Cultivar 67

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Cultivar Grandes Culturas • Ano V • Nº 67 • Novembro 2004 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

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Foto Capa / Cultivar

O silêncio de incognita Antiga praga conhecida pela agressividade e potencial reprodutivo volta a preocuar produtores de algodão

18 Perigo ao pé Proibição de produtos clorados no controle do cupim fez com que a severidade dos ataques, elevasse as perdas para 10 t/h

Nossos cadernos

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Fotos de Capa

Resistência a herbicidas Saiba como acontece a resistência das daninhas a herbicidas e como as invasoras estão reagindo ao glifosato e o 2,4-D

Ricardo Casa

Jacto

40 Perspectiva de ataque Aumenta a preocupação dos produtores com a possibilidade de novos ataques da ferrugem na safra 2004/05

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Sete de Setembro, 160 Pelotas – RS 96015 – 300 • GERAL

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Índice Diretas Meloidogyne em algodão Alerta para a cercosporiose Recolhimento de embalagens vazias Controle do cupim em cana-de-açúcar Safra de trigo recorde em Goiás Fenatrigo 2004 Bayer em expansão Resistência ao glifosato Resistência a 2,4-D Molécula Pyraclostrobin Perspectiva de ocorrência da ferrugem Coluna Aenda Simpósio de patologia de sementes Negócios Agronegócios Projeções econômicas - Global Invest Mercado agrícola Informe jurídico

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REDAÇÃO • Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

COMERCIAL Pedro Batistin

Sedeli Feijó Luana Quadros

CIRCULAÇÃO • Gerente

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Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.




diretas Syngenta

Casa nova

A Syngenta participou ativamente do VIII Simpósio de Patologia de Sementes. João Carlos Nunes, especialista em tratamento de sementes, palestrou sobre as inovações tecnológicas da Syngenta na área.

A empresa Sipcam Agro S/A está em novo endereço. Mudou-se de São Paulo para Uberaba (MG), na Rua Igarapava, 599 Distrito Industrial III. João Carlos Nunes

Europa O presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa), Haroldo Rodrigues da Cunha, e produtores goianos realizaram viagem à Europa para divulgar o algodão goiano a traders da França, Inglaterra, Austrália e Singapura. “O pontecial de compra das empresas que visitamos é de 1,5 milhão de toneladas ao ano”, destaca Haroldo. A próxima etapa das negociações é trazer as traders para visitar o Estado.

Dekalb Max Fernandes, gerente de produto milho da Dekalb para a região Sudeste apresentou aos participantes do Simpósio de Patologia de Sementes o processo de produção e beneficiamento das sementes Dekalb, dando ênfase ao controle de qualidade da empresa, que trabalha com padrões de germiMax Fernandes nação superiores a 95%.

Tratamento de sementes O Gerente de Marketing Seeds da Bayer, Johan Weichanbach, destaca a importância do tratamento de sementes no período que antecede o plantio. “Felizmente os produtores brasileiros já estão bastante conscientes sobre a necessidade de tratar. O que falta, em alguns casos, é o tratamento com produtos ideais e de procedência confiável”, Johan Weichanbach observa.

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Novo site O lema escolhido para os 30 anos do Cenargen foi “Preservando o passado, antecipando o futuro”. Como parte das comemorações, foi lançado o novo site (www.cenargen.embrapa.br).

Congresso A Associação dos Assistentes Agropecuários do Estado de São Paulo estará promovendo o Congresso Brasileiro de Assistência Técnica à Agricultura, programado para 9 a 11 de novembro de 2004, em Campinas (SP). O evento terá como objetivo a apresentação e discussão de trabalhos originais nas áreas de extensão rural, assistência técnica especializada, assistência técnica regulamentada e fomento do uso de tecnologia moderna. Mais informações pelo telefone (19) 34176604, pelo e-mail: cdt@fealq.org.br ou no site www.fealq.org.br .

Gente nova O pesquisador Herberte Pereira da Silva é o novo integrante do time de profissionais da Agromen, responsáveis pelo desenvolvimento de híbridos. Engenheiro agrônomo, formado pela Esalq/USP, está trazendo para a Agromen sua experiência adquirida ao longo de 23 anos de trabalho na área. “A expectativa é de agregar valores a uma equipe de pesquisadores conceituada em uma Herberte da Silva empresa que está entre as maiores do mercado”, diz.

Projeto premiado O Projeto premiado da Syngenta, “Escola no campo”, foi reformulado e ampliado. Mantendo o objetivo de ensinar crianças, durante cinco meses de aula, que a manipulação de defensivos agrícolas não deve ser realizada por menores de 18 anos, o projeto foi remodelado para aumentar sua eficiência devendo atingir mais de 26 mil crianças em 29 regiões produtivas ainda este ano.

Reunião A Sociedade de Entomologia da Paraíba (SEPB) promove nos dias 9 e 10 de dezembro deste ano, no auditório do Centro de Extensão José Farias Nóbrega da Universidade Federal de Campina Grande, a sua primeira reunião anual. Mais informações e-mails raul@cnpa.embrapa.br ou nivia@cnpa. embrapa.br, telefones (83) 315-4314/4320

Exposição de Art Naif A Bayer CropScience apresenta a exposição “O Brasil Agrícola na Arte Naif – O Campo Produzindo Arte”. Composta por 18 telas criadas especialmente para esse projeto, a mostra dá espaço às obras de artistas nacionais e propõe um novo olhar à agricultura brasileira. A exposição, percorrerá nove cidades brasileiras e segundo o Diretor de Marketing e Pesquisa e Desenvolvimento, Gerhard Bohne, o objetivo da empresa é promover a cultura nacional por meio da arte, destacando aspectos intrínsecos à agricultura tipicamente brasileira e à sua própria atividade econômica.

XIV Congresso

30 anos

O XIV Congresso de Sementes está programado para 22 a 26 de agosto do próximo ano, no Hotel Rafain, em Foz do Iguaçu (PR). Segundo Jeorge Szczypior, diretor financeiro da Abrates, e George Simon, diretor de eventos da Abrates, este será o primeiro congresso organizado pela Abrasem, composta por Abrates, Abcsem, Braspov e associações estaduais de sementes, elevando o evento como o grande encontro do setor e o maior da América Latina. Paralelo ao congresso, acontece a II Feira do Agronegócio de Sementes, com exposições de equipamentos e máJeorge Szczypior e George Simon quinas para o setor.

Criada em 4 de outubro de 1974, a Embrapa Arroz e Feijão completa 30 anos. Segundo a chefegeral da unidade, Beatriz Silveira Pinheiro, a solenidade comemorativa ao aniversário contou com o lançamento do selo comemorativo, homenagens, destaques a empregados, além da inauguração da exposição “Memória Fotográfica do Centro”. Atualmente conta com 310 empregados, sendo 55 pesquisadores, dos quais 85% possuem doutorado.

Cultivar

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Beatriz Pinheiro

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Algodão

O silêncio de inco Depois de um forte trabalho de controle através de cultivares resistentes, a pesquisa e produtores têm deixado no esquecimento M. incognita, praga conhecida pela agressividade e pelo potencial reprodutivo, é hoje alvo de preocupações sobre o futuro da cotonicultura

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mbora já tenha sido provado que o algodoeiro (G. hirsutum L.) é hospedeiro de várias espécies de nematóides, muito poucas delas são patógenos da cultura. Uma planta é considerada hospedeira de um nematóide se este completa seu ciclo de vida alimentando-se dela. Se além de completar o seu ciclo de vida, o nematóide também causa perda à produção, este é considerado um patógeno. Se não, o nematóide é apenas um parasito. A grande maioria das espécies de fitonematóides que completa seu ciclo de vida alimentando-se das raízes do algodoeiro, portanto, é apenas parasita. Muito poucas são patógenos. Com efeito, em termos mundiais, apenas Meloidogyne incognita, M. acronea, Rotylenchulus reniformis, Pratylenchus brachyurus, Hoplolaimus spp. (pelo menos quatro espécies), e uma espécie de Xiphinema e outra de Longidorus são consideradas patógenos da cultura. Juntos, esses nematóides causam perdas estimadas em 10,7 % na cotonicultura mundial (Barker, 1998).

NEMATÓIDES-CHAVE No Brasil, apenas M. incognita (Figura 1) R. reniformis (Figura 2) e P. brachyurus (Figura 3) têm o status de patógenos da cultura do algodoeiro. Essas três espécies estão amplamente distribuídas nas regiões produtoras de algodão do país. Em São Paulo, no entanto, R. reniformis ainda prevalece sobre as outras duas. Isto porque, durante muitos anos, houve a proibição ao plantio de outros cultivares de algodão que não fossem da série IAC, cuja maioria deles continha genes de resistência a M. in-

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cognita, mas não a R. reniformis. Como conseqüência, os danos causados por M. incognita foram se tornando cada vez menores, enquanto R. reniformis foi assumindo importância cada vez maior. Nos últimos anos, houve uma introdução maciça de novos cultivares no Brasil e a maioria sem resistência a M. incognita. Considerando-se que esta é uma das espécies mais distribuídas no país, é provável que volte a ser um dos principais problemas da cultura nos próximos anos. De fato, a agressividade desse nematóide à cultura, bem como

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seu potencial reprodutivo são maiores que no caso de R. reniformis e de P. brachyurus. Dois grupos econômicos, em São Paulo, estão inseridos na história da cotonicultura no Brasil: o Grupo Mini e o Grupo Maeda. Ambos têm larga experiência no manejo de R. reniformis na cultura do algodoeiro. O primeiro tem usado o controle químico, além da rotação de culturas, como principais estratégias de manejo desses patógenos. O segundo deixou de produzir algodão no Estado. Um de seus técnicos, por ocasião do XXIII Congresso Brasileiro de

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Jaime dos Santos

gnita Newton Peter

A espécie encontrada no Brasil é do grupo de nematóides das lesões radiculares

Nematologia, realizado em 2001 na cidade de Marília (SP), afirmou que, pelo menos em parte, a história dos danos causados por R. reniformis nas fazendas do grupo tinha influenciado a decisão de deixarem de produzir algodão no Estado. Pratylenchus brachyurus, ao contrário das outras duas espécies, é um endoparasito migrador. O nematóide penetra nas raízes e migra no interior dos tecidos, à medida que se alimenta, causando galerias e deixando os ovos na trajetória. Os danos que esse nematóide causa às plantas de algodão já foram demonstrados em estudos conduzidos em casa de vegetação. A campo, aqui no Brasil, embora também seja admitido que se trata de outro patógeno importante da cultura, os danos causados não se igualam aos de M. incognita ou R. reniformis. Entretanto, os cotonicultores não devem ignorá-lo. Trata-se de uma espécie do grupo dos nematóides das lesões radiculares. Além dos danos diretos às raízes, as lesões que esse e os outros dois nematóides causam predispõem as plantas ao ataque de outros patógenos. Por conseguinte, os novos cultivares devem ser mantidos em constante vigilância, especialmente contra a murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum). Trata-se de uma das doenças mais destrutivas da cultura e de difícil controle. A interação des-

se fungo com M. incognita em algodoeiro é conhecida há muitos anos. Há registros, inclusive, de casos em que cultivares resistentes ao fungo comportaram-se como suscetíveis, quando eram simultaneamente atacados pelo nematóide. Além desse caso, mais recentemente, tem sido demonstrado que muitas das doenças de plântulas de algodoeiro, causadas por fungos tais como Pythium spp., Rhizoctonia solani e Thielaviopsis basicola que resultam na redução da população de plantas nas lavouras são muito mais severas quando os nematóides, também, estão presentes (Brodie E Cooper, 1964; Kirkpatrick e Rothrock, 1995).

ESTRATÉGIAS DE MANEJO Os nematóides são microscópicos e vivem no solo ou dentro dos tecidos da planta. Portanto, não os enxergamos no campo, a olho nu. Salvo as galhas formadas por M. incognita nas raízes do algodoeiro, ilustradas na Figura 1, os sintomas causados pelos nematóides, na parte aérea das plantas, são facilmente confundidos com os de outras causas. Por isso, os produtores, em geral, negligenciam os problemas causados por esses patógenos. O manejo bem sucedido de nematóides, em todos os países do mundo que o


Fotos Jaime dos Santos

fazem, só é praticado por produtores que adotam medidas preventivas, visando diminuir os riscos de danos causados por esses patógenos em suas lavouras. Conhecem a história da área e procuram se informar sobre a cultura anterior; acompanham, de perto, a cultura atual examinando-a quanto à presença de nematóides, pensando na cultura que virá a seguir. Também fazem análises de amostras de solo para aumentar seu nível de conhecimento da área; sabem quais são as espécies presentes, notadamente dos nematóides de galha e conhecem a distribuição espacial dos nematóides na fazenda; escolhem variedades, pelo menos, mais tolerantes para as áreas infestadas; fazem rotação de culturas com o propósito de reduzir a população dos nematóides; aplicam nematicidas quando necessário. Enfim, trabalham com conhecimento de causa. Os que assim procedem diminuem os riscos de perdas e estão mais próximos da maximização de seu sistema produtivo. A aplicação de nematicidas e a rotação de culturas são as duas medidas mais utilizadas para o manejo de nematóides na cultura do algodoeiro. Conforme menção de Starr (1998), nos EUA, a utilização de nematicidas à base de aldicarb e de 1,3dicloropropeno (não disponível no mercado brasileiro) e a rotação de culturas são as medidas mais utilizadas. No Brasil, além de aldicarb, nematicidas à base de carbofuran também têm sido utilizados na cultura do algodoeiro. Na escolha do nematicida a ser utilizado, o produtor deve levar em conta o fato de que todos os nematicidas são, também, inseticidas. Por conse-

guinte, o controle das pragas iniciais pode ser um benefício a mais no uso de nematicidas. O produto que tiver ação mais efetiva, também, no controle das pragas iniciais que ocorrem na área pode oferecer mais vantagens. A rotação de culturas com sorgo é uma prática muito conveniente, já que essa cultura não constitui um hospedeiro favorável para nenhum dos três nematóides-chave do algodoeiro no Brasil. Além dessa opção, a utilização de plantas antagonistas como as espécies de Crotalaria, pode ser uma alternativa vantajosa. Essas, além de não serem hospedeiras, têm um princípio ativo com ação letal para Meloidogyne spp. As populações dos outros nematóides do algodoeiro (Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis) também sofrem a ação antagonista das espécies de Crotalaria, conforme demonstrado por Silva et al. (1989 a, b, c). A mucuna preta também tem ação sobre M. incognita. Contudo é hospedeira de M. javanica. Esta espécie não infecta o algodoeiro, mas pode causar danos em outras culturas como a soja. Isso tem importância se o sistema de produção de algodão da fazenda inclui rotação com a soja. A resistência de cultivares tem grande potencial de uso para M. incognita e menos para as outras duas espécies-chave no Brasil. De fato, pelo menos em São Paulo, a resistência de cultivares da série IAC foi a principal estratégia para o manejo desse nematóide no Estado, durante muitos anos. Somente mais recentemente foram encontradas fontes de resistência a R. reniformis no germoplasma de algodão. Esse fato abre perspectivas de utilização da re-

Sintomas da parte aérea na planta de algodão, típicos do ataque da M. incognita

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Cultivar

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A utilização de cultivares resistentes é a principal estratégia de controle em São Paulo (SP)

sistência de cultivares também para esse nematóide num futuro próximo. A utilização de plantas geneticamente modificadas é a grande promessa para o manejo de nematóides em geral. As técnicas de produção de variedades geneticamente modificadas já foram desenvolvidas, mas as questões legais têm sido a principal limitação para o uso de tais materiais. Na prática, os melhores resultados no manejo de nematóides são obtidos por produtores que adotam um conjunto de medidas em vez de uma medida isolada. Em tais casos, todos os que trabalham na fazenda estão informados do assunto. Até no preparo do solo estão atentos à possibilidade de dispersão dos nematóides pelas máquinas. Por isso, as áreas sabidamente infestadas são preparadas por último. Práticas culturais como a destruição dos restos da cultura anterior, o mais rápido possível, são de grande importância para o manejo dos nematóides do algodoeiro. Isto porque os nematóides estão continuamente se multiplicando nas raízes vivas e infestando o solo. Só se multiplicam se tiverem raízes vivas para se alimentar e reproduzir. Daí a importância da destruição, no sentido de não deixar raízes vivas disponíveis. Com isso, o ciclo de vida dos nematóides é interrompido e as populações passam a decrescer no solo. A combinação dessas alternativas ou de parte delas, como prática habitual da equipe que trabalha na fazenda, em vez da adoção de uma única medida isolada, garante o sucesso no manejo das populações de nematóides a C todos que adotarem essa opção. Jaime Maia dos Santos, Unesp

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Milho

Alerta para a cercosporiose

Nilceu Nazareno

Ainda sem produtos registrados para o controle, a cercosporiose, causadora de perdas de produtividade de até 41%, exige cuidados com uso de resistência de cultivares e planejamento de safra para quebra do ciclo do patógeno no solo

