Cultivar Grandes Culturas • Ano VI • Nº 73 • Maio 2005 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
Destaques
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Foto Capa / Marco A. Lucini
Injúrias adversas Algumas injúrias que prejudicam o milho podem estar ligadas ao uso de determinados herbicidas
18 A vez do pulgão Por causa do clima seco nos últimos meses, os pulgões alados podem ser a principal praga do trigo na safra atual
Nossos cadernos
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Fotos de Capa
Mais cor e qualidade O interesse dos japoneses pelo algodão colorido impulsionou a busca por cultivares mais produtivas
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Charles Echer Marco A. Lucini
Embrapa Arroz e Feijão
Destaque indesejado O capim-camalote está tomando conta de lavouras de cana, aumentando o custo de produção
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL
Direção 3028.4013 • REDAÇÃO: Newton Peter Schubert 3028.4002 K. Peter / 3028.4003 • MARKETING:
3028.4004 / 3028.4005 • FAX:
www.cultivar.inf.br 3028.4001 cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00
Índice Diretas
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REDAÇÃO • Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia • Revisão
Silvia Pinto
Planos da Sinon no Brasil
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Interferência de invasoras no feijão
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Injúrias causadas por herbicidas em milho 10
COMERCIAL Pedro Batistin
Sedeli Feijó Silvia Primeira
Nossos Telefones: (53)
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CIRCULAÇÃO
• Assinaturas: 3028.2070
Como prevenir e controlar o pulgão no trigo 18
Cibele Oliveira da Costa
• Redação: 3028.2060
Avanços da pesquisa do algodão colorido
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Controle do capim-camalote em cana
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Molécula Tetraconazole
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Coluna Aenda
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• Expedição
Agronegócios
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Edson Krause Dianferson Alves
Mercado Agrícola
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Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Geral 3028.2000
• Marketing: 3028.2065
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Uso correto de água para o milho
• Gerente
• Assinaturas
Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas
Raquel Marcos
• Impressão
Diretas
Navegando Rogério Lima do Valle, gerente de vendas da Cheminova para o Cerrado, avaliou como muito positiva a participação da empresa no Agrishow Cerrado, onde a Cheminova apresentou sua linha de produtos no estande em forma de barco viking.
Solferti
Rogério L. do Valle
A Solferti reuniu seu time, de 13 a 15 de abril, na convenção anual de vendas em Ana Rech (RS). Na ocasião, a ordem foi traçar novos planos, estabelecer metas e montar estratégias de ação para as novidades que serão em breve anunciadas.
Entusiasmo Não faltou entusiasmo no estande da Sipcam durante o Agrishow Cerrado. No início de maio, a empresa lançou um fungicida para doenças de tomate, batata e videira.
Syngenta Crescimento A Sinon do Brasil destacou os produtos Glister e Mandarin no Agrishow Cerrado. Joelson Mader, diretor comercial e de marketing da Sinon, acompanhou a equipe presente no evento deste ano e está bastante otimista com os rumos que a empresa está tomando no Brasil.
Gerência Oswaldo Debiagi Júnior assumiu recentemente a gerência de vendas da regional Sul da Dow Agroscience, que abrange os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Há 12 anos na empresa, nos últimos seis anos atuava no departaOswaldo Debiagi Jr. mento de planejamento estratégico.
Futuro José Manuel Arana, diretor de sementes e biotecnologia da Dow Agroscience, está entusiasmado com os avanços da biotecnologia na agricultura. Em visita à Expodireto 2005, ele acompanhou as movimentações Schubert, Arana e Debiagi no estande da empresa.
Silos A DuPont lança o SiloxTM, um sistema de armazenamento de grãos, constituído à base de plástico e dióxido de titânio (Ti-Pure®, da DuPont). Segundo a empresa, o produto possibilita a redução dos custos de armazenagem no comparativo com os tradicionais silos metálicos.
Ademar De Geroni Jr.
Soja Cerrado Ademar De Geroni Júnior assumiu recentemente a gerência de marketing de soja para o Cerrado, da Basf. Anteriormente, Ademar trabalhava na região de Ponta Grossa (PR).
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André Toesca
Destaques A equipe da Dow Agroscience apresentou, durante o Agrishow Cerrado, novos híbridos de sorgo e milho hiper-precoce e precoce. Entre os destaques estão dois híbridos com a tecnologia Clearfield, que garantem ciclo mais rápido, alta produtividade e controle de plantas daninhas mais facilitado.
Portifólio A Agrichem do Brasil, buscando sempre os melhores resultados para a agricultura brasileira, está importando hoje cerca de 35 dos mais de 200 fertilizantes líquidos produzidos pela Agrichem Austrália, para diversos tipos de culturas, como hortaliças, flores, frutas, entre outras.
Parceria Rural A Basf renovou com o Governo do Mato Grosso o projeto Parceria Rural, programa de qualificação de trabalhadores rurais. Segundo Maurício Marques, diretor de negócios da Divisão Agro no Brasil, o programa lançado em 2003, somente no ano passado, capacitou 1,1 mil trabalhadores, dos quais 860 foram imediatamente inseridos no mercado de trabalho.
André Toesca, gerente de culturas e clientes soja para a região do Cerrado, está confiante com os produtos da Syngenta para a cultura de soja. “Tivemos um excelente desempenho no controle da ferrugem da soja com o Priori Xtra em 2005”, garante.
Bayer O estande da Bayer no Showtec de Maracaju (MS) foi um dos mais animados do evento. A equipe esbanjou empolgação e bom-humor no atendimento aos clientes que aproveitaram a ocasião para conhecer os produtos da empresa e os resultados nas parcelas demonstrativas.
Internacional
Maurício Marques
Em visita à Expodireto 2005, o presidente da Chemiplant da Argentina, Alejandro G. de Falco, encontrou o presidente da Cheminova no Brasil, Rico Toft Christensen. Na oportunidade, Alejandro e uma comitiva da Chemiplant aproveitaram para conhecer a realidade do agronegócio brasileiro.
Falco e Christensen
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Empresas
Força no Brasil Fotos Charles Echer
Em entrevista exclusiva à Revista Cultivar, o presidente mundial da Sinon, Wen-Ben Yang, falou das estratégias do grupo e dos grandes investimentos da empresa, previstos para o Brasil nos próximos anos
A
tendimento personalizado, de acordo com as necessidades específicas de cada produtor. Esta é a promessa e o objetivo da Sinon no Brasil para um futuro bem próximo, de acordo com o presidente mundial da empresa, Wen-Ben Yang, em entrevista à Revista Cultivar. Os planos fazem parte das estratégias que a empresa está utilizando no mercado asiático, onde detém aproximadamente 30% do mercado de defensivos químicos agrícolas. Há três anos no mercado brasileiro, a Sinon já trabalha com dois produtos, o Glister, herbicida não-seletivo à base de glifosato, e o Mandarin, fungicida sistêmico do grupo dos benzimidazóis. Estes são apenas dois de um portifólio com aproximadamente 30 produtos que a empresa pretende colocar no mercado nacional nos próximos anos, 15 dos quais já se encontram em fase adiantada de registro junto ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Alberto Massanori Koshiyama, diretor geral da Sinon no Brasil, e o presidente mundial, Wen-Ben Yang, falaram dos planos no país
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Em visita ao Brasil, o presidente mundial da Sinon, Wen-Ben Yang, falou sobre os planos da empresa para os próximos anos e aguarda com ansiedade o registro dos produtos, para ampliar a participação no país. “Queremos aplicar aqui a mesma filosofia que aplicamos em Taiwan e em outros países onde atuamos, que é a de atender às necessidades específicas dos produtores, oferecendo a solução adequada para cada lavoura”, garante. Para isso, a empresa investe na sintonia fina entre técnicos de campo, revendedores e equipe de pesquisa, envolvendo os setores da empresa e focando no atendimento personalizado a cada cliente. “O que a empresa quer implantar no Brasil já existe em Taiwan, onde a Sinon conta com uma rede de 300 lojas próprias, oferecendo aos agricultores uma linha completa de produtos, tais como: sementes, fertilizantes, herbicidas, inseticidas e fungicidas, além de serviços de análise do solo e assistência técnica, através de um corpo técnico de mais de 400 engenheiros agrônomos”, explica. Fundada em 1955 por Ting-Fa Yang, a Sinon iniciou com uma pequena fábrica e, atualmente, é um conglomerado de
empresas com mais de dez negócios diferentes em cerca de sessenta países nos cinco continentes, envolvendo química fina, alimentos, produtos de consumo, indústria de cimento, plástica e fármaco, supermercados, softwares, seguro de vida, fertilizantes e baseball profissional - empregando aproximadamente quatro mil funcionários. Em 2004, o grupo teve um faturamento na ordem de US$ 24 milhões. Através da Divisão Química, a Sinon administra a produção e venda de produtos técnicos, matérias-primas e intermediários químicos para agroquímicos e, também, a prestação de serviços para as maiores indústrias do agribusiness mundial, tais como Bayer, Syngenta e FMC, entre outras. Esta divisão é responsável pela síntese de produtos nas três principais categorias: herbicidas, inseticidas e fungicidas. A subsidiária brasileira da Sinon está sediada em Porto Alegre (RS) desde 2000, mas tem filiais nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, com uma rede de representantes técnicos de venda, presentes nas principais áreas agrícolas de nosso C país.
