Cultivar 84

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Cultivar Grandes Culturas • Ano VIII • Nº 84 • Abril 2006 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

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Foto Capa / Rogério Inoue

Doses menores O cultivo de milho na safrinha tem a vantagem de a época ser menos favorável à infestação de invasoras

10 Ciclo acelerado Saiba como controlar o capim-camalote em cana, invasora que se dissemina rapidamente nos meses mais quentes

20 Resistente ou não? Dificuldades no controle do curuquerêdo-algodoeiro leva a pesquisa a investigar possível resistência da praga

36 Cuidados iniciais Com a aproximação da nova safra de trigo, é hora de o produtor pesquisar e se planejar para garantir a rentabilidade

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br

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3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:

3028.4004 / 3028.4005

Índice

REDAÇÃO • Editor

Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Diretas

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3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Negócios

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Silvia Pinto

Números atrasados: R$ 15,00

Doses menores de herbicidas em milho

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Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

COMERCIAL

Ciclo acelerado da cana-de-açúcar

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Pedro Batistin

Nossos Telefones: (53)

Bicho mineiro do café

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Resistência do curuquerê-do algodão

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Armazenagem em silos bolsas

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• FAX:

• Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Fungos no controle do percevejo castanho 26 Ataque de Anticarsia e Pseudoplusia em soja 30 Produção de soja na entressafra

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Cuidados iniciais no plantio de trigo

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Coluna Aenda

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Coluna Agronegócios

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Mercado Agrícola

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• Revisão

Sedeli Feijó Silvia Primeira Otávio Pereira

CIRCULAÇÃO • Gerente

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Edson Krause Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas

Fertilizantes A Pfizer divisão agrícola participou pelo quarto ano da Expodireto 2006, onde apresentou toda a sua linha de produtos, com destaque para os fertilizantes Cofermol-Plus, Plantin Citrus e Plantin II. A empresa mostrou ainda campos demonstrativos com os resultados obtidos com o fertiMattana e Santiago lizante Cofermol Plus.

Pronto Três

Visita O coordenador de pesquisa em herbicidas da Milênia, Vinicius Moraes, em meio ao trabalho com sua equipe, encontrou um tempinho e visitou o estande da Revista Cultivar na Expodireto.

Presença

Alvo na soja A Dow AgroSciences esteve presente na Expodireto 2006. O público visitante pode contactar a equipe e conhecer o portifólio de produtos da empresa voltado para cultura da soja, com destaque para o Systhane CE.

Vinicius Moraes

Biotecnologia

Nutrição Grupo Fertipar, empresa do Conjunto Agrotain Internacional LLC, destacou o fertilizante nitrogenado Super N Piratini, na Expodireto 2006. Douglas Zonta, gerente de marketing, afirma que a principal característica do fertilizante é o retardaDouglas Zonta mento da volatilização do nitrogênio.

Syngenta A Syngenta levou à Expodireto 2006 uma estrutura dinâmica, eficiente e ágil, com o objetivo de levar informação para produtores e visitantes utilizando os problemas vivenciados no campo, relata Marcos Facco e Basso Basso, gerente de marketing.

Solfertilizantes A Solferti, pela segunda vez, participa da Expodireto. Sua capacitada equipe de técnicos levou, além da simpatia e atenção aos visitantes, o portifólio de produtos em nutrição vegetal, dando destaque para o fertilizante Tayô.

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A Rigran, empresa que vem atuando fortemente no mercado brasileiro e também nos países do Mercosul, divulgou seu portifólio de produtos, com destaque para o “Pronto Três”, recomendado para aplicações em que são necessárias correções simultâneas de pH, Alexandre Reis e Emir Borges espuma e deriva.

A Monsanto levou à Expodireto informações sobre a história da biotecnologia na agricultura, sua evolução, pesquisas e inovações. “Este foi o primeiro ano de plantio de sementes de soja certificadas e autorizadas no país. Procuramos ficar à disposição do agricultor para sanar quaisquer dúvidas”, declara Antônio Smith, gerente de Licenciamento de Soja - Região Sul.

Nidera Sementes A equipe da Nidera Sementes fez o lançamento de três variedades de milhos híbridos, na Expodireto em Não-MeToque (RS). Trata-se de Nidera AX 890, Nidera AX 892 e Nidera AX895, onde foi ressaltada a precocidade, a produtividade e o rendimento das variedades.

Juliano Busato, gerente de marketing da A Terra Nossa, juntamente com sua equipe, considera a Expodireto uma das principais feiras do Brasil, um momento para receber parceiros e interagir diretamente com produtores e visitantes.

Ajinomoto A Ajinomoto participou pela primeira vez da Expodireto. Em seu amplo estande apresentou todo o seu portifólio de produtos. Fabiana Nicoletti, do departamento de agronegócios, considerou o evento bastante positivo, uma vez que estreitou o relacionamento com parceiros e clientes.

Roullier O engenheiro agrônomo Gustavo Lunardi e sua equipe apresentaram a linha de fertilizantes da Roullier Brasil na Expodireto. Os produtores que visitaram o estande da Roullier puderam observar o desempenho dos produtos nos experimentos que a empresa fez questão de exibir.

Beleza e trabalho Agrichem destacou os campos demonstrativos de soja, milho, sorgo, feijão, arroz e girassol. A equipe também apresentou o PAM Nutri, Programa Agronômico de Monitoramento Nutricional, que já está sendo usado por produtores no RS.

Novidade na Expodireto

Bayer CropScience

A Lanxess, empresa alemã especialista em produtos químicos e plásticos, esteve presente na sétima edição da Expodireto. Durante a feira, lançou Levanyl® ST – linha de pigmentos orgânicos à base de polímeros compatíveis com o meio ambiente, para tratamento de diversas culturas de sementes como soja, milho, trigo, arroz, cevada, forrageiras etc. Para Alejandro Gesswein, gerente da unidade de negócios, o evento foi uma oportunidade de apresentar ao mercado de sementes a tecnologia da empresa, com matérias-primas de ponta.

Marc Reichardt assume a presidência da Bayer CropScience para América Latina, divisão de defensivos agrícolas do Grupo Bayer. O executivo ocupava desde 2003 a presidência da multinacional para o Brasil e Mercosul. A reestruturação mundial da empresa passará a contar com mais duas unidades operacionais, América do Norte e América Latina. Reichardt está no Grupo Bayer há 20 anos.

Marc Reichardt

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Especial

Negócios

Sul-africanos visitam agronegócio brasileiro

Recentemente, a Agritours Brasil trouxe um grupo de empresários do agronegócio da África do Sul para visitas técnicas a fazendas, cooperativas e empresas ligadas ao agronegócio brasileiro. Os treze empresários sul-africanos são todos cotistas da empresa Summit Ridg Trading 84, que atua no mercado com o nome de Henwil. A empresa surgiu a partir de uma cooperativa, que os associados resolveram transformar em empresa, por motivos de gestão. Os visitantes objetivavam conhecer melhor e mais de perto o agronegócio brasileiro, em especial a cadeia produtiva do frango de corte. Para tanto foi montado um programa que contemplava os estados de Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Alternando momentos de visitação e conhecimento com outros de cultura e turismo, a viagem cumpriu seus objetivos, e os empresários puderam verificar in loco as condições de competitividade da avicultura brasileira. Em uma das visitas verificaram que as cooperativas brasileiras têm condições de colocar o frango e outros produtos brasileiros no mercado da África do Sul, por preços entre 30 e 40% inferiores aos praticados por eles. As razões apontadas são os preços dos insumos e a produtividade.

Cheminova: prêmio por melhor ação de marketing A Cheminova iniciou suas atividades no Brasil em 1997 e, em pouco tempo, se mostra consolidada no mercado graças ao efetivo fornecimento de soluções tecnológicas para a agricultura brasileira, principalmente nos segmentos de soja e café, além de outras importantes culturas. No último dia 17 de março, a empresa recebeu em Carazinho, na sede do Clube Aquático, o prêmio de “Melhor Ação de Marketing” da Expodireto 2006. Entre os pontos que levaram ao prêmio, está o estande da empresa. A vila Viking, construída em 350 m2, dividida em quatro casas, representa e faz lembrar o povo que habitava a Dinamarca, país sede da empresa. Nesse espaço os visitantes puderam conhecer um pouco da origem da Cheminova. Além disso, também receberam informações sobre a cultura Viking, explicações técnicas sobre os produtos comercializados pela empresa no Brasil e conheceram mais sobre o novo lançamento da empresa – o inseticida Warrant. Segundo Tatiana H. F. Neves, gerente de comunicação, a Cheminova busca sempre investir seus recursos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e formulações, com o objetivo de assegurar o bom resultado na prevenção e redução de danos causados à agricultura por pragas, doenças e plantas daninhas.

Tatiana, Hugo e Fabiana

Ubyfol Investindo em pesquisa e qualidade de seus produtos

Juarez Vendruscolo

A Uby Agroquímica, com sede em Uberaba (MG), atua no setor de fertilizantes químicos inorgânicos com destaque para nutrição vegetal, caracterizados e registrados com a marca Ubyfol. O diretor de marketing, Lécio Silva, diz que a empresa é proprietária exclusiva da patente Polihesose -

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conjunto de vários adjuvantes organossintéticos, cujas características fisico-químicas promovem maior eficácia de absorção de nutrientes, assegurando nutrição de fato, com um rigoroso controle de todos os processos da cadeia de produção desde o recebimento de matérias-primas ao produto acabado. A Ubyfol, consciente da complexidade e insuficiência de informações ao homem do campo, está encarando os desafios de produção e produtividade através de respaldo científico, mantendo convênios com as principais instituições oficiais de pesquisas, visando sempre o aprimoramento de seus programas e de sua equipe técnica. O produtor Juarez Vendruscolo, da região de Tupanciretã (RS), considera muito bom o resultado de sua produtividade, destacando a qualidade, garantia

e eficiência dos produtos Ubyfol, além da assistência técnica prestada pela empresa, o que, segundo ele, compensa o investimento. Durante a Expodireto Cotrijal, a empresa recebeu produtores, fornecedores e imprensa com um jantar onde o cardápio foi especial: porco pizza.

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Charles Echer

Milho

Doses menores Plantado em condições menos favoráveis ao seu desenvolvimento, o milho safrinha também pode se beneficiar de uma menor infestação de plantas daninhas neste ciclo, o que possibilita o uso de menores doses de herbicidas

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milho “safrinha” é semeado de janeiro até março/abril e, quase sempre, após a cultura da soja. É cultivado em condições ambientais menos favoráveis ao desenvolvimento das plantas em comparação à safra de verão. Temperaturas baixas no ar atmosférico e deficiências hídricas no solo reduzem a taxa de desenvolvimento do

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milho e das plantas infestantes na safrinha. Essas condições peculiares, por reduzirem a taxa de decomposição dos ingredientes ativos dos herbicidas nas plantas, possibilitam o emprego de menores doses dos herbicidas na safrinha. Visando antecipar a implantação do milho “safrinha”, sua semeadura é realizada ao mesmo tempo em que a soja é

colhida em área subseqüente, tornando escassa a disponibilidade de tratores e mão-de-obra para a aplicação de herbicidas nesse momento. A necessidade de flexibilizar a época das operações agrícolas e a pequena reinfestação das plantas infestantes têm levado à priorização do uso dos herbicidas pós-emergentes. Pode ser necessária a dessecação de plantas daninhas

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Figura 1 - Produtividade do milho safrinha e de massa de mato em ensaios de campo, com controle químico com diferentes produtos e doses (1 a 9), mostrando que quanto menor a massa das plantas infestantes, maior a produtividade de grãos (médias de três ensaios, no Médio Paranapanema, 2005)

remanescentes da soja, sendo comum realizá-la imediatamente após a semeadura do milho safrinha.

ESPÉCIES PREDOMINANTES

eficientes no controle das gramíneas. O emprego contínuo apenas do ingrediente ativo atrazine em pós-emergência tem selecionado algumas espécies nas lavouras de milho safrinha, com destaque para o capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e o picão-preto (Bidens pilosa) (Duarte e Deuber, 1999; Duarte, 2004). Um dos aspectos mais importantes a se levar em conta é o melhor manejo do mato já na lavoura da soja. Espécies mais problemáticas, como a trapoeraba, devem ser controladas antes da cultura do milho safrinha. Outra prática importante é a redução do banco de sementes por meio da rotação culturas, procurando-se substituir, em parte da área, o milho por outras espécies de interesse regional para ganho Dirceu Gassen

Levantamentos realizados pelo IAC no estado de São Paulo (Duarte & Deuber, 1999) mostraram a predominância de amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla), soja (Glycine Max), trapoeraba (Commelina benghalensis), picão-preto (Bidens pilosa) e nabiça (Raphanus sativus). Há, entretanto um crescente número de gramíneas que vão se tornando importantes, talvez por sua adaptação ao ambiente da safrinha, bem como pelo emprego contínuo de práticas de manejo da cultura e das plantas infestantes pouco

Figura 2 - Efeito do herbicida EquipPlus, isolado ou em mistura com atrazine, na massa de plantas infestantes no milho safrinha aos 40 dias após a aplicação em Pedrinhas Paulista, 2004

econômico (ex.: trigo, aveia branca, sorgo, girassol) ou adubação verde (ex.: aveia preta, nabo forrageiro, milheto). A época de início do controle de plantas infestantes tem grande influência no crescimento das plantas e no rendimento de grãos da cultura. O período em que os efeitos das plantas infestantes efetivamente causam prejuízos à cultura e durante o qual a competição não pode existir é chamado de “período crítico de competição”. Embora existam poucas informações sobre esse período no milho safrinha, sabese que o efeito negativo da competição entre a cultura e as plantas infestantes é mais acentuado em regiões e/ou anos mais secos. Por exemplo, na Região do Vale do Paranapanema, em 2005, ano com deficiência hídrica acentuada em período anterior ao florescimento, verificou-se que quanto mais eficiente o controle, avaliado pela massa das plantas infestantes, maior a produtividade de grãos (Figura 1).

CONTROLE QUÍMICO

Detalhe de infestação de trapoeraba na cultura da soja que antecede o plantio do milho safrinha

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Como já mencionado, os herbicidas pós-emergentes são utilizados quase que exclusivamente no controle das plantas infestantes do milho, com tendência de aumento dos ingredientes ativos que controlam as folhas estreitas. Os herbicidas em uso são o 2,4-D, o atrazine, o nicosulfuron (Sanson), a mistura de foramsulfuron + iodosulforon (EquipPlus) e o mesotrione (Callisto). Com exceção do 2,4D e da atrazine, herbicidas mais empregados mundialmente na cultura do milho há décadas, os demais são relativamente recentes. Deve-se lembrar que a escolha de um herbicida isolado ou de uma formulação contendo dois ou mais herbicidas deverá ser feita com base no levantamento pré-

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Charles Echer

vio da infestação existente no local da lavoura. É possível reduzir a dose dos herbicidas pós-emergentes na safrinha em relação à safra normal, devido ao menor vigor das plantas daninhas nesse período. Estudos realizados no IAC sobre adequação de doses de atrazina em milho “safrinha” demonstraram que nesse período pode-se reduzir a dose do produto comercial atrazina mais óleo vegetal (Primóleo) para 1,5 a 2,5 l/ha. A mistura de óleo junto com a atrazina é importante, principalmente, para o controle de soja e caruru. Em vez do óleo vegetal, pode-se adicionar o óleo mineral (cerca de 1 l/ha), porém, este deve ser misturado diretamente na água do tanque do pulverizador. O óleo mineral ou vegetal pode ser omitido quando se aplica nicosulfuron + atrazina (Deuber & Duarte, 1999). O controle de espécies de folhas estreitas, as gramíneas, em pós-emergência, tem sido mais difícil e dispendioso do que o das folhas largas em geral. Nas lavouras de milho safrinha com problemas de folhas estreitas podem-se utilizar nicosulfuron (Sanson), foramsulfuron + iodosulforon (EquipPlus) ou mesotriona (Callisto). Geralmente esses produtos são aplicados junto com atrazine para melhorar a eficiência, especialmente para o controle de certas espécies de folhas largas (Duarte e Deuber, 1999). O Sanson e o EquipPlus atuam como inibidores da enzima ALS (acetolactase sintetase), impedindo a formação de diversos aminoácidos. As plantas afetadas apresentam-se inicialmente com coloração amarelada, passando depois a vermelho-púrpura. O Callisto inibe a biossíntese de carotenóides, interferindo na atividade da enzima HPPD (hidroxifenil-

piruvato-dioxigenase) nos cloroplastos. Os sintomas se caracterizam por branqueamento das plantas daninhas com posterior necrose e morte dos tecidos vegetais dentro de uma a duas semanas. O emprego continuado, na soja e no milho safrinha, de herbicidas com ação sobre a ALS tem contribuído para selecionar picão-preto e leiteiro resistentes aos herbicidas com esse mecanismo de ação. Ressalte-se que algumas cultivares de milho apresentam alta suscetibilidade ao nicosulfuron e/ou foramsulfuron + iodosulforon, devendo o produtor se informar se estes são indicados ou não para uso em lavouras com determinada cultivar, ou, quando seu uso for imprescindível, programar a semeadura de cultivar resistente. Geralmente, em condições de estresse

