06 Nova investida
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 12º andar Pelotas – RS 96015 – 300
Começa a segunda fase do projeto de erradicação do bicudo no Estado de Goiás
www.grupocultivar.com Diretor de Redação Schubert K. Peter
Cultivar Grandes Culturas Ano V - Nº 55 Outubro / 2003 ISSN - 1518-3157
Armas contra ferrugem
www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 98,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 15,00
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Assinatura Internacional: US$ 72,00 68,00
Conheça os fungicidas mais eficazes contra a ferrugem asiática e alguns métodos de controle
• Editor:
Charles Ricardo Echer • Consultor
Newton Peter OAB/RS 14.056
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• Coordenador de Redação
Rocheli Wachholz
Ferrugem do café
• Revisão
Como o Brasil controla esta doença, desde a sua descoberta em 1970?
Carolina Fassbender • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia _____________
• Gerente Comercial
Neri Ferreira • Assistentes de Vendas
Pedro Batistin Érico Grequi
Cruzando com o inimigo Cruzamento entre arroz transgênico e vermelho ocasiona resistência da planta daninha aos herbicidas
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• Gerente de Circulação
Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Jociane Bitencourt Luceni Hellebrandt • Expedição
Edson Krause • Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:
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3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
índice Diretas Goiás contra o bicudo - Fase II Novas cultivares de milho Controle químico e biológico do milho Estratégias da Bayer para o próximo ano Uso de genéricos na agricultura Associação Brasileira de Marketing Rural Armas contra a ferrugem asiática Monitoramento da ferrugem Variedades resistentes à ferrugem Nova raça de ferrugem da soja Transgênicos: Novo capítulo Pirataria na agricultura Coluna da Aenda Controle da ferrugem no café Arroz transgênico e vermelho Coluna Confaeab Agronegócios Mercado agrícola
Nossa capa 04 06 10 11 12 16 18 20 24 26 28 30 32 34 36 42 46 48 50
Foto Capa / Dirceu Gassen
diretas Epagri
Bio Spodoptera A Bio Controle está lançando a Bio Spodoptera, uma armadilha que fornece informação precisa da chegada da praga na lavoura. Conforme explica Mário Benezes Neto a armadilha pode ser usada na cultura do milho, algodão, pastagens, arroz, amendoin, cana-de-açúcar, soja, sorgo, trigo, batata e tomate. Johan Weichanbach (esq.)
Bayer Durante o XIII Congresso Brasileiro de Sementes, o gerente da linha de produtos para tratamento de sementes da Bayer, Johan Weichanbach, comentou o aumento do tratamento de sementes, realizado pelos produtores. “O produtor está cada vez mais ciente de que a melhor maneira de buscar o sucesso da safra é iniciar o plantio com sementes protegidas”, garante.
Feijão A Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS) lançou na última Expointer a nova cultivar de feijão preto – BRS Expedito. Como vantagens a cultivar apresenta resistência a nove raças de antracnose, bons rendimentos na lavoura e na panela, além de um valor nutricional superior, com 29% de proteína-bruta, conforme testes realizados na Universidade Federal de Santa Maria.
Fersol: entre as melhores do Brasil A Fersol, indústria de defensivos agrícolas de São Paulo, figura entre as 40 melhores empresas para a mulher trabalhar no Brasil, segundo levantamento da revista Exame publicado no Guia das Melhores Empresas para Você Trabalhar 2003. A prática da diversidade, que prioriza a contratação de mulheres, pessoas portadoras de talentos especiais, afrodescendentes e minorias discriminadas, também garantiu à Fersol um lugar entre as 20 melhores empresas para se trabalhar na categoria entre 100 e 199 colaboradores.
Legalização de soja transgênica
Peter Ahlgrim
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A legalização do plantio de soja transgênica (RR) não deve influenciar decisivamente os negócios da Bayer no Brasil. O diretor de marketing da empresa, Peter Ahlgrim, garante que estratégias já foram elaboradas para aumentar a venda de outros produtos para a cultura, reduzindo o possível impacto negativo com a queda na venda de herbicidas. Ele considera inevitável o uso de variedades geneticamente modificadas no país.
Com os olhos atentos na boa fase da agricultura brasileira e na ampliação da área com o cultivo de algodão, a Basf está registrando novo produto para a cotonicultura que, em breve, estará à disposição no mercado. Para o diretor de Negócios da Divisão Agro no Brasil, Maurício Marques, e o vice-presidente Agro para a América Latina, Marcus Heldt, a produção agrícola nacional está tomando o rumo certo para ser líder na produção mundial de grãos.
Doenças Foliares do Algodoeiro é o título do livro de Marcos Massamitsu Iamamoto, lançado durante o IV Congresso Brasileiro de Algodão. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (16)3203-3326.
Marcus Heldt e Maurício Marques
Nova Linha
Fernando Rotondo
Marcos Massanitsu
Algodão
Basf para algodão
Silagem A Syngenta Seeds, através da marca NK, lança a geração Silus, o primeiro milho híbrido com tratamento específico para silagem. A geração Silus une qualidade bromatológica e alta produtividade para a alimentação do gado leiteiro. A empresa está oferecendo suporte técnico aos produtores, ajudando-os quanto à melhor forma de trabalhar com o milho para silagem. “O criador de gado leiteiro deve ser um produtor de milho muito mais atento do que o de grãos se quiser obter melhores resultados”, justifica o Coordenador do Projeto Silus, Rogério Miyasawa.
Benezes e Roda
A Epagri lança a nova cultivar de feijão SCS 202 Guará, originada da hibridação entre a cultivar carioca e a linhagem FT 8777. A nova Cultivar tem como características alto potencial produtivo, porte ereto tolerante à antracnose e ampla estabilidade e com grãos característicos do grupo carioca.
A Sipcam Agro inaugurou em Uberaba uma nova linha de formulação de Concentrados Emulsionáveis (CE) e já começou suas atividades. A linha de produção, localizado no Distrito Industrial III, será responsável pela fabricação do fungicida Dormak 100 CE para a soja. A nova unidade será concluída em 2004 e vai produzir formulações de grânulos dispersáveis em água (GRDA), de baixo impacto ambiental, para o mercado brasileiro de defensivos agrícolas. “É parte da estratégia do grupo, que busca investir cada vez mais no Brasil”, explica o diretorsuperintendente da Sipcam Agro do Brasil, Fernando Rotondo.
BioFach Rio de janeiro foi palco da primeira BioFach, feira internacional de produtos orgânicos que ocorre anualmente em Nuremberg na Alemanha. O evento teve por objetivo analisar e incentivar o desenvolvimento dos mercados orgânicos no Brasil e no continente latinoamericano.
Check Folha A Microquímica Indústrias Químicas Ltda desenvolveu o programa Check Folha, que é um programa de diagnose foliar (análise do solo usando a planta como solução extratora), para avaliar o estado nutricional das plantas. O Check Folha possui um banco de dados com um grande número de amostras foliares. Depois de interpretar os dados colhidos, apresenta os resultados na forma de relatórios e gráficos, incluindo as recomendações e o índice de Balanço Nutricional, que indica como está o equilíbrio nutricional da amostra. Atualmente já existe o Check Folha para a soja, feijão e milho e a Microquímica está desenvolvendo o programa para trigo e algodão.
Sementes
Loureiro
Gramado sediou de 22 a 26 de setembro o XIII Congresso Brasileiro de Sementes, que teve a participação de mais de 800 pessoas. Além das diversas palestras e workshops, 860 trabalhos foram apresentados em forma de pôsters. Segundo o presidente do evento, Antonio Eduardo Loureiro da Silva, o evento superou as expectativas de público e de qualidade dos debates.
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Lançamento A Agrocete está lançando o Grap Mont NG, que faz parte de uma nova geração de fertilizantes foliares. O produto possui tecnologia de última geração, apresentando formulação mais complexa e de maior absorção pela planta, de acordo com o Diretor de Produção, Marcelo Giroldo.
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Charles Echer
Algodão
Nova Nova investida investida A
primeira fase do Plano Estratégico de Controle do Bicudo em Goiás está em vias de ser concluída. E com resultados positivos largamente festejados. Afinal, os produtores que adotaram o Plano colheram entre 2,5% e 23% a mais do que na safra passada. Outras estimativas indicam que quem não adotou o programa de controle teve prejuízos superiores a 10%, devido ao bicudo. A nova fase do projeto, a vigorar na safra 2003/04, vem com duas novidades significativas: o armadilhamento e o mapeamento das lavouras. Ambas têm por razão indicar o nível de infestação do bicudo nas plantações. Esse nível, por sua vez, indicará a freqüência das aplicações de inseticidas necessárias a partir do surgimento dos botões florais. Com o controle do nível de infestação, o que se pretende é chegar, em Goiás, a medidas de controle do bicudo de aplicação estadual mas com atitudes de caráter regional. A dimensão do êxito para a coordenação até aqui alcançado pelo Plano Estratégico surpreendeu. Não esperavam tais resultados antes de dois ou três anos. O sucesso foi devido à determinação e à competência dos produtores e das autoridades goianas em adotar as medidas necessárias ao controle da praga na maioria das áreas.
Goiás entra na segunda fase de controle do bicudo, depois de festejar os resultados alcançados na primeira etapa, onde a produtividade teve um aumento que variou entre 2,5% e 23%
FASE 1 Em outubro do ano passado, o Plano Estratégico foi implantado às vésperas das primeiras operações de plantio da safra 2002/03. Na ocasião, não havia tempo disponível para ações que levassem em conta os diversos níveis de infestação das lavouras goianas de algodão. Optou-se, assim, por adotar medidas emergenciais (objetivas e simplificadas) a serem seguidas por todos os cotonicultores que aderissem (voluntariamente) ao programa. Foram seis as medidas sugeridas para as áreas com registro de infestação na safra anterior: • semeadura concentrada num período de 30 a 40 dias, de acordo com o calendário agrícola do Estado – razão da medida: estágios de desenvolvimento uniformes facilitam o controle da praga; • aplicações de inseticidas nas bordaduras (mínimo de 30 metros de largura) a partir do estádio V2 (segunda folha com 06
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Além dessas medidas emergenciais, de aplicação geral, o Plano Estratégico estabeleceu medidas complementares, indicadas para casos específicos, tais como: • introdução de culturas-iscas, ou seja, pequenas plantações de algodão instaladas com alguma antecedência em relação às plantações principais e localizadas nas áreas mais próximas possíveis da rota migratória do bicudo, com o objetivo de atrair a praga para ali, facilitando o seu combate; • catação manual das maçãs e dos botões florais e caídos, com o objetivo de reduzir ao máximo as condições de reprodução do bicudo nas primeiras gerações; • escolha de variedades mais precoces e de maturação uniforme, para evitar estágios diferenciados de crescimento das plantas em uma mesma lavoura ou vizinhança, condi-
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primeira maçã firme, a intervalos de 5 dias – razão da medida: combater a infestação inicial da zona periférica da lavoura, evitando propagação do bicudo para as áreas mais centrais dos talhões; • três aplicações de inseticidas a partir do surgimento dos primeiros e pequenos botões florais (estádio B1), em áreas tradicionalmente infestadas, a intervalo máximo de 5 dias entre os tratamentos – razão da medida: sendo o botão floral o ambiente propício para o processo de reprodução do bicudo. Estas aplicações têm por objetivo reduzir ao máximo a primeira geração da praga, ou seja, a chegada e/ou a instalação dos referidos insetos (não controlados) nas bordaduras; • monitoramento constante da lavoura, e adoção do nível de controle de até 5% de botões florais atacados pelo bicudo. Este nível determinará a necessidade de reaplicação de inseticida para a praga – razão da medida: sendo o nível de infestação superior a 5%, o dano econômico é maior que o custo de controle. Os 5% de botões florais atacados são o limiar máximo para prevenir os danos econômicos; • três aplicações de inseticidas quando for identificado o primeiro capulho aberto (cut-out = fase que a planta finalmente pára seu crescimento vegetativo), a intervalo máximo de 7 dias entre elas, e se o nível de dano se aproximar de 5% de botões florais atacados – razão da medida: medida a ser aplicada a partir do nível de dano econômico de 5% ou mais, pelas mesmas razões já citadas. Esta medida contribui para a proteção da carga já formada e cria condições para a formação da produção dos ponteiros da planta; • destruição das soqueiras até no máximo 15 dias após a colheita – razão da medida: os restos culturais não destruídos tendem a rebrotar e, dessa forma, transformam-se em locais de reprodução/sobrevivência do bicudo (e outras pragas e doenças) entre uma safra e outra. MEDIDAS COMPLEMENTARES –
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...2,5 cm de comprimento) e até a fase de
Danos superiores a 5% em botões florais exigem nível de controle
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ção que facilita a propagação da praga; • aplicação de inseticida no final de safra, na fase de maturador, desfolhante e/ou na destruição de soqueiras, visando reduzir a população da praga para a safra seguinte.
O QUE MUDA NA FASE 2 A instalação das armadilhas de feromônio nas lavouras, pelo menos 63 dias antes do início do plantio, é a principal novidade para a safra 2003/04 do Plano Estratégico. A função do armadilhamento com o feromônio é atrair os bicudos refugiados em regiões próximas às plantações, antes da germinação do algodão. Essa técnica detectará se existe bicudo na área, sua quantidade e onde está mais infestado, sendo possível tomar atitudes diferenciadas em função da infestação mapeada pelo armadilhamento. Com as armadilhas, será possível fazer um levantamento dos níveis de infestação nas áreas (zonas) próximas a cada armadilha de captura. Essas áreas (talhões, fazendas, lavouras) serão, depois, mapeadas e, conforme seu nível de infestação, identificadas com uma cor específica. Assim: • zona vermelha – área onde a captura média foi superior a 2 bicudos/armadilha/ semana; • zona amarela – área onde a captura média foi de 1 a 2 bicudos/armadilha/semana;
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AÇÕES DIFERENCIADAS
A principal novidade é a instalação de armadilhas de feromônio, possibilitando atitudes diferentes para cada infestação
• zona azul – área onde a captura média foi de zero a 1 bicudo/armadilha/semana; • zona verde – área onde a captura foi de zero bicudo/armadilha/semana. Para efeito de cálculo de média (estatístico), foi estipulado que as armadilhas devem ficar no campo durante 9 semanas (distanciadas de 150 a 300 metros uma da outra), sendo que a observação das capturas deve ser feita a cada 7 dias. O resultado final é a média aritmética das capturas feitas nas 9 semanas. Daí a expressão dos resultados na unidade “bicudos por armadilha por semana”.
POR QUE MAPEAR A iniciativa de se definir zonas com diferenciados níveis de infestação mexe com o 3o item do conjunto de 6 medidas emergenciais para as regiões infestadas e indicadas pelo Plano Estratégico para a safra 2002/ 03. A referida medida define em até 3 aplicações de defensivos na fase do surgimento dos primeiros botões florais do algodão. Porém, com mais tempo para o planejamento de médio e longo prazos, o Plano Estratégico para a safra 2003/04 definiu critérios diferenciados para as aplicações em período de formação do botão floral. Critérios baseados, justamente, em diferentes níveis de infestação das lavouras. Essa é a razão do zoneamento.
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As quatro cores que distinguirão os níveis de infestação das diferentes áreas (zonas) de uma lavoura de algodão também determinarão a freqüência da aplicação de defensivos. Assim: • para a zona vermelha – 3 aplicações em área total de inseticidas a partir do surgimento dos botões florais, em intervalos de 5 dias entre uma e outra aplicação; • para a zona amarela – 2 aplicações em área total de inseticidas a partir do surgimento dos botões florais, em intervalos de 5 dias entre uma e outra aplicação; • para a zona azul – 1 aplicação em área total de inseticida a partir do surgimento dos botões florais; • para a zona verde – nenhuma aplicação de inseticida em área total na emissão do primeiro botão floral. É importante ressaltar que as demais medidas emergenciais continuam em vigor. Assim, continuam valendo a concentração das operações de plantio, em todas as lavouras goianas, em 30 a 40 dias a partir da data estipulada pelo calendário agrícola regional; as aplicações de inseticidas nas bordaduras a partir do surgimento da segunda folha do algodoeiro e até a consolidação da primeira maçã firme da planta, com intervalo entre uma aplicação e outra de 5 dias; o monitoramento constante da lavoura e adoção do nível de controle de até 5% de botões florais atacados pelo bicudo como indicador de reaplicação de inseticida em área total; as três aplicações de inseticidas quando for identificado o primeiro capulho aberto, com intervalos de 7 dias entre um e outro, desde que o nível de dano se aproxime dos 5%, e a destruição das soqueiras até no máximo 15 dias após a colheita. Também continuam em vigor as medidas complementares, tais como introdução de culturas-iscas, catação manual das maçãs e dos botões florais caídos, escolha de variedades uniformes e tratamentos de final de safra (no maturador/desfolhante ou destruição de soqueiras).
