Cultivar Grandes Culturas • Ano VIII • Nº 85 • Maio 2006 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
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Foto Capa / Vilso Júnior Santi
Destaques
Sem trégua Condições climáticas favoráveis, nesta época do ano, aumentam a severidade da Cercospora em milho safrinha
14 Saldo negativo Saiba como a ferrugem asiática se comportou na safra 2005/06 e quais as regiões foram mais atingidas pela doença
22 Resistência múltipla A resistência do picão-preto a herbicidas tem sido um problema nas lavouras do Mato Grosso, Paraná e São Paulo
32 Sem sustos Saiba como proceder para manter as lavouras de trigo livres de invasoras, evitando surpresas e queda na produção
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br
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Índice Diretas
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REDAÇÃO • Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia • Revisão
Silvia Pinto
Cercosporiose em milho safrinha
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Mofo-branco no feijão
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Balanço final da ferrugem na soja
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Equilibrio nutricional em soja
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Sedeli Feijó Silvia Primeira Otávio Pereira
• Assinaturas: 3028.2070
Resistência do picão-preto a herbicidas
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CIRCULAÇÃO
• Redação: 3028.2060
Trigo: tratamento de semente com fungicida 26
Cibele Oliveira da Costa
• Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067
Controle de invasoras no trigo
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Conseqüencias da broca-gigante em cana
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Bayer lança novo produto
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Coluna Aenda
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Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00
Pedro Batistin
Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
COMERCIAL
• Gerente
• Assinaturas
Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas
Raquel Marcos • Expedição
Edson Krause Dianferson Alves • Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
A engenheira agrônoma Sabrina Amaral assumiu em março último a coordenadoria comercial da Linha de Fertilizantes Ajinomoto, responsável pelos resultados de vendas e divulgações técnicas da empresa nas regiões sul e sudesSabrina Amaral te do Brasil.
Agrocana 2006 A Ubyfol apresentará no Agrocana 2006 sua tecnologia em nutrição foliar para cultura de cana-de-açúcar. A empresa apresentará durante a feira os benefícios de seus produtos na produção da cana.
Trapoeraba Lançada a obra “Guia Ilustrado de Identificação e Controle de Espécies de Trapoerabas” de autoria de Luis Henrique Penckowski e Dalva Cassie Rocha. As informações contidas no guia são fruto de levantamentos ricos em detalhes em diversos locais no Estado do Paraná para identificação das espécies e também de inúmeros trabalhos científicos conduzidos a campo para elaborar uma recomendação segura das possibilidades de controle existentes atualmente. Informações: www.fundacaoabc.org.br
De 19 a 21 de junho a Cooplantio promoverá o 21º Seminário Cooplantio – Rentabilidade – o desafio do agronegócio, no centro de eventos do Hotel Serrano, em Gramado(RS). O Seminário discutirá os fatores possam interferir positivamente na construção das soluções viáveis para a reversão do quadro atual de baixa valorização das commodities. Também estão na pauta, debates sobre os aspectos técnicos visando o aumento de produtividade, questões mercadológicas e de gestão, entre outras importantes para a qualificação dos produtores rurais. Informações pelo fone (51) 3333-3066, ramal 6.
De 6 a 10 de Agosto de 2006, será realizado o XXI Congresso Brasileiro de Entomologia (CBE) em Recife (PE). Estão confirmadas 20 palestras âncoras, 40 mesas redondas, quatro simpósios, sete mini-cursos, além da apresentação de pôsteres e outros atrativos. Serão 193 pesquisadores palestrantes nacionais e estrangeiros de 14 países. E pela primeira vez, será realizada a Feira de Tecnologia, destinada a demonstrar tecnologias desenvolvidas por pesquisadores e extensionistas para o setor produtivo. Mais informações: www.ufrpe.br/xxicbe)
Plantas daninhas
O engenheiro agrônomo da Arysta Lifescience, Varner Morandini Jr., assume como coordenador de marketing das culturas de soja, milho, trigo, batata, maçã, uva e tomate para as regiões do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Participação Pelo terceiro ano consecutivo a Cheminova participa do Simpósio sobre Café de Montanhas da Zona da Mata Mineira, considerado hoje o terceiro evento em importância no setor cafeeiro. Em seu estande a empresa divulgou sua linha de produtos para a cafeicultura brasileira, produtos como Impact 125 SC, para controle da ferrugem do cafeeiro; Nexide, para o controle do Bicho Mineiro; Malathion 1000 CE, para o controle da Cochonilha, e Glifos, para o controle das plantas invasoras.
