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Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 12º andar Pelotas – RS 96015 – 300
Fusarium no MT Considerado área livre até 2001, o Mato Grosso registra o primeiro caso de mancha de Fusarium na safra 2002/2003
www.grupocultivar.com Diretor de Redação Schubert K. Peter
“Cultivar” e “Agrotécnica” são marcas registradas do Grupo Cultivar de Publicações
Cultivar Grandes Culturas Ano V - Nº 58 Fevereiro / 2004 ISSN - 1518-3157
Mosca no café
www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00
Quando atacado pela mosca da raiz, o cafeeiro perde as raízes mais finas e inicia um processo de redução na produção
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 72,00 68,00 • Editor:
Charles Ricardo Echer
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• Consultor
Newton Peter OAB/RS 14.056
Ainda ameaçador
• Coordenador de Redação
Janice Ebel
Praga antiga, o percevejo-castanho ainda é um problema principalmente para a soja e o algodão
• Revisão
Vandelci Ferreira • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia _____________
• Gerente Comercial
Neri Ferreira • Assistentes de Vendas
Mela sob controle
Pedro Batistin Érico Grequi
Responsável por perdas de até 60% em 2001/2002, a mela-da-soja causou menos estragos na última safra
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• Gerente de Circulação
Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Jociane Bitencourt Luceni Hellebrandt • Expedição
Edson Krause Dianferson Alves
índice
Nossa capa Foto Capa / Dirceu Gassen
• Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:
Diretas
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Fusarium no Mato Grosso
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Enfezamento no milho
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Mosca-da-raiz atinge café
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Percevejo-castanho ainda é uma ameaça
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Quanto custa plantar transgênicos
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Ferrugem avança no país
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Controle da Mela da soja
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Coluna Aenda
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Agronegócios
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Mercado agrícola
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3028.4013/3028.4015 • ASSINATURAS:
3028.4010/3028.4011 • GERAL
3028.4013 • REDAÇÃO:
3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:
3028.4004 / 3028.4005 • FAX:
3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
diretas Fieragricola
Dias de Campo
Marcus d´Oliveira
A Embrapa Milho e Sorgo em Sete Lagoas (MG), vai produzir quatro Dias de Campo na TV em 2004. A partir 20 de fevereiro, às sextas-feiras, das 9h às 10h, via antena parabólica ou Canal Rural. Dia 20 de fevereiro - “Cultivares para artesanato com palha de milho” pela pesquisadora Flavia F. Teixeira; 12 de março - “Controle biológico das principais pragas do milho utilizando o parasita de ovos: vespa Trichogramma pretiosum”, com o pesquisador e atual chefe geral Ivan Cruz. Em 4 de junho, “Hortas urbanas sob linhas de alta tensão da Companhia Energética de Minas Gerais”, pelo engenheiro agrônomo Luciano C. de Barros, e, finalizando, em 13 de agosto o tema é “Milho doce: boa alternativa para o produtor brasileiro de grãos”; pelo pesquisador Elto Gama.
Nova direção A Embrapa Acre localizada em Rio Branco, está sob nova direção. O pesquisador Marcus Vinício Neves d´Oliveira assumiu a chefia geral da unidade pelos próximos quatro anos, substituindo o pesquisador Ivandir Soares Campos. Vinício é engenheiro florestal e tem mestrado e doutorado em manejo florestal.
Trigo Iapar e a Embrapa promovem entre os dias 3 a 5 de fevereiro de 2004, em Londrina (PR) a XIX Reunião da Comissão Centro- Sul Brasileira de Pesquisa do Trigo, a X Reunião da Comissão Nacional de Pesquisa de Triticale e o V Seminário Técnico do Trigo. O evento é dirigido a todos os setores da cadeia produtiva.
Nova Diretoria Durante a cerimônia de premiação da XIII Mostra de Comunicação em Marketing Rural ocorreu também a solenidade de apresentação do novo presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR) para o biêmio 2004/2005, José Luis Tejon Mejido, diretor da Agência Estado, em sucessão a Nivaldo Carlucci.
Homens do Arroz Entre os dias 05 e 07 de março, acontece, na Granja Darci Zanetti, em Santa Vitória do Palmar (RS), a 14ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, tendo como convidados os presidentes do Brasil e do Uruguai, lavouras demonstrativas de variedades de arroz, cursos e palestras técnicas, além da homenagem aos Homens do Arroz - eleitos pela diretoria da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
Fundação MT
Hugo Carvalho
A Fundação MT completa dez anos de existência. Durante a comemoração, o atual presidente da instituição, Hugo Ribeiro Carvalho, destacou a importância que a Fundação tem na história recente da agricultura no Mato Grosso e no Cerrado, oferecendo respostas rápidas aos maiores problemas ocorridos no campo através da pesquisa, além da difusão de conhecimentos elogiados até fora do país.
Destaque A Syngenta, empresa líder mundial em agrobusiness, conquista quatro prêmios na XIII Mostra ABMR de Comunicação em Marketing. Antonio Carlos Costa foi eleito o profissional do ano. Já na categoria eventos, o Circuito Nacional de Tecnologia - Mais maiz Seleção Top, na categoria campanha de promoção de vendas, e Priori & Score – Dupla Proteção na categoria Campanha de Propaganda, foram os grandes vencedores.
Antonio Damaceno
Rotam A Rotam agrochemical Co Ltd, empresa do grupo Rotam , com sede no Canadá e destaque como empresa produtora de defensivos genéricos já está instalada em Campinas (SP), comandada por Antonio Carlos Damaceno.
Cartões de Natal Amigos do Grupo Cultivar não receberam, em dezembro, o cartão de Boas Festas que enviávamos há cinco anos. Em 2003 decidimos doar a verba respectiva para o Cerenepe, entidade filiada à Apae, que trabalha na educação de crianças especiais.
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Cultivar
José Luis Tejon Mejido
A Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio de Minas Gerais, delegada oficial, no Brasil, do Veronafiere, está organizando uma delegação de empresários e criadores para visitar a Fieragricola-Agritech 2004, no período de 03/03 a 07/03/ 2004, em Verona - Itália. A indústria de máquinas para a agricultura, a agroindustria, são alguns dos destaques em um lugar de contato real com o mercado. O site www.agripiazza.it é destinado a manter, após a feira, a divulgação dos produtos das empresas expositoras durante os 365 dias do ano.
Antonio Carlos Costa
Doação de livros A BASF doou para 129 bibliotecas de faculdades e escolas técnicas de agronomia do País a obra intitulada Plantas Infestantes e Nocivas de autoria do engenheiro agrônomo, Kurt G. Kissmann.“Essa iniciativa reflete o compromisso da BASF, em participar de iniciativas que aumentem o conhecimento sobre a flora brasileira e a agricultura“, informa David Tassára, gerente de marketing para divisão agro da BASF.
Agroecossistemas O livro Indicadores de sustentabilidade em agroecossistemas, editado pela Embrapa Meio Ambiente, tem o objetivo de apresentar proposta metodológica para indicadores de sustentabilidade e prover uma seleção representativa dos indicadores de sustentabilidade de agroecossistemas, fornecendo abordagem teórica e prática sobre o tema.Informações e vendas: sac@cnpma.embrapa.br
Crescendo
Ernesto Bellotto
Transferência Após 25 anos instalada em São Paulo, a administração brasileira da multinacional italiana Sipcam Agro se transfere para , em Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde já funciona sua fábrica. Segundo Ernesto Bellotto,Coordenador de Marketing, 2003 foi um bom ano para a empresa, que teve um faturamente de U$$ 56 milhões.
Bayer O professor Friedrich Berschauer, atualmente membro da diretoria da Bayer HealthCare e chefe da sua Divisão de Saúde Animal, foi nomeado diretor da Bayer CropScience AG. A posse acontecerá em 1 de abril deste ano. Berschauer sucede Jochen Wulff, que se aposenta após 35 anos de serviços à companhia.
A RCN Agro – indústria brasileira de fertilizantes ecológicos e fungicidas a base de enxofre solúvel em água – está investindo 4 milhões na construção de uma nova unidade em Itápolis(SP). A unidade deverá iniciar a produção a partir de julho deste ano, devendo gerar 180 empregos diretos. Em cinco anos, os investimentos deverão chegar a R$ 12 milhões.
100 anos A Bayer comemorou no último dia 06 de janeiro, o centenário de seu logotipo, registrado em 1904. O nome Cruz Bayer nasceu da necessidade de substituir o antigo e difícil nome da empresa em alemão: “Elberfelder Farbenfabriken Vormals Friedrich Bayer & Co”.
