Cultivar 76

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Cultivar Grandes Culturas • Ano VII • Nº 76 • Agosto 2005 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

08

Foto Capa / Reges Echer

Seletividade à prova Teste avalia seletividade de herbicidas, mostrando a ação de safener em pré e pós-emergência

18 Hora do controle Conheça os padrões de emergência das principais plantas daninhas e saiba qual a estratégia certa para o controle

Nossos cadernos

28

Fotos de Capa

Favorável para doenças

Dirceu Gassen

Clima favorável, cultivos subseqüentes e genótipos suscetíveis favorecem o surgimento precoce de ferrugem Charles Echer

42 Perdas repetidas A monocultura desencadeia problemas de doenças, pragas e plantas daninhas sem controle em lavouras de soja

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL

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Índice Diretas

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

• Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

06 • Revisão

Ação de safener em pré e pós-emergência 08

Silvia Pinto

Adubação em milho com mucuna preta e uréia12

Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

REDAÇÃO

COMERCIAL

Controle de ácaro-vermelho em café

14

Hora certa para controlar as invasoras

18

Lançamento do fungicida Artea

26

Novas raças de ferrugem em trigo

28

CIRCULAÇÃO

Como identificar a giberela

34

Cibele Oliveira da Costa

Controle da ferrugem da soja com BVO

38

• Assinaturas

Problemas da falta de rotação de culturas 42

Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes

Coluna Aenda

48

Benefícios do plantio adensado de algodão 50 Perspectivas e estratégias da Arysta

54

Agronegócios

56

Mercado Agrícola

58

Pedro Batistin

Sedeli Feijó Silvia Primeira

• Gerente

• Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.




Diretas

Rally

Café

Otimismo

Gerente de marketing, Marcos basso (esq.), prestigia as equipes vencedoras do Rally do Conhecimento, promovido pela Syngenta em conjunto com a Mitsubishi Motors, durante o jantar de lançamento do novo fungicida Artea.

De 23 a 25 de setembro, em Salvador (BA), será realizada a 2ª Conferência Mundial do Café, promovida pelo Ministério da Agricultura em parceria com a Organização Internacional do Café (OIC). Mais informações: www.worldcoffeeconference.com ou (71) 2102-6622.

O gerente de marketing da Compo do Brasil, Markus Dürr, está otimista com o programa Compo de Fertilização Foliar. Markus projeta para este ano uma participação ainda maior no segmento de nutrição de laMarkus Dürr (centro) vouras.

Site do Agricultor

A Belgo Bekaert e a Sansuy lançam o Vinisilo, silo móvel para armazenagem de grãos. O silo utiliza tela do tipo alambrado, da Belgo Bekaert, e é revestido com cobertura de lona Sansuy. O produto vai ser oferecido ao mercado em vários tamanhos – para armazenagem de 60 a 250 toneladas de grãos.

Recentemente lançado para a cultura do trigo, o fungicida Nativo, da Bayer CropScience, já possui um site que disponibiliza informações para o produtor. Pelo endereço www.nativofungicida.com.br, é possível consultar informações sobre o controle de doenças que atingem a produção da cultura no Brasil, além de dados sobre o clima, cotações e evolução das lavouras.

Divulgação Durante o jantar de lançamento do fungicida Artea, o gerente suporte técnico regional Sul, Milto Facco, apresentou o novo produto aos convidados, mostrando suas principais características e indicações de uso.

Seminário Milto Facco

Novo chefe-geral O engenheiro agrônomo Victor Ferreira de Souza, 47 anos, é o novo chefe-geral da Embrapa Rondônia (RO). Dentro da proposta de atuação para os quatro anos, pretende realizar atividades direcionadas aos agricultores familiares, aos assentados da reforma agrária e aos pequenos empreendedores rurais. Victor afirma que pretende dar atenção especial a ações de melhoramento genético de culturas tradicionais de Rondônia, como café e leite. Victor Ferreira de Souza

06

A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) promove, no dia 28 de setembro, o 12º Seminário Internacional Trigo – Brasil, que debaterá as perspectivas para o trigo e seus derivados. A novidade deste ano será a reunião das palestras e fóruns em duas etapas: o Ciclo Político e o Ciclo Técnico. Inscrições e informações : (011) 3078-9001 ou www.abitrigo.com.br

Caderno Feijão Ao contrário do que foi publicado no caderno técnico de feijão- doenças, da edição 73, o Produto de nome comercial Amistar e Amistar 500 WG possui modo de ação por contato e sistêmico e não mesostêmico, conforme citado.

Silo Móvel

Lançamento A Milenia Agro Ciências vai lançar em setembro um herbicida para a cana-de-açúcar. Carlos Zamataro, gerente de marketing, informa que Butiron será indicado para o controle de plantas daninhas de folhas Carlos Zamataro largas e estreitas no cultivo da cana.

Esclarecimento Luiz Felipe de Camões, engenheiro agrônomo da Sol Fertilizantes, é autor, juntamente com Fernando D. Warpechowski, do caderno técnico sobre Nutrição em arroz, encartado na edição 75 da Revista Cultivar Grandes Culturas. Luiz Felipe de Camões

Curso Estão abertas as inscrições para o II Curso de Culturas de Tecidos de Plantas, que acontece de 23 a 25 de agosto em Aracaju (SE). Durante os três dias, serão ministradas aulas por especialistas da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical e do Deagro. Inscrições e informações através do http:// www.cpatc.embrapa.br/culturadetecidos/

Homenagem

Pfizer

A Basf homenageou sojicultores pela produtividade alcançada com o uso do fungicida Opera na última safra no “destaque produtividade Opera”. Entre os estados que receberam o evento e tiveram os produtores locais homenageados, estão Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Em cada encontro, a Basf anunciou os três produtores que obtiveram os melhores resultados em suas lavouras com o uso do fungicida Opera na região. Cada produtor recebeu um troféu de reconhecimento.

Pfizer lança dois novos fertilizantes: Plantin CaB2 e Ferty-Mould, indicados para as culturas de alho, arroz, nectarina, soja e mamão. Plantin CaB2 é um composto de cálcio e boro, e Ferty-Mould, um fertilizante líquido que contém nitrogênio e potássio. “Cada um desses novos fertilizantes é indicado para uma fase da cultura, antes que as deficiências de nutrientes ocorram, ou seja, com objetivo preventivo”, explica José Rodrigues Santiago Oliveira, gerente da Unidade de Negócios Agrícola da Divisão de Saúde Animal da Pfizer.

David Velázquez Santiago

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Milho

Seletividade à prova Teste avalia a seletividade de herbicidas, mostrando a ação de “safener”, em pré e pós-emergência, quanto a injúrias e à produtividade final alcançada pela cultura do miho

O

manejo e controle das plantas daninhas na cultura do milho, freqüentemente, requisita técnicas eficazes. Dentre elas, os “safeners” (protetores ou antídotos), que têm a habilidade de aumentar os níveis de seletividade e segurança de certos herbicidas, são empregados para estender o uso de herbicidas disponíveis e explorar novos herbicidas seletivos sobre as culturas agrícolas. A eficiência e a seletividade dos herbicidas com safener, aplicados em pré-emergência na cultura do milho, mostraram-se seletivos para a cultura do milho, não sendo observado qualquer sintoma de injúria caracterizado por branqueamento, necrose ou redução do crescimento da cultura. Esses produtos, em suas maiores dosagens, foram altamente eficientes no controle das plantas daninhas presentes, até 30 dias após a aplicação (Mascarenhas, 2002). Estudando os efeitos alelopáticos de escovade-garrafa

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(Callistermon citrinus), foi isolado o herbicida natural secretado por essa planta (leptospermone). Dentro deste programa foi descoberto o mesotrione (Callisto), que se mostrou cem vezes mais ativo que o leptospermone (Bachiega & Soares, 2002). O mesotrione é um herbicida sistêmico do grupo das tricetonas, inibidor da síntese de carotenóides (enzima HPPD) nos cloroplastos (Foloni & Bachiega, 2002). No Brasil as combinações de mesotrione (Callisto) + atrazine (Primoleo), para o controle em pós-emergência das principais espécies daninhas (mono e dicotiledôneas), estão sendo desenvolvidas. Foloni (2002) avaliou a eficiência e a seletividade do mesotrione com milho cultivar IAC AL-Bandeirante, onde demonstrou que nenhum dos tratamentos avaliados apresentou sintomas aparentes de fitotoxidade, redução no desenvolvimento (altura) ou estande. Com relação à

eficiência, o nível de controle observado foi excelente (90-100%) e bom (80-90%), para mesotrione + atrazine (144+1200) e regular, para nicosulfuron (Sanson) no controle das plantas analisadas. Os resultados de produção mostraram a melhor produtividade para o mesotrione com 7 mil kg/ ha. Kunz et al. (2002) verificaram que a mistura mesotrione + atrazine aplicada em pós-emergência em híbridos de milho foi seletiva à cultura. A mistura em todas as dosagens apresentou aos 30 DAT controle maior do que 90% de B. plantaginea e foi similar à mistura de nicosulfuron + atrazine. Para D. horizontalis a mistura Callisto + Primoleo proporcionou controle de 92%, resultado muito superior à mistura nicosulfuron + atrazine (50%), atrazine + simazine (Primatop) (35%) e atrazine (28%). Para Bidens pilosa, Richardia brasiliensis, Raphanus raphanistrum, Amaranthus viridis, Spermacoce latifólia, Sida rhombifolia, Ipomoea gradifolia, Cardiospermum halicacabum, Commelina benghalencis e Euphorbia heterophylla, todos os tratamentos apresentaram controle superior a 95% aos 30 DAT. Maciel et al. (2002) estudaram o comportamento do anidrido naftálico (AN) na seletividade do herbicida isoxaflutole sobre a cultura do milho. Observouse que a associação do tratamento de sementes com AN ao herbicida isoxaflutole reduziu signi-

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Fotos Cultivar

ficativamente o branqueamento das folhas dos híbridos de milho a partir dos 14 dias após a aplicação (DAA), proporcionando aos 21 DAA aparência semelhante à da testemunha sem aplicação. A associação do AN com o isoxaflutole também proporcionou maior peso médio de espigas, diâmetro médio de espiga e número de grãos por fileira. Na ausência do isoxaflutole, o uso de AN aumentou a produção dos híbridos Cargill 435 e Colorado 32 em 7,2%. Na presença do herbicida houve aumento de produtividade, pelo uso do AN da ordem de 16,4 e 7,0 %, também de modo respectivo. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia do anidrido naftálico na seletividade do herbicida mesotrione (Callisto) + Atrazine (Primoleo) sobre híbridos de milho. O experimento foi conduzido no ano agrícola de 2002/03, na Fazenda Nova Esperança localizada na cidade de Alvinlândia (SP). O solo da área experimental é classificado como Argissolo vermelho amarelo, transição abrupta (Embrapa, 1999). Segundo a classificação climática de Koe-

Associação do tratamento de sementes com AN ao mesotrine incrementou a produtividade final de alguns híbridos testados

ppen, o clima predominante na região é do tipo Cwa, é caracterizado pelo clima tropical de altitude, com inverno seco e verão úmido (Lombardi Neto & Drugowich, 1994). Foram instalados três experimentos, cada qual com um tipo de híbrido de milho. Utilizaram-se sementes de híbridos Attack, Dow 8550 e Colorado 32. Os tratamentos químicos estudados sobre os três híbridos de milho estão apresentados na Tabela 1. Esses tratamentos foram aplicados em fatorial 2 x 3, constituídos com

protetor anidrido naftálico (AN), aplicado nas sementes dos híbridos de milho nas doses de 0; 0,5; e 1,0 % (p/p), onde foram submetidos ou não à aplicação do herbicida mesotrione + atrazine nas doses de 144 + 1200 e 288+2400 g.i.a/ha em pós-emergência no estágio de duas a quatro folhas dos híbridos. Houve dois tratamentos com o herbicida isoxaflutole (80 g/ha) aplicado em pré-emergência e uma testemunha capinada, sem aplicação de herbicidas. Foi necessário realizar capina dentro das parcelas tratadas (independentemen-


Tabela 1 - Tratamentos testados nos três experimentos com as respectivas doses dos herbicidas e do protetor anidrido naftálico para os híbridos de milho, aplicados em pré-emergência total te do produto) onde o mato não foi bem controlado. Essa prática foi realizada para avaliar apenas o efeito da combinação protetor e herbicida, sem interferência das plantas daninhas. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com três repetições. Cada parcela era composta de 14,4 m2 (4 linhas de plantio com 0,90 m entre linhas x 4,0 m). Os herbicidas utilizados contêm formulações comerciais de mesotrione (480 g/l), atrazine (400 g/l) e isoxaflutole (750 g/kg). O equipamento utilizado na aplicação dos tratamentos químicos foi um pulverizador costal à pressão constante de CO2 a 40 lb/pol2, equipado com barra de aplicação munida de bicos Teejet 110.02 XR, com consumo de calda de 200 l/ha. Aos 3, 7, 15 e 21 dias após a aplicação (DAA), foram realizadas avaliações de eficácia do protetor anidrido naftálico e da toxicidade dos herbicidas. Na época da pós-colheita, foi avaliada a produtividade dos híbridos de milho. Os resultados foram submetidos à análise de variância e ao teste de médias de Bonferroni. Observou-se que a associação do tratamento de sementes com AN aos herbicidas mesotrione + atrazine reduziu o branqueamento das folhas dos híbridos de milho a partir dos 7 DAT, proporcionando aos 15 DAT aparência semelhante à da testemunha sem aplicação, mesmo dobrando a dose da mistura mesotrine + atrazine (Tabela 2). Os tratamentos com o herbicida isoxaflutole, o branqueamento das folhas ocorreu a partir dos 15 DAT, proporcionando aos 21 DAT aparência semelhante à da testemunha sem aplicação, em acordo com Maciel et al. (2002). Pela análise de variância observouse que não houve efeito de tratamento

Trat. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Produto Comercial Callisto + Primoleo Callisto + Primoleo Callisto + Primoleo Callisto + Primoleo Callisto + Primoleo Callisto + Primoleo Provence Provence Testemunha capinada

Ingrediente ativo Mesotrione + atrazine Mesotrione + atrazine Mesotrione + atrazine Mesotrione + atrazine Mesotrione + atrazine Mesotrione + atrazine Isoxaflutole Isoxaflutole -

Dose g i.a/ha 144 + 1200 144 + 1200 144 + 1200 288 + 2400 288 + 2400 288 + 2400 80 80 -

Concentração do AN 0 0,5 1,0 0 0,5 1,0 0 0,5 -

Estádio de aplicação Pós-emergência Pós-emergência Pós-emergência Pós-emergência Pós-emergência Pós-emergência Pré-emergência Pré-emergência -

AN = Anidrido naftálico – concentração em % (peso/peso) para tratamento das sementes Callisto = 480 g mesotrione/litro – SC Primoleo = 400 g atrazine/litro – SC Provence = 750 g isoxaflutole/kg - WG

Tabela 2 - Valores médios de notas (%) aplicados para verificar a toxicidade ou seletividade nos tratamentos de híbridos de milho, avaliadas aos 3 e 15 DAT. Alvinlândia, 2003 Tratamentos Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Isoxaflutole (Pré) Isoxaflutole (Pré) Testemunha

Dose (L.ha-1) 0,3 + 3,0 0,3 + 3,0 0,3 + 3,0 0,6 + 6,0 0,6 + 6,0 0,6 + 6,0 0,106 0,106 capinada

AN % 0 0,5 1,0 0 0,5 1,0 0 0,5

Attack 3 DAT 6,67 5,00 0,0 8,33 6,67 3,33 11,67 0,0 0,0

15DAT 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Dow 8550 3DAT 15DAT 15,0 0 8,33 0 11,67 0 26,67 0 11,67 0 16,67 0 56,67 8,33 1,67 1,67 0,0 0

Co 32 3DAT 6,67 6,67 6,67 8,33 8,33 11,67 36,67 1,67 0,0

15DAT 0 0 0 0 0 0 3,33 0 0

Tabela 3 - Média, desvio-padrão e resultado da análise estatística da produtividade (kg/ha) dos híbridos de milho, submetidos aos tratamentos químicos. Alvinlândia, 2003 Tratamentos Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Mesotrione+Atrazine Isoxaflutole (Pré) Isoxaflutole (Pré) Testemunha

Dose (L.ha-1) 0,3 + 3,0 0,3 + 3,0 0,3 + 3,0 0,6 + 6,0 0,6 + 6,0 0,6 + 6,0 0,106 0,106 capinada

AN % 0 0,5 1,0 0 0,5 1,0 0 0,5

Attack 776,92 + 579,31 a(1) 825,0 + 609,11 a 542,25 + 401,86 a 740,17 + 483,87 a 1083,28 + 83,03 a 549,03 + 277,57 a 1025,71 + 1038,76 a 386,08 + 122,13 a 599,12 + 583,54 a

