Cultivar 59

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Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 12º andar Pelotas – RS 96015 – 300

Mais trigo em 2004 Boa cotação no cenário mundial e cultivares produtivas incentivam o plantio de trigo para 2004

www.grupocultivar.com Diretor de Redação Schubert K. Peter

“Cultivar” e “Agrotécnica” são marcas registradas do Grupo Cultivar de Publicações

Cultivar Grandes Culturas Ano V - Nº 59 Março / 2004 ISSN - 1518-3157 www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00

Armadilha contra percevejo O uso de semioquímicos no manejo do percevejo da soja promete redução com aplicações desnecessárias

(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

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Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 72,00 68,00 • Editor:

Charles Ricardo Echer

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• Consultor

Newton Peter OAB/RS 14.056

Mais terríveis

• Coordenador de Redação

Janice Ebel

Manejo inadequado e falta de rotação de culturas transfomam pragas secundárias em primárias

• Revisão

Vandelci Ferreira • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia _____________

• Gerente Comercial

Neri Ferreira • Assistentes de Vendas

Avanço da Cercóspora

Pedro Batistin Érico Grequi

Empalhada por todo o Brasil, a mancha da Cercospora já causou danos de até 90% em algumas lavouras

_____________

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• Gerente de Circulação

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Jociane Bitencourt Luceni Hellebrandt • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves

índice

Nossa capa Foto Capa / H. Negri

• Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:

Diretas

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Mais trigo em 2004

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Falta de fungicidas contra a ferrugem

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Controle de percevejos com feromônio

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Cultivar entrega trator

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Coluna Aenda

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Cada vez mais terríveis

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Adubação em arroz irrigado

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Adubação para milho safrinha

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Agronegócios

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Mercado agrícola

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3028.4013/3028.4015 • ASSINATURAS:

3028.4010/3028.4011 • GERAL

3028.4013 • REDAÇÃO:

3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:

3028.4004 / 3028.4005 • FAX:

3028.4001 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


diretas Oportunidade de trabalho Empresa com tradição no mercado nacional, busca profissionais com sólidos conhecimentos em tecnologia de Tratamento de Sementes. O profissional deverá ter experiência, disponibilidade para viagens, bem como perfil comercial. A empresa oferece remuneração compatível com a função. Profissionais dinâmicos e que aceitam novos desafios enviem currículo para italve@uol.com.br.

Bayer Cropscience

Basf A sofisticação e a qualidade do material da basf no Show Rural 2004 encantou o público que se acotovelava na entrada do cinema em terceira dimensão da empresa. A forma inovadora de transmitir as novas tecnologias da empresa, estava, realmente, concorrida. Mais parecia um lançamento do cinema Hollywoodiano. Cristina Palma, Solange e equipe estão de parabéns.

Com o maior estande do Show Rural, onde abrigava seus laboratórios e campos de demostração de resultados de seus produtos, a empresa apresentou no evento seu presidente recentemente empossado Marc Reichardt, mais do que apreciar o evento em companhia de demais diretores, demonstrou a tradicional simpatia do pessoal Bayer.

Valdemar Fischer

Novo diretor

Pioneer Como já é marca registrada da empresa, não houve show pirotécnico em seu estande, mas as palestras a respeito de híbridos da empresa estavam sempre lotadas. Enquanto isso no lado de fora do salão de palestras, produtores de lugares como a Paraíba faziam filas e preenchiam cadastros para receberem futuramente informações técnicas sobre a produção de milho.

Dupont A agroquímica seguindo uma idéia que começou com o rally da energia (cultura da cana-de-açúcar), apresentou a trilha tecnológica, onde apresentou suas vedete, como o Lanate e o Classic. Demonstrando em seus ensaios a importância da utilização de produtos com tradição e qualidade.

Sinon do Brasil

Milênia 60 Representada por produtos como o Orius, a empresa que já tornou a esquina da avenida principal como referência no evento, assegurou aos visitantes importantes informações técnicas sobre as soluções integradas.

Biomatrix A empresa que pode ter um nome pouco conhecido, conta com uma equipe experiente no mercado. Paulo Motta Ribas, diretor superintendente apresentou à Cultivar um cenário promissor para a safra de milho 2004/2005.

Nortox A empresa mostrou nas linhas de seu estande o arrojo tecnológico, típicos desta que é uma das mais tradicionais agroquímicas do mercado agrícola.

Valdemar L. Fischer é o novo Diretor Geral da Syngenta América Latina e Brasil. Ele tem 40 anos, engressou na empresa em 1985 e é formado em Agronomia. Depois de 8 anos fora do Brasil, com experiência no Equador e diretoria na Syngenta México, Valdemar assume este importante desafio em um dos mercados mais importantes para a Syngenta.

A empresa começa o ano de 2004 dizendo ao que veio, presente ao Show Rural esteve o presidente mundial da companhia. Joelson Mader, apresentou seu mais recente lançamento o fungicida Mandarin.

Answer A Answer foi uma grata surpresa do Show Rural. Com uma linha de produtos de alta tecnologia, impressionou o público que visitou o estande de Tecnologia de Aplicação, resultado da perceria da Bayer Cropscience, Answer, Tee Jet, AGCO e Coopavel.

Tee Jet Microquímica

A equipe da Microquímica, coordenada por Jorge Ricci estava animada com o desempenho e aprocura pelo Noctin, mais recente lançamento da empresa.

Syngenta Aproveitando o sucesso do ano anterior, a empresa trouxe ao Show Rural o CNT, Circuito Nacional de Tecnologia. José Carlos Bacili, Marcos Basso, gerentes da regional Londrina (PR), apresentaram ao público o bom desempenho de seus produtos.

Sérgio Santos apresentou o que existe de mais moderno em pulverizações. Pontas, bicos, GPS, sistema completo para a precisão nas aplicações. A orientação técnica esteve a cargo de José Carlos Christofoletti.

Embrapa Trigo O pesquisador Erivelto Scherer Roman é o novo ChefeGeral da Embrapa Trigo, Passo Fundo-RS. Formado em Agronomia pela UPF, desenvolve estudos sobre manejo e controle de plantas daninhas. A transferência de cargo será presidida pelo pesquisador Benami Bacaltchuk, que esteve a frente da instituição durante oito anos.

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Cultivar

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Erivelton Scherer

José Christofoletti

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Charles Echer

Trigo

Cotação do produto no cenário mundial, associado à disponibilidade de sementes de grande potencial produtivo são fatores que incentivam ao plantio de trigo para este ano

Mais trigo em 2004 O

s produtores estão num dilema sobre o novo plantio que se apro xima, há dúvidas sobreos custos de produção, e principalmente sobre a comercialização da safra, que acabam desestimulando uma boa parte do setor, e na seqüência gerando queda no volume produzido. Para este ano estamos apontando que o trigo vem como uma boa opção de cultivo de inverno para os produtores porque temos muitos motivos a favor do segmento. O primeiro vem do lado da tecnologia, que traz sementes de melhor qualidade e com capacidade produtiva muito acima do que tínhamos em anos anteriores. A pesquisa está conseguindo colocar à disposição dos produtores variedades com potencial produtivo de 4 a 6 mil kg por hectare e assim fazendo que a viabilidade dos investimentos apareça com facilidade porque em anos anteriores tínhamos sementes com potencial limitado, na casa das duas toneladas por hectare, o que acabava complicando a vida dos produtores que encontravam cotações baixas para o ce-

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real. O quadro mundial está muito apertado e trazendo cotações fortes para os importadores. No final de janeiro, o governo aumentou a alíquota da Cofins sobre os produtos importados e o trigo estácerca de 6% mais caro. No segundo semestre, quando a safra chegar, poderemos estar vendo um câmbio mais alto do que o atual e assim criando um cenário bastante interessante para a produção nacional. A safra nacional do ano passado foi de aproximadamente 5,5 milhões de toneladas, e o consumo previsto para este ano, segundo os moinhos, deverá girar ao redor das 9 milhões de toneladas. Com isso, grandes quantidades de trigo devem ser importadas e certamente o custo deste produto servirá como balizador das cotações internas. O Brasil caminha para uma safra parecida em 2004 e com isso continuará dependente do trigo importado. Falando em importação, neste ano o quadro geral mundial está bastante apertado e as cotações do cereal tendem a se manter firmes,

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com o quadro de oferta e demanda favorecendo os produtores, porque houve redução na produção mundial, que passou das 566,8 milhões de toneladas em 02/03 para as 552,7 milhões em 03/04. Para alguns analistas, este nurpero é bastante otimista, porque levam em consideração a safra da Argentina com 11,5 milhões de toneladas, mas segundo os produtores locais não se chegou a este volume. O mesmo ocorreu com paises como o Canadá que teve forte queda na produtividade. A Austrália atingida por seca também apresentou grandes perdas, e colaborou para deixar o quadro mundial com menos produto para ser negociado. Desta forma, abriu espaço para que parte da nossa safra fosse exportada no ano passado e neste começo de ano continuávamos embarcando navios para o mercado mundial. Atéparece um contra-senso, mas é a realidade do momento que tende a fazer com que tenhamos um mercado bastante enxuto de oferta nos próximos meses obrigando os moinhos a novas importações, que tendem a chegar ao seu destino com custos acima do

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Charles Echer

Alíquota da Cofins com elevação de 6% pode criar um cenário atraente para a produção nacional

R$ 550,00 por tonelada. Isto porque a Cofins está ajustada e também o mercado externo mais alto, aliado ao câmbio, que, no ano passado todo, esteve em queda livre e neste ano mostra o quadro andando na linha contraria e apresentando recuperação, que tende a dar fôlego ao trigo. Como podemos observar no quadro geral de oferta e demanda, estamos mostrando apertado crescente, porque já tivemos praticamente"200 milhões de T de trigo nos anos anteriores e agora estamos caindo para próximo das 100 milhões e o consumo mesmo sendo limitado, está superando a produção. Para complicar os consumidores, o quadro geral dos grãos no mundo também está apertado porque todos os grandes produtos estão com menor oferta que demanda e assim as cotações tendem a se manter firmes e dificultando a vida dos importadores. O quadro geral dos grãos no mundo mostra uma produção mundial de 1,82 bilhões de toneladas e um consumo de 1,93 bilhões de toneladas, consumindo grande parte dos estoques existentes, que poderá demorar muitos anos para serem recuperados. Neste quadro, o trigo segue com tendência de bons indicativos. O mercado interno teve nos últimos meses pouca movimentação do trigo porque os moinhos normalmente compram das mãos para a boca e como a economia andou em ritmo lento, não quiseram formar estoques. O setor teve que buscar alternativa, e foram as exportações, que su-

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peraram a marca de 1 milhão de toneladas, que fizeram o quadro geral ficar mais ajustado para os moinhos que tendem a ir buscar mais trigo importado e com custos crescentes. Desta forma favorecem para as cotações internas. O governo teve uma participação no mercado com cerca de 800 mil toneladas de operações entre EGV, e outros mecanismos de apoio ao segmento que também devem ser usados nesta nova safra. No quadro geral do Brasil podemos observar que teremos um aperto maior neste ano e com dependência de mantermos a safra próxima do ano passado para não corrermos o risco de aumentarmos muito as importações e para favorecer o segmento dos alimentos básicos, onde está inserido o trigo. Estamos em ano eleitoral e, historicamente, ano de eleição normalmente traz aumento da demanda dos alimentos e com isso o trigo deverá ir atrás e desta forma criar maior liquidez aos produtores e moinhos. O segmento está de olho no quadro geral dos custos de produção junto com as expectativas de faturamento, onde avaliamos algumas situações em que os custos dos básicos estão próximos da casa dos US$ 250,00 por ha. Se somados aos valores de depreciação de máquinas e estrutura, passam dos US$ 300,00 por ha. Enquanto isso o mercado atual está trabalhando o trigo na faixa do US$ 140,00 por ha que, se levada em conta uma área que colha 2,5 to: neladas por ha, resultaria em cerca de US$