Friedrich Berschauer www.cultivar.inf.br
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Fotos Andréa Q. Machado
Algodão
Fusarium no MT Comum no cerrado do Centro-Oeste e Nordeste, a murcha de Fusarium começa a aparecer também em lavouras do Mato Grosso, área que até a safra 2001/2002 não registrava relatos da doença
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té a safra 2001/2002, todas as áreas de cultivo de algodão no Estado do Mato Grosso foram consideradas isentas de Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum, relacionado pelo Ministério da Agricultura como praga quarentenária A1. No entanto, resultados obtidos por Machado et al. (2003) confirmaram o primeiro relato de Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum em algodoeiro no Mato Grosso na safra 2002/2003. Não há relatos de variedades resistentes à murcha de Fusarium para o Estado do Mato Grosso. No estudo da reação de algodoeiros a nematóides e Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum, isolados ou conjuntamente, observou-se que materiais com alta resistência a nematóides nem sempre são altamente resistentes a Fusarium. Existem materiais que são resistentes quando os patógenos estão isolados, mas, suscetíveis, quando em presença dos dois. As ações de pesquisa já iniciadas no Estado do Mato Grosso envolvem a quantificação da porcentagem de transmissão de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum para plantas originadas de sementes de algodão infectadas e/ou contaminadas pelo patógeno e o estabelecimento de fungici-
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Cultivar
das e dosagens no tratamento químico das sementes para o controle de Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum. Estes resultados permitirão ao Ministério da Agricultura do Mato Grosso estabelecer normas de padrões de tolerância de Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum em sementes de algodão no Estado. Resultados preliminares têm apontado como promissoras as misturas de fungicidas de contato com sistêmicos do grupo químico dos benzimidazóis na inibição do crescimento micelial e da esporulação de Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum e, possivelmente, na erradicação deste patógeno em sementes de algodão infectadas. Em áreas isentas (não contaminadas) do patógeno recomenda-se como medidas de controle o uso de sementes sadias, a partir de laudo oficial, com identificação de gênero e espécie dos patógenos ocorrentes, tratamento químico de sementes a partir dos resultados de pesquisa, controle do trânsito de máquinas entre áreas contaminadas e não contaminadas e monitoramento da ocorrência do patógeno. Nas áreas contaminadas recomenda-se que, além do uso de sementes sadias ou tratadas, também seja realizada a rotação de culturas a cada dois anos para redução
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do potencial de inóculo, uso de variedades resistentes (quando disponíveis), solarização em áreas de plantio convencional, adubação equilibrada, controle do trânsito de máquinas entre áreas contaminadas e não contaminadas, eliminação eficiente de soqueira, controle de fitonematóides que potencializam o processo patogênico e
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monitoramento da severidade do patógeno. Vale ressaltar que alguns trabalhos relacionam 4 raças de Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum no Brasil, e que a raça 2 deste patógeno também pode multiplicarse na cultura da soja. A cultura do algodão no cerrado do Centro Oeste e Nordeste ocupa cerca de 10% da área equivalente com a cultura da soja. Porém, o retorno do capital empregado é significativamente mais volumoso para esta cultura, o que leva os produtores a procurarem tecnologias de produção que possibilitem obter o maior potencial produtivo possível para cada variedade. Entre os fatores mais limitantes na obtenção deste máximo potencial produtivo, encontram-se os patógenos associados às sementes e à parte aérea da cultura. Exemplos como a ramulose, causada por Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, têm sido relatados rotineiramente como fator de redução na produtividade. A murcha de Fusarium ou fusariose, causada pelo fungo Fusarium oxysporum Schlect f. sp. vasinfectum (Atk.) Snyder & Hansen é a principal doença do algodoeiro nos estados de São Paulo e Paraná e é conhecida no Nordeste brasileiro, desde 1935, e em São Paulo, desde 1957/1958 (Cia & Salgado, 1997). O fungo Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum é transmitido pelas sementes, tanto externamente como internamente, embora seja predominantemente um fungo de solo. Mesmo uma baixa taxa de transmissão pela semente pode ser de grande importância se essa semente for lançada em solo não contaminado pelo patógeno. Alguns trabalhos mostram que a taxa de infecção em sementes provenientes de
Manifestação dos sintomas em qualquer estágio de desenvolvimento da planta e em reboleira são características do fungo
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campos altamente infectados por Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum é baixa (cerca de 0,2 a 0,6%). Porém, os níveis de infecção conhecidos, de 0,08 a 0,38%, indicam que o risco de disseminação da murcha de Fusarium através de sementes infectadas é potencialmente elevado. Este patógeno afeta um grande número de plantas, incluindo muitas espécies cultivadas. Já foram descritas muitas formas speciales, as quais contêm muitas raças. Muitas destas formas speciales possuem ecologia e epidemiologia semelhantes. A disseminação ocorre muitas vezes pelo próprio homem ao transportar plantas infectadas, por sementes ou solo contaminado. A disseminação a curta distância ocorre de forma eficiente por meio da movimentação de solos contaminados por máquinas e implementos agrícolas, água de chuva e irrigação. A longa distância a disseminação mais eficiente ocorre por meio de sementes contaminadas. O fungo pode sobreviver por longos períodos no solo, em restos de cultura e nas sementes. Os sintomas dessa doença podem aparecer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta, geralmente em reboleiras na lavoura. Essas reboleiras tendem a aumentar a cada ano de cultivo sucessivo de algodão susceptível. Em plântulas, os cotilédones e as folhas murcham, amarelecem e caem, e o sistema vascular torna-se descolorido. Em plantas mais velhas os primeiros sintomas usualmente aparecem nas folhas do baixeiro, no período do florescimento, onde as folhas apresentam-se com margens amareladas a bronzeadas. O sistema vascular de plantas infectadas apresenta descoloração do marrom escuro ao preto, de forma que a secção transversal do caule ou da raiz, pode apresentar escurecimento dos vasos, resultante da oxidação e polimerização de compostos fenólicos. Em função da obstrução dos vasos do xilema, o fluxo de água e nutrientes é comprometido e os sintomas de murcha são notados na parte aérea da planta. Quando associado a nematóides dos gêneros Meloidogyne, Pratylenchus, Helicotylenchus e Rotylenchus, a severidade de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum tende a ser maior em função da abertura de ferimentos na raiz e da debilitação da planta. C
Escurecimento dos vasos, dificultando o fluxo de água e nutrientes
Sistema vascular comprometido pela oxidação e polimerização de compostos fenólicos
Fusarium em meio de cultura, isolado em laboratório
Andréia Quixabeira Machado, Univag/MT Daniel Cassetari Neto, Famev/UFMT
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Cultivar
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Milho
Ivan Bedendo
Quebra por enfezamento Transmitida pela cigarrinha Dalbulus maidis, tanto o enfezamento vermelho como o pálido podem causar grandes quebras na produção de milho. Sem cultivares totalmente resistentes a saída é realizar o manejo que respeite os diferentes aspectos relacionados ao hospedeiro, patógeno, vetor e ambiente
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o milho, ocorre uma importante doença conhecida como enfezamento. Na verdade, a doença é um complexo, causada por um fitoplasma, um espiroplasma e um vírus. O fitoplasma está associado ao enfezamento vermelho, o espiroplasma ao enfezamento pálido e o vírus à doença conhecida por
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Cultivar
risca do milho. Estes três agentes são transmitidos pela cigarrinha Dalbulus maidis, sob condições naturais. A cigarrinha adquire estes patógenos no floema de plantas doentes e, após 3 a 4 semanas, pode passar a transmiti-los durante todo seu período de vida. Como o interesse é enfezamento, pas-
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sa-se daqui em diante a focalizar especificamente este assunto, deixando-se, de lado, a risca do milho. Justificando os próprios nomes, o enfezamento vermelho se caracteriza pelo aparecimento de sintomas do tipo avermelhamento nas folhas, enquanto o pálido se evidencia por extensas áreas claras que ocorrem na lâmina foliar. O avermelhamento é precedido por um amarelecimento entre as nervuras, observado nos bordos das folhas; com o tempo, as partes amareladas se tornam avermelhadas. A palidez ou clareamento provocado pelo enfezamento pálido é mais evidende nas folhas novas, as quais apresentam áreas pálidas maiores à medida em que são emitidas a partir do cartucho. Para ambas as formas de enfezamento é comum se observar encurtamento de internódios, diminuição no diâmetro do colmo, proliferação de espigas mal formadas e redução no porte da planta. No entanto, é bom ficar claro que avermelhamento e palidez foliar podem também aparecer em plantas de milho em razão de outros fatores como problemas nutricionais, ocorrência de injúrias mecânicas e químicas ou características genéticas da própria planta. Assim, a diagnose deve ser feita de forma cuidadosa. Os fitoplasmas e espiroplasmas foram descobertos como patógenos de plantas no final da década de sessenta e início da década de setenta, respectivamente. Fitoplasmas são microrganismos unicelulares menores que bactérias. Quando observados ao microscópio eletrônico, aparecem como corpúsculos arredondados localizados no vaso do floema. Espiroplasmas também são microrganismos unicelulares menores que bactérias, encontrados no floema e são distintos dos fitoplasmas por apresentarem forma espiralada. Os fitoplasmas causam doenças não só no milho, mas numa série de plantas cultivadas e por serem ainda pouco conhecidos, as doenças provocadas por eles são atribuídas a outras causas como vírus, danos por herbicidas, anomalias genéticas, desequilíbrios nutricionais, compactação de solo e estresses de natureza diversa. A ocorrência dos enfezamentos em campos comerciais é bastante variável, podendo atingir altos índices, em função do híbrido escolhido, da época de plantio ou mesmo das condições climáticas prevalecentes na região. Incidências de até 100% têm sido registradas, resultando em drástica redução da produção e se tornando um fator limitante para a cultura. Em ensaios conduzidos no campo, ficou demonstrado que quanto mais cedo se manifestarem as doenças, maiores os danos provocados pe-
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HISTÓRICO DA DOENÇA NO BRASIL
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o Brasil, os dois tipos de enfezamento que ocorrem no milho foram reportados no início da década de 70, em plantios realizados no Estado de São Paulo. Naquela época, as doenças foram relatadas como tendo pouca importância, sendo de ocorrência mais freqüente quando o milho era plantado fora da época normal de cultivo. Os enfezamentos vermelho e pálido passaram a ter importância econômica a partir de meados da década de 80, quando o cultivo de milho “safrinha” passou a ser implementado em diversos estados, como Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e alguns outros. Neste sistema de plantio, o milho é semeado tardiamente, após a colheita da cultura principal, justamente numa época do ano em que o aumento da população da cigarrinha é fa-
tamento de semente, devem ser cuidadosamente estudados. Talvez este tipo de controle seja mais viável em culturas destinadas à produção de milho verde ou em plantios destinados à produção de sementes. No entanto, é enfatizada a necessidade de se levar em consideração a relação custo/ benefício para adoção de uma medida de controle desta natureza. O emprego de controle cultural, enfatizando as táticas de fuga às doenças, também é recomendável. Assim, a instalação da cultura em épocas normais de plantio poderá desfavorecer a ocorrência de altas populações do vetor, implicando em menor proporção de insetos infectivos e conseqüentemente menores perdas. A escolha de áreas ou regiões menos favoráveis ao desenvolvimento da doença ou à multiplicação do vetor poderá contribuir para a redução da incidência dos enfezamentos e
vorecida pelas condições climáticas. A implantação e o aumento na freqüência de plantios feitos sob pivô central também contribuíram para o aumento da incidência das doenças causadas por fitoplasma e espiroplasma. Nestas condições, a permanência da cultura no campo durante grande parte do ano passou a favorecer o aumento das populações da cigarrinha vetora, bem como a disponibilidade de plantas de milho que garantem a sobrevivência dos patógenos e que servem como fontes de inóculo para os plantios subseqüentes. Inicialmente, os danos causados pelos enfezamentos estavam mais restritos aos plantios realizados fora das épocas normais; posteriormente, passaram a ser registrados também em culturas implantadas na época normal de semeadura.
da severidade dos sintomas. Plantios escalonados devem ser evitados para que as plantas mais velhas não atuem como fonte de inóculo para as mais jovens. Plantas voluntárias, ou seja aquelas que se desenvolvem no campo após a colheita, devem ser eliminadas na tentativa de reduzir hospedeiros que abriguem o patógeno durante a ausência da cultura no campo. A rotação de cultura poderá se constituir numa alternativa de controle a ser considerada, desde que viável, principalmente para planC tios em pequena escala. Ivan Paulo Bedendo, Esalq/USP Ivan Bedendo
las mesmas. Estudos epidemiológicos, realizados no campo com híbrido suscetível, mostraram que para cada 1% de incremento na incidência do enfezamento vermelho resultou em redução de 0,8% na produção de grãos. Em condições controladas, experimentos realizados com número crescente de insetos infectivos evidenciaram que quanto maior a população do vetor, maior o efeito das doenças sobre a intensidade dos sintomas e sobre os diversos componentes de produção. Ainda, quanto mais precoce a infecção, maiores foram os danos provocados pelas doenças; no entanto, infecções ocorridas após os 40 dias da emergência das plantas resultaram em danos menores. A aplicação de manejo integrado, visando o controle do enfezamento vermelho e pálido, deve levar em consideração os diferentes aspectos relacionados ao hospedeiro, patógeno, vetor e ambiente. Medidas de controle devem interferir em um ou mais destes componentes de doença. Quanto ao hospedeiro, o uso de material de milho resistente se constitui na medida mais apropriada para o controle das doenças. Diversos híbridos comerciais disponíveis no mercado apresentam resistência parcial para ambas as formas de enfezamento. Estes materiais podem ser utilizados diretamente para plantio ou mesmo servirem como fontes de resistência para programas de melhoramento. A aplicação de inseticidas pode ser uma das alternativas para o controle das doenças. A redução da população de insetos nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura é altamente desejável, pois quanto maior o número de insetos infectivos e mais precoce a infecção, maiores os danos. Aspectos econômicos relacionados ao controle químico, seja por pulverização ou por tra-
SINTOMAS, AGENTES E CAUSAS
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enfezamento vermelho se caracteriza pelo aparecimento de sintomas do tipo avermelhamento nas folhas, enquanto o pálido se evidencia por extensas áreas claras que ocorrem na lâmina foliar. O avermelhamento é precedido por um amarelecimento entre as nervuras, observado nos bordos das folhas; com o tempo, as partes amareladas se tornam avermelhadas. A palidez ou clareamento provocado pelo enfezamento pálido é mais evidende nas folhas novas, as quais apresentam áreas pálidas maiores à medida em que são emitidas a partir do cartucho. Para ambas as formas de enfezamento é comum se observar encurtamento de internódios, diminuição no diâmetro do colmo, proliferação de espigas mal forma-
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das e redução no porte da planta. O enfezamento é um complexo, causado por um fitoplasma, que está associado ao enfezamento vermelho e o espiroplasma, ligado ao pálido. Os dois agentes são transmitidos pela cigarrinha Dalbulus maidis, que adquire o patógeno no floema de plantas doentes e, após 3 a 4 semanas, pode transmiti-los durante todo o seu período de vida. A doença pode ocorrer em qualquer plantação, porém é mais comum em cultivos de safrinha, onde o milho é semeado tardiamente, após a colheita da cultura principal, justamente numa época do ano em que o aumento da população da cigarrinha é favorecida pelas condições climáticas.
