Cultivar 71

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Cultivar Grandes Culturas • Ano VI • Nº 71 • Março 2005 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

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Foto Capa / Marco A. Lucini

Destaques

Rotação é controle Suprimir ou eliminar o substrato que mantém os patógenos são as principais vantagens da rotação

20 A devastadora O cultivo precoce de soja no Mato Grosso e o período de estiagem favoreceu surto de mosca branca

Nossos cadernos

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Fotos de Capa

Sob ataque

José Francisco Garcia

Sem as queimadas, a cigarrinha-dasraízes, principal praga da cana, continua tirando o sono dos produtores

Newton Peter

32 Ataque em sucessão Praga do milho, a Spodoptera migrou para lavouras de algodão, e continua sem manejo adequado

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL

Direção 3028.4013 • REDAÇÃO: Newton Peter Schubert 3028.4002 K. Peter / 3028.4003 • MARKETING:

Índice

REDAÇÃO • Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Diretas

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www.cultivar.inf.br 3028.4001 cultivar@cultivar.inf.br

Trigo: perspectivas para a safra 2005

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Vantagens da rotação de cultura em trigo

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COMERCIAL

Números atrasados: R$ 15,00

Atuação dos herbicidas nas defesas da planta 12

Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

Produção de biodisel com mamona

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Sedeli Feijó Silvia Primeira

Mosca-branca em soja

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Cigarrinha-da-raiz em cana

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CIRCULAÇÃO

Show Tec 2005

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Cibele Oliveira da Costa

3028.4004 / 3028.4005 • FAX:

Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070

Algodão: Controle de invasoras

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• Redação: 3028.2060

Spodoptera em algodão

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• Marketing: 3028.2065

Empresas: Bayer

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Pragas quarentenárias

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Lançamento Bayer

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Negócios

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Informe Jurídico

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Coluna Aenda

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Agronegócios

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Mercado Agrícola

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Pedro Batistin

• Gerente

• Assinaturas

Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas

Contra ferrugem Durante o Show Rural, a Syngenta divulgou o novo fungicida Priori Xtra, considerado uma solução definitiva para o controle das doenças da soja e trigo, garantindo o Marcos Antonio Basso retorno do investimento nas lavouras, afirma o gerente de marketing soja Marcos AntonioBasso.

Novidade

Joelson Mader (dir.)

A Sinon do Brasil deverá lançar ainda neste semestre novos herbicidas. O anúncio foi feito pelo gerente de marketing Joelson Mader durante o Show Rural.

Eminent A Hokko do Brasil divulgou seu portfólio de produtos com destaque para o Eminent. “É um fungicida de última geração, com tecnologia exclusiva da Hokko do Brasil, com a mesma eficácia em Nilson da Silva qualquer variedade de soja, ou seja, um fungicida completo”, destaca o coordenador de marketing de grandes culturas, Nilson Antonio da Silva.

Desafios Silvio Crestana, novo diretor-presidente da Embrapa, já começa a traçar novos planos para a instituição. Integram ainda a nova diretoria executiva Tatiana Deane de Abreu Sá, José Geraldo Eugênio Silvio Crestana de França e Kepler Euclides Filho.

Publicação A Embrapa Pecuária Sudeste lançou a obra Características de corretivos agrícolas, dos pesquisadores Ana Cândida Primavesi e Odo Primavesi, sobre características e qualidades dos corretivos, em especial as do calcário. Compras (16) 3361-5611

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30 anos A Embrapa Milho e Sorgo está completando 30 anos. Localizada em Sete Lagoas, região Central de Minas Gerais, a unidade foi criada com o objetivo de executar atividades de pesquisa visando à solução dos problemas que limitam o desenvolvimento das duas culturas.

Eventos De fevereiro a 10 de dezembro de 2005 está sendo realizado o 7° curso de especialização em manejo do solo, promovido pelo Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ), em Piracicaba(SP). Informações: (19) 3417-6604 ou cdt@fealq.org.br.

Dia de campo A Agromen realiza no dia 18 de março, em Campo Alegre de Goiás (GO), mais um dia de campo. São esperados 650 visitantes e os pesquisadores irão expor aos agricultores como funciona o programa de melhoramento genético da empresa e tecnologias disponíveis para milho, soja e sorgo.

Navegando O estande da Cheminova no formato de um barco Viking, com 18 metros de comprimento e oito de altura, foi umas das atrações do Show Rural Coopavel 2005. A apresentação diferenciada teve como objetivo atrair os visitantes, fortalecendo a marca e divulgando seus produtos junto os agropecuaristas da região.

Domark A Sipcam está divulgando amplamente o Domark 100 CE, fungicida sistêmico de ação preventiva e curativa. O produto tem amplo espectro de ação, destaca Marina Braga, coordenadora de marketing.

Marina Braga

Dupont Acerta A Dupont apresentou na Coopavel dados do projeto Dupont Acerta, uma parceria da empresa com a Comam que tem como objetivo inspecionar pulverizadores, quantificar as perdas e instruir os produtores sobre a importância da manutenção nas máquinas, explica o gerente de marJulio Cézar Lima keting da empresa, Julio Cézar Lima.

Perspectivas O gerente de marketing da Milenia Agro Ciências S.A., Gustavo de Carvalho Pinto, juntamente com sua equipe, disse estar satisfeito com os resultados de 2004 Gustavo Pinto e com boas perspectivas para 2005.

Praia no Show Rural A Agripec participou pela primeira vez do Show Rural Coopavel com uma surpresa aos visitantes. O interior do estande tinha como tema a Orla de Fortaleza, com as famosas praias da capital cearense, estado de origem da empresa. Karine Studart, do departamento de comunicação da Agripec, coordenou os trabalhos Karine Studart na feira.

Cooplantio nos EUA

Justiça

Dirceu Gassen, agrônomo e gerente técnico da Cooplantio, palestrou na 8ª Conferência Anual sobre Plantio Direto do Noroeste dos EUA e na Conferência de Inverno de Plantio Direto nas Grandes Planícies. Marcou presença também no evento Mentes Inovadoras em Agricultura. Segundo Gassen, a principal vantagem do intercâmbio foi o acesso a novas informações, equipamentos utilizados e percepção do rumo que está tomando o PD e o agronegócio. Dirceu Gassen

Será lançado em março o quinto título do Grupo Cultivar. A revista Cultivar Justiça é destinada a empresários e profissionais liberais e trará esclarecimentos sobre todas as áreas do Direito. “Queremos auxiliar empresários e profissionais a pensar com mais clareza sobre as implicações legais de suas ações, sobre como evitar problemas e fazer economia na hora de pagar impostos”, adianta o diretor do Grupo Cultivar, Newton Peter. Newton Peter

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Alternativa O consultor técnico Wilian Araújo e o supervisor regional Márcio Luiz Sgarbossa, da Alternativa Agrícola, Araújo e Sgarbossa estiveram presentes no estande da FT Sementes comprovando resultados dos produtos da marca Ajinomoto e confirmaram participação na Expodireto em Não-Me-Toque (RS).

Sementes Adriana A Sementes Adriana, maior produtora individual de sementes de soja e milheto da América Latina, vai surpreender o público da Expodireto com a nova variedade de milheto da empresa, garante Fernando Luiz Bianchi.

BASF para Ásia A Basf e seus colaboradores doaram cerca de r 3,8 milhões para ajudar as vítimas do tsunami na Ásia. O dinheiro foi disponibilizado para projetos de ajuda de médio e curto prazo na Indonésia, Sri Lanka, Índia e Tailândia.

Obra

Fernando Bianchi

Visita O engenheiro agrônomo Elias Jacob Abraão Júnior, da Coodetec, defendeu sua tese de mestrado na Universidade Federal de Pelotas. Na oportunidade, ele visitou a nova sede do GruElias Jacob Abraão po Cultivar.

Qualidade A Nortox, procurando atender um mercado cada vez mais exigente e competitivo, participou do Show Rural Coopavel, com sua capacitada equipe divulgou sua ampla linha de produtos, voltadas as novas realidades da agricultura e pecuária.

Livro Embrapa lança livro sobre clonagem de plantas por sementes. Segundo o chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral, o livro mostra os resultados e esforços da técnica de apomixia, de forma a aprofundar o conhecimento e incrementar o agronegócio brasileiro. Para adquirir: vendas@cenargen.embrapa.br ou (61) 448-4763.

Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna (SP), lança o livro Mudanças climáticas globais e doenças de plantas. Segundo a autora Raquel Ghini, a obra trata das mudanças climáticas na agricultura, os efeitos dessas mudanças sobre o ciclo das relações patógeno/ hospedeiro e os impactos nas doenças das plantas. Pode ser adquirido pelo sac@cnpma.embrapa.br.

Expo Direto A Laborsan Agro, pioneira em tecnologia de polímeros de revestimento com uso de resinas atóxicas em sementes, apresentará os resultados de ganhos reais de produtividade associados ao tratamento de sementes na na Expodireto Cotrijal 2005, em Não-MeToque (RS).

Soja no PR A Fundação Pró-Sementes em parceria com a Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS), apresentou diversas cultivares de soja no Show Rural, destacando algumas com características específicas e potencial produtivo para as condições do Paraná, destaca a gerente de marketing Nilva IorNilva Iorczeski da Silva czeski da Silva.

Divulgação O pesquisador Paulo Fernando Bertagnolli, da Embrapa Trigo, apresentou seus experimentos com soja no Show Rural e divulgou o 3º Congresso Brasileiro de Melhoramento de Plantas, que acontece no Hotel Serrano em Gramado (RS), de 9 a 12 Paulo Bertagnolli de maio de 2005.

Web Em 2005 a Pioneer Sementes vai intensificar a relação com seus clientes pela internet. “Vamos investir bastante na aproximação ainda maior com os produtores”, garante Alice de Oliveira, do departaAlice de Oliveira mento de marketing da empresa.

Glifosato A Monsanto lançou, em comemoração aos 30 anos de Roundup, o livro Glifosato: alguns aspectos da utilização do herbicida na agricultura, dos pesquisadores Antonio Galli, gerente técnico de agroquímicos; e Marcelo Montezuma, coordenador de desenvolvimento de produto.

Otimismo O gerente de projetos de desenvolvimento de mercado da Basf, Carlos Antônio Medeiros, está otimista com os resultados dos programas Solusoja e ExpertSoja, que têm como objetivo auxiliar os produtores a diagnosticar a presença de ferCarlos Medeiros rugem e demais doenças da soja.

Passarela

Plantando o 7

A Bayer marcou presença no Show Rural de forma bastante intensa, patrocinando as passarelas cobertas em grande parte do parque e também nos quiosques com sombra e água fresca. Além de colaborar com o bemestar dos visitantes, a empresa montou um grande estande para receber os produtores.

A FMC Agricultural Products utilizou teatro para atrair a atenção do público no Show Rural. Com a peça “Plantando o 7” a empresa apresentou ao público a importância dos sete hábitos de atuação responsável, que, de forma simples e direta, sintetizam tudo o que o agricultor deve fazer antes, durante e depois de utilizar produtos químicos. A peça faz parte do Programa de Atuação Responsável da empresa, que já atingiu mais de 11 mil crianças e adolescentes em São Paulo e Goiás.

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Trigo

Trigo: uma boa o Totalmente dependente do produto importado, o produtor brasileiro hoje domina a tecnologia da produção e busca ganhos econômicos com o trigo

O

s produtores brasileiros nos últimos anos saíram de produtividades ao redor dos mil kg por hectare para níveis de 4-6 toneladas por hectare, que já podemos ver nas lavouras plantadas com variedades de trigo de qualidade superior. Com isso, já estamos colhendo a safra com produto que pode ser melhor que o trigo importado da Argentina e assim dar ao setor industrial um produto de excelente qualidade e que, agora, é misturado ao argentino para melhorar o importado. Ainda temos muitos produtores colhendo trigo de qualidade inferior e com isso baixa demanda interna, que no último ano foi exportado para conseguir ter liquidez. Mas, no quadro inicial, pode-se salientar que já temos tecnologia, variedades e capacidade para colher todo o trigo que necessitamos para o consumo interno. Porém, ainda estamos distantes de chegarmos à auto-suficiência, porque este novo ano aponta para uma safra na faixa das 6 milhões de t e ainda distante das necessidades de consumo, que têm ficado na faixa das 10 milhões de t. Assim, seguimos como um dos grandes países importadores. O mercado interno é totalmente dependente do trigo internacional, que neste ano está mostrando uma safra maior do que o consumo. A exemplo dos demais produtos agrícolas provocou queda nas cotações do cereal a nível internacional, anteriormente praticado dos US$ 140,00 ao US$ 180,00 por t no mercado mundial, e que nos dava vantagem porque os custos de internalização também cresceram. Agora os indicativos estão girando entre os US$ 110,00 e US$ 145,00 por t, o que serviu para limitar as cotações do produto nacional na safra que colhemos neste último ano e junto diminuiu a liquidez do produto. Isso porque os moinhos estavam levando das mãos para a boca e não mostrando interesse em formar estoques. Como o produto importado normalmente vem com prazo para o pagamento, este se tornava mais interessante que o trigo nacional. O mercado mundial está mostrando uma produção de 622 milhões de t para um consumo apontado em 608 milhões de t e, assim, crescem os estoques de passagem, que agora estão projetados em 145 milhões de t. Mas mesmo com o crescimento destes, não estão

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ainda perto das médias históricas, que ficam próximas das 180 milhões de t, e também distante dos níveis dos últimos seis anos, quando se mantinha níveis próximos das 200 milhões de t. Ou seja, depois de vários anos estamos tendo uma safra maior que o consumo e isso tem sido fator limitante ao novo plantio também em outros países, como no caso de Europa, EUA, Austrália e Canadá, que são grandes fornecedores para o mercado mundial. A boa notícia que está aparecendo para o trigo é que a China está no mercado e mostra intenção inicial de importar 8 milhões de t neste ano. Normalmente quando eles apontam um número, acabam levando muito mais e, desta forma, fortalecem as cotações, exatamente como fizeram nos últimos três anos com a soja. A Argentina, vendo que o Brasil tem diminuído o ritmo de compras de trigo desta origem, está buscando novos mercados e a China é vista com bons olhos, onde se acredita colocar cerca de um milhão de t neste ano e, assim, diminuir a pressão de venda do produto no mercado brasileiro. Como pode se observar no quadro de oferta e demanda mundial, estamos com o consumo em crescimento para este novo ano, sinalizando que o volume de negócios crescerá. Isso mostra exportações e importações acima das 105 milhões de t, dando aos produtores brasileiros também uma expectativa de melhor liquidez no segmento, que nos últimos anos teve como gargalo a dificuldade para comercializar o trigo, devido ao pequeno número de compradores no mercado interno. Neste ano, temos que levar como fator positivo a presença de novos moinhos, pertencentes a produtores e cooperativas, aumentando a demanda interna. Um dos problemas para os produtores nos últimos anos foi a presença de poucos compradores no mercado, o que aos poucos deverá ser melhorado porque, neste ano, várias unidades industriais deverão en-

trar em atividade e há vários projetos para novas instalações para os próximos anos. A exportação de trigo pelo Brasil, por enquanto, está com pouca expectativa de manter o ritmo do ano passado, que superou a marca das 1,3 milhões de t, mas os números atuais projetados em 250 mil t podem ser facilmente superados se tivermos apoio do câmbio, que poderá melhorar no segundo semestre.

MILHO PERDE ÁREA PARA O TRIGO Trigo está sendo uma alternativa aos produtores do milho safrinha, porque o milho está em atraso, em função da colheita da soja. O milho está com cotações abaixo dos custos de produção e, como a safrinha tem maior risco que o trigo, deverá perder área e produtores devem optar pela cultura do inverno como uma boa alternativa econômica. Os primeiros indicativos apontam que a safrinha do milho

Oferta e demanda mundial de trigo (milhões de T) Safra 00/01 03/04 04/05*

Estoque Inicial 206,6 167,6 130,9

Produção 582,7 552,8 622,2

Importação 101,5 102,8 105,1

Consumo 584,4 589,5 607,8

Exportação 102,1 102,8 105,0

Estoque Final 204,3 130,9 145,4

Fonte: USDA, Brandalizze Consulting

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Fotos Charles Echer

pção

Boa notícia: China pretende importar oito milhões de toneladas de trigo neste ano

poderá perder entre 300 e 500 mil ha neste ano. Parte desta área deve ser ocupada com trigo, que tem um período mais largo para o plantio. Convém lembrar que a troca se torna interessante para os produtores quando estes colherem alta produtividade e qualidade. Com isso, espera-se que a nova safra do trigo possa novamente a bater a marca dos 2,7 milhões de hectares, mas para que isso ocorra o governo deverá liberar recursos para o plantio, que, se vierem, poderíamos chegar à marca dos 3 milhões de ha e assim, obter uma safra de 7 milhões de t em 2005/06. A cultura do trigo, principalmente para os produtores do Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul, vem como uma parte do ciclo produtivo, porque nela se pode ter o apoio de uma boa palhada para o plantio direto da cultura de verão, que normalmente é a soja, e também para manter controladas as plantas daninhas, bem como para manter o quadro de fertilidade do solo em crescimento e, assim, garantir na frente uma boa safra de verão.