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Feijão
Época certa A interferência das plantas daninhas no feijão requer estratégias de manejo que devem levar em conta o estádio fenológico da cultura, observando-se o período de competição para controle
A
s infestações naturais de plantas daninhas em convivência com a cultura de feijão interferem negativamente no crescimento e desenvolvimento da cultura, tendo como
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conseqüência a redução da ordem de 40 a 60% na produção de grãos/ha. A interferência negativa das plantas daninhas na cultura do feijão é conseqüência da somatória de dois fenômenos, denominados de competição e alelopatia. A competição é uma interferência física pela disponibilidade dos fatores de crescimento, água, luz e nutrientes, quando estes se encontram em quantidades limitantes, para satisfazer as necessidades combinadas para o crescimento da cultura e das plantas daninhas. O fenômeno da interferência alelopática ocorre devido à liberação de um ou mais aleloquímico pelas plantas daninhas no ambiente, o(s) qual(is) afetam negativa-
mente o crescimento da cultura de feijão. A competição está sempre presente nas condições normais de cultivo da cultura de feijão em convivência com as plantas daninhas, porém é impossível na prática distinguir as interferências negativas da alelopatia, a qual nem sempre está presente, pois depende de relações específicas entre plantas e de momento da convivência. Num sistema de produção da cultura de feijão que visa retorno econômico, é essencial que as estratégias de manejo
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Marco A. Lucini
A matocompetição é menor quando práticas agronômicas adequadas são adotadas na implementação e condução da cultura
das plantas daninhas sejam adotadas no sentido de evitar as interferências negativas. Para isso, as medidas de manejo devem ser implementadas no momento correto (“timing”). O “timing” de execução das medidas de manejo deve estar baseado no período em que as plantas daninhas efetivamente interferem negativamente com a cultura de feijão, período este chamado na prática de período de matocompetição. O período de matocompetição das plantas daninhas na cultura de feijão ocorre entre os estádios fenológicos da cultura V3 (três folhas trifolioladas plenamente desenvolvidas) até o estádio R 5 (estádio reprodutivo de emissão de botões florais), conforme representação esquemática da Figura 1. Portanto, existe um período que antecede a matocompetição, no qual a interferência não existe, dada a grande disponibilidade de recursos do meio e a baixa exigência das plantas daninhas, por estarem em estádio de crescimento inicial lento. No estádio V3, inicia-se o período de matocompetição, que coincide com a aceleração de crescimento da cultura de feijão e das plantas daninhas. Por outro lado, após o período de matocompetição, o crescimento da cultura sombreia o solo de tal forma que as plantas daninhas que eventualmente germinarem neste período não causarão interferência direta sobre a cultura (período de “fechamento da cultura”). Este período de matocompetição é, no entanto, variável, em função de fatores ligados à cultura, às práticas agrícolas, às condições climáticas e às plantas daninhas infestantes. Quanto mais bem
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Figura 1 - Representação esquemática dos estádios fenológicos do feijoeiro e dos períodos de interferência das plantas daninhas na cultura de feijão
implantada for uma cultura, utilizando boas práticas agrícolas, menor o período de matocompetição e, conseqüentemente, menores as necessidades de medidas de controle de plantas daninhas. Portanto, boas práticas agrícolas são importantes para a racionalização do manejo de plantas daninhas, como, por exemplo, espaçamento adequado, densidade de sementes correta, cultivar adequada para a época e o clima da região de cultivo, adubação equilibrada, irrigação, dentre outras. Por outro lado, o produtor deve estar atento às diferentes épocas de semeadura da cultura durante o ano (mo-
dalidade de cultivo), como no estado de São Paulo, que têm três épocas diferenciadas de semeadura: (I) feijão das “águas” (semeadura de agosto a dezembro e colheita de novembro a março), quando predominam plantas daninhas do tipo folhas largas; (II) feijão das “secas” (semeadura de janeiro a maio e colheita de abril a agosto), quando predominam gramíneas nos meses iniciais de semeadura e mistura de gramíneas e folhas largas nos meses finais de semeadura; (III) feijão de “inverno” (semeadura de junho a julho e colheita nos meses de setembro a outubro), predominando in-
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Dirceu Gassen
festação de plantas daninhas do tipo folhas largas. O sucesso das estratégias de manejo de plantas daninhas está diretamente relacionado com o controle durante o período de matocompetição. Sendo assim, quando a estratégia de manejo de plantas daninhas em pré-plantio incorporado ou em pré-emergência é utilizada, esta deve proporcionar um efeito residual de controle de plantas daninhas desde sua aplicação até o final do período de matocompetição. Nesta estratégia, devem ser observados aspectos relacionados às condições edáficas de textura e teor de matéria orgânica, além da umidade do solo. Portanto, dentre os fatores que devem ser observados para escolha desta estratégia de manejo devem-se considerar: a) Condições adequadas de umidade do solo (solo úmido) no momento da aplicação ou logo após a aplicação dos herbicidas. b) Efeito residual suficiente do herbicida para controlar plantas daninhas desde sua aplicação até o final do período de matocompetição (da semeadura da cultura até o estádio fenológico R5). c) Conhecimento da infestação potencial de plantas daninhas da área e escolha adequada do herbicida, de acordo com o espectro de controle. d) Seletividade do herbicida para a cultura. A estratégia de controle de plantas daninhas, através de herbicidas aplica-
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dos em condições de pós-emergência da cultura de feijão e das plantas daninhas, deve ser estabelecida de tal forma que seja aplicado antes do início do período de matocompetição, ou seja, até o V 5. Nesta estratégia é importante observar a influência das condições climáticas (principalmente temperatura e umidade relativa do ar) que influenciam a eficácia e seletividade do herbicida durante e logo após a aplicação. Dentre os fatores a serem observados na aplicação de um herbicida pós-emergente seletivo, destacam-se: a) Umidade relativa do ar acima de 50% e temperatura acima de 30 oC para que não ocorram perdas durante a pulverização e haja absorção adequada do herbicida pelas folhas. b) Estádio adequado da planta daninha, normalmente em pós-precoce, ou seja, de 2 a 4 folhas verdadeiras, para dicotiledôneas, e até um perfilho, para as gramíneas. c) Seletividade para a cultura. A principal vantagem de utilização da estratégia de manejo em pós-emergência está no fato da aplicação do herbicida com o conhecimento da flora infestante. Também se destaca que as aplicações em pós-emergência podem ser racionalizadas com relação à dose do herbicida, que está condicionada à espécie de planta daninha incidente e seu estádio
Pedro Jacob Christoffoleti, Marcelo Nicolai e Ramiro Fernando Lopez-Ovejero, Esalq Cultivar
Período de competição é agravado dos estádios V3 (três folhas trifolioladas) até o R5 (emissão do botão floral)
de desenvolvimento fenológico. É importante salientar que, embora o período de matocompetição esteja localizado entre o V3 e o R5, plantas daninhas de infestação tardia (após o período de matocompetição) podem interferir indiretamente através de redução na qualidade dos grão, maturação desuniforme dos grãos, hospedando pragas e doenças da cultura e dificultando a colheita. Desta forma, a estratégia de pósemergência pode reduzir a infestação destas plantas daninhas, sendo que muitas vezes é necessária a aplicação de herbicidas de pré-colheita, chamados de dessecantes. Como conclusão, destaca-se que as características biológicas das plantas daninhas e da cultura do feijão condicionam o período de matocompetição. Por outro lado, medidas agronômicas culturais que proporcionam o fortalecimento da capacidade competitiva da cultura (rápido estabelecimento e desenvolvimento da cultura) favorecem o desenvolvimento da cultura em relação às plantas daninhas, proporcionando, assim, redução do período de matocompetição. Desta forma, a integração das medidas agronômicas culturais de manejo de plantas daninhas é, sem dúvida, a forma mais racional de produção econômica da C cultura de feijão.
Christoffoleti afirma que a integração de medidas para o controle de plantas daninhas garante o sucesso da produção
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Milho
Charles Echer
Efeito adverso
Injúrias que prejudicam o bom desenvolvimento inicial das plantas podem estar relacionadas à utlilização de determinados herbicidas no controle de plantas daninhas na cultura do milho
O
estudo das plantas daninhas e seu controle é uma das áre as das ciências agrárias de muita importância, pois, além de as plantas daninhas competirem diretamente por luz, nutrientes e espaço físico, interferem alelopaticamente sobre as plantas cultivadas, afetando o desenvolvimento e a produtividade das culturas. Há de se ter em mente que, dentre as atividades fitotécnicas, controlar as plantas daninhas é uma das atividades mais importantes que o produtor deve realizar, a fim de garantir a cada ano uma melhor produtividade em sua lavoura. Nos dias atuais, dentre os meios de controle de plantas daninhas, podemos utilizar desde o controle manual até métodos de sensoriamento remoto para o levantamento de infestação destas plantas. A aplicação de herbicidas, de qualquer forma, ainda é o meio mais eficiente para o controle de plantas infestantes nas diversas culturas, porém pode causar prejuízos, se não for feita corretamente, podendo afetar a germinação e/ou o desenvolvimento da cultura, causando injúrias e cloroses nas plantas.
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Especificamente para a cultura do milho, com o aumento do uso do plantio direto, a utilização de herbicidas em pósemergência tem-se tornado cada vez mais freqüente. Sabe-se que os aspectos anatômicos ou estruturais das plantas são fatores importantes com relação à seletividade dos herbicidas nelas aplicados, pois, numa análise geral, determinam quanto um herbicida pode penetrar no sistema da planta e nele se movimentar. Assim, as culturas eretas, com folhas estreitas e verticais, apresentam menor área para a deposição de calda pulverizada do que as culturas de folhas amplas, abertas e horizontais. A existência de bainhas em plantas monocotiledôneas, protegendo tecidos mais suscetíveis, como as gemas, é um dos motivos do aumento da tolerância de monocotiledôneas a herbicidas. Os tecidos meristemáticos das gramíneas ficam envolvidos pelas próprias folhas em crescimento e pelas bainhas, possibilitando proteção contra herbicidas de pequena translocação, ao passo que em dicotiledôneas os pontos de crescimento ficam expostos às aplicações, podendo
receber o herbicida diretamente. Estas características da planta, associadas a outros fatores, como a própria natureza da molécula herbicida, condições edafoclimáticas, condições da aplicação dos produtos e, mesmo, condições atmosféricas (chuva, temperatura) ocorridas após a aplicação, fazem com que a seletividade dos produtos herbicidas seja sempre relativa, dependente destes fatores ligados à planta, ao solo e ao clima da região. O objetivo deste trabalho foi descrever os sintomas de fitotoxicidade, provocados por herbicidas normalmente utilizados na cultura do milho, quando apliQuadro 1 - Tratamentos aplicados em pós-emergência na cultura do milho. Araras (SP) Nome Comum 1. Alachlor + atrazine 2. Alachlor + atrazine 3. Nicosulfuron 4. Nicosulfuron 5. Atrazine 6. Atrazine 7. Testemunha Capinada
Nome Doses Comercial g ia/ha Boxer 2700 + 1620 Boxer 5400 + 3240 Sanson 40 SC 60 Sanson 40 SC 120 Gesaprim 500 3000 Gesaprim 500 6000 — —
l/ha 9,0 18,0 1,5 3,0 6,0 12,0 —
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cados na pós-emergência.
