Cultivar Grandes Culturas • Ano V • Nº 61 • Maio 2004 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
Destaques
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Foto Capa / Dirceu Gassen
Cortando o mal da raiz Saiba como controlar a cochonilhada-raiz, praga que ataca as lavouras de café com menos de um ano
14 Ameaça permanente Por atingir grandes profundidades, o Migdolus é uma praga de difícil controle em lavouras de cana-de-açucar
Nosso caderno
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Foto Capa / Dirceu Gassen
Pronto para o trigo Saiba como realizar a correção do solo e quais os nutrientes essenciais para a produção de trigo no Cerrado
28 Inimigo verde Praga bastante conhecida na cultura da soja, o percevejo barriga verde é também uma ameaça para o milho safrinha
NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:
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Índice Diretas
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Cochonilha da raiz no café
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Reguladores de crescimento no algodão
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Migdolus em cana-de-acúcar
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Coluna Aenda
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Utilização de rizóbio em feijão
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Números atrasados: R$ 15,00
Correção de solo para o trigo
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Assinatura Internacional: US$ 72,00 68,00
Adubação planejada para trigo
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Barriga-verde no milho safrinha
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Consultor Newton Peter OAB/RS 14.056
www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
REDAÇÃO • Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Revisão
Vandelci Ferreira • Design Gráfico e Diagramação
Recomendações para safrinha de soja
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Bruzone em arroz
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Coluna jurídica
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Agronegócios
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Mercado agrícola
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Cristiano Ceia
COMERCIAL • Gerente Comercial
Neri Ferreira • Assistentes de Vendas
Pedro Batistin
CIRCULAÇÃO • Gerente de Circulação
Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes • Expedição
Edson Krause Dianferson Alves • Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
diretas Preço cevada A AmBev (Companhia de Bebidas das Américas), de acordo com o programa de nacionalização da Cevada, vai aumentar em 11% o preço mínimo da cevada classe I produzida na região Sul este ano, podendo chegar a R$ 450 por tonelada. A política de preços da empresa faz parte do programa de estímulo ao cultivo de cevada, que inclui, além do pagamento de 90% da cotação paga pelo trigo, desenvolvimento de cultivares mais resistentes.
Syngenta
Milho Safrinha A segunda safra do milho deve ter quebra significativa, devido a fatores como atraso no plantio, baixo investimento de tecologias e efeito do clima, com conseqüente diminuição da área plantada. O diretor executivo da Pioneer, Daniel Glat, estima uma produção máxima de 5 a 7 milhões de toneladas no máximo, comparado as 12 milhões na safrinha passada, o que possibilita a recuperação dos preços nos próximos meses.
Daniel Glat
AMPA elege Pessa presidente
João Luis Pessa
O produtor João Luis Ribas Pessa é o novo presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (AMPA)e ficará a frente da associação nos próximos dois anos. Pessa, vice-presidente na chapa anterior, assume o lugar de José Pupin. “Vamos trabalhar para ampliar as exportações e a inclusão do produto no mercado interno, mas sempre com uma programação prévia de contratos”, ressaltou.
Nova diretora Olga Trapp Monroy assume diretoria de Finanças da Monsanto do Brasil. Formada em Ciências Econômicas e mestre em Microeconomia, além de MBA, a nova diretora de Finanças tem 22 anos de experiência na área, atuando como assistant controller, controller, diretora de Finanças e vice-presidente de Administração e Finanças em empresas de renome. Ela é a primeira mulher a receber o prêmio Destaque, em 1996, do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças pela performance profissional.
Olga Monroy
Novas Variedades
Livro de Arroz Embrapa lançou o livro “Arroz Irrigado no Sul do Brasil”. O livro foi qualificado pela empresa como uma das melhores obras já publicadas sobre o assunto, tratando de forma detalhada , diferentes aspectos da cultura do arroz irrigado. Informações e vendas na Livraria Virtual (www.sct.embrapa.br/liv) ou pelo telefone (61) 448-4236.
Para agrônomos A obra “ O que Engenheiros Agrônomos devem saber para orientar o uso de produtos fitossanitários” de parceria dos Agrônomos Laércio Zambolim, Marçal Z. da Conceição e Thaís Santiago, já se encontra na segunda edição. Pedidos podem ser feitos pelo site: www.universoagricola.com
A Embrapa Trigo Passo Fundo (RS), em parceria com a Fundação Pró-Sementes, lançou novas variedades de soja. Numa avaliação geral, as dez cultivares (BRS Invernada, BRS Torena, BRS Macota, BRS Tebana, BRS Sinuelo, BRS Querência. BRS Candiero, BRS Cambona, BRS Guapa e BRS Raiana) apresentam resistência a mancha olho-de-rã e ao cancro da haste, com destaque para a BRS Invernada, pela resistência ao nematóide de cisto – raça 3. As cultivares estarão disponíveis para a safra 2005/2006, exceto a BRS Torena e BRS Macota que já podem ser adquiridas pelos produtores junto aos instituidores da Fundação Pró-Sementes.
Trabalho premiado
Francisco Aragão
Prêmio Péter Murányi 2004 Alimentação foi concedido a pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Embrapa Arroz e Feijão. O trabalho premiado foi “Obtenção de feijoeiro resistente ao vírus do mosaico dourado” desenvolvido por Francisco José Lima Aragão e Josias Corrêa de Faria.
Crédito para veículo O Projeto de Lei 2468/03, do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), estabelece condições especiais de financiamento para a compra de veículo utilitário por profissional de ciências agrárias. A proposta aguarda designação de relator na Comissão de Agricultura e Política Rural. São considerados profissionais de ciências agrárias o engenheiro agrônomo, o engenheiro florestal, o engenheiro agrícola, o técnico agrícola e outros profissionais a serem definidos em regulamento.
Prêmio de Mérito Pela segunda vez consecutiva, a Syngenta, empresa líder mundial do setor de agronegócios, recebeu o VII Prêmio de Mérito Fitossanitário, modalidade empresas, concedido pela Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal). O prêmio, é um reconhecimento público da seriedade e liderança da empresa com as atividades de educação e treinamento do agricultor no uso correto e seguro dos agroquímicos.
Congresso
Marketing Paula Luporini está de volta ao marketing da cultura do algodão na FMC. Depois de ter passado pela gerência de vendas no Centro-Oeste, com a garra que lhe é peculiar, vislumbra um mercado aquecido para safra de 2004/2005. Paula foi quem desenvolveu o clube da fibra na FMC, case de marketing que mais tarde originou a Abrapa.
Cultivar
MBA O Pensa(Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial), juntamente com a Fundace (Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento de Administração, Contabilidade e Economia), lança MBA Agronegócios. Com corpo docente formado por professores da FEA/USP de São Paulo e Ribeirão Preto, o curso fornece ao aluno visão integrada do ambiente de negócios através da exposição e discussão das modernas técnicas de gestão nas diferentes áreas oferecidas. Informações: www.fundace.org.br ou www.fia.com.br/pensa ou telefone (16) 633-1540.
Josias de Faria
De 24 a 28 de maio será realizado o XXIV Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. O evento com o tema central “A ciência das plantas daninhas e a segurança alimentar”, acontecerá no Hotel Fazenda Colina Verde em Estância de São Pedro(SP). Mais informações pelo site www.sbcpd.org/congresso ou fone/fax: (19) 3251 0328
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Cruiser, um dos produtos inseticidas mais rentáveis da Syngenta, foi liberado na Alemanha. O produto será usado para tratamento de sementes, principalmente em milho e beterraba. As vendas do produto aumentaram 50% ano passado, atingindo a marca de US$ 88 milhões. A dupla Cruiser e Actara renderam juntos para a empresa cerca de US$ 221 milhões.
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Paula Luporini
Lançamento Lançado na Embrapa Milho e Sorgo, o livro A Cultura do Milho Irrigado. São 12 capítulos com informações sobre o milho irrigado como componente de sistema de produção de grãos e parte integrante de sistemas de rotação de culturas, além de aspectos econômicos e agronômicos da cultura.Os pesquisadores Morethson Resende, Paulo Emilio P. Albuquerque e Lairson Couto são os autores da obra. Informações: www.sct.embrapa.br,
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Café Fotos Paulo Rebelles Reis
Cortando o mal da raiz
A
cochonilha-da-raiz pode ocorrer em lavouras novas, com poucos ou alguns meses de idade ou naquelas em formação, e também em lavouras adultas. Em cafeeiros adultos, onde sobrevive, a cochonilha não lhes causa prejuízos, suportando o ataque. Tampouco seu sistema radicular é destruído pelo ataque do inseto. Sua infestação em cafeeiros adultos, limita-se à região abaixo do colo, infestação essa, que pode ser dispersada para lavouras novas, adjacentes, em plantios convencionais ou em plantios “com dobra” (plantio de uma nova linha no meio de duas com cafeeiros adultos). Nos plantios “com dobra”, a infestação é muito mais fácil de ocorrer, como afirmam técnicos das regiões onde essa prática cultural é adotada, sendo explicada pela possível presença do inseto nos cafeeiros adultos da lavoura a ser “dobrada” e sua posterior dispersão por formigas doceiras para os cafeeiros novos. Ainda segundo eles, sem um controle químico eficiente e definitivo, essa cochonilha é um grande problema nessa modalidade de plantio. Onde a cochonilha-da-raiz ocorre endemicamente e causa prejuízos, como em muitos municípios cafeeiros do Estado de São Paulo (Franca, Batatais, Altinópolis, Garça, Marília, Vera Cruz, Gália, Piraju e outros); de Minas Gerais (Caratinga, Teófilo Otoni e outros adjacentes e em alguns municípios do Sul de Minas) e também em algumas regiões cafeeiras dos estados da Bahia e Espírito Santo, os cafeicultores devem constatá-la no início de sua infestação, logo abaixo do colo da planta, sem nenhum prejuízo causado, ocasião em que devem ser tomadas medidas de controle. Finalmente, ainda não ocorreram relatos de uma lavoura ser infestada a partir de mudas de café vindas do viveiro, embora existam possibilidades remotas, difíceis de acontecer.
PREJUÍZOS A infestação da cochonilha-da-raiz inicialmente pode ser constatada na raiz principal do cafeeiro, logo abaixo do colo da planta. Nessa fase, não causa prejuízos irreversíveis, tampouco, a planta manifesta sintomas na parte aérea. Com o passar do tempo, o inseto vai infestando todo o sistema radicular do cafeeiro, juntamente com o fungo Bornetina, resultando no comprometimento de suas raízes, não havendo mais absorção de água e nutrientes via solo. Como resultado, as plantas atacadas amarelecem e depois morrem. Os cafeeiros infestados sentem mais o ataque do inseto em suas raízes no período seco do ano. Como o ataque da cochonilha se dá em reboleiras, grandes ou pequenas, a lavoura fica toda irregular, descaracterizada, resultado da morte de plantas nas reboleiras e também de cafe-
A cochonilha-da-raiz é um dos principais problemas em lavouras de café com até um ano de idade, por isso é necessário monitoramento constante durante este período e controle da praga, para evitar o replantio ou falhas na lavoura
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Cultivar
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eiros isolados nas linhas fora delas. Em Boa Esperança, no Sul de Minas, por exemplo, em lavoura de café Catuaí Amarelo, de 9,5 ha, plantada em abril de 1996, constatou-se infestação da cochonilha dois anos após o plantio. Como o controle realizado não foi eficiente, em setembro de 2000, já com quatro anos e meio, aproximadamente, em levantamento realizado na lavoura, constatou-se a morte de 6,7% dos cafeeiros atacados ou 2094 plantas para serem arrancadas, além de 2,6% de plantas atacadas e definhadas, que ainda não tinham morrido. Na região de Garça, no Estado de São Paulo, com lavouras de cafeeiros enxertados, comparativamente com as infestações observadas em lavouras no Sul de Minas, de cafeeiros sem enxertia, esses valores devem ser maiores já que em levantamentos lá realizados, constatou-se ser o porta-enxerto IAC 2258Apoatã (Coffea canephora Pierre & Froenher) preferido e mais atacado pelo inseto. Lá, observou-se, inclusive, a presença de colônias externas da praga em até 20 cm acima do colo dos cafeeiros infestados, totalmente envolvidas por ninhos superficiais da formiga lavapé, e de uma grande quantidade de criptas ou pipocas em todas as raízes, inclusive logo abaixo do colo das plantas, num péssimo aspecto. Nessa região, as variedades comerciais de Coffea arabica são enxertadas sobre o porta-enxerto IAC 2258 – Apoatã, tolerante ao nematóide Meloidogyne incognita, comum naquela região, com controle químico difícil e pouco eficiente.