CONSUMO ESTABILIZADO O quadro nacional do consumo do trigo, que teve um grande avanço da década de 90

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até 2000, está estável e não mostra fôlego para crescer, e isso seria um fator limitante para o plantio da safra nacional. Mas, como neste momento estamos com os custos de importação em crescimento, principalmente os ligados aos fretes marítimos e às despesas portuárias, teremos estes como vantagem interna. Para se ter uma idéia, há cerca de três anos o frete da Argentina até o Brasil não passava de US$ 12,00 por t, e o custo do porto não era maior do que US$ 4,00 por t para descarregar. Agora, chegamos a indicativos de US$ 20,00/25,00 por t de frete e outros US$ 6,00 a US$ 12,00 para descarregar. Com isso, mesmo se comprando trigo com preços baixos no mercado mundial, este acaba chegando com valores médios a altos, servindo como estímulo para as cotações internas. Se fecharmos trigo na Argentina nos US$ 110,00 por t, e gastarmos US$ 30,00 para trazermos até o mercado interno, ficaremos com US$ 140,00 por t mais o custo do frete até o moinho. Assim, aponta-se como base para o mercado interno Área plantada com trigo e expectativa da safra nova do Brasil (1000 ha) Safra 03/04 04/05

RS 1.040 1.090

SC 74 81

PR 1.180 1.380

SP 47 54

MS 93 136

a casa dos US$ 130,00 por t e, com o decorrer do ano, poderemos passar da marca dos US$ 140,00 por t, que se torna interessante para os produtores. Além dos motivos citados acima, ainda temos como fator de apoio aos produtores o câmbio que, neste momento, está no fundo do poço e, na nossa opinião, está operando no efeito mola. Ou seja, apertado para baixo (o máximo que puder) e no momento que o governo perder o controle (fato este que já ocorreu muitas vezes em anos anteriores), ele saltará para cima, como uma mola quando está apertada e é liberada abruptamente. Desta forma o setor produtivo ganhará em reais. O câmbio baixo no momento favorece a compra dos insumos, mas não se recomenda que os produtores se endividem em dólar neste momento, porque poderão ter que enfrentar uma moeda forte à frente e aí comprometer a lucratividade. C Vlamir Brandalizze, Brandalizze Consulting brandalizze@uol.com.br Divulgação

BR 2.460 2.755

Fonte: CONAB, Brandalizze Consulting

Trigo: oferta e demanda do Brasil (1000 t) Safra OFERTA Est. Iniciais Produção Importação Oferta total DEMANDA Consumo Exportação Est. Final

01/02

02/03

03/04

04/05

715 3.190 7.100 11.005

805 2.910 6.850 10.565

665 5.850 5.700 12.215

690 6.050 5.200 11.940

10.200

9.900

805

665

10.150 1.375 690

10.300 250 1.390

Brandalizze avalia nova safra do trigo, que promete bons negócios

Fonte: Conab; Brandalizze Consulting, Abitrigo, Decex

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Trigo Suprimir ou eliminar o substrato que mantém a sobrevivência dos patógenos são as principais vantagens conseguidas com a rotação de culturas no controle das potenciais doenças que podem atacar a cultura

A

s principais estratégias de controle de doenças do trigo concentram-se no uso de cultivares resistentes e de sementes sadias, no tratamento de sementes com fungicidas, no emprego da rotação de culturas, na escolha da época de semeadura, na eliminação de plantas voluntárias e hospe-

Patógenos que dependem nutricionalmente dos restos culturais perecem por inanição, competição e antibiose durante a decomposição da matéria orgânica

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deiros secundários e na aplicação de fungicidas nos órgãos aéreos. O uso de cultivares resistentes tem apresentado sucesso no controle do oídio, da ferrugem da folha, do carvão e do vírus do mosaico comum. O mesmo sucesso não tem sido obtido para o controle de podridões radiculares, manchas foliares, brusone, giberela e VNAC. No que diz respeito aos patógenos associados e transmitidos pela semente, como, por exemplo, os agentes causais de manchas foliares (fungos causadores de mancha amarela, mancha marrom e septoriose), o controle tem sido feito pelo tratamento de semente com fungicida em dose eficiente. No sistema plantio direto, o uso de semente sadia e/ou o tratamento com fungicida evita que os fungos fitopatogênicos sejam introduzidos na lavoura via semente. Caso os patógenos sejam introduzidos na lavoura pela semente, a intensidade das manchas foliares agora será função das condições climáticas (temperatura média e período de

molhamento favorável ao processo de infecção). Durante a fase de espigamento o inóculo produzido sobre as manchas foliares pode atingir a espiga e infectar as sementes em formação. Depois da colheita, além das sementes, os fungos podem sobreviver saprofiticamente nos restos culturais, que em plantio direto apresentam a máxima quantidade de resíduo sobre a superfície do solo, se comparado com outros sistemas de manejo do solo. Se a semeadura do próximo cultivo de trigo ocorrer nesta área, sobre os restos culturais infectados, o inóculo presente na palha apresentará potencial suficiente para iniciar uma epidemia de manchas foliares logo no início de desenvolvimento das plântulas de trigo. Nesta situação, o trigo estará sendo cultivado em monocultura, e o inóculo presente na semente apresentará menor importância. Portanto, no sistema plantio direto é fundamental a associação do uso de sementes sadias e/ou tratadas com

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Tabela 1 - Efeitos de sistemas de rotação de culturas na severidade de doenças do sistema radicular de trigo em plantio direto Sistema de rotação Sistema I1 Sistema II2 Sistema III3 Sistema IV4 Média C.V. (%)

Ano 1987 1988 1989 1990 56 a 12 50 a 33 a 9b 9 14 b 9 b 8b 9 10 b 11 b 9 15 b 11 b 9b 21 10 22 16 23 19 22 23

1991 32 a 21 ab 9c 15 bc 19 18

Média 1993 50 a 39 a 7 b 12 b 7b 9b 8 b 11 b 18 18 35

1Sistema I: trigo/soja (monocultura); 2Sistema II: trigo/soja e ervilhaca/milho ou aveia/ soja; 3Sistema III: trigo/soja, linho/soja ou aveia branca e ervilhaca/milho; 4Sistema IV: trigo/soja, aveia branca/soja, cevada/soja e tremoço/milho. Médias seguidas pela mesma letra, na vertical, não diferem entre si, ao nível de 5 % de probabilidade, pelo teste de Duncan Fonte: Santos et al., 1998)

fungicidas eficientes e da adoção de um programa de rotação e de sucessão de culturas que visem eliminar e/ou reduzir os patógenos nos locais onde eles sobrevivem. Muitas vezes são confundidos os significados dos termos sucessão e rotação

de culturas. Conceitua-se sucessão de culturas como a seqüência pré-estabelecida de culturas, dentro do mesmo ano agrícola. O cultivo de trigo, por exemplo, após a soja, ao longo dos anos, é considerada como sendo uma sucessão de culturas e não rotação de culturas. Outro sistema largamente empregado no Brasil é o cultivo de milho ou de feijão safrinha. Nesta situação, em alguns casos, a mesma espécie vegetal está sendo cultivada em sucessão no mesmo ano agrícola; seria um exemplo de sucessão da mesma espécie vegetal ou dupla monocultura anual. Neste último caso, o manejo das culturas em safrinha pode determinar a intensidade máxima de uma doença. O princípio de controle envolvido na rotação de culturas é a supressão ou eliminação do substrato apropriado para o patógeno. Sob este ponto de vista, a rotação de culturas constitui-se, também,

numa medida de controle biológico. O efeito principal da rotação de culturas relaciona-se à fase de sobrevivência do patógeno, onde são submetidos a uma intensa competição microbiana, durante a qual, geralmente, levam desvantagem. Correm, também, o risco de não encontrar o hospedeiro, o que determina, geralmente, sua morte por desnutrição. Isto ocorre no período entre dois cultivos de uma planta anual, durante a fase saprofítica sobre os restos culturais. Os patógenos que dependem nutricionalmente dos restos culturais perecem por inanição, por competição e por antibiose durante o processo biológico de decomposição e posterior mineralização da matéria orgânica. O intervalo da rotação de culturas do trigo depende fundamentalmente do conhecimento da gama de hospedeiros e dos mecanismos de sobrevivência dos fungos, neste caso, dos agentes causais de manchas foliares, podridão comum de raízes e mal-do-pé, sendo, também, necessário quantificar-se o período de decomposição dos restos culturais do trigo na região de cultivo. Em trigo, os patógenos controláveis pela rotação de culturas apresentam as seguintes características: a) sobrevivem saprofiticamente nos restos culturais do trigo e não apresentam habilidade para trocar de hospedeiro; b) apresentam uma gama restrita de hospedeiros, tendo, portanto, pouca opção de parasitismo ou de saprofitismo na ausência do trigo; c) apresentam esporos relativamente grandes (> 60 ) e pesados, de ma-


neira que só são transportados pelo vento a curta distância (ex.: Bipolaris e Drechslera); d) no caso de apresentarem esporos pequenos, esses são sempre liberados dos corpos de frutificação e transportados veiculados a gotículas de chuva; por conseqüência, também são transportados apenas a curtas distâncias (ex.: Septoria); e) não apresentam estruturas de resistência de modo a permitir sua sobrevivência por mais de dois anos livres no solo e, portanto, independentes dos restos culturais que já sofreram o processo de mineralização. O fungo Gaeümannomyces graminis var. tritici, agente causal do mal-do-pé de trigo, sobrevive associado aos restos culturais no solo, principalmente, em tecidos coronais das plantas suscetíveis, como trigo, cevada, centeio e triticale. Se o trigo deixar de ser cultivado na mesma área, o patógeno será incapaz de parasitar a soja, a aveia, o tremoço ou a ervilhaca, sendo, portanto, dependente dos restos culturais do centeio, cevada, trigo e triticale. Quando se deixa um inverno sem semear trigo, cultivando-se então aveia, passam-se aproximadamente 18 meses desde a colheita do trigo até a nova semeadura após a aveia. Este período de tempo é suficiente para a mineralização dos restos culturais, que ocorre em torno de 16 a 18 meses na região do planalto médio do Rio Grande do Sul. Se for feita a semeadura de trigo na mesma área ano após ano, ou seja, monocultura, o fungo será realimentado a cada 6-7 meses [da colheita (novembro/dezembro) até nova semeadura (maio/junho)]. Outro exemplo é o agente causal da podridão comum de raízes do trigo, B. sorokiniana. Esse fungo se multiplica, pa-

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No trigo, muitos patógenos são controlados pela rotação de culturas por não sobreviverem saprofoticamente

rasitariamente na planta viva e saprofiticamente nos restos culturais de trigo, centeio, cevada e triticale, resultando na adição de inóculo no solo. Após a decomposição dos resíduos culturais, o fungo pode ainda sobreviver como conídios livres no solo, os quais permanecem dormentes sob fungistase por um período de até 37 meses (Reis, 1985). Fica claro que, além de multiplicar-se nos restos culturais, o fungo pode, após a mineralização, manter a viabilidade por um período extra. Apesar disso, a podridão comum de raízes tem sido manejada com o intervalo de um inverno de rotação (18 meses decorrem desde a colheita até o novo plantio do cereal de inverno) com espécies alternativas não suscetíveis. Embora nesse período o patógeno não perca completamente a viabilidade, há indícios de que a densidade de inóculo é mantida abaixo do limiar numérico de infecção (Casa & Reis, 1990). A eficiência da rotação de culturas, com o intervalo de um ou mais invernos, em reduzir a severidade das podridões radiculares do trigo está relatada na Tabela 1. Os patógenos agentes causais de manchas foliares Drechslera tritici-repentis (mancha amarela), Bipolaris sorokiniana (mancha marrom) e Septoria nodorum (septoriose) apresentam como principal mecanismo de sobrevivência as sementes e os restos culturais infectados. O controle destas doenças tem sido eficiente quando os patógenos são eliminados e/ou reduzidos na semente e palha infectada. O sucesso ocorre porque estes fungos patogênicos não apresentam es-

truturas de resistência (com exceção de conídios dormentes de B. sorokiniana) que lhes permitam sobreviver livres no solo após a decomposição dos restos culturais e por apresentarem esporos que não são disseminados pelo vento a longa distância. O efeito de métodos de manejo do solo na quantidade de restos culturais sobre a superfície do solo e sua relação com a quantidade de inóculo dos fungos B. sorokiniana e D. tritici-repentis está demonstrado na Tabela 2. Sob sistema de semeadura direta verifica-se que existe maior quantidade de inóculo disponível para atingir a cultura de trigo que irá emergir entre a palha infectada. Desta maneira, em plantio direto ocorre maior incidência e severidade de manchas foliares. A situação se agrava, com aumento das doenças, quando o trigo for semeado em monocultura e plantio direto (Tabela 3), uma vez que, com o cultivo de trigo safra após safra, no mesmo local, estará se semeando o trigo sobre a palha de trigo. Por outro lado, o inconveniente da monocultura é reduzido e/ou eliminado pelo cultivo do trigo em rotação de culturas, uma vez que, com um inverno de rotação, os restos culturais do trigo são praticamente eliminados da área de cultivo, reduzindo ou eliminando o inóculo de B. sorokiniana, D. tritici-repentis e S. nodorum. A escolha das culturas que poderão integrar um sistema de rotação com o trigo depende de fatores técnicos e econômicos. Dentre os fatores técnicos podem ser citados: a adaptação das culturas à região, considerando o risco de investimento; o aspecto fitossanitário em relação ao controle de doenças (não ser

Casa mostra a vantagem da rotação de culturas para o controle de doenças no trigo

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suscetível ao patógeno-alvo do controle) e de pragas; a possibilidade de uma cultura tornar-se planta daninha nos cultivos subseqüentes ou, de forma inversa, permitir o seu controle; o valor da tecnologia disponível para a cultura; a disponibilidade de equipamento e de mãode-obra necessária para sua exploração (Santos et al., 1983). Além disso, as culturas alternativas têm apresentado problemas de produção de sementes. Entre os fatores econômicos básicos estariam aqueles relativos ao custo de produção, à segurança de mercado e à disponibilidade de crédito para sua exploração. Uma espécie vegetal, para integrar um sistema de rotação com trigo, não pode ser hospedeira dos mesmos patógenos do trigo. Geralmente, as espécies de folhas largas são alternativas para integrar um sistema de rotação com gramíneas. No caso do trigo, no Sul do Brasil, podem ser cultivados como alternativas a ervilhaca, o nabo forrageiro, o chícharo, a serradela, os trevos e a colza. Como gramíneas, as aveias representam as principais espécies recomendadas como alternativas para o trigo, para a cevada e para o triticale. A rotação de culturas não controla o oídio e a ferrugem da folha, pois os fungos patogênicos destas duas doenças não sobrevivem nos restos culturas. Convém lembrar que estes patógenos também não sobrevivem na semente. Desta forma, o inóculo para a infecção de plantas de trigo na lavoura é originário de plantas voluntárias de trigo que persistem na região de cultivo, uma vez que os esporos dos dois fungos são pequenos e leves podendo serem disseminados a longa dis-

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Tabela 2 - Efeito de métodos de manejo de solo na quantidade de resíduos culturais de trigo remanescentes na superfície do solo e sua relação com a densidade de inóculo Variáveis avaliadas Resíduo cultural (g/m2) Resíduo cultural (%) Conídios de B. sorokiniana (no/m2) Pseudotécios de D. tritici-repentis (no/m2)

Plantio direto 271 100 1,59 x 106 11.653

Cultivo mínimo 170 63 9,99 x 105 7.310

Arado de discos 36 13 2,11 x 105 1.548

Arado de aivecas 11 6 7,27 x 104 516

Fonte: Reis et al., 1995

Tabela 3 - Efeito do manejo de solo e da rotação de culturas na incidência de manchas foliares de trigo, cultivar BR-23, no estádio de alongamento. Passo Fundo Sistema de rotação 1. Monocultura 2. Rotação (um inverno sem trigo) 3. Rotação (dois invernos sem trigo) Média C.V. (%) = 22,2

Plantio direto 85,9 aA 24,3 bA 23,8 bA 44,7 A

Fonte: Reis et al. (1997) PD= plantio direto; CM= cultivo mínimo; AD= arado de disco; AA= arado de aivecas Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas são estatisticamente iguais

tância (quilômetros) pelo vento. Apesar de também sobreviverem nas sementes e nos restos culturais do trigo, os agentes causais da giberela (Gibberella zeae) e da brusone (Pyricularia grisea) não são controlados pela rotação de culturas. Os dois fungos apresentam esporos pequenos e leves transportados pelo vento a longa distância e possuem uma ampla gama de hospedeiros, plantas cultivadas, nativas e invasoras, que impedem ou dificultam a redução ou eliminação do inóculo da área de cultivo. Por exemplo, o fungo agente causal da giberela além do trigo infecta outras plantas cultivadas de importância econômica

Métodos de manejo do solo Cultivo mínimo Arado de discos % 58,1 aB 29,4 aC 24,0 bA 16,0 aA 24,1 bA 18,5 aA 35,4 B 21,3 B

Média Arado de aivecas 24,6 aC 10,0 aA 23,7 aA 19,4 B

49,5 a 18,6 b 22,5 b

como as aveias, o centeio, a cevada, o triticale, o arroz, o milho, o e o sorgo. Também é encontrado em plantas invasoras e pastagens, como: alfafa, azevém, cevadilha, milhã, milheto, papuã, sorgo de alepo e trevo. O fungo também já foi encontrado colonizando vagens maduras e grãos de soja. Diante destes fatos é muito difícil obter espécies vegetais para integrar um sistema de rotação e de sucessão de culturas que não sejam hospedeiras de G. zeae, o que faz com que a giberela seja classificada como uma doença C de difícil controle. Ricardo Trezzi Casa, CAV/Udesc Erlei Melo Reis, FAMV/UPF

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Herbicidas Além do controle de plantas daninhas nas culturas, os herbicidas podem afetar os mecanismos de defesa das plantas aos patógenos devido aos efeitos secundários

