Cultivar 66

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Cultivar Grandes Culturas • Ano V • Nº 66 • Outubro 2004 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

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Foto Capa / Flavio Gassen

Resistente ao bicudo Cultivar de algodão que produz toxina contra o bicudo pode estar disponível para a safra 2005/06

18 Mancha-anular no café O ácaro da mancha-anular é responsável pelo aumento de compostos fenólicos totais, que depreciam o produto final

Nossos cadernos

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Fotos de Capa

Pragas da soja RR

John Deere

Por falta de vegetação nativa e inimigos naturais, o índice de insetos pragas é maior em lavouras de soja transgênica

Charles Echer

38 Cerco ao arroz Nova espécie de fungo da mancha parda, encontrada no Brasil, promete trabalho aos pesquisadores

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Sete de Setembro, 160 Pelotas – RS 96015 – 300 • GERAL

Direção 3028.4013 • REDAÇÃO: Newton Peter Schubert 3028.4002 K. Peter / 3028.4003 • MARKETING:

Índice

REDAÇÃO • Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Revisão

Lise Rocha Marques

Diretas

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www.cultivar.inf.br 3028.4001 cultivar@cultivar.inf.br

Cultivar com resistência ao bicudo

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Adubação antecipada ao algodão

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Números atrasados: R$ 15,00

XX Congresso Brasileiro de Entomologia

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COMERCIAL

Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

Ácaro da mancha anular em café

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Pedro Batistin

3028.4004 / 3028.4005 • FAX:

Nossos Telefones: (53) • Atendimento ao Assinante: 3028.4013 • Assinaturas: 3028.4010 / 3028.4011 • Geral 3028.4013 • Redação: 3028.4002 / 3028.4015 • Marketing: 3028.4004 / 3028.4005 • Fax: 3028.4001

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

XXV Congresso Brasileiro de Milho e Sorgo 21 Molécula Mesotrine

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Bioinseticida contra lagarta

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Fungicidas contra ferrugem

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Manejo de insetos em lavouras de soja RR 28 Programa Syntinela

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Novo fungo da mancha marron em arroz

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Coluna Aenda

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Informe jurídico

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Agronegócios

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Projeções econômicas - Global Invest

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Mercado agrícola

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Palavra do produtor

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• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Sedeli Feijó Luana Quadros

CIRCULAÇÃO • Gerente

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


diretas Syngenta Durante o Congresso de Entomologia, equipe da Syngenta enfatizou o Engeo, inseticida de contato, ingestão e sistêmico dos grupos nicotinoides (Tiametoxam) e ester-piretróide (Cipermetrina), indicados para o controle do percevejo na soja e no milho.

Lançamento Sobras & Lucro é o título da publicação que acaba de ser lançada pelo entomologista Milton de Sousa Guerra, com o objetivo de evitar desperdícios e tornar mais rentável a propriedde rural. Aproveitamento de restos de frutas, Milton Guerra hortaliças, leite e subprodutos em receitas de doces, compotas, xaropes, vinhos, licores e balas são algumas das abordagens da obra de 136 páginas, divididas em 11 capítulos. O livro pode ser adquirido através do correio eletrônico cultivar@ cultivar.inf.br, ao preço de R$ 20,00 mais frete.

Bons negócios No primeiro semestre de 2004, a Divisão de Produtos para Agricultura da BASF alcançou vendas de • 2,054 bilhões, aumento de nove por cento em relação ao mesmo período de 2003. O presidente mundial da divisão de produtos para agricultura, Hans W. Reiners acredita que em 2005/06 sejam alcançados 25% de retorno do EBITDA com a concentração no crescimento lucrativo por meio de inovação, gerenciamento rigoroso de custos e maior otimização do patrimônio.

Evento De 09 a 11 de novembro acontece, no auditório da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis (SC), a V Reunião Sul-brasileira de Ciência do Solo, organizada pelo núcleo regional Sul da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. “A ciência do solo e o desafio do desenvolvimento sistêmico”, é o tema do evento.

Panamericano Além da confirmação de sediar o Congresso Mundial de Sementes de 2007, o Brasil também irá abrigar o 20º Congresso Panamericano de Sementes de 2006. O evento terá como sede Salvador (BA). A decisão foi anunciada durante o 19º Congresso em Assunção (Paraguai).

Simpósio irrigação Nos dias 11 e 12 de novembro será realizado o Simpósio de Irrigação – Uso Racional da Água. Os dois dias de evento acontecem das 8h às 18h no Anfiteatro do Departamento de Engenharia – Esalq/ USP, em Piracicaba (SP). Mais informações pelo telefone (19) 34294217, ramal 264.

Gerência de marketing O argentino Gustavo Alejandro Portis, engenheiro agrônômo formado pela Facultad de Ciencias Agrárias - U.N. Rosário, na Argentina, assumiu a gerência de marketing Brasil da divisão de produtos para agricultura da BASF, depois de atuar como representante de vendas em diferentes regiões agrícolas da Gustavo Alejandro Portis Argentina. David Tassára, que antes ocupava a gerência, assumiu novas responsabilidades em nível regional na função de gerente de marketing agro Cone Sul da BASF.

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Volta às raízes Atuando no Grupo FMC desde 1993, o brasileiro Gilberto Antoniazzi volta ao Brasil para assumir o cargo de diretor financeiro da FMC Agricultural Products. Antoniazzi estava na Bélgica e chega para ocupar o lugar do americano Daniel Rosenbaum, que regressou para os Gilberto Antoniazzi Estados Unidos.

Pragas Lançado o guia ilustrado “Pragas e Insetos Benéficos do Milho e Sorgo”, de autoria de Alexandre de S. Pinto, José R. P. Parra e Heraldo N. de Oliveira. A obra, voltada para pesquisadores, técnicos, produtores e estudantes, possui cerca de 250 ilustrações das diferentes pragas, assim como, danos e inimigos naturais. Ao preço de R$ 40,00 o livro pode ser adquirido na livraria Livroceres (www.livroceres.com.br) ou com os autores pelo fone: (19) 3432-6766.

III Goiásfibra A terceira edição do seminário sobre algodão no Centro-Oeste está marcada para os dias 21 e 22 de outubro deste ano. Acontece no Centro de Convenções de Goiânia (GO). Pesquisa, comercialização e exportação, além do Encontro Nacional para o Controle do Bicudo, serão os principais temas a serem discutidos. Mais informações pelo fone: (64) 6411885 ou no site www.fundacaogo.com.br/goiasfibra.

Chefia O agrônomo Gabriel Bartholo é o novo Chefe-geral da Embrapa Café. Doutor em genética e melhoramento pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Bartholo assume ainda a coordenação do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento Gabriel Bartholo do Café.

Agrobusiness A IFS Industrial & Financial Systems fechou parceria com a Âncora Consultores para reforçar sua atuação no setor de agrobusiness. Especializada no setor sucroalcooleiro a IFS anuncia sua política de novas parcerias para integrar o IFS Applications em tecnologias de informação para o campo. “A Âncora, que tem larga Herton Götz experiência em usinas e possui sistemas especializados para a área agrícola, é a nossa nova parceira”, explica Herton Götz, diretor de desenvolvimento de negócios da IFS do Brasil.

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David Velasquez

Inseticidas

Concurso

David Velasquez é o novo gerente de produtos na linha de inseticidas da Bayer. Ele, que é do Paraguai, já trabalhava na linha de frente da Bayer naquele país.

A Assocafé (Associação dos Produtores de Café da Bahia) está recebendo incrições para a terceira edição do concurso de qualidade do café. O período de entrega das amostras, juntamente com a ficha de inscrição para a seleção dos semifinalistas, será de 01 a 22 de outubro de 2004 e deverão ser enviados a UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Núcleo de Apoio à Cafeicultura. Mais informações pelo fone (77) 424 -8639 ou email: nacafe@uesb.br.

Novo cargo Fábio Andrade Silva assumiu recentemente o cargo de representante de pesquisa em entomologia da Dupont no Brasil, no lugar de Paula Marçon, que está Fábio Silva assumindo o mesmo cargo na Dupont dos Estados Unidos. Fábio atuou nos últimos tempos como representante de pesquisa e desenvolvimento.

Bayer Não faltou entusiasmo no estande da Bayer Cropscience no Congresso de Entomologia. A equipe da linha de inseticidas da empresa apresentou os produtos e tirou as dúvidas dos participantes do evento.

Gilson Oliveira

A divisão de fungicidas da Bayer foi reestruturada recentemente. Gilson Oliveira, que era gerente de produtos na linha de inseticidas, assumiu o cargo de gerente produto fungicida.

A Cargill, inaugurou recentemente a nova fábrica de processamento de soja, instalada em Rio Verde (GO). Atuando no Brasil desde 1965, com cerca de 6.500 funcionário, esta é a sexta fábrica que a empresa instala no país.

Da China para o Brasil

Dow Agrosciences A Dow marcou presença com grande equipe no Congresso de Entomologia em Gramado (RS). Com enfoque nos inseticidas, a equipe tirou dúvidas e apresentou os produtos para os participantes do evento.

Milênia Donizeti Fornarolli e Tarciso Mauro Bonachela, gerente de marketing HF e vendas industriais, representaram a Milênia no Congresso de Entomologia. Eles estão otimistas com as perspectivas da empresa para a safra 2004/05 e com as novidades para o próximo Donizeti e Tarciso ano.

Correção Por engano, publicamos na edição 65 no texto “Soja – indicações para safra 2004/05”, o gráfico referente a severidade da ferrugem após o controle de uma única aplicação em R2/R3, quando na verdade seria o gráfico referente a duas aplicações R2 e R5.1, conforme mencionado no texto. Os dois gráficos foram apresentados na reunião de pesquisa de soja, confira a matéria na página 26.

Biocontrole

A Rigran firmou acordo para representar com exclusividade no Brasil a empresa chinesa Leili Agrochemistry, produtora de algas marinhas, aminoácidos, ácidos húmicos e derivados para nutrição de grãos, hortaliças, e frutíferas, entre outras culturas. O diretor da Rigran, Nelson Azambuja, diz que esses produtos têm elevado potencial, falta apenas a aprovação de legislação regulamentadora. “Esta nova legislação virá com atraso de séculos em relação a centenas de paíNelson Azambuja Judy Song e Lucy Li ses”, enfatiza.

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Altair Bizzi, Fábio Andrade Silva, Marco Lima e Nilton Picinato coordenaram os trabalhos da Dupont no Congresso de Entomologia, onde a empresa destacou o Indoxacarb, inseticida para as culturas de milho, algodão, tomate, batata, repolho, pepino e melão.

Fórum De 28 a 30 de outubro, acontece o I Forum Mato-grossense da Cultura do Algodoeiro sob o tema: a pesquisa no contexto da agricultura tropical. O evento acontece no auditório da Famev na Universidade Federeal de Mato Grosso. Mais informações com Maria Cristina pelo fone (65) 615 8618.

Inauguração Fungicidas

Dupont

O estande da Biocontrole no Congresso de Entomologia foi, sem dúvida um dos mais disputados. As armadilhas de feromônios, e a linha completa da empresa estavam à disposição do público. Ari Gitz, Mário Menezes e Alessandra Valente coordenaram o trabalho da equipe durante todo o evento.

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Cultivar

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Algodão Divulgação

Resistente ao bicudo A mais danosa das pragas da cultura do algodoeiro pode estar com seus dias contados. O desenvolvimento da variedade que possui a proteína tóxica contra o bicudo que deve ser concluido entre 2005/06

O

agronegócio brasileiro tem apresentado um dos melhores desempenhos nos últimos anos, percebido por vários setores da economia nacional e internacional. Passado definitivamente o período em que a cultu-

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Cultivar

ra sofreu um largo período de estagnação, na década de 80, o cenário nacional demonstra que a cotonicultura ressurge como um das mais promissoras no agronegócio na economia nacional. A atual visão empresarial dos agricultores também tem co-

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laborado com esses avanços. O investimento financeiro no setor agrícola tem sido elevado, sobretudo com maquinarias e defensivos químicos. O cultivo do algodão no Brasil, considerado “Ouro branco” nas décadas de 40 a 70, tomou impulso após a crise do café, tornando-se um dos principais produtos agrícolas já na década de 30. O recorde de produção, contudo, foi alcançado na safra de 84/85, quando o volume de plumas chegou a quase 1 milhão de toneladas. Desta safra em diante, o agronegócio do algodão passou a atravessar sérios problemas de mercado, em especial quanto ao preço da fibra. Aliado a esse impasse, houve o surgimento do bicudo (Anthonomus grandis), em 1983, o qual, já nas duas safras seguintes estava definitivamente disseminado nas principais áreas produtoras de algodão no Brasil. Esses dois fatores, combinados, contribuíram significativamente para a quebra da cotonicultura brasileira de modo que, na safra 96/97, a produção de plumas foi uma das mais baixas registradas na história, 285.000t. Com a queda na produção e o aumento da demanda interna, o volume de importação se elevou rapidamente, tornando o Brasil um dos três mais significativos importadores de fibra do mundo. A situação nacional do algodão começou a reverter no final da década de 90, quando o pólo de produção foi transferido da região Sudeste para a Centro Oeste, mais especificamente nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás e com o arrojado programa de desenvolvimento adotado pelo oeste da Bahia. O alto investimento em pesquisa, liderado pela Embrapa, o elevado grau de tecnificação da lavoura e a utilização massiva de insumos químicos, que elevaram o patamar de produtividade de 1.800 kg.ha -1 para 3.250 kg.ha -1, contribuíram, significativamente, para a retomada da cultura em nível nacional. Com isso, a produção nacional de fibras se tem restabelecido nos últimos anos. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, a estimativa de produção para 2004 é de 1,25 milhão de toneladas de pluma, numa área superior a 1 milhão de hectares.

CULTIVARES MELHORADAS MOLECULARMENTE Várias instituições de ensino e pesquisa, em todo o mundo, têm devotado esforços na descoberta de novas proteínas inseticidas e dos respectivos genes, para o controle de pragas, especialmente lepidópteros e coleópteros. Com os resultados que

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Fotos Roseane Cavalcante dos Santos

CUSTOS

A

se dispõem no momento, este ramo da biotecnologia agrícola se mostra um dos mais promissores. O impacto socioeconômico dessa tecnologia nos países que já dispõem destes produtos, tem sido enorme em virtude da redução drástica no uso de inseticidas químicos, diminuindo o custo de produção agrícola e a degradação do meio ambiente. Um exemplo são as cultivares de algodão Bt, que contêm uma proteína oriunda do Bacillus thuringiensis, conferindo-lhes resistência a alguns lepidópteros. A adoção do algodão Bt pelos agricultores do México e EUA, contribuiu para redução de quase 50% nas aplicações de inseticidas; na Argentina registra-se uma redução no uso desse tipo de insumo em torno de 65%, enquanto na África do Sul o uso do algodão Bt possibilitou, em média, um aumento de produção na ordem de 21,5%. Além destes países, outros que têm adotado a tecnologia Bt são: China, Índia, Austrália, Indonésia e Colômbia. Em 2003, plantou-se uma área de 34 milhões de hectares de algodão em todo mundo. Com algodão geneticamente modificado, foram plantados 7.2 milhões de hectares, dos quais 34% com algodão Bt, 33% com algodão tolerante a herbicidas e 33% com algodão transgênico, que expressa essas duas características simultaneamente. Só a China aumentou a área com algodão Bt, em 33%, com uma área atual de

Utilização da biotecnologia agrícola demonstra drástica redução no uso de inseticidas, diminuindo custos de produção

2.8 milhões de hectares. Isto equivale a 58% da área total de algodão cultivada neste país. A Índia aumentou a área com algodão Bt em 100%, tendo atualmente cerca de 100.000 hectares. (http:// www.agbios.com/docroot/articles). O Brasil ainda não cultiva o algodão melhorado molecularmente e todas as cultivares de algodão plantadas no País são originárias do melhoramento convencional. Contudo, as pesquisas na área de engenharia genética para desenvolvimento de

pesar do Brasil ter recuperado o patamar produtivo de fibras de algodão, a competitividade do algodão brasileiro em relação ao mercado internacional, precisa ser melhorada e um dos meios de se conseguir isto é minimizando o custo de produção. Atualmente, para se cultivar 1ha de algodão gastase, em média, US$ 1.000,00, sendo que cerca de 40% desse total são gastos com defensivos agrícolas. O cultivo do algodão é um dos que mais utiliza agrotóxicos; segundo especialistas, só com inseticidas são gastos, anualmente, cerca de US$ 645 milhões. algodão modificado estão em andamento e são conduzidas pelas Embrapa Recursos Genético e Biotecnologia - Cenargen (Brasília, DF) e Embrapa Algodão (Campina Grande, PB). O Cenargen já detém a seqüência completa de um gene que codifica para uma proteína Bt, o qual será inserido em plantas de algodão para obtenção da primeira cultivar nacional com resistência natural a lepidópteros, adquirida via


Fotos Roseane Cavalcante dos Santos

molecular. Neste mesmo segmento, a Embrapa Algodão, em parceria com o Cenargen, conseguiu isolar parcialmente um gene que codifica para uma proteína tóxica contra coleópteros, mas especificamente o bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis), a mais danosa praga da cultura. A idéia deste estudo surgiu a partir do conhecimento de trabalhos conduzidos por japoneses e norte-americanos, entre as décadas de 80 e 90, sobre a toxicidade de uma

RESULTADOS

A

realização desta pesquisa será de grande impacto agrícola para a lavoura algodoeira. Hoje, passados 20 anos de esforços intensivos na pesquisa desde que o bicudo do algodoeiro se estabeleceu no Brasil, nenhuma cultivar foi gerada, nem em outra instituição internacional, que apresente resistência natural a este inseto. As características morfológicas das plantas de algodão que conferem tolerância ao inseto (bráctea frego, folha okra e plantas de coloração vermelha) foram amplamente utilizadas em programas de melhoramento nas instituições nacionais de pesquisa, mas nenhuma resistência efetiva foi comprovada em condições de campo. A perspectiva de controle biológico, altamente eficiente para outras ordens de insetos, a exemplo da Lepidóptera, não demonstrou efetividade para o bicudo, que se protege dentro das estruturas reprodutivas da planta do algodão.

