Cultivar 70

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Cultivar Grandes Culturas • Ano VI • Nº 70 • Fevereiro 2005 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

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Foto Capa / Marco A. Lucini

Ainda sem controle Um dos principais cuidados para evitar a mancha de fusarium é no momento de implantar a lavoura

20 Arroz sob ataque Lavouras de arroz do Rio Grande do Sul enfrentam violento ataque de lagartas em consequência da seca

Nossos cadernos

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Fotos de Capa

Acelerando o Processo Saiba como é possível aumentar a produtividade da cana através do uso de reguladores de crescimento

Charles Echer

Case

32 Salvando a safra Monitoramento eficaz dos produtores tem garantido eficiência no controle da ferrugem asiática

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL

Direção 3028.4013 • REDAÇÃO: Newton Peter Schubert 3028.4002 K. Peter / 3028.4003 • MARKETING:

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www.cultivar.inf.br 3028.4001 cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Índice

• Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Marketing: 3028.2065

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Produção de mudas de café

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Manejo da fusariose

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Pedro Batistin

Uso de fungicidas e antibióticos no algodão 12

Sedeli Feijó Silvia Primeira

COMERCIAL

Nematóide das lesões do algodoeiro

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Invasão de lagartas em arroz irrigado

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CIRCULAÇÃO

Ácaros ameaçam produção de arroz irrigado 24

Cibele Oliveira da Costa

Uso de maturadores em cana-de-açúcar

• Gerente

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• Assinaturas

Monitoramento garante controle da ferrugem 32

Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes

Prejuízos causados pela pirataria de sementes 36 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

• Coordenador de Redação

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Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000

• Editor

Charles Ricardo Echer

Diretas

Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

REDAÇÃO

Negócios

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Coluna Aenda

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Informe Jurídico

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Agronegócios

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Mercado Agrícola

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• Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas

Chefe-Geral O chefe-geral da Embrapa Rondônia assume a Embrapa Amapá. Newton de Lucena, 45 anos, é natural de Campina Grande (PB) e formado em engenharia agronômica e zootecnia pela Universidade Federal do mesmo Newton de Lucena estado. Já atuou como pesquisador na Embrapa Amapá, Embrapa Acre, Embrapa Cerrados, Brasília (DF) e Embrapa Rondônia.

Teatro A FMC Agricultural Products, mostrou, além das novidades de sua linha de produtos nos campos demonstrativos, a peça de teatro Plantando o 7o no Show Rural Coopavel, realizado de 31 de janeiro a 04 de fevereiro, em Cascavel (PR). A peça é educacional, criada exclusivamente para o homem do campo e seus filhos e tem como objetivo ensinar a importância dos sete hábitos de atuação responsável.

Mapa O atual presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Mato Grosso do Sul (OCB/MS), o eng. agro. Márcio Portocarrero, é o novo secretário de Apoio Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O dirigente substitui o também cooperativista Manoel Valdemiro da Rocha. “É uma honra trabalhar junto com o ministro Roberto Rodrigues e ajudar o agronegócio”, afirmou Portocarrero duranMárcio Portocarrero te a solenidade de posse.

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Eventos De 4 de fevereiro a 10 de dezembro de 2005 será realizado o 7° curso de especialização em manejo do solo, promovido pelo Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ/USP e Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – FEALQ, em Piracicaba (SP). Informações: (19) 3417-6604 ou cdt@fealq.org.br.

Ajuda à Ásia A Syngenta ajuda as vítimas da tsunami no Oceano Índico, doando inicialmente US$ 100 mil para entidades de ajuda na Indonésia, Índia, Sri Lanka e Tailândia. Além disso, a Syngenta ainda vai fornecer 10 mil kits de segurança com luvas e máscaras para a Cruz Vermelha e inseticidas específicos para reduzir o risco de disseminação da dengue nas regiões afetadas.

Parceria A Sementes Agromen, de Orlândia (SP), negociou parceria com multinacional de agroquímicos para tratar seus produtos ainda no beneficiamento. Através da parceria entre a Agromen e a Syngenta, o produtor de milho terá à sua disposição as sementes já tratadas com o inseticida Cruiser 700 WS oferecendo maior segurança para uma melhor germinação da cultura, maior arranque inicial e stand mais uniforme.

Novo Reitor Em 12 de janeiro o professor César Borges assumiu a reitoria da Universidade Federal de Pelotas. Eleito com mais de dois mil votos, Borges assume o cargo pela segunda vez na mesma instituição. O reitor se comprometeu em ampliar a oferta de vagas, investir na formação de professores e avançar em busca de uma universidade binacional. César Borges

Mudanças Jose de Paulo Fabretti é o mais novo integrante da equipe da Sumitomo Chemical do Brasil. Na casa nova, Fabretti é Diretor da área de Proteção de Plantas e Saúde Publica no Brasil.

Jose de Paulo Fabretti

Milho Nos dias 16, 17e 18 de fevereiro será realizado o 13° encontro técnico de milho e soja na Fazenda Boa Fé Ma Shou Tao, em Conquista (MG). O evento reunirá palestras e as últimas novidades em tecnologias agrícolas, máquinas, equipamentos e insumos. Informações: (34) 3336-4544 ou etms@sementesboafe.com.br

Nova casa Léo Togashi assumiu recentemente o cargo de Coordenador de Propaganda e Promoção da Basf.

Léo Togashi

Inovando sempre

Doação

A Sol Fertilizantes confirmou presença na Expodireto 2005 onde apresetará seu portifólio aos visitantes do evento. “A redução de custos e o aumento de produtividade são itens fundamentais para a sobrevivência na agricultura moderna, e a Sol Fertilizantes não poderia ficar de fora dessas inovações”, garante Gilberto Medeiros, RTV Passo Fundo (RS).

Monsanto doa duas variedades de soja Roundup Ready (RR) à Fundacep, Cruz Alta (RS), desenvolvidas especificamente para o estado e também doará 1% do valor arrecadado com indenizações para novas pesquisas da fundação. “Os agricultores gaúchos poderão, em breve, ter acesso a variedades já registradas no Ministério da Agricultura e desenvolvidas especificamente para o RS”, afirmou José Carlos Carramate, gerente de Negócios de Soja da Monsanto do Brasil.

José Carramate

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Café Fotos Fábio Luís Partelli

Propagação vegetativa

O

Brasil é o maior produtor mundial de café, desde meados do século 19. A previsão de safra para ano agrícola 2004/2005 é de 38,3 milhões de sacas beneficiadas de 60 kg (Conab, 2004), tendo movimentado em 2003 mais de US$ 1,5 bilhões em exportações (IEA, 2004). Aliado a isso, o café possibilita direta e indiretamente a geração de mais de 8 milhões de postos de trabalho (Coelho, 2002). Normalmente, as mudas de café arábica são produzidas a partir de sementes provenientes de cafezais altamente produtivos, de linhagens selecionadas, as quais produzem sementes que podem reproduzir plantas com características agronômicas semelhantes às plantas matrizes (Carvalho e Fazuoli, 1993). Todavia, o cruzamento entre parentais contrastantes produz híbridos F1 portadores de alelos dominantes, muitos deles em heterose nos diferentes locos. Os trabalhos de melhoramentos genéticos convencionais conduzem à hibridação, seguida pela condução dos descendentes segregantes pelo método genealógico até que sejam obtidas as linhagens homozigotas (Ribeiro et al., 1999), entretanto, por ser uma planta de ciclo vegetativo longo, o tempo para o lançamento de uma nova variedade pode se estender por mais de 20 anos (Campos et al., 1999). O café conilon é uma planta alógama por autoincompatibilidade do tipo gametofítica, pela existência de uma série de alelos denominados fatores “S”, que controlam as relações

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Manter as características genéticas da planta-mãe, além de poder trabalhar resistência das plantas através das técnicas de enxertia, são algumas das vantagens da reprodução vegetativa do cafeeiro

entre o tubo polínico e o estígma (Carvalho e Fazuoli, 1993). Ao se utilizar sementes de cafeeiros conilon para formação de mudas, a futura lavoura apresentará muitas variações entre as plantas, não reproduzindo as características agronômicas desejáveis da planta matriz. Isso porque as plantas que fornecem os grãos de pólen, que se encontram espalhadas na região, podem não apresentar as mesmas qualidades das plantas matrizes. Desta forma, a propagação vegetativa é uma ótima alternativa, pois mantém as características genéticas da planta matriz. Deve-se destacar que as técnicas de propagação vegetativa justificam-se para o café arábica e para o conilon, pois permitem: 1) Substituir o sistema radicular de cafés arábicas, que apresentam suscetibilidade à nematóides, por porta-enxerto resistente ao Meloidogyne exigua e M. incognita, como o cultivar C. canephora cv Apoatã (Carvalho e Fazuoli, 1993); 2) Propagar híbridos de café arábica sem perder as características desejáveis, em qual-

quer fase dos trabalhos de melhoramento. Essas populações podem ser propagadas vegetativamente sem perderem seu patrimônio genético, pois a autofecundação leva à homozigose. (Ribeiro et al., 1999); 3) Utilizar porta-enxertos de espécies com sistema radicular mais desenvolvido, facultando maior “performance” das plantas enxertadas, aumentando a capacidade de absorção de água e de nutrientes, de modo a atender à demanda da parte aérea, principalmente na época seca, proporcionando maiores taxas de trocas gasosas, maior ganho em carboidratos e, conseqüentemente, maior produtividade (Fahl et al., 1999); 4) Obter um grande número de mudas em curto espaço de tempo através da micropropagação, principalmente quando há poucas plantas matrizes de qualidades superiores a serem multiplicadas (Campos et al., 1999); 5) Uniformizar “talhões” ou linhas de plantios com materiais de maturação diferenciada (precoce, médio, tardio e super-tardio), ou com outras características superiores e desejáveis; 6) Obter maiores produtividades iniciais em cafeeiro conilon, ao utilizar mudas provenientes de estacas, pois estas apresentam plantas com maior produtividade, em compara-

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ção com as plantas oriundas de sementes (Tabela 1) (Partelli et al., 2004). Uma explicação seria que em plantas novas, produzidas por sementes, as gemas cabeça da série, formadoras de ramos plagiotrópicos (laterais) no eixo ortotrópico (broto ou galho), começam a serem formadas a partir do 60 ao 100 nó (Rena e Maestri, 1986), além de as plantas produzidas por estacas já terem passado pelo período de juvenilidade. Vários são os tipos de técnicas de propagação vegetativa que podem ser realizadas em café, destacando-se: estaquia, enxertia hipocotiledonar e micropropagação.

ESTAQUIA A estaquia é o método de propagação assexuada mais utilizado em plantas de café, sobretudo para o conilon, com taxa de pegamento superior a 90%, sendo que no café arábica essa técnica tem apresentado problemas de pegamento e desenvolvimento das mudas. As estacas de café conilon devem ser provenientes de plantas selecionadas, com caracteres desejáveis, tais como elevada produtividade, bom vigor vegetativo, tamanho médio a graúdo dos grãos e tolerância a seca, doenças e pragas. Os ramos utilizados para produção de mudas são os ortotrópicos, que surgem espontaneamente nos ramos principais. As brotações ortotrópicas originam em maior número em plantas submetidas a podas ou arqueamento (vergamento) do ápice ortotrópico, pois ocasionam quebra da dominância apical (Rena e Maestri, 1986), o que pode proporcionar formação de aproximadamente 120 estacas por planta matriz. A coleta dos ramos ortotrópicos é feita manualmente ou por intermédio de uma tesoura de poda. A seguir, estes ramos devem ser transferidos para um local fresco e som-

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Tabela 1 - Produtividade de café conilon na primeira (17 meses), segunda (29 meses), terceira (41 meses) e quarta (53 meses) colheitas, em plantas provenientes de sementes e de estacas.

Tratamentos Estacas Sementes CV (%)

Produção (Sacas beneficiadas/ha de 60 kg) nas quatro colheitas Primeira Segunda Terceira Quarta 6,88 a 90,47 a 26,72 a 51,41a 1,25 b 52,81 b 20,78 a 38,57b 50,15 16,92 35,26 26,23

Médias seguidas pelas mesmas letras, não diferem entre si pelo teste de F, em nível de 5%

breado, onde são preparados, eliminando-se inicialmente os ramos plagiotrópicos, por meio de uma tesoura de poda. Depois se cortam as metades de cada uma das duas folhas de cada nó, utilizando-se uma tesoura de costura. Estas estacas pré-preparadas podem ser armazenas em caixas de isopor por ate 120 horas, sem prejudicar sua qualidade (Partelli et al., 2001), caso haja necessidade de realização de transporte destas estacas a longas distancias. Posteriormente, faz-se a individualização das estacas, cortando-se em bisel o entrenó basal da estaca, deixando-o com um comprimento de 3 a 4 cm, sendo que o comprimento total da estaca deve ser de 5 a 6 cm. Já o corte superior da estaca deve ser de aproximadamente 1 cm acima da intercessão dos ramos laterais. Antes do plantio no viveiro, as estacas devem ser esterilizadas com fungicida específico. Devido à boa percentagem de estacas enraizadas em café conilon, não se faz necessário o uso de reguladores de crescimento para favorecer o enraizamento (Partelli e Amaral, 1999). Seguindo-se, as estacas são colocadas em sacos plásticos de polietileno, contendo substratos apropriados, acondicionados em viveiro de micro-aspersão automática, provido de sombrite, capaz de reduzir em 50% a incidência da luz solar. Estando as estacas plantadas, deve-se fazer um acompanhamento da umidade relativa do ar e do solo, controlando o automático do conjunto de micro-aspersão, de modo a manter nos primeiros dias as folhas das estacas sempre molhadas, mas sem encharcar o substrato contido nos recipientes. A irrigação vai depender da idade das mudas, da época do ano, hora do dia, temperatura, precipitação pluviométrica, e outros. A experiência do viveirista e o sistema de micro-aspersão vão determinar o melhor turno e o tempo de rega. O controle fitossanitário deve ser realizado quando necessário, com utilização de produtos específicos e o viveiro e recipientes devem ser mantidos livres de ervas daninhas. Devem ser realizadas adubações foliares com macro e micro nutrientes a partir dos 40 dias de idade das mudas. A partir do 4o mês, dependendo da esta-

Passos básicos da técnica de propagação vegetativa

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H

á em torno de 66 espécies do gênero Coffea conhecidas no mundo, dentre elas as de importância econômica são o C. arabica L. (café arábica), espécie tetraplóide (4 n = 44 cromossomas) e o C. canephora Pierre (café conilon), espécie diplóide (2 n = 22 cromossomas). Dentre as espécies de café, apenas o arábica é autógama (autofecundação), enquanto que as demais espécies são alógamas (fecundação cruzada) (Mendes, 1999).

Fotos Fábio Luís Partelli

GENÉTICA

A enxertia permite que se use portaenxertos de maior performance, que garantem a resistência à pragas

extremidade cortada do hipocótilo. Logo após a realização das incisões, encaixa-se o enxerto na incisão do porta-enxerto, e enrola-se uma fita plástica apropriada, iniciando-se de baixo para cima, e no sentido ascendente, envolvendo toda a região da enxertia. As mudas devem ser mantidas em água após operação, ou plantadas imediatamente em locais e em substratos apropriados, como viveiros com micro-aspersão automática, que proporcionem um ambiente com alta umidade relativa do ar. As fitas plásticas devem ser retiradas após 25 a 30 dias da enxertia, e as mudas podem ser acondicionadas em viveiros comuns, pois estão mais resistentes. As mudas devem passar pela aclimatação da mesma forma que as mudas propagadas por estacas. O rendimento médio da técnica de enxertia hipocotiledonar e de mais ou menos 400 unidades.dia-1.homem-1.

