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Cultivar Grandes Culturas • Ano VIII • Nº 81 • Janeiro 2006 • ISSN - 1518-3157

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ais um ano, presenteamos você com uma edição especial, contendo os melhores artigos publicados na Revista Cultivar no decorrer de 2005. Procuramos fazer um apanhado com o que havia de melhor em cada edição, com os problemas e soluções da agricultura brasileira na última safra. Apesar de 2005 ter sido um período que destoou do cenário agrícola animador dos últimos anos, com estiagens históricas no Sul do Brasil e baixos preços na safra passada, os produtores não desanimaram e encontraram forças para preparar mais uma safra e apostar em momentos mais exitosos em 2006. Ao lado dos produtores e pesquisadores, a Revista Cultivar procurou trazer soluções criativas para os problemas inevitáveis, como ataque de pragas e doenças na lavoura. Sempre com o objetivo de proporcionar um ganho maior ao produtor

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO 3028.4013/3028.4015 • ASSINATURAS:

3028.4010/3028.4011 www.cultivar.inf.br • GERAL cultivar@cultivar.inf.br 3028.4013 • REDAÇÃO:

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3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

no final da safra, garimpamos entre todos os setores da pesquisa inovações que auxiliem no aumento da eficácia de produtos, economia no manejo e técnicas que se transformem em lucro garantido na hora de fazer o balanço final. Portanto, a edição 81 é, antes de mais nada, um apanhado geral não de fórmulas, mas de técnicas exitosas de manejo e cultivo. Como costumamos dizer, quem assina a Revista Cultivar faz um investimento com retorno garantido e está preocupado em adquirir conhecimento para aprimorar cada vez mais a arte de cultivar com qualidade. Esperamos que você goste desta edição e que 2006 seja um ano de muito sucesso e produtivo para você.

Índice Arroz sob pivô

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• Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Marketing: 3028.2065

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

REDAÇÃO • Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia • Revisão

Silvia Pinto

Uso de iscas para formigas

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Uso de silos bags

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Nutrição em soja

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Comparativo de fungicidas

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COMERCIAL

Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000

Foto Capa / Montagem Cristiano Ceia

Editorial

Prezado Leitor

Pedro Batistin

Sedeli Feijó Silvia Primeira

CIRCULAÇÃO • Gerente

Cibele Oliveira da Costa

Ferrugem asiática em 2005

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• Assinaturas

Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes

Como controlar o tamanduá-da-soja

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Estratégias contra a cigarrinha da cana

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Raquel Marcos

Controle da parreira brava

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Edson Krause Dianferson Alves

Mosca branca em lavouras de soja

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• Gerente de Assinaturas Externas

• Expedição

• Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.



Luiz Felipe Simões

Arroz Com as irregularidades pluviométricas, a implantação do pivô pode fazer a diferença na redução de custos e na racionalização de água, com economia de 55% do total da água normalmente utilizada na irrigação das lavouras de arroz por inundação

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arroz é uma cultura que está em plena evolução. Novas técnicas são necessárias para se atingirem novos patamares de produtividade sustentável, e a irrigação no pivô central é um novo desafio a ser implementado. Essa técnica veio para suprir algumas dificuldades do sistema convencional de plantio, principalmente na questão do consumo de água, manejo do solo e opções de cultivo de outras culturas em rotação. No sistema convencional de irrigação ocorre a necessidade de preparo intenso do solo (aração, nivelação, aplainamento e entaipamento), acarretando elevados custos na preparação da lavoura e ainda na recuperação da degradação física e biológica do solo. A elevada demanda do uso da água nesse sistema de irrigação deve-se à grande quantidade de canais construídos para que essa água atinja a lavoura em sua totalidade e seja distribuída uniformemente em toda a lavoura, o que em muitas situações não ocorre, em conseqüência da topografia acidentada. Um dos maiores problemas na manutenção da área de cultivo de arroz é o grande volume de água consumido no sistema de lâmina de água em inundação, acarretando a necessidade de construção de grandes barragens e de

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áreas de captação cada vez maiores e ainda uma retirada intensa de águas de rios e lagos. Aliada a isso, também, a irregularidade das chuvas durante os anos com períodos de longas estiagens resulta em pouca água disponível para a irrigação, causando redução na área de plantio e abandono de áreas cultivadas, inviabilizando em alguns casos algumas lavouras e propriedades. No sistema de irrigação de pivô central, técnica nova em implantação, muitos são os desafios a serem enfrentados, mas algumas vantagens já são plenamente percebíveis. Entre elas se destaca a grande redução no consumo de água por área cultivada. Com a necessidade crescente de se racionalizar o consumo de água, essa técnica tem reduzido de forma drástica o consumo em aproximadamente 55%, isto é, com a mesma quantidade que se irriga um hectare em um sistema inundado se conseguem irrigar aproximadamente 2,2 hectares no sistema de pivô, fator fundamental para tomar a decisão da implantação do sistema. Outra questão observada é a recuperação da estrutura do solo prejudicada pelos sistemas convencionais de cultivo, com resultados de melhor infiltração de água, contribuindo também para o aumento de fertilidade. Nesse sistema, a ro-

tação de cultura e as alternativas culturas de inverno são de grande importância ao sistema de cultivo. Está surgindo também a necessidade da adaptação e implementação da pecuária ao sistema, já que há anos o manejo dessas áreas de arroz tem sido com a criação bovina, buscando, com essa sucessão, adubação do sistema, ganho de peso vivo e entrada de forrageiras, que contribuem para o aumento do potencial do solo. Os grandes desafios que o sistema de pivô enfrenta são os de manejo de invasoras, de adubação, dos restos culturais da palhada em pós-colheita do arroz, do manejo da irrigação e do dimensionamento do sistema dos rodados de sustentação do pivô. A adubação do sistema sob pivô é um fator que sofre grandes variações à do sistema inundado. No sistema inundado, a água faz o tamponamento do pH do solo, melhora a disponibilidade de fósforo, ativa a redução do nitrato (NO3) pelos microorganismos anaeróbicos após o desaparecimento do oxigênio, causando a desnitrificação, que é a perda para a parte aérea do nitrogênio (N2). Coincidentemente ocorre a redução do manganês, do ferro e do sulfato, aumentando-os na solução do

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Janice Ebel

Fernando e Luiz Felipe mostram as vantagens do cultivo de arroz sob pivô central

cultura, para que não haja depreciação da qualidade final do produto colhido. Com implantação do pivô, algumas dificuldades são enfrentadas, como a preparação da área para que haja um fluxo normal do rodado do pivô: com relação a isso, deve-se ficar atento ao caminho percorrido pelo rodado, retirando-se obstáculos, como pedras, aterrando-se pequenos valos e banhados, e, em alguns casos, fazendo-se até encascalhamendo do caminho, para que não haja atolamento do rodado do sistema. O dimensionamento do tamanho dos rodados para o sistema é de fundamental importância na implantação deste, pois se os rodados forem muito estreitos poderá ocorrer o afundamento do rodado no solo e o atolamento do equipamento. Outro aspecto a ser abordado é o fato de que nesse sistema se eliminam as taipas ou marachas, e a colheita é realizada com solo seco em uma lavoura uniformemente madura. Técnicas evolutivas para aumento de produtividade e melhor uso da água serão os próximos desafios a serem alcançados, e o sistema de irrigação em pivô na cultura do arroz está chegando, mas inúmeros são os desafios a serem superados e as técnicas a serem criadas. O produtor de arroz, que procura avanços na redução de custos, racionalização do uso da água e alternativas de culturas em rotação e culturas para o inverno deve ficar C alerta para essa nova tecnologia. Fernando D. Warpechowski e Luiz Felipe Simões, SolFerti

Luiz Felipe Simões

solo, ocasionando em alguns casos a toxidez de ferro e também distúrbios fisiológicos como Straighthead, mais conhecido como bico-de-papagaio. A adubação nitrogenada no sistema é à base amídica (NH2) e amoniacal (NH4), devido a o alagamento restringir o uso de formas nítricas (NO3), devido às perdas por desnitrificacao. Com a mudança de um sistema de inundação para um sistema não inundado, no caso do pivô, muitos fatores mudam, o pH não tampona, e com isso ocorre a manutenção do solo em uma condição ácida, requerendo a correção com calagem. Isso também porque se deseja incluir outras culturas no sistema, como, no caso, soja, milho e sorgo, no verão, e trigo e pastagens, no inverno. Outros fatores a serem considerados são os manejos do fósforo e do potássio, que, devido à não inundação, requerem maiores quantidades e acompanhamento mais detalhado. O mo-

nitoramento desses fatores vai elucidar os detalhes de uma melhor adubação deste sistema. Os restos culturais após a colheita do arroz são em grande quantidade, e, devido à sua característica, são de difícil decomposição. Aliado a isso, o período frio e chuvoso do inverno mantém os restos culturais por um período longo na superfície do solo, este aspecto dificulta a implantação de culturas de inverno, como trigo e pastagens. Algumas são as alternativas para esse manejo, mas deve-se encontrar uma que não dificulte a implantação da cultura e que seja a menos danosa ao equilíbrio físico-químico e biológico do solo, com a manutenção do plantio direto na área do pivô. O controle das invasoras é um dos fatores que têm recebido atenção especial, o conjunto de herbicidas do mercado de arroz é direcionado para o sistema inundado, no qual, após o controle das ervas, a lâmina de água mantém estas em supressão e, desta maneira, ajuda no controle mais prolongado e no melhor desempenho dos produtos. No sistema irrigado com pivô, não existe a lâmina de água sobre o arroz, e, dessa maneira, o efeito prolongado dos herbicidas não tem o mesmo desempenho, ocorrendo uma rápida reinfestação de ervas na área, requerendo novas aplicações de herbicidas, dessa maneira, dificultando o manejo da lavoura e aumentando os custos de produção. O desafio a ser superado é encontrar os herbicidas mais indicados ao sistema que possuam um residual mais longo e conseguir, dessa maneira, manter a lavoura por mais tempo livre de ervas que possam competir com a

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Pragas

Ineficácia de iscas A falta de conhecimento das características e da forma correta de uso e de armazenamento de produtos formicidas pode ser a causa das queixas de agricultores sobre a baixa eficiência das iscas no controle de formigas cortadeiras

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migas, sua biologia e os hábitos de forrageamento não será tratado neste trabalho. As iscas, atualmente, no mercado brasileiro, devido às características dos ingredientes ativos, exigem condições adequadas para armazenamento, transporte e quantidades diferenciadas para controlar as formigas cortadeiras que infestam os cultivos. A falta desses conhecimentos sobre as formigas e, principalmente, sobre as iscas deu origem às inúmeras reclamações sobre a baixa eficácia das iscas formicidas granuladas atualmente existentes no mercado, cuja ineficiência pode estar relacionada a uma ou mais das causas a seguir elencadas:

INTRÍNSECAS AO PRODUTO Matéria-prima contaminada A polpa cítrica ou bagaço de laranja, base do “atrativo” das iscas, pode estar contaminado por resíduos de piretróides ou outros ingredientes ativos utilizados no controle de pragas, antes da colheita. Esse fator praticamente inexistente nas indústrias com controle adequado de qualidade pode ocorrer naquelas de pequeno porte que adquirem a matéria-prima de pequenos fornecedores nas proximidades do local da fábrica. Nas grandes indústrias produtoras de suco, a tecnologia utilizada na sua extração Fotos Cultivar

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s iscas formicidas são o meio mais simples de controle das formigas cortadeiras devido ao fato de não exigirem equipamentos especializados, nem mão-de-obra treinada especificamente para tal serviço (Mariconi, 1970, 1976; Della Lucia, 1993). No mercado brasileiro, existem diversos fabricantes de iscas formicidas à base de diferentes ingredientes ativos, mas a quase totalidade utiliza polpa cítrica como o “atraente alimentar” na composição das iscas. Entre os fabricantes de iscas formicidas, existem desde grandes indústrias até pequenas fábricas, sendo que nas grandes e médias há um controle de qualidade, que é falho ou inexistente nas de pequeno porte. Com a proibição do ingrediente ativo Dodecacloro, em 1993, que especialmente devido ao seu baixo custo era utilizado de forma indiscriminada e em doses elevadas, sua substituição por outros ingredientes ativos, mais caros e exigentes de maiores conhecimentos técnicos, fez com que os agricultores, ao utilizarem as novas formulações da mesma maneira que utilizavam aquelas à base de Dodecacloro, não obtivessem sucesso no controle das formigas cortadeiras. As iscas atualmente existentes no mercado, por suas características, exigem um melhor conhecimento das mesmas e, em especial, das espécies de formigas cortadeiras que se quer controlar. O conhecimento sobre as espécies de for-

As iscas existentes no mercado exigem conhecimento das características destas e, em especial, das espécies de formigas a serem controladas

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iscas formicidas granuladas, em local separado, longe de inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros agrotóxicos, pois sendo algum destes volátil, contaminará a isca em pouco espaço de tempo.

EM NÍVEL DE PROPRIEDADE RURAL

A dose a ser aplicada por formigueiro varia em função da espécie de formiga, do tamanho do ninho, da época do ano e da vegetação do local

praticamente elimina qualquer possibilidade de contaminação, o mesmo não ocorrendo nas indústrias artesanais, onde as frutas são processadas por corte e esmagamento das mesmas, para extração do suco. Outra causa possível é a aquisição do ingrediente ativo, com contaminação oriunda do processo de síntese ou de embalagens contaminadas, hipótese esta bastante improvável, mas possível de ocorrer nas pequenas indústrias. As formigas cortadeiras detectam a presença destes resíduos e rejeitam as iscas. Contaminação durante o transporte e o armazenamento O transporte e o armazenamento, na fábrica, de iscas granuladas junto a outros agrotóxicos voláteis (inseticidas, fungicidas ou herbicidas) podem contaminar as mesmas e fazer com que as formigas não aceitem tais iscas.