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Cultivar

Proteína tóxica: retardamento no crescimento e morte das larvas do bicudo

proteína, chamada colesterol oxidase sobre o bicudo do algodoeiro e posteriormente, seu isolamento para posterior introdução em plantas de algodão. A equipe de pesquisadores da Embrapa repetiu os estudos de toxicidade utilizando populações nativas de bicudo, obtidas em campo e verificaram retardo de crescimento e morte nas larvas quando submetidas a várias concentrações da proteína, sendo a DL50 situada em torno de 50 mg/ml (Figura 1). Observaram ainda, redução na eclosão e na postura das fêmeas e isso contribui para reduzir a densidade populacional do inseto que se torna extremamente alta no final de cada ciclo de cultivo. Um resultado relevante deste estudo foi a descoberta de que a proteína pode causar danos ao inseto, desde seu desenvolvimento embrionário e isto abre uma perspectiva preventiva de controle antes que a larva se estabeleça e inicie os danos na produção devido à abscisão dos frutos. A partir desses achados, iniciou-se os trabalhos de isolamento do gen para posterior transformação das plantas de algodão. A Embrapa já detém 50% desta seqüência e planeja completá-la no final de 2004. As técnicas de transformação já são bem estabelecidas pela equipe que prevê a obtenção das primeiras plantas transformadas, em condições controladas, entre 2005 e 2006. A partir daí, uma série de testes agronômicos serão necessários, e os relacionados com os de biosegurança, antes que a nova cultivar seja disponibiliza-

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da aos agricultores. Estima-se que esse período demande uns cinco anos.

BENEFÍCIO DAS CULTIVARES MELHORADAS Até cerca de 20 anos atrás, o intercâmbio genético entre plantas era limitado às trocas de genes dentro e entre espécies correlacionadas. Com o advento da engenharia genética e das técnicas de cultura de tecidos e regeneração de plantas, expandiu-se o leque de possibilidades para o melhoramento genético vegetal, devido à perspectiva de isolamento, introdução e

Roseane: “Pesquisadores brasileiros são capazes de gerar produtos tão competitivos quanto os disponíveis pelas multinacionais”

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Cultivar

posterior expressão de genes exógenos nas espécies vegetais. A tecnologia das cultivares obtidas via engenharia genética é hoje uma realidade e aparece como mais uma opção para o crescimento da agricultura nacional. Acredita -se que, no Brasil, a adoção desta tecnologia abrirá, em breve, um espaço promissor para a sustentabilidade da agricultura extensiva e familiar. Os pesquisadores brasileiros já possuem know how suficiente para gerar produtos tão competiti-

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vos e saudáveis quanto os atuais disponíveis pelas empresas multinacionais, livrando o País de royalties, geralmente exigidos para uso da nova tecnologia. No aspecto da biodiversidade, esta tecnologia veio para minimizar dois grandes problemas verificados atualmente nas práticas culturais, que são a) a redução no uso de agrotóxicos, levando a uma agricultura mais sustentável e à preservação do meio ambiente e b) ao estreitamento da base genética das grandes culturas e, em conseqüência, a inevitável erosão gênica em razão das práticas necessárias nos processos de seleção. Isto é importante porque, com a cultura do algodão (G. hirsutum L.), temse constatado a redução da base genética nas cultivares comerciais devido à intensa

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Larvas dos bicudo no interior do capulho, prejuízo certo

pressão de seleção a que as linhagens são submetidas para fixação de caracteres nos programas de melhoramento. Cabe ressaltar que as cultivares de algodão obtidas através do melhoramento molecular, não diferem no aspecto agronômico das atuais cultivares obtidas através do melhoramento tradicional. O diferencial é que elas têm uma defesa adquirida para resistir ao ataque de insetos, mantendo assim, sua produtividade com um C custo de produção mais baixo. Roseane Cavalcanti dos Santos, Embrapa Algodão

Cultivar

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Algodão

Adubação antecipada

A possibilidade de implantar um programa de adubação em culturas antecessoras que incrementem a produtividade e maximizem a utilização de fertilizantes está se destacando no sistema de plantio direto de algodão Alberto C. de Campos Bernardi

O

sistema convencional de preparo do solo, com o uso de arados, grades e subsoladores, é um dos responsáveis pela pulverização excessiva da camada arável, encrostamento superficial e formação de camadas compactadas, levando à perda da capacidade produtiva pela erosão do solo, redução da matéria orgânica e da atividade biológica. Por isso, o sistema plantio direto tem se destacado como sendo uma alternativa viável e susten-

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Cultivar

tável, por permitir que se obtenha a produção agrícola com um mínimo risco de erosão. Inicialmente, a decisão dos agricultores pela adoção do SPD (Sistema de Plantio Direto) foi principalmente como uma medida conservacionista e preventiva para o controle da erosão. Posteriormente, verificou-se a melhoria do solo pelo aumento do conteúdo de matéria orgânica e da atividade biológica, a diminuição do número de operações agrí-

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colas e da exigência de potência em máquinas, além da possibilidade de flexibilização do cronograma do plantio. Atualmente, a adoção do sistema tem ocorrido pela diminuição de custos, melhoria da produtividade, qualidade de vida, e consequentemente da sustentabilidade da atividade. O SPD tem como fundamentos a ausência de revolvimento do solo, a manutenção da cobertura vegetal permanente e a rotação de culturas. Para con-

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seguir-se esta cobertura vegetal permanente, o meio é o cultivo contínuo do solo com culturas comerciais e a intercalação com culturas de cobertura, as quais proporcionem a produção máxima de fitomassa e crescimento vigoroso de raízes. Assim, verifica-se que o SPD envolve um complexo de práticas agronômicas interdependentes. E o sistema estará mais próximo do ideal, a medida que integrar tecnologias que visem a redução dos custos e a melhoria da qualidade do ambiente, e permitindo interações biológicas e processos naturais benéficos ao solo. A formação da palha é a base de sustentação do SPD, e a dificuldade do estabelecimento desse sistema nos Cerrados é decorrente da dificuldade de formação ou manutenção da palhada. Já está comprovado que a cobertura vegetal comprovadamente exerce uma grande influência sobre o processo erosivo, pois diminui o impacto das gotas de chuva diretamente sobre a superfície do solo, impedindo sua desagregação e formação do encrostamento superficial, e aumentando a infiltração de água.

ASPECTOS DO MILHETO

A

utilização do milheto (Pennisetum glaucum e P. americanum) como cobertura do solo, levou a um incremento significativo da expansão do Sistema Plantio Direto na região dos Cerrados. Atualmente, o milheto é a espécie mais utilizada para a formação de palhada nos Cerrados. No entanto, é possível a adoção de outras espécies de coberturas. O plantio do milheto é adequado em áreas de maior déficit hídrico no inverno. No entanto, o ideal é o plantio em regiões que não haja ocorrência de geadas. Pode ser utilizado para cobertura do solo ou, na integração agricultura-pecuária para o pastejo. As principais características desta cultura de cobertura são: • Formação de uma palhada mais duradoura na superfície do solo, • Alta capacidade de reciclagem de nutrientes (especialmente N e K), devido ao desenvolvimento de um sistema radicular agressivo, que extrai e recicla nutrientes não absorvidos pela culturas principais de verão. • Supressão de invasoras, através

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dos efeitos físicos (impedindo a formação de sementeiras) e químicos (alelopáticos), e também reduzindo o custo com herbicidas. • Possibilidade de diminuir a incidência de nematóides, quando utilizado em rotação. Na integração da agricultura e pecuária é opção de pastagem anual (na seca), na sucessão às culturas anuais de verão, fornecendo forragem para o período outono/inverno. Neste caso, o milheto pode ser semeado em sucessão ao milho ou à soja. O pastejo pode ser iniciado quando as plantas atingem 50 a 60 cm, se houver expectativa de rebrota, deve-se retirar os animais quando as plantas estiverem com 20 cm de altura. Um das opções de plantio do milheto é em sobressemeadura (prática difundida), onde a planta de cobertura é semeada antes que a soja ou milho tenham completado seu ciclo. Outras opções seriam após a colheita da cultura de verão, ou no início do período chuvoso, antes da semeadura da cultura principal.

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Outro efeito da adição das plantas de cobertura ou dos restos vegetais no SPD, é a influência positiva sobre as populações microbianas. Estas representam a parte viva da matéria orgânica do solo e são responsáveis pela maioria das reações que ocorrem no ciclo do carbono (C). Outras contribuições da palha são manutenção da umidade do solo, proteção do solo da ação direta dos raios do sol e estabilização da temperatura do solo, controle de plantas invasoras, aumento do teor de matéria orgânica, favorecimento do movimento de bases trocáveis (Ca e Mg) para as camadas subsuperficiais. Daí a importância de se manejar adequadamente as culturas para o melhor aproveitamento da palhada. A prática da adubação, em função da melhoria das condições físicas, químicas e biológicas e da introdução das culturas de cobertura, pode ser profundamente alterada, possibilitando uma ação sistêmica, e não apenas pontual como no sistema convencional. Ou seja, com o plantio direto, pode-se adubar todo o sistema de produção, e não apenas a cultura principal individualmente. Assim, uma parte do fertilizante é aplicado em pré-plantio na cultura de cobertura, que será dessecada e retornará estes nutrientes para a cultura principal. As vantagens deste sistema são: diminuição da quantidade de adubos no sulco, menores perdas por lixiviação e maior desenvolvimento vegetativo da cober-

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fotos Alberto C. de Campos Bernardi

Matéria seca do milheto, foi 45% superior à produção de áreas não adubadas

tura. Outro aspecto importante que deve ser considerado no SPD é que a cobertura verde também tornará mais eficiente a ciclagem de nutrientes. Um estudo conduzido pela Embrapa Solos em uma propriedade rural, em Turvelândia, Goiás, procurou explorar os aspectos da adubação do sistema, e melhoria da produção de palhada. O projeto foi financiado pelo Instituto Internacional do Potássio (IPI) e teve como parceiros a Universidade Federal de Goiás e a Embrapa Algodão. O esquema utilizado no estudo foi, após um cultivo de soja, o plantio do milheto na primavera, e do algodão no verão. O período para o crescimento do milheto foi curto, além de haver pouca quantidade de água disponível, e isso se refletiu na produtividade relativamente baixa de matéria seca obtida. O milheto foi dessecado no início do verão com as plantas em pé, sem manejo mecânico anterior, para em seguida plantar-se o algodão. Foram feitas comparações das adubações feitas antecipadamente e na linha de plantio. Os resultados do estudo estão apresentados nas figuras 1 e 2 e mostram os benefícios da antecipação da adubação potássica no SPD. Observou-se que tanto a produção máxima de milheto como

A busca pela eficiência no uso dos fertilizantes é de grande importância no aspecto econômico, salienta Bernardi

a de algodão foram obtidas com a dose de 230 kg por ha de cloreto de potássio. A aplicação de plantio normalmente é recomendada para ser realizada no sulco, porém estes resultados confirmam que também poderá ser feita a lanço, antes do plantio. A cada ano observa-se que a quantidade de palhada remanescente do milheto é variável, pois dependem fundamentalmente da distribuição das chuvas no período. No entanto, os resultados do experimento mostraram que a adubação potássica, realizada durante o cultivo do milheto foi benéfica, pois estimulou a produção de fitomassa. O milheto respondeu com um aumento de


Cultivar

VANTAGENS DO SPD

E

studos têm mostrado que existe uma pequena diferença nos custos entre o sistema convencional e o sistema plantio direto, que na maioria dos casos é favorável ao segundo. No entanto, esta pequena diferença econômica é altamente compensada pelos efeitos favoráveis do SPD ao longo dos anos, ou seja, diminuição das perdas por erosão, maior diversidade biológica, menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas, melhor redistribuição e aproveitamento dos nutrientes no solo, melhoria da capacidade produtiva do solo e maior estabilidade de produção.

45% de produção de matéria seca em comparação à parcela testemunha, que não recebeu adubação (Figura 1). Já a maior produtividade de algodão, obtida com a adubação antecipada, foi cerca de 11% maior que a produção obtida com a mesma dose aplicada na linha de plantio e sem adubação de cobertura. Esta diferença foi um pouco menor, cerca de 5%, considerando à aplicação feita na linha de plantio com mais duas adubações de cobertura (Figura 2). Se forem consideradas o número de Figura 1

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Ciclagem de nutrientes, melhora nas propriedades do solo e maior produtividade, incentivam o programa de adubação

operações, verifica-se uma outra vantagem do sistema, pois para atingir produtividades próximas daquelas, com a antecipação o produtor deveria optar por 2 parcelamentos. A dose de fertilizante encontrada neste estudo não deve ser generalizada para qualquer situação. A forma correta de calcular a dose adequada de fertilizante é com base nos resultados de análise de solo, e

orientação técnica de um engenheiro agrônomo, baseando-se nas tabelas de recomendação para a região. A partir do conhecimento desta dose, o sistema de fornecimento pode ser antecipado. Além do aspecto de aumento da produtividade, a busca de alternativas para o aumento da eficiência do uso de fertilizantes tem grande importância econômica, uma vez que os custos com fertilizantes podem representar entre 20 a 30% dos custos total da cultura. É importante ressaltar ainda que apesar dos bons resultados, devido à complexidade do SPD, estas recomendações devem ser generalizadas com cuidado uma vez que os efeitos benéficos dependerão do ambiente (solo e clima), comportamento dos nutrientes no solo, espécies utilizadas (cobertura e cultura principal) e também C do sistema de produção adotado. Alberto C. de Campos Bernardi, Embrapa Solos

Figura 2

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Evento

Insetos em pauta Janice Ebel

mes, sendo usado como um subsídio para desvendar os mistérios da morte. “Quando se trata do quesito local do crime, a entomologia forense ajuda a responder, por meio da área típica a que o inseto pertence, rural ou urbana. Se um cadáver é encontrado na cidade e o inseto encontrado no corpo é típico da área rural, o crime não pode ter sido cometido na cidade, explica Janyra Oliveira Costa do Departamento de Polícia Técnica (RJ).

