tabela 3: Análise Econômica do efeito residual da adubação do trigo na cultura da soja (OCEPAR, Cascavel) Adubação no Trigo 05-20-20

Adubação da Soja 0-20-20 R$/ha

NPK usual NPK recomendado + Sulfato de Amônio Custo Adicional Aumento Receita Aumento do Lucro Líquido

Custo(1) Adubação da Soja R$/ha

220 220

51,00 51,00

Produtividade Soja

Receita(1) Soja

Retorno(2) Financeiro

Sacas/ha

R$/ha

R$/ha

618,89 870,00

567,89 819,00

41,81 58,78

0 251,11 251,11

(1) Preços praticados em maio, 2002. (2) Renda Bruta menos o custo da adubação nitrogenada Fonte: SNCentro

Tabela 4: Análise Econômica do efeito do enxofre na cultura do trigo (FEALQ-SP) Adubação Nitrogenada

Dose N

Dose S kg/ha

Somente Uréia Sulfato de Amônio+Uréia Custo Adicional Aumento Receita Aumento do Lucro Líquido

45 45

0 20

Custo(1) Adubação

Produtividade

Receita(1)

Retorno(1) Financeiro

R$/ha

Sacas/ha

R$/ha

R$/ha

38,00 47,70

26,45 33,16

449,70 563,70

411,70 516,00

Gráf. 3 - Produtividade do Trigo em função da adubação de cobertura com enxofre (FEALQ)

9,7 114,00 104,30

(1) Preços praticados em maio, 2002. (2) Renda Bruta menos o custo da adubação nitrogenada

Fig 1 – Adaptação da “Barrica da Lei do Mínimo”, de Justus Von Liebig: Luz, água e recursos financeiros, também são limitantes importantes!

Fonte: SNCentro


Agronegócios

Biotecnologia e a prot A preocupação excessiva com os insetos pode estar com os dias contados, devido à biotecnologia

Q

uando se discute biotecnologia, um dos questionamentos recorrentes refere-se à prioridade da aplicação de recursos públicos para o desenvolvimento de pesquisas que, à primeira vista, não se desdobram em benefícios diretos à sociedade. Mahatma Gandhi, um dos maiores estadistas de todos os tempos, enfrentou o mesmo questionamento ao conferir prioridade aos investimentos em Educação e C & T, em um país pobre, com elevado déficit de políticas sociais, como a Índia. Gandhi afirmava que as alternativas eram: algum sacrifício no presente para viabilizar o futuro almejado pela sociedade; ou o populismo das políticas conjunturais, sacrificando qualquer esperança de futuro. Pessoalmente, entendemos que o investimento em Ciência e Tecnologia de boa qualidade sempre vai se justificar, mesmo que o retorno prático dos avanços científicos ocorra no médio prazo. O corolário desta postura é que, se o Brasil não acompanhar par i pasu o estado da arte da C & T, verá seus competidores se distanciarem o suficiente para não serem alcançados, condenando-nos ao papel de país periférico, com comprometimento da nossa capacidade de desenvolvimento, progresso, geração de emprego e renda e ocupação do espaço comercial. A energia hoje voltada para criticar os investimentos, feitos por grandes multinacionais e por governos dos países do Primeiro Mundo, deve ser canalizada para alertar a sociedade brasileira para que investimentos semelhantes sejam efetuados, por empresas privadas e institutos públicos brasileiros. Para ilustrar a importância do investimento em C & T como base para ações de pesquisa, desenvolvimento, inovação e empreendimentos de cunho tecnológico, analisemos uma das pesquisas de mai32

Cultivar

or divulgação na mídia em 2002: o sequenciamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosa, causadora do amarelinho dos citrus.

OPÇÃO ESTRATÉGICA Quando a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP) optou pela indução de estudos na área de genômica, seus estrategistas tinham muita clareza da importância do domínio do ferramental biotecnológico para o desenvolvimento de tecnologias de ponta, seja na agricultura ou na medicina. O investimento inicial na rede de pesquisa denominada ONSA (Organization for Nucleotide Sequencing and Analysis) foi de valor ínfimo, não interessando o seu quantitativo financeiro. Ínfimo porque, a partir do desvendamento do código genético da Xylella e do funcionamento de cada um dos genes da bactéria, o Brasil acumulou um patrimônio de conhecimento na fronteira da ciência de valor inestimável. O estudo básico permitiu investir na elucidação do código genético de duas outras bactérias: a Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico, praga que historicamente assola a nossa citricultura, e a X. campestri, que ataca a couve. A escolha do gênero Xanthomonas não ocorreu por acaso, porém deveu-se ao fato de que espécies desta bactéria já foram encontradas atacando quase 400 diferentes vegetais, entre eles o tomate, o feijão, o arroz, a mandioca, o algodão, o milho, a cana, o trigo e a soja. Os cientistas compararam o genoma e a funcionalidade das duas bactérias, com o objetivo, analisar as diferenças de forma de ataque aos hospedeiros, buscando os pontos vulneráveis dos patógenos e a relação com o respectivo DNA. Decifrado este enigma, estará aberto um campo fértil para o controle destas pragas agrícolas. www.cultivar.inf.br

