Cultivar Grandes Culturas • Ano VII • Nº 77 • Setembro 2005 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
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Foto Capa / Charles Echer
Destaques
Efeito sinérgico O uso simultâneo de nematicidas e herbicidas pode causar fitointoxicação na cana-de-açúcar
23 Ineficácia nas iscas Falta de conhecimento das características e formas de uso das iscas compromete o controle de formigas
Nossos cadernos
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Fotos de Capa
Ferrugem no inverno
Dirceu Gassen
Conheça as orientações para evitar que o fungo da ferrugem se multiplique na entressafra Charles Echer
34 Esqueleto perfeito Saiba como a estrutura do algodoeiro interfere positiva ou negativamente no efeito dos defensivos aplicados
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL
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Índice Diretas
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• Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia • Revisão
Silvia Pinto
Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Fotointoxicação na cultura da cana
Números atrasados: R$ 15,00
Desempenho produtivo de híbridos no milho 10
COMERCIAL
Controle da lagarta do café
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Sedeli Feijó Silvia Primeira
• Geral 3028.2000
Cultivo de arroz sob pivô central
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• Assinaturas: 3028.2070
Ineficiência no uso de formicidas
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Ferrugem asiática na entresssafra da soja
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• Assinaturas
Aplicação de molibdênio e cobalto na soja 31
Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes
Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00
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REDAÇÃO
Nossos Telefones: (53)
• Redação: 3028.2060 • Marketing: 3028.2065
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Arquitetura ideal para o algodoeiro
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Coluna Agronegócios
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Pedro Batistin
CIRCULAÇÃO • Gerente
Cibele Oliveira da Costa
• Gerente de Assinaturas Externas
Raquel Marcos • Expedição
Coluna Aenda
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Edson Krause Dianferson Alves
Mercado Agrícola
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Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Impressão
Diretas
Novos desafios Luís Azevedo é o novo gerente de desenvolvimento de fungicidas da Bayer CropScience. Luís já exerceu diversas funções na área de pesquisa e desenvolvimento de Luís Azevedo outras empresas do setor e recentemente concluiu seu curso de doutorado em produção vegetal na Unesp, em Jaboticabal (SP).
Sucesso Professor Enio Marchezan, presidente da Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado e também da comissão de organização do Congresso de Arroz Irrigado, manifestou seu otimismo com o grande número de participantes e de Enio Marchezan trabalhos apresentados no evento.
Syngenta Sérgio Bueno de Paiva, gerente de desenvolvimento de fungicidas, coordenou a equipe da Syngenta no Congresso Brasileiro de Fitopatologia. Com lançamentos novos para o controle da ferrugem asiática, a empresa promete surpreender os produtores pela eficácia dos produtos.
InpEV No dia 19 de agosto, foi comemorado, pela primeira vez, o Dia Nacional do Campo Limpo. Reunindo mais de 10 mil pessoas em 41 centrais de recebimento de embalagens, onde foram realizadas palestras, visitações e atividades culturais. O objetivo foi de levar à comunidade os bons resultados obtidos pelo sistema de destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos.
Obra Embrapa Meio Ambiente Jaguariúna (SP) lança o livro Mudanças Climáticas Globais e Doenças de Plantas. Segundo a autora Raquel Ghini, a obra trata das mudanças climáticas na agricultura, dos efeitos dessas mudanças sobre o ciclo das relações patógeno/ hospedeiro e dos impactos nas doenças das plantas. Pode ser adquirido pelo sac@cnpma.embrapa.br.
Domark A equipe de fungicidas e marketing da Sipcan esteve presente no Congresso Brasileiro de Fitopatologia. Com bastante entusiasmo, a equipe acolheu os participantes e deu destaque ao fungicida Domark.
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Arroz em pauta Presente no Congresso de Arroz, realizado em Santa Maria, entre dias 09 e 12 de agosto, a equipe da Syngenta esbanjou simpatia e entusiasmo ao público presente. Na oportunidade, apresentou seu portifólio de produtos para arroz irrigado.
Bayer Douglas Cabral, gerente de negócios arroz, e Alexandre Porto, representante técnico de vendas, da Bayer CropScience, presentes no Congresso de Arroz em Santa Maria. A Bayer CropScience foi uma das patrocinadoras do evento. Alexandre Porto e Douglas Cabral
Basf Equipe de trabalho da Basf Região Sul recepcionou os participantes no IV Congresso de Arroz Irrigado, divulgando o Only, herbicida especial para o sistema Clearfield de cultivo de arroz.
Lançamento Neste ano, a Nitral Urbana lança o Triplofix, kit ideal para tratamento de sementes de soja. O Triplofix é composto por fungicida Maxim XL ®, micronutriente CoMoFix e inoculante HiStick, desenvolvidos com tecnologia B i o S t a c k e d TM.
Entusiasmo Muito otimistas com a linha de fungicidas, a equipe da Basf não escondeu a confiança na sua linha de fungicidas apresentada no Congresso Brasileiro de Fitopatologia. Com uma equipe bastante animada, a empresa colocou técnicos e gerentes à disposição para esclarecer dúvidas dos participantes.
Homenagem Durante o IV Congresso de Arroz Irrigado, em Santa Maria (RS), a Basf lançou o Jantar Basf Pesquisadores. Será uma marca registrada da empresa para homenagear profissionais ligados à pesquisa, durante eventos.
Ferrugem Foco no controle da ferrugem asiática: este foi o principal destaque da Bayer CropScience durante o Congresso Brasileiro de Fitopatologia.
Ihara
Time completo
A Iharabras, durante o Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, levou aos pesquisadores e técnicos novas informações relativas ao Tratamento Ihara para a cultura, destacando os trabalhos para o manejo de plantas daninhas, através dos produtos Nominee 400 SC, Sirius 250 SC e Grascarb e de dados relativos ao controle de doenças da parte aérea do arroz irrigado, com Dithiobin 780 PM.
A Ubyfol esteve presente na Reunião de Pesquisa de Soja do Brasil Central com o time completo. Técnicos e gerentes da empresa marcaram presença e acompanharam de perto os trabalhos apresentados no evento, colocando-se à disposição para esclarecer questões sobre os produtos da empresa.
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Cana-de-açúcar
Efeito sinérgico Nematóides e plantas daninhas são grandes limitadores da produtividade da cana-deaçúcar. O uso simultâneo de nematicidas e herbicidas, no entanto, pode causar a fitointoxicação na cultura, pelo efeito sinérgico entre estes produtos
M
sivamente com herbicidas, muitas áreas recebem nematicidas, no sulco de plantio, e herbicidas, em cobertura, logo a seguir, o que, em certas condições, resulta em aumento dos sintomas de fitointoxicação do herbicida. Quando ocorrem, os sintomas classicamente se iniciam por clorose no lombo foliar, secamento a partir do ápice e das laterais das folhas, podendo chegar à morte da planta. Algumas vezes, a planta se recupera total ou parcialmente dos danos. Os sintomas de fitointoxicação ocorrem devido à não destoxificação dos produtos absorvidos pela planta. Determinado herbicida pode ser seletivo para uma cultura por várias razões, entre as quais pelo seu posicionamento no solo. A seletividade pode ocorrer também pela
capacidade da planta em degradar o produto primário tóxico (herbicida) em produtos secundários inócuos para ela. Assim, quando um herbicida entra em contato com a planta e é decomposto em produtos secundários não tóxicos, a planta não expressa sintomas de intoxicação, e o herbicida é dito seletivo. Obviamente, a planta pode não conseguir decompor o produto e, nesse caso, apresenta sintomas de intoxicação, sendo o herbicida dito não seletivo para a cultura, ou variedade, em questão. Muitas enzimas estão envolvidas na destoxificação de herbicidas, sendo uma delas a citocromo P450 monooxigenase. Aparentemente, essa mesma enzima, além de outras, está envolvida na metabolização de nematicidas, inseticidas e outros produtos tóxicos. Como ela se encontra em quantidade limitada dentro da planta, atingindo o limite de sua capacida-
Charles Echer
uitos canaviais com baixa produtividade têm como fator limitante de produção os nematóides, que atacam o sistema radicular, tornando-o pobre em radicelas, depauperado e, conseqüentemente, ineficiente. Devido à dificuldade de uso ou à ineficiência de algumas ferramentas de controle, tais como variedades resistentes, matéria orgânica e rotação de culturas, os produtores de cana têm feito uso crescente e constante de nematicidas, especialmente na implantação da lavoura, visando reduzir os danos causados por nematóides. Assim como os nematóides, as plantas daninhas também podem causar reduções de produtividade, pela competição com a cultura por água, nutrientes e radiação solar. Como o controle de plantas daninhas em cana-de-açúcar é feito quase que exclu-
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Leila Dinardo
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de de metabolização, a planta passa a manifestar sintomas de intoxicação. Assim, em área tratada com nematicida e herbicida, a absorção de ambos os produtos pela planta aumentaria sua demanda por enzimas de decomposição e a probabilidade de ocorrência de intoxicação. Como a quantidade de enzimas é variável com a variedade, variedades mais sensíveis a herbicidas tendem a apresentar maiores problemas com a interação entre nematicidas e herbicidas. Portanto, a variedade cultivada é fator importante para a manifestação dos sintomas de intoxicação.
Para a ocorrência de sintomas, é necessário que nematicidas e herbicidas estejam no interior da planta, necessitando, portanto, de decomposição. Os nematicidas são (e devem ser) facilmente absorvidos pela planta, pois são aplicados na região das raízes. Entretanto, especialmente no plantio da cana-de-açúcar, os herbicidas geralmente são aplicados na superfície do solo, em préemergência da cultura e do mato, sendo absorvidos pelas raízes somente quando há lixiviação. Assim, o volume de chuva após a aplicação dos herbicidas desempenha papel importante no aparecimento de sintomas
Sintomas de fitointoxicação, causados pela interação entre nematicida e herbicida, com morte de plantas 21, 35, 62 e 79 dias depois da aplicação
de fitointoxicação, pois herbicidas de alta solubilidade, como tebuthiuron, metribuzin e clomazone, quando utilizados em períodos de alta precipitação pluviométrica, podem ser lixiviados, aumentando o potencial de toxicidade para a cultura, por reduzir a seletividade por posicionamento no solo. Essa é a razão por que muitos casos de fitointoxicação ocorrem em plantios feitos em janeiro e fevereiro, época de chuvas freqüentes na região Sudeste do Brasil. Em
plantios feitos a partir de março-abril (época mais seca do ano) e em soqueiras, a ocorrência de fitointoxicação é mais rara, pois as chuvas não ocorrem em volume suficiente para a lixiviação do herbicida. Como os herbicidas são mais facilmente lixiviados em solos arenosos, a ocorrência de fitointoxicação nesses solos é muito mais freqüente do que em argilosos. Os produtos utilizados também são importantes para a ocorrência de fitointoxicação. Entre os nematicidas, o que provoca sintomas mais severos de fitointoxicação, quando utilizado com herbicidas, é o terbufós. Casos envolvendo carbofuran e aldicarb são mais raros. Entre os herbicidas, sintomas mais severos são observados com tebuthiuron, clomazone e misturas. No entanto, raramente interações com clomazo-
ne resultam em quebras de produtividade. É comum, ao se utilizar esse herbicida, com ou sem nematicida, a ocorrência de sintomas de intoxicação na fase inicial do desenvolvimento da cultura, algumas vezes até com redução no crescimento das plantas, mas estas geralmente se recuperam dos sintomas iniciais, e raramente se observam quebras de produtividade, principalmente se o nematicida utilizado na área for carbofuran ou aldicarb. Por outro lado, metribuzin provoca poucos sintomas foliares de intoxicação, mas são freqüentes os registros de quebra de produtividade em áreas tratadas com este herbicida e nas quais se utilizou terbufós ou carbofuran. Portanto, a ocorrência de sintomas de fitointoxicação no início do desenvolvimento da cultura não implica necessariamente em redução de pro-
UM POUCO DE HISTÓRIA
O
primeiro relato envolvendo fi tointoxicação por herbicidas associados a nematicidas, no Brasil, foi feito por Blanco et al. (1980), que descreveram a ocorrência de graves sintomas de fitointoxicação em canaviais da Usina São José, em Macatuba (SP), tratados com carbofuran, no sulco de plantio, e tebuthiuron, em pré-emergência das plantas daninhas, logo após plantio. Para completar os estudos, esses autores conduziram testes em vasos e confirmaram que plantas tratadas com carbofuran e tebuthiuron, no mesmo ciclo, podiam apresentar severos sintomas de fitointoxicação, caracterizados pela paralisação do crescimento, clorose do limbo foliar, requeima das folhas, começando pelo ápice e laterais destas folhas e estendendo-se para a nervura central, ocorrendo, em alguns casos, secamento total da planta. Posteriormente, pesquisadores da antiga Copersucar (1982) também relataram a presença de plantas com sintomas acentuados de fitointoxicação, em canaviais comerciais tratados com o nematicida carbofuran e o herbicida tebuthiuron. Nesses primeiros relatos, os canaviais haviam recebido carbofuran equivalente a 3kg/ha de produto ativo, a dose recomendada e utilizada comercialmente na época. No final da década de 1980 e início da década de 1990, devido à utili-
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zação esporádica de nematicidas, raros casos de fitointoxicação ocorreram. Entretanto, a partir do final da década de 1990, o uso crescente de nematicidas, entre os quais o terbufós, tornou mais comuns os relatos de sinergismo entre esses produtos e os herbicidas, especialmente em plantio de variedades sensíveis a herbicidas, em solos arenosos e na época chuvosa. Para tentar entender as condições que favoreciam a ocorrência de fitointoxicação, a equipe do Instituto Agronômico conduziu vários experimentos, em cana planta e soca, em áreas de solo arenoso e argiloso, nas quais foram plantadas diversas variedades, sensíveis ou não a herbicidas, e acompanhou o desenvolvimento de várias áreas comerciais tratadas com nematicidas, no sulco de plantio ou nas soqueiras, e herbicidas em cobertura, logo após. Parte desses dados está publicada (Dinardo-Miranda et al. 2001a, 2001b, 2004; Cáceres, 2005), e parte se encontra em relatórios internos do IAC. As observações feitas nas mais diferentes condições revelaram ser bastante complexa a relação entre nematicidas e herbicidas em cana-deaçúcar, com muitos fatores interferindo na ocorrência de sintomas de fitointoxicação e na quebra de produtividade. Alguns desses fatores são aqui apresentados.