ção do ano, faz-se a primeira seleção de mudas, separando-se as mudas em lotes por tamanhos diferentes, remanejando-as de modo a ficarem próximas entre si às mudas de tamanhos uniformes. Posteriormente, procedese a transferência das mudas maiores para o viveiro de aclimatação em plena luz solar, onde permanece por aproximadamente 30 dias, época em que as plantas estarão em média com quatro a cinco pares de folhas, aptas para o plantio. A enxertia hipocotiledonar é um processo de garfagem do tipo fenda completa, e tem sido realizada, principalmente, para substituir o sistema radicular de cafeeiros arábicas susceptíveis a nematóides, utilizando como porta enxerto de C. canephora cv Apoatã (Matiello et al., 2000), Devido às mudas de café conilon apresentarem diâmetro menor, devem ser semeadas 10 a 15 dias antes das sementes do café arábica, para que os diâmetros dos hipocótilos sejam semelhantes no momento da enxertia. Após a germinação das sementes, quando as mudas estiverem no estádio de palito-de-fósforo ou de orelha-de-onça, retiram-se as mudas, para as operações de enxertia, e coloca-as em recipientes com água ou solução diluída de sulfato de cálcio. A seguir, apanha-se o porta enxerto (“cavalo”), eliminando-se a extremidade da raiz, bem como a parte superior do hipocótilo a cerca de 5 cm acima da inserção do sistema radicular, e faz-se uma incisão longitudinal de aproximadamente 1 cm de extensão no centro do hipocótilo, a partir da extremidade cortada. O enxerto (“cavaleiro”) é preparado cortando-se o hipocótilo, no sentido transversal, a cerca de 3 cm do ápice, descartando-se os tecidos do hipocótilo abaixo da incisão. Em seguida se faz um corte em chanfradura de 1 cm de comprimento em ambos os lados da

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Cultivar

ENXERTIA HIPOCOTILEDONAR

A utilização de um sistema radicular mais desenvolvido pode refletir em maior produtividade

Partelli mostra como propagar híbridos de arábica sem perder características desejáveis

MICROPROPAGAÇÃO A micropropagação ou propagação vegetativa “in vitro” permite a obtenção de um grande número de plantas em um curto intervalo de tempo (Alves et al., 1999), conservar germoplasma, obter novas combinações genéticas e variantes somáticos com o objetivo de melhorar as plantas, visando conseguir formas genéticas mais produtoras e tolerantes a fatores adversos que afetam as plantas. Permite ainda a obtenção de material asséptico para fins de investigação genética, fisiológica, patológica, bioquímica e biológica (Ramirez e Cataño, 1986). Para o cafeeiro as formas de micropropagação mais difundidas são a embriogênese somática e o cultivo de meristemas, não deixando de serem usados também o cultivo de anteras, cultivo de embriões e trabalhos com protoplastos. A embriogênese somática pode ser definida como o processo de desenvolvimento de embriões a partir de células somáticas. Citase a embriogênese somática direta e indireta, formando-se diretamente a partir de tecidos ou passando por calos, respectivamente. Em ambos os casos o embrião somático segue a mesma seqüência de desenvolvimento do embrião zigótico, ou seja, a passagem pelos estádios globular, cordiforme e torpedo, seguido pela formação da muda (Schultheis et al., 1990). Na cultura de tecidos, os ápices caulinares, as gemas axilares e os meristemas isolados são os explantes mais indicados para a propagação clonal “in vitro”, por possuírem boas condições para o crescimento vegetativo e tornarem-se mudas. Os explantes preferidos são os brotos ortotrópicos, permitindo uma multiplicação rápida das plantas (GrattapaC glia e Machado, 1990). Fábio Luiz Partelli, UENF José Augusto T. do Amaral, UFES

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Algodão

Andréia Q. Machado

Ainda sem controle A murcha de fusarium, sério problema para as principais regiões produtoras de algodão, precisa de cuidados no momento de implantar a lavoura, já que ainda não existem produtos para tratamento da doença

A

tualmente, o cerrado brasileiro consolidou-se como o maior produtor de algodão do Brasil devido à implantação da colheita mecanizada, a maior utilização de reguladores de crescimento, o uso do sistema de plantio direto, e o investimento em qualidade de fibra. A utilização destas altas tecnologias incentivou o cultivo de algodão em extensas áreas no cerrado, proporcionando o aumento de intensidade e o aparecimento de novas doenças, trazendo, portanto, grandes desafios à produção. Dentre as doenças que atacam o algodoeiro destaca-se a murcha de fusarium ou fusariose, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum (Atk.) Snyder & Hansen. A murcha de fusarium já foi constatada nas principais regiões produtoras de algodão da Ásia, África e América. No Brasil, esta doença foi constatada pela primeira vez no Nordeste e, atualmente, sua ocorrência constitui uma ameaça geral em todas as regiões produtoras de algodão, principalmente no cerrado. No estado do Mato Grosso, safra 2002/2003 e 2003/2004, a fusariose foi detectada em diversas lavouras, tornando-se alvo de pre-

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ocupação de produtores, técnicos e profissionais da área, pois, além de causar queda acentuada na produção, pode afetar a qualidade ou características tecnológicas da fibra do algodoeiro, como comprimento, uniformidade, finura e resistência.

tura reduzida, as folhas menores e os capulhos apresentando menor tamanho e peso. A infecção inicial da fusariose ocorre quando o patógeno penetra por raízes secundárias e coloniza o xilema, causando a obstrução devido à presença intensa de micélio, esporos do fungo, polissacarídeos, géis e tiloses. Em função desta obstrução, o fluxo de

SINTOMAS Na lavoura, os sintomas desta doença se manifestam em qualquer idade da planta e variam de acordo com a variedade cultivada e as condições climáticas e podem, também, apresentar diferentes graus de resistência e/ ou suscetibilidade à doença. Em plântulas suscetíveis, primeiramente observa-se o amarelecimento e escurecimento das folhas cotiledonares a partir das bordas. Estas folhas secam e morrem, causando a murcha propriamente dita e a morte da planta. As folhas das plantas adultas afetadas apresentam, inicialmente, clorose em áreas irregulares da superfície foliar e, posteriormente, necrose, murchamento e queda das folhas, principalmente do baixeiro, causando conseqüentemente, a morte ou a redução do porte da planta. Em geral, as plantas infectadas com a murcha de fusarium apresentam um desenvolvimento mais lento, ficando com a al-

Chitarra aborda as principais medidas de manejo e combate à murcha de fusarium

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Fotos Vanderlei Dias Guerra

SOBREVIVÊNCIA E DISSEMINAÇÃO

F

usarium oxysporum f. sp. vasinfectum é um fungo habitante natural do solo, patogênico à cultura do algodoeiro, que sobrevive na semente, no solo, em restos de cultura e em outras espécies de plantas hospedeiras como quiabeiro, alfafa, soja e fumo. Pode permanecer por um longo período de tempo no solo devido a sua capacidade de produzir esporos de resistências ou clamidosporos, o que torna o controle altamente difícil, podendo causar sérios danos à cultura. Este fungo pode ser transportado água e nutrientes ascendentes é interrompido, e os sintomas de murcha são observados na parte aérea. O diagnóstico da murcha de fusarium é realizado através do sintoma mais característico desta doença, e que pode ser observado em cortes transversais do caule ou da raíz, os quais apresentam um escurecimento dos feixes vasculares decorrente da oxidação e polimerização de compostos fenólicos. Dentre as condições que favorecem o desenvolvimento da murcha de fusarium podem ser citadas os solos arenosos, úmidos, com acidez elevada e baixo teor de potássio. A severidade da murcha de fusarium tende a ser maior quando associada a nematóides, principalmente dos gêneros Meloidogyne, Pratylenchus e Rotylenchulus. Os nematóides, além de facilitarem a penetração do fungo através da abertura de ferimentos nas raízes, debilitam a planta, tornado-a predisposta ao desenvolvimento da doença.

CONTROLE / MANEJO As principais medidas de controle a serem adotadas para esta doença são: 1) O uso de sementes livres do patóge-

tanto internamente como externamente pela semente e o principal meio de disseminação do patógeno a longas distâncias é através de sementes infectadas. Dentro de uma mesma área, a disseminação ocorre por meio de partículas de solo contaminado que são arrastadas pelas águas das chuvas ou irrigação, pelo vento, ou pelo trânsito constante de implementos agrícolas, levando as partículas de solo das áreas infectadas para as áreas livres do patógeno, aumentando as reboleiras características com plantas doentes. no. Não utilizar, para o plantio, sementes provenientes de campos de produção afetados com a doença. Na compra de um lote de sementes, os produtores devem solicitar o teste de sanidade pois, somente assim, os produtores podem certificar se estão adquirindo ou não sementes de boa qualidade fitossanitária; 2) É fundamental que as sementes sejam tratadas com fungicidas, e este tratamento deve ser realizado com produtos registrados junto ao Ministério da Agricultura, evitando, desta maneira, a introdução da doença em áreas livres; 3) Recomenda-se também o plantio de cultivares resistentes; 4) Aconselha-se a utilização de práticas culturais como a rotação de culturas em áreas onde o solo apresenta alta densidade de inóculo de fusarium e nematóides, pois, nestas condições, até mesmo aquelas variedades consideradas mais resistentes poderiam sofrer grandes perdas econômicas. É de extrema importância que a cultivar utilizada na rotação de culturas não seja tolerante aos nematóides patogênicos à cultura do algodoeiro, para evitar a multiplicação destes na lavoura; 5) É importante a realização de uma

Cortes no caule das plantas do algodoeiro com sintomas da doença

adubação potássica equilibrada, pois esta medida pode reduzir a quantidade de inóculo do fungo no solo; 6) Deve-se evitar o trânsito de máquinas, implementos ou qualquer dispersor de partículas de solo, de áreas infestadas para as áreas livres. A desinfecção de qualquer equipamento deverá ser feita após a sua utilização nestas áreas. Estas são as medidas imprescindíveis C no combate à murcha de fusarium. Luiz Gonzaga Chitarra, Embrapa Algodão/UEP


Algodão Comparativo de fungicidas e antibióticos mostra eficiência no controle da mancha angular do algodoeiro causada pela batéria Xantomonas

xidos. No Brasil, apenas o oxicloreto de cobre é recomendado para o controle da mancha angular do algodoeiro (Gimenes-Fernandes et al., 1998). Os antibi-

óticos disponíveis no mercado brasileiro são estreptomicina, tetraciclina e kasugamicina, isoladamente ou em misturas, mas nenhum deles é registrado

A

mancha angular do algodoeiro (Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum (Smith) Vauterin, Hoste, Kersters & Swings (1995) (Xam)), considerada de importância secundária nos últimos anos, tem preocupado seriamente agricultores, técnicos e pesquisadores pelo fato de serem freqüentes surtos mais severos da doença. A ocorrência desta bacteriose aumentou expressivamente na safra 2001/ 2002 nos estados do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, especialmente com o uso de sementes contaminadas, variedades susceptíveis e monocultivo (Cassetari Neto et al., 2002). O controle químico de doenças bacterianas é feito pelo uso de pulverizações com fungicidas à base de cobre e antibióticos. Os fungicidas à base de cobre encontram-se nas formulações comerciais sob quatro categorias: sulfatos básicos, oxicloretos, óxidos e hidró-

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Monocultivo e uso de sementes contaminadas podem ser as causas da evolução da bacteriose

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Figura 1 - Efeito do cloreto de benzalcônio (a) e ASM (b) sobre o crescimento in vitro de Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum nas concentrações: 0, 120, 240, 360 e 480 ppm

TABELA 1 – Descrição dos produtos testados no controle da mancha angular do algodoeiro Produto Marca Comercial Kasumgamicina Hokko Kasumin Oxicloreto de Cobre Cobox Cloreto de benzalcônio Fegatex Acibenzolar-S-metil Bion

Dose utilizada 500 mL /100L de água 250 g /100L de água 300 mL /100L de água 10 g /100L de água

TABELA 2 – Efeito de produtos químicos sobre o crescimento in vitro de X. axonopodis pv. malvacearum Produtos

para a cultura do algodão. Além dos fungicidas cúpricos e antibióticos, novas moléculas vêm sendo estudadas no controle de doenças bacterianas, com resultados promissores, como é o caso do acibenzolar-S-metil (ASM), o ativador de resistência melhor estudado e o primeiro produto comercial sob os nomes de Bion®, Actigardtm e Boost ® (Venâncio et al., 2000). Vários exemplos na literatura têm demonstrado o controle de bacterioses pela utilização do ASM (Bausal, Soylu e Soylu, 2003; Silva et al., 2003a; 2003b; Oostendorp et al., 2001; Castro et al.,2000; 2001; Maia et al., 2000; Silva et al., 2001a; 2001b; Romeiro et al., 1999; Jesus Júnior et al., 1999). O Fegatex® é um fungicida elaborado à base de cloretos de benzalcônio (N-Cloreto Alquil Dimetil Benzil Amônio e N-Cloreto Alquil Dimetil Etil Benzil Amônio), do grupo químico quaternários de amônio, que age por contato. Este produto tem sido estudado no controle das doenças fúngicas do cafeeiro (Guzzo et al., 1999; Chalfoun et al., 1998) e tomateiro, para o qual se tem observado também o controle de doenças bacterianas no campo. O presente trabalho teve como objetivos comparar a eficiência do ASM com os produtos kasugamicina, oxiclo-

reto de cobre e cloreto de benzalcônio sobre o crescimento in vitro de Xam e no controle preventivo da mancha angular do algodoeiro, bem como a eficiência de três aplicações destes produtos. Os experimentos foram realizados no Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras, no município de Lavras (MG). Para avaliar o efeito in vitro do ASM, oxicloreto de cobre, kasugamicina e cloreto de benzalcônio sobre Xam, foram utilizadas as seguintes concentrações dos produtos: 0, 120, 240, 360 e 480 ppm. Os produtos foram adicionados em discos de papel de filtro esterilizados com 5,5 mm de diâmetro. Em cada placa de Petri contendo meio 523, foram adicionados 5 ml de meio 523 semi-sólido fundente, contendo 100 ml da suspensão bacteriana e, posteriormente, dois discos equidistantes com os produtos a serem testados, na mesma concentração. As placas foram incubadas por 48h a 28°C. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado no esquema fatorial 4 x 5 (4 produtos x 5 concentrações), totalizando 20 tratamentos, com quatro repetições. A avaliação foi realizada medindo-se o halo de inibição do crescimento bacteriano promovido pe-

Concentrações (ppm) 0 120 240 360 480 Acibenzolar-S-metil Oxicloreto de Cobre Kasugamicina Cloreto de benzalcônio 0 b 0,84 b1 0,96 a 1,05 a 1,08 a CV (%) 6,68 Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

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los produtos. A comparação do efeito dos produtos no controle da mancha angular foi avaliada em casa-de-vegetação em dois ensaios. No primeiro ensaio, a aplicação dos tratamentos foi realizada uma única vez aos sete dias antes da inoculação de Xam. No segundo ensaio foram realizadas três pulverizações, sendo a primeira, sete dias antes da inoculação e a segunda e terceira pulverizações, sete e 21 dias após a inoculação do patógeno. Em ambos ensaios, sementes de algodão cultivar CNPA Ita 90 foram semeadas em vasos (1,5 kg) contendo a mistura de solo, areia e esterco (2:1:1) esterilizada com brometo de metila. Os produtos testados com suas respectivas dosagens estão listados na Tabela 1. A inoculação de Xam foi realizada 36 dias após o plantio, pela pulverização da face inferior das folhas com suspensão bacteriana na concentração de 109 UFC/ml. As plantas inoculadas foram mantidas por 24h antes e depois da inoculação em câmara úmida, sendo em seguida levadas para casa-de-vege-


tação. O delineamento experimental foi blocos casualizados, com cinco tratamentos e quatro repetições (seis plantas/ repetição). As avaliações foram realizadas aos 7, 14, 21 e 28 dias após a inoculação do patógeno, quando foi avaliada a severidade da mancha angular, utilizando-se a escala de avaliação de Sidhu e Webster (1977) adaptada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO No experimento in vitro, observouse que o cloreto de benzalcônio inibiu a bactéria em todas as concentrações testadas, comprovando seu efeito bactericida (Figura 1), porém o maior efeito foi observado nas dosagens superiores a 240 ppm (Tabela 2). Entretanto não houve efeito inibitório no crescimento bacteriano pelo ASM, oxicloreto de cobre e kasugamicina, mesmo nas maiores concentrações testadas (Tabela 2). Quando se comparou o efeito dos produtos no controle da mancha angular em casa-de-vegetação, em uma aplicação, verificou-se que todos os produtos reduziram a severidade da mancha angular quando comparados à testemunha (Tabela 3). No entanto, apenas o ASM e o cloreto de benzalcônio diferiTABELA 3 – Efeito comparativo entre ASM, oxicloreto de cobre, kasugamicina e cloreto de benzalcônio sobre a severidade (AACPD) da mancha angular do algodoeiro Tratamentos Acibenzolar-S-metil Cloreto de benzalcônio Oxicloreto de Cobre Kasugamicina Testemunha CV (%)

AACPD 10,46 36,45 42,55 54,74 62,04

c1 b ab ab a

Porcentagem de controle em relação à testemunha 83,14 41,25 31,42 11,77 26,27

1 Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

TABELA 4 – Efeito comparativo de 3 aplicações de ASM, oxicloreto de cobre, kasugamicina e cloreto de benzalcônio sobre a severidade (AACPD) da mancha angular do algodoeiro Tratamentos Acibenzolar-S-metil Kasugamicina Oxicloreto de Cobre Cloreto de benzalcônio Testemunha CV (%)

AACPD 39,31 62,61 76,49 77,42 86,17

b1 ab a a a

Porcentagem de controle em relação à testemunha 54,38 27,34 11,23 10,15 26,27

Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. 1

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(Da esq. para dir.) Márcio, Alessandra e Magela realizam testes comparativos avaliando a eficiência do ASM

ram significativamente da testemunha, proporcionando reduções significativas na severidade da doença. A severidade da mancha angular em plantas tratadas com ASM foi reduzida, em média, 83,14% em relação às plantas testemunha, enquanto, em plantas tratadas com cloreto de benzalcônio, a redução foi de 41,25%. As plantas tratadas com oxicloreto de cobre e kasugamicina não diferiram significativamente da testemunha, apesar de reduzirem a severidade, em média, 31,42% e 11,77%, respectivamente. Quanto ao efeito de três aplicações dos produtos testados no controle da mancha angular do algodoeiro, observou-se que apesar de todos os tratamentos reduzirem a severidade da mancha angular quando comparados à testemunha, apenas o ASM diferiu significativamente (Tabela 4). A severidade da mancha angular nas plantas tratadas com três aplicações do ASM foi reduzida, em média, 54,38% em relação às plantas testemunha. No entanto, verificou-se que, quando o ASM foi aplicado uma única vez, aos sete dias antes da inoculação, houve redução de 83,14% em relação à testemunha (Tabela 3). Resultados semelhantes foram observados em experimentos realizados com doses de manutenção do ASM no controle da mancha angular do algodoeiro, onde verificou-se que plantas onde

o ASM foi aplicado uma única vez (sete dias antes da inoculação do patógeno) apresentaram redução significativa da severidade da doença, sendo de 70% em relação às plantas não tratadas com ASM (testemunha), contra 38,36% de redução daquelas onde o ASM foi pulverizado em três aplicações (dados não publicados). Silva et al. (2003a) verificaram redução de até 70% da severidade da mancha bacteriana (X. vesicatoria) do tomateiro em relação à testemunha em plantas tratadas com ASM uma única vez, um ou três dias antes da inoculação. No entanto, quando foram realizadas três aplicações do ASM, a severidade da mancha bacteriana do tomateiro foi reduzida em média 56, 27% (Silva et al., 2003b). Isto sugere que o intervalo de aplicação do ASM deve ser maior do que 15 dias. Com três aplicações foi verificado também aumento de 27,34% na eficiência da kasugamicina, enquanto que a eficiência do oxicloreto de cobre e do cloreto de benzalcônio diminuiu 11,23% e 10,15%, respectivaC mente. Alessandra Keiko N. Ishida, Ricardo Magela de Souza e Mário Lúcio de Vilela Resende, Ufla/MG

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Algodão

Discreto mas per Comum em todo o território brasileiro, o nematóide das lesões ainda é de difícil controle por não apresentar sintomas característicos nas plantas atacadas e também pela ampla gama de hospedeiros alternativos

O

algodão é uma cultura de altorisco, muito sujeita a problemas sanitários, que são freqüentemente associados à baixa produtividade, contribuindo também para o aumento do custo de produção. Muitas das doenças importantes do algodoeiro são causadas por patógenos de solo, como os nematóides, que debilitam as plantas sem, entretanto, causar danos perceptíveis na parte aérea, sendo difícil o seu diagnóstico.