Luis Henrique Feijo
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Entomologia
Cooplantio
Nova Coordenação
De 29 de maio a 02 de junho acontece em Brasília (DF), o XXV Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. O objetivo do evento é estimular a cooperação e o intercâmbio de informações entre pesquisadores, estudantes, profissionais e outros interessados no adequado manejo das plantas daninhas. O Local do evento é o centro de convenções de Brasília. Informações: www.xxvcbcpd.com.br
Novo Presidente João Carlos Jacobsen assumiu a presidência da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão - Abrapa. Ele assume um mandato de dois anos e pretende dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos por seu antecessor, Jorge Maeda. A posse do novo presidente será no dia João Carlos Jacobsen 03 de junho em Brasília
Arysta
Varner Morandini Jr.
Congresso de soja De 05 a 08 de junho será realizado o IV Congresso Brasileiro de Soja no centro de eventos de Londrina (PR). O evento vai discutir a realidade atual da soja em nível nacional e mundial, além de abordar aspectos importantes de cada segmento da cadeia produtiva, incluindo os que atuam antes da porteira (insumos, máquinas e implementos), dentro da porteira (manejo das tecnologias de produção e de gestão) e depois da porteira (transporte, processamento e comercialização). Mais informações no site www.cnpso.embrapa.br/cbsoja
Produto novo
Convenção Anual
Luis Henrique Feijó, gerente de portifólio de inseticidas da Bayer Cropscience, está otimista com o lançamento do Oberon, novo inseticida-acaricida da empresa. “O Oberon chega ao mercado como uma nova ferramenta para que o agricultor maneje de forma eficiente e eficaz as lavouras e obtenha resultados positivos no controle dessas pragas que podem comprometer em até 100% a produtividade da lavoura”, destaca.
Fabiana Nicoleti Franco, coordenadora de marketing do departamento de agronegócios e co-responsável pela área de pesquisas e experimentação dos fertilizantes foliares da Ajinomoto, organizou a 2ª Convenção Anual de Vendas dos Fertilizantes da empresa, realizada em Limeira (SP), no mês de abril que contou com a presença de todos os membros da empresa envolvida com as atividades agrícolas, seus distribuidores e representantes de todo o Brasil.
Fabiana N. Franco
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Cultivar
Milho
Sem trégua Alta umidade relativa, temperatura diurna alta e noites frias, somadas à formação de orvalho, são condições climáticas ideais ao desenvolvimento da cercosporiose, que tem mostrado maior severidade em plantios de milho safrinha
A
mancha por Cercospora, também denominada de cercosporiose do milho, causada pelos fungos Cercospora zeae-maydis e Cercospora sorghi f. sp. maydis, ocorreu severamente no Brasil pela primeira vez no Sudoeste de Goiás (Rio Verde, Jataí, Montividíu, Mineiros), na safrinha de 2000. Atualmente ainda é uma das mais importantes doenças foliares da cultura do milho nessa região e também no Noroeste de Minas (Paracatú) e no Triângulo Mineiro. Sua ocorrência está confirmada nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio
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Grande do Sul, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Bahia. A cercosporiose do milho é capaz de reduzir de 20 a 90% a produção de grãos, dependendo da suscetibilidade do híbrido. Para a safra de 2005/06, foram disponibilizadas, para comercialização no Brasil, cerca de 237 cultivares de milho. Certamente, as respostas dessas cultivares à cercosporiose poderá variar de alta suscetibilidade à alta resistência a essa doença. A severidade da doença aumenta em condições de alta umidade relativa e temperatu-
ra diurna variando de moderada a alta, bem como em noites frias, com formação de orvalho e, principalmente, quando a temperatura se eleva logo após dias nublados ou chuvosos. Essas condições predominam nas regiões com altitudes superiores a 800 m e, principalmente, no plantio de safrinha. Assim sendo, normalmente, a cercosporiose do milho tem ocorrido com maior intensidade e severidade em lavouras de safrinha do que em lavouras de safra normal. Vários fatores podem estar associados ao aumento na incidência e na severidade da
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SINTOMAS DA CERCOSPORIOSE Fotos Embrapa Milho e Sorgo
O