Leila Dinardo mostra os problemas causados por nematicidas e herbicidas e as formas de evitar o problema
dutividade agrícola por ocasião da colheita, da mesma forma, a ausência de sintomas não assegura necessariamente ausência de redução de produtividade. Em relação à combinação nematicidaherbicida, geralmente, os sintomas de fitointoxicação com redução de produtividade são mais comuns quando se usam terbufós e tebuthiuron. Em algumas situações, pode ocorrer interação com redução de produtividade entre terbufós e metribuzin ou carbofuran e metribuzin. São bastante raros os casos de interação entre carbofuran e tebuthiuron. Aldicarb raramente interage com a maioria dos herbicidas (Dinardo-Miranda et al., 2001a, 2001B, 2004). Mas como explicar os relatos, feitos na década de 1980, de ocorrência de fitointoxicação em áreas tratadas concomitantemente com carbofuran e tebuthiuron? A resposta está nas doses utilizadas. Naquela época, utilizava-se carbofuran em dose correspondente a 3,0 kg/ha de produto ativo, e, atualmente, a dose utilizada corresponde a, no máximo, 2,1 kg/ha de produto ativo. De fato, em experimento conduzido pelo IAC (Dinardo-Miranda et al. 2001b), no qual se utilizaram carbofuran a 2,0 e a 3,0 kg/ha de produto ativo e diversos herbicidas, sintomas de intoxicação foram observados somente quando o nematicida foi empregado na dose mais elevada. Da mesma maneira, ao se utilizar dose mais elevada do herbicida (por um erro de aplicação, por exemplo), os sintomas de fitointoxicação são mais severos, bem como as reduções de produtividade. O agravamento dos sintomas nas situações citadas acima é facilmente compreensível, por resultar em maior disponibilidade de nematicida e/ou herbicida para a planta e, conseqüentemente, aumentar a demanda por enzimas promotoras da destoxificação. Outro fator que pode afetar o apareci-
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mento de sintomas de fitointoxicação é a ocorrência de alumínio no solo, que, pelo seu aspecto tóxico às plantas, compromete o desenvolvimento das raízes, prejudica seu sistema metabólico, limitando a produção de aminoácidos e enzimas, inclusive daquelas responsáveis pela degradação de herbicidas. Assim, alguns relatos dão conta de que a presença de alumínio no solo contribui para incrementar a severidade de sintomas de fitointoxicação, não somente nas áreas que receberam nematicida e herbicida, mas também naquelas tratadas somente com herbicidas (Cáceres, 2005). Assim, embora a relação nematicidaherbicida seja bastante complexa, parece ser consenso que a ocorrência de sintomas de fitointoxicação, seguida por quebra de produtividade, dá-se em plantio em solo arenoso, feito em época chuvosa (dezembro a fevereiro), utilizando principalmente variedade suscetível à herbicida e combinação nematicida-herbicida inadequada. A ausência de uma dessas condições reduz significativamente a probabilidade de ocorrência C de sinergismo entre os produtos. Leila Luci Dinardo Miranda, IAC
Fotos Leila Dinardo
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Sintomas de fitointoxicação causados pela interação entre nematicida e herbicida, com recuperação das plantas 21, 35, 62 e 79 dias depois da aplicação
Milho Fotos Charles Echer
Teste de produtividade Com Com aa disponibilidade disponibilidade de de diferentes diferentes sementes de milho atualmente no mercado, a pesquisa pesquisa avalia avalia oo desempenho desempenho produtivo produtivo de diferentes híbridos e mostra os bons resultados obtidos pelo híbrido simples
A
s diferenças entre os tipos de híbridos de milho quanto ao rendimento de grãos são sempre uma questão bastante discutida e controvertida. Inúmeros estudos vêm sendo desenvolvidos, ao longo dos anos, com o intuito de comparar o potencial produtivo de híbridos simples, triplos e duplos.
que define o tipo de híbrido, outros aspectos, como a qualidade e adaptabilidade do germoplasma, o potencial produtivo inerente a cada combinação híbrida e às condições de cultivo, contribuem para a definição do melhor ou pior desempenho dos diferentes tipos de híbridos quanto ao potencial para rendimento de grãos.
Tabela 1 - Comparação dos rendimentos médios de grãos, a 13% de umidade, de híbridos de milho simples (HS), híbridos triplos (HT) e híbridos duplos (HD), selecionados do Ensaio Indicado Superprecoce/Fepagro, conduzidos em Passo Fundo (RS), através de contrastes, utilizando-se o teste F. Embrapa Trigo, 2005
Tabela 2 - Comparação dos rendimentos médios de grãos, a 13% de umidade, de híbridos de milho simples (HS), híbridos triplos (HT) e híbridos duplos (HD), selecionados do Ensaio Indicado Precoce/Fepagro, conduzidos em Passo Fundo (RS), através de contrastes, utilizando-se o teste F. Embrapa Trigo, 2005
Grupo
Média geral
Grupo
9.023 vs 7.555** 9.023 vs 6.090** 7.555 vs 6.090**
HS vs HT HS vs HD HT vs HD
HS vs HT HS vs HD HT vs HD
Rendimento médio de grãos (kg/ha)/safra 2002/2003 2003/2004 2004/2005 9.862 vs 8.850** 12.062 vs 10.286** 5.145 vs 3.529** 9.862 vs 7.336** 12.062 vs 8.067** 5.145 vs 2.867** 8.850 vs 7.336** 10.286 vs 8.067** 3.529 vs 2.867**
** : significativo ao nível de 1% de probabilidade de erro
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Esses trabalhos têm revelado a tendência de superioridade dos híbridos simples sobre os triplos e duplos. No entanto, essa superioridade pode não se verificar, visto que, em algumas circunstâncias, os híbridos triplos podem produzir mais que os simples. É evidente que, além do número de linhagens envolvidas no cruzamento,
Rendimento médio de grãos (kg/ha)/safra 2002/2003 2003/2004 2004/2005 9.865 vs 8.244** 10.843 vs 10.308* 3.357 vs 3.441ns 9.865 vs 7.982** 10.843 vs 9.636** 3.357 vs 2.565** 8.244 vs 7.982ns 10.308 vs 9.636** 3.441 vs 2.565**
Média geral 8.022 vs 7.331* 8.022 vs 6.728** 7.331 vs 6.728*
** : significativo ao nível de 1% de probabilidade de erro; * : significativo ao nível de 5% de probabilidade de erro; ns: não significativo.
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Com o objetivo de avaliar o desempenho comparativo dos diferentes tipos de híbridos, indicados para cultivo no Rio Grande do Sul, para rendimento de grãos, conduziu-se o presente trabalho. Anualmente os híbridos de milho de ciclo superprecoce e precoce, indicados para cultivo no RS, são avaliados em diferentes locais do estado por meio da Rede Fepagro. Os ensaios são divididos conforme o ciclo dos híbridos em “ensaio indicado superprecoce” (EISP) e “ensaio indicado precoce” (EIP). Para avaliar o desempenho comparativo dos diferentes tipos de híbridos, selecionaram-se de cada ensaio os híbridos simples (HS), triplos (HT) e duplos (HD) comuns aos ensaios conduzidos nas safras 2002/03, 2003/04 e 2004/05 no município de Passo Fundo. Todos os ensaios foram instalados em blocos ao acaso, com três repetições. As parcelas constituíram-se de duas fileiras de 5 m cada, espaçadas em 0,80 m. A adubação aplicada na semeadura foi 300 kg/ ha da fórmula 5-25-25. A adubação de cobertura, 100 kg/ha de N, foi aplicada quando as plantas estavam com seis a sete folhas bem desenvolvidas. Os rendimentos de grãos obtidos foram corri-
gidos para 13% de umidade. Do EISP, foram selecionados 5 HS, 3 HT e 5 HD, e do EIP, foram selecionados 2 HS, 3 HT e 3 HD. Para cada ensaio, foi realizada a análise da variância por ano e das três safras conjuntas. Para comparar o rendimento médio de grãos entre os diferentes grupos de híbridos, foram avaliados os contrastes entre os grupos (HS vs HT, HS vs HD e HT vs HD), utilizando-se o teste F. Para os híbridos de ciclo superprecoce, o teste F revelou diferença, estatisticamente, significativa entre os diferentes tipos de híbridos nas três safras em que foram avaliados. O grupo de híbridos simples apresentou o maior rendimento de grãos, seguido do grupo de híbridos triplos e duplos, respectivamente (Tabela 1). Estes resultados confirmam a tese de que híbridos simples, de maneira geral, apresentam potencial produtivo superior aos demais híbridos. A mesma tendência, de superioridade dos híbridos simples sobre os demais, foi verificada para os híbridos de ciclo precoce, porém de forma não constante, tendo em vista que, na safra 2004/ 05, os híbridos simples não diferiram,
De modo geral, o híbrido simples surpreendeu pela superioridade sobre os demais
Tabela 3 - Comparação dos rendimentos médios de grãos, a 13% de umidade, de híbridos de milho simples (HS), híbridos triplos (HT) e híbridos duplos (HD), e porcentagem relativa ao rendimento de híbridos simples e triplos, selecionados do Ensaio Indicado Superprecoce/Fepagro, conduzidos em Passo Fundo (RS). Embrapa Trigo, 2005 Grupo
HS HT HD
Rendimento médio de grãos (kg/ha)/safra 2002/2003 2003/2004 2004/2005 kg/ha % (HS) % (HT) kg/ha % (HS) % (HT) kg/ha % (HS) % (HT) 9.862 100 12.062 100 5.145 100 8.852 90** 100 10.286 85** 100 3.529 69** 100 7.336 74** 83** 8.067 67** 78** 2.867 56** 81**
Média geral kg/ha 9.023 7.555 6.090
% (HS) 100 84** 67**
% (HT) 100 81**
** : significativo ao nível de 1% de probabilidade de erro pelo teste F
Tabela 4 - Comparação dos rendimentos médios de grãos, a 13% de umidade, de híbridos de milho simples (HS), híbridos triplos (HT) e híbridos duplos (HD), e porcentagem relativa ao rendimento de híbridos simples e triplos, selecionados do Ensaio Indicado Precoce/Fepagro, conduzidos em Passo Fundo (RS). Embrapa Trigo, 2005 Grupo
HS HT HD
Rendimento médio de grãos (kg/ha)/safra 2002/2003 2003/2004 2004/2005 kg/ha % (HS) % (HT) kg/ha % (HS) % (HT) kg/ha % (HS) % (HT) 9.865 100 10.843 100 3.357 100 8.244 84** 100 10.308 95* 100 3.441 103ns 100 7.982 81** 97ns 9.636 89** 93** 2.565 76** 75**
Média geral kg/ha 8.022 7.331 6.728
% (HS) 100 91* 84**
% (HT) 100 92*
** : significativo ao nível de 1% de probabilidade de erro pelo teste F; * : significativo ao nível de 5% de probabilidade de erro pelo teste F; ns: não significativo
na sua composição, confere a estes maior estabilidade de produção sob condições sub ótimas de cultivo, a exemplo da safra 2004/05. O grupo de híbridos simples de ciclo superprecoce foi 16% e 33% mais produtivo que os híbridos triplos e duplos, respectivamente, na média das três safras. A menor variação observada foi na safra 2002/03, na qual os híbridos simples produziram 10% mais que os
Beatriz Marti Emygdio e João Carlos Ignaczak, Embrapa Trigo
Charles Echer
estatisticamente, dos híbridos triplos, assim como estes não diferiram dos híbridos duplos na safra 2002/03. No entanto, a análise conjunta das três safras confirma a superioridade dos híbridos simples sobre os triplos e destes sobre os duplos (Tabela 2). A diferença não significativa entre híbridos simples e híbridos triplos, na safra 2004/05, pode ser atribuída ao estresse ambiental, motivado pela forte estiagem que marcou o período. Admite-se, em tese, que a menor uniformidade dos híbridos triplos, conferida pelo maior número de genótipos envolvidos
triplos e 26% mais que os duplos. Já a maior variação verificou-se na safra 2004/05, quando os simples produziram 31% e 44% mais que os triplos e duplos, respectivamente. Tais diferenças foram estatisticamente significativas (Tabela 3). A variação, para rendimento de grãos, entre os grupos de híbridos de ciclo precoce foi inferior àquela observada entre os grupos de híbridos de ciclo superprecoce. Essa variação pode ser atribuída às diferenças de capacidade produtiva inerentes aos genótipos selecionados no EISP e no EIP e/ou à influência das condições climáticas sobre a variação de ciclo dos genótipos. Na média das três safras, os híbridos simples de ciclo precoce produziram 9% e 16% mais que os híbridos triplo e duplos, respectivamente. Na safra 2004/ 05, os híbridos triplos chegaram a produzir 3% mais que os híbridos simples, embora esta diferença não seja estatisticamente significativa (Tabela 4). Esses resultados são coerentes com a teoria preconizada, embora uma avaliação mais abrangente, considerando outros grupos de genótipos e outras condições ambientais, seja necessária. C
CONCLUSÕES
1
) A magnitude da diferença de rendimento de grãos entre os tipos de híbridos avaliados variou com o ano. 2) As diferenças de rendimento de grãos entre tipos de híbridos de ciclo superprecoce foi superior àquela encontrada entre tipos de híbridos de ciclo precoce. 3) Os híbridos simples avaliados foram superiores aos duplos, para rendimento de grãos, independente de ano e de ciclo. 4) Dependendo das condições ambientais, híbridos simples podem não diferir, quanto ao rendimento de grãos, de híbridos triplos, assim como estes podem não diferir de híbridos duplos.
