Cultivar Grandes Culturas • Ano VII • Nº 75 • Julho 2005 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
Destaques
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Foto Capa / Marco Antônio Lucini
Barreira na cana Como controlar a parreira-brava, que dificulta o crescimento da cana e atrapalha a colheita
20 Dessecação obrigatória A dessecação no feijão, além de maximizar o trabalho da colhedora, garante a integridade física dos grãos
Nossos cadernos
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Fotos de Capa
Aveia no trigo
David S. Jaccoud Filho
Por causa do manejo inadequado na dessecação, a aveia-preta está se tornando um problema em lavouras de trigo Charles Echer
36 Safrinha aumenta A área com algodão safrinha aumenta no MT; com ela, cresce a preocupação dos produtores com os insetos
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL
Direção 3028.4013 • REDAÇÃO: Newton Peter Schubert 3028.4002 K. Peter / 3028.4003 • MARKETING:
Índice
REDAÇÃO • Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
Diretas
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www.cultivar.inf.br 3028.4001 cultivar@cultivar.inf.br
Ataque da Xilela em cafeeiro
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Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Controle da invasora parreira-brava em cana 10
Números atrasados: R$ 15,00
Efeito dos herbicidas na fixação de N
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COMERCIAL
Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00
Principais herbicidas para cana
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Dessecação na pré-colheita em feijão
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Sedeli Feijó Silvia Primeira
SolFerti inaugura nova unidade fabril
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Lançamento do híbrido Arize
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3028.4004 / 3028.4005 • FAX:
Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070
Negócios
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• Redação: 3028.2060
Cobrança de royalties sobre soja RR
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• Marketing: 3028.2065
Controle da aveia-preta em trigo
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Controle do pulgão com microimenópteros 32 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Aumento da safrinha de algodão
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Molécula Nativo
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Controle de roedores em grão armazenados
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Coluna Aenda
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Agronegócios
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Mercado Agrícola
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• Revisão
Silvia Pinto
Pedro Batistin
CIRCULAÇÃO • Gerente
Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Jociane Bitencourt Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas
Raquel Marcos • Expedição
Edson Krause Dianferson Alves • Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
Casa nova A partir de agosto, Odanil Leite será o novo gerente global de categoria de produtos em controle de vetores de doenças, da Novartis Saúde Animal, sediado em Basiléia, Suíça. Depois de 20 anos de Syngenta Proteção de Cultivos e, nos últimos anos, gerenciando a Linha de Produtos Fungicidas, Odanil liderará algumas marcas globais da Novartis, como Agita 1 G (baseada no inseticida Thiamethoxam), para controle de moscas em produção animal, e também será responsável pela reOdanil Leite gião América Latina.
Bayer e Sumitomo A Bayer CropScience e a Sumitomo Chemical assinaram acordo para desenvolvimento conjunto de composto químico para combater a brusone. O fungicida BYF1047, desenvolvido pela Bayer, é eficiente contra fungos do gênero Phyricularia, responsáveis pela doença, considerada a mais significativa na cultura do arroz em nível mundial. O produto deve ser lançado no Japão em 2010 ou 2011, dependendo da aprovação oficial.
Mudanças na direção Valdemar Fischer, diretor-geral da Syngenta Proteção de Cultivos para o Brasil e região da América Latina, deixou o cargo para assumir o comando da Syngenta na região do Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte). Seu sucessor no cargo de diretor-geral para a América Latina é Antônio Carlos Guimarães. Com a saída de Valdemar Fischer, foi criado ainda o cargo de diretor-geral, posição que será ocupada por Laércio Giampani, atualmente diretor comercial da empresa no Brasil. O cargo de diretor financeiro para a América Latina será assumido pelo atual diretor de finanças do Brasil, Daniel Valdemar Fischer Bachner.
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Troca
Algodão De 29 de agosto a 01 de setembro, acontece em Salvador (BA), o V Congresso Brasileiro de Algodão. Inscrições e informações no site www.cbalgodao.com.br
Café Iapar O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) lançou a variedade de café IPR 99, apresentada em Londrina (PR) para cafeicultores, técnicos, viveiristas, produtores de sementes e lideranças do setor. A IPR 99 é indicada para todas as regiões cafeeiras do Paraná.
Arroz em foco Santa Maria (RS) será sede do IV Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado e XXVI Reunião da Cultura do Arroz Irrigado, de 9 a 12 de agosto de 2005, no Park Hotel Morotin. O evento é organizado pela UFSM e Sociedade Brasileira do Arroz Irrigado – Sosbai.
Parceria A Luft Agro e Hokko do Brasil formalizam contrato por mais três anos no trabalho de armazenamento dos produtos agroquímicos, distribuição dos produtos para todo o mercado nacional e a logística reversa das embalagens usadas. A Luft responde por 100% da operação logística da Hokko do Brasil.
Hans W. Reiners assumiu a presidência da CropLife Internacional, organização global que representa a indústria científica agrícola. Reiners, presidente da Basf Produtos Agrícolas, sucede ao CEO da Syngenta, Michael Prognell, no cargo. Uma de suas prioridades na função será o maior incentivo às empresas para inovar. “Precisamos aumentar a consciência do poder de inovação da indústria de ciência das plantas e das vantagens que ela traz à vida das Hanz W. Reiners pessoas”, disse.
118 anos de pesquisa Para comemorar os 118 anos, em junho último, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) fez uma Exposição de Tecnologias e abriu suas portas para receber visitantes. Estudantes, técnicos, produtores, pesquisadores ou “apenas curiosos” - todos os interessados em entender um pouco de pesquisa agrícola -, puderam ver equipamentos, sistemas de produção, culturas e materiais de laboratórios.
BASF na Expocafé Durante os três dias da Expocafé, a BASF disponibilizou informações sobre sua linha de defensivos de alta tecnologia, composta pelo Opera, Opus e Counter 150G, que combatem doenças e pragas do café. Além dos produtos voltados para a cafeicultura, a empresa contou com um espaço dedicado à cultura do milho, com destaque para o herbicida Sanson 40SC e o fungicida Opera.
Cultivares transgênicas A Embrapa Cerrados apresenta cultivares de soja transgênicas RR indicadas para a região do Cerrado. A empresa tem o registro de 11 cultivares de soja transgênica RR, das quais três - BRS Baliza RR, BRS Silvânia RR e BRS Valiosa RR – são adaptadas à região Central do Brasil. As sementes dessas cultivares estarão disponíveis para compra já para a safra deste ano.
FMC
Contra percevejos
A FMC Agricultural Products participou do XV Encontro Internacional de Educação Sanitária e Comunicação Social (Enesco), realizado em Porto Alegre. José Annes Marinho, coordenador da área de registro de produtos e um dos membros do Comitê Atuando com Responsabilidade da FMC, apresentou a “Experiência Social em Educação focando Agroquímicos”, que fala sobre os resultados do Programa de Atuação Responsável da FMC e sobre os sete hábitos de atuação responsável, que, de forma simples e direta, sintetiza tudo o que o agricultor deve fazer antes, durante e depois de José Annes Marinho utilizar produtos químicos.
A Bayer CropScience lançou o inseticida Connect para o controle do complexo de pragas na soja, em especial, do percevejo. À base de Imidacloprid e Beta-cyflutrin, o produto é recomendado para aplicações no início da infestação da praga. “Por possuírem mecanismos de ação diferentes, proporcionam maior eficiência no controle dos percevejos”, explica David Velázquez, gerente de produto da Bayer CropScience.
David Velázquez
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Café
Vasos de goma Disfunções no sistema condutor de água, devido a oclusões dos vasos do xilema por “gomas”, com conseqüente redução de produtividade, são os principais problemas causados pela bactéria Xylella fastidiosa nas lavouras de café
A
bactéria Xylella fastidiosa Wells et al. vem causando prejuízos a culturas economicamente importantes desde 1892, quando foi detectada na Califórnia, em espécimes de videira. Ela infecta também outras culturas de regiões climáticas tropicais e subtropicais, como alfafa, pessegueiro, amendoeira, ameixeira, citros, cafeeiro e outros hospedeiros de menor interesse. No Brasil, essa bactéria tem causado prejuízos de até 35% na cultura de citros, enquanto que, na cafeicultura, embora não tenha sido quantificada a sua significância econômica, registrou-se, em São José do Rio Preto (SP), uma redução de 30% na produção de algumas plantações. Embora, nos Estados Unidos, tenha sido muito estudada, pouco ainda se conhece sobre essa bactéria e sua relação com as plantas hospedeiras e com seus vetores. A transmissão é feita através de cigar-
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rinhas das famílias Cicadellidae (subfamília Cicadellinae) e Cercopidae, que se alimentam dos ramos e folhas.
SINTOMAS Os principais sintomas dessa doença em plantas de café são: entrenós mais curtos, tornando as folhas mais próximas entre si; diminuição no comprimento dos pecíolos e da área foliar; senescência das folhas mais maduras, resultando em ramos com pequeno número de folhas no seu ápice (aspecto de roseta). Devido ao encurtamento dos pedicelos e dos entrenós, as flores e os frutos ficam agrupados e também sofrem uma redução no seu tamanho. Internamente, ocorre uma deposição de “goma” nos vasos do xilema, que são os elementos condutores de água e sais minerais. As folhas afetadas também apresentam-se amareladas, devido à redução do número de cloroplastos e, conseqüentemente, à redução na taxa de fotossíntese.
Tem sido sugerido que a causa principal dessa doença é uma disfunção no sistema condutor de água, relacionada com as oclusões dos vasos do xilema por “gomas”, tiloses ou células bacterianas. Porém, existem divergências na literatura sobre se estas oclusões seriam suficientes, para causar um estresse hídrico. Outras duas hipóteses para a origem dos sintomas da doença são a da fitotoxina e a do desbalanço de reguladores de crescimento. O cafeeiro vem apresentando os sintomas de infecção pela X. fastidiosa há muitos anos, entretanto, estes sintomas eram atribuídos a um esgotamento nutricional, devido a altas produções. O cafeeiro parece suportar esse patógeno em determinadas situações. Considera-se que a bactéria foi disseminada de plantas de cafeeiro para as de laranjeira no Brasil, devido à presença da clorose variegada de citros, em lavouras que sucederam a cultura cafeeira, e devido à similaridade dos vetores transmissores dessa bactéria.
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Fotos Charles Echer
Características da planta atacada: entrenós mais curtos, diminuição no comprimento dos pecíolos e da área foliar, resultando em flores e frutos de menor tamanho
Bactéria, embora presente em todos os órgãos da planta, é mais freqüente nas folhas
PRESENÇA DA BACTÉRIA NA PLANTA A bactéria está presente em todos os órgãos do cafeeiro, sendo mais freqüente nas folhas do que no caule. Nas raízes, poucos vasos do xilema apresentam-se obstruídos. A X. fastidiosa é encontrada mesmo em plantas assintomáticas. Entretanto, quando comparam-se ramos com e sem sintomas externos de infecção, verifica-se uma maior proporção de vasos do xilema obstruídos nos ramos com a presença do sintoma externo. O lado exposto ao sol poente é onde ocorrem sintomas mais severos de infecção. Existem também diferenças na colonização dos órgãos pela X. fastidiosa entre os
diversos hospedeiros. Na pereira (Prunus persica), a bactéria se concentra preferencialmente nas raízes, enquanto, na alfafa, existe uma proporção maior na região basal do caule e nas raízes, em relação à parte aérea. Entretanto, em videira, ameixeira e citros, há uma concentração maior da bactéria também na parte aérea da planta. Em razão de as cigarrinhas alimentarem-se da parte aérea do cafeeiro e de o fluxo da seiva do xilema ocorrer em direção à parte aérea, procurou-se uma explicação para a presença da bactéria na raiz. Suspeita-se que a bactéria utilize as pontuações como caminho para a migração intervasos. Porém, ainda não está muito claro como a bactéria se transloca da parte aérea para as raízes, uma vez que o percurso via pontuações seria muito lento e de sentido contrário ao fluxo da seiva do xilema, tecido este que vem sendo considerado como um habitat “exclusivo” dessa bactéria. Estudos minuciosos necessitam ser
realizados, para verificar-se o deslocamento da bactéria na planta. Além da preferência pelo tecido, a concentração necessária de X. fastidiosa, para desenvolver o sintoma da doença, é variável em função do hospedeiro, sendo que os citros necessitam de uma baixa concentração, enquanto as videiras necessitam de 107 a 109 ufc/g, para que haja translocação. Em cafeeiro, essa concentração ainda não foi estabelecida, provavelmente pelas dificuldades de inoculação e desenvolvimento do sintoma em cafeeiro.
EFEITO EM DIFERENTES REGIÕES Estudos realizados em experimentos com cultivares de cafeeiros C. arabica, enxertadas ou não, desenvolvidos em diferentes regiões edafoclimáticas de Mococa e Garça (SP), demonstraram não haver diferenças na obstrução dos vasos do xilema do cafeeiro, ocasionada pela bactéria, entre as duas regiões. Não houve também tolerância de algum material genético estudado à bactéria (‘Catuaí Vermelho IAC
Fotos Rachel Benetti Voltan
anos de 1998, 2000 e 2002, demonstraram que a severidade no ano de 2002, em Garça, foi menor em relação às demais, embora a seca ocorrida em Garça neste ano tenha sido muito mais prolongada do que a de 2000, no mesmo local, e a de 1998, em Mococa. Isso sugere que o déficit hídrico não seja o único fator determinante dos sintomas externos da presença da bactéria, mas que outros fatores de estresse fisiológico ou ambientais provavelmente interajam na resposta da planta.