DETERIORAÇÃO NO ARMAZENAMENTO Pela ação da umidade As embalagens de iscas formicidas devem ser colocadas sobre estrados de madeira e afastadas de pisos e paredes, para não absorverem umidade e se deteriorarem. Os componentes das iscas não são esterilizados, e o aumento do teor de umidade nelas permite o desenvolvimento de fungos e bactérias que as tornarão inaceitáveis pelas formigas cortadeiras, que rejeitam o produto. Pela ação da luz solar e do calor Toda isca contém um determinado grau de umidade, necessário para manter a consistência da mesma e que, em temperaturas amenas, não permite o desenvolvimento dos microorganismos presentes na isca. A exposição das embalagens que contém

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iscas formicidas, à luz solar direta, desloca a umidade no interior da mesma e a concentra na parte superior do pacote, permitindo o desenvolvimento dos microorganismos que vão torná-la inaceitável pelas formigas, além da desagregação dos grânulos que, na forma de pó ou pasta, não serão carregados pelas operárias. Temperaturas elevadas, mesmo na ausência de luz, aceleram a multiplicação dos microorganismos, inutilizando a isca como formicida, situação esta freqüente durante os meses de verão e em períodos chuvosos. Pelo tempo de armazenamento Os componentes de uma isca formicida, não sendo estéreis, com o passar do tempo e, pelas variações de luz, temperatura e umidade, vão-se deteriorando, fazendo com que a mesma perca a sua finalidade. Devido a isto, devem ser verificados os prazos de validade de cada lote, no momento da aquisição. Nunca se devem armazenar as iscas na propriedade por períodos superiores a seis meses. Na situação de necessidade de uso durante todo o ano, devem-se, preferencialmente, ser feitas aquisições parceladas. Somente condições ideais de armazenamento, com luz, temperatura e umidade controladas, permitirão que o produto conserve sua eficácia durante o período do armazenamento. A grande maioria dos depósitos de agrotóxicos e de iscas formicidas não possuem estas condições. Pelo armazenamento com outros agrotóxicos É recomendável, o armazenamento das

Transporte da isca para a sua aplicação O agricultor deve estar equipado com luvas para não transmitir o seu odor à isca, visto que o cheiro humano servirá de alerta às formigas operárias, indicando um produto perigoso a elas. Naquela propriedade em que o agricultor for utilizar, pela primeira vez, uma isca formicida, o cheiro humano não é fator essencial para rejeição da isca, mas, naquelas de utilização comum, é causa importante para rejeição da mesma. O transporte do pacote de isca, no bolso do casaco, sobretudo ou pala, junto com fumo de rolo, vai contaminá-la, e ela será rejeitada pelas formigas. O transporte na caixa de ferramentas do trator contaminará a isca com vapores do combustível ou com odor de graxa, substâncias tóxicas e repelentes para formigas cortadeiras. A colocação da isca em embalagens vazias de agrotóxicos, mesmo bem lavadas, não impedirá a sua contaminação e conseqüente rejeição pelas formigas. Recomenda-se conservar a isca formicida sempre na embalagem original e, quando não utilizado todo o conteúdo do pacote, fechá-lo bem, amarrando a boca com barbante ou arame, para não penetrarem ar e umidade, que irão deteriorar a isca. Um pacote aberto deve ser utilizado o mais breve possível, pois testes realizados, por nós, mostraram que após dois meses a rejeição destas iscas é superior a 70%. Manipulação da isca A isca não deve entrar em contato com o cheiro ou o suor humano. Para isso, recomenda-se a utilização de medidores plásticos ou metálicos para o cálculo das doses a serem utilizadas no controle de formigueiros. O método tradicional dos agricultores, de calcular visualmente a quantidade da isca, tem ledas formigas cortadeiras, devido principalmente a subdosagens. Quantidade de isca A quantidade de isca por formigueiro é variável, dependendo da espécie de formiga e do tamanho do ninho. As doses registradas nos rótulos das embalagens correspondem, em média, à dose mínima necessária para controlar 80% dos

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formigueiros tratados, geralmente de tamanho médio, tamanho este variável, em função da espécie de formiga cortadeira e da época do ano. A dose a ser aplicada por formigueiro varia muito em função da espécie de formiga, do tamanho do ninho, da época do ano, da vegetação existente na área e dos procedimentos anteriores de controle. Em formigas saúvas (pertencentes ao gênero Atta), as doses registradas variam de 6 a 10 g/metro quadrado de sede aparente do formigueiro, sendo freqüente erros de cálculo das doses a serem aplicadas. Em formigas quenquéns (formigas cortadeiras de menor porte que as anteriores e pertencentes ao gênero Acromyrmex), as doses variam de 5 a 100 g/ninho, dependendo da espécie de quenquém, do tamanho do ninho e do ingrediente ativo da isca. Essas amplas variações fazem com que os custos de controle desses insetos variem de região para região, trazendo preocupações para agricultores e profissionais que fornecem assistência técnica à produção, pela quantidade de informações que necessitam saber para fazer um controle adequado e econômico. Ocasião de aplicação Quando da utilização de iscas formicidas, sua aplicação deve ser realizada em toda a área a ser tratada, numa única ocasião, para que não ocorram formigueiros amuados que receberam subdoses e que ficarão paralisados por algum tempo, mas que voltarão à atividade dentro de 15 a 45 dias. A melhor eficácia de controle das iscas formicidas é obtida quando é feita uma aplicação criteriosa das mesmas, após conheciva-

do com frequência a insucessos no controle mento prévio das espécies ocorrentes na propriedade, localização e tamanho dos ninhos, seus hábitos e preferência de vegetação para corte. Dose correta Uma isca somente será eficaz se a quantidade aplicada for suficiente para eliminar o formigueiro. Em formigueiro de saúva, a dose máxima por olheiro de trabalho (carreiro) é de 150 g, porque mais do que isso, num único local, resulta em sobras de isca, pois as operárias não carregam mais do que esta quantia, numa única ocasião. Esta não é a quantidade máxima de isca por formigueiro de saúva e sim a quantidade máxima por carreiro ou olheiro de trabalho; nos olheiros de ventilação, a dose máxima é de 50g para a formiga saúva. Quantidades maiores por local de aplicação raramente serão carregadas no total, aumentando custos sem bons resultados no controle, pois sobras de iscas poderão ser “roubadas” por formigueiros vizinhos que deste modo receberão subdoses e ficarão amuados. Para formigueiros de quenquéns, a dose máxima é de 60 g por carreiro, devendo, devendo a dose em algumas espécies, ser subdivida em duas ou três porções, para melhor eficiência no carregamento e redução da possibilidade de rejeição, pois alguns ingredientes ativos são de ação bastante rápida e, no verão, começam a atuar sobre as formigas em 20 a 30 minutos após o início de carregamento. Hora de aplicação As iscas devem ser aplicadas, preferenci-

O método tradicional dos agricultores, de calcular visualmente a quantidade da isca, tem levado a insucessos no controle

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almente, no início da atividade de forrageamento, para que as operárias disponham de tempo para o transporte da maior quantidade possível da isca. Para que uma dose de isca colocada adequadamente seja totalmente carregada para o interior do formigueiro, algumas espécies necessitam de até duas de atividade, e, conhecendo-se os hábitos locais da atividade de forrageamento, o agricultor pode estabelecer a melhor hora de aplicação, que é preferencialmente no início das operações de forrageamento (corte e carregamento de vegetais). Sabe outrossim que as atividades de forrageamento não são permanentes e que, após determinado período, cessam estas atividades e, como consequência, não haverá carregamento da isca. A colocação de iscas, em qualquer hora do dia, pela ação da luz solar, calor e umidade, pode causar a deterioração destas e torná-las não atrativas e inaceitáveis pelas formigas. Superfície seca do solo Quando a superfície do solo estiver úmida, isto é, logo após chuvas ou devido ao orvalho, a aplicação das iscas é contraproducente, porque absorverão umidade rapidamente e serão recusadas pelas formigas. Em caso de necessidade de aplicação nessas situações, recomenda-se a colocação das mesmas sobre papel parafinado, plástico ou mesmo fitas de madeira, para retardar ao máximo a ação negativa da umidade.

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Em situações de chuvas ou garoa em breve espaço de tempo, recomenda-se a não aplicação das iscas, devido à falta de tempo para o carregamento das mesmas, e, como conseqüência, teremos um formigueiro amuado. Colocação dentro do formigueiro A colocação da isca diretamente dentro do olheiro é uma das causas mais freqüentes de insucesso no combate às formigas cortadeiras, já que todo e qualquer material introduzido dentro do formigueiro é trazido para fora imediatamente e, após análise quanto à qualidade como substrato, pode ou não ser carregado para dentro do ninho. Os agricultores que querem adiantar o serviço das carregadeiras estão na verdade facilitando a rejeição das iscas pelas formigas, pois qualquer deterioração da mesma durante este tempo faz com que ela seja rejeitada, e, se o veneno for volátil, começa a atuar sobre as operárias. Neste caso a devolução para o exterior é feita do modo mais rápido possível.

Formigueiros que receberam subdoses podem ficar paralisados por algum tempo, mas voltam à atividade dentro de 15 a 45 dias

Repasse A utilização de iscas formicidas só permite o repasse após 60 a 90 dias da última aplicação, por isso é que deve ser feita uma aplicação total quando se utiliza esta forma de com-

bate às formigas cortadeiras. A vida média das operárias varia de 60 a 90 dias, dependendo da estação do ano e da espécie de formiga, sendo menor no verão e maior no inverno, e as operárias aprendem que aquele “atrativo” é nocivo a elas e o rejeitam. Não adianta trocar de marca comercial, porque as operárias associam o “atrativo” ao efeito nocivo e não ao veneno propriamente C dito. Dionísio Link, UFSM

Dionísio Link mostra onde os produtores geralmente erram na hora de combater as formigas


Armazenagem

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Saída inteligente Por causa da falta de capacidade estática de armazenagem, os silos de plástico ou silosbag ganham espaço no Brasil e aos poucos mudam a paisagem das lavouras no Mato Grosso

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está no nosso território. De toda essa área, a maior fatia a ser desbravada está no Mato Grosso, estado que, só em soja, planta hoje 5,8 milhões de hectares e, nos próximos 10 ou 15 anos, estará trabalhando com uma área de 21 milhões de hectares cultivados. Mas, se por um lado a produção au-

Juarez de Mello

Brasil caminha a passos largos para se tornar a potência mundial de produção de grãos. E, sem perder tempo, nossos produtores impulsionam, numa velocidade impressionante, o país rumo ao título de celeiro mundial, já que a maior área agriculturável ainda inexplorada

Em três anos, a venda de silosbag no Brasil cresceu aproximadamente dez vezes

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menta a taxas de quase duas casas ao ano no Mato Grosso, por outro, a infraestrutura para escoamento e armazenagem nem de longe causa a mesma euforia nos produtores. Apesar do grande esforço dos setores públicos, da iniciativa privada e dos próprios agricultores da região, o escoamento da produção é sempre um dilema que tira o sono, exige algumas horas de cálculos, além de uma boa dose de sorte. Com uma malha viária ainda em construção, muito distante do ideal, e pouca estrutura para armazenagem estática, muitos produtores respiram aliviados, quando conseguem fazer a produção chegar ao seu destino final. Não raramente, o resultado de uma safra fica pelo caminho porque os caminhões não conseguem rodar pelas picadas do Cerrado na época de chuvas. A saída natural seria armazenar a produção na fazenda por alguns meses, à espera de melhores preços e mais opções de transporte, mas como os produtores canalizam suas finanças para abertura de novas áreas, os investimentos em estrutura para armazenagem estática ficam em segundo plano. Segun-

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do o engenheiro agrônomo da Agência Rural, Seneri Paludo, a capacidade de armazenagem estática do estado é suficiente para armazenar apenas metade da produção de soja, sem contar as outras culturas. Das 17 milhões de toneladas que serão colhidas neste ano, somente 8,6 toneladas serão armazenadas em unidades estáticas. Neste contexto, chegou ao Brasil há três anos uma alternativa muito interessante e que está salvando a safra de muitos produtores da região. Responsáveis por armazenar 30% da produção argentina, os silos de plásticos ou silosbag, como são conhecidos, agora estão mudando o cenário das lavouras matogrossenses. Ao trafegar pelas estradas ou em vôos em altitudes menores é comum ver dezenas de bolsas brancas longas, distribuídas lado a lado nas fazendas, que podem até causar estranheza para quem não sabe do que se trata. Estes silos, com 60 metros de comprimento e 2,7 metros de altura, armazenam até 3 mil sacas de 60 quilos cada um, por períodos de até 18 meses, se forem respeitados alguns princípios como grau de umidade e vedação adequada do sistema. Por não ocorrer a entrada do ar externo, não há elevação da temperatura do grão armazenado, o que permite o armazenamento da mercadoria com um determinado grau de umidade. Isso origina um grande aliado nas pontas da colheita onde podem existir inconvenientes como disponibilidade dos caminhões, falta do espaço em plantas, em silos próprios ou de terceiros, perdas de tempo nas plantas de secagem pela pequena capacidade delas frente à habilidade de trabalho das colhedoras.

