Cultivar 79

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Cultivar Grandes Culturas • Ano VII • Nº 79 • Novembro 2005 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

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Foto Capa / Heraldo Negri

Destaques

Estação perigo Por causa de frentes frias e condições adversas, o agente causal da Phoma do cafeeiro preocupa produtores

23 Volta indesejada Com o período de chuvas, a cigarrinha-das-raízes volta a dar trabalho aos produtores de cana

Nossos cadernos

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Fotos de Capa

Ferrugem no ataque

Solferti

Por causa da sobrevivência do fungo durante a entressafra, a doença será problema ainda mais cedo nesta safra

José Francisco Garcia

Charles Echer

36 Pulga no arroz Saiba como controlar a praga que ataca no período da inundação da lavoura e compromete a produção

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL

Direção 3028.4013 • REDAÇÃO: Newton Peter Schubert 3028.4002 K. Peter / 3028.4003 • MARKETING:

3028.4004 / 3028.4005 • FAX:

www.cultivar.inf.br 3028.4001 cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

Índice Diretas

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Nutrição em café

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Como controlar a Phoma no café

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Perspectivas para o setor canavieiro

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Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000

Controle da cigarrinha-da-raiz

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• Assinaturas: 3028.2070

Avanços da soja RR

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• Redação: 3028.2060

Como será a ferrugem asiática nesta safra 30

• Marketing: 3028.2065

Importância de uma adubação correta

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Pulgão-da-raiz no arroz

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Negócios

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Coluna Agronegócios

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Coluna Aenda

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Mercado Agrícola

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Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

• Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia • Revisão

Novas cultivares de cana para o Centro-Sul 20

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

REDAÇÃO

Silvia Pinto

COMERCIAL Pedro Batistin

Sedeli Feijó Silvia Primeira

CIRCULAÇÃO • Gerente

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.




Diretas

Celeiro

Reciclagem

Cenário

A Ihara está lançando no mercado de defensivos agrícolas um novo produto, o Celeiro. Trata-se de um fungicida com translocação sistêmica ascendente, do grupo químico Triazol (flutriafol) e Benzimidazol (precursor de tiofanato metílico), usado em pulverização para controle das doenças da parte aérea da cultura da soja, como ferrugem, crestamento foliar e mancha parda. O produto é considerado desde sua concepção de amplo espectro de atuação, tanto por pesquisadores renomados como agricultores.

O InpEV comemora crescimento de 25,6% no processamento de embalagens de agrotóxicos. Nos nove primeiros meses de 2005, foi atingida a marca de 13,67 mil toneladas, números que superam as 10,88 mil embalagens recicladas e incineradas no mesmo período de 2004. Os estados que mais destinaram embalagens foram Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul, que juntos representam 74% do total devolvido em todo o país.

Fernando Rupulo, gerente de marketing da Bayer para a região de Passo Fundo (RS), explicou que o novo fungicida Nativo teve seu teste de fogo na atual safra de trigo. Por causa do clima bastante chuvoso e pouco frio, as doenças da cultura se intensificaram no Rio Grande do Sul, exigindo mais atenção. “Em lavouras onde os produtores fizeram aplicações preventivas, não obtivemos nenhum problema com doenças”, garante. O produto, lançado este ano, também é indicado para doenças de soja. Fernando Rupulo

Congresso de soja Já estão abertas as inscrições para o 4º Congresso Brasileiro de Soja (CBSOJA), que terá como tema “Complexo Soja, vencendo os desafios”. O congresso será realizado no Centro de Exposições e Eventos de Londrina, em Londrina (PR), de 5 a 8 de junho de 2006, pela Embrapa Soja. Informações (43) 3371-6336 ou cbsoja4@cnpso.embrapa.br.

Marketing Anderson Rodrigues, da Sipcam Agro S/A, está agregando mais uma cultura em seu cargo. Anderson, que já era responsável pela coordenação de marketing para as culturas de citros e cana-deaçúcar, assumiu desde junho último também a cultura de milho.

Anderson Rodrigues

Querência BRS Querência é a nova cultivar de arroz, lançada pela Embrapa Clima Temperado, Pelotas (RS). Como características, surpreende pelo elevado rendimento de grãos inteiros, chegando a 67%, além de apresentar resistência genética a estresse ambiental, o que possibilita redução de custos, devido à menor necessidade de defensivos. A expectativa é de que, na safra 2006/07, já sejam plantados no Sul mais de 10 mil hectares da nova cultivar.

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Doenças de Soja Para ajudar técnicos, produtores e estudantes a diagnosticar as doenças presentes em suas lavouras, a Embrapa Soja lança o Manual de Identificação de Doenças da Soja. Com fotos e textos explicativos, o livro apresenta formato de bolso para facilitar o manuseio a campo. São 72 páginas, descrevendo 24 doenças fúngicas, duas bacterianas, cinco viróticas e três causadas por nematóides. O Manual pode ser adquirido pelo fone (43) 3371-6119 ou vendas@cnpso.embrapa.br.

Simpósio Acontece nos dias 17 e 18 de novembro, em Piracicaba (SP), o “Simpósio de Biotecnologia na Canade-açúcar”, promovido pela MVM Eventos e RAO usina de eventos. Mais informações: Fealq – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, fone (19) 3417-6604 ou www.fealq.org.br ou ainda www.canatransgenica.com.br

Recicap A FMC implantou em sua fábrica, em Uberaba (MG), o projeto Recicap, que faz a utilização de tampas para embalagem de inseticidas, herbicidas, fungicidas e outros produtos agroquímicos, com 40% de material reciclável. Tampas que antes tinham que ser incineradas por falta de alternativa agora voltam a entrar no sistema de produção de embalagens de defensivos com custo reduzido e com menos danos ao ambiente.

Feijão Foram lançadas pela Embrapa Transferência de Tecnologia, Brasília (DF) duas cultivares de feijão-caupi em Tracuateua (PA). As sementes básicas das cultivares BRS-Milênio e BRS-Urubuquara estão em fase de multiplicação e estarão disponíveis aos produtores paraenses a partir do início do próximo ano.

Prêmio Ciência

Mudança

Dois cientistas da Divisão de Produtos para Agricultura da Basf foram indicados para o “Deutscher Zukunftspreis 2005“ – o prêmio de maior conceito na Alemanha: Dr. Hubert Sauter e Klaus Schelberger. Ambos desenvolveram o F500®. O prêmio é concedido desde 1997, e a premiação deste ano será em 11 de novembro, em Klaus Schelberger e Hubert Sauter Berlim.

Carlos Alberto Simplício, da Sipcam Agro S/A, assumiu a coordenação de marketing da empresa para as culturas de soja, algodão e café , substituindo Ernesto Bellotto, que passou para a supervisão de vendas da Região CenCarlos Alberto Simplício Ernesto Bellotto tro-Oeste.

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Café

Sob medida Embora a adubação do cafeeiro esteja bastante relacionada à idade, ao espaçamento da lavoura e ao sistema de irrigação utilizados, é preciso suprir a planta na época de maior consumo de nutrientes, que acontece entre os meses de setembro e março, quando se formam as gemas foliares

A

tualmente o café é o segundo maior gerador de riquezas do planeta, perdendo apenas para o petróleo. Movimenta anualmente U$ 91 bilhões, entretanto, apenas 9% desse montante fica nos países produtores. A cadeia do café emprega direta e indiretamente meio bilhão de pessoas em todo o mundo (Embrapa, 2004). A cafeicultura brasileira destaca-se como um dos setores agrícolas mais importantes do país, por ser uma atividade rentável, geradora de divisas e de, aproximadamente, oito milhões de postos de trabalho. Conseqüentemente, a cafeicultura fixa o homem no campo, promovendo melhor interiorização e desenvolvimento nos municípios onde se produz e/ou processa-se o café (Matiello et al., 2002). O cafeeiro no Brasil, nos meses de setembro a março, forma muitas gemas foliares, e ocorrem expansão e granação dos frutos. Entre os meses de abril e maio ocorrem a indução de gemas florais e um relativo repouso do crescimento (Camargo e Camargo, 2001). Matta et al. (1999)

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relatam que mesmo no inverno pode haver armazenamento de substâncias orgânicas nas raízes. Assim, fica evidente que todas as fases de crescimento do cafeeiro são importantes, justificando um acompanhamento nutricional da lavoura também no inverno. Portanto, de acordo com Matiello et al. (2002) o consumo de nutrientes pelo cafeeiro é maior no verão (Tabela 1). O modo de adubação, ou de localização do adubo, para o cafeeiro está relacionado, principalmente, à idade, ao espaçamento da lavoura e ao sistema de irrigação utilizados. Resultados experimentais têm indicado que, à exceção da adubação de plantio, os adubos devem ser distribuídos em cobertura (a lanço ou através de fertirrigação), sob a saia do cafeeiro, pois a adubação localizada em riscos

rasos, ou enterrada, reduz a absorção pelo sistema radicular, resultando em menor produtividade, além de proporcionar maiores gastos com mão-de-obra. A forma de adubação recomendada está relacionada com a distribuição do sistema radicular do cafeeiro, que na fase adulta possui grande maioria das raízes absorventes nos dez primeiros centímetros do solo e na projeção da copa do cafeeiro.

RECOMENDAÇÃO POR ANÁLISE DE SOLO Na adubação de cafeeiro devem-se levar em consideração estado vegetativo da planta, potencial de produção e carga pendente, além das característi-

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Fotos Fábio Luiz Partelli

GASTOS

Tabela 1 - Períodos de crescimento vegetativo e de consumo de nutrientes (NPK) pelo cafeeiro arábica Estações do ano

E

Adubos devem ser aplicados em cobertura ou por fertirrigação sob a saia da planta

cas de solo e os adubos a serem utilizados. Vários são os métodos de recomendação de adubação baseados em análise de solo, dentre eles estão os métodos de extração (restituição), de indicação pela retirada de nutrientes, de indicação de adubação por módulo e de indicação através de aproximação, sendo o último o mais utilizado.

RECOMENDAÇÃO POR ANÁLISE FOLIAR Recomendação de adubos por intermédio de diagnóstico nutricional que utiliza resultados provenientes da concentração de nutrientes na folha, em complemento à análise de solo, tem sido muito eficiente (Carmo et al., 2002), pois a análise de solo favorece a verificação das concentrações químicas e as características físicas do solo, e a análise foliar representa o presente estado nutricional da planta, visto que esta é o próprio extrator de nutrientes do solo (Beaufils, 1973), podendo, assim, evidenciarem-se desequilíbrios nutricionais não indicados na análise de solo (Carmo et al., 2002), principalmente, nos micronutrientes. Uma correta interpretação de resultados analíticos das concentrações foliares proporciona informações que favorecem o uso racional destes, evitando, assim, desperdício de insumos e de recursos financeiros, salinização ou acidificação do solo e poluição do lençol freático. Além disso, possibilita melhorar o equilíbrio nutricional das plantas e, conseqüentemente, proporcionará aumento da produtividade da lavoura. Portanto, preconiza-se a utilização de normas de referência (faixa crítica, faixa de suficiência e normas DRIS) e de métodos de diagnósticos que disponibilizam subsídios para uma recomendação de insumos eficiente e prática, mais próxima do ótimo econômico. A faixa crítica como valor de referência é estabelecida em experimentos de calibração, em ambientes controlados, devendo ser aplicada na avaliação de espécies cultivadas sob as mesmas condições do ensaio, tornando a identificação do estado nutricional muito restrita, exigindo vários ensaios (Wadt et al.,

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stima-se que os gastos com fertilizantes e calcários representem 30% do custo total da produção do cafeeiro. Desses insumos utilizados no cafeeiro, os fertilizantes nitrogenados são responsáveis por um consumo de aproximadamente 200 mil toneladas por ano, pois é um dos nutrientes mais exigidos, apresentando um gasto estimado de cerca de R$ 400 milhões (Embrapa, 2004). Dessa forma, a construção da fertilidade do solo e a maximização da utilização de insumos, além de outros procedimentos agrícolas, estão intimamente relacionadas ao sucesso do cafeicultor e à sua sustentabilidade no agronegócio. 1998), o que para culturas perenes demandaria muito tempo e elevado gasto de recursos. Assim, uma alternativa eficiente é o uso de concentrações foliares associadas à respectiva produtividade de lavouras comerciais de uma determinada região, e, com esses dados, obterem-se valores de referência (faixa de suficiência e normas DRIS) baseados nas lavouras de alta produtividade, visto que essas lavouras, provavelmente, apresentem concentrações foliares e um equilíbrio nutricional bem próximos do ótimo. Contudo, esses valores não podem ser utilizados para deter-

Primavera

Verão Outono Inverno Meses S O N D J F M A M J J A Dist. chuvas (mm) 82 108 183 296 157 151 181 96 54 40 24 25 Cresc. Veg. (%) 16 33 24 16 11 Frutificação Florada Chumbinho Verde Cereja Consumo em N 8 13 30 49 % de N, P,K P2O5 9 17 38 36 para os frutos K2O 6 22 32 40

minar curvas de resposta à adubação (Wadt et al., 1998). As normas de referência (faixa crítica, faixa de suficiência e normas DRIS) são úteis para estudar desequilíbrios nutricionais e aumentar a produtividade da cultura, quando se realiza a correção do nutriente indicado no diagnóstico (Reis Júnior e Monnerat, 2003). Entretanto, fatores como problemas fitossanitários, espaçamento, déficit hídrico, genótipo cultivado, entre outros, podem influenciar na concentração foliar e, principalmente, na produtividade da planta. Diversas pesquisas já indicaram diferentes normas de referência para o café arábica e conilon, as quais variam de acordo com os pesquisadores e regiões estudadas. Com base nos trabalhos de Dara et al. (1992) e Reis Júnior e Monnerat (2003) com DRIS, os valores de referência devem ser regionais, específicos para a forma de cultivo (orgânico e convencional) e a época de amostragem (verão e inverno) (Partelli et al., 2005). Dessa

Correta interpretação da análise foliar favorece o uso racional de insumos, evitando disperdícios

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Figura 1 - Curva da distribuição normal (Teste z)

FAIXA CRÍTICA E DE SUFICIÊNCIA FOLIAR A faixa crítica e a faixa de suficiência são os métodos de diagnósticos nutricionais mais utilizados quando se consideram as concentrações foliares, pois apresentam facilidade de interpretação dos resultados, independência entre os índices, e, de acordo com Soltampour et al. (1995), foram superiores ao DRIS no diagnóstico nutricional do milho. Entretanto, essas faixas são estáticas e não determinam a ordem de deficiência ou de excesso do nutriente (Baldock e Schulte, 1996).