Figura 3 - Efeito do Primóleo e suas misturas com Sanson e Callisto em pósemergência em milho safrinha sobre a densidade de capim-carrapicho e picãopreto, 2005 (média de Assis e Palmital)

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Controle de espécies de folhas estreitas em pós-emergência tem sido mais difícil e dispendioso que de folhas largas

por frio e/ou seca, a fitotoxicidade desses herbicidas é ainda mais acentuada. Nas lavouras de milho safrinha com problema de folhas estreitas pode-se utilizar o nicosulfuron (Sanson) na dose de 0,50 a 0,75 l/ha, que é um excelente herbicida para o controle do capim-carrapicho. Como não controla muito bem a maioria das espécies de folhas largas, especialmente trapoeraba, caruru, apaga-fogo e guanxuma, deve ser empregado em mistura com a atrazina (Deuber & Duarte, 1999). A Figura 2 ilustra a vantagem da adição de atrazine ao EquipPlus em reduzir a massa seca de plantas infestantes. Verificou-se que, em áreas com predominância de capim-carrapicho, capim-colchão e picão-preto, o

Figura 4 - Produtividade do milho safrinha em ensaios de controle químico das plantas infestantes em pós-emergência no Médio Paranapanema em 2005 (médias de três locais)

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Divulgação

EquipPlus não deve ser utilizado como único herbicida e que a dose mínima do EquipPlus em misturas com atrazine não deve ser inferior a 100 g/ha. Desenvolveram-se experimentos com o herbicida Callisto e suas misturas em milho safrinha semeado no terceiro decêndio de março no Médio Paranapanema (Deuber et al., 2005). Verificou-se que este herbicida apresenta excelente controle do picão-preto, porém precisa ser associado ao Sanson para controle do capimcarrapicho (Figura 3). Os tratamentos Primóleo (3000 ml/ ha) + Sanson (400 ml/ha) e Primóleo (3000 ml/ha) + Sanson (200 ml/ha) + Callisto (150 ml/ha) resultaram em aumentos significativos na produtividade do milho safrinha em comparação com a testemunha no mato, mas não diferiram do Primóleo (3000 ml/ha) isolado (Figura 4). Devido ao aumento da infestação e, conseqüentemente, do banco de sementes, das espécies capim-carrapicho, picão-preto e leiteiro, o melhor controle por essas misturas pode contribuir para facilitar o manejo das plantas infestantes e reduzir os custos com aplicações de herbicidas a médio prazo.

É comum o uso de 80 ml/ha de 2,4-D em associação com atrazine e/ou outro herbicida pós-emergente, visando aumentar a eficiência do controle de algumas espécies de folhas largas, tais como a trapoeraba (Commelina benghalensis), e/ou reduzir o dispêndio financeiro com herbicidas no milho safrinha (Duarte & Deuber, 1999). Existem suspeitas de que a aplicação inadequada de 2,4-D, em plantas com mais de seis folhas e/ou em materiais muito sensíveis, esteja agravando o problema de acamamento de plantas em lavouras de milho safrinha. Mesmo na ausência de sintomas visíveis de fitotoxicidade (plantas tortas ou em forma de chicote), o uso de doses elevadas de 2,4-D pode causar prejuízos na produtividade de grãos. Deuber et al. (2005) verificaram que três de dez híbridos estudados reduziram significativa a produtividade de grãos com a aplicação de 2,4-D. C Aildson Pereira Duarte e Fábio Moreno Martins, Apta Regional Médio Paranapanema Robert Deuber e Rafaela Caroline R. Moltocaro, IAC

Aildson afirma que misturas podem ser vantajosas para diminuir o banco de sementes de invasoras e, principalmente, reduzir custos


José Francisco Garcia

Cana-de-açúcar

Ciclo acelerado

Dificuldade de controle em pós-emergência do capim-camalote, causador de altas infestações na cana-de-açúcar, principalmente nos meses mais quentes do ano, é atribuída ao seu rápido crescimento e perfilhamento e à disseminação de sementes

O

BIOLOGIA Existem alguns estudos disponíveis na literatura que avaliaram os parâmetros biológicos das plantas de capim-camalote (Arévalo

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& Bertoncini, 1994; Bianco et al., 2004). Juntamente com trabalhos conduzidos no Departamento de Produção Vegetal da Esalq/USP, esses estudos fundamentam uma discussão prática acerca dos hábitos de crescimento, desenvolvimento e produção de sementes da espécie.

As plantas de capim-camalote, além de serem bastante vigorosas, em geral apresentam rápido crescimento inicial, florescimento e dispersão de sementes. O perfilhamento se inicia em período anterior a um mês após a emergência das plantas, fato que compromete substancialmente o controle em pós-emer-

Fotos Pedro Jacob Christoffoleti

capim-camalote (Rottboellia exaltata L.f.) é uma planta daninha de grande dispersão mundial, com significativa importância para diversas culturas. Holm et al. (1977), por exemplo, classificaram o capim-camalote como uma das 18 piores plantas daninhas do mundo, sendo que, diretamente para a cultura da canade-açúcar, a espécie encontra-se entre as doze piores. No Brasil, o capim-camalote ainda é considerado como um problema potencial para a cultura da cana-de-açúcar, no entanto, Arévalo & Bertoncini (1994) comentam sobre perdas de rendimento de até 100% para a convivência da cultura com altas infestações de capim-camalote durante todo o ciclo.

À esquerda, detalhe das sementes de capimcamalote (Rottboellia exaltata), e à direita, planta jovem da invasora

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ORIGEM E CARACTERÍSTICAS gência, haja visto que plantas entouceiradas são mais difíceis de controlar. O florescimento também é precoce, ocorre próximo dos 4550 dias após a emergência e se mantém ao longo de todo o ciclo das plantas. A habilidade dessa planta daninha em acumular fitomassa é uma das principais características biológicas da espécie, que determinam sua competitividade com as culturas agrícolas. O rápido desenvolvimento da estrutura radicular, com posterior formação de parte aérea, favorece a dominação do espaço em que a planta está se desenvolvendo, principalmente em função da maior taxa de absorção de água e nutrientes, com crescente interceptação da radiação incidente. O capim-camalote realiza fotossíntese via ciclo C4, o que confere diversas características vantajosas às plantas, favorecendo a presença da espécie em áreas de produção de cana-deaçúcar, cultura que também apresenta ciclo C4. Devido às características biológicas apresentadas (poaceae como ciclo C4), é de se esperar que maiores infestações do capim-camalote, para a região Sudeste, ocorram nos meses mais quentes do ano, compreendidos entre setembro e fevereiro. Vale ressaltar que a dispersão do capim-camalote nas várias regi-

T

rata-se de uma planta da família Poaceae (gramíneas), originária da Ásia, provavelmente da Índia, que já se encontra distribuída nas mais diversas partes do mundo. No Brasil, ocorre com maior freqüência na região Norte, contudo, existem focos em expansão no estado de São Paulo, Rio de Janeiro e na região Centro-Oeste. Possui ciclo anual e, sob condições ambientais favoráveis, pode se perenizar. Reproduz-se basicamente a partir de sementes, podendo, também, ser multiplicada por pedaços de caule, os quais possuem gemas em seus nós (Kissmann, 1997). ões agrícolas brasileiras pode se tornar um problema crescente para a agricultura do país, sobretudo quando da infestação da espécie em culturas menos competitivas, com ciclo fotossintético do tipo C3, como a soja e o feijão, por exemplo. Com relação ao desenvolvimento vegetativo dessa planta daninha, três outros aspectos devem ser comentados: (a) na parte basal

O capim-camalote é uma planta muito vigorosa e prolífica, sendo que uma única planta chega a emitir até cem perfilhos, capazes de produzir 15 mil sementes, que podem ficar dormentes nos solos por até quatro anos (Lorenzi, 2000) (Figura 1). Devido à sua elevada adaptabilidade ecológica, apresenta ocorrência nos mais diversos ambientes produtivos. Dentre os diversos aspectos negativos oriundos da presença dessa planta daninhas nas áreas agrícola, pode-se destacar a intensa formação de cerdas (joças) na base dos perfilhos, cuja ação irritante dificulta o trabalho humano (Kissmann, 1997). da estrutura vegetativa, observa-se intensa emissão de raízes adventícias vigorosas, que se originam dos primeiros nós dos colmos, localizados acima do nível do solo, as quais inicialmente auxiliam na sustentação da planta e, posteriormente, também apresentam estrutura para absorção; (b) os perfilhos mais desenvolvidos por vezes tendem ao tombamento e, quando os primeiros nós dos colmos apro-


Fotos Pedro Jacob Christoffoleti

ximam-se da superfície do solo, também apresentam formação de raízes adventícias; (c) em diversas plantas, os nós superiores dos colmos possuem simultaneamente rácemos florais e ramos vegetativos. Quando os rácemos maduros são colhidos, observa-se nova emissão de inflorescências. Em condição de campo, eventualmente, podem-se observar infestações de capim-camalote também em áreas com colheita de cana-de-açúcar sem queima prévia. Nessas áreas a presença de plantas daninhas poáceas é bastante incomum, sobretudo por conseqüência do impedimento físico, das alterações térmicas e da interceptação da radiação incidente promovida pela palhada. Essa capacidade do capim-camalote pode estar relacionada com menores exigências da semente por condições favoráveis de luz e temperatura à germinação, com o maior tamanho das sementes e, também, com a formação das raízes adventícias que contribuem para a sustentação dos indivíduos depois que atravessam a palha. Existem alguns relatos que indicam a ocorrência de intenso polimorfismo na espécie, correlacionado com a existência de poliploidia que, por conseqüência, favorece a adaptação de biótipos às mais variadas condições ambientais (Kissmann, 1997; Millhollon & Burner, 1993). Essa habilidade das plantas pode promover o gradativo incremento na adaptação da espécie à condição dos canaviais paulistas e, por analogia, a outras culturas agrícolas brasileiras, por vezes menos competitivas que a cana-de-açúcar, o que pode resultar no agravamento do problema existente.

Planta de capim-camalote em pleno perfilhamento aos 35 dias após emergência (A); Sistema radicular das plantas aos 65 dias após emergência (B)

tes do capim-camalote são relativamente grandes quando comparadas com outras poáceas, sendo, portanto, facilmente visualizáveis durante a inspeção. Deve-se, também, tomar especial cuidado quanto aos restos vegetais presentes no maquinário, devido ao possível enraizamento de plantas a partir de pedaços de colmos. Por último, a manutenção das bordas dos talhões, carreadores e cercas com bom controle de plantas daninhas evita a dispersão das plantas entre áreas contíguas. Para a cultura da cana-de-açúcar, o método de controle de plantas daninhas mais utilizado é o químico, por meio de herbicidas. Existem poucos trabalhos que avaliaram a eficácia de herbicidas sobre as plantas de capimcamalote, assim sendo, boa parte das recomendações de herbicidas são feitas baseadas nos conhecimentos práticos dos profissionais envolvidos com o setor. Com base nos conheci-

mentos do crescimento e desenvolvimento da espécie, observa-se que as medidas de controle devem ser administradas em prazo máximo de 40 dias após a emergência das plantas, pois, a partir desse ponto, pode ocorrer o florescimento com rápida dispersão de sementes ao solo. Da mesma forma, o crescimento inicial rápido exige que medidas de manejo sejam realizadas sobre plantas jovens, para que os melhores resultados sejam obtidos, uma vez que o desenvolvimento da planta dificulta o controle, e também para que a competição entre a planta daninha e a cana-de-açúcar não ocorra ou mesmo não seja significativa sobre a produção. A aplicação dos herbicidas para o controle do capim-camalote pode ser feita em pré-plantio incorporado (PPI), pré-emergência (PRE), pós-emergência (POS) ou jato-dirigido e “catação” (JD). Para as condições de PPI e reforma de canaviais, pendimethalin, trifluralin e imazapyr são opções com elevado potencial de controle, principalmente devido à boa ação graminicida das moléculas. Em PRE podemse utilizar clomazone, clomazone + ametrina, diuron + hexazinone, imazapic e tebuthiuron. Para aplicações em POS, bons resultados podem ser obtidos com aplicações de clomazone + ametrina. Finalmente, em condição de JD, podem ser utilizados glyphosate, paraquat, paraquat + diuron, MSMA, MSMA + diuron + hexazinone. As doses a serem administradas devem ser ajustadas para cada condição de manejo, época do ano, tipo de solo e grau de infestação de plantas daninhas.Vale ressaltar, também, que é perfeitamente possível que existam outros produtos com controle eficaz sobre o capim-camalote, no entanto, ainda não existem dados na literatura que subsidiem C as recomendações de aplicação. Pedro Jacob Christoffoleti Saul Jorge Pinto de Carvalho Marcelo Nicolai Esalq/USP

PREVENÇÃO E MANEJO O melhor manejo a ser empregado para o capim-camalote, sem dúvida, é a prevenção à infestação. Assim sendo, deve-se examinar cuidadosamente todo material vegetal a ser distribuído às áreas produtoras de cana-deaçúcar, desde as mudas a serem utilizadas no plantio até as sementes de adubos verdes adquiridas para as áreas de reforma. As semen-

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Detalhe da emissão simultânea de mais de um rácemo floral por perfilho (A); Detalhe das raízes adventícias na base dos perfilhos (B)

Examinar material vegetal, sementes e adubos é fundamental para evitar a entrada das sementes do camalote, salienta Christoffoleti

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Café

Charles Echer

Alerta para o bicho mineiro

O clima seco e quente é ideal para o desenvolvimento do bicho mineiro, a pior praga do café, que em 1998 causou perdas de 72% da produção de lavouras em Minas Gerais. A desfolha de cima para baixo e, principalmente, no topo de plantas de cafeeiro pode ser sinal do seu ataque, exigindo medidas urgentes de controle

O

bicho-mineiro ou minador das folhas, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae), é talvez a principal praga do cafeeiro (Coffea spp.) na atualidade, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e de maior déficit hídrico. Constatada no Brasil a partir de 1851, é uma praga exótica que tem como região de origem o continente africano. É considerada praga monófaga, atacando somente cafeeiros. O surgimento da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 70, é um marco para o bicho-mineiro, assim como também para a broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae). Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia de controle da ferrugem propiciam melhores condições para o ataque do bicho-mineiro, que, ao contrário da broca-docafé, desenvolve-se bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar. O adulto do bicho-mineiro é um microlepidóptero cuja mariposinha mede 6,5 mm de envergadura, tem coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso, as asas anteriores cobrem as posteriores. Coloca os ovos na superfície superior das folhas, e a pequena lagarta, ao eclodir, penetra diretamente para o interior foliar,

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sem entrar em contato com a parte externa. As lagartinhas vivem dentro de lesões ou minas foliares por elas mesmas construídas e, quando completamente desenvolvidas, medem cerca de 3,5 mm de comprimento. Após completo desenvolvimento, abandonam as folhas pela parte superior das minas e, com o auxílio de um fio de seda, que elas mesmas produzem, descem até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos com fios de seda no formato da letra “X”. As lesões são inconfundíveis, apresentando o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções. A epiderme superior

da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade. De modo geral e, principalmente, nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do topo das plantas (terço superior). O ciclo evolutivo de ovo à fase adulta dura entre 19 e 87 dias, sendo menor em temperaturas mais elevadas, e a fase de lagarta, que é a que causa danos, leva de nove a 40 dias, passa por três ecdises (Figura 1), e em média podem ocorrer oito gerações por ano, podendo chegar a 12. As maiores populações da praga são constatadas nos períodos secos do ano, com início

Adulto de bicho-mineiro (foto da direita exibindo detalhe das asas franjadas)

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DANOS CAUSADOS PELO BICHO-MINEIRO em junho-agosto e acme em outubro, e as menores, antes e após esses meses. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro (Figura 2). As condições do tempo que influenciam negativamente a população da praga são as chuvas e a umidade relativa do ar, ao contrário da temperatura que exerce influência positiva (Figura 3).