EXPERIMENTO
José Carlos Rolim
O experimento foi instalado no Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal de São Carlos, no município de Araras (SP), no ano de 2002, em casa de vegetação. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com sete tratamentos e quatro repetições. Cada parcela foi composta de um vaso de 0,0361 m³ de solo, onde foi realizada a semeadura. Uma amostragem de solo foi realizada, retirando-se volume igual de solo de todos os vasos. A adubação de plantio foi efetuada de acordo com os resultados obtidos, utilizando-se uréia (0,86 g/vaso), superfosfato triplo (1,8 g/vaso) e cloreto de potássio (0,86 g/vaso). Aos 30 dias após a germinação, foi realizada adubação de
SIntomas da injúria causada pela fitotoxicidade de alachlor + atrazine às plantas
cobertura (0,57 g de uréia/vaso), seguindo-se recomendação do Boletim 100, do Instituto Agronômico de Campinas (1996). O híbrido de milho utilizado foi o 30F90, sendo sua semeadura realizada com cinco sementes por vaso. A emergência ocorreu após cinco dias da semeadura. Foi realizado um desbaste aos cinco dias após a emergência, permanecendo apenas três plantas por vaso. Foi realizada irrigação dos vasos manualmente, com auxílio de regador, uma vez por dia, sendo colocado o mesmo volume de água em todos os vasos. A irrigação foi realizada somente no solo, não se permitindo que a água atingisse as folhas das plantas. No Quadro 1, estão indicados os herbicidas utilizados no estudo. A aplicação foi realizada 8 dias após a emergência das plantas, das 8h às 10h30min, com solo seco, sem interferência de vento. No momento da aplicação, a cultura estava no
estádio vegetativo V3-V4. A aplicação foi efetuada com equipamento costal pressurizado (CO 2 ), utilizando bico leque 110.02, com pressão de 25 lb/pol² e consumo de calda de 187 l/ha. Procurou-se trabalhar com a aplicação de produtos nas doses comerciais normalmente recomendadas e em doses duplas, buscando caracterizar condições de sobreposição dos produtos, ou mesmo, de erro de aplicação. Aos 7, 14, 21 e 28 dias após tratamento (DAT), foram realizadas avaliações visuais de fitotoxicidade, utilizando-se escala percentual (zero = ausência de sintomas; 100 = morte da planta) e procurando-se descrever os sintomas de injúria. A altura das plantas também foi determinada nas mesmas épocas e, aos 28 DAT, foi avaliada a biomassa seca da parte aérea e do sistema radicular das plantas. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, pelo teste F, sendo
Quadro 2 - Notas dos sintomas de fitotoxicidade (%) observados entre os tratamentos efetuados aos 7, 14, 21 e 28 DAT (média de 4 repetições) Contrastes Alachlor+atrazine D1 vs testemunha Alachlor+atrazine D2 vs testemunha Nicosulfuron D1 vs testemunha Nicosulfuron D2 vs testemunha Atrazine D1 vs testemunha Atrazine D2 vs testemunha Alachlor+atrazine D1 vs Alachlor+atrazine D2 Nicosulfuron D1 vs nicosulfuron D2 Atrazine D1 vs atrazine D2
7 DAT vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 72,5 vs 47,5 vs 0
14 DAT vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 50 vs 42,5 vs 0
21 DAT vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 20 vs 30 vs 0
28 DAT vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 0 vs 5 vs 8,75 vs 0
28 DAT, não foram afetadas pelos herbicidas aplicados. Todos os herbicidas estuda** ** * dos, com exceção ** ** * ** do atrazine, causaram sintomas iniciais de fitotoOBS: DAT – dias após tratamento; D1 – dose comercial; D2 – dose dupla: * – significativo a 5%; ** – significativo a 1%. xicidade nas plantas de milho, Quadro 3 - Alturas das plantas de milho (cm) observadas entre os tratamentos efetuados aos 7, 14, 21 e 28 DAT (média de 4 repetições) fato que não afetou o desenvolvimento da cultura. O alaContrastes 7 DAT 14 DAT 21 DAT 28 DAT chlor + atrazine causou maiAlachlor+atrazine D1 vs testemunha 13,1 vs 17,7 ** 21,8 vs 24,4 27,3 vs 31,4 37,5 vs 41,6 ores sintomas de injúrias, cheAlachlor+atrazine D2 vs testemunha 11,3 vs 17,7 ** 21,9 vs 24,4 29,2 vs 31,4 40,6 vs 41,6 gando a causar morte do teciNicosulfuron D1 vs testemunha 16,3 vs 17,7 25,0 vs 24,4 31,5 vs 31,4 42,1 vs 41,6 do foliar, de difícil recuperação, Nicosulfuron D2 vs testemunha 14,1 vs 17,7 ** 25,1 vs 24,4 32,8 vs 31,4 45,2 vs 41,6 quando comparado ao nicosulAtrazine D1 vs testemunha 14,2 vs 17,7 ** 22,6 vs 24,4 29,4 vs 31,4 39,1 vs 41,6 furon, especialmente quando Atrazine D2 vs testemunha 15,9 vs 17,7 23,9 vs 24,4 28,1 vs 31,4 39,7 vs 41,6 aplicado na dose dupla. Esses Alachlor+atrazine D1 vs alachlor+atrazine D2 13,1 vs 11,3 * 21,8 vs 21,9 27,3 vs 29,2 37,5 vs 40,6 sintomas foram diminuindo Nicosulfuron D1 vs nicosulfuron D2 16,3 vs 14,1 * 25,0 vs 25,1 31,5 vs 32,8 42,1 vs 45,2 com o passar do tempo, sendo Atrazine D1 vs atrazine D2 14,2 vs 15,9 22,6 vs 23,9 29,4 vs 28,1 39,1 vs 39,7 detectáveis, entretanto, até o final do experimento (28 OBS: DAT – dias após tratamento; D1 – dose comercial; D2 – dose dupla: * – significativo a 5%; ** – significativo a 1%. DAT). A altura das plantas foi afetada pelo alachlor + atrazine e pelo nicosulque as médias dos tratamentos foram lização das injúrias. A altura das plantas de milho também furon, principalmente quando aplicados comparadas pelo teste t, utilizado no nífoi medida (do solo até a primeira lígula na dose dupla, somente até uma semana vel de 5% de probabilidade. visível) nestas mesmas épocas, sendo os após a aplicação dos produtos. A partir RESULTADOS dados obtidos apresentados no Quadro 3. da segunda semana após a aplicação, houAtravés da análise desses dados, ob- ve recuperação total das plantas de miOs vasos foram mantidos em casa de vegetação, em condições controladas de serva-se que as plantas foram afetadas em lho. Tanto a parte aérea, como o sistema temperatura e de umidade, por 28 dias, sua altura somente até os 7 DAT. A partir radicular das plantas, observados pelo seu sendo avaliados periodicamente. O Qua- da segunda semana após a aplicação dos peso seco, não foram afetados pela aplidro 2 apresenta as notas dos sintomas vi- produtos, houve recuperação total das cação dos herbicidas. C suais de fitotoxicidade observados no de- plantas tratadas. Tanto a biomassa seca da parte aérea Edson Corbo e correr deste tempo. Visualmente, para maior ilustração, es- (folhas + caules), como do sistema radi- José Carlos Rolim, tes dados se encontram apresentados no cular das plantas de milho, avaliadas aos UFSCar Gráfico 1. Observou-se que, aos 7 DAT, o alachlor + atrazine, nas doses comerciais de 9,0 e 18 l/ha, e o nicosulfuron (Sanson), nas doses de 1,5 e 3,0 l/ha, apresentaram severos sintomas de fitotoxicidade, sendo que, nas doses duplas, estes produtos foram ainda mais fitotóxicos . A partir dos 14 DAT, houve total recuperação das plantas tratadas com estes produtos. Por sua vez, o atrazine não causou nenhuma injúria à cultura. Procurando caracterizar os sintomas destas injúrias, observou-se que o alachlor + atrazine causou encarquilhamento e morte de pontas e de extremidades de folhas. Por sua vez, o nicosulfuron provocou o aparecimento de estrias amareladas, no sentido longitudinal, especialmente nas folhas novas. Esses sintomas podem ser observados nas fotos colocadas a seguir, ressalvandoEmbora a cultura do milho tenha sido se que estas fotos foram obtidas de planagredida pelos herbicidas, houve recuperação das plantas, sem comprometer a produção tas tratadas com a dose dupla dos herbicidas para melhor caracterização e visua** ** ** **
37,5 50 22,5 42,5 0 0 37,5 22,5 0
** ** ** **
10 20 17,5 30 0 0 10 17,5 0
* ** ** **
5 5 3,75 8,75 0 0 5 3,75 0
** ** * **
José Carlos Rolim
52,5 72,5 35 47,5 0 0 52,5 35 0
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Milho Assim como outras culturas, o milho muitas vezes é castigado pelo déficit hídrico, resultando em elevadas perdas de produção. Analise a viabilidade econômica para a irrigação de sua lavoura
A
grande variabilidade ou oscilação da produtividade da cultura do milho no Brasil está associada, entre outros fatores, às ocorrências de déficit hídrico no solo, principalmente porque a maior área de milho é cultivada em condições não irrigadas e, portanto, dependentes do regime de chuvas. De acordo com Berlato (1992), a precipitação pluvial anual média no Rio Grande do Sul é de 1.540 mm. Embora a sua distribuição seja bastante uniforme nas quatro estações do ano, as altas taxas de evaporação (demanda evaporativa), nos meses de dezembro a fevereiro, fazem com que as chuvas no período primavera-verão sejam, em geral, insuficientes para atender às necessidades hídricas da cultura (Carlesso et al., 2001). Isso se deve à maior intensidade de radiação solar e às temperaturas do ar mais elevadas. No Brasil Central, o clima é do tipo tropical, alternadamente úmido e seco. Ou seja, as chuvas se concentram entre outubro e março. Entre os meses de abril e setembro, as chuvas são escassas, caracteri-
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zando grandes períodos de seca. Segundo dados do 10º DISME (distrito de meteorologia), a precipitação pluvial anual média da região de Goiânia é de 1.315 mm (média de dez anos). Entretanto, 89% des-
se total é concentrado entre os meses de outubro e março, e apenas 11% ocorre fora desse período. Em condições ideais de disponibilidade hídrica, a quantidade de água consu-
Figura 1 - Valores médios da evapotranspiração de referência (ETo) e de chuvas, para semeaduras de milho realizadas entre a segunda quinzena de agosto e segunda quinzena de dezembro, para a região de Cruz Alta (RS). As barras verticais menores representam o desvio padrão. Santa Maria (RS), 2005
Figura 2 - Lâmina de realizadas entre a se
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Dirceu Gassen
mida pelas plantas é igual a evapotranspiração máxima da cultura (ETm). Esta, por sua vez, é dependente das condições meteorológicas durante o ciclo de desenvolvimento das plantas (Matzenauer et al.,
1998), do tipo de solo e características da planta, como área foliar, sistema radicular e altura de plantas. Já o déficit hídrico é caracterizado pela ocorrência de chuvas inferior à evapotranspiração das culturas. Para as condições do Rio Grande do Sul, a maior probabilidade de ocorrência de déficit hídrico na cultura do milho é em dezembro, janeiro e fevereiro, devido ao aumento na radiação solar e da temperatura do ar. Nessa época, as culturas de primavera-verão apresentam seu máximo crescimento vegetativo e reprodutivo, com o máximo de consumo de água e máxima sensibilidade ao déficit hídrico (Ávila et al., 1996). Na Figura 1, são apresentadas a evapotranspiração de referência e as chuvas ocorridas durante o ciclo de desenvolvimento da cultura do milho semeado entre a segunda quinzena de agosto e segunda quinzena de dezembro, na região de Cruz Alta (RS) (média de 13 anos agrícolas). Observa-se que, embora as chuvas tenham sido superiores à evapotranspiração de referência para
RS: a probabilidade de falta de água para a cultura é da ordem de 30%
todas as datas de semeadura, houve a necessidade de irrigação suplementar para a cultura do milho, em todos os anos e todas as datas de semeadura (Figura 2). A lâmina máxima de irrigação requerida foi de 233 mm, para semeaduras realizadas na primeira quinzena de agosto, evidenciando que o maior volume de chuvas registrado para semeaduras nesse período não resultou em menor necessidade de irrigação complementar para o milho. A distribuição das precipitações pluviais e a evapotranspiração de referência, para todos os meses do ano (média de 10 anos), na região de Goiânia, são apresentadas na Figura 3. Pode-se observar que, além da concentração das precipitações pluviais em apenas uma época do ano, ocorre uma grande variabilidade interanual de chuvas. Esses dados evidenciam a ocorrência de veranicos no período considerado como sa-
irrigação necessária, acumulada para a complementação das necessidades hídricas da cultura do milho, para semeaduras Figura 3 - Valores médios da evapotranspiração de referência (ETo) e de chuvas, considerando 10 anos de dados meteorológicos pa ra a região de Goiânia. As barras verticais menores representam o desvio padrão. Santa Maria (RS), 2005 gunda quinzena de agosto e segunda quinzena de dezembro, na região de Cruz Alta (RS). Santa Maria (RS), 2005.
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Análise econômica da atividade agrícola é fundamental para garantir receita líquida da safra
fra para o Centro-Oeste, revelando uma tendência à ocorrência de déficit hídrico, mesmo no período das chuvas. Já no período entre abril e setembro, a evapotranspiração de referência é maior que as chuvas. Nessa época, em grande parte do Brasil Central, os cultivos só serão possíveis mediante o uso de irrigação integral.
de das culturas cultivadas em condições não irrigadas. Uma das alternativas para fugir dos períodos mais sujeitos à ocorrência de déficit hídrico consiste no planejamento da atividade agrícola, fazendo coincidir as épocas de maior consumo de água pelas plantas com a maior disponibilidade hídrica da região (Carlesso et al., 2001). Mas a maneira mais segura de se reduzir o risco causado pela defici-
ência hídrica é através do uso da irrigação. O objetivo da irrigação em climas subtropicais (Rio Grande do Sul, por exemplo) é fornecer uma suplementação de água às culturas durante curtos ou médios períodos de deficiência hídrica. Já no Brasil Central, a necessidade de irrigação é, em geral, bem maior. O uso da irrigação possibilita o aumento na produtividade dos cultivos e a melhoria na qualidade da produção, além de diminuir consideravelmente os riscos da atividade agrícola. Entretanto, como a água é um bem finito, e os custos inerentes à aplicação da água (consumo de energia + depreciação do equipamento) são consideráveis, o uso da irrigação deve ser cuidadosamente planejado, para evitar prejuízos econômicos à atividade. Na Tabela 1, é apresentada a receita líquida para uma área irrigada de 80 hectares, considerando rendimentos de grãos de 80, 130 e 180 sc/ha e preços de comercialização do milho de R$ 12,00, 16,00 e 20,00. Analisando a Tabela 1, pode-se observar que, num primeiro momento, a receita líquida é maior em áreas não irrigadas para uma mesma estimativa de rendimento de grãos.
