Cultivar 60

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Cultivar Grandes Culturas • Ano V • Nº 60 • Abril 2004 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

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Foto Capa / Charles Echer

Sem efeito Bicho-mineiro-do-cafeeiro já produz enzimas capazes de quebrar as moléculas do inseticida de controle

10 Perigo às escondidas A lagarta-da-maçã desenvolve até três gerações no mesmo ciclo de cultivo, gerando perdas consideraveis

Nosso caderno

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Foto Capa / Dirceu Gassen

Manejo de transgênicos Conheça o primeiro trabalho científico sobre manejo de soja RR no Brasil; alerta para resistência

32 Escolha certa Saiba escolher a melhor variedade de trigo para cada região do Brasil, de acordo com suas características

NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:

3028.4013/3028.4015

Grupo •Cultivar de Publicações Ltda. ASSINATURAS: CGCMF : 02783227/0001-86 3028.4010/3028.4011 Insc. Est. •093/0309480 GERAL Rua Sete3028.4013 de Setembro 160 Pelotas –• RS 96015 – 300 REDAÇÃO: 3028.4002 / 3028.4003

www.grupocultivar.com • MARKETING:

Índice

REDAÇÃO • Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Revisão

Vandelci Ferreira

3028.4004 / 3028.4005 Diretor de Redação • FAX: 3028.4001 Schubert K. Peter

Diretas

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Resistência do bicho-mineiro em café

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Consultor Newton Peter OAB/RS 14.056

Lagarta-da-maçã do algodoeiro

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Pragas de inverno

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COMERCIAL

Clearfield - Sistema de produção de arroz 16

• Gerente Comercial

www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br

Principais pragas do milho

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00

Coluna Aenda

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Manejo de invasoras em soja RR

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Clima prejudica culturas

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(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 72,00 68,00

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Controle de ácaros

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• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Neri Ferreira • Assistentes de Vendas

Pedro Batistin

CIRCULAÇÃO • Gerente de Circulação

Cibele Oliveira da Costa

Broca da cana-de-açúcar

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Escolha de variedades de trigo

32

Cultivares de trigo para MG

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Por que produzir arroz orgânico

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Coluna jurídica

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Agronegócios

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• Impressão

Mercado agrícola

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Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

• Assinaturas

Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves


diretas Gehaka

Presença esperada Impulsionada pelas vendas de Domark, a Sipcam Agro marcou presença no III Congresso Brasileiro de Soja com a sua tradicional oferta de queijo aos visitantes.

Congresso Valdemício de Sousa

Meio-Norte O pesquisador Valdemício Ferreira de Sousa foi nomeado chefe-geral da Embrapa Meio-Norte. Sua especialidade é a área de irrigação e drenagem.

Estão abertas as inscrições para o XXV Congresso Nacional de Milho e Sorgo, que acontecerá de 29 de agosto a 02 de setembro no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá (MT). A data limite para o envio dos trabalhos é 14 de maio. O tema desta edição é “Da agricultura familiar ao agronegócio: tecnologia, competitividade e sustentabilidade”. Mais informações, (31) 3779-1086 ou www.abms.org.br.

Contra os fungos

Milton Suzuki

Aconteceu em março mais uma edição do Fungicida Tour, evento promovido pela Bayer CropScience para avaliar seus produtos e o desenvolvimento de doenças nas diferentes regiões do país. Milton Suzuki, coordenador de desenvolvimento técnico da empresa, manifesta sua satisfação com os já consagrados Folicur e Stratego. O novo Sphere promete bons resultados.

Flávio Moscardi

Sete Lagoas O pesquisador Ivan Cruz é o chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo. Agrônomo, Cruz trabalha na área de entomologia da unidade. A solenidade de posse ocorreu em 30 de março.

Hugh Grant

Cheminova

Sucesso

A Cheminova ergueu réplica de um barco viquingue no parque da Expodireto 2004. A empresa dinamarquesa encantou os visitantes com sua criação inusitada. Tatiane Neves e a Maxxyma comunicação e marketing, responsáveis pelo projeto, estão de parabéns.

Mattos e Tadashi

Mudanças na Basf

Alexandre Barioni

Jeferson Bressan, que respondia pelo marketing da região Sul na Basf, é o novo gerente comercial da empresa. A novidade se confirmou durante a abertura oficial da colheita do arroz. Durante o evento, o sistema Clearfield Arroz foi destaque.

Mudanças na Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O veterinário Nelmon Oliveira da Costa, anteriormente atuando na Delegacia Federal de Agricultura de São Paulo, foi nomeado para o cargo de diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), em substituição a Rui Vargas. O veterinário Jorge Caetano Júnior assume a direção do Departamento de Defesa Animal (DDA), ocupando a vaga de João Cavelléro.

ConBAP 2004 De 17 a 19 de maio será realizado pelo Departamento de Engenharia Rural da USP/Esalq, o ConBAP 2004, Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão. Informações pelo site: www.fealq.org.br/conbap

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O estande da AGCO no III Congresso Brasileiro de Soja recebeu muitos elogios por seu design arrojado e excelentes fotografias. Foi a única empresa de tratores e colheitadeiras presente no evento, o que demonstra mais uma vez a sua liderança. Figuras ilustres do agronegócio passaram por lá e foram recebidas por José Alexandre Barioni.

Ferrugem é o tema Uma das personalidades mais procuradas é o pesquisador José Tadashi Yorinori, da Embrapa Soja. Referência em manejo da ferrugem da soja, Tadashi, que aparece na foto ao lado de Antônio de Mattos, da Grazmec, deu uma série de consultas informais durante o III Congresso Brasileiro da Soja.

Novos diretores na SDA

Ivan Cruz

João Carlos Kurokawa

AGCO na frente

Melhor Companhia A Monsanto Company foi eleita a “Melhor Companhia Multinacional” no ranking do I International Business Award. Apelidado de Stevie, o prêmio é considerado o Oscar das empresas. Hugh Grant, presidente e CEO da empresa, manifestou grande satisfação com a conquista.

Com quase dois mil participantes, o III Congresso Mundial da Soja foi um exemplo da organização. Seu presidente, o pesquisador da Embrapa Soja Flávio Moscardi ficou bastante satisfeito.

A Gehaka apresentou, em grande estande no III Congresso Brasileiro de Soja, suas soluções para testes de transgênicos e medição de umidade. Esteve presente com a equipe o gerente nacional de vendas, João Carlos Kurokawa.

Jorge e Nelmon

Systhane vai bem A Dow AgroSciences comemora o excelente desempenho do Systhane no combate a ferrugem da soja. Durante o III Congresso Brasileiro de Soja, produtores elogiaram os resultados obtidos no combate a doença. Receberam os cumprimentos, os agrônomos Douglas Ribeiro, Álvaro Souza e toda a equipe da empresa.

Plantas Daninhas

Gaziero e Matallo

Com foco na segurança alimentar, o XXIV Congresso Brasileiro das Plantas Daninhas acontece de 24 a 28 de maio, em São Pedro (SP). O evento conta com grande divulgação. Na foto, o presidente do congresso, Marcus Barifouse Matallo (dir.), aparece com o pesquisador da Embrapa Soja Dionísio Gaziero, autoridade no manejo de soja transgênica.

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Douglas Ribeiro

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Café Fotos Raul Guedes

Sem efeito Por causa do mau uso de inseticidas, bicho-mineiro desenvolveu enzimas capazes de quebrar moléculas de inseticidas organofosforados

O

bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucoptera coffeella), que na sua fase jovem é uma pequena larva de coloração amarela-esverdeada, é uma praga bastante conhecida dos cafeicultores e, juntamente com a broca-do-café (Hypothenemus hampei), são as principais pragas da cultura do café. As larvas alimentam-se de tecidos (parênquima) das folhas, principalmente daquelas localizadas da parte superior e mediana da planta, deixando injúrias que tem forma de galerias ou minas, daí a razão do nome “bicho-mineiro-do-cafeeiro”. A conseqüência dessas injúrias tem um reflexo direto da produção de frutos, principalmente em regiões de clima quente e seco, como as regiões de cerrado, o que faz com que cafeicultores utilizem métodos de controle da praga. O método de controle mais usado para o controle do bicho-mineiro-do-cafeeiro é o químico e, durante as últimas décadas, a classe dos inseticidas organofosforados tem sido bastante usada para o controle dessa importante praga do cafeeiro.

O controle via foliar, visa basicamente à mortalidade das larvas no interior das minas presentes nas folhas do cafeeiro, embora os tratamentos possam acarretar também a morte de adultos. Por isso, são usados produtos com ação em profundidade, que atingem as larvas no interior das folhas. Os inseticidas organofosforados têm boa ação de profundidade, mas apresentam curto efeito residual (25 a 30 dias).

Normalmente são feitas duas a três aplicações de organofosforados, com intervalo de 30 a 40 dias para um controle eficiente do bichomineiro-do-cafeeiro. Porém, em regiões quentes como o Triângulo Mineiro, onde o ciclo de vida da praga é mais curto, esse intervalo pode cair, aumentando consideravelmente o número de aplicações. Na aplicação via solo, os compostos são

ORGANOFOSFORADOS NO CONTROLE O controle químico com organofosforados e outros grupos de inseticidas, normalmente é feito de forma curativa, realizado quando se constata um ataque em torno de 20% de folhas minadas. Em áreas problemáticas (p.ex., Triângulo Mineiro) o controle é realizado quando o ataque alcança 5% de minas com larvas vivas no terço superior da planta. As aplicações dos inseticidas podem ser feitas tanto via foliar quanto via solo.

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Figura 1. Curvas de concentração-mortalidade com larvas de bicho-mineiro-do-cafeeiro de três localidades diferentes ao inseticida etiom, mostrando que a dosagem para controlar os indivíduos da região de Araguari (resistente) é cerca de mil vezes maior que em relação aos de Viçosa (não-resistente).

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normalmente formulados em grânulos de pronto uso, sem diluição em água nem óleo. Os inseticidas granulados sistêmicos são enterrados sob a saia do cafeeiro por granuladeiras mecânicas ou matraca, no período de novembro a fevereiro, pois o uso desses produtos exige umidade no solo que garanta a sua absorção pela planta. Geralmente são feitas uma ou duas aplicações no intervalo de 60 a 90 dias. Decorrente do uso intensivo e exclusivo do controle químico, o bicho-mineiro-do-cafeeiro tem desenvolvido resistência a alguns compostos organofofosforados utilizados para o seu controle.

EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA A INSETICIDAS No campo, em uma infestação de bichomineiro-do-cafeeiro, naturalmente encontram-se larvas susceptíveis e resistentes a inseticidas. Porém, as larvas resistentes se encontram em pequeno número. Quando se faz uma aplicação de inseticida para controlar a praga, a maioria das larvas morre e apenas um pequeno número sobrevive. As larvas que sobreviveram, neste caso resistentes, vão se tornar adultas e se reproduzirão, aumentando o número de larvas resistentes na lavoura. Aplicações subseqüentes do mesmo produto ou de outro produto similar contribuirão para reduzir a freqüência das larvas susceptíveis e aumentar a das resistentes, chegando ao ponto extremo de termos nas plantações de café uma situação inversa a do início do controle da infestação, ou seja, apenas alguns indivíduos susceptíveis e a grande maioria resistente. As larvas de bicho-mineiro-do-cafeeiro resistentes usam de uma maneira mais eficiente enzimas do seu corpo para quebrar as moléculas de inseticidas, requerendo altas doses de inseticidas para causar-lhes mortalidade (Figura 1). Estudos a respeito da ocorrência, dispersão, mecanismos bioquímicos e a associação Tabela 1 - Mortalidade de larvas de bicho-mineirodo-cafeeiro (Leucoptera coffeella) pelas concentrações discriminatórias (CL99) de inseticidas estabelecidas para uma população-padrão de susceptibilidade. População

% mortalidade Clorpirifós Dissulfotom Etiom Paratiom-metílico Araguari 65,30* 7,14* 21,00* 10,20* Bambuí 95,00 17,52* 15,00* 14,00* Cambuquira 95,95 59,00* 87,00 100,00 Caparaó 95,95 90,00 98,00 95,95 Capelinha 95,95 81,00* 29,29* 90,00 Guiricema 100,00 20,20* 98,00 99,00 Patrocínio 92,90 55,10* 29,29* 76,76 Ponte Nova 100,00 98,00 98,00 99,00 São Grotardo 100,00 21,21* 47,47* 70,70* Simonésia 100,00 98,00 98,00 99,00 *Mortalidade indicativa da ocorrência de resistência pelo Teste Z a 95%de probabilidade.

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CONSEQÜÊNCIAS DO DESENVOLVIMENTO DA RESISTÊNCIA A INSETICIDAS

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m populações que desenvolveram resistência, ao se efetuar a aplicação de inseticidas usando a dose recomendada pelo fabricante, poderão ocorrer falhas de controle. As conseqüências disto são aplicações mais freqüentes de inseticidas pelos cafeicultores ou o aumento da dose do produto; uso de misturas na maioria das vezes sem a orientação técnica; e eventual substituição do inseticida, devido a sua perda de eficácia, por um novo produto freqüentemente mais caro. Esses fatores comprometem o programa de manejo integrado de pragas (MIP) em vista da maior concomo o uso de inseticidas em populações de bicho-mineiro-do-cafeeiro, mostraram que a maioria das populações estudadas apresenta resistência a alguns inseticidas organofosforados de uso mais antigo, como dissulfotom, etiom e paratiom-metílico, estando bastante crítico o problema em regiões sujeitas a intenso uso destes compostos como o Triângulo Mineiro (Tabela 1). O estudo preliminar de dispersão sugeriu que a migração de insetos resistentes de uma região a outra, embora perca em importância para a intensidade de uso local de inseticidas, é também relevante na evolução da resistência. Já com relação aos mecanismos bioquímicos, resultados baseados em estudos com sinergistas, compostos usados para evidenciar o envolvimento de enzimas destoxificadoras, sugere o envolvimento delas na resistência a organofosforados em populações de bicho-mineiro-do-cafeeiro em Minas Gerais.

ALTERNATIVAS DE MANEJO O programa de manejo da resistência é mais efetivo quando implementado de modo preventivo, ou seja, no início da evolução da resistência. Infelizmente, a maioria das pesquisas nesta área é iniciada somente após a constatação de falhas no controle e, no caso do bicho-mineiro-do-cafeeiro não é uma exceção. Para um diagnóstico inicial e monitoramento de populações resistentes, há necessidade de se realizar estudos laboratoriais para avaliar a suscetibilidade de populações da praga ao produto em questão, o que não é feito nas regiões de risco produtoras de café. Tratando-se do bicho-mineiro-do-cafeeiro, com exceção da Região da Zona da Mata Mineira, nas demais regiões produtoras de Minas Gerais os níveis de resistência já se en-

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taminação do meio ambiente com pesticidas, destruição de organismos benéficos (vespas predadoras, vespinhas parasitóides e bicho-lixeiro, entre outros) e elevação nos custos de controle da praga. Sabe-se também que a descoberta e o desenvolvimento de uma nova molécula química estão se tornando cada vez mais difíceis e caros, o que limita a substituição de inseticidas. Sendo assim, o manejo da resistência do bicho-mineiro-do-cafeeiro a inseticidas tem-se tornado uma importante necessidade dentro de um programa de manejo de pragas da cultura do café. contram relativamente altos, o que torna o manejo mais difícil. O uso de inseticidas e a migração de indivíduos resistentes são fatores primariamente importantes no manejo da resistência a inseticidas em populações de bicho-mineiro-do-cafeeiro. Portanto, considerando-se a relevância da dispersão, como medida principal para manejo é necessário reduzir temporariamente, em escala regional, o ritmo de uso de alguns inseticidas. A tomada de decisão de controle é um fator muito importante dentro do programa de manejo de praga, infelizmente, para a grande maioria dos cafeicultores essa ação é baseada em calendário de aplicações, não considerando os parâmetros populacionais da praga e de seus inimigos naturais. Portanto, se faz necessário também, o monitoramento do bicho-mineiro-do-cafeeiro e de seus inimigos naturais por meio de planos de amostragem (convencional ou seqüencial), o que dará suporte ao cafeicultor na hora de tomar a decisão da real necessidade de se aplicar um inseticida. Na amostragem convencional, o número de amostras é fixo, independentemente do nível de in-

Fragoso: “Agricultores erram no combate às pragas baseando-se em calendários de aplicação ao invés de parâmetros populacionais”

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Raul Guedes

Tabela 2 - 1/Plano de amostragem seqüencial para avaliar o número de folhas minadas por bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucoptera coffella). Número Amostras do terço médio e superior (10 folhas/planta) de Nº de folhas Limite Nº de folhas minadas Limite Nº de folhas plantas minadas menor que inferior situar entre LI e LS, superior minadas maior examinadas LI, não controlar (LI) continuar amostrando (LS) que LS, controlar 5 11 19 6 14 22 7 17 25 8 19 29 9 22 32 10 25 35 11 28 38 12 30 42 13 33 45 14 36 48 15 39 51 16 42 54 17 44 58 18 47 61 19 50 64 20 53 67 1/

Tabela adaptada de (Vieira Neto et al., 1999)

festação da praga, exigindo, normalmente, muito tempo para a tomada de decisão. Por exemplo, 50 plantas/talhão de 10 hectares. Já na amostragem seqüencial, o número requerido de amostras é variável. Para isto, o avaliador utiliza uma tabela (Tabela 2), contendo o número de plantas a ser examinado e os limites inferior (LI) e superior (LS), além de colunas a serem preenchidas durante a amostragem referentes aos números de folhas minadas encontrados. O cafeicultor deverá percorrer um talhão representativo da lavoura em ziguezague, iniciando a amostragem em cinco plantas e retirando amostras de 10 folhas/ planta, anotando o número acumulado de folhas minadas. Se o número de folhas minadas cair dentro do intervalho dos limites inferior (LI) e superior (LS) (coluna do meio dos intervalos) prossegue-se amostrando, porém se a infestação estiver abaixo do limite inferior (coluna à esquerda do LI) ou acima do limite superior (coluna à direita do LS), a decisão de controlar ou não é tomada, isso permite uma redução no tempo de amostragem, diminuindo o seu custo. Neste contexto, a orientação técnica sobre amostragem e momento da aplicação é de crucial importância. Uma nova ferramenta que está sendo implementada com esta finalidade é o método de monitoramento do bicho-mineiro-docafeeiro por meio do uso de feromônio sexual, que já foi sintetizado e está em fase de regulamentação para comercialização, tecnologia que poderá diminuir a intensidade de aplicação de inseticidas na lavoura. Armadilhas com feromônios (atrativos sexuais) são valiosas ferramentas para a detecção e o monitoramento de insetos. O emprego de feromônio permite detectar a presença da praga na lavoura, até mesmo em baixas densidades, avaliar a distribuição espacial da população no campo e caracterizar os picos populacionais, auxiliando o agricultor a direcionar as ações de controle. Este instrumento tem sido empregado com

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Aplicações subseqüentes de um mesmo produto ou similar aumentam o número de larvas resistêntes

sucesso no monitoramento de várias espécies de pragas no Brasil, um bom exemplo é o monitoramento e coleta massal do besouro da broca-da-cana (Migdolus fryanus) em lavouras de cana-de-açucar. Um outro aspecto muito importante é que, até a década de 40, a regulação das populações desse inseto ocorria por meio do controle biológico natural e técnicas culturais. Vários estudos têm revelado espécies de insetos que se alimentam das larvas do bicho-mineiro-do-cafeeiro como vespas predadoras, parasitóides e crisopídeos, entre outras. Cultivares resistentes ou tolerantes (pesquisa e práticas culturais por meio de redução do espaçamento e aumento da densidade de plantas também são medidas importantes, pois o microclima pode ser alterado, originando um ambiente úmido e sombreado que é desfavorável à proliferação do bicho mineiro. As principais cultivares recomendadas para o plantio adensado são: Catuaí, Rubi, Acaiá, Obatã, Iapar 59, Topázio, Tupi e Catucaí, entre outras.