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350,00 por ha, que passaria com leve ganho nas análises. Mas os produtores têm também como apoio verificar que o custo das importações do trigo, que hoje estão saindo aos moinhos US$ 170,00 por tonelada, e podem crescer nos próximos meses, fazem que as expectativas nos apontem que poderemos ver o trigo andar para o lado dos US$ 150,00 e US$ 160,00 por tonelada no segundo semestre. Assim dará um retorno ainda maior ao segmento que poderá ver a lucratividade superar a marca dos US$ 100,00 por ha. Isso somente levando em conta lavouras com tecnologia média de produtividade, porque as melhores sementes estão resultando em produtividade muito acima dos dados propostos na análise econômica e com isso as indicações de ganhos serão ainda maiores. O Brasil continuará sendo altamente dependente do produto importado e como no segundo semestre deste ano estaremos andando num período de instabilidade cambial, e provavelmente com dólar mais forte, fazendo o trigo importado chegár mais caro, onde se aponta entre os R$ 550,00 e R$ 600,00 por 1; faz com que as expectativas de indicativos pagos aos produtores neste ano também cresçam na ordem dos 20 a 25%. Assim, dos R$ 400,00 que grande parte negociou em 2003, agora há uma projeção de indicativos dos R$ 500,00 a momentos melhores, e desta forma podendo superar as margens de lucratividade que calculamos nos comentários anteriores. Em resumo, o trigo é uma boa opção para os produtores tanto no lado agronômico como no lado financeiro. C BRANDALlZZE Consulting, e-mail: brandalizze@uol.com.br Oferta e demanda mundial do trigo (milhões de toneladas) SAFRA Estoque Inicial Produção Importação Consumo Estoque Final

2003/04 165,4 552,7 96,0 590,2 127,9

2002/03 198,1 566,8 107,0 599,5 165,4

Fonte: USDA, IGC, Bradalizze Consulting

Oferta e demanda brasileira do trigo (milhões de toneladas) SAFRA Estoque Inicial Produção Importação Consumo Exportação Estoque Final

2003/04 0,6 5,0 4,7 9,4 0,3 0,6

2002/03 0,7 5,6 4,3 9,0 1,0 0,6

Fonte: Bradalizze Consulting, Conab, Moinhos e Mercado

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Soja

Falta de fungicidas A ferrugem asiática da soja já está presente em praticamente todos os Estados. Agora, o problema enfrentado pelos produtores se refere à falta de fungicidas no mercado, que garantam a salvação de suas lavouras

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prolongado período de plantio e a diversidade do clima nas dife rentes regiões produtoras de soja dificulta o controle da ferrugem asiática, uma vez que as plantas, nas diferentes lavouras, estão em distintos estágios de desenvolvimento. Nesse sentido a preocupação dos órgãos de pesquisa e assistência técnica se detém na possível falta de produtos para controle no mercado. Claudia Godoy, pesquisadora da embrapa soja-PR, alerta que os produtos têm se mostrado eficien,tes quando aplicados após os primeiros sintomas, mas um atraso na aplicação após a doença constatada pode reduzir sua eficiência. “Ainda existem produtores que não acreditam na agressividade da doença, que começa pelas folhas baixeiras da planta, e só se dão conta quando a doença já está em todas as folhas da planta", afirma Claudia, "Os produtos não recuperam o tecido lesionado, por isso o controle deve ser rigoroso", complementa. Além disso, muitos produtores usaram produtos de forma preventiva contra a ferrugem e no momento de real necessidade não encontram mais o produto no mercado. A pesquisadora lembra que lavouras mais tardias de forma geral, são as que vão sofrer mais, não só pelo inóculo que se produziu nos plantios mais precoces, como também pela escassez de produtos, o que estaria acontecendo de modo geral no país. Locais como RS, onde o clima seco está predominando, a doença embora já tenha se manifestado é desfavorecida na forma de epidemia, ao contrário de outras regiões onde a umidade e chuvas ajudam o desenvolvimento do fungo. Segundo Cados Renato E. da Rosa, informações obtidas junto às cooperativas do estado do RS, indicam que não haverá falta defungicidas para uma primeira aplicação, no entanto, aqueles produtores que necessitem realizar uma segunda aplicàção correm o risco de esperar de 10 a 15 dias até que o produto seja fornecido pelos fabricantes. No estado do Mato Grosso, segundo Tia-

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go Camargo da fundação MT, a ferrugem está atacando em praticamente todo estado, e a falta de fungicidas está fazendo com que os produtores façam empréstimos em propriedades vizinhas, utilizando fungicidas que iriam aplicar no algodão que também são recomendados para ferrugem na soja, e até indo buscar os produtos em outros estados. Segundo a pesquisadora da Fundaçãoi Bahia, Ana Claudia Barneche, no caso da Bahia,ainda não há falta de produto porque de acordo com a pesquisadora, os produtores se previniram fazendo estoques. Mas garante que quem sair à procura de fungicidas agora, vai ter problemas para encontrar produtos que tratem a doença de forma eficiente. Já em Goiás o cenário é o mesmo apresentado anteriormente, simplesmente não se encontra produto para o controle da doença. João Pereira de Matos, presidenta da Fundação Go, explica que os produtores estão também buscando produtos em estados menos atingidos e que ainda detenham os fungicidas. "O problema é que o produtor sofre com os transtornos, na busca desses produtos, pois além de se tratar de uma carga perigosa, exingindo carta especializada para o transporte por causa da fiscalização nas estradas, o produtor

precisa pagar a conta no ato, pois o crédito é dificultado devido a distância" justifica. No dia 5 de fevereiro foi realizada uma reunião com a participação de várias instituições e indústrias ligadas ao mercado de fungicidas juntamente com o Ministério da Agricultura em Brasilia, visando à liberação de mais fungicidas para o controle da ferrugem asiática. Embora o SINDAG, garanta que não há problemas com relação a um desabastecimento de fungicidas para controle da doença, o presidente daquele órgão afirma que está sendo providenciado a importação de mais produto para garantir o controle. Em um levantamento realizado, até aquela data, havia em poder das indústrias produto suficiente para pulverizar 3 milhões e 200 mil ha de lavouras, sendo este número elevado em mais um milhão de hectares devido ao complemento com os produtos a serem importados. O presidente do SINDAG, José Roberto da Ros, o que existe é uma má distribuição dos produtos no país, provocado pelas regiões mais afetadas, onde estaria a maior concentação dos produtos para o conC trole. JE

FERRUGEM NO RS

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epois de disseminada em vários estados brasileiros. finalmente a ferrugem chega ao Rio Grande do Sul. O primeiro foco da doença foi registrado em 23 de janeiro, no município de Espumoso. em uma área experimental da Cooperativa Tritícola de Espumoso (COTRIEL), e um segundo foco, em II de fevereiro, em uma pequena propriedade de 6 ha, atendida pela Cooperativa de Palmeira das Missões, em Coronel Bicaco. Regularmente no intervalo de 5 a 7 dias, engenheiros agrônomos realizam vistorias nestas áreas, buscando identificar os sintomas característicos da ferrugem. Uma vez identificado o foco, amostras são coletadas e enviadas ao laboratório de fitopatologia da FUNDACEP para confirmação da ocorrência da doença, sendo recomendado o controle com fungicidas apenas quando a doença realmente for constatada.. A FUNDACEP. juntamente com a secrtetaria de agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Sul. está realizando o mapeamento de ocorrência da doença no estado.

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Soja

Visando a redução de custos e a utilização de inseticidas sintéticos em larga escala, pesquisadores buscam através da ecologia química o desenvolvimento dos semioquímicos como alternativa para o manejo de pragas

Armadilha contra os percevejos D

esde o início da década do 40 com o aparecimento dos inse ticidas sintéticos as técnicas de controle de pragas têm se baseado principalmente no uso desta ferramenta. Mesmo após a constatação dos efeitos negativos de seu uso indiscriminado e irracional os inseticidas sintéticos continuam sendo a principal ferramenta utilizada no controle de insetos-praga. No Brasil o mercado de defensivos agrícola é de cerca de US$ 2,3 bilhões, sendo que 26,9% corresponde ao uso de inseticidas. Dentro deste contexto a busca por téc-

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nicas alternativas para o manejo de pragas que apresentem menores riscos para a saúde humana e para o ambiente é uma prioridade.Nas últimas três décadas os avanços científicos e tecnológicos permitiram conhecer e desenvolver o campo da Ecologia Química e sua aplicação para o manejo de pragas. A ecologia química é um ramo da ecologia que estuda as interações entre organismos vivos mediadas por semioquímicos (sinais químicos). Os semioquímicos são substâncias químicas produzidas por organismos que modificam o comportamento de outros seres

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vivos. Existem dois grandes grupos de semioquímicos: os feromônios, utilizados para comunicação entre indivíduos da mesma espécie, e os aleloquímicos, utilizados na comunicação entre organismos de espécies diferentes. (Figura 1) O estudo destas substâncias, especialmente feromônios sexuais, tem aberto excelentes possibilidades para o seu emprego no manejo de pragas, e vários programas que os utilizam têm sido implementados. Entre suas principais virtudes, os semioquímicos apresentam alta especificidade, ausência de efeitos negativos em inimigos naturais, ausência de efeitos tóxicos e biodegradabilidade. Hoje no mundo os feromônios constituem uma ferramenta importante no manejo de pragas e a sua utilização tem diminuído ou mesmo eliminado as aplicações de inseticidas reduzindo assim o nível de intoxicações pelos trabalhadores rurais e o teor de resíduos químicos nos produtos agrícolas e nos agroecossistemas. Os semioquímicos podem ser utilizados no manejo de pragas através de técnicas de: monitoramento, captura massal em armadilhas, confundimento, associado a inimigos naturais como parasitóides, e atração dos insetos pragas para áreas específicas dentro da cultura para aplicação de medidas de controle.

USO DE SEMIOQUÍMICOS NA SOJA No estágio reprodutivo da soja, desde a floração e até o amadurecimento dos grãos, os percevejos são as principais pragas e, por se alimentarem dos grãos, afetam seriamente seu rendimento e qualidade. Estes insetos ocorrem em um complexo de várias espécies, destacando-se Euschistus heros, Nezara viridula e Piezodorus guildinii (Figura 2). Associadas com estas espécies se encontram outros percevejos considerados pragas secundárias. A crescente expansão da cultura da soja, nos últimos anos, vem preocupando produtores e cientistas de todo o mundo devido à necessidade de novas tecnologias que controlem suas pragas sem aumentar tanto os custos de produção e prejudicar o meio ambiente, como vem ocorrendo. No Brasil o mercado de inseticida para a cultura da soja girou na ordem de US$112,70 milhões. Atualmente, são utilizados mais de 4,5 milhões de litros de inseticidas químicos por safra para o controle dos percevejos pragas, ao custo aproximado de R$ 20,00 por hectare. O desenvolvimento de uma metodologia mais eficaz e amplamente adotável pelos produtores poderá reduzir a utilização dos inseticidas para o controle dos percevejos.