CONTROLE DESSA DOENÇA EM CAFEEIRO
1) Nervura da folha de café infectada por Xylella; 2) Corte de caule da planta com a presença da bactéria; 3) Corte de caule não infectado
81’ e ‘Mundo Novo IAC 515-20’, enxertados ou não, sobre C. canephora e C. congensis), embora houvesse variação dentro de cada um deles. Plantas de C. Arabica, enxertadas sobre C. Canephora, apresentam maior capacidade de absorver e translocar água para a parte aérea durante o período de estresse hídrico no solo, em relação às plantas de C. arabica não enxertadas. Desse modo, seria esperado que o efeito da X. fastidiosa fosse menor em plantas de C. arabica enxertadas sobre C. canephora, pois diminuiriam os riscos de estresse hídrico provocados pela bactéria. Tanto Mococa como Garça possuem temperaturas médias mínimas e máximas superiores às desejáveis para a cultura do café. O período de estresse hídrico é sempre mais acentuado em Mococa, porém, na época de chuvas, ocorre pluvisiosidade média maior em Garça. Avaliações realizadas quanto à severidade dos sintomas de infecção provocados pela X. fastidiosa nesses experimentos, nos
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O emprego de produtos químicos não tem permitido o controle econômico dessa bactéria, e, até o momento, o manejo adequado do cafezal, desde o plantio, com o uso de mudas isentas da bactéria, e o controle das cigarrinhas vetoras têm sido recomendados, para atenuar a incidência da moléstia. Observou-se que cafezais localizados próximos à área de experimentação (Fazenda da Mata, em Garça, SP) apresentavam sintomas muito severos da doença, enquanto que, na área de estudo, estes eram mais amenos, e a obstrução dos vasos do xilema atingiu um nível de 7% na estação seca (maio-junho). O emprego de práticas culturais adequadas na área de experimentação provavelmente foi o fator que resultou na menor incidência da doença. Cafezais bem conduzidos em outros locais também não apresentaram prejuízos devido a essa bactéria. A utilização de podas, que tem sido recomendada para citros e videiras, não tem ainda eficiência comprovada para o cafeeiro. Atualmente estão sendo realizados estudos visando à avaliação da efici-
VARIAÇÃO SAZONAL
O
efeito da X. fastidiosa em cultivares de cafeeiro de C. arabica (enxertados ou não) foi avaliado em duas épocas do ano (estação seca e chuvosa) em experimento instalado em Garça (SP). Observou-se que os vasos do xilema apresentavam-se mais obstruídos pela bactéria na estação seca, no período de estresse hídrico, do que na estação chuvosa. Entretanto, não houve diferença significativa entre os tratamentos (‘Catuaí Vermelho IAC 81’ e ‘Mundo Novo IAC 515-20’, enxertados ou não sobre C. canephora e C. Congensis), nos dois períodos do ano. No período seco (maio-junho), o cafeeiro apresentou de 3 a 7% (dependendo do órgão) de obstrução dos vasos do xilema, a qual diminui para 2% na estação chuvosa (novembro-dezembro). Observa-se que na estação chuvosa há brotação de novos ramos sem sintoma, diminuindo a média de obstrução por planta. Estes ramos, na maioria das vezes, apresentarão os sintomas externos da presença da bactéria na estação seca do ano seguinte. ência de podas do tipo decote, esqueletamento e recepa em cafeeiro do tipo arábiC ca no controle dessa doença. Rachel Benetti Queiroz Voltan, IAC
Mudas sadias, monitoramento e controle da cigarrinha vetora ainda são as melhores formas de manejo
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Cana-de-açúcar
Paulo César Timossi
A parreira-brava utiliza as plantas de cana como suporte, dificultando os tratos culturais e o crescimento da cultura, além de exigir limpeza freqüente das plataformas na hora da colheita
É
prudente enfatizar que não são raros os exemplos de plantas que se adaptaram e beneficiaram-se com mudanças nos sistemas de produção, devido à ausência de inimigos naturais no novo local, à implantação não cuidadosa com vistas a outros interesses, e disseminação eficaz pelos tratos culturais ou formas de seTabela 1 - Médias das porcentagens de controle, atribuídas visualmente, para parreira-brava (Cissampelos glaberrima), na cultura da cana-de-açúcar, em diferentes épocas após a aplicação dos herbicidas. Jaboticabal (SP), 2003 Herbicidas e Testemunhas Testemunha capinada Testemunha infestada Trifl. - sódio + ametryne Picloran + 2,4 D 2,4 D Fluroxypyr CV (%) DMS a 5%
Doses (g/ha) 1.500 2.040 1.210 345
Épocas de Avaliação 14 DAA 42 DAA 90 DAA 100,0 A 100,0 A 100,0 A 0,0 D 0,0 D 0,0 D 83,7 B 73,7 C 15,0 C 65,0 C 91,7 B 94,7 B 10,0 D 30,0 D 22,5 C 71,2 BC 97,2 AB 98,0 AB 8,4 8,9 7,3 9,2 11,5 8,4
Dados originais; 2 Análise estatística feita com os dados transformados em arco seno v%; DAA - Dias Após Aplicação 1
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meadura e colheita. Na região de Ribeirão Preto (SP), recentemente, tem-se encontrado a chamada parreira-brava (Cissampelos glaberrima), uma espécie exótica, considerada ornamental, que se adaptou bem ao microclima e às condições de manejo da cultura de cana-deaçúcar. Por ser planta trepadeira, com sistema radicular vigoroso, e multiplicar-se tanto vegetativa (por rizomas) como sexuadamente (Mattos, 2000), ela tem-se disseminado rapidamente na região canavieira. A parreira-brava é uma planta anual, de hábito de crescimento arbustivo escandente, com caule volúvel sinistroso e glabro (Figura 1). O sistema radicular pivotante possui rizomas bastante desenvolvidos e que podem ser encontrados a mais de 1,5 m de profundidade no solo (Mattos, 2000). Ela também é citada como medicinal (Lorenzi, 1982; Braga, 1988; Rodrigues, 1989),
porém a sua importância poderá aumentar como planta daninha, caso torne-se infestante da cultura de cana-de-açúcar, um dos principais produtos da agropecuária paulista. A parreira-brava dificulta os tratos culturais e prejudica o crescimento da cultura por enrolar-se nas folhas (Figura 2), fechando-as, e por dobrar os ápices dos colmos, entortando-os e deformando-os. Considerando-se que o controle químico até então utilizado, integrado ou não a outras formas de controle, não tem-se mostrado eficaz para essa planta, problemas sérios começam a ser detectados no trabalho da colhedora mecânica em áreas de cana-crua, exigindo limpeza freqüente das plataformas. Takar et al. (1944) relataram que Ipomoea hederaceae, uma planta daninha trepadeira semelhante a parreira-brava, causou perda de 20 a 25% na produção de cana-de-açúcar na Índia,
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José Francisco Garcia
A)
para o seu manejo mais eficiente nos canaviais. Os pesquisadores mostraram que os herbicidas hormonais (picloram + 2,4-D e fluroxypyr) foram mais promissores no controle de parreira-brava (Tabela 1). O tryfloxysulfuron - sódio + ametryne mostrou-se eficaz até os 60 dias após a aplicação, porém não foi capaz de evitar a ressurgência de brotações após esta época. Eles afirmam que, apesar do efeito inicial ser lento, na mistura pronta de picloram + 2,4-D e do
Pelo fato de a parreira-brava estar no início da infestação, várias moléculas herbicidas estão sendo testadas para o controle
fluroxypyr, há ação sistêmica, causando morte dos ramos e de boa parte das estruturas subterrâneas, diminuindo os rebrotes e assegurando bons resultados de controle até a última avaliação realizada, aos 90 dias após a aplicação. As infestações de parreira-brava, como de outras espécies de hábito trepador, ganham maior importância Paulo César Timossi
pelo entrelaçamento das plantas, dobrando-as e injuriando os seus topos, com menor desenvolvimento dos colmos e grande interferência nas operações de colheita. A parreira-brava também pode interferir no cultivo mecânico da cultura de cana-de-açúcar, pois o seu vigoroso sistema radicular torna-se um entrave para as operações, retardando o tempo de execução do trabalho, com as paradas constantes para a limpeza das hastes dos implementos. Por apresentar reprodução vegetativa (Figura 3), pode ser facilmente disseminada pelos implementos agrícolas, sobretudo no sistema convencional. A infestação de parreira-brava em canaviais torna-se problema desde o início do desenvolvimento da cana-soca até a etapa final, quando da colheita mecanizada de cana-crua. Se o método de colheita empregado é o manual, com a cana queimada, acredita-se que a presença da parreira-brava não venha a causar interferência acentuada (Mattos, 2000), embora possa ocorrer, pois nem sempre consegue-se total eliminação das ramificações. Pelo fato de a parreira-brava estar no início de sua dispersão e com base na sua agressividade e difícil controle, várias estão sendo as tentativas para a descoberta de moléculas herbicidas que sejam eficazes no seu controle. Durigan et al. (2004) estudaram a eficácia do herbicida trifloxysulfuron-sódio + ametryne, comparado a outros herbicidas do grupo dos mimetizadores de auxina (hormonais), aplicados em pós-emergência, e obtiveram informações úteis
B)
Reprodução vegetativa: A - Detalhe da formação de rizomas; B - Rebrote de parreirabrava a partir de corte da planta rente ao solo
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Fotos Paulo César Timossi
o controle químico da parreira-brava com o herbicida glyphosate, isolado e em mistura com carfentrazone, além do sulfentrazone, metribuzin, 2,4-D + diuron, acetochlor, ametryne, oxyfluorfen + diuron e oxyfluorfen + acetochlor, aplicados em pós-emergência e nas dosagens comerciais recomendadas. Este mesmo autor, trabalhando com herbicidas aplicados em pré-emergência (oxyfluorfen + diuron; picloram + 2,4D; clomazone; imazapyr; carfentrazone; tebuthiuron; picloram + 2,4D; clomazone + imazapyr e diuron + hexazinone com MSMA), destaca o excelente controle obtido com a mistura de picloram + 2,4D, até os 90 dias após a aplicação, sem intoxicação das plantas cultivadas. Também foi constatado que nenhum dos herbicidas aplicados em pré-emergência logrou matar os rizomas
quando as plantas de cana-de-açúcar apresentam maior porte, dificultando a entrada de equipamentos convencionais para a realização do controle. Por tratar-se de espécie com disseminação contagiosa e infestação em reboleiras, com baixa representatividade nas áreas cultivadas, torna-se boa opção de controle a aplicação de herbicidas em jato dirigido, seja com costais pressurizados ou por meio do trâmpolo, equipamento com elongação na altura, entre as rodas e o corpo do trator, possibilitando a entrada na cultura de cana-de-açúcar que já se apresenta em estádio avançado de formação dos colmos. Este equipamento é acompanhado por pessoas que realizam a ‘catação’, ou seja, a aplicação de herbicidas somente na planta daninha alvo. Nestes casos, torna-se necessária a aspersão dos herbicidas voltada para o terço inferior da cultura da canade-açúcar, evitando-se atingir as folhas. Esta técnica torna-se fundamental quando são aplicados herbicidas não seletivos para a cultura, ou ainda para herbicidas não recomendados para aplicação neste estádio de desenvolvimento da cultura. Na Figura 4, pode-se observar a porcentagem de cobertura vegetal proporcionada pela infestação de parreira-brava, em diferentes épocas avaliadas. Aos 14 dias após a aplicação dos herbicidas, constatava-se boa performance de todos. Porém, aos 90 dias, a supressão foi mantida apenas pelos herbicidas hormonais mais agressivos, como a mistura de picloran + 2,4-D (Tordon) e fluroxypyr (Plenum). Segundo Mattos (2000), foi ineficaz
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P.C. Timossi e J.C. Durigan, Unesp
Paulo César Timossi
Ápice foliar da cana-de-açúcar, enrolado pelo caule de parreirabrava
dessa planta daninha, encontrados à profundidade de 55 cm. Portanto, o controle químico até então utilizado pelas usinas e fornecedores de cana-de-açúcar, integrado ou não a outras formas de controle, não tem-se mostrado ineficaz para esta planta. Cabe salientar que, das pesquisas realizadas até o momento, poucos foram os herbicidas que apresentaram níveis aceitáveis de controle desta planta daninha. Dentre eles, destacaram-se o picloran + 2,4D e o fluroxypyr, ambos do grupo dos herbicidas hormonais, com resultados promissores para o manejo desta planta daninha em áreas de colheita mecaniC zada de cana-crua.
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José Francisco Garcia
Cana-de-açúcar
Nitrogênio ameaçado Herbicidas aplicados na cultura da cana-de-açúcar são testados para avaliação do efeito dos mesmos sobre a bactéria endofítica simbionte, fixadora de nitrogênio
O
nitrogênio é um elemento essencial e necessário em quantidades relativamente grandes aos organismos vivos, fazendo parte das estruturas de todos os aminoácidos, de nucleotídeos e de algumas vitaminas. Nas plantas, participa de diversos processos vitais, como absorção iônica, fotossíntese,
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respiração, sínteses, multiplicação e diferenciação celulares, herança gênica, assim como de processos estruturais, sendo componente de aminoácidos, bases nitrogenadas, ácidos nucléicos, enzimas e coenzimas, vitaminas, glicoproteínas, lipoproteínas, pigmentos e produtos secundários. Também serve de estímulo à formação e ao crescimento das raízes e
das gemas floríferas e ao desenvolvimento e aumento do teor de proteína nos grãos. Embora o nitrogênio molecular seja o principal constituinte da atmosfera terrestre, contribuindo com 78% de sua composição, a molécula de nitrogênio é quimicamente inerte. Quase todas as plantas, animais superiores e também microorganismos dependem de sua forma combinada para a nutrição. As plantas verdes assimilam o nitrogênio nas formas amoniacal (NH4+) ou nítrica (NO3-), podendo assim o nitrogênio ser convertido em compostos orgânicos e participar dos diversos processos vitais. Ao processo de assimilação do nitrogênio molecular e à sua transformação em formas utilizáveis pelos vegetais, dá-se o nome de fixação do nitrogênio. Existem dois processos principais de fixação do nitrogênio atmosférico e de sua transferência para o solo e a planta, a fixação industrial e a fixação biológica. Além disso, na atmosfera, radiações cósmicas e relâmpagos podem fornecer energia necessária para a transformação do gás em nitrato, que chega até o solo pela chuva. Dentre esses processos, o sistema biológico é responsável por 80% de todo o nitrogênio fixado, podendo ocorrer tanto em ambientes aquáticos como terrestres. Esse processo de fixação pode ser classificado em: • Sistema livre: ocorrem como formas livres presentes nos solos. São exemplos as seguintes bactérias com as respectivas taxas de fixação: Beijerinckia (3-9 kg/ha/ano); Azotobacter (6-8 kg/ha/ano); Cianobactérias (3-12 kg/ ha/ano); • Associações íntimas: associações com a finalidade de ajuda mútua. Exemplo: Líquen (Fungo + Alga + Bactéria); Azolla (Cianobactéria + Pteridófita), de 400 a 600 kg/ha/ ano, respectivamente; • Sistemas simbióticos: associação de plantas com bactérias. Exemplo: Leguminosas + Rhizobium (50-500 kg/ha/ano-1), canade-açúcar + Gluconacetobacter diazotrophicus (70-210 kg/ha/ano). A cana-de-açúcar é uma das principais culturas do Brasil, quer seja pela sua área plantada, de 5,5 milhões de ha, assim como pela sua produção (colmos) de 409 milhões de toneladas (IBGE, 2005). É uma cultura que, para expressar o seu máximo em rendimento, exige o manejo das plantas daninhas. Devido ao seu lento crescimento inicial, a cana-de-açúcar é sensível à competição das plantas daninhas. No Brasil, desde a década de 70, diversos trabalhos de pesquisa foram realizados, para quantificar a queda de produção em função da interferência das plantas daninhas na cultura. Pesquisas realizadas por Blanco et al. (1979, 1981, 1982) concluíram que podem ocorrer perdas de até 85% no peso dos colmos, determinando que o período crí-
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A BACTÉRIA
Fotos Flávio Blanco
G
Figura 1. Diluição seriada: a coloração amarela com formação de película evidencia a presença da bactéria Figura 2. Detalhe da película formada
tico de competição para a cultura corresponde aos intervalos entre o 30º e o 60º dia e do 15º até o 70º dia após a emergência da canade-açúcar, para os plantios de verão e primavera respectivamente; esses dados foram confirmados por Graciano & Ramalho (1982). O controle das plantas daninhas nesta cultura é feito principalmente com o uso de herbicidas. A cana-de-açúcar é uma das culturas em que há intensivo uso de herbicidas, tanto os de aplicação diretamente sobre o solo como os de aplicação diretamente sobre as plantas daninhas. De uma maneira ou outra, há o contato com os microorganismos, quer sejam os endofíticos, que vivem dentro da planta, quer sejam as bactérias simbiontes, assim como os que habitam o solo. Quando os herbicidas entram em contato com os microorganismos, vários processos biológicos e bioquímicos podem acontecer, resultantes não somente da interação com a molécula do herbicida, mas também da sua formulação. Há casos em que a molécula do herbicida não afeta diretamente a população microbiana, mas algum componente da sua formulação o faz; em outros, os microorganismos utilizam as moléculas dos herbicidas para a obtenção de energia e/ou de algum mineral essencial existente na molécula. No passado, em função do pouco conhe-
cimento nas diferentes áreas da Ciência, mais especificamente na Microbiologia do Solo, atribuía-se aos microorganismos a totalidade da dissipação dos pesticidas aplicados ao solo. Estudos básicos permitiram um melhor entendimento das complexas reações que ali ocorrem. Com o passar do tempo, este conceito foi sendo mudado, constatando-se que fatores físicos e químicos do solo, condições climáticas e práticas agrícolas interferem e modificam o comportamento dos defensivos no solo. Os microorganismos do solo podem agir sobre os defensivos de diversas formas. Um dos mecanismos pode envolver degradação, com posterior desintoxicação e/ou metabolização do defensivo, enquanto outro pode envolver a transformação de uma molécula tóxica em um produto que exerça alguma influência benéfica sobre plantas superiores, fauna e os microorganismos do solo (Kaufman & Kearney, 1976). A aplicação de um herbicida provoca um ajustamento da população microbiana. Esse ajustamento é conhecido como “fase lag” e ocorre, possivelmente, em uma a duas semanas após a sua aplicação. Durante este período, normalmente a concentração do herbicida não é afetada significativamente. Entretanto, dependendo das características físico-químicas do solo e do herbicida, uma pequena quantidade do mesmo pode ser removida através da sorção pelos colóides do solo (Alexander, 1965; Kaufman & Kearney, 1976). Pesquisas realizadas sobre a interação entre os herbicidas e as bactérias simbiontes do Tabela 1 - Exigência de nitrogênio para a produção de algumas culturas
Blanco avalia a ação de herbicidas sobre a bactéria fixadora de nitrogênio
Cultura Café Cana-de-açúcar Algodão Cenoura Couve-flor Alho Pimentão Beringela Tomateiro
Produção (t) 0,090 100 1,325 24 9 5 22 20 41
Fonte: Malavolta, 1980; Grassi Filho, 1999
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kg de Nitrogênio 1,52 132,00 29,00 74,00 68,00 122,00 16,00 89,00 94,00
luconacetobacter diazotrophicus é uma bactéria simbionte endofítica, ou seja, vive no interior das plantas. Em cana-de-açúcar, é encontrada no colmo, folhas e raízes, realizando a fixação biológica de nitrogênio (Dobereiner & Pedrosa, 1987). Essa relação é de extrema importância para a cultura da cana-de-açúcar, pois fornece parte significativa do nitrogênio necessário ao desenvolvimento da planta, reduzindo a necessidade do uso de adubos nitrogenados. Há relatos de outras bactérias Fixadoras Biológicas de Nitrogênio (FBN) em plantas não leguminosas, como as isoladas das culturas de cana-de-açúcar, milho, arroz, capim elefante, dendê etc, de estirpes pertencentes às espécies de bactérias associativas (Azospirillum lipoferum, A. brasilense, A. amazonense) e endofíticas (Herbaspirillum seropedicae, H. rubrisubalbicans, Burkholderia brasilensis e B. tropicalis). gênero Rhizobium, associadas com a cultura da soja, têm demonstrado que, de maneira geral, os herbicidas de aplicação em pré-emergência prejudicam o processo de formação dos nódulos das raízes e a fixação do nitrogênio pela bactéria. Existem poucos estudos sobre o efeito dos herbicidas nas bactérias endosimbiontes presentes na cultura da cana-de-açúcar. Em função disso, pesquisadores do Instituto Biológico, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do governo do Estado de São Paulo, começaram a investigar esta relação através de laboratório (“in vitro”) e de campo.