Produtividade (kg/ha) Dow 8550 578,01 + 183,75 a 297,76 + 286,18 a 473,70 + 285,90 a 380,07 + 157,00 a 571,30 + 373,71 a 503,94 + 309,65 a 958,66 + 505,91 a 375,14 + 339,38 a 612,00 + 380,58 a

Co 32 1097,06 + 508,85 a 715,57 + 507,04 a 1130,50 + 597,14 a 1117,94 + 265,13 a 1131,65 + 543,11 a 1002,20 + 530,69 a 858,23 + 299,95 a 616,92 + 232,74 a 926,62 + 337,57 a

Médias ? desvio padrão de 3 repetições. Médias seguidas de pelo menos uma mesma letra, não diferem, estatisticamente, entre si, pelo teste de Bonferroni, a 5% de probabilidade

Fotos Cultivar

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nos três híbridos considerados. A associação do AN com o mesotrione proporcionou maior produtividade nos híbridos Attack e CO 32. Na ausência de AN aumentou a produção do híbrido Colorado 32 (Tabela 3). A concentração de AN acima de 0,5 % (p/p) no tratamento de sementes de milho não proporcionou maior proteção aos herbicidas analisados. C

Experimentos avaliaram eficácia do protetor anidrido naftálico e toxicidade de herbicidas ao milho

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Dose p.c. (l ou kg/ha) 0,3 + 3,0 0,3 + 3,0 0,3 + 3,0 0,6 + 6,0 0,6 + 6,0 0,6 + 6,0 0,106 0,106 -

L. S. Souza, G. B. Coneglian, L. A. Goes Filho, E. D. Costa e M. Oshiiwa, Unimar

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Milho

Sinergismo perfeito A combinação da adubação verde, realizada com o cultivo de leguminosas em períodos de pousio, com a adubação mineral surge como alternativa promissora para aumentar a produtividade do milho

A

tualmente, grande parte do nitrogênio (N) exigido pelas culturas é suprida por fertilizantes minerais sintéticos. No entanto, o custo elevado desses insumos, aliado à crescente preocupação com a poluição ambiental, decorrente do uso indiscriminado e ineficiente de fertilizantes nitrogenados, têm estimulado a busca de fontes alternativas do nutriente, que substituam integral ou parcialmente os fertilizantes minerais. O cultivo de leguminosas como adubos verdes durante o período de pousio tem-se mostrado uma alternativa promissora, para atender à demanda de nitrogênio das culturas, devido à sua capacidade de fixação biológica de N2. Além disso, as leguminosas atuam na conservação do solo, promovendo melhorias das suas características físicas, químicas e biológicas. Mas, apenas mediante um manejo adequado, baseado no conhecimento do potencial e do padrão de fornecimento de nitrogênio dos adubos verdes, é possível obterse máximo benefício dessa prática, de forma que os adubos verdes supram as necessidades de nitrogênio das culturas e sustentem produções satisfatórias. Pesquisas indicam benefícios da associação de adubos verdes a fertilizantes minerais como fonte de nitrogênio para diversas culturas de interesse econômico, resultando em aumento de produtividade, em comparação ao uso isolado de ambas as fontes. De forma geral, uma fração significativa do N, proveniente de adubos verdes ou minerais, não é aproveitada pelas plantas, podendo permanecer no solo e ser utilizada por cultivos subse-

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qüentes, ou, ainda, ser perdida do sistema. Especificamente para a cultura do milho, os estudos realizados apresentam resultados variáveis, impedindo uma avaliação conclusiva sobre o destino do N proveniente de adubos verdes e mineral no sistema produtivo. Para superar essa dificuldade, pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS), e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, em Piracicaba (SP), desenvolveram um trabalho, para estudar as transformações do nitrogênio proveniente da mucuna-preta e da uréia na cultura do milho, visando estabelecer práticas de manejo que otimizem a eficiência de utilização pelo milho do N desses adubos verde e mineral e contribuir para a sustentabilidade do sistema produtivo. O estudo envolveu o uso de metodologia de diluição isotópica, com o marcador 15N, que permite acompanhar as transformações do nitrogênio no sistema solo-planta-atmosfera. Inicialmente, produziu-se o adubo verde mucuna-preta (Mucuna aterrima), marcado com 15N. Por ocasião do florescimento, o adubo verde foi cortado, mantendo-se os resíduos vegetais na superfície do solo durante o período de inverno. No início da primavera, esse material foi incorporado ao solo, semeando-se o milho quinze dias após. Além de avaliar o fornecimento de nitrogênio da mucuna-preta, que incorporou aproximadamente 115 kg/ha de N ao solo, a pesquisa testou, ainda, o efeito da uréia, aplicada nas doses de 50 e 100 kg/ha de N, e as combinações desses adubos verde e mineral na cultura do milho. Também a uréia utilizada no estudo era marcada com 15N, para possibilitar o acompanhamento das transformações do N desse fertilizante no sistema e a determinação das perdas do nutriente. Os resultados obtidos mostraram

que o aproveitamento de nitrogênio da uréia pelo milho foi maior que o da mucuna-preta (Tabela 1). Esse comportamento pode ser explicado pela lenta decomposição e, portanto, menor velocidade de liberação de N do adubo verde incorporado ao solo, relativamente à uréia, o que evidencia a superioridade deste fertilizante mineral como fonte de nitrogênio de liberação rápida para o milho. O aproveitamento de nitrogênio da mucuna-preta pelo milho variou de 10%, na ausência de uréia, a 14%, quando combinada a esse fertilizante mineral. Também a recuperação de N da uréia pelo milho aumentou, quando associada à mucuna-preta, passando de 40% para 50% (Tabela 1). Tais resultados indicam que a adubação verde com mucunapreta favoreceu a utilização de nitrogênio da

VARIAÇÃO SAZONAL

B

asicamente, existem duas formas de manejo dos adubos verdes, visando ao fornecimento de nitrogênio para as culturas: uso exclusivo do adubo verde, ou uso combinado a um fertilizante mineral. A primeira forma aplica-se, principalmente, à agricultura de baixos insumos que, por questões econômicas ou ambientais, visa substituir as fontes minerais de N por outras de origem orgânica. Comparativamente aos fertilizantes minerais, a eficiência de utilização de nitrogênio dos adubos verdes é baixa, raramente ultrapassando 20% no primeiro cultivo após a aplicação. Normalmente, os benefícios da adubação verde são constatados a médio e longo prazos, após alguns ciclos de cultivo, quando o sistema atinge um novo estado de equilíbrio. A principal implicação do fraco desempenho inicial dos adubos verdes reside no fato de que, muitas vezes, a quantidade de nitrogênio disponibilizada não é suficiente para suprir as necessidades das culturas, limitando a produtividade delas. Por outro lado, o manejo que combina o uso de adubos verdes ao de fertilizantes minerais mostra-se mais viável a curto prazo, atendendo à demanda de nitrogênio e garantindo produções elevadas às culturas.

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uréia, o que, provavelmente, deva-se à diminuição de suas perdas do sistema solo-planta. Mais nitrogênio do adubo verde permaneceu no solo, em relação ao fertilizante mineral (Tabela 1), o que é mais um indicativo da decomposição incompleta dos resíduos da mucuna-preta durante o período de cultivo do milho. Esse resultado explica, ainda, a menor recuperação de N da mucuna-preta pelas plantas de milho, sugerindo que o efeito residual do N dos adubos verdes deva ser maior que o de fertilizantes minerais. Aproximadamente 90% do N da mucuna-preta foram recuperados na camada superficial do solo (0-20 cm), enquanto que o valor correspondente para a uréia foi de 68%. A menor movimentação em profundidade do nitrogênio do adubo verde, em comparação com a uréia, demonstra sua menor suscetibilidade a perdas por lixiviação. O nitrogênio de adubos verde e mineral remanescente no solo é encontrado, predominantemente, sob a forma de compostos orgânicos, cuja conversão para formas disponíveis às plantas é lenta. Por essa razão, seu aproveitamento por cultivos subseqüentes é, em geral, bastante pequeno, inferior a 5% da quantidade aplicada. No entanto, a contribuição dessas fontes de N para as formas orgânicas

do nutriente é fundamental à manutenção da fertilidade do solo e à sustentabilidade do sistema produtivo a longo prazo. Tanto a recuperação de N da mucuna-preta quanto da uréia, nas plantas de milho e no solo, foram maiores quando utilizadas de forma associada. Quantitativamente, os tratamentos com aplicação de 100 kg/ha de N, na forma de uréia, proporcionaram maior recuperação de N, o que se deveu à maior quantidade aplicada do fertilizante (Tabela 2). As perdas de nitrogênio da mucunapreta foram maiores do que as da uréia (Tabela 2), o que se deve à maior utilização de N da uréia pelo milho, com conseqüente redução de perdas de N desta fonte. Nesse sentido, a influência da combinação da uréia com a mucuna-preta foi muito importante, por favorecer o aproveitamento do N da fonte mineral. C Walkyria Bueno Scivittaro, Embrapa Clima Temperado Takashi Muraoka, Antonio Enedi Boaretto e Paulo César Ocheuze Trivelin, Cena/USP

Tabela 1 - Aproveitamento de nitrogênio da mucuna-preta e da uréia pelo milho (ANM) e nitrogênio da mucuna-preta e da uréia residual no solo (NRes.S) Fonte de N

NRes.S, % ANM, % Parte aérea 0-20 cm 20-40 cm Mucuna-preta Mucuna-preta-15N 9,6 43,4 4,5 Mucuna-preta-15N + 50 kg/ha N da uréia 11,2 47,6 6,2 Mucuna-preta-15N + 100 kg/ha N da uréia 14,4 41,1 5,1 Uréia 50 kg/ha de N da uréia-15N 39,8 21,7 9,0 100 kg/ha de N da uréia-15N 37,6 17,6 10,0 Mucuna-preta + 50 kg/ha N da uréia-15N 43,5 25,8 13,2 Mucuna-preta + 100 kg/ha N da uréia-15N 50,0 26,0 10,2

Total 47,9 53,8 46,2 30,7 27,6 39,0 36,2

Tabela 2 - Nitrogênio, proveniente da mucuna-preta e da uréia, recuperado e perdido do sistema solo-milho Fonte de N

Mucuna-preta-15N Mucuna-preta-15N + 50 kg/ha N da uréia Mucuna-preta-15N + 100 kg/ha N da uréia 50 kg/ha de N da uréia-15N 100 kg/ha de N da uréia-15N Mucuna-preta + 50 kg/ha N da uréia-15N Mucuna-preta + 100 kg/ha N da uréia-15N

Nitrogênio, % Nitrogênio, kg/ha Recuperado Perdido Recuperado Perdido Mucuna-preta 57,6 42,4 57,6 42,4 65,4 34,6 65,4 34,6 61,2 38,2 61,2 38,2 Uréia 70,6 29,4 70,6 29,4 64,8 35,2 64,8 35,2 82,5 17,5 82,5 17,5 86,2 13,8 86,2 13,8


Café Alternativas ao controle químico, as estratégias de manejo ecológico de pragas são recomendadas como uma maneira de evitar desequilíbrios populacionais entre as espécies que vivem no café

O

gonychus ilicis (McGregor) (Acari: Tetranychidae), que tem causado prejuízos para os cafeicultores da região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (IBC ,1985; Reis & Souza, 1986). O uso excessivo de fungicidas cúpricos para o controle da ferrugem do cafeeiro, Hemileia vastratrix (Berk et Br.), pode causar um desequilíbrio das populações desse ácaro, o que traz como conseqüência aumento de suas populações, como mostrado em experimentos com doses crescentes de oxicloreto de cobre 50% e de outros fungicidas cúpricos que apresentaram resultados semelhantes (Paulini et al., 1980). Alguns piretróides utilizados no controle do bicho-mineiro, Leucoptera co-

Fotos Sheila Mourão

s ácaros fitófagos, em condições climáticas favoráveis e em situações de desequilíbrio populacional, provocadas pela redução da população de ácaros predadores, podem causar danos quantitativos expressivos à cultura do café (Reis & Souza, 1986). O uso de pesticidas não seletivos para o controle de artrópodes-pragas e doenças tem sido uma das causas principais da ressurgência de pragas, incluindo ácaros, e da redução ou supressão de espécies benéficas, como os ácaros predadores. A espécie mais comum e freqüente na cultura do café é o ácaro-vermelho, Oli-

Ácaro vive na parte superior das folhas, perfurando as células e retardando o crescimento das plantas, conforme visualização da figura à esquerda

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ffella (Guérin-Mèneville) (Lepidoptera: Lyonetiidae), também têm causado acentuado aumento no número de ácaros-vermelhos em plantas de cafeeiro (Paulini et al., 1980).

ESTRATÉGIAS DE CONTROLE Na estratégia de controle podem-se usar, em combinação, os métodos de controle cultural, controle químico, genético e práticas de controle biológico. Esses métodos, desenvolvidos e testados para cada praga específica, devem considerar o conjunto das pragas, evitando assim eventuais desequilíbrios. As principais estratégias são: 1) Redução da população praga e da infestação inicial; 2) Preservação e incremento de inimigos naturais; 3) Preservação e incremento da diversidade do agroecossistema; 4) Monitoramento de pragas e inimigos naturais.

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE CONTROLE Os métodos alternativos de controle desse ácaro-praga são táticas de manejo utilizadas dentro do sistema da agricultura alternativa, que engloba todos os sistemas orgânicos de produção agrícola conhecidos como “Agricultura Orgânica” (países de língua inglesa), “Agricultura Biodinâmica” (Alemanha), “Agricultura Biológica” (França), “Agricultura Natural” (Japão) e “Permacultura” (Austrália e Ásia). Entende-se como agricultura alternativa, o conjunto de sistemas de produção com enfoque holístico, que busquem a maximização dos benefícios sociais, a auto-sustentação, a redução da dependência de insumos e energia não renovável e a preservação do meio ambiente, através da otimização dos recursos

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naturais e sócio-econômicos disponíveis. Segundo Venzon et al.(2001), os agroecossistemas naturais podem ser tomados como modelo para as estratégias de manejos de pragas no agroecossistema. Ex: mantendo a diversidade a um nível elevado, os pequenos produtores diminuem as ameaças das condições instáveis (como praga), enquanto obtêm uma fonte de renda e de nutrição estável. Alguns pontos que norteiam a agricultura alternativa em relação aos métodos de controle de pragas são: a) Monocultura: As monoculturas favorecem as populações das espécies fitófagas “especialistas” e diminuem as populações dos inimigos naturais das pragas, devido à falta de diversidade do agroecossistema. Dentre os inimigos naturais que ocorrem em cafeeiro, os ácaros predadores da família Phytoseiidae são os mais importantes inimigos naturais dos ácaros fitófagos. De acordo com Pallini Filho et al. (1992), Iphiseodes zuluagai foi a espécie mais abundante da família Phytoseiidae em cafezais nas regiões de Machado e Lavras (MG). Esses sistemas de interação como teias alimentares formadas com diferentes organismos, predizem que todos os componentes desta teia podem interagir, estabilizando os níveis populacionais em ecossistemas cafeeiros. Plantas de Coffea spp. apresentam estruturas em suas folhas, denominadas domácias, que abrigam ácaros predadores e fungívo-

Figura 1, 2, 3, 4 - Curva da taxa instantânea de crescimento populacional do ácaro O. ilicis sobre a ação de extrato de óleo de torta de Azadirachta indica (Y= 0,31–5,62X, r2=0,87, F= 226,78, GL= 38 e P< 0.0001), de extrato de semente de Azadirachta indica (Y= 0,291– 0,027X, r2=0,83, F= 122,61, GL= 25 e P< 0.0001), de extrato de folha de Azadirachta indica (Y= 0,26–0,002X, r2=0,80, F= 128,85, GL= 33 e P< 0.0001) e mortalidade de I. zuluagai por concentrações discriminatórias (CL99) de extratos de óleo de torta de nim, folha e semente estabelecidas para o ácaro O. ilicis. Letras diferentes representam diferença significativa entre as médias pelo teste de Duncant a P<0,01

ros, sugerindo uma interação mutualística entre a planta e os ácaros que ali vivem. Matos (2001) avaliou em seus estudos o papel das domácias sobre populações do ácaro predador Iphiseiodes zuluagai (Acari: Phytoseiidae) em plantas de cafeeiros, os resultados obtidos mostram uma interação positiva entre a presença de domácias e ácaros predadores em cafeeiros, sendo essas estruturas de grande im-

portância para a sobrevivência e manutenção desses predadores nas plantas. Isso é de grande importância para o manejo sustentável de pragas, pois representa seu principal objetivo, ou seja, manter ou garantir a presença do predador no campo. Coffea arabica é mais favorável ao desenvolvimento do ácaro predador I. zuluagai do que Coffea canephora, por apresentar domácias que possibilitam melhores