DESVIO PERCENTUAL DO ÓTIMO Esse método permite identificar o percentual de desvio da concentração foliar de um nutriente em relação à norma e ordenar a limitação nutricional de uma determinada amostra. É de fácil aplicação e interpretação, na qual índices negativos indicam deficiência, índices positivos indicam excesso e índices iguais a zero indicam concentração ótima. O somatório dos valores absolutos dos índices (DOP), calculados para os nutrientes analisados, representa um balanço destes, que permite verificar o estado nutricional da lavoura, ou seja, quanto maior o valor do DOP, maior será o desequilíbrio nutricional da lavoura (Martinez et al., 1999). No entanto, estuda o elemento isoladamente, a visualização pode confundir e não é realizada a interação entre os nutrientes.

DRIS Segundo Baldock e Schulte (1996), o Sistema Integrado de Diagnose e RecomenFotos Fábio Luiz Partelli

forma, fica evidente e imprescindível o uso de valores de referência que sejam regionais, para efetuar um bom diagnóstico nutricional. O fato de se escolher a folha dentre os outros tecidos vegetais está intimamente relacionado com a facilidade de coleta, a padronização e a possibilidade de coleta durante todo o ano. Além disso, a folha é o centro das atividades fisiológicas da planta, local de produção de carboidratos, ela desempenha importante função no metabolismo de constituintes, sendo o principal local para onde são transportados os nutrientes absorvidos pelas raízes (Bhargava e Chadha, 1988). A seguir serão abordados alguns métodos de diagnóstico nutricional que auxiliam na recomendação de adubos.

dação (DRIS), preconizado por Beaufils (1973), é dinâmico e incorpora o conceito de balanço nutricional entre os nutrientes nos tecidos das plantas. Essa técnica se baseia no cálculo de índices para cada nutriente, avaliados em função da relação das razões das concentrações de cada nutriente com os demais, comparando-os, dois a dois, com outras relações consideradas adequadas (normas DRIS), provenientes de lavouras de alta produtividade (Baldock e Schulte, 1996; Reis Júnior e Monnerat, 2003). O DRIS possibilita indicar desequilíbrio nutricional, mesmo quando não há sequer um único nutriente fora da faixa de suficiência, e, segundo Mourão Filho (2005), DRIS completa o diagnóstico realizado pela faixa de suficiência, pois ordena deficiência ou excesso. Entretanto, o DRIS apresenta limitações e desvantagens, como a complexidade e o fato de um determinado nutriente poder influir negativamente na interpretação de um outro (Baldock e Schulte, 1996). Índice DRIS de um nutriente é a média aritmética dos quocientes entre a concentração deste nutriente (A) e as demais concentrações dos outros nutrientes (B, C, ... N). Os quocientes (ou relações) são reduzidos, transformados em variáveis normais reduzidas (z), portanto, são quocientes estudantizados (Álvares V. e Leite, 1999). O índice DRIS permite definir o grau de desvio dos nutrientes de uma amostra foliar, a localização em relação ao estado nutricional da planta se adequado, em deficiência ou em excesso indicando a amplitude de cada situação, assim, pode-se afirmar que um índice DRIS de -6, usando a constante de sensibilidade igual a 10 (z = -0,6), indi-

FERTIGRAMAS Os fertigramas são gráficos construídos com círculos concêntricos, com tantas divisões radiais quantos forem os elementos a serem plotados. A sua utilização permite fazer uma análise visual das concentrações de cada nutriente em particular e do estado nutricional da lavoura como um todo, tomando por base os níveis críticos pré-estabelecidos (Martinez et al., 1999). No entanto, estuda o nutriente isoladamente, é de difícil visualização e não permite identificar o elemento mais limitante na produção.

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Maior gasto de nutrientes se concentra quando os frutos atingem a fase “cereja”

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Tabela 2 – Critérios para a interpretação dos valores dos índices de nutrientes com base no método PRA. IN = índice DRIS do nutriente Estado nutricional

Fábio Partelli explica a maneira de se garantir uma boa produtividade com a lavoura bem nutrida

ca que o nutriente está a 0,6 desvio - padrão à esquerda da norma, o que sugere afirmar, baseado na distribuição normal padrão (Teste z), que o estado nutricional de um determinado nutriente está dentro dos 45,2 % da população ao redor da média, índice pelo qual Bataglia et al. (2001) consideraram o nutriente como sendo limitante. Um índice entre -10 e 10 (z = -1 e 1) indica que a amostra está entre os 68,26 % da po-

Potencial de resposta à adubação

Deficiente e limitante

Positiva, com alta probabilidade

Provavelmente deficiente

Positiva ou nula, com baixa probabilidade

Equilibrado Provavelmente em excesso

Nula Negativa ou nula, com baixa probabilidade

Em excesso

Negativa, com alta probabilidade

pulação centrada em relação à distribuição normal (Figura 1), índice que, segundo Reis Júnior (1999), é limiar para um nutriente ser considerado limitante, desde que este seja maior em valor absoluto que o IBNm (Índice de Balanço Nutricional médio), ou seja, 15,87% à esquerda da curva. Portanto, é plausível o uso de índices limiares menores, quando a lavoura apresenta alta produtividade pendente, ou quando se deseja obter elevada produtividade, isso se as limitações de produtividade estiverem relacionadas à nutrição. Sendo assim, o método de Potencial de Resposta à Adubação - PRA

Critério 1. IN < 0 2. ? IN ? > IBNm 3. IN é o índice de menor valor 1. IN < 0 2. ? IN ? > IBNm 1. ? IN ? ? IBNm 1. IN > 0 2. ? IN ? > IBNm 1. IN > 0 2. ? IN ? > IBNm 3. IN é o índice de maior valor

(Wadt, 1996) (Tabela 2) segue essa tendência, pois há trabalhos de pesquisa relatando uma correlação negativa entre a produtividade e o IBN (Wadt et al., 1998; Wadt et al., 1999; Mourão Filho et al., 2002; Mourão Filho e Azevedo, 2003; Partelli et al., 2005), indicando que o DRIS pode ser eficiente, entretanto, há casos de lavouras com baixo IBN e com baixa produtividade, portanto, não é reC gra adotar este método. Fábio Luiz Partelli e Henrique Duarte Vieira, UENF


Café

Charles Echer

Estação perigo Favorecido Favorecido pelas pelas frentes frentes frias frias ee outras outras condições condições climáticas climáticas adversas, adversas, o agente agente causal causal da da Mancha Mancha de de Phoma Phoma do do cafeeiro cafeeiro preocupa preocupa produtores, produtores, devido aos aos surtos surtos epidêmicos epidêmicos que que acontecem acontecem geralmente geralmente nas nas trocas trocas de estações em função função das das mudanças mudanças de de temperatura temperatura e, e, principalmente, principalmente, de umidade

O

Fotos Ludwig H. Pfenning

Brasil é um país com larga tradição no plantio e exportação de café. Grande parte das riquezas dos estados de Minas Gerais e São Paulo deve-se a essa cultura. Um dos maiores impedimentos para o aumento da produtividade e qualidade do produto ainda é a alta incidência de problemas fitossanitários. As doenças provocadas por fungos representam o maior empecilho, principalmente aquelas associadas à parte aérea da planta. A doença conhecida como “seca dos

Lesões nas folhas do cafeeiro, sintomas do ataque de Phoma tarda

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ponteiros”, ou “mancha de Phoma e Ascochyta”, é causada por espécies fúngicas do gênero Phoma. No Brasil, a doença foi registrada pela primeira vez em 1973, no estado de Espírito Santo, onde os sintomas inicialmente eram confundidos com deficiência de boro. Atualmente, a doença de “Phoma e Ascochyta” constitui um sério problema em todas as regiões produtoras de café. Os principais danos às plantas acontecem em decorrência de surtos epidêmicos favorecidos pelas frentes frias e outras condições climáticas adversas, como chuva de granizo, ventos frios etc. Na lavoura, a doença afeta folhas e ramos, no

viveiro ocorre na base do caule. Eventualmente, as flores podem ser afetadas, levando à queda dos frutos no estágio inicial. A doença causada pelas espécies de Phoma no cafeeiro é bem conhecida também em várias outras regiões cafeeiras do mundo, tais como Colômbia, Quênia e Índia. Fazer estimativas dos danos causados pela doença é, de maneira geral, muito difícil. Entretanto, quando falhas na condução da lavoura se juntam a condições propícias para a doença, os danos podem chegar a 100%. No Brasil, através do estudo da diversidade fúngica associada à parte aérea do

Picnidios da Phoma tarda sobre ramos de café

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OS AGENTES ETIOLÓGICOS

A

s espécies patogênicas ocorrem na parte aérea do cafeeiro e não podem ser diferenciadas pelos sintomas nas folhas infectadas. Phoma tarda produz picnídios imersos no tecido do hospedeiro, de coloração castanho-clara, com células mais escuras em torno do ostíolo, a abertura onde os esporos são liberados. Phoma costarricencis e Phoma exigua var. noackiana apresentam picnídios pretos e errompentes. Phoma tarda (Stewart) H. Verm. (sinônimos Ascochyta tarda Stewart 1957; Ascochyta coffeae Hennings 1902) é o principal patógeno, com ocorrência generalizada em todas as áreas cafeeiras estudadas, causando danos na parte aérea, como lesões em folhas e ramos do cafeeiro. O fungo, atacando folhas em cafezais na Etiópia, foi Figura 1 descrito com o nome Ascochyta tarda (Stewart 1957). Entretanto, vale ressaltar que o mesmo patógeno tinha sido registrado em São Paulo já em 1902 por Hennings como Ascochyta coffeae. Estudos conduzidos no continente africano e no Brasil

nos anos 60 e 70, confirmaram que o agente causal é o mesmo, e o nome Phoma tarda foi adotado (Firman 1965; Vermeulen 1966, 1979; Figueredo et al. 1976) Os corpos de frutificação chamados picnídios (Figura 1) ficam imersos no tecido da planta hospedeira e apresentam parede lisa de cor marrom-clara. Com suas células tipicamente mais escuras em torno do ostíolo, medem cerca de 240 x 340 mm. Em microscópio, pode-se observar até 70% de conídios septados, medindo 7-12 x 3-5 mm, e conídios asseptados com 6-9 x 2,5-3,5 mm. Já em meio de cultura de aveia (OA), a colônia é de crescimento moderado, alcançando 70-80 mm em sete dias a uma temperatura de 25 ºC. O micélio aéreo é esparso, de coloração cinza claro a branco, o reverso da colônia apresenta coloração cinza claro a cinza escuro. Há produção abundante de picnídios globosos, solitários, medindo 150–300 mm e de cor marrom clara na superfície do meio, formando anéis concêntricos. Os conídios são exsudados pelo ostíolo em massa de cor creme, hialinos, oblongos, com 60-70% asseptados, medindo 57(10) x 2,5-3 mm, e cerca de 30% com um septo, medindo 8-10 x 3–4 mm. A espécie Phoma costarricensis Echandi foi primeiramente identificada na Costa Rica em 1957. Posteriormente, foi também en-

cafeeiro (Coffea arabica L.), foram identificadas e caracterizadas, tanto como infecção natural como em meio de cultura, seis diferentes espécies de Phoma, a saber Phoma tarda, Phoma costarricensis, Phoma exi-

gua var. noackiana, Phoma jolyana var. jolyana, Phoma herbarum e Phoma leveillei (Salgado & Pfenning, 2000). As espécies Phoma tarda, Phoma costarricensis e Phoma exigua var. noackiana são consideradas

Tabela 1 - Principais fungicidas registrados para controle da mancha-de-phoma / seca-de-ponteiros do cafeeiro através de pulverização foliar Marca Comercial Aliette Bravonil 750 PM Cantus Cercobin 700 PM Constant Contact Dacostar 750 Dyrene 480 Elite Folicur PM Folicur 200 CE Garant Garant BR Rovral Rovral SC Triade

14

Ingrediente Ativo fosetil clorotalonil boscalid tiofanato-metílico tebuconazol hidróxido de cobre clorotalonil anilazina tebuconazol tebuconazol tebuconazol hidróxido de cobre hidróxido de cobre iprodiona iprodiona tebuconazol

Class. Tox IV II III IV III IV II III III III III IV III IV IV III

Class. Amb III II III II II III II II II III II III II II III II

Registrante Bayer CropScience Ltda. Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. Basf S.A. Iharabras S.A. Indústrias Químicas Bayer CropScience Ltda. Griffin Brasil Ltda. Hokko do Brasil Ind. Quím. e Agrop. Ltda. Bayer CropScience Ltda. Bayer CropScience Ltda. Bayer CropScience Ltda. Bayer CropScience Ltda. Griffin Brasil Ltda. Griffin Brasil Ltda. Bayer CropScience Ltda. Bayer CropScience Ltda. Bayer CropScience Ltda.

contrada em plantações da Índia (Rajendran et al., 1983). Em cafezais localizados em altitudes acima de 1,6 Figura 2 mil metros, como ocorre em países como Costa Rica, Guianas, Panamá e Nicarágua, o patógeno adquire caracteres epifitótico. No Brasil, foi constatado com baixa incidência na região Sul de Minas Gerais e com incidência maior em áreas expostas a ventos e de altitude superior a 1 mil m, sujeitas a baixas temperaturas e ventos frios freqüentes (Carvalho et al., 1998). Nessas condições, o roçar das folhas umas com as outras pode causar ferimentos nas folhas e nas brotações jovens, favorecendo a infecção pelo patógeno. Phoma costarricensis tem ocorrência limitada pelas condições do ambiente, tais como temperatura baixa, alta umidade relativa do ar, baixa intensidade luminosa e altitudes elevadas. Áreas com essas características se concentram nos Chapadões do Alto Paranaíba e Noroeste da Bahia e regiões serranas da Zona da Mata e Espírito Santo. Em meio de cultura de aveia (OA), a colônia é de crescimento moderado, alcançando 80 mm em sete dias, a uma temperatupatogênicas. A incidência da doença e a ocorrência de epidemias dependem principalmente de condições do ambiente como temperatura e umidade.

