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Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 12º andar Pelotas – RS 96015 – 300
Disputa por espaço Manejo de plantas daninhas na cultura de algodão, através de rotação de cultura e produção de palhada
www.grupocultivar.com Diretor de Redação Schubert K. Peter
“Cultivar” e “Agrotécnica” são marcas registradas do Grupo Cultivar de Publicações
Cultivar Grandes Culturas Ano V - Nº 55 Outubro / 2003 ISSN - 1518-3157
Do capim ao milho
www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 98,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Números atrasados: R$ 15,00
Praga das pastagens, a lagarta dos capinzais pode atacar lavouras de milho e provocar perdas totais
Assinatura Internacional: US$ 72,00 68,00 • Editor:
Charles Ricardo Echer • Consultor
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Newton Peter OAB/RS 14.056
Devassa na soja
• Coordenador de Redação
Janice Ebel
Com perdas nunca inferiores a 85% a necrose da haste pode levar a perdas totais da lavoura
• Revisão
Vandelci Ferreira • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia _____________
• Gerente Comercial
Neri Ferreira
Cigarra da raiz
• Assistentes de Vendas
Pedro Batistin Érico Grequi
Com a diminuição das queimadas em canade-açúcar, a cigarrinha da raiz passou de praga secundária para primária
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• Gerente de Circulação
Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Jociane Bitencourt Luceni Hellebrandt • Expedição
Edson Krause • Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:
3028.4013/3028.4015 • ASSINATURAS:
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3028.4013 • REDAÇÃO:
3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:
3028.4004 / 3028.4005 • FAX:
3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
índice Diretas Cartas Interferência de invasoras no algodão Coluna Aenda Problemas no plantio de transgênicos Lagarta dos capinzais ataca o milho Ferrugem branca do milho O ataque da broca da cana em milho Coluna Confaeab Severidade da necrose da haste Manejo de plantas daninhas em soja Quebra de dosagem de defensivos Cigarra da raiz em cana-de-açúcar Safra recorde de trigo Cigarrinha da raiz em café Agronegócios Mercado agrícola
Nossa capa 04 05 06 10 12 14 18 20 24 26 30 34 36 40 42 48 50
Foto Capa / Álvaro Almeida
diretas Embrapa Soja A agrônoma Vânia Castiglioni Assume chefia Geral da Embrapa Soja. Desde 1989 trabalha com pesquisas em girassol, além de exercer cargo de chefe adjunto de administração por duas gestões na empresa. “Para atingir nossos objetivos pretendemos estreitar os relacionamentos com os diversos segmentos da cadeia produtiva da soja, do girassol e do trigo no Brasil e ainda articular novas parcerias internacionais”, afirma a nova chefe.
Trigo no Brasil central
Pedro Hugo Borre e Ana
Natural de São Miguel das Missões, noroeste do RS, agricultor Pedro Hugo Borre (na foto com a esposa Ana), com grandes investimentos na Chapada Diamantina, decidiu que o local é próprio para o plantio de trigo. Plantou este ano 100 hectares com irrigação via pivô central, colhendo em média 5,8 toneladas/ha. O sucesso o estimulou a aumentar a área para 600 hectares na próxima safra. “Seu” Pedro ainda cria gado e também é marco em produtividade em batatas e cebola na Bahia, onde as fazendas são administradas pelo filho Ivo.
Tecnologia A Monsanto anunciou a doação de parte de suas pesquisas em biotecnologia ao HarvestPlus, visando auxiliar o desenvolvimento de uma nova variedade de milho com níveis mais elevados de provitamina A ou betacaroteno, o precursor da vitamina A no organismo humano. O HarvestPlus é um programa mundial que busca o desenvolvimento de novas variedades de sementes enriquecidas com nutrientes para combater desnutrição em países em desenvolvimento.
Novo mercado A multinacional italiana Sipcam Agro entra na briga pelo mercado de defensivos agrícolas. Segundo o coordenador da área se soja, Ernesto Bellotto, a empresa antes voltada para o mercado de defensivos para citros, cana-de-açúcar, café e hotifrutis, pretende em curto prazo, concentrar suas vendas em grandes culturas, como soja, algodão e milho. Com a liberação do DOMARK 100 CE, fungicida para soja, a empresa pretende dobrar a produção atual de 3 milhões de litros/ano.
Homenagem merecida Vânia Castiglioni
Qualidade O Mapa credenciou o laboratório da Milenia para analisar produtos fitossanitários com a finalidade de controle de qualidade e monitoramento interno e para fins de registro de produtos formulados.
Systhane CE A Dow AgroSciences acaba de ampliar o registro de Systhane CE. Fungicida do grupo dos triazóis, já conhecido no controle de Oídio da soja, é agora, também, a mais nova ferramenta contra a ferrugem Asiática (phakopsora pachyrhizi sydow).
O Conselho Nacional de Política Agrícola, do Mapa, homenageou a pesquisadora Johanna Döbereiner, que morreu em outubro de 2000, com a Medalha do Mérito Apolônio Salles, concedida pela destacada contribuição ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Na cerimônia, o representante será Jürgen Döbereiner, viúvo da renomada pesquisadora. Formada em Agronomia pela Universidade de Munique, Alemanha, em 1950, Johanna Döbereiner dedicou sua vida profissional à Microbiologia do Solo e, sobretudo, às pesquisas sobre Fixação Biológica de Nitrogênio. No Brasil iniciou seu trabalho em um dos Institutos do Ministério da Agricultura, situado em Seropédica (RJ), hoje Embrapa Agrobiologia. Os resultados de suas pesquisas tiveram consideráveis repercussões econômicas para o país, como programa brasileiro de melhoramento da soja, baseado no processo de fixação biológica de nitrogênio, foi influenciado por seu trabalho e representa uma economia anual de mais de um bilhão de dólares em fertilizantes nitrogenados. Em 1997, foi indicada para o Prêmio Nobel de Química. Johanna Döbereiner é a sétima cientista brasileira mais citada pela Johanna Dobereiner comunidade científica mundial - a primeira entre as mulheres.
Syngenta cresce A Syngenta anunciou os resultados dos nove meses de 2003. As vendas cresceram 6% em relação ao ano passado, atingindo US$ 5 bilhões. As vendas de denfensivos chegaram a US$ 4,23 bilhões, um aumento de 4%; as de sementes, US$ 764 milhões, aumentando US$ 17% em relação ao ano passado. Os herbicidas seletivos foram destaque na América do Norte, onde há plantio de transgênicos e, portanto, grande concorrência do Roundup da Monsanto. O crescimento do mercado brasileiro e argentino elevou a participação da receita da Amérca Latina para US$ 419 milhões (+13%) em defensivos e US$ 46 milhões (+20%) em sementes.
Empresa responsável
Novo diretor O produtor Rubens Pinho Silveira assumiu a diretoria comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Silveira planeja “o resgate da comercialização do arroz, com a utilização de mecanismos do governo federal para garantia de preço bem antes da colheita”.
Maria Fustaino
A FMC criou seu Comitê de Atuação Responsável, sob a liderança da diretora da área de Pesquisa e Desenvolvimento, Maria de Lourdes Fustaino. Seu principal objetivo é desenvolver e implementar técnicas para reduzir os riscos durante o processo em que esteja envolvido o uso de produtos fabricados ou distribuídos pela empresa.
Ampliação de mercado
Jorge Maeda
Algodão O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, Jorge Maeda, mostra-se otimista com relação a produção de algodão. Segundo ele, mesmo o mercado internacional sofrendo com os subsídios dos Estados Unidos ao algodão americano, o Brasil se destaca pelo reconhecimento da qualidade do seu produto. Com a recuperação dos preços internacionais e domésticos a perspectiva é o crescimento do setor.
Aniversário A Gehaka completa 47 anos e comemora a venda de mais de 1 milhão de testes de identificação de grãos geneticamente modificados. A empresa é fornecedora de equipamentos no segmento da agricultura para o controle e a avaliação da qualidade dos grãos e representante exclusiva no Brasil da SDI.
Gente nova Duas novidades no quadro da Dow Agrosciences no Brasil. A partir de novembro Welles Pascoal assume o posto de diretor de vendas no país, com interessante linha de ação. Também está assumindo o novo gerente de marketing em hortifrutigranjeiros. É o colombiano Eduardo Arenas.
A equipe de registro da área de Pesquisa & Desenvolvimento da FMC, conseguiu novos registros para os produtos FENIX, inseticida inovador para tratamento de sementes de soja e trigo, e AURORA 400 CE, herbicida pós-emergente agora com registro para arroz e batata.
Congresso de Agrobusiness
Rubens Pinho Silveira 04
Cultivar
A Sociedade Nacional de Agricultura – SNA promove o 5º Congresso de Agrobusiness, com o tema “Segurança Alimentar e a Cadeia Produtiva”. Ocorrerá nos dias 24 e 25 de novembro de 2003 na sede do Joquey Clube Brasileiro – centro, no Rio de Janeiro. O evento vai debater a segurança e qualidade na cadeia produtiva de alimentos (visando a demanda dos consumidores, boas práticas agrícolas e oportunidades de negócios) e promover discussões em torno do programa do governo que pretende garantir à população carente o acesso a boa alimentação. Na inauguração do evento será formalizada a Academia Nacional da Agricultura, com posse dos seus membros.
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Welles Pascoal Novembro de 2003
Cartas Quem ganha com os transgênicos? Sr. Editor Sou agropecuarista há 35 anos, não tendo qualquer vínculo ou admiração especial pelas multinacionais envolvidas neste processo. Fica muito difícil de se acreditar nos argumentos das pessoas (e entidades) que se posicionam contra os transgênico, aliás, no meu entender uma tecnologia “sem retorno” do ponto de vista evolutivo, quando tenta se expor os fatos de maneira tão parcial e incompleta, como no caso em pauta. Os argumentos de ambas as partes, publicados na edição 54 setembro/2003, páginas 31 a 35, foram muito bem expostos naquele número desta conceituada revista. Voltando ao artigo de Gabriela Vuolo - Quem ganha com os transgênicos? - gostaria de fazer algumas observações pontuais, que foram omitidas (propositalmente ou não) pela articulista: 1 - “Estudos científicos independentes ... ...que as plantas transgênicas utilizam na verdade mais herbicidas”. Creio ser um disparate, pelo menos no caso da soja, pois o glifosato (herbicida facilmente decomposto no solo) substitui no mínimo quatro outros (dentre eles chlorimuron, imazetapir, diclosulan, fomesafen, lactofe, aloxifop, clethodim, etc., etc.) todos muito mais persistentes que o mencionado glifosato. Porque não foi questionado o claro interesse dos fabricantes destes últimos em derrubar a soja transgênica? 2 - “A excessiva aplicação... ... aumenta os resíduos indesejáveis nos alimentos”. Exatamente o mesmo questionamento do item 1. 3 - “os transg|ênicos chamados Bt -... ...impacto sobre pragas que não prejudicam o milho como é o caso da borbolets Monarca.” Novamente a “queridinha dos americanos”, a borboleta Monarca!!! Faltou ser esclarecido que, e lagarta desta borboleta jamais ataca o milho, e que os resultados foram conseguidos “levando tecidos de milho Bt para lagartas famintas”, que morreriam. ...E disto, ninguém nunca duvidou, uma vez que estariam comendo um alimento projetado justamente para matar lagartas.
Cruzando com o inimigo Prezado Diretor, Recebi hoje o exemplar da Cultivar 55 - ano V, a qual continua cada vez mais admirada pelo conteúdo pragmático e sempre bem elaborado. Observei o artigo, à pagina 42, sobre Arroz geneticamente modificado e gostaria de tecer alguns comentários construtivos, face ao respeito que, como Engenheiro Agrônomo, nutro pela Revista Cultivar. Em minha opinião, tanto a chamada no índice como o subtítulo da matéria, não se amparam no teor do artigo científico a que se referem. Note que o estudo foi realizado com o objetivo de medir com precisão a taxa de cruzamento entre o arroz e o arroz-vermelho, o que até hoje era relatado com base em evidências de pouca precisão de medição. Para isto foi utilizado como material um arroz geneticamente modificado que tem um marcador eficiente de identificação (no caso a resistência à um herbicida específico). Este conhecimento científico permite avaliar todas as situações em que o cruzamento entre o arroz e o arroz daninho sejam motivo de avaliação de risco, ao dar a devida medida de exposição. Uma avaliação de risco independe de ser transgênico ou não e, aqui, a possibilidade de contar com um arroz transgênico foi o facilitador deste importante estudo no Brasil. A chamada de índice, entretanto, provoca a atenção no texto: “Cruzamento...ocasiona resistência da planta daninha aoS herbicidaS” (grifos meus). Isto está tecnicamente equivocado. Mesmo que o artigo quisesse investigar sobre este possível risco, a conclusão seria de que o cruzamento levaria a planta daninha a resistir à eficácia de um herbicida específico, não de todos os herbicidas. De fato há mais de 70 herbicidas registrados no Brasil para uso em arroz, o qual é resistente à maioria deles. A modificação genética neste arroz é pontual, e apenas permite que uma nova molécula no sistema (o Glufosinato de Amonio) possa ser usada de forma seletiva, em pós-emergência. Eventuais plantas de arroz-vermelho que cruzem são comprovadamente - também em estudos científicos locais - susceptíveis aos herbicidas antigos e utilizados no manejo desta invasora na cultura do arroz, portanto, sem impacto ou detrimento das boas práticas agronômicas. Já no subtítulo da página 42, indo além da conclusão e objetivo do artigo, afirma-se que a “a tecnologia será inviabilizada pelo cruzamento”, o que não é preciso. De fato em algum momento (mais que uma década), algum produtor terá em algum lote de sua propriedade algumas plantas de arroz-vermelho que não são mais passíveis de controle em pós-emergência, pelo uso do produto específico Glufosinato de Amonio. Entretanto, a eficácia do produto continuará sendo alcançada sobre todas as demais plantas daninhas - que não são menos importantes - e nos lotes onde os produtores adotaram as recomendações de uso da pesquisa e extensão. Mais que isso, estes focos de resistência são manejáveis (ponto anterior). Portanto, não há inviabilização, mas uma diminuição do potencial máximo de utilidade por um tempo em algum local. Que o arroz cruza com o arroz daninho é fato. O que o estudo - de alto gabarito por sinal - se propôs, foi quantificá-lo e qualificá-lo para servir de ferramenta de avaliação de risco para toda e qualquer tecnologia e, com ciência, diminuir o espaço da incerteza e da especulação. Vale ainda lembrar que há outras técnicas de modificação genética do arroz, para abrir a possibilidade de uso seletivo de novos herbicidas, que também têm sido utilizados como meio de mensurar a taxa de cruzamento. Aproveitando a oportunidade para novamente parabenizá-lo pela qualidade e conteúdo da Revista.