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Cercosporiose do milho é uma doença foliar de origem fúngica, causada por Cercospora zeamaydis Tehon & Daniels e encontra-se amplamente distribuída nas lavouras dessa cultura. Shurtleff (1980) cita a espécie C. sorghi var. maydis Ell. & Ev. como causador da doença em milho também. Os sintomas típicos da Cercosporiose do milho caracterizam-se por manchas retilíneas entre as nervuras das folhas, de coloração amarelo palha-acinzentada, de largura variável entre 1 e 5 milímetros e comprimento que pode chegar a 5 centímetros (Figura 1). Essas manchas unem-se uma às outras, podendo cobrir quase toda a folha quando as condições para o desenvolvimento da doença são favoráveis. Nas bainhas foliares, as lesões tomam formato mais elíptico (Figura 2). Mesmo com as folhas já secas e após a colheita, pode-se ver as manchas da doença na palhada (Figura 3). Como plantas hospedeiras alternativas

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Cultivar

citam-se poucas espécies. Dentre elas está o capim massambará (Sorghum halpense (L.) Pers.), o capim arroz (Echinochloa cruz-galli (L.) Beauv.) e outras espécies de Sorghum (Shurtleff, 1980), amplamente distribuídas no Brasil. Ela vem tornando-se cada vez mais freqüente nas lavouras do Estado do Paraná, causando altos índices de infestação nas folhas e bainhas da planta. Epidemias severas ocorreram na região central do Brasil há dois a três anos. Esse aumento nos níveis de infestação está muito atrelado a mudanças no sistema de produção, sendo dois fatores primordiais: o incremento na adoção do plantio direto e na área de milho “safrinha”. Segundo levantamento feito dentro de um projeto do Iapar em parceria com a Itaipu Binacional, a área de plantio direto na região Oeste do Paraná passou de 13% para 94%, de 1996 a 2002, respectivamente. A prática de plantio do milho “safrinha” tem suas origens no início da década de 80

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e deixou de ser uma atividade de risco para se tornar uma em que se busca lucro e com tecnologia apropriada para o cultivo. De acordo com a Seab/PR-Deral, em 2003, o Paraná contava com 1,4 milhão de hectares de milho “safrinha”, cabendo ao Oeste do Estado uma estimativa média de 400 a 550 mil hectares. O fungo causador sobrevive na palha do milho, a qual serve como fonte de inóculo para novas lavouras de milho na vizinhança (Nazareno et al, 1992). Além disso, os esporos propagadores da doença têm alto poder de dispersão, induzindo gradientes da doença pouco inclinados, o que permite o rápido e amplo espalhamento da cercosporiose (Nazareno et al, 1993). Como o fungo tem capacidade de permanecer vivo na palhada do milho, a sua presença na região vai sempre permanecer enquanto houver palha infestada na superfície do solo. A presença e a quantidade da palhada infestada sobre a superfície do solo são fatores primordiais para a previsão da ocorrência da Cercosporiose na lavoura subseqüente (Nazareno et al, 1993), mas não é garantia absoluta. Isso porque essa doença é altamente influenciada pelas condições climáticas durante a safra. A temperatura do ar flutuando entre 25 e 30 oC é favorável, mas a dependência maior para a progressão da doença na planta é a umidade relativa (Latterell e Rossi, 1983). A presença de água livre na superfície da folha, através de orvalho prolongado de 12 a 15 horas (pelo menos até 10h 30min.), é fator preponderante. Se essas condições não ocorrerem durante a safra, a Cercosporiose não se desenvolve, mesmo em cultivar suscetível e na presença de palhada infestada. Essa experiência foi vivenciada na safra das águas de 2004, no município de Santa Helena (PR), onde a cv. AG 9010, suscetível, foi plantada sobre resteva contaminada para fins experimentais, e a seca predominante na região fez com que não fosse visível nem uma mancha da doença durante todo o ciclo da cultura. Uma vez a doença instalada na cultura, sua progressão no tempo, normalmente ocorrendo do período de florescimento para frente, vai ocorrer, podendo chegar a altos níveis de severidade. Lavouras infectadas, dessa forma, vão fornecer inóculo para outras lavouras que venham a ser plantadas na região. A essa altura, não há como impedir o avanço da doença. Não se tem muita informação de perdas em produtividade associada à doença no Brasil. Em experimento para estudar a viabilidade de controle químico da Cercosporiose na região de Castro (PR), Silva

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Fotos Nilceu Nazareno

(2003) encontrou perdas em produtividade de 8,3% em cultivar resistente e de 41,3% em cultivar suscetível, respectivamente (Silva, 2003). Deve-se lembrar que alta severidade de doenças foliares, como a Cercosporiose, por exemplo, deixa a planta suscetível à podridão do colmo e as perdas podem ser ainda maiores. Em levantamento feito em 24 lavouras de milho em final de ciclo na safrinha de 2003, na região Oeste do Paraná, observou-se a média de 22% de área foliar coberta pela doença, tendo lavouras com 0,5% até 90%. Apesar dos experimentos de Silva (2003) demonstrando redução de perdas em produtividade com controle químico, não existem fungicidas registrados no Paraná para a Cercosporiose do milho. Além disso, pulverizações terrestres são impraticáveis na cultura depois de determinado estágio de seu desenvolvimento. Os produtores devem estar conscientes que o cultivo continuado do milho em plantio direto vai manter a doença sempre presente na região e que havendo condições climáticas favoráveis, ela pode tornar-se um problema. Como o plantio direto é uma arma que o produtor tem para garantir a preservação do seu solo e do meio ambiente, reduzindo a erosão, medidas integradas para garantir qualidade de cultivo devem ser preconizadas, tais como adoção de coberturas verdes de inverno e de verão, para melhorar a eficiência da rotação de culturas, em termos fitossanitários e de fertilidade do solo. A escolha de cultivares resistentes é a melhor solução para minimizar os efeitos negativos da doença. O Iapar disponibiliza anualmente, através de Informes da Pesquisa, as informações relativas ao comportamento regional de culti-

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vares de milho para o Paraná, publicações estas que podem ser buscadas via Internet na página: www.iapar.br.

PERSPECTIVAS DE CONTROLE Considerando que o fungo causador da doença permanece na palha infestada enquanto ela durar na superfície do solo, que seus esporos propagadores espalham-se com muita facilidade pelo vento, que a prática do plantio direto e que o cultivo do milho na época da “safrinha” continuarão como opção dos produtores, a única defesa que o produtor tem para evitar danos pela doença é a escolha de cultivares resistentes. A prática do controle químico tem que ser avaliada com cuidado, pois a eficiência de pulverizações aéreas em plantas adultas nessa cultura não está bem definida. Na busca de informações no setor de cadastros de agrotóxicos da Seab/PR-Defis, observase listado apenas o fungicida propiconazole, porém está descrito como não liberado, tanto para a cultura como para o alvo. Assim, essa ferramenta ainda não está dispo-

Resíduos de milho no solo, com visíveis sintomas da Cercosporiose

nível para uso dos produtores. A prática de rotação de culturas tem limitações onde o milho é plantado em grandes áreas contíguas, em plantio direto, porque de qualquer maneira os esporos vêm de áreas adjacentes para as lavouras onde seu proprietário tenha feito rotação com culturas não hospedeiras, por um ou mais anos. O enterrio da palha infestada reduz a quantidade de inóculo a se deslocar na atmosfera, pois essa prática oferece a barreira física do solo sobre a fonte de liberação de esporos cobrindo a palhada, ao mesmo tempo em que se acelera a decomposição dos resíduos infestados e do próprio fungo. No entanto, o benefício do plantio direto na preservação do solo e da qualidade da água de uma região deve ser considerado, sabendo-se que existe material genético resistenC te ou tolerante à doença. Nilceu R. X. de Nazareno, Iapar

Lesões ovaladas de cercosporiose do milho na bainha foliar

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Embalagens

Consciência ambiental

Além da referência no cultivo de grãos, o Brasil também tornou-se exemplo na destinação das embalagens vazias de defensivos agrícolas. Contando com a integração de toda a cadeia agrícola, o país é lider mundial em volumes recolhidos

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Brasil é constantemente citado como referência mundial no cultivo de grãos. O agronegócio brasileiro prospera a cada ano e é responsável por cerca de 33% do PIB do país, pela geração de 37% dos empregos e concentra 42% do total de exportações. Com um grande potencial produtivo propiciado por condições naturais privilegiadas, o Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agricultáveis. Os produtos fitossanitários essenciais à proteção das culturas e garantia da produção acompanharam o desenvolvimento do agronegócio e, para que as embalagens dos produtos aplicados na agricultura brasileira pudessem ter um correto destino ambiental, foi fundado em dezembro de 2001 o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, o Inpev, que gere o sistema de destinação final de embalagens vazias de defensivos agrícolas em atendimento à Lei Federal 9.974/00. De uma maneira simplificada, o sistema funciona com a distribuição de responsabilidades na cadeia produtiva e a integração de seus elos: o agricultor que lava, inutiliza, armazena temporariamente e devolve as embalagens dos produtos fitossanitários utilizados; os canais de distribuição, que disponibilizam o local para a devolução dos recipientes; a indústria que faz toda a logística de transportes e confere a correta destinação final a estas embalagens; e o poder público, que tem o papel de fiscalizar e promover a educação. Atualmente há 265 Unidades de Recebimento distribuídas em todos os esta-

Entre janeiro e setembro deste ano foram recolhidos mais de 11,4 mil toneladas

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dos da federação, número que corresponde a mais de 80 mil m² de área construída e ambientalmente licenciada para o recebimento das embalagens que são devolvidas pelos agricultores. A evolução no recolhimento é expressiva: foram 3,7 mil toneladas em 2002, 7,8 mil em 2003 e mais de 11,4 mil toneladas entre janeiro e setembro de 2004. Há Estados que já devolvem mais de 90% das embalagens dos produtos que são aplicados, como é o caso da Bahia e do Paraná, que nos últimos 12 meses (de agosto de 2003 a setembro de 2004), devolveram respectivamente 98,7% e 95,3% das embalagens dos

Mais de 80 mil m2 de área construída e licenciada entre as 265 uniddes de recolhimento

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defensivos agrícolas que foram aplicados na agricultura. Outro Estado que merece destaque é o Paraná que entre os meses de janeiro e setembro de 2004 já devolveu 2.673 toneladas de embalagens, 114,6% a mais do que foi devolvido no mesmo período do ano anterior (1.245 toneladas de janeiro a setembro de 2003). Estes índices que apresentam a cada mês elevação considerável fizeram com que a meta de recolhimento anual passasse de 11,7 mil para 15,3 mil toneladas de embalagens de defensivos agrícolas até dezembro, o que representa 65% dos recipientes que são colocados no mercado anualmente. Com a finalidade de educar e orientar o agricultor o Inpev, em parceria com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, lançou uma ampla campanha de massa intitulada “A Natureza Precisa de Você”. A campanha será veiculada na televisão, rádio e jornais dirigidos ao meio rural e é formada por duas etapas. A primeira fase, de outubro a dezembro, explorando o tema “lave-me”, uma vez que é o período de plantio da safra de verão. Com o slogan “é simples, é fácil e é lei”, o filme “Lave-me” (bem como spots de rádio,

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Fotos Inpev

anúncios em jornais, revistas e painéis de estrada) orienta o agricultor para a realização da correta lavagem das embalagens no momento da aplicação dos produtos. A segunda parte da campanha explora o “Devolva-me” para estimular a devolução dos recipientes e será lançada no ano que vem. O filme “Lave-me” possui conteúdo educativo e formato didático baseado em programas de perguntas e respostas. Um personagem foi especialmente criado para o comercial, o espantalho Olímpio, que pergunta aos participantes (produtores rurais) sobre os procedimentos corretos de lavagem e devolução de embalagens. A platéia do programa é composta por personagens que representam algumas das principais culturas agrícolas do país, como milho, tomate, cana, além de outros elementos encontrados na natureza e animais domésticos. A importância da campanha está diretamente ligada ao aumento da conscientização do agricultor quanto à lavagem e devolução das embalagens, já que 95% dos recipientes que são anualmente colocados no mercado podem ser reciclados, desde que passem pelos processos de lavagem. O sistema de destinação final possui dez

O Brasil desenvolveu um sistema próprio de recolhimento que é hoje único no mundo

empresas parceiras que realizam o trabalho de reciclagem das embalagens que são lavadas e devolvidas pelos agricultores. Juntas, estas empresas, situadas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso, produzem mais de 15 diferentes artigos como cordas, conduítes, embalagens para óleo lubrificante, madeiras plásticas, barricas de papelão, economizadores de concreto, entre outros. Um lado interessante do sistema é que, além de cuidar da melhoria ambiental, já gerou mais de 2 mil empregos diretos e apresentou uma faceta sócio-econômica importante.

João César Rando, Presidente do Inpev, diz que a meta anual de recolhimento é de 15,3 mil toneladas por ano

O Brasil desenvolveu um sistema próprio, único, que se tornou líder no mundo em volumes recolhidos e que funciona devido à integração, comprometimento e compartilhamento das responsabilidades de toda a cadeia agrícola: agricultores, canais de distribuição e fabricantes com o apoio das entidades de classe que representam cada elo desta cadeia, e o poder público. Hoje não há apenas um responsável pelo processo: todos os atores sentem-se proprietários de uma C parte do sistema.


Cana-de-açúcar José Francisco Garcia

Inimigo ao pé Proibição de produtos clorados no controle de cupins fez com que a severidade dos ataques elevasse as perdas para cerca de dez toneladas por hectare ao ano. Aliando custo e benefício, estratégias de manejo e controle estão sendo adotadas para garantir a produtividade

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Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, tendo colhido uma área de cerca de 5,3 milhões de hectares em 2003 (FAO, 2004). São Paulo é o Estado líder em produção, cerca de 224 milhões de toneladas, em aproximadamente 2,8 milhões de hectares colhidos em 2003 (FNP, 2004).

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A cana-de-açúcar é suprimida por inúmeras doenças e pragas, dentre essas últimas, destacam-se os cupins, pela gravidade dos danos e pela vasta distribuição geográfica. Dentre os cupins que causam maiores prejuízos à cultura canavieira e que ocorrem em todos os países onde esta cultura está implantada, destacam-se os de hábitos subterrâ-

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neos. O problema com estes cupins tornou-se mais importante no Brasil após a proibição do uso de produtos clorados que controlavam eficientemente esta praga. Os cupins que ocorrem em cana-de-açúcar podem ser divididos, pelos hábitos de construir suas colônias, em dois grupos facilmente identificáveis no campo. Cupins de montículo: os gêneros mais comuns são Cornitermes, Cylindrotermes, Syntermes e Nasutitermes (Isoptera: Termitidae), sendo a espécie mais freqüente Cornitermes cumulans, que constrói colônias epígeas com envoltório terroso duro. São tidos como de menor importância porque se alimentam basicamente de material vegetal morto que forrageiam através de galerias subterrâneas, por raramente serem encontrados atacando tecidos vivos da planta e por suas colônias serem destruídas pela freqüente mecanização do solo e pelos tratos culturais da lavoura. Porém podem causar problemas quando a colheita da cana-de-açúcar é mecanizada, por contribuírem com a quebra de máquinas no momento do corte da cana. Cupins subterrâneos: os gêneros mais comuns são Heterotermes, Neocapritermes, Procornitermes e Rhinchotermes (Isoptera: Rhinotermitidae), sendo as espécies mais freqüentes Heterotermes tenuis e Heterotermes longiceps, cujas colônias distribuem-se em galerias difusas no solo, no interior de raízes e, quando eventualmente deslocam-se em locais expostos, constroem túneis com detritos vegetais, solo e fezes. Alimentam-se de material lenhoso em várias fases de decomposição, sendo comum atingirem partes vitais das plantas, como toletes de cana recém plantados, sistema radicular e entrenós basais de cana em formação, adulta ou soqueiras. Dentre as espécies de cupins que ocorrem em cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, as principais são Heterotermes tenuis e Procornitermes triacifer, as quais estão mais associadas com os danos na cultura. H. tenuis caracteriza-se por apresentar o corpo afilado, branco-leitoso, cápsula cefálica amarelada, tórax com laterais arredondadas e mandíbulas longas. Atacam os tecidos vivos, como sistema radicular, entrenós basais, e toletes em novos plantios. Tem como característica não levar solo para o interior das galerias, ao contrário de P. triacifer.

MONITORAMENTO O monitoramento deve ser realizado visando avaliar o nível populacional da praga e de seus inimigos naturais e depende de quatro componentes básicos: a) pessoal - referese ao conhecimento que o pragueiro deve ter para efetuar o monitoramento; b) mecânico refere-se aos aparelhos utilizados; c) estatístico - relaciona-se à precisão a ser adotada e d)

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desenvolvido para H. tenuis tendo seu uso estendido a outras espécies de cupins, consiste em se examinar 20 touceiras em um hectare, espaçadas 20 metros entre linhas e 25 metros na linha, permite a agilidade que se espera nesse tipo de amostragem sem perda de confiabilidade. Essa unidade amostral representa uma área de até 10 ha, devendo ser repetida sempre nesta proporção, em função do tamanho dos talhões de reforma ou de implantação da lavoura canavieira.

