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Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 7º andar Pelotas – RS 96015 – 300
Boa para forragem
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Nova variedade de cana-de-açúcar rende 18% a mais na produção de forragens
Diretor-Presidente Newton Peter Diretora Administrativa Cely Maria Krolow Peter Diretor Financeiro e de Redação Schubert K. Peter Secretária Geral Simone Lopes
Algodão na Bahia
Cultivar Grandes Culturas Ano V - Nº 52 Julho / 2003 ISSN - 1518-3157 www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 86,00
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(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Bahia promete dobrar a área plantada e novas variedades garantem mais qualidade
Números atrasados: R$ 12,00 Assinatura Internacional: US$ 52,00 48,00 • Editor:
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Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Influência da chuva
Pablo Rodrigues • Revisão
Efeito da chuva sobre a eficiência do Glifosato no controle de plantas daninhas
Carolina Fassbender • Design Gráfico e Diagramação
Fabiane Rittmann _____________
• Gerente Comercial
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• Assistentes de Vendas
Pedro Batistin Júlio Latorres Gomes
Hora de proteger
_____________
• Gerente de Circulação
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Cibele Oliveira da Costa
Saiba quando e como controlar as principais doenças do trigo
• Assinaturas
Jociane Bitencourt Luceni Hellebrandt • Assistente de Promoções
Pedro Largacha
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Fabiana Maciel Rosiméri Lisbôa Alves • Expedição
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Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL / ASSINATURAS:
3028.4010 • REDAÇÃO:
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3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
índice Diretas Nova variedade de cana-de-açúcar Mais algodão na Bahia Novas fronteiras para o algodão brasileiro Agripec de olho no futuro Café no Sul de Minas Como foi a soja na Bahia Safeners: proteção especial Efeito da chuva eficência de Glifosato Germinação pré-colheita em trigo Trigo: hora certa para proteger Coluna da Aenda Informe técnico Cooplantio Agronegócios Mercado agrícola
Nossa capa 04 06 08 10 12 14 16 18 20 24 28 32 34 36 38
Foto Capa / Dirceu Gassen Infestação de plantas daninhas na soja
diretas Destaque Em reunião realizada em Brasília no mês de junho, o Clube da Fibra e a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) escolheram Andrew McDonald, diretor da Santista Têxtil e presidente da Associação Brasileira do Algodão (Abralg), como a personalidade do ano do setor algodoeiro.
Monsanto A Monsanto começa a licenciar as tradings exportadoras de soja para a cobrança de royalties de suas sementes em 1º de julho. Segundo o diretor de Marketing da Monsanto do Brasil, Felipe Osório, a cobrança terá como base o volume da soja transgênica
exportada para os países nos quais a companhia tem patente para a variedade de soja transgênica Roundup Ready. Depois dessa data, a Monsanto irá acionar as alfândegas dos países nos quais têm a patente para a soja transgênica a fim de fiscalizar se o produto é
exportado clandestinamente. Em caso positivo, o importador será responsabilizado judicialmente como receptador de mercadoria pirateada. Apesar de as licenças estarem sendo feitas agora, a cobrança de royalties só começará na próxima safra
Rumo ao topo Durante o lançamento de produtos da empresa para as culturas de hortaliças e frutas, o vice-presidente da divisão agro da Basf, Markus Heldt, e o diretor de marketing, Maurício Marques, não esconderam o otimismo com as perspectivas de negócios para os próximos anos. De 2002 a 2005, a Basf completa o lançamento de sete herbicidas, seis inseticidas, doze fungicidas e um regulador de crecscimento.
Gustavo Benine
SPHERE
Markus (dir.) e Maurício
Andrew MacDonald
Arroz
Estratégia
Nos próximos meses a Basf lançará arroz resistente ao herbicida Only.
A Basf lança seis produtos para o mercado de hortaliças e frutas. David Tassara, gerente de marketing da empresa, salienta dois motivos principais para o lançamento: 1) a necessidade de uma grande empresa atuar com destaque em todos os segmentos do negócio para manter boa margem geral. 2) a possível redução da receita global no caso de legalização do cultivo de soja resistente a glifosato.
Sementes Adriana O novo laboratório da Sementes Adriana é fundamental para a garantia da qualidade das sementes da empresa e para a pesquisa de novas tecnologias. Segundo José de Barros França Neto, chefe do laboratório e especialista em fisiologia de sementes, “todas as decisões estratégicas da companhia, até mesmo as comerciais como a retirada de um lote do mercado, são tomadas no laboratório”. A empresa aposta também no milheto. Até setembro, a Sementes Adriana lança duas variedades de sementes do grão.
França Neto
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Cultivar
David Tassara
Nova Diretoria Fundação Bahia Em assembléia ordinária no dia 1º de julho, a Fundação Bahia escolheu tem nova diretoria administrativa. Paulo Massayoshi Mizote assume a presidência da instituição, antes exercida por Walter Horita. Além de Mizote, a diretoria está composta pelo vice- Presidente: Alceu Ademar Vicenzi; 2° Vice-Presidente: Clovis Ceolin; 1° Secretário: Ricardo Ferrigno Teixeira; 2° Secretário: Lorival Gorgen; 1° Tesoureiro: Amauri Stracci; Tesoureiro: Ricardo Hidekazu Uemura.
Nova unidade Basf A BASF inaugurou em junho, o Centro de Produção Agro, instalado no Complexo Químico de Guaratinguetá. A nova unidade produzirá o princípio ativo Boscalid – entre outros, que serão utilizados na formulação de defensivos agrícolas de última geração. Com esta nova unidade, o Brasil amplia sua participação na rede mundial de produção de defensivos agrícolas da empresa e aumenta o escopo e a flexibilidade do Centro de Produção Agro.
Durante a Expocafé 2003, a Bayer fez o prélançamento do Sphere, um fungicida, em fase de registro, para a cultura de café. Na ocasião, o engenheiro agrônomo e marketing da regional de Belo Horizonte, Gustavo Benine, falou sobre o produto e garantiu que os cafeicultores terão em mãos mais uma poderosa arma para enfrentar problemas críticos do café, como a ferrugem, que nas últimas safras atrapalhou os cafeicultores do Sul de Minas.
MUDANÇA Wladimir Chagas é o novo Gerente Comercial Brasil da BASF. Formado em agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Wladimir tem larga experiência no setor agrícola. Trabalhou em outras grande empresas como a ICI-Zeneca (de 1985 a 1999) e a Monsanto (de 1999 a 2002). Nesta prestou serviços na área comercial como responsável pelas regiões Sudeste e CentroOeste.
Wladimir Chagas
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Julho de 2003
Cana-de-açúcar Fotos Marcos Landell
Boa Boa para para forragem forraNova Nova variedade variedade de de cana-de-açúcar cana-de-açúcar apresentada apresentada pelo pelo IAC IAC garante garante bom bom desempenho desempenho na na produção produção de de forragens forragens ee tem tem um um potencial potencial de de engorda engorda 18% 18% maior maior em em relação relação às às demais demais variedades variedades
N
as duas últimas décadas, a canade-açúcar tornou-se um alimento volumoso de uso preferencial entre os pecuaristas por apresentar características, tais como: facilidade de seu cultivo, execução da colheita justamente na época de estiagem, possibilidade de auto-armazenamento ou conservação a campo, persistência da cultura e grande produção obtida em condições do Centro-Sul do Brasil. Conceitos mais antigos recomendavam a opção por variedades de cana-de-açúcar que apresentassem alta proporção de folhas e palmitos em relação à massa verde total, o que aproximava a cana de outras forrageiras comumente utilizadas como pastagem (BOIN et al, 1987). No entanto, face aos novos conhecimentos na área de nutrição de ruminantes, verificou-se que os açúcares presentes na cana são os principais responsáveis pelo fornecimento de energia e, conseqüentemente, pelo desempenho animal (RODRIGUES et al,2002). O Brasil é conhecido como um dos maiores produtores de açúcar e álcool, e detém, nesse contexto, o título de canavicultura mais eficiente do mundo. Não podemos, no entanto, aplicar esse mesmo conceito à cana que é 06
Cultivar
destinada à alimentação de animais. Isso ocorre porque as lavouras de cana com fim forrageiro são de baixas produtividades de massa verde e de limitada longevidade, onerando o custo da atividade pecuária que espera contar com esta espécie para suplementação de volumoso. Esse cenário contraditório para mesma cultura se deve à não-aplicação das tecnologias disponíveis, usadas com muito sucesso na cana que se destina à agroindústria, e também ao tímido investimento que se faz em desenvolvimento de tecnologias adequadas ao cultivo da canade-açúcar para fins forrageiros. Há aproximadamente cinco anos, o Programa Cana IAC (APTA-SAA), que tradicionalmente tem grande parte de seus esforços de pesquisa voltados para a agroindústria, identificou uma demanda bastante relevante para a cana destinada à pecuária. Efetivamente, essa nova incursão desse grupo de pesquisa se deu há aproximadamente quatro anos quando, em discussão com especialistas do Instituto de Zooctecnia de São Paulo e da EMBRAPA Pecuária Sudeste, estabeleceu-se tacitamente para os melhoristas do IAC um perfil daquela que seria a variedade de cana forwww.cultivar.inf.br
rageira ideal. Logo em seguida, realizamos as primeiras análises juntamente com o grupo da EMBRAPA, aplicando análises para discriminar dentre um grupo maior de variedades aquelas que se destacariam para a finalidade forrageira. Desse esforço é que identificamos a IAC86-2480 atendendo quesitos principalmente qualitativos.
CANA FORRAGEIRA A variedade IAC86-2480 é um híbrido interespecífico resultante de cruzamento envolvendo o parental US71-399 que recebeu pólen de variedade desconhecida. O processo de seleção iniciou-se em 1988. No período de 1989 a 1995, as avaliações desse clone se limitaram à região de Ribeirão Preto (LANDELL et al, 1996). Posteriormente, passou a ser testada em diversas outras regiões do Centro-Sul do Brasil. A partir de 1999, iniciou-se um estudo de digestibilidade in vitro e ensaio para quantificar o ganho de peso quando se utilizasse a canade-açúcar como único volumoso. Em relação aos ambientes de produção onde se adapta, lembramos que a seleção inicial se deu em solos caracterizados como laJulho de 2003
tossolos. Nestas condições, apresentou características de boa produtividade agrícola e ótimas características tecnológicas. Observada posteriormente, em diferentes latitudes (150 220), mostrou boa adaptação, caracterizandose, no entanto, como uma variedade exigente em relação à fertilidade do solo. Apresentou também longo período de utilização forrageiro dado pela manutenção do Pol% em níveis superiores entre os meses de maio a outubro. Outras características favoráveis à manutenção deste Pol% referem-se à alta resistência a acamamento e hábito de crescimento ereto, associado à ausência de florescimento nas latitudes testadas. Destacando aspectos morfológicos dessa variedade, duas características são consideradas como agente facilitador para execução da colheita: o porte ereto das touceiras e a despalha espontânea dos colmos. O potencial produtivo é apresentado no Quadro 1. Utiliza-se como referência a variedade RB72454, a cultivar de cana mais cultivada no Brasil e também indicada para fins forrageiros (CARVALHO et al, 1993). Os Quadros 2, 3 e 4 expõem os resultados alcançados nos ensaios de ganho de peso e digestibilidade in vitro. Os dados apresentados nesses Quadros indicam o grande valor que esta variedade apresenta para finalidade
Porte ereto e desfolha espontânea reduzem em 20% o custo operacional do corte
forrageira quando comparada ao padrão RB72454. No Quadro 3, observamos a relação FDN/POL (Fibra Detergente Neutro/ Pol%) bastante favorável para essa nova variedade. No Quadro 4, as médias dos teores de digestibilidade in vitro da matéria seca revelam que a IAC86-2480 apresenta valores sempre superiores a 63% entre os meses de maio a outubro. Estes dados indicam a grande flexibilidade de manejo que esta cultivar confere pelo seu caráter tecnológico.