A

exposição das plantas a fatores do ambiente, como variações em temperatura, umidade e radiação, e a agentes biológicos, como fungos, bactérias, vírus, nematóides, insetos e herbívoros, faz com que elas necessitem reagir contra esses estresses. As plantas, diferentemente dos animais, não possuem sistemas imunológicos para enfrentar certas situações adversas. Esse fato, associado a sua imobilidade, fez com que elas desenvolvessem, ao longo do tempo, em suas células, defesas que protegem as plantas de tal forma que podem levar à morte as células próximas ao local onde ocorre o dano ou mesmo levar à autodestruição da planta toda. Os herbicidas são aplicados em lavouras com o objetivo de eliminar as ervas presentes, nas quais os efeitos sobre a cultura muitas vezes não são perceptíveis ou não são amplamente considerados. Ao se aplicar o herbicida, uma porção deste atinge a cultura presente na área ou em áreas próximas, interagindo com essas plantas e causando efeitos secundários. Depois de o herbicida ser absorvido pela planta e atuar em seu local primário de ação, vários eventos bioquímicos e fisiológicos relacionados ocorrem sequencialmente. Alguns desses efeitos dos herbicidas podem interferir nas reações das plantas ao ataque de patógenos, com influ-

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ências tanto positivas quanto negativas na severidade de doenças e na indução à síntese de fitoalexinas. O uso de herbicidas do grupo químico dos difeniléteres, ao qual pertencem produtos como lactofen e acifluorfen, influenciam negativamente a severidade de doenças em diferentes culturas. Dann et al. (1999) veri-

ficaram, em três anos de trabalho, que a ocorrência de Sclerotinia sclerotiorum em soja foi menor naqueles tratamentos que receberam subdoses (0,04 a 0,11 kg ha-1) do herbicida lactofen. Em outro trabalho, Sanogo et al. (2000) constataram diminuição na severidade de ataque radicular de Fusarium solani f.sp. glycines em soja após a aplicação de dose coCharles Echer

Efeitos secundários dos herbicidas, podem interferir nos mecanismos de defesa das plantas ao ataque de patógenos

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Rocheli Wachholz

mercial de lactofen (0,22 kg ha-1). Outros resultados similares são relatados para Sclerotinia sclerotiorum em soja (Hammerschmidt, 2000; Nelson et al., 2002). Em todos esses trabalhos houve acúmulo da fitoalexina gliceolina, a qual está envolvida na supressão da doença. O uso de herbicidas difeniléteres inibe a protoporfirinogênio oxidase (Protox), uma enzima envolvida na biossíntese de citocromo e clorofila na rota fotossintética. A inibição da Protox produz formas reativas de oxigênio (FRO) e peroxida lipídios. As FRO for-

madas mediam a ativação de genes de defesa responsáveis pela síntese de fitoalexinas e também por reação de hipersensibilidade. Dessa forma, as FRO formadas explicam o acúmulo de gliceolina em folhas danificadas pelo herbicida lactofen. A geração de FRO também ocorre após a aplicação do herbicida paraquat, cujo mecanismo de ação é a inibição do fotossistema I. Essa geração de FRO pode explicar a indução de resistência sistêmica a patógenos foliares observada em plantas de pepino tratadas com paraquat (Hammerschmidt, 2000). Alguns estudos mostram que certos herbicidas apresentam efeitos adversos que levam ao aumento na ocorrência de doenças em várias culturas. Subdoses de glyphosate bloquearam completamente a expressão da resistência de soja a Phytophthora megasperma f. sp. glycinea, em que as plantas apresentaram sintomas da doença 48h após aplicação (Keen et al., 1982). De forma semelhante, Lévesque & Rahe (1992) relataram inibição na expressão da resistência para Colletotrichum lindemuthianum em feijão e para Fusarium spp. em tomate. Os autores associaram esse efeito a alterações no metabolismo secundário das plantas, que ocasionam supressão nas suas defesas e aumento na suscetibilidade a doenças em culturas e em ervas. Glyphosate é o principal herbicida que afeta diretamente a síntese de compostos secundários. Esse herbicida não-seletivo bloqueia a rota do ácido shiquímico pela inibição da enzima 5-enolpiruvilshiquimato 3-fosfato sintase (EPSPs). A inibição da EPSPs reduz a disponibilidade de aminoácidos aromáticos (triptofano, fenilalanina e tirosina), de fitoalexinas e de lignina. O efeito de subdoses de glyphosate na severidade do patógeno pode ocorrer tanto por seu efeito na redução do acúmulo de fitoalexinas quanto de lignina.

Quando cultivares de soja resistentes ao glyphosate foram introduzidas nos Estados Unidos, foi relatada a maior ocorrência de Sclerotinia sclerotiorum (Lee et al., 2000) e de Fusarium solani f. sp. glycines (Sanogo et al., 2000) em cultivares de soja resistentes ao herbicida do que em cultivares convencionais. Contudo, não parece razoável assumir uma relação causa-efeito entre o uso de cultivares com o gene EPSPs insensível ao glyphosate e a ocorrência dos patógenos citados. Até o momento, pesquisas que avaliem o impacto do uso continuado de herbicidas à base de glyphosate na severidade de doenças são reduzidas e com resultados divergentes. Num desses trabalhos, Sanogo et al. (2000) pulverizaram glyphosate (840 g ia ha-1) em cultivares resistentes e observaram que a severidade foliar de Fusarium solani f. sp. glycines foi similar à testemunha; porém, a severidade da doença nas raízes aumentou em plantas tratadas com o herbicida. Em outro trabalho, Lee et al. (2000) constataram que o diâmetro das lesões causadas por Sclerotinia sclerotiorum em soja foi semelhante aos da testemunha quando foram aplicadas doses crescentes de glyphosate. Mais recentemente, trabalhos indicaram que glyphosate não afeta os níveis de gliceolina em soja resistente a glyphosate e, também, a resposta da cultura a Sclerotinia sclerotiorum ( Lee et al., 2003). Resultados similares foram obtidos para Fusarium solani f. sp. glycines por Sanogo et al. (2001) e para Rhizoctonia solani por Harikrishnan & Yang (2002). A constatação de efeitos de herbicidas em mecanismos de defesa das plantas aos patógenos requer a adoção de estratégias de manejo de ervas e de culturas que minimizem

Charles Echer

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Charles Echer

seus impactos negativos ou que potencializem seus possíveis benefícios. Um dos aspectos positivos que pode ser explorado refere-se ao uso de bioherbicidas. Resultados obtidos por Sharon et al. (1992) mostraram que o uso de subdose de glyphosate aplicada juntamente de conídios Alternaria cassiae diminuiu o conteúdo de fitoalexinas e tornou as plantas de Senna obtusifolia altamente suscetíveis ao bioherbicida. Os autores constataram que a severidade aumentou e a infecção ocorreu com menor taxa de inóculo. Assim, glyphosate suprimiu a elicitação de outros compostos fenólicos não-fitoalexinas, mostrando que pode inibir a produção de outros precursores em diferentes rotas de defesa, como a biossíntese de lignina. Outros relatos sobre sinergismo entre herbicidas e patógenos mostram que a aplicação conjunta de um bioherbicida e de um herbicida que suprime uma defesa ativada aumenta a suscetibilidade do hospedeiro e a severidade do patógeno, sem, contudo, afetar sua especificidade. Os resultados de pesquisa que associam a ocorrência de doenças à utilização de subdoses de glyphosate (Dann et al., 1999) servem como alerta às conseqüências da ocorrência de deriva desse herbicida para plantas não-alvos. Além disso, a ocorrência de deriva do herbicida aplicado em áreas com presença de plantas geneticamente modificadas resistentes ao glyphosate poderia ocasionar problemas similares ao uso de subdoses desse herbicida; ou seja, poderia incrementar a ocorrência de doenças. O completo entendimento desses efeitos em organismos não-alvos fornecerá uma avaliação mais completa do impacto dos herbiDivulgação

Na hora de escolher um herbicida é necessário avaliar as conseqüências sobre a lavoura, salienta Rizzardi

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cidas na produção da cultura. Caso um herbicida altere a resistência da erva e/ou da cultura a danos por patógenos, essa informação deveria ser considerada na determinação do nível de dano econômico de sua utilização, bem como na escolha do herbicida e da dose. Na escolha do herbicida deverse considerar o impacto desse sobre a doença, bem como as conseqüências do uso continuado do herbicida no potencial de inóculo em condição de lavoura. De outra forma, o uso de subdoses de herbicidas que aumentem a severidade do patógeno e não eliminem as ervas fará com que as plantas sobreviventes aumentem o potencial de inóculo, ocasionando problemas para culturas que serão semeadas em sucessão. Práticas culturais, como rotação de culturas e arranjo de plantas, são importantes ferramentas no controle de doenças em culturas. O uso de altas densidades de plantas e reduzidos espaçamentos entre fileiras torna o microclima mais propenso ao desenvolvi-

Altas densidades de plantas e espaçamentos reduzidos, associados ao uso de herbicidas, podem aumentar severidade de doenças

mento de patógenos, beneficiando a infecção da cultura. Esse fato, associado ao uso de herbicidas que influenciam negativamente mecanismos de defesa da planta, pode aumentar a severidade do patógeno; já no caso do uso dos difeniléteres em culturas tolerantes, pode ocorrer um benefício adicional que é a indução de resistência aos patógenos. No entanto, no planejamento das culturas a serem utilizadas em rotação, dever-se considerar também o impacto do herbicida sobre a severidade da doença, principalmente no sistema de semeadura direta, no qual a palha presente constitui um ambiente propício à C ocorrência de doenças. Mauro Antônio Rizzardi, UPF Nilson Gilberto Fleck, UFRGS

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Mamona

Fotos Napoleão Beltrão

Alternativa à vista O Brasil, por sua diversidade de climas e solos, é apontado como possível grande produtor da mamona, matériaprima para produção do biodiesel, pondendo atender 60% da demanda mundial do biocombustível

O

Brasil já foi há cerca de 30 anos, o maior produtor mundial de mamona, oleaginosa que produz em suas sementes um óleo de qualidade singular, sendo base para produção de centenas de produtos manufaturados, e mais recentemente

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um dos produtos que esta sendo cotado para ser matéria-prima para a produção do biodiesel, que deverá ao longo do tempo, nos próximos 30 anos, em todo mundo, substituir, pelo menos parcialmente o diesel mineral, derivado do petróleo, que é muito mais poluente, de

baixo nível de degradabilidade e não renovável, alem de outros aspectos negativos para a humanidade, apesar de ser na atualidade, a base da sociedade, sendo que até a própria agricultura é definida como sendo a ciência capaz de transformar o petróleo em alimento e fibra. Com o crescente interesse sobre a produção de biomassa e seus componentes derivados, em especial o biodiesel e o álcool em todo o mundo, em especial na Europa e nos Estados Unidos, o Brasil pela sua extensão e grande diversidade de clima e de solos, poderá vir a ser o grande produtor de energia para mais de 60% da demanda mundial, pois tem terras para plantar oleaginosas estimadas em mais de 100 milhões de hectares em todas as regiões produtoras com diversas espécies vegetais, tais como dendê e babaçú na região Norte, mamona e algodão na região Nordeste, mamona, soja, algodão e outras culturas nas regiões centro-oeste, sudeste e sul, desde que se estabeleçam amplo, zoneamento agroecológico, entre outras culturas, estimadas em mais de cem espécies, principalmente palmeiras, que em geral produzem óleo de excelente qualidade para a produção de biodiesel, caso do babaçú, na região Norte do Brasil.

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A mamona vem sendo pesquisada no nosso país há mais de 35 anos, em especial pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) que já lançou no mercado diversas variedades de frutos semiindeiscentes e também indeiscentes, tais como a Guarani, IAC 80 e IAC 226, algumas apropriadas para a colheita mecânica. A Embrapa Algodão trabalha com este produto junto com a EBDA (Empresa Baiana de Pesquisa Agrícola) há cerca de 20 anos, e já desenvolveu e lançou duas cultivares de mamona de porte médio, 1,7 m a 2,0 m em condições de cultivo de sequeiro, sem irrigação, denominadas de BRS 149 Nordestina e BRS 188 Paraguaçú, ambas pro-

CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS

A

mamona ( Ricinus communis L. ) é uma planta especial , originária de clima tropical , possivelmente da Etiópia , África , com elevada capacidade de resistência a seca , xerófila , heliófila e com potencial de produção de mais de 10,00 t de bagas ( sementes ) / hectare , e com teor de óleo nas sementes , media de 48 % nas principais cultivares. A mamoneira , também denominada no Brasil de Palma Cristi , Enxerida e Carrapateira , entre outras denominações regionais , é uma espécie pertencente a família das euforbiáceas , de porte e ciclo muito variável , dependendo da cultivar, sendo um arbusto , com hábito de crescimento ramificado. Tem cultivares de porte anão , e híbridas , com elevado teor de óleo na sementes , tendo assim vigor híbrido ou heterose. dutoras de frutos semi-indeiscentes e com teor de óleo nas sementes em torno de 48%, com mais de 90% do ácido graxa ricinoleico, o que valoriza muito a qualidade deste tipo de óleo. Com este trabalho, objetiva-se fornecer informações gerais sobre esta cultura, bem como informar dos elementos de sua cadeia no Brasil e o mercado atual e futuro.

INSETOS

Nezara virídula, comum na soja, é a principal praga também na lavoura de mamona

A mamoneira tem diversos inimigos bióticos com destaque para: o percevejo verde da soja (Nezera viridula) que é um inseto da ordem hemiptera, família pentatomidae, de ciclo médio de 60 dias, medindo de 13 a 17 mm, que vive em colônias (adultos e jovens) sobre as plantas atacadas, e suga a seiva das plantas, sendo o controle baseado no uso de

O ciclo é variável de 100 até mais de 300 dias , se adaptando aos mais diversos climas e solos , porem requer para uma boa produtividade, considerando nas cultivares atualmente disponíveis , altitude superior a 300 metros , precipitação pluvial mínima de 500 mm e temperatura media do ar entre 20°C e 30 °C , sendo o seu ótimo ecológico , a altitude de 650 metros. Não suporta solos salinos e ou alcalinos , é muito sensível ao alumínio trocável , requerendo assim nas condições de cerrado , correção com calcário , de preferência dolomítico , e com o cálcio ocupando cerca de 40 % da capacidade de troca de cátions do solo , sendo importante também a relação entre cálcio e magnésio que deve estar entre 3 e 5 no máximo e a saturação de bases com pelos menos 50 %. produtos seletivos e manejo cultural. Este percevejo é a principal praga da mamona aqui no nosso país. Outras pragas importantes são: a lagarta das folhas (Spodoptera latifascia) cujas as larvas atingem cerca de 40 mm de comprimento, as cigarrinhas, Agallia sp. e Empoasca sp., que são insetos pequenos e ágeis e sugadores, os ácaros rajado (Tetranychus urticae) e vermelho (Tetranychus ludeni) e a lagarta imperial (Rothschiedia jacobaeae) que tem tamanho grande, atingindo mais de 100 mm de comprimento e podem promover 100% de desfolha das plantas.

DOENÇAS Quanto às doenças, são várias, com destaque para a podridão das raízes, causada pelo fungo Macrophomina phaseolina, cuja forma esclerocial corres-


Fotos Napoleão Beltrão

Botryotinia ricini e passa de um ano para o outro nos restos de cultura e em mamoneiras asselvajadas existentes nas proximidades dos campos cultivados. Os principais sintomas ocorrem nas inflorescências, sendo de início com manchas azuladas, depois com exudação de um líquido amarelado e no final as hifas do fungo formam uma espécie de teia de aranha que envolve e destrói toda a estrutura floral da planta. Ele também ataca as folhas e o caule e o controle envolve rotação cultural, uso de cultivares tolerantes, eliminação dos restos culturais e tratamento de sementes com uma solução de formol 40%, durante 15 minutos na proporção de um litro para 240 litros de água.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO

ponde a Sclerotium bataticola, tendo sido constatada no Brasil pela primeira vez no município de Irecê (BA). Na fase inicial desta doença ocorre amarelecimento das folhas e murcha das plantas, porem não ocorre enegrecimento dos vasos como ocorre com a Murcha de Fusarium, outra importante doença da mamona, causada pelo fungo Fusarium oxysporium f.ricini, que vive saprofiticamente em restos de cultura e sobrevive na forma de esporos de resistência, denominado de clamidósporos. Para tais doenças recomenda-se para o controle o uso de cultivares resistentes e a prática da rotação cultural. Existem outras doenças, porém uma também muito importante aqui e em outros países produtores desta oleaginosa é o mofo cinzento, causado pelo fungo Amphibotrytis ricini, forma imperfeita, que corresponde a forma perfeita de

Para o controle das doenças, a recomendação é a utilização de rotação de culturas e cultivares resistentes

Considerando o semi-árido brasileiro, na região Nordeste, que dispõe de mais de 430 municípios com aptidão para seu cultivo em regime de sequeiro, via zoneamento agroecológico, que corresponde a uma área superior a 4,5 mi-

Potencial produtivo é de 10 t de bagas por hectare, e o teor de óleo atinge a média de 48%

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lhões de hectares com potencial para seu cultivo, recomenda-se o uso de cultivares semi-indeiscentes, resistentes à seca, de ciclo bianual, com ou sem consórcio com feijão vigna ou mesmo Phaseolus, populações de plantas entre 2 mil a 5 mil plantas por hectare, espaçamento básico de 3,0 m x 1,0 m, com uma planta por cova, plantio cedo, recomendado no zoneamento para cada município e outros procedimentos. Entre as cultivares sugeridas para este tipo de exploração destacam-se a BRS 149 Nordestina e a BRS 188 Paraguaçú. Considerando o cultivo em condições de solos e de clima de Cerrado, recomenda-se o uso de cultivares precoces, de ciclo de 100 a 130 dias, variedades ou híbridos, na rotação com a soja e ou o algodão e na safrinha, com espaçamento estreito de 90 a 100 cm entre fileiras com espaçamento entre plantas dentro das fileiras de 30 a 40 cm, e com o uso de colheitadeira mecânica de milho adaptada para a mamona. Ainda não se tem muitas informações para este

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tipo de exploração da mamona, requerendo com urgência vários tipos de pesquisa na rota genética e na rota ambiental. Para o cultivo irrigado as informações também são escassas, havendo a necessidade da geração de diversos passos tecnológicos e a obtenção de cultivares apropriadas para tal situação de cultivo. Sabe-se que ele requer cerca de 900 a 1300 mm de água no ciclo e solo bem equilibrado em termos de nutrição

Ciclo da cultura, tanto em variedades de porte anão quanto híbridas, varia de 100 até mais de 300 dias

mineral. Em todos os sistemas é muito importante a correção do solo, via adubação equilibrada, e correção em caso de necessidade, via uso de calcário e/ou C gesso, dependendo do caso. Napoleão Esberard de M. Beltrão e, Uilma Cardoso Queiroz, Embrapa Algodão

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Soja

Devastadoras

Cultivo precoce da soja na primavera e posterior período de estiagem no Norte mato-grossense estão favorecendo surtos com altas infestações da mosca-branca

A

s moscas-brancas (Bemisia tabaci e B. argentifolii) têm deixado os produtores de soja de Mato Grosso preocupados, principalmente nas últimas safras, face à dificuldade de controle economicamente viável sob situações de altas infestações. Em áreas abrangendo os municípios de Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sinop, Sorriso, Tapurah, entre outros da região do Médio-Norte mato-grossense, ocorreram surtos muito elevados da praga nos últimos anos, como o constatado nesta safra 2004/05. Nesta região, a praga tem aparecido com mais freqüência em função de semeadura precoce da soja, clima quente e proximidade de focos oriundos de cultivos de entressafra. A proliferação da praga na região do Médio-Norte é favorecida pelo fato do cultivo da soja precoce na primavera em relação a outras áreas do estado. Estas lavouras ficam mais sujeitas a períodos de estiagem, especialmente na fase inicial da cultura, o que favorece o estabelecimento da praga e posteriores surtos populacionais durante as fases vegetativas e

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reprodutivas das plantas. Ataques muito severos têm sido verificados em áreas próximas da produção de semente de soja, feijão e cucurbitáceas na entressafra, sob pivô central. Estas plantas hospedeiras que terminam seus ciclos, ou secam, já abrigavam a mosca-branca previamente ao cultivo de safra normal de soja, fazendo a praga migrar. As lavouras irrigadas de feijão, soja e cucurbitáceas têm funcionado como “ponte” para a praga entre as safras de verão de soja. Com freqüência, as bordaduras sofrem os ataques iniciais, seja por serem as margens de entrada do inseto na lavoura ou por serem áreas mais secas, ventiladas e freqüentemente mais empoeiradas, o que costuma favorecer a praga. Também, lavouras cujos inimigos naturais foram perturbados ou eliminados são locais propícios para as explosões populacionais da praga.