SINTOMAS NA LAVOURA Os sintomas que aparecem na planta são desfolha, seca dos ramos, morte de brotações novas, rosetas florais e frutos, comprometendo o desenvolvimento da planta e a

Colônia de fungos da espécie Phoma leveillei

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Fotos Ludwig H. Pfenning

ra de 25 ºC. O micélio aéreo é de coloração cinza claro a branco, o reverso da colônia apresenta coloração escura. Há produção abundante de picnídios globosos na superfície do meio, solitários ou agregados, de coloração marrom clara a marrom escura, medindo 170–200 mm e formando anéis concêntricos. Os conídios (Figura 2) são hialinos, ovais, sempre unicelulares, medindo 3-6 x 2-3 mm, exsudados pelo ostíolo em massa de cor amarelada. Phoma exigua var. noackiana (Allesch.) Aa et al. é um patógeno com ocorrência constante em feijão comum (Phaseolus vulgaris) na América do Sul e América Central, provocando grandes lesões necróticas nas fo- Figura 3 lhas. Devido a suspeitas de que o leque de plantas hospedeiras seja mais amplo, a ocorrência do patógeno deve ser monitorada (Boerema et al., 2004). O fungo pode ser encontrado também como infecção natural em folhas de Coffea arabica nas regiões cafeeiras do Sul de Minas Gerais, onde causa sintomas de mancha necrótica de coloração castanho escura a negra, em épocas com temperatura média de 25 ºC. No substrato natural, com produção. Lesões de coloração castanho escura de forma irregular e também lesões circulares, com anéis concêntricos contendo muitos picnídios, ocorrem nos bordos das folhas. As folhas jovens do primeiro e segundo par apresentam lesões aquosas, escuras e irregulares devido a o tecido mais jovem conter mais água. Normalmente nas folhas mais desenvolvidas essas lesões apresentam-se quebradiças e circundadas por anéis concêntricos contendo muitos picnídios. Os fatores umidade e idade da folha geralmente determinam a forma da lesão.

uso do microscópio, podem ser observados conídios unicelulares com 5-9 x 3-4 mm e, dependendo das condições ambientais, 5 a 25 % de conídios com um septo, medindo 810 x 3-5 mm. Em meio de cultura de aveia (OA), a colônia é de crescimento rápido, alcançando até 85 mm em sete dias a 25 ºC. Produção abundante de picnídios (Figura 3) na superfície do meio, globosos, solitários ou em grupos, de coloração marrom escura, de parede fina e envoltos por micélio, medindo 200-360 mm, os conídios são exsudados em cirros, hialinos, ovais a oblongos, geralmente unicelulares, medindo 4-8 x 2-3 mm. As demais espécies, Phoma herbarum, (Figura 4) Phoma jolyana var. jolyana e Phoma leveillei (Figura 5), são consideradas saprófitas e podem ser encontradas em associação simbiôntica também com o cafeeiro sem causar danos à planta. Podemos observar que as espécies de Phoma ocorrem de acordo com os fatores bióticos e abióticos de cada região (Almeida et al., 2004). Figura 4

Figura 5

Picnídios escuros na haste, cobrindo a superfície da lesão com exsudação de uma massa mucilaginosa de conídios

Quanto maior é a umidade relativa do ar, melhores são as condições para germinação, colonização e penetração do fungo.

SINTOMAS NO VIVEIRO Em plântulas, Phoma tarda afeta o caule na parte imediatamente acima do substrato. Já em 1972 o patógeno foi constatado em mudas de viveiro no município de Garças e, posteriormente, de outras regiões do Brasil, causando constrição no caule que pode aparecer a diferentes distâncias do nível do solo, partindo das folhas co-

tiledonares (Figueiredo et al., 1975). Os mesmos sintomas foram observados também em consultas de rotina ao Laboratório de Sistemática e Ecologia de Fungos da UFLA em mudas de viveiro no ano 2005. As hastes de mudas, tanto no viveiro como no campo, apresentam lesões necróticas deprimidas e manchas escuras acima do colo, causando constrição no caule e posterior morte das mudas. Picnídios escuros podem aparecer nas lesões, cobrindo toda a superfície destas, com exsudação de uma massa mucilaginosa de conídios. O inóculo inicial está presente em


Detalhe da esporulação da espécie Phoma jolyana

lesões nas folhas cotiledonares ou até mesmo em folhas verdadeiras das mudas mantidas no viveiro. A limpeza do viveiro, eliminando-se mudas velhas e com algum tipo de mancha, é uma prática importante para evitar futuras infecções. Phoma tarda não é transmitida via semente, mas por conídios transportados pela água.

EPIDEMIOLOGIA Normalmente o inóculo inicial para a seca dos ponteiros e mancha de folhas, permanece no campo em lesões das folhas, e em hastes que se mantêm de uma estação para outra. Quando as temperaturas são baixas, entre 15 e 20ºC, acompanhadas de alta umidade relativa do ar, como é comum quando chegam frentes frias com duração de até cinco dias, surgem surtos epidêmicos com perdas consideráveis para a cultura. Normalmente esses surtos são muito comuns com as chegadas de frentes frias que antecedem o período outono-inverno e primavera-verão.

Muda com sintoma de Phoma. Em viveiros, a doença afeta o caule na parte imediatamente acima do substrato

sansão do campo (Mimosa caesalpiniifolia), além de plantas frutíferas como banana (Musa sp.) e abacate (Persea americana). Quebra-ventos provisórios como feijão guandu (Cajanus cajan) e leucena (Leucaena leucocephala) podem ser usados nas entrelinhas de lavouras novas. A nutrição é muito importante na prevenção da doença. Lavouras com adubação equilibrada têm maiores condições de responder ao ataque de doenças. Devemse realizar as adubações via solo de acordo com análise de solo, e o fornecimento de micro-nutrientes pode ser feito por via foliar, destacando-se a importância do zinco e boro. Fertilizantes foliares contendo fosfito de potássio auxiliam no manejo integrado da doença, pelo favorecimento das defesas naturais da planta. Outra ferramenta do manejo é o con-

trole químico, que deve ser utilizado preventivamente quando as condições climáticas se mostram favoráveis à ocorrência da doença, ou quando aparecem os primeiros sintomas. Em áreas com maior predisposição, ou com histórico da ocorrência da doença, é feita uma aplicação preventiva no final de outubro/início de novembro com o uso de fungicidas à base de cobre para proteção dos ramos e folhas novas. Produtos com os ingredientes ativos fosetil, clorotalonil, boscalid, tiofanato-metílico, tebuconazol, hidróxido de cobre, anilazina e iprodiona podem ser utilizados na aplicação curativa (Tabela 1). Posteriormente, uma ou duas aplicações são feitas a cada 30 dias, dependendo do nível de infecção. A adição de melaço ou açúcar na calda de pulverização, na concentração de 0,5 a 1%, traz bons resultados, principalmente em regiões com muito vento. No caso de ocorrência de surtos no viveiro, deve-se evitar levar mudas com sintomas C da doença ao campo. Ludwig H. Pfenning, Mirian Salgado e Anderson R. Almeida, Universidade Federal de Lavras Ricardo T.G. Pereira, Emater/MG

MANEJO INTEGRADO O manejo integrado é importante no controle de qualquer doença, mas particularmente no caso da mancha de Phoma a adoção de medidas de manejo integrado pode diminuir consideravelmente a doença. Como a ocorrência de ventos frios pode ser um fator relevante nas epidemias da mancha de Phoma, deve-se procurar instalar as lavouras nas faces do terreno menos sujeitas a ventos. Quando isso não é possível, o plantio de quebra-ventos deve ser adotado. As espécies freqüentemente utilizadas são grevílea (Grevillea robusta) e

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Autores mostram quais os sintomas da doença e como é possível evitar que ela cause estragos no café

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Cana-de-açúcar

Cenário promissor Alavancado pelo grande número de veículos bicombustíveis, o setor sulcroalcoeiro cresceu no último ano e promete se firmar nas próximas safras

N

a maioria das regiões produtoras mundiais, a curva de produção de petróleo já atingiu seu auge e, doravante, ela aponta em uma única direção: para baixo. Até então, os seus preços eram ditados por conflitos políticos que limitavam sua produção e oferta. Agora a situação é muito diferente, a produção de petróleo alcançou o limite oferecido pela natureza. Como conseqüência, os seus preços apontam para cima. Preços altos induzem a, pelo menos, três tipos de reação: a) novos investimentos em prospecção, produção e refino de petróleo; b) adoções de medidas de economia de combustíveis; c) adicionar esforços em busca e emprego de fontes alternativas” de energia. Os itens b e c atendem, também, os objetivos do Protocolo de Kyoto. No Brasil, desde meados da década de 70, o setor sucroalcooleiro, mesmo com oscilações de oferta, tem respondido e produzido álcool como fonte alternativa e renovável de combustível. Recentemente, através deste setor e das credibilidades das montadoras e usuários de veículos à álcool e bicombustíveis (“flex”), o Brasil tem caminhado e caminhará a passos largos para

sua autonomia de combustíveis líquidos. No sentido de coordenar esforços e ações, o Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura, lançou recentemente o Plano Nacional de Agroenergia que, num primeiro instante e como ação estratégica, promoverá a produção de um bilhão de litros de biodíesel por ano, quando será obrigatório o emprego de 2% deste biocombustível no diesel, a partir de 2008. Analistas de mercado apontam que, dada a alta aceitação dos veículos “flex”, o seu percentual de vendas internas poderão, pelo menos até o final de 2006, ser da ordem de 80% do total de automóveis e veículos leves a serem comercializados. Estima-se, também, que 75-80% destes veículos possam utilizar o álcool, em função de seus maiores preços em algumas regiões. Portanto, face a expansão da frota de “flex” (vide Figura 1), somados aos veículos a gasolina e álcool já existentes e ao generalizado e à imponderável estatística do emprego de “rabo-de-galo”, muitos destes analistas assinalam que, para atender a crescente demanda interna de álcool, que é e será mais previlegiada, manter compromissos internos/externos em açúcar e do

mercado externo do álcool, as produções necessárias de matéria-prima, açúcar e álcool na safra corrente (2005/06) e para as próximas até a de 2010/11 são as apresentadas no Quadro 1. A Figura 1 mostra, ainda, que após a safra 2010/11 e ao mesmo ritmo de crescimento da frota de veículos “flex”, anualmente o setor sucroalcooleiro será solicitado a atender demanda adicional de 2,5 a 3 bilhões de litros de álcool hidratado. Complementando, além das produções de energia alimento-açúcar e energia combustível-álcool, a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar o setor sucroalcooleiro oferece enorme potencial de co-geração de energia elétrica que, com base na safra atual, projeta-se como equivalente ao de uma nova Binacional Itaipu, ou seja, C de 12 GW (giga-watts). Oswaldo Alonso, CanaOeste Quadro 1- Brasil-projeção de produção e mercado SAFRAS 2005/06 2010/11 TAXA³ ANUAL

CANA 402 575 8,6%

AÇÚCAR 27,2 33,0 4,3%

ÁLCOOL² 16,4 26,6 12,4%

Fontes: Câmara Setorial Sucroalcooleira, Conab, Datagro e UNICA. Obs: Cana e açúcar, em milhões de toneladas; álcool² total, em bilhões de litros e taxa³ anual de crescimento. Divulgação

Figura 1 - Possível projeção da frota de automóveis e veículos leves

Fontes: Anfavea, Datagro e Denatran. Elaboração: Canaoeste.

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Oswaldo mostra o crescimento do setor canavieiro e as perspectivas para os próximos anos

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Cana-de-açúcar

Novas opções Para atender à demanda do mercado, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) explora a variabilidade genética e lança quatro novas variedades de cana-de-açúcar para o Centro-Sul do Brasil

Fotos Antônio Carlos Machado de Vasconcelos

A

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cana-de-açúcar constitui-se numa das principais cadeias produtivas do setor agrícola, com enorme capacidade geradora de empregos diretos e indiretos. Com a perspectiva de novos mercados, o setor sucroalcooleiro está se transformando e se preparando para atender à demanda mundial por tecnologias e produtos originados da cana-de-açúcar. O Brasil tem condições de aumentar significativamente a produção de cana, tanto na área cultivada como no crescimento vertical da produtividade. Na safra 2005/06, o país deve produzir 390 milhões de toneladas de cana destinadas à indústria, com tendência de aumento para os próximos anos. As variedades representam o elo inicial da cadeia produtiva. Assim, qualquer incremento nesse elo certamente contribuirá para o sucesso do setor. O Instituto Agronômico (IAC) é protagonista na geração de ciência agrícola para o cultivo de cana desde 1933,

com destaque para a geração de importantes variedades, como a IAC48-65, “mãe” da SP70-1143 e “avó” da SP83-2847 e da IAC87-3396. A partir da década de 90, o programa de melhoramento de cana IAC consolidou a estratégia de seleção regional, introduzindo, desde a fase de seedlings de cana-de-açúcar, populações com ampla variabilidade genética nas principais regiões canavieiras de São Paulo (Figura 1). As primeiras fases de seleção ocorrem nos municípios de Piracicaba, Ribeirão Preto, Jaú, Mococa, Pindorama, Assis e Adamantina. No início da presente década, acresceu-se a região de Goianésia (GO), caracterizada por apresentar solos de baixa fertilidade associados a períodos prolongados de estresse hídrico. Dessa forma, o programa abrange as principais condições edafo-climáticas importantes para a canavicultura do Centro-Sul do

Brasil. A caracterização pontual desses locais nos permitiu explorar ganhos provindos de interações “genótipos versus ambientes”.

NOVAS VARIEDADES DE CANA As quatro novas variedades do Instituto Agronômico (IAC) são: IACSP94-2094 e IACSP94-2101, que se originaram na região de Ribeirão Preto, IACSP93-3046, que tem Jaú como região de seleção original, e IACSP94-4004, que tem Mococa como região de origem (Figura 2). A liberação de novas variedades, conforme os conceitos de qualificação ambiental, propicia o enriquecimento do plantel varietal disponível para os canavicultores, proporcionando a diversificação genética do material na exploração comercial da cultura. Neste momento, diante da grande expansão de plantio registrada, isso é extremamente desejável, pois

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Figura 1 - Ilustração das áreas onde são realizadas as introduções de seedlings, seleções regionais de clones e ensaios de competição varietal pelo Programa Cana do Instituto Agronômico (IAC)

Figura 2 - Variedades de cana-de-açúcar IACSP94-2094, IACSP94-2101, IACSP93-3046 e IACSP94-4004 IACSP94-2094

IACSP94-2101

IACSP93-3046

IACSP94-4004

essa é uma das estratégias de proteção contra epidemias em cana-de-açúcar. Características biométricas e teor de fibra No Quadro 1, são apresentados as características biométricas e o teor de fibra das novas variedades em relação à variedade RB72454, que ocupa maior área cultivada no Brasil. Os dados são estimados a partir de informações de 1o, 2o e 3o cortes. Os resultados são oriundos do banco de dados experimentais do Programa Cana IAC, que recebe a gestão do software Caiana. Os valores relativos foram construídos pelos índices que relacionam o caráter estimado da nova variedade como a da RB72454 (IRCA) em amostras em que ambas foram RÁTERZ avaliadas simultaneamente. Esses índices serão calculados pela seguinte equação: IRCARÁTER Z = VALOR CARÁTER Z NOVACULTIVAR VALOR CARÁTER Z RB72454 Usando esse tipo de índice, podemos interpretar que, em relação ao IRFIBRA, as novas variedades se assemelham ao padrão RB72454, com exceção da IACSP94-2094, que apresenta valor superior de 8%. As novas variedades destacam-se, principalmente, quanto ao número de colmos/ ha, em relação ao padrão: IACSP94-2094 (37% superior), IACSP94-2101 (14,7%), IACSP93-3046 (13,2%) e IACSP94-4004 (7,9%). Isso indica uma priorização dessa característica nas seleções conduzidas no Programa Cana IAC, atendendo a uma necessidade atual com relação ao sistema de colheita mecanizada. Caracterização do sistema radicular O sistema radicular é o principal elo de ligação entre a planta e o ambiente de produção. Portanto, é determinante na interação genótipo-ambiente. Entre variedades de cana-de-açúcar, características genéticas determinam diferenças quanto ao desenvolvimento e à arquitetura dos seus sistemas

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radiculares. Por outro lado, um bom desenvolvimento da parte aérea depende de um sistema radicular vigoroso, eficiente e bem distribuído no perfil do solo. Na Figura 3, são apresentados os dados de matéria seca de raízes e de distribuições no perfil das quatro novas variedades IACSP, comparadas aos padrões RB72454 e IAC873396. A variedade com maior quantidade de raízes, inclusive nas camadas mais profundas, é a IACSP93-3046. Essa característica está relacionada à sua rusticidade e adaptação a diferentes ambientes de produção. A variedade com distribuição mais uniforme em profundidade é a IACSP94-4004, o que pode estar relacionado ao bom aproveitamento de água de camadas mais profundas, o que explica a sua alta produtividade.

