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Cultivar Grandes Culturas • Ano VII • Nº 79 • Dezembro 2005/Janeiro 2006 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

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Foto Capa / Montagem Cristiano Ceia

Adaptação constante Saiba porque é tão difícil realizar o controle completo da lagarta-do-cartucho

12 Cana carbonizada Saiba como evitar e controlar o carvão da cana, doença que ocorre principalmente em condições de seca e brotação

Nossos cadernos

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Fotos de Capa

Ataque sob estresse

Leila Dinardo

Conheça os fatores que favorecem o aparecimento da brusone em arroz, doença que ataca em todos os estágios

Charles Echer

26 O poder químico Conheça o resultado do comparativo dos principais fungicidas indicados para a ferrugem da soja

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO CGCMF: 02783227/0001-86 3028.4013/3028.4015 Insc. Est.• ASSINATURAS: 093/0309480 Rua:3028.4010/3028.4011 Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 • GERAL

Direção 3028.4013 • REDAÇÃO: Newton Peter Schubert 3028.4002 K. Peter / 3028.4003 • MARKETING:

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www.cultivar.inf.br 3028.4001 cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00 Nossos Telefones: (53)

Índice

REDAÇÃO • Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Diretas

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Controle da lagarta-do-cartucho em milho

08

Controle do carvão em cana

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Ataque do brusone no arroz

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COMERCIAL

Negócios

19

Sedeli Feijó Silvia Primeira

• Revisão

Silvia Pinto

Pedro Batistin

Controle da lagarta falsa medideira em soja 20

• Geral 3028.2000

Adubação da soja na pré semeadura

24

CIRCULAÇÃO

• Assinaturas: 3028.2070

Comparativo de controle na ferrugem

26

Cibele Oliveira da Costa

• Redação: 3028.2060

Situação atual da ferrugem asiática

30

• Marketing: 3028.2065

Ferrugem nos EUA

32

Biotecnologia em algodão

37

Lançamento Milenia

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Molécula

42

Coluna Agronegócios

44

Coluna Aenda

45

Mercado Agrícola

42

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

• Gerente

• Assinaturas

Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.




Diretas

Doenças de Soja A Embrapa Soja lança o Manual de Identificação de Doenças da Soja. Com fotos e textos explicativos, o livro apresenta formato de bolso para facilitar o manuseio a campo. São 72 páginas, descrevendo 24 doenças fúngicas, duas bacterianas, cinco viróticas e três causadas por nematóides, com destaque para sintomas, condições propícias para o desenvolvimento e medidas de controle. Informações: (43) 33716119 ou vendas@cnpso.embrapa.br

Lançamento Cheminova lançou o Impact Duo, fungicida de duplo impacto contra principais doenças da soja. Impact Duo é um fungicida à base de Flutriafol e Tiofanato Metílico que proporciona alta sistemicidade, amplo espectro de controle, flexibilidade de uso e alta seletividade à cultura da soja.

Prêmio MasterCana Brasil A Bayer CropScience é uma das vencedoras do prêmio MasterCana Brasil 2005, considerado um dos principais reconhecimentos do setor sucroalcooleiro no país. A empresa recebeu quatro prêmios, vencendo nas categorias Produto Agrícola – Herbicidas, Produto Agrícola – Inseticidas/Nematicidas, Produto Agrícola – Maturadores e Reguladores de Crescimento e Destaque Inovação Tecnológica.

Cool Seed A Cool Seed apresentou no II Simpósio Sul-Brasilieiro de Qualidade de Arroz o processo comercial de resfriar a semente, desenvolvido pela empresa, para assim minimizar o problema de deterioração das mesmas. Várias empresas no Brasil já estão adotando o sistema, em que a semente é resfriada de 30°C para 15°C em Adriano Afonso e Antonio Pomina poucas horas.

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Ambiente protegido A Bayer foi incluída no Índice de Liderança Climática, o primeiro índice de ações globais para a proteção do clima, em reconhecimento a seus esforços na redução dos gases responsáveis pelo “efeito estufa”. Em termos de emissões desses gases, a Bayer foi além das metas especificadas pelo Protocolo de Kioto e pelo Comitê de Investigação do German Bundestag: o objetivo era reduzir em 25% o nível das emissões na Alemanha, no período de 1990 até 2005, e em 50%, até 2020. A Bayer já reduziu as emissões dos gases do efeito estufa no mundo inteiro em mais de 60%.

Rastreabilidade Acontece no dia 9 de dezembro, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/ USP), o seminário Rastreabilidade da Informação em Cadeias Produtivas do Agronegócio. O objetivo é discutir o papel das Tecnologias de Informação (TI) como ferramenta de apoio à implantação da rastreabilidade de produtos agrícolas e animais. Será no Anfiteatro do Edifício da Engenharia Elétrica da Poli Cidade Universitária, São Paulo (SP). Informações: (11) 30915294/9088 ou www.pcs.usp.br/~laa/ rastreabilidade

Seminário A Associação Brasileira de Pós-colheita (Abrapós) promoveu em novembro, no auditório da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o II Simpósio Sul-Brasileiro de Qualidade de Arroz. O evento discutiu com a cadeia produtiva do cereal soluções para as perdas quantitativas e qualitativas dos grãos.

Livro “O futuro da pesquisa agropecuária brasileira” é a mais recente obra lançada pela Embrapa. A obra tem coordenação de pesquisadores da Empresa, além de contar com a participação de estudiosos das universidades americanas de Michigan e de Purdue e ainda da Universidade de Brasília. Coordenadores e gerentes de sistemas nacionais públicos e privados de pesquisa agrícola e desenvolvimento rural constituem o público-alvo do estudo. Mais informações: (61) 3340-9999

Priori Xtra para café A Syngenta amplia seu leque de proteção de plantas, dessa vez ajudando os cafeicultores a enfrentar com mais eficiência a ferrugem e outras doenças da cultura. Priori Xtra, antes com registro somente para as culturas da soja e do trigo, agora passa a beneficiar também o café. O fungicida que reúne o ciproconazol e a azoxistrobina é o mais novo investimento da empresa e já mostra alto índice de satisfação entre os agricultores, graças a resultados no campo.

Integração

Fanair

Solferti recebe a visita da empresa paraguaia Agro Link em seu parque fabril. Durante a estadia, a equipe da Agro Link pode conhecer de perto equipamentos e tecnologias que são utilizados na fabricação dos produtos da marca SOL. O sucesso da visita, comemorado com um almoço de confraternização, foi considerado “absoluto” por parte das empresas. A Solferti afirma que, a cada ano, vem gerando belos frutos, como a amizade, a integração, a confraternização e o crescimento de todos.

A Fanair apresentou no II Simpósio Sul-Brasileiro de Qualidade de Arroz, em Pelotas, o aerador eólico Cycloar, renovador de ar natural acionado pela energia eólica. Indicado para renovação de ar (ventilação) no interior dos ambientes, de maneira ininterrupta, mantendo o equilíbrio entre temperaturas interna e externa, especialmente desenvolvido para resistir às intempéries e ter alta durabilidade. De acordo com Werner Hulmann, inventor do equipamento, o mercado está receptivo à nova tecnologia, uma vez que diminui as perdas para o produtor durante o armazenamento da safra. Werner, Jader e Julio

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Milho

Adaptação constante U

ma particularidade da cultura do milho no Brasil é a diversidade dos sistemas de produção, pois, ao contrário da cultura da soja, onde predominam grandes produtores e alta tecnologia, a cultura do milho no país é praticada desde o agricultor de subsistência até o produtor de alta tecnologia, que tem perfil empresarial. O milharal é atacado por pragas desde a semente até a espiga, constituindo um problema também no armazenamento do grão. No entanto, a maior “dor de cabeça”, tanto para os pequenos como para os grandes produtores de milho, é a ocorrência freqüente e constante da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda. Também conhecida como lagartados-milharais ou lagarta-militar, é uma praga cosmopolita que ataca culturas de importância econômica em vários países. No Brasil, além do milho, um dos principais prejudicados, essa praga é encontrada atacando plantas de arroz, algodão, sorgo, entre outras.

CONTROLE PRATICADO O problema dessa praga no milho tem se agravado devido à falta de êxito por parte dos

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produtores e técnicos no seu controle. Um dos fatores se deve ao fato de o milho ser plantado o ano todo no país (Safra/Safrinha/Inverno), além do renascimento da cultura do algodão no Cerrado brasileiro, onde também é problema sério, e o controle é difícil. Assim, basta a praga atravessar pontes biológicas entre os ciclos produtivos para encontrar condições de proliferação. A safrinha e a safra de inverno são mais prejudicadas em razão de menor precipitação, quando as plantas são mais sensíveis à desfolha provocada pelas lagartas. Outra grande dificuldade de controle dessa praga ocorre pela sua incrível capacidade de adaptação às mais diversas situações de cultivo e aos diferentes hospedeiros, como nos casos de sua mudança de hábito no milho, conforme relatado, quando as lagartas passam a atacar o colmo das plantas rente ao solo ou às espigas. O seu controle em milho tem sido realizado quase que exclusivamente com produtos químicos, que são aplicados logo que detectada sua ocorrência, em muitos casos

A facilidade de adaptação da lagarta-do-cartucho a diferentes hospedeiros e formas de cultivo, somada ao cultivo sucessivo de milho, dificulta o controle devido à resistência que a praga vem apresentando a determinados produtos sem a adoção de critérios mínimos de manejo, resultando muitas vezes no fracasso do controle da lagarta. Entre eles, a má regulagem dos equipamentos, a escolha e a dose incorreta de defensivos agrícolas e a falta de monitoramento têm aumentado o número médio de aplicações de inseticidas. O controle químico é prejudicado pelo hábito da praga, pois esta permanece dentro do cartucho do milho, dificultando que o inseticida atinja a lagarta.

RESISTÊNCIA A INSETICIDAS O grande desafio do controle químico da lagarta-do-cartucho no milho é evitar a seleção de linhagens da praga resistentes aos defensivos, procurando maximizar a vida útil do inseticida, porém com atenção ao fato de que a praga é polífaga e o

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DISTRIBUIÇÃO

O

No Brasil, os primeiros casos de insucesso no controle foram na safra de 1993/94

milho no país é cultivado muita vezes em plantios sucessivos. Fracassos no controle dessa praga são freqüentemente relatados com o uso de produtos tradicionais como fosforados e piretróides. Entretanto, a lagarta-do-cartucho já se mostra relativamente resistente a grupos químicos mais modernos existentes no mercado. No Brasil os primeiros casos de insucesso foram relatados na safra 1993/94. O maior problema é que, quando o produtor percebe que o produto utilizado não apresenta bons resultados, muitas vezes ele volta a utilizar o produto em uma maior dosagem, o que, além

de não resolver o problema, vai onerar o seu custo produtivo, acarretando maior impacto à população de inimigos naturais, ao meio ambiente e à saúde do trabalhador rural. Um grande avanço dentro do programa de controle de S. frugiperda em milho foi o início de estudos do manejo da resistência dessa praga. Há cerca de dez anos, projetos apoiados pelo IRAC-BR (Comitê Brasileiro de Ação à Resistência a Inseticidas) iniciaram centenas de observações em campo e laboratório, monito-

uso do milho em grão como alimento animal representa a maior parte do consumo desse cereal. Nos Estados Unidos, cerca de 50% da produção de milho é destinada a esse fim, enquanto que no Brasil este índice chega a 80%. Apesar de não ter participação expressiva, o uso do milho na alimentação humana constitui importante fonte de alimento em regiões de baixa renda, como no semi-árido do Nordeste brasileiro. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, com 6% da produção mundial, atrás dos EUA, com 41%, e da China, com 19%. Assim, a diversidade de sua utilização, que se estende desde a alimentação animal, chegando até a indústria de alta tecnologia, coloca esse cereal como um dos de maior importância econômica. rando, detectando e caracterizando alguns casos de resistência dessa praga aos principais inseticidas utilizados no seu controle. Dentre os inseticidas avaliados pelo IRAC-BR, os maiores problemas foram observados para o


DANOS CAUSADOS

A

lagarta ataca o cartucho do milho, podendo chegar a destruílo completamente, produzindo grande quantidade de excreções nas folhas remanescentes. Essa praga pode reduzir, somente pelo dano causado nas folhas, a produção do milho em até 34%, sendo o período crítico de seu ataque a época próxima ao florescimento. Em períodos de seca, com o aumento do cultivo do milho “safrinha” e o cultivo de inverno, no caso de produtores irrigantes, a população aumenta significativamente, modificando seu comportamento habitual, quando, ao invés de atacar o cartucho do milho, a lagarta imita os hábitos da lagarta-rosca, Agrotis ipsylon, e permanece enrolada sob o solo, no “pé” da planta, saindo à noite para se alimentar e destruir o colmo na base da planta, cortando plantas rente ao solo. Quando a seca ocorre no final do ciclo da cultura, as lagartas podem danificar a espiga (com o mesmo hábito da lagarta-da-espiga). grupo dos organofosforados e piretróides. O produtor de milho, quando for submeter a cultura a um defensivo contra a lagarta-do-cartucho, deve tomar ciência se existe resistência ou o risco, na sua região produtora, a algum grupo químico de defensivo e procurar, dentro do programa fitossanitário da cultura, rotacionar produtos de diferentes grupos químicos para o controle dessa lagarta. Muitas vezes a opção pelo uso de um produto mais barato pode resultar em um prejuízo duplo, pelo custo financeiro provocado pelo uso do produto e a não eficiência deste e pelo prejuízo que a praga já causou à planta. Outra prática que vem se disseminando com força no uso de defensivos para o controle de diversas pragas são as misturas de produtos em tanque, na maioria das vezes total-

mente inadequadas sob o ponto de vista do manejo da resistência, como a mistura de mais de dois produtos inseticidas, de produtos do mesmo grupo químico ou de produtos de diferentes grupos, porém com modo de ação semelhante. O uso indiscriminado de misturas, como vem ocorrendo em muitas regiões, principalmente nas propriedades menos assistidas por agrônomos especializados, tem contribuído para a elevação dos custos de produção, o

aumento nos riscos e intoxicações e de desequilíbrios biológicos, acréscimo desnecessário na quantidade de produtos aplicados no ambiente, além de favorecer o desenvolvimento da evolução de populações de pragas com resistência múltipla. É bom lembrar que o desenvolvimento da resistência não interessa a nenhum setor, quer seja da indústria, que tem a vida útil de seu produto reduzida, do produtor, que perde uma das opções de controle de pragas, ou da sociedade em geral, que terá que consumir produtos com mais chances de contaminação por resíduos, além da elevação dos custos da produção.

INDUTOR DE RESISTÊNCIA

O número indiscriminado de misturas tem contribuído para o desequilíbio biológico

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Práticas culturais que proporcionem um maior grau de resistência natural das plantas estão sendo cada vez mais estudada. A aplicação de fertilizantes com silício pode constituir uma alternativa viável, em plantas da família do milho, devido à sua grande capacidade em acumular esse mineral, que, apesar de não ser essencial à planta, favorece o espessamento do tecido foliar, o que tende a dificultar a pene-

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Proteínas Bt, presentes no milho transgênico, após ingeridas atuam nas células epiteliais do tubo digestivo da praga, levando-o à morte

tração de patógenos e o ataque de pragas, principalmente das mais vorazes e que ocorrem em maiores populações, como a lagarta-docartucho. O silício age deixando a folha mais resistente, o que prejudicaria as mandíbulas das lagartas. Alguns estudos pioneiros mostram o potencial dessa técnica.

MILHO TRANSGÊNICO Apesar do uso do milho geneticamente modificado ainda não ser permitido no Brasil, as pesquisas têm mostrado que essas variedades serão a grande solução para o controle de lepidópteros em milho. A tecnologia consiste no uso de plantas geneticamente modificadas resistentes a insetos. Através de apuradas técnicas de laboratório, um gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) foi introduzido em plantas de milho, dando origem ao milho Bt, conferindo alto padrão de resistência à planta a algumas espécies de lepidópteros-pragas. O gene introduzido codifica a ex-

pressão de proteínas Bt, com ação inseticida, efetiva no controle de lepidópteros como a S. frugiperda. As lagartas, ao se alimentarem do milho geneticamente modificado, ingerem essa proteína, que atua nas células epiteliais do tubo digestivo dos insetos. A proteína promove a ruptura osmótica dessas células, determinando a morte dos insetos, antes mesmo que consigam causar danos à cultura. O milho geneticamente modificado que expressa o gene com atividade inseticida representa uma nova ferramenta a ser inserida dentro da filosofia do MIP. A utilização do milho transgênico é uma importante ferramenta e uma tecnologia que romperá muitas barreiras, trazendo importantes benefícios aos produtores. Ela deverá ser considerada como mais uma tática dentro do MIP e não como ferramenta isolada de controle, pois com o tempo as populações poderão se tornar resistentes, pelo mesmo mecanismo que as pragas se tornam resistentes em função do uso de defensivos com um mesmo modo de ação. Além do controle sobre a lagarta-do-cartucho, trabalhos realizados com a primeira variedade de milho transgênico pesquisada no Brasil, a YieldGard, desenvolvida pela Monsanto, mostraram o excelente controle sobre a broca Diatraea saccharalis, que tem atacado os milharais no Cerrado, deixando os produtores totalmente sem saída, uma vez que o controle químico com uso de inseticidas não produz nenhum resultado.