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O grupo de híbridos simples de ciclo superprecoce foi 16% e 33% mais produtivo do que os híbridos triplos e duplos, respectivamente
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Café
Surto urticante De ocorrência ocasional nos cafeeiros do país, a lagarta lonomia, da espécie Lonomia circunstans, que destrói folhas e brotos, intensificou os ataques em várias regiões produtoras neste ano
P
ro de mudas localizado no município de Lavras (região Sul de Minas, MG), foi observada a ocorrência dessa lagarta, devorando todas as folhas de plantas de café. Em maio de 1976, essa espécie atacou um talhão de uma lavoura localizada no mesmo município, tendo ocorrido uma grande quantidade de lagartas por planta. Em 1982 ocorreu novo ataque em Lavras e também no município de São Gotardo (Alto Paranaíba, MG). Novo surto foi registrado em Lavras e Santo Antônio do Amparo (CentroOeste de Minas, MG) em maio de 2002. Em 2004 foram registrados ataques dessa lagarta em cafeeiros de uma lavoura em Varginha (Sul de Minas) e Patrocínio (Alto Paranaíba). Já em 2005, em diversos municípios de Minas Gerais, muitas lavouras foram atacadas inten-
samente pela lagarta. Dentre os municípios destacaram-se pela intensidade de ataque: Oliveira (Centro-Oeste de Minas), Lavras (Sul de Minas) e Campos Altos (Alto Paranaíba). Pelos ataques esporádicos ao cafeeiro desde a sua primeira constatação em Minas Gerais em 1974, há 31 anos, pode-se afirmar que essa espécie é de ocorrência ocasional, resultado de condições, principalmente climáticas, muito favoráveis. Assim, novas ocorrências de L. circunstans poderão ser raras, com reaparecimento após muitos anos de ausência.
DANOS A lagarta é voraz, apresenta hábito gregário e se movimenta rapidamente. Sua ocorrência nos cafezais parece estar restrita aos meses de março a agos-
Charles Echer
odem ocorrer inúmeras espécies de lagartas em cafeeiros, mas nem sempre se constituem em pragas, a não ser em casos de desequilíbrio biológico provocado por produtos fitossanitários ou de condições climáticas. Uma dessas lagartas, pouco conhecida dos cafeicultores, vulgarmente denominada de lagarta-urticante, ou simplesmente lonomia, é a espécie Lonomia circunstans (Walker, 1855) (Lepidoptera: Saturniidae), objeto deste artigo. As lagartas-urticantes de L. circunstans apresentam o hábito de viverem agrupadas (hábito gregário) e às vezes são encontradas em grande número. O ataque de lagartas nos cafeeiros geralmente é detectado, além da observação direta dos danos nas folhas e de fezes no solo, pela presença de gaviões nas lavouras. Em maio de 1974, num vivei-
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Fotos Paulo Rebelles
Adultos e pupas de Lonomia circunstans (Lepidoptera: Saturniidae), machos e fêmeas
Postura de Lonomia circunstans na ponta de uma folha de cafeeiro, contendo 94 ovos; e a lagarta exibindo cerdas ramificadas
to, com destaque para o mês de maio. Quando a população de lagartas é alta, a destruição de folhas e brotos é facilmente detectada principalmente a partir da parte superior da planta. Uma lagarta pode consumir cerca de 600 cm2 de área foliar, correspondendo a aproximadamente 25-30 folhas por lagarta. Além dos danos diretos às plantas, essa lagarta pode causar acidentes, ou dermatites urticantes (queima-
dura ou erucismo, como é chamado o acidente causado por lagarta), nas pessoas cuja pele entre em contato com suas cerdas ou pêlos ramificados e pontiagudos de aspecto arbóreo. Essas cerdas apresentam espinhos com glândulas de veneno nos ápices (característica da família Saturniidae), que se rompem ao toque liberando, o veneno, acidente que se manifesta de forma aguda e de evolução benigna. O erucismo costuma evoluir apenas com sintomas locais (hiperemia, dor, calor, formação de bolhas etc.), porém eventualmente pode ocasionar sérias complicações sistêmicas, como acontece com uma outra espécie pertencente ao mesmo gênero, a Lonomia obliqua Walker, 1855, que ocorre em plantas de porte arbóreo na região Sul do Brasil, causando a “síndrome hemorrágica”, acidente grave que pode causar a morte da pessoa afetada e que é ca-
Lagartas da espécie Lonomia obliqua e moscas Belvosia bicinta, Belvosia potens e Pararrhinactia parva, cujas larvas são parasitóides de Lonomia circunstans
racterizado por sangramentos e insuficiência renal aguda. Não se conhece exatamente como agem os venenos das lagartas, mas atribui-se o efeito provocado aos líquidos da hemolinfa e da secreção das espículas, tendo a histamina como o principal componente estudado até agora. É fácil diferenciar L. obliqua de outras espécies, apesar de, nos troncos das árvores, estarem sempre em grupos de 20 a 30 (Figura 4), como L. circunstans, porém o seu corpo é marrom, com espinhos verdes, e tem faixas no dorso com manchas amareladas. Um dos cuidados que podem ser tomados, além de prestar atenção aos troncos, é observar no
DESCRIÇÃO E NOTAS BIONÔMICAS
A
postura é feita pela mariposa fêmea durante a noite, geralmente nas folhas, sendo os ovos de coloração esverdeada, medindo 1,5 mm x 1 mm de comprimento e largura, respectivamente. São postos agrupados, e a postura média contém cerca de 90 ovos (Figura 1). As lagartas são de coloração escura, com imensas cerdas ou pêlos ramificados (cerdas venenosas ou pêlos urticantes), distribuídos por todo o corpo e também escuros (Figura 2). Durante o dia têm o hábito de ficarem agrupadas na base da planta ou no solo sob esta, não se alimentando, sendo observados somente os danos na parte aérea das plantas. Durante a noite, as lagartas sobem à
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copa das plantas para se alimentar deC folhas. A fase de pupa ou crisálida, que é nua ou não encerrada em casulo, ocorre no solo, próximo das plantas. Os insetos adultos são mariposas de hábitos noturnos, possuindo as fêmeas cerca de 60 mm de envergadura, e os machos, 50 mm. As fêmeas, maiores que os machos, possuem coloração cinza, e os machos são avermelhados. Ambos possuem uma linha transversal escura nas asas anteriores e posteriores e duas pequenas manchas em cada uma das asas anteriores (Figura 3). Podem ocorrer até duas gerações anuais, porém nas raras ocasiões em que foi constatado ataque em cafeeiros somente foi observada uma geração.
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fase de estudos clínicos. Desconhece-se se L. circunstans pode causar a síndrome hemorrágica, e sua ocorrência ocasional em algumas lavouras de café não deve ser motivo de preocupação aos trabalhadores que eventualmente entrarem em contato com essa lagarta.
CONTROLE Caso o número de lagartas de L. circunstans seja considerado baixo, ou seja, haja poucas lagartas por planta, em geral não há necessidade da aplicação de nenhuma medida de controle, pois, além de ocorrerem de forma dispersa nas lavouras de café, são muito parasitadas por
Fotos Charles Echer
solo a presença de folhas roídas, fezes e pupas. Em caso de acidente, a vítima deve ser levada imediatamente a um centro médico, e, se possível, deve-se levar também a lagarta para correta identificação. Caso se confirme que não é lonomia, o paciente pode ser liberado sem a necessidade de exames laboratoriais. Se for lonomia, a vítima deve tomar o soro antilonômico (SALon), desenvolvido em 1995, pelo Instituto Butantã. Desde que o soro antilonômico começou a ser utilizado, não foi registrado nenhum caso de morte da vítima, entretanto seu uso tem ainda utilização restrita, estando na
microhimenópteros pertencentes à família Braconidae e por moscas da família Tachinidae (Figura 5), entre outros parasitóides de ocorrência natural. Nesse caso, simplesmente espera-se por sua transformação em crisálida, ocasião em que não mais se alimentarão. Entretanto, se ocorrer grande número de lagartas por cafeeiro, de 50 a cem ou mais, haverá a necessidade de realizar o controle através da aplicação de inseticidas, já que nessa situação, ao se alimentarem, causarão intensa desfolha dos cafeeiros, resultando em prejuízo à produção de café. Ainda, a simples presença das lagartas na lavoura poderá resultar em queimaduras nas pessoas cuja pele entre em contato com elas. Qualquer medida de controle químico, se necessária, para alguns talhões de lavoura de café muito infestados pelas lagartas, deve ser aplicada quando elas ainda se encontrarem muito pequenas, nos primeiros ínstares de sua fase larval, ocasião em que serão mortas mais facilmente pelos inseticidas que forem aplicados. Os inseticidas biológicos, à base de Bacillus thuringiensis, por exemplo, devem ser aplicados quando as lagartas ainda não tenham consumido muito alimento, sem grandes estragos visíveis nas folhas, pois este tipo de produto precisa ser ingerido pelas lagartas junto com as folhas. Caso seja mesmo necessário o controle em infestações detectadas tardiamente, ou seja, com lagartas já grandes e outras pequenas, o ideal será usar um
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O controle químico deve ser empregado quando as lagartas ainda estiverem nos primeiros ínstares
produto fitossanitário de boa ação de contato, e o melhor tem sido o endosulfan a 350 g de ingrediente ativo por litro (Thiodan CE, Endosulfan 350 CE,
Divulgação
Thionex 350 CE, Dissulfan CE etc.), registrado para uso em cafeeiro no controle da broca-do-café. Especificamente para o controle da lonomia, o inseticida deve ser pulverizado, na concentração de 0,5%, nas folhas do cafeeiro durante a noite, que é o período em que as lagartas estão se alimentando na copa das plantas, ficando assim expostas ao produto que está sendo aplicado. Por ocasião da pulverização, as lagartas se deixam cair ao chão, quando poderão ser controladas por outro tipo de pulverização, agora em faixa sobre o solo, com o uso de bico tipo leque, atingindo também o colo das plantas. Essa aplicação sobre o solo deve ser feita com pulverizador utilizado normalmente para aplicação de herbicidas, nos dois lados da planta. Essas duas pulverizações poderão ser substituídas por uma só, durante o dia, sobre o solo e também em faixa, como já mencionado, desde que as lagartas estejam agrupadas junto ao colo das plantas. Se estiverem dispersas sobre o solo, sob os cafeeiros, o ideal será controlá-las durante a noite, com os dois tipos de pulverizações já mencionados. Outro produto que pode ser utilizado é trichlorfon (Dipterex 500, concentrado solúvel - SL) na dosagem de 1
Rebelles explica a melhor forma de controlar a lagarta Lonomia
litro por hectare. Finalmente, constatando-se tardiamente a presença de lagartas já bem desenvolvidas em lavouras de café, no final da fase de lagarta, com todo o alimento (folhas) requerido já consumido, deve-se esperar por sua transformação em crisálida, ocasião em que não mais se alimentarão, não devendo ser adotaC da nenhuma medida de controle. Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, Epamig/EcoCentro
Luiz Felipe Simões
Arroz Com as irregularidades pluviométricas, a implantação do pivô pode fazer a diferença na redução de custos e na racionalização de água, com economia de 55% do total da água normalmente utilizada na irrigação das lavouras de arroz por inundação
O
arroz é uma cultura que está em plena evolução. Novas técnicas são necessárias para se atingirem novos patamares de produtividade sustentável, e a irrigação no pivô central é um novo desafio a ser implementado. Essa técnica veio para suprir algumas dificuldades do sistema convencional de plantio, principalmente na questão do consumo de água, manejo do solo e opções de cultivo de outras culturas em rotação. No sistema convencional de irrigação ocorre a necessidade de preparo intenso do solo (aração, nivelação, aplainamento e entaipamento), acarretando elevados custos na preparação da lavoura e ainda na recuperação da degradação física e biológica do solo. A elevada demanda do uso da água nesse sistema de irrigação deve-se à grande quantidade de canais construídos para que essa água atinja a lavoura em sua totalidade e seja distribuída uniformemente em toda a lavoura, o que em muitas situações não ocorre, em conseqüência da topografia acidentada. Um dos maiores problemas na manutenção da área de cultivo de arroz é o grande volume de água consumido no sistema de lâmina de água em inundação, acarretando a necessidade de construção de grandes barragens e de
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áreas de captação cada vez maiores e ainda uma retirada intensa de águas de rios e lagos. Aliada a isso, também, a irregularidade das chuvas durante os anos com períodos de longas estiagens resulta em pouca água disponível para a irrigação, causando redução na área de plantio e abandono de áreas cultivadas, inviabilizando em alguns casos algumas lavouras e propriedades. No sistema de irrigação de pivô central, técnica nova em implantação, muitos são os desafios a serem enfrentados, mas algumas vantagens já são plenamente percebíveis. Entre elas se destaca a grande redução no consumo de água por área cultivada. Com a necessidade crescente de se racionalizar o consumo de água, essa técnica tem reduzido de forma drástica o consumo em aproximadamente 55%, isto é, com a mesma quantidade que se irriga um hectare em um sistema inundado se conseguem irrigar aproximadamente 2,2 hectares no sistema de pivô, fator fundamental para tomar a decisão da implantação do sistema. Outra questão observada é a recuperação da estrutura do solo prejudicada pelos sistemas convencionais de cultivo, com resultados de melhor infiltração de água, contribuindo também para o aumento de fertilidade. Nesse sistema, a ro-
tação de cultura e as alternativas culturas de inverno são de grande importância ao sistema de cultivo. Está surgindo também a necessidade da adaptação e implementação da pecuária ao sistema, já que há anos o manejo dessas áreas de arroz tem sido com a criação bovina, buscando, com essa sucessão, adubação do sistema, ganho de peso vivo e entrada de forrageiras, que contribuem para o aumento do potencial do solo. Os grandes desafios que o sistema de pivô enfrenta são os de manejo de invasoras, de adubação, dos restos culturais da palhada em pós-colheita do arroz, do manejo da irrigação e do dimensionamento do sistema dos rodados de sustentação do pivô. A adubação do sistema sob pivô é um fator que sofre grandes variações à do sistema inundado. No sistema inundado, a água faz o tamponamento do pH do solo, melhora a disponibilidade de fósforo, ativa a redução do nitrato (NO3) pelos microorganismos anaeróbicos após o desaparecimento do oxigênio, causando a desnitrificação, que é a perda para a parte aérea do nitrogênio (N2). Coincidentemente ocorre a redução do manganês, do ferro e do sulfato, aumentando-os na solução do
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Janice Ebel
Fernando e Luiz Felipe mostram as vantagens do cultivo de arroz sob pivô central
