Cultivar 54

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06 Ataque ao colmo

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 12º andar Pelotas – RS 96015 – 300

O percevejo-do-colmo pode ocasionar danos de até 50% na produção de arroz

www.grupocultivar.com Diretor de Redação Schubert K. Peter

Cultivar Grandes Culturas Ano V - Nº 54 Setembro / 2003 ISSN - 1518-3157

Quem é mais eficaz?

www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 98,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 15,00

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Assinatura Internacional: US$ 72,00 68,00

Comparação entre fungicidas mostra quem é mais eficaz no controle das principais doenças do trigo

• Editor:

Charles Ricardo Echer • Consultor

Newton Peter OAB/RS 14.056

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• Coordenador de Redação

Rocheli Wachholz

Sadia desde o início

• Revisão

Carolina Fassbender

O tratamente de sementes de soja com fungicidas garante sanidade das plantas mesmo sob condições de estresse hídico

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia _____________

• Gerente Comercial

Neri Ferreira

• Assistentes de Vendas

Pedro Batistin Érico Grequi

Luta para produzir

_____________

• Gerente de Circulação

Cibele Oliveira da Costa

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• Assinaturas

Jociane Bitencourt Luceni Hellebrandt

Entenda a atual situação dos transgênicos no Brasil e quais as possíveis saídas

• Assistentes de Vendas

Rosiméri Lisbôa Alves • Expedição

Edson Krause

índice

Nossa capa Foto Capa / Dirceu Gassen

• Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:

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3028.4001

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Diretas Percevejo-do-colmo do arroz Mudanças na lei de sementes e mudas XXXVI Congresso de Fitopatologia Espaçamento em milho Coluna da Aenda Comparação de fungicidas em trigo Resistência a herbicidas Tratamento de sementes de soja Transgênicos - Luta para produzir Transgênicos - opinião Greenpeace Transgênicos - opinião Monsanto Regulamentação da biotecnologia Mercado agrícola

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diretas Lançamentos A Bayer CropScience lança na Europa três novos produtos contra insetos, vírus, fungos e ervas daninhas. O fungicida Fandango deve chegar ao mercado europeu até 2004. O inseticida Poncho, com homologação já em andamento nos Estados Unidos, também chega à Europa no ano que vem. O herbicida Atlantis WG é comercializado desde 2001 na África do Sul, Turquia, China e em 2002 chegou à França. Ainda em 2003 o produto começa a ser comercializado nos demais países europeus e nos Estados Unidos.

Pioneer ao Vivo Gilberto R. Cunha

Fatos & Mitos O agrometeorologista Gilberto R.Cunha, está lançando o livro Meteorologia: Fatos e Mitos 3, mais uma coletânea de artigos sobre meteorologia, agricultura e generalidades assinados pelo autor em jornais e revistas de divulgação, nos últimos três anos. O livro inclui textos que transitam livremente entre a opinião e a crônica, sintetizando o pensamento do autor sobre diversos temas. Cunha também é membro da Academia Passo-fundense de Letras, onde ocupa a Cadeira 15.

A Pioneer sementes acaba de criar um canal direto de comunicação com os clientes. Informações sobre plantio direto, soja, milho, mercado, clima e representantes da empresa em cada região são repassadas em tempo real através do Pioneer ao Vivo. Basta entrar no site http:// www.pioneer.com/brasil e clicar em cima do ícone Pioneer ao Vivo. O serviço está disponível de segunda a sexta feira, das 8h às 17h. Para a coordenadora de marketing, Alice de Oliveira, da Pioneer, esse é mais um esforço da empresa para manter o cliente próximo e bem informado.

Publicação “Vírus e Viróides transmitidos por sementes” é o título da publicação elaborada pelas pesquisadoras Maria de Fátima Batista e Vera Lúcia de Almeida Marinho, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O catálogo visa a auxiliar profissionais que trabalham com identificação de vírus e viróides, principalmente aqueles que desenvolvem atividades em laboratórios de quarentena vegetal. Exemplares estão disponíveis gratuitamente para impressão, na página eletrônica da Embrapa Recursos genéticos e Biotecnologia, no endereço. www.cenargen.embrapa.br

Nova cultivar

Membros ABC A Dra.Vitória Rossetti está entre os três novos membros na área das Ciências Agrárias, eleitos na votação feita em janeiro para a Academia Brasileira das Ciências (ABC). Com a eleição do professor Kitajima no ano passado, já somam dois fitopatologistas eleitos consecutivamente para a ABC.

Dupont Qualicon A Dupont do Brasil deve lucrar R$ 6 milhões este ano com a Qualicon, empresa especializada em segurança alimentar. A expectativa da gerente da divisão, Luciana Waetge, é de crescimento anual de 30% nos anos seguintes. A Dupont Qualicon trabalha com o sistem Bax, método de identificação de bactérias como listeria e salmonela, presentes em alimentos crus ou industrializados. O mercado exportador de carnes está entre os principais clientes do novo segmento da Dupont.

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Cultivar

Alice de Oliveira

Manoel Bassoi

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária lançou a Cultivar de trigo BRS 220 durante a 10ª Expotécnica. Em testes realizados nos últimos três anos, a BRS 220 apresentou rendimento médio de 4.228 Kg/ha, que é 7% maior do que a média das cultivares mais plantadas de todas as regiões do Paraná, além de possuir bom desempenho produtivo em ambientes de clima mais ameno, explica o pesquisador Manoel Bassoi, da Embrapa Soja.

Carbomax 500 SC A Agripec está lançando para a safra 2003/04 o produto Carbomax 500 SC, um fungicida sistêmico à base de carbendazin, produto já consagrado pela sua alta performance no tratamento de sementes e controle das doenças de final de ciclo (Septoria e Cercospora) e oídio da soja, e para o controle da antracnose do feijoeiro em pulverização foliar.

Tese de doutorado Eugênio Schröder defendeu no mês de agosto sua tese de doutorado “Avaliação de sistemas aeroagrícolas visando a minimização de contaminação ambiental”, no Salão Nobre da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, sendo o trabalho aprovado pela banca examinadora.

Domark® 100 CE para a soja ®

O fungicida DOMARK 100 CE, da Sipcam Agro, agora está liberado para a cultura da soja, no controle do complexo DFC (Doenças de Final de Ciclo), Oídio e ferrugem, maior preocupação atual dos produtores dessa cultura. “Cuidar da lavoura do Brasil tem sido o grande desafio para nós, desde que chegamos aqui, há 24 anos. Desenvolver o DOMARK® 100 CE para a soja faz parte nossa tarefa”, garante o Diretor Superintendente da Sipcam Agro no Brasil, Fernando Rotondo.

Novas variedades de Cevada A Embrapa Cerrados está testando novas cultivares de cevada para malteação que poderão ser plantadas no Cerrado. O pesquisador Renato Amabile explica que atualmente duas mil linhagens de cevada para malteação estão sendo testadas para a região, com o objetivo de oferecer alternativas de diferentes cultivares do cereal, adequadas a diversos nichos ambientais do Cerrado. Até 2004, a cultivar BRS 195 deverá ter sua recomendação estendida para o Cerrado. O pesquisador prevê ainda outras novidades, como uma variedade de seis fileiras vinda do sul, que deverá ser lançada dentro de dois anos e que apresenta melhor qualidade malteira.

Renato Amabile

Lançamento de livro João da Costa, ex-diretor geral do Instituto de Pesquisas Agronômicas do Estado de Pernanbuco, está publicando o livro “Dicionário Rural do Brasil”, que trata da agricultura e meio-ambiente brasileiros. Com mais de cinco mil verbetes, abrange os mais variados termos de entendimento necessários no contexto das atividades rurais e busca ser útil aos agricultores, criadores, profissionais e estudantes. O livro engloba as culturas praticadas no Brasil, as raças e espécies animais que aqui são criados, técnicas de cultivo ou de criação relacionadas, procedimentos adequados etc.

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Eugênio Schröder

Biomassa A soja e o girassol como importantes matérias-primas para a obtenção de biocombustíveis e componentes prioritários para promover a mudança da matriz energética mundial. Essa foi a defesa do pesquisador Décio Gazzoni, da Embrapa Soja, durante a 25ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Para o pesquisador, a soja é uma excelente opção pela extensa área que ocupa. A alta produção de óleo, comum às duas culturas, é outro argumento utilizado por Gazzoni. “O desenvolvimento de alternativas energéticas limpas, a partir da utilização da biomassa, é a opção mais racional e viável”.

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Fotos José Martins

Arroz

Ataque ao colmo

O percevejo-do-colmo do arroz ocorre em praticamente todo o país, nos diversos sistemas de cultivo, e seus danos podem causar perdas de produtividade superiores a 50%

O

percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris Stal,1860), Heteroptera: Pentatomidae, é um dos insetos mais prejudiciais ao arroz irrigado no Brasil. Aos seus danos já foram associadas perdas de produtividade da cultura superiores a 50%. Ocorre nos diferentes sistemas de cultivo (irrigado por inundação, várzea úmida e terras altas), do Sul ao Norte do País. No Rio Grande do Sul, onde predomina o cultivo de arroz irrigado por inundação, o inseto historicamente tem causado mais dano em áreas orizícolas das regiões da Fronteira Oeste e Depressão Central. Na safra de 2002/03, porém, densidades populacionais elevadas, causadoras de danos econômicos, ocorreram em arrozais no Litoral Sul do Estado, como as constadas na localidade de Santa Rita do Sul, no município de Arambaré, provavelmente decorrentes de alterações tecnológicas no sistema de implantação da cultura e de práticas de manejo de insetos, e até mesmo do uso de novas cultivares. Considera-se que

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Cultivar

esta mudança na expressão do percevejodo-colmo como praga na Região Sul do Estado, deva ser divulgada, alertando orizicultores sobre outro fator que gera riscos de perda de produtividade e às instituições ligadas à pesquisa, responsáveis pela busca de soluções econômicas e ambientalmente corretas para o problema. Aspectos da bioecologia e descritivos do percevejo-do-colmo têm sido divulgados por vários autores. Na Região Sul, no período mais frio do ano, o inseto adulto hiberna em restos culturais e na base de plantas nativas, circundantes aos arrozais. Surge nas novas lavouras, cerca de três semanas após a emergência das plantas de arroz, fase na qual passam a apresentar um tamanho de colmo apto à perfuração pelos estiletes. Localiza-se na base dos colmos, próximo ao colo das plantas, onde as condições de umidade e de temperatura são altamente favoráveis ao desenvolvimento populacional, sendo a fecundidade superior a 900 ovos por fêmea. Os danos

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ao arroz iniciam-se quando o inseto atinge o 2º instar ninfal. A perfuração dos colmos de arroz na fase vegetativa ou reprodutiva das plantas provoca os sintomas de coração morto e panícula branca, respectivamente. Como conseqüência, ocorrem reduções quantitativas e qualitativas na produtividade de grãos. As perdas de qualidade são devidas à maior percentagem de grãos manchados, em hipótese, decorrentes de alterações fisiológicas e de fungos oportunistas que mais facilmente se estabelecem em plantas debilitadas por toxinas injetadas pelo inseto. Os prejuízos são mais intensos, porém, devido a danos aos colmos na fase reprodutiva da cultura, principalmente se causados por ninfas de 4º e 5º ínstares e adultos, os quais deslocam-se ao topo das plantas de arroz em períodos do dia de maior temperatura. Ainda é importante relatar as causas que têm sido apontadas para justificar a maior freqüência de densidades populacionais elevadas do percevejo-do-colmo na região da

...

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...Fronteira Oeste e da Depressão Central do

Rio Grande do Sul. Na Fronteira Oeste, predomina a lavoura de coxilha, onde grande quantidade de plantas de arroz cresce sobre as taipas. Essa condição é altamente favorável ao inseto que possui o hábito de instalarse entre os colmos de arroz, para reprodução e alimentação, preferencialmente em partes do arrozal não atingidas pela lâmina da água de irrigação. Na Depressão predomina o cultivo continuo de arroz em pequenas áreas, favorável ao acúmulo contínuo de grande número de insetos na vegetação nativa adjacente às lavouras. Em ambas as regiões, circunstancialmente é praticado o controle químico, sem critérios técnicos, principalmente envolvendo inseticidas cuja seletividade a inimigos naturais do percevejo-do-colmo é desconhecida, situação que deve ser evitada na região do Litoral. Para monitoramento populacional do percevejo-do-colmo nos arrozais, visando a adoção de táticas corretas de manejo, é recomendado, a partir do início do perfilhamento das plantas, em intervalos semanais, à fase de floração, coletar insetos preferencialmente em plantas localizadas sobre taipas, no início da tarde, usando rede de varredura (aro de 30 cm de diâmetro). A cada inseto adulto, em média, por metro quadrado, é esperada uma redução de 1,2% na produtividade de grãos. Como medidas de controle são recomendadas: a) evitar, se possível, semeadura escalonada de arroz em áreas com histórico de danos; b) destruir restos culturais e hospedeiros nativos; c) cultura armadilha, criando condições favoráveis à concentração do inseto, em

determinados locais às margens dos arrozais (por meio de adubação nitrogenada mais elevada, manutenção de plantas daninhas hospedeiras e uso de cultivares precoces), visando ao controle localizado; d) catação manual, em pequenas lavouras, por meio da colocação de abrigos ou esconderijos (pedaços de tábu-

As plantas de arroz que crescem em taipas e a vegetação adjacente às lavouras, são as principais causas da proliferação do inseto

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as), sobre taipas e estradas internas, coletando periodicamente e destruindo os insetos alojados sob as tábuas; e) maximizar o controle biológico natural, preservando o complexo de parasitóides e predadores que atuam sobre o inseto; f) uso de inseticidas químicos desde que com base no princípio do nível populacional de controle econômico (NCE). Atualmente, os ingredientes ativos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para este fim são: ciflutrina (10 g.ha); fenitrotion (500 a 1000 g.ha); triclorfon (750 g.ha). No contexto da problemática do percevejo-do-colmo do arroz, no Rio Grande do Sul, a Embrapa Clima Temperado, de modo geral, tem buscado conhecimento sobre as causas