Geraldo Papa aborda os principais problemas no manejo da Spodoptera na cultura do milho

Além do exposto, outras estratégias de controle estão sendo desenvolvidas com intuito de oferecer aos produtores pacotes tecnológicos que possibilitem um controle eficiente e duradouro contra a lagarta-docartucho. C Geraldo Papa e Maurício Rotundo, Unesp


Fotos Paulo Pedro da Silva

Cana-de-açúcar

Cana carbonizada Cultivos subseqüentes, variedades suscetíveis e períodos de seca são fatores determinantes para a expressão do fungo Ustilago scitaminea, causador do carvão, que pode causar perdas totais nos canaviais com a incidência severa da doença

O

carvão da cana-de-açúcar (Ustilago scitaminea) é uma das doenças que mais causam prejuízos à cultura. Os danos podem ser diretos, com redução do número de colmos, morte prematura de touceiras e/ou renovação mais freqüente dos canaviais, e indiretos, com inviabilização do uso de variedades altamente produtivas, mas que são suscetíveis à doença. A doença já foi descrita em 72 países. No Brasil, o fungo foi notado pela primeira vez em Assis, estado de São Paulo, em 1946, e atualmente se estende por todo o país. Os prejuízos provocados pela doença podem chegar a 100% quando se cultivam variedades muito suscetíveis. O principal sintoma da doença é a modificação do meristema apical do colmo, que forma um apêndice denominado de chicote ou “chicote preto”, cujo comprimento pode variar de poucos centímetros a mais de um metro de comprimento, sendo, portanto, uma

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doença de fácil identificação (Figura 1). Inicialmente o chicote é coberto por uma película prateada, que se rompe, expondo uma massa de teliósporos pretos e pulverulentos facilmente destacados pelo vento. Antes da produção do chicote, os perfilhos doentes podem apresentar colmos finos, folhas superiores com bainhas alongadas e limbos encurtados e eretos. O cartucho do perfilho doente normalmente se mostra mais intumescido que o das plantas normais. Em canaviais já desenvolvidos, podem aparecer chicotes pequenos produzidos por brotações laterais, apesar de o colmo não apresentar nenhum sintoma. Algumas variedades podem também produzir alguns sintomas atípicos, como vassoura-debruxa, galhas e proliferação de gemas. O fungo penetra principalmente na cana através das gemas, especialmente naquelas em início de desenvolvimento ou que ainda estejam recobertas pela bainha. Para germinar, o esporo do carvão necessita de umidade e calor, e tem-

peraturas de 25º a 35ºC são ideais. Ao penetrar em gemas no início do desenvolvimento, na época do plantio ou da brotação da soca, irá produzir perfilhos doentes, com chicotes na ponta. Quando penetra nas gemas laterais, poderá provocar a produção de chicotes laterais, ou ficar na gema sem se manifestar. Se o material contaminado for usado para propagação, produzirá plantas com carvão. Assim, se no solo houver esporos de carvão, quando se planta a cana, e alguns deles entrarem em contato com a gema, poderão ocorrer a germinação dos esporos e a infecção. A cana germinando e crescendo permitirá também o crescimento do carvão no seu interior. A massa preta do chicote é formada pelos esporos do fungo, que serão disseminados aos trilhões pelo vento e pela água da chuva, de um campo para outro, ou dentro do mesmo campo, infectando novas gemas da cultura. O homem também pode disseminar a doença, apesar de isso ser menos freqüente. Segundo Tokeshi & Rago (2005) as infecções são favorecidas por condições de seca em períodos de brotação. A viabilidade dos esporos diminui em solos com umidade, e situações de estresse predispõem a planta a uma maior severidade da doença.

ESTRATÉGIAS DE CONTROLE A forma mais eficaz, racional e econômica para controlar a doença do carvão é o uso de variedades resistentes, visto que as perdas causadas pela doença são evitadas sem elevação dos custos de produção. Entretanto, por não haver cultivares totalmente imunes, elas irão apresentar carvão em maior ou menor quantidade, dependendo do grau de resistência, e, por essa razão, para controle da doença, é preciso escolher bem a variedade, utilizar mudas sadias provenientes de viveiros formados a partir de tratamento térmico e evitar o uso de variedades de menor resistência em áreas onde anteriormente tenha ocorrido incidência da doença. O uso de mudas sadias tem por objetivo reduzir o inóculo inicial da cana-planta, retardando o início da doença, contribuindo de forma expressiva para controlar a doença. Essa medida de controle é usada em variedades com resistência intermediária ao patógeno, em áreas com baixa concentração de inóculo. A obtenção de mudas Tabela 1 - Grau de infecção de carvão (%) nas condições da Usina Agrovale –BA e classificação conforme à reação da cana a doença Grau de infecção < 0,72 0,72 - 0,98 0,99 - 1,50 1,51 - 1,76 > 1,76

Reação Resistente Moderadamente resistente Intermediária Moderadamente suscetível Suscetível

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Tabela 2. Resultados do levantamento do carvão, com médias dos índices de infecção dos genótipos, intervalos de confiança a 95% e classificação da reação à doença sadias é feita através de tratamento térmico das mesmas a uma temperatura de 52ºC por 30 minutos ou de 50ºC por duas horas. No entanto, essa prática não tem apresentado resultados garantidos. Dessa forma, sua disseminação (Figura 2) tem sido evitada por meio de inspeções freqüentes nos canaviais, praticando-se o roguing para eliminar colmos e plantas doentes antes da liberação dos esporos, removendo-se os chicotes encontrados e eliminando-se o restante da touceira infectada (Figura 3). Outra forma alternativa de controle da moléstia é o uso de algumas técnicas moleculares, como a PCR, que têm sido desenvolvidas para que a infecção seja detectada antes da emergência do chicote, permitindo que seja feito o controle prévio da doença através da remoção das plantas ou colmos doentes, no entanto, a forma mais segura é utilizar variedades resistentes. Segundo Tokeshi (1980) há relatos de que canaviais com raquitismo de soqueira são mais resistentes ao carvão, e o oposto ocorre quando a planta está com escaldadura das folhas. A ocorrência de uma progressiva adaptação dos agentes causadores de doenças diminui os meios de resistência da cultura, limitando sua vida útil, provocando sua degenerescência após anos seguidos de intenso cultivo, notada pela redução na produtividade, que evidencia a necessidade de renovação periódica das variedades em cultivo. A forma mais adequada é a obtenção de novas variedades mais produtivas e resistentes a doenças, capazes de conviver com os patógenos e tolerar a presença destes sem apresentar perdas econômicas. A resistência de uma nova variedade ao carvão deve ser considerada como fator determinante na seleção. O máximo de suscetibilidade admitida numa variedade comercial é denominado tecnicamente de resistência intermediária. Con-

Variedades/ Clones RB72454 RB813804 RB8495 RB842021 RB855463 RB865152 RB92579 RB928064 RB931011 RB931611 RB94529 RB941016

Totais de colmos 1989 1609 2242 2368 2223 2544 2322 2395 2210 2434 2318 2428

Totais de colmos doentes 13 13 15 18 121 73 17 3 14 20 7 23

% de colmos doentes 0,65 0,81 0,67 0,76 5,44 2,87 0,73 0,13 0,63 0,82 0,30 0,95

Intervalo de LI (0,95) 0,30 0,37 0,33 0,41 4,50 2,22 0,39 0,00 0,30 0,46 0,08 0,56

Confiança LS (0,95) 1,01 1,25 1,01 1,11 6,39 3,52 1,08 0,27 0,96 1,18 0,53 1,33

Reação MR I MR I S S MR R MR I MR I

x2 = 450,56; p<0,0000

tudo, mesmo nesse nível, a ocorrência de mais ou menos carvão dependerá de diversos fatores, destacando-se as condições climáticas locais e a quantidade de inóculo na área em cultivo. Quando as condições climáticas são muito favoráveis à ocorrência da doença, ou o potencial de inóculo é muito elevado, mesmo as variedades intermediárias podem não ter condições de cultivo. A necessidade de novas variedades resistentes às doenças prevalescentes em cada região de cultivo da cana-de-açúcar tem obrigado a maioria dos países produtores a desenvolver extensos programas de melhoramento genético, que têm procurado associar a resistência às doenças com a produtividade e a adaptação a diferentes condições de clima e solo, bem como a outros fatores importantes para a produção. No passado, a introdução de variedades na lavoura canavieira do Brasil era feita exclusivamente através da importação, até surgirem, mais recentemente, programas autóctones de melhoramento genético, que é o método mais eficiente, pois são obtidas cultivares apropriadas para os ambientes de cultivo da região, através de cruzamentos genéticos e anos

de pesquisa com seleção, experimentação e testes apropriados. O Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA), do Centro de Ciências Agrárias (CECA), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que faz parte dos programas que integram a RIDESA (Rede Interinstitucional para o Desenvolvimento Sucroalcooleiro), em parceria com parte significativa do setor produtivo, tem desenvolvido variedades RB (República do Brasil), com características que buscam atender às necessidades específicas das diversas regiões, e variedades altamente produtivas e resistentes às doenças, especialmente ao carvão, que tem sido preferência primordial. As fases do PMGCA/ UFAL são conduzidas em unidades produtoras parceiras, com o compromisso de obtenção de novas variedades RB com ótimas características agroindustriais e resistentes à doença. A incidência de carvão em canaviais comerciais e campos de seleção de novas variedades tem alertado para possíveis restrições de cultivo de vários genótipos promissores,

O QUE É?

O

Sintomas do carvão, antes e após emissão do chicote. Esquerda, chicote formado dentro do palmito. Direita, expostos com esporos do fungo

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carvão é uma doença de teci do meristemático que penetra os tecidos não diferenciados da planta, na base das escamas das gemas e das folhas novas, sendo menos freqüente no segundo caso. Os teliósporos são unicelulares e dicarióticos, com diâmetro que vai de 5,5 a 7,5 µm, com pontuações na superfície. Na germinação, a próbasídia pode produzir basidiósporos ou hifas infectivas, dependendo da temperatura. As hifas são dicarióticas e penetram no hospedeiro em oito horas. Várias raças do patógeno têm sido detectadas em diferentes zonas canavieiras do mundo (Tokeshi & Rago, 2005).

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Figura 2 - Disseminação do carvão da cana-de-açúcar

Paulo Pedro aborda os principais danos ocasionados pelo carvão da cana-de-açúcar

apresentou o menor índice médio de infecção à doença, com 0,13%, enquanto os mais suscetíveis foram RB865152 e RB855463, com médias de 2,87% e 5,44%, respectivamente. RB813804, RB842021, RB931611 e RB941016 mostraram-se com reação intermediária, com índices médios de infecção de 0,81%, 0,76%, 0,82% e 0,95%, respectivamente. Os genótipos RB94529, RB931011, RB72454, RB8495, RB92579 foram moderadamente resistentes, com 0,30%, 0,63%; 0,65%; 0,67% e 0,73%, respectivamente. Deve-se enfatizar que a resistência só é considerada durável quando permanecer efetiva por um longo período de tempo, apesar da ampla exposição ao patógeno em ambiente favorável ao desenvolvimento da moléstia. É o comportamento que se espera durante vários anos sucessivos de cultivo do genótipo RB928064, que apresentou maior resistência, assim como os demais que se mostraram com resistência intermediária.

necessitando de um monitoramento eficiente para evitar a ocorrência e a disseminação da doença. O PMGCA envia anualmente genótipos de cana promissores para a subestação da Usina Agrovale, situada no município de Juazeiro (BA), para avaliar, dentre outras características, o comportamento dos genótipos quanto à resistência ao carvão, em áreas de multiplicação, uma vez que o ambiente é propício à ocorrência da doença, por apresentar temperatura e umidade ideais que favorecem seu desenvolvimento sob condições naturais. O ensaio foi realizado na subestação da Usina Agrovale (BA). Foi utilizado o delineamento em blocos ao acaso com quatro repetições para amostragem de doze variedades/clones de cana-de-açúcar, em áreas de multiplicação (RB72454, RB813804, RB8495, RB842021, RB855463, RB865152, RB92579, RB928064, RB931011, RB931611, RB94529 e RB941016). Foram avaliados 10 m por sulco, contando-se os números de colmos com chicotes apresentados na parcela. A análise estatística foi realizada através do Teste do Qui-quadrado (c2) ao nível de 5% de probabilidade. A classificação da reação da cana ao carvão na Usina Agrovale é apresentada na Tabela 1, e os resultados obtidos da análise estatística dos genótipos avaliados encontram-se na Tabela 2. Pelo teste do Qui-quadrado, observou-se haver diferenças significativas entre os genótipos quanto ao percentual de canas infectadas. Como se pode verificar, o nível de resistência varia de um genótipo para outro, sendo mais adequados aqueles genótipos que se mostrarem com menores taxas de infecção da moléstia. Maior grau de resistência ao carvão foi verificado para o genótipo RB928064, o qual

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Paulo Pedro da Silva, Marcelo de Menezes Cruz e Geraldo Veríssimo de S. Barbosa, PMGCA/Ceca/Ufal

Fotos Paulo Pedro da Silva

ENSAIO DE CAMPO

Uma boa variedade, portanto, deve apresentar um conjunto de qualidades capaz de competir com as condições existentes e mostrar resultados superiores às expectativas ambientais. De outro modo, é praticamente impossível reunir em uma só variedade todas as características desejadas pelo produtor, haja vista a constante presença da interação genótipo x ambiente. Entretanto, com um manejo adequado e de acordo com as recomendações da pesquisa, plantando-se na época certa, no local correto, realizando-se os tratos culturais adequados e colhendo-se no período útil de industrialização, certamente bons retornos econômicos serão obtidos (Barbosa et C al., 2003).

Remoção do perfilho com chicote de carvão e erradicação da touceira

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Arroz

Ataque sob estresse O aumento nos teores de açúcar e nitrogênio, nas folhas e panículas, e a redução do amido, causado em plantas sob estresse hídrico, são fatores que favorecem o ataque do fungo da brusone em qualquer estágio de desenvolvimento da planta

E

m todas as fases de desenvolvimento, o arroz está sujeito ao ataque de doenças que reduzem a produtividade, afetando tanto a quantidade quanto a qualidade dos grãos produzidos. Entre as principais doenças da cultura, a brusone, causada pelo fungo Pyricularia grisea (Maganporthe grisea), é considerada a mais expressiva, pelo seu alto poder destrutivo. Os prejuízos são variáveis, sendo maiores em arroz de terras altas, no Centro-Oeste brasileiro, onde, em situações mais drásticas, as perdas po-

IMPORTÂNCIA

O

arroz (Oryza sativa) é um cereal de importância indiscutível, sendo o alimento básico da população humana de vários países. A produção brasileira é de aproximadamente 12 milhões de toneladas, oriunda basicamente de dois sistemas de cultivo bastante distintos, o irrigado, predominante no Rio Grande do Sul (1º produtor nacional), Santa Catarina e Tocantins, e o sistema de terras altas, predominante no restante do país, sendo o Mato Grosso o maior produtor nesse sistema de cultivo e o segundo maior produtor nacional de arroz. Em alguns estados, como Minas Gerais, ainda é praticado o cultivo do arroz em condições de várzeas.