André Abreu, Ger. Desenv. Negocios Biotecnologia Bayer Seeds Ltda
4 - “Ao mesmo tempo, os Bt não são eficientes no controle de todas as pragas... ...e continuam demendando a aplicação de inseticidas”. Novamente uma meia-verdade. O Bt é um transgênico específico para coleópteros (lagartas de), e visa especialmente a Spodeptera (lagartado-cartucho) que representa 85% dos danos da cultura de milho. Claro que os restantes 15% deverão ser combatidos de outra maneira. Porém, o Bt livra novamente o agricultor de 2 ou 3 aplicações de químicos altamente tóxicos contra a spodoptera. e mais uma vez, porque não questionar o interesse dos fabricantes destes 2 ou 3 inseticidas que seriam substituídos? 5 - “Após repetidas aplicações ... surgem ervas daninhas resistentes,...” Ver nas páginas 22 a 24 do mesmo exemplar, o excelente artigo de Dionisio Luiz Piza Grazziero e Cássio Egídio Prete sobre “Resistência a toda prova” quando os pesquisadores abordam o problema exatamente com os herbicidas acima mencionados e que seriam substituídos pelo Glifosato na soja transgênica. Sem outros comentários. 6 - Não duvido de que a Coinbra tenha ganho até US$ 3,00/ton, o que seria um sobre preço quase insignificante. Mesmo assim gostaria que a Dra.Gabriela mencionasse um, apenas um agricultor que tenha recebido preços diferenciado para a soja convencional. Este é o grande engodo e o nó do problema . Os ricos (europeus e japoneses) querem que os subdesenvolvidos (brasileiros) conduzam uma cultura mais cara sem pagar o preço. Jamais isto será aceito pelos agricultores. 5 - “Um dos probelmas ambientais mais graves... ...é a contaminação de variedades tradicionais ou convencionais por transgênicos”.???. Estaríamos diante da possibilidade de cruzamento de “lagarto com tatu” ou coisa parecida? Gostaria de reafirmar a Dra. Gabriela que acredito em pesquisar o lado positivo e negativo de toda e qualquer nova técnica. Porém, discordo de se expor o problema de modo tão unilateral. Seria como tentar condenar todo sistema aeroviário porque de vez em quando cai um avião... Saudações
Eng. Agr. Ruy Pigatto, Paraná
Algodão
Disputa por esp A
prática de plantio direto vem sendo apontada como fator fundamental para a sustentabilidade do cultivo do algodoeiro no Brasil. Se por um lado, existem poucos estudos sobre esse sistema de plantio, o que é justificável, por ser prática recente na agricultura brasileira, por outro, é premente a necessidade de se adequar à agricultura a nova realidade, o que demanda urgência, nas pesquisas, nessa área de conhecimento. As plantas daninhas na fase inicial do ciclo do algodoeiro concorrem com a cultura na obtenção dos fatores de produção e, no final do ciclo, prejudicam a qualidade da fibra, dificultando a colheita, seja ela manual ou mecânica. A alta sensibilidade do algodoeiro às plantas daninhas na fase inicial do ciclo pode ser atribuída ao seu crescimento inicial lento em relação ao destas. Estas, geralmente ocorrem no campo em altas densidades e como são adaptadas às diferentes condições e possuem rotas fotossintéticas, altamente eficientes, dominam rapidamente a cultura do algodoeiro. Assim, o manejo inadequado das plantas daninhas, tanto no sistema de plantio direto quanto no convencional,
Picão-preto: problema na colheita e compromete qualidade final da fibra
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Cultivar
A sensibilidade do algodão na fase fase inicial inicial de de cultivo cultivo exige exige ação integrada no controle controle de de plantas plantas daninhas daninhas incluindo incluindo rotação rotação de de culturas, culturas, produção de palhadas e conhecimento do banco de sementes
Plântula (à esq.) de Bidens pilosa e (à dir.) aquênios que podem chegar a 3 mil por planta
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pode reduzir a produtividade e depreciar a qualidade da pluma, tornando assim inviável, do ponto de vista econômico, a cultura do algodoeiro. O grau de interferência da planta daninha sobre a cultura depende de fatores ligados à comunidade infestante (composição específica, densidade e distribuição) e à própria cultura (gênero, espécie ou cultivar, espaçamentos entre linhas e densidade de semeadura), bem como da época e duração do período de convivência planta daninha-cultura e das condições edáficas e climáticas.
Novembro de 2003
Fotos Rogério Freitas
aço Rocheli Wachholz
Quando as plantas daninhas e o algodoeiro convivem juntos por todo o ciclo o rendimento de fibra pode ser reduzido em mais de 90%. Outro fator que deve ser considerado é que algumas espécies de plantas daninhas, como Bidens pilosa (picão-preto), Cenchrus echinatus (capim-carrapicho) e Ipomoea spp. (corda-de-viola), em baixa densidade, podem não reduzir a produtividade, mas afetam a qualidade da fibra e dificultam a colheita. Com o objetivo de avaliar interferência de plantas daninhas nos plantios di-
Novembro de 2003
reto e convencional de algodão, realizaram-se experimentos em Viçosa e Capinópolis, ambos no primeiro ano de plantio direto. Em Viçosa observou-se tendência de redução na biomassa seca de plantas daninhas e na sua densidade, quando comparados os resultados obtidos no sistema de plantio direto os obtidos em sistema de plantio convencional. Entretanto, em Capinópolis, no Triângulo Mineiro, observou-se o contrário, ou seja, tendência de maior densidade de plantas daninhas no sistema de plantio direto. Alguns fatores que podem ter contribuído para essa divergência são a cobertura vegetal utilizada como palhada no sistema de plantio e também o banco de sementes do solo, visto que nos dois locais foi o primeiro ano de plantio direto na área. Em Viçosa o solo foi cultivado com para formação de palhada e, em Capinópolis, o solo permaneceu em pousio entre abril e novembro, quando foram semeadas as sementes do algodoeiro. Nessas condições, podem ocorrer inúmeras espécies de plantas daninhas, que proliferam e perenizam-se, produzindo grande quantidade de sementes. Embora sejam trabalhos realizados com outras culturas, vários autores têm relatado mudanças na importância relativa das espécies quando há troca do plantio convencional pelo plantio direto e essa mudança ocorre ao longo do tempo. As principais plantas daninhas que ocorreram na área no experimento realizado em Viçosa foram: Cyperus rotundus (tiririca), Ageratum conyzoides (mentrasto), Digitaria horizontalis (capimcolchão), Brachiaria plantaginea (capimmarmelada) e Raphanus raphanistrum (nabiça). A tiririca e a nabiça produziram mais de 50% da biomassa de plantas daninhas da área nos primeiros 60 dias de idade da cultura. Após esse período o mentrasto, o capim-colchão e o capim-marmelada foram as plantas de maior produção de biomassa. Observouse, nessas condições, que a interferência de plantas daninhas reduz a altura do algodoeiro e o número de maçãs e
Capim-carrapicho: infestação pode não reduzir a produtividade, mas afeta a qualidade
aumenta o número de dias para abertura da flor e para abertura de capulho, bem como o número de nós para a inserção do primeiro ramo frutífero, culminando com a expressiva redução na produtividade de fibra (Tabela 1). A altura do algodoeiro que se desenvolveu em convivência com as plantas daninhas, por 60 e 75 dias, após a emergência não diferiu daquela do algodoeiro que conviveu com as plantas daninhas por todo o ciclo. Observou-se também que, à medida que se aumentaram os períodos de convivência de plantas daninhas com a cultura do algodoeiro, ocorreu maior número de nós para o aparecimento do primeiro ramo frutífero. A altura de inserção do primeiro ramo frutífero, em relação ao número de nós, difere nas espécies, nas raças e nos cultivares de algodoeiro, mas pode ser modificada pelas condições ambientais. Acredita-se que com o aumento do período de interferência das plantas daninhas na cultura tenha limitado o
...
Tabela 1 Períodos de Convivência 0 15 30 45 60 75 Testemunha sem capina
Características Altura de plantas (cm) 108,70 97,82 93,42 83,77 79,05 68,62 68,02
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Antese (dias) 60,75 59,75 62,25 64,50 66,50 69,00 69,25
N de nós para inserção do primeiro ramo frutífero 6,90 7,47 7,32 8,12 8,95 9,30 10,70 o
No de maçãs por planta 14,25 12,62 9,02 6,55 3,97 1,75 1,45
Início da abertura de capulho (dia) 122,25 121,00 124,75 126,50 127,25 130,25 130,00
Produtividade (@ ha-1) 164,43 143,45 148,71 122,55 115,87 72,07 30,93
Cultivar
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Gráfico 1
Gráfico 2
...uso de água, luz e nutrientes e que isso
redução de produtividade de algodão em caroço de 5% em relação à produtividade máxima, estima-se em 14 dias após a emergência da cultura o período em que as plantas daninhas e a cultura do algodoeiro podem conviver sem prejuízos. A partir desse período as plantas daninhas devem ser controladas. Enfim, o manejo de plantas daninhas no sistema de plantio direto envolve ação integrada, em que vários aspectos são decisivos para a obtenção de bons resultados, incluindo rotação de culturas, produção de palhadas, integração com outras atividades, como a pecuária, conhecimento do banco de sementes e integração de métodos de controle. Desse modo, visando atender a uma sociedade cada vez mais exigente no que se refere a uso dos recursos naturais, qualidade dos alimentos e fibras que consomem, é necessário entender as interações plantas daninhas-cultura, a fim de que se possa intervir favoravelmente à cultura, com menor gasto possível. Assim, o estudo de interferência de plantas daninhas é de fundamental importância nas diversas regiões, respeitando o modo de cultivo do agricultor para que se aproxime ao máximo de sua realidade, otiC mizando assim, o uso dos insumos. Rogério Soares de Freitas, Lino Roberto Ferreira e Paulo Geraldo Berger, Univ. Federal de Viçosa, Pedro Carlos Pereira, Univ. Federal de Uberlândia
Fotos Rogério Freitas
pode ter interferido no número de nós para aparecimento do primeiro ramo frutífero (Gráfico 1). O número de maçãs por planta é reduzido pelo aumento do período de convivência com plantas daninhas (Gráfico 2). A queda das estruturas reprodutivas no algodoeiro é regulada pelo balanço entre açúcares no tecido e o teor de etileno. Portanto, qualquer fator que determine redução na fotossíntese (sombreamento, temperaturas elevadas) ou aumento no gasto metabólico, resultará em queda das estruturas reprodutivas. Assim, a redução no número de maçãs, com o aumento do período de convivência cultura-planta daninha, ocorre devido à interferência das plantas daninhas, que afeta negativamente as características do algodoeiro avaliadas e,
como conseqüência, provoca redução de emissão de estruturas reprodutivas, bem como queda acentuada das estruturas reprodutivas emitidas; conseqüentemente, a cultura fica com menor potencial produtivo. A convivência do algodoeiro com as plantas daninhas por 75 dias reduziu em 88% o número de maçãs e em 44% o rendimento de algodão em caroço. A ausência das plantas daninhas a partir desse período (75 dias após a emergência) até a colheita permitiu ao algodoeiro desenvolvimento de novas estruturas reprodutivas, que resultaram em produção. Isso ocorre devido, principalmente, ao fato de o algodão apresentar, em cada nó, onde se desenvolve uma folha frutífera, uma estrutura de reprodução com até três gemas: a principal, denominada axilar; a outra, extra-axilar; e uma terceira, mais rara, denominada acessória. Uma estrutura de reprodução pode cair, e a outra gema, que estava dormente (hipnoplasto), ser induzida a brotar e originar outra flor. Essa particularidade do crescimento e do desenvolvimento é importante para a sobrevivência da planta e da espécie, pois ocorre a possibilidade de recuperação da produção. Quando as plantas daninhas e o algodoeiro conviveram por todo o ciclo, ocorreu redução de 81,2% no rendimento do algodão em caroço, em decorrência da interferência das plantas daninhas, competindo com o algodoeiro por água, luz, nutrientes e espaço. Se for considerado como aceitável a
Plântula de capim-carrapicho (à esq.) e (à dir.) frutificações que se prendem aos capulhos de algodão
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Cultivar
14 dias é o período estimado de convivência entre o algodão e plantas daninhas sem prejuízos à cultura
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AENDA
Equilavência agronômica
©eia
Defensivos Genéricos
Saiba quais são os passos necessários para empresas se adaptarem ao novo regime de registro por equivalência química
O
governo já recebeu pedidos de registro de produtos pelo novo regime da equivalência química, embora a implementação desta técnica esteja ainda com procedimentos sendo elaborados, estando os processos ainda em avaliação. A equivalência internacional preceitua que uma vez comprovada a similaridade química entre dois produtos em grau técnico, e, se os dados toxicológicos de curto prazo não apresentarem discrepâncias que possam levantar suspeitas de riscos diferenciados chancela-se o produto como equivalente. Com isso, dispensa-se a necessidade de elaboração de testes toxicológicos e ambientais de médio e longo prazo. Por sua vez o produto para uso do agricultor, formulado a partir de um produto grau técnico equivalente, contém várias outras substâncias, chamadas de coformulantes ou de inertes, para dotar o produto de características que possibilitem a sua aplicação através de maquinários de distribuição sobre as lavouras, canteiros, sementes, etc. São, então, realizados alguns testes toxicológicos e ambientais para comprovar a condição de toxicidade conjugada à exposição do mix Produto Técnico + Substâncias Coformulantes. Evidente que esses coformulantes não podem reagir quimicamente de forma a alterar a identidade do ingrediente ativo contido no Produto Técnico. Eles também devem estar em um equilíbrio físico entre si e com o Produto Técnico para carrear da melhor maneira possível o ingrediente ativo até seu alvo. Esse equilíbrio físico tem parâmetros de qualificação bem estabelecidos em normas da ABNT. Porém, do ponto de vista agronômico vem sempre à baila uma pergunta: os coformulantes podem alterar a eficácia geral do produto?
Para analisar isso é necessário recorrer a vários exemplos para que se faça um quadro prospectivo que auxilie a compreensão geral do problema. Neste artigo não há espaço para tal. Fiquemos com um único exemplo hipotético que pode dar uma perspectiva de entendimento. Considere um herbicida A, contendo um coformulante nitrogenado, que acelere a absorção via estômatos e outro herbicida B (de mesma concentração, mesmo tipo de formulação e mesmo ingrediente ativo) que não contenha a substância condutora. O herbicida A apresentará sua eficácia mais rapidamente que o herbicida B, embora os resultados finais, passados alguns dias, sejam absolutamente semelhantes. Comercialmente, o vendedor do herbicida A dispõe de um bom argumento para induzir o potencial usuário a adquiri-lo. Mas, interpretando de forma agronômica, o que você diria? Vamos lá. Uma chuva forte horas após a aplicação daria ao herbicida A uma vantagem real de eficácia em relação ao herbicida B que teria sido lavado em parte e escorrido para longe do alvo. Mas, pense mais...O que realmente você provou? Provou que o ingrediente ativo do herbicida A é bom e que o ingrediente ativo do herbicida B simplesmente não foi aferido, visto não ter atingido o alvo. E, mais, se não houvesse a chuva, o agricultor teria o mesmo resultado com os dois herbicidas. Portanto, a diferença aparente foi forçada por uma situação crítica. Portanto, ou consideramos em condições normais de uso o herbicida A equivalente ao herbicida B ou teremos de alçar o coformulante nitrogenado à condição de um novo ingrediente ativo. Só o ingrediente ativo é a substância de efeito mortífero contra a praga-alvo. Se algum coformu-
lante tiver esse efeito cida ele deve ser investigado na condição de ingrediente ativo. Todos nós, obviamente, entendemos que a substância nitrogenada não se trata de um biocida. Perceberam? É por esse raciocínio que nos países que adotaram o regime da equivalência química não é necessário apresentar ao governo, para efeito de obtenção do registro federal e cadastro estadual, testes de eficácia para os mesmos usos de um produto referência. O teste de eficácia só se justifica para novos alvos ou para novos tipos de formulação que modifiquem a prática agronômica de aplicação do produto. Simples alteração da concentração do ingrediente ativo no produto formulado não justifica teste de campo, pois o efeito pesticida se manifesta na razão da quantidade por área ou por volume espacial, e nestes casos basta ajustar a dose proporcionalmente à diferença de concentração. Na prática, as empresas já procedem a testes de seus produtos na fase de desenvolvimento da formulação com seus próprios técnicos e, logo depois em universidades e institutos de pesquisa, visando na verdade a divulgação do produto, a melhoria da imagem da empresa ou eventual sustentação no caso de incidentes com o usuário. No caso de produto formulado derivado de produto equivalente, parece-nos lógico sustentar que não seria necessário realizar tais testes, ocupando o nobre tempo dos pesquisadores, desde que haja compreensão plena do papel da equivalência química do Produto Técnico e o das substâncias coformulantes, por parte das autoridades federais e estaduais. O assunto está em aberto no Brasil. Apreciaríamos receber opiniões a respeito no endereço eletrônico: C aenda@aenda.org.br.