O pesquisador José Martins alerta que para cada inseto adulto por m2, há em média redução de 1,2% na produtividade

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Adultos da Tibraca limbativentris contaminados pelos fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana

Lesões causadas pelo percevejo-do-colmo à cultura do arroz

da expansão do inseto em arrozais, independentemente do extrato produtivo (sistema empresarial familiar etc.). Mais recentemente, retomou estudos sobre a alternativa de controle biológico por meio de fungos entomopatogênicos, com potencial para interagir com outras táticas de manejo integrado do inseto, principalmente em pequenas lavouras, típicas da agricultura familiar, voltadas à produção de arroz orgânico. Uma das maneiras de utilizar os entomopatógenos seria aplica-los diretamente nos locais de hi-

bernação do inseto às margens das lavouras. Resultados recentes sobre o controle do percevejo-do-colmo por meio de fungos entomopatogênicos, foram divulgados pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), por ocasião do último Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado realizado em agosto deste ano, . na cidade Balneário Camboriú. José Francisco da Silva Martins, Embrapa Clima Temperado


Sementes

O que mudou na lei de sementes Elaborada juntamente com produtores, a Lei nº 10.711 sobre Sistema Nacional de Sementes e Mudas trará contribuições decisivas no controle e aperfeiçoamento do setor sementeiro

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como Associação ou Fundação. Poderão também, em alguns casos, certificar sua própria semente. Outra novidade importante foi a introdução na lei do conceito de semente para uso próprio. Decorre daí que exigências poderão ser regulamentadas para evitar seu uso indevido e prejuízos à agricultura nacional, como: quantidade produzida (não deve exceder a necessidade do agricultor); inscrever o campo de produção no Mapa; dispor de autorização do obtenCultivar

A

Lei n° 10.711 (06/08/03) dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas. De autoria do Poder Executivo, contou com a participação efetiva dos produtores de sementes na sua elaboração e aprovação. Refiro-me àqueles produtores associados a uma associação estadual filiada a Abrasem. Estes contribuíram na sua construção e trabalham agora na sua regulamentação. Destacarei alguns aspectos que considero inovadores. Inicialmente quanto aos sistemas de produção e à responsabilidade do produtor. A lei extingue a semente fiscalizada e cria o processo de certificação, com as seguintes categorias de sementes: genética, básica, certificada de primeira geração –C 1 e certificada de segunda geração –C 2. A Certificação de Sementes e Mudas será efetuada pelo Mapa ou por pessoa jurídica designada (poderá ser de direito privado). O produtor terá também a opção de produzir semente não certificada, com ou sem origem genética comprovada. Se a cultivar estiver no processo de certificação, a semente não certificada será de origem genética comprovada e sua multiplicação realizada em até duas gerações, a partir de sementes certificadas; caso contrário a semente será de origem genética não comprovada (sem controle de gerações). A responsabilidade dos produtores aumenta consideravelmente, visto que poderão executar a certificação de sementes e mudas através de uma pessoa jurídica,

Antônio Loureiro comenta as principais mudanças da nova lei

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tor quando se tratar de cultivar protegida (recolher royalties) e de responsável técnico; comprovar estrutura mínima para beneficiamento e armazenamento, bem como proceder a avaliação das qualidades física e fisiológica (análises) das sementes. Sem dúvida, isto contribuirá para diminuir seu uso e coibir a produção da chamada “bolsa branca”. Outro fato importante é o de que o Mapa estabelecerá normas e padrões (e não padrões mínimos) de modo que haverá somente o padrão nacional, o que facilitará o comércio interestadual. É importante salientar que será instituído no Mapa o Registro Nacional de Cultivares – RNC, o Cadastro Nacional de Cultivares Registradas – CNCR e criado o Registro Nacional de Sementes e Mudas-RENASEM. Este credenciará: produtores de sementes e mudas; responsável técnico; entidade de certificação; certificador de sementes ou mudas; laboratórios e amostrador de sementes e mudas. Como se observa, o Mapa estabelecerá as regras gerais, cabendo à iniciativa privada e suas instituições a produção de sementes e mudas e a sua organização, concentrando o governo seus recursos e ações na fiscalização dos processos. Certamente contribuirá decisivamente para um melhor controle e aperfeiçoamento do agronegócio semen. tes e mudas. Antonio Eduardo L. da Silva, APASSUL Setembro de 2003



Fotos Charles Echer

Congresso

Em favor das plantas A trigésima sexta edição do Congresso Brasileiro de Fitopatologia abordou o manejo integrado de doenças de plantas, com enfoque nas alternativas de manejo e avanços tecnológicos

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Manejo Integrado de Doenças de Plantas nunca teve uma abordagem tão aprofundada e minuciosa como a que ocorreu no XXXVI Congresso Brasileiro de Fitopatologia, realizado em agosto na cidade de Uberlândia (MG). A busca por uma produção sustentável de alimentos nas diversas cadeias produtivas, melhoramento na qualidade e elevação dos padrões de produção levou especialistas nacionais e internacionais a discutirem as principais práticas e avanços que aconteceram nos últimos anos na área de fitopatologia. A produção integrada, longe de ser apenas mais uma alternativa de cultivo, é uma necessidade para os produtores que querem produzir alimentos sau-

Presidente do evento, Fernando Juliatti destaca os avanços tecnológicos no manejo integrado de doenças

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Cultivar

dáveis, com minimização dos custos e dos efeitos negativos sobre o ambiente e o homem. Mais de 1200 participantes, entre estudantes e profissionais, acompanharam workshops, seis mesas redondas, dez grupos de discussão, dezenas de minicursos nas mais diversas culturas e manejos e 902 trabalhos apresentados em forma de pôsteres.

XXXVII EM 2004

DESTAQUE Para o presidente do Congresso, doutor Fernando Cezar Juliatti, o evento superou as expectativas de público e qualidade dos debates e palestras. O que mais chamou a atenção da comissão organizadora foram as diversas formas alternativas que estão sendo pesquisadas para o controle de doenças e as inovações tecnológicas que surgem para auxiliar na produção. “O congresso contribuirá muito para o controle de doenças através do manejo integrado. Exemplos dados nas palestras e trabalhos apresentados, frutos de pesquisas desenvolvidas nos últimos anos, certamente serão referenciais para agricultura brasileira”, garante. A estrutura do Center Convention, local onde foi realizado o Congresso, também pode ser citada como exemplar. Sete salas para palestras e debates simultâneas, além de salão exclusivo para pôsteres e outro para estandes, com capacidade para mais de 2.500 pessoas formaram um complexo moderno e prático, possibilitando aos participantes um acesso rápido a todos os ambientes. CE www.cultivar.inf.br

O trigésima sétima edição do Congresso Brasileiro de Fitopatologia, que acontecerá no próximo ano, já tem local e data definidos. O evento será realizado no Hotel Serrano, em Gramado (RS), de 1º a 5 de agosto de 2004, mas ainda não tem tema definido. A presidente do próximo Congresso, professora Dra. Jurema Schons, da Universidade de Passo Fundo, já projeta um evento de sucesso, a exemplo do que aconteceu neste ano. “Além do conteúdo do congresso, os participantes poderão também desfrutar as belezas da Serra Gaúcha, já que o evento será realizado no forte do inverno”.

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Pioneer

Milho

Mais milho no mesmo espaço Ensaio mostra reação de diferentes cultivares de milho quando submetidas a uma redução no espaçamento de plantio

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entre a produção nacional de cereais e oleaginosas, a cultura do milho tem efeito direto sobre o volume da colheita de grãos, pois representa mais de 30% do total de grãos colhidos (Pinazza, 1993). A produtividade média da cultura do milho no Brasil é relativamente baixa e, dentre as principais causas, estão relacionados: a escolha inadequada de cultivares apropriados a cada condição de manejo e região; a degradação dos solos devido às formas inadequadas e intensivas de cultivo e o baixo índice de plantas por unidade de área. Teixeira et al. (1997) citam que a semente é um insumo de grande importância dentro do sistema de produção e a utilização de cultivares apropriados a cada condição é essencial para se obter maiores produtividades. Segundo Mudstock (1978), a redução do espaçamento entre fileiras e o conseqüente aumento da distância entre plantas na linha, dentro de um mesmo número de plantas por unidade de área, resulta em menor competição intra-específica por luz, aproximando-se assim do espaçamento eqüidistante, que teoricamente produz as melhores produtividades. Deve-se ressaltar, também, que agricultores que utilizam sistema de rotação de culturas com soja e milho despendem um certo tempo no ajuste 14

Cultivar

dos espaçamentos das linhas da semeadora, visto que, tradicionalmente, tais culturas utilizam espaçamentos diferentes. A utilização de espaçamentos iguais para as duas culturas seria uma forma de economizar tempo e mão-de-obra, maximizando a operação de semeadura nas condições ideais de umidade do solo. Face ao exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar, através de características relacionadas com o crescimento e desenvolvimento, o comportamento de cultivares de milho semeados em sistema de plantio direto e dois espaçamentos entre fileiras.

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido na Fazenda Experimental Lageado, da Faculdade de Ciências Agronômicas/Universidade Estadual Paulista, situada no município de Botucatu-SP, em solo Nitossolo Vermelho distrófico, conduzido sob sistema de plantio direto há cinco anos. O delineamento experimental foi em blocos casualizados em esquema fatorial com dois fatores: dois espaçamentos entre fileiras (0,90 e 0,45 m) e quatro cultivares de milho (dois híbridos simples: Cargil C-333B e Aventis A-2288 e duas variedades da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, AL-30 e AL25), com quatro repetições. Cada parcela www.cultivar.inf.br

experimental possuía 20 metros de comprimento e quatro metros de largura. A semeadora-adubadora utilizada no ensaio foi da marca Marchesan, modelo PST2, equipada com seis e quatro unidades de semeadura para os espaçamentos de 0,45 e 0,90 m, respectivamente, com mecanismos sulcadores para adubo e sementes do tipo discos duplos defasados. Implantou-se o ensaio sob restevas de milheto, dessecado por meio de herbicida, e de soja. O teor de água médio do solo na ocasião da semeadura foi de 27,09; 28,16 e 28,58% nas profundidades de 0-10, 10-20 e 20-30 cm, respectivamente. Avaliou-se os parâmetros: altura de inserção de espiga, altura das plantas, diâmetro de colmos e produtividade da cultura do milho. A altura de inserção de espigas e altura das plantas foram determinadas utilizando-se uma régua de madeira graduada em centímetros, medindo-se a distância entre a superfície do solo e a inserção da primeira espiga e a inserção da folha bandeira, respectivamente, seguindo metodologia descrita em Marques (1999). O diâmetro de colmo foi avaliado, medindo-se com um paquímetro, o primeiro internódio do colmo a partir da superfície do solo, de acordo com Silva (2000). Para avaliação da produtividade da cultura do milho, foram colhidas manualmente as espigas contidas Setembro de 2003 Cultivar


em 4,5 m das duas linhas centrais, para o espaçamento 0,90 m e 4,5 m das quatro linhas centrais, para o espaçamento 0,45 m. Em seguida, as espigas foram trilhadas mecanicamente, pesadas e amostradas para determinação do teor de água dos grãos para a correção do peso a 13% de umidade. Os dados foram submetidos à análise de variância e nas causas de variações significativas (P < 0,05) procedeu-se o teste de Tukey a 5% de significância para comparar os contrastes entre médias. Determinou-se também valores de coeficiente de variação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 01, são apresentados os resultados de altura das plantas de milho e altura de inserção de espiga. Nota-se que ambos os parâmetros avaliados foram influenciados apenas pelos cultivares de milho, não havendo diferenças significativas para os espaçamentos entre fileiras. Verifica-se que as variedades da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo (AL30 e AL-25) apresentaram um porte maior que os híbridos, embora não diferiram de um deles (C- 333 B). Para o parâmetro altura de inserção de espigas, as variedades também superaram os híbridos. Entre os híbridos, também houve diferença significativa, explicada pelo maior porte do híbrido C-333 B. Resultados semelhantes foram encontrados por Silva (2000) quando estudou o comportamento de variedades e híbridos de milho em diferentes sistemas de preparo do solo com espaçamento entre fileiras de 0,90 m. Os resultados do diâmetro de colmo e produtividade dos cultivares de milho são apresentados na Tabela 02. Observa-se que

Setembro de 2003

Tabela 01: Valores médios da altura das plantas (m) e altura de inserção de espiga (m) dos cultivares de milho em função do espaçamento entre fileiras Altura das plantas de milho(m) Cultivares

Espaçamento (m) 0,90 m 0,45 m

Tabela 02: Valores médios de diâmetro de colmo (cm) e produtividade (kg/ha) dos cultivares de milho em função dos espaçamentos estudados. Diâmetro de colmo (m)

Altura de inserção de espiga(m) Média

AL-30 2,39 2,42 2,41 A A-2288 2,11 1,99 2,05 B 2,29 2,32 A AL-25 2,35 C-333B 2,20 2,25 2,23 AB Média 2,26 a 2,24 a 2,25 CV: 6,56% DMS esp:0,109 DMS cult: 0,206

Espaçamento (m) 0,90 m 0,45 m

Média

1,50 1,55 1,52 A 1,19 1,08 1,13 C 1,46 1,53 1,49 A 1,43 1,32 1,37 B 1,39a 1,37 a 1,37 CV: 5,77% DMS esp: 0,058 DMS cult: 0,1114

Cultivares

Espaçamento (m) 0,90 m 0,45 m

Produtividade (kg.ha) Média

2,22 2,30 2,26 A AL-30 2,31 2,23 2,27 A A-2288 AL-25 2,19 2,21 2,20 A 2,36 2,21 2,28 A C-333B 2,27 a 2,23 a 2,25 Média CV: 8,44% DMS esp: 0,14 DMS cult: 0,26

Espaçamento (m) 0,90 m 0,45 m

Média

7294,81 6874,5 B 6454,43 7655,70 6863,47 7259,5 AB 7030,27 7014,4 B 6998,59 8722,12 8550,9 A 8399,84 7377,14 a 7477,67 a 7424,82 CV: 13,38% DMS esp: 730,8 DMS cult: 1385,4

*Médias seguidas da mesma letra maiúscula, na linha e minúscula, na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de significância.

a variável diâmetro de colmo não sofreu influência do espaçamento e dos cultivares. Resultados semelhantes foram observados por Silva (2000) quando trabalhou com cultivares de milho em diferentes sistemas de preparo do solo, no espaçamento 0,90m, para os sistemas de preparo reduzido (escarificação) e plantio direto, enquanto que, para o sistema convencional (grade pesada + grade leve), houve diferenças significativas entre os cultivares, o que pode ser explicado pela população final menor, resultando conseqüentemente, em plantas com maior variação de diâmetro de colmo. Analisando ainda a Tabela 02, nota-se que houve diferenças significativas para o parâmetro produtividade, apenas entre os cultivares de milho, dando destaque aos híbridos que alcançaram maiores rendimentos, embora não tenham diferido estatisticamente de uma das variedades (AL-25). Bicudo et al. (2001), estudando os mesmos espaçamentos entre fileiras em cinco cultivares de milho no sistema convencional de preparo de solo, concluíram que a redução do espaçamento não interferiu, de maneira significativa, nos principais componentes de produção estudados; já os cul-

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tivares influenciaram tais componentes. Quando se faz a produtividade média dos híbridos e se compara com a produtividade média das variedades, verifica-se uma diferença de aproximadamente 12% (960 kg/ha) em favor dos híbridos. Quando se contabiliza o custo atual das sementes, esta diferença é reduzida para aproximadamente 5% (570 kg/ha).

CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que a variação do espaçamento (0,90 e 0,45 m) não influencia os parâmetros altura de planta, altura de inserção de espiga, diâmetro de colmo e produtividade da cultura do milho. Entretanto, os cultivares de milho causam variação nesses parâmetros, com exceção do diâmetro de colmo. Embora não tenham diferido estatisticamente de uma das variedades (AL-25), a produtividade média dos híbridos foi, aproximadamente, 12% superior à produtividade média das varieda. des. Antônio Renan Berchol da Silva e Sérgio Hugo Benez, FCA/Unesp

Cultivar

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AENDA

Defensivos Genéricos

Barreiras não-tarifarias Os furacões atingiram a região do Golfo do México, causando queda de 45% na produção de cana, no ano em que o governo americano liberou o sistema de cota e baixou a proteção tarifária. A solução encontrada por aquele país foi o de apertar os limites de tolerância de resíduos para alguns pesticidas da cana-de-açucar brasileiros Cenário 1 United States of América – alguns anos à frente Nesse ano bissexto os furacões fustigam notadamente a região do Golfo do México. Monika, Binlady, Allkaeda, Sadamna... deixam suas marcas com fúria avassaladora. Os lavradores mais antigos soltam imprecações culpando o agouro da coincidência do calendário ao verem derreados e inaproveitáveis pés-de-cana espalhados em centenas de acres. Arrancam os mirrados e jovens colmos que não serviriam nem para separar toletes com gemas. Não houvera tempo para desenvolvimento. Prejuízo total. Nosso representante nos Estados Unidos envia um clipping das notícias da região. O principal jornal anotara em manchete: “PLANTADORES DE CANA PEDEM SOCORRO”. O texto em resumo dizia: “Reunidos na ACINU – Agro Cane Industry National Union, canavieiros discutem a gravidade da situação causada pelo fenômeno climático. Edward Oak, Presidente da ACINU, declarou: é uma verdadeira calamidade, uma desgraça em dobro, pois justo este ano o governo liberou o sistema de cota e baixou a proteção tarifária

contra o açúcar brasileiro, e agora,...essa queda de 45% na produção segundo as primeiras estimativas”.-Washington Post, page 2, february 29. Cenário 2 Reunião no National Council of Foreign Trade — Temos estoque para um ano, mas o açúcar brasileiro vai entrar e se estabelecer definitivamente. — Que tal usar barreiras não tarifárias, tipo fitossanitárias? — Mas como, se é um produto semiindustrializado? — Há uma saída, já usamos isso um pouco no suco de laranja... simplesmente apertamos os limites de tolerância de resíduos para alguns pesticidas usados lá na cana-de-açúcar e não aceitamos mais açúcar de canaviais que usem outros pesticidas mais antigos. Nosso modelo econômico absorve, mas o deles não. Levarão uns dois anos para reorganizarem o sistema de tratamento fitossanitário. — Grande idéia! Tenho ascendência política sobre o Richard Olivier, Superintendente do EPA (Estrategic Protection Agency) e ele precisa de apoio por causa das derrapadas no controle de emissão de

carbono. — Richard, escute-me, precisamos fazer algumas mudanças nos LMRs, coisa pouca, mas de extrema importância econômica e política. Você pode vir aqui amanhã às 10 a.m.? Por favor, investigue quais os principais pesticidas usados no Brasil em cana-de-açúcar. — OK! A cesta de produtos é fácil, é só entrar no site da AENDA, no Brasil. Cenário 3 Exportações brasileiras de açúcar Continuamos encalhados em 110.000 toneladas para o parceiro do norte, mesmo sendo gentilmente agraciados com uma cota de 150.000 ton/ano, cerca de 10% das necessidades de importação de lá. Sobretaxas (US$ 305 a 356 / ton de açúcar), tarifas protecionistas e forças ocultas ditam os limites reais do mercado. O negócio é arriscar na Rússia mesmo e insistir na diversificação da exportação para países árabes e alguns asiáticos. A Europa nem pensar; lá a resistência ao nosso açúcar é maior ainda. Só gostam do açúcar-de-beterraba nativo; e, haja cotas e preços referenciais somados a altas tarifas para salvar o . rubro tubérculo.



Ricardo Balardin

Nossa capa

Comparação entre diversos fungicidas mostra os que apresentaram melhores resultados no controle de doenças da parte aérea do trigo

Quem é mais eficaz O

riginária da Ásia, o trigo é uma planta cultivada há mais de 5 séculos. É um dos principais alimentos da humanidade, ocupando 20% da área cultivada no mundo. Sua produção mundial está em torno de 572 milhões de ton/ano (USDA, 2001), tendo apresentado crescimento de 6% na última década. Os principais países produtores são a Rússia, USA, China, Índia e França, que juntos respondem por 60% da produção mundial. No Brasil, sua produção concentrase no Sul do País, tendo como principais produtores os Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. O Paraná é o maior produtor individual de trigo do País e a área Sul é responsável por 90% da produção. A produção nacional

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Cultivar

está em torno de 2,76 milhões de toneladas (Abitrigo,2001), com produtividade média de 1.883 kg/ha, em uma área de 1,469 mil hectares. Aliado aos problemas climáticos, a cultura enfrenta problemas de doenças, destacando-se as manchas foliares necróticas causadas por Cochliobolus sativus, Drechslera tritici-repentis e Stagonospora nodorum; as ferrugens causadas por Puccinia graminis tritici, Puccinia recondita, e Puccinia striiformis; oídio causado por Blumeria graminis f.sp. tritici; giberela causada por Giberella zeae; e mal do pé causado por Gaeumannomyces graminis var. tritici (Picinini & Fernandes, 1995). Destacam-se como principais práticas de controle para as principais doen-

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ças a adoção de rotação de culturas, cultivares com resistência, utilização de sementes livres do patógeno, tratamento de sementes e tratamento preventivo da parte aérea. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficiência de diferentes fungicidas no controle de doenças da parte aérea na cultura do trigo, determinando o impacto do controle sobre a área foliar remanescente e rendimento.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no município de Itaára-RS, sendo utilizadas as cultivares BRS 49, OR 1, BR 16 e CEP 27. A emergência se deu oito dias após o plantio, feito num espaçamento de 0,17m entre fileiras e aproximadamente 0,10m

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(10%), seguida de tríplice lavagem com água. As avaliações de severidade das doenças foram realizadas nos estádios de perfilhamento (3-4 perfilhos), na elongação, emborrachamento, florescimento e no estádio de grão leitoso em cada uma das cultivares. As doenças avaliadas foram Oídio (Blumeria graminis), Mancha da folha (Bipolaris sorokiniana), Ferrugem (Puccinia triticina) e Mancha das Glumas (Stagnospora nodorum), a qual tem sido associada a manchas nas folhas. A patometria utilizada foi a percentagem de área foliar com sintomas típicos da doença, medida nas folhas bandeira e bandeira-1. As avaliações foram realizadas em todas as plantas da área útil da parcela experimental a partir de uma nota geral. A escala utilizada para a avaliação da severidade foi a proposta por James (1971). A área foliar remanescente (residual) foi realizada com base em todas as plantas da área útil da parcela experimental, sendo considerada a permanência das folhas bandeira e bandeira-1. O rendimento foi obtido a partir de plantas da área útil da parcela experimental, cortadas e trilhadas em trilhadeira estacionária marca Triton. O volume total de grãos foi pesado e determinou-se sua umida-

Cultivar

entre plantas, correspondendo a uma densidade populacional média na área útil da parcela experimental de 330.000 plantas/ ha. A adubação utilizada foi de 250 Kg/ha da fórmula 05-20-20 (N-P-K). O experimento foi instalado dois dias após a emergência. A parcela experimental constou de oito linhas espaçadas de 0,17m com 12,0m de comprimento, atingindo uma área total de 17,3m. Foram descartadas as duas linhas externas da parcela e 0,5m de cada cabeceira, perfazendo uma área útil de 11,88m2 com quatro repetições. Os tratamentos utilizados foram Tebuconazole 250, nas dosagens de 50, 75, 100 e 125mL/ha; Tebuconazole 200 com 120 mL/ha; a mistura Tebuconazole 250 e Propiconazole nas doses de 75 e 62,3mL/ ha; Propiconazole e Cyproconazole com 62,3 e 62,5 mL/ha; Azoxystrobin e Nimbus com 200 mL/ha; Azoxystrobin e Nimbus com 100 mL/ha, e um tratamento testemunha, aplicados com pulverizador propelido a CO2 tendo acoplado uma barra com 04 bicos do tipo cone (TXVS - 10 / TEEJET), pressão de trabalho de 40 libras.pol2 e uma velocidade de caminhamento de 1m.s. Essas condições permitiram ajustar o volume de calda para 150 L/ha. Após a aplicação de cada um dos tratamentos todo o equipamento foi lavado com solução à base de acetona

De acordo com Ricardo Balardim, além dos problemas climáticos, o trigo enfrenta sérios problemas com doenças

de para o cálculo do rendimento final. Os dados obtidos foram analisados através do teste de comparação múltipla de Duncan, ao nível de 5% de probabilidade através do software “PlotIT” versão

...


TABELA 01. Severidade das doenças foliares em plantas de cultivares de trigo submetidas a diferentes programas de aplicação de fungicidas. Santa Maria-RS, 2001 Trat.2,3 1 2 3 4 9 5 6 7 8 10 C.V.(%)

BR 16

Mancha da folha CEP 27 OR1

17.2 d 17.9 de 12.4 b 11.6 b 12.7 b 8.5 a 13.3 bc 17.5 d 15.8 cd 45.6 f 10,35

12.0 bc 16.2 cd 11.6 abc 7,9 ab 8.4 ab 6.5 a 9.9 ab 8.2 ab 8.4 ab 44.7 e 16.25

Ferrugem da Folha BR 16 OR1 BRS 49

BRS 49

37.8 d 37.3 d 12.6ab 28.8 c 25.8 c 11.9 a 37.1d 17.8 b 39.3 de 100.00 f 6.52

37,5 ef 34,6 e 23,4 cd 18,1 bc 32,5 e 5,1 a 12,5 b 21,5 cd 25,4 d 60,1 g 15.62

2.4 c 2.7 cd 1.4 ab 0.8 a 2.0 bc 1.9 bc 1.3 ab 2.4 c 2.5 c 12.10 e 15,69

8.4 c 8.5 c 6.9 bc 8.6 c 4.1 ab 7.9 c 8.6 cd 1.7 a 4.7 ab 100.0 e 7.72

8,3 cd 8,4 cd 6,9 bc 10,1 e 8,6 d 3,4 a 6,6 b 4,8 a 3,5 a 16,7 f 25.72

Mancha das Glumas BRS 49 CEP 27 0,4 ab 4,2 c 0, ab 1,0 b 0,5 ab 0,0 a 0,4 a 0,0 a 0,5 ab 8,1 d 12.69

Oídio OR1

0,7 a 0,9 a 1,1 a 0,6 a 0,9 a 0,7 a 3,3 b 1,1 a 1,0 a 10,7 c 19.35

0.9 a 0.2 a 0.1 a 0.0 a 0.5 a 0.0 a 0.6 a 1.9 a 4.7 b 14.69 c 31,94

Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância; Análise estatística realizada com dados não transformados. 1 - Tebuconazole 250 (50); 2 - Tebuconazole 250 (75); 3 - Tebuconazole 250 (100); 4 - Tebuconazole 250 (125); 9 - Tebuconazole 200 (120); 5 - Tebuconazole 250 (75) + Propiconazole (62,3); 6 - Propiconazole (62,3) + Cyproconazole (62,5); 7 - Azoxystrobin (200) + Nimbus; 8 - Azoxystrobin (100) + Nimbus; 10 – Testemunha. 3 Feekes & Large(1954): OR1: 17/08 (3 – 4 perfilhos); 30/08 (Elongação); 23/09 (Emborrachamento); CEP 27: 09/09 (Elongação); 07/10 (florescimento); BR 16: 09/09 (Elongação); 16/10 (Grão leitoso); BRS 49: 23/09 (Emborrachamento) 1 2

...3.2 para ambiente Windows, sendo utilizadas as sub-rotinas “Análise Fatorial” e “ANOVA”.