CUSTOS E VIABILIDADE ECONÔMICA O objetivo de toda atividade econômica é a minimização dos custos de produção ou a maximização dos retornos econômicos líquidos ao longo do tempo. Contudo, a atividade agrícola está constantemente sujeita aos riscos e incertezas que fazem parte do processo produtivo, principalmente aquelas originadas nas oscilações ambientais. Além disso, existem os riscos de mercado, oriundos do superávit da oferta em relação à demanda, fato que gera a queda do preço do produto. No Rio Grande do Sul, a probabilidade de ocorrência de déficit hídrico, durante o ciclo de desenvolvimento da cultura do milho, é da ordem de 30%, ou seja, a cada três safras agrícolas, uma seria seriamente afetada, ou reduzida devido à deficiência hídrica no solo. Já no Brasil Central, apesar de o volume de chuvas superar a evapotranspiração de referência na época em que elas ocorrem, a ocorrência de veranicos nessa época é comum, resultando em perdas na produtividaTabela 1 - Receita líquida de 80 hectares de milho para diferentes rendimentos de grãos e preços de comercialização do produto de R$ 12,00, 16,00 e 20,00. Santa Maria (RS), 2005 Rendimento de grãos (sc/ha) 80 130 180
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Preços de comercialização (reais) 12,00 16,00 20,00 -418,93 -125,64 167,65 -18,88 457,71 934,31 339,55 999,95 1659,35
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Entretanto, se aplicada uma frustração de safra de 30%, a receita líquida cai drasticamente, em função do menor rendimento de grãos obtido em relação ao que se conseguiria mediante o suprimento adequado de água. É por isso que a análise econômica da atividade agrícola é fundamental para o planejamento da safra e para fins de custeio e financiamento. Como a incerteza é uma situação comum na agricultura, o melhor meio de contornála é através da diminuição dos riscos ambientais e do aumento do rendimento de grãos. E, apesar dos custos elevados em áreas irrigadas, sobretudo devido aos preços de energia elétrica e de depreciação do equipamento (elevado custo de implantação), a agricultura irrigada é a melhor forma de aumentar a produção de alimentos e de diminuir os riscos da atividade agrícola. A renda líquida do produtor irrigante é elevada, no entanto, deve-se procurar reduzir os custos de produção, principalmente o custo de operação do equipamento de irrigação. C Reimar Carlesso e Mirta Teresinha Petry, UFSM Brescia Terra e Carlos Hentschke, Pioneer Sementes Ltda. Para saber mais sobre o Sistema Irriga, entre em contato com o representante Pioneer da sua região, acesse os endereços do Sistema Irriga na Internet (www.irriga.proj.ufsm.br ou www.irrigabem.com.br ou, ainda, www.sistemairriga.com.br), ou envie mensagem aos e-mails sistema.irriga@pioneer.com ou irriga@ccr. ufsm.br.
SISTEMA IRRIGA
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evido à necessidade de uma ferramenta que determinasse de forma prática e eficiente quando e quanto irrigar, a Universidade Federal de Santa Maria desenvolveu o Sistema Irriga. O Irriga é um sistema de monitoração de irrigação que permite maximizar a eficiência do uso da água em áreas irrigadas tanto na cultura do milho, como em soja, algodão, arroz, trigo, café, dentre várias outras. O principal objetivo do Sistema Irriga foi desenvolver um sistema de manejo de irrigação prático, funcional e facilmente aplicável no campo. Com um adequado manejo da água de irrigação, os agricultores irrigantes podem aumentar a produtividade das culturas exploradas, além de minimizarem o consumo de água e energia. É um sistema prático e único no Brasil que, em sua recomendação, leva em consideração as informações do equipamento de irrigação, da planta (cultura), do solo, do clima e a interação entre eles. O clima é, seguramente, o maior determinante do consumo de água pelas plantas. Radiação solar, temperatura do ar, umidade relativa e velocidade do vento influenciam diretamente nas perdas de água para a atmosfera e, por conseguinte, no consumo de água pelas
plantas. A principal diferença do Sistema Irriga, quando comparado a outros métodos de monitoramento de irrigação, é a facilidade e rapidez no acesso aos resultados. Além disso, esse sistema pode também ser utilizado em qualquer sistema de irrigação (convencional, gotejamento, microaspersão etc.). Os agricultores irrigantes, usuários do sistema, encontram informações específicas sobre o manejo da irrigação de suas áreas irrigadas, através de acesso a um dos endereços na Internet (www.irriga.proj.ufsm.br ou www.irrigabem. com.br ou, ainda, www.sistemairriga.com.br). As informações são disponibilizadas diariamente (intervalo de 24 horas), detalhando, por cultura e sistema de irrigação, quando e quanto irrigar. O site disponibiliza também previsão de ocorrência de necessidade de aplicação de água via irrigação para um período de 24 e 48 horas. A Pioneer Sementes foi parceira do Sistema Irriga desde o início de seu desenvolvimento e, hoje, é a distribuidora do sistema. O serviço está sendo usado em mais de 30 mil hectares nos estados do RS, BA e GO. Novas áreas estão sendo desenvolvidas e deverão estar aptas a serem monitoradas durante o ano de 2005.
Trigo
A vez do pulgão Fatores condicionantes, como os meteorológicos, garantiram neste ano uma alta taxa de reprodução de pulgões alados, que prometem ser o grande problema da safra do trigo
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ntre as demandas apresentadas pela extensão rural, pública e privada, durante o Seminário Técnico da Cultura do Trigo, em Cruz Alta, no dia 22 de março de 2005, o controle dos pulgões vetores do vírus do nanismo amarelo da cevada (VNAC) foi aquela referida com maior freqüência, sendo considerada a mais importante, para
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que a pesquisa apresente soluções. As reclamações mais veementes vieram dos representantes das regiões da Depressão Central (Santiago, São Borja), do Noroeste (Santa Rosa, Santo Ângelo, Ijuí), do Alto Uruguai (Frederico Westphalen, Erechim) e do Planalto Médio (Cruz alta, Passo Fundo), enquanto que nas regiões de Altos de Cima da Serra (Lagoa Vermelha, Vacaria) e Sul (São
Gabriel, Caçapava), o problema tem menor importância, conforme tabela a seguir. Analisando a conjuntura local do cultivo do trigo, verifica-se que onde o problema é mais grave, ou seja, a incidência é maior, as lavouras são em geral de pequeno a médio porte, poucas superiores a 100 ha, com rendimento médio inferior a 1,5 mil kg/ha. Isso torna inviável economicamente o tratamento
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Tabela 1 - Incidência da virose do nanismo amarelo da cevada (VNAC) em lavouras de trigo em diferentes locais do estado do Rio Grande do Sul. Safra 2004 Região Depressão Central Planalto Médio Alto Uruguai Altos de Cima da Serra Sul
Incidência alta alta alta baixa baixa
Controle prévio* pequeno pequeno pequeno alto pequeno
Controle curativo** Pouco Usual Usual Pouco Pouco
Eficácia*** pequena média média boa boa
Incidência: alta >60%; baixa <15%. Controle prévio*: via tratamento de sementes, com inseticidas nicotinóides. (pequeno: <15% da área; alto: > 60% da área). Controle curativo**: pulverização foliar com aficidas indicados para a cultura do trigo. (pouco: >50% não aplica aficidas na lavoura; usual: pelo menos uma aplicação de aficida é realizada). Eficácia***: redução da ocorrência do VNAC. (pequena: estimativa < a 20% de redução; média: entre >40 e <70%; boa: >70% de redução na incidência da virose).
tes. A incidência da doença é pequena e considerada sob controle, conforme a afirmação da assistência técnica. Nesta região, o cultivo é empresarial, apresentando lavouras com mais de 200 ha, de um único proprietário. Essas lavouras, pelo seu rendimento, compensam economicamente o tratamento prévio das sementes com os produtos indicados pela pesquisa. Na região Sul, nos municípios de São Gabriel, Caçapava do Sul, São Sepé e Vila Nova do Sul, o cultivo do trigo foi reiniciado nos últimos anos. Após praticamente mais de uma década sem cultivo de trigo ou cevada nestas localidades, as fontes do inóculo (plantas doentes com a virose) reduziram drasticamente, fazendo com que a incidência atual fosse baixa e os triticultores na região não precisassem fazer o tratamento prévio das sementes. O controle curativo é realizado nas regiões de alta incidência do VNAC, com inseticidas de ação de choque e/ou sistêmicos, de custo bastante inferior ao tratamento de sementes, mas que não impedem os pulgões vi-
rulíferos de transmitir a doença para as plantas atacadas antes de serem eliminados pelo controle químico. De uma maneira geral, quando o agricultor constata a presença do pulgão, muitas plantas já foram infectadas, e a eliminação do vetor não elimina a doença, apenas reduzem a expansão. Os pulgões alados que invadem a área cultivada com trigo provêm de plantas espontâneas de trigo ou aveia, existentes nas proximidades, onde estes pulgões estão reproduzindo-se. Com temperaturas acima de 20oC, a maioria dos descendentes tem forma alada, e eles são pouco numerosos por local de reprodução (menos de 10), tornando o monitoramento problemático, pois a presença destas pequenas colônias passa despercebida ao observador na maioria das vezes. É do interesse do triticultor monitorar a área antes da semeadura, verificando principalmente a presença de plantas espontâneas de trigo, aveia ou cevada e, especialmente, se estas apresentam os sintomas da doença VNAC, pois os pulgões já podem ter migrado e não estarem mais presentes nestas plantas. Fotos Dirceu Gassen
prévio com os inseticidas nicotinóides indicados pela Comissão Sul Brasileira de Pesquisa de Trigo. Por outro lado, a região de Altos de Cima da Serra, por sua maior altitude, apresenta melhores condições meteorológicas para o cultivo do trigo, com rendimentos superiores a 2,5 mil kg/ha, onde mais de 60% dos triticultores faz o tratamento prévio das semen-
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Coró: praga importante do trigo, não deverá causar problemas nesta safra
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Fotos Dirceu Gassen
VNAC: transmitida por pulgões, promete grandes focos da doença
A existência de um grande número de plantas infectadas torna problemático o cultivo de trigo na área, pois vai exigir tratamento fitossanitário de porte, muitas vezes, incompatível com os recursos do agricultor, que deve consultar um profissional da assistência técnica sobre estes custos e alternativas de outros cultivos para a área. Nos debates, com profissionais da assistência técnica, durante a 37ª Reunião da Comissão Sul Brasileira de Pesquisa de Trigo, em Cruz Alta (RS) (23 e 24/03/2005), obtiveramse informações de que a ocorrência de plantas espontâneas, especialmente de aveia, com sintomas do VNAC, nas lavouras de soja e outras cultivos de verão, foi expressiva, o que indica um grande foco de inóculo da doença nas regiões tritícolas gaúchas.