LIVROS

C

inco dias de discussões sobre os mais diversos temas marcaram o XX Congresso Brasileiro de Entomologia, realizado de 05 a 10 de outubro no Hotel Serrano, em Gramado (RS). De acordo com o vice-presidente do evento, José Salvadori, a programação foi estruturada de forma a atender os mais variados grupos de pesquisa apresentando uma multiplicidade de temas, e, com isso, atraindo um grande número de pesquisadores e estudantes. “Os congressos estão, cada vez mais, motivando à comunidade científica, pois é a oportunidade da interação e cooperação mútua entre os diversos segmentos profissionais que trabalham com a entomologia”, complementa. O evento contou com mais de 1,8 mil inscritos, totalizando cerca de 2,2 mil resumos, com participantes de 26 estados brasileiros, além de 20 países da América do Sul, Central e do Norte, Europa e Ásia. Destes, 60% são estudantes, o que segundo o presidente do evento Adalécio Kovaleski, significa que a entomologia brasileira está com uma base muito grande, mostrando um futuro promissor, visto que a maioria destes estudantes irão continuar atuando na área. Entre os temas abordados nas palestras está o papel da biotecnologia no desenvolvimento de plantas transgênicas resistentes aos insetos. A inglesa Angharad Gatehouse, da Universidade de Newcastle apresentou um panorama geral da posição do mercado em relação a produtos transgênicos e os tipos de modificações alcançadas atualmente, alertando para a diminuição do uso de pesticidas, da

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contaminação do lençol freático e preservação da biodiversidade com menor impacto sobre organismos não-alvos. O uso de energia nuclear no controle de pragas em alimentos destinados à exportação foi outro assunto de destaque. O pesquisador Jorje Hendrichs explicou que a esterilização já está sendo usada em diversas partes do mundo, onde insetos machos são irradiados e liberados no ambiente para competirem com os reprodutores de espécies-pragas. Mas a grande novidade que despertou a curiosidade do público congressista ficou a cargo da mesa-redonda que discutiu o tema “entomologia forense”. A discussão mostrou a utilização de insetos, pelo universo médico-legal, para eslarecer cri-

O evento também proporcionou à oportunidade dos profissionais da entomologia apresentarem seus trabalhos na seção de lançamentos de livros. Na ocasião, 13 publicações foram apresentadas para o público congressista, entre eles, o guia ilustrado “Pragas e Insetos benéficos do milho e sorgo” de autoria de Alexandre de Sene Pinto, José Roberto Postali Parra e Heraldo Negri de Oliveira. O livro contém cerca de 250 ilustrações das diferentes fases de desenvolvimento de pragas e seus inimigos naturais, ajudando desta forma o leitor a minimizar suas dúvidas sobre os possíveis problemas encontrados em suas plantações.

XXI CONGRESSO Recife (PB) sediará a próxima edição do XXI Congresso Brasileiro de Entomologia. A data está confirmada para 07 a 11 de setembro de 2006. O novo presidente e coordenador do evento é o professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Reginaldo Barros. JE

CONCURSO DE FOTOGRAFIA

O

talento fotográfico também pode ser mostrado pelos participantes no concurso de fotografias. Foram apresentados 33 trabalhos, abordando “Os insetos sob o olhar dos profissionais de Entomologia”. Dentre os premiados estão: 1° lugar - Larva de lepdoptera (borboleta) de autoria de Francisco de Assis Santana, Curitiba (PR), 2° lugar: Marimbondo de autoria de Neves, Londrina (PR) e 3° lugar: Parasitismo de autoria de João Justi Junior, São Paulo (SP).

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1º Lugar

2º Lugar

3º Lugar

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Café Fotos Paulo Rebelles Reis

Anéis do prejuízo O

ácaro Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Acari: Tenuipalpidae) tem sido relatado vivendo em cafeeiros (Coffea spp.) no Brasil, pelo menos desde 1950. Posteriormente, em 1973 foi correlacionado com a doença mancha-anular do cafeeiro causada por um vírus do grupo dos Rhabdovirus, o Coffee Ringspot Virus CoRSV. A descrição da doença foi feita no Brasil em 1938, já com a suspeita de tratar-se de doença de etiologia viral, pela semelhança dos sintomas com aqueles causados por vírus em outras plantas, do tipo mancha-anular ou anelar, ou seja, em forma de anel. Desde 1990, com destaque para 1995, a infestação de B. phoenicis e da mancha-anular, tem sido relatadas causando intensa desfolha em cafeeiros nas regiões produtoras de café do Brasil, tanto em cafeeiro arábica (Coffea arabica L.), quanto em canéfora (Coffea canephora Pierre & Froenher). O ácaro B. phoenicis é de distribuição cosmopolita e polífago, infestando diversas espécies vegetais de importância econômica, incluindo o cafeeiro.

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Provocando desfolha no cafeeiro nas épocas mais quentes do ano, o ácaro da mancha-anular é também responsável pelo aumento dos compostos fenólicos totais em frutos, depreciando a bebida do café

DESCRIÇÃO E NOTAS BIONÔMICAS O ciclo evolutivo de B. phoenicis compreende as fases de ovo, larva, protocrisálida, protoninfa, deutocrisálida, deutoninfa, teliocrisálida e adulta. A larva apresenta três pares de pernas (hexápode), de coloração alaranjadoviva quando recém-eclodida. Completamente desenvolvida, a larva apresenta coloração

alaranjado-opaca com dois pares de manchas oculares vermelhas nas margens laterais. A protoninfa, a deutoninfa e o adulto possuem quatro pares de pernas (octópode). O idiossoma (corpo) da protoninfa e deutoninfa mostra áreas de coloração verde-claro, alaranjada, preta e amarela, e o do adulto apresenta coloração avermelhada. O idiossoma é fortemen-

Figura 1

Flutuação populacional do ácaro da mancha-anular, Brevipalpus phoenicis, em folhas, ramos e frutos de cafeeiro. Ijací/Lavras, setembro de 1997 a janeiro de 2001.

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Tabela 1 - Duração das fases do ciclo de vida de Brevipalpus phoenicis em folhas de cafeeiro a 25±2 ºC, 70±10 % de umidade relativa e 14 horas de luz Fases do ciclo de vida Incubação Larva Protocrisálida Protoninfa Deutocrisálida Deutoninfa Teliocrisálida Ovo-adulto Longevidade Pré-oviposição Oviposição Pós-oviposição

Duração média (dias) 10,71 3,12 2,00 2,08 2,04 2,57 2,66 25,18 27,46 2,54 22,00 2,79

te achatado dorso-ventralmente, por isso é também denominado de ácaro-plano. Ambos os sexos estão presentes, mas os machos são relativamente raros. A reprodução pode ou não ser sexuada, sendo mais comum a partenogênese deuterótoca (ovos não fecundados dão origem tanto a fêmeas como machos). As fêmeas medem de 0,30 mm de comprimento e 0,17 mm de largura, com manchas escuras no dorso, o qual apresenta reticulações na porção médio-lateral. Os machos são semelhantes às fêmeas, porém não apresentam as manchas escuras sobre o corpo e apresentam dois sulcos transversais no dorso demarcando as regiões denominadas de propodossoma, metapodossoma e opistossoma A maior população é encontrada no período mais seco do ano e com temperaturas amenas, que vai de fevereiro-março a outubro-novembro, conforme figura 1.

DANO O primeiro dano relatado em função do ataque do ácaro-plano e da mancha-anular foi a desfolha sofrida pelos cafeeiros, principal-

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ETIOLOGIA E SINTOMAS DA MANCHA-ANULAR

A

mancha-anular ocorre naturalmente em cafeeiro, não sendo conhecido outro hospedeiro natural do vírus. Os sintomas da doença aparecem nas folhas e nos frutos do cafeeiro, e caracterizam-se por manchas cloróticas, de contorno quase sempre bem delimitado, às vezes com um ponto necrótico central. Nas folhas as manchas apresentam a forma de anel, podendo coalescer, abrangendo grande parte do limbo ou ao longo das nervuras. Nos frutos, os sintomas também aparecem na forma de anéis. Duas hipóteses podem ser estabelecidas para explicar a sintomatologia do ataque, ou seja, as lesões da mancha-anular podem ser causadas por uma toxina injetada pelo ácaro no tecido das plantas ou pelo vírus (CoRSV) veiculado pelo ácaro. A transmente nas épocas mais secas do ano. Ferimentos causados pelo ácaro, pelo ato de sua alimentação, são portas de entrada para fungos fitopatogênicos, como por exemplo a cercosporiose, causando queda precoce de folhas e frutos. Além da queda de folhas, ocorre também uma redução na qualidade do café, provavelmente em função da posterior ocorrência de fungos associados às infestações do ácaro, que ocasionarão fermentações indesejáveis durante a secagem dos grãos de café. Após o ataque do ácaro os frutos ficam predispostos à penetração de microorganismos, como é o caso dos fungos dos gêneros Fusarium, Penicillium, Cladosporium e Aspergillus correlacionados com a

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missão da mancha-anular em cafeeiro também dá-se pela enxertia e mecanicamente o que reforça a hipótese de que a doença nessa cultura é causada por um patógeno, porém não descarta a primeira, ou podem ocorrer as duas simultaneamente. A característica não sistêmica atribuída ao vírus, encontrado somente nas áreas atacadas pelo ácaro e não nas adjacentes sadias, ressalta a importância do vetor B. phoenicis na epidemiologia da doença, porque a presença do ácaro é condição essencial, sem a qual não ocorre a sua disseminação. A transmissão transovariana, ou de uma geração para outra, não foi constatada para esse vírus. Uma vez infectado, o ácaro não perde mais a capacidade de transmissão, a qual ocorre somente durante o ato da alimentação do ácaro. má qualidade de bebida de café. Resultados de pesquisas mostram menores valores da atividade da polifenol oxidase e maior porcentagem de fenólicos totais nos grãos de café proveniente de frutos que exibem sintoma da mancha-anular. Com base na atividade da polifenol oxidase obtidos podese inferir que o café sofre alteração na qualidade de bebida, demonstrando que o ataque do ácaro e consequentemente da manchaanular é um fator que prejudica a qualidade de bebida do café.

CONTROLE BIOLÓGICO Em associação com o ácaro B. phoenicis é constatada a ocorrência de inimigos naturais,

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DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO ÁCARO-PLANO

E

m cafeeiro é constatada a presença de B. phoenicis nas folhas, ramos e frutos. Nas folhas os ácaros localizam-se na página inferior, próximos às nervuras, principalmente a central. Nos frutos, ácaros e ovos, são encontrados preferencialmente na coroa e pedúnculo, e também em fendas ou lesões com aspecto de cortiça na casca dos frutos. Nos ramos são encontrados em fendas existentes na casca. O maior número de ovos e ácaros é encontrado no terço inferior das plantas, tanto nas folhas, ramos e frutos. Nas folhas, o maior número de ovos e ácaros é encontrado naquelas do terço inferior e posição interna da planta, e em menor número nas

da parte superior e posição externa da planta. Nos frutos, o maior número de ácaros é encontrado também naqueles do terço inferior, sendo maior o número de ovos que o de ácaros. Já nos ramos o maior número de ovos e ácaros é encontrado na parte distal, que é a parte verde dos ramos, onde estão as folhas, e o menor número na parte do ramo que não apresenta folhas, ou do interior das plantas. De modo geral, o número de ovos é sempre maior que o de ácaros. Os ramos apresentam o menor número de ovos e ácaros, quando comparados às folhas e frutos. Na época de frutificação foi observado que os ácaros preferem os frutos de café para oviposição.

como os ácaros predadores pertencentes às famílias Phytoseiidae, e as espécies mais abundantes são Euseius alatus DeLeon, Amblyseius herbicolus (Chant), Amblyseius compositus Denmark e Muma, Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma, Euseius citrifolius (Denmark & Muma), Euseius concordis (Chant) e Amblyseius compositus (Denmark & Muma), entre outros. O ácaro vetor da mancha-anular do cafeeiro é mais predado no estádio de larva, seguido pelo de ovo e ninfa, e o adulto é o menos predado, conforme figura 2. De modo geral a fase mais agressiva dos predadores é a de fêmea adulta, seguida pela de ninfa. A larva do predador é menos eficiente na predação. Os ácaros predadores pertencentes á família Phytoseiidae são de grande importância para a cultura do cafeeiro, pois demonstram alto potencial para predação de B. phoenicis, devendo ser preservados, inicialmente pelo método da conservação, com o uso, quando necessário, de produtos fitossanitários seletivos.

MANEJO DO ÁCARO DA MANCHA-ANULAR

to a ser utilizado deve proporcionar um depósito dos produtos nas partes interiores das plantas, principalmente dos terços inferior e médio. O volume de água a ser utilizado não deve ser menor do que 800 litros por hectare. É altamente recomendável a rotação no uso de produtos fitossanitários, com base no grupo químico, a fim de retardar e mesmo evitar o aparecimento de resistência do ácaro aos mesmos. Devido à maior quantidade de ovos presentes, nos ramos e frutos, em relação às demais fases do desenvolvimento do ácaro, o uso de produtos fitossanitários com ação ovicida aumenta a eficiência de controle do ácaro B. phoenicis. Como a presença de ácaros predadores é significativa, o uso de produtos seletivos favorece o manejo do ácaro da manchaC anular. Paulo Rebelles Reis, Epamig/EcoCentro Produtos registrados para uso no controle do ácaro Brevipalpus phoenicis em cafeeiro. Nome Comercial Técnico Caligur Azocyclotin Envidor Spirodiclofen Peropal Azocyclotin

Classe Grupo Dosagem Formulação Químico /ha Toxic.1 Selet.2 II NS Organoestânico 750 ml SC III S Ketoenoles 300 ml SC I NS Organoestânico 1.500 g PM

Classificação Toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamente tóxico; IV - Pouco tóxico. 2Seletividade fisiológica à Phytoseiidae: S - Seletivo; NS - Não seletivo. 1

Fotos Paulo Rebelles Reis

O controle do ácaro da mancha-anular deve ser realizado em função da incidência da doença e não do número de ácaros. Caso seja constatada a incidência da mancha-anular em um cafezal, recomenda-se o controle do ácaro, que é o seu vetor, através de duas aplicações de acaricidas seletivos aos ácaros predadores. A primeira aplicação de ser feita após a colheita dos frutos, época em que o cafeeiro fica mais desfolhado facilitando a penetração dos produtos nas partes mais internas das plantas. A segunda aplicação deve ser feita logo após o aparecimento dos frutos no estágio de chumbinho, pois os ácaros nessa época se dirigem para os frutos para se alimentar e colocar ovos na região da coroa, ficando assim mais expostos aos produtos. Amostragens da incidência da mancha-anular, para efeito de controle, serão mais representativas se forem feitas em frutos do terço inferior, e folhas mais internas do terço inferior das plantas. Constituem-se também as partes das plantas que devem ser alvo de produtos fitossanitários, ou seja, o equipamen-

Rebelles: o manejo do ácaro deve ser realizado diante do diagnóstico de incidência da doença e não pela sua presença ou número

Figura 2

Porcentagem de predação de Brevipalpus phoenicis, em seus diferentes estádios de desenvolvimento, por larva, ninfa e adulto (macho e fêmea) de Euseius alatus (Phytoseiidae).

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Produtos de ação ovicida, aumentam a eficiência no controle, visto a quantidade de ovos em relação às outras fases do ácaro

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Evento

Fotos Embrapa Milho e Sorgo

Da agricultura familiar ao agronegócio

R

ecorde de público marcou a XXV edição do Congresso Brasileiro de Milho e Sorgo, realizado de 29 de agosto a 02 de setembro, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá (MT), com mais de 800 participantes e cerca de 450 trabalhos científicos e técnicos. Na abertura do evento, o presidente do Congresso e pesquisador da Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), João Acássio Muniz, ressaltou a importância do estado na produção de grãos, contribuindo desta forma para a geração de riquezas, empregos e equilíbrio na balança comercial do Brasil. Sob o tema “Da agricultura familiar ao agronegócio: tecnologia, competitividade e sustentabilidade” o congresso contemplou assuntos desde biotecnologia, genética e melhoramento até aspectos relacionados à irrigação, mecanização e instrumentação, além de contemplar a extensão rural, entre palestras, conferências e mesas redondas, apresentadas nas diferentes modalidades oferecidas no evento. O diferencial do evento deste ano, ficou direcionado para os cursos oferecidos aos produtores da agricultura familiar. Com o objetivo de garantir a estes, bons resultados com a cultura do milho, foram realizados cursos sobre cultivo, plantio e variedades, além de tecnologias adaptadas às condições de solo para

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a pequena propriedade, chamado “Sistema de produção de milho”. O produtor familiar Pedro Ferreira Dias, proprietário de 15 hectares de terra de assentamento, afirma “as orientações dos técnicos têm realizado mudanças em minha propriedade; às vezes achamos que estamos agindo de forma correta e quando chegamos aqui, percebemos que temos muito o que aprender”. A Embrapa também lançou durante o Congresso duas cultivares, sendo um híbrido simples de milho e um híbrido de sorgo granífero, recomendadas para as regiões CentroOeste, Sudeste, Norte do Paraná e da Bahia. Segundo o chefe-geral da Embrapa e presidente da Associação Brasileira de Milho e Sorgo (ABMS), Ivan Cruz as variedades são mais resistentes às doenças e com potencial produtivo superior às demais.

