Cultivar Grandes Culturas • Ano V • Nº 63 • Julho 2004 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
Destaques
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Foto Capa / Dirceu Gassen
Comum e perigosa Conheça as principais formas de manejo para controlar a antracnose do milho
18 Hora de controlar Saídas para controlar a cigarrinha, preocupação mais recente dos produtores de cana-de-açúcar
Nossos cadernos
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Fotos de Capa
Quase imortal
Ricardo Casa
Conheça os modos de disseminação da trapoeraba, uma das invasoras mais difíceis de ser controlada Michelle B. da Cruz
34 Força na aplicação A utilização de adjuvantes para a aplicação de defensivos pode aumentar a eficiência na aplicação
NOSSOS TELEFONES: (53) • ATENDIMENTO AO ASSINANTE:
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Índice
REDAÇÃO • Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Revisão
Luciene Bassols Brisolara
Diretas
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Noite de campo - Dekalb
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Silo Bag
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Antracnose em milho
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COMERCIAL
Café adensado no Paraná
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Neri Ferreira
Congresso de plantas daninhas
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(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Controle da cigarrinha em cana
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Números atrasados: R$ 15,00
Lançamento Dinamic
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Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00
Coluna Aenda
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O problema da trapoeraba em soja
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Aplicação de potássio na soja
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• Assinaturas
Soja Transgênica
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Lançamento Priori Xtra
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Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes
Aplicação de adjuvantes
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• Expedição
Informe jurídico
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Edson Krause Dianferson Alves
Agronegócios
40
Mercado agrícola
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www.cultivar.inf.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
• Gerente
• Assistente de Vendas
Pedro Batistin
CIRCULAÇÃO • Gerente
Cibele Oliveira da Costa
• Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
diretas Teatro
Vírus
Cobra e Podium
A Bayer usou criatividade e artes cênicas para apresentar seus dois principais herbicidas no Congresso de Plantas Dainhas. Nos intervalos, uma equipe de atores encenava pequenas peças, tendo como foco os herbicidas Cobra e Podium S. De uma forma agradável, os participantes conheceram os produtos e suas aplicações.
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília(DF), lançou o catálogo: Vírus e viróides transmitidos por sementes, que tem como objetivo auxiliar os profissionais que trabalham com fitossanidade em postos de fiscalização em portos, aeroportos e outros pontos de entrada de plantas no país. As autoras são Vera Marinho e Fátima Batista. Informções: vendas@cenargen.embrapa.br.
Renato Arantes, gerente de produto da Bayer, está satisfeito com o desempenho dos defensivos na safra 2003/04 e e vê bastante promissora a safra 2004/05.
Dinamic A equipe da Hokko do Brasil está centralizando suas forças na divulgação do Dinamic, o novo herbicida da empresa, Edson, Almir e Roberto voltado para a cana-de-açúcar. A empresa está confiante no sucesso do novo produto, garante o coordenador de projeto e desenvolvimento das linhas de inseticidas e herbicidas, Almir Peretto, que tem o apoio dos coordenadores regionais, Edson Katsumi e Roberto Toledo.
Dow Celso Macedo, gerente de produtos da Dow, coordenou a equipe durante o XXIV Congresso Brasileiro de Ciência de Plantas Daninhas, onde a empresa apresentou a linha completa de herbicidas, com destaque ao DMA e ao Gliz. A Dow está investindo pesado também na divulgação do Systhane CE, produto indicado para tratamento de doenças fúngicas da soja.
Nascentes Celso Macedo
Linha para cana A Dupont marcou presença no Congresso de Plantas Daninhas, destacando, principalmente, a linha de herbicidas para canade-açúcar. No estande, sempre movimentado, a equipe de tecnologia representada por Daniel Hernandez, André Moraes, Edivaldo Panini e Israel Henrique se encarregou de receber os visitantes e passar todas as informações sobre os produtos.
Rimon Donizeti Aparecido Fornarolli, gerente de pesquisas agronômicas da Milenia SA, está entusiasmado com o Rinon, novo inseticida fisiológico à base de Novaluron, que atua principalmente por ingestão e contato e seu mecanismo de ação inibe a formação de quitina, interferindo na ecdise do inseto (mudança de pele).
Donizeti Fornarolli
Lançado o livro “Preservação e Recuperação de Nascentes”. Rinaldo Calheiros, um dos autores, é integrante do Comitê das Bacias, em que representa o IAC, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. "Se não houver preservação das nascentes, acabam-se os rios. Elas são o evento hidrológico mais importante que existe", alerta o pesquisador especialista em irrigação.
Cultivar
Dekalb
Eduardo Chaves
Eduardo Reis Chaves, atual coordenador de marketing da Dekalb para as regiões Sudeste e Nordeste, assumirá nos próximos dias o cargo de supervisor de operações para clientes Dekalb Sudeste Nordeste. Engenheiro agrônomo com pós graduação e MBA em Marketing, Eduardo já atua na empresa desde outubro de 2002.
Prêmio O presidente da Agroceres, Urbano Campos Ribeiral, recebeu o troféu “Deusa Ceres, da Associação dos Urbano Ribeiral (centro) Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo (AEASP). Criado em 1972, o prêmio é dado aos profissionais mais votados pelas 19 sedes regionais da AEASP e pelo conselho deliberativo.
Lançado AnualPec 2004 Oportunas análises prospectivas dos diferentes ramos da produção animal constituem o ponto alto do Anualpec 2004, que acaba de ser lançado pela FNP Consultoria & AgroInformativos. A edição 2004 traz projeções para cenários futuros, embasados em atualizadas referências estatísticas do setor do agronegócio. Pode ser adquirido pelo telefone (11) 3339-1414 ou no site www.fnp.com.br.
Novidade Sinon O atual diretor comercial e marketing da Sinon do Brasil, Joelson Mader, anunciou novidades para o mercado. Diflubenzuron, Acephato, Fosfeto de Aluminio são os mais novos registros da empresa para fumo, dendê e expurgo de grãos, respectivamente, além de outros que deverão estar chegando no decorrer do ano.
Joelson Mader
Novo diretor
FMC A FMC acaba de lançar, em âmbito nacional, a Campanha de Atuação Responsável 2004, que tem como objetivo zelar pela segurança do homem do campo, crianças, préadolescentes, universitários, além dos produtores. “Estamos reunindo todos os líderes possíveis em prol da educação do homem do campo, buscando também a sustentabilidade Antonio Carlos Zem da agricultura e a consolidação de empresas cada vez mais comprometidas com atuação responsável”, disse o presidente da empresa Antonio Carlos Zem.
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Renato Arantes
André Dalla é o novo diretor de TI da Monsanto do Brasil. Na empresa, há dez meses ingressou como gerente de TI, responsável pelos processos de Marketing e Desenvolvimento de Produto, tornando-se, mais tarde, responsável também pelos Processos Comerciais. Formado em Engenharia Elétrica, pós-graduado em Administração de Empresas, além de possuir um préAndré Dalla MBA pela Universidade da Califórnia (UCSD), nos EUA. Antes da Monsanto, Dalla trabalhou 12 anos como consultor, sendo os últimos sete na Deloitte Consulting.
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Julho de 2004
diretas Novo chefe no Rio
Mudanças
A Embrapa Solos no Rio de Janeiro tem novo chefe-geral. Celso Vainer Manzatto, engenheiro agrônomo, substitui o pesquisador Doracy Pessoa Ramos, que ocupou o cargo entre 2000 e 2004. GraCelso Manzatto duado em agronomia e doutor em produção vegetal, Manzatto, pretende dedicar atenção especial à agricultura de precisão, agricultura orgânica, conservação do solo e água, geração de informação e tecnologia para agricultura familiar, planejamento de uso e uso da terra e combate à desertificação.
Jean Zonato, ex-gerente de fungicidas da Bayer CropScience, agora ocupa o cargo de Gerente de Planejamento e Demanda na área de logística da empresa. Engenheiro agrônomo, especialista em Marketing, Jean terá como parte das atribuições a aplicação da produção Just in Time, processo através do qual melhor se gerencia a produção e estoque, reduzindo o tempo de distribuição entre os pontos de produção e consumo.
Roundup: 30 anos Roundup está completando 30 anos. Com registro em 120 países, ele é o mais vendido no mundo para o controle de plantas daninhas em pré-plantio das lavouras e o maior parceiro do sistema conservacionista de plantio direto. Para o gerente de Negócios Químicos da Marcelo Ernandes Monsanto, Marcelo Masoero Ernandes, Roundup revolucionou e continua revolucionando a agricultura. “Depois de 30 anos, seguimos inovando e trazendo novas soluções aos agricultores. Devemos nos sentir orgulhosos de fazer parte dessa história e da que, seguramente, ainda está por vir”, declara.
Contra ferrugem A Quanta Precisão Agrícola, empresa nacional, está colocando no mercado estações meteorológicas inteligentes, que auxiliam na prevenção de doenças. As estações associam dados ambientas à previsão de doenças, através de software que processa as informações e auxilia na tomada de decisão da necessidade de aplicação de fungicidas, racionalizando o manejo de doenças como a ferrugem.
Novos híbridos Para a safra 2004/2005, a Geneagro, Inhumas (GO), estará comercializando os híbridos de milho Geneagro 516 e Geneagro 520, ambos de ciclo precoce e registro no SNPC. Ambas as variedades podem ser utilizadas para grãos e silagens.
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Protocolo Assinado durante o 19º Seminário da Cooplantio, em Gramado (RS), o protocolo de cooperação técnica que visa divulgar cultivares de trigo nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O acordo entre a Fundação Pró-Sementes, Embrapa Trigo, Embrapa Transferência de Tecnologia e Cooplantio prevê a instalação de 20 unidades demonstrativas distribuídas no Sul do país. Conforme o protocolo, a Embrapa gera a tecnologia, a Fundação disponibiliza as sementes e a Cooplantio assume o papel de difusão do conhecimento junto aos produtores.
29 anos de criação A Embrapa Meio-Norte, situada em Teresina (PI), completou seus 29 anos de criação, dedicados à pesquisa para o desenvolvimento sustentável do agronegócio na Região MeioNorte. Durante a solenidade de Valdemício de Sousa comemoração, o chefe-geral Valdemício Ferreira de Sousa falou sobre a atuação da instituição nestes anos de trabalho.
Nova chefia A engenheira agrônoma, Beatriz da Silveira Pinheiro, é a nova chefegeral da Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás (GO). Beatriz garante que "um dos grandes desafios é tornar o arroz de terras altas um componente habitual na rotação de culturas nos sistemas agrícolas do cerrado brasileiro".
Campanhola e Beatriz
Cigarrinha Lançado pelo IAC, o Livro “cigarrinha-dasraízes em cana-de-açúcar”. De autoria da pesquisadora do instituto, Leila Dinardo, o livro traz as mais recentes informações sobre o manejo e controle da praga e pode ser adquirido diretamente com a autora pelo e-mail: ldinardo@uol.com.br ou telefone (16) 3919-1018
Famato Toma posse a nova Diretoria da Famato. Homero Alves Pereira foi eleito novo presidente em 14 de maio de 2004 para o triênio 2004/ 2007. A solenidade contou com a Homero Pereira (dir.) presença de lideranças rurais do Estado, do Governador Blairo Maggi e do Vice Presidente da CNA e Presidente da FAESP, Fabio de Salles Meirelles.
Novo Cargo
Carlos Elias
No cargo de Gerente de Portifólio de Produtos para Tratamento de Sementes da Syngenta, desde 1999, Carlos Elias assume a gerência do Portifólio de Produtos Inseticidas da empresa.
Basf
Luxemburg
O estande da Basf esbanjou entusiasmo no Congresso de Plantas Daninhas. Além da tradicional acolhida, a empresa realizou sorteios de camisetas personalizadas com a caricatura do sorteado, feita na hora através da técnica “air brush”. O time presente estava formado por Mário Ikeda, gerente técnico da regional Leste; José Munhoz Felippe, gerente técnico Brasil; Ricardo Junqueira, técnico de desenvolvimento de produto; Waldemar Sanchez, gerente técnico da regional Sul, e Tadashi Yotsumoto, gerente de projetos.
A Luxemburg Industries Ltda, com sede em Tel Aviv (Israel), inicia suas atividades no Brasil através da filial Luxemburg do Brasil Comércio de Produtos Químicos Ltda. Sob a direção do Engenheiro agrônomo Edson Antônio Corrêa, a empresa pretende desenvolver principalmente o ramo de produtos para a agricultura. Além disso, trabalha com biotecnologia, farmacêutica e produtos intermediários para a indústria química. Edson Corrêa
Cultivar
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Julho de 2004
Empresas
Noite no campo
Eduardo Chaves
N
uma iniciativa inédita, a Dekalb realizou três noites de campo para os produtores das regiões Sudeste e Nordeste, quando realizou o lançamento da campanha comercial de vendas de sementes dos híbridos para a safra de 2005 nas duas regiões. Mais de mil produtores participaram, no período de 17 a 19 de junho, de um dia especial dentro da unidade de beneficiamento e conservação de sementes Dekalb, em Uberlândia (MG). Durante o dia, os participantes do show tecnológico tiveram a oportunidade de conhecer todas as etapas que envolvem a produção dos híbridos da empresa, desde a chegada do caminhão na unidade de beneficiamento com o milho em espiga, passando pela pesagem, despalha, seleção, secagem, debulha, testes laboratoriais, ensacamento, até a armazenagem. Na parte da noite, os produtores conheceram os lançamentos e as principais cultivares indicadas para as duas regiões, o que a empresa chama de linha completa Dekalb Multiplantio, que engloba os híbridos DKB 390, DKB 199 e DKB 466, lançadas em 2003, complementada com DKB 455, DKB 979 e sorgo DKB 599, lançadas neste ano. Segundo Eduardo Reis Chaves, coordenador de marketing para as regiões Sudeste e Nordeste, o evento, que levou oito meses para ser preparado, foi de fundamental importância para aproximar ainda mais empresa e produtores. “A Dekalb está in-
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vestindo muito na aproximação com os agricultores e, através deste evento, nós conseguimos apresentar os dados colhidos em plantações comerciais, onde o produtor pode comparar o comportamento real dos nossos híbridos em relação aos das outras empresas”, garante. Somente em 2003 a Dekalb contratou mais 200 novos agrônomos, treinados na unidade de Uberlândia, que acompanham todo o sistema de distribuição de sementes, com o objetivo de orientar os produtores e indicar para cada propriedade as
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cultivares mais apropriadas. “Como os nossos agrônomos conhecem o comportamento exato de cada híbrido e a característica do solo em cada micro-região, nós conseguimos ajudar os produtores a aprimorar o plantio, elevando a produção a níveis antes não alcançados em suas propriedades”, comenta. O evento, além de apresentar os híbridos da empresa, teve também um megashow de luzes, efeitos visuais e sonoros, lembrando cenários cinematográficos em pleno campo.
