Cultivar 69

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Cultivar Grandes Culturas • Ano VI • Nº 69 • Janeiro 2005 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

06

Foto Capa / Montagem Cristiano Ceia

Mosca no café Quando atacado pela mosca-da-raiz, o cafeeiro perde as raízes mais finas e inicia um processo de definhamento

20 Ferrugem asiática Conheça os principais métodos de controle da ferrugem e os programas de monitoramente existentes

Nossos cadernos

37

Fotos de Capa

Pragas da soja RR

Amaury dos Santos

Por falta de vegetação nativa e inimigos naturais, o índice de insetos pragas é maior em lavouras de soja transgênica

Ricardo Balardin

44 Novo fungo Novo fungo causador da mancha Mirothecium no algodão preocupa produtos e pesquisadores

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL

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www.cultivar.inf.br 3028.4001 cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Índice

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

• Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

05

Mosca-da-raiz do cafeeiro

06

Controle de invasoras sobre a palhada

10

Pedro Batistin

Resistência em lavouras transgênicas

16

Sedeli Feijó Silvia Primeira

Especial ferrugem - histórico

20

Especial ferrugem - diagnóstico

22

CIRCULAÇÃO

Especial ferrugem - tipos de fungicidas

24

Cibele Oliveira da Costa

Especial ferrugem - monitoramento

28

• Assinaturas

Especial ferrugem - tecnologia de aplicação 33

Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes

Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000

• Editor

Charles Ricardo Echer

Editorial

Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

REDAÇÃO

Pragas da soja transgênica

37

Controle da trapoerabas

40

Novo fungo do algodoeiro

44

Pragas cada vez mais terríveis

46

Controle do percevejo verde

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COMERCIAL

• Gerente

• Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Uso de nematóides no controle de insetos 52

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Editorial

O melhor de 2004 numa única edição Prezado Leitor

V

ocê tem em mãos uma edição especial da Revista Cultivar Grandes Culturas, preparada com os artigos que mais deram repercussão em 2004, além de um especial sobre ferrugem da soja, onde apresentamos material completo, focado no problema e com o intuito de ser uma ferramenta de tomada de decisão para o produtor. Durante 2004, muitos cenários mudaram na agricultura brasileira, como o surgimento de um novo fungo do algodoeiro, que desafia a pesquisa na busca de variedades resistentes e formas específicas de controle; a expectativa - não concretizada - de um novo recorde na produção de grãos; a liberação do uso do glifosato para pós-emergência em lavouras transgênicas; a chegada da ferrugem asiática aos Estados Unidos e tantos outros acontecimentos que a Revista Cultivar procurou acompanhar de perto e trazer de forma detalhada e técnica para os leitores. Um dos assuntos que ainda demanda muitas informações concretas é a produção de soja transgênica. Como essa tecnologia é relativamente nova nas lavouras brasileiras, os produtores têm diversas dúvidas que estão sendo respondidas aos poucos, safra após safra. Em 2004 publicamos dois artigos inédito sobre o assunto: o primeiro abordou o manejo de invasoras nas lavouras transgênicas, explicando como monitorar, épocas de controle, cuidados com a resistência etc; o segundo enfocou o aumento do número de pragas que atacam a soja RR, devido à falta de vegetação nativa que dificulta a sobrevivência de inimi-

gos naturais, também mostrando as possíveis saídas. A ferrugem asiática também ganhou espaço de destaque nesta edição por ser um dos pesadelos atuais dos produtores brasileiros. Buscamos, em dez páginas, apresentar um histórico da doenças, métodos de diagnóstico, escolha dos fungicidas mais adequados, programas de monitoramentos existentes e tecnologia de aplicação específica para o controle da ferrugem. Além destes assuntos, selecionamos artigos sobre mosca-da-raiz do cafeeiro, controle de invasoras sobre a palhada, controle da trapoeraba, controle do percevejo-verde, novo fungo do algodão, uso de nematóides no controle de insetos, além dos cadernos técnicos sobre doenças de soja e cana-de-açúcar. Uma boa leitura e que 2005 seja basC tante produtivo para você.


Café

A

larva da mosca, Chiromyza vittata Wiedemann, 1820 (Dipte-ra: Stratiomyidae, Chiromyzinae), conhecida como mosca-da-raiz do cafeeiro, foi constatada pela primeira vez atacando raízes da planta em agosto de 1986 no município de Oliveira, região do Campo das Vertentes, estado de Minas Gerais. A larva da mosca possui o aparelho bucal do tipo mastigador, se alimenta de radicelas e perfura as raízes mais grossas, e como conseqüência a planta definha. O inseto adulto, que é uma mosca, possui o aparelho bucal atrofiado e não causa danos, tendo apenas função reprodutiva. Pela atual importância e danos que a praga vem causando aos cafezais em produção, este trabalho tem por objetivo relatar alguns dados já conhecidos da biologia da mosca e métodos de controle para informação e uso pelos cafeicultores.

ASPECTOS BIOLÓGICOS Os adultos do inseto, de ambos os

sexos, são moscas que predominantemente aparecem em um determinado período do ano. As fêmeas são mais robustas e maiores do que os machos, medindo aproximadamente 20 e 10 mm de comprimento, respectivamente, e apresentam coloração geralmente marrom claro. Em lavouras muito infestadas, os adultos podem ser observados pousados nas folhas de cafeeiros ou voando lentamente, de março a outubro, com uma maior presença no período de abril a maio. O inseto apresenta metamorfose completa, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulta. Cada fêmea fecundada, com o seu abdome volumoso cheio de ovos, deposita em um só local, uma massa de ovos de coloração verde-água, em fendas no tronco da planta ou no solo, e morre aproximadamente dois dias após o período de postura, fase que pode durar até 18 horas. Os ovos são elípticos, alongados, brilhantes, ligeiramente recurvados e medem 1,0 mm de

comprimento por 0,2 mm na maior largura. O total de ovos presentes em cada massa é variável, de algumas dezenas a milhares. Em laboratório, uma fêmea chega a colocar cerca de 3.000 ovos, com 100% de viabilidade. Após a fase embrionária, que dura aproximadamente 10 dias, eclodem diminutas larvas, com 2 mm de comprimento, de coloração branco-amarelado, que penetram no solo, seu hábitat, e passam a se alimentar das raízes e da matéria orgânica ali presentes. A fase larval é longa, podendo durar até dois anos. A larva que é ápode, ou seja, sem pernas, apresenta aparelho bucal mastigador com mandíbulas bem desenvolvidas, corpo cilíndrico, alongado, suavemente achatado e nitidamente segmentado em anéis, e coloração geral marrom. Apresenta pêlos curtos e esparsos em todos os anéis do corpo. A extremidade posterior do corpo da larva é truncada e de coloração preta. Seu tegumento é rugoso, duro ao tato, com pontos brilhantes, aparência

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Fotos Paulo Rebelles Reis

de mosaico, apresentando células circulares proeminentes distribuídas aleatoriamente, conferindo aspecto granuloso. Quando retirada do solo e colocada na palma da mão e tocada com os dedos se apresenta dura ao tato, com pouca mobilidade visível, diferente portanto, de outras larvas de moscas que apresentam o corpo mole e com mobilidade. A cabeça é de tamanho reduzido e preta. Completamente desenvolvidas, as larvas podem chegar a medir 20 a 24 mm de comprimento e 4 a 5 mm de diâmetro, que darão origem a adultos fêmeas e machos, respectivamente, após a fase pupal, a qual também ocorre no solo. A larva da mosca-da-raiz é diferente de outras larvas conhecidas da mesma família Stratiomyidae pela forma da cabeça, cujos lobos laterais e medianos apresentam processos cilíndricos, e pelo número de segmentos do corpo, 11 em vista dorsal e 12 em vista lateral e ventral. A larva da mosca-da-raiz do cafeei-

ro, mesmo sendo ápode, ou seja, sem pernas, locomove-se com agilidade no interior do solo, abrindo galerias com diâmetro de aproximadamente 5 mm, correspondente ao seu corpo. Assim, numa cova infestada por um grande número de larvas, podem ser observadas inúmeras galerias por elas construídas para sua locomoção. A maior concentração de larvas ocorre até a 20 cm de profundidade, num raio de 25 a 30 cm a partir da raiz principal, na região de maior concentração de raízes, um de seus alimentos. A fase pupal ocorre no solo, e corresponde à transição entre as fases de larva e adulta, e na qual o inseto não se alimenta. Após a fase pupal, emerge o adulto, macho ou fêmea, através de uma abertura circular na extremidade anterior da pupa ( região da cabeça). As pupas são semelhantes às larvas e aquelas que darão origem a fêmeas são maiores e mais largas, medindo 18 mm de comprimento e 5 mm de largura, aproximadamente. As pupas dos machos são bem menores, medindo 10 mm e 3 mm de comprimento e largura, respectivamente. Após a emergência dos adultos, o pupário permanece vazio no solo, apodrecendo com o passar do tempo. Não se sabe exatamente a duração da fase pupal, porém ela dura aparentemente apenas alguns dias. A proporção entre machos e fêmeas é muito variável. Geralmente o número de machos é maior do que o de fêmeas. Tem-se observado que a cada ano, no período de emergência de adultos, a proporção sexual pode variar. Em 1999 foi constatado que só emergiram machos praticamente, resultando numa redução natural da infestação do inseto naquela área atacada. Este aspecto biológico é muito positivo já que são as fêmeas, uma vez fecundadas pelos machos, que colocam ovos que darão origem às larvas. A cada ano, emergindo poucas fêmeas na época de revoada de adultos, a

população do inseto sofrerá naturalmente, com o passar do tempo, uma redução drástica no talhão infestado.

COMO CONSTATAR A OCORRÊNCIA A constatação da presença de larvas é feita mediante entrincheiramento de uma cova de cafeeiro. O entrincheiramento consiste em desgalhar cada planta escolhida de um só lado da rua, limpar as folhas caídas e outros detritos sob ela. A seguir, abre-se de fora para dentro, na área ocupada pelas raízes, em direção ao centro da cova, uma trincheira. À medida em que a trincheira for sendo aberta, as larvas da mosca encontradas na terra são separadas, e colocadas em um recipiente, para serem contadas. Após a conclusão da trincheira, com a separação e contagem das larvas encontradas, a terra solta é novamente devolvida à trincheira cavada. O total de larvas encontrado é multiplicado por dois, já que a trincheira é aberta de um só lado na cova.

ÉPOCA DE OCORRÊNCIA As larvas da mosca-da-raiz ocorrem em um determinado talhão de maneira generalizada, durante todo o ano, numa grande variação quanto ao número de indivíduos por cova infestada, variando de nenhuma a 1000 ou mais. O número médio de larvas mais comumente encontrado tem sido em torno de 200 larvas por planta. O grande número de larvas que pode ocorrer numa cova infestada resulta da deposição de uma só vez de uma massa de ovos, de até 2.900 ovos, com viabilidade de 100%. Por outro lado, o baixo número de larvas enAdultos da mosca-da-raiz fêmea e macho da esquerda para direita

07


Fotos Paulo Rebelles Reis

contrado em covas infestadas pode ser resultado da emergência de adultos a partir de suas larvas que se transformaram em pupas no solo e da ausência de novas posturas nessas covas, antes bastante infestadas. A constatação de larvas no solo, durante todo o ano, indica a presença de gerações sobrepostas dessa fase do inseto no talhão infestado. A constatação de gerações sobrepostas é resultado da emergência de adultos do inseto todos os anos, no período de março a outubro, com a maior quantidade deles tendo emergido no período maio-junho. Adultos capturados em armadilhas adesivas permitiram constatar uma proporção sexual de machos para fêmea da ordem de 6:1 a 9:1. Numa cova infestada são encontradas larvas de diferentes estádios e tamanhos, indicando diferenças sexuais (já que as larvas que darão origem a adultos machos são menores em comprimento e largura) e sobreposição de gerações.

DANOS CAUSADOS PELA LARVA Para se alimentar a larva consome as radicelas, que são aquelas mais finas e de função absorvente, e também pode perfurar as raízes mais grossas. Como conseqüência do ataque e em razão da grande quantidade de larvas presentes, em gerações superpostas, os cafeeiros definham, não respondendo aos tratos culturais normais como as adubações, resultando em redução na produção de café. As perfurações nas raízes mais grossas são também portas de entrada para fitopatógenos, como a fusariose

que causa a interrupção dos vasos condutores, podendo levar a planta à morte.

CONTROLE Trata-se de uma praga de difícil controle, por estar protegida pelo solo e apresentar o hábito de alimentação do tipo mastigador. É necessária a adoção de um conjunto de práticas para que o controle seja eficaz, e entre elas destacam-se o controle cultural, o físico, o biológico e o químico. O controle deve ser preferencialmente realizado visando as larvas no solo, embora a redução de adultos possa significar redução de ovos e conseqüentemente de larvas. Controle Cultural - Consiste na erradicação das lavouras velhas e improdutivas, principalmente aquelas já atacadas pela praga, e implantação de novos cafezais na mesma área após um ano. As larvas presentes no solo morrerão por falta de alimento, e em plantas novas de cafeeiro não tem sido constatada a ocorrência de larvas da mosca nas raízes. Qualquer tipo de poda em lavoura infestada pela praga somente deve ser realizada se acompanhada do controle químico. Outra medida cultural é evitar o uso em excesso de matéria orgânica, pois há evidências de que em solos mais orgânicos a presença da mosca é maior, inclusive suspeita-se que larvas da mosca possam ser disseminadas pelo esterco. Controle Físico - Pode ser feito com

Larva da mosca infectada pelo fungo Evlachovaea sp dentro da galeria e próximo às raízes

o uso de armadilhas adesivas de coloração amarela. A cor amarela atrai adultos de ambos os sexos da mosca, e deve ser colocada no período de emergência dos adultos (em geral de março a junho) para reduzir a população do inseto nas lavouras e conseqüentemente a deposição de ovos que darão origem a novas larvas. Controle Biológico - Em larvas da mosca coletadas em cafeeiros atacados, tem sido constatada a presença de um fungo entomopatogênico, pouco conhecido, pertencente ao gênero Evlachovaea, próximo de Paecelomices que é mais conhecido, que mata a larva e a deixa com aspecto de giz. A sua presença natural, nos diversos tipos de solo, talvez seja uma explicação do motivo do inse-

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A LARVA DA MOSCA NO BRASIL

A

to não ser considerado praga do cafeeiro em todas as regiões. O uso do fungo numa forma de controle biológico aplicado ainda necessita de mais estudos. Além do fungo, outro inimigo natural, Monomachus sp. (Hymenoptera: Mono-

mosca C. vittata é de distribuição Neotropical, tendo sido já constatada na Bolívia, Brasil e Paraguai. No Brasil, apesar de ter sido encontrada atacando cafeeiros na região do CentroOeste de Minas, já foi constatada a ocorrência da praga em cafeeiros das regiões Sul de Minas, Alto Paranaíba, Triângulo

Mineiro, Zona da Mata e Jequitinhonha, todas em Minas Gerais. Outros Estados onde já foi constatada a ocorrência da mosca-da-raiz são: Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Bahia, ou seja praticamente em todas as regiões produtoras de café.

machidae), um parasitóide associado ao pupário e provavelmente às larvas, já foi encontrado na Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais. Parasitóides machos e fêmeas da espécie M. fuscator (Perty, 1833) já foram relatados emergindo de pupários e também coletados nas copas de cafeeiros atacados pela mosca na Bahia. Há relato de que as espécies M. fuscator e M. eurycephalus Schletterer, 1890 são abundantes em fragmentos de Mata Atlântica no estado do Espírito santo. Controle Químico - Apesar de ser a forma mais eficiente de controle conhecida, nem todos os produtos que podem ser aplicados via solo apresentam eficiência no controle das larvas. Os tradicionais inseticidas sistêmicos granulados, ainda que eficientes no controle de outras pragas do cafeeiro, não apresentam resultados satisfatórios na redução de larvas da mosca-da-raiz. Trabalhos realizados no intuito de encontrar um produto eficiente, realizados pelas diversas instituições que trabalham em pesquisa com cafeeiro, mostram que o inseticida imidacloprid, da nova geração de inseticidas conhecida como neonicotinóides, é altamente eficiente no controle de larvas da mosca, com mais de 80% de controle. O imidacloprid a 700g/kg de ingrediente ativo e na formulação de grãos dispersíveis em água pode ser aplicado na dosagem de 1,2 kg do produto comercial por ha, em pul-

verização visando o solo e o colo da planta (100 a 150 ml de calda/planta, metade de cada lado) ou através de esguicho ou “drench” também no colo da planta (50 ml de calda/planta), em aplicação tratorizada ou manual. A aplicação deve ser feita de preferência entre dezembro e fevereiro, meses em que há maior ocorrência de chuvas na maioria das regiões cafeeiras, importante para a distribuição do produto na solução do solo. O imidacloprid também pode ser utilizado com muito bom resultado no controle da cigarra-do-cafeeiro, na mesC ma modalidade de aplicação. Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, Epamig/EcoCentro

Detalhe de aplicação manual de inseticida tipo esguicho no colo do cafeeiro


Invasoras

Charles Echer

Dependendo da quantidade de palhada, o controle de plantas daninhas em aplicações de préemergência pode ser problemático, atingindo índices abaixo dos 50%