Transgênicos
Plantio de risco
Massey Ferguson
Sem saber o que vem pela frente, os produtores iniciam o plantio de soja transgênica, mas não assinam termo de compromisso exigido pelo Governo
O
governo federal prorrogou até o dia 9 de dezembro o prazo para que os agricultores assinem o termo de garantia para plantar grãos de soja transgênica guardados para o uso próprio nesta safra. Houve prorrogação porque até o dia 26 de outubro, data limite anterior, somente 1500 produtores haviam comparecido às agências financeiras credenciadas a fim de se adequarem às normas de produção para este ano. É um número irrisório, considerando-se que só no Rio Grande do Sul há cerca de 150 mil produtores e que na safra passada a estimativa era de que 90% da soja colhida no Estado era geneticamente modificada. Desde o início do ano a postura do Governo não se firmou, tentando agradar ministros, produtores, simpatizantes, protestantes e todos que opinassem sobre transgênicos. Após o desfecho da comercialização da safra anterior, uma série de confusões e trapalhadas, tudo indicava que a decisão definitiva viria antes do plantio da safra 2003/2004. Isso acabou não acontecendo e, através de medida provisória, concedeu-se a liberação apenas para produtores que tivessem sementes estocadas e mediante assinatura do termo de compromisso em questão. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ainda não tem informações precisas sobre o número de produtores que assinaram o termo e desconhece os motivos do fracasso da campanha. Em nota à imprensa levantaram-se algumas possíveis causas, como o envolvimento dos produtores nas atividades de plantio da safra, paralisação dos funcionários dos principais agentes financeiros credenciados 12
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para receber o termo, e o fato de que muitos agricultores desconhecem a íntegra do documento. Na verdade, o governo perdeu o controle da situação e os agricultores, por outro lado, já se deram conta de que a saída para salvar a safra é não esperar mais e seguir o plantio. Com a prorrogação do prazo para 9 de dezembro, o governo acaba transferindo o problema para a próxima safra. Dezembro é o mês do recesso de final de ano no Congresso Nacional, que inicia na segunda quinzena e o prazo sem solução. A decisão novamente será adiada, provavelmente para março próximo, após festas, férias e carnaval. Neste período, os produtores estarão preocupados com a colheita e não mais com o plantio. O enfoque será outro, completamente diferente do que ocorre hoje, e o termo exigido hoje pelo governo passará liso porque os produtores estarão exigindo do governo uma solução para comercialização da safra. Embora a assessoria do Ministério não admita, o medo provavelmente é um dos fatores que mais pesa para o produtor na hora de tomar a decisão de assinar ou não o termo de compromisso. Como os termos são confusos, eles temem que o documento poderá ser usado contra eles, posteriormente. A MP em si é ambígua, dando margens para inúmeras interpretações, pois proíbe a comercialização dos grãos como sementes e também o plantio fora do Estado em que foram produzidas. Em outras palavras, só poderá plantar soja geneticamente modificada nesta safra quem já plantou na safra passada. Ora, tanto os agricultores que comprarem sementes neswww.cultivar.inf.br
ta safra, quanto os agricultores que possuem estoques, estarão de alguma maneira em dívida com a lei, quem tem sementes estocadas ou produziu ilegalmente na safra passada ou comprou grãos contrabandeados da Argentina. Portanto, entre a pergunta de que diferença faz plantar ilegalmente na safra passada ou nesta, o produtor não pode esperar mais por uma decisão já atrasada nem assinar algo que não conhece. A conclusão é que os produtores plantarão mais uma safra desconhecendo o destino dos grãos: guardar, vender ou esperar que o governo os queime. Enquanto isso, países importadores de soja também esperam uma decisão brasileira. O inglês John Ratcliff disse, em palestra realizada no 9º Congresso Mundial de Produção Animal, realizado em Porto Alegre, que a posição da Europa sobre os transgênicos vai ser decidida no Brasil. “O Brasil é o único país capaz de fornecer alimentos não-transgênicos em quantidade”, ressaltou. Até 2007, com a inclusão dos países do Leste Europeu, serão 500 milhões de consumidores na União Européia. A escocesa Elinor McCartney, consultora na Espanha, explicou que a legislação da UE considera alimento transgênico aquele que tem mais de 0,9% de organismos geneticamente modificados em sua composição. Mas a legislação não se aplica à carne de animais que foram alimentados com transgênicos. Na verdade, quem pretende aderir de vez à tecnologia ainda vai ter que esperar bastante para plantar com tranqüilidade. Não é a única conclusão a que se consegue chegar após presenciar os fatos, mas é C a mais provável de todas. CE Novembro de 2003
Milho Fotos José Martins
Do capim ao milho Praga das pastagens, com alimentação baseada em gramíneas, na escassez de alimento, migra para o milho, afetando lavouras podendo causar perdas totais da produção
A
lagarta-dos-capinzais, Mocislatipes (Guen., 1852), Lepidoptera: Noctuidae), também conhecida por curuquerê-dos-capinzais, é um dos insetos relacionados como praga da cultura do milho no Brasil, apesar de ser considerada de importância secundária. Em determinados anos ou regionalmente, porém, ou mesmo apenas em alguns milharais, a lagarta pode surgir em surtos, atingindo elevada densidade populacional, como os informados por Técnicos da Emater, do Rio Grande do Sul, na safra 2002/ 03, na região do Planalto Sul-rio-grandense, nos municípios de Canguçu, Cerrito, Cristal, Piratini e São Lourenço. Principalmente pequenas lavouras de milho, com cerca de 5 hectares, a exemplo do constatado no município de Cerrito, foram quase que totalmente destruídas. Neste caso, como a lavoura destinava-se à silagem, a perda de produção do milho foi praticamente de 100%, pois o produtor não optou pelo único método de controle possível, para aquela situação de ataque, a aplicação de inseticidas químicos, visto estimar que o valor da produtividade a ser perdida já tinha superado os custos do controle. As causas da ocorrência cíclica do inseto, conforme observado na última safra de milho, são desconhecidas, porém, 14
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devem estar associadas à disponibilidade, no período, de condições ecológicas (temperatura, umidade, plantas hospedeiras, etc.) favoráveis ao inseto-praga e desfavoráveis aos seus inimigos naturais (parasitóides, predadores, entomopatógenos, etc.). Uma mariposa de 40 a 42 mm de envergadura dá origem à lagarta-doscapinzais. Primeiro as mariposas acasalam e colocam os ovos sobre folhas. Dos ovos, após um período de variável de 4 a 12 dias, dependendo das condições ambientais, principalmente de tempe-
ratura e umidade, nascem as lagartas que inicialmente alimentam-se de gramíneas existentes em torno dos milharais. Posteriormente, devido à escassez deste tipo de alimento, migram para os
Inseto adulto de Mocis Latipes: condições favoráveis podem propiciar mais de uma infestação por ciclo da cultura
Dano devastador causado pela lagartados-capinzais, deixando apenas a nervura central da folha
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Novembro de 2003
...
Fotos José Martins
Casulo tecido pela lagarta permanece no campo por aproximadamente duas semanas dando origem ao inseto adulto
de infestação, nas plantas nativas que servem de hospedeiras intermediárias às lagartas. A segunda opção, pode ser aplicar os inseticidas, ainda de forma localizada, nas bordas dos milharais, nos pontos iniciais de ataque, sendo este procedimento considerado como bastante eficiente. Na última edição do Compêndio de Defensivos Agrícolas (Andrei Editora Ltda.), constam alguns inseticidas químicos (carbamatos e organofosforados) registrados para controle da lagarta-dos-capinzais. Estes produtos podem ser aplicados via pulverização convencional ou por meio da
ma Temperado, em parceria com outras instituições, a EMATER-RS, principalmente, empreender um esforço interativo de pesquisa e difusão de tecnologia, na busca de alternativas que evitem os danos causados pelo inseto ao milho, enfocando prioritariamente métodos bio-racionais de controle, o mais direcionados possível à preservação da saúde dos produtores e à redução de riscos C de contaminações ambientais. José Francisco da Silva Martins e Marilda Pereira Porto, Embrapa Clima Temperado
...milharais, onde deslocam-se de forma
migratória, da periferia para o centro, consumindo quase todo o tecido das folhas, com exceção da nervura central. As lagartas atingem o tamanho máximo (40 a 45 mm de comprimento) entre 20 e 26 dias, sendo facilmente reconhecidas por locomoverem-se como estivessem medindo palmo. Finalizada a fase de lagarta, ocorre a transformação em pupa, tecendo um casulo nas mesmas folhas que atacou ou em folhas de plantas daninhas existentes entre as plantas de milho. Dez a 14 dias após, das pupas nascem novas mariposas, as quais, dependendo de uma interação favorável de condições ambientais, época do ano e fase de desenvolvimento das plantas de milho, podem originar nova infestação. Ataques da lagarta-dos-capinzais, mesmo cíclicos, além do milho, também são constatados em outras culturas como arroz, cana-de-açúcar e milheto e mesmo plantas daninhas. Apesar do inseto atualmente ser considerado mais importante como praga de pastagens, segundo publicação da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), a cada ano, tem aumentado o ataque ao milho, de grande quantidade de lagartas migratórias, arrasando a cultura. De modo a evitar danos, são recomendadas vistorias periódicas na fase vegetativa dos milharais, principalmente em culturas adjacentes, como pastagens e até mesmo em gramíneas nativas. Como a lagarta ataca inicialmente gramíneas silvestres às margens dos milharais, é recomendado como medida cultural manter a lavoura limpa, eliminando todo tipo de planta que sirva de hospedeiro intermediário do inseto. Na impossibilidade disto, a opção pode ser aplicar algum inseticida, nos focos
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Carbamatos e organofosforados podem ser utilizados no controle da praga através de pulverizações ou água de irrigação
água de irrigação por aspersão. Na circunstância de ocorrerem novos surtos da lagarta-dos-capinzais e sendo o uso de inseticidas químicos a única alternativa de controle, é recomendável buscar a orientação de técnicos com experiência em fitossanidade, de modo que as aplicações sejam realizadas segundo princípios do manejo integrado de pragas. O controle de lagartas-dos-capinzais, quando ainda pequenas, pode ser feito também, por meio do inseticida microbiano Bacillus thuringiensis. Este produto, além da vantagem de ser seletivo, possui um poder residual mais compatível com aplicações em pastagens, portanto, sendo menos perigoso a animais. Na circunstância da lagarta-dos-capinzais ocorrer em futuras safras, na região Sul do Rio Grande do Sul, causando prejuízos severos, como os constatados em 2002/03, caberá à Embrapa Cli-
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José Martins pesquisador da Embrapa Clima Temperado fala sobre os ataques da lagarta no RS
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Milho
Fotos Carlos Casela
A facilidade de adaptação do patógeno causador da doença revela a importância de se evitar plantios sucessivos e, busca de variedades resistentes
A ferrugem é branca A
ferrugem branca do milho, também conhecida como ferrugem tropical, é uma doença de ocorrência generalizada em todo o mundo, sendo observada em países de clima subtropi-
Carlos Roberto Casela pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo
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cal . Há relatos de sua ocorrência no Peru, Colômbia, Venezuela, Trinidad Tobago, Porto Rico, México, Guatemala, San Domingo e Estados Unidos. No Brasil a doença é de ocorrência relativamente recente, tendo sido constatada em 1976 no estado do Espírito Santo. Atualmente encontra-se distribuída por quase todas as áreas de plantio de milho nas regiões Sudeste e Centro – Oeste do país. A ferrugem tropical é considerada como uma das mais importantes doenças do milho devido à sua severidade de ocorrência determinada pelas agressividade e alta capacidade de adaptação apresentada pelo patógeno a diferentes condições climáticas e pelo seu alto poder de disseminação. Sob condições ambientais favoráveis à doença pode causar seca prematura de toda a planta, afetando drasticamente o tamanho das espigas e dos grãos. Estimativas de danos realizadas em condições experimentais indicaram uma redução média de 45% no rendimento de grãos devido ao ataque simultâneo das ferrugens polissora e tropical.
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SINTOMAS Os sintomas da ferrugem tropical são bastante característicos, sendo a doença facilmente identificada pela presença de pústulas de coloração creme, de 0,3 a 1mm de comprimento, que ocorrem em pequenos grupos na face superior da folha e paralelas às nervuras. Com o desenvolvimento, os grupos de pústulas apresentam alteração de cor, tornando-se circundadas por um halo púrpura escuro. Os teliosporos apresentam coloração pardo-escura a negra, formam-se em grupos distribuídos ao redor de cada urédia.
ORGANISMO CAUSAL A ferrugem branca do milho é causada pelo patógeno Physopella zeae (Mains) Cummins & Ramachar, o qual produz uredosporos, sésseis, de formato elíptico a oval, descoloridos a amarelo-palha, medindo de 15-22x22-33ìm. As paredes do uredosporo apresentam uma espessura de 1,5 a 2,0ìm, são moderadamente equinuladas e hialinas. Os poros, normalmente sete ou oito, são esparsamente distribuídos pelo uredosporo. Os teliosporos são
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cilíndricos, sésseis, apresentam coloração marron clara, são unicelulares, ocorrem em cadeias de dois ou três e medem 1218x16-36ìm.
CICLO DA DOENÇAS E EPIDEMIOLOGIA A ferrugem branca do milho apresenta, praticamente, a mesma distribuição geográfica da ferrugem polissora, o que é uma indicação de que Physopella zeae possui as mesmas exigências ambientais para a sua ocorrência e disseminação, ou seja, temperaturas elevadas (em torno de 270C) e alta umidade relativa e baixas altitudes. Os teliosporos de P. zeae são raros e não germinam, sendo aparentemente de pouca ou nenhuma importância no ciclo da doença. Os uredosporos constituem, portanto a fonte primária e secundária de inóculo, sendo transportados a longas distâncias, de plantas infectadas para plantas sadias através do vento ou de materiais infectados. Não são conhecidos hospedeiros alternativos para o patógeno P. zeae, sendo conhecidos apenas os estádios uredial e telial deste organismo. A germinação e a penetração dos uredosporos requer também a presença de água livre na superfície da folha. Não existem estudos sobre a ocorrência de raças fisiológicas deste patógeno nas condições brasileiras. São conhecidas, entretanto, duas raças de P. zeae, identificadas com bases na reação de um grupo de linhagens de milho a isolados do patógeno coletados no Peru e na Nicarágua Dada a importância crescente da doença no Brasil, é fundamental que pesquisas sobre a existência de raças de P. zeae no Brasil sejam iniciadas, pois essa é uma informa-
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Pústulas de coloração creme: lesões características de Physopella zeae
ção essencial para o desenvolvimento de cultivares geneticamente resistentes a esse patógeno pelos programas de melhoramento.