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PRÓXIMA META DO PLANO Com a implementação dessas novas medidas, busca-se diminuir ainda mais o número de aplicações de inseticidas por safra, ficando garantidas, porém, as boas produtividades. Para vencer o bicudo é necessário que sejam tomadas atitudes de caráter regional, coletivas, cooperativas, com ampla adesão do poder público, produtores e empresas, visando manter a praga em populações baixas. E assim acontecendo, ganhará a economia, o meio ambiente, os produtores e a sociedade. A Cadeia Produtiva do Algodão de Goiás é integrada pelo Fialgo, Associação Goiana dos Produtores de Algodão, Fundação GO, Embrapa, Faeg, Agência Rural, Governo do Estado de Goiás e Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abas. tecimento. Paulo De Grande, UFMS, Walter Jorge, Iapar e Sérgio Schafer, Promoalgo
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Tabelas mostram as características agronômicas e reação das cultivares às principais doenças na cultura do milho da empresa Sementes Dow AgroSciense
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a edição número 53 da Revista Cultivar foi publicado a relação das cultivares de milho que estão sendo comercializadas na safra 2003/04. Infelizmente, ocorreram uma série de incorreções nas características agronômicas e principalmente na reação às doenças das cultivares da Empresa Sementes Dow AgroSciences. O objetivo desta nota é corrigir estes erros e dar aos agricultores informações corretas para que melhor se orientem na escolha das cultivares que pretendem plantar. Na tabela 1 são apresentadas as características agronômicas e na tabela 2 as reações das cultivares às principais doenças que ocorrem na cultura do milho. Das 233 cultivares de milho disponibilizadas nesta safra, 17 são comercializadas pela Dow AgroSciences, sendo a maioria hí-
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bridos simples, modificados ou não, e híbridos triplos. Duas destas cultivares são destinadas a uso especial. A CE 03 é um milho destinado à indústria alimentar por produzir amido nobre e o DO 04 é destinado ao segmento industrial de milho doce. De acordo com a Dow AgroSciences, exceto a cultivar 8501 que é semiprecoce e as cultivares 2A120 e 2B150 que são hiperprecoces, as demais são todas classificadas como precoce. Deve ser comentado que a classificação hiperprecoce não é normalmente utilizada pelas demais empresas produtoras de sementes de milho e nem na indicação de cultivo e disponibilidade de sementes das cultivares de milho habilitadas no Zoneamento Agrícola - Ano 2003/04. As cultivares superprecoces apresentam exigências térmicas correspondentes a 780 a 830 graus-dias (G.D.). Essas exigências ca-
codcultivar cultivar 2A120 2B150 91 2C577 92 2C599 93 657 94 766 95 8330 96 8392 98 8420 99 8460 100 8480 101 8501 102 8550 103 9560 104 CO 32 106 CE 03 107 DO 04
tipo HS HS HS HS HSm HSm HT HS HS HSm HS HT HT HS HT HSm HT
codresistência
cultivar
fusariose (Colmo)
P. sorghi
physopella
polysora
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 105 106
2A120 2B150 2C577 2C599 657 766 8330 8392 8420 8460 8480 8501 8550 9560 CO 32 CE 03 DO 04
MR MS MR MR MR MS MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR
MR MS MR MR MR MR MR MS MS MS MS MR MR S MR MR MR
MS MS MS R MS MS MS MS S MS MS MR MS MR MR MS MS
S MS MS R MR MR MS MS MS MS MS R MR MR R MR MR
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ciclo sterm plantio uso cor HP 790 C G AL HP 800 C G AM/AL P 825 C/N/T/S G/SILAG AL P 830 C/N/T/S G AL P 841 C/N/S G AL P 815 C/N/T/S G/SILAG AL P 830 C/N/T/S G AL P 820 C/N/T/S G/SILAG AL P 850 C/N/S G AL P 840 C/N/T/S G AL P 85O C/N/S G AL SMP 875 C/N/T/S G/SILAG AL P 840 C/N/T/S G AL P 825 C/N/T/S G LR P 848 C/N/T/S G LR P 834 C/N/T IND.AMIDO AM P 820 C/N/T/S Conserva LR
densidade 60-65 55-62 50-55 55-60 50-55/45-40 50-55/45-40 50-60/40-45 50-55/40 50-60/40-45 50-60 50-55/45-45 50-55/45-50 55-60/45-50 55-60/50 55-60/50-55 50-55 45-55
lóricas se referem ao comprimento das fases fenológicas compreendidas entre a emergência e o início da polinização. As cultivares 2A120 e 2B150 apresentam exigências calóricas de 790 e 800 G.D., respectivamente. Uma análise mais profunda mostra que nem sempre o ciclo das cultivares de milho são classificados, sistematicamente, levando em consideração somente a exigência calórica, daí estas variações. Com relação à reação às doenças, a tabela 2 mostra o comportamento das cultivares da Empresa Sementes Dow AgroSciences, inclusive em relação à Cercospora, uma importante doença, principalmen. te em sistemas de plantio direto. José Carlos Cruz, Embrapa Milho e Sorgo
textura acamamento altespiga altplanta regiao SMDURO R 1,10 2,15 RS, SC, PR, SP, MS e MG SMDURO MR 1,10 2,15 RS, SC, PR, SP, MS e MG SMDENT MR 1,25 2,25 Brasil (exceto RS e SC) SMDURO R 1,20 2,15 Brasil SMDURO R 1,30 2,30 Brasil SMDURO R 1,20 2,10 Brasil DURO MR 1,10 2,05 SUL e sul de SP e de MS SMDURO MR 0,95 2,00 SUL e MS,MT,SP,RO DURO R 1,05 2,00 Brasil (exceto RS e SC) DURO R 1,15 2,05 RS, SC, PR, SP, MG, RJ, ES, MS, MT, GO, DF e TO. DURO R 1,10 2,00 Brasil SMDURO R 1,25 2,25 Brasil DURO MR 1,08 2,05 Brasil (exceto RS e SC) SMDURO R 1,10 2,00 Brasil SMDURO R 1,10 2,10 Brasil DURO ceros R 1,30 2,10 SUL,CO e BA,MG,SP,TO TENRO doce R 1,30 2,40 SUL,CO e MG,SP,BA,RJ,MA,PI,TO
phaeospheria E. turcicum S S R MR S MR MR MS MR MR MS MS MR MR MR MR MR
MR MR MS MR MR MR MR MR S MS MS MR MR MR MR MR MR
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B.maydis
cercospora
colmo
MR MR MR MS MR MS MR MR MR MR MR MR MR MS MR MR MR
S S MR MS MR MS MS S MS MS MS MR MS MR MR MS MS
MR MS MR MR MR MR MS MR S MS MS MR MS MR MR MR MR
sanidade de Grãos (Fusarium sp) MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR
empresa Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences
empresa Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences Dow AgroSciences
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A correta combinação entre tratamento químico e biológico no milho traz diversas vantagens ao produtor e ao meio ambiente
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agricultura limpa emprega uma integração de tecnologias socialmente desejáveis, tecnicamente limpas, ambientalmente sadias e economicamente duráveis ou sustentáveis. Um projeto de pesquisa realizado com a cultura do milho na Embrapa Trigo em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, tem a agricultura limpa como seu principal objetivo, no manejo das doenças através do tratamento de sementes deste cereal. As sementes na cultura do milho no Brasil são atacadas por vários fungos patogênicos. As perdas em conseqüência desses patógenos, embora não determinadas, são comumente reconhecidas. Em consequência, o tratamento de semente de milho com fungicidas é uma prática rotineira contra esses parasitas. Vários fungicidas têm sido investigados na Embrapa Trigo em Passo Fundo (RS), contra os principais fungos de sementes de milho e o produto Maxim XL [ Fludioxonil (2,5% i.a) + Metalaxyl (1,0%)] tem sido um dos mais eficientes. Há necessidade do emprego de produtos biológicos, que sirvam como alternativa
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para o controle químico. A tática de controle de doenças através da microbiolização de sementes também tem sido estudada pela Embrapa Trigo em Passo Fundo com controle de vários fungos, como promotora de germinação e crescimento de plantas de milho. Uma bactéria denominada Paenibacillus macerans (Embr. 144) é um bioprotetor isolado no Brasil e apresenta bons efeitos contra os fungos das sementes. Entretanto, o manejo integrado, utilizando-se a combinação do controle biológico e químico das sementes pode apresentar vantagens significativas no controle dos patógenos das sementes de milho, melhorando a eficiência de controle e diminuindo a poluição do ambiente. Os tratamentos que continham o bioprotetor P. macerans ou fungicida (Maxim XL), ou ambos, reduziram significativamente o nível de infecção dos patógenos nas sementes, destacando-se os tratamentos que continham ambos, os quais eliminaram todos os patógenos de sementes de milho, demonstrando que a interação entre o bioprotetor e o fungicida apresentou benefícios. O mais interessante é que quando as doses do bioprotetor e do fungicida foram
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reduzidas à metade, o nível de controle dos fungos do milho foi superior ao nível de controle do bioprotetor e do fungicida isoladamente com as doses normais e igual à combinação nas doses normais. Todos os tratamentos aumentaram significativamente a germinação de sementes e o rendimento de grãos de milho em relação à testemunha. Entretanto os efeitos foram superiores quando houve a combinação dos tratamentos do bioprotetor com o fungicida em quaisquer dosagens testadas, inclusive na metade das doses normais. Por esse motivo, os resultados deste estudo apresentamse inovadores e promissores, e demonstram que o bioprotetor P. macerans (Embr. 144), em associação com Maxim XL, é uma alternativa ao tratamento convencional de sementes de milho. A combinação desse bioagente com o produto Maxim XL poderá ter importante impacto na redução do uso de fungicidas, para alcançar a agricultura . limpa e proteger o ambiente. Wilmar Cório da Luz, Embrapa Trigo
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Bayer assume a liderança
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assado pouco mais de um ano da aquisição da Aventis, a alemã Bayer CropScience preocupa-se em mostrar ao mercado sua quase imbatível liderança. Verdade que a vizinha Syngenta permanece na ponta em vendas totais no segmento agrícola, mas em Monheim, cidade próxima a Leverküssen e sede da Bayer CropScience, respira-se o ar da vitória. A empresa alemã assumiu a ponta quando se considera apenas as vendas de produtos fitossanitários e deve conseguir o primeiro lugar total, incluíndo sementes, neste ou no próximo ano, adianta o seu presidente mundial, Jochen Wulff. A estratégia é simples: tecnologia. Até 2006, a Bayer lança de dois a três produtos por ano, um passo gigantesco, pois se tratam de produtos com princípios ativos distintos, não de novas formulações ou mudanças de embalagens. Num mercado onde as diferenças entre os produtos parecem diminuir a cada ano, onde os genéricos crescem em vendas amparados pelo menor custo e eficiência conhecida, onde a pirataria diminui o incentivo para investir, o caminho do crescimento para a empresa é a inovação. A Bayer CropScience será a primeira do setor no mundo e criará novos pa-
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drões para medir a performance do negócio, explica Wulff. Analistas estimam o crescimento anual do setor de proteção vegetal ao redor de 2%; a Bayer planeja dobrar esse número. Melhor, até 2006, a margem de lucro da companhia será de 29% - antes de computar juros, impostos, depreciação e amortizações. No primeiro trimestre deste ano foi de 27%.
Os números se explicam em função do cenário mundial, com grande competição e demanda por retorno. Nesse contexto, uma nova grande aquisição é esperada pela diretoria da Bayer, que não nega textualmente sua participação, embora direcione as atenções para as quatro empresas imediatamente abaixo dela em volume mundial de vendas. Fusão ou aquisição, ninguém fala. Em 1990, 13 empre-
Robôs ajudam os químicos a produzir e testar novos produtos; o sistema funciona 24 horas sem presença humana
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sas disputavam a maior parte do mercado mundial de defensivos. Hoje, seis delas representam 80% das vendas.
AVANÇO NO BRASIL Este ano ficará na memória dos colaboradores da Bayer CropScience no Brasil como um dos períodos de maior crescimento da empresa. Seu presidente no Brasil e Cone Sul, Marc Reichardt, projeta crescimento na ordem de 15%, pois a empresa conseguiu eliminar os estoques dos revendedores, possibilitando novas vendas. Como acontece em nível mundial, a Bayer CropScience é a líder no Brasil em vendas de defensivos, mas permenece atrás da Syngenta quando se considera as vendas de sementes. Novos produtos ajudarão a aumentar seu faturamento. Além do acaricida Envidor, já lançado, até dezembro estarão disponíveis aos consumidores os fungicidas Sphere e Certus. Os negócios de sementes da empresa parecem estar em crescimento também. Reichardt espera aumento nas vendas do algodão Fiber Max, detentor de 30% do mercado, “por causa da sua qualidade de fibra e produtividade”, e do milho híbrido A2555, “resistente a diversas doenças e muito produtivo”. Falando em sementes, a Bayer está preparada para o mercado de biotecnologia, embora ainda não tenha produtos disponíveis no Brasil devido à discussão sobre a possibilidade ou não de plantio. Apenas para ilustrar a capacidade da empresa, o presidente explicou que a Bayer é a única que detém genes especiais para as culturas de milho, soja, algodão, arroz (variedade), arroz (híbrido) e outros. Nenhum dos possíveis concorrentes tem um portfólio tão completo. As que chegam mais perto são a Syngenta e a estatal Embrapa.
DESAFIOS No caminho do desenvolvimento da empresa há problemas graves a serem contornados. Talvez o principal, no momento, seja o crédito agrícola. Considerando o crédito colocado à disposição dos produtores na safra 86/87 e na 02/03, o volume de capital encolheu 2,5 vezes. Essa transformação do cenário fez com que muitas propriedades dependam do financiamento das empresas de produtos fitossanitários, que, agora, começam a trilhar o caminho inverso, reduzindo o crédito ao produtor. Reichardt demonstra a impossibilidade de as empresas continuarem financiando a safra, pois embora pertençam a companhias multinacionais, cada empresa é considerada como unidade independente pela matriz.
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Fotos Bayer
Milhares de substâncias são testadas automaticamente, aumentando a velocidade de desenvolvimento de produtos
No Instituto de Fungicidas, a empresa possui equipamentos modernos para teste cujo valor ultrapassa 1 milhão de Euros
“Compramos os princípios ativos e outras matérias-primas no exterior”, comenta. O pagamento, claro, é feito em eu-
ros e em um prazo curto, à vista ou trinta dias. Para receber dos produtores em, digamos, seis meses, a empresa precisa captar recursos no mercado, pagando elevadas taxas de juros e correndo riscos com inadimplência. Para manter a saúde financeira da empresa, melhor sair gradualmente do ramo de crédito. A instável situação cambial e a falsificação de produtos também desafiam a capacidade gerencial dos executivos da empresa.