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Na falta de cultivares resistentes, deve-se evitar plantios escalonados devido ao potencial de inóculo
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Café
Mosca no café Quando atacado pela mosca-da-raiz, o cafeeiro perde as raízes mais finas e inicia um processo de definhamento, deixando de responder aos tratos culturais normais como adubações, o que resulta na queda de produção e morte da planta
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larva da mosca, Chiromyza vittata Wiedemann, 1820 (Diptera: Stratiomyidae, Chiromyzinae), conhecida como mosca-da-raiz do cafeeiro, foi constatada pela primeira vez atacando raízes da planta em agosto de 1986 no município de Oliveira, região do Campo das Vertentes, estado de Minas Gerais. A larva da mosca possui o aparelho bucal do tipo mastigador, se alimenta de radicelas e perfura as raízes mais grossas, e como conseqüência a planta definha. O inseto adulto, que é uma mosca, possui o aparelho bucal atrofia-
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Cultivar
que os machos, medindo aproximadamente 20 e 10 mm de comprimento, respectivamente, e apresentam coloração geralmente marrom claro. Em lavouras muito infestadas, os adultos podem ser observados pousados nas folhas de cafeeiros ou voando lentamente, de março a outubro, com uma maior presença no período de abril a maio. O inseto apresenta metamorfose completa, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulta. Cada fêmea fecundada, com o seu abdome volumoso cheio de ovos, deposita em um só local, uma massa de ovos de coloração verde-água, em fendas no tronco da planta ou no solo, e morre aproximadamente dois dias após o período de postura, fase que pode durar até 18 horas. Os ovos são elípticos, alongados, brilhantes, ligeiramente recurvados e medem 1,0 mm de comprimento por 0,2 mm na maior largura. O total de ovos presentes em cada massa é variável, de algumas dezenas a milhares. Em laboratório, uma fêmea chega a colocar cerca de 3.000 ovos, com 100% de viabilidade. Após a fase embrionária, que dura aproximadamente 10 dias, eclodem diminutas larvas, com 2 mm de comprimento, de coloração branco-amarelado, que penetram no solo, seu hábitat, e passam a se alimentar das raízes e da matéria orgânica ali presentes. A fase larval é longa, podendo durar até dois anos. A larva que é ápode, ou seja, sem pernas, apresenta aparelho bucal mastigador com mandíbulas bem desenvolvidas, corpo cilíndrico, alongado, suavemente achatado e nitidamente segmentado em anéis, e coloração geral marrom. Apresenta pêlos curtos e esparsos em todos os anéis do corpo. A extremidade posterior do corpo da larva é truncada e de coloração preta. Seu tegumento é rugoso, duro ao tato, com pontos brilhantes, aparência de mosaico, apresentando células circu-
do e não causa danos, tendo apenas função reprodutiva. Pela atual importância e danos que a praga vem causando aos cafezais em produção, este trabalho tem por objetivo relatar alguns dados já conhecidos da biologia da mosca e métodos de controle para informação e uso pelos cafeicultores.
ASPECTOS BIOLÓGICOS Os adultos do inseto, de ambos os sexos, são moscas que predominantemente aparecem em um determinado período do ano. As fêmeas são mais robustas e maiores do
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Adultos da mosca-da-raiz fêmea e macho da esquerda para direita
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primento e 5 mm de largura, aproximadamente. As pupas dos machos são bem menores, medindo 10 mm e 3 mm de comprimento e largura, respectivamente. Após a emergência dos adultos, o pupário permanece vazio no solo, apodrecendo com o passar do tempo. Não se sabe exatamente a duração da fase pupal, porém ela dura aparentemente apenas alguns dias. A proporção entre machos e fêmeas é muito variável. Geralmente o número de machos é maior do que o de fêmeas. Tem-se
Fotos Paulo Rebelles Reis
lares proeminentes distribuídas aleatoriamente, conferindo aspecto granuloso. Quando retirada do solo e colocada na palma da mão e tocada com os dedos se apresenta dura ao tato, com pouca mobilidade visível, diferente portanto, de outras larvas de moscas que apresentam o corpo mole e com mobilidade. A cabeça é de tamanho reduzido e preta. Completamente desenvolvidas, as larvas podem chegar a medir 20 a 24 mm de comprimento e 4 a 5 mm de diâmetro, que darão origem a adultos fêmeas e machos, respectivamente, após a fase pupal, a qual também ocorre no solo. A larva da mosca-da-raiz é diferente de outras larvas conhecidas da mesma família Stratiomyidae pela forma da cabeça, cujos lobos laterais e medianos apresentam processos cilíndricos, e pelo número de segmentos do corpo, 11 em vista dorsal e 12 em vista lateral e ventral. A larva da mosca-da-raiz do cafeeiro, mesmo sendo ápode, ou seja, sem pernas, locomove-se com agilidade no interior do solo, abrindo galerias com diâmetro de aproximadamente 5 mm, correspondente ao seu corpo. Assim, numa cova infestada por um grande número de larvas, podem ser observadas inúmeras galerias por elas construídas para sua locomoção. A maior concentração de larvas ocorre até a 20 cm de profundidade, num raio de 25 a 30 cm a partir da raiz principal, na região de maior concentração de raízes, um de seus alimentos. A fase pupal ocorre no solo, e corresponde à transição entre as fases de larva e adulta, e na qual o inseto não se alimenta. Após a fase pupal, emerge o adulto, macho ou fêmea, através de uma abertura circular na extremidade anterior da pupa ( região da cabeça). As pupas são semelhantes às larvas e aquelas que darão origem a fêmeas são maiores e mais largas, medindo 18 mm de com-
COMO CONSTATAR A OCORRÊNCIA
Larva da mosca infectada pelo fungo Evlachovaea sp dentro da galeria e próximo às raízes
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observado que a cada ano, no período de emergência de adultos, a proporção sexual pode variar. Em 1999 foi constatado que só emergiram machos praticamente, resultando numa redução natural da infestação do inseto naquela área atacada. Este aspecto biológico é muito positivo já que são as fêmeas, uma vez fecundadas pelos machos, que colocam ovos que darão origem às larvas. A cada ano, emergindo poucas fêmeas na época de revoada de adultos, a população do inseto sofrerá naturalmente, com o passar do tempo, uma redução drástica no talhão infestado.
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A constatação da presença de larvas é feita mediante entrincheiramento de uma cova de cafeeiro. O entrincheiramento consiste em desgalhar cada planta escolhida de um só lado da rua, limpar as folhas caídas e outros detritos sob ela. A seguir, abre-se de fora para dentro, na área ocupada pelas raízes, em direção ao centro da cova, uma trincheira. À medida em que a trincheira for sendo aberta, as larvas da mosca encontradas na terra são separadas, e colocadas em um recipiente, para serem contadas. Após a conclusão da trincheira, com a separação e contagem das larvas encontradas, a terra solta é novamente devolvida à trincheira cavada. O total de larvas encontrado é multiplicado por dois, já que a trincheira é
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A LARVA DA MOSCA NO BRASIL
A
mosca C. vittata é de distribui ção Neotropical, tendo sido já constatada na Bolívia, Brasil e Paraguai. No Brasil, apesar de ter sido encontrada atacando cafeeiros na região do CentroOeste de Minas, já foi constatada a ocorrência da praga em cafeeiros das regiões Sul de Minas, Alto Paranaíba, Triângulo
Massa de ovos postos por uma única fêmea pode chegar a milhares
aberta de um só lado na cova.
ÉPOCA DE OCORRÊNCIA As larvas da mosca-da-raiz ocorrem em um determinado talhão de maneira generalizada, durante todo o ano, numa grande variação quanto ao número de indivíduos por
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cova infestada, variando de nenhuma a 1000 ou mais. O número médio de larvas mais comumente encontrado tem sido em torno de 200 larvas por planta. O grande número de larvas que pode ocorrer numa cova infestada resulta da deposição de uma só vez de uma massa de ovos, de até 2.900 ovos, com viabilidade de 100%. Por outro lado, o baixo número de larvas encontrado em covas infestadas pode ser resultado da emergência de adultos a partir de suas larvas que se transformaram em pupas no solo e da ausência de novas posturas nessas covas, antes bastante infestadas. A constatação de larvas no solo, durante todo o ano, indica a presença de gerações sobrepostas dessa fase do inseto no talhão infestado. A constatação de gerações sobrepostas é resultado da emergência de adultos do inseto todos os anos, no período de março a outubro, com a maior quantidade deles tendo emergido no período maio-junho. Adultos capturados em armadilhas adesivas permitiram constatar uma proporção sexual de machos para fêmea da ordem de 6:1 a 9:1.
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Mineiro, Zona da Mata e Jequitinhonha, todas em Minas Gerais. Outros Estados onde já foi constatada a ocorrência da mosca-da-raiz são: Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Bahia, ou seja praticamente em todas as regiões produtoras de café. Numa cova infestada são encontradas larvas de diferentes estádios e tamanhos, indicando diferenças sexuais (já que as larvas que darão origem a adultos machos são menores em comprimento e largura) e sobreposição de gerações.
DANOS CAUSADOS PELA LARVA Para se alimentar a larva consome as radicelas, que são aquelas mais finas e de função absorvente, e também pode perfurar as raízes mais grossas. Como conseqüência do ataque e em razão da grande quantidade de larvas presentes, em gerações superpostas, os cafeeiros definham, não respondendo aos tratos culturais normais como as adubações, resultando em redução na produção de café. As perfurações nas raízes mais grossas são também portas de entrada para fitopatógenos, como a fusariose que causa a interrupção dos vasos condutores, podendo levar a planta à morte.
CONTROLE Trata-se de uma praga de difícil contro-
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Fotos Paulo Rebelles Reis
eurycephalus Schletterer, 1890 são abundantes em fragmentos de Mata Atlântica no estado do Espírito santo.