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Fotos Valácia Lemes da Silva Lobo

Detalhe da brusone na folha e de lavoura infectada, gerando redução no estande

dem chegar até a 100%, dependendo da cultivar, das condições climáticas e do manejo a que a lavoura é submetida. É uma doença de ocorrência mundial, no Brasil ocorre do Rio Grande do Sul ao Amazonas. No sistema de cultivo irrigado, a brusone não é problema, exceto no estado do Tocantins, onde são verificados altos prejuízos, devido à irrigação tardia ou ao fornecimento irregular de água e à monocultura de cultivares altamente suscetíveis. Já no sistema de plantio de terras altas a doença é problema bem mais sério, ocorrendo com severidade bem maior do que no cultivo irrigado. No estado do Mato Grosso, bem como em outras regiões produtoras de arroz de terras altas, na última safra (2004/05) tem-se registrado uma alta severidade de brusone. O presidente da Associação dos Produtores de Arroz (APA-MT), Ângelo

Fig. 1 - Efeito dos fungicidas no tratamento de sementes para o controle de brusone nas folhas, Santo Antônio de Goiás (GO), 2004. Pyr1 (pyroquilon 800 mL), Pyr2 (pyroquilon 400 mL), Tric (triciclazole 300 mL), Trif+Prop (trifloxystrobin + propiconazole 400 mL), TM (tiofanato metílico 250 g), C+T (carboxin + thiram 300 mL) e T (testemunha). AACPD – Área Abaixo da Curva do Progresso da Doença

Carlos Maronezzi, estimou uma quebra de até 20% na safra 2004/05, devido à ocorrência da doença. Esse aumento na ocorrência e na severidade da brusone é devido, principalmente, às condições climáticas favoráveis à doença. Nessa safra, verificou-se uma enorme escassez de chuvas, ficando algumas regiões vários dias sem chuva, o que contribuiu altamente para o aumento da severidade da doença. Outro fator importante foi a implantação tardia das lavouras (dezembro/janeiro), e, na maioria delas, não foi feito o tratamento químico das sementes. Todos esses fatores, aliados ao uso de cultivares suscetíveis e às condições climáticas favoráveis, contribuíram significativamente, para a alta incidência da brusone nas lavouras não só do estado do Mato Grosso, mas de todas as regiões produtoras de arroz de terras altas. Sob condições de estresse hídrico, as plantas geralmente apresentam aumento nos teores de nitrogênio nas folhas e panículas, aumento nos teores de açúcar e redução do amido, favorecendo a ocorrência e a severidade da doença. As folhas podem morrer, e a planta ainda se recuperar com o restabelecimento das chuvas, mas o desenvolvimento é comprometido, com a produção de um ou dois perfilhos somente. A lavoura afetada apresenta falhas, há emissão de panículas pequenas e com amadurecimento desuniforme, dificultando a co-

Fig.5 - Eficiência dos fungicidas no controle da brusone na panícula em relação à severidade da brusone na panícula (SBP), produtividade (kg/ha) e rendimento de engenho, na cultivar Primavera. Azo (azoxystrobin 100 mL), Trif + Cypr (trifloxystrobin + cyproconazole 93 + 40 mL), Trif + Teb 1 (trifloxystrobin + tebuconazole 50 + 100 mL), Trif + Teb 2 (trifloxystrobin + tebuconazole 75 + 150 mL), Trif + Teb 3 (trifloxystrobin + tebuconazole 100 + 200 mL), Tric (tricyclazole – 300 mL) e Tes (testemunha)

lheita. Para o controle da doença, principalmente sob condições ambientais favoráveis, é de extrema importância que seja adotado o manejo da cultura envolvendo uma série de medidas de controle. Um dos métodos mais eficientes, econômicos e ecologicamente saudáveis de controle de doenças é o uso de cultivares resistentes, e há muito tempo essa estratégia tem sido considerada a mais eficiente para proteger a cultura do arroz contra a brusone. Muitos genes de resistência a essa doença já foram identificados e incorporados em um grande número de cultivares nos últimos anos, fornecendo diferentes graus de resistência, no entanto, tem sido observada a quebra da resistência, em um curto espaço de tempo. A durabilidade da resistência de uma cultivar, hoje, está em torno de dois anos,


DANOS DA BRUSONE 2).

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to dos grãos. Os sintomas nos nós e nos entrenós aparecem, geralmente, na fase de planta madura. A área infectada do nó torna-se escura, impedindo a circulação da seiva na planta e provocando o acamamento desta, ou a quebra do colmo no ponto de infecção do nó. A infecção no primeiro nó, abaixo da panícula, é referida como brusone do pescoço. Toda a panícula pode ser infectada. Quando a infecção ocorre antes da fase leitosa, a panícula inteira morre, apresentando coloração parda, diferente da coloração esbranquiçada, característica das panículas atacadas pela broca-do-colmo (Diatraea saccharalis) ou daquelas estéreis devido à seca. As infecções mais tardias das panículas causam perdas somente nas partes afetadas.

e o principal motivo é a alta variabilidade do patógeno, que em pouco tempo consegue estabelecer uma população capaz de interagir com a planta, tornando-a suscetível. Vários esforços têm sido feitos no sentido de caracterizar a composição da população do patógeno, por meio de coletas de amostras de isolados do fungo, em diferentes áreas de produção de arroz e em diferentes cultivares. Esses isolados são posteriormente caracterizados quanto à virulência e à raça. Com os avanços da biologia molecular, em especial com a utilização de marcadores moleculares, abrem-se novas perspectivas para aumentar a durabilidade da resistência das cultivares por meio da caracterização prévia da população do fungo em questão e da identificação de genes de resistência para serem incorporados em novas cultivares. Infelizmente, as cultivares mais plantadas de arroz de terras altas apresentam suscetibilidade à enfermidade, embora em grau variável entre elas. Os danos causados pela doença podem ser reduzidos significativamente, por meio de práticas adotadas em conjunto no manejo da cultura, como uso de sementes sadias, tratamento de sementes e/ou pulverização com fungicidas, plantio na época certa, bom preparo do solo, densidade e profundidade de semeadura adequadas, adubação nitrogenada equilibrada e uso de cultivares resistentes, quando disponível. Na ausência de cultivares resistentes, e em plantios tardios, é necessário que se adote no manejo da cultura o controle químico via

tratamento de sementes e via pulverização, visando evitar ou amenizar os danos causados pela doença. Apesar da grande importância da brusone na cultura do arroz, existem poucos fungicidas registrados para seu controle. Os fungicidas sistêmicos disponíveis no mercado possuem ação específica e efeito residual prolongado contra a brusone, porém, esses produtos vêm sendo utilizados há vários anos, e, recentemente, temse observado que alguns deles, além do alto custo, têm demonstrado baixa eficiência no controle. Outros, apesar de eficientes, estão sendo retirados do mercado, como é o caso do pyroquilon, usado no tratamento de sementes. Em ensaio conduzido na Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás (GO) em 2004, utilizando-se a cultivar Primavera, verificou-se menor severidade de brusone nas folhas no tratamento com Pyroquilon (800ml) (Figura 1). Carboxim + Thiram, sob alta pressão da doença e na dose utilizada no ensaio, não diferiu da testemunha (Figura 1). Para o controle da brusone na panícula, a viabilidade econômica e o número de aplicações dependem da resistência da cultivar, das condições climáticas, do custo de aplicação, das práticas culturais adotadas e do preço do arroz. As menores severidades de brusone na panícula (SBP) foram observadas no tratamento com trifloxystrobin + tebuconazole e com tricyclazole. Para produtividade, somente o tratamento com trifloxystrobin + tebuconazole (100 + 200 ml) diferiu da testemunha, não diferindo, no entanto, dos demais tratamentos (Figura

O fungicida tricyclazole é o produto mais usado no controle de brusone nas panículas. Os resultados do ensaio mostraram que o produto continua sendo eficiente em controlar a doença e se destacou na avaliação de rendimento de engenho. A mistura de trifloxystrobin + tebuconazole diferiu da testemunha em todas as características analisadas, principalmente em relação à produtividade (Figura 2). Esses resultados são preliminares, sendo necessárias sua validação e comparação com outros ingredientes ativos, tanto para o tratamento de sementes, quanto para pulverização, considerando o controle de outras doenças do arroz, a relação custo x benefício, entre outros fatores. No entanto, a necessidade de avaliação e recomendação de produtos para o controle químico da brusone ficou bastante clara. Foi possível observar também que, sob condições climáticas favoráveis, a eficiência do tratamento químico é menor, principalmente, nos plantios tardios. O manejo da cultura integrando a resistência da cultivar, as práticas culturais e o controle químico é considerado, ainda, a melhor estratégia para diminuir os danos causados pela doença. C Valacia Lemes da Silva Lobo, Embrapa Arroz e Feijão Fotos Valácia Lemes da Silva Lobo

A

brusone manifesta-se em todas as fases do crescimento da planta, tanto no período vegetativo quanto no reprodutivo. As fases mais críticas, com danos mais significativos, ocorrem nas folhas, entre 30 e 60 dias de idade, e nas panículas nas fases de grãos leitoso e pastoso (sete a dez dias após a emissão das panículas). Os sintomas nas folhas iniciam-se com a formação de lesões necróticas, de coloração marrom, que evoluem, aumentando de tamanho, tornando-se elípticas com margens marrons e centro cinza ou esbranquiçado. Em condições favoráveis, as lesões coalescem, causando a morte das folhas e, muitas vezes, da planta inteira. Os danos causados pela brusone nas panículas são diretos, devido ao seu efeito no enchimen-

Acima, lavoura com tratamento químico da semente contra a brusone; abaixo, parcela não tratada, apresentando grande quebra

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Especial

Negócios

Brasil e protocolo de Cartagena Antecipando-se à próxima rodada de negociações do tratado internacional para regular a comercialização de organismos vivos modificados (OVMs), que acontece em março do ano que vem, em Curitiba (PR), o Conselho de Informações em Biotecnologia (CIB) realizou em novembro, o Workshop Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança. É 4º workshop da entidade para profissionais da imprensa, sobre diversos temas relacionados à biotecnologia. O Protocolo é um tratado internacional que, entre outras finalidades, vai exigir dos seus 127 países signatários uma série de regras na compra e venda de organismos vivos modificados (OVMs). Entre as determinações, estão pontos como a capacitação técnica e profissional dos profissionais envolvidos nesse tipo de transação; as condições de manuseio, transporte, embalagem e identificação dos OVMs; e os processos de detecção e rastreabilidade desses produtos. Um dos pontos ainda em debate, sem consenso geral dos signatários, é a maneira de classificar as commodities que tenham trangênicos em sua composição. O Brasil e a Nova Zelândia defendem que os documentos de exportação devem trazer a frase este produto “pode conter OVMs”. Já os demais 125 países preferem que a presença de trangênicos seja atestada de maneira mais direta, sem deixar margem de dúvidas. Dessa maneira, a exigência de testes detalhados, necessários na afirmação “contém OVM”, representaria esforço duplicado, gerando custos a serem repassados aos produtores e consumidores. Isso seria especialmente prejudicial para países fortes na venda de commodities além disso, a estrutura logística da cadeia agrícola brasileira dificulta a realização de testes mais detalhados e precisos. De acordo com a porta-voz do CIB, Alda Lerayer, a implementação de processos de detecção e rastreabilidade vai elevar os custos de produção de grãos no Brasil como, por exemplo, soja e milho, tornando vulnerável a posição brasileira no mercado internacional.

Basf lança unidades de monitoramento e diagnose de doenças da soja Basf dá início a um programa inédito, que passa a disponibilizar aos sojicultures brasileiros unidades de monitoramento para as principais doenças da soja. Os Minilabs, como são chamadas as unidades, tem como objetivo detectar, prevenir e combater com eficácia as doenças que atingem a cultura, tendo como foco principal a ferrugem. O programa teve início em novembro, onde, na primeira etapa do projeto serão 450 unidades instaladas nos canais de distribuição da Basf, entre revendas e cooperativas associadas, localizadas nas principais regiões produtoras de soja do Brasil. Os Minilabs estão equipados com lupas microscópicas capazes de aumentar a imagem da folha da soja em 80 vezes, além de proporcionar a correta e rápida identificação dos sintomas das doenças foliares. Para isso, o produtor deverá levar as folhas de soja infectadas com doença até o canal de distribuição Basf mais próximo, onde técnicos realizarão o diagnóstico das amostras de plantas infectadas. A partir do diagnóstico da doença, os produtores serão orientados sobre os melhores procedimentos para combater seu avanço e também prevenir o aparecimento em futuras safras na sua propriedade. A Basf sempre esteve atenta à questão da sanidade, monitorando com sua equipe de campo as doenças da soja. Com o lançamento do Minilab será possível ampliar e sistematizar o atendimento, já que o diagnóstico e a solução irão até o produtor de forma mais rápida e eficaz, prevenindo prejuízos e novas infestações” destaca o gerente de Cultura Soja Marcelo Ismael.

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Soja

Erro de estratégia Surtos populacionais da falsa-medideira nas últimas safras podem estar ligados a aplicações inadequadas de produtos de amplo espectro que eliminam inimigos naturais que fariam o controle da praga, considerada secundária na cultura

Fotos Crébio José Ávila

O

s insetos-praga que ocorrem na soja podem reduzir significativamente o rendimento de grãos/sementes da cultura, caso medidas efetivas de controle não sejam tomadas oportunamente. Dentre as principais pragas, destacam-se as lagartas que podem atacar desde a época da semeadura, no sistema plantio direto (lagartas presentes na cobertura), até a fase de enchimento de vagens (brocas das vagens). O resultado do manejo das pragas na soja pode ser diretamente influenciado pela tática de controle empregada na fase de estabelecimento da cultura. Aplicações desnecessárias de inseticidas por ocasião

Adulto da Pseudoplusia includens. Surtos populacionais da praga estão ocorrendo nas lavouras de soja

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da dessecação da cobertura, ou até mesmo para o controle da lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis, podem causar desequilíbrio biológico nas lavouras, impedindo ou prejudicando o estabelecimento dos inimigos naturais (predadores, parasitóides e entomopatógenos) no agroecossistema. Esse fenômeno é potencializado especialmente quando, nesta fase da cultura, são aplicados inseticidas de amplo espectro, tais

como os piretróides, metamidofós, monocrotofós etc. Os primeiros sintomas danosos desse manejo inadequado expressamse através de fortes ressurgências da lagarta-da-soja nas lavouras, porque, com a eliminação dos inimigos naturais, devido ao uso de produtos não seletivos, a praga se restabelece com muito mais rapidez e intensidade. Paralelamente ao fenômeno de ressurgência da lagarta-da-soja, também

DIFERENÇAS ENTRE PSEUDOPLUSIA E ANTICARSIA

E

xistem diferenças marcantes entre a lagarta falsa-medideira e a lagarta-da-soja, tais como: a lagarta falsamedideira de tamanho pequeno é menos ativa do que a lagarta-da-soja, quando molestada; a lagarta falsa-medideira apresenta maior capacidade de consumo que da lagarta-da-soja; a lagarta falsa-medideira não se alimenta das nervuras maiores das folhas (que tomam um aspecto rendilhado), enquanto que a lagarta-dasoja se alimenta de toda a superfície foliar, inclusive de pecíolos; a pupação da

falsa-medideira ocorre na folha, enquanto a da lagarta-da-soja ocorre no solo ou sob restos culturais; a falsa-medideira apresenta apenas dois pares de pernas (pseudopernas) abdominais enquanto a lagarta-da-soja apresenta quatro pares. Todavia, há possibilidade de se confundir as duas lagartas nos seus estádios iniciais, porque no momento do desenvolvimento a lagarta-da-soja pode não ter todas as pseudopernas formadas, o que força o seu deslocamento em mede-palmo, à semelhança da falsa-medideira.

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Figura 1 - Percentagem de controle da lagarta falsa-medideira, Pseudoplusia includens, até aos quatro dias após a pulverização dos tratamentos químicos na cultura da soja, em Dourados (MS).

têm sido constatadas explosões populacionais de outras espécies de lagartas que antes eram consideradas de importância secundária na cultura. Dentre essas, destacam-se as lagartas de Pseudoplusia includens, Trichoplusia ni e Rachiplusia nu, espécies pertencentes à subfamília Plusiinae e que são popularmente conhecidas como falsas-medideiras, pelo hábito de caminha-

Figura 2 - Percentagem de controle da lagarta falsa-medideira, Pseudoplusia includens, até aos quatro dias após a pulverização dos tratamentos químicos na cultura da soja, em Cruz Alta (RS)

rem dobrando o corpo. Essas pragas são, normalmente, mantidas em baixo nível populacional nas lavouras de soja pela ação de eficientes inimigos naturais. Todavia, na ausência desses agentes benéficos, atingem níveis populacionais que podem resultar em perdas acentuadas de produtividade da cultura, além de serem de difícil controle.