CONTROLE QUÍMICO

econômico - que envolve o custo da amostragem e a vantagem ou não de sua realização. Os objetivos da amostragem devem ser definidos para determinar adequadamente o tamanho da unidade da amostra. Se o objetivo for para decidir pelo controle ou não da praga, muitas vezes será preciso prescindir do tamanho ideal e optar pelo tamanho economicamente viável, o que significa eleger o tamanho de menor custo, mas que este mantenha a confiabilidade das informações levantadas. Não há atualmente um sistema de monitoramento padrão adotado pelas usinas, devido à falta de trabalhos publicados com embasamento científico que possam ser tomados como referencial, porém, de forma geral, para as áreas nas quais a cultura já está instalada, o sistema utilizado é o de arranquio de soqueiras, após o corte, antecedendo a destruição das mesmas para a renovação do canavial. Nas áreas de implantação da cultura, os produtores costumam colocar iscas atrativas, antes da instalação da lavoura, constituídas de toletes de cana ou isca Termitrap® (papelão corrugado), as quais são acondicionadas a pequena profundidade, onde permanecem por no mínimo 30 dias (toletes de cana) ou 10 dias (Termitrap®), seguidas de avaliação, para definir o índice de infestação e as espécies presentes. A isca Termitrap®, embora eficiente no monitoramento para determinar a necessidade de controle, tem sido menos empregada, provavelmente por falta de divulgação, dificuldade de obtenção do papelão adequado e ou por fatores econômicos. Quanto ao número de amostras a ser tomada, em ambos os casos, há uma tendência em se adotar duas amostras por hectare. Embora se reconheça sua baixa representatividade, ela é adotada basicamente pela limitação operacional, especialmente pelo elevado custo de se aumentar este número. Em relação ao nível de controle, com base em observações visuais e no ganho de produtividade ob-

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Cupim de montículo do gênero Nasutitermes, que constróem colônias epígeas com envoltório terroso duro

tidos em experimentos de controle químico, tem sido adotado o controle para infestações superiores a 20% das amostras, especialmente em locais onde é observada a presença de H. tenuis. O conceito de unidade amostral que foi

O método consagrado de controle de cupins subterrâneos em áreas de cana-de-açúcar no Brasil tem sido o preventivo, baseado no conceito da barreira química, empregado na implantação da lavoura. Porém, devido ao alto custo dos produtos utilizados e à preocupação com o meio ambiente, atualmente fazse o monitoramento das áreas e aplica-se o inseticida no sulco de plantio, apenas nos locais onde tenha efetivamente atingido a porcentagem para o controle. Para o controle químico tem sido empregado o Regent 800 WG (fipronil) 250 g p.c. / ha; Thiodan 350 CE (endosulfan) 6 - 8 L p.c.

DESCRIÇÃO

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s cupins pertencem à ordem Isoptera, cujo nome deriva do fato das formas reprodutivas aladas possuírem dois pares de asas membranosas, sub-iguais (iso = igual; ptera = asas). São insetos sociais que apresentam castas reprodutoras e não reprodutoras, compreendendo o casal real, as operárias e os soldados, respectivamente. Aspectos bioecológicos e comportamentais O conhecimento da bioecologia e aspectos comportamentais são informações básicas fundamentais para uma eficiente estratégia de controle, abrangendo sua sazonalidade, forma de ataque à cultura e ação de fatores bióticos sobre a população, ou seja, seus inimigos naturais, visando ao Manejo Integrado de Pragas. As colônias são divididas em castas formadas por indivíduos especializados em realizar diferentes tarefas. As fêmeas férteis (rainhas) possuem capacidade reprodutiva que pode prolongar-se por anos. Os machos (reis) têm função de fertilizar as rainhas para manterem a fecundidade. Os soldados são providos de fortes mandíbulas e protegem os operários e a colônia em geral. As operárias são

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encarregadas de diversas tarefas, necessárias para a sobrevivência da colônia. São notáveis pela capacidade de digerir matérias resistentes, devido aos protozoários e bactérias presentes no trato digestivo, podendo alimentar-se de madeira morta e tecidos vegetais vivos. Os cupins têm por hábito a troca de alimentos elaborados entre os indivíduos da colônia ou com seus simbiontes, comportamento este conhecido como trofalaxia. Este termo evoluiu do termo oectrophobiosis, pois não há apenas troca de alimentos e simbiontes, envolve também estímulos táteis e químicos. Essa troca de alimentos dá-se pela boca, através do estomodéu e pelo ânus, através do proctodéu. A digestão da madeira fornece aos cupins proteínas, sais minerais e energia, necessários ao seu metabolismo. Os operários consomem também indivíduos doentes e feridos, tendo por hábito armazenar cupins mortos, provavelmente destinados à alimentação, fator importante na colônia, pois na escassez de alimento pode ser alterada a composição das castas com a diminuição do número de soldados e operárias.

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/ ha ou Counter 50 G (terbufós) 20 kg p.c. / ha. Em soqueiras, pode-se empregar iscas Termitrap®, que têm como ingrediente ativo o imidacloprid + Beauveria bassiana, na proporção de 40 iscas por hectare por ano. Tratamento este que visa a eliminação de ninhos. Esses métodos químicos convencionais não estão adaptados para explorar o comportamento social desses insetos. Assim, novas estratégias de controle deveriam ser mais estudadas, como: barreiras e mortalidade retardada. Entre as barreiras, existem as químicas e as físicas. A mortalidade retardada utiliza a ingestão voluntária de agentes químicos tóxicos ou microbianos e sua posterior transmissão trofalática entre os indivíduos, sendo que a quantidade de tóxico transmitida é pequena, de maneira que toda a colônia seja contaminada sem que tenha condições de reagir. Uma nova geração de produtos químicos como os reguladores de crescimento vêm sendo testados para o controle de cupins subterrâneos, apresentando bons resultados, pois causam uma variedade de efeitos maléficos aos cupins. Muitos desses produtos induzem o desenvolvimento de pré-soldados, causando anomalias morfológicas (intercastas), inibindo a alimentação e exercendo vários níveis de intensidade e toxicidade lenta. Porém, essa resposta aos reguladores de crescimento não é uniforme, sendo que algumas espécies são menos suscetíveis que outras e apresentam melhores resultados em colônias com baixa proporção natural de soldados.

CONTROLE BIOLÓGICO Entomopatógenos O controle biológico implica no uso de

inimigos naturais nativos ou introduzidos para controlar insetos-praga. Existem fatores que favorecem a aplicação de patógenos em insetos sociais. Normalmente, eles vivem em contato íntimo, e esse hábito, junto com a trofalaxia, permite a proliferação do agente na colônia auxiliado pelo ambiente interno dos ninhos que favorece o crescimento de entomopatógenos. A ação dos fungos entomopatogênicos, Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana, nos insetos passa por diversas fases: fixação do conídio na cutícula; germinação; penetração; crescimento na hemocele; produção de toxinas; morte do hospedeiro; invasão de todos os órgãos do hospedeiro; crescimento externo do fungo; produção de unidades infectivas e dispersão das mesmas. A morte do in-

Típico dano provocado pelo cupim da espécie Procornitermes triacifer

seto ocorre quatro a cinco dias após a inoculação com fungo, devido à produção de micotoxinas, mudanças patológicas na hemocele, ação histológica, bloqueio mecânico do aparelho digestivo, devido ao crescimento vegetativo e a outros danos físicos decorrentes do crescimento do micélio. A ação desses fungos em cupins, de maneira geral, é semelhante aos demais insetos, havendo pequenas diferenças devido ao comportamento e morfologia desses insetos. O controle biológico e o manejo integrado de pragas são uma realidade para diversas pragas; mas para cupins, apesar de resultados promissores, existem poucas técnicas aplicáveis. Porém, por motivos econômicos e a proibição de alguns inseticidas químicos, estudos acerca das espécies mais importantes de cupins estão sendo desenvolvidos por alguns grupos de pesquisa em nosso país. Predadores e Parasitóides Dentre os predadores invertebrados estão as aranhas, as vespas, os besouros, e principalmente as formigas, que são res-

CUSTOS

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Dano provocado pela espécie Heterotermes tenuis

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custo de tratamento por hec tare, visando o controle químico de cupins de cana-de-açúcar pode variar de acordo com o produto utilizado, tendo como exemplo o Regent 800 WG e utilizando a dosagem recomendada por hectare mais o custo de aplicação, o controle sairia em média de R$ 1.086,00/ha.

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Cupins também consomem indivíduos doentes e mortos em época de escassez

ponsáveis por quase 100% de mortalidade dos alados. Quanto às formigas termitófagas, há necessidade de estudos mais detalhados das espécies. Geralmente, são formigas que atuam em ninhos fracos, parcialmente colonizados por fungos. Esses predadores são considerados oportunistas, pois a ocorrência de alados é sazonal e de curta duração. As demais castas são predadas, muitas vezes, por tamanduás, tatus, vários pássaros (incluindo as aves domésticas), répteis e anfíbios. O estudo de parasitóides de cupins é escasso, sendo que trabalhos nessa área descrevem apenas duas espécies de phorídeos, Diplonerva mortimeri e Diplonerva watsoni, as quais parasitam cupins da subfamília Nasutitermitinae. As fêmeas ovipositam no abdome de operários, onde ocorre todo o desenvolvimento larval.

CONTROLE - ISCAS ATRATIVAS Iscas devem ser bastante atraentes, pois o ingrediente ativo não deve ser repelente aos insetos, precisa ter ação lenta, para permitir a transmissão entre as operárias e os demais indivíduos da colônia, devendo ter como objetivo a morte de toda a colônia e não apenas a sua expulsão da área tratada. O sucesso do uso de inseticida em iscas dependerá da sua palatabilidade aos cupins, bem como de sua transferência entre os indivíduos em forma ativa.

MANEJO O ataque de cupins em cana-de-açúcar é mais severo em plantas estressadas

O controle é realizado preventivamente com aplicação de inseticida no sulco de plantio

por doenças, dano físico, déficit hídrico, aspecto nutricional, entre outros. As táticas de controle visam impedir o acesso de cupins em áreas cultivadas. Uma vez já instalados, busca-se reduzir o número dos indivíduos, através de controle químico e da seleção de plantas menos suscetíveis ao ataque. As táticas de controle não-químico envolvem o controle cultural, através da eliminação de soqueiras após a colheita em áreas de ocorrência da praga, a diminuição do stress de plantas, mantendo o equilíbrio nutricional, evitando o déficit hídrico, promovendo a rotação de culturas com plantas tóxicas ou repelentes e a minimização dos danos físicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A despeito de muitas espécies de cupins serem benéficas por promoverem a mineralização da matéria orgânica, muitas vezes elas são tratadas como pragas pelo desconhecimento. Porém, diversas espécies são realmente pragas importantes para a cultura canavieira, também nesses casos, há carência de informações básicas na literatura para melhor conhe-

Exemplo de isca atrativa Termitrap (esq.) e Tolete (dir.)

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cê-las, visando estabelecer estratégias de controle. Isto se deve ao número de espécies e, especialmente, à diversidade de ambientes em que vivem, dificultando obter informações que possam ter seu uso generalizado. Assim, face a essas dificuldades, o controle cultural, com a eliminação de restos da cultura no momento de reforma do canavial e a posterior aplicação de inseticida, visando criar uma barreira química que dificulte o ataque de cupins, tem sido a estratégia de combate mais empregada na lavoura canavieira, que tem dado o retorno econômico necessário para suportar tal estraC tégia de ação. José Francisco Garcia e Luciano Pacelli Medeiros Macedo, Esalq/USP Paulo Sérgio Machado Botelho CCA/UFSCar

PREJUÍZOS

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s cupins atacam os toletes sementes danificando as gemas; conseqüentemente, influem na germinação da cana, que apresenta um grande número de falhas, exigindo, em muitos casos, o replantio. Atacam, também, cana no início de crescimento e perfilhamento, causando injúrias e redução no stand e após o corte, quando as soqueiras ficam vulneráveis devido ao corte e a fatores abióticos. Os danos chegam a 10 toneladas por hectare por ano. De modo geral, o ataque é maior em terrenos arenosos.

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Trigo Massey Ferguson

Novo recorde Variedade BRS 207 bate novo recorde de produção, desta vez em Goiás, com 7,92 toneladas por hectare, produzida em sucessão ao feijão

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a safra passada, já havia sido registrado um recorde de produção da variedade BRS 207, desenvolvida pela Embrapa Cerrados e Embrapa Trigo, no município de Rio Paranaiba (MG). Este ano, novo recorde foi alcançado, desta vez no município de Águas Frias (GO). O recorde anterior, safra 2003, foi de 7,48 toneladas/ha na propriedade de Akio Tamekumi, ultrapassado na atual safra por 7,92 toneladas/ha na fazenda Nossa Senhora Aparecida, de Oli Fiorese, que passou a produzir trigo há apenas dois anos. O somatório de fatores como genética da variedade, plantio de qualidade, correto manejo de irrigação e nutrição equilibrada, foram decisivos para a obtenção da produtividade, segundo Wagner Nunes, engenheiro agrônomo que prestou consultoria técnica ao produtor. A BRS 207 foi plantada no sistema de plantio direto, tendo como cultura antecessora o feijão, no período de 10 a 15 de maio com 380 plantas/m2 . No manejo nutricional, segundo Wagner, adotou-se o conceito de adubação de sistemas, onde o foco passa a ser o pivô como um todo e não apenas o trigo ou qualquer que seja a cultura. Como, no caso, a cultura anterior havia sido o feijão, foi aproveitado o residual de fósforo deixado (baixa exportação do elemento) como fator de suporte ou reserva técnica e então projetou-se o uso de 90 kg/ha de P2O5, visando uma produtividade de 6 toneladas/ha. O nitrogênio foi usado na dose de 110 kg/ ha e o potássio de 60 kg/ha, repondo apenas a quantidade exportada pelo feijão, pois, o solo apresentava > 3% da CTC com K, com teor de argila > 50%. Na adubação com enxofre foi considerado apenas o necessário para manutenção (25 kg/ha) visto o nível satisfatório do elemento (> 15 mg/dm3). O boro, micro-

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nutriente, também foi garantido na adubação de plantio com 1kg/ha. Aplicações de produtos fitossanitários, assim como demais técnicas de manejo, não tiveram destaque. As doenças nem se manifestaram na lavoura, mas, de forma preventiva, aplicouse, no momento da emissão da folha bandeira da cultura, Priori Xtra, contra possíveis ataques de ferrugem, helmintosporiose e brusone. Quanto às pragas, apenas a lagarta do solo, na emergência das plantas, precisou de controle, através da aplicação de clorprifós na dose de 1,0 l/ha. No caso de invasoras, a pressão foi baixa porque na cultura anterior houve a preocupação de garantir a colheita no limpo. Foi feita uma dessecação eficiente para garantir uma

dianteira competitiva para o trigo, assim, a própria lavoura tornou-se um fator inibidor para o aparecimento de invasoras. Ainda assim, na fase de perfilhamento, devido à incidência de trapoeraba e picão-preto, foi utilizada uma única aplicação do herbicida Ally 5g/ha para o controle das invasoras. Além destes fatores, o manejo da irrigação utilizou o sistema do tanque Classe “A” valendo-se dos coeficientes de cultura (KC) desenvolvidos pela Embrapa Cerrados. O fator básico, como perfeita calibração do equipamento, foi critério fundamental para um índice de uniformidade de lâmina >85% (CUC). As irrigações ficaram, em média, com 3mm/dia até atingir >6mm/dia entre espigamento e grãos leitosos, passando para cerca de 4mm/dia até a maturação fisiológica. C

POTENCIALIDADES DA BRS 207

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Embrapa Cerrados tem lançado novas e melhores cultivares de trigo para o Cerrado do Brasil Central desde o início da década de 1980. A maioria tem apresentado excelente desempenho agronômico. A BRS 207 originou-se do cruzamento entre a cultivar mexicana Seri 82 e a linhagem PF 813, realizado em Brasília (DF), em 1988 na área experimental da Embrapa. Em relação às características botânicas e agronômicas, é uma cultivar de ciclo médio, em torno de 110 dias da emergência à maturação plena, aproximadamente sete dias maior ao da Embrapa 22 e Embrapa 42, de porte médio (84 cm). A cultivar é resistente à debulha e apresenta boa resistência ao acamamento e apresenta grãos de textura semi-dura. Quanto às doenças, a BRS 207 é sus-

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cetível ao crestamento (devido à toxidez do alumínio no solo), à ferrugem da folha, ao oídio e à brusone. Em condições de campo, tem apresentado boa sanidade em relação às doenças predominantes no Cerrado. Com referência à força do glúten (W), que é um dos principais índices da qualidade industrial, a cultivar BRS 207 apresenta um valor médio de W igual a 248 x 10-4J. O ponto mais forte desta cultivar é o seu alto potencial de produtividade. Para se ter uma idéia do potencial da BRS 207, triticultores do Cerrado, de 2001 a 2004, têm alcançado produtividades superiores a 7 mil kg/ha de grãos com qualidade, chegando até próximo de 8 mil kg/ha, em 2004, no município de Água Fria (GO). Estas altas produtividades são obtidas em áreas de solo corrigido e com alta fertilidade. Julio César Albrecht, Embrapa Cerrados

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Evento Janice Ebel

VIII Fenatrigo C

erca de 150 mil pessoas visitaram a VIII Fenatrigo, rea li-zada de 24 de setembro a 04 de outubro no Parque Integrado de Exposições em Cruz Alta (RS), onde estiveram mais de 400 expositores. A multifeira, realizada a cada dois anos, buscou aliar lazer, diversão e gastronomia, com negócios e informações para o setor produtivo da região e para o público que compareceu ao parque. Entre os focos do evento estão a tecnologia do agronegócio, onde mostras, seminários, fóruns e dinâmicas foram as atrações da feira e a política do trigo na região, tratada em seminários, reuniões pela cadeia produtiva.