Quadro 1. Produtividade agrícola (tonelada de cana/ha - TCH) da cultivar IAC86-2480 (média de 94 dados) em relação à RB72454 TCH
2o corte 93,9 101,6 0,89
1o corte 129,9 143,5 0,91
IAC86-2480 RB72454 Valor relativo (IAC86-2480/RB72454)
3o corte 94,3 106,0 0,89
Quadro 2. Média Diária de Ganho de Peso (GDPV) e Conversão Alimentar (CA) de novilhas alimentadas com dietas contendo as variedades IAC86-2480 e RB72454
POTENCIAL DE USO Sendo assim, o potencial produtivo (TCH), 10% inferior ao padrão, registrado no Quadro 1, não é limitante para o aproveitamento da variedade IAC86-2480 para fins forrageiros. O fato de ela se apresentar 18% mais eficiente que o mesmo padrão nos índices de conversão alimentar indica que, com a mesma quantidade ingerida de volumoso de cana, os bovinos alimentados com essa variedade ganham 18% mais peso que aqueles alimentados com a variedade RB72454. Essa variedade também agrega valores importantes por possuir porte ereto e despalha espontânea, o que aumenta a eficiência do corte manual em até 20% em relação à variedade RB72454, reduzindo o custo operacional. Todas essas características associadas refletem em parâmetros econômicos que procuraremos demonstrar a seguir. O exercício que faremos refere-se à estimativa de redução de custos de engorda com as novilhas ensaiadas. Isso pode ser quantificado pela economia em dias que se poderia obter, conforme se segue: • Para a suplementação com a RB72454, o ganho de peso, em 84 dias, foi de 0,76kg, e o ganho de peso com a variedade IAC86-2480 foi de 0,89kg, totalizando 63,84kg e 74,76kg, respectivamente. Isso significa uma diferença de 10,92kg, que dividido pelo ganho de peso de 0,76kg resultaria em 14 dias de economia no manejo desse gado, ou seja, em 70 dias de engorda se alcançaria o mesmo peso final obtido em 84 dias. Assim, o custo diário da engorda pelo número de dias reduzidos seria o valor economizado. •Alternativamente, se pode utilizar o mesmo raciocínio para o caso do procedimento de engorda para gado de corte com essas alternativas de volumoso. Supondo ganho de peso de 1,2kg, quando se efe-
Colheitas
Ganho de peso
GDPV1
CA2
IAC86-2480 RB72454 Valor relativo (IAC86-2480/RB72454)
0,89 0,76 1,17
7,64 9,32 0,82
GPDV (kg/animal/dia) = ganho de peso vivo 2 CA (kg MS/kg de ganho) = conversão alimentar Fonte: Rodrigues et al, 2002 (no prelo) 1
Quadro 3. Médias dos teores de fibra detergente neutro (FDN), POL% e relação FDN/POL de algumas variedades de cana-de-açúcar Variedades
% FDN
POL%
FDN/POL
IAC86-2480 RB72-454 RB83-5486 RB85-5536 SP80-1816 SP80-1842 SP80-3280
44,18 50,86 45,61 51,85 50,30 53,58 51,99
15,55 15,59 15,77 14,83 15,60 15,18 15,50
2,88 3,31 2,93 3,53 3,25 3,56 3,40
Fonte: extraído de RODRIGUES et al, 2001
Quadro 4. Médias dos teores de digestibilidade in vitro da MS das variedades de cana-de-açúcar colhidas em três épocas
Variedade IAC86-2480 RB72-454 RB83-5486 RB85-5536 SP80-1816 SP80-1842 SP80-3280
24/05/99
DIVMS % 16/08/99
21/10/99
65,907 53,393 67,407 54,180 58,680 50,263 49,823
63,370 60,250 68,960 61,967 62,897 60,687 58,063
63,19 60,46 NA 59,250 54,137 55,933 57,077
NA – não avaliada Fonte: extraído de RODRIGUES et al, 2001
tua a suplementação com a RB72454, para a variedade IAC86-2480, esse ganho será de 1,33kg. Se o peso inicial for de 358kg e o final de 480kg, essa diferença de 122kg será obtida em 102 dias no primeiro caso e em 92 dias, no segundo. A economia de 10 dias representará, ao custo de R$1,00/dia/cabeça, um valor de R$10 /cabeça economiza. dos no manejo da engorda. Marcos G. de Andrade Landell e Mário Pércio Campana, IAC
Alceu de Arruda Veiga, Instituto de Economia Agrícola/Apta
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www.cultivar.inf.br
Cultivar
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Fotos Newton Peter
Dia de campo
A cotonicultura anda a passos largos no Oeste baiano e a perspectiva para a próxima safra é de que a área cultivada dobre de tamanho, passando de 65 mil para 110 mil hectares. Conheça algumas cultivares que a Embrapa lançou, com características específicas para a região
Mais algodão na Bahia C
om a presença de mais de 500 participantes, no dia de campo na Fazenda Independência, em Formosa do Rio Preto (BA), lançou-se uma idéia audaciosa: elevar a Bahia ao posto de segundo maior produtor de algodão no Brasil. Os maiores cotonicultores brasileiros estiveram no evento e assistiram a palestras técnicas sobre a potencialidade da fibra baiana. Produtores de outras culturas também participaram, com o objetivo de conhecer mais o algodão, que pretendem plantar na próxima safra. Acredita-se que o oeste baiano duplique a área para a safra 2003/2004, em função dos ótimos resultados obtidos este ano, passando dos atuais 65 mil hectares para algo próximo aos 110 mil. Segundo João Carlos Jacobsen, proprietário da Fazenda Independência e presidente da Abapa, “é preciso produzir com responsabilidade. Não basta apenas ter uma grande produção. Antes é necessário que se tenha qualidade no momento de produzir, pois só assim se pode conseguir preços diferenciados”. 08
Cultivar
Walter Horita, presidente da Fundação Bahia (organizadora do dia de campo), diz que “a Bahia tem todas as condições para se tornar um dos grandes centros produtores do Brasil. Contudo, isso só será alcançado se o máximo de tecnologia for empregado”. Ele próprio quer plantar 13.000 hectares em lugar dos 6.500 da safra atual. A importância dos cuidados técnicos com a lavoura foi enfatizada por pesquisadores de centros especializados na cultura do algodão. Walter Jorge, pesquisador do IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná, salientou que se deve ter cuidado com algumas pragas tradicionais das culturas de milho e soja que estão migrando para o algodão. Os casos mais preocupantes, segundo ele, são os de alguns percevejos - como o marrom - e algumas espécies de lagartas - como a Heliotis helicoverpa. Walter diz que o monitoramento constante da lavoura pode evitar danos significativos à cotonicultura. “O uso de inseticidas seletivos é fundamental, pois não acaba com os inimigos naturais que também migram atrás das pragas”. www.cultivar.inf.br
CULTIVARES NO CERRADO BAIANO O cerrado sempre surpreende as pessoas que desconhecem essa vasta região do território brasileiro, quer pelo futuro grandioso que se vislumbra a cada safra, quer pelo empreendedorismo e alto nível tecnológico dos produtores. Após o sucesso da cotonicultura no cerrado do centro oeste, da organização da cadeia produtiva do algodão e da consolidação do novo modelo da cotonicultura empresarial, que suplantou a tradicional lavoura de colônia ou de parceria, praticada nas regiões sul-sudeste e nordeste; agora desponta a cotonicultura no cerrado do Nordeste. Os empresários do cerrado da Bahia, com sabedoria e senso de oportunidade, adaptaram o modelo já consolidado, de organização da cadeia do algodão do cerrado do Mato Grosso e Goiás, para o cerrado de transição com o semi-árido, predominante na Bahia. Surgiram dúvidas sobre a viabilidade dessa cotonicultura, especialmente por causa do insucesso anterior ocorrido na região de Guanambi, bem como pela condição de solos mais arenosos e menor incidência de chuvas. Após Julho de 2003
seis anos de safras crescentes, o cerrado da Bahia, na safra 2002/2003, está apresentando todo o seu potencial para a cotonicultura empresarial. Além de ter apresentado 16,6% de incremento na área plantada, está sendo colhida uma safra de algodão de alta qualidade e com altos índices de produtividade chegando a 3.180 kg de algodão em caroço/ha (+26,2% em relação à safra passada). Para a safra 2003/ 2004, os produtores acenam com ampliação da área de algodão em até 100%, podendo ser alcançada a área de 120.000 ha. Para quem acompanha a evolução da cotonicultura baiana, esses números não surpreendem porque são o resultados de anos de investimento em organização, melhoria tecnológica e pesquisa. Para exemplificar, apontamos alguns alvos já atingidos pelos cotonicultores baianos: organização de uma Fundação de apoio à pesquisa e à transferência de tecnologias (Fundação Bahia); estabelecimento de parcerias com instituições de pesquisa públicas como a Embrapa e EBDA, visando incrementar o desenvolvimento tecnológico; organização dos produtores na ABAPA; criação e regulamentação do fundo de incentivo à cotonicultura e à pesquisa (Proalba/Fundeagro); modernização da legislação de defesa fitossanitária e ampliação e modernização dos equipamentos e algodoeiras disponíveis na região. Como resultados concretos, além da elevação da produtividade, ocorreu a melhoria da qualidade tecnológica do algodão produzido no cerrado baiano, como comprovado pela Fundação Blumenauense de Estudos Têxteis, quando comparou esse algodão com outros procedentes de outros Estados brasileiros, ou mesmo com nossos concorrentes do exterior, considerados como produtores e exportadores de algodão de alta qualidade, como a Austrália (Tabela 1). Essa comparação eviden-
Tab. 1 - Características tecnológicas de algodões da Austrália e da Bahia, oriundos das safras 2001/2002 e processados pelas indústrias têxteis de Santa Catarina (FBET , 2002) AUSTRÁLIA
CARACTERÍSTICA Finura Resistência Maturidade Comprimento Uniformidade Teor Fibras curtas-AFIS Caramelização Neps
4,5 29,4 0,82 28,2 81,5 16,9 5,6 250
BAHIA 2001 3,5 27,3 0,82 28,5 81,4 240
2002 4,2 29,2 0,93 28,7 83,1 13,9 5,1 189
ciou a superioridade do algodão baiano, que além de estar evoluindo em qualidade, mostrou-se superior ao algodão Australiano nos aspectos de finura, maturidade, comprimento, uniformidade, teor de fibras curtas, caramelização e neps. Os investimentos em pesquisa são crescentes, com o apoio financeiro do Fundeagro, estando em desenvolvimento pesquisas sobre Manejo Integrado de Pragas-MIP, espaçamentos ultra estreitos, épocas de plantio, irrigação, destruição de soqueiras, supressão dos níveis populacionais do bicudo, descompactação de solos, além de um amplo programa de melhoramento do algodoeiro que visa a obtenção de cultivares de fibras médias e longas, especialmente adaptadas às condições do cerrado baiano. Como resultados dessas pesquisas, a Embrapa divulgou no Dia de Campo realizado na Fazenda Independência as opções de cultivares oferecidas aos cotonicultores, para a safra 2003/2004, com destaque para as principais características tecnológicas e de manejo de cada cultivar, como podemos ob. servar nos quadros ao lado.
CULTIVARES DA EMBRAPA PARA BAHIA – SAFRA 2003/2004 I - CULTIVARES SENSÍVEIS A VIROSES: CNPA ITA 90 II VANTAGENS: Nova seleção mais uniforme; Desempenho superior à ITA 90 em 25 @/ha; Manejo semelhante à ITA 90 BRS IPE VANTAGENS: Alta Produtividade: 4% acima da ITA 90; Alto rendimento de fibra: 38%; Medianamente resistente a ramulose, bacteriose, alternaria e ramularia; Menos susceptível a viroses que a ITA 90; Características de fibras semelhantes à ITA 90; Controle de pulgões e mosca branca em nível próximo de 20%.
II - CULTIVARES RESISTENTES A VIROSES NOVO LANÇAMENTO – BRS JATOBÁ Alta produtividade: até 427 @/ha; Rendimento de fibra: 39-40%; Alta resistência a viroses; Medianamente resistente a ramulariose, ramulose, bacteriose e Alternaria + stemphylium; Medianamente susceptível ao complexo Fusarium+nematóide. MANEJO: Plantio cedo (20/11 a 30/12); Uso de reguladores cedo (iniciar aos 25-30 dias); Usar MIP normal com 60% de pulgões colônias; Controle de ramularia e ramulose cedo (iniciar aos 30-40 dias). BRS AROEIRA VANTAGENS: Resistência a ramulose, viroses , Alternaria + Stemphylium; Medianamente resistente ao complexo Fusarium+nematóide, à bacteriose e ramularia; Rendimento de fibras: 37 a 38%; Produtividade de até 370@/ha; Fibras mais finas, resistentes e compridas que a ITA 90 Manejo: usar MIP com 60% de colônias de pulgões BRS CEDRO VANTAGENS: Resistência a viroses; Resistência moderada à bacteriose, ramularia e alternaria; Alto rendimento de fibras : 40- 41%; Alta qualidade e produtividade de fibras/ha: acima de 2.000 kg/ha DESVANTAGENS: Porte alto – programar 50% mais de PIX. Medianamente Susceptível à ramulose Manejo: usar MIP com 60% de colônias de pulgões Controlar porte a partir dos 25-30 dias BRS SUCUPIRA VANTAGENS: Resistência à ramularia, viroses , bacteriose; Tolerância à ramulose , alternaria e à seca; Rendimento de fibras 38 a 39%; Produtividade 3% acima da ITA 90 ; Fibras mais finas, mais resistentes e mais compridas que a ITA 90.
Fundação e instituições de pesquisa possibilitam a transferência de tecnologia e o crescimento da qualidade da produção baiana
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Cultivar
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Clube da fibra Fotos Alfapress
Integrantes do Clube da Fibra discutem o acesso do algodão brasileiro ao mercado internacional e soluções para alavancar o setor
Novas fronteiras P
or três dias os maiores e melhores produtores de algodão do Brasil, somando mais de 80% do PIB do setor, estiveram reunidos para discutir os avanços e perspectivas do setor. A nona edição do encontro do Clube da Fibra, patrocinada pela FMC, foi dominada por debates e palestras sobre o acesso do produto brasileiro ao mercado internacional. Qualidade continua um ponto importante, mas os cotonicultores ultrapassaram essa barreira; agora lutam contra os subsídios, tarifas e outras barreiras impostas para garantir mercado aos agricultores norte-americanos e australianos. Com isonomia no mercado internacional, o crescimento da cotonicultura no Brasil pode se consolidar, evitando grandes oscilações. Jor-
Antonio Carlos Zem, presidente da FMC, presente na reunião e confiante no algodão brasileiro
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Cultivar
ge Maeda, presidente da Abrapa, considera boas as perspectivas, embora alerte para a inexistência de milagres, principalmente em negociações internacionais. O Brasil está contestando os subsídios norte-americanos na Organização Mundial do Comércio com bons argumentos, mas a decisão é incerta. Além do mais, há grandes dúvidas sobre o relacionamento entre a Organização e os Estados Unidos, país com maiores revezes nas decisões. Há bastante pressão lá para arranjar subterfúgios para ignorar a OMC. De qualquer modo, o fato de o Brasil ter apresentado questão à Organização é considerado positivo, pois chama a atenção de outros países para o problema. Outra ação importante dos produtores de algodão foi o
Jorge Maeda, presidente da Abrapa, diz que as perspectivas são boas para a cotonicultura
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aumento da sua força política. Agora eles são ouvidos pelo Governo para a elaboração de políticas para o setor. Conseguiram também que o Departamento de Defesa Comercial iniciasse monitoramento das importações.
PRIMA CLASSE Durante a reunião do Clube da Fibra, a FMC lançou o seu programa de relacionamento Prima Classe, que oferece benefícios crescentes ao agricultor que adquirir produtos e serviços da empresa. O gerente de Inseticidas da FMC, Newton Roda, acredita na melhoria do relacionamento com os clientes em decorrência da iniciativa. O evento contou também com a presença do presidente da empre. sa, Antonio Carlos Zem.
Newton Roda: “Prima Classe melhorará ainda mais a relação da FMC com os seus clientes”
Julho de 2003
Informe empresarial
De olho no futuro Com o incremento de novos produtos no portifólio de defensivos agrícolas e medicamentos veterinários, a Agripec pretende aumentar em 25% o faturamento até 2006
A
AGRIPEC Química e Farmacêutica S.A. está há 42 anos no mercado brasileiro de defensivos agrícolas e produtos veterinários. Em 2002, posicionou-se como a maior empresa nacional formuladora de defensivos agrícolas, com faturamento próximo de 50 milhões de dólares. Atualmente, a AGRIPEC possui 19 produtos (entre herbicidas, inseticidas, acaricidas, fungicidas e produtos veterinários) em seu portifólio. Porém, algumas novidades estão por vir. “Nosso crescimento no mercado nos conduziu a investir maciçamente na ampliação da nossa linha de produtos. Estamos investindo em moléculas de última geração e de menor risco ao homem e ao meio ambiente, que nos possibilitarão atender às principais culturas do país. Possuímos sete produtos em fase de registro no Ministério da Agricultura”, diz Beto Studart (Presidente da AGRIPEC). Com esse incremento de portifólio, espera-se, em um primeiro momento, aumento de 12% sobre o faturamento atual e 25% até 2006.
RESPONSABILIDADE SOCIAL A AGRIPEC investe em treinamentos profissionais, palestras educativas e motivacionais. Auxílio moradia, educação fundamental, alimentação e saúde são benefícios concedidos pela empresa aos seus funcionários que trabalham na unidade fabril em Maracanaú/ CE, próximo à capital deste Estado.