MANEJO PARA NOVAS VARIEDADES Características da IACSP94-2094 A variedade IACSP94-2094 é originária de seleção realizada na região de Ribeirão Preto (SP) (Região 2 de seleção), participando inicialmente em três Ensaios de Competição Regional, no período 19992003 e, por fim, em 36 Ensaios de Competição Estadual, desenvolvidos no período 2002 /05, em 17 locais, abrangendo colheitas em maio, agosto e outubro. Caracterizase por apresentar rusticidade e adaptação a ambientes mais restritivos (Quadro 2). O melhor desempenho dessa variedade se dá quando colhida no inverno (meio de safra) e na primavera (final de safra). Apresenta excelente brotação de soqueira, com grande destaque quando colhida mecanicamente crua. Caracteriza-se por apresentar colmos

com alta densidade, o que proporciona grande rendimento no transporte. Seu perfil agrotecnológico se assemelha e é até superior ao das variedades SP80-1816, SP801842, RB72454, RB855113 e RB855536 que ocupam áreas de cultivo expressivas no Centro-Sul do Brasil. Características da IACSP94-2101 A variedade IACSP94-2101 também é originária da seleção realizada na região de Ribeirão Preto (SP) (Região 2 de seleção), participando inicialmente de três Ensaios de Competição Regional, no período 1999/ 03 e, por fim, em 36 Ensaios de Competição Estadual, desenvolvidos no período 2002/05, em 17 locais, abrangendo colheitas em maio, agosto e outubro. Tem se destacado em ambientes favoráveis de produção, quando colhida no meio e final de safra (Quadro 2). Apresenta rápido desenvolvimento vegetativo inicial e ótima capacidade de brotação de soqueiras sob Quadro 1 - Dados biométricos de produção agrícola (1o, 2o e 3o cortes) e teor de fibra das novas variedades IACSP em ensaios colhidos em três épocas de corte, expressos em índice relativo (IR CARÁTER Z), comparado à RB72454 Variedades IR ALTURA IR DIÂMETRO IR No COLMOS IRFIBRA% IACSP93-3046 0,930 0,964 1,132 1,01 IACSP94-2094 0,926 0,856 1,370 1,08 IACSP94-2101 0,910 0,946 1,147 1,03 IACSP94-4004 0,958 1,036 1,079 0,97 RB72454 Valor relativo 1,000 1,000 1,000 1,00 RB72454 Valor absoluto 252,15cm 2,68cm 12,13 11,36% (colmos/m)

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Figura 3 - Representação gráfica da distribuição do sistema radicular das novas variedades IACSP compõem o perfil da IACSP93-3046 são: boa capacidade de brotação em áreas de colheitas crua e queimada e ótimo fechamento das entrelinhas de plantio. Características da IACSP94-4004 A variedade IACSP94-4004 é originária da seleção efetuada em Mococa (SP) (Região 4 de seleção), participando inicialmente em dois Ensaios de Competição Regional, no período 1999/03 e, por fim, em 36 Ensaios de Competição Estadual, desenvolvidos no período 2002/05 em 17 locais, abrangendo colheitas em maio, agosto e outubro. Caracteriza-se por apresentar altíssima produtividade agrícola, sobretudo nos ensaios colhidos no outono (maio-junho), apesar de não ter um perfil de maturação precoce. Isso nos sugere a possibilidade de usá-la no início de safra, associada a maturadores químicos. Apresenta grande responsividade aos ambientes de produção, devendo ser alocada em ambientes C A1 a D1. Marcos Guimarães de A. Landell, Antônio Carlos M. de Vasconcelos, Mauro Alexandre Xavier e Ivan Antônio dos Anjos, IAC palha. A IACSP94-2101 tem um período de utilização industrial que abrange os meses de julho a outubro. Estima-se que o cultivo da IACSP94-2101 em ambientes A1 a C2 proporcione uma boa opção para os produtores. Características da IACSP93-3046 A variedade IACSP93-3046 é originária de seleção realizada na região de Jaú (SP) (Região 3 de seleção) e foi avaliada inicialmente em dois Ensaios de Competição Regional, no período 1998/02 e, por fim, em 36 Ensaios de Competição Estadual, desenvolvidos no período 2002/05 em 17 locais, abrangendo colheitas em maio, agosto e outubro. Destaca-se principalmente por apresentar grande estabilidade de produção nos diversos ambientes e P.U.I. (período útil de industrialização) longo. A estabilidade de TCH ocorre pela excelente soca apresentada ao longo dos cortes. É indicada para colheita no período compreendido entre a segunda quinzena de maio e outubro. Seu perfil agrotecnológico se assemelha é superior ao das variedades SP81-3250, SP80-1842 e RB855536, que ocupam áreas de cultivo expressivo no Centro-Sul do Brasil. Outras características favoráveis que

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Quadro 2 - Produtividade agroindustrial (TPH) das novas variedades IACSP comparada aos padrões comerciais, nas três épocas de colheita (Safra de Outono, Inverno e Primavera) em ambientes de produção de diferentes potenciais (Superior e Inferior)

Observações: (1) Os dados do ambiente superior são médias de resultados experimentais das empresas: Nova Aliança Agrícola, Goiasa, Usina Alta Mogiana, Usina da Barra, Usina Colorado, Usina Delta, Usina São João de Araras, Usina São Martinho. (2) Os dados do ambiente inferior são médias de resultados experimentais das empresas: Dedini, Equipav, Usina Catanduva, Usina Ester, Usina Itamarati, Usina Jalles Machado, Usina Nova América, Usina Santa Elisa, Usina Santa Luíza.

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Cana-de-açúcar

Heraldo Negri

Volta indesejável Com a volta do período de chuvas, especialmente em São Paulo, é retomada a atenção para o controle da cigarrinha-das-raízes. Os ovos que se encontravam em diapausa até aqui estão em fase de eclosão das ninfas, favorecidos pelo clima, dando origem à nova geração da praga

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do às condições de alta umidade, proporcionadas pela abundante cobertura vegetal deixada no solo pela colheita da cana crua, é favorável ao inseto.

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL Em São Paulo, o ciclo de M. fimbriolata inicia-se em setembro, normalmente, com o início do período das chuvas. A ausência do inseto de maio a setembro é decorrente da associação de falta de água, temperaturas mais baixas e menor fotoperíodo. Assim, os ovos colocados na base da touceira na geração de março-abril, encontrando déficit de água em abril-maio, permanecem em diapausa (quiescência) até setembro, quando se inicia um novo ciclo. Então ocorre a eclosão de ninfas, que resultam no primeiro pico populacional de adultos em novembro-dezembro (pico secundário). Daí para frente, contando com condições favoráveis de temperatura e umidade, a cigarrinha dá seqüência ao seu ciclo, por mais duas gerações, até chegar ao

acme de março-abril, quando então reencontra a situação anterior.

MONITORAMENTO E MANEJO O Nível de Dano Econômico (NDE) e o Nível de Controle (NC) ainda não foram devidamente determinados. O monitoramento de adultos da praga pode ser feito com armadilhas de placa amarelas, e o de ninfas, através José Francisco Garcia

O

Brasil é o líder mundial na produção de cana-de-açúcar e seus derivados, tendo colhido uma área superior a cinco milhões de hectares na safra 2003/04. Nos próximos anos, os mercados do açúcar e do álcool serão norteados pela crescente demanda por álcool combustível. No entanto, como ocorre com as culturas de importância econômica, a canade-açúcar é atacada por inúmeras pragas. Em decorrência do aumento de área de cana colhida mecanicamente e da crescente proibição de queima para o corte, vêm-se observando mudanças no manejo da cultura e, como conseqüência, em muitas regiões, o aumento na população da cigarrinha-das-raízes, Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera: Cercopidae), a qual vinha sendo contida particularmente pelo controle cultural, realizado com a despalha da cana a fogo antes da colheita, que contribui para destruir suas formas biológicas, especialmente ovos em diapausa. Isso vem ocorrendo especialmente em locais de temperatura elevada, visto que este fator, alia-

Espuma produzida na base da touceira pelas ninfas, local onde se alimentam

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FATORES QUE AFETAM A EFICIÊNCIA

Fotos José Francisco Garcia

da contagem de insetos por metro linear, a partir de cinco pontos por hectare, sendo que cada ponto é representado por um metro linear. No presente, utiliza-se o NC de dois a três ninfas por metro linear de sulco, sendo o NDE de cinco a oito ninfas por metro linear. O monitoramento é imprescindível para se decidir sobre a estratégia de controle da praga, sendo que quando realizado na primeira geração permite um controle mais eficiente.

CONTROLE Cultural: A retirada total da palha contribui para reduzir as futuras populações da praga na área infestada, devido ao fato de expor o solo e criar um ambiente desfavorável aos ovos que permanecem em diapausa no local. Na reforma do canavial, o plantio direto em locais com histórico de superpopulação da praga deve ser evitado. A destruição mecânica da palhada no preparo do solo é uma forma eficaz para reduzir os ovos existentes. Resistência varietal: Estudos relacionados à resistência de plantas de cana-de-açúcar são escassos. Dentre as variedades mais cultivadas no estado de São Paulo, observa-se uma tendência de certas variedades

CICLO BIOLÓGICO

O

s ovos de M. fimbriolata são depositados nas bainhas próximas à base das touceiras, nos resíduos vegetais e na superfície do solo do canavial. Cada fêmea pode ovipositar, em média, 340 ovos. Vinte dias após a postura ocorre à eclosão da ninfa. Estas são bastante semelhantes ao adulto, diferindo apenas pelo tamanho, ausência de asas e de órgãos de reprodução maduros. Inicialmente são ativas, movimentando-se em busca de alimento. Algumas se fixam, imediatamente, nos coletos e radicelas da cana-de-açúcar e começam a sugar seiva e a fabricar espuma na qual, em pouco tempo, ficam cobertas. Outras ficam percorrendo a superfície do solo, entre as touceiras, durante algumas horas, até se fixarem. Esta fase tem um período médio de 37 dias, dependendo das condições climáticas. Os adultos são de hábitos crepusculares-noturnos, durante o dia ficam escondidas dentro dos cartuchos ou na parte inferior das folhas e mais saltam do que voam. Os machos apresentam longevidade de 17 dias e as fêmeas de 21 dias, aproximadamente.

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Exemplos dos danos causados pela cigarrinha. As toxinas injetadas nas folhas causam a “queima da cana-de-açúcar”

serem mais atacadas do que outras. Assim, RB72454, SP81-3250, RB855536, SP801842, RB835486 e SP80-1816 são mais susceptíveis em relação à SP79-1011. Biológico: Os inimigos naturais atuam em maior ou menor grau para reduzir a população da cigarrinha-das-raízes, devendo-se adotar medidas que visem manter e/ou aumentar as suas populações. São conhecidas as ações dos parasitóides de ovos, Anagrus urichi e Acmopolynema hervali, do predador de ninfas, Salpingogaster nigra, e dos fungos entomopatogênicos, Batkoa apiculata e Metarhizium anisopliae, sendo que este último tem se mostrado como a principal alternativa de controle, associado ou não ao controle químico.

O sucesso do uso de M. anisopliae como bioinseticida depende de uma série de fatores. Alguns são difíceis de serem controlados em condições de campo, como é o caso da temperatura, umidade, luminosidade, pH etc. Outros podem ser manejados, como: uso de isolados adequados, concentração e pureza do inóculo, formulação estável, volume de calda apropriado, época e horário de aplicação corretos, escolha de equipamentos apropriados e densidade da praga. Devem-se considerar as limitações do fungo em termos de temperatura, radiação ultravioleta, pressão, umidade, efeito residual etc. No tocante ao inseto-alvo, deve-se observar o hábito do inseto, que normalmente vive sob a palhada, barreira que influi no contato entre o M. anisopliae e o inseto. Dependendo da formulação e da concentração de conídios de M. anisopliae aplicados em suspensão, há necessidade de bicos especiais e filtros para se evitar os entupimentos. O fungo pode ser também aplicado em formulação granulada ou em óleo. Para o controle da cigarrinha-das-raízes, as aplicações aéreas são desaconselháveis, devida o produto ser distribuído em área total e não concentrado na linha da cultura, pois, em função da biologia e do hábito do inseto, o produto não atinge com eficiência o alvo. Químico: Embora o emprego de inseticidas no controle da cigarrinha-das-raízes seja recomendado, ele deve ser utilizado em situações que exijam resposta rápida de controle, sob o risco de, não o tendo, agravar sobremaneira os prejuízos. Isto ocorre geralmente quando a praga esta em um ambiente extremamente favorável para sua proliferação (presença de umidade próxima à saturação, variedade de cana-de-açúcar susceptível e em área com ataque expressivo da praga no ciclo anterior). Os produtos registrados, geralmente, apresentam curto

APLICAÇÃO DE METARHIZIUM ANISOPLIAE O M. anisopliae deve ser aplicado na concentração de 5 x 1012 conídios viáveis/ hectare, equivalente a 225 gramas de conídios puros ou a 5 kg do fungo + meio de cultura (arroz). A aplicação deve ser realizada em alto volume, no mínimo 300 l/ha, utilizando bicos apropriados em pingente, com jato dirigido para a base da cana, de ambos os lados da touceira, preferencialmente ao entardecer, para evitar a ação dos raios ultravioleta que degradam os conídios. Não é recomendada a aplicação conjunta de inseticida químico com o fungo, pois a ação de ambos pode ser prejudicada.