A espécie Rachiplusia nu é encontrada, com maior freqüência, na região Sul do Brasil (RS e SC), enquanto que Pseudoplusia includens pode ocorrer tanto no Sul quanto no Centro-Oeste (MS, MT, GO e TO) ou nas regiões atuais de expansão da soja (Nordeste e Norte). Trichoplusia ni tem sido constatada em associação com P. includens especialmente nas regiões onde


CARACTERÍSTICAS PARA IDENTIFICAÇÃO Crébio José Ávila

s adultos da falsa-medideira apresentam coloração geral marrom-brilhante com duas manchas circulares prateadas no primeiro par de asas (anterior). A cópula ocorre nos primeiros dias após a emergência do adulto, e a oviposição, de dois a cinco dias após a fecundação. As fêmeas copulam entre uma e quatro vezes durante a vida; depositam, em média, 640 ovos, que são esbranquiçados, translúcidos e brilhantes e que têm período de incubação de cinco dias. A longevidade da mariposa é de, aproximadamente, 14 dias. Após a eclosão, as lagartas são de coloração verde-clara e medem cerca de 5 mm (10 estádio), aumentando até 9 mm (20 estádio); apresentam a movimentação característica do tipo mede-palmo, que é também observada nos demais estádios. Essa movimentação típica é devida à presença de apenas dois pares de pernas (pseudopernas) abdominais, que, juntamente com o par terminal, são reforçados. No 30 estádio, medem 15 mm e são de coloração verde-clara, com uma listra longitudinal branca em cada lado do corpo e várias linhas mais estreitas sobre o dorso; podem também apresentar pontuações escuras ao longo do corpo e pernas se cultiva o algodoeiro.

CONTROLE Um efetivo manejo da lagarta falsamedideira na soja inicia-se na fase inicial de desenvolvimento da cultura. Deve-se evitar, reduzir, ou retardar, o máximo possível, aplicações de inseticidas, visando ao estabelecimento e/ou à manutenção de inimigos naturais no agroecossistema. Todavia, se o controle for necessário, recomenda-se o emprego de inseticidas seletivos, ou seja, produtos que sejam eficientes no controle de lagarta-da-soja, porém, de baixa toxicidade para predadores, parasitóides e entomopatógenos. Esses ingredientes ativos estão disponíveis nas tabelas de recomendações das Comissões Regionais de Pesquisa de Soja do Brasil. O controle químico da falsa-medideira tem sido relativamente difícil, por se tratar de uma espécie mais tolerante às doses de inseticidas normalmente recomendadas para a lagarta-da-soja, além de que a maioria dos princípios ativos atualmente recomendados para o seu controle tem-se mostrado ineficiente. Outro fator limitante

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torácicas escuras. A mesma coloração permanece nos 40, 50 e 60 estádios, quando medem até 20, 30 e 35 mm, respectivamente. A duração do estádio larval varia em função da temperatura ambiente. É mais rápida nos períodos mais quentes e mais lento nas épocas mais frias, o que resulta nas seguintes variações em dias: 2 a 5 (10 estádio), 2 a 4 (20 estádio), 1 a 3 (30 estádio), 2 a 5 (40 estádio), 2 a 5 (50 estádio) e 4 a 11 (60 estádio). A cápsula cefálica da lagarta falsa-medideira é verde-brilhante, podendo escurecer nos estádios finais. Os segmentos na lagarta são bem marcados, e no intervalo entre um e outro aparecem linhas esbranquiçadas. O corpo tende a aumentar de tamanho em direção à extremidade posterior, conferindo um aspecto afunilado. Próximo à fase de pupa, as lagartas diminuem ligeiramente de tamanho, apresentam os segmentos bem marcados e uma coloração mais clara. Esta fase é passada dentro de uma teia construída com fios de seda, que demora de um a dois dias para ser tecida, em contato com a superfície da folha de soja. A pupa mede aproximadamente 16 mm, tem coloração verde e duração de, aproximadamente, sete dias, quando então emerge o adulto. para o controle efetivo da falsa-medideira está relacionado ao seu hábito. Como as lagartas ficam situadas, geralmente, no baixeiro e/ou no terço médio das plantas, os inseticidas aplicados sobre a cultura, normalmente, não atingem o ambiente onde o inseto está alojado. Dessa forma, ele fica protegido da ação dos produtos, especialmente quando a cultura estiver fechada. Sendo assim, as pulverizações com

A falsa-medideira se situa no baixeiro da planta, onde os defensivos geralmente não chegam, o que dificulta muito o seu controle

inseticidas na cultura devem ser realizadas com gotas pequenas, utilizando-se para isso, preferencialmente, bicos do tipo cone. Diversas instituições de pesquisa, envolvendo as diferentes regiões do país, têm conduzido ensaios visando selecionar produtos eficientes para o controle da praga. Os inseticidas pertencentes ao grupo dos carbamatos são, em geral, os mais promissores para serem recomendados. Trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS) e na Fundacep Fecotrigo, em Cruz Alta (RS), evidenciaram boa performance dos inseticidas thiodicarbe e metomil (Figuras 1 e 2), sendo que este último foi indicado pela Comissão de Entomologia da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul e recomendado pela Comissão de Entomologia da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. C Crébio José Ávila e Sérgio Arce Gomez, Embrapa Agropecuária Oeste Mauro Tadeu Braga da Silva, Fundacep

Fotos Janice Ebel

O

Crébio e Mauro explicam que aplicações desnecessárias ou de amplo espectro podem causar o desequilíbrio biológico entre pragas e inimigos naturais

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Soja

Fotos Wagner Antonio Chueiri

Quando adubar

Ensaios comprovam a eficiência da adubação em présemeadura, prática que traz como principais vantagens redução do risco de danos às sementes e menor morosidade no momento de plantio da cultura

A

aplicação do fertilizante no sulco abaixo da semente durante a semeadura é uma prática rotineira. Trata-se na verdade de duas práticas na mesma operação – semeadura e adubação. Essa estratégia tornou-se tradicional, primeiramente devido ao sentido do crescimento das raízes (geotropismo positivo), localizando o fertilizante na trajetória de crescimento destas. Fazer as duas práticas na mesma operação também é uma questão de racionalização de tempo e energia. Em solos de baixa fertilidade, tal estratégia se justifica ainda mais devido à necessidade do aumento da disponibilidade de nutrientes na região onde se iniciará o desenvolvimento das raízes das plantas. O fertilizante não deverá estar próximo demais das sementes, de modo a causar danos às mesmas pelos produtos da sua reação, tampouco longe a ponto de comprometer a nutrição e o desenvolvimento inicial das plantas. Pesquisas têm apontado que a distância do fertilizante em relação à semente ao redor de 5,0 cm, abaixo e ao lado, tem sido

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PORQUE OPTAR PELA ADUBAÇÃO ANTECIPADA?

N

a seqüência listamos pelo me nos dez razões que justificariam a adubação em pré-semeadura da soja: 1) redução do risco de danos às sementes (Figura 1); 2) melhoria do estande de plantas, devido aos cuidados apenas com a distribuição das sementes, podendo fazê-la com maior critério; 3) redução do risco de danos a organismos benéficos (bactérias que fixam nitrogênio, por exemplo), pela não exposição a produtos da reação dos fertilizantes (ácidos e sais); 4) maior disponibilidade de tratores, pois em muitas regiões a época de semeadura da soja coincide com a aplicação da adubação de cobertura no milho. A agilidade na semeadura libera o equipamento mais cedo, dando maior flexibilidade às

operações; 5) a operação apenas com semente demanda tratores de menor potência, que custam menos (menor custo fixo) e consomem menos combustível; 6) maior flexibilidade no tempo de transporte do fertilizante até a propriedade, reduzindo o risco de entrega, que pode comprometer a época de semeadura; 7) redução no tempo de estocagem do fertilizante na propriedade, liberando espaço em galpões; 8) redução do risco de problemas de qualidade do fertilizante devido ao tempo de estocagem; 9) maior chance de semeadura dentro da época recomendada; 10)melhor aproveitamento das condições climáticas favoráveis à semeadura, dentro da época recomendada.

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Tabela 1 - Resultado da análise de solo da área antes da implantação do experimento. Maracaju (MS). Fundação MS, 2005 suficientemente segura, considerando as doses de fertilizantes (principalmente sais, como o cloreto de potássio) atualmente recomendadas pela pesquisa na semeadura. Apesar da praticidade da operação, principalmente devido aos grandes avanços tecnológicos dos equipamentos de semeadura, ainda assim a aplicação conjunta do fertilizante é responsável pela morosidade da operação. Ao longo do tempo, um solo adequadamente adubado e bem manejado - entenda-se aqui um plantio direto bem feito e um programa de rotação de culturas adequado - tende a atingir um bom nível de fertilidade. Nesse ponto, a dependência que as culturas terão do fertilizante é diminuída, pois o sistema construído apresenta maiores teores de nutrientes, além de tornar-se mais eficiente em supri-los às plantas. Atinge-se um nível de auto-suficiência. Isso não quer dizer que acabe a necessidade de aplicação do fertilizante. A matemática é exata, e nesse caso não existem milagres: quando se colhe, e se retira o produto colhido da área, remove-se parte dos nutrientes absorvidos pelos grãos, pelas plumas ou outras partes colhidas. Estamos consumindo a fertilidade do solo e temos que repô-la, para mantermos a capacidade produtiva deste; e quanto mais se colhe mais se retiram nutrientes do solo. Os corretivos e fertilizantes orgânicos e minerais têm a responsabilidade de repor essas retiradas. Nas áreas que atingiram tais níveis de fertilidade, a reposição poderá ser feita aplicando-se os fertilizantes de outra forma que não a tradicional, tanto no tempo como no espaço. Isto é, aplicá-lo antes da semeadura, a lanço, na superfície do solo, ou em sulco (usando a semeadora abastecida apenas com o fertilizante). Esta segunda opção é comumente chamada de “plantar o adubo”. O tempo de antecipação da adubação em pré-semeadura dependerá da cultura antecessora, da textura do solo, do regime de chuvas, da mobilidade dos nutrientes aplicados e da disponibilidade e rendimento dos equipamentos a serem utilizados. Também não há necessidade de retirarmos totalmente o fertilizante da operação de semeadura, por exemplo, podemos aplicar apenas o fósforo na linha (starter) em dose que o reabastecimento do fertilizante seja sincronizado com o da semente. Na safra 97/98, a Manah, através de suas equipes em todo o Brasil, iniciou testes a campo em áreas comerciais, comparando a adubação tradicional do agricul-

Prof. (cm) 00-20 20-40

pH CaCl2 4,7 4,6

Prof. (cm) 00-20 20-40

MO % 3,5 3,1

H2O 5,5 5,3

P Mehl. 9,1 2,8

P Res. 19,8 6,0

S

K

Ca

0,27 0,05

6,45 4,80

Zn

Al3+ H+Al cmolc.dm-3 1,18 0,14 3,35 0,80 0,20 3,22 Mg

B

SB

T

7,81 5,70

11,38 8,89

Cu

Mn

Fe

4,39 2,60

44,5 20,9

17,4 12,0

cmolc.dm-3 37 27

1,3 0,4

0,47 0,43

V (%) 68,4 64,0 Argila (%) 52,2 58,7

Determinações: MO (K2Cr2O7); PM (Mehlich); PR, K, Ca e Mg (Resina); Al3+ (KCl); H +Al (Tampão SMP); S (Ac. Amônio); B (Água Quente); Cu, Fé, Mn e Zn (Mehlich).

Tabela 2 - Produtividade da soja (sc.ha-1) em resposta a época e ao modo de aplicação do fertilizante no sistema plantio direto avaliado em sete anos agrícolas consecutivos em solo com bom teor de fósforo. Fundação MS, Maracaju (MS), 2005 Trat. T1 T2 T3 T4 C.V (%) Média

1997/98 BR-16 54,6 a1 54,5 a 54,0 a 54,6 a 4,7 54,4

1998/99 FT-Jatobá 62,5 a1 57,8 ab 60,4 ab 55,3 b 6,6 59,0

1999/00 FT-Jatobá 63,8 a1 61,4 A 60,3 A 52,6 B 3,8 59,6

2.000/01 BRS 133 72,4 a1 74,5 a 75,3 a 52,8 b 2,5 68,8

2.001/02 Embr. 48 72,3 a1 74,0 a 76,0 a 43,4 b 5,6 66,4

2.002/03 BRS 206 66,9 a1 68,2 a 69,1 a 33,0 b 4,5 59,3

2.003/04 CD 202 44,3 b1 48,5 A 47,4 A 21,2 C 5,8 40,4

Média sc/ha 62,4 a1 62,7 a 63,2 a 44,7 b 11,8 58,3

Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. Obs: A produtividade do ano agrícola 2003/04 foi afetada por forte estiagem e alta temperatura. 1

tor com a antecipada a lanço ou em sulco, usando as mesmas dose e fórmula de fertilizantes nos tratamentos. Foram 69 campos de observação de soja, conduzidos em diversas regiões sob diferentes solos, clima, cultivares e tecnologia. Os resultados foram promissores. Na mesma safra, a Manah e a Fundação MS iniciaram uma parceria para estudar a antecipação da adubação na cultura da soja, porém agora sob o rigor da metodologia científica. Durante sete safras e sob diferentes condições de clima, solo e cultivares, no município de Maracaju (MS), essa prática foi estudada, usando-se o fertilizante Fosmag da Manah. Num solo com bom teor de fósforo (Tabela 1), testaram-se quatro tratamentos: T1 - Adubação a lanço em pré-semeadura no mês de setembro; T2 - Adubação incorporada ao solo em pré-semeadura, em linhas espaçadas de 0,45 m, no mês de setembro; T3 - Adubação no sulco de semeadu-

Corretivos e fertilizantes tem a responsabilidade de repor nutrientes retirados do solo

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ra, no ato da mesma; T4 - Testemunha (sem adubo). Na média dos sete anos agrícolas, não houve diferença estatística significativa na produtividade da soja em função da época e do modo de aplicação do fertilizante (Tabela 2). Observa-se que o tratamento testemunha sem adubação (T4) apresentou uma produtividade estatisticamente inferior à dos tratamentos nos quais se utilizou fertilizante (T1, T2 e T3) em todos os anos agrícolas, com exceção da safra 1997/98 e 1998/99. No entanto, com o passar dos anos, a diferença na produtividade da soja entre os tratamentos que receberam fertilizantes e o que não recebeu tornou-se cada vez maior, devido à exportação dos nutrientes e à não reposição dos mesmos no tratamento testemunha (T4). De acordo com os resultados de produtividade obtidos neste experimento, é possível inferir que, se o solo apresentar bons níveis de fertilidade, não é obrigatório utilizar a adubação de manutenção de forma tradicional, ou seja, no sulco de semeadura. Desse modo, surgem outras opções para aplicação do fertilizante de manutenção na cultura da soja, como, por exemplo, a aplicação a lanço antes da semeadura, trazendo grandes vantagens para o sojicultor, conforme já citado. Informações na íntegra sobre este trabalho podem ser encontradas no site www.manah.com.br ou www.fundacaoms. C com.br. Dirceu Luiz Broch e Wagner Antonio Chueiri, Bunge Fertilizantes S/A.