A rotação de produtos é outro fator importante para retardar a evolução da resistência a inseticidas, por isso, se o agricultor opta por usar sempre os mesmos inseticidas, às vezes pertencentes a um único grupo, como por exemplo, o dos organofosforados, o bicho-mineiro-do-cafeeiro se tornará resistente a estes inseticidas mais rapidamente do que se fossem usados também produtos de outros grupos de forma rotacional (Figura 2). Os principais grupos de inseticidas usados para o controle do bicho-mineiro-do-cafeeiro são organofosforados, carbamatos, piretróides, misturas (organofosforados ou carbamatos + piretróides), derivados da nereistoxina (Cartap), acil-uréias e neonicotinóides, entre outros, o que torna possível a rotação de produtos, que deve ser feita sob orientação técnica de um engenheiro agrônomo ou especialista na área de toxicologia de inseticidas. O sucesso de um programa de manejo de resistência a inseticidas em bicho-mineiro-docafeeiro dependerá do esforço conjunto entre agricultores, indústrias químicas e pesquisadores e, principalmente, da realização de estudos em larga escala e por um período prolongado sobre monitoramento, mecanismos, evolução, dispersão da resistência a inseticidas, o que tornará possível a sua implementação mediante cooperação a nível regional entre os atores envolvidos para adoção das medidas mitigadoras e de regulamentação de uso de insetiC cidas na cultura do café. Daniel de Brito Fragoso, Unitins Agro Raul Narciso Carvalho Guedes, Universidade Federal de Viçosa

Figura 2. Esquema ilustrativo de rotação de inseticidas (A, B e C) que apresentam mecanismos de ação diferentes.

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Algodão

O perigo às escon Acompanhando o longo processo reprodutivo do algodão, a lagarta-da-maçã encontra no interior do capulho floral o local ideal para garantir até três gerações no mesmo ciclo de cultivo e causar prejuízos consideráveis

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mbora sendo uma praga polífa ga, o nome comum a ela referido “lagarta-da-maçã do algodoeiro” já é um indicativo do seu potencial como inseto-praga da cultura do algodoeiro. A lagarta-da-maçã do algodoeiro, Heliothis virescens (Lepidoptera: Noctuidae), demonstra na fase larval a habilidade de alimentar-se de uma ampla variedade de plantas cultivadas e selvagens, além dos hospedeiros preferidos, o fumo e o algodoeiro, sendo estas, culturas como o feijoeiro, a ervilha, a soja, o tomateiro, espécies de cucurbitáceas e de brássicas. As lagartas recém-eclodidas, alimentamse do tecido vegetal sendo este o período de maior susceptibilidade à ação de controle biológico ou químico. Ao se desenvolverem as lagartas migram para as estruturas reprodutivas (botão floral, flor, maçã), dependendo da disponibilidade dessas. Localizando uma maçã, passam a atacá-la tornando-se parcialmente protegidas pelas brácteas e totalmente protegidas no interior da maçã, o que as favorece em relação a fatores naturais e apli-

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cados de mortalidade. Sob temperaturas altas, comuns no verão Brasileiro, H. virescens completa a fase de lagarta de 12 a 15 dias e pode destruir ponteiros das plantas e folhas jovens, na ausência de frutificações e causar perdas significativas de botões florais e maçãs. Já os insetos adultos possuem atividade noturna e podem migrar a consideráveis distâncias entre lavouras. Medindo de 25 a 35 mm, requerem alimentação rica em energia, a qual é obtida de néctar produzido pelas plantas hospedeiras. Dado ao fato do algodoeiro possuir uma fenologia própria, com diferenciação de gemas em botões florais em forma de ziguezague (espiral no eixo vertical descendente da planta), o período de florescimento é prolongado. Este fato, associado as características do ciclo biológico do inseto e alto potencial reprodutivo das fêmeas, contribui para o aumento da capacidade causadora de injúria da praga, já que a lagarta-da-maçã pode passar por até três gerações em um mesmo

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ciclo de cultivo do algodoeiro. Essa situação pode ser ainda agravada pela natureza da injúria imposta, uma vez que a lagarta-damaçã constitui-se em uma praga direta, atacando as partes reprodutivas, o que mostra reflexo direto na produtividade a ser obtida. Além disso, a abertura de orifícios nas maçãs favorece a entrada de umidade, microorganismos e insetos saprófagos que contribuem para o apodrecimento de maçãs.

AMOSTRAGEM E NÍVEIS DE CONTROLE A amostragem para determinação da infestação nas lavouras de algodoeiro por H. virescens é realizada por caminhamento em ziguezague, observando-se a porcentagem de plantas infestadas por talhão homogêneo. Normalmente utiliza-se 100 pontos de amostragem ou plantas por talhão homogêneo (de até 10 ha), sendo recomendada a realização de duas amostragens por semana, no período do florescimento até a abertura do primeiro capulho, devido ao potencial de perdas provocadas pelas injúrias impostas pelas

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didas Fotos Jorge Torres

Lagarta se abriga no interior das maçãs, dificultando o controle, além de favorecer a entrada de outros microorganismos

pragas que atacam a cultura nesta fase. Durante a seleção das plantas a serem amostradas, recomenda-se a utilização de pelo menos 30 a 40 plantas da bordadura, sendo o restante amostrado no interior do talhão. As observações na planta selecionada ao acaso,

se dá nos ponteiros, nas duas faces das folhas terminais, e estruturas reprodutivas. O emprego de feromônio sexual “virelure” representaria uma outra opção ao levantamento populacional de adultos da lagartada-maçã. A recomendação existente é a de que se utilize o feromônio sexual colocado em armadilhas (uma/ha) e que a partir da constatação de 10 ou mais adultos capturados/armadilha por semana, medidas de controle sejam adotadas. No entanto, a falta de uma adequada relação entre o número de adultos capturados e o momento ideal para realizar a pulverização devido aos efeitos do clima na captura de adultos, migração etc, tem dificultado o uso desta tecnologia. A tomada de decisão de controle é baseada em um nível de controle de 20% de ponteiros infestados com ovos ou 15% de ponteiros atacados por lagartas. Estes níveis, entretanto, podem sofrer modificações em fun-

Gráfico 1 - Proporção dos inseticidas (número de marcas comerciais)/grupo químico, registrados para o controle da lagarta-da-maçã.

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ção de variáveis, tais como, custo para a realização do controle e preço da arroba de algodão no comércio, sendo justificado o constante acompanhamento dessas variáveis por um extensionista ou consultor especializado em cada região.

MANEJO Uma vez realizada a amostragem e sendo o nível de controle atingido, a estratégia comumente adotada é a de redução da densidade populacional da lagarta-da-maçã, sendo o inseticida o mais freqüentemente utilizado. Entretanto, existem outras táticas de manejo que visam minimizar a infestação desta praga e dentre estas cita-se o controle cultural, a utilização de variedades potencialmente resistentes e o controle biológico natural e aplicado. Basicamente, três pontos sustentam o manejo da lagarta-da-maçã do algodoeiro, estando estes relacionados entre si: conservação dos inimigos naturais como tática de supressão para evitar que a população atinja níveis de controle (I), amostragem e adoção de níveis de controle na tomada de decisão (II) e seleção criteriosa de inseticidas a serem utilizados (III), os quais devem ser registrados para obtenção de controle eficiente. No processo de seleção do inseticida a ser utilizado, deve-se considerar o manejo para prevenção do surgimento de resistência, e o menor impacto causado às populações de inimigos naturais, entre as demais características que normalmente governam a seleção de um inseticida. O controle biológico - pode ser adotado nas modalidade de conservação ou incremento das populações de predadores e parasitói-

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Quadro 1 - Inseticidas recomendados para o controle de Heliothis virescens na cultura do algodoeiro e sua relação de impacto sobre os principais grupos de inimigos naturais encontrados na cultura. Para dosagens e demais detalhes consultar ANDREI: Compêndio de defensivos agrícolas e o fabric ante. Inimigos Naturais Toxicidade Aguda Ingrediente Ativo (Grupo Químico) Bacillus thuringiensis (B) Clorpirifós (OF) Cipermetrina (P) Deltametrina (P) Endosulfam (CD) Fenvarelato (P) Lambda-cialotrina (P) Lufenurom (BU) Metomil (MCB) Monocrotofós (OF) Permetrina (P) Profenofós (OF) Espinosade (EP) Tiodicarbe (MCB)

Marca Comercial Dipel, Bac-Control Curinga, Lorsban, Vertex, Klorpan Galgotrin, Nor-trin, Cyptrin, Ripicord, Commanche, Sherpa, Arrivo, Cymbush Decis Thiodan, Disulfan, Endofan, Endosulfam Sumicidin, Belmark Karate, Planet, Karate Zeon Match Lannate Agrophos Galgoper, Valon, Corsair, Talcord, Piredan, Pouce Curacron Tracer, Credence Larvin

Classe Toxicológica IV II-III I-II-III

Joaninhas Predadoras

Percevejos Predaores

Vespas Parasitóides

Bicho lixeiro

Ácaros Predadores ?

Toxicidade Residual C M C-M

III-IV I II II-III IV I II I-II III III II

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L L M C-M C L C L C C C

Percevejos predadores (um ou mais desses predadores): Orius, Geocoris, Podisus, Nabis. Vespas parasitóides (um ou mais desses parasitóides): Encarsia, Cotesia, Aphytis, Trichogramma, Catolaccus, Aphelinus, Lysiphlebus. Ácaros predadores: Phytoseiulus, Metaseiulus, Amblyseius, Iphizeiodes. Joaninhas predadoras: Cycloneda, Eriopis, Coleomegilla, Stethorus, Hippodamia, Delphastus. Bicho lixeiro: Chrysoperla e Chrysopa. Toxicidade Aguda (% de mortalidade): Verde (0-30%), Amarelo (31-70%) e Vermelho (71-100%). Toxicidade Residual (tempo de efeito): C=Curta (< 3 dias), M=Média (3-7 dias) e, L=Longa (> 7 dias). B = Biológico; BU = Benzoiluréia; CD = Clorociclodieno; EP = Espinosinas; MCB = Metilcarbamato; OF = Organofosforado; P = Piret róide.

des naturalmente incidentes na lavoura. Uma das principais medidas utilizadas para se alcançar este fim é a redução no uso de inseticidas através da adoção de amostragem e contenção dos surtos populacionais somente quando o nível de controle for atingido. Além disso, optar por inseticidas de menor impacto sobre os organismos benéficos (Quadro 1). O mesmo pode ser dito em relação a modalidade de controle biológico quando se utilizam liberações massais. Parasitóides de ovos e de lagartas, predadores como larvas do bicho-lixeiro, ninfas e adultos de percevejos predadores (Nabis, Geocoris, Orius, Zelus, Sinea, Podisus, Supputius), larvas e adultos de joaninhas predadoras, formigas, vespas e aranhas predadoras são considerados importantes predadores naturais de ovos, lagartas e adultos de H. virescens. O controle biológico aplicado da lagartada-maçã tem sido investigado através do uso do parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum, em liberações inundativas. A Embrapa Algodão recomenda a tecnologia de liberação de cartelas contendo ovos parasitados, na proporção de 30 polegadas quadradas/ha sendo divididas em 15 cartelas de 2 polegadas quadradas cada, distribuídas em dispositivos de liberação distanciados cerca de 15 m um do outro. Todavia, pode-se utilizar a liberação de parasitóides adultos e alimentados, através do caminhamento nas linhas de cultivo procedendo as liberações a cada 25

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Cultivar

passos. Recomenda-se fazer as liberações nas horas mais frescas da manhã, evitando-se ainda chuvas e ventos fortes. Na determinação do índice de parasitismo por Trichogramma durante o processo de amostragem, utiliza-se a caracaterística de escurecimento dos ovos da praga, como sintoma de diferenciação de ovos parasitados daqueles não parasitados. O controle cultural - o uso de culturas adjacentes, rotação de culturas e destruição de restos culturais, são práticas que apresentam impacto considerável no contexto. Tais práticas visam reduzir a quantidade de insetos que entram em diapausa e, como conseqüência a fonte de futuras infestações. Embora existam várias culturas que favorecem a ocorrência dos inimigos naturais, algumas não atendem as expectativas dos produtores ou requerem grandes mudanças no sistema de produção das fazendas, para que seu cultivo seja viabilizado. Neste quesito em particular o sorgo e o girassol tem despontado como culturas promissoras, as quais funcionam atraindo inimigos naturais, que uma vez presentes nestas culturas migram para o algodoeiro, exercendo seus efeitos de controle também nesta última. Apesar da resistência varietal ser pouco utilizada no Brasil, estudos realizados em outros países, demonstram que algumas características das plantas quando presentes ou ausentes podem conferir resistência do algodoeiro à H. virescens. Dentre estas destacam-

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se: a ausência de nectários extra-florais pode desfavorecer a presença do inseto, já que estes afetam a atratividade da planta às mariposas; folhas pilosas podem favorecer a ocorrência do inseto, que preferem ovipositar nestas plantas; alto conteúdo de gossipol pode reduzir o desenvolvimento da lagarta-damaçã por afetar a eficiência da digestão do tecido foliar. Todavia, estas características são também conhecidas por comprometerem a ação de inimigos naturais e a extração de óleo da semente, onde o gossipol é tido como contaminante. A utilização de variedades precoces pode favorecer o escape das plantas do ataque de

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Fotos Jorge Torres

insetos, contribuindo ainda para um menor número de aplicações de inseticidas, já que diminui a exposição prolongada. Essa tática contribui ainda para a redução do tempo de exposição de botões florais e maçãs ao ataque da praga, e como consequência do número de gerações da praga/ciclo de cultivo, resultando na redução populacional do inseto. O uso de inseticidas - é comumente adotada para o controle da lagarta-da-maçã, quando esta atinge o nível de controle. Assim, o Quadro 1 apresenta as recomendações de inseticidas registrados para o controle da lagarta-da-maçã e suas relações com os grupos de inimigos naturais. Além destes, o uso de inseticidas com ação ovicida e larvicida, é recomendado considerando que estes produtos oferecem controle sobre ovos e lagartas, os quais são considerados no levantamento populacional. É fundamental no manejo da lagarta-damaçã, evitar o uso precoce de inseticidas piretróides nas primeiras pulverizações contra esta praga. Dessa maneira, dois princípios do manejo de pragas do algodoeiro são seguidos: o retardamento na utilização de inseticidas piretróides, faz com que o número de pulverizações utilizando-se estes inseticidas seja diminuído, algo que reduz a pressão de seleção imposta à praga e, como consequência, retarda o surgimento de insetos resistentes; similarmente, a possibilidade de utilização destes inseticidas em pulverizações futuras é incrementada, devido ao amplo espectro de controle oferecido por este grupo. Embora existam 69 marcas comerciais de

inseticidas registradas para o controle da lagarta-da-maçã no algodoeiro atualmente (vide Andrei, 1999 e Anvisa, 2004), estes fazem parte de apenas nove grupos químicos, sendo 56,5% incluído no grupo dos piretróides (Gráfico 1). Este fato dificulta a rotação do mecanismo de ação, estratégia comumente recomendada pelos programas de manejo de pragas e, é preocupante, se considerarmos que o uso freqüente de marcas comerciais deste grupo de químico, pode levar a aquisição de resistência pela praga, já constatado em outros países. Essa situação levou a uma mudança na estratégia de controle adotada, passando-se a utilizar inseticidas do grupo dos organofosforados e carbamatos para contenção dos surtos populacionais do inseto, os quais permitiram a obtenção de controle satisfatório durante a maior parte da década de 60. Entretanto, resistência ao metil paratiom foi detectada em populações de H. virescens em 1968 sendo, mais tarde, estendida a outros compostos do grupo dos organofosforados. Essa situação levou a uma rápida transição no uso de inseticidas, com a disponibilização dos inseticidas do grupo dos piretróides para controle de Heliothis e outros Lepidopteras-praga nos EUA, em 1978. Todavia a resistência de Heliothis a piretróides (a principal classe de inseticidas utilizado para o controle destes insetos – vide Gráfico 1) não tardou a evoluir, sendo detectada inicialmente em 1983 na Austrália. Em face deste panorama e considerando a possibilidade de podermos enfrentar o mesmo problema em nossas condições, algumas práticas que são recomendadas no manejo do inseto visando um melhor convívio com a praga e diminuição da possibilidade de evolução de resistência a inseticidas envolvem: • Monitoramento constante (amostragens) das pragas e inimigos naturais; • Identificação correta da praga, para a escolha do inseticida e, respectiva dosagem mínima eficiente;

Ovo apresentando desenvolvimento normal (esq.) e ovo escuro apresentando parasitismo por Trichogrmma pretiosum (dir.)