Comparando os dados meteorológicos de fevereiro até meados de abril com as exigências térmicas dos pulgões vetores da doença, verifica-se que as condições climáticas do período foram adequadas à produção em alta escala da forma alada, justamente a forma mais capacitada para disseminar o vírus. Outra praga importante, durante todo o ciclo da cultura, são os corós, que, dependendo da densidade populacional, podem arrasar o cultivo. Espera-se que, nesta safra, sua ocorrência seja pequena e esporádica, e os danos, inexpressivos, pois durante o período da oviposição, especialmente do coró das pastagens, Diloboderus abderus, as condições meteorológicas foram desfavoráveis ao inseto, prejudi-
cando sua reprodução. O pequeno índice de precipitação ocorrido em fevereiro deste ano prejudicou as atividades reprodutivas, impedindo os adultos de abrirem galerias e carregarem palha úmida para o preparo das câmaras de postura. Em muitos locais, houve a formação de câmaras com palha e ovos depositados, mas a falta de umidade no solo causou a morte dos embriões por dessecação, não ocorrendo o surgimento de larvas. O tratamento prévio das sementes de trigo, com o objetivo de controle deste grupo de pragas, é de custo bastante elevado e, somente em casos especiais, pode ser econômico (banco de sementes genéticas, experimentos, banco de cruzamento, entre outros). A recomendação básica é o monitoramento das áreas onde a cultura do trigo será instalada, verificando-se a presença de larvas, nos locais onde há acúmulo de solo na superfície, oriundo de galerias sob estes, e confirmando a existência de larvas do coró, através da abertura de trincheiras de 50x20x20cm com uma pá de corte. Em caso de não serem encontradas larvas nessas galerias, o agente causal das mesmas é outro organismo, o qual geralmente não é prejudicial ao cultivo do trigo. A constatação de cinco ou mais larvas por trincheira indica que a área somente será viável para o cultivo do trigo através de tratamento de sementes, sendo recomendado, nesta situação, a substituição do trigo por outro cultivo de inverno, mais tolerante ao dano causado pelos corós, C como aveia ou azevém. Dionísio Link, UPF Charles Echer
Link alerta para possível incidência de pulgões nas lavouras de trigo em 2005
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Algodão
Tarciso Araujo
Fibra colorida O interesse de empresários japoneses pelo algodão de fibra colorida fez com que a pesquisa retomasse os programas de melhoramento genético, com o intuito de selecionar cultivares de boa produtividade e qualidade para o cultivo da fibra no Brasil
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ÁREA PLANTADA
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scavações realizadas no Peru demonstram que o algodão colorido já era cultivado pelos povos antigos desde 2500 a.C. Amostras de algodão de fibra branca, coletadas no Paquistão, são datadas de 2700 a.C, evidenciando, portanto, que este dois tipos de algodão, o colorido e o branco, têm a mesma idade. Os algodões de fibra branca mereceram mais atenção em programas de melhoramento genético, desde a metade do século 20, do que os de fibra colorida. Isso fez com que se acentuasse a diferença entre estes dois tipos de algodão no que se refere aos caracteres de importância econômica. A cor da fibra, portanto, não é inusitada como poderia parecer, pois o algodão mais conhecido, plantado e utilizado é o de fibra branca. Muitos algodões silvestres diplóides, apesar de não possuirem fibra fiável, possuem coloração em seus rudimentos de fibra, nas cores marrom, em várias tonalidades e esverdeadas. Alguns países possuem plantio comercial de algodão colorido, como Estados Unidos, Peru e China. Quando ainda não eram explorados em plantios comerciais, no Brasil, al-
guns algodões com fibra marrom já eram usados como planta ornamental na Bahia e em Minas Gerais, sendo que a fibra era usada para confecção de artesanatos, em localidades do interior destes estados. A cor marrom destes algodões pode ter-se originado de algodões nativos de G.barbadense L., presentes nestas regiões, os quais podem apresentar fibra marrom, e também da espécie silvestre G.mustelinum, originária do Brasil, de fibra também marrom, e presente nos estados da Bahia e do Rio Grande do Norte. Na década de 80, pesquisadores da Embrapa realizaram viagens pelos vários estados do Nordeste, a fim de coletar sementes de plantas de algodão, remanescentes de antigos plantios, ou que estavam em locais próximos a algodoeiros, nas margens de estradas, matas e outros locais. Estas sementes complementariam o banco ativo de germoplasma já existente e foram armazenadas em câmara fria, servindo como fonte de genes para futuros trabalhos de melhoramento. Foi observado que muitas destas plantas possuíam a fibra na cor marrom claro. A primeira variedade de al-
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plantio comercial do algodão colorido iniciou-se em 2000 com 10 ha da cultivar BRS 200 na Paraíba, como indicado na Tabela 1, onde se nota o incremento de área nos anos posteriores. Na safra 2004-05, foram plantados 2 mil ha, já incluída a área com a RS VERDE. Na safra 2005, esperava-se um aumento de área, contudo, a irregularidade e a falta de chuvas no início do plantio na região Nordeste não permitiram este aumento. Em 2005, a área plantada deverá ser semelhante à de 2004, com mais alguma área de RUBI E SAFIRA, que deverão ter neste ano suas primeiras áreas comerciais, sob irrigação. godão de fibra colorida originou-se de seleção nestes materiais coletados no Nordeste e se chama BRS 200, cuja fibra é marrom claro. Para a síntese desta cultivar, aproveitou-se, portanto, a própria variabilidade existente para cor da fibra presente em materiais coletados no
empresários japoneses pela fibra colorida é que se iniciaram os trabalhos de melhoramento na Embrapa no início da década de 90, e foi selecionada a primeira cultivar, a BRS 200, de cor marrom claro, como mencionado anteriormente. A procura por roupas confeccionadas com este tipo de algodão se dá por pessoas alérgicas a corantes e para uso por recém-nascidos. Hoje não apenas essas pessoas consomem este produto, mas também aquelas interessadas em produtos ecológicos de maneira geral, como acontece nos dias atuais, sendo este também o caso do algodão naturalmente colorido. Utilizando materiais, que apresen-
Tarciso Araujo
Nordeste. O linter e a fibra dos algodões tetraplóides ocorrem em cores que vão do branco a várias tonalidades de verde e marrom. Normalmente apenas um gene governa a presença destas cores no algodoeiro. Apesar de controlada geneticamente, a cor da fibra pode ser influenciada por fatores ambientais como tipo de solo , conteúdo de minerais e luz solar. Todos estes fatores podem fazer com que determinada cor da fibra seja mais ou menos acentuada. Dependendo do ano, também, uma determinada cultivar pode ter a cor da fibra mais ou menos acentuada. Com o interesse demonstrado por
tavam coloração na fibra, introduzidos de outros países e presentes em seu banco ativo de germoplasma, a Embrapa Al-
DESTINO DA PRODUÇÃO
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Produção de roupas com a cor natural da fibra para pessoas alérgicas a tecidos tingidos
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oda esta produção de algodão co lorido foi consumida no próprio estado da Paraíba. Existem várias pequenas indústrias neste estado que compram o fio colorido ou a fibra. Neste último caso, terceirizam a fiação e confeccionam várias peças de artesanato, como tapetes, redes, jogos americanos, mantas, entre outros, para venda no próprio estado e em estados vizinhos, como pode ser verificado pelas fotos. Há ainda um consórcio formado por um grupo de empresas que fabricam roupas para vendas no Brasil e no exterior. Outras empresas estão iniciando seus negócios com o algodão colorido, fabricando roupas de banho e roupas comuns, neste último caso, para venda em grandes centros, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, como pode ser verificado nas fotos.
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Charles Echer
VANTAGENS
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algodão colorido é ecológico, pois dispensa as fases de preparo para tingimento e tingimento na indústria, as quais utilizam produtos químicos que, se mal utilizados, podem causar danos à saúde. Por dispensar estas fases, os custos na indústria para a obtenção do tecido são reduzidos, diminuindo os gastos com água e com energia, reduzindo também a quantidade de efluentes a serem tratados. Os corantes usados no tingimento de tecidos são nocivos à saúde e muitas vezes carcinogênicos. O processo de tingimento é altamente poluente, pois gera resíduos com altas concentrações de sais, barrilha, entre outras substâncias, e o alvejamento gera resíduos com umectantes, sais, soda cáustica, peróxido e neutralizadores. Apesar dos tratamentos de efluentes, cerca de 15% dos resíduos são liberados e podem poluir o ecossistema no qual forem liberados.
godão iniciou em 1995 um programa de melhoramento genético para obtenção de novas cultivares com novas cores da fibra, além da de cor marrom claro já existente, a BRS 200. Os materiais presentes no banco, que exibiam alguma coloração na fibra, não eram adaptados ao cultivo no Brasil e apresentavam fibra de qualidade inferior. Por isso, necessitava-se de um programa de melhoramento para obtenção de materiais
Cultivares são adaptadas para cultivo em regiões como o Nordeste, onde precipitações ultrapassam 600mm anuais
adaptados ao cultivo no Brasil e com boas qualidades de fibra. Após cruzamentos destes materiais com cultivares de fibra branca de boa qualidade, adaptadas às nossas condições, e aplicação de métodos convencionais de melhoramento, foram selecionadas as cultivares BRS VERDE, lançada em 2003, e as
BRS RUBI e BRS SAFIRA, em 2005, de fibra marrom avermelhada. Estas cultivares são anuais e se prestam ao plantio em localidades da região Nordeste, que possuem precipitação pluvial igual ou maior que 600 mm anuais. Já a BRS 200 de fibra marrom claro é semiperene e é indicada para as regiões mais secas da região Nordeste. Seu ciclo é de três anos, ou seja, ela produz até o terceiro ano. As cultivares herbáceas BRS RUBI, BRS SAFIRA e BRS VERDE podem ser cultivadas em outras regiões do Brasil,
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desde que se tomem precauções quanto às doenças, evitando áreas com ocorrência freqüente destas moléstias. Isto se deve ao fato de que, na seleção destas cultivares, não foi priorizada a seleção para resistência a estas doenças, já que as cultivares seriam indicadas preferencialmente para a região Nordeste, onde a incidência de doenças é baixa, e estas cultivares podem ser sensíveis para outras regiões. As cultivares BRS RUBI e BRS SAFIRA são herbáceas, e seu manejo cultural deve ser o mesmo dispensado a uma cultivar de algodão herbáceo de fibra branca. Na região Nordeste, como é comum, elas podem ser consorciadas com as culturas alimentares normalmente utilizadas. Com relação às pragas, estas são as mesmas que ocorrem no algodão de fibra branca e deve ser seguido o manejo integrado para maior eficiência no controle das mesmas. Apesar de na literatura haver referência a uma maior resistência do algodão colorido às pragas em relação ao de fibra branca, na prática, o que se tem observado é que eles são igualmente atacados e que se deve ter o mesmo cuidado dispensado ao algodão de fibra branca no combate às pragas do colorido. As cultivares BRS VERDE, RUBI e SAFIRA têm potencial produtivo de até 3 mil kg/ha em regime de sequeiro na região Nordeste, caso o ano seja regular quanto às precipitações pluviais, e podem ser cultivadas em regime irrigado com maior potencial de produção. A BRS 200 deve seguir o manejo cultural do algodão arbóreo, podendo também ser consorciada, mas, como tem o porte menor que o arbóreo, pode ser conduzida também em regime irrigado. O algodão colorido tem um público consumidor diferenciado, por isso seus produtos possuem um preço um pouco maior, e o consumidor paga por eles. Assim, o produtor também poderá rece-
ber um preço maior pelo algodão que produz e vai interessar-se pelo plantio do algodão colorido. Fica evidente que não poderá haver uma super produção de fibra colorida a cada ano. Por isso, a Tabela 1 - Evolução da área plantada com algodão colorido na Paraíba
Luiz Paulo explica os motivos que levaram a pesquisa a retomar o melhoramento genético do algodão colorido
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Safra 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 (estimativa)
Área(ha) 10 60 600 600 2000 2000
O colorido das fibras, normalmente, é governado por apenas um gene
Embrapa Algodão, juntamente com outros órgãos na Paraíba, está tentando organizar a produção a cada ano e caminhar para a emissão de um certificado de origem da fibra do algodão, que ateste a qualidade e originalidade da cor natural e, assim, poder atrair outros investidores para o algodão colorido e fazer com que o preço diferenciado se justifique. Luiz Paulo de Carvalho, Embrapa Algodão
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Cana-de-açúcar