cultura, para que não haja depreciação da qualidade final do produto colhido. Com implantação do pivô, algumas dificuldades são enfrentadas, como a preparação da área para que haja um fluxo normal do rodado do pivô: com relação a isso, deve-se ficar atento ao caminho percorrido pelo rodado, retirando-se obstáculos, como pedras, aterrando-se pequenos valos e banhados, e, em alguns casos, fazendo-se até encascalhamendo do caminho, para que não haja atolamento do rodado do sistema. O dimensionamento do tamanho dos rodados para o sistema é de fundamental importância na implantação deste, pois se os rodados forem muito estreitos poderá ocorrer o afundamento do rodado no solo e o atolamento do equipamento. Outro aspecto a ser abordado é o fato de que nesse sistema se eliminam as taipas ou marachas, e a colheita é realizada com solo seco em uma lavoura uniformemente madura. Técnicas evolutivas para aumento de produtividade e melhor uso da água serão os próximos desafios a serem alcançados, e o sistema de irrigação em pivô na cultura do arroz está chegando, mas inúmeros são os desafios a serem superados e as técnicas a serem criadas. O produtor de arroz, que procura avanços na redução de custos, racionalização do uso da água e alternativas de culturas em rotação e culturas para o inverno deve ficar C alerta para essa nova tecnologia. Fernando D. Warpechowski e Luiz Felipe Simões, SolFerti
Luiz Felipe Simões
solo, ocasionando em alguns casos a toxidez de ferro e também distúrbios fisiológicos como Straighthead, mais conhecido como bico-de-papagaio. A adubação nitrogenada no sistema é à base amídica (NH2) e amoniacal (NH4), devido a o alagamento restringir o uso de formas nítricas (NO3), devido às perdas por desnitrificacao. Com a mudança de um sistema de inundação para um sistema não inundado, no caso do pivô, muitos fatores mudam, o pH não tampona, e com isso ocorre a manutenção do solo em uma condição ácida, requerendo a correção com calagem. Isso também porque se deseja incluir outras culturas no sistema, como, no caso, soja, milho e sorgo, no verão, e trigo e pastagens, no inverno. Outros fatores a serem considerados são os manejos do fósforo e do potássio, que, devido à não inundação, requerem maiores quantidades e acompanhamento mais detalhado. O mo-
nitoramento desses fatores vai elucidar os detalhes de uma melhor adubação deste sistema. Os restos culturais após a colheita do arroz são em grande quantidade, e, devido à sua característica, são de difícil decomposição. Aliado a isso, o período frio e chuvoso do inverno mantém os restos culturais por um período longo na superfície do solo, este aspecto dificulta a implantação de culturas de inverno, como trigo e pastagens. Algumas são as alternativas para esse manejo, mas deve-se encontrar uma que não dificulte a implantação da cultura e que seja a menos danosa ao equilíbrio físico-químico e biológico do solo, com a manutenção do plantio direto na área do pivô. O controle das invasoras é um dos fatores que têm recebido atenção especial, o conjunto de herbicidas do mercado de arroz é direcionado para o sistema inundado, no qual, após o controle das ervas, a lâmina de água mantém estas em supressão e, desta maneira, ajuda no controle mais prolongado e no melhor desempenho dos produtos. No sistema irrigado com pivô, não existe a lâmina de água sobre o arroz, e, dessa maneira, o efeito prolongado dos herbicidas não tem o mesmo desempenho, ocorrendo uma rápida reinfestação de ervas na área, requerendo novas aplicações de herbicidas, dessa maneira, dificultando o manejo da lavoura e aumentando os custos de produção. O desafio a ser superado é encontrar os herbicidas mais indicados ao sistema que possuam um residual mais longo e conseguir, dessa maneira, manter a lavoura por mais tempo livre de ervas que possam competir com a
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Pragas
Ineficácia de iscas A falta de conhecimento das características e da forma correta de uso e de armazenamento de produtos formicidas pode ser a causa das queixas de agricultores sobre a baixa eficiência das iscas no controle de formigas cortadeiras
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migas, sua biologia e os hábitos de forrageamento não será tratado neste trabalho. As iscas, atualmente, no mercado brasileiro, devido às características dos ingredientes ativos, exigem condições adequadas para armazenamento, transporte e quantidades diferenciadas para controlar as formigas cortadeiras que infestam os cultivos. A falta desses conhecimentos sobre as formigas e, principalmente, sobre as iscas deu origem às inúmeras reclamações sobre a baixa eficácia das iscas formicidas granuladas atualmente existentes no mercado, cuja ineficiência pode estar relacionada a uma ou mais das causas a seguir elencadas:
INTRÍNSECAS AO PRODUTO Matéria-prima contaminada A polpa cítrica ou bagaço de laranja, base do “atrativo” das iscas, pode estar contaminado por resíduos de piretróides ou outros ingredientes ativos utilizados no controle de pragas, antes da colheita. Esse fator praticamente inexistente nas indústrias com controle adequado de qualidade pode ocorrer naquelas de pequeno porte que adquirem a matéria-prima de pequenos fornecedores nas proximidades do local da fábrica. Nas grandes indústrias produtoras de suco, a tecnologia utilizada na sua extração Fotos Cultivar
A
s iscas formicidas são o meio mais simples de controle das formigas cortadeiras devido ao fato de não exigirem equipamentos especializados, nem mão-de-obra treinada especificamente para tal serviço (Mariconi, 1970, 1976; Della Lucia, 1993). No mercado brasileiro, existem diversos fabricantes de iscas formicidas à base de diferentes ingredientes ativos, mas a quase totalidade utiliza polpa cítrica como o “atraente alimentar” na composição das iscas. Entre os fabricantes de iscas formicidas, existem desde grandes indústrias até pequenas fábricas, sendo que nas grandes e médias há um controle de qualidade, que é falho ou inexistente nas de pequeno porte. Com a proibição do ingrediente ativo Dodecacloro, em 1993, que especialmente devido ao seu baixo custo era utilizado de forma indiscriminada e em doses elevadas, sua substituição por outros ingredientes ativos, mais caros e exigentes de maiores conhecimentos técnicos, fez com que os agricultores, ao utilizarem as novas formulações da mesma maneira que utilizavam aquelas à base de Dodecacloro, não obtivessem sucesso no controle das formigas cortadeiras. As iscas atualmente existentes no mercado, por suas características, exigem um melhor conhecimento das mesmas e, em especial, das espécies de formigas cortadeiras que se quer controlar. O conhecimento sobre as espécies de for-
As iscas existentes no mercado exigem conhecimento das características destas e, em especial, das espécies de formigas a serem controladas
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praticamente elimina qualquer possibilidade de contaminação, o mesmo não ocorrendo nas indústrias artesanais, onde as frutas são processadas por corte e esmagamento das mesmas, para extração do suco. Outra causa possível é a aquisição do ingrediente ativo, com contaminação oriunda do processo de síntese ou de embalagens contaminadas, hipótese esta bastante improvável, mas possível de ocorrer nas pequenas indústrias. As formigas cortadeiras detectam a presença destes resíduos e rejeitam as iscas. Contaminação durante o transporte e o armazenamento O transporte e o armazenamento, na fábrica, de iscas granuladas junto a outros agrotóxicos voláteis (inseticidas, fungicidas ou herbicidas) podem contaminar as mesmas e fazer com que as formigas não aceitem tais iscas.
DETERIORAÇÃO NO ARMAZENAMENTO
Pelo tempo de armazenamento Os componentes de uma isca formicida, não sendo estéreis, com o passar do tempo e, pelas variações de luz, temperatura e umidade, vão-se deteriorando, fazendo com que a mesma perca a sua finalidade. Devido a isto, devem ser verificados os prazos de validade de cada lote, no momento da aquisição. Nunca se devem armazenar as iscas na propriedade por períodos superiores a seis meses. Na situação de necessidade de uso durante todo o ano, devem-se, preferencialmen-
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Pela ação da umidade As embalagens de iscas formicidas devem ser colocadas sobre estrados de madeira e afastadas de pisos e paredes, para não absorverem umidade e se deteriorarem. Os componentes das iscas não são esterilizados, e o aumento do teor de umidade nelas permite o desenvolvimento de fungos e bactérias que as tornarão inaceitáveis pelas formigas cortadeiras, que rejeitam o produto.
Pela ação da luz solar e do calor Toda isca contém um determinado grau de umidade, necessário para manter a consistência da mesma e que, em temperaturas amenas, não permite o desenvolvimento dos microorganismos presentes na isca. A exposição das embalagens que contém iscas formicidas, à luz solar direta, desloca a umidade no interior da mesma e a concentra na parte superior do pacote, permitindo o desenvolvimento dos microorganismos que vão torná-la inaceitável pelas formigas, além da desagregação dos grânulos que, na forma de pó ou pasta, não serão carregados pelas operárias. Temperaturas elevadas, mesmo na ausência de luz, aceleram a multiplicação dos microorganismos, inutilizando a isca como formicida, situação esta freqüente durante os meses de verão e em períodos chuvosos.
A dose a ser aplicada por formigueiro varia em função da espécie de formiga, do tamanho do ninho, da época do ano e da vegetação do local
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te, ser feitas aquisições parceladas. Somente condições ideais de armazenamento, com luz, temperatura e umidade controladas, permitirão que o produto conserve sua eficácia durante o período do armazenamento. A grande maioria dos depósitos de agrotóxicos e de iscas formicidas não possuem estas condições. Pelo armazenamento com outros agrotóxicos É recomendável, o armazenamento das iscas formicidas granuladas, em local separado, longe de inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros agrotóxicos, pois sendo algum destes volátil, contaminará a isca em pouco espaço de tempo.
EM NÍVEL DE PROPRIEDADE RURAL Transporte da isca para a sua aplicação O agricultor deve estar equipado com luvas para não transmitir o seu odor à isca, visto que o cheiro humano servirá de alerta às formigas operárias, indicando um produto perigoso a elas. Naquela propriedade em que o agricultor for utilizar, pela primeira vez, uma isca formicida, o cheiro humano não é fator essencial para rejeição da isca, mas, naquelas de utilização comum, é causa importante para rejeição da mesma. O transporte do pacote de isca, no bolso do casaco, sobretudo ou pala, junto com fumo de rolo, vai contaminá-la, e ela será rejeitada pelas formigas. O transporte na caixa de ferramentas do trator contaminará a isca com vapores do combustível ou com odor de graxa, substâncias tóxicas e repelentes para formigas cortadeiras. A colocação da isca em embalagens vazias de agrotóxicos, mesmo bem lavadas, não impedirá a sua contaminação e conseqüente rejeição pelas formigas. Recomenda-se conservar a isca formicida sempre na embalagem original e, quando não utilizado todo o conteúdo do pacote, fechá-lo bem, amarrando a boca com barbante ou arame, para não penetrarem ar e umidade, que irão deteriorar a isca. Um pacote aberto deve ser utilizado o mais breve possível, pois testes realizados, por nós, mostraram que após dois meses a rejeição destas iscas é superior a 70%. Manipulação da isca A isca não deve entrar em contato com o cheiro ou o suor humano. Para isso, recomenda-se a utilização de medidores plásticos ou metálicos para o cálculo das doses a serem utilizadas no controle de formigueiros. O método tradicional dos agricultores, de calcular visualmente a quantidade da isca, tem levado com frequência a insucessos no controle
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das formigas cortadeiras, devido principalmente a subdosagens. Quantidade de isca A quantidade de isca por formigueiro é variável, dependendo da espécie de formiga e do tamanho do ninho. As doses registradas nos rótulos das embalagens correspondem, em média, à dose mínima necessária para controlar 80% dos formigueiros tratados, geralmente de tamanho médio, tamanho este variável, em função da espécie de formiga cortadeira e da época do ano. A dose a ser aplicada por formigueiro varia muito em função da espécie de formiga, do tamanho do ninho, da época do ano, da vegetação existente na área e dos procedimentos anteriores de controle. Em formigas saúvas (pertencentes ao gênero Atta), as doses registradas variam de 6 a 10 g/metro quadrado de sede aparente do formigueiro, sendo freqüente erros de cálculo das doses a serem aplicadas. Em formigas quenquéns (formigas cortadeiras de menor porte que as anteriores e pertencentes ao gênero Acromyrmex), as doses variam de 5 a 100 g/ninho, dependendo da espécie de quenquém, do tamanho do ninho e do ingrediente ativo da isca.
Essas amplas variações fazem com que os custos de controle desses insetos variem de região para região, trazendo preocupações para agricultores e profissionais que fornecem assistência técnica à produção, pela quantidade de informações que necessitam saber para fazer um controle adequado e econômico. Ocasião de aplicação Quando da utilização de iscas formicidas, sua aplicação deve ser realizada em toda a
O método tradicional dos agricultores, de calcular visualmente a quantidade da isca, tem levado a insucessos no controle
área a ser tratada, numa única ocasião, para que não ocorram formigueiros amuados que receberam subdoses e que ficarão paralisados por algum tempo, mas que voltarão à atividade dentro de 15 a 45 dias. A melhor eficácia de controle das iscas formicidas é obtida quando é feita uma aplicação criteriosa das mesmas, após conheci-
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mesmo fitas de madeira, para retardar ao máximo a ação negativa da umidade. Em situações de chuvas ou garoa em breve espaço de tempo, recomenda-se a não aplicação das iscas, devido à falta de tempo para o carregamento das mesmas, e, como conseqüência, teremos um formigueiro amuado.
Formigueiros que receberam subdoses podem ficar paralisados por algum tempo, mas voltam à atividade dentro de 15 a 45 dias
mento prévio das espécies ocorrentes na propriedade, localização e tamanho dos ninhos, seus hábitos e preferência de vegetação para corte. Dose correta Uma isca somente será eficaz se a quantidade aplicada for suficiente para eliminar o formigueiro. Em formigueiro de saúva, a dose máxima por olheiro de trabalho (carreiro) é de 150 g, porque mais do que isso, num único local, resulta em sobras de isca, pois as operárias não carregam mais do que esta quantia, numa única ocasião. Esta não é a quantidade máxima de isca por formigueiro de saúva e sim a quantidade máxima por carreiro ou olheiro de trabalho; nos olheiros de ventilação, a dose máxima é de 50g para a formiga saúva. Quantidades maiores por local de aplicação raramente serão carregadas no total, aumentando custos sem bons resultados no controle, pois sobras de iscas poderão ser “roubadas” por formigueiros vizinhos que deste modo receberão subdoses e ficarão amuados. Para formigueiros de quenquéns, a dose máxima é de 60 g por carreiro, devendo, devendo a dose em algumas espécies, ser subdivida em duas ou três porções, para melhor eficiência no carregamento e redução da possibilidade de rejeição, pois alguns ingredientes ativos são de ação bastante rápida e, no verão, começam a atuar sobre as formigas em 20 a 30 minutos após o início de carregamento.