CONTROLE DA DOENÇA Manejo Cultural: Deve-se evitar o plantio sucessivo de milho, principalmente em áreas sob irrigação por pivô central, por permitir a perpetuação e multiplicação do potencial de inóculo na área. Resistência Genética: Esta é a maneira mais eficiente e econômica de se controlar a ferrugem branca do milho. Há, entretanto, necessidade de estudos sobre a genética da resistência à doença bem como sobre a variabilidade genética da população do patógeno, pois é importante que se conheça a possibilidade de desenvolvimento de raças adaptadas às cultivares resisten-
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tes existentes no mercado. Avaliação e seleção de materiais geneticamente resistentes têm dado ênfase à resistência horizontal também denominada de “slow rusting” a qual, por não exercer pressão de seleção excessiva contra a população do patógeno, está menos sujeita a quebras pelo surgimento de novas raças. A identificação de genótipos resistentes à ferrugem branca tem sido um dos principais objetivos do programa de melhoramento genético de milho no Brasil. Híbridos experimentais e linhagens de milho da Embrapa Milho e Sorgo têm sido avaliados quanto a sua reação à doença através de testes realizados em campo e em casa de vegetação, na busC ca da resistência acima referida. Carlos Roberto Casela, Embrapa Milho e Sorgo
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Milho
Hóspede indesejado Fotos Ivan Cruz
Alternativa de ataque da broca da cana-de-açucar, o milho pode ter seu rendimento comprometido devido a danos causados pela lagarta no interior do colmo da planta das lagartas que inicialmente alimentamse da folha. Posteriormente, dirigem-se para a bainha e penetram no colmo, fazendo galerias ascendentes. A lagarta apresenta a cabeça marrom e o corpo esbranquiçado, com inúmeros pontos escuros. O período larval médio é de 44 dias. Quando atinge o completo desenvolvimento a lagarta constrói uma câmara, alargando a própria galeria até o colmo, onde corta uma seção circular, que fica presa com fios de seda e serragem e transforma-se em pupa, permanecendo nesse estádio por um período variável de nove a 14 dias até emergir o adulto. Segundo Ingran (1941) as lagartas de D. saccharalis ocasionam no milho, danos semelhantes aos vistos em cana-de-açúcar, como coração morto, quebra de colmos, decréscimo do desenvolvimento da planta, no número de colmo e tamanho das espigas. A queda no rendimento de milho, devido ao ataque da praga, tem sido relacionada com a diminuição no número e tamanho de espigas (Floyd et al., 1960). Os prejuízos diretos causados pela lagarta, através da penetração e alimentação no interior do colmo, aparentemente não são importantes, quando o ataque ocorre em plantas mais desenvolvidas, pois a planta atacada produz normalmente, mesmo sob condições de forte infestação natural (Silva, 1975). No entanto, através das galerias, a
O
inseto, conhecido vulgarmente como broca da cana-de-açúcar, apesar de ter essa cultura como hospedeiro preferencial, pode atacar outros hospedeiros, principalmente espécies de gramíneas, incluindo a cultura do milho (Biezanko et al. 1949; Lima, 1949, 1968; Wille, 1952; Ratkovich, 1953; Gil, 1956). O ciclo de vida do inseto pode ser sumariado de acordo com as observações obtidas de Ingran & Bynum (1951), Painter (1995) e De Bortoli & Manfrim, (1984). A mariposa de D. saccharalis é de coloração amarelo-palha, com aproximadamente 20 mm de envergadura. O acasalamento e postura ocorrem à noite. Os ovos são colocados de maneira sobreposta tomando um aspecto semelhante a “escamas” nas folhas e no colmo do milho e, num intervalo de quatro a nove dias, dá-se a eclosão
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Lagarta de Diatraea saccharalis causando danos no interior do colmo do milho
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Perfilhamento, resposta da planta atacada pela broca da cana-de-açucar
broca torna a planta bastante suscetível à queda por ação do vento, prejudicando a colheita mecânica das espigas ou o corte mecânico da silagem, e causando prejuízos indiretos elevados, pois, quando a planta cai, os grãos em contato com o solo sofrem ataques de microrganismos ou iniciam a germinação. Quando o ataque ocorre logo no início da implantação da cultura, os prejuízos são altos devido ao perfilhamento ou tombamento, ou pela morte das plântulas. Poucos são os dados correlacionando densidade de lagartas com as perdas ocasionadas ao milho ainda jovem. Entre eles, salienta-se o trabalho realizado por Cruz et al. (2000). O experimento foi conduzido em Sete Lagoas, MG, em área de cerrado utilizando a cultivar de milho BRS 3060 (Híbrido triplo), com parcela experimental composta de quatro fileiras de cinco metros, espaçadas de um metro uma da outra. Os tratamentos constaram de diferentes densidades de larvas: de 0 a cinco larvas/m2. As plantas foram infestadas artificialmente em duas épocas distintas: 10 e 15 dias após a emergência. As larvas (com cerca de 0,8 mm) foram colocadas com o auxílio de um pincel fino na base da planta. Foram avaliados o número de plantas atacadas, número de plantas perfilhadas e número de plantas mortas aos 20 dias após a infestação. Quando a infestação foi realizada em plântulas com a idade de 10 dias após a emergência, de maneira geral os danos aumentaram com o aumento da densidade de larvas. A percentagem de plantas perfilhadas variou de 1 a 5,7%, não havendo diferença significativa na média de perfilhamento observados nas densidades de 3 a 5 larvas/m2. Já a percentagem de plantas mortas foi significativamente semelhante para as diferentes densidades (uma a cinco larvas/m2). A percentagem
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Postura de Diatraea saccharalis é realizada a noite em folhas e colmos das plantas
de plantas atacadas foi significativamente maior para as densidades acima de três larvas/m2, atingindo uma média de 12%. Para as infestações realizadas 15 dias após a emergência, a percentagem de plantas perfilhadas variou de 4,1 (uma larva/m2) a 14,6% (cinco larvas/m2). Não houve diferença significativa entre as médias obtidas das parcelas com pelo menos três larvas/ m2. A percentagem de plantas mortas variou de 0,8 a 6,2%, enquanto que a percentagem de plantas atacadas variou de 7,2 a 25,4%. Analisando os resultados das duas épocas de infestação, pode ser observado, que a percentagem média de plantas perfilhadas e de plantas atacadas foram significativamente maiores para as infestações realizadas aos 15 dias após a emergência, enquanto que ocorreu o contrário para as plantas mortas, ou seja, plantas mais jovens foram mais suscetíveis à praga. Também de maneira geral verifica-se que independente do tipo de dano ocasionado às plantas, os maiores foram observados a partir de quatro larvas por m2.
MEDIDAS DE CONTROLE A) Tratamento de sementes Em anos recentes tem-se pesquisado muito o uso de maneira preventiva, do tratamento da semente com inseticidas sistêmicos. Os primeiros inseticidas registrados via tratamento de sementes tiveram como alvo principal, o controle de E. lignosellus. Os resultados de pesquisa mostravam diferenças altamente significativas entre par-
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Ivan Cruz
Tabela 1. Efeito de inseticidas sobre o dano causado pela Diatraea saccharalis em milho (VIANA et al., 2000). Inseticida (Ingrediente Ativo) Lufenuron Acephate Thiodicarb Hexaflumuron Chlorpirifos Zetacypermetrihrin Imidaclorprid Spinosad Lambdacyhalotrhrin Testemunha
Dose ingrediente ativo/hectare 15,0 750,0 100,0 30,0 225,0 7,2 70,0 48,0 7,5
Número de cavidades no colmo1 2,0 a 3,5 a 4,5 ab 8,0 b 8,5 bc 8,2 b 5,2 ab 4,7 ab 4,5 ab 12,5 c
Plantas quebradas (%)1 11,7 a 16,3 ab 16,6 ab 13,2 ab 13,5 ab 18,8 ab 17,2 ab 16,6 ab 17,3 ab 25,0 b
Produção de grãos (kg7ha) 4015 4042 4004 3621 4014 4053 3839 4330 3985 3790
1 Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%
...celas tratadas e não tratadas, seja pelo con-
trole específico da praga ou pelo efeito global, especialmente em áreas onde normalmente também ocorrem pragas como a broca-da-cana, porém somente para os ataques dessa praga em plântulas.
B) Pulverizações convencionais Pouca informação sobre o controle químico dessa praga na cultura do milho é disponível, dificultando qualquer recomendação técnica. Entre os poucos trabalho, destaca-se aquele de Viana et al. (2000), conduzido na Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG., avaliando-se nove inseticidas (Tabela 1) que foram aplicados aos 40 dias após o plantio, utilizando um pulverizador costal de CO2, bico leque 80.03 e pressão de 40 lb/pol2. A avaliação, realizada na colheita, foi feita amostrando dez plantas ao acaso em duas fileiras da parcela. Os colmos das plantas foram abertos ao meio e as galerias no interior causadas pelo ataque da lagarta foram medidas e transformadas em número de cavidades de acordo com o proGráfico 1
perdas de grãos, principalmente quando a colheita for mecânica (Viana et al., 2000). C) Outras medidas de controle Na cana-de-açúcar, que é um hospedeiro preferencial da praga, o controle biológico tem sido uma realidade no Brasil (Botelho, 1992; Macedo et al., 1993). Existem laboratórios de produção de moscas e vespas, que são liberadas na área, e em função da capacidade inerente de busca de cada espécie liberada, procuram e controlam eficientemente a praga. Com o aumento da incidência na cultura do milho, tal tecnologia biológica pode ser facilmente adaptável. Atualmente, pela facilidade de produção e baixo custo, o parasitóide de ovos do gênero Trichogramma tem sido indicado para o controle biológico de várias pragas de importância econômica em sistemas florestais e agrícolas, incluindo neste caso a broca da cana-de-açúcar, D. sacC charalis (Parra et al., 2002). Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo Cultivar
Após alimentarem-se das folhas passam ao ataque principal causando danos no interior do colmo
posto por Guthrie (1974). Foram também realizadas avaliações do número de plantas quebradas e produção de grãos. Os resultados mostraram diferença significativa para o número médio de cavidades e percentagem de plantas quebradas. O menor número de cavidades devido ao ataque da lagarta no colmo foi para o inseticida lufenuron (2,0), seguido do acephate (3,5). Os tratamentos com thiodicarb (4,5), lambdacyhalothrin (4,5), spinosad (4,7), imidacloprid (5,2) apresentaram valores intermediários, enquanto a testemunha apresentou 12,5 cavidades. A percentagem de plantas quebradas variou de 11,7% a 25,01% e somente o tratamento lufenuron diferiu significativamente da testemunha. Segundo Rodriguez-DelBosque et al. (1990) a aplicação de inseticidas para controlar eficientemente esse tipo de praga só é viável quando visa lagartas de primeiro e segundo instar. Nessa fase o inseto alimenta dos tecidos novos do cartucho da planta e nas bainhas das folhas. Nesse trabalho, o inseticida foi aplicado quando se observou danos nas folhas causados pela alimentação da larva, indicando a presença dos primeiros instares da praga. Para a produção de grãos, não houve diferença significativa entre os tratamentos, embora o peso de grãos tenha sido menor na testemunha, indicando que o dano da praga foi mecânico e não causou sérios prejuízos para a fisiologia da planta. No caso de atraso de colheita, possivelmente aumentará a percentagem de plantas quebradas e espigas caídas no chão e conseqüentemente as Gráfico 2
Ivan Cruz pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo sugere o controle químico como melhor alternativa
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CONF AEAB CONFAEAB CONFEDERAÇÃO DAS FEDERAÇÕES DE ENGENHEIROS AGRÔNOMOS DO BRASIL
Convênio para agronomos Confaeab
Acordo assinado pela Confaeab em setembro garante incentivo financeiro aos profissionais de agronomia
D
urante a realização do XXIII CBA – Congresso Brasileiro de Agronomia, no mês de Setembro em Belo Horizonte, a CONFAEAB, celebrou convênio com o Programa Agrotec. O programa visa dar incentivo financeiro aos profissionais da Agronomia, através de linha de financiamento de bens e capital de giro, com recursos oriundos do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, através do PROGER – Programa de Geração de Emprego e Renda. Os recursos são gerenciados pelo Banco
do Brasil através da Coordenação Nacional do programa, com sede em Brasília. Na ocasião assinaram o convênio, o Presidente da CONFAEAB, Antonio de Pádua Angelim e o Coordenador do Programa AGROTEC, Igor Roquim. Com este ato todos os profissionais da Agronomia terão acesso ao empréstimo, no valor de R$ 10.000,00 (Dez Mil Reais), que podem ser pagos em até 36 meses e (opcional), com carência de (06) meses, com baixa taxa de juros. Para que o profissional tenha acesso,
basta ligar para os telefones (61) 323.9002 ou 321.9845 (Call Center). Após a efetivação e aprovação de um cadastro, a documentação é remetida ao Banco do Brasil mais próximo do domicilio, para a liberação do numerário, sem avalistas ou demais burocracias. Para o Presidente da CONFAEAB, Antonio Angelim, os profissionais têm a oportunidade única de criar um capital de giro e ao mesmo tempo de adquirir equipamentos, imprescindíveis ao exercício da profissão.
CONGRESSO MUNDIAL NO BRASIL
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ano de 2004 será referência para as ciências Agronô micas no Brasil. Nosso país, mais precisamente a cidade de Fortaleza-CE, sediara o III º Congresso Mundial de Profissionais da Agronomia, um evento que acontece a cada quatro anos, tendo ocorrido sua primeira edição no Chile e a segunda no México.A captação deste Congresso foi uma conquista para a Classe Agronômica brasileira, oportunidade inequívoca de apresentar ao mundo o potencial do País, colocando em evidência seus recursos naturais, condições climáticas, produção agropecuária e tecnologia. Uma vez no Brasil, o evento exibirá uma pauta repleta de assuntos atuais, enfocando os temas mais palpitantes para os Engenheiros Agrônomos, para a Agricultura e Pecuária.”Falaremos sobre tendências, dificuldades, produtividade, eficiência, competitividade e conservação dos recursos naturais, disse Antonio Angelim, Presidente da CONFAEAB. “Persistiremos na discussão em torno da Formação dos Profissionais da Agronomia e teremos a oportunidade de um intenso intercâmbio de experiências nacionais e estrangeiras, ponto alto da programação do Congresso”, completa, Pieta Filho, Presidente da APIA – Asociacion Panamericana de Ingenieros Agrônomos.Vale ressaltar, que esta realização no Brasil já apresenta um importante diferencial, que é reali-
zar em paralelo o Iº Congresso Panamericano de Engenheiros Agrônomos. O Ceará, então, com a beleza de seus 573 km, de praias emolduradas, pela hospitalidade de seu povo e por toda uma estrutura de apoio e modernidade, será a porta de entrada para os congressistas originários dos 05 continentes. E. é neste cenário, que os Profissionais terão a oportunidade de participar de uma vasta programação científica e técnica, que com todo o empenho promoverá o aprendizado, a expansão de conhecimento e a transferência de tecnologia. Conhecer o Brasil, para todos os nossos irmãos de outros países, será uma grande oportunidade. O evento acontecerá no mês de Outubro de 2004, numa promoção da AMIA – Asociacion Mundial de Ingenieros Agrônomos e APIA – Asociacion Panamericana de Ingenieros Agrônomos, realização da CONFAEAB – Confederação das Federações de Engenheiros Agrônomos do Brasil e execução da AEAC – Associação de Engenheiros Agrônomos do Ceará.Apoio do CONFEA – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia e CREA/CE – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Ceará. A organização caberá a Companhia de Eventos (085) 241.3541. C
Nossa capa Álvaro Almeida
Devassa... Com perdas geralmente superiores a 85%, o vírus da necrose da haste surge devastador, podendo chegar em alguns casos a perdas totais da lavoura. A principal alternativa está na escolha de cultivares resistentes
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aumento da área cultivada com soja, no Brasil, e a produção dessa leguminosa têm crescido a cada ano. Na safra 2002/03, foram cultivados 17 milhões de ha, com uma produção de 47 milhões de toneladas e uma produtividade média de 2800 kg/ha. A média brasileira entre os estados produtores de soja variou de 2200 kg/ha a 3000 kg/ha. Vários fatores afetam, anualmente, a produtividade da soja. Entre eles, podem ser citadas as condições climáticas desfavoráveis e a ocorrência de doenças. Doenças causadas por vírus, devido às suas
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Cultivar
características próprias, são normalmente, de difícil diagnóstico. Os sintomas, em plantas, variam desde de mosaicos, com diferentes matizes, cloroses do limbo foliar e de nervuras até lesões necróticas de folhas e hastes e queima do broto. Eesses sintomas podem ser indicativos de infecção viral. No entanto, há inúmeros relatos desses tipos de sintomas causados por fungos e também por ação de agentes abióticos, como fungicidas, herbicidas e inseticidas. Na safra 2000/01, sintomas de necrose da haste, com seca e morte de plantas de soja, apareceram na região de Morrinhos e Goia-
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tuba, Estado de Goiás. Inicialmente acreditou-se estar frente a uma enfermidade de origem fúngica. Tentativas de isolamento do agente causal foram negativas. Em agosto de 2001, plantas de soja coletadas em Barreiras, BA, com sintomas de queima do broto e necrose de haste foram levadas para observação na Embrapa Soja. Os brotos das plantas com sintomas foram enxertados em soja cv. Embrapa 63 (Mirador), observando-se, cerca de duas semanas após, sintomas de necrose apical, nas brotações novas. A inoculação de plantas de soja sadias com extrato de plantas infectadas, causou o aparecimento dos sintomas em plantas de soja das cv. Embrapa 63 (Mirador), Coodetec 206 e BRS 153, cerca de 12 a 15 dias após a inoculação. O tipo de sintoma e a intensidade de dano variaram com a cultivar. A cv. BRS 153 mostrou leve sintoma de mosaico. Nos anos seguintes (2002 e 2003), sintomas similares foram constatados nos estados do Mato Grosso, Maranhão e Paraná. Os estudos e os trabalhos desenvolvidos mostraram a presença de um vírus e a doença foi denominada necrose da haste da soja. O estudo da etiologia com a utilização de microscopia eletrônica permitiu observar a presença de partículas alongadas, agrupadas na forma de feixes, características de infecção por vírus do gênero Carlavirus. A partir dessa informação, procedeu-se à diagnose, utilizando método molecular denominado RT-PCR, obtendo amplificação de um framento de DNA com 120 pb, o qual, após clonado e sequenciado, foi alinhado e comparado com seqüências armazenadas no GenBank. O resultado mostrou que o RNA do vírus causador da necrose da haste da soja apresentou 88,4% de similaridade com o Cowpea mild mosaic virus (CpMMV), isolado M, código AF 024629, do GenBank, membro do gênero Carlavírus. Testes de transmissão por insetos foram feitos através de pulgão e mosca branca. No caso de pulgão utilizaram-se as espécies Uroleucon ambrosiae e Myzus persicae. A avaliação visual de sintomas, feita duas e quatro semanas após a inoculação, foi negativa. No caso de mosca branca, utilizou-se a espécie Bemisia tabaci biotipo B (= B. argentifolii Bellows & Perring). Os sintomas apareceram nas folhas mais novas, cerca de 10-12 dias após a inoculação. Inicialmente, as folhas apresentaram clareamento de nervuras, seguindo o aparecimento de mosaico, o qual se tornava forte com o tempo formando bolhas no limbo foliar. Em outros casos, as folhas com mosaico apresentavam pequenas manchas necróticas, evoluindo para necrose apical e da haste. O broto da planta infectada normalmente curva para baixo e necrosa.