Charles Echer
Destaque indesejado O capim-camalote (Rottboellia exaltata L.) caracteriza-se por apresentar crescimento mais intenso que o da cultura da cana-de -açúcar. A planta daninha está se destacando nas lavouras, aumentando custos de produção e, principalmente, reduzindo a produtividade
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capim-camalote (Rottboellia exaltata L.) está entre as plantas daninhas que mais causam perdas ao rendimento potencial da cultura da cana-de-açúcar no mundo. A Rottboellia exaltata L., pertencente à família Poaceae, originou-se na Índia, de onde se difundiu pelo mundo (Arévalo, 1992). A introdução no Brasil ocorreu no início da década de 60, possivelmente, suas sementes tenham vindo misturadas às sementes de arroz trazidas da Colômbia (Deuber, 1992). Em Cuba, o capimcamalote está entre as sete piores plantas daninhas da cultura da cana-de-açúcar; na Costa Rica, é uma das piores infestantes das áreas agrícolas e, no Brasil, infesta várias culturas em muitos estados (Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). Na re-
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gião Norte Fluminense está-se tornando uma das principais invasoras das áreas de cultivo de cana-de-açúcar, sendo responsável pela redução na produtividade da cultura e pelo aumento dos custos de produção. De acordo com produtores e técnicos de usinas de açúcar e álcool da região Norte Fluminense, sua importância na cultura da cana-de-açúcar suplantará, em breve, a importância das principais plantas daninhas da região. Sabe-se que o prejuízo causado pelo capim-camalote pode atingir 100% em cana-planta e 80% em canasoca. De acordo com Arévalo (1994), o capim-
camalote prefere clima quente e úmido e não suporta o frio e a falta de umidade. A reprodução ocorre exclusivamente por sementes e acontece no período de outubro-abril, com pelo menos sete gerações de produção de “chuva” de sementes. Para as condições brasileiras, é uma planta muito vigorosa e prolífica; uma única planta é capaz de emitir até 100 perfilhos e produzir 15 mil sementes, que ficam dormentes no solo por até quatro anos (Lorenzi, 2000; Arévalo, 1992; Arévalo e Bertoncini, 1994). Em condições de campo, as sementes de capim-camalote germinam todo o ano. O pico de germinação acontece em setembro. O crescimento intensifica-se a partir dos 40 até os 100 dias, quando o capim está em plena floração. A cana-de-açúcar também possui um crescimento similar, porém de menor intensidade que o capim-ca-
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Anderson R. de Oliveira
malote. Sua importância para a cultura da cana-de-açúcar reside na dificuldade de se evitar a invasão em novas áreas e no manejo problemático e oneroso. Devido à sua agressividade, o capim-camalote domina totalmente a cana, apoderando-se facilmente do hábitat da cultura. A convivência de populações de capim-camalote na cultura da cana-de-açúcar provoca perdas no rendimento potencial, e esses prejuízos são proporcionais ao tempo de convivência, fator ecológico crítico, densidade, sensibilidade do cultivar da cana, velocidade do crescimento e fechamento do cultivar e época de colheita da cana. A presença de plantas daninhas na lavoura, além de reduzir a produtividade, pode acarretar aumento nos custos de produção de até 30 %, em canasoca, e de 15 a 25 %, em cana-planta (Lorenzi, 1995). Pode-se afirmar também que o capim-camalote é uma grande ameaça a outras culturas, como milho, arroz, fruteiras etc. O controle químico de plantas daninhas em áreas com cana-de-açúcar é uma prática bastante difundida em todo o país. Embora haja grande número de herbicidas recomendados para a cultura da cana-de-açúcar, pouco se sabe sobre a eficiência deles no controle do capim-camalote. Trabalhos de pesquisa desenvolvidos por Freitas et al. (2004) e Oliveira et al. (2005) em áreas de produção de cana-de-açúcar, na localidade do Carvão e na Usina Santa Cruz,
Figura 1 - Médias da porcentagem de controle de capim-camalote, 30 e 60 dias após aplicação dos tratamentos. Tratamentos: 1) Trifloxysulfuron sodium + ametryne; 2) Trifloxysulfuron sodium + amicarbazone; 3) Diuron + hexazinone; 4) MSMA + diuron + hexazinone; 5) Clomazone + diuron + hexazinone; 6) Clomazone + ametryne; 7) Ametryne + MSMA; 8) Testemunha sem capina e 9) Testemunha com capina
Fonte: Oliveira et al. (2005)
Figura 2 - Médias do peso da biomassa seca de plantas de capim-camalote 30 e 60 dias após aplicação dos tratamentos. Tratamentos: 1) Trifloxysulfuron sodium + ametryne; 2) Trifloxysulfuron sodium + amicarbazone; 3) Diuron + hexazinone; 4) MSMA + diuron + hexazinone; 5) Clomazone + diuron + hexazinone; 6) Clomazone + ametryne; 7) Ametryne + MSMA; 8) Testemunha sem capina e 9) Testemunha com capina
Fonte: Oliveira et al. (2005)
Intensificação do crescimento do capim ocorre a partir dos 40 dias após a germinação até entrar em floração
no município de Campos dos Goytacazes (RJ), com a mistura de trifloxysulfuron + ametrine, apresentaram resultados promissores. Esta mistura de herbicidas inibe a formação de proteínas em plantas suscetíveis, causando amarelecimento das folhas, parada do crescimento e morte destas em uma a três semanas após a aplicação (Oliveira Jr. et al., 2001). A tolerância da cana-de-açúcar ao trifloxysulfuronsodium é baseada em dois mecanismos: au-
mento da degradação biológica do produto, comparada às plantas suscetíveis, e muito baixa translocação do herbicida nas folhas tratadas. No trabalho desenvolvido na Usina Santa Cruz, ao se utilizar a dose de 2 kg ha-1 da mistura de trifloxysulfuron sodium + ametrine, foi observado excelente controle do capim-camalote, alcançando níveis de controle de 90%, reduzindo, significativamente, o nú-
Figura 3 - Efeito de diferentes níveis de palha no número de plantas de capim-camalote aos 15, 30, 45 e 60 dias
Fonte: Oliveira et al. (2005)
Figura 4 - Efeito de diferentes níveis de palha na biomassa seca da parte aérea de plantas de capim-camalote aos 15, 30, 45 e 60 dias
Fonte: Oliveira et al. (2005).
mero de plantas e a biomassa seca da parte aérea das plantas tratadas (Figuras 1 e 2). A utilização de trifloxysulfuron, isolado ou combinado com ametrine, tem demonstrado excelente controle de várias espécies de folhas largas e espécies da família Poaceae. No caso de espécies da família Poaceae em lavouras de cana-de-açúcar, o uso de trifloxysulfuron em combinação com ametrine possibilita maior eficiência, pois aumenta o espectro de controle. A mistura mostrou boa seletividade para a cana-de-açúcar, não apresentando toxicidade e assegurando alta produtividade. Em outros trabalhos, aplicações com MSMA + diuron, diuron + paraquat, MSMA + (diuron + hexazinone), clomazone + (diuron + hexazinone), ametrine + MSMA, também, proporcionaram bom controle do capim-camalote. Outra possibilidade de manejo que pode ser utilizada no controle de capim-camalote é a deposição de palha da própria cultura sobre o solo. Recentemente, a colheita da cana, utilizando a queimada, está dando lugar à cha-
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mada colheita da cana-crua. Esse novo sistema de colheita pressupõe maior deposição da palhada sobre o solo, o que afeta a germinação e o desenvolvimento de plantas daninhas. A inibição na germinação ou no desenvolvimento das plantas daninhas pode ocor-
rer devido a efeitos físicos, biológicos ou de natureza alelopática. O efeito físico pode ser notado pelo baixo número de plantas daninhas encontrado em áreas cobertas por palha, já que a mesma interfere na quantidade de radiação solar incidente, na qualidade do comprimento de luz e na manutenção da temperatura do solo com menores oscilações (Taylorson e Borthwick, 1969; Fener, 1980; Egley e Duke, 1985), ou constitui-se em barreira física que impede o desenvolvimento das plantas (Pitelli, 1995). O efeito biológico pode ser notado, quando a presença da cobertura morta no solo possibilita condições para instalação de uma densa e diversificada microbiocenose na camada superficial do solo. Nesta microflora há uma grande quantidade de organismos que podem utilizar sementes e plântulas de plantas daninhas como fontes de energia. Muitos organismos fitopatogênicos podem utilizar a cobertura morta, para completar o ciclo de desenvolvimento e produzir estruturas reprodutivas. De maneira geral, os microorganismos exercem importantes funções na deterioração e perda de viabilidade dos diversos tipos de propágulos no solo. Além disso, deve-se considerar que a cobertura morta cria um abrigo seguro para alguns predadores de sementes e plântulas, como roedores, insetos e outros pequenos a animais (Pitelli, 2003). O efeito alelopático, por sua vez, pode ser percebido pela liberação de substâncias do metabolismo secundário das plantas durante o processo de decomposição, os quais impedem ou reduzem o desenvolvimento das plantas daninhas (Putnam et al., 1983; Einhellig e Rasmussen, 1989; Vidal e Bauman, 1996; Theisen et al., 2000). A cultura da cana-deaçúcar, assim como outras gramíneas, apresenta propriedades alelopáticas. Chou (1999) relata que Wang et al. (1967) demonstraram em experimentos de campo e laboratório a presença de fitotóxicos em resíduos oriundos da decomposição de cana-de-açúcar. Foi detectada a presença de cinco ácidos: ferúlico, p-
A deposição de palha sobre o solo é uma alternativa para inibir o surgimento da planta daninha
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Fotos Anderson R. de Oliveira
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Clima quente e úmido beneficia o desenvolvimento do capim-camalote e pode causar perda total da lavoura de cana
hidroxibenzóico, vanílico, p-cumárico e siríngico, além de seis ácidos graxos de cadeia curta: acético, butírico, oxálico, malônico, tartárico e málico. Carvalho et al. (1999) estudaram as potencialidades alelopáticas de folhas senescentes e de folhas verdes + ponteiro de cana-de-açúcar de duas variedades e constataram que os extratos das folhas verdes + ponteiro apresentaram alto potencial alelopático na germinação de sementes de alface, enquanto os das folhas senescentes não tiveram nenhum efeito, e que, quanto maior a concentração de matéria seca das folhas, maior o efeito deletério. Alguns trabalhos, desenvolvidos com a palha de plantas cultivadas, têm demonstrado, com sucesso, a possibilidade de controle de plantas daninhas por meio da palhada em substituição ou em associação ao controle químico. Quando utilizada em substituição, observa-se que a porcentagem de controle das plantas daninhas é igual ou superior àquela alcançada com o uso de herbicidas. Se considerarmos o uso da palhada em associação com herbicidas; há várias vantagens, pois se pode reduzir, consideravelmente, a dose do produ-
to a ser aplicada, diminuindo os gastos com o uso do herbicida e os efeitos indesejáveis com relação à fitotoxidez à cultura, além do fato de se preservar o ambiente, utilizando-se menores quantidades de moléculas herbicidas e aumentando-se a segurança do aplicador. De acordo com Oliveira et al. (2005), em pesquisa desenvolvida na Unidade de Apoio à Pesquisa da UENF, a presença no solo de 16 t ha-1 de palha de cana-de-açúcar foi eficiente na redução da emergência de plantas de capim-camalote. Observou-se, ainda, que níveis de palha próximos a 4 t ha-1 estimulam a emergência das plântulas de capim-camalote, podendo este fato ser atribuído aos fatores físicos, biológicos ou alelopáticos exercidos pela presença da palha da cana-de-açúcar que nesta densidade pode ter estimulado a quebra de dormência das sementes e favorecido a emergência das plantas (Figuras 3 e 4). O estudo recomenda que sejam desenvolvidas pesquisas de isolamento e identificação dos compostos alelopáticos presentes na palha da cana-de-açúcar, a fim de se
No período de outubro a abril, acontece a reprodução do capim-camalote
auxiliar em decisões fitotécnicas relacionadas ao melhor manejo de capim-camalote e de outras plantas daninhas na cultura da C cana-de-açúcar. Anderson Ramos de Oliveira e Silvério de Paiva Freitas, UENF
Molécula
Tetraconazole
Fotos Hokko
A molécula é uma opção para o controle da ferrugem asiática da soja. De amplo espectro, atua inibindo a biossíntese do ergosterol do fungo
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escoberto e desenvolvido mundialmente pela Isagro, o tetraconazole é uma molécula fungicida, pertencente ao grupo químico dos triazóis, e constitui-se numa nova opção para o controle da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi). A molécula, desenvolvida e recomendada para uso no controle de doenças, apresenta um amplo espectro de ação de propriedades curativa, protetiva e erradicante.
PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS Nome comum (ISO): tetraconazole Nome químico (IUPAC): (RS)-2-(2,4dichlorophenyl)-3-(1H-1,2,4-triazol-1-yl)propyl-1,1,2,2-tetrafluoroethyl ether. Grupo químico: triazol Fórmula Química: C13H11Cl2F4N3O Peso molecular: 372,14 Log Pow : 3,53 a 20OC Solubilidade: 156,6 mg/L a 20OC e pH 7 Modo de Ação: como outros triazóis, atua inibindo a biossíntese de ergosterol nos fungos. Mais especificamente, inibe o citocromoP-450, ponto chave na rota da biossíntese do ergosterol.