RESULTADOS A aplicação de fungicidas nas cultivares de trigo BR 16, CEP 27, OR1 e BRS 49 resultou na variação significativa da eficácia de controle (Tabela 01), na área foliar remanescente (Figura 01), no rendimento (Tabela 02) e no peso de mil sementes (Tabela 03). A severidade das doenças foi variável entre as cultivares, oscilando entre 44,7% e 100% para mancha da folha, entre 12,1% e 100% no caso da ferrugem da folha, e entre 8,1% e 16,7% no caso da mancha das glumas. O oídio somente foi observado na cultivar OR1 (Tabela 01).

Embora a pressão de inoculo tenha sido variável, a mistura Tebuconazole 250 (75) + Propiconazole (62,3) proporcionou a maior eficácia no controle da mancha da folha e da mancha das glumas entre todas as cultivares. Variação na dose de Tebuconazole 250 ou Tebuconazole 200 não influenciou na eficácia de controle do oídio. Os tratamentos Tebuconazole 250 (75) + Propiconazole (62,3), Propiconazole (62,3) + Ciproconazole (62,5), e Azoxystrobin (200) + Nimbus foram igualmente eficazes. A redução na dose de Azoxystrobin (100) + Nimbus provocou uma redução na eficácia de controle da doença, distinguindo-o de todos os demais tratamentos. Não foi observada variação entre os tratamentos na eficácia de controle da mancha das glumas na cultivar CEP 27,

FIGURA 01. Variação na área foliar residual devido à aplicação de diferentes fungicidas para controle de doenças nas cultivares OR1, CEP-27, BRS 49 e Embrapa 16 de trigo. Santa Maria-RS, 2001

exceto Propiconazole (62,3) + Cyproconazole (62,5), que diferiram do tratamento testemunha e dos demais tratamentos. A cultivar BRS 49 apresentou variação no controle da doença devido à aplicação dos diferentes tratamentos. A maior eficácia no controle da ferrugem da folha foi obtida por Tebuconazole 250 (125mL.ha) na cultivar BR 16, enquanto que Azoxystrobin (100) + Nimbus mostrou-se superior no controle da ferrugem da folha na cultivar OR1. Embora a redução de dose de Azoxystrobin + Nimbus tenha correspondido à maior eficácia de controle da ferrugem, não foi observada diferença estatística entre os dois tratamentos. Na cultivar BRS 49 não foram observadas variações significativas entre os tratamentos Tebuconazole 250 (75) + Propiconazole (62,3), Azoxystrobin (200) + Nimbus e Azoxystrobin (100) + Nimbus. A aplicação dos tratamentos Tebuconazole 250 (125), Tebuconazole 250 (75) e Propiconazole (62,3) e Azoxystrobin (100) + Nimbus, apresentou uma área foliar residual maior que 80% na cultivar BRS 49, a qual atingiu os maiores percentuais dentre as cultivares utilizadas. Os melhores resultados para a cultivar OR1 foram alcançados quando utilizados Tebuconazole 250 (75) e Propiconazole (62,3) em mistura e também Azoxystrobin (200) + Nimbus, resultando em uma área foliar remanescente de 30 e 20%, respectivamente. Na cultivar CEP 27 os tratamentos atingiram médias entre 10 e 20%, exceto Tebuconazole 200 (120) e Azoxystrobin (100) + Nimbus que alcançaram resultados menos eficientes, embora tenham

FIGURA 02. Diferença no rendimento devido à aplicação de fungicidas em plantas das cultivares OR1, CEP-27, BRS 49 e Embrapa 16 de trigo. Santa Maria-RS, 2001

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Tratamentos aplicados: 1 - Tebuconazole 250 (50); 2 - Tebuconazole 250 (75); 3 - Tebuconazole 250 (100); 4 - Tebuconazole 250 (125); 5 - Tebuconazole 250 (75) + Propiconazole (62,3); 6 - Propiconazole (62,3) + Cyproconazole (62,5); 7 - Azoxystrobin (200) + Nimbus; 8 - Azoxystrobin (100) + Nimbus; 9 - Tebuconazole 200 (120); 10 – Testemunha. Estádios de aplicação (Feekes & Large, (1954). OR1: 17/08 (3 – 4 perfilhos); 30/08 (Elongação); 23/09 (Emborrachamento); CEP 27: 09/09 (Elongação); 07/10 (florescimento); BR 16: 09/09 (Elongação); 16/10 (Grão leitoso); BRS 49: 23/09 (Emborrachamento)

Tratamentos aplicados: 1 - Tebuconazole 250 (50); 2 - Tebuconazole 250 (75); 3 - Tebuconazole 250 (100); 4 - Tebuconazole 250 (125); 5 - Tebuconazole 250 (75) + Propiconazole (62,3); 6 - Propiconazole (62,3) + Cyproconazole (62,5); 7 - Azoxystrobin (200) + Nimbus; 8 - Azoxystrobin (100) + Nimbus; 9 - Tebuconazole 200 (120); 10 – Testemunha. Estádios de aplicação (Feekes & Large, (1954). OR1: 17/08 (3 – 4 perfilhos); 30/08 (Elongação); 23/09 (Emborrachamento); CEP 27: 09/09 (Elongação); 07/10 (florescimento); BR 16: 09/09 (Elongação); 16/10 (Grão leitoso); BRS 49: 23/09 (Emborrachamento)

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TABELA 02. Efeito da aplicação dos tratamentos sobre o rendimento das cultivares OR1, CEP-27, BRS 49 e Embrapa 16 de trigo. Santa Maria-RS, 2001

TABELA 03. Efeito da aplicação dos tratamentos sobre o peso de 1000 sementes das cultivares OR1, CEP-27, BRS 49 e Embrapa 16 de trigo. Santa Maria-RS, 2001

Tratamentos

OR-1

CEP-27

BRS 49

BR 16

Tratamentos

OR-1

CEP-27

BRS 49

BR 16

1 2 3 4 9 5 6 7 8 10 C.V. (%)

1790,4 cde 1881,4 cde 1865,6 cde 2041,4 e 1988,9 dc 1911,5 cde 1731,4 bcd 1663,6 bc 1483,5 b 1071,7 a 9.43

2380,4 ef 2333,9 e 2443,9 fg 2644,5 h 2131,7 c 2220,0 d 1978,8 ab 2029,4 b 1920,0 a 1935,6 a 2.70

1775,6 bc 1787,7 bc 1910,8 c 1846,7 c 1880,3 c 1839,2 c 1825,0 c 1836,0 c 1674,4 ab 1642,0 a 4.55

2314,9 b 2320,1 b 2767,2 c 2815,7 c 2752,1 c 2367,7 b 2064,6 a 2431,8 b 2309,2 b 1999,3 a 4.51

1 2 3 4 9 5 6 7 8 10 C.V. (%)

30,8 bc 31,3 bc 31,1 bc 31,9 bc 30,8 bc 32,2 c 31,4 bc 30,6 bc 28,0 ab 25,5 a 7.61

34,7 cd 34,6 cd 35,3 d 34,6 cd 34,7 cd 34,5 bcd 34,0 abcd 33,1 ab 33,3 abc 32,7 a 2.72

33,8 b 32,4 ab 32,9 ab 33,7 b 33,1 ab 32,0 ab 31,4 ab 30,9 a 31,2 a 30,7 a 4.48

30,2 a 29,7 a 30,8 a 29,5 a 29,4 a 30,7 a 29,0 a 30,1 a 29,6 a 29,3 a 4.31

Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância; Análise estatística realizada com dados não transformados. Tratamentos aplicados: 1 - Tebuconazole 250 (50); 2 - Tebuconazole 250 (75); 3 - Tebuconazole 250 (100); 4 - Tebuconazole 250 (125); 5 - Tebuconazole 250 (75) + Propiconazole (62,3); 6 - Propiconazole (62,3) + Cyproconazole (62,5); 7 - Azoxystrobin (200) + Nimbus; 8 - Azoxystrobin (100) + Nimbus; 9 - Tebuconazole 200 (120); 10 – Testemunha. Estádios de aplicação (Feekes & Large, (1954) OR1: 17/08 (3 – 4 perfilhos); 30/08 (Elongação); 23/09 (Emborrachamento); CEP 27: 09/09 (Elongação); 07/10 (florescimento); BR 16: 09/09 (Elongação); 16/10 (Grão leitoso); BRS 49: 23/09 (Emborrachamento)

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sido os mais eficientes para a cultivar BR 16 com 30 e 40% da área foliar residual, respectivamente. O maior rendimento das cultivares foi obtido com o tratamento de Tebuconazole 250 (125), sendo a cultivar OR1 a mais responsiva ao tratamento químico tendo sido observada a maior diferen-

Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância; Análise estatística realizada com dados não transformados. Tratamentos aplicados: 1 - Tebuconazole 250 (50); 2 - Tebuconazole 250 (75); 3 - Tebuconazole 250 (100); 4 - Tebuconazole 250 (125); 5 - Tebuconazole 250 (75) + Propiconazole (62,3); 6 - Propiconazole (62,3) + Cyproconazole (62,5); 7 - Azoxystrobin (200) + Nimbus; 8 - Azoxystrobin (100) + Nimbus; 9 - Tebuconazole 200 (120); 10 – Testemunha. Estádios de aplicação (Feekes & Large, (1954). OR1: 17/08 (3 – 4 perfilhos); 30/08 (Elongação); 23/09 (Emborrachamento); CEP 27: 09/09 (Elongação); 07/10 (florescimento); BR 16: 09/09 (Elongação); 16/10 (Grão leitoso); BRS 49: 23/09 (Emborrachamento)

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ça significativa dos resultados quando comparados à testemunha. Destaca-se que em virtude das nítidas diferenças varietais quanto à resposta das cultivares aos diferentes patógenos é necessário um ajuste dos programas de controle às diversas condições de severidade das do. enças.

Ricardo Silveiro Balardin, UFSM, Alisson Francisco Celmer, UFSM, Alexander Prade, Milenia Agrociências Vanderlei Távela, Milenia Agrociências


Plantas daninhas Dirceu Gassen

Resistência a toda prova O

s primeiros casos de resistência de planta daninha no Brasil foram documentados com as espécies de picão-preto, amendoim-bravo e capim-marmelada (Christoffoleti et al., 1996; Ponchio et al., 1996; Vidal e Fleck, 1997; Gazziero et al., 1997). Biótipos de outras espécies, como sagitaria e capim-arroz também foram documentados como resistentes, em áreas de arroz irrigado (Noldin et al., 2000; Eberhard et al., 2000; Merotto et al., 2000). Vários grupos químicos de herbicidas têm como característica a inibição da enzima ALS e, entre eles, são citados sulfoniluréias, as imidazolinonas, as sulfonanilidas e os Pirimidil tiobenzoatos (Trezzi & Vidal, 2001). Esses grupos incluem produtos para a cultura da soja, como Classic/ Smart/ Pivot/ Vezir/ Sceter/ Topgan/ Pacto/ Spider /Scorpion, para o milho a exemplo do Sanson e, no trigo, o Ally. Produtos utilizados em sucessão ou em rotação, dentro de uma mesma área, aumentam a pressão de seleção, caso não sejam adotadas medidas técnicas adequadas. Atualmente, observam-se freqüentes relatos sobre manifestações de resistência pelos agentes de assistência técnica. É possível que esteja havendo aceleração no processo de disseminação desses biótipos, especialmente na região Sul do Brasil, devido ao aluguel de colhedoras, o que é uma prática comum entre agricultores, em função do tamanho médio das propriedades. Paralelamente, o manejo de culturas de outono e inverno como o milho safrinha, feijão e trigo e pousio de entressafra têm possibilitado a multiplicação das invasoras, aumentando o banco de sementes neste período e trazendo como conseqüência maior pressão de infestação no verão. Mas, reconhecidamente, a pressão de seleção é a principal responsável pela manifestação da resistência, a qual é favorecida pelo uso continuado de produtos com o mesmo mecanismo de ação (Vidal, 1997). Programas de prevenção e manejo da resistência

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Cultivar

A pressão de seleção é o principal responsável pela manifestação da resistência, favorecida pelo uso contínuo de produtos com o mesmo mecanismo de ação

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Fotos Dionísio Gazziero

milho. Os produtos utilizados no experimento foram:

NA SOJA • Inibidores da ALS: oxasulfuron, diclosulan, clorimuron, imazethapyr; • Inibidores de Protox: sulfentrazone, fomesafen, lactofen.

NO MILHO • Inibidores do Fotossistema II : atrazine; • Inibidores da divisão celular: S-metolachlor; • Inibidores da ALS: nicosulfuron. Entre as recomendações aceitas internacionalmente são citadas a rotação de culturas e/ou rotação de herbicidas com mecanismo de ação diferenciado.