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Simultaneamente ao Congresso, aconteceu também o I Simpósio Brasileiro sobre a lagarta do cartucho Spodoptera frugiperda coordenado pelos pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, Ivan Cruz, Paulo Afonso Viana, José Magid Waquil e Fernando Hercos Valicente. Causando prejuízos acima de U$ 400 milhões anuais em culturas como algodão, arroz, e principalmente, de milho, a lagarta tem elevado o número de pulverizações, além de provocar um aumento no custo de produção, gerando um crescimento dos problemas ambientas, segundo o presidente da comissão científica do evento, Paulo César Magalhães. Neste sentido, o objetivo do Simpósio foi possibilitar uma ampla discussão sobre a praga, colocando em evidência os resultados disponíveis no Brasil e propor um programa de manejo integrado para os diferentes sistemas de produção envolvendo a cultura hospedeira para o cultivo de 2004/05.

HOMENAGENS Vários pesquisadores da Embrapa e produtores foram homenageados recebendo uma placa em agradecimento ao apoio dado ao agronegócio brasileiro. O ex-ministro da agricultura, Alysson Paulinelli, foi um dos homenageados e lembrado pelos relevantes serviços prestados à comunidade científica e rural.

2006 O próximo congresso em 2006, já tem local definido, será realizado em Belo Horizonte (MG), sob a coordenação da empresa estadual de pesquisa (Epamig), ABMS e a EmC brapa Milho e Sorgo. JE

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Molécula

Mesotrione Fotos Mauro Antônio Rizzardi

Nova opção para controle de plantas daninhas no milho, o mesotrione, herbicida seletivo, desenvolvido a partir da planta escova de garrafa, afeta a síntese de caroteno das invasoras levando ao estresse oxidativo que destrói as membranas das células

M

esotrione (2-(4-mesyl-2nitrobenzoyl) cyclohexane-1,3-dione) é uma nova molécula de herbicida que está sendo disponibilizada para o controle seletivo de plantas daninhas na cultura do milho. Uma característica peculiar de mesotrione é o fato de ele ter sido isolado e desenvolvido a partir da planta de Callistemon citrinus (escova de garrafa). Portanto, um herbicida obtido da natureza, que elimina com eficiência plantas daninhas infestantes e age de forma seletiva para a cultura do milho. As plantas suscetíveis à mesotrione perdem a cor verde após o tratamento com esse herbicida. O sintoma eviden-

ciado pelas plantas tratadas é a produção de tecidos novos totalmente brancos (albinos), como caracterizado. O herbicida não afeta carotenóides préexistentes, ou seja, as folhas formadas antes da aplicação não mostram os sintomas típicos. Nas plantas sensíveis, os sintomas de branqueamento, com posterior necrose, são perceptíveis, aproximadamente três a cinco dias da aplicação. Mesotrione é um herbicida sistêmico, absorvido pela parte aérea, embora possa ser absorvido pelas raízes e sementes de plantas daninhas. A sua translocação ocorre pelo floema e xilema, sendo assim rapidamente distribuído na planta. Estima-se que 70 a 80% do produto sejam absorvidos em até 6 horas após a sua aplicação. Em plantas tolerantes, mesotrione é rapidamente metabolizado pela planta em metabólitos inativos. Esse processo de detoxificação é mediado pelo com-

MECANISMO DE AÇÃO

O

mecanismo de ação deste herbicida é a inibição da enzima hidróxifenil piruvato dioxigenase (HPPD). A enzima HPPD é chave no processo de biossíntese da plastoquinona, cofator para a síntese de carotenóides nas plantas (Figura 1) os quais protegem a molécula de clorofila da oxidação causada pelo excesso de energia da radiação solar. A inibição da HPPD afeta a síntese de carotenos, com posterior geração de estresse oxidativo, que destrói as membranas das células, levando assim a planta à morte. plexo de enzimas citocromo P-450, ligados ao retículo endoplasmático liso. Esse complexo de enzimas é induzido por uma série de compostos, como herbicidas, que estimulam a atividade da citocromo p-450. No caso da cultura do milho, sua aplicação é segura para a maioria dos híbridos e variedades disponíveis ao agricultor. No milho, a detoxificação é rápida, associada ao fato de que não ocorre a translocação do produto para além da área tratada. Os casos de aparecimento de sintomas na cultura são caracterizados pelo amarelecimento temporário das folhas sem, no entanto, afetar o rendimento da cultura. As condições do ambiente influenciam na fitotoxicidade de mesotrione, onde baixas temperaturas, alta umidade relativa do ar e excesso de chuva após a aplicação pode favorecer o aparecimento de sintomas de fitotoxicidade. Os riscos de desenvolvimento de biótipos de plantas daninhas resistentes à mesotrione são baixos, não havendo, casos de resistência a herbicidas inibi-

Plantas perdem cor verde produzindo tecidos albinos percebidos três a cinco dias após aplicação

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Fotos Mauro Antônio Rizzardi

dores de HPPD relatados no Brasil. A molécula mesotrione possui valores médios de Koc de 73, o que o caracteriza como tendo baixa adsorção à matéria orgânica do solo. No solo, mesotrione é rapidamente convertido a CO2 por microorganismos. Essa rápida degradação também ocorre em condições de anaerobiose e na água. A meia-vida no solo varia de cinco a 15 dias para mesotrione e menos do que 6 dias para seus metabólitos. O potencial de lixiviação de mesotrione é praticamente negligenciável. Casos de mobilidade ocorrem em solos com alto pH, devido à baixa adsorção. Na prática, essas condições levam à maior atividade microbiológica e mais rápida degradação. O posicionamento de mesotrione é para aplicações em pós-emergência, duas a três semanas após a emergência do milho, no controle de plantas daninhas mono e dicotiledôneas. No caso das monocotiledôneas, o estádio de aplicação é de duas folhas a quatro perfilhos; já, para dicotiledôneas o estádio de aplicação é de duas a quatro folhas. As planFigura 1

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tas daninhas controladas pelo herbicida são milhã (Digitaria horizontalis); capim-amargoso (Digitaria insularis); trapoeraba (Commelina benghalensis); picão-preto (Bidens pilosa); leiteira (Euphorbia heterophylla); corda-de-viola (Ipomoea grandifolia); apaga-fogo (Alternanthera tenella); beldroega (Portulaca oleracea); carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum); carrapicho-rasteiro (Acanthospermum australe); caruru-roxo (Amaranthus hybridus); fazendeiro (Galinsoga parviflora); guanxuma (Sida rhombifolia) e nabo (Raphanus raphanistrum). A aplicação no espectro e eficiência de controle é obtida com a aplicação simultânea de mesotrione com atrazine. Como mesotrione atua na síntese de pigmentos protetores da luz, calor e do estresse oxidativo nas folhas, explica-se o efeito sinérgico quando em mistura com atrazine, cuja ação ocorre pela inibição da fotossíntese, no fotossistema II. Mesotrione aumenta a velocidade e a magnitude do dano causado pela atrazine às membranas e proteínas das plantas sensíveis. De outro modo, atrazine afeta a habilidade das plantas daninhas em metabolizar o mesotrione. Mesotrione possui compatibilidade com inseticidas co-

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Sintomas de amarelecimento temporário podem ocorrer, mas não prejudicam a cultura

Segundo Rizzardi, a possibilidade de surgir plantas resistentes à mesotrione é baixo, ainda não há relatos no Brasil

mumente utilizados na cultura do milho, como os inseticidas fisiológicos em geral e inseticidas de solo ou tratamento de sementes. A restrição se dá para inseticidas organofosforados. Ainda em relação à compatibilidade, mesotrione não interage com as formas de nitrogênio utilizadas no milho, podendo, assim, o nitrogênio ser aplicado logo após a utilização do herbicida. C Mauro Antônio Rizzardi, UPF

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Pragas

Bioinseticida contra lagartas A

volvido a partir de uma bactéria denominada Bacillus thuringiensis (Bt), que é específica contra as lagartas e, portanto, inofensiva à saúde humana e ao meio ambiente. No priCenargen

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Agronegócio Brasileiro (Fagro) e a empresa Bthek Biotecnologia Ltda. assinaram, no último dia 21 de setembro o contrato de cooperação técnica para o desenvolvimento de um inseticida biológico capaz de controlar diversas lagartas que atacam culturas agrícolas, principalmente, milho, soja, algodão e hortaliças. O contrato foi assinado pelo chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral; pela diretora executiva da Fundação, Ana Maria De Paula Lima; e pelo diretor técnico da Bthek, Marcelo Soares. O bioinseticida, ou inseticida biológico, deverá ser lançado em 2006, e será desen-

meiro ano de contrato, serão selecionadas as estirpes mais eficientes da bactéria contra as diversas lagartas. Trinta estirpes da bactéria darão início ao estudo. As mesmas fazem parte do banco de bacilos entomopatogênicos (bactérias específicas para insetos). Essas estirpes já foram pré-selecionadas pela equipe de pesquisadores da unidade e o próximo passo é testá-las contra cada uma das lagartas para que, ao final do processo, se chegue a uma que seja eficiente contra as quatro lagartas (milho, soja, algodão e hortaliças) e que será usada para produção do inseticida biológico. C


Soja

Dirceu Gassen

Fungicidas contra a ferrugem Rede de ensaios desenvolvidos durante a safra 2003/04 avaliam a eficiência relativa de produtos a serem utilizados no controle da ferrugem

C

om a aproximação do plantio da soja para safra 2004/ 05, decisões precisam ser tomadas pelo agricultor para o planejamento da safra e, entre elas, a escolha do fungicida a ser utilizado está entre as mais importantes, em função da ferrugem asiática. Para auxiliar, pesquisadores brasileiros disponibilizam a tabela de fungicidas, aprovada na Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Nas tabelas de fungicidas registrados para controle de doenças da cultura da soja, da publicação Tecnologias de Produção de Soja – Região Central do Brasil 2005, será acrescentada a coluna de agrupamento dos fungicidas, com base nos ensaios em rede realizados durante a safra 2003/04 por instituições de pesquisa publicas e privadas, universidades e fundações. Embora os produtos tenham sido agrupados por eficiência através da análise conjunta dos resultados em diferentes locais, para a pesquisadora da Embrapa Soja Claudia Godoy, é importante salientar que todos eles podem ter eficiência semelhante no campo em casos de baixa pressão da doença. A diferença

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Fungicidas registrados para o controle da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi). XXVI Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Ribeirão Preto (SP), 2004 Nome Comum

Nome comercial

azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole ciproconazole + propiconazole difenoconazole epoxiconazole pyraclostrobin + epoxiconazole fluquinconazole flutriafol myclobutanil tebuconazole tebuconazole tetraconazole tetraconazole trifloxystrobin + ciproconazole Trifloxystrobin + propiconazole

Priori4 Priori Xtra4 Artea Score 250 CE Opus Opera Palisade5 Impact 125 SC Systhane 250 Orius 250 CE Folicur 200 CE Domark 100 CE Eminent 125 EW Sphere Stratego5

g de i.a.1 50 60 + 24 24 + 75 50 50 66,5 + 25 62,5 62,5 100 - 125 100 100 50 50 56,2 +24 50 + 50

Dose/ha l ou kg de p.c.2 0,20 0,30 0,30 0,20 0,40 0,50 0,25 0,50 0,40 – 0,50 0,40 0,50 0,50 0,40 0,30 0,40

Agrupamento3 * *** * *** * *** ** *** *** ** *** *

A empresa detentora é responsável pelas informações de eficiência dos produtos. g i.a. = gramas de ingrediente ativo l ou kg de p.c.= litros ou kilogramas de produto comercial Agrupamento realizado com base nos ensaios em rede para doenças da soja, safra 2003/2004. (***) - maior que 90% de controle; (**) – 80 a 86% de controle e (*) – 59 a 74% de controle. Produtos sem informações serão testados no ano seguinte nos ensaios em rede. 4 adicionar Nimbus 0,5% v./v. aplicação via pulverizador tratorizado ou 0,5 L/ha via aérea 5 adicionar 250 mL/ha de óleo mineral ou vegetal 1 2 3

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na eficiência dos produtos é mais fácil de ser observada em situações onde a doença é mais agressiva. A formação de três grupos, no caso da ferrugem, não implica em flexibilidade na sua aplicação para o controle. Para controle da ferrugem, os produtos devem ser utilizados quando ocorrerem os sintomas iniciais (traços da doença) ou preventivamente, de acordo com a presença da ferrugem na região, estádio fenológico da cultura e condições climáticas. “O atraso na aplicação, após constatados os sintomas iniciais, pode acarretar em redução de produtividade, caso as condições climáticas favoreçam o progresso da doença”, alerta a pesquisadora.

Gráfico 1

ESTÁDIOS E APLICAÇÕES

Charles Echer

Para a avaliação dos ensaios, as aplicações foram realizadas em diferentes estádios de desenvolvimento das plantas. A primeira delas foi feita em R2 ou R3, com nova aplicação no estádio R5.1. Dos 11 ensaios realizados, apenas um apresentava alta severidade de ferrugem (15%) na primeira aplicação. Cinco foram aplicados preventivamente (sem sintomas) e cinco nos sintomas iniciais (menos de 1% de severidade). Portanto, a maioria dos tratamentos podem ser considerados como preventivos à doença. Os tratamentos apresentados no gráfico 1 referem-se aos resultados apresentados quanto à severidade da doença, após única aplicação nos estádios R2/R3. Já o gráfico 2 relaciona duas aplicações: a primeira com plantas em R2 (florescimento pleno), seguida de uma reaplicação no estádio R5.1 (início de enchimento de grãos), mostrando o efeito dos produtos utilizados no ensaio. Em ambos os gráficos cores iguais significam que não houve diferença significativa entre eles. Todos produtos utilizados foram superiores à testemunha sem tratamento. De maneira geral, a eficácia dos produtos utilizados ficou entre 60% a 95%. Os ensaios utilizados para os agrupamentos, foram realizados nos estados do MT, BA, MA, GO, MG, SP e PR. É preciso salientar, conforme alerta Cláudia Godoy, que mesmo para produtos com maior índice de controle podem ser necessárias aplicações preventivas em função da situ-

Claudia Godoy: coordenou a distribuição dos ensaios para o teste dos produtos no controle da ferrugem

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Gráfico 2

ação do inóculo na região, das condições climáticas e do estádio fenológico da lavoura. O momento de aplicação deve ser uma decisão técnica, levando em consideração todos os fatores que levam ao aparecimento da doença, o tamanho da propriedade e a disponibilidade de equipamentos para pulverização. Períodos secos desfavorecem a ocorrência de epidemias de ferrugem. Outro fator de fundamental importância é a observação, por parte dos produtores, do uso alternado dos diferentes princípios ativos disponíveis no mercado. Esta rotação entre os grupos químicos (triazóis e estrubirulinas) evitará o surgimento de raças resistentes do fungo aos produtos utilizados, garantindo a eficiência no controle. E, como pode ser observado nos gráficos, a reaplicação fez uma grande C diferença no controle final da doença.