OUTROS HOSPEDEIROS Além do cafeeiro, a cochonilha-da-raiz pode infestar plantas frutíferas, entre elas a bananeira, numa infestação pouco comum. Embora em lavouras de café infestadas a cochonilha-da-raiz possa ser observada nas raízes de algumas espécies de plantas daninhas nas ruas dos cafeeiros, não as tem como hospedeiros preferidos. Ainda, foi observado em plantas daninhas em lavouras de café no município de Boa Esperança, no Sul de Minas, inclusive em lavouras atacadas pela cochonilha-da-raiz, e também em gramíneas próximas, e em outras
ASPECTOS BIOLÓGICOS
A
cochonilha-da-raiz do cafeeiro, Dysmicoccus texensis (Tinsley) (Hemiptera: Pseudococcidae), nome atual da cochonilha-da-raiz, é um inseto sugador de seiva, que vive em colônias nas raízes do cafeeiro. As colônias são formadas por insetos de coloração rosada, denominados de ninfas e adultos, revestidos por uma camada de secreção cerosa branca, que lhes dá o aspecto de haverem sido envolvidos em farinha, daí serem denominados de cochonilhas-farinhentas. São ápteras (sem asas), de corpo mole, com formato oval, possuindo a cabeça e o tórax fundidos. Medem cerca de 3mm de comprimento e apresentam 34 apêndices laterais simples, 17 de cada lado do corpo, sendo os dois posteriores mais longos. As ninfas têm o mesmo aspecto das fêmeas adultas, porém são menores. Essa espécie de cochonilha reproduz-se por partenogênese. Inicialmente, uma pequena colônia instala-se na raiz principal, logo abaixo do colo da planta, composta de poucos indivíduos, oriundos geralmente de uma única fêmea. Com o passar do tempo e com a reprodução das fêmeas, o número de indivíduos da colônia aumenta. O seu ciclo de ovo a adulto é de aproximadamente 100 dias, ocorrendo gerações sobrepostas, ou seja, em uma mesma colônia são observadas ninfas e adultos. Em um ano ocorrem cinco gerações da cochonilha, sendo elevado o seu potencial de reprodução. Nas raízes, ninfas e adultos da cochonilha sugam continuamente a seiva através do seu aparato bucal nelas introduzido, e o excesso sugado, um líquido açucarado, é eliminado pelo ânus, em forma de gotículas (fezes líquidas). Esse líquido adocicado, co-
nhecido por “honeydew”, atrai formigas doceiras que com as cochonilhas vivem em simbiose na colônia, dando-lhes proteção e as transportando para outros cafeeiros, sendo o principal meio de sua dispersão. Na simbiose, em troca, as formigas doceiras se alimentam do líquido adocicado. Uma dessas formigas doceiras é a lava-pé, do gênero Solenopsis. Os ninhos dessa formiga, em lavouras muito infestadas, podem ser observados junto e acima do colo dos cafeeiros, numa altura de até 20 cm, envolvendo a base do caule, como se observou no município de Garça (SP), em 2002. No interior desses ninhos podem ser observadas, além das formigas, também as colônias de cochonilha sugando a seiva. Com o passar do tempo e com o ataque já consolidado na lavoura, numa alta população de indivíduos na colônia, o excesso de líquido excretado pelas cochonilhas escorre pelas raízes propiciando um substrato para o desenvolvimento de um fungo de revestimento, do gênero Bornetina, fungo esse que vai envolvendo as raízes com o seu micélio, num envoltório coriáceo, a princípio amarelado, e depois pardo-escuro. O envoltório forma uma cripta ou pipoca sobre a colônia. A sucessão de criptas ou pipocas se apresenta com aspecto de nodosidades das raízes, e servem para alojar o inseto em seu interior. Assim, desfazendo-se as nodosidades com um instrumento cortante qualquer, pode-se observar ninfas e adultos da cochonilha em seu interior. Quando o ataque é forte, tornando-se a capa mais espessa, pelo rompimento do envoltório verifica-se que no seu interior a coloração é amarelada.
plantas forrageiras, em suas raízes, a presença de uma cochonilha amarela, também farinhenta, cuja espécie é Phenacocus herreri Cox & Williams que não é praga do cafeeiro. Assim, onde ocorre, não há necessidade de maiores preocupações com a sua presença.
seticida carbofuran 350 SC, em aplicação líquida, junto ao colo dos cafeeiros atacados, com o mesmo resultado. Apesar da aplicação sistemática desses inseticidas nas lavouras de café onde essa cochonilha ocorre endemicamente, o problema persistiu, trazendo uma grande preocupação aos cafeicultores que buscam eliminá-la de suas lavouras. A partir de 2001, com os resultados da alta eficiência apresentada pelos inseticidas neonicotinóides na formulação de grãos dispersíveis em água, imidacloprid GrDA e thiamethoxam WG, sistêmicos e de baixa toxici-
CONTROLE QUÍMICO Infestação das raízes do cafeeiro resulta no comprometimento da absorção de água e nutrientes
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O controle químico da cochonilha-da-raiz até 2001 foi realizado através da aplicação de inseticidas sistêmicos granulados no solo, em uma a duas aplicações, dentro do período chuvoso, num controle apenas parcial, com reinfestação da praga. Também foi utilizado o in-
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Cultivar
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Quadro 1. Dosagens de imidacloprid 700 GrDA e thiamethoxam 250 WG recomendadas para o controle da cochonilha-da-raiz, de acordo com a idade da lavoura. EPAMIG, MG, out. 2003. Idade da Dosagem Dosagem Volume de lavoura g p.c./cafeeiro (A) g p.c./ha (B)1 calda/cafeeiro2 Até 1 ano 0,080 280 40 ml 1 a 2 anos 0,080 – 0,13 260 – 455 40 ml 2 a 3 anos 0,13 – 0,18 455 – 630 60 ml > 3 anos 0,23 805 80 ml 1 2
Detalhe das criptas abertas, portando as cochonilhas, de cor branca, em seu interior
dade, no controle da cochonilha-da-raiz, com 100% de controle e sem reinfestação, independente do grau de ataque do inseto na lavoura, o seu controle mudou por completo. O novo controle da cochonilha-da-raiz garantirá aos cafeicultores eficiência e segurança. Nas regiões onde a cochonilha-da-raiz sempre ocorre nos cafezais e também naquelas onde raramente observa-se sua presença, a pesquisa recomenda que se façam os plantios normalmente, inclusive no sistema de “dobra”. Algum tempo após, a partir de três meses de idade das plantas no campo, e periodicamente a partir daí, o monitoramento da cochonilha deve ser realizado, buscando constatar sua presença na raiz principal dos cafeeiros, logo abaixo do colo das plantas. Uma vez constatada sua presença, deve-se proceder o seu controle químico. Assim, no sistema de plantio “dobrado”, recomenda-se aplicar um inseticida neonicotinóide em todas as plantas novas. Uma vez aplicado em esguicho (“drench”) no colo das plantas, o inseticida será absorvido pelo floema e levado pela seiva elaborada a todas as raízes, matando as ninfas e adultos da cochonilha presentes, ali sugando, e prevenindo ao matar também outras cochonilhas que ali chegarem para se instalarem nessas mesmas plantas, ao sugarem também a seiva tóxica. Nos cafeeiros adultos, nesse sistema de plantio, dispensa-se essa aplicação Em lavouras de café em formação, com um a quatro anos de idade, onde o ataque da cochonilha passou desapercebido pelo cafeicultor e já com plantas definhadas, inclusive com algumas já mortas pela infestação do inseto, o controle químico é totalmente viável e eficiente. Nessas lavouras, recomenda-se fazer um levantamento da ocorrência da cochonilha, geralmente em reboleiras, e aplicar o inseticida somente nas plantas dessas rebolei-
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Cultivar
ras e, também, naquelas próximas ao seu redor. O ideal seria aplicar o inseticida em todas as plantas do talhão. Quanto às dosagens dos inseticidas neonicotinóides para matar a cochonilha-da-raiz, insetos sugadores de seiva, podem ser reduzidas em relação àquelas já em uso pelos cafeicultores, com base em novos resultados de mais experimentos realizados pela Epamig em 2003, em Piraju, São Paulo, sob altas infestações da praga, inclusive com definhamento e morte de cafeeiros no tratamento testemunha (sem controle), observados em outubro de 2003. Comparativamente aos insetos mastigadores e na mesma modalidade de aplicação, os insetos sugadores, por sugarem e ingerirem diretamente a seiva contendo o inseticida aplicado, requerem menores dosagens para se intoxicarem e morrerem. Assim, sendo a cochonilha-da-raiz um inseto sugador e os inseticidas neonicotinóides aplicados em “drench” no colo das plantas, absorvidos e incorporados à seiva, dosagens menores desses inseticidas são
B = A x 3500 plantas/ha (“stand” tomado como exemplo). Aplicar o volume recomendado em dois lados do colo da planta, metade de cada lado.
requeridas para matá-la ao sugar diretamente nas raízes, em comparação com o bicho-mineiro do cafeeiro, por exemplo, inseto mastigador, que ataca as folhas, minando-as. As dosagens de imidacloprid 700 GrDA e thiamethoxam 250 WG, no controle da cochonilha-da-raiz, encontram-se no Quadro 1. Quanto à época de controle da cochonilha-da-raiz pelos neonicotinóides, pode-se afirmar que ela se estende de novembro a abril, baseando-se na altíssima eficiência apresentada pelos inseticidas nos experimentos instalados neste período. De uma maneira geral, o controle químico, na aplicação em “drench”, no colo dos cafeeiros, pode ser realizado o ano todo, com preferência para o período mencionado. O importante é controlar a cochonilha desde sua infestação em plantas com um ano ou menos, para evitar a morte de plantas e o replantio posteriormente, o que deixará a lavoura feia, com falhas. Finalmente, não há necessidade de controlar as formigas doceiras quando do controle da cochonilha, já que com a sua morte nas raízes dos cafeeiros pelo inseticida, as formiC gas desaparecerão. Júlio César de Souza, Joaquim Afonso Ribeiro e Paulo Rebelles Reis, EPAMIG/EcoCentro, MG Ceres - Planejamento Agropecuário, SP
Julio e Paulo alertam para o cuidado com lavouras em formação, onde geralmente os ataques da praga são percebidos tardiamente
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Algodão
Porte ideal
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aplicação de reguladores de crescimento na cultura do algodoeiro altera o balanço entre ramos vegetativos e reprodutivos, favorecendo o segundo. Em função das alterações na arquitetura das plantas provocadas pelos reguladores, elas se tornam mais compactas, o que permite o aumento da população, melhora na eficiência da aplicação de inseticidas, fungicidas e a penetração da luz, contribuindo para uma abertura mais rápida e uniforme dos frutos. Para a tomada de decisão sobre a aplicação de regulador de crescimento, na cultura do algodoeiro, deve-se levar em consideração os seguintes aspectos: crescimento das plantas, fertilidade do solo, condições climáticas (temperatura e umidade), cultivar, população de plantas e época de semeadura, sendo recomendada a aplicação somente em condições favoráveis ao crescimento. Para a aplicação de reguladores de cres-
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cimento é indispensável o estabelecimento de critérios. Atualmente, são utilizados vários sem, no entanto, haver diferenças significativas entre eles. Como exemplo de critérios utilizados, podemos mencionar a medição da altura de plantas, comprimento dos últimos cinco internódios da haste principal, razão entre altura de plantas e número de nós da haste principal. Não existe um critério que seja mais eficiente do que outro, o que é importante é o estabelecimento do mesmo. Altura de plantas é fundamental para definir o momento da primeira aplicação, que deve ser feita quando as plantas estejam com altura entre 40cm a 45cm. Comprimento dos últimos internódios não deve ultrapassar a 3cm, e a razão entre altura de plantas e número de nós, deve ser inferior a quatro. Em condições de altas densidades o crescimento das plantas é menor, o contrário se verifica em condições de altas densidades. De qualquer forma, o critério para
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Na cultura do algodão, plantas produtividade e qualidade, por reguladores de crescimento em
o momento da primeira aplicação é o mesmo, ou seja, quando as plantas atingirem entre 40cm ou 45cm. Em condições de altas densidades, deve-se tomar mais cuidados com uso de regulador, pois nesta situação recomenda-se que as plantas quando da colheita tenham altura menor que 1,2m. Para a primeira aplicação do regulador de crescimento sugere-se avaliar o crescimento das plantas, o que é feito medindo a altura das mesmas. É importante também, associar a altura das plantas com o estádio fenológico e posição dos primeiros ramos reprodutivos. Para a obtenção de êxito com a aplicação de reguladores de crescimento é fundamental o monitoramento das plantas, o que irá permitir mensurar a taxa de crescimento das mesmas. Os produtos disponíveis no mercado brasileiro, registrados como reguladores de crescimento para a cultura do algodoeiro, são: cloreto de mepiquat (Pix) e cloreto de clormequat (Tuval). Qualquer que seja o
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grandes não significam isso a aplicação de alguns casos é indispensável Newton Peter
O QUE SÃO OS REGULADORES
O
s reguladores de crescimento são utilizados com o objetivo de melhorar o equilíbrio entre o crescimento vegetativo e o reprodutivo do algodoeiro (Zhao & Oosterhuis, 2000). São substâncias químicas sintéticas que têm efeito sobre o metabolismo vegetal, inibindo principalmente a biossíntese do ácido giberélico, sendo, portanto, inibidores do alongamento celular. Esse efeito modula e reduz a matéria seca vegetativa (Zhao & Oosterhuis, 2000). Para a obtenção de altas produtividades, dentre outros fatores, é importante o equilíbrio entre o crescimento (vegetativo e reprodutivo) e o desenvolvimento, que é de natureza seqüencial. Entre o crescimento e o desenvolvimento do algodoeiro existe um certo antagoproduto utilizado como regulador de crescimento, recomenda-se o parcelamento da dose, sendo que a primeira aplicação deve ser realizada quando as plantas, antes do florescimento, apresentarem altura entre 40cm a 45cm. A primeira aplicação deve ser realizada entre os estágios (B) e (F), ou seja, entre o aparecimento dos primeiros botões florais e as primeiras flores. As aplicações subseqüentes devem ser feitas quando da retomada do crescimento, o que é avaliado medindo-se o comprimento dos três últimos internódios da haste principal, sempre se tendo o cuidado de avaliar Rocheli Wachholz
Condições favoráveis ao crescimento da planta são essenciais na recomendação de aplicação de reguladores de crescimento
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nismo. Fatores do meio que promovem excessivo crescimento vegetativo, como adequada disponibilidade de nutrientes e de água e quando as condições climáticas são favoráveis, implicam em efeitos negativos sobre a produção final. Em tais condições, o uso de regulador de crescimento torna-se indispensável (Reddy et al., 1992). Os principais efeitos dos reguladores de crescimento no algodoeiro são: redução do tamanho dos internódios, do número de nós, da altura das plantas, do comprimento dos ramos vegetativos e produtivos, do número de frutos danificados e coloração verde mais intensa, aumento da retenção de frutos nas primeiras posições dos ramos produtivos, do peso de capulho e do peso de 100 sementes (Lamas et al., 1997; Nichols et al., 2003). as condições climáticas (temperatura e umidade) adequadas para o crescimento das plantas. É importante salientar que, grande parte do sucesso com o uso de reguladores de crescimento está no momento em que é realizada a primeira aplicação. O que vai dizer o momento das aplicações subseqüentes, é o crescimento das plantas, não devemos nos fixar em dias após a aplicação. A dose a ser utilizada irá depender dos fatores mencionados anteriormente. No geral, podemos considerar como dose padrão 50 g/ha de cloreto de mepiquat ou de cloreto de clormequat. Quando se trata de cultivares tipo BRS Cedro e BRS Aroeira, que são cultivares de porte alto, pode ser necessário dose maior. Entretanto, para cultivares como Fibermax 966, Fibermax 977, Suregrow 821 por exemplo, que são cultivares de porte baixo a dose pode ser inferior a 50 g/ha. Quando a dose total for parcelada em quatro vezes, recomenda-se utilizar 10% na primeira aplicação, 20% na segunda, 30% na terceira e 40% na quarta; em três vezes recomenda-se na primeira aplicação 25%, na segunda 35% e na terceira aplicação 40% da dose total. Especialmente quando se utiliza o esquema de fracionamento de 10 + 20 + 30 + 40%, o momento da primeira aplicação é decisivo para o alcance da meta de se obter na colheita, plantas com no máximo 1,3m de altura. Um dos efeitos dos reguladores de crescimento sobre o algodoeiro é reduzir o número de nós da haste principal. Havendo redução do número de nós haverá tam-