A rotação e a mistura de produtos com mecanismo de ação diferenciado são as melhores alternativas no manejo

incluem várias práticas agrícolas (Christoffoleti et al, 1994; SBCPD, 2000; Gazziero, 2001). Porém a rotação e a mistura de produtos com mecanismo de ação diferenciado são as alternativas mais eficientes para solucionar o problema (Powles & Howart, 1990). Em 2001 foram conduzidos experimentos em uma área de produção comercial infestada com picão-preto (Bidens subalternans), objetivando confirmar a suspeita de resistência e selecionar produtos com diferentes mecanismos de ação com condições de controlar os biótipos resistentes nas culturas de soja e milho. O histórico da área indicava uso continuado de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação (ALS) e falhas de controle. O trabalho constou de três etapas. A primeira etapa foi conduzida para confirmar a suspeita. No período de entressafra foram feitas aplicações em faixas na área de produção com herbicidas de pósemergência, inibidores da enzima ALS e da enzima Protox. A segunda etapa constou de experimento em casa de vegetação, na qual foram utilizadas as sementes provenientes do campo de observação e de uma área não agriculturável da propriedade. A terceira etapa também ocorreu no campo por ocasião da época de semeadura das culturas de verão, milho e soja. Em todas as aplicações o picão-preto estava com 2 a 4 folhas. Na terceira etapa registrou-se infestação média de 350 plantas/m2 na área experimental. Os tratamentos envolveram aplicações isoladas com as doses normais e o dobro delas e as misturas dos diferentes mecanismos de ação de herbicidas de soja e

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Os resultados da primeira etapa serviram para confirmar, a campo, a suspeita de resistência. O uso de um herbicida inibidor da ALS sozinho na dose normal ou no dobro da dose não controlou o picãopreto. Entretanto, o uso de herbicidas inibidores de Protox, assim como a sua mistura com inibidores da ALS, promoveram os efeitos desejados, confirmando de forma preliminar a suspeita de resistência. Na casa de vegetação foram incluídos tratamentos em pré e pós-emergência e com doses de ALS até quatro vezes maior do que a recomendada. Os resultados repetiram os obtidos no campo de observação. Quando se tratava de sementes de biótipos resistentes, quatro vezes a dose de ALS não foi capaz de permitir que os níveis esperados de controle fossem atingidos. Inibidores da Protox sozinhos ou em mistura com inibidores da ALS controlaram satisfatoriamente os biótipos resistente e suscetível. Nas plantas suscetíveis, com a dose normal, os resultados chegaram a 100% de controle com produtos dos dois mecanismos. No milho seguiu-se a mesma tendência. A troca ou a mistura do mecanismo de ação foi suficiente para solucionar o problema de resistência de inibidores da ALS. Na soja os resultados não foram diferentes. Em todas as etapas conduzidas, os resultados mostraram sempre a mesma informação, e permitem concluir que a associação de mecanismo de ação diferenciado ou a troca de herbicidas é suficiente para prevenir ou manejar áreas com problemas de picão-preto (BIDSU) resistente. Entretanto, não se pode esquecer que as plantas daninhas vivem em comunidades, as quais são compostas por indivíduos de diferentes espécies. Isto significa que nem sempre é possível ou conveniente retirar da área

O pesquisador Dionísio Gazziero chama a atenção para o manejo de entressafra

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As alternativas químicas são eficientes para resolver os casos de resistência, mas o manejo da área é importante

o mecanismo de ação para o qual se manifestou a resistência. Cresce, assim, a importância da recomendação baseada no diagnóstico do problema específico de cada propriedade e a participação dos engenheiros agrônomos no processo. Um fator fundamental a se considerar também é o manejo de entressafra. Algumas espécies como o picão e o amendoim-bravo têm a capacidade de se adaptar a diferentes condições climáticas e produzir sementes no outono, primavera e, em certas regiões, até mesmo no inverno. Essas espécies são alógamas e, portanto, a transferência do gen de resistência para biótipos suscetíveis pode ocorrer nesta época. Além de aumentar o banco de sementes dessas espécies, uma vez contaminada a área, esse gen pode se disseminar com facilidade. Resistente ou

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não, o aumento no banco de sementes na entressafra seguramente irá causar maior pressão de infestação nas culturas de verão, dificultando o funcionamento dos herbicidas. Portanto, fica evidente que existem alternativas químicas para solucionar os casos de resistência das plantas daninhas. Mas é preciso levar em consideração outros fatores como o manejo da área e da propriedade durante todo o ano. Se o homem ocupar de forma tecnificada uma área, não sobrará espaço para as plantas . daninhas se multiplicarem. Dionísio Luiz Pisa Gazziero, Embrapa Soja Cássio Egídio C. Prete, UEL

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Soja

Sadia desde o in in

Em condições adversas, como déficit hídrico, o tratamento de sementes de soja com fungicidas pode proporcionar o incremento médio no rendimento de grãos de até 41%

A

cultura da soja está sujeita ao ataque de um grande número de doenças fúngicas que podem causar prejuízos tanto ao rendimento quanto na qualidade das sementes produzidas. No manejo integrado das doenças da soja, não se deve usar nenhum método isolado de controle, tomando o cuidado de se adotar práticas conjuntas visando obter uma lavoura sadia e, conseqüentemente, produção de sementes de alta qualidade e livres de patógenos.

PATÓGENOS VIA SEMENTES A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem na cultura da soja são causadas por patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes. Isso implica na introdução de doenças em área novas ou mesmo a reintrodução em áreas cultivadas nas quais a doença já havia sido controlada pela adoção de práticas eficientes de manejo, como, por exemplo, a rotação de culturas. Através das sementes, esses microorga26

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nismos sobrevivem através dos anos e se disseminam pela lavoura, como focos primários de doenças.

FUNGOS ALVO Um grande número de microorganismos fitopatogênicos podem ser transmitidos pelas sementes de soja, sendo que os de maior importância no Brasil são: 1) Phomopsis spp. Nestas espécies está incluído o agente causador do cancro da haste da soja. A disseminação dessa importante doença ocorre principalmente através das sementes, podendo também ser feita por restos culturais, chuva e vento. Esse fungo freqüentemente reduz a qualidade das sementes de soja, especialmente quando ocorrem períodos chuvosos associados a altas temperaturas, durante a fase de maturação. Esse patógeno está freqüentemente associado às sementes que sofreram atraso na colheita, principalmente devido à ocorrência de chuvas. Phomopsis sp. é o principal agente cauwww.cultivar.inf.br

sador da baixa germinação de sementes de soja, no teste padrão de germinação no laboratório, à temperatura de 25ºC. 2) Colletotrichum truncatum É o causador da antracnose, que tem nas sementes o mais eficiente veículo de disseminação. É comum o aparecimento de sintomas nos cotilédones, caracterizado pela necrose dos mesmos, logo após a germinação. Esse fungo pode causar a deterioração das sementes, morte de plântulas e infecção sistêmica em plantas adultas. 3) Cercospora kikuchii O sintoma mais evidente do ataque desse fungo é observado nas sementes, que ficam com manchas típicas de coloração roxa. Porém, vale ressaltar, que nem todas as sementes com este tipo de sintoma apresentam o fungo. Por outro lado, sementes aparentemente sadias (sem a presença da mancha púrpura no tegumento) podem estar contaminadas com esse patógeno. Assim, só através do Teste de Sanidade de Sementes é que se pode ter a certeza da presença Setembro de 2003


nício

re em sementes de baixa qualidade. Esses fungos podem reduzir a germinação das sementes e a emergência de plântulas no campo.

OBJETIVOS DO TRATAMENTO O principal objetivo desse tipo de prática é erradicar ou reduzir, aos mais baixos níveis possíveis, os fungos presentes nas sementes, além de protegê-las dos patógenos do solo e da semente, quando as condições de semeadura forem desfavoráveis.

QUANDO TRATAR 1) Quando as sementes estiverem contaminadas por fungos fitopatogênicos, os quais podem ser identificados através da realização do teste de sanidade de sementes); 2) Quando as condições de semeadura são adversas, tais como: ocorrência de chuvas muito pesadas, que provocam a formação de uma crosta grossa na superfície do solo, dificultando a emergência das plântulas, solo compactado, semeadura profunda, semeadura em solo com baixa disponibilidade hídrica, semeaduras em solos com baixas temperaturas e alto teor de umidade; 3) Em casos de práticas de rotação de culturas ou de cultivo em áreas novas.

DÉFICIT HÍDRICO DO SOLO

ou não desse patógeno nas sementes. Trabalhos têm demonstrado não haver qualquer efeito negativo desse fungo na qualidade da semente. 4) Fusarium semitectum Dentre as espécies de Fusarium, a mais freqüentemente encontrada (98% ou mais) em sementes de soja é o F. semitectum. É considerado patogênico, por afetar a germinação em laboratório. De maneira semelhante a Phomopsis spp., o fungo F. semitectum está freqüentemente associado a sementes que sofreram atraso na colheita ou deterioração no campo. 5) Aspergillus spp. e Penicillium spp. Diversas espécies de Aspergillus ocorrem em sementes de soja, porém a mais freqüente é Aspergillus flavus. Tem-se observado, em sementes colhidas com teores elevados de umidade, que um retardamento do início da secagem poderá acarretar numa redução da sua qualidade, devido à ação desse fungo. O fungo Penicillium spp. é menos freqüente que o Aspergillus spp., porém ocorSetembro de 2003

A soja inicia o seu processo de germinação e posteriormente emerge rapidamente quando semeada em solos com boa disponibilidade de água e temperaturas adequadas. Quando essas condições não são satisfeitas, as sementes ficam armazenadas no solo a espera de condições favoráveis para iniciar esse processo. Durante esse tempo, a germinação e emergência da soja ocorrem mais lentamente, proporcionando aos fungos do solo e da própria semente maior oportunidade de ataque, podendo causar sua deterioração nesse ambiente ou a morte de plântulas. Nessas condições, torna-se necessária a utilização do tratamento das sementes de soja com fungicidas. Essa prática proporciona maiores benefícios quando as sementes ou a plântula é submetida a diferentes tipos de “stress” durante as duas primeiras semanas após a semeadura. O tratamento das sementes com fungicidas promove uma zona de proteção ao redor da mesma contra os microorganismos do solo e previne a sua deterioração nesse período. Para se ter idéia da importância da realização dessa prática sob condições de déficit hídrico no solo, foi feita uma compilação dos resultados de 17 ensaios de tratamento de sementes de soja com fungicidas realizados entre 1994 e 2002, em Mato Grosso do Sul. Desses 17 ensaios, 14 foram instalados em solos secos - SS -(permane-

...

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Augusto Goulart

Em condições adversas, a germinação e a emergência ocorrem lentamente, deixando sementes e plântulas sucetíveis a ataques

a 15 dias) e três em solos com boa disponibilidade hídrica - SU -(umidade suficiente para que a emergência ocorresse dentro de sete dias). Os resultados demonstraram que nos ensaios com SU a emergência na testemunha foi de 67% contra 74% quando as sementes foram tratadas, o que proporcionou um aumento médio no rendimento de grãos de apenas 8,4% em relação à testemunha sem tratamento. Por outro lado, quando os ensaios foram instalados com SS, foram observadas diferenças significativas entre as testemunhas e os tratamentos com fungicidas, para todos os 14 ensaios. Assim, a emergência na testemunha foi de apenas 35% contra 64% quando as sementes foram tratadas, o que proporcionou um incremento médio no rendimento de grãos de 41% em relação à testemunha não tratada. Nesses casos, ficou evidenciado o efeito benéfico do tratamento das sementes de soja com fungicidas, comprovando a eficiência dessa prática no sentido de garantir boa emergência em condições adversas.

PROCEDIMENTOS PARA TRATAR O tratamento de sementes deve ser feito, preferencialmente, na unidade de beneficiamento., que dispõe de máquinas de tratar sementes ou utilizando um tambor giratório com eixo excêntrico. O tratamento utilizando a betoneira também pode ser adotado, porém com eficiência menor do que aquele realizado na máquina ou no tambor. Não se recomenda efetuar o tratamento das sementes diretamente na caixa semeadora e em lonas plásticas, por serem métodos de baixa eficiência em função da pouca aderência e da cobertura desuniforme das sementes pelos fungicidas. Durante a operação de tratamento, o fungicida sempre deverá ser aplicado em pri28

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meiro lugar, para garantir boa cobertura e aderência do mesmo às sementes. Isto também vale para a adição de grafite nas sementes de soja, prática bastante usual entre os produtores, que objetiva proporcionar melhor fluxo das sementes na semeadora, o qual deverá ser incorporado às sementes após a aplicação dos fungicidas. No caso da utilização de micronutrientes, a aplicação desses com os fungicidas poderá ser feita de forma conjunta, antes da inoculação. O volume final da mistura (fungicida+micronutrientes) não deverá ultrapassar 300ml de calda/50kg de sementes.

ESCOLHA DOS FUNGICIDAS Na escolha correta de um fungicida, o primeiro aspecto que deve ser considerado é o organismo alvo do tratamento, uma vez que os fungicidas diferem entre si quanto ao espectro de ação ou especificidade. A ação combinada de fungicidas sistêmicos com protetores tem sido uma estratégia das mais

FUNGICIDAS E INOCULANTE Resultados de pesquisa mostraram que, quando a inoculação é feita juntamente com o tratamento das sementes, mesmo que imediatamente após o envolvimento destas com os fungicidas, essas misturas afetam a nodulação e a fixação biológica do nitrogênio, em diferentes graus, por reduzirem a população da bactéria Bradyrizhobium spp. Maior freqüência de efeitos negativos ocorre em solos de 1º ano de cultivo da soja, com baixa população de Bradyrhizobium spp. Para garantir melhores resultados não se recomenda o tratamento da sementes de soja com fungicidas desde que: 1) as sementes possuam alta qualidade fisiológica e sanitária e estejam livres de fitopatógenos importantes; 2) o solo apresente boa disponibilidade hídrica e temperatura adequada para rápida germinação e emergência.

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...cendo nestas condições por períodos de sete

eficazes no controle de patógenos das sementes e do solo, uma vez que o espectro de ação da mistura é ampliado pela ação de dois ou mais produtos, proporcionando melhores emergências de plântulas no campo. Deve-se ressaltar que o efeito principal do tratamento de sementes de soja com fungicidas é observado na fase inicial do desenvolvimento da cultura, ou seja, até no máximo 7 dias após a emergência. Nesse período, ocorre uma eficiente proteção da soja, obtendo-se populações adequadas de plantas em função da uniformidade na germinação e emergência. Entretanto, deve-se ressaltar que, caso as condições climáticas sejam favoráveis após este período de proteção, alguns fungos poderão se instalar nas plântulas de soja – o que é normal - em decorrência da perda do poder residual dos fungicidas, o que não significa que o tratamento foi ineficiente.

