Cultivar Grandes Culturas • Ano VIII • Nº 82 • Fevereiro 2006 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
Destaques
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Foto Capa / Dirceu Gassen
Invasão de folhas largas Sem as queimadas e com palhadas densas, as folhas largas ganham espaço nos canaviais e exigem controle rígido
12 Força no safrinha Mesmo com menor potencial produtivo, o milho safrinha pode superar as expectativas se receber adubação certa
Nossos cadernos
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Foto de Capa / Embrapa Milho e Sorgo
Ataque subterrâneo Saiba como monitorar e manejar o percevejo-castanho no algodoeiro, praga responsável por grandes estragos
22 Resistente e perigoso Erros de manejo podem ser responsáveis pelo alto nível populacional de percevejos e pela ocorrência de resistência
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br
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Índice Diretas
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REDAÇÃO • Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia • Revisão
3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Folhas largas em cana-de-açúcar
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Números atrasados: R$ 15,00
Manejo da broca-da-cana
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COMERCIAL
Adubação para milho safrinha
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Pedro Batistin
Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00
Silvia Pinto
Sedeli Feijó Silvia Primeira Otávio Pereira
Nossos Telefones: (53)
Controle do percevejo castanho em algodão 18
• Geral 3028.2000
Controle do percevejo em soja
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• Assinaturas: 3028.2070
Mela da soja
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CIRCULAÇÃO
• Redação: 3028.2060
Ferrugem asiática na soja
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Cibele Oliveira da Costa
• Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067
Seletividade de glyfosate á trichogramma 34
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
• Gerente
• Assinaturas
Armazenamento em silo bag
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Rosiméri Lisbôa Alves Simone Lopes
BioControle busca parcerias
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• Gerente de Assinaturas Externas
Clube da Cana reúne os maiores produtores 39 Coluna Aenda
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Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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Raquel Marcos • Expedição
Edson Krause Dianferson Alves • Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
Segundo volume
Coopavel
Ampliação
A Universidade illy do Café, parceria entre a torrefadora italiana illycaffè e o Pensa (Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial da USP), lança o segundo volume da revista “Cadernos da Universidade illy do Café”, uma coletânea de seis artigos de interesse para a cafeicultura, elaborados por profissionais das mais diversas especialidades. A obra possui 92 páginas, onde são abordadas as diversas facetas do agronegócio.
Um dos maiores eventos do país, o Show Rural Coopavel, acontece de 13 a 17 de fevereiro, no Centro Tecnológico em Cascavel (PR). A feira voltada para o setor agropecuário promete apresentar todas as tecnologias e os lançamentos que visam beneficiar o homem do campo. Informações www.showrural.com.br
A Agromídia Desenvolvimento acaba de ampliar seus negócios, com a criação da Agromídia Publicidade. “A Agromídia Publicidade chegou para tornar a mensagem dos clientes mais eficaz, mais dinâmica e criativa”, garante Jorge Lee Pinto, diJorge Lee e Ivo retor da agência.
Congresso Acontece de 14 a 16 de fevereiro, no Campus da Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu (FCA) - Unesp, Botucatu (SP)- o XXIX Congresso Paulista de Fitopatologia. O tema do evento este ano é “Mudanças climáticas globais: novos desafios para a Fitopatologia”. Informações e inscrições: www.summanet.com.br/xxix
Syngenta no TecnoCampo A Syngenta apresenta no TecnoCampo os avanços em tecnologias para tratamento de sementes e combate de pragas e doenças na cultura da soja. Promovido pela Fundação MT – Mato Grosso, o evento é um dos maiores em tecnologia para a agricultura e vai ocorrer em cinco cidades do estado até abril. A Syngenta vai participar de todas as etapas, enfatizando os aspectos técnicos da aplicação dos seus defensivos e os resultados científicos obtidos com o desenvolvimento de seus produtos em laboratório e pesquisa de campo.
Expodireto O parque da Expodireto Cotrijal, em Não-me-toque (RS), já está pronto para o evento deste ano. O parque conta, nesta edição, com espaço a mais para a área de máquinas e inovações na parte de infraestrutura e espera superar as cinco edições anteriores. A feira acontece de 13 a 17 de março. Informações pelo site www.expodireto.cotrijal.com.br
Arroz 2006 A abertura Oficial da Colheita do arroz este ano será em Itaqui (RS). A 16ª edição do evento, promovida pela Associação dos Arrozeiros, Sindicato Rural de Itaqui e Federarroz, acontecerá de 03 a 05 de março, no parque do Sindicato Rural da cidade.
Plantas Daninhas De 29 de maio a 02 de junho acontece em Brasília (DF) o XXV Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. O objetivo do evento é estimular a cooperação e o intercâmbio de informações entre pesquisadores, estudantes, profissionais e outros interessados no adequado manejo das plantas daninhas. O local do evento é o Centro de convenções de Brasília. Informações: www.xxvcbcpd.com.br
TecnoCampo O TecnoCampo 2006 encerra com balanço positivo em Sorriso (MT). Durante três dias, aconteceram palestras sobre doenças, pragas, cultivares, rotação de culturas, adubação e nutrição de plantas, mercado e gestão empresarial. Além disso, houve demonstração de agroquímicos, de desempenho de cultivares convencionais e transgênicas da Fundação MT e das novidades em máquinas e agroquímicos. No encerramento, autoridades políticas e representantes de entidade da classe produtora endossaram a importância do evento para o setor agrícola.
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Arroz Estão abertas as inscrições para o encontro nacional do arroz, coordenado pela Embrapa Arroz e Feijão. O 2º Congresso Brasileiro da Cadeia Produtiva do Arroz e a 8ª Reunião Nacional da Pesquisa de Arroz (Renapa) serão realizados de 26 a 28 de abril na sede da Embrapa em Brasília (DF).
Bayer no Show Safra A Bayer marcou presença no Show Safra 2006, realizado em Lucas do Rio Verde (MT). A empresa levou seu portfólio de produtos ao evento, onde, contando com um campo demonstrativo, engenheiros agrônomos forneceram todas as informações sobre os cuidados com a lavoura para os produtores.
Sol Fertilizantes A Sol Fertilizantes, em parceria com a Riveres Insumos Agrícolas, realizou palestra técnica com o tema “Recomendações Solferti para Cultura do Soja, com a presença de cerca de 130 produtores. O evento aconteceu em dezembro, no município de Santa Bárbara do Sul (RS).
Novas cultivares RR A Fundação MT apresentou no TecnoCampo, em Sorriso (MT), o primeiro material transgênico do Brasil resistente ao nematóide de cisto, com as cultivares de soja RR: TMG 113 RR, TMG 115 RR e TMG 117 RR. De acordo com pesquisadores, o produtor pode ganhar na questão operacional, no controle de plantas daninhas e, conseqüentemente, melhorar a produtividade da sua lavoura.
De importador para exportador A Agrichem estará transferindo toda a tecnologia (know how) australiana de fertilizantes líquidos para a fábrica instalada em Ribeirão Preto (SP). Através dela, irá atender ao mercado de Brasil, América Latina, México e Estados Unidos. Os resultados dos produtos e a busca de maior competitividade nortearam a instalação da fábrica com 4 mil m2 de área construída no Brasil. Na linha de produtos, destacam-se: Booster, o Cal Super, o Zinco Super, o Hortifós, o Silício e outros.
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Cana-de-açúcar
Invasão das folhas largas A eliminação da queima da palha na cana trouxe consigo modificações na comunidade infestante de plantas daninhas. Além das invasoras habituais da cultura, folhas largas estão ganhando espaço, favorecidas pelo microclima encontrado sob a palhada
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EFEITOS DA PALHA
da comunidade infestante é atribuída essencialmente aos efeitos físicos e químicos da camada de palha, não se descartando a participação dos efeitos biológicos. Os efeitos físicos referem-se às alterações nas amplitudes das variações térmicas e hídricas do solo, às alterações na quantidade (intensidade e/ou durabilidade) e na qualidade da luz incidente sobre
o solo e ao impedimento físico à emergência. As variações nas amplitudes térmica e hídrica normalmente encontradas no perfil de um solo descoberto induzem a superação da dormência das sementes de várias espécies de plantas daninhas, cujas plântulas emergem num fluxo mais intenso e uniforme. Com a diminuição dessas amplitudes, particularmente da térmica, mantendo-se a temperatura mais constante e amena, as sementes das plan-
Fotos Marcos A. Kuva e Pedro Luís da C. A. Alves
esde a promulgação de decretos (decreto-lei n° 41.719 de 16/07/97, decreto-lei n° 45.056 de 17/09/97, decreto estadual n° 47.700 de 11/03/03, regulamentando a lei n° 11.241 de 19/09/02) que dispõem sobre a eliminação gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar, eliminando-a totalmente em áreas mecanizáveis no estado de São Paulo até 2021, tem-se constatado aumento na área de colheita mecanizada de cana-crua. A adoção desse sistema de colheita da cana-de-açúcar tem acarretado importantes modificações nas técnicas de cultivo, como o uso de maiores espaçamentos das linhas de plantio e a deposição da palha oriunda da colheita sobre o solo, que influenciam diretamente na ocorrência e no manejo de plantas daninhas nos canaviais. Embora o sistema de colheita mecanizada da cana-de-açúcar esteja sendo utilizado desde antes da promulgação dos decretos, mais recentemente os pesquisadores e os canavicultores se atentaram às conseqüências da implantação desse sistema. Dentre essas conseqüências, destacam-se a mudança da composição específica da comunidade infestante e a necessidade de novos estudos sobre o comportamento na palha de herbicidas comumente utilizados nessa cultura.
A freqüência e as altas densidades de Mormodica charantia têm preocupado produtores quanto ao manejo a ser adotado
A mudança na composição específica
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AÇÃO DE QUÍMICOS tas daninhas permanecerão dormentes, ou germinarão mais escalonadamente no tempo. Uma parcela significativa das espécies de plantas daninhas possui sementes fotoblásticas positivas, ou seja, sementes que requerem a luz para iniciarem o processo germinativo. Sendo assim, a presença de uma camada de palha representa uma barreira ou filtro à penetração da luz, fazendo com que várias sementes permaneçam dormentes. De forma semelhante, a qualidade da luz, seja ela refletida e/ou transmitida pela palha, pode atenuar a superação da dormência, chegando até mesmo a induzir a dormência das sementes. O impedimento físico, ou barreira física, imposta pela camada de palha de cana, que pode atingir 20 t/ha, pode reduzir as chances de sobrevivência de plantas daninhas com pouca quantidade de reservas em suas sementes, insuficientes para prover a energia necessária para que as plântulas transpassem a camada de palha, tenham acesso à luz e iniciem o processo fotossintético. Os efeitos químicos da camada de palha, também denominados de alelopáticos ou amensais, devem-se à liberação de compostos químicos presentes na palha, solúveis ou não em água, conhecidos por aleloquímicos. Alguns desses aleloquímicos são os ácidos fenólicos (5), fórmico, acético, oxálico, malônico, tartático e málico, que irão afetar direta ou indiretamente a germinação, o crescimento e desenvolvimento de algumas plantas daninhas. Além disso, Singh et al. (2003) isolaram da cana os compostos 2,4-dihidroxi-1,4-benzoxazin-3-one (DIBOA) e benzoxazolin-2-one (BOA), que apresentaram efeito inibitório sobre plantas daninhas em concentrações a partir de 0,45 mM. Dentre os efeitos biológicos da palha de cana-de-açúcar que podem estar corroborando para a mudança na composição específica da comunidade de plantas daninhas, destacam-se a formação e/ ou alteração na microbiocenose, a presença de fitopatógenos e a facilitação à predação de sementes. O efeito desses fatores, isolados ou em conjunto, sobre a composição e a supressão da comunidade de plantas daninhas dependerá da quantidade e qualidade da palha depositada sobre o solo, da periodicidade dessa deposição e da durabilidade da palha, sendo que essas características ainda dependem da cultivar de cana-de-açúcar, das condições edafoclimáticas da área e do manejo adotado. Estudos realizados por vários pesquisadores têm demonstrado que algumas espé-
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A
Pyrostegia venusta, outra planta daninha que está marcando presença nas lavouras recentemente
cies de plantas daninhas predominantes na cultura da cana-de-açúcar apresentam comportamento germinativo diferenciado em função da presença da palha sobre o solo. Plantas daninhas consideradas importantes nessa cultura, como Brachiaria decumbens, B. plantaginea, Panicum maximum, Digitaria spp., Sida rhombifolia, S. glaziovii, Amaranthus viridis, A. hybridus e A. retroflexus podem ser eficientemente controladas com quantidades de palha variando de 12 a 15 t/ha, enquanto outras são indiferentes, ou até mesmo apresentam incremento na população em decorrência da presença da palha, como é o caso de Euphorbia heterophylla, Bidens pilosa, Cyperus rotundus (Figura 1), Ipomoea spp., Merremia spp. e Cissampelos glaberrima (Figuras 2 e 3). Mais recentemente, também tem causado preocupação a todos a presença mais freqüente e em altas densidades de plantas de Mormodica charantia (Figuras 4) e Pyrostegia venusta (Figura 5). As convolvuláceas, particularmente as pertencentes aos gêneros Ipomoea e Merremia, conhecidas popularmente por cordas-de-viola, têm se destacado, em termos de freqüência e densidade, como plantas daninhas em áreas de cana-crua. Embora ainda não se tenham informações sobre o grau de interferência exercida por essas plantas sobre o crescimento e a produtividade da cultura da canade-açúcar, sabe-se que uma planta de corda-de-viola (Ipomoea grandifolia) aos 70 dias após a semeadura acumula 270 mg de N, 37 mg de P, 328 mg de K, 155 mg de Ca, 65 mg de Mg e 41 mg de S; aos 154 dias esse acúmulo aumenta para 1338, 172, 1761, 1048, 310 e 224 mg/ planta, respectivamente (Bianco, 2005). Contudo, vários pesquisadores e canavicultores relatam os problemas que as cordas-de-viola causam na operacionalização de práticas culturais, principalmente a adubação em cobertura e a colheita da cana-crua, além de causarem o tom-
ação abrasiva de agentes químicos em sementes de cordade-viola não se encontra totalmente esclarecida. Não foi constatado efeito promotor de germinação pela aplicação de KCl, mas são comuns os relatos de adubações promoverem a germinação de sementes dessas plantas. A aplicação de vinhaça tem sido relatada tanto como promotora como inibitória da germinação de cordas-de-viola. bamento ou envergadura das plantas, fenômeno esse que compromete o crescimento das plantas e também a colheita destas. Essas interferências diretas e indiretas podem ser visualizadas nas Figuras 6 e 7. Dentre as cordas-de-viola infestando canaviais se destacam Ipomoea quamoclit (Figura 8), I. purpurea (Figura 9), I. nil (Figura 10), I. grandifolia (Figura 11), I. hederifolia (Figura 12), Merremia cissoides (Figura 13) e M. aegyptia (Figura 14).