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Fotos Álvaro Almeida
Plantas coletadas no campo podem exibir a haste parcial ou totalmente necrosada. Corte longitudinal da haste pode mostrar a medula com pontos necróticos na junção do pecíolo necrosado ou escurecimento total da medula. Foi feito teste de transmissão por sementes, utilizando 1885 sementes colhidas de plantas da cv. Embrapa 63 (Mirador), previamente infectadas mecânicamente. As sementes colhidas foram semeadas em bandejas com solo esterilizado por solarização. Avaliações feitas aos 14 e 28 dias após semeadura não detectaram nenhuma planta sintomática. Em fevereiro de 2002, constataram-se os mesmos sintomas em plantas de soja cv. UFV19, em lavouras localizadas no sudoeste do Estado de Goiás. Visitas a outros campos de Tabela 1. Reação de cultivares de soja à infecção pelo vírus da necrose da haste da soja. R= resistente; S= suscetível; D=população desuniforme quanto à resistência (até 15% de plantas suscetíveis). BR 4 BR 16 BR 36 BR 37 BR 38 BR/Emgopa 314 (Garça Branca) BR/IAC 21 BRS 65 BRS 66 BRS 132 BRS 133 BRS 134 BRS 135 BRS 136 BRS 137 BRS 138 BRS 153 BRS 154 BRS 155 BRS 156 BRS 157 BRS 181 BRS 182 BRS 183 BRS 184 BRS 185 BRS 205 BRS 206 BRS 211 BRS 212 BRS 213 BRS 214 BRS 215 BRS 216 BRS 217 BRS 218 BRS 219 BRS 230 BRS 231 BRS 232 BRS 233 BRS Anhumas BRS Apiakás BRS Aurora BRS Babaçú BRS Barreiras BRS Bororo BRS Carla BRS Celeste BRS Curicaca BRS Gralha BRS Jiripoca BRS Juçara BRS Milena BRS Nova Savana BRS Pétala BRS Piraíba BRS Pirarara BRS Rosa BRS Sambaíba BRS Seleta BRS Tambaqui BRS Tracajá BRSGO 204
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S R D D D D R R R S R R R R R D S D S S D R D S R D D D S S S R D S R S R R R R D S S S D D D D D S S R S R D S S S D D S S D S
BRSGO Bela Vista BRSGO Caiapônia BRSGO Catalão BRSGO Goiatuba BRSGO Jataí BRSGO Luiziânia BRSGO Paraíso BRSGO Santa Cruz BRSMA Parnaíba BRSMA Pati BRSMA Seridó RCH BRSMG 68 BRSMG Confiança BRSMG Garantia BRSMG Liderança BRSMG Nova Fronteira BRSMG Renascença BRSMG Segurança BRSMG Virtuosa BRSMS Acará BRSMS Apaiari BRSMS Bacuri BRSMS Carandá BRSMS Curimbatá BRSMS Lambari BRSMS Mandi BRSMS Piapara BRSMS Piracanjuba BRSMS Piraputanga BRSMS Sauá BRSMS Surubi BRSMS Taquari BRSMS Tuiuiú BRSMT Crixás BRSMT Pintado BRSMT Uirapuru Embrapa 1 (IAS 5 RC) Embrapa 4 (BR 4 RC) Embrapa 9 (Bays) Embrapa 20 (Doko RC) Embrapa 30 (Valo do Rio Doce) Embrapa 48 Embrapa 59 Embrapa 58 Embrapa 60 Embrapa 63 (Mirador) Embrapa 64 (Ponta Porã) FMT Arara Azul FMT Beija Flor FMT Cachara FMT Matrinxã FMT Tucunaré MG/BR 46 (Conquista) MG/BR 48 (Garimpo RCH) MS/BR 19 (Pequi) MS/BR 34 (Empaer 10) MT/BR 45 (Paiaguás) MT/BR 47 (Canário) MT/BR 49 (Pioneira) MT/BR 50 (Parecis) MT/BR 51 (Xingu) MT/BR 52 (Curió) MT/BR 53 (Tucano)
S R R D D S S D D D S S S D D S S S S S S R D D D R D R S R R D D R R R R S D D S D R S S S D S D D S R D R S D D D R D D D D
Topo de planta infectada, mostrando a queima do broto
soja na região, especialmente nos municípios de Quirinópolis, Acreúna, Porteirão e Goiatuba (GO), permitiram observar 80% de plantas mortas. Em algumas plantas observou-se nas vagens a presença de lesões necróticas escuras, restritas à epiderme e similares a causadas por antracnose. Esse sintoma foi confirmado em plantas infectadas em casa-de- vegetação. Apenas nos locais visitados, as áreas com perda total devido à virose atingiram mais de 300 ha. No ano seguinte, safra 2002/03, a doença foi constatada em outras regiões produtoras do Brasil, mostrando que o vírus continua a ser disseminado: Luziânia, Goiânia e Vianópolis (GO), e Palotina (PR). Todas as cultivares recomendadas da Embrapa Soja foram inoculadas e assim foi possível identificar as resistentes (Tabela 1). Do total de 174 cv. avaliadas, 26,44% foram consideradas resistentes; 41,37% foram desuniformes e, 32,18% foram suscetíveis. As cv. consideradas desuniformes não apresentam queda de produtividade em condições de campo. No entanto, as plantas infectadas servirão como fonte de inóculo para cultivares suscetíveis. Os resultados das pesquisas conduzidas na Embrapa Soja mostram que: 1) o vírus coletado nos estados de Goiás, Mato Grosso, Maranhão, Bahia e Paraná pertence ao gênero Carlavírus, sendo transmitido por mosca branca (Bemisia tabaci biótipo B) e é similar ao CpMMV e ao Bean angular mosaic virus (BAMV), descrito no Brasil; 2) o vírus não foi transmitido por sementes de plantas infectadas da cv. Embrapa 63 (Mirador); 3) devido aos sintomas apresentados pelas plantas, denominou-se essa doença de necrose da haste da soja. 4) desde o aparecimento, em 2000, a virose foi disseminada rapidamente e, em algumas regiões, tornou-se endêmica; 5) nas lavouras de cultivares suscetíveis
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as perdas nunca foram inferiores a 85% e em vários campos houve morte de plantas com perda total; 6) os estudos conduzidos permitiram avaliar a reação da maioria das cultivares de soja da Embrapa indicadas para semeadura nas diversas regiões do País; 7) os resultados aqui apresentados permitem ao produtor escolher as cultivares resistentes, adequadas à sua região, onde o probleC ma já se manifestou. Álvaro M. R. Almeida, Mauricio C. Meyer e Leones A. Almeida, Embrapa Soja, Elliot W. Kitajima, NAP/MEPA, Rodrigo A. Guerzoni e Jose Nunes Jr., CTPA
Fotomicrografia - agrupamento típico de particulas do vírus (acima), e sintomas de plantas atacadas pela necrose (abaixo)
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Quando controlar Pesquisa mostra que o manejo de plantas daninhas em soja nem sempre exige controle total, e que aplicações preventivas podem reduzir infestações
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uitos agricultores envolvidos com a produção de culturas de importância econômica têm uma idéia do quanto custa controlar plantas daninhas. Na cultura da soja os gastos chegam a ser, em média, 30% do custo de produção. O controle das plantas daninhas nem sempre exige controle total, uma vez que a cultura da soja consegue suportar certa densidade de algumas plantas competindo, tendo em vista a relação de custo/benefício da aplicação de herbicidas. Atualmente, com o uso de herbicidas pós-emergentes ficou mais fácil determinar visualmente essa necessidade, ou não, de aplicação do controle. No entanto, ainda faltam maiores informações de quando não aplicar, baseado em dados de perdas por unidade de planta daninha, por espécie. Práticas de controle preventivo são
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da maior importância no manejo de plantas daninhas e consistem em adotar medidas de controle que evitem a entrada ou reduzam infestações dessas espécies em lavouras de soja e em outras culturas. O uso de sementes certificadas é um passo básico para a redução de problemas de controle na lavoura, evitandose com isso a introdução de outras espécies daninhas. Sucessões de culturas podem alterar a presença de espécies e a sua intensidade, sendo que áreas em pousio requerem o controle das infestações na entressafra, a fim de reduzir as infestações na cultura subseqüente. Em função de algumas pesquisas junto aos produtores do Paraná, com o manejo de áreas adjacentes à soja, com e sem controle algum, conseguiu-se determinar não haver retorno econômico na aplicação
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de herbicidas sob “baixas” populações de plantas daninhas. Embora possam ocorrer reinfestações para a safra seguinte, em certas situações foi possível adiar o controle para o próximo ano. Em situações de uso continuado (10 anos) de herbicidas de aplicação residual e incorporado, constatou-se também não
Elevadas infestações geralmente são melhor controladas por herbicidas pré-emergente
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haver qualquer diferença entre tais áreas, em relação à sua aplicação ou não, uma vez que as infestações eram baixas. Sabe-se também que sob altos níveis de infestação os herbicidas préemergentes podem resultar em melhor controle das plantas daninhas, com menor possibilidade de reinfestação. Considerando-se a aplicação de herbicidas pós-emergentes para controle de folhas estreitas ou largas, em semeadura direta da soja, após alguns anos de condução, a necessidade de aplicação de um ou outro herbicida chegou a depender também do tipo de sucessão/rotação cultural. Por exemplo, no norte do Estado do Paraná, os cultivos trigo-soja apresentam baixas infestações de capimmarmelada na cultura da soja, sendo aumentadas infestações com o cultivo do milho safrinha, na seqüência; na região sul, com a inclusão da cultura do milho no sistema de produção, ocorre uma grande reinfestação de capim-marmelada. Outros fatores podem ainda interferir diretamente na eficiência de controle. Correção do solo e adequados níveis de fertilidade, baseado em análises de solo e necessidades da cultura, por exemplo, têm aumentado a produção de grãos da soja e reduzido o nú-
Concorrência na fase inicial da cultura da cultura pode limitar o seu desenvolvimento
mero de plantas daninhas em competição. Culturas, como a de soja, foram melhoradas para aproveitar-se dessas condições favoráveis de manejo. Também o preparo de solo ou manejo de herbicidas, próximo da época de semeadura, feita sob condições favoráveis à germinação da soja, antecipa a emergência da cultura em relação às plantas dani-
nhas, desfavorecendo-as na exploração do meio ambiente. Quanto às doses a serem usadas para os herbicidas pré ou pós-emergentes, a sua redução pode ser adequada às infestações reduzidas e antecipadas, considerando também a sensibilidade das espécies presentes e boas condições de aplicação. A redução de dose e a conse-
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Fotos Dirceu Gassen
A relação custo/benefício deve ser avaliada em casos de baixas infestações
Áreas em pousio requerem controle na entre-safra para reduzir infestação na cultura a ser implantada
...quente falta de controle das invasoras
pode ser perigoso no sentido de acelerar o apareceimento de resistência a herbicidas. Aplicações únicas de herbicidas pós-emergentes em doses normais e feitas precocemente, podem resultar em reinfestações. O parcelamento de doses em aplicações seqüenciais pode economizar uma aplicação seguinte ou resultar num controle mais efetivo das reinfestações, principalmente sob altas densidades e de plantas já mais desenvolvidas. Em relação à combinação de herbicida dessecante e residual, em semeadura direta, esse modo de aplicação pode ser mais adequado sob baixas infestações de plantas daninhas, reduzindo-se dessa forma uma passagem de trator na área. Herbicidas aplicados em pré-plantio incorporado requerem um bom preparo do solo e sua incorporação. Pulverizações nos períodos mais quentes do dia (das 12 h às 16 h) devem ser evitadas, bem como em condições de ventos fortes que provocam deriva acentuada. A leitura da bula é fundamental, bem como a utilização do equipamento de proteção durante as aplicações. A escolha do herbicida e o modo de aplicação para obtenção de controle satisfatório das plantas daninhas presentes, evita criar problemas de resistência com o uso continuado de herbicidas de
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mesmo mecanismo de ação, quando inclusive o problema já foi constatado. O problema é possível contornar usando um sistema de rotação de culturas, em que diferentes herbicidas podem ser usados. Sugere-se um acompanhamento das práticas de pulverização e o envolvimento de Engº Agrônomos, para uma atitude adequada de considerações. Além disso, é necessária a regulagem do equipamento de pulverização, o uso de bicos adequados à operação e a substituição de bicos gastos com problemas de vazão (com desvios de até 10%). Monitorar essa operação com pessoal treinado é da maior importância, uma vez que erros de aplicação para mais ou para menos ocorrem, com os subseqüentes problemas de controle inadequado. A aplicação mal feita é a causa de grande parte dos problemas. Atualmente, com o uso da tecnologia
de Agricultura de Precisão, pretende-se atingir as plantas daninhas com maior eficiência, evitando ainda atingir áreas livres e reduzir problemas de poluição ambiental. Possivelmente, estudos de dinâmica populacional (bancos de sementes, taxas de emergência, sobrevivência e competição) das plantas daninhas irão contribuir para a realização de controles de máxima eficiência econômica. Considerando que vários fatores interferem nos procedimentos de controle de plantas daninhas em lavouras, é necessário que haja habilidade de gerenciamento de suas lavouras, ou das glebas dentro das lavouras. O levantamento das condições de produção e da tecnologia disponível para interferir no manejo geral pressupõe uma infinidade de registros, feitos de modo ordenado, que deverão permitir a integração de todos os esforços disponíveis para obter uma produção agrícola rentável. Para isso, é necessário também adquirir muitos conhecimentos técnicos e de mercado, fundamentais para a condução de uma empresa agrícola. Em anexo, uma tabela com “sugestões para otimizar o controle de plantas daninhas e evitar a sua disseminação”, adotando-se práticas de manejo integrado (MIPD). Nas colunas da direita assiC nale com um X a sua ação. Elemar Voll, Embrapa Soja
Exemplo de Tabela - Práticas de manejo para controle de plantas daninhas Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
ATIVIDADES DE MANEJO Uso de semente fiscalizada (com elevada pureza varietal), de campos controlados e livres de sementes de espécies daninhas; Controle das plantas daninhas na entressafra, para que não haja produção de grande quantidade de sementes; Avaliar a possível ocorrência de problemas de resistência de espécies à herbicidas; Levantamento de espécies de plantas daninhas e sua densidade nas diferenrtes áreas de manejo; Conhecimento das especificações dos herbicidas; mecanismo de ação, época e modo de aplicação; regulagem correta dos pulverizadores; Correção da fertilidade do solo (pH e adubos), o que permite uma efetiva competição em favor da cultura; Época de semeadura, espaçamento e população de plantas dentro de situações de manejo mais adequadas à competição da soja; Utilizar métodos para o controle de focos de plantas daninhas, desde a catação manual, até a aplicação localizada de herbicidas, principalmente, para o caso de plantas de difícil controle; Rotação de culturas e de herbicidas, permitindo alterar e reduzir a composição da flora daninha; Evitar a disseminação de sementes pela máquina colhedora; programar variedades de soja com diferentes ciclos de maturação; Evitar a disseminação para outras áreas através das máquinas, implementos e animais; Controlar o desenvolvimento das espécies daninhas, impedindo a produção de sementes nas margens de cercas, estradas, terraços, pátios, canais de irrigação e outros locais da propriedade; Reduzir problemas de compactação do solo, para favorecer o crescimento da cultura e a competição.