ENSAIO “IN VITRO” Em uma área de cultivo localizada no Centro Experimental do Instituto Biológico, em Campinas (SP), foram coletadas raízes de cana-de-açúcar, das quais isolou-se a bactéria Tabela 2 - Número mais provável nº.ml da bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus em função dos tratamentos com herbicidas Herbicida
Dose g i.a/ha
NMP*
Sulfentrazone 800,0 200 x 105 Ametrina 4.000,0 250 x 105 Diuron 3.200,0 15 x 105 Isoxaflutole 262,5 115 x 105 Testemunha capinada — 0,7 x 105
Porcentagem de crescimento em relação à testemunha 28571 35714 2142 16428 100
* NMP = número mais provável da bactéria por mililitro da suspensão de macerado de raiz
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Gluconacetobacter diazotrophicus em meio LGIP semi-sólido, conforme técnica descrita por Dobereiner et al. (1995). Após obtenção do isolado de G. diazotrophicus, foram realizados ensaios in vitro, para se estudar o efeito de alguns herbicidas (nas doses utilizadas em campo e o dobro desta) sobre a bactéria. Os herbicidas (ingrediente ativo) avaliados foram a ametrina - 4,0 e 8,0 kg/ha, sulfentrazone – 0,8 e 1,6 kg/ha, terbu-
O número de colônias da bactéria que cresceu no meio, após um período de incubação de 18 dias, em câmara de incubação regulada para 28ºC, demonstrou que nenhum herbicida, em qualquer das doses ensaiadas, afetou significativamente o desenvolvimento da bactéria simbionte Gluconacetobacter diazotrophicus. Embora os resultados obtidos tenham demonstrado que o contato direto dos herbi-
litos específicos em função do seu mecanismo de ação, que também podem entrar em contato com a bactéria. Por isto, é fundamental que observações obtidas nas condições de laboratório sejam investigadas em condições reais de cultivo, através de ensaios de campo.
tiuron - 0,625 e 1,25 kg/ha, diuron - 1,62 e 3,24 kg/ha. Para tal, soluções desses herbicidas foram incorporadas ao meio LGI-P em estado fundente, ajustando-as para as dosagens finais descritas. A mistura foi vertida para placas de Petri. Após solidificação do meio, cem litros de suspensão aquosa do isolado bacteriano foram acrescentados em cada placa e espalhados sobre a superfície do meio com alça de Drigalski. Os testes foram feitos com quatro repetições, acrescentando um tratamento testemunha, sem aplicação de herbicidas.
cidas com a bactéria não a prejudicou, isso não significa que o mesmo venha a se repetir em aplicações em condições de campo, em função de diversos fatores. Isso porque, para que o herbicida entre em íntimo contato com a bactéria endosimbionte, são necessárias a sua absorção pela planta, quer seja pelas folhas, caule ou raiz, e sua translocação para os vasos do xilema ou do floema. Nesse caminhamento até o seu local de ação, a molécula do herbicida pode sofrer transformações significativas, em muitos casos, com a formação de metabó-
podzol vermelho-amarelo eutrófico de textura areno barrento, cultivado com cana-de-açúcar, cv. RB855035, plantada em 17/12/03. Os tratamentos com herbicidas foram aplicados em 05/01/04 nas seguintes doses (ingrediente ativo): sulfentrazone 800 g i.a/ha; ametrina 4 mil g i.a/ha; diuron 3,2 mil g i.a/ha e isoxaflutole 262,5 g i.a/ha. Foi também utilizada uma testemunha capinada. A parcela experimental foi constituída de quatro linhas de plantio, com espaçamento de 1,30 m por 5,0 m de compri-
ENSAIO DE CAMPO O ensaio foi instalado na região edafoclimática de Campinas (SP), em solo médio -
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mento, individualizadas através de aceiros. Foi utilizado o delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições para as amostragens, através da retirada nas duas linhas centrais da parcela dos colmos germinados e também das raízes. Aos 29 dias após os tratamentos (DAT), foi retirada, por tratamento, uma amostra composta das raízes nas quatro repetições. Essas amostras de raízes foram lavadas e secas
de cultura. Após 13 dias de incubação a 28ºC, foram realizadas as avaliações, considerando-se positiva a presença da bactéria naqueles frascos onde o meio de cultura mudou de cor esverdeada para amarelo e apresentou presença de uma película, geralmente localizada na parte superior do meio, logo abaixo da superfície. Utilizouse a tabela McCrady para o cálculo do nú-
mento ao aumento da população bacteriana em todos os tratamentos com herbicidas, quando comparados com a testemunha. O que pode ter ocorrido é a utilização do herbicida pela bactéria como fonte de algum mineral essencial ou de energia, pela quebra da molécula, desta forma, favorecendo o desenvolvimento e o crescimento da população bacteriana. Ambos processos dissipam os herbicidas, diminuindo a sua concentração dentro da
à sombra por 24 horas. Alíquotas de 10 g de cada amostra foram utilizadas para o isolamento da bactéria pelo método descrito por Dobereiner et al. (1995), em meio de cultura específico LGI-P semi-sólido. A partir das suspensões originais, obtidas do macerado de raízes para extração da bactéria, foram feitas diluições seriadas, correspondentes de 10-4 até 10-9, que foram utilizadas nos isolamentos. Para cada diluição de cada herbicida e também da testemunha, foram feitas três repetições, correspondentes a três frascos com meio
mero mais provável da bactéria (NMP). Os dados obtidos encontram-se na Tabela 2. Como os herbicidas utilizados foram residuais, de acordo com a literatura (Blanco & Oliveira, 1989; Blanco et. al., 1997; Blanco, 2002 e Blanco & Batista Filho, 2004 e 2004a), é de se esperar que estivessem presentes no solo, agindo sobre a bactéria na época da amostragem das raízes. Observa-se que os herbicidas não prejudicaram o desenvolvimento da bactéria; pelo contrário, houve um favoreci-
planta. Na realidade, as pesquisas envolvendo a interação das bactérias endosimbiontes encontradas na cultura da cana-de-açúcar com os herbicidas ainda estão no início. Novas pesquisas estão sendo programadas para a contiC nuação desta linha investigativa.
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Flavio Martins Garcia Blanco, Irene Maria Gatti de Almeida e Amaury da Silva dos Santos, Instituto Biológico
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Coluna Aenda
Defensivos Agrícolas
A invasão dos monstros afins As plantas que controlam pragas são pesticidas?
O
nosso editorial “Veneno no Campo”, de novembro de 2001, observava que, no Decreto 98816/1990, os afins tinham a mesma definição dos agrotóxicos, e os dois termos deveriam morrer abraçados. Quando aquela peça reguladora foi revista, surgindo o Decreto 4074/2002, o Governo optou por não mais explicitar o que significava os afins, relegando-os ao limbo. Mas, agora, podemos repensar o caso, pois alguns incontestáveis afins estão em processo de materialização, emergindo da Lei de Biossegurança. E estão chegando com força monstruosa. Vêm aí o milho Bt e o algodão Bt!!! Não é necessário dizer que Bt é Bacillus thurigiensis, ou a substância derivada destes, que tem poder letal, principalmente, contra lepidópteros. O simples anúncio dessas aparições já está apavorando 220 produtos químicos e biológicos com marcas comerciais, pertencentes a 24 empresas do mercado. Isso considerando-se apenas os lagarticidas registrados para combater Alabama argillacea (curuquerê no algodão) e Spodoptera frugiperda (lagarta militar no milho). Vejamos se o leitor concorda conosco. Comecemos por recordar as definições legais do Decreto 4074: “Agrotóxicos e afins: produtos e agen-
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tes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento. Agente biológico de controle: organismo vivo, de ocorrência natural, ou obtido por manipulação genética, introduzido no ambiente para o controle de uma população ou de atividades biológicas de outro organismo vivo considerado nocivo.” Ora, as plantas que, modificadas por transgenia, ficam preservadas da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, como é o caso do algodão Bt, enquadram-se perfeitamente nas caracterizações dos textos legais. São plantaspesticidas. Considerando-se os dois como agrotóxicos no sentido funcional, o que distingue um agente de um agrotóxico é que o primeiro deriva de um organismo vivo, e o segundo, por dedução excludente,
não. A planta transgênica com função pesticida é um organismo vivo, portanto, um agrotóxico-agente e não um agrotóxico-produto. Ocorre que o agrotóxico-agente tem por função precípua controlar um organismo vivo nocivo às plantas; já a planta transgênica, convenhamos, tem como função primordial a produção de alimentos, fibras ou outros produtos de interesse humano, ficando sua função pesticida em segundo plano. Daí, por lógica cartesiana, estarmos elegendo essas plantas transgênicas à categoria de afins. Não sendo exatamente agrotóxicos-produtos ou agentes-pesticidas, restam-lhes sobreviver no verbo sob a insígnia dos tão famosos afins que o legislador previu. Na continuidade dessas divagações... as plantas apresentadas como tolerantes a insetos, ou resistentes às pragas, no nosso entender, escapam da conceituação de agrotóxicos e afins, por representarem exemplares forçados artificialmente, mas que, no fundo, miram-se nas plantas naturais com estas características, que a seleção genética também criava por caminhos mais naturais, embora igualmente forçados. Se por isso não fosse, bastaria uma olhada no artigo 39 da Lei 11.105/ 2005 (da Biossegurança), que veta a aplicação da Lei 7.802/89 (dos Agrotóxicos) aos OGM – Organismos Geneticamente Modificados, “exceto para os casos em que eles sejam desenvolvidos para servir de matéria-prima para a produção de agrotóxicos”. Ora, é evidente que uma canade-açúcar resistente ao mosaico não representa uma planta-viricida, mas apenas desenvolveu mecanismos de defesa, para não sofrer tanto sob o ataque do vírus. Já, o milho Bt desenvolve e espalha por sua folhagem a toxina mortal às larvas de lepidópteros e a alguns outros espécimes. Na palavra da Lei de Biosegurança, esse milho OGM foi criado para produzir uma matéria-prima com função agrotóxica, ou seja, verdadeira fábrica de agrotóxicos, no C caso de afins.
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Feijão
Dessecação obrig
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A
operação de maior demanda de mão-de-obra na cultura de feijão é o arranquio manual das plantas para a colheita. A modernização da agricultura, aliada à necessidade de redução de custos, leva a cultura à mecanização da colheita, através de colhedoras automotrizes. Para que uma lavoura de feijão possa ser colhida mecanicamente, sem perdas importantes, é preciso que alguns detalhes sejam observados, como declividade do terreno, adubação equilibrada, maiores populações de plantas, escolha de variedades, controle de plantas daninhas e observação do momento correto da colheita. O momento ideal para se efetuar a colheita da cultura de feijão é após a maturação fisiológica, caracterizada pela mudança de cor das vagens e dos grãos. É quando o vigor, a germinação e o peso da matéria seca são elevados. A partir dessa etapa, os grãos passam a perder água até atingirem o equilíbrio com o ambiente. Quando realizada a colheita, logo após a maturação fisiológica, a planta ainda se encontra com uma quantidade relativamente elevada de folhas e ramos verdes, que
dificultam a utilização de colhedoras, ocorrendo ainda maior injúria mecânica dos grãos. Por outro lado, quando a colheita é realizada com baixo teor de umidade, as sementes ficam expostas no campo por mais tempo, podendo sofrer perdas pelo ataque de fungos e/ou insetos. Uma das estratégias para melhorar o desempenho da colheita mecanizada é a utilização de dessecantes, prática comum em culturas como as de soja e algodão. A dessecação se faz com o uso de produtos químicos apropriados e resulta em rápida secagem de todas as partes da planta. Os dessecantes permitem uniformizar a maturação, proporcionando uma secagem uniforme das vagens e grãos; antecipam a colheita; não prejudicam o rendimento de grãos, pois não induzem à deiscência das vagens; não afetam a germinação e o vigor das sementes; diminuem o teor de umidade dos grãos e conMarco A. Lucini
Cultivar
Uso de dessecantes para uniformizar a maturação permite o b assegura a integridade física dos grãos, já que a maturação fis com plantas totalmente secas no início da colheita
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Dirceu Gassen
atória
bom trabalho da colhedora e siológica nem sempre coincide trolam as plantas daninhas. Além disso, com o uso de dessecantes, a colheita é realizada com menor desgaste e sem interrupções, e é possível o escalonamento da colheita em extensas áreas de plantio. A finalidade da dessecação dependerá da necessidade do produtor, que poderá ser, simplesmente, uniformizar a maturação das plantas, eliminar plantas daninhas ou antecipar a colheita. Outro fator importante é determinar a finalidade da produção como feijão-semente ou feijão-grão. Todos esses fatores serão de grande importância para a definição da melhor estratégia de dessecação, principalmente no que diz respeito à época de aplicação, assim como à escolha do melhor dessecante. Para evitar perdas de rendimento pela aplicação de dessecantes, a mesma deve ocorrer após maturação fisiológica (quando o grão se desprende da vagem), sendo que o momento ideal de aplicação
O uso de dessecantes deve ser feito apenas após a maturação fisiológica dos grãos
para produção de grãos é quando a cultura apresenta entre 60 e 70% de vagens secas. Já, para a dessecação de feijão para produção de sementes, as aplicações deverão ser realizadas quando a cultura apresentar no mínimo 70% de vagens secas. Aplicações realizadas antes de a cultura atingir esse estádio provocam perdas de rendimento ou da qualidade de grãos ou sementes. Com objetivo de avaliar a performance de herbicidas, na dessecação de feijão, foi conduzido um experimento em condições de campo, na Estação Experimental da Fundação ABC. Utilizou-se a cultivar Carioca Comum, e a aplicação dos tratamentos foi realizada quando a cultura apresentava 65% de vagens secas. A avaliação do efeito dos dessecantes
sobre a cultura foi realizada aos quatro e sete dias após a aplicação dos tratamentos (DAA), empregando escala numérica de zero a dez, na qual a nota zero representa ausência de dessecação, caracterizada pela presença de folhas e vagens verdes, e a nota dez representa a dessecação completa das plantas. Foram reaTabela 1 - Características dos produtos registrados para a dessecação de pré-colheita da cultura de feijão Nome Comum 1.Amônio-glufosinato+ Ethefon 2.Diquat 3.Amônio-glufosinato
Nome Comercial Antecip Reglone Finale
Formulação CS SAqc CS
Ingrediente ativo g/l 220 200 200
CS: Concentrado Solúvel; SAqC: Solução Aquosa Concentrada.