Sheila Mourão

condições de abrigo e reprodução a esse predador. b) Diversificação do agroecossistema: • Consórcio: o plantio em consórcio aumenta a diversidade biológica e de alimento à entomofauna benéfica; • Cultivo em faixas: plantio de faixas de outra cultura que sirva como atrativo de inimigos naturais. Ex: Feijão, amendoim forrageiro, capim, banana etc. c) Métodos culturais: • Manejo da matéria orgânica: melhora as condições físicas do solo pelo fornecimento complementar de nutrientes para espécies que se alimentam diretamente da matéria orgânica; • consórcio e manutenção de plantas invasoras: aumenta a diversidade hospedeira dos agroecossistemas; • Uso de cobertura morta: controla algumas pragas, repele outras, torna a planta mais resistente ao ataque de pragas; • Rotação de cultura: promove a quebra do ciclo das pragas, melhora das condições físicas e químicas do solo e aumento da microflora e fauna do solo. d) Uso de compostos orgânicos: O uso de extratos e óleos de algumas plantas com potencial inseticida é uma medida alternativa de controle de pestes em lavouras,

Visualização do ataque do ácaro e da teia deixada sobre a folha, a qual dificulta a fotossíntese do cafeeiro

onde não é permitido o uso de agrotóxicos. Nesse contexto, o nim (Azadirachta indica A. Juss), uma árvore oriunda da Índia, tem sido foco de intensa atenção internacional durante as três últimas décadas, pois já foi demonstrada sua atividade contra 430 espécies de pragas. Extratos dessa árvore, conhecida há 5 mil anos e amplamente usada na Índia, têm sido pesquisados e crescentemente utilizados como fitoprotetor, nos EUA, Austrália e em países da África e da América Central. Esses extratos estão sendo recomendados por pesquisadores brasileiros como produtos alternativos aos agrotóxicos, para controlar o bicho-mineiro, Leucoptera coffella (Guérin-Mèneville) (Lepidoptera: Lyonetiidae), em lavouras de café Martinez (2002). Mourão et al. (2004 a,b) estudaram o efeito na mortalidade e na taxa instantânea de crescimento populacional de fêmeas ácaro-pragas, O. ilicis do cafeeiro, exposta a extratos de folha, semente e óleo de torta de nim (Tabela 1, Gráficos 1, 2 e 3), e a seletividade de concentrações discriminatórias desses extratos determinadas para O. ilicis ao ácaro predador I. zuluagai (Gráfico 4). Os extratos de nim apresentaram atividade pesticida e provocaram a toxicidade verificada para o ácaro O. ilicis e I.

zuluagai. Tais informações contribuíram para o controle de pragas em café orgânico e em lavouras convencionais, como método alternativo no controle de ácaros. As taxas instantâneas de crescimento populacional do ácaro O. ilicis diminuíram com o aumento da dose por contato e a ingestão dos três extratos de nim. O extrato de óleo de torta de nim foi altamente tóxico a I. zuluagai e pode reduzir populações desse ácaro predador e favorecer o aumento populacional de ácaros fitófagos como O. ilicis. Por outro lado, os extratos de folha e semente de nim foram mais seletivos a I. zulua-

Tabela 1 - Toxicidade de três extratos de Azadirachta indica (nim) ao ácaro-vermelho do cafeeiro O. Ilicis

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Cultivar

ÁCARO-VERMELHO

gai, e a utilização desses extratos pode contribuir para a preservação desse ácaro e potencializar a ação do controle biológico. A aplicação de biofertilizantes produzidos em pequena escala tem-se destacado, basicamente, pela simplicidade técnica de preparo e aplicação, pelos custos reduzidos e pela facilidade de obtenção dos componentes de suas formulações (Gravena, 1998; Souza, 1998). Um dos compostos mais difundidos utilizados em adubação foliar no Brasil é o

“Super Magro”, que se caracteriza pela fermentação anaeróbica do esterco bovino com a adição de micronutrientes durante o processo (Silva & Carvalho, 2000). O “Super Magro” tem sido recomendado pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA) para a utilização na cultura do café não somente como adubação química, mas também para o controle do ácaro-vermelho (Oligonychus ilicis) e do bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) (Silva & Carvalho, 2000). Apesar dessa recomendação e do uso difundido do produto em sistemas orgânicos de produção de café, não existem resultados científicos que comprovem a eficiência inseticida/acaricida desse composto. Semelhantemente, o uso de caldas fitoprotetoras (ex. calda bordalesa, calda Viçosa, calda sulfocálcica) tem sido propagado como eficiente para o controle de pragas. A calda Viçosa, utilizada para o controle da ferrugem do cafeeiro (Cruz Filho & Chaves, 1985), vem sendo difundida para o controle do bicho-mineiro do cafeeiro, apesar dos resultados divergentes relacionados à sua eficiência no controle dessa praga. Segundo Cruz Filho & Chaves (1985), a ocorrência do bicho-mineiro foi reduzida em plantas tratadas com a calda Viçosa. Herrera (1995) observou um incremento linear positivo na incidência do bicho-mineiro em função do aumento na concentração da calda Viçosa. A calda sulfocálcica além do seu efeito fungicida, é recomendada para o controle de cochonilhas em fruteiras de folhas caducas, mas no inverno, pois pode ser fitotóxica a algumas culturas. Apesar da falta de comprovação da eficiência da calda sulfocálcica no controle de pragas do cafeeiro e da ausência de informação sobre sua fitotoxicidade, alguns produtores de café orgânico tem utilizado a calda na tentativa de controle do bicho-mineiro e de ácaros (Guerra, 1985). Apesar da utilização em café orgânico de biofertilizantes como o “Super Magro” e de caldas fitoprotetoras, para o controle do bicho-mineiro e de ácaros fitófagos, pouco se

O

. ilicis foi descrito pela primeira vez na Carolina do Sul em 1917 (Pritchard & Baker, 1955). No Brasil, a primeira referência ao O. ilicis atacando cafeeiro, Coffea arabica L., foi no estado de São Paulo em 1950 (Amaral 1951). Esse ácaro já foi referido como a segunda praga em importância para o cafeeiro conilon, C. canephora Pierre, no estado do Espírito Santo, demonstrando ser este mais susceptível que C. arabica (IBC 1985). Esta espécie vive na face superior das folhas, que, quando atacadas, têm suas células perfuradas para a absorção de parte do seu contéudo pela praga, apresentam-se recobertas por uma teia produzida pelo próprio ácaro, onde aderem detritos que dificulta inclusive a fotossíntese. Este ataque geralmente ocorre em reboleiras, sendo que lavouras novas, em formação, terão seu desenvolvimento retartado; as lavouras fortemente atacadas ficam completamente avermelhadas (Reis & Souza, 1986). sabe a respeito da eficiência desses compostos contra essas pragas. É possível que a divergência entre os poucos resultados publicados e os relatados pelos produtores resulte de poucas (ou nenhuma) avaliações desses produtos que sigam os critérios de repetibilidade, casualização e controle local. Além disso, é necessária a avaliação criteriosa desses produtos, verificando-se os possíveis modos de ação contra as pragas do cafeeiro (repelência, antibiose, contato), para que seja comprovada ou não a sua ação inseticida/acaricida. Fundamental também é a verificação da ação de tais compostos sobre os inimigos naturais presentes no C agroecossistema utilizado. Sheila Abreu Mourão, José Cola Zanuncio, Universidade Federal de Viçosa


Invasoras

Charles Echer

O conhecimento dos padrões de emergência das plantas daninhas em uma área é fundamental para o estabelecimento das estratégias de manejo e controle no momento certo

A

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mente, por implementos agrícolas. O manejo químico, por meio de herbicidas, é uma tecnologia bastante recente, com pouco mais de meio século de uso.

CONHECIMENTO DA BIOLOGIA As plantas daninhas de folhas estrei-

Dirceu Gassen

s plantas daninhas são fatores bióticos, presentes nos sistemas produtivos, que podem interferir de forma significativa tanto na quantidade do material colhido como também na qualidade deste. As perdas podem apresentar valores superiores a 80%, no entanto, a média está próxima de 25 ou 30%. Em certas culturas de alto valor comercial, como o algodão, por exemplo, os danos causados à qualidade do produto podem resultar em elevadas perdas de receita que, por vezes, inviabilizam a lavoura. A presença e conseqüente interferência das plantas daninhas remontam à antigüidade, pois provavelmente o homem conviva com as comunidades infestantes desde a descoberta da agricultura. Inicialmente, o controle era realizado de forma mecânica por meio do arranquio manual, posteriormente, por capina com enxadas e, mais recente-

A aplicação de herbicidas para o controle das plantas daninhas proporciona agilidade e eficiência ao sistema de produção, sendo que a aplicação destes defensivos popularizou-se principalmente após a viabilização dos custos. As vantagens da aplicação de herbicidas nas lavouras agrícolas são diversas, contudo, também existem pontos negativos, pois o manejo de herbicidas exige do agricultor a plena conscientização da necessidade de equilibrar os possíveis danos à cultura e ao ambiente com o controle satisfatório das plantas daninhas. Desse modo, o conhecimento das características biológicas das plantas daninhas favorece a escolha da forma e do momento da intervenção química a ser utilizada. As infestantes apresentam padrões de emergência e germinação complexos e, por vezes, bastante diferentes entre as espécies, de modo que as medidas de manejo precisam ser adequadas a estas características.

O conhecimento dos padrões de emergência das plantas daninhas em uma área é fundamental para o estabelecimento das estratégias de manejo

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Pedro Christoffoleti

PÓS-EMERGÊNCIA

A

aplicação de herbicidas em POS é uma ferramenta que possibilita a escolha do produto e da dose a serem utilizados com base na infestação visual das plantas daninhas presentes na área. Essa estratégia fornece flexibilidade para o manejo a ser adotado, no entanto deve ser realizada com base em dois fundamentos: o estádio de desenvolvimento das infestantes e o controle destas antes do início da competição (PCPI). tas, principalmente da família Poaceae (gramíneas), apresentam exigências de elevada intensidade luminosa e alternância de temperatura no solo para que possam expressar todo o potencial germinativo. Essas exigências condicionam a maior germinação dessas espécies aos meses mais quentes do ano, desde que haja umidade suficiente no ambiente. Assim sendo, as espécies de folhas estreitas são mais problemáticas entre os meses de primavera e verão, aproximadamente entre setembro e até meados de abril-maio, na região Centro-Sul do Brasil. Outra característica que torna essa família importante nas áreas agrícolas é a significativa presença de espécies com ciclo fotossintético do tipo C4 (Brachiaria plantaginea, Digitaria ciliaris, Panicum maximum etc). Esse mecanismo de síntese de carboidratos está diretamente relacionado ao maior aproveitamento da energia disponível na atmosfera, o que condiciona um rápido crescimento e desenvolvimento das plantas. Esse mecanismo fisiológico auxilia na explicação do por que de estas

plantas daninhas apresentarem expressiva competitividade com as culturas, sobretudo quando em convivência com espécies de ciclo C 3, como soja e feijão, por exemplo. Por crescerem nos meses mais quentes do ano, muitas espécies poáceas fazem parte do grupo de plantas denominado “anuais de verão”. Essa denominação decorre do fato de estas plantas apresentarem ciclo de vida compreendido em período inferior a 12 meses. No entanto, há espécies que, quando crescem sob condições favoráveis, podem se perenizar na área, por meio de rizomas,

Cyperus, mesmo sendo plantas de folha estreita, têm facilidade de germinar sob palhada, devido ao desenvolvimento através de tubérculos


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estolhos ou mesmo pelo perfilhamento contínuo. Desse modo, o problema provocado por estas plantas é ainda maior, e as medidas de controle devem ser tomadas visando a eficácia máxima, obtida em tempo anterior à perenização dos indivíduos, que ocorre, normalmente, após o perfilhamento. O grupo das plantas daninhas anuais de verão não se restringe às poáceas,

tividade e eficácia, requerem a aplicação no estádio de desenvolvimento correto da cultura e das plantas daninhas e a administração das doses recomendadas. O grupo das plantas daninhas anuais de inverno tem predomínio das espécies latifólias, no entanto, tem-se, também, a presença de poáceas. As poáceas que aparecem neste grupo têm

tura, o que possibilita que elas germinem em condições menos específicas. As áreas agrícolas mantidas sob sistema de plantio direto são bons exemplos da expressão das exigências das sementes de plantas daninhas. A presença da palhada sobre o solo reduz substancialmente a incidência de luz e a amplitude térmica deste, fato desfavorável à germinação das poáceas. Nestas áreas

pois também há plantas de folhas largas com esse ciclo de desenvolvimento. Em geral, as plantas daninhas dicotiledôneas que infestam culturas de verão não têm um potencial competitivo tão elevado. A problemática destas espécies deve-se à existência de altíssimas infestações e, também, à mimetização das culturas e, assim, à dificuldade de escolha dos herbicidas. Herbicidas latifolicidas aplicados em soja e feijão, por exemplo, para apresentar elevada sele-

mecanismo fisiológico dominante pelo ciclo C 3, com crescimento mais lento, e infestam, de forma mais expressiva, os cultivos de cereais de clima mais frio, entre os meses de maio e setembro. As infestantes com folhas largas não apresentam exigências tão expressivas à germinação quando comparadas com as gramíneas. Comumente, as plantas dicotiledôneas têm sementes maiores, com grande quantidade de reservas e menor sensibilidade à luz e à tempera-

há o predomínio de plantas de folhas largas, pois, por necessitarem de menos luz e temperatura e terem reservas energéticas, são hábeis em germinar e atravessar a palha. A exceção à regra é a tiririca (Cyperus rotundus), que, mesmo sendo uma planta daninha de folha estreita, tem boa germinação e emergência em áreas de palhada, em parte favorecida pela propagação da espécie por meio de tubérculos, que a caracteriza como uma espécie perene.

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PERÍODO DE CONVIVÊNCIA Outro conhecimento que deve ser considerado para a escolha do melhor momento de efetuar o controle das plantas daninhas é a época e a duração em que a competição ocorre. Existem três períodos de interferência, obtidos experimentalmente, com denominações tradicionais. O primeiro destes é chamado de PAI – período anterior à inter-

são de plantas daninhas, haja visto que, após o completo fechamento do dossel, o problema resultante da presença das plantas daninhas é minimizado até a etapa da colheita. Por outro lado, o sistema agrícola adotado é muito dinâmico, conseqüência das diversas interações existentes entre cultura, planta daninha e ambiente (Figura 1). Dominando-se os padrões de emergência das espécies,

cada cultura etc. são formas simples e muitas vezes baratas que resultam em menores perdas por competição. No entanto, com freqüência, a pressão de infestação é elevada, e unicamente medidas culturais não são suficientes para assegurar a produção agrícola. Nesses casos tem-se a adoção do método químico, por meio da aplicação dos herbicidas para que a cultura mante-

ferência; outro período extremo é chamado de PTPI – período total de prevenção da interferência; o intervalo existente entre o PAI e o PTPI recebe a denominação de PCPI – período crítico de prevenção da interferência, no qual, efetivamente, a cultura deve ser conduzida sem a presença das plantas daninhas para que o rendimento seja assegurado (Tabela 1). Vale lembrar que a cultura, por si só, é um excelente mecanismo de supres-

bem como as épocas do ciclo das plantas em que a competição é mais expressiva, podem-se racionalizar as tomadas de decisão quanto ao controle a ser empregado. O primeiro aspecto que deve ser considerado é sempre proporcionar a vantagem competitiva para a cultura. Assim, a correta escolha do híbrido, variedade ou cultivar; a adequada época de semeadura; a consciente administração das etapas dos tratos culturais; a escolha do espaçamento apropriado de

nha-se, ao menos durante o PCPI, sem a presença das plantas daninhas. Esses agroquímicos são utilizados na dessecação de pré-plantio, em pré-plantio incorporado (PPI), em pré-emergência (PRE) ou em pós-emergência (POS).

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ESTRATÉGIAS DE MANEJO A dessecação é uma das etapas mais importantes em qualquer época do ano e cultura. A aplicação em área total de herbicidas não seletivos para a elimina-

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ESTÁDIO FENOLÓGICO Figura 1 - Modelo esquemático dos fatores que afetam a interferência entre as culturas e a comunidade infestante

E

mbora seja desconhecido por muitos, as plantas daninhas têm seu desenvolvimento ligado a diversos estádios fenológicos que caracterizam maior ou menor sensibilidade das plantas a aplicações de herbicidas. Depois de emersas, estas plantas dominam rapidamente o ambiente, seja por meio do desenvolvimento de um vigoroso sistema radicular, seja por meio do domínio do espaço com maior interceptação da luminosidade disponível. Quanto mais estabelecidas no ambiente, quanto mais bem formado o sistema radicular, ou mesmo quanto maior o número de folhas presentes nos indivíduos, mais difícil se torna o controle pós-emergente, e maiores serão os danos por competição.