PERDAS CAUSADAS PELO NEMATÓIDE Predominam baixas populações de P. brachyurus no campo, com perdas difíceis de serem detectadas, provavelmente chegando a cerca de 10%; quando existe a associação desse nematóide com R. reniformis ou M. incognita os danos são mais facilmente percebidos. Em condições controladas, as perdas ocorrem quando o nematóide encontra-se em altas populações (Figuras 1), o que pode ser

verificado em áreas de plantio direto ou cultivo irrigado, sob seqüência de plantas suscetíveis. Esse nematóide causa danos nem sempre perceptíveis aos olhos do produtor. Os sintomas do ataque de P. brachyurus, ao contrário de Meloidogyne, não são característicos; por essa razão, essa alta freqüência com que P. brachyurus é encontrado nas áreas produtoras de algodão tem sido motivo de preocupação. No sistema radicular de plantas infestadas com P. brachyurus, observam-se longos trechos enegrecidos, causados pelo seu caminhamento no interior das raízes, o que pode ser ocasionado por vários outros grupos de patógenos . Na parte aérea verifica-se ape-

Pablo Rodrigues

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igoso nas um menor crescimento da planta, que pode ser também atribuído à deficiência nutricional. Além disso, as reboleiras causadas por P. brachyurus são bastante discretas e o sintoma típico de ataque de nematóides ao algodoeiro, a chamada folha “carijó”, não é observado. Esse quadro de subdesenvolvimento geral da parte aérea, sistema radicular deficiente e até declínio prematuro das plantas de algodão já foi denominado por Lordello (1986) de “mal-do-cipozinho”. Observações experimentais a campo mostraram não haver correlação entre baixas populações de P. brachyurus e a produção de algodão, mas, como resultados em casa de vegetação demonstraram que essa espécie é patogênica ao algodoeiro, tal quadro não deve ser considerado permanente, uma vez que seqüências de culturas suscetíveis ao nematóide podem, no futuro, levar a densidades populacionais suficientemente altas para que os danos observados em casa-de-vegetação sejam reproduzidos no campo.

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Figura 1 - Densidade populacional de Pratylenchus brachyurus

SUBSÍDIOS PARA O CONTROLE O controle de P. brachyurus é bastante difícil, pois a maioria das espécies vegetais cultivadas é hospedeira desse nematóide, o que dificulta a prática da rotação de culturas. Além disso, entre as cultivares de algodão plantadas atualmente, não há fontes de resistência, existindo alguns genótipos menos suscetíveis ao nematóide. Em estudo realizado recentemente no Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Esalq/USP, em Piracicaba (SP), foram testadas 13 cultivares, representantes das mais plantadas nas áreas algodoeiras do país (BRS Ipê, Coodetec 405, Makina, BRS Cedro, Delta Opal, IAC 24, BRS Aroeira, Delta Penta, DP 4049, São Miguel, Ita 90, Acala 90 e Fibermax 966) e os resultados mostraram que todas as cultivares testadas foram suscetíveis, embora com grande variação nos fatores de multiplicação do nematóide; sendo assim, as cultivares BRS Cedro, BRS Ipê, Makina e Ita 90 foram consideradas menos suscetíveis a P. brachyurus, uma vez que foram aquelas que menos multiplicaram o nematóide, enquanto que as cultivares DP4049 e Delta Penta permitiram os maiores fatores de multiplicação do nematóide, sendo consideradas as mais suscetíveis. Além disso, outras culturas importantes para os sistemas de produção de grãos nos principais estados produtores de algodão, tais como milho e soja, também são suscetíveis ao nematóide. Até o momento, aparentemente, também não há fontes de resistência em nenhuma dessas plantas a P. brachyurus. A opção fica a cargo das espécies utilizadas como cobertura vegetal para o sistema

plantio direto ou adubação verde. Entretanto, nem sempre tem-se cuidado em relação aos nematóides na escolha das espécies de coberturas, o que torna previsível que, em um futuro próximo, surgirão sérios problemas nessas áreas. Tal previsão não é baseada em dados experimentais, por serem raros, mas há resultados que a justificam. Sabe-se que os nematóides são tanto mais prejudiciais quanto mais intensivo o uso agrícola da terra, pois quanto mais tempo plantas suscetíveis estiverem no campo mais alimento disponível o parasito tem, sendo mais do que provável que a população dos nematóides cresça em áreas sob plantio direto, exceto se as plantas utilizadas forem resistentes. Nesse caso, duas espécies de crotalária (Crotalaria breviflora e C. spectabilis) devem ser preferidas para cultivo temporário em áreas com infestação por P. brachyurus, por não permitirem a multiplicação do nematóide e, conseqüentemente, baixarem a sua população no solo. Ao contrário, as mucunas (preta, cinza e anã) devem ser evitadas, Andressa Cristina Z. Machado

Visualização do ataque de um nematóide no interior da raíz do algodoeiro

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Fotos Andressa Cristina Z. Machado

Reboleira em lavoura de algodão, o que nem sempre é perceptível

Lesões radiculares causadas por Pratylenchus brachyurus com longos trechos enegrecidos

uma vez que são boas hospedeiras do nematóide. Quando P. brachyurus encontra-se em associação com M. incognita ou R. reniformis, o controle torna-se ainda mais difícil, pois aquele nematóide limita ou diminui a efetividade do controle por cultivares resistentes ou rotação, pois somente existe resistência para as duas últimas espécies. O controle de M. incognita geralmente é realizado através da rotação com amendoim, soja (algumas cultivares, como Conquista e Raimunda, são resistentes) e sorgo (sorgo forrageiro BRS 800 é resistente) ou através de cultivares resistentes (IAC 24, Sucupira, BRS Cedro); entretanto, nenhum desses métodos funciona para o nematóide das lesões, pois todas as plantas citadas são hospedeiras, sofrem danos e multiplicam P. brachyurus. No caso de R. reniformis, o controle pode ser feito através da rotação com soja (Monsoy 8001), sorgo e milheto, que são resistentes. Porém, essas espécies são suscetíveis a P. brachyurus. Para as espécies utilizadas como adubos verdes ou cobertura vegetal, há algumas variedades de sorgo e braquiária que são resisten-

Andressa alerta para os cuidados com a praga, enfatizando o uso da rotação de culturas

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tes a M. incognita, mas são suscetíveis a P. brachyurus. Nabo forrageiro, sorgo, aveia preta e branca, milheto e pé-de-galinha são resistentes a R. reniformis, mas suscetíveis a P. brachyurus; quinoa e amaranto granífero são resistentes a P. brachyurus, mas suscetíveis a R. reniformis. Tais fatos devem ser levados em conta na hora da escolha da cobertura a ser utilizada, uma vez que infestações mistas de M. incognita/ P. brachyurus e de R. reniformis/ P. brachyurus são muito comuns em áreas produtoras de algodão. Geralmente, opta-se pelo controle de M. incognita ou R. renirfomis, pelo seu maior potencial de danos à cultura, mas o controle desses nematóides certamente aumentará a população de P. brachyurus na área, o que potencialmente ocasionará danos à cul-

tura subseqüente. O uso de nematicidas é pouco recomendado, a não ser que sejam utilizados para o controle das pragas iniciais da cultura, já que também são inseticidas, ou então quando o alvo do controle seja outra espécie de nematóide mais importante, como M. incognita, quando os custos de sua aplicação podem ser justificáveis. Como visto, P. brachyurus, além de ser o nematóide mais disseminado na cultura do algodão, ainda é o de mais difícil controle, seja pela ausência de cultivares resistentes ou pela ampla gama de plantas hospedeiras. Os danos causados pelo nematóide das lesões ainda são pouco pronunciados, mas a sucessão de cultivos suscetíveis acabará por aumentar sua população no campo, trazendo sérias conseC qüências num futuro próximo. Andressa Cristina Z. Machado, Esalq/USP

PERDAS POR NEMATÓIDES

A

s perdas causadas por nematóides em algodoeiro são crescentes, chegando de 20 a 50% em áreas infestadas pelo nematóide reniforme (Rotylenchulus reniformis – presente em cerca de 20% dos algodoais de Mato Grosso do Sul) e pelo nematóide de galhas (Meloidogyne incognita – 10 a 25% dos algodoais de Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia). Das três espécies que são patógenos de algodão, o nematóide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) é o mais comum no Brasil, mas há poucos subsídios para se recomendar o controle. Em levantamento realizado em 2002,

em 18 municípios do estado do Mato Grosso, representando mais de 20 mil ha, M. incognita estava presente em apenas 4% das amostras, enquanto que P. brachyurus apresentou uma freqüência de 94% (Silva et al., 2003). No estado do Mato Grosso do Sul, situação semelhante é encontrada (29, 19 e 59% de freqüência de M. incognita, R. reniformis e P. brachyurus, respectivamente, em 104 amostras) (Comunello & Asmus, 2003). Também em Goiás, de um total de 237 amostras de solo e de raízes, verificou-se P. brachyurus em todos os 10 municípios amostrados e em 187 das amostras (79%) (Gielfi et al., 2003).

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Arroz

Lavoura sob ataque Lavouras de arroz irrigado no Rio Grande do Sul enfrentam violento ataque de lagartas, atribuído principalmente ao período de estiagem e ao desequilíbrio biológico

N

os últimos quatro períodos, vem aumentando a incidência de lagartas no RS. Os danos são causados após a emergência das plantas ou no estágio reprodutivo. Dentre os fatores apontados para esse aumento podem ser citados: condições climáticas favoráveis, como períodos secos, e o desequilíbrio biológico, pela eliminação dos inimigos naturais. As espécies de insetos são consideradas pragas quando os níveis populacionais existentes causam danos, provocando redução no rendimento de grãos, sendo necessário a adoção de medidas de controle. A escolha correta dos métodos de controle depende do conhecimento do inseto-praga, época de ocorrência e níveis de dano. Este trabalho tem a finalidade de passar informações sobre as principais espécies, sua biologia, hábitos, danos e manejo.

LAGARTAS Lagarta-da-folha Nas últimas safras, a ocorrência desta lagarta tem sido constatada em todo o estado, porém as maiores infestações foram nas regiões da Depressão Central, Fronteira Oeste e Campanha. O adulto de Spodoptera frugiperda (Lepidoptera, Noctuidae) é uma mariposa com cerca de 35mm de envergadura, de coloração pardo-escura nas asas anteriores e branco-acinzentadas nas posteriores. As posturas são realizadas nas folhas agrupadas, podendo uma fêmea colocar mil ovos. O período de incubação dos ovos é de aproximadamente três dias. As lagartas recém-eclodidas são esbranquiçadas ou esverdeadas, com o corpo coberto de pêlos. No último instar tem o corpo marrom-acinzentado no dorso, esverdeado na parte central e subventral, sendo que essa

última parte apresenta manchas de coloração marrom-avermelhada. As lagartas alimentam-se principalmente à noite ou em dias nublados; em períodos secos abrigam-se sob torrões, sendo confundidas com a lagarta-rosca, Agrotis ipsilon. As crisálidas são de coloração alaranjada a marrom. Os maiores danos são provocados pelas lagartas ao atacarem as plantas na fase inicial da cultura, antes da irrigação, alimentando-se das folhas, podendo destruir a plântula. Em anos de baixas precipitações podem causar a morte das plantas, reduzindo o estande. Essas lagartas também podem atacar as plantas próximo à fase de emissão da panícula. A cada lagarta do 3º instar em diante, encontrada por m², pode ocorrer redução de 1% no rendimento de grãos.

Cultivar

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José F. da Silva Martins

Lagarta-preta A lagarta-preta Spodoptera latifascia (Lepidoptera, Noctuidae), nos quatro últimos anos agrícolas, tem ocorrido principalmente na região da Depressão Central e também na Fronteira Oeste. Os adultos são mariposas com 40mm de envergadura, apresentando coloração escura com desenho branco nas asas anteriores, sendo as asas posteriores brancas. As lagartas medem 40mm de comprimento, apresentam coloração preta sobre o dorso e duas manchas claras nas laterais, transformam-se em crisálidas no solo. Esta espécie ocorre na fase inicial, após a emergência e também na fase reprodutiva das plantas, sendo que as lagartas durante o dia estão localizadas na parte inferior das plantas, dificultando o seu controle. Lagarta-boiadeira Esta espécie vem sendo encontrada principalmente nas regiões da Depressão Central, Litoral Norte e Sul. O adulto de Nymphula indomitalis (Lepidoptera, Crambidae) é uma mariposa pequena de 15mm de envergadura, apresentando coloração branca, com pontos escuros sobre as asas. O seu vôo é curto, não favorecendo sua dispersão. É de hábito noturno, sendo atraída pela luz. A fêmea coloca os ovos sobre as folhas. As lagartas, após a eclosão, localizam-se nas extremidades das folhas cortando-as e estas se enrolam formando um tubo, que ao cair na água flutua, ficando assim protegidas durante o dia. À noite as lagartas sobem nas plantas para se alimentar. Na fase final pode atingir 20mm de comprimento, com coloração branca ou esverdeada e a cabeça escura. Manifesta-se no período do afilhamento do arroz, em áreas da lavoura onde a lâmina de água é mais profunda, atacando as plantas à noite. As plantas apresentam uma coloração esbranquiçada. Nestes tubos encontram-se as lagartas, para posteriormente surgir o inseto adulto. O dano é causado pelas lagartas ao consumirem praticamente toda a área foliar, causando a morte das plantas. Não ocorre em toda a área da lavoura, geralmente a parte atacada não é superior a 20%. Lagarta-do-trigo Estas lagartas vêm ocorrendo em lavouras da Fronteira Oeste e Depressão Central, há vários anos, porém na última safra os níveis populacionais foram elevados, causando perdas. O adulto da Pseudaletia sequax e P. adultera (Lepidoptera, Noctuidae) é uma mariposa de aproximadamente 40 mm de envergadura, asa cinza-amarelada com sombreado escuro, manchas orbiculares e reniformes