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Divulgação
RESULTADOS DA APLICAÇÃO
O
Fernando Lamas explica a melhor maneira de utilizar os reguladores de crescimento
bém redução do número de ramos reprodutivos e por conseguinte de frutos. Considerando que o número de frutos por planta é o principal componente da produção, dose elevada pode interferir negativamente na produção por unidade de área. O momento em que é realizada a primeira aplicação é extremamente importante, pois havendo atraso, os resultados podem ser comprometidos, sendo necessárias doses elevadas para que sejam obtidos resultados satisfatórios, o que em algumas situações não é conseguido. A partir da formação das maçãs, a taxa de crescimento do algodoeiro é menor, assim, os cuidados com o manejo do
s resultados obtidos com a apli cação de reguladores de crescimento são dependentes de vários fatores, podendo-se destacar: a) população de plantas: os efeitos são mais evidenciados em condições de altas populações; b) cultivar: em cultivares de porte elevado e ciclo longo, são mais visíveis os efeitos dos reguladores de crescimento; c) época de semeadura: em semeaduras tardias, verifica-se maior percentual de redução da altura das plantas e incremento de produção; d) temperatura: a maior eficiência é obtida quando a temperatura diurna está por volta de 30ºC e a noturna de 20ºC; e) forma de aplicação: o parcelamento da dose recomendada tem efeitos mais pronunciados sobre a altura de plantas; f) época de aplicação: quando aplicado precocemente pode interferir negativamente sobre a produção e a qualidade do produto; g) dose: com doses baixas os resultados podem não
ser os esperados e doses altas podem afetar negativamente a produção e a qualidade do produto; h) adubação nitrogenada: quando se utiliza dose elevada de nitrogênio, o algodoeiro tem um crescimento vegetativo excessivo; em tal condição o uso de regulador é indispensável; i) tempo entre a aplicação e ocorrência de chuvas – para que o regulador possa ser absorvido pelas plantas é necessário que o intervalo de tempo entre a aplicação e a ocorrência de chuvas seja superior a 8 horas; e j) herbicidas pósemergentes – as cultivares atualmente em uso, reagem de forma diferenciada em relação à aplicação de herbicidas aplicados em pós-emergência. Recomenda-se fazer aplicação de regulador de crescimento somente quando as plantas não estejam sobre o efeito de estresse provocado por herbicidas. Este efeito é dependente da cultivar e do estágio de desenvolvimento das plantas. Newton Peter
regulador de crescimento devem ser maiores anteriormente a fase de formação de maçãs. Quando, por qualquer motivo (danos por insetos, condições climáticas adversas ou nutricionais, solos com problemas de Rocheli Wachholz
Estresse provocado por herbicidas pode prejudicar o desempenho do produto
O sucesso no uso de reguladores está no momento da primeira aplicação, associando estadio fenológico com estatura das plantas
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drenagem), a taxa de retenção de estruturas frutíferas for baixa, as plantas tendem a ter crescimento mais vigoroso. Nesta situação, os cuidados com o manejo de regulador de crescimento devem ser redobrados. Na época da colheita, especialmente se esta for mecanizada, o ideal é que as plantas tenham altura de no máximo 1,30 m. Plantas com altura superior, tendem a tombar por ocasião da colheita, o que interfere negativamente na qualidade da fibra, pois se verifica nestas condições, a contaminação da fibra por material constituinte do caule do C algodoeiro. Fernando Mendes Lamas, Embrapa Agropecuária Oestes
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Cana-de-açucar Fotos José Maurício S. Bento
Ameaça permanente Por causa de seus hábitos alimentares e por atingir grandes profundidades no solo, o besouro Migdolus é um inseto de difícil controle em lavouras de cana-de-açúcar
O
besouro Migdolus é conhecido por sua impressionante capacidade destrutiva. Os danos são provocados por suas larvas que se alimentam e destroem o sistema radicular de pelo menos 10 famílias de plantas, incluindo cana-de-açúcar, amoreira, eucalipto, Pinus, videira, café, feijão, dentre outras. Os prejuízos econômicos são expressivos, especialmente para a cultura da cana-deaçúcar, com perdas estimadas em mais de 20 milhões de dólares ao ano. Em culturas como a amoreira e eucalipto, áreas extensas são também comprometidas a cada ano. Pesquisadores e técnicos reconhecem que não existe um método único para o controle de Migdolus, dado as inúmeras dificuldades de se atingir as fases biológicas desse inseto no solo, que podem alcançar profundidades de até cinco metros. Há um consenso, no sentido de que todas as medidas de controle devem ser adotadas, em conjunto ou isoladas, quando for o caso, no momento mais propício, para resultar num manejo satisfatório desta praga. Acredita-se que as plantas nativas dos cerrados sejam o habitat natural destes insetos, e após a sua derrubada, especialmente para o plantio de monoculturas, como o café, eucalipto e mais recentemente a canade-açúcar, isso teria favorecido a sua adap-
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tação e o aumento na sua densidade populacional. Existe uma predominância desta praga em solos de textura arenosa, no entanto, é comum encontrá-la também em solos argilosos.
COMPORTAMENTO Embora seja altamente destrutivo, este besouro se dissemina lentamente, pois possui um ciclo longo (dois a três anos), as fêmeas são ápteras – o que reduz sua capacidade de dispersão – e apresenta baixa fecundidade (pouco mais de 30 ovos/fê-
mea em média). Entretanto, devido ao seu hábito alimentar polífago, sob diversas plantas cultivadas (incluindo matéria orgânica), e sua incrível capacidade de atingir grandes profundidades no solo, faz desta praga uma ameaça permanente, pois em anos favoráveis, pode causar perdas elevadas aos produtores. Migdolus é um inseto de metamorfose completa (holometabólico), que passa por quatro estágios: ovo, larva, pupa e adulto. Durante o estágio larval, que corresponde ao maior período de vida deste besouro é
Lavoura de cana-de-açúcar com característica típica de um ataque intenso de Migdolus
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também quando ocorrem as maiores movimentações no solo, tanto horizontalmente quanto verticalmente. É nesta fase, graças à sua mobilidade, que supõe-se, ocorra a disseminação desta praga. De acordo com levantamentos conduzidos na região sudeste do Brasil, as maiores concentrações de larvas nas camadas mais superficiais (0 a 30cm), coincidem com os meses mais frios e secos do ano, ou seja, entre maio e agosto. Durante os meses de novembro e março (período chuvoso), há uma diminuição nessa população, com o aparecimento dos adultos para o acasalamento (revoadas). Normalmente, a partir de fevereiro, há novamente um aumento no número de larvas nas camadas mais superficiais. Esta dinâmica populacional, no entanto, pode sofrer variações de região para região, de acordo com as condições edafoclimáticas e de manejo do solo. Os acasalamentos ou revoadas de Migdolus spp. são muito característicos e ocorrem em dias quentes e úmidos, precedido por dias de chuvas, nos meses de novembro a março para a região Sudeste do Brasil. As fêmeas liberaram um potente feromônio sexual para atrair os machos para o acasalamento, que ocorre nas primeiras horas da manhã. As revoadas podem ocorrer durante vários dias consecutivos num
mesmo local. Aparentemente, a duração em dias depende de vários fatores como o tipo de solo, a intensidade prévia de chuvas nos dias anteriores, a população dos insetos e sua distribuição no perfil do solo, e as condições climáticas após o início das revoadas. Normalmente, as revoadas podem durar por até dez dias consecutivos, entretanto, o mais comum é se observar revoadas com duração de três a quatro dias, sendo que elas são mais intensas logo nos primeiros dias.
AMOSTRAGEM E NÍVEL DE CONTROLE O monitoramento de Migdolus spp. é realizado, principalmente, durante o levantamento de pragas de solo. No caso da cana-de-açúcar antes da reforma dos ca-
Armadilhas com feromônio sexual ajudam no monitoramento de Migdolus
PROBLEMA ANTIGO O primeiro registro de Migdolus foi feito em 1845 na rota Goiás-Cuiabá. Ao todo são conhecidas 10 espécies, das quais nove são consideradas raras, com exceção de Migdolus fryanus que é a mais conhecida e estudada. A região Centro Sul do Brasil é a mais atingida, e aparentemente, o seu centro de origem. Essas espécies estão distribuídas nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo. Existem relatos também na província de Corrientes na Argentina e no Paraguai. naviais, com a amostragem de no mínimo duas trincheiras por hectare, com dimensões de 0,5m x 0,5m na profundidade de 0,3m, avaliando-se a população das pragas presentes classificando-as em espécies e danos causados. Outra forma complementar de monitoramento é realizada nos meses mais frios e secos do ano (maio a agosto), observando-se e mapeando-se os focos com sintoma de secamento causado pelas larvas de Migdolus spp.
Fotos José Maurício S. Bento
uma atenção especial, visto que após a sua instalação não há como realizar medidas de controle químico. Neste caso, estas áreas devem ser mapeadas com base nos sintomas de ataque e por feromônio sexual sintético.
MÉTODOS DE CONTROLE Larva de Migdolus no sistema radicular da cana-de-açúcar
Cópula de casal de insetos durante a revoada
Monitoramento da população do Migdolus é fundamental para decidir o momento certo para o controle
Os métodos de controle mais empregados têm sido por comportamento e químico. No caso do controle por comportamento, embora poucos estudos tenham sido conduzidos com o feromônio sexual, existem boas perspectivas para a coleta massal de M. fryanus, considerando-se que o período de acasalamento é restrito a alguns dias do ano. Este período é crítico para a sobrevivência deste inseto e se interrompido pode afetar sua nova geração. Para tanto, as áreas devem ser monitoradas com feromônio sexual a partir do início das chuvas a cada ano (outubro/novembro para a região Sudeste do Brasil). Com o inicio das revoadas, armadilhas devem ser instaladas a cada 30m visando-se coletar o maior número de machos na área. Estudos preliminares indicam ser possível reduzir gradativamente, ano a ano, a população de M. fryanus nas áreas afetadas. Em Teodoro Sampaio (SP), utilizando-se esta metodologia, durante três safras consecutivas de cana-de-açúcar entre os anos de 1995 a 1998, conseguiu-se reduzir em mais de dois terços a população de M. fryanus nas áreas afetadas.
CONTROLE QUÍMICO O método de controle químico é um processo simples e prático, mediante a apli-
Uma terceira forma de monitoramento é por meio de armadilhas instaladas ao nível do solo, contendo o feromônio sexual sintético de M. fryanus. Recomenda-se utilizar no mínimo uma armadilha para cada 10 hectares, a partir do início das chuvas (outubro/novembro) até o final das revoadas (fevereiro/março), efetuando-se a troca do feromônio a cada 30 dias. Estas formas de levantamento, mencionadas acima, servem de base para o mapeamento e a recomendação de controle onde for constatada a presença das formas biológicas da praga. A decisão de se adotar o controle químico ocorrerá em função do custo dos produtos, do histórico de produtividade e da situação de risco oferecido pela população presente na área. Em culturas perenes, como eucalipto, videira, amoreira e pinus, deve-se adotar
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cação de inseticidas no sulco de plantio, sendo a forma mais empregada de proteção do sistema radicular da cultura e redução de população da praga. Neste sentido, em cana-de-açúcar, em se tratando de pragas de solo, como Migdolus spp., busca-se sempre um produto de elevada eficiência e longo poder residual. Estas qualidades são essenciais nesta cultura, onde a proteção à cana-planta e às soqueiras deve-se estender pelo menos por quatro ou cinco cortes, garantindo o retorno econômico dessa atividade. Os produtos atualmente recomendados para a cultura da cana-de-açúcar são: Endosulfan, Fipronil (Fenil pirazol) e Imidacloprid (Nitroguanidinas), sendo normalmente utilizados em doses elevadas. Estes produtos apresentam longo poder residual quando utilizados no plantio, causando redução significativa na população e no peso das larvas de Migdolus spp., garantindo os cortes subseqüentes de cana-deaçúcar, e protegendo o sistema radicular por até quatro cortes. Estes produtos podem ainda ser economicamente viáveis em áreas com o ataque concomitante de outras pragas de solo como nematóides e cupins. Nos casos de solos de textura arenosa, em áreas com altas populações da praga, é recomendada a aplicação de inseticidas na soleira do arado de aiveca, por ocasião da reforma do canavial, empregando equipamento aplicador C desenvolvido para esta finalidade. José Maurício S. Bento, ESALQ/USP Enrico De Beni Arrigoni, Centro de Tecnologia Copersuca
Produtos para o controle exigem longo período residual, de forma que protejam a planta por quatro a cinco cortes
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AENDA
Defensivos Genéricos
Depois dos testes de equivalência química, veja qual o papel dos coformulantes na caracterização do resíduo de um produto formulado correspondente
Resíduos M equivalentes eses atrás, publicamos o artigo Equivalência Agronômica, mostrando não ser necessário realizar testes de eficácia para produtos formulados à base de produto técnico equivalente, desde que destinados aos mesmos usos de produtos anteriormente registrados com o mesmo ingrediente ativo. Agora, neste novo artigo, queremos abordar os testes de resíduos para determinação do Limite Máximo de Resíduo (LMR) permitidos de produtos equivalentes na condição de formulados. Para uma imediata introdução do leitor ao assunto merece ser reproduzido um parágrafo do artigo anterior, qual seja: “...o produto para uso do agricultor, formulado a partir de um produto grau técnico equivalente, contém várias outras substâncias, chamadas de coformulantes ou de inertes, para dotar o produto de características que possibilitem a sua aplicação através de maquinários de distribuição sobre as lavouras, canteiros, sementes etc. São, então, realizados alguns testes toxicológicos e ambientais para comprovar a condição de toxicidade conjugada à exposição do mix Produto Técnico + Substâncias Coformulantes. Evidente que esses coformulantes não podem reagir quimicamente de forma a alterar a identidade do ingrediente ativo contido no Produto Técnico. Eles também devem estar em um equilíbrio físico entre si e com o Produto Técnico para carrear da melhor maneira possível o ingrediente ativo até seu alvo. Esse equilíbrio físico tem parâmetros de qualificação bem estabelecidos em normas ABNT”. Tendo sido o produto técnico considerado equivalente a um produto técnico referência (já registrado), como estabelecer o papel dos coformulantes na caracterização do resíduo de um produto formulado correspondente? A pergunta-guia deste
novo artigo é: os coformulantes podem alterar o LMR do produto? A constatação primária com base em décadas de realização destes testes e avaliação pelo Ministério da Saúde e Anvisa leva a uma sonora e inquestionável resposta negativa. Até hoje, nenhum produto formulado apresentou um LMR acima do LMR de ingrediente ativo avaliado através de outros produtos formulados anteriormente registrados para o mesmo uso. E nem poderia ser diferente por razões lógicas. Primeiro: o que se detecta nos exames laboratoriais de resíduos é tão somente o resíduo do ingrediente ativo, pois é o ente com potencial risco toxicológico no regime alimentar das populações. Esse ingrediente ativo tem espectro cromatográfico específico, não podendo variar de um fabricante para outro. Os coformulantes são simplesmente descartados no exame de resíduos. São substâncias inertes do ponto de vista químico, ou seja, não reagem entre si. Não agregam risco ao potencial de periculosidade do ingrediente ativo, conforme devem atestar os testes toxicológicos efetuados no produto formulado. Além disso, os toxicologistas levam em conta o fato de que boa parte dos coformulantes conhecidos não é permeável a membranas celulares, outros são considerados de grau alimentício, outros são carreados antes de atingirem o alvo vegetal, enfim, têm uma notória passividade contaminante.