Proprietária de 7,3 mil hectares em Ipiranga do Norte, a 460 km de Cuiabá (MT), Norma Rampelotto Gatto, há três anos utiliza a tecnologia de silosbag da empresa Ipesa, para armazenar parte da produção de soja e milho de safrinha colhidos na Fazenda Cabeceira. Em 2003, ela armazenou pela primeira vez sua produção de milho em 25 bolsas. No segundo ano, foram 60 bolsas para armazenar parte da safra de milho e soja e, para a safra 2005, 70 unidades foram adquiridas para alocar aproximadamente 12 mil toneladas de soja. Norma confessa que no primeiro ano sentiu medo, pois não conhecia a tecnologia e adquiriu uma grande quantidade de bolsas. Como os armazéns convencionais estavam lotados com safra de soja, a solução foi apostar no sistema e armazenar 4,5 mil toneladas de milho safrinha em 25 bolsas. “A princípio fiquei meio apreensiva porque não sabia qual seria o resultado, mas logo vi que o produto mantinha as propriedades fí-

sicas originais do dia da colheita, mesmo alguns meses depois”. Ela garante que as empresas compradoras preferem carregar primeiro o grão armazenado nas bolsas, por causa da qualidade do produto, que não perde a umidade original e as propriedades físicas, além de estar livre de produtos químicos geralmente utilizados em silos convencionais para controlar pragas. Por ser uma tecnologia relativamente nova no Brasil, os produtores ainda não conhecem totalmente os resultados e muitos preferem primeiro observar o que acontece com a produção do vizinho para depois aderir ao sistema. No caso de Norma, por exemplo, ela garante que foi a primeira a utilizar o silobag na sua região e não faltou gente achando que os resultados seriam desastrosos. “Ninguém conhecia o sistema na região, e muitos ficaram com o pé atrás, pensando que eu era doida, mas hoje, depois de duas safras, grande parte dos produtores da região já está trabalhando com silos de plásticos”, garante. Segundo Juarez de Melo Filho, revendedor da Ipesa Silos para a região de Rondonópolis (MT), a simplicidade do sistema muitas vezes é a causa da desconfiança do produtor. “Pelo funcionamento simples, que tem como princípios apenas o isolamento térmico e a ausência de oxigênio no interior da bolsa, os produtores acabam achando que o sistema não vai funcionar”, explica. Na verdade, todo o segredo da conservação está no isolamento que o polietileno proporicona. Isolado termicamen-

Norma Gatto armazenou, em 2003, 25 bolsas com milho. Para este ano, mais 70 bolsas estão em seus planos

Para Ciarini, as grandes vantagens do sistema são a simplicidade e o baixo custo de manutenção

Dario acredita que a maximização das máquinas agrícolas e a eliminação dos fretes já pagam o sistema

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Evolução das vendas da Ipesa Silos no Brasil, de 2003 a 2005 2003 – 400 silosbag 2004 – 1500 silosbag 2005 – 4.000 silobag (projeção)

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Fotos Cultivar

te e sem a entrada de oxigênio, as pragas não sobrevivem, e a massa de grãos não respira, o que acaba garantindo a imunidade do produto. Os resultados foram tão bons que Norma aboliu de seus planos o projeto de dois silos convencionais que originalmente estavam programados para serem construídos este ano. Os pedidos já haviam sido feitos, mas, após calcular o custo de construção, o capital mobilizado, resolveu continuar armazenando em silosbag. “Colocamos na ponta do lápis, e cheguei a conclusão que é muito melhor investir o dinheiro dos silos em outros projetos e utilizar o sistema de armazenagem em bolsas, porque o custo da bolsa é o mesmo que se gasta para manter o produto dentro do silo convencional, fazer expurgo, aeração, sem contar o custo do frete, que acaba encarecendo também”, explica.

Há duas safras, Darci Ciarini, revendedor da Case, Massey Ferguson e Agrale, que tem fazendas em Campos de Julio e Sapezal (MT), também utiliza o sistema de silobag, para armazenar a produção dos 7,2 mil hectares cultivados com soja e 2 mil hectares de milho safrinha. Na primeira safrinha de milho armazenada com silobag, foram utilizados 34 bolsas da Ipesa. Como a fazenda onde planta milho é nova, não existem silos para armazenagem estática porque os investimentos ainda se concentram na fertilidade do solo e abertura de área. Por causa disso, resolveu investir em silosbag e confessa que não se arrependeu. Para Ciarini, esse sistema apareceu num momento muito oportuno, por causa da grande deficiência de silos existente no Mato Grosso. Além da grande carência que o estado já enfrenta em

Com o produto armazenado na fazenda, o produtor consegue aumentar os lucros com a venda em períodos de preços altos

função do volume colhido e do aumento constante de área, o milho, por exemplo, quase não é cultivado na safra normal porque exige o dobro de capacidade estática de armazenagem e, como o produtor muitas vezes acaba guardando a soja para comercializá-la em períodos com cotações melhores, não restam muitas alternativas. Para ele, o silobag foi a solução nas suas últimas safras de milho que, além de garantir uma armazenagem de qualidade com custo menor do que o esperado, possibilitou comercializar o produto com preços melhores, seis meses após a colheita. “Em dezembro, quando abrimos os silos, ficamos impressionados, porque ele mantinha os mesmos 16% de umidade de quando foi armazenado no mês de


junho”, garante. Estas diferenças de custos ficam mais evidentes no caso do arroz. “Hoje, qualquer armazém cobra uma taxa de, no mínimo, 10% para receber, secar e expedir o arroz”, explica Dario José Micharki, que tem sociedade numa propriedade de 4,6 mil hectares, onde cultiva soja, arroz e milho safrinha nas localidades de Primavera do Leste, Água Boa e Canarana. O diferencial no caso do arroz é que ele deve ser colhido com, no máximo, 14% de umidade para garantir uma armazenagem perfeita nos silosbags. Outra vantagem que a armazenagem na fazenda proporciona é a possibilidade de o produtor dispor de grãos para vender nos meses que o mercado paga preços melhores. Como é normal em momentos de grande oferta de produto, o período de colheita sempre derruba os preços dos grãos, e os fretes se tornam mais caros, empurrados pela grande demanda por caminhões. Se o produtor conseguir armazenar parte da safra na fazenda, além de ganhar mais pelo produto que será vendido em períodos de alta, ele acaba economizando com frete, já que nesses períodos as traders se dispõem a comprar o produto diretamente na fazenda, eliminando o custo de frete por parte do produtor. Na última safra, Dario armazenou milho e sorgo em três silos Ipesa. O as duas culturas foram embutidas em julho do ano passado e extraídas em março deste ano, mantendo as mesmas propriedades físicas oito meses depois. Para ele, um dos grandes diferenciais do sistema é a otimização do maquinário agrícola e a redução dos custos com frete. Com a possibilidade de armazenar dentro do próprio talhão, o produtor consegue eliminar o transporte até a sede da fazenda, diminuindo ainda mais os custos e maximizando o trabalho das colhedoras, que podem descarregar diretamen-

OPERAÇÃO DE EMBUTIMENTO E EXTRAÇÃO

H

á três anos, quando a tecnologia chegou ao Brasil, as máquinas utilizadas para embutimento e extração eram trazidas da Argentina. Com o crescimento da adesão ao sistema, diversas empresas já produzem este tipo de máquinas, como Boelter e Nogueira. Um exemplo da dimensão que o sistema está tomando é a empresa Mark Brasil, instalada na cidade de Cachoeirinha (RS), que fabricará exclusivamente as máquinas para operações com silosbag. Atualmente, a Mark já comercializa a máquina embutidora In Grain 100 e já tem projetos em fase final de construção da máquina extratora. A máquina embutidora que realiza o processo de enchimento do silo é composta por um mecanismo que recebe os grãos e, através de uma rosca sem fim, os conduz ao interior da bolsa. A potência requerida para acionar a máquina é de pelo menos 25 cv e tomada de potência de 540 rpm. A capacidade de produção da máquina, se regulada adequadamente, pode chegar a 250 toneladas por hora. O controle do fluxo de grãos é feito através do freio da máquina, peça chave de todo o processo de embutimento dos grãos, pois ao ser empurrado para dentro do silo, os grãos fazem pressão para que a máquina se desloque para fren-

te na máquina embutidora. “Sem sombra de dúvida, esse sistema de armazenagem é o mais barato hoje e está disponível para qualquer tipo de produtor, seja grande ou pequeno, pois cada um adquire a quantidade necessária para sua necessidade”, destaca. O custo de R$ 0,80 por saco de milho, ou de R$ 0,75 para soja, inclui o gasto com

te. É neste momento que o freio deve ser usado corretamente, de forma que o grão não cause pressão demasiada e estique o plástico. Para retirar os grãos do silo, utiliza-se outra máquina, diferente da usada na operação de embutimento. É uma máquina de funcionamento simplificado, que também utiliza o sistema de roscas sem fim. Diferente do processo de enchimento, o esvaziamento das bolsas não fica restrito ao uso de máquinas. Dependendo da necessidade e do tipo de produto armazenado, a retirada pode ser feita com outros tipos de material, como pás, por exemplo. O uso da máquina é indicado para realização de operações de silos inteiros ou vários silos ao mesmo tempo.

a terceirização do maquinário, para embutir e extrair os grãos. Se o produtor investir em uma quantidade superior a dez silos, é mais vantajoso adquirir as máquinas, pois o custo compensa. Há três anos, não havia no Brasil máquinas embutidoras e extratoras, que eram importadas da Argentina. Hoje, já existem diversos moC delos disponíveis (vide box). CE


Soja

Essência de produtividade Dirceu Gassen

Os micronutrientes, molibdênio e cobalto, interferem diretamente na produtividade. Por isso, necessitam de criteriosa avaliação quanto à aplicação, já que têm a função fundamental no processo de fixação biológica do nitrogênio

O

rendimento da soja no Brasil teve nos últimos dez anos aumento médio de mais de 1,2 mil kg/ha, com algumas regiões com rendimentos médios de 3 mil kg/ha, um grande conjunto de agricultores com médias acima de 4,4 mil kg/ha, e em ensaios de pesquisa são freqüentemente observados rendimentos acima de 5 mil kg/ha, atingindo até 6,5 mil kg/ha. Essa maior produtividade da soja estaria requerendo melhores condições de fertilidade do que as atuais existentes, para assegurar o máximo rendimento determinado pelas novas variedades existentes no mercado. Por outro lado, a maior parte dos solos do Brasil tem deficiências quanto aos principais nutrientes necessários para o pleno desenvolvimento da soja. Grandes quantidades de fertilizantes e de calcário são necessárias para promover esses solos de uma situação de baixa fertilidade para situações de boa fertilidade. Os máximos rendimentos da soja são normalmente obtidos quando os macronutrientes e micronutrientes estão em níveis adequados. Porém, as respostas da soja ao uso de fertilizantes não estão só condicionadas à quantidade de adubos, interferem nas respostas condições de solo, tais como tem-

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po de uso de sistema de plantio direto, de sistemas de rotação de culturas, tempo posterior à última calagem, quantidades anteriores de fertilizantes aplicadas, índices anteriores de produtividade, forma de aplicação de fertilizantes, equilíbrio de nutrientes nos solos e comportamento varietal da soja a diferentes condições de fertilidade. Do conjunto de micronutrientes essenciais para a nutrição da soja - Boro (B), Cloro (Cl), Molibdênio (Mo), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn), Cobre (Cu) e Cobalto (Co) -, o Mo e o Co têm grande importância para a promoção de altos rendimentos da soja, considerando-se que estes nutrientes desempenham função fundamental no processo de fixação biológica do Nitrogênio (N). O presente trabalho apresenta algumas considerações sobre a importância da nutrição da soja com o Mo e o Co, bem como a análise de resultados de pesquisa que confirmam a necessidade de adubação com esses dois micronutrientes para melhores rendimentos da soja.

CONSIDERAÇÕES O efeito benéfico do Mo na produtivida-

de de leguminosas é conhecido desde 1930. Sua principal atuação está no processo de fixação simbiótica do nitrogênio e em outros processos fisiológicos das plantas superiores. O Mo participa ativamente como cofator integrante nas enzimas nitrogenase, redutase do nitrato e oxidase do sulfato e está intensamente relacionado com o transporte de elétrons durante as reações bioquímicas. A falta de Mo no solo irá ocasionar menor síntese da enzima nitrogenase, com conseqüente redução da fixação biológica do nitrogênio (N2). Na Tabela 1 observam-se os efeitos da aplicação de alguns micronutrientes sobre o rendimento da soja e parâmetros de ordem nutricional. Dentre os micronutrientes testados neste trabalho, o Mo foi o que proporcionou os maiores rendimentos de soja, evidenciando os efeitos benéficos deste nutriente. O teor de Mo total nos solos encontra-se na faixa de 0,5 a 5 ppm, onde ocorre nas seguintes fases: solúvel na solução do solo, adsorvido na fração coloidal, retido na rede cristalina dos minerais primários e quelado à matéria orgânica. Em condições de pH extremamente baixo, o Mo existente na solu-

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Julio Gasparotto Markus

ção do solo encontra-se predominantemente em forma não dissociada de ácido molíbdico (H2MoO4). Com o aumento do pH, o H2MoO4 dissocia-se em (HmoO4-) e, posteriormente, em molibdato (MoO42-), o qual se torna a forma predominante em solos de pH neutro e alcalino. O suprimento para as plantas é feito principalmente na forma de MoO42-, presente na solução do solo, via fluxo de massa. O Mo é facilmente liberado dos minerais primários pela intemperização. Comparado aos outros micronutrientes, ele permanece relativamente móvel na forma de molibdatos potencialmente solúveis. Entretanto, esses molibdatos são adsorvidos nas superfícies de minerais primários e da fração coloidal, fazendo com que a disponibilidade do Mo no solo seja dependente do pH. A correção do pH dos solos ácidos, através da calagem, aumenta a disponibilidade de molibdênio, justificando-se essa ocorrência com o mecanismo de troca dos ânions de molibdato (MoO42-) por hidroxila (OH-). A deficiência de Mo na soja pode ser percebida na coloração (amarelada pálida) das folhas mais velhas, semelhante à da deficiência de nitrogênio. Nas situações de deficiência, o íon Mo se desloca das folhas mais velhas para as mais novas. As formas de Mo mais utilizadas em adubações são os molib-

Figura 1 - Efeito da aplicação de molibdênio via sementes em diferentes condições de pH do solo. Fonte: Lantmann et al. 1985

Efeito de toxicidade de cobalto, quando aplicado além da dose máxima recomendada

datos de sódio e de amônio e o trióxido de molibdênio, sendo ainda utilizados o ácido molíbdico e fertilizantes compostos que contêm o Mo em sua composição, como as fritas (fritted trace elements). Essas formas podem ser supridas às plantas através de adubo de solo, aspersão foliar (exceto o FTE) ou aderido às sementes. Na foto de lavoura, observam-se, no primeiro plano, o cultivo de soja sem aplicação de molibdênio e, no segundo plano, soja cultivada com aplicação de molibdênio via sementes. Como as quantidades requeridas pela soja são pequenas, a aplicação de 12 a 30 g de