Cultivar
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Armazenagem
Simples e eficaz Fotos Neri Ferreira
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esde a idade antiga o homem já se preocupava com a armazenagem dos grãos. Preparar-se para os momentos de escassez de alimentos era o objetivo. Dessas datas remotas até nossos dias, a necessidade de evolução destas técnicas deixaram de ser um fato de sobrevivência e tornaram-se questões de economia mundial. Notadamente, o período de colheita pressiona para baixo os preços agrícolas, já que nesta época há uma grande oferta de produtos agrícolas no mercado. Portanto, aguardar o melhor momento para a comercialização da safra é antes de mais nada uma forma de ver melhor remunerado todo um trabalho de produção de um ano inteiro. Operação que só é permitida a partir de investimentos em silos e armazéns, estruturas de construção morosa e de alto desembolso inicial. A Ipesa Silos, empresa de renome internacional, apresentou ao mercado brasileiro na safra 2003/2004 uma surpreendente solução em armazenagem e conservação de grãos. Ao pensar em soluções para a agricultura, dadas as suas dimensões continentais, nos acostumamos a vislumbrar mega projetos com instalações “babilônicas”. Esquecemos os preceitos básicos das soluções. Elas devem ser simples, práticas e de boa relação custo/benefício. Com base nessa teoria imperativa, chegou ao mercado o Silo Bag Ipesa. Produzido com materiais a partir do polietileno, é constituido por três camadas desse material, o que lhe confere elasticidade e resistência. A cor branca, no lado externo, facilita a reflexão dos raios solares, reduzindo em até 20% a temperatura interna, da bolsa. A coloração preta da parede interna, exclui completamente a possibilidade da penetração de luz no interior do silo e, conseqüentemente, de seu contato com os grãos armazenados. De acordo com Héctor Daniel Malinarich, gerente de desenvolvimento de produtos da empresa,
Três camadas de polietileno conferem a elasticidade e a resistência ao silo bolsa
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Cultivar
O conceito de armazenagem em silos bolsas está ganhando espaço e a confiança dos produtores, pela simplicidade operacional e qualidade final dos grãos essa é uma das vantagens do silo bolsa. Por não terem contato com a luz, os grãos armazenados mantêm sua coloração natural. No caso do milho e do feijão, uma vantagem competitiva favorável na hora da comercialização.
FIM DAS DÚVIDAS “Comprei 80 Silosbag”, afirma Siegfried Epp, agricultor da região de Luiz Eduardo Magalhães (BA), que planta há 14 anos uma área total de 25 mil hectares. “No princípio, eu achava que o milho poderia esquentar no interior da bolsa, mas o negócio é bom mesmo”, diz. “Meu cunhado, Armin Kliewer, abriu um silobag Ipesa depois de um ano e o comprador preferiu o milho da bolsa, ao invés do depositado em silo convencional. Sem contar que o milho do silo tem aquele cheiro de fumaça da secagem, uma das coisas que o depreciam na hora da venda, enquanto que o
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milho da bolsa está bonitão e sem cheiro ruim de fumaça”, finaliza. As sementes como seres vivos, explica Malinarich, respiram e quanto maior o percentual de umidade maior esta respiração, por isso, um dos cuidados a ser tomado na armazenagem é que a umidade dos grãos armazenados não ultrapasse 16%. A facilidade nas operações foi outra vantagem que fez o agricultor optar pelo silo bag. “Uma carga de “bazuca” (carreta graneleira) leva em torno de cinco minutos para descarregar”, comenta Siegfried. O equipamento de caregamento do silobag é muito simples e fácil de ser operado, consiste em uma bica de carregamento com tubulação que leva os grão para o interior da bolsa. O sistema é sustentado por um rodado que, dotado de freio próprio, se desloca vagarosamente de acordo com a entrada dos cereais a serem armazenados no
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Felipe Faccioni da Lavrobras, revendedor Ipesa na região de Luiz Eduardo Magalhães
silo. Este é um momento que exige a atenção do produtor, pois de acordo com a velocidade do rodado e tensão do freio é que se determina o bom aproveitamento de carga do silo e, como conseqüência, a ocupação completa do espaço interno. Desta forma, além de bem aproveitar a capacidade máxima do silo, diminui-se o oxigênio no interior da bolsa. Com isso, reduz-se as possibilidades de aquecimento e proliferação de pragas no silo. Neste aspecto, salienta Malinarich, quanto menor for a quantidade de oxigênio no interior da bolsa, menor será a respiração das sementes, o que reduz as possibilidades de fermentações. Por outro lado, qualquer praga advinda da lavoura terá dificultada sua sobrevivência no silo, já que as sementes ao respirarem retiram do ar o oxigênio e liberam gás carbônico, gás tóxico, o qual será letal às pragas. O silobag possui uma graduação bem visível em sua lateral, a qual indica aos produtores a dilatação linear máxima que ela suporta. Assim, o produtor tem a noção exata do nível de enchimento do silo, sem contudo, correr riscos, seja de pouco enchimento ou de rompimento da bolsa. “Aqui na propriedade aproveitei um local que é bem plano e perto das casas, onde as bolsas ficam bem cheias e alinhadas, e que também facilitará a descarga”, afirma Siegfried. Cuidados como esses facilitam o manejo
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Na visão de Vasconcelos, a vantagem na operação de depósito é a versatilidade no que diz respeito à localização das bolsas
e evitam acidentes, diz Felipe Faccioni da Lavrobras, empresário que representa a Ipesa na Bahia. Ele complementa ainda, dizendo que cada silobag é acompanhado por um kit de fitas adesivas especiais, para o caso de acontecer algum furo acidental na bolsa ou no caso de amostragem dos grãos. A versatilidade de localização das bolsas não é vista apenas como uma vantagem na operação de depósito, mas como fator de redução de custos na produção. Essa é a visão de Luciano Vasconcelos, um exemplo do que se chama na moderna agricultura de empresário rural. Recebe em sua propriedade, on line, todas as informações da Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo e Chicago. Num inglês fluente, comunica-se, via e-mail, com todo o mundo. “Não fosse por isso, comenta, não teria conseguido importar o fertilizante para minhas lavouras”. Atualmente, planta na Bahia e em Goiás, mais um motivo para estar bem informado e atento aos acontecimentos diários. Segundo ele, comprou 60 silosbag nesta safra, porque, enquanto um silo convencional, que aliás está construindo, custa em média 12 reais por saca armazenada, o silo bolsa custa, em média, oitenta centavos de real, por saca armazenada. “Hoje, já não me preocupo tanto com tecnologias de produção”, comenta. “Penso que é preciso sa-
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O comprador preferiu o milho da bolsa ao convencional, por não apresentar cheiro de fumaça, relata Siegfried Epp
ber mais sobre mercado, quando e para quem vender os produtos”. O silobag lhe permitirá um escalonamento no transporte da safra e, assim, poderár reduzir este custo, já que na entre safra o frete é mais barato. Por outro lado, ao depositar parte das bolsas na própria lavoura, o produtor reduzirá também o transporte interno, sem contar que diminuirá o problema com colhedora parada por falta de graneleiros de descarga, o que é comum acontecer quando esses estão transportando para longe os grãos colhidos. Fatores de perda para o produtor como a quebra “técnica” de depósito não existem no caso da bolsa, afirma Vasconcelos. “Com o silobag, não caio nos depósitos das Trades, onde depois de depositado os produtos tem seus valores fixados. Já aconteceu de eu consultar preço de soja numa trade e o valor ser menor para mim que estava com o produto depositado com eles do que um vizinho que tinha sua soja em casa”, complementa. Em relação ao descarte da lona do silobag, no final do período de armazenagem, a Ipesa Silos tem indicado aos produtores que procurem comercializar a lona dos silos, já que o material é de boa qualidade. Informações do mercado local de Luiz Eduardo dão conta de que existe demanda desse sub-produto junto C aos produtores de algodão. NF
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Milho
Comum, mas per Cultivar
Restos de cultura garantem a sobrevivência de Colletotrichum graminicola e seu ataque em qualquer fase de cultivo. A permanente identificação das raças do fungo para o desenvolvimento de cultivares resistentes, devido à sua grande variabilidade, aliados ao tratamento de semente, são as principais armas de controle
A
antracnose do milho causada por Colletotrichum graminicola é conhecida desde 1852. A doença está presente em todas as regiões onde se cultiva o milho, principalmente em áreas úmidas e quentes. O fungo ataca mais de cem espécies de gramíneas, porém isolados de uma espécie hospedeira não, necessariamente, infectam outras espécies. No Brasil, esta doença passou despercebida por muito tempo devido à sua baixa incidência em lavouras comerciais de milho, à utilização de cultivares resistentes e à adoção de práticas culturais menos favoráveis ao desenvolvimento e disseminação da doença. Atualmente, no Brasil, um aumento na incidência e na severidade da antracnose tem sido observada em lavouras de milho, causando não somente destruição da área foliar mas, também, podridão do colmo, resultando em morte prematura e acamamento das plantas. Isto se deve, principalmente, às modificações nos sistemas de cultivo, como o uso do plantio direto e à monocultura que permitem o acúmulo de inóculo na superfície do solo devido à capacidade do patógeno de sobreviver, por longos períodos de tempo, em restos de cultura e a intensificação
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Cultivar
da irrigação. Sob essas circunstâncias, com as condições de ambiente favoráveis e com o uso de cultivares susceptíveis, a antracnose, nas fases foliar e de podridão do colmo, pode causar sérios problemas para a cultura do milho com a redução da produtividade e da qualidade do produto.
SINTOMAS Todas as partes da planta de milho podem ser infectadas por Colletotrichum graminicola resultando em diferentes sintomas nas folhas, no colmo, na espiga, nas raizes e no pendão. A fase foliar da antracnose pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta. Os sintomas nas folhas se expressam como lesões escuras de tamanho variável de 0,5 a 1,5 cm e de forma, também, variável de ovalada a elíptica podendo apresentar as bordas das lesões de forma irregular. Nessas lesões, formam-se numerosos acérvulos, os quais permitem a identificação da doença sob condições de campo e de laboratório. Em genótipo muito susceptível, as lesões coalescem causando morte prematura, principalmente, das folhas baixeiras da planta.
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A infecção da nervura central da folha pode ocorrer em cultivares que não apresentem sintomas foliares da doença, uma vez que o controle genético da resistência à infecção foliar e da nervura é independente. Os sintomas na nervura central caracterizam-se pela presença de lesões elípticas e alongadas, de coloração escura, sobre as quais são formados acérvulos em grande quantidade provocando, muitas vezes, a queima das pontas das folhas em forma de V, semelhante à deficiência de nitrogênio. Os danos podem ser maiores se as infecções foliar e da nervura ocorrerem simultaneamente. Embora a podridão do colmo possa ocorrer nos diferentes estádios ontogênicos do
ETIOLOGIA
A
doença é causada pelo fungo Colletotrichum graminicola (Ces) G.W. Wils, cuja fase sexual é Glomerella graminicola Politis. Conídios e conidióforos são produzidos em estruturas estromáticas denominadas acérvulos formadas em cavidades subepidérimicas, em ambas as superfícies das folhas e no colmo. Nessas estruturas, podem ser observadas numerosas setas (forma de cabelo) de coloração escura, característica do gênero Colletotrichum. A forma perfeita ou fase sexual do fungo raramente é observada na natureza.
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Fotos Carlos Casela
igosa milho, os sintomas da doença no colmo, normalmente, são visíveis durante a maturação fisiológica da planta com ocorrência de uma podridão típica interna ou externa do tecido do colmo. A podridão do colmo é caracterizada pela formação, na casca, de lesões encharcadas, estreitas, elípticas na vertical ou ovais. Posteriormente, estas lesões tornam-se marrom-avermelhadas e, finalmente, marrom-escuras a negras devido à grande quantidade de acérvulos produzida. As lesões podem coalescer formando extensas áreas necrosadas de coloração escura brilhante e o colmo pode adquirir um aspecto de murchamento com afundamento da casca. O tecido interno do colmo apresenta, de forma contínua e uniforme, uma coloração marrom-escura podendo, mais tarde, em genótipos muito susceptíveis, desintegrar-se totalmente levando a planta à morte prematura e ao acamamento. Outro sintoma observado com freqüência em lavouras de milho é o “dieback” em que, inicialmente, observa-se o murchamento das folhas apicais que se tornam amarelecidas ou avermelhadas e, posteriormente, em genótipos muito susceptíveis, a parte da planta acima da espiga seca e morre de cima para baixo e o colmo se torna mais vulnerável ao quebramento.
CICLO DA DOENÇA E EPIDEMIOLOGIA O fungo C. graminicola apresenta baixa capacidade de sobrevivência no solo podendo, entretanto, sobreviver em resto de cultura ou em sementes como micélio e como conídios por longo período de tempo. Os conídios são a principal fonte primária de inóculo sendo disseminados pelo vento e por respingos de chuva penetrando nas folhas através da epiderme ou dos estômatos. Os conídios provenientes das lesões foliares e dos restos de culturas são, também, fonte primária de inóculo para podridão do colmo. A infecção do colmo pode se dar tanto pela junção das folhas com o colmo como através das raízes. Sementes infectadas podem dar origem a plântulas com sintomas de queima, com produção de lesões com abundante esporulação. A antracnose é favorecida por longos períodos de altas temperatura e umidade, principalmente na fase de plântula e após o florescimento.