Detalhe de aplicação manual de inseticida tipo esguicho no colo do cafeeiro
le, por estar protegida pelo solo e apresentar o hábito de alimentação do tipo mastigador. É necessária a adoção de um conjunto de práticas para que o controle seja eficaz, e entre elas destacam-se o controle cultural, o físico, o biológico e o químico. O controle deve ser preferencialmente realizado visando as larvas no solo, embora a redução de adultos possa significar redução de ovos e conseqüentemente de larvas. Controle Cultural - Consiste na erradicação das lavouras velhas e improdutivas, principalmente aquelas já atacadas pela praga, e implantação de novos cafezais na mesma área após um ano. As larvas presentes no solo morrerão por falta de alimento, e em plantas novas de cafeeiro não tem sido constatada a ocorrência de larvas da mosca nas raízes. Qualquer tipo de poda em lavoura infestada pela praga somente deve ser realizada se acompanhada do controle químico. Outra medida cultural é evitar o uso em excesso de matéria orgânica, pois há evidências de que em solos mais orgânicos a presença da mosca é maior, inclusive suspeita-se que larvas da mosca possam ser disseminadas pelo esterco.
mopatogênico, pouco conhecido, pertencente ao gênero Evlachovaea, próximo de Paecelomices que é mais conhecido, que mata a larva e a deixa com aspecto de giz. A sua presença natural, nos diversos tipos de solo, talvez seja uma explicação do motivo do inseto não ser considerado praga do cafeeiro em todas as regiões. O uso do fungo numa forma de controle biológico aplicado ainda necessita de mais estudos. Além do fungo, outro inimigo natural, Monomachus sp. (Hymenoptera: Monomachidae), um parasitóide associado ao pupário e provavelmente às larvas, já foi encontrado na Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais. Parasitóides machos e fêmeas da espécie M. fuscator (Perty, 1833) já foram relatados emergindo de pupários e também coletados nas copas de cafeeiros atacados pela mosca na Bahia. Há relato de que as espécies M. fuscator e M.
Controle Químico - Apesar de ser a forma mais eficiente de controle conhecida, nem todos os produtos que podem ser aplicados via solo apresentam eficiência no controle das larvas. Os tradicionais inseticidas sistêmicos granulados, ainda que eficientes no controle de outras pragas do cafeeiro, não apresentam resultados satisfatórios na redução de larvas da mosca-da-raiz. Trabalhos realizados no intuito de encontrar um produto eficiente, realizados pelas diversas instituições que trabalham em pesquisa com cafeeiro, mostram que o inseticida imidacloprid, da nova geração de inseticidas conhecida como neonicotinóides, é altamente eficiente no controle de larvas da mosca, com mais de 80% de controle. O imidacloprid a 700g/kg de ingrediente ativo e na formulação de grãos dispersíveis em água pode ser aplicado na dosagem de 1,2 kg do produto comercial por ha, em pulverização visando o solo e o colo da planta (100 a 150 ml de calda/planta, metade de cada lado) ou através de esguicho ou “drench” também no colo da planta (50 ml de calda/planta), em aplicação tratorizada ou manual. A aplicação deve ser feita de preferência entre dezembro e fevereiro, meses em que há maior ocorrência de chuvas na maioria das regiões cafeeiras, importante para a distribuição do produto na solução do solo. O imidacloprid também pode ser utilizado com muito bom resultado no controle da cigarra-do-cafeeiro, na mesC ma modalidade de aplicação. Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, Epamig/EcoCentro
Controle Físico - Pode ser feito com o uso de armadilhas adesivas de coloração amarela. A cor amarela atrai adultos de ambos os sexos da mosca, e deve ser colocada no período de emergência dos adultos (em geral de março a junho) para reduzir a população do inseto nas lavouras e conseqüentemente a deposição de ovos que darão origem a novas larvas. Larvas de Chiromyza vittata consomem as radicelas mais finas de função absorvente da planta
Controle Biológico - Em larvas da mosca coletadas em cafeeiros atacados, tem sido constatada a presença de um fungo ento-
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Nossa capa
Praga antiga, o percevejo castanho ainda é um problema sem solução definitiva e pode causar prejuízos de até 100% em lavouras onde ataca
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s percevejos castanhos constituem-se num dos grandes problemas ainda não solucionados e pouco conhecidos da pesquisa, uma vez que os adultos e ninfas apresentam hábitos subterrâneos, além de ocorrerem em formas de surtos em determinados anos e desaparecem completamente em outros. Atualmente, inúmeras reclamações sobre essa praga ocorrem na região de Rondonópolis (MT). Eles são facilmente reconhecíveis no momento da abertura dos sulcos, pelo cheiro desagradável que exalam. Na época mais seca, aprofundam-se no solo procurando regiões mais úmidas, e, durante as chuvas, retornam à superfície. É comum serem encontradas ninfas do percevejo em todos os estágios, em uma profundidade que varia desde a superfície até um metro, com mais de 70% ocorrendo entre 20 e 60cm. Essas ninfas abrigam-se em pequenas câmaras ar-
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redondadas feitas com o próprio solo. A espécie mais citada que causa danos em culturas diversas é Scaptocoris castanea. Em 1996, foi descrita a espécie Atarsocoris brachiariae, encontrada danificando diversas espécies de gramíneas. S. castanea parece que é encontrada em maiores profundidades que A. brachiariae. Essa praga já foi constatada em diversas plantas hospedeiras: alfafa, algodão, amendoim, arroz, beldroega, café, cana-de-açúcar, capim-açu, capim-gordura, capim-marmelada, coqueiro, eucalipto, girassol, milho, sorgo, soja, banana, feijão, fumo e mandioca. Por sua freqüência em pastagens, sugere-se a troca de seu nome popular de percevejo castanho para percevejo das pastagens. Uma maior densidade populacional de A.brachiariae é observada em solos de textura arenosa. Além disso, o ataque de A. brachiariae foi observado so-
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mente em pastagens degradadas com mais de 4 anos de idade. É provável que este seja o tempo necessário para que Unesp
Carlos Silva
Ainda ameaçador
Nakano mostra como o inseto atua e a hora certa de controlá-lo
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Octavio Nakano
essa praga atinja densidades populacionais capazes de causar danos observáveis às pastagens. Plantas sob estresse são mais susceptíveis ao ataque da praga, ocorrendo em reboleiras. Na região de transição entre a área de pastagem morta e a área que apresenta desenvolvimento normal, se concentra o maior número de insetos/m2. Já nas áreas de pastagem viva, o número de insetos é baixo, talvez por estarem em processo inicial de colonização. A maior densidade de indivíduos foi encontrada na faixa de 20 a 30cm de profundidade, provavelmente devido ao teor de umidade e à faixa de temperatura do solo, ótimos ao desenvolvimento da praga.
Esq.: detalhes do percevejo castanho; Dir.: brachiaria que serve de hospedeiro além de ataque
A. brachiariae Pequeno (5,2-6,0 mm) Âmbar amarelado Alarga em direção ao ápice, bordo truncado, elevado Cerdas distribuídas em toda a superfície, exceto na base Ultrapassando ou não o ápice do abdome Ausentes
A rotação soja-milho tem sido benéfica para o crescimento populacional do percevejo castanho, embora cultivos sucessivos de milho apresentem níveis populacionais equivalentes. É difícil prever os focos de ataque da praga, tornando-se fundamental para o produtor a adoção de medidas de controle durante o plantio do milho safrinha, com o objetivo de proteger a cultura a ser instalada.
DADOS BIOLÓGICOS Os ovos são de cor creme, ovalados, lisos e brilhantes. Medem cerca de 1,35 x 0,92 mm. O período médio de incubação é de 13,6 dias. A viabilidade foi de 90,5% em 295 ovos observados. Após a eclosão, surge a ninfa de coloração branca, com antenas filiformes, o primeiro par de patas do tipo escavador, com as tíbias ricas em espinhos para facilitar seu deslocamento subterrâneo. No último ínstar surge a teca alar. A fase ninfal dura cerca de 111,2 dias, variando de 91 a 134 dias. O adulto é um percevejo com cerca de 8 a 20 mm de comprimento, coloração marrom-claro até preta brilhante em função da espécie; formato arredondado, assemelhando-se mais a um besouro do que a um percevejo. O período de oviposição é de 8 a 11
RESUMINDO
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percevejo adulto tem cerca de 8 a 20 mm de comprimento, coloração marrom-claro até preta brilhante em função da espécie; formato arredondado, assemelhando-se mais a um besouro do que a um percevejo. Pode viver de 250 a 330 dias. Ele aparece frequentemente em pastagens e se desenvolve em áreas onde existe rotação de soja e milho ou em áreas com culturas subsequentes de milho. Em pastagens, o percevejo é encontrado em populações maiores em áreas de transição entre pastagens mortas e áreas de desenvolvimento normal.
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Octavio Nakano
Características S. castanea Tamanho Médio Cor Castanha Clípeo Não alarga em direção ao ápice, bordo arredondado Face dorsal da tíbia mediana Com uma área longitudinal aplanada, sem ceras Asas anteriores (hemiélitros) Sempre ultrapassando o ápice do abdome Tarsos Presentes nas tíbias anteriores e médias
Os danos causados pela praga começam com a sucção da seiva realizada pelas ninfas e adultos nas raízes, e se acentuam por causa da toxina injetada e pela possibilidade de introdução de fungos por meio das picadas produzidas por ocasião de sua alimentação, causando a morte das raízes e da parte aérea das plantas. O controle pode ser feito pelos processos físico, biológico e químico, sendo que a aplicação preventiva de defensivos é a melhor maneira de evitar danos maiores, já que a praga pode causar perdas de até 100% nas áreas mais atingidas.
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dias com cerca de 250 ovos por fêmea. A proporção de fêmeas para machos é de 1,19 para 1,0 num total de 160 indivíduos observados. A longevidade do adulto é de cerca de 250 a 330 dias. Esses dados foram observados por Garcia & Bellotti (1980).
CICLO BIOLÓGICO As fêmeas ovipositam no solo durante o período chuvoso. As ninfas eclodidas começam a sugar as raízes das plantas e desenvolvem-se passando por 5 ínstares. As ninfas de diferentes estágios são encontradas durante todo o ano na região do Cerrado e podem sobreviver sem se alimentar por vários meses, inferindo-se, que o ciclo completo seria anual. Em Goiás, as revoadas são observadas no período chuvoso (novembro a março), que coincide com o período em que os adultos de S. castanea são encontrados no solo. Teriam como principal objetivo a dispersão da espécie.
CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS Para a solução do problema, é necessário identificar a espécie que predomina em determinada área. O quadro acima mostra o comparativo com as principais características morfológicas de S. castanea e A.brachiariae.
DANOS Além da sucção da seiva realizada pelas ninfas e adultos nas raízes, os danos se acentuam por causa da toxina injetada e pela possibilidade de introdu-
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Áreas de transição entre pastagem morta e áreas de desenvolvimento normal concentram o número de insetos
ção de fungos por meio das picadas produzidas por ocasião de sua alimentação, causando a morte das raízes e da parte aérea.