Controle prejudicado O

controle de plantas daninhas, antes e durante o desenvolvimento das culturas, é extremamente importante, pois estas apresentam características mais agressivas que as plantas cultivadas, competindo pela luz, água, nutrientes do solo e espaço físico, reduzindo de modo drástico a produtividade das culturas e a qualidade dos produtos. Além disso, podem ser hospedeiras de doenças, nematóides e insetos (Deuber,1992). O período crítico de interferência segundo diversas pesquisas ocorre dos dez aos 45 dias, período este que a cultura não pode sofrer competição pelas plantas daninhas. As medidas de controle devem ser tomadas até dez dias após sua emergência. Considerando os estádios fenológicos pode-se dizer que o

estágio de três a quatro folhas das plantas daninhas é atingido aos dez a 15 dias e 12 folhas aos 45 dias após a emergência do milho. As recomendações de herbicidas de aplicação em pré-emergência como em pós-emergência têm sido as mesmas tanto para o sistema de plantio direto como para o sistema convencional, independente do tipo e da quantidade de palha que existe sobre o solo. No plantio direto onde existe uma grande quantidade de cobertura morta, supõe-se que a concentração do herbicida aplicado em pré-emergência nem sempre atingirá o solo, podendo ficar boa parte do produto retido na palha que cobre o solo. Em função disto, alguns agricultores estão aumentando as doses dos herbicidas quando aplicados em sistema de plantio direto, com a justificativa de compensar as possí-

veis perdas ou retenção dos produtos pela palhada que poderá influenciar na eficácia de controle das plantas daninhas. A origem e a quantidade de cobertura morta podem influenciar na capacidade de um herbicida residual em atingir o solo no sistema de plantio direto. Além disso, a quantidade e época das chuvas que ocorrem após a aplicação do herbicida também influenciam na lixiviação do produto da palhada até o solo. A solubilidade do produto em água é outro fator que confere maior ou menor capacidade do herbicida em atingir o solo (Marochi, 1999). Como conseqüência da retenção do herbicida pela palha, o produto é submetido a condições de fotodegradação e volatilização, reduzindo desta forma a sua eficiência. Foi verificado que alguns herbicidas são retidos na palha, mesmo ocorrendo chuvas logo após a aplicação, como é o caso do metribuzin (Banks & Robinson, 1982), oryzalin (Banks & Robinson, 1984) e das acetanilidas (alachlor, acetochlor e metolachlor) (Banks & Robinson, 1986), trifluralin (Rodrigues et al., 1998). Outros são facilmente lixiviados para o solo, com chuvas que ocorram 24 horas após a aplicação, como é o caso de atrazine (Rodrigues & Almeida, 1986; Fornarolli, 1997). Esses resultados, no entanto, foram obtidos com os produtos aplicados isoladamente, nunca em misturas. Rodrigues (1993) observou que a capacidade de um herbicida pré-emergente atingir o solo, no sistema de semeadura direta, é variável com o produto. Neste estudo, o clomazone apresentou evidências de ter sido interceptado pela cobertura morta, não ocorrendo o mesmo com o imazaquim. Tabela 1 - Características dos produtos a serem utilizados Nome comum Atrazine + metolachlor Acetochlor S- Metolachlor + safener

Concentração 200 g/l e 300 g/l 840 g/l 915 g/l

Dose p.c/ha i.a/ha 7,0 l 3500 g 3,0 l 2800 g 1,5 l 1372 g

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Tratamento S-metolochlor + safener S-metolochlor + safener S-metolochlor + safener S-metolochlor + safener Atrazine + S-metolachlor Atrazine + S-metolachlor Atrazine + S-metolachlor Atrazine + S-metolachlor Acetochlor Acetochlor Acetochlor Acetochlor Testemunha 1 Testemunha 1 Testemunha 1 Testemunha 1 Testemunha 2 Valor de F CV(%)

Palha Fitotoxicidade Produtividade (kg/ha) (ton/ha) (EWRC 1 a 9) 4.541 ab 0 1 1 4.353 ab 2 2 4.478 ab 4 6 1 5.062 a 4.729 ab 0 1 3.978 ab 2 4 4 4.374 ab 4 3 3.583 ab 6 5.208 a 0 1 3.895 ab 2 4 2 5.874 a 4 3 4.333 ab 6 2.600 b 1 0 3.866 ab 2 1 1 4.687 ab 4 1 5.104 a 6 capinada 1 4.687 ab 2,48 21

Médias seguidas de mesma letra não diferente entre si significativamente, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade DAA = dias após aplicação Testemunha 1: sem herbicida, diferentes níveis de palhada Testemunha 2: sem herbicida, sem palha, capinada

Pelos resultados, verifica-se que, embora ocorra a interceptação do produto pela palhada, a sua chegada ao solo é facilitada pela chuva, ou seja, nessas condições, a eficiência do produto pode estar condicionada a uma precipitação de pelo menos 20 mm para que o herbicida seja retirado da palha e possa atingir o alvo. O objetivo deste trabalho foi determinar a eficácia e a seletividade dos herbicidas acetochlor, S-metolachlor + safener e atrazine + S-metrolachlor quando aplicados em préemergência sobre diferentes níveis de palhada de sorgo.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no ano agrícola 2000/2001, na Fazenda Pedra Branca, localizada no Núcleo Rural Taquara em Planaltina (DF), em solo de cerrado do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo, textura argilosa. A área do experimento foi cultivada na safra anterior com a cultura da soja. O solo foi preparado em duas operações, sendo uma com grade aradora e outra com grade niveladora. A variedade de milho utilizado foi um híbrido simples 30F88 da Pioneer. A adubação de manutenção foi de 450 kg/ha da fórmula 08-2012 NPK + 2 kg Boro/ha e a adubação de cobertura foi realizada aos 25 dias após a emergência, estágio no qual o milho estava com quatro a seis folhas com 200 kg/ha de uréia, distribuída à lanço em todo o experimento. O milho foi semeado mecanicamente no espaçamento de 0,8 m entre fileiras, com uma densidade populacional de 55.000 plantas/ha. As

sementes foram previamente tratadas com Promet na dose de 400 ml/100 kg de semente. No dia 28/11 foi aplicado o inseticida Karatê para o controle de lagartas. O delineamento experimental foi de blocos casualizados com 17 tratamentos, ou seja, um fatorial 4 X 4 onde 4 = níveis de palhada de sorgo 0; 2000; 4000 e 6000 kg/ha e 4 = herbicidas acetochlor (Kadett), atrazine + Smetolachlor (Primestra Gold) S-metolachlor + safener (Medal) e sem herbicida originando 16 tratamentos com quatro repetições, e uma testemunha com zero de palha, zero de herbicida e capinada. As parcelas experimentais foram de 4 m x 7 m (28 m2). A descrição dos herbicidas utilizados encontra-se na Tabela 1. A palha de sorgo foi pesada e distribuída de forma homogênea dentro de cada parcela, de acordo com cada tratamento (nível de palhada e herbicida). Posteriormente, os herbicidas foram aplicados em pré-emergência da cultura e das plantas daninhas, nas seguintes doses: Acetochlor (3,0 l/ha), Atrazine + Smetolachlor (7,0 l/ha) e S-metolachlor + safener (1,5 l/ha). A aplicação dos herbicidas foi realizada utilizando-se um pulverizador manual propelido a CO2, equipado com uma barra de 1,5 m de comprimento, sendo os quatro bicos tipo leque Teejet 80.015, sendo que a área pulverizada foi de 2 m de largura, trabalhando a uma pressão de kg/cm 2, (42 lb/pol2) e proporcionando um volume de calda aproximado de 200 l/ha. As avaliações visuais da eficácia dos herbicidas foram realizadas aos 30 e 50 dias após a aplicação dos herbicidas para determinar a população de plantas daninhas presentes na área. Para as avaliações de eficácia de controle das plantas daninhas, foi utilizada a escala percentual de 0 a 100%, onde 100% significa controle total, 90-99% controle excelente, 80-89 controle aceitável, 50-79 controle não aceitáCharles Echer

Tabela 3 - Efeito da fitotoxicidade de herbicidas aplicados em pré-emergência e produtividade na cultura do milho. Brasília (DF), 2001

vel e 0-49 controle insuficiente, para cada espécie de planta daninha encontrada nas parcelas conforme descrito por Frans & Talbert (1977). Com o objetivo de se obter a distribuição percentual das espécies presentes no experimento, determinou-se a população inicial de plantas daninhas na testemunha capinada, previamente à capina, pelo método do quadrado de 50 x 50 cm, obtendo-se quatro sub-amostras de 0,25 m2 por parcela, perfazendo uma área de 1 m2. Foram realizadas avaliações visuais de toxicidade às plantas do milho aos 30 e 50 dias após a aplicação dos herbicidas, através da escala visual da European Weed Research Council (EWRC) em que 1 = a ausência de injúria, 2 = sintoma muito leve, 3 = dano leve aceito na prática, 4 = forte clorose, sem efeito na produção, 5 = duvidoso, 6 = prejuízo evidente, 7 = prejuízo pesado na colheita, 8 = prejuízo muito pesado e 9 = perda total. Ao final do ciclo da cultura do milho, foi obtido o rendimento de grãos colhendo-se, manualmente, 3 metros lineares das três linhas centrais de cada parcela, sendo a área útil de 12 m2 por parcela. As espigas foram despalhadas e trilhadas manualmente e os grãos foram pesados. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância através do teste F e para a comparação das médias foi utilizado o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Na determinação da população de plantas daninhas, realizada no dia da primeira avaliação, observou-se a ocorrência de picão-preto na densidade de 60 plântulas/m2, milheto na densidade de 25 plântulas/m2, erva-de-touro na densidade de 15 plântulas/m2 e 15 plântulas/m2 de outras espécies. Atrazine + S-metolachlor obtiveram o melhor resultado no comparativo de controle das plantas daninhas

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Tratamento S-metolochlor + safener S-metolochlor + safener S-metolochlor + safener S-metolochlor + safener Atrazine + S-metolachlor Atrazine + S-metolachlor Atrazine + S-metolachlor Atrazine + S-metolachlor Kadett Kadett Kadett Kadett Testemunha 1 Testemunha 1 Testemunha 1 Testemunha 1

Palha (ton/ha) 0 2 4 6 0 2 4 6 0 2 4 6 0 2 4 6

Bidens Pilosa 30 DAS 50 DAS 72 55 45 47 73 78 75 70 95 90 94 95 98 95 90 88 84 88 87 87 77 70 81 78 0 0 10 10 10 10 20 15

Os resultados de eficácia do controle das plantas daninhas estão discriminados na Tabela 2. O herbicida atrazine + S-metolachlor apresentou um controle eficiente para o picão-preto em todos os níveis de palhada. Na avaliação aos 30 dias após a aplicação (DAA) as parcelas com 6.000 kg/ha de palhada a eficácia de controle foi inferior quando comparado com os 50 DAA, provavelmente devido à retenção do herbicida na palhada, retardando a movimentação do produto ao solo, o que reduz sua eficácia inicialmente. Para a planta daninha erva-de-touro o melhor controle foi nas parcelas onde não houve adição de palha (zero de palha). Observou-se que, com o aumento da quantidade de palha, o controle desta planta daninha tendeu a reduzir e somente teve um melhor efeito quando da segunda avaliação aos 50 DAA, possivelmente devido à lixiviação do herbicida através da palha, atingindo o solo, podendo controlar melhor as plantas daninhas. O herbicida acetochlor apresentou um controle aceitável (80-89 %) para a planta daninha picão-preto quando a quantidade de palha foi zero e 2.000 kg/ha, já para os níveis de palha de 4.000 e 6.000 kg/ha este controle não foi aceitável (50-79 %), possivelmente devido à retenção do produto pela palha reduzindo, assim, a sua eficácia. A erva-de-touro, sendo uma planta daninha de difícil controle, apresentou nas parcelas onde não havia palha (nível zero de palha) controle aceitável (80-89 %). Na quantidade de 2.000 kg/ha de palha o controle foi aceitável (80-89 %) a partir da segunda avaliação realizada aos 50 DAA. Entretanto, para os níveis de 4.000 e 6.000 kg/ha de palha o controle não foi aceitável (5079%). Os herbicidas acetochlor e atrazine + S-metolachlor apresentaram controle aceitável (80-89 %) em relação ao milheto, em todos os níveis de palhada. O herbicida S-metolachlor + safener apre-

Tridax procumbens 50 DAS 30 DAS 69 53 63 47 57 75 70 65 91 89 87 80 75 85 65 80 85 81 81 73 70 75 70 75 0 0 0 0 5 5 10 10

Peninisetum americanum 30 DAS 50 DAS 63 75 80 80 79 77 65 60 87 91 90 87 80 80 80 80 90 85 80 82 80 80 90 85 0 0 0 0 10 10 30 30

sentou controle não aceitável (50-79%) para todas as plantas daninhas avaliadas e em todos os níveis de palhada. Quanto à fitotoxicidade, os resultados estão discriminados na Tabela 3. O herbicida Smetolachlor + safener apresentou, em relação à avaliação de fitotoxicidade, ausência de danos para as quantidades de 0, 2.000 e 6.000 kg/ha de palha; para 4.000 kg/ha observou-se sintoma muito leve. O herbicida atrazine + S-metolachlor, nas parcelas onde se adicionou 2.000 e 4.000 kg/ha de palha, apresentou dano pesado, ou seja, redução de crescimento e encarquilhamento de algumas plantas da parcela, portanto sem efeito no rendimento. Quando a quantidade de palha foi de 6.000 kg/ha observou-se dano leve, ou seja, redução de crescimento, portanto aceito na prática. Nas parcelas onde não se adicionou palha não ocorreu nenhum dano. O herbicida acetochlor não apresentou dano nas parcelas sem palha; nas parcelas com 2.000 kg/ha de palha observouse dano pesado, portanto sem efeito no rendimento; nas parcelas com 4.000 kg/ha, o sintoma observado foi muito leve e quando a quantidade de palha foi de 6.000 kg/ha notou-se dano leve, aceito na prática (Tabela 3). Não houve diferença significativa (p>0,05) em relação à produção de grãos, quando se comparou os três herbicidas, nos diferentes níveis de palhada e também com a testemunha que foi capinada (sem herbicida, sem palha e capinada) (Tabela 3). O tratamento que obteve diferença significativa (p<0,05) foi o tratamento da testemunha com nível zero de palhada e sem herbicida, que obteve menor produtividade, provavelmente devido à competição das plantas daninhas com a cultura do milho por água, luz, nutriente e espaço físico. Observou-se que, quando se aumentou a quantidade de palhada nos tratamentos da testemunha sem herbicida, a produtividade também aumentou. Isto pode ser

explicado pelo fato de que a palha reduz a incidência da luz direta na superfície do solo, reduzindo a germinação das plantas daninhas. Apesar da presença da palhada ter reduzido a germinação das plantas daninhas o uso dos herbicidas aplicados em pré-emergência não deve ser dispensado, uma vez que o controle das mesmas, obtido nos tratamentos da testemunha sem herbicida e com diferentes níveis de palhada não passou de 30% nas avaliações visuais (Tabela 2).

CONCLUSÃO O herbicida que apresentou melhor controle das plantas daninhas foi o atrazine + Smetolachlor. A presença de palha nos diferentes níveis não influenciou a eficácia dos herbicidas, uma vez que não houve redução da produtividade. O herbicida que apresentou maior fitotoxicidade à cultura do milho foi o atrazine + S-metolachlor. A ausência de palha nos tratamentos sem herbicidas permitiu uma maior germinação de plantas daninhas, o que ocasionou uma menor produtividade. A quantidade de 6.000 kg/ha de palha e sem aplicação de herbicida reduziu a germinação das plantas daninhas, mas o controle das plantas daninhas foi inferior a 30%. C Karina Sául Haas, Roberto C. Pereira e Ricardo Carmona, Universidade de Brasília Divulgação

Tabela 2 - Eficácia de herbicidas, aplicados em pré-emergência, no controle de Bidens pilosa, Tridax procumbens e Pennisetum americanum. Brasília (DF), 2001

Karina explica como ocorre a ação do produto aplicado em áreas com grande volume de palhada

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Soja

Resistência é a qu Com o plantio da soja transgênica resistente ao glifosato no Brasil, ocorrerão profundas mudanças nos sistemas de controle das plantas daninhas, mas o seu mau uso pode acelerar o processo de resistência das invasoras

O

Fotos Charles Echer

s quase 40 produtos ou com binações de produtos utili za-dos atualmente na soja convencional serão substituídos por um único ingrediente ativo, o glifosato. Inicialmente serão observadas apenas os benefícios, mas após três a cinco anos, certamente começarão a surgir os problemas como a seleção das espécies consideradas tolerantes e até mesmo resistência de plantas daninhas. Manejar plantas daninhas não significa apenas aplicar produtos. Trata-se de uma filosofia de traba-

lho, cujos resultados e benefícios se manifestarão ao longo dos anos. Por isto, para evitar as conseqüências negativas do uso continuado de um mesmo herbicida, é necessário a adoção de técnicas de manejo de plantas daninhas, mesmo se tratando da soja transgênica resistente ao glifosato.