Segundo: o produto formulado, candidato a registro, contendo o mesmo ingrediente ativo, é apresentado em um tipo de formulação semelhante à de produtos usuais no mercado. E, sua qualificação foi aferida pelos parâmetros estabelecidos em normas da ABNT. Terceiro: qualquer experimento tem erro estatístico aceitável e é razoável que um determinado teste apresente resíduo um pouco superior ou inferior a resultados anteriores. Por isso é exigido um estudo completo da curva de resíduos no ciclo da cultura suportada por um número mínimo de testes do primeiro produto introduzido no país, contendo novo ingrediente ativo para que seja possível estabelecer um LMR definitivo. Ora, os produtos equivalentes e genéricos subseqüentes não apresentarão um experimento que informe um resíduo mais alto que aquele estabelecido nas Monografias do Ministério da Saúde/Anvisa, pois se assim o fizessem seriam rejeitados ou teriam que apresentar também um estudo completo. Por ridículo que possa parecer, as empresas fazem tantos experimentos quantos necessários até obter um resultado igual ou menor que o mostrado na Monografia do ingrediente ativo em questão. Dinheiro é jogado fora e o tempo dos pesquisadores é consumido de maneira grotesca. A pergunta-guia fica então alterada: por que continua o governo a exigir tais expeC rimentos dos produtos genéricos?
Feijão Fotos Embrapa Agrobiologia
Produção na seca Graças à utilização da bactéria de rizóbio, que funciona como fertilizante natural, produtores de feijão caupi poderão dobrar a produção mesmo nos períodos mais secos, sem acrescentar nenhum tipo de fertilizante químico
B
actérias resistentes a altas tem peraturas e a deficiência de á g u a estão sendo testadas por pesquisadores da Embrapa Agrobiologia para aumentar a produção de feijão caupi nas áreas secas do Nordeste. Em dois anos de experimentos em lavouras de agricultura familiar na área rural de Petrolina (PE), o plantio de sementes revestidas com um pó contendo uma dessas bactérias revelou potencial produtivo de 700 kg/ha, sem qualquer uso de insumo químico. É um resultado surpreendente, bem acima das médias de produtividade registradas na região (300 a 400 kg/ha) para esse segmento agrícola. Essas bactérias, conhecidas com o nome científico de rizóbio, têm a habili-
dade de operar uma espécie de fertilização natural: dentro do solo e fixadas às raízes, pegam o nitrogênio que existe no ar em abundância e o fornece à planta. Tecnicamente, o processo é chamado de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) e ocorre naturalmente no meio ambiente, em especial com as plantas da família Leguminosae, como é o caso dos feijões. A pesquisa da Embrapa é orientada para identificar um tipo dessa bactéria capaz de processar a FBN em níveis eficientes sob as condições de estresse do ambiente semi-árido, com seu clima quente e seco.
INOCULANTE Há dez anos que a Embrapa persegue os bons resultados com a pesquisa. O itinerário de experimentos teve início com
Fixado através do ar por bactéria, o nitrogênio exerce sua principal função no crescimento e produção
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a coleta de 38 amostras de solo em três ambientes do Estado de Pernambuco: zona da mata, agreste e sertão. Nas análises das amostras feitas no Laboratório de Ecologia Molecular Microbiana da Embrapa Agrobiologia, foram constatados cerca de 600 tipos de rizóbios. O passo seguinte foi caracterizar cada um deles em laboratório e quanto à habilidade de fixar nitrogênio em vários testes controlados em casa de vegetação. Desses testes, os pesquisadores selecionaram dez tipos e passaram a submetê-los a testes em campos experimentais em plena caatinga. Os resultados observados indicaram um tipo de rizóbio promissor, justamente o que está demonstrando potencial produtivo, em condições reais, nas áreas de cultivo dos próprios agricultores, em Volta do Riacho, zona rural de Petrolina. O passo seguinte da pesquisa é produzir um recurso tecnológico, chamado de inoculante, no qual essa bactéria é injetada em solo orgânico esterilizado. Esses inoculantes, que contêm grande quantidade de bactérias agregadas, misturadas às sementes de caupi, dão maior segurança à planta para fixação de nitrogênio. O nitrogênio é o elemento mais importante para estimular o crescimento do feijão e a produção de grãos. Em geral, na agricultura ele é disponibilizado para as plantas na forma industrializada dos fertilizantes químicos. É uma tecnologia que os especialistas revelam apresentar muitas limitações em as-
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pectos importantes da produção de alimentos de maneira sustentável. A produção industrial de nitrogênio consome uma enorme quantidade de energia obtida a partir de fontes derivadas do petróleo, que é um recurso não renovável. Este processo encarece o produto disponibilizado no mercado para o produtor, que, no caso do semi-árido nordestino, pode chegar a ser proibitivo devido à perda de safras decorrentes das chuvas irregulares. A FBN tem a grande vantagem de ser um recurso natural renovável, barato e praticamente sem qualquer impacto ambiental negativo. No processamento do nitrogênio, a energia consumida pela bactéria é fornecida pela própria planta. A evidência do tanto que essa tecnologia é eficiente está demonstrada na cultura da soja, outra planta leguminosa nas quais os estudos de FBN estão bastante desenvolvidos e foram iniciados pela pesquisadora Johana Dobereiner. A identificação de rizóbios eficientes e sua disponibilização nas áreas de plantio por meio de inoculantes resulta numa economia de 6 bilhões de dólares por ano com a substituição da adubação nitroge-
SEGURANÇA ALIMENTAR
O
feijão caupi (Vigna unguiculata) é a principal fonte de proteína na dieta alimentar das famílias de pequenos produtores do semi-árido nordestino. Por causa das irregularidades do regime de chuvas na região e os poucos recursos tecnológicos em uso nos sistemas agrícolas de pequenos e médios produtores, as safras são reduzidas, quando não são perdidas totalmente nos anos de seca mais intensa. E este é um dos principais problemas de segurança alimentar que enfrentam. Os resultados da pesquisa indicam que a Embrapa está próxima de gerar uma tecnologia biológica, barata, que terá um impacto muito positivo no aumento da oferta de alimentos e de geração de renda na região. nada pelo processo biológico, e tornou o cultivo da soja um dos mais competitivos do negócio agrícola brasileiro. O semi-árido ocupa uma área de 95
Norma, Gustavo e Lindete mostram a eficiência de rizóbios, em substituição à adubação nitrogenada em situações adversas
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Em grande parte do semi-árido nordestino o caupi é cultura de subsistência. No entanto, integra a dieta alimentar de 27 milhões de brasileiros e, em 1999, movimentava negócios da ordem de 350 milhões de dólares, segundo o pesquisador Freire Filho, da Embrapa Meio Norte, com sede em Teresina (PI). A dimensão social e econômica dessa cultura é muito expressiva, diz Norma. Na sua opinião, uma tecnologia que resulte no aumento da sua produção e, mais que isso, torne mais estável as possibilidades de colheitas diante das adversidades climáticas poderá ter repercussões até na melhoria da qualidade de vida no Nordeste. milhões de km2 da Região Nordeste. Em apenas 5% dessa extensão há disponibilidade de água e solo para irrigação. No restante desse território, é necessário o aporte de tecnologias sustentáveis para os sistemas agrícolas que são, na maioria, pequenas propriedades. A pesquisa de FBN em caupi, desenvolvida em parceria com a Embrapa Semi-Árido, tem como objetivo ampliar as possibilidades de produção de cultivos essenciais aos agricultores familiares para aumentar a oferta de alimenC tos e oportunidades de renda. Norma Gouvea Rumjaneck, Gustavo Ribeiro Xavier e Lindete Miria Vieira Martins, Embrapa Agrobiologia
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Nossa capa
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lgumas culturas vêm sendo utilizadas, nessa região, em sistemas irrigados, com destaque para o feijão, que vem tendo sua produtividade reduzida a cada ano devido a problemas gerados pelo monocultivo. Como opção para rotação de cultura, aparece o trigo, que já dispõe de variedades adaptadas para a região com produtividade média acima de 5 t/ha. Em 2003, a área plantada com trigo foi de 25 mil hecta-
res, já em 2004, é esperado aumento de 100% na área de plantio, ou seja, 50 mil hectares. Em sistemas irrigados, a fertilidade do solo não deve apresentar nenhuma limitação para que a cultura expresse seu potencial. Para avaliar a fertilidade, deve-se fazer amostragens do solo na camada mais superficial (0 a 20 cm) e também em camadas mais profundas (20 a 40 e 40 a 60 cm) e enviá-las para laboratório para análise química e, caso não se conheça o
teor de argila do solo solicitar também essa determinação.
CORREÇÃO DA ACIDEZ A acidez superficial (0 a 20 cm) não é problema quando a saturação por bases (V) do solo estiver em torno de 60% e o pH em água, próximo a 6,2. Quando a análise do solo apresentar valores menores, deve-se corrigi-la pela adição de calcário. A dose é calculada utili-
Pronto para o trigo O plantio de trigo irrigado no Cerrado começa a ganhar espaço. No entanto, para ser viável, é necessário que o solo seja bem corrigido, com adição dos nutrientes essenciais para obter qualidade dos grãos
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Dose de gesso (kg/ha) = 50 x Argila(%)
Para evitar perdas por lixiviação de nutrientes é possível parcelar a adubação entre o plantio e adubação em cobertura
O gesso agrícola pode ser aplicado a lanço, antes ou depois do calcário. A incorporação do gesso ao solo não é obrigatória, pois a sua lixiviação da camada superficial (0 a 20 cm) é rápida, atingindo pelo menos até 60 cm de profundidade. Além de uma série de pesquisas que comprova a eficiência do gesso agrícola como melhorador do ambiente radicular na subsuperfície, essa técnica já vem sendo avaliada pelos agricultores da região. Em áreas irrigadas, têm-se obtido respostas ao uso de gesso, com ganhos de até 25 sacas/ ha para a cultura do trigo. O gesso, além de melhorar as condições químicas do subsolo é, também, fonte de enxofre para as plantas, aspecto importante, uma vez que a deficiência desse nutriente é generalizada nos solos de Cerrado.
Fotos Djalma Sousa
ADUBAÇÃO
zando-se a seguinte fórmula: Necessidade de calcário (t/ha) = [(Tx0,6)-S] x f, onde: T = (H+Al +S) cmolc/dm3 S = (Ca + Mg + K) cmolc/dm3 f = fator de correção para a qualidade do calcário (f = 100/PRNT) A relação Ca e Mg no solo, em cmolc/dm3, deve situar-se no intervalo de 1:1 até o máximo de 10:1, cuidando para se ter o teor mínimo de Mg de 0,5 cmolc/dm3 . Outro problema bastante comum na região dos Cerrados é a deficiência de cálcio na subsuperfície do solo (20 a 40 e de 40 a 60 cm), associada ou não à toxidez de alumínio. De posse dos resultados da análise do solo, se a saturação de alumínio for maior que 20% ou o teor de cálcio menor que 0,5 cmolc/dm3, há alta probabilidade de se obter benefícios com o uso do gesso para eliminar o problema da subsuperfície, devendo-se aplicá-lo ao solo. A quantidade de gesso agrícola (15% de enxofre) a ser aplicada ao solo pode ser determinada com a seguinte fórmula: Tabela 1 – Adubação de semeadura com N, P2O5 e K2O para a cultura do trigo em função da expectativa de rendimento e interpretação da análise do solo, para o fósforo e potássio extraídos pelo método de Mehlich 1. Expectativa de N P extraível rendimento Adequado Alto t/ha kg/ha kg/ha de P2O5 3 60 30 20 4 20 70 35 5 80 40 20 6 90 45 20
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K extraível Adequado Alto kg/ha de K2O 30 15 40 20 50 25 60 30
Os fertilizantes, no sistema irrigado, são normalmente aplicados na linha de semeadura, ou, em algumas situações, na superfície do solo ou via água de irrigação. O nível de fertilidade do solo e o comportamento das fontes de nutrientes que serão aplicadas nele é que determinam o melhor modo de usar fertilizantes. Nas Tabelas 1 e 2 são apresentadas as quantidades de nutrientes a aplicar na cultura do trigo em função da expectativa de rendimento.
CULTIVO IRRIGADO NO CERRADO
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agricultura irrigada representa em torno de 7,6% das áreas agricultáveis brasileiras e responde por 20% do total da safra agrícola nacional. Isso nos indica a eficiência do uso dessa tecnologia no campo. Na Região do Cerrado, a área irrigada já é de 350 mil hectares. A produtividade esperada em sistemas irrigados é superior a dos não irrigados, pois não se tem risco de falta de água, um dos limitantes para estabilidade da produção do sistema de sequeiro. Por ser o sistema irrigado de menor risco, os demais fatores como, por exemplo, a fertilidade de solo, devem ser otimizados, pois, em termos de custos totais, passam a ter um significado menos expressivo quando se incorporam o custo do equipamento de irrigação e o da energia, entre outros.
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NITROGÊNIO Nas Tabelas 1 e 2, são apresentadas as recomendações de nitrogênio para semeadura e cobertura para a cultura do trigo, respectivamente. Na semeadura, recomenda-se a aplicação de 20 kg nitrogênio por hectare, enquanto que a dosagem a ser aplicada na cobertura é função da expectativa de rendimento. Quando os fertilizantes nitrogenados são convenientemente aplicados, em solos bem drenados, praticamente não existem diferenças na eficiência agronômica entre fontes para qualquer sistema de cultivo. Depois de aplicado ao solo, o nitrogênio, se utilizado na forma amoniacal, é convertido à forma nítrica em cerca de três semanas. Dependendo das características de solo e de clima, podem ocorrer perdas pelo processo de lixiviação. Uma das práticas bastante utilizadas para minimizar esse problema é parcelar a adubação nitrogenada, sendo parte colocada no plantio (1/5 a 1/3 da dose total de nitrogênio a aplicar) e o restante em cobertura conforme recomendado na Tabela 2. As quantidades de nitrogênio recomendadas na Tabela 2 podem ser reduzidas em 40% quando o trigo for cultivado em área com baixo potencial de resposta a nitrogênio, como, por exemplo, áreas cultivadas por três ou mais anos com soja. As dosagens devem ser aumentadas em 20% quando o trigo for cultivado em áreas com alto potencial de resposta a nitrogênio, como Cerrado recém- incorporado ao sistema de produção ou primeiros anos de plantio direto. Em cultivares de baixa resistência do colmo (palha fraca), a dosagem total de nitrogêTabela 2 - Doses de N a aplicar em cobertura para a cultura do trigo em função de expectativa de rendimento. Expectativa de rendimento t/ha 3 4 5 6
N* kg/ha 10 40 70 100
*Aplicar no início do estádio de perfilhamento (cerca de 14 dias após a emergência do trigo).
nio não deve ultrapassar 80 kg/ha.