MUDANÇAS INTERNAS “A AGRIPEC agora é uma empresa com produtos mais específicos, que precisa de embasamento técnico durante a aplicação e pronta para dar suporte no campo. Para isso, precisamos mostrar que temos um serviço de pós–venda ao agricultor. Tudo isso faz com que a AGRIPEC salte de uma empresa produtora de produtos genéricos para uma empresa com diferenciais em seus produtos. E diferencial não se encontra apenas em formulações ou dosagens, mas em ser-
viços e benefícios. Com essa mentalidade achamos o momento propício para renovar também nossa logomarca e investir maciçamente em propagandas institucionais durante este ano, demonstrando a partir daí nossa característica ousada e moderna”, diz Wilson Hernandes (Diretor de Marketing e Negócios). A estratégia de mercado da AGRIPEC é fortalecer-se na cultura da soja, com o incremento de novos produtos, e introduzirse nas culturas de café, milho, feijão, citros, batata e tomate.
INTERCÂMBIO COM O CLIENTE O site da Agripec - www.agripec.com.br - possibilita respostas rápidas aos usuários ou um direcionamento para o representante da região, que estão espalhados por todo o Brasil, o que facilita a relação e o atendimento . diante das necessidades dos clientes.
Fotos Agripec
TECNOLOGIA Aliado à ampliação do portifólio, a AGRIPEC está investindo também em unidades fabris para a produção de novas formulações. Dentre elas, destaca-se a formulação WDG (grânulos auto dispersíveis em água) que apresentam grande concentração de ingrediente ativo e não possuem solventes orgânicos em sua composição. Elas apresentam, em geral, menor toxicidade ao homem; além de serem práticas para o uso no campo e, principalmente, por não gerarem quantidades excessivas de resíduos sólidos durante o processo produtivo e menor quantidade de embalagens após o uso pelo agricultor, afirma Beto Studart.
MEIO AMBIENTE Preocupada com a preservação do meio ambiente e a saúde humana e animal, a AGRIPEC investe no desenvolvimento de dossiês que investigam a eficácia agronômica, efeitos ambientais e toxicológicos e a presença de resíduos em alimentos. 12
Cultivar
Beto Studart fala dos investimentos em tecnologia para atender às principais culturas do país
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Wilson Hernandes aborda as mudanças internas adotadas pela direção de marketing
Julho de 2003
Fotos Charles Echer
Café
Apesar da crise e dos baixos preços, produtores mostram que com o emprego de tecnologia a cafeicultura continua rentável
Iniciativa faz a diferença N
uma época de margens apertadas na cafeicultura, produtores da Região Sul de Minas Gerais descobriram formas de se manter no ramo. Iniciativa faz a diferença! Enquanto a média nacional de produtividade é de 17 sacas por hectare, considerado o biênio, há na região quem consiga mais de trinta. A estratégia utilizada nessas propriedades, que alcançam até 70 sacas por hectare na safra alta, é não deixar a produtividade cair mais de 20% na safra baixa, o que se consegue usando a melhor tecnologia disponível ao homem do campo. A Fundação Procafé, por exemplo, lançou no mercado quatro cultivares resistentes à Ferrugem do Cafeeiro e está testando uma cultivar apelidada de “Seriema”, resistente não só à ferrugem, mas também ao bicho-mineiro. Com as variedades, os cafeicultores esperam reduzir os custos de produção. Dentro dessa mesma ótica, a adubação balanceada, correspondente às necessidades da planta, é fator determinante para manter os resultados superiores. Enquanto alguns agricultores conseguem aumentar a produção através de adubação correta, outros perdem dinheiro por falta de investimento. Na fazenda Chamusca, de Mário Garcia Reis Neto, o uso de tecnologia é uma realidade. A colheita deste ano, que dentro do biênio 14
Cultivar
é considerada a safra baixa, deverá ultrapassar as 30 sacas por hectare. Segundo ele, esta safra passou a ser garantida a partir do uso de Baysiston, inseticida e fungicida granulado que, incorporado ao solo, é absorvido via raízes, proporcionando maior sanidade do cafeeiro. “Numa mesma lavoura, as plantas tratadas com o produto destacam-se pelo vigor e pela produção”, garante Mário. “Dá para notar a diferença na cor do cafezal: o verde das folhas é mais intenso e a carga é maior onde
Na fazenda de Mário Reis o cafezal com três anos deve produzir 20 sacas por hectare
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tratei com o produto”. Nesta safra, dos 800 mil pés de café plantados em sua propriedade, aproximadamente 30% da área foi tratada com essa tecnologia. Até mesmo um cafezal com apenas três anos deverá produzir em torno de 20 sacas por hectare.
TIPO EXPORTAÇÃO Já na Fazenda Bela Vista, da família Lima Reis, a busca pela qualidade do produto está presente em todas as fases da produção. Conhecido e premiado internacionalmente, o café produzido na propriedade ganha um cuidado especial desde a colheita até o ensacamento. O objetivo principal na fazenda é produzir um café especial, com semi-democilagem, para atender à demanda dos principais centros consumidores, como Paris, Barcelona e Berlim. Para que seja possível a semi-democilagem, os frutos devem ser colhidos no estágio cereja. Para Antônio Lima Reis, responsável pela área de produção cafeeira da propriedade, o que possibilita o aumento de café colhido nesse estágio é o uso de Ethrel, produto à base de etileno sintetizado, que promove a maturação uniforme dos frutos. Outro aspecto ressaltado por Reis é a facilidade de colheita mecânica do café. “Antes do uso do maturador, durante a colheita, tínhamos que passar no mí-
...
Julho de 2003
Diagnóstico de especialista O café, que já representou 60% das exportações brasileiras, corresponde hoje a pouco mais de 2% do total exportado. Isso aconteceu, principalmente, por causa da competição de países com subsídios agrícolas, como o Vietnã. Hoje, a saca de café é vendida por R$ 160,00, valor inferior ao que se considera o custo de produção (R$ 180,00). Esse é o diagnóstico do engenheiro agrônomo Wander Garcia, da Fundação de Apoio à Tecnologia Cafeeira (Fundação Procafé). A viabilidade da lavoura de café será resultado da tecnologia
Na fazenda Bela Vista o uso de maturador proporciona uma colheita com 90% dos frutos em estágio cereja
...nimo duas vezes a colhedora”, ressalta.
Todos esses cuidados renderam ao café da fazenda Bela Vista um selo de rastreabilidade fornecido pelo Sebrae; também a conquista do primeiro e o segundo lugares na categoria “café creme” em concurso realizado em Barcelona, nos anos 2000 e 2001. Da mesma forma, o respeito ao meio ambiente e o treinamento de pessoal ajudam nos bons resultados obtidos.
empregada pelo produtor. “Do poder público espera-se o estabelecimento de uma política agrária que vise a sustentabilidade do cafeicultor.” Wander acrescenta que medidas de incentivo teriam reflexos não só no campo, mas também nas cidades. Das 35 mil propriedades onde se planta café em Minas Gerais, em 25 mil cultiva-se menos de 10 hectares. Aproximadamente um milhão e meio de pessoas vivem diretamente da cafeicultura. “Onde essas pessoas iriam trabalhar caso se torne inviável a produção de café? Só iriam aumentar os bolsões de miséria nas grandes cidades...”
José Faria diversifica a produção com o plantio de milho, que na próxima safra chegará aos 500 ha
INOVAÇÃO No município de Boa Esperança, dois exemplos chamam a atenção. Sebastião da Costa Reis e José Barbosa de Faria demonstram que para se manter na tradicional cultura do café é preciso a busca de novos horizontes. José Faria, da Fazenda Gama, localizada às margens do lago de Furnas, diversifica a produção. O plantio de milho este ano foi em 200 hectares. Aumentará 150% na próxima.
Sebastião Reis inventou uma máquina simples para colher em terrenos acidentados
Para manter bons resultados com café, ele investiu em sistemas de irrigação e de colheita. Também cansado de colher manualmente o café, Sebastião Reis inventou uma colhedora sustentada pelo sistema de três pontos do trator, permitindo a colheita mecanizada nos terrenos acidentados de sua propriedade. “Meu prazer é ter ajudado não só a mim, mas a todos os pequenos produ. tores da região”, conta.
Tecnologia na Expocafé 2003 A sexta edição da Expocafé, realizada em Três Pontas (MG), provou mais uma vez a capacidade de a cafeicultura ser rentável, desde que se use a melhor tecnologia disponível. Este ano o evento ganhou mais espaço. Passou a ser realizado na Fazenda Experimental da Epamig, oferecendo aos visitantes maior comodidade e proximidade das lavouras de café onde acontecem as dinâmicas. Durante os três dias de feira, mais de 12 mil pessoas passaram pelo parque e puderam conferir as últimas novidades apresentadas pelas 70 empresas expositoras. As dinâmicas foram um dos pontos altos da feira. Mais de 20 máquinas diferentes, utilizadas em todos os processos de produção do café, foram testadas para os produtores avaliarem a eficiência e sua utilidade no campo. O presidente da feira, professor Nilson Salvador, adiantou que no próximo ano haverá campos demonstrativos de empresas de defensivos agrícolas e de fertilizantes. Outra novidade será a chamada Clínica Tecnológica, onde especialistas da UFLA estarão disponíveis para prestarem consultoria. A sétima edição do evento acontecerá em meados de junho de 2004.
Julho de 2003
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Cultivar
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Soja
Como foi a soja na Bahia Especialista mostra quais foram os principais problemas fitossanitários da sojicultura baiana na última safra
Dirceu Gassen
I
ntroduzida no Oeste da Bahia no fim dos anos setenta, a soja desempenha o papel de “carro chefe”, gerando renda para investimentos em outras áreas, possibilitando uma verdadeira revolução e trocando a pecuária extensiva pela exploração profissional de produção de grãos, fibras, café, frutas e pecuária intensiva. A área cultivada com soja cresceu 66% nos últimos oito anos e a produção no mesmo período cresceu 188% (área de 800.000 ha e produção de 1.464.000 toneladas). Nesse período, a produtividade média dobrou, aumentando de 1200 kg/ha (20 sacos/ha) para 2400 kg/ha (40 sacos/ha). A cultura da soja ainda não é um sistema estável em função da crescente expansão para novas fronteiras agrícolas com diferentes condições edafoclimáticas e devido à introdução de novas variáveis a cada ano ameaçando sua produtividade e competitividade. Uma mostra clara disto foi o que aconteceu durante a safra 2002/03 de soja do Oeste da Bahia, onde o fator mais limitante é o regime pluviométri16
Cultivar
Ataque dos percevejos no final do ciclo causaram diminuição no peso dos grãos
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co, o qual, na safra 2002/2003, foi ideal em termos absolutos mas inadequado com relação à distribuição. Com uma área plantada de 850.000 hectares, a produção esperada era de 2.040.000 t, mas foram colhidas apenas 1.428.000 t . Esta redução foi devida a diferentes fatores. Dentre eles podemos citar o atraso no início do período chuvoso e a distribuição irregular das chuvas nos primeiros trinta dias, ocasionando veranico durante o período de plantio (mês de novembro) com duração de 15 a 35 dias dependendo da região, levando a um percentual elevado de replantio (30%). Este período seco levou a uma alta incidência da lagarta Elasmo (Elasmopalpus lignosellus), devido às dificuldades encontradas para o seu controle, o que causou inadequado estande da cultura, abaixo do ideal. Este período seco proporcioJulho de 2003
Dirceu Gassen
Tadashi Yorinori
nou alta incidência da lagarta Elasmo (Elasmopalpus lignosellus), havendo dificuldade no seu controle e, como conseqüência, o estande ficou abaixo do ideal. Além disso, o surgimento de uma nova doença no final do ciclo da soja, a Ferrugem Asiática, cujo agente causal é o fungo Phakopsora pachyrhizi Sydow & Sid, causou sérios danos às lavouras. As condições de alta umidade favoreceram a doença, levando a uma alta pressão de inóculo e uma rápida disseminação do mesmo, dificultando o controle da ferrugem. A eficiência dos produtos recomendados, em caráter emergencial, foi diferente daquela obtida em regiões onde a doença ocorreu com um menor nível de intensidade. Também foram detectados problemas com as tecnologias de aplicação dos fungicidas. No período de final de ciclo da cultura, houve intenso ataque de percevejos, causando aumento do percentual de grãos ardidos e diminuição do peso dos grãos. Chuvas excessivas também concorreram para maior incidência de doenças de final de ciclo. Dentro deste cenário, a produtividade alcançada nas lavouras do Oeste da Bahia oscilou muito entre as diferentes regiões e propriedades. Foram alcançados patamares médios de 900 kg/ha (15
Devido a período seco, a lagarta Elasmo teve alta incidência sobre a soja na Bahia
sacos/ha) a 3.000 kg/ha (50 sacos/ha), com média da região em torno de 1.800 kg/ha (30 sacos/ha). Serão necessárias ações de pesquisas que venham gerar produtos e tecnologias, de maneira que nas próximas safras
o Oeste da Bahia expresse todo o seu potencial produtivo, colocando-o entre os . melhores do Brasil. Ana Cláudia B. de Oliveira, Embrapa Soja
John Deere
Safeners
Pesquisas mostram que o uso de safeners contribui para melhorar a resistência das plantas às injúrias causadas por herbicidas
Proteção especial A
lguns herbicidas utilizados nas culturas de milho e cereais apresentam a particularidade de conter um safener, um fito-protetor, uma espécie de tela protetora em seu princípio ativo. Trata-se de uma molécula cuja finalidade é tornar a cultura tratada insensível à molécula do herbicida. A origem da descoberta dos safeners está na antiga empresa suíça Ciba-Geigy , que os incluiu nos herbicidas para a cultura de milho à base de metolacloro. O safener utilizado era o benoxacor. O metolacloro já é seletivo para o milho. Esta cultura detoxifica o herbicida. Porém em situações estressantes devidas a uma semeadura ruim, as variações importantes de temperaturas e ataques de insetos, o mecanismo de detoxificação natural do milho pode não ser suficiente. É então que o fito-protetor age melhorando a seletividade do herbicida, ativando sua degradação no milho, por exemplo. O benoxacor apresenta esta ação apenas em milho e em nenhum caso age assim nas plantas daninhas. O safener não impede, portanto, a destruição das invasoras. O Cloquintocet-mexyl e o mefenpyr-dietil são dois fito-protetores usados na composição de herbicidas para cereais, com ação antigramíneas. Neles essas moléculas asseguram a seletividade do princípio ativo do herbicida sobre o cereal tratado. Para diversos herbicidas recomenda-se 18
Cultivar
seu uso associado a óleo, o que pode aumentar o risco de fitotoxidade. No entanto, com a inclusão de um fito-protetor o risco é quase nulo. O efeito protetor do safener é geralmente específico para um herbicida e uma cultura. Entretanto, o mefenpyr-dietil é usado com diversas moléculas herbicidas em cereais. O modo de ação desses fito-protetores ainda está em estudo. Algumas hipóteses sobressaem. Um fito-protetor poderia, por exemplo, regular a quantidade de herbicida sobre o local de ação nas células da planta cultivada. Poderia, também, estar competindo com o herbicida sobre seu local de ação. Parece, com efeito, que as estruturas químicas dos safeners estão muito próximas das dos herbicidas associados. Especialistas traduzem essa particularidade em outros termos. Como se o fito-protetor engendrasse o mesmo tipo de reações que o herbicida nas células, porém sem a característica da toxidade. Em uma cultura, o herbicida solicita a ação de enzimas específicas para a sua degradação em molécula inofensiva. O fito-protetor produzirá os mesmos efeitos, porém de fato apenas ativará a metabolização do herbicida.