A SOJA RR As culturas modificadas geneticamente para resistência ao glifosato apresentam uma se-

qüência alterada para a enzima EPSPs o que é feito pela introdução de um gene denominado CP4 proveniente de uma bactéria do gênero Agrobacterium, encontrada no solo e que confere insensibilidade à enzima EPSPs (Madsen & Jensen, 1998; Trezzi et al., 2001). Além da soja, o algodão, o milho, o trigo, o arroz, o fumo e o tomate também foram alterados para resistência a esse produto. A possibilidade de uso de glifosato aplicado após a emergência representa uma nova alternativa de controle em função da eficiência e viabilidade econômica, características essenciais no conceito de praticabilidade. Para Shaner (1996), o número de variedades resistentes a vários herbicidas tende a aumentar podendo representar uma importante alternativa de controle, desde que a tecnologia seja utilizada como parte de um programa de manejo integrado. Ateh & Harvey (1999) analisaram o controle de plantas anuais em soja resistente ao glifosato, e concluíram que o manejo das invasoras, da cultura e do herbicida são fatores fundamentais e que interferem diretamente nos resultados. Barnes & Oliver (2003) observaram ser possível obter bons resultados de controle de Senna obtusifolia e prevenir o acúmulo de sementes no solo associando a aplicação de glifosato com épocas de semeadura, também destacando a importância do manejo da cultura no controle de plantas daninhas. Uma outra vantagem, ainda que temporária, da cultura geneticamente modificada para resistência ao glifosato, é a oportunidade de usar um herbicida com diferente mecanismo de ação para controlar biotipos resistentes (Divine, 2000). No entanto, desvantagens também poderão ocorrer quando se relaciona o manejo de plantas daninhas resistentes com o manejo de culturas exigindo análise individual de cada tipo de problema (Darmency, 1996). Já se fala sobre a perda da eficiência de glifosato nos Estados Unidos. Culpepper et al. (2003) considera a Commelina benghalensis a principal planta daninha em algodão resistente ao glifosato indicando alternativas para associação com outros produtos, visando melhorar o nível de controle, já que a aplicação de glifosato sozinho tem permitido a seleção desta espécie. Na Argen-

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estão tina, foram registradas mudanças na comunidade das plantas daninhas sendo citado que oito espécies estão sendo selecionadas, estando entre elas uma da família Commelinaceae e outra Convolvulaceae (Papa et al., 2002). Trabalhos objetivando o uso de glifosato combinado com herbicidas utilizados na soja convencional sobre diversos alvos foram conduzidos por Gonzini et al. (1999), Payne & Oliver (2000), Culpepper et al. (2000), Vangessel et al. (2000), Kranz et al. (2001), Shaw & Arnold (2002) e Krausz & Bryan (2003) que observaram aumentos significativos na percentagem de controle, no número de espécies controladas, redução na dose de glifosato e benefícios em relação à época de aplicação, sem que houvesse interferência das plantas daninhas ou fitointoxicação. Mas nem sempre estas combinações foram vantajosas (Gower et al., 2002), havendo em certos casos antagonismo, segundo Oliver (1996) citado por Shaw & Arnold (2002). Para Ellis & Griffin (2003) uma vez obtido 85% de controle de gramíneas e folhas largas com a aplicação de glifosato sozinho, a adição de latifoliadicidas não aumenta a produção, não evidenciando vantagens nestas condições. Porém, não se pode esquecer que a presença de plantas não controladas pode aumentar o banco de sementes e reduzir a eficiência da colheita e a qualidade dos grãos. Gazziero aborda qual a tendência do uso de um único ingrediente ativo como herbicida na soja transgênica

A SOJA RR NO BRASIL O Brasil é um país de clima tropical, portanto, a composição e a dinâmica da comunidade infestante possui características próprias, dificultando a transferência de informações de outros países. As infestantes reagem às ações do homem, adaptando-se às novas condições. Com o advento da soja geneticamente modificada para a resistência ao herbicida glifosato, os quase 40 produtos ou combinações de produtos utilizados atualmente na soja convencional serão substituídos por um único ingrediente ativo, o glifosato. Algumas espécies são altamente sensíveis a este produto, enquanto outras são consideradas tolerantes e preocupam pela possibilidade de disseminação e aumento de infestação nas áreas cultivadas com a soja transgênica. Vários pesquisadores têmse posicionado quanto aos riscos e benefícios do controle de plantas daninhas nestas condições. Para Gazziero (2003), pelo grau de importância que ocupa atualmente na soja convencional, a trapoeraba (Commelina benghalensis) é uma das espécies com grande potencial para se tornar rapidamente um sério problema de controle desde que medidas de manejo não sejam adotadas. Trata-se de uma espécie que se adapta com facilidade em diferentes ambientes, apresenta intensa respos-

ta à calagem e adubação do solo, hospedeira de pragas e moléstias. É uma planta considerada perene que se reproduz por sementes aéreas, subterrâneas e multiplica-se também a partir do enraizamento de porções do caule (Rocha 1999; Rocha et al., 2000). A corda-de-viola (Ipomoea spp) também compõe a relação das espécies consideradas como de difícil controle por glifosato. A julgar pelo que se observa na relação plantas daninhas – glifosato, é possível incluir outras espécies com condições de expandir sua população na soja transgênica. Entre elas estão a poaia-branca (Richardia brasiliensis), a erva-de-santa-luzia (Euphorbia pilulifera), a erva-de-touro (Tridax procumbens), o capim-branco (Chloris dandyana) e a ervaquente (Borreria latifolia). Segundo Nonino (2003) a curto prazo a percepção do usuário da soja RR é de que se trata de uma ferramenta versátil com controle de quase todas as espécies. Mas, a longo prazo, irá predominar espécies tolerantes como a trapoeraba, cordade-viola, erva-de-touro, erva-quente (Borreria latifolia) e erva-tostão (Boechavia diffusa). O pesquisador entende ainda que em muitas lavouras serão necessárias de 2

QUASE 40 PRODUTOS SUBSTITUÍDOS POR UM

G

lifosato é um herbicida sistêmico, não seletivo com espectro de ação sobre cerca de 154 espécies ocorrentes no Brasil, utilizado em doses que variam de 1 a 6 L ha e disponível no mercado há quase 30 anos (Rodrigues & Almeida, 1998). Na soja transgênica será utilizada a formulação contendo 648g de sal isopropilamina com 480g de equivalente ácido. A variação na dose comercial deverá situar-se em 0,5 a 2,5 L ha e com maior freqüência entre 1,5 a 2 L ha. Sua classe toxicológica é IV (pouco tóxico) e o limite máximo de resíduo (LMR) aprovado no Brasil é de 10 ppm. Enquanto isso, a OMC e o EPA (USA) aprovarão 20 ppm. Seu principal metabolito é o AMPA (ácido aminomethylphosphorico). Atualmente, é aplicado em pós-emergência das plantas daninhas, antes da emergência das culturas no sistema de semeadura direta, em áreas não cultivadas, pomares e refloresta-

mentos. Não possui efeito residual, pois é fortemente adsorvido ao solo, onde é degradado principalmente pela atividade microbiana. Trata-se de um produto pouco lixiviado e volatilidade praticamente nula. Atua na síntese de aminoácidos de cadeia aromática inibindo a enzima EPSPs (enol-piruvil-shiquimato-fosfato sintase) cuja rota sintetiza proteínas, vitaminas (K e E), hormônios, alcalóides e outros produtos essenciais ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Estima-se que 35% ou mais da massa seca deriva da via do ácido shiquímico, e que 20% do carbono fixado na fotossíntese segue essa rota metabólica. Os sintomas aparecem de forma relativamente lenta, podendo variar de 10 a 30 dias conforme a espécie, tamanho e condições de umidade e temperatura. As plantas afetadas paralisam o crescimento, murcham, ficam cloróticas, necrosadas e morrem (Trezzi et al., 2001).

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MUDANÇAS NO CULTIVO de se esperar que profundas mudanças venham a ocorrer com o cultivo em escala comercial da soja transgênica resistente ao glifosato, trazendo, inicialmente, uma série de benefícios no controle das plantas daninhas. Por outro lado, problemas poderão ocorrer, como por exemplo a seleção de espécies. Para solucionar os problemas, é preciso que os conceitos básicos de manejo de plantas daninhas não sejam desconsiderados, sob pena de se perder as vantagens obtidas. Espécies tolerantes poderão ser melhor controladas com o uso de aplicações seqüenciais de glifosato e combinações deste produto com outros compostos químicos. Quanto à manifestação da resistêna 3 aplicações, abrindo assim a possibilidade de mistura de herbicidas de ação residual com o glifosato. Vidal (2003) concorda em relação a futura necessidade da mistura em tanque com outros produtos e prevê a manifestação de plantas caruru (Amaranthus spp) e capim pé-de-galinha (Eleusine indica) resistentes ao glifosato, assim como a seleção de corda-de-viola. A experiência sobre o uso de glifosato em pomares de maçã no Rio Grande do Sul é relatada por Vargas (2003), que observou a seleção de poaia-branca, leiteiro, trapoeraba e trevo-branco, além da resistência de azevém (Lolium sp) sobre os quais tem sido aplicado doses de 16 l/ha do produto comercial, sem sucesso. Nas áreas com mais de 15 anos de uso têm sido feitas 3 aplicações/ano em doses que variam de 2 a 8 l/ha. Segundo Theisen (2003) muitos produtores de soja transgênica (RR) no Rio Grande do Sul deixam de fazer o controle das plantas daninhas que nascem antes da semeadura da soja, aproveitando para controlar com a aplicação de pósemergência feita na cultura. Em muitos casos nestas condições, por ocasião da aplicação, já iniciou o processo de competição entre a cultura e as plantas indesejadas trazendo prejuízos à cultura. O pesquisador tem observado aumento na população de corda-de-viola, erva-de-touro, amendoim-bravo, poaia-branca e queixas de agricultores sobre a ocorrência de trapoeraba. As opiniões, quanto aos benefícios, são

cia de plantas daninhas, sabe-se que é possível que possa ocorrer e isto tem sido visto em países como os Estados Unidos, Chile, China, Austrália, Malásia e África do Sul, com espécies de caruru, azevém, buva, capim pé-de-galinha e tanchagem ou língua-de-vaca. No Brasil, já foi oficialmente confirmada a presença de azevém (Lolium multiflorum) resistente ao glifosato. Porém, devido ao mecanismo de ação do glifosato espera-se que este fato não assuma a proporção e a rapidez observada com outros mecanismos de ação. Casos de resistência podem ser prevenidos. Uma vez ocorrido o problema, tanto na soja convencional como na transgênica (RR) são resolvidos com a adoção de técnicas de manejo. unânimes em relação à facilidade de controle e a vantagem de se dispor de um herbicida com mecanismo de ação diferenciado para manejar plantas daninhas resistentes aos inibidores das enzimas ALS e ACCase. Exemplo disto tem ocorrido com picão-preto (Bidens spp), amendoim-bravo e capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) no Rio Grande do Sul. Todos concordam também que os problemas iniciarão à partir do 3º ao 5º ano da adoção da tecnologia. Apesar da legislação vigente no Brasil ter limitado a instalação de experimentos com soja geneticamente modificada, os resultados obtidos em nosso país permitem antever a possibilidade de se conseguir eficiência aceitável de controle, mesmo em

Dionisio Gazziero, Embrapa Soja C. E. C. Prete, UEL - Univ. Estadual de Londrina

Os próximos dez anos deverão definir o impacto das culturas transgênicas no controle e manejo de plantas daninhas

Charles Echer

É

espécies tidas como tolerantes através do manejo da dose, da época de aplicação e da combinação com outros compostos (Marochi & Zagonel, 2002; Schon & Marochi, 2002; Ferreira Neto & Marochi, 2002a; Ferreira Neto & Marochi, 2002b; Rodrigues et al., 2002; Kuva et al., 2002; Gazziero, 2003). Segundo Duke (1998) os próximos dez anos deverão definir o impacto das culturas transgênicas como nova e poderosa ferramenta no controle e manejo das plantas daninhas. Para Gazziero et al (2001), os erros e as conseqüências do uso continuado de um mesmo herbicida já são conhecidos no Brasil e devem ser considerados para que os riscos inerentes aos programas como o da soja transgênica sejam evitados ou minimizados. Ainda para Gazziero (2001, 2003), a adoção de técnicas de manejo da área, das plantas daninhas e do produto, na entressafra, poderá facilitar o controle na cultura da soja transgênica, pois na medida em que o produtor organiza a ocupação do espaço, dificulta o estabelecimento das plantas daninhas. O autor obteve bons resultados com a associação de glifosato com produtos de pré e pós-emergência atualmente utilizados na soja convencional assim como com aplicação seqüencial de glifosato, mesmo para espécies consideradas C tolerantes como a trapoeraba.

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Dirceu Gassen

Soja

De perder o sono Após três anos devastando as lavouras de soja no Brasil, a ferrugem asiática ainda é um problema para os produtores, que lutam a cada safra para evitar grandes perdas

A

lém de perder o sono, os produtores de soja podem perder muito mais coisas por causa da ferrugem asiática, que há três anos assombra as lavouras brasileiras. Se não diagnosticada e controlada a tempo, a quebra pode chegar a 75% da produção em poucos dias. A causa de tamanha severidade, é a rapidez com que o fungo se espalha e agride a planta de soja. O principal dano ocasionado pela ferrugem é a desfolha precoce, que impede a completa formação dos grãos, com conseqüente redução da produtividade. O nível de dano que a doença pode ocasionar depende do momen-

to em que ela incide na cultura, das condições climáticas favoráveis à sua multiplicação após a constatação dos sintomas iniciais, da resistência/tolerância e do ciclo da cultivar utilizada O fungo causador da ferrugem só sobrevive e se multiplica no hospedeiro vivo. Em função da entressafra, era de esperar que a quantidade de esporos do fungo presente no ar diminuísse nesse período, sendo o inóculo construído a cada safra, a partir dos primeiros cultivos. No en-

tanto, cultivos de soja, na entressafra, irrigados ou não, têm funcionado como “ponte verde” para o fungo. Nas duas primeiras safras com a presença dessa doença no Brasil, os focos iniciais foram observados a partir de janeiro. Na safra 2003/04, os primeiros focos foram observados a partir de novembro, em municípios do estado do Mato Grosso, principalmente em função da multiplicação do fungo nas áreas de soja irrigada na entressafra. Na ausência desses cultivos na entressafra, o fungo pode sobreviver em plantas voluntárias (“guaxas” ou “tigüeras”) que germinam a partir de grãos perdidos na colheita, ou hospedeiros alternativos, uma vez que são relatadas diversas espécies de Fabaceas e leguminosas como hospedei-

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HISTÓRICO DA FERRUGEM

A

primeira constatação da ferrugem asiática em lavouras no Brasil ocorreu na safra 2001/02 (Yorinori et al., 2002) e rapidamente espalhou-se pelas regiões produtoras, em função da eficiente disseminação pelo vento. Na safra 2003/04, foram estimadas perdas de 4,6 milhões de toneladas de soja devido a essa doença (Yorinori & Lazzarotto, 2004) e reduções de produtividade próximas a 70% podem ser observadas quando comparadas áreas tratadas e não tratadas com fungicidas. Esses números não são divulgados com a intenção de assustar o produtor, mas a de alertar para a existência de uma nova doença com alto potencial destrutivo. Grosso e São Paulo, nas regiões onde foram observados um desenvolvimento mais agressivo da doença, as chuvas ocorreram de forma freqüente e bem distribuídas, muitas vezes dificultando a aplicação dos fungicidas e comprometendo o controle da doença. No estado do Rio Grande do Sul, onde as maiores perdas foram atribuídas à falta de chuvas, os focos de ferrugem identificados C não evoluíram. (*) Em três anos, pouco se conseguiu fazer em relação ao controle definitivo da doença

Cláudia Godoy

ras do fungo. A orientação é que os produtores minimizem perdas na colheita para evitar o aparecimento de plantas voluntárias, ou, se necessário, eliminem essas plantas para evitar servirem de fonte de inóculo para a próxima safra. Os produtores com soja na entressafra devem garantir o controle efetivo da ferrugem, fazendo uso de fungicidas, para não permitir sua multiplicação e propagação nessas lavouras. Estudos de como as condições ambientais influenciam o desenvolvimento da ferrugem foram inicialmente desenvolvidos em condições controladas, em casa-de-vegetação e câmaras de crescimento, sendo a maioria dos trabalhos realizados no exterior, antes da entrada da ferrugem no Brasil. Ensaios realiza-

dos com isolados do Brasil determinaram que a faixa ótima para germinação de uredósporos ocorre entre 18 a 26oC, bastante próxima à faixa determinada com isolados de outros países, de 15 a 25oC (Marchetti et al., 1976). O período mínimo de molhamento necessário para ocorrer infecção foi estimado em seis horas, para temperaturas entre 20 – 25 oC e aumenta para temperaturas superiores e inferiores. A ferrugem é considerada uma doença políciclica, ou seja, o fungo é capaz de ter várias gerações num único ciclo do hospedeiro. Temperaturas que favorecem o crescimento e desenvolvimento de plantas de soja também favorecem o desenvolvimento da ferrugem. Temperaturas inferiores a 15oC ou superiores a 30oC, associadas com condições secas, retardam o desenvolvimento da ferrugem e períodos prolongados com temperaturas acima de 27oC inibem o desenvolvimento do fungo, mesmo quando a condição de molhamento foliar é adequada (Casey, 1981). A precipitação tem se mostrado o fator crítico para o desenvolvimento de epidemias de ferrugem. Ensaios realizados em várias localidades em Taiwan, mostraram alta correlação entre velocidade de desenvolvimento da ferrugem e chuvas freqüentes e bem distribuídas durante a estação de cultivo (Tschanz, 1982). Essa mesma tendência, tem sido observada no Brasil. Embora a ferrugem tenha sido constatada em praticamente todas regiões produtoras, os locais onde ela evoluiu mais rapidamente foram as regiões que apresentam boa distribuição de chuvas durante a safra. Na safra 2003/04, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato

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Soja Dirceu Gassen

E agora, tem cura?

O monitoramento constante é fundamental para identificar o problema logo no início, a tempo de tomar as medidas necessárias para dar a volta na doença

A

inda hoje, após três safras com a doença no Brasil, a principal dificuldade no campo é a correta identificação da doença. Isso ocorre porque existem outras doenças com sintomatologia semelhante e também porque, no início, os sintomas da ferrugem são bastantes discretos, passando desapercebido em um monitoramento superficial. O monitoramento da doença e sua identificação nos estádios iniciais são essenciais para o controle eficiente, devendo ser realizadas vistorias freqüentes na lavoura, a partir da germinação, e intensificadas após o florescimento. Apesar das plantas de soja serem suscetíveis em todos estádios de desenvolvimento, no campo, os sintomas são mais freqüentes a partir do estádio reprodutivo (florescimento). Os primeiros sintomas da ferrugem se iniciam pelo terço inferior da planta e aparecem como minúsculas pontuações mais escuras que o tecido sadio da folha. No início da infecção, a folha permanece verde, dificultando a identificação quando a lavoura é observada de forma superficial. Para identificar a doença no início, deve ser reali-

zado um monitoramento cuidadoso, coletando diversas folhas da parte inferior da planta e observando contra a luz para verificar a presença de pontuações escuras. Embora doenças como a mancha parda (Septoria glycines) causem sintomas semelhantes, a confirmação da ferrugem é feita pela constatação no verso da folha (face abaxial), de saliências semelhantes a pequenas feridas (bolhas), que correspondem à estrutura de reprodução do fungo (urédias). Essa observação é facilitada com uma lupa de 10 a 20 aumentos. A pústula bacteriana é outra doença que pode causar confusão na identificação. Dentre as doenças da soja, é a que mais se assemelha à ferrugem, sendo seus sintomas caracterizados por manchas pequenas nas folhas, de coloração verde amareladas, passando à castanho avermelhadas, com pequeno halo, ou borda de cor amarela. Na face inferior da folha, pode ser observada uma leve saliência no centro da lesão. No caso da ferrugem, as urédias formadas na face inferior da folha apresentam uma abertura central (póro) onde são liberados os uredósporos, diferenciC ando da pústula bacteriana. (*)

PARCELAS ARMADILHAS

P

arcelas armadilhas têm sido utilizadas para facilitar o monitoramento e alertar o agricultor para a presença da doença na região. Essas parcelas constituem-se de pequenas áreas de soja, semeadas até um mês antes da semeadura normal, e sem aplicação de fungicida na parte aérea. Como os sintomas da ferrugem são observados geralmente após o florescimento, essas áreas apresentam a tendência de ter sintomas antes da lavoura comercial, podendo o agricultor ficar alerta para o controle da doença. O ideal é que os próprios agricultores tenham suas parcelas armadilhas, com as mesmas cultivares que vão semear, podendo utilizar até o mesmo canteiro de teste de germinação que usualmente fazem antes da semeadura. Caso o agricultor não tenha a possibilidade de montar sua própria parcela armadilha, pode utilizar as parcelas instaladas pela iniciativa privada.