A EMPRESA Para a Bayer CropScience, o Brasil pertence à unidade de negócios do Cone Sul, onde também estão a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e a Bolívia. A região representa 12% dos negócios mundiais da empresa e o Brasil, sozinho, atinge 9%, sendo o terceiro mercado mais importante, atrás de Estados Unidos e França. A expectativa é ultrapassar a França nos próximos cinco anos. Com apenas 70% da capacidade das suas indústrias na região ocupada, a Bayer aposta também na capacidade de crescimento com poucos investimentos, melhorando sua rentabilidade. No Brasil, a empresa possui duas indústrias, em Belfort Roxo (RJ) e em Portão (RS). Existem mais duas na Argentina, em Zarate, próximo a Buenos Aires. A Bayer CropScience está dividida em
Marc diz que a Bayer CropSciense terá excelente crescimento no mercado brasileiro graças a novos produtos
três segmentos: proteção vegetal (herbicidas, inseticidas, fungicidas e tratamento de sementes), BioCiências (melhoramento vegetal) e Ciência Ambiental (voltada ao controle de pestes e proteção de plantas em setores não-agrícolas, como saúde pú. blica e jardinagem). SP
Milhares de substâncias testadas estão armazenadas em uma “biblioteca”, mantida a -20ºC, prontas para uso
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Genéricos
Jacto
Alternativa barata Com boa eficácia no controle de pragas, doenças ou plantas daninhas, os genéricos têm menor custo, estimulam a concorrência e reduzem o preço final da produção
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os últimos anos, houve uma redução drástica no número de empresas produtoras/ formuladoras de defensivos agrícolas. Os motivos desta redução são os mais variados, mas principalmente, estão relacionados com os avanços tecnológicos que exigem pesados investimentos e baixo retorno do capital investido. As fusões e incorporações ocorridas no final do século XX trouxeram ao mercado produtos oligopolizados e, em determinadas situações, uma única empresa detém o monopólio de ingredientes ativos para uma praga, doença ou planta daninha. O mercado brasileiro de agrotóxicos foi estimado em 2,3 bilhões de dólares, no ano de 2001, levando-se em consideração as empresas associadas ao Sindag, Andef e Aenda, em número de 45, das quais quatro(4) delas abocanham
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62% do mercado e dez(10) ocupam 93%. (Aenda Opinião, agosto 2002). A agricultura moderna precisa dos defensivos agrícolas a preços compatíveis para que a produção nacional exportada possa competir no mercado internacional, trazendo divisas para o país se desenvolver sem penalizar o consumidor nacional. A reformulação do decreto 98816/ 90, que regulamentou a lei 7802/89, trouxe à luz, no decreto 4074/2002 (nova regulamentação da citada lei), pontos não previstos ou mesmo parcialmente focados na regulamentação anterior e, entre estes, a ocorrência de produtos genéricos para a agricultura. Neste enfoque, o decreto 4074/02 cria a figura do defensivo genérico, onde o dossiê do ingrediente ativo, produzido ou formulado por outra indústria, não necessita todos os testes de um pro-
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duto novo, mas tão somente aqueles de equivalência, entre os quais os qualiquantitativos das substâncias químicas presentes no ingrediente ativo, impurezas e outros componentes do produto final. Existe no mercado uma série de moléculas, cujas patentes são de domínio público e qualquer indústria pode produzi-las sem o pagamento de royalties. Estas moléculas e seus produtos, ainda com boa eficácia no controle de pragas, doenças ou plantas daninhas formam o grupo dos produtos genéricos. Com o atual conhecimento tecnológico, especialmente na área de formulações, estes produtos chegam até o agricultor a preços razoáveis e com menor periculosidade do que os originais de 20 ou 30 anos atrás. A existência de produtos genéricos estimula a concorrência e reduz o pre-
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ço final pago pelo agricultor, fazendo com que tenha custos de produção menores e a produção possa chegar ao mercado com valores mais baixos. A agricultura brasileira necessita de insumos com preços adequados para que possa ocorrer aumento da produção com menores custos e o consumidor possa adquirir produtos de qualidade pagando menos. Se por um lado a presença de genéricos colabora para a existência de defensivos agrícolas com preços menores, a informação técnica e o treinamento dos aplicadores não podem ser deixados de lado, quando se quer uma produção elevada com qualidade. A presença dos genéricos tem colaborado com o aumento da produção nacional, reduzindo custos e trazendo competitividade a muitos cultivos, levando mais renda ao campo e diminuindo o êxodo rural. A maior ou menor presença deste tipo de insumo agrícola está na dependência das decisões burocráticas dos diferentes órgãos federais, estaduais e municipais que, dentro de sua esfera de
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ação, podem favorecer ou dificultar sua ocorrência no mercado. Algumas decisões preliminares, especialmente na esfera federal, têm dificultado a implantação de indústrias interessadas na sua produção e/ou formulação, diminuindo a concorrência no mercado e conseqüentemente aumentando os custos de produção, devido à aquisição de produtos novos, lançados recentemente, de valor muito mais elevado. Em alguns Estados, a burocracia administrativa restringe a presença deste grupo de defensivos, exigindo dossiês completos, como se fossem novas moléculas; ora isto é muito oneroso e demorado, sendo que muitas empresas não possuem capital e tempo para tal investimento. Os genéricos são parte importante dos insumos modernos postos à disposição da agricultura nacional e somente quando puderem ser utilizados de maneira adequada e dose correta vão auxiliar no incremento da produção nacional, tanto na quanti. dade como na qualidade. Dionísio Link, UFSM
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Charles Echer
Segundo Link, além dos genéricos, uma produção elevada depende da informação técnica e do treinamento dos aplicadores
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Mercado
Planejar para crescer Seminário da Associação Brasileira de Marketing Rural avaliou a cadeia produtiva brasileira e o seu potencial de crescimento
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Brasil festeja este ano a safra recorde de 122 milhões de toneladas de grãos. Mas deverá colher 127 milhões na safra de 2006 e nada menos do que 150 milhões em 2010. Milagre? Não. Apenas planejamento e sustentação do galopante crescimento das exportações de carnes de bovinos, suínos e aves, que com a soja mantêm a balança de pagamentos. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, não fez mistério desses números no Seminário da Associação Brasileira de Marketing RuralABMR- realizado em São Paulo no último dia 19 para analisar as perspectivas da safra 2003/ 2004. O evento foi aberto pelo presidente da ABMR, Nivaldo Carlucci, e contou com dirigentes dos principais setores de cadeia do agronegócio brasileiro. Quanto ao aumento de produção, a estrela continuará sendo a soja, naturalmente, com 70,8 milhões de toneladas previstas para 2010, seguida pelo milho, com 56,3 milhões, arroz 12,3 milhões de T, trigo 5,5 , feijão 3,8 e algodão 1,8. Os números de Ivan são expressivos e refletem excepcionais ganhos de produtividade da agricultura brasileira nos últimos anos, resultantes da tecnologia apurada e aplicação de insumos. Não por coincidência o Brasil aumenta em 10 % ao ano o consumo de agro-
químicos, enquanto no mundo todo o mercado cresce 4%. Curiosidade: os países desenvolvidos aumentam apenas um por cento, mas são os maiores usuários. O Presidente da Andef, Cristiano Simon, mostrou no seminário que a Holanda aplica 20,8 quilos de agroquímicos por hectare plantado, a Bélgica 12 kg/ ha, França 6 kg/ha, Inglaterra 5,8 kg/ha e a Alemanha 4. O Brasil usa 3,2 kg/ha e é o oitavo da lista na relação peso/área, ainda que em termos absolutos seja o terceiro mercado mundial, atrás apenas do Japão e dos Estados Unidos. A soja, carro chefe das exportações, consome 38% dos agroquímicos usados no Brasil, a cana 11%, o algodão 9% e o milho, apesar do grande volume produzido, consome apenas 7,8 5 do total de defensivos aplicados. Naturalmente o consumo é diretamente proporcional à produtividade alcançada pelos Estados. O Mato Grosso, que em 1997 aplicava 5,9 mil toneladas, no ano passado usou 16 mil, um acréscimo de quase 200%. Por isso mesmo bate todos os recordes de produtividade em soja, com a média de 3.100 kg/ha. Além disso, como lembrou João Lenine, o presidente da Abrasem, é o estado com o maior percentual de uso de sementes fiscalizadas, 95%. O Paraná, usando também 16 mil toneladas, produz 2900 quilos/ha e usa 90% de
O presidente da ABMR Nivaldo Carlucci avaliou o seminário superou as expectativas dos organizadores
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Fotos ABMR
Para Ivan Wedekin, o crescimento da produçào depende acima de tudo de planejamento
sementes fiscalizadas. São Paulo é outro exemplo positivo, com respectivamente 22 mil toneladas de agroquímicos, colhendo 2700 kg/ ha e usando 85% de sementes fiscalizadas, seguido de perto por Goiás. O tom negativo está com o Rio Grande do Sul. Gasta apenas 11 mil toneladas de agroquímicos, colhe somente 2.100 kg de soja/ha e usa só 55% de sementes adequadas. O resto é semente salva ou transgênica contrabandeada. E colhe cada vez menos. (Leia artigo pág 32). Interessante foi a citação, por Cristiano Simon, de que as vendas mundiais de agroquímicos caíram de US$ 30 bilhões, em 1996, para US$ 26 bilhões em 2002. A razão é o impacto do plantio de transgênicos nos Estados Unidos e na Argentina. O seminário trouxe diversas boas notícias. Por exemplo, segundo Flávio França Junior, da Safras & Mercados, apesar do aumento da produção de soja brasileira os preços tendem a aumentar, devido aos problemas climáticos enfrentados pelos Estados Unidos. Outra: Os americanos deverão aumentar a área de plantio de milho em 2003/2004, em detrimento da soja. Resultado, mais espaço para o produto nacional. .
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Ricardo Balardin
Nossa capa
Com o início da nova safra de soja surge também o fantasma da ferrugem asiática. Conheça os fungicidas que são mais indicados para o controle da doença
Armas contra a ferrugem A
ferrugem asiática é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. No Brasil as perdas devido à ferrugem asiática variaram de 30 a 75% (Yorinori, 2002). Na África e Nigéria, a desfolha precoce reduziu o rendimento em 28, 52 e 49%; no Zimbabwe de 60 a 80%; na África do Sul 10 a 80% e na Austrália de 60 a 80%. Os danos estão associados à redução no número de vagens, no número de grãos cheios, no peso de grãos, e no peso de grãos por planta. Apenas o conteúdo de óleo foi redu-
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zido enquanto que não houve alteração no teor de proteína (Ogle et al. 1979). Danos de 80 e 90% de rendimento foram registrados na Austrália e na Índia, respectivamente. A infecção logo após o início da floração causa mais danos (Bromfield, 1984). Hartman, Wang & Tchanz (1991) relatam que a severidade da ferrugem aumenta severamente durante o estádio fenológico de enchimento das vagens. Na safra 2002/2003 a ocorrência da
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ferrugem foi extremamente severa principalmente na região do Cerrado Baiano, onde o patógeno encontrou uma combinação de fatores favoráveis ao desenvolvimento epidêmico, tais como manejo da cultura (época de semeadura, resemeaduras, área elevada com cultivares de ciclo médio, médio-tardio e tardio), manejo de doenças (apenas a consideração de oídio e doenças de final de ciclo), capacidade operacional inadequada à escala de produção da região, falta de dados e conhecimento da dinâmica da doença naquelas condições. A produtividade de soja na região sofreu uma redução estimada em aproximadamente 70%. Os sintomas causados pela ferrugem da soja são uma necrose do tecido foliar e a formação de várias pústulas. Inicialmente, as pústulas localizam-se na porção mediana do dossel das plantas, na face inferior dos folíolos, podendo evoluir rapidamente caso as condições para a epidemia sejam favoráveis. Na medida em que a doença inicia sua progressão, ocorre um amarelamento generalizado das folhas e subseqüentemente uma desfolha que se mostra tão acelerada quanto mais favoráveis forem as condições para o desenvolvimento da doença. A desfolha pode ocorrer ainda nos estádios preliminares de enchimento de grãos. A ferrugem pode se disseminar numa taxa entre 0,45 e 1 m/dia, valores excepcionalmente elevados e que explicam a severidade com que a doença se manifestou no Oeste Baiano. Para que se desenvolva uma epidemia severa, é necessário período de molhamento foliar de aproximadamente 10 h/dia e temperaturas entre 18 e 26oC. Temperaturas mais altas que 30oC e abaixo de 15oC, em clima seco, retardam o progresso da doença. Três variedades alcançaram 10% de severidade: aos 70 dias +/- 3 dias, após o plantio, a mais suscetível e, 92 +/- 5 dias a mais resistente. A idade fisiológica das plantas de soja desempenha um papel importante no desenvolvimento da epidemia da ferrugem. Destaca-se que, em face da amplitude térmica (dia/noite) observada na região, a duração do molhamento foliar foi suficiente para o desenvolvimento epidêmico da doença. O controle da ferrugem pode ser obtido através da destruição de hospedeiros secundários para reduzir o inóculo para a próxima safra de soja. O aumento dos teores de fósforos no solo pode reduzir a incidência da doença. Cultivares de ciclo precoce podem apresentar menor dano já que tendem a completar o ciclo antes que o nível de inóculo seja epidêmico. Por outro lado, plantios no final da época recomen-
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Fotos Ricardo Balardin Cultivar
dada tendem a apresentar o maior dano devido ao fato de completarem o ciclo sob elevada pressão de inóculo. Até o presente momento não estão disponíveis cultivares resistentes à ferrugem da soja, apesar dos esforços desprendidos para a obtenção de cultivares resistentes. Fatores como momento de aplicação, localização do alvo na planta, meios de dispersão da doença, tecnologia de aplicação e capacidade operacional de controle são fundamentais no controle químico da ferrugem. Necessário destacar que a aplicação de fungicidas requer uma definição específica de componentes tais como, volume de calda (definido a partir do Índice de Área Foliar a ser coberto com fungicida), ponta de barra (pontas de orifício leque, duplo leque, turbo, anti-deriva), qualidade de água, pressão de trabalho (adequada à ponta de barra e ao volume de calda), velocidade de aplicação, hora do dia em que a aplicação vai ser executada. Um dos principais aspectos a considerar neste tema relaciona-se ao número de 50 gotas/cm2, necessário para propiciar uma cobertura mínima para que os fungicidas possam atuar eficazmente. Outro aspecto relevante no controle da doença é a capacidade operacional de controle que cada propriedade possui, ou seja, em que número de dias a pulverização pode ser finalizada. Este aspecto é crucial em termos de controle da ferrugem já que, por ser uma doença de progressão muito rápida, demanda que o procedimento de pulverização seja tão rápido que impeça a aceleração da doença. Este particular reforça a necessidade de posicionamento preventivo de controle já que, mesmo nas condições de Sul do Brasil, onde as áreas apresentam um bom dimensionamento operacional, muitas vezes é necessário o deslocamento de equipamento que torna o processo de controle mais lento. Nas áreas de Cerrado brasileiro, a capacidade operacio-
nal mostra-se limitante para um controle adequado da ferrugem, implicando maior nível de risco e baixa eficácia de controle. O desenvolvimento de programas de monitoramento com base na medição de temperatura, umidade relativa do ar, precipitação e molhamento foliar pode fornecer subsídios limitados sobre as possibilidades de infecção pelo Phakopsora pachyrrizi. Entretanto, se a este conjunto de dados meteorológicos for agregado informações antecipadas sobre o movimento da doença (parcelas sentinela), os modelos gerados serão úteis para dimensionar o nível de risco que uma determinada região está submetida. A ferrugem da soja mostra-se completamente disseminada em todo o
Tabela 1. Eficácia de diferentes fungicidas no controle de ferrugem asiática da soja, cultivar RS10. Santa Maria, RS. 2003. Ferrugem
Tratamentos
Balardin: “Um aspecto relevante no controle da ferrugem é a capacidade de controle de cada propriedade”
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Ativo Cyproconazole + Propiconazole Cuproconazole Propiconazole + Difenoconazole Difenoconazole Flunquiconazole Tebuconazole 200 Tebuconazole 250 Flutriafol Tetraconazole Azoxystrobin Pyraclostrobin Pyraclostrobin + Epoxiconazole Trifloxystrobin + Propiconazole Testemunha
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Dose P. C. 1,00 0,30 0,20 0,20 0,25 0,50 0,40 0,40 0,40 0,20 0,30 0,50 0,50
% Sev 9,00 2,50 2,75 1,50 10,75 4,25 3,75 6,75 3,25 12,25 10,00 5,25 2,00 32,25
Pústulas/cm2 6,9 7 10,1 12,1 6,2 8,1 16,9 12,7 5,1 15,7 19,9 4,7 17,8 47,8
AFVR
Rendimento
% 48,75 64,75 62,00 41,50 39,25 51,25 41,50 40,00 40,50 37,00 7,50 23,75 48,00 2,00
Kg/há 2907,04 2998,88 3126,46 3005,76 2570,14 2912,73 3026,92 2713,98 2753,57 2502,41 2726,88 2881,92 2998,16 2303,76
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Tabela 2. Eficácia de diferentes fungicidas no controle de ferrugem asiática da soja, cultivar BRS154. Santa Maria, RS. 2003. Tratamentos Ativo Cyproconazole + Propiconazole Cuproconazole Propiconazole + Difenoconazole Difenoconazole Flunquiconazole Tebuconazole 200 Tebuconazole 250 Flutriafol Tetraconazole Azoxystrobin Pyraclostrobin Pyraclostrobin + Epoxiconazole Trifloxystrobin + Propiconazole Testemunha
Controle: Combinação de triazóis e estrubilurinas mostram eficácia no controle da doença
Cone Sul, principalmente entre os paralelos 15S e 30S. Se considerarmos o próprio triângulo da doença (patógeno x hospedeiro x ambiente), tem-se claro a possibilidade de ocorrência da ferrugem da soja nos próximos anos. Cabe aos técnicos envolvidos com a cultura, buscar ferramentas que auxiliem o produtor no sentido de determinar a que nível de risco sua lavoura poderá estar submetida.
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Dose P. C. 1,00 0,30 0,20 0,20 0,25 0,50 0,40 0,40 0,40 0,20 0,30 0,50 0,50
A aplicação de fungicidas para o controle da ferrugem deve ser realizada de forma preventiva, a partir do florescimento pleno da cultura, possibilitando a proteção da cultura e evitando a instalação da doença, devido à ocorrência da ferrugem até o momento somente ter sido reportada a partir do florescimento. A freqüência de pulverizações será determinada pelo ciclo da cultivar, época de semeadura, pressão da doença e em função do fungicida utilizado. Os grupos químicos triazól e estrubilurina apresentam eficácia de controle da doença. Dentre os triazóis testados em experimentos conduzidos na Universidade Federal de Santa Maria, foram eficientes, quando aplicados preventivamente, os ativos Tebuconazole, Cyproconazole, Flutriafol, Fluquinzonazole, Tetraconazole, Difenoconazole e Epoxiconazole. Quanto às Estrubilurinas, Pyraclostrobin, Trifloxystrobin e Azoxystrobin, foram eficientes no controle da doença. As misturas entre tri-
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Ferrugem
AFVR
Rendimento
% Sev 2,25 0,00 0,00 0,00 2,00 0,00 0,00 0,00 0,00 2,50 0,00 0,00 0,00 14,75
% 90,50 91,75 95,25 94,00 89,25 91,75 89,50 92,75 93,75 92,75 93,25 92,25 92,75 21,00
Kg/há 2302,16 2175,30 2331,81 2706,84 3132,28 3355,02 2826,05 3037,04 1996,09 2170,10 2311,67 2603,11 3233,87 1519,06
azóis e estrubilurinas mostraram-se consistentes tanto no nível de controle que podem alcançar como no período residual. Destaca-se, todavia, que a garantia de um controle confiável não depende apenas da escolha do ativo, mas de todos os aspectos envolvidos na estratégia de controle químico. É fundamental que a utilização desta estratégia de controle seja entendida como um processo que deve, obrigatoriamente, ser implementado de forma preventiva, tendo em vista a conjugação dos fatores de dinâmica epidêmica da doença, limitações operacionais de cada propriedade, limitações de residual e modo de ação que os produtos químicos possuem e, principalmente, levando em consideração a necessidade de não comprometer-se a sustentabilidade do agro. negócio da soja. Ricardo Balardin, DFS/CCR/UFSM
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ferrugem asiática da soja, detectada há pouco tempo no Brasil (safra de 2001), vem mobilizando a comunidade científica em busca do desenvolvimento de tecnologias capazes de atenuar os danos que ocasiona na cultura da soja, como desfolha prematura e conseqüente redução no peso e número de vagens e de sementes. Como o controle através da resistência genética, que seria a forma mais desejável de controle, ainda não é possível, haja vista até o presente não existirem variedades comerciais com níveis satisfatórios de resistência à doença, tem sido preconizado o controle químico, com uso de fungicidas, integrado, de preferência, ao plantio no cedo. A ferrugem da soja pode ser eficientemente controlada com fungicidas dos grupos dos triazóis e das estrobilurinas, aplicados isoladamente ou em mistura, desde que as pulverizações sejam realizadas no início da infecção.