EXPERIÊNCIA Os pesquisadores Dean Riechers e Pat Fuerst, da Washington State University, selecionaram aproximadamente 80 linhas www.cultivar.inf.br
e parentes do trigo para identificar aqueles com níveis naturalmente elevados de GST (S-s-transferase do glutathione) e aqueles com os mesmos níveis mais elevados de GST em resposta ao tratamento com um safener. As sementes de trigo foram tratadas com o fluxofenim e o cloquintocet-mexyl dos safeners, e comparadas às testemunhas – sem o uso de safeners. O controle mostrou-se mais eficaz, devido à menor injúria à planta, quando houve o tratamento com os safeners. O herbicida usado foi o dimethenamid. Os resultados mostraram que os trigos hexaploid (trigos de pão comuns) responderam melhor aos safeners do que os trigos tetraploid ou o triticale hexaploid. Riechers indicou que o genoma D (que está atualmente no trigo hexaploid, mas não no trigo tetraploid ou no triticale hexaploid) pode ser a fonte das enzimas de GST, que metaboliza o dimethenamid do herbicida. Encontrou-se também que os níveis do increas~d GST do fluxofenim do safener (Concep 111) é mais consistente do que o de outro safener (cloquintocet-mexyl). Aqueles trigos que tiveram os níveis de safener aumentados também demonstraram tolerância mais elevada ao herbicida. Os trigos Durum, que produziram níveis baixos de GST, mostraram-se menos toleran. tes ao herbicida. Julho de 2003
Fotos Dirceu Gassen
Nossa capa
Influência da chuva Intervalo entre aplicação de herbicidas e a ocorrência de chuvas é determinante para o controle eficiente das plantas daninhas
A
eficiência de herbicidas aplicados à folhagem é reduzida pela ocorrência de chuvas após a aplicação, devido à lavagem das folhas antes que sejam absorvidos pela planta (Behrens & Elakkad, 1981). Assim, o intervalo de tempo entre a aplicação e a ocorrência de chuvas (Anderson & Arnold, 1984), bem como a quantidade e a intensidade de chuva (Hammerton, 1967), além 20
Cultivar
do tipo de formulação, influem no controle de plantas daninhas dado por esses produtos químicos. Glyphosate, na maioria das formulações disponíveis, por exemplo, requer um período de 6 horas sem chuva, após a aplicação, para assegurar a absorção máxima pelas plantas daninhas (Rodrigues & Almeida, 1998). O intervalo de tempo entre a aplicação e a ocorrência de chuva necessário para que www.cultivar.inf.br
o herbicida seja absorvido pela planta pode ser reduzido aumentando-se a dose de produto (Hawf & Behrens, 1974; Strand & Behrens, 1970). É, também, sugerido que algumas formulações têm ação independente das condições ambientais (Monsanto, s.d.). Weaver et al. (1970) demonstraram que a formulação de herbicida e o intervalo entre a aplicação e a ocorrência de chuva foram os fatores mais importanJulho de 2003
tes na redução da atividade de herbicida pela chuva. Produtores que usam o sistema plantio direto têm interesse em conhecer o efeito de chuvas que possam ocorrer após a aplicação de herbicidas dessecantes, na eficiência dos produtos, para a tomada de decisão sobre sua aplicação. Este trabalho teve por objetivo determinar os efeitos de chuva simulada sobre a eficiência, como dessecantes, de diferentes sais, doses e formulações de glyphosate, no controle de Brachiaria plantaginea, em condições de campo.
MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em condições de campo na área experimental da Embrapa Trigo, localizada no município de Passo Fundo, RS, no ano de 2001. O solo é de textura média, com 42 % de argila e 4 % de matéria orgânica, pertencente à Unidade de Mapeamento Passo Fundo (Latossolo Vermelho Distrófico típico). Os tratamentos (Tabela 1) foram aplicados em pós-emergência da planta daninha (Brachiaria plantaginea) no dia 7/2/01, com pulverizador costal de precisão, munido de bicos de jato em forma de leque, do tipo 110 02, a 20 lb pol.-2 de pressão de trabalho, dada por gás carbônico, e consumo de calda de 200 l/ha. A pulverização foi iniciada às 10h10 e terminada às 11h45. No momento da pulverização, o solo encontrava-se úmido, a umidade relativa do ar era de 70 % e a temperatura ambiente era de 30 ºC. Precipitações pluviais totalizando 30 mm ocorreram no dia 5/2/01 (2 dias antes da aplicação dos tratamentos). Não ocorreu déficit hídrico para a planta daninha, durante a condução do experimento. No momento da aplicação dos tratamentos, a planta daninha encontrava-se com
50 a 60 cm de altura e com 5 a 8 afilhos. O delineamento experimental foi blocos ao caso com 4 repetições e parcela de 2,5 m x 4,0 m, em esquema fatorial completo, sendo os fatores constituídos por diferentes sais e formulações de glyphosate (herbicidas) em diferentes doses e por irrigação. O fator irrigação constituiu em chuva simulada, aplicada em diferentes intervalos de tempo após a aplicação dos tratamentos com os herbicidas (Tabela 1). A eficiência dos tratamentos no controle (dessecação) de B. plantaginea foi determinada aos 3, 7, 14, 21, 28 e 42 dias após o tratamento (DAT) pelo método de avaliação visual, atribuindo-se notas em porcentagem de controle em relação à testemunha. A escala empregada variou entre 0 (sem danos visíveis) e 100 % (dessecação total de plantas). Os dados de eficiência dos tratamentos, depois de submetidos a testes de homogeneidade da variância e da distribuição do erro experimental (normalidade), foram transformados por meio de arco seno [( x+1 ) / 100] para análise de variância. Para comparação das médias dos tratamentos usou-se o teste de Duncan, a 5 % de probabilidade de erro, empregando-se o programa SAS (proc glm). Também foram realizadas análises conjuntas dos dados e teste de alguns contrastes de interesse, usando-se o teste Fe
Fig. 01 - Velocidade de ação dos produtos
Fig. 02 - Efeito da chuva simulada 1 hora após a aplicação dos tratamentos
... Fig. 03 - Efeito da chuva simulada 2 horas após a aplicação dos tratamentos
O Glyphosate, na maioria das formulações disponíveis, requer um tempo de seis horas para ser absorvido pela planta
Julho de 2003
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Cultivar
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Fig. 04 - Efeito da chuva simulada 4 horas após a aplicação dos tratamentos
Tab. 1 - Tratamentos aplicados em pós-emergência no controle de Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc. Passo Fundo, RS, 2001 Dose/ha Formulação* Sal de Glyphosate Produto comercial Intervalo entre a aplicação e a irrigação (horas) ** Equivalente ácido Produto comercial
Monopotássico Isopropilamina Amônico Testemunha
Zapp QI Roundup Transorb Roundup WG
CS CS WG -
(gramas)
(litros ou kg)
360; 720; 1.440 360; 720; 1.440 360; 720; 1.440 -
0,72; 1,44; 2,88 0,72; 1,44; 2,88 0,72; 1,44; 2,88 -
1, 2, 4 e > 8 1, 2, 4 e > 8 1, 2, 4 e > 8 1, 2, 4 e > 8
* CS = concentrado solúvel; WG = grânulos autodispersíveis em água. ** > 8 horas = chuva natural de 15 mm ocorrida em 24 horas após a aplicação dos tratamentos.
Tab. 2 - Controle de B. plantaginea – avaliação geral (conjunta) dos dados. Embrapa Trigo, Passo Fundo. 2001 Tratamentos
Fig. 05 - Efeito da chuva simulada 8 horas após a aplicação dos tratamentos
Produtos e formulação
Formulação
Dose (g e.a/ha)
Sal monopotássico Sal monopotássico Sal monopotássico Sal isopropilamina Sal isopropilamina Sal isopropilamina Sal de amônio Sal de amônio Sal de amônio Testemunha C. V. (%)
CS CS CS CS CS CS WG WG WG -
360 720 1.440 360 720 1.440 360 720 1.440 -
Contrastes Sal monopotássico CS x sal isopropilamina CS Sal monopotássico CS x sal de amônio WG Sal isopropilamina CS x sal de amônio WG
39,4 d 46,6 bc 55,3 a 38,4 d 50,6 ab 54,7 a 32,2 e 45,0 c 50,9 ab 0,0 f 9,5
Médias 47,1 47,1 47,9
Controle (%)
47,9 42,7 42,7
Probabilidade > F 0,59 0,03 0,006
Valores seguidos pela mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Duncan, ao nível de probabilidade de erro de 5 %
...análises de regressão entre o controle obti-
do e o tempo (dias) após a aplicação dos tratamentos. A velocidade de ação dos tratamentos químicos foi expressa pela análise de regressão entre a percentagem de controle obtido e o tempo (DAT).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Velocidade de ação A análise de regressão entre a percentagem de controle obtido de B. plantaginea dados produtos em estudo e o tempo (DAT) demonstrou que as velocidades de ação do sal monopotássico e de isopropilamina, na formulação concentrado solúvel(CS), foram estatisticamente iguais entre si e superiores à do sal de amônio, na formulação de grânulos autodispersíveis em água (WG), com taxas de 2,58%, 2,23% e 1,99% de controle diário da planta daninha, respectivamente (Figura 1). Como a absorção de qualquer substância pela planta precede a sua translocação, a taxa de
22
Cultivar
absorção determina a quantidade disponível para transporte e para o efeito final na planta. Os dados obtidos sugerem que diferenças nas taxas de absorção dos produtos (formulações) podem ter sido responsáveis pelas suas velocidades de ação, como também verificado por Harrison & Wax (1986) quando estudaram o efeito de diferentes adjuvantes na absorção de haloxyfop-methyl. Glyphosate é um composto polar, solúvel em água, sendo sua absorção pela planta dependente da formulação, provavelmente determinando a quantidade de glyphosate disponível para translocação, o que, dessa forma, determina sua performance, especialmente quando aplicado em doses abaixo do necessário para controle de determinada espécie. A velocidade de ação de herbicidas dessecantes pode ser importante para o estabelecimento de culturas no sistema plantio direto, evitando a competição já nos estádios iniciais da cultura. Eficiência do tipo de sal e formulações Contrastes de médias de controle conferido pelos produtos em teste revelaram que o sal monopotássico propiciou controle semelhante ao sal isopropilamina, na formulação concentrado solúvel(CS), sendo
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ambos superiores ao controle obtido com sal de amônio, na formulação de grânulos autodispersíveis em água (WG) (Tabela 2), demonstrando que as respostas dependem do tipo de sal, da dose e das formulações dos produtos, como também reportado por Behrens & Elakkad (1981) para o 2,4-D. Efeito de doses A análise conjunta dos dados obtidos em todas as avaliações realizadas (Tabela 2) revelaram que o melhor controle foi obtido com sal monopotássico, na formulação solução concentrada, com sal isopropilamina, na formulação concentrado solúvel(CS) e com sal de amônio, na formulação de grânulos autodispersíveis em água (WG), na dose de 1.440 g e.a./ha, os quais não diferiram entre si. Os tratamentos com a dose mais baixa (360 g e.a./ha) propiciaram controle inferior ao propiciado pelos demais tratamentos, independentemente do tempo ocorrido entre a aplicação dos tratamentos e a irrigação. As características das formulações podem ter resultado em adsorção cuticular e absorção mais rápida pela planta, o que também pode ter reduzido a lavagem pela chuva. Efeito do intervalo de tempo A influência do intervalo de tempo en-
Julho de 2003
Tab. 3 - Controle de Brachiaria plantaginea por herbicidas dessecantes, aos 42 DAT Embrapa Trigo, Passo Fundo. 2001 Tratamentos Produtos Sal monopotássico Sal monopotássico Sal monopotássico Sal isopropilamina, Sal isopropilamina Sal isopropilamina Sal de amônio Sal de amônio Sal de amônio Testemunha C. V (%)
Chuva (Horas após a aplicação) Formulação Dose gia/ha CS 360 CS 720 CS 1.440 360 CS CS 720 CS 1.440 WG 360 WG 720 WG 1.440 -
1 68,7 b B 92,5 a A 98,7 a A 67,5 b B 95,0 a B 100,0 a A 28,7 c B 83,7 ab B 98,7 a A 0,0 d 9,9
4 90,0 b A 98,7 ab A 96,2 ab A 91,2 ab A 98,7 ab A 100,0 a A 75,0 c AB 98,7 ab A 100,0 a A 0,0 d 3,4
Chuva (Horas após a aplicação) 2
1
CONTRASTES
2 62,5 c B 97,5 a A 100,0 a A 72,5 b B 100,0 a A 100,0 a A 57,5 c B 92,5 a B 100,0 a A 0,0 d 2,9
Pr>F
Médias
Médias
Sal monopotássico CS x sal isopropilamina CS 86,6 87,5 0,87 Sal de monopotássio CS x sal de amônio WG 86,6 70,4 0,0007 Sal isopropilamina, CS x sal de amônio WG 87,5 70,4 0,0004
>8 100,0 a A 100,0 a A 100,0 a A 100,0 a A 100,0 a A 100,0 a A 95,0 b A 98,7 a A 100,0 a A 0,0 c 0,4
C. V. (%) 6,6 2,7 1,5 4,1 0,6 0,0 15,8 4,6 0,6 -
3
Pr>F
>8
Médias
Pr>F
86,6 90,8 0,02 94,9 96,6 86,6 83 0,06 94,9 91,2 90,8 83,3 0,0001 96,6 91,2
Médias
0,46 100 0,10 100 0,02 100
Pr>F
100 1,00 97,9 0,0001 97,9 0,0001
Valores seguidos pela mesma letra minúscula na mesma coluna e maiúscula na mesma linha, não diferem entre si pelo teste de Duncan, ao nível de probabilidade de erro de 5 %
Tab. 4 - Efeito do tempo (horas) entre a aplicação dos tratamentos e a irrigação, na eficiência dos tratamentos. Embrapa Trigo, Passo Fundo. 2001 Tratamento Produtos (Tipo de sal) Dose (gia/ha) 360 Monopotássico CS Monopotássico CS 720 Monopotássico CS 1.440 Isopropilamina CS 360 Isopropilamina CS 720 1.440 Isopropilamina CS Amônico WG 360 Amônico WG 720 Amônico WG 1.440 Testemunha
Chuva (Horas após a aplicação) 1 30,0 B 37,5 B 42,5 B 27,5 B 40,0 B 42,5 C 18,7 B 32,5 B 41,2 B 0,0
2 23,7 B 36,2 B 50,0 AB 23,7 B 42,5 B 52,5 BC 20,0 B 31,2 B 43,7 B 0,0
4 50,0 A 55,0 A 65,0 A 46,2 A 61,2 A 57,5 AB 37,5 A 58,7 A 57,5 AB 0,0
>8 53,7 A 57,5 A 63,7 A 56,2 A 58,7 A 66,2 A 52,5 A 57,5 A 61,2 A 0,0
C. V. (%) 9,2 10,9 8,7 7,7 10,0 7,1 12,4 8,8 9,6 -
Chuva (Horas após a aplicação) CONTRASTES
1 Médias
Sal monopotássico CS x sal isopropilamina CS 36,7 36,7 Sal monopotássico CS x sal de amônio WG 36,7 30,8 Sal isopropilamina CS x sal de amônio WG 36,7 30,8
2 Pr>F 0,98 0,019 0,02
Médias
3 Pr>F
36,6 39,6 0,43 36,6 31,6 0,15 39,6 31,6 0,03
Médias 56,7 55,0 56,7 51,2 55,0 51,2
8>F Pr>F
Médias
Pr>F
0,65 58,3 60,4 0,38 0,08 58,3 57,1 0,58 0,19 60,4 57,1 0,16
Valores seguidos pela mesma letra, na mesma linha, não diferem entre si pelo teste de Duncan, ao nível de probabilidade de erro de 5 %
tre a aplicação dos tratamentos e a ocorrência de chuva na eficiência dos tratamentos na dessecação de B. plantaginea é apresentada nas tabelas 3 e 4 e nas figuras 2 a 5, com as médias das três doses testadas de cada produto. Como esperado, os maiores intervalos resultaram em maior efeito fitotóxico na planta daninha. Assim, na avaliação realizada aos 42 DAT, verificou-se que, em geral, o melhor controle foi obtido quando a irrigação ocorreu a partir de 4 horas após a aplicação dos tratamentos (tabelas 3 e 4). A redução de tempo para menos de 4 horas causou maior redução da eficiência da de sal de amônio (formulação WG) que
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da de sal isopropilamina e da de sal monopotássico (ambos na formulação CS). No entanto, o efeito de chuva na eficiência de glyphosate foi reduzido quando a dose do produto foi aumentada, como também observado por Bovey & Diaz-Colon (1969), por Hawf & Behrens (1974) e por Behrens & Elakkad (1981), pois maiores quantidades de chuva podem ter sido necessárias para remover maiores quantidades de produto da folhagem. Assim, com o aumento da dose de sal de amônio (formulação WG) de 360 g e.a./ha para 720 g e.a./ha, por exemplo, o controle da planta daninha passou de 28,7 % para 83,7 % quando a chuva foi simula-
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da em 1 hora após a aplicação, equivalendo-se estatisticamente ao controle dado por sal monopotássico e por sal isopropilamina, ambos na formulação CS (Tabela 3). Doses mais elevadas podem ser responsáveis, também, por uma absorção mais rápida, de forma que intervalos de tempo mais curtos entre a aplicação e a ocorrência de chuva que os sugeridos de 6 horas sem chuva, após a aplicação, para assegurar a absorção máxima pelas plantas daninhas (Rodrigues & Almeida, 1998), são suficientes para o controle destas. Quando a chuva foi simulada em mais de 8 horas após a aplicação dos tratamentos, apenas o tratamento com sal de amônio (formulação WG), na dose de 360 g e.a./ ha ofereceu controle inferior estatisticamente aos demais (Tabela 3).
