Cultivar 83

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Cultivar Grandes Culturas • Ano VIII • Nº 83 • Março 2006 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

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Foto Capa / Dirceu Gassen

Epidemia no milharal Aumento de área e cultivo contínuo proporcionam a evolução e a severidade das doenças, exigindo maior cuidado

20 Nova ameaça O ácaro-vermelho volta a preocupar produtores de café. A praga pode dizimar cafezais se não for controlada no início

26 Avanço facilitado Saiba como controlar antracnose, doença que está se disseminando pelas lavouras de soja de todo o país

30 Todas as armas Conheça as alternativas contra os Sphenophorus, praga da cana que tem seu pico populacional em março

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br

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3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

Índice Diretas

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Tratamento de sementes de algodão

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Controle de doenças foliares em milho

10

Hora certa de controlar invasoras em milho 14 Seletividade de inseticidas

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Retorno do ácaro-vermelho no café

20

Como controlar a necrose da haste

24

Manejo da antracnose na soja

26

Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Nova fase para o sistema Clearfield

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Novas armas contra os Sphenophorus

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Uso do silício no arroz

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Perspectivas para safra de trigo 2006

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Coluna Agronegócios

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Cuidados na armazenagem

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Coluna Aenda

44

Mercado Agrícola

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REDAÇÃO • Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia • Revisão

Silvia Pinto

COMERCIAL Pedro Batistin

Sedeli Feijó Silvia Primeira Otávio Pereira

CIRCULAÇÃO • Gerente

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas

Foco na soja

Concurso

Consolidando mercado

A Arysta esteve presente mais uma vez na Coopavel com sua capacitada equipe de técnicos. Novamente o destaque em sua linha de produtos foi o Eminent, produto que, segundo o gerente de marketing Nilson Silva, é um fungicida de última geração, com tecnologia exclusiva da Arysta LifeScience para a cultura da soja.

Estão abertas até o dia 05 de março as inscrições do concurso para o preenchimento das 271 vagas para pesquisador em todas as unidades de pesquisa da Embrapa. O edital inclui vagas para mestres e doutores. As inscrições deverão ser feitas exclusivamente pela internet. Mais informações no site www.embrapa.br.

A Fundação Pró Sementes apresentou novas cultivares de soja em Cascavel. Bastante satisfeita com o trabalho desenvolvido, Nilva Iorezeski, gerente de marketing da Fundação, destaca o importante e fundamental papel dos pesquisadores para o desenvolNilva Iorezeski vimento de novas tecnologias.

Chimarrão A Ihara, além de intensificar a divulgação do fungicida Celeiro, indicado para a soja, inovou no Show Rural, recepcionando o público visitante com degustação de chimarrão. A gerente de marketing Eliana Tashiro foi quem coordenou os trabalhos da equipe.

Coodetec A gerente de marketing da Coodetec, Duda Gardin, salienta que a missão de sua empresa é gerar e comercializar tecnologias inovadoras, voltadas ao agronegócio. No Show Rural, a Coodetec apresentou através de campos demonstrativos todo o seu portifólio de cultivares de soja aos produtores presentes.

Nidera A Nidera sementes, empresa consolidada há 70 anos no mercado mundial, mostrou toda sua tecnologia em genética das sementes híbridas e variedades no Show Rural Coopavel. O diretor da divisão de sementes, Francisco Firpo, o gerente de marketing, Rodrigo Bosh, e a gerente de marketing, Fabrícia Andrade, comandaram a equipe.

Cultivares RR Novas cultivares de soja transgênica resistentes a nematóide de cisto foram as novidades apresentadas pela Fundação MT no TecnoCampo, que aconteceu nos dias 09, 10 e 11 de fevereiro na Fazenda Itamarati, em Campo Novo do Parecis. As novas cultivares RR TMG 113 RR, TMG 115 RR e TMG 117 RR são materiais inéditos no Brasil, conforme informação da Fundação MT.

Dia de Campo No dia 15 de março acontece na Embrapa Clima Temperado/Estação Experimental Terras Baixas um dia de campo com o tema “Tecnologias para a produção de arroz irrigado e de culturas alternativas em várzea”. O evento pretende ressaltar a importância do uso racional e integrado de técnicas de manejo e de cultivares de arroz irrigado recomendadas pela Embrapa. Mais informações: (53) 32758410 e 32758417.

Laboratório A Syngenta inovou em seu estande no Show Rural este ano. Além de toda a estrutura já conhecida, a empresa levou também para a feira um laboratório científico, fruto de uma parceria com a FAG (Faculdade Assis Gurgacz) para o estudo das principais pragas e doenças. O objetivo foi trazer para os produtores e visitantes os problemas do campo para serem vistos sob o olhar da pesquisa. Edson Sawada, técnico da Syngenta, juntamente com dois estagiários, orientaram Edson Sawada o público.

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Tecnologia Verônica Gaviolle, gerente de produto da DuPont, apresentou o silobag SiloxTM. “O produtor mantém seus grãos armazenados com segurança e ganha a opção de vender no melhor momento e com melhor preço, o que favorece a sua estratégia de negociação”, diz Verônica Gaviolle a executiva.

Proteção A Syngenta levou para o Show Rural toda a sua força em soluções para o campo, mostrando o que existe de mais avançado no setor. Os destaques são os fungicidas Priori Xtra e Artea, para a soja; Cruiser, para milho e soja; o herbicida Callisto, para milho, e o inseticida Engeo Pleno, para soja, trigo, feijão e diversas culturas de hortifruti.

Expansão Além de seus tradicionais produtos, a Sinon do Brasil apresentou na Coopavel o Potenza, inseticida acaricida de origem natural e baixo impacto ambiental, recomendado no controle de ácaros, traças e moscas de diversas culturas.

Ubyfol A Ubyfol, com sede em Uberaba (MG), esteve presente em Cascavel com o objetivo de apresentar ao público os resultados do uso de seus produtos para nutrição vegetal para as principais culturas da região.

DuPont A entusiasmada equipe da DuPont apresentou na Coopavel sua variada linha de produtos para soja, milho e feijão, bem como o programa DuPont Acerta, uma parceria da empresa com a Comam para inspecionar pulverizadores, quantificar as perdas e instruir os produtores sobre a importância da manutenção nas máquinas.

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Estande Temático Sempre presente. Sempre inovando. A Cheminova levou mais uma vez ao evento um estande temático Viking, onde divulgou seus principais produtos para a agricultura, com ênfase no Impact Duo, fungicida indicado para as mais importantes doenças da soja.

Parceria Numa parceria com a DuPont, Leticia Rechden, diretora executiva da Mark Brasil, apresentou a máquina embutidora Ingrain100, usada para fazer o armazenamenLeticia Rechden to de grãos em silo-bolsas.

Armazenagem A Fanair levou para a Coopavel o sistema Cycloar de aeração intensificada. Com tecnologia simples e racional, o equipamento proporciona segurança na cobertura de silos e armazéns e principalmente dos grãos armazenados, sem custos de Werner Uhlmann manutenção e energia elétrica.

Destaques A Sipcam Agro esteve presente no Show Rural apresentando aos clientes e visitantes sua linha de defensivos para as culturas de soja, milho, feijão e HF, com destaque para os fungicidas Domark® 100 EC e Support®, Extrazin® SC e Siptran® 500 SC e a divulgação dos novos herbicidas para milho, na formulação WG: Genius® e Senior®.

Agroeste Neimar Brusamarello, diretor comercial e marketing da Agroeste, confirma com sua equipe a expectativa de boas vendas de sementes para produção do milho safrinha.

Tradição A Microquímica marcou presença no Show Rural Coopavel 2006. Para Roberto Berwanger Batista, o engenheiro agrônomo, o evento é um momento de estreitar relacionamentos, de conhecer a necessidade real de cada produtor, demonstrar produtos, serviços e conquistar novos mercados.

Roberto Batista

Feijão Luiz Antônio Vizeu, supervisor de marketing de produtos da Miac, chama a atenção para a grande oportunidade que o Brasil tem no mercado de exportação de feijão. “Ainda temos muito a crescer neste mercado e precisamos aprimorar nossos sistemas de produção, desde a produção da semente até o benefiLuiz Antônio Vizeu ciamento do produto”, destaca.

Aliados do produtor A equipe especializada da Milênia divulgou sua linha de produtos e forneceu orientações aos produtores e visitantes sobre como usá-los corretamente, firmando sua posição de empresa que está sempre em busca de soluções integradas para os problemas dos agricultores.

Craque Além de apresentar as inovações na linha de proteção para a lavoura, a Bayer CropScience entrou no espírito da Copa 2006. Durante todo o evento, a recordista mundial de embaixadas, Cláudia Martini, se apresentou no estande da empresa, fazendo bonito com a camiseta da seleção brasileira, que trazia o logotipo da Bayer estampado em uma alusão ao evento mundial que acontece na Alemanha, berço da Bayer.

Nutrição Foliar Agrocete é uma empresa especializada em nutrição foliar, divulgando na Coopavel toda a sua linha de produtos, além de orientação aos produtores e visitantes. Para Guilherme de Figueiredo, gerente comercial, o evento mobiliza produtores rurais de todo o país, sendo uma excelente oportunidade de relacionamento e expansão de mercado. Figueiredo

Marcelo Ismael

Perspectivas Marcelo Maniero Ismael, gerente de cultivos soja, estava presente juntamente com a equipe da Basf no Show Rural. Durante o evento, além de apresentar o minilab, utilizado para detecção de doenças em soja, a empresa destacou o efeito fisiológico dos produtos da empresa para o controle da ferrugem da soja. “Nossos produtos, além de controlar a ferrugem, aumentam a produtividade da lavoura”, garante.

Gente Nova Maurício Marques é o novo diretor de marketing e desenvolvimento de Produtos da FMC no Brasil. Maurício já atuou em empresas do Grupo Hoechst, Griffin do grupo DuMaurício Marques Pont e por último na Basf.

Trajetória Douglas Scalon e Mauro Alberton coordenaram o trabalho da Bayer no Show Rural da Coopavel. No estande, além de parcelas demonstrativas, vários painéis destacavam a trajetória da empresa, desde a fundação até os dias atuais. Scalon e Alberton

Basf

Monsanto

Eduardo Leduc, diretor da unidade agro da Basf Brasil, Walter Dissinger, vice-presidente da unidade agro da Basf para América do Sul, e Carlos Araújo, gerente regional da Basf, visitaram o Show Rural. Segundo Leduc, “o evento é uma oportunidade de, mesmo com um cenário mais cauteloso, podermos estreitar nosso relacionamento com os produtores e com a Cooperativa, além de expor as novidades e incorporações tecnológicas desenvolvidas pela Basf para o mercado agrícola”.

Os produtores que estiveram no estande da Monsanto no Show Rural puderam passar pelo “Túnel Tecnológico”, com vídeos e painéis, observando os benefícios das novas tecnologias da empresa para o campo. Segundo Milca do departamento de marketing, foram apresentadas ainda as próximas gerações de produtos derivados da biotecnologia, como tolerância a herbicidas e resistência a insetos em uma única variedade, sementes melhoradas para processar óleos de soja mais nutritivos e variedades Milca Inocencio tolerantes ao estresse hídrico.

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Algodão

Dupla defesa A integração entre a resistência genética e o tratamento de sementes no algodão busca preencher uma lacuna existente no controle do tombamento de plântulas, causado por fungos como Rhizoctonia solani

U

m dos principais problemas que os cotonicultores brasileiros vêm enfrentando tem sido o tombamento de plântulas causado por Rhizoctonia solani. Essa doença é repetidamente citada como a mais séria enfermidade que ataca o algodão na fase inicial de desenvolvimento, podendo, freqüentemente, reduzir o estande e, em casos mais sérios, levar à ressemeadura, onerando o custo de produção dessa cultura. Dentre as práticas recomendadas para o controle dessa doença, o tratamento de sementes é a tecnologia mais empregada e eficiente, o que a torna uma ferramenta estratégica dentro do contexto do manejo integrado de doenças. Atualmente, os programas de melhoramento que priorizam o desenvolvimento de cultivares a serem plantadas no Centro-Oeste do Brasil têm procurado desenvolver variedades com melhor nível de resistência às principais doenças do algodoeiro. Entretanto, em se tratando do tombamento de plântulas causado por R. solani, não se conhece nenhuma informação no Brasil que mostre o comportamento das cultivares disponíveis no mercado, frente à ação desse patógeno. Por ser a resistência genética potencialmente o mais econômico e eficiente método de controle de doenças de plantas, julga-se fundamental o preenchimento dessa lacuna, no sentido de gerar

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informações a esse respeito. Espera-se, com a adoção em conjunto dessas duas importantes ferramentas do manejo integrado de doenças, controlar eficientemente o tombamento, proporcionando maior sustentabilidade à essa cultura, pela redução de riscos na fase inicial de instalação da lavoura. De todas as doenças que atacam o algodoeiro (Gossypium hirsutum L.), o “tombamento” é considerado uma das principais. Vários fungos podem causar o “tombamento” de plântulas de algodoeiro, porém Rhizoctonia solani Khun., Colletotrichum gossypii South (causador da antracnose) e Colletotrichum gossypii South var. cephalosporioides Costa (causador de ramulose) são considerados os principais agentes etiológicos dessa doença, seguidos de Fusarium spp. e Pythium sp., que são considerados secundários, no Brasil. Nas condições brasileiras, principalmente em se tratando do algodão do Cerrado, o principal agente causal do tombamento de plântulas é Rhizoctonia solani Kuhn grupo de anastomose (AG)-4 (teleomorfo: Thanatephorus cucumeris (A.B. Frank) Donk), pela freqüência com que ocorre (mais de 95% dos casos) e pelos danos que causa na fase inicial de estabelecimento da lavoura.

Esse fungo ataca as sementes e plântulas de algodão, causando o tombamento de pré e pós-emergência, sendo considerado mais prejudicial que os demais por causar, em maior intensidade, o tombamento de pré-emergência. Esse patógeno, estando presente no solo, ou ainda nas sementes, além de ocasionar perdas significativas na fase de plântulas, pode servir como fonte de inóculo para culturas subseqüentes.

MANEJO Dentre o conjunto de práticas recomendadas para o controle do tombamento, o tratamento das sementes com fungicidas eficientes tem sido, até o momento, a principal medida adotada e a opção mais econômica para minimizar os efeitos negativos dessa doença. Trata-se de prática indispensável quando se reduz a quantidade de sementes na semeadura, com vistas a eliminar a operação de desbaste, sendo reconhecida em todo o mundo como uma medida das mais eficazes e convenientes, tornando-se cada vez mais difundida e adotada em esquemas de controle inte-

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Fotos Augusto César P. Goulart

Visualização de lesões de R. solani nas plântulas (à esquerda) e plantas sadias (à direita)

A combinação de fungicidas sistêmicos e protetores tem sido a arma contra o tombamento

grado de doenças do algodoeiro. A cada ano, um grande número de fungicidas é testado com o objetivo de verificar sua eficiência no controle do tombamento. A performance desses produtos depende da população desses fungos no solo, ou seja, é influenciada pela pressão de inóculo do patógeno no solo e também pelas interações com outros fungos, o que pode evidenciar um controle biológico. Igualmente, a suscetibilidade das cultivares também poderá influenciar nos benefícios do tratamento de sementes com fungicidas. Esses mesmos autores evidenciam ainda que, por outro lado, os benefícios do tratamento de sementes de algodão com fungicidas são menos evidentes em áreas onde a densidade de inóculo do patógeno é relativamente baixa, ou quando as condições de umidade e temperatura do solo são ideais a uma rápida

germinação e emergência. Entretanto, devese considerar que, até o momento, não se têm evidências de que o uso de fungicidas em tratamento de sementes com ação específica contra R. solani possa ser dispensado em áreas com histórico de ocorrência desse patógeno. Trabalhos de pesquisa têm demonstrado que a ação combinada de fungicidas sistêmicos com protetores tem sido uma estratégia

das mais eficazes no controle do tombamento de plântulas causado por R. solani, uma vez que o espectro de ação da mistura é ampliado pela ação de dois ou mais produtos. Desse modo, verificam-se melhores emergências de plântulas no campo e melhores índices de controle do tombamento com a utilização de misturas, em comparação ao uso isolado de um determinado fungicida. Sabe-se que a resistência genética é potencialmente o mais econômico e eficiente método de controle de doenças de plantas. Entretanto, não se dispõe até o momento de cultivares resistentes a todas as enfermidades, tornando-se necessária a adoção de outras medidas de controle para diminuir as possibilidades de ataque de doenças. Atualmente os programas de melhoramento têm procurado desenvolver variedades com melhor nível de resistência às principais doenças do algodoeiro, tais como: doença azul, vermelhão, mosaico comum, mancha angular, ramulose, ramu-

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Plântulas mostrando os sintomas iniciais de Rhizoctonia solani

IMPORTÂNCIA

S

Fonte: Barnett & Hunter (1972) e Moraes & Melchiades (1991)

Acima, ramificação das hifas de Rhizoctonia. Abaixo, A) escleródios e micélio em tubo de germinação; B) corte de escleródios; C) células do micélio

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egundo levantamentos bibliográficos, na Califórnia foram perdidos anualmente, no período de 1991 a 1993, em torno de 12.733 toneladas de algodão, devido ao tombamento. Nos EUA, em 1995, estimou-se uma redução na produção do algodoeiro devido às doenças iniciais da ordem de 180.000 toneladas. Na Califórnia, neste mesmo ano, estas perdas foram estimadas em 17.850 toneladas, maiores do que aquelas registradas em anos anteriores. Nos últimos 10 anos, nos EUA, estimativas de perdas têm revelado valores médios de 2,8% por ano. Até o momento, não foram levantados dados desta natureza no Brasil.

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Neste artigo, serão apresentados resultados parciais de um projeto desenvolvido na Embrapa Agropecuária Oeste e financiado pela Fundect, intitulado “Suscetibilidade de

cultivares de algodoeiro a Rhizoctonia solani e benefícios do tratamento de sementes com fungicidas”. O objetivo principal desse trabalho foi ava-

Fotos Augusto César P. Goulart

lariose, pinta-preta, causada por espécies de Alternaria ou Stemphilyum, fusariose, verticiliose, cercosporiose, antracnose, podridão de maçãs, além de nematóides das galhas e reniforme. Entretanto, em se tratando do tombamento de plântulas causado por R. solani, não se conhece nenhuma informação no Brasil que mostre o comportamento das cultivares disponíveis no mercado frente à ação desse patógeno. Nos EUA, trabalhos de pesquisa mostraram diferentes respostas de cultivares de algodão frente ao patógeno R. solani, sendo que em um dos trabalhos realizados apenas uma de dez cultivares de algodão testadas mostrou boa emergência e bons níveis de sobrevivência na presença de R. solani. Em outro trabalho, os autores relatam que a cultivar Maxxa foi a mais suscetível, apresentando, pelo menos, 50% de tombamento de pré-emergência. Por outro lado, as cultivares DP 6100, CB 7 e Royale apresentaram-se como as mais resistentes a R. solani, apesar das diferenças de performance dessas cultivares terem sido geralmente pequenas.