Mo/ha, junto com as sementes, são suficientes para o estabelecimento do processo de fixação biológica do nitrogênio e, como conseqüência, a alta produtividade de soja. A aplicação de Mo nas sementes de soja na forma de molibdato pode ocasionar sérios problemas de sobrevivência do Bradyrhizobium, bem como prejuízos à nodulação e à fixação do N2. É necessário que o processo de inoculação das sementes de soja seja efetuado levando-se em conta todos os cuidados recomendados, como plantio das sementes logo após a inoculação, quantidade e qualidade do inoculante e boas condições de umidade do solo, para garantir rápida germinação, re-


Aureo Francisco Lantmann

Tabela 1 - Número de nódulos por planta, massa de nódulos secos, N nas folhas, N nos grãos, N total nos grãos e rendimento da soja, obtidos com aplicação de micronutrientes nas sementes. Londrina (PR), 1989 Micronutrientes por 80 kg de sementes

Ao fundo, soja tratada com molibdênio via sementes; na frente, sem aplicação, efeito produzido em solo solo ácido

duzindo os danos causados pela aplicação de Mo junto com o Bradyrhizobium. Aplicação de Mo via foliar, antes do início da floração da soja e na mesma concentração recomendada para as sementes, é uma alternativa para a nutrição da soja com esse micronutriente. O Cobalto (Co) é um elemento essencial aos microorganismos fixadores de N2, mediante a participação na composição da vitamina B12 e da coenzima cobamida, também conhecida como dacobalamina. A cobamida funciona como ativadora de enzimas importantes que catalisam reações bioquímicas em culturas de bactérias fixadoras de N2, entre as quais o Bradyrhizobium japonicum e seus bacteróides presentes nos nódulos das leguminosas. Vários trabalhos de pesquisa atribuem à ausência do Co a diminuição da fixação do N2 para a soja, com repercussão negativa para a produtividade. A deficiência de Co na soja se apresenta sempre nas folhas mais novas, sendo essa uma característica de sintomas produzidos por elementos de baixa mobilidade nas plantas. A necessidade de Co para a soja é muito pequena, perto de 300 vezes inferior à de Mo. Nos casos de deficiência de Co, a aplicação de 1 a 2 kg/ha de sulfato de cobalto (21% de Co) no solo, ou de até 3 g de Co/ha, junto com as sementes de soja, são suficientes. As aplicações de Co via foliar apresentam menos eficiência do que a aplicação de Mo, devido à baixa translocação de Co na planta, entretanto, trabalhos de pesquisa têm mostrado que a aplicação deste nutriente junto com o Mo via foliar promove aumento da fixação biológica do nitrogênio e da produtividade da soja. A toxicidade de Co em soja, quando aplicada via semente além da dose máxima recomendada (3 g de Co/ha), é percebida alguns dias após a germinação. A planta apresenta uma clorose generalizada, que, dependendo do grau de toxidez, pode desaparecer após alguns dias ou comprometer toda a lavoura, havendo necessidade de replantio. O

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Teste Zn 15 g Co 0,75 g Mo 4,5 g B 3,0 g Zn+Co+ Mo+B

Nodulação por Nitrogênio Rendimento planta Número Massa Folhas Grãos Grãos N mg/pl % % kg/ha kg/ha 13 60 4,1 6,1 166,5 b 2720 b 11 56 4,0 6,1 179,4 b 2930 b 15 65 4,0 6,0 184,5 b 3053 b 14 57 4,1 6,4 236,3 a 3717 a 14 66 4,0 6,2 187,2 b 3006 b 12 60 4,1 6,4 204,3 ab 3204 a

Fonte: Campo & Lantmann, 1989

Tabela 02 - Rendimento de grãos de soja em função de doses de sintoma de clorose generalizada é ca- calcário e molibdênio em duas localidades paranaenses, Campo racterístico de deficiência de ferro, proMourão – cultivar Paraná, e Ponta Grossa – cultivar FT-2 movida pelo excesso de Co. A disponibilidade do molibdênio no Campo Mourão ( 1 ) Campo Mourão ( 1 ) (3) solo é dependente do pH - trabalhos Dose de Mo ( 3 ) g/ha Dose de Mo g/ha de pesquisa indicam que o uso do cal- Calcário 0 30 Calcário 0 30 cário em solos ácidos elimina a necest/ha kg/ha t/ha kg/ha sidade de fertilização com Mo. A influ1.625 bB 2.102 bA 0 2.340 dB (4) 2.710 bA 0 ência do pH do solo na disponibilida2 2.595 cB 2.890 bA 3 2.424 aA 2.529 aA de de Mo para as culturas pode ser en4 3.095 bA 3.175 abA 6 2.509 aA 2.556 abA tendida conforme revelou Lindsay 2.538 aA 2.586 aA 6 3.185 abA 3.280 aA 9 (1972), que, estimando solubilidade do 8 3.275 abA 3.295 aA 12 2.618 aA 2.619 aA MoO42- a partir da reação MoO42- + 10 3.400 aA 3.290 aA 15 2.623 aA 2.600 aA solo + 2OH-, encontrou a relação (1) Cultivar Paraná. (2) Cultivar FT-2. (3) Molibdênio via semente na dose de 30 g/ha de Mo na (MoO42-) = 10-20,5/ (H+)2, mostran- forma de molibdato de sódio. (4) Médias seguidas de mesma letra minúscula (nas colunas) e do que a concentração de molibdato au- maiúsculas (nas linhas) não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. Fonte: Lantmann, 1989. menta cem vezes para cada unidade de deu de forma menos acentuada à calagem aumento do pH. Trabalhos realizados pela Embrapa Soja tanto na ausência como na presença de Mo. no estado do Paraná, com objetivo de deter- Apenas até a dose equivalente a 3t/ha de calminar a produtividade da soja em função do cário foram observados acréscimos significaMo, em diferentes níveis de pH do solo alte- tivos de rendimento em relação ao tratamenrados pela ação de calagem, revelaram a gran- to testemunha. Resposta significativa ao Mo na produde influência do pH na resposta da soja à ção de grãos, dentro de um mesmo nível de aplicação do Mo (Tabela 2, Figura 1). Em Campo Mourão, a soja, cultivar Pa- calagem, só ocorreu no tratamento corresraná, respondeu de forma mais acentuada à pondente a 0 t/ha de calcário, com diferença calagem quando não se utilizou o Mo, apre- de 477 kg/ha. A utilização da cultivar FT-2, sentando diferença de 755 kg/ha entre os tra- considerada como tolerante à acidez do solo, tamentos com 0 e 4t/ha de calcário; com a pode justificar esse comportamento, ou seja, utilização de Mo, essa diferença foi de 465 a menor resposta da soja ao Mo pode estar kg/ha. Esse fato evidencia que o Mo, nessa associada à menor sensibilidade à acidez. Tanto o Mo como o Co são nutrientes condição de solo, seria um elemento pouco disponível para a soja até determinado nível essenciais à nutrição da soja. A decisão quande calagem. A partir da dose de 2 t/ha de to à aplicação destes como fertilizantes deve calcário, o Mo do solo já se encontraria em ser criteriosa. Quantidade, forma de aplicaforma disponível para a cultura, sendo sua ção, condições do solo e fontes dos nutriendisponibilidade afetada pela condição de aci- tes são fatores que devem ser considerados, dez natural do solo. Entretanto, é fundamen- aliados a um diagnóstico da real necessidade tal salientar que, na ausência de calagem, na de aplicação, em função de análises de solo, dose 0 de Mo, a produção de soja foi de ape- de folha e do histórico de área, com observanas de 2,34 mil kg/ha, enquanto que, com ções sobre sintomas de deficiência desses nuC aplicação do Mo, o rendimento partiu de 2,71 trientes. mil kg/ha, ou seja, um aumento significativo de cerca de 400 kg/ha de grãos. Aureo Francisco Lantmann, Em Ponta Grossa (PR), a soja respon- Engenheiro Agronômo

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Soja

Fotos Ricardo Balardin

O poder químico Falta de cultivares resistentes à ferrugem asiática da soja estimula a realização de rede de ensaios para avaliar eficiência de produtos fungicidas para o controle da doença na safra 2005/06

N

a ausência de cultivares re sistentes, a utilização de fungicida, embora aumente o custo de produção, tem viabilizado o cultivo da soja na presença da ferrugem. Atualmente, 27 produtos encontram-se registrados para o controle da ferrugem no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Informações sobre a eficiência de fungicidas para o controle das diferentes doenças são cada vez mais necessárias para orientar sua correta utilização no campo. Durante a vigésima quinta Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, realizada no ano de 2003, em Uberaba (MG), foi formada a rede de ensaios para controle de doenças na cultura da soja, visando atender uma demanda de pesquisa que comparasse todos produtos numa mesma situação. Na safra 2004/05, 18 instituições de pesquisa participaram dos ensaios e na safra 2004/05 esse número aumentou para 25 (vide box). A lista de tratamentos, o delineamento experimental e as avaliações dos ensaios são padronizados para sumarização conjunta ao final da safra, sendo

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realizados de acordo com as normas para avaliação e recomendação de fungicidas para a cultura da soja (Reunião, 2004). As análises são realizadas utili-

zando as avaliações de severidade (porcentagem de área foliar lesionada), uma vez que as tabelas que constam na publicação “Tecnologias de Produção de

Eficiência de produtos é fácil de ser observada em situações onde a ferrugem ocorre de forma mais agressiva

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Soja – Região Central do Brasil 2005” consideram as doenças separadamente. Na safra 2003/04, os produtos foram agrupados de acordo com os resultados da análise estatística (Godoy, 2005). Para a safra 2004/05, os novos produtos registrados e em fase de registro foram avaliados. Para comparação com os resultados da safra 2003/04, foram utilizados como padrões os produtos tebuconazole 100 g i.a./ha e azoxystrobin + ciproconazole 60 + 24 g i.a./ha, que apresentaram, na safra anterior, eficiência de controle superior a 86%. Para realização dos ensaios, os produtos foram aplicados nos estádios R2 (florescimento pleno) e R5.1 (início da formação de grãos). Na safra 2004/05, foram realizados 20 ensaios nas diferentes regiões produtoras. Dos 20 ensaios, em dez, as aplicações foram realizadas sem sintomas de ferrugem e, em dez, foram realizados com sintomas, sendo destes, somente três ensaios, aplicados com severidade acima de 1% (Tabela 1). A redução de produtividade em porcentagem foi calculada comparando a testemunha sem controle e o melhor tratamento de cada ensaio, sendo observada maior re-

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Tabela 1 - Instituições, locais e severidade no momento da aplicação e redução de produtividade nos ensaios para controle de ferrugem da soja. Safra 2004/05 Instituição Fundação Bahia Embrapa Soja Epamig Fundação MS Fundação Mato Grosso Agênciarural/CTPA UFG FAPA IAC Embrapa Soja Embrapa Agropecuária Oeste/Fund. Chapadão Instituto Biológico Instituto Biológico CEFET Embrapa Cerrados Unesp UEPG Fesurv Tagro Coopermota

Local Bela Vista (BA) Londrina (PR) Uberaba (MG) Maracaju (MS) Rondonópolis (MT) Goiânia (GO) Ipameri (GO) Guarapuava (PR) Capão Bonito (SP) Riachão (MA) Chapadão do Sul (MS) Paulínia (SP) Paulínia (SP) Pato Branco (PR) Brasília (DF) Jaboticabal (SP) Ponta Grossa (PR) Rio Verde (GO) Tamarana (PR) Candido Mota (SP)

* diferença não significativa entre a produtividade dos diferentes tratamentos no ensaio. ** comparação entre a testemunha sem controle e o melhor tratamento.

dução para os ensaios aplicados com sintomas, no momento da aplicação, quando comparado com os ensaios aplicados

Severidade na aplicação 0 0,01% 0 0 0,1% 0 0 0 2% 0 0,1% 7% 0 0,01% 0 0 0,08% 8% 0,03% 1%

Redução de produtividade (%)** 52,2 32,7 34,3 22,0* 66,5 29,1* 29,4* 27,5* 81,3 24,3 29,4 68,8 24,4 43,7 52,7 16,4* 36,9 34,5 32,1 42,5

sem sintomas, indicando maior pressão da doença (Tabela 1). A redução média da produtividade observada nos ensaios aplicados sem sintomas foi de 31%, enquanto que, nos ensaios aplicados

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INSTITUIÇÕES

A

A recomendação da pesquisa é que se opte por produtos que apresentem eficiência de controle igual ou superior a 80%

com sintomas foi de 47%. Esse fato já era esperado, pois a ferrugem é uma doença policíclica (vários ciclos do fungo em um único ciclo do hospedeiro) e quanto mais cedo ocorre sua incidência

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na cultura maior a probabilidade de ocorrer redução de produtividade. Para sumarização dos ensaios, foram realizadas análise conjunta dos 20 en-

tualmente, 25 instituições par ticipam da rede de ensaios. Essas instituições encontram-se distribuídas nas diferentes regiões produtoras (CEFET/Pato Branco, Convênio Cerrados - Agenciarural/CTPA/Embrapa, Coodetec, Coopermota, Decisão Tecnologia Agropecuária, Embrapa Agropecuária Oeste/Fundação Chapadão, Embrapa Amazônia Oriental, Embrapa Cerrados, Embrapa Soja, Embrapa Trigo, Epamig, Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, Fundação de Apóio à Pesquisa e Desenvolvimento do Oeste Baiano, ADAB, EBDA, Fundação de Ensino Superior de Rio Verde, Fundação Mato Grosso, Fundação MS, Instituto Agronômico de Campinas, Instituto Biológico, Tagro, UNESP/Jaboticabal, Universidade de Passo Fundo, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Ponta Grossa e Universidade Federal de Goiás).