CONTROLE Além do controle químico convencional, serão discutidas algumas formas de controle cultural e biológico que podem auxiliar na redução da praga, porém nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos. Controle Cultural A utilização de quebra-ventos, ou arborização, com plantas apropriadas para tal fim e devidamente planejadas, auxilia na redução do ataque da praga, que tem preferência por locais mais secos e arejados. São indicados, entre outros, seringueira, leucena, abacateiro, ingazeiro, grevílea robusta, bananeira etc. A arborização também pode ser um componente importante no equilíbrio biológico, devido ao abrigo que oferece aos inimigos naturais de pragas.

Fotos Paulo Rebelles Reis

Resistência Genética Embora haja espécies de cafeeiro que apresentam resistência genética ao bicho-mineiro, como Coffea stenophylla G. Don. e Coffea ra-

A

s lesões, causadas pelas lagartas do bicho-mineiro nas folhas, reduzem a capacidade de fotossíntese em função da redução da área foliar, e se o ataque for intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo devido à distribuição da praga. Em geral as plantas que sofrem intenso ataque do bicho-mineiro apresentam principalmente o topo completamente desfolhado, podendo, no entanto, sofrer desfolha total. Em conseqüência da desfolha há redução da produção de café e provavelmente da longevidade dos cafeeiros. Lavouras intensamente desfolhadas pela praga podem levar até dois anos para se recuperar. No Sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido uma desfolha de 67% cemosa Lour., entre outras, as fontes de resistência ainda não estão presentes nas cultivares comerciais. Controle por Comportamento Já é conhecido o feromônio sexual do bicho-mineiro, o qual pode ser utilizado para monitoramento da praga e mesmo na captura de machos adultos (armadilhas com feromônio), reduzindo a possibilidade de acasalamento e, conseqüentemente, a população da praga. Controle Biológico O controle biológico do bicho-mineiro é realizado por predadores, parasitóides e ento-

no mês de outubro, em conseqüência do ataque do bicho-mineiro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993 também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada uma redução na produção entre 34,3 e 41,5%. Maior prejuízo, de aproximadamente 72% de redução na produção, foi observado na cafeicultura do cerrado mineiro em 1998, em Patrocínio, região quente e favorável à praga. Para garantir a produtividade das lavouras de café torna-se importante, todos os anos, preservar o enfolhamento dos cafeeiros até a época das floradas, em setembrooutubro. A preservação do enfolhamento passa pelo controle do bicho-mineiro e da ferrugem, principalmente. mopatógenos, naturalmente ou através da conservação e aumento, não sendo necessário o controle biológico clássico com a introdução de novas espécies de inimigos naturais, pela abundância deles nas condições da cafeicultura brasileira. Esses agentes de controle biológico ajudam a manter baixa a população de bicho-mineiro em determinadas épocas do ano. Controle Biológico por Predadores O predatismo das lagartas do bicho-mineiro, realizado principalmente pelas vespas (Hymenoptera: Vespidae), está em torno de 70% de eficiência. Os vespeiros formados nos cafeeiros, apesar de poucos, via de regra são destruídos pelos trabalhadores rurais, pois as vespas são agressivas e podem causar acidentes. Restam, portanto, a preservação de matas remanescentes e o reflorestamento com espécies nativas da região, o que contribuirá para a preservação e aumento das vespas predadoras que neTabela 1 - Predadores do bicho-mineiro relatados no Brasil, pertencentes à ordem Hymenoptera e família Vespidae Espécies

Lagartas de bicho-mineiro, após a retirada da epiderme superior da folha na lesão

Casulos ou crisálidas de bicho-mineiro

Superfície da folha dilacerada Apoica pallens Fabricius Brachygastra augusti St. Hill. Inferior Brachygastra lecheguana (Latreille, 1824) * Inferior Eumenes sp. * Superior Polistes versicolor (Olivier, 1791) Polybia paulista Ihering Polybia scutellaris (White, 1841) * Inferior Protonectarina sylverae Saussure, 1854 * Superior Protopolybia exigua Saussure Synoeca surinama cyanea (Fabricius, 1775) * Inferior * Mais comumente encontradas.

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Figura 1 - Ciclo evolutivo de bicho-mineiro, Leucoptera coffeella Produção de café em função do tratamento com thiamethoxam 250 WG na água de irrigação por gotejamento em três épocas de aplicação. Monte Carmelo (MG) 2003 Sacas beneficiadas/ Épocas de aplicação1 ha em julho de 2003 Fevereiro 57,7 a Março 54,6 a Abril 52,0 a Testemunha 23,0 b C.V. (%) 5,89

Aumento na produção (%) em relação à testemunha 251 237 226 100 -

Thiamethoxam 250 WG (2 kg/ha ou 0,56 g p.c./cafeeiro)

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(Schroeter) Migula (Pseudomonadaceae) são apontadas como os microorganismos mais eficientes até agora conhecidos em epizootias de lagartas de bicho-mineiro, com ocorrência de 65 e 90%, respectivamente.

las se abrigam (Tabela 1). Controle Biológico por Parasitóides O parasitismo natural das lagartas de bicho-mineiro apresenta cerca de 18% de eficiência no controle da praga, feito principalmente pelos microhimenópteros Colastes letifer (Mann, 1872), Mirax sp. (Hymenoptera: Braconidae), Closterocerus coffeellae (Ihering, 1913), Horismenus sp. (Hymenoptera: Eulophidae) e Proacrias sp. (Hymenoptera: Entedontidae), entre outros.

Fotos Paulo Rebelles Reis

Controle Biológico por Entomopatógenos Dos agentes de controle biológico do bicho-mineiro, os patógenos ou microorganismos entomopatogênicos são os menos conhecidos, passando até mesmo despercebidos, embora possam causar epizootias, quando as condições lhes são favoráveis. Sabe-se, entretanto, de sua existência e do potencial que possuem para o controle da praga. Já foram relatadas as presenças de bactérias e fungos em lagartas agonizantes ou mortas. As bactérias Erwinia herbicola (Lonis) Dye (Enterobacteriaceae) e Pseudomonas aeruginosa

Controle Químico Convencional Em regiões de clima quente e seco, favorável ao bicho-mineiro, o controle químico tem sido imprescindível para a garantia da produtividade das lavouras. Nessa cafeicultura, normalmente ocorrem dois picos populacionais da praga, o primeiro em abril-maio e o segundo em setembro-outubro (Figura 2). Para controlar a praga, evitando a ocorrência de picos populacionais, somente com a aplicação de produtos em pulverização seriam necessárias

aplicações mensais, o que é inviável. Assim, o primeiro pico, de abril-maio, pode ser evitado através da aplicação de inseticidas sistêmicos durante o período chuvoso anterior ao pico, em aplicação única ou de forma escalonada (também chamada de seqüencial), de novembro a fevereiro, tanto na formulação granulada (GR) ou líquida (WG ou GrDA, grânulos dispersíveis em água). Na formulação líquida os produtos podem ser aplicados na forma de esguicho (drench) no colo da planta ou em filete contínuo, no solo sob os cafeeiros e acompanhando a linha de plantio, com pulverizador costal manual ou tratorizado adaptados para tal finalidade, ou ainda na água de irrigação por gotejamento. Cada produto tem suas particularidades, as quais devem ser obtidas junto aos fabricantes ou à assistência técnica especializada. Como o efeito residual dos inseticidas aplicados de novembro a fevereiro nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até o mês de outubro, poderá haver a necessidade de complementação do controle a partir de junho com pulverizações foliares.

Figura 2 - Curva da flutuação populacional de bichomineiro Leucoptera coffeella nas regiões do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro

Detalhe da aplicação drench com costal manual Fonte: Souza et al. (1998)

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Figura 3 - Relação entre o número de lesões foliares causadas pelo bicho-mineiro, Leucoptera coffeella, e a temperatura (A), umidade relativa (B) e precipitação pluvial (C). Fonte: Reis & Souza, 1986

Ainda não se sabe exatamente qual a população do bicho-mineiro capaz de causar dano econômico. Porém, os trabalhos de pesquisa realizados pela Epamig em Minas Gerais, desde 1973, mostram que quando ocorrer 30% de folhas minadas, sem que as minas apresentem rasgaduras provocadas por vespas predadoras, nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco), há necessidade de ser efetuado o controle químico. Caso este não seja feito, e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro (época das floradas) forem favoráveis à praga, os prejuízos serão consideráveis. A amostragem de folhas, para ser conhecida a população do bicho-mineiro, deve ser feita nos terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do inseto nas mesmas. Deve-se evitar a coleta de folhas apicais dos ramos ou do interior das plantas; recomendam-se folhas do terceiro ao quinto par, a partir do ápice do ramo. Caso não seja constatado o nível de controle (30%), não é recomendável o controle químico, pois somente as condições do tempo e/ou o controle natural, através do parasitismo e predatismo, estão sendo suficientes para manter baixa a população da praga. Esse nível de controle não se aplica à cafeeiros novos, de até três anos de idade, nos quais a desfolha, mesmo em baixos níveis, é prejudicial à sua formação. A pulverização de inseticidas somente quando a população atingir o nível de controle deve influir pouco sobre o equilíbrio biológico, pois, se a praga apresentar um aumento populacional, significa que os inimigos naturais não estão sendo eficientes e que as condições para aumento da praga estão mais favoráveis do que para aumento dos inimigos naturais. Tal fato justifica a adoção de medidas de controle para diminuir a população do bicho-mineiro, restabelecendo o equilíbrio entre a praga e os inimigos naturais. As lavouras devem ser inspecionadas constantemente na época crítica de ataque da praga, principalmente aquelas muito expostas a ventos constantes. Na maioria das vezes, o controle é necessário somente em alguns talhões do cafezal, e as inspeções devem conti-

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B)

C)

nuar até que comecem as chuvas mais freqüentes e haja início de novas brotações nas plantas. Uma segunda pulverização, nos talhões já pulverizados, somente deve ser feita após 20-30 dias, se nas amostragens forem constatadas lagartas vivas do inseto no interior das minas. Caso haja condições extremamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro e fevereiro (veranico), pode ocorrer um pico nos meses de abril e maio, que também deve ser controlado. Esse pico não ocorre quando são usados inseticidas sistêmicos, granulados no solo (aldicarb, disulfoton, phorate, thiamethoxam, imidacloprid etc.), ou em “drench” no colo da planta (disulfoton, imidacloprid, thiamethoxam etc.) no início da época das chuvas. Porém, como já mencionado, o efeito residual nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até junho, havendo necessidade de complementar o controle com pulverizações foliares. Diversos produtos, ou misturas comerci-

ais de produtos, em pulverização, apresentam eficiência no controle do bicho-mineiro, tais como os fosforados chlorpyrifos, ethion, fenthion, triazophos etc., o carbamato cartap e diversos piretróides, sendo que estes últimos, pelo amplo espectro de ação que possuem, podem ser mais prejudiciais aos parasitóides e predadores da praga. Em resumo, o manejo integrado do bicho-mineiro nas regiões onde sua incidência não é freqüente, como no Sul de Minas, fica restrito ao uso de pulverizações quando for constatado o nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelas vespas predadoras. Nas regiões onde o inseto freqüentemente se constitui em praga, como na cafeicultura do Cerrado mineiro e Sudoeste baiano, o controle deve ser feito com inseticidas sistêmicos aplicados no período chuvoso que antecede o ataque. A aplicação pode ser única, ou escalonada, e complementada com pulverização (entre junho e outubro) caso seja constatado 30% de folhas minadas sem sinais de predação. A partir daí, com o início do período chuvoso e a emissão de novo enfolhamento pelo cafeeiro, a infestação de bicho-mineiro é reduzida a índices muito baixos, praticamente desaparecendo no período chuvoso do ano. C Paulo Rebelles Reis, Júlio César de Souza e Mauricio Sergio Zacarias, Epamig/EcoCentro/Embrapa Café Charles Echer

A)

Melhor desenvolvimento do sistema radicular proporcionado por thiamethoxam aplicado via drench

Condições extremamente favoráveis podem contribuir para pico populacional também nos meses de abril e maio, alerta Rebelles

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Algodão

Resistência ou não Dúvida quanto à efetividade dos inseticidas fisiológicos utilizados no controle do curuquerê-do-algodoeiro, uma das principais pragas da cultura que ataca desde a emergência das plântulas até a formação dos capulhos, leva a pesquisa a realizar testes para verificar possível resistência da praga aos produtos

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um grande desafio ao agricultor. Nessa cultura o controle de pragas ainda fundamenta-se principalmente no con-

trole químico, chegando-se a realizar de 12 a 16 aplicações de pesticidas durante um único ciclo. A utilização constante e indis-

José Roberto

A

cotonicultura brasileira, atividade agrícola de alta expressão no setor primário da economia do país, é uma grande geradora de empregos, desde a fase de produção no campo até as etapas de beneficiamento e industrialização. Somente a região Centro-Oeste responde por cerca de 70% da produção brasileira. Entre os grandes entraves para a obtenção de alta produtividade de algodão no Cerrado está a ocorrência de infestações de pragas, cujos ataques às lavouras representam até 45% do custo da cultura. Por outro lado, se não devidamente controladas, os danos causados pelas pragas podem reduzir significativamente a produção. Por isso, manter o nível de infestação das pragas sob controle configura-se como

Inseticidas fisiológicos que atuam na síntese de quitina têm ação inicial lenta, porém, com o tempo de exposição, apresentam alto índice de mortalidade

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André Shimihiro

lhos, o curuquerê promove danos tanto quantitativos quanto qualitativos ao algodão. Ao causar o desfolhamento da planta, reduz a capacidade de fotossíntese e, conseqüentemente, a quantidade de fibras produzida pela planta. No caso de ataques tardios, com as maçãs já formadas, ocorre a maturação precoce destas, o que deprecia a qualidade da fibra (Bleicher, 1990; Domiciano & Santos, 1994; Ferreira & Lara, 1999). A safra 2004/05 foi caracterizada por freqüentes surtos populacionais da praga, com desfolhas intensas comprometendo a atividade fotossintética. A utilização de produtos químicos é uma das medidas mais utilizadas para o controle da praga, dentre eles se destacam os inseticidas denominados fisiológicos, que atuam como reguladores do crescimento dos insetos. Essas altas infestações têm lançado dúvidas

quanto à efetividade das doses utilizadas para o controle do curuquerê. Visando encontrar alternativas para a solução desses problemas, a Embrapa Algodão (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em parceria com a Fundação GO, o Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão em Goiás (Fialgo) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) vêm realizando pesquisas em algodoeiros de várias regiões do estado. Uma dessas pesquisas foi realizada a fim de investigar a possibilidade de resistência do curuquerê a vários inseticidas fisiológicos. A utilização de produtos fisiológicos é uma das medidas mais utilizadas para o controle de lagartas. Entre as vantagens do uso desses produtos está a característica comum a eles de apresentarem baixa toxicidade a animais e seres humanos, além de sua seletividade para inimi-

Figura 1 - Mortalidade corrigida de lagartas de 3º instar oriundas de população coletada em Ipameri (GO) após exposição dermal e oral a inseticidas fisiológicos. Safra 2005/2006

Figura 2 - Mortalidade corrigida de lagartas de 3º instar oriundas de população coletada em Acreúna (GO) após exposição dermal e oral a inseticidas fisiológicos. Safra 2005/2006 criminada do controle químico pode levar à seleção de organismos-praga resistentes, intoxicação de aplicadores e animais, contaminação de águas subterrâneas, mortalidade de agentes de controle biológico natural, além de onerar os custos. Assim, pesquisas no sentido de minimizar os custos de produção permitem o vislumbre de grande economia para o país, além de contribuir para a sustentabilidade da cultura do algodoeiro. Dentre as pragas que atacam a cultura, destaca-se o curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argillacea), cujas infestações podem causar reduções significativas à produção (Miranda & Lucena, 2003; Oliveira et al., 2002). Ocorrendo desde a emergência das plantas até a formação dos capu-

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Acima, ramificação das hifas de Rhizoctonia. Abaixo, A) escleródios e micélio em tubo de germinação; B) corte de escleródios; C) células do micélio

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Fotos Rogério Inoue

gos naturais. Entretanto, as altas infestações verificadas no campo têm lançado dúvidas quanto à efetividade das doses utilizadas para o controle do curuquerê. Através da análise da toxicidade dos inseticidas fisiológicos contra o inseto, podem-se comparar os níveis de eficiência desses produtos contra a fase larval do curuquerê. Nos bioensaios desenvolvidos no La-

Inseto adulto de Alabama argillacea: responsável por surtos populacionais nas lavouras da safra 2004/05

boratório de Biologia de Insetos da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Campus de Jaboticabal (SP), lagartas de terceiro ínstar de curuquerê coletadas em lavouras das regiões de Acreúna e Ipameri (GO) foram colocadas para

se alimentar sobre folhas de algodoeiro e pulverizadas com soluções dos inseticidas em torre de Potter (25 lb/pol2). A concentração foi determinada a partir da dose recomendada pelos fabricantes de cada produto, com base em volume de calda de 200 l/ha. No tratamento controle, as lagartas foram pulverizadas com igual volume de água destilada estéril. Foram utilizadas no bioensaio lagartas de mesmo tamanho e idade, coletadas de criação de manutenção de geração F1 oriundas do campo. Para cada tratamento foram utilizados 40 insetos, em quatro repetições. As lagartas e alimento tratados foram a seguir mantidos em recipiente de criação (tubos de PVC medindo 21,5 cm de altura e 14,5 cm de diâmetro), sendo o alimento substituído a cada 24 horas (folhas não tratadas). A mortalidade foi aferida a cada 24 horas durante 11 dias consecutivos, a fim de se definir a toxicidade aguda (96 horas após a aplicação) e crônica (até a ecdise seguinte) dos produtos testados. Os resultados mostraram que a eficiência de controle situa-se acima de 80% em todos os produtos testados, quando avaliados após cinco a sete dias da aplicação. Os produtos fisiológicos (entre eles novaluron, triflumuron e diflubenzuron) atu-


am na síntese de quitina e, por isso, apresentam ação relativamente lenta, porém as taxas de mortalidade cresceram com o passar do tempo após a exposição. Em ambas as populações testadas – oriundas de Ipameri e Acreúna, as taxas de mortalidade foram relativamente baixas a 24 horas após a aplicação, aumentando substancialmente a 96 horas e atingindo os valores mais elevados na avaliação efetuada a 168 horas, caracterizando assim sua ação típica de regulação do crescimento, ou seja, causando letalidade principalmente no final do ínstar do inseto. Esses bioensaios serviram para mostrar que o fracasso no controle da praga pode estar relacionado com outras questões ligadas à tecnologia de aplicação dos inseticidas e não necessariamente à perda de eficiência dos produtos. Cuidados relacionados ao monitoramento constante e eficiente da lavoura, ação rápida entre a detecção e o controle efetivo, não utilização de produtos de origem e características duvidosas (os chamados “piratas”) e boa calibragem dos equipamentos (pressão, velocidade de trabalho e tipos de bico adequados; limpeza de filtros e bicos) são indispensáveis para garantir uma ação satisfatória dos inseticidas.