Testes com cultivares evidenciam a dificuldade de emergência e sobrevivência das plantas em locais com presença da R. solani

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Charles Echer

liar o comportamento das cultivares de algodão disponíveis no mercado frente à ação do fungo R. solani e os benefícios do tratamento de sementes de algodão com fungicidas para cada cultivar em estudo. Esse trabalho foi realizado em casa de vegetação e teve por objetivo avaliar o comportamento de algumas cultivares de algodoeiro em resposta ao fungo Rhizoctonia solani e os benefícios do tratamento de sementes com fungicidas em relação à densidade de inóculo desse patógeno. Seis cultivares de algodoeiro (BRS-Ipê, BRS-Aroeira, BRS-Cedro, Fibermax 966, DeltaOpal e CNPA Ita 90-II) e quatro densidades populacionais de R. solani AG-4 (0; 1; 2 e 3g/bandeja plástica de 56x35x10cm) foram testadas no ensaio. As avaliações foram realizadas com base no desenvolvimento de sintomas e na sobrevivência das plântulas. Sementes não tratadas e tratadas com a mistura fungicida tolylfluanid + pencycuron + triadimenol (30 + 50 + 50g do i.a./ 100 kg de sementes) foram semeadas em areia contida em bandejas plásticas. A inoculação com R. solani foi feita pela distribuição homogênea do inóculo do fungo na superfície do substrato.Os resultados obtidos encontram-se nas Figuras 1 a 6. O comportamento das cultivares foi sig-

nificativamente influenciado pelas diferentes populações de R. solani, sendo que, à medida que se aumentou a densidade de inóculo do patógeno, menores índices de emergência e maiores índices de doença foram observados. As melhores emergências e os menores índices de doença foram obtidos quando as sementes foram tratadas com a mistura tolylfluanid + pencycuron + triadimenol. As populações do patógeno influenciaram significativamente a eficiência do tratamento de sementes, demonstrando que a performance da mistura fungicida testada foi melhor na presença dos níveis mais baixos de inóculo do fungo. As cultivares CNPA ITA 90 II e BRS Aroeira, seguidas de BRS Cedro e BRS Ipê, demonstraram maior tolerância ao ataque de R. solani em comparação às demais. Os resultados obtidos demonstraram claramente que não se deve dispensar o tratamento das sementes de algodoeiro com fungicidas, apesar de algumas cultivares terem apresentado certa tolerância ao patógeno. Entretanto, como a performance de um determinado fungicida está relacionada, dentre outros fatores, com a população do patógeno no solo (conforme foi comprovado neste ensaio) e com a resistência do material a ser utilizado, sugerese, em áreas com histórico de altas popu-

Goulart mostra os benefícios do tratamento de sementes para garantir um bom estande de plantas na lavoura

lações de R. solani, dar preferência às cultivares que apresentarem melhor comportamento frente ao patógeno, visando otimizar a eficácia do fungicida aplicado às C sementes de algodoeiro. Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste


Milho

Epidemia no milharal O contínuo crescimento do cultivo do milho, tanto em área como em produtividade, traz também a preocupação com a evolução e a severidade das doenças que atacam a cultura e provocam o aumento do uso de produtos químicos no controle

A

tualmente, tem-se notado um aumento na prática do uso de fungicidas no controle de doenças de plantas. Grandes culturas como soja, algodoeiro e milho têm recebido no campo pulverizações dessas moléculas, visando reduzir o progresso de manchas foliares. Na nossa visão, isso tem ocorrido devido ao crescimento da agricultura brasileira (área e produtividade), a qual foi baseada no modelo da Revolução Verde, idealizada pelo biologista e agrônomo Dr. Norman Borlaug. Presume-se que o uso de sementes melhoradas

(convencional ou biotecnológica) e de irrigação para duas safras ao ano tem possibilitado o maior uso dessas moléculas nesse modelo agrícola. Nesse caso, houve um rompimento das relações patógeno-hospedeiro, incrementando, assim, o uso dos fungicidas ou de produtos com efeitos fungistáticos e/ ou antiesporulantes. Sistemas como o plantio direto, em algumas regiões do Sudoeste goiano e do Cerrado mineiro e mato-grossense, têm recebido recentes impactos de novas doenças ou de doenças ressurgentes que, devido às perdas que provocam, têm justificado o uso dessas moléculas. Como exemplo, podem-se citar as epidemias da

RESUMINDO A QUESTÃO

N

o Brasil, os atuais sistemas agrícolas, cuja forma de desenvolvimento é baseada na Revolução Verde (cultivares melhoradas, irrigação e uso de pesticidas), têm maximizado a produção nos diversos cinturões do Brasil. Recentemente, tem-se observado a necessidade do maior input de fungicidas na cultura do milho. Severas epidemias têm ocorrido no Brasil, como a cercosporiose do milho, a mancha branca, ou feosféria, e a mancha de Stenocarpella macrospora. Tais patossistemas têm desestabilizado os atuais sistemas de produção. Esquemas de monitoramento de fitopatógenos, bem como do seu gradiente de dispersão, estão sendo estudados. Entre os diferentes modos de ação dos fungicidas, nas plantas e nos fungos, discutem-se a necessidade do conhecimento dos diferentes modos de atividade bioquímica e da seletividade desses produtos, o uso de adjuvan-

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tes para os diferentes sistemas de produção, bem como a análise econômica de viabilidade do uso de tais compostos. Os cuidados no preparo da calda e a tecnologia de aplicação são também fundamentais para o sucesso das ações de campo. Podemos citar os seguintes aspectos como importantes e determinantes na evolução das doenças na cultura do milho: a) A crescente produção de milho na última década; b) O milho não é mais uma planta rústica; c) Aumento da incidência e severidade de doenças; d) Introdução de novas cultivares com diferentes níveis de resistência às doenças e reação diferenciada aos patógenos; e) Mais de 20 doenças já foram identificadas na cultura do milho no Brasil nos diferentes sistemas de produção.

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Tabela 1 - Evolução e crescimento da produção de milho no Brasil . Fonte Conab Ano Produção ** Área** Produtividade (kg)

99/00 31640,5 12757,9 2480

00/01 42289 12972 3260

01/02 35266 12297 2868

02/03 47410 13226 3585

03/04 42191 12822 3291

04/05 39039 12296 3175

*em mil toneladas *em mil hectares

cercosporiose do milho, ocorridas no Sudoeste goiano em 1999/2000, a mancha de ramulária do algodoeiro em Goiás, Mato Grosso e Bahia, e a ferrugem asiática, que atingiu, na safra de 2003/04, mais de 20 milhões de hectares, com perdas estimadas em quase US$ 3 bilhões. Numa visão futura e holística, questiona-se: o que poderá acontecer nas próximas safras com o uso de cultivares de milho transgênicas?. A “ponte verde” e a palhada, representada por culturas consecutivas e em sucessão no Brasil, têm permitido a perpetuação e a manutenção constante do inóculo junto ao hospedeiro. Nesse contexto, não temos outra alternativa a não ser conhecer melhor o modo de ação dos fungicidas sobre plantas e fungos, visando o uso desses produtos de forma sustentável e econômica, para não desequilibrar ainda mais esse sistema agrícola muito instável, embora, pela ótica agronômica, a produtividade tenha aumentado nos últimos anos. Assim, se não houver um bom manejo do inóculo nessas áreas, através do rompimento das relações patógeno-hospedeiro, o atual modelo agrícola será insustentável.

cação e a ação do fungicida na planta depende da sua lipossolubilidade e da sua hidrossolubilidade. Entre as estrobilurinas, têm-se as mais sistêmicas, como a azoxystrobina, e as mesostêmicas (acumulam-se na cutina), que são de liberação lenta para a planta, como a trifloxystrobina. Quanto ao modo de ação sobre fungos, têm-se os fungicidas protetores [cúpricos, estanhados, carbamatos, nitrilas (clorotalonil)], que atuam de forma inespecífica nas membranas dos fungos, inibindo a ação protéica e enzimática. Em algumas situações, os depósitos em excesso desses fungicidas podem causar fitotoxicidade em plantas, principalmente quando são usadas misturas de tanque e na presença de óleos. Os benzimidazóis são fungicidas que atuam na divisão celular de fungos, interrompendo o ciclo mitótico. Na realidade, impedem a formação da placa metafásica durante a divisão celular. Os primeiros e os

Figura 1 - Produtividade do milho nas diferentes regiões do Brasil

mais modernos triazóis atuam na formação do ergosterol, que é um importante lipídio fúngico para a formação da membrana das

Figura 2 - Regressão linear entre AACPD e produtividade (kg ha-1) para os fatores híbridos, fungicidas e épocas. Montividiu (GO), 2001. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia (MG) 2002

MODO DE AÇÃO DOS FUNGICIDAS

Fotos Fernando César Juliatti

Quanto ao modo de ação dos fungicidas, podem-se dividi-los em protetores e erradicantes e sistêmicos, quando se avalia a sua ação no alvo (planta). Os modernos fungicidas triazóis e as estrobilurinas apresentam interfaces para esses dois mecanismos, havendo desde triazóis extremamente seletivos e de alta translocação na planta até os menos seletivos e de baixa translocação na planta. A relação entre a rápida translo-

Detalhe da mancha de cercosporiose, exemplo de doença que ressurgiu nas últimas safras

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Equação de Regressão: Produção = 7971,8 - 2,129 x AACPD Coeficiente de Correlação: r = -0,6934 Coeficiente de Determinação: R2 = 0,4808

Tabela 2 - Processos vitais dos fungos fitopatogênicos interrompidos por diversos fungicidas Grupo químico Enxofre Cúpricos Ditiocarbamatos Nitrogenados heterocíclicos Nitrilas Guanidina Compostos aromáticos Benzimidazóis Oxatinas Organofosforados Triazóis Acilalaninas Morfolinas

Fungicidas Sulfurados Cobres fixos Maneb, Zineb, Mancozeb Captan, Captafol Clorotalonil Dodine PCNB Benomil, Tiofanato Metílico Carboxin, Oxicarboxim Kitazim, Ediphenphos Tridimefon, Triadimenol, Propiconazole, Triciclazol Metalaxyl, Furalaxyl Tridemorph, Dodemorph

Mecanismo de ação Cadeia respiratória (transporte de elétrons) Inativação de enzimas essenciais-Grupo SH da metionina Inativação de enzimas essenciais Inativação de enzimas essenciais Inativação de enzimas essenciais Permeabilidade de membranas Permeabilidade de membranas Inibição da síntese de DNA Inibição do oxigênio na cadeia de transporte de elétrons Inibição da síntese de quitina Bloqueio na biossíntese de Ergosterol Inibição da biossíntese de RNA Cadeia de transporte de elétrons

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Tabela 3 - Custo de uma aplicação de fungicida em lavoura de milho utilizando-se o pulverizador autopropelido JD4700 – Rendimento operacional: 50 ha/h. UFU, Uberlândia, 2002 Fungicida Mancozeb 800 -4 Kg Azoxystrobina – 0,3 L Difeconazole – 0,2 L Propiconazole -0,3 L

R$/ha 61,36 78,33 72,27 48,54

Custo1 Produtividade Sc (60 kg/ha)* kg/ha 4,99 299,4 6,37 382,2 5,88 352,8 3,95 237,0

1- Preços em abril de 2001

células. A ausência dessa camada leva ao colapso da célula fúngica (micélio) e à interrupção do crescimento micelial (corpo fúngico). As acilalaninas, que atuam em espécies do reino cromista (míldios), são inibidoras da síntese ou da formação de proteínas. Desse modo, atuam tanto na fase de formação do esporângio quanto na liberação dos zoósporos. Presume-se que em doenças com elevada taxa de progresso, como as duas mencionadas, as aplicações preventivas ou aos primeiros sintomas são as mais adequadas.

A SOLUÇÃO É PREVENIR

Figura 3 - Impacto de diferentes fungicidas em diferentes híbridos na cultura do milho

Fotos Fernando César Juliatti

A prevenção ainda é a melhor forma de controle, pois aplica-se o conceito da proteção de plantas. Dessa forma, a menor pressão de seleção na população do patógeno permite menor risco de aparecimento e multiplicação das formas resistentes em espécies com alta mutabilidade vertical. A Tabela 2 apresenta alguns dos princípios e modos de ação dos fungicidas.

folhas inferiores para as superiores, a proteção e a tecnologia de aplicação devem propiciar uma boa cobertura de gotas no interior das plantas; Hibrido PO (kg/ha) PA (kg/ha) Perdas (%) NR Ciclo • Em solos com baixa disponibiS3211 8324 4112 50,6 S Precoce lidade de água, ou em plantas sob N1053 8350 4942 40,81 S Precoce estresse hídrico, deve-se ter cautela MAS53 8315 5642 32,14 MS Precoce com o uso de fungicidas triazóis, E1021 7734 5512 28,73 MS Precoce principalmente em mistura com niN1073 8131 5865 27,87 I Precoce tratos ou cloreto de potássio, pois o N1052 9113 6779 25,61 R Super Precoce risco de fitotoxicidade nas plantas é TK1023 8116 6272 22,72 I Precoce maior; M2444 8475 6643 21,61 I Precoce • Aplicações de fungicidas triaT1022 7637 6113 19,95 I Precoce zóis de elevada absorção pelas foR2233 8881 7522 15,29 AR Normal lhas, ou de rápida entrada e menor Nas recomendações de campo, alguns translocação, devem ser usadas com caucuidados devem ser tomados em relação aos tela nas horas mais quentes do dia e em fungicidas: misturas com formulações oleosas de in• As aplicações preventivas sempre lo- seticidas; gram mais sucesso do que as curativas; • O uso global de fungicidas em gran• Não se devem usar fungicidas em al- des áreas deve ser bem dimensionado em tas populações de fitopatógenos, pois o ris- relação à tecnologia e à disponibilidade de co da seleção de mutantes resistentes é mai- máquinas para o produtor, evitando, assim, or; o controle curativo; • Em patossistemas que evoluem das • Tem-se confirmado de forma sucessiTabela 4 - Perdas ( % Perdas = Parcelas tratadas (PO) – Parcelas sem tratamento (PA)) na cultura do milho por cercosporiose em Montividiu (GO), 2000

Figura 4 - Efeito verde (stay greeen de fungicidas utilizados na cultura do milho)

Lavoura tomada pela mancha branca, outra importante doença da cultura

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Tabela 5 - Produtividade de híbridos simples e precoces de milho (30K75, 30P70, AG8060 e DKB350), após aplicação com Uniporte e volume de 200l/ha. Para Az.+Cip (0,45 l/ha sem Nimbus) e para Pir. + Epox. (0,75 l/ha) e sem adjuvante

ENTENDENDO A AÇÃO

O

Tabela 6 - Produtividade de milho em relação ao uso de fungicidas em uma e duas aplicações (45 e 45/60 dias após a emergência) Híbrido Speed AG 6018 AG 7000 Penta Master Stryke AG 8060 Fort

Pyraclos. + Epox1. 4221,9 2881,9 3761,8 2912,0 3138,8 3250,2 3195,5 3731,6

Azoxystro2. 3724,3 3073,2 3462,0 2850,5 2996,9 2633,2 3627,3 3961,6

Azoxystro. + Ciproc3. 3899,1 3131,3 3533,5 2830,7 3018,7 2670,7 3000,4 3872,8

Hidrox. de Cobre4 2314,3 1456,3 2533,2 1701,9 1805,4 1833,3 3032,9 2329,1

Sem fungicida5 2842,6 1951,8 2855,8 1607,7 2719,3 2149,0 2590,1 3126,6

Doses / ha de 1 (0,75 L), 2 (0,3L), 3 (0,3 L) e 4 (4 Kg). Onde 2 e 3 como uso do óleo Nimbus (0,5%). As menores produtividades em 4 devem-se as perdas por fitotoxicidade.

va e eficaz o uso de formulações de silício para aplicações foliares, que têm apresentado interação sinérgica com os modernos fungicidas sistêmicos e maximizado, assim, a sua ação na planta em diversos patossistemas; • O uso de fungicida deve ser preconizado quando este promover retorno econômico. A Tabela 3 apresenta uma análise econômica do uso de fungicidas triazóis e estrobilurinas na cultura do milho e o seu impacto na produção. Pela tabela nota-se que a produtividade deve ser superior a 250 kg/ha para que uma aplicação de fungicida na cultura seja justificada. Além da vantagem econômica, os fungicidas podem aumentar o efeito verde e o período de fotossíntese nas plantas pulverizadas (Figura 4). Na Figura 3, nota-se que a produtividade em diferentes híbridos de milho tem sido reduzida, justificando, para rendimentos de pelo menos 250 kh/ha, o uso de fungicidas, entre os 45 e 60 dias da cultura, mesmo em híbridos mais resistentes. As perdas por doenças na cultura do milho dependem do nível de resistência do híbrido e da pressão de inóculo em cada região de produção (Tabela 4). A principal razão para essa premissa é a ocorrência de diversos patossistemas nas diferentes áreas de produção no Brasil, em locais de alta pressão de inóculo. Destaca-se a mancha branca (feosféria); hoje sabe-se que essa doença é um complexo dos fungos Phyllos-

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ticta maydis e Phoma sorghina, que podem estar associados à bactéria Pantoea ananas (Erwinia ananas). Outras doenças importantes na cultura são: ferrugens (tropical, comum e polisora), mancha de cercóspora, queima de turcicum e mancha de diplodia ou Stenocarpella. Associado aos problemas foliares, temos um aumento da in-

s fungicidas são compostos químicos de amplo uso no controle de doenças de plantas. Alguns têm ação protetora, e outros são curativos e sistêmicos. Dentro dessa classificação, incluem-se os indutores de resistência, que não agem como fungicidas inibidores do crescimento micelial e da esporulação. Os referidos compostos apenas induzem os sistemas de defesa da planta, pela produção de fitoalexinas e compostos fenólicos, que são letais a diferentes patógenos de plantas. Os compostos químicos que não matam os fungos, mas inibem o seu crescimento, temporariamente são chamados de fungistáticos. Alguns produtos químicos inibem a produção de esporos sem afetar o crescimento das hifas no interior dos tecidos e, nesse caso, são chamados antiesporulantes. Bactericidas e antibióticos com ação fungicida estão, implicitamente, incluídos no conceito.

cidência de grãos ardidos na cultura por Fusarium ou Diplodia. Nas Tabelas 4, 5 e 6 estão apresentados perdas na cultura do milho por cercosporiose e aumento de produtividade em diferentes híbridos. Entre os principais prejuízos, estão a ocorrência de perdas no rendimento (produtividade/ área) e o aumento da quantidade de grãos ardidos na colheita, o que pode aumentar as perdas do produtor e a ocorrência de C micotoxinas nos grãos. Fernando César Juliatti, UFU

Acima, sintomas de Diplodia macrospora; abaixo, grãos ardidos

Fernando Juliatti mostra como identificar e prevenir as principais doenças do milho

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Milho

Rafael Marcon

Hora certa A perfeita identificação do período crítico de interferência das plantas daninhas na cultura é essencial para que não haja uma reinfestação, ou até mesmo uma maior resistência das invasoras aos herbicidas aplicados para o controle

O

as plantas daninhas varia em função da espécie, do grau de infestação, do tipo de solo, das condições climáticas e do estádio fenológico da cultura. Além desses, a densidade de plantas daninhas e a época relativa de emergência das mesmas em relação à cultura também influenciam na intensidade da interferência. As espécies daninhas que ocorrem no Sul do Brasil incluem tanto dicotiledôneas, como Amaranthus spp. (caruru), Cardiospermum

Fotos Mauro Antônio Rizzardi

potencial produtivo do milho pode ser muito influenciado pela presença de plantas daninhas interferindo na cultura, principalmente durante o período crítico de competição. O prejuízo potencial de plantas daninhas em lavouras de milho pode chegar a reduções de até 90% do rendimento de grãos. A redução do rendimento de grãos de milho devido à competição estabelecida com

A barreira física proporcionada pela palha de culturas antecessoras constitui-se no principal fator para a redução da emergência de invasoras