Adaptado de Pitelli (1985) e Deuber (2003)

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tém alta e com adequada umidade nos solos, a pressão inicial de infestação das plantas daninhas pode ser excessiva, mesmo quando realizada a adequada dessecação da área. A emergência das plantas daninhas em período anterior à cultura aumenta a competição entre Charles Echer

ção da cobertura vegetal assegura a perfeita emergência da cultura a ser semeada e permite que o crescimento inicial das plantas se dê sem competição. Assim sendo, a dessecação deve ser realizada com a dose e o produto especificados, respeitando-se o estádio de desenvolvimento da comunidade infestante e com especial cuidado na regulagem das máquinas, visando a qualidade da cobertura foliar e a uniformidade de deposição da calda. A dessecação não deve ser realizada de forma muito precoce, pois, em casos de adequadas precipitação e temperaturas e baixa quantidade de palhada na superfície do solo, um novo fluxo de plantas daninhas germinará, favorecendo alta interferência inicial com a cultura. Nesse caso, quando em sistema convencional, recomenda-se uma gradagem leve, nos 5 cm superficiais de solo, para a eliminação das plântulas presentes, ou no caso de semeadura direta, nova dessecação será necessária. Por outro lado, a dessecação realizada muito próxima da semeadura pode expor a cultura a significativos efeitos alelopáticos, à existência de altas fontes de infestação de pragas e doenças e, também, a dificuldades de semeadura com conseqüentes falhas de stand. Em cultivos de primavera-verão, em que a temperatura do ambiente se man-

estas, com vantagens para o estabelecimento das mesmas na área, comprometendo a produtividade. Nesses casos, a aplicação de herbicidas em PPI ou em PRE torna-se um excelente mecanismo de supressão das plantas daninhas. A aplicação de herbicidas no solo deve ser realizada com base nos dados históricos de infestação e caracterização da comunidade infestante. O efeito residual dos herbicidas favorece o estabelecimento da cultura na área, e o ideal é que

Temperatura e luminosidade do ambiente influenciam a germinação das diferentes espécies de plantas daninhas

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Pedro Christoffoleti

A este efeito mantenha-se ao longo de todo o PCPI. No entanto, no campo, comumente tem-se a necessidade da aplicação de um herbicida em pós-emergência para assegurar o fechamento da cultura sem que ocorra competição. Em áreas de expansão de lavoura sobre antigas pastagens, a infestação de espécies poáceas (Brachiaria decumbens, B. brizantha e Panicum maximum), muitas destas perenes, é altíssima, sobretudo em função do volume de sementes que se acumulou nos solos ao longo dos anos. Nestas áreas, a aplicação de herbicidas com ação graminicida, em PPI ou PRE, torna-se imperativa para a redução do banco de sementes e, também, para evitar que o manejo fique condicionado a aplicações somente em POS, onde uma eventual falha de controle pode comprometer o ciclo cultural. As poáceas são mais facilmente controladas sempre que as aplicações são realizadas em período anterior ao perfilhamento, enquanto que as plantas daninhas de folha larga têm recomendação para aplicação no estádio de desenvolvimento de duas a quatro folhas, em que estão mais sensíveis aos herbicidas. Esse momento é denominado de pósemergência inicial ou precoce e garante o melhor controle das espécies (Figura 2). Assim sendo, o sistema produtivo deve ser planejado para que as aplicações sejam feitas sobre as plantas nos estádios mencionados, no entanto, não se excetua a aplicação dos produtos sobre plantas um pouco mais desenvolvidas, porém, ressalta-se que as doses apli-

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B Espécie poácea (A); e planta daninha dicotiledônea em estádio de 2-4 folhas (B), ambas em pósemergência inicial

cadas serão maiores para que o mesmo controle seja assegurado, fato que aumenta os custos e pode comprometer a seletividade da molécula. se uma receita para o manejo de plantas Outra opção que tem sido utilizada em daninhas, pode-se estar incidindo em lavouras, principalmente de cereais, é o grandes erros que comprometerão todo o fracionamento da dose recomendada do sistema. As espécies presentes na área, o herbicida pós-emergente em duas aplica- histórico de manejo adotado, a disponições de doses menores, realizadas ao lon- bilidade de moléculas herbicidas, a época go do tempo, prática denominada seqüen- e duração da competição, os custos etc. cial. As vantagens desse esquema de con- são parâmetros que devem ser consideratrole das plantas daninhas são a redução dos no instante da tomada de decisão de C dos sintomas de fitotoxicidade, o contro- quando e como realizar o controle. le de mais de um fluxo de ervas, a possibilidade de redução da dose total e ainda Pedro Jacob Christoffoleti, a maior flexibilidade do sistema. Esse es- Saul Jorge Pinto de Carvalho e quema de controle é interessante e pode Marcelo Nicolai, ser altamente eficiente, no entanto, por Esalq/USP se trabalhar com sub-doses, as aplicações devem ser realizadas sempre Tabela 1 - PAI, PTPI e PCPI das plantas daninhas sobre algusobre plantas nos estádios iniciais mas culturas agrícolas. Valores médios obtidos na literatura de desenvolvimento. Observa-se que os meios de conCultura PAI PTPI PCPI trole de plantas daninhas são mui- Algodão dias* 10-30 20-60 15-60 tos e que o manejo é otimizado sem- Arroz sequeiro (dias) 20-40 40-60 30-50 pre que se unem medidas culturais irrigado (dias) 10-15 30-45 10-45 às características específicas das Cana-de-açúcar plantio de ano 20-40 90-120 20-120 plantas daninhas e ao controle quíplantio de ano e meio 20-50 90-150 20-150 mico. Existem diversos herbicidas soqueiras 20-40 70-100 25-100 disponíveis para a agricultura bra- Feijão Dias 15-35 30-50 15-45 sileira, onde o conhecimento da diFenologia V2-V4 R5-R6 V2-R6 nâmica do banco de sementes e o Milho safra – dias 15-20 40-45 15-45 padrão de germinação de plantas safra – fenologia V2-V3 V6-V8 V2-V7 daninhas condicionam quais molésafra – graus-dia (GD) 120-250 250-420 150-400 culas se encaixam melhor no sistesafrinha – graus-dia (GD) 130-300 350-500 200-400 ma produtivo adotado. Não há uma Soja Dias 10-20 35-45 15-45 regra específica de quais herbicidas Fenologia V2-V4 R3-R4 V2-R3 utilizar ou quando aplicar. Sempre Trigo Dias 10-15 40-50 10-45 que se generaliza, ou seja, admite- * dias contados à partir da emergência da cultura

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Lançamento

Fotos Cultivar

Contra a ferrugem O

Brasil foi o segundo maior produtor mundial de soja na safra de 2004, com produção de 50 milhões de toneladas ou de 25% da safra mundial, estimada em 200 milhões de toneladas. Porém, perdas com pragas e doenças ainda são os grandes entraves na agricultura. Para atender a esta demanda dos agricultores por produtos que controlem com eficiência doenças como a ferrugem asiática (Phakopsora polissora), a Syngenta lança fungicida para soja no Paraná. Trata-se do Artea,

apresentado durante o Rally do Conhecimento, realizado na cidade de Cornélio Procópio (PR). Artea, que já possuía registro no mercado de trigo, agora passa a contemplar a cultura da soja e também da cevada. É um fungicida de ação sistêmica, contendo dois ingredientes ativos do grupo químico dos triazóis: o propiconazole e o cyproconazole. Indicado como preventivo e curativo, principalmente, no controle da ferrugem, possui como característica a rápida absor-

ção e translocação do produto na planta, fazendo com que o controle da ferrugem seja mais rápido. Milto Facco, serente suporte técnico ao mercado, explica que os triazóis, além de mais baratos, são posicionados principalmente para a segunda aplicação. “Do mercado de fungicidas para a ferrugem, hoje, 40% dele é composto por triazóis, e, desta fatia, participará Artea”, complementa Facco. Além da divulgação do novo produto e do rally promovido pela equipe da Mitsubishi Motors, o evento teve como propósito promover discussões e troca de informações com os 50 participantes. Entre os convidados, estavam técnicos e pesquisadores da região Sul do país. A idéia foi construir um relacionamento, uma maior interação entre os participantes, para dessa forma entender melhor a cadeia produtiva e conhecer as necessidades e formas de chegar ao produtor, confirma o geC rente de marketing, Marcos Basso.

O gerente suporte técnico regional Sul, Milto Facco, apresentou o fungicida Artea aos participantes

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Vilso Santi

Trigo Fatores como clima favorável, assim como, cultivos subsequêntes e genótipos suscetíveis favorecem o surgimento precoce da ferrugem e a grande habilidade do fungo superar genes de resistência do trigo

A

ferrugem da folha é uma das principais doenças que afetam a cultura do trigo (Triticum aestivum L) e ocorre em praticamente todas as regiões do mundo onde o cereal é cultivado. É causada por Puccinia triticina Erikss. (=Puccinia recondita Rob. ex Desm. f. sp. tritici), um patógeno que sobrevive somente em tecidos vivos da planta (biotrófico) e se desenvolve nas mesmas condições de ambiente favoráveis ao desenvolvimento do trigo. O fungo pode causar infecções, se houver um período de água livre sobre as folhas de três horas ou menos e temperaturas ao redor de 20ºC, no entanto, a maioria das infecções ocorre se houver períodos de umidade mais longos. Temperaturas abaixo de 2°C e superiores a 32°C são extremamente adversas à infecção pelo patógeno. O desenvolvimento da doença pode ser muito rápido sob temperaturas entre 10 e 30ºC. O fungo causador da ferrugem da folha apresenta uma alta especificidade pelo trigo, existindo uma estreita relação genética entre os diferentes genótipos e os diferentes isolados de P. triticina. Alguns isolados são capa-

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zes de causar infecção em um genótipo de trigo e não em outro, devido à virulência diferenciada, e, conforme essas diferenças em virulência, os isolados são agrupados em diferentes raças. Além do trigo, o patógeno também pode atacar seus ancestrais imediatos e o triticale. As perdas em rendimento dependem do estádio da planta em que a moléstia ocorre e, principalmente, da severidade, a qual é função da suscetibilidade da cultivar, da virulência da raça fisiológica e das condições de ambiente. A moléstia se caracteriza pelo surgimento de pústulas de coloração marrom- alaranjada contendo massas de uredosporos, os quais, ficam expostos após a ruptura da epiderme. Essas lesões têm formato arredondado e ocorrem em ambas as superfícies da folha, podendo atingir outras partes verdes da planta, inclusive espigas, quando as epidemias tornam-se mais severas. Após algumas semanas, as bordas das pústulas podem tornar-se negras, com a formação de esporos de resistência chamados teliosporos. Quando as plantas infectadas atingem a maturidade, a produção de uredosporos cessa, sendo pro-

duzidos então apenas os teliosporos. Os uredosporos de P. triticina são disseminados pelo vento, podem alcançar longas distâncias e dar início a novas infecções. Na América do Sul, existem duas unidades epidemiológicas, separadas pela Cordilheira dos Andes: a unidade Leste, que compreende a Argentina, o Brasil, o Paraguai, o Uruguai e as planícies da Bolívia; e a unidade Oeste, que compreende o Chile. Na Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, um total de 8,23 milhões de hectares de trigo têm sido plantados anualmente nos últimos cinco anos. No Chile foram plantados 400 mil hectares por ano. Nas regiões tritícolas dos países da unidade leste têm ocorrido todos os anos epidemias de ferrugem da folha, as quais freqüentemente são severas e ocasionam perdas no rendimento de grãos de até 50%, se não for efetuado controle com fungicidas. No Chile, a importância da ferrugem da folha tem aumentado nos últimos ciclos de cultivo, especialmente em variedades de trigo de

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Vilso Santi

inverno, nas quais foram verificadas significativas perdas em rendimento.

RESISTÊNCIA E RAÇAS

Daniel Augusto Gomes

O uso de cultivares resistentes é considerado como a forma mais eficiente e econômica para controle da ferrugem da folha do trigo, pois podem-se evitar as perdas causadas pela moléstia sem aumento dos custos de produção. Tradicionalmente, a resistência que confere proteção total à planta é preferencialmente usada nos programas de melhoramento, pela relativa facilidade com que pode ser identificada e incorporada. No entanto, os países do Cone Sul da América do Sul compartilham de algumas características que os predispõem à pouca durabilidade desse tipo de resistência, levando à necessidade de substituição de cultivares e de controle químico. Nesses países, as condições de ambiente são extremamente favoráveis, áreas extensas são cultivadas com os mesmos genótipos, genótipos suscetíveis ou moderadamente suscetíveis ocupam grande parte da área cultivada (31% e 42% respectivamente em 2003), as raças predominantes têm grande semelhança genética, há a presença de plantas de trigo voluntárias nas entressafras, e as épocas de cultivo são subseqüentes, formando uma “ponte verde”. Esses fatores contribuem para que o patógeno esteja presente na maior parte da região durante todos os meses do ano, favorecem o surgimento precoce da moléstia e o desenvolvimento de epidemias. Como resultado, durante todo o ano há uma grande quantidade de inóculo disponível, o que favorece a seleção e fixação de isolados mutantes com novas combinações de virulência. Além disso, o agente causal da

ferrugem da folha do trigo apresenta uma grande habilidade em superar genes de resistência específicos, chamados genes Lr (de “leaf rust”), e é provável que exista virulência para a maioria dos genes Lr mundialmente conhecidos. Essa habilidade pode ser entendida como o resultado da coevolução entre ferrugens e plantas. Sendo parasitas obrigatórios, esses patógenos coevoluíram com seus hospedeiros como componentes de um sistema muito influenciado pelas condições ecológicas, ou seja, qualquer mudança na população predominante do hospedeiro, resulta em mudanças subseqüentes na população do patógeno, para que o equilíbrio seja reestabelecido. Nesse cenário, é essencial a utilização de estratégias que possam, em conjunto, ajudar a minimizar a ocorrência e os danos causados pela ferrugem da folha do trigo. Uma delas é o conhecimento das combinações de virulência existentes na população do patógeno, através do levantamento sistemático de raças. Através deste estudo podem ser conhecidas prevalências, flutuações, ocorrência de novas combinações gênicas de virulência (novas raças) e efetividade de genes de resistência em uso e ainda não utilizados amplamente em cultivares. Vários países, como Estados Unidos, Canadá, Uruguai, Argentina, Austrália, Alemanha, México e Brasil, entre outros, têm feito um importante trabalho de levantamento de raças de ferrugem da folha do trigo. A Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) é o único centro de pesquisa no Brasil e dos poucos no Cone Sul que realiza esse tipo de estudo, cujas atividades tiveram início em 1975. Para aumentar a abrangência da amostragem,

Agente causal da ferrugem tem grande habilidade para superar genes de resistência específicos

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a partir de 1988 a Embrapa Trigo passou a preparar anualmente uma coleção de genótipos de trigo para a coleta de ferrugens, a qual é enviada a colaboradores de instituições de pesquisa situadas em várias regiões do Brasil e em outros países da América do Sul. Além disso, o estudo ainda conta com a colaboração espontânea de pesquisadores e produtores que enviam amostras de ferrugem da folha coletadas em áreas experimentais e lavouras. Na região amostrada, oito novas raças de ferrugem da folha foram identificadas nos últimos seis anos, com uma média de duas novas raças por ano. Os dados gerados em Passo Fundo têm sido utilizados tanto pela Embrapa quanto por outras instituições de pesquisa públicas e privadas, no Brasil e em países vizinhos. Essas informações têm sido especialmente importantes para dar suporte à tomada de decisões em programas de melhoramento e controle integrado, no que se refere à indicação de genótipos a serem cultivados, à escolha dos genes a serem combinados nos cruzamentos, à escolha da estratégia de utilização da resistência incorporada e à indicação da necessidade ou não do uso de fungicidas.

RESISTÊNCIA DE PLANTA ADULTA A resistência de planta adulta (RPA) se caracteriza pelo progresso lento da infecção, embora a resposta seja de suscetibilidade.