DANOS Os adultos e ninfas se alimentam através

da sucção da seiva do floema das plantas de soja podendo levá-las à morte ou queda de produção. As folhas atacadas tornam-se amareladas, secam e caem prematuramente da planta. Durante sua alimentação, os insetos excretam um “melado” que favorece o desenvolvimento da “fumagina”, um fungo de cor preta que cresce sobre as folhas, escurecendoas, prejudicando a realização da fotossíntese e, conseqüentemente, interferindo na produtividade. São as ninfas que liberam grande quantidade dessa substância açucarada, possibilitando maior crescimento de fumagina sobre as folhas que, tornando-se pretas, absorvem muita radiação solar, agravam a “queima” e queda prematura das folhas da soja. Há também relatos de transmissão da virose-dahaste-negra pela mosca-branca em alguns genótipos de soja cultivados no Brasil. Esta praga ocorre, também, em várias outras culturas, tais como outros feijões, solanáceas, malváceas e cucurbitáceas, além de muitas plantas daninhas, podendo ser limitante para a produção da soja devido aos altos cus-

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Fotos Lucia Vivan

Moscas sugam a seiva do floema para alimentação levando as plantas à morte

tos para seu controle em situações de alta infestação. Em soja, populações baixas da praga geralmente não causam danos econômicos, assim como os adultos, exceto se estes transmitirem doenças. Perdas econômicas costumam ocorrer apenas quando existe alta população de ninfas. Inclusive, nestas condições, o controle da praga fica extremamente difícil.

MANEJO E INSETICIDAS Cultivos conduzidos em períodos com melhor regularidade de chuvas e com eliminação dos focos iniciais da praga, tanto os primários como os circunvizinhos, tendem a ser de menor risco à mosca-branca, assim como o uso reduzido de inseticidas na fase inicial da cultura, especialmente aqueles não-seletivos

aos inimigos naturais. É importante acabar com o cultivo de plantas altamente suscetíveis à praga na entressafra, que funcionam como “ponte biológica”, preferindo-se gramíneas como alternativa de rotação, por exemplo. Há evidências experimentais preliminares de comportamento diferenciado entre genótipos de soja em relação à resistência a esta praga. Por exemplo, em observações preliminares, as cultivares Perdiz, Iac-17 e Iac-19 suportam mais o ataque da praga nas mesmas condições em que foram testadas outras cultivares, tratando-se de materiais genéticos importantes para programas futuros de melhoramento. A variedade Tucunaré também apresentou uma certa tolerância ao ataque desse inseto, em relação à média das variedades testadas. Já as variedades Monsoy-8866, Monsoy-14 e Pionner-309 foram suscetíveis. Da mesma forma, as variedades Guaporé e Tabarana foram as mais preferidas e apresentaram alta suscetibilidade, inclusive a variedade Guaporé apresentou altos índices da virose-da-haste-negra. Os principais predadores da mosca-branca são aranhas, sirfídeos, joaninhas, Chrysopa, Geocoris, Orius, Nabis, Rhinacloa, Scolothrips e ácaros Phytoseiidae. Ainda estão rela-


BIOLOGIA DO INSETO

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biologia da mosca-branca é complicada pela aparente existência de diferentes biótipos, cujo significado evolutivo e prático continua pouco esclarecido. No Brasil, à luz dos conhecimentos atuais, existem diferentes biótipos de B. tabaci e a B. argentifolii (também chamada de Biótipo B da B. tabaci por alguns autores) cuja separação só é possível de ser feita através de marcadores moleculares ou técnicas especiais de criação. Visualmente, os adultos medem 0,8 mm de comprimento e aparentemente são de coloração geral branca, mas apresentam asas brancas e corpo amarelo. Sob condições climáticas favoráveis, seu ciclo de vida pode ser de duas a quatro semanas, podendo produzir até 15 gerações por ano. Localizam-se preferencialmente na face rem mais efetivamente sobre os adultos. Os fisiológicos que inibem a síntese de quitina ou sua deposição (buprofenzin, teflubenzuron e novaluron) ou simuladores de hormônio juvenil (piriproxifem) são oportunos para o controle de ninfas e fases iniciais da cultura/praga. Pesquisas recentes mostram que o diafentiuron (inibidor da síntese de ATP mitocondrial) tem se mostrado muito promissor no controle da mosca-branca na cultura da soja, em função da sua eficiência. Entretanto, este deve ser pulverizado em dias ensolarados para

Lucia Vivan

cionados parasitóides da ordem Hymenoptera (Eretmocerus spp. e Encarsia spp.) caracterizados como microhimenópteros, que também são intensamente afetados pela aplicação de inseticidas não-seletivos. Da mesma forma, fungicidas usados no controle da ferrugem asiática da soja suprimem populações de entomopatógenos, especialmente os fungos (Paecilomyces, Verticillium, Archersonia, Beauveria e Entomophthora), que causam doenças na mosca-branca. Os produtos seletivos devem ser os preferidos, especialmente se usados na fase inicial da cultura e manejo da palhada. Devido à preferência da praga por condições de seca, um maior cuidado deve ser tomado nas aplicações de inseticidas, sendo recomendado aplicações em horários no qual a temperatura está mais amena e a umidade relativa do ar mais elevada. Como ocorre com outras pragas de estiagem, o caso de sucesso de controle químico da mosca-branca em períodos de seca extrema são mais freqüentes em pulverizações noturnas com boa cobertura do vegetal, nas aplicações que objetivem atingir o interior das plantas e a página inferior das plantas. Tradicionalmente, a mosca-branca tem sido controlada com inseticidas organofosforados (acefate/metamidofós/triazofós, por exemplo), carbamatos (metomil) e piretróides (lambdacialotrina/fempropatrina/bifentrina), o que tem favorecido o aparecimento de populações resistentes. Hoje, os neonicotinóides (thiametoxan/ imidacloprid/acetamiprid) têm sido eficientes para as espécies, inclusive a adição de produtos como ciclodienos (endosulfan), organofosforados, carbamatos ou piretróides têm melhorado o controle da praga, por estes atua-

“Melado” excretado pelo inseto leva ao desenvolvimento da fumagina que agrava queimadura nas folhas

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inferior das folhas, onde ovipositam, em média, 150 a 300 ovos por fêmea. A temperatura é o principal agente externo que influencia a metamorfose progressiva da mosca-branca, fazendo com que o seu ciclo de vida possa variar de 15 a 24 dias. As ninfas apresentam uma coloração verde-amarelado e passam por quatro ínstares. A ninfa de 1º ínstar é móvel, ou seja, apresenta pernas e é capaz de se mover na folha ou planta. Já a partir do 2º ínstar, as ninfas perdem as pernas e são imóveis. Permanecem dessa forma até a emergência do adulto. A partir do 3º ínstar, as ninfas são facilmente visíveis, assemelhando-se a cochonilhas. As ninfas das moscasbrancas do gênero Bemisia caracterizam-se por não terem franjas formadas por filamentos ceráceos ao redor do corpo. se obter os melhores resultados, pois nestes dias ocorre melhor ativação das moléculas do produto. Da mesma forma, o pymetrozine (paralisante de alimentação) e o flonicamid têm bom potencial de uso para a praga, mas, por serem moléculas mais novas, precisam ser melhores experimentadas. Como visto, para esta praga, é importante fazer a rotação de modos de ação de inseticidas ou misturas destes com diferentes modos de ação, minimizando, dessa forma, o desenvolvimento de resistência da praga, principalmente se for B. argentifolii, que é a que tem ocorrido nessas regiões do estado de Mato Grosso. Diversas espécies de Bemisia tornaram-se altamente resistentes aos inseticidas comumente utilizados no seu controle em anos anteriores, independentemente do sistema de cultivo utilizado ou da espécie botânica hospedeira. Em outras regiões do mundo, o uso inadequado de inseticidas ocasionou o aparecimento de populações resistentes e tornou iminente a necessidade de medidas de controle baseadas nos conceitos de manejo de pragas. Além disso, pela facilidade de disseminação, novos insetos oriundos de áreas vizinhas poderão invadir a lavoura e exigir, assim, diversas aplicações, o que geralmente torna os custos proibitivos, tornando a dependência exclusiva dos inseticidas inviável. C Paulo E. Degrande, UFMS Lucia M. Vivan, Fundação MT

Cultivar Cultivar••www.cultivar.inf.br www.cultivar.inf.br••Janeiro Março de 2005



Cana-de-açucar

Syngenta

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Sob ataque Evidenciando-se como uma das principais pragas da cana com a diminuição das queimadas, a cigarrinhada-raiz continua tirando o sono dos produtores

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e uma maneira geral, em canaviais do Centro-Sul do Brasil, especialmente do estado de São Paulo, as ninfas da cigarrinha-das-raízes, Mahanarva fimbriolata, começam a emergir dos ovos diapáusicos logo após as primeiras chuvas da primavera, em setembro/outubro, e as populações atingem o ápice em dezembro/janeiro, em pleno verão. Nessas condições, muito se discute sobre a densidade populacional da praga acima da qual se deve entrar com medidas de controle, sejam elas químicas ou biológicas. Esse valor, chamado em entomologia de nível de controle (NC), é sempre inferior ao nível de dano econômico (NDE), que, por definição, é a densidade populacional da praga na qual ela causa prejuízo à cultura semelhante ao custo de adoção de uma medida de controle. Por considerar custos (dos insumos, das aplicações, da cana, do açúcar, do álcool, etc), o NDE não é um valor fixo, constante. Ele é variável de um ano agrícola para outro, visto que os preços dos insumos e produtos flutuam, assim como a época de colheita, a renovação de variedades e outros fatores. Quanto mais suscetível a variedade, mais baixo é o NDE, pois sob mesma infestação da praga, ela sofre maior dano que uma variedade menos suscetível. Por outro lado, vários estudos mostram que determinada variedade sofre maiores danos quanto mais tarde se dá sua colheita, pois por ocasião do ataque da praga, plantas colhidas tardiamente estão menores e, portanto, mais suscetíveis à praga. Portanto, o NDE é menor para colheitas de final de safra do que de início. Para as situações em que se pode adotar medidas e/ou produtos mais baratos, o NDE é mais baixo do que para aquelas nas quais se adotam medidas e/ou produtos mais caros. Há cinco ou seis anos, quando a cigarrinha-das-raízes ainda era um problema recente, em áreas de cana crua em São Paulo, vários índices foram adotados com base nos poucos dados disponíveis até então. Algumas pessoas chegaram a sugerir que o NDE estaria ao redor de 20 insetos por metro de sulco, valor que, sabe-se hoje, é elevado demais. Em 2001/2002, alguns ensaios conduzidos pelo IAC e Usina Colorado revelaram que os valores de NDE, e conseqüentemente de NC, deveriam ser bem menores do que os adotados até aquele momento. Nesses ensaios, conduzidos em área da variedade RB785257, colhida em 14/07/2001, a aplicação de inseticida em 25/09/2001, antes do aparecimento das primeiras ninfas em campo, resultou em incrementos de produtividade de 1,4 t ATR/ha. Considerando que em áreas não tratadas as populações máximas foram de 6,5 insetos/m e que o custo do tratamento na ocasião foi de 0,5 t ATR/ha, pode-se inferir que o

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MONITORAMENTO CONSTANTE m 2004/2005, houve um agravante para a tomada de decisão de controle, visto que houve um “atraso” no desenvolvimento das populações de cigarrinha, por razões ainda não perfeitamente esclarecidas. Fato é que, com o início das chuvas, em outubro, as ninfas da primeira geração da praga começaram a nascer, mas os níveis populacionais se mantiveram relativamente baixos durante todo o mês de dezembro, o que levou muitos a pensar que, finalmente, estaria ocorrendo um equilíbrio entre a praga e seus parasitos e predadores. Talvez isso tenha acontecido, mas o equilíbrio eventual, se ocorreu, foi rompido e, assim como ocorreu no ano anterior, em janeiro de 2005 as populações se elevaram rapidamente, atingindo em alguns casos valores superiores a 20 ou 30 insetos/m de gressão mostrou que o NDE estaria ao redor de 4 insetos/m. A análise econômica (margem de contribuição agroindustrial e agrícola) desses e de outros resultados observados em áreas comerciais e experimentais, nas quais se adotou medidas de controle da praga, em várias regiões e envolvendo diversas variedades, épocas de corte, populações da cigarrinha-das-raízes, etc, sugere que o NDE, hoje, está provavelmente entre 4 e 10 insetos/m, ficando mais próximo do limite inferior - 4 insetos/m - em canaviais colhidos no final de safra e, no limite superior - 10 insetos/m -, em canaviais de início de safra. Como as medidas de controle devem ser adotadas antes das populações atingirem o NDE, os valores de NC são menores que os citados. Visto que os inseticidas, químicos ou biológicos, possuem características distintas, o NC varia com o produto escolhido para controle, bem como com sua dose.