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Soja

Escolhendo a arma Tão importante quanto detectar a doença a tempo, é escolher o fungicida adequado e aplicar na hora certa, garantindo o controle completo no menor tempo possível

O

Ensaios para avaliar os efeitos protetor, curativo e erradicante podem ser realizados em condições controladas, pois nessas condições pode-se determinar o momento exato da infecção por meio de inoculações de esporos do fungo. Os efeitos protetor, curativo e erradicante de fungicidas sistêmicos (azoxystrobin 50 g i.a./ha + nimbus 0,5%, carbendazin 250 g i.a./ha, tebuconazole 100 g i.a./ha, difenoconazole 50 g i.a./ha e epoxiconazole 25 g i.a./ha + pyraclostrobin 66,5

O custo total de uma aplicação de fungicida, na safra 2004/05, deve ficar próximo dos US$ 40/ha (3,0 sacas de soja/ha)

Fotos Dirceu Gassen

s fungicidas registrados para controle da ferrugem são classificados como fungicidas sistêmicos, sendo a maioria pertencente ao grupo dos triazóis, estrobilurinas e, mais recentemente, pirimidinil carbinol (fenarimol). A sistemicidade de um produto pode ser definida como a capacidade de translocação do local de aplicação para outras partes da planta. Em teoria, todos os fungicidas sistêmicos, em função da sua capacidade de penetração e translocação dentro da planta, são capazes de agir curativamente.

Na prática, entretanto, observa-se que, sob o ponto de vista epidemiológico, os mais importantes princípios envolvidos são a proteção e a imunização. Proteção porque, sendo pulverizados nas folhas, no caso da cultura da soja, a maior parte do resíduo fica depositada externamente, à espera do patógeno; imunização porque a pequena porcentagem que penetra pode translocar na seiva e apresentar-se em concentração fungitóxica dentro dos tecidos sadios do hospedeiro. Além dos efeitos curativos, imunizantes e protetores, os fungicidas sistêmicos podem ter considerável ação erradicante, atuando diretamente sobre o patógeno na redução do inóculo (Kimati, 1995).

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A maioria dos produtos apresentou efeito protetor com controle acima de 90% até oito dias após o tratamento

g i.a./ha) foram avaliados em plantas de soja inoculadas com suspensão de uredósporos de P. pachyrhizi, em casa-de-vegetação. Para avaliar o efeito protetor, as plantas foram tratadas com os fungicidas e inoculadas quatro, oito e 14 dias após o tratamento. Os efeitos curativo e erradicante foram avaliados em plantas previamente inoculadas com uma suspensão de uredósporos e tratadas com os fungicidas após dois, quatro e oito dias, quando a planta ainda não apresentava sintomas de ferrugem. A severidade foi quantificada 16 dias após as inoculações. Com exceção do fungicida carbendazin, os demais apresentaram efeito protetor com controle acima de 90%, até oito dias após o tratamento. Plantas inoculadas 14 dias após o tratamento com carbendazin apresentaram severidade estatisticamente semelhante à testemunha sem controle. Os tratamentos com tebuconazole e epoxiconazole + pyraclostrobin apresentaram maior residual, com controle próximo a 90%, quando as plantas foram inoculadas aos 14 dias após o tratamento. Nenhum produto mostrou efeito curativo, paralisando o processo de infecção, quando aplicado durante o período de incubação da doença, no entanto, todos os fungicidas reduziram a severidade da doença e a viabilidade dos uredósporos. Com exceção do carbendazin, todos os fungicidas inibiram acima de 60% a germinação de uredósporos, quando aplicados até oito dias após a inoculação, no período de incubação da doença.

A HORA CERTA PARA APLICAR A grande polêmica com relação ao controle químico da ferrugem é o momento de aplicação. O termo “preventivo no floresci-

mento” é um conceito que já está sendo incorporado por muitos produtores mas que pode levar a dois erros básicos. Em regiões com cultivo de soja na entressafra sob pivô central, o aparecimento da ferrugem tem sido observado antes mesmo do florescimento, em função da alta pressão de inóculo do fungo. Nesse caso, o “preventivo no florescimento” já é tarde. Embora se saiba que a soja tem tolerância à desfolha, durante o estádio vegetativo, e que a ferrugem é mais agressiva após o florescimento, a constatação de sintomas iniciais nessa fase poderia demandar aplicação de fungicida, visando diminuir o inóculo quando a soja floresce. De modo oposto, em diversas regiões do país, principalmente nos cultivos realizados no início da época recomendada de semeadura, sintomas de ferrugem têm sido observados somente após o início do enchimento de vagens. Desse modo, a aplicação “preventiva no florescimento” não apresenta residual para proteção da soja quando ela entra nesse estádio. A escolha do produto e a decisão do momento de aplicação deve ser uma decisão técnica. A pesquisa disponibiliza informações para que essa decisão seja fundaC mentada em resultados. (*) (*) Textos elaborados com informações fornecidas pelos pesquisadores Cláudia Godoy e Joelcio Lazzarottoda Embrapa Soja

CUSTO DO CONTROLE

S

e, por um lado, a ferrugem causa sérias perdas de produção, por outro pode ocasionar grandes problemas na rentabilidade da exploração sojícola. Isso porque, conforme estudos realizados pelos pesquisadores da área de economia rural da Embrapa Soja, estima-se que o custo total de uma aplicação de fungicida, na safra 2004/05, deve ficar próximo dos US$ 40/ha (3,0 sacas de soja/ha), o que significa, para uma lavoura com produtividade de 50 sacas/ha, um custo adicional de US$ 0,8/saca/aplicação. Desse modo, caso sejam realizadas aplicações de fungicida sem a real necessidade, as possibilidades de o produtor conseguir adequada rentabilidade tendem a ser bastante prejudicadas.

Isso se justifica, pois, associado ao alto custo para efetuar o controle químico da ferrugem, na próxima safra, estima-se que o custo total de produção deva ser cerca de 20% superior aquele observado na safra 2003/04. Associado à elevação dos gastos, as perspectivas de queda acentuada no preço da soja, que deve se situar próximo dos níveis históricos (US$12 a US$13/saca), fazem com que as expectativas de margem de lucro sejam bastante estreitas. Diante dessas constatações, é fundamental que o produtor monitore constantemente sua lavoura, de modo a avaliar, com muito critério, se realmente é necessário efetuar determinada aplicação de fungicida, sobretudo de forma preventiva.

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Soja

Operação de guerra Produtores, instituições de pesquisa e empresas estão reunidos numa verdadeira operação de guerra na tentativa de prever ataques da ferrugem e traçar estratégias de controle Bayer

C

om a chegada súbita e devastadora da ferrugem da soja no Brasil, produtores e instituições viram-se frente a algo ainda desconhecido e com grande poder destrutivo. Os primeiros passos foram na tentativa de salvar a primeira safra, com esperança de que a doença fosse menos severa do que se imaginava e que cultivares resistentes ou medidas simples pudessem dar um fim ao pesadelo que se iniciava. Na verdade, o que aconteceu foi o contrário, com ataques cada vez mais severos e destruidores, acometendo as mais diversas regiões do país e exterminando algumas lavouras por completo. Na segunda safra, produtores, instituições e empresas se uniram na tentativa de minimizar os estragos nas safras subsequentes, de forma que não inviabilizasse o plantio de soja no país. Hoje, três anos após a chegada da ferrugem, já existem verdadeiras operações de guerra na tentativa de prever ataques e

buscar soluções eficazes de controle. Nada de milagroso aconteceu, no entanto, vários avanços estão surgindo principalmente da união de forças de instituições de pesquisa, empresas e produtores, talvez o ponto positivo no meio de tantas perdas provocadas pela doença. Para que o produtor possa tirar proveito destes programas de monitoramento, buscamos saber o que cada empresa está disponibilizando nesta luta contra a ferrugem.

SOS SOJA A Bayer desenvolve o projeto SOS Soja, com um centro de diagnóstico da ferrugem para os produtores de soja de todo o país. Um projeto-piloto, iniciado na safra 2003/04 em Campo Novo do Parecis, no norte de Mato Grosso, cobria inicialmente 200 propriedades, totalizando cerca de 380 mil hectares. Os resultados foram muito bons, de acordo com a avaliação dos produtores de soja dessa região. Com base

nessa experiência, a Bayer decidiu expandir o projeto na safra 2004/2005, instalando unidades do SOS Soja em todas as regiões produtoras de soja no Brasil. Hoje, de acordo com Jean Zonato, gerente de culturas e mercado da empresa, “esse serviço cobre praticamente 100% da área de soja plantada no Brasil, através dos vários laboratórios credenciados por nossas regionais de vendas e por nossos parceiros neste projeto”. O primeiro laboratório do SOS Soja foi instalado em um espaço cedido pela Escola Agrotécnica de Campo Novo do Parecis. A iniciativa foi resultado das ações iniciadas em 2002 pela equipe técnica da Bayer, com o objetivo de auxiliar os agricultores no monitoramento de suas lavouras para identificação da presença da ferrugem e na tomada de decisão sobre as medidas preventivas a utilizar e, no caso de constatação da infecção, quando e como iniciar o tratamento.

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O laboratório foi montado com o respaldo técnico de dois respeitados fitopatologistas, Daniel Cassetari Neto, da Universidade Federal do Mato Grosso, e Andreia Quixabeira Machado, da Universidade de Várzea Grande, que treinaram a equipe da Escola Agrotécnica de Campo Novo do Parecis, encarregada do dia-a-dia no laboratório. A Bayer ainda patrocinou a aquisição dos novos equi-

pamentos (três lupas de grande aumento e resolução) necessários para uma maior precisão das análises. A partir da instalação dessa unidade pioneira, os técnicos passaram a recolher amostras de folhas no campo, levando-as para análise no laboratório. O êxito do serviço foi tão grande que logo os próprios agricultores e os colaboradores das fazendas começaram a levar as amostras de folhas ao laboratório nas primeiras horas da manhã. Em pouco tempo, passaram a chegar amostras enviadas por sojicultores de municípios próximos, como Sapezal, Comodoro, Campos de Julio, Tangará da Serra, Diamantino e até de Vilhena, em Rondônia. Hoje, o SOS Soja – Centro de Diagnóstico é uma rede nacional de laboratórios credenciados pelas regionais da empresa em São Leopoldo e Passo Fundo (RS), Curitiba, Londrina e Cascavel (PR), Uberlândia e Belo Horizonte (MG), São José do Rio Preto e Campinas (SP), Barreiras (BA), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Goiânia (GO) e Recife (PE). Cada uma dessas regionais tem no mínimo um laboratório credenciado, cujo

compromisso é efetuar as análises com a maior rapidez possível e, desse modo, permitir que os engenheiros agrônomos da Bayer ofereçam ao agricultor, com igual velocidade, orientações precisas quanto às medidas de controle a adotar. A rapidez é um fatorchave, complementa Jean Zonato, “pois a ferrugem não dá margem a demora nas decisões”.

de comercialização atuam junto aos produtores na identificação e apresentação das soluções a cada problema. “Para isso, a empresa investe constantemente em pesquisa para a busca das melhores alternativas e na capacitação de seus profissionais e de canais de vendas, através de treinamentos, estando em constante cooperação com a Comunidade Técnico-Científica, especialmente para a ferrugem da Bayer soja”, explica Carlos Antônio Medeiros, gerente de projetos de desenvolvimento de mercado BASF. A empresa está disponibilizando uma equipe de mais de 200 engenheiros agrônomos distribuídos pelo mercado brasileiro, que realizam o monitoramento constante das áreas de soja no Brasil, com o objetivo de avaliar a necessidade de cada produtor e recomendar as melhores soluções para cada tipo de problema”, garante Urias Costa, gerente de cultivo soja Brasil BASF. O SOS Soja da Bayer iniciou com um projeto piloto Já o Programa Expertna safra passada e hoje disponibiliza laboratórios Soja, formado pelos princinas principais regiões produtoras do país pais pesquisadores e consultores brasileiros na cultura da soja, tem trabalhado em conjunto com a equipe de Os locais onde o SOS Soja está instalado técnicos da BASF com o objetivo de pespodem ser obtidos diretamente nos escritó- quisar, consolidar e difundir informações rios regionais da Bayer ou pelo telefone 0800- técnicas sobre as melhores práticas agro115560 ou ainda por intermédio do site: nômicas para o controle da ferrugem da www.bayercropscience.com.br/]culturas/soja/ soja. O ExpertSoja, através de linhas de pesendereço_regionais_bkp.shtml. quisa para o manejo de doenças na cultura da soja, gera uma série de dados e informações que, após análise e consolidação, são SOLUSOJA E EXPERTSOJA A BASF investe em dois programas para compartilhados entre os participantes do proauxiliar no monitoramento e busca de solu- grama. Na safra 2003/2004, o ExpertSoja dições para a ferrugem da soja: o SoluSoja e o recionou as pesquisas, a consolidação e a discussão dos resultados em Goiânia. Para a saExpertSoja. O Programa Solusoja, desenvolvido es- fra 2004/2005 a empresa ampliou a base de pecificamente para a cultura da soja, através pesquisa e, além deste Estado, também sede uma análise específica para cada tipo de rão conduzidas pesquisas específicas do prosituação, propõe solucionar os principais pro- grama para as demais regiões do Brasil. blemas, oferecendo o pacote de produtos mais adequado aos produtores. “Sendo a ferrugem PROGRAMA SYNTINELA da soja, atualmente, um dos fatores mais liO programa Syntinela, desenvolvido pela mitantes da produção, o seu controle e ma- Syngenta, conta com mais de mil áreas ou nejo, através dos produtos oferecidos no pro- parcelas de soja espalhadas pelas regiões programa SoluSoja, tem proporcionado aos pro- dutoras do Brasil. Estas parcelas são semeadutores uma solução definitiva ao problema”, das com soja antecipadamente ao calendário garante a equipe técnica da empresa. agrícola de suas regiões e ficam sob a superviOs profissionais da empresa e do sistema são de uma equipe de mais de cem agrôno-

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mos especialmente treinada para identificar a ferrugem asiática. Assim, caso a região seja atingida pelo esporo da ferrugem asiática (carregado pelo vento), a doença se manifestará antes nas parcelas Syntinela. Isso ocorre porque são plantadas antecipadamente à lavoura comercial e, assim, essas áreas (parcelas) chegam ao estágio em que a ferrugem se manifesta antes que aquelas semeadas no tempo correto. O projeto conta com uma central de informações que, uma vez detectada a presença de ferrugem em uma parcela do programa, solta um alerta para os clientes da Syngenta da região afetada, consultores, entidades de pesquisa e de extensão. Com este aviso de que o agente da ferrugem está presente na região, o produtor pode aplicar preventivamente fungicidas de controle da doença e, assim, preservar o potencial pro- Syngenta dutivo de sua cultura. “Isso evita que o produtor tenha que aplicar o fungicida com a doença já instalada, o que está comprovado que é menos eficaz do que a aplicação preventiva de fungicidas. Com o Syntinela, o agricultor sabe exatamente quando iniciar o controle preventivo”, garante Odanil Leite, gerente de linha de produtos fungicidas da Syngenta. A Syngenta disponibilizará um site onde os produtores poderão acompanhar a disseminação da ferrugem em todo o Brasil, como forma de planejarem o controle preventivo nas suas lavouras, por considerar que este programa uma ferramenta que auxilia o produtor a tomar uma correta decisão nos cuidados de sua lavoura. Para ter acesso às informações do Syntinela, os técnicos e produtores poderão procurar a Syngenta ou seus distribuidores, além de encontrarem informações no www.syntinela.com.br.

O consórcio anti-ferrugem permite uma atualização permanente das áreas infectadas e é uma das principais fontes de informação sobre a doença

Oprograma Syntinela da Syngenta possui mais de mil áreas-parcelas para monitorar a presença da ferrugem

CONSÓRCIO ANTI-FERRUGEM O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está coordenando o Consórcio Anti-ferrugem, um projeto que pretende capacitar técnicos, produtores e empresários do setor que compõem a ca-

deia produtiva da soja, por intermédio de palestras, materiais áudiovisuais, impressos e serviços de internet. A primeira ação do Consórcio foi a padronização das informações sobre o manejo da doença, por intermédio da formação de uma rede de 60 especialistas em ferrugem de todo o Brasil. Esse grupo de especialistas preparou uma palestra padrão, gravada em CD-ROM com dados atualizados sobre a doença. Os membros do consórcio têm a meta de treinar aproximadamente dois mil multiplicadores, que repassarão informações sobre ações preventivas de sanidade vegetal, identificação, manejo e controle da doença a cerca de 100 mil produtores brasileiros. Além da palestra padrão, o Consórcio Anti-Ferrugem produziu duas mil cartilhas com informações detalhadas sobre a doença, que serão encaminhadas aos multiplicadores (assistência técnica). Por outro lado, os multiplicadores poderão distribuir 100 mil folders aos produtores brasileiros. Outra ação do Consórcio prevê o monitoramento da dispersão do fungo causador da doença. Para isso, foram credenciados 54 laboratórios em 16 estados brasileiros, formando uma rede de diagnose e identificação da ferrugem. As informações geradas pelos laboratórios credenciados e pelas unidades de alerta são repassadas à administração do Sistema de Alerta, página da internet administrada pela Embrapa Soja, que está disponível também no site do Mapa e de outras instituições participantes do Consórcio. Desenvolvido há três anos, o Sistema de Alerta tornou-se uma das principais fontes de informação sobre a doença no Brasil e em países vizinhos. Nesta safra, como estratégia de ação do Consórcio Anti-Ferrugem, foi criada uma página especial para abordar temas relacionados à ferrugem asiática. O site (www.cnpso.embrapa.br/alerta) traz informações gerais e orientações técnicas detalhadas sobre sintomas da doença, formas de controle e também o mapa atualizado de sua ocorrência no Brasil, facilitando o monitoramento regional da doença. Além do Mapa, integram o consórcio a Embrapa, fundações de apoio à pesquisa, empresas estaduais de pesquisa, de transferência de tecnologias, cooperativas, universidades, Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos (Aenda), além das empresas Basf, Bayer Cropscience, Dow Agroscience, Dupont, Hokko, MileC nia, Sipcam Agro e Syngenta.