Tabela 2 - Dessecação da cultura de feijão (planta e haste), submetida a diferentes tratamentos de herbicidas. Fundação ABC. Castro, 2003 Tratamentos
Os dessecantes permitem a uniformidade da maturação das plantas, facilitando o desempenho das colhedoras
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1. Testemunha 2. Diquat 3. Diquat 4. Diquat 5. Diquat 6. Diquat 7. Glufosinato+Ethefon 8. Glufosinato+Ethefon 9. Glufosinato+Ethefon 10. Glufosinato+Ethefon 11. Glufosinato+Ethefon CV (%)
Dose(1) 200 250 300 350 400 220 275 330 385 440 -
Dessecação Planta 4 DAA(3) 7 DAA 1,00 e 1,00 b 7,50 bc -(2) 9,12 a 8,75 ab 9,00 a 9,50 a 6,12 cd 8,87 a 5,25 d 8,87 a 5,62 d 9,00 a 5,75 d 9,00 a 5,62 d 9,25 a 8,52 8,18
Dessecação Haste 4 DAA 7 DAA Verde Verde Mudando de cor -(2) Mudando de cor Mudando de cor Marrom Marrom Verde Mudando de cor Verde Mudando de cor Mudando de cor Verde Verde Mudando de cor Verde Mudando de cor
(1) Dose expressa do ingrediente ativo em gramas por hectare; (2) Parcela colhidas na primeira avaliação (3) Dias Após Aplicaçã o (DAA) Para todos os tratamentos foi adicionado 0,2%v/ v espalhante não iônico. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente ao teste LSD a 5% de probabilidade.
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mentes de má qualidade, sem identificação do seu estado sanitário. É importante que o agricultor não economize esforços no sentido de Tratamentos Dose(1) Antecipação Componentes da produção adquirir, ou produzir, uma semente Colheita(2) MMG(3) Rendimento(4) de alta qualidade fisiológica, sani1. Testemunha 0 260,80 a 2010,20 a tária e varietal. 2. Diquat 200 4 274,17 a 2170,30 a Com o objetivo de selecionar 3. Diquat 250 7 269,12 a 2161,00 a dessecantes, aplicados na pré-co4. Diquat 300 7 269,22 a 2072,40 a lheita de feijão, e avaliar o efeito dos 5. Diquat 350 7 269,37 a 2095,60 a mesmos na qualidade das sementes 6. Diquat 400 7 270,80 a 2114,30 a (germinação e vigor após a colheita 7. Glufosinato+Ethefon 220 4 266,25 a 2012,60 a e após um período de oito meses de 8. Glufosinato+Ethefon 275 4 259,97 a 2107,60 a armazenamento), um experimento 9. Glufosinato+Ethefon 330 4 258,12 a 2025,90 a foi conduzido em condições de cam10. Glufosinato+Ethefon 385 4 259,75 a 2025,20 a po, na Fundação ABC. A cultivar 11. Glufosinato+Ethefon 440 4 263,57 a 2081,60 a utilizada foi a Carioca Comum, e a CV (%) 4,55 15,73 aplicação dos tratamentos foi realizada quando a cultura apresentava (1) Dose expressa do ingrediente ativo em gramas por hectare; (2) Dias ;(3) gramas (4) Kg/ha Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente ao teste LSD a 5% de 55% de vagens secas. probabilidade O efeito dos dessecantes sobre a cultura de feijão foi avaliado aos 5 lizadas avaliações visuais de coloração DAA, empregando escala de zero a dez. das hastes, atribuindo-se a seguinte es- Depois de efetuada a colheita das secala: hastes verdes, mudando de cor e mentes, foram coletadas duas amostras marrom. A coloração das hastes é carac- de 1 kg, de cada parcela, sendo que uma terística importante para a colheita me- foi encaminhada ao laboratório da Cocanizada; hastes de coloração marrom operativa Castrolanda para análise da melhoram o rendimento da colheita e di- germinação e vigor e a outra foi armaminuem a umidade da planta. zenada na unidade de beneficiamento Os tratamentos de diquat, indepen- de sementes por um período de oito me- dessecação inferiores a todos os demais dente da dosagem, apresentaram perfor- ses. Após este período, as amostras fo- tratamentos. mance superior aos tratamentos de ram enviadas ao laboratório, sendo subNa Tabela 4, podem ser observados glufosinato+ethefon aos 4 DAA (Tabe- metidas à nova análise de germinação e os resultados de dias de antecipação da la 2). Quando se aumentou a dosagem vigor. colheita para os diferentes tratamentos. de diquat, houve resposta e acréscimo de Os dessecantes que promoveram Foi possível realizar a colheita 5 DAA performance na dessecação. Já, para o maior efeito de dessecação foram di- dos tratamentos, ou antecipar a colheiglufosinato + ethefon, o aumento da do- quat, independente das dosagens utili- ta em 6 dias, com exceção dos tratamensagem não promoveu melhor perfoman- zadas, glufosinato + ethefon, nas do- tos com paraquat e glyphosate, que foce na dessecação. Os tratamentos de glu- sagens de 440 e 880 g i.a/ha, e glufosi- ram colhidos com um intervalo maior fosinato + ethefon alcançaram perfor- nato. O glufosinato + ethefon, na do- (três dias de antecipação), sendo que a mance de dessecação semelhantes às ob- sagem de 220 g i.a/ha + Agral 0,1%, testemunha só foi colhida aos 11 DAA. tidas com diquat aos 7 DAA. Esta dife- juntamente com paraquat e glyphosaOs resultados mostram (Tabela 4) rença de três dias entre os herbicidas é te, foram os que apresentaram notas de que os tratamentos com glufosinato + explicada pelo fato de o diquat promoTabela 4 - Avaliação visual de dessecação e dias de antecipação da colheita de feijão para os diferentes trataver a dessecação da planta de forma mais rápida, característica esta conferida ao mentos de dessecantes. Arapoti (PR), 2001-02 grupo dos Bipiridilos. A sintomatologia Tratamentos Dose Nota Ant. Colheita Armazenamento de murcha, necrose e posterior morte i.a 1 Dessec.2 Dias3 Germ. 4 Vigor 5 Germ. Vigor pode ser observada a partir de 24 horas 1.Testemunha 1,00 e 0 92,5 a 88,0 a 90,5 a 84,5 a após a aplicação. 8,70 c 6 88,0 ab 84,0 a 2.Glufosinato + Ethefon 220 87,2 ab 82,5 a Nenhum dos tratamentos estudados 3.Glufosinato + Ethefon 440 9,43 ab 6 87,0 ab 82,5 a 84,7 ab 79,0 a influenciou o rendimento e a massa de 4.Glufosinato + Ethefon 880 9,55 ab 6 89,5 ab 85,7 a 88,2 ab 84,2 a mil grãos. Os tratamentos de diquat per5.Glufosinato + Ethefon 220 8,25 d 6 90,0 ab 84,7 a 87,7 ab 83,7 a mitiram antecipar a colheita em sete dias, 6.Diquat 300 9,42 ab 6 89,7 ab 86,7 a 88,7 ab 83,5 a já, para os tratamentos de glufosinato + 7.Diquat 600 9,80 a 6 91,5 ab 85,7 a 90,2 a 84,7 a ethefon, a colheita foi realizada com qua8.Glufosinato 300 9,40 b 6 86,7 ab 81,2 a 84,7 ab 79,2 a tro dias de antecedência, porém as plan9.Paraquat 240 7,95 d 3 85,5 b 81,0 a 82,7 b 77,2 a tas apresentavam-se aptas para a colhei10.Glyphosate 720 8,03 d 3 70,7 c 63,7 b 66,2 c 66,0 b ta. (Tabela 3). C.V 3,28 5,02 6,41 5,89 6,79 Alguns dos principais problemas da Média 8,15 87,1 82,3 85,1 79,7 cultura do feijão são a pouca utilização 1 Dose expressa do ingrediente ativo em gramas por hectare; 2 Nota Dessecação; 3 Antecipação Colheita; 4 % Germinação; 5 % de Vigor. Médias seguida da mesma letra na coluna não de sementes fiscalizadas, ou o uso de sediferem significativamente LSD a 5%. Tabela 3 - Antecipação da colheita, massa de mil grãos (MMG) e rendimento de cultivar de feijão, submetida a diferentes tratamentos de dessecação. Fundação ABC. Castro, 2003
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Cultivar
ethefon, diquat e glufosinato não afetaram a germinação e o vigor dos grãos. A porcentagem de germinação e vigor das sementes armazenadas (oito meses) foi similar à observada nas sementes avaliadas na colheita. Zagonel et al. (2002) observaram que a aplicação de diquat (200 a 500 g i.a/ha) e o glufosinato (400 g i.a/ha) na pré-colheita, quando a cultura de feijão apresentava de 67 a 70% das vagens secas, não afetou a germinação e vigor das sementes quando comparados à testemunha. A dessecação das plantas com glyphosate afetou a germinação e o vigor, assim como com paraquat, porém este não afetou o vigor. Azlin & McWhorter (1981), estudando o efeito do glyphosate na antecipação da colheita em soja, constataram que a germinação foi reduzida, quando o produto foi aplicado de 15 a 21 dias antes da colheita nas dosagens de 400, 600 e 1210 g i.a/ha. Teófilo (1995) observou que as sementes da cultivar Carioca, quando dessecadas com paraquat (400 g i.a/ha), apresentaram menor vigor. Os resultados indicam que os tratamentos com glufosinato + ethefon, di-
Divulgação
Penckowski avalia a performance de produtos químicos utilizados na précolheita de feijão
quat e glufosinato foram eficientes na dessecação da cultura e não afetaram a germinação e o vigor das sementes. O paraquat e o glyphosate apresentaram eficácia inferior aos demais tratamentos e afetaram a germinação, sendo que o glyphosate também prejudicou o vigor das sementes. C Luís Henrique Penckowski, Fundação ABC
Empresas
Fotos SolFerti
Plena expansão Com Com novo novo complexo complexo fabril, fabril, a SolFerti aumenta sua capacidade operacional operacional ee planeja planeja aa atuação atuação em em vários vários estados estados brasileiros, brasileiros, além além do do Paraguai Paraguai ee da da Argentina Argentina
A
SolFerti Indústria de Fertilizantes inaugurou seu novo complexo fabril, com uma área de 3,7 mil metros quadrados em plena Serra Gaúcha, em Santo Homobom, interior de Caxias do Sul. A nova estrutura, moderna e funcional, foi cuidadosamente planejada e equipada com máquinas de última geração, espectrofotômetro de absorção atômica e laboratório de análises e pesquisa, o que possibilitará realizar análises de solo, tecido vegetal e novas formulações que venham superar as expectativas do mercado. Atualmente, a SolFerti comercializa seus produtos, que levam a marca Sol, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, mas a empresa já traçou estratégias de expansão pelo Sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul, além do Paraguai e da Argentina. “A base para este sucesso da Sol são pessoas e conhecimento”, garantem os diretoresproprietários, Márcia e Rogênio Rech. “A equipe composta por representantes técnicos de vendas, gerentes, coordenadores, assistentes de campo e mais especialistas na retaguarda técnica, além do grupo administrativo, garante aos clientes a aquisição de informações de qualidade junto aos produtos”, afirmam.
tilização de insumos”, explica Rogênio. A estação abrange de forma geral as classes de resíduos sólidos, líquidos e gasosos emitidos no processo. “A visão completa da responsabilidade ambiental fez com que a SolFerti pensasse também no destino final adequado do material que não pode ser reaproveitado. Essa é mais uma das áreas nas quais a empresa tem demonstrado a preocupação em vivenciar seu slogan, Nutrindo a vida, e também uma proposta prática da empresa”, finaliza Márcia Rech.
CRESCIMENTO Além de investir em uma diversificada linha de produtos agrícolas, a SolFerti lançou
em 2002 o software LAP-x, um programa específico para cálculos precisos em adubação de solo e suplementação de nutrientes para diferentes culturas, a partir da análise de solo. Esta ferramenta permite que a empresa leve mais eficiência à aplicação dos seus produtos, gerando considerável aumento de produtividade e racionalização de custos ao produtor. Um dos resultados mais representativos nesse sentido é obtido em culturas irrigadas, como a do arroz, em que já foi constatado o aumento em 20% na produtividade. A SolFerti entrou no mercado em 2001, originária da empresa Romaflor Comercial Agrícola, que tinha como foco o comércio de C produtos agrícolas.
ECOLOGICAMENTE CORRETA A nova unidade privilegia as questões ambientais e os padrões internacionais de produção, como a instalação de uma estação de efluentes e de resíduos industriais, processo todo analisado e aprovado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). “A permissão é um aval à preocupação demonstrada na escolha dos meios de atuação para a preservação dos recursos naturais e para a reu-
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Para Márcia e Rogênio Rech, diretoresproprietários, as pessoas e o conhecimento são a chave do sucesso da Sol
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Lançamento
Arroz mundial Fotos Charles Echer
Arize, o arroz híbrido mundial da Bayer, chega ao Brasil, com promessa de alto potencial produtivo, maior tolerância a doenças e baixa densidade de semeadura
A
Bayer CropScience apresentou em junho o Arize, marca mundial da empresa para tecnologia de sementes híbridas de arroz. O Arize é o resultado da polinização cruzada de duas linhagens de arroz que “resulta em um híbrido mais resistente às doenças e com produtividade superior à das variedades convencionais”, garante o gerente de negócios arroz, Douglas Cabral. Adaptado especialmente para a região Sul do país, o híbrido traz diversas inovações em relação às variedades convencionais. A baixa densidade de semeadura é uma das vantagens do Arize. Enquanto as varieda-
des convencionais exigem em média 150 a 200 kg de sementes por hectare, o Arize permite plantio com 40 kg para a mesma área. O potencial de perfilhamento é grande, com média de 18 a 24 perfilhos por planta, enquanto nas convencionais esse número raramente passa de 12. Como conseqüência, aumenta também o número de espiguetas por panículas, chegando a 230, contra 160 nas variedades convencionais. Em áreas experimentais no Rio Grande do Sul, a produção chegou a 11,03 t/ha e a 13 t/ha, em áreas de pesquisa. Numa área na fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, em comparação com outra variedade, o QM 13, o Arize produziu 2,98 toneladas a mais por hectare.