Ninfas da cigarrinha se mantêm protegidas sob espuma próximo aos colmos

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sulco. Para essas condições, o NDE pode ser considerado ligeiramente mais elevado, tanto para canaviais colhidos em início quanto para aqueles colhidos em final de safra, visto que as plantas estão maiores por ocasião do ataque da praga, podendo suportar portanto populações mais elevadas. Além disso, é necessário considerar também que, com o início da safra previsto para abril, em algumas unidades a aplicação de inseticidas para controle de cigarrinha em áreas que deverão se colhidas no início de safra é economicamente inviável, pois embora reduza as populações, não haverá tempo suficiente para a cana recuperar sua produtividade. Portanto, o melhor a ser feito é dirigir as atenções para canaviais colhidos a partir de agosto e, nesses, entrar com controle o mais rapidamente possível. Assim, quanto maior o efeito de choque do inseticida, mais próximo do NDE se encontra o NC, ou seja, a medida de controle pode ser adotada (NC) em uma densidade populacional bem próxima, mas ligeiramente menor, do que aquela definida como NDE. É interessante ressaltar que, independentemente do produto a ser utilizado, medidas de controle adotadas tão logo as infestações atinjam o nível de controle resultam em vantagens econômicas significativas, e que aplicações tardias de inseticidas, químicos ou biológicos, podem até resultar em reduções populacionais da cigarrinha, mas na maioria das vezes não têm retorno econômico, pois a planta já danificada não recupera sua produtividade. C Leila Luci Dinardo Miranda, Inst. Agronômico de Campinas Charles Echer

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Newton Macedo

NDE, nesse caso, foi inferior a 5 insetos/m. A necessidade de se adotar medida de controle com populações tidas como baixas (4 a 5 insetos/m), em canaviais colhidos a partir de julho/agosto (meio para final de safra) ficou clara em ensaio conduzido pelo IAC na Usina Iracema e apresentado no Congresso Brasileiro de Entomologia em 2004. Nesse ensaio, instalado em área da variedade RB855536, colhida em novembro/2002, realizaram-se avaliações periódicas para avaliar as infestações de cigarrinha, de maneira a fazer aplicações de inseticida químico, reconhecidamente eficiente no controle da praga, quando as populações estivessem ao redor de 1, 5 e 10 insetos/m. Dessa forma, as aplicações do produto foram feitas em 04/12/2002 (1,7 insetos/m), 17/12/2002 (7,6 insetos/m) e em 26/12/2002 (12,4 insetos/m). Após as aplicações, as infestações ocorrentes da praga foram estimadas mensalmente e em 26/09/ 2003 o ensaio foi colhido. Os maiores incrementos de produtividade foram observados quando o controle foi feito sob populações de 1,7 insetos/m (3,15 t ATR/ha), seguido pelo controle quando as infestações estavam em 7,6 insetos/m (2,96 t ATR/ha). Quando se controlou a praga mais tardiamente (12,4 insetos/m), a produtividade observada foi semelhante à da testemunha, sugerindo que, ao se fazer aplicações sob infestações muito elevadas, a cultura pode ter sido severamente danificada, não conseguindo responder positivamente ao controle da praga. A análise das margens de contribuição agroindustrial (MCAI) dos tratamentos reforçou as vantagens de aplicações sob infestações menores. Assim, a maior receita líquida foi obtida ao se aplicar inseticida quando a infestação de cigarrinha estava em 1,7 insetos/m (R$ 552,00 por ha), seguida pelas aplicações feitas a 7,6 insetos/m (R$ 447,00 por ha). Novamente, aplicações tardias (12,4 insetos/m) resultaram em receita líquida bem menor (R$ 146,00 por ha). Para esse caso específico, a análise de re-

Medidas de controle adotadas tão logo as infestações atinjam o nível de controle resultam em vantagens econômicas significativas, salienta Leila

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Eventos

Show Tec 2005

Fundação MS

Tecnologias, palestras e unidades demonstrativas chamaram a atenção dos produtores do Mato Grosso do Sul no maior evento do estado

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11a edição do Show Tec, da Fundação MS, realizado de 16 a 18 de fevereiro em Maracaju (MS) superou as expectativas da comissão organizadora. Mais de 200 novas tecnologias foram apresentadas nos três dias do evento, entre máquinas agrícolas e opções de técnicas de cultivo, totalizando 64 apresentações ao público. Outra atração ficou por conta das unidades demonstrativas que apresentaram ao longo de 50 hectares 45 cultivares de soja, 44 híbridos de milho, quatro cultivares de sorgo, 68 diferentes tipos de adubação, além da demonstração de pastagens degradadas recuperadas pela integração agricultura-pecuária. Os participantes também puderam conferir 11 ciclos de palestras, onde foram debatidos de forma aprofundada o processo de produção de energia limpa com biodiesel a partir do girassol, sua adição ao diesel do petróleo, o futuro da soja transgênica e da biotecnologia e a importância da integração agricultura-pecuária. Várias autoridades, entre elas prefeitos municipais, vereadores, secretários municipais, secretários estaduais, deputados estaduais e federais compareceram ao evento, tido como o mais importante do setor no Mato Grosso do Sul. O presidente da Fundação, Nivaldo Kruger, destacou o crescimento constante do Show Tec que, ano após ano, inova em alguns aspectos, mas sempre mantém o foco principal que é a transferência de tecnologia para os sócios da Cooperativa Agropecuária e Industrial de Mato Grosso do Sul (Cooagri) e da Fundação MS, além dos produtores de todo o estado do Mato Grosso do Sul. A Cooagri tem mais de 1,5 mil produtores sócios e responde por aproximadamente 20% da produção de

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soja e 35% de milho de safrinha no estado. “Nosso objetivo é ser um instrumento de incremento da produção e ganho para os nossos produtores”, garante Nivaldo. Depois de passar por momentos de instabilidade e problemas de descapitalização na década de 90, a cooperativa conseguiu se capitalizar novamente e hoje é referência na relação com os sócios, proporcionando dias de campo, transferência de tecnologias, armazenagem da produção e outros serviços. A Fundação MS, criada em 1992, possui aproximadamente 180 membros e nestes 12 anos tem desenvolvido trabalhos de experimentação, pesquisa e difusão, atestando grau

de eficiência e divulgação dos produtos, insumos, equipamentos, máquinas, além de realizar pesquisas na área de biotecnologia e executar trabalhos no sentido de complementar esforços da pesquisa estatal e privada existente, explica o diretor executivo Edson Pereira Borges. “Mesmo com o preço da soja em baixa e o problema da seca que tem prejudicado a nossa região, tivemos um crescimento considerável na edição deste ano, pois os produtores vêem no evento um espaço para somar experiências e buscar mais conhecimento, independente da situação que vive a agricultura”, C destaca Edson. Charles Echer

Presidente e diretor executivo da Fundação MS avaliaram como positivo o crescimento do ShowTec

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Algodão

Daninhas à pluma Além da concorrência por água e nutrientes, as plantas daninhas, se não controladas, podem levar a perdas de 95% na produtividade da lavoura de algodão

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a última década, uma verdadeira revolução ocorreu no cultivo do algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) no Brasil. A cotonicultura migrou de regiões tradicionais de cultivo com tecnologia de nível médio a baixo para regiões do Cerrado brasileiro, onde algodão vem sendo cultivado em extensas áreas e por produtores com perfil empresarial. Diante desse novo padrão tecnológico, torna-se necessária a busca de novas tecnologias que visem incremento de produtividade e redução de custos. O algodoeiro é uma das culturas mais sensíveis às interferências impostas pelas plantas daninhas, destacandose a competição pelos fatores de crescimento (água, luz e nutrientes), a liberação de substâncias alelopáticas e a multiplicação de pragas e doenças. Além disso, algumas espécies de plantas daninhas, como capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum) e picãopreto (Bidens pilosa), prejudicam a qualidade da fibra em razão da aderência

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de propágulos, reduzindo a rentabilidade do cotonicultor. A interferência imposta por plantas infestantes pode ocasionar perdas de até 95% na produtividade do algodoeiro, tornando-se de fundamental importância o manejo adequado dessas plantas para a viabilidade técnica e econômica do cultivo. Resultados de pesquisas demonstram que o algodoeiro deve ser mantido no limpo, em média, dos 20 aos 50 dias após a emergência, para evitar redução de produtividade. Todavia, esse período pode variar em função de características ligadas à cultura (variedade, espaçamento e densidade), à comunidade infestante (espécies presentes, densidade e distribuição) e ao ambiente (solo, clima e manejo do sistema agrícola).

MANEJO INTEGRADO DE DANINHAS Apesar de a permanência da planta daninha ocasionar prejuízos ao algodoeiro, o seu controle acarreta gastos que oneram consideravelmente o custo de produção da cultura, tornando-se essen-

cial o manejo integrado de plantas daninhas. O manejo integrado é o equilíbrio de práticas culturais, mecânicas, físicas, biológicas e químicas, resultando na otimização da produtividade da cultura, aumentando ou mantendo o potencial produtivo do solo.

MEDIDAS PREVENTIVAS O manejo integrado inicia-se com medidas preventivas, impedindo que as populações de plantas daninhas existentes na área aumentem suas densidades e que novos diásporos sejam introduzidos. Medidas como a utilização de sementes isentas de propágulos de plantas daninhas, a limpeza dos implementos de preparo do solo, assim como das colhedeiras, e o impedimento do desenvolvimento de plantas daninhas nas áreas adjacentes à cultura devem ser implementadas. Em cultivos irrigados de

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Rocheli Wachholz

Fotos Cultivar

Uso de sementes deslintadas favorece a germinação e assim, torna mais rápido o desenvolvimento do algodão

algodão é imprescindível a limpeza periódica das margens de canais e depósitos de irrigação, que podem representar fonte de produção e disseminação de propágulos. A maioria das sementes de plantas daninhas é pequena e leve, flutuando facilmente sobre a água; muitas delas mantêm a viabilidade submersas por meses e até anos. Em síntese, o controle da entrada de plantas daninhas é de responsabilidade de cada agricultor, que deve prevenir a entrada e a disseminação delas.

MEDIDAS CULTURAIS A capacidade competitiva das plantas daninhas depende em grande parte do momento de emergência em relação ao da planta cultivada. Qualquer condição que acelere a germinação da cul-

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Aderência de propágulos de daninhas às plumas reduz o rendimento

tura e retarde a da planta daninha favorecerá a planta cultivada. Desse modo, devem ser implementadas práticas culturais que dêem vantagem competitiva à cultura em relação à planta infestante. Cultivares com rápido crescimento inicial e grande capacidade de cobertura do solo normalmente são menos sensíveis às interferências impostas pela comunidade infestante. A época de semeadura é outro ponto a ser considerado a antecipação da semeadura do algodoeiro, por exemplo, pode submetê-lo à falta de umidade e a baixas temperaturas, comprometendo a germinação e o crescimento inicial. A utilização de sementes de algodão deslintadas favorece o estabelecimento da cultura, uma vez que o línter torna mais lento o processo de germinação e emergência. O estabelecimento de estande não adequado, as-

sim como danos provocados por insetos e doenças, também reduz o poder de sombreamento da cultura, facilitando o estabelecimento de plantas daninhas. O controle adequado de pragas e doenças é uma prática importante no manejo das plantas daninhas. Em relação a alterações no espaçamento e na densidade de semeadura, normalmente são encontrados melhores resultados em termos de controle de plantas daninhas por parte da cultura - com o uso de espaçamentos menores e com o uso de maiores densidades. Trabalhos evidenciam que o algodoeiro apresenta grande plasticidade e consegue ajustarse a diversos níveis populacionais de plantas, que variam de 100 a 400 mil plantas por hectare. A rotação de culturas é outra práti-

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CLASSIFICAÇÃO DE HERBICIDAS

no sistema de plantio direto, em razão do não-revolvimento do solo.

CONTROLE MANUAL / MECÂNICO

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ré-plantio – utilizados antes do plantio da cultura. Em sistema de plantio direto são empregados os denominados “herbicidas de manejo”, os quais são não-seletivos, não apresentam efeito residual no solo e quase sempre são usados como dessecantes da vegetação existente na área, visando facilitar o plantio e promover a cobertura morta do solo. Alguns exemplos são o glyphosate e o sulfosate, herbicidas sistêmicos que controlam plantas anuais e perenes, e o paraquat, herbicida de contato, eficiente em plantas anuais, uma vez que em plantas perenes ocorre a rebrota. Atualmente, tem-se o algodão geneticamente modificado, que apresenta tolerância ao glyphosate, porém ainda é vetada sua utilização no Brasil. Pré-plantio incorporado – herbicidas muito voláteis, de solubilidade muito baixa ou fotodegradáveis necessitam ser incorporados ao solo. Os herbicidas trifluralin e pendimethalin são registrados para essa modalidade de aplicação na cultura do algodão. O solo deve ser preparado pelo método convencional; sua superfície deve estar destorroada e sem

ca fundamental no manejo das plantas daninhas, promovendo modificação das práticas culturais e afetando, conseqüentemente, a população dessas plantas. No período da entressafra devem ser implantadas culturas ou até mesmo adubos verdes. Plantas de cobertura, como aveia-preta, crotalaria, guandu, milheto e mucuna, apresentam bons resultados na cultura do algodão, quebrando a seqüência de culturas. A ocu-

restos de cultura e a incorporação deve ser realizada o mais rapidamente possível. Pós-plantio – alguns herbicidas são utilizados após o plantio e em pré-emergência do algodoeiro e das plantas daninhas, destacando-se produtos como diuron, clomazone, alachlor, cyanazine, s-metolachlor e misturas como alachlor + trifluralin, com o objetivo de aumentar o espectro de controle das plantas daninhas. Em pós-emergência podem ser utilizados, entre outros graminicidas, o fluazifop-p-butil, sethoxydim e clethodim. O pyrithiobac-sodium e o trifloxysulfuron sodium são os únicos herbicidas seletivos que podem ser empregados no controle de plantas daninhas de folhas largas na cultura do algodoeiro. Alguns herbicidas não seletivos ao algodoeiro podem ser usados em jatos dirigidos. A mistura diuron + paraquat pode ser utilizada quando a cultura já estiver desenvolvida, com o caule lignificado e altura superior a 70 cm. Já o diuron + MSMA pode ser aplicado quando a cultura atingir 30 a 50 cm de altura, até a floração.

pação eficiente do solo por parte de plantas cultivadas é um dos mais importantes fatores que impedem o estabelecimento e o desenvolvimento da comunidade infestante. O sistema de plantio é também considerado outra prática importante. Plantas de propagação vegetativa, como a tiririca (Cyperus rotundus) e a grama-seda (Cynodon dactylon), problemáticas em plantio convencional, são facilmente manejadas

O controle manual com a utilização de enxada, além de oneroso, é muito lento. Estima-se que são necessários de 15 a 20 homens/dia para efetuar a capina de um hectare de algodão fortemente infestado. Apesar disso, é perfeitamente aplicável em sistemas de produção de algodão orgânico, em que é vetada a utilização de herbicidas, em áreas pequenas, nos repasses ou complementos a outros métodos utilizados. No Brasil ainda predomina o cultivo do algodoeiro utilizando o sistema convencional de manejo do solo (subsolagens, aração e gradagem); portanto, esta é a medida mecânica primária de controle de plantas daninhas neste sistema. O uso de cultivadores com tração animal é adequado a lavouras de pequeno e médio porte, como é o caso da agricultura familiar, porém, em áreas extensas, convém a utilização da tração tratorizada. As operações de cultivo devem ser realizadas cuidadosamente, em virtude de o algodoeiro apresentar raízes superficiais, evitando-se danos à cultura, utilizando-se profundidade máxima de 3 cm.

CONTROLE QUÍMICO Em extensas áreas com alta agressividade de plantas daninhas, durante períodos chuvosos, ou mesmo sob irrigações, onde os métodos mecânicos são impraticáveis e muitas vezes ineficientes, uma vez que transplantam as plantas daninhas de um lugar para o outro da área cultivada, a utilização de herbicidas apresenta-se como um método eficiente de controle. O uso de herbicidas tende a generalizar-se em lavouras de maior nível tecnológico com o advento do sistema de plantio direto e para atender as necessidades da colheita mecâ-


Cultivar

da em função da seletividade ao algodoeiro, da eficácia de controle das plantas infestantes presentes na área, da segurança ao aplicador, do custo e, principalmente, do impacto ambiental. Outro ponto importante é a utilização de produtos com mecanismos de ação diferentes, para evitar o surgimento de plantas daninhas resistentes. Dessa forma, os herbicidas usados na cultura com o mesmo mecanismo de ação e os herbicidas que normalmente são aplicados nas culturas em rotação ou em seqüência devem ser considerados de forma conjunta. O teor de argila e de matéria orgânica do solo é muito importante no manejo dos herbicidas. Por exemplo, o herbicida diuron é recomendado para a cultura antes da sua emergência, entretanto, o algodoeiro é sensível a este produto, o qual não pode ser utilizado em solos arenosos e/ou com baixo teor de matéria orgânica, nessa condição, o herbicida alcança a semente de algodão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uso de produtos com diferentes mecanismos de ação evita o surgimento de plantas resistentes

nica. Na implantação do controle químico, o uso de herbicidas deve ser racional e supervisionado por profissional capacitado. Para evitar problemas de toxicidade ou poluição ambiental, é imprescindível a calibração do pulveriza-

dor antes da aplicação do herbicida, determinando-se o volume de calda gasto por área e a quantidade de herbicida a ser colocada no tanque de pulverização. A escolha dos produtos deve ser efetua-

Atualmente há um considerável número de herbicidas recomendados para a cultura do algodoeiro, as quais devem ser usados criteriosamente; portanto, o monitoramento de plantas daninhas é de fundamental importância, pois permite que a área seja dividida em talhões de acordo com a infestação das plantas daninhas, podendo-se otimizar a utilização dos herbicidas. No manejo integrado de plantas daninhas não existe um padrão ou uma seqüência de medidas a serem adotadas; a escolha destas dependerá das características edáficas, climáticas, biológicas C e socioeconômicas da região. Rogério Soares de Freitas, Andréia Cristina da Silva e Marcelo Antonio Tomaz, UFV


Algodão

Fotos Cultivar

Ataque em sucessão O

algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é atacado por um complexo de pragas que, sem as devidas medidas de controle, podem reduzir significativamente a produção. Uma praga cuja importância econômica tem crescido ano a ano, principalmente nas áreas agrícolas do Cerrado, é a lagarta Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae). Conhecida na cultura do milho como lagarta do cartucho, S. frugiperda é a principal praga daquela cultura no Brasil. Entretanto, por ser de natureza polífaga, causa danos a várias outras culturas de importância econômica como trigo, arroz, feijão, amendoim, tomate, batata, repolho, espinafre, abóbora, couve e, mais recentemente, soja.

DANOS NO ALGODOEIRO Em plantas de algodoeiro, após três a quatro dias da postura dos ovos eclodem as lagartas, que iniciam a alimentação raspando o parênquima das folhas, brácteas, botões, flores e maçãs. À medida que vão crescendo, passam a se alimentar com

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maior voracidade, perfurando esses órgãos e danificando o interior das flores ou a base das maçãs. O ataque se localiza desde a parte mediana até o ponteiro da planta. O período crítico de ataque vai do início do florescimento até o surgimento do primeiro capulho.

ALGODÃO BT A possibilidade de introdução de plantas geneticamente modificadas no país e seu cultivo em larga escala faz com que as preocupações acerca dos danos ocasionados por estes insetos sejam ainda maiores, visto que, dentre os lepidópteros-praga que atacam o algodão, Spodoptera é um dos insetos menos suscetíveis às endotoxinas do Bacillus thuringiensis kurstaki, expressas pelo algodão transgênico.