MANEJO E CONTROLE Atualmente, a principal medida que vem sendo utilizada para o controle de cordas-de-viola tem sido a utilização de herbicidas, aplicados tanto na pré como na pós-emergência dessas plantas dani-
Interferência de corda-de-viola no crescimento e desenvolvimento das plantas de cana
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nhas. Para a aplicação em pré-emergência, devem-se conhecer previamente o comportamento do herbicida na palha e a eficiência de controle destes para as diferentes espécies de cordas-de-viola, enquanto na aplicação em pós-emergência, além da eficiência do produto, deve-se respeitar o estágio de desenvolvimento da planta mais adequado para se obter o melhor controle, procurando conciliá-la com os tratos e as operações culturais a serem realizados. Como as plantas de corda-de-viola apresentam um crescimento e desenvolvimento mais tardios, infestando os canaviais principalmente por ocasião da colheita, o uso de maturadores e dessecantes, além de proporcionar um possível controle dessa planta daninha, pode também induzir ao aborto de flores e frutos e ainda comprometer a germinabilidade de suas sementes, reduzindo o potencial de futuras infestações. As sementes de corda-de-viola normalmente se encontram dormentes no solo devido à impermeabilidade de seus tegumentos. Essa impermeabilidade do tegumento se constitui em um mecanismo de sobrevivência, permitindo que as sementes permaneçam anos sem germinar. A germinação, ou seja, a superação da dormência da semente, somente é possível quando ocorrer uma abertura na camada paliçádica que forma esse tegumento. Normalmente, essa abertura é feita pela ação abrasiva de agentes físicos e químicos. Após o preparo do solo e plantio da cana-de-açúcar e também após as colheitas que se seguem, é comum serem ob-
A flor vermelha (acima) identifica I. quamoclit, e a lilás (abaixo), I. grandifolia
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servados fluxos de germinação e de emergência de plântulas de corda-de-viola. O trânsito de máquinas e implementos sobre o solo causa o atrito deste com as sementes, com conseqüente abertura no tegumento e superação na dormência destas. Também nessas ocasiões, a exposição das sementes e do solo à luz solar,
Detalhe da alta infestação de I.hederifolia, outra espécie de corda-de-viola na cana-de-açúcar
com conseqüente aumento na amplitude térmica, leva à ruptura do tegumento das sementes. Em Ipomoea lacunosa, por exemplo, Egley (1990) observou que em areia aquecida de 40 a 60 ºC, na presença ou ausência de umidade, as sementes sobreviveram e apresentaram aumento na germinação devido à quebra de dormência. Azania et al. (2002) observaram que a água quente a 50°C por 20 e 40 minutos, o calor seco a 50°C por 20 e 40 minutos e o fogo aumentaram a germinação de Ipomoea grandifolia (68, 59, 62, 67 e 59%), Merremia cissoides (50, 52, 18, 25 e 46%) e M. aegyptia (54, 47, 21, 21 e 45%), respectivamente. O calor seco de 20 e 40 minutos aumentou a germinação de I. nil (49 e 36%), e o de 40 minutos, a de I. hederifolia (70%). Não se deve desconsiderar o possível efeito promotor que a incidência direta da luz exerce sobre a germinação das sementes de corda-de-viola, pois se sabe que as condições de temperatura a que a plantamãe foi submetida durante o desenvolvimento das sementes podem exercer considerável influência nas respostas quantitativas de germinação na presença da luz. Após o preparo do solo e plantio da cana e após as suas colheitas, pode ser feita a aplicação de herbicidas pré-emer-
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gentes visando o controle da corda-deviola e de outras plantas daninhas presentes na área. Os herbicidas atualmente registrados para a cultura da cana-deaçúcar que proporcionam o controle das cordas-de-viola em pré-emergência são: alachlor + atrazine, ametryne, ametryne + clomazone, amicarbazone, atrazine, clomazone, diuron, diuron + hexazinone, flazasulfuron, imazapic, oxyfluorfen, sulfentrazone e tebuthiuron. Depois de constatados esses fluxos de germinação e de emergência, normalmente se observa elevada taxa de mortalidade das plântulas, geralmente atribuída à sensibilidade destas ao estresse hídrico, ou seja, aos períodos sem chuva que se seguem. Nessa ocasião, quando se observa a infestação do canavial por plântulas de corda-de-viola remanescentes, também se pode fazer o controle manual ou mecânico destas, por meio de capina, ou químico, pelo uso de herbicidas. O controle por meio de capina manual é eficiente, porém muito moroso e oneroso e pode ainda causar danos indiretos às plantas, como o corte das brotações. Já o controle por meio de capina mecânica apresenta boa eficiência, maior rendimento e menor custo quando
comparado ao manual, mas ainda pode causar danos à cultura. Normalmente este controle é feito pela passagem de um cultivador ou escarificador, sendo que as operações de “quebra de lombo” e de adubação em cobertura por si só já proporcionam certo controle dessa planta daninha. O controle químico feito pelo uso de herbicidas tem proporcionado maior rendimento operacional quando comparado aos anteriores, associado a um menor custo, sendo que alguns produtos podem causar intoxicação das plantas, comprometendo seu desenvolvimento e até mesmo a produtividade. Essa intoxicação dependerá, além das características inerentes aos produtos, das condições edafoclimáticas e da cultivar plantada. Atualmente os herbicidas registrados para a cultura da cana, nesta modalidade de aplicação, ou seja, em pós emergência, são: 2,4-D, 2,4-D + picloram, ametryn + trifloxysulfuron-sodium, amicarbazone, atrazine, carfentrazone, diuron, diuron + hexazinone, diuron + MSMA, flazasulfuron, glyphosate e MSMA. C Pedro Luís da C. A. Alves, Unesp
Fotos José Francisco Garcia
Cana-de-açúcar
Devoradora potencial
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Brasil é o líder mundial na produção de cana-de-açúcar e seus derivados, tendo colhido uma área superior a cinco milhões de hectares em 2004. São Paulo é o estado líder em produção, com 2,7 milhões de hectares. A região Nordeste é a segunda maior produtora de cana do Brasil, com uma área aproximada de 1,1 milhão de hectares colhidos. Nos próximos dez anos, os mercados do açúcar e do álcool serão norteados pela crescente demanda por álcool para combustível. Refletindo o provável aumento dos preços do petróleo, será o álcool que determinará a oferta e, conseqüentemente, os preços do açúcar. No entanto, apesar de todos os prognósticos, como ocorre com as culturas de importância econômica, a cana-de-açúcar é atacada por inúmeras pragas, destacando-se dentre essas a broca-dacana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. Trata-se de uma praga extremamente nociva à cana-de-açúcar, capaz de dizimar canaviais inteiros se não tomadas as devidas medidas de controle.
FLUTUAÇÃO POPULACIONAL No estado de São Paulo, o ciclo de D. saccharalis inicia-se em setembro-outubro, normalmente, após a emergência de adultos provenientes da geração de inverno na região. Eles, geralmente,
A procura por plantas novas para a postura de ovos faz de Diatraea saccharalis uma praga potencial para a cana-de-açúcar. A broca, além dos danos causados pela abertura de galerias nos colmos, propicia também a entrada de fungos causadores de podridões, aumentando ainda mais os prejuízos
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Quatro a nove dias após a postura, se os ovos estiverem fecundos, ocorre a eclosão das lagartas
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res em cana planta.
MÉTODOS DE CONTROLE Armadilha de Feromônio As fêmeas virgens da broca exercem grande atração sobre os machos dessa espécie, podendo ser usadas para monitorar sua ocorrência. Colocam-se, em condições de campo, armadilhas que constam de uma pequena gaiola, convenientemente protegida, onde são colocadas duas fêmeas virgens com até 48 horas de idade. Os machos atraídos são coletados em uma bandeja com água e melaço ou detergente.
Quebra do colmo: dano causado pela broca, ao fazer galerias transversais no interior do mesmo
procuram canas novas para efetuar suas posturas. A segunda geração verifica-se entre dezembro e fevereiro; a terceira, entre fevereiro e abril, e em maio e junho se inicia a quarta geração, que pode se prolongar por cinco a seis meses.
vermelha), ocorrem prejuízos de 0,25% de açúcar ou 0,20% de álcool e mais 0,77 de peso, sendo os prejuízos maio-
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Controle biológico Existem diversos inimigos naturais
DESCRIÇÃO E BIOLOGIA
PREJUÍZOS As lagartas causam prejuízos diretos, pela abertura de galerias, ocasionam perda de peso da cana e podem levar a planta à morte (“coração morto”), especialmente em canas novas. Quando faz galerias circulares (transversais), seccionam o colmo, provocando sua quebra pela ação de ventos. Enraizamento aéreo e brotações laterais também ocorrem devido ao seu ataque. Os prejuízos indiretos são consideráveis, uma vez que, através de orifícios e galerias, penetram fungos que causam a podridão-vermelha do colmo, podendo abranger toda a região compreendida entre as diversas galerias. Os fungos causadores da podridão-vermelha, Colletotrichum falcatum e Fusarium moliniforme, invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e o rendimento industrial no processo de produção de açúcar e/ou álcool. No caso da cana destinada apenas à produção de álcool, os microrganismos que contaminam o caldo concorrem com as leveduras no processo de fermentação alcoólica, diminuindo o rendimento. Para cada 1% de intensidade de infestação da praga (número de entrenós atacados pelo complexo broca/podridão-
Controle cultural O plantio de variedades resistentes, o corte da cana sem desponte, a moagem rápida, a eliminação de plantas hospedeiras das proximidades do canavial, principalmente de milho, sorgo e milheto, após a colheita destes, são medidas eficazes para diminuir a população da praga.
O
vo: Os ovos de D. saccharalis são planos e possuem forma oval, medem em torno de 1,2 mm de comprimento e 0,75 mm de largura. As fêmeas ovipositam nas folhas, de preferência na face dorsal. Cada postura pode conter de cinco a 40 ovos, sendo estes agrupados de forma semelhante a escamas de peixes. A fecundidade média dessa espécie é aproximadamente de 300 ovos. Quatro a nove dias após a postura, se os ovos estiverem fecundos, ocorre a eclosão da lagarta. Inicialmente os ovos são amarelos, com o desenvolvimento embrionário, ficam alaranjados e, posteriormente, é visível a cápsula cefálica da lagarta ainda no interior do ovo.
galerias de baixo para cima. Essas galerias podem ser de duas formas: longitudinais, na maioria dos casos, e, às vezes, transversais. Passam por cinco instares, durante um período médio de 40 dias, dependendo das condições climáticas. A lagarta prestes a se transformar em pupa cessa a alimentação, limpa e amplia a galeria onde se desenvolveu, abre um orifício para o exterior, fecha-o com fios de seda e serragem e transforma-se em crisálida.
Lagarta: As lagartas recém eclodidas são de cor branca, tornando-se creme com o desenvolvimento, apresentando algumas manchas escuras espalhadas pelo corpo. Alimentam-se, no início, do parênquima foliar, no interior da bainha da folha; após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem
Adulto: Os adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores; as asas posteriores são esbranquiçadas, medem cerca de 25 mm de envergadura. Apresentam hábito noturno e ficam escondidos durante o dia. A oviposição ocorre principalmente no início do anoitecer.
Crisálida: É de coloração castanha e tem a duração de nove a 14 dias, variando o tempo de acordo com as condições climáticas. Mede aproximadamente de 16 a 20 mm de comprimento.
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AMOSTRAGEM - INTENSIDADE DE INFESTAÇÃO capazes de controlar a praga, quais sejam: Predadores: São responsáveis, naturalmente, por eliminar uma expressiva parcela, principalmente, de ovos e de lagartas recém eclodidas. As formigas, pertencentes a gêneros como Solenopsis sp., Pheidole sp., Camponotus sp., entre outras, formam o principal contingente, sendo complementado por coleópteros, neurópteros e dermápteros. Em alguns locais, mais de 90% da população inicial da praga é controlada por esse complexo de inimigos naturais. Parasitóide de ovos: Sendo a fase do ovo o fator-chave do crescimento populacional da praga, justifica-se multiplicar o parasitóide Trichogramma galloi, para evitar que o inseto inicie o ataque ao colmo da cana. Essa espécie deve ser liberada na forma adulta em 25 pontos/ha, num total de 200 mil parasitóides/ha, em três liberações sucessivas feitas à tarde e espaçadas de uma semana. Associado com Cotesia flavipes, T. galloi chega a reduzir a intensidade de infestação em 60%.
amostragem de Intensidade de Infestação é realizada coletandose colmos de cana-de-açúcar no momento do corte a campo ou no recebimento da mesma na indústria. Em campo, devem-se amostrar cinco pontos, ao acaso, sendo estes representados por 25 colmos cada, tomados de cinco em cinco metros para até 50 ha (Tabela 1). Para o cálculo da intensidade de infestação abrese longitudinalmente cada um dos colmos coletados, contando-se o número de entrenós e aqueles que se encontram lesionados pelo complexo broca/podridãovermelha. Os dados obtidos são aplicados à fórmula: Intensidade de infestação ( I ) = mente. Nos últimos anos, esses inimigos naturais diminuíram as perdas anuais, que eram da ordem de cem milhões de dólares, para 20 milhões de dólares, em São Paulo, devido à redução de intensidade de infestação, que era, aproximadamente, de 10% e hoje está em cerca de 2%. A amostragem para esse método de controle é baseada na metodologia hora/ homem (Tabela 1) e deve ser iniciada a partir de novembro e repetida quinzenalmente, priorizando áreas com variedades suscetíveis, primeiros cortes, áreas fertirrigadas ou com sintomas do ata-
Fotos José Francisco Garcia
Parasitóide de lagartas: A vespinha C. flavipes foi introduzida no Brasil em 1974 e vem se destacando em diversos locais como extremamente eficiente no controle de D. saccharalis. Apresenta vantagens pela facilidade de multiplicação em laboratório em relação às moscas Lydella minense e Paratheresia claripalpis, que foram utilizadas anterior-
A
Complexo broca-podridão: através dos orifícios abertos pela broca, a planta fica suscetível à entrada de fungos, principalmente dos causadores de podridões
12
Determinada a intensidade de infestação, têm-se diferentes graus de infestação: Baixo (0 a 5), Moderado (5 a 10), Regular (10 a 15), Elevado (15 a 25) e Muito elevado (?25), sendo esses valores expressos em porcentagem. O controle é econômico quando for encontrada uma intensidade de infestação igual ou superior a 3%. A estratégia de controle deve levar em conta a fenologia da planta, variedades mais suscetíveis ao ataque, viveiros, áreas irrigadas, entre outros fatores, para o futuro planejamento da tomada de decisão. que. Aleatoriamente no talhão, visar colmos que apresentem sintomas e que contenham em seu interior lagartas maiores que 1,5 cm. As liberações serão iniciadas nas áreas que apresentarem dez lagartas/hora/homem ou mais. O parasitóide, C. flavipes, deve ser liberado em quatro copinhos com 1,5 mil indivíduos cada, totalizando seis mil indivíduos por hectare, com duas ou mais repetições, se necessário. Controle químico O emprego de inseticidas no controle da broca-da-cana-de-açúcar é recomendado quando há superpopulação da praga, situação que exige resposta rápida e eficiente de controle sob risco de, não o tendo, agravar sobremaneira os prejuízos. Visando esse tipo de controle, a amostragem é realizada observando-se, na região do “palmito” da cana, a presença de lagartas (menores do que 1,0 cm), antes de penetrarem no colmo, sendo o nível de controle representado por 3% de canas com lagartas nessa região. A metodologia de amostragem é a mesma da Intensidade de Infestação. Após a tomada de decisão, pulverizar o mais rápido possível o inseticida, diminuindo a chance de as lagartas penetrarem no colmo. Os produtos, alguns ainda em fase de solicitação de registros, geralmente, apresentam bons resultados. Os melhores resultados têm sido obtidos com aplicação em pulverização. Produtos Inibidores da Síntese de Quitina - triflumuron (Certero® 480 ou Alsystin®
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos últimos anos tem ocorrido aumento de plantio de variedades suscetíveis à D. saccharalis. A expansão do plantio para áreas novas e a desatenção aos cuidados necessários ao se empregar o controle biológico, especialmente com o parasitóide C. Flavipes, têm levado ao aumento da praga. Esses fatos têm gerado a sensação de que o controle biológico não tem sido capaz de conter as infestações da praga, ocasionando crescente emprego de inseticidas para o controle. Dentre os produtos uti-
1 - Tabela de amostragem Amostragem/Níveis Pontos/até 50 ha Canas/Ponto Nível de Dano (ND) Nível de Controle (NC)
Químico (Pulverização) 5 25 canas1 5% ? 3% de canas com lagartas2
Objetivo Controle Biológico (Liberação de C. flavipes) variável variável 5% ? 10 lagartas3/Hora - Homem
- Tomadas de 5 em 5, distanciadas de 5 metros; - Controle Químico (lagartas ? 1,0 cm); - Controle Biológico (lagartas ? 1,5 cm); I.I. - Índice de Infestação (Complexo - Broca x Podridão).
Avaliação de Dano (I.I.) 5 25 canas1 5% —-
1
tam ser preservados por exercerem importantíssimo papel no controle de pragas. Assim, cuidados com o material biológico (especialmente C. flavipes) como: controle de qualidade, forma de transporte ao campo, quantidade a ser liberada, horário, forma e local de liberação, dentre outros, são pontos importantes a serem respeitados, sob risco de, não o sendo, ocasionarem descrédito ao método, propiciando a corrida ao controle químico. Este deve ser visto como uma ferramenta útil a ser usada, com muito critério, apenas em locais onde haja, de fato, a necessidade de seu emprego como um meio auxiliar ao controle biológico e nunca como única meC dida.
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lizados há sérios riscos, em alguns casos, de se estarem aplicando ingredientes ativos que no médio e longo prazos oferecem sérios riscos à biodiversidade, face aos seus amplos espectros de ações, especialmente sobre insetos úteis (predadores e parasitóides), naturalmente existentes nos canaviais e que necessi-
José Francisco Garcia, Esalq/USP Paulo Sérgio Machado Botelho, UFSCar Charles Echer
250 PM), lufenuron (Match® 50 CE), novaluron (Gallaxy® 100 CE) - e Agonistas de ecdisteróides - tebufenozide (Mimic® 240 SC)- apresentam alta eficiência de controle, sendo compatíveis com o controle biológico.
Quando a lagarta de D. saccharalis está prestes a se transformar em pupa, ela cessa a alimentação, limpa a galeria e abre um orifício para o exterior
Autores salientam que o controle químico só deve ser empregado em casos extremos, visto que inimigos naturais mostram eficiência no controle
Milho
Força no safrinha Mesmo com menor potencial produtivo e maiores riscos com relação às condições climáticas, o cultivo do milho safrinha tem se intensificado, sendo fundamental avaliar como e quando fazer a adubação para obter um bom retorno econômico
O
milho safrinha é semeado sem irrigação no período de outono-inverno, entre janeiro e abril, e possui algumas características peculiares. Nessa época, o potencial de produtividade é menor, o ciclo da cultura é, geralmente, maior, e os riscos podem aumentar em virtude das menores precipitações e temperaturas muito baixas. Quando o milho safrinha começou a ser cultivado em grande escala, no início dos anos 90, muitos agricultores não investiam em adubação. Posteriormente, os resultados de uma série de ensaios montados em campo, pelo Instituto Agronômico, na região do Vale do Médio Paranapanema (Cantarella & Duarte, 1995; 1997) mostraram respostas consistentes à adubação e bons retornos econômicos com a prática. Os dados evidenciaram que, nos solos argilosos, as áreas com baixo potencial de produtividade (geralmente em função da época de semeadura muito tardia) não responderam
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à adição de N, ao passo que, nos ensaios com patamares de rendimento maiores, as respostas médias se situaram em torno de 30 a 40 kg/ha de N (Figura 1). Na maior parte dessas áreas, o milho foi cultivado após a soja. Em solos arenosos, no entanto, as respostas ao N foram altas, mesmo quando os patamares de produtividade foram baixos. Isso indica que a dose de N para estes solos deve ser maior do que para os solos argilosos para um mesmo patamar de produtividade. As doses mais econômicas de N estiveram em torno de 30 a 40 kg/ha para áreas com soja no verão e produtividade esperada de milho de 2 a 6 t/ha de grãos. Nos ensaios nos solos arenosos, a dose mais econômica foi de 55 kg/ha de N. Os estudos mostraram que a adição de N é vantajosa e que doses entre 30 e 60 kg/ha dão bons retornos econômicos (Figura 2). A aplicação da dose de 30 kg/ha de N na semeadura produziu resultados semelhantes à aplicação de 10 kg/ha de N na semeadura e
do restante da dose em cobertura (Quadro 1). Isso se explica pelo fato de haver pouca chance de perda por lixiviação de nitrato nas condições de cultivo da safrinha, devido à menor incidência de chuva no período. Assim, nos casos de pequenas doses de N recomendadas (até 30 kg/ha de N) pode-se aplicar todo o N no plantio, dispensando a operação de cobertura.
RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO Os princípios usados na recomendação de adubação do milho cultivado nesta época são os mesmos da época normal. Adicionalmente, deve-se levar em consideração o menor potencial produtivo (que limita as doses econômicas) e a pluviosidade decrescente (que afeta o parcelamento da adubação). Os critérios usados na recomendação da adubação incluem a análise do solo para P e K, a expectativa de produtividade, a classe de resposta a N e as informações obtidas em experimentação em condições de campo. A ex-
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Aildson Pereira Duarte
pectativa de produtividade deve ser realista, com base no potencial do solo, no nível tecnológico do agricultor e na época da semeadura, além de levar em consideração colheitas anteriores. Quanto maior a colheita, maior a extração de nutrientes. Os nutrientes absorvidos em maiores quantidades pela cultura do milho são o nitrogênio e o potássio; a exportação de N é relativamente alta, mas a de K não, pois a maior parte que é absorvida deste elemento permanece na palhada e é reciclado para a cultura subseqüente. Na impossibilidade de se prever, com os conhecimentos atuais, a resposta ao N por meio da análise do solo, a recomendação deste elemento leva em conta classes de probabilidade de resposta. Essas são definidas conforme o histórico da gleba, principalmente o cultivo anterior, além do manejo e do tipo de solo. As tabelas mostradas abaixo são as constantes da 2a. edição do Boletim 100 (Duarte et al., 1996). As doses recomendadas são ligeiramente inferiores às para a época normal, especialmente para produções esperadas de 2 a 3 t/ha. O parcelamento do N também foi alterado. Em solos com teores altos de P e K, pode não haver necessidade de se aplicar esses nutrientes; no entanto, na tabela constam pequenas doses dos mesmos para compensar parcialmente a exportação de nutrientes pelo milho e evitar o empobrecimento gradual do solo.
Quadro 1 - Resposta da produção de grãos de milho “safrinha” à época de aplicação de N. Resultados de 13 ensaios conduzidos entre 1993 e 1995. Valores entre parênteses se referem ao número de ensaios usados para calcular a resposta média Dose de N 30 30 60 60
N aplicado semeadura cobertura kg/ha de N 10 20 30 0 10 30
50 30
Rendimento de grãos 1993-94 (8) 1995 (5) kg/ha (grãos) 3.110 4.470 3.080(ns) 4.570(ns) 3.130 3.120(ns)
4.440 4.550(ns)
Fonte: Cantarella e Duarte, 1995
Quadro 2 - Teores de alguns macronutrientes na planta inteira e exportados com a colheita dos grãos Parte da planta do milho
Detalhe do contraste de plantas de milho em resposta à aplicação de nitrogênio
O milho safrinha, em sucessão à soja, apresenta boa resposta à adubação nitrogenada. A dose de N recomendada para a semeadura permite dispensar aplicações de N em cobertura para produtividades de até 3 t/ha. As chances de lixiviação do N aplicado no plantio são pequenas, em virtude do volume decrescente de chuvas no período da safrinha (Cantarella, 1995). Em algumas situações,
Planta inteira Parte colhida (grãos)
Concentração de nutrientes (1) N P K S kg/t de grãos produzidos 28 5 18 2,6 17 4 5 1,2
(1) P2O5 = P x 2,3; K2O = K x 1,2 Fonte: Duarte et al., 2003
todo o nitrogênio pode ser aplicado na semeadura juntamente com o fósforo e o potássio, evitando as incertezas de haver ou não umidade no solo no momento em que deveria ser feita a cobertura, além de liberar maquinário e mão-de-obra. Opcionalmente, pode-se reduzir a quantidade de N na semeadura e acrescentar a diferença à dose em cobertura, porém, devido ao risco de seca, esse parcelamen-
Charles Echer
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Figura 1 - Resposta da produção de grãos de milho “safrinha” à aplicação de nitrogênio, de acordo com o tipo de solo ou faixa de produtividade. Resultados médios de 13 ensaios conduzidos no campo
querida é maior. Nesses casos, não é recomendável dispensar a adubação nitrogenada de cobertura, mesmo quando se emprega maior quantidade de N na semeadura. Devido ao maior risco da ocorrência de seca já no início do ciclo do milho safrinha, sugere-se flexibilizar o momento da cobertura a partir da emergência até o estádio de oito folhas, aproveitando quando houver boas condições de umidade no solo. Deve-se evitar o parcelamento da adubação com potássio para a cultura do milho safrinha. Como já mencionado, as quantidades recomendadas nesta época são menores do que as do milho verão, reduzindo os riscos de injúrias do sistema radicular devido ao efeito salino do potássio e nitrogênio aplicados no sulco de semeadura (em geral, máximo de 50 kg/ha de K2O). Como o potássio é o nutriente
Charles Echer
to pode não ser vantajoso. Embora a adubação do milho safrinha seja embasada em recomendação específica para essa cultura, existem poucas fórmulas NPK no mercado por ocasião da semeadura desta cultura. A tabela de recomendação de adubação desenvolvida pelo IAC para o milho safrinha (Duarte et al., 1996) indica que, após a cultura da soja, em Latossolos Vermelhos com teores de fósforo e potássio médios a altos, podem ser utilizados cerca de 230 kg/ha da fórmula NPK 13-13-13 ou similar. Essa adubação poderá ser complementada ou não com nitrogênio em cobertura, dependendo da evolução das condições climáticas que determinam o potencial de produção. Ressalte-se que em solos arenosos ou em áreas cultivadas com milho ou outra gramínea no verão, a quantidade de nitrogênio re-
Figura 2 - Curva média de resposta a N obtida em 13 ensaios de campo conduzidos com milho “safrinha”
Deve-se evitar o parcelamento da adubação com potássio para o milho safrinha. As quantidades recomendadas nesta época são menores no verão
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acumulado em maior quantidade nos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas de milho (Figura 5), a sua aplicação em cobertura deve ser feita o mais cedo possível. Como freqüentemente não há umidade adequada no solo para que, imediatamente, parte do potássio aplicado na superfície se movimente e seja absorvido pelas raízes, o efeito dessa adubação sobre a produtividade da cultura pode ser pouco expressivo ou nulo. Com relação ao enxofre, sugere-se atenção especial para as áreas onde o milho safrinha é cultivado após o milho de verão. Devido às elevadas relações C/N e C/S da palha do milho e à conseqüente imobilização do nitrogênio e enxofre pelos microrganismos durante sua decomposição, o suprimento adequado do enxofre nas adubações assegura sua disponibilidade para as plantas. Devem-se considerar os resultados da análise de enxofre no solo, priorizando-se sua suplementação quando o teor de S-SO42- for inferior a 5 m/dm3. Sugere-se, porém, amostrar o solo até 40 cm de profundidade, pois as análises realizadas com amostras de solo da camada de 0 a 20 cm tendem a subestimar a disponibilidade de S no solo. É sabido que o S geralmente não se acumula nas camadas superficiais de solos que recebem calcário e adubo fosfatado (Figura 6), por causa da predominância de cargas negativas devido aos maiores valores de pH e do deslocamento do sulfato dos sítios de adsorção, provocado pelo P (ao contrário do S, o P diminui em profundidade). O enxofre pode ser suprido tanto na adubação de semeadura como em cobertura, em doses próximas de 20 kg/ha para a faixa de produtividade do milho safrinha (até 6 t/ha). É melhor evitar dizer que as fórmulas concentradas em nitrogênio têm sulfato de amônio (SA). Geralmente não têm, pois o SA contém apenas 20% de N, ou seja, fórmulas com esse adubo têm pouco espaço para os outros nutrientes. Além disso, devido à diferença de granulometria, poucas indústrias usam o SA
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Quadro 3 - Adubação mineral de semeadura : Aplicar de acordo com a análise de solo e a produtividade esperada, conforme a seguinte tabela
Divulgação
diatamente após a co- Produtividade P resina, mg/dm3 K+ trocável, mmolc/dm3 N lheita da cultura de veesperada 0-6 7-15 16-40 >40 0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 >3,0 rão, o tempo não é sufiP2O5, kg/ha K2O, kg/ha (2) t/ha N, kg/ha ciente para a aplicação 30 30 20 0 2-3 30 50 10 0 40 do gesso até a implanta3-4 30 60 40 20 10 50 40 30 10 ção do safrinha, reque60 50 40 20 4-6 30 -(1) 40 30 -(1) rendo que o gesso seja ( ) É pouco provável que esse nível de produtividade seja atingido em solos com teores muito baixos de P e K. Para as doses de K recomendadas não é necessário o parcelamento desse nutriente em cobertura.. distribuído antes da semeadura da cultura de Quadro 4 - Adubação de cobertura: Aplicar até o esverão. tádio de 8 folhas totalmente desdobradas (cerca de Ressalta-se ainda que as adubações de30 dias após a germinação), levando em conta a clasvem ser programadas para o sistema de suse de resposta a N e a produtividade esperada cessão e/ou rotação de culturas e não apenas para uma única espécie. Por exemplo, Classe de resposta a N Produtividade em estudo da sucessão soja/milho safrinha esperada Média (1) Baixa (2) na região paulista do Médio ParanapaneN, kg/ha t/ha ma, verificou-se o emprego quase unânime 2-3 0 0 de fórmulas NPK contendo quantidades 3-4 20 10 iguais de P2O5 e K2O em cada uma das cul30 20 4-6 turas e a reposição do potássio pelas adubaAs classes de resposta esperada a nitrogênio têm o seguinte significado: ções do milho e da soja muito próxima da 1. Média resposta esperada: milho após outra gramínea no verão, ou em solos arenosos 2. Baixa resposta esperada: milho após soja ou outra leguminosa no verão. exportação deste nutriente. Além disso, cerca de metade das lavouras de milho safrimovidas podem comprometer a fertilidade nha tem sido implantadas muito tardiamena médio prazo e reduzir o potencial de prote e fora do período apropriado para a seC meadura, não compensando muitos inves- dutividade da área. timentos, reduzindo ainda mais a reposi- Heitor Cantarella e ção do potássio pela adubação. Reposições Aildson Pereira Duarte, inferiores às quantidades de nutrientes re- IAC 1
“Reposições de NPK abaixo das quantidades de nutrientes removidas podem comprometer a fertilidade a médio prazo e reduzir a produtividade da área”
em misturas de grânulos. Pode-se aplicar o enxofre junto com o nitrogênio em cobertura, na forma de sulfato de amônio, tomando o cuidado de realizar esta operação o mais cedo possível. Outra opção é o uso do gesso em área total como fonte de S (cerca de 13% de S) em doses de 500 a 1000/kg ha, dependendo da textura do solo (doses menores em solos arenosos). Como o milho safrinha é semeado ime-
Figura 5 - Acúmulo de N e S na cultura do milho na safra de verão em Palmital em 2001/02 – Média de 5 cultivares e produtividade média de 7.742 kg/ha
Fonte: Duarte et al., 2003
Figura 6 - Médias e desvios padrão dos teores de enxofre nas camadas 0-10, 10-20, 20-30 e 30-40 cm em lavouras de milho “safrinha” na região do Médio Vale do Paranapanema
Fonte: IAC
Algodão
Lucia M. Vivan
Ataque subterrâneo Sugar a seiva das raízes é a forma de ataque do percevejo-castanho a culturas como soja e algodão. Embora seus danos se concentrem em anos mais chuvosos, a preocupação com o controle é constante, porque tanto as ninfas como os adultos definham as plantas
N
Dirceu Gassen
o Brasil, o número de ocorrências de insetos-praga de hábitos subterrâneos tem aumentado, exigindo pesquisas voltadas ao estudo do comportamento e da dinâmica populacional desses insetos. Dentre as pragas de solo, o percevejo-castanho-da-raiz tem aumentado substancialmente sua população. No Mato Grosso, grandes áreas
de algodão, soja e pastagens, entre outras culturas, estão infestadas pela praga, porém a maioria dos trabalhos relata apenas a ocorrência e os danos causados pelos percevejos, não apresentando referência a aspectos biológicos e comportamentais, como também a qualquer medida eficiente de manejo. Os percevejos-castanhos-da-raiz têm ampla distribuição geográfica e já foram registrados em, praticamente, todas as regiões do Brasil. Nos últimos anos o número de relatos sobre a incidência desses percevejos é constante, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Nos períodos de estiagem prolongada, os insetos se aprofundam no solo em busca de umidade e, nas épocas chuvosas, retornam à superfície do solo. Portanto, em anos mais chuvosos, o percevejo-castanhoda-raiz é mais problemático.
CONTROLE
Épocas mais chuvosas, com maior umidade na superfície do solo, são as mais problemáticas com o percevejo-castanho
18
As medidas de controle do percevejocastanho-da-raiz devem ser adotadas nas áreas infestadas ou suspeitas. Um bom mapeamento da propriedade é prioritário para definição dessas áreas de atenção. O histórico da praga e seus problemas na localidade, as revoadas de adultos e a abertura de trincheiras são bons meios para indicar áreas infestadas e que podem exigir medidas de controle. As informações existentes para essa praga relacionam-se à sua
ocorrência em braquiárias. No entanto, com a implantação de culturas econômicas nessas áreas, o problema de percevejocastanho-da-raiz se agravou.
PRÁTICAS CULTURAIS Para a redução dos problemas nas áreas infestadas, é recomendada uma série de medidas culturais que incluem: mapeamento da infestação; subssolagem das áreas infestadas após a colheita da cultura, ou uma aração seguida de três gradagens após a primeira chuva que ocorrer na pós-colheita; manutenção do solo sem cobertura no outono, evitando, principalmente, as gramíneas; antecipação da semeadura nas áreas infestadas para escape à praga do sistema radicular pouco desenvolvido; realização de adubações de cobertura com sulfato de amônio (200 kg/ha) nos focos, para acelerar o desenvolvimento da planta e aumentar a sua capacidade de suportar o ataque da praga.
CONTROLE BIOLÓGICO Para o estabelecimento de sistema de manejo do percevejo-castanho-da-raiz é necessária a realização de estudos para estabelecer técnicas eficientes de manejo dessa praga em culturas anuais, pois é consenso que seu manejo não se dará com medidas isoladas, mas com a combinação de vários métodos. Portanto, a utilização de nematóides entomopatogênicos é uma es-
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ORIGEM DO PERCEVEJO-CASTANHO tratégia de controle biológico para o inseto, já que esses organismos controlam uma gama de insetos de solo. Dessa forma, a Fundação MT, com o apoio do Facual (Fundo de Apoio a Cultura do Algodão), realizou a importação desses produtos na safra passada por não haver produtos similares certificados no Brasil, como também, pelos resultados eficientes de controle de diversas pragas de solo. Os produtos importados passaram por quarentena realizada pelo Laboratório Costa Lima da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), foram testados em casade-vegetação e a campo na safra 2004/05 e serão novamente avaliados nas próximas duas safras. A princípio os produtos ofereceram controle satisfatório, no entanto são necessários mais estudos. A Fundação MT também está testando outros gêneros e espécies de nematóides entomopatogênicos juntamente com o Instituto Biológico, a fim de conseguir um controle efetivo para essa praga. Várias espécies de nematóides entomopatogênicos das famílias Steinernematidae (Steinernema) e Heterorhabditidae (Heterorhabditis) são produzidas comercialmente e utilizadas como agentes de controle biológico contra insetos-praga de solo em ha-
O
nome “percevejo-castanhoda-raiz” é a designação utilizada para um grupo de insetos composto de várias espécies de percevejos da família Cydnidae que habitam o solo. Em trabalho publicado nos Arquivos de Zoologia (1967), o primeiro registro de percevejo-castanho-da-raiz no Brasil ocorreu no final do século IX, quando Perty descreveu a espécie Scaptocoris castanea Perty, a partir de exemplares procedentes do Piauí. Becker (1967, 1996) refere-se a mais de seis espécies de percevejos da subfamília Scaptocorinae ocorrendo no Brasil, além da espécie Atarsocoris brachiariae, identificada mais recentemente, em 1996, a partir de exemplares coleta-
dos em Dom Aquino (MT) de Brachiariae humidicola. No entanto, a partir de estudos das relações entre as espécies e seus padrões biogeográficos, bem como da delimitação da presença ou ausência de estruturas tarsais nas pernas anteriores em Scaptocoris e Atarsocoris, Grazia et al. (2004), analisando exemplares-tipo, propôs duas sinonímias. Assim, A. macroptera é sinônimo júnior de A. Giselleae, e A. brachiariae é sinônimo júnior de S. carvalhoi. Portanto, o gênero Atarsocoris é representado apenas pela espécie-tipo. E a partir desses resultados pode-se afirmar que apenas o gênero Scaptocoris possui espécies prejudiciais às plantas cultivadas.
bitats crípticos em várias partes do mundo. Estes são encontrados em uma variedade de solos, e as várias espécies e isolados mostram considerável variação em termos de diversidade de hospedeiro, reprodução, infectividade e condições de sobrevivência. Esses nematóides são mutualísticos associados com bactéria (Steinernema com a
bactéria Xenorhabdus e Heterorhabditis com a bactéria Photohabdus) e oferecem um número de vantagens pelo fato de possuírem uma grande gama de hospedeiros. Esses organismos podem matar seus hospedeiros em 48 h, sendo que o juvenil infectivo penetra no hospedeiro através da boca, do ânus e de espiráculos, ou por penetração direta através da cutícula. Quando o juve-
BIOLOGIA E DANOS nil infectivo atinge o hemocelo do hospedeiro, ele libera a bactéria que se multiplica rapidamente na hemolinfa. Os nematóides entomopatogênicos podem ser produzidos in vivo e in vitro, são aplicados com pulverizadores padrões e são seguros para humanos e outros organismos não-alvo. Até hoje, não se tem conhecimento sobre efeitos negativos no ambiente, e não é exigido registro desses produtos em vários países.