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Figura 1 - Terminologia dos Semioquímicos. Feromônios = comunicação dentro da mesma espécie. Aleloquímicos = comunicação entre espécies diferentes

FEROMÔNIOS DE PERCEVEJOS Os trabalhos relacionados ao percevejo verde da soja, Nezara viridula foram os primeiros a relatarem a identificação de feromônio sexual de pentatomídeos fitófagos. Os estudos complementares, sobre o comportamento dessa praga, em relação aos semioquímicos da espécie levou à determinação da estrutura do composto (Figura 3). Estudos com o percevejo marrom, Euschistus heros, resultou na identificação do feromônio sexual dessa espécie de ocorrência Neotropical (Figura 4). A atividade biológica do feromônio dessa espécie foi determinada em laboratório e testada em campo em armadilhas iscadas com o composto sintético. As armadilhas apresentam o mesmo perfil de captura do pano de batida, sendo inclusive mais eficiente no início do aparecimento do percevejo na cul-

tura (Figura 5), o que é extremamente importante para se antecipar com medidas de controle evitando os danos causados por estas pragas. Testes de campo revelaram que este feromônio também atrai outras espécies de percevejos-praga, como o percevejo verde pequeno, Piezodorus guildinii, o que possibilita a manipulação de uma mistura feromonal que possa ser atrativa para mais de uma espécie do complexo de percevejos praga da soja. Outros estudos vêm sendo desenvolvidos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia para a identificação feromonal e condução de testes em laboratório e campo para outras espécies do complexo de percevejos pragas da soja como as espécies Thyanta perditor, Dichelops melacanthus e Edessa meditabunda. Além de semioquímicos dos adultos de pentatomídeos foi descoberta a presença

Figura 2 - Membros do complexo de percevejos-praga da soja. Da esquerda para a direita: Euschistus heros, Piezodorus guildinii e Nezara viridula.

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de compostos específicos a instares imaturos dessas pragas. Essa diferença de composição, na secreção de defesa das fases imaturas, pode liderar uma nova linha de pesquisa em pentatomídeos, os cairomônios, por exemplo. Novos projetos estão sendo desenvolvidos baseados na intereção tri-trófica – planta/ hospedeiro/parasitóide. Um dos projetos envolve o sistema soja, o percevejo marrom Euschistus heros e o seu inimigo natural, o parasitóide de ovos Telenomus podisi (Figura 6). Estudos vêm demonstrando que os voláteis liberados pela soja quando danificada pelo percevejo atraem o inimigo natural Telenomus podisi agindo, desta forma, como um sinomônio. Isto abre a perspectiva par o deenvolvimento de novas ferramentas para o controle de insetos praga bem como para manipular o comportamento de insetos benéficos com o intuito de minimizar o uso de agrotóxicos e melhorar a qualidade dos alimentos. Como resultado desses trabalhos a Embrapa registrou patente conjunta no INPI para a utilização do feromônio no campo. A continuação do desenvolvimento da tecnologia exige a formação de parcerias com a iniciativa privada para a síntese e formulação desses compostos. A partir da disponibilidade de um produto sintético e formulado serão desenvolvidas as atividades de pesquisa abaixo descritas para o desenvolvimento tecnológico final do feromônio para o monitoramento de percevejos pragas da soja. Etapas para o desenvolvimento tecnológico final: 1)obter o registro especial temporário (RET) para realização de testes de campo; 2)finalizar o desenvolvimento de um modelo de armadilha; 3) validar as dosagens já determinadas; 4) testar o raio de ação do feromônio e o espaçamento entre armadilhas; 5) determinar locais de insta-

Figura 3 - Membros do complexo de percevejos-praga da soja. Da esquerda para a direita: Euschistus heros, Piezodorus guildinii e Nezara viridula.

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Figura 4 - Componentes da mistura feromonal de Euschistus heros. a) 2,6,10 Trimetiltridecanoato de metila b) 2,6,10 Trimetildodecanoato de metila, c) (2Z, 4E) Decadienoato de metila.

Figura 5 - Comparação do monitoramento de percevejos-praga entre armadilhas iscadas com feromônios e o pano-de-batida.

lação das armadilhas na cultura; 6)calibrar as coletas realizadas nas armadilhas com feromônio em relação às densidades populacionais nas áreas; 7) comparar a produtividade e qualidade do grão em áreas manejadas com o uso de feromônio e através dos métodos convencionais de amostragem de percevejos; 8)controle de qualidade do feromônio para fins de registro.

USO, CUSTOS, PRAZOS E PARCERIAS O desenvolvimento de produtos a base destes compostos abre uma nova perspectiva para o agronegócio da soja: 1) os semioquímicos sintéticos são patenteáveis; 2) torna os produtos brasileiros mais competitivos para exportação; 3) beneficia diretamente o consumidor (alimentos mais saudáveis) e o meio-ambiente. Podemos ter uma idéia do custo da utilização de semioquímicos comparado a inseticidas avaliando um produto já disponível no mercado brasileiro para a cultura do milho e algodão, o “Bio Spodoptera”, para o monitoramento da praga Spodoptera frugiperda e comercializado pela Bio Controle©. Esse produto é utilizado para monitoramento da praga sendo recomen14

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dado 1 unidade para 10ha. Se tomarmos o custo atual de R$ 6,80 por unidade liberadora de feromônio, teremos o custo R$ 0,68/ha. Se trabalharmos com uma área hipotética de 100 ha de cultura ao custo de R$ 20,00/ha a aplicação de inseticidas, na hipótese de que o monitoramento por feromônio possa contribuir para a redução de uma aplicação de inseticidas, então o agricultor economiza no mínimo R$ 2.000,00 da aplicação que seria feita

desnecessáriamente. No Brasil, mesmo com os avanços na área de ecologia química e em particular no estudo de feromônios, existe ainda poucos produtos a base de semioquímicos utilizados na agricultura. Esta é uma situação que precisa ser revertida se pretendemos ter uma agricultura competitiva e dotada dos mais recentes avanços tecnológicos. No pais há pessoal capacitado e tecnologia para efetuar a identificação, síntese e formulação de semioquímicos em instituições como EMBRAPA, UNICAMP, UFSCar, UFSM, entre outras. Em geral o prazo para o desenvolvi-

PERDAS CAUSADAS POR INVASORAS E INSETOS

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Brasil é o segundo maior produtor e exportador mundial de soja, participando com 18% da produção mundial e 19% do total exportado. A área plantada de soja no Brasil no ano agrícola de 2002/2003 foi de 18,5 milhões de hectares, com previsão de crescimento em torno de 12,2% para o ano de 2003/2004. Atualmente as principais plantações de soja estão nos estados do sul, centro-oeste, e em alguns locais do norte e nordeste com produção de apro-

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ximadamente 58 milhões de toneladas de grãos. No entanto, apesar de toda a tecnologia utilizada na moderna agricultura, algo em torno de 37,0% do total da produção é perdida a cada ano devido a insetos (13,0%), patógenos (12,0%) e as plantas invasoras (12,0%). O que origina, somente em termos de perdas em grãos, prejuízos da ordem de 37 milhões de toneladas por ano, considerando a produção de mais de100 milhões de toneladas de grãos em 2002.

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USO DE FEROMÔNIOS NO MUNDO

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comercialização de feromônios e atrativos alimentares no mundo corresponde a 30% do mercado de produtos biológicos e é provavelmente o terceiro em importância depois de inseticidas bacterianos e botânicos. Na atualidade os feromônios são utilizados intensivamente em culturas como algodão, fruteiras, citrus, entre outras, cobrindo uma área de mais de 1,5 milhões de hectares. Hoje o mercado potencial da indústria de feromônios, no mundo, apenas para as técnicas de monitoramento e captura massal, está estimado em mais

Figura 6 - Parasitóide de ovos de percevejos, o inimigo natural Telenomus podisi.

mento e aplicação de semioquímicos para uma espécie de praga é de no mínimo três anos, principalmente para testar o produto no campo por mais de um ciclo reprodutivo da espécie alvo. O surgimento, nos últimos anos de algumas empresas e a comercialização de alguns produtos é um sinal positivo, mas ain-

de 80 milhões de dólares, com uma distribuição mais ou menos eqüitativa, um terço deste valor para a América do Norte (Canadá, México e EUA); um terço para Europa, Norte da África e Oriente Médio; e outro terço para a Ásia, Leste Europeu, América do Sul, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Estimativas sobre o mercado de feromônios indicam que para o ano 2010 estes produtos gerarão um mercado de aproximadamente U$S 7 bilhões anuais, o que representará 20% do mercado de substâncias químicas utilizadas na agricultura.

da constitui uma resposta morna para o potencial destes produtos. C Miguel Borges, Maria Carolina Blassioli Moraes e Raul Laumann, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia


Sorteio

Trator entregue

O

govemador do Paraná, Roberto Requião, entregou o trator ValtraBM 110 a Celso Itiro Saiki, vencedor da promoção Assinaturas Premiadas, do Grupo Cultivar. A. cerimônia aContec ceu no dia 1.1 de fevereiro, no estande da Valtra, no Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR). Presentes também o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli, o diretor do Grupo Cultivar, Newton Peter, e o gerente de marketing da Valtra, Paulo Beraldi. Celso Saiki. cultiva sua propriedade de 40 hectares em Piraju, interiordeSão Paulo, com pimenta malagueta, kinkan, abóbora e maracujá. Assinou as revistas Cultivar Hortaliças e Frutas e Cultivar Máquihas após conhecê-las na Tramaton, revendedor New Holland, onde negociava a compra de um trator - que não aconteceu. A notícia de que havia sido o contemplado surpreendeu Celso. "Nem acreditei no que estava acontecendo. Logo eu, quenunca tive sorte em nenhum sorteio em todaminha vida."

Neto de japoneses, Celso vive com seu pai Joaquim e sua mãe Tereza no interior de Piraju. Ele, sua irmã, que vive na cidade, e seu irmão, que mora no Japão, são a terceira geração de uma família de japoneses que chegaram à região na década de 40 e, por muitos anos, tiveram o algodão e o café como base da produção no sítio da família. Não bastassem as dificuldades comuns dos produtores pequenos, a crise do café, em 1985, obrigou a família Saiki a abandonar o cafezal e recorrer a outras

cuIturas que fossem mais rentáveis. A busca por novidades sempre esteve bastantepresenie na trajetória de Celso. Mesmo trabalhando no sítio desde menino, aos 30 anos fui para o Japão onde trabalhou por dois anos na indústria automobilistica e, no seu retorno ao Brasil, optoupor percorrer as estradas brasileiras, fretando cargas de produtos eletrônicos. Hoje, certo de que o sitio é o seu lugar, investe em maquinário e tecnologias novas para tomar seus produtos mais competitivos. Os cerca de 15 hectares cultivados com pimenta, kinkan, abóbora e maracujá são irrigados comgotejamento e boa parte do processo de tratamento e adubação é feita através defertirrigação. Nos cinco hectares cultivados com maracujá, Celso colhe aproximadamente 30 toneladaspor ano, em duas safras, e confessa que os custos de produção ainda são altos se comparados com o preço do produto final. "O preço pago ao produtor, em tomo de R$ 0,90 centavos, é muito distapte do preço final que o consumidor paga quando compra a fruta no mercado", comenta. Subtraídos os custos com defensivos, fertilizantes, embalagens e mão-deobra, O lucro não passa de R$0,40 centavos por quilo. Mesmo assim, ele está ampliando a área plantada e pretende tecnificar ainda maís aprodução como furma de agregar mais valor ao produto. A produção de pimenta malagueta, pi. menta dedo-de-moça e kinkan, embora abranja uma área bem menor, também. é bastante iecnificada e está sendo ampliada. Um dos principais desanospara ele é manter a plantaC ção sâdia e livre de insetos.

“Nem acreditei no que estava acontecendo” comenta Celso Saiki, ganhador do Valtra BM 110

FOI À NEW HOLLAND, ASSINOU CULTIVAR E GANHOU UM VALTRA Pensando adquirir mais um trator, Celso Saiki levantou-se numa manhã de novembro do ano passado e dirigiu-se à Tramaton, concessionária New Holland para a região de Piraju. Embora não tenha fechado negócio, não saiu de mãos abanando: levou consigo um cupom de assinaturas que estava dentro de um exemplar da revista Cultivar Máquinas, a qual teve a oportunidade de conhecer na concessio¬nária onde assinou as revistas Máquinas e HF. Dois meses depois, antes mesmo de receber o segundo exemplar de sua assinatura. ganhou um Valtra BM I 10.