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DECIFRANDO A RPA Embora haja infecção nas folhas bandeiras, o nível de suscetibilidade não provoca o desfolhamento precoce devido à ferrugem, como em cultivares suscetíveis, em que as folhas secam enquanto as espigas ainda estão verdes. No campo, as cultivares com RPA tendem a ser menos infectadas após o espigamento. O nível dessa resistência pode variar de um genótipo para outro, sendo mais adequados aqueles genótipos que apresentem as menores taxas de desenvolvimento da moléstia. Deve-se salientar que a resistência só é considerada durável quando permanece efetiva por um longo período de tempo, apesar da ampla exposição ao patógeno em ambiente favorável ao desenvolvimento da moléstia. Esse é o caso das cultivares brasileiras Frontana e Trigo BR 23. Frontana, lançada em 1934, apresenta a combinação de genes de resistência Lr13 e Lr34, responsáveis por conferir a essa cultivar resistência de planta adulta durável. A resistência de Frontana tem servido como base para o melhoramento genético de cultivares na América do Norte e Austrália, as quais têm mantido adequada resistência. Essa estratégia também é utilizada com sucesso pelo Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), no México. O Trigo BR 23 pos-

S

e uma cultivar for resistente à maioria das raças, mas suscetível a apenas uma delas, haverá o risco de ocorrer uma epidemia, e, com isso, aumentam também as probabilidades de maior utilização de fungicidas e de substituição da cultivar. A pesquisa e utilização de formas de resistência mais estáveis, como a resistência de planta adulta (RPA), é uma necessidade cada vez mais urgente. Esse tipo de resistência é a alternativa mais promissora para integrar estratégias de controle da ferrugem da folha, uma vez que não causa a intensa pressão de seleção para raças virulentas do patógeno, como ocorre com a resistência baseada em genes isolados. Por esse motivo, considera-se que a RPA pode ser mais durável que a resistência total, tradicionalmente usada em programas de melhoramento e historicamente efêmera. sui os dois genes de Frontana e é um exemplo de cultivar que apresenta progresso lento da ferrugem da folha e à qual a doença não


UM POUCO DE HISTÓRIA

A

s ferrugens do trigo e de outros cereais são conhecidas desde a antigüidade e já naquela época representavam um temível obstáculo às lavouras. Aristóteles (384-322 a.C.) cita que ferrugens eram produzidas a partir de “vapores quentes” e menciona a devastação por elas causada e a ocorrência de epidemias. Teofrasto relatou ainda que as ferrugens eram mais severas em cereais do que em legumes. Evidências ainda mais remotas do efeito das ferrugens sobre as culturas podem ser encontradas na Bíblia, na história de José do Egito, 1800 anos antes de Cristo. José interpretou os sonhos do faraó como uma profecia, em que haveria sete anos de fartura e boas colheitas (vacas gordas) e sete anos de fome (vacas magras), nos quais as lavouras seriam “queimadas pelo vento”. A situação atualmente pode ser interpretada como o vento trazendo esporos de ferrugens, as quais teriam sido responsáveis por dizimar as lavouras, causando a fome e a calamidade, tal como relatado pelas escrituras. Outras provas de sua presença em tempos antigos foram fornecidas por escavações em Israel, as quais revelaram a presença de esporos de ferrugem do colmo datados de cerca de 1300 a.C. Os romanos também foram vítimas das ferrugens do trigo, cerca de 700 anos antes de Cristo. Assim como para outros acontecimentos inexplicáveis da época, os romanos criaram um deus, Robigus, o deus da ferrugem, o qual era glorificado na Robigalia. Esta foi uma cerimônia religiosa praticada por mais de tem causado prejuízos importantes, apesar do cultivo em área expressiva há mais de dez anos. Durante esse período, várias cultivares com resistência total foram lançadas e tornaram-se suscetíveis pelo surgimento de novas raças de ferrugem já no ano seguinte de lançamento. Na Embrapa Trigo, a resistência de planta adulta tem sido um dos focos do programa de melhoramento genético, onde grande progresso está sendo obtido. A vasta caracterização da reação de linhagens de trigo resultou, recentemente, na seleção de genótipos que aliam tipo agronômico superior e resistência de planta adulta. Estes genótipos encontram-se em fase final de testes e estarão disponíveis aos triticultores nos próximos anos como cultivares comerciais. Ainda é preciso que haja uma familiarização de técnicos e produtores

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1700 anos, desde 700 a.C até o declínio do Império Romano, e envolvia o sacrifício de animais de coloração avermelhada, tais como cães, raposas e vacas, na tentativa de acalmar a ira do deus Robigus, de forma que as lavouras fossem poupadas. Em 1767, os italianos Fontana e Tozzetti, separadamente, fizeram os primeiros relatos inequívocos e detalhados sobre a ferrugem do colmo do trigo. Mais tarde, em 1797, Persoon nomeou o organismo causador como Puccinia graminis, embora nos primeiros documentos registrados não fosse feita a distinção entre ferrugem da folha e ferrugem do colmo. Entretanto, por volta de 1815, de Candolle mostrou que a ferrugem da folha era causada por um fungo diferente e o descreveu como Uredo rubigo-vera. Desde então a nomenclatura desse patógeno passou por várias modificações, até chegar-se ao nome como é atualmente conhecido, Puccinia triticina, sendo Puccinia recondita também considerado como sinônimo usual. Este breve relato histórico mostra que as ferrugens e os cereais coexistem há milhares de anos, o mesmo após cem anos de melhoramento genético direcionado à resistência de plantas a moléstias (iniciado por Biffen, em 1902, na Inglaterra), parece que ainda estamos longe de vencer a batalha. Por outro lado, a pesquisa nessa área é incessante e cada vez mais concentra esforços para disponibilizar estratégias que proporcionem o manejo adequado da moléstia.

sempre utilizar os fungicidas e doses recomendados, sob pena de não obter-se controle eficiente ou ainda gerar insensibilidade ao produto. Estima-se que o custo de uma aplicação seja de aproximadamente 30 dólares. Para cultivares resistentes, especialmente aquelas semeadas em áreas expressivas, deve-se estar atento ao surgimento de pústulas de ferrugem com tipo de infecção suscetível (pústulas grandes, com esporulação abundante e sem borda amarelada), pois poderá haver surgimento de uma nova raça e quebra da resistência. Nesse caso, a recomendação de aplicação de fungicidas é a mesma, ou seja, quando houver traços de infecção. Para cultivares com resistência de planta adulta, em que há o progresso lento da ferrugem, é preciso que o produtor acompanhe o desenvolvimento da infecção. Em anos de condições de ambiente muito favoráveis, em que a ferrugem tenha surgido muito cedo, pode haver a necessidade de aplicação de fungicida, se o aumento de severidade for muito rápido na fase de crescimento vegetativo. Se a suscetibilidade em nível que necessite controle ocorrer em estádios adiantados de desenvolvimento, provavelmente, a aplicação de fungicida não será economicamente vantajosa. Na maioria dos anos, em cultivares com RPA, o nível de ferrugem só aumenta quando os grãos já estão formados, dispensando o C uso de fungicidas. Márcia Soares Chaves, Embrapa Trigo

com a RPA, mas somente se esta característica for priorizada no momento da escolha da cultivar, a ferrugem da folha poderá deixar de ser um fator limitante à produção de trigo.

CONTROLE QUÍMICO O cultivo de genótipos suscetíveis à ferrugem da folha em condições de ambiente favoráveis requer a aplicação de fungicidas. Nesse caso, a aplicação deve ser feita logo após o surgimento das primeiras pústulas, ainda com traços de infecção, e a reaplicação, no surgimento de novas pústulas. Devem-se

Um dos focos do programa de melhoramento genético da Embrapa Trigo, está na resistência de plantas adultas, afirma Márcia

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Maria Imaculada Lima

Trigo

Giberela ou não? Embora a giberela no trigo tenha-se manifestado em epidemias freqüentes, os produtores ainda confundem com outros problemas que afetam as espigas de trigo

A

safra de trigo colhida em 2003, cuja produção superou 5,5 milhões de toneladas, foi considerada a melhor de todos os tempos, tanto em qualidade de grãos como em produtividade. O clima foi favorável à cultura na grande maioria das lavouras, com algumas exceções, devido a geadas tardias, e, felizmente, desfavorável à enfermidade giberela ou fusariose, causada por Gibberella zeae (Fusarium graminearum). Nessa safra, não se registraram períodos freqüentes de condições climáticas com precipitação pluvial de, no mínimo, 48 horas consecutivas e temperatura entre 20 e 25oC, fundamentais para a ocorrência de epidemia de giberela. Apesar de essa doença não ter sido problema em 2003, a Embrapa Trigo atendeu a demandas internas e externas cuja entrega de amostras de espigas de trigo era acompanhada da seguinte pergunta: o problema é de giberela? A pergunta, quando formulada pessoalmente, muitas vezes, mais parecia uma afirmação. A maioria das consultas teve como resposta de diagnóstico do problema na espiga outro fator que não a doença giberela. O fato de o direcionamento das indaga-

Maria Imaculada explica que danos causados por insetos e também pelo clima confundem produtores quanto aos verdadeiros sintomas da giberela

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de todas as espiguetas da porção superior da espiga. Nesse caso, a ráquis apresenta coloração escura também na região de espiguetas sadias. Em condições favoráveis, sinais (estruturas) do patógeno podem ser produzidos. Algumas espiguetas afetadas, de espigas ainda verdes, apresentam coloração rosa-salmão, em decorrência da produção de macroconídios de F. graminearum. Essa coloração, geralmente, permanece até o fim do ciclo da cultura de trigo. Outro sinal do patógeno pode ser observado nas espigas secas, que apresentam pontuações escuras, ou seja, os peritécios do patógeno, formados no exterior das espiguetas. Nas espiguetas afetadas são produzidos grãos chochos, enrugados, de coloração branco-rosada a pardo-clara. O tamanho do grão afetado varia em função do estádio de desenvolvimento em que a espigueta foi infectada pelo patógeno.

SINTOMAS CONFUNDIDOS ções ter sido voltado à doença giberela poderia ser atribuído às epidemias freqüentes da doença, verificadas nos últimos anos, causando sérios prejuízos nas últimas safras, pois, além de terem afetado o rendimento de grãos, prejudicaram a qualidade dos grãos produzidos. Visando a auxiliar no reconhecimento da doença, assim como no discernimento dos principais problemas que têm afetado espigas de trigo nas últimas safras e que vêm sendo confundidos com giberela, a seguir, serão repassadas informações básicas e de caráter prático para o reconhecimento dos principais sintomas e sinais induzidos por giberela, bem como as causas das principais anomalias em espigas de trigo que têm sido confundidas com giberela.

PRINCIPAIS SINTOMAS E SINAIS Os sintomas característicos de giberela em trigo são espiguetas despigmentadas, de coloração esbranquiçada, ou cor de palha, que contrastam com o verde normal de espiguetas sadias. Também é considerada sintoma típico de giberela a alteração do sentido das aristas de espiguetas afetadas, as quais se desviam do sentido das aristas de espiguetas não afetadas. Em genótipos de trigos múticos (espigas sem aristas), a giberela é caracterizada por descoloração de espiguetas. Em genótipos muito suscetíveis, ou em anos em que as condições de ambiente são muito favoráveis ao desenvolvimento da doença, toda a espiga pode ser afetada, adquirindo aspecto esbranquiçado, sendo denominada de espiga branca. O pedúnculo também pode ser afetado e adquire coloração amarronzada. Às vezes, as espigas afetadas evidenciam sintomas de giberela pela descoloração

Algumas alterações que ocorrem em espigas de trigo, provocadas por outros fatores alheios à giberela, freqüentemente são confundidas com sintomas semelhantes, ou não, aos provocados por giberela. As mais comuns são: • geada: os danos por geada decorrem da formação de gelo nos tecidos vivos de plantas. As espigas afetadas adquirem, inicialmente, coloração verde-escura, com aparência de molhadas. Posteriormente, tornam-se totalmente despigmentadas (esbranquiçadas) e são facilmente destacáveis, juntamente com parte do colmo, no ponto em que ocorreu o estrangulamento deste. Quando há ocorrência de geada na fase final de enchimento de grãos, estes podem adquirir aspecto esbranquiçado e enrugado. • coró: os danos são causados exclusivamente pelas larvas, que se alimentam principalmente de raízes. As plantas que sobrevivem apresentam espigas cor de palha, não ocorrendo enchimento do grão. As plantas afetadas desprendem-se facilmente na região próxima à superfície do solo, por falta de raízes. • granizo: grânulos de gelo que se precipitam durante as tempestades. O dano dá-se por ação mecânica, causando acamamento, quebra de colmos, secamento de espigas e debulha de grãos. Assim como a geada, o secamento (branqueamento) de espigas na lavoura é observado em cinco a sete dias após a ocorrência do fenômeno. • broca do colmo: ataca o colmo, geralmente na porção mediana, em cujo interior se observam perfuração e excrementos da larva. Provoca secamento da espiga (espiga branca), que se destaca facilmente na região afetada do colmo. • percevejo: os percevejos são insetos su-

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INFORMAÇÕES

E

m pesquisa realizada na Embrapa Trigo, em que se inoculou o patógeno em plantas de trigo a partir da espiga recém-emergida (sem exposição do pedúnculo), até quinze dias após o início do florescimento, determinouse que, sob condições favoráveis à ocorrência da doença, espigas de trigo podem ser severamente afetadas por giberela, a partir do espigamento. Assim, tem sido sugerido que pesquisas relacionadas ao controle químico da doença sejam realizadas também a partir do espigamento de trigo. Não existe cultivar de trigo, indicada para plantio, resistente à giberela. A Embrapa trigo vem concentrando esforços em melhoramento e selecionando trigos em ambiente favorável, em campo, à ocorrência da doença. Assim, disponibiliza sete cultivares de trigo consideradas, atualmente, moderadamente resistentes à giberela. Essas cultivares são: BRS 177, BRS 179, BRS Timbaúva, BRS Louro, BRS Umbú, BRS Camboim e BRS Tarumã.

gadores. Quando atacam plantas em fase de emborrachamento, causam morte de espiguetas ou de espigas. As espigas que emergem apresentam-se deformadas, secas e brancas. • melanismo: regiões escuras, de tonalidade arroxeada, que podem ocorrer em glumas e/ou pedúnculo. O melanismo ocorre pela produção de melanina, que é um pigmento de cor escura. As áreas com sintomas são, geralmente, as expostas à radiação solar, sendo comum observar-se, na mesma espiga, no lado oposto ao dos sintomas, a ausência destes. • brusone: doença causada pelo fungo Pyricularia grisea (Magnaporthe grisea), é considerada problema nas regiões Norte e Noroeste do Paraná, Sul de São Paulo (Vale do Paranapanema) e Brasil Central. O sintoma característico é a morte da espiga acima do ponto de infecção. A coloração escura na ráquis é detectada apenas na região e proximidades do ponto de infecção. Deve-se lembrar que, para o diagnóstico correto do problema em espigas de trigo, é essencial dispor de histórico de ocorrências na lavoura, uma vez que os sintomas em espigas e em grãos podem ser semelhantes a alguns C sintomas provocados por giberela. Maria Imaculada Pontes M. Lima, Embrapa Trigo




Soja

Menos calda, maior controle Aplicações de fungicidas, através do sistema de Baixo Volume Oleoso, são mais eficientes no controle da ferrugem asiática, devido à rapidez na aplicação e à homogeneidade das gotas Nesse sentido, o Centro Brasileiro de Bi-

A

ferrugem asiática da soja foi nas últimas safras um fator limitante para a produção desse grão em diversas regiões do país. Caracterizando-se por um elevado potencial de disseminação e um ciclo muito curto do fungo causador, Phakopsora pachyrhizi, essa doença provoca uma rápida queda das folhas infectadas, e sem controle a desfolha da cultura é total, o que pode representar elevadas perdas da produtividade e da qualidade dos grãos. Os produtores contam atualmente com fungicidas eficientes para a proteção de suas lavouras, entretanto, a manutenção da ferrugem asiática abaixo do nível de dano econômico tem-se mostrado muito difícil pelo curto intervalo de tempo entre o diagnóstico e a necessidade do controle químico. Diante da vasta área cultivada com soja e outras culturas anuais que necessitam tratamentos no mesmo período de chuvas intensas e contínuas, o número de equipamentos aéreos e terrestres é insuficiente, principalmente pela cultura já arraigada entre técnicos e produtores de que os maiores volumes de água são mais eficientes para o controle de pragas e doenças. A falta de equipamentos, o baixo rendimento operacional das tecnologias de aplicação em altos volumes - mais utilizadas atualmente - e a falta de treinamento das equipes encarregadas das aplicações são os problemas mais sérios dos tratamentos fitossanitários praticados atualmente no Brasil. A eliminação desse gargalo no complexo produtivo agrícola passa pelas seguintes soluções: • Aumento da disponibilidade dos equi-

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pamentos terrestres e aéreos; • Treinamento das equipes; • Aumento da eficiência operacional dos equipamentos. No caso das aplicações aéreas, o aumento das aeronaves agrícolas e de suas tripulações, para enfrentar as doenças da soja, inclusive a ferrugem asiática, com tecnologia convencional, significará dobrar a frota atual de mil aviões em operação no mais curto espaço de tempo, o que representa um notável investimento para a nossa agricultura tanto na aquisição de equipamentos como no preparo de pilotos e técnicos em número suficiente para a operação adequada dessa expansão da frota aérea. Além do aumento da frota de aviões, o aumento da eficiência operacional da frota atual é a alternativa mais lógica para vencermos esse desafio.

oaeronáutica - CBB criou e vem desenvolvendo, desde 1999, o sistema de aplicação em Baixo Volume Oleoso (BVO). Com esse sistema que utiliza os atomizadores rotativos de disco turboaero produzidos pelo CBB, as aeronaves produzem neblinas com gotas de diâmetros muito próximos entre elas, e, através de regulagem de sua rotação, é possível produzir mais de 80% das gotas dentro do diâmetro de maior eficiência biológica para aquele tratamento que se pretende realizar.