A PESQUISA BÁSICA Os pesquisadores estudaram apenas 100 entre os 4.322 genes da X. citri e os 4.079 da X. campestri, e notaram que, apesar da proximidade filogenética, a X. citri sobrevive sobre a epiderme dos ramos ou dos frutos da laranjeira, causando o cancro cítrico, enquanto a X. campestri se instala nos tecidos internos do repolho e circula através do xilema da planta. Se existem hábitos diferentes, então eles são devidos a genes diferentes. Baseado nessa teoria, foram identificados os genes que permitem às bactérias penetrarem nos tecidos dos hospedeiros, de maneira diferente para cada uma delas. Também foi estudada a preferência ou atração das bactérias em relação a determinadas substâncias químicas produzidas pelas plantas. Os cientistas concluíram haver, pelo menos, 200 genes na espécie X. campestri que não são encontrados na X. citri, que poderiam estar relacionados com as interações entre as bactérias e

Maio de 2003


teção contra as pragas seus hospedeiros. Se comprovada a hipótese, os cientistas poderiam investir na inibição ou inativação dos genes, ou das substâncias por eles produzidas, evitando que as bactérias pudessem estabelecer-se sobre o seu hospedeiro. Completado o estudo básico, três grandes avenidas tecnológicas foram descortinadas, como possibilidades de controle dessas bactérias.

ROTA 1: INIBIÇÃO DO INGRESSO Um gene denominado PTHA, presente em X. citri e ausente em X. campestri, atua na proliferação anormal das células do hospedeiro, formando o cancro observado nas plantas cítricas. Já em X. campestri foram observadas diversas enzimas que digerem a parede celular das plantas, que é o efeito observável do seu ataque. O passo seguinte será descobrir qual o gene (ou agrupamento de genes) que comanda a produção das enzimas responsáveis pela destruição da parede celular. Posteriormente, será necessário descobrir substâncias químicas que bloqueiem estas enzimas. Sem o auxílio das enzimas que digerem a parede celular, a bactéria não terá a habilidade de contaminar os tecidos vegetais, impossibilitando seu estabelecimento no hospedeiro.

ROTA 2: BLOQUEIO DA DEFESA O ataque de um patógeno a um vegetal deflagra mecanismos que identificam as substâncias químicas que caracterizam o invasor. Ato contínuo, a planta produz ou mobiliza antídotos para reagir ao ataque, seja evitando o ingresso do agressor, imobilizando-o, destruindo-o ou impedindo que este se desenvolva ou reproduza. Se bem sucedido nesta missão, o sistema imunológico das plantas protege o hospedeiro contra os patógenos. Cada espécie de Xanthomonas possui Maio de 2003

hospedeiros específicos. A hipótese é que, se cada espécie da bactéria produz substâncias químicas próprias, que disparam os mecanismos do sistema imunológico de algumas plantas - mas não tem o mesmo efeito em outras - então essas substâncias têm o poder de enganar as “sentinelas” das plantas, abrindo suas defesas para o ataque da bactéria. Os genes responsáveis por estas substâncias são denominados “genes de avirulência”. Eles não precisam ser os mesmos que codificam para as substâncias causadoras da patogenicidade. Porém, no caso da X. citri, o PTHA também é o gene responsável pela avirulência. Para provar esta hipótese, os cientistas transferiram o PTHA para o DNA de outra espécie de Xanthomonas, o que impediu que ela infectasse o seu hospedeiro natural (o arroz), porque o gene acionou as defesas da planta. As substâncias responsáveis pela avirulência são proteínas, como é o caso do antígeno-O. Para a X. citri foram identificadas dez enzimas que produzem antígenos-O os quais, quando não são reconhecidos pelas defesas da plantas, possibilitam a infecção. Como o leitor percebeu, o próximo passo será descobrir substâncias que bloqueiem a ação dos genes, inativem as enzimas ou impeçam a atuação das substâncias que “enganam” a planta. Se a planta reconhecer o agressor, existe sempre a possibilidade de o seu sistema imunológico obstruir a ação do patógeno.