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Cultivar

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Nos 40 ha de seu sítio, o produtor investe em tecnologia para se tornar mais competitivo

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AENDA

Defensivos Genéricos

Produzir ou importar C

om a economia desalinhada do restante do mundo nos níacros e fundamentais parâmetros como juros do capital e carga tributária, o Brasil às vezes se atrapalha no rumo de suas atividades produtivas. Devemos ser auto¬suficientes em trigo ou importar todo o trigo porque lá fora, em algum país, é produzido mais barato? No caso dos defensivos agrícolas chamounos a atenção o pedido que o Ministério da Agricultura protocolou na CAMEX em janeiro. Certamente, pressionado por correntes representativas dos agricultores, apresentou uma proposta para reduzir a alíquota de importação para zero (atualmente é 14%) dos produtos formulados à base de 2,4-d, mcpa, atrazina, alaclor, diuron, ametrina, glifosato, imazaquim e lactofen. O conjunto desses produtos representa cerca de 50% da quantidade de todos os defensivos agrícolas usados no país, sendo que o glifosato sozinho abrange quase 70% do grupo. Entretanto grande parte deste conjunto é composta por produtos de múltipla oferta, ou seja, são considerados genéricos e com preços já achatados pela própria concorrência ao longo dos anos. O que os agricultores vão ganhar importando produtos formulados genéricos? Talvez, alguns trocados, quando a origem for a ultracompetitiva China, em razão de seus custos consideravelmente menores que os

brasileiros Uuros, impostos, taxas, salários, etc.). Atentar para o fato do glifosato, por ora, ficar de fora dessa possível medida pois continuará proibitivo trazer da China (antidumping de 38,5%). O que o país vai perder? Com certeza, sucateamento de fábricas, de fornecedores e dos serviços que co-existem na órbita delas, perda de empregos e perda do esforço desenvolvimentista e tecnológico acumulado. Nunca é demais lembrar que até a década de 90 pouco importávamos de produtos formulados. Hoje, por conta justamente do continuado alto custo Brasil e diminuição não seletiva das alíquotas de importação disparada pelo governo Collor as empresas aqui instaladas já substituíram parte das suas produções internas por importações de suas matrizes ou subsidiárias mais competitivas, um ajuste de mercado em resposta a uma decisão governamental. Segundo o SINDAG, em 1998 o Brasil importava US$ 284 milhões de produtos formulado, em 2003 já atingiu a marca dos US$ 486 milhões. Enquanto a conjuntura econômica for tão díspar, o país deve manter mecanismos

de defesa de sua base industrial, agrícola ou de serviços. Esse tipo de situação deve ser tratado de forma coordenada por vários ministérios, pois existem limites mínimos de preservação da capacidade nacional para que os conhecimentos produtivos adquiridos não se dissipem pelo ralo da conjuntura momentânea e o imediatismo dos gestores. Desta forma, os novos produtos lançados na década de 80 continuam ofertados de maneira exclusiva, mantendo os preços altos e continuando inacessíveis por boa parte dos agricultores. Aí sim, reside uma chave importante para diminuição dos custos da utilização desses insumos na agricultura. Veja na tabela o caso do lactofen. Na verdade, a medida correta para aumentar a concorrência entre os defensivos agrícolas foi tomada no início de 2002, com a edição do Decreto 4074 que instituiu o registro de produtos pela equivalência química. Estamos em fevereiro de 2004 e o regime da equivalência continua travado, nenhum registro. Com esse mecanismo funcionando, os estrangeiros virão para cá, pressionando os preços, formulando aqui e gerando empregos. C

Vejamos na tabela três casos entre esses produtos, com base nos valores da moeda de 2002, em Reais (valores arredondados): 1989 Glifosato (48%) 51,00/l Imazaquim (16,1%) 83,00/l xxxxxx Lactofen (24%)

1993 1997 2002 Comentários 27,00/l 13,00/l 9,43/l Queda provocada pelo constante aumento da ocorrência. 55,00/l 42,00/l 50,00/l Reflexo da concorrência, embora menor que no caso do glifosato. 53,00/l 47,00/l 62,00/l Pouca ocorrência.


Fotos H. Negri

Nossa capa

Cada vez mais terríveis No decorrer dos anos, diferentes insetos têm assumido o posto de pragaschave, aumentando os danos às culturas. Sistemas de plantio, cultivos sucessívos da mesma cultura, uso indiscriminado de agroquímicos podem ser os principais fatores para o aumento de insetos-praga

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Cultivar

abertos) e da diminuição do número de plantas/cova para controlar a ferrugem, fizeram com que o bicho-mineiro (Leumptera coffeella) se tomasse a praga mais importante, além do aumento populacional de cigarras, moscada-raiz, ácaro-da-leprose (transmitindo a mancha anular) e cigarrinhas (veiculando a bacté-

ria XylRlla). Lagartas têm aparecido devido a desequilíbrios biológicos quando produtos químicos são aplicados indiscriminadamente. Portanto, diferentes condições climáticas podem determinar o aparecimento de novas pragas, mais adaptadas às novas condições. Considerando-se a extensão territorial

Unesp

C

om o aumento da importância do Agronegócio para o Brasil e da necessidade do aumento da produção agrícola, novas fronteiras e tecnologias têm sido exploradas, propiciando assim condições climáticas favoráveis para surgimento de novas pragas. Assim, na década de 70, a soja era plantada apenas no Rio Grande do Sul, existindo apenas uma espécie de percevejo-praga, ou seja, Nez.ara viridula, típica de zonas temperadas. Porém, com a expansão da área de soja para o Paraná, Brasil Central, Nordeste etc., surgiram outras espécies de percevejos, como Piewdorus guildinii, Euschistus heras, tão ou mais importantes que a primeira delas; outros gêneros de percevejos têm surgido em outras áreas, como Dichelaps, Edessa, Neamegalotomus, entre outros. Quando o café era restrito a São Paulo e Paraná, conduzido em espaçamentos fechados, o grande problema era a broca-do-café (Hypothenemus hampei). Posteriormente, com o aparecimento da ferrugem do cafeeiro em 1970, o café migrou para outras regiões como Espírito Santo, Minas Gerais, etc. Estas mudanças de regiões, aliadas às alterações de espaçamento (plantio em renque, cafezais mais

Nakano mostra como o inseto atua e a hora certa de controlá-lo

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Fotos H. Negri

variedades. Atendendo à demanda ambiental, novas técnicas de cultivo vêm sendo utilizadas. O plantio direto, uma realidade no Brasil com mais de 17 milhões de ha, altera totalmente o microclima em termos de regime de água de solo, estrutura e temperatura do solo, disponibilidade de nutrientes, compactação do solo etc. Desta forma, com a exploração desta técnica, elasmo (Elasmopalpus lignosellus) que épraga de áreas secas, de solos arenosos e de cerrado, perdeu a importância, mas surgiram outras pragas como os corós (Coleoptera: Scarabaeidae), bicudoou tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), cascudo (Myochraus armatus), torrãozinho (Aracanthus nwurei) para a soja. Portanto, são as condições edáficas favorecendo ou desfavorecendo estágios de pragas que vivem no solo. O próprio tipo de solo pode favorecer o desenvolvimento de novas pragas. Em Santa Catarina, em solos escuros, ricos em matéria orgânica, Diabrotica speciosa é muito mais importante para o milho, destruindo raízes, pois as fêmeas preferem colocar ovos nestes locais. E até o aumento das populações de percevejos-castanhos (Scaptocoris castanea e Attirsocoris brachiariae) poderia estar relacionado a estas novas técnicas de cultivo, bem como à ocupação de novas áreas (anteriormente ocupadas por pastagens, por exemplo).

COMUNIDADE DA CULTURA doBrasil e conseqüente diversidade climática, o aumento da área agrícola leva à variação da entomofauna para a mesma cultura e, às vezes, variação na época de ocorrência dentro da cultura. Por exemplo, pragas do algodoeiro que para São Paulo ocorrem no final do ciclo, em Mato Grosso do Sul são comuns no início do plantio. A procura de novas fronteiras agrícolas leva à necessidade de novas variedades adaptadas às diferentes condições ambientais e tecnológicas. Foi o que aconteceu com o algodoeiro: no passado usavam-se apenas as variedades de algodoeiro IAG Com a expansão da cultura do algodoeiro para o Centro-Oeste, foram importadas variedades americanas que passaram a ser melhoradas para a região. No entanto, o problema de pulgões se intensificou, com a transmissão da doença chamada "azulão" (mosaico das nervuras de Ribeirão Bonito), para estas novas variedades, demandando maciças aplicações de produtos químicos. E a lagarta-do-cartucho do milho (Spodaptera frugiperda) também passou a ser importante, atacando intensamente flores e maçãs, destruindo folhas e perfurando as hastes do algodoeiro. Este exemplo poderá ser aplicável a outras culturas, com a introdução de novas

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A continuidade da cultura na área como ocorre com a cultura do milho (safra de verão, safrinha e cultivo de inverno em algumas regiões), permite que a praga continue na área, não havendo necessidade de procura de novos hospedeiros e aumentando a sua população no local. Assim, hoje S. frugiperda é muito mais importante para o milho do que no passado, ocorrendo problemas de resistência a agroquímicos, e modificando o seu hábito, cortando plantas no início da cultura, como se fosse lagarta rosca, atacando folhas e cartuchos e sendo, em muitas áreas, mais importante do que a lagartada-espiga do milho (Helicoverpa zea), atacando intensamente a espiga. As rotações de culturas preconizadas nos novos sistemas, alteram a entomofauna. Assim, S. frugiperda pode migrar, em altas populações, para o algodoeiro se tal cultura estiver próxima de áreas de milho e encontrando variedades suscetíveis, conforme comentado anteriormente, causam grandes danos, que é o que está ocorrendo atualmente. Em áreas de plantio direto, Dichelaps spp. permanecem sob a palha após a soja e atacam o milho, sugando a base da planta, provocando sintomas de murchamento e secamento. Chegam a causar prejuízos de até 29% na produção de milho.

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Nakano mostra como o inseto atua e a hora certa de controlá-lo

IRRIGACÃO As nov_s técnicas de irrigação via "pivot" central favoreceram algumas pragas que têm preferência por umidade, como lagartas roscas ou mesmo a mosca-da-espiga (Euxesta spp.), que é importante para o milho doce. Em cana-de-açúcar, a proibição da queimada, alterou o microclima da cultura e hoje, nas áreas de cana crua, a cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata), que não tinha importância na cana colhida após a queimada, chega a causar perdas da ordem de 11 % na produtividade agrícola do Estado de São Paulo, com redução de 1,5% em açúcar. A entrada de novas pragas pode também ocorrer. Embora tenhamos melhorado nosso sistema de quarentena nos últimos anos, pragas exóticas têm entrado no país, como o bi-

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H. Negri

cudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) na década de 80, o minador-dos-citros (Phyllocnistis citrella) em 1996 e mais recentemente, em 2003, diversas pragas de florestas, como o psilídeo de "concha", para citar apenas alguns exemplos. A ocorrência de biótipos, como Bemisia tabaci biótipo B, que é muito mais importante que B. tabaci registrada desde a década de 70 como praga em feijoeiro. O novo biótipo tem sido mais relevante por transmitir também viroses no feijoeiro (mosaico dourado) e provocar o amadurecimento irregular de frutos do tomateiro, prateamento das fulhas da abóbora (cucurbitáceas), talo branco em brócolis e fumagina intensa em diversas culturas (soja, algodoeiro etc). Outros aspectos como a nutrição das plantas, ou a utilização de micronutrientes via fuliar, poderão contribue para o aumento ou diminuição de pragas. E sabido, por exemplo, que o ácaro rajado (Tetranychus urticae) ocorre mais em solos ricos em nitrogênio. Esta relação nutrição X pragas é pouco estudada no Brasil, mas poderá ser de grande importância na ocorrência de pragas, existindo teorias como a da trofobiose que tentam explicar a ocorrência de pragas relacionada com a nutrição da planta. Todos estes fatores (desequilíbrios biológicos, novas áreas de plantio com novas variedades, condições climáticas e edáficas variáveis, novas técnicas de cultivo, introdução de novas pragas, rotação de culturas, nutrição das plantas etc.) têm contribuído para o aumento de pragas ou alteração das pragas convencionais. Portanto, as alterações do meio ambiente provocadas pelo homem com a expansão de fronteiras e desenvolvimento de novas tecnologias de produção têm sido uma das principais razões para o aumento dos problemas de pragas no Brasil. Sem dúvi-