CONTROLE
Octavio Nakano, Esalq/USP
Dirceu Gassen
Em regiões onde é comum seu ataque, o controle deve ser preventivo. Existem relatos de perdas de até 100% em áreas com algodão e soja, provocadas por S. castanea, mas pouco se sabe sobre a capacidade real de danos de populações de adultos e ninfas desses insetos nas principais culturas agrícolas. Esses dados seriam necessários para se definir níveis de danos econômicos e estabelecer em que níveis po-
pulacionais esses insetos se tornam praga de expressão econômica para a as culturas. Para o seu controle pode se recorrer a processos físicos, químicos e biológicos. O primeiro consiste em capturar a sua população com armadilhas utilizando a cor branca brilhante; os adultos em revoadas batem nas barreiras com essa cor e associada com óleo transparente e inseticidas pode-se contaminá-los. Esse mesmo processo pode ser utilizado com agentes biológicos, tipo Metarhizium ou Beauveria, contaminando os indivíduos que ao se instalarem na região podem produzir epizoótias. As armadilhas luminosas também atuam nas populações podendo-se usar o mesmo processo de contaminação biológica. Para o controle químico pode se empregar inseticidas. O inconveniente é que o produto precisa ser aplicado onde ele ocorre, logo após as chuvas porque eles se encontram quase na superfície, nas raízes das plantas; se ocorrer alguns dias de seca eles se aprofundam e os inseticidas não têm boas chances de atingi-los. Diversos produtos foram aplicados com sucesso como, clorpirifós, aldicarb, fipronil, terbufós, etc. Outra maneira de se reduzir o dano da praga é aplicar boro nas pastagens enfraquecidas pelo percevejo, permitindo às plantas a emitirem novas radicelas, reforçando a alimentação das gramíneas (braquiária). A dosagem de 10 kg de ácido bórico tem proporcionado um aumento rápido das radicelas, aumentando a resistência das plantas. C
O tamanho do percevejo adulto varia de 8 a 20 mm de comprimento
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Soja
Quanto custa? Redução de custos no processo de produção e expectativa de ganhos da rentabilidade da cultura são os principais argumentos levantados para justificar o grande número de lavouras com plantio de soja transgênica
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FEE
eixando de lado questões cruciais no debate, como a segurança alimentar e ambiental, apresentam-se a seguir alguns argumentos sobre as razões que levaram os agricultores a produzir soja transgênica. Quais as vantagens que seriam proporcionadas pelo pacote tecnológico em discussão que combina o uso de uma semente ao herbicida Roundup Ready, ambos de propriedade industrial da Monsanto? Sementes transgênicas constituem inovação tecnológica e, como tal, do pon-
O Brasil mostra-se mais competitivo em relação aos EUA no plantio de transgênicos, afirma Maria Benetti
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to de vista da racionalidade microeconômica, será incorporada pelo agricultor na expectativa de ganhos da rentabilidade na lavoura. A geração de sementes geneticamente modificadas disponíveis no mercado foi criada com o objetivo de reduzir custos específicos (savings costs) relacionados direta e indiretamente ao uso dos herbicidas, ao mesmo tempo que tornar mais simples e mais flexível o processo produtivo. Em uma frase, tornar mais barato e fácil o processo de produção. (www.gov.uk, Field Work: Weighing up the costs and benefits of GM Crops, 2003). Estimativas sobre custos de produção nos Estados Unidos e Brasil, apontam que o país sul-americano é mais competitivo que o norte-americano nesse aspecto. Desagregado o custo total em variável e fixo, nota-se claramente que as vantagens derivam-se de custos fixos mais baixos – principalmente do custo da terra. Computados apenas os variáveis, o Brasil estaria em desvantagem competitiva. Como, na estrutura dos custos variáveis os gastos com produtos químicos – fertilizantes e defensivos – pesam bastante, compreende-se facilmente porque o produtor é tão sensível à adoção de tecnologias que reduzam os gastos nestes componentes. Pois bem, a soja tolerante ao herbicida Roundup, em princípio, e como foi dito, opera neste sentido, de redução de custos
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variáveis, especificamente dos defensivos, aumentando a competitividade internacional dos produtores brasileiros. Um outro estudo com estimativas sobre custos da produção nas lavouras de soja no Brasil, utilizando sementes convencionais e transgênicas, indicam que a adoção destas últimas poderiam reduzir em 17% os custos totais da lavoura (Quadro 2). No caso do Brasil, em que o produtor vem utilizando grande parte de semente transgênica própria, isto é, não vai ao mercado comprá-la, ao não pagar, portanto, a taxa tecnológica devida à empresa inovadora, excepcionalmente, os custos efetivos totais poderiam reduzir-se ainda mais, chegando facilmente a 20%. No Rio Grande do Sul, a rapidez na adoção das sementes geneticamente modificadas explica-se ainda pelas condições peculiares em que se estrutura a lavoura de soja no Estado. Aqui, os últimos dados censitários disponíveis (1996) sobre a distribuição das lavouras de soja por estrato de área indicam que 88% dos produtores exploravam soja em lavouras de até 50 hectares. Trata-se de uma situação completamente diversa do que ocorre nas lavouras dos cerrados brasileiros onde as lavouras de grãos assumem escalas relativamente gigantescas. Ora, a produtividade física média (tonelagem/ha) da produção de soja nos cerrados centrais tem-se
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TRANSGÊNICOS NO BRASIL E NO MUNDO
E
ntre 1996 e 2002 a área correspondente à lavoura transgênica (soja, milho, algodão e canola) cresceu mundialmente à elevada taxa média de 10% ao ano, passando de 1,7 milhões de hectares em 1996 para 58,7 milhões em 2002, chegando a envolver entre 5,5 a 6 milhões de produtores neste último ano. Só entre 2001 e 2002 a área da lavoura transgênica aumentou em termos absolutos mais de 6 milhões de hectares - o equivalente à soma de toda a área utilizada pela lavoura de inverno no Rio Grande do Sul em 2003. Embora o cultivo de transgênicos concentre-se nos Estados Unidos (66,4%), ele vem sendo adotado rapidamente em outras regiões, cujo número passou de 4 para 16 países no período considerado. Do total dos quase 59 milhões de hectares correspondentes à área da lavoura transgênica, muito mais da metade (62%), ou seja, 36,5 milhões de hectares são ocupados pela soja. Em seguida, vem o milho (12,4 milhões) e, depois, o algodão (6,8 milhões de hectares) (www.isaaa.org:
Global Status of GM Crops;16/01/2003). A importância e o dinamismo da lavoura transgênica pode ser demonstrada, também, utilizando as estimativas sobre a evolução do mercado global para o produto. Segundo as mesmas, as vendas mundiais de produtos transgênicos passaram de 75 milhões de dólares para cerca de 3,2 bilhões em 1999, representando um aumento de 30 vezes, e podendo atingir 8 bilhões em 2005 e 25 bilhões de dólares em 2010. (Zarrilli, Simonetta, UNCTAD, in Um novo dilema para os países em desenvolvimento, Editora Unesp, 2002). A área da lavoura transgênica, no Brasil, não integra o total apresentado pela razão muito simples de seu cultivo ter sido ilegal até a safra colhida em 2003. Se não fosse assim, aos 59 milhões ter-se-ia que agregar - pelo menos ao redor de 2,9 milhões de hectares – correspondentes estes, a possíveis 80% da área plantada com soja no Rio Grande do Sul. Diante da realidade que o Brasil produz ilegalmen-
te soja com semente geneticamente modificada pelo menos desde 1997; tendo em vista, a possibilidade de seu uso vir a alastrar-se rapidamente aos demais estados produtores brasileiros; e, finalmente, diante das regulamentações dos países importadores respeito a compras dos transgênicos, o governo federal viu-se obrigado a enfrentar o problema. A Medida Provisória 131 editada em 25/09/2003, representa o primeiro passo para oficializar a lavoura transgênica no País associando a decisão às circunstâncias do Rio Grande do Sul, onde se estima, como se mencionou, que pode chegar a 80% a área de soja plantada com sementes modificadas, envolvendo cerca de 150 000 produtores rurais, constituídos em imensa maioria por pequenos e médios agricultores com áreas da lavoura de até 50 hectares. Ao fazê-lo, legaliza ao redor de 7,5 milhões de toneladas de grãos, correspondentes a aproximadamente 14,5% da safra brasileira de soja 2002/2003 e a 34% da gaúcha de grãos em geral (21.926 milhões de toneladas).
mostrado superior à gaúcha. De outro lado, a produtividade da lavoura pelo menos no Rio Grande do Sul e segundo o Censo de 1996, favorece o plantio em escalas maiores de produção, isto é, aumenta a medida que cresce o tamanho da exploração. Sendo assim, para a grande maioria dos produtores gaúchos qualquer redução de custos – como a oferecida atualmente pelo plantio da soja transgênica - é estratégica, quer seja porque o coloca em uma melhor situação competitiva frente aos produtores dos cerrados, quer seja porque, plantando em escassos hectares, torna-se vital aumentar a receita por unidade de terra utilizada através da reC dução de custos. Maria D. Benetti, Fund. Econ. e Estat. do RGS. Quadro 1: Avaliação Hipotética de Competitividade em Custos de Exportação, 1998/99 Custos
EUA BRASIL Meio Oeste Paraná Mato Grosso Custos Produção US$/bushel US$/bushel % do custo US$/bushel % do custo EUA EUA Variáveis 1,71 2,78 3,17 Fixos 3,40 1,38 0,72 Totais 5,11 4,16 81 3,89 76 Trans Int 0,43 0,85 1,34 Custos Front 5,54 5,01 90 5,23 94 0,57 0,57 Frete 0,38 Preço 5,92 5,58 94 5,80 98 Rotterdam Fonte: Schepf, 2001 apud UNICAMP-IE-NEIT.
Quadro 2: Brasil: Comparativo dos Custos de Produção da Soja utilizando sementes convencionais e transgênicas Itens Correção do Solo Dessecação do Solo Plantio Tratos culturais Colheita Outros Custos Total/ha Total/sc 60 kg
Não-Transgênica (US$/ha) 12,33 14,15 75,13 86,42 21,52 52,65 262,2 6,05
Transgênica (US$/ha) 12,33 79,3 46,29 21.52 52,65 217,53 5,02
Fonte: Roessing, AC., 2002 (Embrapa Soja, 2001). Tabela organizada pela Embrapa Trigo, Passo Fundo
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Soja
Favorecida pelo clima e pela permanencia do fungo em plantas voluntárias no período do inverno, a ferrugem da soja atacou mais cedo e continua se espalhando pelo Brasil
Ferrugem avança A
ocorrência precoce da ferrugem asiática na cultura da soja, coloca os produtores brasileiros em alerta. Na safra passada, os primeiros sintomas foram observados somente a partir de janeiro, quando as lavouras já estavam em fase inicial de floração, com cerca de 55 a 60 dias. A doença ainda não era conhecida e por esse motivo teve uma detecção tardia o que, devido a uma alta pressão de inóculo, levou algumas regiões a perdas de rendimento que chegaram a 75%. Nesta safra 2003/2004, através de plantas voluntárias (aquelas que germinam a partir de grãos perdidos na colheita) e devido ao plantio de soja para produção de sementes no inverno (entresafra), sob irrigação no cerrado, o fungo não teve a interrupção do seu ciclo, favorecendo sua passagem
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para a safra atual. Por isso, as primeira manifestações podem acontecer em qualquer momento após a emergência da soja, já que tem encontrado ambiente favorável para rápida disseminação através do vento. É justamente esses surtos precoces que estão preocupando os pesquisadores da Embrapa Soja, uma vez que a doença reduz a produtividade das lavouras e seu controle aumenta significativamente os custos de produção.