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FEITO
FAZER
OBSERVAR
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Soja Jacto
Dose completa Embora possa parecer tentador à primeira vista, a aplicação de subdoses de fungicidas, além de causar resistência, pode comprometer a produção e resultar na perda do produto aplicado
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magine que seu médico, depois de uma bateria de exames, recomende que você tome um remédio caríssimo. Sua prescrição é de um comprimido a cada 6 horas. Você segue a recomendação médica ou, por sua conta e risco, em função do alto preço do medicamento, assume que um comprimido a cada 12 horas (portanto, metade da dose recomendada) deva resolver seu problema? Dependendo da sua resposta, este artigo poderá ajudá-lo na sua tomada de decisão quanto ao uso de produtos químicos em outras situações, por exemplo, no controle de doenças de plantas. Abordar o uso de controle químico desta forma, traçando um parale-
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lo entre sua saúde (seu maior patrimônio) e a saúde de sua lavoura, significa dizer que, em algumas situações, a economia pode resultar em prejuízo. Dentro da indústria de agroquímicos, o segmento de fungicidas é o que mais tem crescido nos últimos anos, com o constante lançamento de novas moléculas, novos princípios ativos e mecanismos de ação cada vez mais específicos e eficientes contra fungos fitopatogênicos. Vale lembrar que um fungicida eficiente deve possuir alto potencial de controle e baixo impacto no ambiente. Além disso, quanto mais específico seu modo de ação, maior a possibilidade da seleção de populações de fungos resistentes ao fungicida.
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Para o lançamento de um fungicida no mercado, as empresas percorrem um longo e oneroso caminho, que vai desde os testes bioquímicos de milhares de moléculas diferentes, até a validação da sua eficiência sobre o alvo. Uma das fases finais deste roteiro é a análise de praticabilidade e eficiência agronômica do fungicida. Neste ponto, pouquíssimas moléculas entre as milhares iniciais, são avaliadas a campo quanto à sua eficiência: a capacidade de controle da doença, a época de aplicação, o intervalo de segurança, o período residual, o impacto ambiental e a dose economicamente viável (a menor dose com o melhor desempenho). O aspecto da dose de aplicação de fungicidas tem crescido em importância nas últimas safras, especialmente no cerrado do Brasil Central e do Nordeste, como uma das causas de insucesso no controle de doenças nas culturas da soja e algodão. Tecnicamente, a dose a ser utilizada para determinado fungicida é aquela recomendada pela pesquisa, sem fracionamentos ou sobreposição. A recomendação técnica é feita sobre a menor dose com maior eficiência de controle obtida nos ensaios de praticabilidade e eficiência agronômica. Contudo, temos observado que, com freqüência preocupante produtores são levados a utilizar doses inferiores às recomendadas, levando em conta apenas o aspecto comercial (preço do produto). Esta prática é extremamente condená-
vel e pode levar a pelo menos duas conseqüências importantes: 1. redução da eficiência do fungicida: doses inferiores às recomendadas pela pesquisa resultam, de maneira geral, em menores níveis de controle das doenças no campo. Na maioria das vezes, pulverizações de doses inferiores às recomendadas, realizadas no aparecimento dos primeiros sintomas da doença podem resultar em controle aparente. Com o desenvolvimento da planta e, conseqüentemente, da doença, novas aplicações tornam-se necessárias em menores intervalos de tempo, aumentando o custo da aplicação (fungicida e maquinário necessário à aplicação). O efeito da aplicação de doses de 120 a 180 mL/ha do princípio ativo Difenoconazole (a recomendação técnica é de 200 a 300 ml/ha) em algumas lavouras de soja na Bahia e da aplicação de 300 mL/ha do princípio ativo Tebuconazole (a recomendação técnica é de 400 a 500 ml/ha) em algumas lavouras de soja no Mato Grosso para o controle da ferrugem na safra 2002/2003, resultaram em perdas importantes em produtividade em função da explosão daquela doença. Vale lembrar também que duas aplicações de 250 mL/ha de determinado fungicida, em um intervalo de 10 dias, não correspondem a uma aplicação 500 mL/ha do mesmo fungicida. 2. a seleção de populações de fungos resistentes ao fungicida aplicado: neste contexto, o segmento brasileiro do
Rocheli Wachholz
FRAC (Comitê de Ação à Resistência a Fungicidas) é enfático na recomendação de utilização da dose registrada tecnicamente. Fungicidas do grupo químico dos Benzimidazóis têm sido os mais associados à seleção de populações resistentes de fungos no Brasil. O risco de desenvolvimento de populações resistentes aumenta com a especificidade do fungicida sobre o patógeno, como no caso dos Benzimidazóis, Triazóis e Estrobilirunas, intensamente usados em lavouras de soja e algodão no cerrado, e com o uso de doses inferiores às recomendadas. Se analisados em conjunto, os efeitos do uso de subdosagens de fungicidas podem elevar ainda mais os custos de produção ou reduzir drasticamente a expectativa de colheita, além de inviabilizar produtos tecnicamente eficientes para determinados processos patogênicos. Consideramos o uso de fungicidas como parte do processo de controle de doenças, que deve ser usado com critério, com acompanhamento técnico e seguindo rigorosamente todas as recomendações técnicas específicas para cada produto. Esta tecnologia tem elevado custo para o produtor, que deve buscar o máximo retorno possível quanC do da sua utilização. Daniel Cassetari Neto, FAMEV/UFMT Andreia Quixabeira Machado, UNIVAG-MT Dirceu Gassen
A subdosagem pode inviabilizar produtos tecnicamente eficientes para determinados processos patogênicos
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Cana-de-açucar Divulgação
Ataque à raiz Com a diminuição das queimadas na colheita de cana-de-açúcar, a cigarrinha-da-raiz passa de praga secundária para primária e preocupa principalmente pelas limitadas alternativas de controle
se das folhas e o conteúdo de sacarose do colmo. As perfurações dos tecidos pelos estiletes infectados provocam contaminações por microorganismos no líquido nutritivo, causando deterioração de tecidos nos pontos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes subterrâneas. As deteriorações aquosas apresentam cores escuras começando pela ponta da cana e podem causar a morte do colmo. Os danos decorrentes podem ser classificados em diretos e indiretos. Diretos: redução na produtividade (t/ha) causada por morte de perfilhos, morte, encurtamento, rachadura, brotações laterais e murchamento de colmos; Indiretos: redução da quantidade e qualidade do açúcar recuperável causada por aumento no teor de FIBRA, aumento de IMPUREZAS (“trash”), redução do PCC, redução na PUREZA do caldo e aumento de CONTAMINANTES no caldo.
CICLO BIOLÓGICO DO INSETO
A
ocorrência de altas populações de cigarrinha da raíz, Mahanar va fimbriolata, em canaviais colhidos sem a queima da palha tem se constituído em um sério problema técnico a ser equacionado neste novo sistema de colheita de cana-de-açúcar, por um lado, pelos danos econômicos que ocasiona se não controladas e, por outro, pelas limitadas informações disponíveis sobre as alternativas de controle. As formas jovens do inseto, conhecidas por ninfas, atacam as raízes superficiais da cana, liberando uma espuma branca que se espalha na parte inferior das plantas, ao nível do solo. A espécie Mahanarva fimbriolata ocorre principalmente em cana-de-açúcar e capim napiê e não deve ser confundida com a cigarrinha da folha, Mahanarva posticata, que ocorre nos canaviais do Nordeste e, nem com as várias espécies das pastagens (Zulia entreriana, Deois flavopicta e D. shach), as quais não causam danos à cana-de-açúcar.
nhosos da raiz, o deterioram, impedindo ou dificultando o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrios na fisiologia da planta, caracterizado pela desidratação do floema e do xilema que darão ao colmo características ocas, afinamento e posterior aparecimento de rugas na superfície externa. Os adultos ao injetarem toxinas produzem pequenas manchas amarelas nas folhas que com o passar do tempo tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossínte-
Newton Macedo
B
A
DANOS
A = colmos murchos, deteriorados são alguns dos sintomas; B = ambiente propício ao desenvolvimento das cigarras
As ninfas ao se alimentarem ocasionam uma “desordem fisiológica” em decorrência de suas picadas que, ao atingirem os vasos le-
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Este inseto que está presente de forma endêmica em praticamente todos os canaviais da região Centro-Sul passou a manifestarse de forma epidêmica porque tem encontrado na palha residual da colheita mecanizada da cana cria um ambiente altamente favorável ao seu desenvolvimento, proporcionado pelo aumento na retenção da umidade na superfície do solo e proteção da ação direta dos raios solares. A conseqüência tem sido uma explosão na população de cigarrinhas, a partir de uma seqüência de gerações que ocorre com o início das chuvas de primavera/verão. A primeira geração se dá de forma discreta, que geralmente passa despercebida e a população aumenta exponencialmente já na segunda geração, que pode se dar de novembro a janeiro, variando de ano para ano, conforme o regime de precipitação pluviométrica, dependendo também do estágio de desenvolvimento da lavoura. Em geral são observadas de 3 a 4 gerações ao ano no período que vai de setembro/outubro a fevereiro/março. Originários da última geração, por falta de umidade e redução na temperatura, uma grande quantidade
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Fotos Newton Macedo
Ninfas de Mahanarva envolvidas por espuma protetora junto aos colmos
de ovos permanece na base das touceiras durante o outono/inverno, vindo a eclodir novas ninfas (primeira gerações) nas próximas chuvas da primavera/verão, reiniciando o ciclo da praga. A experiência de convívio com as cigarrinhas da raiz até o momento indica que esta praga não ataca necessariamente nas mesmas áreas em anos consecutivos. Ocorre como que uma migração das altas infestações de um local (Fazenda ou Bloco) para outro.
INFLUEM NA POPULAÇÃO E NOS DANOS Época e duração da ocorrência da praga, conforme a fase de desenvolvimento da lavoura: • Canaviais em solos argilosos e com alta capacidade de retenção de umidade estão sujeitos às maiores infestações, enquanto que os arenosos, com baixa capacidade de retenção
Ciclo biológico da cigarrinha da raíz
de umidade (Latossolos arenosos e areias quatzosas) estão livres de severos ataques; • Canaviais colhidos no início da safra (maio/junho) estão sujeitos a infestações mais elevadas precocemente, depois do aparecimento de condições favoráveis, do que aqueles colhidos tardiamente (setembro/outubro/novembro), porque o fechamento da lavoura favorece a praga; • Canaviais que sofrem ataque precocemente e que estão na fase inicial de desenvolvimento são os que sofrem as maiores perdas, especialmente pela morte e ou menor desenvolvimento dos colmos; • Canaviais que sofrem ataques severos mais tardiamente ou que estão mais desenvolvidos vegetativa e fisiologicamente (colmos bem desenvolvidos) sofrem perda em tonelagem e, principalmente na qualidade.
NÍVEIS DE INFESTAÇÃO DA PRAGA Embora se disponha de poucas informações sobre níveis de infestações e danos econômicos e, evidentemente estes variam conforme a variedade e o estágio de desenvolvimento da lavoura, há indicações de que o nível de dano está ao redor de 08-10 ninfas/ metro linear de touceiras de cana e o nível de controle indicado, de 4 a 5 ninfas/metro linear de touceiras de cana.
nor dano à lavoura, mas não evita totalmente a ocorrência da praga. O emprego de variedades resistentes é praticamente inviável porque, embora tenham sido observadas variações significativas nos níveis de infestações e de danos conforme as variedades, na prática todas as variedades cultivadas comercialmente sofrem ataques e estão sujeitas a perdas expressivas quando a pressão de população na área é elevada. O controle biológico mais promissor é baseado no emprego do fungo Metarhizium anisopliae mas, trata-se ainda de um método na fase de pesquisa porque os produtos disponíveis no mercado apresentam baixa eficiência mas, pesquisas recentes têm demostrado avanços. O controle químico, por meio da aplicação de produtos de alta ação sistêmica, como Aldicarb, Carbofuran, e Thiamethoxam, tem se mostrado, até o momento, a alternativa mais eficiente em termos de controle e, quanto ao aspecto econômico, é indispensável agregar ao conhecimento dos produtos o número e época de aplicações mais indicados. As pesquisas recentes têm indicado que os melhores resultados em termos de controle e ganho de produtividade tem sido obtido com uma única aplicação do produto quando esta é feita no intervalo entre a 1ª e 2ª geração da praga, assim que atingir o nível de controle (indicado pelo número 1 nas curvas de populações). Para se atingir este momento certo é indispensável um bom monitoramento da população da praga. A estratégia mais prática é a colocação de armadilhas atrativas nas áreas de colheita de cana crua para a captura de adultos da primeira geração. Coletados os primeiros adultos iniciam-se os levantamentos de populações média de ninfas por metro linear, que é o parâmetro que vai definir quando se atingiu o C nível de controle. Newton Macedo, CCA/UFSCar
CONTROLE No controle desta praga uma série de medidas podem ser preconizadas como método físico, método cultural (emprego de variedades resistentes), método biológico (microbianos), e o método químico. Como métodos físicos pode-se fazer o afastamento mecânico da palha da linha de cana ou retirada da palha da área. Estas medidas propiciam uma menor infestação quando comparada à situação normal de palha, resultando em me-
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Característica de afinamento do colmo devido a desordem fisiológica provocada na planta
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Trigo
Produção recorde Aliando tecnologia e manejo adequado, produtor mineiro consegue bater recorde de produtividade de trigo com a marca de 7,48 toneladas por hectare
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A temperatura no período de cultivo oscilou na média de 18,5ºC, com umidade relativa do ar em torno de 64 a 70%. No período de produção ocorreram três chuvas totalizando 81mm. Além desses fatores, o produtor utilizou irrigação com sistema de pivô central, realizada semanalmente com uma lâmina de aproximadamente 12mm. Segundo o Yamanaka, o solo LVA de textura média e topografia plana teve como culturas antecessoras batata e milho, respectivamente, onde foram usadas aproximadamente 5 toneladas de fertilizantes. O plantio do trigo foi realizado, na primeira quinzena, no mês de abril, após o preparo do solo com duas gradagens pesadas seguidas de duas gradagens niveladoras. Foram utilizadas no plantio 200 Kg de sementes/ha juntamente com 350 Kg/ha 830-16 (NPK) + B e Zn de fertilizantes. Em cobertura foram utilizados mais 230 Kg/ha de adubo 30-00-10 (NPK).
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No que diz respeito à ocorrência de pragas, houve apenas o registro da lagarta do trigo (Pseudaletia sp), controlada em três aplicações: na fase de elongação, espigamento e enchimento de grãos, através do inseticida piretróide Lambdacyhalotrin. O manejo de plantas daninhas restringiu-se apenas ao controle de folhas largas, na fase de perfilhamento da cultura, atraJosé Maria de Andrade
U
m exemplo de superação dos parâmetros nacionais de produtividade aconteceu na propriedade de Akio Tamekumi, no município de Rio Paranaíba (MG), que conseguiu uma produção de 7,48 ton/ha de trigo, num cenário nacional onde a média para a cultura é estimada em 2,5 ton/ha e não consegue passar das 4,8 ton/ha no Cerrado. Associado à Coopadap (Cooperativa Agropecuária Mista do Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba), Tamekumi produz trigo há mais de 20 anos e nesta safra reservou 53,4 ha de sua propriedade para o cultivo. A produtividade elevada foi obtida pela associação de fatores de investimentos em tecnologia aliados a um ambiente favorável e à experiência do produtor no cultivo da cultura, afirma Celso Hydeto Yamanaka, engenheiro agrônomo da Coopadap, responsável pelo acompanhamento da produção.