Percevejo Dichelops spp.: danos consideráveis nas culturas de milho e trigo em áreas de plantio direto em alternância com soja

da, o planejamento do sistema de produção de culturas em uma determinada região é o passo cmcial para a implementação de estratégias efetivas de manejo de pragas. No entanto, parece que este princípio básico para uma Agricultura Sustentável não está sendo obedecido no Brasil. Por exemplo, a monocultura em grandes escalas (como soja e cana-de-açúcar) e a continuidade de culturas em uma área (como milho e algodão safrinha) têm causado profundas alterações na dinâmica populacional de pragas. Com isso, percevejos da soja têm causado sérios danos nas culturas de trigo, algodão e milho; a lagarta-da-maçã do algodoeiro (Heliothis virescens) tem atacado vagens de soja com maior freqüência; a lagarta-do-cartucho do milho (S. frugiperda) tornou-se uma das principais pragas do algodoeiro etc. Com a presença constante de determinadas pragas devido à expansão de épocas de cultivo, o uso de agroquímicos tem sido bastante elevado, aumentando assim os casos de resistência de insetos e ácaros. Dentro deste contexto, as estratégias de manejo de resis-

tência aos agroquímicos devem fazer parte integrante dos programas de controle de pragas, além da implementação efetiva de táticas de controle não químicas. Portanto, qualquer alteração no sistema de produção de culturas deve ser considerada com bastante cautela para evitar o aparecimento de novas pragas ou mesmo de alterações genéticas ou fisiológicas de pragas já existentes. Com a possibilidade de introdução de plantas geneticamente modificadas que são resistentes a algumas pragas no Brasil, esta nova tecnologia também deve ser utilizada com os mesmos cuidados de outras medidas de controle em sistemas de produção. Como em qualquer outra tática de controle, devem ser realizados estudos relacionados à evolução da resistência de pragas para as plantas geneticamente modificadas, bem como a avaliação do seu possível impacto sobre os organismos não-alvos, microbiota do solo etc. C José R.P. Parra e Celso Omoto, ESALQ/USP

AS PRGAS E O USO DE AGROQUÍMICOS

A

té o aparecimento dos inseticidas or ga nossintéticos no final da década de 30 do século passado. os insetos eram controlados de forma empírica ou. na mílioria das vezes. mantidos em equilíbrio pela ação de agentes de mortalidade biótica. ou seja. seus inimigos naturais (parasitóides. predadores e patógenos). Com o aparecimento dos inseticidas clorados. e posteriormente de outros grupos (ciclodienos. fosforados e carbamatos) pensou-se que todos os problemas de pragas poderiam ser resolvidos com os inseticidas "modernos". Assim. eles passaram a ser aplicados indiscriminadamente. prejudicando o homem e o ambiente. No período compreendido entre a descoberta

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Cultivar

das propriedades inseticidas do DDr em 1939 e a década de 60. considerado por muitos como a "fase negra do controle de pragas". começaram a aparecer os desequilíbrios biológicos. ou seja. a aplicação de agroquímicos que não eram seletivos. e que matavam além das pragas. seus inimigos naturais. fazendo com que muitas pragas. após o seu controle, livres de seus agentes de mortalidade biótica. reaparecessem com muito mais intensidade. no fenômeno conhecido como ressurgência. Até insetos sem grande importância. considerados secundários tornaramse primários. pois livres de seus inimigos naturais, aumentavam a sua população e passavam. muitas vezes. à condição de pragas chaves. Com a evolução da resistência de pragas a alguns agroquímicos. a si-

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tuação se tornou ainda mais crítica devido a aplicações mais freqüentes destes produtos com o uso de doses cada vez mais elevadas para o controle de pragas. Embora com a conscientização da sociedade. iniciada com o famoso livro "Primavera Silenciosa" de Rachei Carson em 1962, chamando a atenção de forma contundente para os problemas ambientais ocasionados pelo uso indiscriminado de agroquímicos. ainda hoje o problema de desequilíbrios biológicos continua. É evidente que. atualmente, com a atenção voltada para uma Agricultura Sustentável. exigem-se agroquímicos seletivos e de menor impacto ao meio ambiente. Mas nem sempre esta conscientização existe.

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Fotos Fernanado Warpechowski

Soja

Nutrição equilibrada

Redução de custos no processo de produção e expectativa de ganhos da rentabilidade da cultura são os principais argumentos levantados para justificar o grande número de lavouras com plantio de soja transgênica

Para se obter alta produtividade na cultura do arroz, o segredo é manter um equilíbrio de micro e macroelementos disponíveis no solo, de forma que a planta consiga absorver todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento

A

s médias de produtividades na cultura do arroz entre 5.000 a 6.000kglha, hoje conseguidas, deverão ter um aumento gradual nos próximos anos, para se conseguir médias de 10.000 kg/ha. Além de variedades novas e um manejo ideal do solo e da água, a adubação deverá aumentar de uma forma gradual e equilibrada, em termos de macroelementos (Nitrogênio, Fósforo, Potássio, Cálcio, Magnésio e Enxofre). O aumento simplesmente na quantidade de adubação de base, passando de 200kg para quantidades maiores como 300, 400kg ou mais, e o aumento de N em cobertura não são o suficiente; precisa-se equilibrar o uso desses macroelementos entre si, conforme a análise do solo. Com o aumento dessa quantidade de adubação, necessita-se se deter também nos microelementos como Zinco, Boro, Cobre, Silício, Molibdênio, Cobalto e Sódio, que são também essenciais para o desenvolvimento da cultura. Sabe-se que com o aumento de fósforo na adubação induz-se deficiência não competitiva de Zinco, que é essencial na síntese de auxina (AIA), causando conseqüentemente, retardamento da emergência, atraso no arranque inicial e desenvolvimento,

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Cultivar

deste modo dificultando o controle de ervas daninhas e atrasando a entrada de água na lavoura. Com o aumento do Potássio se reduz por inibição competitiva o Mg, que é essencial na formação da clorofila e funciona como o carregador de fósforo. Essa redução, na atividade fotossintética e na utilização de fósforo, vai fazer com que a planta fique mais fraca de energia, ocasionando uma baixa eficiência na assimilação do Nitrogênio - a planta gasta 25% de energia produzida para assimilar o nitrogênio necessário. Para se equilibrar, nesse caso, deve-se usar Mg, ou seja, quantidades moderadas de calcário dolomítico com fonte de Mg. Com o aumento do nitrogênio amoniacal, aplicado em cobertura para

obter-se maiores produtividades, tem-se ater ao nível de Potássio disponível para a planta no solo, para não ter problemas com acamamento, suscetibilidade de doenças, como bruzone, helmintosporiose, etc. A quantidade de nutrientes removidos do solo, por uma colheita, varia de cultivar para cultivar e com a produção obtida. A quantidade exportada depende também do destino que é dado à palhada, pois cerca de 80% do potássio e 75% do cálcio encontram-se nela. Fenando-se ou pastoreando-se é possível aumentar substancialmente a exportação destes macros, como também dos micros Zn, Cu e Mo que estão na palha; e desta maneira se empobrece significativamente o solo.

O QUE O ARROZ EXTRAI DO SOLO

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ara produzir uma tonelada de arroz irrigado são extraídos 20kg de Nitrogê nio, 4,5kg de Fósforo, 34kg de Potássio, 5,3kg de Cálcio, 3,2kg de Magnésio, I 13g de Zinco, 32g de Cobre, 718g de Manganes e 788g de Ferro, em média, mas exportado via grão 11, 17kg de Nitrogênio, 2,7 4kg de Fósforo, 2,38kg de Potássio, 0,31 kg de Cálcio, I, 12kg de Magnésio, 24,5g Zinco, 25,6g de Cobre, 41, 7g de Manganes e 160g de Ferro, em media, para uma produtividade de 5.500kg/ha.

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Fernando Warpechowski explica a maneira correta de trabalhar a nutrição de plantas com macro e micronutrientes

Lavouras para sementes: plantas mal nutridas resultam em sementes podres que por sua vez se refletem na emergência e desenvolvimento

Nas áreas que têm integrada a pecuária, devem ter maior cuidado na reposição dos nutrientes. Para se obter maior produtividade deve-se fazer uma correção dos níveis de macros no solo, adubando de uma forma equilibrada, tendo como parâmetros a exportação real dos grãos produzidos e o destino dos restos culturais. O uso de microelementos como o Zn, B, Cu, etc., torna-se Inecessário devido as inibições causadas pelo aumento da adubação com macroelementos. Adicionandose ao tratamento de sementes ou via foliar, são alternativas práticas de aplicação de microelementos, pois não é a falta do elemento no solo e sim sua disponibilidade que afeta a sua deficiência. A semente armazena além dos elementos orgânicos, carboidratos, proteínas etc, macro e microelementos no endosperma, para serem utilizados no processo germinativo (desenvolvimento do embrião em radícula e coleóptilo). Se na lavoura destinada à semente a planta sofreu falta de microelementos, conseqüentemente as sementes serão pobres, refletindo assim no processo de emergência e desenvolvimento inicial da lavoura em que estas sementes forem plantadas, "Planta mãe fraca, sementes pobres". Até hoje a produção da semente temse caracterizado pela qualidade genética, presença de grão de vermelho ou preto e poder germinativo, esta é basicamente a diferença da produção de grão e semente. Mas não se tem observado o enriquecimento da planta mãe na lavoura de sementes.

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Então existe a necessidade de se enriquecer as sementes com microelementos. A alternativa de se aplicar microelementos via foliar na lavoura de sementes e após aplicar os micros via semente nas lavouras, torna-se necessário para atingir-se maiores produtividades. A síntese de hormônios é essencial para o desenvolvimento de todas as culturas, e no arroz a produSão de auxina é de fundamental importância, pois esta promove a biossíntese da giberelina e a formação de raízes laterais e adventícias e ainda regula o desenvolvimento das gemas florais e dos grãos. Se houver deficiência de Zinco na fase inicial, não haverá a produção de auxina satisfatoriamente, em conseqüência a planta crescerá pouco, formará poucas

Uso de microelementos é necessário devido às inibições causadas pelo aumento da adubação com macroelementos

raízes, não produzirá giberelina para elongação da parte aérea, atrasando e reduzindo o desenvolvimento da planta e dos grãos. Para se atingir altas produtividades se deve trabalhar com equilíbrio de adubação, sementes enriquecidas de ótima qualidade e manejo correto do solo e da água. Sempre sabendo que planta bem nutrida se faz com adubação equilibrada, tanto de C macro como de microelementos. Fernando Daniel Warpechowski, Engenheiro Agrônomo

A produção de oxina promove a biosíntese da giberelina e a formação de raízes laterais e adventícias

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Milho

Safrinha bem adu Apesar de ser uma cultura com elevado potencial produtivo, o milho requer uma adubação rigorosamente planejada com critérios específicos de manejo

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área estimada de plantio de mi lho na safra 2003/2004 é de 12.536.568 ha (FNP_2001). Desse total 3.313.086 ha (26%) compõem achamada segunda safra ou "safrinha". O milho "safrinha" é semeado entre os meses de Janeiro e Abril, sem irrigação, como opção de cultura para o outono - inverno. Nessa época, o potencial de produtividade é menor e há maiores riscos em virtude de pouca disponibilidade de água e baixa tem¬peratura. Assim, recomenda-se o plantio do milho safrinha em solos de boa fertilidade que exigem menores investimentos.

RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO Condições de Correçõo de Solo Uma vez que não há tempo para a correção do solo com calcário, o que deve ser feito antes da cultura de verão, recomendase o cultivo em solos (V ? 50%), O subsolo deve também apresentar condições químicas propicias, como teores de cálcio acima de 0,5 cmol.dm -3 ou 5,0 mmolc.dm-3, bem como baixa saturação por alumínio, o que pode ser conseguido pelo emprego de gesso agrícola, prática esta realizada após a calagem e com doses baseadas na textura do solo. Essas duas práticas corretivas vão propiciar maior desenvolvimen-

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Cultivar

to radicular, e conseqüentemente maior absorção de água e nutrientes e, principalmente, maior resistência à seca, fator este fundamental para obtenção de boas produtividades, principalmente do milho safrinha. Adubação Nitrogenada A adubação nitrogenada é função da produtividade e do histórico da área. Na adubação de plantio aplicar cerca de 20 a 30 kg.ha-1 de N. O restante em cobertu-

ra na faixa de 20 a 40 kg.ha-1 para solos arenosos em rotação com gramíneas e produtividade esperada de 3 a 6 t.ha-1 respectivamente e de 10 a 20 kg.ha-1 para milho após soja ou outra leguminosa de verão para as produtividades já citadas, no estádio de 4 a 6 folhas totalmente desenvolvidas (no máximo 30 dias após a germinação). Adubação Fosfatada Aplicar fósforo no sulco de plantio de

COMO ESTÁ O SAFRINHA?

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produção de milho no Brasil concentra-se nos estados do Sul. Sudeste e Centro-Oeste, sendo o Paraná o estado com maior área plantada e maior produção, seguido por Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Goiás. Analisando a produtividade média do Brasil. 2.500 t.ha', aproximadamente 42 sacas. observa-se que a mesma esta muito aquém do potencial produtivo atingido pela pesquisa ou por bons produtores. por volta de 10 t.ha-' (16 7sc) (VITTI & FAVARIN. 1997). Dentre os fatores de produtividade, o manejo químico do solo associado a fatores climáticos são ainda os que mais limitam a produtividade dessa cultuJa. O milho (Zea Mays L.) possui elevado potencial produtivo e uma forte interação ambienta!. Por essa razão, necessita ser rigorosamente planejado e criteriosamente manejado, objetivando a manifestação plena de sua capacidade produtiva.

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ubada

até 6.000 kg.ha1 de grãos) e 40 kg.ha-1 S (para produtividades maiores). Porém como esse gesso é aplicado em cobertura à lanço no pré-plantio as doses podem ser aumentadas para 500 kg.ha-l (75 kg.ha-l de S) para viabilidade operacional. Esta dose é suficiente, no mínimo para duas safras agrícolas. Micronutrientes Os micronutrientes podem ser fornecidos através de três vias: semente, solo e folha, sendo estes o principal gargalo para aumento da produtividade. A tendência de resposta a micro se dá principalmente em solos sob plantio direto (alta M.o.), com pH corrigido, elevados níveis de P e altas produtividades. O boro deve ser aplicado preferencialmente via solo em doses de 0,7 a 1,Okg.ha1 de B localizado no sulco de plantio e pre-

Tabela 1 - Recomendação de adubação fosfatada para plantio de milho safrinha P - Mehlich Dose P - resina Dose (mg.dm3) P2O5, kg.ha-1 (mg.dm-3) P2O5, kg.ha-1 < 2,0 < 2,0 7 - 15 < 2,0 2,1 - 4,5 2,1 - 4,5 16 - 40 2,1 - 4,5 4,6 - 11,0 4,6 - 11,0 > 40 4,6 - 11,0 Fonte: COAMO, 2001 (modificado) DUARTE et al., 1996 (modificado)

Tabela 2 - Recomendação de adubação potassica para plantio de milho safrinha Mehlich Dose Resina Dose (cmolc.dm3) K2O, kg.ha-1 (mmolc.dm-3) K2O, kg.ha-1 < 0,10 30 0,8 - 1,5 45 1,6 - 3,0 35 0,11 - 0,30 20 > 3,0 15 Fonte: COAMO, 2001 (modificado) DUARTE et al., 1996 (modificado) OBS: cmolc.dm-3 = 10 mmolc.dm-3

acordo com os teores do mesmo no solo, sendo que para a produção do milho safrinha, os mesmos já devem estar na faixa de teores médio a altos. Assim em função do extrator utilizado (P - resina ou P - Mehlich) recomenda-se as quantidades de P2Os apresentadas na Tabela 1. Deve-se utilizar preferencialmente fontes de P2Os contendo enxofre e micronutrientes (B, Mn, Cu, e Zn) na base. Adubação Potassica Utilizar no sulco de plantio doses máximas de K2O de 50 kg.ha-1, e em função dos teores de K no solo conforme a Tabela 2. Adubação com Enxofre As necessidades de fornecimento de S poderão ser satisfeitas desde que seja fornecido pelo menos uma vez no programa regular de adubação, como fonte de N (sulfato de amônio = 24% de S), ou de PPs (superfosfato simples = 12% de S, ou mul¬tifosfato magnesiano = 4,2 a 8,0% de S ou termofosfato magnesiano = 4,0 a 6,0% de S). No caso em que nenhum dos adubos utilizados contenham enxofre, podese empregar o gesso agrícola (15 a 16%S) em doses correspondentes ao fornecimento de 20 kg.ha.1 S (para produtividades de

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ferencialmente na forma de ulexita (borato de sódio e cálcio, com 10% de B). Esse nutriente é fundamental para o aumento do sistema radicular e formação do tubo polínico, e conseqüentemente maior florescimento e pagamento dos grãos. Aplicar zinco no sulco de plantio, principalmente nos primeiros anos de plantio direto, em dosagens de 3kg.ha-1 (solos arenosos) a 5 kg.ha1 (solos argilosos), na forma de oxi-sulfato e preferencialmente agregado a uma fonte de P2O5. Quando o solo atingir níveis adequados desse elemento, aplica-lo via foliar associado a fontes de Mn e Cu, nos estádios V 4 e V8 (4 e 8 folhas totalmente desenvolvidas, respectivamente). Também é interessante a aplicação de Zn via semente junto a produtos fitossanitários, por proporcionar uniformidade da cultura, em doses de cerca de 90 a 100 g.ha1 de Zn. A utilização de Mn via foliar é um fato para essa cultura, associado principalmente ao Zn e ao Cu em solos com altos teores de mat'éria orgânica. Assim recomenda-se o fornecimento de cerca de 150g de Mn e de Zn (na forma de quelatos) a 300g (na forma de sais) no estádio V4 ou em duas aplicáções (meia dose em V4 e meia dose em V8). Quanto ao cobre, pelo fato de ser íon metálico com maior facilidade em formar complexos estáveis com a matéria orgânica (Cu+2 > Fe+2 > C;0+2 > Zn+2 > Mn+2), em áreas antigas de plantio direto, com elevado teor de matéria orgânica e/ou zinco no solo, deve-se redobrar o cuidado com a falta de cobre, suprindo as necessidades, neste caso, com aplicação foliar. LOMAN F.o et al (2001), observaram resposta positiva a aplicação de Cu via foliar sobre a produção de grãos em cultura de milho cultivada em solos de várzeas.

CONSÍDERACÕES FINAIS A cultura do milho apresenta potencial genético para altas produtividades em regiões tropicais, principalmente pelas condições climáticas (luz, temperatura e precipitação pluvial), sendo a fertilidade do solo o fator limitante. Para a construção e manutenção da fertilidade do solo, estabelecer as seguintes etapas do manejo químico: a) Amostragem e análise química e fisica do solo, nas camadas superficiais e subsuperficiais; b) Práticas corretivas como calagem, gessagêm, fosfatagem (solos arenosos) e se for o caso, potassagem (solos argilosos); c) Adubação no sulco de plantio com doses de N na faixa de 30 a 45 kg.ha-1, as-

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Fertilidade do solo limitante para a cultura do milho desenvolver seu potencial genético

sociados a doses máximas de 50 kg.ha-l de K2O, abaixo (8 a lOcm) e ao lado (5cm) da semente, bem como a adubação de P2O5, e micronutrientes, principalmente o boro; d) Adubação de N em cobertura no estádio V4 e até V6 na implantação e estabelecimento do plantio direto; f) Adubação de K2O em pré-plantio em solos argilosos ou em cobertura, no estádio V4, em solos arenosos; g) Adubação foliar, principalmente com Mn no estádio V4 e se necessário repeti-la

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no estádio V8, podendo estar associado a doses menores de Zn e Cu, elementos de alta reatividade no solo; h)Monitoramento com análise foliar, utilizando o método DRIS para a interpretação; i) Analisar e avaliar o sistema de rotação e de culturas de espera, principalmente e,m termos de adubação nitrogenada. Godofredo C. Vitti e Renato Nogueira R. Alves Filho, ESALQ/USP. Piracicaba - SP

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Milho

Avanço da cercospora Espalhada por todo o Brasil, a cercospora já provocou perdas de até 90% em algumas lavouras e, embora o controle químico seja eficiente, o uso de cultivares resistentes ainda é a solução mais indicada Cultivar

A

mancha de cercospora, conhecida como gray leaf spot, e também denominada cercosporiose, começou a causar problemas à cultura em nosso pais na safra 1999/2000, quando ocorreu uma epidemia severa na região Centro-Sul brasileira. Anteriormente, era considerada doença secundária naquela região, mas a partir dessa data disseminou-se rapidamente para outros estados do país. Naquele ano agrícola provocou perdas de 10% a 90% no sudoeste de Goiás (Rio Verde, Jataí, Caiapônia, Montividiu e Mineiros) e no noroeste de Minas Gerais (Paracatu). Foi relatada pela primeira vez no Estado de São Paulo na safra 2000/2001, aonde vêm sendo observados danos à produtividade ao redor de 20 a 30% em algumas regiões. Há também relatos de sua ocorrência no Paraná, em Santa Catarina, no Distrito Federal, na Bahia, em Mato Grosso do Sul, no Maranhão e Piauí.

DA DOENÇA Restos de cultura de milho infectado, na superfície do solo, são a mais importante fonte de inóculo de C. zea-maydis dentro de um campo. Esse fungo, assim como vários outros patógenos fúngicos foliares do milho, é um competidor fraco no solo e pode sobreviver nele apenas durante o período em que os restos de milho contaminados estão presentes. O patógeno sobrevive como tecido estromático nos restos culturais de milho e sob condições favoráveis de umidade e temperatura, o estroma produz esporos que são disseminados pelo vento ou respingos de chuva, atingindo as plantas de milho e levando à formação de lesões. Apesar do período para o início da produção de esporos nas lesões ser relativamente longo, variando, em geral, de 2 a 4 semanas, em função do cultivar e das condições climáticas, as lesões têm potencial para esporular abundantemente. Estes esporos podem ser levados em grande quantidade para outras folhas ou plantas dentro da mesma cultura. O vento também pode carregá-Ias a longas distâncias, disseminando-os para regiões afastadas do ponto inicial da epidemia. Até o presente, não está comprovada a transmissão do patógeno pelas sementes e também não foi relatado nenhum outro hos-

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SINTOMAS DA DOENÇA

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s primeiros sintomas da cercos poriose iniciam-se como pequenas manchas irregulares com halo clorótico que gradualmente se alongam. As lesões maduras medem, em média, 2 a 4 mm de largura por I a 6 cm de comprimento, e apresentam os bordos paralelos. A aparência retangular, característica das lesões, conferida pelos bordos paralelos, é devida à incapacidade do patógeno de penetrar os tecidos esclerenquimatosos das nervuras secundárias da folha, as quais limitam seu crescimento em largura. A lesões apresen-

pedeiro alternativo para este patógeno além do milho.