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Soja

Jacto

Tecnologia certa O controle, muitas vezes, não é eficaz porque o produtor se preocupa apenas em escolher o melhor produto, esquecendo que a forma de aplicação também interfere no resultado final do tratamento

O

correto manejo do volume de calda e do tamanho das gotas é fundamental para o sucesso de um sistema de aplicação. Além de depender do tipo de alvo, da cobertura necessária, da forma de ação do defensivo e do tamanho de gotas, o volume de calda influencia também a eficiência operacional da aplicação, pois o tempo gasto nas atividades de reabastecimento altera significativamente a capacidade operacional dos pulverizadores (número de hectares tratados por hora). Usualmente, as aplicações em baixo volume precisam ser realizadas com gotas finas ou muito finas, visando garantir boa cobertura, o que aumenta o risco de perdas por evaporação ou deriva. Por outro lado, volumes maiores são necessários no caso do uso de gotas maiores (médias, grossas ou muito grossas), visando aplicações em situação de maior risco de perdas. Além do volume de calda, um outro parâmetro fundamental para o sucesso do tratamento é a adequação da tecnologia de aplicação às condições climáticas no momento da

aplicação. Para a maioria dos casos, devem ser evitadas aplicações com umidade relativa inferior a 50% e temperatura ambiente maior que 30oC. No caso do vento, o ideal é que as aplicações sejam realizadas com vento entre três e dez km/h. Ausência de vento também pode ser prejudicial, em função da chance de

ocorrer ar aquecido ascendente ou inversões térmicas, o que dificulta a deposição das gotas menores. Do ponto de vista prático, é possível e recomendável a utilização de gotas finas ou muito finas nos horários onde as condições climáticas são mais favoráveis, quando o objetivo é maximizar a cobertura dos alvos. Po-

Tabela 1 - Porcentagem de cobertura da face superior das folhas de soja proporcionada pela aplicação terrestre com volume de calda de 100 l/ha, de acordo com a posição de amostragem das folhas nas plantas e as características de cada tratamento Posição da folha Alta Alta Alta Alta Média Média Média Média Baixa Baixa Baixa Baixa

Tipo de Ponta XR 11002 AI 11002 TX VK6 TJ 60 11002 XR 11002 AI 11002 TX VK6 TJ 60 11002 XR 11002 AI 11002 TX VK6 TJ 60 11002

Plano Plano com indução de ar Cone vazio Plano duplo Plano Plano com indução de ar Cone vazio Plano duplo Plano Plano com indução de ar Cone vazio Plano duplo

Pressão (kgf/cm2) 4,0 4,0 20,0 4,0 4,0 4,0 20,0 4,0 4,0 4,0 20,0 4,0

Classe de gotas Fina Muito grossa Muito fina Muito fina Fina Muito grossa Muito fina Muito fina Fina Muito grossa Muito fina Muito fina

% Cobertura das folhas 76,70 a 70,83 a a 82,67 72,90 a 28,50 ab 14,77 b 36,17 a 31,17 ab ab 6,53 2,87 b 14,00 a 7,23 ab

Em cada análise, as médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste T ao nível de 5% de probabilidade.

33


risco de deficiência de cobertura das folhas quando do uso de gotas maiores.

APLICAÇÃO AÉREA X TERRESTRE

Figura 1 - Porcentagem de cobertura da face superior das folhas de soja proporcionada pela aplicação terrestre com volume de calda de 100 l/ha, de acordo com a posição de mostragem das folhas nas plantas e a ponta utilizada em cada tratamento

rém, é necessário um monitoramento constante das condições ambientais, pois no caso de haver aumento significativo do vento, da temperatura ou redução da umidade, as gotas maiores devem ser selecionadas. Neste caso, o volume de aplicação deve ser também aumentado, para não haver efeito negativo na cobertura dos alvos.

APLICAÇÃO CONTRA FERRUGEM Atualmente, a ferrugem é uma doença de grande importância na cultura da soja, sendo uma das principais preocupações dos produtores após o florescimento da cultura. Considerando-se o grau de desenvolvimento vegetativo no momento das aplicações, muitas vezes com total fechamento e grande área foliar, as técnicas de aplicação precisam oferecer a máxima capacidade de penetração na massa de folhas e melhor cobertura possível, mesmo para a aplicação de fungicidas com características de ação sistêmica. O controle da ferrugem em aplicações preventivas tem se mostrado mais eficiente. Por esta razão, é grande a demanda por sistemas de aplicação eficientes e de alto rendimento operacional, visando o aproveitamento do momento mais adequado para a aplicação. É usual a obtenção de resultados semelhantes de produtividade em soja utilizando diferentes técnicas terrestres e aéreas para o controle com fungicidas, desde que as aplicações sejam realizadas de acordo com recomendações técnicas adequadas. Em todos os casos, entretanto, é imperativo que seja dada máxima importância ao momento da aplicação para que haja sucesso no tratamento.

com aplicações terrestres (Rondonópolis/MT), usando diferentes pontas e tamanhos de gota, para volume de calda de cem l/ha. Observouse em geral que o nível de cobertura das folhas foi influenciado pelo tamanho da gota, com menores intensidades de recobrimento para as gotas muito grossas produzidas pelas pontas de indução de ar. Esta característica mostrou-se mais importante quando a folha avaliada encontrava-se nas partes média e baixa da planta de soja, onde as diferenças foram estatisticamente significativas. No caso das gotas muito finas, houve tendência de melhor cobertura para as pontas de jato cônico vazio, apesar de não haver diferença significativa com relação às pontas de jato plano e plano duplo. Em geral, estes resultados indicam que para as situações onde as exigências de maior recobrimento e penetração das gotas são fundamentais para o sucesso da aplicação (caso típico da ferrugem da soja), as pontas com indução de ar devem ser evitadas, dando-se preferência às pontas que produzam gotas finas ou muito finas. Entretanto, vale ressaltar que este raciocínio é verdadeiro para situações onde as condições climáticas são adequadas (temperatura, umidade e velocidade do vento dentro dos limites máximos recomendados). No caso de aplicações em condições climáticas menos favoráveis, o uso de gotas muito finas deve ser evitado, devendo-se optar pelas gotas finas ou médias, certificando-se de que as mesmas sejam usadas com maior volume de calda. Este aumento do volume diminui o

• • • •

Altura de vôo; Faixa de trabalho; Posição e intensidade do vento; Temperatura e umidade.

Usualmente, a aplicação em volumes maiores, sem a adição de óleos, requer vôos de menor altura (por volta de três metros), enquanto a aplicação de volumes baixos ou ultra baixos (com óleo) requerem vôos de maior altura (cinco metros, por exemplo). Da mesma forma, a faixa de trabalho deve ser ajustada para cada caso. Nas aplicações com volume de calda entre 20 e 40 l/ha são utilizadas normalmente faixas da ordem de 15 metros, enquanto aplicações com volumes menores

Tabela 2 - Descrição de tratamentos aéreos e terrestres usados no controle da ferrugem da soja

APLICAÇÃO TERRESTRE O uso de diferentes tamanhos de gotas e volumes de calda pode resultar em situações de maior ou menor cobertura das folhas, com potencial influência no desempenho dos fungicidas no controle da ferrugem da soja. A Tabela 1 e a Figura 1 mostram resultados da cobertura da face superior das folhas obtida

A demanda crescente por aplicações rápidas e eficientes é uma das principais características do mercado agrícola atual, considerando-se a importância do momento da aplicação no potencial de sucesso de controle de doenças como a ferrugem da soja. Por este motivo, há um interesse especial no uso de sistemas de grande capacidade operacional, como os pulverizadores autopropelidos e as aeronaves agrícolas. No caso da aplicação aérea, os sistemas convencionais (pontas de jato plano ou cônico) são utilizados para aplicar volumes de 20 a 40 l/ha. Nas aplicações em baixo volume ou ultra baixo volume (abaixo de 15 /ha) utilizam-se os sistemas eletrostáticos (Spectrum) e os atomizadores rotativos (Micronair, Turboaero, Stol, etc). Uma grande parte destas aplicações em volumes reduzidos é realizada utilizando-se óleos vegetais ou minerais como aditivos da calda, visando reduzir a evaporação de gotas e melhorar a absorção dos produtos. A aplicação aérea é uma atividade que demanda investimentos importantes no gerenciamento do sistema. Mesmo que a escolha da tecnologia de aplicação seja correta, diversos outros fatores são extremamente importantes para o sucesso do tratamento. Os principais fatores a serem observados numa aplicação aérea são:

Tratamentos Terrestre Terrestre Aéreo Aéreo Aéreo Aéreo

XR 11003 (2,5 bar) TXVK 8 (12 bar) D 10-45 80o (2,1 bar) Turboaero 88A Turboaero 88A Turboaero 88A

Denominação 120 XR 120 TX A 30 BVO 5 BVO 8 BVO 12

Velocidade (km/h) 10 10 180 180 180 180

Faixa/Altura de vôo (m) 15 / 3 20 / 5 20 / 5 20 / 5

Volume (l/ha) 120 120 30 5 (*) 8 (*) 12 (*)

Classe de gotas Média Muito fina Fina Fina Fina Fina

(*) Calda com adição de óleo de soja degomado (1 l/ha) e emulsificante (0,025 l/ha), em sistema denominado comercialmente de BVO - baixo volume oleoso

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Tabela 3 - Percentual da área foliar infectada pela ferrugem e produtividade da cultura da soja, de acordo com cada tratamento Tratamentos 120 XR 120 TX A 30 BVO 5 BVO 8 BVO 12 Testemunha

Terrestre Terrestre Aéreo Aéreo Aéreo Aéreo

l/ha

Gotas

% ferrugem

120 120 30 5 8 12

Média Muito fina Fina Fina Fina Fina

1,3 0,6 1,7 2,3 0,8 0,9 32,5

% de ganho em produtividade* 7,4 22,7 5,5 12,2 11,4 18,0 -

Produtividade (sacas/ha)** Média Máximo Mínimo 64,0 67,0 70,0 73,1 76,5 80,0 67,9 70,9 64,8 68,9 72,2 75,4 68,5 71,7 74,9 72,5 75,9 79,3 61,4 64,3 67,2

* % de ganho em produtividade (compadada à testemunha) devido a segunda aplicação de fungicida (Systhane CE), de acordo com cada tratamento. ** Valores do potencial de produtividade considerando Intervalo de Confiança com á= 0,05 (95%). Para os tatamentos terrestres foi adotado um índice de perdas de 3% para simular o efeito do amassamento da cultura.

chegam a usar faixas de mais de 20 metros. A posição do vento é um dos fatores mais importantes para garantir bom recobrimento das faixas. A aeronave deve ser sempre posicionada perpendicularmente ao vento predominante, facilitando a abertura das faixas. Caso contrário pode ocorrer o estreitamento involuntário das faixas de aplicação, com conseqüente erro de sobreposição e falha de controle. Outro fator importante no gerenciamento da aplicação aérea é o cuidadoso acompanhamento dos relatórios do sistema de navegação das aeronaves (DGPS), visando observar eventuais falhas nas faixas aplicadas. Finalmente, a temperatura e a umidade relativa devem estar adequadas no momento da aplicação, visando reduzir o risco de perdas e deriva. Na aplicação aérea com baixo volume e adição de óleo (BVO, por exemplo), especial cuidado deve ser tomado para evitar os trabalhos em horários de alta temperatura e ausência de vento, visando evitar as correntes convectivas e as inversões térmicas, que dificultam o depósito das gotas na cultura e aumentam consideravelmente os riscos de falha de controle e deriva. Em termos gerenciais, a decisão pelo uso da aplicação aérea ou terrestre deve levar em conta diversos fatores: disponibilidade do serviço, capacidade operacional (número de hectares tratados por hora), custo por hectare tratado, condições climáticas e possíveis danos mecânicos causados por aplicações terrestres no final do ciclo da soja.

Figura 7 - Percentual da área foliar infectada pela ferrugem de acordo com cada tratamento

Em termos de tecnologia de aplicação, aplicações terrestres e aéreas apresentam potencial adequado para realizar tratamentos fitossanitários com sucesso. Como exemplos, as Tabelas 2 e 3 e as Figuras 2 e 3 mostram resultados de controle da ferrugem da soja de acordo com tratamentos aéreos e terrestres. O trabalho em questão foi realizado na Fazenda Ponte de Pedra (Grupo Maggi), Rondonópolis (MT), numa área de 120 ha plantados com MT/BR-51 Xingu. Neste talhão o controle da ferrugem foi realizado em duas etapas. A primeira aplicação ocorreu no florescimento, em área total nos 120 ha, utilizando-se a formulação Pyraclostrobin+epoxiconazole (0,5 L p.c./ha), através de aplicação aérea a 12 l/ha com adição de óleo de soja degomado (1 l/ha) e emulsificante (0,025 l/ha). A segunda aplicação foi realizada apenas nas parcelas experimentais (delimitadas dentro do talhão), em média 24 dias após a primeira aplicação e de acordo com as técnicas descritas em cada tratamento (Tabela 7), aplicando-se o fungicida Systhane CE (Myclobutanil, a 0,4 L p.c./ha). Os resultados mostraram que houve bom nível de controle da ferrugem para todos os tratamentos, quando comparados à média de infestação das testemunhas. Quanto à produtividade, considerando-se a análise estatística (intervalo de confiança de 95%), observa-se que ocorreram algumas diferenças. Nas aplicações terrestres, a maior produtividade e o melhor controle da ferrugem ocorreram no tratamento com gotas muito finas, as quais

Ulisses explica quais as melhores regulagens e opções para realizar o controle da ferrugem da soja

aumentam o potencial de cobertura nas partes baixas das plantas de soja, favorecendo o desempenho do fungicida. Ressalta-se, entretanto, que esta diferença foi observada para aplicações realizadas em condições ambientais adequadas (temperatura, umidade e vento), fundamentais para possibilitar o uso das gotas muito finas. No caso das aplicações aéreas, apenas a diferença entre o tratamento BVO 12 e A 30 pode ser considerada significativa, com melhor desempenho para o sistema com adição de óleo à calda. No geral, observa-se que o tratamento de melhor desempenho no sistema aéreo foi igual ao de melhor desempenho no terrestre (120 TX e BVO 12). Desta maneira, os resultados mostram que aplicações aéreas e terrestres apresentam potenciais semelhantes para o controle da ferrugem da soja, desde que realizadas dentro de conceitos técnicos adequaC dos. Ulisses Rocha Antuniassi, FCA/Unesp

Figura 8 - Produtividade da cultura da soja (sacas/ha), de acordo com cada tratamento de controle da ferrugem da soja com Systhane CE

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Soja

Embora as vantagens com o advento do plantio da soja transgênica, a falta de vegetação nativa dificulta a sobrevivência de inimigos naturais e faz ressurgir pragas na cultura

Flávio Gassen

O

s insetos causam inúmeros prejuízos aos cultivos agrícolas no Brasil, desde a sementeira até os produtos finais industrializados. As medidas utilizadas para a diminuição destes danos, especialmente aquelas em que são usados produtos químicos têm trazido efeitos colaterais negativos tanto ao ser humano quanto ao próprio ambiente. Entre as muitas alternativas para o controle destes organismos, a biotecnologia surge como uma das ferramentas que se pode lançar mão para a solução destes problemas, causando pouco ou nenhum impacto negativo ao ambiente e ao ser humano. Para o uso correto e adequado desta ferramenta há a necessidade de normas específicas e fiscalização competente para que sejam obtidos os resultados desejados na área agrícola. Tendo em vista que na área agrícola os resultados podem ser obtidos em curto prazo e, em pequenas áreas, outros, porém, somente atingem a maturação ou tornam-se comerciais, em longo prazo, estas normas e regulamentos da biotecnologia devem ser tão rigorosos quanto possíveis, mas não impraticáveis

como querem alguns “ecologistas” de plantão que chegam a pregar a volta à agricultura do século XVIII, quando a grande maioria da população vivia no campo e qualquer pequena sobra nas suas colheitas inundava com alimentos, as cidades da época. Hoje a grande maioria da população vive nas cidades e, aqueles poucos que vivem no campo e ali produzem alimentos devem produzir para si e para sustentar os cidadinos. Estima-se que atualmente 80% da população brasileira viva em cidades fazendo com que cada habitante rural tenha de produzir para cinco pessoas: ele Tabela 1 – Sumário da incidência de algumas pragas em cultivos de soja convencional e transgênica, na região central do Rio Grande do Sul, no período 1998/2004 Aplicações de agrotóxicos/safra/lavoura* Soja convencional Soja transgênica amplitude média amplitude média 1,2 2,0 1 4 Anticarsia gemmatalis 0 4 1,2 2,0 1 3 Nezara viridula 1 2 1,5 2,5 2 3 Piezodorus guildinii 1 2 0,2 0,4 0 1 Rachiplusia nu 0 1 0,4 0 1 Pseudoplusia includens 0,2 0 1 Praga

* Em média, foram avaliadas 30 lavouras de cada tipo de cultivo/safra, exceto nas duas últimas safras (2002/03 e 2003/04) em que foram analisadas somente cinco lavouras/ safra, de cultivares de soja convencional.

e mais quatro. Ora, para atender esta necessidade, este agricultor deve ser eficiente e dispor de tecnologia adequada para obter elevada produtividade. A biotecnologia é uma das ferramentas que a pesquisa dispõe para mais rapidamente colocar material genético de qualidade superior ao atualmente existente, à disposição deste agricultor em muitas culturas onde o melhoramento genético convencional já atingiu o limite da produtividade dentro da tecnologia atual. As normas e regulamentos na área da biotecnologia devem ser explícitos e fiscalizados com rigor tanto nos cultivos anuais como naqueles perenes, como fruteiras, pois nestes, qualquer resultado negativo ao homem ou ao ambiente apresentará custos elevados para corrigir ou mitigar tais situações. As experiências em cultivos anuais têm mostrado que esta ferramenta, usada corretamente, apresenta bons resultados e com um mínimo de impacto ambiental negativo, muitas vezes bem me-