CARACTERÍSTICAS
Para Douglas Cabral, a demanda global de arroz está crescendo rapidamente. Nas próximas décadas, a produção mundial terá um incremento de aproximadamente 30%, para atender ao aumento da demanda. “Existe uma excelente oportunidade para o Brasil estar entre os maiores players do mercado global de arroz, o que deverá ser facilitado pela introdução no mercado de novas tecnologias como, por exemplo, o arroz híbrido”, completa. O Brasil é um dos maiores produtores sulamericanos de arroz, posicionando-se em 9° lugar no ranking mundial, e é líder fora do eixo da Ásia. A tendência, segundo especialistas em orizicultura, é de o país aumentar a produtividade a curto prazo. O presidente da divisão BioScience, Likely van der Broek, disse que está confiante na aceitação do Arize no Brasil. “Assim como os produtores brasileiros já deram as “boas-vindas” para o algodão FiberMax, estamos confiantes de que o nosso arroz híbrido será um diferencial na produção”, garante.
PACOTE TECNOLÓGICO A Bayer CropScience oferece ao produtor um pacote tecnológico completo de soluções para a cultura do arroz, com o objetivo de contribuir para o incremento da produtividade das lavouras brasileiras. Esse pacote tecnológico compreende semente, defensivos agrícolas para tratamento de sementes, bem como para tratamentos em pulverização na parte aérea da cultura. Exemplo disto é o novo fungicida Stratego, que será lançado ainda neste ano pela Bayer CropScience, para controlar as principais doenças do arroz. Além disso, a empresa também conta com profissionais técnicos qualificados, que orientam o orizicultor sobre as tecnologias existentes e sobre a recomendação de manejos adequados a cada tecC nologia.
O
Baixa densidade de semeadura e maior perfilhamento permitem um acréscimo de até 2,98 toneladas/hectare
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Arize tem como características agronômicas: • ciclo médio de 130 dias; • resistência ao acamamento e ao degrane natural; • comprimento do grão superior ao de qualquer variedade (6,84 x 1,97 mm); • potencial produtivo com média de 9 mil kg, rendimento médio de grãos inteiros acima de 60%; • tolerância a doenças: mancha parda, brusone, manchas de gluma, manchas de grãos, toxidez do ferro e escaldadura.
Douglas Cabral, gerente de negócios arroz, e Likely van der Broek, presidente da divisão BioScience, apresentaram o híbrido
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Especial
Negócios
Sinergia: a força que vem da união
De Hokko para Arysta
A Syngenta apresentou em seu estande na 12º Hortitec, realizada em Holambra, produtos de vários segmentos da companhia. Técnicos de diversas áreas da empresa, em perfeita sintonia, recebiam os visitantes, esclarecendo suas dúvidas quanto às melhores formas de cultivo e controle e aos melhores produtos para atender suas necessidades específicas. O foco na área de defensivos agrícolas foi o inseticida Actara e o fungicida Amistar. Na área de sementes, a Syngenta destacou as sementes de tomate, pimentão, milho doce, melancia, brassicas e de flores de cyclamen, gérbera, amor perfeito e impatiens. Na área de Produtos Profissionais, a Syngenta destacou o Klerat, raticida de dose única; o Fortis, um inseticida microencapsulado e o Icon vet, inseticida em pó. Também divulgou o seu programa de uso “Base Forte” desenvolvido inicialmente para a batata, e que hoje tem um alcance muito maior de culturas.
No dia 30 de junho, a Hokko do Brasil – multinacional de origem japonesa que atua no setor agroquímico - passou a chamar-se Arysta Lifescience. Uma mudança de identidade corporativa que aconteceu simultaneamente nos 60 países em que o grupo atua. Com a adoção da mesma marca em todo o mundo, nomes como Arvesta Corporation, nos Estados Unidos; Calliope SAS, na França; Moviagro, no Chile; Haesom, na Coréia; Bloomers Growers, na Nova Zelândia, e Hokko, no Brasil, passam a ter o nome Arysta Lifescience. Apesar da troca de nome, nada muda no controle acionário, produtos ou estratégias do grupo no cenário mundial. Porém, é o início de uma gestão global, que pretende dar nova identidade e força à corporação, como também introduzir moléculas mais modernas através da retaguarda de tecnologia mundial. Há 37 anos no país, a Hokko do Brasil mantém aqui a base operacional do grupo para toda a América Latina, contando com fábrica e Estação Experimental no interior de São Paulo, além de escritórios regionais nas principais áreas agrícolas do país. Em 2004, as operações da Hokko do Brasil representaram cerca de 35% do faturamento global do grupo, com receita de US$ 172 milhões, cerca de 65% de crescimento, se comparado ao resultado de 2003. Com este desempenho, a subsidiária brasileira ocupa a 8º posição no ranking de empresas de defensivos agrícolas no Brasil, participando com 4,9% do mercado nacional.
Bayer aumenta participação no mercado Em conferência para a imprensa mundial, em sua sede, em Monheim, na Alemanha, a Bayer CropScience realizou o anúncio que há dois anos era aguardado: tornou-se a maior empresa agrícola em nível mundial, ultrapassando a Syngenta, segundo dados por ela apresentados. Sua margem de lucro também cresce, rumo à meta de retorno de 26%
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EBTA. Segundo o Prof. Dr. Friedrich Berschauer, as metas foram atingidas em grande parte por causa do crescimento nas vendas dos produtos “top” da empresa. A grande performance, explicou Berschauer, foi conseguida na América Latina, onde o mercado de agroquímicos cresceu 30% em dólares e 18% em euros. Como resultado, esse mercado responde agora por 18% das vendas globais. As vendas da Bayer na América
Latina, entretanto, cresceram mais de 20% (em euros). Berscheuer considera como maiores responsáveis por essa ascensão da empresa os produtos para tratamento de sementes, fungicidas e produtos da linha de “BioScience”.
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Trigo
Jean Carlos
Papel trocado
veis fossem depositadas no solo, e a aveia-preta tornou-se uma importante infestante das culturas de inverno, como trigo e cevada. A aveia-preta é caracterizada como uma planta anual, reproduzida, exclusivamente, por sementes. De maneira geral, as sementes têm pronta viabilidade, o que indicaria permanência reduzida, no solo, de sementes aptas a germinar; porém, após o uso contínuo dessa espécie, observa-se a permanência de sementes viáveis por mais de um ano. Assim, como a maior intensidade de germinação ocorre no período do inverno, essa espécie passa a interferir nas culturas estabelecidas na mesma época. Em culturas de verão, quando a infestação ocorre, geralmente não é muito significativa e tende a ser temporária, restrita ao início do ciclo da cultura. A intensidade do efeito negativo da infestação de plantas daninhas está associada à espécie, à densidade e à época de emergência das plantas daninhas em relação à cultura principal. De maneira geral, espécies que possuem características de similaridade com a cultura, mesma família botânica ou gênero, ou mesmas exigências nutricionais ou de luz reduzem mais intensamente o rendimento da cultura. De forma similar, aquelas plantas daninhas que emergem antes ou junto com a cultura causam maior prejuízo. No caso da aveia-preta, em infestações variáveis de 50 a cem Marco Antônio Lucini
Com excelentes características para a cobertura do solo em plantio direto, a aveia-preta vem-se tornando um problema sério como infestante na cultura do trigo, devido ao manejo inadequado na hora da dessecação
A
adoção do sistema de semeadura direta pressupõe o uso de culturas que propiciem grandes quantidades de palha, com características qualitativas que possibilitem que a palha produzida permaneça, protegendo o solo através da diminuição do efeito da chuva ou mesmo da redução na infestação de plantas daninhas.
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Entre as alternativas para cobertura do solo, destacou-se, ao longo dos anos, a cultura da aveia-preta (Avena strigosa Schreb.), principalmente por ser uma espécie de inverno que produz grandes quantidades de palha, servindo para diminuir a pressão de diversas espécies de plantas daninhas. Porém, o manejo inadequado, por ocasião da dessecação dessa cultura, fez com que sementes viá-
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plantas/m 2, as reduções médias no rendimento de grãos de trigo são de 8,9 kg/ ha, para cada planta de aveia presente na área (Fundação ABC, 2004). A época de início do controle de daninhas tem grande influência na intensidade de redução no rendimento de grãos da cultura. O período em que os efeitos das plantas daninhas efetivamente causam prejuízos à cultura e, durante o qual, a competição não pode existir é chamado de “período crítico de competição”. Para a cultura do trigo, esse período crítico é variável, ocorrendo na maioria das situações dos 14 aos
Dessecação da aveia-preta deve ser feita antes da produção de sementes, que, ao germinarem, podem prejucar o trigo posteriormente
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Período de controle de aveia-preta, em infestações de 100 plantas m-2 – Fundação ABC, 2004
47 dias após a emergência. As variações no período crítico de competição são devidas ao genótipo, à época de semeadura e de emergência, à espécie de planta daninha e à sua densidade. No caso de uma cultivar de trigo com ciclo de 140 dias, o período crítico se estende aproximadamente até 47 dias após sua emergência. Porém, é importante ressaltar que o momento de controle deve levar em consideração não só o período crítico de competição, mas também o estádio de desenvolvimento em que a planta daninha é mais suscetível ao herbicida. No caso de infestações de aveiapreta na cultura do trigo, o momento de controle varia em função da infestação da planta daninha presente. O manejo das plantas de aveia-preta na cultura do trigo pode ser feito, associando-se práticas culturais com o manejo químico, em pós-semeadura, na cultura do trigo. Entre as práticas de manejo, além de se realizar a dessecação da aveia-preta antes de a mesma produzir propágulos viáveis, pode-se atrasar a semeadura do trigo para o final da época recomendada. Esse atraso permitirá que maior número de sementes presentes no solo germine, podendo as plantas que emergirem serem controladas por ocasião da dessecação na présemeadura do trigo. Alguns herbicidas foram desenvolvidos para o controle seletivo de aveiapreta em trigo. Entre os herbicidas atualmente recomendados para essa finalidade, destacam-se pendimethalin (Herbadox) e diclofop-methyl (Iloxan CE). Pendimethalin é usado em préemergência e apresenta controle reduzido de aveia, inferior a 70%. A sua se-
Tabela 1 - Grau de controle de Avena strigosa. FAMV/UPF, Passo Fundo (RS), 2003 Tratamento
Dose (g i.a./ha) Testemunha sem capina — Testemunha capinada — Topik 240 EC 12 Topik 240 EC 24 Topik 240 EC 36 Iloxan CE 426
7 DAA1 0,0 d2 100,0 a 25,0 c 59,7 b 59,7 b 61,7 b
Controle (%) 14 DAA 28 DAA 48 DAA 0,0 c2 0,0 e2 0,0 e2 100,0 a 100,0 a 100,0 a 31,2 b 66,2 d 66,0 d 85,0 a 87,0 bc 85,7 c 88,2 a 91,2 b 91,7 b 78,7 a 82,2 c 82,0 c
DAA = Dias após aplicação. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
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letividade é dada por posição na camada superficial do solo (cerca de 2 a 3 cm), devendo o trigo ser semeado na profundidade de cerca de 5 cm. Chuvas Ricardo Zambiasi
Período de controle de aveia-preta, em infestações de 50plantas m-2 – Fundação ABC, 2004
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Fotos Mauro Rizzardi
Cleber Bordignon
Em caso de infestação, o controle da aveia deve ser realizado até a fase de perfilhamento da mesma
A) testemunha sem tratamento; B) testemunha com capina; C) tratamento com herbicida na dose 12 g.i.a/ ha; D) na dose 24 g.i.a/ha E) na dose 36 g.i.a/ha
intensas logo após a sua aplicação podem causar fitotoxicidade à cultura. O herbicida diclofop-methyl é um graminicida que inibe a enzima Acetil-
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coenzima-A carboxilase (ACCase), de forma reversível e não-competitiva, na rota de síntese de lipídios. Esse herbicida é de aplicação em pós-emergência, sendo sua eficácia dependente do estádio de desenvolvimento da aveia, com os melhores resultados obtidos em plantas jovens com duas a quatro folhas. A eficácia de controle de aveia-preta, com esse herbicida, gira ao redor de 80%. Outros dois herbicidas, clodinafoppropargil e iodosulfuron-methyl, são registrados para o controle seletivo de aveia-preta na cultura do trigo. O herbicida clodinafop-propargil (Topik) foi autorizado, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para o uso emergencial no controle de aveiapreta. Esse herbicida é de uso comum em outros países produtores de trigo, como Argentina e Estados Unidos. O herbicida clodinafop propargil é um graminicida com relatos de controle eficiente para as aveias (Tabela 1) e, também, para azevém. O herbicida clodinafop inibe a enzima ACCase em gramíneas. Após a inibição da enzima, pelo herbicida, não ocorre a formação de malonil-CoA e dos ácidos graxos, com conseqüente inibição da rota de síntese de lipídios nas espécies sensíveis. Clodinafop possibilita controle superior de aveia-preta do que o herbicida diclofop methyl. Outra alternativa de controle de aveia-preta é o herbicida iodosulfuronmethyl (Hussar), recentemente registrado para uso seletivo, em pós-emergência, na cultura do trigo, na dose de 130 g/ha do produto comercial. Iodosulfuron é um herbicida que pertence ao gru-
po das sulfoniluréias, cujo mecanismo de ação é a inibição não competitiva da enzima acetolactato sintase (ALS) ou acetohydroxi sintase (AHAS), na rota de síntese dos aminoácidos ramificados valina, leucina e isoleucina. No trigo, deve-se aplicar o herbicida em pósemergência inicial e mediana das plantas daninhas. No caso de infestações de aveia, o controle deve ser realizado até a fase de início do perfilhamento da C aveia. Mauro Antônio Rizzardi, UPF Leandro Vargas, Embrapa Trigo
Rizzardi explica como manejar e fazer o controle da aveia-preta, planta infestante do trigo
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Trigo
Manejo de pulgões O manejo integrado vem sendo a melhor opção para manter os pulgões, responsáveis por danos diretos ou indiretos às plantas, sob baixas densidades populacionais
P. Pereira
últimas safras, têm gerado uma série de indagações e de especulações sobre as causas e, principalmente, sobre se, entre estas, estaria uma possível deficiência no controle biológico dos vetores. Os pulgões são insetos que, ao se alimentarem em plantas de trigo, cevada,
Ápteros do pulgão Rhopalosiphum padi em planta de trigo
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J. R. Salvadori
A
elevada incidência da virose causada pelo Vírus do Nanis mo Amarelo da Cevada – VNAC, cujos vetores são pulgões, e o número relativamente elevado destes insetos, observado em algumas lavouras de trigo e de outros cereais de inverno nas
aveia etc., podem causar danos de duas naturezas: diretos (enfraquecendo as plantas pela sucção de seiva e/ou provocando morte de tecido foliar pela injeção de toxinas salivares) e indiretos (transmitindo o VNAC). Embora possa haver certa proporcionalidade entre a intensidade e a abrangência da ocorrência de VNAC e a quantidade de pulgões, essa doença já pode ser transmitida e causar danos às plantas a partir de poucos pulgões virulíferos. Por um lado, os chamados danos diretos de pulgões só ocorrem quando existem grandes densi-
Sintomas característicos do VNAC, transmitido pelos pulgões
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dades populacionais da praga. Infelizmente, os pulgões têm, realmente, uma notável capacidade reprodutiva, podendo uma só fêmea originar milhares de descendentes no curto período de quatro semanas. Diversos fatores ambientais interferem positiva ou negativamente no crescimento da população de pulgões, como, por exemplo, a quantidade e a qualidade de alimento disponível (plantas), o clima e os inimigos naturais dos pulgões. Assim, pode-se dizer que frio e chuvas intensas ou prolongadas, assim como predadores (joaninhas e outros), parasitóides (vespinhas) e microorganismos (principalmente fungos) que causam doenças aos pulgões e os matam, são verdadeiros freios naturais do crescimento das populações de pulgões. De outro lado, condições ambientais de temperaturas relativamente altas e baixa precipitação pluvial, como ocorrem em certos períodos durante o cultivo de trigo, otimizam o desenvolvimento e a reprodução de pulgões. Visando a restabelecer o equilíbrio, em 1978, a Embrapa Trigo iniciou um projeto para controlar biologicamente os pulgões de trigo, através da importação de microimenópteros parasitóides (vespinhas) das regiões de origem dos pulgões (Europa e Oriente Médio). Foram importadas, mantidas em observação quarentenária (para garantir que nenhum outro organismo indesejável estivesse sendo introduzido junto), estudadas e multiplicadas nos laboratórios da Embrapa, em Passo Fundo, 14 espécies de microimenópteros inimigos naturais dos pulgões. A ação dessas vespinhas inicia com a oviposição dentro do corpo dos pulgões; do ovo nasce uma larva que se alimenta desse hospedeiro, levando-o à morte. Cada vespinha pode parasitar até 300 pulgões, num curto período de tempo (sete a dez dias). De
Ação de microimenóptero e ciclo do parasitismo em pulgão
cada pulgão morto (múmia), é originada uma nova vespinha, que dá continuidade ao processo de parasitismo e morte dos pulgões. Depois dos testes de laboratório, a Embrapa passou a produzir vespinhas em grandes quantidades, como em uma fábrica, para liberá-las nas lavouras de trigo, ou distribuí-las para que os próprios agricultores o fizessem. Até 1992, foram produzidos e liberados cerca de 20 milhões de microimenópteros. Algumas das espécies introduzidas adaptaram-se ao novo ambiente e passaram a se multiplicar por si próprias. Em conseqüência da ação das vespinhas introduzidas, em adição à ação de outros inimigos naturais já existentes, e com a adoção de medidas complemen-
tares para preservação dos agentes de controle biológico, a incidência de pulgões em trigo decresceu, e o uso de inseticidas químicos para o controle dessa praga diminuiu gradualmente. Em 1977, o controle químico de pulgões no Rio Grande do Sul foi realizado em 99% das lavouras; em l981, foi aplicado em menos de 5% delas, estimando-se que aproximadamente 855 mil litros de inseticidas deixaram de ser aspergidos no ambiente, a cada ano. Essa situação de equilíbrio tem-se mantido ao longo dos anos. Mas é necessário considerar que o controle biológico de pragas, como fenômeno da natureza, é sujeito à influência de diversos fatores. Portanto, é normal que apresente flutuações sazonais e periódicas, que
P. Pereira
DESEQUILÍBIO
H
á cerca de 20-30 anos, para produzir trigo no Sul do Brasil, era freqüente a realização de três a quatro pulverizações de inseticidas por safra, para o combate aos pulgões nas lavouras. Isso era feito praticamente em toda a área tritícola, empregando-se elevadas quantidades de inseticidas químicos, com expressivos custos financeiros e impacto ambiental. Tais pulverizações eram um mal necessário, pois, em áreas sem controle de pulgões, o rendimento de trigo era reduzido drasticamente, podendo a perda aproximarse de 90%. As populações de pulgões de trigo eram tão vastas que, naquela época, nuvens de pulgões eram vistas até mesmo nas cidades. Era um caos, uma verdadeira crise no equilíbrio natural das espécies envolvidas naquele agroecossistema. O cultivo de trigo havia aumentado muito nos últimos anos, e os pulgões, oriundos de outras regiões do mundo, com abundância de alimento e ausência de inimigos naturais específicos que não os acompanharam no fenômeno de dispersão mundial na década de 1960, encontraram aqui um conjunto de condições favoráveis, para desenvolverem altas populações. O desequilíbrio biológico estava instalado, com uma ampla vantagem para os pulgões.