Temas como gestão e comercialização de grãos, tendências climáticas para colheita e safra de verão, além da realização do II seminário nacional de plantio direto, integraram a programação juntamente com a mostra de flores, dinâmica de alimentos, mostra de alternativas econômicas e mostra de agroindústrias e produtos ecológicos. Segundo o presidente da Fenatrigo, Roberto Luiz Salet, a feira representa a grande estratégia de desenvolvimento regional, trabalhando a autoestima da comunidade. Entre os grandes atrativos da feira, estiveram dois túneis: um resgatou a história do plantio direto, mostrando toda

tragetória do sistema implantado. Outro túnel demonstrou a evolução genética e técnica do trigo, contando a história da espécie até as ferramentas biotecnologicas utilizadas hoje, como a transgenia.

CONCURSO DO TRIG0 Os produtores ainda puderam participar do Concurso do Trigo organizado por Emater, Sindicato Rural e Fundacep, para a premiação da espiga com o maior número de grãos. Foram 35 espigas inscritas concorrendo ao prêmio de R$ 400,00, além de passaporte para a feira. Em primeiro lugar ficou a espiga da variedade CEP 29 com 87 grãos, de Paulo César Giongo. A segunda colocada, também da variedade CEP 29, tem 83 grãos. Em terceiro, 78 grãos da variedade BRS 179 e a quarta colocada, também da variedade BRS 179, com 76 C grãos.


Nossa capa Flavio D. Haas

Resistência ao glifosato Em função da importância do manejo de plantas daninhas nas mais diversas culturas, a preocupação com a resistência é sempre constante, mesmo quando se trada produtos como o glifosato, que ainda mantém sua eficácia no controle das invasoras

A

tentes em 270 mil locais do mundo. No Brasil, existem 11 biótipos resistentes registrados (Tabela 1). Fatores que interagem na seleção de biótipos As características bioecológicas das plantas daninhas que favorecem a seleção de biótipos de plantas daninhas resisten-

tes em uma área são: ciclo de vida curto, elevada produção de sementes, baixa dormência da semente, várias gerações reprodutivas por ano, extrema suscetibilidade a um determinado herbicida e grande diversidade genética (Christoffoleti et al., 1994; Vidal & Fleck, 1997, Vargas et al., 1999). Assim, não é qualquer planta daninha que

José Christoffoleti

seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas na agricultura brasileira e mundial é um fenômeno já constatado e relatado para praticamente todos os herbicidas em uso na agricultura. A confirmação de um novo caso de resistência de planta daninha ao glifosato através da espécie Lolium multiflorum (azevém), que corresponde ao primeiro caso relatado no Brasil para esse herbicida, preocupa o meio científico, produtivo e industrial, devido à importância desse herbicida para o manejo de plantas daninhas das diversas culturas. Por esse motivo, a discussão e a compreensão do fenômeno da resistência são fundamentais para prevenir ou retardar a seleção de biótipos resistentes a herbicidas.

RESISTÊNCIA DE DANINHAS A HERBICIDAS A resistência de plantas daninhas a herbicidas é a capacidade natural e herdável de alguns biótipos, dentro de uma determinada população de plantas daninhas, de sobreviver e se reproduzir após a exposição à dose de um herbicida, que seria letal a uma população normal (suscetível) da mesma espécie (Christoffoleti & LópezOvejero, 2003). Os registros apontam atualmente a existência de 284 biótipos resis-

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Em todo o mundo já existem 284 biotipos resistentes em 270 locais

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tem potencial de ter selecionado biótipos resistentes rapidamente a determinado herbicida, ou seja, algumas espécies de plantas daninhas apresentam biótipos selecionados com mais freqüência que outras espécies que raramente teriam seus biótipos resistentes selecionados. Glifosato e a resistência de plantas daninhas O glifosato é um herbicida não-seletivo, de ação sistêmica, usado no controle de plantas daninhas anuais e perenes. O herbicida é utilizado nas culturas para manejo da vegetação antes do plantio da cultura, principalmente nas áreas de plantio direto e no manejo de plantas daninhas na linha de culturas perenes, tais como em pomares de frutíferas. O glifosato tem como mecanismo de ação a inibição da enol-piruvil-shikimato-fosfato sintetase (EPSPs), enzima responsável por uma das etapas de síntese dos aminoácidos aromáticos triptofano, fenilalanina e tirosina (Kruse et al., 2000). O herbicida glifosato tem sido usado intensivamente na agricultura há mais de 25 anos e, até o momento, um número muito limitado de populações de plantas daninhas sofreu pressão de seleção suficiente para seleção de biótipos resistentes. O primeiro caso de resistência de plantas daninhas ao glifosato foi registrado em

1996. Até o momento foram registradas ocorrências de biótipos resistentes de Lolium rigidum, Eleusine indica, Conyza canadensis, Lolium multiflorum, Conyza bonariensis e Plantago lanceolata (Weed Science, 2003). Embora não seja possível afirmar que a seleção de populações de plantas daninhas resistentes ao herbicida glifosato não ocorrerá, é notável que, embora seja o herbicida de maior volume de vendas no mundo, com intenso uso já por quase três décadas, sendo em muitos sistemas de produção aplicado inclusive de forma repetitiva, tem selecionado apenas algumas populações de plantas daninhas resistentes (Tabela 2). Portanto, é evidente que este herbicida apresenta um potencial reduzido de seleção de biótipos resistentes de plantas daninhas. O número reduzido de relatos sobre a seleção de populações de plantas daninhas resistentes ao glifosato pode ser fundamentado nas características bioquímica, química e biológica desse herbicida nas plantas e no solo. Algumas das seguintes características podem explicar a baixa probabilidade de desenvolvimento de biótipos resistentes a esse herbicida na agricultura (Bradshaw et al., 1997; Bracamonte et al., 2001): I) Não apresenta residual no solo por-

Tabela 1 - Espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas registrados no HRAC de ocorrência no Brasil Espécie Bidens pilosa (picão-preto) Bidens subalternans (picão-preto) Brachiaria plantaginea (capim-marmelada) Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo) Sagittaria motevidensis (sagitária) Echinochloa crus-galli (capim-arroz) Echinochloa crus-pavonis (capim-arroz) Fimbristylis milacea (cominho) Cyperus difformis (junquinho) Digitaria ciliaris (capim-colchão) Lolium multiflorum (azevém)

Mecanismo de ação Inibidores de ALS Inibidores de ALS Inibidores de ACCase Inibidores de ALS Inibidores de ALS Auxinas sintéticas Auxinas sintéticas Inibidores de ALS Inibidores de ALS Inibidores de ACCase Inibidores da EPSPs

que é absorvido pelas partículas do solo (argila e matéria orgânica) e sofre rápida inativação e biodegradação. Portanto, a pressão de seleção é menor quando comparada com herbicidas residuais; II) Múltiplos mecanismos fisiológicos que interagem na definição da sensibilidade ao glifosato; III)Baixa adaptabilidade ecológica dos indivíduos sobreviventes. Entende-se por adaptabilidade ecológica a capacidade que um biótipo possui, dentro de uma população de plantas daninhas, de manter ou aumentar sua proporção ao longo do tempo (Christoffoleti et al., 1994). Qualquer alteração potencial na EPSPs das plantas daninhas que confere resistência ao glifosato


Tabela 2 - Ano de introdução de alguns herbicidas e o ano da constatação do primeiro caso de resistência de um biótipo de uma espécie antes bem controlada Herbicida 2,4-D Triazinas Paraquat Inibidores da EPSPs Inibidores da ACCase Inibidores da ALS

Introdução 1948 1959 1966 1974 1977 1982

Resistência 1957 1970 1980 1996 1982 1984

Fonte: Kissmann (1996)

tem um impacto negativo na habilidade competitiva da planta daninha para sobreviver. Situação similar ocorre para o grupo das triazinas, no entanto para os herbicidas pertencentes a grupo dos inibidores de ALS (imidazolinonas e sulfoniluréias), as diminuições da adaptabilidade das plantas daninhas resistentes não têm sido observadas (Christoffoleti, 2002); IV) Baixa freqüência inicial de plantas resistentes. A freqüência inicial do genoma resistente a herbicidas determina a rapidez no desenvolvimento da resistência. Assim, quanto maior a freqüência inicial do biótipo resistente, maior a probabilidade de aumentar a proporção de indivíduos resistentes, na população, em menor período de tempo com aplicações sucessivas do herbicida selecionador. Para alguns grupos de herbicidas essa freqüência é conhecida, por exemplo, as triazinas (10-10 e 10-20 plantas) e os inibidores da ALS e de ACCase (10-6 plantas) (Vidal & Fleck, 1997). V) Ausência de outros herbicidas do mesmo mecanismo de ação e; VI) Ausência na natureza de espécies de plantas que degradam quantidades significativas de glifosato. Ainda, segundo Pratley (2000), a demora no surgimento de biótipos resistentes ao glifosato por tanto anos em áreas onde são cultivadas culturas anuais, esta-

Anos para aparecimento 9 11 14 22 5 2

Países EUA e Canadá EUA Japão Austrália Austrália Austrália

ria relacionada com a modalidade de uso. Após a aplicação do herbicida em pré-semeadura, qualquer falha de controle poderia estar mascarada se posteriormente fosse realizado o preparo do solo ou se as plantas sobreviventes forem controladas com herbicidas pós-emergentes seletivos como, por exemplo, os graminicidas. Dessa forma, um biótipo resistente precisa passar por essas fases para acrescentar sementes no banco de sementes. Um dos principais trabalhos desenvolvidos para elucidação do mecanismo de resistência de L. rigidum ao glifosato foi desenvolvido por Baerson et al. (2002). Inicialmente, os autores observaram que numa população dessa espécie existiam plantas com diferentes níveis de tolerância ao herbicida e, assim, classificaram como planta suscetível (S), intermediária (I) as plantas que toleram as doses de até 0,5 kg de e.a.ha1 ; resistente (R) as plantas que toleram as doses de até 1,5 kg de e.a.ha-1; e altamente resistente (A) as plantas que toleram as doses de até 3,0 kg de e.a.ha-1. Esse fato também foi observado no Brasil, onde as plantas resistentes de azevém apresentaram diferentes graus de tolerância ao glifosato (plantas que são controladas com 2,0 l/ha e outras necessitam de 4,0 l/ha e outras até 6,0 l/ha). Ainda no trabalho de Baerson et al. (2002), foi feito o isolamento da EPSPs e teste ‘in vitro’ de sua atividade na presen-

ça de 1,6 ?M de glyphosate em todas as linhagens. Conforme pode ser observado pelos resultados da Tabela 3, a atividade da EPSPs das plantas resistentes é similar à atividade das plantas suscetíveis, descartando a hipótese de alteração da EPSPs no sítio de ação do glifosato. Baerson et al. (2002), quantificaram o nível de EPSPs nas diferentes linhagens no momento da aplicação (t = 0 hora + glyphosate) e 48 horas após aplicação do glyphosate (t = 48 horas + glyphosate), cujos resultados podem ser observados na Figura 1. Os resultados da Figura 1 sugerem uma superprodução da EPSPs induzida pela aplicação do glifosato como sendo o mecanismo potencial de resistência do L. rigidum. As linhagens R e H apresentaram expressivo aumento do nível de EPSPs na planta 48 horas após aplicação do glifosato, confirmando a hipótese de que a presença do glifosato na planta induziu a uma rápida produção da enzima pelas plantas R e H, fato que não aconteceu nas plantas

Exemplo de planta resistente e suscetível após aplicação de herbicida

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Fotos José Christoffoleti

Tabela 3 - Inibição da EPSPs através de testes ‘in vitro’. Baerson et al. (2002) Linhagens

% de inibição por 1,6 M glifosato 0 h após aplicação 48 h após aplicação 42,9 4,0 38,3 7,4 Suscetível (S) Intermediária (I) 44,3 3,0 42,4 8,8 Resistente (R) 42,2 2,5 43,6 2,9 36,6 6,5 44,5 2,8 Altamente resistente (A)

rentadas, além de a soja ser uma espécie autógama com baixo potencial de cruzamento (<1%).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Área de azevem dessecada com glifosato

S e I. Os autores observaram também que o nível de RNA mensageiro responsável pela transcrição da EPSPs era maior nas plantas R a 48 horas após aplicação do glifosato. No entanto, os estudos relativos aos níveis de DNA responsáveis pela tradução do RNA mensageiro não apresentaram diferença entre as linhagens de L. rigidum. É a transferência de material genético de uma espécie (daninha ou cultivada) para outras plantas (da mesma espécie ou para espécies diferentes), que podem apresentar novos caracteres na sua progênie (Arias & Rieseberg, 1994). O fluxo gênico dentro das populações é, sem dúvida, o modo mais importante na evolução da resistência porque a mesma favorece o aumento da freqüência de plantas daninhas resistentes em uma população. Biótipos resistentes que se reproduzem, preferencialmente, pela autofecundação (autógamas), apresentam velocidade de dispersão muito pequena, quando comparados a biótipos que apresentam fecundação cruzada (alógamas), pela dificuldade do fluxo de genes entre plantas vizinhas. Também, em espécies alógamas, existe maior probabilidade de ocorrência de múltiplos mecanismos de resistência, pois a polinização cruzada permite maior recombinação gênica (Christoffoleti & López-Ovejero, 2003). Já a transferência de genes interespecífica através do fluxo gênico é muito raro de ocorrer. Segundo Carpenter et al. (2002), o risco de fluxo gênico da característica de resistência da soja tolerante ao glyphosate para outras espécies é insignificante para as regiões de cultivo na América do Norte e Latina. Esta impossibilidade de ocorrência deve-se ao fato de que o centro de origem da soja é a Ásia, nas regiões citadas não se encontram espécies silvestres apa-

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O herbicida glifosato, apesar de seu uso intensivo na agricultura, tem poucos registros de casos quando comparado com outras classes de herbicidas. Em 2003 foi constatado no Brasil um caso de resistência da planta daninha azevém (Lolium multiflorum). Por isso, o conhecimento das características das plantas daninhas, dos herbicidas e do sistema de produção, que favorecem o aparecimento de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas, é de fundamental importância para que técnicas de manejo sejam utilizadas para evitar ou retardar o aparecimento de plantas resistentes em uma área e, caso já esteja presente no local, evitar sua disseminação e reduzir sua presença. Ressaltamos

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Discussão e compreensão do fenômeno são fundamentais para prevenir ou retardar a resistência, diz Christoffoleti

que, embora a seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes seja um fato que exige cuidados e mudanças nas práticas agrícolas, não é um fenômeno que inviabilize o uso de herbicidas. É, sim, um fenômeno que exige do produtor racionalização de medidas de maC nejo de plantas daninhas. Pedro J. Christoffoleti e Ramiro López-ovejero, Esalq/USP

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Nossa capa Flavio D. Haas

Antigo e confiável

RESISTÊNCIA

C

Provocando um desbalanço hormonal nas plantas, o 2,4-D, um dos produtos mais antigos no controle de plantas daninhas, mantêm sua integridade de atuação como um dos herbicidas mais utilizados

O

advento do controle químico das plantas daninhas confunde-se com a descoberta do herbicida 2,4-D. Desde o seu registro, em 1947, o 2,4-D é largamente utilizado na agricultura, sendo o terceiro produto fitossanitário mais utilizado nos Estados Unidos e está entre os seis mais utilizados no

Reino Unido. No Brasil, o seu uso é generalizado, possuindo registro para uso nas culturas do arroz, cereais de inverno, como trigo, aveia, cevada e centeio, café, canade-açúcar e milho, além de ser recomendado no controle de plantas daninhas dicotiledôneas, anuais e perenes, em gramados e pastagens e, no controle de plantas