25


Soja

Fotos Ricardo Balardin

O poder químico Falta de cultivares resistentes à ferrugem asiática da soja estimula a realização de rede de ensaios para avaliar eficiência de produtos fungicidas para o controle da doença na safra 2005/06

N

a ausência de cultivares resis tentes, a utilização de fungi cida, embora aumente o custo de produção, tem viabilizado o cultivo da soja na presença da ferrugem. Atualmente, 27 produtos encontram-se registrados para o controle da ferrugem no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Informações sobre a eficiência de fungicidas para o controle das

diferentes doenças são cada vez mais necessárias para orientar sua correta utilização no campo. Durante a vigésima quinta Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, realizada no ano de 2003, em Uberaba (MG), foi formada a rede de ensaios para controle de doenças na cultura da soja, visando atender uma demanda de pesquisa que comparasse todos produtos numa

Eficiência de produtos é fácil de ser observada em situações onde a ferrugem ocorre de forma mais agressiva

26

mesma situação. Na safra 2004/05, 18 instituições de pesquisa participaram dos ensaios e na safra 2004/05 esse número aumentou para 25 (vide box). A lista de tratamentos, o delineamento experimental e as avaliações dos ensaios são padronizados para sumarização conjunta ao final da safra, sendo realizados de acordo com as normas para avaliação e recomendação de fungicidas para a cultura da soja (Reunião, 2004). As análises são realizadas utilizando as avaliações de severidade (porcentagem de área foliar lesionada), uma vez que as tabelas que constam na publicação “Tecnologias de Produção de Soja – Região Central do Brasil 2005” consideram as doenças separadamente. Na safra 2003/04, os produtos foram agrupados de acordo com os resultados da análise estatística (Godoy, 2005). Para a safra 2004/05, os novos produtos registrados e em fase de registro foram avaliados. Para comparação com os resultados da safra 2003/04, foram utilizados como padrões os produtos tebuconazole 100 g i.a./ha e azoxystrobin + ciproconazole 60 + 24 g i.a./ha, que apresentaram, na safra anterior, eficiência de controle superior a 86%. Para realização dos ensaios, os produtos foram aplicados nos estádios R2 (flo-

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Tabela 1 - Instituições, locais e severidade no momento da aplicação e redução de produtividade nos ensaios para controle de ferrugem da soja. Safra 2004/05 rescimento pleno) e R5.1 (início da formação de grãos). Na safra 2004/05, foram realizados 20 ensaios nas diferentes regiões produtoras. Dos 20 ensaios, em dez, as aplicações foram realizadas sem sintomas de ferrugem e, em dez, foram realizados com sintomas, sendo destes, somente três ensaios, aplicados com severidade acima de 1% (Tabela 1). A redução de produtividade em porcentagem foi calculada comparando a testemunha sem controle e o melhor tratamento de cada ensaio, sendo observada maior redução para os ensaios aplicados com sintomas, no momento da aplicação, quando comparado com os ensaios aplicados sem sintomas, indicando maior pressão da doença (Tabela 1). A redução média da produtividade observada nos ensaios aplicados sem sintomas foi de 31%, enquanto que, nos ensaios aplicados com sintomas foi de 47%. Esse fato já era esperado, pois a ferrugem é uma doença policíclica (vários ciclos do fungo em um único ciclo do hospedeiro) e quanto mais cedo ocorre sua incidência na cultura maior a probabilidade de ocorrer redução de produtividade. Para sumarização dos ensaios, foram realizadas análise conjunta dos 20 ensaios, análise conjunta dos 10 ensaios aplicados sem sintomas no estádio R2 e análise conjunta dos 10 ensaios aplicados com sintomas no estádio R2. Os resultados apresentados se referem à análise conjunta dos 20 ensaios (Tabela 2), uma vez que foi a análise utilizada para completar a tabela com a coluna de

Instituição Fundação Bahia Embrapa Soja Epamig Fundação MS Fundação Mato Grosso Agênciarural/CTPA UFG FAPA IAC Embrapa Soja Embrapa Agropecuária Oeste/Fund. Chapadão Instituto Biológico Instituto Biológico CEFET Embrapa Cerrados Unesp UEPG Fesurv Tagro Coopermota

Local Bela Vista (BA) Londrina (PR) Uberaba (MG) Maracaju (MS) Rondonópolis (MT) Goiânia (GO) Ipameri (GO) Guarapuava (PR) Capão Bonito (SP) Riachão (MA) Chapadão do Sul (MS) Paulínia (SP) Paulínia (SP) Pato Branco (PR) Brasília (DF) Jaboticabal (SP) Ponta Grossa (PR) Rio Verde (GO) Tamarana (PR) Candido Mota (SP)

* diferença não significativa entre a produtividade dos diferentes tratamentos no ensaio. ** comparação entre a testemunha sem controle e o melhor tratamento.

agrupamentos disponível na publicação Tecnologias (2005) (Tabela 3), de modo semelhante ao utilizado na safra 2003/04. Na análise conjunta dos 20 ensaios, o produto fenarimol 60 g i.a./ha apresentou a menor eficiência de controle (54%), sendo a dose avaliada nesses ensaios superior à dose de registro do produto no MAPA. Através dessa análise, foram formados três grupos de eficiência com fenarimol 60 g i.a./ha, no grupo com eficiência abaixo de 80%, epoxiconazole 50 g i.a./ha, tetraconazole 50 g i.a./ha e miclobutanil 100 g

Severidade na aplicação 0 0,01% 0 0 0,1% 0 0 0 2% 0 0,1% 7% 0 0,01% 0 0 0,08% 8% 0,03% 1%

Redução de produtividade (%)** 52,2 32,7 34,3 22,0* 66,5 29,1* 29,4* 27,5* 81,3 24,3 29,4 68,8 24,4 43,7 52,7 16,4* 36,9 34,5 32,1 42,5

i.a./ha, no grupo com eficiência entre 80% e 86%, e tebuconazole 100 g i.a./ha, ciproconazole + propiconazole 24 + 75 g i.a./ ha, flutriafol + tiofanato metílico 60 + 300 g i.a./ha e trifloxystrobin + tebuconazole 50 + 100 g i.a./ha, no grupo com eficiência de controle acima ou igual a 86%. Os padrões utilizados nos ensaios, tebuconazole 100 g i.a./ha e azoxystrobin + ciproconazole 60 + 24 g i.a./ha, permanecem no grupo com eficiência acima de

INSTITUIÇÕES

A

A recomendação da pesquisa é que se opte por produtos que apresentem eficiência de controle igual ou superior a 80%

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tualmente, 25 instituições par ticipam da rede de ensaios. Essas instituições encontram-se distribuídas nas diferentes regiões produtoras (CEFET/Pato Branco, Convênio Cerrados - Agenciarural/CTPA/Embrapa, Coodetec, Coopermota, Decisão Tecnologia Agropecuária, Embrapa Agropecuária Oeste/Fundação Chapadão, Embrapa Amazônia Oriental, Embrapa Cerrados, Embrapa Soja, Embrapa Trigo, Epamig, Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, Fundação de Apóio à Pesquisa e Desenvolvimento do Oeste Baiano, ADAB, EBDA, Fundação de Ensino Superior de Rio Verde, Fundação Mato Grosso, Fundação MS, Instituto Agronômico de Campinas, Instituto Biológico, Tagro, UNESP/Jaboticabal, Universidade de Passo Fundo, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Ponta Grossa e Universidade Federal de Goiás).

27


OA 86%, semelhante aos ensaios da safra 2003/ 04. Os produtos sem registro no MAPA (tratamentos 9, 10 e 11) e sem solicitação para inclusão na Tabela, durante a reunião de soja, (tratamentos 6, 13 e 14) não constam na tabela da publicação Tecnologias (2005). Embora tenham sido formados três grupos de eficiência na análise conjunta dos resultados, é importante salientar que

os produtos podem ter a mesma eficiência no campo, em condições de baixa pressão da doença. Essa diferença na eficiência dos produtos é mais fácil de ser observada em situações onde a ferrugem ocorre de forma mais agressiva. A formação de três grupos não implica em flexibilidade na aplicação dos produtos para o controle. Os produtos devem ser utilizados nos sintomas iniciais (traços da doença) ou preven-

C

om o surgimento recente da ferru gem no Brasil, muitas das especulações sobre a influência do ambiente no desenvolvimento da doença tomaram por base os trabalhos desenvolvidos em outros países, principalmente aqueles realizados em condições controladas pelos pesquisadores Marchetti et al. (1976) e Melching et al. (1989). Esses autores verificaram que o período mínimo de molhamento foliar necessário para que ocorresse a infecção era de seis horas, desde que a temperatura estivesse em uma faixa de 22o a 24o C. A temperatura mínima para ocorrer infecção era de 9o C e a máxima de 28,5o C, com período de molhamento superior a 12 horas. Trabalhos realizados no Brasil, nas mesmas condições controladas, ainda não publicados, mostram tendência similar. Com base nesses resultados, se supunha que epidemias de ferrugem mais severas no Brasil poderiam ocorrer com maior freqüência em regiões de altitude mais elevada, onde temperaturas noturnas são mais amenas, com mai-

Tabela 2 - Severidade (%) e controle (%) na análise conjunta dos resultados dos 20 ensaios realizados para controle da ferrugem da soja (P. pachyrhizi). Safra 2004/05 g i.a./ha

Produto comercial

100 60 + 24 50 50 100 50 24 + 75 100 + 50 75 + 150 74,8 + 70 60 + 300 50 + 100 60 100

Folicur Priori Xtra1 Opus Eminent Rival Domark Artea Punch Alert Charisma Celeiro/ Imp. Duo Nativo2 Rubigan Systhane

Severidade (%) 44,36 4,02 3,8 6,19 6,5 4,89 6,54 5,28 7,89 8,29 7,49 4,31 4,86 19,86 8,57

Controle (%) 0 91 90 85 85 88 85 86 82 81 83 89 89 54 80

a d d c c d c d c c c d d b c

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância. 1 adicionado Nimbus 0,5% v/v 2 adicionado óleo metilado de soja 0,5% (Lanzar ou Agnique).

Tabela 3 - Fungicidas registrados para o controle da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi). XXVII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Cornélio Procópio, PR. 2005 Nome Comum azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole ciproconazole + propiconazole difenoconazole epoxiconazole fluquinconazole flutriafol myclobutanil pyraclostrobin + epoxiconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tetraconazole tetraconazole tiofanato metílico + flutriafol tiofanato metílico + flutriafol trifloxystrobin + ciproconazole trifloxystrobin + propiconazole

Nome comercial Priori4 Priori Xtra4 Artea Score 250 CE Opus Palisade5 Impact 125 SC Systhane 250 Opera Constant 200 CE Elite 200 CE Folicur 200 CE Orius 250 CE Tríade 200 CE Domark 100 CE Eminent 125 EW Celeiro Impact duo Sphere5 Stratego5

Agrupamento3

Dose/ha g de i.a. 50 60 + 24 24 + 75 50 50 62,5 62,5 100 – 125 66,5 + 25 100 100 100 100 100 50 50 300 + 60 300 + 60 56,2 +24 50 + 50 1

l ou kg de p.c. 0,20 0,30 0,30 0,20 0,40 0,25 0,50 0,40 – 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,40 0,50 0,50 0,40 0,60 0,60 0,30 0,40

2

* *** *** * ** * *** ** *** *** *** *** *** *** ** ** *** *** *** *

A empresa detentora é responsável pelas informações de eficiência para registro dos produtos. 1 g i.a. = gramas de ingrediente ativo 2 l ou kg de p.c.= litros ou quilogramas de produto comercial 3 Agrupamento realizado com base nos ensaios em rede para doenças da soja, safras 2003/04 e 2004/05. (***) - maior que 86% de controle; (**) – 80% a 86% de controle e (*) – 60% a 79 % de controle. 4 adicionar Nimbus 0,5% v./v. aplicação via pulverizador tratorizado ou 0,5 l/ha via aérea 5 adicionar 250 ml/ha de óleo mineral ou vegetal

28

tivamente, levando em conta os fatores necessários ao aparecimento da ferrugem (presença do fungo na região, idade da planta e condição climática favorável), a logística de aplicação (disponibilidade de equipamentos e tamanho da propriedade), a presença de outras doenças e o custo do controle. Após constatada ferrugem na região, deve-se dar preferência para produtos com eficiência de controle igual ou superior a 80%. Os resultados apresentados só foram possíveis graças ao trabalho conjunto das diversas instituições de pesquisas citadas C no artigo. Cláudia V. Godoy Embrapa Soja Charles Echer

Tratamento testemunha tebuconazole azoxystrobin + ciproconazole epoxiconazole tetraconazole tebuconazole tetraconazole ciproconazole + propiconazole flusilazole + carbendazin flusilazole + carbendazin flusilazole + famaxadone flutriafol + tiofanato metílico trifloxystrobin + tebuconazole fenarimol miclobutanil

Claudia Godoy apresenta os resultados de avaliação da eficiência dos fungicidas contra a ferrugem

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MBIEMTE E AS EPIDEMIAS DE FERRUGEM ASIÁTICA or número de horas de molhamento por orvalho. Após quatro safras com ferrugem no Brasil, esse padrão não tem sido observado. Epidemias mais severas têm sido registradas nos Cerrados, provavelmente em função da melhor distribuição hídrica durante a safra. Epidemias leves e moderadas têm sido registradas na Região Sul do Brasil, sendo esse fato associado às condições de seca, principalmente nas últimas duas safras. Em relação à temperatura, embora os trabalhos evidenciassem o efeito negativo de temperaturas altas (acima de 27o C) no desenvolvimento da doença, as epidemias mais severas têm sido freqüentes no Mato Grosso, em locais onde temperaturas médias diárias acima dessa magnitude são comuns durante o mês de janeiro, por exemplo, e que, por sua vez, é o mês onde se registra a maior quantidade de chuvas naquela região. A chuva, além do orvalho, influencia diretamente no período de molhamento das folhas e não é simulada nos ensaios em condições controladas. Epidemias severas foram reporta-

das em anos com alto regime de precipitação durante a safra, em diversos países como Austrália, Tailândia, África do Sul, China e Taiwan. De modo oposto, como já observado no Brasil e no Paraguai, a taxa de desenvolvimento da doença é sensivelmente afetada sob condições de seca prolongada, havendo limitada dispersão e desenvolvimento da doença. Como exatamente a chuva afeta o desenvolvimento das epidemias é algo ainda a ser melhor estudado, porém, com certeza, a chuva amplifica o período de molhamento, necessário para que ocorra a infecção. Na China, modelos empíricos foram desenvolvidos utilizando variáveis de chuva durante meses fixos na safra para predizer níveis finais de severidade, com dados de epidemias observadas em mais de 10 anos (Tan, 1996). No Brasil, foi observada forte associação entre os níveis finais de severidade da ferrugem e o número de dias e a quantidade de chuva (mm), no período de 30 dias após o estabelecimento da doença, em 35 casos de epidemias observados em três anos, nas diferentes regiões

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produtoras. Dessa relação, modelos de risco, usando variáveis de chuva, foram ajustados, com potencial para ser empregados em estudos de análise de risco. Além de seu papel na epidemia, a ocorrência de chuvas bem distribuídas restringe os momentos ideais de aplicação de fungicidas. Por isso, muitas das perdas observadas nessas condições podem ter sido devidas também à menor eficiência do controle. No entanto, se de um lado ela pode ser vista como inimiga, a chuva é fundamental para o bom desenvolvimento da soja. Desse modo, para prever o cenário das epidemias de ferrugem em uma safra no Brasil, torna-se fundamental uma acurada previsão climática, pois o inóculo, conforme observado nos mapas do sistema de alerta, encontra-se presente já no início da safra, em várias regiões. A maior ou menor dispersão e a severidade regional da doença, nas diferentes regiões, é influenciada principalmente pelas condições ambientais e, dentre essas, a chuva parece exercer papel importante. Cláudia V. Godoy; Emerson M. Del Ponte

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Ricardo Balardin

Soja

Outra vez...