A aquisição e a transmissão do vírus por pulgões é um processo rápido e pode ocorrer mesmo com pulgões em fase inicial de parasitismo
ram danos, especialmente aqueles causados pelo VNAC, que podem ocorrer mesmo com baixos níveis populacionais de pulgões. A aquisição e a transmissão do vírus por pulgões é um processo rápido e pode ocorrer mesmo com pulgões em fase inicial de parasitismo. Em situações como essa, é importante reforçar que atitudes técnicas e com-
portamentais que complementem e ajudem a conservar o controle biológico, dentro do enfoque de manejo integrado de pragas, não sejam esquecidas e que a confiança nesse tipo de controle de pragas não seja facilmente abalada, sob pena de se iniciar um retrocesso. No passado, quando da introdução das vespinhas, a adoção do manejo integrado de pulgões foi fundamental para que as metas de controle previstas inicialmente fossem atingidas e até ultrapassadas. O manejo integrado é um conjunto de ações que visa a otimizar e a preservar os agentes de controle biológico, incluindo o uso criterioso de inseticidas, ou seja, apenas quando as “pragas” atingem níveis populacionais capazes de causar danos econômicos e dando-se preferência a produtos ou métodos de aplicação seletivos (Tabela 1). Diante da nova realidade, ajustes no manejo integrado de pulgões certamente devem ser feitos, para minimizar seus danos indiretos, como vetores de VNAC. Nesse particular, novas estratégias de controle, como o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos e o desenvolvimento de cultivares com resistência a pulgões e a VNAC, precisam ser viabilizadas economicamente e disponibilizadas para o aperfeiçoamento do sistema de manejo dos pulgões de trigo e para a efetiva solução do problema. C José Roberto Salvadori e Paulo Roberto V. da Silva Pereira, Embrapa Trigo Mauro Tadeu Braga da Silva Fundacep/Fecotrigo
Tabela 1 - Inseticidas indicados pela Comissão Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo (2005) para controle de pulgões na cultura de trigo Inseticida
Toxicidade1
Dose Predadores
Pulverização (g i.a./ha) Clorpirifós etílico 192 Dimetoato 350 30 Fenvalerato Fenitrotiom 500 Metamidofós 120 Monocrotofós 80-180 são “desequilíbrios” temporários ou loParatiom metílico calizados. Isso pode ocorrer480 em situações Pirimicarbe 75 climaticamente mais favoráveis às praTriazofós 200 naturais, gas do que aos seus inimigos Vamidotiom 240 períodos como acontece em certos anos,
Parasitóides
Intervalo de Segurança 2 (dias)
Índice de segurança 3 Oral Dermal
Modo de ação 4
21 85 C,I,F,P B 1042 28 157 C,F,S S 264 C,I 17 5333 16667 14 50 C,I,P M 600 21 15 C,I,S 160 C,I,S 18-8 420-187 B exemplo, a aveia, cultivada em21grandes 15 pasto4 C,I,F,P A 14 áreas para cobertura de solo ou 21 196 C,I S 600 reio, tem servido de reservatório de C,I 28 36 550 S VNAC e favorecido a multiplicação de C,S S plantio das culturas 30 43 680 pulgões antes do de Tratamento de sementes (dose para 100 kg de sementes) ou regiões. Além disso, as práticas agrí- inverno destinadas à produção de grãos. S Imidaclopride 35-36 influência 571 a 5714 ?11428 colas também podem exercer Levantamentos realizados -recenteTiametoxam - de pa16674 S ?28571 substancial na dinâmica de17,5populações. - mente evidenciam que os níveis a predadores, Cycloneda sanguinea e Eriopsis connexa, parasitóides (Aphidius spp.): S (seletivo) 0-20 % ede em mortalidade; O1 Toxicidade processo de produção empregado nas e arasitismo de pulgões em =trigo ou- B (baixa) = 21-40 %; M (média) = 41-60 %; A (alta) = 61-100 %. 2 Período entre aplicação e a colheita. lavouras doa última Sul do Brasil tem sofrido, nas tros cereais de inverno são elevados. No 3 Quanto maior o índice, menos tóxica é a doseque do produto: IS = (DL50 xentanto, 100 / g i.a. por hectare). últimas décadas, alterações interfenem sempre o parasitismo é su4 C = contato; F = fumigação; de I = ingestão; P = Assim, profundidade; S = sistêmico. rem na ocorrência pragas. por ficiente para evitar, sozinho, que ocor-
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A A A A A A S A M
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Algodão
Suspense na safrinha Plantio do algodão safrinha avança em Mato Grosso, com a favorabilidade do clima da região e a possibilidade de emprego de novas técnicas de cultivo, mas preocupa produtores quanto à migração de insetos
E
xiste uma região no Mato Grosso, que engloba parte dos municípios de Sapezal, Campo Verde, Primavera do Leste, Santo Antônio do Leste, Sorriso, Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, que consegue plantar soja precoce entre o final de setembro e início de outubro, colhendo esta soja no início de janeiro e plantando o algodão safrinha logo em seguida, ou seja, ainda durante o mês de janeiro. Existe também o caso dos algodões plantados em fevereiro, sob pivô central, para irrigação complementar no final do ciclo, que são considerados também como algodão safrinha. Na safra 2003-04, a área deste algodão safrinha ficou estimada em aproximadamente 52 mil ha (12,5% da área do estado). Considerando-se que a época normal de plantio do algodão no Mato Grosso inicia em 20 de novembro e se prolonga até 30 de dezembro, o algodão safrinha seria plantado nos trinta dias seguintes à época normal, resultando numa extensão da época de plantio do Mato Grosso. Nas safras 2002-03 e 2003-04, com este algodão safrinha foram conseguidas produtividades muito próximas das conseguidas no algodão de safra normal. Além
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do mais, os produtores começaram a experimentar plantios mais estreitos, com ruas de 0,40 a 076 m, que, pelo aumento do número de plantas/hectare, conseguem recuperar a produtividade que seria perdida devido ao plantio fora da época normal.
Produtividades próximas às da safra normal têm incentivado produção do safrinha
O uso de espaçamentos mais estreitos é perfeitamente possível no Mato Grosso, nos plantios de safrinha, porque a menor ocorrência de chuvas resulta em porte mais baixo, menor severidade das doenças e menor índice de apodrecimento de maçãs (fator que provocou perda de parte do “baixeiro” no plantio de safra normal em 2004). Outro aspecto positivo do plantio de safrinha está na possibilidade de serem usadas cultivares de ciclo mais precoce e de porte mais baixo, com economia da aplicação de nitrogênio e de redutores de crescimento. Os resultados obtidos pela pesquisa na safra 2003-04, com algodão safrinha, em Lucas do Rio Verde, comprovaram que as produtividades e a qualidade de fibra foram equivalentes às obtidas nas regiões com plantio de safra normal. Neste município, as cultivares com maior produtividade de fibra foram: FM 977, BRS Cedro, DP Acala 90, BRS Aroeira, BRS Jatobá, SG 821, Deltapenta e Deltaopal. Nesta safra, a Fundação Centro Oeste, com o apoio da Ampa e do Facual, importou uma colhedora Stripper, que colhe algodão plantado em espaçamentos ultra- estreitos. A Stripper vem sendo avaliada nos municípios de Primavera do Leste, Campo Ver-
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Fotos Charles Echer
de e Novo São Joaquim como uma possibilidade, para viabilizar o algodão safrinha em espaçamentos de 0,40 a 0,50m, usando-se, neste caso, para o plantio do algodão, plantadeira e espaçamento iguais aos usados para a soja. Nas lavouras de safrinha desenvolvidas no Mato Grosso, tem-se verificado uma baixa incidência de doenças fúngicas, incluindo ramulose, ramularia e bacteriose, porém a severidade das viroses (doença azul ou vermelhão) é semelhante à do plantio em época normal, inclusive, com uma tendência de, em anos de inverno mais frio, ocorrerem surtos mais severos de doença azul. Por outro lado, a ocorrência de algumas pragas pode ser mais intensa na safrinha, especialmente de percevejos migrantes da soja, lagarta rosada, curuquerê e de outras lagartas, como Spodoptera e lagarta- das-maçãs. As pesquisas têm comprovado que os espaçamentos de 0,40 m entre fileiras propiciam uma produtividade 15 a 20 @/pluma/ha superior a do espaçamento de 0,90 m, porém, na safrinha, temse que programar o uso de redutores de crescimento em volume 2,5 vezes superior ao normal. Estão sendo experimentadas lavouras safrinha em pivô, em sucessão com a soja, com irrigação complementar (apenas duas a três irrigações), economia de 50% do nitrogênio em cobertura e espaçamentos estreitos, as quais são colhidas nos meses de agosto e setembro, resultando em custos significativamente inferiores aos do plantio normal. Para a consolidação dessa tecnologia, no entanto, existem algumas dificuldades a serem superadas. A primeira será a definição das melhores cultivares a serem usadas nesse sistema, as quais devem ser de preferência precoces e de porte baixo; em segundo lugar, o aperfeiçoamento da colhedora Stripper, para possibilitar a sua adoção na colheita dos algodões ultra-estreitos, além do mais, precisam-se quantificar os deságios nos preços a serem atribuídos ao algodão colhi-
do com esse tipo de colhedora. Porém, uma das maiores dificuldades futuras para a consolidação dessa tecnologia estará no controle das pragas. As regiões que começam a usar o algodão safrinha, além de possuírem uma condição climática favorável, com prolongamento das chuvas por um mês, são também áreas livres do bicudo. Porém, a cada ano esta praga expande a área infestada e, quando atingir a área de algodão safrinha, a região terá que decidir entre plantar o algodão de safra normal ou o de safrinha, porque será impraticável terem-se no mesmo município lavouras sob os dois sistemas de plantio. Se não, o algodão safrinha servirá de ponte migratória para o bicudo, encarecendo este sistema de produção e possibilitando alimento para este inseto por praticamente todo o ano.