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Manejo da lamina d’água pode ser passo importante no controle de pragas, em especial brocas

alaranjadas. As asas posteriores são acinzentadas. O adulto da P. adultera é uma mariposa com até 35 mm de envergadura, asa de cor pardo-acinzentada uniforme e aspecto estriado. Como característica principal, ao centro de cada asa anterior, apresenta um pequeno ponto esbranquiçado. Asas posteriores são branco-acinzentadas. As fêmeas colocam os ovos nas folhas e colmos, dispostos em filas, após oito dias, eclodem as lagartas. Os adultos vivem em torno de 14 dias, podendo uma fêmea colocar até 1.200 ovos. As lagartas apresentam estrias no sentido longitudinal, sendo as da espécie P. adultera pardo-escuras e P. sequax inicialmente verdes, podendo apresentar-se rosadas. Durante o dia as lagartas encontramse abrigadas na parte inferior das plantas, saindo à noite para se alimentar. Nos primeiros estágios as lagartas se alimentam das folhas, porém, nos últimos, preferem atacar as panículas, cortando-as parcialmente, as quais caem ao solo ou ficam presas entre as plantas. Os danos representam perdas de 7 a 20% da produção. Broca-do-colmo Está espécie tem ocorrido em lavouras da região da Campanha e Depressão Central. O adulto de Diatraea saccharalis (Lepidoptera, Pyralidae) é uma mariposa com aproximadamente 20 mm de envergadura, asas anteriores de coloração variando de amarelada a cinza e asas posteriores mais claras. São de hábitos noturnos, encontrando-se abrigados nas plantas durante o dia. A fêmea coloca os ovos com aspecto de escamas, na parte superior da planta, agrupados de cinco a 60 ovos. Uma fêmea coloca em média 300 ovos. O período de incubação é de

sete dias. Após a eclosão, as lagartas passam por cinco a seis instares para completarem o desenvolvimento. As lagartas apresentam cabeça marrom e o corpo esbranquiçado, com cerca de 30 mm de comprimento. Na parte dorsal de cada segmento do corpo saem quatro pontos escuros, nos quais ocorre um pêlo. A duração da fase de lagarta é em média 30 dias. A lagarta permanece no colmo até completar o desenvolvimento e após transformase em pupa. Constroem orifícios para a saída dos adultos. Os orifícios são cobertos de resíduos para proteção contra a ação de inimigos naturais. Os adultos aparecem na lavoura geralmente após 30 dias da irrigação. Os danos são causados pela ocorrência das lagartas nos colmos na fase vegetativa, aos 30 dias após a irrigação, onde a folha central morre, provocando o sintoma conhecido por coração morto. Na fase da emissão da panícula ocorre o sintoma de panícula branca. Estas partes das plantas, se puxadas, soltamse com facilidade. Nas partes da lavoura com lâmina de água profunda, as plantas apresentam colmos frágeis, sendo mais sensíveis ao ataque da broca. Em geral está espécie não ocorre em toda a lavoura, podendo aparecer com maior população em áreas próximas às plantas hospedeiras da lagarta, como milho e cana-de-açúcar. Estudos demonstram que a ocorrência de 10% de coração morto ou de 1% de panículas brancas na lavoura pode provocar redução de 3% no rendimento de grãos. Lagarta dos capinzais Os adultos de Mocis latipes (Lepidoptera, Noctuidae) são mariposas com 40mm de

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Marco A. Lucini

tágio em média 14 dias. Após surgem os adultos, com média de vida de 16 dias. A ocorrência em lavouras no estado tem se verificado geralmente atacando as plantas no fim do estágio vegetativo ou no reprodutivo. Os adultos preferem realizar a postura em áreas da lavoura contendo plantas daninhas.

MANEJO

Eliminação das plantas daninhas e da resteva As plantas hospedeiras junto aos canais de irrigação, sobre as ruas e nas bordas da lavoura, devem ser destruídas para evitar que os insetos se abriguem no período da hibernação, quando as condições climáticas são desfavoráveis. A eliminação da resteva após a colheita, através de roçadeira, incorporação por grade, ou a colocação de animais, vai auxiliar na redução de população dos insetos existen-

tes. As socas são locais favoráveis ao abrigo de insetos, principalmente para lagartas. Aração do solo Os adultos, as larvas e as crisálidas abrigam-se no solo. O preparo do solo vai tornar o ambiente desfavorável aos insetos, diminuindo sua população pois ficam expostos ao ataque de predadores, como por exemplo as garças. Portanto, nos meses de baixas temperaturas no período da hibernação estão frágeis, sendo expostos ao frio, vai haver uma redução na população. Também, pela aração, restos vegetais, que podem servir de abrigos aos insetos, serão incorporados ao solo.

envergadura, asas pardo-acinzentadas; nas asas anteriores ocorrem manchas e linhas transversais, onduladas. Os machos diferem das fêmeas por apresentarem longas cerdas nas tíbias anteriores. As posturas são realizadas nas folhas, sendo o período de incubação de oito a 12 dias. As lagartas apresentam cabeça globosa, são de cor palha ou marromamarelado, com estrias longitudinais amareladas, limitadas por estrias marrom-escuras,

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Eliminar plantas daninhas após a colheita evita que insetos se abriguem em hospedeiros alternativos

atingindo até 50mm. Podem ser facilmente identificadas, pois, ao deslocarem-se, arqueiam o corpo, sendo denominadas de medepalmo. O ciclo de lagarta é de 25 dias. Para passar a fase crisálida, casulos são construídos entre folhas dobradas, durando este es-

Rotação de culturas A rotação de culturas é uma prática com a finalidade de alternar diferentes espécies vegetais em uma mesma área. O emprego deste método contribui significativamente para a redução da população dos insetos. Como o aumento da população depende principalmente da disponibilidade de alimentos e da ação dos inimigos naturais, um ambiente onde é empregado este método de controle tende a reduzir o número de insetos. Evitar a queima A queima de restos culturais aparentemente pode eliminar as pragas. Porem, vai causar condições adversas ao ambiente pela redução dos inimigos naturais, conseqüentemente, vai favorecer a ocorrência de novas

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espécies de insetos. Adubação A adubação equilibrada vai formar plantas mais vigorosas, ou seja, mais fortes, com sistema radicular mais denso, portanto, capazes de suportar melhor o ataque das pragas. Estudos demonstram que aplicações de fósforo e potássio em doses mais elevadas, não favorecem a ocorrência da principal lagarta do arroz, a S. frugiperda Manejo de água A irrigação é um método eficiente no manejo dos insetos. Com a entrada de água na lavoura, a lagarta-da-folha pode ser reduzida, pois as lagartas que não morrem, dirigem-se para as taipas, onde podem ser atacadas por pássaros. Já a lagarta-cartucheira pode ser manejada com uma lâmina de água superficial; por preferência por lâmina de água mais profunda, com água rasa, o inseto tende a distribuir-se pela lavoura, ocorrendo baixas

densidades populacionais, não causando dano. Controle químico A correta escolha de um produto é importante principalmente quanto à característica de seletividade, eficiência no controle da praga e pouco tóxico aos inimigos naturais. A aplicação incorreta de inseticidas pode favorecer a ocorrência de insetos resistentes. Também o emprego desordenado de produtos pode provocar a eliminação dos insetos benéficos, ocasionando a ressurgência de pragas. Logo, quando os inimigos naturais são destruídos, insetos com maior capacidade migratória e reprodutiva ressurgem em altas densidades populacionais. Para o controle da lagarta-da-folha existem alguns inseticidas registrados, porem devem ser aplicados produtos com maior seletividade e de baixa toxicidade. Quando da ocorrência de lagartas em plantas maiores, estas durante o dia estão na parte inferior da planta, logo a aplicação deve ser feita no final da tarde. Assim, o inseticida vai atingir a praga ou permanecer na planta, sendo ingerido pela C lagarta ao alimentar-se das folhas.

Inseticidas recomendados para o controle das principais pragas do arroz irrigado no sistema convencional INSETOS E INSETICIDAS (nome comercial)

FORMULAÇÃO1 CONCENTRAÇÃO (g i.a./kg ou L)

Lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda) Ambush 500 CE CE 500 Arrivo 200 CE CE 200 Baytroid CE CE 50 Bulldock 125 SC SC 125 Nor-Trin 250 CE CE 250 Servin 480 SC SC 480 Sumithion 400 PM PM 400 Sumithion 500 CE CE 500 Thuricide PM Triciorfon 500 Milena SL 500

DOSE (Kg ou L p.c./ha)2

INSETICIDAS (nome químico)

DOSE (g.i.a./ha)

CLASSE TOXICOLÓGICA5

0,05 0,05 a 0,075 0,15 0,03 0,1 1,9 a 2,3 1,25 a 2,50 1,0 a 2,0 0,4 a 0,6 1,0 a 2,0

Permetrina Cipermetrina Ciflutrina Betaciflutrina Cipermetrina Carbaril Fenitrotion Fenitrotion Bacillus thuringiensis Triclorfon

25 25 7,5 3,75 25 960 500 a 1000 500 a 1000

II III III II II II II II IV II

500 a 1000

PM: pó molhável; SC: solução concentrada; CE: concentrado emulsionável; SL: concentrado solúvel; 2 Produto Comercial; 3 Doses em g/100 kg de sementes; 4 I - Altamente tóxico; II - Mediamente tóxico; III - Pouco tóxico; IV - Praticamente atóxico; Fonte: AGROFIT, 2000. Anvisa 2003 - Sistema de Informação sobre Agrotóxicos - SIA

Inseticidas recomendados para o controle das principais pragas do arroz irrigado no sistema pré-germinado INSETOS E INSETICIDAS (nome comercial)

FORMULAÇÃO1 CONCENTRAÇÃO (g i.a./kg ou L)

Lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda) Sevin 480 SC SC 480 Sumithion 400 PM PM 400 Sumithion 500 CE CE 500 Thuricide PM Triclorfon 500 Milena SL 500

DOSE (Kg ou L p.c./ha)2

INSETICIDAS (nome químico)

1,9 a 2,3 1,25 a 2,50 1,0 a 2,0 0,4 a 0,6 1,0 a 2,0

Carbaril Fenitrotion Fenitrotion Bacillus thuringiensis Triclorfon

DOSE (g.i.a./ha)

500 a 1000 500 a 1000 500 a 1000

CLASSE TOXICOLÓGICA5

II II II IV II

PM: pó molhável; SC: solução concentrada; CE: concentrado emulsionável; SL: concentrado solúvel; Produto Comercial; Doses em g/100 kg de sementes; 4 I - Altamente tóxico; II - Mediamente tóxico; III - Pouco tóxico; IV - Praticamente atóxico; Fonte: AGROFIT, 2000. Anvisa 2003 - Sistema de Informação sobre Agrotóxicos - SIA 2

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Jaime Vargas de Oliveira, EEA/Irga Lídia Mariana Fiúza, Unisinos/Irga José Patrício de Freitas e Gilberto Dotto, Irga

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Arroz

Ácaro ameaça arroz Fotos Myoung - Rae Cho

Disseminador do fungo da podridão da bainha, o ácaro Steneotarsonemus spinki, originário e causador de grandes perdas nas lavouras da Ásia, já se encontra no Panamá e alerta arrozeiros brasileiros para sua possível entrada no país

A

cultura do arroz está entre as de maior importância sócioeconômica no Brasil, por ser um componente básico na alimentação da nossa população e por sua destacada importância econômica. O país ocupa a primeira posição entre os produtores de arroz da América do Sul e, excluindo os países asiáticos, é o principal produtor a nível mundial. Nos últimos 27 anos toda a produção nacional de arroz se destinou ao mercado interno. Entretanto, em 2004, o produto voltou à pauta das exportações brasileiras, com um excedente exportável de cerca de 100 mil toneladas, o que representa um faturamento de US$ 20 milhões. É exatamente neste momento especial, de crescimento da cultura do arroz no Brasil, que nos deparamos com o risco iminente de invasão de uma nova praga que ameaça estragar a festa. Este vilão é o ácaro do arroz, Steneotarsonemus spinki.

DANOS OCASIONADOS Os danos causados devido às infestações pelo ácaro do arroz podem ser diretos, devido à alimentação de um grande número de indivíduos, ou indiretos, pela injeção de toxinas durante a alimentação ou disseminação de fitopatógenos, especialmente fungos. Conjuntamente às infes-

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tações por S. spinki em países da Ásia e do Caribe, tem sido observado um crescimento significativo dos danos ocasionados por um complexo de fungos fitopatogênicos, especialmente do fungo da podridão da bainha, Sarocladium oryzae, nos cultivos de arroz nessas regiões. A associação do ácaro do arroz e do fungo da podridão da bainha é responsável pela esterilidade das panículas, causando drástica diminuição nas colheitas. Os ácaros carregam estruturas reprodutivas dos fungos no aparelho bucal e na superfície da cutícula, agindo como disseminadores do agente causal da esterilidade de sementes de arroz. Os principais danos ocasionados pelo ácaro do arroz ou de sua associação com fungos fitopatogênicos são: necrose, desidratação, deformação e/ou manchas nas folhas; lesões amarronzadas nas superfícies internas das bainhas; deformação das panículas e inflorescências; escurecimento da casca dos grãos, que se tornam mancha-

dos, e esterilidade dos mesmos. Em Cuba, no primeiro ano de infestação do ácaro do arroz, o desenvolvimento das plantas de arroz seguiu normalmente até a fase de formação das panículas, não havendo nenhum sintoma de infestação por S. spinki. Entretanto, com o passar do tempo, as panículas permaneciam eretas, ao invés de tombarem, como seria esperado pelo incremento do peso das mesmas, devido ao enchimento dos grãos. Neste momento, em que os produtores se deram conta das perdas na produção causadas pelo ácaro, já não era possível adotar nenhuma medida de controle.

DISSEMINAÇÃO DO ÁCARO Embora ainda não tenha sido comprovado, há fortes evidências de que o ácaro do arroz venha se disseminando através do trânsito de sementes de arroz. Um grande número de ácaros pode ser encontrado em restos culturais de arroz. Injúrias em fo-

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lhas de plantas jovens ocorrem em função da utilização de sementes infestadas. Além do trânsito de sementes, o ácaro do arroz pode ser disseminado, a longas e a curtas distâncias, por meios naturais, através do vento, água, ou de aves e insetos que visitam as lavouras de arroz. Em plantios de arroz inundado, S. spinki pode se disseminar de um tabuleiro a outro, através de restos culturais que acompanham as correntes da água que é translocada entre estes. Indivíduos de S. spinki foram coletados sobre pequenos pedaços de tecido vegetal que se deslocavam acompanhando correntes de água.

MEDIDAS PREVENTIVAS É necessário reforçar a adoção de medidas quarentenárias para evitar ou retardar a introdução deste ácaro-praga no Brasil, bem como em toda a América do Sul. Profissionais de defesa fitossanitária e produtores devem estar alertas quanto aos sintomas causados pelo ácaro visando sua rápida detecção, no caso de que o mesmo seja introduzido no país. Os ácaros do arroz são extremamente pequenos e apresentam coloração inconspícua, amarela pálida, o que dificulta sua detecção. As fêmeas adultas de S. spinki medem cerca de 0,3 mm de comprimento e 0,1 mm de largura e os machos são ainda menores. Considerando as indicações de

HISTÓRICO DA PRAGA

P

rovavelmente originário da Ásia Tropical, este ácaro é considerado uma das pragas mais destrutivas da cultura em diversos países produtores daquele continente. Há indícios de que o mesmo encontrava-se em cultivos de arroz na Ásia desde o início do século XX. Na Índia têm sido relatadas infestações desde 1930. Na China, Taiwan e Filipinas, S. spinki tem sido responsável por severas perdas na lavoura arrozeira desde 1966. Em 1999, o ácaro foi apontado como praga na Tailândia e também avançou para o Sri Lanka, onde foi encontrado em 2002. No final dos anos 90 o ácaro invadiu cultivos de arroz na América. Os primeiros relatos da presença do ácaro nos arrozais americanos se deram em 1997, na região do Caribe - Cuba, Haiti e República Dominicana -, onde vem causando sérios problemas. Steneotarsonemus spinki vem sendo considerado um dos principais problemas da agricultura cubana desde sua introdução no país. No primeiro ano em que foram constatadas infestações de S. spinki nas lavouras de arroz, em Cuba, foram colhidas apenas 40 mil t das 120 mil t esperadas, isto é, houve uma redução de cerca de 70% da produção. A partir do ano passado o ácaro do arroz vem se disseminando rapidamente em países continentais da América Central - Costa Rica e Nicarágua e já se encontra no Panamá, o que poderíamos considerar como “a porta de entrada”

Grão de arroz manchado pela infestação por Steneotarsonemus spinki

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para a América do Sul. Até o momento sua presença não foi relatada no Brasil, sendo considerado uma praga com status de “alerta máximo” no que se refere ao risco de introdução no território nacional, de acordo com a Instrução Normativa SDA nº 38, de 14 de outubro de 1999. Diferentemente do que se acreditava, de que o arroz, Oryza sativa, seria o único hospedeiro do ácaro, segundo o engenheiro agrônomo Carlos Sanabria, Serviço de Sanidade Vegetal da Costa Rica, na Costa Rica e no Panamá o ácaro foi encontrado se reproduzindo em uma outra espécie de Oryza invasora, Oryza latifolia. Isto significa que, além do arroz, o ácaro poderá utilizar outros hospedeiros, entre espécies de gramíneas, para sua sobrevivência e dispersão, enquanto não encontrar plantios de arroz. A situação se complica quando se observa que as condições climáticas da maior parte das nossas áreas produtoras de arroz são favoráveis à proliferação do ácaro, isto é, temperaturas acima de 20oC e altas umidades. A previsão é de que os danos sejam mais sérios nas regiões Norte e Centro-Oeste, mas, caso o ácaro seja introduzido no Brasil, também poderá se estabelecer na Região Sul, principal produtora nacional.

que S. spinki possa ser disseminado juntamente com sementes de arroz, deve-se proceder a uma detalhada inspeção acarológica, ao microscópio estereoscópico, de lotes de sementes de arroz em trânsito, especialmente de sementes importadas de países do sul e leste da Ásia e da América Central, onde o ácaro está presente. Para assegurar que o material não se encontra infestado por ovos, os quais são diminutos e de difícil visualização, mesmo ao estereoscópio, podendo passar despercebidos em uma primeira inspeção, aconselha-se manter uma amostra das sementes incubada, isolada, sob condições de temperatura e umidade ideais para o desenvolvimento dos ácaros, por um período de tempo suficiente para o desenvolvimento do estágio embrionário ao adulto de S. spinki (p. ex. 15 dias a 25ºC e 70-80% UR). Em seguida, deve-se proceder novamente à inspeção das

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Fotos Myoung - Rae Cho

sementes. A inspeção de campo para detecção de infestação de S. spinki deve iniciar quando as plantas apresentarem 10 cm de comprimento, pois plantas neste estágio de desenvolvimento já podem estar infestadas pelos ácaros. Normalmente, um grande número de ácaros é encontrado na superfície interior das bainhas das folhas. Para a inspeção de uma folha deve-se coletá-la inteira, desde a sua base, rente ao solo, com o auxílio de uma lâmina metálica. A partir da região de inserção das folhas, deve-se abrir a bainha, segurando-se uma lâmina foliar com cada mão e afastando-as horizontalmente (lateralmente), e não verticalmente (para trás). Entretanto, quando as populações atingem níveis mais altos, os ácaros podem ser encontrados até mesmo nas panículas de arroz e na superfície da casca do grão. A superfície interna de bainhas de folhas infestadas por colônias numerosas de S. spinki apresenta-se opaca, não

Sintomas dos danos do ácaro. Grãos manchados pela praga à esquerda e saudáveis à direita

Comparativo pressupõe duas situações: panículas atacadas (esq.) pelo ácaro do arroz e saudáveis (dir.)

se observa o brilho natural das bainhas e, algumas vezes, estas se tornam pardacentas. Este sintoma pode ser confundido com aquele ocasionado por fungos. Nas lavouras, a inspeção de campo deve se iniciar coletando-se as folhas destas plantas levemente cloróticas, em reboleiras. Quando ocorrem altas infestações das lavouras por S. spinki, pode-se observar panículas eretas, com as bases tortuosas ou, ainda, com aberturas transversais. Normalmente quando estes sintomas são observados, os grãos encontram-se manchados e as panículas estéreis.