s sintomas foliares da cercosporiose são inicialmente em forma de minúsculas lesões irregulares e cloróticas, as quais posteriormente se transformam em lesões alongadas de coloração palha a cinza, sempre limitadas pelas nervuras secundárias e com formato tipicamente retangular. Em geral, essa doença inicia-se a partir do estádio de oito a dez folhas (próximo ao florescimento), com sintomas concentrados nas folhas baixeiras, os quais sob condições favoráveis, alcançam as folhas superiores em cerca de uma semana. Com o progresso da doença, as lesões unem-se formando grande área foliar de cercosporiose, podendo-se destacar o plantio direto de milho sobre restos de cultura de milho infectado por Cercospora zeae-maydis e/ou Cercospora sorghi f. sp. maydis e os plantios consecutivos de milho na mesma área durante o ano todo. Esses fungos não são habitantes naturais do solo, tendo assim baixa capacidade competitiva. Em material vegetal infectado deixado na superfície ou incorporado ao solo, a capacidade de sobrevivência de Cercospora zeae-maydis é de aproximadamente dois anos e de seis meses, respectivamente. Por outro lado, os plantios consecutivos de milho têm se constituído em apreciável fonte de inóculo, possibilitando a disseminação de esporos desses fungos à longas distâncias, via correntes aéreas, de cultura infectada para cultura sadia. É oportuno ressaltar que, até o presente momento, considera-se que os fungos Cercospora zeae-maydis e Cercospora sorghi f. sp. maydis são considerados não são transportados ou transmitidos pelas sementes, uma vez que não são detectados em análise de rotina de sanidade de sementes de milho. Por outro lado, atenção deve ser dada à possível existência de mais de uma raça virulenta de Cercospora zeae-maydis e de Cercospora sorghi f. sp. maydis. Assim, uma cultivar pode ter comportamento diferenciado entre regiões com diferentes raças desses fungos. Também, tem sido verificado que nem sempre há correlação direta entre a severidade da cercosporiose e a redução significativa na produção de grãos de milho. Do ponto de vista fisiológico, há dois grupos distintos de cultivares de milho em relação ao acúmulo de fotossintatos para o enchimento dos grãos. No primeiro grupo estão aquelas cultivares classificadas como “fonte limitante”, ou seja, qualquer problema relacionado à fonte de fotossintatos (área foliar verde), por exemplo, a cercosporiose, irá comprometer a produção de
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tecido morto e, conseqüentemente, grande redução no índice de área foliar fotossinteticamente ativa, o que contribuirá para a queda da produtividade de grãos. É necessário enfatizar que as cultivares com alta suscetibilidade à cercosporiose são também mais suscetíveis às podridões de colmo, causadas por Fusarium verticillioides, F. subglutinans, F. graminearum, Stenocarpella maydis e S. macrospora. Por outro lado, em cultivares de alta suscetibilidade à cercosporiose, sintomas também poderão ser observados na bainha da folha e nas palhas da espiga. grãos. No segundo grupo, estão as cultivares classificadas como “dreno limitante”. Nesse grupo, a principal fonte de fotossintatos, que são as folhas, não é tão importante quanto no primeiro grupo, porque a principal limitação está localizada no dreno (espiga). Em outras palavras, mesmo com a fonte comprometida por doença, essas cultivares não têm a sua produção reduzida. Salienta-se, também, que o “índice de particionamento” é importante nesse caso, pois, com as folhas comprometidas, essas cultivares particionam ou drenam para as espigas os fotossintatos acumulados no colmo. Existem cultivares com diferentes índices de particionamento, sendo lógico que, quanto maior esse índice, menores serão as reduções na produção de grãos de milho. No controle da cercosporiose em milho devem-se utilizar medidas de manejo integrado, objetivando a redução da taxa de desenvolvimento da doença, visando maximizar a utilização de áreas sujeitas a epidemias. As se-
No controle da cercosporiose em milho, deve-se utilizar medidas de manejo integrado
guintes medidas poderão ser adotadas: a) Conhecimento da distribuição geográfica das duas espécies de Cercospora - Para a região onde ocorrem as duas espécies de Cercospora, devem-se utilizar cultivares de milho de comprovada resistência à Cercospora zeaemaydis e Cercospora sorghi f. sp. maydis; enquanto que, para a região onde ocorre apenas uma das espécie de Cercospora, devem-se utilizar cultivares de comprovada resistência a essa espécie; b) Monitoramento da doença - A incidência e a severidade da cercosporiose em milho estão influenciadas pelas condições climáticas, suscetibilidade da cultivar, raça do agente causal, pelos sistemas de plantio, manejo cul-