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SELETIVIDADE A estrutura físico-química do tetraconazole tem a propriedade de agir somente na biossíntese do ergosterol, não afetando a síntese do fitosterol, nem das giberelinas nas plantas. Essa característica atribui um alto grau de seletividade do tetraconazole sobre as culturas registradas, não induzindo efeitos de nanismo ou fitotoxicidade.
MODO DE AÇÃO DOS TRIAZÓIS Outros importantes processos bioquímicos, como a síntese de giberelina e fitosterol, são também regulados pelo citocromo P-450, mas a estrutura molecular do tetraconazole contém o radical tetrafluoroethyl, parte ativa da molécula que lhe confere algumas características especiais. Destaca-se o equilíbrio entre a sua hidrossolubilidade e lipossolubilidade, fatores importantes na translocação do fungicida, na planta, e na sua difusão, na superfície cerosa das folhas. Juntamente com sua pressão de vapor, esses fatores conferem-lhe uma ótima redistribuição nas áreas tratadas.
da se distribui nos meios hidrofílicos e lipofílicos, tal como ocorre na membrana celular. O tetraconazole tem um excelente log Pow, garantindo uma penetração na planta e uma translocação acentuada para as partes não tratadas. O excelente equilíbrio das características físico-químicas do tetraconazole pode ser observado pela sua rápida penetração nos tecidos das plantas, bem como pela sua alta sistemicidade, apresentando longo período de controle. É altamente seletivo nas culturas recomendadas – sendo seguro em todas as fases de desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, até mesmo no florescimento, não provocando sintomas de fitotoxicidade e retenção de área foliar, e a formulação não é incompatível com outros defensivos agrícolas.
SISTEMICIDADE O coeficiente de partição octanol-água (log Pow) é o parâmetro que indica como o fungici-
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FORMULAÇÃO DIFERENCIADA A Hokko do Brasil, empresa do grupo Arysta Lifescience Co., possui a distribuição da molécula tetraconazole no produto comercial denominado Eminent 125 EW. A formulação EW do tetraconazole é livre de solventes derivados de petróleo, sendo elaborada com surfactantes e solventes biodegradáveis, nos quais apresenta grande estabilidade físico-química, formando uma microemulsão (óleo/água) com excelente estabilidade termodinâmica. Na água forma uma solução incolor, porque não absorve o espectro visível da luz. A recomendação do uso do tetraconazole para o controle da ferrugem asiática na cultura da soja é na dose de 37,5 – 62,5 g.i.a/ ha, podendo ser feita com aplicação tratorizada ou aérea, desde que tenha boa cobertura, utilizando-se volume de calda entre 150 e 200 l/ ha, quando tratorizada, ou de 30 a 40 l/ha, quando aérea. A aplicação deve ser feita preventivamente entre R1 – R3 ou após aparecimento dos primeiros sintomas, independente do estágio da cultura, conforme recomendação da Embrapa (até 5% de incidência). Se necessário, repete-se outra aplicação no período de 15 dias, dentro do estádio R5.1. O monitoramento periódico é necessário, mesmo em fases anteriores e posteriores à aplicação de controle.
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Auto-radiografia com C14 de folhas tratadas.
Limitações de uso: não há. Produto altamente seletivo para a cultura da soja. A Hokko do Brasil, uma das distribuidoras da molécula tetraconazole, acredita que a molécula crescerá em ritmo rápido nos próximos anos, por ser altamente eficiente no controle da ferrugem asiática e de doenças de final de ciclo e não causar fitoC toxicidade.
INFORMAÇÕES
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evem-se seguir as recomendações atualizadas de manejo de resistência do FRAC-BR (Comitê de Ação à Resistência a Fungicidas). Qualquer produto utilizado no controle de doenças pode ficar menos efetivo ao longo do tempo devido ao desenvolvimento de resistência. O Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Fungicidas (FRAC-BR) recomenda as seguintes estratégias de manejo de resistência, visando, com isso, prolongar a vida útil dos fungicidas e também manter a sua performance: • qualquer produto para controle de
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doenças da mesma classe ou com mesmo modo de ação não deve ser utilizado em aplicações consecutivas para o mesmo patógeno, no mesmo ciclo da cultura; • utilizar, quando conveniente, o rodízio de produtos de contato e produtos com modo de ação específicos (sistêmicos); • utilizar somente as doses recomendadas no rótulo ou bula; • sempre consultar um engenheiro agrônomo para orientação sobre as recomendações locais para o manejo de resistência.
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Coluna Aenda
Defensivos Agrícolas
Ressuscitando patentes O fungicida Tebuconazole não se conforma que já seja uma substância em domínio público no planeta e tenta uma sobrevida no Brasil
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stender a vida útil no Brasil de patentes já extintas no resto do mundo, usando a miopia da Justiça brasileira e a poça de areia movediça do parágrafo único do artigo 40 da nova lei de patentes (9.279/1996), é uma prática execrável, para o país, e questionável, do ponto de vista legal. O art. 40 em seu caput afirma que o prazo da patente é de 20 anos, contados da data do depósito (pedido inicial), mas o seu parágrafo único informa que o prazo não será inferior a 10 anos, a contar da data de concessão. Traduzindo: se o INPI ou a Justiça demorarem 20 anos para examinar o processo, a patente terá 30 anos a partir do pedido (10 anos a partir da concessão). A justiça, sem óculos, por ora não consegue enxergar a continuação do parágrafo único que diz “...ressalvada a hipótese de o INPI estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo de força maior”. Há de ter um limite...ou os pétreos direitos de soberania que vão reclamar ao papa, pois os tempos agora são de globalização. Globalização de mão única. Patente morta e amordaçada (plagiando Raimundo Fagner), lá fora, sobrevive aqui no país acolhedor de todas as raças e com o caráter de Macunaíma. O novo e genial golpe, agora, vai mais além. Ressuscitam-se, sem desfaçatez, substâncias desde muito em domínio público, dando-lhes vida no corpo de outro produto. Atividade inventiva nenhuma. A aplicação industrial é óbvia, se não, para que se pede uma patente? O grande embuste da novidade é o que vale, pois
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dantes ninguém tinha aplicado a velha substância na formulação da nova, embora com a mesma finalidade. O importante mesmo é paralisar os concorrentes. Exemplifiquemos com fatos. Uma das maiores empresas do setor de defensivos agrícolas está tentando prolongar a vida de uma molécula com poderes fungicidas, conhecida por tebuconazole. O pleito foi avaliado e arquivado pelo INPI, por reconhecer que, à luz da legislação, as reivindicações propostas pelo titular não eram iluminadas. Como houve arquivamento, o caso ficou para decisão do Judiciário. Enquanto a tartaruga quase cega da Justiça não se define, a multinacional resolveu ressuscitar três substâncias inibidoras de cristalização, incorporando-as à fórmula do tebuconazole, já preparado para venda. Ou seja, diluíram o tebuconazole em um solvente, adicionaram emulsificantes, para propiciar a perfeita distribuição na água por ocasião da pulverização nas lavouras, e, por fim colocaram mais um pouco de solvente com características anticristalizantes, para que em temperaturas mais frias a calda não “empedre” e prejudique a boa cobertura das folhas. Assim, a respeitável empresa pediu em 1994, e o INPI concedeu a patente PI 9404456 em 2000 para o fungicida comercial à base de tebuconazole, com expiração somente em 2014. O anticristalizante usado foi um éster do ácido fosfórico, mais velho que andar para frente. De forma que o velho ácido fosfórico ressuscitou em um “novo uso”, ou seja, como agregado de um fungici-
da. O incrível é que o fungicida formulado é um produto meramente preparado a partir da molécula tebuconazole, esta sim a verdadeira invenção. Aliás, como dito acima, se o INPI não concedeu a patente da invenção do tebuconazole, por conflitos na extensão do prazo de validade, como pode conceder patentes às suas reles aplicações, coisa que toda empresa de fundo de quintal sabe fazer? Estamos um tanto confusos, mas certamente o INPI explica...ou revoga. O mesmo ocorreu para o inibidor de cristalização N-metil pirrolidona, uma alquil lactama. A patente do fungicida + anticristalizante, concedida em 1999 para vencimento em 2010, foi a PI 9001528. O terceiro ressuscitamento foi o da dimetilamida de ácidos alquil carboxílicos, e o fungicida pode ser comercializado com exclusividade até 2011, conforme determina a patente PI 9101691, concedida em 2001. E assim o tebuconazole daquela empresa fica livre de concorrentes por um bom tempo. Produto esse já genérico no resto do planeta desde 2001. Só no Brasil. Só no Brasil. Só no Brasil. Todos concordam que o sistema de patente é uma forma de repressão à concorrência desleal. Mas, se é para inverter a lógica de patentes em favor do monopólio, prefiro apoiar a transgressão da inversão da milhar no jogo do bicho. Estou pensando em patentear a salada de frutas + sal, uma inovação para o sal, impensada e fenomenal, vocês não C acham? aenda@aenda.org.br
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Agronegócios
Agricultura e salinida S
olos salinos são marginais para a agricultura, considerando o arsenal tecnológico atualmente disponível. Os solos podem ser salinos por formação geológica, ou por manejo inadequado da irrigação. Cerca de um quarto das terras que poderiam ser agricultáveis, em todo o mundo, contém algum grau de salinidade. A salinidade ocasiona fitotoxicidade às culturas, com desenvolvimento deficiente das plantas, o que pode causar a sua morte ou reduzir a produtividade e a qualidade das colheitas. Segundo o USDA, os EUA poderiam incrementar em 25% a sua produção agrícola, sem acréscimo de área, se todas as cultivares plantadas fossem tolerantes à salinidade. Quando uma planta não tolerante à salinidade é cultivada em solos salinizados, ocorre uma redução significativa na capacidade de absorção de água pelas raízes. Em conseqüência, a planta é submetida a um estresse osmótico, ocasionando um distúrbio conhecido como toxicidade iônica. Em decorrência, ocorre uma desnaturação de enzimas do citoplasma, vitais para a síntese de proteínas e para a fotossíntese. Esse prejuízo de funções vitais é a causa dos efeitos observados.
PLANTAS HALÓFITAS Já as plantas halófitas suportam altos níveis de salinidade e acumulam sais em seus tecidos, sem prejuízos à planta. Entre elas, destacam-se algumas palmáceas e a beterraba açucareira. As quenopodiáceas são comuns nas regiões semi-áridas do mundo, tolerando estresses hídricos e salinos. Uma planta halófita desta família, a erva-sal (Atriplex nummularia), é a mais estudada pelos cientistas brasileiros. Introduzida há 70 anos no Nordeste, a ervasal é uma forrageira que cresce em condições adversas a outras espécies. Produz até 26 ton/ ha de matéria fresca, com mais de 80% de aproveitamento para alimentação animal. Do total de matéria verde, cerca de 1,2 ton/ha é composta de cinzas, contendo os sais extraí-
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dos do solo.
PROSPECÇÃO DE GENES Cientistas chineses isolaram, de uma planta halófita (Erigeron acris, da família das Compostas), um gene que confere tolerância à salinidade. Os genes responsáveis pelo incremento dos mecanismos fisiológicos de seqüestro de sal foram introduzidos em Arabidopsis thaliana, onde estão sendo estudados e avaliados, para posterior transferência para plantas de interesse comercial. A primeira etapa do estudo foi dedicada a perscrutar e entender os mecanismos que as plantas usam para conviver com a salinidade.
DESATIVANDO OS SAIS TÓXICOS As plantas tolerantes à salinidade acumulam o sódio nos vacúolos celulares, enquanto o cloro é excluído nas células do sistema radicular. Estudos demonstraram que os íons de sódio são direcionados para glândulas localizadas nas folhas mais antigas, onde os mesmos são imobilizados como cristais não tóxicos. A estratégia da planta, brilhantemente desenhada pelo cientista Mor, consiste em manter os sais tóxicos longe dos tecidos tenros do meristema e das folhas jovens, que estão iniciando o processo fotossintético e que são mais sensíveis. Novos íons ingressam, continuamente, na seiva da planta, os quais devem ser imobilizados. Para transportá-los aos vacúolos, são utilizadas proteínas denominadas “antiportos”, às quais os íons se ligam. Uma das proteínas antiporto mais estudada é a AtNHX1. A energia para o processo é obtida através de outra proteína, que atua como uma “bomba de hidrogênio”, descartando íons de hidrogênio (prótons), para suprir a necessidade de energia.