ácaros nas plantas, no interior das bainhas, os torna quase invulneráveis à ação dos produtos químicos e biológicos utilizados no controle de pragas. A utilização de produtos sistêmicos, que naturalmente controlam pragas de difícil localização na planta, não tem apresentado eficácia satisfatória no controle das populações destes ácaros. Nos países afetados por S. spinki têm sido implementadas técnicas de manejo integrado baseadas, fundamentalmente, na utilização dos métodos de controle cultural - eliminação dos resíduos da colheita, padronização do período de plantio entre propriedades vizinhas, uso de sementes desinfestadas, adiantamento da época de plantio, uso de espaçamento e densidade de plantio adequada, manejo de fertilizantes e da água, monitoramento da praga e época de colheita - e no uso

MEDIDAS DE CONTROLE O controle do ácaro do arroz é dificultado devido às suas características comportamentais e a seu alto potencial reprodutivo. A localização preferencial dos


Reinaldo Cabrera

de variedades resistentes. O controle químico tem sido recomendado apenas em emergências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A introdução e estabelecimento do ácaro do arroz, S. spinki, no Brasil, provavelmente representaria uma redução drástica na produção desta cultura e, num primeiro momento, um aumento imediato no número de aplicações de agrotóxicos para o seu controle emergencial nas lavouras. Conseqüentemente, um aumento dos custos de produção e dos riscos de contaminação ambiental, intoxicação de aplicadores e resíduos nos alimentos. Além do impacto sobre a produção de arroz no Brasil, a presença de S. spinki no país certamente levaria à imposição de barreiras fitossanitárias que representariam um obstáculo à exportação do arroz nacional. Diante das informações apresentadas evidencia-se o potencial de introdução, estabelecimento e dano de S. spinki para a cultura do arroz no Brasil e em toda a América do Sul. Fato que exige um esforço de todos os setores envolvidos na cadeia produtiva do arroz, no sentido de evitar ou retardar a introdução e o estabelecimento desse ácaro praga no país. Visando dar subsídio a estes esforço, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em sua Rede de Pesquisa em Sanidade Vegetal (Sanivege), está disponibilizando on line para down load uma publicação com informações detalhadas sobre o ácaro do arroz, o qual encontra-se no endereço “www.cenargen.embrapa.br/publica/trabalhos/doc117.pdf ”, assim como um folder alerta fitossanitário em “icewall2.cenargen.embrapa.br:85/rsvweb/rsvnoticia/rsvpdf006.pdf “. C Denise Navia e Renata Santos Mendonça, Embrapa Rec. Genéticos e Biotecnologia

Reinaldo Israel Cabrera, Inst. de Invest. de Cítricos y Frutales

Base da panícula atingida pelo ácaro causando a esterilidade da mesma e conseqüente queda de produção


Cana-de-açucar

Fotos Leila Dinardo

A utilização de reguladores de crescimento permite antecipar a colheita e aumentar a produtividade, já que ocorre uma paralisação do crescimento das plantas proporcionando maior acúmulo de sacarose

A

fisiologia da maturação tem sido objeto de estudo há mais de 30 anos. A maturação natural, em início de safra, pode ser deficiente, mesmo em variedades precoces. O maturador paralisa o desenvolvimento, induzindo a translocação e o armazenamento dos açúcares, e confere uma resistência ao tombamento (facilita a operação de corte, reduz as perdas no campo e a quantidade de matéria estranha levada para a indústria). Quando aplicado, é absorvido pela planta e atua seletivamente através da redução do nível de giberelina ativa, induzindo a planta a uma redução temporária do ritmo de crescimento, sem afetar o processo da fotossíntese e a integridade da gema apical. Fatores como época de aplicação dos produtos químicos, doses utilizadas e época de corte da matéria-prima são alguns dos parâmetros que podem influir na eficiência dos produtos químicos inibidores de florescimento e maturadores da cana-de-açúcar. A época mais indicada para a aplicação de maturadores químicos, para as latitudes do estado de São Paulo, é a partir da segunda quinzena do mês de fevereiro até a primeira quinzena de março, ou seja, durante o período indutivo ao florescimento. Ethephon (ácido fosfônico ou, 2-cloroe-

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til) é um regulador de crescimento de plantas com propriedades sistêmicas. Penetra nos tecidos das plantas, é translocado e progressivamente decomposto em etileno, tendo efeito no processo de crescimento. Sua utilização é justificada pelo fato deste produto químico evitar o florescimento em cana-de-açúcar e aumentar o perfilhamento. O produto químico Arvest apresenta, assim como o Ethrel, a fórmula de ácido fosfônico e a denominação técnica de Ethephon; podem, porém apresentar diferenças no pH de manutenção da estabilidade da formulação, na inclusão de agentes químicos surfactantes ou outras e, a concentração do princípio ativo do Arvest (480 g.L-1) corresponde ao dobro da concentração do Ethrel (240 g.L-1). No que se refere à liberação do etileno, ambos os produtos, tendo por fórmula o ácido fosfônico, são mantidos estáveis através de um pH menor ou igual a 3,5 (ácido), perdendo essa estabilidade no contato com o tecido vegetal (pH mais próximo da neutralidade), liberando etileno (C2H4) gasoso. Produtos do grupo químico sulfoniluréia caracterizam-se como potentes inibidores do crescimento vegetal, afetando tanto o crescimento como a divisão celular, sem interferir diretamente no sistema mitótico e na síntese de DNA. Aparentemente não bloqueiam di-

retamente a ação de promotores de crescimento (auxinas, giberelinas e citocininas), sendo que estimulam fortemente a produção de etileno devido ao efeito estressante causado pela fitotoxicidez. Moléculas de sulfoniluréia originárias da absorção foliar ou radicular, quando atingem o meio da parede celular, podem se mostrar neutras, forma altamente permeável e suscetível de sofrer carregamento no floema. Nesse meio alcalino, as moléculas se dis-

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sociam na forma aniônica, tornam-se presas e se movem de modo sistêmico por fluxo de massa através do floema. Pesquisas realizadas têm relatado o produto químico Curavial, pertencente a este grupo químico, quanto ao potencial efeito maturador em variedades de cana-de-açúcar, não havendo prejuízos à produção de cana-de-açúcar (t/ha) e influência sobre as características agronômicas da cultura. Os resultados obtidos indicam consistência no incremento na pol % cana, brix e redução do índice de isoporização. O Curavial, quando aplicado em diferentes variedades de cana-de-açúcar, possibilitou melhoria da qualidade tecnológica da cana, ou seja, determinou resposta significativa com relação a ganhos de pol, aumentos da pureza e redução no teor de ácidos orgânicos do caldo, e maior possibilidade de se produzir açúcar de melhor qualidade. Os ácidos orgânicos, e outros constituintes indesejáveis, como polissacarídeos (amido), são responsáveis por aumentar a viscosidade de massas e méis e são precursores da formação de cores, como por exemplo a relação de aminoácidos e açúcares redutores, e diminuem a esgotabilidade do melaço devido à relação açúcares redutores e cinzas. O Glifosato inibe a síntese de triptofano, que é um aminoácido precursor da síntese de ácido indol acético, um regulador do crescimento vegetal. Trabalhos relatam o Glifosato como uma alternativa técnica e econômica que permite flexibilizar o manejo de corte e manejar o comportamento das variedades. Segundo resultados obtidos, observa-se melhoria da qualidade da matéria-prima para a indústria, paralização do florescimento (redução da isoporização), otimização do potencial de maturação das variedades e maximização da margem de contribuição agrícola e industrial. Estudos relatam que o emprego de Glifosato em cana-de-açúcar como maturador

A utilização de maturadores confere uma maior resistência ao tombamento de plantas

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PROCESSO DE MATURAÇÃO

A

cana-de-açúcar possui a habilidade de utilizar o máximo de luz solar para a fotossíntese. Cada entrenó produz uma nova folha em cerca de dez dias, e uma folha mais velha morre, deixando um número constante de oito a nove folhas por colmo. A maior porção de luz incidente é interceptada pelas seis folhas mais apicais. A gradativa queda de temperatura e redução das precipitações são determinantes para a ocorrência do processo de maturação, dessa forma, na região Sudeste do Brasil, o processo tem ocorrência natural a partir de abril/maio, com clímax no mês de setembro. Temperaturas de 1718ºC parecem ser particularmente favoráveis para o acúmulo de altos níveis de sacarose. Há efeito interativo entre luz solar, temperatura e diferentes variedades de cana-de-açúcar em resposta ao processo de maturação. O processo de florescimento na produção da cana-de-açúcar implica em alterações morfo-fisiológicas da planta, sendo considerado uma característica altamente indesejável quando acompanhada de intensa “isoporização” (chochamento), além de poder modificar, sobremaneira, a qualidade da matéria-prima sob o ponto de vista tecnológico. São atribuídas ao florescimento perdas substanciais em tonelagem de cana e teor de sacarose durante a colheita. A “isoporização” do colmo tem início com a ocorrência do florescimento ou de sua indução, ocasionando a desidratação do tecido e uma conseqüente perda de peso final. Assim sendo, tornase de suma importância a quantificação do grau de isoporização e as possíveis modificações na qualidade da matéria-prima para o dimensionamento da área a ser plantada de cada variedade e determinação dos períodos mais propícios para a respectiva promoveu incrementos no teor de açúcares recuperáveis e na produção de açúcar. Para distintas variedades de cana-de-açúcar enfatiza-se um comportamento diferente do glifosato com relação aos parâmetros florescimento, rendimento industrial e sacarose, umidade do colmo, brix, pol e pureza. Há informações na literatura revelando diferenças mínimas entre as distintas formulações de Gli-

industrialização. A redução do volume de caldo é o principal fator no qual o florescimento interfere. Os maturadores, definidos como reguladores vegetais, agem alterando a morfologia e a fisiologia da planta, capazes de provocar modificações qualitativas e quantitativas na produção. Podem atuar promovendo a diminuição do crescimento da planta, possibilitando incrementos no teor de sacarose, precocidade de maturação, aumento de produtividade, e também atuar sobre as enzimas (invertases), que catalisam o acúmulo de sacarose nos colmos. Sua aplicação tem proporcionado uma maior flexibilidade no gerenciamento da colheita, altamente relevante para o planejamento da produtividade da cultura, além de propiciar a industrialização de uma matéria-prima de melhor qualidade. Portanto, a utilização de maturadores e inibidores de florescimento na cultura da canade-açúcar tem como objetivo aumentar a produtividade e antecipar o corte, permitindo, pois, o indispensável manejo da cultura em seu moderno sistema de produção. Porém, a viabilidade da utilização depende de uma série de fatores, sejam eles climáticos, técnicos, econômicos e, sobretudo, das respostas que cada variedade possa proporcionar a mais a esta prática de cultivo. Atualmente, produtos cuja composição química apresentam o potássio, têm sido empregados como maturadores em lavouras de cana-de-açúcar. São produtos considerados ecologicamente corretos que atuam induzindo a maturação, porém sem paralisar o crescimento da planta, elevam os níveis de sacarose e não afetam a brotação de soqueira. Além disso, garantem o fornecimento de potássio, elemento considerado fundamental para a cultura. fosato aplicado à cultura da cana-de-açúcar, entretanto, todas as formulações promoveram incremento no teor de sacarose e na produção de açúcar em relação ao controle. O Ethyl-trinexapac é um regulador de crescimento que, se aplicado corretamente, na época e dose adequada, induz um maior acúmulo de sacarose nos colmos, permitindo o planejamento e o aproveitamento agroindus-

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Leila Dinardo

Eficiência dos produtos utilizados depende de fatores como dose, época de aplicação e época do corte

trial da cana-de-açúcar. Atua inibindo a síntese de formas ativas do ácido giberélico, um regulador vegetal envolvido com o crescimento e divisão celular. Pode ocorrer um encurtamento dos entrenós após a aplicação de Moddus (grupo químico ethyl-trinexapac) em diferentes variedades de cana-de-açúcar. Este produto químico também influencia negativamente o desenvolvimento dos colmos, mas em contrapartida melhora sua qualidade tecnológica proporcionando ganhos de ATR/t de cana. Em ensaios empregando-se o Moddus (ethyl-trinexapac), a taxa de açúcares redutores (AR) foi relativamente baixa, enquanto o acréscimo em brix sempre foi acompanhado de aumento proporcional de pureza no caldo, revelando maior teor de sólidos solúveis. O efeito supressor sobre a elongação apical, a formação de internódios mais curtos e uma possível redução sobre o peso de colmos não têm influído nos resultados finais de produtividade da cana e do açúcar obtido. O produto também paralisa o florescimento e não afeta a soqueira. A Hidrazida Maleica (MH) é uma substância inibidora do crescimento vegetal, que tem por fórmula 1,2-dihidro-3,6-piridazinadiona, considerada um possível agente maturador para a cana-de-açúcar. Este regulador causa a perda da dominância apical das plantas, sendo que algumas monocotiledôneas apresentam aumento no teor de açúcares quando tratadas. Sua aplicação promove redução no crescimento da cana-de-açúcar, havendo uma relação direta entre o aumento na concentração aplicada e o efeito inibitório. A aplicação de Paraquat pode ou não afetar a qualidade dos colmos industrializáveis, bem como o brix do caldo e o brix da cana, fato relacionado à dose empregada quando