Fotos Rogério Inoue

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do produto aplicado por hectare, é importante quantificar o produto que chega às partes da planta onde está o alvo a ser atingido. O curuquerê-do-algodoeiro, por exemplo, é facilmente encontrado na folha e por toda a planta, assim, é importante uma boa distribuição do produto por toda a planta, principalmente quando se utiliza produto de ação local (sem redistribuição no vegetal). A boa distribuição do produto aplicado e a definição do tamanho de gotas adequado são fundamentais para se obter eficácia nas pulverizações. Quando se entende que o produto que efetivamente controla a praga é aquele que atinge o alvo, e não o aplicado, e que, quanto menor a diferença entre o volume na ponta de pulverização e o que atinge o alvo, mais eficaz e econômico se torna o tratamento fitossanitário das diferentes culturas (Ramos, 2003). É indispensável entender que as folhas agem como um filtro, protegendo o curuquerê e dificultando a penetração das gotas na cultura. Esse filtro é variável com a arquitetura da planta, a área foliar e o estádio de desenvolvimento da cultura. Se imagi-

José Ednilson Miranda, Embrapa Algodão Paulo Cesar Bettini, Syngenta Divulgação

Assim, embora a pulverização seja o principal método utilizado para tratamento fitossanitário da cultura do algodoeiro, esta tem sido realizada de maneira empírica. Conhecimentos básicos sobre pulverização são desconhecidos pela maioria dos agricultores, técnicos e responsáveis pela aplicação, conseqüentemente problemas de controle de pragas como o curuquerê resultam em desperdícios significativos de produtos, de mão-de-obra e de produtividade de algodão. Segundo Ramos, 1997, em várias culturas diferenças superiores a 30% na vazão dos bicos da barra. Rotação inadequada do equipamento, causando deficiência na agitação e a segregação de pós-molháveis; filtros de malha inadequada, causando entupimento excessivo dos bicos ou retenção do produto; inadequação do tamanho de gotas à operação, potencializando as perdas por deriva e vazamentos são as causas mais comuns de perdas de produtos fitossanitários no campo. Na maioria dos casos em pulverizações se associa a eficácia do controle principalmente ao volume de calda aplicado, deixando de lado todos os outros fatores envolvidos na eficácia de uma aplicação. Dessta forma, não bastando apenas conhecer a dose

O curuquerê é facilmente encontrado por toda a planta, por isso, na hora do controle uma boa distribuição do produto pela planta é fundamental

narmos o algodoeiro desde a emergência, passando pelos primeiros botões florais e primeiro capulho, até o início da abertura destes, temos grande variação do tamanho da planta, além do aumento do tamanho e número de folhas. Nesse sentido, passam a ser necessários diferentes tipos de calibragens ao longo do desenvolvimento da cultura, buscando melhor atingir o alvo e obter melhor eficácia de controle. Trabalhos realizados nessa linha em outras culturas e no algodão comprovam que gotas muito grandes e/ou muito pequenas têm baixa eficiência na penetração (Saab, 1996; Matthews, 1999; Ramos, 2001; Bettini, 2005). A escolha do modelo, da vazão e da pressão de trabalho da ponta de pulverização a ser utilizada está diretamente ligada à eficácia da pulverização, sendo necessário conhecer alguns conceitos básicos. As pontas de pulverização hidráulicas produzem diferentes tamanhos de gotas, e mundialmente a pulverização é classificada em faixas: muito fina, fina, média, grossa ou muito grossa. Pelo exposto, as pulverizações no algodoeiro têm sido feitas sem o conhecimento de tamanhos de gotas comprovadamente adequado, oscilando bastante, levando a falhas de controle e as dúvidas quanto à eficácia de alguns produtos, o que evidencia a necessidade de trabalhos que avaliem a penetração de gotas na planta, uma vez que algumas das principais pragas dessa cultura ocorrem por toda a planta. Com esse objetivo, têm sido realizadas avaliações da eficácia da penetração de diferentes tamanhos de gotas de pulverização no algodoC eiro em diversas alturas da planta.

Pulverizações do algodoeiro feitas sem o conhecimento do tamanho de gotas levam a falhas e dúvidas quanto à eficiência de produtos, diz Ednilson

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Armazenagem

Armazém simples Com o objetivo de ajudar a suprir o déficit de armazenamento que o produtor brasileiro vem enfrentando, os silos bolsa, além do baixo custo, vêm mostrando sua eficiência

A

safra de grãos caminha para mais um recorde de produção. São estimadas, para 2006, 124,4 milhões de toneladas, sendo 10,5 milhões de toneladas a mais do que na safra anterior, um aumento de 9,3%. Segundo dados da Conab, o cultivo do milho deve ter um incremento de 20,5% no total de grãos produzidos, que devem chegar a 41,7 milhões de toneladas, com uma expansão de área cultivada de 4,4% só na primeira safra. Já a soja, embora tenha uma redução de área plantada, devido em grande parte à baixa cotação do produto no mercado, terá produtividade superior à da safra passada em 13,1%, chegando a 58,18 milhões de toneladas do grão. O Brasil realmente tem muito a mostrar ainda. Possui áreas produtivas ainda inexploradas e clima excelente para desenvolver a agricultura. Mas é na hora da colheita que se percebe qual é o gargalo da agricultura brasileira. Embora desfrute de safras recordes e produtos de excelente qualidade, o déficit no sistema de armazenagem é o grande fator li-

mitante para tornar-se a potência mundial em produção agrícola. Enquanto nos Estados Unidos cerca de 65% da produção é armazenada na própria fazenda, no Brasil temos no máximo 9% da produção sendo armazenada dessta forma, o que dificulta o processo de mudanças. Em todo o país, cerca de 30% de tudo que é colhido fica ao relento, ou seja, sem estrutura para ser estocado, situação que se agrava a cada nova safra devido à expansão da agricultura para novas áreas e, assim, ao aumento da área total cultivada. Como alternativa a essa deficiência do sistema convencional de armazenagem, os silos bolsa, no mercado brasileiro há pouco mais de três anos, começam a mostrar os primeiros resultados. O sistema silo bolsa surgiu no Canadá há aproximadamente dez anos, com o objetivo de guardar a silagem para o gado. Uma vez observada a excelente qualidade do produto estocado nas bolsas, logo foram realizados testes com grãos, e então os silos bolsa passaram a ser utilizados também para este fim.

Na Argentina, onde o sistema foi importado logo depois, os silos bolsa ganharam grande impulso depois do “curralito” (fato marcado pela apreensão do dinheiro da população daquele país por parte do governo). Nesse período os produtores estavam em pleno período de colheita e bastante inseguros quanto ao destino da produção, encontrando no silo bolsa a solução para armazenar os seus grãos. Hoje o país armazena cerca de 30% da produção em silos bolsa. Os silos bolsa consistem num túnel de polietileno formado por três camadas, sendo duas camadas internas pretas e uma camada externa de cor branca, composta com dióxido de titânio(fabricado pela Dupont). Essa camada externa é o diferencial do produto, pois sua finalidade é fazer a reflexão dos raios solares, garantindo assim maior resistência ao ressecamento. “Se pegarmos, por exemplo, uma lona preta comum e colocá-la no sol, em três ou quatro meses ela já estará toda ressecada, o que não acontece com a lona do silo bag devido ao dióxido de titânio que compõe a última camada”, explica VanFotos Dupont

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derlei Maranha, coordenador de desenvolvimento de mercado Silox, marca do silo bag da Dupont. A capacidade de armazenamento dessas bolsas é de 3 mil sacas de grãos, ou 180 toneladas de grãos, que é hermeticamente fechado após o embolsamento. O material utilizado na confecção da lona, juntamente com os procedimentos corretos para a armazenagem, garantem um sistema excelente de armazenamento. Na pesquisa, a Universidade Federal de Viçosa está empenhada no desenvolvimento de projetos que visam o aperfeiçoamento do sistema silo bolsa. Avaliações quantiqualitativas de milho e soja estão sendo realizadas em condições de campo e também em laboratório. Segundo Fernando Pereira da Silva, pesquisador e professor da Universidade Federal de Viçosa, os testes de campo estão sendo realizados na região do Cerrados, em três localidades diferentes: Sorriso (MT),

Vistorias devem ser realizadas pelo menos duas vezes por semana para avaliar a qualidade dos grãos

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Uberlândia(MG) e Ponta Grossa (PR), em unidades da Conab. Esse trabalho, juntamente com a parte laboratorial e uma terceira relacionada ao desenvolvimento de um modelo matemático para simular as condições de temperatura no interior do silox, coordenados pelos professores Lêda Rita DÀntonino Faroni e Daniel Marçal de Queiroz, respectivamente, prometem servir de base para o estabelecimento das melhores condições técnicas de armazenagem dos grãos no interior dos silos, visto que as regiões escolhidas para o estudo são a referência em questão de condições climáticas. Com os resultados obtidos, devem permitir a elaboração de recomendações de uso para os silos bolsa em todo o país. O mais interessante é que o maior mercado para a tecnologia são produtores que já possuem sistema de armazenamento convencional, pessoas que já conhecem as vantagens de estocar a produção em suas propriedades. Estes utilizam os silos bolsa para armazenar o excedente da produção. Mas, segundo o coordenador, o objetivo hoje está

em mostrar àquele produtor que ainda não armazena os grãos em sua propriedade as vantagens do investimento nesse novo sistema. Leonardo Mendonça Tavares, engenheiro agrônomo das fazendas da Agromem, Orlândia (SP), diz que a empresa começou a utilizar o sistema como teste na safra 2003/04 e aprovou a qualidade. No ano seguinte, safra 2004/05, foram adquiridos 52 silos bolsa para armazenar 18% do total da safra de grãos, ou seja, cerca de 156 mil sacos. A Agromem cultiva grãos há 30 anos e hoje possui cerca de 45 mil hectares de área plantada.

QUALIDADE DO GRÃO O ambiente criado no interior do silo, com a atmosfera saturada por mais ou menos 12% de CO2, é uma condição que impede o desenvolvimento de insetos e, assim, isenta os grãos do expurgo (o que normalmente é feito em silos convencionais) e tem trazido bons resultados. Marcelo Mendes Oliveira, da fazenda São José da Barra, em Juviania (GO), garante que a experiência com

Após o enchimento das bolsas, o aterramento é importante para evitar acúmulo de água da chuva

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Fotos Dupont

o armazenamento de milho nas 21 bolsas adquiridas na última safra, durante sete meses, já mostra a eficiência do sistema. “A qualidade dos grãos foi perfeitamente preservada, e a perda que você normalmente tem com armazenamento convencional, em 63 mil sacas que estavam nas bolsas, foi zero. E a empresa que fez a compra optou pelos grãos das bolsas, embora tivesse produto em silo convencional, e com uma vantagem: um preço também superior, exatamente pela qualidade com que o grão se manteve e que se destinaria para consumo humano”, finaliza.

LOCAL DE INSTALAÇÃO Primeiramente é necessária a escolha de um local plano, onde se evite acúmulo de água de chuva. Um pequeno aclive é preferível. Assim, é necessário que se faça uma pequena limpeza, retirando restos culturais (tocos) e pedras para evitar que furem a lona; deve-se evitar também terra gradeada, pois os torrões podem impedir o perfeito deslizamento da máquina de embolsamento. Cupins e formigueiros também podem danificar a lona, portanto deve-se evitar também locais com infestações desses insetos. Outra recomendação é que se dê preferência para a instalação das bolsas no sentido Norte-Sul e que se coloquem todas em um mesmo local, o que virá a facilitar a vistoria e a chegada de caminhões.

EMBOLSAMENTO O silo bolsa pesa cerca de 120 kg e já vem sanfonado, pronto para ser acoplado na máquina embolsadora e ser começado o processo de enchimento com grãos, que é feito através de uma rosca sem fim. Esse trabalho requer cuidados por parte do operador da máquina embolsadora, regulando corretamente o freio, para que se expulse a maior quantidade de ar possível, evitando formar bolsões de ar na parte superior do silox. Essas “bolsas de ar” podem facilitar o aparecimento de leveduras ou a deteriorização dos grãos no local. Além disso, o estiramento da lona é outro ponto a ser observado, pois deve-se respeitar o limite de estiramento, que fica entre 42 – 45 cm da régua que está pintada sobre a lona do silo. Finalizado o enchimento, a bolsa é fechada hermeticamente com fecho próprio, e as laterais, aterradas para evitar acúmulo de água de chuva ao redor. A partir daí a massa de grãos que se encontra no interior do silo passa a consumir todo o oxigênio ali existente, produzindo uma atmosfera modificada, saturada de Co2. Esse fato cria um ambiente totalmente diferente de um armazenamento convencional, pois essa condição de atmosfera controlada é imprópria à proliferação de insetos e fungos. Vanderlei explica que

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Local onde é feita a perfuração da lona para vistoria dos grãos é facilmente lacrado após o procedimento com fita própria que acompanha o kit na compra

os insetos que por ventura possam estar presentes na massa de grãos são rapidamente atingidos pelo excesso de dióxido de titânio e a redução de oxigênio, assim também o risco de deteriorização dos grãos é bastante reduzido também, visto que os fungos ficam neutralizados. Além desse trabalho, são necessárias vistorias periódicas, ou seja, pelo menos duas vezes por semana é preciso inspecionar as bolsas, observando furos que possam ter sido causados por roedores, animais silvestres ou até mesmo cachorros. Uma forma prática de se verificar a qualidade dos grãos no interior do silo é através da batida (mãos) ou caminhada sobre os grãos, se estiverem soltos, está tudo bem!!!

CUSTO DO SILO BOLSA Custo da lona: R$ 2 mil – 2,3 mil. Custo da lona + embolsamento de grãos + extração de grãos: R$ 3 mil. Ou seja, o custo para o armazenamento em silo bolsa custa cerca de R$ 1,00 por saco aproximadamente, dependendo da região do país. No caso de se optar por um armazena-

mento na cidade, por exemplo, o preço cobrado em média é de R$ 2,40 – 2,60. Vanderlei exemplifica: no caso de um produtor possuir uma propriedade a 40 km de distância de uma unidade armazenadora, é cobrado em média para o produtor R$ 1,00 por saco de frete. Portanto, somente esse custo já pagaria o investimento em um silo bolsa para armazenar o produto em sua propriedade, ficando em torno de R$ 0,80 – 0,83 por saco. Nesse exemplo, ainda não foram contabilizados outros custos como taxas de recebimento, expurgo, quebra técnica, perdas por impurezas, perdas por umidade, tempo de armazenamento, enfim, vários outros custos que acabam onerando bastante a carga de grãos.