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Produtos e doses utilizados nos 11 ensaios em diferentes locais do Brasil Ingrediente ativo

dose (g i.a./ha) 1. Testemunha sem controle 2. azoxystrobin 50 3. difenoconazole 50 4. tetraconazole 50 5. fluquinconazole 62,5 6. flutriafol 62,5 7. tebuconazole 250 100 8. tebuconazole 200 100 9. myclobutanil 100 10. pyraclostrobin + epoxiconazole 66,5+25 11. trifloxystrobin + ciproconazole 56,2+24 12. azoxystrobin + ciproconazole 60+24 13. trifloxystrobin + propiconazole 50+50 14. propiconazole 125 15. epoxiconazole 37,5

Produto comercial Priori Score Domark Palisade Impact Orius Folicur Systhane Opera Sphere Priori Xtra Stratego Juno Opus

Cultivar

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Nossa capa

Pragas da soja trans Embora as vantagens com o advento do plantio da soja transgênica, a falta de vegetação nativa dificulta a sobrevivência de inimigos naturais e faz ressurgir pragas na cultura

O

s insetos causam inúmeros prejuízos aos cultivos agrícolas no Brasil, desde a sementeira até os produtos finais industrializados. As medidas utilizadas para a diminuição destes danos, especialmente aquelas em que são usados produtos químicos têm trazido efeitos colaterais negativos tanto ao ser humano quanto ao próprio ambiente. Entre as muitas alternativas para o controle destes organismos, a biotecnologia surge como uma das ferramentas que se pode lançar mão para a solução destes problemas, causando pouco ou nenhum impacto negativo ao ambiente e ao ser humano. Para o uso correto e adequado desta ferramenta há a necessidade de normas específicas e fiscalização competente para que sejam obtidos os resultados desejados na área agrícola. Tendo em vista que na área agrícola os resultados podem ser obtidos em curto prazo e, em pequenas áreas, outros, porém, somente atingem a maturação ou tornam-se comerciais, em longo prazo, estas normas e regulamentos da biotecnologia devem ser tão rigorosos quanto possíveis, mas não impraticáveis como querem alguns “ecologistas” de plantão que chegam a pregar a volta à agricultura do século XVIII, quando a grande maioria da população vivia no campo e qualquer pequena sobra nas suas colheitas inundava com alimentos, as cidades da época. Hoje a grande maioria da população vive nas cidades e, aqueles poucos que vivem no campo e ali produzem alimentos devem produzir para si e para sustentar os cidadinos. Estima-se que atualmente 80% da

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Cultivar

população brasileira viva em cidades fazendo com que cada habitante rural tenha de produzir para cinco pessoas: ele e mais quatro. Ora, para atender esta necessidade, este agricultor deve ser eficiente e dispor de tecnologia adequada para obter elevada produtividade. A biotecnologia é uma das ferramentas que a pesquisa dispõe para mais rapidamenTabela 1 – Sumário da incidência de algumas pragas em cultivos de soja convencional e transgênica, na região central do Rio Grande do Sul, no período 1998/2004 Aplicações de agrotóxicos/safra/lavoura* Soja convencional Soja transgênica amplitude média amplitude média 1,2 2,0 1 4 Anticarsia gemmatalis 0 4 1,2 2,0 1 3 Nezara viridula 1 2 1,5 2,5 2 3 Piezodorus guildinii 1 2 0,2 0,4 0 1 Rachiplusia nu 0 1 0,4 0 1 Pseudoplusia includens 0,2 0 1 Praga

* Em média, foram avaliadas 30 lavouras de cada tipo de cultivo/safra, exceto nas duas últimas safras (2002/03 e 2003/04) em que foram analisadas somente cinco lavouras/ safra, de cultivares de soja convencional.

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te colocar material genético de qualidade superior ao atualmente existente, à disposição deste agricultor em muitas culturas onde o melhoramento genético convencional já atingiu o limite da produtividade dentro da tecnologia atual. As normas e regulamentos na área da biotecnologia devem ser explícitos e fiscalizados com rigor tanto nos cultivos anuais como naqueles perenes, como fruteiras, pois nestes, qualquer resultado negativo ao homem ou ao ambiente apresentará custos elevados para corrigir ou mitigar tais situações. As experiências em cultivos anuais têm mostrado que esta ferramenta, usada corretamente, apresenta bons resultados e com um mínimo de impacto ambiental negativo, muitas vezes bem menor que o uso convencional de determinados produtos químicos. O uso da biotecnologia, na área de

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BIOTECNOLOGIA

gênica

A

biotecnologia em plantas de cultivos anuais já tem resultados espetaculares, especialmente nas áreas de clonagem e reprodução vegetativa de material de qualidade superior. A inclusão da transgenia virá ampliar e trazer solução a alguns problemas onde atualmente a tecnologia tradicional de melhoramento não tem conseguido resultados satisfatórios. O conhecimento detalhado da bioecologia dos organismos nocivos aos cultivos anuais e que reduzem os rendimentos da produção agrícola é o suporte básico para a

Flávio Gassen

fármacos e medicamentos, acha-se muito mais avançada que na área agrícola e seu uso tem permitido à produção industrial de certos remédios, com custos bem reduzidos, permitindo que grande parte da população tenha acesso a tais produtos e tratamentos para recuperar sua saúde. Têm sido verificadas, nos meios de comunicação social que as informações destes processos na área agrícola são divulgadas, de forma incompleta, inadequada e mesmo distorcida, informações estas fornecidas por pessoas ou entidades que, no fundo, ou procuram apenas autopromoção ou então, estão a serviço de interesses de entidade ou grupos econômicos que não serão beneficiados com tais produtos ou tecnologias.

Devido à dificuldade de sobrevivência dos inimigos naturais, insetos fitófagos que ocorriam esporadicamente têm elevado população

ANTECEDENTES O acompanhamento do cultivo da soja transgênica no Rio Grande do Sul,

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ma intensidade e causando os mesmos danos, tanto num como no outro tipo de soja (Tabela 1). A análise simplista desta tabela permite constatar que houve um aumento médio na quantidade de aplicações de inseticidas no combate a estas pragas, devido ao material transgênico utilizado nas lavouras o que não corresponde à verdade. A maior utilização média de inseticidas em cultivares de soja transgênica deveu-se, na maior parte das situações, a ausência de vegetação diversificada na lavoura o que facilitou a ressurgência dos insetos daninhos e dificultou a permanência e à sobrevivência dos inimigos naturais destas pragas. De uma maneira geral, o número

Charles Echer

especificamente nos últimos cinco anos permitiu verificar que a fauna de insetos associados ao cultivo desta leguminosa não se modificou, apenas alguns insetos fitófagos que ocorriam anteriormente em baixas densidades ou de forma esporádica, estão se tornando freqüentes e com elevadas populações, exigindo medidas de controle. Este tipo de cultivar, tolerante ao herbicida glifosato, é tão suscetível ao ataque das principais pragas da cultura como qualquer cultivar convencional (não transgênica). O ataque das lagartas desfolhadoras, Anticarsia gemmatalis, Rachiplusia nu e Chrysodeixis (Pseudoplusia) includens, e dos percevejos, Nezara viridula e Piezodorus guildinii, têm ocorrido com a mes-

montagem de um bom programa de biotecnologia, incluindo a transgenia, para a sua adequação a uma exploração sustentável e com um baixo ou mesmo mínimo impacto ambiental negativo. A biotecnologia isolada não resolverá os problemas que a agricultura brasileira está enfrentando atualmente, mas sua utilização poderá apontar caminhos para que o nosso produtor possa produzir de forma adequada e com retorno econômico, diminuindo as carências que a população brasileira tem encontrado nos últimos anos.

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Cultivar

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Fotos Dirceu Gassen

Coleta de predadores na safra 2003/04 foi praticamente nula nas lavouras de soja do RS

máximo de aplicações de inseticidas no controle das principais pragas foi similar nos dois tipos de cultivares de soja. Pesquisas realizadas, no período 1970-1990, em soja convencional, conservada no limpo, isto é, com ausência de invasoras desde a germinação até o final da floração, foi verificada a ressurgência da lagarta da soja após controle realizado com Baculovirus anticarsia e alto efeito deletério sobre a população de inimigos naturais, ocorrendo redução populacional destes, superior a 90%. Este organismo de controle biológico não afeta os predadores da lagarta da soja e a razão desta redução é devido à falta de alimento para os predadores na ausência de formas imaturas de Anticarsia gemmatalis. Por causa desta situação, muitos pesquisadores, principalmente aqueles de gabinete ou laboratório que não conheciam estes detalhes do cultivo desta leguminosa, chegavam a duvidar ou por em dúvida os resultados obtidos pelos colegas. Nesta última safra (2003/04) ocorreu um surto de lagartas falsa-medideira, chegando, em algumas lavouras, a atingir mais de 50% das lagartas levantadas nas amostras de lagartas desfolha-


doras. Lagartas coletadas nestas lavouras e criadas em laboratório apresentaram uma emergência de adultos superior a 90%, acompanhado de um nível de parasitismo inferior a 2%, sendo a maioria por Copidosoma truncatellum. Trabalhos realizados na década 1990/ 2000, tanto em soja como em feijão, apresentavam em média mais de 50% de parasitismo, chegando, em algumas ocasiões, a valores superiores a 85% de parasitismo natural na lavoura. As lagartas falsa-medideira (Lepidoptera: Plusiinae) se alimentam de plantas de várias famílias botânicas e a

ausência de biodiversidade vegetal, favorece às pragas em detrimento dos inimigos naturais. A maioria destes inimigos naturais procura inicialmente a planta onde deverão estar as suas presas e quando nela chega passa a procurar seu alimento. Não havendo plantas hospedeiras conhecidas o inseto migrante, geralmente adulto voa em outra direção, à procura destas plantas para ali procurar sua sobrevivência. O ácaro rajado, Tetranychus urticae, foi freqüente em todas as safras a partir de 1997, com níveis populacionais que não causaram maiores preocupações.

Tanto a soja transgênica como a convencional têm sido atacadas com a mesma intensidade por insetos

Nas duas últimas safras, em períodos de estiagem (veranicos) verificaram-se surtos com elevados níveis populacionais causando intenso bronzeamento das folhas e possivelmente redução no rendimento, preocupando os agricultores. Amostragens realizadas em lavouras com cultivo de soja transgênica, na região central do Rio Grande do Sul, com ataque deste ácaro, indicaram baixa presença de predadores nestas situações, sendo que em determinadas áre-


Gazzoni

te à biodiversidade vegetal deste ecossistema e o seu efeito é temporário neste local. A sucessão de cultivos com outras espécies botânicas não apresenta qualquer efeito negativo oriundo da aplicação do herbicida glifosato utilizado na cultura da soja transgênica, diferente do que ocorre com outros herbicidas pósemergentes que restringem à escolha de cultivos em sucessão. A indústria química tem realizado, por seu lado, estudos de melhores formulações, modificando componentes, adequando-se às exigências da saúde pública, retirando do mercado determinados solventes, como tolueno e xileno, que por seu poder irritante e cáustico causavam alergias e potencializavam o efeito tóxico dos ingredientes ativos exigindo maiores cuidados dos aplicadores e causando intoxicações. Alem disso, preocupada com os custos de produção, estão apresentando misturas prontas para o controle de determinadas pragas, como os percevejos, associando o efeito de choque de um ingrediente ativo com o poder residual de outro para que numa única aplicação, o agricultor possa proteger sua lavoura deste grupo de insetos pragas. A agricultura de precisão é baseada na utilização de tecnologia de ponta, visando o cultivo mais econômico, e as misturas de agrotóxicos que já vêm prontas, estão adequadas a esta nova situação, minimizando custos de aplicação e atendendo aos reclaC mos dos produtores. Dionísio Link UFSM Charles Echer

as, a coleta de predadores foi quase nula. Um detalhe importante na infestação dos ácaros é descontinuidade da infestação em lavouras próximas, mas semeadas em diferentes épocas. Uma pode estar com elevadas infestações, com 23 a 56 exemplares do ácaro por cm 2 de área foliar, e, a outra, distante 300 ou 400m, bem próxima onde estes níveis foram de 8 a 12 exemplares/cm 2. A falta de pesquisas mais aprofundadas sobre danos de ácaros fitófagos em cultivares de soja, tem ocasionado a inexistência de indicações técnicas para o controle químico. Trabalhos realizados de adequação de inseticidas associados ao glifosato, na lavoura de soja transgênica, têm demonstrado que o uso de inseticidas acaricidas organofosforados, como Metamidofós e Clorpiri-

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Cultivar

Surto da lagarta falsa-medideira na última safra, chegou a atingir 50% das amostras de lagartas levantadas

fós, em áreas de lavouras, tem reduzido em torno de 70% a população infestante deste e de outras espécies de ácaros fitófagos ocorrentes na lavoura, aos quatro dias após a aplicação dos inseticidas. Produtos contendo Clorpirifós, ao serem aplicados associados ao glifosato causaram fitoxicidade à cultura da soja, causando bronzeamento e encarquilhamento das folhas, redução na altura da planta, quando aplicado na fase vegetativa e possivelmente redução no rendimento. O cultivo da soja transgênica, por ocupar um ambiente, por tempo determinado e normalmente inferior a seis meses, não elimina de forma permanen-

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Dionísio Link aponta problemas enfrentados com insetos na soja transgênica

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Soja Milto Facco

Combate à ferrugem A estratégia de monitoramento “in loco” da ferrugem, permite a emissão de alerta para identificação de focos da doença e estágio de ataque à planta, permitindo aplicações de fungicidas efetivamente protetoras

A

ferrugem da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Sidow, foi descrita pela primeira vez no Japão, em 1902. No continente americano foi identificada na safra 00/01 em Itapúa – Paraguai. Na mesma safra foi encontrada no estado do Paraná - Brasil. Na safra 01/02 a doença foi identificada em praticamente todas as regiões produtoras de soja do Brasil, causando reduções de rendimento de até 75% (YORINORI et al, 2003). Perdas de 80 a 90% de rendimento foram registradas na Austrália e Índia, respectivamente (YORINORI, 2004). Os primeiros sintomas da doença são caracterizados por minúsculos pontos escuros podendo conter um número variado de pústulas. A manifestação mais comum da doença é em áreas foliares cloróticas, apresenta forma poligonal, devido à delimitação imposta pela nervura, possui uma coloração parda podendo as lesões escurecer com o envelhecimento. Na face inferior

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Cultivar

da folha há formação das urédias, também chamadas de pústula, de coloração castanho-clara a castanho-escuro de onde são liberados os uredosporos. Quando a urédia deixa de esporular apresenta a pústula com o poro nitidamente aberto. A dispersão de uredosporos para lavouras próximas ou a longas distâncias é favorecida pelo vento, associada à precipitação freqüente e de baixa intensidade. A taxa de disseminação da doença a partir de um foco inicial dentro da lavoura pode chegar a 1 metro por dia. Após a deposição nas folhas de espécies hospedeiras, a germinação dos uredosporos é favorecida por temperatura entre 21 e 27ºC e molhamento foliar mínimo de 10 horas que se estenda nas primeiras horas da manhã para favorecer o desenvolvimento de apressório. A temperatura noturna é importante no processo de infecção já que favorece a prolongação do molhamento foliar. Sob condições favoráveis a infecção de P. pachyrhizi causa rápido ama-

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relecimento e queda de folhas. A antecipação da desfolha potencializa o dano da doença devido à redução do tamanho e qualidade do grão. Quando a doença atinge elevado nível epidêmico, a desfolha pode ocorrer em até sete dias (Balardin, 2004). Segundo OGLE et al (1997) os danos da ferrugem da soja estão associados à redução no número de vagens e grãos, e menor peso de grãos, reduzindo também o conteúdo de óleo. A ausência de cultivares resistentes e o reduzido impacto de práticas culturais no controle da ferrugem da soja, o controle químico preventivo é a alternativa mais eficaz de controle (Azevedo, et al 2004). Resultados de pesquisa mostram que um atraso na aplicação de fungicidas pode aumentar a desfolha em 82% e reduzir o rendimento em até 75%. O controle eficaz da doença depende de um uso predominantemente protetor dos fungicidas, de formas que o residual dos mesmos possa prover

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adequada proteção durante períodos críticos da cultura. A definição deste momento é importante para uma eficácia adequada no controle da doença. Neste sentido, o acúmulo de informações relacionadas ao gradiente de dispersão do fungo permite que se estabeleça uma relação entre as regiões e o momento em que a doença inicia o ataque.