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halicacabum (balãozinho), Bidens spp. (picãopreto), Euphorbia heterophylla (leiteira), Ipomoea spp. (corda-de-viola), Raphanus sativus (nabiça), Richardia brasiliensis (poaia-branca) e Sida spp. (guanxuma), quanto monocotiledôneas, como Brachiaria plantaginea (papuã), Digitaria spp. (milhã), Echinochloa spp (capim arroz) e Eleusine indica (capim pé-de-galinha). De forma geral, as espécies monocotiledôneas, devido à semelhante necessidade que apresentam pelos mesmos recursos em relação à cultura, causam maiores prejuízos ao rendimento do milho do que espécies dicotiledôneas. As plantas daninhas alteram a qualidade da luz, interferindo no desenvolvimento das plantas cultivadas mesmo antes de existir a competição por água, nutrientes e pela própria quantidade de luz. A alteração na qualidade da luz é percebida pelo fitocromo e também por outros pigmentos não fotossintéticos, mesmo antes de acontecer o sombreamento, objetivando ajustar o crescimento da planta em função da presença de vizinhos na co-

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munidade. Já, a competição por nutrientes e água é influenciada pelas quantidades desses elementos disponibilizadas pelo solo e pela chuva, respectivamente. A intensidade do efeito negativo causado pela interferência de plantas daninhas depende do componente do rendimento da cultura que é afetado. Nesse sentido, o número de grãos por espiga, o peso dos grãos e o rendimento total são reduzidos com o aumento da infestação, sendo que o componente que mais contribui para o rendimento é o número de grãos por espiga. Assim, salienta-se a importância do fator competição na fase de diferenciação floral. Nessa fase se originam os primórdios da inflorescência masculina (panícula ou pendão) e das inflorescências femininas (espigas). A diferenciação da espiga ocorre de sete a dez dias após a diferenciação do pendão. Por ocasião da plena expansão da quarta folha, define-se o número de fileiras de grãos na espiga,

até estarem as plantas com dez a 12 folhas com o colar visível. É nesse período que está sendo formado o número potencial de óvulos na espiga, culminando na definição do potencial de produção da planta. No manejo integrado de plantas daninhas, a informação do período crítico de controle das plantas daninhas é essencial, tendo dois componentes principais: o primeiro refere-se à extensão do período que deve ser mantido livre de ervas, para prevenir perdas no rendimento da cultura, e o segundo, à extensão de tempo em que as ervas podem permanecer na cultura antes que interfiram no desenvolvimento e reduzam o rendimento. As variações no período crítico são devidas ao genótipo, à época de semeadura, à disponibilidade de água e nutrientes, à época de emergência, tanto da cultura como das ervas, à densidade e à espécie da planta daninha. O sucesso do uso de herbicidas pós-emer-

Figura 1 – Número de plantas daninhas emergidas em milho semeado sob diferentes níveis de palha de nabo forrageiro. UPF, Passo Fundo (RS)

Figura 3 – Acréscimos de rendimento de grãos de milho em função de níveis de palha de nabo e momentos de controle de plantas daninhas. UPF, Passo Fundo (RS)

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gentes depende da capacidade do produtor em determinar o momento correto para a aplicação do produto para controlar as plantas daninhas. Com o atraso na aplicação de herbicidas pós-emergentes, há menor eficiência de controle devido ao maior desenvolvimento vegetativo das plantas, que com isso adquirem maior tolerância aos herbicidas. Por outro lado, as aplicações de herbicidas realizadas precocemente proporcionam melhor controle, porém pode ocorrer novo fluxo de emergência, influenciando negativamente o rendimento da cultura. Quando as plantas daninhas são removidas ou controladas no início do desenvolvimento da cultura, pequena ou nenhuma redução no rendimento resultará pela reinfestação de plantas daninhas. Por outro lado, o atraso na época de controle fará com que a cultura conviva com as ervas por maior período de tempo, podendo aumentar as perdas no

Figura 2 – Número de plantas daninhas emergidas em milho semeado sob diferentes espécies de culturas antecessoras.UPF, Passo Fundo (RS)

Figura 4 – Acréscimo em rendimento de grãos de milho em função dos momentos de controle de plantas daninhas. UPF, Passo Fundo (RS)

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Fotos Mauro Antônio Rizzardi

Herbicidas aplicados precocemente proporcionam melhor controle, porém pode ocorrer novo fluxo de emergência de plantas daninhas

rendimento. O controle efetuado precocemente permite que ele seja mais eficaz, porém, pode ocorrer novo fluxo de emergência. As reinfestações de plantas daninhas depois da aplicação de herbicidas pós-emergentes em épocas de desenvolvimento inicial da cultura têm menor potencial para reduzir o rendimento do que aplicações tardias, porém com um re-

sultante incremento no banco de sementes, podendo ter um impacto negativo em culturas subseqüentes. Isso denota a importância da observação do estádio ideal para o controle das plantas daninhas, pois, à medida em que a aplicação é atrasada, há menor eficiência de controle, apresentando as plantas maior desenvolvimento vegetativo e tolerância aos herbicidas. A semeadura do milho em seqüência a culturas de cobertura que forneçam grandes quantidades de palha ao solo permite que se reduza a emergência das plantas daninhas, além de se restringir a possibilidade de reinfestação. A barreira física proporcionada pela quantidade de palha deixada pelas culturas antecessoras constitui-se no principal fator para a redução da emergência das plantas competidoras (Figura 1). A supressão de plantas daninhas causada pelas culturas de cobertura depende da espécie utilizada como antecessora e do sistema de manejo utilizado. Com a cobertura de aveiapreta, o número de plantas daninhas emergidas foi menor, enquanto que, com a cobertura de nabo forrageiro, o número inicial de plantas daninhas foi maior (Figura 2). Em ambas as coberturas, o número de ervas reduziu com o passar do tempo. Tal fato pode ser explicado pelo conceito de espaço, onde há limitação de

recursos. As plantas podem responder de duas formas ao estresse de densidade, através de uma resposta plástica de crescimento, ou de um risco alterado de mortalidade. Comparando-se o acréscimo em rendimento de grãos do milho em função dos níveis de palha de nabo forrageiro e momentos de controle, observa-se que no nível zero de palha foi onde o controle químico exerceu maior influência, resultando em maiores rendimentos adicionais (Figura 3). À medida que se aumentam os níveis de palha, menor efeito tem o controle químico sobre o rendimento de grãos, o que denota a capacidade que a cobertura do solo apresenta na supressão de plantas daninhas. O ganho máximo em rendimento ocorreu aos 20 dias após a emergência do milho, com ganhos de 26,3% com 6 t/ha de palha de nabo e de 58,7% no tratamento sem palha. Percebe-se que com 9 t/ha de palha de nabo o controle químico pode até mesmo ser suprimido, já que não foi significativo o incremento em rendimento do milho onde houve o controle químico. As alterações nos padrões de emergência das plantas daninhas causadas pela palha influenciam na determinação do período crítico para controle de plantas daninhas com o uso de herbicidas de aplicação em pós-emergência. A análise de acréscimo em rendimen-


Janice Ebel

Mauro dá as dicas para o melhor manejo do milho semeado em seqüência de culturas de cobertura

to de grãos de milho em relação à testemunha sem controle denota que o milho semeado sobre cobertura de aveia-preta propiciou acréscimos de 33,4% no rendimento, comparados aos 16,9% após nabo forrageiro (Figura 4). A cobertura de aveia-preta se mantém mais estável, pois se decompõe mais lentamente. Já, no caso do nabo forrageiro, o comportamento

A maior ou menor supressão de emergência de plantas daninhas depende da cultura utilizada como cobertura

no ganho em rendimento se mostra mais dependente do momento correto de controle das plantas daninhas. O melhor momento de controle para o milho semeado após o nabo forrageiro foi aos 13 dias após a emergência do milho

(Figura 4); já, quando semeado após aveia, o melhor momento de controle deu-se aos 18 dias após a emergência do milho. Essa diferença de cinco dias pode, num primeiro momento ser considerada pequena, mas, se for analisada em termos de estádio de desenvolvimento do milho, pode significar a mudança do estádio da cultura de C duas folhas para três folhas. Mauro Antônio Rizzardi, UPF


Milho Dirceu Gassen

Predador ameaçado Alguns inseticidas ainda ameaçam a presença da tesourinha, principal inimigo natural de Spodoptera frugiperda. Com baixa seletividade, os inseticidas para o controle da lagarta acabam eliminando também o predador

O

milho é um dos principais cereais cultivados no Brasil, que teve 12,85 mil ha de área cultivada, totalizando 41,8 mil t colhidas (rendimento médio de 3.37 mil kg/ha). O milho fornece produtos que são largamente utilizados para a alimentação humana e animal, além de matéria-prima para a indústria, principalmente em função da quantidade e da natureza das reservas acumuladas nos grãos. A lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, é a principal praga da cultura do milho no Brasil, atacando a planta desde sua emergência até a formação das espigas, ocorrendo em todas as regiões produtoras do país, tanto nos cultivos de verão como nos de segunda safra (safrinha). Mundialmente, seus prejuízos são

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estimados em US$ 400 milhões anualmente. A mariposa mede cerca de 35 mm de envergadura, sendo as asas anteriores pardo-escuras, e as posteriores, branco-acinzentadas. Ela faz sua postura agrupada, colocando em média 1,2 mil ovos durante seu ciclo, sempre na face superior das folhas. Após três dias as lagartas eclodem e alimentam-se preferencialmente das folhas mais novas e geralmente de localização central na planta, dirigindo-se posteriormente para o cartucho, alimentando-se das partes mais tenras. A duração do período larval é de 12 a 30 dias nos quais a lagarta pode chegar a medir 50 mm de comprimento e apresenta coloração variando de cinza-escuro a marrom e uma faixa dorsal com pontos pretos na base das

cerdas. Nessa espécie existe canibalismo, e, devido a este hábito, é comum encontrar apenas uma lagarta desenvolvida no cartucho, podendo também serem encontradas lagartas de diferentes estágios (ínstares), no mesmo cartucho, separadas por lâminas de folhas. Após o término do período larval, elas penetram no solo transformando-se em pupas com cerca de 15 mm e coloração avermelhada, período este que dura em média oito dias no verão, podendo aumentar para 25 dias em média no inverno. Após, o ciclo inicia-se novamente. Entre os principais inimigos naturais da lagarta-do-cartucho está a tesourinha – Doru luteipes, inseto de corpo alongado e achatado e, geralmente, de coloração marrom mais ou menos escura e brilhante, podendo apresentar manchas amareladas. Este inseto apresenta no último segmento abdominal os cercos modificados em forma de pinça, que podem ser usados como uma arma de defesa ou ataque. O ciclo evolutivo desse inseto, diferente da lagarta-do-cartucho, passa por uma metamorfose incompleta, ou seja, apresenta as fases de ovo, ninfa (com quatro ínstares) e adulto, não passando pelo estágio de larva ou lagarta. Os ovos da tesourinha são geralmente posturados em locais úmidos, e a média por postura é em torno de 25, com um período de incubação que dura em torno de sete dias, depois eclodem as ninfas que possuem período larval em torno de 35 a 40 dias. A tesourinha é o principal inimigo natural da lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda), alimentando-se de ovos e lagartas pequenas. Porém, a população desse inimigo natural pode ser grandemente prejudicada pelo uso de inseticidas não seletivos. Tanto ninfas quanto adultos são predadores de ovos e de lagartas de primeiros ínstares da lagarta-do-cartucho e da lagarta-da-espiga, sendo atualmente o inimigo natural mais importante na cultura do milho. Muitos podem ser os inseticidas utilizados para controlar a lagarta-do-cartucho, no entanto, deve-se estar atento, pois pode-se estar controlando a praga, mas junto com ela estar eliminando inimigos naturais e predadores. Se não bastasse, existem outros fatores que contribuem e influenciam na eliminação dos inimigos naturais e predadores, ou no aumento da praga, como a má regulagem dos equipamentos e a escolha incorreta de produ-

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Fotos Adriano Luiz Kussler

tos químicos como inseticidas de amplo espectro. Esses fatores, aliados muitas vezes aos fatores climáticos, têm aumentado o número médio de aplicações de inseticidas na cultura do milho, sem, no entanto, atingir os objetivos de controle desta praga, pois a cada ano os danos provocados pela lagarta-do-cartucho têm sido mais severos. Outra preocupação, em decorrência do excesso ou da má aplicação de produtos químicos, é o desenvolvimento de populações resistentes a produtos químicos já verificada em algumas regiões e a sensível diminuição na diversidade de agentes de controle biológico. Por todos os problemas citados anteriormente em relação aos inseticidas é que o uso de inseticidas seletivos é extremamente importante, pois está diretamente relacionado à capacidade destes em controlar uma praga causando o menor impacto possível sobre outros organismos, variando de acordo com o inseticida, a forma de aplicação, o tipo de cultura; formulação e obviamente a praga visada. A mortalidade de inimigos naturais e predadores pode ser causada pela ação tóxica e direta do inseticida, pela falta de presas e hospedeiros, mortos pelo inseticida, e contaminação de presas e hospedeiros com doses que não matam a praga, mas que, devido à acumulação e pela maior suscetibilidade dos inimigos naturais, provocam a sua morte. Dessa forma, é importante que o inseticida seja seletivo a inimigos naturais e predadores e que tenha uma vida média curta, decompondo-se rapidamente após afetar a praga. A ação desses inseticidas sobre predadores e inimigos naturais pode favorecer a explosão populacional de pulgões e tripes ao con-

trolar a lagarta-do-cartucho. Com o objetivo de avaliar o impacto que determinados inseticidas causam sobre o principal predador de ovos de S. frugiperda, avaliou-se a seletividade de alguns inseticidas, sendo eles acephate, clorfluazuron, lambdacyalotrin, lufenuron, metomil e novaluron. O ensaio foi relizado em delineamento completamente casualizado com quatro repetições em laboratório. Os tratamentos utilizados foram acephate 750 g/kg, clorfluazuron 50g/l, lambdacyalotrin 50 g/l, lufenuron 50 g/ l, metomil 215 g/l e novaluron 100 g/l e testemunha (água destilada). As dosagens utilizadas foram as seguintes: acephate 75 g.i.a/ha, clorfluazuron 12,5 g.i.a/ha, lambdacyalotrin 75 g.i.a/ha, lufenuron 15 g.i.a/ha, metomil 129 g.i.a/ha e novaluron 15 g.i.a/ha. Foram mergulhados pedaços de folhas de milho por cinco segundos na calda e deixados para secar por duas horas. As folhas secas foram colocadas em placas de petry com dez tesourinhas cada e mantidas em estufa (25ºC, UR 75% e fotofase de 12h). Após 24 horas foi avaliado o número de insetos vivos, submetidos à análise de variância e agrupados pelo teste de Duncan a 5 %. Os resultados dos produtos testados estão representados no gráfico abaixo. Os inseticidas fisiológicos clorfluazuron,

Resistência da lagarta do cartucho a inseticidas e baixa população de predadores são fatores preocupantes para a pesquisa

novaluron e lufenuron não diferiram estatisticamente da testemunha, apresentando 100% de seletividade para Doru luteipes, pois inibem a síntese de quitina principalmente de lagartas. O uso de lufenuron, assim como o de novaluron e o do clorfluazuron tem aumentado muito nos últimos anos, e esse incremento pode ser atribuído à sua alta eficiência e ao desenvolvimento da resistência da praga aos produtos tradicionalmente recomendados/utilizados para seu controle (ex. fosforados e piretróides). Por outro lado, os inseticidas acephate, metomil e lambdacyalotrin diferiram estatisticamente da testemunha, não sendo seletivos para Doru luteipes, com 56,6%, 34% e 40%, respectivamente. Nas condições em que foi realizado o ensaio, recomenda-se a utilização de clorfluazuron, novaluron e lufenuron no controle de Spodoptera frugiperda no que se refere à seletividade a adultos de Doru luteipes, considerando-se a época de aplicação e dosagem recomendadas pelos respectivos fabricantes. C Adriano Luiz Kussler, Flávio Roberto Mello Garcia e Elton Robson Vargas, Unochapecó

Legenda: A – acephate; C – clorfluazuron; M – metomil; L – lambdacyalotrin; N – novaluron; L1 – lufenuron

Ao controlar a lagarta do cartucho, é preciso estar atento a produtos que preservem Doru luteips

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Café

Charles Echer

Nova ameaça Pesquisa estuda a ressurgência do ácaro-vermelho, praga que pode dizimar lavouras de café, se não for controlada no início. Ela pode estar sendo favorecida pela aplicação de agroquímicos para controle de outras pragas na cultura

P

da (hormoligose). No Brasil, a primeira referência ao chamado ácaro-vermelho-do-cafeeiro, Oligonychus ilicis (McGregor, 1917) (Acari: Tetranychidae), atacando cafeeiro, Coffea arabica L., foi no estado de São Paulo em 1950, Paulo Rebelles Reis

elo menos três teorias podem ser utilizadas para explicar o aumento da população de pragas, entre elas os ácaros, após aplicações de dosagens não letais de agroquímicos: (1) inibição do predador pela aplicação de pesticidas; (2) melhoria nas condições da planta hospedeira, vinda da adubação e de práticas culturais, ou por mudanças provocadas pelos pesticidas na fisiologia da planta (trofobiose) e (3) estímulo direto ao ácaro por dosagens subletais do pestici-

DECIFRANDO

H

ormoligose pode ser definida como a estimulação da fisiologia reprodutiva causada por doses subletais de pesticidas - do grego hormo (excita) e oligo (pequena), pequena quantidade que excita - e já foi relatada tanto para insetos como para ácaros. Ainda, o hormoligante - estressor presente em quantidade subletal - pode ser um produto químico, temperatura, radiação, entre outros.

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Para se alimentar, o ácaro perfura as células com seu estilete e, com a boca, absorve o conteúdo celular da parte superior das folhas

embora, na época, tenha sido referido como outra espécie, juntamente com Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Acari: Tenuipalpidae), hoje reconhecidamente vetor do vírus da mancha-anular do cafeeiro. O ácaro-vermelho já foi considerado a segunda praga em importância para o cafeeiro Conillon, Coffea canephora Pierre & Froenher, no estado do Espírito Santo. O cafeeiro Conillon tem se mostrado mais sensível ao ácaro do que o Arábica (C. arabica), assim como o é também para a broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae). Essa espécie é conhecida no Brasil como ácaro-vermelho do cafeeiro. Vive na face superior das folhas, que quando atacadas apresentam-se recobertas por uma delicada teia, tecida pelos próprios ácaros, onde aderem detritos e poeira, dando às folhas um aspecto de sujeira. Os ácaros podem ser observados facilmente com o auxílio de uma lente de aumento. Para se alimentar, na página superior das folhas, perfuram as células com seus estiletes e, com a boca, absorvem parte do conteúdo celular. Em conseqüência, as folhas perdem o brilho natural, tornam-se bronzeadas, dando

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um péssimo aspecto às plantas. O ataque ocorre geralmente em reboleiras e, se as condições forem favoráveis ao ácaro, e o controle não for feito no início da infestação, poderá atingir toda a lavoura. Períodos de seca, com estiagem prolongada, são condições propícias ao desenvolvimento do ácaro, podendo causar desfolha das plantas, sendo que lavouras novas, em formação, terão seu desenvolvimento retardado. O tempo médio de desenvolvimento dos estágios imaturos é: ovo 5,5; larva 1,6; protoninfa 1,2 e deutoninfa 1,2 dia. O tempo médio de desenvolvimento de ovo a adulto, para fêmeas e machos, é em torno de 12 dias. A longevidade das fêmeas é de 12 dias, e dos machos, 11 dias, resultando em um ciclo de vida em torno de 24 e 23 dias para fêmeas e machos, respectivamente. Foi constatado que uma fêmea coloca em média 22 ovos durante sua vida, com uma média de 2,9 ovos ao dia durante o período de postura. A viabilidade dos ovos está ao redor de 92%. A proporção sexual encontrada é em torno de 9,6:1 (fêmea/macho). A capacidade inata de crescimento (rm) é de 0,149 fêmea/fêmea/dia; a duração média de uma geração (T) é de 20 dias, com a população aumentando 20 vezes (Ro) nesse período. A população cresce 1,16 vez por dia (l) e dobra a cada 4,8 dias.