CONTROLE As informações existentes a respeito da praga estão relacionadas à sua ocorrência em gramíneas. Entretanto, sabe-se que a biologia, o comportamento e o potencial de danos de uma determinada espécie po-

O plantio sucessivo de gramíneas, principais plantas hospedeiras do inseto, é um dos principais fatores que contribuem para o aparecimento da lagarta Spodoptera no algodoeiro

dem variar com o alimento disponível e o ambiente em que se encontra. Adaptações co-evolutivas são freqüentes entre insetos e plantas, configurando-se numa estratégia de perpetuação das espécies. Devido ao fato da incidência de Spodoptera ser relativamente recente nas lavouras algodoeiras, o sistema de manejo da praga para esta cultura ainda não se encontra desenvolvido, fazendo com que os agricultores tendam a importar medidas normalmente adotadas para o milho, as quais muitas vezes se mostram ineficientes, já que a fisiologia do algodoeiro difere completamente daquela apresentada pelas plantas de milho. Por isso, a Embrapa Algodão, em parceria com a Universidade Federal de Goiás e Agência Rural, está realizando pesquisas em áreas experimentais localizadas em regiões produtoras de Goiás e Bahia, a fim de identificar as espécies de Spodoptera sp. presentes no algodoeiro, avaliar a eficiência de inseticidas contra o inseto, determinar o nível de controle, avaliar o efeito comportamental de armadilha de feromônio,

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identificar cultivares resistentes ao ataque das lagartas, selecionar estirpes de Bacillus thuringiensis eficientes no seu controle e determinar níveis de resistência de Spodoptera sp. aos inseticidas utilizados. Esperase já ao final da safra obter algumas informações que possibilitem o estudo de recomendações da pesquisa para um controle mais eficiente da praga. Por ora, baseado na experiência com outras culturas, algumas medidas podem ser incentivadas:

AS CAUSAS

A

ROTAÇÃO DE CULTURAS A substituição, na rotação de culturas, de gramíneas como o milheto e o sorgo por plantas que não sejam hospedeiras da lagarta Spodoptera é uma forma interessante de baixar o nível populacional do inseto em áreas infestadas. No esquema de rotação devem entrar, sempre que possível, espécies que possibilitem a obtenção de grande quantidade de biomassa, principalmente se o intuito é a recuperação de solos degradados. Para tanto, indicam-se espécies que produzam grande quantidade de massa verde e tenham abundante sistema radicular. A consorciação do algodão com leguminosas, como, por exemplo, crotalária, mucuna ou guandu é recomendável.

CONTROLE CULTURAL O controle cultural baseia-se em modificações de práticas de manejo, de forma a dificultar reprodução, dispersão, sobrevivência e danos das pragas na cultura. Entre as práticas culturais recomendadas para o controle de Spodoptera na cultura do algodoeiro estão: • O uso de armadilhas com feromônio para controle dos adultos.

Miranda destaca a importância de se desenvolver alternativas de controle específicas para a cultura do algodão

• O plantio-isca de faixas de 5 a 10 metros de milho ou sorgo, a cada 100-200 metros de lavoura comercial de algodão ou sobre os cordões de contorno da área. O controle químico nas faixas-isca deve ser rigoroso para se evitar a emergência de adultos e a conseqüente migração para as áreas cultivadas com algodoeiro.

CONTROLE BIOLÓGICO Entre os inimigos naturais da Spodoptera podem ser encontrados predadores como percevejos (Podisus nigrispinus, Geocoris spp., Nabis spp., Orius spp. e Zellus spp.), bicho-lixeiro (Chrysoperla spp.), joaninhas (Cycloneda sanguinea e Scymnus spp.), besouros (Calosoma sp. e Lebia concinna) e tesourinhas (Dorus sp. e Euborelia sp.); parasitóides (Trichogramma spp.);

Rotação com culturas não hospedeiras pode ser a alternativa para baixar a população da lagarta

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s causas do aumento populacional das espécies de Spodoptera na cultura do algodoeiro na região Centro-Oeste envolvem condições climáticas favoráveis, uso inadequado de inseticidas, plantio próximo a gramíneas ou plantio de gramíneas em sucessão, como milho, sorgo e milheto. Estas gramíneas têm se mostrado espécies hospedeiras adequadas ao desenvolvimento do inseto, possibilitando a ocorrência dos surtos populacionais no algodoeiro, ao promover a manutenção do ciclo reprodutivo da praga. fungos (Beauveria bassiana e Nomuraea rileyi); vírus da poliedrose nuclear e Bacillus thuringiensis (Bt). Este último vem se configurando como o mais promissor agente de controle de Spodoptera. Na região Oeste da Bahia, nas duas últimas safras, a utilização de Bt vem sendo pesquisada pela JCO Assessoria Agronômica em áreas irrigadas, onde tem se observado que a aplicação de Bt tem causado o enfraquecimento das lagartas, redução no seu tamanho (e conseqüentemente nos danos causados), aumentando a eficiência do controle químico.

CONTROLE QUÍMICO O uso de inseticidas deve ser encarado como uma medida alternativa emergencial, que deve ser aliada a medidas culturais e biológicas, de modo a resultar no melhor controle possível da praga, com poucas conseqüências deletérias a organismos não-alvos presentes na lavoura. Existe uma gama de produtos disponíveis no mercado, entre eles representantes dos grupos dos organofosforados, piretróides, carbamatos e produtos fisiológicos; entretanto, poucos estão registrados para o uso na cultura do algodoeiro. Assim, a escolha do produto deve ser realizada com a participação de um engenheiro agrônomo, considerando questões importantes relacionadas a registro, eficiência, seletividade a inimigos naturais, toxicidade, poder reC sidual e período de carência. José Ednilson Miranda e Wagner Alexandre Lucena, Embrapa Algodão Eduardo Almeida Bernardo, JCO Assessoria Agronômica Fernando Simões Gielfi, Universidade Federal de Goiás

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Fotos Bayer

Empresas

Foco na inovação Com tendência de crescimento médio de 4% no mercado brasileiro de defensivos agrícolas nos próximos cinco anos, a Bayer promete investir para manter o bom desempenho

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C

om crescimento global de 7% em relação ao mesmo período de 2003 (em taxas de câmbio constantes), a Bayer CropScience comemora posição de líder no segmento de defesa vegetal. Permanece um pouco atrás de Syngenta quando se incorporam as vendas provenientes das áreas de sementes e biotecnologia. Em termos de Brasil, o faturamento da empresa nos primeiros nove meses do ano passado saltou de US$ 406 milhões para US$ 498 milhões, um au-

mento de 22,66% em dólares. Contabilizada em euros, a cifra atinge os 55% em decorrência do câmbio. Apesar de os números finais sobre o ano de 2004 somente serem divulgados em março, os executivos da empresa, incluindo seu presidente mundial, Friedrich Berschauer, em recente visita ao Brasil, e seu presidente para Brasil e Mercosul, Marc Reichardt, garantem o crescimento geral da companhia. A estratégia da empresa, resultante da aquisição da Aventis CropScience pela

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NOVOS PRODUTOS

E

Friedrich Berschauer Presidente Mundial da Bayer CropScience

Marc Reichardt Presidente para o Brasil e Mercosul

m 2005, a Bayer CropScience deve lançar quatro produtos no mercado brasileiro: • Connect - inseticida para soja, baseado nos ingredientes ativos imidacloprid e Beta-Cyfluthrin; • Evidence - inseticida à base de imidacloprid para cana-de-açúcar. • Oberon - composto cetoenole contra mosca-branca - ovos, ninfas e adultos – e ácaros em feijão e tomate; • Nativo - mistura de Tebuconazole e Trifloxistrobin para o controle das doenças fúngicas mais importantes no trigo e na soja. Para trigo, deverá ser lançado em 2005 e, para soja, em 2006. te cerca de 4% durante os próximos cinco anos, número superior à média mundial.

Bayer, mantém-se a mesma desde o seu lançamento: foco na inovação. Seus diretores acreditam ser essa a forma de fugir da pressão exercida pela concorrência acirrada dos genéricos e, mesmo, de outras companhias de produtos originais. Deduze-se através dos números apresentados a pertinência do raciocínio. Ano passado, no Brasil, a Bayer CropScience contratou mais de cem funcionários. Através de seu portfolio de produtos, a empresa é líder no Brasil nos mercados de fungicidas, inseticidas e tratamento de sementes, e ocupa a 5a posição no segmento de herbicidas (Marc Reichardt confirmou a pretensão de melhorar este desempenho nos próximos anos). Para este ano, visando a manutenção da primazia, a empresa lança quatro produtos (vide Box). Já quando se muda o foco dos produ-

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tos para as culturas, vê-se uma Bayer atenta aos mercados de soja, algodão, canade-açúcar e milho. O primeiro caso é óbvio: desde 1998, a área plantada de soja aumentou 60% e o aparecimento da ferrugem asiática forçou mais a demanda por fungicidas. Em 2010, há expectativa de uma área total de 26 milhões de hectares cultivados com a oleaginosa. A área de plantio é menor, mas o algodão recupera-se bem de uma grave crise. Durante o período compreendido entre 1990 e 2010, a Bayer CropScience acredita em elevação, anual, de 5,6% da área cultivada. O milho, importante, parece tender à estabilidade, todavia a cana-de-açúcar possivelmente crescerá entre 5 a 8%, anualmente, durante os próximos cinco anos. Nesse contexto, o mercado brasileiro de defensivos agrícolas deve crescer anualmen-

EVOLUÇÃO MUNDIAL Outra prova apresentada pelos executivos da empresa sobre a eficácia de seus projetos é a importância adquirida pelos dez produtos mais vendidos pela companhia. O número atinge os 40%. Um dos ingredientes ativos com melhor desempenho foi o Tebuconazole, cujas vendas subiram 28%, atingindo os 300 milhões de euros. As vendas de Trifloxystrobin subiram 22% e as de Glugosinate 21%. Lançamentos em nível mundial, como Atlantis, MaisTer, Hussar, Calypso e Poncho contribuíram com 520 milhões de euros para a linha dos mais vendidos em 2003, aumento de 49% em relação a 2002. Nos nove primeiros meses de 2004, o valor aumentou 39%, chegando a 474 milhões de euros. C

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Pragas

Fotos Dirceu Gassen

Olho nelas

Garantir o bom desempenho internacional de produtos vegetais exige a utilização de medidas fitossanitárias menos restritivas, porém seguras, para evitar a entrada de pragas potenciais no país

A

abertura das fronteiras do Brasil aos países do Mercosul acarretou várias discussões em se determinar regras quanto aos aspectos relativos à sanidade dos vegetais e do meio ambiente. O aumento de comércio, transporte e intercâmbio de produtos agrícolas entre estes países têm levado à disseminação de pragas restritas às suas respectivas áreas de origem. A introdução de pragas exóticas em áreas de produção pode causar diversos problemas para a agricultura, entre eles redução na produtividade e aumento dos custos de produção do ponto de vista econômico, mas também ambiental, devido ao efeito das medidas de controle adotadas. Medidas fitossanitárias menos restritivas e o aumento no mercado internacional de vegetais e seus subprodutos vem provocando mudanças da legislação, assim como nas normas e procedimentos fitossanitários internamente aos países com os quais atendem aos compromissos internacionais e que minimizam os riscos da introdução e/ou disseminação de pragas quarentenárias, assim como efetuar o controle e erradicação das mesmas.

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O QUE SÃO PRAGAS QUARENTENÁRIAS? Pragas quarentenárias são aquelas que não existem no país ou que existem em áreas conhecidas e estão sob controle oficial e que têm expressão econômica potencial sobre determinada cultura, área ou região (Gallo et al. 2002). Os primeiros programas de controle de pragas em nível oficial surgiram em 1909 no Brasil, quando a defesa sanitária vegetal foi denominada inicialmente de “Serviço de Inspeção Agrícola”. Em 1934 surgiu o “Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal” promulgado pelo Decreto n. º 24.114 publicado no Diário Oficial da União e ainda em vigor (Batista 2003). A Secretaria de Defesa Sanitária, além de outras atribuições, prevê ações de prevenção e controle de pragas, base da legislação fitossanitária brasileira. Desde que surgiram as primeiras leis ou regulamentos, os principais objetivos da quarentena são: prevenir, evitar ou retardar, num país, a entrada de pragas ainda não constatadas em seu território e de erradicar ou retardar a disseminação daquelas pragas já constatadas. Quarentena Vegetal, como definição, significa o isolamento de plantas por 40 dias, como período de incubação para o aparecimento e detecção de pra-

gas/doenças (Oliveira et al. 2001). A identificação de uma praga quarentenária é baseada em critérios estabelecidos pela FAO e são classificadas em: praga quarentenária A1 de importância econômica potencial para a área em risco e onde ainda não se encontra presente; praga quarentenária A2 de importância econômica potencial para a área de risco e onde ainda não se encontra amplamente disseminada e está sendo oficialmente controlada (Gallo et al. 2002). Pragas quarentenárias que já foram constatadas no Brasil: 1905, com ocorrência da mosca mediterrânea das frutas (Ceratitis capitata Wied. (Diptera: Tephridae)); 1913, broca-do-café (Hypothenemus hampei Ferrari (Coleoptera: Scolytidae)); 1976, percevejo das pastagens (Blissus leucopterus Say (Hemiptera: Lygaenidae)) no estado de Minas Gerais e em 1996 nos estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul; 1979 e 1980, primeiras ocorrência da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae)) e 1982, introdução do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis Boh. (Coleoptera: Curculionidae)). Em muito pouco tempo esse inseto mudou completamente a geografia do algo-

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dão no Brasil.

MEDIDAS QUE ESTÃO SENDO TOMADAS As medidas quarentenárias normalmente utilizadas são: inspeção fitossanitária e interceptação de pragas em ponto de entrada (portos, aeroportos, postos de fronteira), quarentena de pós-entrada e proibição, restrição ou requisição de tratamentos quarentenários para a importação de produtos de países onde espécies de expressão quarentenária são assinaladas.

COMO PROCEDER O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é o responsável por qualquer material vegetal que entra no país com fins comerciais. Quanto ao material vegetal que é destinado à pesquisa, o MAPA delegou a responsabilidade pela introdução e intercâmbio do mesmo à Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Atualmente, o serviço de quarentena da Área de Intercâmbio e Quarentena (AIQ) é composto por seis laboratórios com capacidade de usar métodos modernos e sofisticados de detecção de patógenos e pragas, bem como de tratamento visando a erradicação dos mesmos. A Área de Intercâmbio e Quarentena atua seguindo as regulamentações fitossanitárias estabelecidas como condições para a importação de germoplasma vegetal e estão em acordo com a Legislação Fitossanitária Brasileira em vigor (Fontes et al. 1994). Plantas ou partes de plantas a serem importadas devem se enquadrar em uma das categorias seguintes: 1) Importância proibida - o material somente poderá entrar no país com a finalidade de pesquisa e mediante autorização especial do Ministério da Agricultura. 2) Restrição condicional - o material poderá ser importado, desde que conste no Certificado Fitossanitário uma declaração que está livre de certas pragas e patógenos. 3) Livre importação - a única exigência é o Certificado Fitossanitário, o qual deve sempre acompanhar o material, qualquer que seja a sua categoria. Os procedimentos que são adotados toda vez que algum material entra no país são os seguintes:

Inspeção na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia O material liberado pela DFA é rigorosamente examinado em sala à prova de insetos para verificação de suas condições e captura de qualquer inseto que eventualmente possa escapar da embalagem.

Fumigação O material em sua embalagem original é fumigado com fosfeto de alumínio (fosfina) e em seguida registrado, transferindo-se cada acesso para nova embalagem. Exame laboratorial Amostras de cada acesso são examinadas nos laboratórios para detecção de fungos, vírus, nematóides e bactérias.

Plantas ou partes de plantas importadas devem obedecer procedimentos da legislação fitossanitária

Quarentena de pós-entrada Todo material considerado de alto risco é submetido à quarentena no Laboratório de Entomologia do Setor de Quarentena da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, localizado em Brasília (DF). As plantas são colocadas em casa de vegetação apropriada (quarentenário) onde ficam em observação por um período de pelo menos uma estação de crescimento. A maior parte do germoplasma vegetal é intercambiado por meio de sementes, mas também através de mudas, estacas, rizomas,

Inspeção no ponto de entrada O material, ao chegar no porto, aeroporto ou correio é inspecionado por um inspetor da Delegacia Federal de Agricultura (DFA), que examina as suas condições sanitárias, assim como a documentação. Quando as condições não correspondem às exigências legais ou o material apresenta-se visivelmente contaminado por pragas e/ou doenças, a DFA procede à sua destruição ou prescreve quarentena de pós-entrada.