MOMENTO DO CONTROLE A Embrapa Agropecuária Oeste e a Fundação Chapadão, na safra 2001/2002, conduziram um trabalho visando determinar o nível de dano da ferrugem da soja. Assim, foi instalado um ensaio onde, com diferentes programas de aplicação de fungicidas, procurouse desenvolver um gradiente de severidade, ou seja, parcelas com diferentes níveis de ataque da doença e, dessa forma, estudar os efeitos desses diferentes níveis de doença na produtividade e no peso de grãos. O referido ensaio foi realizado na área experimental da Fundação Chapadão, em Chapadão do Sul (MS), com a variedade M-Soy 8001, tendo como data de plantio 24/01/2002 e delineamento experimental de blocos ao acaso, com 10 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos consistiram em diferentes números de aplicação do fungicida composto pela mistura pyraclostrobin + epoxiconazoFigura 01
O monitoramento da lavoura é fundamental para obter um controle ideal através da aplicação de defensivos. Detectar a doença ainda na fase inicial pode ser decisivo
le (133 + 50 g de i.a./ha), conforme está esquematizado na tabela 1. As avaliações de doença foram feitas em 4 plantas por repetição, atribuindose notas a todos os trifólios da haste principal, com o auxílio da seguinte escala (adaptada de Azevedo & Leite, 1996): 0,1- traços da doença 0,5- 0,5% área foliar lesionada (afl) 1- 1% de afl 2- 3,7% de afl 3- 7,8% de afl 4- 14,5% de afl 5- 17,1% de afl 6- 22,5% de afl 7- queda de trifólio As notas estimadas para cada trifólio foram convertidas em índice de doença (ID), com o uso da fórmula: ID = (Pn x n) (McKinney citado por Tanaka & Menten, 1992) N Pn = nota atribuída a um trifólio n = número de vezes que a mesma nota aparece na haste principal N = total de trifólios avaliados na haste principal
houve uma tendência de decréscimo da produtividade e do peso de cem sementes com o aumento dos níveis de severidade da doença, expressos pelo índice de doença (ID) e pela desfolha, assim como com a diminuição do número de trifólios na haste principal (NT). Observa-se na tabela 2 que os tratamentos que receberam aplicação no Tempo 0 ( R 4) não diferiram estatisticamente entre si, para todas as características avaliadas, independente do número de aplicações efetuadas. As aplicações subseqüentes não surtiram efeito, possivelmente, devido às condições ambientais terem-se tornado desfavoráveis ao desenvolvimento da doença. Os tratamentos que receberam aplicações a partir do T16 (e não receberam, portanto, as duas primeiras aplicações) não diferiram significativamente da testemunha sem aplicação, para as quatro Figura 02
Avaliou-se também a desfolha, o número de trifólios existentes na haste principal, o peso de cem sementes e o rendimento de grãos. Os dados obtidos mostraram que
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Donita Andrade
Controlada a tempo
Tabela 1. Esquemas de aplicação do fungicida pyraclostrobin + epoxiconazole (133 + 50 g de i.a./ha), empregados no ensaio. Área Experimental da Fundação Chapadão. Chapadão do Sul, MS, safra 2001/2002. TR= tratamentos; T0) aplicação, realizada no estádio R4 da cultura, em 28/03/2002; T8) em 04/04/2002; T16) em 11/04/2002; T24) em 18/04/2002; T32) em 25/04/2002 TRAT 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
T0 X
T8 X X
T16 X X X
T24 X X X X
X X X X
X X X
X X
X
T32 X X X X X
Tabela 2. Efeito dos tratamentos empregados no índice de desenvolvimento da doença (ID), no número de trifólios na haste principal da planta (NT), na desfolha (DESF), na produtividade (PROD e no peso de cem sementes (PCEM). TRATAMENTO* 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Coeficiente de variação (%)
NT 5,4 ab 5,3 abc 4,8 bcde 4,3 e 4,7 de 5,1 abcd 5,4 ab 5,4 a 5,4 ab 4,8 cde 6,90
MONITORAMENTO P/ DETECÇÃO PRECOCE Para atenuar os danos ocasionados pela ferrugem asiática da soja, o monitoramento para detecção da doença logo no princípio e o controle químico efetuado o quanto antes, são fundamentais. Por se tratar de uma doença nova e ainda pouco estudada em nossas condições, recomenda-se visitas periódicas (semanais) à lavoura, a fim de que se possa detectá-la no início. A ferrugem não ataca em reboleira, normalmente afeta toda a lavoura, o que facilita o monitoramento. Se diferentes cultivares estiverem presentes no campo, todas devem ser vistoriadas.
DESF (%) 27,5 cd 50,0 bc 70,3 ab 88,8 a 91,3 a 30,0 cd 15,0 d 30,0 cd 27,5 cd 76,3 ab 32,53
PROD (sc/ha) 31,3 a 26,2 b 22,8 c 20,1 c 20,6 c 28,6 ab 30,9 a 30,0 a 30,7 a 21,0 c 8,14
PCEM (g) 12,07 a 10,9 bc 10,2 cd 9,5 d 9,6 d 11,7 ab 12,1 a 11,8 ab 11,7 ab 9,6 d 5,28
* Conforme o esquema apresentado na tabela 1. ** Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si (Duncan, 5%)
EFEITO DE ÉPOCA DE SEMEADURA
características avaliadas, levando à conclusão que o controle tardio não traz efeito compensatório. Observa-se que um atraso de sete dias na aplicação do fungicida (após a detecção do início da doença) já foi suficiente para um aumento na desfolha de 82% em relação às parcelas submetidas ao tratamento fungicida efetuado quando do aparecimento da doença; de 37% no ID; para uma redução de 3% no NT; de 10% no peso de cem sementes e de 16% no rendimento de grãos. Quando esse atraso no início das pulverizações foi de 14 dias, a desfolha aumentou em 155%, o ID em 58,6% e a redução no rendimento, no NT e no peso de cem sementes foi, respectivamente, de 37%, 11% e 15% (Fig. 1).
Recomenda-se evitar o prolongamento do período de semeadura, o que significa dizer que o agricultor deve, na medida do possível, semear a soja mais cedo dentro da época recomendada. A soja semeada mais tardiamente poderá sofrer mais danos devido à multiplicação da ferrugem nas plantas provenientes de semeaduras realizadas mais cedo. Deve-se considerar que, nas semeaduras tardias, as condições ambientais são mais favoráveis ao desenvolvimento da doença. A partir dos resultados de pesquisa obtidos pela Embrapa Agropecuária Oeste e Fundação Chapadão, na safra 2001/2002, onde o efeito da ferrugem sobre o rendimento de grãos em 41 cultivares de soja, por quatro diferentes épocas de semeadura, observou-se que, para a média dos materiais estudados, houve uma tendência de aumento de severidade da doença nas semeaduras mais tardias, a julgar pelo decréscimo na produtividade desses materiais (Fig. 2). Nesse ensaio foi possível verificar, também, que os materiais de ciclo curto e médio sofreram menos com o ataque da ferrugem quando comparados com aqueles de ciclo mais longo, nas quatro épocas de semeadura, o que pode ser constatado nas figuras 3 e 4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS • Ainda não existem variedades comerciais com resistência à ferrugem; • Deve- se evitar o cultivo de materiais de ciclo longo, pois os mesmos, pelo fato de ficarem mais tempo no campo, estão mais sujeitos ao ataque da ferrugem;
Figura 03
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ID 1,5 c 2,0 b 2,3 ab 2,6 a 2,5 ab 1,3 c 1,5 c 1,5 c 1,5 c 2,5 ab 16,20
• Deve-se evitar o prolongamento da época de semeadura, pois a soja semeada mais tarde sofrerá mais com a doença, devido ao aumento da mesma com a multiplicação de inóculo nos cultivos de mais cedo; • A aplicação de fungicidas deve ser efetuada no início do aparecimento dos sintomas, pois aplicações tardias não são eficientes no controle da doença; • Se a ferrugem não tiver sido detectada até a fase em que normalmente se empregam fungicidas para o controle das doenças de final de ciclo da soja (naturalmente onde essas doenças têm importância econômica), é recomendável que se utilize um fungicida que tenha efeito também sobre a ferrugem. Valendo ressaltar que as inspeções na lavoura devem continuar, para que seja avaliada a necessidade de reaplicação, caso a ferrugem venha a aparecer após isso; • Fungicidas dos grupos dos triazóis e das estrobilurinas e, ainda, compostos pela mistura dos dois grupos têm se mostrado eficientes no controle da ferrugem da soja, desde que aplicados no início do aparecimento da doença. Entretanto, é preciso que sejam realizados estudos mais aprofundados objetivando definir gama de produtos e doses dos mesmos que apresentam me. lhor desempenho. Paulino José Melo Andrade, Embrapa Agropecuária Oeste e Fundação Chapadão Donita F. de Alencar A. Andrade, Fundação Chapadão
Figura 04
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Quem resiste mais Estudo realizado em abril de 2003 detectou variedades de soja resistentes aos fungos transmissores descobertos até então
A
ferrugem asiática de soja, causada por Phakopsora pachyrhizi, é doença recente no Brasil, à qual poucas cultivares apresentam resistência. Em 2002, na Embrapa Soja, em Londrina (PR), foram selecionadas cultivares que apresentaram baixa severidade de doença e/ ou lesões tipo RB (reddish brown), significando tolerância. Essa coleção foi semeada em Passo Fundo (RS), com o objetivo de observar a reação dessas cultivares de soja à infecção natural da doença. A coleção foi composta pelas cultivares BRMS Bacuri, BRS 60 Celeste, BRS 133, BRS 134, BRS 135, BRS 136, Campos Gerais, CS 201 (Esplendor), Embrapa 59, FT 2, FT 3, FT 17, FT 2001, IAC 3, IAC PL-1, KIS 601 e Ocepar 7, além da testemunha suscetível BRS 154. A semeadura foi realizada no campo experimental da Embrapa Trigo, em Passo Fundo (RS), no dia 10 de dezembro de 2002. Cada cultivar em uma linha de 2 m de comprimento, espaçadas em 0,50 m, na densidade de 15 sementes por metro linear. A infecção por ferrugem ocorreu naturalmente. Em abril de 2003, foram coletadas, ao acaso, 20 folhas de cada material (estádios entre R5.4 e R7.3), as quais foram avaliadas individualmente, em microscópio estereoscópico,
por meio de escala de notas de acordo com o nível de infecção de ferrugem (NI), variando de NI = zero a NI = 5, em que zero significa ausência de pústulas, 1 significa até 10% de área foliar infectada (afi), 2 significa de 11% a 25% de afi, 3 significa de 26% a 50% de afi, 4 significa de 51% a 75% de afi, e 5, acima de 75% de afi. Foram considerados resistentes os genótipos que alcançaram até NI = 2, moderadamente resistente com NI = 3, suscetível com NI = 4 e altamente suscetível, com NI = 5. O índice de doença (ID) de cada cultivar foi obtido pelo somatório da multiplicação do número de folhas com determinada nota (NI) da escala pelo valor da nota. Observou-se que não houve ocorrência de folhas com NI igual ou superior a 3, mesmo na testemunha suscetível, o que significa baixa severidade de ferrugem. A testemunha suscetível obteve índice de doença igual a 25. Os melhores materiais, com índices zero, 1 e 3, foram BRMS Bacuri, FT 2001, KIS 601, BRS 134, CS 201 (Esplendor), FT 2, FT 3 e FT 17. As notas dos demais materiais variaram entre 11 e 27 (Tabela 1). Não foi observada reação tipo RB. Estudos moleculares, através da técnica de PCR, realizados na Embrapa Soja com amostra de esporos de ferrugem cole-
Leila Costamilan explica que as cultivares nao são resistentes à nova raça de fungo descoberta no Mato Grosso
tada em Passo Fundo, visando à identificação da espécie de patógeno de ferrugem ocorrente na área, mostraram que a população de Passo Fundo era composta de mistura das espécies P. pachyrhizi e Phakopsora meibomiae, este último causador da . ferrugem americana da soja. Leila Maria Costamilan, Embrapa Trigo Cláudia Vieira Godoy, José Tadashi Yorinori e Álvaro Manoel Rodrigues Almeida, Embrapa Soja
Tabela 1: Folhas/nível de infecção (NI) Cultivar
0
1
2
3
4
ID
BRMS Bacuri FT 2001 KIS 601 BRS 134 CS 201 (Esplendor) FT 2 FT 3 FT 17 IAC PL-1 Campos Gerais Ocepar 7 Embrapa 59 BRS 60 Celeste BRS 133 BRS 135 BRS 154 IAC 3
20 20 20 19 19 19 18 17 11 7 10 3 0 2 0 0 0 0
0 0 0 1 1 1 1 3 7 13 6 16 19 12 15 15 15 13
0 0 0 0 0 0 1 0 2 0 4 1 1 6 5 5 5 7
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 1 1 1 3 3 11 13 14 18 21 24 25 25 25
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BRS 136
ID= å (número de folhas em determinado NI x NI correspondente).
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Nossa capa
Fotos Claudia Godoy
Nossa capa
Resistência quebrada Nova Nova raça raça do do fungo fungo causador causador da da ferrugem, ferrugem, detectada detectada no no Mato Mato Grosso, Grosso, põe põe por por terra terra aa esperança esperança de de descoberta descoberta de de variedades variedades resistentes resistentes
A
busca por variedades resistentes à ferrugem da soja iniciou-se no inverno de 2001, quando testes em condições controladas de casa-de-vegetação, na Embrapa Soja, em Londrina (PR), identificaram variedades com resistência a essa doença, baseado na presença de lesões de hipersensibilidade do tipo RB. As variedades BRS 134, BRSMS Bacuri, CS 201, FT-17, FT-2, IACpl1, KIS 601 e OCEPAR 7, quando inoculadas com esporos de P. pachyrhizi, apresentavam reação de hipersensibilidade, produzindo lesões RB com pouca ou nenhuma esporulação. Com base na genealogia desse grupo de variedades, verificouse que a resistência era derivada da variedade FT-2 e determinada por um gene dominante (Arias et al, 2003). Além da identificação dessas variedades, o programa de melhoramento vem trabalhando, desde de 2001, com outros quatro genes dominantes para a resistência à ferrugem, descritos na literatura, denominados Rpp1 a Rpp4, identificados em introduções de plantas (PI´s) e cultivares (Bromfield & Hartwig, 1980; Bromfield & Melching, 1982; Hartwig, 1986; McLean & Byth, 1980). A utilização de genes dominantes ou de efeito principal também é conhecida como resistência vertical ou qualitativa, devido à diferença entre plantas suscetíveis e resistentes ser de fácil visualização. É a chamada resistência “do tudo ou nada”, onde a planta ou está livre da doença ou completamente tomada por ela (Camargo, 1995). Esse tipo de re-
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sistência tem sido utilizada com sucesso no processo de melhoramento na cultura da soja, para o controle de doenças como o cancro da haste (Phomopsis phaseoli f. sp. meridionalis), a mancha olho-de-rã (Cercospora sojina) e as nematoses. No entanto, é de conhecimento dos melhoristas que sua utilização é de grande risco na agricultura, uma vez que cultivares que possuem resistência vertical podem perder a resistência em um período curto de tempo, devido à variabilidade genética apresentada pelos agentes patogênicos, sendo essa uma das principais dificuldades em qualquer programa de desenvolvimento de cultivares resistentes. Essa variabilidade genética é responsável pelo aparecimento de novas raças do fungo. A definição de uma raça se dá de acordo com as reações observadas em uma série de variedades, denominadas de série diferencial, quando inoculadas com isolados do fungo. No caso da P. pachyrhizi, a série diferencial é formada por 11 materiais que possuem os quatro genes de resistência (Rpp1 a Rpp4) isolados ou em combinações. Trabalhos realizados recentemente no Japão com isolados de P. pachyrhizi coletados em plantas de soja infectadas com ferrugem e na planta hospedeira denominada Kudzu (Pueraria lobata) verificaram a presença de variabilidade do patógeno, identificando 18 raças do fungo (Yamaoka et al., 2002). A existência de variabilidade desse fungo já havia sido observada em trabalhos realizados em Taiwan, onde haviam sido identificadas 9 raças do fun-
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go, sendo a raça predominante complexa, uma vez que possuía virulência múltipla, compatível com materiais que possuíam diferentes genes de resistência (Tschanz et al., 1986). No Brasil, em função da recente introdução da doença, um estudo completo de raças ainda não foi realizado. No entanto, algumas informações já estão disponíveis baseadas nas reações das variedades observadas, em 2001, e nas reações atuais. Isolados do fungo provenientes de regiões do Mato Grosso (Sorriso e Lucas do Rio Verde) foram utilizados em inoculações em casa-de-vegetação, em junho de 2003. Esse isolado foi capaz de quebrar a re-
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sistência da variedade FT-2 e, conseqüentemente, de todas as demais variedades identificadas em 2001 como resistentes, sendo caracterizado, portanto, como uma nova raça do fungo. As variedades que inicialmente produziam somente lesões do tipo RB, quando inoculadas com esporos da raça, proveniente do Mato Grosso, passaram a se comportar como variedades suscetíveis, produzindo lesão do tipo castanho clara (TAN), com abundante esporulação. Das quatro fontes de resistência já descritas na literatura, apenas aquelas com os genes Rpp2 e Rpp4 permanecem resistentes a essa nova raça, permitindo concluir que o gene de FT-2 não é o mesmo dessas duas fontes e pode corresponder a um dos locos Rpp1 ou Rpp3. Baseado nos trabalhos realizados na Ásia e na quebra de resistência a partir de isolados provenientes do Mato Grosso, pode-se concluir que o fungo P. pachyrhizi tem grande capacidade de desenvolver novas raças e, portanto, é muito arriscado investir em apenas um único gene. Assim, a estratégia do melhoramento é utilizar todos os genes disponíveis (atualmente pelo menos dois) e suas possíveis combinações, junto com outras fontes de tolerância ou de resistência horizontal, na obtenção de variedades resistentes a essa doença. Utilizando a nova raça oriunda do Mato Grosso, foi realizada novamente a procura de novos genes de resistência sobre o banco de germoplasma de soja, em condições de casa-de-vegetação, e mais de 30 genótipos foram selecionados como possíveis fontes de resistência, apresentando reação do tipo RB. Muitos desses genótipos podem conter um dos dois genes já descritos (Rpp2 e/ ou Rpp4) e estudos estão sendo desenvolvidos para disponibilizar essa informação. Todos esses genes de resistência estão disponíveis apenas em genótipos pouco adap-
tados para o Brasil, o que elimina a possibilidade de uso comercial direto e dificulta seu uso em programas de melhoramento. Apesar do conhecimento da existência de uma nova raça de P. pachyrhizi, oriunda do Mato Grosso, ainda não foi possível mapear sua distribuição nas diferentes regiões, podendo as reações das variedades inicialmente selecionadas como resistentes se manterem como tal na região Sul do País. Entretanto, em função da variabilidade do patógeno, esse quadro pode se alterar rapidamente. Na ausência momentânea de cultivares resistentes, medidas de manejo como a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada; monitoramento constante da lavoura associado ao controle químico com fungicidas têm sido recomendadas para diminuir os danos que essa . doença pode causar.