Os vários focos de ferrugem, em sua maioria identificados em plantações de entressafra e unidades de alerta, já são indícios do avanço da doença na safra, principalmente na fase de florescimento, devido aos esporos presentes no ar

A

presença do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática da soja, já foi confirmada em seis estados produtores de soja (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo), sendo oito ocorrências em cultivos de entressafra irrigados com pivô central, nove em unidades de alerta, cinco em plantas voluntárias de soja e três em lavouras comerciais, totalizando 25 relatos na consulta realizada em 23/11, no Sistema de Alerta. Apesar de parecer cedo, os relatos ocorreram em datas semelhantes às da safra 2004/05. Também de modo semelhante à safra passada, a maioria dos casos relatados até o momento ocorreu próximo ou após o florescimento. Os relatos de ferrugem no estádio vegetativo, que se constitui na situa-

30

ção mais crítica, ocorreram em área irrigada em Guaíra (SP) e em Primavera do Leste e Alto Garças (MT). No Mato Grosso, essa ocorrência precoce tem sido atribuída aos cultivos de soja irrigados na entressafra, que funcionam como “ponte verde” para o fungo, promovendo uma continuidade de inóculo durante todo o ano, como já observado na safra 2004/05. No Paraná, cinco focos foram identificados em plantas de soja voluntária (“guaxas” ou “tigüeras”). Nove focos foram identificados em unidades de alerta, nas diferentes regiões. As unidades de alerta, que se constituem em pequenas áreas de soja, semeadas até um mês antes da semeadura normal, sem aplicação de fungicida na parte aérea, são utilizadas para facilitar o monitoramento e alertar o agricultor para a

presença da doença na região. A maior parte das unidades de alerta que fazem parte do Consórcio Antiferrugem foram instaladas pela iniciativa privada (Syntinelas) e tem auxiliado a atualização dos mapas de focos de ferrugem no Brasil. Os focos de ferrugem são informados pelos laboratórios credenciados ao Consórcio Antiferrugem, que, a partir dessa safra, passam a alimentar o sistema com informações diretamente no site, agilizando as divulgações destas em tempo real. Os mapas de focos são divulgados no Sistema de Alerta, na página da Internet da Embrapa Soja (http://www.cnpso.embrapa.br/ alerta/). Quando as lavouras comerciais chegarem à fase de florescimento, há maior probabilidade do surgimento de ferrugem, se

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Cláudia Godoy

SISTEMA ALERTA

O

À medida que as lavouras entrarem na fase de florescimento, a tendência é o aumento do número de focos da ferrugem

as condições climáticas continuarem favoráveis à doença. À medida que os cultivos de soja entram na fase de florescimento, o número de focos no Brasil tende a aumentar. Os focos identificados em plantas de soja voluntárias, unidades de alerta e cultivos de entressafra indicam a presença de esporos do fungo no ar nessas regiões, devendo o produtor ficar alerta para sua lavoura, intensificando o monitoramento. O monitoramento da doença e sua identificação nos estádios iniciais são essenciais para o controle eficiente. Os primeiros sintomas da

ferrugem se iniciam pelos terços inferior e médio da planta e aparecem como minúsculas pontuações mais escuras que o tecido sadio da folha. A confirmação da ferrugem é feita pela constatação no verso da folha (face abaxial) de saliências semelhantes a pequenas feridas (bolhas), que correspondem à estrutura de reprodução do fungo (urédias). Em caso de dúvida, o produtor pode procurar um laboratório do Consórcio Antiferrugem na região para auxílio no

Sistema de Alerta é uma das ferramentas do Consórcio Antiferrugem para divulgar as informações sobre a situação da doença no país. O Consórcio é coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e conta com a participação de vários segmentos da cadeia produtiva da soja. Entre eles, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as fundações de apoio à pesquisa, as empresas estaduais de pesquisa, de transferência de tecnologias, as cooperativas, as universidades, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e a Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos (Aenda). diagnóstico da doença. Endereços de laboratórios, especialistas, informações sobre identificação, controle e produtos registrados para ferrugem também estão disponíC veis no site. Cláudia V. Godoy Embrapa Soja


Soja

Fim de safra nos EUA Charles Echer

Embora grandes investimentos tenham sido feitos pelos produtores americanos para aquisição de fungicidas e equipamentos, para uma eventual necessidade de tratamento de extensas áreas de soja contra a ferrugem asiática, seu impacto na produção total foi praticamente zero devido à sua baixa incidência

A

safra de soja americana de 2005 chegou ao fim e, com ela, também, pelo menos por alguns meses, o assunto que predominou na mídia americana ligada ao negócio da soja por longos nove meses – a ferrugem asiática. As estratégias de combate estavam todas delineadas no início da safra, sendo a principal e mais significativa delas o estabelecimento de uma rede de sentinelas distribuídas em todas as regiões de cultivo de soja para se monitorar a dispersão espacial e temporal da doença, seguindo o modelo implementado com sucesso no Brasil e na Argentina. Outras ferramentas também foram testadas, como modelos de risco de dispersão do inóculo e da doença e capturas semanais de esporos do fungo em armadilhas, dispostas em diversas regiões para se monitorar a dispersão aérea do inóculo. Os resultados do programa de combate à doença na safra 2005 foram apresentados no Simpósio de Ferrugem Asiática da Soja, realizado em Nashville, Tennessee, de 15 a 16 de novembro. O even-

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to reuniu um público ao redor de 350 pessoas ligadas a universidades, indústrias e centros de pesquisa americanos e do exterior. Chegou-se ao consenso de que a rede de sentinelas foi a principal ferramenta no manejo do risco da doença devido à confiabilidade do sistema. Uma vez detectada e confirmada a doença na sentinela, não se tiveram dúvidas de que o inóculo esteve presente na região há pelo menos algumas semanas e que houve condições favoráveis à infecção e ao desenvolvimento da doença. O fato, teoricamente, indicou um risco diferenciado, para produtores localizados na região onde se confirmou a detecção, e risco menor, para produtores em regiões bem distantes. Por outro lado, dúvidas surgiram em relação às detecções de esporos em armadilhas, com morfologia similar à do fungo da ferrugem asiática, mas que podem ser visualmente confudidos com diversas outras espécies de fungos que causam ferrugens. Em nenhum momento se conseguiu capturar número suficiente de esporos para se confimar com PCR, e tudo

não passou de especulações e dúvidas acerca da identidade dos esporos, e poucos se arriscaram a fornececer um diagnóstico baseado na observação visual. Muitos dos casos não se tornaram detecções positivas nas parcelas próximas às armadilhas. Porém, em outros, a doença foi detectada poucas semanas após a detecção dos esporos. Em suma, a melhor forma que o agricultor teve de conhecer o risco foi o acesso rotineiro a informações sobre a dispersão da doença no sistema de alerta com base no monitoramento de sentinelas e cultivos comerciais, o que é eficientemente feito pelo sistema de alerta mantido pela Embrapa Soja, no Brasil.

MAPA FINAL DA FERRUGEM Embora a primeira detecção do ano tenha sido confirmada no dia 23 de fevereiro de 2005, em plantas de kudzu no estado da Flórida, passado um longo período de nove meses, a ferrugem se disseminou muito lentamente. Para se ter uma idéia, até o dia 30 de junho, ou seja, quatro meses após a primeira detecção, ape-

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nas dez detecções foram confirmadas positivas, nos estados da Flórida, Geórgia e Alabama, com infecções em kudzu, soja voluntária e sentinelas. Em 20 de novembro, 146 detecções únicas foram registradas em 136 condados. Destas, 109 foram em soja e 37 em kudzu. Os estados com maior número de detecções foram aqueles onde a doença foi encontrada mais cedo, como Georgia, Alabama e Flórida. Nas Carolinas muitas detecções foram feitas bem tardiamente, e finalmente nos estados de Mississippi, Lousiana, Texas e Kentucky, a doença foi detectada em apenas um ou dois locais em cada estado a partir do final de outubro. As detecções, de maneira geral, apresentaram incidência muito baixa, e com desenvolvimento lento após a identificação, excetuando-se alguns locais onde prevaleceram condições de alta umidade ou com irrigação. As detecções em kudzu apresentaram resultados contraditórios. Em muitas ocasiões, o kudzu não se apresentou infectado mesmo estando localizado muito próximo a fontes confirmadas de inóculo. No mês de novembro, a ferrugem foi reportada primeiramente em uma outra espécie além de soja e kudzu, a planta daninha Desmodium tortuosum.

ANÁLISE DA SITUAÇÃO Dentre as várias lições aprendidas, uma delas foi a de que a doença não apresentou a suposta rápida dispersão que tanto se temia e supunham alguns especialistas, baseado na experiência brasileira, principalmente. Existem algumas discussões e hipóteses sobre o porquê dessa dispersão lenta e falta de agressividade da doença na safra. Uma delas estaria relacionado ao

NÚMEROS DO MONITORAMENTO AMERICANO

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úmeros interessantes foram apresentados no evento. O total de unidades sentinelas monitoradas, incluindo campos comerciais e as regiões no Canadá, foi de 973. O custo médio, por estado americano, para implementar e monitorar as sentinelas foi ao redor de 40 mil dólares. Plantas de kudzu foram monitoradas em 149 locais. Outras 24 espécies de plantas, supostamente hospedeiras do fungo, foram também inspecionadas. Um número médio de 100 folíolos de soja foram analisados nas inspeções, em sua maioria em intervalos semanais. O sinto-

mas iniciais foram detectados nas folhas do terço inferior da plantas. Na maioria das inspeções, as folhas com sintomas suspeitos foram examinadas em laboratório, sob o microscópio para se verificar esporulação. Em 20% dos casos, foram utilizados métodos moleculares (PCR) e imunológicos (Elisa) para se detectar o fungo, principalmente para a confirmação. Com certeza, se o sistema de alerta não tivesse sido implementado, teria se aplicado muito fungicida de forma desnecessária, devido a limitada dispersão da doença no país.

baixo potencial de inóculo do fungo nesse primeiro ano. O potencial de esporulação do fungo nas fontes pode ter sido superestimado e, assim, mal incorporados em modelos de simulação de transporte de esporos, que de certa forma superestimaram a dispersão de inóculo, apesar de não se poder validar esses modelos de uma forma fácil. Análises do padrão de ventos indicaram que anomalias ocorreram nesse ano com ventos mais fracos e pouco direcionados para o norte, principalmente partindo de fontes na Flórida, Geórgia e Alabama. Quanto às condições de umidade, essenciais para o estabelecimento da doença, houve um pronunciado e longo estresse hídrico na região que se estende do oeste do Mississippi, Arkansas, Missouri, Illinois Iowa e Indiana. As chuvas foram escassas nessas regiões a partir de junho,

sendo que a maioria das regiões ao norte aprentaram chuvas mensais em julho e agosto, abaixo da normal, o que deve ter desencorajado o estabelecimento da doença, se esporos do fungo estiveram presentes nessas regiões. Já nos estados do sul, as chuvas tiveram distribuição mais regular. De fato, uma combinação de diversos fatores é necessária para que ocorra a doença, e certamente, um ou mais fatores estiveram ausentes nas principais regiões produtores no centro e norte do país, seja falta de inóculo ou de condições favoráveis à infecção, ou ambas. No nosso grupo de pesquisa na Universidade do Estado de Iowa, as tendências de risco de dispersão futura da doença para as regiões nortes, que foram elaborados durante a safra, foram bem condizentes com a situação real. A interpretação do risco foi baseada em mapas

Figura 1 - Número de detecções mensais e estágio da soja durante a detecção, em um total de 146 detecções nos Estados Unidos, até 20 de novembro de 2005

Fonte - Giesler & Hershmann, comunicação pessoal

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Figura 2 – Mapa de dispersão da ferrugem nos Estados Unidos em 23 de novembro de 2005. Os números representam o total de condados positivos para ferrugem em cada Estado

gerados por modelos de dispersão de esporos, combinados com um modelo de favorabilidade a epidemias, com base na chuva mensal e que foi adaptado para utilizar dados observados de chuva, combinados com dados de previsão de chuva para os próximos 15 dias. Esse modelo foi desenvolvido com dados de epidemias observadas no Brasil, cujos níveis de severidade apresentaram alta correlação com variáveis de chuva após a detecção, o que se traduz em favorabilidade à epidemias (Del Ponte et al., dados não publicados). De forma consistente, o risco de epidemias foi estimado como sempre maior nas regiões do sul, e baixo a muito baixo nas regiões norte, acima de Tenessee e a oeste do rio Mississippi, devido ao estresse hídrico durante a safra. Em algumas ocasiões em que ocorreram períodos favoráveis nas regiões mais ao norte, os modelos de esporos indicavam risco baixo da presença desses na região.

IMPACTOS DA FERRUGEM NA SAFRA

XB Yang

Com a limitada presença da doença e detecções tardias, estima-se que pequenas

Parcela sentinela atacada pela ferrugem na Flórida e mostrando desfolha em setembro de 2005

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perdas devido a ferrugem tenham ocorrido em poucos campos onde não se efetuou tratamento químico em tempo hábil, principalmente nos Estados da Flórida, Alabama, Georgia e Carolina do Sul. O seu impacto na produção total foi praticamente zero, em termos de dólares perdidos devido ao ataque ferrugem. Entretanto, um grande investimento foi feito por muitos produtores americanos para aquisição de fungicidas e equipamentos de pulverização, para uma eventual necessidade de tratamento de áreas extensas em tempo hábil. Os fabricantes de fungicidas também investiram pesado em infra-estrutura para distribuição e estoque de produtos para suprir uma potencial demanda. Tais investimentos não tiveram retorno nesse ano devido ao baixíssimo uso de fungicidas comparativamente ao que seria utilizado se a ferrugem tivesse se disseminado para as

principais áreas produtoras. Devido ao maior risco na região sul do país, produtores nessas regiões devem ter utilizado mais fungicidas comparativamente às safras anteriores. No Alabama foi estimado que aproximadamente 50% da área de soja tenha sido tratada com fungicidas, comparado a apenas 5% em 2004. Mesmo assim, a área é muitíssimo pequena comparada a área total da soja. Os investimentos diretos pelo governo americano na instalação e condução das parcelas sentinelas foram de 875 mil dólares, enquanto que o NCRSP investiu mais 360 mil dólares na rede de sentinelas. Indiretamente, muito dinheiro foi gasto pelo governo em horas de salários para funcionários do governo envolvidos com o projeto de monitoramento. Até o momento, tudo está sendo considerado como um grande investimento que terá retorno no futuro conforme se vai ficando vigilante e aprendendo lições a cada C safra. Emerson Medeiros Del Ponte Iowa State University

PERSPECTIVAS PARA 2006

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mbora trabalhoso e consumindo grande tempo e esforção de um grande número de pessoas envolvidas, o sistema de alerta será novamente utilizado na safra 2006, com algumas melhorias baseadas na experiência adquirida. Se concluiu que talvez não seja necessário inspecionar parcelas antes do florescimento e que mais observações devem ser feitas em laboratório, e não apenas em inspeções de campo. É possível que se faça um monitoramento mais intenso e mais recursos sejam investidos nos estados do sul, onde se tem o maior risco da doença. Nesses locais será concentrado ensaios para avaliações de fungicidas e avaliações de germoplasma, o qual já apresentou alguns resultados nesse ano. Durante o inverno, será dada especial atenção ao monitoramento das fontes de inóculo no sul para se verificar a sobrevivência e potencial para a próxima safra. Estudos epidemiológicos continuarão sendo conduzidos em relação a produção de esporos nas fontes, dado importante para os modelos de simulação de movimento de esporos, bem como protocolos de monitoramento da evolução da doença mais úteis para o entendi-

mento da epidemiologia da doença. Na opinião do colega Dr. Donald Hershmann da Universidade de Kentucky, alguns anos são ainda necessário para se ter melhor entendimento sobre o manejo. O pesquisador estima um período de 3 anos para se ter bom conhecimento em como se fazer boas aplicações de fungicidas; 10 anos para se desenvolver variedades resistentes; 3 a 5 anos para se poder determinar se práticas culturais tem algum valor no manejo da doença; 3 anos para se ajustar e refinar metodologias de detecção e avaliação da doença; e 5 anos para se refinar os modelos preditivos de forma que possam ter utilidade e acurácia. Sendo a ferrugem uma doença extremamente depende de clima, é possível que o panorama da próxima safra seja totalmente diferente da atual, e assim, sob um cenário de maior pressão, sejam obtidos maiores conhecimentos sobre a doença, e que esses tempos previstos sejam encurtados ou mesmo alongados. Todo o progresso no conhecimento da doença certamente ajudarão os Estados Unidos e outros países como o Brasil, a entender e manejar de forma mais racional essa importante doença da soja.