BVO No Sistema BVO, aplicam-se defensivos com volumes de calda entre cinco e dez litros por hectare, e os defensivos agrícolas são veiculados em óleos vegetais degomados e ativados com emulsificantes. Essas misturas de óleo e defensivos se emulsionam com água, permitindo assim a aplicação com gotas finas e homogêneas, com bai-

A eficiência em aplicações utilizando BVO a 8, 12 e 15 litros/ha de vazão, foram semelhantes ao controle usual de 30 litros/ha

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xo nível de evaporação, grande capacidade de penetração, maior eficiência biológica e maior efeito residual. Esses efeitos também podem ser obtidos com o uso de coadjuvantes modernos que têm a capacidade de dar às caldas características antievaporantes e humectantes. Os sistemas convencionais de produção de neblinas para aplicações com altos e baixos volumes de calda, tendo a água como veículo dos defensivos, utilizam sistema de pressão hidráulica e bicos pulverizadores que produzem neblinas com gotas de tamanhos muito variados entre si. Os sistemas que aplicam baixos volumes de caldas, como o ultra baixo volume, desenvolvido nos Estados Unidos em 1962, e mais recentemente o sistema BVO®, desenvolvido pelo CBB em 1998, usam obrigatoriamente como veículo os óleos vegetais, ou coadjuvantes, que reduzem a evaporação das neblinas, a fim de minimizar a evaporação dos produtos aplicados, e utilizam os sistemas de atomização rotativa de tela ou de discos para produzir uma neblina com gotas de tamanhos muito próximos entre si. A aplicação aérea com atomizadores rotativos e com gotas finas, utilizando apenas a água como veículo, é uma prática condenável que já causou grandes prejuízos aos agricultores e à aviação agrícola no Brasil Central na década de 90. As diferenças mais importantes entre as neblinas das aplicações aéreas, feitas nos sistemas convencionais, e as neblinas das aplicações em BVO são visíveis nas fotos e nas coletas em cartões sensíveis apresentadas nas Fotos 1 e 2. Em apenas quatro anos, a frota de aeronaves agrícolas equipadas com o atomizador turboaero e aplicando no Sistema BVO passou de cinco para 400 aviões, com mais de quatro mil aparelhos em operação em todo Brasil, e isso se deve ao reconhecimento pelos agricultores das vantagens apresentadas pelo sistema. No caso particular do controle da ferrugem da soja, o aumento de 60% a 120% no rendimento das aeronaves agrícolas possibilitou a realização dos tratamentos nos curtos períodos de tempo disponíveis. Outra vantagem observada de maneira generalizada é o aumento do efeito residual provocado pelas formulações oleosas.

RENDIMENTO E EFICÁCIA Com o desenvolvimento do sistema BVO, as entidades de pesquisa se mobilizaram para avaliar com base científica o controle da ferrugem asiática através do novo sistema. Os resultados obtidos demonstram claramente que, em termos de eficiência biológica e produtividade das lavouras de soja, os resultados obtidos são iguais ou superiores aos ob-

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tidos com os tratamentos convencionais. O trabalho “Aplicações Aéreas Visando o Controle da Ferrugem da Soja”, apresentado pelo engenheiro agrônomo Tiago V. Camargo e colaboradores da Fundação Mato Grosso, no III Sintag - Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação de Defensivos, conclui que “as aplicações aéreas de fungicidas, realizadas preventivamente para o controle da ferrugem, utilizando BVO a 8, 12 e 15 litros/ha de vazão, foram semelhantes ao controle usual de 30 litros/ha com as suas eficiências comprovadas”. Os poucos casos de insucesso nas aplicações em BVO foram cuidadosamente analisados, e em todos eles houve falha operacional, com aplicações realizadas em condições meteorológicas adversas, principalmente, com ventos fortes e vôos excessivamente baixos, temperaturas superiores a 34o centígrados ou condições atmosféricas de estabilidade absoluta com inversão térmica. Também são causas de problemas as misturas mal formuladas com óleos de má qualidade e as misturas com pH muito fora do requerido para os tipos de produtos químicos que estão sendo aplicados, principalmente pela adição de micronutrientes nas misturas fungicidas.

As aeronaves agrícolas, realizando aplicações no momento correto, em condições meteorológicas adequadas, com equipamentos certificados e, principalmente, devido ao seu grande rendimento operacional, são de fato equipamentos necessários e indispensáveis para o controle da ferrugem asiática da soja. C Marcos Vilela de M. Monteiro, CBB

Marcos Vilela explica o funionamento do sistema BVO e mostra os benefícios da tecnologia

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Soja

Flavio Gassen

Perdas repetidas O desiquilíbrio causado pela monocultura desencadeia problemas de doenças, pragas e plantas daninhas sem controle e perda de produtividade por causa do desbalanceamento das condições físicas, químicas e biológicas do solo causado pela falta de rotação de culturas

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dados ou em processo de degradação não há variedade, por mais moderna e produtiva que seja, que consiga expressar todo o seu potencial produtivo.

A exploração agrícola tem-se tornado, a cada dia, mais complexa quanto às combinações e à aplicação de tecnologia que garantam produções estáveis.

Marcelo Pillon

N

ão raro, agricultores procuram a Embrapa Soja, de mandando novas variedades que sejam mais produtivas, com determinado ciclo de vida, para que se ajustem aos sistemas de produção em uso na sua propriedade. Via de regra, afirmam que as variedades que estão plantando já não dão o mesmo retorno e nem as mesmas produtividades que antes. Após algumas indagações a esses agricultores, constata-se, normalmente, que há problemas no manejo do solo dessas propriedades. Baixos níveis de matéria orgânica, solos desestruturados, compactados pelo uso incorreto de máquinas agrícolas, erosão laminar, ou seja, aquela erosão que o agricultor não percebe, mas leva as camadas superficiais do seu solo, são problemas comuns identificados nessas propriedades. Nessas condições, as estiagens freqüentes, por mais curtas que sejam, já causam problema na cultura da soja ou em qualquer outra cultura plantada nesses solos. Não há milagres. Em solos degra-

Baixa produtividade da lavoura pode estar ligada à solo degradado, não permitindo que a cultivar expresse todo seu potencial produtivo

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Dirceu Gassen

O gerenciamento das propriedades deve considerar o uso de combinações de tecnologias que trazem estabilidade de produção. A degradação está diretamente relacionada com a intensidade e a forma do uso do solo. Agropecuária intensiva é importante e desejável para maximização de retornos econômicos dos agricultores e do setor agrícola, mas requer gerenciamento compatível e uso de tecnologia de preservação ambiental. A monocultura, seja de milho, arroz, feijão, soja ou qualquer outra espécie, é incompatível com a manutenção da qualidade de solo.

O EFEITO DA ROTAÇÃO DE CULTURAS A Rotação de Culturas (RC) é um bom exemplo de tecnologia que requer gerenciamento eficiente. Combinada com o Plantio Direto (PD) e com a adoção de Culturas de Cobertura (CC), a RC é uma das mais importantes práticas que contribuem para garantir o sucesso do sistema de Plantio Direto. Portanto, para falar de RC e seus benefícios, obrigatoriamente deve-se comentar sobre PD, CC, manejo e fertilidade de solo, matéria orgânica e cobertura de

solo com restos de cultura.

Com o solo descoberto o risco de erosões se eleva e camadas superficiais, com maior matéria orgânica, acabam sendo levadas pelas enchurradas

MONOCULTURA DA SOJA A monocultura da soja pode levar a um desbalanceamento das condições físicas, químicas e biológicas do solo, levando, conseqüentemente, a uma perda de produtividade das culturas. O monocultivo da soja é realmente um modelo indesejável, como é indese-

jável para qualquer outra cultura. O monocultivo, associado ao preparo inadequado de solo, é ainda muito mais agressivo ao solo e, conseqüentemente, à cultura da soja. O desequilíbrio causado pela monocultura de soja a médio e longo prazos está relacionado com proble-


mas de ocorrência descontrolada de doenças, pragas e plantas daninhas. Quando combinados com o uso incorreto e abusivo de equipamentos de preparo de solo, os efeitos negativos da monocultura aparecem na forma de desagregação do solo, compactação, erosão e decréscimo de matéria orgânica, dificultando a absorção de nutrientes. Não raro, fertilizantes, corretivos e sementes são levados junto com o solo, devido à erosão causada por chuvas intensas, comuns no período da safra de soja. As conseqüências do monocultivo de soja aparecem mais cedo ou mais tarde, ficando o produtor totalmente dependente de condições climáticas favoráveis naquele ano. Em anos mais chuvosos, por exemplo, os efeitos negativos da compactação do solo são diminuídos, já que o sistema radicular das plantas consegue se desenvolver mesmo em solos com alguma compactação.

BENEFÍCIOS DA RC COM A SOJA

E

ntende-se por Rotação de Cultu ras o cultivo repetido e de forma planejada de uma seqüência de culturas. Essas culturas devem ter propósito comercial ou de recuperação e manutenção das propriedades do solo. No exemplo da Tabela abaixo, a propriedade é dividida em quatro talhões e essa seqüência de culturas se completa em quatro anos, quando termina o primeiro ciclo. Um novo ciclo se inicia a partir do quinto ano (ver Tabela). Monocultura significa a presença de uma única cultura no campo. No entanto,o termo será utilizado aqui no seu significado mais conhecido, ou seja, para definir o plantio de uma mesma cultura numa mesma área todos os anos. O Plantio Direto (PD), que é o plan-

tio de culturas sem o revolvimento do solo com arados e grades, por si só é composto por uma série de práticas como manejo de herbicidas, resíduos vegetais, mecanização, fertilidade de solos. Para sua implantação são usadas semeadoras especiais que descartam o preparo de solo convencional com grades e arados. As Culturas de Cobertura ou melhoradoras de solo garantem uma quantidade de resíduo na superfície do solo que ajuda a dar sustentabilidade ao PD. São utilizadas em rotação com outras culturas de cobertura ou com culturas econômicas. As culturas econômicas são, via de regra, as de maior destaque na propriedade, cujo principal objetivo á a produção de grãos, sementes, silagem, frutas, dentre outros.

servam e melhoram as condições físicas, químicas e biológicas do solo, além de auxiliarem no controle de plantas daninhas, doenças e pragas. Dentre os principais benefícios, o aumento de matéria orgânica, pela manutenção de resíduos da cultura anterior na superfície do solo, é talvez o que traz a grande con-

tribuição de proteção e qualidade do solo. Além da melhoria de qualidade, os resíduos promovem uma proteção física do solo contra altas temperaturas e favorecem a infiltração das águas de chuvas, diminuindo a erosão e proporcionando um ambiente favorável às atividades macro e microbiológica no solo.

CONTRIBUIÇÃO DA RC PARA O PD

Dirceu Gassen

Não há dúvida, portanto, que, para a produção sustentável da soja, ou de qualquer outra cultura, os solos necessitam de manejo adequado. As vantagens da RC estão relacionadas com diversos aspectos agronômicoambientais. Sua adoção e seu gerenciamento, se realizados corretamente, por um período suficientemente longo, pre-

CONCEITOS E TERMINOLOGIAS UTILIZADAS

O revolvimento do solo e a monocultura são fatores que geram desagregação do solo

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A RC está intimamente ligada ao sucesso do plantio direto. Historicamente, o PD era somente uma prática conservacionista, ou seja, ao deixar de movimentar o solo, plantando-se a soja na resteva do trigo, por exemplo, os agricultores conseguiam diminuir o efeito de erosão causado pelas chuvas. No entanto, problemas como semeadoras não adaptadas ao sistema, controle deficiente de plantas daninhas, ocorrência de doenças e compactação do solo eram comuns e inviabilizavam o sistema após três a quatro anos de adoção (Ruedell, 1995). As produtividades de soja, trigo e milho em plantio direto, nessas condições, não competem com o plantio convencional. Embora continuasse a necessidade de aperfeiçoamento e de ajustes das máquinas de plantio direto, bem como dodesenvolvimento de herbicidas que diminuíssem os problemas com plantas daninhas, foi sem dúvida a RC que fez a grande diferença para o sucesso do PD. A manutenção e o aumento das atividades biológicas do solo e as melhori-

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Dirceu Gassen

as nas suas condições físicas e químicas transformaram o PD numa prática que realmente contribui para uma agricultura sustentável, menos agressiva ao meio ambiente. Pode-se afirmar que a RC viabiliza, auxilia ou mesmo aumenta a eficiência da prática do PD (C. A. Gaudêncio, em Recomendações técnicas para cultura da soja, 2000/01) , provavelmente pela manutenção de resíduos de culturas na superfície do solo e pelo conseqüente aumento da matéria orgânica. Alguns conceitos gerais devem ser considerados antes de se adotar um sistema de RC. A escolha das culturas para compor os sistemas de rotação deve ser suficientemente flexível para ser adaptada a uma determinada região e garantir um retorno econômico compensador. A RC leva a uma desejável diversificação de culturas e de atividades na propriedade. A combinação de culturas anuais, em rotação com pastagens para produção pecuária, é altamente desejável, tanto pela recuperação da matéria orgânica, como pela recuperação de pastagens que viabilizam a produção pecuária em muitas regiões. A seleção da melhor combinação de culturas irá depender do conhecimento existente quanto à relação solo-planta, em um sistema de RC, e da rentabilidade das espécies envolvidas no sistema. Logo, não é possível a recomendação de um único sistema de RC. Deve-se planejar um sistema que mantenha e preserve uma produtividade competitiva e garanta um retorno econômico. Muitas vezes, um sistema de rotação equilibrado tecnicamente não é adotado, já que a escolha das espécies do sistema visa somente ao retorno econômico. Como resultado desse impasse, um sistema de RC adotado em uma região pode ser im-

André Matos

PLANEJAMENTO DA RC DE SOJA

praticável em outras. Deve-se observar que, a cada ano, uma exploração passa de um talhão para outro, garantindo as vantagens do efeito da A Tabela abaixo mostra como pode ser um planejamento de RC para RC. recuperação gradual de uma propriedade fictícia no Estado do Paraná, Observa-se também como modelo de planejamento de RC, e que tenha necessidade de ter o que o trigo não é semeasolo recuperado, mantendo-se 75% de soja do mais de dois anos seguidos, e a soja, por mais Número do talhão Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 de três anos, evitando1 Nabo (inverno) Aveia (inverno) Trigo(inverno) Trigo (inverno) se, assim, os efeitos inMilho(verão) Soja (verão) Soja (verão) Soja (verão) desejáveis da monocul2 Trigo (inverno) Nabo (inverno) Aveia (inverno) Trigo(inverno) tura. Soja (verão) Milho(verão) Soja (verão) Soja (verão) A monocultura de 3 Trigo (inverno) Trigo (inverno) Nabo (inverno) Aveia (inverno) qualquer espécie não é Soja (verão) Soja (verão) Milho(verão) Soja (verão) sustentável a médio e 4 Aveia (inverno) Trigo (inverno) Trigo (inverno) Nabo (inverno) longo prazos, e seus efeiSoja (verão) Soja (verão) Soja (verão) Milho(verão) tos indesejáveis são poFonte: C. A. Gaudêncio. Recomendações Técnicas para a cultura da soja no Paraná. 2000/2001

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A recomendação da combinação das culturas do sistema de rotação vai depender da relção soloplanta e da rentabilidade das espécies envolvidas

tencializados com o uso inadequado de equipamentos de preparo de solo. A RC minimiza os efeitos da monocultura e é uma prática fundamental para o sucesso do PD. O planejamento é um fator importante. A RC é uma tecnologia complexa e envolve uma combinação ampla de decisões no gerenciamento da propriedade. Sua utilização deve ser planejada, de preferência, com os agentes de assistência técnica e extensão rural, nas diversas regiões produtoras de soja. Paulo Galerani, Embrapa Soja

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Coluna Aenda

Defensivos Agrícolas

Concorrência em crise Os produtos com oferta diversificada, os chamados genéricos, estão em baixa no Brasil

E

m análise sobre os números mercadológicos da safra 2003-04, estabelecemos um quadro da concorrência dos produtos, estratificada em três categorias: (a) alta/média concorrência = produtos ofertados por três ou mais empresas (chamados de genéricos); (b) baixa concorrência = produtos ofertados por duas empresas; e (c) nenhuma concorrência = produtos ofertados por apenas uma empresa. O mercado de defensivos agrícolas atingiu naquela safra US$ 3,1 bilhões, segundo o Sindag. O nosso estudo alcançou, então, 82% do mercado, em termos de valor. É possível afirmar, portanto, que os produtos genéricos em Herbicidas em Concorrência Alta/Média Baixa glifosato atrazina+simazina diuron+hexazinone clorimuron imazetapyr lactofen ametrina trifluralina 2,4-D atrazina

nosso país alcançam apenas 40% do mos de produtos individuais, anotamos mercado, bem pouco, se considerarmos os seguintes destaques em cada subque esse valor atinge 70% ou mais no classe. Incluímos os principais produrestante do planeta. Com uma carac- tos por valor, mas também outros que terística verde-amarela agravante: aqui se destacaram pela quantidade. a oferta dos produtos genéricos é feita Enquanto isso, o apoio governapor grandes corporações de maneira mental aos defensivos genéricos, via concentrada. As razões passam pelo sistema de registro por equivalência, hermético sistema brasileiro de regis- continua no pódio das promessas... e tro dos produtos, pelo abraço amigá- o contrabando crescendo. C vel e subjugante da venda tipo “prazo de safra” - bancada pelos grandes ofer- Tulio Teixeira de Oliveira, tantes - e por facilidades brasileiras no Diretor Executivo da AENDA sistema de patentes, que promovem sobrevida da exclusiviTipo de Concorrência Mercado analisado dade de vinte anos em diversos Média /Alta (genéricos) US$ 1,038 bilhões (40%) casos. Baixa US$ 0,406 bilhões (16%) Voltando ao estudo, em terSem concorrência (exclusivos) Soma dos produtos analisados

Nenhuma fenaxaprop + cletodim 2,4-D + picloram haloxifop clomazone paraquat diquat

— Esses produtos representaram 62% do mercado de herbicidas em valor. (mercado = US$ 1,51 bilhões). — O Glifosato sozinho representa 30% em termos de valor de todos os herbicidas usados.