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OA saios, análise conjunta dos 10 ensaios aplicados sem sintomas no estádio R2 e análise conjunta dos 10 ensaios aplicados com sintomas no estádio R2. Os resultados apresentados se referem à análise conjunta dos 20 ensaios (Tabela 2), uma vez que foi a análise utilizada para completar a tabela com a coluna de agrupamentos disponível na publicação Tecnologias (2005) (Tabela 3), de modo

semelhante ao utilizado na safra 2003/ 04. Na análise conjunta dos 20 ensaios, o produto fenarimol 60 g i.a./ha apresentou a menor eficiência de controle (54%), sendo a dose avaliada nesses ensaios superior à dose de registro do produto no MAPA. Através dessa análise, foram formados três grupos de eficiência com fenarimol 60 g i.a./ha, no

C

om o surgimento recente da ferrugem no Brasil, muitas das especulações sobre a influência do ambiente no desenvolvimento da doença tomaram por base os trabalhos desenvolvidos em outros países, principalmente aqueles realizados em condições controladas pelos pesquisadores Marchetti et al. (1976) e Melching et al. (1989). Esses autores verificaram que o período mínimo de molhamento foliar necessário para que ocorresse a infecção era de seis horas, desde que a temperatura estivesse em uma faixa de 22 o a 24o C. A temperatura mínima para ocorrer infecção era de 9o C e a máxima de 28,5 o C, com período de molhamento superior a 12 horas. Trabalhos realizados no Brasil, nas mesmas condições controladas, ainda não publicados, mostram tendência similar. Com base nesses resultados, se supunha que epidemias de ferrugem mais severas no Brasil poderiam ocorrer com maior freqüência em regiões de altitude mais elevada, onde temperaturas noturnas

Tabela 2 - Severidade (%) e controle (%) na análise conjunta dos resultados dos 20 ensaios realizados para controle da ferrugem da soja (P. pachyrhizi). Safra 2004/05 Tratamento testemunha tebuconazole azoxystrobin + ciproconazole epoxiconazole tetraconazole tebuconazole tetraconazole ciproconazole + propiconazole flusilazole + carbendazin flusilazole + carbendazin flusilazole + famaxadone flutriafol + tiofanato metílico trifloxystrobin + tebuconazole fenarimol miclobutanil

g i.a./ha

Produto comercial

100 60 + 24 50 50 100 50 24 + 75 100 + 50 75 + 150 74,8 + 70 60 + 300 50 + 100 60 100

Folicur Priori Xtra1 Opus Eminent Rival Domark Artea Punch Alert Charisma Celeiro/ Imp. Duo Nativo2 Rubigan Systhane

Severidade (%) 44,36 4,02 3,8 6,19 6,5 4,89 6,54 5,28 7,89 8,29 7,49 4,31 4,86 19,86 8,57

Controle (%) 0 91 90 85 85 88 85 86 82 81 83 89 89 54 80

a d d c c d c d c c c d d b c

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância. 1 adicionado Nimbus 0,5% v/v 2 adicionado óleo metilado de soja 0,5% (Lanzar ou Agnique).

grupo com eficiência abaixo de 80%, epoxiconazole 50 g i.a./ha, tetraconazole 50 g i.a./ha e miclobutanil 100 g i.a./ ha, no grupo com eficiência entre 80% e 86%, e tebuconazole 100 g i.a./ha, ciproconazole + propiconazole 24 + 75 g i.a./ha, flutriafol + tiofanato metílico 60 + 300 g i.a./ha e trifloxystrobin + tebuconazole 50 + 100 g i.a./ha, no grupo com eficiência de controle acima

Tabela 3 - Fungicidas registrados para o controle da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi). XXVII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Cornélio Procópio (PR), 2005 Nome comercial Priori4 Priori Xtra4 Artea Score 250 CE Opus Palisade5 Impact 125 SC Systhane 250 Opera Constant 200 CE Elite 200 CE Folicur 200 CE Orius 250 CE Tríade 200 CE Domark 100 CE Eminent 125 EW Celeiro Impact duo Sphere5 Stratego5

Agrupamento3

Dose/ha g de i.a. 50 60 + 24 24 + 75 50 50 62,5 62,5 100 – 125 66,5 + 25 100 100 100 100 100 50 50 300 + 60 300 + 60 56,2 +24 50 + 50 1

l ou kg de p.c. 0,20 0,30 0,30 0,20 0,40 0,25 0,50 0,40 – 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,40 0,50 0,50 0,40 0,60 0,60 0,30 0,40

2

* *** *** * ** * *** ** *** *** *** *** *** *** ** ** *** *** *** *

A empresa detentora é responsável pelas informações de eficiência para registro dos produtos. 1 g i.a. = gramas de ingrediente ativo 2 l ou kg de p.c.= litros ou quilogramas de produto comercial 3 Agrupamento realizado com base nos ensaios em rede para doenças da soja, safras 2003/04 e 2004/05. (***) - maior que 86% de controle; (**) – 80% a 86% de controle e (*) – 60% a 79 % de controle. 4 adicionar Nimbus 0,5% v./v. aplicação via pulverizador tratorizado ou 0,5 l/ha via aérea 5 adicionar 250 ml/ha de óleo mineral ou vegetal

26

Charles Echer

Nome Comum azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole ciproconazole + propiconazole difenoconazole epoxiconazole fluquinconazole flutriafol myclobutanil pyraclostrobin + epoxiconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tetraconazole tetraconazole tiofanato metílico + flutriafol tiofanato metílico + flutriafol trifloxystrobin + ciproconazole trifloxystrobin + propiconazole

Claudia Godoy apresenta os resultados de avaliação da eficiência dos fungicidas contra a ferrugem

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MBIENTE E AS EPIDEMIAS DE FERRUGEM ASIÁTICA são mais amenas, com maior número de horas de molhamento por orvalho. Após quatro safras com ferrugem no Brasil, esse padrão não tem sido observado. Epidemias mais severas têm sido registradas nos Cerrados, provavelmente em função da melhor distribuição hídrica durante a safra. Epidemias leves e moderadas têm sido registradas na Região Sul do Brasil, sendo esse fato associado às condições de seca, principalmente nas últimas duas safras. Em relação à temperatura, embora os trabalhos evidenciassem o efeito negativo de temperaturas altas (acima de 27o C) no desenvolvimento da doença, as epidemias mais severas têm sido freqüentes no Mato Grosso, em locais onde temperaturas médias diárias acima dessa magnitude são comuns durante o mês de janeiro, por exemplo, e que, por sua vez, é o mês onde se registra a maior quantidade de chuvas naquela região. A chuva, além do orvalho, influencia diretamente no período de molhamento das folhas e não é simulada nos ensaios em condições controladas. Epidemias seve-

ras foram reportadas em anos com alto regime de precipitação durante a safra, em diversos países como Austrália, Tailândia, África do Sul, China e Taiwan. De modo oposto, como já observado no Brasil e no Paraguai, a taxa de desenvolvimento da doença é sensivelmente afetada sob condições de seca prolongada, havendo limitada dispersão e desenvolvimento da doença. Como exatamente a chuva afeta o desenvolvimento das epidemias é algo ainda a ser melhor estudado, porém, com certeza, a chuva amplifica o período de molhamento, necessário para que ocorra a infecção. Na China, modelos empíricos foram desenvolvidos utilizando variáveis de chuva durante meses fixos na safra para predizer níveis finais de severidade, com dados de epidemias observadas em mais de 10 anos (Tan, 1996). No Brasil, foi observada forte associação entre os níveis finais de severidade da ferrugem e o número de dias e a quantidade de chuva (mm), no período de 30 dias após o estabelecimento da doença, em 35 casos de epidemias observados em três anos, nas diferentes regiões produtoras.

ou igual a 86%. Os padrões utilizados nos ensaios, tebuconazole 100 g i.a./ha e azoxystrobin + ciproconazole 60 + 24 g i.a./ha, permanecem no grupo com eficiência acima de 86%, semelhante aos ensaios da safra 2003/04. Os produtos sem registro no MAPA (tratamentos 9, 10 e 11) e sem solicitação para inclusão na Tabela, durante a reunião de soja, (tratamentos 6, 13 e 14) não constam na tabela da publicação Tecnologias (2005). Embora tenham sido formados três grupos de eficiência na análise conjunta dos resultados, é importante salien-

Dessa relação, modelos de risco, usando variáveis de chuva, foram ajustados, com potencial para ser empregados em estudos de análise de risco. Além de seu papel na epidemia, a ocorrência de chuvas bem distribuídas restringe os momentos ideais de aplicação de fungicidas. Por isso, muitas das perdas observadas nessas condições podem ter sido devidas também à menor eficiência do controle. No entanto, se de um lado ela pode ser vista como inimiga, a chuva é fundamental para o bom desenvolvimento da soja. Desse modo, para prever o cenário das epidemias de ferrugem em uma safra no Brasil, torna-se fundamental uma acurada previsão climática, pois o inóculo, conforme observado nos mapas do sistema de alerta, encontra-se presente já no início da safra, em várias regiões. A maior ou menor dispersão e a severidade regional da doença, nas diferentes regiões, é influenciada principalmente pelas condições ambientais e, dentre essas, a chuva parece exercer papel importante.

tar que os produtos podem ter a mesma eficiência no campo, em condições de baixa pressão da doença. Essa diferença na eficiência dos produtos é mais fácil de ser observada em situações onde a ferrugem ocorre de forma mais agressiva. A formação de três grupos não implica em flexibilidade na aplicação dos produtos para o controle. Os produtos devem ser utilizados nos sintomas iniciais (traços da doença) ou preventivamente, levando em conta os fatores necessários ao aparecimento da ferrugem (presença do fungo na região, idade da planta e condição climática fa-

Cláudia V. Godoy; Emerson M. Del Ponte

vorável), a logística de aplicação (disponibilidade de equipamentos e tamanho da propriedade), a presença de outras doenças e o custo do controle. Após constatada ferrugem na região, deve-se dar preferência para produtos com eficiência de controle igual ou superior a 80%. Os resultados apresentados só foram possíveis graças ao trabalho conjunto das diversas instituições de pesquisas C citadas no artigo. Cláudia V. Godoy Embrapa Soja




Ricardo Balardin

Soja

Outra vez...

Os vários focos de ferrugem, em sua maioria identificados em plantações de entressafra e unidades de alerta, já são indícios do avanço da doença na safra, principalmente na fase de florescimento, devido aos esporos presentes no ar

A

presença do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática da soja, já foi confirmada em seis estados produtores de soja (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo), sendo oito ocorrências em cultivos de entressa-

30

fra irrigados com pivô central, nove em unidades de alerta, cinco em plantas voluntárias de soja e três em lavouras comerciais, totalizando 25 relatos na consulta realizada em 23/11, no Sistema de Alerta. Apesar de parecer cedo, os relatos ocorreram em datas semelhantes às da safra 2004/05.

Também de modo semelhante à safra passada, a maioria dos casos relatados até o momento ocorreu próximo ou após o florescimento. Os relatos de ferrugem no estádio vegetativo, que se constitui na situação mais crítica, ocorreram em área irrigada em Guaíra (SP) e em Primavera do Les-

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SISTEMA ALERTA te e Alto Garças (MT). No Mato Grosso, essa ocorrência precoce tem sido atribuída aos cultivos de soja irrigados na entressafra, que funcionam como “ponte verde” para o fungo, promovendo uma continuidade de inóculo durante todo o ano, como já observado na safra 2004/05. No Paraná, cinco focos foram identificados em plantas de soja voluntária (“guaxas” ou “tigüeras”). Nove focos foram identificados em unidades de alerta, nas diferentes regiões. As unidades de alerta, que se constituem em pequenas áreas de soja, semeadas até um mês antes da semeadura normal, sem aplicação de fungicida na parte aérea, são utilizadas para facilitar o monitoramento e alertar o agricultor para a presença da doença na região. A maior parte das unidades de alerta que fazem parte do Consórcio Antiferrugem foram instaladas pela iniciativa privada (Syntinelas) e tem auxiliado a atualização dos mapas de focos de ferrugem no Brasil. Os focos de ferrugem são informados pelos laboratórios credenciados ao Consórcio Antiferrugem, que, a partir dessa safra, passam a alimentar o sistema com informações diretamente no site, agilizando as divulgações destas em tempo real. Os mapas de focos são divulgados no Sistema

de Alerta, na página da Internet da Embrapa Soja (http://www.cnpso.embrapa.br/ alerta/). Quando as lavouras comerciais chegarem à fase de florescimento, há maior probabilidade do surgimento de ferrugem, se as condições climáticas continuarem favoráveis à doença. À medida que os cultivos de soja entram na fase de florescimento, o número de focos no Brasil tende a aumentar. Os focos identificados em plantas de soja voluntárias, unidades de alerta e cultivos de entressafra indicam a presença de esporos do fungo no ar nessas regiões, devendo o produtor ficar alerta para sua lavoura, intensificando o monitoramento. O monitoramento da doença e sua identificação nos estádios iniciais são essenciais para o controle eficiente. Os primeiros sintomas da ferrugem se iniciam pelos terços inferior e médio da planta e aparecem como minúsculas pontuações mais escuras que o tecido sadio da folha. A confirmação da ferrugem é feita pela constatação no verso da folha (face abaxial) de saliências semelhantes a pequenas feridas (bolhas), que correspondem à estrutura de reprodução do fungo (urédias). Em caso de dúvida, o

O

Sistema de Alerta é uma das ferramentas do Consórcio Antiferrugem para divulgar as informações sobre a situação da doença no país. O Consórcio é coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e conta com a participação de vários segmentos da cadeia produtiva da soja. Entre eles, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as fundações de apoio à pesquisa, as empresas estaduais de pesquisa, de transferência de tecnologias, as cooperativas, as universidades, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e a Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos (Aenda). produtor pode procurar um laboratório do Consórcio Antiferrugem na região para auxílio no diagnóstico da doença. Endereços de laboratórios, especialistas, informações sobre identificação, controle e produtos registrados para ferrugem C também estão disponíveis no site. Cláudia V. Godoy Embrapa Soja Cláudia Godoy

À medida que as lavouras entrarem na fase de florescimento, a tendência é o aumento do número de focos da ferrugem

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Soja

O

Fotos Embrapa Soja

coleóptero Sternechus subsignatus, vulgarmente chamado de “tamanduá-da-soja”, “bicudo-da-soja” ou “cascudo-da-soja”, foi observado pela primeira vez em lavouras de soja, no ano de 1973. Porém, somente a partir do início da década de 80 passou a preocupar os agricultores, especialmente em algumas áreas tradicionais de cultivo de soja no RS, SC e PR. No final da década de 90, o inseto atingiu outras áreas de soja do Brasil, sendo hoje encontrado numa área expressiva de soja no Oeste da Bahia. Neste estado, na última safra, na região agrícola denominada Coaceral (município de Formosa do Rio Preto), próxima à fronteira com o Piauí, observou-se que, dos seus 57 mil ha de soja, 40 mil ha estavam infestados com o tamanduá-da-soja, e em 70% da área ocorreram perdas médias entre 20 e 40 sacas/ ha. Os maiores ataques têm sido verificados nas regiões com temperaturas mais baixas, especialmente à noite, e, nestas, onde é feita a semeadura direta da soja. Como tanto o adulto quanto a larva da-

Detalhe da larva de tamanduá. Fase em que a praga se alimenta da medula da haste principal da planta

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Pequeno devorador A rotação de culturas, associada a plantas-isca e ao controle químico, são estratégias para amenizar os danos irreversíveis causados às plantas tanto pelas larvas quanto pelos adultos do tamanduá-da-soja nificam a planta, o potencial de danos é grande, principalmente quando a população é alta na fase inicial da cultura. Nessa situação, pode haver perda total da lavoura.