FÓSFORO O fósforo é um dos nutrientes mais importantes para a produção de grãos nos solos de Cerrado, pois sua disponibilidade em condições naturais, é muito baixa. Portanto, é imprescindível a prática da adubação fosfatada para se obter produções satisfatórias para diferentes culturas. Antes do estabelecimento da cultura do trigo, é aconselhável que os teores de fósforo no solo (camada de 0 a 20 cm), obtidos pelo método Mehlich 1, sejam no mínimo 6, 12, 20 e 25 mg/dm3 para os solos de textura muito argilosa, argilosa, média e arenosa, respectivamente. Se o teor de fósforo do solo estiver adequado, de acordo com os valores indicados acima, adubações com 60 a 90 kg P2O5/ha serão suficientes para produtividades de 50 a 100 sacos de trigo/ha (Tabela 1). Quando o
teor de P no solo for alto, isto é, superior a 9, 18, 35 e 40 mg/dm3 para os solos de textura muito argilosa, argilosa, média e arenosa, respectivamente, as adubações podem ser reduzidas à metade. Quanto às fontes de fósforo deve-se dar preferência às mais solúveis em água nos primeiros anos de estabelecimento do sistema irrigado; posteriormente, é possível utilizar fontes de menor solubilidade em água, mas sua eficiência agronômica deve ser semelhante, a curto prazo, a de fontes tradicionais como o superfosfato triplo ou superfosfato simples.
POTÁSSIO Os solos de Cerrado, geralmente, são muito pobres em potássio e seu suprimento às plantas deve ser feito por meio da adubação potássica. O uso da adubação corretiva com potássio é indicado quando o teor de potássio no solo (camada de 0 a 20 cm), extraído pelo
Djalma Sousa
Divulgação
mente. Quando o teor de potássio for considerado alto, isto é, maior que 40 e 80 mg/ dm3 , para solos com CTC menor que 4 cmolc/dm3 e maior 4 cmolc/dm3, respectivamente, aplicar a metade da dose recomendada para o nível adequado. A aplicação de adubos potássicos (cloreto de potássio), em quantidades superiores a 60 kg K2O/ha nos solos de Cerrado, deve ser feita preferencialmente a lanço, pois estes solos possuem baixa capacidade de retenção de potássio. A alta concentração provocada por quantidades maiores do adubo (acima de 60 kg K2O/ha), distribuído em pequenos volumes de solo, no sulco de semeadura, favorece a perda por lixiviação, além do risco de salinidade. Para solos com capacidade de troca de cátions (CTC) menor que 4 cmolc/dm3, a alternativa mais recomendada é o parcelamento da adubação potássica, aplicando-se 50% da dose no plantio e os outros 50% em cobertura Nos primeiros anos de culturas irrigadas devese dar preferência às fontes solúveis de P, pela baixa disponibilidade em condições naturais
método de Mehlich 1, for inferior a 80 e 40 mg/dm3 , para solos com CTC maior que 4 cmolc/dm3 e menor 4 cmolc/dm3, respectivamente. A quantidade de potássio a ser aplicada no solo pode ser determinada com a fórmula: Dose de K (kg K2O/ha) = (teor de K desejado – teor de K atual) x 2,4 onde: Teores de K desejado e atual são expressos em mg/dm3. A adubação de manutenção deve ser feita com base na expectativa de produção (Tabela 1). Assim, para produzir 50 sacos de trigo por hectare, deve-se adicionar 30 kg K2O/ ha quando o teor de potássio no solo for adequado, isto é, entre 31 a 40 e 51 a 80 mg/ dm3, para solos com CTC menor que 4 cmolc/dm3 e maior 4 cmolc/dm3, respectiva-
MICRONUTRIENTES NECESSÁRIOS
O
s aumentos de rendimento de grãos de trigo mais freqüentes no Cerrado têm sido obtidos com boro, cobre e zinco. Assim recomenda-se proceder a adubação corretiva com micronutrientes. Há possibilidade de utilizálos nas formulações, nas sementes ou nas folhas e, nesses casos, ficar atento à quantidade de micronutrientes acumulada no solo, a fim de evitar a toxidez. A análise foliar é uma das melhores formas para acompanhar a necessidade desses elementos. O controle de chochamento (esterilidade masculina) é feito pela incorporação de boro ao adubo. A dose de boro a aplicar varia de 0,5 a 1,5 kg/ha, com efeito residual de três anos.
Cultivo sucessivo com sistema de preparo de solo inadequado, segundo Djalma, pode levar ao insucesso da produção
que, no caso do trigo, pode ser junto com a cobertura de nitrogênio.
ENXOFRE O enxofre, embora usado pelas plantas em quantidades menores que os macronutrientes (N,P e K), é essencial para obtenção de boas produtividades. Quando o teor desse elemento no solo (teor médio das camadas 0 a 20 e 20 a 40 cm) for inferior a 5 mg/dm3 deve-se aplicar de 20 a 30 kg de S/ ha. O uso de S pode ser dispensado quando o teor médio no solo for igual ou maior que 10 mg/dm3.
CONSIDERAÇÕES FINAIS O cultivo sucessivo com sistemas de preparo de solo inadequados, monocultivos de feijão, uso excessivo de agroquímicos pode levar ao insucesso a agricultura irrigada na região. Uma alternativa para resolver esse problema pode ser a adoção da rotação adequada de culturas, introduzindo uma gramínea como o trigo, permitindo controlar doenças, manter o estoque de matéria orgânica ativa no solo em nível desejável, para a sustentabilidade dos C sistemas agrícolas. Djalma M. Gomes de Sousa, Embrapa Cerrados
Trigo
Adubação planejada Antes de aplicar fertilizantes na lavoura de trigo, é necessário saber exatamente quais as necessidades nutricionais do solo, já que a cultura antecessora pode suprir a deficiência de alguns nutrientes e dispensar a adubação química Dirceu Gassen
O
aumento do rendimento de grãos da cultura do trigo tem sido expressivo nos últimos anos. Nesse sentido, a inovação técnica do plantio direto é responsável por essa conquista. Assim, neste sistema de cultivo, com mínimo de revolvimento do solo, conseqüentemente com reduzidas perdas de fertilizantes, deu-se um maior aproveitamento dos nutrientes utilizados na adubação, criando-se um generoso efeito residual para as culturas cultivadas em seqüência de cultivos. Esta técnica reflete-se em um avanço em relação ao plantio convencional. As novas alterações das indicações de adubação para a cultura do trigo, em relação a versão de 1995, refere-se aos fatores relacionados com N em decorrência do uso do plantio direto e de tipos de culturas que antecedem o trigo, mormente a soja e o milho. Dessa forma, a seqüência de culturas passa a ser fator de decisão nas doses de nitrogênio a aplicar no sistema plantio direto. Quanto às doses de P2O5 e de K2O, as alterações compreendem somente a adaptação das doses anteriormente recomendadas, elaborada para plantio convencional, à nova interpretação dos teores de P e de K.
CALAGEM A necessidade de calcário no sistema plantio direto é menor que a requerida no sistema convencional de preparo de solo. A causa principal desse fenômeno é a geração de menor quantidade de acidez pelo maior acúmulo de matéria orgânica no solo, no plantio direto. Tem sido verificado, também, que o efeito prejudicial do Al é menor sob sistema plantio direto consolidado do que no sistema convencional de preparo, em razão da preferência de ligação do Al com complexos orgânicos em vez de fósforo. Dessa forma, com o aumento da área cultivada sob plantio direto, a tendência é usar menores quantidades de calcário por área e em intervalos maiores do que aqueles adotados no sistema convencional de preparo do solo. Isso implicará menor consumo de calcário por área e redução dos custos de produção. Valores de pH do solo em água de 5,3 a 5,6 e teor de Al de 0,5 cmolc/dm3 na camada de 0 a 10 cm de profundidade são geralmente satisfatórios para o desenvolvimento da cultura do trigo e demais culturas produtoras de grãos. Sabendo-se que a geração da acidez no solo é um processo contínuo em climas úmidos e considerando que a incorporação de calcário é inviável no plantio direto, há necessidade de aplicar calcário na superfície do solos quando ácidos. Depen-
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dendo da dose aplicada, o efeito do calcário perdura por cerca de três anos e eleva o pH do solo até 10 com de profundidade. Os critérios de decisão quanto à necessidade de uso da calagem para culturas de lavouras sob plantio direto, é determinado quando o pH em água for menor que 5,5 e a saturação de bases for menor 65%. As doses de calcário para atingir essa condição desejada é estabelecida pelo valor de interpretação do índice SMP, constante nas tabelas de indicação de calagem. Para tanto aplica-se metade da dose indicada para pH em água de 5,5. Os valores de pH em água e índice SMP são fornecidos nos laudos de análise de solo. Quando são indicadas doses de calcário menores de duas t/ ha, difíceis de ser aplicadas uniformemente, recomenda-se protelar a aplicação de calcário até que o solo apresente maior acidez.
ADUBAÇÃO COM NPK Os teores de fósforo e de potássio determinados, respectivamente, pelas doses de P2O5 e K2O não sofreram alterações nas quantidades a aplicar no sistema plantio direto, ocorreram apenas ajustes nas tabelas em relação ao sistema convencional. Assim, o conhecimento da fertilidade do solo é fundamental para a interpretação, e
QUANDO E COMO ANALISAR O SOLO
U
m dos requisitos básicos da ava liação química da fertilidade do solo é a coleta de amostra representativa de determinada gleba de terra. O solo é um corpo heterogêneo por natureza, e o uso de calcário e de fertilizantes ampliam esse fator. No sistema convencional, em que o solo é revolvido a cada safra misturando as camadas de solo, a amostragem padrão é coletar a camada de 0 a 20 cm de profundidade. Entretanto, no sistema plantio direto, onde a aplicação a lanço de calcário e de fertilizantes na linha de semeadura e com a manutenção de palha na superfície do solo, a amostra pode ser coletada na camada de 0 a 10 cm de profundidade. O número mínimo de subamostras para compor uma amostra representativa de solo é de 15, para os dois sistemas de manejo. Em razão do não revolvimento do solo no sistema plantio direto, o cuida-
do na amostragem do solo é mais importante que no sistema convencional de preparo. É fundamental, assegurar que a camada dos primeiros centímetros de solo seja incluída na amostra. Dessa forma, o trado de rosca e o trado holandês não são adequados, pois eles geralmente dificultam a coleta de solo da camada superior. Em lavouras onde a última adubação foi realizada na linha de semeadura, a coleta com pá-de-corte, de uma fatia contínua de 3 a 5 cm de espessura, no espaço de entrelinha a entrelinha, é mais adequada, mas pode ser substituída pela coleta com trado calador numa linha transversal às linhas de semeadura, coletando um ponto no centro da linha onde foi depositado o adubo e um de cada lado se for cereal de inverno, um no centro e três de cada lado se for soja, ou um no centro e seis de cada lado se for milho.
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Peruzzo garante que a seqüência de culturas é fator decisivo na nutrição do trigo
conseqüente determinação das doses de fertilizantes para a cultura do trigo. Quando os teores de P e de K forem acima do nível crítico, onde a probabilidade de resposta ao uso desses insumos é pequena, identificados pela interpretação como alto ou muito alto, as doses poderão ser estabelecidas em função da reposição do que a cultura anterior retirou da lavoura. Entretanto, quando a gleba se identificar com a interpretação de P e de K como médio, baixo ou muito baixo, as doses a serem utilizadas serão maiores para uma mesma expectativa de rendimento de grãos. Assim, adubar bem um solo para a cultura do trigo não significa usar 250, 300 ou 400 kg/ha de determinada fórmula de adubo. Deve-se usar a quantidade determinada
pela interpretação da análise de solo. O suporte à tomada de decisão, também deve ser determinada em função do elemento em menor quantidade no solo. Assim, quando determinada gleba apresenta índice baixo de potássio e alto em fósforo, a adubação deverá ser concentrada numa formulação com maior quantidade de K e menor em P e vice-versa. É usual, o agricultor lançar mão de uma única formulação de adubo para toda a sua propriedade. Neste caso, em determinada condição de solo, se estará colocando nutriente demais e noutra nutriente de menos. Isso certamente não é a melhor estratégia para o maior retorno econômico por gleba a ser cultivada. Alterações substanciais para o trigo foram realizadas na recomendação de nitrogênio. As diferenças, em relação às indicações estabelecidas no passado estão na separação das doses de N em função da cultura precedente e da expectativa de rendimento de grãos da cultura, a qual é função de fatores de produção e das condições climáticas. A dose de nitrogênio a ser aplicada na semeadura, varia entre 10 e 20 kg/ha. O restante deve ser aplicado em cobertura, completando o total indicado na tabela. A aplicação de nitrogênio em cobertura, deve ser realizada entre os estádios de afilhamento e alongamento, correspondendo, em geral, ao período entre 30 a 45 dias após a emergência. Na resteva de milho, convém antecipar a aplicação em cobertura. Nas regiões mais
quentes e de menor altitude, em resteva de soja, é recomendável restringir a aplicação em 40 kg/ha (base + cobertura). Nas regiões frias em solos com alto teor de matéria orgânica, as doses de N podem ser aumentadas. O histórico de cultivo, as condições climáticas, época de semeadura, incidência de doenças e a estatura da cultivar podem afetar a resposta ao fertilizante nitrogenado. No sistema plantio direto, convém cultivar trigo após soja, onde os rendimentos são superiores aos de resteva de milho. No caso do cultivo de nabo forrageiro, no período entre a colheita do milho e a semeadura do trigo e quando, o rendimento de matéria seca do nabo forrageiro for superior a 3 t/ha, a dose de N a aplicar no trigo, deverá ser aquela prevista para trigo após soja. A adubação de cobertura, deverá ser feita quando o solo apresentar umidade suficiente para dissolução da fonte de nitrogênio. A aplicação deve ser realizada nas horas menos quentes do dia para evitar perdas por volatilização de amônia. As principais fontes de N são a uréia (44 % N), nitrato de amônio (32 % N) e sulfato de amônio (20 % N). A eficiência desses fertilizantes é idêntica. Informações adicionais poderão ser obtidas nas Indicações Técnicas da Comissão Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo. C Geraldino Peruzzo, Embrapa Trigo Dirceu Gassen
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Milho
Ameaça verde A
Dirceu Gassen
introdução de uma nova espécie vegetal, de uma variedade, ou mesmo mudanças significativas nas práticas culturais podem propiciar ambiente “novo”, adequado para que insetos, antes considerados pouco importantes, adaptem-se à nova situação e passem a causar danos econômicos significativos. Aparentemente, este é o caso do Dichelops melacanthus, em milho cultivado fora da época tradicional (safrinha), no sistema plantio direto (SPD). Nos estádios iniciais de crescimento, o milho é mais sensível ao ataque do percevejo, ocasião em que, dependendo da intensidade do ataque, a lavoura pode ser totalmente destruída. Em plantas jovens, em que o inseto se alimentou, podem ser vistos pontos escuros nas folhas novas do interior do cartucho. Quando ocorrem ataques severos na região de crescimento, as plântulas emitem perfilhos, comprometendo seriamente, ou mesmo inviabilizando, a colheita de grãos. Plantas em que a injúria não foi tão severa resistem aos danos e, mais tarde, apresentam folhas desenroladas com vários orifícios enfileirados no sentido transversal das mesmas. Em outros casos, uma fileira de orifícios é seguida de outra (ou outras), sempre no sentido transversal da folha, indicando, provavelmente, ataques em momentos diferentes. Essas fileiras de furos podem eventualmente unir-se apenas no sentido longitudinal da folha, dando origem a espaços vazios alongados, de formato mais ou menos irregular, entremeados de áreas intactas. Orifícios de duas ou mais fileiras podem unir-se no sentido longitudinal da folha, ao mesmo tempo em que os da fileira mais externa unem-se transversalmente, rompendo-se.