P
CONTROLE QUÍMICO
solo em que se encontram é revolvido, lembram o cheiro típico de “Maria fedida” e emitem som semelhante ao de chocalho, como estratégia de defesa contra inimigos naturais. Durante períodos do ano de maior umidade, esse inseto permanece nas camadas mais superficiais do solo, mas, em condições mais secas, ele se desloca para camadas inferiores com profundidades além de 1,5 m. Os danos são resultantes da sucção da seiva das raízes tanto pelas formas jovens, as ninfas, como pelos adultos, motivo por que as plantas definham, secam e morrem. Geralmente, danos significativos já ocorreram quando da constatação da infestação desse inseto. Em níveis populacionais baixos, esse inseto retarda o desenvolvimento da planta, o que muitas vezes passa despercebido; entretanto, quando em altas populações, determinam a morte de plantas, originando áreas de reboleiras de ataque. O percevejo-castanho-da-raiz é um inseto polífago que se alimenta de raízes de plantas de diversas famílias. Essa praga foi constatada pela primeira vez, no Brasil, em São Paulo, em pastagem (capim gordura, capim marmelada etc.), e aparentemente o inseto foi se adaptando a diversas plantas cultivadas, como algodão, soja, sorgo, milho.
do plantio pode ser utilizada, porém o controle efetivo depende das condições do solo e da profundidade do inseto no perfil do solo. Produtos como Regent 800 WG, clorpirifós e carbofuran mostraram boa eficiência.
Entretanto, a maioria dos produtos não está registrada para o uso no alvo: perceC vejo-castanho-da-raiz. Lucia M. Vivan, Fundação MT
Dirceu Gassen
Divulgação
Na segunda metade da década de 90, alguns trabalhos foram conduzidos para avaliar o uso de inseticidas no controle do percevejo-castanho, com resultados pouco satisfatórios. O uso de inseticidas deve ser aliado a medidas culturais e biológicas pelo fato do hábito subterrâneo da praga e pela dificuldade em atingir o alvo. O uso de inseticidas sistêmicos granulados de solo, aplicados na semeadura, como aldicarb ou terbufós, apresenta um custo elevado para a cultura da soja, pelo pouco controle (inferior a 50%). O tratamento de sementes pode ser uma alternativa, principalmente para o algodoeiro, que é a cultura que mais sofre danos. Estudos recentes mostraram uma eficiência boa de produtos à base de thiametoxan, imidaclopride e acetamipride, no entanto devem-se levar em consideração, para a eficiência do produto, a população e a profundidade do inseto no solo. A pulverização de produtos no sulco
ouco se conhece sobre a biologia do percevejo-castanho-da-raiz. Ambos ninfas e adultos vivem no solo, alimentando-se de raízes. Os ovos são de coloração creme, de forma ovalada e com a superfície lisa e brilhante. As formas jovens (ninfas) são brancas, apresentam cinco instares, e, no último instar, os primórdios das asas, de coloração amarelada, são bem visíveis. Os adultos, da espécie S. castanea, são de coloração castanha, e os da espécie carvalhoi são geralmente menores (5,2 a 6,0 mm) e de coloração âmbar-amarelada; as fêmeas são maiores que os machos. Apresentam como característica geral as pernas dianteiras fossoriais, razão pela qual podem se enterrar e formar galerias subterrâneas quando ocorre um período de seca. As espécies do gênero Scaptocoris são muito semelhantes e facilmente reconhecidas, diferenciadas pela presença de tarsos vestigiais no primeiro par de pernas em S. castanea, ausentes em S. carvalhoi. Os aspectos biológicos, morfológicos e comportamentais precisam ser mais estudados em relação a cada região de ocorrência. A fase ninfal dura de quatro a seis meses, com cinco instares, e os adultos vivem em média de cinco a sete meses. Esses percevejos, quando perturbados, liberam odor forte e repugnante, quando o
Quando é constatada a presença do inseto na lavoura, os danos provocados geralmente já são bem significativos, afirma Vivan
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Pela dificuldade de atingir o percevejo-castanho, visto seu hábito subterrâneo, o controle deve integrar medidas culturais, biológicas e inseticidas
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Soja
Erro e resitência
A elevação dos níveis populacionais de percevejos e sua rápida colonização têm dificultado o controle da praga. Além disso, a ocorrência de genótipos resistentes, devido a erros nas aplicações de inseticidas, também já se manifesta no campo
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A
cultura da soja é atacada por inse tos desde a emergência das plantas até a fase de maturação. Inicialmente, as pragas podem alimentar-se de sementes, raízes e de plântulas, causando danos que acarretam reduções de população de plantas ou desenvolvimento retardado da soja. Posteriormente, a cultura é atacada por brocas e lagartas desfolhadoras até a floração. Na fase reprodutiva, aparecem os percevejos sugadores que atacam os grãos. Os percevejos são considerados uma das pragas de maior importância para a cultura da soja, inclusive no Sul do Brasil. Por se alimentarem diretamente dos grãos, causam problemas sérios à soja, afetando a quantidade e a qualidade das sementes. REGIONALIZAÇÃO E COMPORTAMENTO O percevejo verde (N. viridula) é mais adaptado às regiões frias do Brasil (região Sul), onde é abundante. Por outro lado, o percevejo marrom (E. heros) é adaptado às regiões quentes, sendo abundante do Norte do estado do Paraná ao Centro-Oeste brasileiro, enquanto o percevejo verde pequeno (P. guildinii) tem ampla distribuição, ocorrendo nas regiões produtoras de soja do Sul, do Norte e do Nordeste do Brasil. Eventualmente, no entanto, pode ocorrer variação de espécies dentro de uma mesma região de um ano para o outro. Por exemplo, em Cruz Alta (RS), a freqüência das espécies na safra 2003/04 registrou predominância do percevejo verde (N. viridula), com 82% dos espécimes coletados, seguido do percevejo verde pequeno (P. guildinii), com 15%, e do percevejo marrom (E. heros), com 3%; já na safra 2004/ 05 o percevejo verde pequeno foi a espécie mais abundante, com 85%, seguido do percevejo marrom com 10%, e do percevejo verde, com 5%. Por outro lado, na região Norte do Paraná, em Londrina e municípios vizinhos, nessa mesma safra (2003/04), a população de percevejos esteve composta especialmente por essas três espécies, com a participação de 60% para E. heros, 24% e 14% para P. guildinii e N. viridula, respectivamente, onde o percevejo barriga verde (D. melacanthus) ocorreu em índices insignificantes de 2%. Na safra seguinte, esta última espécie apresentou crescimento populacional acentuado na cultura da soja, sendo já em alguns municípios a segunda espécie mais abundante. A colonização das plantas de soja pelos percevejos se inicia em meados ou final do período vegetativo da cultura, ou durante a floração (R1 a R2). Nesta época, os percevejos estão saindo da diapausa ou de hospedeiros alternativos e migram para a soja. A partir do aparecimento das vagens (R3), que é o período de alerta, as populações desses insetos, principalmente as ninfas, aumentam, podendo atingir níveis ele-
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AMOSTRAGEM
PERCEVEJOS E A FENOLOGIA DA SOJA Embora os percevejos adultos sejam os mais facilmente identificáveis na cultura da soja, levantamentos têm mostrado que, durante o período reprodutivo das plantas (floração à maturação), a maioria da população daninha de percevejos (72 %) é composta por formas jovens, ninfas de terceiro, quarto e quinto instares, que causam à soja danos semelhantes aos causados pelos percevejos adultos. Essa participação das ninfas pode ainda ser maior, dependendo do estádio fenológico da soja, podendo chegar a representar 83% dos percevejos presentes na soja durante a fase final de enchimento de grãos (Figura 1), conforme resultados obtidos na safra 2003/04, na região Norte do Paraná. DANOS E NÍVEL DE AÇÃO A tomada de decisão considera o potencial que os percevejos fitófagos têm de causar danos na qualidade e na quantidade de grãos da planta de soja.
Figura 1. Participação das ninfas na população total de percevejos presente em diferentes estádios de desenvolvimento da soja – Safra 2003/2004
Fonte: Embrapa Soja
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O
s percevejos são monitorados através de amostragens com o pano-de-batida. Indica-se bater as plantas em apenas um lado da fileira numa extensão de 1 metro. Assim, evita-se a formação do emaranhado de folhas, resultando maior extração dos percevejos sobre o pano, em relação àquela obtida com o pano batido em duas fileiras (= 2 metros de fileira). Em função da agilidade e movimentação dos percevejos, as amostragens devem ser realizadas, preferencialmente, nos períodos mais frescos, pela manhã ou à tarde, facilitando a contagem dos insetos deslocados para o pano. Considerando-se as populações de percevejos presentes na cultura da soja, a grande participação das ninfas, o menor deslocamento pela planta e o comportamento desses insetos sugadores em buscar locais mais frescos, nos períodos mais quentes do dia, a
simples observação visual das plantas não expressa a real população de percevejos presente nas lavouras. A vistoria na lavoura deve ser executada, no mínimo, uma vez por semana, a partir do início do desenvolvimento de vagens (R3), na chamada fase de “canivetinho”, até a maturação fisiológica. O monitoramento deve ser intensificado nos períodos mais críticos, ou quando ocorrer invasão de adultos provenientes de cultivares de ciclo mais curto ou semeadas mais cedo, já em fase de maturação ou colheita. Considerando a grande participação das ninfas na composição da população de percevejos daninhos à soja, nas amostragens, é importante identificar as formas jovens dos percevejos (ninfas) as quais, a partir do 3º instar, devem ser contadas e registradas junto com os adultos.
As várias espécies de percevejos causam danos diferenciados à soja, sendo o percevejo verde pequeno (P. guildinii) o mais prejudicial, afetando tanto a quantidade quanto a qualidade dos grãos e originando maior retenção foliar. Das três espécies principais, o percevejo marrom (E. heros) é o que causa os menores danos à soja. Devido ao hábito alimentar, os percevejos causam sérios problemas à soja, sendo seus danos irreversíveis a partir de determinados níveis populacionais. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e com cor mais escura que o normal. Podem apresentar doenças como a mancha-fermento, causada pelo fungo Nematospora corily, o qual é transmitido durante a alimentação. Nos ataques iniciais, entre o início e o final do desenvolvimento das vagens (R3-R4), pode ocorrer abortamento desta estrutura da planta. Além da redução na qualidade, na viabilidade e no vigor, as sementes de soja danificadas por percevejos sofrem alterações nos teores de proteína e de óleo. O ataque de percevejos causa retardamento da maturação (retenção foliar e haste verde), dificultando a colheita. Durante o período crítico de ataque dos percevejos, entre o início do desenvolvimento de vagens (R3) e o final do enchimento de grãos (R6), é importante utilizar os níveis de ação indicados pelas Comissões de Entomologia das Reuniões de Pesquisa de Soja da Região Sul e Central do Brasil para o Manejo Integrado de Pragas, sendo as medidas de controle realizadas sempre que a população atingir dois (02) percevejos e um (1) percevejo por metro de fileira, em campos de soja para a indústria e produção de sementes, respectivamente.
Estudos recentes e em andamento estão sendo realizados em várias instituições de pesquisa e em parceria com a assistência técnica, buscando reavaliar os níveis de ação recomendados pelo programa de manejo integrado de pragas, frente às mudanças no sistema de produção, nas cultivares de soja hoje semeadas e nas populações de percevejos, especialmente, quanto à composição das espécies, aos níveis de ocorrência e seus danos diferenciados. Embora a resposta da planta de soja em relação aos danos dos percevejos seja variável em função do estádio de desenvolvimento da planta, sabese que para o período entre o desenvolvimento de vagens (R3) e a maturação (R7), o dano Fotos Embrapa Soja
vados entre o final do desenvolvimento das vagens e o início do enchimento dos grãos (R4 a R5), quando a soja é suscetível ao ataque, e, por isso, esse período é chamado de crítico. A população cresce até o final do enchimento de grãos (R6), quando atinge o pico populacional máximo, normalmente com a soja em maturação fisiológica (R7). A partir daí a população tende a decrescer, e, na colheita (R8), os percevejos remanescentes se dispersam para as plantas hospedeiras alternativas e, mais tarde, para os nichos de diapausa (palhada), no caso do percevejo marrom. O percevejo verde e o verde pequeno se abrigam em plantas hospedeiras (mamona, mostarda, guandu e anileira no Paraná; e ervilhaca, nabo forrageiro e tremoço no Rio Grande do Sul) onde permanecem até iniciar o próximo ciclo, na safra seguinte. No Paraná, o percevejo barriga-verde da soja passa para o milho safrinha e depois para o trigo, onde pode causar sérios prejuízos durante o período de outono-inverno.