Lesões alongadas de formato retangular no limbo foliar e limitadas pelas nervuras secundárias da folha, caracterizam o ataque da cercóspora
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Fotos Embrapa Milho e Sorgo
Conhecer as condições que favorecem o agente causal da cercosporiose ajuda na adoção de medidas preventivas e de controle, destaca Nicésio
A bainha das folhas e palhas da espiga também são atingidos quando as cultivares são de grande suscetibilidade à doença
tural, entre outros. Por outro lado, o conhecimento das condições que favorecem essa doença contribui para a previsão de epidemias, para o estabelecimento de mapas de risco e para a adoção de medidas preventivas e de controle. O monitoramento contínuo da dinâmica dessa doença e das mudanças nos fatores bióticos e abióticos pode permitir a determinação espacial e temporal dos níveis de incidência e severidade e da importância econômica da cercosporiose; c) Rotação de cultura – Como Cercospora zeae-maydis e Cercospora sorghi f. sp. maydis são patógenos exclusivos da cultura do milho e apresentam baixa capacidade de sobrevivência no solo, a rotação com as cultura de soja, sorgo, feijão etc., por um a dois anos, mostra-se como alternativa promissora e econômica. Salienta-se que a sucessão com essas culturas não resolverá o problema da cercosporiose; d) Rotação de cultivares de milho – Do ponto de vista fitopatológico, à medida que uma cultivar de milho torna-se dominante nos plantios em uma determinada região, ela poderá estar se direcionando para a autodestruição em relação às doenças. Isso porque a cultivar propiciará a variabilidade na população do patógeno, com o surgimento de raça virulenta deste, quebrando a resistência da cultivar. Assim, a rotação de cultivares poderá evi-
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tar a seleção e a multiplicação de novas raças virulentas de Cercospora zeae-maydis e Cercospora sorghi f. sp. maydis; e) Adubações equilibradas - Plantas de milho com estresses nutricionais são mais suscetíveis à cercosporiose, como no caso de excesso de nitrogênio ou da escassez de fósforo; f) Eliminação dos restos de cultura de milho infectados pelo agente causal (Cercospora zeae-maydis e/ou Cercospora sorghi f. sp. maydis); h) Controle químico - É possível promover o controle desses patógenos através da aplicação de fungicida. A cercosporiose do milho apresenta um alto grau de variabilidade espacial e temporal. Essa variabilidade causa incertezas na tomada de decisão acerca das medidas de controle, como o uso de fungicidas. Estudos visando o controle químico de Cercospora zeae-maydis indicam que a utilização de fungicida é economicamente viável somente em híbridos muito suscetíveis, ou em campo de produção de sementes de milho, de produção de milho pipoca e de milho doce. Um programa de aplicação de fungicida deve-se iniciar quando a doença está em níveis
muito baixos (1% ou menos de área foliar afetada). Quando as condições são favoráveis para a doença, recomenda-se mais de uma aplicação. Os produtos mais efetivos contra a cercosporiose do milho são os fungicidas sistêmicos dos grupos dos benzimidazóis (carbendazim, tiofanato metílico) e triazóis (propiconazol, tebuconazol, difenoconazol, epoxiconazol). Mais recentemente, compostos de estrobilurinas (azoxistrobina, trifloxistrobina, piraclostrobina) têm-se demonstrado efetivos. Trabalho realizado pela Embrapa Milho e Sorgo mostra que os fungicidas propiconazol, difenoconazol, tebuconazol e azoxystrobina foram eficientes no controle da cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) do milho e que os tratamentos fungicidas garantiram a produção de grãos, sendo que a maior diferença percentual foi de 38,9% em relação à testemunha sem fungicida. A primeira pulverização foi realizada em plantas com oito folhas bem desenvolvidas, e a segunda, no estádio de préflorescimento. No Brasil, até o presente momento, apenas o fungicida Stratego 250 EC [propiconazol (triazol) + trifloxistrobina (estrobilurina)] está registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para o controle da cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) na cultura do milho. Entretanto, diversas pesquisas brasileiras mostram que outros ingredientes ativos como tebuconazol, propiconazol, difenoconazol, flutriafol, carbendazim, tiofanato metílico, azoxistrobina, trifloxistrobina, tebuconazol + triadimenol, piraclostrobina + epoxiconazol, carbendazim + fluquinconazol + óleo e carbendazim + tebuconazol são também eficientes no controle dessa doença, com expressivos ganhos no rendimenC to de grãos. Nicésio Filadelfo J. de A. Pinto, Embrapa Milho e Sorgo