Macho e fêmea da cigarrinha. Cada fêmea oviposita em média 340 ovos que eclodem 20 dias após a postura

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SINTOMAS E DANOS

Charles Echer

U

José Francisco e Paulo Sérgio falam dos principais danos e mostram como controlar a cigarrinha-das-raízes

efeito residual e quando aplicados protegem a cultura por um período limitado. Os melhores resultados têm sido obtidos com produtos de ação sistêmica, por exemplo, thiamethoxam (0,8 kg/ha - residual aproximado de 90 dias), imidacloprid (1,5 l/ha - residual aproximado de 90 dias), carbofuran (22 kg/ha - residual aproximado de 45 dias) e aldicarb (10 kg/ha - residual aproximado de 30 dias), aplicados nestas dosagens de for-

m dos danos causados pela ci garrinha-das-raízes é a “queima da cana-de-açúcar”, conseqüência da alimentação do adulto. As toxinas, injetadas ao se alimentar, causam redução no tamanho e grossura dos entrenós, que ficam curtos e fibrosos. Isso tem início nas folhas que inicialmente apresentam pequenas manchas amarelas que, com o passar do tempo, tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese da planta e, por conseqüência, também, o conteúdo de sacarose no colmo. A perfuração dos tecidos pelo estilete infectado provoca contaminação no líquido nutritivo por microrganismos, causa deterioração dos tecidos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes, podendo causar a morte do colmo. ma dirigida aos dois lados da base da touceira, na formula líquida para as duas primeiras moléculas e de um lado, na granulaC da, para as duas ultimas.

As ninfas ocasionam a “desordem fisiológica” em decorrência das picadas que atingem os vasos lenhosos da raiz e os deterioram, dificultando ou impedindo o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrio na fisiologia da planta, caracterizado pela desidratação do floema e do xilema, que podem tornar o colmo oco, afinado, com o posterior aparecimento de rugas na superfície externa. A praga pode ocasionar ainda a morte de perfilhos, a quebra da dominância apical, com o aparecimento de brotações laterais, e a mudança na arquitetura da planta que fica com as folhas espalmadas, semelhante às folhas de palmáceas. A segunda geração de M. fimbriolata, geralmente em janeiro, é a causadora das maiores perdas à produção, podendo reduzir em até 26% a produtividade. José Francisco Garcia, Esalq/USP Paulo Sérgio Machado Botelho, CCA/UFSCar


Soja

Charles Echer

A revolução da RR Com a liberação da Lei de Biossegurança, a pesquisa alerta para o manejo de qualidades técnicas da tecnologia RR, que começa a inverter o cenário da produção de soja no qual predominava o plantio de sementes piratas

E

m 1996, com a semeadura das primeiras lavouras comerciais de soja RR (Roundup Ready®) nos Estados Unidos, começou a se concretizar uma nova “revolução na agricultura”: o cultivo de plantas transgênicas em larga escala. Porém, a novidade já havia chegado ao mercado muitos anos antes, com o desenvolvimento de plantas transgênicas resistentes a vírus (fumo em 1983, batata em 1987, tomate em 1991 e arroz em 1993) e do tomate longa vida (Flavr Savr®), primeiro a ser liberado comercialmente, em 1994. Em 1997, a soja RR começou a ser semeada comercialmente na Argentina. Al-

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guns anos depois, na forma de semente pirata vinda da Argentina, começou a tomar conta das lavouras do Rio Grande do Sul e a se espalhar por outros estados, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso. Instituições brasileiras, como a Coodetec e a Embrapa e suas parceiras, as quais firmaram acordo com a Monsanto para utilizar o gene RR nas suas variedades, desenvolveram variedades de soja RR que não puderam ser prontamente utilizadas pelos agricultores, por causa do atraso na votação da Lei de Biossegurança brasileira. Dessa for-

ma, variedades de soja RR desenvolvidas para as condições da Argentina passaram a ser cultivadas nas mais variadas condições de solo e clima brasileiros. Uma catástrofe por causa de problemas de suscetibilidade a doenças, ou de introdução de novas doenças no nosso país, devido ao uso dessas sementes piratas, só não ocorreu porque as doenças que se desenvolvem no Brasil são praticamente as mesmas da Argentina. Já em termos de rendimento de grãos, com certeza ocorreram perdas, mas estas foram mascaradas, principalmente pelos veranicos que ocorreram no Sul do Brasil nos últimos anos. Isso contrariou vários princípios da pesquisa com soja no nosso país, sendo o principal deles a utilização de variedades adaptadas a estreitas faixas de latitude e, por isso, altamente produtivas, com potencial genético para ultrapassar os 4 mil kg/ha. De qualquer forma, a atitude ilegal dos agricultores causou prejuízos econômicos a eles próprios, superando os cerca de 5% de redução no custo de produção com o uso da tecnologia RR, e também ao Brasil, pela menor arrecadação de impostos e pelos prejuízos aos produtores de sementes legalizadas, os quais perderam quase que totalmente o seu mercado consumidor no Rio Grande do Sul. Para se ter uma dimensão desses impactos negativos na economia brasileira, segundo estatísticas da Embrapa, na safra 2004/05 já estavam sendo cultivados cerca de 5,6 milhões de hectares com soja RR no Brasil, com uma previsão de cerca de 8,7 milhões de hectares (contra 13,1 milhões de hectares de soja convencional) para 2005/06. Como a disponibilidade de sementes RR

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Fotos Vanoli Fronza

legalizadas, segundo a Abrasem (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes e Mudas), daria para instalar pouco mais de dois milhões de hectares, ainda vai levar algum tempo para a situação se reverter, o que foi agravado pela liberação da utilização de sementes piratas no Rio Grande do Sul para mais esta safra. Dados recentes da Abrasem informam que cerca de 44% das sementes de soja a serem utilizadas na safra 2005/06 não são provenientes de campos de sementes registrados no Mapa, sendo boa parte desse percentual correspondente à semente RR pirata; há quatro safras, o percentual de sementes de campos não registrados girava em torno de 10%. Com a liberação do cultivo comercial da soja RR, após a aprovação da Lei de Biossegurança, em março de 2005, finalmente, essa situação começou a se reverter. Isso permitiu a utilização de variedades de soja genuinamente brasileiras e também a conquista pelo setor sementeiro brasileiro, principalmente na região Sul do Brasil, do espaço perdido para o mercado ilegal de sementes. Atualmente, 64 variedades de soja RR já estão registradas no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A maioria dessas variedades de soja RR

foi desenvolvida a partir das melhores variedades brasileiras, pela incorporação do gene CP4 EPSPS, que confere resistência ao herbicida glifosato, utilizando cruzamentos tradicionais, denominados de retrocruzamentos, o que dificilmente resultará em ganhos de produtividade, por causa da base genética utilizada. Este é o caso da BRS Valiosa RR, por exemplo, desenvolvida pelo programa de melhoramento da Epamig, Embra-

Parcela onde foi realizado o ensaio final com a RR precoce

pa e Fundação Triângulo, a partir da variedade MG/BR 46 (Conquista), que chegou a ocupar cerca de 4 milhões de hectares na safra passada. Outras variedades também foram desenvolvidas da mesma forma, como BRS Silvânia RR (derivada de BRSGO Jataí), BRS 244 RR (derivada de Embrapa


Fotos Vanoli Fronza

59), BRS 245 RR (derivada de BRS 133) e M-SOY 8080 RR (derivada de FT-Estrela). Porém, com o avanço dos trabalhos de melhoramento genético, após cruzamentos entre variedades RR e variedades elites brasileiras e seleção das melhores linhagens, já estão sendo desenvolvidas novas variedades de soja RR que superam as convencionais utilizadas como testemunhas. No programa de melhoramento da Epamig, Embrapa e Fundação Triângulo, já existem linhagens promissoras de soja RR que superam a testemunha mais produtiva em mais de 5%. Da mesma forma que as variedades convencionais, as variedades RR possuem características peculiares, inerentes a cada uma delas. Por isso, é importante buscar informações técnicas para não utilizar variedades de forma incorreta e perder as vantagens da nova tecnologia. Por exemplo, de maneira semelhante às variedades convencionais que estão sendo indicadas para cultivo, há variedades de soja RR suscetíveis ao oídio, assim como a um ou ambos nematóides-de-galhas mais comuns no nosso país (Meloydogine javanica e M. incognita), o que também influencia na escolha da variedade mais adequada para cada região, principalmente naquelas em que se conhece a espécie de nematóide predominante. Com relação ao nematóide de cisto (Heterodera glycines), pelas informações disponíveis, ainda não há no mercado nenhuma soja RR resistente a alguma das raças constatadas no Brasil. O mesmo é observado para a ferrugem asiática da soja, para a qual também ainda não há no mercado nenhuma variedade resistente, tanto RR como convencional. Já com relação às pragas, o comportamento das variedades de soja RR não difere da maioria das variedades convencionais atualmente disponíveis, visto que o gene CP4 EPSPS, presente na soja RR, não altera a resistência a insetos. Para a resistência a insetos, como algumas lagartas, deveria ser utilizado o gene Bt, como no milho, mas parece que a soja Bt ainda não despertou muito interesse no Brasil.

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Quanto ao manejo das plantas daninhas, os princípios a serem seguidos são os mesmos da soja convencional, principalmente no que se refere à rotação de ingredientes ativos no controle químico. O uso contínuo do glifosato na soja RR, na dessecação e, posteriormente, em pós-emergência, induz à seleção de espécies de plantas daninhas tolerantes, o que, com o tempo, poderá obrigar o agricultor a abandonar o sistema. O risco é maior nas regiões produtoras que fazem apenas uma safra por ano, a das “águas”, como na maioria do Brasil Central e Norte, principalmente se a soja não fizer rotação com o milho, por exemplo. No Sul do Brasil esse risco seria maior apenas nas áreas em pousio no inverno. Nestes casos, o uso de aplicações seqüenciais e até mesmo a mistura de ingredientes ativos durante a dessecação seriam a melhor alternativa para garantir um controle eficiente e evitar problemas futuros. Nas áreas em que se pratica o cultivo de inverno ou de “safrinha” com outras culturas, o risco de se selecionarem espécies tolerantes ao glifosato é bem menor. Assim, a escolha adequada de produtos para o controle de plantas daninhas em todas as culturas do sistema, após a avaliação minuciosa da população infestante, permitirá o con-

A buva é uma das invasoras que apresenta grande variabilidade genética natural para resistência a glifosato

trole efetivo daquelas espécies naturalmente tolerantes ao glifosato e também diminuirá o surgimento de espécies resistentes a este. Embora o período de uso da tecnologia RR ainda seja curto, percebe-se que espécies problemáticas, como a trapoeraba (Commelina benghalensis) e a buva (Coniza bonariensis), exigirão maior atenção durante o seu controle. A trapoeraba, por ser naturalmente tolerante ao glifosato, e a buva, por ter sua população aumentada com a adoção da semeadura direta, conforme já observado em algumas regiões, e apresentar grande variabilidade genética natural para resistência ao glifosato, propiciando o surgimento de biótipos resistentes. O mau uso da tecnologia RR brevemente nos mostrará estes biótipos resistentes, não só na buva, mas também em outras espécies, conforme já constatado pelo uso contínuo do glifosato em outros países e, inclusive, no C Brasil, em outras culturas. Vanoli Fronza e Roberto Kazuhiko Zito, Epamig

Vanoli e Roberto falam sobre como o mau uso da tecnologia que pode inviabilizar o uso de RR

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Soja

Sobreviventes no ataque A grande quantidade de inóculo da ferrugem asiática sobrevivente à safra passada provavelmente causará problemas aos sojicultores neste ano, visto que o obstáculo maior ainda é o manejo do fungo, que se beneficia do molhamento foliar contínuo mantido pelas precipitações periódicas

A

ferrugem asiática é considerada uma das doenças de plantas mais importantes do Brasil, devido aos prejuízos que causa à cultura da soja. Considera-se que os produtores de soja já se informaram bastante a respeito desse problema, mesmo em se tratando de uma doença nova no país, com apenas quatro anos de ocorrência. A doença é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Sydow & P. Sydow, que não encontra barreiras impostas por clima, posição geográfica e características genéticas das plantas.

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Por isso, tornou-se tão importante e é hoje controlada fielmente com produtos químicos. A doença apresenta efeito deletério sobre as folhas, reduzindo a área foliar e provocando a queda destas, em curto espaço de tempo após o ataque, o que causa baixa no rendimento de grãos. Nas lavouras em que não se utiliza controle químico, observam-se perdas de até 80%, contudo, podemos observar perdas de 100% naquelas regiões onde ocorrem condições muito propícias ao fungo, como temperaturas amenas e molhamento foliar contínuo acima de 10 horas, além de grandes concentrações de inóculo. As periódicas precipitações têm se mostrado o principal fator de preocupação quando se cultiva soja, pois permitem molhamento foliar contínuo e cujo papel é de fundamental importância no processo de infecção e de multiplicação do fungo. No Mato Grosso, por exemplo, observa-se

que a partir da segunda metade de dezembro até meados de fevereiro as chuvas são mais constantes, o que proporciona molhamento foliar contínuo de mais de oito horas. Esse fato, aliado às grandes áreas plantadas, torna-se sério obstáculo no manejo da doença. Na fase inicial de desenvolvimento da soja, a quantidade de inóculo disponível na atmosfera ainda é incipiente, salvo em áreas próximas a focos da doença. Ao longo do ciclo, essa quantidade tende a aumentar em todas as áreas, alimentada pelas lavouras de soja que foram semeadas antecipadamente. Considerando-se que a doença esteve presente no ano passado (safra 2004/05) em todo o país, produzindo grande quantidade de inóculo, é de se esperar que ocorram várias fontes do fungo nesta época (outubro 2005), pois o fungo sobreviveu em plantas cultivadas, tais como soja ou feijão comum sob irrigação, ou também em soja tigüera e outras hospedeiras [soja perene (Glycine wightii) e guandu (Cajanus cajan)]. O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) tornou pública este ano a recomendação para que os irrigantes evitassem produ-

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Figura 1 - Ferrugem asiática e doenças de final de ciclo (DFC) incidentes em soja de ciclo super precoce, semi tardio e tardio

Fonte: Fundação Rio Verde (Lucas do Rio Verde-MT), 2005.