ONDE SE ESCONDE E COMO ATUA
Praga bastante problemática na cultura de soja, o percevejo Barriga-Verde, começa a causar problemas também no milho, principalmente na safrinha
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O inseto posiciona-se de cabeça para baixo na base da planta de milho, praticando injúria pela introdução do estilete na região do colo e sucção da seiva, com provável injeção de toxinas na planta. Há também, a possibilidade de que o orifício de alimentação possa servir de rota para penetração de microorganismos fitopatogênicos.
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BIOECOLOGIA DO BARRIGA-VERDE
C
onhecido também como “catari na”, o D. melacanthus é praga secundária da soja em estados brasileiros situados acima do paralelo 240S. Na extremidade anterior do D. melacanthus há um “corte” profundo no sentido do comprimento do corpo, o que confere um aspecto bifurcado à cabeça do inseto. O adulto mede cerca de 10 mm de comprimento e apresenta prolongamentos laterais em forma de espinhos nos “ombros” (pronoto). As extremidades do citado prolongamento são escuras. Na base do escutelo (parte dorsal do tórax, logo após a cabeça) há um ponto branco, pequeno, de difícil percepção a olho nu. Sob lupa, verifica-se que é uma área terminal, quitinosa, brilhante, esbranquiçada, com a forma aproximada de uma ferradura. Exceto a região escura já citada, toda a parte dorsal do percevejo tem coloração marrom e a ventral, Isto confere aspecto mais ou menos serrado à ponta do que restou da folha. Há também ocasiões em que a ponta de uma folha mais nova enrola-se na de outra. Ambas, assim unidas, dobram-se, fechando o cartucho, que adquire o aspecto de um charuto: é o chamado “encharutamento”. Outro sintoma de ataque caracteriza-se pela emissão de folha central descolorida e retorcida. Este sintoma é denominado de “folha mascada”. Há também ocasiões em que os orifícios não se completam provavelmente porque o inseto, por alguma razão, interrompeu precocemente o ato de alimentação, mas há formação de uma fileira transversal de pontos descoloridos. Os sintomas dos danos causados ao trigo são semelhantes aos do milho. A Dra. Viviane R. Chokorosqui verificou que o trigo sofre danos em todos os estádios, principalmente no período que vai do elongamento da planta à fase de grão em massa. Ela também constatou que dois ou mais percevejos por metro quadrado são suficientes para causar dano ao milho, confirmando resultado obtido anteriormente pelo Dr. R. Bianco (Iapar). A distribuição do barriga-verde no campo durante o dia é influenciada pela vegetação e a temperatura do ambiente, havendo maior atividade a partir do final da tarde. De acordo com dados coletados na região de Dourados (MS), nas horas mais quentes do dia, o percevejo prefere permanecer abrigado sob plantas daninhas que emergiram após a co-
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verde. Seus ovos são de coloração verde-água, podendo ser depositados sobre as folhas de milho, ou sobre as de invasoras, como o cordão-de-frade. As ninfas apresentam coloração verde, tendendo levemente para o azul. O inseto ocorre, normalmente, em baixas populações na maior parte do ciclo reprodutivo da soja, mas na época da colheita, quando os grãos praticamente já não são mais suscetíveis ao seu ataque, há, aparentemente, um súbito incremento na população do percevejo. Desta forma, na ocasião da colheita, pode ser detectado grande número de adultos sobre a massa de grãos já colhido. Há também indícios de que a espécie possa associar-se a hospedeiros intermediários, principalmente plantas daninhas ( como a trapoeraba, por exemplo) até que seja instalada a cultura do milho safrinha (ou de trigo).
rentes genótipos de milho. Portanto, o cultivo de genótipos resistentes poderá constituir-se em importante “ferramenta” de controle. Em áreas tradicionais de ocorrência, o controle pode ser realizado preventivamente, desde que a praga já não esteja escondida na palhada, através de tratamento das sementes de milho com os inseticidas. Outra alternativa seria inspecionar a lavoura logo após a semeadura. Caso o inseto já esteja abrigado sob plantas daninhas vivas e/ou dessecadas, pode-se promover a pulverização preventiva da palhada com inseticidas (Figura 1). As aplicações devem ser feitas, preferentemente, da metade da tarde em diante, com volume de calda de 200 l/ha. Caso, na inspeção anteriormente referida, o percevejo não tenha sido encontrado, é fundamental que se continue alerta. Deve-se vistoriar a lavoura logo após a emergência das plântulas de milho, pois o barriga-verde pode invadir a C lavoura a partir de lavouras. Sérgio Arce Gomez e Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Cultivar
lheita da soja. Tanto ninfas quanto adultos deslocam-se “caminhando” na superfície do solo. É conveniente que, antes da semeadura do milho ou do trigo, o agricultor verifique se plantas daninhas ou a palhada estão abrigando (ou não) o barriga-verde.
CONTROLE Pesquisa, no Paraná, do Dr. R. Bianco (Iapar) indicou que há diferença de suscetibilidade ao ataque do D. melacanthus entre dife-
Inseto da cultura da soja sobrevive em plantas daninhas para garantir o ataque em lavouras de safrinha afirma Gomez
Figura 1 - Percentuais de controle do percevejo barriga-verde sob ação de inseticidas aplicados em pulverização na parte aérea de plantas de milho safrinha, em MS
(Fonte: Gomez e Ávila, Comunicado Técnico n.44, dez./98, p.1-5).
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Soja Charles Echer
Cautela na safrinha A safrinha da soja está trazendo preocupações devido à alta incidência da ferrugem na ùltima safra. Garantindo a sobrevivência do fungo elevam-se os riscos de produtividade para as próximas safras, além de dificultar a implantação de estratégias de controle
A
ocorrência de condições climá ticas desfavoráveis para a pro dução de sementes de soja no Brasil Central, na safra 2002/2003, devido a períodos chuvosos durante as fases de maturação e colheita da soja, resultou em grande descarte de lotes de sementes. A provável falta de sementes para a safra seguinte (2003/2004), aliada aos preços
altos da soja, motivou o cultivo sucessivo de soja para a produção de sementes na entressafra (soja safrinha, sob o regime de “pivot” central). Na safra atual, 2003/04, o problema atingiu as lavouras brasileiras mais cedo, principalmente na região do Cerrado, onde ocorreu uma continuidade de inóculo em função dos plantios contínuos
RS LIVRE DA FERRUGEM NO INVERNO
A
Embrapa Trigo, em parceria com a Embrapa Soja, está analisando o efeito de diferentes épocas de semeadura de soja sobre a incidência e a severidade de ferrugem. Em Passo Fundo, no primeiro ano, em semeaduras de meados de novembro e de início e de meados de dezembro, observou-se que a doença iniciou primeiro e se desenvolveu com maior severidade na soja da última época, o que demonstra a maior probabilidade de perdas por ferrugem em lavouras do tarde, ou em segunda safra. Devemos considerar, também, que a ocorrência de ferrugem de soja, no Sul do Brasil, é dependente de lavouras localizadas em Estados mais ao norte, que são semeadas mais cedo e que produzem inóculo em
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quantidades crescentes dentro da safra, atingindo com maior gravidade as lavouras mais tardias, no Sul. Não são tão importantes as “pontes verdes”, pois, devido ao clima frio do inverno, é menor a ocorrência de plantas de soja vegetando, que poderiam manter o inóculo de ferrugem em níveis altos. Em lavouras de safrinha, há condições da doença se estabelecer ainda no estádio vegetativo, diferente do que acontece normalmente, quando ocorre no estádio de enchimento de grãos, sob regime de precipitações pluviais constantes. Tal fato demandaria, provavelmente, a necessidade de várias aplicações de fungicida para o efetivo controle da ferrugem. Leila Costamilan/Embrapa Trigo
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de soja irrigados (Pivot Central), no inverno. O fungo causador da ferrugem é considerado um patógeno biotrófico, ou seja, necessita de hospedeiro vivo para sobreviver e multiplicar. Embora o fungo possa sobreviver em folhas velhas caídas no solo, sua viabilidade cai rapidamente e o período de tempo que ele sobrevive nessas condições não é suficiente para que ele passe de uma safra para outra. Desta forma, sua sobrevivência na entressafra deve obrigatoriamente ocorrer em plantas de soja ou hospedeiros alternativos. No inverno de 2003, a principal hospedeira que garantiu a continuidade de inóculo na entressafra foi a própria soja. A doença foi constatada em diversas áreas de multiplicação de sementes de soja, sob irrigação, no MT, BA, MA, SP, MG, TO e GO e mesmo em áreas sem irrigação com plantio de soja safrinha em SP. Esses plantios propiciaram uma “ponte verde” entre as safras, garantindo a presença mais cedo do patógeno e uma quantidade maior de inóculo para os plantios de verão, fazendo com que não houvesse “um início dos primeiros focos” nessa safra uma vez que a doença continuou presente no campo durante o ano todo. O plantio de soja safrinha aumenta o risco de incidência e a severidade da ferru-
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LUCROS X CUSTOS
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plantio da soja safrinha pode parecer atraente (devido aos preços convidativos atualmente). Mas, com o clima mais frio daqui para a frente e sereno, mais horas de “molhamento de folhas” favorecem a ferrugem. Então o que poderia ser lucro poderá se transformar em prejuízo. O produtor poderá ter que aplicar fungicidas mesmo antes da floração e aí, caso a ferugem ataque, e o que é bem provável, uma vez que onde a doença ocorreu o fungo está sendo perpetuado na soja soqueira ou tiguera. Se isto acontecer talvez ele necessite não de duas aplicações mas quem sabe três e olha lá ainda! O fato de o produtor não plantar a safrinha além de contribuir para a diminuição do inóculo para a safra de verão e assim não prejudicar os demais sojicultores evita que ele corra os riscos acima citados, de gastar todo o montante que seria seu lucro com a aplicação de fungicidas!
queira” ou “tigüera” resultante das perdas na colheita. Essas plantas podem servir de hospedeiras do fungo. Medida semelhante foi adotada no cultivo do algodão, onde a soqueira deve obrigatoriamente ser destruída para facilitar o controle do “bicudo”. A Embrapa Soja está coordenando uma força-tarefa instituída pelo Ministério da Agricultura para combater a doença. Segundo o chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Soja, João Flávio Veloso, coordenador da força-tarefa, estão sendo realizadas várias ações de orientação a técnicos e produtores. “O objetivo dessa força-tarefa é congregar o maior número possível de representantes das classes produtoras e de empresas ligadas ao agronegócio da soja, a fim de disseminar as informações sobre a ferrugem e seu controle e angariar fundos para a pesquisa”. Entre as ações que a Embrapa Soja tem desenvolvido está o Sistema de Alerta, uma página na internet que aborda as estratégias de controle, disponibiliza mapas de ocorrência por estado e uma lista
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Henning: “Não plantar a safrinha além de contribuir para diminuição de inóculo não prejudicará os demais sojicultores”
dos municípios afetados. O site é: C www.cnpso.embrapa.br. Ademir Henning, Embrapa Soja
gem asiática da soja, além de dificultar a aplicação das estratégias recomendadas pela pesquisa. Medidas como a antecipação da semeadura e o plantio de cultivares precoces acabam não tendo efeito quando a soja é cultivada continuamente. O número de aplicações de fungicidas necessárias para controle da doença também aumenta, uma vez que muitos produtos têm um residual médio de 20 dias, e a incidência mais cedo da doença na lavoura acaba demandando um número maior de aplicações, aumentando significativamente o custo de produção. Além de favorecer a ferrugem, o cultivo contínuo de soja também propicia o aparecimento de outras doenças, a multiplicação das pragas e das plantas daninhas, afeta as características físicas, químicas e biológicas do solo, entre outros problemas. As áreas de plantio de soja safrinha não chegam a ser expressivas, mas trazem um grande prejuízo para os 21 milhões de hectares semeados no verão. Desta forma, a proibição do plantio safrinha, seria uma atitude que deixaria de trazer lucro momentâneo para alguns agricultores para benefício de muitos. Além disso, outra medida que poderia ser tomada por parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento seria a exigência da dessecação da soja “so-
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Arroz
Prejuízo previsto O cultivo de arroz em rotação com soja supera em até quatro toneladas por hectare a rotação com outras culturas. Porém, esse mesmo cenário é o mais propício para a disseminação e severidade do brusone
A
Desequilibrios nutricionais aumentam a incidência de brusone, principalmente devido à adubação nitrogenada
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produtividade em solos de cerrado se mantém ou decresce ligeiramente no segundo ano de monocultura, e cai a nível muito baixo em anos subseqüentes. Tem-se verificado, também, que apenas um ano de rotação com soja não é o suficiente para elevar a produtividade do arroz ao nível observado no primeiro ano de cultivo. A experiência tem demonstrado que o plantio de arroz com a cultivar Primavera, após três anos consecutivos de soja, eleva a produtividade a patamares próximos de 4t/ha. A rotação de arroz com soja aumenta a incidência de brusone devido aos resíduos orgânicos ricos em nitrogênio liberados no solo pela cultura de soja. O aumento do nível nitrogênio favorece o aumento de brusone nas folhas e panículas.