MÁQUINAS EMBOLSADORAS Embora se tenha vários fabricantes no mercado, a Dupont, junto com seus distribuidores, com o objetivo de incentivar o armazenamento na propriedade, está fazendo o empréstimo das máquinas aos proC dutores. JE

Fernando Pereira (pesquisador), Leonardo M. Tavares (eng. agrônomo e produtor) e Vanderlei Maranha (coord. de desenv. Mercado Silox)

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Dirceu Gassen

Pragas

Fungos no controle O controle do percevejo castanho com produtos químicos nem sempre é eficiente, devido ao hábitat subterrâneo desse inseto. Testes com o uso de fungos entomopatogênicos como Metarhizium, Beauveria e Paecilomyces no controle da praga estão mostrando excelentes resultados em nível de pesquisa

O

s percevejos castanhos representam um grupo de grande interesse biológico e agronômico, pois são pragas de várias plantas cultivadas, sem apresentarem especificidade de hospedeiros. S. castanea foi constatado inicialmente na Argentina, em 1934, e posteriormente, a partir da década de 40, foi registrada em várias regiões do Brasil, sendo observados surtos nas décadas de 60 e 70. A partir da década de 80, os problemas com essa praga em culturas anuais começaram a ser mais freqüentes, e nos últimos anos têm-se constatado grandes prejuízos, especialmente em lavouras de soja, algodão e pastagem dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, São Paulo e Minas Gerais. A ocorrência de danos econômicos ocasionados pelos percevejos castanhos, em lavouras e pastagens, tem sido constante nas regiões de Cerrado, especialmente em solos arenosos, embora também em solos argilosos. A praga pode ser encontrada tanto em sistemas de semeadura direta como no convencional, com o

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ataque ocorrendo em reboleiras, ou distribuído irregularmente na área infestada, na qual ninfas de diferentes estádios e adultos atacam as raízes. Apresentam preferência para se alimentarem em raízes novas, devido ao alto conteúdo de água e nutrientes e à facilidade mecânica para sugar, uma vez que esses insetos possuem peças bucais estiliformes. Nas áreas infestadas, os sintomas nas plantas incluem murchamento e amarelecimento das folhas, com posterior seca e morte. Dentro das reboleiras, pode ser observa-

da redução da população ou do crescimento das plantas atacadas, dependendo de quando o ataque ocorre. Causam danos pela retirada de seiva das raízes e injeção de saliva tóxica, o que provoca o enfraquecimento e morte das plantas. Essas espécies de percevejos já foram registradas atacando soja, algodão, alfafa, amendoim, arroz, banana, batata, beldroega, cana-de-açúcar, café, coqueiro, eucalipto, ervilha, feijoeiro, fumo, girassol, mandio-

Ninfas do percevejo sugando raízes do algodoeiro, onde a preferência são raízes novas, devido ao alto conteúdo de água e nutrientes

Detalhe de ninfas e adultos de Scaptocoris carvalhoi

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CARACTERIZANDO A PRAGA

Fotos Luciane Modenez S. Xavier

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Visualização da aplicação de suspensão fúngica em adultos de Scaptocoris carvalhoi em experimentos que confirmam a eficiência do biocontrole

cal, milho, pimenteira, sorgo, tomateiro, pastagens, colonião e diversas plantas daninhas. Em lavouras de soja, podem ocorrer em grandes reboleiras, podendo chegar a vários hectares. Nessa cultura o prejuízo pode ser total, pois as colhedoras não conseguem colher as plantas de pequeno porte. Os ataques nem sempre ocorrem na mesma área, todos os anos, sendo os fatores que causam essa situação ainda indeterminados.

ESTRATÉGIAS DE CONTROLE O controle químico é a prática mais pesquisada para o controle do percevejo castanho, mas os resultados obtidos até então são inconsistentes e de baixa eficácia. Além disso, essa tática de controle provoca desequilíbrio ecológico e riscos à saúde humana. Dentre outras estratégias de controle populacional do percevejo castanho, destacam-se o controle cultural, o físico e o biológico. Como estratégia de controle cultural, a eliminação do hospedeiro intermediário, principalmente na entressafra, contribui para diminuir a população da praga no solo. O preparo do solo e a correção da acidez do mesmo com calcário também são práticas culturais usadas para o manejo do percevejo castanho. O revolvimento do solo com aração é considerado uma boa tática para reduzir as infestações das pragas que vivem no solo. Essa prática causa exposição dos

entre os insetos de solo considerados pragas, os percevejos castanhos Scaptocoris castanea e Scaptocoris carvalhoi (sinonímia Atarsocoris brachiariae Becker, 1996) merecem destaque. Esses percevejos são muito semelhantes e possuem as pernas anteriores escavatórias e as posteriores com fêmures adaptados para empurrar, podendo se enterrar e formar galerias subterrâneas, ou ser encontrados sob pedras e outros materiais como abrigo. As características diferenciais entre essas duas espécies referem-se a aspectos morfológicos como coloração, tamanho, estrutura do clípeo e face dorsal da tíbia mediana. S. castanea possui coloração mais castanha e 8 mm de comprimento, enquanto S. carvalhoi é menor (5,2 a 6 mm) e de cor âmbar amarelada. Distribuem-se no perfil do solo em profundidades variadas, sendo mais facilmente encontrados em camadas entre cinco a 40 cm de profundidade, podendo passar por longos períodos sem se alimentar. Nas épocas mais secas, aprofundam-se no solo e, durante as chuvas, retornam à superfície. Nos períodos de estiagem prolongada podem atingir até 4 m de profundidade e emitem forte odor quando o solo é removido. insetos aos predadores e morte de ninfas e adultos por esmagamento. Todavia, no caso do percevejo castanho esse método de controle tem-se mostrado ineficaz. Os nutrientes à base de enxofre e nitrogênio e a adição de matéria orgânica também têm causado mortalidade do percevejo. O percevejo castanho possui atração pela cor branca, sendo possível montar armadilhas dessa cor com inseticidas ou fungos entomopatogênicos para contaminar os adultos.

Os aspectos bioecológicos da espécie S. carvalhoi têm sido mais pesquisados que os de S. castanea. O período de ovo a adulto de S. carvalhoi é de aproximadamente cinco a seis meses, sendo o período ninfal provavelmente constituído de cinco instares. Em Sapezal (MT), resultados de pesquisa desenvolvida pela Embrapa-Soja demonstraram que as ninfas foram mais abundantes de junho a outubro. Essas ninfas são de coloração branca e, nos últimos instares, apresentam as tecas alares de coloração amarelada. Elas não entram em contato com o meio exterior e, quando retiradas do solo, são susceptíveis aos raios solares. Os adultos vivem em torno de cinco meses, apresentam período de pré-oviposição, em média, de 18 dias e de oviposição de 84 dias. Realizam vôos de dispersão principalmente nos períodos chuvosos durante dias quentes. O acasalamento ocorre no interior do solo após a revoada, sendo freqüente a ocorrência de casais em cópula dentro do solo. A oviposição ocorre no solo, em profundidades variáveis. Os ovos apresentam coloração branca e forma oval. O ciclo de vida de S. carvalhoi de ovo até a morte do adulto é de cerca de 11-12 meses. Dentre outras medidas usadas para reduzir a densidade populacional do percevejo castanho no solo, destaca-se o controle biológico. Microrganismos entomopatógenos tais como fungos, bactérias, vírus, nematóides e protozoários têm sido pesquisados com sucesso, produzindo bioinseticidas eficazes para muitos insetospraga. O nematóide Steinernema carpocapsae já foi testado em laboratório sobre o percevejo castanho, resultando em 100% de mortalidade. Vários fungos entomopa-


Fotos Luciane Modenez S. Xavier

tógenos dos gêneros Metarhizium, Beauveria e Paecilomyces também já foram isolados desse inseto, os quais apresentam potencial para controle. Trabalhos realizados com o fungo M. anisopliae demonstraram a possibilidade de utilização desse microrganismo no controle do percevejo-castanho-das-raízes. O potencial de controle de S. carvalhoi utilizando-se isolados de M. anisopliae foi testado em áreas de pastagem, proporcionando eficiência entre 30 e 80 %, sendo os melhores resultados obtidos quando o fungo foi utilizado em associação com a matéria orgânica. O efeito de inseticidas químicos associados a M. anisopliae, isolado do próprio S. carvalhoi, também já foi testado, demonstrando que essa associação proporciona bons níveis de controle da praga. Na Embrapa Agropecuária Oeste avaliou-se o potencial de controle biológico de dez isolados de M. anisopliae e de onze de B. bassiana para ninfas e adultos de S. carvalhoi, em condições de laboratório, aplicando-se topicamente sobre os insetos 5 l das diferentes suspensões desses isolados. A mortalidade observada variou de 73,3% a 94,7% para os isolados de M. anisopliae e de 10,7 a 78,7 % para os de B. bassiana. Neste trabalho também foi constatado que quatro isolados de M. anisopliae apresentaram patogenicidade superior a 80%. Em outra etapa dessa pes-

Detalhe de Scaptocoris carvalhoi infectado pelo fungo Beauveria bassiana

Vasos contendo Scaptocoris carvalhoi (ninfas e adultos) e o fungo Metarhizium anisopliae (experimento em casa de vegetação)

veis do que os adultos em condições de casa de vegetação. Conclui-se, nessa pesquisa, que os isolados de M. anisopliae testados foram patogênicos ao percevejo castanho tanto em laboratório quanto em casa de vegetação, constituindo-se em uma alternativa promissora para utilização, como inseticida microbiano, visando o controle dessa praga em condições de C campo. Luciane Modenez Saldivar Xavier, UEMS

Dirceu Gassen

quisa foram determinadas a Dose Letal média (DL 50) e o Tempo Letal médio (TL50) para os quatro isolados mais eficientes de M. anisopliae. Todos os isolados demonstraram aumento de mortalidade proporcional à dose do fungo. Dos quatro isolados testados, dois apresentaram significativamente menores valores de DL50 e TL50, evidenciando altos níveis de patogenicidade. Em casa de vegetação, um desses isolados foi testado em ninfas e adultos de S. carvalhoi e também nessas fases do inseto, separadamente. Os bioensaios foram conduzidos com vasos, e o fungo, aplicado diretamente no solo, resultando em mortalidade de 57,3% quando ninfas e adultos foram testados juntos. Quando ninfas e adultos foram submetidos à presença do fungo separadamente, o índice de mortalidade foi significativamente maior para ninfas (80,8%) do que para adultos (32,2%), evidenciando-se que as ninfas são mais suscetí-

Desenvolvimento micelial de Metarhizium anisopliae em Scaptocoris carvalhoi (A) e conidiogênese (B)

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Adultos vivem em torno de cinco meses e apresentam período de pré-oviposição, em média, de 18 dias e de oviposição de 84 dias

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Pragas

Vilso Junior Santi

Ataque simultâneo

Ocorrência simultânea das lagartas Anticarsia e Pseudoplusia nas lavouras tem sido comum principalmente durante os primeiros estádios de desenvolvimento das plantas, merecendo a atenção dos produtores

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Estudos sobre a incidência estacional tem revelado que a Pseudoplusia includens apresenta uma flutuação irregular e, normalmente, tem dois picos populacionais, o primeiro geralmente no final de janeiro, antecedendo o primeiro pico populacional de Anticarsia gemmatalis. Ultimamente tem-se observado que sua ocorrência é simultânea a de Anticarsia gemmatalis, e não tem sido raro encontrá-las de forma isolada, principalmente durante os primeiros

estádios de desenvolvimento da cultura. A lagarta Pseudoplusia possui coloração verde, com listras brancas no dorso e pode apresentar pontos escuros no corpo. Ao se deslocar, tem um movimento característico de medir palmo, daí a sua denominação. Quanto ao adulto, trata-se de uma mariposa com coloração marrom acinzentada, duas manchas prateadas no primeiro par de asas. Estas lagartas se alimentam de folhas das plantas de

Atlantic Forestry Centre

soja é um dos principais produtos da pasta de exportações brasileiras, sendo que o maior estado produtor é o Mato Grosso, com o Paraná em segundo, plantando uma área total de 3,5 milhões de hectares, produtividade média de 3 mil kg/ha e produção de 10,6 milhões de toneladas aproximadamente. O terceiro produtor brasileiro é o Rio Grande do Sul (Embrapa Soja 2003). Face à escala de produção que a cultura atingiu, com grandes áreas plantadas em monocultivo, é inevitável a ocorrência de problemas fitossanitários. Dentre as pragas que podem afetar a planta de soja devem-se destacar as lagartas das folhas. A principal espécie seria a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis Hueb., 1818), entretanto outras espécies também ocorrem e podem assumir importância dependendo da região. Nos últimos anos tem-se constatado um aumento populacional de lagartas pertencentes à subfamília Plusiinae, da qual a espécie Pseudoplusia includens pode ser encontrada na cultura da soja em todo o Brasil. A. gemmatalis pode ser considerada a principal praga da soja, causando maiores danos que os da largarta-mede-palmo (Pseudoplusia). Entretanto, Diehl e Junquetti (s.d.) lembram que, pelo fato das duas ocorrerem na mesma época, essas lagartas podem ser consideradas pragas principais. As áreas de maior ocorrência de Pseudoplusia includens estariam no Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.

Inseto adulto de Pseudoplusia includens, praga que vem aumentando sua população anualmente na cultura da soja

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©Marlin E. Rice

soja. Como não consomem as nervuras foliares, conferem um aspecto rendilhado às folhas atacadas. A fase da lagarta Anticarsia gemmatalis dura em torno de duas semanas, tempo em que o inseto consome aproximadamente 90 cm² de área foliar, o que corresponde a três folíolos ou uma folha de soja. No caso da Pseudoplusia includens, a ocorrência se dá em menores populações, mas a lagarta consome maior área foliar, cerca de 120 cm² de folha até completar seu ciclo (Gallo et al., 1988). O controle das pragas da soja pode ser efetuado por meio do manejo integrado, onde o controle químico é uma alternativa para reduzir populações economicamente importantes. Entretanto, há casos de baixa eficiência de inseticidas no controle da lagarta, ou mesmo, como observado em outros países, de desenvolvimento de resistência da praga a alguns produtos, em particular no caso dos piretróides. Entretanto, no Brasil ainda não existem registros desse fenômeno. O controle químico da P. includens é recomendado quando forem encontradas, em média, 40 lagartas grandes por pano-de-batida, ou se a desfolha atingir 30% antes da fase do florescimento, ou 15% tão logo apareçam as primeiras vagens. O controle da lagarta falsa medideira também é realizado por inimigos naturais, parasitóides e fungos entomopatogênicos. Mas o sucesso no uso desses agentes pode estar associado a condições ambientais favoráveis. Isso explicaria a ocorrência de surtos regionais e em determinadas safras. Provavelmente, nessas situações, as condições de umidade seriam desfavoráveis à incidência de inimigos naturais com conseqüente aumento de população da praga.

CONTROLE QUÍMICO Welland et al. 1997 constataram a alta eficiência de diflubenzuron no controle de várias espécies de lepidóptera, dentre elas a Pseudoplusia includens, para a qual a resposta foi altamente efetiva. Sechser et.al. (2001) constataram uma redução de populações de ninfas mais velhas após a aplicação do lufenuron, mas o grau e a duração da supressão foram dependentes da dose empregada. O reaparecimento dos estágios ninfais mais velhos tornou-se visível dez dias após a aplicação na dose de 10 g i.a./ha, aos 20 dias após a aplicação de 50 g i.a./ha e aos 30 dias após a aplicação de 100 g i.a./ha. O lufenuron mostrou ter pouca ação perniciosa sobre os agentes de controle natural (Campylomma verbasci, Scymnus spp., Coccinella undecimpunctata, Paederus alfierii e todas as famílias da aranha), ao passo que o profenofós causou uma redução moderada e temporária nos adultos dos parasitóides naturais e uma

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Lagartas de Pseudoplusia atacam as folhas, deixando somente as nervuras, e consomem até 120 cm2 até completar seu ciclo

redução maior no número de ninfas de ambas as espécies.