MANEJO DA DOENÇA A principal estratégia de controle da an-
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tracnose é a utilização de cultivares com resistência genética. Essa estratégia é eficiente e econômica por não representar custo adicional para o agricultor. Há estudos evidenciando que a resistência genética à antracnose foliar e á podridão do colmo é determinada por genes dominantes diferentes, isto é, as reações dessas duas fases da antracnose são influenciados por sistemas genéticos distintos. O controle da antracnose através da resistência genética pode apresentar dificuldade, no caso da resistência vertical, pela variabilidade apresentada pelo patógeno. Isto pode determinar que a resistência de uma cultivar seja superada pela adaptação de uma nova raça do patógeno. Como conseqüência, um contínuo trabalho de monitoramento de raças do patógeno deverá ser realizado nas principais regiões produtoras de milho do país. A identificação de raças permitirá obter genótlipos de milho com resistência horizontal. Essa resistência caracteriza-se pela maior capacidade de limitar o desenvolvimento da doença dando, assim, ao genótipo uma resistência mais estável e duradoura, por não exercer nenhum tipo de pressão de seleção contra o patógeno, reduzindo a possibilidade de surgimento de novas raças. Sabe-se que C. graminicola persiste por 18 meses como saprófita nos restos de cultura
Antracnose em folhas baixeiras, dando aparência de deficiência de nitrogênio
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Genótipo muito susceptível, pode ser infectado em qualquer estádio de desenvolvimento
colonizados durante o parasitismo, mas na ausência desses restos de cultura, micélio e conídios sobrevivem por poucos dias no solo. Observa-se, também, que um aumento de sementes doentes correlaciona-se positivamente com a ocorrência de antracnose foliar e podridão do colmo. Para o controle da antracnose, no sistema de plantio direto, recomenda-se o tratamento de sementes, a utilização de cultivares resistentes, a rotação de culturas além de outras práticas que não favoreçam o desenvolvimento da doença como, por exemplo, utilizar densidade de plantio conC forme recomendação técnica. Carlos Roberto Casela e Alexandre da Silva Ferreira, Embrapa Milho e Sorgo
Casela: a antracnose por muito tempo desapercebida, tomou força com a implantação do plantio direto e também com a monucultura
Cultivar
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Café Armando Androcioli Filho
Menos espaço mais café
Doenças, clima e grande mão-de-obra levaram o Paraná à decadência do cultivo do café há dez anos. Hoje, através de incentivos, novas tecnologias e a adoção do sistema adensado, o estado já colhe os primeiros bons resultados
C
om menor área cultivada, o Paraná vem produzindo mais café do que há dez anos. Isto só foi possível com a implantação de um modelo tecnológico de produção desenvolvido pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e que vem sendo implantado desde o início da década de 1990. É o modelo do café adensado, como ficou conhecido pelos cafeicultores. Transformar uma cafeicultura é um processo lento e difícil, que exige investimentos e ação de vários setores com objetivo comum. Isso aconteceu na Costa Rica, nos anos 50, e na Colômbia, nos anos 70, com a mudança de cultivo com baixa densidade para uma cafeicultura mais intensiva. Aconteceu no Brasil a partir dos anos 70, com a mudança do cultivo tradicional para o mecanizado, promo-
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Cultivar
vida pelo IBC (Instituto Brasileiro do Café). Está ocorrendo no Paraná desde 1990 com a tecnologia do café adensado, dentro de um novo modelo tecnológico.
A CONCEPÇÃO DO MODELO A transformação da cafeicultura do Paraná para o novo modelo foi realizada com muito cuidado e sobre bases científicas sólidas. Preocupados com a tendência decrescente de área cultivada e de produção, que vinha ocorrendo desde 1963, o Iapar organizou, em 1989, uma reunião de trabalho com técnicos do IBC, Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná), Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), Deral (Departamento de Economia Rural do Paraná),
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Ocepar (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) e lideranças da cafeicultura para analisar as causas da decadência da cafeicultura no Estado, avaliando aspectos de política agrícola e, principalmente, tecnológicos. Em 1990, os pesquisadores incorporaram em uma proposta as tecnologias de cada área de especialidade para a solução dos problemas apontados, que ao final do processo acabou resultando no modelo tecnológico de produção de café para o Paraná (Iapar IP97,1991). Embora o modelo seja composto de várias tecnologias, o café adensado por ser uma das principais bases de sustentação deste modelo e o seu aspecto mais visível recebeu a denominação de modelo do café adensado, por parte de produtores e técnicos.
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CONTRIBUIÇÃO DO CAFÉ A tecnologia do café adensado foi incorporada ao modelo tecnológico para cumprir as seguintes funções: a) aumentar a produtividade das lavouras que, em 1992, estava em sete sacas beneficiadas por hectare. A alta produtividade foi considerada essencial para aumentar a renda do produtor de forma a permitir, no futuro, a implantação das demais etapas do modelo como, por exemplo, o investimento para a melhoria da qualidade do café. b) recuperar rapidamente a produtividade da lavoura após a ocorrência de geada. A lenta recuperação da produtividade nas lavouras tradicionais foi apontada como uma das principais causas da descapitalização do cafeicultor e abandono da atividade. Em lavouras com baixa densidade, a primeira produção após a geada é “0”(zero), a segunda é de três a cinco sacas beneficiadas (não cobre os custos) e somente a partir da terceira colheita é que volta à produção normal, geralmente quando os preços começavam a cair. Ou seja, os produtores do Paraná foram os menos beneficiados pelos preços altos após as geadas. c) liberar área cultivada e mão-de-obra para a diversificação. Mantendo alto volume de produção em menor área, cria-se a condição para que o produtor cultive outros produtos dando maior estabilidade de renda em caso de geadas e preços baixos do café. Para diver-
A IMPLANTAÇÃO DO MODELO
O
modelo foi discutido em maio de 1990, em um Seminário envolvendo técnicos do setor cafeeiro no Estado, e apresentado aos produtores em outubro de 1990, no 1o Encontro de produtores de café organizado pela Apac, em Santo Antônio da Platina (PR). Em março de 1992, foi elaborado, por técnicos do Mapa; Ocepar; Codapar; Emater; Iapar e Seab, o Plano Integrado para a Revitalização da Cafeicultura do Paraná, lançado e coordenado pela Seab para a implantação do referido modelo de casificar é necessário liberar também mão-deobra, e o café adensado proporciona isso, aumentando a sazonalidade, com pico de mão de obra na colheita e baixo uso de setembro a maio. d) manter o café na parte mais alta da propriedade para evitar as geadas freqüentes nas áreas de baixada. e) reduzir custo de produção de cada saca de café, de forma a proporcionar ao produtor condições de manter sua lavoura em situações desfavoráveis de preço e clima. No café adensado, reduz-se o uso de capinas e elimi-
feicultura. A Seab apoiou a restruturação de viveiros e a implantação de mais de 700 unidades demonstrativas do modelo, com 1 ha cada. Dentro desta ação integrada a Emater (PR) e as Cooperativas foram responsáveis por levar esta tecnologia ao campo e incentivar os agricultores a renovar lavouras, promovendo visitas às propriedades dos cafeicultores Luiz M. S. Hafers, em Ribeirão Claro (PR), e Nelson Riveline, em Cambira (PR), que cultivavam o café adensado, a partir de suas próprias conclusões. nam-se operações como a arruação e esparramação. f) aumentar a eficiência do uso de insumos. As variedades resistentes à ferrugem e o uso de produtos sistêmicos para ferrugem contribuíram para a intensificação do cultivo. Outro fator de sucesso foi o de não recomendar espaçamentos fixos e, sim, indicar os critérios para o ajuste mais adequado para cada local, como o diâmetro da copa (Androcioli Filho e Siqueira, 19o CBPC - Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do
Figura 1
Figura 2
Café,1993) e a manutenção de populações entre oito a 12 mil plantas por hectare, para recuperar rapidamente a produtividade. Criouse um clima de diálogo entre o técnico e o produtor e evitou-se o uso de espaçamento único para o Estado, que tem grande diversidade de clima, de solo e de capacidade tecnológica e financeira dos produtores. Na fase inicial, o café adensado recebeu duras críticas, principalmente fora do Paraná, na maioria das vezes, fruto do desconhecimento dos objetivos que se pretendia com a técnica. Ela foi usada no Estado por necessidade premente de deter o processo de decadência no qual os modelos de produção em uso haviam perdido suas bases de sustentação e não estavam dando as respostas necessárias para uma cafeicultura que mudou o seu perfil, predominado as pequenas propriedades.
RESULTADOS O Departamento de Economia Rural do Paraná (Seab/Deral) acompanhou a evolução da cafeicultura adensada para dar suporte ao Plano Café. Os resultados de área cultivada estão apresentados na Figura 1. Na área do café adensado estão incluídas as lavouras com
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Cultivar
“dobra”. A fase inicial, de 1990 a 1994, foi a etapa de reestruturação de viveiro, tendo em vista que a quantidade de mudas por hectare passaria de 2,5 mil para 10 mil. Foi também a etapa de capacitação de técnicos e produtores. A partir de 1994, com a maior oferta de mudas a preços baixos, proporcionada pelo apoio da Seab, e favorecidos pela melhoria de preços do café, a renovação ganhou impulso, atingindo, em 2004, uma área de 70 mil ha de café adensado, de um total de 123,709 ha cultivado com café no Estado. A tendência do café adensado é crescente enquanto que a área do café tradicional continua com tendência decrescente, com queda acentuada no último ano em função das condições de preço baixo, chegando em 2004 com 63,038 ha. Essa tendência de aumento da área de café adensado demonstra o grau de adoção desta tecnologia pelos cafeicultores. Na Figura 2, estão apresentados os dados de produção. Observa-se que, em 1994, quando a área de café adensado era inexpressiva, a produção foi de 1,36 milhões de sacas em uma área total de 190 mil ha. Em 2004, a produção passou para 2,5 milhões de sacas em uma área total bem menor, 123,7 mil ha. Ou seja,
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o café adensado praticamente aumentou em 1,14 milhão de sacas. Isto demonstra o impacto da tecnologia do café adensado na cafeicultura do Paraná. O café adensado aumentou a produtividade média de café no Paraná no período de 1997-2004, de 13,9 para 20,5 sacas beneficiadas por hectare. Isto foi possível porque a produtividade do adensado esteve entre 19 a 47 sacas/ha, bem superior a do tradicional, que foi de 10-17 sacas/ha, no mesmo período. O objetivo de recuperar rapidamente a produtividade também está sendo cumprido. Observa-se que após a geada de 2000, a produção de café diminuiu para 600 mil sacas, porém, em 2002, ela já retornou ao nível normal, em torno de 2,05 milhões de sacas. Os resultados demonstram que é possível transformar substancialmente o sistema de produção de café de uma região e que o café adensado proporciona grande impacto na produção de café das regiões cafeeiras. O café adensado aumenta a produtividade média de café, a produção e proporciona rápida recuperação da produção após ocorrência de geada severa e maior estabilidade de produção. O sucesso no processo de transformação depende da ação integrada e efetiva das entidade públicas e privadas envolvidas com a cadeia produtiva do café. Apesar destes resultados positivos, o aperfeiçoamento do modelo é uma necessidade constante e os trabalhos de pesquisa continuam, com o apoio do CBPC, do qual o Iapar é instituição fundadora, com recursos do Funcafé liberados pelo Conselho Deliberativo da C Política Cafeeira (CDPC). Armando Androcioli Filho, Iapar Paulo Sérgio Franzini, Seab/Deral Divulgação
Androcioli aborda a transformação da cafeicultura paranaense para o sistema de cultivo adensado
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Evento
Fotos Charles Echer
Sem resíduos
de especialistas no assunto, enfocando o impacto da utilização da biotecnologia na agricultura.
NOVIDADES
P
roteger a lavoura das invasoras sem causar danos ao homem e ao ambiente, este foi o principal debate nas palestras que ocorreram durante a realização do XXIV Congresso Brasileiro de Ciência das Plantas Daninhas, que aconteceu de 24 a 28 de maio em São Pedro (SP). O Congresso teve a participação de mais de 600 participantes, com cinco conferências plenárias e seis palestras seguidas de debates, ministradas por especialistas do Brasil e do exterior. Foram inscritos 518 resumos sendo que 496 foram apresentados de forma expandida, o que proporcionou maior aproveitamento dos trabalhos apresentados. Esta forma foi utilizada pela primeira vez este ano. A comissão organizadora inovou também na apresentação dos pôsters, através de exposição permanente dos trabalhos durante toda a semana do evento. Para o presidente do Congresso, pesqui-
sador Marcus Barifouse Matallo, a segurança alimentar, tema principal das discussões, foi impulsionada pelo programa Fome Zero do Governo Federal. “Com a necessidade de aumentar a oferta de produtos, nós pesquisadores temos que conscientizar a comunidade científica todos os integrantes da cadeia produtiva sobre a importância de fornecer mais alimentos, com qualidade e segurança. Os temas abordados ajudam no sentido de conscientizar cada participante do seu papel no manejo correto de plantas daninhas, de forma que garanta um alimento sadio, livre de resíduos”, destaca. Além da preocupação com alimentos livres de resíduos, o congresso também destacou a segurança na aplicação de defensivos, com foco no aplicador, na deriva e na contaminação do espaço que cerca a área tratada. A questão dos transgênicos teve um capítulo a parte durante o evento, com palestras
A Sociedade Brasileira de Ciência de Plantas Daninhas, em sua assembléia geral realizada durante o evento, divulgou as atividades desenvolvidas nos últimos dois anos e também aproveitou para apresentar o seu novo portal que estará disponível nos próximos meses. A idéia é que todas as operações de atualização de dados e pagamentos de anuidades também sejam feitos on-line. “Queremos, através do site, aproximar mais os sócios e disponibilizar uma ferramenta completa e interativa de pesquisa dos trabalhos de cada membro”, destaca Matallo. O XXV Congresso Brasileiro de Ciência de Plantas Daninhas, em 2006, será realizado C em Brasília.
A conscientização do correto manejo de plantas daninhas garantirá um alimento sadio, destaca Matallo
Parceria internacional N
os dias 6 e 7 de julho, em Stoneleigh, no Reino Unido, acontece o Encontro Empresarial Al-Invest Agri-Technology, orientado para empresas do ramo do agronegócio, que busquem parcerias internacionais com em-
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presas da Europa e América Latina. O evento é uma excelente oportunidade para empresários brasileiros que pretendem realizar parcerias comerciais e tecnológicas com empresas européias e latinoamericanas.
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O encontro reúne as principais empresas das áreas de genética animal, tecnologia pós-colheita e culturas alternativas. Os empresários participantes do evento recebem agendas de reuniões marcadas com empresas selecionadas e contam com assistência nas negociações, apoio logísticos e tradutores. Mais informações e inscrições gratuitas para o Al-Invest Agri-Technology podem ser obtidas no Eurocentro IEL Brasil, telefone (61) 317-9435 ou no e-mail al-invest@iel.cni.org.br. Para conhecer o evento, basta acessar o site www.royalshow.org.uk. C
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Cana-de-açúcar
Hora do controle Na falta de cultivares resistentes à praga no mercado, a cigarrinha-das-raízes começa a assustar produtores de cana. Para evitar o deterioramento dos colmos causado pelo seu ataque, o monitoramento da população é o primeiro passo para o controle no momento certo.