MATO GROSSO O estado do Mato Grosso está praticamente todo tomado pela doença, com excessão do Vale do Araguaia, onde ainda não foi detectada devido ao plantio mais tardio da soja em relação ao restan-
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te do Estado. Segundo fitopatologista Tiago Camargo, da Fundação MT, embora a severidade seja menor comparado ao ano passado, a doença surgiu 3 meses antes. A severidade é menor porque técnicos e agricultores estão atentos, identificando e fazendo as aplicações de fungicidadas no momento certo. O monitoramento no Estado, é realizado em função da perda residual dos fungicidas, ou seja, a partir dos 15 dias após a aplicação são reiniciadas as avaliações a campo. Em média estão sendo feitas duas aplicações para toda a safra.
MATO GROSSO DO SUL Focos da doença detectados há 20 dias no Mato Grosso do Sul não progrediram como os pesquisadores projetaram. Não
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ocorreram alterações significativas nas condições ambientais, comparativamente às safras anteriores, que pudessem justificar tal comportamento. Em cidades da região centro-sul como Dourados, Maracaju, Ponta Porã, Antônio João, Aral Moreira e Jardim, o comportamento tem sido semelhante. Com base nesses fatos houve a modificação do critério utilizado no processo de tomada de decisão para o início do controle químico com fungicida, em áreas afetadas. O procedimento que vinha sendo adotado consistia na aplicação de fungicida ao primeiro sinal de aparecimento da doença, mesmo que em baixa intensidade (incidência e severidade). Na fase vegetativa o fungicida recomendado era do grupo dos triazóis e a mistura de triazol com estrobilurina se a cultura já estava no estádio reprodutivo (a partir de R1). Agora, pesquisadores da Fundação Chapadão/Embrapa Agropecuária Oeste recomendam que, uma vez detectada a doença, se avalie freqüentemente a cultura, a partir de plantas marcadas na área/talhão atingidos, a fim de que se possa saber se a doença está progredindo ou não, o que pode ser averiguado pelo aumento no número de lesões nestas plantas. Se a detecção for feita no início da fase reprodutiva e a doença não estiver avançando nas plantas marcadas, a aplicação do fungicida pode ser adiada até que sejam verificadas mudanças no comportamento da doença. Do contrário, se isto não acontecer, aguarda-se o estádio da cultura preconizado para a realização do controle das doenças de final de ciclo.
PARANÁ No Paraná os focos se concentram até
o momento nas cidades de Londrina, Mauá da Serra, bela Vistra do Paraíso, Rolândia, Sertaneja, Apucarana, Congoinhas, Marilândia do Sul, sendo a maioria em reboleira. Mesmo com diferentes épocas de semeadura, a maioria se apresenta no estádio final de floração, o que representa um fase de dano potencial, pois é o momento em que a ferrugem se desenvolve mais rapidamente em função do acúmulo de esporos do fungo no ambiente e de gradual perda de resistência das plantas. O monitoramento neste caso, realizado pelos técnicos, está sendo feito a partir da emergência da soja e intensificado a partir do florescimento, procurando folhas com sintomas de ferrugem no terço inferiror da planta. As plantas suspeitas são colocadas em sacos plásticos para incubaçãopor aproximadamente 24 horas, para facilitar a visualização das urédias(saliências) que são as estruturas usadas para confirmar a presença da ferrugem. O Controle está sendo feito ao surgimento dos primeiros sintomas, em função do monitoramento, garante a pesquisadora Claudia Godoy. Neste caso são necessárias, em média, duas aplicações quando a planta já se encontra na fase de florescimento o que garante proteção até a colheita.
GOIÁS Em Goiás, a doença também preocupa, nas regiões de Rio Verde, Jataí e Mineiros, principalmente, e assim como nas outras regiões está mais acentuada nesta safra e acontecendo bem mais cedo. As lavouras detectadas com a donça já se encontram na fase de enchimento de grãos. De aordo com Washington Senhorelo, o
CARACTERÍSTICAS DA FERRUGEM
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ausada pelo fungo Phakopsora phachyrhizi, a ferrugem asiática causa desfolha precoce e redução de peso do grão. Clima com temperaturas entre 23 e 28ºC, umidade relativa elevada associado à noites com mais de dez horas de orvalho e temperaturas entre 17ª e 21ºC levam à extrema vigilância da lavoura. Nas regiões mais quentes é mais difícil aparecer a doença, ou quando aparece, não desenvolve de forma explosiva. As regiões com altitude superior a 700 metros são mais favoráveis à ocorrência da doença devido as temperaturas noturnas mais amenas associadas também a um maior número de horas de orvalho.
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Regiões mais baixas, porém com chuvas bem distribuídas, também são favoráveis para um desenvolvimento mais rápido da doença. Este fungo só sobrevive de uma safra para outra em hospedeiros vivos. O ciclo de reprodução do fungo causador da ferrugem é de 7 a 10 dias, podendo assim ter vários ciclos durante a safra soja (a soja tem um ciclo de aproximadamente 130 dias). Estudos mostram que, em média, o efeito residual dos fungicidas é de 25 dias. Se a ferrugem for identificada no início do ciclo de vida da planta, será preciso, em média, três aplicações de fungicidas durante a safra, onde cada aplicação custa aproximadamente duas sacas por hectare.
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monitoramento é realizado semanalmente através da coleta de folhas e a análise feita pela Universidade Federal de Goiás. A recomendação de controle está sendo indicada com 5% de ataque da doença, analisando-se os fatores que contribuem para sua disseminação. Washington, salienta ainda que se o produtor possui uma lavoura próxima à outra altamente infestada pela doença é necessário que se use o controle preventivo, visto a rápida disseminação do fungo. O pesquisador José Tadashi Yorinori alerta para a necessidade de se ter a assistência de um técnico, para a identificação da doença, já que é muito comum confundi-la com a mancha parda ou com a septoriose (Septoria glycines). A diferenciação entre as duas doenças é feita observando com uma lupa a parte de baixo da folha. Na ferrugem é possível observar uma saliência, um aminúscula protuberância, semelhante a uma bolha, correspondente ao início da formação da estrutura de frutificação do fungo (urédia). A única forma de controle é a aplicação de fungicida, mas é preciso saber reconhecer o momento certo de aplicar. Se aplicar no momento errado, o agricultor pode ter que fazer várias aplicações, o que aumenta sensivelmente os custos de produção. Por outro lado, se o produtor não estiver monitorando a lavoura, só vai perceber os sintomas quando for tarde demais, comprometendo assim a eficiência dos produtos. JE C
Cultivar
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Fotos Maurício Meyer
Soja
Mela sob controle Responsável por reduções de até 60% na safra 2001/2002, a mela da soja ocasionou perdas menores na safra 2002/2003, atingindo níveis inferiores de danos, conseqüência, provavelmente, de medidas de controle mais apropriadas e fungicidas mais eficientes
O
controle da mela da soja é mais eficiente quando se adotam medidas integradas, envolvendo práticas como semeadura direta, nutrição equilibrada das plantas (principalmente com relação ao K, S, Zn, Cu e Mn), rotação com culturas não-hospedeiras, adequação de população de plantas e espaçamento entre linhas, tratamento de sementes com fungicidas recomendados, utilização de sementes de boa qualidade sanitária e fisiológica, eliminação de plantas daninhas e restevas de soja e controle químico com fungicidas. A formação de cobertura morta do solo, através do sistema de semeadura direta, é uma das medidas mais eficientes por evitar os respingos de chuva que levam os propágulos do fungo para as folhas e hastes. As seqüências de rotação e sucessão de culturas devem ser planejadas de tal forma que não se intercalem culturas hospedeiras, principalmente leguminosas como soja, feijão, caupi, guandu, lablab, etc. Após a instalação da doença, a aplicação de fungicidas foliares é a única alter-
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Cultivar
nativa econômica para a redução dos danos. O emprego de fungicidas de forma preventiva apresenta melhores resultados na redução da severidade da doença em comparação ao uso como curativo. A maior eficiência do controle químico é conseguida quando adotado antes da severidade atingir o nível de 10% de área foliar infectada nos pontos de maior incidência da lavoura. Estudos realizados em casa de vegetação apontaram os grupos das estrobilurinas como os fungicidas de efeito curativo
Folhas do terço médio das plantas são as mais atingidas
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mais eficientes. Alguns triazóis foram eficientes apenas quando aplicados preventivamente. Em experimentos de campo conduzidos no Maranhão, na safra 2002/03, as parcelas tratadas com estrobilurinas (em misturas formuladas com triazóis ou isoladamente) apresentaram diferenças de produtividade que superaram a testemunha em 666 kg/ha a 960 kg/ha. Nesse mesmo trabalho, os benzimidazóis foram significativamente menos eficientes no controle da doença, superando a testemunha em apenas 236 kg/ ha e 278 kg/ha. A forma de aplicação influencia diretamente a eficiência dos fungicidas, preconizando-se as aplicações que promovam deposição de calda em toda a planta, ou seja, que permita boa penetração do produto atingindo até as folhas baixeiras. É recomendável utilizar volume de aplicação de 150 a 200 L/ha em pulverizações terrestres e de 30 a 40 L/ha em pulverizações aéreas. Outro importante aspecto a ser consi-
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Fotos Maurício Meyer
Tabela 1 – Estimativa do efeito da Mela da soja por região de ocorrência – safra 2001/02. UF MT (Norte) MA (Sul) TO (Norte) Total
Área (mil ha) soja com Mela 1.200 1.200 240 80 35 35 1.475 1.315
Produtividade (kg/ha) sem Mela com Mela 3.420 (57sc) 2.820 (47sc) 2.220 (37sc) 2.040 (34sc) 2.880 (48sc) 2.580 (43sc) -
Mil t 720,0 14,4 10,5 2.059,9
Perdas % 17,5 8,1 10,4 -
Mil R$ 203.184,00 4.541,76 3.137,40 210.863,16 1
Perdas máx. (%) 50 25 32 -
Preço médio da soja: MT = R$ 282,20/t, MA = R$ 315,40/t e TO = R$ 298,80/t
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solani AG1-IA. No arroz, a incidência é mais freqüente em lavouras irrigadas por inundação. Em lavouras de sequeiro, sua ocorrência é restrita a safras com elevados índices de chuvas.
SINTOMAS
Respingos de chuva fragmentam o micélio do fungo e são a principal forma de disseminação da doença
derado é a possibilidade de desenvolvimento de resistência do patógeno aos fungicidas. O emprego de fungicidas deve ser parte integrante de estratégias de controle da doença, devendo-se prever a diversificação e rotação de produtos com diferentes modos de ação sobre o fungo. Os trabalhos de desenvolvimento de cultivares com resistência genética à mela tiveram início, na Embrapa Soja em 2002, com a identificação de genótipos tolerantes. Os resultados desse trabalho não são esperados em curto prazo, uma vez que a resistência à doença provavelmente seja de caráter poligênico e os mecanismos de herança ainda não são bem conhecidos.