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Algodão

Fibra transgênica Newton Peter

Conhecer de perto o sistema produtivo de algodão genéticamente modificado dos EUA e trazer as informações necessárias para esclarecer dúvidas sobre o cultivo de trangênicos foram os objetivos da viagem de parceria entre empresas e grupo de consultores

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lgumas fases históricas do passado são lembradas como grandes avanços que mudaram os rumos da humanidade. Na antigüidade a domesticação dos animais e o domínio da agricultura são tidos como fatores importantes na criação de crenças religiosas, por terem disponibilizado tempo para que o homem pudesse pensar não apenas em sua sobrevivência, mas a respeito da sua criação. Quando estamos vivendo uma onda de mudança, nem sempre é fácil identificá-la. Durante esse processo, criam-se

frentes contrárias ou favoráveis, e partidários de cada lado defendem seus pontos de vista embasados no conhecimento disponível até o momento. Porém, nenhum deles com a convicção que apenas o tempo trará. O mundo vive, há quase dez anos na agricultura, o lançamento comercial do que os cientistas chamam de “Revolução Genômica”. Comparável à Revolução Industrial, que mudou os paradigmas do processo produtivo, atualmente muitos países aplicam as evoluções do conhecimento da biotecnologia em vários campos, como na agricultura e na medicina. A cultura do algodão está inserida nesse processo, e, para aplicação dessa tecnologia, é preciso ser crítico e ter base em informações que dêem a capacidade de entender todo o processo da transgenia, desde sua criação até o uso final pelos consumidores nas prateleiras das lojas. Com o objetivo de criar um posicionamento crítico a respeito do algodão transgênico, foi realizada uma viagem técnica do Grupo Brasileiro dos Consultores de Algodão (GBCA) em parceria com as empresas Ihara e Kumiai Chemical, para

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visitar regiões produtoras de algodão dos Estados Unidos da América. A utilização de novas tecnologias deve sempre estar baseada em experimentação e conhecimento técnico. Como no Brasil se impediu a pesquisa dessa tecnologia com mais rigor, o GBCA decidiu visitar a região produtora do Cotton Belt nos EUA, para avaliar e trocar experiências com os norte-americanos sobre as vantagens e limitações desse novo sistema. Espera-se, assim, satisfazer a grande demanda do setor produtivo através da utilização das informações mais recentes. Através dos consultores membros do GBCA, o assunto algodão transgênico deverá passar por uma avaliação para subsidiar posteriores usos nas lavouras brasileiras. São pontos fundamentais dessa análise a independência ideológica sobre biotecnologia e a observação dos impactos prós e contras de forma a otimizar a eficiência e permitir a longevidade dos produtos da transgenia. Durante a visita técnica aos EUA, vários segmentos do agronegócio – empresas, estações de pesquisa privadas, universidades, produtores e consultores – foram ouvidos para que a coleta de informação fosse a mais ampla possível. Além disso, buscou-se conhecer regiões

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Fotos Divulgação

produtoras com características que possam ser aplicadas em nossas condições. Na cultura do algodão, neste momento, existem duas modalidades de algodão transgênico: a) Resistência a lepidópteros (lagartas) através do gene Bt. b) Resistência à ação de herbicidas não seletivos, como glifosato, glufosinato e buctril. Desde 1996, essas tecnologias vêm sendo empregadas como medidas para facilitar a condução da cultura do algodão, o que permitiu a muitos agricultores, já desestimulados com problemas no controle de lagartas-das-maçãs resistentes a inseticidas e de plantas invasoras, a permanência na cultura do algodão. O impacto na redução do custo de produção não pode ser colocado como um aspecto favorável, pois os custos ligados aos royalties da tecnologia praticamente equiparam-se aos do controle das pragas e das invasoras. A manutenção da área de produção é o ponto alto, as reduções das perdas ligadas ao ataque de lagartas e à competição com as invasoras trazem mais tranqüilidade e menor risco à produção. Próximo a 10 anos do algodão transgênico nos EUA, alguns problemas surgiram com a falta de cuidados durante sua condução. Um exemplo claro foi a diminuição no monitoramento da cultura, o que deu a oportunidade de outras pragas, como os percevejos, causarem danos ao algodoeiro. Os locais de refúgio da praga, um programa organizado de uso de inseticidas, a pureza genética, entre outras, são condições obrigatórias no manejo do algodoeiro para que as plantas de algodão Bt permaneçam viáveis e protegendo a cultura do ataque de lagartas. Mesmo com a adoção da transgenia, por mais facilidade que traga, não se pode abandonar o monitoramento da lavoura. Essa é a oportunidade de aprimorar a forma de monitoramento existente,

contemplando todos os fatores envolvidos na condução da cultura. O manejo de plantas invasoras ficou mais fácil com o algodão transgênico resistente a herbicidas. Porém, o problema ainda existe, e surgiram novos problemas, reflexos do uso errôneo da tecnologia, chegando-se a falar em casos de invasoras resistentes a herbicidas como o glifosato. Isso não é motivo para abandono do algodão transgênico, é um alerta para a necessidade de aplicação correta da tecnologia, pois todos os problemas eram previstos em caso de seu uso inadequado, existindo maneiras de reverter esse cenário. Em qualquer modalidade de algodão transgênico há a necessidade de acompanhamento e conhecimento. Portanto, as pesquisas não deixaram e não podem deixar de avançar e desvendar a cada dia antigas dúvidas e trazer novas informações. Os valores despendidos para geração da tecnologia são um aspecto a ser colocado em pauta, e mecanismos para proteção dos detentores são imprescindíveis para que se sintam estimulados em manter e aperfeiçoar seus programas ao longo do tempo. Sumarizando as informações, pode-se observar que o algodão transgênico, num primeiro estágio de implantação, trouxe

Grupo Brasileiro dos Consultores de Algodão (GBCA), em parceria com as empresas Ihara e Kumiai Chemical, nos EUA

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Na visita técnica, os consultores tiveram oportunidade de conhecer as novas tecnologias usadas na cultura do algodão

facilidade à condução da cultura. No caso específico do algodão Bt, essa facilidade esteve acompanhada de outras medidas, como a erradicação do bicudo. Portanto, a tecnologia, isoladamente, não será a solução dos problemas. Serão necessárias medidas associadas, principalmente sanitárias, de forma organizada, de abrangência geral, executadas por todos os agricultores. Como exemplo, cita-se a adoção de Programas de Controle de Bicudos, no qual está inserida a destruição eficiente de soqueiras e tigueras. A biotecnologia não deverá ficar à margem dos estudos no Brasil. Pelo contrário, os avanços são necessários, e a transgenia é parte integrante do processo de desenvolvimento da agricultura mundial. Quando anunciam o fim das áreas agricultáveis no mundo, a transgenia poderá criar plantas capazes de suportar melhor as condições de baixas temperaturas ou de locais sujeitos a longas estiagens, abrindo-se novas perspectivas para a produção e oferta de mais alimentos, sem a necessidade da degradação das florestas em nosso planeta. C Evaldo Takizawa, Presidente do Grupo GBCA

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Empresas

Fotos Silvia Primeira

Nova tecnologia De olho no cenário mundial, a Milênia anuncia a mais nova ferramenta para produtores de cana-de-açúcar. Trata-se de Butiron, um herbicida indicado para controle das principais plantas daninhas da cultura

A

cultura da cana-de-açúcar é uma das mais importantes no setor agrícola brasileiro, e o Brasil figura no cenário mundial como o maior produtor de cana, álcool e açúcar, sendo também o maior exportador de açúcar e maior consumidor de álcool. Destacam-se os estados de São Paulo, Paraná, Alagoas, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro como grandes produtores brasileiros. As previsões para a cultura da cana-de-açúcar indicam que, nos próximos cinco anos, a área plantada deverá crescer 2,3 milhões de hectares, a produtividade média passará das atuais 73 t/ ha para 77 t/ha em 2010 e 40 novas usinas serão instaladas. Atenta a esse crescimento do setor canavieiro, a Milenia traz uma nova tecnologia aos produtores de cana-de-açúcar. Em evento realizado em Atibaia (SP), em outubro último, com a presença dos produtores de cana da região, a Milenia lançou Butiron, uma nova alternativa no controle de plantas daninhas que infestam os canaviais. Butiron é um herbicida para a cultura, pertencente ao grupo químico dos derivados da uréia, cujo ingrediente ativo é o tebuthiuron 500 g/l. Está registrado para a cultura da cana-de-açúcar para o controle das principais plantas daninhas. Este será um impor-

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tante produto para a cultura, pois, segundo Lorenzi (1995), a presença de plantas daninhas pode acarretar aumento de até 30% nos custos de produção, em cana-soca, e de 15 a 25%, em cana-planta. Dessa forma, o controle de plantas daninhas na lavoura canavieira reveste-se de grande importância em face das grandes extensões de áreas. O produto, quando aplicado em préemergência da cultura, atua como inibidor de fotossíntese, controlando as principais plantas daninhas de folhas estreitas (capim marmelada, capim braquiária, capim carrapicho, capim colchão, capim pé-de-galinha, capim colonião e capim rabo-de-raposa) e

Carlos Eduardo Zamataro, gerente de Marketing da Milênia

de folhas largas (carrapicho-de-carneiro, caruru, picão-preto, trapoeraba, guanxuma, beldroega, poaia e erva quente). É um produto não volátil, o que lhe confere um residual longo, permitindo à cultura desenvolver-se sem a competição com as plantas infestantes durante todo o ciclo. As doses recomendadas vão de 1,6 a 2,4 l/há e variam em função do tipo de solo e do nível de infestação de plantas daninhas. O herbicida é totalmente seguro, pois é altamente seletivo à cultura, podendo ser utilizado em canaplanta, cana-soca, com baixa ou alta umidade e em diferentes tipos de solo, permitindo, assim, um melhor escalonamento das aplicações pela baixa dependência das condições climáticas. Para Carlos Eduardo Zamataro, gerente de marketing da Milenia, a empresa, com 40 anos de mercado, quer cada vez mais evoluir nesta cultura e estar próxima dos produtores. O intuito é de, nos próximos quatro anos, lançar mais quatro novos produtos para a cana. Zamataro afirma ainda que a Milenia é a empresa que mais lança produtos para a cana-de-açúcar, destacando a flexibilidade e agilidade como diferenciais, pois tem como grande vantagem, embora uma multinacional, a permissão de que as decisões sejam tomadas no Brasil. C

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Molécula

Barreira química Com o propósito de proteger as plântulas e suas formações primárias, a ação do inseticida Standak, indicado no tratamento de sementes, bloqueia o fluxo de íons de Cloro no metabolismo das pragas, levando-as à morte por paralisia e convulsões

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ertencente ao grupo químico fenil pirazol, o inseticida Standak age por contato e ingestão, sendo o último meio mais efetivo. Possui um único e exclusivo modo de ação, interferindo no transporte dos íons Cloro no canal do Ácido Gama Amino Butírico (GABA - responsável por regular o fluxo de Cloro nos insetos), bloqueando-o e ocasionando a morte do inseto. A mensagem química entre as células é composta de neurotransmissores que possuem os respectivos receptores que ativam um canal para permitir fluxo de íons pela membrana. Diferentes nervos utilizam diversos neurotransmissores, e estes podem agir despolarizando o nervo (positivamente – por exemplo: Acetilcolina) ou hiperpolarizando-o (negativamente – por exemplo: GABA). Polarização e despolarização seletivas das células são responsáveis pela transmissão do impulso elétrico; ficando a célula mais polarizada, o impulso nervoso é transmitido para a próxima sinapse. Despolarizando o nervo, cessa o impulso. No caso de Standak, estamos interessados no

receptor específico que reconhece o GABA e controla o fluxo de íons de Cloro pela membrana. A figura abaixo mostra dois receptores de GABA em um estilo diagramático. O receptor da direita está “fechado”. Essa conformação da enzima não permite que íons de cloro (Cl-) atravessem a membrana. O receptor na esquerda mostra o que acontece quando duas moléculas de GABA liberam a parte extracelular do receptor. Uma mudança na conformação do receptor acontece, e este fica “aberto”, permitindo que os íons Cloro possam fluir livremente pela membrana. Esse canal é seletivo para GABA, tanto como uma ligação natural, como para o íon Cloro que é regulado, conseqüentemente, GABA regula o canal de cloro. A regulação do canal de íon de Cloro pelo GABA é afetada pelo produto, interagindo dentro do canal e bloqueando o fluxo de íons de Cloro através deste. A ligação natural do GABA abre o canal, enquanto o inseticida bloqueia o mesmo, mas interage com o receptor em diferentes lugares.

Atuação de receptores de GABA mostrada em estilo diagramático

Qual a relação entre o bloqueio do canal GABA, a interrupção do fluxo de íons Cloro e a mortalidade do inseto? A Figura acima mostra o bloqueio do sinal elétrico pela excitação e inibição (esquerda – efeito) e o resultado dessas partes (direita). Na Figura acima, as linhas em vermelho mostram o funcionamento normal do sistema nervoso com o sistema de excitação (acetilcolina) trabalhando contra o sistema de inibição (GABA). O resultado disso é um sistema equilibrado, resultando num sistema trabalhando funcionalmente (designado como uma linha reta na figura). O efeito do inseticida é bloquear o sistema de inibição por interromper o fluxo de íons de Cloro pelo canal. A excitação do sistema funciona normalmente, mas já não é desativado pelo sistema de inibição, e o resultado final são sinais descontrolados e letalidade por paralisia e convulsões. A Figura acima mostra os sinais elétricos de um inseto sob as condições descritas acima (normal e com o inseticida). O resultado final com o uso do inseticida é uma superexcitação, ocasionando a morte do inseto. Resumidamente, pode-se dizer que o Standak atua no receptor GABA da seguinte forma: 1) Liga os aminoácidos no canal; 2) Bloqueia o canal; 3) Bloqueia a passagem dos íons Cloro; 4) Promove uma excessiva excitação no sistema nervoso dos insetos; 5) Ocasiona a morte do inseto.

USO NO TRATAMENTO DE SEMENTES O tratamento de sementes é uma prá-

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Funcionamento do sistema nervoso normal (vermelho) e com atuação do inseticida (preto)

Sinais elétricos de um inseto sob condições normais (acima) e com a atuação do inseticida (abaixo)

tica que a cada safra ganha maior importância, devido aos benefícios observados pelos agricultores na manutenção do número adequado de plantas por hectare (população de plantas). A utilização de sementes com alto potencial genético e maior valor agregado faz com que o agricultor utilize técnicas de produção que otimizem o investimento realizado no plantio. A qualidade do plantio, aliada à germinação das sementes e à uniformização da população de plantas da cultura, são fatores chave de sucesso. Portanto, para se obter altas produtividades, não se admitem falhas na fase inicial de implantação de uma cultura. Para que a planta possa manifestar todo o potencial produtivo, algumas variáveis devem ser controladas, entre as mais importantes, podemos destacar: época de semeadura, umidade e temperatura do solo, preparo do solo, espaçamento e densidade de semeadura, adubação, profundidade de semeadura. Esses fatores, associados à qualidade das sementes, são decisivos para se conseguir bons resultados. A não observância dessas indicações pode resultar em baixa população de plantas, falhas no estande, excesso de sementes na fileira, ou na área, e outras irregularidades na semeadura, o que pode ocasionar dificuldades no controle de plantas daninhas e na colheita, além de determinar uma perda do potencial produtivo da cultura. Entre as variáveis acima, devemos destacar a necessidade de proteção ao estabe-

lecimento da população inicial de plantas em cada cultura, pois é na fase inicial que a planta define seu potencial de produtividade. A BASF entra nesse segmento de forma agressiva, o objetivo não é vender apenas o produto e, sim, trabalhar junto ao cliente para identificar oportunidades e disponibilizar soluções. Novas tecnologias também estão sendo desenvolvidas e serão fatores de diferenciação no futuro. Em condições desfavoráveis à germinação e emergência das sementes, especialmente em condições de déficit hídrico, o processo torna-se mais lento e faz com que as plântulas fiquem mais vulneráveis ao ataque de pragas por um período de tempo mais prolongado. Se presentes, essas pragas podem causar a redução do potencial produtivo das plantas, podendo levá-las à morte. O tratamento de sementes com Standak tem como objetivo proteger as plantas do ataque de pragas no seu início de desenvolvimento, permitindo o estabelecimento da cultura, garantindo a população desejada de plantas e, conseqüentemente, seu rendimento final. O inseticida forma uma barreira química e, posteriormente, é absorvido pelas raízes e translocado de forma sistêmica via xilema, protegendo as plântulas e suas formações primárias. Essa proteção inicial visa evitar o dano na planta por um período de até três semanas, protegendo-a nos estádios de maior suscetibilidade. O inseticida é recomendação para uso em tratamento de sementes nas culturas

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de arroz, cevada, feijão, milho, pastagem, soja e trigo, controlando as principais pragas que atacam essas culturas. Um ponto extremamente importante do tratamento é a distribuição dos produtos sobre as sementes. As sementes devem ser recobertas de forma uniforme. Para isso, é importante que o equipamento utilizado (tambor giratório, betoneira ou máquinas específicas de tratamento de sementes) esteja adequadamente regulado. Após a realização do tratamento de sementes, a semeadura passa a ser de fundamental importância. Uma população desejada deve ser aquela recomendada pelo Órgão de Pesquisa, de acordo com a variedade, o tipo de solo e de clima etc, pois essas variedades exibem características próprias que determinam o espaçamento e a população adequada de plantas para se obter o máximo de rendimento com o mínimo risco de acamamento. É de fundamental importância cuidar para que a deposição das sementes seja uniforme e produza uma população ideal dentro das fileiras. O estabelecimento de uma lavoura com a população de plantas adequada é o fator básico e que mais contribui para assegurar o sucesso da produção e da obtenção de altas produtividades da lavoura. O tratamento de sementes oferece excelente relação custo/benefício, proporcionando inegáveis vantagens para o produtor, minimizando o risco de replantio da área e auxiliando a planta a atingir seu potencial produtivo. C Antonio César Azenha, Sérgio Zambon e Carlos Antonio Medeiros, Basf Estrutura química do Standak

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Coluna Aenda

Defensivos Agrícolas

O lado enterrado da pedra O Poder Executivo continua adiando a aprovação de produtos genéricos para novas empresas interessadas em aquecer a concorrência