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Para evitar a resistência é fundamental que se adote o uso de inseticidas somente quando a praga atingir o nível de controle

• Adotar o uso de inseticidas somente quando a praga atingir o nível de controle; • Realizar controle localizado, ou seja, somente nos talhões que atingirem o nível de controle; • Dar preferência ao uso de inseticidas com ação ovicida e larvicida, de baixa toxicidade aos inimigos naturais, e/ou produtos de baixo poder residual quando apropriado; • Evitar pulverizações iniciais com inseticidas piretróides; • Realizar planejamento da lavoura baseado no histórico da área, minimizando o tratamento de sementes; • Lançar mão de inseticidas sistêmicos, caso possuam seletividade ecológica, para tratamento de sementes quando neC cessário. Cristina S. Bastos, Embrapa Algodão Jorge B. Torres, Univ. Federal Rural de Pernambuco

Cristina e Jorge alertam para o monitoramento da praga, visto a dificuldade em se fazer rotação de químicos, já que 56,5% têm o mesmo princípio ativo

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Cultivar

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Pragas Dirceu Gassen

Criatório de pragas É preciso monitorar a população de insetos nas culturas de inverno, principalmente nas que têm função exclusiva de cobertura de solo, para evitar aumentos populacionais indesejados, que encarecerão o manejo na safra de verão

A

importância da produção de massa verde no inverno é sobe jamente conhecida pelos agricultores que realizam a semeadura direta sobre a palha (SPD) na primavera e verão. A cobertura do solo, após as colheitas das culturas de verão, com plantas cultivadas ou silvestres, é da maior magnitude para uma boa conservação do solo. Solo desnudo significa pó durante o período seco; erosão quando ocorrem altas precipitações; perda de nutrientes por lixiviação, indicando a necessidade de uma cobertura vegetal. A vegetação que se desenvolve nesta época do ano, seja ela silvestre ou cultivada, pode abrigar, manter e até aumentar a população de pragas de cultivos subseqüentes. Uma área coberta por aveia ou aze-

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Cultivar

vém pode multiplicar a população das lagartas do trigo e, se não for controlada na dessecação, o cultivo subseqüente implantado na área, seja, milho, girassol, soja ou feijão, pode ser totalmente dizimado, na emergência. Densidade de 30 a 40 lagartas, seja as do trigo, Pseudaletia spp., ou da lagarta militar, Spodoptera frugiperda, causa baixo nível de desfolhamento nessas gramíneas e, quando dessecadas, as lagartas atacam qualquer planta que nasça na área, seja cultivada ou silvestre. Na situação de a semeadura ser realizada antes de 20 dias após a dessecação, a inclusão de um inseticida pode prevenir problemas futuros, como ter que ressemear a área não tratada. Em algumas regiões do sul do Brasil e mesmo do centro-oeste, a população de lagartas nas gramíneas forrageiras de in-

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verno é bastante alta e o conhecimento dessa situação pode prevenir prejuízos futuros, desde que sejam tomadas as decisões adequadas a cada caso. Em áreas de pousio com desenvolvimento de plantas indesejáveis como, roseta, picão branco, pé de galinha, língua de vaca e erva de bicho, a mariposa de Agrotis ipsilon pode ovipositar e ali se desenvolve a lagarta rosca, cujo ciclo larvário, no inverno, pode durar de 30 a 70 dias, na dependência da temperatura. Qualquer cultivo, suscetível a esta praga, hortaliças, por exemplo, pode sofrer grandes danos. Em lavouras com cultivo de canola ou de nabo forrageiro, além dos insetos associados às brassicáceas (crucíferas), como pulgão da couve, traça das crucíferas e lagartas da couve, a proliferação dos percevejos: verde, Nezara viridula,

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verde pequeno, Piezodorus guildinii e marrom, Euschistus heros é freqüente, chegando em algumas situações a enxames de adultos e ninfas, na época da dessecação ou da colheita. Essas pragas migram para os cultivos adjacentes e ali podem tornar-se daninhas. O cultivo de leguminosas forrageiras de inverno, tais como, trevos, alfafa, meliloto e cornichão, favorece o surgimento de altas populações de lagartas mede palmo, gêneros: Rachiplusia, Pseudoplusia, Autoplusia e outros (Lepidoptera: Noctuidae) e de percevejos que abandonarão as plantas próximo ao final do ciclo ou durante a colheita de sementes, migrando para as lavouras vizinhas, até 7km, conforme verificação realizada em 1995, no município de Erechim, RS. O cultivo consorciado de azevém ou aveia com ervilhaca, além de favorecer a multiplicação das lagartas de gramíneas, permite o surgimento de populações expressivas da lagarta rosca, Agrotis ipsilon e dos percevejos barriga verde, Dichelops furcatus e D. melacanthus. Esse percevejo está se tornando praga importante, na fase inicial da cultura do milho em SPD, após dessecação, quando, ao atacar as plântulas, injeta uma

toxina que causa enfezamento e perfilhamento do milho, estas plantas não se desenvolvem normalmente e não produzem. As crotalárias utilizadas como massa para adubação verde favorecem a multiplicação dos percevejos, verde e verde pequeno. O tremoço é uma planta que favorece o desenvolvimento de elevadas populações da broca das axilas, Epinotia aporema, pois embora com elevada densidade de lagartas dessa praga, é tolerante ao dano da mesma, reduzindo muito pouco seu desenvolvimento. As culturas leguminosas adjacentes e as subseqüentes é que sofrerão as conseqüências. Normalmente, as populações de percevejos que se desenvolvem nos cultivos de inverno causam prejuízos de pequena monta, não justificando a adoção de medidas de controle nestas culturas. Quanto maior for a sobrevivência dessas pragas, no período desfavorável (inverno), maiores serão as probabilidades de prejuízos nas culturas subseC qüentes (primavera-verão). Dionísio Link, UFSM

Link: Cultivo de luguminosas forrageiras favorece o aumento de populações de lagartas


Lançamento

Nova chance Sistema de Produção Clearfield Arroz é alternativa para se produzir em lavouras com alta infestação de arroz-vermelho

N

o Rio Grande do Sul, apenas 5% das lavouras cultivadas com arroz está livre do arrozvermelho e 15% de toda a área, que poderia ser utilizada para o cultivo, está comprometida por causa da infestação desta daninha, que é uma das mais temidas pelos produtores. Somente o arroz-vermelho é responsável por perdas de 20% nas lavouras gaúchas, que deixam de produzir aproximadamente 1,3 milhões de toneladas, o que gera uma quebra de mais de U$ 266 milhões a cada ano. Se somarmos essa perda, no final de cinco anos, o produtor terá perdido a produção de uma safra inteira. Atenta às necessidades dos orizicultores gaúchos, a Basf desenvolveu o Sistema de Produção Clearfield Arroz, que combina a aplicação do herbicida Only, produzido pela empresa, e a utilização das sementes tolerantes IRGA 422CL e Tuno CL, desenvolvidas, respectivamente, pelo Instituto Riograndense de Arroz (Irga) e pela empresa Rice Tec. Optando por uma das duas variedades de sementes toleran-

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tes e realizando a aplicação do herbicida Only, o produtor consegue controlar as ervas daninhas sem causar qualquer interferência do defensivo sobre as plantas de arroz. O herbicida Only é um pósemergente com período curto de persistência no solo, já que a ação do sol sobre as moléculas causa sua rápida decomposição. O diferencial do sistema, além da boa produção em áreas com altos índices de infestação de arroz vermelho, está na atenção que será dispensada ao monitoramento da lavoura. Técnicos da Basf farão o acompanhamento da lavoura, auxiliando os produtores no manejo da tecnologia. A região Sul do Rio Grande do Sul é uma das mais infestadas com arroz vermelho. O uso de sementes de baixa qualidade, sem a devida fiscalização do Ministério da Agricultura, tem sido, ao longo dos anos, o âmago da questão. Por outro lado, as variedades cultivadas possuem um ciclo de desenvolvimento que permite o degrane natural do arroz invasor (vermelho), o que aumenta o banco de semen-

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Charles Echer

Neri Ferreira

tes invasoras na terra. Somada à falta de rotação de culturas, que possibilitaria a redução da população de plantas daninhas, a severidade do arroz vermelho, em muitos casos, determina o abandono de áreas inteiras de plantio. Essa tecnologia, como salienta Leandro Martins, gerente de produtos da Basf, “veio para salvar a lavoura. Com o sistema Clearfield, o produtor poderá entrar com arroz mesmo nas áreas mais infestadas com arroz vermelho, sem diminuir a produção”. O objetivo do sistema é justamente possibilitar ao produtor cultivar com sucesso e aumentar a produtividade em áreas que antes não imaginava poder entrar por causa do arroz-vermelho. Nas áreas mais infestadas, o produtor pode usar o sistema durante algumas safras e, depois, voltar a produzir no sistema convencional, quando a lavoura estiver com menores níveis de infestação do arroz-vermelho. Na safra 2003/04, o Rio Grande do Sul já cultivou 4 mil hectares com o sistema Clearfield e para a próxima safra há uma previsão de que este número chegue aos 100 mil hectares. O custo do sistema fica em torno de 2 a 3% do custo total da C produção.

“O produtor poderá entrar com arroz mesmo em áreas completamente tomadas pela invasora”, garante Leandro

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Milho Paulo Viana

Morte precoce

Diversos insetos atacam o milho causando danos às sementes, raízes e plântulas logo após a semeadura, reduzindo drasticamente o número de plantas na área cultivada e o potencial produtivo da lavoura

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O

sistema de plantio é um dos fatores que influenciam a ocorrência de pragas de hábitos subterrâneos que atacam o milho logo após o plantio. No plantio direto, as interações e relações de dependência entre espécies são mais complexas do que no manejo convencional do solo. Esse sistema visa o retorno do equilíbrio natural, onde o solo é mantido sob cobertura permanente, com diversas culturas em sucessão e sem o seu revolvimento. Devido à ausência de preparo do solo, alguns grupos de pragas de ciclo biológico mais longo têm a sua bioecologia favorecida, comparado ao sistema convencional de plantio (aração e gradagem). Além disso, a maioria dos insetos subterrâneos considerados pragas são polífagos (alimentamse de várias espécies de plantas) e utilizam como hospedeiros, culturas como o milho, soja, trigo, arroz, feijão, usualmente componentes do sistema de plantio direto. Entre os grupos de pragas iniciais do milho que têm a ocorrência favorecida pelo plantio direto, destacam-se a larvaalfinete, o coró, o percevejo-castanho e a larva-arame. Dependendo da praga, a manutenção da área a ser cultivada livre de plantas daninhas, contribui significativamente para o seu manejo. Como exemplo, tem-se a lagarta-rosca, onde várias plantas daninhas como corda-de-viola, guanxuma, unha-de-vaca são hospedeiras da praga e são plantas mais visadas do que o milho. Para outra espécie de praga, como a lagarta-elasmo, a sua ocorrência e conseqüentemente os danos causados ao milho, são geralmente mais acentuados em sistema de plantio convencional do que em plantio direto. Além do sistema de cultivo, a biologia do inseto é também favorecida por altas temperaturas, solos arenosos e de fácil drenagem e períodos de seca. No passado, o controle do complexo de pragas subterrâneas era realizado eficientemente com inseticidas de longo período residual e largo espectro de ação. Atualmente os inseticidas utilizados possuem curto período residual e são influenciados pela formulação, método de aplicação, incorporação e pelas condições do solo como umidade, temperatura e presença de microorganismos. A decisão de controle têm levado em consideração a escolha de produtos mais seletivos visando à manutenção de inimigos naturais. Além dos inseticidas, o manejo de culturas, o emprego de cultivares mais resistentes, têm sido também utilizados visando melhorar o controle de pragas iniciais na la-

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Charles Echer

cando inicialmente murcha e seca das folhas centrais (coração morto) e, posteriormente, a morte da planta. Em áreas de risco, deve ser usado o tratamento de sementes com inseticidas à base de tiodicarb, carbofuran ou imidacloprid (Tabela 1). Sob condição de estresse hídrico, a efetividade do tratamento de sementes pode ser reduzida, recomendando-se, no caso, a pulverização dirigida para o colo da planta, com inseticida de ação de contato e profundidade (clorpirifós). A alta umidade do solo contribui para reduzir os problemas causados pela lagarta-elasmo no milho.

LARVAS A larva alfinete (Diabrotica spp.) tem causado prejuízo expressivo nos estados do Sul e em algumas áreas das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Mais de 3,5 larvas por planta são suficientes para causar danos ao sistema radicular. O controle desse inseto baseia-se quase que exclusivamente no emprego de inseticidas químicos (Tabela 1), aplicados via-tratamento de sementes, granulados e pulverização no sulco de plantio. Excesso e baixa umidade do solo são geralmente desfavoráveis para a larva. O método de preparo de solo influencia a sua população, sendo maior a sua ocorrência em sistema de plantio direto do que em plantio convencional. Alguns agentes de controle biológico, como os parasitas Celatoria bosqi, Centistes gasseni e os fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae contribuem para o controle dessa praga. O agricultor deve ficar atento ao plantio em áreas que possuem histórico de

voura de milho. As espécies mais freqüentemente encontradas atacando a fase inicial da lavoura de milho e aspectos relacionados com o seu manejo são descritos a seguir.

LAGARTAS A labarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) é a principal praga do milho no Brasil. O ataque pode ocorrer nas folhas e no colmo de plantas mais jovens. Quando a lavoura de milho é instalada após a dessecação, no sistema de plantio direto, geralmente a lagarta (mais desenvolvida) que encontrava-se em outros hospedeiros ataca a planta de milho logo após a sua emergência. O dano ocorre na base do colmo, atingindo o ponto de crescimento, podendo provocar a sua morte. O tratamento de sementes utilizado para outras pragas iniciais auxilia no controle da lagarta-do-cartucho até aproximadamente 17 dias após o plantio, sob condições sa-

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tisfatórias de umidade de solo. No mercado, existem vários inseticidas (Tabela 1) para uso em pulverização para o controle dessa lagarta. Os agentes biológicos exercem um papel de grande importância no manejo dessa praga. Insetos como o predador Doru luteipes (tesourinha) e os parasitóides (vespinhas) Trichogramma spp., Telenomus sp., Chelonus insularis e Campoletis flavicincta e várias doenças causadas por fungos (Nomurea e Beauveria), vírus (baculovirus) e bactérias (Bt) são responsáveis por manter a população da praga em níveis baixos, evitando prejuízos à lavoura. A lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) realiza danos geralmente em épocas de estiagem, logo após a emergência das plantas. O ataque é mais acentuado em solos leves e bem drenados e menor sob plantio direto. Ela penetra na região do coleto da planta, destrói o ponto de crescimento no interior do colmo, provo-

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Nault/OSU

Danos da Spodoptera frugiperda, principalmente no sistema de plantio direto, atacando o milho logo após emergência

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ataque desse inseto, pois a adoção de medidas de controle após a instalação da cultura apresenta pouca chance de sucesso. A larva-arame (Conoderus spp., Melanotus spp.) é mais frequente em solo que não é preparado anualmente. Ela danifica as sementes após a semeadura e o sistema radicular da planta de milho e de outras gramíneas. Ainda não existem informações sobre o nível de controle para esse grupo de insetos atacando o milho. Embora o controle químico tenha sido realizado em áreas experimentais, não há inseticidas registrados. Experimentalmente, inseticidas utilizados no controle da larva-alfinete têm apresentado boa performance para a larva-arame. A umidade do solo é um fator importante no manejo dessa praga. Em sistemas irrigados, a suspensão da irrigação e a conseqüente drenagem da camada agricultável do solo forçam a larva a aprofundar-se, reduzindo o dano ao sistema radicular.

Tabela 1 - Alguns inseticidas recomendados para o controle das principais pragas que atacam na fase inicial da lavoura de milho. Praga Daubulus maidis (cigarrinha-do-milho) Diabrotica speciosa (larva-alfinete)

Dichelops furcatus (percevejo barriga-verde) Diloboderus abderus (coró) Elasmopalpus lignosellus (lagarta-elasmo)

Scaptocoris castanea (percevejo-castanho) Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho)

PERCEVEJOS O percevejo-castanho (Scaptocoris castanea) de ocorrência esporádica na lavoura do milho pode atacar as plântulas, acarretando sérios prejuízos, alimentando-se das raízes e sugando a seiva. O ataque severo causa o definhamento e a morte da planta. Os sintomas de ataques variam com a intensidade e época do ataque e muitas vezes são confundidos com deficiência nutricional ou doença da planta. A aração e a gradagem auxiliam no controle desse inseto, facilitando a ação dos predadores e causando o esmagamento das ninfas e adultos. O fungo Metarhi-

Ingrediente ativo imidaclorprid thiomethoxan chlorpyrifos fipronil imidacloprid terbufos imidacloprid thiamethoxan thiodicarb carbofuran carbosulfan chlorpyrifos furathiocarb thiodicarb terbufos beta-cyfluthrin chlorpyrifos cypermethrin deltamethrin diflubenzuron lambda-cyhalothrin lufenuron methomyl permethrin spinosad triflumuron

Ivan Cruz

zium anisopliae é um agente de controle biológico da praga. Devido ao hábito subterrâneo do percevejo, o controle químico é difícil de ser realizado e tem sido recomendado o uso preventivo de inseticidas (Tabela 1). O percevejo barriga-verde (Dichelops spp.) e o percevejo verde (Nezara viridula) são pragas tipicamente da soja, mas, com o plantio do milho em sucessão ou mesmo em rotação, passaram a causar danos também ao milho. Os danos ocorrem na fase inicial de desenvolvimento da cultura, podendo causar perdas parciais ou totais das lavouras. Ao se alimentarem na base das plântulas de milho, causam

Cigarrinha-do-milho: prejuízos pela transmissão de vírus às plantas podem chegar a 80%

Abril de 2004

Medidas de controle para larva alfinete devem ser tomadas antes da instalação da cultura

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Conc. (%) 60 70 45 80 70 5 60 70 35 35 5 25 48 40 30 5 5 48 20 2,5 25 5 5 21,5 50 48 48

Form. SC DP EW WG WP GR SC DP SC SC GR SC EC SL SC GR EC EC EC EC WP EC EC SL EC SC SC

C.TOX. IV III III II IV I IV III III I III II II III III I II II III III IV II IV I II III IV

Dose (g i.a) 480 g/ha 105 - 140 g/100 kg sem. 1170 g/ha 80 g/ha 490 g/100 kg sem. 2000 g 210 g/100 kg sem. 210 g/100 kg sem. 700 g/100 kg sem. 700 g/100 kg sem. 1500 g 600 - 700 g/100 kg sem. 480 g 640 g/100 kg sem. 600 g/100 kg sem. 2000 g 5g 192 – 288 g 10 – 16 g 5g 25 g 7,5 g 15 g 129 g 25 g 18 – 49 g 24 g

lesões e deformações nas folhas que posteriormente podem levar a planta à morte e/ou perfilhamentos, que são improdutivos. O controle pode ser feito com o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos (Tabela 1) ou através de pulverizações logo após a emergência das plantas, quando constatada a presença dos insetos.