EXPERIMENTO Para avaliar a eficácia de inseticidas no controle de Pseudoplusia includens (Lepidóptera: Noctuidae) foram testados os produtos teflubenzuron, diflubenzuron e profenofós + lufenuron em diferentes doses na cultura da soja, cultivada na Fazenda Experimental Gralha Azul da Pontifícia Universidade Católica do Paraná/PUCPR, no município de Fazenda Rio Grande, estado do Paraná. A avaliação dos produtos foi realizada por meio de ensaio de campo com a soja semeada em 05 de novembro de 2003, com 40 cm entre linhas e 12 plantas por metro linear. A aplicação dos diferentes tratamentos teve início com as primeiras infestações, quando as lagartas atingiram um número de dez lagartas menores que 1,5 cm e de 11 lagartas maiores de 1,5 cm por batida de pano. A avaliação da eficácia dos diferentes tratamentos consistiu de duas amostragens por batida de pano para obtenção do número médio de lagartas vivas, divididas em dois grupos: pequenas (< 1,5 cm) e grandes (> 1,5 cm), sendo que o índice de eficácia foi determinado com base no número total de lagartas vivas nos diferentes tratamentos em relação ao número total de lagartas vivas presentes na testemunha, usando uma escala percentual de 0 (nenhuma morta) a 100% (todas mortas). As avaliações da eficácia de controle foram realizadas aos zero, dois, sete, dez, 15, 22 e 30 dias após a aplicação dos inseticidas (DAA). Aos dois, quatro e sete DAA o tratamento mais eficiente no controle foi a mistura do profenofós + lufenuron na dose de 0,15 l/ha, diferindo estatisticamente dos demais tratamentos. Aos dez DAA, a mistura do profenofós + lufenuron na dose de 0,15 l/ha e o di-

flubenzuron na dose de 0,04 g/ha foram os tratamentos mais eficientes no controle (100%), diferindo estatisticamente dos demais. A partir dos 15 DAA todos os tratamentos atingiram 100% de controle. Conclui-se que a mistura do inseticida organofosforado com o fisiológico obteve um efeito de choque na população de lagartas, com um bom efeito residual. Os resultados concordam com Welland et al. (1997), que observaram a alta eficiência do diflubenzuron no controle de várias espécies de lepidóptera, dentre elas a Pseudoplusia includens, para a qual a resposta foi altamente efetiva. Silva et al. (2003) constataram a eficácia do diflubenzuron, lufenuron, methoxyfenozoide e teflubenzuron como reguladores de crescimento para Anticarsia gemmatalis. Os produtos diflubenzuron, lufenuron e teflubenzuron controlaram eficazmente lagartas grandes e pequenas por um período de até quatro dias após o tratamento. A testemunha apresentou grande desfolha das plantas e perdas de rendimento, quando comparada com as parcelas tratadas com os reguladores de crescimento, concordando com os resultados obtidos nesta pesquisa. Em relação à produtividade não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos, excetuandose a testemunha, que diferiu dos demais, apresentando uma produtividade média de C 997,7 kg/ha. Airton Rodrigues Pinto Junior, Agenor Maccari Junior, Luiz Alberto Kozlowski e Renato Tratch, PUC/PR

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Cultivar

Soja

Produção na entressafra Opiniões se dividem em relação à Instrução Normativa que orienta produtores de soja a manter suas propriedades livres de plantios de soja irrigada num período de 90 dias antes da semeadura da safra de verão. Estudos estão sendo realizados pela Fundação Rio Verde com o objetivo de avaliar a influência de áreas irrigadas no desenvolvimento de ferrugem asiática, mosca branca e plantas daninhas

O

Brasil apresenta atualmente a segunda maior produção de soja do mundo, com 22 milhões de hectares semeados e 58 milhões de toneladas de grãos colhidos (Conab 2006). Grandes desafios já foram vencidos ao longo dos últimos anos para alcançar maiores produtividades e reduções de custos, entretanto, a cada ano surgem novas situações que colocam os

produtores em alerta. A ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) e a mosca branca (Bemisia tabaci raça B) são exemplos que incrementaram os custos de produção, apresentando grande capacidade de multiplicação e disseminação nas lavouras de soja. A ferrugem asiática apresenta efeito na produção de grãos de forma significativa dependendo das condições de clima e do méto-

Figura 1 - Ciclo de desenvolvimento da ferrugem asiática da soja. (Fonte Consórcio Anti-Ferrugem)

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do de controle. Os efeitos principais são a redução de área foliar fotossinteticamente ativa e queda foliar, com diminuição do enchimento de grãos. Em locais que apresentam molhamento foliar superior a 12 horas e temperaturas entre 21 e 26ºC, ela pode causar perdas de aproximadamente 100%. A sobrevivência do fungo na entressafra ocorre em hospedeiros alternativos, soja voluntária e áreas irrigadas cultivadas com soja ou feijão (Figura 1). Os esporos se disseminam a longas distâncias, levados pelo vento de regiões onde há cultivos de soja ou focos isolados. A ferrugem é hoje, no entanto, uma doença que pode ser controlada se aplicadas medidas adequadas de proteção da cultura. No Brasil, as táticas de controle são largamente divulgadas aos produtores através de um amplo programa de conscientização realizado por instituições públicas e privadas. Isso é fundamental devido à grande capacidade de disseminação e à grande agressividade e produção de inóculo da doença, o que causa grandes preocupações. Algumas regiões têm apresentado grandes dificuldades no controle, como é o caso de Primavera do Leste (MT), as quais apresentam como principais características temperaturas amenas, umidade relativa alta e várias áreas irrigadas na entressafra. Isso proporcionou, inclusive, o desenvolvimento de ferrugem no estádio vegetativo inicial, tornando inviável o controle.

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Fotos Consórcio Anti-Ferrugem

Por outro lado, grandes focos de mosca branca têm se desenvolvido na região do Médio Norte Matogrossense, região que apresenta uma situação muito favorável ao seu desenvolvimento, com baixas altitudes (em torno de 400 m) e temperaturas altas, diminuindo, inclusive, a duração dos ciclos desse inseto que se multiplica rápido em função de grandes quantidades de alimento, como soja, algodão e várias plantas daninhas e ornamentais. A mosca branca também influencia o peso dos grãos, apresentando sucção de seiva tanto pelos juvenis como pelos adultos, produção de fumagina sobre folhas, redução de área foliar fotossinteticamente ativa, queda foliar e transmissão de viroses. Essa praga apresenta em locais de temperaturas altas um ciclo acelerado, com duração do período de postura de ovos até a fase adulta de 14-16 dias, além disso, a fêmea apresenta longevidade de 18 dias e produção de 300 ovos. Isso implica na produção de pelo menos 14 gerações por ano e em um grande número de indivíduos, com prejuízos significativos na produção de grãos.

Detalhe de Crotalaria lanceolata, planta hospedeira alternativa, com sintomas da ferrugem asiática

ções de plantio de soja e liberação de outras culturas em áreas irrigadas. Em muitas regiões não é sequer comprovada essa “ponte verde”. Esse fato pode ser ilustrado com a Instrução Normativa 04/2005, editada pelo Governo do estado do Mato Grosso, que instruiu, a partir de 16 de agosto de 2005, os produtores de soja possuidores de sistemas de irrigação para que não mantivessem plantas de soja em suas propriedades (vazio sanitário) num período de 90 dias antes do início da semeadura da safra de verão. Essa normativa definiu duas regiões, uma ao Norte de Mato Grosso (região I) e outra ao Sul do estado (região II), ficando a região I com o período de 15/06 a 15/09, e a região II, de 01/07 a 01/10 com o vazio sanitário. O objetivo principal da normativa é reduzir a dispersão do fungo causador da ferrugem e, por conseguinte, a infesta-

Mucuna Preta: outra planta que pode hospedar o fungo da ferrugem na entressafra

ção precoce das lavouras, bem como a conscientização dos produtores.

LEVANTAMENTO NO NORTE DE MATOGROSSO No Médio Norte Matogrossense são cultivados 1,68 milhões de hectares e colhidos 5,3 milhões de toneladas por ano dessa leguminosa. A produtividade média de 3,15 mil kg/ha é conseguida através de metodologias modernas aplicadas à agricultura de forma sustentável e econômica, embora haja dificuldades em função do alto custo de produção e do

PONTE VERDE O ataque dessas moléstias trouxe à tona uma questão antiga que trata do cultivo de plantas na entressafra, que serve de “ponte verde” para pragas e doenças. Certamente essa denominação ilustra o papel que representam essas áreas normalmente irrigadas na manutenção de inóculo para as lavouras que são instaladas na “safra de verão”. Entretanto, poucas pesquisas foram realizadas objetivando comprovar o efeito dessas áreas irrigadas no desenvolvimento da ferrugem asiática e da mosca branca no Brasil. Isso tem proporcionado situações inusitadas, tais como proibi-

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Visualização de folha de guandu, à esquerda, e de feijão comum, à direita, com sintomas da doença

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baixo retorno econômico que essa cultura tem proporcionado aos produtores. O clima nessa região apresenta um efeito muito importante no desenvolvimento de pragas e doenças, sendo quente-úmido no verão e quente-seco no inverno. Visando estudar a influência de áreas irrigadas no desenvolvimento de ferrugem asiática, mosca branca e plantas daninhas no Médio Norte Matogrossense, foi realizado levantamento pela Fundação Rio Verde, compreendendo os municípios de Lucas do Rio Verde, Sorriso, Ipiranga do Norte e Nova Mutum, num total de 11 áreas irrigadas com 4,29 mil ha. A descrição das áreas estudadas encontra-se na Tabela 1. O estudo foi realizado no período de 17 de setembro de 2005 a 11 de janeiro de 2006, realizando-se seis visitas técnicas em cada propriedade, tendo-se sempre a presença de técnicos qualificados. Para a avaliação de doenças, especialmente de ferrugem, considera-

ram-se a incidência (porcentagem de folhas com sintomas) e a severidade (porcentagem de área foliar infectada). Nas avaliações foram verificados pontos dentro das áreas irrigadas, pontos próximos entre cem e 500 m, e pontos mais distantes, entre mil e 5000 m das áreas irrigadas. O objetivo desses pontos foi verificar a possibilidade de gradientes de pragas e doenças em função das áreas irrigadas. Para as avaliações de mosca branca, considerou-se a quantidade de ninfas presentes na face inferior das folhas e, para o nível de adultos, considerou-se uma escala de notas para avaliação visual dos indivíduos. Para outras pragas, foram considerados os níveis baixo, médio e alto e, para a avaliação de plantas daninhas, considerou-se a quantidade de plantas/m2.

RESULTADOS De acordo com os resultados obtidos,

Tabela 1 - Descrição das áreas irrigadas onde foram coletadas informações quanto à ocorrência de pragas, doenças e plantas daninhas. Lucas do Rio Verde (MT), 2006

Lucas do Rio Verde

Lucas do Rio Verde

Lucas do Rio Verde

Lucas do Rio Verde

Lucas do Rio Verde

Lucas do Rio Verde

Sorriso

Nova Mutum

Ipiranga do Norte

Ipiranga do Norte

Posição geográfica LT: S 13º01.040’ LG: O 055º55.451’ A: 391 m LT: S 12º53.83’ LG: O 056º02.084’ A: 395 m

Área 131,2

Pivô Linear -

Pivô Central 1

“Cultura Inverno” Feijão

“Cultura Verão” Soja

787,8

LT: S 12º54.125’ LG: O 056º10.1912’ A: 390 m LT: S 13º25.834’ LG: O 056º10.422’ A: 424 m LT: S 12º55.391’ LG: O 055º42.212’ A: 394 m LT: S 13º07.401’ LG: O 055º56.344’ A: 402 m LT: S 12º46.191’ LG: O 056º06.161’ A: 318 m LT: S 12º59.786’ LG: O 055º51.846’ A: 400 m LT: S 13º19.096’ LG: O 055º54.998’ A: 407 m LT: S 12º24.417’ LG: O 056º09.491’ A: 364 m LT: S 12º22.278’ LG: O 056º12.810’ A: 380 m

134

-

1 1 2 2 1

Feijão Soja Milho -

Soja Soja Soja Soja

240

-

2

Soja

Soja

135

-

1

Soja

Soja

115

-

1

Soja

Soja

129

-

1

Milho

-

1.000

-

240

-

1 7 1 2

Milho pipoca Feijão Soja Milho

Soja Soja Soja -

1.190

4 1

-

Feijão -

Soja Soja

192

-

1

-

Soja

Total

4.054 4

26

as culturas encontradas nas áreas irrigadas foram feijão, milho, milho pipoca e soja. Não foi constatada a presença de ferrugem asiática da soja em nenhuma planta estudada, sendo esta cultivada ou daninha, nas áreas irrigadas ou nas circunvizinhanças destas, no período de 17 de outubro de 2005 até 05 de janeiro de 2006 (Figura 2-A). Tendose em vista os resultados desse ano agrícola, se considerado o período de avaliação, observou-se que a utilização de sistemas irrigados no Médio Norte Matogrossense não afetou o desenvolvimento de ferrugem asiática para o cultivo da soja em lavouras da região. Deve-se considerar que as condições de ambiente ocorridas neste ano agrícola, com clima muito seco desde setembro, época em que se iniciaram as primeiras chuvas, até meados de dezembro, não favoreceram a expansão da ferrugem. Outro fator de grande importância a ser considerado é que nem todos os produtores irrigantes participaram do projeto de monitoramento, fato que pode proporcionar resultados diferenciados localmente. Quanto à mosca branca, o seu desenvolvimento sofreu influência de feijão, soja, soqueira de algodão, algodão guaxo, Lucia Vivan

Município Lucas do Rio Verde

Figuira 2 - Desenvolvimento

C

Com até 14 gerações por ano, a mosca branca também é responsável por danos significativos às lavouras

LT – Latitude, LG – Longitude, A – Altitude.

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de ferrugem asiática da soja em função de áreas com sistemas de irrigação ou não, no Médio Norte Matogrossense. Lucas do Rio Verde (MT), 2006

B)

A)

soja guaxa e plantas daninhas tais como leiteiro, guanxuma, corda de viola, cruz de malta e botão azul, existentes tanto em áreas irrigadas quanto nas não irrigadas (Figura 2-B). No caso das plantas daninhas, observou-se sobrevivência de leiteiro no período de entressafra, o qual é considerado um dos principais hospedeiros de mosca branca, fato que torna necessários maiores estudos em relação a essa planta (Figura 2-C).

distâncias. Já foi inclusive sugerido que a região Sul do Brasil e a Bolívia são fornecedores de fonte de inóculo para o Mato Grosso, trazido pelas correntes de ar. Além disso, essas moléstias são influenciadas pelo clima, o que pode determinar agressividade severa em um determinado local, ou incidência baixa em outro local ou época. Os trabalhos ilustram o papel do clima regional na tomada de decisão e da presença de hospedeiros alternativos. A regulamentação deve ser macro, ou não apresentará resultados satisfatórios, e antes de se chegar à tomada de decisão deve-se passar pelo exame dos detalhes. Trata-se de uma fase de grande importância, tendo em vista que uma análise minuciosa e criteriosa deve ser feita para que sejam atendidos os requisitos custo-benefício, meio ambiente e bem estar da socie-

Existe consenso entre pesquisadores em torno da necessidade de se utilizar medidas que impeçam maior produção de inóculo inicial, entretanto, nem sempre as áreas cultivadas na entressafra podem representar os focos iniciais. Constatação explicada pelo fato de as pragas e as doenças geralmente possuírem vários hospedeiros, tanto cultivados quanto daninhas, e pelo aspecto, muito importante, de o inóculo dessas doenças ser disseminado a grandes

Análises minuciosas e criteriosas devem ser feitas para que sejam atendidos os requisitos custobenefício, meio ambiente e bem estar da sociedade

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dade. A tomada de decisão deve levar em consideração uma maior conscientização dos produtores irrigantes quanto à necessidade de planejamento e ao uso de cultivos alternativos que possam ser menos problemáticos para as áreas não irrigadas. É recomendável o prosseguimento dessa pesquisa, com o início das avaliações já a partir de abril ou maio de cada ano, de modo a avaliar os sistemas irrigados quando dos seus ciclos produtivos. Com isso, pode se verificar, além da ocorrência e evolução de moléstias, também as melhores metodologias e tratamentos para controle destas, gerando assim a sustentabilidade técnica, sem agressão às demais áreas da C região. Mauro Junior Natalino da Costa, Fundação Rio Verde

Fotos Fundação Rio Verde

CONCLUSÕES

C)

A normativa prevê a redução da dispersão do fungo causador da ferrugem, bem como a conscientização dos produtores

35


Trigo

Cuidados iniciais Com a proximidade do plantio da nova safra de trigo, é hora de o produtor planejar sua lavoura, observando variedades disponíveis no mercado e detalhes básicos das práticas culturais, para garantir um bom estande de plantas

A

região do Cerrado do Brasil Central tem demonstrado grande potencial para o cultivo do trigo irrigado por pivô central: são mais de 1,5 milhão de hectares possíveis de irrigação para lavouras de trigo. A capacidade de moagem de trigo na região está em torno de duas milhões de toneladas/ano, incluindo o Mato Grosso do Sul e a Bahia. Mas apenas cerca de 1,2 milhões de toneladas está sendo moída. O Brasil Central tem potencial para produzir, no curto prazo, 800 mil toneladas anualmente, em uma época de escassez desse cereal no mercado, de julho a setembro. O trigo dessa região é o primeiro a ser colhido e ofertado ao mercado brasileiro, antes mesmo do trigo argentino, no

momento em que os preços de mercado geralmente estão com os valores máximos durante o ano. Atualmente a área irrigada na região já soma 350 mil hectares, mais de um terço ocupada pelo feijão, que é a cultura cash da agricultura irrigada. No entanto, os cultivos sucessivos com o feijão e também com as hortaliças, como tomate, batata, cenoura e alho, têm inviabilizado a sustentabilidade do sistema irrigado, devido principalmente à ocorrência de doenças como fusarium, rhizoctonia, antracnose, mofo branco e mancha angular. Para algumas dessas doenças, o controle químico é inviável em altos níveis de pressão dos patógenos, restringindo a solução à rotação de culturas.