zimas que digerem as proteínas, a síntese ou o a ação do PPA. Na presença dessa substância, a bactéria não terá como obter seu suprimento de nitrogênio, prejudicando seu desenvolvimento e sua reprodução, comprometendo sua habilidade patogênica, podendo eliminar completamente a bactéria da planta. Isso somente será atingido se o código genético das plantas contiver os genes que codifiquem para as substâncias que atuam no PPA ou nas enzimas de digestão das proteínas. Pelo exposto, demonstramos a importância da pesquisa na fronteira da ciência, que sempre será a base de inovações tecnológicas. Entretanto, este caminho somente estará aberto quando ocuparem postos chaves pessoas com privilegiada visão de futuro, como tem acontecido com os dirigentes da FA. PESP. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agropolis.hpg.com.br Embrapa Soja

ROTA 3: PROLIFERAÇÃO Considerando que a X. citri ataca a epiderme e a X. campestri atua no interior dos tecidos, os cientistas estudaram a bioquímica desses processos e a sua relação com determinados genes. Descobriu-se que a X. campestri obtém o nitrogênio através de nitratos e nitritos do solo, utilizando o nitrogênio da seiva das plantas apenas marginalmente. Já a X. citri produz enzimas que “quebram” proteínas em partes menores (peptonas e peptídios), as quais são absorvidas pela bactéria com a ajuda de outra substância química, denominada transportador (PPA). Conseqüentemente, o próximo passo será descobrir substâncias que inibam a produção ou a atividade das enwww.cultivar.inf.br

Gazzoni mostra as perspectivas da biotecnologia no combate às pragas

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Final da colheita de verão A colheita da safra de verão está chegando ao final neste mês de maio, quando os armazéns brasileiros já terão visto passar mais de 100 milhões de t, sendo a soja o principal produto, que representa cerca de 50% do total colhido até agora. O milho vem em segundo, com cerca de 30 milhões de t já colhidas neste final de mês e outras 8 milhões devendo chegar nos próximos 90 dias. O Arroz chega em terceiro posto. Os problemas de final da colheita apareceram na soja, com chuvas em excesso no Centro-Oeste, que mostrou perdas de 5% sobre as lavouras do MT, causando também prejuízos em Goiás. Enquanto isso, as perdas na produtividade da safra do arroz gaúcho deverão fazer com que os números finais deste fiquem um pouco abaixo das 11 milhões de t. O Brasil também está com grandes volumes sendo embarcados para a exportação e isso deverá dar lastro para que a nova safra 2003/04, que já está começando a ser planejada pelos produtores, possa avançar ainda mais e chegar à marca das 120 milhões de t. As cotações internacionais dos produtos agrícolas estão em fase de recuperação, dando melhores condições de competitividade aos produtores brasileiros. Como a demanda mundial está em crescimento e a produção de alimentos não cresceu no mesmo ritmo(estamos nesta situação há 3 anos), os estoques seguem em queda, dando suporte para manter as cotações favoráveis. Busca-se, assim, aumentar a oferta para atender parte do crescimento de consumo que vem acelerado e não deverá parar no curto prazo.

MILHO

Poucos negócios e colheita lenta O governo suspendeu os pregões de Opções e de compra de milho no começo de abril, apontando que as cotações tinham parado de cair, sem necessidade, assim, de grande suporte ao setor. A colheita do cereal diminuiu de ritmo porque a maior parte das regiões que têm milho também estava com soja, tendo maior necessidade de colheita. Assim, o milho ficou para trás e o movimento das máquinas foi para cima da soja, devendo voltar a colher as últimas lavouras do milho agora em abril. Os valores do milho aos produtores ficaram entre os R$ 16,50 e os R$ 18,50 e os lotes livres estiveram entre os R$ 18,50 e os R$ 20,00, com alguns locais mostrando valores acima. As indústrias passaram o mês de abril trabalhando com o que receberam no balcão e empurrando os novos fechamentos para frente. Apontavam que os fretes estavam em alta devido à supersafra da soja e, assim, o custo final do milho tem ficado alto. Espera-se que os custos do transporte recuem, favorecendo as negociações. Ainda existe cerca de 25% da safra de verão para ser colhida em maio.

res estiveram levando poucos volumes e apontavam que a demanda estava fraca e não havia formações de estoques pelos atacadistas. As geadas de abril não causaram grandes prejuízos ao setor, que apontava perdas variando dos 5 a 15% na produtividade da segunda safra devido ao clima frio. Mas ainda existe risco porque parte das lavouras entra em colheita em maio, podendo ser afetadas pelo clima. Os produtores do Preto reclamam das grandes diferenças entre este e o Carioca, que chega a superar os R$ 50,00. O feijão Preto estava entre R$ 65,00 e R$ 80,00, sem pressão de negócios. As lavouras irrigadas já estão plantadas e mostram que os custos cresceram. E os produtores acenam para a necessidade de venda acima dos R$ 120,00 por saca para conseguir margem. A demanda deverá crescer nos próximos meses.