CONCLUSÕES 1) As aplicações de chuvas simuladas antes de 4 horas após a aspersão dos produtos testados reduziram a eficiência no controle da espécie de planta daninha em estudo (B. plantaginea) quando usados na dose de 360 g e.a./ha. O sal de amônio, na formulação de grânulos autodispersíveis em água (WG) sofreu maior redução que o sal monopotássico e sal isopropilamina, ambos na formulação concentrado solúvel (CS); 2) Independentemente da formulação, o efeito da chuva simulada na eficiência de glyphosate pode ser reduzido pelo aumento da dose de equivalente ácido; 3) A formulação determinou a velocidade de controle. O sal isopropilamina e o sal monopotássico, na formulação concentrado solúvel(CS), apresentaram taxas de controle iguais em termos estatísticos e superiores à do sal de amônio, na formulação de grânulos autodispersíveis em água (WG); 4) A dose mais baixa dos produtos (360 g e.a./ha) apresentou controle inferior em relação às demais; 5) As formulações determinaram também a eficiência do ingrediente ativo: sal isopropilamina e sal monopotássico, ambos na formulação concentrado solúvel (CS), apresentaram controle superior aos dados por sal de amônio, na formulação de grânulos autodispersíveis em água (WG); 6) A eficiência de glyphosate demonstrou estar ligada ao tipo de sal, à formulação, à dose e ao intervalo de tempo entre sua aplicação e a ocorrência de chuva. Esses fatores determinam, provavelmente, diferenças na absorção e na translocação do produto, influindo no nível de con. trole final da planta daninha. Erivelton Scherer Roman, Embrapa Trigo
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Fotos Gilberto Cunha
Trigo
Antes da hora Sistema de alerta sobre riscos de germinação pré-colheita pode cortar eventuais prejuízos na triticultura
A
germinação pré-colheita (popularmente chamada de germinação na espiga) em trigo tem sido apontada como uma das causas de redução da qualidade do trigo brasileiro. O problema atinge áreas tritícolas de várias partes do mundo (Norte e Oeste da Europa, Noroeste dos Estados Unidos, Norte da Austrália, Oeste da Nova Zelândia, regiões trigueiras do Canadá, da África do Sul, do Chile, da Argentina e de vários outros países), sendo, no Brasil, mais freqüente na Região Sul. Particularmente, nas áreas mais quentes, onde as altas temperaturas diminuem a dormência dos grãos e facilitam a germinação, quando ocorrem chuvas no período de colheita. Em 24
Cultivar
resumo, para que o problema se manifeste, duas condições são necessárias: (1) quebra de dormência durante o período de enchimento de grãos e (2) chuvas na época de colheita. Pode ser diagnosticado visualmente, quando muito severo, ou, como é mais comum, pelo valor do Número de Queda de Hagberg (Hagberg-Falling Number); entre outros métodos. Germinação pré-colheita em trigo é problema tanto para o produtor quanto para a indústria. Diminui o potencial de rendimento das lavouras, afeta negativamente o PH e, acima de tudo, tem um menor valor de mercado, pois, dependendo do nível de germinação, esse grão acaba sendo passível de uso www.cultivar.inf.br
apenas para consumo animal. Na indústria, os problemas ocasionados por farinhas produzidas a partir de trigo germinado são bastante conhecidos. Os resultados no processo de panificação são desastrosos: pães com volume reduzido, interior compacto e casca muito escura, por exemplo. Macarrão de coloração escurecida. Bolos com estrutura deformada. Em virtude de perder o poder de engrossamento, a farinha de trigo germinado não pode ser usada na produção de sopas e molhos cremosos. Todos esses aspectos sendo conseqüentes da degradação das reservas de proteína e de amido dos grãos, que se dá via ação enzimática, quando tem início a germinação. Apesar do envolvimento de Julho de 2003
várias enzimas germinativas, a mais conhecida e estudada, pelos seus efeitos desastrosos no processo de panificação, é a alfa-amilase. Também é importante frisar que germinação pré-colheita não é nenhuma exclusividade do trigo. Afeta todos os cereais, podendo inclusive ser mais severo na cevada, no centeio e no triticale que no trigo. O método do Número de Queda de Hagberg (NQH) é usado como referência internacional em estimativas de germinação pré-colheita em trigo. O NQH é uma medição indireta da atividade da enzima alfaamilase. Uma elevada atividade dessa enzima significa um baixo valor de NQH e viceversa. Costuma-se delimitar um valor crítico de 200 s para NQH, visando ao diagnostico de germinação pré-colheita (abaixo desse índice significa trigo com problema). Embora há quem considere ideal para trigo um valor de NQH acima de 250 s, também não se descarta a possibilidade de uso, para produtos específicos, de trigo com NQH levemente abaixo de 200 s. Uma vez que esse problema está associado principalmente com a atividade da enzima alfa-amilase, torna-se importante o entendimento de como essa enzima pode se acumular nos grãos de trigo e como atua, degradando as reservas de proteína e amido dos mesmos, com conseqüências na farinha derivada. Há pelo menos quatro formas conhecidas. A primeira delas diz respeito à alfaamilase que pode ficar retida no pericarpo, sendo produzida na fase inicial de formação dos grãos (principalmente em colheitas antecipadas e com níveis elevados de umidade). A segunda está relacionada com uma quantidade dessa enzima que se forma ainda na fase de pré-maturação das sementes. A terceira, quando ocorre germinação pré-
Julho de 2003
maturação fisiológica dos grãos (antes da indução de dormência). E a quarta, quando a germinação se verifica pós-maturação fisiológica dos grãos (atraso de colheita e depois da quebra de dormência). Em ordem de importância decrescente quanto à capacidade de causar problema em trigo, tem-se: a quar-
e, finalmente, pelas condições de ambiente (chuva, temperatura e velocidade de secagem dos grãos). E, acima de tudo, há o controle fisiológico associado com dormência. A dormência em trigo (período que as sementes, ainda que sob condições ótimas de temperatura, de umidade e de luz, não
Espigas apresentando deficiência, devido à germinação pré-colheita
ta, a segunda, a terceira e a primeira. Muitas coisas estão envolvidas por trás da germinação pré-colheita em trigo. Começando com a suscetibilidade genética da cultivar (presença ou ausência de genes de resistência), passando pela morfologia e estrutura da espiga (relação com absorção de água), pelo estádio de maturação da lavoura
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germinam) é uma característica da cultivar, sendo geneticamente determinada. Todavia, as condições de ambiente, particularmente de temperatura, durante a fase de enchimento de grão, exercem uma forte influência na duração do período de dormência. Portanto, a interação entre as características genéticas das cultivares e as condições de ambiente,
...
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...principalmente meteorológicas, é que define
a ocorrência ou não e a magnitude do problema de germinação pré-colheita em trigo. Em geral, as cultivares com características de coloração branca de grãos são consideras mais sensíveis à germinação em précolheita do que as de grãos vermelhos. Todavia, a herança da dormência (sensibilidade à germinação pré-colheita) pode ser independente da coloração do grão; uma vez que nem todo trigo vermelho apresenta dormência. Ou seja: este é um caráter em que estão envolvidos múltiplos genes, caracterizando uma herança complexa, sendo essa uma característica quantitativamente herdada e que sofre uma forte influência das variáveis de ambiente. Sem contar que o processo de melhoramento genético, com os chamados avanços de geração, sistematicamente tende a selecionar contra a dormência. Por tudo isso, há necessidade de caracterização individual por cultivar quanto à sensibilidade à germinação pré-colheita. É quase consenso de que são poucas as alternativas para se contornar o problema de germinação pré-colheita em trigo via práticas culturais. Exceto pela escolha de cultivares e organização da colheita. Uma solução definitiva para o problema, segundo a turma da biotecnologia, seria a incorporação do gene Terminator no trigo, pois não germinaria de jeito nenhum. Pelo exposto ficou evidente que quebra de dormência dos grãos e chuvas são duas condições determinantes do problema de germinação pré-colheita em trigo. Assim, considerando que a dormência em trigo é uma característica genética (intrín-
seca à cultivar) que é fortemente condicionada pelas condições ambientes que ocorrem durante o período de enchimento dos grãos, particularmente meteorológicas, é possível a definição de um modelo agrometeorológico (sensibilidade da cultivar x variáveis meteorológicas) de alerta sobre riscos de germinação pré-colheita em trigo, no Sul do Brasil; região que se caracteriza por não possuir uma estação seca definida nos meses de colheita.
SISTEMA DE ALERTA DE RISCO O problema de germinação pré-colheita em trigo é verificado, quase sempre, de forma regionalizada, em alguns anos e em algumas cultivares. Diferentes países, por exemplo a Holanda, a Alemanha, a Suécia e a França, entre outros, onde há o problema, têm buscado o desenvolvimento de sistemas de alertas sobre riscos de germinação na espiga (sprouting). Atualmente, está sendo desenvolvido no Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura da Embrapa Trigo um sistema de alerta sobre riscos de germinação pré-colheita em trigo, visando orientar: (1) áreas preferenciais para iniciar a colheita; (2) cultivares mais sensíveis, pelas quais deve-se começar a colheita e (3) necessidade de colheita antecipada. A seguir serão apresentados alguns resultados de estudos básicos realizados com vistas ao desenvolvimento do sistema de alerta de risco de germinação pré-colheita em trigo para o Sul do Brasil, envolvendo: (1) determinações de Número de Queda (NQH) para 90 cultivares/linhagens de trigo, na safra 2000; (2) determinações de ín-
Gilberto Cunha
dice de germinação (IG), com e sem quebra de dormência, para 129 cultivares/linhagens de trigo, safra 2001 e (3) diagnóstico do problema, considerando-se como referência o valor do Número de Queda de Hagberg (“Falling Number”) de amostras de trigo oriundas de diferentes partes do RS e do PR, safras 2000 e 2001. De modo geral, houve diminuição nos valores de NQ com as coletas sucessivas, independentemente da época de semeadura. A maioria do material tende a situar-se abaixo do limite crítico de NQH (200 s), aos 50 dias após a maturação fisiológica, refletindo o efeito do ambiente na perda de qualidade industrial de trigo após a maturação. Pelos valores de IG constatou-se que a variabilidade genética das cultivares é evidente, independentemente de quebra artificial de dormência, de momento de coleta e de época de semeadura. O efeito do ambiente na dormência, conseqüentemente na suscetibilidade ao risco de germinação pré-colheita também foi evidenciado, confrontando-se as épocas de semeadura. No estudo diagnóstico (2000 e 2001), os valores de Número de Queda foram praticamente todos superiores ao limite 200 s, indicando que não houve problemas de germinação pré-colheita nos cultivares de trigo recebidos. Estes dados subsidiarão a análise de validação regional, após ajuste do modelo de risco de germinação pré-colheita em trigo para o Sul do Brasil.