Nesse sentido, a inserção de trigo no sistema de produção irrigado é necessária, porque contribui para a quebra do ciclo dessas doenças - além de ser uma cultura de fácil manejo, que deixa grande quantidade de resíduos orgânicos no solo, melhorando as condições físicas e químicas deste. Por essa importância, a área semeada com trigo irrigado na região vem crescendo, tornando o sistema produtivo irrigado do Cerrado mais equilibrado. Outras vantagens da produção de trigo nesse sistema são a estabilidade em termos de quantidade e a qualidade industrial superior, pois nas condições irrigadas as variações de rendimento e qualidade de grãos são pequenas. O potencial de produtividade da região é Dirceu Gassen

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NOVAS CULTIVARES DE MILHO elevado, sendo um determinante importante para a lucratividade da lavoura de trigo irrigado. Geralmente os triticultores experientes têm obtido rendimentos de grãos superiores a 6 mil kg/ha com as cultivares que a Embrapa disponibiliza no mercado atualmente. A região poderia funcionar como reguladora de estoques e exportadora de trigo para outros estados, com qualquer especificação de qualidade industrial desejada pela indústria moageira nacional. O crescimento da triticultura na região está diretamente relacionado à produtividade e qualidade, conseqüência da base tecnológica desenvolvida pela Embrapa com a colaboração de outros órgãos de pesquisa que atuam no Cerrado. Para dar continuidade à expansão da triticultura na região, órgãos de pesquisa e extensão e cooperativas, liderados pela Embrapa, definiram na XIII Reunião da Comissão Centro Brasileira de Pesquisa de Trigo as informações técnicas que deverão ser utilizadas no ano de 2006 para a cultura de trigo irrigado na região do Brasil Central, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso e no Distrito Federal. Dentre as informações técnicas geradas, resumimos a seguir as que julgamos de maior importância para o cultivo de trigo no Cerrado brasileiro, com destaque para: cultivares, época de semeadura, algumas práticas culturais, calagem, adubação e tratamento de sementes. A semeadura de trigo deverá ser antecedida por um planejamento que estruture a lavoura com todos os pré-requisitos bási-

D

uas novas cultivares de trigo para o Brasil Central estão sendo lançadas este ano pela Embrapa, através da Embrapa Cerrados e Embrapa Trigo - BRS 254 e BRS 264. Essas cultivares se destacam pela qualidade superior dos grãos, apresentam bom potencial de moagem, alto teor de proteína e glúten balanceado, sendo preferidas pelos moinhos, pois fornecem farinha ideal para a panificação. A BRS 254 tem como ponto forte a elevada força de glúten e é classificada como trigo melhorador. O rendimento de grãos é similar ao das cultivares já indicadas para a região como a Embrapa 22 e Embrapa 42. A nova cultivar apresenta um ciclo em torno de 115 dias, possui grão duro, tem ainda boa estabilidade de massa, o que permite que ela seja manipulada por mais tempo sem perder suas características intrínsecas. A BRS 264 tem como principal característica o alto rendimento de grãos em solos com boa fertilidade, apresen-

cos para que o empreendimento chegue a bom termo. Nesse planejamento, deve-se visar a utilização do conjunto de técnicas que levem a lavoura a ter bom potencial de produção e qualidade. O trigo irrigado deve ser cultivado em áreas acima de 400 m de altitude, em Minas Gerais, acima de 500 m, no Distrito Federal e em Goiás, e acima Tabela 1 - Cultivares de trigo irrigado da Embrapa indicadas para o Brasil Central, de 600 m, na Bahia e Mato estados onde são indicadas, ciclo, altura, reação ao acamamento e classe comercial Grosso. Cultivar BRS 207 BRS 210 BRS 254 BRS 255 Embrapa 22 Embrapa 42 1 2

Estado MG, GO, DF MG, GO, DF MG, GO, DF, MT MG, GO, DF, MT, BA MG, GO, DF, MT, BA GO, DF

Ciclo Médio Médio Precoce Precoce Precoce Precoce

Altura Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa

Acamamento1 R MR MR MR MR R

Classe Pão2 Pão Melhorador Pão Pão Melhorador

R = Resistente; MR = Moderadamente resistente. Classificação Preliminar.

Tabela 2 - Cultivares de trigo da Embrapa indicadas para o Brasil Central, com sua reação ao crestamento e às doenças fúngicas Cultivar BRS 207 BRS 210 BRS 254 BRS 255 Embrapa 22 Embrapa 42

Crestamento

Oídio

MS MS S MS MS MS

S MR S AS AS S

Ferrugem Folha Colmo S1 MR R S S S S S S S

Helmintosporiose

Brusone

MS1 S MS S S S

S S S S S S

Obs.: AS = Altamente suscetível; S = Suscetível; MS = Moderadamente suscetível; MR = Moderadamente resistente; R = resistente; - = Sem informação. 1

Classificação Preliminar.

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ÉPOCA DE SEMEADURA A indicação de época de semeadura é feita segundo as características de cada região. Em altitudes acima de 400 m, no estado de Minas Gerais; acima de 500 m, em Goiás e no Distrito Federal; e acima de 600 m, no Mato Grosso e Bahia, indica-se a semeadura de 10 de abril a 31 de maio, dando-se preferencia ao mês de maio. Nessa época, o trigo encontra condições favoráveis para um bom desenvolvimento, sendo favorecido por temperaturas mais baixas nos meses de maio, junho e julho.

tou produtividade de 7 mil kg/ha. Apresenta boa qualidade para panificação, é classificado como trigo pão. A nova cultivar tem ainda um bom comportamento em relação ao acamamento. Quanto ao ciclo é um material precoce, da emergência à maturação são aproximadamente 107 dias. A BRS 264 também possui um grão duro e uma boa estabilidade de massa. As novas cultivares são boas opções para os triticultores que podem assim colaborar com o aumento da produção, reduzindo a dependência brasileira do trigo importado. Com um consumo anual em torno de 10,5 milhões de toneladas de trigo, o Brasil produziu em 2005 4,88 milhões de toneladas, aproximadamente 20% a menos do que na safra 2004, quando foram colhidas 5,8 milhões de toneladas. O Brasil possui no trigo o segundo item na pauta de importações. Em 2004, o país gastou cerca de US$ 730 milhões para importar trigo, sendo 90% importado da Argentina. Como as cultivares BRS207 e BRS 210 possuem um ciclo maior, sugere-se que a semeadura destas seja realizada no início da época indicada. Semeaduras no mês de abril correm maior risco da incidência de brusone e das manchas foliares (helmintosporioses). Por outro lado, semeaduras atrasadas podem reduzir a produtividade, devido a uma combinação entre temperatura e fotoperíodo desfavoráveis, além do risco das indesejáveis chuvas na colheita.

PRÁTICAS CULTURAIS Densidade, espaçamento e profundidade Respeitando-se os espaçamentos (1720 cm entre linhas), deve-se obter cerca de 300 a 350 plantas nascidas por m2, sendo que densidades menores que 300 podem afetar a produtividade, e maiores que 350 plantas por m2 podem levar ao acamamento, com conseqüente perda de produtividade e qualidade dos grãos. A profundidade de semeadura deve ficar em torno de 5 cm. Deve-se dar preferência à semeadura em linha, por distribuir mais uniformemente as sementes, proporcionar maior eficiência na utilização de fertilizantes e menor possibilidade de danos às plantas, quando da utilização de herbicidas em pré-emergência.

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pactada (pé-de-arado ou pé-de-grade).

CULTIVARES

PLANTIO DIRETO Nas lavouras de trigo irrigado sob sistema de plantio direto, têm-se observado maior incidência de doenças foliares, maior ataque de lagartas e a presença de pragas subterrâneas como cupins e “corós”. Por isso, os agricultores que optarem por esse sistema de manejo devem estar atentos a esses problemas e seguir um programa de rotação de culturas.

A

s cultivares desenvolvidas pela Embrapa, indicadas para o Cerrado brasileiro, estão relacionadas por estado e tipo de solo. Na Tabela 1 são apresentadas as características agronômicas das cultivares. Na Tabela 2 são apresentadas informações relativas às reações das cultivares às doenças e ao crestamento (reação ao alumínio no solo).

CALAGEM E ADUBAÇÃO O trigo de inverno deve ser planejado para se obter a máxima produtividade possível, com calagem e adubação de modo a corrigir as deficiências verificadas na análise de solo. Para calcular a quantidade de calcário a ser aplicada, devemos considerar o pH do solo e outros fatores, como, por exemplo, o teor de argila. Assim, em solos com teor de argila acima de 20%, o cálculo é baseado nos teores de alumínio (Al), de cálcio (Ca) e de magnésio (Mg) trocáveis do solo. A fórmula utilizada para esses solos é:

Minas Gerais Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 400 m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável BRS 2551 BRS 207 BRS 2541 1

Embrapa 22 BRS 210 Embrapa 42

Sementes disponíveis no mercado a partir de 2006

Goiás e Distrito Federal Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 500 m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável Embrapa 22 BRS 210 BRS 2551 1

NC (t/ha) = [(Al x 2) + (2 - (Ca + Mg))] x f,

BRS 207 BRS 2541 Embrapa 42

onde f significa o fator de correção para a qualidade do calcário dado pela seguinte fórmula: f = 100/PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total). Os valores de Al, de Ca e de Mg são expressos em cmolc/dm3. Assim, toda vez que o valor do PRNT do calcário considerado for menor que 100%, o valor de f será maior que 1,0. Por

Sementes disponíveis no mercado a partir de 2006

Embrapa 221 1

Embrapa 421

Indicada apenas para a região Oeste do Estado

Mato Grosso Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600 m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável Embrapa 222 BRS 207 BRS 2541 1 2

Quando se tratar de solos arenosos (teor de argila menor que 20%), a quantidade de calcário a ser utilizada é dada pelo maior valor, encontrado pelas duas fórmulas a seguir: NC (t/ha) = (2 x Al) x f NC (t/ha) = (2 - (Ca + Mg)) x f Outro método de recomendar calcário que vem sendo utilizado na região baseiase na saturação por bases do solo, a qual para os Cerrados deve ser de 60% para os sistemas irrigados. Considerando a intensidade de cultivos, o teor de saturação por bases do solo pode ser calculado utilizando-se a fórmula: NC (t/ha) = [(T x 0,5) - S] x f, onde: S = Ca + Mg + K e T = (Al + H) + S, todos expressos em cmolc/dm3. Como o potássio normalmente é expresso em mg/dm3 nos boletins de análise do solo, há necessidade de transformá-lo para cmolc/ dm3 pela fórmula: cmolc de K/dm3 = mg de K/dm3 x 0,0026

Para obtenção de elevada produtividade com a cultura de trigo irrigado na região de Cerrados, é imprescindível a adoção de uma adubação equilibrada. Como os solos dessa região são pobres em fósforo e em potássio, torna-se necessária a aplicação de elevada quantidade desses nutrientes. Para uma criteriosa indicação de adubação, devese conhecer o plano de utilização da propri-

Fotos Dirceu Gassen

Bahia Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600 m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável

exemplo, quando o PRNT for 80%, o valor de f será 100/80 = 1,25.

Embrapa 422 BRS 210 BRS 2542

Sementes disponíveis no mercado a partir de 2006 Indicada apenas para a região Sul do Estado

PREPARO DE SOLO Sob o ponto de vista de manejo de solos, o preparo reúne operações de fundamental importância. Se estas não forem bem conduzidas, levam rapidamente o solo à degradação e à suscetibilidade à erosão. Alguns pontos devem ser observados para que o preparo do solo seja conduzido de maneira satisfatória. Entre eles, é importante verificar a presença, ou não, de uma camada superficial ou subsuperficial com-

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Deve-se dar preferência à semeadura em linha, pela distribuição mais uniforme das sementes e maior eficiência na utilização de fertilizantes

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edade rural, incluindo a seqüência de culturas, o prazo de utilização das áreas e a expectativa de produção. A adubação de manutenção, que visa manter os níveis adequados de fósforo e de potássio no solo, é indicada quando se utiliza integralmente a adubação corretiva. É sugerido aplicar 80 kg/ha de P2O5 e 40 kg/ ha de K2O, para uma expectativa de rendimento de grãos de 5 mil kg/ha de trigo. A adubação nitrogenada para o trigo irrigado deve ser feita em duas etapas: por ocasião da semeadura e no início do estádio de perfilhamento, quando inicia o processo de diferenciação da espiga. Esse estádio ocorre cerca de 14 dias após a emergência das plântulas do trigo. Indica-se aplicar 20 kg de nitrogênio por hectare, por ocasião da semeadura. As coberturas com nitrogênio devem respeitar a capacidade máxima de cada material, para evitar o acamamento, e deve-se considerar o resíduo do nitrogênio da cultura anterior. No caso de se ultrapassar a dose de N indicada, pode-se considerar a possibilidade de se utilizar redutores de crescimento para evitar acamamento. Deve-se enfatizar, entretanto, que não há dados suficientes de pesquisa na região do Cerrado para trigo com a utilização de redutores de crescimento. A adubação de nitrogênio em cobertura

Adubação nitrogenada em trigo irrigado deve ser feita em duas etapas: uma na semeadura e outra no início do perfilhamento

para as cultivares BRS 207 e BRS 210 deve ser de até 100 kg/ha de N, enquanto que, para a Embrapa 42 e a BRS 264, a dose é de até 80 kg/ha e, para Embrapa 22 e BRS 254, de até 70 kg/ha. Sugere-se que a adubação de cobertura seja acrescida em 20%, quando o trigo é semeado após o milho. Em relação a micronutrientes, o mais importante é o boro. Os solos da região são pobres desse elemento, podendo causar o chochamento, pela esterilidade masculina ou do pólen. É indicada a aplicação de 0,65 a 1,3 kg/ha de boro, via adubação, por ocasião da semeadura.

TRATAMENTO DE SEMENTES

Tabela 3 - Fungicidas indicados para o tratamento de sementes de trigo Nome comum Carboxin + Thiram2 Carboxin + Thiram3 Difenoco-nazole4 Guazatine Thiram Triadimenol5 Triticonazole

Dose (g i.a./ 100 kg de sementes) 50 + 50 93,7 + 93,7 30 75 210 40 45

Bipolaris sorokiniana *** *** *** *** ** *** ***

1 *** = controle superior a 70%, ** = controle entre 50 e 70% , - = não indicado ou sem informação. 2 Solução concentrada. 3 Pó molhável. 4 Este produto é eficiente para controlar oídio até o final do perfilhamento. 5 Este produto é eficiente para controlar oídio por cerca de 60 dias após a emergência.