A
cigarrinha-das-raízes, Mahanarva fimbriolata, é uma praga presente em quase todas as áreas de colheita mecanizada de cana crua e em algumas áreas de colheita de cana queimada na região Centro-Sul, embora em certos locais, em populações ainda não preocupantes. Entretanto, devido à grande extensão das áreas cultivadas com cana-de-açúcar, são observadas muitas variações a respeito de condições edafoclimáticas, tratos culturais, variedades, nível populacional da praga etc., fatores que interferem na eficiência de medidas de controle. Desta forma, o manejo bem-sucedido de cigarrinha deve englobar todas as ferramentas disponíveis pois, para cada situação, uma delas se mostra mais adequada. Dificilmente uma única ferramenta de controle é indicada para todas as condições de cultivo da cana-de-açúcar. Como atualmente não há variedades em cultivo resistentes à cigarrinha, podese considerar que todo canavial é um alvo potencial da praga, por se constituir de material suscetível a ela. É necessário, portanto, que os produtores façam amostragens periódicas em suas áreas, a fim de identificar quando e onde aplicar mediÁrea não tratada
das de controle. É importante que se inicie os levantamentos logo após as primeiras chuvas, pois muitas vezes as populações detectadas nessa primeira geração da praga são bastante elevadas, superiores ao nível de dano econômico (NDE). Considerando os preços dos insumos (inseticidas químicos e biológicos, aplicação etc.) e dos produtos da cana-de-açúcar (cana, açúcar, álcool etc.), em outubro de 2003, o nível de dano econômico (NDE) da cigarrinha-das-raízes estava, naquela ocasião, ao redor de 12 insetos/ m, para canaviais colhidos até julho e ao redor de 4 insetos/m para canaviais colhidos a partir de agosto. Visto que os preços de açúcar e álcool, principalmente, estão menores que os praticados em outubro/2003, o NDE está, hoje, ao redor de 15 e de 5 insetos/m, em canaviais colhidos no começo e no final de safra, respectivamente. Como é necessário entrar com controle antes que o NDE seja atingido, recomenda-se que os produtores que fizerem opção pelo uso do fungo Metarhizium anisopliae iniciem as aplicações quando as infestações de cigarrinha atingirem valores
entre 0,5 e 1 inseto/m. Nesse caso, o fungo multiplicado em arroz deve ser “lavado” em água limpa e os esporos, contidos na calda, aplicados em pulverizações dirigidas para a base das plantas, na dose de 2 a 4 kg/ha de arroz (2.108 esporos/g de arroz). Estas aplicações devem ser feitas no final da tarde, à noite ou em dias nublados, para evitar a incidência de raios ultravioletas, que afetam a viabilidade dos esporos. Para aplicações aéreas, pode-se optar pela distribuição direta dos grãos de arroz infestado, já que o grão de arroz atinge o solo com mais facilidade do que as gotas de água contendo os esporos. Visto que o fungo nem sempre é eficiente, áreas tratadas devem ser continuamente monitoradas, para avaliar o desempenho do patógeno. Uma segunda aplicação pode ser feita se as infestações subirem para 5 a 6 insetos/m, em canaviais de início de safra ou para 3 insetos/m, em canaviais de meio e final de safra. No entanto, em áreas nas quais a eficiência do fungo é baixa, ou as infestações iniciais são muito próximas ou superiores ao nível de dano econômico (5 e 15 insetos/m, em canaviais de final e de
Área tratada
Áreas tratadas com inseticidas para a cigarrinha, geralmente possuem plantas com ramos mais grossos e com maior perfilhamento
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Fotos Leila Dinardo
início de safra, respectivamente) ou naquelas com histórico de altas infestações, o controle químico pode ser mais vantajoso, especialmente em canaviais colhidos a partir de agosto (meio para final de sa-
COMO FAZER A AMOSTRAGEM
O
s levantamentos devem ser iniciados cerca de 15 a 20 dias depois das primeiras chuvas da primavera, quando as ninfas começam a eclodir dos ovos em diapausa. Devem ser amostrados dois pontos por ha, sendo cada ponto constituído por 2 m de sulco. Em cada ponto, deve-se afastar com cuidado a palha entre os colmos, dispondo-a na entrelinha, a fim de que os pontos de espuma possam ser visualizados. Com auxílio de um pequeno palito (30 cm de comprimento e 0,8 cm de diâmetro), contam-se as ninfas e eventuais adultos nas raízes.
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fra), que sofrem maiores danos devido ao ataque da praga. Entre os inseticidas mais eficientes, encontram-se thiamethoxam 250WG, na dose de 0,8 a 1,2 kg/ha, aldicarb 150G, de 10 a 12 kg/ha, carbofuran 100 G, de 30 a 40 kg/ha e terbufós 150 G 17 kg/ha. Destes, somente thiamethoxan e aldicarb são registrados para controle de cigarrinha em cana-de-açúcar; os demais possuem registro para outras pragas e/ou nematóides em cana, mas não para cigarrinha. Portanto, o emprego deles no manejo dessa praga ainda depende da permis-
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são para extensão de uso, que deve ser solicitado pelas empresas fabricantes dos inseticidas. Comparados a áreas sem tratamento, áreas nas quais se procede ao uso correto de inseticidas apresentam populações reduzidas da cigarrinha e, conseqüentemente, plantas mais desenvolvidas, fato facilmente visualizado em campo. De uma maneira geral, áreas tratadas apresentam mais perfilhos por metro, perfilhos maiores e mais grossos do que áreas não tratadas. Como os canaviais colhidos em início
Cultivar
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Tabela 1 - Infestação de Mahanarva fimbriolata (insetos/m de sulco), na variedade SP79-2233, em função dos tratamentos aplicados em 08/11/00 e produtividade de açúcar (ATR, t/ha), observada na colheita. Iracemápolis (SP), 2000/2001 Tratamento Testemunha Carbofuran 100G 40kg/ha Aldicarb 150G 12kg/ha Aldicarb 150G 10kg/ha Thiamethoxan 10GR 30kg/ha
36 22,5 a 7,0 b 3,9 b 7,3 b 24,7 a
72 35,7 a 12,4 b 5,7 bc 3,2 c 10,5 b
Dias após aplicação 92 21,9 a 19,0 a 5,2 bc 4,4 c 11,3 ab
132 7,5 a 11,0 a 5,2 a 5,3 a 7,8 a
169 2,1 a 1,9 a 0,8 a 0,6 a 1,0 a
ATR (t/ha) 4.99 c 6.26 bc 8.66 a 7.69 ab 6.65 bc
Médias seguidas por letras iguais, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. Fonte: Adaptado de Dinardo-Miranda et al., 2001b.
Tabela 2 - Margem de contribuição agroindustrial (MCAI, R$) obtida na colheita da variedade SP79-2233, em função dos tratamentos inseticidas aplicados em 08/11/00, variação da MCAI dos tratamentos em relação à testemunha (B, R$), custo dos tratamentos inseticidas (C = produto + aplicação, R$), lucro (B – C, R$) e relação benefício:custo (B:C) (dados por hectare e atualizados em julho/2003) Tratamento Testemunha Carbofuran 100G 40kg/ha Aldicarb 150G 12kg/ha Aldicarb 150G 10kg/ha Thiamethoxan 10GR 30kg/ha
MCAI (R$) Variação da MCAI (B, R$) Custo do tratamento (C, R$) Lucro B - C (R$) 1330,00 1648,00 318,00 330,00 - 12,00 2158,00 828,00 255,00 573,00 1956,00 625,00 216,80 480,00 1736,00 406,00 333,00 73,00
de safra (até julho) suportam populações maiores da praga, inseticidas químicos podem ser aplicados quando as infestações estão ao redor de 15 insetos/m. Por outro lado, em canaviais colhidos a partir do meio de safra (agosto), mais sensíveis ao ataque da cigarrinha, a aplicação de inseticidas, quando a praga atinge níveis populacionais ao redor de 5 insetos/m, parece mais adequada. Os valores de nível de controle (NC) aqui sugeridos são iguais aos de NDE, pois os inseticidas têm ação relativamente rápida sobre as populações da cigarrinha. No entanto, ao se optar por um produto de ação inicial muito mais lenta, o NC deve estar abaixo do NDE, de maneira que o inseticida possa agir, antes de as infestações atingirem o NDE. Ao atingir o NC, o controle químico deve ser efetuado o mais rapidamente possível, para evitar que as plantas sofram danos irrecuperáveis com o ataque. Esse fato pode ser verificado em experimento no qual aplicaram-se aldicarb, carbofuran ou thiamethoxan em novembro, dezembro ou janeiro, quando as infestações de cigarrinha eram de 22,9; 46,4 e 25,4 insetos/m, respectivamente. As tabelas 1 e 2 apresentam dados referentes à aplicação feita no mês de novembro e respectiva produtividade. Embora a eficiência dos produtos não tenha se alterado significativamente em função da época de aplicação, os incrementos de produtividade foram maiores quando os inseticidas foram aplicados em novembro, sugerindo que as plantas são danificadas pela praga de maneira irrecupe-
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Cultivar
Relação B:C 0,96 3,25 2,88 1,22
rável com aplicações tardias. Assim, em áreas comerciais, a adoção de medidas químicas ou biológicas de controle deve ser feita preferencialmente até dezembro, já que a aplicação tardia de inseticidas, químicos ou biológicos pode não resultar, na maioria das vezes, em incrementos de produtividade. Outro detalhe a considerar refere-se ao número de aplicações na mesma área. A aplicação de inseticidas mostra-se mais adequada quando efetuada de uma só vez, ao invés de parcelada ao longo do período de ocorrência da praga. Inseticidas aplicados uma única vez no início do período de infestação (outubro/novembro) contribuem para maiores reduções populacionais da praga e, conseqüentemente, maiores incrementos nas produtividades de colmos e de açúcar, quando comparados com a aplicação parcelada dos produtos. Além disso, o parcelamento de dose implica aumentos nos custos da aplicação e do monitoramento da área. Apesar dos resultados positivos, é recomendável que os inseticidas sejam utilizados criteriosamente, evitando aplicações em ambientes de risco, tais como ao lado de mananciais, matas e refúgio de aves e outros animais. Da mesma forma, deve-se dar preferência por aplicações tratorizadas, por implicar menores riscos ao ambiente do que as aplicações aéreas; além do que nem todos os produtos possuem registro para aplicações aéreas. Outra medida que pode reduzir as populações de cigarrinha é a retirada ou afastamento da palha de cima da linha de cana, pois a mantém mais seca, devido à maior
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incidência dos raios solares sobre ela. No entanto, essa medida não é recomendada para talhões com altas populações, pois sua eficiência é de cerca de 70%, e tampouco para as regiões mais quentes e secas, pois a brotação e o desenvolvimento inicial de algumas variedades, especialmente se colhidas entre junho e agosto, podem ser severamente prejudicados pelo recolhimento da palha, justamente devido à diminuição da umidade do solo na região da linha. A queima pré-colheita do canavial é uma medida que reduz as infestações de cigarrinha, no ciclo seguinte, por eliminar a palha e por matar parte dos ovos em diapausa. No entanto, em áreas severamente infestadas, somente o fogo não é suficiente para reduzir as infestações de cigarrinha a níveis não problemáticos, pois muitos ovos permanecem viáveis, já que o fogo na pré-colheita aquece somente a camada superficial do solo, não atingindo aqueles colocados em maior profundidade. Desta forma, áreas infestadas devem ser monitoradas, mesmo se a colheita se deu após queima, pois são freqüentes altas infestações em canaviais de cana queimada. Além disso, o fogo na précolheita é de uso bastante restrito, por força da legislação ambiental. Nos locais onde ocorreu severo ataque das cigarrinhas, colmos secos e deteriorados podem ser observados já no início do outono (abril/maio). Nesses casos, quanto maior o tempo em que o canavial permanece em pé, mais acentuados se tornam os sintomas de ataque da praga e maiores são as reduções de produtividade, razão pela qual áreas severamente atacadas devem ser colhidas o mais rapidamente possível. C Leila Dinardo Miranda, IAC
Divulgação
Leila salienta que aplicações para controle da praga devem ser feitas preferencialmente até dezembro
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Lançamento
Cana limpa A
Hokko do Brasil lançou no XXIV Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, em São Pedro (SP), o Dinamic, herbicida para controle de plantas daninhas em soqueiras de cana-de-açúcar, que pertence ao grupo das triazolinonas, formulado em grânulos dispersíveis em água (WG), que contém 700 g de amicarbazone/kg. Segundo Almir Peretto, Roberto Toledo e Edson Kobayashi, engenheiro agrônomo do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Hokko, o Dinamic é um herbicida bastante versátil, recomendado para aplicações em pré e pós-emergência inicial, para o controle de um amplo espectro de plantas daninhas que competem com a lavoura canavieira. Quando aplicado em pré-emergência, o produto é absorvido pelo sistema radicular e transloca-se via xilema, pelo fluxo de transpiração. No entanto, quando aplicado em pós-emergência predomina a absorção foliar, sendo sua ação de contato. Neste caso, é recomendada a adição de adjuvantes e uma boa
cobertura das plantas daninhas durante a aplicação. O seu mecanismo de ação principal é a inibição da fotossíntese das plantas daninhas (ver Quadro), atuando na reação de Hill (Fotossistema II), inibindo o transporte de elétrons e paralisando a fixação de CO 2. Em conseqüência, inibe também a produção de ATP e NADPH2, elementos essenciais para o crescimento das plantas. A morte das plantas, entretanto, pode ocorrer devido a outros processos, como a peroxidação de lipídeos e proteínas, promovendo a destruição das membranas e a perda de clorofila. Em aplicações de pré-emergência, os sintomas da ação herbicida somente manifestam-se após o início da fotossíntese. As plantas suscetíveis ao Dinamic,
inicialmente, apresentam clorose, paralisação do crescimento e posterior necrose dos tecidos. Os sintomas manifestamse inicialmente pelas bordas das folhas e progridem por todo o tecido foliar, ocorrendo, finalmente, a morte das plantas daninhas. Em aplicação de pós-emergência inicial, ocorre a rápida necrose das folhas devido à destruição das membranas celulares. A ação seletiva é primariamente determinada pela diferença de metabolismo nas plantas e também pelo posicionamento no solo. Foram mais de 313 ensaios de pesquisa e de 291 áreas demonstrativas conduzidas em diferentes regiões canavieiras, modalidades, condições de aplicação e safras de cana-de-açúcar, para avaliar a eficiência e versatilidade do produto. Estes trabalhos demonstraram que o Dinamic nas doses de 1,50 a 2,0 kg/ha (ver quadro) apresentou excelente eficácia agronômica no controle de plantas daninhas monocotiledôneas, como capim-colonião (Panicum maximum), capim-colchão (Digitaria ciliaris, D. horizontalis e D. nuda), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capimbraquiária (Brachiaria decumbens) e de dicotiledôneas, como várias espécies de corda-de-viola (Ipomoea grandifolia, Ipomoea nil, Ipomoea quamoclit e outras), melão-de-São-Caetano (Momordica charanthia), erva-de-rola (Croton lobatus), burra-leiteira (Chamaecyce hypsofolia), entre outras. C
Recomendação: CENTRO-SUL E NORDESTE Cultura
Modalidade Cana Plantas daninhas Pré-emergência
Cana Soca Pós-emergência
Solo Arenosos a
Doses Produto comercial 1,50 kg/ha a
Argilosos
2,00 kg/ha
• Pós-emergência: adicionar 0,5% do adjuvante Lanzar • Volume de calda: 200 a 400 L/ha • Deve ser aplicado uniformemente com pontas de pulverização do tipo leque • Evitar sobreposição na aplicação
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Cultivar
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AENDA
Defensivos Genéricos
Bunga saga 10 Produto brasileiro negociado, mas que por apresentar contaminantes retorna à sua origem. Seria a falta de estrutura da fiscalização fitossanitária?