OUTRAS PRAGAS A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) transmite doenças como o vírus do rayado fino e os enfezamentos pálido (espiroplasma) e vermelho (fitoplasma). Os prejuízos podem chegar a mais de 80%, dependendo do patógeno, dos fatores ambientais e da sensibilidade dos híbridos cultivados. A incidência da doença geralmente é maior no final do verão (plantios tardios). O sintoma do rayado fino é caracterizado por folhas com riscas amareladas (paralelas às nervuras) com aparência pontilhada. Plantas com o enfezamento pálido apresentam as folhas deformadas e descoloridas (clorose) nas bordas e nanismo acentuado. Com o enfezamento vermelho, as plantas podem não aparentar o nanismo, mas as folhas mostram um avermelhamento generalizado. As espigas apresentam grãos mal formados, com o

Cultivar

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Assessoria Embrapa

aspecto de “grãos frouxos”. Os métodos de controle mais eficientes são os culturais, evitando-se a multiplicação do vetor em plantios sucessivos, erradicação de plantas voluntárias na área antes do plantio e uso de cultivares menos susceptíveis aos patógenos. Pode também ser utilizado o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos (Tabela 1). O Bicho-bolo, coró ou pão-de-galinha (Diloboderus abderus, Eutheola humilis, Dyscinetus dubius, Stenocrates sp, Liogenys sp.) causa mais danos nas lavouras de milho safrinha, instaladas em semeadura direta sobre a resteva da soja. Geralmente, a população desses insetos é alta em áreas cultivadas anteriormente com gramíneas, como é o caso de pastagens. As larvas danificam as sementes após o plantio, prejudicando sua germinação. Também alimentam-se das raízes, provocando o definhamento e a morte das plantas. O nível de dano para esse inseto ocorre a

Tratamento de sementes somado ao preparo do solo com implementos de disco, são alternativas para o controle das larvas coró

partir de 5 larvas/m2. Os principais agentes de controle biológico natural de larvas do bicho-bolo são nematóides, bactérias, fungos, principalmente Metarhizium e Beauveria sp e parasitóides da ordem Diptera. O preparo de solo com implementos de disco é uma alternativa de controle cultural da larva. Com essa prática, ocorre o efeito mecânico do implemento sobre as larvas, que possuem corpo mole e são expostas à radiação solar e aos inimigos naturais, especialmente pássaros. O controle químico pode ser utilizado via tratamento de sementes (Tabela 1). Além dos insetos mencionados, outras espécies de menor importância econômi-

Paulo Viana

A escolha de produtos seletivos para o controle das pragas é fundamental na preservação dos inimigos naturais, segundo Viana

Dirceu Gassen

Sintomas de ataque de percevejos muitas vezes são confundidos com deficiência nutricional ou doença

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ca também atacam o milho em sua fase inicial. Dependendo do local, da população e das condições favoráveis, podem ocasionar prejuízos para o produtor rural. As pragas mais comuns são os tripes, pulgão-do-milho, lagarta-rosca, cigarrinha-das-pastagens, larva Angorá, cupins, broca da cana-de-açúcar e ácaros.

MANEJO DE PRAGAS Para se estabelecer um programa de manejo de qualquer espécie-alvo, devem ser considerados os fatores ecológicos, econômicos e sociais. A identificação da espécie-alvo, a área a ser manejada, a estratégia de ação a ser seguida, a técnica de monitoramento e a determinação da densidade populacional da praga que causará danos econômicos (nível de dano) são princípios básicos para o manejo integrado. Para vários dos insetos-praga do milho, alguns desses princípios ainda estão sendo pesquisados e melhorados. Entre esses princípios, a determinação da densidade populacional da praga que causará danos econômicos é um dos mais difíceis de ser determinado com precisão, devido, principalmente, a várias interações. Segundo os princípios de manejo integrado, medidas de controle devem ser tomadas somente quando a densidade do inseto-praga tem potencial para causar um dano igual ou maior do que o custo do seu controle. De maneira geral, uma maior expectativa de rendimento e do preço de mercado do grão e menor custo de tratamento levam a assumir uma menor perda. C Paulo Afonso Viana, José Magid Waquil e Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo

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AENDA

Defensivos Genéricos

Transferência de lucros

O

controle fiscal das remessas de lucros exagera na dose no caso dos defensivos agrícolas, colocando em risco a presença industrial de empresas transnacionais no país. É matéria intrincada. Resumimos. O alvo é a arrecadação sobre o lucro. A operação tem duas etapas: Em primeiro lugar é definido um lucro mínimo da empresa localizada no Brasil, em transações com empresas coligadas no exterior. Se esse lucro mínimo não for atingido, aplica-se sobre o valor faltante uma alíquota a título de imposto de renda. Existem duas situações: a) se o produto já vier pronto para comercialização, a margem mínima de lucro deve ser no mínimo de 20%; b) se o produto for matéria-prima para agregação de insumos nacionais, a margem mínima considerada é de 60%. Esses parâmetros foram estabelecidos a partir de 1996 com a edição da Lei 9.430 e Instruções Normativas da Receita Federal, sendo a mais recente a de número 321, datada de 11 de novembro de 2003. As regras para transferência de lucro, da forma como estão postas, assustam as empresas. E, não é para menos.

Esse é um insumo para a Agricultura, sabidamente um setor de baixa lucratividade. Nesse contexto, o lucro dos insumos tem limites óbvios. Além disso, esse insumo se divide em dois grandes grupos: um, produtos sob patente e, outro, produtos genéricos. Cerca de 80% do comercializado são de produtos genéricos, com preço e lucratividade bastante reduzidos. Tendo que passar por corredores tão estreitos, o fluxo de lucratividade dos defensivos agrícolas é obrigatoriamente baixo. Essa é uma constatação a ser levada em alta conta, quando da elaboração de parâmetros para o controle da remessa de lucros. Por outro lado, com a expansão da atividade agrícola, é patente a forte atratividade por empresas do ramo que querem aportar no país, além das que aqui Ano 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Fonte: SECEX / ABIQUIM

Importações de produtos Formulados – US$ 284.945.000 296.185.000 260.000.000 304.612.000 305.180.000 486.030.000

já se localizam e querem expandir para manter sua posição. É oportunidade imperdível para ampliação do parque fabril, importação de tecnologias e criação de empregos e, por que não dizer, arrecadação de mais impostos. São noticiados negócios perdidos recentemente por formuladores instalados no Brasil para outros países sul-americanos em razão dos patamares impostos nesta cobrança. É evidente que uma empresa, a despeito dos investimentos industriais realizados aqui, se adaptará ao novo desestímulo produtivo, e, passará a importar produto já pronto para comercialização, esvaziando mais ainda o parque nacional. O desestímulo está na margem mínima arbitrária de 60%. É tão simples arbitrar outra menor. Vamos fazer, isso é C política industrial! A ameaça que paira, entretanto, é o esvaziamento dos investimentos produtivos. A escalada de importação de produtos formulados nos últimos anos, sem qualquer agregação de insumos locais, é um sinal vermelho a nos alertar. Já é quase 20% do total anual vendido pelo setor no Brasil.


Nossa capa

Resistência é a qu Fotos Charles Echer

Com o plantio da soja transgênica resistente ao glifosato no Brasil, ocorrerão profundas mudanças nos sistemas de controle das plantas daninhas, mas o seu mau uso pode acelerar o processo de resistência das invasoras

O

s quase 40 produtos ou com binações de produtos utilizados atualmente na soja convencional serão substituídos por um único ingrediente ativo, o glifosato. Inicialmente serão observadas apenas os benefícios, mas após três a cinco anos, certamente começarão a surgir os problemas como a seleção das espécies consideradas tolerantes e até mesmo resistência de plantas daninhas. Manejar plantas daninhas não significa apenas aplicar produtos. Trata-se de uma filosofia de trabalho, cujos resultados e benefícios se manifestarão ao longo dos anos. Por isto, para evitar as conseqüências negativas do uso continuado de um mesmo herbicida, é necessário a adoção de técnicas de manejo de plantas daninhas, mesmo se tratando da soja transgênica resistente ao glifosato.

A SOJA RR As culturas modificadas geneticamente para resistência ao glifosato apresentam uma seqüência alterada para a enzima EPSPs o que é feito pela introdução de um gene denominado CP4 proveniente de uma bactéria do gênero Agrobacterium, encontrada no solo e que confere insensibilidade à enzima EPSPs (Madsen & Jensen, 1998; Trezzi et al., 2001). Além da soja, o algodão, o milho, o trigo, o arroz, o fumo e o tomate também foram alterados para resistência a esse produto. A possibilidade de uso de glifosato aplicado após a emergência representa uma nova alternativa de controle em função da eficiência e viabilidade econômica, características essenciais no conceito de praticabilidade.

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Cultivar

Para Shaner (1996), o número de variedades resistentes a vários herbicidas tende a aumentar podendo representar uma importante alternativa de controle, desde que a tecnologia seja utilizada como parte de um programa de manejo integrado. Ateh & Harvey (1999) analisaram o controle de plantas anu-

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ais em soja resistente ao glifosato, e concluíram que o manejo das invasoras, da cultura e do herbicida são fatores fundamentais e que interferem diretamente nos resultados. Barnes & Oliver (2003) observaram ser possível obter bons resultados de controle de Senna obtusifolia e prevenir o acúmulo de sementes

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estão no solo associando a aplicação de glifosato com épocas de semeadura, também destacando a importância do manejo da cultura no controle de plantas daninhas. Uma outra vantagem, ainda que temporária, da cultura geneticamente modificada para resistência ao glifosato, é a oportunidade de usar um herbicida com diferente mecanismo de ação para controlar biotipos resistentes (Divine, 2000). No entanto, desvantagens também poderão ocorrer quando se relaciona o manejo de plantas daninhas resistentes com o manejo de culturas exigindo análise individual de cada tipo de problema (Darmency, 1996). Já se fala sobre a perda da eficiência de glifosato nos Estados Unidos. Culpepper et al. (2003) considera a Commelina benghalensis a principal planta daninha em algodão resistente ao glifosato indicando alternativas para associação com outros produtos, visando melhorar o nível de controle, já que a aplicação de glifosato sozinho tem permitido a seleção desta espécie. Na Argentina, foram registradas mudanças na comunidade das plantas daninhas sendo citado que oito espécies estão sendo selecionadas, estando entre elas uma da família Commelinaceae e outra Convolvulaceae (Papa et al., 2002). Trabalhos objetivando o uso de glifosato combinado com herbicidas utilizados na soja convencional sobre diversos alvos foram conduzidos por Gonzini et al. (1999), Payne & Oliver (2000), Culpepper et al. (2000), Vangessel et al. (2000), Kranz et al. (2001), Shaw & Arnold (2002) e Krausz & Bryan (2003) que observaram aumentos significativos na

QUASE 40 PRODUTOS SUBSTITUÍDOS POR UM

G

lifosato é um herbicida sistêmico, não seletivo com espectro de ação sobre cerca de 154 espécies ocorrentes no Brasil, utilizado em doses que variam de 1 a 6 L ha e disponível no mercado há quase 30 anos (Rodrigues & Almeida, 1998). Na soja transgênica será utilizada a formulação contendo 648g de sal isopropilamina com 480g de equivalente ácido. A variação na dose comercial deverá situar-se em 0,5 a 2,5 L ha e com maior freqüência entre 1,5 a 2 L ha. Sua classe toxicológica é IV (pouco tóxico) e o limite máximo de resíduo (LMR) aprovado no Brasil é de 10 ppm. Enquanto isso, a OMC e o EPA (USA) aprovarão 20 ppm. Seu principal metabolito é o AMPA (ácido aminomethylphosphorico). Atualmente, é aplicado em pós-emergência das plantas daninhas, antes da emergência das culturas no sistema de semeadura direta, em áreas não cultivadas, pomares e reflorestapercentagem de controle, no número de espécies controladas, redução na dose de glifosato e benefícios em relação à época de aplicação, sem que houvesse interferência das plantas daninhas ou fitointoxicação. Mas nem sempre estas combinações foram vantajosas (Gower et al., 2002), havendo em certos casos antagonismo, segundo Oliver (1996) citado por Shaw & Arnold (2002). Para Ellis & Griffin (2003) uma vez obtido 85% de controle de gramíneas e folhas largas com a aplicação de glifosato sozinho, a adição de latifoliadicidas não aumenta a produção, não evidenciando vantagens nestas condições. Porém, não se pode esquecer que a presença de plantas não controladas pode aumentar o banco de sementes e reduzir a eficiência da colheita e a qualidade dos grãos.

A SOJA RR NO BRASIL

Gazziero aborda qual a tendência do uso de um único ingrediente ativo como herbicida na soja transgênica

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O Brasil é um país de clima tropical, portanto, a composição e a dinâmica da comunidade infestante possui características próprias, dificultando a transferência de informações de outros países. As infestantes reagem às ações do homem, adaptando-se às novas condições. Com o advento da soja geneticamente modificada para a resistência ao herbicida glifosato, os quase 40 produtos ou combinações de produtos utilizados atualmente na soja convencional serão substituídos por um único ingrediente ativo, o glifosato.

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mentos. Não possui efeito residual, pois é fortemente adsorvido ao solo, onde é degradado principalmente pela atividade microbiana. Trata-se de um produto pouco lixiviado e volatilidade praticamente nula. Atua na síntese de aminoácidos de cadeia aromática inibindo a enzima EPSPs (enol-piruvil-shiquimato-fosfato sintase) cuja rota sintetiza proteínas, vitaminas (K e E), hormônios, alcalóides e outros produtos essenciais ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Estima-se que 35% ou mais da massa seca deriva da via do ácido shiquímico, e que 20% do carbono fixado na fotossíntese segue essa rota metabólica. Os sintomas aparecem de forma relativamente lenta, podendo variar de 10 a 30 dias conforme a espécie, tamanho e condições de umidade e temperatura. As plantas afetadas paralisam o crescimento, murcham, ficam cloróticas, necrosadas e morrem (Trezzi et al., 2001). Algumas espécies são altamente sensíveis a este produto, enquanto outras são consideradas tolerantes e preocupam pela possibilidade de disseminação e aumento de infestação nas áreas cultivadas com a soja transgênica. Vários pesquisadores têm-se posicionado quanto aos riscos e benefícios do controle de plantas daninhas nestas condições. Para Gazziero (2003), pelo grau de importância que ocupa atualmente na soja convencional, a trapoeraba (Commelina benghalensis) é uma das espécies com grande potencial para se tornar rapidamente um sério problema de controle desde que medidas de manejo não sejam adotadas. Trata-se de uma espécie que se adapta com facilidade em diferentes ambientes, apresenta intensa resposta à calagem e adubação do solo, hospedeira de pragas e moléstias. É uma planta considerada perene que se reproduz por sementes aéreas, subterrâneas e multiplica-se também a partir do enraizamento de porções do caule (Rocha 1999; Rocha et al., 2000). A corda-de-viola (Ipomoea spp) também compõe a relação das espécies consideradas como de difícil controle por glifosato. A julgar pelo que se observa na relação plantas daninhas – glifosato, é possível incluir outras espécies com condições de expandir sua população na soja transgênica. Entre elas estão a poaia-branca (Richardia brasiliensis), a erva-de-santa-luzia (Euphorbia pilulifera), a erva-de-touro (Tridax procumbens), o capim-

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MUDANÇAS NO CULTIVO

É

de se esperar que profundas mudanças venham a ocorrer com o cultivo em escala comercial da soja transgênica resistente ao glifosato, trazendo, inicialmente, uma série de benefícios no controle das plantas daninhas. Por outro lado, problemas poderão ocorrer, como por exemplo a seleção de espécies. Para solucionar os problemas, é preciso que os conceitos básicos de manejo de plantas daninhas não sejam desconsiderados, sob pena de se perder as vantagens obtidas. Espécies tolerantes poderão ser melhor controladas com o uso de aplicações seqüenciais de glifosato e combinações deste produto com outros compostos químicos. Quanto à manifestação da resistênbranco (Chloris dandyana) e a erva-quente (Borreria latifolia). Segundo Nonino (2003) a curto prazo a percepção do usuário da soja RR é de que se trata de uma ferramenta versátil com controle de quase todas as espécies. Mas, a longo prazo, irá predominar espécies tolerantes como a trapoeraba, corda-de-viola, erva-detouro, erva-quente (Borreria latifolia) e ervatostão (Boechavia diffusa). O pesquisador entende ainda que em muitas lavouras serão necessárias de 2 a 3 aplicações, abrindo assim a possibilidade de mistura de herbicidas de ação residual com o glifosato. Vidal (2003) concorda em relação a futura necessidade da mistura em tanque com outros produtos e prevê a manifestação de plantas caruru (Amaranthus spp) e capim pé-de-galinha (Eleusine indica) resistentes ao glifosato, assim como a seleção de corda-de-viola. A experiência sobre o uso de glifosato em pomares de maçã no Rio Grande do Sul é relatada por Vargas (2003), que observou a seleção de poaia-branca, leiteiro, trapoeraba e trevo-branco, além da resistência de azevém (Lolium sp) sobre os quais tem sido aplicado doses de 16 l/ha do produto comercial, sem sucesso. Nas áreas com mais de 15 anos de uso têm sido feitas 3 aplicações/ano em doses que variam de 2 a 8 l/ha. Segundo Theisen (2003) muitos produtores de soja transgênica (RR) no Rio Grande do Sul deixam de fazer o controle das plantas daninhas que nascem antes da semeadura da soja, aproveitando para controlar com a aplicação de pós-emergência feita na cultura. Em muitos casos nestas condições, por ocasião da aplicação, já iniciou o processo de

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cia de plantas daninhas, sabe-se que é possível que possa ocorrer e isto tem sido visto em países como os Estados Unidos, Chile, China, Austrália, Malásia e África do Sul, com espécies de caruru, azevém, buva, capim pé-de-galinha e tanchagem ou língua-de-vaca. No Brasil, já foi oficialmente confirmada a presença de azevém (Lolium multiflorum) resistente ao glifosato. Porém, devido ao mecanismo de ação do glifosato espera-se que este fato não assuma a proporção e a rapidez observada com outros mecanismos de ação. Casos de resistência podem ser prevenidos. Uma vez ocorrido o problema, tanto na soja convencional como na transgênica (RR) são resolvidos com a adoção de técnicas de manejo. competição entre a cultura e as plantas indesejadas trazendo prejuízos à cultura. O pesquisador tem observado aumento na população de corda-de-viola, erva-de-touro, amendoim-bravo, poaia-branca e queixas de agricultores sobre a ocorrência de trapoeraba. As opiniões, quanto aos benefícios, são unânimes em relação à facilidade de controle e a vantagem de se dispor de um herbicida com mecanismo de ação diferenciado para manejar plantas daninhas resistentes aos inibidores das enzimas ALS e ACCase. Exemplo disto tem ocorrido com picão-preto (Bidens spp), amendoim-bravo e capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) no Rio Grande do Sul. Todos concordam também que os problemas iniciarão à partir do 3º ao 5º ano da adoção da tecnologia.