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Hora de aplicação As iscas devem ser aplicadas, preferencialmente, no início da atividade de forrageamento, para que as operárias disponham de tempo para o transporte da maior quantidade possível da isca. Para que uma dose de isca colocada adequadamente seja totalmente carregada para o interior do formigueiro, algumas espécies necessitam de até duas de atividade, e, conhecendo-se os hábitos locais da atividade de forrageamento, o agricultor pode estabelecer a melhor hora de aplicação, que é preferencialmente no início das operações de forrageamento (corte e carregamento de vegetais). Sabe outrossim que as atividades de forrageamento não são permanentes e que, após determinado período, cessam estas atividades e, como consequência, não haverá carregamento da isca. A colocação de iscas, em qualquer hora do dia, pela ação da luz solar, calor e umidade, pode causar a deterioração destas e torná-las não atrativas e inaceitáveis pelas formigas. Superfície seca do solo Quando a superfície do solo estiver úmida, isto é, logo após chuvas ou devido ao orvalho, a aplicação das iscas é contraproducente, porque absorverão umidade rapidamente e serão recusadas pelas formigas. Em caso de necessidade de aplicação nessas situações, recomenda-se a colocação das mesmas sobre papel parafinado, plástico ou
Colocação dentro do formigueiro A colocação da isca diretamente dentro do olheiro é uma das causas mais freqüentes de insucesso no combate às formigas cortadeiras, já que todo e qualquer material introduzido dentro do formigueiro é trazido para fora imediatamente e, após análise quanto à qualidade como substrato, pode ou não ser carregado para dentro do ninho. Os agricultores que querem adiantar o serviço das carregadeiras estão na verdade facilitando a rejeição das iscas pelas formigas, pois qualquer deterioração da mesma durante este tempo faz com que ela seja rejeitada, e, se o veneno for volátil, começa a atuar sobre as operárias. Neste caso a devolução para o exterior é feita do modo mais rápido possível. Repasse A utilização de iscas formicidas só permite o repasse após 60 a 90 dias da última aplicação, por isso é que deve ser feita uma aplicação total quando se utiliza esta forma de combate às formigas cortadeiras. A vida média das operárias varia de 60 a 90 dias, dependendo da estação do ano e da espécie de formiga, sendo menor no verão e maior no inverno, e as operárias aprendem que aquele “atrativo” é nocivo a elas e o rejeitam. Não adianta trocar de marca comercial, porque as operárias associam o “atrativo” ao efeito nocivo e não ao veneno proC priamente dito. Dionísio Link, UFSM
Dionísio Link mostra onde os produtores geralmente erram na hora de combater as formigas
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Soja
Ferrugem no inverno A
grupo de especialistas que auxiliam em treinamento da assistência técnica e dos produtores, por meio de uma palestra padrão e de uma rede de laboratórios para a correta diagnose da doença. Outro resultado tem sido a atualização constante do sistema de alerta, hospedado na página da internet da Embrapa Soja (http:// www.cnpso.embrapa.br/alerta), na qual podem-se acompanhar a evolução da ferrugem e os problemas ocasionais, durante a safra. O trabalho dos laboratórios ligados ao Consórcio Anti-ferrugem tem permitido visualizar, claramente, diversos aspectos epidemiológicos da doença. Na safra 2004/05, de aproximadamente 26 mil amostras de folhas com suspeita de sin-
Rafael Marcon
pesar de a ferrugem asiática da soja [Phakopsora pachyrhizi (Syd & P. Syd.)] ter sido constatada pela primeira vez no Brasil em maio de 2001, causando surtos epidêmicos nas safras subseqüentes, somente agora o problema começa a se tornar mais familiar para o agricultor, embora esteja longe de ser solucionado. No Brasil, apenas no estado de Roraima, onde o período de plantio da safra principal coincide com a safra americana, ainda não foi relatada a ocorrência dessa doença. Atualmente, são cultivados cerca de 15 mil hectares nesse estado. Desde setembro de 2004, uma equipe liderada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), denominada Consórcio Anti-ferrugem, vem-se mostrando bastante eficaz no auxílio ao melhor entendimento dessa doença e no seu combate. O resultado dessa atividade possibilitou a formação de um
Para evitar que o fungo da ferrugem encontre hospedeiro para se multiplicar e ataque a safra de verão cada vez mais cedo, a orientação aos produtores de sementes de soja no inverno é fazer um intervalo de 90 dias entre a colheita e a semeadura de verão
Na safra 2004/05, das 26 mil amostras de folhas com suspeita de ferrugem recebidas pelos laboratórios do Consórcio, somente 30% foram confirmadas
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tomas de ferrugem recebidas pelos laboratórios do Consórcio, somente 30% foram confirmadas (Figura 1), mostrando que a diagnose correta ainda é um dos pontos críticos no manejo da doença. Resolver o problema da diagnose foi um dos pontos que levaram à criação do Consórcio. Entretanto, em função da dificuldade da identificação precoce dos sintomas da doença, dificilmente esse objetivo será totalmente alcançado. Nas amostras recebidas pelos laboratórios credenciados pelo Consórcio, a maior parte das ocorrências de sintomas foi registrada a partir do estádio do florescimento (Figura 2). Esse fato já era relatado em países onde essa doença ocorre há mais tempo. No entanto, amostras de folhas de plantas no estádio vegetativo também foram confirmadas com sintomas de ferrugem, sendo essas situações as mais problemáticas para o manejo da doença. No estado do Mato Grosso, pode-se observar que 22% das amostras confirmadas com ferrugem ocorreram no estádio vegetativo (Figura 3). A soja é uma cultura de verão, com a safra principal desenvolvendo-se entre outubro e maio, nas principais regiões produtoras. Em algumas regiões brasileiras, principalmente na Centro-Oeste, ela também é semeada no inverno, sob pivô, para multiplicação de semente. Como o fungo causador da ferrugem é parasita obrigatório (biotrófico), necessitando de hospedeiro vivo para sobreviver e se multiplicar, acaba encontrando nesses cultivos, que funcionam como “ponte-verde”, a condição ideal para passar de uma safra à outra. Nessas regiões, a incidência da ferrugem tem sido observada cada vez mais cedo, durante a safra principal, uma vez que a colheita da entressafra é feita concomitantemente à semeadura da safra de verão. A decorrência do cultivo de entressa-
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Figura 1 - Número de amostras com e sem sintomas da ferrugem asiática analisadas pelos laboratórios credenciados pelo Consórcio Anti-Ferrugem na safra 2004/05
fra é o aumento do custo de produção, na safra de verão, com pulverizações adicionais para o controle da ferrugem, uma vez que o número de aplicações depende do momento em que o fungo incide na lavoura. Como regra geral, quanto mais cedo ocorre essa incidência, maior o número de pulverizações necessárias, até o completo ciclo da cultura. Na região de Primavera do Leste (MT), onde a ferrugem provocou os maiores danos na safra 2004/05, a média do número de pulverizações com fungicidas foi de quatro a cinco aplicações, com situações em que os agricultores precisaram fazer sete aplicações para controlar a doença e casos de abandono de lavoura (Siqueri, F.V. I Workshop Brasileiro Sobre a Ferrugem Asiática, 2005). A área cultivada com soja irrigada, na região Centro-Oeste, cresceu nos últimos anos, ocupando área antes destinada, na maior parte dos casos, à produção de feijão. Vários fatores têm contribuído para
essa substituição. Na safra 2002/03, o excesso de chuva afetou a qualidade da semente produzida na safra. Com isso, no inverno de 2003, muitos produtores de semente vislumbraram, na multiplicação durante o inverno, uma oportunidade de negócio, em função da alta no preço. No inverno de 2004, a cotação da soja em alta foi o fator que motivou, pelo segundo ano consecutivo, a produção no inverno. Em Rafael Moreira Soares
Fonte: Sistema de alerta, 2005
2005, essa tendência se repetiu, favorecida pela publicação da Lei de Biossegurança, e muitos produtores optaram, dessa vez, pela multiplicação de semente transgênica. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou uma orientação para que haja uma interrupção por 90 dias entre a colheita da safra de inverno e a semeadura de soja no verão. A intenção é impedir que o fungo encontre hospedeiro para se multiplicar e esteja presente quando a safra de verão for semeada. Esse intervalo de 90 dias tem suporte epidemiológico. Informes da literatura indicam que o período máximo de sobrevivência do fungo, observado em folhas destacadas, foi de 55 dias, em folhas jovens armazenadas na sombra (Patil, V.S. et al. Journal of Maharashtra Agricultural Universities 22 (2): 260-261. 1998), condição essa que não ocorre a campo. Nos trabalhos realizados na Embrapa, não se observou sobrevivência do fungo, em folhas destacadas, além de 30 dias, em condições similares às de campo.
ALERTA
N
ão são apenas os cultivos de soja irrigada que favorecem a sobrevivência do fungo causador da ferrugem. Os agricultores devem estar atentos às plantas voluntárias, que rebrotam após a colheita de verão, também chamadas de guaxas ou tigüeras. Elas podem se tornar hospedeiras do fungo, garantindo a continuidade de inóculo na entressafra. Nas regiões onde a presença da doença é constatada em plantas voluntárias, é preciso eliminar essas plantas, mecânica ou quimicamente, através da dessecação.
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O período máximo de sobrevivência do fungo em folhas destacadas foi de 55 dias, em folhas jovens armazenadas na sombra
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Embrapa Soja
Charles Echer
Rafael Moreira Soares
Na região de Primavera do Leste (MT), de 65 pivôs visitados, apenas 23 (36%) estão com soja, e todos esses campos destinam-se à produção de semente
O objetivo da recomendação não é proibir, mas sim orientar, e cabe aos órgãos de defesa estaduais proceder o acompanhamento. Os estados do Mato Grosso, do Amazonas e do Rio Grande do Sul aderiram às orientações. No Mato Grosso, a Comissão de Defesa Sanitária Vegetal (CDSV-MT) dividiu o estado em três zonas de plantio, indicando os períodos mais adequados para que a orientação do Ministério seja seguida. Segundo informações da CDSV-MT, após visita, no mês de julho de 2005, na região de Primavera do Leste, de 65 pivôs visitados, apenas 23 (36%) estão com soja, e todos esses campos estão registrados para produção de semente. Entre outras razões para essa redução de área com soja na entressafra, estão os bons preços do feijão, a busca por alternativas, tais como a produção de semente de milho e de milho pipoca, o cultivo de girassol e também a semeadura de cultivos tradicionais, como o algodão. Muitos produtores relataram que procuraram seguir a recomendação do MAPA. Quanto à ocorrência de ferrugem, das 16 amostras coletadas, apenas em seis foi
confirmada a presença da doença, mas com severidade baixa. Apenas em áreas com a cultura próxima à colheita, a doença era observada em severidade alta. No momento, a informação que se tem é de que há a presença de plantas voluntárias infectadas por P. pachyrhizi. É preciso atenção com essas plantas, pois a eliminação delas pode ser necessária. No Oeste baiano, a safra de inverno de soja vem-se desenvolvendo sem a presença da ferrugem asiática. A constatação foi feita por técnicos do Programa Estratégico de Manejo da Ferrugem Asiática da Soja, durante a segunda quinzena de julho. A observação considerou as áreas com soja tigüera e áreas para a produção de semente, sob irrigação via pivô central. As amostras coletadas foram avaliadas pelo laboratório credenciado pelo Consórcio Anti-Ferrugem, localizado na ADAB Gerência Regional de Barreiras. Uma das recomendações de manejo feitas pelo Consórcio Anti-Ferrugem é a utilização de cultivares precoces em parte da área, semeadas no início da época
Cláudia Godoy e Claudine Seixas mostram os problemas ocasionados pelo plantio de soja na entressafra
recomendada para cada região, havendo vários trabalhos que mostram ser esta uma boa estratégia. Essa prática de manejo se baseia no princípio do escape, devido ao menor tempo de exposição no campo e a uma menor pressão de inóculo, uma vez que na maioria das regiões produtoras a soja não é semeada no inverno. Essa estratégia se torna inviável, caso haja grande quantidade de esporos no momento da semeadura. Há necessidade de que o produtor se conscientize de que a ferrugem é uma doença que veio para ficar e pode ocorrer com maior ou menor intensidade, em função das condições climáticas de cada safra e do inóculo inicial do fungo. A redução do inóculo do fungo na entressafra é uma medida que deve ser buscada, visando reC duzir o problema durante a safra. Cláudia V. Godoy e Claudine D. S. Seixas, Embrapa Soja
Figura 2 - Número de ocorrências da ferrugem asiática, de acordo com o estádio fenológico Figura 3 - Porcentagem de amostras confirmadas com ferrugem, no da cultura estádio vegetativo da cultura, por estados
Fonte: Sistema de alerta, 2005
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Fonte: Sistema de alerta, 2005
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Soja
Dirceu Gassen
Essência de produtividade Os micronutrientes, molibdênio e cobalto, interferem diretamente na produtividade. Por isso, necessitam de criteriosa avaliação quanto à aplicação, já que têm a função fundamental no processo de fixação biológica do nitrogênio
O
rendimento da soja no Brasil teve nos últimos dez anos aumento médio de mais de 1,2 mil kg/ha, com algumas regiões com rendimentos médios de 3 mil kg/ha, um grande conjunto de agricultores com médias acima de 4,4 mil kg/ha, e em ensaios de pesquisa são freqüentemente observados rendimentos acima de 5 mil kg/ha, atingindo até 6,5 mil kg/ ha. Essa maior produtividade da soja estaria requerendo melhores condições de fertilidade do que as atuais existentes, para assegurar o máximo rendimento determinado pelas novas variedades existentes no mercado. Por
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outro lado, a maior parte dos solos do Brasil tem deficiências quanto aos principais nutrientes necessários para o pleno desenvolvimento da soja. Grandes quantidades de fertilizantes e de calcário são necessárias para promover esses solos de uma situação de baixa fertilidade para situações de boa fertilidade. Os máximos rendimentos da soja são normalmente obtidos quando os macronutrientes e micronutrientes estão em níveis adequados. Porém, as respostas da soja ao uso de fertilizantes não estão só condicionadas à quantidade de adubos, interferem nas respostas condições de solo, tais como tempo de uso de sistema de
plantio direto, de sistemas de rotação de culturas, tempo posterior à última calagem, quantidades anteriores de fertilizantes aplicadas, índices anteriores de produtividade, forma de aplicação de fertilizantes, equilíbrio de nutrientes nos solos e comportamento varietal da soja a diferentes condições de fertilidade. Do conjunto de micronutrientes essenciais para a nutrição da soja - Boro (B), Cloro (Cl), Molibdênio (Mo), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn), Cobre (Cu) e Cobalto (Co) -, o Mo e o Co têm grande importância para a promoção de altos rendimentos da soja, considerando-se que estes nutrientes desem-
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Julio Gasparotto Markus
Efeito de toxicidade de cobalto, quando aplicado além da dose máxima recomendada
penham função fundamental no processo de fixação biológica do Nitrogênio (N). O presente trabalho apresenta algumas considerações sobre a importância da nutrição da soja com o Mo e o Co, bem como a análise de resultados de pesquisa que confirmam a necessidade de adubação com esses dois micronutrientes para melhores rendimentos da soja.