Tecido foliar de soja infestado pelo fungo Phakopsora pachyrhizi
Cláudia V. Godoy, Carlos A. A. Arias, Embrapa Soja
Ana Claudia Barneche Oliveira
Variedades resistentes: na ausência destas, o ideal é um bom monitoramento da cultura associado ao controle químico
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Transgênicos
Novo capítulo Espremido pelo calendário agrícola, o Governo se obriga a tomar uma decisão e assina Medida Provisória autorizando o plantio de soja RR na safra 2003/04
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epois de dias de indecisão, de uma suposta tentativa de o presidente Lula jogar a batata quente no colo do vice, finalmente uma Medida Provisória (131) autorizou o que grande parte dos agricultores brasileiros estava fazendo. Agora, sob certas normas, é possível utilizar os grãos de Soja RR da safra passada e fazer uma nova lavoura. A medida tem utilidade reduzida, pois não libera os transgênicos no Brasil, apenas autoriza o uso de produto contrabandeado. Ambientalistas protestam e alertam os produtores sobre os riscos de assinar o requerido Termo de Ajustamento de
Conduta, uma espécie de confissão em que o produtor se compromete a arcar com eventuais problemas causados pelo plantio de soja transgênica. Haveria risco de, concordando com o termo, permitir ser processado por usar material proibido nas safras anteriores. Embora exista, a chance de o Ministério Público processar produtores em massa é ínfima. A ação seria politicamente insustentável. Maior risco para o produtor é o silêncio da Monsanto sobre a cobrança de royalties. A empresa avisou que cobrará, mas que “continua em conversações com a indústria na busca de uma solução apli-
cável”. Traduzindo: os executivos da empresa não anunciaram quanto pretendem cobrar dos produtores, que serão comunicados do preço da mercadoria depois de levá-la para casa. Ora, depois de plantar, o poder de barganha dos produtores será drasticamente reduzido e, certamente, terão de aceitar uma negociação menos favorável, pois não têm o tempo ao seu lado. Seguindo nossa política de auxiliar o produtor a tomar decisões, publicamos o texto da Medida Provisória, conforme sua redação de 26 de setembro de 2003, na . íntegra. (Matéria escrita em 26/09/03)
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 131, DE 25 DE SETEMBRO DE 2003. Estabelece normas para o plantio e comercialização da produção de soja da safra de 2004, e dá outras providências. O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei: 1º. Às sementes da safra de soja de 2003, reservadas pelos agricultores para uso próprio, consoante os termos do art. 2º, inciso XLIII, da Lei nº 10.711, de 5 de agosto de 2003, e que sejam utilizadas para plantio até 31 de dezembro de 2003, não se aplicam as disposições da Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, com as alterações da Medida Provisória nº 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, do § 3º do art. 1º e do art. 5º da Lei nº 10.688, de 13 de junho de 2003. Art. 2º Aplica-se à soja colhida a partir das sementes de que trata o art. 1º disposto na Lei nº 10.688, de 2003, restringindo-se a sua comercialização até 31 de dezembro de 2004. Art. 3º Os produtores abrangidos pelo disposto no art. 1º o somente poderão comercializar a safra de soja do ano de 2004 se subscreverem Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta, conforme regulamento, observadas as normas legais e regulamentares vigentes. Parágrafo único. O Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta, que terá eficácia de título executivo extrajudicial na forma dos arts. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, e 585, inciso VII, do Código de Processo Civil, será firmado, no prazo de até trinta dias a contar da publicação desta Medida Provisória, nos postos ou agências da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, nas agências da Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil S.A. Art. 4º O Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento editará, no prazo de cento e oitenta dias da publicação desta Medida Provisória, ato identificando as regiões do País em que se tenha verificado a presença de organismos geneticamente modificados, para os fins do disposto nesta Medida Provisória e na Lei nº 10.688, de 2003. Art. 5º Ficam vedados o plantio e a comercialização de sementes relativos à safra de grãos de soja de 2004, salvo nas hipóteses dos arts. 3º, 4º e 5º da Lei nº 10.688, de 2003. Art. 6º É vedado às instituições financeiras oficiais de crédito aplicar recursos no financiamento da produção e plantio de variedades de soja obtidas em desacordo com a legislação em vigor. Art. 7º O produtor ou fornecedor de soja que não subscrever o Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta de que trata o art. 3º, não apresentar o certificado a que se refere o art. 4º da Lei nº 10.688, de 2003, nem estiver abrangido pela portaria de que trata o art. 1º, § 6º, da Lei nº 10.688, de 2003, ficará impedido de obter empréstimos e financiamentos de instituições oficiais de crédito, não terá acesso a eventuais benefícios fiscais ou creditícios e não será admitido a participar de programas de repactuação ou parcelamento de dívidas relativas a tributos e contribuições instituídos pelo Governo Federal. Art. 8º Sem prejuízo da aplicação das penas previstas na legislação vigente, os produtores de soja que contenha organismo geneticamente modificado que causarem danos ao meio ambiente e a terceiros, inclusive quando decorrente de contaminação por hibridação, responderão, solidariamente, pela indenização ou reparação integral do dano, independentemente da existência de culpa. Art 9º É de exclusiva responsabilidade do produtor ou fornecedor de soja o eventual pagamento de indenização ao titular do direito de propriedade industrial relativo à exploração indevida de sementes de soja que contenham organismo geneticamente modificado protegido pela legislação em vigor. Parágrafo único. São solidariamente responsáveis, para os fins do disposto no caput, o produtor rural, o fornecedor e o adquirente da soja da safra obtida por intermédio de sementes sujeitas ao disposto no caput. Art. 10. Fica instituída, no âmbito do Poder Executivo, Comissão de Acompanhamento, composta por representantes dos Ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Justiça, da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, coordenada pela Casa Civil da Presidência da República, destinada a acompanhar e supervisionar o cumprimento do disposto nesta Medida Provisória. Art. 11. Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 25 de setembro de 2003; 182º da Independência e 115º da República.
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JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA José Dirceu de Oliveira e Silva
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Braspov
Pirataria na lavoura A Lei de Proteção de Cultivares tenta assegurar ao obtentor o direito de comercializar suas cultivares e evitar prejuízos com pirataria, como no caso das sementes, que podem chegar a R$ 500 milhões por ano
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revista Cultivar entrevistou o eng. agr. Cláudio de Miranda Peixoto, atual presidente da Braspov, sobre a pirataria de sementes. A pirataria de sementes no Brasil tem causado prejuízos da ordem de 500 milhões de reais para as empresas públicas e privadas que mantêm programas de melhoramento genético no Brasil. A Lei de Proteção de Cultivares (LPC) instituiu o direito de proteção de cultivares ao obtentor. Esse direito de proteção é assegurado segundo a concessão do Certificado de Proteção de Cultivares. Segundo a LPC, não é permitido a toda e qualquer pessoa ou empresa reproduzir, oferecer à venda, vender, doar, ceder, importar, exportar, embalar ou armazenar com denominação correta ou outra, uma cultivar protegida, sem autorização do obtentor. Cultivar – Claudio, você poderia falar um pouco sobre a Braspov? Cláudio – A Braspov – Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais - foi fundada em 16 de dezembro de 1997, na cidade de São Paulo. A BRASPOV foi formada logo após a regulamentação da Lei de Proteção de Cultivares (LPC). Com sede atualmente em Brasília, a Braspov é uma sociedade civil sem fins lucrativos e foi criada para congregar, representar, assistir, unir e orientar os obtentores vegetais, isto é, empresas privadas e públicas
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Cultivar
como a Embrapa, por exemplo, que mantêm programas de melhoramento genético e desenvolvem cultivares. Cultivar – Quais as principais atribuições da Braspov? Cláudio – O principal objetivo da BRASPOV é proteger os direitos dos obtentores vegetais no combate à multiplicação e à comercialização ilegal de sementes protegidas, ou conhecidas como “sementes pirata” que nada mais são do que grãos comercializados ilegalmente e sem o mínimo controle de qualidade, e que estão colocando em risco a agricultura brasileira. Cultivar – Quais as ações que a Braspov vem tomando para evitar a pirataria? Cláudio – A Braspov vem trabalhando no desenvolvimento da conscientização sobre a pirataria. Realizando vários debates e palestras sobre a LPC, a Braspov também vem tomando medidas de controle através de denúncias que são encaminhadas para o SNPC (Serviço Nacional de Proteção de Cultivares). Este órgão vem, dentro do possível, realizando a fiscalização e montando o corpo de provas. De posse disso, as empresas orientadas pela Braspov têm entrado com processos judiciais contra os piratas. Temos alguns processos em andamento na justiça comum aguardando decisão. Tão logo obtivermos ganho de causa, divulgaremos na mídia.
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Cultivar – Quais as diferenças entre as sementes piratas e as sementes produzidas legalmente? Cláudio – O termo “sementes pirata” acabou pegando no mercado, mas eu insistiria em dizer que são grãos. Porque sementes têm origem, controle de qualidade, padrões e os campos são registrados. Há fiscalização e controle sobre todo o processo de produção e são feitos testes laboratoriais para emissão do boletim de análise e certificado. Então, o que se chama de “semente pirata” é tudo aquilo que não atende aos requisitos anteriormente mencionados. Você não tem a mínima noção do que está adquirindo e plantando, nem dos riscos que está trazendo para dentro da sua lavoura. É a multiplicação e comercialização sem autorização do obtentor. Cultivar – Quais as culturas alvo da pirataria e quanto se perde com ela? Cláudio – Todas as plantas autógamas como a soja, algodão, feijão, arroz e o trigo, principalmente. Estima-se que as empresas obtentoras deixam de arrecadar 500 milhões de reais por ano, em royalties, com a pirataria de sementes no Brasil. É difícil ter um número exato e esse número pode ser bem maior. As empresas têm sentido bastante na cobrança de royalties. Cultivar – E o que essas perdas podem
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Pionner
representar para o produtor? Cláudio - Essas perdas com certeza terão reflexos nos próximos anos. Parte desse dinheiro deveria ser utilizado na pesquisa e desenvolvimento de novos cultivares, para a solução de muitos problemas da agricultura. Atualmente, temos cultivares de soja com elevada produtividade e capacidade de adaptação, resistência ao cancro da haste, ao nematóide do cisto, além de outros aspectos. E a pergunta é: Como isso foi obtido? Através de investimento em pesquisa. Veja o algodão. Há 8 anos atrás a média era de 70 arrobas por hectare, hoje a média é de 200 arrobas. Em alguns casos, colhe-se acima de 300 arrobas por hectare. Não tínhamos algodão com fibra de qualidade, hoje temos. Hoje temos trigo com características especiais para mercados especializados que produzem diferentes tipos de bolachas e biscoitos. E isso foi alcançado com pesquisa genética. Se as empresas continuarem a ter essas perdas, é claro que terão de ajustar-se, investindo menos e, com certeza, o produtor não terá tantas opções no futuro. Até antes da LPC que ocorreu em 1997, tínhamos 9 cultivares de algodão. De 1997 até hoje temos 32 cultivares. Na soja, até a LPC, tínhamos 67 cultivares; só de 1997 até hoje, foram protegidas 213 novas cultivares. O trigo, dentro dessa mesma comparação passou de 16 para 45 novas cultivares e o arroz de 18 para 31. O total de lançamentos de novos cultivares após a LPC foi de 336. Eu não preciso falar mais nada. Isto por si só explica a força dos programas de melhoramento das empresas públicas como a Embrapa e das empresas privadas. Cultivar – E por que isso acontece? Cláudio – Você está me perguntando por
Peixoto: “Quando o agricultor produz para o seu próprio consumo, a LPC o protege”
Agosto de 2003
que há pirataria? Bom. Eu poderia falar horas e horas, mas irei resumir. Quando alguém comete o crime de pirataria e acha que está economizando, ele se esquece que o custo de uma semente para uma empresa não é apenas o custo de produção, mas sim a importação e criação de linhagens, os milhares de cruzamentos e testes que são feitos para conhecer e posicionar uma cultivar. Leva-se de 8 a 10 anos para desenvolver uma nova cultivar. Todo esse processo custa tempo e dinheiro e é feito por pessoas altamente especializadas que muitas vezes tiveram de estudar anos e anos a fim de se capacitarem para isso. Mas o pirata não vê desta forma. Ele só vê o hoje e acha que está levando vantagens. É o imediatismo. Pior de tudo é que, além dos riscos da aquisição de uma semente sem origem, de qualidade duvidosa, que pode contaminar sua lavoura com doenças, não há economia para quem produz e nem para quem compra. Cultivar – Você poderia dar um exemplo prático disso? Cláudio – Vamos lá. Veja o absurdo do algodão. O custo de produção de uma lavoura de algodão no Mato Grosso está entre R$ 3.000,00 e 3.600,00 por hectare (US$ 1.000 a US$ 1200/ha). A semente de algodão representa 2,5% a 2,7% do custo total. Produzindo a sua própria semente de forma ilegal, o produtor acha que economiza. Pelos cálculos, cerca de 0,7%. Aí eu te pergunto: Você colocaria uma lavoura em risco que custa R$ 3.600,00/ha, por achar que está economizando 0,7%? Sinceramente, eu não consigo entender. Qualquer coisa que ele faça na lavoura com certeza economizaria bem mais e sem correr riscos. Isso sem falar que, no caso do algodão, as “sementes pirata” por não terem controle de qualidade, como isolamento por exemplo, apresentam alto índice de plantas desuniformes que afetam a qualidade da fibra e prejudicam o tingimento. As indústrias têxteis já começam a notar essas falhas aqui no Brasil e teremos problemas. Quem foi ao Encontro Nacional do Algodão, ocorrido há duas semanas em Goiânia, certamente pode perceber isso. Espero que sirva de alerta. Cultivar – A semente que o produtor produz para consumo próprio é semente pirata? Cláudio – Não. Quando o produtor produz para o seu próprio consumo, a Lei de Proteção de Cultivares o protege. Ele pode produzir sementes para o seu uso particular. Entretanto, o volume produzido tem que estar compatível com a área por ele plantada. E isso tem sido um problema pois, com essa permissão, muitos produtores aproveitam produzindo uma quantidade de sementes acima da sua necessidade de plantio e fazem o comércio ilegal. É um trampolim para a ilegalidade. Mas acredito que com a nova Lei de Sementes isso possa ser controlado. Estamos trabalhando
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para isso. Vamos aguardar. Cultivar – Mudando um pouco de assunto. Após toda essa polêmica com relação aos transgênicos no Brasil, na sua opinião, quem ganha e quem perde economicamente com a proibição dos transgênicos no Brasil? Cláudio – A questão dos transgênicos no Brasil tem vários aspectos que acho não estarem claros para a maioria das pessoas e talvez por isso nos encontremos na atual situação. Vamos focar na soja RR. Eu ouço falar quase que semanalmente no receio do monopólio. A tecnologia da soja RR não é exclusiva da empresa Monsanto. Muitas empresas possuem essa tecnologia, tanto empresas públicas como privadas. Também é importante falar que a molécula do glifosate é de domínio público, logo, não há monopólio sobre isso. Todas as empresas podem comercializar essa molécula. Cultivar – Mas em relação às perdas? Cláudio – Primeiramente, o agricultor brasileiro é quem mais perde por estar privado de usar uma tecnologia que seus concorrentes americanos, argentinos e canadenses já utilizam. Além disso, o preço pago pelo mercado internacional hoje é o mesmo para soja transgênica e não-transgênica. Devido à proibição, os produtores brasileiros gastam ao redor de R$ 500 milhões por ano a mais com herbicidas do que gastarão quando a soja RR for aprovada. Contrário ao que os ambientalistas defendem, o meio ambiente também perde com a proibição. Os produtores do Brasil Central aplicam em média 5 vezes defensivos no milho, só para combater a lagarta do cartucho. Há casos de até 12 aplicações, como nas áreas irrigadas da Bahia e Goiás. Com o milho Bt, todo esse defensivo poderia deixar de ser lançado no ambiente. Veja o que é gasto com controle de pragas do algodão no Brasil. O algodão Bt economizaria ao redor de 1 milhão de litros de inseticida todos os anos. Cultivar – E quem ganha? Cláudio – Os maiores ganhadores são os produtores estrangeiros que competem com o produtor brasileiro com condições bem mais favoráveis de custos. Cultivar – Você gostaria de fazer alguma colocação final? Cláudio - Gostaria de agradecer o espaço para falarmos sobre a pirataria de sementes no Brasil e contar com o apoio das autoridades brasileiras no combate a esse comércio ilegal que poderá trazer sérios prejuízos ao Brasil, não só às empresas obtentoras, mas aos produtores, aos franqueados e ao país, que depende de bons resultados da agricultura para que a máquina funcione, ou seja, para que se consuma mais fertilizantes, tratores, plantadeiras, colheitadeiras e silos e, assim, conseqüentemente, possa se gerar . mais empregos.