Apesar da legislação vigente no Brasil ter limitado a instalação de experimentos com soja geneticamente modificada, os resultados obtidos em nosso país permitem antever a possibilidade de se conseguir eficiência aceitável de controle, mesmo em espécies tidas como tolerantes através do manejo da dose, da época de aplicação e da combinação com outros compostos (Marochi & Zagonel, 2002; Schon & Marochi, 2002; Ferreira Neto & Marochi, 2002a; Ferreira Neto & Marochi, 2002b; Rodrigues et al., 2002; Kuva et al., 2002; Gazziero, 2003). Segundo Duke (1998) os próximos dez anos deverão definir o impacto das culturas transgênicas como nova e poderosa ferramenta no controle e manejo das plantas daninhas. Para Gazziero et al (2001), os erros e as conseqüências do uso continuado de um mesmo herbicida já são conhecidos no Brasil e devem ser considerados para que os riscos inerentes aos programas como o da soja transgênica sejam evitados ou minimizados. Ainda para Gazziero (2001, 2003), a adoção de técnicas de manejo da área, das plantas daninhas e do produto, na entressafra, poderá facilitar o controle na cultura da soja transgênica, pois na medida em que o produtor organiza a ocupação do espaço, dificulta o estabelecimento das plantas daninhas. O autor obteve bons resultados com a associação de glifosato com produtos de pré e pós-emergência atualmente utilizados na soja convencional assim como com aplicação seqüencial de glifosato, mesmo para espécies consideradas C tolerantes como a trapoeraba. Dionisio Gazziero, Embrapa Soja C. E. C. Prete, UEL - Univ. Estadual de Londrina Charles Echer

Os próximos dez anos deverão definir o impacto das culturas transgênicas no controle e manejo de plantas daninhas

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Soja Dirceu Gassen

Perda inesperada Neste ano, embora a ferrugem asiática tenha assustado muita gente, não foram as doenças e nem as pragas que arrasaram as principais culturas em todo país; o principal inimigo foi o clima

E

mbora as preocupações dos pro dutores sempre recaiam sobre pragas e doenças, parece que, com exceção da ferrugem asiática, o grande vilão da atual safra é o clima. Mesmo com a tendência de aumento de 8% na produção de grãos, comparado ao igual período de 2003, o tempo tem massacrado as lavouras. Primeiro, o longo período de chuvas que fez produtores do Centro-Oeste perderem parte dos grãos que apodreceram nas lavouras. Produtores foram obrigados a esperar por condições para retomar a colheita da soja, e, por conseqüência, houve atraso no plantio do algodão. Segundo o Imea (Instituto Matogrossense de Economia Agrícola), o volume produzido ficou 10,6% abaixo do total estimado de 15,49 milhões de toneladas. O instituto afirma que mesmo com o problema das chuvas, a produção continua recorde, ficando superior as 12,9 milhões de toneladas da safra passada. Passadas as chuvas, agora o maior entrave é o escoamento da safra devido ao péssimo estado das estradas, além do aumento do valor dos fretes dos caminhões que fazem o transporte de cargas. Em média este valor foi elevado em 30% devido à demanda registrada. No Mato Grosso do Sul, a produtividade da soja também foi atingida, não pela chuva, mas pela estiagem. O estado já prevê uma redução de pelo menos um milhão de toneladas em grãos, devido à falta de chuvas. No caso do Sul do país, em determinadas áreas, perdura desde dezembro do ano

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passado, acumulando perdas de 15% sobre o total produzido. No Rio Grande do Sul, a cultura da soja, que em sua amaioria, encontra-se em fase de enchimento de grãos é a mais prejudicada pela falta d’água. Produtores já contabilizam 30% na redução da produtividade, sendo que em alguns municípios as perdas chegam a 70%. A Emater (RS) calcula prejuízos ao redor de 2 bilhões na produção de soja. O milho safrinha, que geralmente é plantado após a colheita do fumo em alguns municípios, também ainda não foi plantado devido à estiagem. Em outras regiões ele já encontra-se em fase de pendoamento, e as perdas já chegam a 7%. O feijão safrinha, segundo a Emater de Passo Fundo (RS) também é outra cultura que está comprometida. Plantado na segunda quinzena de janeiro, a cultura padece pela falta de água, chegando a perdas totais em determinados municípios. As chuvas registradas nos últimos dias, devido ao baixo volume, não serão suficientes para reverter o quadro de prejuízos das lavouras no Estado. No Paraná, as perdas na soja representam 14,2% do total esperado para a colheita. Embora ainda existam lavouras em diferentes estágios de desenvolvimento, cerca de 40% da área já foi colhida. Em determinadas regiões em que a cultura ainda se encontra na fase reprodutiva as perdas alcançam 50% do total. Segundo informações do Deral (Departamento de economia Rural) a safra de soja deve ser inferior a 10 milhões de toneladas.

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Mas a seca também se reflete sobre a cultura de algodão que já prevê perdas na ordem de 17%. As regiões mais atingidas são Toledo, Cascavel, Umuarama e Francisco Beltrão. O plantio de milho safrinha também está em atraso no estado, e a tendência é de grande redução na área plantada no estado. Em Santa Catarina o cenário não é diferente. Culturas como o milho safrinha e soja podem ter uma quebra de 50% e cerca de 70 municípios sofrem com os prejuízos. Segundo a Secretaria de Agricultura cerca de 321 mil toneladas de grãos devem ser perdidos com a seca, sendo o milho a maior preocupação. O Estado é grande importador do produto e com a estiagem que já registra perdas totais em determinadas lavouras, a importação neste ano deve ultrapassar um milhão de toneladas, contra as 800 mil do ano passado. A cultura se encontra na fase de formação de espiga. A redução global da safra da soja, provocada por problemas climáticos, será compensado pela elevação dos preços do produto no mercado internacional, afirma o ministro da agricultura Roberto Rodrigues. “Nossa estimativa de exportação do produto para 2004 é essa, apesar da quebra da safra causada pela estiagem no Sul e pelo excesso de chuvas no Norte e Centro-Oeste, além das perdas provocadas pela ferrugem asiática em alguns estados, sobretudo Goiás e Bahia. Isso porque os preços estão subindo no mercado internacional, registrando recordes sobre recordes de C preços”. JE (Matéria escrita em 25/03/2004)

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Soja

Longos períodos de estiagem permitem o aumento da população de ácaros. No Brasil, não se sabe qual o nível de dano econômico da praga

Hóspedes inde O

Lupa de aumento em 20 vezes é o equipamento necessário para se examinar a face inferior da folha

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s ácaros são importantes pragas em algodão, fruteiras e hortaliças. Em soja, esporadicamente, ocorrem populações elevadas, causando apreensão aos agricultores. As espécies mais freqüentes em soja são o ácaro-rajado Tetranichus urticae, o ácarobranco Poliphagotarsonemus loteus e o ácaro-vermelho Tetranichus ludeni. Realizam a postura na parte inferior das folhas, junto ao local de alimentação. O ciclo biológico do ácaro-rajado pode se completar em três semanas sob temperatura de 20 oC e em uma semana sob temperatura de 30 oC. Cada fêmea oviposita mais de uma centena de ovos. Com base no ciclo biológico de uma semana e a produção de 50 fêmeas, em quatro semanas cada ácaro pode dar origem a mais de seis milhões de ácaros fêmeas. Os ovos apresentam forma esférica, tamanho pequeno, sendo depositados na face ventral de folhas. A disseminação do ácaro ocorre pelo vento. Sob condições adversas de alimentação e de ambiente, os ácaros se penduram com fio de teia e são levados pelas correntes de ar até outras plantas hospedeiras.

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ALIMENTAÇÃO E DANOS As populações de ácaros se desenvolvem em soja sob condições de seca ou estiagens prolongadas e em períodos de temperatura elevada. O ataque inicia nas bordas de lavouras, nas plantas sob a sombra de árvores ou em manchas de lavouras, sobre plantas estressadas. Os ácaros perfuram centenas de células diariamente e se alimentam do líquido exsudado, resultando na coloração prateada ou esbranquiçada da folha. Iniciam o dano nas bordas das nervuras da face inferior de folhas. Populações elevadas podem causar a queda prematura de folhas, podendo chegar à desfolha total das plantas e perdas acentuadas na produção. O dano causado por ácaros pode ser confundido com o de trips e a queda de folhas atribuído ao efeito de deficiência hídrica. Para determinar a presença de ácaros nas folhas e o sintoma de dano é necessário usar lupa de 20 aumentos e examinar a face inferior das folhas de soja. Chuvas intensas e períodos prolongados com teores elevados de umidade relativa do ar resultam na redução da população de ácaros. A supressão da população ocorre

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Fotos Dirceu Gassen

Como o ácaro ocorre em períodos de estiagem, o controle realizado no final do dia, mostra-se mais eficiente, devido ao acaricida sofrer uma menor fotodecomposição e, desta forma melhor absorver o produto. Durante o dia as folhas, devido ao calor, encontram-se desidratadas, estressadas, fato que à noite é normalizado, observando-se uma folha mais túrgida, com maior capacidade de absorção e eficiência de controle da praga. A dificuldade de controle está na localização dos ácaros na face inferior das folhas, especialmente as da parte mediana ou inferior das plantas, onde é difícil chegar com a aplicação de produtos fitosC sanitários. Dirceu N. Gassen, Gerente Técnico da Cooplantio.

Gassen recomenda pulverizações no final do dia contra os ácaros

sejados pelo efeito de fungos e de outros agentes de controle biológico. No Brasil os estudos sobre danos e controle de ácaros em soja não permitem indicar níveis populacionais da praga ou de dano econômico. Nos Estados Unidos alguns pesquisadores indicam o controle com 25 % de folhas prateadas, outros sugerem o controle com mais de 20 ácaros por folíolo. Considerar sempre o potencial de dano em soja e a necessidade de controle sob estresse de seca e distribuição generalizada da praga na lavoura.

CONTROLE DE ÁCAROS Vários inimigos naturais atacam os ácaros. A aplicação sucessiva de inseticidas piretróides pode resultar na dispersão de ácaros, na morte de inimigos naturais e na explosão de populações da praga. O uso de acaricidas específicos ou de inseticidas fosforados com ação sobre ácaros é eficiente na redução das populações de formas jovens e adultos, com pouco efeito ovicida. A presença de ovos que dão origem a formas jovens da praga pode resultar na reinfestação, alguns dias depois da aplicação de acaricidas e do controle de adultos e de ninfas.

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Cana-de-açucar Fotos Paulo Botelho

Mudança no controle Com a proibição das queimadas, produtores de cana optam por alternativas na condução das lavouras e no controle de pragas, agora biológico para a broca-da-cana

O

Estado de São Paulo é o maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, com cerca de três milhões de hectares de seu território dedicados ao plantio dessa cultura, o que representa quase metade da área plantada com cana no país. É corrente, a prática da despalha da cana-de-açúcar com queima no estado, comum também em outras unidades da federação, e países como Austrália, África do Sul, Estados Unidos, Argentina, Bo-

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lívia, Colômbia, Costa Rica, México e Venezuela. Por força de lei, no caso das áreas mecanizáveis, que representam 60% no estado, a eliminação total da queima ocorrerá no prazo de 20 anos - até 2021. Nas áreas não mecanizáveis, as queimadas deverão estar extintas em 30 anos. São áreas não-mecanizáveis aquelas que apresentam declividade acima de 12%, solo pedregoso e que não apresentam condições para a colheita com máquinas. A lei

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também prevê que esse prazo pode ser reduzido caso haja disponibilidade tecnológica, pela melhoria nas máquinas, de forma que sejam capazes de cortar cana em terrenos com declividade acima de 12%. Assim, a colheita mecânica da canade-açúcar vem crescendo nos últimos anos no estado, e apresentando benefícios de ordem ambiental e econômica. No sistema de colheita mecânica a palha pode deixar de ser queimada, evitando emis-

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Tabela 1 - Graus de infestação da broca-da-cana. Grau de Infestação Baixo Moderado Regular Elevado Muito elevado

Intensidade de Infestação (%) 0a5 5 a 10 10 a 15 15 a 25 Além de 25

as leveduras no processo de fermentação alcoólica, diminuindo o rendimento. Para cada 1% de intensidade de infestação da praga (número de entrenós atacados pelo complexo broca/podridão-vermelha), ocorrem prejuízos de 0,25% de açúcar ou 0,20% de álcool mais 0,77 de peso, sendo os prejuízos maiores em cana planta.

INFESTAÇÃO E AMOSTRAGEM Adulto: de hábito noturno, geralmente procura plantas novas para efetuar postura

sões de poluentes atmosféricos, e as folhas secas, ponteiros e folhas verdes cortados são lançados sobre a superfície do solo, formando uma camada de material orgânico que ao degradar-se constitui fonte de nutrientes para o solo e para a canade-açúcar. Em decorrência do aumento de área de cana colhida mecanicamente e da crescente proibição de queima para o corte, vêm-se observando mudanças no manejo da cultura e, como conseqüência, em muitas regiões, a diminuição na população da broca-da-cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis, a qual vem sendo contida principalmente pelo controle biológico, realizado com Cotesia flavipes, que parasita a lagarta da praga.

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL No estado de São Paulo, o ciclo de D. saccharalis inicia-se em outubro-novembro, normalmente, após a emergência de adultos provenientes da geração de inverno na região. Eles, geralmente, procuram canas novas para efetuar suas posturas. A segunda geração verifica-se entre dezembro e fevereiro; a terceira entre fevereiro e abril, e em maio e junho se inicia a quarta geração, que pode se prolongar por 5 a 6 meses.

cialmente em canas novas. Quando faz galerias circulares (transversais), secionam o colmo, provocando sua quebra pela ação de ventos. Enraizamento aéreo e brotações laterais também ocorrem devido ao seu ataque. Os prejuízos indiretos são consideráveis, uma vez que através de orifícios e galerias penetram fungos que causam a podridão vermelha do colmo, podendo abranger toda a região compreendida entre as diversas galerias. Os fungos causadores da podridão-vermelha, Colletotrichum falcatum e Fusarium moliniforme, invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e o rendimento industrial no processo de produção de açúcar e álcool. No caso da cana destinada apenas à produção de álcool, os microorganismos que contaminam o caldo concorrem com

A amostragem, geralmente realizada durante a safra, é feita coletando-se, ao acaso, colmos de cana-de-açúcar. O cálculo da intensidade de infestação é feito abrindo-se longitudinalmente cada um dos colmos coletados, contando-se o número de entrenós e aqueles que se encontram lesionados pelo complexo broca/podridão-vermelha. Os dados obtidos são aplicados à fórmula: Intensidade de infestação ( I ) = 100 x [(n° de entrenós atacados por broca/podridão-vermelha) n° total de entrenós].

Determinada a intensidade de infestação, tem-se diferentes graus de infestação (Tabela 1). O controle é econômico quando for encontrada uma intensidade de infestação igual ou superior a 3%. Para o controle químico, a amostragem é feita observando-se, na região do “palmito” da cana, a presença de lagartinhas, antes de penetrarem no colmo. Também o nível de controle é de 3% de canas com lagartas nessa região.

CONTROLE 1) Cultural: São diversas as medidas

PREJUÍZOS As lagartas causam prejuízos diretos, pela abertura de galerias, que ocasionam perda de peso da cana e que podem levar a planta à morte, “coração morto”, espe-

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Controle biológico em massa de ovos pode reduzir intensidade de infestação em 60%

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Fotos Paulo Botelho

que, quando realizadas contribuem para reduzir a infestação da praga. Dentre elas, podem ser citadas o plantio de variedades resistentes, corte da cana, sem desponte, moagem rápida, eliminação de plantas hospedeiras das proximidades do canavial, principalmente milho, sorgo e milheto, após suas colheitas. 2) Biológico: A broca-da-cana é atacada por inúmeros inimigos naturais entre predadores e parasitóides em condições naturais. Entretanto, existem algumas espécies de parasitóides que têm condições de serem multiplicadas em laboratório e liberadas no campo. 2.1) Predadores: São responsáveis, naturalmente, por eliminar uma expressiva parcela, principalmente, de ovos e de lagartas recém-eclodidas. As formigas, pertencentes a diversos gêneros, formam o principal contingente, sendo complementado por coleópteros, neurópteros e dermápteros. Em alguns locais mais de 90% da população inicial da praga é controlada por esse complexo de inimigos naturais. 2.2) Parasitóide de ovos: Sendo a fase do ovo o fator-chave do crescimento populacional da praga, justifica-se a multiplicação do parasitóide Trichogramma spp., para evitar que o inseto inicie o ataque ao colmo da cana. A principal espécie controladora de ovos da broca-da-cana é Trichogramma galloi, que deve ser liberada na forma adulta em 25pontos/ha, num total de 200 mil parasitóides/ha em três liberações sucessivas feitas à tarde e espaçadas de uma semana. Associado com Cotesia flavipes, T. galloi chega a reduzir a intensidade de infestação em 60%. 2.3) Parasitóide de lagartas: A vespinha Cotesia flavipes foi introduzido no Brasil em 1974 e vem se destacando em diversos locais como extremamente eficiente no controle de D. saccharalis. Apresenta vantagens pela facilidade de multiplicação em laboratório em relação às moscas Lydella minense e Paratheresia

Podridão vermelha: causada por fungos que penetram nos orifícios abertos pela broca

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Cultivar

claripalpis que foram utilizadas anteriormente. Nos últimos anos, esses inimigos naturais reduziram as perdas que eram da ordem de 100 milhões de dólares por ano, para 20 milhões de dólares por ano, para São Paulo, devido à redução de intensidade de infestação que era, aproximadamente, de 10% e hoje está em cerca de 2%. 2.4) Feromônio: As fêmeas virgens da broca exercem uma enorme atração sobre os machos dessa espécie, podendo ser usadas para monitorar sua ocorrência. Colocam-se, em condições de campo, armadilhas que constam de uma pequena gaiola, convenientemente protegida, onde são colocadas duas fêmeas virgens com até 48 horas de idade. Os machos atraídos são coletados em uma bandeja com água e melaço ou detergente. 3) Químico: Aplicação em pulverização, visando à região do “palmito”, de um

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40 dias, tempo que a larva D. saccharalis tem para abrir galerias no interior dos colmos

dos produtos inibidores da síntese de quitina (triflumuron e lufenuron) ou agonista de ecdisteróides (tebufenozide), quando houver 3% de canas com lagartas recém-eclodidas.