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Fotos Dirceu Gassen

tena “Costa Lima”. A introdução acidental no país de agentes de controle biológico não deve ser realizada, pois envolve riscos ecológicos, principalmente relacionados com a presença de contaminantes de importância agrícola ou para a saúde humana, e deve ser feita por pessoas especializadas em locais adequados (Sá et al. 2000). No Brasil tem crescido a demanda por trabalhos que envolvem Análise de Risco de Pragas Quarentenárias (ARP), que define os riscos que uma praga exótica pode causar em uma determinada área (Oliveira 2000). Este risco pode ser determinado pelas chances que uma praga tem de se disseminar ou ser disseminada pelo auxílio do homem ou através de fenômenos naturais de uma área onde o organismo se encontra para uma outra área onde não ocorre e que pode, dependendo das condições ambientais e climáticas, se estabelecer. Atenção tem sido dada para as pragas de frutei-

Dentre as medidas a serem tomadas na identificação de pragas quarentenárias está a destruição total do produto infestado

bulbos, tubérculos, pólen e material in vitro. A Inspeção Fitossanitária possibilita a intercepção de organismos nocivos, associados ao material vegetal, assim que este chega ao país. Muitas vezes são detectados insetos e ácaros que não se conhece a espécie ou ainda não foram assinaladas no país ou região em que foram detectadas (Oliveira et al 2001). A identificação dos organismos detectados é fundamental para decidir quais procedimentos devem ser adotados. A partir do momento em que pragas quarentenárias são detectadas, durante a inspeção de produtos, deve-se tomar uma das três ações seguintes: realização de tratamento, devolução do lote importado ao país de origem ou destruição dos produtos infestados. O suplemento do Diário Oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicado em 1995 regulamentou medidas fitossanitárias que se referem a qualquer legislação, recomendação ou procedimento oficial que tem o propósito de prevenir a introdução e /ou disseminação de pragas quarentenárias, assim como

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efetuar o controle e erradicação das mesmas. Além destas medidas o Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul (Cosave), formado por Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, estabelece critérios para o reconhecimento de pragas quarentenárias em seus territórios e divulga lista das pragas quarentenárias A1 e A2 de cada país disponível na Internet pelo site www.cosave.org.py, que pode ser acessado por técnicos, produtores, pesquisadores, professores universitários. A Tabela 1 apresenta uma lista com algumas pragas quarentenárias A1 e A2 para o Brasil. Muitos dos insetos representados pelas famílias Carabidae, Chalcididae, Encyrtidae, Ichneumonidae, Pteromalidae, Torymidae são importantes parasitóides e/ou predadores de espécies fitófagas e já foram detectados. Toda a introdução de agentes de controle biológico no Brasil deve ser realizada através do Laboratório de Quaren-

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Tabela 1 - Lista com algumas pragas quarentenárias A1 e A2 para o Brasil Ordem

Praga

Distribuição Geográfica1

Hospedeiro/Produto

Via de Ingresso1

PRAGA A1

Coleoptera

Hemiptera

Hymenoptera Lepidoptera

Diptera Lepidoptera

Anastrepha ludens Chromatomyia horticola Ophiomyia phaseoli Anthonomus pomorum Leptinotarsa decemlineata Prostephanus truncatus Aleurocanthus spiniferus Ceroplastes destructor Cicadulina mbila Cephus cinctus Agrotis segetum Chilo partellus Helicoverpa armigera Lampides boeticus

Frutas diversas Cucurbitáceas e Hortaliças Feijão Maçã Batata Grãos armazenados em geral Citros, rosa, videira e pêra Citros e Polífaga Cana-de-açúcar, milho, trigo Trigo, triticale, aveia e centeio Arroz e cucurbitáceas Sorgo e Milho Algodão Feijão e Soja

Bactrocera carambolae Cydia pomonella

Carambola Maçã

Fonte: Lista completa: Vilela, Zucchi & Cantor, 1999 1 Oliveira, M.R.V., S.V. de Paula, D.N.M. Ferreira & V.S Dias. 2002

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América do Norte, do Sul e Oceania África, Ásia e Europa África, América do Norte, Ásia e Oceania África, Ásia e Europa África, América do Norte Ásia e Europa África, América Central, do Norte do Sul Ásia e Europa África, América Central, Ásia e Oceania África, América do Norte, do Sul e Oceania Ásia América do Norte e Ásia África, Ásia e Europa África e Ásia África, Ásia e Oceania África, América do Norte, Ásia, Europa e Oceania PRAGA A2 América do Sul e Ásia África, América do Norte, do Sul, Ásia, Europa e Oceania

ras, pragas de grãos e sementes e pragas de madeira (Oliveira et al.2002). Os princípios de Análise de Risco de Pragas (ARP), foram adotados pelo Brasil por meio da Portaria Ministerial nº127, de 15 de outubro de 1997, publicada no Suplemento n.º 74 do Diário Oficial de18 de abril de 1997. O Laboratório de Entomologia do Setor de Quarentena da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia tem em andamento um projeto de Análise de Risco de Pragas Quarentenárias, que tem como objetivo contemplar algumas demandas geradas para o estabelecimento de políticas públicas na área de defesa fitossanitária. Outras medidas que estão sendo tomadas são as realizações de cursos. Estes cursos têm o objetivo de criar fóruns de discussão e padronização de linguagem entre os analistas de risco. O público contemplado engloba pesquisadores, professores universitários, fiscais agropecuários federais, técnicos de empresas multinacionais e estudantes de pós-graduação. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia ofereceu nos anos de 2003 e 2004 curso de Visualização de Pragas Quarentenárias, um sistema que se baseia em imagens das pragas, nos quais os fiscais agropecuários nos portos, aeroportos e postos de fronteira efetuem consultas imediatas ao efetuar às inspeções rotineiras. Cabe aqui ressaltar que o surgimento de uma praga supostamente inexistente no território brasileiro precisa ser comunicado à Secretaria de Defesa Agropecuária antes de ser divulgado no meio científico. Uma vez constatada a ocorrência da introdução de pragas quarentenárias no país, programas de controle devem ser intensificados, como monitoramento e erradica-

Frutos Folha Planta inteira Folha e botão floral Folha e brotos terminais Grãos e sementes Folha Qualquer parte da planta Qualquer parte da planta Caule Folha, caule e raiz Parte área da planta Parte área da planta Flor, fruto e semente Fruto Fruto

ção, bem como avaliação do potencial de estabelecimento desta praga. A correta identificação/visualização de uma praga quarentenária é de fundamental importância, pois evitar a entrada de pragas no país requer esforços de todos para aprimorar o conhecimento científico com relação às normas e regulamento. O produtor deve ficar atento quando da importação de material vegetal, o qual deve ser enviado aos laboratórios credenciados a fim de se avaliar a presença ou não de pragas. A constituição de zonas de livre intercâmbio econômico, a fiscalização de barreiras, portos, aeroportos e a utilização de medidas quarentenárias coerentes podem facilitar a comercialização dos produtos entre os países desde que as normas impostas pelos regulamentos fitossanitários sejam respeitadas evitando colocar em risco nossas C fronteiras e a agricultura nacional. Fabiana L. da Fonseca UFPR Divulgação

Diptera

Fabiana alerta para o cuidado da entrada de produtos vegetais de origens desconhecidas

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Fotos Bayer

Lançamento

Inédito para cana O

Brasil, líder mundial na produção de cana-de-açúcar, com cultivo de 5,5 milhões de hectares, segundo a previsão, nos próximos dez anos deve incrementar o plantio em cerca de 48%, devido ao aumento da demanda por álcool e açúcar. Porém, os danos causados pelas pragas na agricultura são hoje um dos principais fatores limitantes na expressão de todo o potencial produtivo de uma cultura. Na cana-de-açúcar não é diferente. Insetos como a cigarrinha-das-raízes e cupins são responsáveis por perdas elevadas, ainda agravadas pela redução das queimadas das lavouras por ocasião da colheita, o que tem aumentado o nível populacional, principalmente da cigarrinha. Para atender a demanda destes produtores por produtos que controlem estas pragas, a Bayer CropScience lançou o Evidence, produto inédito para a canade-açúcar. Sua ação é inseticida e cupinicida e pode ser usado para o controle de cigarrinha-das-raízes e de cupins. Possui como formulação o Imidacloprido, produto sistêmico do grupo do neonicotinóides de ação por contato e tam-

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bém ingestão. Outra característica do Evidence é sua classificação na classe toxicológica IV, o que garante mais segu-

A alternância de grupos químicos no controle das pragas de solo é um benefício relevante ao cultivo, afirma Edison Kopacheski

rança na aplicação. O produto apresenta diferentes modos de aplicação de acordo com a praga que se deseja combater. Para o controle de cupins, o produto é usado preventivamente na pulverização no sulco de plantio sobre os toletes de cana antes da operação de cobertura. Já para a cigarrinha-das-raízes são feitas aplicações dirigidas ao colo das plantas e ao solo após a colheita da cana crua. Segundo Edison Kopacheski, gerente de portfólio inseticidas da Bayer CropScience, a alternância de grupos químicos no controle das pragas de solo é um benefício relevante ao cultivo. “Some-se a isto um preço competitivo e o fato de ser um produto desenvolvido especialmente para as condições brasileiras, justamente num momento de expansão da cana-de-açúcar no país”, destaca Kopacheski. O Evidence completa o portfólio da Bayer CropScience para uso em cana. A companhia já comercializa Provence 750WG, Sencor 480 SC, Ametrex, Cention SC, Thiodan CE, Temik 150 g, C Ethrel 720.

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Especial

Negócios

Híbrido para safrinha e verão

Híbrido ideal para o Sul

N

A

Coodetec mostrou durante o Show Rural Coopavel, o CD 308, seu mais novo produto, milho híbrido de dupla aptidão. Indicado para a safrinha e para a cultura de verão, o híbrido é para médio investimento, tem porte alto e uma característica conhecida por stay-green (permanece verde), no qual a espiga seca e a planta que lhe dá sustentação continua verde, fator que melhora as condições de sanidade do cereal. O custo-benefício é uma das principais vantagens do CD 308, informa o agrônomo e supervisor regional de vendas da Coodetec para o Oeste e Paraguai, Marcelo Rodrigues. O grão é semiduro e de elevada qualidade para a fabricação de ração. Ele foi desenvolvido para diminuir custos com a aplicação de insumos e tem a precocidade como outro de seus diferenciais. De acordo com pesquisas, a produtividade do CD 308 pode alcançar 280 sacas por hectare. “A expectativa é de grande aceitação em um nicho determinado de mercado, já que se trata de uma cultura de médio investimento”, diz Marcelo. A cultivar vai estar disponível para o produtor a partir do plantio da próxima safra de milho. O custo da saca de 20 quilos de semente é de R$ 86,00 suficientes para cultivar área de 1,2 hectare.

o ano em que completa 60 anos de atividade no segmento do agronegócio, a Biomatrix lançou na Coopavel, o BM 1201seu primeiro híbrido de milho de marca própria. Trata-se de um híbrido simples, precoce, com alta tolerância às doenças da safra e da safrinha e desenvolvido especialmente para as condições dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Um híbrido de alto investimento, com potencial para altas produtividades, onde em testes realizados, atingiu médias de 9 mil kg/ha. As espigas, de tamanho médio, são grossas, bem formadas e apresentam ótimo empalhamento. Os grãos são semiduros, de coloração amarelo-alaranjado e com baixo índice de ardidos. Além disso, o BM1201 tem rápido dry down, que proporciona colheita precoce e redução de perdas no campo.

SoluCia será inaugurada

D

esde o início de março o mercado brasileiro conta com uma nova indústria química, resultante da aquisição do parque industrial da Basf, em Resende (RJ) pelos cerca de 180 fun-

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cionários da unidade. A empresa, instalada em uma área de 86 hectares, denominada SoluCia, será uma prestadora de serviços para indústrias de produtos agroquímicos, intermediários para o

ramo alimentício e farmacêutico. Com excelência em serviços de manufatura, será especializada em formulação, envase e embalagens de produtos e desenvolvimento de formulações e princípios ativos, entre outras atividades. A SoluCia é uma fábrica de padrão internacional, certificada pelos principais órgãos de qualidade internacionais. A única no Brasil a reunir, em uma mesma área fabril, um portfolio completo de serviços que inclui síntese de compostos químicos e formulação de produtos agroquímicos, bem como incineração e tratamento de efluentes de resíduos industriais. Estima-se que, no decorrer dos próximos dois anos, seu parque industrial receberá R$ 24 milhões em investimentos para ampliar a capacidade produtiva. Pesquisa e desenvolvimento, no campo de sínteses e formulações, serão prioridades para atender as necessidades dos parceiros da SoluCia.

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Coluna Jurídica

Newton Peter

OAB/RS 14.056

consultas@newtonpeter.com.br

Dano moral

I

númeras ações cobrando indenizações por danos morais abarrotam o sistema judiciário. Sob essa expressão genérica, encontramse desde empresas procurando reparação merecida, eis que possuem direitos à personalidade, tanto quanto aproveitadores, gente que pleiteia reparar sua “dor” através da aquisição de dinheiro fácil. Depois da Constituição de 1988, a jurisprudência foi transformada e a idéia de compensar a dor através do dinheiro se tornou cada vez mais presente no cotidiano. Estender princípios semelhantes às empresas, entidades sem a capacidade de sofrer fisicamente, mas passíveis de perdas por conta de abalos em sua credibilidade, advém de passado recente. Antes, o ressarcimento provinha da comprovação do prejuízo material, o que constitui um tipo de ação distinta da abordada aqui, embora, ressalto, em alguns casos pode-se ajuizar ambas. O tipo de dano moral mais comum, nas relações entre pessoas físicas e jurídicas, consiste no cadastramento indevido das primeiras nos órgãos de proteção do crédito. Isso ocorre quando a dívida ou a parcela devida em determinado tempo é quitada e, mesmo assim, a parte é considerada inadimplente, sofrendo restrições de crédito.

COMO PROCEDER Sendo uma pessoa física incluída indevidamente em bancos de dados de inadimplentes como o Serasa, solicite ao próprio órgão o cancelamento do cadastro. Essa medida pode ser tomada com relativa simplicidade, devendo a pessoa apenas comprovar a quitação da parcela ou dívida mediante apresentação de comprovantes de pagamento. Por precaução, num segundo momento, procure também a empresa com a qual a dívida foi contraída e soli-

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cite, igualmente, providências. Nos dois casos, recomendo a manifestação por escrito, com comprovante de recebimento. O procedimento é simples; seu advogado o fará sem problemas. No caso de pessoa jurídica, deve-se adotar os procedimentos descritos acima acrescidos da publicação de nota de esclarecimento nos jornais de circulação da área de atuação da companhia. Como alternativa, o envio de uma carta de esclarecimento aos fornecedores e clientes mais importantes do ofendido surtirá efeitos semelhantes.

PEDIR INDENIZAÇÃO? a) Pessoas Físicas – conforme manifestado acima, há uma verdadeira indústria de pedidos de indenização por danos morais atuando neste país. Certa é a existência de dano moral num caso como esse, contudo, deve-se manter a justa medida. Via de regra, a palavra “incômodo” descreve melhor a situação do que a expressão “dano moral”. Isso porque, estando quitada a dívida, pode o interessado facilmente resolver a situação. O advogado que lhe prestar assessoria entrará em contato com a outra parte e solucionará a questão. Pode, inclusive, celebrar um acordo e cobrar seus honorários de quem agiu equivocadamente, evitando assim qualquer ônus para o cliente. A alternativa, muito usada, é imediatamente ajuizar uma ação de reparação por danos morais. Sobre essa hipótese, no dizer dos antigos jurisconsultos romanos, “nem tudo o que é lícito é honesto”. Podendo solucionar a questão sem a intervenção judicial, o motivo mais lógico para invocar os juízes é a possibilidade de ganho fácil. “O dinh não tem cheiro”, para citar novamente um romano antigo. De qualquer modo, os tribunais têm prolatado sentenças favoráveis aos autores. Os ganhos, entretanto, não costumam ser os esperados, perfazendo totais entre R$ 3 mil e R$ 7 mil, via de regra. Entretanto, vale alertar que o acentuado número de ações desse tipo pode

fazer com que os Tribunais Superiores modifiquem seus posicionamentos, face aos abusos perpetrados. b) Pessoas Jurídicas – neste caso, a situação difere. A inclusão do nome empresarial num cadastro de inadimplentes, mesmo que por poucos dias, pode gerar danos mais sérios. Em termos comerciais, a pessoa jurídica depende mais da integridade associada ao seu nome do que uma pessoa física. É a dura realidade. Uma pessoa física inadimplente pode estar passando por um período de dificuldades financeiras e não há, via de regra, grande abalo à sua honra ou moral. Pode-se recompor e o máximo que lhe acontece é sofrer uma restrição ao crédito, a partir da qual tomará providências. Já uma pessoa jurídica certamente perderá negócios. Concorrentes podem se aproveitar da situação para ganhar mercado ou obter vantagens de fornecedores ou clientes. Mesmo que por pouco tempo, pode a empresa ser forçada a adquirir mercadorias e matérias-primas em condições inferiores às normalmente observadas. Aqui teríamos um dano material, mas, considerando-se a maior dificuldade de prova, optam muitas empresas por reclamar dano moral, que traz a vantagem jurídica de ser considerado intrínseco à situação. Algumas requerem ambos. Para maiores esclarecimentos, procure seu advogado. Lembre-se de que C cada caso é um caso.

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Coluna Aenda

Defensivos Agrícolas

Preços em 2004 A análise da evolução dos preços dos defensivos agrícolas surpreende por ter mostrado que esses insumos ficaram abaixo dos índices de apuração dos custos em geral Estudo da variação entre outubro/2003 e outubro/2004 (*) Grupos Herbicida Acaricidas Fungicidas Inseticidas Reguladores Total De Produtos Variação Do Igp-di

Variação média / Preços correntes Out. 2003 a Out. 2004 + 4,0 % + 5,3 % + 3,2 % + 2,7 % + 0,8 %

Nº de produtos abaixo e acima da variação IGP-DI Abaixo Acima 41 04 07 03 23 04 34 00 04 00 109 11

+ 11,85 %

(*) Tabela baseada nas pesquisas de preços do convênio IEA/Fundepag/Aenda

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oi forte a demanda por defensivos agrícolas em 2004. Estima-se um salto de 33% no faturamento total das empresas, o que faria o mercado passar do patamar dos US$ 4 bilhões. Vamos aguardar a apuração e depuração dos números. É visível, todavia, o crescente esforço no campo, através do uso correto de defensivos, para assegurar os rendimentos incrementados pelo melhoramento nas sementes, racionalidade nos adubos e outras técnicas de cultivo. Como se vê, apesar da alta do petróleo, refletida em algumas matérias-primas, e da variação do euro, que foi de +10,5% frente ao real no período, (lembramos que as três maiores empresas no Brasil são européias e somaram 45% do mercado em 2003), o agricultor brasileiro não sentiu esse impacto nas suas aquisições de defensivos, tal qual ocorreu nos fertilizantes. O grupo herbicidas apresentou uma varia-

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ção em média sete pontos percentuais abaixo da variação do IGP-DI do mesmo período. Individualmente, vale a pena destacar o caso do Imazetapir, cujo preço caiu 18,5%, em face da ampliação da concorrência (em 2004 foram ofertados: Pivot/Basf, Zethapyr/ Agripec, Vezir/Milenia, Imazethapir Plus/ Nortox e Dinamaz/Cheminova). E o herbicida mais usado, Glifosato, recuperou seu preço em 11,08%, à mercê ainda da medida anti-dumping em vigor contra as importações da China; mesmo assim, ficou abaixo da variação do IGP-DI. Os acaricidsa, em média, ficaram 5,7 pontos abaixo do IGP-DI. Os fungicidas também estiveram comportados, com um aumento médio apenas de 3,2%, portanto 7,8 pontos percentuais abaixo do IGP-DI. Os produtos cúpricos (Oxicloreto e Hidróxido de Cobre) fugiram da média, com aumentos de até 27% em decorrência da disparada nos preços do co-

bre, usado como matéria-prima (o tubo de cobre subiu cerca de 62% no mesmo período). O mercado de fungicidas teve um extraordinário crescimento, impulsionado pela proliferação da ferrugem da soja, e, diga-se de passagem, que apesar da escassez pontual de produtos (algumas empresas tiveram de importar por via aérea para suprir o mercado), não foram detectados aumentos distantes da média nesse grupo até outubro de 2004. Os inseticidas variaram apenas 2,7% em média, ou seja, 8,3 pontos abaixo do índice geral de preços. As iscas formicidas fraudulentas continuam a atrapalhar o mercado de Sulfluramida e Fipronil neste segmento, que tiveram retração nos preços entre 6 e 10%, em revendas e cooperativas. Os reguladores de crescimento, em média, praticamente mantiveram os preços inalterados, inclusive ficando 10,2 pontos abaixo do índice geral de preços. Para a presente análise foram compilados dados de 120 marcas comerciais que cobrem o universo de 104 ingredientes ativos ou misturas destes, coletados em quase uma centena de revendas e cooperativas, no estado de São Paulo. Apenas oito estados da federação adquirem 88,2% em termos quantitativos de todos os ingredientes ativos comercializados no país. São Paulo representa 22,7% do total, conforme podemos obserC var na figura.