Cultivar
33
AENDA
Defensivos Genéricos
Nó apertado Apesar do Decreto aprovado em janeiro de 2002, o registro de produtos é realizado lentamente ou travado por desentendimento dos Ministérios responsáveis
P
ouco mudou no perfil da oferta de defensivos agrícolas nos últimos anos. A AENDA vem fazendo acompanhamento da divisão do faturamento no mercado brasileiro entre as empresas e da distribuição dos produtos levando em conta o número de ofertantes por ingrediente ativo. Merece uma comparação entre os números levantados que retratam os anos de 2000 e 2002. Como se pode observar, a oferta concentrada na mão de poucos aumentou mais ainda de 2000 para 2002. As quatro maiores empresas acresceram 5 pontos percentuais, atingindo 53% do mercado brasileiro; as sete primeiras agregaram 7 pontos percentuais alcançando 77%; e as dez mais somaram 4 pontos abocanhando simplesmente 89% do mercado. A última coluna representa os ingredientes ativos em concorrência plena. Como podem observar, de 2000 a 2003 só foi agregado um (1) ingrediente ativo. Unzinho! Dos 427 ingredientes ativos (ou misturas destes) registrados apenas 51 (12%) disputam o mercado em um nível de forte concorrência. São números absolutamente estranhos para um país que aprovou em janeiro de 2002 um Decreto implantando o regime Ano 2000 2002 2003 até jul.
Nº° de ingredientes ativos com uma (1) empresa ofertante 290 300 314
Nº de ingredientes ativos com duas (2) empresas ofertantes 51 55 56
da equivalência química para registro de produtos com patente caducada. O governo, sob a coordenação da Casa Civil, atendeu aos rogos da sociedade e deu condições técnicas e regulamentares para o aumento da concorrência. Por qual razão a oportunidade não está sendo aproveitada? O que está ocorrendo? A explicação é a mesma de sempre, desde que o sistema de registro passou a ser administrado por três Órgãos de Ministérios diferentes (Agricultura, Saúde e Meio Ambiente): as tarefas necessárias para o registro de produto são realizadas a passo de tartaruga e freqüentemente travadas por desentendimento entre os três setores. Faltam procedimentos para solução de controvérsias. No caso da equivalência, a questão é mais dramática por tratar-se de uma técnica nova no Brasil e sem pleno domínio ainda por parte dos avaliadores. Em agosto de 2002, sete meses após a edição do Decreto 4074, os três Órgãos reunidos em um Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos, publicaram a Instrução Normativa Nº 49 para incluir dispositivos detalhando o registro por equivalência. O Comitê conseguiu desagradar gregos e troianos, leiam-se empresas que desenvolveram os ingredientes ativos e empresas copiadoras após o venciNº de ingredientes ativos com três (3) ou mais empresas ofertantes 50 51 51
OBS: No número de ingredientes ativos estão incluídas também as misturas de ingredientes ativos
CONCENTRAÇÃO DA OFERTA 04 empresas 07 empresas 10 empresas Demais empresas MERCADO TOTAL
mento das patentes. Essas empresas, adversárias comerciais naturais, deram um exemplo de democracia e apresentaram em conjunto ao governo uma proposta de modificação da IN 49, através de suas entidades representativas. Estamos em setembro de 2003, vinte (20) meses após o Decreto 4074, e nada foi resolvido. O regime da equivalência continua sendo uma quimera. Pior! Hoje só existe uma forma de registrar um defensivo agrícola genérico: apresentar dossiês completos, agronômico, toxicológico e ambiental, tal qual o exigido para novos ingredientes ativos. De tal forma que um produto genérico só é registrado através de acordos entre as empresas maiores, que trocam dossiês de produtos em alianças para dotar suas linhas de venda do máximo possível de opções para tirar melhor proveito das demandas regionais. As empresas médias e pequenas ficam fora do tabuleiro. Voltam, ou por outra, continuam a mendigar sombra do guarda-sol das grandes. O Decreto 4074, introdutor do regime de equivalência, foi fruto de intensa discussão da sociedade e agora vira letra morta naquilo de mais contributivo que trouxe para afrouxar as amarras deste mercado oligopolista. Faltava rumo, agora falta pulso na go. vernabilidade! MERCADO BRASILEIRO EM BILHÕES DE DÓLARES 2000 % 2002 % 1,19 48 1,03 53 1,75 70 1,50 77 2,14 85 1,73 89 0,36 15 0,22 11 2,50 100 1,95 100
Sara Shalfon
Café
Controle de ferrugem Apesar da ferrugem, o Brasil conseguiu manter sua hegemonia na produção de café, mas novas estratégias para o seu controle precisam ser adotadas, já que é possível observar alterações no comportamento da doença
A
s espécies mundialmente cultivadas do gênero Coffea, particularmente Coffea arábica L., foram fatores de enriquecimento de países africanos, asiáticos e de ilhas tropicais. No entanto, o aparecimento da ferrugem, doença causada pelo fungo Hemileia vastatrix Berk. & Br., cujo primeiro registro ocorreu na África em 1861, teve efeitos dramáticos para a cultura e conseqüentemente para as populações de alguns desses países. As lavouras decaiam a cada ano, o povo emigrava de onde suas famílias haviam vivido por gerações, bancos e empresas faliram e todos os países severamente atingidos pela doença tornaram-se empobrecidos. Introduzida nas Américas, a cultura do café apresentou-se inicialmente livre da doença, mas já era de conhecimento dos patologistas que as cultivares altamente produtivas, propícias à obtenção de produto de padrão qualitativo elevado eram susceptíveis à ferrugem. Tal fato fez com que os pesquisadores permanecessem especialmente vigilantes em relação à ferrugem, temendo a introdução da doença. 36
Cultivar
Em 1970, cafeicultores e patologistas defrontaram-se com a realidade da presença da ferrugem, naquele que tornara-se o maior país produtor de café do mundo – o Brasil. A ferrugem foi constatada e disseminou-se rapidamente para todos os Estados produtores do país. Na Figura 1 encontra-se ilustrada a tentativa de exclusão da doença através de barreiras visando impedir a sua disseminação para áreas do país supostamente indenes. Configurou-se então uma perspectiva de que a doença exerceria uma ação devastadora para o parque cafeeiro brasileiro, assim como para todo o resto da América Latina. No entanto, hoje transcorridos mais de trinta anos da primeira constatação da ferrugem no Brasil, verifica-se que o país manteve sua hegemonia como maior produtor mundial de café e como se não bastasse, atribui-se à necessidade de adaptação das propriedades cafeeiras e das próprias lavouras, visando viabilizar a aplicação de medidas de controle químico, um salto tecnológico no conjunto de práticas www.cultivar.inf.br
de cultivo e preparo do café. Cientes de que o controle genético através de obtenção de cultivares resistentes ou tolerantes à doença seria a medida ideal, as instituições de pesquisa iniciaram o desenvolvimento de um vigoroso programa de melhoramento, mas cujos resultados esperados seriam a longo prazo em se tratando de uma cultura perene como o café. Paralelamente, medidas visando a convivência com a doença passaram a ser pesquisadas, entre elas aquelas visando a otimização das medidas de controle químico (seleção de produtos, doses, épocas e técnicas de aplicação) e de caráter cultural (adequação de espaçamentos, utilização de cultivares de porte mais baixo como a Catuaí, podas das cultivares de porte mais alto) e rapidamente implementadas visando atenuar os danos causados pela doença já disseminada no parque cafeeiro. Os fungicidas à base de cobre foram, por muito tempo, quase os únicos produtos utilizados no controle da ferrugem até que, mais recentemente, surgiram novos produtos de diferentes composições químicas, alguns de maior espectro e outros Agosto de 2003
de uso mais específico (Becker – Raterink et al., 1991). Dessa forma encontram-se recomendados, atualmente, além dos fungicidas cúpricos, os fungicidas sistêmicos que exercem efeito curativo sobre as lesões. Os fungicidas sistêmicos, lançados no mercado nos últimos anos têm demonstrado elevada freqüência na redução do inóculo residual, permitindo o retardamento do início das pulverizações e a redução de seu número, quando aplicados por meio de pulverizações ou via sistema radicular (Silva – Acunã et al., 1993). A formulação dos fungicidas sistêmicos na forma granular, associada ou não a um inseticida possibilitando sua aplicação ao solo, proporcionou uma alternativa válida para o controle de ferrugem em áreas de topografia acidentada, sem disponibilidade de água (Silva – Acunã et al., 1993), em plantios adensados e em lavouras extensivas. Deve-se observar, no entanto, que o sucesso de medidas de controle químico depende do atendimento de exigências inerentes aos fungicidas utilizados, como o caso daqueles aplicados através do solo, que exigem a presença de umidade e um período de absorção e translocação para a concentração do produto nas folhas a um ní-
Figura 1
vel tal que o mesmo atue eficientemente sobre o fungo (Deall, 1990). Para garantir o êxito do controle químico, é ainda indispensável a aplicação do fungicida no momento apropriado, de acordo com o ciclo da doença e sua dinâmica no transcurso do ano. Esta, por sua vez, encontra-se relacionada com as variações climáticas ocorridas durante o ano, uma vez que elas afetam o patógeno, o hospedeiro e, conseqüentemente, as rela-
ções patógeno e hospedeiro (Chalfoun e Lima, 1986). Com a introdução da ferrugem no Brasil, pôde-se a partir de 1970, fazer observações sobre o progresso da doença em condição de clima sub-tropical, com períodos bem definidos, de acordo com as estações, uma de primavera/verão quente e úmido e outra de outono/inverno frio e geralmente seco. Observou-se ainda que, em áreas mais quentes do mesmo Estado,
...
Figura 2
Sara Shalfon
Efeito curativo de fungicidas sistêmicos sobre a ferrugem: pústula curada
a manifestação da doença parecia ficar bloqueada devido ao efeito de temperaturas elevadas (Camargo, 1978). No entanto, tem-se constatado nos últimos anos alterações climáticas, tais como atraso no início do período chuvoso, ocorrência de temperaturas elevadas no início do verão, inverno atípico (temperaturas mais elevadas e ocorrência de chuvas esporádicas) que têm determinado alterações nas curvas de progresso de ferrugem durante o ano (Talamini, 1999), conforme ilustrado na Fig. 2 onde encontram-se representados os valores das médias das curvas de progresso da ferrugem em São Sebastião do Paraíso referentes aos anos de 1991 a 1995. Verifica-se que em alguns anos, a ocorrência de atrasos nos inícios das chuvas e posteriormente a ocorrência de temperaturas elevadas no início do verão (dezembro) têm retardado a fase de atividade marcante do patógeno, fazendo com que o ponto de inflexão da curva de progresso da doença, que é o ponto a partir do qual a doença deve ser controlada, ocorra em meses posteriores (janeiro/fevereiro) em relação aos observados anteriormente. Por outro lado, temperaturas médias mais elevadas durante o inverno e ocorrência de chuvas esporádicas têm aumentado a duração da incidência máxima da ferrugem. Dessa forma a curva de evolução da doença, nesses anos, tem se deslocado para a direita, ou seja, com início de desenvolvimento mais tardio e permanência em níveis elevados no final do ciclo da doença, ocasionando desfolhas por ocasião do período de estabelecimento dos frutos. Tal fato tem representado uma dificuldade na obtenção de sucesso do controle através de aplicações antecipadas conforme recomendado para al38
Cultivar
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guns produtos (out/nov), exigindo a adequação das medidas de controle à dinâmica do clima e da doença. Observou-se o sucesso do controle obtido através de tratamentos com uma aplicação foliar de produto sistêmico mais uma de fungicida cúprico; de duas aplicações com produto sistêmico, aplicados via foliar sob condições de elevada incidência da ferrugem; e nas plantas não pulverizadas apenas ajustando-se a época das aplicações para os meses de dezembro e janeiro. Na Fig. 2 econtram-se representados as curvas de evolução da absorção de um produto sistêmico aplicado através do solo e a curva de progresso da ferrugem. Observa-se que quando a concentração do produto já decresceu na planta, o mesmo ainda está sendo requerido, devido à elevação de ferrugem no final do ciclo. Nesta situação, seria recomendável optar-se por outra estratégia de controle. Conclui-se, portanto, que decorridos 30 anos após a primeira constatação da ferrugem, ainda temos observado alterações no comportamento da doença, em função de tratar-se de um fenômeno biológico diretamente relacionado com as condições ambientais, levando os produtores a atribuir erroneamente o insucesso no controle à ineficácia dos produtos ou ao desenvolvimento de resistência do patógeno. Dessa forma, as constantes alterações climáticas ocorridas nos últimos anos são fatos relevantes a serem considerados na definição da estratégia de controle químico da doença, principalmente no que se refere à seleção da natureza química do fungicida a ser utilizado (sistêmico, proteAgosto de 2003
...
...tor, ou ambos) e a época de aplicação.
Curvas de progresso da ferrugem do cafeeiro em relação à absorção de fungicida aplicado via solo
para a racionalização das medidas de controle químico, através da redução do número de aplicações de fungicidas. Os métodos de controle culturais indicados consistem basicamente em manter o bom estado nutricional dos cafezais e redução de condições de sombreamento através da utilização de espaçamentos adequados em áreas muito propícias ao desenvolvimento da doença, visando retardar a ação do fungo, contribuindo para a eficácia das demais medidas de manejo da doença. A despeito dos significativos avanços obtidos desde a primeira constatação da ferrugem no Brasil, com o desenvolvimento de técnicas que permitem a convivência com a doença, mantendo-a em patamares abaixo dos níveis de dano, considera-se que a doença pode ainda, sob condições ambientais favoráveis e quando não controlada ou controlada inadequadamente, promover severos danos às produções e
à longevidade dos cafeeiros. Cabe aos técnicos e cafeicultores dotados dos conhecimentos quanto aos fatores associados ao patógeno, hospedeiro e ambiente e suas interações adotarem as medidas adequadas para as situações particulares das regiões, das lavouras ou mesmo de diferentes talhões dentro de uma mesma lavoura. A doença um vez introduzida no Brasil, embora não tenha exercido a ação devastadora inicialmente prevista, prossegue representando riscos à lucratividade e conseqüentemente à sustentabilidade da cafeicultura, não devendo portanto, ser relegada a segundo plano dentro de um programa de boas práticas culturais e de ma. nejo dos cafezais. Sara Maria Chalfoun e Igor Chalfoun, Epamig
Fotos Sara Shalfon
Sabe-se, também, que a alta produção, que promove um desequilíbrio nutricional, tornando os cafeeiros mais predispostos à ocorrência da ferrugem, é um fator a ser considerado na definição de medidas de controle. Os trabalhos de melhoramento desenvolvidos pelas instituições de pesquisa do país têm buscado, vigorosamente, entre outros fatores, disponibilizar variedades resistentes ou tolerantes à ferrugem. No entanto, devese considerar, conforme citado anteriormente, que por tratar-se de uma cultura perene, os resultados de um programa desta natureza vêm sendo obtidos ao longo do tempo, bem como tem sido gradativa a substituição do parque cafeeiro que ainda é constituído, em sua grande maioria, por cultivares susceptíveis à ferrugem. Entre as cultivares resistentes e tolerantes à ferrugem já em cultivo no país e com sementes disponíveis citase: Icatu, Oeiras MG 6581, Obatã, Tupi, IAPAR 59, IBC Palma e Catuaí (Carvalho, Cunha e Chalfoun, 2002). Ressalta-se ainda a grande importância na disponibilidade de tais variedades, visando o controle da ferrugem, principalmente em sistemas de cultivo onde o emprego do controle químico sofra restrições, seja por imposição das entidades reguladoras como no caso da cafeicultura orgânica, seja pela dificuldade de operacionalização das aplicações como no caso dos plantios em menores espaçamentos (cultivos adensados), próximos a mananciais e plantios em declive. Além disso, dentro da filosofia preconizada de integração de medidas visando o controle de doenças, o emprego de variedades tolerantes à ferrugem pode contribuir
Controle químico com uma aplicação de produto sistêmico e uma à base de cobre
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Cultivar
Tratamento com duas aplicações de produto sistêmico
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Plantas que não foram submetidas a nenhum controle químico
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Fotos José Noldin
Arroz
Cruzando com o inimigo O cruzamento entre o arroz transgênico e o vermelho pode acontecer nos dois sentidos, ocasionando resistência da planta daninha ao herbicida e inviabilizando esta tecnologia
O
arroz-vermelho (Oryza sativa L.), também conhecido como arrozdaninho, é uma planta daninha que causa elevados prejuízos à produtividade do arroz irrigado no Brasil. As populações de arroz-vermelho infestantes nas lavouras são bastante variáveis, mas os tipos mais comuns e predominantes são o arroz-vermelho e o arroz-preto, respectivamente com glumas cor palha e preta. A denominação arroz-vermelho deve-se à cor avermelhada do pericarpo das sementes após a remoção das glumas. O arroz-vermelho é uma planta não invasiva de áreas não agricultáveis e restrita às áreas cultivadas de arroz irrigado. O principal mecanismo de disseminação é através do uso de sementes de arroz contaminadas com sementes da planta daninha. Até recentemente, as recomendações de controle do arroz-vermelho em lavouras infestadas consistiam apenas na adoção de um conjunto integrado de práticas, que incluíam 42
Cultivar
o uso de sementes puras, uso do sistema de semeadura com sementes pré-germinadas e medidas de controle adotadas antes da implantação da lavoura como preparo do solo na entressafra e adoção do sistema de cultivo mínimo ou plantio direto. Por pertencer à mesma espécie do arroz cultivado, até então não existiam alternativa para o controle seletivo do arroz-vermelho em lavouras comerciais. Na década de 90, com o desenvolvimento da engenharia genética, surgiu a possibilidade do uso de cultivares transgênicas, transformadas para resistência a herbicidas não seletivos, como o amônio–glufosinato, permitindo, assim, o controle seletivo do arrozvermelho em áreas plantadas com as cultivares resistentes. A partir da safra 2003/04, o sistema “clearfield” de produção de arroz também estará disponível aos agricultores do Rio Grande do Sul, o qual possibilita o controle do arroz-vermelho em áreas comerciais com a www.cultivar.inf.br
utilização de cultivares resistente a herbicidas do grupo químico das imidazolinonas. O arroz, mesmo sendo uma planta autógama, apresenta taxa variável de cruzamento natural, cujo percentual depende dos genótipos envolvidos e das condições de ambiente. Por tratar-se da mesma espécie do arroz cultivado, o arroz-vermelho também está sujeito ao cruzamento natural com o arroz cultivado, produzindo híbridos que incorporam características de ambos, facilitando ainda mais a sua disseminação via sementes. Por outro lado, seria importante determinar também qual o sentido do cruzamento mais freqüente: do arroz cultivado para o arroz-vermelho ou o contrário. A predominância de plantas de porte mais alto na maioria das populações de arroz-vermelho, comparado com as cultivares modernas, as mais utilizadas atualmente, é um fato que torna possível a predominância da direção do pólen do arroz-vermelho para o arroz cultivado, na geração de híbridos F1. Se este for o caso, os cuidados para evitar a ocorrência e disseminação de F1’s poderiam ser mais dirigidos aos campos de produção de sementes. No caso inverso, com o arroz cultivado doando pólen para o arroz-vermelho, as implicações serão igualmente importantes, pois o arroz-vermelho irá adquirir resistência ao herbicida, diminuindo assim a viabilidade do uso desta nova tecnologia em áreas infestadas, pois a eficiência do herbicida para o controle da planta daninha seria reduzida. O presente trabalho foi desenvolvido para determinar a taxa e o sentido do cruzamento entre uma cultivar de arroz resistente ao herbicida amônio-glufosinato e o arroz-vermelho, em condições de máxima coincidência de floração e mínima distância entre as plantas de arroz transgênico e o arroz-vermelho no campo.
METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido em duas etapas: I - conduzida a campo e II – conduzida em condições controladas em laboratório e casa-de-vegetação. Etapa I – Experimento de campo. O experimento a campo foi conduzido na safra 1999/2000, com a autorização da CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, na Unidade Experimental de Arroz da Agrevo, município de Rio Grande (RS). O experimento foi conduzido em área típica de lavoura e o arroz-vermelho semeado em quatro épocas visando promover situações em que ocorresse a plena coincidência de floração com o arroz transgênico. O arroz transgênico utilizado foi a linhagem ABR-151 , derivada da cultivar BR-IRGA 410. Foram utilizadas duas populações de arroz-vermelho: uma com glumas pretas (arroz-preto) e uma com glumas cor palha (arroz-vermelho). O arroz transgênico foi semeado em quaAgosto de 2003
Plantas híbridas: resultado do cruzamento entre arroz transgênico e vermelho
Tabela 1. Taxa de cruzamento natural entre o arroz transgênico (receptor de pólen) e o arroz-vermelho (doador de pólen). Épocas de semeadura
Índice de coincidência floral
Nº sementes avaliadas
3 4
70% 100%
6.000 6.000
3 4
70% 100%
6.000 6.000
Germinação (%)
Nº plantas atípicas F11
Taxa de cruzamento2
67,75% 67,75%
0 9
0 0,22%
67,75% 67,75%
0 1
0 0,02%
Arroz-vermelho
Arroz-preto
1 2
Número de plantas F1 proveniente de cruzamentos e apresentando as características fenotípicas do arroz vermelho ou do arroz preto; Calculada pela fórmula: % cruzamento = Número de plantas F1 x 100 Número de sementes x poder germinativo (%)
Panículas de arroz transgênico, vermelho e preto
tro (4) parcelas de 1 m x 1 m, em uma época fixa. Em cada lado da parcela de arroz transgênico, foi semeada uma parcela também de 1 m x 1 m, com cada um dos ecótipos de arroz-vermelho e arroz-preto, ou seja, ao redor de cada parcela de arroz transgênico existiam duas parcelas com arroz-preto e duas com arroz-vermelho. As parcelas com arroz-vermelho foram semeadas em épocas distintas, com intervalos de uma semana, visando proporci-
dos provenientes do cruzamento natural entre o arroz transgênico x arroz-vermelho - arroz transgênico como progenitor feminino. As sementes provenientes do arroz transgênico que ficaram expostas ao pólen de arroz-vermelho foram semeadas em casa-de-vegetação. Foram avaliadas 6.000 sementes do arroz transgênico para cada época. A identificação de plantas híbridas (F1) foi feita pela observação da presença de plantas atípicas através de
liadas no laboratório quanto à presença do gene bar de resistência ao herbicida amônioglufosinato. As sementes foram submetidas ao teste de germinação conforme protocolo estabelecido pela Embrapa Clima Temperado. Foram avaliadas 6.000 sementes de arrozvermelho e arroz-preto. Como comparativo, também foram testadas sementes do arroz transgênico, de uma cultivar não transformada (Epagri 108), do arroz-vermelho e do ar-
onar uma situação de máxima coincidência de floração entre o arroz transgênico e o arroz-vermelho e arroz-preto. Para medir o sentido do cruzamento, ambas os genótipos (arroz transgênico e arrozvermelho), foram considerados como receptores de pólen e, portanto, avaliados para determinação da presença de progênies F1 (plantas híbridas). Etapa II – Experimentos em condições controladas. a) Determinação da freqüência de híbri-
observação do fenótipo, com ênfase para as seguintes características: altura das plantas, ciclo (data floração), pilosidade das folhas, formato da panícula, tipo do grão, cor das glumas e presença de arista nas espiguetas. b) Determinação da freqüência de híbridos provenientes do cruzamento natural arroz-vermelho x arroz transgênico – arroz-vermelho como progenitor feminino. As sementes de arroz-vermelho e arroz-preto oriundas das parcelas de campo da etapa I, foram ava-
roz-preto, com e sem o tratamento herbicida (Quadro 1). As plântulas identificadas como suspeitas de serem positivas foram transplantadas em vasos na casa-de-vegetação e, posteriormente testadas para resistência ao herbicida com o pincelamento de uma folha com solução 1% de Finale.
RESULTADOS Etapa I: Experimento a campo. A coinci-
...
Tabela 2. Taxa de cruzamento natural entre o arroz transgênico (doador de pólen) e arroz-vermelho (receptor de pólen), estimados através do teste de sobrevivência de sementes em solução do herbicida amônio-glufosinato. Épocas de semeadura
Índice de coincidência floral
Nº sementes testadas
3 4
70% 100%
6.000 6.000
3 4
70% 100%
6.000 6.000
Germinação (%)
Nº plantas resistentes
Taxa de cruzamento(%)
75 69
1 11
0,02 0,26
85 74
7 3
0,14 0,07
77 80
308 0
-
Arroz-vermelho
Arroz-preto
Panículas de plantas F1 oriundas de cruzamento natural de arroz transgênico com o vermelho e o preto
Agosto de 2003
Testemunhas Arroz transgênico Epagri 108
-
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400 400
Cultivar
43
...dência floral plena entre o arroz-vermelho e o
arroz transgênico foi observada na época 4 de semeadura, enquanto que na época 3, a coincidência foi parcial, cerca de 70%. A estatura (comprimento do colmo) das plantas de arroz transgênico no campo foi 53 cm. A estatura do arroz-vermelho variou de 79 a 98 cm, média de 90 cm e do arroz-preto de 85 a 108 cm, média de 100 cm. Etapa II: Experimentos em condições controladas. a) Determinação da freqüência de híbridos provenientes do cruzamento natural do arroz transgênico x arroz-vermelho - arroz transgênico como progenitor feminino. A observação do fenótipo das plantas nas bandejas permitiu a identificação de plantas híbridas, as quais diferenciavam-se claramente das de arroz transgênico, por apresentarem arquitetura de planta e características morfológicas como maior estatura, ciclo diferenciado e panículas e grãos, similares àquelas apresentadas pelas plantas de arroz-vermelho e arroz-preto. Não foi possível a identificação de nenhum híbrido nas sementes de arrozvermelho e arroz- preto provenientes da época 3. Para a semeadura na época 4, na qual ocorreu coincidência plena de floração entre o arroz transgênico e os arrozes-vermelho e preto, foi detectada a presença de nove plantas híbridas no lote de sementes de arroz-vermelho e apenas uma planta no lote de 6.000 sementes de arroz-preto (Tabela 1). Neste caso,
a taxa de cruzamento natural observada entre o arroz transgênico e a espécie parental, foi de 0,22% para o arroz-vermelho e de 0,02% para o arroz-preto, observada sob condições de plena coincidência de floração e para parcelas adjacentes. b) Determinação da freqüência de híbridos provenientes do cruzamento natural arroz-vermelho x arroz transgênico – arroz-vermelho como progenitor feminino. Sementes germinadas em substrato com água resultaram em plântulas normais aos 14 dias, enquanto a germinação em substrato com solução herbicida, apenas aquelas portadoras do gene bar resultaram em plântulas normais. Neste estudo foram detectadas algumas plântulas normais germinadas na solução herbicida, nos lotes de sementes de arroz-vermelho e arroz-preto, para as épocas de semeadura 3 e
Fotos José Noldin
Quadro 1: Plântulas de arroz transgênico, Epagri 108 e arroz vermelho germinadas em substratos com água (1, 2 e 3) e com solução 0,1% de amônio-glufosinato (4,5 e 6)
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4 (Tabela 2). Todas as plântulas identificadas como resistentes no teste de germinação tiveram sua resistência confirmada após o transplante das plântulas em baldes na casa-devegetação. O número máximo de plantas resistentes foi observado no lote de semente de arroz-vermelho da época 4, com 11 plântulas (Tabela 2). As sementes (400) testadas da cultivar de arroz comercial Epagri 108 mostraram-se sensíveis ao herbicida amônio-glufosinato, enquanto o arroz transgênico apresentou plântulas normais. A taxa de cruzamento natural observada variou de 0,02 a 0,26%, considerando tanto o arroz-vermelho como o arroz-preto nas duas épocas de semeadura. Destaca-se, neste caso, o fato de terem sido detectadas progênies de arroz-vermelho e arroz-preto portadores do gene bar na época de semeadura 3, onde o período de coincidência de floração foi parcial, diferentemente do que foi observado no estudo para identificação de plantas de arroz transgênico polinizada por pólen de arroz-vermelho, onde não foi detectada a presença de plantas F1 de arroz transgênico com características do arroz vermelho. A taxa de cruzamento natural observada nos dois experimentos, onde o arroz transgênico seria a planta receptora de pólen do arroz-vermelho ou o arroz-vermelho receptor de pólen do arroz transgênico, foram similares. No primeiro caso, a máxima taxa de cruzamento observada foi de 0,22%, enquanto na segunda possibilidade avaliada, a taxa máxima observada foi de 0,26%. Em ambos os casos, estes valores foram observados nas parcelas com arroz-vermelho onde ocorreu coincidência plena de floração. As taxas de cruzamento natural envolvendo o arroz transgênico, o arroz-vermelho e o arroz-preto observados nestes estudos têm sido inferiores aos que geralmente têm sido reportados na literatura, em experimentos que envolveram o cruzamento de arroz-vermelho com arroz cultivado, apesar de um restrito número de trabalhos terem sido realizados e/ ou publicados. No presente experimento, houve coincidência de floração entre o arroz transgênico e o arroz-vermelho e arroz-preto. Assim, as baixas taxas de cruzamento observadas poderiam estar relacionadas a fatores como Agosto de 2003
baixa compatibilidade entre os genótipos e fatores ambientais como temperatura e umidade relativa do ar no período de fecundação. Os valores das taxas de cruzamento natural observadas neste trabalho podem ser considerados baixos e estão em concordância com diversos resultados publicados por outros pesquisadores. Pesquisadores do INIA, no Uruguai relataram que o efeito da distância sobre o número de híbridos foi acentuado, tendo o valor máximo de 52,7 híbridos/10000 plan-
como: cultivar, características das populações de arroz-vermelho ou preto presente na lavoura e das condições ambientais, principalmente vento, umidade relativa e temperatura, os quais afetam diretamente a dispersão e sobrevivência do pólen no ambiente. A freqüência de híbridos presentes na população de arroz-vermelho será mínima em condições onde o nível de controle de arroz-vermelho for máximo e prevenir totalmente a floração de plantas de arroz-vermelho na lavoura.
1 A linhagem ABR-15 é propriedade da Bayer Crop Science e foi cedida para a condução . do trabalho. José Alberto Noldin, Epagri Satoru Yokoyama (in memoriam), Paula Antunes, Esalq/USP Renato G. Luzzardi, Rice Tec
tas (0,53%) na menor distância (0,5 m) e de 24,3 (0,24%) na distância de 3 m. A partir desta distância, observaram um decréscimo gradual e rápido no número de híbridos presentes na população, além de diferenças significativas entre as cultivares avaliadas. Os resultados deste trabalho sugerem que ocorre cruzamento natural entre arroz transgênico e o arroz-vermelho e arroz-preto, em ambos os sentidos, com o arroz transgênico sendo receptor ou fornecedor de pólen e que os índices de cruzamento dependerão do grau de sincronia de floração entre os genótipos envolvidos. A taxa de cruzamento natural estará ainda na dependência de outros fatores Agosto de 2003
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CONF AEAB CONFAEAB CONFEDERAÇÃO DAS FEDERAÇÕES DE ENGENHEIROS AGRÔNOMOS DO BRASIL
XXIII CBA O XXIII Congresso Brasileiro de Agronomia teve como objetivo discutir e traçar estratégias para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro Ana Imagens / Celso Filho
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ais de 800 engenheiros agrônomos e muitas autoridades participaram da abertura do XXIII Congresso Brasileiro de Agronomia (CBA), realizado de 2 a 5 de setembro no Ouro Minas Palace Hotel, em Belo Horizonte. O Congresso teve o objetivo de reunir profissionais da agronomia e da cadeia de agronegócios, empresas públicas e privadas, pesquisadores e demais interessados para traçar estratégias de atuação em busca do desenvolvimento sustentável e da dinamização do agronegócio brasileiro. O Ministro interino da Agricultura, Eng. Agr. José Amaurí Dimárzio, ressaltou a importância da valorização da iniciativa no campo, no sentido de fazer com que o pequeno produtor se torne um empreendedor. “Temos que ensinar o pequeno produtor a agregar valor ao que produz”. O presidente da Asociacion Panamericana de Ingenieros Agronomos (Apia), eng. agr. Carlos Pieta Filho, destacou a agricultura como a maior invenção da humanidade. “É uma invenção tão grande que ainda não acabou. Gera empregos e lucros, o PIB agrícola é sempre crescente”. Sua declaração foi endossada pelo presidente da Mútua - Caixa de Assistência dos Profissionais do Sistema Confea/Crea, eng. civil Henrique Luduvice, que fez questão de enfatizar
que o Brasil deve muito aos engenheiros e engenheiras dessa área. O presidente do Crea-MG, eng. civil Marcos Túlio de Melo, disse que a sociedade clama por um novo modelo que proporcione qualidade de vida e trabalho para a construção de um país socialmente mais justo e democrático. Apontando os contrastes brasileiros, lembrou: “Temos sucesso na safra de grãos, mas convivemos com a fome e importamos 70% do trigo consumido, entre outros produtos da cadeia alimentar”. O presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), eng. civil Wilson Lang, chamou atenção para o pacto social proposto pelo governo Lula com o Programa Fome Zero. “Sem esse pacto não será possível o resgate dos mais de 50 milhões de brasileiros que estão à margem do desenvolvimento”, e destacou ainda que mais de 50% de tudo que é produzido no Brasil não chega à mesa porque se perde nas estradas, portos, hidrovias e aeroportos em condições precárias. O patrono do XXIII CBA e homenageado do evento, eng. agr. Carlos Eugênio Thibau, considerado pelo presidente da Confaeab, eng. agr. Antônio de Padua Angelim, como a maior autoridade em preservação de terras do país, falou sobre a importância da sustentabilidade das florestas brasileiras. “Elas não podem ser in-
tocáveis. A preservação passa pela sustentabilidade e não pela intocabilidade”. O senador Aelton José de Freitas (PL/ MG), disse que é necessário incrementar a atividade agroindustrial sem perder de vista o desenvolvimento sustentável. Ele informou que está propondo a criação de uma comissão permanente da Agricultura e Pecuária no Senado, a estilo da que já existe na Câmara dos Deputados Federais. Câmara Temática – Entre moções, posicionamentos, discussão de temas polêmicos como os transgênicos, um dos fatos de maior destaque ocorridos no XXIII CBA foi a instalação da Câmara Temática de Ciências Agrárias, feita pelo Ministro interino da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, José Amaurí Dimárzio, no dia 02 de setembro. A Câmara Temática de Ciências Agrárias tem o objetivo de articular os diversos atores envolvidos na cadeia produtiva para servir de fórum de debate e subsidiar as decisões do governo relativas às questões agrícolas e agrárias, não só da produção, como da própria formação profissional. Ela não faz parte da estrutura do poder público, porém é formada por representantes deste, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada. Para conduzir os trabalhos da Câmara como presidente foi nomeado o eng. agr. José Leví Montebelo, representante da iniciativa privada e vice-presidente da Confaeab. Ele é produtor de grãos no sudeste de São Paulo. A secretaria executiva ficou a cargo do Eng. José Roberto Rodrigues Peres, representante do setor público, funcionário da Embrapa. O Ministro interino considera a Câmara um Fórum legítimo de debates. Para José Leví Montebelo, a criação da mesma é um processo de democratização de políticas públicas no setor agrícola do Brasil. Ele disse ainda que o momento é de harmonizar os vários elos da cadeia produtiva, deixando de lado os meros conflitos de atribuições existentes na categoria de agrônomo. A próxima reunião da Câmara será dia 30 de setembro, quando todo os órgãos que a integram irão apontar seus representan. tes.