AVANÇOS As proteínas antiporto funcionam como uma “casa de câmbio”, trocando íons de só-
dio (Na+) dos sais por prótons (H+). As bombas de hidrogênio, como a AVP1 (cujo nome por extenso é Fosfatase Translocadora de H+ vacuolar), são as responsáveis por ceder os prótons. Quando o processo de troca iônica precisa ser incrementado, por conta da salinidade do solo, há maior demanda de energia. Uma das soluções aventadas pelos cientistas, para tornar a planta resistente à salinidade, é duplicar o gene responsável pela produção da AVP1, de maneira a aumentar a oferta de prótons, permitindo maior imobilização do sódio. A superexpressão gênica foi testada em plantas de Arabidopsis, contendo uma cópia adicional do gene que codifica para a proteína AVP1. Resultado: a planta potencializou a sua tolerância à salinidade do solo! Com o aumento da troca de H+ por íons salinos, outras proteínas transportadoras são excitadas pela mudança do gradiente iônico e se valem da AVP1 para mudar o balanço iônico, fazendo com que a planta retenha mais água. Resultado: as plantas também toleraram a seca!
TOMATE E CANOLA As boas novas continuam: após o sucesso com a planta modelo (Arabidopsis), os cientistas transferiram os genes da proteína antiporto para tomate e canola, onde observaram a mesma superexpressão da proteína. As plantas de ambas as espécies germinaram, cresceram, floresceram e produziram bons frutos em ambiente de alta salinidade. O tomate modificado apresentou alto teor de sais nas folhas, porém os frutos tinham teores normais desses sais. Na canola, embora as cinzas apresentassem um teor 6% superior de sódio, a qualidade do óleo e a produtividade equivaleram àquelas das plantas normais, cultivadas em solos não salinos.
O FUTURO Apesar do sucesso, a questão não se esgo-
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de dos solos ta em definitivo nesse estágio, pois os cientistas ainda precisam resolver outros problemas, como o estresse oxidativo, induzido pela seca ou pela salinidade. Estão sendo prospectados genes associados à habilidade das células em administrar, de forma conveniente, o estresse oxidativo. Inicialmente, estão sendo estudadas as plantas de tomate e de arroz, e os genes descobertos estão compondo uma biblioteca para uso futuro. Estão sendo examinadas mais de 250 mil linhas transgênicas, no afã de garimpar genes para tolerância à salinidade. No entanto, é na biodiversidade que os geneticistas esperam encontrar um verdadeiro tesouro. Um exemplo prático são as linhagens de trigo W4909 e W4910, desenvolvidas no Laboratório de Salinidade do USDA (Riverside, Califórnia), que receberam genes de um parente selvagem (wheatgrass), adaptado a ambientes salinos. Brevemente, essas novas linhas serão testadas no campo e de seu sucesso pode surgir um novo salto tecnológico.
DESSALINIZAÇÃO A solução para obter água potável é a dessalinização, que consiste em forçar a água, sob pressão, a passar por uma membrana semipermeável, a qual retém as moléculas de sal e permite a passagem da água. Essa membrana precisa ser lavada, para retirar os sais retidos na filtragem. Na saída do dessalinizador, há uma vertente de água potável e outra com a água resultante da lavagem, saturada com sal, possuindo um alto potencial de impacto no ambiente. No entanto, é preciso dar um uso ao resíduo salino, que torna impróprio para cultivo o solo que receba a água da lavagem. O potencial poluidor é muito alto, pois, embora raras, as chuvas que caem na região arrastarão o sal para mananciais e fontes de água.
ação de tilápias, dado que os peixes reciclam parte do sal contido na água. Entretanto, como há necessidade de oxigenação constante, parcela da água do tanque deve ser substituída diariamente. A água salina, descartada dos tanques de criação de peixes, é utilizada para irrigação. Pode parecer estranho que uma água saturada com cloreto de sódio possa servir de substrato adequado a um vegetal. Entretanto, a recomendação dos pesquisadores é o uso da erva-sal (Atriplex nummularia), conhecida por sua alta tolerância a ambientes salinos. Maiores informações sobre a tecnologia podem ser solicitadas através do e-mail: C sac@cpatsa.embrapa.br Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
RECICLAGEM A solução proposta pela Embrapa é a cri-
SOL, SAL E SECA Uma região que não tem a capacidade de produzir alimentos está condenada à pobreza, salvo raras e honrosas exceções. A Embrapa sempre foi sensível às agruras sociais dos produtores, buscando alternativas tecnológicas que permitam ao agricultor galgar degraus na busca da inclusão social. A Embrapa Semi-Árido, localizada em Petrolina (PE), cerne do sertão nordestino, e encravada no polígono das secas, sempre teve entre suas prioridades a busca de uma agricultura regional sustentável. Uma das pesquisas da Embrapa Semi-Árido combina a obtenção de água de qualidade com o destino adequado do resíduo salino do tratamento da água.
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
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Dólar baixo aperta calo dos produtores Os produtores estão vivendo momentos complicados neste mês de abril, com previsão de dificuldades também para maio, porque o câmbio está nos piores momentos desde junho de 2002. Os produtores tiveram os custos de plantação, no ano passado, baseados na moeda americana, que baliza todos os insumos na faixa dos R$ 3,00/3,10 e, agora, eles estão tendo que vender a produção com valores entre os R$ 2,50/2,60. Desta forma, estão perdendo, em reais, algo próximo dos 15 a 20%. Mesmo colhendo uma safra normal, muitos não estão conseguindo pagar as dívidas que contraíram no momento do plantio junto a financiamentos de custeio do Banco do Brasil e temem pela descapiQuadro da safra brasileira em milhões de t talização geral do segProduto Estimativa Realidade em Variação mento, porque o goverInicial Abril 2005 no aparentemente não mostra 65,0 49,5 -23,8% interesse em mudar o quadro do câmbio, SOJA 42,5 36,0 -15,3% que tem prejudicado o setor agrícola e ao mesmo tempo beneficiado a política do governo de MILHO ARROZ 13,2 12,6 -4,5% controle da inflação. Ou seja, novamente os produtores estão tendo que servir de bengala, para dar suporte a economia brasileira, quando o governo, para controlar a inflação, deveria FEIJÃO 3,4 2,7 -20,6% fazer a coisa mais simples que qualquer cidadão conhece: gastar menos do que arrecada e, ALGODÃO* 1,42 1,39 -2,1% assim, sobrando recursos para pagar as dívidas que crescem ano a ano. O quadro da produção TRIGO 5,9 6,1 3,3% em abril esteve superestimado pelos órgãos oficiais, e o setor agrícola, além de perder com o OUTROS 4,5 3,3 -26,6% câmbio, perde com uma ilusão de oferta grande, que aparentemente só está sendo real no TOTAL 135,9 111,6 -17,9% caso do arroz, que encheu os silos. O governo poderia colaborar com o produtor e divulgar Fonte: BRANDALIZZE Consulting dados mais atualizados com regularidade, como ocorre com o USDA, que tem relatórios sema(*) Nota: Dados em mil T de pluma. nais e mensais, que balizam melhor a comercialização e a formação dos preços.
MILHO Câmbio em baixa favorece importações O milho teve um quadro frouxo em abril, porque o governo liberou a importação do cereal e, junto a isso, principais indústrias e granjeiros importaram vários navios de sorgo. O câmbio em baixa fez com que o produto importado chegasse aqui com preços baixos, entre R$ 21,00 e R$ 22,00 nos portos do Sul e, com isso, colocou uma barreira para o cereal nacional, complicando a vida dos produtores em abril e maio, período em que vence grande parte das dívidas do setor. Os indicativos de balcão neste último mês tiveram queda de R$ 1,00 a R$ 1,50 para os produtores e, desta forma, descapitalizaram ainda mais o setor. Não se esperam grandes mudanças em maio, porque o câmbio do dólar deve continuar favorecendo a importação. SOJA Produtores segurando a safra A safra da soja está chegando ao final da colheita neste mês de maio e, junto, estamos vendo que os produtores vêm segurando o máximo que podem, à espera de cotações melhores mais à frente. Os indicativos atuais da soja em dólar estão sendo considerados bons para os produtores, mas, como o câmbio está muito baixo, acaba não remunerando o segmento. Os negócios seguem restritos a entregas de produto para quitar dívidas, e o restante da produção está sendo retido, para negociar mais à frente. Os indicativos de safra deste mês apontam que novamente estamos vendo a produção efetiva menor que as estimativas, com os indicativos estimados no final de abril variando das 46 a 50,5 milhões de t, muito abaixo das 65 milhões de t do início da safra. FEIJÃO Pouco feijão para negociar e cotações firmes O mercado do feijão teve, no início de abril, as melhores cotações do ano e, na seqüência,
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aumentou o ritmo da colheita da safra do Paraná e de pontos do Sudeste do país. Com isso, houve pressão sobre os indicativos, que chegaram a se aproximar da marca dos R$ 100,00 e fecharam o mês na faixa dos R$ 80,00 para o produto Carioca Novo, enquanto o Preto esteve com indicativos variando de R$ 85,00 a R$ 95,00, com poucas ofertas. Continua mostrando um bom ano para o feijão. O Preto terá oferta da Argentina em junho e julho. ARROZ Safra melhora de volume em abril Os produtores estiveram colhendo a safra em grande ritmo em abril, e a boa surpresa para
o setor é que as perdas não foram tão grandes quanto eram esperadas. Como o setor investiu forte em tecnologia nesta safra e se esperava por um crescimento de 30% na produtividade, mesmo com perdas médias de 20% devido ao clima, o quadro que está chegando ao final da colheita mostra médias de 10% de ganhos na produtividade sobre os anos anteriores no RS e, assim, o quadro da safra continuava sendo apontando entre 12,5 a 13,0 milhões de t para a safra nacional. No RS os armazéns estavam lotados no final do mês, e muito produto estava sendo ensacado para ser armazenado a céu aberto embaixo de lona. Com pouco fôlego para reação.
CURTAS E BOAS SOJA - O plantio americano está andando neste momento e, assim, será um dos principais fatores para alta ou baixa no mercado, porque, a cada alteração climática, teremos pressão sobre as cotações. O início se deu próximo da normalidade. ARGENTINA - A safra da soja está chegando ao final, com indicativos recordes desde as 38,4 às 39,5 milhões de t. ALGODÃO - Os produtores reclamam que a produtividade caiu e, desta forma, os custos estão maiores que o faturamento. O grande problema continua sendo o quadro de oferta e demanda mundial que, segundo o USDA, vem com uma safra de 26 milhões de t de pluma contra um consumo previsto de 23,3 milhões de t, maior do que no ano passado, que foi de 21,5 milhões de t. Mas a produção mundial cresceu forte frente às 20,7 milhões t colhidas na safra passada. O câmbio certamente é o pior problema que o setor enfrenta. MILHO - A Argentina está chegando ao final da colheita com uma safra cheia ao redor das 19 milhões de t, devendo exportar cerca de 14 milhões de t. TRIGO - O plantio da safra está andando no Paraná, e os produtores apostam em ganhos, porque a Argentina já vendeu quase tudo que tinha para negociar neste ano, e a importação de trigo de outros países chega com custos muito altos por aqui, o que já resultou em alta nas cotações internas do cereal. BOA DO MÊS - vem da China, onde o governo local admite que deverá importar mais soja do o previsto, porque o consumo interno do país vem crescendo acima das expectativas. Desta forma, a indicação agora é de que o país irá importar 24 milhões de t, contra o máximo de 22 milhões de t esperadas anteriormente. O ano comercial encerra em 30 de setembro, quando as importações deverão chegar ao numero de 24 milhões de t, contra as 17 milhões importadas no ano comercial anterior, encerrado em setembro de 2004. A China continua sendo o país com maior potencial de demanda e que dará suporte ao crescimento da produção no Brasil.
Cultivar Cultivar • www.cultivar.inf.br • www.cultivar.inf.br • Fevereiro • Maio de 2005