CONDICÕES PREDLSPONENTES O desenvolvimento da cercosporiose é grandemente favorecido por elevada umidade relativa (normalmente acima de 90%), dada pela presença de orvalho e de neblina em dias consecutivos, ou por períodos prolongados de chuvas, que propiciem dias nublados, associados à temperatura mode-

tam coloração palha a verde-oliva e, posteriormente, sob elevada umidade, sua superfície inferior torna-se coberta por esporos, de cor acinzentada, daí o nome de gray leaf spot. As lesões mais velhas apresentam-se opacas, quando observadas contra a luz, devido à formação de um tecido estromático (micélio escuro e endurecido) produzido pelo fungo dentro das cavidades subestomáticas da folha. A doença em geral começa a ocorrer, assim como a maioria das manchas foliares do milho, a partir do estádio de 8 fo-

lhas da planta, iniciando-se pelas folhas baixeiras. Os sintomas podem variar com os híbridos utilizados, e também aparecer na bainha da folha e na palha da espiga. Em materiais suscetíveis, as lesões podem coalescer formando grandes áreas de tecido foliar necrosado. Plantas severamente infectadas tornam-se mais predispostas às podridões de colmo e podem resultar, no fim do ciclo da cultura, em elevada porcentagem de quebramento dos colmos.

rada à alta, entre 22°C e 30°C. Tais condições são mais freqüentes nas regiões com altitudes superiores a 600 metros ou que apresentem noites frias, levando à formação de orvalho que contribua para manter umidade elevada nas folhas por longos períodos de tempo diários. A elevada umidade favorece a germinação e penetração dos esporos do fungo na planta. Por outro lado, a liberação dos esporos das lesões no ar apresenta seu pico no iní-

cio da tarde, quando ocorre elevação da temperatura, queda na umidade relativa e secamento das folhas. Sob condições ddfavoráveis, a doença paralisa seu desenvolvimento, o qual é retomado rapidamente assim que o ambiente volte a ser favorável. Também foi observado que a severidade da doença aumenta com maiores níveis de adubação com nitrogênio, fósforo e potássio.

C


A doença tem sido mais severa nos plantios de novembro em diante, nas condições do Estado de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Bahia e Mato Grosso do Sul. Em levantamento realizado pelo Instituto Biológico (IB), Instituto Agronômico (IAC) e Pólos Regionais da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) juntamente com a CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) em ensaios regionais no Estado de São Paulo, estudou-se a evolução da distribuição e severidade da mancha de Cercospora ao longo dos últimos 3 anos, durante os quais a doença vem ocorrendo no estado. Observou-se que esta surgiu na safra 1999/2000 iniciando-se pela região norte (Figura l.a.), mais próxima do foco inicial da doença no centro-oeste do país. Na safrinha subseqüente, foi severa naquela região (Figura 1b.), quando grande porcentagem dos cultivares plantados no estado ainda apresentavam elevada suscetibilidade à doença e já no ano seguinte atingiu todo o estado (Figura 1c.), passando a se estabelecer no vale do Paranapanema e, principalmente na região sul, onde, pela maior umidade, o clima tem sido mais favorável ao desenvolvimento de epidemias da doença (Figuras 1.d., 1.e. e 1.f.). E iinportante ressaltar que o aumento da severidade da cercosporiose em várias partes do mundo vem sendo associado com o cultivo contínuo de milho suscetível, aliado ao plantio direto, o que pode propiciar presença do hospedeiro vivo durante praticamente o ano todo, e de restos culturais, onde o fungo tem sua principal fonte

de sobrevivência na ausência da cultura.

CONTROLE O manejo da mancha de Cercospora resume-se, basicamente, no uso de híbridos resistentes, rotação de culturas ou preparo do solo e, se necessário, uso de fungicidas. Nos locais onde o clima é bastante propício ao desenvolvimento da doença, a atenção deve ser redobrada na utilização de medidas integradas para o manejo da doença. A principal medida de controle da cercosporiose é obtida pela semeadura de cultivares mais resistentes, que expressem, principalmente, número e tamanho de lesões menores, levando à menor esporulação e disseminação do patógeno. Pequenas diferenças entre híbridos quanto ao número e tamanho de lesões contribuem para diferenças significativas e muitas vezes grandes quanto à severidade da doença na cultura. Por outro lado, alguns materiais podem apresentar maior tolerância à doença, isto é, pode não existir alta correlação entre maior severidade dos sintomas e seu efeito na diminuição do rendimento das plantas. E recomendado utilizar mais de um híbrido na lavoura, para diversificar genes de resistência, de forma a não favorecer a multiplicação de isolados do patógeno mais adaptados aos genes de resistência de um único cultivar. Informações sobre resistência de cultivares podem ser obtidas através de consulta aos órgãos de pesquisa estaduais ou regionais, às empresas de sementes e também pela observação de materiais nos quais

ETIOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS ESPÉCIES DO PATÓGENO

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cercosporiose pode ser causada por duas espécies de fungos do gênero Cercospora: Cercospora zeaemaydis e Cercospora sorghif. sp. Maydis. Cercospora zeae-maydis tem sido observada com maior freqüência praticamente em todas as regiões produtoras de milho do centro-sul brasileiro. sendo que a maior parte das lesões é atribuída a essa espécie, indicando ser a mais eficiente na infecção e colonização do hospedeiro. No entanto. C sorghif. sp. maydi5também tem sido observada. principalmente na Região Centro-Oeste. C zeae-maydis pode ainda ser separado em dois grupos. denominados I e 11,

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Figura 1

que são duas espécies realcionadas. as quais embora sejam taxonomicamente idênticas e produzam os mesmos sintomas em plantas. com severidade semelhante. são geneticamente distintas. Como os isolados dentro de cada grupo são relativamente uniformes geneticamente. o potencial para existência ou emergência de raças do patógeno é pequeno. Há, no entanto. diferenças de agressividade dos isolados, em ambos os grupos, o que pode ocasionar diferenças na severidade de sintomas apresentados pelos genótipos de milho quando cultivados em diferentes locais. além de dificultar estudos de melhoramento para resistência a esta doença

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que se verificou maior resistência em safras anteriores na região. Estratégias de manejo que visem reduzir o nível de inóculo durante os primeiros ciclos de infecção do patógeno na cultura são também meios bastante efetivos de reduzir a severidade da cercosporiose. Desta forma, outra medida muito importante, que deve estar associada à resistência, é a rotação de culturas propriamente dita (plantio da mesma cultura e na mesma área, após pelo menos dois anos), para evitar proximidade da cultura nova com os restos de cultura contaminados. Inúmeros estudos mostram que um ano apenas de rotação de culturas pode reduzir significativamente o inóculo do patógeno em uma área, contribuindo para a redução nos níveis de doença, embora haja evidências de que uma pequena porcentagem do fungo possa sobreviver por dois anos ou mais. Redução mais elevada

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Gisele Fantin

do inóculo pode ser alcançada através de enterrio dos restos de cultura, realizado através de uma aração profunda. . Sabe-se, por outro lado, que pela eficiente disseminação dos esporos do patógeno a longas distâncias, a interrupção doplantio direto pode não surtir os efeitos desejados, podendo ser eficiente somente quando realizada em regiões extensas. Um outro recurso para o controle da cercosporiose, com o intuito de complementar as medidas anteriores, quando ocorrer clima muito favorável ao desenvolvimento da doença em regiões de alto risco, seria o uso de fungicidas. Embora haja alguns fungicidas triazóis e estrobilurinas registrados para pulverização da parte aérea do milho, com a finalidade de controlar várias outras doenças foliares, ainda não há produtos registrados para o controle dessa doença no Brasil. Embora determinados fungicidas protetores proporcionem controle aceitável, resultados mais consistentes têm sido obtidos com produtos sistêmicos, principalmente dos grupos dos benzimidazóis, triazóis e/ou estrobilurinas. Quanto à época de aplicação dos produtos, há consenso entre as pesquisas evidenciando que aplicações ao início do surgimento dos sintomas resultam em maior retorno financeiro. Há também necessidade de manter a doença em níveis baixos durante o desenvolvimento da cultura, podendo, para isso, ser necessário realizar mais de uma aplicação do produto. Como há a possibilidade de o patógeno desenvolver resistência aos fungicidas,

Uso de diferentes híbridos de cultivares resistentes, com intuito de diversificar genes de resistência, é a forma de evitar doença

se utilizados em larga escala, é importante a prática de manejo integrado da doença para minimizar a necessidade do controle químico. Imp&rtante lembrar ainda que o benefício econômico de controlar doenças com fungicidas em áreas de produção de grãos é, entretanto, marginal, exceto em áreas de alto risco, aonde vêm sendo observados significativos danos à produtividade em anos subseqüentes. C Gisele Maria Fantin, Instituto Biológico - Campinas-SP

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Agronegócios

Bioprocessamento Processos biotecnológicos se mostram cada vez mais presentes e são encarados como um dos maiores diferenciais competitivos da sociedade no aproveitamento da biomassa

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uas notícias recentes chamaram-me a atenção. Uma referia-se à produção de bioplásticos, a partir de óleos vegetais, com a dupla vantagem de serem biodegradáveis e com menor custo industrial. A segunda remetia à entrada em operação de uma planta industrial de ácido polilático de dextrose de milho fermentada, com posterior polimerização catalítica. O novo produto substitui derivados de petróleo em embalagens, garrafas plásticas, PET, celofane, derivados de polietileno, entre outros. Examinadas do ângulo dos negócios atuais, as duas notícias perdem-se entre outras mais importantes. Porém, do ponto de vista estratégico, como opúsculo de um iceberg futuro, ambas merecem muita reflexão, pelo impacto que terão na agropecuária deste século.

VETORES Dez entre dez estrategistas internaci¬ onais apontam a biotecnologia como o paradigma científico do século XXI, tal qual a química e a física alavancaram o progresso do século XX. Como em toda a revolução de usos e costumes, a saída de cena de um modelo dominante e a ocupação do espaço por um novo arquétipo, é acompanhada de turbulências, contestações e inseguranças. Este é um comportamento típico de seres humanos (e de outros animais também), que preferem transitar em um terreno que conhecem e dominam a enfrentar o desconhecido, o que implica em novos desafios. E quem está com seu negócio estabelecido vai lutar com unhas e dentes para evitar mudanças de paradigmas, que nivelem os competidores. Analisando a História da Humanidade, entendo que evoluímos movidos por três grandes forças: necessidade, comodidade e ambição. A necessidade de proteger-se do frio levou o homem pré-histórico a esfolar animais para vestir-se com sua

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pele. A ambição por ternos de grife tornou Giorgio Armani um milionário. A necessidade de comunicação criou os hieróglifos. A comodidade induz os cientistas a introduzirem, quotidianamente, novas ferramentas na Internet.

PROGRESSO E RISCO O progresso é lastreado em inovações científicas. Porém, em toda a inovação, existe o risco de efeitos colaterais não desejados. Assim, alimentos são nutritivos e essenciais à sobrevivência. Porém podem conter principios tóxicos, como as aflotoxinas, provocar o acúmulo de LDL-colesterol no organismo, favorecendo acidentes cardio-vasculares ou conter alergênicos. Por este motivo, a sociedade exige dos cientistas a caracterização dos riscos de saúde associados aos alimentos, mesmo os tradicionais. Fruto desta pressão social, os novos avanços científicos, embora mais revolucionários, complexos e excitantes no imaginário popular, tendem a ser mais seguros. Quando a sociedade conscientizou-se ex-post do perigo associado ao lixo atômico ou aos agrotóxicos, forçou a implementação da análise de risco. Trata-se de uma ferramenta que avalia exante os riscos imanentes ao uso de qualquer inovação, suportada por embasamento científico inquestionável à luz do conhecimento atual e das dúvidas consideradas razoáveis. Dessa forma, torna-se transparente para a sociedade o custolbenefício de novos produtos ou tecnologias, com delimitação precisa dos riscos associados ao seu uso. Há um evidente contraste com tecnologias desenvolvidas há 50 anos, quando as técnicas de avaliação eram mais rudimentares e a pressão social pela caracterização dos perigos e a transparência na sua comunicação eram incipientes. Isso posto, há um consenso entre os cientistas de que produtos derivados da biotecnolo-

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gia têm menor probabilidade de embutirem riscos de efeitos adversos não detectáveis.