Cultivares mais precoces e de porte mais baixo são buscadas pelos produtores para a consolidação do sistema de plantio do safrinha
Essa situação implicará em grandes populações de insetos sobreviventes de uma geração à outra, aumento do número de aplicações de inseticidas e dos custos de produção para todos os produtores, inviabilizando, assim, uma atividade de grande importância econômica para o Cerrado do Mato Grosso. As próximas duas safras serão decisivas para a consolidação dos sistemas de produção de algodão em rotação bianual ou trianual com a cultura da soja, ou para a ampliação das áreas de algodão de safrinha em sucessão com a soja precoce no C mesmo ano. Eleusio Curvelo Freire Embrapa/Fundação Centro Oeste
Molécula
Combinação contra doenças No controle de doenças fúngicas da cultura do trigo, Nativo, novo fungicida sistêmico e mesostêmico, possui duplo mecanismo de ação com efeitos protetor e curativo
N
ativo (com 200 g/l de Tebuconazole e 100 g/l de Trifloxystrobin) possui dois ingredientes ativos com diferentes mecanismos de ação sobre o metabolismo dos fungos, o que segue as premissas básicas do manejo de resistência aos fungos e possibilita emprego deste fungicida num grande número de doenças fúngicas em diversas culturas, inclusive na cultura do trigo. O trigo é de suma importância no sistema de produção agrícola na região Sul do Brasil, pois se destaca como uma das poucas culturas economicamente viáveis no período de inverno. Além disso, existe uma demanda anual interna de cerca de 10 milhões de toneladas para
a fabricação de diversos derivados deste cereal. Uma das dificuldades existentes na produção de trigo no Brasil devese à ocorrência e à severidade de doenças causadas por fungos, as quais estão relacionadas às condições climáticas adversas, aliadas à suscetibilidade das cultivares. As perdas no rendimento são geralmente altas, justificando medidas apropriadas e econômicas de controle. Dentre as medidas gerais de controle das doenças do trigo, o uso de cultivares resistentes é, sem dúvida, a medida mais econômica e eficaz. Outras medidas, como o tratamento de sementes, a rotação de culturas e a eliminação de hospedeiros secundários, auxiliam na redução do inóculo dos patógenos. Além
Fórmulas estruturais de Tebuconazole e de Trifloxystrobin , ingredientes ativos que compõe o novo fungicida Nativo
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Figura 1 - Modo de ação do fungicida Dirceu Gassen
MECANISMOS DE AÇÃO
N
Detalhe da Giberela, doença do trigo, controlada pelo novo produto
dessas medidas, destaca-se o controle químico com fungicidas nos órgãos aéreos. Nativo possui duplo modo de ação, com proteção via externa e interna da planta (Figura 1). Tebuconazole tem efeito sistêmico completo, penetração rápida no tecido vegetal e translocação uniforme dentro da planta. Adicionalmente, o Trifloxystrobin tem forte ação mesostêmica, o que significa alta afinidade com a superfície vegetal e com as camadas de cera, fazendo com que se armazene de forma duradoura logo abaixo da superfície, criando um depósito de substância ativa, resistente à lavagem pela chuva. A partir daí, mediante mecanismos de redistribuição, o ingrediente ativo alcança inclusive pontos próximos dos órgãos vegetais que não foram perfeitamente cobertos pela aplicação. Além disso, certa quantidade de Trifloxystrobin passa à fase de vapor, redistribuindo-se nas folhas, e outra parte penetra no tecido foliar, devido à sua atividade translaminar. Desse modo, protegidos da influência de fatores climáticos, os dois ingredientes ativos controlam, com maior eficiência e por um prolongado período de proteção, as doenças do trigo. A associação de dois ingredientes ativos de reconhecida eficiência, além de dificultar o surgimento de resistência dos fungos, confere ao Nativo um amplo espectro de ação, com utilização em diversas culturas. Particularmente em trigo, cereal que é atacado na parte aérea por um expressivo número de fungos causadores de grandes prejuízos, o
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ativo associa dois mecanismos de ação distintos, atuando em vários pontos no metabolismo celular dos fungos. O componente triazol interfere na síntese dos esteróis, os quais são constituintes das membranas celulares e são essenciais ao crescimento e reprodução da maioria dos fungos. Já o Trifloxystrobin atua nas mitocôndrias, bloqueando a transferência de elétrons na cadeia respiratória. Esta ação reduz a produção de ATP, que é a energia vital para o crescimento dos fungos. Com a combinação desses mecanismos de ação, todos os processos bioquímicos importantes são interrompidos, e o desenvolvimento do fungo é paralisado, provocando a sua morte. novo produto é recomendado para o controle de ferrugem-da-folha, manchaamarela, mancha-marrom, oídio e giberela. Além do controle das doenças já citadas, este fungicida vem apresentando muito boa performance no controle da brusone, em ensaios oficiais conduzidos no Norte do Paraná. Com relação a suas formas de ação no ciclo do fungo, Nativo apresenta efeito protetor e efeito curativo. O efeito protetor consiste em evitar a infecção,
atuando na fase de germinação dos esporos do fungo e impedindo a formação de órgãos vitais à sua sobrevivência. Trata-se, portanto, de uma ação preventiva. Quanto ao efeito curativo, que se verifica após a infecção do fungo, o produto age sobre hifas e micélio, além de impedir a formação de esporos. Essas formas de ação conferem ao Nativo a possibilidade de controle das enfermidades num maior intervalo de tempo, propiciando ao triticultor maior flexibilidade na proteção de sua lavoura. Controlando as mais importantes doenças fúngicas do trigo, com a prevenção de resistência devido a seu duplo modo de ação, Nativo é um produto que supre as necessidades do produtor, proporcionando um prolongado período de proteção para as plantas. C Desenvolvimento de Produtos, Bayer Cropscience
Ação de tebuconazole e trifloxystrobin no ciclo do fungo
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Armazenagem
Olho nos roedores Responsáveis por perdas que chegam a 33 milhões de toneladas de alimentos ao ano, o entendimento do comportamento dos ratos e a montagem de estratégias são o diferencial no controle de focos
A
dorados por uns e amaldiçoados por outros, o certo é que os roedores sinantrópicos, ou ratos domésticos, estão convivendo conosco há muito tempo. Durante esse período, têm compartilhado conosco alimento, abrigo e proteção contra os predadores. Desse convívio, os roedores legam-nos prejuízos econômicos e sanitários. O primeiro informe sobre criação e proteção de camundongos pelo homem aparece na Ásia Menor, em 1.400 A.C., onde camundongos albinos eram adorados nos templos. Sacerdotes chineses os usavam,
para fazerem previsões. No Japão, o camundongo do folclore de Sagas era um ser sábio, mensageiro e símbolo do deus das riquezas, Dai Keku. Por outro lado, o gato de Núbia foi venerado por ser exterminador de ratos e camundongos, em 2.800 A.C. No Velho Testamento se descreve uma praga de camundongos e ratos em 2.000 A.C., precedida por enfermidades intestinais. Na Europa, os cristãos associavam ratos e camundongos com bruxas e feiticeiras, devido à atitude de rejeição assumida pela igreja contra os roedores desde o Antigo Testamento.
Mapa de uma unidade de armazenamento
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Associação de humanos com roedores comensais é muito antiga: esqueletos de roedores do gênero Mus e Rattus foram encontrados no Pleistoceno médio (2,5 a 1 milhão de anos atrás) junto a restos de alimento humano. De lá para cá, os ratos não nos largaram mais, pois fomos e continuamos sendo seus melhores parceiros, na medida em que atendemos às suas necessidades básicas de comida e abrigo, para que continuem se desenvolvendo, proliferando-se , dispersando-se por todos os cantos e espalhando doenças e prejuízos incalculáveis. Em 1986, a FAO/ONU estimou que há perda anual de 33 milhões de toneladas
DL50 em gramas de isca comercial de diferentes raticidas
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CONTROLE
Ricardo Soares Matias
de alimentos, causada por ratos, quantidade suficiente para alimentar 130 milhões de pessoas por ano. Segundo Hopf et. al, o Brasil perde de 4 a 8% da produção de arroz, milho e feijão (Rodent damage to growing crops and to farm and village storage in tropical and subtropical regions. Center for Overseas Pest Research Tropical Products Institute, 1976, 115 pp.) Conforme Rodriguez, M.J., o Brasil perde 49% de sua produção de cacau por ataque de ratos (Control de roedores en America Latina. Agricultura de las Americas, Julio/Agosto,1992). De acordo com Bowen & Kratky, 1986, calcula-se que nos EUA, a cada ano, os roedores destroem ou contaminam produtos agrícolas, com prejuízos à agricultura americana da ordem de US$ 30 milhões, ultrapassando o PNB combinado dos 25 países mais pobres do mundo. A persistência dessa situação fica na combinação da falta de interesse do governo, de conhecimento sobre a grandeza do problema e o fracasso de programas de controle (Roedores y cultivos. Agricultura de las Americas, Junio 1986). Segundo a OMS, 20% da produção anual agrícola no mundo não chega à mesa do consumidor. O Brasil perde cinco milhões de t/ano, equivalentes a 10% do to-
Ratos podem sobreviver durante meses sem água, com uma dieta de sementes
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O
controle de ratos dentro de uma unidade armazenadora pode ser realizado da seguinte forma: 1) Fazer croquis com legenda da área a ser controlada, enumerando e descrevendo cada setor da unidade armazenadora, identificando todos os problemas encontrados; 2) Treinar todos os envolvidos no processo de controle tanto na teoria como na prática, identificando os responsáveis pelo controle e um supervisor, os quais deverão assinar as fichas de controle; 3) A fase de controle compreende a aplicação de raticida anticoagulante de dose única, com a menor DL50 encontrada no mercado, que tenha um amargante. Isso significa maior segurança e uso de menos iscas; 4) Procurar vestígios (fezes, roeduras, trilhas, pegadas, tocas): dentro da balança, da moega, sobre as esteiras, sobre as máquinas de limpeza e pré-limpeza, sobre o equipamento de movimentação das fitas, nos túneis, no quadro de comando, na rede de esgotos, ao redor e sobre a sacaria, ao redor dos secadores e fornalha, no passadiço e nas algerosas, nos depósitos etc. Mapear todos estes sinais nas planilhas de controle. 5) Na medida em que os ratos se sentem mais seguros, ingerindo alimentos em locais mais protegidos, deve-se colocar a isca raticida dentro de pedaços de canos (20 cm) de PVC de 100 mm ou em caixas porta-isca; 6) Cada ponto de iscagem, dentro de caixas porta-iscas, canos de PVC ou semelhante, será denominado Ponto de Iscagem Permanente (PIP) e receberá um número. Em folha anexa, identifica-se o local onde o PIP está localizado; 7) Estes PIPs deverão ser colocados onde forem encontrados vestígios e em locais onde haja possibilidade de os ratos se esconderem ou transitarem, como no pé de elevador, na passagem de fios elétricos, na sala de manutenção, no depósito de lenha etc. 8) Após ter-se realizado a iscagem, em todos os locais previamente determinados, não se repõe a isca antes de uma semana. Os raticidas deverão ser repostos apenas
quando terminarem; 9) Caso o consumo se mostre muito alto, ou seja, correspondente a todo o ponto ou mais de 50% deste, dobra-se o número de iscas por ponto de iscagem; 10) Muitas vezes, não se obtém o sucesso almejado, pois se está tratando com seres vivos, cujo comportamento está sempre se alterando. Deve-se analisar a situação, para se verificar onde foi o erro e reorganizar-se a metodologia. Algumas vezes, torna-se necessário adicionar um atrativo maior à isca: cortar laranja lima ao meio, retirar um pouco de suco e colocar isca granulada, misturar isca granulada com banana, ou mamão, ou carne moída cozida, pincelar bloco com gordura de sardinha em lata ou essências etc.; 11) O manejo ambiental e a vigilância, ou monitoramento, são as últimas atividades a serem desenvolvidas, para se evitar que os ratos percebam que seu ambiente foi alterado. Com isto, a quantidade de iscas usadas diminui, ganha-se tempo e diminuem-se os gastos, pois, monitorando-se o ambiente, as iscas só são colocadas onde houver retorno de sinais. Para isto, devem-se varrer as fezes, pintar o madeirame, fechar as tocas, realizar capina, eliminar entulhos, evitar desperdício de água e alimentos, organizar a unidade, não deixar piso quebrado, vegetação alta, pedras, madeiras e entulhos amontoados e organizar sacarias e caixas em estrados, afastados entre si e das paredes por pelo menos 25 cm. 12) Não se pode avaliar o controle pelo número de ratos mortos, pois está-se incorrendo em erro. A maioria deles morre em lugares escondidos. Mas pode-se usar a alteração no volume de veneno consumido: se havia grande consumo, e agora este é pequeno, ou ausente, significa controle. Outra é o histórico da presença vísivel de ratos na propriedade, redução de estragos, redução de doenças, ausência de novos vestígios etc.
tal de grãos colhidos no Brasil. Ainda de acordo com a OMS, 26 das 999 causas de enfermidades e mortes, classificadas pela OMS, são causadas por ratos, seja através da mordedura, contaminação de alimentos, fezes, urinas ou pulgas que compartilham o mesmo hábitat do
homem. Estes roedores são responsáveis, direta ou indiretamente, por inúmeras enfermidades aos animais e humanos, como leptospirose, meningite estreptocócica, erisipela, febre aftosa, salmonelose, miocardites, toxoplasmose, hantavirose, tuberculo-
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Fotos Ricardo Soares Matias
ALIMENTAÇÃO
A
se, pasteurelose, parabotulismo, paratifo aviário, DRC, enterites, febre pela mordedura de ratos, coriomeningite linfocítica, peste bubônica, tifo murino, febre maculosa, triquinose etc. Reforça a idéia da necessidade de programas oficiais de controle de ratos o fato de que, dentre as conclusões, entregues à FAO, de especialistas em controle de ratos de 14 países, citamos: 1. Há que relacionar os níveis de danos com as perdas econômicas e a população de roedores; 2. Faltam políticas governamentais que orientem e fomentem estratégias racionais de controle; 3. Há necessidade de capacitar pessoal encarregado de tomar decisões e de controlar os danos causados pelos ratos. Os ratos vivem ao redor de um ano, as fêmeas atingem a maturidade sexual aos dois meses, têm seis ninhadas por ano, de seis a dez filhotes por ninhada e período gestacional de 21 dias. Dessa forma, as fêmeas são capazes de ser cobertas após o parto, tornando-se prenhas imediatamente após parir, e, assim, outra ninhada é produzida tão logo a anterior seja desmamada. Quer dizer, a população de ratos tem uma taxa de crescimento anual extraordinária, podendo, facilmente, chegar a mil indivíduos em pouco tempo, o que significaria que estariam ingerindo 20 kg de alimentos por dia. O controle populacional (químico, mecânico e ecológico) de roedores requer diferentes estratagemas, dependendo da forma como ocorre seu crescimento. Ambientes onde as condições de oferta de alimentos variam de favoráveis a desfavoráveis sistematicamente, por exemplo, nas épocas em que os armazéns ficam
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Detalhe de danos causados pelas ratazanas: cabo do secador roído
cheios de alimento por um determinado período de tempo, a população aumenta pela imigração a estes locais. Entretanto, esta fartura irá, em determinado momento, diminuir, o que resultará na redução populacional por movimentos emigratórios para novos hábitats. O controle destes focos de ratos deverá estar centrado na previsão e no monitoramento, com o uso de rodenticidas, para cortar o foco no início, prevenindo a ocorrência de surtos da praga. O crescimento destes animais se concentra em alguns locais onde a oferta de alimento é constante, como a palha deixada pelo plantio direto. Seja no momento do plantio, pela disponibilidade de sementes; seja no período de emergência, pela disponibilidade da plântula; seja no período da frutificação, pela disponibilidade direta do produto; seja no momento da colheita, pela disponibilidade dos resíduos ou
Pátio de uma unidade armazenadora deve estar livre de aglomerados
s ratazanas adultas requerem ao redor de 15 a 30 ml de água por dia, quando se alimentam de alimentos secos. Os ratos de telhado podem viver de cereais por grandes períodos de tempos sem acesso à água. Os camundongos normalmente bebem cerca de 3 ml de água diariamente, mas podem sobreviver com somente 0,3 ml. Podem ainda sobreviver durante meses, sem água, com uma dieta de sementes e também podem sobreviver com água do mar. Entretanto, necessitam de grandes volumes de alimentos, para poderem sobreviver. Precisam alimentar-se diariamente de aproximadamente 10% de seu peso, o que significa que um rato de 200 g precisa ingerir por dia ao redor de 20 g de alimentos. Entretanto, uma fonte de alimentos, como uma unidade armazenadora, não tem apenas um, dois ou três ratos, mas algumas dezenas. Número este que tende a aumentar, pois são animais com um crescimento denominado exponencial, ou seja, os ratos tendem a multiplicar-se ao infinito, pois não há nada que controle seu crescimento, a não ser o uso de raticidas e medidas de anti-ratização com manejo ambiental. seja no momento de entressafra, pela disponibilidade da palha. Nestes casos, medidas de controle devem ser mantidas permanentemente, pela constante presença de C alimento e esconderijo. Ricardo Soares Matias, Syngenta Proteção de Cultivos
Ricardo Matias dá dicas de como manter a propriedade livre de roedores
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Agronegócios
Nutrição e biotecno P
ara entender o potencial da biotecnologia, é preciso enxergar além das cultivares de soja ou milho resistentes a herbicidas ou a insetos. No futuro, as grandes contribuições da biotecnologia estarão vinculadas, principalmente, a alimentos mais nutritivos, destinados a preservar a saúde. A saúde humana (e dos animais) depende, em larga escala, da qualidade nutricional dos alimentos. Apesar da picanha, que faz o gaúcho lamber os beiços e morrer por excesso de colesterol, é nos vegetais que encontramos as fontes primárias de vitaminas, sais minerais, aminoácidos, ácidos graxos, ácidos nucléicos e fitoquímicos, que são substâncias essenciais para o nosso metabolismo.