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m março deste ano o editorial da Aenda descreveu cinco pedraskriptonitas que foram atiradas para paralisar ou postergar a implementação do principal motivo da edição do Decreto 4074/2002 – o regime de registro dos Defensivos Equivalentes. Uma delas foi a estranha dúvida lançada sobre o Produto de Referência, aquele produto existente na praça escolhido para ser o padrão ou modelo do candidato a Produto Equivalente. O Mapa, a Anvisa e o Ibama alegaram que não sabiam o que era um Produto de Referência, embora o tenham introduzido na Instrução Normativa nº 49, em agosto de 2002, quando sub-regulamentaram o Decreto 4074 no quesito da Equivalência. Vários acontecimentos e pressões ocorreram e todos sabem que o primeiro produto genérico foi finalmente registrado em 22 de setembro de 2005, embora ainda não tenha chegado ao mercado por conta de um impedimento esdrúxulo relativo às fontes dos produtos formulados. Mas isso é outra história (também, de horror!) que contarei algum dia. Volte o leitor seu pensamento para aquela pedrinha esverdeada que aparentemente estava varrida para bem longe do herói-4074, uma vez que este finalmente cumprira sua missão, com o nascimento do 1º Defensivo Genérico pelo regime da Equivalência no Brasil. Aquela pedra mostrava apenas sua faceta visível, a qual logo ficou esmaecida na presença da desavergonhada confissão dos órgãos avaliadores. Candidamente, esses órgãos federais admitiram ter criado o Produto de Referência sem saber o que era. Agora, esses mesmos órgãos desenterraram na totalidade a pedra e mostraram a outra faceta escondida: - vários produtos de referência não apresentaram os laudos analíticos de composição realizados em amostras de cinco bateladas de produção, conforme solicitado na Instrução Normativa nº 49. Hesitantes...e, agora, como será possível comparar o Produto candidato a Equivalente com o Produto de Referência escolhido, se este último não entregou as análises solicitadas? Para os que não sabem, esses laudos analíticos, nada mais são que uma comprovação da composição apresentada por esses produtos quando foram registrados. Por ocasião dos seus registros a legislação exigia o laudo de composição de uma única amostragem no

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processo produtivo. Em outras palavras, as cinco análises químicas de hoje servem apenas para comprovar a composição já conhecida e aprovada. Aliás, um dos órgãos, mais precisamente o Ibama, declarou à Justiça (Ação Cautelar impetrada por Aenda contra o prazo de 90 dias para cumprimento da IN 49), em Informação Técnica de nº 14, justamente isso: as análises em cinco bateladas não se tratam de novos dados (para confronto com a Lei dos Dados Proprietários, de nº 10.603/2002), apenas e tão somente uma confirmação da composição apresentada anteriormente. O produto candidato a Equivalente, este sim, teria que apresentar as suas análises de 5 amostragens, pois era um procedimento adotado a partir da IN 49, para

“O produto candidato a Equivalente, este sim, teria que apresentar as suas análises de 5 amostragens”

Pois bem, em julho de 2004, após grande discussão no CTA (fórum dos três órgãos para decisões harmônicas relativas a agrotóxicos), o Ministério da Agricultura expediu carta aos detentores de registro de agrotóxicos em grau técnico (Produtos de Referência do ponto de vista legal) dando 15 dias para apresentarem esses laudos. Ou seja, a carta do Mapa, representando os três órgãos, foi expedida com mais de um ano de atraso. É descaso ou conspiração? Vocês que tirem suas conclusões, pois eu não vou acusar ninguém e correr o risco de ser imolado junto na pira dessa desídia governamental. Mas, o leitor pensa que a desfaçatez desenterrada com a pedrinha verde foi esgotada? Engana-se. Os 3 órgãos avisaram que só dariam início à avaliação da Equivalência após passado 1 ano da apresentação dos dados, em cumprimento à Lei 10.603 (não se sabe por qual razão o Ibama mudou de idéia). E cumpriram, só começaram a avaliar em julho de 2005. Agora, por mais que cause estupefação, muitos pedidos de registro por Equivalência estão paralisados neste momento (novembro de 2005) porque o Mapa está exigindo novamente, outra vez, de modo recorrente, de novo que o detentor do registro do Produto de Referência apresente os laudos das 5 amostragens. É a última chance, caso contrário... Assim, o idiota do produto candidato a Equivalente que cumpriu tudo o que a legislação ditou, vai ficar aguardando a boa vontade da empresa detentora do Produto de Referência, a qual por sinal odeia novos competidores. E, o Mapa, o Ibama e a Anvisa ficam só olhando. O Ministério Público bem que poderia dar uma olhada também. Pela Lei 7802, essa falta de apresentação desses dados merece cassação imediata dos registros. Como o Produto de Referência que não cumpre com suas obrigações continua a ser vendido no mercado brasileiro, ao preço que bem entende? Como o Produto candidato a Equivalente fica prejudicado em sua avaliação e não pode participar do mercado e aquecer a concorrência? No último dia 8 de novembro a Aenda denunciou essa incúria em audiência pública na casa alta do Poder Legislativo, o Senado Federal. Se os senadores não resolverem, C será que a polícia resolve?

proporcionar aos órgãos uma avaliação com probabilidade maior de confiança atestando que suas características químicas sejam ou não equivalentes às do Produto de Referência indicado. E mais, essa Informação Técnica deixou bem claro para o Juiz: “Queremos ressaltar que os órgãos registrantes têm condições de processar a avaliação de pleitos de registro de produtos por equivalência frente a outros produtos já registrados com base nas informações atualmente disponíveis...” Vejam bem, a Instrução Normativa 49, havia estabelecido 90 dias de prazo em agosto de 2002. É certo que as entidades Aenda e Andef entraram na Justiça reclamando deste prazo e conseguiram por um breve período um tempo adicional; mas, em maio de 2003 a Justiça restabeleceu o prazo inicial. Qual a nova data para entrega dos laudos de 5 bateladas por parte das empresas detentoras dos produtos existentes? Retroagir no tempo não era possível (nov de 2002), portanto restava cumprir “de imediato” (maio Tulio Teixeira de Oliveira, Diretor Executivo da AENDA de 2003), para não desrespeitar a Justiça.

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Agronegócios

Mais nanotecnologia

A

s aplicações da nanotecnologia cada vez mais permeiam as conversas sobre tecnologia do agronegócio. Confesso que, como cientista, estou entusiasmado com as perspectivas que as ferramentas da nanotecnologia oferecem para conferir uma roupagem futurística à tecnologia do agronegócio. Leve em consideração que, através de ferramentas na nano escala, é possível montar um sistema de “entrega” de substâncias no interior do organismo, da mesma forma que o sistema interligado de correios permite enviar uma encomenda entre dois pontos da Terra, com extrema eficiência, desde que o endereço esteja correto. Por exemplo, havendo uma infecção localizada no organismo de um animal, será possível utilizar o sistema para enviar um “pacote” contendo um antibiótico, que somente será liberado, nas doses programadas, quando atingir o local da infecção. Ademais, além das características da liberação do medicamento (dose e tempo) serem programáveis, o sistema pode ser telemonitorado ou prever sistemas de decisão inteligente do próprio mecanismo, em função de mudanças no contexto. Por exemplo, caso ocorra aumento do índice de infecção, o próprio mecanismo poderá aumentar a dose; em sentido inverso, se a infecção for superada, a liberação do antibiótico poderá ser suspensa.

NANOBIOPROCESSAMENTO O bioprocessamento é conceituado como o uso de processos biológicos naturais para criar determinado composto ou material, a partir de alguma matéria-prima, como restos ou dejetos da produção agropecuária (animal ou vegetal). O nanobioprocessamento é um derivado desse conceito, utilizando a escala nanométrica para aumentar a eficiência desses processos. O uso de sensores que monitorem o avanço das reações de bioprocessamento, o desenvolvimento de nanoequipamentos que permitam

uma rápida identificação de micróbios, presentes na matéria-prima a ser processada, ou a combinação de nanoequipamentos com catalisadores específicos são exemplos das possibilidades de aumento da eficiência do bioprocessamento.

NANOSSENSORES BIOANALÍTICOS A detecção de contaminantes químicos ou biológicos, em quantidades moleculares, será possível a partir da integração de ferramentas químicas, físicas e biológicas, operando em conjunto, como um sensor integrado na nanoescala. Os nanossensores bioanalíticos tanto usam a biologia para ser parte do próprio conceito do sensor quanto podem ser utilizados para a

Entretanto, na minha visão de futuro, o agronegócio no médio e longo prazo estará ancorado no tripé nanotecnologia – biotecnologia – informática tomada de nanoamostras.

NANOMATERIAIS Os nanomateriais podem ser materiais que já existam, como as nanopartículas do solo (argilas, zeolitas, óxidos de ferro ou manganês), ou novos materiais, que serão criados com o uso de ferramentas nanotecnológicas. Os nanomateriais possuem o potencial de manipular estruturas ou outras partículas na nanoescala, controlando e catalisando reações químicas. Por exemplo, nanomateriais podem ser introduzidos em fibras (como

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o algodão), que possuam a propriedade de reagir aos sinais vitais do usuário das roupas confeccionadas com a fibra, alterando as propriedades do tecido. Considerando que o solo e a água são compostos de nanopartículas, vislumbra-se que a agricultura do futuro será mais eficiente e com menor impacto ambiental, com o uso de ferramentas nanotecnológicas.

SUPERFÍCIES BIOSSELETIVAS Considere-se que qualquer superfície (peles dos animais, mucosa intestinal, ou superfície das folhas dos vegetais, por exemplo) representa o espaço onde a maior parte das interações químicas e biológicas ocorre. Assim, podem ser desenvolvidas superfícies com propriedades que permitam incrementar ou reduzir a capacidade de reação com determinadas substâncias químicas, ou ainda capturar ou repelir determinadas moléculas ou microorganismos. As superfícies biosseletivas são consideradas importantes para o desenvolvimento de biossensores, detectores, catalisadores, biorremediadores e para servir como nanofiltros, separando ou purificando misturas moleculares, como no processamento e empacotamento de alimentos.

PERSPECTIVAS A nanotecnologia não possui aplicação apenas no agronegócio, devendo permear diversos setores da economia. Entretanto, na minha visão de futuro, o agronegócio no médio e longo prazo estará ancorado no tripé nanotecnologia – biotecnologia – informática. Com esse arsenal será possível maior precisão tecnológica, redução de riscos à saúde dos consumidores e ao ambiente, melhor qualidade de vida dos consumidores, melhor gerência dos fatores de produção, além de redução de custos e de riscos de C insucesso no agronegócio. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Brasil planta uma safra menor menor,, e mercado sinaliza para um ano melhor O plantio da safra, segundo todos os órgãos de pesquisa, oficiais ou particulares, apontam queda na área em 05/06, reflexo da baixa rentabilidade dos principais produtos agrícolas em 2005. Com isso, os produtores diminuíram área e uso de fertilizantes, o qual no ano passado somou 22,8 milhões de t e, neste ano, passou para 19. Essa queda é somente dos grãos e da pluma, já que o setor da cana está mostrando crescimento. Assim, o consumo efetivo dos grãos e pluma mostra queda aproximada de 4,5 milhões de t, o que pode colocar o setor em risco de perda na produtividade. A área total que, no ano passado, foi acima dos 49 milhões de ha, agora caminha para menos de 46 milhões, primeira queda em mais de dez anos. A tendência do próximo ano será de indicativos melhores, porque os produtores estão plantando com menor grau de endividamento. Assim, a safra tende a chegar mais ajustada, e junto teremos o quadro mundial dos grãos mais apertado em 2006, com a valorização dos principais produtos. Se olharmos para os últimos 20 anos, veremos que, na maioria das vezes, depois de um ano ruim para a agricultura, vem um bom, e agora estamos entrando numa nova safra que caminha para ser muito boa para os produtores. MILHO Fraqueza e final de ano chegando O mercado do milho perdeu fôlego neste final de ano. Os grandes consumidores estiveram se abastecendo com cereais de inverno e deixaram o milho de lado. Os indicativos do milho chegaram ao fundo do poço no final de outubro, andaram lentos em novembro e devem mostrar pequena pressão de compra nas últimas semanas do ano. Mas sem grande fôlego de ajuste, em função da safra nova que vem chegando em boas condições. Mesmo assim, boas expectativas para o ano de 2006 para o cereal, que segue mostrando crescimento de demanda pelo setor de ração. SOJA Câmbio baixo continua segurando a soja O mercado da soja se manteve com indicativos em dólar dentro ou acima da média histórica. Mas o problema tem sido o câmbio muito baixo. Os melhores indicativos foram os R$ 31,50 para o lote livre nos portos, com indicativos de R$ 20,00 aos R$ 26,00 aos produtores, pequenas flutuações e pouco espaço de alta ou baixa. Com o final da colheita da safra americana, agora passamos a operar em cima do clima da América do Sul, e somente algum problema climático poderá trazer novidades de curto prazo. FEIJÃO Colheita da primeira safra em andamento Os produtores de São Paulo e Norte do Paraná estão colhendo a primeira safra do feijão, confirmando o crescimento da área plantada favorecida pelo clima, com chuvas regulares, resultando em safra de boa qualidade e produtividade. Dessa forma, os custos menores têm feito o setor vender entre os R$ 55,00 e R$ 65,00, sinalizando a tendência de se manter nesses níveis e até abaixo deles por alguns momentos, quando coincidirem oferta e pouca procura. Se houver chuvas em locais de colheita, pode haver ganhos. Também não podemos esquecer de que o clima não tem

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sido regular para os produtores do Irecê, onde se planta a maior área no Nordeste e onde se aponta queda de plantio na ordem de 20 mil ha. Se o clima não melhorar, poderá haver queda ainda maior e perdas na safra e, com isso, criar um espaço de alta no feijão do Sudeste e Sul, que terão fôlego de ganhos positivos. ARROZ Sobrando arroz, safra do sequeiro em queda

Estamos fechando um ano com grandes estoques e, com isso, pouco fôlego para avanços. Também não há mais como recuar, porque já fomos ao fundo do poço. Os produtores da região Central, CentroOeste e Norte do país indicam uma forte

queda no plantio do sequeiro, principalmente o Cirad, que foi reclassificado e deixou de ser longo fino e passou a ser longo, perdendo em média R$ 5,00 por saca. Dessa forma, há grande queda na área, e se aponta queda de 1 a 2 milhões de t sobre as 13,3 colhidas no ano passado. A saída para o setor seria a retirada total do ICMS dos alimentos básicos, com isso, o arroz teria ganhos desde os produtores até os consumidores. Em novembro, o Governo do Paraná deu o primeiro passo e mandou à Assembléia Legislativa um projeto de lei que isenta de ICMS a cesta básica, assim, devendo trazer pressão em outros locais, o que tende a ter efeito na cadeia, beneficiando o setor produtivo.

CURTAS E BOAS SOJA - O USDA apontou safra dos EUA em 82 milhões de t, oferta e demanda mundial de 05/06 em 221,6 milhões de t contra 213,3 da safra passada e estoques com 46,7 milhões de t frente aos 42 milhões deste ano. No ano passado, apontava-se que teríamos estoques acima das 52 milhões de t, e estamos fechando com dez a menos. Ou seja, se seguirmos a mesma tendência, teremos um grande ano em 2006. ALGODÃO - A Conab aponta queda e indica safra pouco acima das 900 mil t, menor nível em três anos. O calo do setor está sendo o câmbio, que limita o plantio das áreas de alta produtividade, mas há poucos produtores com caixa para plantar. O mercado mundial mostra produção em 111,7 milhões de fardos, contra os 120,4 da safra passada. Nos estoques, seguem poucas alterações, indicando a casa dos 50 milhões de fardos. Pouco espaço para alterações a curto e médio prazo. TRIGO - A safra está fechando com 4,8 milhões de t contra as 5,8 do ano passado, sendo que cerca de 500 mil t foram enviadas para o setor de ração. Assim, deve-se ter um quadro mais ajustado em 2006, fazendo com que as importações venham a crescer, e novamente estaremos dependentes de um câmbio mais favorável para que tenhamos ajustes em reais. CHINA - A boa notícia veio com a indicação de que até outubro as importações de soja já somavam 21,42 milhões de t, com crescimento de 38% sobre o mesmo período do ano passado, assim caminhando para bater um recorde de compras e devendo nos trazer apoio aos indicativos em 2006. ARGENTINA - A safra 05/06 está com o plantio chegando ao final, com mostras de que a área de soja será de 15,1 milhões de ha, a de milho, de 3,06 milhões de há. Há expectativa de colher 40 e 16 milhões de t respectivamente, contra 38,3 milhões da soja passada e dos 19,5 do milho. Ou seja, haverá menos milho para exportar em 2006, podendo trazer pressão sobre o mercado mundial do cereal.

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