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US$ 1,117 bilhões (44%) US$ 2,561 bilhões (100%)

Fungicidas em Concorrência Alta/Média Baixa Nenhuma oxicloreto de cobre tebuconazol pyraclostrobin+epoxiconazol hidróxido de cobre tetraconazol trifloxystrobin+propiconazol carbendazim mancozeb dissulfoton + triadimenol thiofanato clorotalonil azoxystrobin difeconazol flutriafol myclobutanil

Inseticidas em Concorrência Alta/Média Baixa Nenhuma parathion methyl endosulfan thiametoxan+cycopronazol methamidofós motomil endosulfan fipronil thiamethoxan monocrotofós dicofol metomil imidacloprid lufenuron acephato thiodicarb aldicarb carbosulfan

-- Esses fungicidas representaram 77% do mercado, que atingiu US$ 705,4 milhões.

— Os inseticidas acima somaram 64% do mercado, o qual foi de US$ 716,7 milhões.

— Esses acaricidas representaram 95% do mercado do grupo, que foi de US$ 79,8 milhões.

Acaricidas em Concorrência Alta/Média Baixa Nenhuma enxofre abamectin cyhexatin hexythiazox dinocap fenbutatin dicofol espirodiclofen azocyclotin propargite flufenoxiuron acrinathrin

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Cultivar

Algodão

Aperto lucrativo O incremento de até 20% na produtividade incentiva o cultivo adensado do algodão, com melhoria no aproveitamento dos recursos naturais indispensáveis ao processo produtivo

A

retomada do crescimento da cultura do algodoeiro no Brasil está fundamentada na expansão da área de cultivo para novas regiões, notadamente os Cerrados da região CentroOeste, e na adoção de novas tecnologias nesse perfil produtivo, ou seja, de lavouras extensas, mecanização total da cultura e uso intensivo de insumos agrícolas. Nesse contexto, é freqüente a busca por produtividade e rentabilidade, as quais devem ser conseguidas com a melhoria na eficiência dos processos produtivos, visando ainda à melhoria da qualidade do produto, para atender as exigências impostas pelo mercado globalizado. Em um enfoque amplo, é importante que se busquem a racionalização de utilização e a maximização da eficiência dos recursos naturais disponíveis, como: água, nutrientes, radiação solar, insumos agrícolas e mão–de-obra, visando a manter e/ou melhorar os atributos do solo e do ambiente. A adoção de espaçamentos ultra-adensados pode ser vantajosa se comparada ao emprego de espaçamentos convencionais, pois nos tradicionais estados cotonicultores brasileiros, como São Paulo, Paraná, Minas Gerais e em algumas áreas nos Cerrados, são encontrados solos considerados marginais (degradados) para a cultura do algodoeiro, uma vez que já foram há muito explorados, erodidos e compactados, apresentando ainda altos teores de alumínio e baixos teores de matéria orgânica, além da presença de nematóides.

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Aliada a um sistema conservacionista, essa configuração de semeadura diminui os custos com insumos agrícolas, aumenta a rentabilidade a curto prazo, além de conservar e/ou melhorar as características do solo e a produtividade a longo prazo. Desse modo, o cultivo do algodoeiro em altas populações vem recebendo especial atenção de produtores e pesquisadores, sobretudo nos Estados Unidos, requerendo assim maiores estudos em nosso meio, tal como já é realidade em lavouras de café e milho. Com o adensamento, há melhor aproveitamento e conservação do solo, evitando o impacto das gotas de água da chuva na superfície descoberta do solo, proporcionando, ainda, um melhor aproveitamento da água no solo, devido à redução no processo de evaporação.

POPULAÇÃO DE PLANTAS A semeadura da cultura do algodoeiro pode ser implantada em três diferentes modelos de espaçamentos: o convencional, com distância entrelinhas superior a 76,20 cm; o adensado ou Narrow-Row (NR), no qual se convencionam espaçamentos entrelinhas de 38,10 até 76,20 cm; e o ultraadensado ou Ultra-Narrow-Row (UNR), que compreende o dimensionamento das entrelinhas entre 19,05 e 38,10 cm. Quando a densidade de plantas na linha é em média de dez plantas por metro linear e o espaçamento entrelinhas varia de 20 a 100 cm, é possível ter uma variação na popula-

ção de plantas na ordem de cem a 500 mil plantas por hectare. Do ponto de vista agronômico, o espaçamento ideal é aquele que proporciona maior produção por unidade de área, conciliado com os fatores que influenciam na sua definição, tais como: cultivar, clima, fertilidade do solo, sistema de cultivo e tipo de colheita.

CULTIVAR Diferentemente do material genético utilizado no Brasil, as variedades do tipo “cluster” são as mais indicadas para o cultivo adensado por apresentarem arquitetura colunar e ramos e internódios curtos, porém, essas são suscetíveis aos principais patógenos que prejudicam as plantas de algodoeiro em nossos campos. As atuais cultivares melhoradas geneticamente e introduzidas nas diferentes regiões produtoras, bem como os materiais genéticos disponibilizados pelas instituições de pesquisa estaduais, que possuem formato piramidal, podem muito bem ser manejados para eficiência desse novo modelo produtivo, através do uso de reguladores vegetais, os quais controlam o crescimento das plantas que tendem a estiolar quando mantidas em altas populações.

MANEJO DA LAVOURA São poucos os trabalhos realizados quanto ao manejo a ser adotado no adensamento da cultura do algodoeiro. Até o momento verificou-se que, independente do espaçamento utilizado, a adubação per-

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HORA DA COLHEITA manece a mesma, pois esta deve ser realizada por unidade de área. Em relação ao uso de regulador vegetal (“Pix”, “Tuval” ou “Pix HC”), novas metodologias de aplicação devem ser estudadas quanto ao momento e à dose de aplicação. Com as cultivares disponíveis, podemos chegar até 2,53 litros por hectare, a fim de que o espaçamento seja de 2/3 da altura das plantas, considerado ideal para ganho de produtividade. Com a eficiência no emprego do regulador vegetal, o manejo de pragas e doenças é facilitado devido à menor altura das plantas e à maior aeração da cultura. O manejo das plantas daninhas é mais eficiente, em razão da melhor distribuição de plantas com a redução no espaçamento entrelinhas, pois ocorre um “fechamento” mais rápido do dossel da lavoura, o que contribui para diminuição do período crítico de matocompetição de 60 para até 20 - 30 dias após a emergência, gerando uma redução de custos no controle das plantas daninhas.

CICLO VEGETATIVO

Fotos Ariana Silva

Ocorre uma precocidade da lavoura adensada em relação à convencional, que

A)

pode ser de até 15 -20 dias. Essa antecipação faz com que os riscos de perdas com pragas no final do ciclo, tais como bicudo e lagartas, sejam reduzidos, diminuindo, dessa forma, a entrada de máquinas e o uso de inseticidas, conseqüentemente, menores serão o custo de produção e o impacto ambiental.

PRODUÇÃO No adensamento, as plantas apresentam capulhos pequenos, ou seja, com menor peso e em menor quantidade por planta, variando no máximo entre três a quatro capulhos por planta, porém, sem alterações na sua qualidade tecnológica de fibra. O ganho em produtividade é atribuído à maior quantidade de plantas por unidade de área. A produção alcançada nos espaçamentos ultra-adensados pode ser de até 20% a mais em relação aos espaçamentos convencionais.

VANTAGENS E DESVANTAGENS No adensamento das plantas de algodão, são encontradas algumas vantagens e outras desvantagens. Dentre as desvantagens desse sistema de semeadura, podemse citar: • falta de cultivares adaptadas; • aumento no número de pragas e doenças, devido ao fechamento mais rápido do dossel da lavoura, dificultando algumas operações de manejo, como a penetração das gotas dos defensivos agrícolas; • aumento da temperatura e da umidade dentro do dossel da lavoura, que favorece também problemas fitossanitários; • diminuição do diâmetro de caule; • menor número de ramos vegetativos e reprodutivos; • menor número de frutos por planta; • menor peso de capulhos;

B)

C) Experimentos: A) cultivo convencional com distância entre fileiras de 0,9 m; B) cultivo adensado com 0,76 m ; C) cultivo ultra-adensado com 0,38 m

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O controle de plantas daninhas é mais eficiente devido à redução do espaçamento entrelinhas e, assim, mais rápido fechamento do dossel, diz Ariana

E

xistem dois tipos de colhedoras quanto ao sistema de plantio empregado. Uma funciona com fusos rotativos, chamada “picker”, usada em espaçamentos entrelinhas convencionais de semeadura; a outra, denominada “stripper”, colhe por meio de raspagem das plantas entre dois discos rotativos, utilizada para espaçamentos entrelinhas adensados e ultra-densados, ou seja, inferiores a 76,20 cm, fazendo um serviço semelhante ao de “rapa” manual, exigindo, assim, um sistema de prélimpeza complexo no beneficiamento. Esta colhedora não existe em uso no Brasil, mas seu valor no mercado internacional é de, aproximadamente, 1/3 do preço da colhedora convencional. Recentemente, foi lançada uma colhedora com fusos rotativos para espaçamentos adensados e ultra-adensados, tão eficiente quanto a que colhe em espaçamentos convencionais, a qual poderá viabilizar o sistema adensado na cotonicultura brasileira. • menor peso de cem sementes; • menor porcentagem de fibra. Como vantagens do adensamento da lavoura algodoeira, podemos citar: • otimização dos fatores terra, máquinas, implementos e defensivos agrícolas, devido ao maior número de plantas por unidade de área e à precocidade alcançada; • menor degradação das áreas agrícolas, pela diminuição na entrada de máquinas; • “fechamento” mais rápido do dossel da lavoura, que evita o impacto de gotas de chuvas diretamente no solo; • aumento do índice de área foliar, o que faz com que a cultura intercepte maior radiação da fotossíntese ativa; • maior eficiência no uso da água, devido à menor taxa de evaporação da água direto do solo para a atmosfera; • maior controle de plantas daninhas, também pelo “fechamento” mais rápido do dossel, que diminui o período crítico da competição; • menor altura das plantas; • aumento da altura de inserção do primeiro ramo frutífero; • precocidade na colheita; • maior número de capulhos por unidade de área, que contribui para uma maiC or produtividade final. Ariana Vieira Silva, Esalq/USP

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Fotos Divulgação

Empresas

Novo nome, novas metas Hokko do Brasil vira Arysta LifeScience, faturou em 2004 65% a mais do que em 2003 e, agora, tem como meta crescer na América Latina

D

esde o último dia 30 de junho, a Hokko do Brasil, multinacional de origem japonesa que atua no setor agroquímico, passou a chamarse Arysta LifeScience. Uma mudança de identidade corporativa que aconteceu simultaneamente nos mais de 60 países em que o grupo atua. Sediada em Tókio, no Japão, o grupo Arysta LifeScience teve faturamento de mais de US$ 1 bilhão no ano de 2004, o que representa uma participação de 3,5% no mercado mundial e geração de 1,8 mil empregos diretos. O grupo é formado por mais de 60 empresas atuantes em todos os continentes e, aqui no país, é representado pela Hokko do Brasil. Com a adoção da mesma marca em todo o mundo, nomes como Arvesta Corp. nos Estados Unidos, Calliope SAS na Franca, Moviagro no Chile, Haesom na Coréia, Bloomers Growers na Nova Zelândia e Hokko no Brasil passam a ter um único nome: Arysta LifeScience. Também está prevista a abertura do capital da companhia na Bolsa de Valores de Tókio em 2006. Apesar do novo nome, nada foi alterado em relação ao controle acionário, aos produtos ou às estratégias do grupo no cenário mundial. Porém, é o início de uma gestão global que pretende dar uma nova identida-

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de e força à corporação, além também de introduzir tecnologias e moléculas mais modernas através da retaguarda mundial do grupo. Há 37 anos no país, a Hokko do Brasil mantém aqui a base operacional do grupo para toda a América Latina, contando com unidade fabril e Estação Experimental, ambos no interior de São Paulo, além de escri-

tórios regionais nas principais áreas agrícolas do país. Em 2004, as operações da Hokko no Brasil geraram uma receita de US$ 172 milhões, cerca de 65% de crescimento, se comparado ao resultado de 2003. Com esse desempenho, a subsidiária brasileira ocupa a oitava posição no ranking das empresas de defensivos agrícolas no país, participando com 4,9% do mercado nacional.

Estação experimental da Arysta em São Paulo: a América do Sul é a maior fatia de negócios da empresa

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Desde o início de suas operações em 1968, a Hokko do Brasil vem atuando fortemente no mercado de hortaliças e frutas, aumentando no decorrer dos anos a sua participação também nos mercados de soja, milho e algodão através da introdução de novos produtos. Em seu portfólio, estão herbicidas, fungicidas, inseticidas e acaricidas, entre eles o Select - herbicida para a cultura da soja, o inseticida Orthene, o fungicida Captan e o herbicida para cana-de-açúcar Dinamic, entre outros produtos que em 2005 deverão gerar um resultado comercial superior a US$ 200 milhões. Além de produtos do próprio grupo, a agora Arysta LifeScience ainda representa e distribui produtos das principais empresas japonesas da área de agroquímicos, como Sumitomo Chemical, ISK, Nissan Chemical, Nihon Noyaku e Sumitomo Takeda.

No comando dessa nova fase da empresa, que envolve mais de mil clientes espalhados por todo o país, está o executivo japonês Naoyoshi Kubota, que ocupa o cargo de vice-presidente da Arysta LifeScience para os países da América do Sul, juntamente com o Presidente e CEO, Yukio Arai, que está no país há sete anos e tem larga vivência internacional. A missão de Kubota, que já passou uma temporada na Rússia, é imprimir o que ele define como “identidade internacional única” às operações da Arysta LifeScience na região. Hoje, a empresa tem escritórios no Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai e Bolívia. Segundo Kubota, a empresa é hoje uma companhia internacional e não mais japonesa como antigamente, e essa filosofia global vale para todos os processos de tomada de decisão da empresa, desde o acesso às informações até as novas

moléculas e tecnologias. A internacionalização da companhia pode ser percebida quando se analisa a estrutura de comando mundial. Dos dez altos executivos, apenas quatro são japoneses. A estratégia se repete no primeiro escalão para a América Latina, no qual os executivos asiáticos também são minoria e têm como colegas profissionais do Brasil, Equador e França. A estratégia de crescimento da unidade América do Sul continuará sendo a de aquisições, seja de companhias – como foi feito na entrada da empresa no Chile – ou de moléculas já desenvolvidas por outras empresas do setor. O vice-presidente explica que a Arysta Lifescience não é uma companhia voltada para o desenvolvimento de produtos próprios e que o foco da empresa é a compra de moléculas e distribuição de produtos de C outras companhias.