De acordo com Augusto Goulart, o tratamento de sementes com fungicidas representa 0,6% do custo total de produção

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O efeito principal do tratamento ocorre nos primeiros sete dias após a emergência, quando há eficiente proteção da soja

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ÉPOCA PARA TRATAR O tratamento das sementes de soja com fungicidas deve ser realizado antes da semeadura, porque quando efetuado antes ou durante o período de armazenamento, impede que os lotes tratados e não comercializados sejam destinados à indústria. Em função do aumento significativo do volume de sementes tratadas, os produtores de sementes e cooperativas estão demandando informações a respeito da viabilidade técnica do tratamento das sementes antes do período de armazenamento, para a comercialização de sementes já tratadas. Resultados de pesquisa demonstraram não haver efeito negativo do tratamento sobre a qualidade da sementes durante e após um período de armazenamento de 180 dias, demonstrando assim a possibilidade de adoção dessa prática. Porém, a sua implementação deverá ser feita com cautela pois, como referido anteriormente, existe a possibilidade de o agricultor ou as cooperativas não utilizarem toda a semente tratada. Dessa maneira, esses lotes não poderão ser armazenados para a safra seguinte, nem, tão pouco, comercializados para fins de consumo. A prática do tratamento de sementes de soja com fungicidas no Brasil vem crescendo a cada safra, partindo de apenas 5% da área de soja semeada com sementes tratadas na safra de 1991/92 até atingir expressivos 96% na safra 2002/03. O tratamento de sementes de soja com fungicidas constitui, atualmente, uma tecnologia consolidada no Estado de Mato Grosso do Sul, sendo adotada por 98% dos produtores, conforme estudos realizados pela Embrapa Agropecuária Oeste. Foi detectado neste estudo que esta prática não é uma tecnologia que apresenta grandes dificuldades para sua adoção, que todos os fungicidas encontrados no mercado são eficientes e que o custo não foi considerado fator limitante.

ximadamente 0,6% do custo total de produção. Nem sempre a semeadura é realizada em condições ideais, o que resulta em sérios problemas de emergência caso o tratamento de sementes com fungicidas não seja realizado, havendo, muitas vezes, a necessidade da ressemeadura, o que acarreta enormes prejuízos ao produtor. No caso da soja, a ressemeadura no Sistema Convencional poderá representar 11,43% a mais no custo de produção. No Sistema Plantio Direto, em que a ressemeadura requer o uso de herbicidas, este prejuízo é maior, representando 17,93% a mais no custo . de produção. Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste

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Grande parte das doenças economicamente importamtes é causada por patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes

Tabela 1. Fungicidas e respectivas doses, para o tratamento de sementes de soja. XXIV Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. São Pedro, SP. Agosto/ 2002. DOSE/100 KG DE SEMENTE1 NOME COMUM • PRODUTO COMERCIAL2

Ingrediente ativo (g) • Produto comercial (g ou ml)

I. Fungicidas de Contato

Captan

90 g

• Captan 750 TS

• 120 g

Thiram

70 g (SC) ou 144 g (TS)

• Rhodiauran 500 SC

• 140 ml

• Thiram 480 TS

• 300 ml

Tolylfluanid

50 g

• Euparen M 500 PM

• 100 g

II. Fungicidas sistêmicos

CUSTO DO TRATAMENTO Levando-se em conta todos os gastos necessários para a produção de 1ha de lavoura, o tratamento de sementes com fungicidas é a prática de menor custo, quando comparada com as demais. No caso da soja, o tratamento de sementes com fungicidas representa apro-

Augusto Goulart

Caso estas condições não sejam atingidas, tratar as sementes de soja, preferencialmente com as misturas de fungicidas carboxin+thiram (mistura já formulada de Vitavax-thiram), difenoconazole + thiram, carbendazin + captan, thiabendazole + tolylfluanid e carbendazin + thiram (mistura já formulada de Derosal Plus) por apresentarem o menor efeito negativo, principalmente em áreas de primeiro ano com soja ou onde não se usa inoculante há anos.

Benomil

30 g

• Benlate 500

• 60 g

Carbendazin

30 g

• Derosal 500 SC

• 60 ml

Carbendazin + Thiram

30 g + 70 g

• Derosal Plus4

• 200 ml

Carboxin + Thiram

75 g + 75 g ou 50 + 50 g

• Vitavax + Thiram PM4 • Vitavax + Thiram 200 SC3,4

• 200 g • 250 ml

Difenoconazole

5g

• Spectro

• 33 ml

Fludioxonil + Metalaxyl – M

35 g + 10 g

• Maxim XL4

• 100 ml

Thiabendazole

17 g

• Tecto 100 (PM e SC)

• 170 g ou 31 ml

Thiabendazole + Thiram

17 g + 70 g

• Tegram4

• 200 ml

Tiofanato metílico

70 g

• Cercobin 700 PM • Cercobin 500 SC • Topsin 500 SC

• 100 g • 140 ml • 140 ml

As doses dos produtos isolados são aquelas para a aplicação seqüencial (fungicida de contato e sistêmico). Caso contrário, utilizar a dose do rótulo. 2 Poderão ser utilizadas outras marcas comerciais, desde que sejam mantidos a dose do ingrediente ativo e o tipo de formulação. 3 Fazer o tratamento com pré-diluição, na proporção de 250 ml do produto + 250 ml de água para 100 kg de semente 4 Misturas formuladas e registradas no MAPA/DDIV/SDA. CUIDADOS: devemcomercialmente ser tomadas precauções na manipulação dos fungicidas, seguindo as orientações da bula dos produtos. 1

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Transgênicos

Por causa da decisão judicial que suspendeu os efeitos de sentença que proibia o cultivo de plantas transgênicas no Brasil, decidimos atualizar nossos leitores na batalha pela liberação da tecnologia. Apresentamos quatro artigos sobre o tema. O primeiro, nosso. O segundo, do Greenpeace, contrário à liberação dos transgênicos. O terceiro, da Monsanto do Brasil, a primeira empresa a oferecer cultivares transgênicas. E o quarto, do nosso colunista Décio Gazzoni. A opção por oferecer versões conflitantes deve-se ao nosso compromisso mais importante: o de ajudar na formação do pensamento dos profissionais da agricultura nacional. Não queremos impor a nossa opinião, mas a exprimir e permitir que os demais também o façam.

Luta para produzir Agricultura brasileira pede transgênicos e a manutenção da sua competitividade

E

m poucos momentos uma deci são judicial como a proferida pela juíza Selene Maria de Almeida poderia causar tantas dúvidas quanto agora, às vésperas do início do plantio da safra 2003/04. Suspendendo os efeitos de sentença de primeira instância, a juíza abriu caminho para o plantio de OGMs, principalmente da soja RR, defendida pelos produtores por causa do seu menor custo de cultivo. A decisão, entretanto, não garante se-

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gurança a quem desejar plantar a soja transgênica. Em tese, como explica o advogado Newton Peter, diretor do escritório Newton Peter Advogados, o que não está proibido, está permitido. É um princípio básico de Direito. Poder-se-ia plantar soja transgênica agora e, no caso de eventual decisão judicial desfavorável superveniente, defender-se alegando a legalidade no momento do plantio. Mas, acrescenta o advogado, o Direito é resultado das idéias, das ações humanas, do momento

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social... Em assuntos polêmicos, melhor optar pela cautela, pois a defesa num eventual processo poderia ser longa, dispendiosa e de resultado incerto. “Mais do que ter razão, precisa-se convencer os juízes; em assuntos de grande apelo emocional, nem sempre se consegue fazer a razão prevalecer.” Para o advogado, a decisão chegou tarde para possibilitar o plantio legalizado nesta safra. Como a Monsanto, proprietária da soja RR, declarou não haver dispo-

...

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...nibilidade para venda, os produtores não

têm como adquirir as sementes transgênicas legalmente. As existentes no Brasil, provenientes de contrabando ou de outra fonte, carecem de certificado de origem, de nota fiscal. Portanto, a defesa num eventual processo seria complicada. Mas o aspecto legal parece ter importância reduzida para quem há cinco anos produz soja transgênica. Na primeira safra cultivada com transgênicos em número expressivo (98/99), a Cultivar Grandes Culturas calculou a perda de receita do Estado do Rio Grande do Sul no caso de o então governo do Partido dos Trabalhadores (PT) cumprir sua promessa de queimar todos os grãos transgênicos. O montante era absurdo e o governo não tinha condições de arcar com a perda da receita, conforme alertamos. Por isso, limitou-se a denunciar uns poucos produtores, numa tentativa de fazer os demais repensarem suas ações. Não conseguiu. Na safra passada, o Governo Federal, nas mãos do mesmo PT, incapaz de cumprir sua ameaça em um Estado da Federação, teve de editar medida provisória para permitir a venda legal da soja transgênica. Agora, antes de nova safra, novamente o governo alerta contra o plantio. A dúvida é: se os agricultores pagarem para ver e plantarem transgênicos em grande número, o que fará o governo? A receita auferida com a exportação de soja é vital para o Governo Federal, pressionado por funcionários públicos cobrando promessas de campanha e por um país beirando a recessão. Arcará o Governo com o custo de destruir a soja ilegal? Plauto, dramaturgo romano, escreveu em uma de suas peças que os crimes coletivos não comprometem ninguém... Ressalte-se que não estamos recomendando ações ilegais aos produtores, mas tãosomente analisando a questão.

CUSTO REAL O impressionante crescimento da área cultivada com soja transgênica no Brasil decorre das vantagens econômicas do sistema. Com menor custo na aplicação de herbicida, produtores recomendam a tecnologia. Falta no cálculo, contudo, incluir alguns itens. As variedades cultivadas provêm de sementes contrabandeadas, multiplicadas sem o pagamento de royalties, e do uso de herbicidas “genéricos”, sem registro para uso nesses casos. Como ficaria essa conta se os produtores fossem obrigados a comprar sementes de empresas legalmente habilitadas à venda? Eles teriam, em tese, de comprar o herbicida da mesma empresa, mais caro do que o genérico, registrado para o uso em área total (ressalte-se, de acordo com informações do coordenador de fiscalização de agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Júlio Sérgio de Britto, que o 32

Cultivar

Borlaug esclarece que não existe risco zero em ciência, mas crê nos benefícios da tecnologia da transgenia

herbicida Roundup não está registrado para aplicação em área total). O colunista da Cultivar Grandes Culturas e engenheiro agrônomo Décio Gazzoni destaca a dificuldade de se saber qual a real vantagem econômica da soja transgênica no Brasil. Existem projeções, mas nada conclusivo. Em primeiro lugar, as variedades adaptadas ao clima local não estão disponíveis. As contrabandeadas, certamente têm potencial produtivo menor sob o clima brasileiro. Em segundo, quem usa semente ilegal não paga a “taxa tecnológica”.

Newton Peter explica que não há como plantar soja transgênica legalmente na safra 2003/04

POLÍTICA E CIÊNCIA Causa descontentamento a forma política como se trata a questão dos OGMs no Brasil. Cientistas renomados, como o ex-presidente da CTNBio Luiz Carlos Barreto de Castro, têm de conviver com ataques pessoais por causa das suas posições científicas. Desabafou, em junho de 1999, durante o Congresso Brasileiro de Soja: “Somos homens honrados” (Cultivar Grandes Culturas n. 5, pág. 14). Enquanto isso, leigos no assunto sobem em palanques e púlpitos, e discursam sem conheci-

Nossa opinião Desde o primeiro número da revista Cultivar Grandes Culturas, o Grupo Cultivar de Publicações posicionou-se em defesa das novas tecnologias. Consideramos, como Norman Borlaug, que em ciência não há risco zero, mas acreditamos na necessidade de o Brasil permitir aos seus produtores o uso da tecnologia. As chances de haver problemas causados pelos OGMs são baixas, afirmam especialistas renomados. Na primeira edição da nossa primeira revista agrícola alertamos para a chegada de soja transgênica contrabandeada da Argentina, no final de 1998 e início de 1999 (Cultivar Grandes Culturas n. 0, pág 16). Pedimos a liberação do plantio e defendemos, como medida de precaução, a rotulagem do produto. Inércia e processos judiciais impediram o livre plantio e colocaram o Brasil em uma situação delicada perante o mundo: legalmente não podemos plantar transgênicos, mas os exportamos. Mostramos, com exclusividade, as únicas fotos da única apresentação oficial da Soja RR, acontecida em fevereiro de 1999 (Cultivar Grandes Culturas n. 2). Saudamos a novidade: “É soja. É transgênica. E é brasileira”, dizia a nossa manchete de capa. Em seguida, medida liminar proibiu o plantio e a sua comercialização. De lá para cá, a novidade foi o aumento da área de cultivo ilegal. Agora, via Legislativo e via Judiciário, a questão pode se encaminhar para um fim. Novamente, pedimos a liberação dos transgênicos no Brasil.

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mento de causa. Uma obra clássica e indispensável para entender ciência é o Novum organon, de Francis Bacon, escrito em 1620. Nele, Bacon mostra que a compreensão humana não é um exame desinteressado, mas recebe infusões da vontade e dos afetos. Disso se originam ciências que podem ser chamadas “ciências conforme a nossa vontade”. Pois um homem acredita mais facilmente naquilo que gostaria que fosse verdade. Assim, ele rejeita coisas difíceis pela impaciência de pesquisar; coisas sensatas porque diminuem a esperança; as coisas mais profundas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; coisas que não são comumente aceitas por deferência à opinião do vulgo. Em suma, inúmeras são as maneiras pelas quais os afetos colorem e contaminam o entendimento. A briga é política, não científica. No início, o problema da tecnologia, segundo seus mais ferrenhos opositores, era o “domínio do mundo pelas multinacionais”. O argumento é menos usado hoje, possivelmente porque se esgotou. Cientistas brasileiros, através da CTNBio, decidiram pela liberação dos transgênicos. Os opositores levantam uma série de argumentos contra a tecnologia, baseados nos fantasmas que assombram as mentes leigas e sem o esperado respaldo científico. Não faz muito tempo, um frei conhecido no RS ainda deixava de lado as questões espirituais para alertar que “transgênicos causam AIDS”.

transgênicos, não foi confirmado. Verdade, até o momento, também não há prova definitiva da ausência do risco. Empate. Todavia, observa Décio Gazzoni, o Brasil teve uma moratória de cinco anos no plantio de transgênicos, sem o aparecimento de nenhum problema causado pela tecnologia em outros países. Quanto tempo mais será necessário para afastar o chamado Princípio da Precaução? Os telefones celulares, apesar do seu suposto potencial carcinogênico (não comprovado), não enfrentam nenhum tipo de moratória... Em julho de 2000, durante visita ao Brasil, Norman Borlaug, o pai da Revolução Verde concedeu entrevista à Cultivar. Em sua opinião, os maiores problemas dos transgênicos são a falta de informação das pessoas, que temem o desconhecido, e a propaganda enganosa de alguns grupos de

ambientalistas: “são pessoas que tentam fazer as coisas direito, só que nem sempre têm o conhecimento necessário” (Cultivar Grandes Culturas n. 19, pág. 62).