CONSIDERAÇÕES O efeito benéfico do Mo na produtividade de leguminosas é conhecido desde 1930. Sua principal atuação está no processo de fixação simbiótica do nitrogênio e em outros processos fisiológicos das plantas superiores. O Mo participa ativamente como cofator integrante nas enzimas nitrogenase, redutase do nitrato e oxidase do sulfato e está intensamente relacionado com o transporte de elétrons durante as reações bioquímicas. A falta de Mo no solo irá ocasionar menor síntese da enzima nitrogenase, com conseqüente redução da fixação biológica do nitrogênio (N2). Na Tabela 1 observam-se os efeitos da aplicação de alguns micronutrientes sobre o rendimento da soja e parâmetros de ordem nutricional. Dentre os micronutrientes testados neste trabalho, o Mo foi o que proporcionou os maiores rendimentos de soja, evidenciando os efeitos benéficos deste nutriente. O teor de Mo total nos solos encontrase na faixa de 0,5 a 5 ppm, onde ocorre nas seguintes fases: solúvel na solução do solo, adsorvido na fração coloidal, retido na rede cristalina dos minerais primários e quelado à matéria orgânica. Em condições de pH extremamente baixo, o Mo existente na solução do solo encontra-se predominantemente em forma não dissociada de ácido
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molíbdico (H2MoO4). Com o aumento do pH, o H2MoO4 dissocia-se em (HmoO4-) e, posteriormente, em molibdato (MoO42-), o qual se torna a forma predominante em solos de pH neutro e alcalino. O suprimento para as plantas é feito principalmente na forma de MoO42-, presente na solução do solo, via fluxo de massa. O Mo é facilmente liberado dos minerais primários pela intemperização. Comparado aos outros micronutrientes, ele permanece relativamente móvel na forma de molibdatos potencialmente solúveis. Entretanto, esses molibdatos são adsorvidos nas superfícies de
minerais primários e da fração coloidal, fazendo com que a disponibilidade do Mo no solo seja dependente do pH. A correção do pH dos solos ácidos, através da calagem, aumenta a disponibilidade de molibdênio, justificandose essa ocorrência com o mecanismo de troca dos ânions de molibdato (MoO42-) por hidroxila (OH-). A deficiência de Mo na soja pode ser percebida na coloração (amarelada pálida) das folhas mais velhas, semelhante à da deficiência de nitrogênio. Nas situações de deficiência, o íon Mo se desloca das folhas mais velhas para as mais novas. As formas de Mo mais utilizadas em adubações são os molibdatos de sódio e de amônio e o trióxido de molibdênio, sendo ainda utilizados o ácido molíbdico e fertilizantes compostos que contêm o Mo em sua composição, como as fritas (fritted trace elements). Essas formas podem ser supridas às plantas através de adubo de solo, aspersão foliar (exceto o FTE) ou aderido às sementes. Na foto de lavoura, observam-se, no primeiro plano, o cultivo de soja sem aplicação de molibdênio e, no segundo plano, soja cultivada com aplicação de molibdênio via sementes. Como as quantidades requeridas pela soja são pequenas, a aplicação de 12 a 30 g de Mo/ ha, junto com as sementes, são suficientes para o estabelecimento do processo de fixação biológica do nitrogênio e, como conseqüência, a alta produtividade de soja. A aplicação de Mo nas sementes de soja na forma de molibdato pode ocasionar sérios problemas de sobrevivência do Bradyrhizobium, bem como prejuízos à nodulação e à fixação do N2. É necessário que o processo de inoculação das sementes de soja seja efetuado levando-se em conta todos os cuidados recomendados, como plan-
Figura 1 - Efeito da aplicação de molibdênio via sementes em diferentes condições de pH do solo. Fonte: Lantmann et al. 1985
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Aureo Francisco Lantmann
Tabela 1 - Número de nódulos por planta, massa de nódulos secos, N nas folhas, N nos grãos, N total nos grãos e rendimento da soja, obtidos com aplicação de micronutrientes nas sementes. Londrina (PR), 1989 Micronutrientes por 80 kg de sementes
Ao fundo, soja tratada com molibdênio via sementes; na frente, sem aplicação, efeito produzido em solo solo ácido
tio das sementes logo após a inoculação, quantidade e qualidade do inoculante e boas condições de umidade do solo, para garantir rápida germinação, reduzindo os danos causados pela aplicação de Mo junto com o Bradyrhizobium. Aplicação de Mo via foliar, antes do início da floração da soja e na mesma concentração recomendada para as sementes, é uma alternativa para a nutrição da soja com esse micronutriente. O Cobalto (Co) é um elemento essencial aos microorganismos fixadores de N2, mediante a participação na composição da vitamina B12 e da coenzima cobamida, também conhecida como dacobalamina. A cobamida funciona como ativadora de enzimas importantes que catalisam reações bioquímicas em culturas de bactérias fixadoras de N2, entre as quais o Bradyrhizobium japonicum e seus bacteróides presentes nos nódulos das leguminosas. Vários trabalhos de pesquisa atribuem à ausência do Co a diminuição da fixação do N2 para a soja, com repercussão negativa para a produtividade. A deficiência de Co na soja se apresenta sempre nas folhas mais novas, sendo essa uma característica de sintomas produzidos por elementos de baixa mobilidade nas plantas. A necessidade de Co para a soja é muito pequena, perto de 300 vezes inferior à de Mo. Nos casos de deficiência de Co, a aplicação de 1 a 2 kg/ha de sulfato de cobalto (21% de Co) no solo, ou de até 3 g de Co/ha, junto com as sementes de soja, são suficientes. As aplicações de Co via foliar apresentam menos eficiência do que a aplicação de Mo, devido à baixa translocação de Co na planta, entretanto, trabalhos de pesquisa têm mostrado que a aplicação deste nutriente junto com o Mo via foliar promove aumento da fixação biológica do nitrogênio e da produtividade da soja. A toxicidade de Co em soja, quando aplicada via semente além da dose máxima recomendada (3 g de Co/ha), é percebida alguns dias após a germinação. A planta apresenta uma clorose generalizada, que, dependendo do grau de toxidez, pode desaparecer após alguns dias ou comprometer toda a lavoura, ha-
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Teste Zn 15 g Co 0,75 g Mo 4,5 g B 3,0 g Zn+Co+ Mo+B
Nodulação por Nitrogênio Rendimento planta Número Massa Folhas Grãos Grãos N mg/pl % % kg/ha kg/ha 13 60 4,1 6,1 166,5 b 2720 b 11 56 4,0 6,1 179,4 b 2930 b 15 65 4,0 6,0 184,5 b 3053 b 14 57 4,1 6,4 236,3 a 3717 a 14 66 4,0 6,2 187,2 b 3006 b 12 60 4,1 6,4 204,3 ab 3204 a
Fonte: Campo & Lantmann, 1989
vendo necessidade de replantio. O sin- Tabela 02 - Rendimento de grãos de soja em função de doses de toma de clorose generalizada é caracte- calcário e molibdênio em duas localidades paranaenses, Campo rístico de deficiência de ferro, promoviMourão – cultivar Paraná, e Ponta Grossa – cultivar FT-2 da pelo excesso de Co. A disponibilidade do molibdênio no Campo Mourão ( 1 ) Campo Mourão ( 1 ) (3) solo é dependente do pH - trabalhos de Dose de Mo ( 3 ) g/ha Dose de Mo g/ha pesquisa indicam que o uso do calcário Calcário 0 30 Calcário 0 30 em solos ácidos elimina a necessidade t/ha kg/ha t/ha kg/ha de fertilização com Mo. A influência do 1.625 bB 2.102 bA 0 2.340 dB (4) 2.710 bA 0 pH do solo na disponibilidade de Mo 2 2.595 cB 2.890 bA 3 2.424 aA 2.529 aA para as culturas pode ser entendida con4 3.095 bA 3.175 abA 6 2.509 aA 2.556 abA forme revelou Lindsay (1972), que, es2.538 aA 2.586 aA 6 3.185 abA 3.280 aA 9 timando solubilidade do MoO42- a par8 3.275 abA 3.295 aA 12 2.618 aA 2.619 aA tir da reação MoO42- + solo + 2OH-, 10 3.400 aA 3.290 aA 15 2.623 aA 2.600 aA encontrou a relação (MoO42-) = 10- (1) Cultivar Paraná. (2) Cultivar FT-2. (3) Molibdênio via semente na dose de 30 g/ha de Mo na 20,5/ (H+)2, mostrando que a concen- forma de molibdato de sódio. (4) Médias seguidas de mesma letra minúscula (nas colunas) e tração de molibdato aumenta cem ve- maiúsculas (nas linhas) não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. zes para cada unidade de aumento do Fonte: Lantmann, 1989. pH. de forma menos acentuada à calagem tanto Trabalhos realizados pela Embrapa Soja na ausência como na presença de Mo. Apeno estado do Paraná, com objetivo de deter- nas até a dose equivalente a 3t/ha de calcário minar a produtividade da soja em função do foram observados acréscimos significativos de Mo, em diferentes níveis de pH do solo alte- rendimento em relação ao tratamento testerados pela ação de calagem, revelaram a gran- munha. de influência do pH na resposta da soja à apliResposta significativa ao Mo na produção cação do Mo (Tabela 2, Figura 1). de grãos, dentro de um mesmo nível de calaEm Campo Mourão, a soja, cultivar Para- gem, só ocorreu no tratamento correspondente ná, respondeu de forma mais acentuada à ca- a 0 t/ha de calcário, com diferença de 477 kg/ lagem quando não se utilizou o Mo, apresen- ha. A utilização da cultivar FT-2, considerada tando diferença de 755 kg/ha entre os trata- como tolerante à acidez do solo, pode justifimentos com 0 e 4t/ha de calcário; com a utili- car esse comportamento, ou seja, a menor reszação de Mo, essa diferença foi de 465 kg/ha. posta da soja ao Mo pode estar associada à Esse fato evidencia que o Mo, nessa condição menor sensibilidade à acidez. de solo, seria um elemento pouco disponível Tanto o Mo como o Co são nutrientes para a soja até determinado nível de calagem. essenciais à nutrição da soja. A decisão A partir da dose de 2 t/ha de calcário, o Mo do quanto à aplicação destes como fertilizansolo já se encontraria em forma disponível para tes deve ser criteriosa. Quantidade, forma a cultura, sendo sua disponibilidade afetada de aplicação, condições do solo e fontes dos pela condição de acidez natural do solo. En- nutrientes são fatores que devem ser contretanto, é fundamental salientar que, na au- siderados, aliados a um diagnóstico da real sência de calagem, na dose 0 de Mo, a produ- necessidade de aplicação, em função de ção de soja foi de apenas de 2,34 mil kg/ha, análises de solo, de folha e do histórico de enquanto que, com aplicação do Mo, o rendi- área, com observações sobre sintomas de C mento partiu de 2,71 mil kg/ha, ou seja, um deficiência desses nutrientes. aumento significativo de cerca de 400 kg/ha de grãos. Aureo Francisco Lantmann, Em Ponta Grossa (PR), a soja respondeu Engenheiro Agronômo
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Charles Echer
Algodão
Esqueleto perfeito
A arquitetura da planta, assim como boa nutrição e adequado suprimento hídrico, mostra, além de uma maior resistência a patógenos e pragas, uma melhor cobertura no momento da aplicação de defensivos agrícolas
O
algodoeiro herbáceo é uma planta de elevada complexidade morfológica e fisiológica, apresentando pelo menos três tipos de folhas (prófilos, f. do fruto e f. do ramo), dois tipos de ramificações (monopodiais e simpodiais), metabolismo fotossintético C3, com elevada taxa de fotorrespiração, porém é heliófila, não se saturando ao máximo da intensidade luminosa, quando em condições de campo, e tem crescimento indeterminado, além de ser resistente a sais e à seca, de um modo geral. A resistência e a suscetibilidade da planta do algodoeiro às doenças, em especial causadas por agentes bióticos, tais como bactérias , fungos
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e vírus, depende da constituição genética da espécie, raça e cultivar do algodoeiro e também de aspectos externos do meio ambiente, em especial da temperatura, umidade relativa do ar, presença de orvalho e de outros fatores, inclusive do ambiente edáfico, tais como grau textural, conteúdo de matéria orgânica, tipo de argila etc. Além disso, o manejo da cultura e o domínio da manipulação cultural têm também influência na incidência das doenças, tais como nutrição mineral equilibrada, método do preparo do solo, como no caso do plantio direto, que pode ter interferência na resistência relativa da cultura a determinados patógenos causadores de doenças ou de desequilí-
brios no metabolismo das plantas que são fisiologicamente sistemas modulares interdependentes. Como é sabido, o algodoeiro, em especial nas condições de clima e de solos do Cerrado do Centro-Oeste e de outras regiões do país, tem sido atacado por diversos agentes causadores de doenças que podem comprometer a produtividade e também a qualidade dos produtos obtidos, em especial a pluma ou a fibra, o principal deles. A melhor e menos custosa técnica para reduzir ou mesmo evitar as doenças, para os produtores, é o uso de cultivares resistentes e de preferência com resistência múltipla às principais doenças, tendose assim uma base genética, ou seja a expres-
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sacarídeos, sendo que varia de acordo com a natureza genética da cultivar, que pode ser mais ou menos resistente a um determinado agente infeccioso. Plantas de algodão com deficiência de potássio, por exemplo, a qual caracteriza uma doença fisiogênica que provoca o incremento de aminoácidos livres que contribuem para a redução dos fenóis, são bem mais suscetívais a fungos, tais como Stemphylium, Cercospora e Alternaria, causadores de manchas foliares. O uso de plantas de cobertura, no plantio direto, como o amendoim bravo, Arachis pintoi, independente do nível de resistência da cultivar de algodão, aumenta a resistência das plantas a viroses e a bactérias. Fatores que aumentam a disponibilidade de manganês no solo - tais como pH mais baixo, desde que não comprometam a fisiologia da planta, fertilizantes amoniacais, rotação cultural e uso de Trichoderma como biofertilizantes - reduzem a severidade das doenças. O excesso de nitrogênio na planta do algodão reduz a produção de compostos fenólicos que são fungistáticos e de lignina nas folhas, diminuindo a resistência aos patógenos. Plantas deficientes em cálcio tem problemas na integridade das membranas celulares, que ficam quase sem seletividade e, assim, permitem que os patógenos penetrem com mais facilidade na planta e promovam doenças. Finalizando, pode-se dizer que sempre que pos-
Charles Echer
são de determinadas proteínas, que per si, ou via transformações em produtos, impedem a multiplicação interna ou externa do agente causador de uma determinada doença. Por outro lado, todo e qualquer estresse ambiental predispõem as plantas aos agentes infecciosos e, assim, ocasionam mais doenças, estabelecendo-se às vezes síndromes, com sintomatologia muitas vezes complexas. As plantas bem nutridas, com ambiente edáfico bem estruturado, com adequado suprimento hídrico e cultura bem conduzida, independente da cultivar, são mais resistentes aos agentes causadores de doenças. Uma adubação bem equilibrada, com as relações de nutrientes respeitadas, como, por exemplo, Ca/Mg entre 2,4 a 5,1, com o ideal de 3. As plantas do algodoeiro procuram se adaptar aos agentes estressores, alterando o balanço de hormônios (promotores e retardadores do crescimento) e de outros componentes envolvidos na capacidade de resistência aos patógenos, tais como as fitoalexinas, que são metabólitos secundários, de natureza química diversificada, os fenilproponoides, que não estão presentes nas plantas antes da infecção e sim depois que o patógeno entra em contato com o hospedeiro, e os agentes eliciadores, que são substâncias de reconhecimento do patógenoapresentadas pelo hospedeiro, podendo ser de natureza protéica, esteróide e fragmentos de polis-
As plantas do algodoeiro procuram se adaptar aos agentes estressores, alterando o balanço de hormônios
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sível, associadas à elevada capacidade de produção da planta, à elevada percentagem de fibra, superior a 40% (rendimento industrial), e à qualidade intrínseca da fibra, devemse usar cultivares com resistência múltipla às doenças e manejo cultural bem feito, para que as doenças bióticas não se estabeleçam em níveis elevados que incrementem os custos de produção e reduzam a produtividade e a qualidade da produção.