Quadro 1 - Sequência de eventos desencadeados pela auxina nas plantas

onsiderando o tempo de uso dos herbicidas auxínicos, poucas espécies desenvolveram resistência até hoje. O primeiro caso observado e relatado de plantas daninhas resistentes a herbicidas foi com 2,4-D, em 1957. No mundo, foram encontrados 32 casos de resistência aos herbicidas mimetizadores de auxina. No Brasil, não existem casos de resistência associados ao herbicida 2,4-D, porém foram relatados, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, casos de seleção de biótipos de capim arroz (Echinochloa cruspavonis e Echinochloa crus-galli) resistentes quinclorac, herbicida também considerado mimetizador de auxinas, como o 2,4-D. Segundo Carvalho (2004), como o mecanismo de ação destes herbicidas é amplo, ou seja, atua em diversos processos metabólicos e bioquímicos, sem apresentar um sítio de ação específico, a compreensão do mecanismo de resistência destas plantas está ainda sem elucidação completa na literatura. daninhas aquáticas. Outro uso comum é a sua utilização no manejo de plantas daninhas em pré-semeadura, no sistema de semeadura direta, operação comumente conhecida como dessecação. O herbicida 2,4-D age, nas plantas sensíveis, da mesma forma que as auxinas naturais, porém como são aplicados em doses maiores que os reguladores de crescimento, apresentam ação herbicida nas plantas da classe das dicotiledôneas. A auxina natural, ácido indol acético (AIA) é sintetizada nos tecidos das plantas a partir do triptofano. As auxinas são hormônios de plantas que regulam o crescimento celular e diferenciação em cooperação com outros hormônios. Numa planta desenvolvida, em época específica, um Quadro 2 – Algumas características físico-químicas do herbicida 2,4-D Características 2,4 – D amina 2,4 – D éster Absorção lenta rápida PKa 2,8 2,8 Kow 79 89.000 Adsorção Baixa Alta Pressão de vapor 5,5 x 10-7 mPa 3,0 x 10-4 mPa (em mm de Hg, a 25º C) Baixa Alta Estabilidade térmica e ao ar estável instável a To C altas Probabilidade de volatilizar baixa alta Solubilidade alta baixa Lixiviação alta baixa Meia-vida (dias) 10 10

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Fotos Mauro Rizzardi

tipo de tecido responde às auxinas enquanto que outros não. A resposta pode ser inibitória ou estimulatória, dependendo da concentração da auxina, além de ser modulada pela presença simultânea de outros hormônios de plantas. O mais rápido e óbvio efeito induzido pelas auxinas e herbicidas auxínicos é o crescimento pela elongação celular (como um oposto ao crescimento por divisão celular). No Quadro 1 são apresentados os efeitos das auxinas e suas possíveis seqüências de causa-efeito. As auxinas são consideradas por ligarem se a receptores específicos nas superfícies externas da plasmalema (Figura 1) e por induzir a cascata de eventos envolvendo Ca2+ como um segundo mensageiro (Quadro 1). Os herbicidas auxínicos, também denominados de reguladores de crescimento, provocam mudanças metabólicas e bioquímicas nas plantas(Figura 2). O mecanismo de ação envolve os sistemas enzimáticos carboximetil celulase e RNA polimerase, que influenciam a plasticidade da membrana celular e o metabolismo de ácidos nucléicos. Altas concentrações desses produtos nas regiões meristemáticas do caule ou da raiz reduzem a síntese de ácidos nucléicos em plantas sensíveis, mas, quando em baixas concentrações, estimulam esses processos, proporcionando intenso crescimento celular. O aumento anormal de DNA, RNA e proteínas resulta em divisão descontrolada das células, o que se evidencia pelo crescimento anormal das plantas sensíveis. O crescimento descontrolado das células provoca epinastia de folhas e caules, além de interrupção do floema, o que impede a translocação dos fo-

O 2,4-D age na planta da mesma forma que as auxinas naturais

toassimilados. Os sintomas das plantas sob efeito destes herbicidas são crescimento desordena- formulação amina, naquelas áreas de uso do (epinastia), curvatura de caule e de ra- próximo a culturas sensíveis, ou mesmo em mos e, finalmente, paralisação do cresci- áreas ou locais com elevado risco de volamento e clorose dos meristemas, seguidos tilização, como sob temperaturas elevadas, de necrose (Figura 3). As folhas de dicoti- superiores a 20º C. ledôneas apresentam encarquilhamento e Ao se optar pelo uso de 2,4-D deve-se adquirem coloração verde-escura. A mor- levar em consideração, além da cultura e das te das plantas sensíveis ocorre lentamen- plantas daninhas presentes, o estádio de dete, às vezes após cinco semanas. Além des- senvolvimento da cultura. No caso do mises sintomas, pode ser constatada a pre- lho, o uso seletivo de 2,4-D, em pós-emersença de calos e rachaduras, com rompi- gência, somente poderá ser feito quando o mento dos vasos do floema e xilema. milho apresentar de um a seis folhas desenA seletividade depende de vários fato- volvidas e, no caso do trigo, esta aplicação res: arranjo do tecido vascular em feixes deverá ser feita quando a cultura se encondispersos, presença de meristemas inter- trar no estádio de afilhamento até a ocorrêncalares nas gramíneas, metabolização e cia do primeiro nó. Essas recomendações deexudação via sistema radical. São observa- vem ser seguidas, pois as plantas respondem das amplas diferenças na seletividade en- diferentemente ao aumento na concentratre tecidos (raízes, ramos, gemas, meriste- ção de auxinas em função do estádio de demas e calos celulares) e entre tecidos em senvolvimento no qual elas se encontram. diferentes estádios de desenvolvimento. Além do controle seletivo, o herbicida Auxinas são moléculas ácidas formu- 2,4-D é recomendado para o controle de ladas na forma de sal de amina ou éster, as plantas daninhas em pré-semeadura, no quais possuem diferenças em suas carac- sistema de plantio direto. Nesta opção de terísticas físico-químicas (Quadro 2). Es- uso, deve-se considerar o intervalo mínisas características diferenciais fazem com mo entre a utilização do produto e a semeque as formulações comportem-se diferen- adura da cultura. Em geral, este período é temente no ambiente. Uma das principais de cinco a dez dias, dependendo da cultudiferenças refere-se ao risco de ocorrer vo- ra e das condições ambientais ocorrentes C latilização. A volatilização de um produto após a aplicação do herbicida. está diretamente relacionada à sua pressão de vapor. O único composto auxínico com Mauro Antônio Rizzardi, pressão de vapor que confere volatilidade UPF é a formulação Figura 2 – Representação da atuação do 2,4 – D nas células éster do 2,4-D. Assim, essa formulação deve ser substituída pela

Figura 1 – Estrutura molecular do ácido indol acético e do 2,4-D

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Empresa Fotos Bayer

Em expansão D

a edição 2004 do Science Fo rum, evento promovido anu almente pela Bayer CropScience e realizado desta vez na cidade de Gent, Bélgica, conclui-se que a biotecnologia faz parte efetiva do dia-a-dia das grandes empresas e governos, apesar dos pequenos grupos de oposição, e que a Bayer aposta alto no aumento de sua participação no mercado mundial de algodão. A empresa colhe bons resultados com algodão convencional, o Fiber Max, variedade com elevada qualidade de fibra (em

Garthoff compara a biotecnologia às ferrovias, também atacadas em seu período de expansão

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comercialização no Brasil - veja nos gráficos). Comemora também a liberação, nos Estados Unidos, de variedades Liberty Link, transgênicas, resistentes a herbicida (Ignite – glufosinato de amônia).

BIOTECNOLOGIA Discutida em vários aspectos, cientificamente o mais importante referiu-se a descobertas sobre RNA, a questão claramente delicada em termos de biotecnologia continua sendo a comunicação. Bernward Garthoff, membro do conselho de administração da Bayer CropScience, exprimiu-se contra a possibilidade de persuasão dos consumidores. Para ele, pode-se apenas fornecer informações para que as pessoas julguem a questão. Sobre essas palavras pesam a responsabilidade do cargo e a necessidade de não polemizar negativamente, pois sabe-se quão difícil é a aceitação de novas tecnologias e quão pouco os leigos sabem sobre ciência. De acordo com seus estudos, três fatores são responsáveis pelas dificuldades de ampla aceitação dos transgênicos na Europa: problemas de comunicação entre cientistas e imprensa e entre imprensa e opinião pública, o fato de os consumidores ainda não perceberem vantagens para si no

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Fiber Max 966 Características agronômicas: Planta baixa moderna Uso mínimo de regulador de crescimento 90 a 120cm de altura Resistente ao acamamento Maçã elíptica e grande Peso do capulho de 5,5 a 6,5g 52 a 60 dias até florescimento 135 a 170 dias até colheita 1 a 5 ramos vegetativos 14 a 17 ramos frutíferos População de 100 mil a 125 mil plantas Stand de 8 a 11 pl/m Espaçamento de 76 a 90cm Vantagens: Altamente produtivo Ótima retenção de pluma pela cápsula após a deiscência Menor uso de regulador de crescimento Alta resistência à Mancha Angular (bacteriose) Máximo em qualidade de fibra: Precoce, permitindo maior otimização no uso de máquinas e ótimos resultados para plantio em áreas irrigadas sob pivot. Fibra com ótima qualidade e alto rendimento industrial. Planta de arquitetura moderna, com porte baixo, facilitando o uso de defensivos agrícolas e colheita mecanizada. Suscetível à Doença Azul, demonstrando, porém, ser menos sensível que outros materiais encontrados no mercado. Uniformidade e alto peso de capulhos. Características tecnológicas da fibra: Rendimento de fibra/pluma de 39 a 42% Resistência de 29 a 33 gf/tex Micronaire de 3,8 a 4,2 ug/pol Comprimento da fibra de 29 a 32 mm Uniformidade do comprimento da fibra de 84 a 86% Índice de fiabilidade de 2.400 a 3.200

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Fiber Max 977 Características agronômicas: Planta média moderna Uso normal de regulador de crescimento 1,00 a 1,30 m de altura Resistente ao acamamento Maçã ovalada e pequena Peso do capulho de 4 a 5 g 54 a 60 dias até florescimento 150 a 180 dias até colheita 1 a 5 ramos vegetativos 16 a 20 ramos frutíferos População de 100 mil a 125 mil plantas Stand de 8 a 11 pl/m Espaçamento de 0,76 a 0,90 m Características tecnológicas da fibra: Rendimento de fibra/pluma de 41 a 43 % Resistência de 27,5 a 29 gf/tex Micronaire de 3,8 a 4,0 ug/pol Comprimento da fibra de 27,5 a 29 mm Uniformidade do comprimento da fibra de 81 a 83% Índice de fiabilidade de 2.200 a 2.700 Vantagens: Altamente produtivo Maior volume de pluma/ha Pluma mais limpa Ótima retenção da pluma pela cápsula após deiscência Alta resistência à Mancha Angular (bacteriose)

uso das novas tecnologias, e o medo dos cidadãos de que as multinacionais controlem excessivamente algo essencial, como a comida. Garthoff compara a biotecnologia às ferrovias, também atacadas em seu período de expansão. O tempo demonstrou os benefícios do novo sistema de transporte. A parte agrícola do mercado de biotecnologia responde por apenas 10% do total. Inferior ainda é a parte hoje atacada, como tolerância a herbicidas ou a produ-

PERSPECTIVAS NO BRASIL

P

ara o Brasil, em termos de transgênicos, a Bayer espera a legalização. Enquanto isso não acontece, o foco da empresa reside nas parcerias e no lançamento de produtos. Os inseticidas Connect e Oberon e o fungicida Nativo deverão estrear no mercado no próximo ano. Há parcerias em andamento com cooperativas, como Coodetec, por exemplo. O mercado de sementes, por causa do grande banco de germoplasma da empresa, igualmente promete bom retorno. O algodão Fibermax e variedades de arroz híbrido prometem aumentar sua participação no segmento. Entretanto, a expectativa de retorno mais rápido está no portfolio de fungicidas, produtos que tiveram demanda aumentada por causa da ferrugem asiáção de inseticidas na própria planta. O grande retorno, estima-se, virá da criação de materiais com usos não alimentares. É um mercado de quase US$ 500 bilhões, contra apenas US$ 40 bilhões do de produção vegetal em si. Chama-se esse novo mercado de biotecnologia “branca” ou “industrial”. Trata-se do uso de plantas para produção de matérias-primas com finalidades distintas das tradicionais nutrição e produção de fibras. Exemplo dessa aplicação é uma variedade de batata que produz amido com propriedades especiais para a indústria de papel. Seu uso permite redu-

tica na soja. Johannes Scharf, que trabalhou no Brasil e hoje está em Monhein, coordenando o setor de fungicidas em nível mundial, garante que não haverá falta de produto, mesmo com grande incidência da doença. Depois do susto inicial, o produtor está mais consciente dos riscos e mais atento ao planejamento da safra, garante.

zir o desperdício de água no processo.

BAYER E BIOTECNOLOGIA Apesar dos desafios enfrentados, o Diretor Mundial (CEO) da Bayer CropScience, Friedrich Berschauer, considera as inovações vitais para o desenvolvimento e prosperidade da companhia, dos países e da sociedade. As enormes possibilidades do mercado justificam as expectativas de retorno dos investimentos a médio e longo prazos. A necessidade de melhorar a comunicação com o mercado é também por ele salientada. Há duas abordagens a se considerar nesse processo: os fatos reconhecidos pela comunidade científica e comunicados às pessoas, e os julgamentos antecipados, sem fundamentos científicos, difundidos na mídia por grupos com interesses C específicos.

LUCRATIVIDADE

E

ntende-se o bom ambiente en contrado no Science Forum e na sede da empresa, em Monhein, pois a lucratividade da Bayer CropScience, anunciada no início de outubro, chegou a 19% (2003) e está mantida a previsão de que atinja os 25% em 2006, podendo chegar a 26% nos anos seguintes. Esses objetivos serão alcançados através de uma série de medidas para aumentar a eficiência.

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Molécula

Rocheli Wachholz

Pyraclostrobin Devido a sua versatilidade e eficiência, as estrobilurinas têm sido utilizadas no controle de diversas doenças

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o início dos anos 80, balizando sua estratégia à base da inovação, diversos investimentos foram realizados, assim como programas especiais de busca de novos fungicidas foram implementados. Programas estavam alicerçados na descoberta e testes de produtos naturais que poderiam ser sintetizados e transformados em fungicidas com alta eficácia. Assim, em 1983, na Universidade de Kaiserlautern, o professor Timm Anke observou que um fungo (Strobiluros tenacellus) que habitava cones de Pinus produzia uma substância que inibia o crescimento de outros fungos. Essa substância foi isolada e sua estrutura foi identificada e denominada de estrobilurina-A. A estrobilurina-A foi testada em laboratório – in vitro – contra os mais variados tipos de fungos, mostrando uma notável atividade antifúngica e de amplo espectro de controle. A seguir, foi testada em casa de vegetação – in vivo – contra fungos que atacam as plantas cultivadas. O resultado foi decepcionante, pois a atividade fungicida foi baixa e, em algumas situações, verificou-se sintomas de fitotoxicidade nas culturas testadas. Concluiu-se que o motivo era a instabilidade da molécula, já que as ligações duplas da molécula eram facilmente rompidas pela ação da luz e do oxigênio. Através da alteração de algumas ligações químicas, obtiveram-se moléculas análogas,

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que possuíam a combinação de atividade antifúngica e com maior estabilidade do composto. A partir daí, os testes biológicos mostraram que a molécula alterada não só mantinha, mas até aumentava a atividade fungicida. O desafio tornava-se realidade: uma molécula com forte atividade fungicida e amplo espectro de controle nos testes em estufa, superior à molécula natural. A tolerância em algumas culturas aumentou em relação à estrobilurina-A e não ocorreu nenhum sinal de degradação rápida ou perda de atividade em condições de estufa. Isso foi o último passo

que faltava para um amplo programa de pesquisa e desenvolvimento. Dentre as alternativas de estrutura molecular, foi selecionada a de melhores características de eficácia, segurança e economicidade . Após secar o local onde foi aplicado o produto, Pyraclostrobin permanece na forma de depósito sólido sobre a superfície da folha. As partículas lipofílicas (com alta afinidade à camada cerosa da cutícula) do ingrediente ativo são ligeiramente solúveis em água, sendo adsorvidas pela camada cerosa que cobre a su-

A translocação do produto ocorre na parte superior da folha para a parte inferior, onde não foi tratado

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perfície das folhas. Isto possibilita que o produto fique altamente aderido à superfície do órgão no qual foi aplicado, tendo resistência à lavagem pela chuva. Outra característica é a baixa pressão de vapor, o que impede sua volatilização. A combinação destas características faz com o que a molécula Pyraclostrobin tenha uma liberação contínua, garantindo um bom período de ação. A partir dos pontos de deposição, Pyraclostrobin distribui-se e penetra na folha por difusão, através da camada cerosa, e da cutícula, e através do intercâmbio gasoso normal por via dos estômatos. É um fungicida com características de translocação diferenciada. No interior das folhas, Pyraclostrobin apresenta uma sistemicidade local, com a vantagem da distribuição do ingrediente ativo ser mais uniforme, protegendo áreas maiores. Ocorre, ainda, o movimento translaminar, ou seja, o fungicida transloca-se da parte de cima