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povo cercado pela grande muralha tem fome de soja e a nação do berço esplêndido está produzindo a oleaginosa como nunca. Negócios fechados em março a US$ 10,50 / bushel (27,2 kg) e preço subindo. Navios em fila com porões abarrotados singram o atlântico, o índico e o pacífico até aportarem em Macao, Hong Kong, Xiamen, Shangai e Tianjin. Exportadores e importadores riem à toa. Vale esmagar soja tradicional, soja transgênica, é só dizer o que é, sem problema. Gravetos, pedregulhos, sementes estranhas, pedaços de ervas daninhas e restos de insetos se perdem no mundão de grãos e desaparecem da vista dos fiscais fitossanitários, lá e cá. Mas uma outra onda se alastrava no território amarelo. A Influenza aviária atacava firme nas granjas chinesas. Menos galinha menos farelo. Os estoques começaram a emperrar nos silos das esmagadoras. A banca percebeu e enxugou o crédito. O ouro verde começou a escorregar na rampa da oferta sul-americana e derrapar no óleo derramado da menor demanda asiática. Vale menos agora em maio que o contratado nos festejados negócios. Bem menos. A US$ 8,60 / bushel tem comprador internacional virando a cara. Do porto do Rio Grande chega carga em Tianjin sem saber das últimas notícias. Fervilham técnicos em volta. Amostra daqui, fotografa dali. Cadê o certificado fitossanitário? Trataram ou não com fos-
fina? O que são aqueles grãozinhos corde-rosa acolá? Coletam grão colorido, analisam. Não dá outra. É CARBOXIN, fungicida usado em semente para plantio, contaminando o rico alimento e pondo em sério risco a saúde da população da China. Cabograma, email, telefonema. Devolve a carga pró Brasil. O que eles pensam que nós somos? Vive o mundo falando que nossas fábricas são sujas, só produzimos com impurezas e, agora, querem que aceitemos soja impura. Não. Tolerância zero prá eles. Brasil no meio. Tudo isso às vésperas da visita do mandarim brasileiro e sua comitiva para vender mais alimento, ferro, urânio e o que der. Itamarati pressiona o Ministério da Agricultura. Este cai matando nas exportadoras do Rio Grande do Sul. Exige responsabilidade e grãos limpos, na conformidade da cartilha do Ministério. Faz até voltar navio. Técnicos enviados a Pequim pedem mil desculpas pela carga colorida. Ponto para o dragão. Pausa no samba que o crioulo precisa pensar. O Brasil precisa acordar de vez para as barreiras fitossanitárias. A tolerância varia de zero a nove, numa escala de dez, dependendo da necessidade do cliente. É preciso capacitar nossos negociadores e ampliar, e muito, a estrutura da fiscalização. Por favor, primeiro estruturem, depois apertem com normas e decretos. O inverso tem sido catastrófico.
este caso particular, por exemplo, que mal faz à população algumas sementes indevidamente misturadas aos grãos? O limite máximo de resíduos permitido para a presença de carboxin é 0,2 miligramas por quilo de soja. Dentro deste limite, com grande margem de segurança, uma pessoa que coma soja todo o dia e durante os 365 dias do ano não sofrerá absolutamente nada. Muito bem, isso nos leva a imaginar quanto de semente tratada com o fungicida estaria misturado nas 59 mil toneladas, a carga daquele navio. Para chegar no limite do fator de segurança acima citado, em primeiro lugar precisariam ser encontradas 11,8 kg de carboxin em todo o lote. Para atingir isso teriam que ter misturado 19,67 toneladas de semente tratada, pois a dose do produto mais usado (mistura de carboxin com thiram) é 60 gramas do ingrediente ativo carboxin por 100 kg de semente. Haja desvio de semente para uma só carga. Pelo amor de Deus, não falem do thiram que eles ainda não sabem! Os técnicos brasileiros que foram lá pedir as diplomáticas desculpas deviam também, de forma pragmática e científica, coletar amostras do grande lote e quartear as mesmas com os colegas de olhos puxados. Com resultados em mão, aí sim, negociar. Em tempo: BUNGA SAGA 10 é o nome de um dos navios envolvidos no episódio. C
Nossa capa
Quase imortal A facilidade de disseminação e adaptação da trapoeraba a diferentes ambientes tira o sossego de muitos produtores, principalmente por apresentar tolerância ao produto mais utilizado no controle de plantas daninhas
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fológicos que permitem a diferenciação. Destacam a presença de botão floral subterrâneo na Commelina bengalensis como importante característica diferencial. No passado, foi identificada erroneamente como Commelina virginica.
Solos férteis e úmidos são reconhecidamente o ambiente preferido da planta
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REPRODUÇÃO A trapoeraba possui grande capacidade reprodutiva, multiplicando-se por meio de sementes aéreas, subterrâneas e enraizamento de porções do caule. A flor desta espécie abre e morre no mesmo dia, geralmente entre nove e às 12 horas, sobrevivendo por um período máximo de seis horas. Estima-se que uma única planta pode produzir cerca de 1600 sementes (Kissmann 1997). Segundo Walker & Everson (1985a), as sementes aéreas produzem plantas menores, que florescem mais cedo e geram Kurt Kissmann
Dionisio Gazziero
trapoeraba é uma das plantas daninhas mais problemáticas do mundo. Seu nome cientifico é Commelina bengalensis, uma homenagem ao botânico Kaspar Commelin (1731). Nos Estados Unidos, é considerada planta nociva pelo Departamento de Agricultura. Ocorre em diversas culturas como cana, soja, milho, café, citros, entre outras. Esta espalhada em todas as regiões produtoras no Brasil e tem se expandido principalmente pela seleção causada pelos herbicidas. Acredita-se que, com o advento da cultura da soja transgênica resistente ao glifosato poderá haver rápida disseminação devido à tolerância que apresenta a este produto. Esta espécie pode ser facilmente confundida com Commelina villosa, cuja ocorrência foi constatada no Estado do Paraná (Rocha et al 2000). Os autores descrevem caracteres mor-
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Detalhe do sistema radicular da trapoeraba, mostrando as sementes subterrâneas
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mais frutos que as plantas de sementes subterrâneas. Do total de sementes produzidas, 73 a 79% foram sementes aéreas pequenas, 19 a 22% foram sementes aéreas grandes e 1 a 3% sementes subterrâneas. Quanto à viabilidade das sementes, Walker & Everson (1985b) observaram que é variável com o tipo. Sementes aéreas pequenas possuem germinação de 0 a 3%, enquanto que das aéreas grandes 20 a 55% germinaram. Para as sementes subterrâneas pequenas verificaram germinação 33% e para as grandes 90%. O artigo publicado pelos autores (Walker e Everson 1985b) permite ainda obter outras informações importantes. Existe dormência inata causada por uma semente dura que restringe a entrada de água e oxigênio. A exposição à luz aumenta a germinação, mas não é essencial. Ainda assim, as sementes subterrâneas respondem mais ao fator luz que as aéreas. Existe também uma temperatura ótima para germinação a qual varia com o tipo de semente. No entanto, a faixa situada entre 18 a 36oC beneficia a todos os tipos. Quanto à profundidade de germinação relataram 0 a 5 cm como a faixa ideal para todos os tipos e que existe uma relação positiva entre a máxima profundidade e o peso de sementes. Para Kissmann (1997), as sementes subterrâneas são capazes de germinar a profundidade de 12 cm enquanto que as sementes da parte aérea não germinam a mais que 2 cm.
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Dirceu Gassen
condições ótimas de fertilidade do solo e umidade (Rodrigues 1992). Em 1995, Rodrigues et al, publicaram resultados de pesquisa mostrando haver intensa resposta a calagem e ao Nitrogênio, Fósforo, Cálcio, Magnésio e Enxofre.
INTERFERÊNCIA NAS ATIVIDADES HUMANAS
ECOFISIOLOGIA A trapoeraba é uma espécie que se adapta com facilidade em diferentes ambientes. No entanto, é reconhecida a preferência por lugares úmidos e solos férteis. Ainda assim possui capacidade para sobreviver por extensos períodos de seca, já que a planta contém elevado conteúdo de água (Wilson 1981). Segundo Lorenzi (1991), solos argilosos e sombreamento leve favorecem seu desenvolvimento. Esta planta é capaz de acumular grandes quantidades de macronutrientes e prolongar seu ciclo sob
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Vários autores citam a trapoeraba como hospedeira de pragas e moléstias. Em 1967, Adams a descreve como hospedeira do vírus do mosaico do amendoim. Em 1968, Valdes a relata como hospedeira alternativa de Meloidogene incognata. Em 1971, Edmunds inclui a Commelina sp como hospedeira do vírus de banana e do nematóide Rotylenchulus sp. No Brasil, Ferraz (1983) também inclui a espécie na lista de hospedeira de nematóides. Na sua revisão, Wilson (1981) trata também da interferência da trapoeraba como planta competidora e baseado em trabalhos de pesquisa reconhece a espécie como uma das mais importantes invasoras de um grande número de culturas na África, sendo responsável por prejuízos significativos. Cita que na Tanzânia, em 1978, Wetaba encontrou redução no rendimento de soja com população acima de 120 plantas por m2. Mehrotra e Shing em 1973, na Índia, observaram que sua remoção das áreas de cultivo de amendoim aumentou a produção em 27%. No Brasil, Gazziero em 1987, relata que a presença de 58 plantas/m2 reduziu o rendimento da soja em 15% e com 230 plantas/m2 a redução foi de 49%. Le Bourgeois & Guilherm, em 1998, estudaram a distribuição e a abundância de plantas daninhas em um sistema de rotação de culturas de algodão, sorgo, mi-
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FORMAÇÃO DE SEMENTES POR RIZOMAS
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característica peculiar da trapoe raba de reprodução por sementes formadas por rizomas, ou seja, flores modificadas, ocorrem nos rizomas subterrâneos, onde formam-se frutos por partenocarpia, dando origem a verdadeiras sementes, pouco maiores que as formadas a partir das flores aéreas. Estas sementes não se abrem, apenas são liberadas com a decomposição dos tecidos envolventes, sendo capazes de germinar desde uma profundidade de 12cm de profundidade, onde os herbicidas aplicados no solo, muitas das vezes, não as atingem. Kurt Kissmann lho e amendoim. Citam a trapoeraba como uma das espécies de maior freqüência e que maiores danos causaram as culturas anuais. A sua presença no momento da colheita também interfere negativamente. Por possuir elevado conteúdo de água, transfere umidade para as sementes das culturas colhidas mecanicamente como, por exemplo, a soja.
CONTROLE A literatura internacional relata com freqüência as dificuldades de controle que esta espécie apresenta. No Brasil, inúmeros trabalhos foram conduzidos com o ob-
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UTILIZAÇÃO COMO PLANTA MEDICINAL E ALIMENTÍCIA
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m 1962, já havia citação do uso na carestia de alimento na Índia e Filipinas (Watt & Breger Brandwigk 1962). Em 1972, os mesmos autores relataram o uso das folhas desta planta no tratamento da esterilidade e a sua mucilagem ou goma em queimaduras e inflamação do olho e garganta. Segundo Holm e colaboradores (1977), suas folhas também são utilizadas para alimento de gado, embora o elevado conteúdo de água não lhe confere o valor como forrageira. Contrariamente, Lorenzi (1991) descreve a espécie como excelente forrageira. O mesmo autor descreve seu uso como planta diurética e emoliente. jetivo de encontrar alternativas químicas para uso nas diversas culturas. Embora um razoável número de produtos seja indicado para uso em pré e pós-emergência, sabese que a maioria dos herbicidas exigem condições ótimas para que funcionem de forma desejável. Assim, os níveis de controle, muitas vezes, permitem a recuperação ou “escape de controle”, o que tem como conseqüência a multiplicação de sementes e a expansão da infestação. Dos produtos atualmente comercializados na cultura da soja, existem 12 indicados para o controle desta espécie, sendo seis para uso em pré-emergência da cultura e do mato e seis para uso em pós-emergência. O controle das plantas daninhas que germinam antes da semeadura das culturas é feito com os herbicidas popularmente conhecidos como dessecantes. Entre eles o mais utilizado é o gliphosato, sendo a
trapoeraba considerada tolerante a ele. Para contornar este problema, normalmente é feita a combinação com outros ingredientes ativos como 2,4-D, carfentrazone e chlorimurom. Destes, o 2,4-D é o que apresenta menor custo. Em contrapartida, além da exigência dos dez dias de intervalo entre a aplicação e a semeadura, tem gerado reclamações devido à fitointoxicação de culturas vizinhas como uva, algodão e tomate. Sabe-se porem que o principal problema refere-se à aplicação inadequada, a qual resulta em deriva do produto. Con-
vém lembrar que nestes casos não apenas o 2,4-D é aplicado fora do alvo mas, também, os demais produtos. Com carfentrazone e chlorimurom, as aplicações podem ser feitas próximas ou no dia da semeadura, se for o caso, mas geralmente apresentam custo mais elevado. Trabalhos em áreas de produção comercial têm mostrado que a aplicação sequencial de ghiphosate, no período de entressafra, proporciona melhor nível de controle que a aplicação única. Nestes casos, é fundamental que as pulverizações sejam
Fotos Dirceu Gassen
cie desde que as aplicações sejam feitas dentro de critérios técnicos. Sabe-se que existe uma importante relação entre o tamanho da planta no momento da aplicação dos herbicidas pós-emergentes, a dose do produto e o controle.