CARACTERÍSTICAS E MELHORIAS Além dos tipos de folhas mencionadas que interferem na incidência de pragas e doenças, caso da podridão dos frutos, por exemplo, em que plantas de folhas tipo okra, reduzem significativamente, tem-se outras características que podem auxiliar o produtor para que tenha melhor eficiência no uso de produtos químicos na lavoura, com ampliação da rentabilidade dessa cultura. Em condições boas para a produção, caso do Centro-Oeste e Cerrados da Bahia, do Maranhão e do Piauí, a cultura do algodão pode ter taxa de crescimento cultural em torno de 20g/m2/dia, e as folhas pequenas e inclinadas são mais eficientes na fotossíntese e também no uso de produtos na cultura, devido a permitirem maior penetração deles ao longo do dossel vegetal. Algumas cultivares atuais, porém muito poucas, apresentam esta característica, caso da Delta Opal. Em geral, no caso do G. hirsutum, as folhas se voltam para o sol e estabelecem um ângulo de 45 graus com os raios do sol e chegam a interceptar cerca de 40% da radiação solar a mais do que se estivessem na horizontalidade, caso de algumas cultivares mais antigas de algodão herbáceo, como a CNPA 6 H, que além disto apresentava folhas muito grandes. O movimento das folhas em busca do sol é denominado de diaeliotrópico, que cessa quando as plantas estão em estresse, caso do hídrico, por exemplo, por deficiência ou excesso, e somente ocorre em G. hirsutum. No caso das cultivares de G. barbadense, que têm folhas grandes, não há resposta heliotrópica, e, assim, caso a cultivar tenha genes desta espécie (muitas têm e vêm às vezes na mistura de genes de diversas espécies de algodão, que são mais de 50), pode ter este aspecto, e o melhorista que a sintetizou, nem ter o conhecimento disto, que pode interferir na fotossíntese e na resposta das plantas ao uso dos produtos químicos, como reguladores do crescimento, inseticidas, acaricidas etc., que interferem na rentabilidade final da cultura. Daí a necessidade de hoje, mais do que nunca, trabalhar-se em equipe. A forma das folhas, o tamanho delas e os movimentos diaeliotrópicos interferem na distribuição da luz no dossel vegetal, na precocidade da planta e na abertura dos frutos, influenciada por dois componentes, um interno, químico, que é o etileno, único hormô-
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Newton Peter
nio vegetal que é gasoso, e o outro do ambiente, que é a radiação solar, além de influenciar na incidência de patógenos causadores de doenças e em insetos pragas. Há estudos com outros artrópodes, como por exemplo os ácaros, caso do ácaro rajado (Tetrannychus urticae), com testes entre cultivares de folhas okra e de folha normal, evidenciando-se que a cultivar okra tem maior Eficiência no Uso da Radiação (RUE), que é a fitomassa produzida por unidade de energia fotossinteticamente ativa, situada no espectro solar entre 390 a 700 mm de comprimento de onda, que é a luz e que teve menor ataque de ácaros, possivelmente devido à menor hospitalidade para ter colônias deste artrópode.
CONDIÇÕES E APANÁGIOS Considerando-se que dos componentes de produção (população de plantas/unidade de área, peso ou massa de um capulho, que tem elevada herdabilidade, número de capulhos por planta e percentagem de fibra, principal produto do algodão), o número de capulhos é o mais importante e significativo, deve-se explorar ao máximo o incremento da percentagem de fibra e ter sempre eficiência e eficácia na aplicação dos produtos, pois a produção depende fundamentalmente dos frutos de pri-
meira e segunda posição dos ramos frutíferos do baixeiro e do terço médio das plantas. Assim, sugere-se que, no melhoramento genético das cultivares de algodão, leve-se em considerações diversos fatores, além da produtividade (que é a grande resultante de tudo que se passa com a planta ao longo de sua existência e depende de sua genética e da ação do ambiente) e da qualidade intrínseca da fibra, ditada pelas sua características tecnológicas, como comprimento, finura, resistência, alon-
Ter frutos pequenos, com capulho pesando entre 5 e 6,5 gramas, é uma das características de cultivar de algodão moderna
gamento, grau de amarelo, reflectância, uniformidade do comprimento, entre outras. Os fatores ou características de uma cultivar de algodão moderna, ideotipo, são as seguintes: • Ter frutos pequenos, com capulhos pesando entre 5,0 a 6,5 gramas, tolerando-se um pouco mais; • Peso de cem sementes baixo, com no
PARTICULARIDADES DA PLANTA
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esta radiação que é efetiva na ignição do fitocromo, proteína de cor azul, que funciona como sendo um relê que controla quase todo metabolismo vegetal, a germinação de sementes, a produção de giberelinas (hormônio vegetal) e outros processos como o fotoperiodismo. No caso das cultivares com folhas partidas como tipo okra, a radiação passa mais e, além de reduzir a incidência de pragas e doenças, que é uma vantagem, deixa passar a radiação, que faz com que se estabeleçam mais plantas daninhas do que com relação ao algodão de folha normal, e isto eleva o custo de controle das plantas daninhas. Exemplos de cultivares deste tipo são a siokra da Austrália a Gumbo, tipo Okra e a Pronto, Super-Okra, dos Estados Unidos da América, estado da Luisiânia. Tais cultivares têm fotossíntese limitada pelo tamanho das folhas, em especial nos tipos Super-Okra, com maior taxa de derrame ou shedding das estruturas reprodutivas, devido à limitação na produção dos assimilados, porém, tem a vantagem de deixar passar mais 70% da luz do que nas cultivares de folhas normais, com 40% menos de área foliar no caso das okras e de 60% a menos de área foliar e mais de 190% de penetração da luz no dossel vegetal do que as cultivares normais, no caso do tipo super-okra. Essas formas de folhas são mutantes controlados por um único par de genes e são recomendados por diversos autores para o controle cultural e genético do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis Bohem.), pois a radiação solar, penetrando mais no dossel vegetal, promove com mais rapidez e eficiência a dessecação dos botões florais atacados pelo bicudo e caídos ao solo, aumentando a mortalidade de ovos e larvas deste inseto-praga do algodoeiro. Nas condições do Nordeste do Brasil, região do Seridó, a temperatura da superfície do solo atinge mais de 650C, e o bicudo a partir de 380C por quatro dias, quatro horas por dia, nas formas de ovo e larvas, morre, sendo assim um controle ecológico, reduzindo o uso de inseticidas.
máximo 8,5g e nunca ultrapassado 10g; • Ter folhas pequenas, com área menor do que 80 cm2 para as frutíferas e menor do 180 cm2 para as vegetativas, com forte movimento diaeliotrópico, para aumentar a eficiência fotossintética e reduzir a incidência de pragas e doenças; • Ter poucos tricomas ou pelos, pois assim se reduz a incidência de doenças, como a
ramulose, hoje possivelmente a principal delas no Cerrado do Centro-Oeste, onde está a maior parte do algodão brasileiro; • Ter a taxa de crescimento da cultura (LAI x TAL, índice de área foliar x taxa assimilatória líquida), durante a maior parte do período vegetativo e frutífero (enchimento dos frutos, drenos úteis do ponto de vista econômico, onde cada fruto necessita de mais de
150 mg de açúcares por dia, que vêm das folhas, e que cada semente tem em média 11 mil a 14 mil fibras, que são células individuais, e que cada uma recebe por dia, depois do vigésimo dia depois da antese uma camada de celulose, de um total de 25 em G. hirsutum) de pelo menos 17 g/m2/dia; • Ter um índice de colheita ou coeficiente de emissividade de pelo menos 20%, sendo esta característica do crescimento a relação entre a produção econômica (sementes + fibra)/produção total de fitomassa pela planta; • Ter pelo menos 43% de fibras nos capulhos, para que industrialmente fique com pelo menos 40% de rendimento; • Ter resistência múltipla às doenças e, se possível, fatores morfológicos e bioquímicos para resistência às principais pragas, tais como brácteas tipo frego, folhas okra, entre outras. • Ter fibra bastante resistente, de preferência superior a 29 gf/tex e finura baixa, no máximo de 4,2 I.M. (ug/pol) e com elevada reflectância, superior a 77%, baixo grau de amarelo (b+), inferior a 8, e elevada uniformidade da fibra, superior a 47%, e com elevada maturidade, acima de 70%, pelo método do fibrógrafo. Além disso, a cultivar deve ter outros apanágios, tais como baixa taxa de fotorrespiração, que no futuro pode ser conseguida com o uso da biotecnologia, maior eficiência fotossintética, melhor partição de assimilados, ciclo mais rápido, sem prejuízo para a qualidade da fibra, equilíbrio entre compostos não polares e polares na cutícula das folhas, que alteram o pH da água depositada e, assim, a eficiência das C pulverizações, e outros. Napoleão Esberard de M. Beltrão, Embrapa Algodão Charles Echer
A
taxa de produção da cultura do algodão, assim como das demais plantas superiores, depende do índice de área foliar (LAI = área de folha/área de solo, que varia ente menos de 1 até mais de 20, caso da floresta tropical úmida no clímax, sendo no caso do algodão em torno de três a cinco, com o máximo de folhas) e da taxa assimilatória líquida, que é a própria fotossíntese líquida, que é a bruta menos o que foi usado na respiração celular para a manutenção e o crescimento e a fotorrespiração, que é um processo biológico que somente ocorre durante o dia em tecidos verdes e representa uma desassimilação do carbono em forma de CO2 pelas plantas, sendo de cerca de 40% no caso da malvácea em consideração. Dessa forma, a planta do algodão, do ponto de vista fisiológico é muito ineficiente, tendo metabolismo C3, além de ter estrutura foliar muito deficiente, com folhas planofilares, que tem na comunidade coeficiente de extinção da luz maior do que 1, fato raro em plantas cultivadas, pois quanto maior ele é, menos luz passa de uma camada para outra no dossel vegetal. Na comunidade de plantas se estabelecem dois gradientes com relação à radiação solar e à luz, sendo um energético, que obedece à lei de Beer, onde I = I0 . e-KL , em que I = fluxo radiante em qualquer ponto do dossel, I0 = fluxo radiante incidente no topo do dossel, K = coeficiente de extinção da luz, e= base do logaritmo neperiano (naturais), sendo igual a 2, 71828, L é o LAI, ou seja, o índice de área foliar, que, no caso do algodão, o LAI 95% é em torno de 3,5, ou seja com 3,5 m2 por metro quadrado de solo, somente 5% da radiação solar atinge o solo dentro da comunidade vegetal, e o outro é o espectral. No caso desse último, à medida que a luz é absorvida pelas camadas superiores das folhas, as radiações vermelha e azul são mais fortemente absorvidas, pois são as mais usadas no processo fotossintético, e o vermelho distante vai passando, ficando mais concentrado na parte mais baixa do dossel, e
O tamanho ideal da planta permite maior eficiência dos defensivos e fertilizantes aplicados
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Coluna Agronegócios
Espetáculo do retrocesso A
crer no discurso, vivenciamos o espetáculo do crescimento e do emprego, jamais dantes experimentado. Na prática, os números mostram que o Brasil está retrocedendo, não em números absolutos, porém relativamente ao contexto da América Latina - ironicamente um dos continentes pobres do mundo. Essa é a conclusão possível a partir dos números consolidados pela Comisión Económica para América Latina y el Caribe (Cepal), órgão das Nações Unidas (http://www.cepal.org/).