Os plantios consecutivos de milho são apontados como um dos fatores que mais colaboram para a disseminação do fungo
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Feijão
Mofo branco OO correto correto manejo da irrigação pode ser a chave para manter a umidade baixa na camada camada superficial superficial do do solo solo ee reduzir reduzir ou ou inibir inibir aa germinação germinação dos dos escleródios escleródios do do fungo, fungo, que que podem podem sobreviver sobreviver por até cinco anos e causar perda total da lavoura
A
produção de feijão nos períodos secos do ano exige irrigação, prática que aumenta o custo de produção, mas que é compensada pelo maior preço pago pelo produto ofertado na entressafra do feijão das águas. Embora muitos pivôs-centrais tenham surgido para a lavoura do feijão, principalmente no Cerrado, algumas áreas, após alguns anos de cultivo, têm sido abandonadas devido ao aumento do mofo-branco do feijoeiro, doença caracterizada pela presença do fungo Sclerotinia sclerotiorum. Nessa região, em cultivos irrigados, tem-se observado perdas de 70 a 100% da produção. A introdução do patógeno nas áreas de Cerrado deve ter ocorrido com o uso de sementes infectadas e/ou infestadas com escleródios, não só de feijão como também de soja oriundos de áreas contaminadas. A doença se espalhou rapidamente, principalmente porque muitos produtores, ao não encontrarem sementes disponíveis no mercado, utilizaram suas próprias sementes para cultivo em novas áreas. Os escleródios são estruturas de resistência do patógeno que podem sobreviver no solo ou juntos às sementes por até cinco anos. Além disso, o fungo pode sobreviver parasitando outros hospedeiros, ou saprofiticamente em restos culturais, ou utilizando a matéria orgânica disponível no solo. Quando as condições são favoráveis à germinação, os escleródios podem produzir micélio branco característico com aspecto de algodão, sob temperaturas mais altas, ou, en-
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tão, produzir apotécios, sob temperaturas mais amenas, nos quais são produzidos os ascósporos, esporos diminutos que são facilmente transportados pelo vento e atingem as pétalas das flores e outras partes das plantas. A doença inicia-se a partir do micélio produzido pelos escleródios, ou quando as pétalas contaminadas se desprendem da flor e atingem outros órgãos das plantas, como folhas, ramos e vagens. Dentro dos ramos e das vagens podem ser produzidos escleródios. As pétalas contaminadas são a principal maneira de se iniciar uma epidemia. A época da floração é o período mais suscetível da cultura, e as flores necessitam de proteção quando o patógeno estiver presente na área de cultivo. As pétalas contaminadas, quando entram em senescência, servem como de fonte inicial de nutrientes para os esporos germinarem e iniciarem a infecção, mas, para que isso ocorra, são necessárias condições ambientais favoráveis,
principalmente alta umidade. Os fatores ambientais que mais favorecem o desenvolvimento da doença são temperaturas amenas, entre 15 a 22°C, e alta umidade do solo. Essas condições são facilmente observadas no cultivo de inverno, quando há necessidade de irrigação, e esta é feita de modo empírico, sem o devido monitoramento, podendo resultar em excesso de água no solo. A utilização de tensiômetros para monitorar a irrigação é simples, de baixo custo e eficiente. Para uma corre-
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Marco A. Lucini
ta utilização dos tensiômetros, devese consultar um engenheiro agrônomo. Em geral, nas áreas de baixada, a doença manifesta-se mais rapidamente e mais intensamente. Nessas áreas, pode ocorrer acúmulo de água, e a temperatura, ser um pouco mais baixa. Quando o local de plantio apresenta gran-