Fotos Fundação Rio Verde

zir soja no período de 90 dias antes do início da safra 2005/06. Os objetivos eram proporcionar uma diminuição da quantidade de inóculo na entressafra e atender às expectativas dos produtores não irrigantes da safra de verão. Essa recomendação produziu efeito significativo, observando-se que muitos produtores utilizaram suas áreas irrigadas para o cultivo de gramíneas como o milho, trigo ou outras culturas. Contudo, essa medida isolada não deverá erradicar o problema, pois existem muitos focos do fungo em outros hospedeiros, além da impossibilidade de se colocar em prática essa recomendação em todos os municípios. Além disso, muitos irrigantes utilizaram o cultivo de gramíneas em áreas irrigadas, mas deixaram de controlar soja tigüera nestas áreas (Figura 1). Quanto ao controle da doença, o momento da aplicação é o fator de maior importância, pois, se não for realizada uma aplicação preventiva, corre-se o risco de não se conseguir boa eficácia de controle. O monitoramento da doença é de fundamental importância, e, quando se observam os primeiros focos na região de cultivo, aliados a condições propícias ao seu desenvolvimento, devem-se tomar os devidos cuidados. Devido à agressividade, recomenda-se aplicar fungicidas de forma preventiva e evitar ao máximo o controle curativo e, conseqüentemente, as perdas significativas. Recomenda-se, também, considerar o controle de outras doenças regionais. Os fungicidas pertencentes ao grupo químico dos triazóis são muito eficientes e devem ser combinados com estrobilurinas ou benzimidazóis para garantir também o controle de doenças de final de ciclo. Devese salientar, entretanto, que existem triazóis cuja ação é fortemente curativa e outros cuja ação é preventiva, além daqueles que não controlam a doença. Já as misturas de estrobilurinas com os triazóis têm apresentado sinergismo quando aplicados em mistura, alcançando-se melhores resul-

Soja tigüera crescendo em cultivo de milho é alternativa de sobrevivência do fungo causador da ferrugem asiática da soja

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Como o fungo sobrevive na entressafra em hospedeiros alternativos, os ataques acontecem cada vez mais cedo a cada nova safra

tados quando comparados ao uso em separado. Da mesma forma, tem-se observado diferenças no controle da doença quando diferentes misturas são utilizadas. A nutrição equilibrada tem sido apontada como potencializadora do controle químico dos fungicidas para a ferrugem, garantindo reações de defesa das plantas contra o ataque da doença. Trabalhos realizados na Fundação Rio Verde, em Lucas do Rio Verde (MT), não apontaram nenhuma cultivar com potencial para ser indicada como tolerante ou resistente à ferrugem. Ao agricultor, é necessário tornar-se cada vez mais informado e atuante, buscando também aprimorar seu conhecimento sobre as outras do-

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tamento bacteriano, pústula bacteriana, necrose da haste, mancha olho de rã, nematóides de cistos e de galhas, dentre outras, têm sido causas de constantes preo-

TABELA 1 - Fungicidas registrados para o controle da ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi). XXVII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Cornélio Procópio, PR. 2005

Nome Comum

Nome comercial

i.a.1 (g)

p.c.2 (l ou kg)

Grupo3

azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole ciproconazole + propiconazole difenoconazole epoxiconazole fluquinconazole flutriafol myclobutanil pyraclostrobin + epoxiconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tetraconazole tetraconazole tiofanato metílico + flutriafol tiofanato metílico + flutriafol trifloxystrobin + ciproconazole trifloxystrobin + propiconazole

Priori4 Priori Xtra4 Artea Score 250 CE Opus Palisade5 Impact 125 SC Systhane 250 Opera Constant 200 CE Elite 200 CE Folicur 200 CE Orius 250 CE Tríade 200 CE Domark 100 CE Eminent 125 EW Celeiro Impact duo Sphere5 Stratego5

50 60 + 24 24 + 75 50 50 62,5 62,5 100 - 125 66,5 + 25 100 100 100 100 100 40 50 300 + 60 300 + 60 56,2 +24 50 + 50

0,20 0,30 0,30 0,20 0,40 0,25 0,50 0,40 – 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,40 0,50 0,40 0,40 0,60 0,60 0,30 0,40

* *** *** * ** * *** ** *** *** *** *** *** *** ** ** *** *** *** *

cupações dos pesquisadores, na tentativa de aprimorar os conhecimentos e os métodos de controle. Para essas doenças, as informações citadas quanto à ferrugem se aplicam, além de medidas integradas que podem contribuir para uma redução significativa de perdas, tais como o uso de sementes certificadas e tratadas, plantas Fotos Fundação Rio Verde

enças que desempenham papel muito importante regionalmente e podem acarretar grandes prejuízos. Tais doenças, como antracnose, oídio, mela, mancha parda, cres-

A empresa detentora é responsável pelas informações de eficiência dos produtos. 1 g i.a. = gramas de ingrediente ativo 2 l ou kg de p.c.= litros ou kilogramas de produto comercial 3 Agrupamento realizado com base nos ensaios em rede para doenças da soja, safras 2003/04 e 2004/05. (***) - maior que 86% de controle; (**) – 80 a 86% de controle e (*) – 60 a 79 % de controle. 4adicionar Nimbus 0,5% v./v. aplicação via pulverizador tratorizado ou 0,5 L/ha via aérea 5adicionar 250 mL/ha de óleo mineral ou vegetal

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tolerantes ou resistentes, adubação equilibrada, eliminação de plantas hospedeiras, utilização de plantas armadilhas, adequação de época de semeadura, local de plantio, escolha de cultivares dentre outras. Órgãos de pesquisa, universidades, revistas, jornais e internet devem ser consultados para a busca de informações. Traba-

lhos também foram realizados objetivando o monitoramento do desenvolvimento da ferrugem e das doenças de final de ciclo da soja, utilizando-se cultivares pertencentes a diferentes grupos de maturação. Os resultados obtidos foram plotados em figuras para ilustrar o que ocorre em nível de campo (Figura 1). Observa-se uma tendência de ocorrência de maiores escapes das plantas à ferrugem asiática da soja quando se utilizam aquelas cultivares que possuem menores ciclos, tais como as superprecoces. Entretanto, deve-se salientar que isto somente será possível se a soja for semeada na época adequada. Outro ponto

a se destacar é que, se a doença atingir a lavoura na fase de enchimento de grãos, ainda se observam perdas significativas, acima de 10%. Por outro lado, a utilização de cultivares de soja de ciclos mais longos possibilita a ocorrência de grandes perdas em função da doença, pois estas cultivares permanecem no campo por muito mais tempo, e o fungo P. pachyrhizi produz nesC tas plantas cada vez mais inóculo. Mauro Junior Natalino da Costa, Rosana Meneghetti e Patrícia Marques de Lima, Fundação Rio Verde

Rosana, Mauro e Patrícia explicam como o fungo da ferrugem sobrevive na entressafra

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Soja

Ação sob equilíbrio Com papel importante no desenvolvimento do potencial produtivo da soja, o alumínio e o manganês necessitam estar em equilibrio nos solos através da calagem para que não ocorram efeitos contrários aos desejados

O

alumínio (Al) não é considerado um nutriente para os vegetais, como é o manganês (Mn). No entanto, ambos têm importante papel na nutrição das plantas cultivadas, principalmente em solos de regiões tropicais úmidas, bastante intemperizados, pois podem estar em concentrações tóxicas. Por meio das análises químicas do solo, sabe-se que existe correlação inversa entre valores de pH e concentração daqueles elementos presentes nas formas trocáveis e solúveis. Em elevadas concentrações de Al no solo, o desenvolvimento do sistema radicular é negativamente afetado, com aumento do diâmetro das raízes e redução do número daquelas absorventes, dificultando a absorção de nutrientes e de água; enquanto que com Mn a parte aérea é afetada, principalmente as folhas, que se tornam cloróticas e encarquilhadas para baixo. Em levantamento realizado por Gargantini et al., foi constatado que, na maioria dos solos cultivados no estado de São Paulo - 87%, os valores de pH eram menores do que 6,0 e, entre 5,0 e 5,5, em 43% deles, sendo comprovadas as condições bastante ácidas dos solos desse estado. Dessa maneira, há a necessidade de utilização de corretivos, a fim de se obter um adequado desenvolvimento das plantas e um bom aproveitamento das práticas de

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adubação. Com relação aos teores de Al, em cerca de 77% da área verificaram-se problemas de correção da acidez nociva, enquanto que, em 6% dessa mesma área, os teores eram superiores a 10mmolc/kg. De modo geral, o Al em teores tóxicos pode estar localizado em todo o perfil do solo, e sua neutralização é efetivamente obtida com a calagem recomendada na camada arável. Para a correção em camadas mais profundas, são necessárias outras reaplicações, em diversos cultivos, pois os carbonatos oriundos do calcário são de baixa solubilidade, o que dificulta sua lixiviação. Em solo orgânico de várzea, Bataglia et al. constataram teores de 4mmolc/kg de Al, sendo observados sintomas de queima nas folhas de soja, redução do crescimento das plantas e limitação da penetração da raiz principal no solo. Além disso, verificou-se que o diâmetro da raiz pivotante foi bastante aumentado e que o desenvolvimento da raiz principal das cultivares IAC-12, Cristalina e IAC-11 foi paralelo e próximo à superfície do solo, o que torna as plantas indiretamente mais suscetíveis à seca ou a um período de veranico. Por sua vez, observaramse maior capacidade de pe-

netração da raiz pivotante no solo e também formação de nódulos fixadores de nitrogênio na cultivar IAC-Foscarin-31. Nos solos cultivados com a cultura da soja no estado de São Paulo, em geral, há reduzidos teores de Al trocável, e os cultivares IAC são, em média, tolerantes a esse elemento. Em levantamento realizado naquele estado, por Valadares & Camargo, foi verificado teor de Mn solúvel em DTPA variável entre 3 e 193 mg/dm3, em camadas superficiais de solo derivado de rochas básicas. No município de Guaíra (SP), a toxidez de Mn em soja foi observada pela primeira vez em 1973/74 (Mascarenhas et al.). Na Tabela 1, constatam-se elevados teores de Al no solo e de Mn nas folhas no tratamento sem calagem. Aplicando-se 2,5 t/ha de calcário dolomítico, obtiveram-se neutralização do efeito nocivo do Al e redução nos teores de Mn nas folhas; entretanto, os rendimentos em grãos da soja foram similares, tanto sem ou com calagem, em função do elevado teor inicial de Mn. Com a reaplicação da mesma dosagem no ano seguinte, reduziu-se o teor considerado tóxico de Mn, sendo obtido o rendimento de 2.739 kg/ha, enquanto que, na outra área, o rendimento foi de apenas 1.768 kg/ha. Dessa maneira, comprova-se o que já era conhecido na pesquisa: é a necessidade de aplicação de maior quantidade de calcário no solo para neutralização do Mn tóxico do que para a do Al tóxico. Entretanto, não se deve exagerar na dosagem de calagem quando a saturação por bases for maior do que 60%, pois, em conseqüência, pode-se ter acentuada redução na disponibilidade de Mn no solo, com indução de deficiência do mesmo em plantas de soja, conforme observado em solo sob vegetação de cerrado por Tanaka et al. De modo geral, os sintomas de toxidez de Mn são necroses e enrugamento das folhas em soja. Em casos mais severos, tem-se redução da quantidade e da massa das raízes, conforme verificado na cultivar Forrest em relação à Biloxi, esta considerada tolerante ao Mn. Por apresentar aquela característica, a cultivar Forrest foi recomendada por Miran-

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Fotos Hipólito A. A. Mascarenhas

da et al como indicadora da toxicidade de Mn no solo. Mascarenhas et al. desenvolveram uma metodologia em solução nutritiva para discriminação de genótipos de soja tolerantes à toxidez de Mn, utilizando 0,11; 2; 4 e 6 mg/l, na forma de sulfato de manganês. A temperatura de 25°C foi considerada como a ideal para obtenção dos sintomas de toxidez do elemento em plântulas dessa leguminosa e para segregação dos genótipos com a característica avaliada. Os autores identificaram como muito tolerantes as cultivares precoces Davis e IACFoscarin-31, as semi precoces IAC-1 e Bossier, os de ciclo médio Hardee e IAC-4 e, dentre as tardias, a IAC-2. Atualmente, utiliza-se a cultivar IAC-Foscarin-31 em cerca de 20% da área de renovação de cana-de-açúcar, devido à sua tolerância ao Mn. Em confirmação aos resultados anteriormente relatados, verificou-se redução nos rendimentos em grãos da soja, cultivar Santa Rosa, em experimentação de campo na região de Guaíra (SP) sob temperatura de 30°C, sem evidência dos sintomas típicos de toxicidade de Mn, ainda que fossem determinados teores elevados do elemento na análise foliar. Dessa maneira, é possível realizar, com rapidez e eficiência, a seleção preliminar de material genético de soja tolerante em condições de casa de vegetação, em solo com elevado teor de Mn, porém, apenas durante o inverno, quando as temperaturas são mais amenas - inferiores a 22°C, e os sintomas de toxicidade mais evidentes. Gallo et al. verificaram um desempenho diferente de uma leguminosa como a soja e de uma gramínea como o sorgo em relação à presença de Al e Mn no solo. Com a aplicação de 1t/ha de calcário, os rendimentos da soja foram bastante reduzidos, devido aos elevados teores de Mn - considerados tóxicos. Estes foram da ordem de 435 mg/kg, 342 mg/kg e 243 mg/kg nos primeiro, segundo e terceiro anos respectivamente . O rendimento médio nos três anos foi de apenas 1.999 kg/ha. Com a aplicação de 4, 7 e 10 t/ha de calcário dolomítico, obteve-se rendimento maior do que 2.500 kg/ha e os teores foliares de Mn e também os de Al foram reduzidos a níveis não tóxicos. Contrariamente para o sorgo, em que se tem tolerância ao Mn, verificaram-se teores variáveis entre 42 e 50 mg/kg; por outro lado, essa gramínea é muito suscetível ao Al. Com a aplicação de 1 ou de 4 t/ha de calcário, os teores de Al foram mantidos elevados para essa gramínea, com reflexos negativos na produtividade. A diminuição dos teores de Al somente foi constatada com a aplicação de 7 e 10 t/ha de calcário, com conseqüente aumento de produtividade para 2.538 e 4.101 kg/ha de grãos de sorgo, respectivamente. No início da experimentação e após a co-