PROGRAMA SYNTINELA O monitoramento é uma estratégia básica no manejo integrado de doenças. Por outro lado, quando se trata de uma cultura de grande escala como a soja, o monitoramento da doença com base em sintomatologia da doença encontra dificuldades operacionais e restrições quanto à precisão, culminando com perdas relevantes e dificuldades incontornáveis. Schroter & Ullrich (1966) sugeriram a utilização de parcelas com cultivares suscetíveis onde é realizado o monitoramento do surgimento e evolução da doença. O programa Syntinela foi executado em todas as regiões produtoras de soja do Brasil totalizando 1325 parcelas, compreendendo um segmento de monitoramento “in loco”, um segmento de confirmação de diagnose através da emissão de laudo e finalmente a comunicação dos resultados aos consumidores (Figura 1). O monitoramento “in loco” foi realizado em parcelas (100 m2) instaladas antecipadamente às áreas comerciais (15-30 dias antes das lavouras comerciais), permitiu a emissão de alerta gerado aos segmentos da cadeia produtiva em cada região agrícola, a partir da identificação de incidência da do-

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Cultivar

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ença e confirmação por parte da pesquisa. Em decorrência da identificação da doença foi possível indicar o trajeto e cronologia da dispersão e estádio fenológico da cultura em que foi observada. As amostragens foram realizadas in loco nas parcelas com um intervalo de três dias entre cada avaliação. Em cada uma delas, cem trifólios por parcela (75% do meio inferior e 25% do meio superior da planta) foram analisados aleatoriamente com auxilio de uma lupa de bolso com 20 vezes de aumento. A observação de campo não foi destrutiva, sendo destacadas somente as folhas com suspeita de infecção. A confirmação da diagnose de campo foi realizada por diversos laboratórios de fitopatologia cre-

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Milto Facco

Taxa de disseminação da ferrugem a partir de um foco inicial na lavoura pode chegar a 1 m/dia

denciados. Após a confirmação da presença da doença na parcela Syntinela, foi emitido laudo oficial e repassado à Central Syntinela que iniciou o processo de comunicação da incidência da ferrugem asiática.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O programa Syntinela além de propiciar o alerta aos produtores devido à chegada da ferrugem asiática na região, também foi ferramenta importante para a realização correta do controle químico. Neste sentido foi possível a realização de controle químico efetivamente protetor o que permitiu a redução, em diversas situações, do número de aplicações do fungicida. O monitoramento “in loco” possibilitou identificar o local de incidência e o estádio em que as cultivares foram inicialmente atacadas pela doença. Um conjunto de mapas de dispersão foi gerado (Veja nos mapas) nos quais é evidente a progressão da doença a partir da região do Cerrado Brasileiro deslocando-se para o Oeste Baiano e, posteriormente, um deslocamento para a região do Triângulo Mineiro e finalmente para a região Sul do Brasil. Foi possível observar que todas as cultivares utiliTabela 1- Percentagem de ocorrência de Ferrugem asiática da soja considerando os estádios de desenvolvimento da soja e as macro regiões onde o projeto foi conduzido Regiões Sul Centro Sul Cerrado - MT Cerrado - BA e MG Média

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V 3 0 1 4 2

Estádios de desenvolvimento da soja R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 1 5 42 23 6 17 3 0 0 14 30 54 3 0 2 11 13 8 58 5 1 10 19 19 14 21 10 3 3 9 22 19 35 9 2

zadas no programa foram atacadas, demonstrando inexistência de resistência varietal. A infecção do fungo mostrou-se atrelada principalmente aos estádios reprodutivos da cultura, sendo o enchimento de grão a fase mais vulnerável (Tabela 1). Segundo os resultados obtidos, 2% de incidência da doença foi observada entre nos estádios vegetativos (variação de 0 a 4% das áreas avaliadas), enquanto que nos estádios reprodutivos foi observado 12% de incidência nos estádios R1 e R2 (variação de 0 a 19% das áreas avaliadas), 75% de incidência nos estádios R3 e R4 (variação de 8 a 42% das áreas avaliadas), 12% de incidência nos estádios R5 a R7 (variação de 0 a 58% das áreas avaliadas). Estes resultados confirmam observação realizada por Hartman et al, (1991) em que a ferrugem asiática da soja mostra-se favorecida nos estádios reprodutivos da soja, causando dano significativo. A taxa de progressão da ferrugem foi variável entre as diversas regiões onde o programa foi conduzido. A maior taxa de progresso foi observada na região do Cerrado, decrescendo na medida em que a doença migrou para a região Sul, onde se manteve baixa. Esse resultado demonstra que uma dependência da doença em relação às condições climáticas, além daquela relacionada ao estádio fenológico da cultura. Na região do Cerrado as condições observadas foram amplitude térmica de 18 a 25oC, molhamento foliar superior a 10h e precipitação baixa e freqüente, condições que se mostraram adequadas a uma dispersão explosiva da doença. Por outro lado, na região Sul, a baixa precipitação aliada a um molhamento foliar prolongado possibilitou apenas um estabelecimento localizado da doença não sendo observado desenvolvimento da ferrugem asiática em nível epidêmico. O programa Syntinela possibilitou a geração do conhecimento relacionado à dispersão da doença no território brasileiro, uma regionalização dos momentos fenológicos em que sua incidência foi mais significativa, deu início a um banco de dados relativos à dispersão da ferrugem asiática, e possibilitou o estabelecimento de um serviço ao produtor no sentido de lhe auxiliar na tomada de decisão maximizando a eficácia do programa de controle já que a informação advinda da Central Syntinela permitiu que o mesmo tenha sido efetivamente conduzido de forma preventiva e com um nível de risco baixo, compatível C com a atividade agrícola. Ricardo Balardin, UFSM Milto Facco, Syngenta

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Cultivar

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Arroz

Cerco ao arroz

Diante dos danos causados pelo já conhecido fungo da mancha parda, a nova espécie de Bipolaris encontrada no Brasil, promete trabalho aos pesquisadores na busca de variedades que apresentem resistência ao mesmo Dirceu Gassen

N

curvispora, verificada em vários lotes e cultivares de arroz, provenientes de diferentes locais do Estado do Rio Grande do Sul. Sendo assim, verifica-se que a Helminthosporiose do arroz pode ser causada por um complexo de espécie e não somente B. oryzae como relata a literatura. A espécie foi isolada em meio de cultura BDA (Batat-Dextrose-agar), para correta identificação, levando-se em consideração às características morfológicas como cor, formato, dimensões (comprimento e largura) número de septos e outras características peculiares, comparando-as com as descritas na literatura de Sivanesan (1987). Também realizou-se diferentes ensaios para verificar à patogenicidade, entre eles transmissão natu-

ral semente x plântula, onde sementes infectadas, por uma espécie, foram semeadas em copos plásticos contendo como substrato vermiculita e incubadas por 21 dias a temperatura de 25°C e fotoperíodo de 12 horas luz, para verificação da transmissão para parte aérea e radicular. Inoculações em plântulas, semeadas em bandejas com vermiculita, pulverizadas com uma suspensão de 104 esporos/ml também foram realizadas e, aos 14 dias as plantas foram avaliadas quanto a presença de sintomas.

SINTOMAS OCASIONADOS POR B. CURVISPORA Os sintomas ocasionados por B. curvispora são bastante semelhante aos ocasionados por B. oryzae, como observa-se as lesões de

Fotos Cândida Jacobsen

o Brasil, as manchas foliares são comumente chamadas de helminthosporiose, decorrente da nomenclatura dos agentes causais, antigamente pertencente a um único gênero, Helminthosporium. Alcorn (1988) desdobrou o gênero Helminthosporium, nos gêneros Bipolaris, Drechslera e Exsehorilum, patogênicos a cereais, com base na morfologia dos conídios, na sua conidiogênese e associação com a fase perfeita. Em Helminthosporium permanecem espécies não patogênicas. É amplamente conhecido que diferentes espécies destes gêneros são agentes causais de inúmeras doenças que ocorrem em uma gama enorme de plantas, incluindo espécies cultivadas e silvestres. Gramíneas de grande importância econômica, tais como arroz, trigo, milho, cevada, entre outras, apresentam constantemente perdas causadas por espécies pertencentes a estes gêneros de fungo. No Brasil verifica-se que a mancha parda vem aumentando entre os problemas fitossanitários que afetam à cultura do arroz, com agravante nos anos 80, em todas as regiões produtoras, principalmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Esse aumento deve-se principalmente à maior suscetibilidade de grande parte das cultivares atualmente em uso. No arroz a mancha parda ou Helminthosporiose é relatada tendo como agente causal o fungo Bipolris oryzae, porém em avaliações realizadas no ano de 2003 em amostras de arroz submetidas ao teste de qualidade sanitária, no Laboratório de Patologia de Sementes da Universidade Federal de Pelotas, Departamento de Fitossanidade, verificou-se a presença de outras espécies, entre elas a espécie Bipolaris

Visualização das estruturas do fungo Bipolaris oryzae e seu desenvolvimento caracterizando a mancha parda

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Cultivar

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Uso de sementes sadias é a recomendação enquanto não se tem informações sobre o controle salientam, Cândida e Pierobom

coloração pardo-escuras com formato ovalado e bordas lisas. Dessa forma, verifica-se que somente pela presença de sintomas, na lavoura, não seria possível separar as espécies, sendo necessário para isto, estudos taxonômicos em laboratório. Nos ensaios realizados, pode-se observar que a presença desse patógeno associado as sementes, poderá ocasionar vários problemas como podridão das sementes, que poderá implicar na necessidade de replantio, o que onera o agricultor e também problemas de mau desenvolvimento das plântulas. As plântulas necrosadas (oriundas de sementes infectadas) apresentam dificuldade de desenvolver-se, pela

diminuição da área foliar sadia (dificultando os processos da fotossíntese), ocasionando problemas de baixa produção além de permanecerem na lavoura como fonte de inóculo. A dificuldade de desenvolver a parte aérea, está também relacionado ao mau desenvolvimento das raízes colonizadas. Os patógenos colonizando o sistema radicular diminuem a área de absorção de água e nutrientes e como resultado têm-se plantas com desenvolvimento reduzido. A epidemiologia e controle desse patógeno estão sendo estudados e, acredita-se que os métodos de controle atualmente utilizados para B. oryzae são também eficientes para B. curvispora. Assim, do ponto de vista do agricultor nenhuma alteração deve ser feita. As implicações do fato da mancha parda do arroz ser causada por mais de um agente poderá afetar, os trabalhos de pesquisa, especialmente à criação de cultivares resistentes. Porém, para diminuir possíveis problemas na lavoura o melhor método é sempre o uso de sementes com boa qualidade fisiológica (pureza, germinação e vigor) e sanitária, livres de contaminações ou dentro de padrões de tolerância estabelecidos para as principais culturas e doenças, pois as sementes se constituem no mais eficiente agente de disseminação e no mais seguro abrigo à sobrevivência dos pa-

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

B

. curvispora (El Shafie) Sivanesan: conidióforo único ou em fascículos divergente, cilíndrico, simples, septado, geniculado na base, palha a marrom oliváceo. Conídio, cilíndrico ou fusóide, muitas vezes, marrom avermelhado, nitidamente curvo com 6 – 13 septos, 75 – 205 x 10 18mc (usualmente 100 – 160 x 11 - 13mc). Célula basal hemielipsoide para obcônica longa. A inserção do conídio no conidióforo ocorre comumente na lateral, raramente no ápice.

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O fungo Bipolaris curvispora esta sendo pela primeira vez relatado em sementes do gênero Oryza sativa. A ocorrência desse fungo já foi relatada em outras gramíneas como Melinis munitiflora, Panicum maximum, Setaria e Triticum aestivum, causando lesões necróticas de coloração marrom-escura. Ainda não havia relato dessa espécie no Brasil, sendo relatada até o momento na Austrália, Índia, Paraguai e Costa Rica (Sivanesan, 1987).

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Bipolaris curvispora: estrutura e sintomas da nova espécie identificada

tógenos, constituindo-se também na mais eficiente forma de preservação do inóculo entre gerações de hospedeiro, em função da transmissão direta das sementes aos órgãos aéreos e/ou radiculares dos hospedeiros. Vários laboratórios realizam testes de sanidade de sementes, uma ferramenta extremamente útil e C muito pouco utilizada. Cândida Renata Jacobsen e Carlos Pierobom, UFPel

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AENDA

Defensivos Genéricos

Fator de segurança II O CONSUMO Resíduos de pesticidas preocupam, mas as precauções tomadas são muitas e rigorosas

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stimar o consumo alimentar mé dio de uma população não é ta refa fácil. E num Brasil com múltiplos hábitos mais ainda. O IBGE faz levantamentos exaustivos em todas as regiões para determinar o balanço dos ingredientes alimentares e lança mão também de pesquisas sobre o orçamento familiar, registros diários de hábitos e questionários sobre freqüência alimentar. Queira o leitor me perdoar, mas devo de imediato abrir uma janela na sua leitura para segredar um importante fator de segurança, do tipo que passa despercebido. Nunca é reportado nessas pesquisas o desperdício nas mesas familiares, ou seja, nem tudo é realmente consumido. Creia-me, o consumo é menor, é só olhar a lixeira. De posse desse consumo médio diário de uma pessoa é possível estabelecer um valor referencial de ingestão diária de resíduo de um dado pesticida. Esse valor referencial de ingestão é obtido multiplicando-se o nível de resíduo presumido no alimento pela quantidade consumida daquele alimento. Depois é somar os resultados desta operação realizada em cada tipo de alimento hipoteticamente consumido em média pela população. Por seu turno, o nível de resíduo é estabelecido em testes reais de campo e conhecido como MRL (Limite Máximo de Resíduo). O MRL é a concentração

máxima de um resíduo de pesticida permitida em cada tipo de alimento. Em geral o MRL é obtido de todo o alimento colhido, “com casca e nó” como se diz prosaicamente. Na verdade, em grande parte dos alimentos a parte comestível não é o todo. Para banana e laranja, por exemplo, já é consenso entre os especialistas que são ingeridos apenas 70% do total. Para o restante dos alimentos esse percentual não foi ainda determinado. Deparamo-nos aqui com mais dois fatores de segurança: um resultante da não consideração dessa diferença entre parte total e parte comestível, e, outro por utilizar-se o maior valor encontrado de resíduo ao se estabelecer o MRL, independente do valor encontrado no ponto que exprime o prazo de carência entre a última aplicação e a colheita. No Brasil adiciona-se um outro componente quando do estabelecimento do MRL, qual seja a utilização da dose dobrada nos testes de campo. Talvez, uma decisão tomada pela presunção da má utilização desse insumo por parte de parcela dos agricultores, como dose maior e sobreposição de faixas na aplicação. Mais segurança. Completada essa operação, compara-se o valor de resíduos obtido da soma das ingestões diárias versus a ADI (Ingestão Diária Aceitável). Se o valor de resíduos for menor ou igual a ADI, tudo bem; se for maior, sinal vermelho. Eu

diria, amarelo, porque na verdade trata-se de uma superestimação. É preciso ressaltar que (a) apenas uma parte da safra colhida é tratada com pesticida; (b) a maioria das culturas tratadas contém resíduo abaixo do MRL; (c) os resíduos geralmente são reduzidos no armazenamento, na preparação dos alimentos ou no processamento industrial (inclusos aí: lavagem, secagem, fermentação, refinamento, cocção, etc.). Perceba o leitor que não são simples fatores, são verdadeiras barreiras de segurança! É por essas razões que os toxicologistas admitem que ingestões de curto prazo (caso dos alimentos advindos das chamadas culturas com pouca expressão econômica ou territorial) com índice que ultrapasse a ADI não devem ser consideradas objetivamente um perigo à saúde. Será que existe algum pesticida com toxicidade mais crítica capaz de ultrapassar todas essas barreiras? É difícil. Mas não é tão difícil encontrar um guloso cidadão, vizinho de descuidado plantador de Fragaria, e que todo santo dia come lá uns seis (6) rechonchudos moranguinhos. Pode muito bem ultrapassar a ADI com significativa margem e a sua ingestão diária continuada causar a qualquer momento uma complicada indigestão. Os descuidos desse agricultor da saborosa rosaceae serão comentados aqui, qualquer C dia desses.