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de probabilidade de ocorrência de condições ambientas favoráveis, a utilização de um maior espaçamento entre plantas e entre as linhas de plantio pode auxiliar no manejo da doença, porque essa prática permite maior incidência da radiação solar na superfície do solo e melhora a aeração, diminuindo assim a umidade no dossel da cultura. Embora alguns produtos químicos possam ser utilizados no controle da doença (Tabela 1), principalmente durante o período da floração, o manejo da irrigação deve ser rigorosamente observado, porque uma irrigação adequada supre as necessidades do feijoeiro e mantém a umidade relativamente baixa na camada superficial do solo, podendo reduzir ou inibir a germinação dos escleródios. A freqüência de
irrigação deve ser a menor possível, ou seja, o intervalo entre as irrigações deve ser o maior que se puder praticar sem prejuízo para a produção. O intervalo de uma semana entre as irrigações é capaz de reduzir significativamente a intensidade da doença. Os produtos químicos devem ser aplicados preventivamente no período de floração, assim que surgirem as primeiras flores, e as aplicações devem-se repetir a intervalos recomendados pelo fabricante do produto escolhido, o qual deve cobrir completamente a superfície das flores. Para isso, deve-se optar por um sistema de aplicação que permita uma cobertura uniforme. Quando o fungicida for aplicado via pivôcentral, os cuidados devem ser redobrados, porque o volume de água aplicado é muito grande, podendo haver percolação do produto para as camadas inferiores do solo. A velocidade do pivô-central deve ser máxima durante aplicação do produto. Caso seja notada uma infecção acentuada, deve-se optar pelos fungicidas sistêmicos, para ter efeito curativo e impedir o avanço rápido da doença. Se o campo de produção for destinado à obtenção de sementes, o controle químico deve ser iniciado com o tratamento das sementes, seguido de pulverizações preventivas.
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Reginaldo L. Napoleão
ATAQUE DE SCLEROTINA
O
fungo causador do mofo-branco ataca flores, folhas, ramos caule, vagens e sementes, produzindo um micélio branco com aspecto de algodão, que depois dá origem aos escleródios, estruturas inicialmente de coloração clara, tornando-se pretas, de dimensões variadas e visíveis a olho nu. As manchas iniciais têm aspecto aquoso e começam junto à superfície do solo, se os escleródios germinarem produzindo micélio, ou então na parte aérea, se os escleródios germinarem produzindo esporos, que são disseminados pelo vento. Se a planta for atacada no início do seu desenvolvimento, ela pode morrer antes de completar o ciclo. Se a doença ocorrer mais tardiamente, além da queda da produção, pode ocorrer infecção de sementes.
Reginaldo L. Napoleão
O plantio direto também pode reduzir a incidência do mofo-branco, porque, embora esse sistema de plantio mantenha elevada a umidade do solo, a palhada de cobertura funciona como barreira física à ejeção de esporos do fungo, além de manter elevada e diversificada a população microbiana do solo, que pode atuar no controle biológico do patógeno. Diversas palhadas podem ser utilizadas, mas deve-se
A doença se alastra quando as pétalas contaminadas se desprendem da flor e atingem outros órgãos como folhas, ramos e vagens
dar preferência àquelas que promovam uma boa cobertura, porque falhas na cobertura podem permitir a germinação dos escleródios e a ejeção dos ascósporos, que não encontrarão a barreira física necessária. O milheto tem sido utilizado como boa alternativa, lembrando-se de fazer a dessecação antes da formação das sementes. Experimentos realizados em Brasília (Universidade de Brasília/Embrapa) mostraram que a incidência da doença diminuiu com o plantio direto e com a quantidade de água total utilizada no ciclo de cultivo do feijoeiro. Utilizando um intervalo médio de irrigação de sete dias, o mofo-branco não foi detectado no plantio direto, apenas no convencional, ainda assim com máximo de 5% de plantas atacadas (Figura 1). Quando a mesma quantidade de água foi aplicada, porém distribuída em duas irrigações por semana, observou-se até 100% de plantas atacadas, tanto no plantio convencional como no plantio direto. Vale ressaltar que, nos experimentos de Brasília, embora a porcentagem de plantas atacadas no plantio convencional tenha sido de 5%, isso pode representar um