A QUEIMA DOS CANAVIAIS Dentre os inúmeros efeitos que as queimadas podem produzir em um agroecossistema, o mais imediato deles, é, sem dúvida, a elevação momentânea da temperatura local, causando com isso a destruição de parte da população de inimigos naturais. Quando lagartas e pupas de D. saccharalis e de seus inimigos naturais (pupas de L. minense e de C. flavipes) são expostos a altas temperaturas, por diferentes períodos de tempos, as lagartas são mais prejudicadas,

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Tabela 2 - Total de indivíduos de Diatraea saccharalis, capturados com armadilha luminosa, em áreas de cana-de-açúcar colhida com e sem a queima prévia da palha no município de Piracicaba (SP). Espécie Diatraea saccharalis

Número de indivíduos Cana Crua Cana Queimada 434 978

enquanto que suas crisálidas são mais resistentes. As pupas dos inimigos naturais, também suportam essas altas temperaturas momentâneas, especialmente às de C. flavipes. Assim, estas informações podem levar a conclusões imediatistas de que a queima beneficia o controle dessa praga. Porém, essa prática, consagrada em função dos reflexos econômicos imediatos, causa uma série de inconvenientes ao meio ambiente, e em particular a entomofauna associada à cultura, com ênfase aos inimigos naturais, que no momento das queimadas são, os componentes do ecossistema, que mais sofrem. A queima prévia dos canaviais, ocasiona diminuição na população de predadores, de parasitóides e na biodiversidade o que pode trazer como conseqüente, aumento na população da praga nos meses subseqüentes. A cana colhida madura e sem queima, além de reduzir a poluição atmosférica, pode proporcionar menor incidência da broca, D. saccharalis, .especialmente com o passar do tempo onde essa prática é adotada. Do mesmo modo, a queima do palhiço após o corte é uma prática condenável, pois observa-se, em locais onde estes restos culturais foram queimados, que a infestação da praga foi superior (Tabela 2).

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DESCRIÇÃO E BIOLOGIA DA BROCA

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vo: os ovos de D.saccharalis são planos e possuem forma oval, medem em torno de 1,2mm de comprimento e 0,75mm de largura. As fêmeas ovipositam nas folhas, de preferência na face dorsal. Cada postura pode variar de 5 a 40 ovos, em média, sendo estes agrupados de forma semelhante a escamas de peixes. A fecundidade média desta espécie é aproximadamente 300 ovos. Quatro a nove dias após a postura, em média, se os ovos estiverem fecundos, ocorre a eclosão da lagarta. Inicialmente os ovos são brancos, com o desenvolvimento embrionário, ficam alaranjados, e posteriormente é visível a cápsula cefálica da lagarta ainda no interior do ovo. Lagarta: As lagartas recém-eclodidas são de cor branca, tornando-se creme com o desenvolvimento, apresentando algumas manchas escuras espalhadas pelo corpo. Alimentam-se, no início, do parênquima foliar, no interior da bainha da folha; após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem gaAssim, a implantação e manutenção de sistemas de controle biológico de pragas da cana-de-açúcar seriam otimizadas, a longo prazo, em sistema de colheita sem queima, pois o material liberado não seria destruído pelas queimadas e o multiplicado C nessas áreas seria preservado.

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lerias de baixo para cima. Essas galerias podem ser de duas formas: longitudinais, na maioria dos casos, e, às vezes, transversais. Passam por cinco prováveis instares, durante um período médio de 40 dias, dependendo das condições climáticas. A lagarta preste a se transformar em pupa, cessa a alimentação, limpa e amplia a galeria onde se desenvolveu, abre um orifício para o exterior, fecha-o com fios de seda e serragem e transforma-se em crisálida. Pupa: É de coloração castanha e tem a duração de 9 a 14 dias, variando o tempo de acordo com as condições climáticas. Mede aproximadamente de 16 a 20mm de comprimento. Adulto: Os adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores, as asas posteriores são esbranquiçadas, medem cerca de 25mm de envergadura. Apresentam hábito noturno e ficam escondidos durante o dia. A oviposição ocorre à noite, principalmente no início do anoitecer. José Francisco Garcia e Luciano Pacelli Medeiros Macedo, ESALQ / USP Eliane Grisoto, I.C. - FAPESP Paulo Sérgio Machado Botelho CCA / UFSCar

Cultivar

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Trigo Divulgação

Cultivar certa Deve-se avaliar as particularidades das variedades escolhidas, fatores climáticos e técnicos da propriedade para garantir produtividade compensatória

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m inúmeras reuniões técnicas e encontros para debater os temas relacionados à produção de trigo nacional, muito se discute sobre as dificuldades encontradas pelos produtores na hora de comercializar o trigo. Em conseqüência, a área semeada se expande de maneira muito lenta, forçando o país a importar a maior parte do trigo que consome. Realmente, para o cidadão brasileiro pouco familiarizado com os problemas que envolvem a produção de trigo nacional, fica difícil entender as razões de um país, que dispõe de extensas áreas relativamente aptas para o cultivo de trigo, com enorme infraestrutura de produção, dispondo de tecnologia que permite o cultivo de forma racional, com mercado consumidor assegurado, e parque moageiro com grande capacidade ociosa, não conseguir produzir o trigo para suprir a própria demanda e, por que não, exportar trigo e seus derivados.

O NÓ DA COMERCIALIZAÇÃO Se observarmos o que ocorreu com a safra de trigo de 2003, verificamos que o Brasil tem ainda muito a avançar nas relações entre o setor produtivo e a indústria de moagem. Pela primeira vez, decorridos quase 15 anos da privatização da compra do trigo, o

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Cultivar

país produziu mais de 5 milhões de toneladas do cereal, o suficiente para abastecer mais de 50% da demanda nacional. Contribuíram para tanto, a combinação de fatores favoráveis de ordem climática e o uso adequado de técnicas de produção, já amplamente assimiladas pela maioria dos agricultores. No entanto, justamente no período crítico da colheita, de uma ótima safra, devido aos estoques elevados de trigo importado, a comercialização ficou travada, com preços em queda, obrigando algumas cooperativas a importar, a fim de evitar maiores prejuízos. Essa conquista do mercado externo não foi tarefa fácil, uma vez que o país não estava preparado para exportar trigo. Ficou difícil convencer os potenciais clientes que um país francamente comprador, dispunha de trigo de boa qualidade para exportar. Felizmente, as operações de venda foram realizadas em “pool” organizadas por cooperativas, contando com profissionais competentes. Conseguiu-se, com isso, exportar praticamente um milhão de toneladas de trigo da safra de 2003 e, ao mesmo tempo, conquistar um promissor mercado para operações semelhantes, se houver necessidade no futuro. Nessas operações de exportação, um fator de extrema importância foi a garantia de qualidade e a uniformidade dos lotes oferta-

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dos. O entendimento, por parte dos agricultores, da importância da qualidade na comercialização do trigo, vai fazer a diferença no Tabela 1 - Cultivares de Trigo da Embrapa indicadas para o Paraná1 (2004) Região2 6, 7,8 e 9 (MS) e 12 (SP) BR 23 Brando Suave 7e8 Pão Semi mole 6, 7 e 8 BRS 49 Suave BRS 120 Brando 7e8 BRS 176 Brando Suave 8 Brando Suave 7e8 BRS 177 Suave BRS 192 Brando 7e8 BRS 193 Pão Semi dura a 6, 7 e 9 (MS) e 12 dura (SP) BRS 208 Pão Semi dura 6, 7,8 e 9 (MS) BRS 209 Melhorador Dura 6e7 Melhorador Semi dura 6, 7 e 9 (MS e BRS 210 Cerrado c/Irrigação) BRS 220 Pão Dura 6, 7 e 8 Pão Dura a semi 6, 7 e 8 BRS 229 dura BRS Figueira Brando Suave 8 Brando Suave 8 BRS Umbu Semi dura 8 EMBRAPA 16 Pão Cultivar BR 18

Classe Pão

Textura Dura

lgumas dessas cultivares são, também, indicadas para outros estados. Estado do Paraná, regiões, 6 = norte, 7 = centro-oeste e 8 = sul, Fig. 1. Região 9 = Mato Grosso do Sul e Região 12 = São Paulo.

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escoamento das safras futuras, seja para o mercado interno ou para a exportação.

DISPONIBILIDADE DE SEMENTES No Paraná, a maioria absoluta das sementes disponíveis para semeadura, na safra de 2004, é de cultivares com excelente aptidão genética para produzir grãos que atendam à demanda do mercado de panificação e de massas. Segundo a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB/DERAL), em janeiro de 2004, cerca de 90% das 3.867.000 sacas de semente bruta disponível para semeadura na presente safra são de cultivares classificadas nas categorias de Pão ou Melhorador. Entre as 36 cultivares de trigo indicadas para o Paraná com registro de disponibilidade de semente, 30 pertencem às classes Pão e Melhorador. O potencial genético para qualidade da semente de trigo produzida no Paraná fica evidente ao se constatar, ainda segundo a Seab/Deral, que entre as quatro cultivares com maior volume de semente para a safra de 2004 (representando cerca de 60% da semente disponível), duas delas são da classe Melhorador e duas da classe Pão. Considerando a grande variabilidade de clima e solo, obrigando a que o trigo seja semeado em épocas distintas, a disponibilidade de sementes de cultivares com diferentes características agronômicas, porém de aptidão industrial semelhante, é fator positivo, pois possibilita ao agricultor diversificar as cultivares, reduzindo os riscos de prejuízos ocasionados por fatores adversos e, ao mesmo tempo, manter padrões de qualidade que atenda à demanda do mercado.

REGIONALIZAÇÃO A idéia da regionalização de cultivares,

TRIGO NO SUL X BRASIL CENTRAL

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Região do Brasil Central é a grande fronteira para a produção de trigo, pois a tradicional e maior produtora, a Região Sul, não tem como aumentar a sua área, ao passo que o Brasil Central conta ainda com mais de 2,0 milhões de hectares que poderão ser ocupados com a cultura do trigo. A região Sul foi e continua sendo referência tecnológica para produção de trigo, mas o Brasil Central conta com particularidades adicionais que indicam grande oportunidade para independência no abastecimento interno e até mesmo para excedentes exportáveis. No Brasil Central, as condições de ambiente permitem melhorias importantes na qualidade do grão produzido quando comparadas à maior parte da região Sul. È bem verdade que a produtividade na Região Sul deu importantes saltos de melhoria nos últimos anos, atribuídos principalmente à adoção de cultivares mais modernas e do levando em conta não somente suas características agronômicas, como resistência às doenças mais freqüentes em algumas regiões, ou tolerância ao alumínio e às geadas, mas também quanto aos aspectos de dureza de grãos e força de glúten, está ganhando força no Paraná. Essa estratégia possibilita aos triticultores localizados em regiões com maior aptidão para produzir trigo Brando, se especializarem na produção dessa classe de trigo. Dirceu Gassen

A diversificação de cultivares é a estratégia para a redução de riscos, desde que respeitada a homogeneidade de lotes

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plantio direto com sistemas de rotação de culturas mais apropriados. O fato da Região Central do Brasil oferecer condições de colher trigo com pouca ou nenhuma possibilidade de chuvas no final do ciclo, representa grande diferencial no aspecto de melhoria da qualidade industrial, comparada à região Sul. Além disto, os riscos de perdas provocadas por geadas no sul são infinitamente maiores. Cabe também ressaltar que além de todas as doenças que ocorrem aqui no Brasil Central, outras como as septorioses, o mal do pé e a giberela causam sérios prejuízos nos trigais da região Sul, o que soma mais uma vantagem comparativa, em função dos menores gastos com o controle de moléstias. Finalmente, o trigo do Brasil Central é o primeiro a ser colhido e ofertado ao mercado brasileiro, antes mesmo do trigo argentino, o que resulta na obtenção de melhores preços para o produto. Nas regiões Sul e Sudoeste do Paraná, de clima mais ameno, durante o período de inverno, é freqüente a ocorrência de geadas e os níveis de precipitação são maiores, comparados aos verificados no Oeste e Norte do estado. Nessa condição, as cultivares de trigo de menor força de glúten têm maior adaptação. Tendo em vista que existe mercado principalmente o destinado ao fabrico de biscoitos e pizzas - demandante de trigo com essas características, é mais racional ao agricultor localizado nesses ambientes, produzir trigo Brando do que insistir na produção de trigo de alta força de glúten. Além de, muitas vezes, não conseguir alcançar o resultado esperado, fatalmente terá maiores custos de produção, ao insistir na opção por cultivares com alta força de glúten, com riscos de, no final, dispor de um lote de trigo que não será nem Pão, nem Brando. Esse trigo não atende à demanda, poderá ser rejeitado pelas indústrias, pois ele será desclassificado devido a problemas ambientais. Nas regiões Oeste e Norte do Paraná, o clima é mais seco durante o período de inverno (o que também ocorre no Mato Grosso do Sul e São Paulo). As cultivares de alta força de glúten – trigos das classes Pão e Melhorador – devem merecer a preferência dos agricultores uma vez que, em ensaios de campo, conduzidos durante vários anos, demostraram boa adaptação e elevado poten-

Cultivar

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Embrapa Soja

Cultivar trigo de características não recomendáveis, além de não se alcançar resultado esperado, aumenta custos, alerta Brunetta

cial produtivo. Além da preferência por cultivares de elevada força de glúten, a orientação é para que nessas regiões os agricultores optem por cultivares que apresentem grãos de textura dura, formando, assim, lotes uniformes, de trigo de qualidade de fácil aceitação pelo mercado, quer seja ele interno ou, eventualmente, externo.

AS CULTIVARES DA EMBRAPA Para a safra de 2004, as cultivares indicadas para o Paraná estão na Tabela 1. Algumas tiveram sua indicação estendida, também, para outros Estados, como São Paulo e Mato Grosso do Sul, bem como para algumas condições do Brasil Central. Entre as cultivares da Tabela 1, a BRS 208 destaca-se pela grande quantidade de semente disponível para a safra de 2004. Desenvolvida pelo programa conjunto de melhoramento da Embrapa Soja e Embrapa Trigo, BRS 208 foi indicada para cultivo em 2001 para as regiões 6, 7 e 8 do Paraná e, em 2003, para a região 9 (MS), conforme mapa ao lado, sem limitações para teores de alumínio no solo. Para a safra de 2004, é a segunda cultivar em área semeada no Paraná, com cerca de 14% da semente disponível. Tem como pontos fortes ampla adaptação, resistência às principais doenças e excelente qualidade industrial. Classificada como trigo Pão, apresenta alta força de glúten, com W = 296, na média de 64 amostras, coletadas no Paraná, durante várias safras. Apesar de ser enquadrada entre as cultivares de ciclo médio, posiciona-se entre as de ciclo mais curto em sua categoria, muito próximo, portanto, às cultivares de ciclo precoce. O grande destaque da cultivar é sua rusticidade e resistên-

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Cultivar

cia às doenças foliares, como o oídio, a ferrugem da folha, as manchas foliares e o vírus do nanismo amarelo da cevada (VNAC), permitindo que se obtenha bons rendimentos, com baixo uso de fungicidas. Com relação às doenças de espiga (giberela e brusone) apresenta moderada suscetibilidade. Uma cultivar diferenciada, por apresentar palha forte e baixa estatura, o que lhe confere alta resistência ao acamamento, é a BRS 210, lançada em 2002. Ela é indicada para solos com alta fertilidade ou que receberem elevadas doses de fertilizante. Caracteriza-se pela moderada resistência ao oídio, à ferrugem da folha e ao VNAC. É, também, tolerante ao alumínio tóxico do solo. No entanto, deve-se ficar atento à sua suscetibilidade às manchas foliares e doenças da espiga, que podem ser controladas com aplicações de fungicidas no momento adequado, principalmente, por ocasião da emissão das espigas. Em 54 amostras de vários anos no Paraná, apresentou excelente força de glúten com valor médio de W = 306, enquadrando-se na classe trigo Melhorador. Outra cultivar com grande potencial de expansão de área no Paraná é a BRS 220. Considerada de porte médio/baixo, com altura média de planta de 84 cm, destaca-se pela palha forte, e excelente resistência ao acamamento. É moderadamente tolerante ao alumínio. Apresenta grãos vermelhos, bem formados, com peso médio de 36 g e peso do hectolitro elevado (média de 79). Em 34 amostras analisadas no Paraná apresentou W médio de 255, enquadrando-se na classe trigo Pão. A BRS 220 tem eviden-

ciado melhor desempenho produtivo quando cultivada em ambientes de clima mais ameno. Indicada para todo o Estado do Paraná a partir de 2003, a cultivar tem se mostrado muito promissora, principalmente para semeadura em áreas de boa fertilidade das regiões centro-sul e sudoeste do Estado. A partir da safra de 2004, a Embrapa está disponibilizando para o Paraná também a cultivar BRS 229. Indicada para todo o Estado, apresenta ciclo médio, altura intermediária, grãos duros, com excelente formato, que produzem elevada extração de farinha da classe Pão. O valor médio de W, obtido de 53 amostras coletadas no Paraná, foi de 250. Embora ainda em caráter preliminar, a BRS 229 tem se destacado pela resistência à brusone, causada pelo fungo Magnaporthe grisea, que ocorre em algumas regiões do Paraná, São Paulo e outros Estados ao norte, sendo de difícil controle com produtos químicos. Em síntese, a diversificação de cultivares é de importância fundamental, na busca de estratégias de redução de riscos. No entanto, a formação de lotes homogêneos, compostos com cultivares de mesma textura e força de glúten semelhantes dará maior poder de barganha na hora da comerciaC lização. Dionisio Brunetta, Sergio Dotto e Manoel Carlos Bassoi, Embrapa Soja Pedro Luiz Scheeren, Embrapa Trigo