SAFRA 2003/04 Certos nessa discussão são a impossibilidade de cultivar transgênicos legalmente nesta safra e o longo caminho a ser trilhado para pacificar a questão. Mesmo no caso de o Congresso Nacional aprovar legislação permitindo o seu cultivo, há inúmeras possibilidades jurídicas para complicar a questão e protelar o uso de transgênicos por anos. Se não houver um entendimento nacional, a agricultura brasileira, que tem impressionado o mundo pela imensa competitividade, pode ser enviada à Idade Média. A quem interessa atrasar a agri. cultura do Brasil? (Esta matéria foi escrita em 21/08/03)

GUERRA DE PALAVRAS Para complicar as decisões de produtores e políticos, há um festival de informações contraditórias sobre o assunto. Uma das mais graves é a suposta cobrança de quem salva sementes. O advogado Newton Peter argumenta contra a aceitação cega dessa teoria, mostrando a complexidade do tema. A Lei de Proteção de Cultivares (Lei 9.456/97) garante ao produtor o direito de salvar sementes para uso próprio. Há, porém, a questão da patente da tecnologia de transgenia usada na obtenção das cultivares. Os agricultores poderiam ser cobrados a cada uso das variedades com base na Lei de Propriedade Industrial (Lei 9.279/ 96) e em acordos internacionais. Mas, pondera o advogado, somente os tribunais poderão decidir se o pagamento na compra das sementes garante direito à multiplicação sem ônus ou se será preciso pagar pelo uso da tecnologia mesmo salvando a semente. A questão está longe de ser simples, principalmente pelo caráter antipático da cobrança. Certo é que nenhuma empresa teria ganho em termos de imagem se processasse produtores. Outro ponto invocado pelos opositores da tecnologia, o suposto risco ambiental e à saúde humana representado pelos Setembro de 2003

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Transgênicos

Quem ganha com os transgênicos? A

André Kishimoto

engenharia genética tem sido assunto freqüente na mídia na última década; nem tanto pelos benefícios que os defensores das novas tecnologias dizem existir, mas sim pela polêmica surgida em torno da aplicação da biotecnologia na agricultura. Desde 1997, o Greenpeace vem alertando para os riscos inerentes à transgenia. Agora, mais do nunca, é o momento de avaliar os impactos dos transgênicos para que o Brasil não sofra com uma legislação que favoreça apenas os interesses de algumas poucas empresas de biotecnologia. Segundo o ISAAA (Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia), a tecnologia usada em 91% dos transgênicos plantados no mundo são de uma única empresa, a Monsanto, o que indica um cenário preocupante de monopólio no setor agrícola. Os agri-

Gabriela Vuolo: “Um dos problemas ambientais mais graves dos transgênicos é a poluição genética”

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cultores que plantam transgênicos não podem produzir e armazenar suas próprias sementes para o plantio seguinte, o que os torna dependentes das empresas de biotecnologia, que cobram royalties por suas sementes geneticamente modificadas. Em se tratando de agrotóxicos, vale ressaltar que a idéia de que plantações transgênicas necessitam de menos herbicidas não é real. Estudos científicos independentes realizados recentemente comprovam que as plantas transgênicas utilizam, na verdade, mais agrotóxicos1 . Após repetidas aplicações do herbicida na mesma área, surgem ervas daninhas resistentes, exigindo aplicações em maior quantidade ou agrotóxicos mais fortes. A excessiva aplicação destes produtos afeta a fauna do solo e, conseqüentemente, sua fertilidade, e aumenta os resíduos indesejáveis nos alimentos. No caso das plantas que produzem toxinas inseticidas – os transgênicos chamados Bt –, o problema está no impacto que a propriedade inseticida tem sobre pragas que não prejudicam as plantações, como é o caso das borboletas Monarca, por exemplo. O milho Bt foi desenvolvido para combater determinados tipos de pragas, mas, na verdade, seu poder inseticida atinge insetos que são inofensivos ao pé de milho. Ao mesmo tempo, os Bt não são eficientes no controle de todas as pragas que afetam as plantações e continuam demandando a aplicação de inseticidas Um dos problemas ambientais mais graves dos transgênicos é a poluição genética, que é a contaminação de variedades tradicionais ou convencionais por transgênicos. Esta contaminação é irreversível e causa a perda de biodiversidade. Se para o meio ambiente os transgênicos já oferecem riscos, no âmbito econômico, o prejuízo seria enorme para o Brasil. O mercado para a soja brasileira, tida como não transgênica, tem crescido a cada ano e os prêmios para os grãos certificados são cada vez maiores. De acordo com o diretor

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de vendas da Coinbra, a diferença chegava a US$ 3/ton em 20002 . E a tendência é só aumentar, já que a União Européia – maior compradora da soja brasileira – aprovou recente legislação obrigando a rotulagem em toda a cadeia produtiva de qualquer produto que contenha mais de 0,9% de transgênicos. Essa legislação, na verdade, apenas reflete o desejo dos consumidores europeus, que não querem transgênicos em seus pratos e que estão dispostos a pagar mais para garantir a segurança de sua saúde e do meio ambiente. O fato é que, apesar de a indústria de biotecnologia divulgar que seu produto é seguro para o meio ambiente e a saúde humana e animal, nem ela própria conseguiu comprovar isso até hoje. Basta ver que, no Brasil, nenhum estudo de impacto ambiental foi até hoje apresentado às autoridades competentes. E é justamente por isso que o Greenpeace demanda que o governo brasileiro seja rigoroso e exija o licenciamento ambiental antes da liberação comercial de toda e qualquer variedade transgênica no país. Por fim, cabe ressaltar que o Greenpeace não é contra a pesquisa sobre os transgênicos. Pelo contrário, a pesquisa faz-se necessária justamente para que os impactos causados por esses organismos sejam avaliados com precisão. Porém, as pesquisas devem ser independentes, ambientalmente seguras e comprometidas com o a melhoria da qualidade de vida da população. 1) “Troubled Times Amid Commercial Success For Roundup Ready Soybeans”, Dr. Charles Benbrook, do Centro de Ciência e Política Ambiental do Noroeste, de Idaho (EUA), 03/05/2001, disponível em http:// www.biotech-info.net/troubledtimes.html; 2) Reuters, 23/07/2001, São Paulo, “Soja brasileira ganha maiores incentivos como . não-transgênica”. Gabriela Vuolo, Greenpeace Brasil

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Transgênicos

A biotecnologia e a agricultura brasileira

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Vem beneficiando centenas de milhares de pequenos e grandes agricultores, multiplicadores de sementes, exportadores e toda cadeia agrícola produtiva, proporcionando melhoramentos contínuos que contribuem para acompanhar o crescimento populacional do mundo e a conseqüente necessidade de alimentos seguros sem uma devastação ainda maior do ambiente. Não devemos abrir mão dos avanços tecnológicos pelo simples medo do novo, mas, adotadas as medidas de segurança apropriadas, como têm feito todas as nações onde a biotecnologia já é uma realidade, inclusive no Brasil, podemos usufruir dos benefícios que ela nos proporciona, sob o risco de, em não o fazendo, ficarmos atrelados a uma estagnação no ciclo evolutivo. Privando, com isso, a população brasileira dos benefícios de produtos desenvolvidos pela biotecnologia, como o arroz dourado, que contém mais beta-caroteno e ajuda a combater a cegueira noturna, ou as plantas com vacinas, que podem ajudar a combater certas enfermidades e que já estão se tornando realidade e ajudando a humanidade a viver mais e melhor. Centenas de cientistas e acadêmicos de todo o mundo, incluindo aqueles ligados a entidades respeitadas como a Comissão Científica do Parlamento da União Européia, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e um relatório emitido por sete academias de ciências de todo o mundo, entre elas a Royal Society of London, a Academia Nacional de Ciências da China, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos e, inclusive, a Academia Brasileira de Ciências, têm atestado a segurança alimentar dos produtos transgênicos hoje comercializados em diversos países. Em junho deste ano, 304 cientistas assinaram um documento enviado ao presidente da República pedindo sua intervenção para solução dos transgênicos no País. Lembramos que o Vaticano também se

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manifestou, em 1999 e, mais recentemente, sobre as plantas geneticamente modificadas. Segundo informações do jornal italiano La Stampa, de Turim, publicadas no início de agosto, a Santa Sé acredita que a biotecnologia pode ser a solução para a fome mundial, maior problema causado pela globalização, segundo a instituição. Seria muito simplista dizer que a biotecnologia sozinha seria capaz de resolver a oferta de alimentos, já que há outras questões envolvidas nesse assunto. Mas, certamente, a tecnologia será uma aliada que permitirá o aumento da produção. Para finalizar, reafirmamos que, ao se beneficiar dos recursos tecnológicos e da ciência para o desenvolvimento da agricultura, o Brasil continuará confirmando sua vocação agrícola e sua aposta nesse setor tem proporcionado bons resultados à balança comercial do País. .

Lúcio Pedro Mocsányi, Monsanto no Brasil Monsanto

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liberação de plantas geneticamente modificadas ainda está sendo discutida jurídica e politicamente no Brasil. O que está em questão é a aplicação de uma ferramenta tecnológica adicional, o aproveitamento dos avanços da ciência para o desenvolvimento da agricultura brasileira e o direito de escolha do agricultor e do consumidor. Não nos cabe comentar esse processo, uma vez que o assunto está “sub judice”. Acreditamos, porém, que a decisão da juíza Selene Maria de Almeida, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, de Brasília (DF), que suspendeu os efeitos da sentença promulgada pelo juiz Antonio de Souza Prudente, da 6º Vara do Distrito Federal, que impedia o plantio em escala comercial e a comercialização da soja geneticamente modificada Roundup Ready até o julgamento do mérito da ação civil pública, foi ao encontro dos interesses sociais e econômicos do País, beneficiando, em especial, a nossa agricultura e a competitividade do Brasil no mercado internacional. A decisão foi um importante passo para a definição do processo regulatório e para a agricultura nacional, pois restabeleceu a competência para a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) apreciar e aprovar novas aplicações. A soja Roundup Ready estava aprovada desde 1998. Quando, definitivamente, os agricultores e multiplicadores brasileiros puderem escolher as tecnologias, o País usufruirá dos benefícios que a engenharia genética aplicada à agricultura tem proporcionado aos produtores e consumidores de diversos países que, legalmente, puderam optar pelas plantas geneticamente modificadas. A biotecnologia é uma ciência que tem sido desenvolvida e pesquisada por diversas universidades e empresas públicas e privadas ao longo dos últimos 20 anos nos Estados Unidos, Japão, Europa, Índia, China, Brasil e em muitos outros países.

Mocsányi: “Quando puder escolher as tecnologias, o Brasil usufruirá dos benefícios que a engenharia genética proporciona”

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Transgênicos

A regulamentação da biotecnologia O uso extensivo da tecnologia significa ganhos financeiros diretos, mas é importante principalmente pela liderança da inovação tecnologica para a conquista e ampliação do mercado e seus benefícios sociais

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biotecnologia se encontra em moratória no Brasil desde a concessão da liminar da Justiça Federal ao ato da Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia, que autorizava, de forma condicionada, o cultivo e a comercialização de cultivares de soja contendo o gene RR. Um emaranhado legal conflitante vem impedindo, na prática, o desenvolvimento de pesquisas biotecnológicas, pela diversidade e complexidade das exigências impostas às atividades de C & T que envolvem biotecnologia. Entretanto, a face mais deletéria da moratória informal foi o crescimento acelerado do plantio de soja RR, ao arrepio da determinação judicial. Na prática, não existe legislação que proíba o plantio ou a comercialização de OGMs. A pendenga legal trata de uma disputa sobre a competência legal para autorizar o plantio de OGMs. A Lei 8974, que criou a CTNBio, confere à Comissão esta prerrogativa, a qual foi referendada pelo Decreto 1752, de 20/ 12/1995 (Artº. 2º., X - emitir parecer técnico prévio conclusivo sobre qualquer liberação de OGM no meio ambiente, encaminhando-o ao órgão competente). Entretanto, a ação movida pelo IDEC questionou esta disposição legal, entendendo ser necessária a realização de um EIA-RIMA.

REGULAMENTAÇÃO Política é a arte de administrar conflitos e posições aparentemente inconciliáveis. O titubeio legal ultrapassou a razoabilidade temporal e o Brasil precisa descer do muro – e com urgência - para conferir clareza e transparência às nossas práticas comerciais. Louve-se, portanto, a iniciativa do Governo de enviar ao Congresso uma proposta de legislação para consolidar a regulamentação da matéria. O Brasil está tornando realidade sua

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grande vocação agrícola, rumo à liderança do agronegócio internacional. Na condição de ator marginal, a posição dúbia do Brasil, no tocante aos OGMs, até poderia obter condescendência. Entretanto, com o nosso peso específico atual, e com as perspectivas futuras que se abrem, a comunidade internacional pressionará, veementemente, por uma definição oficial. Se hoje sofremos apenas com o constrangimento de “ser, não sendo”, ou “não ser, sendo”, brevemente enfrentaremos sérias barreiras comerciais até assumirmos, com transparência, se permitimos ou não o cultivo e a comercialização de OGMs no território nacional. Outro possível constrangimento será a cobrança, em foros internacionais, dos royalties devidos pela utilização de tecnologia protegidas. Tenho dito, e aqui reafirmo, que a moratória de cinco anos no plantio de OGMs no Brasil foi tempo mais do que suficiente para efetuar o balanço dos prós e dos contras, dos impactos ambientais e na saúde humana, dos ganhos de competitividade, dos custos e dos eventuais ganhos de qualidade nutricional e terapêutica de plantas transgênicas. Não condiz com a grandeza do agronegócio nacional postergarmos uma decisão sobre um tema crucial da produção agrícola.