DANOS Para se alimentar, o adulto raspa o cau-

le e desfia os tecidos. Quando atinge a gema apical, no início do crescimento da planta, o dano é irreversível, diminuindo a população de soja da área. As larvas alimentam-se da medula da haste principal e provocam o surgimento da galha, a qual dificulta a circulação da seiva, fazendo com que a planta

ASPECTOS BIOLÓGICOS E COMPORTAMENTAIS

O

s adultos são gorgulhos de aproximadamente 8 mm de comprimento, coloração preta e listras amarelas, formadas por pequenas escamas, na parte dorsal do tórax, próxima da cabeça (pronoto) e nas asas duras (élitros). Para realizar a postura, a fêmea faz um anelamento na haste principal, cortando toda a epiderme (casca). Eventualmente, são encontrados ovos nos ramos laterais e até nos pecíolos. Os ovos têm coloração amarela e são postos em orifícios protegidos pelas fibras do tecido cortado por ocasião do anelamento. Aproximadamente três dias após a postura, ocorre a eclosão das larvas, que têm o corpo cilíndrico, levemente curvado (curculioniformes), desprovido de patas e com coloração branco-amarelada; a cabeça tem cor castanho-escura. Na fase ativa, isto é, enquanto es-

tão se alimentando, as larvas ficam no interior da haste principal, na região do anelamento realizado pela fêmea para a postura. À medida que crescem, ocorre um engrossamento do caule, formando uma galha caulinar, estrutura constituída por tecidos ressecados, cujo diâmetro ultrapassa o da haste da planta. Durante a fase larval, o inseto passa por cinco instares. No quinto instar, o inseto vai ao solo, onde entra em hibernação em câmaras, localizadas a profundidades variáveis, mais comumente entre cinco e 10 cm, podendo, porém, serem encontradas em até 20 cm. Nessa fase, as larvas não se alimentam e permanecem na câmara até o início da próxima safra, quando, então, se transformam em pupas e, em seguida, nos adultos. A pupa é branco-amarelada do tipo livre e, quando vista dorsalmente, mostra os primórdios das asas.

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Tabela 1 - Comportamento de S. subsignatus em espécies vegetais para rotação de cultura ou cultura armadilha. (Fontes: Hoffmann-Campo et al. 1996, Embrapa-CNPSo. Documentos, 99, p.428-432; Lorini et al. 1997, Embrapa-CNPT. Documentos, 40, 38p.; Silva 1997, Ciência Rural 27:537-541) Espécie de planta Não Hospedeira Milho Sorgo Girassol Milheto Crotalária Sesbânia Caupi Fedegoso

Hospedeira Não-Preferencial Mucuna Leucena Feijão Adzuk

Preferencial Soja Feijão Lab-lab Guandu-anão

Tabela 2 - Inseticidas químicos e doses registrados para o controle de S. subsignatus Produto Dose Ingrediente Ativo Comercial Produto Comercial deltametrina Decis 50 SC 150 ml/ha fipronil Standak 250 SC 200 mL/100 kg semente metamidofós Tamaron BR 480 mL/ha tiametoxam1 Cruiser 700 WS 100 mL/100 kg semente 1

se torne frágil, podendo quebrar sob a ação do vento e da chuva.

MANEJO INTEGRADO O controle do tamanduá-da-soja é difícil, porque o inseto possui características que lhe permitem escapar, mesmo após a aplicação de produtos químicos, e sobreviver. As larvas em desenvolvimento ficam protegidas dentro do caule. Os adultos, durante o dia, ficam escondidos nas partes baixas das plantas de soja, entre as folhas ou na palhada da cultura anterior; as larvas ‘maduras’ hibernam no solo, onde também se localizam as pupas. Além disso, o prolongado período de emergência e a migração dos adultos de áreas vizinhas diminuem a eficácia do controle químico. A rotação de cultura é a técnica mais eficiente para o manejo adequado do tamanduá-da-soja, mas sempre associada a outras

Galha, constituída por tecidos ressecados, onde as larvas se encontram no interior

estratégias, como as plantas-isca e o controle químico em bordadura de lavoura. Nos locais em que, na safra anterior, foram observados ataques severos do inseto, antes de planejar o cultivo da safra de verão seguinte, o grau de infestação deve ser avaliado, preferencialmente na entressafra, entre maio e setembro. Para cada 10 ha, devem ser retiradas quatro amostras de solo, centradas nas antigas fileiras de soja, com 1 m de comprimento, com largura e profundidade de uma pá de corte. Após a observação cuidadosa da amostra, será realizada a contagem do número de larvas hibernantes. Se, na média, forem encontradas de três a seis larvas hibernantes/m2 (quatro amostragens), existe a possibilidade de, no mínimo, um ou dois indivíduos atingirem o estádio adulto, podendo causar uma quebra

Produto não recomendado pelas Comissões Regionais de Pesquisa de Soja

de sete a 14 sacas de soja por hectare, na safra seguinte. Nesse local, a soja deve ser substituída por espécie não hospedeira (Tabela 1), na qual o inseto não se alimente, ou por espécie hospedeira não preferencial, na qual o inseto se alimente em menor intensidade. Em todas essas espécies, o inseto não se desenvolve e, conseqüentemente, interrompe o seu ciclo biológico. Para aumentar a eficiência de controle, a espécie não hospedeira ou hospedeira não preferencial deve ser circundada por hospedeira preferencial (planta-isca). Desse modo, ao atrair e controlar os insetos na bordadura da lavoura, antes de eles infestarem o restante da lavoura, o produtor pode utilizar na semeadura um inseticida químico em tratamento de sementes ou, então, pulverizar um inseticida apenas numa faixa (bordadura) de, aproximadamente, 25 m. O controle através de pulverização nas bordaduras deve ser feito nos meses de novembro e dezembro, quando a maior parte dos adultos sai do solo, e repetido sempre que o inseto atingir os níveis de dano econômico,


Tabela 3 - Larvas hibernantes no solo (profundidade de 0,3m), encontradas após o milho e a soja do segundo período de cada experimento, danos de S. subsignatus e produtividade de plantas de soja do último período de cada experimento, nos sistemas de rotação de culturas com milho e soja (S-M-S) e monocultivo da soja (S-S-S). (Fonte: Silva 1996, Ciência Rural 26: 1-5)

CICLO BIOLÓGICO

O

inseto tem uma geração por ano, a partir de outubro, quando os primeiros adultos surgem no campo. Esses, na região tradicional de cultivo, atingem o pico populacional no final do mês de dezembro, podendo serem observados, esporadicamente, até a maturação da soja. Os primeiros ovos são encontrados em novembro ou dezembro (dependendo da época de semeadura), e, alguns dias após, já se observam as larvas, que ocorrem durante todo o ciclo da soja, em idades variáveis. Em Mauá da Serra (PR), as larvas começam a hibernar no solo, a partir de fevereiro, mas no RS podem iniciar a hibernação ainda em janeiro, permanecendo nesta condição até o final de novembro; as primeiras pupas são encontradas a partir de outubro.

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S-M-S S-S-S S-M-S S-S-S S-M-S S-S-S

Larvas no % Plantas Produtividade de solo (m2)1 atacadas (m)2 grãos (kg/ha) 2 1987/88/89 (Experimento I) 0,0 b3 19,5 b 2399 a 16,0 a 33,0 a 1597 b 1988/89/90 (Experimento II) 0,0 b3 2,5 b 1589 a 23,0 a 31,8 a 752 b 1989/90/91(Experimento III) 0,0 b3 3,3 b 3010 a 14,0 a 30,8 a 1507 b

Amostras feitas no outono-inverno de 1989 (Exp. I), 1990 (Exp. II) e 1991 (Exp. III). Amostras feitas na soja 1989/90 (Exp. I), 1990/91 (Exp. II) e 1991/92 (Exp. III). 3 Médias não seguidas da mesma letra, nas colunas, diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste – t. 1 2

rém, quando essa técnica for utilizada para o controle de doenças, e altas populações de larvas hibernantes ou pupas tenham sido registradas em sua lavoura, o agricultor deve considerar que a maioria das larvas (90%) hibernam entre cinco e 15 cm de profundidade. Portanto, implementos que revolva o solo superficialmente não serão úteis na redução de populações do tamanduá-da-soja. Resultados de pesquisas de manejo do tamanduá-da-soja mostram que o percentual de plantas mortas e danificadas é significativamente menor, e a produtividade, maior, ao final do período de rotação soja-milho-soja, quando comparado ao monocultivo sojasoja-soja (Tabela 3). Adicionalmente, existe a vantagem de reduzir, drasticamente, a população de larvas hibernantes nas áreas de milho. Portanto, essa técnica é altamente recomendada, para sistemas equilibrados de produção, e essencial, em áreas com ataques freqüentes do tamanduá-da-soja.

Dentre os fatores limitantes ao inseto, destaca-se o efeito adverso do déficit hídrico, ou seja, a estiagem durante a safra de soja. Esse fator pode ser limitante quando coincide com a entrada das larvas no solo e da emergência dos adultos do solo. Em períodos de estiagem, também as larvas podem sofrer estresse nutricional ao se alimentarem de plantas que, com a seca, retardam o seu desenvolvimento, principalmente pela baixa assimilação de nutrientes, ocasionando queda na qualidade do alimento, dando origem a adultos de menor massa corporal resultante. Ainda, em geral, insetos com menor ga-nho de peso apresentam uma menor sobrevivência no inverno, pois nesse período comprometem grande parte de sua energia. Assim, as fêmeas podem apresentar menor fecundidade, e os adultos, menor capacidade migratória. Adicionalmente, por inadequação nutricional, parte da população pode não completar a fase larval, não conseguir abandonar a planta, não penetrar no solo e não construir a câmara larval e, conseqüentemente, morrer. Assim, áreas de lavoura que, na safra passada, sofreram com a estiagem poderão resultar em menor infestação do inseto para a próxima safra de soja, tornando a inspeção da lavoura, ainda antes do plantio, uma decisão inteligente, pois poderá levar o agricultor a economizar com inseticidas aplicados nas sementes nas áreas sem indivíduos no solo, ou com baixa população de C larvas ou pupas no solo. Mauro Tadeu Braga da Silva, Fundacep/Fecotrigo Clara Beatriz Hoffmann-Campo, Embrapa Soja Marco Antonio Tamai, Fundação Bahia

Charles Echer

conforme a fase da cultura. O controle do inseto justifica-se quando, no exame de plantas de soja com duas folhas trifolioladas, for encontrado um adulto por metro de fileiras de soja, incluindo a face inferior das folhas e o caule. Com cinco folhas trifolioladas (próximo à floração), a cultura tolera até dois adultos por metro linear. As pulverizações noturnas, entre 22 e 2 h, são mais eficientes, pois a maioria dos adultos, nesse período, se encontra na parte superior das plantas, em acasalamento. As pulverizações não devem ser realizadas no período entre 8 e 18h, pois o inseto se encontra escondido, no solo sob a palhada ou no terço inferior da planta, protegido pelas folhas. A escolha dos inseticidas deve ser feita dentre os produtos registrados para o controle do inseto (Tabela 2), e o mesmo ingrediente ativo não deve ser utilizado em duas aplicações sucessivas, para prevenir o surgimento de resistência do inseto àquele produto químico. A utilização de planta-isca pode ser associada aos controles químico e mecânico, eliminando as larvas presentes nas plantas, com roçadeira, antes de elas entrarem em hibernação no solo. Isso deve ser feito cerca de 45 dias após a observação dos primeiros ovos nas plantas. Na região Norte do Paraná, não havendo atraso na semeadura, as plantas podem ser eliminadas até meados de janeiro. O preparo do solo, isoladamente, como medida de controle, não é recomendado. Po-

Tratamentos

FATORES LIMITANTES AO INSETO

Segundo Clara Beatriz e Mauro, períodos de estiagem podem limitar o desenvolvimento da praga no campo

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Cana-de-açúcar

Heraldo Negri

Volta indesejada Com a volta do período de chuvas, especialmente em São Paulo, é retomada a atenção para o controle da cigarrinha-das-raízes. Os ovos que se encontravam em diapausa até aqui estão em fase de eclosão das ninfas, favorecidos pelo clima, dando origem à nova geração da praga

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visto que este fator, aliado às condições de alta umidade, proporcionadas pela abundante cobertura vegetal deixada no solo pela colheita da cana crua, é favorável ao inseto.