Informe jurídico • Newton Peter • OAB/RS 14.056 • consultas@newtonpeter.com.br

Compensação correta de IPI

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m leitor que possui uma indústria processadora de grãos encaminha interessante consulta acerca de autuação sofrida da Receita Federal por haver se compensado de créditos de IPI no pagamento de outros tributos da área federal. E pergunta se isso não é permitido pela lei. Vamos tentar explicar como funciona essa possibilidade, hoje uma necessidade das empresas para enfrentar a voracidade fiscal imposta pelo Governo Federal, que não está para brincadeiras em sua intenção de manter as metas de superávit fiscal. A rigor, temos duas situações clássicas contra as empresas: algumas, em razão até da alta atividade legislativa nacional em matéria tributária, de um lado, e da deficiência de informações de outro, não se aproveitam de todos os benefícios que a legislação oferece, entre elas a utilização dos créditos de IPI gerados na aquisição de insumos usados na produção. Outras, tentando aproveitar ao máximo as benesses da lei, porém igualmente mal informadas ou contratando serviços de profissionais desatualizados, são penalizadas por erros cometidos durante este processo. O IPI, vale lembrar, é um tributo não-cumulativo cuja incidência dá-se somente sobre o valor econômico agregado em cada elo da cadeia produtiva. A não-cumulatividade é obtida exatamente através do sistema de créditos e débitos do imposto. Em uma atividade industrial cujas alíquotas de entrada e de saída do IPI não diferem, o valor do crédito não supera o valor devido na saída, o que resulta no recolhimento, pelo fisco, da diferença auferida após o encontro de contas entre débito e crédito. Mas há situações em que ocorre o contrário, isto é, o valor do crédito supera o do débito, gerando um saldo credor de IPI. Vejamos como acontece: a) Em algumas atividades industriais a alíquota aplicada à matéria-prima é bem maior do que a incidente sobre o produto industrializado, o que gera um acúmulo

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mensal de crédito. b) Em outras atividades o saldo credor resulta de serem seus produtos isentos, imunes ou tributados pela alíquota 0%, enquanto os insumos usados têm alíquotas elevadas. c) Há também a conjunção das duas situações, ou seja, sobre parte de seus produtos não há incidência de IPI e sobre outra a alíquota é menor do que a de seus insumos. Como, então, usar esse crédito? A matéria foi regulada com a edição da Lei 9.779/99, que diz: “o saldo credor do IPI, acumulado em cada trimestre-calendário, decorrente da aquisição de matériaprima, produto intermediário e material de embalagem, aplicados na industrialização, inclusive de produto isento ou tributado à alíquota zero, que o contribuinte não puder compensar com o IPI devido na saída de outros produtos, poderá ser utilizado em conformidade com o disposto nos artigos 73 e 74 da Lei nº 9430, de 27 de dezembro de 1996, observadas normas expedidas pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda”. Algumas alterações foram in-

troduzidas pelas leis 10.637/02 e 10.833/ 03, porém permanece a principal regra, a do art. 74 da 9430/96, autorizando as pessoas jurídicas, detentoras de saldo credor de IPI, a compensar os seus créditos com parcelas vencidas ou vincendas de qualquer tributo desde que sua arrecadação seja administrada pela Receita Federal. É possível, portanto, compensar créditos de IPI para saldar débitos da Cofins, Pis, IR, CSL, por exemplo. Então onde reside o problema? Exatamente na expressão “... observa-

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das normas expedidas pela Secretaria da Receita Federal...” constante no texto legal. Daí, nem sempre as empresas atentam para a instrução normativa da Receita Federal que regula a forma da compensação. Todo o processo, sem exceção, deve ser encaminhado com antecipação para a Receita Federal, que dele tomará conhecimento e autorizará sua execução. Fora isso, é cutucar o leão com vara curta. Qualquer compensação feita sem prévia autorização da Receita será penalizada com base na própria Instrução Normativa e desconsiderada com base no parágrafo único do art. 116 do Código Tributário Nacional, introduzido pela Lei Complementar nº 104/ 01, dispositivo já tristemente batizado como Norma Geral Antielisão, que dispõe: “A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observador dos procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária”. Este dispositivo vem sendo duramente criticado, não obstante sua defesa intransigente pelo Governo. Os críticos o consideram ofensivo ao princípio da legalidade pois, vedadas pela Constituição Federal a instituição e a majoração de tributos sem lei anterior, não poderia haver espaço, em nosso ordenamento, para uma norma antielisiva genérica. Mais ainda, a possibilidade de desconsiderar atos e negócios, esmagando o princípio da legalidade, implicaria em sacrifício da segurança jurídica, valor fundamental preservado pelo direito. Mas essa discussão é longa e demanda outro comentário. Por ora o melhor a fazer é: as empresas usarem os benefícios compensatórios colocados à sua disposição. Mas sempre, e mais importante, assessoradas por profissionais especializados em tais trabalhos, visando prevenir-se de futuras autuações em razão do mau exercício de seus direitos perante a C Receita Federal.

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Agronegócios

E quando as reserv fertilizantes acabar

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todo o instante somos chamados à reflexão: e quando o petróleo acabar? E quando a água potável acabar? E quando a terra agricultável se esgotar? Todas são reflexões pertinentes e importantes, mas a questão não se esgota por aí. Existem outros recursos naturais não renováveis, aos quais também devemos dedicar atenção, a fim de não comprometer as gerações futuras. E esse é um desafio para os cientistas da agropecuária. Existem três grandes restrições à expressão do potencial produtivo das plantas cultivadas. A primeira é de origem biótica, representada pelas pragas (insetos, fungos, bactérias, nematóides, vírus, plantas invasoras, etc). As duas outras são abióticas, sendo uma delas climática (seca, temperaturas inadequadas, excesso de chuva, granizo, etc) e a outra ligada às condições do solo (salinidade, acidez, baixa fertilidade, estrutura ou topografia inadequada, compactação, entre outras). E o agricultor espera solução adequada para todas as restrições.

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OS ESTRESSES AGRÍCOLAS Os estresses são responsáveis por grandes perdas de produção agrícola, pela sua instabilidade ao longo do tempo, pelo alto custo dos seguros agrícolas e, no limite, pela pobreza nas regiões mais afetadas por estresses, sejam eles edáficos, climáticos ou sanitários. O estresse climático é o de mais difícil abordagem, porém estudos estão sendo conduzidos para melhorar o zoneamento agrícola, para desenvolver variedades resistentes à seca, ao frio e ao excesso de água e para compor sistemas de produção para convivência com os riscos climáticos. Novidades também surgem a todo o instante no que tange ao controle de pragas. E, mais recentemente, os cientistas abriram o leque de soluções diferenciadas para a nutrição de plantas. Um dos objetivos é prolongar a vida útil das jazidas de fósforo e potássio e poupar a energia necessária para a fabricação de fertilizantes nitrogenados.

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FIXAÇÃO SIMBIÓTICA A grande solução para o suprimento de nitrogênio às plantas cultivadas é a fixação simbiótica de nitrogênio. A natureza apontou essa solução ao associar bactérias com plantas da família das leguminosas, formando uma parceria de sucesso. As bactérias (dos gêneros Rhizobium, Bradyrhyzobium, Azorhizobium, etc.) possuem a habilidade de fixar o nitrogênio presente no ar atmosférico, devido à presença da enzima nitrogenase, fenômeno que está fora do alcance dos vegetais. Na parceria, as bactérias extraem do ar o nitrogênio necessário à sua sobrevivência e multiplicação, cedendo parcela deste para as plantas. Em contrapartida, a planta fornece nutrientes que são necessários para o desenvolvimento das bactérias. Pesquisas estão identificando estirpes das bactérias com maior capacidade de fixação de nitrogênio e menos sensíveis às condições ambientais. Da mesma forma, especializamse as estirpes em relação às novas cultivares, buscando a melhor combinação possível de

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as de em?

(Al+++), é tóxico às plantas cultivadas. A solubilidade do alumínio no solo é dependente do pH. Em solos ácidos, o alumínio se torna solúvel; em solos com pH próximo da neutralidade, à sua solubilidade é muito baixa. De acordo com a FAO, mais de 30% das terras aráveis do planeta constituem-se de solos ácidos com elevado teor de alumínio tóxico, resultando em baixa produtividade agrícola. Na presença de altos teores de alumínio livre as células das raízes se danificam, interferindo com o desenvolvimento radicular e com a absorção de nutrientes. O problema é particularmente severo nos solos tropicais e úmidos. Culturas como soja, algodão, milho ou feijão não se desenvolvem bem nessa condição, devido à sua sensibilidade ao alumínio tóxico. A redução de produtividade pode superar 80% para as espécies e cultivares mais sensíveis. O pH mais baixo, além de solubilizar elementos tóxicos, diminui à disponibilidade de alguns nutrientes essenciais para as plantas, deprimindo ainda mais a produtividade.

CORREÇÃO DA ACIDEZ

estirpes e cultivares. As técnicas de biotecnologia abriram um vasto e promissor campo de pesquisas. Os cientistas podem estudar em detalhes a composição genética das bactérias, identificar genes desejáveis, transportar genes entre microrganismos diferentes, identificar com maior precisão as bactérias que serão utilizadas pelos agricultores. Um campo altamente promissor é a extensão da simbiose entre bactérias e plantas para outras famílias além das leguminosas cultivadas. Estudos com gramíneas, envolvendo bactérias dos gêneros Azospirillum, Beijirinckia, Bacillus e Azotobacter, abrem a perspectiva promissora de dispensar a adubação nitrogenada para o trigo, milho ou cana de açúcar, como ocorre, atualmente, para a soja e o feijão.

ACIDEZ DO SOLO E BAIXA FERTILIDADE O alumínio é o metal mais abundante na face da Terra e tem uma ampla distribuição no solo. Esse metal, na sua forma iônica

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Atualmente, a solução disponível é a calagem, de forma a elevar o pH do solo e reduzir a solubilidade do alumínio. Ocorre que a aplicação de calcário não é uma panacéia, pois necessita re-aplicações após determinado tempo. Além disso, aumenta o custo de produção e pode contribuir para a poluição causada pela erosão. Os pequenos agricultores, desprovidos de capital para investimento, são os maiores prejudicados pela acidez no solo. Estudos têm sido desenvolvidos para contornar a elevada acidez dos solos, sem o recurso à calagem. Pesquisas recentes identificaram um gene de uma bactéria (Pseudomonas aeruginosa) que codifica para a enzima citrato sintetase (CSb). Os cientistas modificaram plantas de tabaco e mamão, pela introdução do gene, obtendo cultivares altamente tolerantes ao alumínio tóxico.

PLANTAS TOLERANTES À ACIDEZ Foi descoberto que algumas plantas, para se desenvolverem em solos com altos teores de alumínio tóxico, liberavam ácido cítrico pelas raízes o qual se ligava ao alumínio, formando compostos de mais difícil absorção pelos vegetais. As plantas transgênicas produziam e liberavam entre 4 e 10 vezes mais ácido cítrico que as cultivares originais. As cultivares transgênicas, contendo o gene de P. aeruginosa, cultivadas em ambientes com saturação de Al+++, obtiveram bom desenvolvimento radicular. Ao contrário, as cultivares originais (sem transforma-

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ção) não demonstraram habilidade para a formação de raízes sob essa condição. A análise do tecido radicular das plantas transgênicas demonstrou um teor muito baixo de alumínio, comprovando à teoria dos cientistas. O gene também foi introduzido em milho e arroz, obtendo resultados similares. Caso não sobrevenham efeitos colaterais indesejáveis – agronômicos, ambientais ou de segurança dos alimentos – essa descoberta poderá significar um impacto comparável ao ocorrido com a Revolução Verde. Entretanto, o princípio no qual repousa é o antípoda da Revolução Verde, ou seja, aproveita-se o potencial genético da planta, sem o recurso a insumos químicos adicionais. Na prática, significa que a segurança alimentar do mundo estará menos dependente das reservas de corretivos do solo.

EXTRAÇÃO DE NUTRIENTES Sabe-se que o desenvolvimento pós-embrionário das raízes das plantas é altamente plástico. Essa propriedade permite adaptações de sua estrutura arquitetônica, em conformidade com as condições ambientais, sobretudo à disponibilidade de água e nutrientes do solo. Utilizando a planta modelo Arabidopsis thaliana, os pesquisadores correlacionaram a disponibilidade de fósforo com o desenvolvimento do sistema radicular da planta. Havendo baixa disponibilidade (P<50 µM), observou-se maior crescimento da raiz principal e maior densidade de radículas laterais. Aplicando-se auxinas e inibidores do transporte de auxinas, verificou-se que essas mudanças estavam correlacionadas com uma sensibilidade mais elevada à auxina, quando há baixa disponibilidade de fósforo. A análise genômica de plantas segregantes para a característica demonstrou que alguns genes mutantes (axr 1-3, axr 2-1, e axr 4-1) têm resposta normal à baixa disponibilidade de fósforo, enquanto outro mutante (iaa 28-1) demonstrou pouca sensibilidade ao estímulo de baixos teores de fósforo, para a formação de radicelas. A partir dessas descobertas, foram desenvolvidas plantas transgênicas com maior capacidade de extração de fósforo, sob condições de baixa disponibilidade desse elemento, favorecendo especialmente os pequenos agricultores, que não dispõem de recursos para investir em melhoria da fertilidade do solo. Adicionalmente, será possível reduzir as atuais recomendações de adubação com esse elemento, ampliando o hoC rizonte de uso das jazidas. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Projeções Econômicas

Resumo econômico e perspectivas

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economia brasileira continuou com perspectiva positiva no mês de agosto. Do lado do setor real da atividade econômica, os indicadores divulgados ao longo de agosto e início de setembro ratificam o processo de retomada consistente da economia e da melhor situação de solvência das contas públicas, ou seja, maior capacidade do governo federal de honrar suas dívidas. Todos esses fatos renderam ao país uma melhora na classificação de risco para a dívida de longo prazo em moeda estrangeira pela agência Moody´s. A nota passou de B2 para B1 e, também, pela agência Standard & Poor´s. A melhora na classificação de risco do país mantém aberto os canais de crédito no exterior e, com isso, tanto governo federal quanto as empresas privadas continuam promovendo captações de recursos no exterior que, por sua vez, reduzem a vulnerabilidade externa do país. Neste sentido, os resultados do PIB referente ao 2º trimestre do ano –que é um termômetro da economia nacional – revelam que o Brasil está no caminho certo para equacionar, ao menos em parte, os problemas de renda e emprego na economia. • Produto Interno Bruto (PIB) – 2º Trimestre/2004 A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) referente ao 2º trimestre de 2004 observada foi de 5,7% na comparação contra o mesmo trimestre de 2003, o maior resultado trimestral desde o 3º trimestre de 1996 (+6,3%). No acumulado do primeiro semestre de 2004 o PIB registra 4,2% de crescimento sobre o mesmo período do ano passado, o melhor desempenho do PIB nessa base de comparação desde o ano 2000. Em termos dessazonalizados, o PIB registrou crescimento de 1,5% em relação ao 1º trimestre deste ano. Nossa projeção apontava para 2,2% e a média do mercado estava em 1%. Esse é o quarto resultado consecutivo de taxas positivas e ratifica que o nível de atividade da economia brasileira vem em ritmo consistente e mais acelerado do que se acreditava.

A NOVA DINÂMICA DO PIB Até o primeiro semestre de 2004 a dinâmica do crescimento do PIB ficou apoiada sobre o setor externo (exportações), em grande parte, e também na recuperação do setor industrial, esse último impulsionado pela queda da taxa de juros no segundo semestre de 2003.

É fato que a redução dos juros foi determinante para que a economia brasileira entrasse nos trilho do crescimento econômico, mas, superado o período de recuperação econômica e já desfrutando do período de consolidação do crescimento econômico a manutenção do nível de atividade terá como fator determinante a recuperação do consumo doméstico que, por sua vez, será amparado pela melhora consistente da renda e do emprego, que já vem ocorrendo desde abril deste ano e são as variáveis consideradas os motores da economia. Dessa forma, a dinâmica do crescimento do PIB passa a ter um novo perfil. Ao invés de se apoiar apenas nos setores exportadores e no setor industrial o crescimento passa a ser sustentado também pelo setor de Serviços, que é um setor ligado basicamente às atividades internas, como é o caso dos subsetores: Comércio, Transporte e Instituições financeiras. Vale destacar ainda, que na medida em que a atividade econômica se expande para os demais setores da economia, e não mais se sustenta apenas naqueles voltados ao setor externo, a trajetória de recuperação do Consumo das Famílias se consolida ainda mais e, sendo o consumo das famílias responsável por 63,6% do PIB pela ótica da demanda, o crescimento do PIB acima de 4% para este ano fica garantido.

É fato que com a consolidação de um maior consumo doméstico a necessidade de elevação dos juros básicos será ainda maior que a Alexsandro Agostini Barbosa ocorrida (a taxa Economista Global Invest básica de juros subiu 0,25 ponto percentual em setembro, para 16,25% ao ano) para inibir aumentos de preços no varejo. Entretanto, as esperadas elevações na taxa de juros básica nos próximos meses não afetarão o crescimento projetado para este ano (em torno de 4,2%) devido alguns fatores, a saber: I) os juros devem subir de forma gradativa, pois não se trata de um período de choque como ocorreu em 2002; II) há defasagem média de, pelo menos, 3 meses entre a decisão de elevação ou queda dos juros e seu real efeito na economia. Como faltam apenas 3 meses para acabar o ano, considerando já a alta da reunião do Copom de setembro, realizada dia 21/09, o efeito negativo ficará para 2005, pois deverá afetar de forma negativa as expectativas futuras de investimentos em maquinário e em mão-de-obra, mas espera-se que esse efeito negativo seja modesto, ou seja, se o crescimento estimado do PIB está em 3,5% ele poderá ser de 3%, por C exemplo.