TRAPOERABA X SOJA Na cultura da soja, causa forte competição e também deprecia o produto na classificação por aumentar o teor de umidade dos grãos. Seu desenvolvimento se acelera quando a cultura entra em maturação, perdendo folhas e abrindo entrada para a luz. Planta anual, pereniza-se por alastramentos sucessivos. A facilidade de enraizamento permite um reestabelecimento pleno, uma vez deixados ramos sobre o solo ou mesmo enterrados a pequenas profundidades. Por isso, o controle mecânico nem sempre se trata da melhor opção, já que pode espalhar sementes levando-as, muitas das vezes, a locais ainda não infestados ou ainda causar uma repicagem de ramos que facilmente formam novas plantas aumentando desta forma o número de plantas por área. O ideal é que se faça um ma-
feitas antes que as plantas iniciem o processo de produção de sementes. Quanto menor a planta maior a sensibilidade ao produto. Da mesma forma, na soja transgênica resistente a este produto verificou que as aplicações seqüenciais foram mais eficientes que as doses únicas, mesmo que nestes casos tenham sido utilizadas doses elevadas. Embora a trapoeraba seja uma espécie considerada de difícil controle, bons resultados são obtidos através do manejo integrado. É possível conviver com esta espé-
“Quanto menor a planta, maior a sensibilidade da planta ao produto de controle”, garante Gazziero
nejo integrado com outros métodos de controle, para que seja eficaz. Uma alternativa é integrar o controle mecânico com apliC cação de herbicida. Dionísio Luiz Pisa Gazziero, Catarina Maria de S. Thimoteo e Cássio Egidio Prete, Embrapa Soja
Em soja, o maior problema é quando esta entra na fase de maturação, prejudicando a umidade dos grãos
Fotos Hipólito Mascarenhas
Soja
Bem dosado
Que plantas bem nutridas são menos vulneráveis a adversidades climáticas, isto já é sabido. Além disto, é necessário saber que certos nutrientes, como o potássio, têm papel fundamental, inclusive no controle de doenças na soja no solo pode haver deficiência desse elemento nas folhas, sendo constatados sintomas como haste verde, retenção foliar e formação de frutos partenocárpicos na soja. A maneira mais adequada de se evitar tal situação é a manutenção da relação de bases Ca+Mg/K entre 23 e 28, pois acima desses valores já se pode constatar deficiência de potássio. Algumas características químicas do solo da região Sudeste do Estado de São Paulo, em áreas sob cultivo com soja estão apresentadas no Quadro 1. Em Florínea, observa-se teor alto de potássio; no entanto, também os teores de Ca e Mg estão elevados, resultando no valor 46 para o índice da relação Ca+Mg/ K. Nesse caso, há a necessidade de aplicação de potássio e também do fósforo, cujo teor é médio no solo. Na amostra 2, coletada em Cruzália, verifica-se um equilíbrio entre os cátions Ca, Mg e K, obtendo-se um índice 26 nessa relação. Nas amostras 3 e 4 desse mesmo município, o teor de potássio no solo foi elevado, os índices da relação Ca + Mg/K foram 18 e 14 respectivamente. Nessas duas últimas áreas, a solução seria esperar a finalização do ciclo das culturas para que o potássio pudesse ser extraído; conseqüentemente, seria obtido um aumento daquela relação. Em tais localidades não seria necessária
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epois do nitrogênio, o potássio é o segundo elemento absorvido em grandes quantidades pela planta da soja sendo que, em cada 1000 kg de sementes produzidas, são extraídos 20 kg de K2O. No ano agrícola de 1986/87, observouse uma deficiência generalizada desse elemento nas lavouras de soja no Estado de São Paulo, em virtude da utilização, por cerca de 20 anos, de formulações inadequadas de adubo, com baixos teores de potássio: 0-20-10 na Alta e Média Mogianas e 4-30-10 no Vale do Paranapanema. Atualmente, estão sendo
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Cultivar
utilizadas as fórmulações 0-20-10, 0-20-20 e 4-20-20 para atendimento das necessidades nutricionais dessa leguminosa. Quando se aduba com 300 kg/ha da fórmula 0-20-10 são disponibilizados apenas 30 kg/ha de K2O, sendo necessária a aplicação adicional de 30 ou 40 kg/ha de K2O, em cobertura, aos 35 dias após a semeadura. Isso é válido sobretudo para solos arenosos em que se tem maior lixiviação e naqueles declivosos, apesar da relativamente recente adoção da semeadura direta pela maioria dos lavradores daquelas regiões agrícolas. Sob condições de baixo teor de potássio
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Sintoma de deficiência de potássio em soja, com retenção foliar e haste verde, sem possibilidade de colheita
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Hipólito Mascarenhas
GASTOS COM O PRODUTO
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Divulgação
a adubação da cultura da soja com P e K porque os teores de ambos os elementos são elevados. O potássio é também um elemento importante no processo de formação de nódulos fixadores de N, assim como no controle das seguintes doenças fúngicas: seca da vagem e da haste (Phomopsis), crestamento foliar e mancha púrpura das sementes (Cercospora kikuchii) e cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f.sp. meridionalis, (D.pm). Em relação ao cancro da haste, essa doença é controlada apenas em cultivares precoces de soja; isso porque a sua incidência se dá nos estádios fenológicos R3 a R4 dessa leguminosa (formação de vagens) e, sendo o ciclo da planta entre 110 e 120 dias, tem-se uma situação de escape devido à menor duração de ciclo nesse cultivar, o que não se observa nos cultivares semi-precoces, médios e semi-tardios de soja.
talizando R$ 241,40 por hectare. • Fórmula 5-20-20, com custo de R$ 246,00 mais R$ 32,8 em cobertura, totalizando R$ 278,80 por hectare. Na hora de se adubar a soja deve se levar em conta não somente o custo de aplicação destes produtos, mas também os benefícios que trazem às plantas, principalmente no que diz respeito à barreira criada contra doenças como cancro da haste, seca da vagem e da haste, entre outras. Cultivar Maria Aparecida de S. Tanaka e Margarida F. Ito
e acordo com um levantamento de custos de aplicação de tais formulações ou aproximadas, tem-se os seguintes valores: • Fórmula 5-30-10, cujo valor por tonelada do produto gira em torno de R$ 900,00, o custo por hectare chega a R$ 306, 00 considerando a aplicação de 300 kg/ha no plantio e mais 40 kg/ha em cobertura aos 35 dias do ciclo da cultura. • Fórmula 0-20-20, com custo de R$ 213,00 mais R$ 28,4 em cobertura, to-
Conforme observações recentes do Engº Agrº e pesquisador científico do Instituto Agronômico (IAC), Dr. Manoel A.C. de Miranda, constatou-se diminuição dos sintomas de ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) em 470 hectares com soja, cultivares Conquista, Sambaíba e Tracajá, na Fazenda Campinas, em Pedro Afonso, TO, na safra 2003/2004, apenas com a aplicação de cloreto de potássio em quantidades adequadas (Boletim 100, IAC, 1996, p.202-203). Entretanto, há a necessidade de realização de
Sintomas de cercospora kikuchii em sementes (mancha púrpura), hastes e vagens
mais pesquisas a respeito para a confirC mação de tal constatação. Hipólito A.A. Mascarenhas, IAC e CNPq Roberto T. Tanaka, Elaine Bahia Wutke, Nelson R. Braga e Manoel A.C. de Miranda, IAC
Quadro 1. Características químicas de solos cultivados com soja em municípios da região Sul-Sudeste no Estado de São Paulo. Ano agrícola de 1986/87. Local
Hipólito aponta os benefícios de uma boa adubação, relacionada especialmente ao potássio
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Cultivar
Florínea Cruzália Cruzália Cruzália
Amostras 1 (1) 2 (2) 3 (2) 4 (2)
PH em CaCl2 Matéria orgânica g/dm3 5,8 34,0 5,2 18,0 5,2 20,0 5,2 32,0
P mg/dm3 22 78 89 100
K 4,2 2,2 3,0 3,8
Ca mmolc/dm3 153,2 39,3 35,2 35,6
Mg 38,8 18,2 19,0 19,4
V % 86 63 61 63
Ca+Mg/K índice 46 26 18 14
(1)Latossolo vermelho escuro (2) Latossolo vermelho escuro eutroférrico
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Soja
Colhendo sem culpas
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epois de sucessivas safras plantando clandestinamente, muitos produtores brasileiros comemoram os primeiros resultados de lavouras com soja transgênica cultivadas de forma legal. Embora a origem de grande parcela das sementes ainda seja um enigma, os dados da colheita mostram que boa parte dos produtores, principalmente os gaúchos, apostaram no cultivo de transgênicos. Este ano, produtores brasileiros colheram 4,1 milhões de toneladas de soja geneticamente modificada, segundo dados consolidados pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O volume corresponde a 8,2% do total de 50,18 milhões de toneladas da oleaginosa produzidas pelo país. Em seu primeiro relatório sobre o cultivo de soja geneticamente modificada no país, o Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal do Ministério estima em R$ 2,7 bilhões o faturamento com a soja transgênica, sem considerar a agregação de valor ao longo da cadeia de produção da soja. Os dados de produção foram ob-
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Cultivar
tidos pelos técnicos do ministério com base na produtividade da soja convencional e da área plantada com soja geneticamente modificada, declarada em 83.580 termos de compromisso assinados pelos produtores – uma exigência da Lei nº 10.814, de dezembro de 2003. Os dados confirmam que a maior parte dessa produção ficou concentrada nos estados do Rio Grande do Sul (88,1%), Paraná (1,8%), Minas Gerais (1,7%), Goiás (1,4%), Piauí (1,4%) e Santa Catarina (1,4%).
RIO GRANDE DO SUL A área plantada com soja transgênica no Brasil chegou a 2,78 milhões de hectares na safra 2003/2004, o que corresponde a 13,2% da área total plantada com soja no país. O Rio Grande do Sul registrou a maior área cultivada com soja geneticamente modificada, segundo o termo. Foram 2,59 milhões de hectares, ou 93% do total plantado com variedades transgênicas no país. A produção no Estado, distribuída em 400 municípios, ficou concentrada em Tupanciretã, Júlio de Castilhos, Cruz Alta,
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Palmeira das Missões e Jóia. Nos demais estados, a área plantada somou 192,9 mil hectares, ou 7% do total do país. As áreas declaradas nos termos, por Estado, foram: Paraná, com 28,8 mil hectares (1% do total do país); Minas Gerais, com 26,7 mil hectares (0,96%); Santa Catarina, com 26,2 mil hectares (0,94%); Mato Grosso do Sul, com 23,8 mil hectares (0,86%); Goiás, com 21,5 mil hectares (0,77%); Piauí, com 20,8 mil hectares (0,75%); Maranhão, com 15,7 mil hectares (0,57%); Bahia, com 13,2 mil hectares (0,47%); São Paulo, com 9,8 mil hecta res (0,35%); Tocantins, com 5,5 mil hectares (0,2%); Mato Grosso, com 1,7 mil hectares (0,06%). Embora as sementes plantadas na safra 2003/04 não tenham sido vendidas pela Monsanto, a empresa, em declaração oficial, disse que “não tinha conhecimento das informações sobre a colheita. Se isso está realmente acontecendo, a Monsanto acredita que pode ser um reflexo dos benefícios que os agricultores estão encontrando com a C tecnologia”.
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Lançamento
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Defesa extra
olução definitiva para a ferrugem, esta é a principal promessa da Syngenta com o lançamento do Priori Xtra, fungicida sistêmico que será usado em pulverização preventivas para o controle das doenças da parte aérea das culturas da soja e do trigo. O novo produto é do grupo químico das estrubirulinas e dos Triazóis, com concentração de 200g de azoxistrobina e 80g de ciproconazol por litro. De acordo com Sérgio Bueno de Paiva, gerente de desenvolvimento de fungicidas, o produto atua em dois sítios distintos do fungo: o ativo azoxistrobina age na mitocôndria, inibindo o processo de respiração; o ativo ciproconazol atua na inibição da biossíntese do ergosterol. Esta dupla ação em nível bioquímico terá uma ação diferenciada em nível fisiológioco, como é possível observar na figura ao lado. Para o controle das doenças da soja, como ferrugem, crestamento foliar, mancha parda e oídio, a dose indicada é de 300 ml de produto comercial por hectare, com uso de adjuvante específico, recomendado pelo fabricante, a 0,5% do volume da calda de aplicação. Ricardo Balardin, consultor técnico da empresa, afirma que para o controle da Ferrugem Asiática, que no momento é a principal preocupação dos produtores, é recomendada a realização da primeira aplicação de forma preventiva no estádio R 3 (início da formação das vagens); reaplicar em intervalo máximo de 14 dias, caso as condições estejam favoráveis para o desenvolvimento da doença ou reaplicar no estádio R 5.1 (grãos perceptí-
veis ao tato - o equivalente a 10% da granação). Para o controle do crestamento foliar e da mancha parda, é recomendada a aplicação no estádio R 5.1. Para o controle do oídio, aplicar quando o índice de infecção atingir 20%. Deve-se realizar, no máximo, duas aplicações. Na cultura do trigo, a dose recomendada para o controle da mancha-bronzeada-da-folha, ferrugem-da-folha e ferrugem-do-colmo é de 300 ml de produto comercial por hectare, também adicionando adjuvante específico a 0,5% do volume de calda para a aplicação. A recomendação é que a aplicação seja feita de
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forma preventiva ou nos estágios iniciais de infecção das doenças foliares do trigo (até 5% de incidência), observando-se um intervalo de 14 a 21 dias, realizando, no máximo, duas aplicações. Odanil Leite, gerente de marketing para fungicidas da Syngenta, está confiante no novo produto, principalmente para combater a ferrugem asiática. “A atividade sistêmica dos fungicidas Azoxixtrobin e Ciproconazol confere amplo espectro de controle, o mais longo residual da sua categoria, que resulta em sensíveis incrementos nas produtividades de soja e trigo”, garante Odanil.
IMPACTO DAS DOENÇAS
Ilustração mostrando a atuação de azoxistrobina e ciproconazol, ingredientes ativos do Priori Xtra na célula vegetal
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As perdas causadas por doenças na cultura da soja têm evoluído de modo assustador. Só com oídio e doenças de final de ciclo, segundo Balardin, os produtores chegam a perder R$ 1 bilhão por safra. Comparativamente, a ferrugem asiática cresce em proporções ainda maiores, a cada safra. Na safra 2001/02, as perdas remontavam R$ 125 milhões, passando para R$ 733 milhlões na safra 2002/03. Já na safra subsequente este valor pulou para R$ 1,4 bilhão. Por tudo isso, afirma Waldemar Fischer, presidente da Syngenta, a empresa não poderia deixar de se atualizar frente às demandas do mercado. “Priori Xtra representa um avanço tecnológico importante no controle dessa doença, que tem assolado a agricultura brasiC leira e mundial”.
Cultivar
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Defensivos Júlio Roberto Fagliari
Aplicação eficiente Na hora de pulverizar a lavoura é preciso garantir uma perfeita atuação e cobertura com o produto aplicado, neste sentido, o condicionamento da calda de pulverização com produtos de qualidade é fundamental
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m dos grandes obstáculos à alta produtividade de trigo é a ocorrência de elevado número de doenças como manchas foliares, oídio, ferrugens, bruzone, carvão e giberela. As perdas causadas por essas doenças são relativamente elevadas, principalmente em função das perdas que ocorrem durante as pulverizações agrícolas. Trabalhos realizados por Picinini et al. (1995) demostraram em 12 anos de experimentação uma perda média de 44,6%, o equi-
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Cultivar
valente a 1.152 kg (19,2 sacas de 60 kg) de trigo por hectare. O controle químico das doenças do trigo é, na maioria dos casos, a única medida eficiente e economicamente viável de garantir alta produtividade e qualidade de produção. Para o bom desempenho da atividade protetora e curativa das plantas, os fungicidas devem ser convenientemente aplicados para conferir boa deposição, retenção e cobertura do alvo pelas gotas pulverizadas (Matthews, 1992). A ação dos defensivos é, de maneira
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geral, dependente de constituintes da calda de pulverização que não fazem parte do ingrediente ativo, mas que melhoram a sua eficácia. A atividade dos defensivos, de acordo com Harker (1992), é, na maioria dos casos, melhorada por compostos que às vezes não estão contidos no produto formulado. Esses produtos têm sido utilizados com diferentes agroquímicos para melhorar a deposição e o espalhamento da calda, incrementando a absorção de ingredientes ativos (Ruiter et al.,
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1990). Algumas formulações especiais encontradas no mercado, como o Answer Top FB, favorecem a performance (evitam perdas) dos defensivos de maneira diferenciada. Isto é, um único produto apresenta características de tensoativo (diminui a tensão superficial da água), espalhante (diminui o ângulo de contato da gota com a superfície), adesivo (aumenta a aderência do produto depositado), antiespumante (evita a formação de espuma), acidificante (baixa o pH para níveis adequados), quelatizante (seqüestra minerais da água), antievaporante (diminui a volatilidade) e redutor de deriva (evita a micronização das gotas). Além disso, o produto Answer Top FB apresenta ação fitotônica, ou seja, fortalece as estrututras da parede celular das células das plantas, induzindo a uma maior tolerância à entrada de patógenos, proporcionando maior sanidade à cultura. Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de fungicidas aplicados isoladamente e em mistura no tanque com Answer Top FB sobre as doenças do trigo e o impacto sobre a produtividade da cultura.