Acima, postura de Nezara viridula, em forma de hexágono e sempre em linha reta. Abaixo, postura de Euschistus heros, sempre numa forma mais cilíndrica
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Fotos Embrapa Soja
Amostragem com pano: recomenda-se sempre fazê-la em apenas um lado da fileira numa extensão de 1 metro
cresce na seguinte ordem de importância: o percevejo marrom, E. heros; o percevejo verde, N. viridula, e o percevejo verde pequeno, P. guildinii. Muitas vezes é comum, nos meses de novembro e dezembro, a ocorrência de altas populações do percevejo verde pequeno (P. guildinii), do percevejo marrom (E. heros) e do percevejo verde (N. viridula) na soja em fase vegetativa ou em florescimento. Essas infestações não causam danos significativos à soja, não havendo, portanto, necessidade de controle nesse período inicial da cultura. Da mesma forma em relação ao percevejo barriga verde (Dichelops spp.), cujos danos não têm sido reproduzidos em estudos feitos em condições de gaiola. ALTERNATIVAS DE CONTROLE Vários inseticidas são indicados para o controle dos percevejos pelas Comissões de Entomologia das Reuniões Regionais de Pesquisa de Soja do Brasil (Região Sul e Central). Além da eficiência, o critério da seletividade, ou seja, o efeito do produto sobre os inimigos naturais, o comportamento dos percevejos em relação à época de plantio e ao ciclo da cultivar, a reação diferencial dos percevejos aos inseticidas são muito importantes. Naturalmente várias espécies de insetos benéficos são encontradas nas lavouras de soja exercendo importante papel na redução das populações dos percevejos. Entre os parasitóides de ovos, as espécies Trissolcus basalis e Telenomus podisi são as mais importantes, pela sua eficiência e abundância, aliadas a moscas e outras vespas que parasitam os percevejos adultos. Entretanto, a sensibilidade desses insetos benéficos aos inseticidas é alta, sendo muitas vezes totalmente dizimados das lavouras. No período da colonização, quando as populações de percevejos estão concentradas nas bordas da lavoura, uma estratégia que pode ser usada para diminuir o impacto causado pelos inseticidas é efetuar o controle somente nessas áreas marginais, evitando a dispersão dos insetos para toda a lavoura e a mortalidade de ini-
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migos naturais de forma generalizada. Outra estratégia é o controle biológico dos percevejos, através da liberação dos parasitóides de ovos T. basalis e T. podisi, para aumentar as populações desses agentes biológicos nas lavouras, mantendo os percevejos abaixo do nível de ação, durante o período crítico de ataque. Esses parasitóides são multiplicados em laboratório e liberados como adultos, na quantidade de 5 mil vespinhas/ha, ou como ovos parasitados, em cartelas de papelão (três cartelas/ha), devendo estas serem colocadas nas plantas de soja um ou dois dias antes da emergência dos parasitóides. Recomenda-se, para melhor eficiência de controle, que as vespinhas sejam liberadas no final da floração, período em que os percevejos estão iniciando a colonização e concentrados nas bordas das lavouras. Pela capacidade de dispersão e suscetibilidade das vespinhas aos inseticidas, o controle biológico dos percevejos, pela utilização desses
Vagens de uma planta de soja, completamente tomadas por ninfas de 3º instar de Nezara, fase em que começam a se alimentar
parasitóides de ovos, é preferencialmente recomendado em grandes áreas contínuas (microbacias) ou em comunidades de produtores. Nessas, a presença de vegetação é fundamental para servir de refúgio e facilitar a preservação e o restabelecimento do equilíbrio entre as pragas e seus inimigos naturais. Em geral, as cultivares semeados mais cedo ou as cultivares precoces escapam dos danos dos percevejos. Estas cultivares, no entanto, são fontes de abrigo, de alimentação e, principalmente, de reprodução dos percevejos. Assim, ao se multiplicarem nestas cultivares, dispersam-se para as cultivares tardias ou semeadas mais tarde, onde causam os maiores prejuízos, pelas maiores concentrações desses insetos. Como a época de semeadura influencia a dinâmica populacional dos percevejos, devemse evitar os plantios do cedo, ou os mais tardios (meados de dezembro), onde ocorrem as maiores concentrações desses insetos. POPULAÇÕES RESISTENTES As populações do complexo de percevejos têm ocorrido em níveis elevados, tornando-se um grupo de difícil controle. As dificuldades de controle devem-se, em alguns casos, à rápida colonização de percevejos provenientes das áreas já colhidas para as áreas com cultivares mais tardias e, em outros, à seleção de genótipos resistentes. Essas dificuldades têm sido mais freqüentes nos últimos anos, aumentando-se o número das aplicações. No passado, as falhas de controle de percevejos chegaram a ser atribuídas a problemas de qualidade de alguns produtos. Mas tem sido constatado que esses problemas podem ser devidos à seleção de genótipos de percevejos resistentes a inseticidas. Ocorre resistência quando a capacidade dos insetos para tolerar uma dose de inseticida é maior que essa mesma capacidade em uma população normal. Assim, têm sido detectados casos de resistência em populações do percevejo marrom aos inseticidas organofosforados e ciclodienos, gerando a necessidade de um monitoramento contínuo em diversas regiões do Brasil. O aumento da freqüência de aplicações, o reduzido espectro de produtos com diferentes mo-
Ninfas de 5º instar de Nezara viridula (esquerda) e de Euschistus heros (direita), quando seus danos já são os mesmos de um inseto adulto
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PRINCIPAIS ESPÉCIES
Charles Echer
dos de ação e a antecipação ao momento de controle adequado são, entre outros, fatores que propiciam a seleção desses genótipos resistentes. Afortunadamente os casos de resistência são localizados, mas demonstram o potencial que essas pragas apresentam e também significam um alerta para propiciar o uso adequado dos produtos químicos, conhecendo mais sobre aspectos de seletividade e seu modo de ação. Se houver suspeita de casos de resistência, o agricultor pode coletar percevejos (no mínimo cem indivíduos) em uma gaiola bem arejada, evitando condições de estresse (calor intenso, ventilação reduzida, umidade) e encaminhálos ao laboratório de entomologia da Embrapa Soja. Entre as medidas preventivas que podem ser adotadas rapidamente na presença de possíveis casos de resistência, estão as de seguir as recomendações de controle dessas pragas, evitar o uso de inseticidas de amplo espectro para o controle de pragas iniciais. Por exemplo, aplicações destinadas ao controle da lagarta da soja podem ser realizadas com inseticidas biológicos ou reguladores de crescimento, cujos modos de ação são totalmente diferentes dos produtos utilizados para controle de percevejos. Sempre realizar a rotação de produtos com modo de ação diferente, no mesmo ciclo agrícola. Aplicar somente nas áreas que apresentam a densidade da praga que provoca dano econômico. Sempre levar um registro dos produtos, doses e datas das aplicações, pois essas informações podem ser úteis nos trabalhos de diagnóstico para determinar se ocorre ou não resistência. A capacidade das diferentes espécies de percevejos que atacam a soja de reagir ao mesmo inseticida tem sido estudada nas condições brasileiras. Segundo esses trabalhos, o percevejo verde (N. viridula) é o mais sensível à ação dos inseticidas. Na seqüência, por outro lado, têm-se o percevejo verde pequeno (P. guildinii) e o percevejo marrom (E. heros) como os mais tolerantes à ação dos inseticidas. Essa situação tem que ser considerada quando na tomada de
A
s espécies de percevejos mais abundantes em soja são o percevejo verde, Nezara viridula; o marrom, Euschistus heros; e o verde pequeno, Piezodorus guildinii, embora vários outros da família Pentatomidae também possam estar presentes em menor freqüência. Os ovos do percevejo verde (N. viridula) são depositados em massas, geralmente na parte inferior das folhas, entre 80 e 120 ovos por massa, em forma de hexágono, distribuídos em linhas retas, independente do ângulo de observação. Eles apresentam forma cilíndrica e cor amarelo palha. Da postura à eclosão decorrem cerca de sete dias. A partir do 3º estádio, inicia o período de alimentação, uma vez que o aparelho bucal já está plenamente desenvolvido, medindo 3,4 mm de comprimento. Os danos causados por ninfas de 5º estádio são de mesma intensidade que os provocados por adultos, onde podem permanecer por 12 dias. Os adultos medem 12 a 15 mm, podendo sobreviver aproximadamente 53 dias. Seu processo de reprodução consiste de pré-cópula com duração de 8 dias e de pré-oviposição ao redor de 16 dias. O percevejo verde pequeno (P. guildinii) apresenta número médio de ovos por massa de 15, ocorrendo a oviposição principalmente nas vagens e, em menor proporção, nas folhas e haste. A duração do período de ovo é de aproximadamente 7 dias, que são de cor preta, depositados em filas duplas, apresentando a forma de um barril, com a presença de uma pilosidade na extremidade superior. Os cinco estádios de ninfa, ocorrem em aproximadamente 32 dias. O adulto, 10 a 12mm, é verde brilhante e no final desta fase sofre uma descoloração, tendendo para o amarelo pálido. A longevidade dos adultos gira em torno de 54 dias (fêmea). decisão da utilização de inseticidas para o controle de percevejos em soja.
Uso correto da dose de inseticidas, rotação de princípios ativos e produtos eficientes são a chave para evitar insetos resistentes, afirma Mauro
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CONSIDERAÇÕES FINAIS A pulverização adequada de inseticidas envolvendo o momento da aplicação, a dose e a reação diferenciada dos percevejos da soja em relação aos inseticidas ou a um mesmo inseticida é muito importante para o manejo desses insetos, inclusive, para evitar a resistência dos percevejos a inseticidas. Hoje, em alguns locais, é comum a ocorrência de populações de percevejos resistentes aos inseticidas. Para que esses problemas não sejam intensificados, recomen-
Distingue-se do percevejo verde pela presença de uma mancha na base do pronoto, a qual pode apresentar colorações pretas, marrons ou avermelhadas. Em média cada fêmea oviposita três massas durante sua vida, sendo o período de pré-cópula ao redor de 8 dias e de pré-oviposição de 22 dias. Os ovos do percevejo marrom (E. heros) são depositados em pequenas massas, com 1 a 10 ovos/postura. Apresentam forma cilíndrica e cor bege. O período de ovo é de aproximadamente 6 dias. As ninfas são claras, logo após a eclosão, e permanecem reunidas próximo à postura, a exemplo das duas espécies relatadas anteriormente. A passagem pelos quatro estádios de ninfa leva cerca de 25 dias. Já os adultos medem ao redor de 15 mm de comprimento, apresentando expansões laterais do pronoto em formato de espinhos e uma mancha circular bege na ponta do escutelo. A longevidade dos adultos é de cerca de 117 dias. Os períodos de précopula e de pré-oviposição têm duração aproximada de 10 e 13 dias, respectivamente. As principais espécies de percevejos, que ocorrem em soja, apresentam o tempo de desenvolvimento (ovo a adulto) de 41,4 dias (N. viridula); 31,3 dias (E. heros) e de 27,9 dias (P. guildinii); com fecundidades médias de 150, 167 e 123 ovos/fêmea, respectivamente. Várias outras espécies participam do complexo de percevejos sugadores de grãos, mas presentes em menor abundâncias nas lavouras de soja. Formas jovens e adultas alimentam-se igualmente das vagens, atingindo diretamente os grãos de soja, causam prejuízos semelhantes às espécies principais. Nesse grupo destaca-se o percevejo barriga-verde Dichelops melacanthus e D. furcatus, Edessa meditabunda, Thyanta perditor e Acrosternum sp.. da-se que o mesmo inseticida não seja utilizado na mesma área, repetidas vezes; que sejam usados inseticidas eficientes para a espécie de percevejo predominante; e que não sejam empregados inseticidas em doses menores ou maiores que aquelas pesquisadas ou indicadas pelas Comissões de Entomologia ou aquelas reC gistradas.
Mauro Tadeu Braga da Silva Fundacep Beatriz S. Corrêa-Ferreira e Daniel Ricardo Sosa-Gómez, Embrapa Soja
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Fotos Universidade de Rio Verde - Fesurv
Soja
Secundária, mas perigosa Em condições favoráveis de clima quente e úmido, a mela causada por Rhizoctonia solani, mesmo considerada uma doença secundária na cultura da soja, pode reduzir a produtividade da lavoura em até 90%, atacando as plantas em qualquer estádio de desenvolvimento
A
mela (Rhizoctonia solani Kuhn, cujo teleomorfo é Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk) ocorre em praticamente todas as regiões tropicais e subtropicais que cultivam soja no mundo. No Brasil, foi observada pela primeira vez no feijoeiro comum em Minas Gerais, sendo conhecida como “podridão das vagens” e considerada doença secundária.
CONDIÇÕES IDEAIS PARA A DOENÇA A doença se desenvolve bem em condi-
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de respingos de chuva, carreando fragmentos de micélio ou esclerócios para folhas e pecíolos de plantas jovens, antes do fechamento das entrelinhas na
ções de temperatura entre 25ºC e 30ºC e umidade relativa do ar acima de 80%. Condição de clima chuvoso e a freqüência e a distribuição das chuvas durante o ciclo da cultura são fatores determinantes para o desenvolvimento da doença. O fungo sobrevive no solo através de esclerócios, saprofiticamente em restos de cultura, e em hospedeiros alternativos ou eventuais.
DISSEMINAÇÃO A disseminação, a partir do inóculo primário, ocorre principalmente através
A mela atinge toda a parte aérea da planta, mas principalmente as folhas do terço médio
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Ensaios: 4 (Locais) CTPA – Porto Nacional (TO); Embrapa Soja – Riachão (MA); Tupirama (TO); Tagro – Diamantino (MT)
lavoura. Inóculo secundário é formado pelo crescimento micelial e pela formação de microesclerócios, com disseminação por contato de folha com folha e de planta com planta (Embrapa, 2005). Toda a parte aérea da planta é afetada, principalmente as folhas do terço médio, surgindo inicialmente lesões encharcadas, de coloração pardo-averme-
CONHECENDO
A
mela da soja é causada pelo fungo Rhizoctonia solani Kuhn, cujo teleomorfo é Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk. Esse patógeno é dividido em grupos e subgrupos de anastomose (AG). Anastomose em R. solani é a capacidade de fusão de hifas entre diferentes isolados. O grupo de anastomose é um conjunto de isolados estritamente relacionados, agrupados com base na capacidade de fazerem anastomose entre si (Meyer e Souza, 2004). No Brasil, a doença é causada predominantemente pelo subgrupo IA do grupo 1 de anastomose (AG1) de R. solani ( AG1-IA), podendo ocorrer AG1IB, em Roraima. A “mela da Soja” ocorre principalmente nos estados do Mato Grosso, do Maranhão, de Tocantins e Piauí. Essa doença poderá representar sério problema para a soja em expansão para as regiões tropicais úmidas, como Rondônia, Roraima e no Pará (Sartorato et al, 1987; Cardoso et al, 1996; Meyer e Souza, 2004;Embrapa, 2005).
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Não há cultivares resistentes à mela, nem fungicidas registrados junto ao Mapa para o controle da doença
lhada a roxa, evoluindo rapidamente para marrom-escura a preta. As lesões podem ser pequenas manchas, ou tomar todo o limbo foliar, em forma de murcha ou podridão mole. Folhas infectadas normalmente ficam aderidas a outras folhas ou hastes através do micélio do fungo que, rapidamente, dissemina-se para tecidos sadios. Em condições favoráveis, ocorre desenvolvimento micelial do patógeno sobre a planta. Sob baixa umidade, as lesões ficam restritas a manchas necróticas marrons. Nas hastes, nos pecíolos e nas vagens, normalmente aparecem manchas castanho-avermelhadas. Em vagens novas, flores e rácemos florais pode ocorrer completa podridão, e em condições favoráveis é comum haver abundante produção de microesclerócios nos tecidos infectados. As infecções podem ocorrer em qualquer estádio da cultura (Embrapa, 2005). As perdas atribuídas à mela variam muito em função das condições do ambiente. No mundo, as perdas médias são estimadas em 35%, podendo chegar a 90% como é o caso da Índia. No Brasil, começou a causar danos à soja a partir de 1995, principalmente nos estados de Maranhão (Balsas) e Piauí (Uruçuí). Já foram observadas reduções de produtividade de até 60% na safra 2001/02. A mela da soja ocasionou perdas menores nas safras 2002/03, 2003/04 e
Tabela 1- Lista de tratamentos para controle da mela (Rhizoctonia solani). Safra 2004/05 Tratamento testemunha azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole azoxystrobin + ciproconazole pyraclostrobin + epoxiconazole pyraclostrobin + epoxiconazole trifloxystrobin + ciproconazole trifloxystrobin + tebuconazole flusilazole + famoxadone tebuconazole flutriafol tetraconazole ciproconazole + propiconazole carbendazin tiofanato metílico + clorotalonil 1 2
g i.a./ha
Produto comercial
l p.c./ha
50 60 + 24 80 + 32 66,5 + 25 79,8 + 30 74,9 + 32 60 + 120 74,8 + 70 100 75 62,5 24 + 75 400 400 + 1000
Priori1 Priori Xtra1 Priori Xtra1 Opera Opera Sphere2 Nativo2 Charisma Folicur Impact Eminent Artea Derosal Cerconil
0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,40 0,60 0,70 0,50 0,60 0,50 0,30 0,80 2,00
adicionado Nimbus 0,5% v/v adicionado óleo metilado de soja 0,5% (Lanzar ou Agnique)
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Tabela 2 - Incidência, severidade (%) e controle (%) na análise conjunta dos resultados para controle da mela. Safra 2004/05 Tratamento testemunha azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole azoxystrobin + ciproconazole pyraclostrobin + epoxiconazole pyraclostrobin + epoxiconazole trifloxystrobin + ciproconazole trifloxystrobin + tebuconazole flusilazole + famoxadone tebuconazole flutriafol tetraconazole ciproconazole + propiconazole carbendazin tiofanato metílico + clorotalonil
g i.a./ha 50 60 + 24 80 + 32 66,5 + 25 79,8 + 30 74,9 + 32 60 + 120 74,8 + 70 100 75 62,5 24 + 75 400 400 + 1000
P. C.3
Inc.4 15 6 7 7 8 7 7 7 9 8 10 8 7 9 7
Priori1 Priori Xtra1 Priori Xtra1 Opera Opera Sphere2 Nativo2 Charisma Folicur Impact Eminent Artea Derosal Cerconil
a b b b b b b b b b b b b b b
Sev.5 59,2 23,8 15,6 14,1 23,5 13,1 23,5 18,9 35,3 24,4 33,7 26,9 32,8 40,8 46,1
Controle (%) 60 74 76 60 78 60 68 40 59 43 55 45 31 22
a d e e d e d e c d c d c c b
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância. 1 adicionado Nimbus 0,5% v/v 2 adicionado óleo metilado de soja 0,5% (Lanzar ou Agnique). 3 p.c. - produto comercial 4 Incidência média de dois ensaios - Porto Nacional (TO) e Diamantino (MT) 5 Severidade média de três ensaios – Riachão (MA),Tupirama (TO) e Diamantino (MT)
lurinas isoladamente ou em mistura com triazóis. A utilização de cobertura morta do solo, através do sistema de semeadura direta, é uma das medidas que tem se mostrado mais eficiente, por evitar os respingos de chuva que levam os propágulos do fungo para as folhas e hastes. Não há cultivares resistentes. A Embrapa Soja, em conjunto com seus parceiros no programa de desenvolvimento de cultivares de soja, tem estudado a resistência genética à mela da soja desde 2002, com a identificação de genótipos tolerantes. Os resultados desse trabalho não são esperados em curto prazo, uma vez que a resistência à
Ensaios em rede para controle da mela (Rhizoctonia Solani), da safra 2005/06
1 2
l p.c./ha 0,30 0,30 0,40 0,50 0,60 0,40 0,50 0,60 0,80 0,60 2,00 0,40 0,50
adicionado Nimbus 0,5% v/v adicionado óleo metilado de soja 0,5% (Lanzar ou Agnique)
2004/05 (Cardoso et al, 1996; Embrapa, 2005; Meyer e Rodacki, 2005).