OCORRÊNCIA Após a aplicação de oxicloreto de cobre 50% para o controle da ferrugem, Hemileia vastatrix Berk & BR., em dosagens crescentes de 0 a 7,5 kg/ha, foram constatadas de 0 a 90% de cafeeiros atacados e exibindo sintomas de ataque do ácaro-vermelho, O. ilicis, em função da dosagem do produto (Figura 1). Outros trabalhos mostrando o mesmo efeito foram relatados também com oxicloreto de cobre e com outros fungicidas cúpricos. Alguns piretróides utilizados no controle

Tabela 1 - Valores de efeito na reprodução (Er) de Oligonychus ilicis obtidos em função da dosagem de oxicloreto de cobre nos ensaios residual, tópico e tópico + residual Dosagem Efeito na reprodução (Er)1 g/100 litros de água Residual Tópico Tópico + Residual 0 (Dose 0) 1,00 1,00 1,00 64 (Dose 1) 1,03 1,01 1,10 126 (Dose 2) 1,01 1,03 1,14 300 (Dose 3) 1,16 1,06 1,29 500 (Dose 4) 1,16 1,10 1,39 1000 (Dose 5) 0,98 1,14 1,49 Er= Número médio de ovos no tratamento / número médio de ovos na testemunha. Er > 1 representa efeito positivo na reprodução do ácaro. Fonte - Reis & Teodoro (2000). 1

do bicho-mineiro do cafeeiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae), também têm causado acentuado aumento no número de ácaro-vermelho, O. ilicis, em plantas de cafeeiro. Trabalhos de pesquisa concluíram que o oxicloreto de cobre influencia diretamente a reprodução do ácaro-vermelho do cafeeiro, O. ilicis, sendo esse efeito (hormoligose) uma das causas que podem explicar surtos desse ácaro em lavouras cafeeiras (Tabela 1 e Figura 2). Estudos do efeito de oxicloreto de cobre sobre duas espécies de ácaros predadores, Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma, 1972, e Euseius alatus DeLeon, 1966 (Acari: Phytoseiidae), comumente associados a várias espécies de ácaros-praga do cafeeiro, demonstraram que o produto é inócuo a esses ácaros predadores, assim como promove uma maior capacidade de oviposição desses ácaros (Tabela 2 e Figuras 3 e 4). Sendo assim, surtos do ácaro-vermelho, O. ilicis, em cafeeiros não devem ser atribuídos a desequilíbrio biológico de ácaros predadores causado pelo uso do cobre, mas sim ao efeito da hormoligose. As caldas que levam produtos à base de cobre, tanto as comerciais como as produzi-

TABELA 2 - Toxicidade de oxicloreto de cobre 50 % WP à fêmeas de Iphiseiodes zuluagai e Euseius alatus em teste residual de laboratório. Temperatura de 25 +2 ºC, UR 70 +10 % e fotofase de 14 horas (resíduo de 2,12 + 0,09 mg/cm2 em superfície de vidro) Dosagens1 Mc2 (%) Sobreviventes (100% - Mc) Iphiseiodes zuluagai 0 0 100,0 64 10,3 89,7 3,4 96,6 126 300 10,3 89,7 500 3,4 96,6 10,3 89,7 1000 Euseius alatus 0 0 100,0 0,0 100,0 64 126 0,0 100,0 300 0,0 100,0 0,0 100,0 500 1000 0,0 100,0

Er3

E4 (%)

Classe5

1,0 1,3 1,3 1,3 1,1 1,4

0 -16,6 -25,6 -16,6 -6,3 -25,6

1 1 1 1 1

1,0 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1

0 -10,0 -10,0 -10,0 -10,0 -10,0

1 1 1 1 1

Dosagem de oxicloreto de cobre 50 % WP, em g/100 litros de água. Mortalidade corrigida em função da mortalidade na testemunha. 3 Efeito na reprodução, Er = R Tratamento/R Testemunha. 4 Efeito total, E % = 100 % - (100 % - Mc) x Er. 5 Classes de toxicidade segundo IOBC/WPRS: Classe 1 = E<30% (não nocivo); Classe 2 = 30<E<80 (levemente nocivo); Classe 3 = 80<E<99 (moderadamente nocivo); Classe 4 = E>99% (nocivo). Fonte - Reis & Sousa (2000). 1 2

das pelo próprio cafeicultor, podem também ocasionar surto de ácaro-vermelho em cafeeiro. Tal fato foi constatado no município de Nepomuceno (MG) onde um produto à base de cobre promoveu um acentuado número de ácaros (larvas, ninfas e adultos) e de ovos do ácaro-vermelho. Tal aumento somente foi reduzido com a adição, na calda, de enxofre na quantidade suficiente para completar a dosagem recomendada para o controle do ácaro (Tabela 3). Na região Sul de Minas foi constatado que o neonicotinóide thiamethoxam favorece o ataque de ácaros em cafeeiro. Em experimento realizado em Monte Carmelo (MG) região

Figura 1 - Porcentagem de plantas (A) e porcentagem de folhas atacadas (B e C) por Oligonychus ilicis (McGregor, 1917) em relação às dosagens de oxicloreto de cobre 50% utilizado no controle da ferrugem do cafeeiro, Hemileia vastatrix Berk & Br

Fonte: Reis et al. (1984)

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do Alto Paranaíba, foi constatado que cafeeiros que receberam o neonicotinóide thiamethoxam em fevereiro, março ou abril através da água de irrigação por gotejamento, apresentaram maior número de ácaro-vermelho que o tratamento testemunha, independente da época de aplicação (Tabela 4). Em testes de laboratório, o inseticida neonicotinóide (nitrometileno) sistêmico imidacloprid apresentou baixa toxicidade a fêmeas adultas de ácaros predadores Neoseiulus collegae (DeLeon, 1962), Phytoseiulus macropilis (Banks, 1904) e Proprioseiopsis mexicanus (Gar-

man, 1958) (Acari: Phytoseiidae) nas concentrações próximas às recomendadas para uso em condições de campo. Entretanto, nas mesmas concentrações, o produto foi tóxico à maioria dos insetos predadores testados (mirídeos, coccinelídeos, crisopídeos e ligaeídeos). Em experimentos de efeito adverso sobre ácaros predadores pertencentes à família Phytoseiidae, o neonicotinóide thiamethoxam, o triazol cyproconazole e a mistura dos dois produtos se mostraram inócuos a I. zuluagai, mostrando seletividade fisiológica, mesmo em drásticas condições a que foram submetidos

em laboratório (Tabela 5), não podendo ser responsabilizados por causar desequilíbrio biológico, favorecendo o ácaro-vermelho, devido à mortalidade de ácaros predadores. Figura 2 - Relação entre dosagens de oxicloreto de cobre (g/100 litros de água, em efeito tópico mais residual) e o efeito na reprodução (Er) de Oligonychus ilicis, ácaro-vermelho do cafeeiro

RESSURGÊNCIA

U

m estudo do efeito do inseticida carbamato carbaryl (resíduo de 200 ppm de i.a.), do clorado DDT (100 ppm) e do carbamato dioxacarb (25 ppm) sobre o ácaro-rajado, Tetranychus urticae Koch, 1836 (Acari: Tetranychidae), em folhas destacadas de feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.), permitiu concluir que o fenômeno responsável pelo aumento da oviposição e do número de fêmeas (alteração na razão sexual) foi a hormoligose e não alterações fisiológicas na planta hospedeira (trofobiose). Populações do ácaro-purpúreo-dos-citros Panonychus citri (McGregor, 1916) (Acari: Tetranychidae) em limoeiros, sob condições de casa-de-vegetação, tratados com o fosforado malathion e o piretróide permethrin, foram significativamente maiores do que em limoeiros não tratados. Houve aumento na fecundidade e taxa líquida de reprodução (Ro = número de vezes que a população aumenta a cada geração), o que foi atribuído ao efeito hormoligose. Resultados obtidos com o ácaro-da-falsa-ferrugem dos citros, Phyllocoptruta oleivora (Ashmead, 1879) (Acari: Eriophyidae), sugerem que os compostos de cobre estimulam o aumento de sua população. (Nota: este foi o único exemplo encontrado de um ácaro que não pertence à família Tetranychidae que sofreu hormoligose). Alta mortalidade de Orius tristicolor (White, 1879) (Hemiptera: Anthocoridae), predador de ácaros, foi observada quando foram confinados sobre folhas tratadas com o neonicotinóide imidacloprid aplicado via solo, fato que provocou o aumento de ácaros, T. urticae e Platytetranychus multidigituli (Ewing, 1917) (Acari: Tetranychidae), e que foi atribuído à mortalidade do predador e não à hormoligose. (Nota: Este foi o único

relato encontrado de ressurgência de ácaros como sendo causado por desequilíbrio biológico). Plantas de algodoeiro pulverizadas com emulsões do piretróide deltamethrin, expostas previamente à luz solar, assim como plantas pulverizadas com ácido fenoxi-benzóico (produto da degradação de deltamethrin), apresentaram populações significativamente maiores de ácaro-rajado, T. urticae, do que plantas testemunhas. Outros produtos da degradação do deltamethrin, ou inertes da formulação utilizada, também podem ter influenciado no aumento da população do ácaro. O produto neonicotinóide thiamethoxam, em tratamento de sementes e em pulverização, assim como o piretróide deltamethrin, não causaram aumento da população de ácaro-branco, Polyphagotarsonemus latus (Banks, 1904) (Acari: Tarsonemidae), em algodoeiro, sendo também o thiamethoxam seletivo ao ácaro predador Euseius concordis (Chant, 1959) (Acari: Phytoseiidae). O fenômeno da hormoligose não é restrito às pragas, podendo ocorrer também em predadores. Assim, há relatos de que ácaros predadores pertencentes à família Phytoseiidae - Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma, 1972, e Euseius alatus DeLeon, 1966 - submetidos à aplicação de oxicloreto de cobre, produto que não é letal aos ácaros, apresentaram aumento na fecundidade, fato atribuído ao produto. O piretróide permethrin mostrou-se seletivo em baixas dosagens ao percevejo predador Supputius cinctipes (Stal, 1860) (Heteroptera: Pentatomidae), estimulando o desenvolvimento do inseto, fenômeno que foi chamado de hormese (Nota: termo mais abrangente que hormoligose).

Fonte - Reis & Teodoro (2000) Figura 3 - Número médio de ovos viáveis colocados por cinco fêmeas de Iphiseiodes zuluagai durante oito dias em função da dosagem de oxicloreto de cobre. Temperatura de 25 + 2 ºC, UR 70 + 10 % e fotofase de 14 horas

Fonte - Reis & Sousa (2000)

Figura 4 - Número médio de ovos viáveis colocados por cinco fêmeas de Euseius alatus durante oito dias em função da dosagem de oxicloreto de cobre. Temperatura de 25 + 2 ºC, UR 70 + 10 % e fotofase de 14 horas

Fonte - Reis & Sousa (2000)

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Tabela 3 - Número médio de ácaros (larvas, ninfas e adultos) Oligonychus ilicis em 40 folhas de cafeeiro por parcela, aos 5 e 19 dias após a aplicação (DAA) e porcentagem de eficiência dos tratamentos (%E)

CONSIDERAÇÕES FINAIS Relatos de ressurgência de ácaros, até agora conhecidos, são quase que exclusivamente para ácaros pertencentes à família Tetranychidae. Os produtos químicos, já conhecidos, maiores causadores de ressurgência do ácarovermelho em cafeeiros, são os fungicidas cúpricos, os inseticidas piretróides e os neonicotinóides. Para o neonicotinóide thiamethoxam, os resultados até agora relatados sugerem que a ressurgência do ácaro-vermelho, O. ilicis, em função da aplicação do produto para o controle do bicho-mineiro em cafeeiros, pode ser devida à associação dos fenômenos trofobiose e hormoligose, desde que as condições climáticas sejam altamente favoráveis à praga, haja vista que: (1) o produto não possui ação letal a nenhuma das formas do desenvolvimento pós-embrionário do ácaro-vermelho do cafeeiro e (2) o produto é seletivo aos ácaros predadores da família Phytoseiidae comumente encontrados C em associação com o ácaro-praga.

Tratamentos1

1 2 3 4 5 6 7 8 CV

%E 96,9 36,2 94,9 0,0 65,0 76,2 88,7 -

Tratamentos: (1) Ethion 500 CE - 1,5 l/ha; (2) Vertimec 18 CE - 0,3 l/ha; (3) Kumulus 800 PM - 3,13 kg/ha; (4) Viça Café - 7,8 kg/ha; (5) Viça Café - 7,8 kg/ha + Enxofre - 2,34 kg/ha; (6) Calda do produtor; (7) Calda do produtor + Enxofre; (8) Testemunha. 2 Média seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si (Duncan 5%). 3 Volume de água utilizado - 625 litros/ha (2500 plantas/ha, Mundo Novo 4 x 1 m). Fonte - Reis & Souza (1999 - não publicado). 1

Tabela 4 - Porcentagem de folhas minadas pelo bicho-mineiro, Leucoptera coffeella, e número de ácaro-vermelho do cafeeiro, Oligonychus ilicis, em função da aplicação de thiamethoxam 250 WG na água de irrigação. Monte Carmelo (MG) Tratamentos1 1 - Testemunha 2 - Thiamethoxam em fevereiro 3 - Thiamethoxam em março 4 - Thiamethoxam em abril CV

Paulo Rebelles Reis, Epamig/EcoCentro Charles Echer

Ácaros2 0,3 e 31,2 c 3,8 de 119,3 b 10,3 d 9,3 de 5,0 de 310,3 a 23,4

Número médio de ácaros e ovos em 40 folhas e porcentagem de eficiência dos tratamentos Primeira avaliação 01/06/1999 Segunda avaliação 15/06/1999 5 DAA 19 DAA %E Ovos %E Ácaros %E Ovos 99,9 34,0 cd 90,2 10,0 c 96,9 9,3 d 90,0 72,3 c 79,2 47,5 c 85,1 188,5 bc 98,8 25,0 d 92,8 11,3 c 96,5 15,0 d 61,6 179,3 b 48,4 197,0 b 38,2 718,5 a 96,7 57,5 cd 83,5 46,5 c 85,4 103,3 cd 97,0 49,0 cd 85,9 31,5 c 90,1 70,3 cd 98,4 69,8 c 80,0 7,8 c 97,6 33,3 d 347,5 a 318,8 a 295,3 b 20,1 43,1 43,1

Porcentagem de folhas minadas por L. coffeella2 06/08/20023 97,8 c 30,3 ab 20,6 a 37,0 b 19,8

Número de ácaros O. ilicis em 25 folhas2 06/08/20024 04/09/20025 0,8 b 6,5 b 62,5 a 89,5 a 63,5 a 79,8 a 50,8 a 85,7 a 19,4 22,0

Tratamentos: (2) Thiamethoxam 250 WG a 2kg/ha na água de irrigação por gotejamento (0,56 g/planta) em fevereiro de 2002; (3) Thiamethoxam em março de 2002; (4) Thiamethoxam em abril de 2002. Média seguidas por letras iguais na coluna não diferem entre si (Duncan 5%). 3e4 174 DAA (dias após a aplicação de fevereiro do inseticida thiamethoxam). 5 203 DAA (dias após a aplicação de fevereiro do inseticida thiamethoxam). Fonte - Reis & Souza (2002 - não publicado). 1

2

Tabela 5 - Toxicidade de agroquímicos a Iphiseiodes zuluagai em teste residual de laboratório a 25 + 2º C, 70 + 10% de UR e 14 horas de fotofase (resíduo de 1,68 + 0,36 mg/cm2² em superfície de vidro) Nome técnico Thiamethoxam 250 WG Thiamethoxam + cyproconazole 600 WG Cyproconazole 100

Rebelles alerta para os cuidados com o ácaro-vermelho, que vem se alastrando pelos cafezais

Dosagem 100 l 20 15 20

Mc ²(%) 3,33 3,33 20,69

R3 1,4 1,6 1,8

Er 4 0,93 1,01 0,93

E 5 (%) 10,41 2,08 25,86

Classe 6 1 1 1

g ou ml do produto comercial/100 l de água. Mc = Mortalidade corrigida (%). Mc = (ácaros vivos test. – ácaros vivos trat.)/ácaros vivos test. x 100. R = Produção média de ovos/fêmeas. R = no ovos viáveis/no de fêmeas. 4 Efeito na reprodução. Er = R trat./R test. 5 Efeito total ou adverso. E = 100% - (100% - Mc) x Er. 6 Classes toxicidade segundo a IOBC/WPRS: Classe 1 = E<30% (não nocivo); Classe 2 = 30<E<80 (levemente nocivo); Classe 3 = 80<E<99 (moderadamente nocivo); Classe 4 = E>99% (nocivo). Fonte - Reis & Franco (2003 - não publicado).


Soja

Mal da haste A dificuldade de controlar os insetos vetores faz do tratamento de sementes a principal proteção das plantas contra o vírus da necrose da haste, que é transmitido com maior intensidade até os 45 dias do ciclo da cultura

O

s sintomas observados nas plantas necrose da haste e de pecíolos, com aparecimento de queima do broto e de pecíolos são típicos de uma enfermidade descrita no Brasil em 1955, denominada queima do broto, causada por vírus (Tobacco streak virus) e transmitida por tripes. É importante salientar que a queima do broto em soja é um sintoma que apresenta diversas variações de intensidade e de coloração, acompanhado ou não por necrose da haste e de pecíolos e é causado por diferentes vírus: Soybean mosaic virus- SMV, Tobacco ringspot virus –TRSV, Tobacco streak virus – TSV, Alfafa mosaic virus – AMV. O sintoma da queima do broto causado por alguns desses vírus é influenciado pelo genótipo. Dessa forma, a diagnose no campo torna-se difícil e pode levar a erros na identificação do vírus pela sintomatologia de campo.Em ataques severos da doença percebem-se o mosaico das folhas (Figura 3) e a redução no crescimento das plantas. Em alta incidência de mosca branca, observa-se o aparecimento do fungo da fumagina (folhas com cor negra e aspecto de fuligem). Plantas coletadas no campo podem exibir

haste total ou parcialmente necrosada. Corte longitudinal da haste pode mostrar a medula com pontos necróticos na junção do pecíolo necrosado, ou escurecimento total da medula. É importante determinar a sintomatologia correta da doença, já que outros fitopatógenos provocam a necrose interna da medula da haste (caule) principal (Figura 3). Como exemplo, doenças como a antracnose (Colletotrichum dematium var. truncatum) e a seca da haste e da vagem(Phomopsis phaseoli var. sojae) podem apresentar sintomatologia na haste que inicialmente pode ser confundida com a virose. Neste último caso, a virose apresenta deformação e redução no tamanho das folhas, com correspondente perda de clorofila e da atividade fotossintética. Em algumas regiões do pontal do Triângulo Mineiro (Ituiutaba, MG), locais de baixada e com intensa presença do vetor, tem-se observado uma sintomatologia de necrose apical da haste, anomalia esta que tem sido atribuída à deficiência de potássio e nunca correlacionada com a virose ou a presença do vetor nos campos de produção. Nesses locais são necessários uma investigação mais profunda da anomalia e testes apurados de diagnose do possível vírus

envolvido na etiologia. Inoculação mecânica do vírus, em plantas de diferentes espécies botânicas, mostrou que o patógeno possui estreita gama de plantas hospedeiras (Tabela 1).Experimentos em campo e observações práticas em diferentes cultivares de soja com e sem sintomas da doença tem apresentado perdas em torno de 2030 %, dependendo da época de plantio e da infestação inicial do inseto transmissor.