Quadro 1 - Valores médios de produtividade de trigo nos tratamentos com e sem Answer Top FB, valores de F, coeficientes de variação e DMS obtidos no experimento Tratamentos Propiconazole + Ciproconazole + Answer Top FB Propiconazole + Ciproconazole + Nimbus Tebuconazole + Answer Top FB Tebuconazole Pyraclostrobin + Epoxiconazole + Answer Top FB Pyraclostrobin + Epoxiconazole Testemunha
Doses (g i.a.ha) 75+24+0,025% 75+24+0,50% 150+0,025% 150 100+37,5+0,025% 100+37,5 -
Produtividade (kg.ha) 2568,50 a 2413,30 b 2732,30 a 2538,40 b 2652,30 a 2479,20 b 2125,75 c
Valor de F
C.V.(1) (%)
DMS(2)
11,02 *
9,26
149,25
15,84 *
10,57
187,83
51,88 * -
8,17 -
168,47 -
Médias na mesma coluna, seguidas por letras diferentes dentro da mesma linha, diferem entre si em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. (1)Coeficiente de variação.(2)Diferença mínima significativa. *Significativo em nível de 5%.
MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Unidade de Difusão de Tecnologia da Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar), em Maringá (PR). Foi utilizado o cultivar Coodect 106 semeado em 28/04/03 e colhido em 04/09/03. Os tratamentos e as doses (em g i.a.ha) avaliados foram: Propiconazole + Ciproconazole (75+24) + Nimbus (0,5% v/v), Propiconazole + Ciproconazole (75+24) + Answer Top FB (0,025% v/v), Tebuconazole (150), Tebuconazole (150) + Answer Top FB (0,025% v/v), Pyraclostrobin + Epoxiconazole (100+37,5) e Pyraclostrobin + Epoxiconazole (100+37,5) + Answer Top FB
(0,025% v/v), além da testemunha. Foram feitas duas aplicações de fungicidas, sendo a primeira 48 dias após a emergência (perfilhamento) e a segunda 70 dias após a emergência (espigamento). O equipamento utilizado na aplicação dos tratamentos foi um pulverizador costal de pressão constante, pressurizado a CO2, pressão de 25 lib/pol2, equipado com bicos tipo duplo leque 110-04, proporcionando um volume de calda equivalente a 150 l/ha. No momento da aplicação, o solo apresentava-se com boa umidade, a temperatura era de 22oC, a umidade relativa do ar era 72% e a velocidade do vento de 9 km/h. Foi utilizado o deline-
Dirceu Gassen
amento experimental em blocos ao acaso com três repetições com parcelas de 22,25 m2. Para análise da produtividade colheu-se 2 m2 por parcela quando os grãos apresentavam 12% de umidade (umidade padrão). Os dados foram submetidos à análise de variância e, em caso de significância, aplicou-se o teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Divulgação
Pelos resultados obtidos, apesar de ter sido um ano agrícola com baixa incidência de doenças, a atividade do Propiconazole + Ciproconazole, do Tebuconazole e do Pyraclostrobin + Epoxiconazole foi potencializada pela presença do Answer Top FB na calda de pulverização. A produtividade média da testemunha absoluta foi de 2125,75 kg/ha. Os dados referentes à análise de variância dos tratamentos encontram-se no Quadro 1. As parcelas tratadas com Propiconazole + Ciproconazole (75+24 g i.a/ha) + Nimbus (0,5% v/v) produziram o equivalente a 2413,50 kg/ha, porém, àquelas parcelas que receberam Propiconazole + Ciproconazole (75+24 g i.a/ha) + Answer Top FB (0,025% v/v) produziram 2568,50 kg/ha, ou seja, houve um incremento de 6,48% na produtividade (155 kg ou 2,58 sacas por hectare). A produtividade de trigo com a aplicação de Tebuconazole (150 g i.a/ha) foi de 2538,40 kg/ha. Entretando, a área tratada com Tebuconazole (150 g i.a/ha) + Answer Top FB (0,025% v/v) produziu 2732,30 kg/ha, com um ganho de 7,64%, o que corresponde a 193,9 kg ou 3,23 sacas de trigo a mais por hectare. Com a aplicação de Pyraclostrobin + Epoxiconazole (100+37,5 g i.a/ha) obteve-se uma produtividade de 2479,20 kg/ha, porém o tratamento com Pyraclostrobin + Epoxiconazole (100+37,5 g i.a/ha) + Answer Top FB (0,025% v/v) produziu 2652,30 kg/ha, isto é, 6,98% a mais, o equivalente a 173,4 kg ou 2,88 sacas por hectare.
Defensivos devem conferir boa deposição, retenção e cobertura do alvo, afirma Fagliari
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Quando ocorrem perdas de defensivos por deriva, má homogeneização da calda e qualidade da água usada nas aplicações (pH, impurezas e excesso sais), entre outras, a eficiência do controle fitossanitário é diminuída, assim, a incidência das doenças foliares reduz a capacidade fotossintética das plantas pela formação de lesões e pelo amarelecimento e queda precoce das folhas. A queda prematura das folhas causa o abortamento de flores, compromete a formação e o número de vagens, resultando em grãos com menor peso e tamanho e como conseqüência menor produtividade da cultura. Esse incremento na produtividade do trigo nos tratamentos em que foi utilizado o Answer Top FB deve-se ao fato desse produto potencializar o efeito dos fungicidas por melhorar a deposição, a penetração e o espalhamento da calda, aumentando a absorção de ingredientes ativos, favorecendo o controle mais efetivo das doenças, diminuindo as perdas, além da ação fitotônica do produto aumentar a tolerância das plantas às doenças. A melhor produtividade na área tratada com
A ação fitotônica do produto ajuda a fortalecer as estruturas da parede celular da planta o que reduz a tolerância à patógenos
fungicidas mais Answer Top FB em função do controle efetivo das doenças proporcionou maiores lucros.
CONCLUSÕES Nas condições em que este experimento foi realizado, pôde-se concluir que a utilização de Answer Top FB na calda de pulverização com os fungicidas Propiconazole + Ciproconazole, Tebuconazole e Pyraclostrobin + Epoxiconazole minimizou as perdas durante as aplicações e favoreceu o controle das doenças do trigo, proporcionando um incremento médio na produtividade de 7,03% ou US$ 27,19 por hectare, com relação à área tratada com os fungicidas aplicados isoladaC mente. Júlio Roberto Fagliari e Flávio Jun Shirata, Answer Agrobusiness Ltda Márcio Mendes, Coop. Agroindustrial Cocamar
CUSTOS DE APLICAÇÃO
C
onsiderando-se o câmbio de 30/ 09/03 (colheita) igual a US$ 2,89 e o custo por hectare (US$) de duas aplicações dos produtos Propiconazole + Ciproconazole + Nimbus (43,44), Propiconazole + Ciproconazole + Answer Top FB (45,25), Tebuconazole (53,02), Tebuconazole + Answer Top FB (54,83), Pyraclostrobin + Epoxiconazole (68,52) e Pyraclostrobin + Epoxiconazole + Answer Top FB (70,33), verificamos que com a utilização de Answer Top FB o investimento nos tratamentos é de US$ 1,81 por hectare. Porém, considerando-se o preço da saca (60 kg) de trigo nessa ocasião em US$ 9,39 (US$ 156,51 a tonelada) e observando o incremento na produtividade (Quadro 1) dos tratamentos com Answer Top FB em
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relação aos fungicidas Propiconazole + Ciproconazole + Nimbus, Tebuconazole e Pyraclostrobin + Epoxiconazole aplicados sozinhos, o ganho líquido (US$) por hectare foi de 24,22 (2,58 sacas), 30,32 (3,23 sacas) e 27,04 (2,88 sacas), respectivamente. Assim, observamos que para uma propriedade com 100 hectares de trigo, o acréscimo de investimento na melhoria do tratamento fitossanitário com Answer Top FB representa apenas US$ 181,31 por hectare e um retorno econômico líquido (US$) de 2425,75 (15,5 toneladas), 3034,53 (19,39 toneladas) e 2710,58 (17,32 toneladas) quando esse produto é utilizado juntamente com os fungicidas Propiconazole + Ciproconazole, Tebuconazole e Pyraclostrobin + Epoxiconazole, respectivamente.
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Informe jurídico • Newton Peter • OAB/RS 14.056 • consultas@newtonpeter.com.br
Planejar não é sonegar
O
proprietário de uma empresa atuando pelo regime de lucro presumido criou outras oito que passaram a operar pelo Simples. Lançou todo o ônus na primeira e esperava recolher os lucros nas demais. Naturalmente, a Receita Federal desconsiderou o regime das novas e lançou o tributo, com os acréscimos esperados, sobre as nove.
De outra parte, um próspero empresário, pai de três filhas e sogro de três imprestáveis e incorrigíveis genros, procurou o escritório de advocacia buscando um meio de proteger futuramente os bens das filhas e netos. Com surpresa descobriu que a solução encontrada reduzia consideravelmente seus impostos. Os dois exemplos, aparentemente sem ligação, mostram, no entanto, que o
sonho de todo contribuinte, a redução da carga tributária, não é o pote de ouro no fim do arco-íris, mas está disponível para os que trabalham para encontrá-lo. Se a fúria tributária do Fisco se assanha cada vez mais, ainda há meios legais de enfrentá-la. É ingenuidade supor, como o fez o empresário do primeiro exemplo, que a Receita Federal do Brasil, uma das mais bem estruturadas do mundo, com um quadro de funcionários formado por tributaristas de escol, aceite uma artimanha tão evidente. Algo como travestir um elefante de cavalo. De outra parte, porém, é lícito esperar que o Estado aceite a intenção do contribuinte de aliviar o fardo, até porque a Constituição o prevê. Se há um conflito entre as intenções do Estado de arrecadar mais e do contribuinte pagar menos, deve-se atentar para a existência de uma ética fiscal, que impõe a exigência do interesse público de respeito aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. O fundamento é a conjugação e submissão aos princípios da legalidade, capacidade contributiva, não confisco, liberdade, dignidade humana, igualdade e segurança, tudo com o objetivo de se realizar a justiça fiscal.
Quem paga mais
S
e as empresas se ressentem do peso crescente da carga tributária, é, no entanto, sobre a pessoa física que repousa uma das bases sugadoras do Imposto de Renda. Em 2001, por exemplo, 11,41% do total arrecadado pelo IR veio de fontes pagadoras sobre os rendimentos de trabalhos assalariados, enquanto as pessoas jurídicas representaram apenas 9,01% e o recolhimento na fonte sobre o capital totalizou 8,05%. Pelo exame da lei ordinária comum, constata-se que os princípios constitucionais que devem reger a tributação do IR estão sendo violados. O modelo implantado e a sua forma de cobrança assumem tons cada vez mais confiscatórios. A carga incide com maior força exatamente sobre as pessoas físicas, as mais despreparadas para fazer grandes planejamentos tributários e, portanto, me-
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nos protegidas. Já o surgimento de novas e crescentes formas de elisões, de planejamentos tributários faz com que os mais protegidos sejam exatamente os bem aquinhoados, os proprietários das maiores fortunas, o que descaracteriza um dos objetivos do tributo, o de promover a justiça social. Não é à toa que os jornais saudaram dias atrás a descoberta de cinco mil novos milionários no Brasil. Sonegar é verbo que está saindo de moda, substituído por planejar. Evasão fiscal, a velha e conhecida sonegação, já comporta uma subdivisão válida, a chamada evasão fiscal lícita, ou simplesmente elisão fiscal. Os previdentes estão buscando os meios disponíveis e pagando cada vez menos. Os meios disponíveis são numerosos e os advogados tributaristas se esmeram em contrapor freios à tributação desmedida do Esta-
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do, o que deixa apenas desprotegidos as pessoas físicas assalariadas. Está nos jornais, a toda hora, que este ou aquele apresentador de TV ou astro de novela, ou cantor, pagou enorme quantia por um touro ou uma vaca. Quase todos os grandes nomes da TV são também fazendeiros. Súbito despertar de amor pelos animais ou vantagem fiscal? A segunda hipótese, naturalmente, uma fonte lícita de elidir o pagamento de tributos, desde que montada sobre um eficiente planejamento. A contradição se acentua: o Estado atropela a Constituição e elabora toda a sorte de artifícios para arrecadar, valendo-se de normais flagrantemente ilegais, enquanto o contribuinte se vale dos competentes tributaristas que os levam por caminhos legais para evitar os pagamentos. E a pessoa física paga a conta.
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Agronegócios
Mudanças climáticas Fenômenos climáticos são cada vez mais freqüentes nos mais diferentes continentes, evidenciando a necessidade de mudanças nos hábitos, costumes, trabalho e modo de vida na terra
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em os avós dos nordestinos lembram da última vez em que o sertão virou mar. Morrer afogado no interior do Piauí então, nem pensar. O Centro-Oeste que se caracteriza pela regularidade e previsibilidade climática também foi inundado. O verão no Sul do Brasil foi exageradamente seco, menos na região costeira, para estragar a praia de quem pensou em descansar uns dias. E quem achou que era esperto o suficiente para não sair de São Paulo e ir à praia foi recompensado com inundações diárias, durante 60 dias.