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ANTECEDENTES O acompanhamento do cultivo da soja transgênica no Rio Grande do Sul, especificamente nos últimos cinco anos permitiu verificar que a fauna de insetos associados ao cultivo desta leguminosa não se modificou, apenas alguns insetos fitófagos que ocorriam anteriormente em baixas densidades ou de forma esporádica, estão se tornando freqüentes e com elevadas populações, exigindo medidas de controle. Este tipo de cultivar, tolerante ao herbicida glifosato, é tão suscetível ao ataque das principais pragas da cultura como qualquer cultivar convencional (não transgênica). O ataque das lagartas desfolhadoras, Anticarsia gemmatalis, Rachiplusia nu e Chrysodeixis (Pseudoplusia) includens, e

dos percevejos, Nezara viridula e Piezodorus guildinii, têm ocorrido com a mesma intensidade e causando os mesmos danos, tanto num como no outro tipo de soja (Tabela 1). A análise simplista desta tabela permite constatar que houve um aumento médio na quantidade de aplicações de inseticidas no combate a estas pragas, devido ao material transgênico utilizado nas lavouras o que não corresponde à verdade. A maior utilização média de inseticidas em cultivares de soja transgênica deveu-se, na maior parte das situações, a ausência de vegetação diversificada na lavoura o que facilitou a ressurgência dos insetos daninhos e dificultou a permanência e à sobrevivência dos inimigos naturais destas pragas. De uma maneira geral, o número máximo de aplicações de inseticidas no controle das principais pragas foi similar nos dois tipos de cultivares de soja. Pesquisas realizadas, no período 1970-1990, em soja convencional, conservada no limpo, isto é, com ausência de invasoras desde a germinação até o final da floração, foi verificada a ressurgência da lagarta da soja após controle realizado com Baculovirus anticarsia e alto efeito deletério sobre a população de inimigos naturais, ocorrendo redução populacional destes, superior a 90%. Este organismo de controle biológico não afeta os predadores da lagarta da soja e a razão desta redução é devido à falta de alimento para os predadores na ausência de formas imaturas de Anticarsia gemmatalis. Por causa desta situação, muitos pesquisadores, principalmente aqueles de gabinete ou laboratóDirceu Gassen

rio que não conheciam estes detalhes do cultivo desta leguminosa, chegavam a duvidar ou por em dúvida os resultados obtidos pelos colegas. Nesta última safra (2003/04) ocorreu um surto de lagartas falsa-medideira, chegando, em algumas lavouras, a atingir mais de 50% das lagartas levantadas nas amostras de lagartas desfolhadoras. Lagartas coletadas nestas lavouras e criadas em laboratório apresentaram uma emergência de adultos superior a 90%, acompanhado de um nível de parasitismo inferior a 2%, sendo a maioria por Copidosoma truncatellum. Charles Echer

nor que o uso convencional de determinados produtos químicos. O uso da biotecnologia, na área de fármacos e medicamentos, acha-se muito mais avançada que na área agrícola e seu uso tem permitido à produção industrial de certos remédios, com custos bem reduzidos, permitindo que grande parte da população tenha acesso a tais produtos e tratamentos para recuperar sua saúde. Têm sido verificadas, nos meios de comunicação social que as informações destes processos na área agrícola são divulgadas, de forma incompleta, inadequada e mesmo distorcida, informações estas fornecidas por pessoas ou entidades que, no fundo, ou procuram apenas autopromoção ou então, estão a serviço de interesses de entidade ou grupos econômicos que não serão beneficiados com tais produtos ou tecnologias.

Devido à dificuldade de sobrevivência dos inimigos naturais, insetos fitófagos que ocorriam esporadicamente têm elevado população

Trabalhos realizados na década 1990/ 2000, tanto em soja como em feijão, apresentavam em média mais de 50% de parasitismo, chegando, em algumas ocasiões, a valores superiores a 85% de parasitismo natural na lavoura. As lagartas falsa-medideira (Lepidoptera: Plusiinae) se alimentam de plantas de várias famílias botânicas e a ausência de biodiversidade vegetal, favorece às pragas em detrimento dos inimigos naturais. A maioria destes inimigos naturais procura inicialmente a planta onde deverão estar as suas presas e quando nela chega passa a procurar seu alimento. Não havendo plantas hospedeiras conhecidas o inseto migrante, geralmente adulto voa em outra direção, à procura destas plantas para ali procurar sua sobrevivência. O ácaro rajado, Tetranychus urticae, foi freqüente em todas as safras a partir de 1997, com níveis populacionais que não causaram maiores preocupações. Nas duas últimas safras, em períodos de estiagem (veranicos) verificaram-se surtos com elevados níveis populacionais causando intenso bronzeamento das folhas e possivelmente redução no

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Gazzoni

A sucessão de cultivos com outras espécies botânicas não apresenta qualquer efeito negativo oriundo da aplicação do herbicida glifosato utilizado na cultura da soja transgênica, diferente do que ocorre com outros herbicidas pósemergentes que restringem à escolha de cultivos em sucessão. A indústria química tem realizado, por seu lado, estudos de melhores formulações, modificando componentes, adequando-se às exigências da saúde pública, retirando do mercado determinados solventes, como tolueno e xileno, que por seu poder irritante e cáustico causavam alergias e potencializavam o efeito tóxico dos ingredientes ativos exigindo maiores cuidados dos aplicadores e causando intoxicações. Alem disso, preocupada com os custos de produção, estão apresentando misturas prontas para o controle de determinadas pragas, como os percevejos, associando o efeito de choque de um ingrediente ativo com o poder residual de outro para que numa única aplicação, o agricultor possa proteger sua lavoura deste grupo de insetos pragas. A agricultura de precisão é baseada na utilização de tecnologia de ponta, visando o cultivo mais econômico, e as misturas de agrotóxicos que já vêm prontas, estão adequadas a esta nova situação, minimizando custos de aplicação e atendendo C aos reclamos dos produtores.

rendimento, preocupando os agricultores. Amostragens realizadas em lavouras com cultivo de soja transgênica, na região central do Rio Grande do Sul, com ataque deste ácaro, indicaram baixa presença de predadores nestas situações, sendo que em determinadas áreas, a coleta de predadores foi quase nula. Um detalhe importante na infestação dos ácaros é descontinuidade da infestação em lavouras próximas, mas semeadas em diferentes épocas. Uma pode estar com elevadas infestações, com 23 a 56 exemplares do ácaro por cm 2 de área foliar, e, a outra, distante 300 ou 400m, bem próxima onde estes níveis foram de 8 a 12 exemplares/cm 2. A falta de pesquisas mais aprofundadas sobre danos de ácaros fitófagos em cultivares de soja, tem ocasionado a inexistência de indicações técnicas para o controle químico. Trabalhos realizados de adequação de inseticidas associados ao glifosato, na lavoura de soja transgênica, têm demonstrado que o uso de in-

Surto da lagarta falsa-medideira na última safra, chegou a atingir 50% das amostras de lagartas levantadas

seticidas acaricidas organofosforados, como Metamidofós e Clorpirifós, em áreas de lavouras, tem reduzido em torno de 70% a população infestante deste e de outras espécies de ácaros fitófagos ocorrentes na lavoura, aos quatro dias após a aplicação dos inseticidas. Produtos contendo Clorpirifós, ao serem aplicados associados ao glifosato causaram fitoxicidade à cultura da soja, causando bronzeamento e encarquilhamento das folhas, redução na altura da planta, quando aplicado na fase vegetativa e possivelmente redução no rendimento. O cultivo da soja transgênica, por ocupar um ambiente, por tempo determinado e normalmente inferior a seis meses, não elimina de forma permanente à biodiversidade vegetal deste ecossistema e o seu efeito é temporário neste local.

Dionísio Link UFSM Charles Echer

Dionísio Link aponta problemas enfrentados com insetos na soja transgênica

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Soja

Dirceu Gassen

A facilidade de disseminação e adaptação da trapoeraba a diferentes ambientes tira o sossego de muitos produtores, principalmente por apresentar tolerância ao produto mais utilizado no controle de plantas daninhas

A

trapoeraba é uma das plantas daninhas mais problemáticas do mundo. Seu nome cientifico é Commelina bengalensis, uma homenagem ao botânico Kaspar Commelin (1731). Nos Estados Unidos, é considerada planta nociva pelo Departamento de Agricultura. Ocorre em diversas culturas como cana, soja, milho, café, citros, entre outras. Esta espalhada em todas as regiões produtoras no Brasil e tem se expandido principalmente pela seleção causada pelos herbicidas. Acredita-se que, com o advento da cultura da soja transgênica resistente ao glifosato poderá haver rápida disseminação devido à tolerância que apresenta a este produto. Esta espécie pode ser facilmente confundida com Commelina villosa, cuja ocorrência foi constatada no Estado do Paraná (Rocha et al 2000). Os autores descrevem caracteres morfológicos que permitem a diferenciação. Destacam a presença de botão floral subterrâneo na Commelina bengalensis como importante característica diferencial. No passado, foi identificada erroneamente como Commelina virginica.

REPRODUÇÃO A trapoeraba possui grande capacidade reprodutiva, multiplicando-se por

meio de sementes aéreas, subterrâneas e enraizamento de porções do caule. A flor desta espécie abre e morre no mesmo dia, geralmente entre nove e às 12 horas, sobrevivendo por um período máximo de seis horas. Estima-se que uma única planta pode produzir cerca de 1600 sementes (Kissmann 1997). Segundo Walker & Everson (1985a), as sementes aéreas produzem plantas menores, que florescem mais cedo e geram mais frutos que as plantas de sementes subterrâneas. Do total de sementes produzidas, 73 a 79% foram sementes aéreas pequenas, 19 a 22% foram sementes aéreas grandes e 1 a 3% sementes subterrâneas. Quanto à viabilidade das sementes, Walker & Everson (1985b) observaram que é variável com o tipo. Sementes aéreas pequenas possuem germinação de 0 a 3%, enquanto que das aéreas grandes 20 a 55% germinaram. Para as sementes subterrâneas pequenas verificaram germinação 33% e para as grandes 90%. O artigo publicado pelos autores (Walker e Everson 1985b) permite ainda obter outras informações importantes. Existe dormência inata causada por uma semente dura que restringe a entrada de água e oxigênio. A exposição à luz aumenta a germinação, mas não é essencial. Ainda assim, as sementes subterrâneas respondem mais ao fator luz

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que as aéreas. Existe também uma temperatura ótima para germinação a qual varia com o tipo de semente. No entanto, a faixa situada entre 18 a 36oC beneficia a todos os tipos. Quanto à profundidade de germinação relataram 0 a 5 cm como a faixa ideal para todos os tipos e que existe uma relação positiva entre a máxima profundidade e o peso de sementes. Para Kissmann (1997), as sementes subterrâneas são capazes de germinar a profundidade de 12 cm en-


característica peculiar da trapoe raba de reprodução por sementes formadas por rizomas, ou seja, flores modificadas, ocorrem nos rizomas subterrâneos, onde formam-se frutos por partenocarpia, dando origem a verdadeiras sementes, pouco maiores que as formadas a partir das flores aéreas. Estas sementes não se abrem, apenas são liberadas com a decomposição dos tecidos envolventes, sendo capazes de germinar desde uma profundidade de 12cm de profundidade, onde os herbicidas aplicados no solo, muitas das vezes, não as atingem. Kurt Kissmann

quanto que as sementes da parte aérea não germinam a mais que 2 cm.

ECOFISIOLOGIA A trapoeraba é uma espécie que se adapta com facilidade em diferentes ambientes. No entanto, é reconhecida a preferência por lugares úmidos e solos férteis. Ainda assim possui capacidade para sobreviver por extensos períodos de seca, já que a planta contém elevado conteúdo de água (Wilson 1981). Segundo Lorenzi (1991), solos argilosos e sombreamento leve favorecem seu deDirceu Gassen

INTERFERÊNCIA NAS ATIVIDADES HUMANAS Vários autores citam a trapoeraba como hospedeira de pragas e moléstias. Em 1967, Adams a descreve como hospedeira do vírus do mosaico do amendoim. Em 1968, Valdes a relata como hospedeira alternativa de Meloidogene incognata. Em 1971, Edmunds inclui a Commelina sp como hospedeira do vírus de banana e do nematóide Rotylenchulus sp. No Brasil, Ferraz (1983) também inclui a espécie na lista de hospedeira de nematóides. Na sua revisão, Wilson (1981) trata também da interferência da trapoeraba como planta competidora e baseado em trabalhos de pesquisa reconhece a espécie como uma das mais importantes invasoras de um grande número de culturas na África, sendo responsável por prejuízos significativos. Cita que na Tanzânia, em 1978, Wetaba encontrou redução no rendimento de soja com população acima de 120 plantas por m 2. Mehrotra e Shing em 1973, na Índia, observaram que sua remoção das áreas de cultivo de amendoim aumentou a produção em 27%. No Brasil, Gazziero em 1987, relata que a presença de 58 plantas/m 2 reduziu o rendimento da soja em 15% e com 230 plantas/m 2 a redução foi de 49%. Le Bourgeois & Guilherm, em 1998, estudaram a distribuição e a abundância de plantas daninhas em um sistema de rotação de culturas de algodão, sorgo, milho e amendoim. Citam a trapoeraba como uma das espécies de maior freqüência e que maiores danos causaram as culturas anuais. A sua presença no momento da colheita também interfere negativamente. Por possuir elevado conteúdo de água, transfere umidade para as sementes das culturas colhidas mecanicamente como, por exemplo, a soja.

CONTROLE A literatura internacional relata com freqüência as dificuldades de controle que esta espécie apresenta. No Brasil, inúmeros trabalhos foram conduzidos

Detalhe do sistema radicular da trapoeraba, mostrando as sementes subterrâneas

Kurt Kissmann

A

Solos férteis e úmidos são reconhecidamente o ambiente preferido da planta

Dionisio Gazziero

FORMAÇÃO DE SEMENTES POR RIZOMAS

com o objetivo de encontrar alternativas químicas para uso nas diversas culturas. Embora um razoável número de produtos seja indicado para uso em pré e pós-emergência, sabese que a maioria dos herbicidas exigem condições ótimas para que funcionem de forma desejável. Assim, os níveis de controle, muitas vezes, permitem a recuperação ou “escape de controle”, o que tem como conseqüência a multiplicação de sementes e a expansão da infestação.

senvolvimento. Esta planta é capaz de acumular grandes quantidades de macronutrientes e prolongar seu ciclo sob condições ótimas de fertilidade do solo e umidade (Rodrigues 1992). Em 1995, Rodrigues et al, publicaram resultados de pesquisa mostrando haver intensa resposta a calagem e ao Nitrogênio, Fósforo, Cálcio, Magnésio e Enxofre.

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E

m 1962, já havia citação do uso na carestia de alimento na Índia e Filipinas (Watt & Breger Brandwigk 1962). Em 1972, os mesmos autores relataram o uso das folhas desta planta no tratamento da esterilidade e a sua mucilagem ou goma em queimaduras e inflamação do olho e garganta. Segundo Holm e colaboradores (1977), suas folhas também são utilizadas para alimento de gado, embora o elevado conteúdo de água não lhe confere o valor como forrageira. Contrariamente, Lorenzi (1991) descreve a espécie como excelente forrageira. O mesmo autor descreve seu uso como planta diurética e emoliente. Dos produtos atualmente comercializados na cultura da soja, existem 12 indicados para o controle desta espécie, sendo seis para uso em pré-emergência da cultura e do mato e seis para uso em pós-emergência. O controle das plantas daninhas que germinam antes da semeadura das culturas é feito com os herbicidas popularmente conhecidos como dessecantes. Entre eles o mais utilizado é o gliphosato, sendo a trapoeraba considerada tolerante a ele. Para contornar este problema, normalmente é feita a combinação com outros ingredientes ativos como 2,4-D, carfentrazone e chlorimurom. Destes, o 2,4-D é o que apresenta menor custo. Em contrapartida, além da exigência dos dez dias de intervalo entre a aplicação e a semeadura, tem gerado reclamações devido à fitointoxicação de culturas vizinhas como uva, algodão e tomate. Sabe-se porem que o principal problema refere-se à aplicação inadequada, a qual resulta em deriva do produto. Convém lembrar que nestes casos não apenas o 2,4-D é aplicado fora do alvo mas, também, os demais produtos. Com carfentrazone e chlorimurom, as aplicações podem ser feitas próximas ou no dia da semeadura, se for o caso, mas geralmente apresentam custo mais elevado. Trabalhos em áreas de produção co-

TRAPOERABA X SOJA Na cultura da soja, causa forte competição e também deprecia o produto na classificação por aumentar o teor de umidade dos grãos. Seu desenvolvimen-

to se acelera quando a cultura entra em maturação, perdendo folhas e abrindo entrada para a luz. Planta anual, pereniza-se por alastramentos sucessivos. A facilidade de enraizamento permite um reestabelecimento pleno, uma vez deixados ramos sobre o solo ou mesmo enterrados a pequenas profundidades. Por isso, o controle mecânico nem sempre se trata da melhor opção, já que pode espalhar sementes levando-as, muitas das vezes, a locais ainda não infestados ou ainda causar uma repicagem de ramos que facilmente formam novas plantas aumentando desta forma o número de plantas por área. O ideal é que se faça um manejo integrado com outros métodos de controle, para que seja eficaz. Uma alternativa é integrar o controle mecâniC co com aplicação de herbicida. Dionísio Luiz Pisa Gazziero, Catarina Maria de S. Thimoteo e Cássio Egidio Prete, Embrapa Soja

Em soja, o maior problema é quando esta entra na fase de maturação, prejudicando a umidade dos grãos

Dirceu Gassen

UTILIZAÇÃO COMO PLANTA MEDICINAL E ALIMENTÍCIA

mercial têm mostrado que a aplicação sequencial de ghiphosate, no período de entressafra, proporciona melhor nível de controle que a aplicação única. Nestes casos, é fundamental que as pulverizações sejam feitas antes que as plantas iniciem o processo de produção de sementes. Quanto menor a planta maior a sensibilidade ao produto. Da mesma forma, na soja transgênica resistente a este produto verificou que as aplicações seqüenciais foram mais eficientes que as doses únicas, mesmo que nestes casos tenham sido utilizadas doses elevadas. Embora a trapoeraba seja uma espécie considerada de difícil controle, bons resultados são obtidos através do manejo integrado. É possível conviver com esta espécie desde que as aplicações sejam feitas dentro de critérios técnicos. Sabe-se que existe uma importante relação entre o tamanho da planta no momento da aplicação dos herbicidas pósemergentes, a dose do produto e o controle.