CONCLUSÕES A distribuição dos valores de NQH reforça a necessidade de caracterização genética (sensibilidade intrínseca da cultivar/ linhagem) para a modelagem matemática de risco de germinação na espiga em trigo, nas condições do Sul do Brasil. A duração da dormência, expressa pelo IG, diminui com o atraso das semeaduras, embora sendo mantido ainda um certo grau de distinção entre cultivares/linhagens. Os dados diagnósticos reforçam a pressuposição de que germinação pré-colheita em trigo se trata de problema regionalizado, com ocorrências em alguns anos. . Gilberto R. Cunha, Embrapa Trigo Informações sobre germinação pré-colheita em trigo na Embrapa Embrapa Trigo - Passo Fundo: Aroldo Linhares, Cantídio de Sousa, Leo Del Duca, Pedro Scheeren, Márcio Só e Silva, Eliana Guarienti, Martha Miranda, Osmar Rodrigues, João Leonardo Pires e Gilberto Cunha. Embrapa Soja - Londrina: Manoel Carlos Bassoi, Sérgio Dotto, Dionisio Brunetta, Claudinei Andreoli e Luís César Tavares.
A germinação pré-colheita é apontada como uma das causas da redução da qualidade do trigo brasileiro 26
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Fotos Augusto Goulart
Trigo
Hora certa para proteger Durante todo o ciclo de vida, o trigo é atacado por diversas doenças que podem levar a perdas consideráveis na produção. Saiba quando e como controlar as principais doenças da cultura
O
trigo (Triticum aestivum L.) é cultivado na maioria dos países da América Latina, os quais destinam mais de 90% de sua produção ao consumo humano e animal. No Brasil, a produção de trigo encontrase dividida em três regiões distintas: a) região Sul (Rio Grande do Sul e Santa Catarina); b) região Centro-Sul (Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul); c) região Central (Minas Gerais, Distrito Federal e partes dos Estados da Bahia, Goiás e Mato Grosso – componentes do “Cerrado” brasileiro). 28
Cultivar
DOENÇAS A cultura do trigo é atacada por um grande número de doenças, porém, a predominância dos patógenos varia segundo as regiões tritícolas brasileiras. Nas condições do Brasil, as doenças mais importantes do trigo são: ferrugens da folha e do colmo, helmintosporioses, septorioses, oídio, brusone e giberela.
MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS O controle das doenças do trigo poderá ser obtido através do desenvolvimento de www.cultivar.inf.br
um sistema de Manejo Integrado, o qual baseia-se no princípio de manter a doença abaixo do limiar de dano econômico, sem prejuízo para o agroecossistema, utilizando medidas biológicas, culturais e químicas. Como parte integrante de uma agricultura sustentada, o Manejo Integrado de Doenças deverá agregar todas as táticas disponíveis de controle. No caso específico das doenças, isso significa que mais de uma medida deve ser implementada, uma vez que práticas adotadas isoladamente não se mostram tão eficientes, como quando usadas em conjunto. Julho de 2003
As medidas mais utilizadas como parte das estratégias de controle das doenças do trigo envolvem a integração das seguintes práticas: rotação de culturas, resistência genética, tratamento químico de sementes, uso de sementes sadias, emprego de fungicidas, eliminação de plantas voluntárias e de hospedeiros secundários.
escolha da cultivar, a prática de rotação de culturas e o tratamento de sementes poderão ser fundamentais para o sucesso do tratamento com fungicidas. Na escolha do produto ou da mistura dos fungicidas recomendados, não esquecer de considerar fatores como o modo de ação, eficiência, persistência, aspectos toxicológicos e econômicos. Sempre é bom lembrar que, por ser uma prática que exige um acréscimo significativo nos custos, a decisão de sua utilização deve ser ponderada baseando-se, dentre outros fatores, no potencial de rendimento que a lavoura apresenta. Deve-se salientar que, apesar de todo o empenho dos melhoristas, ainda não estão disponíveis cultivares com níveis de resistência que dispensem o uso de fungicidas para o controle das principais doenças.
EMPREGO DE FUNGICIDAS Devido às condições climáticas adversas, aliadas à suscetibilidade das cultivares, o trigo pode ter seus rendimentos reduzidos em função do ataque de doenças. O emprego de fungicidas para o controle das doenças dos órgãos aéreos tem sido um fator de estabilização de rendimento em níveis econômicos. A aplicação de fungicidas é uma prática que exige planejamento. A sua adoção, bem como os produtos a serem utilizados, deve ser decidida anteriormente ao surgimento da doença (com base no histórico de ocorrência das doenças em anos anteriores) e associada a outras técnicas que asseguram um potencial elevado de rendimento da lavoura. A
DOENÇAS ALVO DO CONTROLE QUÍMICO
Ferrugem do colmo: controle deve ser feito com o surgimento das primeiras pústulas
Oídio (Blumeria graminis f.sp. tritici) Dentre as doenças foliares, é a de mais fácil controle. Em cultivares muito suscetíveis e em regiões onde a doença ocorre com freqüência, o controle via sementes com fungicidas sistêmicos do grupo dos triazóis (como já comentado anteriormente) é considerado viável técnica e economicamente (custo de aproximadamente
...
...US$10,00/ha) do que atra-
vés da aplicação de fungicidas nos órgãos aéreos (custo de US$30,00/ha). No entanto, se houver necessidade de controle pela pulverização de fungicidas, o mesmo deverá ser implementado quando se observar de 15 a 25% de incidência foliar da doença, a partir do final do perfilhamento. Ferrugem da folha (Puccinia recondita f.sp. tritici)
Tab. 01 - Nome comum, modo de ação, dose, doenças, eficiência relativa, carência, índice de segurança e classe toxicológica dos fungicidas recomendados para o controle das doenças da parte aérea Doenças (2)
Nome comum
Modo de ação (1)
Dose (g i.a./ha)
Ferrugens
Helmintosporiose (5)
Septoriose (4)
Oídio
Folha Colmo
Azoxystrobin (6) Cyproconazole Epoxiconazole + Pyraclostrobin Iprodione Mancozebe (7) Metconazole Procloraz Propiconazole Propiconazole + Cyproconazole (8) Tebuconazole (9) Triadimenol
Giberela Brusone Carência Classe (dias) (3) toxicológica
S S SE
50 20 50+133
*** *** ***
*** ***
*** ***
***
** ***
-
-
20 52 30
III III II
C
750
-
-
***
-
-
-
-
73
IV
C 2000 ** ** ** ** * 30 III Esta doença deve ser conS 81 *** *** *** *** *** *** * 30 III trolada quando a sua incidência for de 10 a 15%, a partir S 450 *** ** *** 40 I do final do perfilhamento. S 125 *** *** *** *** *** 35 III Assim, quando as plantas S 62,5+25 *** *** 52 III amostradas alcançarem este índice, recomenda-se a pulS 150 *** *** *** *** *** *** * 35 III verização com fungicidas. A S 125 *** *** ** *** *** 45 II reaplicação, quando necessária, deverá ser realizada quan(1) S = Sistêmico; C = Contato. (2) Eficiência de controle: (*) = 30% a 50% de controle; (**) = de 50% a 70% de controle; (***) = acima de 70% de controle; - = não do ocorrer reincidência. Não recomendado. (3) Espaço compreendido entre a última aplicação e a colheita. (4) Helmintosporioses: Helminthosporium sativum e H. tritici repentis. (5) Septoriose = Septoria nodorum. (6) Utilizar sempre associado com Nimbus, óleo mineral específico, na dose de 0,5 V/V. (7) Vide item “c” em observações gerais (6.1.3.7). (8) Mistura pronta. (9) fazer aplicações após o estáIndicado para brusone na dose de 250 g i.a/ha dio de grão leitoso. Normalmente esta doença ocorre no estádio de emissão da folha bandeira, porém, em anos em que ocorre mais cedo, ou seja, nos estádios to químico de sementes foi adotada, os efei- sementes com boa sanidade, o tratamento iniciais de desenvolvimento do trigo (início tos da epidemia da ferrugem da folha serão de sementes com fungicidas e doses eficido perfilhamento), se a prática do tratamen- minimizados, contribuindo para reduzir o entes, associados à rotação de culturas, renúmero de pulverizações. Uma vez que as duzem o inóculo primário. Dessa forma, o Fotos Augusto Goulart maiores reduções de rendimento do trigo aparecimento dos primeiros sintomas das causado por esta doença ocorrem justamen- manchas foliares na lavoura é retardado, te nesta fase, esta integração de táticas de mesmo em cultivares suscetíveis e em anos controle torna-se de suma importância para climaticamente favoráveis à ocorrência desmaximizar o seu controle e dar maior sus- sas doenças, de modo que, em muitos catentabilidade à cultura. sos, o nível de controle ou não é atingido ou ocorre numa fase da cultura em que apeFerrugem do colmo (Puccinia graminis f.sp. tritici) nas uma aplicação de fungicidas na parte O controle dessa enfermidade deverá ser aérea é requerida. Isto demonstra que o confeito quando as primeiras pústulas surgirem trole dessas enfermidades se enquadra como no período compreendido entre o final do um exemplo clássico de como os princípios florescimento e o início da formação de básicos do manejo integrado de doenças pogrãos. Não esquecer de observar a carência dem ser aplicados, com sucesso. dos produtos (intervalo compreendido entra a aplicação e a colheita). Brusone (Pyricularia grisea) O controle da brusone do trigo deManchas foliares (Bipolaris sorokiniana, Drechslera tri- pende da conjugação de medidas que tici-repentis, Septoria nodorum e S. tritici) devem ser adotadas adequadamente e no No controle dessas doenças deve-se le- momento oportuno. Dentre essas, o convar em conta o estádio de desenvolvimento trole mais eficiente e econômico da dodo trigo e o nível de intensidade da doença. ença pode ser obtido pela utilização de Portanto, recomenda-se a aplicação dos fun- variedades com melhor nível de resistêngicidas quando a incidência foliar das do- cia. Uma vez que a grande maioria das enças for de 70 a 80% a partir do elonga- variedades são suscetíveis à brusone, a mento (1o nó visível). A reaplicação dos fun- aplicação de fungicidas poderá constituir gicidas poderá ser feita quando o limiar for uma ferramenta importante no controle novamente alcançado. Por outro lado, se o integrado da doença, desde que realizalimiar não for atingido, não se deve efetuar da com base na análise de custo/benefíO oídio é a doença o controle químico. Nesse caso, economi- cio. Resultados de pesquisa têm demonsfoliar do trigo de mais zam-se aproximadamente US$30,00/ha. A trado a baixa eficiência de controle desfácil controle adoção conjunta de medidas como o uso de sa doença pelo uso de fungicidas (atual-
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período inicial de floração até a floração plena. Entretanto, se as condições climáticas impedirem a realização das pulverizações no período indicado, não haverá possibilidade de controle.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Deve-se ressaltar ainda que, em muitos casos, o emprego de fungicidas visando a redução da intensidade de doenças ou das atividades dos patógenos torna-se necessário, sendo estes partes integrantes do sistema como um todo. Para determinados patossistemas, a utilização desta prática constitui a única alternativa viável de controle, sendo considerado fator de aumento na produtividade e qua. lidade de determinadas culturas.
O controle de manchas foliares deve ser feito quando o nível de intensidade atingir 70 a 80%
Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste
mente, o controle dessa doença é da ordem de 50%, no máximo). Essa dificuldade de controle com os fungicidas atualmente registrados, recomendados e disponíveis no mercado para o controle da brusone, faz com que essa enfermidade se torne ainda mais séria e preocupante. As primeiras recomendações para o controle da brusone com fungicidas preconizavam uma pulverização no final do emborrachamento, complementada com mais uma ou duas, a intervalos de dez a doze dias. Como a aplicação de fungicidas objetiva a proteção da cultura visando obter-se alto rendimento, no caso da brusone do trigo, a boa performance de alguns fungicidas aplicados na parte aérea não corresponderam diretamente em eficiente proteção da espiga. A partir desses resultados, a recomendação de controle químico foi modificada, baseando-se no potencial produtivo da lavoura e na economicidade da aplicação. Por esse critério, a primeira pulverização passou a ser realizada no início do espigamento, complementada por outra num intervalo de dez a doze dias da primeira, quando as condições forem favoráveis a doença (chuvas e temperaturas em torno de 20ºC). Recomenda-se ainda para o controle da doença, o uso de variedades resistentes e a semeadura do trigo, nas áreas de maior risco, na época adequada (1º decêndio de abril). Giberela Esta doença ataca o trigo a partir da floração (antese), quando as condições climáticas prevalentes forem de temperatura média, neste período, acima de 15ºC e molhamento das espigas por, no mínimo, 48 horas. Assim, o controle da doença somente poderá ser feito pela aplicação de fungicidas no Julho de 2003
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AENDA
Defensivos Genéricos
Maracujá no parreiral Mudança na nomenclatura: tudo o que causa danos à agricultura agora pode ser chamado de praga
O
êxodo bíblico, narrado no Antigo Testamento e comandado por Moisés, foi precedido de dez pragas até o rei do Egito acreditar ser uma determinação divina e permitir a saída do povo israelita. A água do Nilo virou sangue; o Nilo ficou cheio de rãs; os piolhos cobriram as pessoas e animais; as moscas invadiram as casas; os animais morreram de uma horrível doença; tumores e úlceras cobriram pessoas e animais; chuva de pedra e raios destruiu o linho em flor e a cevada com espigas; gafanhotos arrasaram o trigo, o centeio e as frutas; escuridão aterrorizou a todos; e, finalmente, a morte ceifou todos os primogênitos egípcios. Percebam que entre as dez pragas, ao menos três foram de insetos, uma de batráquios e duas de doenças patogênicas. Portanto, pragas de insetos e pragas de doenças, além de pragas de outra ordem, segundo o livro sagrado. Já na Bíblia do Novo Testamento, escreveu Mateus no Capítulo 13: “Jesus contou uma parábola: certa noite, quando todos estavam dormindo, veio um inimigo, semeou no meio do trigo uma erva ruim chamada joio e, depois foi embora. Quando as plantas cresceram, e se formaram as espigas, o joio apareceu...deixem o trigo e a praga da cizânia crescerem juntos até o tempo da colheita...arranquem primeiro o joio, amarrem em feixes e queimem; depois colham o trigo e ponham no depósito”. Uma praga de ervas daninhas. O mundo girou e o olhar das pessoas sobre tudo em volta foi acumulando
complexidade. A taxonomia foi criando agrupamento de animais, filos de plantas, classificando os agentes patogênicos e tudo o mais vivo. As cidades foram crescendo e os urbanos se dissociando dos rurícolas. A terminologia popular foi recriada aqui e ali. Praga foi reduzida a insetos, ácaros e outros bichos asquerosos e visíveis. Depois da lepra, da varíola, da tuberculose, da mela da batata, do cancro cítrico....doença passou a ser enquadrada em outro diedro, designando aquele mal invisível, procedente de misteriosos fungos, nematóides, bactérias ou vírus. Ervas ruins mantiveramse como tais, posto que mais circunscritas ao mundo rural; quiçá, com nome mais racionalizado: planta infestante. Com as trocas de mercadorias entre os povos, seres nocivos alcançaram terras dalém mar. Surgiram as pragas exógenas e, em subseqüência, toda uma necessidade de fiscalização dos pontos de entrada e saída das mercadorias no afã de impedir as nefastas disseminações desses seres, ora o fungo da ferrugem nos cafezais ora o besouro chinês nas áreas reflorestadas. Quarentena. Área livre de ocorrência. Certificação Fitossanitária. Linguajar entre os países, har-
monizando as regras de controle. Para essa nova organização fitossanitária internacional as pragas foram reunificadas. No âmbito da OMC, o Acordo Multilateral SPS – Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias restabeleceu o seguinte conceito de praga: “qualquer espécie, raça ou biótipo de vegetais, animais ou agentes patogênicos, nocivos para os vegetais ou produtos vegetais”. Portanto, gerações de agora e futuras, evitem a redundância das expressões “pragas e doenças” ou “pragas, doenças e ervas daninhas”, tão comum nos livros, revistas, folhetos, artigos, trabalhos científicos, promoção de congressos. Vamos recuperar a simplicidade: foi nocivo é praga. Praga é tudo que pragueja, que causa dano às plantações, sejam insetos, ácaros...fungos, bactérias...ervas daninhas ou... maracu. já no parreiral.