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usado como dessecante na cultura da canade-açúcar. O uso deste produto químico em pré-colheita melhora a qualidade da queima do canavial em áreas ainda permitidas e proporciona matéria-prima com menor quantidade de impurezas vegetais transportada para a indústria. O Imazapyr é um herbicida não seletivo, sistêmico, absorvido pelas folhas e raízes, com rápida translocação no xilema e floema, para as regiões meristemáticas, onde é acumulado. Bloqueia a síntese da valina, leucina e isoleucina através da inibição da acetohidroxi ácida sintase, interrompendo a síntese protéica, a qual leva à interferência na síntese de DNA e desenvolvimento celular. Ambos, portanto, interferem no desenvolvimento da cana-de-açúcar, retardando-o. Os carboidratos sintetizados durante a fotossíntese, não sendo temporariamente utilizados para o crescimento da planta, acumulam-se no colmo, aumentando sua concentração, o que está relacionado com o processo de amadurecimento, uma vez que ocorrem hidrólises da sacarose em menor proporção do que seu acúmulo no colmo. O Fuzilade (fluazifop-butil) possui rápida absorção foliar, translocação pelo xilema e floema, acumula-se nos meristemas e pode provocar necrose. Interfere na produção de ATP, inibe a ação da acetil-CoA carboxilase que catalisa a reação de ácidos graxos, e chega a afetar a integridade da membrana plasmática e suas funções de permeabilidade. O Ácido Giberélico, quando pulverizado em cana-de-açúcar, promove aumentos no comprimento do colmo e na tonelagem de cana na colheita. O estímulo gerado pelo ácido giberélico para a síntese de açúcar é de su-

ficiente magnitude para satisfazer tanto as necessidades adicionais de crescimento como também para produzir sacarose adicional para reserva. Estudos realizados relatam aumento no comprimento dos internódios, maior período de atividade fotossintética, aumento na sacarose, na pureza do caldo, no brix, na pol e nos açúcares, bem como incremento na porcentagem de fibra. A utilização comercial de maturadores depende portanto da análise específica dos ganhos econômicos que cada produto pode trazer em cada condição específica, onde devem ser sempre considerados os fatores ambientais e sua interação com as diferentes variedades sob diferentes condições de cultivo. Sabe-se que alterações de épocas de plantio, por exemplo, são capazes de alterar a predisposição que algumas variedades possuem de florescer e isoporizar sob determinadas condições. Assim, é extremamente recomendável um estudo específico das condições gerais de manejo de variedades, dentro de um planejamento da produção, para a definição correta das áreas e produtos a serem aplicados visando a maximização da margem de contribuição global do empreendimento. Atualmente, o Programa Cana IAC desenvolve testes com maturadores nos diversos genótipos promissores em estudo pelo programa de melhoramento genético, a fim de obter informações para comporem o perfil de manejo das futuras variedades, produzindo informações necessárias para o uso correto C deste insumo de produção. Edgar Gomes F. de Beauclair e Marina Maitto Caputo, Esalq/USP Marcelo de Almeida Silva, IAC/Apta

Beauclair e sua equipe apontam os principais produtos utilizados como maturadores

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Soja

Disseminada mas sob controle Fotos Dirceu Gassen

Disseminada em 12 estados, o Paraná é o recordista de focos da ferrugem. Mas ao contrário da safra passada o monitoramento eficaz tem garantido eficiência no controle

ca rápido amarelecimento e queda prematura das folhas, impedindo a plena formação dos grãos. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, conseqüentemente, maiores as perdas de rendimento e qualidade. Em casos mais severos, poderá ocorrer aborto e queda de vagens. Uma ferramenta que tem-se mostrado muito útil para o monitoramento da ferrugem são as chamadas “unidades de alerta”, parcelas de soja com cerca de 100m2 semeadas nas propriedades rurais com pelo menos 15 dias de antecedência dos primeiros cultivos comerciais, onde a doença terá a tendência de aparecer antes, servindo de indicativo para necessidade de aplica-

O

ano de 2005 chegou. E com a maioria das lavouras de soja do Brasil entrando no estádio reprodutivo, a ferrugem da soja começa a ocorrer, como já era esperado, em praticamente todas as regiões produtoras do país. Mas, apesar do grande número de focos registrados, a assistência técnica e os agricultores têm demonstrado estar mais atentos e prepa-

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rados para enfrentar a doença do que em safras anteriores. Cultivos irrigados na entressafra, onde foi constatada a ferrugem, podem ter colaborado para ocorrências mais precoces da doença, já que proporcionam ao fungo condições para que se multiplique durante o ano inteiro. A infecção pelo fungo causador da ferrugem, Phakopsora pachyrhizi, provo-

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Flávio Gassen

ção de fungicida na lavoura. Salientase que se tem tomado como procedimento padrão a aplicação de fungicida ou dessecação com herbicida dessas parcelas, após a constatação da doença. Na página na internet da Embrapa Soja (www.cnpso.embrapa.br), o Sistema de Alerta registra e descreve as ocorrências de ferrugem no país. Este ano, o chamado Consórcio Anti-Ferrugem, projeto coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e composto por diversas entidades que atuam direta ou indiretamente no setor agrícola de todo o país, tem abastecido de informações o Sistema de Alerta. Essas informações são baseadas em análises feitas por laboratórios credenciados, que garantem o correto diagnóstico da doença. Até o dia 17 de janeiro tinham sido relatados focos em 12 estados brasileiros (MT, PR, RS, MA, GO, MS, MG, SP, SC, DF, TO e RO), totalizando 264 municípios. O Consórcio também elaborou uma palestra padrão, que vem sendo ministrada semanalmente na unidade da Embrapa Soja, em Londrina, e em cidades do estado, quando solicitado, bem como em outras regiões do país, pelos demais componentes do projeto. Nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, a estiagem novamente castiga as lavouras, causando prejuízos e levando o problema da

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ferrugem a um segundo plano de preocupação para os agricultores, pois o clima seco não proporciona condições para evolução da doença. No Paraná, entretanto, onde desde o final do ano passado as chuvas vêm ocorrendo de forma regular, um número recorde de focos de ferrugem já foi registrado. Mas, apesar do grande número de focos no Paraná, a ferrugem vem sendo constatada no estádio inicial de desenvolvimento, o que vem proporcionando bom controle da doença pelos agricultores, que começaram as primeiras aplicações de fungicida nas lavouras. Situação semelhante é encontrada em São Paulo, embora o número de ocorrências seja menor do que no Paraná, novos casos têm surgido quase que diariamente. Na Região Centro-Oeste diversos focos também foram registrados. No Mato Grosso do Sul, na região de Chapadão do Sul, de maneira geral, embora haja a presença da ferrugem, a incidência é baixa e acredita-se que várias lavouras poderão ser colhidas com apenas uma aplicação de fungicida. A necessidade de ressemeadura em algumas áreas resultou em lavouras com desenvolvimento mais atrasado e que, na teoria, poderão sofrer mais com a ferrugem, pois, à medida que o tempo passa, o fungo vai se multiplicando e os cultivos mais tardios estarão expostos a uma maior quantidade de inóculo. Mas, até agora, as previsões de colheita são otimistas e se

No Paraná, onde desde o final do ano passado as chuvas são regulares, o ambiente tem se mostrado propício ao desenvolvimento do fungo

o clima ajudar daqui para frente, as produtividades deverão ser superiores à das safras passadas. O Mato Grosso é o segundo estado com maior número de focos de ferrugem identificados. Dos 28 municípios com a doença, 15 são em lavouras comerciais. Há fazendas no Mato Grosso com ferrugem intensa na fase final do ciclo das plantas, já em ponto de colheita, o que ajudará a gerar aumento de infecção dos cultivos mais tardios. Em Goiás, diversos focos já foram registrados, mas o clima tem permitido a aplicação de fungicidas, ao contrário do ano passado, quando o excesso de chuva ajudou a aumentar os prejuízos com a ferrugem por impedir a realização de aplicações no momento adequado. No Tocantins, a falta de chuvas no início do período de semeadura levou a um atraso desta. Com isso, poucos relatos de ferrugem foram registrados em unidades de alerta, mostrando uma situação até agora tranqüila em relação à doença. O clima também ajudou, permitindo a entrada na lavoura para realizar as aplicações de fungicidas onde foi necessário. A Bahia, que na safra 2002/2003 sofreu ataque severo da ferrugem, e na safra seguinte conseguiu controlar muito

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Flávio Gassen

bem a doença, comemora a ausência da ferrugem até o momento. No ano passado, ocorreram vários treinamentos para o controle de ferrugem para profissionais no estado, responsáveis pela multiplicação das informações. O alto nível de informação sobre a doença, adquirido nas safras passadas, está se refletindo agora. Além desse fato, a Bahia teve atraso na semeadura, devido à escassez e a irregularidades nas chuvas. No momento, a falta de chuva em algumas localidades é o principal problema enfrentado pelos agricultores do estado. No Pará e no Maranhão, a agressividade da doença está menor, quando comparada ao ano anterior, por causa das condições climáticas. De maneira geral, essa é a situação encontrada até o momento, ou seja, diversas ocorrências de ferrugem, inclusive mais cedo do que na safra passada, mas que têm sido constatadas no início do desenvolvimento da doença, possibilitando o controle adequado. Existem fungicidas para abastecer a demanda do mercado até o momento, e a grande maioria dos agricultores já adquiriram o produto para, pelo menos, uma aplicação. A tendência é de que os maiores problemas e eventuais prejuízos devido à ferrugem venham ocorrer com as semeaduras mais tardias, quando essas lavouras começarem a chegar ao final do ciclo. Se muitos produtores necessitarem de se-

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Eventuais prejuízos podem ocorrer em semeaduras mais tardias, quando as plantas atingem o final do ciclo

Embrapa Soja

gunda aplicação ou até mesmo de uma terceira, poderá ocorrer falta de fungicida no mercado, em algumas regiões. Espera-se, caso isso venha a ocorrer, que não haja aumento abusivo no preço dos produtos, como ocorrido no final da safra passada. A grande quantidade de fungicidas registrados para o controle da ferrugem da soja (21 marcas comerciais) deve ajudar a garantir o fornecimento de produtos, mesmo com alta demanda. Mas tudo isso vai depender, principalmente, das condições climáticas, que poderão favorecer mais ou menos a doença. Em um país com dimensões continentais como o Brasil, as mais diversas condições poderão ocorrer ao mesmo tempo. Por isso, no presente momento, ainda não é possível fazer uma previsão em relação a possíveis prejuízos que a ferrugem da soja possa causar até o final da safra, mas, sem excesso de otimismo, acredita-se que serão bem C menores que os da safra passada. Rafael Moreira Soares, Embrapa Soja

Rafael alerta que, se muitos produtores necessitarem de mais de uma aplicação, poderá faltar fungicida no mercado

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Sementes

Piratas do campo Mercado clandestino de cultivares invade as plantações brasileiras, atingindo cerca de 35% da área total do plantio somente com a soja

TIRANDO D

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agronegócio é, sem dúvida, um dos setores mais importantes da economia nacional. Responsável por grandes superávits na balança comercial, ele gera 1/3 do produto interno bruto e cerca de 36% das exportações do país. Nas últimas décadas, as grandes transformações sofridas pela agricultura modificaram o setor primário em uma atividade integrada aos setores industriais e de serviços, deixando de ser apenas um provedor de alimentos In Natura. Este crescimento deve-se, em grande parte, ao desenvolvimento de novas cultivares de sementes melhoradas, que trazem vantagens indiscutíveis para o agricultor, já que se adaptam aos mais diversos climas e condições de solo, resistem a novas pragas e doenças e garantem maior produtividade, agregando cada vez mais qualidade para o consumidor final. Este trabalho silencioso, realizado nos centros de pesquisa de empresas públicas e privadas espalhados pelo país, exige altos investimentos em conhecimentos científicos, tempo e dinheiro. Nos últimos dez anos, este esforço proporcionou um crescimento de 85% na produtividade nacional de grãos, resultando no rompimento da barreira dos cem milhões de toneladas. O principal veículo desta tecnologia é a semente das cultivares, produzida sob um Sistema

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presidente da Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais (Braspov) e diretor executivo da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), Ivo Marcos Carraro, esclaresce alguns pontos sobre pirataria. 1) Qual a diferença de preços en-tre sementes legais e pirateadas? IVO CARRARO – Assim como existem diferentes formas de ilegalidade, há também valores diferenciados para estas sementes. Porém, em geral, elas têm preços mais baixos que as sementes legais que estão no mercado. Os custos normais para a formação do preço de uma semente legal incluem: matéria-prima + bonificação ao produtor da matéria-prima + secagem, armazenagem e beneficiamento (classificação das sementes por tamanho, eliminação de impurezas e sementes danificadas, etc.) + embalagem + impostos + assistência técnica e treinamento do usuário + análise de qualidade e atestado de garantia + royalties para a pesquisa que gerou a cultivar + garantia dos direitos do consumidor (reposição em caso de problemas, etc.), além de complexas operações de segregação das etapas do processo de produção para evitar a contaminação e a mistura de ou-

tros tipos de sementes. Quanto à semente ilegal ou pirateada, esta tem apenas o custo da matéria-prima + embalagem, que geralmente é usada e sem identificação. Esta semente passa por uma classificação mínima ou apenas por uma limpeza dos grãos, sendo que os demais custos não são agregados. Os falsificadores usam uma tecnologia protegida por lei, sem reconhecer os direitos intelectuais. Portanto, não têm este custo, que geralmente é de 5% do valor da semente, dependendo da espécie. Além disso, não oferecem nenhuma garantia ao usuário. Atualmente, uma semente legal de soja C – já incluindo a margem da empresa produtora e da revenda – custa ao agricultor cerca de R$ 84,00 para cada saca de 40 kg (média Brasil). O preço de uma semente pirateada geralmente inclui o custo da matéria-prima, mais 50% a 100%, ou seja: de R$ 40,00 a R$ 55,00. Este mesmo raciocínio pode ser aplicado também ao arroz, feijão e algodão. Nas espécies cujas sementes são híbridas, como milho e sorgo, por exemplo, a pirataria já não ocorre com tanta freqüência. 2) Quais as diferenças básicas de qualidade entre estes dois tipos de sementes? IVO CARRARO – As diferenças básicas de qualidade são a germinação e o vi-

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Charles Echer

Nacional de Produção de Sementes, que regulamenta a atividade com normas rígidas, objetivando alta qualidade, garantia de sucesso para o agricultor e segurança para o consumidor. Esta atividade, que sempre respaldou o desenvolvimento de uma agricultura forte, foi finalmente beneficiada em 1997 com a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9.456/97), que protege o direito intelectual sobre sementes no Brasil, funcionando como um sistema retroalimentador da pesquisa nacional. Porém, na contramão deste “Brasil que dá certo”, surge um mercado clandestino que multiplica e comercializa ilegalmente sementes pirateadas prejudicando a economia nacional, acarretando a contaminação dos campos e reduzindo a competitividade do agronegócio. Como qualquer outro produto pirateado, as sementes produzidas clandestinamente também não têm as mesmas qua-

lidades das originais. Desde janeiro de 2004, seis liminares contra a prática de pirataria de sementes já foram concedidas no Brasil, por juízes de diversas comarcas. A primeira ação foi movida no mês de maio, pela OR Melhoramento de Sementes, de Passo Fundo (RS), contra uma empresa sediada no mesmo estado. A medida judicial, até então inédita no país, determinou que os produtores clandestinos se abstenham de utilizar e comercializar sementes de cultivares de propriedade da OR, e impôs uma pena de R$ 10 mil para cada ato que descumpra a determinação. Em julho, uma ação idêntica foi movida contra uma empresa de Londrina PR), pela OR Melhoramento de Sementes Ltda. e pela Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), de Cascavel, focada no desenvolvimento de tecnologia agrícola para produtos como soja, milho, trigo e algodão. Ainda em julho de 2004, o juíz da

ÚVIDAS SOBRE SEMENTES PIRATAS gor das sementes, que são garantidos pelo fornecedor da semente legal, que deve oferecer a certeza de que o que está sendo vendido é, de fato, aquilo que o cliente pretende comprar. A classificação das sementes e sua pureza física devem ser sempre maior que 99%. A pureza varietal (nível de mistura de outras sementes) é também um dos aspectos que passa por rígido controle. Todo o processo sofre um rigoroso sistema de fiscalização, realizado pelo Ministério da Agricultura ou pelas secretarias de agriculturas dos estados. Além dos aspectos da qualidade física e fisiológica, a parte sanitária talvez seja a mais grave. Enquanto na semente legal os padrões de qualidade fitossanitária são rigorosos desde a produção no campo, na semente pirata nada disso é levado em conta, podendo, assim, o uso de sementes sem controle ser um meio de disseminação de doenças e pragas nas lavouras e entre as regiões. Os maiores problemas da pirataria de sementes são a incerteza do que está sendo comprado pelo agricultor e o risco que ele corre de introduzir problemas em sua lavoura. 3) Quais os principais problemas gerados pelas sementes falsificadas no plantio e após a colheita? IVO CARRARO – Aparentemente, a se-

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mente pirateada tem um aspecto muito parecido com a original. Quando o agricultor compra a semente falsificada, geralmente é motivado pelo preço mais baixo. Porém, logo no inicio do plantio, já começam a aparecer os problemas na germinação do campo, que geralmente é menos uniforme e, muitas vezes, exige que as sementes sejam replantadas. Só nesta operação, a econo-

Carraro explica quais as implicações para quem planta sementes pirateadas

mia que foi feita inicialmente já é perdida e o custo acaba tornando-se ainda maior. Além do agricultor ter que comprar outra semente, ele deverá repetir todas as operações, o que é, de fato, um grande risco. No entanto, os maiores problemas são a introdução de doenças, pragas e ervas daninhas que antes não existiam e só serão identificadas ao longo da safra ou na safra seguinte, quando nada mais poderá ser feito. No aspecto comercial, a prática da pirataria de sementes afeta, em primeiro lugar, as empresas de pesquisa, que não resgatam os investimentos no melhoramento das cultivares, realizados ao longo de muitos anos. O aviltamento de preços prejudica também as empresas legalmente estabelecidas, que se sujeitam a um rigoroso sistema de fiscalização e arcam com elevados custos fiscais e empresariais. O terceiro prejudicado é o próprio agricultor. Se, em um primeiro momento, ele imagina estar economizando, posteriormente enfrentará problemas crônicos em sua área, além de arcar com prejuízos em sua colheita. Para completar, vale lembrar que o país perde com o desestímulo à pesquisa, com a evasão de impostos e com a redução da eficiência de sua agricultura.