Organismo1 Septoria nodorum Pyricularia Grisea *** *** *** *** ** *** -

Ustilago tritici *** *** *** *** ***

Na maioria das vezes, mesmo sem apresentar sintomas externos, as sementes podem estar infectadas por organismos, agentes causais de doenças. Para evitar que fungos patogênicos, como B. sorokiniana, D. tritici-repentis e Pyricularia grisea sejam reintroduzidos na lavoura, as sementes devem ser tratadas com os fungicidas caracterizados na Tabela 3, obedecendo-se aos seguintes critérios: a) não se indica o tratamento quando as sementes apresentarem incidência de B. sorokiniana de até 10%; b) indica-se o tratamento quando as sementes apresentarem incidência de B. sorokiniana de 10 a 40%; c) evitar o uso de sementes com mais de 40% de incidência por B. sorokiniana e d) preferencialmente, indica-se o tratamento de sementes para o plantio em lavouras com rotação de culturas de inverno, ou em áreas novas, independentemente da incidência de B. sorokiniana nas C mesmas. Julio Cesar Albrecht, Embrapa Cerrados Márcio Só e Silva e Walter Ribeiro Júnior, Embrapa Trigo


Coluna Aenda

Defensivos Agrícolas

Doses menores A velocidade na substituição de produtos tem também seu lado econômico e comercial

E

m minucioso levantamento, o engenheiro agrônomo Luiz Carlos S. Ferreira Lima constata uma considerável redução de dose nos lançamentos dos defensivos agrícolas ao longo dos anos. Fonte: Andef, 2004. Alguns dos produtos com reduções mais expressivas mencionados: Herbicidas: Chlorimuron ethyl (15 a 20 g/ha), Metsulfuron methyl (2 a 4 g/ha), Nicosulfuron (50 a 60 g/ha) e Imazethapyr (100 g/ha). Inseticidas: Etofenprox (0,3 a 6 g/ha), Tebufenozide (3 g/ha), Acetamiprid (20 a 75 g/ha), Hexathiazox (30 g/ha), Cyfluthrin (6 a 40 g/ha), Deltamethrin (2,5 a 10 g/ha), Teflubenzuron (7 a 37 g/ha). Fungicidas: Fenarimol (10 a 72 g/ha), Bromuconazole (15 a 180 g/ha), Propiconazole (62 a 187 g/ha), Azoxystrobin (80 a 160 g/ha). Por outro lado, quando examinamos os dados de 2004 cedidos por pesquisadores do mercado, observamos uma realidade brasileira bem distinta desse quadro evolutivo. O consumo brasileiro de todos os defensivos agrícolas, expresso em quantidade de ingrediente ativo, esteve em torno de 210 milhões de quilos naquele ano. Indo mais ao detalhe, construímos o quadro acima com números aproximativos dos produtos mais utilizados, cujo emprego superou 1 milhão de quilos. Como se observa, esses campeões de uso no Brasil perfazem 86% de todo o volume consumido em ingrediente ativo. Nenhum deles se enquadra na média apresentada para os lançamentos da década de 90. Nesse quesito, os herbicidas e inseticidas usados no país estão mais para a década de 60, enquanto os fungicidas têm o perfil da década de 70. Na verdade, talvez isso espelhe mais o fato de sermos um país em termos econômicos bem mais pobre do que desejamos. Aqui os produtos tendem a permanecer por mais tempo no mercado, pois, à medida que eles ficam mais “velhos”,

Herbicidas Glifosato 2,4-D Atrazina Diuron Trifluralina MSMA Ametrina TOTAL

Milhões kg 77 13 7 4 4 3 3 111

Inseticidas Óleos min/veg Metamidofos Enxofre Endosulfan Clorpirifos Parathion Metomil

ficam também mais baratos, e a maioria dos agricultores podem usar essa ferramenta preservadora das colheitas. Se substituirmos mais aceleradamente os ingredientes ativos no mercado, encurtando a vida dos mesmos, teremos em contrapartida um aumento de custos agrícolas por

“Aqui os produtos tendem a permanecer por mais tempo no mercado, pois, à medida que eles ficam mais “velhos”, ficam também mais baratos, e a maioria dos agricultores podem usar essa ferramenta preservadora das colheitas” conta desse insumo. Esse aumento de custo é relativamente bem absorvido nos países mais ricos, em razão das economi-

Dose média em ingrediente ativo - gramas/hectare Herbicidas Inseticidas Fungicidas

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Década 60 2.097,00 1.097,50 1.393,50

Década 70 1.315,00 300,50 533,50

Década 80 371,00 71,55 414,50

Década 90 242,00 69,75 185,45

Milhões kg 20 12 9 7 3 3 2 56

Fungicidas Mancozeb Tebuconazole Cúpricos Carbendazim Tiofanato

Milhões kg 5 3 3 2 1

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as claramente mais poderosas, que permitem sistemas de compensação colocados à disposição de seus agricultores. Mas, atenção, agora que crescemos em exportações de produtos agrícolas, e uma bandeira de mais crescimento está desfraldada, passaremos a enfrentar movimentos de pressão dos países ricos para modernizarmos nossa grade de uso dos ingredientes ativos, com o único propósito de aumentar o custo de nossas lavouras e diminuir nossa competitividade em escala global. É uma das chamadas barreiras técnicas em voga na guerra mercadológica global. Sozinhos, nossa possibilidade será quase nenhuma de sucesso. Esse tipo de barreira é de uma concepção maquiavélica e expõe os povos a conflitos em torno dos alimentos, como se antes os dados científicos de limites aceitáveis dos resíduos fossem equivocados e, repentinamente, se apresentam mais rigorosos, coroando a si próprios com uma auréola de santa correção. Sua força começa sutil em fóruns técnicos, incorpora a manipulação e amplificação forçada de argumentos de saúde pública, até transformar-se numa daquelas verdades construídas e adotadas pelos meios de comunicação e, a partir daí, avança vigorosamente, sendo de difícil reversão. Os países emergentes e exportadores de bens agrícolas, como Índia, China, Argentina e Brasil, devem formar uma frente de trabalho nos fóruns internacionais para contrabalançar essa nova ameaça, além de manter um projeto permanente de esclarecimento na mídia internacional. Nada contra doses menores. Tudo a favor de produtos em boa concorrência. C Tulio Teixeira de Oliveira, Diretor Executivo da AENDA

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Agronegócios

Preser vação da identidade Preservação

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á pouco mais de dez anos teve início uma revolução si-lenciosa no mundo dos negócios, em especial no comércio internacional, com a criação da OMC. O agronegócio foi um dos setores mais afetados com as novas regras. Embora os países ricos ainda resistam a ceder na questão dos subsídios agrícolas, as mudanças nos requerimentos para comércio internacional estão ocorrendo com velocidade quase inimaginável. Digo quase porque, quando da criação da OMC, eu atuava como assessor do então Secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, e, na nossa visão de futuro, todos esses câmbios foram previstos. Para apoiar o agronegócio brasileiro, propusemos, à época, a criação da Agência Brasileira de Defesa Agropecuária, que nasceria sob a égide do novo ambiente de comércio internacional. Infelizmente, a iniciativa foi abortada e nunca se transformou em realidade, o que poderia ter significado um empuxo adicional para o agronegócio nacional.

SANIDADE Desde a criação da OMC, o comércio internacional experimenta uma taxa de aceleração sem precedentes na História, com ênfase para as trocas comerciais vinculadas ao agronegócio. Os números apontam para um crescimento médio anual, no comércio internacional, 4% superior ao crescimento do PIB mundial, entre 1994 e 2004, com picos de até 7% acima do crescimento do PIB. O volume de transações deve atingir, em 2005, US$ 9 trilhões. Um dos setores mais afetados pelas novas regras é a sanidade agropecuária. Progressivamente, os países importadores de alimentos estão se tornando mais exigentes e mais restritivos quanto à qualidade e à inocuidade dos produtos agropecuários. As regras são severas tanto para plantas e animais vivos - que podem veicular pragas exóticas para os países importadores - quanto para produtos processados, que precisam estar isentos de contaminantes físicos, químicos ou biológicos. Hoje em dia não há mercado rico que não imponha regras estritas de certificação e de rastreabilidade. No caso dos EUA, com a paranóia terrorista que

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vive o país, as regras são ainda mais rígidas, para evitar que alimentos possam ser transformados em armas terroristas.

IDENTIDADE O crescimento do comércio internacional tem sido de tal ordem que, no paradigma tecnológico atual dos sistemas sanitários, não é possível assegurar, integralmente, a qualidade, a identidade, a sanidade e a inocuidade dos alimentos transacionados no mundo. Caso os governos decidissem manter laboratórios e pessoal suficiente para garantir a qualidade, dentro dos padrões exigidos pela sociedade, o custo de controle encareceria sobremaneira o preço dos alimentos. Para enfrentar o desafio, formulouse o conceito de preservação de identidade (PI), que funde os princípios de certificação e rastreabilidade. Um ali-

No curto prazo, serão desenvolvidos kits miniaturizados para detectar a presença de pragas no campo, na fase inicial de ataque

mento com identidade preservada informa ao consumidor todos os insumos e tecnologias utilizadas na produção e processamento do alimento, bem como as condições ambientais ocorridas, o bem estar animal e os eventuais riscos aos quais o alimento esteve submetido.

NANOTECNOLOGIA A pesquisa se concentra no desenvolvimento de mecanismos de monitoramento, registro e acompanhamento, que permitam a PI de produtos agrícolas. Os cientistas estudam a quantificação das demandas energéticas, em

processos metabólicos, em nível molecular. Por exemplo, mudanças na demanda de energia, que poderia ser sensoreada por alterações térmicas, seriaam um sinal de alterações na composição do alimento. Baseado nessa premissa, é possível desenvolver um sistema de registro de temperatura, com base em nanossensores e nanogravadores, que manteriam o registro das oscilações térmicas ao longo de todo o processo de produção de alimentos. Os cientistas também estão desenvolvendo sistemas que permitem a detecção de aplicações de agrotóxicos ou produtos veterinários, bem como fertilizantes ou suplementos nutritivos, que permaneceriam registrados até o momento do consumo final do alimento.

NOVAS TECNOLOGIAS No curto prazo, serão desenvolvidos kits miniaturizados para detectar a presença de pragas no campo, na fase inicial de ataque. O mesmo processo será útil para detectar pragas ou microorganismos durante a fase de armazenamento. Nanochips serão desenvolvidos para detectar a presença de patógenos ou de determinadas proteínas. Essas proteínas tanto poderiam ser indicadoras da presença de patógenos, quanto de toxinas, ou ainda identificariam determinadas cultivares ou animais transgênicos. Em um prazo mais longo, imaginase que o custo desses nanoequipamentos será reduzido a um valor tal que permita o uso de materiais biodegradáveis, mantendo sua capacidade de rastrear parâmetros físicos, químicos ou biológicos. Um ramo da nanotecnologia se revela altamente promissor para tornar esse fato realidade: é o desenvolvimento da bioengenharia baseada em ácidos nucléicos, que permitirá o desenvolvimento de nanoequipamentos valendo-se de “tijolos” de ácidos nucléicos. Além de garantir a preservação da identidade, as novas tecnologias apóiam-se, tanto quanto possível, em estruturas já desenvolvidas C pela natureza. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Colheita avança para o final, e produtores seguram negócios A colheita da safra brasileira, que caminha para fechar ao redor das 120 milhões de t, está no final. A soja se destaca com o maior volume, em torno das 55 milhões de t, seguida pelo milho, que deverá fechar próximo das 40 milhões de t. Agora há indicativos de queda nos volumes colhidos do arroz, que ficarão ao redor das 11 milhões de t, sendo a previsão para o trigo de 4,8 milhões e, para o feijão, de 2,8 milhões. Outros grãos devem fechar ao redor de 5 milhões de t. Os produtores e representantes do setor estão pessimistas para o novo plantio, que até agora não movimentou insumos, e assim está pintando uma queda de 20 a 30 milhões de t. Se isso ocorrer, voltaremos a patamares inferiores a 100 milhões de t, colocando, dessa forma, a população brasileira na dependência de produtos importados, e voltando a inflação. Fato este que não deverá ser seguido pelos produtores, que devem apostar que, no próximo ano, o quadro será muito melhor. Para isso teremos um quadro mundial muito mais apertado e, assim, melhores condições de preços internacionais, que nos beneficiarão. Tentando mudar o quadro que neste início de comercialização mostra as cotações no fundo do poço, os produtores pressionam o governo para conseguir alongar dívidas, para que não ocorra a descapitalizaçao do segmento. A primeira vitória veio no alongamento das dívidas que venceriam em março e abril, as quais serão pagas em maio e junho, rolando o problema, que irá se acumular com o vencimento dos custeios da safra atual, fazendo com que os produtores tenham que pagar dois custeios em um curto espaço de tempo. Dessa forma, aqueles que não tiveram fôlego terão que vender a safra entre os meses de maio e junho e não poderão aproveitar as cotações que devem crescer entre julho e setembro, quando se espera pelos melhores momentos do ano. A colheita está chegando ao fim, e os produtores até agora seguraram os negócios e somente entregaram os contratos antecipados. Com expectativa de que teremos um ano de negócios escalonados.

MILHO Gripe das aves segura negócios O milho, mesmo com as grandes perdas provocadas pelo clima seco, não mostrou fôlego para ajustes e indicou queda nas cotações em março. Poucos negócios foram realizados. As exportações levaram alguns volumes de milho, mas não conseguiram dar suporte ao mercado, porque os volumes foram pequenos. Os indicativos praticados aos produtores vieram abaixo do mínimo de garantia, que é de R$ 14 para o Sul e o Sudeste, e trabalharam entre os R$ 11/12,50; já está no fundo do poço, com pouco espaço para novas baixas, mas também devendo andar pouco para cima em abril. SOJA No pico da colheita Os produtores estão com a colheita na reta final, e neste mês de abril tudo indica que estaremos também com as cotações no fundo do poço. Aqueles que necessitam de caixa irão enfrentar a pressão de venda do setor e indicativos nos menores níveis, porque os fretes devem ser os maiores do ano, pois a procura será grande, principalmente com destino aos portos. Os indicativos podem mostrar mais alguma baixa neste mês, mas não se espera por grandes baixas, porque os produtores não mostram interesse em vender se os números não melhorarem. A boa notícia é que o mercado de Chicago segue trabalhando acima do que os operadores locais projetavam e sinaliza que não há muito espaço de baixa para as próximas semanas. FEIJÃO Melhor momento do ano O feijão teve em março os melhores momentos do ano, com o produto novo carioca chegando a ser negociado nos R$ 120/sc, mas, partir da metade do mês, se mostrou calmo, com acomodação das cotações entre os R$ 80/ 100/sc. Mesmo em leve queda, continuou sendo bastante atraente para os produtores, que podem ter no feijão o melhor dos grãos em

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2006. Nestas próximas semanas veremos a entrada da segunda safra, e, como o frango está com valores abaixo de R$ 2/kg no varejo, poderemos ter ligeira pressão de baixa também no feijão, mas que não tem grande espaço para queda, e os produtores continuarão dominando os negócios. ARROZ Apoio do governo segura queda O mercado do arroz teve apoio do governo via EGF, PEP e rolagem das dívidas, que auxiliaram contra a queda nas cotações. A safra esteve sendo colhida a todo o vapor e, agora

em abril, estará no final. Assim, poderemos ver até alguma reação, isso se continuar tendo apoio do governo. A safra do Centro e do Norte do país, neste ano, não atinge metade do que se colheu no ano passado e poderá ter as cotações firmes nos próximos meses, dando suporte ao arroz do Sul. A safra está caminhando para fechar ao redor das 11 milhões de t para um consumo de 13 milhões, e, dessa forma, os estoques devem ser consumidos e bom volume importado do Mercosul. Será um ano normal para o arroz, com safra mostrando cotações baixas e entressafra com reação nos indicativos.

CURTAS E BOAS SOJA - o USDA continua apontando a safra do Brasil em 58,5 milhões de t e a da Argentina em 40,5 milhões. Mesmo com problemas no clima dos dois países, esses números deixam o quadro geral otimista e limitam a alta no mercado internacional. ALGODÃO - a safra mundial foi apontada pelo USDA em 113,3 milhões de fardos, contra os 120,4 da safra passada, mas continua com estoques altos, apontados em 53,3 milhões de fardos, contra 54,2 do ano passado. Dessa forma, as cotações seguem fracas para os produtores brasileiros, porque o nosso gargalo continua sendo o câmbio baixo e não os valores em dólar, e o governo deverá atuar para dar fôlego aos produtores que começam a colher a safra de agora em diante. TRIGO - o mercado continua sinalizando boas condições, porque os níveis do mercado apontam para US$ 190/200 por t neste momento e para US$ 210/240 de outubro a dezembro, assim favorecendo os produtores brasileiros que têm nesse cereal uma alternativa de renda para este ano. ARGENTINA - os produtores estão colhendo a safra local e reclamam dos números do USDA e do governo portenho, que estão muito otimistas, e também do bloqueio das exportações da carne bovina, que acaba trazendo reflexos para todos, porque força as cotações para baixo. Os produtores indicam que a soja não chega a 38 milhões de t, o milho não vai além das 13 milhões de t, e o trigo deve ficar com 12 milhões, contra 38,3; 20,5 e 16,5 milhões colhidos, respectivamente, no ano passado. BOA NOTÍCIA - vem da volta da Rússia ao mercado de carnes do Brasil, e nos próximos dias novos importadores devem aparecer. Os russos devem aumentar as compras de carne de suíno, porque o país tem problema com a gripe das aves, e assim a demanda de suínos deverá crescer forte. Dessa forma, muito produto terá que ser importado e deverá movimentar a cadeia do suíno no Brasil, podendo dar fôlego ao milho e soja que estão em ritmo lento por aqui, porque o setor de ração estava em ritmo lento em março e deverá melhorar a partir deste mês.

Cultivar Cultivar • www.cultivar.inf.br • www.cultivar.inf.br • Fevereiro • Abril de 2005 2006




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