AGENTE CAUSAL A mela da soja é causada pelo fungo Rhizoctonia solani Kühn, cujo teleomorfo é Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk. Esse patógeno é dividido em grupos e subgrupos de anastomose (AG). Anastomose em R. solani é a capacidade de fusão de hifas entre diferentes isolados. O grupo de anastomose é um conjunto de isolados estritamente relacionados, agrupados com base na capacidade de fazerem anastomose entre si. Em praticamente todas as regiões de incidência da mela no Brasil, a doença é causada pelo grupo 1, subgrupo IA (AG1-IA), com exceção de Roraima, onde provavelmente ocorre o subgrupo IB (AG1-IB). A mela do feijoeiro e a queima da bainha do arroz também são causadas por R.
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Cultivar
Toda a parte aérea da planta é afetada, principalmente as folhas do terço médio, surgindo inicialmente lesões encharcadas, de coloração pardo-avermelhadas a roxas, com bordas mais escuras, evoluindo para marrom escuro. As lesões podem ocorrer como pequenas manchas ou tomar todo o limbo foliar em forma de podridão. Folhas infectadas normalmente ficam presas a outras folhas ou hastes através do micélio do fungo. Quando o fungo alcança as folhas do terço superior das plantas pelo desenvolvimento micelial ao longo dos pecíolos, as lesões se apresentam na base dos folíolos. Nas hastes, pecíolos e vagens, normalmente aparecem manchas castanho-avermelhadas. Em vagens, flores e rácemos florais pode ocorrer completa podridão de coloração preta. É comum haver abundante produção de microescleródios de coloração bege a castanho-escuro, apresentando forma arredondada e diâmetro variando de 0,1mm a 1,0mm. O desenvolvimento ostensivo de micélio e a formação de macroescleródios (2mm a 7mm) dependem muito de condições ambiente favoráveis. É importante distinguir os sintomas da
mela daqueles denominados de escaldadura foliar provocada pelo sol. A escaldadura ocorre normalmente nas folhas do terço superior das plantas e não no terço médio como a doença, e as lesões se desenvolvem das pontas para a base. A coloração é mais clara, variando de palha a marrom clara, sempre com tonalidade uniforme e sem bordas. Esse erro de diagnose tem levado alguns produtores à utilização desnecessária de fungicidas.
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS As condições ideais para o desenvolvimento da doença são temperaturas diurnas variando entre 25°C e 30°C e a presença de uma camada de água livre nas folhas por períodos prolongados (acima de 8 horas). Condição de clima chuvoso, freqüência e distribuição das chuvas durante o ciclo da cultura são fatores determinantes para o desenvolvimento da doença. O fungo sobrevive no solo na forma de escleródios, saprofiticamente em restos de cultura ou em hospedeiros alternativos ou eventuais.
DISSEMINAÇÃO A disseminação do patógeno a partir de um foco inicial ocorre principalmente através de respingos de chuva, que levam fragmentos de micélio ou escleródios para as folhas e pecíolos de plantas jovens, antes do fechamento das entrelinhas na la-
MELA NO BRASIL E NO MUNDO
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mela ocorre em praticamente to das as regiões tropicais e subtropicais que cultivam soja no mundo. No Brasil, a doença ocorre principalmente, no sul do Maranhão, norte do Tocantins, centro-norte do Mato Grosso, Rondônia, sudoeste de Goiás e Roraima. As perdas atribuídas à doença variam muito em função das condições ambiente. No mundo, as perdas médias são estimadas em 35%, chegando a 50% no sul dos EUA e 90% na Índia.
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No Brasil já foram observadas reduções de produtividade de até 60%. Na safra 2001/02, foram estimadas reduções médias de 17,5% no Mato Grosso, 8,1% no Maranhão e 10,4% no Tocantins, gerando um prejuízo superior a R$ 210 milhões (Tabela 1). Na safra 2002/ 03, o nível de perdas diminuiu para cerca de 5% no Maranhão, provavelmente em função da adoção de medidas de controle mais apropriadas e de fungicidas mais eficientes.
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voura. O inóculo secundário é formado pelo crescimento micelial e formação de microescleródios, com disseminação por contato de folha para folha ou de planta para planta. O ataque de lagartas desfolhadoras, injúrias causados por alguns herbicidas pósemergentes e queima foliar por adubação potássica em cobertura podem predispor as plantas a infecções precoces na soja devido aos ferimentos que provocam nas folhas, facilitando a penetração do fungo. O patógeno apresenta um amplo círculo de hospedeiros, com relatos de 20 espécies de plantas cultivadas e 18 de plantas daninhas. Dentre as cultivadas, destacam-se a soja, feijão, caupi, arroz, algodão, sorgo, tomate e curcubitáceas. Algumas plantas daninhas relatadas como hospedeiras são comumente encontradas em lavouras de soja, tais como Ipomea hederacea, Sida spinosa, Cyperus rotundus, Senna obtusifolia, Amaranthus hibridus, Digitaria sanguinalis, Echinochloa crus-galli, Brachiaria platyphylla, Cynodon dactylon, EleusiC ne indica e Bidens pilosa. Maurício Conrado Meyer, Embrapa Soja Nilton Luiz de Souza, FCA/Unesp
ARA O CONTROLE FUNGICIDAS PARA NGICIDAS P
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studos apontaram os grupos das estrobilurinas como os fungicidas de efeito curativo mais eficientes. Alguns triazóis foram eficientes apenas quando aplicados preventivamente. Em experimentos conduzidos, na safra passada no Maranhão, as parcelas tratadas com estrobilurinas (em misturas
formuladas com triazóis ou isoladamente) apresentaram diferenças de produtividade que superaram a testemunha em 666 kg/ha a 960 kg/ha. Nesse mesmo trabalho, os benzimidazóis foram significativamente menos eficientes no controle da doença, superando a testemunha em apenas 236 kg/ha e 278 kg/ha.
Temperaturas entre 25º e 30º associadas à água livre sobre as plantas é ambiente propício para desenvolvimento da doença
AENDA
Defensivos Genéricos
Preço comportado U
ma breve análise dos preços levantados pelo convênio IEA/Fundepag/Aenda, fielmente reproduzidos no Boletim de Preços de Defensivos elaborado pela Aenda, mostra como se comportou esse importante insumo para a agricultura diante da variação do Índice Geral dos Preços da Fundação Getúlio Vargas no mesmo período. A pesquisa é realizada no Estado de São Paulo, quatro vezes durante o ano: janeiro, abril, agosto e outubro, conforme tabela 1. O levantamento é realizado em cerca de 80 pontos de venda distribuídos em 18 municípios selecionados. Em termos quantitativos o Estado de São Paulo representa 25% destes insumos no Brasil, considerando a quantidade de ingrediente ativo vendida. Temos, portanto, um excelente extrato do cenário nacional. A figura ao lado mostra a importância relativa de cada grupo em termos de quantidade de ingrediente ativo comercializada em 2002. O grupo Herbicidas apresenta uma variação em média 3,7 pontos percentuais acima da variação do IGP-DI do mesmo período. Na verdade, esse grupo de produtos estava com preço represado do ano anterior e recuperou agora, aproveitando a forte demanda (estima-se crescimento de 30%, passando o faturamento do setor de US$ 1,90 bi para 2,60 bi). Tanto assim que, comparando-se Outubro de 2003 com Outubro de 2001 vere-
mos que esse grupo seguiu exatamente o crescimento do IGP-DI (variação do IGP-DI = 35,92 % / variação do grupo Herbicidas = 35,83 %). Os Acaricidas, de forte demanda em São Paulo, em média, ficaram abaixo do IGP-DI. Neste grupo, não consideramos os dados do produto Kumulus em embalagem de 1 kg, por fugir extraordinariamente da média. Os Fungicidas pontuaram pouco acima da média, 0,7 pontos; enquanto os INSETICIDAS convergiram para a mesma variação do IGP-DI. Os Reguladores ultrapassaram o índice da Fundação Getúlio Vargas em 3,6 pontos percentuais, porém representam relativamente pouco na quantidade vendida dos defensivos. Por fim, podemos ainda destacar que ao ponderar as variações percentuais dos
Tabela 1 - Estudo da variação entre outubro/2002 e outubro/2003 variação média em variação entre os produtos preços correntes abaixo acima out.2002 a out.2003 do IGP-DI do IGP-DI Herbicidas 19,5 % 11 30 Acaricidas 13,3 % 5 4 Fungicidas 16,5 % 7 17 Inseticidas 15,8 % 15 21 Reguladores 19,4 % 1 2 Grupos
Neste mesmo período o índice IGP-DI da FGV variou 15,78%.
preços com a participação relativa dos grupos, encontramos a média ponderada de 16,8% de variação dos preços entre out. 2002 e out. 2003. Ou seja, tão somente, um (1) ponto percentual acima do IGP-DI. A turma dos defensivos C em 2003 ficou bem comportada!
Percentual relativo à quantidade de ingrediente ativo comercializada em 2002
Agronegócios
Reforma Agrária: a necessidade de novos rumos P
uxando um pouco pela memória lembraremos que, em março de 2003, o Presidente Lula visitou o Assentamento Itamarati (Ponta Porá, MS), quando lhe foi asseverado que o mesmo produziria 60 mil toneladas de grãos em seus 25.000 ha, garantindo renda mensal de R$1 mil por família assentada - um modelo para a Reforma Agrária no país. Como bom repórter, Luiz Maklouf Carvalho (OESP) voltou ao assentamento após três meses, para conferir o cumprimento das metas, defrontando-se com uma realidade antagônica à promessa efetuada ao Presidente da República. A íntegra de sua reportagem (Assentamento Itamarati ou “...levaram o presidente no bico”) encontra-se em http:// www.estado.estadao.com.br/editorias/ 2003/07/06/pol018.html. Sintetizando o que ocorre no acampamento, o coordenador da CUT/MS, Vilson Balhs Hartinguer desabafou: “Exageraram muito e o presidente acreditou. Levaram o presidente no bico”. O repórter aponta que “A produção de soja e milho irrigados da safra 2002/2003 foi de 22 mil toneladas, um terço do que produzia a Fazenda Itamarati; pelo menos 277 famílias continuam sem renda e com dificuldades para as três refeições diárias; a maior renda mensal das famílias (aquelas que receberam alguma remuneração) não ultrapassou os R$ 330; a energia utilizada pelos pivôs centrais continua a ser paga pelo governo estadual, através do desconto do ICMS da Itamarati Agropecuária, a fornecedora de energia, que ainda pertence a Olacyr de Moraes - são outros 25 mil hectares produtivos do outro lado
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do assentamento.” Prossegue o repórter “Há outros problemas no Assentamento Itamarati: cinco pivôs centrais de irrigação estão em processo irreversível de sucateamento e tem ocorrido furto de peças; duas represas romperam e podem arrebentar; há montes de vasilhames com veneno agrotóxico a céu aberto; só existe um médico para uma população de 8 mil pessoas; o precário posto de saúde não funciona nos fins de semana; a escola merece o apelido de sardinha em lata; os ônibus que transportam as crianças estão superlotados; parte das estradas internas necessita de pronta recuperação; a água é de poço, e nem todos conseguiram obtê-la; a assistência técnica está reduzida a uma dezena de funcionários públicos estaduais que nem sempre estão por lá.”