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Cultivar

sem prejuízo de outras sanções civis e criminais. Segundo ele, estima-se que, no Brasil, dos 21 milhões de hectares plantados com soja na última safra, cerca de 35% utilizou sementes clandestinas, o que corresponde a um faturamento US$ 200 milhões ao ano.

CULTIVARES LEGAIS X PIRATEADOS

A qualidade das sementes pirateadas é o principal problema para o agronegócio

Vara Cívil da Comarca de São Gabriel do Oeste (MS), concedeu uma medida cautelar inominada de vistoria, inspeção judicial e pedido sucessivo de busca e apreensão contra duas empresas dessa cidade. A medida atendeu um pedido da Coodetec e da Bayer Seeds Ltda., de Patos de Minas (MG). O objetivo da ação foi a obtenção de provas da prática da pirataria, por meio de vistoria e inspeção judicial feita pelo próprio juiz, seguidas por imediata apreensão de documentos e sementes. No final daquele mês foi concedida liminar contra uma empresa do município de São José do Ouro (RS), proposta pela OR Melhoramento de Sementes Ltda. A ação proibiu a futura comercialização de sementes ilegais e impôs o pagamento de R$ 5 mil por saca já vendida pelo réu. Em setembro, a Coodetec obteve liminar contra um produtor irregular da cidade de Rolândia (PR), que foi proibido de utilizar e comercializar suas sementes de cultivares. Foi imposta uma multa de R$ 10 mil para cada ato que descumpra a determinação. No último dia 22/9, a juíza da Vara Cívil da Comarca de Giruá (RS), concedeu a primeira grande liminar de busca e apreensão de sementes ilegais do Brasil. A medida judicial atendeu um pedido da Coodetec contra uma empresa de Giruá, que estaria comercializando, sem autorização e sem o devido pagamento de royalties, sementes de soja cuja titularidade intelectual é da Coodetec. A li-

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minar autorizou a apreensão dos grãos e determinou que os produtores clandestinos se abstenham de utilizar e comercializar sementes de cultivares de propriedade da Coodetec. A Lei de Proteção de Cultivares garante às empresas de pesquisas o direito de explorar comercialmente suas sementes protegidas. Graças à implantação desta lei, o número de cultivares de soja lançados no mercado cresceu consideravelmente, passando de 114 no período de 1990 a 1996, para 285 entre os anos de 1997 e 2004. Brechas da lei, no entanto, impossibilitavam a busca e apreensão de sementes irregulares. Somente com a entrada em vigor do Decreto nº 5.153 (23/7/ 2004), que regulamenta a Lei nº 10.711 (5/8/2003), a qual dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM), tornou-se definitivamente proibida a produção, o beneficiamento, o armazenamento, a reembalagem, o comércio e o transporte de sementes ou mudas de cultivares protegidas sem a autorização expressa do detentor do direito da proteção. O presidente da Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais (Braspov) e diretor executivo da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), Ivo Marcos Carraro, explica que quem viola o direito dos melhoristas está sujeito à aplicação de multa equivalente a 20% do valor comercial do material apreendido,

O melhoramento de sementes depende da realização de longos estudos genéticos e fitotécnicos, que consomem de dez a 15 anos. Este processo requer amplos investimentos na implantação de laboratórios, na contratação de cientistas e na realização constante de testes de campo, até que as sementes se tornem economicamente viáveis e possam ser comercializadas, gerando retorno do capital aplicado. “Em estufa, os melhoristas simulam todas as condições do ambiente em que as sementes serão posteriormente plantadas, visando a prevenção de falhas e problemas, o que não acontece com as sementes pirateadas”, comenta Ivo Carraro. Outra vantagem fundamental das variedades cultivadas legalmente é a resistência a novas pragas, graças a aprimoramentos periódicos. Em contrapartida, os grãos ilegais tornam-se obsoletos em pouco tempo, já que não são reciclados, nem passam pelos mesmos controles de armazenagem e distribuição das cultivares de patente protegida. Além disso, a grande maioria não é submetida aos processos de secagem, beneficiamento e classificação feitos em Unidades de Beneficiamento de Sementes (UBS) sob constante fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Carraro afirma que, há quatro anos, o percentual de sementes legais no Brasil era de 90%. Em 2002, caiu para 80% e, na última safra, chegou a 65%. Isso significa que, nos últimos anos, a área plantada com sementes pirateadas praticamente quadruplicou no Brasil. “O oportunista que copia sementes sem autorização, além de infringir o direito à propriedade intelectual do obtentor da cultivar, sonega parte dos investimentos em pesquisas futuras e, principalmente, coloca em risco toda a atividade agrícola nacional, prejudicando produtores, melhoristas, representantes, agricultores e C consumidores”, alerta. Cris Ribinski, Braspov

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Especial

Negócios

Prêmio Abanet 2004

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Barco Viking é atração como estande

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alorizando suas origens nórdicas, a Cheminova tem, como símbolo, a caricatura de um simpático viking povo escandinavo de navegadores, guerreiros e mercadores que, nos séculos VIII a XI, percorreram a costa européia, tendo chegado inclusive à Groenlândia -, um dos mais representativos ícones da cultura dinamarquesa. E é sob essa temática que a Cheminova tem superado as expectativas quanto ao número de pessoas que visitam seus monumentais estandes nas mais importantes feiras e grandes eventos do segmento agrícola. Imensas naus vikings, ricas em detalhes, são montadas nos recintos emprestando um certo clima non sense ao ambiente, reforçado pela originalidade e singularidade. “Realmente as pessoas se surpreendem ao encontrar, em meio a uma quase estandardizada série de estandes, uma nau viking imensa e bem próxima da realidade. E é essa agradável surpresa que aguça a curiosidade por conhecê-la por dentro, ver de perto seus detalhes e até fazer contato com os colaboradores vestidos à caráter. Isso tem sido a tradução do sucesso da Cheminova nas grandes feiras e eventos, servindo de ferramenta de divulgação de nossos produtos por todo o Brasil”, enfatiza o presidente da Cheminova Brasil, Rico Toft Christensen.

Pioneer Sementes foi vencedora do Prêmio ABANET / MSN Brasil. O case “Fórum de Difusores de Tecnologia” ganhou o prêmio bronze na categoria E-Services (serviços pela Web), recebido por Cláudio Peixoto e Alice Oliveira, do Departamento de Marketing da Pioneer, em São Paulo, num grande evento que aconteceu no dia 29 de novembro. A ABA - Associação Brasileira de Anunciantes, através de seu Comitê de Marketing Digital & Tecnologia promoveu a terceira edição com o objetivo ressaltar e prestigiar, em diferentes categorias, a melhor utilização do marketing digital e da tecnologia aplicada a propósitos mercadológicos e de comunicação em 2004. Para a Pioneer, receber uma premiação nacional, reconhecendo o potencial e eficiência dos seus projetos na Web, foi uma grande vitória. Desde o seu lançamento, o Fórum de Difusores de Tecnologia representa um importante e indispensável canal para solucionar problemas enfrentados no dia-adia no campo, provando que a internet também pode ser uma aliada daqueles que estão envolvidos na área agrícola, que é tão importante para o crescimento do nosso país. O endereço para acessa-lo é http://www3.pioneer.com/Brasil/ forum.asp.

Novo Reitor em Viçosa

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professor Carlos Sigueyuki Se diyama assumiu no final de 2004 o cargo de reitor da Universidade Federal de Viçosa para os próximos quatro anos. Mineiro de Maria da Fé, Sediyama é professor titular do Departamento de Fitotecnia da UFV. Graduado em Agronomia, possui os títulos de mestre em Fitotecnia, obtido na UFV, e de doutor em genética-estatística pela Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA. Ele ingressou na UFV em 1972 e, de lá para cá, vem ocupando diversos cargos, com destaque para os de diretor-presidente da Fundação Arthur Bernardes (Funarbe), coordenador de Pós-Graduação da Fitotecnia, diretor do

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Centro de Ciências Agrárias e vice-reitor da Universidade no período da 1996 a 2000, além de atuação em organismos e entidades oficiais e particulares, no Brasil e no exterior. Atualmente, trabalha com genética quantitativa, que faz a

interface entre melhoramento de plantas e genética molecular. Ao falar sobre os próximos quatro anos, o reitor destacou a importância da UFV para a agricultura brasileira, lembrando que a universidade, em 78 anos, já formou mais de 30 mil profissionais, 25 mil de áreas voltadas à agricultura. “Nós pretendemos dar continuidade a esse trabalho de sucesso, pois o setor agrícola está se desenvolvendo muito nos últimos anos e ainda temos muito tempo de crescimento pela frente”, afirma Sediyama. Junto com ele assumiu a vicereitoria o professor adjunto do Departamento de Tecnologia de Alimentos Cláudio Furtado Soares.

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Coluna Aenda

Defensivos Agrícolas

Jardins, pragas e cautela Produtos para lavoura invadem as cidades, usurpando espaço dos domissanitários que têm legislação mais cautelosa

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famigerado chumbinho fez e faz grandes estragos na sociedade, ceifando vidas e manchando a imagem dos produtos fitossanitários. Nasceu de um desvio de uso do aldicarb, necessário produto para o controle de algumas pragas nas lavouras. Acabou invadindo as cidades para pragas de jardinagem amadora e depois, a tragédia: escorregou para fora de sua embalagem original e passou a ser vendido por camelôs em pequenos invólucros para matar ratos nos lares da periferia das cidades. Hoje, existem mil e um chumbinhos. Agora são outros ingredientes ativos ou nenhum. Virou caso crônico de polícia, de difícil solução. Ninguém segura os falsificadores, os criminosos e os desesperançados? Ou, até quando o planeta vai aturar a raça humana a se multiplicar sem freio sob a benção do badalar persuasivo dos sinos de todos os credos? Várias atitudes foram implantadas para coibir o avanço do produto no meio urbano. A empresa fabricante implantou um rigoroso controle de vendas em todo o país, com rastreabilidade das entradas e saídas do produto das revendas. O Ministério da Saúde revisou a Portaria 02/1980 e adotou a Resolução 322/1997, instituindo um efetivo controle do comércio e uso de produtos para controle das pragas em jardinagem amadora. Os produtos controladores de pragas em vasos, jardineiras, jardins internos e peridomiciliares passaram a ter uma legislação própria. Os fabricantes interessados nesse mercado tiveram que registrar seus produtos na área da saúde, sujeitando-os à Lei 6.360, Decreto 79.094 e diversos Atos Reguladores menores. Antes era uma terra de ninguém, pois os fiscais agropecuários não

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tinham contingentes para agir nas cidades e os fiscais sanitários não podiam autuar produtos agrícolas. Agora, existe mais ordem na casa, ao menos no aspecto legislativo; falta muito ainda para reprimir com rigor o comércio ilegal e os falsificadores. A experiência acumulada da Saúde Pública na aplicação de substâncias controladoras de pragas no uso domiciliar ou coletivo (fumacê contra mosquitos, por exemplo, atinge o alvo biológico e tudo o mais ao redor) trouxe a necessidade de uma prevenção ainda maior comparativamente às aplicações em lavouras, porquanto o adensamento de pessoas e animais domésticos nas cidades é óbvio. De fato, a Resolução que rege o registro de produtos para Jardinagem Amadora, bem como as demais Resoluções sob a égide da Lei 6.360 e referentes a domissanitários praguicidas, trazem precauções adicionais relevantes para prevenir acidentes. De primo, não são aceitos para registros produtos com ingredientes ativos da classe I, considerados de periculosidade alta na escala preconizada pela OMS. E, os produtos formulados não podem ser enquadrados nas classes I e II da OMS, somente são aceitos os incluídos na classe III. Outra diretriz de fundamental importância na cautela desenhada na legislação domissanitária é a divisão em

dois tipos de produtos: os de venda livre e os de venda a entidades especializadas. À dona ou ao dono de casa não é permitido dosar produto na água, como se faz na agricultura. Na cidade, o produto domissanitário de venda livre já vem na diluição de uso ou em dose única para um litro de água. As embalagens não podem ultrapassar 1.000 ml ou 1.000 g, tudo para que não haja sobra de produto concentrado para uso posterior. As pragas de controle mais difícil ou de infestação mais acentuada que exigem produtos concentrados e doses diferenciadas só podem ser combatidas por profissionais habilitados alocados em entidades especializadas. Os produtos usados pelas entidades especializadas não são vendidos ao público e seus rótulos trazem aviso específico sobre isso em destaque. É por isso que advogamos alargar ainda mais a competência da Saúde, hoje representada pela Anvisa, no registro de produtos usados nas cidades. A Resolução 322 não alcança as áreas coletivas, como praças, gramados, terrenos baldios, clubes, parques, canteiros centrais e áreas marginais de vias públicas e ferrovias, em ambientes urbanos. Seria de todo funcional, e prudente, aplicar a Lei 6.360 nesses casos, que poderíamos chamar de Jardinagem Profissional, em virtude da dimensão das áreas e cuidados necessários, somente profissionais de entidades especializadas poderiam lidar com esses produtos. C

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Coluna Jurídica

Newton Peter

Títulos antigos da dívida pública

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á algum tempo recebi uma consulta interes sante de um agrônomo sobre a liquidez de títulos da dívida pública da União emitidos por volta dos anos 1950. Acompanhavam os documentos laudos de peritos contábeis atualizando seus valores. Não recordo com precisão, mas o montante atingia R$ 400 ou R$ 500 mil. Após alguns dias de pesquisa de minha equipe, recomendei não ingressar na Justiça para pleitear o suposto crédito por considerar o resultado da demanda incerto. Indiquei um colega, caso o cliente desejasse outra opinião. Curiosamente, duas outras pessoas procuraram-me com questão semelhante nas primeiras semanas de dezembro passado. Adotei o mesmo procedimento: a questão permanece demasiadamente incerta, boa apenas para quem gosta de riscos. Grandes vitórias implicam em grandes riscos? Às vezes. A realidade é que o dinheiro advém do trabalho duro; raramente de lances miraculosos de sorte ou de esperteza. Muita gente se perdeu na busca pelo Eldorado, fábula inventada pelos índios americanos para confundir os espanhóis sedentos por ouro...

UM POUCO DE HISTÓRIA Contrair dívidas foi o método encontrado pelo governo brasileiro para realizar obras básicas de infraestrutura, como melhoramento de portos, construção de ferrovias, aumento na capacidade de geração de energia e outros. Lembre-se ter este país poucos anos de existência e uma população reduzida frente à magnitude de seu território – pelo menos até os anos 1960. Aqui, em pouco tempo, nasceu

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um país razoavelmente moderno “do nada”. Desenvolvimento acelerado custa dinheiro. Emitir títulos fora a opção. A denominação dos papéis pouco importa. Por duas vezes, no alegado interesse de padronizar a dívida pública, o governo promoveu troca ou resgate de títulos. A primeira, em 1957, atingiu os emitidos no período compreendido entre 1902 e 1955. A segunda, mais polêmica, realizou-se em 1967, sob a vigência do Ato Institucional nº 4. Dois Decretos-Leis regulam a matéria: o 263/67 e o 396/68. Há um terceiro caso envolvendo títulos federais de que tenho notícia, mas parece ser mera falsificação. Seriam LTNs (Letras do Tesouro Nacional) emitidas nos anos 1970 com prazo superior a um (01) ano. O Tesouro nega a existência de qualquer título dessa natureza com validade superior a 365 dias. Abordaremos o segundo caso, por ser mais comum. Dispensarei a discussão técnica, importante tãosomente para os advogados, e tentarei traçar um panorama da situação.

LEGAL OU ILEGAL? Invocaram-se diversos argumentos contra a legalidade dos referidos Decretos-Leis e os efeitos deles decorrentes, como a participação do Conselho Monetário Nacional ou do Banco Central do Brasil no processo. Atuando com Direito há mais de trinta anos, defendo, amparado por nobres jurisconsultos, como Carlos Maximiliano, autoridade em hermenêutica (interpretação das leis), que a longevidade, principalmente em aspectos constitucionais, é forte indício da legalidade da lei. Evidente, essa tese aplica-se apenas às leis em uso, não àquelas modificadas pela realidade social – como as antigas leis sobre o matrimônio, por exemplo. Se uma lei vigora durante déca-

das sem ser questionada, tende-se a acreditar em sua constitucionalidade à época da feitura e em sua aceitação por parte dos contemporâneos. Portanto, acautele-se quem questionar uma lei mais de trinta e cinco anos após sua promulgação. Se havia problemas, por que tanto tempo passou antes do questionamento? A questão do tempo implica também no que se chama, em Direito, de “pacificação social”. Isso significa, em termos simples, que um conflito não pode permanecer eternamente sem solução. Não promovendo a defesa de seus interesses em prazo hábil, há prescrição (em termos processuais) ou decadência (do direito em si). Não cabe aqui discutir a aplicação dos conceitos ao caso, até porque, revogados artigos ou a íntegra dos decretos-lei, não se haveria de invocar qualquer dos conceitos. Procuro apenas mostrar aos leigos a força conferida pela Filosofia do Direito ao caráter “tempo”. Além de tudo, depõe contra a possibilidade de acionar a União Federal o fato de os títulos em questão, por força dos citados decretosleis, terem sido resgatados da forma mais favorável aos credores, ressalte-se, integralmente – originalmente, previa-se pagamento parcelado. Se, apesar dessa pequena e rápida explicação, o leitor ainda desejar buscar uma solução jurídica, procure seu advogado. Ele poderá dirimir suas dúvidas e, quem sabe, conseguir transformar seus títulos C em dinheiro.