FONTES Os grãos fornecem macronutrientes, como carboidratos, proteínas ou lipídios. Também apresentam vitaminas solúveis em gorduras, porém possuem baixas concentrações de cálcio e ferro. Os vegetais folhosos são boas fontes de vitaminas e sais minerais, porém são pobres em macronutrientes. As frutas contêm carboidratos, vitaminas solúveis em água e carotenóides. Entretanto, elas não dispõem de teores adequados de proteínas e de certos minerais. Portanto, a recomendação é diversificar a composição da dieta. Entretanto, nem sempre isto é possível. Pode ocorrer escassez sazonal de algum alimento. Outros têm preço inacessível para determinados extratos populacionais. Em alguns países ou regiões, a alimentação repousa em alimentos energéticos, como mandioca, arroz ou milho, causando desbalanços nutricionais. Tem mais: os nutrientes podem ser parcialmente perdidos no processamento ou cozimento.
DEFICIÊNCIA Para ilustrar o drama do desbalanço
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nutricional, o exemplo mais didático é aquele denunciado pela FAO, que estima haver 250 milhões de crianças com suprimento baixo ou nulo de vitamina A. Anualmente, entre 0,1 a 0,2% destas crianças com hipovitaminose A tornam-se cegas. Outros exemplos: a anemia ferropriva atinge um terço da população mundial, enquanto 25% da população sofre com deficiência de iodo. Na maioria dos casos, a deficiência de nutrientes dos alimentos é intrínseca à espécie, não havendo variabilidade genética para melhorar o seu teor, pelo melhoramento tradicional. A solução encontrada pela ciência é a biotecnologia, que independe das barreiras taxonômicas e de compatibilidade sexual, para possibilitar o cruzamento de espécies diferentes, tornando os nutrientes mais acessíveis à população.
NUTRIENTES ESSENCIAIS Para atender à recomendação dos nutricionistas, a dieta humana precisa conter carboidratos, proteínas e lipídios, além de 17 minerais e 13 vitaminas. Alguns nutrientes não são sintetizados pela espécie humana, como os ácidos graxos linolênico e linoleico, assim como é necessária uma fonte externa para nove aminoácidos essenciais. Entretanto, o fato de determinada substância ou elemento estar presente no alimento não significa que ele esteja disponível para o organismo humano. É o que os cientistas chamam de biodisponibilidade, ou seja, a condição de determinado nutriente ser integralmente aproveitável pelo organismo. Um nutriente pode estar indisponível por complexas ligações químicas que resistem à digestão. Existem alimentos com alto teor de ferro ou de cálcio, em que somente 5% do total é biodisponível, após a digestão.
MELHORANDO OS ALIMENTOS Através da biotecnologia é possível produzir determinadas substâncias em
plantas que não eram consideradas fontes deste nutriente. Também podem-se aumentar o teor das fontes tradicionais ou incrementar a biodisponibilidade. Nesse caso, a planta será melhorada para apresentar o mineral em forma diretamente disponível, ou determinada enzima será incorporada para que, durante o processo digestivo, libere o nutriente para uso do metabolismo humano. Mas a nutrição do futuro abraça integralmente o conceito de alimentos funcionais, nos quais a biotecnologia poderá fazer toda a diferença. Pesquisas recentes mostraram que existe um grupo de substâncias, denominadas fitoquímicos, que exercem importantes funções no organismo humano. Esse grupo compreende flavonóides, flavonas, fito-esteróis, fenóis e polifenóis, fito-estrógenos, glucosinatos e derivados do ácido indólico, entre outros. Essas substâncias atuam de diversas formas, quando absorvidas pelo organismo humano, sendo a mais importante delas a redução da taxa de risco de doenças, de distúrbios orgânicos e de tumores malignos.
INCREMENTANDO OS TEORES Por vezes, não imaginamos quão complexo é o labor de um cientista que se dedica a melhorar a composição química dos alimentos. A concentração de minerais em uma planta depende de eventos fisiológicos e metabólicos. O processo se inicia com a absorção do elemento presente no solo, prossegue com o transporte através do xilema, a adequação das rotas de transporte do floema e finaliza com sua alocação nos tecidos da planta. O tema realmente é complexo. O cientista precisa levar em conta que existe uma faixa ótima de concentração do mineral na planta. Abaixo desta faixa, há deficiência do mineral e, acima dela, pode ocorrer fitotoxidez. Quando um cientista persegue a
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ologia meta de aumentar o teor de um mineral, em uma espécie vegetal, ele necessita entender todo este processo abstruso, que vai da absorção à biodisponibilidade do mineral. No caso, a variabilidade genética não se resume a uma característica da planta, para que o teor de determinado mineral possa ser incrementado. Algumas vezes é necessário interferir em diversos processos metabólicos e fisiológicos da planta, o que seria impossível sem o apoio da biotecnologia.
FERRO, UM EXEMPLO A anemia ferropriva é um dos maiores problemas de saúde pública, em escala global, que levou os cientistas a dissecarem os mecanismos de absorção e uso do ferro pelas plantas. Embora encontrado nos vegetais em teores inferiores a 200 mg/kg de matéria seca, o ferro participa de diversos processos de oxidação e de redução, sendo essencial para a síntese da clorofila. Como o ferro é altamente reativo, ele pode catalisar a formação de radicais livres, que são perniciosos às plantas (e aos animais também), danificando ácidos nucléicos, lipídios e proteínas. Para evitar estes efeitos não desejados, as plantas regulam o teor de ferro livre, mantendo grande parte do ferro seqüestrado em formas não reativas. Esta é a gênese da bioindisponibilidade do ferro na cadeia alimentar. O leitor já percebeu que o desafio dos cientistas é enorme, pois é necessário tornar o ferro biodisponível para a dieta humana, sem ocasionar toxidez na planta. Além disso, a planta não pode conter radicais livres, que causariam problemas à saúde dos consumidores. Esta é uma das razões pelas quais, antes do advento da biotecnologia, as pesquisas, buscando melhorar a qualidade dos alimentos, apresentavam resultados pouco animadores.
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VITAMINAS As vitaminas são sintetizadas para cumprir determinadas funções na planta. A planta sintetiza a quantidade de vitaminas que necessita para seus próprios processos metabólicos. Portanto, quando um cientista busca aumentar o teor de vitaminas nas plantas também enfrenta uma complexa seqüência de processos que precisam ser adequados. Os tocoferóis (precursores da vitamina E) são substâncias solúveis em lipídios que atuam como anti-oxidantes e somente são sintetizados por vegetais, razão do interesse dos agrônomos em aumentar seu teor nas plantas. Os genes responsáveis pela síntese de tocoferóis, carotenóides, folatos, tiaminas e biotinas foram identificados e estão sendo introduzidos em alimentos que sejam mais acessíveis à população. Como os tocoferóis são lipossolúveis, aumentar o seu teor também permite regular a quantidade de lipídios ingerida pelo
consumidor, sem prejudicar a absorção da vitamina E.
OUTROS NUTRIENTES Considerações semelhantes podem ser feitas em relação a outras substâncias de importância nutricional. Com ferramentas biotecnológicas, é possível incrementar teores de ácidos graxos, aminoácidos essenciais ou de fitoesteróis, bem como eliminar princípios alergogênicos. Com a importância crescente que estes princípios nutracêuticos assumem, para que a nutrição seja cada vez mais um componente de uma vida saudável, aumenta o interesse da população pelos alimentos funcionais que os contêm. Como tal, aumentará a demanda por alimentos modificados geneticamente que possam aumentar a esperança de vida e a qualidade deste bônus de C terceira idade. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
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Ásia tem problemas climáticos e deverá aumentar importações de alimentos O mercado mundial está de olho no clima dos EUA, que, em junho, esteve seco e estimulou alta em Chicago. Mas o ponto importante vem da Ásia, porque, neste ano, as chuvas de monções não estão regulares e não chegam às regiões produtoras de grãos da China e da Índia. Perdas consolidadas se mostram nos dois países, que terão de vir a campo para comprar produtos. A China tende a comprar mais grãos, e a Índia, que pouco aparecia, deverá comprar óleo vegetal, fortalecendo as cotações das oleaginosas. Mas o ponto que nos interessa, nos traz liquidez e cria boas expectativas para a safra nova é a quebra na China, que, neste ano, poderá colher menos de 450 milhões de t, contra as 480 milhões, apontadas no começo do plantio, e as 469,5 milhões de t de grãos, colhidas no ano passado. O país irá consumir mais de 520 milhões de t. Houve atraso no plantio do milho e soja chineses, porque o frio se alongou, e muitas lavouras estarão nos campos em setembro, quando começa o período de geadas. Para complicar, este ano as chuvas de monções não estão chegando. Com as indicações da safra local de soja, apontada em 17,3 milhões de t, podendo cair para a marca das 15 milhões de t, ou abaixo disso, as importações, antes apontadas em 27 milhões de t para 2006, poderão ir à marca de 30 milhões. No lado do milho, que mostra perdas grandes, a safra tende a cair abaixo de 120 milhões de t, contra as 131,5 milhões de 2004. Desta forma, os estoques estão em queda livre. No caso do milho, que mostrava estoques de 64,9 milhões de t em 2003; 44,8 em 2004; 35,4 em 2005, os números passaram para 25,6 milhões de t em 2006. Se confirmada a quebra, o país estará com menos de 20 milhões de t no começo do ano que vem, passando de exportador para grande importador. Somente em milho, o país deverá consumir mais de 130 milhões de t. Outra boa notícia para nós é que o consumo de ração na China, que foi de 94 milhões de t em 2004, deverá chegar a 150 milhões de t em 2010. São boas notícias para o Brasil nos próximos anos. MILHO Safrinha em colheita O mercado do milho teve em junho um período de marcha lenta e poucos negócios. As cotações estão estabilizadas e não mostram fôlego para avanços a curto prazo. Isso porque a safrinha está chegando agora em julho, atendendo às necessidades dos consumidores. Desta forma, poderemos continuar por mais um período em ritmo lento de negócios, porque o câmbio baixo serve como limitador de alta para o cereal, pois facilita a importação. SOJA Poucas ofertas por parte de produtores Nas últimas semanas, os produtores continuaram segurando as vendas da soja e conseguiram ganhar. Isso aconteceu devido aos indicativos no mercado internacional estarem em alta, porque toda a safra americana plantada enfrentava problemas com o clima seco. Junto a isso, aumenta a indicação de que a ferrugem tem tudo para aparecer em boa parte dos campos de soja dos EUA. Isso eleva os custos dos produtores americanos, obrigando-os a não vender barato, para poderem ter margem de lucratividade com o grão. Os indicativos da soja neste mês de junho tiveram o melhor desempenho do ano, superando a marca dos US$ 7,00 por bushel em Chicago, sinalizando que trabalharemos com indicativos mais favoráveis também em julho. Seguem boas expectativas para o produto restante. O calo continua sendo o câmbio baixo. FEIJÃO Continua firme e favorável aos produtores O mercado do feijão continuou firme e favorável aos produtores. Os números estimulam o setor ao investimento no cultivo irrigado nos meses de julho e agosto, com as primeiras lavouras no estado de São Paulo, porque não existem ofertas de produto, para atender à demanda. Os indicativos que, em junho, mostravam dos R$ 90 aos R$ 110 aos produtores tendem a se manter firmes para agosto e setembro. Mes-
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mo com o clima favorecendo a safra de Ribeira do Pombal, na Bahia, o plantio local recuou, e, assim, a safra vem para atender ao consumo nordestino, e pouco deverá sair para outras regiões. Os produtores acertaram nestes últimos meses, porque estão plantando escalonadamente, não concentrando a oferta, e devem continuar acertando nos próximos, com as cotações firmes. ARROZ Estabilidade e poucos negócios Os negócios com o arroz continuaram escassos, com a maior parte das indústrias trabalhando com o que receberam na safra e não formando novos estoques. Também não estão recompondo os volumes negociados, e, desta forma, poucas alterações ocorrem nas cotações. Os produtores realizaram grandes manifestações
para sensibilizar o governo a dar apoio à comercialização através de compras diretas e Opções. O setor conseguiu promessas do governo, que iria comprar alguns volumes e também iria realizar operações de Opções, mas que até o final deste comentário não havia confirmado nada. O governo prometeu muita coisa, mas pouco havia cumprido, porque segue, de um lado, apoiando os produtores, mas, de outro, usando do arroz como fator de baixa na inflação. Há indicativos de crescimento das vendas do arroz em pacote nas gôndolas, com muito produto ofertado na faixa dos R$ 5,00 aos R$ 6,00 por 5 kg, ou seja, os indicativos do arroz neste momento estão semelhantes aos patamares praticados no começo do Plano Real há mais de uma década. Novamente o setor agrícola está bancando o controle da inflação, e o arroz está sendo o Cristo dos alimentos.
CURTAS E BOAS SOJA - Os produtores americanos começaram a safra indicando que, mesmo com boas condições de clima nos próximos dois meses, a produtividade deverá cair pelo menos 5%, e, como passamos a maior parte de junho vendo a seca tomando conta dos campos americanos, este prejuízo deverá ser muito maior. Bom para nós. ALGODÃO I - O câmbio continua sendo o gargalo para os produtores brasileiros, que, para ter rentabilidade, necessitam de alta produtividade, obtida por poucos neste ano, ou que a moeda americana estivesse no mínimo acima dos R$ 2,70. Com isso, o segmento segue na expectativa de problemas nos EUA e na Ásia como fator de alta que poderia favorecer as cotações por aqui. TRIGO I - As exportações de trigo da Argentina neste ano foram apontadas para baixo, com indicação atual de 10 milhões de t. Até a segunda semana de junho, cerca de 8,9 milhões de t já estavam negociadas, com aumento das compras dos moinhos brasileiros, que se beneficiam do câmbio baixo. As importações brasileiras somaram 2,8 milhões de t até 10 de junho, mas poderão se encerrar em pouco tempo, podendo, assim, trazer benefícios aos produtores brasileiros, que trabalharam com cotações fracas nos últimos dois meses e podem ver os números crescerem de agosto em diante. TRIGO II - Os produtores reclamam que o clima seco no Paraná, em São Paulo e no Mato Grosso do Sul causou perdas às lavouras. Desta forma, a safra, estimada em seis milhões de t, está comprometida, e os novos números poderão ficar pelo menos 10% abaixo deste volume. Há até comentários de que não passe das cinco milhões de t. Com isso, boas expectativas de cotações. BOA NOTíCIA - Em outubro, será divulgado na Europa, por um órgão denominado CDE (França), um estudo sobre os subsídios agrícolas no mundo. O estudo aponta o Brasil como o país que menos subsidia a agricultura, e isso servirá de apoio para novos embates na OMC.
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