CONTROLE O controle da mela da soja é mais eficiente quando se adotam medidas integradas, envolvendo práticas como semeadura direta, nutrição equilibrada das plantas (principalmente K, S, Zn, Cu e Mn), rotação de culturas não hospedeiras, redução da população de plantas, eliminação de plantas daninhas e restevas de soja e controle químico. Não há fungicidas registrados no MAPA para o controle da doença. Experimentalmente, foi observada a eficiência de controle com alguns fungicidas do grupo das estrubi-
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Universidade de Rio Verde - Fesurv
Tratamento Produto comercial testemunha azoxystrobin Priori azoxystrobin + ciproconazole Priori Xtra1 azoxystrobin + ciproconazole Priori Xtra1 pyraclostrobin + epoxiconazole Opera pyraclostrobin + epoxiconazole Opera trifloxystrobin + ciproconazole Sphere2 trifloxystrobin + tebuconazole Nativo2 trifloxystrobin + tebuconazole Nativo2 carbendazin Derosal flutriafol + Tiofanato Metílico Celeiro/Impact Duo tiofanato metílico + clorotalonil Cerconil protioconazole Proline tetraconazole Domark
doença provavelmente seja de caráter poligênico e os mecanismos de herança ainda não são bem conhecidos (Embrapa, 2005; Meyer e Rodacki, 2005; Nunes Junior et al, 2005).
RESULTADOS SUMARIZADOS O objetivo dos ensaios em rede para mela foi verificar os melhores produtos e doses para controle dessa doença. A lista de tratamentos para realização dos ensaios de controle da mela encontrase na Tabela 4.1. Os ingredientes ativos encontram-se em três grupos principais de fungicidas sistêmicos, formados pelos benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas e pela mistura pronta de ingredientes ativos. Os produtos avaliados não apresentam registro no Mapa para controle da mela, sendo todos registrados para a cultura da soja, para outros alvos biológicos. Para a mela da soja, foram obtidos quatro resultados pela Agenciarural/ CTPA (Porto Nacional – TO), Embrapa Soja (Tupirama – TO e Riachão – MA) e Tagro (Diamantino – MT). A avaliação de incidência foi realizada nos ensaios em Porto Nacional (TO) e Diamantino (MT), e, na análise conjunta dos dois ensaios, não foi observada diferença estatística entre tratamentos, sendo todos produtos superiores à testemunha C sem controle (Tabela 2). José Nunes Junior, CTPA Cláudia Barbosa Pimenta, AgenciaRural Hércules Diniz Campos e Luis Henrique Carregal P. Silva, Fesurv
HOSPEDEIROS
A
Folhas infectadas geralmente se aderem a outras através do micélio do fungo, disseminando a doença rapidamente para tecidos sadios
literatura relata como hospedeiros 20 espécies de plantas cultivadas e 18 de plantas daninhas. Dentre as cultivadas, destacam-se soja, feijão, caupi, arroz, algodão, sorgo, tomate e curcubitáceas. Algumas plantas daninhas relatadas como hospedeiras são encontradas em lavouras de soja, tais como Ipomea hederacea, Sida spinosa, Cyperus rotundus, Senna obtusifolia, Amaranthus hibridus, Digitaria sanguinalis, Echinochloa crus-galli, Brachiaria platyphylla, Cynodon dactylon, Eleusine indica e Bidens pilosa (Meyer e Souza, 2004).
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Soja
Rafael Moreira Soares – Embrapa Soja
Com força total Com suas particularidades, a ferrugem asiática da soja vem apresentando focos da doença nas diferentes regiões do país. Plantios de inverno sob pivô, que formam a “ponte verde” para a safra de verão, são as áreas que apresentam novamente a maior severidade da doença
C
om a maioria dos cultivos de soja no país atingindo os estádios reprodutivos, alguns inclusive em fase de colheita, a ferrugem asiática, como já era esperado, tem demandado atenção especial de técnicos e produtores para que não cause prejuízos. Este ano, como nos anteriores, tem se caracterizado por situações particularizadas em regiões, estados e até em municípios, não permitindo uma generalização sobre a atuação da doença. O primeiro fato que chama a atenção, em algumas regiões, foi o aparecimento antecipado da ferrugem entre 15 e 20 dias, em relação
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à última safra. O principal fator que colaborou para isso foram as semeaduras antecipadas, visando o maior aproveitamento das áreas com safrinhas posteriores de culturas como milho, algodão e a própria soja, dependendo da região. Esses cultivos de soja, sob condições climáticas favoráveis, proporcionaram o aparecimento precoce da doença. O Sistema de Alerta do site da Embrapa Soja (www.cnpso.embrapa.br/alerta) tem recebido diariamente dezenas de ocorrências confirmadas pelos laboratórios participantes do Consórcio Anti-Ferrugem, força tarefa coordenada pelo Ministério da Agricultura Pe-
cuária e Abastecimento. Até o dia 26 de janeiro, 588 ocorrências haviam sido registradas no site, distribuídas em diversos estados, como mostra a Tabela 1. No Rio Grande do Sul, apesar da quantidade de chuvas abaixo do ideal e das altas temperaturas, os produtores estão um pouco mais aliviados por não estarem sofrendo com estiagens severas como das duas últimas safras. Com isso, a ferrugem voltou a aparecer com maior freqüência no estado, mas com baixa intensidade e predominantemente em unidades de alerta (parcelas semeadas mais cedo, para detectar a doença). Isso leva a crer que
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apenas os cultivos mais tardios estarão sob risco de sofrerem perdas pela ferrugem, caso o clima seja favorável. Considerando que cerca de 70% das lavouras ainda não chegaram ao estádio reprodutivo, é importante o monitoramento intenso das áreas. Já em Santa Catarina, com a estiagem que vem ocorrendo desde o final do ano passado e colocou 95 municípios em situação de emergência, ainda não se têm relatos de ferrugem nesta safra. Mas as chuvas das últimas semanas de janeiro, que melhoraram um pouco a situação das lavouras, podem proporcionar o aparecimento de focos. No Paraná, novamente a doença apareceu em todas as regiões produtoras, caracterizando-se por uma alta incidência, mas baixa severidade; esta última, em decorrência, principalmente, da estiagem que começou no final do ano passado. Alguns municípios ficaram até 30 dias sem chuva, e já se estimam perdas de até 30% de produtividade em regiões do Oeste paranaense. Mesmo assim, existe a presença do fungo no ar, e as chuvas generalizadas na segunda quinzena de janeiro podem aumentar consideravelmente a severidade da ferrugem. Dados da Emater-PR estimam que entre 50% e 80% das áreas, dependendo da região, já receberam pelo menos uma aplicação de fungicida visando o contro-
le de ferrugem, oídio e/ou doenças Tabela 1- Estados com ocorrências de ferrugem registrados no Sisde final de ciclo. tema de Alerta. Embrapa Soja, Londrina, 26 de janeiro de 2006 Em São Paulo, assim como no Paraná, a ferrugem se mostra amEstados Lavoura Unidade Irrigada Soja Total plamente disseminada nos cultivos Comercial de alerta voluntária desta safra, tendo sido favorecida MT 6 12 18 por chuvas ocorridas em dezemMS 186 28 214 bro e janeiro, e em muitos locais MG 7 10 3 20 chegou mais cedo que na safra pasPR 108 34 7 149 sada. O aparecimento da ferrugem GO 31 35 66 nos estádios vegetativos aumentou, SP 56 11 7 74 conforme registrado no Sistema de RO 32 32 Alerta. As temperaturas elevadas TO 2 2 desde o início do ano, embora posMA 1 1 sam retardar o desenvolvimento do RS 1 9 10 fungo, não têm sido suficientes BA 2 2 para conter o avanço da doença. Brasil 430 139 10 9 588 Na maioria dos casos foram realizadas duas pulverizações de funfocos da ferrugem asiática. Segundo profesgicidas, e provavelmente apenas nos locais de sores da Universidade de Rio Verde (Fesurv), maior pressão de inóculo será necessária uma a semeadura, nesta safra, estendeu-se por um terceira pulverização. período maior que o habitual, sendo que as Na região do Triângulo Mineiro em Mi- primeiras áreas semeadas já estão sendo conas Gerais, a ferrugem também está dissemi- lhidas. Para as cultivares precoces, na maioria nada de forma generalizada, com relatos de das áreas, a produtividade superou as expecconstatação da doença aos 28 dias de cultivo. tativas com apenas uma aplicação de fungiciMesmo assim o controle está sendo feito de da. Como as condições climáticas foram exforma satisfatória. tremamente favoráveis no mês de dezembro Em Goiás, praticamente em todos os e início de janeiro, as cultivares plantadas mais municípios produtores já foram detectados tardiamente receberam maior pressão de inó-
culo, e a ferrugem passou a ser detectada desde a fase vegetativa. Acredita-se que o número médio de pulverizações nas áreas semeadas mais tardiamente chegue próximo a 3,5. Tudo depende do clima nas próximas semanas. O Mato Grosso do Sul até agora foi o estado com maior número de ocorrências regis-
tradas no Sistema de Alerta. Apesar de algumas regiões estarem sofrendo com estiagem, em outras as condições climáticas têm sido bastante favoráveis para a ferrugem. As altas temperaturas do início do ano é que parecem estar impedindo que ocorra uma epidemia mais severa, e o desenvolvimento da doença Fotos Rafael Moreira Soares – Embrapa Soja
A identificação da doença no início da ocorrência continua sendo problema para os agricultores nesta safra
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ainda está lento. No Mato Grosso, assim como na safra passada, é onde se têm os relatos da doença com maior severidade, mas de ocorrência localizada em alguns municípios. O maior problema continua sendo os cultivos irrigados de inverno; embora tenha sido feito um bom controle da doença em 2005, a presença do fungo no final do ciclo acaba sendo inevitável, formando a “ponte verde” deste para a safra de verão. Houve casos de lavoura de verão, semeada mais cedo visando fazer safrinha de algodão, em que as plantas já estavam germinadas, enquanto ao redor ainda estava sendo colhida a safra de inverno. Conseqüentemente, alguns produtores chegaram a fazer seis pulverizações de fungicidas, e mesmo assim o controle não foi adequado. Espera-se que com a instrução normativa aprovada pelo governo do Mato Grosso em dezembro de 2005, proibindo o cultivo de soja durante 90 dias entre os meses de junho e setembro, esses casos não se repitam. Num futuro próximo, essa medida pode ser necessária em outros estados, já que, nessa safra, em São Paulo e Minas Gerais (região do Triângulo Mineiro) as ocorrências da ferrugem em estádios iniciais da cultura estavam relacionadas à área com cultivo de soja no inverno, sob pivô ou em áreas próximas a estas. Outro problema sério é a descapitalização de muitos produtores, que não pos-
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suem recursos sequer para uma aplicação e poderão perder sua produção. Embora o Governo Federal tenha disponibilizado, em janeiro, uma linha emergencial de crédito no valor de R$ 200 milhões para custeio do controle da ferrugem nos estados do Centro-oeste, acredita-se que cerca de 80% dos produtores não terão acesso a esse dinheiro por já terem atingido o limite de crédito no Branco do Brasil. Na Bahia, a falta de chuva tem retardado o desenvolvimento da ferrugem, e, nos poucos focos identificados, a severidade da doença é baixa. Situação semelhante verifica-se no Tocantins e Maranhão. De maneira geral, a situação da ferrugem no Brasil até o momento é semelhante ao que ocorreu na última safra: o aparecimento da doença de forma generalizada, mas com grande dependência das condições climáticas para se desenvolver severamente; e a forte atuação de técnicos e produtores no monitoramento e na aplicação de fungicidas, conseguindo um controle satisfatório da doença. A principal dificuldade dos agricultores nesta safra, além da falta de dinheiro, ainda é a identificação da doença no início da sua ocorrência. Mas outro problema que tem ocorrido é a avaliação incorreta feita pelos produtores da eficiência dos fungicidas. O efeito dos produtos pode ser perce-
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bido sete a oito dias após a aplicação, e, para verificar isso, é preciso coletar folhas dos três terços da planta (inferior, médio e superior). Essa coleta tem sido feita, em muitas situações, apenas nas folhas do terço inferior, onde o produto não chega, ou chega em menor quantidade, e as pústulas permanecem viáveis, levando muitos produtores a acharem que o produto não foi eficiente. Para evitar esse e outros problemas
que podem levar a falhas no controle e à perda de produtividade, o produtor deve estar sempre em contato com a assistência técnica e se manter bem informado sobre a ocorrência da doença e as condições climáticas da sua região e C do seu estado. Rafael Moreira Soares e Claudine Dinali Santos Seixas, Embrapa Soja
Rafael e Claudine são fitopatologistas que fazem parte da equipe do Sistema Alerta da Embrapa
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Soja
Efeito indesejado
Pesquisa avalia o efeito de diferentes formulações de glifosato disponíveis no mercado quanto à seletividade a Trichogramma, importante inimigo natural, que parasita ovos de inúmeros insetos-praga
O
contendo glifosato já eram vendidas em 119 países. No Brasil, há mais de 25 marcas disponíveis comercializadas, por cerca de 18 empresas nacionais e multinacionais (Galli & Montezuma, 2005). Todas essas formulações apresentam o mesmo mecanismo de ação, apesar de serem formuladas com diferentes tipos de sais (amônio, isopropilamina e potássico) e materiais inertes. A importância dos herbicidas formulados com glifosato tem-se incrementado ainda mais nos últimos anos, devido à introdução no
mercado de culturas resistentes a esse composto, como, por exemplo, a soja. Com o plantio de cultivares transgênicas resistentes ao glifosato, possibilitou-se a aplicação desse herbicida diretamente sobre as plantas cultivadas, maximizando a exposição dessa molécula a vários organismos, que ocorrem durante o ciclo fenológico da cultura, inclusive insetos benéficos, parasitóides e predadores de insetos-praga. A preservação de inimigos naturais nos agroecossistemas é de fundamental importân-
Fotos Fabrizio Pinheiro Giolo
glifosato [N-(fosfonometil)glicina] é o herbicida de maior par ticipação no mercado mundial, representando aproximadamente 60% dos herbicidas não seletivos. A propriedade herbicida dessa molécula foi descoberta pela empresa Monsanto em 1970, e a primeira formulação comercial foi lançada nos Estados Unidos em 1974, com o nome comercial de Roundup®. Atualmente esse herbicida é utilizado em mais de 130 países para o controle de plantas daninhas nas áreas agrícolas, industriais, florestais, residenciais e ambientes aquáticos, de acordo com os registros obtidos em cada país. No ano 2000, mais de 150 marcas comerciais
Detalhe dos microhimenópteros do gênero Trichogramma, parasitóides que atacam ovos de inúmeras espécies de pragas agrícolas
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Os ovos parasitados são facilmente reconhecidos por adquirirem uma coloração escura, observados à esquerda na foto
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Figura 4 - Número de ovos parasitados por fêmea de Trichogramma pretiosum. Bioensaio 1
Figura 6 - Redução no parasitismo em relação a testesmunha negativa de cada bioensaio
cia como fator de equilíbrio dinâmico das populações de espécies de insetos e ácaros-praga, minimizando a intervenção do homem no controle destas. Assim, estudos básicos de seletividade de pesticidas aos principais inimigos naturais devem ser realizados para o sucesso do Manejo Integrado de Pragas (MIP) em culturas agrícolas, pois as informações obtidas poderão ser utilizadas nas tomadas de decisão com relação ao produto a ser aplicado (Degrande et al., 2002). Dentre os vários inimigos naturais de insetos-praga que ocorrem nos mais variados agroecossistemas, parasitóides de ovos, do gênero Trichogramma, destacam-se como importantes agentes de controle biológico, constituindo-se atualmente em um dos insetos mais estudados e utilizados no mundo. Nesse contexto, pesquisas que auxiliem a avaliar o impacto ambiental dessa nova tecnologia sobre os organismos constituintes dos agroecossistemas brasileiros são imprescindíveis. Em 2005, Giolo et al. (2005a) desenvolveram bioensaios no Departamento de Fitossanidade (DFs), na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), RS, objetivando avaliar a seletividade de diferentes formulações comerciais de glifosato utilizadas no Brasil sobre adultos do parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum Riley, mediante aplicação das metodologias padronizadas internacionalmente pelo grupo de trabalho da Organização Internacional para Controle Biológico de Animais e Plantas Nocivas (IOBC).
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Figura 5 - Número de ovos parasitados por fêmea de Trichogramma pretiosum. Bioensaio 2
Figura 7 - Classes da IOBC para teste de seletividade. 1: inócuo; 2: levemente nocivo; 3: moderadamente nocivo; 4: nocivo.