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Hipólito Mascarenhas, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas Plantas mal nutridas ficam mais expostas à doenças

lheita de grãos de soja, a cultivar IAC-Foscarin-31, no terceiro ano, após rotação com milho, híbrido Cargill-701, e arroz, cultivar IAC165, todos tolerantes ao Al, além da Crotalaria juncea L., em diversas combinações de seqüências de culturas. Observam-se um pequeno aumento no valor de saturação em bases de 34% para 39% e um significativo aumento nos teores de fósforo e de cálcio. Embora a adubação potássica tenha sido realizada sempre em quantidade adequada, não se verificou variação do teor desse elemento, o que pode ser atribuído à absorção pelas plantas e à exportação nos grãos, além da lixiviação no perfil do solo. Os teores dos macronutrientes na análise foliar foram considerados normais para todas as culturas, tanto no início quanto no terceiro ano da experimentação. O rendimento da soja foi quase que totalmente reduzido nos dois primeiros anos, devido a um severo ataque de pássaros na área experimental, não sendo possível obter os dados de produção; no terceiro ano o problema foi resolvido. Não foram reveladas diferenças significativas entre os valores médios de rendimento de grãos de milho, de arroz e de soja IACFoscarin-31, no terceiro ano da experimentação, nos tratamentos de seqüências de culturas, mas apenas entre estes e o respectivo monocultivo de milho e de arroz. Os índices relativos de produtividade são indicativos do desempenho bastante satisfatório das gramíneas arroz e milho, em sucessão de culturas, enquanto que a soja pode ser considerada pouco responsiva nessa prática. Com a inclusão da crotalária júncea nas seqüências não se obteve efeito positivo significativo no rendimento das três graníferas avaliadas. Contudo, na Figura 4, observam-se maior tamanho de espiga e também espiga total e uniformemente preenchida por grãos de milho, colhida em

plantas cultivadas após a crotalária. Embora a acidez do solo na área experimental tenha permanecido muito elevada nos três anos agrícolas, em todas as seqüências e para todas as culturas, a produtividade obtida foi bem superior às médias relatadas no estado de São Paulo. Isso pode ser atribuído à regularidade de chuvas registradas no período e, sobretudo, à tolerância das cultivares de milho, arroz e soja utilizadas à acidez do solo, o que deve ser considerado pelos agricultores. Em estudos recentes de tolerância diferencial ao Al por leguminosas, em solução nutritiva e em casa de vegetação, as cultivares de soja IAC-9 e IAC-13 foram classificadas como tolerantes, e a Biloxi, como moderadamente tolerante (Meda, 2003). Essas observações são concordantes com o constatado há quase 20 anos, em relação à cultivar IAC-9, também em solução nutritiva. Diante do exposto e considerando-se apenas alguns dos resultados positivos da pesquisa, como os anteriormente relatados, cabe salientar que, para o estado de São Paulo: • o Al pode ser fator limitante à produção da soja, mas é facilmente neutralizado desde que se adote a recomendação técnica da calagem; para a correção da toxidez de Mn é necessária uma dosagem maior de corretivo. • dentre as cultivares de soja geradas no passado pelo Instituto Agronômico de Campinas, IAC-9 e IAC-13 são fontes promissoras para futuros estudos de melhoramento genético, visando tolerância ao Al, enquanto que o IAC-Foscarin-31 visando também ao C Mn. Hipólito A. A. Mascarenhas, Roberto T.Tanaka, Elaine Bahia Wutke, Nelson R. Braga, Manuel A.C. de Miranda e Hamilton Kikuti, IAC

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Arroz

Pulga no arroz Ocorrendo no período que antecede a inundação, o pulgão-da-raiz suga a seiva das raízes, causando amarelecimento ou secamento das folhas e comprometendo o estabelecimento da lavoura

A

primeira constatação do pulgãoda-raiz em nível populacional capaz de causar danos significativos à cultura do arroz irrigado, no Rio Grande do Sul, ocorreu no ano de 1993, na região da Fronteira Oeste, localidade de Guterrez, então município de Uruguaiana (RS), hoje Barra do Quaraí (RS), conforme constatado por José Luiz Moraes. Na época, o pesquisador realizou um levantamento a campo, para avaliar a extensão da infestação, e coletou alguns exemplares do inseto, os quais identificou como da espécie Rhopalosiphum rufiabdominale (Sasaki, 1899) (Hemiptera: Aphididae). O arrozal, como tantos outros no decorrer dos últimos anos, encontrava-se com alta infestação na coroa das taipas e nos quadros (espaço entre as taipas), apresentando plantas com coloração de avermelhada a ocre. As folhas das partes mais de baixo das plantas apresentavam sintomas assemelhados aos de um derramamento de óleo combustível. Posteriormente, há cerca de cinco anos, foram constatados surtos populacionais do pulgão-daraiz em lavouras da localidade de Ponche Verde, no município de Dom Pedrito, o que indicou que a praga encontrava-

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se em processo de expansão no estado. Em lavouras de arroz irrigado, no Rio Grande do Sul, o pulgão-da-raiz surge no período que antecede a inundação, mantendo o mesmo padrão de ataque e de distribuição na lavoura originalmente constatados em 1993. O inseto suga a seiva das raízes, causando amarelecimento ou secamento das folhas e, em casos de infestações mais severas, a morte de quantidade significativa de plantas, comprometendo o estabelecimento da cultura. Na época em que a espécie R. rufiabdominale foi constatada pela primeira vez, na Fronteira Oeste, e bem há pouco tempo, o período entre a emergência das plantas de arroz e a entrada d’água na lavoura era mais longo e favorecia o estabelecimento de pragas de solo, incluindo elevada infestação do pulgão-da-raiz nos quadros. Atualmente, em decorrência de alterações no sistema de manejo da água de irrigação, preconizadas por algumas instituições, que incluem a entrada d’água mais precocemente na lavoura, ou seja, quando as plantas atingem a

3ª folha, as infestações do pulgão-da-raiz têm sido minimizadas. Mesmo assim, o inseto mantém-se presente nos arrozais. Desloca-se das partes inundadas à coroa das taipas, onde sobrevive mesmo em condições de solo encharcado, alimentando-se de plantas de arroz cultivado ou de capim-arroz, que crescem sobre as mesmas, não havendo medidas de controle eficientes para essas situações. Na região da Fronteira Oeste, o inseto ainda tem sido encontrado na soca do arroz, em azevém e numa espécie de roseta nativa, os quais possivelmente sirvam de hospedeiros alternativos no inverno. O tratamento de sementes com inseticidas tem sido vislumbrado como uma das alternativas para controle do inseto, porém não há produtos registrados para uso com este fim na cultura do arroz irrigado. Mesmo havendo escassez de informação sobre medidas de controle do pulgãoda-raiz em arroz irrigado, outros aspectos que influenciam a população do inseto assumem grande importância para o seu manejo na cultura, devendo ser considerado: a) que as primeiras lavouras implantadas em uma determinada safra e região orizícola

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BIOLOGIA Fotos Flávio Haas

O

pulgão-da-raiz é um inseto áptero ou alado, de aproximadamente 2 mm de comprimento, corpo pouco esclerotizado (mole) e coloração verde-escura (meio avermelhado) no abdômen. Durante a entressafra, antes de infestar plantas de arroz, permanece em espécies de plantas daninhas, principalmente poáceas, como o capim-arroz Echinochloa sp., as quais servem para alimentação e reprodução. O inseto pode atingir níveis populacionais prejudiciais (condição de praga) em cultivos de arroz irrigado por inundação e em arroz de terras, predominantes na Região Sul (várzeas subtropicais) e Central do Brasil (Cerrados), respectivamente. Forma colônias (próximo à superfície do solo), na fase inicial da cultura, atacando o sistema radicular das plantas.

Sintoma semelhante ao de um derramanento de óleo nas partes debaixo da planta e amarelamento são indicações do ataque do pulgão

O pulgão-da-raiz (Rhopalosiphum rufiabdominale) ataca o sistema radicular da planta

ência no controle do pulgão-da-raiz. O ideal seria identificar produtos altamente eficientes no controle de insetos-pragas de solo, tanto dos que ocorrem na fase pré-inundação do arrozal (ex. pulgão-da-raiz) como os da fase de pós-inundação (bicheira-da-raiz). Porém, na seleção e recomendação de inseticidas para tratamento de sementes de arroz, torna-se importante considerar, além da eficiência no controle de insetos-pragas de solo, o custo do produto e o grau de segurança ambiental que ele possa oferecer. Ao final recomenda-se que o sistema de controle do pulgão-da-raiz não se resuma apenas ao uso do tratamento de sementes com inseticidas químicos. Para definir uma melhor estratégia de manejo do inseto, torna-se prioritário ampliar as linhas de pesquisa, principalmente sobre

bioecologia. Nesse contexto há necessidade de obter conhecimento sobre as relações entre a dinâmica populacional do inseto e as diferentes condições ambientais do ecossistema de arroz irrigado, incluindo desde fatores naturais (temperatura, radiação, direção do vento, hospedeiros alternativos, inimigos naturais, ....) a peculiaridades dos sistemas de cultivo (cultivar utilizada, época de semeadura, topografia do terreno, cultivo sobre taipas ou não, época de inundação, infestação por plantas daninhas, ....) C

José Francisco da Silva Martins, Embrapa Arroz e Feijão Uemerson Silva da Cunha, UFPel José Luiz Moraes, Rural Consultoria Charles Echer

tendem a ser as mais prejudicadas, em vista da evidência de que as maiores infestações do inseto estão associadas a temperaturas mais amenas (cerca de 18 ºC); b) que a inundação da lavoura, três a cinco dias após a emergência das plantas de arroz, pode interromper o aumento populacional do inseto; c) que plantas daninhas, como o capim-arroz, podem servir de hospedeiras do inseto; d) que algum inseticida, preferencialmente sistêmico, recomendado para o tratamento de sementes de arroz irrigado, visando ao controle de larvas de Oryzophagus oryzae (bicheira-da-raiz), possa também controlar o pulgão-da-raiz. Segundo a publicação Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil (versão 2003), dois inseticidas estão registrados para controle de O. oryzae em arroz irrigado via tratamento de sementes: Fipronil (Standak 250 FS: 40 g i.a/100 kg) e Imidacloprido (Gaucho 700 PM: 210 g i.a/100 kg). Portanto, esses inseticidas e outros ainda não registrados para uso na cultura do arroz irrigado devem ser avaliados quanto à efici-

Lavouras de arroz entre a emergência e a inundação estão mais sujeitas ao ataque de R. rufiabdominale

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José Francisco Martins é pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão

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Especial

Negócios

Reunião comercial Solferti

A Solferti dá um novo passo no seu planejamento estratégico com a realização de Reunião Comercial, ocorrida nos dias 06 e 07 de outubro de 2005, nas dependências das novas instalações da empresa, onde reuniram-se diretoria, gerências, coordenadores, técnicos, profissionais de vendas e demais colaboradores externos e internos. A reunião comercial teve como objetivos, dar novo impulso às metas estabelecidas na V Convenção Anual de Vendas, mostrar os avanços conseguidos nos primeiros meses da safra agrícola 2005/06; apresentar novas parcerias e projetos; execução e melhorias dos trabalhos do departamento financeiro e enfatizar o lema da empresa: crescimento, cooperação, comprometimento e responsabilidade para atendermos às necessidades da agricultura moderna. A reunião foi encerrada com a entrega do prêmio da Campanha de Vendas Phytosol 1º Trimestre de 2005 ao Sr. Jacir Rebelatto, em nome do cliente Agro Sol Comércio Insumos Agrícolas da cidade de Xanxerê (SC).

II Simpósio Sul-Brasileiro da Qualidade do Arroz

A Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, da Universidade Federal de Pelotas (FAEM-UFPEL), em Capão do Leão (RS), realiza, entre os dias 23 e 25 de novembro de 2005, durante a comemoração de seus 122 anos de atividades, o II Simpósio Sul-Brasileiro da Qualidade do Arroz. Promovido pela Associação Brasileira de Pós-Colheita (Abrapós), o evento tem o objetivo de debater com a cadeia produtiva do arroz soluções para as perdas qualitativas e quantitativas dos grãos. Segundo realizadores, durante as operações de colheita, transporte e armazenamento, no Brasil, quase 20% da produção anual de grãos são perdidos, sem considerar as perdas ocorridas na industrialização e no próprio local de consumo. Entretanto, informações sobre ações isoladas de colheita, secagem, armazenamento e industrialização e sobre alterações na qualidade dos grãos devem ser apresentadas no Simpósio, para a busca de melhorias de eficiência na cadeia produtiva. Informações podem ser obtidas nos e-mails volnei_meneghetti@terra.com.br ou eliasmc@ufpel.tche.br ou ainda pelo telefone (53) 3275 7171.

Girassol: obra completa A Embrapa Soja lança a mais completa obra sobre girassol. A apresentação de “Girassol no Brasil” ocorreu durante a XVI Reunião Nacional de Pesquisa de Girassol, promovida e realizada pela Embrapa Soja, em outubro ùltimo, em Londrina (PR). O livro possui 641 páginas, reunindo 19 capítulos de 38 autores, e pretende possibilitar o acesso às tecnologias, aos conhecimentos gerados e às experiências adquiridas pela Embrapa Soja e por diversas instituições parceiras, como a Universidade Estadual de Londrina e a Universidade Federal de Minas Gerais, sobre a cultura do girassol. Abordando inicialmente a trajetória do girassol no mundo, a obra passa pelas ações de pesquisas, aspectos de economia e mercado, pelos diferentes usos do girassol nas alimentações humana e animal, fonte renovável de energia, além de conhecimentos teóricos e práticos relativos à ecofisiologia da planta, à genética e suas implicações no desenvolvimento de cultivares, às exigências nutricionais e às questões fitossanitárias, desde a semente até a colheita. Exemplares podem ser adquiridos no setor de publicações da Embrapa Soja pelo fone: (43) 3371-6119 ou vendas@cnpso.embrapa.br

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Agronegócios

Nanotecnologia

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ocê pode imaginar um mercado de 1,5 trilhão de dólares daqui a dez anos, quando hoje ele, praticamente, inexiste? Imagine tinta que não risca, embalagens que mudam de cor quando o alimento estraga, plásticos biodegradáveis e mais resistentes do que o aço, tecidos que não mancham, não sujam e podem aquecer ou esfriar – automaticamente! – em reação aos sinais vitais do usuário e ao clima ambiente? Você pode imaginar nanorrobôs andando pelo seu sangue? Cruzando com nanocâmeras de vídeo ou nanolaboratórios de análises clínicas? Pois comece a imaginar!

VELOCIDADE DA LUZ Quem não se acostumar, vai estranhar cada vez mais. A velocidade com que a ciência descarrega novos produtos e ferramentas no nosso cotidiano acelera-se a taxas impensáveis. Nem bem esgotamos totalmente a discussão sobre biotecnologia e já somos chamados a discutir a nanotecnologia. E não há muito tempo para digerirmos os conceitos, porque logo seremos exigidos a nos posicionar contra ou favoravelmente. E com rapidez, porque em seguida surgirá outro paradigma científico que ocupará o espaço dominante. Para deixar bem claro meu posicionamento, esclareço liminarmente que, em minha visão de futuro, os próximos 15 anos serão dominados por um conjunto de ferramentas que envolve tecnologia da informação, biotecnologia e nanotecnologia. E não apenas no agronegócio e na saúde, porém em inúmeros aspectos do dia-a-dia do nosso mundo real.