Para se defender dos inimigos naturais, a lagarta-da-soja emite um fio de seda, deixando o corpo pendurado e fora do alcance do predador
PPor or um um fio fio A
dinâmica populacional de pragas envolve o ciclo biológico, a capacidade de reprodução, o controle natural, a alimentação e outros fatores. A lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis, é a principal praga na cultura e com o maior volume de aplicação de inseticida no Brasil. A partir da geração da prole, apenas um número muito reduzido de indivíduos de cada espécie alcança a fase adulta e a reprodução, garantindo a continuidade das gerações. Estudos realizados com lagartas indicam que o índice de sobrevivência é inferior a 1 %. Ou seja, na média, de cada cem ovos depositados pela mariposa, menos de um indivíduo atinge a fase adulta com capacidade de manter a sucessão de gerações. O aumento da população de lagartas e de outras espécies é resultado do desequilíbrio pelo cultivo de áreas extensivas de plantas, disponibilizando alimento para os organismos que atingem o nível de praga. Na seqüência do aumento da população de pragas desenvolvem os inimigos naturais que se alimentam da espécie em desequilíbrio. A dificuldade está no intervalo entre o desenvolvimento da população da praga, quando ocorre o dano nas plantas, e o tempo necessário para se esta-
belecer o equilíbrio natural. Na evolução das espécies sobreviveram os indivíduos com habilidades ou características que protegem contra fatores bióticos ou abióticos de supressão natural. Os fatores de controle natural envolvem desde a qualidade do alimento, a temperatura, a umidade até os inimigos naturais agrupados em predadores, parasitóides e patógenos. Entre os aspectos interessantes da dinâmica populacional de pragas, se destacam as estratégias das espécies para se defender de inimigos naturais.
A MARIPOSA Cada espécie apresenta um conjunto de características e de estratégias para se defender contra parasitos, predadores, patógenos e contra outros fatores de supressão natural. A lagarta-da-soja, para garantir a sobrevivência do maior número de indivíduos inicia com a camuflagem da mariposa. Ela apresenta coloração geral do corpo variando de pardo-escuro, marrom, bege a cinza, com tonalidades variadas. Uma linha transversal une as extremidades do dorso das asas anteriores. Ao observar a mariposa pousada na lavoura percebe-se, claramente, a semelhança (camu-
flagem) com folhas secas. A coloração parda e a linha representando a nervura principal simulam folhas secas. Essa camuflagem dificulta a localização da mariposa como presa ou hospedeiro de inimigos naturais. A maior intensidade de vôo das mariposas para a localização de plantas hospedeiras, cópula e oviposição ocorre nas primeiras horas da noite. Todas saem em intensa atividade, ao mesmo tempo. Nesse período do dia, em geral, a temperatura é amena e a umidade relativa do ar aumenta, diminuindo o estresse de desidratação. A atividade das mariposas reduz a partir do momento que ocorre a condensação da água na superfície das plantas, na madrugada, criando ambiente favorável para o desenvolvimento de bactérias e fungos, agentes de controle biológico de pragas. A mariposa deposita aproximadamente 1000 ovos em uma semana. Cada ovo, isolado na face inferior da folha de soja. Isso dificulta a localização ou exige do predador ou do parasito maior esforço para localização dos ovos. Com a oviposição disseminada em toda a lavoura, as infestações da lagarta ocorrem distribuídas ao acaso, sem manchas com maior infestação. Outras espécies como a lagarta-do-cartu-
cho ou lagarta-militar, Spodoptera frugiperda, depositam centenas de ovos agrupados sobre a folha de milho. Ou a lagarta-do-trigo, Pseudaletia sequax, que também deposita dezenas ou centenas de ovos agrupados na folha de gramíneas, juntando as bordas do limbo foliar, dificultando a localização e a visualização. Pela característica de oviposição aglomerada, o início das infestações dessas lagartas ocorre em manchas nas lavouras.
A LAGARTA-NO-FIO A característica de defesa contra inimigos naturais de maior destaque na lagarta-da-soja é a emissão de um fio de seda deixando o corpo dependurado na planta. O agricultor denomina essa fase de “lagarta-no-fio”. Nos primeiros estádios ou até atingir 1,5 cm de comprimento, a lagarta-da-soja apresenta a característica de dependurar o corpo por um fio diante de qualquer distúrbio ou ameaça da presença de formigas negras, besouros, percevejos, tesourinhas e outros insetos predadores de lagartas. Os predadores, em geral, atacam presas de tamanho menor e preferem as lagartas pequenas. As formigas negras atacam e dominam com facilidade as lagartas de até 1 cm de comprimento. A lagarta-da-soja, nessa fase crítica de desenvolvimento, possui a característica de elaborar o fio e se dependurar rapidamente na planta, impedindo que seja atacado pelo predador. Os inimigos naturais são caçadores e continuam em busca de outras presas de acesso mais fácil. Com essa estratégia de defesa, a lagarta-da-soja, muitas vezes, acaba se livrando do inimigo natural. Por outro lado, ocorreu a evolução de caFotos Dirceu Gassen
Fenômeno inexplicado: a coloração da lagarta-da-soja varia acentuadamente
racterísticas de inimigos naturais adaptados às estratégias de defesa da lagarta. Na América do Norte, um parasito do gênero Microctonos tem a habilidade de enrolar (puxar) o fio produzido pela lagarta e realizar a postura dentro do seu corpo, onde desenvolverá a lava do parasito. Pode-se sugerir que a característica de se dependurar por um fio de seda quando ameaçada por inimigo natural, garante a sobrevivência de lagartas pequenas, e assim alcançam o nível de praga na lavoura. Entre as dezenas de espécies de lepidópteros que encontram na soja alimento e ambiente adequados para desenvolver populações que poderiam atingir o nível de praga, apenas a lagarta-da-soja atinge o status de praga freqüente nas lavouras. Essa característica de proteção contra inimigos naturais é diferenciada de outras espécies de lagartas e fator importante para o desenvolvimento de populações elevadas da praga.
A SOBREVIVÊNCIA NO INVERNO Muitos estudos foram realizados com o ciclo biológico, a capacidade de consumo de folhas de soja, o controle químico, a identificação de inimigos naturais e o desenvolvimento do uso de vírus, Baculovirus anticarsia, para o controle biológico aplicado da praga. A dinâmica populacional da lagarta-dasoja ainda apresenta aspectos pouco conhecidos, como a sobrevivência nos meses de inverno e a origem das mariposas para as primeiras infestações no fim da primavera ou no início do verão. Ainda é desconhecida a localização das fases de ovo, de larva, de pupa ou de adulto,
no período depois da colheita de soja, em maio, e até o início de desenvolvimento da cultura em outubro. O modelo de desenvolvimento da população da lagarta-da-soja não apresenta hospedeiros intermediários da espécie, nem a fase de dormência nos meses de inverno. Sugerese que a reinfestação da praga nas lavouras, a partir do início do verão, pode ter origem na emigração de mariposas.
A COR DA LAGARTA-DA-SOJA O corpo das larvas jovens da lagarta-dasoja é translúcido, confundindo com a folha da planta hospedeira e o alimento ingerido. A coloração da larva da lagarta-da-soja varia desde verde claro, a verde com estrias acinzentadas e pretas, a preto com estrias claras. Há pouca informação para explicar as razões da variação acentuada na coloração de larvas da lagarta-da-soja. No início da infestação as lagartas apresentam coloração verde clara, confundindo com a cor geral das plantas de soja. Quando a população aumenta, aparecem as formas negras. Atribui-se o aparecimento de formas negras ao aumento da população e a estresses de alimentação. Mariposas nascidas de larvas verdes ou negras dão origem a lagartas que terão a variação de cor dependente da população e estresses na lavoura. Em geral, o produtor rural argumenta que as larvas de tonalidade negra são mais vorazes e resistentes a doses normais de inseticidas. Como as formas negras aparecem quando a população é elevada (mais de 40 lagartas/m2), o desfolhamento rápido resulta na impressão de dano maior. A sobrevivência proporcional de lagartas, no controle de populações elevadas, induz ao agricultor a impressão de resistência a inseticidas. Na realidade, as formas claras e escuras da lagarta-da-soja consomem aproximadamente 120 cm2 de folha de soja e morrem com doses equivalentes de inseticidas. Nos casos de epizootia causada pelo fungo branco, Nomuraea rileyi, percebe-se maior sobrevivência das formas negras. O desenvolvimento inicial do fungo depende de molhamento. A cor negra absorve maior radiação, permitindo secamento mais rápido do corpo, sugerindo a possibilidade de defesa contra microorganismos causadores de doença. A lagarta-da-soja é a espécie, entre dezenas de lagartas que ocorrem na cultura, que atinge o nível de dano mais freqüente na lavoura, possivelmente, pelas características de defesa contra os fatores de supressão natural. É importante conhecer a dinâmica populacional das pragas e adotar estratégias de manejo mais eficientes na pro. teção de plantas cultivadas. Dirceu N. Gassen, Gerente técnico da Cooplantio
Agronegócios
A tributação nos alimentos Reforma Tributária é indispensável para que a agricultura brasileira possa se tornar ainda mais competitiva
O
impacto dos tributos na atividade econômica está na ordem do dia. Nem tanto pela proposta de reforma tributária, que se encontra em análise no Congresso Nacional, a qual ainda não foi descoberta pela sociedade brasileira. A discussão é movida pelo recorde de 41,2% de pressão tributária sobre o PIB, alcançado em abril de 2003, e, em um foco mais restrito, pelo peso dos tributos na formação do preço dos alimentos. Em artigo recente1 , discorri sobre as sete pragas da agricultura, as quais, no raciocínio que desenvolvi, são seis. Isso porque, a derrama tributária, por ser o verdugo do emprego e o predador da renda e do desenvolvimento do Brasil, vale por duas pragas. Os países ricos da Europa contentam-se com incidências tributárias inferiores a 40% do PIB, os EUA com 30% e o Canadá com 35%. Países de desenvolvimento similar ao Brasil ajustam-se a 18% (México), 17% (Chile) ou 16% (Venezuela). Já o Brasil auto-limita o seu potencial de desenvolvimento e de justiça social através de uma elevada incidência tributária. Enquanto a sociedade não se rebelar contra o status quo, a partir do entendimento de que a formação de poupança para investimento - base do emprego, da renda e do desenvolvimento – é inversamente proporcional à taxação tributária, permaneceremos estagnados, o eterno país do futuro.
TRIBUTOS E POBREZA Porém, a face mais iníqua da tributação surge da análise de sua incidência sobre os alimentos. Quando a sociedade discute fórmulas para propiciar acesso à alimentação aos brasileiros menos favorecidos, é importante atentar que parcela ponderável da parca renda que o cidadão destina à compra dos alimentos, necessita ser dividida com o Governo. É importante refletir sobre a ineficiência de um processo que contribui para reduzir o acesso à alimentação, arrecadando impostos, 36
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que depois precisam ser transformados em programas de ...redução da fome ou de estímulo ao emprego!!! Graças ao Bom Deus, o Brasil não integra o circuito mundial da fome absoluta, aquela que aleija e mata. Entretanto, esse detalhe não é motivo de consolo, pois levantamento recente da CEPAL mostra que quase 30% dos lares brasileiros encontram-se abaixo do limite definido como “linha de pobreza”. Desse agrupamento, cerca de 10% dos domicílios não detêm renda familiar para garantir a aquisição de uma cesta alimentar, que atenda os requisitos nutricionais básicos. Dessa forma, a fome braba afeta, diretamente, 3% das famílias brasileiras. A Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE demonstrou que o comprometimento da renda familiar com alimentação, para famílias com renda de até dois salários mínimos, varia de 40% (Rio de Janeiro) a 65% (Fortaleza), enquanto os extratos superiores de renda destinam somente 7% de sua renda às despesas com alimentação.
A VERDADEIRA REFORMA TRIBUTÁRIA Quando a sociedade pugna por uma reforma tributária, tem em mente alguns conceitos essenciais, como: 1. a pressão tributária, medida como um percentual do PIB, deve ser proporcional à riqueza do país. O conceito é facilmente entendível, pois, sociedades ricas possuem um lastro de renda adicional às suas necessidades básicas, o que lhe permite não apenas suportar maior incidência tributária, como manter suas taxas de crescimento, apesar da pressão tributária; 2. a contrapartida de serviços públicos deve ser proporcional à arrecadação tributária. Pelo conceito, alta pressão tributária é atributo associado a sociedades ricas, com espesso colchão social providenciado pelo governo, medido em termos de benefícios (aposentadoria, seguro desemprego) ou de serviços (educação, www.cultivar.inf.br
saúde, segurança, transportes) de alta qualidade; 3. a tributação deve incidir mais fortemente sobre a renda e o consumo final. No Brasil, temos excesso de tributos, a maioria incidindo sobre a produção, o que gera a eliminação de postos de trabalho e a perda de competitividade; 4. os tributos devem ser progressivos. Ou seja, quem pode mais paga mais. No Brasil temos excesso de regressividade, o que conduz à pravidade de os tributos incidirem, proporcionalmente, com maior intensidade sobre os mais pobres; 5. seletividade tributária em função da essencialidade dos bens e serviços. Essa análise ajusta-se à discussão sobre tributação nos alimentos, ao menos àqueles componentes da cesta básica, que deveriam ser desonerados, diferencialmente da incidência sobre o consumo de luxo.