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Agronegócios

Biocombustíveis, a oportunidade dourada S

uspeito que a Cultivar faça parte do portfólio de leitura do Presidente da República. Na edição de dezembro de 2002, o tema desta coluna foi “Carta Aberta ao Presidente”. Já no intróito escrevi “...permitimo-nos submeter à vossa consideração um tema que concilia inúmeras oportunidades para o nosso Brasil. Referimo-nos à Agricultura de Energia, um segmento embrionário dos agronegócios, que crescerá a altas taxas durante seu mandato, ganhará importância transcendental no Governo de seu sucessor e será o componente hegemônico do agronegócio, quando nossos netos assumirem o leme do Brasil.” Dois anos após, em 6/12/2002, o Presidente Lula lançou o Programa Nacional de Biodiesel, uma das propostas contidas naquele artigo.

BACKGROUND Passados dois anos, revisitamos o tema para lembrar que, no futuro próximo, o agronegócio mundial estruturar-se-á em quatro macro-segmentos: alimentação e fibras, biomassa, plantas ornamentais e nichos especializados. A biomassa será a base da energia renovável, devendo movimentar o maior volume de recursos das transações agrícolas internacionais, a partir de 2050. A preponderância da agricultura de energia repousa na finitude das fontes da atual matriz energética, como petróleo (35%), carvão (23%) e gás natural (21%), que se esgotarão neste século. Posta a escassez e a extração mais complexa, os preços dispararão.

FIM DE UMA ERA As reservas comprovadas de petróleo somam 1,137 trilhões de barris, 78% dos quais nos países da Opep, e permitiriam abastecer o mundo por 30 anos. Novas reservas serão incorporadas, porém a taxas inferiores ao incremento do consumo, o que projeta a mãe de todas as crises de petróleo para meados deste século. Como agravante, o Oriente Médio, principal produtor de petróleo, tem

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sido politicamente instável desde sempre e a escassez do petróleo acirrará a disputa pelas suas reservas. Entretanto, a maior pressão para a mudança da matriz energética provém da poluição causada por combustíveis fósseis, principal fonte de emissão de gases que acentuam o efeito estufa (GEE) e provocam “chuvas ácidas”. Portanto, antes que os poços sequem ou o preço dispare, a sociedade global exigirá de suas lideranças a abdução das causas do aquecimento global, para prevenir suas desastrosas conseqüências. Pelo exposto, vislumbra-se a temeridade de o abastecimento energético e da indústria química depender de carbono fóssil e dos humores do Oriente Médio e do Leste Europeu. Uma das soluções mais viáveis é a progressiva incorporação de energia renovável. O Brasil será, individualmente, o país que mais se beneficiará com esta invulgar oportunidade de negócios, como têm alertado o ministro Roberto Rodrigues e diversas lideranças científicas e empresariais.

NOVA ERA Vislumbra-se a ponta deste iceberg nos contratos, ainda incipientes, para exportação de álcool combustível. Em 2005 produziremos 15 bilhões de litros e, em uma década, chegaremos aos 30 bilhões de litros. No médio e longo prazos, o Brasil possui potencial para exportar, anualmente, centenas de bilhões de litros de álcool. Porém, o álcool, que é hoje a realidade bio-energética, não é a perspectiva futura mais alvissareira. Esta posição será ocupada pelos biocombustíveis derivados de óleos vegetais, dada sua elevada densidade energética, útil nas aplicações pesadas, como transporte de passageiros e cargas, aplicações industriais, geração de energia elétrica, aquecimento, etc. O consumo atual de energia no mundo é estimado em 400 EJ/ano e, para o ano de 2100, antecipa-se uma demanda de 2.700

EJ. Até lá, seria necessário seqüestrar 1,5 trilhões de toneladas de CO2 para estabilizar sua concentração na atmosfera. Alternativamente, pode-se evitar sua descarga na atmosfera substituindo energia fóssil por renovável, outra oportunidade contida na produção de biocombustíveis.

OPORTUNIDADE ENDÓGENA Os países ricos consomem 75% da energia fóssil do mundo. Os EUA respondem por 25% da poluição atmosférica mundial, devido ao intenso uso de energia fóssil e ao atraso tecnológico de suas principais plantas industriais. Também países com alta densidade populacional e restrições energéticas, como a Indonésia, a China e a Índia, serão grandes importadores de energia. Esta ameaça global, paradoxalmente, embute uma enorme oportunidade para o Brasil. Através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto, do Clean Air Act dos EUA e da legislação de outros países, como os europeus, conformase um grande mercado de despoluição atmosférica, o chamado mercado de carbono. Por este mecanismo, em tudo similar a uma bolsa de valores, países que possuem restrições para reduzir suas emissões de GEE pagam para que outros países reduzam suas emissões ou fixem carbono atmosférico. Um programa de produção de biocombustíveis, especialmente se baseado em palmáceas, possui o duplo condão de reduzir as emissões e de fixar carbono atmosférico. Isto posto, o Brasil poderá captar recursos internacionais dos créditos de carbono, para financiar sua indústria de biocombustíveis e abastecer o mundo com energia renovável.

TECNOLOGIA E COMPETITIVIDADE O Brasil possui vantagens comparativas invulgares, derivadas de sua localização geográfica privilegiada e da extensão de terras a ocupar. Entretanto, a ocupação de espaço na futura matriz energética por biomassa não é

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um fato líquido e certo. A única invariante deste cenário é o consumo cada vez menor de combustíveis fósseis. A Ciência avança a passos largos e novas alternativas surgirão da cornucópia dos cientistas. Ocuparão o maior espaço negocial aqueles países que detiverem a melhor tecnologia, que compatibilize baixos custos com alta eficiência energética e menor impacto ambiental. Governos de diferentes países estão excitando seus agrupamentos científicos para encontrar uma solução poderosa, que resolva o suprimento energético e lhes abra uma perspectiva negocial, com ganhos ambientais, econômicos, comerciais e estratégicos. Como corolário, para completar o tripé que conferirá sustentabilidade à ocupação deste espaço negocial, urge que o Brasil decuplique seus investimentos em PD&I. O senso comum intui que, se o Brasil não for o líder mundial de tecnologia para produção de biocombustíveis, as vantagens naturais de solo e clima serão obnubiladas por tecnologias mais eficientes, geradas alhures, que viabilizarão outras fontes de energia. Seria um monumental erro estratégico, jamais perdoado pelas gerações futuras, se deixássemos escapar uma oportunidade única na história mundial para melhorar nossos indicadores econômicos e sociais. Consentânea com o desafio histórico, a Embrapa definiu duas de suas três prioridades máximas para 2005: bi-

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ocombustíveis e mercado de carbono. A outra é a biotecnologia.

OPORTUNIDADES A exposição acima remete às oportunidades que se descortinam para o nosso país, com a produção de biocombustíveis: 1) Ambiental: o Brasil, como provedor de bioenergia renovável, reduzirá o impacto ambiental em seu território e apropriar-se-á de recursos dos créditos de carbono para financiar seu desenvolvimento; 2) Econômica: a energia renovável será um dos mais importantes negócios do mundo, que superará em valor o complexo energético e químico baseado em carbono. O Brasil poderá ocupar o vácuo que será gerado com o esgotamento das reservas de petróleo, transmutando-se de importador para exportador de energia; 3) Comercial: a agricultura de energia será o maior negócio no seio do agronegócio internacional, até a metade deste século. Não existe outro país do mundo com vantagens naturais comparáveis às brasileiras para dominar este segmento. O Brasil possui condições de obter um enorme saldo comercial nas transações com o exterior, alicerçado na agricultura de energia; 4) Social: a produção de biomassa permitirá um aumento ponderável da renda nacional, com distribuição mais eqüitativa; ge-

ração de grande número de empregos e outras oportunidades de renda, com baixo investimento; inversão dos fluxos migratórios e interiorização do desenvolvimento; e ampliação da arrecadação tributária (sem o acréscimo de alíquotas ou criação de novos impostos) para aplicação em saúde, educação, habitação e segurança; 5) Tecnológica: o Brasil pode consolidar sua liderança em tecnologia para o agronegócio tropical, constituindo uma plataforma com poder de induzir inovações em outros setores de PD&I, alavancando outros segmentos empresariais do agronegócio; e 6) Estratégica: ancorado em um agronegócio potente e com uma imagem positiva, associada à proteção ambiental, o Brasil magnificará seu peso específico no concerto das Nações, que conferirá ao nosso país um poder de negociação potencializado em relação ao nosso passado recente. Conforme postulamos há dois anos, a oportunidade está posta e depende apenas da visão estratégica de nossas autoridades e lideranças capturá-la, em benefício dos nosC sos filhos e netos. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Safra começa a chegar no Brasil e aponta recorde histórico Os produtores estão colhendo as primeiras lavouras da safra brasileira, com soja entrando no Mato Grosso, milho chegando no Paraná e arroz sendo colhido em Santa Catarina e também no Mato Grosso. Isso cria uma pressão de oferta crescente do produto novo que limita as cotações neste início de safra porque o câmbio continua sendo o calo para os produtores brasileiros. Enquanto a moeda americana segue defasada, só beneficia para a compra de alguns insumos que são importados e afeta todo o faturamento do setor. Neste ano, as margens de ganhos dos produtores serão menores que os níveis conseguidos nos últimos três anos e a saída para o setor neste momento é ganhar na produtividade para conseguir tirar os custos e uma fatia boa de lucratividade. O milho, que foi o patinho feio no ano passado, caminha para se destacar como o produto de melhor rentabilidade, isto porque o consumo está sinalizando para forte crescimento e, como houve perdas nas lavouras do Sul do país em função da seca, estamos fechando o ano comercial com estoques baixos e teremos um quadro de entressafra bastante apertado. Enquanto isso, para a soja projeta-se um recorde histórico de exportação onde poderemos ver cerca de 44 milhões de t do complexo (grão, farelo e óleo), contra cerca de 38 milhões de embarcadas nesta última safra. Para o setor do algodão a saída continuará sendo a exportação e o apoio do governo com as políticas de comercialização. O produto que se destaca como um dos deixados de lado pelo governo é o arroz. Este terá necessidade de apoio comercial, porque somente as indústrias não terão fôlego para segurar a boa safra que está sendo esperada. E para que não ocorra queda das cotações abaixo do mínimo de garantia, o governo terá que liberar recursos para a comercialização, junto com opções e até mesmo formação de estoques oficiais. O quadro geral poderá ser melhor do que está sendo pintado pela maior parte dos operadores, porque os produtores estão capitalizados e podem optar pelo melhor momento de comercialização e até carregar parte da safra por conta própria para vender mais à frente. Por isso, é muito importante para o segmento agrícola que os produtores não trabalhem com alto grau de endividamento. A grande saída continua sendo alta produtividade e boa qualidade. MILHO Safra chega e acalma o mercado O mercado do milho nos primeiros dias do ano teve forte pressão de alta vinda dos consumidores do Rio Grande do Sul que, ao verem a safra local sendo ceifada pela seca, entraram para se abastecer e acabaram fortalecendo as cotações no Sul e também nas demais regiões do país. O milho chegou a trabalhar com alta de 15% sobre os números que operavam em dezembro. Enquanto isso, no final de janeiro, o quadro do mercado mostrava calmaria, porque a safra está chegando no Paraná e pontos de Santa Catarina sendo que, em fevereiro chegará a outras regiões produtoras e, desta forma, abastecerá as necessidades do momento da maior parte dos consumidores. No ano passado, os consumidores deixaram os produtores carregarem os estoques e as cotações não evoluíram porque tínhamos estoque de passagem e safra cheia. Agora o quadro poderá mudar porque ainda há muita indefinição sobre a safrinha. Poderá ser o destaque do setor agrícola neste ano, pois o segmento de carnes está com grandes expectativas de crescimento. SOJA Clima favorece e safra vem cheia O clima esteve mostrando boas condições para maior parte das lavouras do país, com exceções no Sul e Nordeste, caminhando para uma safra cheia, com indicativos de 61 a 65 milhões de t (contra as 50 colhidas na safra passada). Com isso, os embarques na exportação deverão ser recordes e, assim, oportunizar boa liquidez aos produtores. O mercado da soja necessita que o câmbio seja corrigido para próximo ou acima dos R$ 3,00, o que daria aos produtores cotações com boa rentabilidade. Os indicativos em dólar caminham para operar entre os US$ 7,50 e os R$ 11,50 para as principais regiões produtoras do país. A boa notícia poderia vir dos EUA, com a redução do plantio em função da ferrugem - que já está em nove dos estados produtores. FEIJÃO Boas expectativas O feijão está se dirigindo para um bom ano comercial, porque os produtores diminuíram a área e a safra começa o ano apontada abaixo das 2,8 milhões de t. Como o consumo neste ano deverá

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girar ao redor das 3 milhões de t, o quadro fica apertado. Em 2004, passamos a maior parte do período com grandes volumes de feijão de baixa qualidade parados nas mãos dos produtores, inibindo as tentativas de ajustes que ocorriam. Este ano, começamos com perdas grandes na safra do Irecê no Nordeste e, ainda, redução do plantio no Paraná e em Minas Gerais, além de forte queda em São Paulo, deixando as cotações fortes para os produtores que devem continuar dominando os negócios e caminhando para ser um bom ano para o segmento. ARROZ Safra chegando e mercado lento O mercado do arroz teve um momento de alta nos indicativos do produto de melhor qualidade no Rio Grande do Sul em janeiro, mas já sinaliza para calmaria nas próximas semanas. Com a safra

se aproximando em boas condições, tudo aponta para crescimento na produtividade e na qualidade, levando a boas ofertas de produto novo em fevereiro e poucas chances de alta neste momento. Os produtores necessitarão que o governo entre o mais rapidamente na comercialização para apoiar o segmento, porque em março veremos argentinos e uruguaios vendendo arroz por aqui, exercendo pressão que poderá derrubar as cotações abaixo do mínimo de garantia, ou seja, muito abaixo dos custos e, desta forma, prejudicar os produtores. Se o câmbio continuar baixo, a entrada de arroz do Mercosul não terá como ser barrada, e assim, o governo terá que apoiar o segmento para não causar um grande desestímulo ao novo plantio. As exportações poderão ser uma boa alternativa, mas ainda não temos tradição com o arroz. Além disso, no mercado mundial o quadro geral é de aperto e há necessidade de novos fornecedores.

CURTAS E BOAS SOJA - a Abiove estima a safra brasileira em 61,5 milhões de t para esta safra (2004/05), contra as 50,8 da safra passada. O esmagamento interno deverá chegar à marca das 32,2 milhões de t. ARGENTINA - o fechamento do plantio da safra portenha veio com 14,2 milhões de ha para a soja, igual ao anterior, e mostra estimativas de colher entre 36 e 39 milhões de t. Para o milho, o plantio foi de 3,3 milhões de ha contra pouco mais de 2,8 anterior e projeta colher 17 milhões de t. Já o arroz teve um plantio de 178 mil hectares e mostra indicativos de passar a marca de um milhão de t, sendo que mais da metade deste volume deve ir para a exportação. O Brasil está na mira dos negócios. TRIGO - os produtores continuam reclamando que os indicativos foram fracos até agora, mas as indústrias devem melhorar a pressão de compra a partir de fevereiro e o produto poderá ter melhor liquidez. Até agora não rodava acima dos R$ 390/t nas melhores posições e apontava até abaixo dos R$ 340. O problema do trigo continua sendo o câmbio, que necessita de correção para dar aos produtores uma melhor rentabilidade. MILHO - a boa notícia para o milho vem do setor de carnes que neste ano deverá se destacar com novos recordes de embarques para o mercado mundial. O frango deve bater recorde de embarque, devendo o mesmo ocorrer com o suíno e, desta forma, o consumo de milho pelo segmento de ração será o maior da história, com 28 milhões de t. Mas há chances de quebrar a marca das 30 milhões, dando suporte a boas cotações aos produtores. ALGODÃO - os indicativos do mercado do algodão neste ano alinham para uma produção de cerca de 11 milhões de fardos. A produção está acima das expectativas de consumo e, mesmo com os derivados do petróleo em alta, não tem conseguido dar sustentação à pluma porque a demanda segue das mãos para boca e muito produto está sendo projetado para estoque de passagem, com 47 milhões de t previsto no final deste ano comercial, contra os 35,6 da safra anterior. A saída vem do crescimento do dólar e do apoio do governo com opções e Pep. Ou os produtores devem procurar ter produtividade alta para baixar o custo final do fardo.

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