MANEJO A reação de resistência ou suscetibilidade de um grande número de cultivares em relação à virose pode ser encontrada na publicação de Almeida et al. 2002 (Necrose da Haste: uma nova virose da soja no Brasil, Embrapa-Soja, Circular Técnica, 11 p. ISSN 15167860). Nessa relação também são encontradas cultivares com a população desuniforme em relação à reação à doença.Como exemplo, podemos citar :BRS Carla, BRS Celeste, BRS MG Garantia, BRS MT Uirapuru etc. Além disso, caso tenha-se em campo uma infestação generalizada da mosca branca vetora da virose, deve-se utilizar da aplicação foliar de inseticidas adequados para o controle do vetor em áreas vistoriadas e com acompanhamento de um engenheiro agrônomo. O importante é saber a reação da cultivar à virose, ou monitorar as novas cultivares em campo, para decidir sobre o uso do inseticida no momento em que a população do inseto é inicial ou baixa. Estudos realizados na UFU têm demonstrado uma maior ocorrência do vetor (Bemisia tabaci ou B. argentifolii) e do vírus em locais de menor altitude (abaixo de 500 m) e Valdomiro Bullmann

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Fotos Fernando César Juliatti

Tabela 1 - Reação de espécies botânicas infectadas pelo vírus da necrose da haste da soja. Almeida et al., 2002 apud Juliatti; Polizel; Juliatti (2004) FAMÍLIA Amaranthaceae Chenopodiaceae

Compositae Leguminosae

Armadilhas de cor amarela ajudam a atrair o inseto vetor e determinar o momento certo de aplicar neonicotinóides

em áreas com culturas em sucessão (tomateiro rasteiro e feijoeiro irrigado), sob áreas irrigadas. É importante ressaltar que o manejo para as doenças viróticas transmitidas por insetos vetores apresenta diferentes formas de abordagem ou de manejo. Em relação à transmissão da virose, ela ocorre nas fases iniciais da cultura entre os primeiros 45 dias. Desse modo, é importante a proteção dos campos de cultivo com inseticidas neonicotinóides aplicados via semente, ou nas linhas de plantio em jato dirigido, quando o residual do tratamento de sementes termina. Isso pode ser observado quando a pressão populacional do inseto aumenta. Como as cultivares transgênicas (soja RR – resistente ao herbicida glifosato) avançarão no seu uso e cultivo nas áreas de soja nos diferentes estados da federação, é muito importante observar a evolução na sintomatologia e no aparecimento da virose para decidir sobre o momento e a necessidade real da aplicação aérea de inseticidas. Como existe ressurgência do cancro da haste da soja (Diaporthe phaseolorum f sp meridionalis – Phomopsis phaseoli), principalmente em algumas cultivares resistentes aos nematóides do cisto (ex. MGBR Liderança), deve-se atentar para que a doença não interfira no potencial produtivo das cultivares. Em-

TRANSMISSÃO

S

egundo o pesquisador da Embrapa – Soja, Álvaro Almeida em testes de transmissão por pulgões observou-se resultado negativo, enquanto que, utilizando moscas brancas da espécie Bemisia argentifolii, as plantas demonstraram sintomatologia oito a dez dias após a inoculação.Também foi feito teste de transmissão por sementes utilizando duas mil sementes da cv. Mirador previamente infectada mecanicamente. Avaliações feitas aos 14 e 28 dias após a semeadura não detectaram nenhuma planta sintomática.

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ESPÉCIE Amaranthus sp. Gomphrena globosa Chenopodium amaranticolor Chenopodium quinoa Chenopodium murale Helianthus annuus anuus Emilia sonchifolia Glycine max Cultivar Santa Rosa Cultivar Davis Cultivar FT-10 Cultivar Mirador Cultivar CD 206 Cultivar Embrapa 133 Cultivar Tucano Cultivar UFV 19 Phaseolus vulgaris Cultivar Rosinha Cultivar Carioca Cultivar Jalo Cultivar Manteiga Cultivar Tibagi Lupinus albus Crotalaria striata C. mucronata C. spectabilis Vigna unguiculata Cultivar Blackeye Lycopersicom esculentum Nicotiana tabacum ‘Sansun NN’ N. glutinosa N. benthamiana N. debneyi Datura stramonium Cucurbita pepo Cultivar ‘ Caserta’ Bidens pilosa Ocimun basilicum Zea mays Sesamun indicum

REAÇÃO* LN NS Mo/NS NS/Mo Mo NS

bora a prática do tratamento de sementes seja uma rotina na atividade dos produtores, deve-se ressaltar que ainda não é utilizada na sua totalidaML/E de. Na safra que se inicia e mesmo ML/E em produtores de alta tecnologia, essa prática muitas das vezes tem sido negligenciada por desconhecimento vantagens que a técnica apresenta na redução das perdas reais da doença. Como a necrose da haste pode aparecer na fase vegetativa de soja, visSolanaceae lumbra-se a vantagem desse tipo de tratamento que pouco onera o custo de produção (0,5 % do custo) pelo benefício que agrega ao setor produtivo. Uma prática simples para detectar a presença do inseto vetor na Cucurbitaceae área seria o uso de armadilhas de cor Compositae amarela que atraem o inseto e, quanLabiatae do untadas com óleo de câmbio, poGraminiae derão aprisionar insetos virulíferos Pedaliaceae M nas primeiras infestações e, assim, de- *NS= Necrose sistêmica; Mo= mosqueado; M= mosaico; LLN= lesão local necrótica; E= encarquilhamento; -= sem sintoma terminar o momento inicial da aplicação de neonicotinóides, via foliar. Apesar da de escala pode-se usar esse tipo de armadilha, dificuldade do uso dessa ferramenta nos cam- pois as maiores infestações sempre ocorrem pos de soja em grandes áreas, esta poderá ser pelas bordas da lavoura. Em relação às difeúltil em campos de soja para alimentação hu- rentes épocas de plantio praticadas no Brasil, mana, ou mesmo soja orgânica, quando se visa tem-se percebido que nos plantios mais tardiao uso de controles alternativos (óleo de Nim os a presença e a incidência da doença são etc.). Mesmo em áreas de soja em agricultura maiores que em plantios do cedo e uso de cultivares de ciclos mais precoces. Vale ressaltar que a palavra manejo não tem uma conceituação e aplicação única. Ela valoriza o trabalho do engenheiro agrônomo e o credencia a definir a melhor estratégia para a redução no ciclo de pragas e doenças no campo. Portanto, muito do que se têm publicado ou apresentado nas reuniões científicas serve de subsídio para a tomada de decisão do técnico, que teve em muito valorizado o seu trabalho nos C últimos anos. Tratamento de sementes mais uma vez é a chave para a prevenção da doença

Fernando César Juliatti, UFU

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Soja

Avanço facilitado Favorecida por alta umidade e temperatura, a antracnose está se disseminando nas lavouras de todo país, principalmente no Cerrado. O monocultivo da soja é apontado como principal fator para a disseminação do fungo e evolução da doença

C

omo toda cultura incipiente, a primeira fase de cultivo da soja no Brasil era tratada na época, pelos especialistas, como uma cultura de excelente sanidade. Entretanto, com vários anos de cultivo, as doenças começaram a aparecer, passando a representar um dos principais fatores limitantes ao aumento de rendimento. Inicialmente, as doenças associadas à cultura eram aquelas já mencionadas em sua região de origem. Após a grande expansão da soja no Brasil, houve surgimento de novos patógenos ou adaptação de alguns que, até então, eram considerados sem importância. Em função da falta de um manejo adequado para o controle das doenças que surgiam, permitiu-se a transmissão e disseminação desses patógenos para novas áreas de cultivo. Além disso, o monocultivo tornou-se uma prática que contribuiu grandemente para a evolução desses patógenos. Dentre essas doenças, a Antracnose causada pelo fungo Colletotrichum truncatum,

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tem-se destacado nas últimas safras como limitante na produção em muitas lavouras do Cerrado Brasileiro. A Antracnose da soja foi descrita pela primeira vez na Coréia, em 1917, sendo o agente causal identificado como Colletotrichum glycines Hori (fase assexuada). Nos Estados Unidos, a Antracnose foi relatada em 1920, sendo identificada à espécie Glomerella glycines Honi Lhemam e Wolf (fase sexuada) como o agente causal. Posteriormente, estudos morfológicos constataram que C. glycines e Colletotrichum truncatum (Schw.) Andrus e Moore são indistinguíveis, devendo prevalecer este último por prioridade. No entanto, outros estudos taxonômicos do gênero Colletotrichum, incluíram C. truncatum na espécie Colletotrichum dematium, sendo Colletotrichum dematium (Pers. ex. Fr.) Grove f. truncata (Schw.) Von Arx. a forma ou variedade especializada sobre leguminosas. Atualmente, considera-se Colletotrichum truncatum o patógeno que está associado à doença.

PERDAS Na lavoura, a doença ocorre apresentando distribuição espacial agregada (reboleiras), o que possivelmente dificulta a quantificação de danos. Infelizmente, muitos pesquisadores brasileiros ainda não acreditam ou desconhece o potencial destrutivo dessa doença, o que limita os trabalhos de

Vagens com manchas causadas por Colletotrichum dematium var. truncata as quais evoluem e caem da planta

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Fotos Hercules D. Campos

pesquisa e a geração de resultados rápidos e práticos que possam ser adotados pelo agricultor. Com o aumento no cultivo de variedades transgênicas os sintomas de fitotoxidez serão minimizados e, os sintomas e danos causados pela Antracnose podem tornar-se mais visível e possivelmente, maior atenção será dada a essa doença. Tem se observado que, sob condições de temperatura entre 22 e 32º C e alta umidade, a perda média é de 20%, podendo, em certos casos, ultrapassar a 80%. Em Rio Verde, Sudoeste de Goiás, as perdas na produtividade em função da queda de vagens proporcionadas pelo C. truncatum em plantas das cultivares BRSGO Caiapônia e MSOY 6101 chegaram aproximadamente 91 kg por hectare para cada vagem perdida/planta, considerando-se a incidência de 100% (experimentos conduzidos pela Universidade de Rio Verde – dados não publicados).

SINTOMATOLOGIA Os sintomas dessa doença podem ser observados visualmente desde as fases iniciais de desenvolvimento. A espécie C. truncatum produz acérvulos (estruturas reprodutivas) de coloração negra em estromas nos tecidos infectados. Os acérvulos são providos de setas escuras (3-8 x 60-30 mm), sendo os conídios (esporos) unicelulares e hialinos, (3-4,5 x 1731mm) e são produzidos em conidióforos dentro dos acérvulos. A Antracnose pode causar morte de plântulas, necrose dos pecíolos e manchas nas hastes e vagens. O inóculo proveniente de restos de culturas e sementes infectadas pode cau-

Visualização das estruturas reprodutivas (acérvulos) do fungo sobre haste de soja

Acérvulo de Colletotrichum contendo conídios (esporos) unicelulares e hialinos

sar necrose dos cotilédones, estendendo-se para o hipocótilo, causando tombamento de pré e pós-emergência. O fungo pode causar lesões de coloração castanho a negra nas nervuras foliares, pecíolos e em hastes. As lesões necrosadas observadas nas nervuras são facilmente confundidas a campo com fitotoxidez de alguns herbicidas utilizados em pós-emergência, o que pode dificultar a identificação da doença. Em áreas de cultivo de variedades convencionais, agricultores e técnicos deverão realizar uma análise criteriosa para identificar se o problema é realmente a Antracnose ou fitotoxidez por herbicidas. Quando o problema é a Antracnose, a mesma encontra-se distribuída de forma irregular na lavoura, sendo notadas áreas com maior e menor incidência e severidade. Quando é a fitotoxidez, observa-se distribuição uniforme na área toda ou faixas onde ocorreu sobrepo-

sição de aplicação dos herbicidas. Outro fator a ser analisado nos folíolos é a necrose na nervura: quando esta é continua, possivelmente trata-se de fitotoxidez. Quando a necrose é segmentada, ou seja, parte da nervura necrosada, parte verde, possivelmente é a Antracnose. Na dúvida, o agricultor ou técnico deverá recorrer ao auxílio de um laboratório especializado e credenciado junto ao M.A.P.A. Em condições de alta umidade, as hastes infectadas ficam cobertas por pontuações negras que são as estruturas reprodutivas do fungo (acérvulos). Portanto, a infecção pelo fungo pode ocorrer em qualquer parte da planta e em diferentes estádios fenológicos. As vagens infectadas nos estádios de R4 a R7 também apresentam manchas de coloração castanho-escura a cinza escuro com pontuações negras, que são os acérvulos. No início da formação dos grãos, quando a vagem torna-se totalmente comprometida, esta permanece retorcida. Além das lesões, o fungo pode causar alto índice de queda de vagens e em condições de alta umidade pode proporcionar deterioração das sementes e grãos.

CONDIÇÕES

A

Reboleiras: forma característica da doença se manifestar nas lavouras

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pesar de infectar qualquer estádio fenológico da planta, o mais vulnerável à infecção pelo patógeno é do início do florescimento (R1) ao estádio de maturação (R7). Outras condições predisponentes para o aumento da incidência da doença, além das condições de umidade e temperaturas citadas são: alta densidade de plantio, plantas com deficiência nutricional, áreas com problemas de compactação do solo, danos por percevejos e qualquer outro fator que proporcione estresse à planta são importantes para a evolução da doença.

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Fotos Hercules D. Campos

Lesões nas hastes, porém, o fungo pode se manifestar ainda em outros órgãos da planta, como pecíolos, nervuras foliares e vagens

MEDIDAS DE CONTROLE

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Dentre as medidas de controle, recomenda-se: utilizar sementes sadias procedentes de empresas idôneas; realizar o tratamento químico das sementes com fungicidas registrados no M.A.P.A.; controlar as populações de insetos sugadores na cultura, os quais causam ferimento e favorecem a entrada do fungo. A rotação e sucessão de culturas são de extrema importância para redução do inóculo sobre os restos de cultura da soja, onde os quais podem se manter enquanto parte da planta permanecerem sobre o solo. Utilizar espaçamento e populações adequadas e de acordo com as recomendações para cada cultivar a ser plantada. O manejo póscolheita visando o controle de plantas daninhas e das plantas de soja “tigüera” também é importante para evitar a propagação e sobrevivência do fungo na área. A adubação equilibrada propicia maior resistência das plantas ao patógeno. Além des-

sas medidas, evitar a utilização de produtos que causam efeitos fitotóxicos às plantas, pois esses podem proporcionar maior vulnerabilidade da planta ao patógeno. Em função dos danos e perdas que a Antracnose pode causar na cultura da soja, o uso de fungicidas também é uma ferramenta importante para o manejo dessa doença. De acordo com os resultados de pesquisas, os fungicidas eficazes no controle da Antracnose da soja são os sistêmicos, que, após sua aplicação na planta são absorvidos e translocados, geralmente via xilema, para outras partes da planta, atuando inclusive sobre o patógeno já estabelecido. Estes fungicidas possuem um modo de ação muito específico e atuam em baixa concentração. Dentre os grupos de fungicidas utilizados, destacam-se os benzimidazóis e as estrobilurinas que normalmente são utilizados em misturas com triazóis, visando o controle de outras doenças como a Ferrugem asiática. A melhor eficácia desses fungicidas é

A rotação de culturas é de grande importância para reduzir o inóculo do fungo

Com seu alto potencial destrutivo, a antracnose pode causar perdas de 80% da lavoura

obtida quando aplicados de forma preventiva (em áreas onde já possuem histórico da doença) ou quando, em sintomas iniciais nas plantas e as condições ambientais estiverem favoráveis ao progresso da doença. Em situações preventivas, recomendam-se aplicações desses fungicidas logo no início da fase reprodutiva das plantas. É importante salientar que em situações curativas, sob alta pressão de inóculo, os fungicidas não têm apresentado boa eficácia no conC trole da doença. Hercules Diniz Campos, Luís Henrique C. Pereira da Silva e Juliana Resende Campos Silva, Fesurv

SOBREVIVÊNCIA

O

fungo C. truncatum, pode sobreviver em restos de cultura, em outros hospedeiros (plantas daninhas e soja “tigüera” ou “guaxa”) e nas sementes infectadas. Normalmente o percentual de sementes infectadas em um lote é baixo, mas a viabilidade do inóculo é alta, tornando o principal veículo de disseminação entre lavouras e até mesmo de uma região para a outra. Na lavoura, os conídios do fungo são disseminados basicamente pelos respingos de chuva favorecendo a contaminação de outros órgãos na própria planta e entre plantas.

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Empresas

Charles Echer

Nova fase

Após obter sucesso nas primeiras safras de arroz através do sistema Clearfield de produção, a Basf anuncia novo projeto para coibir uso ilegal da tecnologia

A

produção de arroz através do Sistema Clearfield foi tão bem sucedida nas duas primeiras safras que a Basf anunciou recentemente um novo modelo de negócio, a fim de coibir o uso não-autorizado do sistema, com o objetivo de assegurar a sustentabilidade da cadeia arrozeira. Por causa dos bons resultados, muitos produtores estão fazendo o uso da tecnologia de forma errada, com sementes sem certificação, produtos não registrados, ou contrabandeados, e sem o monitoramento adequado, o que acabará comprometendo a produção a médio prazo. O Sistema Clearfield foi desenvolvido em cima de um tripé que envolve sementes certificadas e uso do herbicida Only, além de um programa de monitoramento constante. O sistema é altamente eficaz no controle do arroz vermelho e de outras plantas daninhas e vem, comprovadamente, aumentar a produtividade e qualidade dos grãos, garantindo um produto melhor para o consumidor, quando todos os passos são seguidos corretamente. Caso contrário, o risco de inviabilizar a tecnologia a médio prazo é muito grande. Em entrevista coletiva, o gerente de marketing da Basf, Gustavo Portis, explicou que a empresa já se reuniu com os diversos segmentos do setor arrozeiro para informar e esclarecer como será a implementação deste novo modelo de negócio. Em parceria com a PriceWaterhouseCoopers, a Basf iniciará nesta colheita o monitoramento das cargas de arroz entregues aos enge-

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nhos. A partir de amostras e posterior análise em laboratório, serão identificados os produtores que utilizaram sementes não-autorizadas e/ou herbicidas sem registro. Ao constatar o uso incorreto da tecnologia, a Basf cobrará do produtor indenização sobre o valor da saca do arroz.

PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO Caso o produtor tenha utilizado corretamente o Sistema Clearfield, ou seja, semente certificada, o herbicida Only e o Programa de Monitoramento, ele está isento de qualquer tipo de indenização para a Basf. Se o produtor utilizou semente não-certificada, ou herbicida sem registro, ele pagará para a Basf 2,5% sobre o valor do arroz comercializado. Caso ele tenha utilizado se-

No nononononononono

mente não-certificada e herbicida não-registrado, o produtor deverá pagar indenização de 5%. Pelo novo modelo de negócio, a Basf pretende atrair para o Sistema Clearfield os agricultores que vêm utilizando produtos não-registrados, demonstrando para eles que é melhor usar o sistema corretamente do que correr o risco de pagar indenizações a cada safra. Além de proteger seus direitos de propriedade intelectual, a iniciativa tem como foco garantir a sustentabilidade da cadeia produtiva a longo prazo. Portis explicou que o uso de produtos sem origem e certificação contribui para que o arroz vermelho desenvolva resistência ao herbicida Only e, conseqüentemente, comprometa a cultura do arroz no Rio Grande do Sul. “Precisamos atuar agora para que não haja um retrocesso em toda a cadeia produtiva do arroz, perdendo-se os benefícios com o controle do arroz vermelho, e também para que a Basf continue investindo em novas tecnologias e pesquisa”, destaca Portis. Resultados das últimas duas safras comprovam a eficiência do sistema no controle do arroz vermelho. Setenta por cento (70%) dos produtores que utilizaram o sistema de maneira correta chegaram a um adicional superior a mil quilos por hectare. Depois de processados nos engenhos, a presença de grãos inteiros foi de cerca de 60%. Já no primeiro ano de aplicação, o Sistema Clearfield gerou, em média, 20% de aumento na C produtividade.

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Cana-de-açúcar

José Francisco Garcia

O

bicudo da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis (Coleoptera: Curculionidae), é uma importante praga dos canaviais no estado de São Paulo. As larvas desse inseto destroem o rizoma da planta, causando prejuízos da ordem de 30 toneladas de cana por hectare, além de reduzir a longevidade do canavial. O bicudo da cana tem uma capacidade de vôo restrita, sugerindo que a dispersão do inseto a longas distâncias dá-se através das mudas retiradas de local infestado. Os adultos caminham lentamente possibilitando a sua dispersão de um talhão para outro vizinho.

BIOECOLOGIA As fêmeas inserem os ovos na base de brotações, abaixo do nível do solo, após perfurarem os tecidos sadios do rizoma com as mandíbulas presentes no ápice do rostro ou bico. Após sete a 12 dias de incubação dos ovos, as larvas eclodem e, ao se alimentarem, passam a escavar galerias no interior e na base da planta que permanecem cheias de serragem fina. O desenvolvimento das larvas dá-se em um período médio de 50 dias, sendo que no final dessa fase o inseto prepara uma câmara com a serragem e trasforma-se em pupa no interior dela. Após sete a 15 dias, emergem os adultos que permanecem no solo, sob torrões e restos vegetais ou entre os perfilhos, nas bases das touceiras. A longevidade média dos adultos é de 203 dias para os machos e de 224 dias para as fêmeas, com cada fêmea colocando ao longo desse período cerca de 40 ovos, podendo chegar a 60–70 ovos. Ocorrem dois picos populacionais para os adultos, sendo um menor no mês de outubro ou novembro, e o principal, em março. Para larvas, também ocorrem dois picos populacionais: um em dezembro e outro, de maior intensidade, em junho-julho. Esses dados sugerem a ocorrência de duas gerações anuais da praga, em épocas bem definidas.

CONTROLE

Testes com nematóides entomopatogênicos avaliam a melhor forma de controle do bicudo da cana-de-açúcar, praga com dois picos populacionais durante o ano, sendo o principal deles em março

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Luis Garrigós Leite

Alternativa de controle

No controle desse inseto tem sido reco-

Juvenis infectivos do nematóide Steinernema sp. emergindo do adulto de Sphenophorus levis morto pela combinação nematóide-thiamethoxam

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DANOS mendado um conjunto de medidas que consiste na destruição mecânica da soqueira na época apropriada; no uso de iscas tóxicas; na manutenção da área destruída livre de vegetação hospedeira por um período prolongado (> 3 meses) e no plantio com aplicação de fipronil 800 WG (250 g/ha). Entretanto, apesar de todas essas medidas, ainda tem ocorrido um incremento nas populações da praga, sendo freqüente, nos últimos anos, registros de novas áreas infestadas. Isso demonstra a dificuldade de controle desse inseto, ressaltando a importância da continuidade de pesquisas na busca de alternativas mais eficazes, sem poluir o meio ambiente. Nos EUA e Japão, algumas espécies de Sphenophorus são pragas importantes em gramados, sendo eficientemente controladas pelo uso de nematóides entomopatogênicos. O nematóide S. carpocapsae, na dosagem de 2,5 x 109 juvenis infectivos/ha, proporcionou níveis de controle variáveis de 70,4 a 91,2% para S. purvulus em estudos realizados nos Estados Unidos, e de 77,3 a 96,2% para Sphenophorus venatus em testes no Japão. Já a espécie

H. bacteriophora, na mesma dose, foi um pouco menos eficiente para S. purvulus, proporcionando níveis de controle variáveis de 67,0 a 84,1%. Todos os estágios imaturos desses insetos são suscetíveis aos dois nematóides, o mesmo ocorrendo com os adultos de S. venatus em relação a S. carpocapsae. Nematóides entomopatogênicos associam-se por simbiose a bactérias e invadem o corpo do hospedeiro, liberando esses microorganismos que causam a morte rápida do inseto. Os nematóides alimentam-se intensamente da bactéria e dos tecidos do inseto morto, reproduzindo-se por várias gerações. Conseqüentemente, com o fim do alimento, milhares de nematóides conhecidos como juvenis infectivos deixam o cadáver do inseto na busca de novos hospedeiros. Entre as razões para uso comercial de nematóides, podem-se citar: 1) possibilidade de produção massal in vitro e formulação a custos tidos como economicamente viáveis; 2) específicos para insetos, com comprovada eficiência no controle de certas espécies, em especial das chamadas pragas de solo, ou que

Figura 1 - Mortalidade de larvas de Sphenophorus levis tratadas com os nematóides Steinernema sp. (S) e Heterorhabditis indica (H) nas dosagens de 2,4; 12 e 60 JI/cm2

Figura 3 - Ganho na produção de cana-de-açúcar (t/ha) obtido com o inseticida thiamethoxam nas dosagens de 500, 1000 e 1500 g p.c./ ha, e com os nematóides Steinernema sp. e Heterorhabditis sp., na dosagem de 1 x 108 JI/ha, em diferentes combinações com o inseticida químico nas subdosagens de 250 e 500 g p.c./ha

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O

s danos são causados pelas larvas que abrigam-se no interior do rizoma e danificam os tecidos. Em consequência pode ocorrer a morte da planta e falhas nas brotações das soqueiras, com perdas de 20 a 30 toneladas de cana/ha/ano. Os seguidos ataques nas áreas de soqueiras e a conseqüente redução do “stand” da cultura ocasionam perdas cumulativas nos cortes, obrigando a reformas precoces do canavial, que muitas vezes não passam do segundo corte. passam parte do ciclo biológico no solo; 3) em muitos casos, comportamento de busca do hospedeiro; 4) persistência por longos períodos no ambiente; 5) não toxicidade ao homem ou a animais domésticos e de interesse zootécnico; 6) isenção de registro dos produtos biológicos formulados à base de nematóides junto a Environmental Protection Agency

Figura 2 - Mortalidade de adultos de Sphenophorus levis tratados com os nematóides Heterorhabditis indica e Steinernema sp. nas dosagens de 2,4; 12 e 60 JI/cm2, em diferentes combinações com subdosagens dos inseticidas fipronil 800 WG (62,5 g p.c./ha), e thiamethoxam 250 WG (250 g p.c./ha)

Figura 4 - População de escarabeídeos em parcelas de cana-de-açúcar tratadas com os inseticidas fipronil 800 WG (250 g p.c./ ha) e thiamethoxam 250 WG (800 g p.c./ha), e com o nematóide Steinernema sp. (1 x 108 JI/ha) em combinações com esses inseticidas nas subdosagens de 62,5 e 200 g p.c./ha, respectivamente

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ORIGEM DE SPHENOPHORUS

O

gênero Sphenophorus ocorre em diversos países, de vários continentes, abrangendo um complexo de espécies que danificam culturas de importância econômica do grupo das gramíneas. Somente nos EUA ocorrem mais de 64 espécies desse gênero, sendo que 20 já foram registradas na Flórida. Diversas espécies são encontradas também em países da América do Sul, tendo sido descritas 14 especies no Brasil, incluíndo S. levis que foi descrita como espécie nova em 1978. A importância de S. levis como praga da cana-de-açúcar no Brasil somente foi (EPA), nos Estados Unidos, ou a organismos congêneres em vários outros países; e 7) são compatíveis a muitos defensivos químicos, podendo causar efeitos sinérgicos no controle de pragas quando usados em associação com subdosagens de inseticidas químicos e biológicos.

NEMATÓIDES ENTOMOPATOGÊNICOS

Programa de Inovação Tecnógica em Pequenas Empresas (Pipe) – fase I e II. Inicialmente, foi realizado um teste de laboratório para avaliar a susceptibilidade de larvas de S. levis aos nematóides Heterorhabditis indica (isolado IBCB-n5) e Steinernema sp. (IBCB-n6). Esse estudo demonstrou que as larvas são susceptíveis a esses agentes, o que motivou a instalação de um segundo ensaio, em casa-de-vegetação, para comparar a eficiência desses dois nematóides contra larvas de S. levis alojadas dentro do rizoma da planta, em condições de ambiente mais próximas das condições de campo. O nematóide Steinernema sp. apresentou-se mais eficiente que H. indica, proporcionando mortalidade do inseto de 70%, quando avaliado já na menor dosagem de 2,4 juvenis infectivos (JI)/cm2, equivalente a 1 x 108 JI/ha (Figura 1).Todas as larvas mortas do inseto encontravam-se dentro

Fotos Luis Garrigós Leite

O Instituto Biológico (IB), em colaboração com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e Universidade Federal de São Carlos (Ufscar/CCA), vem desenvolvendo pesquisas procurando avaliar nematóides entomopatogênicos para o controle de S. levis. Para esses estudos, o IB conta também com a parceria da empresa Bio Controle Métodos de Controle de Pragas Ltda, sendo o financiamento proveniente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no

conhecida a partir de 1977, sendo que em 1989 o inseto foi detectado em 14 municípios ao redor de Piracicaba, causando a morte de 50-60% dos perfilhos ainda na fase de cana-planta, com cinco a sete meses de crescimento. Atualmente, S. levis encontra-se distribuído em mais de 40 municípios, incluindo as regiões Central (Araraquara, São Carlos, Jaú etc.); Sul (Assis, Ourinhos); Nordeste (Pradópolis) e Leste (Leme, Pirassununga, Araras, São João da Boa Vista, Santa Cruz das Palmeiras etc.), estando portanto em quase todas as regiões de cultivos de cana-de-açúcar do estado de São Paulo.

dos canais construídos no rizoma da planta, alojadas em distâncias de até 4 cm a partir da abertura do canal, o que demonstra a capacidade desses dois nematóides para a localização e busca do hospedeiro, locomovendo-se inicialmente pelo solo e, em seguida, pelo canal até alcançar o inseto. Em outros ensaios, os nematóides H. indica e Steinernema sp. foram avaliados em associação com subdosagens de inseticidas químicos quanto à mortalidade de larvas e adultos de S. levis em condições de laboratório. Nos testes com larvas, as combinações nematóide-inseticida não proporcionaram nenhuma contribuição para o incremento na mortalidade do inseto. Porém, nos testes com adultos, ocorreu um efeito de sinergismo para várias combinações entre os nematóides e os inseticidas, principalmente para a mistura Steinernema sp. (1 x 108 JI/ha) + thiamethoxam 250 WG (250 g p.c./ha), com níveis de mortalidade de adultos acima de 70%(Figura 2). Os nematóides H. indica e Steinernema sp. se reproduziram dentro dos adultos de S. levis mortos nas diferentes combinações nematóides-inseticidas, o que destaca essa fase do inseto como importante fonte de inóculo para a reciclagem desses nematóides no ambiente, principalmente em áreas tratadas com a mistura de Steinernema sp. + thiamethoxam. Finalmente, foi feito um teste de campo na Usina São João, município de Araras (SP), procurando avaliar a eficiência desses nematóides contra o bicudo da cana-de-açúcar e o efeito da associação desses agentes na dosagem de 1 x 108 JI/ha, com subdosagens do thiamethoxam 250 WG. O experimento foi instalado no início de fevereiro de 2004, em período chuvoso, quando o solo apresentava umidade favorável para ação dos entomopatógenos. Os nematóides H. indica e Steinernema sp., testados isoladamente, proporcionaram ganhos na produção de 10 e 15 t/ha, respectivamente, quando comparados à testemunha com rendimento de 101 t/ha (Figura 3). O melhor tratamento foi a mistura do nematóide Steinernema sp. com o inseticida na subdosagem de 500 g p.c./ha, proporcionando um incremento na produção de cana de até 28 ton/ha.

BESOUROS ESCARABEÍDEOS

Larva de Sphenophorus levis infectada pelo nematóide Heterorhabditis sp., dentro do rizoma da cana-de-açúcar

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Diversas espécies de insetos da família Scarabaeidae ocorrem na cultura da cana-deaçúcar. São considerados de menor importância que o S. levis, no entanto, estão mais distribuídos nos canaviais paulistas, podendo alcançar níveis de infestação de até 200 insetos em uma área de 4 m2 por 0,3 m de profundidade. Em teste de campo instalado recentemente em usina de cana-de-açúcar no município de Piracicaba (SP), foi avaliado o nematóide

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Longevidade do inseto adulto atinge mais de 200 dias

Desenvolvimento da larva de Sphenophorus dura aproximandamente 50 dias no interior dos colmos

Steinernnema sp., na dosagem de 1 x 108 JI/ ha, sendo testado isoladamente e em associação com subdosagem de fipronil (62,5 g p.c./ ha) e de thiamethoxam 250 WG (200 g p.c./ ha). O experimento foi instalado no final de novembro de 2005, também em período chu-

voso. Os resultados da primeira avaliação, feita com 40 dias após a aplicação, indicam que esse nematóide, além de combater o bicudoda-cana, ataca também larvas de escarabeídeos, conhecidos como pão de galinha ou corós, proporcionando níveis de controle acima de 77% na mistura do nematóide com subdosagens dos inseticidas (Figura 4).

NEMATÓIDES COMO BIOINSETICIDAS Os estudos desenvolvidos permitem concluir que o nematóide Steinernema sp. é uma alternativa viável para uso no controle de S.

levis e larvas de escarabeídeos, podendo ser recomendado na dosagem de 1 x 108 JI/ha, com resultados satisfatórios no ganho de produção de cana quando usado isoladamente ou em mistura com subdosagens de inseticidas químicos. O nematóide aplicado no período chuvoso entre os meses de novembro a fevereiro deve proporcionar um controle duradouro da população desses insetos, com o mínimo de impacto ao meio ambiente. Para exploração desse bioinseticida, o Instituto Biológico desenvolveu também técnicas de produção industrial e formulação de nematóides entomopatogênicos. Além disso, implantou uma biofábrica de nematóides onde será realizada a produção do Steinernema sp., inicialmente em escala piloto visando fornecer material para testes em áreas de cana-deC açúcar e outras culturas. Luis Garrigós Leite, Antonio Batista Filho, Fernando Martins Tavares e Carmen Maria A. Ginarte, Instituto Biológico/CEIB Luiz Carlos de Almeida, CTC Paulo Sérgio M. Botelho, UFSCar/CCA


Trigo

Trigo em alta Levando-se em conta a queda de produção e a conseqüente redução dos estoques internacionais, a safra de inverno de 2006 traz o trigo como principal opção de lucro para produtores brasileiros, visto a baixa oferta do cereal no cenário mundial

O

que o consumo local ainda está muito abaixo do que recomendam órgãos como a FAO e, assim, tem muito espaço para crescer. Dessa forma, o consumo que no ano passado foi de 609,2, agora está sendo apontado em 623,8 milhões. Com isso os estoques mundiais estão passando de 149,6 milhões de t para 141,9 milhões de t atuais. E o que isso traz de benefícios ou de estímulo aos produtores brasileiros? A resposta é rápida, estamos neste momento com as cotações do trigo cerca de US$ 40 por t acima do que operava no mesmo período do ano passado, com indicativos de liquidação do produto no mercado brasileiro entre os US$ 200/210 por t junto aos moinhos, contra US$ 155/170 que liquidavam no ano passado. O trigo na Argentina, que em 2005 podia ser comprado na casa dos US$ 115/120 por t, agora está sendo apontado entre os US$ 145/155, e indicativos de que irá mais adiante, porque a safra local está sendo reduzida das 16 para as 12 milhões de t e, assim, menos produto sobra para ser exportado. E isso já está originando uma corrida dos compradores ao trigo portenho, como é o caso dos moinhos brasileiros, que compraram até

9 de fevereiro cerca de 2,7 milhões de t contra 1,2 do mesmo período do ano passado. Com o aperto na oferta na Argentina, o Brasil poderá ter que ir buscar o cereal em outras origens, sendo o Canadá uma opção, mas onde o trigo vem sendo cotado na casa dos US$ 200 por t na origem e, dessa forma, chegaria aos moinhos brasileiros acima do US$ 250 por t, ou seja, caro. Também podendo comprar no Leste Europeu, onde tem havido problemas com alguns fungos que existem nas lavouras locais e que não estão presentes no Brasil, podendo haver barreira sanitária a essas importações. O ponto importante é que será mais difícil para os moinhos se abastecer no mercado mundial neste ano de 2006, por isso é que muitos estão estimulando os produtores a plantar, porque terão que pagar mais pelo cereal para continuar operando e crescendo.