Principais indicadores macroeconômicos do Brasil 2000/03 e cenário base 2004/05 INDICADOR PIB (em %) PIB INDUSTRIAL (em %) PIB AGROPECUÁRIO (em %) PIB SERVIÇOS (em %) INFLAÇÃO - IPCA INFLAÇÃO - IPC-FIPE INFLAÇÃO - IGP-M INFLAÇÃO - IGP-DI TAXA DE CÂMBIO (R$ / US$ - fim de ano) TAXA DE CÂMBIO (em % - final de ano) TAXA DE CÂMBIO (R$ / US$ - média ano) TAXA DE CÂMBIO (em % - média ano) TAXA DE JUROS NOMINAL (CDI acumulado no ano) TAXA DE JUROS NOMINAL (SELIC fim do período) TAXA DE JUROS REAL (Variação s/ IPCA-IBGE) TAXA DE JUROS REAL (Variação s/ IGP-M) DESEMPREGO (Média IBGE) RESULTADO FISCAL PRIMÁRIO (% do PIB) DESPESA COM ENCARGOS DA DÍVIDA (% do PIB) BALANÇA COMERCIAL (US$ bilhões) EXPORTAÇÕES (US$ bilhões) IMPORTAÇÕES (US$ bilhões) BALANÇA DE SERVIÇOS (US$ bilhões) BALANÇA DE RENDAS (US$ bilhões) TRANSAÇÕES CORRENTES (US$ bilhões) TRANSAÇÕES CORRENTES (% do PIB) INVESTIMENTOS DIRETOS NO PAÍS (US$ bilhões) RESERVAS INTERNACIONAIS (Liq. Internac. - US$ bilhões) DÍVIDA EXTERNA (US$ bilhões)

2000 4,4% 4,8% 2,1% 3,8% 6,0% 4,4% 10,0% 9,8% 1,96 9,3% 1,84 -0,9% 17,3% 15,8% 10,7% 6,9% 7,1% 3,50% 8,0% (0,8) 55,1 55,8 (7,2) (17,9) (24,3) -4,0% 32,8 33,0 236,2

2001 1,3% -0,5% 5,8% 1,8% 7,7% 7,1% 10,4% 10,4% 2,32 18,7% 2,32 26,5% 17,3% 19,0% 8,9% 14,7% 6,2% 3,64% 7,2% 2,7 58,2 55,6 (7,7) (19,7) (23,2) -4,5% 22,5 35,9 226,1

2002 1,9% 2,6% 5,5% 1,6% 12,5% 9,9% 25,3% 26,3% 3,53 52,3% 2,94 26,4% 19,1% 25,0% 5,8% -21,0% 11,7% 3,89% 8,5% 13,1 60,4 47,2 (5,0) (18,2) (7,7) -1,7% 16,6 37,8 227,7

2003 -0,2% -1,0% 5,0% -0,1% 9,3% 8,2% 8,6% 7,5% 2,89 -18,2% 3,07 4,6% 23,2% 16,5% 12,8% 13,5% 12,3% 4,37% 9,5% 24,8 73,1 48,3 (5,1) (18,6) 4,1 0,8% 10,1 49,3 235,4

PROJ. 2004 4,2% 5,5% 4,0% 2,9% 7,4% 6,7% 12,0% 12,0% 3,00 3,8% 2,98 -3,0% 16,1% 17,0% 8,1% 3,6% 11,5% 4,25% 8,2% 33,0 93,5 60,5 (6,0) (20,5) 10,0 1,8% 16,0 52,0 235,0

PROJ. 2005 3,5% 3,5% 4,0% 3,0% 6,0% 5,5% 7,5% 7,5% 3,15 5,0% 3,08 3,2% 16,5% 18,0% 9,9% 8,4% 11,0% 4,25% 7,7% 28,0 98,0 70,0 (7,0) (19,0) 5,7 0,9% 15,0 50,0 240,9

Fontes: Bacen, IBGE, FGV, Fipe, MDIC, Tesouro Nacional. Elaborada pela Global Invest

Projeções elaboradas com índices do dia 23/09/2004, sujeitos a alterações até o final do mês


Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Safra americana chegando ao final e estabilidade nos indicativos internacionais O mercado está vendo a colheita andar em bom ritmo sobre as lavouras americanas, e mantendo as expectativas de uma boa colheita. Os indicativos, estão ao redor das 278 milhões de t para o milho e entre 75 a 77 milhões de t para a soja, confirmando o crescimento acentuado nas duas culturas, e assim, deixando o mercado em ritmo lento e calmo, com as cotações consideradas fracas. Desta forma, o mercado mundial já está trabalhando com indicativos mais calmos, mas não mostra o mesmo quadro para operar em 2005, quando estivermos colhendo nossa safra, porque o quadro de oferta e demanda mundial de grãos continua mostrando queda nos estoques totais. Mesmo com a soja em crescimento no volume dos estoques, os demais produtos estão com estoques em queda, dando suporte à oleaginosa, porque normalmente os principais produtos operam em cima de uma relação de troca estável entre eles, como aqui no Brasil, onde é tradicional o produtor apontar que a relação normal de milho para a soja é de dois para um. Isso também ocorre no mercado mundial, e quando os estoques de um estão baixos, o outro sofre benefícios. Desta maneira, começa-se a safra por aqui com expectativa de que as cotações trabalhem dentro das médias históricas em 2005. Isso deve ocorrer se todos os principais países colherem safra cheia, porque se houver qualquer problema pelo caminho, teremos avanços positivos. Por enquanto, em relação da safra mundial, está se trabalhando com grande otimismo, ou seja, safra cheia para todos e todos os produtos, fato este que poucas vezes na história aconteceu.

MILHO Reação podendo aparecer O mercado do milho que já colheu toda a safra e agora está plantando a safra de verão. As chuvas para alguns chegaram um pouco tarde, somente na metade de setembro em diante, e agora diz-se que o plantio em geral, está com ligeiro atraso e que não haverá boas ofertas de milho novo no começo do ano. Desta forma, poderemos ver os indicativos do produto restante desta safra sofrendo pressão no lado positivo. Neste final de outubro são esperadas as primeiras altas, e novos ganhos serão vistos em novembro, quando os compradores devem formar estoques para a passagem de ano. Isso acontece porque não teremos colheita em dezembro e, se uma e outra região conseguir ter o cereal novo, ficará restrita a pouco volume, porque estas áreas teriam de ser plantadas em agosto, quando todas as regiões passavam por uma forte estiagem. Os indicativos do milho tiveram pequenas correções positivas em setembro devido aos contratos de opções que o governo leiloou e agora poderemos estar vendo na pressão de alta que vem dos produtores e vendedores. O mercado tende a se tornar comprador de agora em diante, frente ao período de vendedor que veio desde julho até setembro.

SOJA Safra americana em colheita A soja está mostrando a colheita da safra americana em andamento, e agora, os produtores brasileiros que ainda tem entre 7 e 9 milhões de t para serem comercializadas, seguram as posições na tentativa de conseguir cotações internas maiores do que as praticadas no mercado externo, sendo agora afetadas pela chegada da safra dos EUA. O quadro de alta já mostrou alguma reação em setembro, quando os indicativos internos operavam acima dos valores possíveis na exportação, e assim, poucos fechamentos foram realizados nos portos. De agora em diante, a tendência é de vermos os negócios sendo efetivados em cima do consumo local de farelo e óleo, e assim, trazer ganhos diferenciados para o produto que estiver próximo da indústria e livre nas mãos dos produtores. Será pouco espaço para grandes ganhos, isso porque o câmbio também trabalhou o mês de setembro em cima das menores posições do ano, e mesmo tendo

Outubro de 2004

alguma correção em outubro, poderá não trazer grandes ganhos à soja.

FEIJÃO Reação nos indicativos e falta de produto O mercado do feijão está sentindo o resultado da forte redução do plantio da terceira safra, que agora mostra cotações firmes e tende a ficar assim até a chegada da safra das águas, que neste ano foi plantada atrasada em função das chuvas que não apareceram em agosto. Desta forma, ainda teremos um bom período de cotações fortes e sendo formadas pelos vendedores, porque os poucos pivôs plantados no Brasil Central não tem capacidade para atender o mercado nacional para o produto de melhor qualidade. A safra do Nordeste já está com a comercialização bastante adiantada e lá também houveram grandes perdas e como as cotações na colheita estavam baixas, os produtores tiveram de vender muito produto. Assim, pouco restou para ser negociado neste mês em diante. O quadro segue firme e os produtores que devem continuar formando as cotações podem atingir os melhores

indicativos do ano neste mês de outubro.

ARROZ Muito arroz para pouco comprador O quadro geral do arroz brasileiro continuou fraco em setembro. Grandes volumes do produto sendo ofertados e a maior parte das indústrias operando com o que têm em casa, reclamando que o varejo tem apertado o setor para manter o pacote em baixa na gôndola e assim, dificultando qualquer tentativa de alta no casca. As importações do arroz do Mercosul, semibeneficiado, sem o PIS e Cofins, também colocaram produto muito barato no mercado do RS, onde estava liquidando na base do casca entre os R$ 25 e R$ 26 por saca, e desta maneira o produto gaúcho esteve operando entre os R$ 28 e alguns casos acima dos R$ 29, e abaixo para a casca para parboilização. Para atrapalhar um pouco os planos dos produtores ainda restam grandes volumes de arroz para serem negociados, fazendo com que as indústrias sigam trabalhando sem estoques e limite as altas possíveis neste mês.

CURTAS E BOAS ARROZ - os indicativos iniciais apontavam que importaríamos 800 mil t de arroz dos nossos parceiros do Mercosul, mas com a retirada do Pis e da Cofins do produto desta origem, fez com que crescessem as negociações. Agora poderemos quebrar com facilidade a marca de 1 milhão de t importadas, com isso, aumentam os estoques nacionais, limitando as tentativas de alta pretendidas pelos produtores, porque quase a totalidade do produto nacional hoje, está de posse de indústrias e produtores e não do governo. CHINA - nas últimas semanas os esmagadores e comerciantes chineses andaram gritando aos quatro cantos do mundo que necessitavam soja, porque os volumes importados já teriam sido esmagados e consumidos. E agora sem escala de produção, e do prejuízo alegado que operavam nos meses anteriores, agora estariam apontando um lucro de cerca de US$ 40 por t, mas poucos negócios conseguiram realizar. Junto houve indicativos que os EUA embarcaram cerca de 9 milhões de t neste último ano para os Chineses, agora estão programando que o volume ficará entre 5 e 6 milhões para 2005. Desta maneira abre espaço para mais soja brasileira. TRIGO - os produtores brasileiros estão colhendo a safra e reclamando das cotações que estão girando dos R$ 400 aos R$ 440, ou seja, dentro do preço mínimo. Mas o grande problema do setor hoje não é o trigo, mas o câmbio, porque o trigo tem ficado ao redor dos US$ 150 por t, que historicamente é uma boa cotação. Enquanto isso, no mercado mundial a colheita foi afetada no Canadá, onde as chuvas derrubaram a produção, que estava sendo comentada em 24 milhões de t e ultimamente comentava em no máximo 21 milhões. No Norte dos EUA, as chuvas também prejudicaram os produtores, e assim, a grande safra mundial poderá ficar um pouco abaixo das expectativas do USDA, que em setembro apontava para as 610 milhões de t contra as 550 colhidas no ano passado. O consumo mundial está apontado em 600 milhões de t, mas outras fontes apontam acima das 610 milhões. Se houver perdas grandes poderemos ter novamente um quadro de grande aperto internacional, como vínhamos passando nos últimos 5 anos, com safra menor que o consumo, que derrubaram os estoques mundiais das 200 para as 130 milhões de t. ALGODÃO - o quadro mundial, mesmo com a passagem de alguns furacões em parte das regiões produtores dos EUA, segue mantido pelo USDA ao redor dos 20 milhões de fardos. Enquanto isso, a China com 29,5 milhões, reduzindo porque se apontava para 30 milhões anteriormente, e boatos que correm apontam que poderá consolidar ainda abaixo. Mas o resumo do quadro que está pintado pelo USDA mostra uma safra de 107,3 milhões de fardos para 2004/05, contra os 94,3 milhões atuais. Mesmo com previsão de crescimento do consumo para pouco mais de 100 milhões de fardo, ainda teremos estoques em crescimento passando dos 33 para os 40 milhões de fardo e desta maneira, limita as cotações e deixa pouca liquidez para o produto. Com a recomendação aos produtores que vão plantar a nova safra, que o façam com parte do produto realizado em vendas futuras, principalmente na exportação, para não depender de fechamentos pós-colheita, visto que normalmente o algodão mostra baixa intenção de compra. O câmbio do momento está fraco, mas na colheita do algodão deverá estar melhor, porque crescem as indicações de que estaria defasado em pelo menos 15%, e alguns chegam a falar em 20%, desta forma os contratos em dólar na exportação poderão se beneficiar se houver esta correção cambial.

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Palavra do Produtor

Logística no Mato Grosso Embora os volumes de produção cresçam a cada ano, as estradas e estruturas de armazenamento continuam sendo os maiores entraves ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro

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do lastimável. Há um trecho da rodovia BR 163/364 – entroncamento BR 163Tangará da Serra até Cuiabá e de Cuiabá a Rondonópolis, cujo tráfego intenso (12 mil veículos/dia), tem ceifado inúmeras vidas, além de encarecer demasiadamente os fretes. O Mato Grosso inicia um processo de transporte intermodal, com rodoviahidrovia e rodovia-ferrovia, 40% do transporte de soja sendo efetuado por estas modalidades, ambas dependendo das rodovias federais, o saldo 60% é transportado por caminhões até os portos de Paranaguá e São Francisco do Sul. No âmbito estadual o Governo BlaiDivulgação

Estado do Mato Grosso tem se destacado como a mais eficiente fronteira agrícola do Brasil, primeiro produtor de soja, algodão e pecuária bovina de corte e segundo maior produtor de arroz. Exemplo para nosso país em gestão de agronegócio com uma agricultura empresarial de por inveja aos Norte Americanos, tendo o Secretário de Agricultura deste país declarado recentemente, que em agricultura o Brasil é país de primeiro mundo, embora sem subsídios, mantém a agricultura mais competitiva do planeta. No Mato Grosso nossa produção é de 15 milhões de t de soja, 1,78 milhões de t de arroz, 3,31 milhões de t de milho e 316 mil t de sorgo. Soma-se a este total, mais 917 mil t de caroço de algodão e 574 mil t de pluma de algodão. Como podemos observar o volume de produção é enorme, devemos ainda considerar os fertilizantes: 3,58 milhões de t e Calcáreo: 7,5 milhões de t, que terão obrigatoriamente de ser transportados por estas rodovias. Ao somarmos somente os itens acima, teremos 32,98 milhões de t, que ao dividirmos por uma média de 35 t/caminhão, obteremos 942 mil veículos sendo trafegados. Orgulho para todos brasileiros e principalmente para nós que fizemos da agricultura nossa vocação e nossa vida. No entanto, muito nos preocupa o futuro desta atividade, o problema de logística tira o sono de todos; a péssima situação das rodovias federais que cortam nosso estado e são sem dúvida as artérias por onde trafegam nossas safras, BRs 364, 163,158 e 070 estão em esta-

As rodovias federais por onde trafegam nossas safras estão em estado lastimável, lamenta Orlando

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ro Maggi vem desenvolvendo um forte programa de pavimentação das rodovias estaduais, através de consórcios rodoviários - com participação do Estado e dos agricultores. Serão 2,4 mil km pavimentados até o fim do governo. Estamos também deficientes em armazenagem, enquanto os Estados Unidos possuem 120% de capacidade, o Canadá 200%, o Brasil 70%, o Mato Grosso possue somente 64%, ou seja, na safra temos que obrigatoriamente transportar durante a colheita 36% no mínimo de nossa produção, acarretando aumento do tráfego, dos fretes e do risco. Quando falamos de 36% da safra nos referimos a grãos. O problema de logística sem dúvida é o nosso principal gargalo para o desenvolvimento. Quando pensamos em um crescimento médio de 10% ao ano, que é sem dúvida possível, haja visto que na safra 2003/2004 crescemos 12%, teremos em cinco anos algo como 50 milhões de t sendo transportadas por nossas rodovias, hidrovias e ferrovias. Como para alcançar as hidrovias e as ferrovias teremos que obrigatoriamente usar as estradas, haverá um tráfego de 1,4 milhões de veículos de carga. Nossa capacidade de armazenamento terá de ser ampliada em 134%, para que possamos escoar de forma tranqüila nossa produção. Nossos dirigentes devem tomar as providências para que a logística não continue sendo mais um custo para o Brasil, tirando parte de nossa competiC tividade lá fora. Orlando Polato, Polato Sementes

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