CRIME E CASTIGO Se alguém imagina tratar-se de um castigo divino, destinado a purgar algum pecado coletivo cometido pela maioria dos cidadãos brasileiros, é melhor refletir globalmente e verificar que o pecado deve ser da sociedade planetária. As nevascas no Norte dos EUA seriam devidas, exclusivamente, ao voto pró-Bush nas eleições de 2000? As ondas de frio intenso na Rússia seriam uma punição extemporânea a um país ex-comunista? Que dizer da Europa, assolada por ondas de frio, depois de calor, nevascas e enchentes, além de secas? Mais fácil crer que a fúria divina se deve à retirada dos EUA da discussão do Protocolo de Quioto e da reticência russa em ratificá-lo. Melhor não imputar a uma divindade os erros que são nossos. Assim, consideremos Deus uma externalidade nessa análise e busquemos razões terrenas, pois a Ciência pode explicar adequadamente a seqüência de desastres climáticos que estão assolando o planeta Terra. Para início de reflexão, estima-se que, em 2003, 75.000 pessoas pereceram vítimas de desastres climáticos. Além do número absoluto, o que causa espanto é o aumento de 600% em relação ao ocorrido no ano anterior.
AQUECIMENTO GLOBAL Argumentos de diversos matizes são brandidos para explicar essa seqüência tétrica de catástrofes envolvendo fenômenos climáticos. Uns argumentam tratar-se de
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fenômeno cíclico, que se repete ao longo do tempo, sem que se lhe dê causa imediata. Outros insistem que se trata de mera coincidência de fatalidades. Apenas uma parcela da população compreendeu o alerta dos cientistas, afirmando que a resposta para o enigma está no aquecimento global do planeta. Estamos falando de um consistente aquecimento da superfície terrestre, terra e água, áreas produtivas e desérticas, calotas polares e ilhas tropicais, cidade e campo. Esse aumento de temperatura é motivado pela concentração de gases de efeito estufa (principalmente gás carbônico e gás metano) na atmosfera terrestre. O efeito estufa é um fenômeno natural, destinado a regular a temperatura terrestre. Seu ajuste fino para as condições ótimas de operação foi efetuado ao longo de centenas de milhões de anos de co-evolução de todas as interações entre fatores bióticos e abióticos.
EFEITO ESTUFA Existem diversas atividades humanas que interferem com a concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera e, conseqüentemente, afetam a regulação térmica do planeta. Os gases são derivados de atividades poluentes, das quais a que mais se destaca é a queima de combustíveis fósseis, o que mobiliza os estoques de carbono e nitrogênio que a natureza estocou há milhões de anos no subsolo. Nos últimos 150 anos, a concentração de CO2 na atmosfera aumentou em 33% (280 para 370 ppm). Um dos primeiros estudos que me demonstrou à sobejo o impacto de pequenas elevações de temperatura sobre a vida no planeta foi apresentado durante o XXI Congresso Internacional de Entomologia, realizado em Foz do Iguaçu. Na oportunidade, havia solicitado a um eminente cientista que proferisse uma conferência, abordando o efeito do aquecimento global sobre a relação entre insetos e plantas. Foi-nos apresentado um complexo modelo matemático, relacionando a biologia do inseto (dependente do clima), os danos ocasionados aos cultivos e os custos de controle. Foi espan-
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toso verificar como apenas 1º C de elevação de temperatura média podia triplicar os custos de controle de pragas de ciclo biológico curto e rápido desenvolvimento, como ácaros e pulgões. Mesmo insetos com ciclo médio de desenvolvimento de 30 dias (período entre a eclosão do ovo e a realização de uma postura por uma fêmea adulta), com pequenas alterações de temperatura, apresentavam uma geração a mais no campo, ocasionando tanto aumento dos danos da praga como incremento nos custos de seu controle.
CONSEQÜÊNCIAS Todos sabemos que grande parte dos animais que habitavam a terra foram extintos com o advento da era do gelo, sendo o mamute o exemplo típico. O que poucos percebem é que, durante a Idade do Gelo, a temperatura média da terra era 5º C menor que a atual. Apenas 5º C! Vejamos alguns efeitos do aquecimento global, previstos pelos cientistas: a) o aquecimento global torna o clima mais instável, as secas mais prolongadas, desloca as chuvas de seus locais habituais, provoca tempestades, tufões e furacões mais freqüentes e intensos; b) ao longo do século passado, o nível dos oceanos aumentou 3mm ao ano. As previsões para o presente século são de que possa crescer mais de 10mm ao ano. Mantido o fenômeno, ao final do século, centenas de cidades litorâneas terão submergido no mar; c) além dos danos às culturas e criações, existem insetos que são vetores de doenças, como é o caso dos mosquitos. O aumento de sua população significará epidemias mais amplas e mais intensas de dengue, malária e assemelhadas; d) uma das belezas naturais da Austrália é a sua barreira de corais, com extensão superior a 1.000km. Devido ao aquecimento da atmosfera, os cientistas prevêem que, em 50 anos, 95% da barreira serão destruídos. A certeza dos cientistas foi reforçada em 1988, quando houve um aumento de 1º C na temperatura da água
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do mar, estimando-se que 16% dos corais oceânicos tenham sucumbido devido a essa pequena variação; e) a população de pingüins tem decrescido consistentemente, devido ao derretimento de geleiras polares; f) as secas que ocorrem nas regiões tropicais, historicamente úmidas, têm ocasionado o desaparecimento de diversas espécies, como é o caso comprovado dos sapos; g) o krill, um crustáceo fundamental da base da cadeia alimentar marinha, teve sua população reduzida em 10%, nas últimas duas décadas; h) regiões férteis poderão transmutarse em inóspitas, por alteração radical do regime de chuvas.
IMPACTOS Os impactos na vida sobre a terra poderão ser enormes. À primeira vista, alguns até parecerão benéficos, se examinados no microcosmo. Por exemplo, algumas regiões da Sibéria poderiam tornar-se agricultáveis. Outras regiões próximas aos círcu-
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los polares também poderiam tornar-se aptas ao plantio. Entretanto, regiões nobres para a agricultura poderão ser devastadas por instabilidades climáticas, que aumentariam muito o risco dos produtores agrícolas, forçando-os a abandonar a atividade. Veranicos mais freqüentes – ou mesmo secas intermináveis, sobrepondo-se à toda a janela de cultivo – poderão inviabilizar enormes áreas agricultáveis. Outras regiões, situadas em várzeas, serão inundadas e transformadas em pântanos ou lagos rasos. Culturas que dependem fortemente do clima - não apenas para obter produção mas, também, para atender a requisitos de qualidade - serão as mais atingidas. Entre elas estão, principalmente, flores, frutas e hortaliças, justamente as culturas de maior valor intrínseco e de maior potencial de rentabilidade para o produtor.
SUSTENTABILIDADE, A SOLUÇÃO O mais importante é a humanidade parar de buscar explicações esotéricas
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para o fenômeno que abala o clima planetário e concentrar-se na hipótese mais provável – justamente a mais pessimista e de maiores impactos. Ou seja, será necessário mudar, radicalmente, hábitos, usos e costumes, para reduzir o impacto das atividades humanas sobre o clima. Desenvolvimento sustentado é a chave para a mitigar os impactos sobre o clima. Consciência da necessidade de reparar os erros passados é fundamental para retroverter o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, o que significa não apenas a aprovação e implementação do Protocolo de Quioto, como ir muito além das medidas pouco ambiciosas por ele propostas. A outra alternativa é legarmos aos nossos filhos uma perspectiva de baixa qualidade de vida, falta de alimentos, desemprego, desastres naturais e de economia C global combalida. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
brandalizze@uol.com.br
FAO projeta aperto no quadro mundial que favorece o Brasil O Brasil deverá ser beneficiado pelo quadro mundial dos grãos que, segundo o último relatório da FAO de junho, aponta para uma safra menor que a demanda, e assim, segue mantendo consumo dos estoques que permanece em queda livre. Isso nos beneficiará, porque o Brasil é um dos poucos países do mundo que vem mostrando crescimento da produção de alimentos acima do que está sendo consumido. Os países asiáticos são os principais consumidores que estarão tendo safra menor que a demanda, e assim, devendo aumentar as necessidades de importações e também reduzindo os estoques internos. O quadro atual dos grãos, apontados pela FAO, mostrou indicativos de produção de 1956 milhões de t, contra uma expectativa de consumo de 1988 milhões. Assim, novamente com demanda superando a produção em 32 milhões de t, que seguirá mostrando queda nos estoques finais para 362,7 milhões de t, contra quase 400 milhões de t dos estoques do ano passado e mais de 500 milhões de três anos atrás. Isto sinaliza um quadro favorável para o Brasil, porque estamos crescendo nas exportações. O mesmo relatório da FAO aponta que o país que mais necessitará de produto será a China, que está com falta de trigo, milho, soja e outros, ou seja, estará necessitando de praticamente tudo. Há indicativos, que até mesmo feijão, que era exportado até o ano passado, poderá estar escasso naquele país. O mundo está se abrindo para nossos produtos e mesmo com pequeno entrevero, visto em junho com a soja brasileira na China, o quadro está à nossa disposição. Temos que aproveitar, porque temos muitos produtos excedentes e não somente a soja. Está na hora de colocarmos o arroz no mercado mundial e dar continuidade às vendas de milho e trigo, além do algodão, café, laranja e fumo, que somos tradicionais.
MILHO Safrinha afetada pelas geadas O mercado do milho esteve andando em ritmo lento em junho, teve queda nos primeiros dias do mês, depois, estabilidade e pressão positiva pelos vendedores, que se apegaram às geadas que atingiram as lavouras do Oeste e Sudoeste do Paraná. Houve perdas, e assim, a safra local tenderá a ser menor que as estimativas, que anteriormente estavam apontadas em 4,5 milhões de t, e agora, estão em 3,5 milhões e, desta forma, comprometendo o número final brasileiro, que tende a ficar mais apertado que as expectativas. Como tivemos bom ritmo nas exportações nestes primeiros meses do ano, teremos pressão de alta nos indicativos no segundo semestre e o milho terá ganhos, favorecendo os produtores que tiverem o cereal para negociar entre agosto em diante. Agora em julho estaremos em cima da colheita das lavouras da safrinha do Centro-Oeste, Sudeste e Paraná, abastecendo boa parte dos consumidores diretamente via balcão.
SOJA China coloca uma pedra no nosso sapato Os Chineses conseguiram tumultuar o mercado da soja neste ano, que vinha em bom ritmo favorecendo todos os produtores e dando boa rentabilidade. Apegados a motivos quaisquer, barraram a entrada de vários navios brasileiros em seus portos e, com isso, derrubaram as cotações internacionais que no primeiro momento recuou cerca de R$ 10,00 por saca no Brasil, derrubando forte também em Chicago, que andava ao redor dos US$ 10,50 por bushel, e veio abaixo dos US$ 9,00 em junho. O mercado brasileiro começou junho fortemente pressionado para baixo, mas com notícias que a demanda mundial da proteína da soja, ou do farelo terá um crescimento de 6% neste novo ano. A China aumentará o consumo em 8%, fazendo com que as indicações buscassem uma estabilidade e até uma recuperação parcial, mas ainda ficando distantes dos bons momentos de março, abril e começo de maio. Os negócios com a soja, livre em junho, foram pequenos e grande parte dos exportadores estiveram lentos nos portos, com poucos negócios efetivados. Estamos numa fase momentânea, que mais cedo ou mais tarde será normalizada, porque os chineses não têm como ficar sem comprar, e assim, quando voltarem o quadro me-
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lhorará novamente. Talvez não tenhamos os indicativos ótimos conseguidos anteriormente, mas certamente a soja continuará sendo um grande negócio para os produtores brasileiros.
FEIJÃO Pouco produto em oferta Neste mês de julho, o mercado do feijão estará restrito a poucos vendedores, porque não teremos colheita significativa, indicativos de que o volume de produto novo, neste mês, não supere a marca das 5 mil t. Lembrando que o consumo mensal do Brasil é de 250 mil t, e mesmo em tempos de baixa demanda, deveremos estar consumindo pelo menos 200 mil t, ou seja, de produto velho e chuvado e desta forma, o quadro de mercado e as cotações que estavam entre R$ 70,00 e R$ 80,00 em junho estará nas mãos dos produtores, que poderão fazer os indicativos ir aos R$ 100,00 com facilidade e por que não pensar em alguma coisa acima destes valores. O produto novo do Nordeste só começa chegar no final de agosto e assim, julho estará nas mãos de poucos produtores de feijão irrigado do Brasil Central, porque algumas lavouras que existiam em junho no Nor-
te do Paraná e Sul de São Paulo foram afetadas pelas geadas.
ARROZ Safra grande e pouca pressão de compra O mercado teve um junho fraco com pouca pressão dos compradores e queda nos indicativos e como a demanda brasileira tem ficado abaixo das expectativas, devido à queda dos preços do casca, não tem chegado às mãos dos consumidores. Desta forma, acaba trazendo novos reflexos baixistas aos produtores que deixaram de negociar nos R$ 35,00 na colheita que agora em junho estavam com dificuldade para conseguir fechar nos R$ 30,00. O grande gargalo continua sendo o varejo, que teve queda nos preços no fardo, e aproveitou para esticar as margens, que antes giraram dos 10 aos 15%. Agora chegam a superar os 35% de margem bruta e, assim, como os consumidores estão com o poder aquisitivo limitado, ficam sem espaço para crescer o volume consumido. Uma alternativa que o setor tem que levar em consideração para o segundo semestre é a exportação de parte da safra para enxugar a oferta, e assim, segurar os indicativos em patamares melhores.
CURTAS E BOAS CHINA - mostrou problemas climáticos na safra do milho, onde aponta que a produção não passará das 115 milhões de t. O consumo previsto é de 131,6 milhões de t e, assim, derrubara os estoques das 44,3 para as 23,9 milhões de t, continuando em queda livre porque já teve 84,8 milhões de t de estoques do cereal em 2000. FEIJÃO - neste mês de julho entra no mercado a safra de Argentina de feijão, com expectativas de vermos uma produção de 130 mil t, muito abaixo das 215 mil t colhidas no ano passado. Haverá pouco produto para vender no mercado brasileiro e, assim, poderemos ter um fôlego nos indicativos do preto nacional. EUA - neste mês de julho, deveremos estar de olho na safra e no clima sobre as lavouras americanas, porque as plantações estarão em cima dos momentos mais críticos frente à definição de produção. Com a maior parte das áreas em fase de floração e frutificação e, assim, bastante sensíveis a perdas, se houver irregularidades climáticas. Tem muita gente torcendo para que o quadro dos anos anteriores se repita. TRIGO - os novos números da safra mundial para 2004/05 estão apontando crescimento da safra que está apontada para as 595 milhões de t, contra menos de 560 do ano passado e, assim, recuperando o quadro. Mesmo assim, ficará abaixo do consumo que está apontado para casa das 610 milhões de t e os estoques mantendo queda livre, com indicativos de vir abaixo das 130 milhões de t. Lembramos que já tivemos mais de 200 milhões de t, em estoque há quatro anos. Mesmo assim, as cotações do cereal seguem acima das médias históricas. Os indicativos praticados aos produtores brasileiros saltaram dos R$ 400 em abril para os R$ 550/600 por tonelada em junho. Dando boa rentabilidade ao setor.
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