TRIGO DE 2005 FARÁ FALTA EM 2006 Nesta última safra o Brasil colheu cerca de 4,8 milhões de t, contra as 5,8 milhões de t da safra passada, e junto tivemos um grande volume de trigo sendo encaminhado para ra-

Charles Echer

s produtores do Sul do país e de parte do Centro estão começando a colheita da safra de verão e junto aumentando as dúvidas sobre o que plantar, ou se vale a pena plantar a safra de inverno. Para tentar dar uma luz para o setor e ajudar na decisão, estamos montando esta pequena análise sobre o mercado brasileiro e internacional do trigo. Com isso indicamos: trigo é uma boa opção para este inverno. Por que da posição? O quadro atual no mercado mundial é de queda na produção e, junto de redução dos estoques internacionais, que mostraram a safra prejudicada pelo clima, que anda irregular pelo mundo afora e junto também causou grandes estragos às lavouras do Paraná e de São Paulo, sem contar algumas do RS no último ano, em cima do clima que foi irregular e trouxe chuvas na colheita. Enquanto em outros pontos do mundo tivemos temperaturas altas e seca que diminuiu a produção das 626,7 milhões de t para as 616,1 milhões. A economia mundial em crescimento, principalmente nos países asiáticos, com 9,9% na China e 7% na Índia, faz a demanda de alimentos crescer, lembrando

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Fotos Divulgação

Oferta e demanda mundial de trigo (milhões de t) Safra 03/04 04/05 05/06*

Estoque Inicial 166,1 132,1 149,6

Produção 554,6 626,7 616,1

Importação 102,1 109,8 106,6

Consumo 588,6 609,2 623,8

Exportação 109,4 110,5 110,4

Estoque Final 132,1 149,6 141,9

Fonte: USDA, Brandalizze Consulting

Área plantada com trigo e expectativa da safra nova do Brasil (1000 ha) Mercado mundial sem oferta incentiva a produção de trigo no Brasil

ção, que pode ter superado a marca de um milhão de t. Dessa maneira neste momento os estoques nacionais estão em queda, e há pouco nas mãos de produtores e comerciantes, com o maior volume nas mãos do governo, que conta com cerca de 1,1 milhão de t e terá de vender para suprir o setor industrial. Assim, chegaremos à nova safra sem trigo em estoque e estaremos vendo um mercado mundial com grande aperto na oferta, principalmente junto ao nosso principal fornecedor que é a Argentina, que, no ano passado, até 9 de fevereiro já havia fechado 6,8 milhões de t em exportação e, agora, em 2006, somente 4,5 milhões, caminhando para ter queda de três a quatro milhões de t no volume acumulado de exportações deste ano. Mesmo com o câmbio sendo o mais baixo desde 2001, a alta do trigo no mercado internacional em cerca de 25% deverá compensar os produtores, porque, além do mercado externo estar mais forte neste ano, há falta de produto para atender nossas necessidades que devem se aproximar das 11 milhões de t. A área plantada com o trigo teve ligeiro crescimento na última safra, quando avançou no RS em bom ritmo e também cresceu proporcionalmente em SC e MS, com crescimento do Paraná, que segue como maior plantador e produtor do trigo. Neste ano os produtores do Norte do Paraná estão plantando a safrinha do milho mais cedo, e como grande parte destes tiveram problemas na colheita da safra passada em função das chuvas, poderá haver leve queda na área efetivada, com comentários de que o plantio fique em 1,3 milhão de hectares. Enquanto isso, nas demais regiões produtoras, tem se indicado para manter ou elevar os níveis. Os produtores do Brasil Central devem plantar cerca de 30 mil hectares de lavouras baseadas na irrigação em cima de lavouras de feijão, cenoura, batata e outros produtos plantados em Minas Gerais, Goiás e em torno do Distrito Federal. O produto do Brasil Central tem aparecido com alta qualidade e alta produtividade e, assim, se torna uma importante opção de rotação de cultura para o meio

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Safra 04/05 05/06

RS 845 1.098

SC 60 81

PR 1.276 1.350

SP 56 54

MS 95 136

MG 14 15

GO/DF 23 13

BR 2.361 2.756

Fonte: CONAB, Brandalizze Consulting

do ano e que traz lucros aos produtores, que indicam ter custos ao redor dos R$ 1,2 mil por hectare e um faturamento médio na região de R$ 2,4 mil, sendo uma boa alternativa para o segmento. Os moinhos também apontam que este será um bom ano para o trigo, porque há forte queda na produção do arroz, que reduziu a safra em mais de 13%, e, dessa forma, as grandes promoções atrativas ocorridas no ano passado devem diminuir no longo do ano e trazer de volta os consumidores das massas, macarrão, bolos e pão, porque junto estaremos vendo o crescimento real do salário mínimo, que a partir de abril passa para R$ 350 e assim dará maior poder de compra aos consumidores e os trará para uma melhor demanda de alimentos. Em resumo, este ano caminhamos para uma situação de ganhos aos produtores brasileiros, com sinais para que se opere o trigo com ajustes de US$ 20 a US$ 40 por t acima do que se negociou no ano passado. E, junto, alguns custos devem ter que-

Trigo oferta e demanda do Brasil (1000t) Safra OFERTA Est. Iniciais Produção Importação Oferta total DEMANDA Consumo Exportação EST. FINAL

02/03

03/04

04/05

05/06

627 2.910 6.850 10.387

409 5.850 5.700 11.959

422 5.845 5.310 11.940

1.240 4.873 5.900 11.005

9.978

10.162 1.375 422

10.337

10.820 400 793

409

1.240

Fonte: Conab; Brandalizze Consulting, Abitrigo, Decex

da em dólar e dessa maneira trazer o cereal para o grupo de produtos que lhes dêem margem de lucro. Com avaliação dos dados internacionais e da demanda potencial no mercado interno com maior poder de compra dos consumidores, estamos novamente apontando que o triC go é uma boa opção para este inverno. Vlamir Brandalizze, Brandalizze Consulting

2006 será um ano ruim para os moinhos abastecerem o mercado, assim, a promessa é que neste ano se plante e se ganhe mais na venda do produto

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Arroz

Força extra O silício começa a ganhar espaço na agricultura. O aumento da resistência das plantas contra pragas e doenças e a redução de aplicações de agroquímicos são algumas das vantagens apontadas pela pesquisa sobre o nutriente

O

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tolerância a elementos tóxicos como o manganês e o ferro, além de reduzir os danos causados por baixas temperaturas. Adubos contendo silício são atualmente usados em Gaspar H. Korndörfer

elemento silício (Si) é considerado por vários cientistas um nutriente “benéfico”, não sendo admitido na maioria dos casos como sendo um elemento essencial para as plantas. Apesar disso, o ácido monosilícico (H4SiO4) é absorvido do solo em quantidades tão grandes que podem superar os macronutrientes, tais como o nitrogênio e o potássio, em certas espécies de plantas. Os efeitos benéficos do Si foram comprovados em vários trabalhos científicos, especialmente quando as plantas foram submetidas a condições de estresse biótico e/ou abiótico. Os silicatos, principais fontes de Si, quando utilizados como corretivo ou fertilizante podem melhorar de forma muito significativa as propriedades químicas do solo, aumentar a taxa fotossintética das plantas, aumentar a resistência contra pragas e doenças, regular a transpiração, aumentar a

vários países do mundo, e o silício tem sido considerado um elemento de extrema importância para a sustentabilidade não apenas da agricultura convencional, mas também da agricultura orgânica e/ou biodinâmica.

SILÍCIO NO SOLO

Resposta das plantas de arroz às diferentes doses de silício aplicadas, mostrando seu efeito no desenvolvimento e resistência à queima das bainhas

O silício presente na solução do solo é proveniente principalmente da decomposição de resíduos vegetais, da dissociação do ácido silícico polimérico, da liberação de Si dos óxidos e hidróxidos de Fe e Al, da dissociação de minerais cristalinos e não cristalinos e da adição de fertilizantes silicatados. As principais formas de silício presentes no solo são: Si “solúvel”, ou facilmente aproveitável pelas plantas, forma essa constituída primordialmente pelo ácido mono silícico (Figura 1); Si “adsorvido”, ou pre-

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Charles Echer

Figura 1 - Dinâmica do Si no solo considerando principalmente as perdas e contribuições para a solução do solo

SILÍCIO NA PLANTA O aumento na disponibilidade do Si no solo é geralmente acompanhado pelo seu aumento da concentração na planta, resultando em incremento no crescimento e produtividade de várias gramíneas, principalmente arroz, cana-de-açúcar, sorgo, milheto, braquiária, aveia, trigo, milho e algumas dicotiledôneas, tais como soja, feijão, tomate, morango e pepino (Korndörfer et al., 2005). As plantas absorvem o Si diretamente

da solução do solo principalmente via fluxo de massa (Jones & Handreck, 1967; Postek, 1981; Dayanadam et al., 1983). A absorção pode ocorrer de forma rápida ou lenta. Gramíneas como o arroz, por exemplo, possuem absorção rápida ou ativa, isto é, a absorção do Si ocorre mais rapidamente que a da água, resultando na redução do Si na solução do solo (Ma et. al., 2002, 2004.). Já na maioria das dicotiledôneas, essa absorção se dá de maneira lenta, ou seja, a taxa de absorção de Si pelas raízes é similar à da

COMERCIALIZAÇÃO DO SILÍCIO cipitado com óxidos de ferro, alumínio e manganês (McKeague & Cline, 1963); sílica “biogênica” oriunda da decomposição da matéria orgânica e constituída por formas amorfas ou poliméricas de Si (Matichenkov & Ammosova, 1996) e Si “estrutural” proveniente da composição dos minerais silicatados. Tabela 1 - Efeito de fontes de Si nas características químicas do solo e na concentração de Si na planta de arroz Fontes

Dose Si Solo Si Planta pH Si P Ca mg/kg g/kg (H2O) mg/kg cmc/dm Testemunha 0 11c 4,6c 5c 20d 1,8b Escória Tennesse 500 14b 5,4b 53b 46b 4,4a Wollastonita 500 22a 5,7ab 58b 34c 4,4a Minas Liga 500 15b 5,8ab 8c 37c 2,1b Serpentinito 500 7d 4,8c 9c 37c 1,9b Termofosfato 500 20a 6,2a 107a 345a 4,5a

A

Legislação Brasileira de Fertilizantes até o ano de 2004 não permitia a comercialização do Si como fertilizante, porém algumas empresas, de uma forma indireta, forneciam Si para a indústria de fertilizante como “carga ou enchimento” no fechamento das formulações NPK. Dessa maneira, em muitos casos o fechamento das formulações era feito com silicatos. Esses silicatos, apesar de não serem reconhecidos como fontes de Si, comprovadamente traziam benefícios para a produção agrícola, mesmo sem o reconhecimento de alguns pesquisadores. Os produtores, ao adquirirem um formulado contendo N, P e K recebiam também o Si de maneira indireta. Na impossibilidade de se comercializar o Si como elemento benéfico para

as plantas cultivadas, algumas empresas passaram a comercializar o Si na forma de silicato, utilizando-se da legislação de corretivos, já que os silicatos, principal fonte de Si, são excelentes corretivos da acidez do solo. Os resultados agronômicos com o uso de silicatos em comparação com os de calcários eram, em muitos casos, superiores, evidenciando assim o efeito do Si presente no corretivo de acidez. Mais recentemente, em virtude dos efeitos benéficos desse elemento na produção vegetal, o Ministério da Agricultura incluiu o silício na lista dos micronutrientes conforme decreto lei nº 4.954, aprovado em 14 de janeiro de 2004 e que dispõe sobre a produção e a comercialização de fertilizantes (Brasil, 2004).

Adaptado de Korndörfer & Gascho (1999)

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Gaspar H. Korndörfer

1995; Korndörfer et al. 1999; Faria, 2000) (Figura 2). Além do efeito na transpiração, a deposição de sílica na parede das células torna a planta mais resistente ao ataque por patógenos fungícos e insetos (Dayanandam et. al., 1983). Os mecanismos de resistência às doenças conferidos pelo silício são decorrentes de sua associação com os constituintes da parede celular, tornando-as menos acessíveis às enzimas de degradação (resistência mecânica), ou através da ativação de mecanismos de defesa (Rodrigues et al., 2003, 2004).

O SILÍCIO NA CULTURA DO ARROZ

Testes com outras culturas também mostram os resultados positivos do uso de silicato de potássio

água. O transporte do ácido monosilícico (forma absorvida pelas plantas) no interior da planta acontece no mesmo sentido do fluxo de água (transpiração). Sendo assim, os depósitos de Si ocorrem com maior freqüência nas regiões onde a água é perdida em maior quantidade (transpiração), ou seja, na epiderme foliar (Dayanadam et. al., 1983). Segundo Kitajima (2002), a maior acumulação de Si observada em espécies da floresta tropical, comparadas com as espécies da floresta temperada, deve-se possivelmente, entre outros motivos, à maior transpiração em climas mais quentes. A acumulação de Si junto aos órgãos de transpiração causa redução na perda de água por diminuir a abertura dos estômatos (Oli-

Datnoff & Rodrigues

Figura 3 - Desenvolvimento dos sintomas da brusone, causada pelo fungo Magnaporthe grisea, em folhas de plantas de arroz fertilizadas (+ Si) ou não (- Si) com silício

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veira & Castro, 2002). Nas folhas de arroz, forma-se uma camada de sílica abaixo da cutícula, a qual, dentre outras funções, também limita a perda de água (Takahashi, 1995). Segundo Marschner (1997) e Takahashi (1995), o Si acumulado junto aos estômatos reduz a taxa de transpiração, diminuindo assim o consumo de água pela planta. Em ambientes como do “Cerrado”, a acumulação de Si nos órgãos de transpiração provoca a formação de uma dupla camada de sílica, o que causa redução da transpiração, por diminuir a abertura dos estômatos, e limita a perda de água (Takahashi,

A adubação com Si tem mostrado eficiência no controle de várias doenças importantes, principalmente de etiologia fúngica. No caso do arroz, a adubação com Si pode eliminar ou reduzir o número de aplicações com fungicidas durante o ciclo da cultura. Isso ocorre porque, no arroz, o Si deposita-se em maior proporção abaixo da cutícula, formando uma camada de sílica, contribuindo para fortalecer a parede celular e dificultar a penetração do patógeno (Yoshida, 1965). Assim, o manejo do Si na nutrição de plantas poderá contribuir de forma significativa para uma agricultura mais sustentável e com menor agressão ao meio ambiente. Estudos mais recentes comprovam que pode haver uma associação positiva no controle de doenças entre o fornecimento de Si e a potencialização de defesas da planta, tais como a produção de compostos fenólicos e fitoalexinas (Rodrigues et. al., 2003, 2004). Fitoalexinas são substâncias antimicrobianas sintetizadas de novo por algumas plan-

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

T

rês eventos internacionais sobre “Silício na Agricultura” foram realizados nos últimos anos. O primeiro foi na Flórida (EUA) em 1999, o segundo em Tsuruoka (Japão) em 2002, e o terceiro, em outubro de 2005, em Uberlândia (Minas Gerais). Cientistas de mais de 20 países estiveram reunidos para discutir a importância do Si para as plantas cultivadas. As discussões envolveram várias áreas das Ciências Agrárias, tais como: ciência do solo, fitopatologia, microbiologia e entomologia. A Universidade Federal de Uberlândia através do Grupo de Pesquisa “Silício na Agricultura” reúne professores e

pesquisadores de renome internacional, os quais desenvolvem trabalhos de pesquisa em parceria com várias instituições internacionais como a Universidade da Flórida (EUA), Universidade de Laval (Canadá), South African Sugar Association (África do Sul), CSIRO - Land and Water (Austrália) e várias outras instituições nacionais, tais como a UFV, UFLA, UFMT e CENA/USP. A iniciativa privada, através dos produtores de insumos (fertilizantes), usinas de açúcar e álcool, e produtores rurais também participam e apóiam financeira e tecnicamente o desenvolvimento de inúmeros projetos de pesquisa.

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Figura 2 - Efeito de doses crescentes de Si sobre a produção de grãos de arroz em diferentes tensões de água no solo (Faria, 2000)

tas em resposta a infecções por patógenos. Plantas de arroz fertilizadas com Si e inoculadas com o fungo Magnaporthe grisea, causador da brusone, produziram em abundância duas fitoalexinas, denominadas de momilactonas A e B, em comparação às plantas não fertilizadas com Si e infectadas pelo fungo (Rodrigues et al., 2004). A Figura 3 mostra os sintomas de brusone em folhas de arroz fertilizadas (+Si) ou não (Si) com Si. A redução na sintomatologia da brusone deve-se, em parte, ao acúmulo dessas fitoalexinas nos sítios de infecção que desaceleram a colonização dos tecidos da folha de arroz pelo patógeno. Nem todas as

Figura 4 - Efeito das doses de Si sobre a produção de grãos de arroz, em diferentes tipos de solos (Faria, 2000)

plantas são capazes de sintetizar fitoalexinas, mas a grande maioria produz compostos fenólicos pré e/ou pós-formados com atividade antimicrobiana. Segundo Korndörfer & Gascho (1999), tanto as variáveis do solo como o da planta de arroz foram significativamente afetados pelas fontes e doses de Si utilizadas (Tabela 1). Durante os estágios iniciais (três semanas), diferenças no hábito de crescimento (plantas mais eretas), na altura da planta, na produção de matéria verde e na coloração das folhas do arroz destacaram-se nos tratamentos com silicato de cálcio, Wollastonita e termofosfato, quando comparados

com as demais fontes. Todas as fontes de Si “reativas” aumentaram o pH do solo. Observa-se um aumento significativo na produção do arroz irrigado (47%) com o aumento das doses de silicato (Tabela 2). O aumento da produção deve-se ao efeito do Si no controle da brusone nas folhas de arroz. Segundo Faria (2000), a produção de grãos do arroz aumentou de maneira positiva com o aumento das doses de Si aplicadas ao solo. Independentemente do tipo de solo, houve uma resposta linear da produção de grãos que variou de 38,6 até 54,3 g/ vaso na Areia Quartzosa e de 60,6 até 79,0


Charles Echer

Figura 6 - Efeito da aplicação de silicatos de Ca+Mg sobre o pH (CaCl2) do solo após 56 dias de incubação

(Fonte: Pereira & Korndörfer, dados não publicados)

g/vaso no Latossolo Vermelho-amarelo, respectivamente para as doses 0 e 600 kg/ha de Si (Figura 4). Esse comportamento linear sugere que a produção de grãos poderia ter sido ainda maior, caso fossem utilizadas doses de Si superiores a 600 kg/ha.

FONTES DE SI As características consideradas ideais para uma boa fonte de Si para fins agrícolas são: alta concentração de Si solúvel, boas propriedades físicas, facilidade para a aplicação mecanizada, pronta disponibilidade de Si para as plantas, boa relação e quantidades de cálcio (Ca) e magnésio (Mg), baixa concentração de metais pesados e baixo custo. Um número grande de materiais tem sido utilizado como fonte de Si para as plantas. Esses produtos são as escórias de siderurgia, Wollastonita, subprodutos da produção de fósforo elementar, silicato de cálcio e magnésio, silicato de sódio, cimento, termofosfato, silicato de magnésio (serpentinito) e silicato de potássio. A Wollastonita é um silicato de cálcio muito empregado em estudos envolvendo Si. As escórias siderúrgicas são as fontes mais abundantes e baratas de Si. As escórias da siderurgia do ferro e do aço são originárias do processamento em altas temperaturas, geralmente acima de 1400ºC, da reação do calcário (calcítico ou dolomítico) com a sílica (SiO2) presente no minério de ferro:

SiO2 + CaCO3 + MgCO3 º CaSiO3 + MgSiO3 + CO2 (silicato de cálcio e magnésio)

Os silicatos possuem efeito corretivo (Alcarde, 1992). Com a sua aplicação no solo, o pH aumenta, os teores de Al+3 diminuem, a saturação por bases aumenta e a saturação por Al diminui. Isso acontece porque os silicatos promovem a reação dos âni-

Tabela 2 - Doses de silicato e ocorrência de doenças foliares nas panículas e a produtividade do arroz irrigado no Projeto Formoso, Tocantins, safra 1999-2000 Doses de silicato (kg/ha) Test. 1000 2000 4000 6000 C.V.(%)

Mancha Parda* (grau) 47,6 a 58,4 a 67,8 a 38,6 a 30,0 a 29

Severidade Brusone nas folhas* notas de 0 a 9 5,0 a 3,8 ab 3,7 ab 3,6 ab 3,0 b 8

*(notas para lesões na folha bandeira) Fonte: Santos et al. (2003)

40

Incidência de brusone nas panículas** % panículas 4,6 a 4,2 a 4,6 a 4,8 a 4,0 a 11

Mancha dos grãos Incidência** % grãos manchados 25,2 a 23,6 a 24,8 a 23,2 a 23,6 a 15

Severidade* notas de 0 a 4 2,0 a 2,0 a 1,8 a 1,8 a 1,4 a 8

Produção de grãos (kg/ha) 2.240 b 2.490 b 2.510 b 3.090 a 3.290 a 3

ons SiO3-2 com a água, liberando hidroxilas (OH+) para a solução do solo conforme mostra a seguinte reação. CaSiO3 + H20 Þ Ca2+ + SiO32MgSiO3 + H20 = Mg2+ + SiO32SiO32- + H20 = HSiO32- + OHHSiO3- + H20 = H2SiO3 + OHH2SiO3 + H2O = H4SiO4

Os silicatos são aplicados principalmente na forma sólida (pó ou granulado), mas também podem ser aplicados na forma líquida (via solo ou via foliar). Enquanto os silicatos em pó são incorporados em área total, os silicatos granulados são normalmente aplicados em linha juntamente com outras matérias primas C na composição de adubos NPK. Gaspar H. Korndörfer e Lucélia Alves Ramos, Universidade Federal de Uberlândia Fabrício de Á. Rodrigues, Universidade Federal de Viçosa

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Agronegócios

Biofortificação

C

ada grupo de plantas é considerado uma fonte de alguns nutrientes essenciais. Por exemplo, os grãos são fontes de carboidratos, proteínas, lipídios e vitaminas solúveis em gorduras, porém possuem baixas concentrações de cálcio e ferro. Os vegetais folhosos são boas fontes de vitaminas e sais minerais, porém são pobres em macronutrientes. As frutas providenciam carboidratos, vitaminas solúveis em água e carotenóides, porém não são boas fontes de proteína e certos minerais. Essa é a razão principal de os profissionais de nutrição recomendarem uma diversificação da dieta alimentar. Porém, em alguns casos, há escassez de determinados produtos, ou seu preço limita o acesso da população a certos alimentos. Existem populações inteiras que baseiam sua alimentação quase exclusivamente em mandioca, arroz ou milho. Em outros casos, o nutriente é parcialmente perdido através do processamento ou do cozimento dos alimentos. Nesse caso, também é necessário aumentar o seu teor, para garantir a ingestão da quantidade necessária. Para melhorar a qualidade nutricional dos alimentos, um dos programas em voga é a biofortificação. Veja a seguir o que está sendo pesquisado, para as culturas alimentares básicas.