FAZENDA MODELO Conheço a Fazenda Itamarati há mais de 20 anos. A Itamarati é um paradigma de produtividade, qualidade e de gestão competente há mais de três décadas. Dividida ao meio, para pagamento de dívidas da holding com o Governo, a comparação lado a lado denuncia a falência do modelo de reforma agrária que vem sendo praticado no Brasil. A Itamarati, ao longo do tempo, constituiu-se em um exemplo de convivência comunitária a ser emulado, com abastecimento de água e luz, saneamento básico, ensino gratuito, transporte, lazer, enfim, atendimento às demandas da comunidade de colaboradores, que residiam na própria fazenda, a qual dispunha de maquinário próprio para abertura e conservação de estradas e oficinas para máquinas, tratores e implementos.
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A versão corrente na região indica que, atualmente, os pivôs do assentamento foram arrendados para um agricultor paranaense. Consta que, além de seu conhecimento tecnológico, o agricultor levou máquinas e operadores que permitiram produzir milho e soja na área irrigada.
AGRESSÃO AMBIENTAL E BAIXO RETORNO O repórter Luiz M. de Carvalho encontrou centenas de embalagens de agrotóxicos, já utilizadas, empilhadas ao lado de um escritório, em flagrante violação à Lei e um desrespeito à saúde e ao ambiente. A legislação brasileira obriga os usuários a devolver, prontamente, as embalagens vazias de agrotóxicos para reciclagem. A partir dos registros do assentamento, o repórter calculou a renda dos assentados: “Foram 20.460 sacas de soja, vendidas por R$ 656.710,87, e 91.916 sacas de milho, vendidas por R$ 1.724.477,29. Total da receita bruta: R$ 2.759.188,16. Total dos custos: R$ 1.921.000 (R$ 975 mil só com herbicidas). O lucro líquido foi de R$ 838.188,16. Dividido pelas 320 famílias, deu R$ 2.619,33 pela safra - ou R$ 218,27 mensais por família. Na média de quatro integrantes em cada uma, dá R$ 54 mensais para cada assentado do MST.” E o repórter denuncia: “Isso nos números. Na realidade, 95 famílias nada haviam recebido até o dia 24 de junho”. Este exemplo, infelizmente, não é isolado – e até não é dos piores. Há casos de fracasso total do assentamento. A lição a extrair é que, se um assentamento na Fazenda Itamarati – um paradigma
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internacional de competitividade e eficiência econômica – redundou em fracasso, não se pode ter qualquer expectativa positiva, continuando a exercitar o modelo atual. É necessário buscar alternativas, cujo foco seja a sustentabilidade.
PROPOSTA OUSADA O empresário Nelson Silveira é diretor da Enguia, empresa geradora de energia elétrica a partir de termoelétricas. Em conversa com o empresário, tive oportunidade de conhecer um projeto ousado e visionário, que merece uma reflexão cuidadosa, não apenas sob o enfoque econômico ou energético, mas como uma alternativa ao modelo de reforma agrária predominante. O fulcro do projeto é a substituição do petrodiesel utilizado nas suas termoelétricas por biocombustíveis, produzidos localmente. O projeto absorverá 310 milhões de litros de biodiesel por ano, gerando 800 MW de energia elétrica. O uso de biodiesel permite mitigar a emissão de gases de efeito estufa, reduzir a dependência brasileira de petróleo, movimentar a economia regional e investir na inclusão social de famílias de sem terra. Por mais herético que pareça, à primeira vista, o MST está sendo proposto como um dos parceiros do empreendimento.
A empresa dispõe-se a adquirir 540 mil hectares de terra no Nordeste, aptos ao cultivo de oleaginosas e de outras culturas, ao longo dos cinco anos previstos para a implantação do empreendimento. A área será subdividida em projetos de 10.000 ha, comportando 560 famílias, cada qual cultivando 18 ha. Os empreendedores fornecerão os equipamentos e insumos para o primeiro cultivo da área. O projeto prevê a assistência técnica e gerencial permanente às micro-empresas familiares e o treinamento constante dos participantes.
MEGA-ASSENTAMENTO A iniciativa assentaria 30.260 famílias, mais do que o Incra assentou em todo o Brasil, durante o ano de 2003. Os módulos ocupariam 18 ha e cada família constituiria uma microempresa. O empreendimento compreenderia mais de 200.000 postos de trabalho, ou 2% da promessa de empregos do Presidente Lula. Ao final de 10 anos de cultivo da terra e cumpridos os dispositivos contratuais, cada família receberia o título de posse definitiva da terra. As condições incluem a obrigatoriedade do cultivo de uma oleaginosa (mamona, por exemplo) em 15 hectares, sendo o espaço intercalar e os restantes três hectares plantados com milho, arroz, fei-
jão, caupi, algodão, frutas, hortaliças ou forrageiras. A mamona seria adquirida pela Enguia, para a produção de biocombustível. Cada assentado terá liberdade para decidir pela escolha dos demais cultivos ou criações bem como pelo seu uso ou destino. Além do acesso à terra, a empresa garantiria uma renda mensal mínima de um salário mínimo, a partir da instalação da família no projeto, independente do início da entrega da mamona. Entretanto, os cálculos apontam para uma renda familiar mensal de R$450,00 pela entrega da mamona e R$250,00 com a venda de feijão, além de outras rendas. Compare-se esses números com os obtidos no Assentamento Itamarati para aquilatar a sustentabilidade da proposta. O projeto é mais amplo e mais complexo que a análise superficial aqui apresentada. Em nosso entender, ele merece uma atenção séria do Governo e das lideranças empresariais, pois pode constituir-se em alternativa para enfrentar o desemprego e o problema de acesso à terra. Caso o Governo e as empresas decidam adotar políticas de substituição de petrodiesel por biocombustíveis, provenientes de comunidades vinculadas à agricultura familiar, estaremos organizando um novo pacto social, da mais profunda repercussão no futuro do país, com desdobramentos de âmbito internaC cional. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
brandalizze@uol.com.br
USDA nos traz um feliz ano novo O ano começou com o pé direito para o setor agrícola, que ficou surpreso ao ver o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trazer boas notícias para a safra da América do Sul e principalmente do Brasil, de que em 2004 novamente teremos boas cotações para os nossos produtos. O quadro geral mundial, apontado pelo USDA, aponta para um aperto seqüencial, que vem ocorrendo há vários anos e não está mostrando expectativas de alterações nestes próximos dois ou três anos. Estamos com uma safra mundial de grãos apontada para 1,82 bilhões de T ou pouco acima do que se colheu na safra anterior. Mas o ponto importante é a demanda que deverá chegar à marca de 1,93 bilhões, ou seja, com um grande buraco a ser coberto com o consumo dos estoques mundiais, os quais, em anos bons, chegaram a se manter acima das 500 milhões de T e agora estão apontados em 311,7 milhões de T contra as 416,9 milhões da safra passada. O quadro é bom para os nossos produtores.
MILHO Exportação para melhorar a liquidez O mercado do milho neste começo de ano passou por um quadro de estoques grandes, ou mais de 3,3 milhões de T, fato que não ocorria no Brasil há várias safras. Sempre vínhamos operando com importações na entressafra e agora estamos vendo produto sendo embarcado para a exportação em janeiro. O Porto de Paranaguá esteve movimentando bons volumes de milho em janeiro e assim, criando espaço, no mercado interno, porque vem colocando muitos navios do cereal no mercado mundial, liberando os excedentes internos que poderiam segurar o mercado interno em 2004. Como a safra de verão deste ano vem com uma área reduzida, certamente teremos menor oferta e estando os produtores desestimulados ao plantio da safrinha, tal tendência vem projetando que teremos um quadro de melhor demanda mas aperto na oferta. Assim na entressafra a tendência de vermos as cotações em alta são grandes. Trabalhamos com expectativas de indicativos de R$ 2,00 a R$ 4,00 acima dos que foram praticados em 2003.
SOJA Com quadro muito apertado O mercado mundial da soja neste começo de ano teve boas noticias. Os EUA corrigiram a safra local encerrada em novembro para baixo, recuando para 65,8 milhões de T contra as 66,7 milhões apontadas em dezembro, deixando assim o quadro americano com maior aperto. Para favorecer ainda mais, houve correção no consumo para cima, o que colocou os estoques em queda livre, nos níveis mais baixos dos últimos 32 anos, fortalecendo as cotações que foram acima dos US$ 8,00 por bushel e chegando a caminhar acima dos US$ 8,30 e assim beneficiando os produtores brasileiros que estão com as plantações em fase
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final de desenvolvimento. O quadro geral está muito apertado, mas deverá nos beneficiar na colheita.
FEIJÃO Confirmando alta Como comentávamos na edição anterior, o quadro do feijão agora é de grande aperto porque em fevereiro não existem grandes ofertas de produto, já que a safra das águas já foi colhida e as perdas na maior parte das regiões foi grande. Assim pouco produto novo deverá aparecer no curto prazo, o fôlego de alta continua e poderemos ver os indicativos, que em janeiro bateram a marca dos R$ 80,00, ir novamente além dos R$ 100,00 que há muito tempo não ocorre. Como a safra do Irecê que foi plantada em novembro, foi toda perdida, a oferta local agora deverá aparecer, somente no final de abril em diante, e assim dando fôlego ao mercado Nordestino e
dando liquidez ao produto que aparecer nas demais regiões.
ARROZ Safra chegando O mercado do arroz diante da escassez do produto em janeiro manteve as cotações firmes por várias semanas. Agora em fevereiro estará recebendo a safra nova do Sul do país, que em março tende a entrar, em ritmo forte de colheita, e assim, poderemos ver os indicativos sendo pressionados para baixo, e andarmos em fase típica de safra, com os níveis devendo caminhar para indicativos abaixo dos R$ 35,00 a saca, quando a safra estiver em bom ritmo e abastecendo as necessidades das indústrias, com expectativas de que se continuarmos com o câmbio fraco, iremos próximos da marca dos R$ 30,00 no pico da oferta, e assim buscando a estabilidade.
CURTAS E BOAS SOJA - os estoques mundiais foram reduzidos para 35,9 milhões de T em janeiro contra os 38,7 milhões de T da safra passada e assim manteve a indicação do consumo mundial em 201,5 milhões de T para uma produção de 198,7 milhões. ARGENTINA - o clima mostrou algumas irregularidades durante o desenvolvimento das lavouras locais e assim as estimativas da safra de Soja ficaram na casa das 36,5 milhões de T e o milho em 13,5 milhões, ambos abaixo das expectativas iniciais. A colheita das primeiras lavouras deverá ocorrer no final de fevereiro, mas o pico da colheita, de abril em diante. ALGODÃO - mostra boas expectativas da safra brasileira, que estava apontava em 1,8 milhões de T e agora com o crescimento maior do que as expectativas no MT poderão chegar a 2 milhões de T, com boas expectativas de vendas na exportação porque a China está apontando para grandes compras internacionais. TRIGO - o quadro mundial não sofreu grandes alterações entre oferta e demanda neste começo de ano. Mas a notícia de que a China está comprando bons volumes do cereal fez com que as cotações do produto tivessem ajustes fortes em Chicago; dando assim boas alternativas ao excedente da safra do Brasil para a exportação, que poderá fechar 1 milhão de T embarcadas nesta safra, criando uma nova alternativa de liquidez e forçando as indústrias à busca e compra de produto, logo na safra, para não ter que depender de importações que normalmente têm cotações maiores.
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