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Algodão

Fotos Luiz G. Chitarra

Novo e sem controle Encontrado no Brasil pela primeira vez na safra atual, o fungo Myrothecium rodium tode ex Fr, causador da mancha de myrothecium já causou perdas de 50% em algumas lavouras de algodão. A principal preocupação dos produtores e da pesquisa ainda é a falta de táticas de controle eficientes

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entre as novas doenças que ata cam o algodoeiro, a “mancha de myrothecium”, causada pelo fungo Myrothecium roridum Tode ex Fr, se manifestou em diversas lavouras na safra 2003/2004 nos Estados do Maranhão, Mato Grosso, Goiás, e Bahia. No Estado

do Maranhão, esta doença causou perdas de aproximadamente 50% na produção de algodão. Devido à ocorrência da mancha de Myrothecium em diversas regiões do Brasil, esta doença tornou-se alvo de preocupação dos produtores, por sua agressivida-

de, rápida disseminação e falta de informações técnicas sobre seu controle em plantas de algodão.

CARACTERÍSTICAS DO FUNGO Myrothecium roridum Tode ex Fr (M. roridum) é um fungo habitante de solo, saprófita, oportunista, que sobrevive em restos culturais e que pode ser transmitido via sementes. Em condições favoráveis, o fungo é capaz de penetrar nos tecidos de plantas danificadas ou estressadas, causando problemas de desfolha e apodrecimento de maçãs, acarretando perdas de produção. Pode também ocasionar o tombamento de pré e pós-emergência das plântulas.

OCORRÊNCIA E INCIDÊNCIA DA DOENÇA A ocorrência da mancha de Myrothecium, na cultura de algodão, já foi constatada e relatada nos Estados Unidos, Paquistão e Índia. No Brasil, a primeira ocorrência da doença e identificação do patógeno foram feitas em lavouras do Estado do Maranhão, safra 2003/2004, e posteriormente, nos estados de Mato Grosso, Bahia e Goiás. Esta doença também ataca várias outras culturas de importância econômica como a soja, milho, café, trigo, batata, amendoim, berinjela, girassol e vári-

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SINTOMAS DA MANCHA DE MYROTHECIUM

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s primeiros sintomas de infecção da mancha de Myrothecium aparecem nas folhas, seguida pelas brácteas, maçãs, pecíolos e caules. Os sintomas são caracterizados por manchas circulares, formando anéis concêntricos, circundadas por uma coloração vinho avermelhada, apresentando o centro com uma coloração marrom. A estrutura reprodutiva do fungo, chamada esporodóquio, de coloração negra, é circundada por hifas de coloração branca, de formato irregular, e pode ser encontrada tanto na face su-

perior como inferior das lesões nas folhas e nas brácteas. Nas maçãs, pecíolos e caules as lesões são geralmente de forma irregular e coloração escura, circundadas por uma coloração vinho a avermelhada, apresentando no seu interior os esporodóquios. Os sintomas da mancha de Myrothecium podem ser facilmente confundidos com os sintomas da mancha de Alternaria ssp., devido à formação de anéis concêntricos. Porém, a evolução da mancha de Alternaria é mais lenta e não há formação de esporodóquios.

algumas medidas de controle para a safra 2004/2005. Dentre estas medidas, podem ser citadas: a rotação de cultura, a destruição de soqueira e plantas daninhas, o tratamento adequado de sementes e a adoção de população adequada de plantas por hectare. A Embrapa Algodão juntamente com a Universidade Federal do Mato Grosso, com o suporte financeiro do Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (Facual – MT), estarão desenvolvendo pesquisas para se obter as informações técnicas necessárias e adequadas ao controle químico desta doença em benefício dos produtores de algodão. C

Luiz Gonzaga Chitarra Embrapa Algodão Maurício C. Meyer, Embrapa Soja

as espécies de plantas ornamentais, principalmente quando estas são cultivadas em casa de vegetação.

DISSEMINAÇÃO

TECNOLOGIAS

As condições favoráveis para o desenvolvimento desta doença estão relacionadas com temperatura (25 a 30°C), umidade elevada, alta pluviosidade e sanidade das plantas de algodão. A disseminação dos esporos do fungo de partes de plantas infectadas para as partes sadias ocorre principalmente através de respingos de água das chuvas e irrigação. O número elevado de plantas de algodão por hectare proporciona um microclima favorável à rápida disseminação e à ocorrência de novos focos de infecção. M. roridum também pode ser transmitido via sementes infectadas.

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CONSIDERAÇÕES Sendo estas as condições que favorecem o aparecimento dos sintomas da mancha de Myrothecium nas lavouras de algodão, não podemos prever que na safra 2004/2005 este fungo voltará a se manifestar e, caso se manifeste, qual será a sua agressividade. Sendo um fungo de solo e transmitido via sementes, devemos adotar

Chitarra alerta para medidas que podem minimizar os danos enquanto não se tem informações técnicas adequadas para controle

tualmente, a cotonicultura bra sileira se encontra em uma nova realidade, onde o cultivo em pequenas áreas e com baixa tecnologia vem perdendo espaço para um novo modelo produtivo em larga escala, em que são utilizadas altas tecnologias e investimento em qualidade de fibra. Além disso, o aumento do número de indústrias têxteis tem intensificado a importância desta cultura no país. Dentre estas altas tecnologias podem ser citadas: a implantação da colheita mecanizada, a maior utilização de reguladores de crescimento, o uso do sistema de plantio direto. Acompanhando toda esta revolução tecnológica, novas doenças, e até mesmo aquelas conhecidas e que não eram prejudiciais no passado, manifestam-se no presente, trazendo grandes desafios à produção.


Pragas

Cada vez mais terríveis C

om o aumento da importân cia do Agronegócio para o Brasil e da necessidade do aumento da produção agrícola, novas fronteiras e tecnologias têm sido exploradas, propiciando assim condições climáticas favoráveis para surgimento de novas pragas. Assim, na década de 70 a soja era plantada apenas no Rio Grande do Sul, existindo apenas uma espécie de percevejo-praga, ou seja, Nezara viridula, típica de zonas temperadas. Porém, com a expansão da área de soja para o Paraná, Brasil Central, Nordeste etc., surgiram outras espécies de percevejos, como Piezodorus guildinii, Euschistus heros, tão ou mais importantes que a primeira delas; outros gêneros de percevejos têm surgido em outras áreas, como Dichelops, Edessa, Neomegalotomus, entre outros. Quando o café era restrito a São Paulo e Paraná, conduzido em espaçamentos fechados, o grande problema era a broca-do-café (Hypothenemus hampei). Posteriormente, com o aparecimento da ferrugem do cafeeiro em 1970, o café migrou para outras regiões como Espírito Santo, Minas Gerais, etc. Estas mu-

No decorrer dos anos, diferentes insetos têm assumido o posto de pragas-chave, aumentando os danos às culturas. Sistemas de plantio, cultivos sucessívos da mesma cultura, uso indiscriminado de agroquímicos podem ser os principais fatores para o aumento de insetos-praga danças de regiões, aliadas às alterações de espaçamento (plantio em renque, cafezais mais abertos) e da diminuição do número de plantas/cova para controlar a ferrugem, fizeram com que o bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) se tornasse a praga mais importante, além do aumento populacional de cigarras, mosca-daraiz, ácaro-da-leprose (transmitindo a mancha anular) e cigarrinhas (veiculando a bactéria Xylella). Lagartas têm aparecido devido a desequilíbrios biológicos quando produtos químicos são aplicados indiscriminadamente. Portanto, diferentes condições climáticas podem determinar o aparecimento de novas pragas, mais adaptadas às novas condições. Considerando-se a extensão territorial do Brasil e conseqüente diversidade climática, o aumento da área agrícola leva à variação da entomofauna para a mesma cultura e, às vezes, variação na época de ocorrência dentro da cultura. Por exemplo, pragas do algodoeiro que para São Paulo ocorrem no final do ciclo, em Mato Grosso do Sul são comuns

no início do plantio. A procura de novas fronteiras agrícolas leva à necessidade de novas variedades adaptadas às diferentes condições ambientais e tecnológicas. Foi o que aconteceu com o algodoeiro: no passado usavam-se apenas as variedades de algodoeiro IAC. Com a expansão da cultura do algodoeiro para o Centro-Oeste, foram importadas variedades americanas que passaram a ser melhoradas para a região. No entanto, o problema de pulgões se intensificou, com a transmissão da doença chamada “azulão” (mosaico das nervuras de Ribeirão Bonito), para estas novas variedades, demandando maciças aplicações de produtos químicos. E a lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda) também passou a ser importante, atacando intensamente flores e maçãs, destruindo folhas e perfurando as hastes do algodoeiro. Este exemplo poderá ser aplicável a outras culturas, com a introdução de novas variedades. Atendendo à demanda ambiental,

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o aumento das populações de percevejos-castanhos (Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae) poderia estar relacionado a estas novas técnicas de cultivo, bem como à ocupação de novas áreas (anteriormente ocupadas por pastagens, por exemplo).

CONTINUIDADE DA CULTURA A continuidade da cultura na área como ocorre com a cultura do milho (safra de verão, safrinha e cultivo de inverno em algumas regiões), permite que a praga continue na área, não havendo necessidade de procura de novos hospedeiros e aumentando a sua população no local. Assim, hoje S. frugiperda é muito mais importante para o milho do que no passado, ocorrendo problemas de resistência a agroquímicos, e modificando o seu hábito, cortando plantas no início da cultura, como se fosse lagarta rosca, atacando folhas e cartuchos e sendo, em muitas áreas, mais importante do que a lagarta-da-espiga do milho (Helicoverpa zea), atacando intensamente a espiga.

ROTAÇÃO DE CULTURAS As rotações de culturas preconizadas nos novos sistemas, alteram a entomofauna. Assim, S. frugiperda pode migrar, em altas populações, para o algodoeiro se tal cultura estiver próxima de áreas de milho e encontrando variedades suscetíveis, conforme comentado anteriormente, causam grandes danos, que é o que está ocorrendo atualmente. Em áreas de plantio direto, Dichelops spp. permanecem sob a palha após a soja e atacam o milho, sugando a base da planta, provocando sintomas de murchamento e secamento. Chegam a causar prejuízos de até 29% na produção de milho.

IRRIGAÇÃO As novas técnicas de irrigação via “pivot” central favoreceram algumas pragas que têm preferência por umidade, como lagartas roscas ou mesmo a mosca-da-es-

O USO DE AGROQUÍMICOS

A

novas técnicas de cultivo vêm sendo utilizadas. O plantio direto, uma realidade no Brasil com mais de 17 milhões de ha, altera totalmente o microclima em termos de regime de água de solo, estrutura e temperatura do solo, disponibilidade de nutrientes, compactação do solo etc. Desta forma, com a exploração desta técnica, elasmo (Elasmopalpus lignosellus) que é praga de áreas secas, de solos arenosos e de cerrado, perdeu a importância, mas surgiram outras pragas como os corós (Coleoptera: Scarabaeidae), bicudo ou tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), cascudo (Myochrous armatus), torrãozinho (Aracanthus mourei) para a soja. Portanto, são as condições edáficas favorecendo ou desfavorecendo estágios de pragas que vivem no solo. O próprio tipo de solo pode favorecer o desenvolvimento de novas pragas. Em Santa Catarina, em solos escuros, ricos em matéria orgânica, Diabrotica speciosa é muito mais importante para o milho, destruindo raízes, pois as fêmeas preferem colocar ovos nestes locais. E até

té o aparecimento dos insetici das organossintéticos no final da década de 30 do século passado, os insetos eram controlados de forma empírica ou, na maioria das vezes, mantidos em equilíbrio pela ação de agentes de mortalidade biótica, ou seja, seus inimigos naturais (parasitóides, predadores e patógenos). Com o aparecimento dos inseticidas clorados, e posteriormente de outros grupos (ciclodienos, fosforados e carbamatos) pensou-se que todos os problemas de pragas poderiam ser resolvidos com os inseticidas “modernos”. Assim, eles passaram a ser aplicados indiscriminadamente, prejudicando o homem e o ambiente. No período compreendido entre a descoberta das propriedades inseticidas do DDT em 1939 e a década de 60, considerado por muitos como a “fase negra do controle de pragas”, começaram a aparecer os desequilíbrios biológicos, ou seja, a aplicação de agroquímicos que não eram seletivos, e que matavam além das pragas, seus inimigos naturais, fazendo com que muitas pragas, após o seu controle, livres de seus agentes de mortalidade bi-

ótica, reaparecessem com muito mais intensidade, no fenômeno conhecido como ressurgência. Até insetos sem grande importância, considerados secundários tornaram-se primários, pois livres de seus inimigos naturais, aumentavam a sua população e passavam, muitas vezes, à condição de pragas chaves. Com a evolução da resistência de pragas a alguns agroquímicos, a situação se tornou ainda mais crítica devido a aplicações mais freqüentes destes produtos com o uso de doses cada vez mais elevadas para o controle de pragas. Embora com a conscientização da sociedade, iniciada com o famoso livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson em 1962, chamando a atenção de forma contundente para os problemas ambientais ocasionados pelo uso indiscriminado de agroquímicos, ainda hoje o problema de desequilíbrios biológicos continua. É evidente que, atualmente, com a atenção voltada para uma Agricultura Sustentável, exigem-se agroquímicos seletivos e de menor impacto ao meio ambiente. Mas nem sempre esta conscientização existe.

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com maior freqüência; a lagarta-do-cartucho do milho (S. frugiperda) tornou-se uma das principais pragas do algodoeiro etc. Com a presença constante de determinadas pragas devido à expansão de épocas de cultivo, o uso de agroquímicos tem sido bastante elevado, aumentando assim os casos de resistência de insetos e ácaros. Dentro deste contexto, as estratégias de manejo de resistência aos agroquímicos devem fazer parte integrante dos programas de controle de pragas, além da implementação efetiva de táticas de controle não químicas. Portanto, qualquer alteração no sistema de produção de culturas deve ser considerada com bastante cautela para evitar o aparecimento de novas pragas ou mesmo de alterações genéticas ou fisiológicas de pragas já existentes. Com a possibilidade de introdução de plantas geneticamente modificadas que são resistentes a algumas pragas no Brasil, esta nova tecnologia também deve ser utilizada com os mesmos cuidados de outras medidas de controle em sistemas de produção. Como em qualquer outra tática de controle, devem ser realizados estudos relacionados à evolução da resistência de pragas para as plantas geneticamente modificadas, bem como a avaliação do seu possível impacto sobre os organismos não-alC vos, microbiota do solo etc. José R.P. Parra e Celso Omoto, Esalq/USP

Phyllocnistis citrella: praga introduzida no Brasil em 1996

H. Negri

piga (Euxesta spp.), que é importante para o milho doce. Em cana-de-açúcar, a proibição da queimada, alterou o microclima da cultura e hoje, nas áreas de cana crua, a cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata), que não tinha importância na cana colhida após a queimada, chega a causar perdas da ordem de 11% na produtividade agrícola do Estado de São Paulo, com redução de 1,5% em açúcar. A entrada de novas pragas pode também ocorrer. Embora tenhamos melhorado nosso sistema de quarentena nos últimos anos, pragas exóticas têm entrado no país, como o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) na década de 80, o minador-dos-citros (Phyllocnistis citrella) em 1996 e mais recentemente, em 2003, diversas pragas de florestas, como o psilídeo de “concha”, para citar apenas alguns exemplos. A ocorrência de biótipos, como Bemisia tabaci biótipo B, que é muito mais importante que B. tabaci registrada desde a década de 70 como praga em feijoeiro. O novo biótipo tem sido mais relevante por transmitir também viroses no feijoeiro (mosaico dourado) e provocar o amadurecimento irregular de frutos do tomateiro, prateamento das folhas da abóbora (cucurbitáceas), talo branco em brócolis e fumagina intensa em diversas culturas (soja, algodoeiro etc). Outros aspectos como a nutrição das plantas, ou a utilização de micronutrientes via foliar, poderão contribuir para o aumento ou diminuição de pragas. É sabido por exemplo que o ácaro rajado (Tetranychus urticae) ocorre mais em solos ricos em nitrogênio. Esta relação nutrição × pragas é pouco estudada no Brasil, mas poderá ser de grande importância na ocorrência de pragas, existin-

do teorias como a da trofobiose que tentam explicar a ocorrência de pragas relacionada com a nutrição da planta. Todos estes fatores (desequilíbrios biológicos, novas áreas de plantio com novas variedades, condições climáticas e edáficas variáveis, novas técnicas de cultivo, introdução de novas pragas, rotação de culturas, nutrição das plantas etc.) têm contribuído para o aumento de pragas ou alteração das pragas convencionais. Portanto, as alterações do meio ambiente provocadas pelo homem com a expansão de fronteiras e desenvolvimento de novas tecnologias de produção têm sido uma das principais razões para o aumento dos problemas de pragas no Brasil. Sem dúvida, o planejamento do sistema de produção de culturas em uma determinada região é o passo crucial para a implementação de estratégias efetivas de manejo de pragas. No entanto, parece que este princípio básico para uma Agricultura Sustentável não está sendo obedecido no Brasil. Por exemplo, a monocultura em grandes escalas (como soja e cana-de-açúcar) e a continuidade de culturas em uma área (como milho e algodão safrinha) têm causado profundas alterações na dinâmica populacional de pragas. Com isso, percevejos da soja têm causado sérios danos nas culturas de trigo, algodão e milho; a lagarta-da-maçã do algodoeiro (Heliothis virescens) tem atacado vagens de soja

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Pragas

Ameaça verde Praga bastante problemática na cultura de soja, o percevejo Barriga-Verde, começa a causar problemas também no milho, principalmente na safrinha

A

introdução de uma nova espécie vegetal, de uma variedade, ou mesmo mudanças significativas nas práticas culturais podem propiciar ambiente “novo”, adequado para que insetos, antes considerados pouco importantes, adaptem-se à nova situação e passem a causar danos econômicos significativos. Aparentemente, este é o caso do Dichelops melacanthus, em milho cultivado fora da época tradicional (safrinha), no sistema plantio direto (SPD). Nos estádios iniciais de crescimento, o milho é mais sensível ao ataque do perceve-

jo, ocasião em que, dependendo da intensidade do ataque, a lavoura pode ser totalmente destruída. Em plantas jovens, em que o inseto se alimentou, podem ser vistos pontos escuros nas folhas novas do interior do cartucho. Quando ocorrem ataques severos na região de crescimento, as plântulas emitem perfilhos, comprometendo seriamente, ou mesmo inviabilizando, a colheita de grãos. Plantas em que a injúria não foi tão severa resistem aos danos e, mais tarde, apresentam folhas desenroladas com vários orifícios enfileirados no sentido transversal das mes-

mas. Em outros casos, uma fileira de orifícios é seguida de outra (ou outras), sempre no sentido transversal da folha, indicando, provavelmente, ataques em momentos diferentes. Essas fileiras de furos podem eventualmente unir-se apenas no sentido longitudinal da folha, dando origem a espaços vazios alongados, de formato mais ou menos irregular, entremeados de áreas intactas. Orifícios de duas ou mais fileiras podem unir-se no sentido longitudinal da folha, ao mesmo tempo em que os da fileira mais externa unem-se transversalmente, rompendo-se. Isto confere aspecto mais ou menos serrado à ponta do que restou da folha. Há também ocasiões em que a ponta de uma folha mais nova enrola-se na de outra. Ambas, assim unidas, dobram-se, fechando o cartucho, que adquire o aspecto de um charuto: é o chamado “encharutamento”. Outro sintoma de ataque caracteriza-se pela emissão de folha central descolorida e retorcida. Este sintoma é denominado de “folha mascada”. Há também ocasiões em que os orifícios não se completam provavelmente porque o inseto, por alguma razão, interrompeu precocemente o ato de alimentação, mas há forma-

ONDE SE ESCONDE E COMO ATUA

O

inseto posiciona-se de cabeça para baixo na base da planta de milho, praticando injúria pela introdução do estilete na região do colo e sucção da seiva, com provável injeção de toxinas na planta. Há também, a possibilidade de que o orifício de alimentação possa servir de rota para penetração de microorganismos fitopatogênicos.