NOVA FASE E MAIS PRODUTOS

Em entrevista à Revista Cultivar, o vicepresidente da Arysta LifeScience, Naoyoshi Kubota, falou dos planos para os próximos anos e da expansão almejada pela empresa

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evista Cultivar - Quais as estratégias da Arysta por trás da mudança do nome? Naoyoshi Kubota - A mudança do nome é um processo para integrar todas as empresas do grupo. Nós definimos a visão corporativa, a missão, os valores e estratégia global em um documento chamado “Blue Book” (Livro Azul) para ser como uma “bíblia” para a empresa. Agora, nós criamos uma identidade e marca global única, a Arysta LifeScience. Nós continuaremos a crescer mundialmente de forma rápida sob uma única visão, missão, valores, estratégias e identidade corporativa. RC - Atualmente, qual o foco da empresa no Brasil? NK - O nosso foco de atender aos produtores através de uma prestação de serviços diferenciados vai continuar inalterado e vai melhorar ainda mais. Nós continuaremos a servir aos agricultores com as soluções Arysta, as melhores soluções. A nossa mar-

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ca é representativa dessa idéia: a palavra Arysta é de origem grega e significa “o melhor”. RC - Que posição tem o Brasil na participação da empresa? NK - A unidade América do Sul, da qual faz parte o Brasil, é a maior unidade de negócios do grupo, seguida pela unidade EAME (Europa, África e Oriente Médio), a unidade América do Norte, a unidade Japão e a unidade Ásia-Pacífico (países asiáticos, exceto o Japão).

global para os próximos cinco anos? NK - A nossa meta é ser a empresa número um entre as empresas do segundo grupo, no qual estão incluídas as empresas de faturamento intermediário. As fusões e aquisições são as ferramentas mais importantes para atingir esse objetivo. RC - Quais serão os próximos lançamentos da Arysta aqui no Brasil? NK - A previsão para os próximos cinco anos é de lançar 14 novos produtos. Os destaques são o Focus PM (Clothianidin), inseticida neonicotinóide para diversas culturas, entre elas algodão, fumo e tomate; Bellkute (Iminoctadina), que é um fungicida para as culturas de café, pêssego e batata; Kabuki (Pyraflufen-ethyl), desfolhante para a cultura de algodão; Matric (Chromafenozide), inseticida fisiológico para tomate e citrus, entre outros.

RC - Como tem sido a participação da Arysta no mercado agrícola no mundo e no Brasil? NK - Uma das principais estratégias do grupo Arysta LifeScience é a de dobrar nossas vendas nos países emergentes ao redor do mundo. A unidade América do Sul, especialmente o Brasil, é o mercado mais importante nesse contexto. Hoje, o nosso market share no Brasil é de 5%. RC - Qual a perspectiva de crescimento

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Agronegócios

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o invés de escrever o artigo usual, considerei mais provei toso repassar excertos de uma reportagem publicada pelo Financial Times de Londres (20/6/2005), com uma análise da potencialidade do agronegócio brasileiro, seus problemas e as queixas dos concorrentes. A situação atual reflete a guinada política, decidida em 1994, quando da criação da OMC e do novo ambiente de comércio internacional. Agora estamos colhendo os frutos do que plantamos: divisas e concorrentes irados! Os fazendeiros brasileiros, apoiados por uma combativa campanha legal diplomática feita por lideranças políticas e empresariais, estão virando de cabeça para baixo o mundo agrícola. A União Européia (UE) propôs cortes profundos no preço de garantia do açúcar. Os EUA devem anunciar a redução do apoio aos cotonicultores. Tais medidas se devem a ações tomadas pelo Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Embora os produtos agrícolas representem só 10% do comércio mundial, o grande número de produtores rurais brasileiros, uma OMC composta cada vez mais por países em desenvolvimento e a questão altamente polêmica dos subsídios agrícolas das nações ricas fazem do Brasil uma nação-chave para o futuro do comércio global. O Brasil está para a agricultura assim como a Índia

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está para o comércio exterior e a China para o setor de manufaturados: é uma potência agrícola, cujos tamanho e eficiência poucos competidores são capazes de igualar. Apesar de enfrentar uma das mais altas tarifas agrícolas do Ocidente - uma média de 30% é cobrada pelas nações que importam os produtos brasileiros , o país é o maior ou o segundo maior produtor de açúcar, soja, suco de laranja, café, tabaco e carne bovina e está ocupando, rapidamente, posições fortes na produção de algodão, frango e carne suína. Além disso, o Brasil conta com o maior superávit comercial agrícola do mundo - US$ 34 bilhões, ou 5% do produto interno bruto do ano passado, uma cifra que é a principal responsável por fazer com que a balança comercial brasileira tenha apresentado um saldo positivo. Para um país que luta para pagar a sua enorme dívida externa, as exportações agrícolas têm sido uma dádiva divina. Além dos seus 62 milhões de hectares de terras aráveis, o Brasil possui cerca de 170 milhões de hectares passíveis de ser aproveitados para atividades agrícolas -o que corresponde, aproximadamente, a toda a área agrícola dos Estados Unidos atualmente cultivada.

VIEMOS PARA VENCER A terra ao longo da costa brasileira vem sendo cultivada por gerações. Mas o futuro das fazendas brasileiras está no interior, em locais como Mato Grosso. Até 30 anos, o Cerrado despovoado se estendia da fronteira com a Bolívia, ao sul, até a Floresta Amazônica, ao norte. Agora, o estado é um grande campo verde plantado com algodão e soja, além

dos bosques ocasionais de eucalipto, utilizado para a produção de celulose. “O que está acontecendo aqui agora é o que aconteceu no Meio-Oeste norte-americano no século 19”, afirma Chris Ward, um neozelandês que desenvolve atividades agrícolas no Mato Grosso há 20 anos. “As pessoas não vêm para cá para ficarem paradas, mas para vencerem”. Grande parte do solo brasileiro é bastante pobre em nutrientes, necessitando de intensa fertilização: segundo um ditado local, a sua única função é dar suporte às plantas, mantendo-as de pé. Mas o país possui um clima quase perfeito, especialmente na área Central - meses de chuva torrencial no verão, seguidos por invernos secos e quentes. Além disso, o Brasil conta com grande sistema hidrográfico, terras cujos preços são baixos e grande reserva de mãode-obra barata, devido às desigualdades salariais e de distribuição das terras entre a população de 180 milhões de habitantes. Essas vantagens tradicionais se combinaram aos investimentos crescentes e ao apoio do governo à tecnologia nos últimos anos, para possibilitar o surgimento de fazendas de uma eficiência impressionante. No setor açucareiro, por exemplo, estimativas do Instituto Nacional da Cana-de-açúcar sugerem que, embora os custos de produção para os seus principais rivais tenham-se mantido em torno de US$ 250 por tonelada, durante os últimos dez anos, os custos médios no Brasil são de US$ 158 por tonelada. O país dobrou a sua participação nas exportações mundiais de açúcar, que chegaram a mais de um terço do total na última década. Com o crescimento do interesse no álcool (etanol) como biocombustível limpo para motores, esti-

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O agronegócio brasileiro visto da Europa ma-se que a produção deste produto deva aumentar mais 25% nos próximos cinco anos. A produção de soja, o maior produto de exportação brasileiro e importante matéria-prima para a alimentação de porcos e frangos, aumentou ainda mais rapidamente em meio a uma rápida globalização do mercado desse grão. A recente legalização da soja geneticamente modificada no Brasil deve traduzirse em maiores lucros.

DIFICULDADES DOS PRODUTORES Os trunfos do Brasil não significam que tudo esteja correndo a favor dos produtores rurais. Eles enfrentam altas taxas de juros, uma moeda cujo valor aumenta, e muitos ainda encaram jornadas tortuosas ao longo de milhares de quilômetros de estradas arruinadas, para fazer com que os seus produtos cheguem aos portos na costa. As despesas extras de fretes e financiamento custam entre US$ 0,20 e US$ 0,33 por quilo de algodão no mercado externo, fazendo com que o custo de produção se aproxime perigosamente das receitas. Se o governo brasileiro conseguir reduzir as taxas de juros, por meio da austeridade fiscal, e obtiver dinheiro suficiente para reformar a infra-estrutura de transporte, os produtores rurais do país poderão tornar-se ainda mais competitivos no mercado internacional. Por maior que seja a produtividade, nenhum país tornar-se-á rico cultivando e exportando apenas produtos básicos - especialmente ao se levar em conta que os preços tendem a cair no longo prazo. Mesmo o impressionante aumento de produtividade do Mato Grosso fez com

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que o estado contribuísse com apenas um pouco mais de 1% para o produto interno bruto do país. Mas o Brasil está começando a acrescentar valor agregado aos seus produtos. Na Europa, destino de um terço das exportações brasileiras de frango, muitas companhias alimentícias se baseiam e investem na produção brasileira. Cada vez mais o valor agregado à cadeia produtiva vai para o Brasil, devido à ajuda de uma estrutura tarifária incomum da UE que impôs taxas de 75% sobre o frango cru, mas de apenas 10% sobre o frango cozido ou processado. O tikka masala de frango, que é vendido nos supermercados do Reino Unido, muitas vezes contém temperos que são acrescentados no Brasil, antes que o produto seja congelado e exportado.

COMPETIÇÃO DESLEAL As exportações tradicionais do Brasil e a sua nova produção com valor agregado estão gerando tensões em todo o mundo. Assim como aconteceu com os manufaturados chineses e, especialmente, com os têxteis, o rápido crescimento de um concorrente que produz a baixos custos gera reclamações de outros países, que afirmam que a concorrência é injusta. Em um estudo sobre a política comercial do Brasil, publicado no ano passado, a OMC concluiu o que apoio do Governo à agricultura é modesto. Mas essa não é a visão dos aflitos concorrentes, especialmente dos países ricos. Luther Markwart, presidente da Aliança Americana do Açúcar, diz que, ao contrário da avaliação da OMC, o sucesso do Brasil se fundamenta na competição desleal. “O Brasil faz uso de subsídios, de um programa estatal de álcool e de padrões trabalhistas e ambientais extre-

mamente precários para se tornar o maior produtor mundial de açúcar”, afirma. Markwart estima que os subsídios governamentais brasileiros ao álcool todos os carros no Brasil são movidos a álcool ou a uma mistura de álcool e gasolina- equivalem a cerca de US$ 1 bilhão por ano. Na Europa, os produtores têm reclamações semelhantes. Peter Bradnock, diretor-executivo do Conselho Britânico de Produtos Avícolas, diz que os baixos padrões trabalhistas e ambientais brasileiros contribuem para que o frango produzido no Brasil custe a metade do frango europeu. “Sob o aspecto tecnológico, somos capazes de criar frangos tão bem quanto eles”, afirma. “Mas eles arcam com custos menores, e parte disso reflete os padrões reguladores segundo os quais nós operamos”. Bradnock diz que autoridades reguladoras em países como Brasil e Tailândia possuem uma “vocação exportadora”: eles farão tudo o que puderem, afirma, para garantirem que as regulamentações não atrapalhem as exportações. Mas Bradnock admite que é praticamente impossível argumentar que tais vantagens violam as regras da OMC. Enquanto isso, no Brasil, não se dá importância às reclamações quanto à suposta concorrência desleal, devido ao forte consenso político em favor da expansão do setor agropecuário, que conta com o apoio irrestrito dos governantes. E o Brasil vai tornando-se o líder C do agronegócio mundial. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Safra do hemisfério norte começa a se definir e tem grandes perdas O quadro geral mundial está começando a se definir neste mês de agosto, quando chegam à fase final de desenvolvimento as lavouras americanas que estavam em floração e formação das vagens e espigas em julho e, agora, caminham para o fechamento da safra. O mesmo está ocorrendo na Europa e Ásia, onde o clima deste verão veio com chuvas irregulares e temperaturas muito altas. Dessa forma, houve indicativos de perdas na produtividade de grande parte das regiões produtoras, e, com isso, a safra mundial, que neste último ano chegou a bater pela primeira vez na história a marca das duas bilhões de t de grãos, neste ano que entra (2005-06) apresenta números menores: seguem indicativos de que não chegará à marca das 1,95 bilhões, e o consumo irá superar levemente as duas bilhões de t. Com isso, as cotações internacionais em 2006 tendem a ser maiores do que as efetivadas neste último ano, beneficiando, assim, os países exportadores e aumentando os custos daqueles que importam grãos. MILHO Final da “safrinha” se aproxima O mercado do milho passou pelo mês de julho praticamente sem alterações nas cotações. Com isso, os produtores tiveram que vender, e as cotações foram iguais ou inferiores às de junho. O governo continuou vendendo seus estoques com subsídio no frete, e, junto, muito milho da safrinha estava sendo vendido pelos produtores que abasteciam as necessidades do setor. O quadro poderá começar a mudar do final deste mês em diante, quando a colheita da safrinha estiver fechada e, assim, ocorrer redução das ofertas de produto livre. Dessa forma, os consumidores terão que vir para o mercado, forçar compra e dar suporte às cotações, que tendem a ajustes de agora em diante. SOJA Bons negócios em julho Os produtores aproveitaram para fechar bons volumes de soja em julho, quando Chicago trabalhou com bons momentos e cotações fortes em cima do clima irregular que derrubava a qualidade das lavouras nos EUA. Com isso, os produtores realizaram fechamentos da soja disponível e também da safra nova para compra ou troca por insumos. Os indicativos chegaram a US$ 10, para posições mais distantes do MT, a US$ 11, para Goiás e MS, e ficaram acima dos US$ 12, para MG, chegando a mais de US$ 13 para o restante do Sudeste e Sul do país. Os produtores estão fixando grandes volumes, para fazer caixa e quitar dívidas que estavam vencendo. As expectativas são de que, neste mês de agosto, o quadro ainda apresente grandes alterações nos indicativos, em função do fechamento da safra dos EUA, a qual está caminhando para o final, porque a colheita começa em setembro.

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FEIJÃO Agosto continua com pouco feijão O mercado do feijão deverá continuar forte neste mês de agosto, porque as ofertas deverão estar restritas a poucos volumes de produto que chegam da região de Unai em MG, devendo aparecerem as primeiras ofertas de produto novo da região de Ribeira do Pombal, na Bahia, que estará chegando à colheita neste final de agosto. Os indicativos devem continuar fortes, porque agosto tem grande demanda, mantendo-se com números entre os R$ 95 e os R$ 115 por saca, e até momentos de chances melhores para o ponta. ARROZ Leilões do Governo não garantem produtor O Governo vem fazendo Leilões de

Opções de arroz, que vencem em setembro e terão pagamento em outubro, com reclamações do setor de que as cotações conseguidas são fracas. Os produtores esperavam vender arroz nos R$ 25, mas os pregões foram fechados com valores de liquidação pouco acima dos R$ 22. Assim, o produto disponível não conseguia reação em julho e também segue em ritmo lento em agosto, porque os produtores tem dívidas vencendo e terão que fazer caixa. Dessa forma, não haverá falta de arroz para as indústrias. Há expectativa de pequenas oscilações nos indicativos, que poderão vir positivos. Ainda tem muito arroz para ser negociado, mais de 55% da safra está livre para ser comercializada neste restante de ano. Normalmente o volume ficava abaixo dos 40% para este período.

CURTAS E BOAS SOJA - Os indicativos da safra americana, em função do clima irregular, estão apontando para números entre as 72 e 77 milhões de t. O USDA ainda acredita em 78 milhões de t. Em setembro começam as primeiras colheitas. ALGODÃO - A oferta e a demanda mundial do algodão mostram aumento no consumo este ano, com 24,3 milhões de t, contra as 23,6 milhões de t a serem produzidas. Com queda nos estoques finais, o mercado do algodão mostra maior consumo da história, sinalizando com boas notícias para a safra nova do algodão no Brasil. TRIGO - A Argentina já negociou cerca de 9,6 milhões de t das 10 a 10,5 milhões previstas para este ano. Até agora, o Brasil comprou cerca de 2,5 milhões, tem necessidades entre 4,5 e 5 milhões e poderá ter problemas para se abastecer nos próximos meses. Como as cotações em outras regiões do mundo estão acima dos US$ 190 por t, há sinais favoráveis aos produtores brasileiros. BOA NOTÍCIA - Os países ricos (G8), reunidos em julho na Escócia, divulgaram uma nota em conjunto, apontando que eliminarão os subsídios agrícolas a produtos exportáveis até 2010. Isso nos dá uma luz no final do túnel, que agora é curto, e abre grandes mercados na exportação. BOA NOTÍCIA II - A China mudou a política cambial, que antes estava atrelada somente ao dólar. Agora, o Yuan passa a flutuar frente a uma cesta de moedas, e com isso houve uma valorização frente ao dólar, que cria boas expectativas para o setor agrícola brasileiro, porque melhora a rentabilidade das indústrias chinesas, que poderão importar mais soja.

Cultivar Cultivar •• www.cultivar.inf.br www.cultivar.inf.br •• Fevereiro Agosto de 2005




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