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da folha (local onde recebeu a aplicação) para a parte inferior da folha (não tratada), atuando no lado oposto onde foi tratado. O transporte contínuo de Pyraclsotrobin a partir do depósito superficial, mesmo com uma concentração muito baixa, exerce uma ação muito intensa, sendo suficiente para desenvolver plenamente sua ação fungicida. Esta ação é três vezes mais intensa que outras estrobilurinas existentes. Pyraclostrobin possui modo de ação muito específico, inibe o transporte de elétrons nas mitocôndrias das células (que são as “centrais energéticas”) no Complexo III, especificamente no Citocromo bc1, e impede a formação de ATP (energia). ATP é essencial nos processos metabólicos vitais dos fungos. Com a paralisação da produção de energia o fungo acaba morrendo. Pyraclostrobin possui ação protetora, inibindo o desenvolvimento inicial dos fungos,

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desde a germinação do esporo até a formação do apressório. Também possui ação curativa, provocando, em poucas horas, a desintegração dos micélios do fungo após ter ocorrido a infecção. Também ocasiona a inibição da esporulação dos fungos. Pyraclostrobin tem amplo espectro, controlando patógenos de diferentes classes (Oomicetos, Ascomicetos, Deuteromicetos e Basidiomicetos), causadores de míldios, oídios, manchas foliares e ferrugens. Esta característica apresenta enormes vantagens, pois uma cultura pode ser atacada por mais de uma espécie ao mesmo tempo, ou com pequeno intervalo de dias. Além disso, apresenta efeitos positivos adicionais sobre o rendimento devido à sua atuação na fisiologia da planta, mesmo na ausência de fungos fitopatogênicos. Essa atuação intervém no processo de formação dos grãos e no rendimento e ocorre tanto por me-

Cultivar

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tinto e também uma alta eficiência contra os fungos visados. Assim, além de se evitar riscos de resistência, uma dupla forma de ataque aos fungos deve melhorar a eficiência do produto desenvolvido. O Pyraclostrobin é uma estrobilurina patenteada pela BASF. O código de desenvolvimento deste novo ingrediente ativo recebeu o nome de BAS 500 F. Posteriormente, o nome comum foi denominado “Pyraclostrobin”. Pela notável potencialidade desse composto, F500® (Pyraclostrobin) foi registrado como marca, vindo a aparecer em todas as formulações contendo esse ingrediente ativo. A agência que efetua os registros nos Estados Unidos (EPA) classificou F500® como “reduced risk candidate”, ou seja, “candidato de risco reduzido”, considerado um produto bastante seguro para o homem e para o meio ambiente.

Diversos fungicidas comerciais à base de F500® foram lançados a partir de 2002, como os fungicidas: Comet®, para as culturas de feijão, algodão e citros; Opera®, comercializado nas culturas de soja, milho, trigo, café e amendoim e; mais recentemente, Cabrio® Top nas culturas de batata e tomate. Fungicidas estes de alta performance nas diferentes culturas onde são utilizados, destacando-se entre várias, as principais vantagens como: • Controle de uma ampla gama de fungos fitopatogênicos (amplo espectro de ação); • Extraordinária atividade fungicida; • Ação rápida e com bom período de ação; • Efeitos fisiológicos positivos com increC mento na produtividade. Carlos Antonio Medeiros e José Munhoz Felippe, BASF

Syngenta

canismos reguladores como pelos metabólicos dos vegetais. Plantas tratadas com Pyraclostrobin apresentam uma coloração verde mais intensa, devido à maior concentração de clorofila com conseqüente estímulo à fotossíntese. O produto aumenta a atividade da nitrato-redutase, enzima chave para a assimilação dos vegetais. Esta atividade faz com que a planta tenha um melhor aproveitamento do nitrogênio absorvido do solo. Também apresenta uma ação similar à do ácido salicílico sintetizado pelas plantas ou também por derivados sintéticos, acelerando a síntese de proteínas que têm ação antiviral, quando ocorrem ataques de vírus. Assim, a planta tem capacidade de bloquear ou reduzir uma infecção, como forma de auto-proteção. Em épocas de estresse de curta duração (como por exemplo seca), as plantas produzem mais etileno, o que pode induzir a uma maturação precoce. Nesse caso, Pyraclostrobin intervém como regulador, reduzindo a produção de etileno. Isso contribui para que a planta possa acumular reservas nos grãos por mais tempo em condições de maior sanidade, característica esta ideal para preservação do potencial produtivo das cultivares. Como resultado de todos os efeitos metabólicos e reguladores, as plantas geralmente desenvolvem uma maior biomassa e apresentam uma maior capacidade assimilatória, o que é um importante fator de produtividade. Para situações em que existe risco de resistência, o produto é formulado em mistura com outros ingredientes ativos, com modos de ação distintos, o que dificulta o desenvolvimento de resistência. Outras combinações já estão sendo desenvolvidas. Cada combinação visa ao uso em culturas específicas, de acordo com as doenças fúngicas mais comuns ou importantes. O ingrediente ativo a ser combinado, em cada caso, deve ter um mecanismo de ação dis-

Diferença visível entre a parte tratada com fungicida e a área sem tratamento

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Soja Fotos Dirceu Gassen

estudos quanto ao papel real na sobrevivência e disseminação do patógeno. No entanto, constituem-se em mais uma fonte de inóculo possível para o aumento da ocorrência e intensidade da doença. Na próxima estação de cultivo da soja no Sul do país, teremos provavelmente alta carga de uredosporos, chegando todos os dias às lavouras e caindo sobre as folhas. Esses uredosporos necessitam de água na superfície foliar (10 horas) e uma temperatura ótima entre 18 a 26ºC, para que consigam ocasionar a doença. Estas horas de molhamento foliar podem ser proporcionadas pela chuva ou pelo orvalho. Nestas condições, a ferrugem asiática da soja poderá ocasionar grandes prejuízos em poucos dias. Assim sendo, as possibilidades de ocorrência da doença com alta intensidade são grandes. Portanto, é necessário que o produtor fique alerta para efetuar o controle da doença, no momento certo, para evitar prejuízos em sua lavoura.

MOMENTO DO CONTROLE QUÍMICO

Perspectiva de ataque

Diante dos prejuízos já causados pela ferrugem asiática nos anos anteriores, são grandes as expectativas de ocorrência da doença na safra atual

É

grande a expectativa quanto à manifestação da ferrugem asiática na próxima safra da cultura da soja e sobre os prejuízos financeiros que poderá causar aos agricultores e ao país. Após o início da ocorrência da doença no Brasil em 2001, as reduções no rendimento de grãos e os prejuízos financeiros foram crescendo de forma assustadora nas três últimas safras. Os prejuízos financeiros foram próximos a US$24,7 milhões, na safra 2001/ 2002; US$1,3 bilhões na safra 2002/2003 e US$2,3 bilhões na safra 2003/2004. Para a safra 2004/2005, as condições de ocorrência da doença e a eficiência com que a doença for controlada serão determinantes na redução dos prejuízos. A não-disponibilidade de cultivares resistentes à doença e o aumento progressivo do inóculo do patóge-

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Cultivar

no têm pesado a favor da ferrugem asiática. A presença da soja em campo, durante todo o ano no território nacional, principalmente com a chamada safrinha e com a ocorrência de plantas voluntárias, assegura um potencial de inóculo suficiente para o início da epidemia, na próxima safra no Sul do país. Soma-se a isso a participação de hospedeiros alternativos, contribuindo para a manutenção do inóculo. No Sudoeste do Paraná, por exemplo, no mês de julho havia lavouras de soja da safrinha abandonadas. Os hospedeiros alternativos relacionados numa lista de 32, entre eles, kudzu (Pueraria lobata), feijão de lima (Phaseolus lunatus), fejão miúdo (Vigna unguilulata), soja perene (Glycine wightii), labe labe (Lablab purpureus), guandu (Cajanus cajan) e feijão comum (Phaseolus vulgaris), merecem mais

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Os agricultores não se sentem seguros quanto ao momento ideal para realizar a aplicação do fungicida visando ao controle da ferrugem asiática da soja. A eficiência dos fungicidas no controle da doença, após o início da mesma, e os seus reflexos sobre o potencial produtivo também são uma questão duvidosa para o agricultor. Para tentar sanar parte dessas dúvidas, foi realizado um trabalho de campo com a cultura da soja (cultivar BRS–133), no município de Pato Branco, situado no Sudoeste do Paraná. Três fungicidas foram testados em duas épocas, em uma e duas aplicações. Os tratamentos correspondentes a uma aplicação foram realizados nos estádios reprodutivos R4 (maioria das vagens no terço superior com 2-4 cm) ou em R5.3 (maioria das vagens entre 25% e 50% de granação). Os tratamentos correspondentes a duas aplicações foram realizados nos estádios R4 e R5.3 (Quadro 1). No momento da primeira aplicação dos fungicidas, aproximadamente 75% dos trifólios já continham uma pústula da ferrugem asiática, visualizadas somente em laboratório, com o auxílio de lupa com aumento acima de 40 vezes. Este fato indica a dificuldade de se fazer o monitoramento da doença. Todos os fungicidas foram eficientes no controle da doença, quando aplicados em R4 ou com duas aplicações em R4 e R5, não havendo diferença entre uma ou duas aplicações. Os tratamentos com fungicidas mantiveram a doença abaixo de 2% de severidade, durante todo o ciclo da cultura, enquanto, na testemunha não tratada,

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a doença aumentou para 4% de severidade, 15 dias após primeira aplicação e 8% de severidade 15 dias após a segunda aplicação. O rendimento de grãos nas parcelas tratadas com os fungicidas foi, em média, 400 kg/ha maior do que nas parcelas nãotratadas. Nas parcelas não-tratadas com fungicidas o rendimento de grãos foi, em média, 2145 kg/ha. A estiagem, ocorrida durante o cultivo da soja, foi também responsável pela redução de rendimento. A presente ação descrita ocorreu em condições de baixa pluviosidade, portanto, condição adversa ao desenvolvimento da doença. Nesta condição, seria desnecessária uma segunda aplicação de fungicida, em regiões onde o orvalho não fornecesse, aproximadamente, 10 horas de molhamento. O grande número de trifólios com pústulas de ferrugem indicou que o potencial de inóculo era alto. Caso tivesse ocorrido uma condição de chuvas mais freqüentes, os danos certamente teriam sido bem maiores.

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Para a safra 2004/05, existe o risco de a ferrugem estar presente em 100% das lavouras brasileiras

As observações a campo indicam que o momento mais propício para a ocorrência da doença é após o início do estádio reprodutivo. Portanto, nesse período, o agricultor deve estar preparado para entrar na lavoura com o controle químico.

O monitoramento regional da doença é de fundamental importância. O aparecimento da doença na região onde a lavoura está situada, aliado a condições propícias ao seu desenvolvimento, indica grandes probabilidades da ocorrência da doença também nesta lavoura. Nessas condições, o controle preventivo traria grande segurança ao agricultor, tendo em vista os seguintes fatores: 1 – a dificuldade de monitorar a doença em uma lavoura de grande extensão com um diagnóstico correto nos sintomas iniciais; 2 – a rápida disseminação do patógeno e desenvolvimento da doença propiciando redução no rendimento em poucos dias de seu início; 3 – dificuldade de fazer a aplicação de fungicida em toda área de maneira rápida e com boa cobertura do tecido foliar; 4 – ocorrência de chuva dificultando a entrada na lavoura. O agricultor que tiver condições de monitorar a doença em sua lavoura, fazendo um diagnóstico correto logo no início da ocorrência, e capacidade de fazer a aplicação de fungicida de maneira rápida, poderá assumir o risco de não fazer a aplicação preventiva. Caso as condições venham a ser adversas ao desenvolvimento da doença, isso poderá lhe reduzir o número de aplicações de fungicidas. C Idalmir dos Santos, Cefet (PR)

Quadro 1 - Tratamentos compostos por três fungicidas em uma e duas aplicações em dois estádios de desenvolvimento da soja Tratamentos 1. Testemunha 2. Tebuconazole 3. Tebuconazole 4. Tebuconazole 5. Azoxistrobina + Ciproconazol + óleo mineral Nimbus 6. Azoxistrobina + Ciproconazol + óleo mineral Nimbus 7. Azoxistrobina + Ciproconazol + óleo mineral Nimbus 8. Piraclostrobina + Epoxiconazol 9. Piraclostrobina + Epoxiconazol 10. Piraclostrobina + Epoxiconazol

Dose

Estádio de aplicação1

100 g.i.a. ha-1 150 g.i.a. ha-1 100 g.i.a. ha-1 / 150 g.i.a. ha-1 60 + 24 g.i.a. ha-1 + 0,5% v/v 60 + 24 g.i.a. ha-1 + 0,5% v/v 60 + 24 g.i.a. ha-1 + 0,5% v/v 66,5 + 25 g.i.a. ha-1 66,5 + 25 g.i.a. ha-1 66,5 + 25 g.i.a. ha-1

R4 R5.3 R4 / R5.3 R4 R5.3 R4 e R5.3 R4 R5.3 R4 e R5.3

Os tratamentos foram aplicados em parcelas de 21 m2 , com 4 repetições e com um volume de calda de 200l/ha.

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Cultivar

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AENDA

Defensivos Genéricos

Importação interna O agricultor mato-grossense tem cerceada sua liberdade de compra de agrotóxicos

L

ogo no Estado que é a jóia da coroa agrícola foi ocorrer isso. Logo lá, no Mato Grosso do Blairo Borges Maggi, o agricultor-governador. No campeão da soja, do algodão e dos rebanhos. Que se passa? No correr de 2002, o Indea tasca uma medida folclórica. O agricultor mato-grossense que quiser comprar agrotóxico em outro Estado tem antes que obter uma Autorização de Importação e enviar para a empresa vendedora. Esse documento sui generis deverá seguir com a mercadoria juntamente com a Nota Fiscal. E, com a Receita Agronômica também, ia esquecendo, desculpem os copiadores de rótulos e bulas. Sem isso, o caminhão estaca na cancela da fronteira estadual, resfolega a chiadeira dos pneumáticos e hidráulicos, dá ré e retorna ao ponto de partida, desconsolado e deprimido. Não estão acreditando? Ta lá na Instrução Normativa CDSV Nº 02 de 18 de setembro de 2002: para o caso de importação de produtos agrotóxicos e afins pelos usuários do Estado (venda direta), os documentos exigidos serão: ...(b) Autorização de importação, fornecida pelo INDEA/ MT, por produto a ser adquirido, mediante apresentação e entrega da via do INDEA/MT da Receita Agronômica. A catapulta IN 02 jogou pelos ares o

direito do cidadão de comprar e vender em qualquer parte do território nacional. Não interessa se é um abuso às leis comerciais do País. Lá no brazilian new-west manda quem pode, obedece quem tem juízo. Mas que folclore nada. Não é coisa passageira de simples Instrução Normativa! É prá valer. E mais, está para virar lei. A Lei Estadual nº 5.850/91, que dispõe sobre agrotóxicos, está em reforma e a medida foi alçada com destaque e integra o texto na minuta da nova lei. E a Receita! Agora é obrigatória no transporte da carga. Atenção legisladores da Lei dos Agrotóxicos nº 7.802/89, vocês só obrigaram a apresentação da Receita no ato da venda ou da compra e venda, esqueceram o ato de transportar. Ou será que os caminhoneiros andam vendendo agrotóxicos, tirando nota fiscal e contratando agrônomos para “quebrar-o-galho” do agricultor que não conseguiu sua Receita? Ah! Entendi: caminhão é depósito ambulante. Pessoal da cancela, não esqueçam de exigir o CNPJ do caminhão, licença operacional do meio ambiente, alvará da saúde e dos bombeiros. Assim não dá. Como investir em empresas produtivas desse jeito. Quando o empreendedor assume a contragosto os juros, os impostos e as taxas, a burocracia excessiva emperra o negócio. A cada

hora e em todo o lugar é uma regra nova, acumulam-se de tal forma que acabam levando o comércio para o terreno da ilegalidade, do contrabando, da fraude e da corrupção. É mais tranqüilo aplicar na bolsa. Essa da Licença de Importação é um flagrante abuso ao ordenamento jurídico do Estado Federativo. Afinal, o Brasil é uma nação ou não? O direito de ir e vir, de buscar melhores preços e alternativas para suas necessidades dentro do seu próprio País é prerrogativa insofismável e não pode ser obstada por medidas casuísticas, burocráticas e ilegais como essa. Alguém me ponderou que foi uma forma de defender revendas e cooperativas do Estado contra o crescente aumento das vendas diretas aos agricultores que algumas fábricas de defensivos estão desenvolvendo. Ora, convenhamos, isso não é desculpa para rasgar a Carta Magna. As revendas e cooperativas não existem para substituir vendas diretas das fábricas, mas sim para dar opção de logística, de serviços e, eventualmente, até de preço e condições de venda. O agricultor mato-grossense tem a sua vontade desrespeitada, não pode mais comprar onde quer produtos devidamente registrados na esfera federal e cadastrados do seu Estado. C


Evento

Patologia de sementes Fotos Charles Echer

fato de o evento ser realizado fora do âmbito das regiões Sudeste e Sul, especialmente no eixo Piracicaba/Pelotas, onde os simpósios anteriores, geralmente, eram realizados. “No Norte e Nordeste, nos últimos anos, houve um considerável desenvolvimento da agricultura, expansão das fronteiras agrícolas e culturas exploradas, da agroindústria e do agronegócio. Pesquisadores dessas regiões têm contribuído para o avanço da tecnologia de sementes”, destaca. Os destaques do simpósio deste ano ficaram por conta das sementes para reflorestamento e forrageiras, que ganharam ênfase nos últimos anos.