Fonte: Embrapa

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Trigo

Vai bem no Cerrado Com a política de incentivo de auto-suficiência e exploração do Cerrado, Minas Gerais se destaca pela expressiva dedicação ao cultivo de trigo, tendo como aliados ambiente propício e cultivares com alto potencial genético

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veis. A IAC 350 é uma cultivar indicada apenas para os municípios de São Gotardo, Rio Paranaíba e Campos Altos. Outra cultivar que foi indicada para condição de sequeiro é a Aliança, que apesar do bom desempenho agronômico, ainda tem pouca disponibilidade de sementes. Nos três últimos anos, foram testadas e inclusas na lista de cultivares das indicações técnicas de 2003 e 2004, as cultivares BR 18Terena, BRS 49 e BRS 234 cujos rendimentos foram de 1760, 1982 e 1856 kg/ha, respectivamente, na média de dez ensaios conduzidos em Minas Gerais nos anos de 2001 e 2002. Essas cultivares espigam entre 50 e 57 dias, com altura entre 55 e 75 cm, todas pertencentes à classe comercial Pão. A BRS 234 foi indicada para cultivo em Minas Gerais, em dezembro de 2002, suas sementes, porém, ainda não estão disponíveis ao produtor. Nas condições sob irrigação de Minas Gerais, cuja área plantada passou de 6.000 ha para cerca de 12.000 ha em 2003, com estiJoaquim Sobrinho

Cultivo de trigo em Minas Gerais passou por diferentes fases nos últimos 25 anos. Nos anos 70 e 80, com a intensificação da política de auto-suficiência e de ocupação e exploração dos cerrados, a cultura do trigo foi reintroduzida em Minas Gerais. A criação de programas especiais visando a incorporação dos cerrados no processo produtivo, entre eles o Polocentro e o Prodecer, mais gerais, e o Padap (Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba), mais específico para o Estado de Minas Gerais, além do Projeto Campo, nas regiões do Alto Paranaíba (Coromandel e Iraí de Minas) e Noroeste de Minas (Paracatu e Unaí), contribuíram para a expansão e produção do trigo no Estado. Diante das políticas de incentivo à produção de trigo e do aproveitamento das áreas sob cerrados, Minas Gerais respondeu com expressiva evolução no cultivo deste cereal, passando de apenas 654 há em 1976 para 24.607 há em 1982, o que deu uma produção de 526 e 39.371 t, respectivamente. A Embrapa, através da Embrapa/Trigo e da Embrapa/Cerrados, juntamente com outras empresas de pesquisa como a Epamig e as universidades de Lavras, de Viçosa e de Rio Verde sempre acreditaram que a região do Brasil Central é o caminho para reduzirmos, ou até mesmo eliminarmos a nossa dependência de importação, que ainda beira 75 % da nossa necessidade anual de consumo, que é de mais de 10 milhões de toneladas. Além da intensificação no processo de criação, muitas cultivares indicadas para outras regiões do País estão sendo testadas e indicadas para a região do Brasil Central, tanto para as condições de sequeiro, quanto de irrigação. Para Minas Gerais, as cultivares mais antigas indicadas para o cultivo em sequeiro são a BR 26 - São Gotardo, a Embrapa 21 e a IAC 350, sendo que a primeira, também indicada para o plantio sob irrigação, ainda está sendo cultivada nesta condição, mas ela deverá ser abandonada em função de sua baixa adequação à produção de pão. A Embrapa 21 também não possui boa qualidade industrial e por isto, já não existem mais sementes disponí-

Joaquim acredita que o Brasil Central é o caminho para eliminar a dependência da importação do trigo

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mativa de produção de 54.000 t, constam da lista das indicações técnicas para 2003 e 2004, as cultivares BR 26-São Gotardo, Embrapa 22, IAC 289, IVI 931009, BRS 207, Embrapa 41 e BRS 210. Dentre elas, apenas as cultivares IVI 931009 e Embrapa 41 não estão sendo cultivadas, sendo a principal causa a falta de sementes. No caso da Cultivar IAC 289 seu cultivo se dá em pequenas áreas dos municípios de São Gotardo, Rio Paranaíba e Campos Altos. As maiores áreas estão sendo semeadas com as cultivares BR 26, BRS 210, BRS 207 e Embrapa 22 talvez nesta mesma ordem, em sentido crescente. Dentre elas as mais antigas são BR 26 e Embrapa 22, que a primeira deverá ser substituída pelas outras duas nos próximos anos, em função de sua baixa qualidade industrial. As cultivares BRS 207 e BRS 210 produziram na média de 13 ensaios nos anos 2001, 2002 e 2003, 5116 e 4754 kg/ha, respectivamente, sendo que a BRS 207 chegou a produzir 7142 kg/ha em Coromandel no ano de 2002 e a BRS 210 chegou a 6203 kg/ha neste mesmo local em 2003. A BRS 207 pertence à classe comercial Pão, espiga entre 67 e 74 dias após à emergência, altura média de 85cm e só perde para Embrapa 22, em termos de área plantada em Minas Gerais. A BRS 210 foi indicada em dezembro/2002 para cultivo no Brasil Central, pertence à classe comercial Melhorador, espiga entre 65 e 70 dias após à emergência, altura média de 75cm e já é a terceira cultivar mais plantada em Minas Gerais. Apesar da pouca disponibilidade de cultivares para cultivo em Minas Gerais, a indústria terá à sua disposição na próxima safra, trigo de alta qualidade industrial, pois praticamente todas as cultivares indicadas têm alto potencial genético para tal e o nosso ambiente é propício para produção de trigo de qualidade tão boa quanto os melhores trigos imporC tados. Joaquim Soares Sobrinho e Márcio Só e Silva, Embrapa Trigo Paulimar Batista Alvarenga, Embrapa-Escritório de Negócios do Triângulo Mineiro

Cultivar

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Arroz Fotos Neri Ferreira

Nicho de mercado A produção de arroz orgânico pode ser uma boa alternativa para pequenas propriedades, onde é possível fazer um monitoramento de toda a área produzida. Apesar da menor produção, os preços pagos pelo produto podem compensar

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Cultivar

porados no solo.

PLANTAS DANINHAS A infestação das lavouras por plantas daninhas constitui-se num dos principais problemas a ser enfrentado pelos produtores orgânicos, que não devem se preocupar em obter áreas totalmente livres de plantas daninhas, mas visualizar Cultivar

m sistemas de produção orgânica, fatores de produção bio físicos estão intimamente relacionados com os fatores sócioeconômicos e institucionais. O termo orgânico refere-se a métodos de produção e processamento de alimentos que conservem os recursos naturais. A Embrapa Clima Temperado em Pelotas (RS), em parceria com a EPAGRI, Estação Experimental de Itajaí (SC), e a Associação dos Usuários do Perímetro de Irrigação do Arroio Duro (AUD), Camaquã (RS), está desenvolvendo o projeto “Alternativas Tecnológicas para Produção Orgânica de Arroz Irrigado no Sistema de Cultivo Convencional, no Rio Grande do Sul. Na prática, arroz orgânico deve ser produzido e processado sem o uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. Métodos biorracionais devem ser usados para o controle de pragas. O sistema de cultivo deve incluir a rotação de culturas, o uso de coberturas verdes como fertilizante, uma densidade de sementes e um manejo da água de irrigação voltados ao controle de plantas daninhas e outras pragas. Restos culturais e outros resíduos da produção possuem um alto valor neste sistema, sendo recomendável que sejam incor-

a propriedade como um sistema ecológico, onde as espécies cultivadas são as dominantes. A estratégia deve contemplar um sistema de manejo que aumente o máximo possível a competitividade da espécie cultivada, desde o início da emergência das plantas, mais do que a eliminação de todas as espécies de plantas invasoras. A capina mecânica, exeqüível em áreas de lavoura com cerca de 30 ha, portanto, mais compatível com o estrato da agricultura familiar, constitui-se numa importante prática capaz de reduzir os problemas decorrentes da infestação por plantas daninhas. Direcionamentos de programas de melhoramento genético de arroz visando cultivares altamente competitivas com plantas daninhas, que possam alcançar altas produtividades, sob o manejo orgânico, é uma outra estratégia.

NUTRIENTES

Maria Laura apresenta vantagens e fatores que ainda limitam o cultivo do arroz orgânico

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Leguminosas de inverno, fosfato natural reativo e sulfato de potássio, fontes de nutrientes liberadas pelo Mapa para a produção orgânica de produtos vegetais, são adequadas de N, P e K, respectivamente, para a cultura do arroz irrigado, substituindo de forma satisfatória as fontes minerais utilizadas nos sistemas de

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produção químico. Os menores teores de nutrientes porventura detectados no arroz produzido no sistema orgânico, comparativamente ao químico, devem-se principalmente, à limitação no crescimento das plantas, decorrente da competição com plantas invasoras. O nitrogênio é o principal nutriente limitante à produção orgânica de arroz, requerendo maior atenção quanto à seleção de fontes e ao manejo para a nutrição adequada das plantas. O uso de leguminosas de inverno, como adubos verdes, desponta como uma fonte alternativa de N bastante atrativa para este sistema, contribuindo com quantidades superiores a 100 kg ha-1 do elemento, em geral mais elevadas do que às fornecidas usualmente pelos fertilizantes minerais empregados no sistema químico. É fundamental, porém, para o sucesso da adubação verde, a seleção de espécies adaptadas ao cultivo em áreas de várzea, durante o inverno. As espécies usadas como adubos verdes apresentam, ainda, vantagens adicionais, como a manutenção do solo coberto durante o outono-inverno, evitando sua degradação química, física e biológica, efeito inibitório sobre invasoras, reduzindo ocorrência destas no cultivo de verão.

O uso de inoculantes à base de cianobatérias, como os gêneros Nostoc e Tolypothrix, é mais uma fonte para fornecimento de N, havendo informações de que possa fixar até 80 kg ha-1 do elemento, que, associado ao emprego de adubos verdes poderá garantir o suprimento da fonte mineral. Em nível experimental, aumentos significativos de produtividade, da ordem de 42%, equivalente ao obtido com fonte mineral de N, tem sido obtido por meio do uso de inoculantes a base de cianobatérias.

RIZIPISCICULTURA A consorciação com a criação de peixes, tem demonstrado ser uma opção rentável para o produtor que deseja agregar valor ao arroz orgãnico. Além das vantagens visíveis da criação das carpas húngara e capim no aporte de material orgânico e no controle de plantas invasoras esta sendo pesquisado o papel de jundiás no controle de larvas do gorgulho-aquático, conhecidas por bicheira-da-raiz do arroz. Mesmo empiricamente, orizicultores do Banhado do Colégio (Camaquã, RS), do âmbito da agricultura familiar, garantem que jundiás consomem inúmeras pragas do arroz irrigado, principalmente caramujos, causadores de danos seve-

Baixos teores de nutrientes porventura detectados, devem-se principalmente à competição com plantas invasoras

ros na fase inicial da cultura.

ANÁLISE ECONÔMICA A produtividade média de arroz orgânico se mantém, usualmente, menor do que outros sistemas de produção químico. No entanto, o diferencial estaria no


Neri Ferreira

maior preço pago por compradores especializados. Razões para a adesão ao sistema de produção orgânica de arroz incluiriam maior valor da produção, redução de custos devido ao menor uso de insumos químicos, conquista de um mercado cativo e o desejo de compactuar com o meio ambiente. Comparação econômica de sistemas de produção orgânico e químico de arroz irrigado, em área de validação, em propriedade rural, em Camaquã, RS, consta na Tabela 1. A menor rentabilidade relativa do sistema orgânico é decorrente da menor produtividade até então obtida, e da falta de agregação de valor ao produto, mesmo que o custo de produção seja 32% inferior ao do sistema químico. No entanto, se o preço pago ao arroz químico e orgânico for diferenciado, agregando ao arroz orgânico um valor 48% superior, como ocorreu na safra 2002/03, atingindo o preço de R$ 67,00/saca de 50 kg, principalmente por tratar-se de grão japônico (cultivar BRS Bojuru), a rentabilidade do sistema orgânico foi de apenas 10% inferior ao do sistema químico. A expectativa é de que, com o avan-

Valor agregado ao produto orgânico pode ser 48% superior ao convencional

EM BUSCA DO ORGÂNICO

O

produtor Ilberto Schiefeldein de Agudo (RS) é um dos pioneiros no projeto que incentiva o processo de transição de sistema de cultivo convencional para o orgânico. Das 17ha plantadas neste ano, com uma produtividade média 170 sacas/ha, o preparo do solo foi realizado basicamente pelo uso de uma grade niveladora pesada e gradagens que dispenderam de mais ou menos 10 passadas, para que fossem destruídas as invasoras remanescentes e o solo apresentasse condições de receber a semente. Antes do plantio, toda a área passou por um trabalho de sistematização a laiser, fundamental para que se obtivesse um terreno plano para a colocação da água de irrigação, o que permitiu um perfeito controle das invasoras no arroz sem utilização de herbicidas. “Com essa sistematização, usada há pelo menos seis anos, temos um terreno plano que permite fazer o controle dos “inços” através da lâmina d’água e o que por ventura fique é catado manualmente”, afirma Ilberto. Cerca de 20 dias após o plantio, antes porém da colocação da água de irri-

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Cultivar

gação, foi realizada a operação de capina mecânica motorizada que mais uma vez elimina invasoras que possam ter emergido neste período entre o plantio e a emergência. Logo após, a água assume o papel principal no controle de plantas daninhas, consideradas como fator limitante na produção arrozeira. Devido a este fator a lavoura chega a ser revisada 4 a 5 vezes ao dia pelas pessoas que trabalham diariamente no manejo. Quanto às pragas o produtor garante não serem relevantes. A Bicheira-doarroz, praga mais freqüente, é facilmente controlada com o manejo da lâmina d’água - “retira-se a àgua da lavoura por um período suficiente para eliminá-la e está resolvido o problema”, declara. Nesta transição do sistema convencional para o orgânico, o que ainda não permite um cultivo 100% orgânico é o uso da adubação nitrogenada, onde são gastos aproximadamente 570 kg/ha no ciclo da cultura. Em termos de custos na transição para o novo sistema, Ilberto diz que seus gastos somam 30% do valor total de um saco produzido.

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ço das pesquisas, liberando o mais rápido possível tecnologias eficientes para o controle de plantas daninhas e para maior aporte de matéria orgânica ao solo, vitais para o aumento da produtividade do sistema orgânico, em adição à agregação de valor e à conquista de mercados especializados, para um produto de melhor qualidade, a rentabilidade do referido sistema de produção ultrapasse significativamente a do sistema de produção baseado na utilização de insumos C químicos. Maria Laura Turino Mattos, José Francisco da Silva Martins, Daniel Fernandes Franco, João Carlos Medeiros Madail, João Luiz Silva Vendrusculo e Walkyria Bueno Scivittaro, Embrapa Clima Temperado Tabela 1. Economicidade de um sistema de produção orgânica de arroz irrigado comparada à de um sistema de produção química. Embrapa Clima Temperado. Pelotas, RS. 2004 Sistema de Produção Químico Orgânico

Produtividade1 Custo de Produção Rentabilidade (%)2 kg .ha-1 % R$ % A B 6.500 100 1.008 100 100 100 3.740 58 695 69 55 90

Maior produtividade obtida em área de validação, em propriedade rural (Camaquã, RS), por meio de sistemas de produção orgânica e química. 2 Rentabilidade sem (A) e com agregação de valor ao arroz orgânico (B), sendo o preço da saca de 50 kg igual a R$ 43,00 e R$ 67,00, respectivamente. 1

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Informe jurídico • Newton Peter • OAB/RS 14.056 • consultas@newtonpeter.com.br

Sobre a compensação de tributos

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inguém gosta de perder dinhei ro. Nem a Secretaria da Recei ta Federal (SRF), cujos secretários e coordenadores divulgam mensalmente, exultantes, “recordes” de arrecadação de tributos, como se a notícia fosse boa para o contribuinte. Cada um fez a sua parte. Qualquer um pode achar um suposto crédito junto à SRF. Difícil é usar esse crédito sem gerar ônus ou risco para as empresas. A consulta de um advogado antes de iniciar qualquer procedimento administrativo para apurar créditos certamente sairá muito mais barata do que os honorários cobrados pelo mesmo profissional numa eventual defesa. As regras para restituição ou compensação de tributos federais foram alteradas, entre outras, pelas Leis 10.637/02 e 10.833/03. A mudança no artigo 74 da redação anterior (9.430/ 93) merece destaque. Nele está contida autorização para uso de créditos apurados para compensação de quaisquer tributos e contribuições administradas pela SRF, embora, adiante na lei, constate-se que a expressão “quaisquer” comporta exceções. Entre as boas notícias está a possibilidade de aproveitar saldos negativos do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido. O primeiro passo para compensar crédito é avaliar a sua existência. Só se pode dizer que se tem crédito quando uma decisão judicial transitada em julgado (definitiva) o garante ou quando a SRF o reconhece administrativamente. Após ter certeza do crédito, analisa-se a contabilidade da empresa. Deve-se saber, em termos tributários, quais os seus pontos fortes (tributos recolhidos corretamente) e os fracos (tributos mal recolhidos, não recolhidos e discutíveis). A partir dessas informações, avalia-se se

os créditos em questão (a compensar) valem o risco de ter um procedimento fiscal instaurado na empresa. Para manter seus “recordes de arrecadação”, a SRF tem tomado dois caminhos para evitar a compensação de tributos: a.) Questiona os créditos; b.) Procura tributos mal recolhidos ou não recolhidos. As duas hipóteses podem implicar em instauração de procedimento fiscal. Por isso, devese saber exatamente quais os riscos de os fiscais encontrarem irregularidades e qual o seu valor, incluindo multas e correção. Às vezes, os valores não recolhidos são bem superiores aos créditos pretendidos pelas empresas.