Foram avaliados os herbicidas: Gliz 480 CS®, Glifosato Nortox®, Glifosato 480 Agripec®, Roundup WG®, Roundup® (Original), Roundup Transorb®, Polaris® e Zapp Qi®, na concentração de 14,4 mg/l de equivalente ácido de glifosato, correspondente à dose de 2,88 kg/ha de glifosato, com um depósito de calda de 1,75±0,25 mg/cm2. Como padrão de toxicidade (testemunha positiva) dos bioensaios foi utilizado o inseticida organofosforado Dipterex 500® (triclorfom) na dosagem de 300
ml/100 de calda, de conhecida toxicidade ao inimigo natural (Giolo et al., 2005b). Água destilada foi utilizada como testemunha negativa. Os bioensaios de seletividade foram conduzidos em laboratório, expondo-se adultos (estágio mais sensível) de T. pretiosum a resíduos secos dos tratamentos, pulverizados sobre uma superfície inerte (placas de vidro). Após a secagem da calda, formou-se uma película seca dos tratamentos, e as placas de vi-
CARACTERÍSTICAS E IMPORTÂNCIA DO GÊNERO
M
icrohimenópteros do gênero Trichogramma (Figura 1) são parasitóides que atacam ovos de inúmeras espécies de pragas agrícolas e florestais, principalmente da ordem Lepidoptera (borboletas e mariposas). Esses parasitóides ocorrem praticamente em todas as regiões agrícolas do mundo, sendo muitas vezes responsáveis pelo controle biológico natural de muitos insetos-praga, em diferentes culturas. Os parasitóides podem manter a população dos insetospraga abaixo do nível de dano econômico, proporcionando assim um menor impacto ambiental, pela redução do uso de inseticidas. Devido a essa associação com espécies de insetos-praga e à disponibi-
lidade de técnicas de criação em laboratório, esse gênero tornou-se o grupo de insetos entomófagos mais comumente usados para controle biológico no mundo. A principal vantagem do Trichogramma é que ele insere o seu ovo dentro do ovo do hospedeiro (lepidópteros), e sua larva alimenta-se da massa embriônica do ovo hospedeiro. Assim, ao invés de haver a eclosão de uma lagarta que ocasionará danos na lavoura, haverá a emergência de um adulto do parasitóide, que estará apto a parasitar novos ovos do hospedeiro. Os ovos parasitados são facilmente reconhecidos por adquirirem uma coloração escura característica (Figura 2).
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IOBC
dro foram utilizadas na confecção de gaiolas para exposição dos insetos (Figura 3).
RESULTADOS OBTIDOS Nas Figuras 4 e 5 pode ser visualizado que todas as formulações de glifosato testadas afetaram o número de ovos parasitados por fêmeas de T. pretiosum, em comparação com a testemunha. No entanto, na Figura 4, Roundup WG® e Zapp Qi® foram as formulações que apresentaram um número superior de ovos parasitados por fêmea de Trichogramma (em torno de 13 ovos parasitados), em relação aos demais herbicidas, que apresentaram valores ao redor de quatro ovos parasitados por fêmea. Na Figura 5, todos os herbicidas avaliados apresentaram valores similares para a variável ovos parasitados por fêmea: em torno de seis ovos. Os percentuais de redução no parasitismo de Trichogramma em relação à testemunha de cada bioensaio estão apresentados na Figura 6. A grande maioria dos herbicidas (75%) reduziu o parasitismo do inseto acima de 80%. Dessa forma, Gliz 480 CS®, Glifosato Nortox®, Glifosato 480 Agripec®, Polaris®, Roundup® (Original) e Roundup Transorb® apresentaram redução no parasitismo variando de 80,40 a 88,19%. Por outro lado, os herbicidas Roundup WG® e Zapp Qi® apresentaram reduções no parasitismo das fêmeas de T. pretiosum inferiores: de 61,56 e 59,89%, respectivamente.
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Em função da redução no parasitismo apresentada pelos tratamentos (Figura 6), estes foram classificados segundo a IOBC em: 1) inócuo (<30%); 2) levemente nocivo (3079%); 3) moderadamente nocivo (80-99%) e 4) nocivo (>99%). As classes obtidas para os herbicidas são apresentadas na Figura 7. Podese observar que, com exceção de Roundup WG® e Zapp Qi®, que foram classificados como levemente nocivos (classe 2), todos os demais herbicidas foram moderadamente nocivos (classe 3), e o padrão de toxicidade Dipterex 500®, como nocivo (classe 4). Analisando-se os resultados apresentados nas Figuras 6 e 7, observa-se que as duas formulações comerciais de glifosato levemente nocivas (classe 2) foram Roundup WG® e Zapp Qi®. Essas formulações apresentam em suas composições sais amônio e potássico, respectivamente, e diferem das demais, que foram moderadamente nocivas (classe 3) e apresentam, ligado ao ingrediente ativo, sal de isopropilamina. Esses resultados propiciam indícios de que o tipo de sal presente na formulação do glifosato se constitui em fator preponderante à seletividade à forma adulta do parasitóide Trichogramma. Em trabalho realizado por Santos et al. (2004), foi constatado que a formulação comercial de glifosato que continha sal de potássico (Zapp Qi®) foi aquela que se manteve menos tóxica para todas as estirpes de Bradyrhizobium testadas. Ainda nesse mesmo trabalho, os autores constataram que as formulações contendo sal de amônio (Roundup Multiação® e Roundup WG®) conferiram um menor grau de toxicidade em relação às formulações contendo sal de isopropilamina. Devemos considerar que os testes de seletividade, conduzidos em laboratório, submetem os insetos-teste a uma exposição máxima aos resíduos dos pesticidas, constituindo a primeira etapa da seqüência de testes preco-
Estudos das formulações permitem ao agricultor optar por herbicidas mais seletivos em favor dos inimigos naturais, afirma Fabrizio
nizada pela IOBC (Hassan et al., 2000; Hassan & Abdelgader, 2001). Dessa forma, seguindo a seqüência de testes da IOBC, de acordo com os resultados obtidos, as formulações dos herbicidas Roundup WG® e Zapp Qi® foram mais seletivas em favor do parasitóide de ovos T. pretiosum, não necessitando serem testadas nas etapas subseqüentes. As formulações comerciais Roundup® (Original), Polaris®, Gliz 480 CS®, Glifosato Nortox®, Glifosato 480 Agripec® e Roundup Transorb®, que foram moderadamente nocivas (classe 3), devem ser avaliadas em testes em condições de campo de uma determinada cultura e sistema de manejo. Os demais estágios de desenvolvimento do parasitóide (ovo, larva e pupa) que se encontram no interior do ovo do hospedeiro também devem ser avaliados quanto à seletividade aos herbicidas. Outras formulações comerciais também deverão ser estudadas para que os agricultores possam optar no momento da aquisição do herbicida por aquelas que sejam seletivas C em favor dos inimigos naturais. Fabrizio Pinheiro Giolo, Anderson Dionei Grützmacher, Sergio de Oliveira Procópio e Cristiane Gindri Manzoni , UFPel
Fotos Fabrizio Pinheiro Giolo
E
m 1974, foi formado na Europa um grupo de trabalho para cooperação científica internacional no estudo da seletividade de pesticidas a organismos benéficos: o “International Organization for Biological Control of Noxious Animals and Plants (IOBC)”, com o objetivo de aprimorar os estudos de seletividade de pesticidas a organismos benéficos. O teste dos efeitos colaterais de pesticidas em organismos benéficos tem se tornado obrigatório em diversos países, fazendo com que se estabeleçam linhas de ação internacionalmente aprovadas e que são cada vez mais urgentes; também é preciso oferecer essas informações para os usuários de programas de manejo integrado. O programa adotado pela IOBC propõe testes de laboratório, semi-campo e campo, conduzidos em seqüência, classificando os pesticidas em classes (de 1 - inócuo - até 4 - nocivo) em função do seu efeito na capacidade benéfica do inimigo natural.
Detalhe dos bioensaios conduzidos em laboratório para a avaliação da seletividade de T. pretiosum ao glifosato
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Armazenagem
Armazenagem que ganha força
Como alternativa à deficiência de unidades para armazenamento de grãos no Brasil, a Dupont trouxe o silo bolsa, que já mostra suas vantagens em poucos meses de mercado
C
om pouco mais de oito meses de mercado, o silo bolsa, novo método de armazenagem de grãos secos que se utiliza da tecnologia de plásticos, já mostra sua eficiência e economia ao homem do campo. Desenvolvido no Canadá, o sistema foi exportado para a Argentina há cerca de seis anos atrás, e atualmente mais de 30% da safra dos grãos produzidos naquele país estão armazenados em silo bolsas. Situação parecida vem ocorrendo também no Brasil, onde a capacidade estática é bem inferior à demanda por armazenagem. Hoje o déficit na capacidade de armazenagem de grãos no país é de 38 milhões de toneladas, e, devido às vantagens oferecidas pelo silo bolsa, vários agricultores já utilizam o sistema para sanar essa deficiência. O silo bolsa consiste em um túnel de polietileno de alta densidade constituído de três camadas: duas internas (pretas) e uma exterior (branca). A camada externa é constituída de um produto exclusivo da Dupont, o dióxido de titânio (DuPont Ti-Pure®), responsável por conferir ao produto mais resistência e reflexão dos raios solares, os quais poderiam vir a causar ressecamento da lona plástica, afirma Verônica Gaviolle, gerente de mercado de Silox* da empresa. Sua montagem também é muito fácil. O silo bolsa já vem sanfonado, assim, basta colocá-lo em uma máquina chamada embolsadora , onde uma rosca sem-fim conduz o grão para dentro do túnel.
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Por ser hermeticamente fechado, a de cultura, o que pode ser feito passando-se massa de grãos consome todo o O2 inter- um trator com lâmina no local escolhido. Deve no da bolsa, produzindo assim uma at- ainda ser firme e liso, a fim de permitir um mosfera modificada no interior do silo, bom assentamento, para que não haja rompicriando condições muito diferentes das mento na parte inferior, o que facilita ainda a que ocorrem no armazenamento tradici- extração dos grãos. onal. Pela falta de oxigênio, a massa de A praticidade, os baixos custos (aproximagrãos satura a atmosfera de CO2 dentro damente R$ 1,00/saca) e a rapidez de montado silo bolsa, inibindo a proliferação de gem, comparado com os silos convencionais, insetos e fungos e proporcionando, assim, são os principais fatores que têm atraído o um ambiente controlado. Ao diminuir a produtor a utilizar esse novo sistema. concentração de oxigênio, o risco de deOutra grande vantagem é a de ser possíterioração dos grãos também é reduzido, vel armazenar o excedente da produção, fae, por isso, a oxidação é menor, uma vez zendo uma poupança em sua própria lavouque os fungos são neutralizados. ra, além de possibilitar a segregação de grãos Os insetos, principalmente os carunchos tais como transgênicos e convencionais e com e percevejos, são os primeiros que sofrem com umidade diferentes (Tabela 1). o excesso de dióxido de carbono e a falta de Em regiões de estradas ruins, às vezes intransitáveis no período da colheita, o méoxigênio. A DuPont, a Universidade de Viçosa e a todo permite ao agricultor esperar pela diConab continuam os estudos visando desen- minuição dos custos de frete para escoar sua produção. volver ainda mais o sistema. Salienta-se que a tecnologia de embolsaPara saber mais informações sobre o mento requer um adequado enchimento do silobolsa da DuPont - Silox*, procure um silo bolsa, especialmente para expulsar a mai- distribuidor da DuPont, ou ligue para C or quantidade de ar possível e não deixar o 0800-707-55-17. silo frouxo, nem tampouco exceder a capacidade de estiramento, medida so- Tabela 1 – Tempo de Armazenamento X Umidade do Grão bre a régua que se encontra impressa Tipo de Grão Baixo Baixo-Médio Médio -Alto na lateral do silo bolsa. Soja Milho Trigo até 14% 14% a 16% Maior 16% O local onde o silo será instalado Risco por tempo de armazenamento deve ser plano ou levemente inclina- Soja Milho Trigo até 14% 6 meses 12 meses 18 meses do, possibilitando o escoamento das Soja Milho Trigo de 14% a 16% 2 meses 6 meses 12 meses águas de chuva. Outro fator impor- Soja Milho Trigo mais de 16% 1 mês 2 meses 3 meses tante é deixar o local isento de restos Recomendação da DuPont é trabalhar com risco Baixo-Médio
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Empresas
Ampliando o mercado
O
mercado de alimentos está cada vez mais exigente na questão da qualidade, o que está hoje diretamente ligado ao produtor. A questão de resíduos químicos é hoje um dos grandes empecílios para a comercialização de produtos saídos das lavouras, devido à quantidade de produtos químicos aplicados nestes. Atenta a essas exigências, a Biocontrole e a Agraquest firmam parceria e investem para fortalecer o mercado de produtos biológicos. A Agraquest é uma empresa norte-americana que atua no ramo de produtos biológicos para a agricultura, empregados no controle de pragas e doenças. França, Itália, Coréia, Suíça, Argentina, Estados Unidos, Japão, além de outros países, já contam com os produtos. Os primeiros produtos que devem chegar para a comercialização no Brasil serão Serenade (fungicida e bactericida) e Sonata (fungicida), que já estão em processo de certificação nos Ministérios da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente. A previsão é de que em 2007 os produtores já possam fazer uso dos produtos. Segundo a fundadora e presidente da
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Agraquest, Pámela G. Marrone, ainda não se tem nada semelhante no mercado brasileiro. Pámela garante que os produtos são uma inovação, seguros ao meio ambiente, ao homem, a inimigos naturais e, principalmente, voltados aos produtores que exportam seus cultivos. São produtos elaborados a partir de fermentações de bacillus que produzem os compostos ativos, e estes, por sua vez, possuem a ação antifúngica, rompendo a membrana do patógeno, tornando-o inativo. Segundo a vice-presidente, Denise C. Manker, que trabalha diretamente no desenvolvimento de produtos, outro ponto bastante importante a ser salientado é a questão da resistência. Ela afirma que, enquanto produtos químicos geralmente possuem um único sítio de ação, o que pode desenvolver resistência das doenças aos produtos, isso não acontece nos biológicos, porque estes possuem um leque maior de ação, o que não desenvolve este problema. O alvo desses produtos biológicos não se restringe apenas à agricultura orgânica, mas principalmente à agricultura convencional, onde devem entrar em rotação com os produtos químicos, minimizando dessa
forma os resíduos químicos dos alimentos, principalmente quando destinados à exportação. Pámela Marrone afirma que a agricultura orgânica é um dos setores que mais cresce na indústria de alimentos, a uma taxa de 20% ao ano, ficando bem acima da taxa de crescimento da agricultura convencional. Mas, ainda assim, segundo ela, trata-se de um nicho muito pequeno em todo o mercado, o que mostra a importância do uso de produtos biológicos na agricultura convencional. O Brasil, por sua vez, chamou a atenção da empresa norte-americana devido ao tamanho da área produtiva que possui, o que garante espaço para o mercado de pesticidas, principalmente dos biológicos. O trabalho em grandes culturas está focado no controle da ferrugem asiática da soja e ferrugem do café, além de atender a outras culturas, como citros, fumo, tomate, batata e verduras. Para o engenheiro agrônomo da Biocontrole, Ari Gitz, a parceria entre as duas empresas vai beneficiar muito a agricultura brasileira. “Vamos poder atender a uma demanda vinda dos produtores, melhorar os serviços oferecidos aos nossos clientes que estão necessitando de produtos biológicos e, principalmente, competitivos, com produtos de primeira linha dos químicos. Até o momento nosso trabalho era monitoramento de pragas, então agora estamos aumentando a gama de ação da empresa, porque vamos partir para o controle de doenças e insetos também, visto que a Agraquest já está também em fase de registro deste produto nos C EUA”, complementa.