CONCEITO Nanotecnologia é um conjunto de ferramentas emergentes que nos permitirá criar e manipular materiais e estruturas no plano molecular, muitas vezes no nível atômico. Consideramse como nano as tecnologias que se valem de estruturas entre 1 e mil nm. Por exemplo, os nanotubos de carbono são moléculas cilíndricas de carbono, com propriedades que os tornam potencialmente úteis em aplicações mecânicas e eletrônicas em escala microscópica. Eles apresentam descomunal resistência mecânica, propriedades elétricas únicas e são eficientes condu-

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tores de calor. Como no caso da biotecnologia, os cientistas que lidam com ferramentas nanotecnológicas nada mais fazem que inspirar-se na Natureza que, há milhões de anos, lida com eventos nanotecnológicos. Por exemplo, através do arranjo de átomos e moléculas, os sistemas biológicos combinam eventos da química em ambientes aquosos com a eletroquímica, formando a base da vida. Inspirando-se nos nanossistemas naturais, a ciência está desenvolvendo materiais e estruturas de autocontrole, automonitoramento ou auto-ajuste.

MICROFLUÍDOS Vejamos apenas dois exemplos. Para desenvolver uma das aplicações da nanotecnologia, os cientistas observaram que a viscosidade dos líquidos é alterada na nanoescala. Por exemplo, no

“A velocidade com que a ciência descarrega novos produtos e ferramentas no nosso cotidiano acelera-se a taxas impensáveis” espaço intercelular os líquidos comportam-se como se fossem mais viscosos. Quando dois ou mais canais microfluídicos convergem, seus conteúdos não se misturam facilmente, pelas propriedades do fluxo laminar. Assim, essa propriedade pode ser usada para construir microcanais fluídicos, úteis em biologia celular, permitindo diagnósticos exatos, testes precisos de novos medicamentos ou agrotóxicos, manipulação ou processamento de DNA, monitoramento de alimentos, suprimento de água, controle da sanidade vegetal e saúde animal e controle ambiental. Exemplos atuais são o seu uso na fertilização in vitro e a tecnologia de análise química de microamostras (Lab-

on-a-chip).

BIOMÁQUINAS Os cientistas já desenvolvem bombas, rotores, sensores e alavancas, na escala micrométrica, sendo questão de tempo a sua miniaturização. A sua integração com sistemas biológicos permitirá a captura ou a liberação de nanopartículas nos organismos vivos. Um dos usos em desenvolvimento são os biochips, que descortinam a integração da biotecnologia com a informática, na escala nanométrica. Outra aplicação é a bioengenharia de ácidos nucléicos, ou seja, ao invés de moldar o silício inorgânico (matéria-prima dos chips), os cientistas utilizarão ácidos nucléicos como “tijolos” das biomáquinas, modelando biofios e biomembranas isolantes, com infinitas aplicações no agronegócio.

O FUTURO A agricultura é uma das atividades humanas que mais será beneficiada pelo avanço da nanotecnologia. Suas aplicações incluem a redução de impacto ambiental, a detecção de patógenos ou insetos-pragas, o desenvolvimento de sistemas de produção animal e vegetal mais precisos, o bioprocessamento, a biossegurança, conduzindo a sistemas agrícolas sustentáveis. Igualmente, o processamento de produtos agrícolas será muito beneficiado com a nanotecnologia, permitindo a produção de alimentos de elevada qualidade e atendendo às exigências de inocuidade. Portanto, seja bem-vindo a um mercado de 1,5 trilhão de dólares!

Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Coluna Aenda

Defensivos Agrícolas

Réquiem para o Chlorpyrifos Os pesticidas e seus ambientes legais

A

complexidade das diferenças entre as leis que regem os espaços macrocosmológicos e os microquânticos deixa os físicos malucos. Uma parte deles tenta explicar essas diferenças concebendo a idéia da existência de universos paralelos. Pode até ser uma concepção delirante, mas nem tanto, aqui mesmo, no nosso mundo dos pesticidas eles coexistem. No ambiente domiciliar e urbano, os produtos são saneantes desinfestantes e seguem a Lei 6.360/1976, cujo guardião é o Ministério da Saúde; já no ambiente zoo pontuam os produtos veterinários, regidos pelo Decreto-Lei 467/1969, com comando executivo do Ministério da Agricultura; enquanto no universo das lavouras agrícolas nascem e morrem os agrotóxicos, disciplinados pela Lei 7.802/89, com triplo comando: Mapa, Ibama e Anvisa. São leis diferentes para universos paralelos. Mesmo albergando astros-produtos de natureza química semelhantes, têm ambientes tão diversos que os cientistas não sabem unificá-las.

ACOMPANHEM A NARRATIVA E AVALIEM A família dos pesticidas organofosforados já é carta a ser descartada pelas grandes empresas que dominam o mercado. Famílias novas prosperam, até se transformarem em produtos genéricos, com preços baixos e, pior, lucros pequenos – espinhos que incomodam o sistema capitalista oligopolizado. O Clorpirifós, um dos relativamente menos agressivos à saúde e mais eficientes biocidas organofosforados, ainda sobrevive, apesar do desprezo e abandono dos seus criadores e do cerrado tiroteio das coniventes agências reguladoras. Nos últimos anos esse produto passou por uma reavaliação dentro do universo fitossanitário. Para mitigar riscos à população, foram excluídas de sua monografia as culturas de feijão, maçã e tomate. Meses depois, a Anvisa, convencida de que os relatos de intoxicações eram mais fruto da má apli-

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cação por parte do lavrador e não do potencial de agressividade intrínseco do produto, retirou as culturas do castigo e absolveu o Clorpirifós, desde que as pulverizações não fossem via os perigosos aplicadores costais. Lagartas, pulgões, cochonilhas não se livraram desse algoz. Todavia, um acidente ocorreu no final dos anos 90, em Porto Alegre (RS). Universo domissanitário. Um Zé Bombinha foi contratado para aplicar desinfestante em postos de saúde de uma rede hospitalar. As formigas, os cupins e as baratas estavam irritando pacientes e funcionários. Azar ge-

“Azar geral, muitos funcionários se queixaram de desconforto e de diversos sintomas”

qualquer outra coisa, inconfessável. Enfim, o Zé Bombinha não soube confirmar que produto utilizou, e os investigadores recorreram a sofisticados cromatógrafos e analisaram as poeiras das mesas, dos rodapés, das caixas de papelão nos almoxarifados, até encontrar vestígio de pesticida. Em uma amostra apareceu o Clorpirifós, o qual foi imediatamente associado aos sintomas relatados (a bula do produto aponta também esses sintomas), e conclusão dos Sherlocks de plantão: o Clorpirifós foi o agente culposo. O Zé Bombinha fugiu, ninguém sabe dele. A Justiça apertou a Anvisa. A Anvisa aproveitou a reavaliação em curso no universo fito e baniu o produto no universo domi. A Aenda, que não sabia de nada até então, se manifestou dizendo que a reavaliação era de outro universo e que fosse respeitada a lei do universo domi. Mas o rolo compressor já estava com velocidade, e não foi possível pará-lo. Mas como, as leis não são diferentes? São, mas a Justiça às vezes é indiferente. Foi pesticida, foi agrotóxico, e, em especial esses que não dão bons lucros, pau neles! Banimento de imediato, sem fase de transição. Sobrou para as empresas, que engoliram os estoques, e algumas deram sinais de falência financeira generalizada. Paralelamente, no universo zoosanitário, o Clorpirifós continua sendo um carrapaticida com custo-benefício mais apropriado aos recursos do homem rural. E, além do mais, animal que não apresenta sinais claros não pode ser considerado intoxicado. Lembre-se de que os animais não contam os sintomas. Já ouviu algum jegue reclamar de dor de cabeça ou ter ficado impotente? O diagnóstico errado aqui é mais difícil. Os cientistas não sabem unificar as leis, mas a Justiça e a Anvisa dão mostras de que conseguiram criar um outro universo. Um onde tudo pode, C o universo do caos.

ral, muitos funcionários se queixaram de desconforto e de diversos sintomas. Fato curioso é que os pacientes nada acusaram. Os laudos processuais não comprovam se realmente foi o Clorpirifós o biocida usado (O leitor já teve dor de cabeça, fraqueza, mal estar? Se observou esses três sintomas recentemente, cuidado, pois pode não ser doença orgânica e sim estar sendo vitimado por um venenoso organofosforado, que desabercebidamente respirou em seu condomínio residencial). O Zé Bombinha deve ter usado um piretróide, pois a aplicação era em um hospital, e o mais usual era lançar mão de uma família toxicologicamente menos agressiva. Mas esqueceu que certos piretróides são mal cheirosos e podem despertar reações psicossomáticas, conhecidas por Síndrome da Exposição a Múltiplas Substâncias Tulio Teixeira de Oliveira, Químicas. Pode, também, ter usado Diretor Executivo da AENDA

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Agricultura tomando espaço no setor energético O forte avanço dos preços do petróleo estão despertando um potencial adormecido do setor agrícola de energia, que não estava sendo bem aproveitado, o qual basicamente no Brasil vinha sendo usado pelo setor da cana, com a produção do álcool. Agora, com a crise energética, abre-se nova frente para o setor dos grãos, com o etanol no milho e o biodiesel das oleaginosas. A legislação ambiental está cada dia mais rígida, com isso, o uso de álcool na gasolina e de biodiesel no diesel será uma regra geral. Um exemplo prático que podemos apontar vem dos EUA, com o etanol do milho. Na safra 2001/02, o milho usado para etanol representava 18,5 milhões de t, e agora, na safra 2005/06, há projeções de consumo de 38 milhões de t de milho para esse fim, mas alguns analistas de energia apontam que essa estimativa deve ser superada nos EUA. No mês de agosto último, essa produção foi de 260 mil barris por dia, contra os 225 mil de agosto de 2004. Se esse ritmo se mantiver, as expectativas de crescimento serão superadas. Com o petróleo acima do US$ 60,00 por barril, como tem se mantido nos últimos meses, abre-se um grande espaço para o setor agrícola de energia, e, com isso, deve haver ganhos nas cotações médias a serem praticadas nos próximos anos para todos os grãos, porque sempre a alta de um puxa a demanda de outro, e no geral todos saem ganhando. MILHO Cereais de inverno ganhando espaço O mercado do milho, que neste ano tinha tudo para dar boa rentabilidade aos produtores, com um quadro de oferta e demanda ajustado, que chegará ao final do ano comercial com estoques baixos e consumo de produto da safra nova antes de encerrarmos este ciclo, vem se enroscando em cima de problemas que não o deixaram crescer e, agora, caminha para fechar o ano em ritmo lento. Em outubro e, agora, em novembro, o setor sofre com os cereais de inverno, ou seja, trigo, triticale e cevada, que foram afetados pelas chuvas em excesso e não estão dando qualidade para os moinhos e indústrias de cerveja. Dessa forma, grandes volumes estão sendo encaminhados para ração, onde já se comenta que poderá chegar a 500 mil t , deixando o setor que mais consome milho no Brasil bem abastecido e, assim, limitando as cotações do milho no mercado interno. SOJA Menos de 20% para negociar A comercialização da soja vem andando a conta-gotas neste ano, com os produtores fechando “das mãos para boca” dentro das necessidades do setor para quitar dívidas e comprar insumos. E estamos chegando a novembro com menos de 20% da safra para ser comercializada, ou seja, com menos de 10 milhões de t para os próximos quatro meses, quando entra no mercado a nova safra. Com isso poderemos ter em algumas regiões falta de soja para a indústria operar. Assim, há chances de alguns ganhos nos indicativos pelos produtores. A safra nova até agora negociou menos de 15% contra mais de 25% de anos anteriores, ou seja, só fechou posições de troca por insumos e quase nada de fixação de cotação. FEIJÃO Safra chegando em SP A colheita da safra paulista do feijão está

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em andamento, e neste ano o plantio cresceu para níveis entre 80 e 100 mil hectares. Alguns indicativos apontam valores acima destes contra pouco mais de 45 mil do ano passado. Como neste ano o clima favoreceu as lavouras com chuvas regulares, houve pouca necessidade de irrigação, e assim a colheita está chegando em boas condições, indicando boa produtividade e qualidade. Enquanto isso, os comerciantes aproveitaram para forçar os indicativos para baixo, porque parte da safra de MG continuou chegando, e, assim, o mercado tende a ficar ofertado nas próximas semanas, e somente problemas na colheita poderão dar espaço para alta. Os indicativos apontam entre os R$ 50 e 60 aos produtores, e estes devendo pressionar para conseguir números maiores, porque neste momento somente o Norte do Paraná e São Paulo tem feijão.

ARROZ Estoques oficiais em alta Nas últimas semanas, o Governo entrou comprando arroz para dar liquidez aos produtores e, com isso, promoveu ligeiro ajuste nos indicativos praticados, mas não tem conseguido puxar as cotações acima do Preço Mínimo. O Governo fez AGFs, mas para os produtores é tarde, porque veio com oito meses de atraso. Novamente o Governo usou o setor arrozeiro para segurar a inflação e não seguiu a política agrícola que obriga a liberação de recursos na colheita para a garantia dos Preços Mínimos e, assim, promoveu uma descapitalização dos produtores, que continuam vendo os indicativos entre os R$ 15/17, no Sul, os R$ 13/16, no Centro-Oeste, e poucos conseguindo acima.

CURTAS E BOAS SOJA - O USDA divulgou a safra americana em 80,7 milhões de t. Com isso a soja segue projetando 220,8 milhões de t, mas deve-se levar em consideração o Brasil, com 60 milhões de t, e a Argentina com 40,5 milhões, ambos acima do que trabalha o mercado local. ALGODÃO - Os produtores brasileiros reclamam que o câmbio em baixa deverá ser o fator limitante do novo plantio, e, mesmo com expectativa de forte queda na produção mundial dos 120,4 para os 111,4 milhões de fardos, neste novo ano não deverá alterar o quadro de leve queda no plantio brasileiro. TRIGO - As chuvas na colheita causaram grandes perdas na qualidade da safra. Com isso, estão baixos os preços praticados aos produtores, que estão tendo que entregar parte da colheita para o setor de ração, e, com isso, cotações baixas entre os R$ 12 e R$ 15 por saca do Chuvado e entre os R$ 16/18 para os moinhos e pouco fôlego no curto prazo. O Brasil já importou 4 milhões de t da Argentina neste ano e, com o câmbio barato, continua sendo a fonte de abastecimento dos moinhos. CHINA - A economia continua crescendo acima das expectativas na Ásia, aumentando o potencial de demanda de alimentos. A soja caminha para ser um dos destaques, com grande interesse dos chineses pela safra nova dos EUA, que já está sendo negociada. Inicialmente o mercado aponta para 27,5 milhões de t a serem importadas em 2005/06. ARGENTINA - A safra 2005/06 está com o plantio em bom ritmo, com o milho chegando ao final, e agora a soja tomando forças, também mostrando o fechamento das áreas com arroz, com indicativos de que a soja feche entre 15 e 15,3 milhões de hectares, e o milho ao redor dos 3 milhões, e cerca de 166 mil ha de arroz. Com queda nos dois últimos e crescimento na soja.

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