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL Em São Paulo, o ciclo de M. fimbriolata inicia-se em setembro, normalmente, com o início do período das chuvas. A au-

José Francisco Garcia

O

Brasil é o líder mundial na produção de cana-de-açúcar e seus derivados, tendo colhido uma área superior a cinco milhões de hectares na safra 2003/04. Nos próximos anos, os mercados do açúcar e do álcool serão norteados pela crescente demanda por álcool combustível. No entanto, como ocorre com as culturas de importância econômica, a canade-açúcar é atacada por inúmeras pragas. Em decorrência do aumento de área de cana colhida mecanicamente e da crescente proibição de queima para o corte, vêm-se observando mudanças no manejo da cultura e, como conseqüência, em muitas regiões, o aumento na população da cigarrinha-dasraízes, Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera: Cercopidae), a qual vinha sendo contida particularmente pelo controle cultural, realizado com a despalha da cana a fogo antes da colheita, que contribui para destruir suas formas biológicas, especialmente ovos em diapausa. Isso vem ocorrendo especialmente em locais de temperatura elevada,

Espuma produzida na base da touceira pelas ninfas, local onde se alimentam

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Fotos José Francisco Garcia

sência do inseto de maio a setembro é decorrente da associação de falta de água, temperaturas mais baixas e menor fotoperíodo. Assim, os ovos colocados na base da touceira na geração de março-abril, encontrando déficit de água em abril-maio, permanecem em diapausa (quiescência) até setembro, quando se inicia um novo ciclo. Então ocorre a eclosão de ninfas, que resultam no primeiro pico populacional de adultos em novembro-dezembro (pico secundário). Daí para frente, contando com condições favoráveis de temperatura e umidade, a cigarrinha dá seqüência ao seu ciclo, por mais duas gerações, até chegar ao acme de março-abril, quando então reencontra a situação anterior.

MONITORAMENTO E MANEJO O Nível de Dano Econômico (NDE) e o Nível de Controle (NC) ainda não foram devidamente determinados. O monitoramento de adultos da praga pode ser feito com armadilhas de placa amarelas, e o de ninfas, através da contagem de insetos por metro linear, a partir de cinco pontos por hectare, sendo que cada ponto é representado por um metro linear. No presente, utiliza-se o NC de dois a três ninfas

CICLO BIOLÓGICO

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s ovos de M. fimbriolata são depositados nas bainhas próximas à base das touceiras, nos resíduos vegetais e na superfície do solo do canavial. Cada fêmea pode ovipositar, em média, 340 ovos. Vinte dias após a postura ocorre à eclosão da ninfa. Estas são bastante semelhantes ao adulto, diferindo apenas pelo tamanho, ausência de asas e de órgãos de reprodução maduros. Inicialmente são ativas, movimentando-se em busca de alimento. Algumas se fixam, imediatamente, nos coletos e radicelas da cana-de-açúcar e começam a sugar seiva e a fabricar espuma na qual, em pouco tempo, ficam cobertas. Outras ficam percorrendo a superfície do solo, entre as touceiras, durante algumas horas, até se fixarem. Esta fase tem um período médio de 37 dias, dependendo das condições climáticas. Os adultos são de hábitos crepusculares-noturnos, durante o dia ficam escondidas dentro dos cartuchos ou na parte inferior das folhas e mais saltam do que voam. Os machos apresentam longevidade de 17 dias e as fêmeas de 21 dias, aproximadamente.

38

Exemplos dos danos causados pela cigarrinha. As toxinas injetadas nas folhas causam a “queima da cana-de-açúcar”

por metro linear de sulco, sendo o NDE de cinco a oito ninfas por metro linear. O monitoramento é imprescindível para se decidir sobre a estratégia de controle da praga, sendo que quando realizado na primeira geração permite um controle mais eficiente.

CONTROLE Cultural: A retirada total da palha contribui para reduzir as futuras populações da praga na área infestada, devido

ao fato de expor o solo e criar um ambiente desfavorável aos ovos que permanecem em diapausa no local. Na reforma do canavial, o plantio direto em locais com histórico de superpopulação da praga deve ser evitado. A destruição mecânica da palhada no preparo do solo é uma forma eficaz para reduzir os ovos existentes. Resistência varietal: Estudos relacionados à resistência de plantas de canade-açúcar são escassos. Dentre as variedades mais cultivadas no estado de São Paulo, observa-se uma tendência de certas variedades serem mais atacadas do que outras. Assim, RB72454, SP81-3250, RB855536, SP80-1842, RB835486 e SP80-1816 são mais susceptíveis em relação à SP79-1011. Biológico: Os inimigos naturais atuam em maior ou menor grau para reduzir a população da cigarrinha-das-raízes, devendo-se adotar medidas que visem manter e/ou aumentar as suas populações. São conhecidas as ações dos parasitóides de ovos, Anagrus urichi e Acmopolynema hervali, do predador de ninfas, Salpingogaster nigra, e dos fungos entomopatogênicos, Batkoa apiculata e Metarhizium anisopliae, sendo que este último tem se mostrado como a principal alternativa de controle, associado ou não ao controle químico.

APLICAÇÃO DE METARHIZIUM ANISOPLIAE O M. anisopliae deve ser aplicado na concentração de 5 x 1012 conídios viáveis/ hectare, equivalente a 225 gramas de conídios puros ou a 5 kg do fungo + meio de cultura (arroz). A aplicação deve ser

Macho e fêmea da cigarrinha. Cada fêmea oviposita em média 340 ovos que eclodem 20 dias após a postura

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SINTOMAS E DANOS

Charles Echer

U

José Francisco e Paulo Sérgio falam dos principais danos e mostram como controlar a cigarrinha-das-raízes

realizada em alto volume, no mínimo 300 l/ha, utilizando bicos apropriados em pingente, com jato dirigido para a base da cana, de ambos os lados da touceira, preferencialmente ao entardecer, para evitar a ação dos raios ultravioleta que degradam os conídios. Não é recomendada a aplicação conjunta de inseticida químico com o fungo, pois a ação de ambos pode ser prejudicada.

FATORES QUE AFETAM A EFICIÊNCIA O sucesso do uso de M. anisopliae como bioinseticida depende de uma série de fatores. Alguns são difíceis de serem controlados em condições de campo, como é o caso da temperatura, umidade, luminosidade, pH etc. Outros podem ser manejados, como: uso de isolados adequados, concentração e pureza do inóculo, formulação estável, volume de calda apropriado, época e horário de aplicação corretos, escolha de equipamentos apropriados e densidade da praga. Devem-se considerar as limitações do fungo em termos de temperatura, radiação ultravioleta, pressão, umidade, efeito residual etc. No tocante ao inseto-alvo, deve-se observar o hábito do inseto, que normalmente vive sob a palhada, barreira que influi

m dos danos causados pela ci garrinha-das-raízes é a “queima da cana-de-açúcar”, conseqüência da alimentação do adulto. As toxinas, injetadas ao se alimentar, causam redução no tamanho e grossura dos entrenós, que ficam curtos e fibrosos. Isso tem início nas folhas que inicialmente apresentam pequenas manchas amarelas que, com o passar do tempo, tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese da planta e, por conseqüência, também, o conteúdo de sacarose no colmo. A perfuração dos tecidos pelo estilete infectado provoca contaminação no líquido nutritivo por microrganismos, causa deterioração dos tecidos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes, podendo causar a morte do colmo.

As ninfas ocasionam a “desordem fisiológica” em decorrência das picadas que atingem os vasos lenhosos da raiz e os deterioram, dificultando ou impedindo o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrio na fisiologia da planta, caracterizado pela desidratação do floema e do xilema, que podem tornar o colmo oco, afinado, com o posterior aparecimento de rugas na superfície externa. A praga pode ocasionar ainda a morte de perfilhos, a quebra da dominância apical, com o aparecimento de brotações laterais, e a mudança na arquitetura da planta que fica com as folhas espalmadas, semelhante às folhas de palmáceas. A segunda geração de M. fimbriolata, geralmente em janeiro, é a causadora das maiores perdas à produção, podendo reduzir em até 26% a produtividade.

no contato entre o M. anisopliae e o inseto. Dependendo da formulação e da concentração de conídios de M. anisopliae aplicados em suspensão, há necessidade de bicos especiais e filtros para se evitar os entupimentos. O fungo pode ser também aplicado em formulação granulada ou em óleo. Para o controle da cigarrinha-das-raízes, as aplicações aéreas são desaconselháveis, devida o produto ser distribuído em área total e não concentrado na linha da cultura, pois, em função da biologia e do hábito do inseto, o produto não atinge com eficiência o alvo. Químico: Embora o emprego de inseticidas no controle da cigarrinha-dasraízes seja recomendado, ele deve ser utilizado em situações que exijam resposta rápida de controle, sob o risco de, não o tendo, agravar sobremaneira os prejuízos. Isto ocorre geralmente quando a praga esta em um ambiente extremamente favorável para sua proliferação (pre-

sença de umidade próxima à saturação, variedade de cana-de-açúcar susceptível e em área com ataque expressivo da praga no ciclo anterior). Os produtos registrados, geralmente, apresentam curto efeito residual e quando aplicados protegem a cultura por um período limitado. Os melhores resultados têm sido obtidos com produtos de ação sistêmica, por exemplo, thiamethoxam (0,8 kg/ha residual aproximado de 90 dias), imidacloprid (1,5 l/ha - residual aproximado de 90 dias), carbofuran (22 kg/ha - residual aproximado de 45 dias) e aldicarb (10 kg/ha - residual aproximado de 30 dias), aplicados nestas dosagens de forma dirigida aos dois lados da base da touceira, na formula líquida para as duas primeiras moléculas e de um lado, na graC nulada, para as duas ultimas. José Francisco Garcia, Esalq/USP Paulo Sérgio Machado Botelho, CCA/UFSCar


Cana-de-açúcar

Paulo César Timossi

A parreira-brava utiliza as plantas de cana como suporte, dificultando os tratos culturais e o crescimento da cultura, além de exigir limpeza freqüente das plataformas na hora da colheita

É

prudente enfatizar que não são raros os exemplos de plantas que se adaptaram e beneficiaram-se com mudanças nos sistemas de produção, devido à ausência de inimigos naturais no novo local, à implantação não cuidadosa com vistas a outros interesses, e disseminação eficaz pelos tratos culturais ou formas de seTabela 1 - Médias das porcentagens de controle, atribuídas visualmente, para parreira-brava (Cissampelos glaberrima), na cultura da cana-de-açúcar, em diferentes épocas após a aplicação dos herbicidas. Jaboticabal (SP), 2003 Herbicidas e Testemunhas Testemunha capinada Testemunha infestada Trifl. - sódio + ametryne Picloran + 2,4 D 2,4 D Fluroxypyr CV (%) DMS a 5%

Doses (g/ha) 1.500 2.040 1.210 345

Épocas de Avaliação 14 DAA 42 DAA 90 DAA 100,0 A 100,0 A 100,0 A 0,0 D 0,0 D 0,0 D 83,7 B 73,7 C 15,0 C 65,0 C 91,7 B 94,7 B 10,0 D 30,0 D 22,5 C 71,2 BC 97,2 AB 98,0 AB 8,4 8,9 7,3 9,2 11,5 8,4

Dados originais; 2 Análise estatística feita com os dados transformados em arco seno v%; DAA - Dias Após Aplicação 1

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meadura e colheita. Na região de Ribeirão Preto (SP), recentemente, tem-se encontrado a chamada parreira-brava (Cissampelos glaberrima), uma espécie exótica, considerada ornamental, que se adaptou bem ao microclima e às condições de manejo da cultura de cana-deaçúcar. Por ser planta trepadeira, com sistema radicular vigoroso, e multiplicar-se tanto vegetativa (por rizomas) como sexuadamente (Mattos, 2000), ela tem-se disseminado rapidamente na região canavieira. A parreira-brava é uma planta anual, de hábito de crescimento arbustivo escandente, com caule volúvel sinistroso e glabro. O sistema radicular pivotante possui rizomas bastante desenvolvidos e que podem ser encontrados a mais de 1,5 m de profundidade no solo (Mattos, 2000). Ela também é citada como medicinal (Lorenzi, 1982; Braga, 1988; Rodrigues, 1989), porém a sua

importância poderá aumentar como planta daninha, caso torne-se infestante da cultura de cana-de-açúcar, um dos principais produtos da agropecuária paulista. A parreira-brava dificulta os tratos culturais e prejudica o crescimento da cultura por enrolar-se nas folhas, fechando-as, e por dobrar os ápices dos colmos, entortando-os e deformandoos. Considerando-se que o controle químico até então utilizado, integrado ou não a outras formas de controle, não tem-se mostrado eficaz para essa planta, problemas sérios começam a ser detectados no trabalho da colhedora mecânica em áreas de cana-crua, exigindo limpeza freqüente das plataformas. Takar et al. (1944) relataram que Ipomoea hederaceae, uma planta daninha trepadeira semelhante a parreira-brava, causou perda de 20 a 25% na produção de cana-de-açúcar na Índia, pelo entre-

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José Francisco Garcia

A)

que os herbicidas hormonais (picloram + 2,4-D e fluroxypyr) foram mais promissores no controle de parreira-brava (Tabela 1). O tryfloxysulfuron - sódio + ametryne mostrou-se eficaz até os 60 dias após a aplicação, porém não foi capaz de evitar a ressurgência de brotações após esta época. Eles afirmam que, apesar do efeito inicial ser lento, na mistura pronta de picloram + 2,4-D e do fluroxypyr, há ação sistêmica, causando morte dos ramos e de boa parte das es-

Pelo fato de a parreira-brava estar no início da infestação, várias moléculas herbicidas estão sendo testadas para o controle

truturas subterrâneas, diminuindo os rebrotes e assegurando bons resultados de controle até a última avaliação realizada, aos 90 dias após a aplicação. As infestações de parreira-brava, como de outras espécies de hábito trepador, ganham maior importância quando as plantas de cana-de-açúcar apresentam maior porte, dificultando a Paulo César Timossi

laçamento das plantas, dobrando-as e injuriando os seus topos, com menor desenvolvimento dos colmos e grande interferência nas operações de colheita. A parreira-brava também pode interferir no cultivo mecânico da cultura de cana-de-açúcar, pois o seu vigoroso sistema radicular torna-se um entrave para as operações, retardando o tempo de execução do trabalho, com as paradas constantes para a limpeza das hastes dos implementos. Por apresentar reprodução vegetativa, pode ser facilmente disseminada pelos implementos agrícolas, sobretudo no sistema convencional. A infestação de parreira-brava em canaviais torna-se problema desde o início do desenvolvimento da cana-soca até a etapa final, quando da colheita mecanizada de cana-crua. Se o método de colheita empregado é o manual, com a cana queimada, acredita-se que a presença da parreira-brava não venha a causar interferência acentuada (Mattos, 2000), embora possa ocorrer, pois nem sempre consegue-se total eliminação das ramificações. Pelo fato de a parreira-brava estar no início de sua dispersão e com base na sua agressividade e difícil controle, várias estão sendo as tentativas para a descoberta de moléculas herbicidas que sejam eficazes no seu controle. Durigan et al. (2004) estudaram a eficácia do herbicida trifloxysulfuron-sódio + ametryne, comparado a outros herbicidas do grupo dos mimetizadores de auxina (hormonais), aplicados em pós-emergência, e obtiveram informações úteis para o seu manejo mais eficiente nos canaviais. Os pesquisadores mostraram