Ari Gitz, Engenheiro agrônomo da Biocontrole C
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Eventos
Clube da Cana FMC FMC reúne reúne os os principais principais produtores produtores de de cana-de-açúcar cana-de-açúcar do do Brasil Brasil para para ampliar ampliar parcerias parcerias ee discutir discutir estratégias estratégias para para oo setor setor
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ara discutir o futuro do mercado da cana-de-açúcar brasileira, a FMC Agricultural Products promoveu o Clube da Cana 2005, realizado no final do ano passado no Guarujá, litoral Sul de São Paulo. O tema discutido foi “O futuro da Cana do Brasil conquistando o Mundo”, com o objetivo de avaliar o crescimento do mercado de flexfuel, as soluções para o incremento da produção sucroalcooleira, além de abordar a depleção do mercado petrolífero. “O Clube da Cana desse ano focou justamente essa tendência de crescimento do mercado de álcool, mostrando o potencial brasileiro para se expandir ainda mais como um dos principais mercados para oferecer esse combustível”, afirma Ronaldo Pereira, gerente de marketing da FMC. O evento foi aberto com palestra do professor Mário Sérgio Cortella sobre liderança de mercado. Painéis e palestras discutiram o futuro do segmento de flexfuel no Brasil e no mundo, o mercado de álcool com a deflação do petróleo e as soluções para o crescimento da produtividade sucroalcooleira. O Clube da Cana nasceu em 1997 e congrega hoje 90 grupos responsáveis por 80% da produção de cana-de-açúcar no Brasil. O foco principal é colocar lado a lado empresa, consultores e pessoas-chave de usinas e cooperativas, a fim de estreitar
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laços e ir além da simples distribuição de produtos. “Discutimos com os produtores resultados obtidos nas últimas safras e trocamos informações importantes sobre sistemas de produção. Assim, conseguimos fazer com que eles vejam tecnologias aplicadas em lavouras vizinhas e comparem com seus métodos, a fim de chegar à melhor maneira de cultivo possível”, explica Paola Luoporini, diretorade marketing da FMC. “Queremos continuar entendendo as necessidades do produtor, acompanhar as mudanças tecnológicas e continuar sendo mais um instrumento para promover o crescimento sustentável do setor”, afirma. Para Antonio Carlos Zen, presidente da FMC, apesar de o faturamento de defensivos sofrer redução de um bilhão de dólares na próxima safra, os ventos no setor canavieiro trazem notícias mais promissoras, graças ao crescimento do uso de álcool em veículos nacionais. O mercado de cana representará 15% do setor de defensivos em 2006 e abrangerá uma área de cinco milhões de hectares. Apesar de estar muito presente no setor canavieiro, a empresa pretende ampliar seu portifólio, buscando produtos de empresas ainda não atuantes no mercado brasileiro, como forma de ter exclusividade sobre princípios ativos específicos. “Queremos crescer ainda mais dentro deste setor tão impor-
tante para a economia brasileira e faremos isso com a ampliação do nosso portifólio e as parcerias cada vez mais sólidas com os produtores”, explica Zen. Um dos desafios para o crescimento almejado do setor canavieiro nos próximos anos está relacionado à busca de cultivares mais precoces e produtivas que cheguem a 300t/ ha, além de variedades adaptadas a solos do Cerrado. Este último desafio implica, além de desenvolver variedades adaptadas, criar tecnologias para essas áreas, programas de fertilização e busca por sistema radicular forte. Esse crescimento, aliado à maior demanda por álcool, faz emergir a grande fronteira tecnológica do século, que é a transformação de usinas em bio-refinarias, segundo Ricardo Madureira, Presidente da CanaVialis. A FMC aproveitou a oportunidade para apresentar o Discover, herbicida que apresentou grandes resultados em testes preliminares realizados pela empresa em parceria com produtores. “Com a chegada do Discover no mercado, a FMC vai oferecer uma gama extensa de produtos de qualidade para os produtores de cana, de forma que possamos colaborar para que as safras dessa cultura sejam cada vez mais produtivas e contribuir constantemente para o crescimento do nosso agronegócio”, ressalta Pereira. C
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Coluna Aenda
Defensivos Agrícolas
Crise também nos preços Os preços dos defensivos agrícolas tiveram expressiva baixa durante o ano de 2005
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m função da grave crise econômica que se abateu sobre boa parte da agricultura brasileira, houve sensível retração no faturamento geral das empresas. Estimativas apontam para 15% de retração, mercê da queda real nos preços ofertados e do menor consumo. Contribuíram, ainda, para essa pressão sobre os preços: (a) seca no Rio Grande do Sul e (b) queda relativa do dólar frente ao real, uma vez que o setor é mais importador e atrelado fortemente à moeda americana e suas flutuações internacionais; em outubro de 2004 o dólar valia R$ 2,86 e no mesmo mês de 2005 apenas R$ 2,27, uma desvalorização de 20,6% quando comparado ao real. Se no ano de 2004, no período de outubro de 2003 a outubro de 2004, a pesquisa indicou um aumento médio nos preços dos defensivos agrícolas da ordem de 3,2%, bem abaixo do Índice Geral dos Preços, que foi de 11,8%; no ano de 2005 foi possível observar um recuo nos preços bem mais acentuado. O quadro abaixo não deixa qualquer dúvida. Enquanto o IGP-DI foi um dos mais baixos da recente história econômica brasileira, apenas 2,18%, a variação geral em média aritmética dos defensivos se expressou de forma negativa, menos 12,5%, como há muito tempo não ocorria.
Foi uma queda espetacular de quase 15% nos preços médios desse insumo. Dos 123 produtos considerados, 115 apresentaram uma evolução dos preços abaixo do IGP, e somente oito
“Essa queda nos preços dos defensivos é confirmada também quando se examina a variação das cestas de produtos usados por cultura, utilizadas para formação do índice de Relação de Troca”
sulfuron Methyl (-30,6%), Imazethapir (-29,1%), Clorimuron Ethyl (-28,7%), Lactofen (-26,5%), Nicosulfuron (-25,4%), Hexazinona + Diuron (-24,4%), Pendimenthalin (-23,1%), Ametrina (-22,8%), Clomazone + Ametrina (-22,33), MSMA (-21,2%) e Sethoxydim (-20,4%). Os acaricidas, em média, perderam 22,2% dos seus preços ao longo do ano. Destaque para o Abamectin (-40,8%), empurrado pelo aumento do número de marcas concorrentes. Os fungicidas também não fugiram à regra, com uma diminuição média de 11,1%, portanto 13,3 pontos distantes do IGP-DI. Destaque para: Epoxiconazole + Pyraclostrobin (-24,8%), Tiofanato Metílico (-20,88) e Mancozeb (20,6%). Os inseticidas caíram em média 11,3%. Sobressaíram: Permethrin (-27,2%), Cipermetrina (-26,2%), Diflubenzuron (-25,4%), Novaluron (-23,6%), Imidacloprid (-20,2%). Os reguladores de crescimento, seguiram o contexto geral, com queda de 10,8 pontos percentuais. Essa queda nos preços dos defensivos é confirmada também quando se examina a variação das cestas de produtos usados por cultura, utilizadas para formação do índice de ReC lação de Troca.
produtos variaram acima daquele índice. Ou seja, 94% dos produtos tiveram real redução em seus preços. O grupo dos herbicidas apresentou uma variação negativa, em média, de 16 pontos percentuais em comparação com a variação do IGP-DI do mesmo período. Os campeões em queda Tulio Teixeira de Oliveira, Estudo da variação em Real entre Outubro/2004 e Outubro/2005 (*) de preço foram: Met- Diretor Executivo da AENDA Grupos Herbicida Acaricidas Fungicidas Inseticidas Reguladores Total de Produtos Variação do IGP-DI
Variação média Preços correntes out. 2004 a out. 2005 - 13,9 % - 20,0 % - 11,1 % - 09,2 % - 08,6 %
Nº de produtos abaixo e acima da variação IGP-DI Abaixo Acima 42 01 10 00 26 02 34 05 03 00 115 08
+ 2,18 %
(*) Tabela baseada nas pesquisas de preços do convênio IEA/Fundepag/Aenda – Estado de São Paulo
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Cultura Algodão Café (benefic.) Cana-de-açúcar Feijão das águas Laranja Milho Soja (pl. direto)
Variação % da cesta de produto - 9,10 - 6,90 - 9,00 - 10,8 - 16,6 - 6,30 - 11,3
Variação % do valor da cultura - 31,2 + 19,2 + 05,9 + 03,5 + 13,4 + 0,20 - 19,9
Índice Relação de Troca - out.2005(*) 99 48 104 92 121 85 120
(*) base do índice = out.2001 = 100
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Agronegócios
Acesso a alimentos mais nutritivos
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o mundo inteiro, cerca de 840 milhões de pessoas não têm suas necessidades nutricionais mínimas atendidas. Um número ainda maior (três bilhões) sofre as conseqüências de desbalanços nutricionais, pois seu orçamento familiar não comporta a aquisição de alimentos para compor uma dieta balanceada, que inclua carnes, frutas e hortaliças. Particularmente, mulheres e crianças sofrem os efeitos desse desequilíbrio, sobretudo de deficiências de vitamina A, ferro, zinco e iodo, aumentando o risco de morte prematura, reduzindo a esperança de vida e prejudicando suas habilidades cognitivas. Quando a renda é baixa, além das restrições na quantidade de alimentos que pode adquirir, o cidadão também se vê compelido a ceder na qualidade nutricional dos mesmos, pois, via de regra, os produtos mais nutritivos e saudáveis são mais caros.
AÇÃO POSITIVA Já dizia o filósofo da velha guarda: o inferno está cheio de boas intenções. A cada instante surge um salvador da humanidade, com um discurso forte e apaixonante, com propostas para resolver o problema da fome no mundo. O tempo passa, e, quando o balanço é feito, não raro verifica-se que a situação piorou e que a prioridade nunca passou de discurso ou propaganda. Tanto é verdade que os mesmos governantes dos discursos exaltados e pomposos fazem ouvidos moucos para idéias simples, como eliminar a tributação sobre os alimentos da cesta básica. Em contrapartida, crescem os estudos voltados para combater a desnutrição funcional, causada pela ausência de componentes essenciais, como vitaminas ou minerais, através da biofortificação de preparados alimentares. Uma nova abordagem está sendo introduzida pelo International Center for Tropical Agriculture (CIAT) e pelo International Food Policy Research Institute (IFPRI), com financiamento da Danish International Development Assistance, introduzindo ou aumentando
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o teor dos nutrientes essenciais mais carentes na dieta humana nos alimentos básicos da população. A idéia não é substituir programas de combate à fome e à desnutrição, porém complementá-los e solidificá-los. Os formuladores da estratégia entendem que, se os nutrientes ausentes da dieta forem incorporados, diretamente, nos alimentos básicos da população, cria-se um atalho para reduzir a magnitude do problema, a um custo acessível. O projeto coordenado já está em curso e inclui um ambicioso programa de pesquisa, objetivando aumentar o valor nutritivo de diversos alimentos vegetais, aumentando os teores de vitamina A, ferro e zinco. O objetivo final é reduzir a desnutrição associada com a deficiência
Os primeiros experimentos visam aumentar os teores de vitamina A, ferro e zinco em variedades de milho, feijão, arroz, mandioca, batata doce e trigo dos alimentos em alguns nutrientes. Inicialmente, estão sendo pesquisadas as seis culturas que concentram o maior consumo entre os países com fome e desnutrição endêmica.
CULTIVOS Os primeiros experimentos visam aumentar os teores de vitamina A, ferro e zinco em variedades de milho, feijão, arroz, mandioca, batata doce e trigo. Numa segunda etapa, seriam criados genótipos de banana, caupi, amendoim, lentilha, milheto, guandu, ervilha, batata, sorgo e inhame, com incrementos nos
teores dos mesmos nutrientes. Os cientistas estão entusiasmados, pois existe suficiente variabilidade genética nos cultivos a serem melhorados; as características que se pretendem introduzir possuem alta herdabilidade e são de fácil seleção; essas características são estáveis em diferentes condições ambientais; não existe antagonismo entre os caracteres desejados e alta produtividade; e, uma vez produzidas as novas variedades, serão introduzidas nos sistemas de produção dos locais-alvo, sem custo adicional.
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA Pretende-se que as novas cultivares mantenham as características fenotípicas e organolépticas com as quais os produtores e consumidores já estejam acostumados. Não serão alteradas a aparência, o sabor, a textura ou as características de cozimento do alimento, para evitar restrições à nova tecnologia. Para júbilo dos pesquisadores, observou-se que plantas com maiores teores de minerais na semente também apresentavam maior produtividade, em igualdade de condições ambientais, o que facilitaria a adoção pelos agricultores. Os estrategistas que formularam e coordenam o esforço de pesquisa têm clareza que o problema da fome e da desnutrição não tem solução única, nem pode basear-se apenas na alimentação básica. Entretanto, posta a gravidade do problema, entendem que, no médio prazo, não será possível aumentar a renda das populações famélicas, para que possam ingressar no mercado onde existe oferta de alimentos para compor dietas balanceadas, em especial produtos caros, como carnes, frutas e hortaliças. Logo, enquanto a justiça social não se esparrama pelo mundo, a contribuição que pode ser feita é a melhoria da qualidade dos alimentos aos quais as populações pobres têm acesso, através da bioC fortificação. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
brandalizze@uol.com.br
Colheita chegando, o que fazer? Os produtores do Brasil já começaram a colheita da safra 05/06, que deverá crescer forte em fevereiro e, em março, atingir o seu pico. Nestas últimas semanas a pergunta que mais chegava por parte dos produtores, em locais onde estávamos proferindo palestras e conferências, era: a colheita está chegando, e o que devemos fazer? Normalmente, a colheita é sinal de preços em queda, mas neste ano isso poderá não se consolidar totalmente, porque tivemos perdas na safra do milho e feijão pela seca. Além disso, tivemos redução da safra de arroz pela queda no plantio. Todos produtos de consumo interno, que normalmente são mais afetados pelo excesso de oferta. Enquanto isso, caminhamos com estabilidade em cima da safra de soja, que tem mostrado flutuações pequenas no mercado mundial, que aparentemente mostra pouco espaço no lado de baixo. O grande problema dos produtores continua sendo o alto grau de endividamento do início da safra e, com isso, a necessidade de venda, que faz com que as cotações fiquem limitadas ou em queda entre fevereiro e abril. Isso acarreta reação na seqüência, porque a produção será menor que o consumo nos principais produtos, devendo, assim, ser um bom ano para os produtores. MILHO Paraná perde mais de 2 milhões de t O mercado do milho está começando o ano com uma certeza, a de que a seca de dezembro e janeiro promoveu perdas que chegam à marca das quatro milhões de t no Brasil. Só no Paraná, segundo o Deral, foram cerca de 2,1 milhões de t. Dessa forma, já se indica que o quadro de oferta e demanda deste ano será apertado, sinalizando bons momentos pela frente para o cereal. Lembramos que o milho é um produto de consumo interno, e com isso a safra que se concentra em fevereiro mostrará grande volume de oferta. Assim, as chances de reação no curto prazo são pequenas, porque os produtores normalmente vendem parte logo na colheita e, assim, abastecem as necessidades dos consumidores. Mas, passando a colheita, o quadro será de ajustes e caminhando para um ano favorável aos produtores, porque teremos um mercado internacional apertado, pois a Argentina está com forte queda na produção e deverá exportar entre sete e nove milhões de t contra 14 milhões deste último ano. SOJA Continua mostrando estabilidade O mercado da soja tem se mostrado com indicativos estabilizados, mantendo posições que variam dos R$ 20,00, nas regiões mais distantes, aos R$ 26,50, nos melhores locais do Sul e Sudeste. Os produtores também esperam por estes níveis para fevereiro, que caminha para ter estabilidade nos indicativos. A soja continua enroscada no câmbio baixo: como ainda estamos com grande pressão da moeda, alimentada pelos juros altos do governo, este curto prazo seguirá com pouco fôlego de reação, e somente problemas sobre as lavouras da América do Sul poderão dar apoio a avanços. FEIJÃO Perdas na 1a safra garante ganhos no ano A primeira safra está colhida, e, pelos números que estamos vendo, houve grandes perdas, com indicativos de que o estado do Paraná, maior produtor brasileiro, tenha perdido 20% da colheita. Isso também ocorre com outros es-
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tados, como SP e MG, onde o clima não favoreceu os produtores, fato esse que também ocorreu na região de Irecê, na Bahia, onde houve falta de chuvas e, quando estas apareceram, vieram irregulares, causando grandes perdas. Assim, as perdas nesta primeira safra, que normalmente é a mais importante do ano, deverão dar suporte para que o ano passe com bons indicativos aos produtores. Nestes primeiros momentos do ano, os indicativos variaram dos R$ 50,00 aos R$ 75,00 por saca do Carioca, e se chegou a pagar acima dos R$ 90,00 em alguns momentos pelo Preto: com expectativa de que 2006 seja mais favorável. ARROZ Colheita chegando em fevereiro O mercado do arroz mostrou pequena rea-
ção nos indicativos do casca em janeiro, em cima do período de entressafra e da demanda das indústrias por matéria-prima para começar a trabalhar. Mas neste mês de fevereiro estaremos em colheita em praticamente todas as regiões produtoras, e, mesmo estando em um ano em que se projeta uma safra menor do que o consumo, pouco irá mudar no curto prazo, porque os produtores estão endividados e há a parcela do custeio do ano passado para quitar em março e abril. Assim, devem vir a campo para vender e fazer caixa, e, dessa forma, o quadro melhor deverá vir a partir do meio do ano em diante. Os indicativos de safra apontam para uma colheita de 11,5 milhões de t e um consumo de 13,5 milhões de t. As cotações médias do ano devem operar com ajustes de dez a 15% sobre o ano passado.
CURTAS E BOAS SOJA - Os números finais da safra americana surpreenderam o mercado, com 84 milhões de t - a segunda maior da história. Com isso, os estoques dos EUA estão sendo os maiores já vistos, pressionando o mercado internacional, que caminha para consolidar uma colheita próxima das 220 milhões de t, podendo vir abaixo, se confirmadas as perdas na América do Sul. Com indicativos de preços, em Chicago, entre os US$ 5,50 e US$ 6,00 por bushel, que operou em janeiro e sinaliza para estes níveis em fevereiro. ALGODÃO - A queda no plantio no Brasil e a volta do mercado internacional a dar sinais de reação fizeram com que nas últimas semanas muitos produtores brasileiros andassem fechando posições da safra a ser colhida em 2007, que apontam margens melhores do que se pratica atualmente. Os dados da safra mundial projetam, em 05/06, 112,3 milhões de fardos frente aos 120,3 do ano passado. O USDA mostra junto queda nos estoques, que estão indicados em 50,7 frente aos 51,6 milhões de fardos do ano passado, sinalizando níveis melhores do que os praticados em 2005. TRIGO - O Brasil tem aumentado as importações de trigo da Argentina, porque a safra brasileira foi comprometida pelo clima no ano passado e agora sinaliza para pressão de alta nos indicativos internos, que caminham para operar acima dos R$ 420/t, contra R$ 350/370 dos últimos meses. CHINA - A boa notícia continua sendo chinesa, que importou 2,6 milhões de t de soja em 2005 e sinaliza para bater esse recorde novamente, porque a economia local, que projetava crescer 7,5%, fechou com 9,6% de crescimento, assim, projetando aumento no poder de compra e consumo dos chineses, com mais espaços para os alimentos. ARGENTINA - A seca pegou as lavouras do milho. Chegou-se a projetar a safra 05/06 em 20 milhões de t; em janeiro já se comentava entre 13 e 14 milhões de t.
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