FEIJÃO O programa de melhoramento está focado na melhoria dos teores de ferro e zinco. Para tanto, mais de dois mil acessos do banco de germoplasma do CIAT foram escrutinados, à cata de genótipos com teor mais elevado desses minerais. Novas linhas, com concentrações de ferro 70-100% superiores às convencionais, já foram obtidas. Nas variedades convencionais, a absorção de zinco e ferro é baixa devido aos antinutrientes, ou seja, substâncias que se ligam aos metais, reduzindo a sua biodisponibilidade. Os pesquisadores estão reduzindo o teor de polifenóis do feijão e, com isso, aumentando a absorção dos metais. A vitamina C facilita a absorção, razão pela qual os pesquisadores buscam aumentar seu teor no feijão.

ARROZ O banco de germoplasma do IRRI (Filipinas) é a base da prospeção de ge-

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nótipos de arroz com alto teor de zinco e ferro. Para aumentar o teor de vitamina A, estão sendo usadas técnicas de biotecnologia. Os pesquisadores também procuram concentrar os nutrientes no endosperma, para evitar a sua perda no processamento industrial. O objetivo dos cientistas é dobrar o teor dos minerais no arroz, o que garantiria mais de 50% das necessidades nutricionais desses elementos.

MILHO O Brasil faz parte da rede mundial que busca elevar o teor de pró-vitamina A no milho, que é o alimento básico de 1,2 bilhões de pessoas. Os trabalhos preliminares estão sendo conduzidos no IITA (Nigéria) e CYMMIT (México), que, além dos cruzamentos iniciais, desenvolveram um protocolo de teste do teor de pró-vitamina A com custo de US$10/amostra (custo normal: US$

Existem populações inteiras que baseiam sua alimentação quase exclusivamente em mandioca, arroz ou milho

100). Os materiais genéticos estão sendo desenvolvidos principalmente para uso na América Latina e África.

TRIGO A coordenação mundial do trabalho localiza-se no CYMMIT, porém os trabalhos de campo estão distribuídos, com grande contribuição da Índia e do Paquistão. A estratégia inicial é aumentar os teores de zinco e ferro em variedades altamente produtivas e resistentes a doenças, adaptadas a esta parte do mundo. Utilizando trigos primitivos e um parente próximo do trigo, foi possível obter

genótipos com teor de zinco e ferro 4050% superior às cultivares tradicionais. Também está sendo usada a biotecnologia para introduzir o gene da ferritina, que aumenta o teor de ferro no grão. Os pesquisadores estimam que, a partir de 2007, os novos genótipos estarão disponíveis para programas de melhoramento, em todo o mundo.

MANDIOCA O Brasil também participa do esforço mundial para aumentar o teor de próvitamina A na raiz da mandioca, para reduzir o índice de cegueira que atinge até 250 mil crianças por ano. O material básico para o melhoramento é a mandioca amarela, que contém maior proporção de pró-vitamina A. A idéia é introduzir essa característica em materiais comerciais já aceitos pelo agricultor e adaptados nas regiões de cultivo.

BATATA DOCE A batata doce é um alimento importante para muitas populações que vivem no Centro e no Leste da África, onde a deficiência de pró-vitamina A é endêmica e situa-se entre as mais altas do planeta. Os pesquisadores objetivam aumentar o teor do nutriente na batata doce, de maneira que ela possa suprir, no mínimo, um terço da demanda diária. Para tanto, os cientistas estão analisando diversas variedades nativas da África, para identificar as que possuem teores mais elevados do nutriente.

PERSPECTIVAS Com o esforço concentrado de mais de 50 instituições de pesquisa agropecuária de primeira linha, em todo o mundo, atuando em uma rede integrada, prevê-se que, até 2010, os agricultores dos países pobres, onde a fome e a desnutrição são endêmicas, terão à disposição variedades melhoradas, adaptadas à sua região e do agrado do consumidor, porém com teores de minerais e pró-vitamina A superiores às convencionais. Os demais países, como o Brasil, também se beneficiarão dos novos genótipos bioC fortificados. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Armazenagem

Aeração intensific Sem gasto de energia elétrica e com baixo custo, a Fanair oferece ao mercado de armazenamento de grãos o Sistema Cycloar, que evita o fenômeno da condensação, prejudicial para a massa de grãos

E

m todo o processo agrícola, várias etapas são importantes e decisivas, desde os fundamentos básicos de preparo do solo, escolha da semente, plantio e condições climáticas até a colheita, transporte, limpeza, secagem e armazenagem. Outras fases essenciais e de grande importância são as denominadas de investimento, nas quais necessita-se de: tecnologia atuFigura 1

42

alizada, trabalho aprimorado e tempo racionalizado. O desperdício sempre foi um dos maiores problemas para o incremento da produção agrícola no Brasil. Além das perdas no plantio, na colheita e no transporte, a armazenagem desponta como um dos principais motivos para o alto volume de perdas qualitativas e quantitativas no setor. Executada corretamente a fase de pro-

dução de grãos (do plantio até a secagem), a armazenagem poderá proporcionar maiores lucros no momento da comercialização, tendo-se obrigatoriamente que preservar as qualidades biológicas (físico-químicas), através da aeração adequada da massa de grãos e do controle de pragas. Os grãos podem ser extremamente duráveis, mas são também altamente perecíveis. O alto teor de umidade relativa de equi-

Figura 2

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Fotos Cycloar

ada

líbrio do ar (Christensen e Kaufmann 1969) é o fator isolado mais importante no desenvolvimento de fungo, podendo resultar na formação de potentes micotoxinas prejudiciais ao consumo, na perda de poder germinativo, na redução de valor nutricional e em alterações de odor. A taxa de umidade do ar varia conforme a temperatura, significando que, quando o ar aquece, aumenta sua capa-

cidade de absorver umidade, e esta diminui quando o ar esfria. Os materiais metálicos (alumínio, aço, aluzinco) empregados na cobertura de silos e armazéns proporcionam o fenômeno físico comprovado da condensação, por serem bons condutores de energia. A radiação solar provoca o aquecimento da cobertura e, pela condução térmica, aquece o ar interno, baixando a umidade relativa do ar. Esse ar com a temperatura elevada absorve a umidade contida nos grãos armazenados pelo efeito da evaporação (Figura 1). Em contrapartida, quando esse ar úmido entra em contato com a cobertura resfriada, pela variação climática externa (noite ou em período frio), cai a temperatura do ar, elevando a umidade relativa interna, podendo, com isso, ultrapassar o ponto de saturação, condensar e gotejar sobre o produto armazenado. A consequência será a deterioração na camada superior dos grãos (germinação, fungos, micotoxinas, alteração de odor, redução do valor nutricional, entre outros), causando grandes prejuízos na armazenagem. “A perda é muito grande com a deterioração, e quando os grãos se misturam podem infectar o produto no silo todo, causando perda total e prejuízos altíssimos”, afirma Werner Uhlmann, diretor da Fanair. Essa perda, denominada “Perda Técnica”, nunca teve como tradição ser contabilizada, tornando-se, infelizmente, de aceitação normal. A melhor maneira de se minimizar a migração da umidade e dissipar temperaturas elevadas do ar interno de silos e armazéns é movimentar esse ar continuamente, mesmo que em baixa velocidade, auxiliando assim o equilíbrio entre as temperaturas interna/externa e evitando-se o fenômeno físico da condensação (Figura 2). Esse processo é obtido eficientemente com o sistema de aeração intensificada Cycloar, desenvolvido pela empresa paranaense Fanair Metal. Para melhor entendimento, demonstramos o seguinte cálculo: em um silo vertical com diâmetro de 19 metros, uma camada deteriorada de 30 centímetros de soja repre-

Alteração contínua de temperatura e umidade dentro do silo causa deterioração da camada superior de grãos

senta um volume de 1279 sacas. Com valor comercial de R$ 27,00 a saca de 60 kg, o prejuízo chega a ser superior a R$ 34 mil, sendo que não estão considerados nesse cálculo a contaminação com grãos sadios na descarga do silo e o custo da remoção da camada deteriorada, assim como o comprometimento da qualidade dos grãos. Para solucionar o prejuízo calculado, é necessária a instalação de oito aparelhos do sistema Cycloar, com investimento aproximado de R$ 3 mil, resultando numa projeção de lucro sobre a perda calculada em mais de R$ 31 mil em uma única safra. “É preciso mudar a visão do armazenador, que sempre se acostumou a ter essa perda, mostramos que ao invés de prejuízo ele pode aumentar o seu lucro e com qualidade”. O sistema de aeração intensificada é facilmente instalado em qualquer cobertura de silo, armazém e depósito, devido à utilização de acessórios adequados para fixação e vedação, com baixo custo e sem uso de energia elétrica. C Werner Uhlmann, Fanair


Coluna Aenda

Defensivos Agrícolas

Sugestões para o plano agrícola A carta abaixo é tornada pública através deste instrumento de comunicação por caracterizar os maiores gargalos da indústria de genéricos no mercado brasileiro. Ivan Wedekin é Secretário de Política Agrícola do Mapa e tem prestado relevantes serviços à nação. Essa é uma forma singela da Aenda homenageá-lo

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) Maior financiamento governamental para os chamados Agrotóxicos. — Justificativa: A diminuição gradativa da participação do governo para essa finalidade ao longo dos anos criou uma perigosa dependência dos agricultores brasileiros. Hoje, 90% dos defensivos agrícolas são financiados pela indústria em prazos de safra. O que parece uma benesse transformou-se em estratégia de domínio mercadológico. Você sabe que no Brasil não existe linha de crédito para capital de giro, o que nesse contexto marginaliza as pequenas e médias indústrias que são a verdadeira âncora a pressionar os preços para baixo.

“Você sabe que no Brasil não existe linha de crédito para capital de giro, o que nesse contexto marginaliza as pequenas e médias indústrias que são a verdadeira âncora a pressionar os preços para baixo”

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) Velocidade de Registro por Equivalência e dos Registros Especiais Temporários — Justificativa: (a) Após muito atraso o governo iniciou o registro pelo regime da Equivalência, que derruba consideravelmente os custos de registro (sem perda da qualificação dos produtos), proporciona condições para as pequenas e médias empresas aumentarem o leque de oferta e, no médio prazo, deverá resultar no aumento expressivo da concorrência com uma consistente queda de preços. Até agora foram três registros aprovados e somente em grau técnico, ou seja, o agricultor ainda vai esperar pelo registro do produto formulado para ter essas novas opções; (b) O registro prévio para pesquisa, conhecido como RET, em razão da fraca estrutura dos órgãos governamentais, está represando os pedidos de registro por Equivalência. Só nas associadas da Aenda são 250 pedidos de RET, que deverão se transformar em produtos, acirrando a concorrência.

“Só nas associadas da Aenda são 250 pedidos de RET, que deverão se transformar em produtos, acirrando a concorrência”

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) Incrementar a fiscalização contra os produtos contrabandeados e os fraudulentos — Justificativa: Com a crescente diminuição da concorrência no Brasil (Sistema de registro e financiamento privado com prazos de safra), cresceu a prática hedionda do contrabando, hoje estimada em 10% do mercado. Desse cenário se aproveitaram quadrilhas de falsificadores, que dão enormes prejuízos às indústrias, além de comprometerem o tratamento fitossanitário de nossas lavouras. Acho que deva haver um plano governamental sincronizado com a fiscalização do Mapa, Ibama, Anvisa, Estados e PolíC cia Federal. Tulio Teixeira de Oliveira, Diretor Executivo da AENDA

“Desse cenário se aproveitaram quadrilhas de falsificadores, que dão enormes prejuízos às indústrias, além de comprometerem o tratamento fitossanitário de nossas lavouras”

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Março de 2006



Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Brasil e a Supersafra, quem ganha e quem perde? Nas últimas semanas, fomos bombardeados com notícias de supersafra brasileira de grãos, com a Conab apontando para mais de 124 milhões de t ,e na seqüência o IBGE indicando que o número será muito maior: acima das 126 milhões de t. Se fosse realidade, seria uma boa notícia para produtores e consumidores, mas esses números têm grandes contestações, principalmente porque estamos em ano eleitoral e muitas regiões do país foram fortemente afetadas pelo clima, com seca no Sul e partes do Sudeste e Nordeste. Dessa forma, os produtores que estão nos campos e sofreram com o clima sabem que há otimismo nesses números. Mas o que importa é que o mercado vê esses dados, e os reflexos são diretos, como no dia da divulgação da notícia do IBGE, a qual causou queda de 13 pontos em Chicago, que em resumo representa US$ 5,00 por t a menos para os produtores brasileiros. Assim, o que se indica é que os números servem sempre para o governo conseguir controlar os indicativos de inflação, porque impedem reação das cotações agrícolas e, em ano de dólar baixo, quem perde é somente os produtores que vêem os indicativos minguarem. O ponto importante é que tivemos grandes perdas que até agora não foram divulgadas por nenhum órgão oficial, e a prova disso foi a forte reação das cotações do feijão em fevereiro, chegando a superar a marca dos R$ 100,00 por saca, contra os R$ 65,00 de janeiro. Os números da Conab e do IBGE apontam para uma safra de 1,8 milhão de t, ou seja, deveria ser a maior da história, mas, como o mercado reage imediatamente à falta do produto, o que pode ser ver nos campos é a safra real não fechar um milhão de t. Por isso é que continuamos carentes de informações.

MILHO Colheita avança, e mercado segue lento O mercado do milho está recebendo a primeira safra, que está em bom ritmo na colheita. Com isso, os principais consumidores vêm recebendo produto diretamente dos agricultores e, assim, não mostrando interesse em fechar lotes. Dessa forma, as cotações têm se mostrado estabilizadas no fundo do poço, com a maior parte das regiões operando abaixo do preço mínimo de garantia. O governo acena com apoio para este mês de março. Os números podem mostrar reação somente entre o final de abril e maio em diante, quando os produtores deixarem de entregar balcão. SOJA Seca na Argentina dá sustentação O mercado da soja tem se mostrado favorável, apoiado pela seca que pegou as lavouras da Argentina durante o mês de fevereiro, período de floração e formação das vagens; com isso, houve queda no potencial produtivo. Assim, os indicativos da soja em Chicago para esta nova safra estiveram operando em fevereiro ao redor dos US$ 6,00 por bushel (27,215 kg). Os principais analistas do mercado estavam apostando que as cotações neste momento estariam pelo menos US$ 1,00 por bushel abaixo do que vêm operando, isso seria cerca de US$ 2,20 a menos para os produtores. O grande problema do momento da soja é o valor do dólar, que está muito baixo e inibe os negócios e não deverá sofrer grandes alterações neste mês de março, quando estaremos no pico da oferta, e os produtores, entregando a soja negociada via troca por insumos. Expectativas melhores entre a segunda quinzena de abril e maio. FEIJÃO Quebra da safra aponta para um bom ano O clima foi duro com os produtores do feijão no Irecê, na Bahia, e também com as lavouras do Brasil Central. Dessa forma hou-

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ve grandes perdas na primeira safra 2006, e os reflexos foram imediatos, com alta dos indicativos, que saíram dos R$ 65,00, superaram os R$ 90,00 e chegaram até R$ 100,00 pela saca do feijão de melhor qualidade. Em fevereiro a disputa no mercado se dava entre empacotadores e também produtores em busca de sementes para o plantio da segunda safra. As perdas na primeira safra sinalizam que o ano deverá ser enxuto de ofertas e caminha para ser um bom ano para o feijão. ARROZ Colheita a todo o vapor O arroz está em colheita e caminha

para ter uma safra entre 1,5 e duas milhões de t abaixo do que colheu no ano passado. Mesmo assim, não se espera reação dos indicativos neste primeiro semestre, porque existem grandes volumes da safra velha parada nas regiões produtoras e, dessa forma, as indústrias tendem a trabalhar com o que têm e rolar para frente as novas compras. Para garantir as cotações próximas do mínimo de garantia, o governo prometeu entrar atuando em março. Somente com um grande apoio veremos os indicativos operando ao redor do mínimo. Caso contrário, se espera um segundo semestre mais firme.

CURTAS E BOAS SOJA - o USDA indica a safra em 222 milhões de t. Discordamos do número porque há grandes perdas na América do Sul. O Paraguai esperava entre 5,5 e seis milhões de t, agora aponta para as 3,6 milhões. A Argentina, das 40,5 t, comenta em 38, e o Brasil, das 38,5 t, tem indicativos de 36,5 milhões, com perdas superiores a seis milhões de t, resultando em menos de 216 milhões de t. Com isso os estoques não crescerão como estavam sendo apontados, devendo favorecer a médio prazo. ALGODÃO - a boa notícia do ano vem da aprovação da lei nos EUA que acaba com o subsídio no algodão. A produção mundial está em 24,8 milhões de t, contra o consumo de 25,4 milhões, e os estoques, passando das 11,8 para 11,4 milhões de t. O câmbio continua sendo o problema para o setor porque dificulta as exportações e assim depende do apoio do governo para garantir os preços mínimos. TRIGO - o Brasil tem boas expectativas para o trigo neste ano, porque o mercado mundial está trabalhando US$ 40,00 por t acima de um ano atrás. Atualmente as importações chegam à marca dos US$ 200,00 por t, e há expectativas de novos avanços, devendo obrigar os moinhos a estimular a safra e comprar a produção com valores atrativos. ARGENTINA - o clima que no ano passado foi o carrasco dos produtores brasileiros, neste ano, está causando grandes estragos nas lavouras portenhas, com perdas na safra de milho das 20 para menos de 13 milhões de t; da soja, de 40,5 para menos de 38; e trigo, das 16 para 12 milhões de t. Também o feijão que está em desenvolvimento pode ficar comprometido e, assim, não poder atender às exportações ao Brasil, que espera 90 mil t de preto. BOA NOTÍCIA - a boa notícia da coluna vem dos portos brasileiros. Os prêmios (valor pago acima ou abaixo das cotações de Chicago) que normalmente na safra são negativos, Em fevereiro operou positivo dos 55 e 65 acima de Chicago, sinalizando março dos 25 e 30 pontos positivos, que representam entre US$ 0,50 e US$ 0,65/saca acima de Chicago. Há muitos anos não operava positivo na colheita.

Cultivar Cultivar • www.cultivar.inf.br • www.cultivar.inf.br • Fevereiro • Março de 2005 2006




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