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onhecido também como “catarina”, o D. melacanthus é praga secundária da soja em estados brasileiros situados acima do paralelo 240S. Na extremidade anterior do D. melacanthus há um “corte” profundo no sentido do comprimento do corpo, o que confere um aspecto bifurcado à cabeça do inseto. O adulto mede cerca de 10 mm de comprimento e apresenta prolongamentos laterais em forma de espinhos nos “ombros” (pronoto). As extremidades do citado prolongamento são escuras. Na base do escutelo (parte dorsal do tórax, logo após a cabeça) há um ponto branco, pequeno, de difícil percepção a olho nu. Sob lupa, verifica-se que é uma área terminal, quitinosa, brilhante, esbranquiçada, com a forma aproximada de uma ferradura. Exceto a região escura já citada, toda a parte dorsal do percevejo tem coloração marrom e a ventral, ção de uma fileira transversal de pontos descoloridos. Os sintomas dos danos causados ao trigo são semelhantes aos do milho. A Dra. Viviane R. Chokorosqui verificou que o trigo sofre danos em todos os estádios, principalmente no período que vai do elongamento da planta à fase de grão em massa. Ela também constatou que dois ou mais percevejos por metro quadrado são suficientes para causar dano ao milho, confirmando resultado obtido anteriormente pelo Dr. R. Bianco (Iapar). A distribuição do barriga-verde no campo durante o dia é influenciada pela vegetação e a temperatura do ambiente, havendo maior atividade a partir do final da tarde. De acordo com dados coletados na região de Dourados (MS), nas horas mais quentes do dia, o percevejo prefere permanecer abrigado sob plantas daninhas que emergiram após a colheita da soja. Tanto ninfas quanto adultos deslocam-se “caminhando” na superfície do solo. É conveniente que, antes da semeadura do milho ou do trigo, o agricultor verifique se plantas daninhas ou a palhada estão abrigando (ou não) o barriga-verde.

verde. Seus ovos são de coloração verde-água, podendo ser depositados sobre as folhas de milho, ou sobre as de invasoras, como o cordão-de-frade. As ninfas apresentam coloração verde, tendendo levemente para o azul. O inseto ocorre, normalmente, em baixas populações na maior parte do ciclo reprodutivo da soja, mas na época da colheita, quando os grãos praticamente já não são mais suscetíveis ao seu ataque, há, aparentemente, um súbito incremento na população do percevejo. Desta forma, na ocasião da colheita, pode ser detectado grande número de adultos sobre a massa de grãos já colhido. Há também indícios de que a espécie possa associar-se a hospedeiros intermediários, principalmente plantas daninhas ( como a trapoeraba, por exemplo) até que seja instalada a cultura do milho safrinha (ou de trigo). em importante “ferramenta” de controle. Em áreas tradicionais de ocorrência, o controle pode ser realizado preventivamente, desde que a praga já não esteja escondida na palhada, através de tratamento das sementes de milho com os inseticidas. Outra alternativa seria inspecionar a lavoura logo após a semeadura. Caso o inseto já esteja abrigado sob plantas daninhas vivas e/ou dessecadas, pode-se promover a pulverização preventiva da palhada

Sérgio Arce Gomez e Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Cultivar

BIOECOLOGIA DO BARRIGA-VERDE

com inseticidas (Figura 1). As aplicações devem ser feitas, preferentemente, da metade da tarde em diante, com volume de calda de 200 l/ha. Caso, na inspeção anteriormente referida, o percevejo não tenha sido encontrado, é fundamental que se continue alerta. Deve-se vistoriar a lavoura logo após a emergência das plântulas de milho, pois o barriga-verde pode invadir a lavoura a partir de laC vouras.

Inseto da cultura da soja sobrevive em plantas daninhas para garantir o ataque em lavouras de safrinha, afirma Gomez

Figura 1 - Percentuais de controle do percevejo barriga-verde sob ação de inseticidas aplicados em pulverização na parte aérea de plantas de milho safrinha, em MS

CONTROLE Pesquisa, no Paraná, do Dr. R. Bianco (Iapar) indicou que há diferença de suscetibilidade ao ataque do D. melacanthus entre diferentes genótipos de milho. Portanto, o cultivo de genótipos resistentes poderá constituir-se

(Fonte: Gomez e Ávila, Comunicado Técnico n.44, dez./98, p.1-5).

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Pragas

Nematóides os insetos Pelo seu modo de ação, os nematóides entomopatogênicos são mais eficientes no controle biológico de pragas do solo que os nematóides entomófagos e podem custar até dez vezes menos

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Fotos Luis Leite

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Brasil tem se destacado mundialmente com diversos programas de controle biológico de pragas, a grande maioria voltados para o controle de insetos que atacam a parte aérea das plantas. Com a expansão de áreas cultivadas e uma exploração agrícola cada vez mais intensa, tem sido notado, ao longo dos anos, um aumento significativo no número de pragas de solo, deixando os agricultores na dependência quase exclusiva do controle químico. Isso pode trazer diversas conseqüências ao meio ambiente e à saúde humana e nem sempre proporcionando resultados de controle satisfatórios. Em nível mundial, o controle biológico de pragas de solo tem sido bastante estudado, sendo uma prática há muito tempo adotada, especialmente pelo uso de nematóides entomopatogênicos. Os nematóides Steinernema spp. e Heterorhabditis spp. são os únicos associados a insetos que são largamente utilizados para o controle de pragas. De tamanho diminuto (cerca de 1 mm de comprimento), esses agentes possuem a habilidade de localizar e invadir o corpo de insetos hospedeiros por suas aberturas naturais ou mesmo através da cutícula. A localização do hospedeiro é possível através de quimior-receptores localizados na região cefálica, que detecta principalmente o CO2 liberado pelo inseto. Após invadir o corpo do inseto, alcançam o hemoceloma e ali liberam uma bactéria que provoca septicemia e causa a morte do hospedeiro dentro de

48 horas. Isso leva esses agentes a serem conhecidos como nematóides entomopatogênicos e os tornam mais adequados para o controle biológico comparados aos outros grupos de nematóides entomófagos ou mesmo a outros agentes entomopatogênicos, sendo utilizados com sucesso em muitos países para o controle de diversas pragas agrícolas, especialmente aquelas de solo. Com a rápida multiplicação da bactéria no cadáver do inseto, os nematóides passam a alimentar-se delas e do material digerido do inseto, reproduzindo-se no cadáver do hospedeiro. Após duas a três gerações, com o fim do alimento, o nematóide é convertido no estado de juvenil infectivo (3 estágio juvenil), e milhares de vermes deixam o cadáver na busca de novos hospedeiros. Trata-se, portanto, de uma associação mutualística na qual o nematóide atua como um vetor da

bactéria e esta, por sua vez, fornece alimento ao nematóide. Steinernema sp. e Heterorhabitis sp. passaram a ser estudados para o controle de insetos a partir de 1930, no entanto, somente no final da década de 80 é que iniciou-se a sua utilização comercial para o controle de insetos, dado ao aperfeiçoamento do método de produção massal desses agentes “in vitro” em sistema monoxênico, aproveitando-se da bactéria simbionte como fonte de alimento. Atualmente, cerca de 90 empresas privadas ao redor do mundo produzem nematóides em nível comercial para o controle de diversas pragas agrícolas e alguns parasitos de importância veterinária e de saúde pública. Várias formulações de nematóides estão disponíveis no mercado, representan-

48 horas: tempo que o nematóide leva para invadir o corpo do inseto, liberar bactéria e causar-lhe a morte


contra do cerca de 25% dos produtos microbianos usados no controle de pragas, existentes no mercado mundial, o que tornam esses agentes os mais utilizados depois das bactérias do gênero Bacillus, cujas formulações representam 50% dos produtos microbianos. O Instituto Biológico (IB), em parceria com a empresa Bio Controle Métodos de Controle de Pragas Ltda, vem estudando nematóides entomopatogênicos para o domínio biológico de pragas desde o ano 2000. O projeto está sendo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), dentro do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) - Fase I e II -, e visa à implantação da primeira biofábrica de nematóides no Brasil. O primeiro passo da pesquisa foi formar uma coleção de nematóides entomopatogênicos, procurando-se explorar a biodiversidade desses organismos existente no país. O IB vem avaliando esses agentes para o controle de diversas pragas, e alguns isolados, como o Heterorhabditis sp. (CB-n5), tem se mostrado bastante promissor. Na seqüência, foram desenvolvidos meios para cultivo “in vitro” de nematóides e técnicas de produção massal, assim como uma formulação pó molhável que permite a preservação dos organismos em prateleira por um período de até dois meses. Com esses avanços, um novo bioinseticida a base de nematóide pode ser lançado do mercado brasileiro já em 2005 para uso no controle de alguns insetos pragas. Quanto ao preço de venda do produto no Brasil, ainda não foi determinado, mas terá um custo x benefício apropriado à agricultura brasileira. Na seqüência, são relatados alguns resultados de pesquisas com nematóides para o controle de alguns insetos-pragas.

MAIS ACESSÍVEIS

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s nematóides entomopatogênicos poderão estar disponíveis no mercado brasileiro já em 2005 para uso no controle de alguns insetos pragas. Quanto ao preço de venda do produto no Brasil, estima-se que possa ser menos de dez vezes o seu valor de mercado na Europa, que chega a US$ 1.000,00 uma dosagem equivalente para tratar um hectare. Estima-se que o custo por hectare, aqui no Brasil, fique em torno de R$ 300,00. raízes mais grossas, provocando danos de grande importância, principalmente em mudinhas em fase de germinação, e a morte das plantas em casos de infestação pesada. Além disso, esses danos podem contribuir para a infecção das plantas por fungos fitopatogênicos dos gêneros Pythium, Botrytis, Verticillium, Fusarium, Thielaviopsis, Cylindrocladium e Sclerotinia. Até 1966, esta mosca não era considerada praga nos EUA, sendo sua presença apenas inconveniente. Atualmente, é uma praga mundial e no Brasil, nos últimos anos, tornou-se uma importante praga, sendo disseminada de Norte a Sul e desconhecida pela grande maioria dos viveiristas e produtores em estufas. Estima-se que existem no país mais de 15.000 estufas com mudas de plantas, as quais podem estar infestadas com o inseto fungus gnat. Não existe nenhum inseticida registrado para o controle desse inseto no Brasil. Nos

EUA, Europa e outros países, um método bastante conhecido e utilizado com eficiência é o controle biológico por meio do nematóide Steinernema feltiae. O ambiente úmido e sombreado predominante em áreas de propagação de mudas favorece o nematóide que ataca tanto a larva como a pupa do inseto, proporcionado níveis de controle acima de 90%. Com duas aplicações do bioinseticida é possível manter a população do inseto sob controle sem inconvenientes para o meio ambiente e a saúde humana. O IB e a empresa Bio Controle entraram com um pedido de importação de isolados de S. feltiae provenientes dos EUA e espera iniciar a produção industrial e comercialização desse nematóide já no próximo ano.

CIGARRINHA DA RAIZ DA CANA-DE-AÇÚCAR A cigarrinha da raiz, Mahanarva fimbriolata (Hemiptera: Cercopidae) é a principal praga da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, infestando cerca de 300.000 hectares da cultura. Esse inseto tornou-se uma importante praga da cana-de-açúcar, a partir de 1995, com a introdução da colheita mecânica que deixa uma espessa cobertura foliar sobre o solo, proporcionando um ambiente ideal para o desenvolvimento das ninfas que sugam a raiz e podem reduzir a produção de açúcar em torno de 40%.

Na cana, Heterorhabditis spp. demonstra 56% de controle da cigarrinha da raiz, mantendo a população da praga estável por até 82 dias

FUNGUS GNAT Fungus gnat são moscas pequenas do gênero Bradysia (Diptera: Sciaridae), consideradas importantes pragas em cultivos de cogumelos e viveiros de mudas, atacando citros, fumo, ornamentais e diversas outras plantas de importância econômica. As larvas do inseto alimentam-se de fungos, algas e matéria orgânica em decomposição, vivendo em ambientes úmidos e escuros. Todavia, quando se estabelecem, as larvas passam a se alimentar das raízes das plantas, principalmente as raízes mais finas, com túneis nas

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SAÍDA TAMBÉM PARA A AVICULTURA

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Brasil é o maior produtor de frango, com uma produção anual de 3,7 bilhões de aves. Para essa produção, existem no país cerca de 200.000 galpões de frango de corte, os quais podem estar infestados com o inseto Alphitobius diaperinus (Coleoptera: Tenebrionidae), conhecido popularmente por cascudinho. Esse inseto é uma das principais pragas da avicultura moderna, sendo encontrado colonizando o substrato utilizado nas granjas avícolas, especialmente embaixo dos comedouros onde se alimentam da ração derrubada pelas aves. Os prejuízos provocados à avicultura decorrem do fato dos insetos afetarem o desenvolvimento inicial das aves, pois são ingeridos pelas mesmas em grande quantidade no lugar da ração balanceada. Além disso, causam ferimentos no trato digestivo das aves, podendo ainda transmiti-las bactérias, vírus, fungos, protozoários e platelmintos parasitos.

O controle químico desse inseto, além de causar inconvenientes ao meio ambiente e à saúde humana, não tem apresentado resultados satisfatórios. O comportamento do inseto de colonizar a serragem, agregando-se embaixo dos comedouros, sugere a possibilidade do uso do controle biológico por meio de nematóides entomopatogênicos. Em testes realizados dentro de galpões de frango de corte, em Itatiba (SP), aplicando o nematóide Heterorhabditis sp. (CB-n5) embaixo dos comedouros, com auxílio de regador, na dosagem de 40 Juvenis infectivos/cm2, foram obtidos 100% de controle de larvas e 90% de adultos 12 dias após a aplicação. A umidade gerada no local tratado foi preservada em decorrência da cobertura formada pelo comedouro apoiado sobre serragem, o que favoreceu a atuação do nematóide. Além disso, a constante tentativa do inseto de colonizar o local tratado permitiu uma constante reciclagem do nematóide nesse ambiente.

Fotos Luis Leite

No controle desse inseto, tem sido utilizados inseticidas químicos com conse-qüências indesejáveis ao meio ambiente e estudado o fungo Metarhizium anisopliae com resultados dependentes das condições ambientais. Nematóides entomopatogênicos dos gêneros Steinernema e Heterorhabditis têm sido mencionados desde 1984 como agentes promissores para o controle desse inseto devido ao seu comportamento de busca do hospedeiro no solo e de sua capacidade para matá-lo rapidamente. O IB vem realizando diversos testes de campo com o nematóide Heterorhabditis sp. para o controle da cigarrinha da raiz e os resultados têm demonstrado uma redução na população do inseto com níveis de controle variáveis de 50 a 70% na maioria das avaliações. Em um dos ensaios, o nematóide (1 x 108 juvenis infectivos/ha) foi comparado com o inseticida Actara (1 kg/ ha) e com o fungo Metarhizium anisopliae (3 kg de arroz + fungo/ha), ambos usados no controle do inseto, tendo o inseticida proporcionado 67% de controle, o nematóide 56% e o fungo 44%. Outro estudo demonstrou que o nematóide pode ser aplicado sobre a palhada cobrindo o solo, na dosagem de 1 x 108 juvenis infectivos/ha, e que mantém a população do inseto dentro da faixa de 5 a 10 ninfas/m por até 82 dias. Portanto, outro aspecto positivo é a persistência do nema-

tóide no ambiente, podendo combater outras pragas de solo da cana-de-açúcar como larvas de Migdolus fryanus, larvas de escarabeídeos e a broca do rizoma, Sphenophorus levis.

OUTROS INSETOS PRAGAS

Pó molhável, que permite a preservação dos microrganismos, deve ser a formulação do bioinseticida previsto para 2005

Nematóides entomopatogênicos têm demonstrado potencial de uso para o controle de diversas outras pragas como a broca da raiz da cana-de-açúcar, M. fryanus, broca do rizoma da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis, larvas de escarabeídeos, percevejo castanho, Scaptocoris spp., broca da bananeira, Cosmopolites sordidus, curculi-

onídeos da raiz do citros, Naupactus sp., bicho furão do citros, Ecdytolopha aurantiana, cigarra do cafeereiro, Quesada sp., gorgulho da goiabeira, Conotrachelus sp., e outras. A possibilidade de uso de nematóides no Brasil está diretamente ligada à disponibilidade desses agentes no mercado, ressaltando a necessidade de implantação de biofábricas para a produção coC mercial. Luís Garrigós Leite, Laerte Antônio Machado e Carmen Maria Ambrós Ginarte, Instituto Biológico/CEIB

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