Sr. Akio Tamekumi produtor em Rio Paranaiba/MG é o responsável pela produção recorde
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vés do herbicida à base de 2,4 D em pósemergência. Incidiram Galinsoga perviflora, Ipomea sp.,Raphanus sp, Raphanistrum e Euphorbia heterophylla. Plantas daninhas de folha estreita não chegaram a incidir a nível de controle. Na prevenção das doenças foliares o produtor utilizou o fungicida à base de Pyraclostrobin + Epoxiconazole na dose de 0,5 l/ha, aplicado 40 dias após emergência e reaplicado aos 70 dias para o controle de Oídio na fase inicial da cultura, além da ferrugem da folha e helminthosporiose, ocorridas após o espigamento. A variedade plantada foi a BRS 207, desenvolvida pela Embrapa Cerrados e Embrapa Trigo (ou só Embrapa) em parceria com a Epamig, UFV e Coopadap. O espigamento da cultivar ocorreu aos 65 dias e sua maturação aos 130 dias após a emergência. Segundo o coordenador de melhoramento trigo Brasil central Marcio Só e Silva, os tratos culturais usados pelo produtor são reflexos do pacote tecnológico desenvolvido exclusivamente para a produção de trigo irrigado no Brasil Central, que vai desde o zoneamento agricola, época e densidade de semeadura, manejo da irrigação, tratamentos fitossanitários, além de C outras tecnologias. CE e JE
Recorde já era esperado
H
á muito tempo vislumbramos uma alta produtividade de trigo irrigado na região do Cerrado, tendo em vista que em condições experimentais na Embrapa Cerrados, já havíamos conseguido produtivides de 8.200 kg/ha com algumas linhagens, sendo a máxima alcançada de 8.480 kg/ha. Algumas lavouras irrigadas, já obtiveram, no passado recente, na região do Entorno do Distrito Federal e na região do PADAP (Plano de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba), produtividade de até 6.600 kg/ha com as variedades da Embrapa, BR 26-São Gotardo e BR 33-Guará. Com o lançamento, em 2001, da cultivar BRS 207, que produziu, em experimentos irrigados por aspersão em Minas Gerais, 17% a mais que as cultivares testemunhas (aquelas em uso pelos produtores), já era esperado a quebra de recorde nacional de produtividade de trigo (7.480 kg/ha) – o que aconteceu neste ano. Ainda em 2003, a lavoura (76 ha) com a BRS 207 de outro associado da Coopadap, Sr. Nicolau Minami, obteve rendimento médio de 7.230 kg/ha. A mesma cultivar já obtivera, em 2002, média de 7,0 ton/ha em uma lavoura irrigada em São Gotardo. Em 2003, outra lavoura no Entorno do Distrito Federal, obteve rendimento médio de 6.900 kg/ha. Isto vem confirmar os resultados experimentais obtidos em Goiás e no Distrito Federal que demonstram que a BRS 207 é, em média, 9% mais produtiva que a Embrapa 22 – variedade ainda no mercado. Em resumo, o recorde de produtividade em lavoura de trigo é conseqüência do trabalho contínuo de melhoramento genético da espécie (trigo) e do lançamento de novas cultivares, cujas sementes são periodicamente disponibilizadas ao produtor, visando sempre alta produtividade e qualidade do produto. José Maria Vilela de Andrade, Embrapa Cerrados
Causa do sucesso
T
emos perspectivas de lançar proximamente novas variedades com potencial de 8.5 a 9.0 toneladas de trigo por hectare, de boa qualidade industrial. É importante salientar que estamos conseguindo estas produtividades com variedades com ciclo total (da semeadura a colheita) de aproximadamente 110 dias. As altas produtividades são devido principalmente a estabilidade climática da região do cerrado, do controle da água através da irrigação e da baixa incidência de doenças. O que não ocorre na região Sul do Brasil. Os produtores que estão conseguindo produtividades em torno de 7.0 toneladas por hectare são aqueles que seguem as indicações técnicas da Embrapa para a cultura do trigo (publicações que podem ser conseguidas na Embrapa). São produtores que fazem rotação de culturas principalmente alternando gramineas com leguminosas, normalmente trigo e feijão. Esta rotação diminui muito a incidência de doenças de solo. Doenças estas que tem inviabilizado muitas áreas irrigadas. Outros produtores não alcançam estas produtividades porque erram principalmente no manejo da água durante o ciclo da cultura e na adubação nitrogenada de cobertura, e também não fazem rotação de cultura de forma adequada. Julio César Albrecht, Embrapa Cerrados
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Paulo Reis
Café
Cigarras no café Definhamento, clorose e queda precoce das folhas, são sintomas que acusam a presença da cigarra do cafeeiro. Como atuam nas raízes e sugam a seiva, necessitam de controle para evitar a quebra da produção ou até mesmo o abandono do cafezal
A
s cigarras (Hemiptera; Auchenor-ryncha: Cicadidae) que atacam o cafeeiro pertencem principalmente a três gêneros: Quesada, Fidicinoides e Carineta, podendo um quarto gênero, Dorisiana, ser considerado. Apresentam desenvolvimento hemimetabólico ou hipometabólico (metamorfose incompleta), passando pelas fases de ovo (nos ramos do hospedeiro), ninfa móvel (no solo sugando seiva, fase em que adquire o “status” de praga), ninfa imóvel (fixada em um suporte, que pode ser o caule do cafeeiro, tronco de árvores etc.) e adulta (fase reprodutiva, na parte aérea das plantas). A espécie Q. gigas (Olivier, 1790) é a mais comumente encontrada. As ninfas
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móveis medem 20 a 30 mm de comprimento e atacam a raiz principal e as mais grossas do restante do sistema radicular do cafeeiro. Os adultos emergem no período compreendido entre o final de agosto e outubro. O segundo gênero em importância é o Fidicinoides, e a espécie mais comumente encontrada em cafeeiros é F. pronoe (Walker, 1850). As ninfas móveis desta espécie são menores que da Q. gigas, medem 8 a 15 mm de comprimento e sugam seiva nas extremidades das raízes, tendo sido encontradas até a uma distância de 1,20 m da raiz principal. Adultos deste gênero surgem nos meses de fevereiro e março. Q. gigas e F. pronoe apresentam gerações superpostas, e uma composição percentual
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das espécies, por cova de cafeeiro infestado, geralmente é de 87% do gênero Quesada e 13% de outros gêneros. As cigarras que ocupam o terceiro lugar em importância como pragas de cafeeiros pertencem ao gênero Carineta. Ocorrem em cafeeiros as espécies C. matura (Distant, 1892), C. spoliata (Walker, 1858) e C. fasciculata (Germar, 1821). As ninfas móveis destas espécies medem cerca de 10 a 15 mm de comprimento e diferem das do gênero Fidicinoides por terem o corpo mais fino e de formato quase retangular, enquanto que aquelas têm o corpo mais volumoso. A espécie Dorisiana drewseni (Stål, 1854) tem sido erroneamente citada no Brasil como Fidicina drewseni. Tendo em
...
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Fotos Paulo Reis
Ninfa móvel, em sua galeria, após abertura de trincheira ao redor das raízes
Amostragem da cigarrinha é realizada com abertura de trincheiras
nos meses da primavera-verão. Os machos adultos produzem um ruído estridulante (canto), visando atrair as fêmeas para a cópula, através de um par de órgãos estridulatórios, localizado no lado ventral do primeiro segmento abdominal. Cada espécie emite um som característico, específico. Os espécimens, fêmeas adultos alados, põem os ovos (de coloração branco leitosa e alongados) agrupados sob a casca dos galhos e ramos das plantas hospedeiras. Em poucos dias nascem as larvas (ninfas), as quais, pendendo por um filamento que excretam, descem e penetram no solo, indo localizar-se nas raízes. Os orifícios, feitos pelas pequenas ninfas móveis recém-eclodidas dos ovos, ao penetrarem no solo, são logo obstruídos devido aos seus pequenos diâmetros. Nas raízes, as ninfas móveis, que possuem aparelho bucal sugador, começam a sugar a seiva, cujo excesso é expelido e tam-
bém serve para amolecer a terra, facilitando, assim, ao inseto, a abertura com as pernas anteriores de uma cavidade (câmara, célula ou galeria) no sentido perpendicular ao ponto em que a larva se encontra. Como não podem pôr fora a terra que cavam, as ninfas vão umedecendo-a abundantemente com seiva e comprimindo-a, formando assim a cavidade, cujo tamanho vai sendo aumentado para acomodar o seu corpo até que adquira o desenvolvimento máximo quando apresenta tecas alares (asas rudimentares). As ninfas localizamse, geralmente, nas raízes mais grossas e também na raiz principal, onde são encontradas até a profundidade de 1 m. O normal é encontrar a maior concentração delas nos primeiros 35 cm de profundidade, numa circunferência de 25 cm de raio a partir da raiz principal. Durante o período em que se encontram no solo sugando as raízes, as ninfas crescem mudando de pele (ecdise), abandonando o velho tegumento nas galerias. Terminada a fase de ninfa móvel, abandonam o solo abrindo uma galeria cilíndrica, individual, até atingirem o exterior, geralmente sob a parte aérea da planta. Sobem ao tronco do cafeeiro ou em qualquer outro suporte onde, após fixadas, passam para a fase de ninfa imóvel, a qual dura aproximadamente duas horas, geralmente a partir do anoitecer. Terminada esta fase, o tegumento se rompe no dorso (linha de ecdise) emergindo o inseto adulto, ficando a exúvia (casca) presa no tronco. A crendice popular de que a ‘cigarra canta até se arrebentar’ nada mais é do que a passagem da fase de ninfa imóvel para a de adulta. A cópula é realizada na copa de árvores isoladas, nas matas e até em moirões de cercas. É comum na época de emergên-
Detalhe da ninfa se alimentando da raiz do cafeeiro
...conta tal fato, o gênero Dorisiana pode ser considerado como um quarto gênero de cigarras em importância ao cafeeiro. D. drewseni é muito comum nos cafezais de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, e o período de ocorrência de adultos é também fevereiro e março. As cigarras são insetos cuja fase imatura de ninfa móvel é vivida no solo, agindo desapercebidamente nas raízes das plantas até que dão sinal de si pela presença da forma adulta na parte aérea das plantas,
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Fase imatura do inseto é considerada fase critica em termos de danos ao cafezal
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sacos de café beneficiado por 1.000 covas de duas plantas, no espaçamento de 4,0 X 2,5m.
Tabela 1 - Número médio de ninfas de Quesada gigas por cova de cafeeiro ‘Mundo Novo’, com 12 anos de idade no espaçamento de 4,0 x 2,5m, e efeito na produção de grãos de café. São Tomaz de Aquino, MG, Faz. Cachoeira, 1982, 1983 e 1984
Tratamentos Phorate 5 G Phorate 5 G Phorate 95 L Testemunha
Épocas de aplicação (mês/ano) 11/82 11/82 e 11/83 11/82 -
Número médio de ninfas/cova 11/82 (1) 196 311 250 208
02/83 (2) 35 37 17 195
02/84 (2) 42 10 19 205
07/84 (2) 29 9 26 200
Produção Média (2) 35 19 21 200
82/83 (3) 7,6 7,6 3,8 5,5
83/84 (3) 46,0 51,1 45,0 6,9
CONTROLE Serão discutidos a seguir os métodos de controle conhecidos para as cigarras:
(1) Antes da aplicação do inseticida; (2) Após a aplicação do inseticida;(3) Sacos beneficiados por 1000 covas.
cia de adultos das espécies, ouvir-se um canto ensurdecedor dos machos nas faixas de mato próximas aos cafezais e também na arborização das cidades. Os adultos também apresentam o aparato bucal sugador, sugando, além do cafeeiro, outras espécies vegetais.
DANO Um cafezal muito infestado por cigarras da espécie Q. gigas pode apresentar em média 200 a 400 ninfas móveis por cova, população que causa severo dano às plantas. A sucção contínua de seiva causa o depauperamento das plantas, que se manifesta na parte aérea das mesmas pelo definhamento, clorose e queda precoce das folhas apicais dos ramos. Os sintomas são sempre mais acentuados nas épocas de déficit hídrico. As conseqüências finais do
ataque resultam em quebra da produção e mesmo perda total da lavoura, se a praga não for controlada a tempo. O cafeeiro suporta uma infestação de aproximadamente 35 ninfas de Q. gigas por cova, devendo ser considerado este nível para a tomada de decisão do controle químico. Considerando que o volume corpóreo da F. pronoe é dez vezes menor que o da Q. gigas, é de se supor que o cafeeiro possa suportar uma infestação dez vezes maior dessa espécie de cigarra. A redução da produção e a sua recuperação, como conseqüência do controle da cigarra, podem ser avaliadas pelos resultados de pesquisa, considerados clássicos para exemplificar os danos da praga, apresentados na Tabela 1. O acréscimo na produção dos cafeeiros recuperados, em relação à testemunha, foi em média de 40,5
Inseto parasitado pelo fungo entomopatogênico metarhizium anisoplae
...
Tabela 2 - Produtos, dosagens e modos de aplicação dos inseticidas granulados sistêmicos para o controle das cigarras-do-cafeeiro.
Inseticidas Aldicarb 150 G Carbofuran 100 G Disulfoton 100 G Phorate 50 G Terbufos 50 G Thiamethoxam 10 G Thiamethoxam 250WG Imidacloprid 700 GrDA
Dosagem kg / ha 25 30 30 60 60 50 2 1,2
Modos de aplicação Os granulados (G) devem ser aplicados em dois sulcos acompanhando a projeção da copa do cafeeiro (metade da dosagem por sulco) ou dois sulcos afastados 20 cm do tronco. Não usar matraca, de aplicação muito localizada. Os produtos formulados como grãos dispersíveis em água (WG e GrDA) são aplicados diluídos em água, pulverizando o solo sob os cafeeiros, em duas faixas, uma de cada lado, junto à linha de plantio ou em esguicho, “drench”, no colo da planta num volume de calda de 50 ml por planta.
Obs.: Thiamethoxam e imidacloprid são compatíveis com fungos entomopatogênicos encontrados no solo, como M. anisopliae e Beauveria bassiana.
Controle Cultural. Consiste na eliminação do cafezal altamente infestado e plantio de novos cafeeiros, desde que seja uma lavoura muito velha e antieconômica do ponto de vista agronômico. Os cafezais em formação não são atacados pelas cigarras. Controle Biológico. Já foi relatada a ocorrência do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae (Metsch., 1879) causando mortalidade da cigarra-do-cafeeiro, Q. gigas. A primeira constatação do fungo foi no estado de Minas Gerais, em julho de 1980. Somente 0,7% das ninfas móveis das cigarras observadas estavam parasitadas pelo fungo, e este índice aumentou para 5,1% quando foi aplicado inseticida sistêmico granulado para o controle das mesmas. Tal fato talvez se explique pela maior facilidade de penetração do fungo em ninfas debilitadas pelo inseticida. Fungo entomopatogênico pertencente a outro gênero, Massospora Peck, também pode ser encontrado em ninfas e adultos das cigarras, porém é ainda muito pouco estudado. Controle Químico. O uso de inseticidas é a única modalidade eficiente de controle, até agora conhecida, que reduz a população de cigarras. O controle é feito visando as ninfas móveis no solo, e embora não morra a totalidade delas, a população é reduzida a níveis suportáveis pelas plantas, sem que hajam danos econômicos. Os inseticidas mais eficientes têm sido
os sistêmicos (p.ex. aldicarb, carbofuran, disulfoton, phorate, terbufos, imidacloprid e thiamethoxam), que devem ser aplicados no solo durante o período chuvoso do ano, geralmente no mês de dezembro na maioria das regiões cafeeiras, para maior eficiência (Tabela 2). Além da escolha do inseticida, com base na eficiência e economicidade, o modo de aplicação é também muito importante. As formulações granuladas para o controle das cigarras não devem ser aplicadas com matraca, de aplicação muito localizada, pois haverá baixa eficiência. As melhores modalidades de aplicação, a serem utilizadas, de acordo com o equipamento disponível, devem ser a incorporação do produto em sulcos o mais próximo possível do tronco, sendo metade da dosagem aplicada de cada lado da planta voltada para as ruas. Os inseticidas na formulação de grãos dispersíveis em água (WG ou GrDA) são aplicados no solo, após serem diluídos em água, através de pulverização sob a saia da planta, em duas faixas, uma de cada lado junto à linha de plantio, ou em esguicho (“drench”) no colo da planta. Os produtos imidacloprid e thiamethoxam são con-
(da esq. para dir.) Ninfa móvel, exúvia e adulto de Quesada gigas
Julio César de Souza (à esq.) e Paulo Rebelles Reis (à dir.) são pesquisadores da Epamig/EcoCentro
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Paulo Rebelles Reis Júlio César de Souza EPAMIG/EcoCentro
Fotos Paulo Reis
...cultural, biológico e químico.
siderados compatíveis com o fungo entomopatogênico, M. anisopliae, encontrado associado com a cigarra-do-cafeeiro. Os inseticidas aplicados desta forma interferem muito pouco no meio ambiente e não causam desequilíbrio biológico em favor de outras pragas que ocorrem em cafeeiros. Alguns inseticidas têm também efeito nematicida, além de controlarem outros insetos-praga como a cochonilha-da-raiz Dysmicoccus texensis (Tinsley) e da parte aérea Planococcus minor (Maskell) (Hemiptera: Pseudococcidae) e, dependendo da região, controlam também o bicho-mineiro das folhas, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) e a mosca-da-raiz (Chiromyza vittata Wied., 1820) (Diptera: Stratiomyidae), esta última considerada praga potencial para algumas regiões cafeeiras do Brasil. A aplicação de inseticidas por dois anos consecutivos reduz a população de cigarras abaixo do nível de controle (35 ninfas móveis de Q. gigas /cova). Aplicações posteriores somente deverão ser feitas após constatação desse nível, obtido por amostragens de ninfas móveis no solo entre os meses de maio e julho. As amostragens podem ser feitas de um só lado da cova (para não haver morte das plantas) fazendo trincheiras, abrangendo o sistema radicular, e contando as ninfas de cigarras encontradas, devendo o resultado ser multiplicado por dois para obtenção do número C de ninfas por cova.