TRIBUTOS E ALIMENTOS Um estudo desenvolvido pela G & S Assessoria e Análise Econômica, encomendado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), lança diversas luzes sobre o tema. De acordo com o estudo, os principais tributos que oneram os alimentos são o ICMS, o PIS e a COFINS, sendo o impacto direto do IPI restrito ao açúcar, com a incidência do CPMF permeando as cadeias produtivas e de consumo. A carga tributária modal foi estimada em picos de 20,48% (AC, PB, RN, SE e GO) e vales de 7% (SP e RS). Até nesse particular, é possível observar a ironia da relação entre pobreza e tributação, pois os Estados de menor incidência de ICMS sobre produtos alimentares das cestas básicas estaduais (SP e RS), estão entre os mais ricos e desenvolvidos da Federação, onde as necessidades alimentares estão melhor equacionadas. A análise sobre o impacto do ICMS Julho de 2003
nos alimentos se impõe, por ser o tributo que, isoladamente, representa o maior peso na formação do preço ao consumidor final. Conceitualmente, o ICMS foi idealizado como um tributo sobre o valor agregado, seguindo o modelo clássico do IVA. De forma simplista, esse imposto deveria incidir, equanimente, ao longo da cadeia produtiva, com créditos tributários dos elos anteriores sendo dedutíveis dos elos posteriores. Entretanto, por diversas razões (contábeis, políticas e administrativas), o ICMS acabou se transformando em um imposto cumulativo. Prova disso é que, na maioria dos Estados onde a incidência do tributo para o consumidor final foi de 20,48%, a alíquota modal é de 17%, com exceção de Goiás (12%).
CARGA TRIBUTÁRIA As distorções ocorrem por conta das alíquotas diferenciadas entre os Estados, pela diversidade de alíquotas, entre os elos de uma mesma cadeia produtiva, e pela falta de acuidade administrativa e contábil de alguns elos das cadeias – mormente no início do processo produtivo – onde não é apropriado, integralmente, o crédito tributário. A Tabela 1 mostra os Estados brasileiros onde a carga tributária é inferior à alíquota interna modal. Verifica-se que o Estado de São Paulo, apesar da maior alíquota nominal, apresenta a menor incidência tributária no final da cadeia. Caso o produtor rural seja pessoa física, consegue escapulir da incidência do PIS e da COFINS, o mesmo não ocorrendo quando se trata de pessoa jurídica. Porém, ao sair da porteira da fazenda, praticamente todos os alimentos sofrem a incidência desses dois tributos, nas diferentes etapas de processamento. O estudo da G & S concluiu que a carga tributária (ICMS, PIS e COFINS) sobre os insumos agrícolas, no ano de 1996, foi de 4,91% do valor da produção agrícola, o que é um valor elevado. Entretanto, o estudo não captou o retorno da incidência do IPI sobre insumos, máquinas e implementos, a partir de 1999, o que eleva ainda mais a pressão tributária sobre o produtor. Esse consegue repassar parte dos impostos para os elos seguintes da cadeia, porém, por força da organização do mercado, é obrigado a absorver parcela dos impostos, disputando com o consumidor de alimentos a taça de campeão do comprometimento de renda com o pagamento de tributos.
PAÍSES RICOS Conceitualmente, os cidadãos de países ricos, de alta renda per capita e baixo comprometimento da renda familiar com Julho de 2003
Tab. 1 - Incidência de ICMS sobre alimentos, em alguns Estados brasileiros UF Pará Rondônia Alagoas Ceará Pernambuco Espírito Santo São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Paraná Rio Grande do Sul Santa Catarina Mato Grosso Distrito Federal
Alíquota Interna Modal (%) 17 12 17 17 17 12 18 18 12 12 NI 12 17 17
Carga Tributária Modal(%) 15,33 13,64 15,33 15,33 7,90 11,15 7,00 16,16 11,15 11,15 7,00 11,16 15,33 15,33
Fonte G & S Assessoria e Análise Econômica / CNA
alimentação, estariam melhor apetrechados para enfrentar a tributação sobre alimentos. Será que o leão ruge com a mesma intensidade no Hemisfério Norte? Nos EUA, o imposto sobre vendas incide nos alimentos em 11 Estados, sendo a maior alíquota (8,25%) aplicada no Tennessee e a menor (4%) na Virgínia. Em sete Estados americanos, existe um crédito recebido pelas famílias consideradas pobres, referente à devolução de tributos sobre alimentos. Do outro lado do Atlântico, o IVA, lastreado no critério da essencialidade, é largamente usado entre os países membros da União Européia, onde os alimentos são taxados pela alíquota especialmente reduzida, a menor das três alíquotas de IVA vigentes na UE. Considere-se também que, quando são computados os mecanismos de subsídios (Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola), o pagamento de impostos, pelo setor agrícola, é praticamente zerado.
TIRANDO O PÃO DA BOCA O estudo da G & G/CNA descortina, com crueza, a iniqüidade tributária sobre os alimentos, embora tenha utilizado dados de 1996, quando a pressão tributária média oscilava próxima a 30% do PIB, tempos felizes e distantes dos 41,2% atuais. Em Brasília, 18,5% do preço dos alimentos eram representados por impostos. Mesmo em São Paulo, onde a incidência tributária é menor, o estudo apontou que 11% do custo da cesta alimentar são garfados pelos impostos, nas aquisições de famílias com renda de até dois salários mínimos. A Tabela 2 mostra a relação de alguns alimentos e sua carga tributária, como média de diversas regiões metropolitanas. Repare o leitor que apenas quatro alimentos apresentam incidência tributária abaixo www.cultivar.inf.br
de 10%, estando dois deles (leite e ovos) no fio da navalha dos 9,5% de impostos. No outro extremo, o consumo de queijos é taxado em quase 40%.
FOME ZERO É importante analisar alguns produtos da cesta básica e constatar a urgência de uma profunda reflexão social e uma luta para a taxação seletiva de alimentos: pão francês (14,5%), macarrão (18%), óleo (19%), feijão (23%), frango (27%) e arroz (29%). Mal comparando, uma família pobre poderia comprar 23% a mais de feijão, ou 29% a mais de arroz, se esses alimentos fossem desonerados. Com o consumidor comprando mais, o produtor produziria mais, aumentando a renda e o emprego, ao tempo em que a fome diminuiria. Não seria um Fome Zero óbvio, simples e barato? Segurança alimentar e nutrição adequada também dependem de uma estrutura tarifária justa, não apenas da generosidade e da caridade dos brasileiros mais aquinhoados, condoídos dos seus concidadãos que não possuem renda para atender, adequadamente, seus requisitos alimentares. Entre outras coisas, porque famílias pobres precisam repartir a comida com um leão insensível e insaciável. . Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br 1 Jornal de Londrina de 23/05/2003. http://tudoparana.globo.com/jornaldelondrina/arquivo/noticia.phtml?id=34822
Tab. 2 - Incidência de ICMS, PIS e COFINS sobre alimentos – Média de oito regiões metropolitanas Alimento Mandioca Banana Ovos Leite de vaca Carne de porco Pão francês Macarrão Farinha de trigo Fígado Carne bovina Óleos Salsichas Farinha de mandioca Açúcar Iogurte Margarina Leite em pó integral Biscoito Presunto Feijão Frango Arroz Café Queijo
Carga Tributária (%) 4,0 4,5 9,5 9,5 13,0 14,5 18,0 18,5 18,5 18,5 19,0 19,0 19,5 20,0 21,0 21,0 22,0 22,5 23,0 23,0 27,0 29,0 25,0 39,5
Fonte: Adaptado de G & G Assessoria e Análise Econômica / CNA
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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting
Aperto mundial no setor de grãos mostra boas expectativas aos produtores O mercado mundial dos grãos ou, mais precisamente, alimentos, está com o quadro cada dia mais ajustado. Mostra o consumo em crescimento constante e a produção que há muitos anos não consegue acompanhar o ritmo da demanda. Desta forma, seguimos observando as cotações médias dos principais produtos em crescimento. Segundo o USDA, a safra mundial de grãos referente a 2003/04, que ainda não plantamos, deverá chegar à marca das 1858 milhões de t ou pouco mais de 50 milhões de t acima do que produzimos na safra 2001/02. Mas, mesmo com esse crescimento, não há o avanço no consumo, que deverá atingir a marca das 1920 milhões de t. Ou seja, haverá um déficit de 60 milhões de t, que será coberto pelos estoques ora existentes. Mas falando em estoques, lembramos que há poucos anos tínhamos cerca de 500 milhões de t em estoque a cada ano que passava, e agora vamos para a marca das 350 milhões de t. Se continuarmos assim, em pouco tempo estaremos com um quadro de abastecimento crítico, dando grande suporte de alta nas cotações internacionais. Os reflexos externos devem aparecer no Brasil, porque os nossos produtos devem se manter competitivos e, assim, os produtores brasileiros, além do mercado interno, terão como opção as exportações, com um bom suporte contra queda nas cotações.
MILHO
Novas Opções e lento O mercado do milho neste ano vem andando em ritmo lento. Os produtores reclamam da forte queda vista nas cotações neste ano frente à safra passada. Os indicativos atuais aos produtores vêm se mostrando dos R$ 15,00 aos R$ 16,00 para os Estados do Sudeste e Sul, e dos R$ 12,00 aos R$ 14,00 no Centro-Oeste, com os goianos conseguindo números melhores, contra pelo menos R$ 5,00 por saca acima do que grande parte do setor negociou na safra passada. Porém, temos que apontar que no ano passado a safra estava muito abaixo do que estamos colhendo atualmente e o câmbio andava perto dos R$ 4,00, facilitando as exportações e complicando a vida dos importadores. Agora, o câmbio anda abaixo dos R$ 3,00 e, mesmo com os indicativos em dólar sendo favoráveis, não liquida o esperado pelos produtores brasileiros em Reais. O mercado deste mês de julho não deverá sofrer grandes alterações porque estaremos em cima da colheita da safrinha e, assim, grandes volumes de produto chegando e dando tranqüilidade às indústrias consumidoras. Podendo sofrer alterações positivas de agosto em diante, quando o mercado local estará com consumo crescente e poderão vir boas oportunidades de exportação.
FEIJÃO Julho ofertado O mercado do feijão teve aumento do volume de colheita em junho e, assim, queda nas cotações praticadas, que recuaram dos R$ 100,00 aos R$ 120,00 praticados em abril e maio, para os R$ 80,00 e R$ 90,00 em junho, com indicativos que devem trabalhar entre os R$ 80,00 e R$ 100,00 em julho para o Carioca, e entre os R$ 65,00 e R$ 85,00 pelo Preto. O mercado deve se manter calmo, porque as lavouras da região da Ribeira do Pombal e Serrinha na Bahia estiveram recebendo bons volumes de chuvas, caminhando para uma safra normal, e apontando ter produto nos próximos meses para abastecer o mercado local. Os produtores do Brasil Central que plantam irrigado deverão dar lugar ao plantio do Trigo, fazendo com que diminua a área com feijão neste meio do ano.
ARROZ Importações segurando negócios internos O mercado interno do arroz sofreu pres-
são externa em junho, com forte entrada de produto do Mercosul e também com a chegada de alguns navios de arroz americano, que em tempos de câmbio em baixa chega muito competitivo, forçando queda nos valores locais do casca e também abafando o beneficiado. Os indicativos mostravam posições de R$ 31,00 aos R$ 33,00 pelo casca brasileiro, e sem grande fôlego para crescer no curto prazo. Se o câmbio avançar, teremos correções positivas nos indicativos nacionais. Para este mês de julho, pelo menos 5 navios estão programados para chegar aos portos brasileiros e abastecer as indústrias. O varejo, que teve forte queda na demanda em maio devido ao avanço forte nas cotações do pacote, voltou a negociar em ritmo normal em junho e adequou as cotações para números entre os R$ 8,00 e R$ 10,00 pelo pacote com 5 kg, ficando dentro das possibilidades de demanda da maior parte da população brasileira. Com isso, o casca também entrou em ritmo de calmaria.
CURTAS E BOAS
SOJA Comercialização ainda lenta Os produtores continuam segurando boa parte da safra para comercializar no segundo semestre, e durante o mês de junho pouco andou. Os produtores não vêm fechando balcão e as indústrias seguem trabalhando com o que têm nas mãos. Os exportadores têm atuado pouco porque realizaram grandes compras na safra e antes da colheita e, assim, apesar dos grandes embarques, não tem-se mostrado grandes negócios. O câmbio abaixo dos R$ 3,00 tem dificultado os fechamentos, porque liquida entre os R$ 30,00 e os R$ 34,00 aos produtores brasileiros, que estavam esperando fechar entre os R$ 35,00 e R$ 40,00 por saca. Os indicativos de comercialização de produtor até o final de junho apontavam que no Sul cerca de 50% da safra ainda estaria para ser comercializada, enquanto isso, no Sudeste, pelo menos 35% da soja não havia sido negociada, e o ritmo estava mais adiantado no Centro-Oeste, onde se apontavam cerca de 75% da soja já negociada. O mercado deste ano segue com indicativos de grandes compras internacionais, devendo seguir assim no segundo semestre.
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SOJA - a China está internalizando grandes volumes de soja neste ano e o congestionamento visto nos primeiros meses do ano no porto de Paranaguá agora foi transferido para os portos chineses, onde há filas de navios à espera para serem descarregados com soja. Continua se apontando que os chineses devem importar acima das 19 milhões de t neste ano comercial. EUA - a safra local está toda plantada e mostra indicativos de colheita de 75 milhões de t de soja, outras 245 milhões de t de milho e mais de 9 milhões de t de arroz. Se o clima permanecer estável, terão uma safra normal, e já estão chegando ao limite de crescimento da produção local. O mercado já está preparado para estes números. Se houver problemas e vierem abaixo, o mercado reagirá positivamente. TRIGO - os produtores estão otimistas com a safra e já mostram grande crescimento no plantio sobre o ano passado, com produtores do Brasil Central entrando forte com o plantio irrigado, voltando ao Estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul e avançando em ritmo forte nos Estados do Sul. Se o clima colaborar, poderemos ver números acima das expectativas que ainda estão em 4,5 milhões de t, e podendo chegar à marca das 5 milhões. O consumo previsto segue na marca das 10 milhões de t. ALGODÃO - segue com boas expectativas para a comercialização deste ano devido à forte queda nos estoques mundiais que foram reduzidos dos 34,5 milhões para os 33,1 milhões de fardos, assim dando liquidez na exportação e dificultando as importações. Devendo remunerar melhor aos produtores brasileiros.
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Julho Maio de 2003