Agronegócios
Descascando os alimentos funcionais A ciência a cada dia traz mais informações sobre as propriedades dos alimentos funcionais, que oferecem ao consumidor nutrição aliada à saúde
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mbora existam inúmeras referências sobre alimentos funcionais, e a ciência acrescenta, cotidianamente, novas informações sobre propriedades funcionais dos alimentos, é possível destacar, a vol d’oiseaux, alguns exemplos de produtos disponíveis ao consumidor, que imiscuem saúde e nutrição.
LINHAÇA A linhaça é a semente do linho, usada na elaboração de pães, bolos e assemelhados. O óleo de linhaça propicia a regularização do funcionamento do intestino e a revitalização da pele. Possui alta concentração do ácido graxo linolênico (cerca de 60%), que pertence ao grupo ômega-3, e de lignana, além de -caroteno, vitami-
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na E, glicosídios, linamarina, taninos e mucilagem. Seu óleo contém os ácidos graxos cis-linoléico, oléico, palmítico, -linoléico, esteárico e o y-linoléico que, além de ser reserva e fonte de energia, é vital para a formação do tecido nervoso, atuando na regulação da pressão arterial e da freqüência cardíaca. Auxilia na coagulação sanguínea, no metabolismo dos ácidos graxos, além de ativar o sistema imunológico do organismo e reduzir a taxa de LDL-colesterol do sangue. A linhaça fortalece unhas, dentes e ossos e torna a pele mais saudável. É antioxidante, atua em distúrbios do cólon, do sistema urinário, da próstata e em desordens menstruais. Utiliza-se para o tratamento de infecções (urinária, psoríase), distúrbios imunológicos (lupus), alergias e eczema, artrite reumatóide, aterosclerose, auxiliando no tratamento da asma e diabetes, e atenua a formação de radicais livres pelo stress. No intestino dos mamíferos são sintetizados o enterodiol e a enterolactona, através de bactérias que utilizam a lignana. Ambas as substâncias são similares aos estrógenos e possuem atividade hormonal fraca e ação anti-estrogênica, manifestando também ação anti-oncogênica (mama, próstata, endométrio). A associação da linhaça com uma dieta de baixa concentração de lipídios diminui a divisão celular e aumenta a taxa de mortalidade de células malignas de pacientes com câncer da próstata. www.cultivar.inf.br
SOJA Reconhecida milenarmente pela sua capacidade energética e pela qualidade protéica, estudos recentes demonstraram sua utilidade prevenindo e ajudando na cura de câncer, osteoporose, atenuação dos sintomas da menopausa e doenças cardiovasculares. Sua ação terapêutica deriva dos inibidores de protease, dos fitoesteróis, das saponinas e dos ácidos fenólicos. A soja é a mais importante fonte de isoflavonóides, em especial as isoflavonas genisteína e daidzeína, largamente empregadas como alternativa na terapia de reposição hormonal. Vitamina B, ácido fólico, iodo, magnésio, potássio e fósforo são outros componentes importantes da soja. A soja reduz a taxa de LDL-colesterol e de triglicerídios do sangue. A ingestão de soja contribui para a prevenção da osteoporose, devido à ligação dos isoflavonóides aos receptores de hormônio, o que influencia a reabsorção urinária e óssea do cálcio. O consumo de soja possibilita reduzir o desconforto feminino durante o período do climatério e a subseqüente menopausa, especialmente reduzindo a intensidade e a freqüência de fogachos ou “ondas de calor”. Os fito-estrógenos presentes na linhaça e na soja são semelhantes ao estradiol, “enganando” os receptores hormonais. Os fito-estrógenos possuem atividade hormonal débil, se comparado aos hormônios naturais sintéticos. Experimentos científicos e estudos epidemiológicos mostraram que, indivíAgosto de 2003
duos ou populações que tenham por hábito ingerir soja, possuem menor incidência de tumores malignos, reduzindo o surgimento de câncer da próstata em 50%, mesma taxa de redução do câncer de mama, enquanto o índice de câncer de cólon é 40% inferior com o consumo regular de soja.
radicais livres, protegendo as células da oxidação. Alimentos contendo licopeno reduzem o risco de câncer intestinal, estomacal, da bexiga, do colo uterino, da pele e dos pulmões. Também previne o surgimento de doenças cardiovasculares pela redução da taxa de oxidação do LDL-colesterol.
TOMATE
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Consumir tomate (Lycopersicon esculentum) é o um “must” entre a população de meia idade, devido ao licopeno (a substância que confere cor vermelha) e que demonstrou potencial de redução da incidência de câncer, devido à sua ação antioxidante, que atinge entre 400% e 1000% da atividade média de outros carotenóides. O efeito antioxidante reduz a presença de
O consumo regular de alho reduz a incidência de tumores no estômago e no cólon. O alho inibe as nitrosaminas - nitritos e nitratos utilizados como aditivos em salames, copas, apresuntados e mortadelas - sendo uma das razões de seu efeito anti-oncogênico. O alho também atua na prevenção de doenças cardiovasculares, reduzindo a taxa de LDL-colesterol do san-
gue e regula a pressão arterial. Também favorece a absorção e a fixação das vitaminas de todo o complexo B. A bactéria Helicobacter pylori é responsável pela gastrite, úlcera e câncer gástrico, e as propriedades antibióticas no alho têm auxiliado o combate à H. pylori. O elevado teor de cisteína, precursor da alicina, confere ao alho a propriedade de fixar metais, poupando o fígado. O alho também é rico em arginina, um aminoácido que reduz o teor de amônia do organismo. Esse aminoácido é ligado à secreção do hormônio de crescimento (HGH), e estimula o . sistema imunológico. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
Tabela 01: Substâncias naturais que podem prevenir, evitar ou curar enfermidades e distúrbios Componente
Propriedades benéficas
Exemplos
Bífido-bacterias Arílicos Acido á-linolênico Carotenóides
Favorecem as funções gastro-intestinais, produzem vitaminas B12 e K Inibição da síntese do colesterol Estimula o sistema imunológico e reduz as inflamações Antioxidantes, anti-oncogênicos, reduzem o acúmulo de plaquetas
Catequinas Cumarinas Flavonóides
Reduz a incidência de câncer do intestino, estimula o sistema imunológico. Atividade anti-oncogênica, antibiótica, previnem a coagulação não desejada do sangue, atuam no tratamento da salmonelose. São protetores vasculares, possuem propriedades espasmolíticas,e vasodilatadoras, fotosensibilizantes (tratamento da psoríase). Atividade anti-oncogênica. espasmolíticos, vasodilatadores, antiinflamatórios, antiulcerosos, antioxidantes
Iogurtes e produtos lácteos fermentados Extrato macerado de alho Óleos de linhaça, colza, soja; nozes e amêndoas Tomate, cenoura, abóbora, espinafre, acelga, frutas cítricas, melão, pêssego Chás, cerejas, uva, vinho tinto, chocolate Cenoura, frutas cítricas, canela
y-glutamil cisteína alílica Indóis Isotiocianatos Limonóides Licopeno Monoterpenos
Redução da pressão sanguínea e favorecimento do sistema imunológico Desativam os estrógenos Indutores de enzimas protetoras Indutores de enzimas protetoras Antioxidante, anti-oncogênico, tolerância à radiação UV Inibem a produção de colesterol, antioxidante, anti-oncogênico
B-glucanos Oligossacarídeos Isoflavonas Fibras insolúveis Ácidos Fenólicos Ftálidos
Protege contra enfermidades cardiovasculares Ativam a microflora intestinal Ação anti-oncogênica Ação anti-oncogênica Ação anti-oncogênica, anti-sépticos Simulam a produção de enzimas benéficas, que possuem atividade anticarcinogênica
Poliacetilenos Triterpenóides Terpenos Triterpenos Lignanas Tanino
Protegem contra cânceres causados por substâncias presentes no tabaco Previnem as cáries, possuem ação anti-ulcerativa e antiinflamatória Anti-oncogênicos, antiinflamatórios Expectorantes, antiinflamatórios, adaptógenos, vaso-constritores, atenuam os sintomas do climatério Citostáticos , antiinflamatórios, hepatoprotetores Antioxidantes, anti-sépticos, vaso-constritores
Soja, cenoura, frutas cítricas, pepino, tomate, pimentão, berinjela, cereja, salsa, cerejas Macerado de alho Couve, repolho, brócolis Mostrada, rabanete Frutas cítricas Tomate, pimentão, melancia, cenoura, mamão . Cenoura, tomate, berinjela, pimentão, grãos integrais, frutas cítricas, cereja Aveia, cevada, milho, sorgo Frutas e cereais Soja e derivados Arroz integral, aveia, soja, lentilha banana, nozes Cenoura, tomate, berinjela, pimentão, frutas cítricas, couve, brócolis, cereja Cenoura, salsa Cenoura, aipo, salsa Soja, frutas cítricas, alcaçuz Frutas cítricas, teixo (Taxus baccata) Cicuta aquática, erva de lagarto Noz moscada, óleo de linhaça Maçã, sorgo, manjericão, manjerona, sálvia, uva, caju, manga
Tabela 02: Flavonóides em alimentos Nome
Componentes e onde são encontrados
Flavonas Flavanas Flavanonas Flavonóis Isoflavonóides Antocianinas
Frutos, especialmente os cítricos e em cereais, conferindo cor amarela. Pertencem ao grupo a tangeretina, luteolina, diosmetina e a apigenina Frutos e folhas (chás) não confere cor aos alimentos. As biflavanas encontram-se no lúpulo, nozes e água de coco. Compõem esse grupo a procianidina, o luteoforol, a theaflavina e a catequina. Frutas cítricas, possuindo cor amarelo palha. A hesperidina e a naringenina pertencem a esse grupo. São abundantes no reino vegetal e possuem cor amarela pálido. Os principais representantes do grupo são a quercetina, a rutina, a mircetina e o kaemferol. As leguminosas são a principal fonte de substâncias deste grupo, como a daidzeína e a genisteína. Conferem a coloração azul, roxa ou violeta para frutas e flores, como a uva e a berinjela. Cianidina, delfinidina e peonidina pertencem a esse grupo.
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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting
Plantio começa. Soja e arroz despontam para o crescimento O Brasil começou o plantio da safra de verão, que deverá estar com as grandes áreas em andamento neste mês de outubro, quando deveremos ver uma safra em crescimento, chegando à marca dos 46 a 47 milhões de ha plantados. Na safra 2001/02 foram plantados 40,2 milhões de ha, passando para os 43,8 milhões na safra passada e agora já projetando novo recorde de plantio. A soja deverá ser a cultura mais representativa com 20 a 21 milhões de ha, que vem motivada pelo bom desempenho econômico e, neste último mês, deu boas oportunidades de fechamentos de posições aos produtores que já garantiram parte dos ganhos do ano que vem. O arroz também mostra indicativos de crescimento de área com expectativas de 3,6 milhões de ha, quebrando, assim, um quadro que era de queda na área. Na safra de 2001/02 o arroz contou com 3,2 milhões de ha e nesta última safra reduziu em cerca de 40 mil ha, que devem ser cobertos com o avanço previsto no RS acima dos 50 mil, também em SC, e voltando a crescer no MT, que projeta chegar à marca dos 500 mil ha,crescendo sozinho quase 100 mil ha. Os bons preços e a boa liquidez do arroz têm estimulado os produtores ao avanço no plantio. O quadro das demais culturas mostra estabilidade à ligeira queda, principalmente no milho da primeira safra, que deverá vir com boa tecnologia, mas ceder espaço para a soja.
MILHO Mercado de poucos vendedores O mercado do milho mostrou avanço nas cotações em setembro, que chegaram aos melhores indicativos do ano, com os produtores recebendo dos R$ 13,00 aos R$ 19,00 por saca, sendo que os melhores valores pagos aos agricultores ocorreram em MG, SP e RS. Manteve as posições mais baixas no Centro-Oeste e Paraná, embora também apresentaram bom avanço sobre os meses anteriores. Os produtores continuaram segurando a safra e apostando em alta gora em outubro. As exportações seguiram cumprindo contratos, mas os exportadores não conseguiram manter o mesmo ritmo dos negócios de agosto. O mercado interno cresceu e ficou acima dos valores praticados nos portos e, assim, o ritmo dos negócios perdeu fôlego. O câmbio nos menores níveis do ano segurou o milho. Em outubro, o mercado estará com pouco fôlego para grandes avanços, porque ainda temos grandes volumes de milho para negociar, e somente a retenção deste pelos produtores é que poderá dar novo ânimo e mais ajustes positivos.
SOJA Melhores níveis do ano O mercado da soja conseguiu os melhores níveis do ano em setembro e mesmo assim muitos produtores continuaram retendo a safra. Apostando em novas correções, que podem estar chegando ao seu limite neste mês de outubro. Estamos no pico da colheita da safra americana, e safra é sempre safra, que normalmente força com grandes ofertas e limita o crescimento das cotações. Com isso, poderemos ter pouco fôlego para ganhos e, para aqueles que ainda não garantiram parte da safra nova com fixação futura em dólar, que em setembro chegou a dar números acima dos US$ 11,00 aos produtores para abril, podem ainda aproveitar do momento para fixar parte do que colherão para não correr o risco de vender tudo num momento só ou também de chegar a colheita e enfrentar um mercado abaixo destes valores. A safra velha
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também está dando oportunidades de fechamentos, porque ainda temos grandes volumes de soja a negociar e não podemos deixar tudo para o final do ano ou para a safra que vem, correndo o risco de comprometer as cotações futuras com excesso de oferta.
FEIJÃO Final da colheita do Nordeste O mercado do feijão chegou ao final da colheita da safra nordestina e, neste mês de outubro, estará todo à disposição do produto irrigado, que tem custos e qualidade maiores que o produto de sequeiro. Deveremos, assim, ver os vendedores pressionando para recuperar parte das cotações que recuaram desde junho e estavam ao redor dos R$ 60,00 e R$ 65,00 em setembro. Podendo agora voltar a trabalhar acima dos R$ 70,00 e chegar aos indicativos pretendidos, que são de R$ 80,00 acima. A oferta do feijão preto continuará escas-
sa, forçando as posições para cima. A demanda que andou em baixa nos últimos dois meses poderá crescer agora em cima do avanço das cotações das carnes.
ARROZ Importados chegando e mercado lento O mercado do arroz estará com grandes volumes de arroz importado batendo as portas neste mês de outubro. Com o câmbio abaixo dos R$ 3,00, este arroz chegará ao mercado brasileiro com base do casca abaixo dos R$ 30,00, podendo vir a forçar ainda mais o mercado que foi lento em setembro e que teve queda de 10 a 15% no consumo nestes últimos dois meses. A demanda está em ritmo lento e a pressão de venda poderá crescer forte agora, dificultando as tentativas de alta que normalmente os produtores realizam em outubro e novembro. O plantio da nova safra estará a todo o vapor de agora em diante.
CURTAS E BOAS SOJA - em setembro o USDA surpreendeu o mercado com os números da safra americana, trazendo 71,9 milhões de t, contra as expectativas de 75, e poderá surpreender novamente em outubro. Em outras épocas já havia feito isso e, na colheita, corrigiu os números para cima e derrubou o mercado. Esperamos que isso não aconteça, mas é bom estar atento. FAO - os dados da produção de grãos apontaram para a casa das 1,87 bilhões de t, com o mundo devendo consumir 1,96 bilhões de t, ou seja, mais um buraco de 90 milhões de t, que vem derrubando os estoques mundiais fortemente. Isso é bom para o Brasil, que é um país em crescimento nas exportações. MILHO - a safra americana de milho deverá situar-se ao redor das 250 milhões de t que, segundo o USDA de setembro, vira em 252,6 milhões, mas cresce a indicação que poderá ser um pouco acima. Mesmo assim, abaixo do consumo local que no mínimo leva 260 milhões de t. Assim, o quadro do milho não terá como se recuperar em 2004, e o Brasil corre o risco de ter que importar com cotações muito altas. TRIGO - a safra brasileira continua chegando e neste mês entram em colheita as lavouras gaúchas, que são as últimas a serem colhidas no país. Pelo que se observa, deverá chegar à marca das 5 milhões de t, contra um consumo estimado em de 9,5 milhões. Colocamos como alerta que a comercialização tem de ser realizada em partes porque o trigo nos moinhos normalmente é usado em forma de mistura e dificilmente veremos os moageiros comprando grandes quantidades em pouco espaço de tempo. ALGODÃO - a boa comercialização desta safra, que mesmo com câmbio em baixa deu grande lucratividade aos produtores, está estimulando o setor ao aumento do plantio e da tecnologia, que deverá fazer com que a produção passe da casa de um milhão de t, contra as 847 colhidas neste último ano. Os produtores vêm garantindo os novos números com fechamentos antecipados de exportação para 2004.
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Agosto Maio de 2003