QUALIDADE DE VIDA A química e a indústria farmacêutica sempre andaram de mãos dadas, como a física e a tecnologia da informação são indissociáveis. As aplicações da biotecnologia apontam para uma estreita associação entre inovação e qualidade de vida, no futuro próximo. A biotecnologia estará fortemente associada com outras ciências, sobretudo a química e a física. Como exemplo desta convergência pode-se citar o uso energético do etanol, novas variedades de plantas ou raças de animais, biomateriais e biofármacos como realidades presentes. Já os bio-sensores, os bio-computadores e aplicações nanotecnológicas estão na bancada dos cientistas e vão revolucionar a sociedade da próxima década. À guiza de exemplo, refira-se que, no momento menos de 2% dos veículos são movidos a etanol e menos de 10% das matérias primas da indústria química provêem da biomassa. Uma estimativa conservadora do Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA informa que, em 2020, 10% dos combustíveis líquidos e 25% dos produtos de química orgânica serão provenientes de biomassa. Cada vez mais será encurtado o tempo entre a descoberta científica básica e a incorporação de uma nova utilidade pela sociedade. No século XIX, uma inovação tecnológica que envolvesse quebra de paradigmas, demorava 50-60 anos para ser aceita pela sociedade. Em meados do século XX, esse interstício reduziu-se para 30 anos. No século XXI o interregno reduzirse-á, progressivamente, dos 10 anos atuais para o limite em que as linhas de montagem estarão conectadas aos laboratórios para disponibilizar inovações no mesmo ano de sua descoberta.

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MUDANCA INEVITÁVEL Assim como faltará petróleo para mover os carros, sua escassez obrigará a busca de um sucedâneo para a indústria química. Esta é uma revolução silenciosa, que jácomeçou na micro-escala. Seu fulcro é o uso da biomassa para fornecer os átomos de carbono, oxigênio, hidrogênio, enxofre ou nitrogênio quando o petróleo tornar-se caro e, paulatinamente, suas reservas se extinguirem. O rearranjo atômico para, a partir de moléculas naturais, produzir matérias primas para gerar uma utilidade social, pode ser efetuado pela via da química industrial ou do bioprocessamento. Esta última técnica ainda está em seu alvorecer, porém as perspectivas são otimistas, prevendo tanto a especialização de animais e plantas para produção de fármacos e outras moléculas essenciais, bioplásticos ou similares, como a transformação posterior de qualquer molécula orgânica (ácidos graxos, carboidratos, proteínas, etc.) através de microrganismos especializados, usando técnicas de biocatálise, fermentação ou processamento enzimático.

BIOMASSA E BIOTECNOLOGIA Esta mudança na base industrial é possível através da fermentação, que produz enzimas, aminoácidos, antibióticos, vita¬minas, álcoois, etc. O que conferirá Março de 2004

maior eficiência aos processos fermentativos (que é uma aplicação biotecnológica) será a melhoria dos microrganismos intervenientes, via de regra por processos de transgênese. Atualmente, o valor da produção mundial de fermentados é de US$5 bilhões, crescendo 8% ao ano. Estudos indicam que esta taxa deve saltar para 15% ao ano ao longo da década, superando 25% na segunda década deste século. Os produtos industriais baseados em óleos transformaram-se em um mercado vigoroso, amparados em catalisadores e outros processos de engenharia química. Com a paulatina incorporação de processos biotecnológicos, os limites deste, mercado serão largamente expandidos. E possível aprimorar as oleaginosas, alterando sua fração lipídica, concentrando na produção de óleos de maior interesse, saturando ou dessaturando ligações ou modificando a proporção de isômeros. E possível interferir nos processos metabólicos das plantas, ativando ou desativando genes, introduzindo novos genes que codificam para enzimas ou outras substâncias que tornem o processo mais eficiente. No processamento existe outro campo inesgotável de aplicação da biotecnologia, que permite ganhos de escala e de eficiência, substituindo as plantas industriais, com enormes ganhos econômicos, sociais e ambientais.

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TRAÇANDO O FUTURO O investimento em C & T na engenharia de bioprocessamento será um dos maiores diferenciais competitivos do mundo de nossos filhos e netos. Uma vez tornadas obsoletas, as atuais plantas petroquímicas contribuirão marginalmente para a formação de riqueza do porvir. As Nações que dominarem as técnicas de aproveitamento da biomassa para a produção de utilidades requeri das no dia a dia da sociedade, serão as potências econômicas do século. Obviamente, tanto os governos dos países que lideram a economia mundial, como as corporações, isoladamente, dispõem desta visão de futuro e já migram seus investimentos para posicionar-se, adequadamente, no novo perfil de negócios. Essa visão de futuro incorpora três componentes comuns: o reconhecimento de que a biotecnologia será uma fonte quase inesgotável de inovações; o entendimento de que o custo de produtos derivados da biotecnologia cairá dramaticamente com a melhoria dos processos e o ganho de escala; e a necessidade de desenvolver processos seguros ao Homem e C ao ambiente. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Abastecimento mundial de grãos apertado favorece o Brasil O mercado mundial dos grãos, há muitos anos, não passava por momentos de aperto como está vivendo atualmente e pelo visto não irá mudar nos próximos dois ou três anos, e com isso, o Brasil tenderá a ser beneficiado com o quadro. A demanda deste ano irá acima das 1,9 bilhões de T, enquanto a nova estimativa do USDA de produção está apontando que a safra será de 1,82 bilhões de T. Assim seguiremos com um quadro complicado de estoques, que mostra queda livre há pelo menos três anos e não deverá mudar em 2005, quando nova queda deverá ser sentida. Todos os grandes grãos estão com a produção menor que a demanda e os estoques em queda, dando assim suporte para o crescimento das cotações ou pelo menos a manutenção destas em patamares altos. Neste momento é muito bom para os produtores do Brasil que estão entrando no pico da colheita, pois novamente veremos crescer a safra do Arroz e da Soja. Somente o Milho vem com indicativos de queda, mas está exportando a maior parte dos volumes excedentes do ano passado. Os principais países produtores de grãos do mundo não têm áreas agrícolas novas que possam ser usadas para crescer a produção e com isso deverão continuar abrindo espaços para o Brasil que avançou sobre as fronteiras agrícolas do Centro e Norte, e otimiza a utilização das terras no Sul e no Sudeste.

MILHO Safra em colheita e mercado sem fôlego O mercado do milho está em ritmo de colheita de uma boa safra e com isso o fôlego para os indicativos de preços praticados aos produtores é nulo, e segue mais na linha da baixa do que tentar alguma correção positiva. Com isso seguimos sem mostrar chances de reação no curto prazo, porque deveremos colher algo ao redor das 32 milhões de T nesta primeira safra, que mesmo sendo menor que as 35,5 colhidas no ano passado, ainda temos grandes volumes de produto em estoqúê, que fora.m retidos pelos produtores na expectativa de alta. A exportação segue com uma boa alternativa de liquidez para enxugar estes excedentes e assim beneficiar o setor no segundo semestre quando deveremos ter um quadro ajustado e boa demanda principalmente pelo setor das carnes, que tende a ser um dos grandes destaques nas exportações brasileiras deste ano. Os produtores estão plantando a safrinha, mas com certo desestímulo devido às cotações do momento. Podem ter uma surpresa na colheita, porque o mercado tende a ser apertado no segundo semestre e aí, poderá haver arrependimento por ter deixado de investir e ganhar em produtividade. SOJA Fretes diminuem margem dos produtores O mercado da soja no Brasil estará de agora em diante sendo forçado para baixo em função dos custos dos fretes que nestes próximos 60 a 90 dias tendem a ficar aquecidos devido à maior procura que oferta e assim trazendo reflexos aos preços praticados junto aos produtores. O .mercado internacional da soja segue com grande pressão de compra, mas tem limitado as cotações do produto embarcado próxima da casa dos US$ 300,00 por T Assim mesmo, tendo crescimento nos .indicativos em Chicago, os reflexos não chegam até nós, porque os prêmios nos portos estão no lado negativo e assim limitam os valores prati¬cados internamente. As cotações da soja são muito boas e os indicativos atuais são altamente ren-

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táveis aos produtores, e po¬dem ter pressão de baixa nos próximos meses, quando tivermos o plantio dos EUA em andamento, onde se apontam chances de crescimento da área. FEIJÃO Março tem buraco na oferta O mercado do feijão passou o mês de fevereiro com um quadro de calmaria, mas com indicativos muito acima do que estavam sendo praticados em dezembro. Como estávamos em fase de colheita da safra de Minas Gerais, junto com produto do Paraná e Santa Catarina, os indicativos do Carioca estiveram entre os R$ 65,00 e R$ 80,00 e o Preto R$ 10,00 abaixo. Neste.Illês de marco não teremos colheita em nenhuma região importante e como o Nordeste (Irecê) teve o plantio concentrado em janeiro, as novas entradas devem vir a partir de abril, e assim neste mês deveremos ver pressão altista, com chances de R$ 20,00 a R$ 40,00 acima nos indicativos praticados.

ARROZ Crescem as ofertas O mercado do arroz está mostrando a colheita andando a todo o vapor em todo o país. Com isso, os produtores se movimentam em busca de alternativas políticas para conseguir segurar as cotações que, em fevereiro, sinalizavam para baixo e mostravam pressão de oferta maior que a demanda, com os indicativos trabalhados entre R$ 4,00 e R$ 6,00 abaixo do que estavam negociados em janeiro. O casca novo do Sul estava cotado nos R$ 35,00, e alguns compradores apontavam para baixo, e como os produtores têm que vender boa parte logo após a colheita, veremos os números irem ainda mais abaixo, podendo quebrar a barreira dos R$ 30,00. Estamos na safra e somente os produtores podem criar sustentação aos indicativos, ou seja, quando recuar muito deixar de vender, e assim criar patamares mínimos.

CURTAS E BOAS FRANGOS - o quadro geral mundial está caminhando para nos beneficiar no setor das carnes o que deveremos sentir no segundo semestre, quando normalmente crescem nossas exportações. Até mesmo no lado dos grãos teremos beneficios, porque as principais regiões afetadas pela Gripe dos frangos devem sofrer restrições de embarque não só da carne como de outros produtos agrícolas. ARGENTINA - o clima teve forte influência sobre esta safra, que mostra perdas no milho e na soja, e mesmo recebendo algumas chuvas em fevereiro, que melhoraram as condições das lavouras, não deverá colher mais do que 12,5 milhões de T de milho e 36 de soja. A safra passada do milho foi de 16 milhões de T e da soja de 36 milhões, mas apresentou grande cresciment!,) da área plantada com soja, e agora mostra queda na produtividade. ALGODAO - o quadro brasileiro mostra crescimento acima das expectativas, porque muitas áreas de milho safrinha que deveriam ter sido plantadas no MT em janeiro, receberam algodão e com as chuvas em abundância na região deverá trazer números maiores para a produção. Desta forma para o setor é recomendado que se negocie parte na exportação antecipadamente ou também internamente para não necessitar vender logo após a colheita. O quadro mundial segue tendo mais demanda que oferta e cotações médias altas para os próximos meses. TRIGO - o Brasil continuou embarcando bons volumes de Trigo em fevereiro e agora já se comenta que poderemos ir além da casa das 1,3 milhões de T exportadas desta safra, que colheu 5,5 milhões de T. É um sinal de aperto nos próximos meses, porque o produto impor¬tado está mais caro devido ao aumento da Cofins e também devido à safra mundial muito abaixo do consumo, que vem com produção de 548,3 milhões de T, e consumo de 585 milhões de T com forte queda nos estoques.

www.cultivar.inf.br

Março Maio de 2003 2004




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