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Agronegócios
O Princípio da precaução Entenda o princípio da precaução que, para minimizar riscos potenciais de algo desconhecido, tem servido de justificativa tanto para banir o uso de OGMs quanto para invadir o Iraque
O
Princípio da Precaução está na ordem do dia. Portanto, nada mais justo que conhecer em profundidade o conceito e avaliar os benefícios que pode trazer e os malefícios quando é utilizado de forma distorcida. Na Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), foi subscrito o Princípio da Precaução, assim definido: “O Princípio da Precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados.” Este Princípio afirma que, na ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível, requer a implementação de medidas que possam prevenir este eventual dano. É importante ter em mente que, a partir da definição de que o mesmo é aplicado na ausência de evidências científicas, o Princípio da Precaução não se enquadra no conceito de ferramenta científica. 48
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MAU USO O Princípio da Precaução tem servido como justificativa tanto para banir o uso de OGMs quanto para invadir o Iraque. Invadiu-se um país com a justificativa de que “quiçá, talvez, eventualmente, em um futuro imprevisível, possa haver uma remota possibilidade de que o ditador que comanda esse país venha a representar algum perigo aos interesses americanos”. Consumada a invasão, restou que o tal arremedo de ditador sequer tinha condições de defender a si e aos seus asseclas, com um simulacro de exército sem armas, munições, uniforme ou alimentos, quanto mais representar o mínimo perigo para qualquer país, menos ainda para os EUA, que detêm mais de um terço do poderio bélico do planeta e a maior rede de inteligência e de informações estratégicas do mundo. Há outro exemplo: o SPS (Sanitary and Phytosanitary Measures) é um código de princípios sanitários do comércio internacional, www.cultivar.inf.br
cujo artigo 2.2 (Direitos e Obrigações Básicas) do SPS preceitua “Os Membros devem assegurar que todas as medidas sanitárias ou fitossanitárias serão aplicadas somente na extensão necessária para proteger a vida e a saúde humana, animal ou das plantas, baseadas em princípios científicos e não serão mantidas aquelas que não disponham de suficiente evidência cientifica”. O SPS abre uma única exceção a esse princípio, no Artigo 5.7, que estatui: “Nos casos em que a evidência científica relevante é insuficiente, um Membro pode, provisoriamente, adotar medidas sanitárias ou fitossanitárias com base na informação pertinente disponível, incluindo aquelas obtidas por organizações internacionais relevantes ou utilizando medidas sanitárias utilizadas por outros Membros. Nessas circunstâncias, os Membros têm a obrigação de obter informação adicional necessária para uma análise de risco objetiva e rever as suas medidaars sanitárias em um período de tempo razoável”. Novembro de 2003
reira” ou, usando o ditado popular, faça o que eu digo e não o que eu faço.
CIÊNCIA E INCERTEZA
FAZER O JOGO DO ADVERSÁRIO Esse artigo do SPS era assaz útil aos países ricos, os quais dispõem de recursos para atender às exigências para sua aplicação. Ocorre que outros países, como o Brasil, resolveram jogar o jogo dentro das regras. Modernizaram-se, aprimoraram suas estruturas científicas e de defesa agropecuária e tornaram-se competitivos. Conseqüentemente, foi preciso mudar a regra para dificultar, ao máximo, o acesso desses países arrivistas ao mercado. A solução encontrada pelos países ricos foi a livre interpretação do artigo. Ao sabor das conveniências desses países, quando o risco é imponderável ou quando, a seu critério, não existe informação científica suficiente, aplica-se o Princípio da Precaução, não previsto, explicitamente, na versão original do SPS. Quem conhece os meandros do jogo de interesses das negociações internacionais sabe que o nome disso é “barreira comercial disfarçada”. Uma barreira que conjumina a distorção do principio científico com o mau uso do Princípio da Precaução, para atender interesses comerciais e barrar o comércio agrícola de países emergentes. Não vamos ganhar jogos brandindo os motes e reforçando os argumentos que os adversários usam contra nós. Isso se aplica com muita nitidez ao Princípio da Precaução. Trata-se de uma ferramenta importante, se utilizada corretamente. Porém, presta um desserviço ao país quando brandida reverberando argumentos utilizados pelos países ricos para barrar a entrada dos nossos produtos, mais competitivos que os deles.
JULGAMENTO SUBJETIVO Para facilitar o entendimento do Princípio, apliquemos o seu conceito a um fato Novembro de 2003
estereotipado: na boca de uma caverna escura, a decisão de vasculhá-la dependerá da noção dos perigos e dos benefícios que a incursão possa trazer. No vácuo de informação, o Princípio da Precaução estipula que cavernas escuras são habitats de aranhas, escorpiões, serpentes e outros animais peçonhentos, fungos, bactérias e outros microrganismos patogênicos, além de poder nos faltar o chão a qualquer momento. A decisão será por não ingressar. Porém, e se nos for afiançado que, andando 20m no interior da caverna, encontraremos um veio de diamantes de milhares de quilates? E, se adicionalmente, nos for asseverado que estudos preliminares indicaram que os habitantes da caverna não representam perigo à integridade física? E, finalmente, se dispusermos de um relatório de que centenas de pessoas já trilharam a caverna e retornaram, incólumes, com sua quota de diamantes? Perceba que, em todos os cenários, não existe evidência científica irrefutável. Varia apenas o grau de informação, a percepção do risco e a avaliação do custo benefício. Ou seja, fatores subjetivos, imponderáveis e descolados da ortodoxia científica formam a base da decisão de ingressar ou não na caverna. A confusão se instala quando recebemos informações esparsas e de sinais trocados. Algo como dispor da informação segura de que muitas pessoas ingressaram em muitas cavernas da mesma região e de lá retornaram com os seus tesouros. Porém, essas mesmas pessoas alardeiam que não existe informação suficiente para aquilatar os perigos de ingressar na caverna, além de que o tesouro extraído não compensa os riscos a que a pessoa se expõe. Examinando dessa forma, didaticamente, transparece a “barwww.cultivar.inf.br
A ciência se pauta por alguns princípios como a formulação do modelo teórico, a experimentação e a repetibilidade, a verificação da consistência, a lógica da predição e as limitações da extrapolação. Do ponto de vista científico, a incerteza pode enquadrar-se como: A) Inconsistência dos dados – Tratase de dados sem a devida consistência de série histórica e/ou espacial, com dúvidas sobre o rigor metodológico para sua obtenção; B) Ignorância – A falta de conhecimento detalhado conduz à extrapolação do conhecimento obtido para algumas espécies indicadoras ao conjunto de uma biodiversidade localizada; C) Indeterminação – Trata-se do cenário extremo, em que não se dispõem de parâmetros de cada espécie, individualmente, de informações sobre as populações, ou das suas interações. Nessa condição, qualquer modelo aproxima-se mais de uma loteria que de uma ferramenta de valor científico.
CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS A Sociedade tem entendido a necessidade de precaver-se, sob determinadas circunstâncias, abrindo mão de ganhos ou submetendo-se a privações de alguma ordem no presente, a fim de preservar o futuro, especialmente em cenários de incerteza. O ponto chave da discussão é que, em se tratando de um tema em que a confiança e a credibilidade são fundamentais, posto não ser possível aplicar métodos científicos, em especial a estatística e os modelos preditivos, o mau uso da ferramenta pode levar ao descrédito e à falta de suporte social. Eis porque o Princípio da Precaução deve ser utilizado com parcimônia, o debate deve ser conduzido em um ambiente de razoabilidade, permitindo balancear os poucos dados confiáveis disponíveis, para obter uma adesão social que lhe confira o suporte. Por outro lado, o desvirtuamento da aplicação do Princípio da Precaução, seja para justificar guerras de conquistas, em que objetivos políticos e econômicos são escamoteados sob um manto tênue de virtuais riscos futuros; ou o recurso ao Princípio para auferir vantagens comerciais decorrentes de barreiras insustentáveis à luz das evidências científicas poderá ter, como grande vítima, justamente o que se pretende proteger: o meio C ambiente e o futuro da humanidade. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
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Safra 2003/054 começa com expectativa acima das 120 milhões de T Os produtores estão investindo com grande otimismo neste ano e com isso o plantio avança em ritmo forte e sinaliza para crescer entre 2 e 3 milhões de ha de áreas agrícolas novas, e desta forma já começando com expectativa de superarmos novamente a marca das 125 milhões de T. O otimismo é tanto que trabalhamos com expectativa de colhermos 60 milhões de T de soja, outras 40 milhões de milho, 12 milhões de T de arroz, 3 milhões de T de Feijão, 6 milhões de T de Trigo e pelo menos outras 3 milhões de T de outros produtos, com isso novamente teremos um grande volume de produto chegando aos armazéns. Como estaremos com crescimento na produção e consolidando números altos da safra e também teremos estoques de passagem deste ano para o próximo, principalmente do milho que esta apontando para chegar à marca das 5 milhões de T, recomendamos aos produtores a necessidade do planejamento comercial e também de logística, e não deixando de apontar a necessidade crescente de armazéns. A produtividade deverá novamente se destacar com crescimento porque os produtores vêm investindo em tecnologia e esta vem respondendo com produtividades crescentes e o resultado de tudo isso esta aparecendo em ganhos econômicos e boa capitalização do setor, e novos investimentos devendo ser realizados. Estamos andando num sistema de crescimento econômico e produtivo, que não deverá parar no curto prazo. O mundo precisa de alimentos e o principal país que tem grande capacidade de crescimento é o Brasil. O governo também divulgou sua estimativa apontando para níveis de 124,4 a 127,7 milhões de T. Trouxe números otimistas para o milho, onde aponta 43,8 as 44,8 milhões de T, contra 39 a 41 apontados pelas empresas particulares. Para a soja o governo aposta entre as 56 as 58 milhões de T, um pouco abaixo do que o mercado trabalha. O governo espera colher entre 2 e 4% mais grãos nestes novo ano que os colhidos na safra 02/03. Novamente será um bom ano para os produtores, que devem ter boa capitalização.
MILHO Final de ano chegando O mercado do milho passou o mês de outubro com pouca pressão dos compradores e pressão de baixa que chegava das indústrias, que tendo produto em casa não estiveram atuando e desta forma os produtores que tiveram que fechar o cereal encontraram cotações menores. Como o principal ponto de escoamento da safra era a exportação e com o cambio em queda livre trabalhando nos indicativos mais baixos do ano também empurrou as cotações do milho para baixo e assim as posições que conseguiram andar estava abaixo dos R$ 17,00 nos portos e chegou a indicar níveis bem abaixo deste. Penalizando as cotações internas que não tinham fôlego para crescer. Neste mês de novembro o quadro não deverá sofrer grandes alterações e a tendência aponta para o crescimento das ofertas e assim o quadro andar em cima das possibilidades de exportações porque os consumidores internos estão cobertos e não devem formar estoques para a virada do ano.
até alguma pressão de baixa podendo ocorrer. O setor da soja esta conseguindo grande lucratividade com as cotações praticadas atualmente e assim recomendamos aos produtores que garantam parte destes ganhos também para 2004, com alguns fechamentos de cotações futuras agora em 2003.
FEIJÃO Sente queda no consumo O mercado do feijão em setembro e outubro sentiu a queda no consumo, que veio atrelado à queda também nas vendas do arroz, onde os consumidores optaram por outros produtos e deixaram o prato típico brasileiro de lado. Com menor demanda os indicativos não reagiram e para segurar ainda mais as cotações tivemos bom volume de produto chegando das áreas irrigadas do Brasil Central e assim com boas ofertas não deu fôlego para reação e assim boa parte de outubro se trabalhou entre os R$ 55,00 e os R$ 60,00. Com um espaço de correção agora em novembro porque a safra de verão
SOJA Pico de preços O mercado da soja atingiu em outubro os melhores indicativos do ano, com os picos de cotações em dólar dos últimos anos e também trazendo grandes indicativos praticados em Reais que se igualaram e superaram as cotações do mesmo período do ano passado, lembrando que na época o cambio estava em R$ 3,80, e neste ano ficou próximo dos R$ 2,80. Os produtores seguraram grandes volumes para negociar neste segundo semestre e ganharam forte e com a forte alta ocorrida neste ano já garante boas cotações para a soja futura em 2004. Os indicativos fechados para a safra nova andaram entre os US$ 12,00 até casos de US$ 14,00 para abril de 2004. A safra atual também avançou forte e de agora em diante as chances de mais reação em dólar são pequenas e pelo visto o cambio também não esta querendo avançar antes do final do ano. Aparentemente o pico das cotações já chegou e de agora em diante tende a estabilidade e
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esta com atraso de 2 a 4 semanas.
ARROZ Importados e pouca demanda O mercado do arroz trabalhou fraco em outubro e não mostra fôlego para andar no lado de cima em novembro. A entrada de arroz importado junto com a retração na demanda, onde se aponta redução de 10 a 20% nos volumes negociados em setembro e outubro, fizeram com que os indicativos do arroz em casca se estabilizassem e até houve casos de queda e pouco interesse dos compradores. Com isso ha pouco fôlego para vermos avanços em novembro, quando normalmente o mercado do arroz trabalharia firme, mas como estaremos recebendo importados, dificultará os novos negócios. Com chances de termos queda nos indicativos. O plantio andou forte no mês de outubro, e sinaliza com crescimento em praticamente todas as regiões e já começando a trabalhar com uma safra de 12 milhões de T.
CURTAS E BOAS SOJA - o USDA divulgou em outubro um novo relatório confirmando forte queda na safra americana, com 67,2 milhões de T, contra as 71,9 milhões de T do mês anterior e ficando muito distante das 80 milhões de T esperadas no começo da safra. A Argentina esta mostrando a nova área plantada com soja indo para os 13,5 milhões de ha contra os 12,7 plantados na safra passada e assim a safra tende a crescer das 35 para as 37 milhões de T. MILHO - ao contrario da soja que o USDA derrubou forte a safra dos EUA, no milho os indicativos vieram para cima e uma supersafra esta sendo confirmada com 259,3 milhões de T contra expectativas que apontavam para as 252,6 milhões em setembro. O quadro do milho esta chegando próximo do consumo americano previsto em 260 milhões de T. TRIGO - a safra brasileira esta fechando a colheita nestes primeiros dias de novembro no RS, e vem apontando para uma a produção de 5,2 milhões de T contra as 2,9 milhões de T da safra passada. Este crescimento, aliado a forte queda no dólar derrubou as cotações para baixo dos R$ 450,00 por T, contra os R$ 600,00 que foram praticados no mesmo período do ano passado. Mesmo com as cotações menores o trigo continua dando boa lucratividade aos produtores que tem ganhado em produtividade. ALGODÃO - o USDA aumentou a safra mundial de algodão de 2003/04 dos 93,4 milhões de fardos para os 94,5 milhões em outubro. Assim esta aumentando os estoques de passagem dos 32,2 para os 33,7 milhões de fardo, fazendo com que as cotações mostrassem ligeira fraqueza. Mesmo assim segue apontando para o crescimento no plantio do Brasil, que tem bom volume de contrato na exportação para 2004. BRASIL - o Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues divulgou a primeira estimativa da safra brasileira 03/04, com indicativos de 1,7 a 1,8 milhões de T para o algodão em caroço, 11,4 a 11,7 milhões de T para o arroz, este abaixo das estimativas do mercado, 3,3 milhões de T de feijão entre 0,3 e 0,5 milhões de T acima das expectativas e 5,1 milhões de T para o Trigo enquanto o mercado aposta em 6 milhões de T.
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Novembro Maio de 2003