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Agronegócios

Menos remédios e ma

O

leitor já deve ter reparado uma advertência nas embalagens de alimentos: contém glúten. E talvez se tenha perguntado: e daí, que diferença faz? Acontece que o glúten é uma proteína insolúvel, encontrada em trigo, centeio, cevada e aveia, importante no processo de panificação. Ao reagir com um álcool, forma proteínas menores. Se um portador da doença celíaca ingere glúten, os sintomas da doença podem surgir. A quem se interessa por citogenética, essa predisposição está relacionada a um antígeno de histocompatibilidade da região “d” do cromossomo seis.

DOENÇA CELÍACA A principal função do intestino delgado é absorver nutrientes, fluidos e eletrólitos, que depende de uma área de absorção adequada. Para tanto, o epitélio do intestino delgado é pregueado. Em indivíduos suscetíveis à doença celíaca, o glúten desencadeia uma reação inflamatória, que “achata” o epitélio, reduzindo a absorção. A extensão do comprometimento determina se o indivíduo desenvolverá os sintomas, que incluem fraqueza, diarréia, perda de peso, fadiga e anemia. Pode ocorrer osteoporose, tetania e desordens neurológicas. Bolhas, vermelhidão ou estrias avermelhadas podem ser observadas no corpo.

ALTERNATIVAS A Embrapa está desenvolvendo cultiva-

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res de quinoa e amaranto, que são grãos desprovidos de glúten e com alto teor de proteína. Seus derivados são facilmente digeríveis, o que ajuda na recuperação de crianças convalescentes e no preparo de refeições para idosos. E, obviamente, na formulação de dietas para celíacos. Fontes protéicas vegetais, como a quinoa e o amaranto, implicam em menos riscos - como o entupimento de veias e problemas cardíacos - do que a carne. Produtos destinados a pacientes celíacos já estão à disposição de consumidores de países ricos e, a partir das pesquisas da Embrapa, logo os brasileiros também terão acesso a esses produtos.

DA QUINOA PARA O VINHO Desde tempos imemoriais os cientistas buscam entender porque envelhecemos e pesquisam fórmulas para retardar o processo. Sabe-se que organismos expostos a uma dieta pobre em calorias reduzem a incidência de doenças ligadas ao envelhecimento, como a osteoporose, o câncer e os ataques cardíacos. Eu, que já tinha muitos motivos para apreciar bons vinhos, acrescentei mais um à minha coleção, após ler um artigo na revista “Nature”. Li que cientistas descobriram que o resveratrol, um polifenol abundante na uva e no vinho, pode retardar o envelhecimento. Por enquanto, os cientistas demonstraram que essa substância aumentou a duração da vida de leveduras. Estudos em andamento, usando vermes e mosca de frutas, mostram resulta-

dos encorajadores. Mas por que o bom Deus não estenderia essa benesse ao Homo sapiens, especialmente se ele for tão sapiente que aprecie bons vinhos?

A FONTE DA JUVENTUDE Nos anos 90, cientistas demonstraram que alelos simples controlam a velocidade do envelhecimento, tornando possível manipular tais genes. Os cientistas induziram estresses leves nas cobaias, para verificar o efeito do resveratrol. Concluíram que a substância pode prevenir mutações celulares, que fazem parte do processo de envelhecimento. São essas mutações que respondem, em grande parte, pelos acidentes cardiovasculares e pelos tumores malignos. Aparentemente, o resveratrol regula a produção de proteínas essenciais para o organismo. Em algumas situações, sinaliza para que as células assumam uma postura de defesa contra estresses, para proteger a sua integridade. A dúvida dos cientistas é como isso ocorre. Uma das hipóteses aventadas é que as proteínas reguladas pelo resveratrol teriam importante função no reparo do DNA, o qual se degrada com o envelhecimento das células e pela ação de radicais livres.

DO VINHO PARA A PICANHA Ômega 3 é um tipo de ácido graxo farto

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is alimentos funcionais Os alfarrábios da vovó indicavam a cerejeira (frutos e folhas) como diurético e para a prevenção ou eliminação de cálculos dos rins e das vias urinárias. Recentemente, o estudo de um cientista norte-americano demonstrou que substâncias existentes nas cerejas aliviam os sintomas das inflamações artríticas.

ANTI-INFLAMATÓRIO

em peixes como o salmão, o arenque e o bacalhau. Em baixas quantidades também pode ser encontrado nos óleos de soja e canola e nas castanhas. Embora tenha funções muito importantes, ele não é produzido pelo organismo humano, devendo ser obtido por meio dos alimentos. Alimentos ricos em ômega 3 reduzem os níveis de colesterol e triglicéridos no sangue e regulam a pressão arterial, mitigando os riscos de acidentes vasculares e cardíacos. Já as carnes vermelhas não possuem gordura do tipo ômega 3, razão pela qual o churrasquinho nosso de cada fim de semana é o terror dos cardiologistas. Além da carne de gado, também a carne de frango ou porco, os ovos e o leite não contêm ômega 3, sendo suas gorduras do tipo ômega 6. Conquanto tenha diversas funções no organismo, o ômega 6 é considerado o responsável pelo “pecado da carne”, ou seja, pelos problemas causados às artérias e ao coração, em especial pelos elevados teores de LDL-colesterol e triglicéridos que apresentam riscos ao sistema circulatório.

SALVO PELA MINHOCA! O gene fat-1, responsável pela produção do ômega 3, foi extraído do DNA de um nematóide chamado Caenorhabditis elegans. Como minhocas não constam do nosso hábito alimentar, os cientistas transferiram a capacidade de produzir ômega 3 do nematóide

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para o rato. Absolutamente, longe deste gaúcho sugerir a substituição da picanha por ratos assados, mas a possibilidade de produzir a boa gordura em um mamífero é auspiciosa, sendo um indicativo de possível sucesso com outros animais ou plantas. Com o uso da biotecnologia, vislumbrase um espetacular nicho comercial na produção de gado bovino, tanto de corte quanto de leite, de frangos (de corte ou postura) e na criação de suínos especializados em produzir ômega 3. O mesmo pode ocorrer em outras fontes de lipídios, como os óleos vegetais. Do sucesso da pesquisa científica pode decorrer uma brutal redução nos riscos de acidentes cardíacos, decorrentes da baixa ingestão de ômega 3. E, como bônus, você poderá saborear tanto a picanha quanto a costela com aquela gostosa manta de gordura – que faz qualquer gaúcho lamber o bigode! – livre do sentimento de culpa que hoje nos acomete. Ah, não esqueça do vinho!

DA PICANHA ÀS CEREJAS A cerejeira pertence à família das Rosáceas, a mesma do pêssego, da pêra e da maçã. Ela é originária da região do Cáucaso asiático, mas é cultivada no Ocidente desde os tempos de Cristo. Seu uso vai de tortas e outros doces, licores, ao consumo in natura. Como é muito exigente em frio, as regiões aptas para seu cultivo no Brasil são poucas e a área é limitada.

Verificado o alívio dos sintomas de artrites, foi estudado o efeito do consumo de cerejas sobre a gota, uma forma hereditária de artrite, resultante de um distúrbio metabólico, caracterizado pelo excesso de ácido úrico no sangue e depósitos de seus sais nas juntas dos pés e das mãos. Os voluntários (sadios ou acometidos pela gota) consumiram 45 cerejas frescas no desjejum – no dia do estudo - sem comer quaisquer frutas ou outros vegetais assemelhados nas 48 horas anteriores. Os médicos mediram a concentração dos sais do ácido úrico no plasma sangüíneo e na urina dos voluntários, por até cinco horas após a ingestão das cerejas. Os resultados foram altamente auspiciosos, pois, enquanto a presença de uratos no plasma diminuiu, a sua excreção pela urina aumentou. Na seqüência foi analisada a presença de indicadores de que o sistema imunológico estivesse agindo sobre o processo inflamatório. Os indicadores foram a proteína C-reativa, o óxido nítrico e o fator de necrose tumoral alfa.

OS RESULTADOS As análises indicaram a redução dos teores de óxido nítrico e da proteína C-reativa, porém não houve alterações na concentração sangüínea do fator de necrose tumoral alfa. Depois das descobertas iniciais, em 2003, outros estudos ampliaram o espectro de marcadores que estão sendo analisados e acompanhados, bem como o número de voluntários, com uma amplitude maior das faixas de idade e dos graus de intensidade de gota. Estudos como esses resgatam a sabedoria popular, mitigam o sofrimento de pacientes, substituem por alimentos naturais o amargo e caro remédio químico. E, ao final, abrem uma oportunidade de emprego e renda no campo, em especial para a agricultura familiar, na produC ção de alimentos funcionais. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Produtores com muitas dúvidas na boca da safra A colheita está em andamento em grande parte do país, com as lavouras da soja sendo colhidas, o mesmo ocorrendo com o milho e o arroz. Já passamos pela primeira safra do feijão, que foi fortemente afetada pelo clima e grandes perdas trouxe aos produtores, criando várias dúvidas sobre o que fazer com a safra, que neste início de ano comercial está mostrando médias menores do que eram praticadas no ano passado, e assim, boa parte está em dúvida: vender ou segurar ou como é que andarão as cotações neste ano? Pelo que observamos desde o final de 2004 até fevereiro, pregou-se o caos aos produtores, ou seja, de que este seria um ano de grandes prejuízos e que todos os produtos estariam em baixa e desta forma a crise estava desenhada antes mesmo da evolução da safra. Frente a isso, não estamos de acordo com o que está pintado pela maior parte dos analistas. Primeiro separamos por produtos, onde vemos que a safra do feijão foi afetada e se colheu algo ao redor das 800 mil t nesta primeira fase, contra as estimativas de 1,3 milhões do governo, que precisarão ser revistas para que o quadro do me rcado trabalhe com números reais. O mercado deste produto está com indicativos firmes e caminha para um bom ano comercial, porque todas as perdas ocorridas até agora não poderão ser recuperadas na segunda e terceira safra, que tem área de plantio limitada. Outro produto que caminha para ter um bom desempenho comercial, principalmente no segundo semestre, é o milho, que tem estoques de passagem baixos e caminha para uma safrinha reduzida porque o atraso na colheita da soja precoce limitou o plantio do cereal e, assim, haverá um quadro de oferta e demanda ajustado no ano e custos altos para importar. Como seqüência, temos o arroz que também teve problemas na safra e caminha para um quadro mais ajustado e, com isso, a grande queda que estava sendo anunciada não se confirmou em fevereiro e os produtores agora têm maior poder de barganha para segurar os indicativos em níveis melhores. O produto que tem a maior pressão é a soja, cuja perspectiva do USDA era de que teríamos uma colheita de 65 milhões de t, agora já corrigida para 63 milhões e ainda acima das expectativas do mercado nacional. Para a soja os produtores caminham para realizar uma comercialização mais lenta e, então, alongar o volume de oferta, deixando de pressionar com a maior parte do produto na colheita. Mesmo assim, recomenda-se não forçar ofertas entre março e começo de maio, que tendem a operar no fundo do poço, sendo que para a soja também se espera que trabalhe em cima de cotações médias históricas. Estamos num ano de cautela e comercialização sem precipitação e a orientação é buscar ganhar nos mínimos detalhes. Buscar ganhar 1%... por dia. MILHO Produtor abastece consumidor Os produtores de milho estiveram colhendo a safra e realizando entregas e vendas diretas aos principais consumidores, que deixaram de atuar nos lotes livres, dando preferência ao milho direto das lavouras, com crescimento dos negócios em cima de milho úmido, que tem maior rentabilidade para os produtores porque não necessita passar por secador e, assim, diminuem os custos. Os indicativos do milho neste começo de ano vêm mostrando estabilidade, mas ainda trabalhando em cima das cotações mais baixas do ano. Neste mês de março entram em colheita as lavouras do Sudeste, que até agora se resumiam a poucas áreas de SP, também esperando que a pressão de entrega de milho direto diminuirá e, assim, poderá crescer o movimento de lotes e, com isso, alguma pressão no lado positivo. SOJA Safra menor que expectativas A colheita da soja agora está a todo o vapor e com isso já estão sendo observadas as perdas promovidas pelo clima e também pela ferrugem, que, mesmo sob controle dos produtores, está mostrando redução na produtividade das lavouras que tiveram problemas para a aplicação dos defensivos devido à chuva no período. Também observa-se perdas na produtividade das lavouras do Sul do país em função do clima seco que tomou conta de grande parte da região em boa parte de fevereiro. Os indicativos da soja, que mostravam para números baixos, operaram com ligeira estabilidade em fevereiro, mas se o câmbio continuar em baixa teremos pressão de baixa nos indicativos aos produtores em março porque os custos dos fretes devem crescer neste mês. Também veremos filas de caminhões nos portos para embarcar para a exportação. Os números da safra que estão sendo comentados agora dão conta de 58 até 62 milhões de t (dos mais otimistas) mas ninguém aponta para níveis acima disso.

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FEIJÃO Buraco no abastecimento O quadro do feijão está mostrando que nesta segunda quinzena de março e durante abril teremos um buraco no abastecimento de produto de boa qualidade e, com isso, dando margens para os produtores puxarem as cotações e recuperarem parte das perdas que tiveram com o grão no ano passado. O mercado deverá passar por um período de pressão de alta nestes próximos dois meses. A quebra da safra do Irecê, junto com perdas em Unaí e grande parte da região do Distrito Federal e a quebra da safra paulista e do Norte do Paraná deixarão o mercado com pouco feijão de agora em diante, até a chegada da segunda safra, que vem entre maio e junho.

ARROZ Mercado reagiu no início da safra A colheita de arroz está em bom ritmo e mostrou reação das cotações do produto de melhor qualidade do RS em fevereiro. Isso porque as ofertas estavam escassas e sinalizando que o quadro que estava pintado para ser de baixa poderá andar em cima de indicativos médios e operar dentro do normal, com a colheita andando e os produtores segurando os indicativos. O arroz do RS que operou entre R$ 22 e R$ 25,00 não quer deixar o quadro ir abaixo e os produtores reclamam por números entre R$ 28 e R$ 30,00, para que consigam pagar os custos e sobrar alguma margem. Produtores do MT estão com a maior parte da safra colhida, aguardando para negociar mais à frente.

CURTAS E BOAS SOJA - o USDA reavaliou a safra brasileira, baixou para 63 milhões de t, contra até 65 que estava apontado no início do plantio, e ainda está muito otimista. Manteve a safra da Argentina em 39 milhões de t e o governo portenho aponta que não passará das 35 milhões. São dois fatores otimistas para as cotações. A safra mundial apontada pelo USDA é de 228 milhões de t, mas o mercado espera que não passe das 225 milhões de t e, assim, os estoques também terão que ser diminuídos. MILHO - os dados internacionais do milho mostram que a safra da Argentina seguia em boas condições e mostrava estimativas internas entre 18 e 19 milhões de t, e, com isso, as exportações que foram de 11 milhões de t neste último ano podem saltar para as 14 milhões de t. Crescem as vendas junto ao mercado asiático, onde concorre com China e EUA. TRIGO - o mercado tende a mostrar maior interesse de compra dos moinhos a partir do mês de março, porque a maior parte está apontando que tem estoques baixos. A boa notícia para o setor veio da retirada do ICMS da farinha no estado de São Paulo, onde os moinhos esperam que favoreça o consumo. ALGODÃO - os dados do USDA mostram a produção mundial em 116,7 milhões de fardos, nível acima do que estava apontando no mês anterior. Com isso, aumentam os estoques de passagem, que agora estão sinalizando para os 46,7 milhões de fardos contra os 35,5 milhões da safra passada. O número caminha para deixar o quadro dentro de patamares próximos das médias históricas. Nas últimas semanas tivemos reações nos indicativos praticados na Bolsa de Nova York, mas pouco teve de efeito no mercado brasileiro, que está com as lavouras em desenvolvimento nos campos, principalmente Mato Grosso, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, e alguma coisa no Paraná e em São Paulo, além de pontos isolados em outras regiões do país. Para os produtores assegurarem lucratividade devem correr em busca de alta produtividade, diminuindo os riscos, porque mesmo com cotações médias e com alta produtividade se consegue lucratividade.

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