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Todas as cultivares de arroz de terras altas nos plantios em rotação com soja apresentam escaldadura (Monographella albescens) além da brusone. A escaldadura pode atingir níveis altos nas áreas de abertura e após soja. Esta enfermidade paralisa o crescimento da planta no início do emborrachamento, principalmente em anos de alta precipitação. Os sintomas típicos da doença iniciam-se pelas extremidades apicais das folhas ou pelas bordas das lâminas foliares. Mais tarde as áreas afetadas apresentam sucessões de faixas concêntricas. As lesões coalescem, causando necrose e morte da folha afetada. As lavouras atingidas apresentam um aspecto de amarelecimento generalizado, com as pontas das folhas secas. Nas condições não favoráveis para o desenvolvimento da doença, observam-se inúmeras pon-
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A época de semeadura de arroz é conduzida entre os meses de outubro e dezembro. Os plantios realizados nos meses de novembro e dezembro são expostos a maior quantidade de inóculo trazidas de lavouras vizinhas plantadas anteriormente. Portanto, recomenda-se o plantio de arroz no início das chuvas, geralmente no mês de outubro, para evitar alta severidade da brusone nas folhas. O nível da doença é variável nos plantios tardios dependendo do grau de resistência da cultivar. A severidade da doença nas cultivares Bonança e Primavera é maior do que nas cultivares Caiapó e Canastra (Figura 2). Os plantios escalonados aumentam a incidência da brusone nas folhas. Por isso, para prevenir a disseminação do patógeno de um plantio para outro subseqüente, em áreas próximas, a semeadura de arroz deve ser realiza-
da em menor tempo possível.
ADUBAÇÃO Embora todos os desequilíbrios nutricionais aumentem a incidência da brusone, maior atenção deve ser dada à adubação nitrogenada. O efeito do N aplicado no SPD de arroz cultivado após soja é baixo, se comparado a outros sistemas de produção. Observou-se que foram demandados 107 kg/ha de N para explorar o máximo potencial produtivo da cultura, entretanto o aumento de produtividade foi de apenas 23% em relação à estimada para a dose zero de N. A adubação nitrogenada em cobertura deve ser evitada entre 30 a 50 dias após a germinação, para não aumentar a severidade da brusone na fase mais suscetível da cultura. Respostas totalmente diferentes podem ocorrer quando o arroz é cultivado sobre
DANOS EM CADA FASE DA PLANTA
B
tuações pequenas, de cor marrom claro, que geralmente são confundidos com outras doenças, principalmente, nos plantios de arroz após soja. No Brasil, ainda não há informações quanto a viabilidade econômica do seu controle químico.
PREPARO DO SOLO O preparo adequado do solo melhora a estrutura física, porosidade e rugosidade superficial. Todas estas características facilitam a penetração da água no solo e reduzem o efeito da deficiência hídrica e, conseqüentemente, menor suscetibilidade da planta a brusone. A deficiência hídrica aumenta a suscetibilidade da planta a brusone, enquanto que a boa disponibilidade aumenta a resistência desta. O sistema radicular de arroz é menos desenvolvido no Sistema Plantio Direto (SPD) após soja, devido à compactação do solo pela movimentação de máquinas e implementos agrícolas. Por outro lado, semeadoras de SPD, equipadas com haste apropriada para romper e localizar o adubo a uma maior profundidade induz o aumento do sistema radicular e o melhor aproveitamento de água e nutrientes, resultando melhores produtividades de arroz.
ÉPOCA DE PLANTIO O plantio de arroz geralmente é feito após o início do declínio na produtividade da soja devido as enfermidades, como nematóide de cisto, cancro da haste e ferrugem asiática.
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rusone causada por um fungo dificulta a colheita. A brusone nas paníPyricularia grisea, constitui a culas no estádio leitoso-pastoso dimiprincipal enfermidade em arroz de terras nui o peso de grãos e causa a esterilidaaltas nos plantios realizados em rotação de de espiguetas, por apresentar infeccom soja. Todas as cultivares de arroz ção nas ramificações de panículas. de terras altas mais plantadas apresenQuando a brusone infecta o último tam suscetibilidade a enfermidade, em- nó de panícula, chamada a brusone no bora o grau de suscetibilidade seja vari- pescoço, ocorre a esterilidade das espiável entre elas. guetas. As perdas estimadas pela bruDois estádios no crescimento e de- sone, nas condições de campo, na prosenvolvimento da planta são mais crí- dutividade de quatro cultivares Bonanticos e afetam a produça, Canastra, Caiapó e tividade; um na fase vePrimavera, foi em méa) getativa entre 30 a 50 dia 59,6%, considedias após o plantio e rando a incidência de outro entre sete a dez 33,6% da brusone nas dias após a emissão das folhas e 49,9% de brupanículas no estádio leisone nas panículas. toso-pastoso. A brusoEntre os fatores prinne nas folhas neste escipais que contribuem tádio causa até morte para altas severidades total de folhas principalda brusone, pode-se mente quando falta citar, a cultura anterichuva nesta época. Com or, a época de plantio, o restabelecimento das a adubação na ocasião chuvas, a planta recupedo plantio, a época de ra, mas retardada seu aplicação da adubação desenvolvimento e pronitrogenada de coberduz somente um ou tura e o grau de susdois perfilhos (Figura 1). ceptibilidade da cultiA lavoura afetada var de arroz. Por ouapresenta falhas pela tro lado, o adequado morte de plantas, há a preparo de solo reduz b) emissão de panículas pesignificativamente os Figura 1- Sintomas de brusone quenas, com amadurecidanos causados por nas panículas (a) e nas folhas (b) mento desuniforme que brusone.
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COMPORTAMENTO
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Figura 2 - Severidade da brusone nas folhas, em quatro cultivares de arroz de terras altas, em relação à época de plantio, média de parcelas com sementes não tratadas e tratadas com o fungicida pyroquilon. Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás (GO). a)
b)
odas as cultivares de arroz de ter ras altas como Caiapó, Carajás, Confiança, Maravilha, Canastra, Primavera, Carisma e Bonança são suscetíveis à brusone. A Primavera é a mais plantada atualmente, pelo potencial produtivo, pela precocidade e excepcional qualidade de seus grãos. Seu ciclo curto, aproximadamente 100 dias até a colheita, nas regiões produtoras do Mato Grosso, permite aproveitamento de área para o cultivo da safrinha com outras culturas. Neste caso, especial atenção deve ser dada à incidência de brusone, pela sua suscetibilidade à doença. Seu potencial produtivo tem-se manisfestado mais intensamente nas regiões com menor ocorrência dessa enfermidade. fungos (Bipolaris oryzae, Phoma sorghina, Monographella albescens, Pyricularia grisea, Sarocladium oryzae, Curvularia spp. Nigrospora spp. entre outros), porém sem importância econômica. O custo-benefício de controle químico da brusone é variável e largamente dependente do preço do arroz e da produtividade esperada.
COLHEITA
Figura 3 - Produtividade de genótipos de arroz de terras altas, no Sistema Plantio Direto(SPD) após soja, em condições de alta (A) e baixa (B) incidência da brusone nas panículas em dois locais, no Estado de Goiás.
uma abundante palhada com relação C/N alta, como milho, sorgo, milheto e braquiária.
PREVENÇÃO O plantio realizado no início das chuvas no mês de outubro até 30 de novembro dispensa o tratamento de sementes, independentemente do grau de suscetibilidade das cultivares utilizadas. O tratamento de sementes com fungicidas controla significativamente a brusone nos plantios tardios. Os fungicidas com atividade sistêmica, como o pyroquilon (400 gi.a/100kg de sementes), carboxin+thiram (275 ml i.a./100 kg de sementes), são mais indicados para tratamento de sementes entre outros registrados no Ministério da Agricultura.
CONTROLE NAS PANÍCULAS A brusone nas panículas é responsável por maiores prejuízos na produtividade do que a
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brusone nas folhas. Não existe um método seguro para previsão da brusone nas panículas, que depende de condições climáticas específicas e do estado nutricional da planta. As doses elevadas de nitrogênio e a aplicação 50 dias após o plantio favorecem a brusone nas panículas. Recomenda-se também uma aplicação preventiva com fungicida com atividade sistêmica, visando ao controle da brusone nas panículas quando 1 a 5% das mesmas forem emitidas. Entre os fungicidas registrados para aplicação em arroz por ocasião da emissão de panículas, o tricyclazole, na dose 250 g i.a./ha, apresenta resultados satisfatórios. Em regiões de alto risco de ocorrência de brusone, duas aplicações de fungicidas podem ser necessárias. A primeira, dez dias antes da emissão das panículas e a segunda, quando 5% das panículas estiverem emitidas. Outras doenças nas panículas também podem ocorrer, como mancha de grãos causada por diversos
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O atraso da colheita, além da quebra de panículas devido à brusone no pescoço, favorece o aparecimento de outros fungos parasitas e saprófitas, diminuindo a qualidade do grão. Recomenda-se que a colheita do arroz seja feita quando 2/3 das panículas estiverem C maduras. Anne Sitarama Prabhu e Cleber Morais Guimarães, Embrapa Arroz e Feijão
Prabhu salienta que o controle químico é variável e dependente da produtividade esperada e preço do produto
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Informe jurídico • Newton Peter • OAB/RS 14.056 • consultas@newtonpeter.com.br
Questionar a venda antecipada de soja?
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rodutores nos pedem informações sobre as possibilidades de modifi car contratos que envolvem a chamada Soja Verde. Existem particularidades e cada caso deve ser examinado em separado. Via de regra, há chance de rever os termos dos contratos. Diversas leis amparam as teses defendidas pelos produtores, que variam desde possíveis violações às disposições do Código Civil até motivos de força maior, como chuvas ou estiagem. Liminares judiciais foram obtidas em diversos estados. A maioria delas com base em “onerosidade excessiva” do acordo, na “teoria da imprevisibilidade” e na “função social do contrato”. Alega-se que a diferença entre o preço da soja no momento de celebração do contrato e o atual é demasiada, gerando enriquecimento sem causa para
uma das partes. Alguma diferença nos preços era esperada, mas a discrepância entre valores desequilibrou a situação. Há também alegações de impossibilidade de pagamento por causa de fatores climáticos. Com essas bases, tentam rever os valores ou quantidades de soja a serem entregues em virtude do contrato. Largo e fácil é o caminho que conduz à perdição... Ao procurar solucionar seus problemas, o produtor não deve se deixar cegar por promessas momentâneas de ganho fácil. Há muita distância entre conseguir medidas liminares em primeira ou segunda instância e, efetivamente, modificar os termos de um contrato. Liminares podem ser cassadas. De sentenças, pode-se recorrer. Durante esse longo e incerto processo, haverá necessidade de novo financiamento
para safra. O filósofo Maquiavel já dizia que um homem antes perdoa o assassino do pai do que aquele que lhe tirou dinheiro. O que fazer? A melhor solução é negociar diretamente com as empresas. Algumas anunciaram disposição para receber parte da soja nesta safra e parte na próxima. Independente do acordo, o produtor deve se lembrar que a necessidade de venda antecipada persistirá para financiar as safras futuras. Esse tipo de negócio somente existe porque os compradores acreditam na eficiência dos contratos. Do contrário, a fonte seca. O Código Civil, na parte contratual, determina que os contratantes devem se pautar pelos princípios da probidade e boafé. Por probidade, entenda-se veracidade, integridade, honradez e lealdade. Se, ao invés de uma expressiva alta, houvesse uma grande baixa no preço da soja, estaria o mesmo produtor disposto a rever contratos e entregar mais soja? Por sua vez, a boa-fé é um preceito na estrutura do negócio jurídico, englobando, entre outros, a certeza e a segurança necessárias para a existência dos contratos. Juridicamente, recomenda-se avaliar as particularidades de cada situação. Não há dúvidas sobre a existência de possibilidades legais para questionar os contratos. Todavia, como ninguém pode garantir resultados, a via judicial deve ser a última opção. Existe a possibilidade de o Judiciário, por causa da desigualdade de recursos entre os envolvidos, tentar proteger os produtores. Isso, entretanto, não implica em decisões favoráveis.
Decidido nos tribunais CINCO mais CINCO - A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu aplicar a regra geral dos “cinco mais cinco” nos casos de prescrição de tributos sujeitos a lançamento por homologação - aqueles em que o contribuinte paga antecipadamente o débito, sem prévio exame da autoridade competente. A regra é decorrente da aplicação dos artigos 150 e 168 do Código Tributário Nacional, segundo os quais o contribuinte tem o prazo de cinco anos para solicitar a restituição de valores, contados da homologação, que deve ser feita pela autoridade fiscal no prazo máximo de cinco anos do fato gerador, sob pena de se dar a homologação tácita. Em suma, o prazo para prescrição pode se dar em até dez anos, caso em que a homologação não ocorra antes dos cinco primeiros anos. Horas de pernoite - O TRT (3a. Região) decidiu que a atividade do motorista é tipicamente externa e, assim, a prova quanto à
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existência efetiva de controle da jornada é de sua responsabilidade. O simples cumprimento de rotas, sem fiscalização de jornada, não evidencia que o empregado esteja adstrito a controle de horário. Factum principis - A Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho, em julgamento de recurso de revista do Incra, manteve o entendimento de que a desapropriação de terras para fins de reforma agrária caracteriza o chamado “factum principis”, que torna o agente público responsável pelas indenizações trabalhistas decorrentes de seus atos. Previsto no artigo 486 da CLT, o “factum principis” se aplica aos casos de paralisação temporária ou definitiva do trabalho motivada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de lei ou resolução que impossibilite a continuação da atividade.
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Agronegócios
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pirataria tecnológica tem estado presente na mídia, pela justa pretensão de companhias transnacionais em proteger suas inovações tecnológicas. O argumento é a redução das vendas ilegais, que atingiria centenas de bilhões de dólares, com decorrente evasão tributária. A alegação padece de um pecado original: pirataria, assim como sonegação tributária, somente compensa quando os benefícios presumidos superam os riscos. Quando a alíquota do tributo é muito alta, o contribuinte decide correr o risco e ingressa no pântano da sonegação. Como corolário a pirataria tecnológica não compensaria se os preços dos produtos legais fossem acessíveis à população, desincentivando a cópia e o mercado subterrâneo. Portanto, não se pode inferir que o mercado legalizado seria acrescido do valor obtido pela comercialização dos produtos piratas.