D

e 12 a 15 de outubro aconteceu o VIII Simpósio Brasileiro de Patologia de Sementes em João Pessoa (PB). Promovido pela Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates), o simpósio foi organizado pela Universidade Federal da Paraíba, em parceria com Embrapa Algodão e

Empresa Estadual de Pesquisa (Emepa). A edição deste ano teve várias conferências, painéis, grupos de discussão e eventos paralelos com exposições de estandes e cursos, além de excursões técnicas a instituições de pesquisa da região. Um diferencial avaliado como ponto positivo pelo presidente do evento, professor da UFPB Egberto Araújo, foi o

Para Egberto, o evento reuniu os especialistas da área e superou as expectativas


Negócios

Feijão teve encontro nacional

Sorgo super precoce A Empresa Atlântica Sementes, que começou suas atividades comerciais em janeiro de 2004, já começa a colher frutos do seu trabalho. O Sorgo Buster, apelidado pelos agricultores do Cerrado Brasileiro de Noventão devido a sua alta precocidade, possui características importantes, como resistência ao acamamento, ampla adaptação de época de plantio e região, tolerância às principais doenças, peso de grão muito elevado e seleção em condições severas de stress hídrico. Este híbrido foi o primeiro colocado no ensaio de competição da associação dos produtores de grãos de Mineiros (GO), (APGM) com produtividade de 79,21 sacas/ha, sendo uma excelente alternativa no plantio da safrinha no Cerrado Brasi-

leiro. A linha de produtos conta com mais dois híbridos de Sorgo, o Jumbo e Nutritop, produtos utilizados para pastejo, corte e silagem, além de uma linha completa de Sementes de Girassol, os híbridos Aguará 2 e Aguará 3, com comprovada adaptação às mais variadas regiões brasileiras, principalmente em regiões tropicais e em condições de estresse hídrico. Na próxima safra, a família de produtos será ampliada com o do lançamento de Sorgo Forrageiro e também de um híbrido de girassol, o Charrua, aumentando desta maneira seu portfólio de produtos e dando ao agricultor brasileiro mais uma alternativa de sementes de C alta qualidade.

Aconteceu no último dia 23 de julho, O 1o Enatec (Encontro Nacional de Tecnologia e Sanidade da Semente de Feijão), realizado pelo Grupo Prezzotto, na Fazenda Samambaia em Jussara(GO). O evento, totalmente voltado à cadeia feijoeira, reuniu mais de 300 participantes, entre eles técnicos, pesquisadores, produtores, e entidades ligadas ao setor. O objetivo foi mostrar a importância e as vantagens do uso de sementes na cultura, que hoje não atinge 20% do volume total da área plantada no país. Durante as visitas de campo, aconteceram palestras específicas sobre as principais variedades cultivadas, objetivando esclarecer particularidades das diferen-

tes regiões produtoras, bem como enfatizar as vantagens de produzir sementes de feijão em regiões de baixa altitude. Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão José Geraldo Di Stefano e Murillo Lobo Júnior apresentaram as novidades da pesquisa, enquanto que Marcelo Lüders, representante da Correpar, enfatizou a importância da criação de um Conselho Nacional de Legumes Secos, a exemplo dos já existentes em outros países como Argentina e Estados UniC dos, por exemplo.

Primeiro laboratório de produção de Baculovírus Braço tecnológico de 39 cooperativas de produção do País, a Coodetec - Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola- inaugurou em Cascavel (PR), o primeiro laboratório de produção comercial do Baculovirus anticarsia do mundo. A unidade industrial inédita vai criar condições de ambiente (umidade e temperatura) e alimentação ideais para o desenvolvimento da lagarta durante os 12 meses do ano, rompendo a sazonalidade imposta pela coleta a campo. O Baculovírus é um inseticida biológico de eficiência comprovada no combate à lagarta-da-soja. Ele vinha sendo desenvolvido a

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Cultivar

partir de lagartas coletadas manualmente, em lavouras de soja, o que limita a produção à safra de verão. “Com a produ-

ção em escala e em laboratório, trabalharemos durante o ano inteiro e poderemos triplicar a produção atual, que é de 500

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mil doses anuais, suficientes para aplicar em 500 mil hectares de soja”, diz o diretor executivo da Cooperativa, Ivo Carraro. Desde o lançamento, em 1983, o baculovírus já foi aplicado em mais de 10 milhões de hectares, proporcionando uma economia superior a U$ 100 milhões em agrotóxicos, o equivalente a mais de 11 milhões de litros de produtos químicos que deixaram de ser jogados na natureza. Sua utilização representa economia estimada em 50% no custo de combate à lagarta, que é uma das piores pragas da sojicultura. C

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Agronegócios

Marco zero de uma nova era A

necessidade de mudança urgente na matriz energética e de estabelecimento de um novo paradigma de crescimento mundial, com respeito ao meio ambiente, ganha um portentoso impulso com a adesão da Rússia ao Protocolo de Quioto, o que viabiliza a sua implantação no plano global. A sua entrada em vigor terá o condão de deflagrar uma revolução setorial e antecipar metas futuras. Assim, não há mais como o Brasil postergar uma atitude ousada e agressiva, tendo como objetivo liderar o estado da arte da agricultura de energia, no plano mundial. O predomínio futuro da agricultura de energia sobre os demais segmentos repousa na finitude das principais fontes de energia da atual matriz energética, como petróleo (35%), carvão (23%) e gás natural (21%), que se esgotarão neste século. Posta a escassez e a extração mais complexa, os preços dispararão. De alguma forma este processo já se encontra em andamento, posto que, nos últimos 30 anos, o preço nominal do petróleo aumentou 2.400%, sendo a valorização real de 455% (Tabela 1).

OS CHOQUES Enquanto no primeiro e segundo choques de petróleo a razão estrutural preponderante para o aumento de preços foi a diminuição da oferta, orquestrada pelo lobby petrolífero (Organização dos Países Produtores de Petróleo - Opep), o aumento verificado neste século prende-se à expansão da demanda. Em contraposição ao Tabela 1 – Variação do preço internacional do petróleo Ano

Preço do Barril (US$) Valor Nominal Valor Atualizado 1972 2,00 9,00 8,00 30,00 1974 (Média) 1974 (Embargo) 11,50 43,00 1979 35,00 76,00 1980 (Invasão do Irã) 37,00 80,00 24,00 55,00 1980 (Média) 2000 35,00 39,00 2003 40,00 41,00 2004 50,00 50,00

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Razão estrutural

Contração da oferta

Expansão da demanda

ocorrido nas décadas de 70 e 80, a Opep vem agindo para regularizar o abastecimento do mercado, pois o aumento exagerado do preço do petróleo afeta o seu negócio. Entre os efeitos adversos está a viabilização de outras fontes de energia. De 2002 a 2004, o consumo diário de petróleo no mundo expandiu de 78 para 82 milhões de barris. A China respondeu por 36% deste aumento e os EUA por 24%. As altas taxas de crescimento da China fizeram com que o país passasse de exportador para importador de petróleo. Em 2004, foi a vez do Reino Unido transpor a condição de exportador para importador. Em 2004, o consumo de energia dos países ricos (um bilhão de cidadãos) alcançou 4,5 toneladas equivalentes de petróleo TEP/pessoa/dia. Já nos países emergentes (cinco bilhões de habitantes), o consumo situa-se em 0,75 TEP/pessoa/dia. A globalização cultural e de mercados e a assimilação de costumes de países ricos pelos emergentes pressiona o consumo energético nos países emergentes. Enquanto os países ricos aumentaram seu consumo global em menos de 100%, nos últimos 20 anos, no mesmo período a Coréia do Sul aumentou sua demanda em 306%, a Índia em 240%, a China em 192% e o Brasil em 88%.

OS VETORES DA MUDANÇA As reservas comprovadas de petróleo do mundo somam 1,137 trilhões de barris, 78% dos quais no subsolo do cartel da Opep. Essas reservas supririam a demanda mundial por 40 anos, mantendo o atual nível de consumo. Estima-se que a demanda deva crescer, em média, 1,9% ao ano, o que elevaria o consumo de petróleo para 120 milhões de barris/dia, em 2025. Projetando-se os últimos 50 anos, prevê-se que as reservas crescerão a taxas mais tímidas que o consumo. Desse cenário resulta que, abstraindo-se as alterações na matriz energética, o ocaso da era do petróleo está contratado para meados do presente século. Porém, antes do

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esgotamento, a instabilidade geo-política do Oriente Médio - responsável pelos picos abruptos de preços (Tabela 1) - e o aquecimento global forçarão a transição. Na composição da futura matriz, entroniza-se a energia solar como principal fonte primária de energia, que se desdobrará em repositórios intermediários, por meio da fotossíntese (biomassa) ou de processos industriais. A conjugação das duas vertentes, como as células de combustíveis, operacionaliza as formas de aproveitamento da energia solar. Este cenário, baseado em fontes renováveis, torna sustentável a nova matriz, dentro de determinados limites. A interdependência e a integração entre estas fontes será outra tônica, o que viabilizará outras fontes energéticas, como a eólica.

BIOMASSA Os especialistas em planejamento estratégico antecipam que, nas próximas décadas, o agronegócio mundial estruturarse-á em quatro macro-segmentos: alimentação e fibras, biomassa, plantas ornamentais e nichos especializados. A biomassa será a base da energia renovável. Os mes-

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lidade e o crescimento da oferta de emprego. Já a extensão da esperança de vida e a automação de processos são forças contrárias ao pleno emprego. Desta forma, a mãode-obra, em seu sentido massivo, terá baixa remuneração, na partilha da apropriação da rentabilidade. Entretanto, os capitais terão custos de oportunidade diferenciados, sendo carreados para investimentos com mercado estável, de alta rentabilidade, segurança e liquidez. Estas características estarão presentes na agricultura de energia e em outras alternativas de investimento, o que projeta um conjunto de negócios de alta atratividade. A produção de biocombustíveis ainda se encontra na infância tecnológica, devendo mostrar muito dinamismo, mesmo nas projeções de longo prazo. Os detentores e usuários de tecnologia no estado da arte serão muito bem remunerados, sob o conceito da apropriação das margens.

BÔNUS

mos especialistas antevêem que esse segmento movimentará o maior volume de recursos das transações agrícolas internacionais, a partir do ano de 2050. Sob o conceito de biomassa, três grandes vertentes dominarão o mercado da denominada agricultura de energia: os derivados de produtos intensivos em carboidratos ou amiláceos, como o etanol; os derivados de óleos vegetais, como o biodiesel e o ecodiesel; e os derivados de madeira, como briquetes ou carvão vegetal. Aceitas as premissas acima, qualquer cenário de médio e longo prazos revelará as vantagens comparativas do Brasil para ser o paradigma do uso de energia renovável e o principal player do biotrade – o mercado que está sendo plasmado, consolidando os negócios internacionais de energia renovável.

ANÁLISE DO NEGÓCIO O Brasil reúne condições para ser o principal receptor de recursos de investimento provenientes do mercado de carbono. Os contornos deste mercado estão visíveis e ele será rapidamente catapultado com a ratificação do Protocolo de Quioto

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pela Rússia, destarte a recusa em subscrevê-lo por parte do maior devorador de energia fóssil e maior emissor de poluentes atmosféricos que são os Estados Unidos. O sinergismo entre as vantagens comparativas naturais (solo, água, radiação solar e mão-de-obra) e as captações de capital proveniente de projetos vinculados aos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, tornarão o país ainda mais atrativo para macro-investidores ávidos por disputarem o market share do biotrade. Esses capitais comporão um portfólio de investimentos na produção, porém também auxiliarão na logística de armazenamento e escoamento da produção (comunicações, tancagem, ferrovias e hidrovias e instalações portuárias). A apropriação da maior fatia da rentabilidade do mercado de bioenergia será proporcional à importância dos fatores de produção. Radiação solar é grátis e a terra no Brasil ainda será abundante e barata (para os padrões internacionais) ao longo deste século. Logo, a remuneração da natureza será proporcionalmente baixa. A mão-de-obra também será farta, mesmo posta a redução das taxas de nata-

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A conclusão é reforçada por uma derivada do mercado de energia, para o qual poucos analistas, lideranças e autoridades têm atentado: a matéria-prima para a produção de combustíveis fósseis e para a petroquímica é a mesma. O declínio na oferta de petróleo afetará o conjunto das cadeias produtivas que dele dependem. Ao contrário da energia, onde uma cesta de fontes estará disponível, a matéria-prima sucedânea para a indústria petroquímica será a biomassa. E a concretização desta previsão poderá ser antecipada ou retardada em função do investimento em PD&I. Apesar do exposto, os cenários não são pétreos nem auto-realizáveis. O poder regulatório e de intervenção do governo pode alterar o quadro exposto, desde que este atue pró-ativamente e na direção correta. No caso do Brasil, é de fundamental importância que aspectos sociais e ambientais sejam considerados. Para tanto, o governo pode – ou deve! - lançar mão de diversos instrumentos, como as políticas públicas, o seu poder de compra e regulatório e a adequação do ferramental tecnológico. Considerando-se o tempo de maturação destas medidas, em especial o delay entre a formulação de hipóteses e a apropriação de uma tecnologia, em larga escala, pelos seus usuários, é importante visualizar os cenários, mas também atentar para as molduras, para melhor balizar as decisões do presente C que contratarão o futuro. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Projeções Econômicas

Resumo econômico e perspectivas

A

economia brasileira tem de monstrado excelente desem penho neste ano, inclusive registrando recordes em alguns indicadores como, por exemplo, balança comercial e saldo em transações correntes. No entanto, isso só foi possível em virtude dos cenários doméstico e externo favoráveis. Do lado doméstico, tem prevalecido os ajustes feitos nas contas fiscais e externas e a ausência de ruídos advindos do cenário político nacional. Tais ajustes e ausência de fatos negativos corroboram para que haja um ambiente favorável ao investimento tanto no setor financeiro quanto no setor produtivo, além de manter abertos os canais de financiamento da economia brasileira (captações de recursos no exterior). Já do lado externo, os indicadores de nível de atividade, mercado de trabalho e de inflação dos Estados Unidos têm apresentados resultados ainda modestos, fato que ratifica nossa expectativa de elevação moderada e gradativa dos juros Básicos, mesmo em um ambiente de elevado preço do barril do petróleo. Vale lembrar que a manutenção dos juros básicos (Fed Funds Rate) e de mercado (Treasuries e T Bonds) em níveis historicamente baixos nos EUA transfere aos mercados emergentes maior estabilidade. Para os indicadores de nível de atividade domésticos, nossa expectativa é que tenha, daqui por diante, um crescimento mais moderado em relação ao crescimento observado até o momento. A desaceleração esperada será motivada tanto pela base de comparação já restituída quanto pela elevação da taxa de juros que tende a desestimular primeiramente os produtos de maior valor agregado, pois sua aquisição necessita de financiamento. Vale lembrar que a medida que os juros sobem e a massa de salários não se recupera de forma consistente, o crescimento econômico tende a ser ainda mais moderado, porém, não o suficiente para comprometer a expectativa de crescimento do PIB para este ano e, por enquanto, para 2005.