ARROZ

Casca dispara em plena colheita A colheita da safra gaúcha estava a todo o vapor em abril e, junto, as cotações andavam em forte ritmo

SOJA

CURTAS E BOAS

Alta em Dólar A soja em abril teve posições ajustadas com as cotações superando a marca dos US$ 6,10 por bushel em Chicago, fato este que há pelo menos 8 meses não ocorria. Com isso, os indicativos internos tiveram avanços em Dólar, batendo os US$ 13,00 por saca em Paranaguá e, assim, trabalhando pelo menos US$ 1,00 acima do que vinha trabalhando anteriormente. Mas, para os produtores, pouco de ganho foi conseguido em Reais, pois a moeda americana caiu aos menores indicativos desde agosto do ano passado, e ficou ao redor dos R$ 3,00, ou seja, com grande baixa frente aos R$ 3,50 de março. Com isso, poucos vendedores apareceram para fechar balcão e os maiores volumes movimentados foram de soja contratada antecipadamente. Os produtores só estiveram entregando os contratos ou deixando a soja a fixar, apostando em novos avanços mais à frente. Os produtores do Mato Grosso tiveram perdas em cima das lavouras tardias, de cerca de 20% da safra, que foi bastante afetada pelo excesso de chuvas, prejudicando o setor, que tem perdas gerais entre 300 e 700 mil t da safra local que estava em até 13,5 milhões de t.

FEIJÃO

Poucos negócios em abril O mercado do feijão passou com poucos negócios a maior parte do mês de abril, mantendo indicativos de R$ 110,00 a R$ 130,00 para a maior parte das regiões produtoras do Carioca. E indicativos de R$ 10,00/ 20,00 abaixo para o produto comercial. Os comprado34

Cultivar

de alta, com avanços de até R$ 5,00 somente nas últimas semanas. O mercado que começou o mês de abril trabalhando nos R$ 26,00, fechou acima dos R$ 30,00, havendo ofertas acima dos R$ 32,00, com poucos vendedores querendo fechar agora. A menor oferta de arroz do Mercosul, junto com os avanços vistos no produto americano, que fez com que o produto ficasse caro para ser importado, deu lastros para os produtores forçarem correções internamente. A alta no casca interno fez com que o governo suspendesse a liberação de R$ 200 milhões para auxiliar os produtores e, assim, dificultar a queda nos indicativos. Mas o melhor fator de alta que os produtores têm é o controle do endividamento e a boa capitalização, que fazem com que estes possam segurar a safra e negociar quando melhor lhes convier. Dando margens para avanços e, assim, ter boa rentabilidade. A safra gaúcha veio e confirmou perdas na produtividade, com 10 a 25% de queda devido ao excesso de chuvas e as frentes frias que atingiram as lavouras no momento da floração. Isso deverá dar sustentação às cotações deste ano.

CHINA - está confirmando o aumento do esmagamento interno da soja para 23 milhões de t neste ano, com crescimento de 21%, mostrando que deverá avançar outros 10% no próximo ano e criando espaço para continuar aumentando os volumes de importações. O Brasil poderá embarcar acima de 6,5 milhões de t para este destino em 2003, contra os 3,9 milhões de 2002. EUA - o plantio está em andamento, podendo trazer alterações nas cotações internacionais. Mas como o mercado já absorveu os números previstos pelo USDA, que é de queda de apenas 200 mil ha, passando a 29,6 milhões de ha, os indicativos só terão ajustes se houver problemas climáticos que impeçam seu bom andamento. A safra é apontada entre 75/77 milhões de t. ARGENTINA - a colheita local está caminhando para o final nestas próximas semanas de maio, e a indicação de 35 milhões de t continua circulando. Somados com o Brasil e o Paraguai, terá mais de 90 milhões de t, contra 75 de 2001/02. ALGODÃO - o excesso de chuvas sobre as lavouras do MT não foi bem visto pelos produtores, que temem por grandes perdas na produtividade. Por enquanto, não há confirmação oficial de danos, mas os produtores apontam que pelo menos 20% da produtividade foi afetada, resultando em menor oferta no mercado interno e chances de cotações melhores. TRIGO - o plantio está em andamento no Sul do país, já avançado no Paraná, que mostra o Oeste e Norte com a maior parte das áreas plantadas. O crescimento da área está apontado em cerca de 300 mil ha, e a safra deverá avançar para 4 a 4,5 milhões de t. O governo confirmou os preços mínimos de garantia nos R$ 400 por t no Sul do país e nos R$ 450 para as outras regiões produtoras. SOJA - as exportações deste ano devem chegar com facilidade às 35 milhões de t, e isso já pode ser visto nos portos que vêm trabalhando a todo o vapor. Paranaguá vem batendo recorde de filas de caminhões, que mantêm média de 25 km, chegando a bater 130 km na segunda semana de abril. Os custos dos fretes cresceram entre 30 e 60% em abril.

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Maio de 2003




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