APROVEITANDO CRÉDITOS Até o advento da Lei 10.637/02, o contribuinte somente poderia usar créditos para saldar tributos da mesma espécie (Lei 8.383/91). O Judiciário aprovava o procedimento, fazendo com que grande parte dos créditos jamais fosse usada. Resumindo, o contribuinte paga-

va imposto indevido e não conseguia recuperar seu crédito. As modificações na lei obrigaram a SRF a conseguir mais dinheiro. E a sua única fonte de receita é o próprio contribuinte. Optando-se por aproveitar créditos, devese entregar declaração com informações sobre créditos utilizados e débitos compensados. De acordo com a lei (10.833/03), essa declaração implica em confissão de dívida. Evidentemente, os créditos pretendidos serão analisados com rigor. A Instrução Normativa (IN) 210, da SRF, prevê, no seu artigo 4º., a realização de diligência fiscal nas empresas para averiguar os créditos pretendidos. Uma vez que os créditos sejam reconhecidos, o artigo seguinte da mesma IN prevê levantamento da situação da empresa junto à SRF, inclusive buscando débitos inscritos em Dívida Ativa da União. Débitos antigos devem ser saldados primeiro. Passada essa fase, a SRF fará a restituição. Caso a decisão não agrade, pode-se discutir administrativa e judicialmente.

Decidido nos tribunais REDIRECIONAMENTO – Conforme o Artigo 135 do Código Tributário Nacional, para que haja responsabilidade pessoal do sócio em termos fiscais, é preciso prova de sua ação com excesso de mandato, infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto da pessoa jurídica. EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO - Nos casos de declaração de inconstitucionalidade do empréstimo compulsório sobre combustíveis, o termo inicial do prazo prescricional para sua restituição encontra-se em aberto enquanto não for editada Resolução do Senado Federal ou houver pronunciamento do Supremo Tribunal Federal acerca de sua constitucionalidade em sede de controle concentrado. Portanto, ainda se pode pedir a restituição, desde que se tenha as notas fiscais

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para comprovar os valores devidos. COFINS SOBRE RENDIMENTOS - Como adiantamos aqui, os tribunais começam a derrubar as alterações na Cofins. Foi decidido que a contribuição somente pode incidir sobre as receitas operacionais, sob pena de alterar o Código Tributário Nacional, o que não poderia ser realizado pela Lei 9.712/98, conforme defendia a SRF. Por força da decisão, estão restabelecidos os termos do Decreto-Lei 2.397/87: a cobrança incide sobre receita bruta das vendas de mercadorias e serviços de qualquer natureza. Receitas financeiras, portanto, estão livres.

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Agronegócios

Agrofarmácias, as reflexões necessárias A ciência caminha a passos largos, e concomitantemente a isso está a possível interferência do agronegócio. Além das indústrias químicas, o campo pode representar avanço com uso da biotecnologia na produção de alimentos com finalidades nutricionais e, em breve, terapêuticas de grande relevância

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os campos sempre saíram alimentos. Com o tempo descobriu-se que, além de saciar a fome, prover energia e matéria prima para o sôfrego parque de obras que é o organismo humano, os alimentos também dispõem de princípios terapêuticos, dando início à era dos alimentos funcionais. Como desdobramento, outro conceito está sendo moldado na cornucópia dos cientistas. Dos campos obteremos, em futuro que se avizinha, fármacos como enzimas, hormônios, antibióticos, vacinas e uma plêiade de medicamentos importantes para a preservação, manutenção ou recuperação da saúde. Se do ponto de vista da sociedade em geral, este novo segmento representa qualidade de vida, para o agronegócio significa uma oportunidade que surge ao deslocar-se a síntese de proteínas de importância farmacêutica das indústrias químicas para os campos e estábulos, oferecidos à população na forma de alimento, ou processados através de uma instalação industrial que extrairá, purificará e formulará o remédio. Embora o mundo ainda não tenha esgotado a discussão sobre os passos embrionários da biotecnologia, a ciência já pauta um novo embate, tornando obsoletas questões anteriores que ainda não haviam obtido consenso. A favor da nova era depõe o fato de que a aplicação da biotecnologia na medicina resultou em uma percepção social antípoda à dos alimentos transgênicos, haja vista que a insulina recombinante nunca gerou protestos – ao contrário, amealhou defensores. Todavia, é sempre interessante refletir sobre as lições do passado recente, com respeito à aplicação da biotecnologia na agricultura.

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DUPLA VIA Em priscas eras, Henry Ford dizia: “O comprador tem o direito de escolher a cor do carro que desejar, desde que essa cor seja preta!”. Já no terceiro milênio, o consumidor exige qualidade e impõe suas exigências, invertendo-se o fluxo da desova da oferta para o atendimento da demanda. A opinião pública aceita melhor a biotecnologia médica (menos dor, sofrimento ou mor-

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tes, mais saúde e qualidade de vida) que plantas transgênicas que não a beneficiem diretamente. Por essa lógica, é importante imaginar o que ocorreria em um cenário em que a primeira soja transgênica sintetizasse o ingrediente ativo do Viagra em seus grãos. Haveria a polarização de posições que tornou a soja resistente a herbicidas?

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ASPECTOS SOCIAIS A segunda reflexão nos obriga a pensar globalmente: o mercado não é restrito a 600 milhões de pessoas em países ricos, mas compõe-se de 6 bilhões de pessoas, a maior parcela com necessidades nutricionais e de saúde não atendidas. A desigualdade de renda e de acesso à vida digna interferem na inserção empresarial no mercado. Ao invés de aplicar a Lei de Patentes ou de Propriedade Intelectual a ferro e fogo, há que pensar nas dezenas de milhões de pessoas que morrem, anualmente, por fome ou doenças tratáveis. Falo do compromisso social do capital. Falo do vínculo das empresas com programas de assistência social, de forma a serem recompensadas pela sociedade com melhor aceitação dos seus produtos. Percepções dessa ordem tomam conta dos Conselhos de Administração. Uma das maiores indústrias químicas do mundo enveredou por essa senda ao doar parcela de seu produto para tratar da cegueira do rio. Em oposição, o Brasil foi ameaçado de enfrentar a barra dos tribunais internacionais, porque nossa legislação prevê que medicamentos importados a custo proibitivo, caso sejam de uso contínuo e essenciais para determinados pacientes, podem ser produzidos sem observar alguns aspectos da Lei de Patentes. Entendo que primei-

ro devemos salvar as vítimas da AIDS que não podem esperar - e depois discutir os roialties - que podem esperar.

INCERTEZA A terceira reflexão indica que não devemos subestimar a percepção de incerteza, risco e perigo por parte da sociedade laica. As possibilidades de risco humano ou ambiental, por fantasiosas que pareçam, devem ser investigadas, esclarecidas, até assegurar-se da ausência de efeitos colaterais indesejáveis, sendo transparentemente divulgadas. Esta lição aprendemos com cultivos transgênicos, pois tal qual a mulher de César, não basta que sejam tão ou mais seguros que alimentos tradicionais, é necessário provar, repetidas vezes, a sua segurança – o preço da inovação. À mídia compete cumprir seu papel de informar e esclarecer, propiciando oportunidades de discussão, em especial de forma interativa, para que os temores e as incertezas sejam aplacados. Subestimar a percepção de risco significará perder clientes, sofrer boicotes e propiciar o naufrágio de oportunidades de melhoria da qualidade de vida e de bons negócios.

LEGISLAÇÃO A quarta reflexão repousa na necessidade de um estamento legal que incorpore os anseios e as angústias da sociedade, harmonizado globalmente, implementado de ordem a não se constituir em cartório por uma parte, nem por “mata-burros” ou xenofobia absoluta por outra. A lógica que deve imperar é a de avançar, sim, sempre, porém com segurança, observância dos ditames da sociedade, respeito à saúde pública e ao meio ambiente, ao contexto social onde a tecnologia se insere e à importância do avanço tecnológico para diminuir a injustiça social no mundo.

CABRITO DO LEITE DE OURO Quem não gostaria de arrecadar US$30 milhões por ano, com a ordenha de um único cabrito? Reportagem recente do New York Times acena com essa possibilidade, desde que o cabrito seja transgênico e seu leite contenha proteínas de interesse farmacêutico. Diversas universidades e companhias particulares estão introduzindo genes que codificam para hormônios, anticorpos, vacinas, enzimas, antibióticos etc., de importância farmacológica. Algumas já estão em fase adiantada de testes, tendo obtido licença para uso

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experimental em seres humanos. A lógica é que um ser vivo é uma fábrica de proteínas e, caso ele não produza uma proteína específica, a introdução do gene responsável pela sua produção no código genético de um receptor, nada mais alterará no organismo que a síntese da proteína desejada. Uma vez obtida a expressão gênica e a síntese, abrem-se duas largas avenidas: ou comercializa-se o produto animal ou vegetal obtido, na forma de alimento, ou acopla-se uma planta industrial que extrai, purifica e formula o remédio baseado na proteína. Entretanto, até o momento não encontrei a correspondente reflexão, nos termos propostos acima.

COMPLEXIDADE Cultivos ou criações de base biotecnológica exigirão investimentos, técnica, conhecimento, formação, pessoal habilitado e capacitado muito superiores a qualquer exploração agrícola atual. Profissionais habilitados deverão prestar assistência técnica e responsabilizarse não apenas pela produtividade, pela qualidade e pela biossegurança do empreendimento. Essa análise é importante, porque, em teoria, é possível a contaminação do ambiente e a transmissão de vírus ou a presença de impurezas orgânicas associadas ao ingrediente ativo.

NA BOCA DA CORNUCÓPIA Ou investimos, urgentemente, em uma discussão séria e conclusiva, ou seremos atropelados pelos fatos. Como exemplo, os genes que codificam para as seguintes drogas foram introduzidos em plantas ou animais, visando à produção em larga escala: imunoglobulina, promotor de metalotionina, cistina, fator de crescimento I (semelhante à insulina), beta-lactoglobina, alfa S1 caseína, beta caseína, promotor de prolactina, promotor de fosfenol piruvato carboxilase, promotor de actina (receptor de estrógeno humano). A literatura faz referência a estudos avançados com anti-coagulantes, remédios para malária, vacina contra hepatite B e bactérias que causam cárie. No Brasil, a Embrapa estuda diversas possibilidades de produção de medicamentos na fazenda, entre elas a insulina e o hormônio de crescimento. Ou seja, não há tempo a perder, eis que a reflexão deve anteceder o empreendimento, pois o inC verso é utopia. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Safra da América do Sul comprometida cria suporte ao mercado mundial O mercado mundial dos grãos está cada dia mais ligado à produção da safra da América do Sul, que vem atendendo parte do crescimento do consumo mostrado ano após ano e que agora já não está sendo atendido pela produção americana. Os americanos estão chegando ao limite da produção local e, a cada ano, aumentam os problemas internos com pragas e doenças que lhes têm causado grandes perdas na produtividade. Isso, sem levar em consideração que, de tempos em tempos, ocorrem problemas climáticos. Neste momento, a América do Sul está colhendo uma safra que deveria ser super, mas devido ao clima e problemas sanitários está sinalizando com números próximos aos colhidos no ano passado e, mesmo com área maior, não conseguimos crescer. Desta forma, o mercado mundial apresenta um quadro comprometido, e das 1,82 bilhões de T previstas para os grãos no mundo, poderemos chegar a números de 1,81 bilhões e ficaremos abaixo da safra passada que foi de 1,815 bilhões de T, enquanto a demanda deste ano irá para a casa das 1,92 bilhões de T. Assim, o quadro dos estoques tende a ficar cada dia mais apertado e os dados do USDA, que apontavam para 317 milhões de T neste final de ano comercial, poderão ficar abaixo das 300 milhões de T, fato este que não ocorre há quase duas décadas. O quadro geral desta safra, já garante boas cotações pelo menos para os próximos três anos, ou mais, criando assim a oportunidade para que os produtores melhorem seu nível tecnológico, para poder enfrentar problemas que vêm pela frente, como é o caso da ferrugem, que neste ano está causando grandes perdas. Em resumo, seguimos com o mercado mundial sendo comprador e pagando cotações altas para todos os grãos.

MILHO Pouco milho e cotações em alta O mercado do milho neste último mês de março, que está em plena colheita, mostrou boa reação nos indicativos, que cresceram algo entre 10 e 15% sobre as posições de fevereiro, sinalizando que neste ano tem espaço para crescer. Deve ser bastante diferente do que foi em 2003, quando não conseguiu andar e teve queda no segundo semestre. A seca pegou parte das lavouras da safra deverão e agora compromete a safrinha. Com isso, houve queda na área plantada e já coloca o quadro novamente em aperto de abastecimento, dando posições melhores aos produtores. O mercado tende a ter maior pressão de compra de agora em diante e assim poderá melhorar a liquidez do cereal e manter as cotações firmes. O fundo do poço já passou e agora estará caminhando em busca de alta.

SOJA Chicago dispara e mercado segue forte no Brasil O mercado da soja teve em março os melhores momentos desde 1987, quando Chicago quebrou a marca dos US$ 10,00 por bushel. Juntando a forte queda na produtividade das lavouras do Brasil e os problemas na Argentina há uma perda de mais de 12 milhões de T sobre as expectativas iniciais, ou seja, a história ocorrida nos EUA no ano passado está sendo repetida agora aqui na América do Sul. Os EUA perderam cerca de 15 milhões de T, se continuarmos com baixa produtividade na colheita, as perdas por aqui serão semelhantes. Assim o quadro mundial de oferta e demanda será bastante apertado e manterá as cotações fortes por muito tempo. Os indicativos praticados no mercado interno tiveram grande crescimento em março e mesmo assim poucos vendedores apareceram para fechar as posições que já estavam disponíveis. Segue com pressão de alta, e pouco espaço no lado de baixo, ou seja, furou o teto que era esperado e ainda continua sinalizando com avanços para frente.

FEIJÃO Alta em março e quebra no Irecê O mercado do Feijão dava como certa a safra do Irecê que teve chuvas regulares em janeiro e fevereiro e mostrava bom desenvolvimento das lavouras na região, mas a seca veio na fase final das lavouras, ou no momento do enchimento das vagens. Com isso as perdas foram grandes, e junto também houveram grandes problemas sanitários às lavouras, com a Mosca Branca chegando forte, fato que não tinha ocorrido antes e a safra que estava

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apontava para casa das 100 mil T, poderá ficar em 50% deste número e com qualidade baixa. Junto a isso tivemos perda de qualidade das lavouras de Minas Gerais, principalmente em Unai, onde a seca no desenvolvimento das lavouras e as chuvas na colheita derrubaram a qualidade. Com isso, grande parte dos produtores locais não terá semente para o novo plantio irrigado, que vem em maio em diante. Desta forma, já caminhamos para um aperto no abastecimento do feijão e cotações mais atraentes para aqueles que tiverem o produto. Com os indicativos mostrando alta em março e devendo ter pressão positiva em abril. Já há alguma coisa rodando acima dos R$ 100,00 por saca para o Carioca de Ponta, com expectativa de reação também para o Preto.

ARROZ Safra cheia e oportunidade de exportação O mercado do arroz está com a colheita entrando em sua fase final, e a safra deste ano do Brasil mostra um

volume de 1 a 1,5 milhões de T acima do que foi colhido no ano passado. Desta forma, forçou os indicativos para baixo em março, mas que também já bateu o fundo do poço e poderá ter estabilidade a pequenas correções positivas neste mês de abril. Os indicativos do arroz deste ano não têm motivos para grandes quedas, porque o quadro mundial é de grande aperto e os estoques projetados em 83 milhões de T de arroz beneficiado, já são considerados de risco, e com isso as cotações do produto Americano e Asiático estão fortes, e junto estamos vendo a presença de muitos importadores atuando. Um dos compradores que estão levando produto no momento é o Iraque que poderá importar mais de um milhão de T. Pode ser um ano em que o Brasil poderá ganhar uma fatia do bolo mundial de negócios com o arroz. Por enquanto mostra tendências de estabilidade, porque o que tinha que cair já caiu e agora poderemos estar olhando o mercado internacional como alternativa para dar suporte a novo crescimento da safra em 2004/05.

CURTAS E BOAS ARGENTINA - as perdas da safra da Argentina continuam em crescimento e, os dados da soja, caminham para ficar entre as 30 e 33 milhões de T, enquanto o milho entre 11 e 12 milhões, ambos muito abaixo do colhido no ano passado, que mostrou 36,5 na soja e 16 milhões de T de milho. Haverá menos produto para exportação neste ano. ALGODÃO - o quadro geral continua favorecendo os produtores brasileiros, porque os estoques mundiais estão cerca de 14% menores que no ano passado, e mostra tendência de crescimento do consumo mundial. O Brasil realizou grandes fechamentos de contratos de exportações antecipadas e com isso facilitará a vida dos produtores que têm neste procedimento o suporte para o produto que necessitam negociar depois da colheita. A safra mundial está apontada para perto dos 92 milhões de fardos e os estoques devendo recuar para os 31,7 milhões. Enquanto isso o consumo deverá superar a marca dos 97 milhões de fardos. MILHO - os portos brasileiros tiveram congestionamento de navios em nossa costa para carregar milho, e com isso os embarques foram fortes nos primeiros três meses do ano, onde somente Paranaguá chegou a indicar 1,8 milhões de T embarcadas no período. Desta forma, as expectativas de exportações que estavam na casa das 3,5 milhões de T para o ano em todo o país poderão superar com facilidade as 5 milhões de T. O mercado mundial está apertado e valorizando o produto. Segue com grande espaço para o cereal brasileiro, que deverá enxugar os estoques que carregamos e assim teremos um final de ano favorável aos produtores nacionais. SORGO - com a redução plantio da safrinha do milho, que ficou pelo menos 10% menor que no ano passado, resta aos produtores a alternativa do Sorgo para o Centro-Oeste, que deverá ter grande procura nos próximos meses pelo setor de ração. As primeiras estimativas apontam para uma safra de 1,6 milhões de T, podendo ter boa liquidez no segundo semestre. TRIGO - o plantio das primeiras lavouras começou no final do mês, no MS e parte do Paraná, e os indicativos praticados pelo produto nas últimas semanas mostrou aquecimento, com crescimento e boatos de fechamentos acima dos R$ 450 por T junto ao mercado paranaense, com expectativas de novos ajustes nos próximos dias porque o importado está chegando muito acima destes índices deixando um bom espaço para o Trigo nacional.

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Maio Abril de 2004 2003




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