AJUSTANDO AS PROJEÇÕES PIB Nossa projeção de crescimento do

PIB em 2004 foi alterada para 4,4%. Novamente o destaque foi o ajuste na projeção do PIB Industrial, que passou de 5,5% para 6,0% em decorrência do desempenho vigoroso observado em agosto e em setembro, como apontam alguns setores como, por exemplo, o setor automotivo. Vale lembrar que o resultado da produção física industrial no acumulado janeiro a agosto registrou a maior taxa de crescimento desde 1991 (8,8%). Taxa de câmbio: Em virtude da baixa volatilidade e quedas consecutivas na taxa de câmbio proporcionadas pelo ambiente externo favorável, que tem corroborado para a entrada de recursos via captações privadas e emissões soberanas, além do crescente volume das exportações, revisamos nossa projeção de taxa de câmbio de final do ano de R$ 3,05/US$ para R$ 2,95/US$, queda de 3,3%. Nossa projeção para o final do ano (R$ 2,95) acima da cotação presente (R$ 2,85) se deve ao fato de ocorrer pressões de demanda pela moeda norte-americana em decorrência tanto do envio de remessas das empresas quanto pelo aumento das importações para

atender as festividades de final do ano. Mas vale a ressalva de que, no curto prazo, não há fatores que façam com Alexsandro Agostini Barbosa que a taxa de Economista Global Invest câmbio suba além dos R$ 2,90, muito pelo contrário, há motivos para mantêla no atual nível, e com viés de baixa, ao menos até o final de novembro. Balança comercial Nossa projeção de saldo comercial para 2004 foi revisada novamente para cima, atingindo a cifra de US$ 34,5 bilhões, ou 40% maior que o registrado em 2003. Foram alterados tanto os valores das exportações quanto das importações. As exportações subiram para US$ 95,5 bilhões ante US$ 93,5 bilhões e as importações passaram para US$ 61 bilhões ante 60,5 bilhões. Como se percebe, o ajuste mais agudo foi feito nas exportações, que vem sendo fomentadas pelo forte crescimento da economia mundial, principalmente nos países emergentes como China, Índia e Argentina. C

Principais indicadores macroeconômicos do Brasil 2000/03 e cenário base 2004/05 INDICADOR PIB (em %) PIB INDUSTRIAL (em %) PIB AGROPECUÁRIO (em %) PIB SERVIÇOS (em %) INFLAÇÃO - IPCA INFLAÇÃO - IPC-FIPE INFLAÇÃO - IGP-M INFLAÇÃO - IGP-DI TAXA DE CÂMBIO (R$ / US$ - fim de ano) TAXA DE CÂMBIO (em % - final de ano) TAXA DE CÂMBIO (R$ / US$ - média ano) TAXA DE CÂMBIO (em % - média ano) TAXA DE JUROS NOMINAL (CDI acumulado no ano) TAXA DE JUROS NOMINAL (SELIC fim do período) TAXA DE JUROS REAL (Variação s/ IPCA-IBGE) TAXA DE JUROS REAL (Variação s/ IGP-M) DESEMPREGO (Média IBGE) RESULTADO FISCAL PRIMÁRIO (% do PIB) DESPESA COM ENCARGOS DA DÍVIDA (% do PIB) BALANÇA COMERCIAL (US$ bilhões) EXPORTAÇÕES (US$ bilhões) IMPORTAÇÕES (US$ bilhões) BALANÇA DE SERVIÇOS (US$ bilhões) BALANÇA DE RENDAS (US$ bilhões) TRANSAÇÕES CORRENTES (US$ bilhões) TRANSAÇÕES CORRENTES (% do PIB) INVESTIMENTOS DIRETOS NO PAÍS (US$ bilhões) RESERVAS INTERNACIONAIS (Liq. Internac. - US$ bilhões) DÍVIDA EXTERNA (US$ bilhões)

2000 4,4% 4,8% 2,1% 3,8% 6,0% 4,4% 10,0% 9,8% 1,96 9,3% 1,83 -1,2% 17,3% 15,8% 10,7% 6,9% 7,1% 3,50% 8,0% (0,8) 55,1 55,8 (7,2) (17,9) (24,3) -4,0% 32,8 33,0 236,2

2001 1,3% -0,5% 5,8% 1,8% 7,7% 7,1% 10,4% 10,4% 2,32 18,7% 2,35 28,4% 17,3% 19,0% 8,9% 14,7% 6,2% 3,64% 7,2% 2,7 58,2 55,6 (7,7) (19,7) (23,2) -4,5% 22,5 35,9 226,1

2002 1,9% 2,6% 5,5% 1,6% 12,5% 9,9% 25,3% 26,3% 3,53 52,3% 2,93 24,6% 19,1% 25,0% 5,8% -21,0% 11,7% 3,89% 8,5% 13,1 60,4 47,2 (5,0) (18,2) (7,7) -1,7% 16,6 37,8 227,7

2003 -0,2% -1,0% 5,0% -0,1% 9,3% 8,2% 8,6% 7,5% 2,89 -18,2% 3,08 5,1% 23,2% 16,5% 12,8% 13,5% 12,3% 4,37% 9,5% 24,8 73,1 48,3 (5,1) (18,6) 4,1 0,8% 10,1 49,3 235,4

PROJ. 2004 4,5% 6,0% 4,0% 3,1% 7,2% 6,6% 12,3% 12,3% 2,95 2,1% 2,96 -4,0% 16,1% 17,0% 8,3% 3,4% 11,5% 4,50% 8,2% 34,5 95,5 61,0 (6,0) (20,5) 11,5 2,0% 16,0 50,0 236,0

PROJ. 2005 3,5% 3,5% 4,0% 3,0% 6,0% 5,5% 7,5% 7,5% 3,10 5,1% 3,03 2,4% 16,5% 18,0% 9,9% 8,4% 11,0% 4,50% 7,7% 28,0 98,0 70,0 (7,0) (19,0) 5,7 0,9% 17,0 50,0 241,9

Fontes: Bacen, IBGE, FGV, Fipe, MDIC, Tesouro Nacional. Andima. Elaborada pela Global Invest

Projeções elaboradas com índices do dia 22/10/2004, sujeitos a alterações até o final do mês


Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Boa notícia em ano negativo Estamos a poucos meses de quebrar a barreira de 2 bilhões de toneladas de grãos consumidos no mundo, o que é uma boa notícia em um ano em que quase tudo que apareceu para os produtores foram dados negativos. Mesmo com a safra crescendo em 2004/05, pouco irá sobrar de produto para os estoques finais e, com isso, vamos chegando ao momento de estrangulamento entre oferta e consumo. Isso ocorre porque os principais países produtores do mundo estão chegando no seu limite. Onde a produtividade está nas alturas, como é o caso dos EUA, de agora em diante pouco poderá ser agregado. O consumo continuará aumentando em ritmo forte porque os principais países asiáticos continuarão crescendo acima do nível mundial. Desta maneira, necessitarão de grandes volumes de alimentos para suprir as necessidades, porque o poder aquisitivo na região mostrará grande avanço. A boa noticia para o Brasil é que a China tem um projeto de crescimento até 2020 na ordem de 7,5% ao ano e a renda per capita, que hoje é de US$ 1,05 mil, chegará aos US$ 3 mil e, assim, trará ao consumo uma grande fatia da população que hoje esta fora. Outra notícia que anima é que a maior parte da população estará vivendo nas cidades, diminuindo a área agrícola com o passar dos anos. Entre as boas notícias, veremos também que a bola da vez para o setor agrícola do Brasil será a Índia, que também mostra crescimento da economia muito acima do ritmo mundial e necessitará de muito alimento para atender o consumo crescente. Mesmo com a crise do petróleo, estes dois países continuarão com suas economias em crescimento, conseqüentemente, aumentando o consumo de alimentos. A boa notícia para este final de ano será no lado do consumo, que continuará crescendo e novamente teremos aperto na safra 2005/06. MILHO Clima favorece lavouras Apesar de o plantio ser menor do que no ano passado em pelo menos 500 mil hectares, esta primeira safra do milho mostra boas condições de clima, que começou com falta de chuvas e aos poucos foi se normalizando e beneficiando as lavouras. O quadro destas últimas semanas foi de poucas alterações nas cotações, onde os produtores do Centro Oeste, Sudeste e Paraná tiveram como alternativa o exercício das Opções do governo. E também terão agora em novembro, já que o quadro segue de fraca pressão de compra. Como as indústrias tiveram que arcar com altos custos de estocagem no ano passado, agora estão seguindo uma política diferente e sinalizam que vão comprar das mãos para boca e sem formar estoques, dificultando assim as tentativas de reação nos indicativos ao nível de produtor. O quadro poderá ter as primeiras tentativas de alta na seqüência do vencimento das Opções neste mês de novembro. Com isso, a pressão de alta tende a vir em função da redução das ofertas, podendo mostrar os primeiros momentos positivos desta safra. SOJA Plantio crescendo Mesmo com as cotações baixas que passamos nos últimos meses, os produtores seguem com intenção de fechar o plantio com bom crescimento da área, que deverá superar a marca das 22,5 e até ir a 23,5 milhões de hectares. Alguns mais otimistas apontam para os 24 milhões, mas que agora estão distantes de serem confirmados porque os produtores que têm bovinos estão optando por pastagens em parte das áreas, o que deve limitar o crescimento. Esta é uma boa notícia porque a safra que estava inicialmente prevista em cima das 65 milhões de toneladas, agora começa a ser comentada para a casa das 60 milhões de toneladas. Este fato deverá deixar o quadro mundial menos folgado, trazendo pressão aos indicativos que já foram ao fundo do poço e agora poderão sofrer alguns ganhos. Os produtores ainda têm soja para negociar neste final de ano, mas as reações possíveis para o mês são pequenas e localizadas, porque a demanda do farelo e do óleo está fraca e algumas indústrias devem parar de esmagar mais cedo neste ano. Assim, dificultarão as reações típicas da entressafra. Ainda

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temos bons volumes de soja para serem negociados e, mais cedo ou mais tarde, os produtores vêm para fixar e assim limitarão os ganhos. FEIJÃO Sem oferta, mercado trabalha em alta O mercado do feijão esta mostrando pouco produto em oferta e, com isso, as cotações estão fortes, tanto o preto como o carioca. O quadro segue de escassez e tende a se fortalecer ainda mais porque pouco produto foi plantado na primeira safra e boa parte do que entrar nas próximas semanas terá a alternativa de ir para semente da segunda safra ou ir para o consumo. Veremos os indicativos ainda mais fortalecidos porque os produtores tiveram prejuízos no ano e reduziram o plantio da terceira safra irrigada e também da primeira safra de verão 2004/05. Isso segue como uma boa notícia para quem tem feijão, pois receberão boas cotações. Tudo caminha para termos um grande aperto no abastecimen-

to em 2005 e cotações bastante atraentes. ARROZ Continua com mais oferta que demanda O quadro do arroz não tem sofrido alterações porque os vendedores continuam com grandes volumes em casa, dificultando, desta maneira, as reações que normalmente ocorriam em outros anos neste período. A demanda no varejo também tem encontrado dificuldade para crescer porque os consumidores estão com poder aquisitivo achatado e até os alimentos básicos têm perdido espaço. As indústrias estão seguindo a política de deixar os estoques nas mãos dos produtores e, como estes têm necessidade de caixa nestas próximas semanas, dificultará a reação nos indicativos, com tendência de manterem-se estabilizados. Algumas indústrias apostam que as cotações ainda podem sofrer nova queda, mas o que se aponta no momento é que há pouco espaço no lado de cima para o curto prazo.

CURTAS E BOAS ARROZ - os produtores do RS continuaram reclamando que os vendedores do Mercosul estariam colocando grandes volumes de arroz no mercado brasileiro e que já estaria acima de 1 milhão de toneladas e superando a expectativa que apontava um total de 800 mil toneladas para o ano todo. Para complicar, comenta-se que haveria pelo menos outras 200 mil toneladas para serem internalizadas. CHINA - no mercado, criaram suporte as cotações internacionais em outubro. Os chineses sinalizaram que devem comprar mais produto em 2005, e das previsões americanas de venda, que indicava entre 4 a 6 milhões de toneladas, agora já se indica a marca das 8 milhões. TRIGO - o governo realizou leilões de Opções e de PEP para dar liquidez aos produtores brasileiros, que estão tendo dificuldade para comercializar o cereal neste ano. O maior problema do trigo continua sendo o câmbio defasado, que faz com que as cotações em real fiquem muito baixas. O USDA tem indicado que a safra 04/05 chegará à marca das 615 milhões de toneladas, em função do crescimento da produção da Europa, Canadá, China e dos EUA. Com isso, aponta que depois de seis anos teremos o consumo abaixo da produção, com 605 milhões de toneladas consumidas. O quadro mundial continua mostrando indicativos entre US$ 135,00 e US$ 140,00 por tonelada. ALGODÃO - o quadro mundial segue mostrando crescimento da safra, que agora aproxima-se da casa dos 110 milhões de fardos, fazendo com que os estoques cresçam de 33 para mais de 41 milhões de fardos. Desta forma, veremos crescer a disputa internacional junto à OMC frente aos subsídios americanos. A melhor alternativa para os produtores brasileiros é plantar com parte da safra negociada antecipadamente na exportação para poder cobrir os custos, em função da baixa liquidez que tem o produto. Alternativa vista para o setor, é que o câmbio, necessita de uma correção e poderá beneficiar a pluma na colheita. Por isso é que os contratos, quando realizados, têm que ser atrelados ao dólar.

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Informe jurídico • Newton Peter • OAB/RS 14.056 • consultas@newtonpeter.com.br

Reserva de florestas nativas Leitor escreve por causa da compra de uma propriedade de 2,1 mil hectares em que há degradação da vegetação nativa maior do que o permitido em lei. Como ele adquiriu o imóvel recentemente, pergunta se pode aproveitar todo o espaço para plantio.

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evemos entender o tem po em que vivemos. Cada época tem seus valores e, mesmo discordando, nenhum homem sábio desafia-os, pois sabe ser essa uma guerra onde conta com poucas chances de vitória. Estamos numa época com grande cobrança sobre pessoas com terras e recursos financeiros. O MST, embora com seu apoio diminuído, ainda detém grande influência; os ecologistas clamam por um mundo mais verde. O Congresso Nacional e a Justiça, em menor grau, são influenciados por essa pressão. No presente caso, os aspectos político e jurídico andam juntos. Em termos políticos, a explicação concisa consta no parágrafo anterior e sobre ela pode-se falar em outra oportunidade. Em termos jurídicos, preliminarmente, o Código Florestal (Lei 4.771/65) determina a manutenção de um mínimo de 20% da propriedade sob forma de florestas nativas. Precisamente, a lei concede autorização para derrubada ou modificação da vegetação desde que se preserve um mínimo de 20%. Essa sutileza, conceder autorização para suprimir o original condicionado à manutenção de parte ao invés de simplesmente obrigar a deixar parte natural, diz muito sobre o caráter da lei e sua interpretação pela Justiça. Ela demonstra os limites de ação do proprietário. Mais importante do que a questão da parte preservada, a lei, ao condicionar o uso, mostranos ser a exploração de área rural algo delicado, sobre o qual, apesar da compra, o proprietário possui direitos limitados.

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Acontece algo semelhante nas zonas urbanas, pois quem adquire terreno deve mantê-lo limpo, providenciar construção ou manutenção de calçadas para pedestres e observar as limitações impostas pelos municípios para construção de casas. De qualquer modo, inegável existir um custo financeiro maior do caso de propriedades rurais: paga-se 100%, mas só se pode utilizar economicamente 80%. Em dois mil hectares perde-se muito mais do que em um terreno de 300 metros quadrados.

RESPONSABILIDADE OBJETIVA Adiante, encontra-se a chamada “responsabilidade objetiva”. Em síntese, trata-se de uma situação onde

alguém deve arcar com o ônus mesmo sem ter provocado o dano. O “bem maior” (meio ambiente, reflexos na vida de todos os cidadãos) motiva essa decisão por parte dos legisladores. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/ 81) prevê responsabilidade objetiva para danos ambientais, portanto, ao adquirir uma propriedade rural, o comprador se torna totalmente responsável pelo estado do imóvel. A única defesa contra ônus decorrentes dessa relação é evitar a compra do imóvel. Uma vez comprado, carrega-se o peso da responsabilidade. Não se aconselha tentar subterfúgios, como cláusulas contratuais com

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o vendedor, pois pequena é a chance de elas prosperarem judicialmente. Se a terra não vale o risco de ser descoberto por um fiscal, não a compre! Outra sutileza jurídica na questão consiste na “perpetuação da lesão”. Ao comprar uma propriedade com problemas legais e não tomar as medidas necessárias para sanar a questão, juridicamente considera-se estar o novo proprietário perpetuando a lesão e, portanto, cometendo ato ilícito. Ele, na condição de proprietário, tem a obrigação de reparar o dano ao ambiente causado pela ausência da área de preservação.

SOLUCIONANDO A QUESTÃO A menos que o preço seja compensatório, melhor não comprar terras com problemas legais. Mesmo assim, o barato sai caro, reza o ditado popular. Uma vez adquirida a propriedade, além de vendê-la, pode-se contratar um engenheiro agrônomo ou florestal e encomendar um projeto para recuperar a vegetação degradada. Não é necessário fazer tudo em um ano. O juiz certamente entenderá haver custos financeiros envolvidos no projeto e aceitará um prazo razoável (alguns anos) para conclusão, desde que se possa provar a existência da vontade de consertar o erro. A comprovação da boa-fé do proprietário, isto é, sua intenção de agir corretamente, pode até evitar que o Ministério Público denuncie o caso à Justiça. Importante também notar a necessidade de se averbar a área de reserva legal à margem da inscrição de matrícula da propriedade, no registro de imóveis competente. Para quem enfrenta esse tipo de problema, o melhor conselho: procure seu advogado. As particularidades de cada caso devem ser levadas em conta na hora de resolver a questão. C

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