TRIÊNIO Entre 2003 e 2005, a América Latina crescerá, na média dos 23 países, 12,6%. O Brasil ocupará a 20ª posição, superando apenas o Haiti, a República Dominicana e El Salvador. Nosso pífio desempenho se resume a 7,7%, abaixo dos 10,2% da Bolívia e 11% do Paraguai. Comandando o espetáculo do crescimento – da economia e do emprego – están nuestros hermanos argentinos, com ensurdecedores 27,8% de crescimento no período. Falando através de metáforas futebolísticas, significa um clássico 4x1, devolvendo com juros o resultado da final da Copa das Confederações. Não seria o caso de chamar o Parreira ou o Zagallo (vocês vão ter que me engolir!) para termos o mesmo desempenho que temos no futebol no desenvolvimento? Ou, ao menos, para que nos tirem da zona do rebaixamento para a segunda divisão?
DESEMPENHOS ANUAIS Em 2003, houve o menor crescimento econômico no subcontinente (1,9%), arrastado ao fundo do poço pelos péssimos de-
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sempenhos da Venezuela do companheiro Chávez (-7,7%), da República Dominicana (-1,9%), do Brasil (-0,2%) e do Haiti (0,5%). Repito: Brasil com -0,2% (IBGE), demonstrando que o Haiti, que cresceu mais, não é aqui! O espetáculo do emprego ficou reservado para a Argentina, com 8,8% de crescimento, seguida do conjunto de micropaíses do Caribe, com 6,5%. Ancorados no espetacular crescimento internacional, em 2004, nosso desempenho foi cantado em prosa e verso, como uma grande conquista: atingimos 4,8%, subindo da 19ª para a 11ª posição, ainda assim abaixo da média continental, que foi de 5,9%, e abaixo também da média mundial e da média dos países em desenvolvimento. Alavancada na elevação de 50% no preço do petróleo, no mesmo ano, a Venezuela emplacou 17,7%. O Uruguai cresceu 12,3%, e a Argentina (sempre ela!), 9%, causando inveja até para a China!
2005 A cada mês, os órgãos que projetam o crescimento do PIB do Brasil, para o ano de 2005, vêm reduzindo suas projeções, que abriram em janeiro em 5% e, no início de agosto, situavam-se em 2,8% (Ipea/Seplan/ PR). A prosseguir nesse ritmo, o Brasil corre o sério risco de crescer menos da metade da projeção para o subcontinente, estimada pela Cepal em 4,3%. Adivinhem quem ponteia o espetáculo? Si, los hermanos argentinos, una vez más! Na terra de Carlitos Tevez, a economia deve crescer 7,3%, ganhando de 3x1 do Brasil!
DIFERENÇA A esta altura o leitor deve estar-se per-
guntando: pero, que tienen los argentinos que hace falta a nosotros? Arrisco responder, sem julgamento de valor: um presidente que cumpriu o que prometeu nas urnas, especialmente o rompimento com as amarras do FMI e assemelhados, aplicou um calote de 90% na dívida interna e externa e investiu o recurso poupado no desenvolvimento do país. Economistas estimam que, nos dois anos de recessão, após o fracasso de Menen, a Argentina perdeu 15% de seu PIB. Nos três anos seguintes, recuperou os 15 e botou mais 12 em cima. Será que o crime do calote compensa?
AGRONEGÓCIO A outra pergunta que se impõe é: no seio da economia brasileira, qual setor fez a diferença? Eu respondo com outra pergunta: e alguém tem dúvida de que foi o agronegócio? Quando o Brasil afundou em 0,2%, em 2003, a agropecuária cresceu 5%. Não fora o agronegócio, teríamos mergulhado numa recessão de -2%. No período 1990-2005, o agronegócio cresceu, sustentadamente, 6% ao ano. Em 2005, apesar do mau humor de São Pedro, o agronegócio lidera, uma vez mais, o esforço exportador, sendo o superávit da balança comercial do setor superior ao conjunto das exportações. Ou seja, mesmo com a economia mundial a todo vapor, o Brasil não consegue crescer nem na média do mundo. Falta o restante da economia brasileira mirar-se no exemC plo do agronegócio. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Coluna Aenda
Defensivos Agrícolas
Pró genéricos Depois do tratoraço, os agricultores esperam uma forte movimentação governamental para agilização dos registros dos defensivos genéricos
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. Os defensivos genéricos as seguram melhor renda ao agricultor Para assegurar boa saúde às plantações os agricultores usam defensivos agrícolas. Em certos casos essa despesa chega a representar 40% do custo da produção da lavoura. Existem dois tipos de produtos: exclusivos e genéricos. Os exclusivos são caros, porque estão em geral protegidos por patente, que garante a eles 20 anos sem concorrência. Quando esse prazo termina, outros fabricantes entram no mercado, ampliando a oferta e acirrando a concorrência. Esses últimos produtos são os genéricos. Assim como ocorre nos medicamentos, os defensivos genéricos forçam os preços para baixo, reduzindo o custo do agricultor. 2. O atual sistema de registro tem provocado concentração na oferta Desde o advento da Lei 7.802/89, o sistema de registro foi progredindo para avaliar com mais profundidade os produtos, especialmente do ponto de vista da saúde humana e ambiental. Porém, não houve distinção entre novos produtos de riscos desconhecidos e produtos genéricos de riscos já conhecidos. Os estudos necessários para o lançamento de um registro de defensivo no Brasil chegam a custar R$ 4 milhões. Isso resultou em grande contração de registro
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por parte de pequenas e médias empresas. A concentração da oferta atingiu níveis preocupantes. Hoje, cerca de 50 empresas disputam o mercado, sendo que apenas cinco empresas detêm 60% e dez possuem 90% do mercado brasileiro. Oferta concentrada favorece a ocorrência de preços altos. 3. O registro por equivalência é a solução Nos principais países usuários de defensivos, essa distorção no registro dos produtos foi resolvida há mais de duas décadas pelo sistema da equivalência. “Mesma química, mesmos efeitos é a base conceitual”. Por esse método, os produtos genéricos comprovam com profundidade suas qualificações físicoquímicas e são dispensados da repetição de muitos estudos biológicos. O custo cai para cerca de R$ 120 mil.
registro. Desse cenário, o contrabando aproveitou-se e se avoluma a cada safra. 5. A falência do sistema de registro Cerca de 250 pedidos de registro para pesquisa de produtos equivalentes estão represados nos órgãos responsáveis pela avaliação e não se transformam em produtos. Não há explicação razoável para isso. Nesses três anos eles já poderiam ser uma grande força, e certamente os preços já não provocariam tantos reclamos. O que está segurando o regime de registro por equivalência? 6. Com a palavra as autoridades competentes A motivação desta nota de esclarecimento é dar ciência à Nação da gravidade do assunto e sensibilizar os Ministros da Agricultura, da Saúde e do Meio Ambiente, que dispõem da autoridade e competência para corrigir a situação. É imperioso garantir avaliação séria para concessão de um registro, e, agora, para recuperar o tempo perdido, os agricultores precisam de um esforço emergencial para registro dos defensivos genéricos e conseqüente alargamenC to da concorrência. C
4. O brasil adotou a equivalência só no papel Após muita pressão da Aenda e dos agricultores, o governo editou o Decreto 4074, em janeiro de 2002, justamente para introduzir o regime de registro por equivalência. Infelizmente, estamos em meados de 2005 e nenhum produto foi registrado por esse regime. Ainda não está de fato implementado. Por isso os agricultores hoje clamam por importar Tulio Teixeira de Oliveira, produtos de outros países, mesmo sem Diretor Executivo da AENDA
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
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Estoques mundiais em queda livre e safra em queda de 100 milhões de t O mercado, a cada dia que passa, nos aponta melhores condições de futuro, porque estamos vivendo um ano de crise interna, com câmbio desfavorável e cotações que desestimulam os produtores brasileiros. Com isso, nos dá a nítida visão de que o quadro em um futuro bem próximo será muito bom, porque o consumo mundial de alimentos continua em crescimento e não deverá parar, pois a população segue em crescimento. Junto, a economia mundial em crescimento superior a 4% ao ano, e superior a este número nos países pobres, tira milhões de pessoas da zona da pobreza absoluta para o mundo do mercado consumidor, e o primeiro impacto disso reflete-se direto no consumo de alimentos. Nesse quadro, podemos observar o relatório mensal do USDA, que projeta para esta nova safra, mesmo com números ainda otimistas, uma safra de 1,94 bilhões de t, contra as 2,04 colhidas na safra 04/05, ou 100 milhões de t a menos, com isso refletindo-se diretamente nos estoques finais, que segundo o USDA estarão na casa das 350 milhões de t para este novo ano, contra quase 400 da safra passada e das mais de 600 milhões que tínhamos na safra 99/ 00. Ou seja, de lá para cá, tivemos somente um ano em que a safra superou o consumo, que foi a safra 04/05. Caminhamos para que os próximos anos continuem mostrando demanda crescente e produção limitada. A produção tem como limitantes aspectos geográficos ou insuficiência de área, não há novas áreas para serem plantadas, e os poucos países que as tem, como é o caso do Brasil, têm leis que os impedem. Outro fator limitante segue em cima da tecnologia, que cresceu muito nestes últimos anos e, a partir de agora, terá menor potencial de avanço. Ganhos em produtividade serão cada vez menores, e, para que ocorram, os custos serão crescentes. Em resumo, seguimos com grandes expectativas para a produção agrícola no Brasil, e isso já deverá aparecer neste novo ano agrícola. MILHO Colheita da safrinha fechando Nestes próximos dias a colheita da safrinha do MS, que é o último estado a colher neste ano, estará chegando ao final, e com isso a pressão de oferta de produto direto dos produtores tende a diminuir. Com a redução da oferta do milho no mercado brasileiro, que neste ano tem um quadro ajustado e não deverá chegar ao final do ano sem ter que aumentar as importações, começarão a aparecer pequenos sinais de reação e ganhos positivos. O fator limitante se dá em cima dos custos do importado e do câmbio, que ainda está baixo, e, assim, o fôlego de ajuste varia dos 5 aos 20% sobre os patamares ora vigentes. O fundo do poço já passou. SOJA Agosto lento para os produtores O mercado da soja teve um mês de agosto abaixo das expectativas dos produtores, que não negociaram o que pretendiam, porque tiveram os piores momentos do câmbio desde abril de 2002. Assim, o câmbio na faixa dos R$ 2,30 deixou a soja estrangulada, e, mesmo que as cotações em dólar estejam dentro ou acima das médias históricas, o resultado final em reais estava abaixo dos custos que foram realizados com a moeda acima dos R$ 3,00. Dessa maneira, os negócios foram escassos. Pouco movimento registrado com a safra nova, que se resumiu a reportes localizados em cima de troca de adubo. Seguimos com pouca soja negociada da safra nova e ain-
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da com bons volumes de soja a serem negociados, na expectativa de que o clima americano nos auxilie em setembro com novos ganhos em dólar. FEIJÃO Colheita no NE e MS segurando o mercado O mercado do feijão em agosto teve pressão para baixo, em cima do aumento da oferta, via colheita no Nordeste, em MG e também no MS, que normalmente não planta feijão. Junto, houve queda dos preços de produtos alternativos no varejo, como frango e massas. Recuando dos R$ 110,00 para a casa dos R$ 70,00/80,00. O quadro em setembro poderá melhorar, porque a colheita se restringirá a Minas e pon-
tos de Goiás. ARROZ Quadro não mostrou novidades Os produtores de arroz do Sul do país, que dominam 60% da safra nacional, não viram ganhos nas últimas semanas, e os indicativos recuaram quase 10%. Negócios na faixa dos R$ 19,00 e R$ 20,00, de junho e julho, recuaram para os R$ 17,00/ 18,00 em agosto. Por enquanto, o apoio do Governo não trouxe resultados positivos. A saída seria a compra via AGF sem limite dos produtores, assim criando um grande canal de liquidez, e também temos que ir em busca de exportação para dar fluxo ao setor.
CURTAS E BOAS SOJA - O USDA apontou a safra americana para a faixa das 76 milhões de t, contra 85,5 milhões colhidas em 2004. Ainda está acima das expectativas do mercado, porque o clima foi irregular durante todo o ciclo. ALGODÃO - A safra mundial, segundo o USDA, recuará para os 109,8 milhões de fardos, contra os 119,9 milhões de 04/05. E os estoques passam para os 49,8 milhões de fardos frente aos 50,9 da safra 04/05. TRIGO - O câmbio continua sendo o vilão. Os produtores têm recebido dos R$ 18,00 aos R$ 20,00 por saca. O IBGE divulgou a safra em 5,1 milhões de t, contra 4,8 da Conab: muito abaixo das 10 milhões de t a serem consumidas. BOA NOTÍCIA - Os chineses terão que entrar no mercado do milho no próximo ano e, com isso, deverão pressionar o mercado mundial dos grãos, porque os volumes a serem comprados tendem a ser grandes. Deverá ser um grande comprador. BOA NOTÍCIA II - A safra do trigo na China neste ano está com baixa qualidade, e, assim, as importações devem-se tornar uma constante, com expectativas de 3 a 4 milhões de t, diminuindo os estoques mundiais, que recuam 7 milhões de t.
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