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O REVERSO Porém, ouvidos moucos são feitos quando o inverso é verdadeiro. Pouco se discute a biopirataria praticada pelos países ricos em relação aos países pobres, detentores da maior biodiversidade do planeta. Entre os 100 ingredientes ativos mais importantes para a farmacologia, cerca de 70 derivam da biodiversidade ou foram inspirados em substâncias naturais. As centenas de bilhões de dólares de vendas anuais destes medicamentos sinalizam o patrimônio representando pela biodiversidade. Considerando que 25% da biodiversidade mundial tem seu centro de origem no território brasileiro, percebe-se a riqueza entesourada nas nossas matas, rios, mangues e pântanos. O Ipea estima o valor da biodiversidade brasileira em US$ 2 trilhões - quatro PIBs nacionais. Entretanto, de que vale esse potencial sem transformá-lo em benefícios à
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Humanidade, com retornos aos legítimos detentores da biodiversidade? Como remunerar o conhecimento acumulado nas comunidades da floresta e nas tribos indígenas? Como proteger a propriedade intelectual do pajé, cujo cromatógrafo é o caldeirão, onde desenvolveu a tecnologia que hoje é expropriada, sem escrúpulos, por multinacionais?
CONHECIMENTO PIRATEADO Examinemos o caso do curare, componente de sua farmacopéia silvícola. Uma multinacional andou bisbilhotando nas receitas dos pajés brasileiros e o curare foi surrupiado de nossa biodiversidade e de nosso conhecimento milenar, para ser patenteado alhures. Hoje o curare, devidamente industrializado e travestido de relaxante muscular, engorda o lucro desta multinacional. Que dizer dos com-
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ataria
liminar do Governo hindu não teve acolhida pelo Escritório de Patentes dos EUA, que exigiu registro escrito de seu uso como medicamento. A Índia foi salva por um livro sagrado (Vedas Upanishads), onde constava uma recomendação de uso da tumérica como cicatrizante, escrita em 1500!
VIÉS LEGAL Quem investe em inovação tecnológica é cioso de seus direitos patentários e da propriedade intelectual. Raciocinando pelo absurdo - para entender a questão - caso não houvesse qualquer prerrogativa diferenciada ou direitos do obtentor de uma inovação, não haveria um real estímulo à inovação. Prejudicar-se-ia a medicina, a veterinária, a agricultura, a engenharia, a informática, a música e qualquer forma de manifestação de criatividade, onde fosse imperioso o investimento de risco em inovação. Mutatis mutandis, não se pode imaginar extremos como a negação do conhecimento milenar ou do domínio sobre a biodiversidade, sob pena de utilizarmos uma escala de dois pesos e duas medidas, beneficiando os detentores de conhecimento que possuem lobies poderosos e os melhores advogados, em detrimento das demais formas de descoberta, formação, domínio e apropriação do conhecimento.
CONHECIMENTO INDÍGENA
postos psico-ativos da erva do Santo Daime? Os índios a chamam de aiausca e a utilizavam há séculos, o que não impediu que fosse patenteada por uma multinacional. Hoje os medicamentos dela derivados são comercializados sob o generoso guarda chuva das leis de patentes dos países ricos, sem compensação aos verdadeiros descobridores dos seus poderes medicamentosos. O cupulate, bebida de cupuaçu, e o próprio nome cupuaçu, são exemplos recentes de biopirataria.
FALHA LEGAL Conhecimentos milenares, sem o devido registro, preferencialmente em revistas científicas do Primeiro Mundo, não são reconhecidos. A lei americana é explícita ao não reconhecer o conhecimento transmitido oralmente através de gerações, impedindo que patentes sejam contestadas por esse fato. Recentemente, a Universidade de Wisconsin, solicitou patente para a substância tumérica, extraída de uma raiz de plantas, utilizada há séculos na Índia como cicatrizante. A contestação pre-
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Em nosso país, as comunidades interioranas e as indígenas são as maiores prejudicadas pela biopirataria. Vozes se levantam no seio da comunidade, no Congresso Nacional e em outros órgãos do Governo, para alertar as comunidades indígenas sobre esta forma de expropriação, e para que as mesmas possam defender-se adequadamente, de acordo com as leis do homem branco. Há muitos anos a Embrapa auxilia as comunidades indígenas a catalogar seus conhecimentos, técnicas agrícolas e uso da biodiversidade. Recentemente, o INPI promoveu um curso sobre a legislação de patentes e propriedade intelectual, para advogados ligados às comunidades indígenas. Participaram do curso 13 índios, que voltaram às suas tribos com detalhes sobre biodiversidade, patentes, registros, direitos autorais, etc. Há três anos, 25 comunidades indígenas participaram de um evento do INPI em São Luís (MA). Ao final, os participantes deixaram claras suas reivindicações, através da carta de São Luís, em que propugnam igualdade de tratamento para inovações modernas e conhecimento secular, mesmo que signifique a adoção de regimes distintos, desde que compatíveis. Reivindicam o apoio governamental, não apenas em termos de proteção legislativa, mas de aporte de ciência e tecnologia, que permita que os conhecimentos tradicionais possam ser compartilhados de forma mais am-
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pla, sem que seja necessário expropriar este conhecimento de seus legítimos detentores.
ESTAMENTO LEGAL Além das legislações nacionais existem acordos e instituições multilaterais que se dedicam à proteção da inovação e da propriedade intelectual. O TRIPS (Trade Related Intellectual Property Rights), um dos acordos da OMC, serve de parâmetro para as trocas comerciais entre os países. A Convenção de Diversidade Biológica, assinada durante a Eco 92, dispõe sobre o acesso à biodiversidade. A Organização Mundial de Propriedade Intelectual e a União dos Obtentores Vegetais são exemplos de instituições atuantes no âmbito internacional. O Brasil tem procurado alterar alguns dispositivos que regem a propriedade intelectual em escala internacional, buscando inserir a proteção à biodiversidade e ao conhecimento tradicional. Incentiva a criação de um banco de dados de conhecimentos tradicionais e de uso da biodiversidade, para que possa se constituir em um registro da anterioridade de uso de determinados princípios farmacológicos, permitindo aos detentores de seu conhecimento melhor posicionamento frente às leis de patentes. Coerentemente, a legislação brasileira que regula o acesso à biodiversidade brasileira, reconhece o direito das tribos indígenas e dos demais detentores de conhecimento tradicional. Prevê a repartição de benefícios, caso alguma substância de uso tradicional venha a ser comercializada e reconhece o direito das comunidades decidirem sobre o acesso aos seus recursos genéticos.
CONTRA-MEDIDAS Não será uma tarefa fácil para qualquer país que detenha parcela significativa da biodiversidade, protegê-la da voracidade de empresas movidas a muito lucro, pouca ética e baixa responsabilidade social. Acredito que a batalha deva se desenrolar em diversas frentes. Em primeiro lugar, é necessária a união de esforços de todos os países interessados em proteger a biodiversidade, para tentar a inserção conceitual nos mecanismos internacionais de proteção patentária. Em segundo lugar, será necessária uma ação forte de catalogação do conhecimento tradicional, do seu registro adequado e de formas de seu reconhecimento. E, finalmente, a batalha será definitivamente vencida por quem dispuser de condições de investir em Pesquisa e Desenvolvimento associando-se aos detentores do conhecimento da biodiversidade, para que a Humanidade seja beneficiada com a democratização ao seu acesso e o conhecimento tradicional seja resC peitado, reconhecido e remunerado. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
brandalizze@uol.com.br
Colheita chegando ao final e cotações em alta no Brasil Os produtores estão encerrando a colheita da safra de verão, que na maior parte do país, termina neste mês de maio, com as cotações aquecidas para quase todos os produtos. Com o comprometimento da produtividade, devido a problemas climáticos e sanitários, houve redução de cerca de 15 milhões de toneladas nas expectativas totais da produção, que chegaram a serem indicadas em 130 milhões de t. Agora, devem se manter entre 115 e 120 milhões de toneladas, e torcendo, que o Trigo tenha um bom desempenho e venha com números acima das 6,5 milhões de t, contra as 5,5 colhidas no ano passado. Como o quadro geral mundial segue mostrando queda nos estoques e consumo maior que a produção, teremos mais um bom ano para o setor com crescimento do faturamento dos produtores, já que a maior parte dos produtos agrícolas deve ter médias maiores do que foram comercializadas no ano passado. Portanto, é um bom estímulo para o novo plantio, que já está movimentando o setor de fertilizantes, que negociou cerca de 5 milhões de t nestes primeiros meses do ano, contra pouco mais de 3,3 milhões de t no mesmo período do ano passado. Isto é um sinal de que o setor está antecipando as compras dos insumos e tratando as lavouras de maneira profissional e organizada, indo em busca de grandes lucros nos próximos anos. O Brasil caminha a passos largos para ser o celeiro do mundo. MILHO Produtor segura oferta e mercado dispara na colheita O mercado do milho teve, em abril, falta de vendedores, com os produtores retendo as ofertas e não fixando balcão. Isso fez com que as cotações disparassem e fossem a níveis de R$ 20,00 aos R$ 24,00. Somente nos estados Centrais e Centro Oeste os números ficaram abaixo, com ganhos de 15 a 25% no período. O quadro, mostrou grandes volumes de milho nos armazéns e poucos vendedores. Como a soja teve perdas na produtividade, houve sobras de armazéns e, assim, o milho pode ficar parado, beneficiando os produtores que devem ter ganhos maiores com a cultura. Como nas próximas semanas vencem dividas de custeio e investimentos, poderá crescer a oferta de produto, e com isso perda de força de alta e até chances de queda, porque o clima melhorou para a safrinha, diminuindo o risco de perdas.
com qualidade baixa, houve encalhe deste nas regiões produtoras, e assim, limitação das cotações. Aos poucos, os negócios estavam fluindo e, como a safra do Irece está fechada, não teremos grandes entradas de produto novo, podendo resultar em aquecimento das cotações, com indicativos de R$ 80,00 aos R$ 100,00 e até acima pelo Carioca de ponta. Enquanto isso, tivemos um mês de mercado firme para o Preto, que se manteve acima dos R$ 60,00 aos produtores, e, chegando as R$ 75,00 e R$ 80,00 para os lotes. Também tende a mostrar pressão de alta. Deveremos ter maior demanda que oferta.
ARROZ Safra colhida e armazéns lotados Agora os produtores têm a safra nas mãos, e,
CURTAS E BOAS
SOJA Mostrou estabilidade ao redor dos R$ 50,00 O mercado da soja em abril mostrou flutuações, chegando a andar próximo dos R$ 55,00 para os lotes livres, depois recuando para baixo dos R$ 50,00 e, na seqüência, trabalhando ao redor deste nível. O mercado de Chicago, que teve posições acima dos US$ 10,00 por bushel, mostrou forte liquidação nos indicativos e teve boa parte do período trabalhando entre os US$ 9,50 e US$ 9,70, e assim, diminuindo valores do produto no mercado internacional. Mesmo assim, com grandes cotações. Para o Brasil, o quadro teve queda nos valores dos prêmios nos portos, o que amenizou as perdas externas e o câmbio também mostrou ligeiro avanço, favorecendo a oleaginosa. Os produtores continuaram segurando a soja para fixar mais à frente, e poucos negócios foram realizados. Pelo visto, devem negociar a safra escalonadamente durante todo o ano. Segue com cotações bastante lucrativas ao setor produtivo. Neste mês, o clima nos EUA toma forças porque estarão plantando a safra local, é bom estar atento, porque normalmente provoca boas flutuações em Chicago.
FEIJÃO Irecê colheu e agora resta pouco para entrar O mercado do feijão teve um mês de poucos negócios, porque a safra do Brasil Central foi colhida na chuva e desta forma perdeu muita qualidade. O preço observado do produto foi desde os R$ 15,00 por saca até acima dos R$ 70,00, para o ponta. Como a maior parte do feijão da região Central do país veio
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pelo que se observa, devem fechar a marca das 12 milhões de T, com isso, o setor terá que ter habilidade nas negociações, para não correr o risco de ver os indicativos em queda. Como passamos pela colheita com pouca flutuação no lado de baixo, agora resta aos produtores administrar as vendas para não forçar oferta em período especifico, como ocorrem nos vencimento das dividas do custeio e também de investimentos. Como o setor está capitalizado, está fácil para conseguir segurar os indicativos, e até, mostrar crescimento nos próximos meses. Com expectativas de poucas alterações nos indicativos nas próximas semanas, o consumo brasileiro deste ano, deverá chegar à marca das 12,5 milhões de t, e assim, consumir tudo o que se produziu.
ARGENTINA - mostrou a colheita em ritmo lento, com a safra de milho e soja abaixo dos anos anteriores, ocasionando aumento das perdas. Isso mostra indicativos da safra de milho variando das 11 até as 13 milhões de t contra quase 16 colhidas no ano passado. A soja mostrava indicativos da safra entre 31 e 35 milhões de t, com a maior parte apontando para o meio do caminho. A safra de arroz do país, esteve em bom ritmo de colheita e apontava para casa das 900 mil t. URUGUAI - a safra do arroz local mostrou bom desempenho neste ano, e indica a produção na casa das 1,1 milhões de t. Parte está sendo negociada junto ao mercado brasileiro, mas o país está buscando vários outros compradores do mercado internacional como alternativa, porque a oferta e demanda mundial está apertada e as cotações em alta. ALGODÃO - os produtores estiveram colhendo a safra do Centro Oeste, onde a qualidade do produto tem encantado os importadores, o indica que grandes volumes do produto seguem a caminho do mercado mundial. A safra nova tende a mostrar mais crescimento, porque a exemplo da soja, o Brasil está consolidando posição de destaque no cenário internacional da fibra. O plantio da safra americana, neste ano, está mostrando ritmo mais acelerado que o ano passado. A safra atual está caminhando para fechar com cerca de um milhão de hectares plantados e, caminha para crescer outros 200 mil hectares na safra 2004/05. A produção atual está apontada para cima das 1,9 milhões de t, contra as 1,3 milhões da safra passada. SAFRINHA – Com as chuvas, melhora a expectativa da produção, que agora aponta para as 7 e 9 milhões de t, contra as 5 a 7, que estavam sendo comentadas anteriormente. Mesmo assim, bem abaixo das 12,8 milhões de t do ano passado. TRIGO - os produtores estão entrando forte com o plantio da nova safra, que está em andamento no Paraná e também nos estados centrais, onde planta-se o produto irrigado. Os indicativos da safra, apontam para as 6,5 milhões de t, ou seja, um milhão acima do que se colheu no ano passado. As cotações tiveram crescimento nas últimas semanas e agora, caminham em busca de quebrar a barreira dos R$ 500 por t. O custo do produto importado deverá crescer em maio, com a entrada em vigor da nova alíquota da Confins para os produtos importados e aumento dos custos dos moinhos para trazer o trigo da Argentina. Isso favorecerá o produto nacional, que mostrou indicativos dos R$ 420,00 aos R$ 470,00 por t em abril.
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