B)

Reprodução vegetativa: A - Detalhe da formação de rizomas; B - Rebrote de parreirabrava a partir de corte da planta rente ao solo

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Fotos Paulo César Timossi

entrada de equipamentos convencionais para a realização do controle. Por tratar-se de espécie com disseminação contagiosa e infestação em reboleiras, com baixa representatividade nas áreas cultivadas, torna-se boa opção de controle a aplicação de herbicidas em jato dirigido, seja com costais pressurizados ou por meio do trâmpolo, equipamento com elongação na altura, entre as rodas e o corpo do trator, possibilitando a entrada na cultura de cana-de-açúcar que já se apresenta em estádio avançado de formação dos colmos. Este equipamento é acompanhado por pessoas que realizam a ‘catação’, ou seja, a aplicação de herbicidas somente na planta daninha alvo. Nestes casos, torna-se necessária a aspersão dos herbicidas voltada para o terço inferior da cultura da canade-açúcar, evitando-se atingir as folhas. Esta técnica torna-se fundamental quando são aplicados herbicidas não seletivos para a cultura, ou ainda para herbicidas não recomendados para aplicação neste estádio de desenvolvimento da cultura. A porcentagem de cobertura vegetal proporcionada pela infestação de parreira-brava, foi avaliada em diferentes épocas através de experimentos. Aos 14 dias após a aplicação dos herbicidas, constatava-se boa performance de todos. Porém, aos 90 dias, a supressão foi mantida apenas pelos herbicidas hormonais mais agressivos, como a mistura de picloran + 2,4-D (Tordon) e fluroxypyr (Plenum).

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pré-emergência logrou matar os rizomas dessa planta daninha, encontrados à profundidade de 55 cm. Portanto, o controle químico até então utilizado pelas usinas e fornecedores de cana-de-açúcar, integrado ou não a outras formas de controle, não tem-se mostrado ineficaz para esta planta. Cabe salientar que, das pesquisas realizadas até o momento, poucos foram os herbicidas que apresentaram níveis aceitáveis de controle desta planta daninha. Dentre eles, destacaram-se o picloran + 2,4D e o fluroxypyr, ambos do grupo dos herbicidas hormonais, com resultados promissores para o manejo desta planta daninha em áreas de colheita mecanizada C de cana-crua. P.C. Timossi e J.C. Durigan, Unesp

Paulo César Timossi

Ápice foliar da cana-de-açúcar, enrolado pelo caule de parreirabrava

Segundo Mattos (2000), foi ineficaz o controle químico da parreira-brava com o herbicida glyphosate, isolado e em mistura com carfentrazone, além do sulfentrazone, metribuzin, 2,4-D + diuron, acetochlor, ametryne, oxyfluorfen + diuron e oxyfluorfen + acetochlor, aplicados em pós-emergência e nas dosagens comerciais recomendadas. Este mesmo autor, trabalhando com herbicidas aplicados em pré-emergência (oxyfluorfen + diuron; picloram + 2,4D; clomazone; imazapyr; carfentrazone; tebuthiuron; picloram + 2,4D; clomazone + imazapyr e diuron + hexazinone com MSMA), destaca o excelente controle obtido com a mistura de picloram + 2,4D, até os 90 dias após a aplicação, sem intoxicação das plantas cultivadas. Também foi constatado que nenhum dos herbicidas aplicados em

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Pragas

Devastadoras

Cultivo precoce da soja na primavera e posterior período de estiagem no Norte mato-grossense estão favorecendo surtos com altas infestações da mosca-branca

A

s moscas-brancas (Bemisia tabaci e B. argentifolii) têm deixado os produtores de soja de Mato Grosso preocupados, principalmente nas últimas safras, face à dificuldade de controle economicamente viável sob situações de altas infestações. Em áreas abrangendo os municípios de Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sinop, Sorriso, Tapurah, entre outros da região do Médio-Norte mato-grossense, ocorreram surtos muito elevados da praga nos últimos anos, como o constatado nesta safra 2004/05. Nesta região, a praga tem aparecido com mais freqüência em função de semeadura precoce da soja, clima quente e proximidade de focos oriundos de cultivos de entressafra. A proliferação da praga na região do Médio-Norte é favorecida pelo fato do cultivo da soja precoce na primavera em relação a outras áreas do estado. Estas lavouras ficam mais sujeitas a períodos de estiagem, especialmente na fase inicial da cultura, o que favorece o estabelecimento da praga e posteriores surtos populacionais durante as fases vegetativas e

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reprodutivas das plantas. Ataques muito severos têm sido verificados em áreas próximas da produção de semente de soja, feijão e cucurbitáceas na entressafra, sob pivô central. Estas plantas hospedeiras que terminam seus ciclos, ou secam, já abrigavam a mosca-branca previamente ao cultivo de safra normal de soja, fazendo a praga migrar. As lavouras irrigadas de feijão, soja e cucurbitáceas têm funcionado como “ponte” para a praga entre as safras de verão de soja. Com freqüência, as bordaduras sofrem os ataques iniciais, seja por serem as margens de entrada do inseto na lavoura ou por serem áreas mais secas, ventiladas e freqüentemente mais empoeiradas, o que costuma favorecer a praga. Também, lavouras cujos inimigos naturais foram perturbados ou eliminados são locais propícios para as explosões populacionais da praga.

DANOS Os adultos e ninfas se alimentam através

da sucção da seiva do floema das plantas de soja podendo levá-las à morte ou queda de produção. As folhas atacadas tornam-se amareladas, secam e caem prematuramente da planta. Durante sua alimentação, os insetos excretam um “melado” que favorece o desenvolvimento da “fumagina”, um fungo de cor preta que cresce sobre as folhas, escurecendoas, prejudicando a realização da fotossíntese e, conseqüentemente, interferindo na produtividade. São as ninfas que liberam grande quantidade dessa substância açucarada, possibilitando maior crescimento de fumagina sobre as folhas que, tornando-se pretas, absorvem muita radiação solar, agravam a “queima” e queda prematura das folhas da soja. Há também relatos de transmissão da virose-dahaste-negra pela mosca-branca em alguns genótipos de soja cultivados no Brasil. Esta praga ocorre, também, em várias outras culturas, tais como outros feijões, solanáceas, malváceas e cucurbitáceas, além de muitas plantas daninhas, podendo ser limitante para a produção da soja devido aos altos cus-

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Fotos Lucia Vivan

Moscas sugam a seiva do floema para alimentação, levando as plantas à morte

tos para seu controle em situações de alta infestação. Em soja, populações baixas da praga geralmente não causam danos econômicos, assim como os adultos, exceto se estes transmitirem doenças. Perdas econômicas costumam ocorrer apenas quando existe alta população de ninfas. Inclusive, nestas condições, o controle da praga fica extremamente difícil.

MANEJO E INSETICIDAS Cultivos conduzidos em períodos com melhor regularidade de chuvas e com eliminação dos focos iniciais da praga, tanto os primários como os circunvizinhos, tendem a ser de menor risco à mosca-branca, assim como o uso reduzido de inseticidas na fase inicial da cultura, especialmente aqueles não-seletivos

aos inimigos naturais. É importante acabar com o cultivo de plantas altamente suscetíveis à praga na entressafra, que funcionam como “ponte biológica”, preferindo-se gramíneas como alternativa de rotação, por exemplo. Há evidências experimentais preliminares de comportamento diferenciado entre genótipos de soja em relação à resistência a esta praga. Por exemplo, em observações preliminares, as cultivares Perdiz, Iac-17 e Iac-19 suportam mais o ataque da praga nas mesmas condições em que foram testadas outras cultivares, tratando-se de materiais genéticos importantes para programas futuros de melhoramento. A variedade Tucunaré também apresentou uma certa tolerância ao ataque desse inseto, em relação à média das variedades testadas. Já as variedades Monsoy-8866, Monsoy-14 e Pionner-309 foram suscetíveis. Da mesma forma, as variedades Guaporé e Tabarana foram as mais preferidas e apresentaram alta suscetibilidade, inclusive a variedade Guaporé apresentou altos índices da virose-da-haste-negra. Os principais predadores da mosca-branca são aranhas, sirfídeos, joaninhas, Chrysopa, Geocoris, Orius, Nabis, Rhinacloa, Scolothrips e ácaros Phytoseiidae. Ainda estão rela-


BIOLOGIA DO INSETO

A

biologia da mosca-branca é complicada pela aparente existência de diferentes biótipos, cujo significado evolutivo e prático continua pouco esclarecido. No Brasil, à luz dos conhecimentos atuais, existem diferentes biótipos de B. tabaci e a B. argentifolii (também chamada de Biótipo B da B. tabaci por alguns autores) cuja separação só é possível de ser feita através de marcadores moleculares ou técnicas especiais de criação. Visualmente, os adultos medem 0,8 mm de comprimento e aparentemente são de coloração geral branca, mas apresentam asas brancas e corpo amarelo. Sob condições climáticas favoráveis, seu ciclo de vida pode ser de duas a quatro semanas, podendo produzir até 15 gerações por ano. Localizam-se preferencialmente na face rem mais efetivamente sobre os adultos. Os fisiológicos que inibem a síntese de quitina ou sua deposição (buprofenzin, teflubenzuron e novaluron) ou simuladores de hormônio juvenil (piriproxifem) são oportunos para o controle de ninfas e fases iniciais da cultura/praga. Pesquisas recentes mostram que o diafentiuron (inibidor da síntese de ATP mitocondrial) tem se mostrado muito promissor no controle da mosca-branca na cultura da soja, em função da sua eficiência. Entretanto, este deve ser pulverizado em dias ensolarados para

Lucia Vivan

cionados parasitóides da ordem Hymenoptera (Eretmocerus spp. e Encarsia spp.) caracterizados como microhimenópteros, que também são intensamente afetados pela aplicação de inseticidas não-seletivos. Da mesma forma, fungicidas usados no controle da ferrugem asiática da soja suprimem populações de entomopatógenos, especialmente os fungos (Paecilomyces, Verticillium, Archersonia, Beauveria e Entomophthora), que causam doenças na mosca-branca. Os produtos seletivos devem ser os preferidos, especialmente se usados na fase inicial da cultura e manejo da palhada. Devido à preferência da praga por condições de seca, um maior cuidado deve ser tomado nas aplicações de inseticidas, sendo recomendado aplicações em horários no qual a temperatura está mais amena e a umidade relativa do ar mais elevada. Como ocorre com outras pragas de estiagem, o caso de sucesso de controle químico da mosca-branca em períodos de seca extrema são mais freqüentes em pulverizações noturnas com boa cobertura do vegetal, nas aplicações que objetivem atingir o interior das plantas e a página inferior das plantas. Tradicionalmente, a mosca-branca tem sido controlada com inseticidas organofosforados (acefate/metamidofós/triazofós, por exemplo), carbamatos (metomil) e piretróides (lambdacialotrina/fempropatrina/bifentrina), o que tem favorecido o aparecimento de populações resistentes. Hoje, os neonicotinóides (thiametoxan/ imidacloprid/acetamiprid) têm sido eficientes para as espécies, inclusive a adição de produtos como ciclodienos (endosulfan), organofosforados, carbamatos ou piretróides têm melhorado o controle da praga, por estes atua-

“Melado” excretado pelo inseto leva ao desenvolvimento da fumagina que agrava queimadura nas folhas

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inferior das folhas, onde ovipositam, em média, 150 a 300 ovos por fêmea. A temperatura é o principal agente externo que influencia a metamorfose progressiva da mosca-branca, fazendo com que o seu ciclo de vida possa variar de 15 a 24 dias. As ninfas apresentam uma coloração verde-amarelado e passam por quatro ínstares. A ninfa de 1º ínstar é móvel, ou seja, apresenta pernas e é capaz de se mover na folha ou planta. Já a partir do 2º ínstar, as ninfas perdem as pernas e são imóveis. Permanecem dessa forma até a emergência do adulto. A partir do 3º ínstar, as ninfas são facilmente visíveis, assemelhando-se a cochonilhas. As ninfas das moscasbrancas do gênero Bemisia caracterizam-se por não terem franjas formadas por filamentos ceráceos ao redor do corpo. se obter os melhores resultados, pois nestes dias ocorre melhor ativação das moléculas do produto. Da mesma forma, o pymetrozine (paralisante de alimentação) e o flonicamid têm bom potencial de uso para a praga, mas, por serem moléculas mais novas, precisam ser melhores experimentadas. Como visto, para esta praga, é importante fazer a rotação de modos de ação de inseticidas ou misturas destes com diferentes modos de ação, minimizando, dessa forma, o desenvolvimento de resistência da praga, principalmente se for B. argentifolii, que é a que tem ocorrido nessas regiões do estado de Mato Grosso. Diversas espécies de Bemisia tornaram-se altamente resistentes aos inseticidas comumente utilizados no seu controle em anos anteriores, independentemente do sistema de cultivo utilizado ou da espécie botânica hospedeira. Em outras regiões do mundo, o uso inadequado de inseticidas ocasionou o aparecimento de populações resistentes e tornou iminente a necessidade de medidas de controle baseadas nos conceitos de manejo de pragas. Além disso, pela facilidade de disseminação, novos insetos oriundos de áreas vizinhas poderão invadir a lavoura e exigir, assim, diversas aplicações, o que geralmente torna os custos proibitivos, tornando a dependência exclusiva dos inseticidas inviável. C Paulo E. Degrande, UFMS Lucia M. Vivan, Fundação MT

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