REFLEXÕES A sociedade mundial discute o florescer de um novo paradigma tecnológico, pautado no uso intensivo da biotecnologia, que deverá desempenhar o mesmo papel que a Química e a Biologia tiveram, em passado recente. Os impactos dos avanços biotecnológicos equivalem à descoberta da eletricidade, aos quais, de alguma forma, toda a sociedade estará submetida. O Brasil pode ser o nó destoante dessa rede? Em tese pode, sem dúvida alguma.

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Dispomos de talentos e de capacitação científica para dar conta de mais esse recado. Com investimentos maciços nas equipes dos institutos agrícolas, médicos e farmacêuticos do Brasil, a sociedade sinalizaria que a busca de um caminho alternativo é a melhor saída para o nosso país. Nesse caso, por definição, será forçoso abandonar qualquer caminho que signifique a emulação dos avanços biotecnológicos ocorridos no exterior. O fulcro desta análise aponta para uma absoluta e completa reversão de atitude: ao invés da miséria e do abandono a que estão relegados a maioria dos institutos científicos do Brasil, será necessário manter um fluxo continuado e sustentável de bilhões de reais, anualmente, para que possamos trilhar o caminho do desenvolvimento ancorados em outro paradigma tecnológico.

CONTROLE SOCIAL O controle social se manifesta, de forma definitiva, através da legislação. O impulso natural do cientista é romper fronteiras, tornar o aparentemente insondável no paradigma dominante. Entrementes, enquanto cidadão, como progenitor e parte da consciência coletiva, o cientista também pugna por um debate comprometido e aprofundado sobre a velocidade que se deve imprimir ao avanço da ciência, os seus limites e os parâmetros de segurança que devem ser observados. Em artigo recente, lancei o libelo “as novas ferramentas biotecnológicas podem conferir ao Homem um poder que era exclusivo de Deus. Terá o Homem a mesma inteligência, ponderação, clarividência, parcimônia e bom senso em seu uso?” Com isso quero significar que o avanço científico deve ser acompanhado pelo debate de suas implicações e pela compreensão de seus impactos.

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DEBATE E SOFISMAS O debate deve ser lastreado em fatos e evidências irrefutáveis. Muito se comentava a respeito dos problemas enfrentados pelos exportadores, para colocar a soja RR no mercado europeu. Aproveitei a realização do II Congresso Brasileiro de Soja para introduzir essa discussão, em um foro onde não haveria espaço para sofismas, dada sua especialização e privilegiado nível de informação. Da discussão transpareceu que a Argentina, terceiro maior produtor de soja do mundo, tem toda a sua produção lastreada em cultivares transgênicas. No final da década de 90, a Argentina aumentou sua exportação de grãos e quadruplicou a de farelo de soja para a Europa, sem entraves comerciais, devido ao fato de exportar soja RR. A Europa também importa soja americana, com as mesmas características. Transpareceu também que o prêmio por soja certificada como não OGM, insinuado na mídia, ou é inexistente ou não cobre os custos da segregação, da certificação e do processo de rastreamento. Com esses exemplos quero mostrar que debater não significa lançar argumentos esparsos e insustentáveis, menos ainda prolongar ad aeternum uma discussão que se esgotou.

DOMÍNIO DE MERCADO Um debate sobrevive das lições que encerra. Tenho comigo uma máxima, que reza mais ou menos o seguinte: “Não importa o quão bom você era no paradigma anterior: a mudança de paradigma nivela os competidores na reta de largada”. Costumo usar como exemplo a derrocada da indústria suíça de relógios, movidos a corda manual, em virtude do ingresso avassalador da tecnologia do quartzo, francamente dominada pelos japoneses, fenômeno inadmissível para os suíços, até três anos antes da catástrofe. Jeffrey Sachs provocou, em um ensaio recente: “A ciência e a tecnologia foram cruciais no desenvolvimento dos países ricos. E elas serão vitais também na luta

contra a pobreza”. Os desdobramentos comerciais dos avanços científicos são os responsáveis diretos pela velocidade de apropriação tecnológica, por sua vez indutores da competitividade e da supremacia comercial. Ocorre que os avanços tecnológicos apresentam desdobramentos que vão além da remuneração do capital e da conquista de mercados. Novos medicamentos significam melhor qualidade de vida e as novas oportunidades comerciais também se desdobram em renda, emprego e progresso.

AGRONEGÓCIO Os impactos negociais e as oportunidades derivadas da biotecnologia são plurais. Entretanto, no Brasil, a discussão se encontra fortemente enviesada, pelo foco excessivo na soja RR. É mister que se abra o foco, analisando outras vertentes, como o tomate e a pimenta com controle do amadurecimento na prateleira, a batata e o tomate com menos água, grãos como milho e soja com maior teor de aminoácidos essenciais e outros nutrientes, café com menor teor de cafeína, milho e ervilha mais doces, melhoria da qualidade do óleo em oleaginosas e produção de plásticos biodegradáveis a partir de soja e fibras de canade-açúcar, até chegar as bio-fábricas, verdadeiras usinas de medicamentos. Assestando a luneta para os concorrentes, vemos que a área coberta por variedades transgênicas já atinge dezenas de milhões de hectares nos EUA e outros milhões na Argentina, Canadá, México, Austrália e China, cultivados com soja, milho, algodão, canola, batata e tomate. Este uso extensivo da tecnologia significa ganhos financeiros diretos. Porém, enorme importância deve ser conferida à vantagem competitiva da liderança na inovação tecnológica, para a conquista e ampliação do mercado e seus decorrentes benefícios sociais. Em suma, sobreviverá o agronegócio brasileiro à margem da corrente tecnológica dominante? Conseguiremos financiar o desenvolvimento de tecnologia

alternativa, essencialmente nacional? Essa é a discussão que interessa e ela deve balizar a política oficial do país.

PADRÃO DE CONSUMO Esperança de compatibilizar oferta e demanda de alimentos e fibras no futuro próximo, a discussão sobre OGMs deve ser encarada sob uma ótica multi-facetada. Por um lado, existe um relógio que não pára, o da demanda por produtos agrícolas, com fulcro no crescimento demográfico (países pobres e em desenvolvimento) e no aumento da renda (países ricos). Deveremos produzir alimentos para 10 bilhões de pessoas em 2025, 70% delas vivendo em países que hoje não possuem perspectivas de oferecer alimentação digna a seus cidadãos. Para efeito de raciocínio, aceite-se que europeus saciados rejeitam o consumo de alimentos transgênicos. Mais um mote para reflexão: alguém se lembrou de perguntar aos 70% de famintos se eles rejeitariam estes alimentos, como alternativa à fome?

COMPONENTE SOCIOLÓGICO O novo e o desconhecido assustam e a sua percepção não é uniforme na tessitura social. Enquanto os cidadãos liberais e empreendedores aplaudem os avanços e as mudanças, enxergando nelas apenas as oportunidades, o segmento mais conservador é refratário à inovação porque, na sua visão, representam apenas ameaças. O debate é levado ao paroxismo pela polarização. A maioria silenciosa, que forma sua opinião através do debate, busca separar o que é aceitável do inaceitável. O controle social, na sua expressão conceitual mais pura, é o resultado consensuado do debate. Como em temas apaixonantes consenso é utopia, busca-se a negociação, a composição ou, in extremis, prevalece a posição do agrupamento com maior poder de pressão política. No tema em tela, a consciência política adveniente do debate permitirá formular o controle social, a avaliação e a administração dos riscos, através das normas de biossegurança, sem aniquilar o futuro. Como a linha do tempo não admite moratória, e os nossos concorrentes diretos no agronegócio estão investindo pesadamente para liderar a corrida tecnológica, entendo que o investimento em C & T deve ser concomitante à discussão. Caso contrário, quando a sociedade encontrar seu rumo, nossos concorrentes estarão anos luz à nossa frente, uma vantagem científica e . comercial irrecuperável. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Plantio lantio de uma nova supersafra começando com boas expectativas Os produtores estão começando o plantio da nova safra neste mês de setembro, quando deveremos ver os produtores com as máquinas nos campos plantando o milho, feijão, arroz e, em alguns casos isolados, também a soja. Como estamos no período considerado como cedo, ainda temos de levar em consideração que poderemos ter frentes frias e, no centrooeste, ainda poderemos não ter chuvas constantes. Mas o importante é que as lavouras vêm com boa tecnologia e que os produtores estão conscientes de que antes de o mercado ser favorável, a produtividade tem que ser alta, tendo assim maiores chances de ganhos. Os primeiros indicativos vêm apontando que a nova safra pode chegar à marca das 120 milhões de t, tendo como carro chefe a soja, que vai para além das 55 milhões de t. Tudo caminhando para um bom ano comercial.

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MILHO

FEIJÃO

Fundo do poço passou O mercado do milho, que mostrou o fundo do poço no mês passado, agora já apresenta alguma reação nos indicativos, tendo como fontes de apoio o vencimento das Opções e, também, a exportação que vem levando grandes volumes para a Europa e Ásia. Havia indicativos de que a safrinha estaria fechando próximo das 12 milhões de t, ou seja, acima dos números divulgados no mês passado. Enquanto isso, mostra ganhos variando de R$ 1,00 a R$ 2,00 sobre os patamares que trabalhavam em agosto. A demanda interna neste mês de setembro estará forte, dando suporte para novos ganhos.

Redução das ofertas Neste mês de setembro estaremos vendo reduzir o volume de ofertas de feijão livre e também o fechamento da safra da Bahia, além de pouco produto irrigado saindo do Brasil Central. Com isso, deveremos ter pressão de alta nos indicativos, que podem recuperar parte das perdas ocorridas entre julho e agosto, quando se trabalhou dos R$ 50 aos R$ 70. Agora se espera que estes números fiquem para trás, e voltemos a ver indicativos de R$ 80 ou acima. Teremos poucos vendedores e boa demanda pelos consumidores.

SOJA

ARROZ

Poucos fechamentos futuros O mercado da soja tem mostrado baixo movimento dos produtores para fechar parte da safra futura. Os dados oficiais do começo de agosto davam conta que cerca de 600 mil t da safra nova já estavam registradas para a exportação em 2004, enquanto que no mesmo momento do ano passado o número era de 3 milhões de t. E como a safra estará crescendo, os produtores vêm deixando de fechar antecipado para acumular fechamento no futuro. Lembramos aos produtores que o forte avanço na safra que vem pela frente também trás uma obrigação ao setor de ter uma postura empresarial na comercialização, que vai envolver fechamentos escalonados. Sendo assim, não podem deixar tudo para a boca da safra e muito menos deixar produto para ser fechado às vésperas de vencimentos de dívidas, para não correr o risco de terem pouca liquidez e cotações baixas. Neste mês, deveremos ver os produtores aparecendo para fechar parte da soja disponível e, assim, quitar parte dos insumos que serão usados no novo plantio. O mercado continua atrelado à safra americana, que em agosto passou a maior parte do tempo com clima desfavorável,dando boas oportunidades de fechamentos.

TEC segura mercado O mercado do arroz estará vendo pou-

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ca pressão de compra pelas indústrias que estão se preparando para trazer 500 mil t de arroz importado nas próximas semanas, de outubro a dezembro, com a TEC reduzida para 4%, barateando, assim, o custo final do produto importado. Com isso, o mercado que trabalhou na casa dos R$ 35 em agosto pode estar com o seu limite de alta atingido e alguma pressão de queda podendo aparecer se o arroz importado chegar abaixo dos valores do nacional. As indústrias reclamam que o varejo tem segurado os ajustes do fardo, não tendo como bancar cotações em alta ao setor produtivo. O plantio da safra estará em andamento em parte do norte de Santa Catarina e também no sul do Mato Grosso do Sul. Com alguns produtores gaúchos da fronteira oeste também devendo plantar neste mês.

CURTAS E BOAS SOJA - teve correção dos números da safra americana pelo USDA em agosto para as 77,9 milhões de t, ficando muito abaixo das estimativas do mercado que apostavam em posições acima das 80 milhões de t. Os indicativos da nova safra mundial apontam para as 207 milhões de t contra as 196 milhões colhidas neste ano e o consumo passará para as 205 milhões de t. MILHO - os estoques mundiais foram reduzidos novamente para baixo e mostravam 78,7 milhões de t contra as estimativas anteriores que eram de 85,5 milhões de t em julho. A safra passada mostrava estoque de 98,1 de t. Estamos com os estoques mais baixos dos últimos 20 anos. O quadro será muito apertado em 2004. ALGODÃO - os produtores ficaram satisfeitos com o desempenho comercial da safra atual e já se movimentam para a safra nova, com grandes volumes sendo negociados na exportação, devendo haver melhora líquida na safra nova. EXPORTAÇÕES - o milho poderá embarcar 4 milhões de t neste ano, porque até agosto cerca de 2 milhões de t já estavam confirmadas nos portos. Enxugando boa parte do excesso da safra deste ano. TRIGO - o clima maltratou parte das lavouras em agosto, com fortes geadas pegando lavouras do Oeste e Norte. Muitas delas perderam qualidade, resultando em Triguilho e, com isso, deixando a safra nacional com expectativas de números menores, 4 milhões de t abaixo contra as 4,5 milhões esperadas anteriormente. Boa notícia para quem tiver trigo, que continuará mostrando boas cotações entre setembro e outubro. Lembramos que de novembro em diante entra a safra da Argentina, que poderá derrubar os indicativos por aqui.

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