potencial prejuízo para os cultivos subseqüentes porque o patógeno produz grande quantidade de inóculo na forma de escleródio. No ciclo de cultivo seguinte, dependendo das condições ambientais e do tamanho do escleródio, ele pode produzir de um a 12 apotécios e até dois milhões de esporos. Alguns trabalhos têm mostrado que muito mais importante do que a quantidade de água utilizada na irrigação é a freqüência com que ela é aplicada. Chuvas menos volumosas, porém mais freqüentes, foram capazes de causar mais doença do que chuvas mais volumosas, porém mais concentradas, ou seja, menos freqüentes, confirmando os dados de pesquisa obtidos em Brasília. O controle químico, quando for empregado, deve ser orientado e acompanhado por um engenheiro agrônomo, lembrando-se de que a utilização contínua de um mesmo ingrediente ativo, principalmente
Figura 1 - Porcentagem de plantas de feijão da cultivar Pérola infectadas no plantio direto e convencional, irrigadas semanalmente e com diferentes lâminas d’água total aplicada
Apotécios – produzido sob temperaturas amenas, nos quais são desenvolvidos os ascósporos, esporos diminutos, facilmente transportados pelo vento
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Marco A. Lucini e
Tabela 1 - Produtos químicos (ingredientes ativos)de contato, sistêmicos e protetores que podem ser utilizados no controle do mofo-branco do feijoeiro Ingrediente ativo Clorotalonil Fluazinan Iprodiona Mancozebe Procimidona Quintozeno Tiofanato-metílico Vinclozolina
Contato
Sistêmico
Protetor
Classe toxicológica* III II IV II II III IV III
Classe ambiental** II I III *** II III II II
*Classificação toxicológica: I-extremamente tóxico; II-altamente tóxico; III-medianamente tóxico; IV-pouco tóxico. **Classificação ambiental: I-altamente perigoso; II-muito perigoso; III-perigoso; IV-pouco perigoso. ***Em adequação à Lei Ambiental Nº 7.802/89.
dos que agem sistemicamente, pode selecionar ou induzir uma população de patógenos resistentes, inviabilizando, muitas vezes, a utilização desse tipo de produto, devido ao pequeno número registrado para o feijoeiro. Sempre que possível, devem-se utilizar alternadamente fungicida protetor ou de contato e sistêmico, ou, então, quando se utilizar apenas um deles, alternar
princípios ativos diferentes. Existem no mercado algumas formulações indicadas para a cultura do feijoeiro que associam fungicida protetor ou de contato e sistêmico. O manejo adequado da doença permite a sustentabilidade do cultivo do feijoeiro adotando-se medidas como: utilização de sementes certificadas; manejo da irrigação; rotação com gramíneas; espaçamento entre linhas e entre plantas e controle químico. Antes de plantar, adquira sementes certificadas, mas, se isso não for possível, solicite uma análise sanitária a um laboratório oficial, credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento (www.agricultura.gov.br). Sementes contaminadas podem inviabilizar a produção de feijão e de outras culturas em poucos anos devido ao aumento de inóculo na forma de escleródios. Mais de 400 espécies de plantas podem ser atacadas por Sclerotinia sclerotiorum. Consulte sempre um engenheiro agrônomo com experiência em fitopatologia, ele orientará, caso a caso, para que o manejo do mofo-branco do feijoeiro seja efetuado da maneira mais adequada, permitindo uma produção sustentaC da e lucrativa. Reginaldo Lamberti Napoleão, UFVJM
Soja
Saldo negativo Além do aumento de inóculo inicial do fungo Phakopsora pachyrhizi, registrado a cada nova safra e atribuído principalmente à sobrevivência deste em cultivos de entressafra e em plantas voluntárias, períodos chuvosos extremamente favoráveis ao desenvolvimento da doença oneraram os custos de produção da soja na safra 2005/06
A
pós quatro safras do primeiro relato no Brasil, a ferrugem asiática tem-se mostrado uma doença constante nas lavouras de soja, e sua agressividade tem variado de ano para ano e de região para região, em função das condições climáticas de cada safra. Diversas lições foram aprendidas por agricultores e técnicos, e entre elas uma das mais importantes é a identificação precoce da doença na lavoura como chave no sucesso do seu controle. Na safra 2005/06, a incidência da ferrugem foi observada em praticamente todas as regiões produtoras, com exceção de Roraima, onde ainda não foi relatada. O número de
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municípios com focos de ferrugem registrados no sistema de alerta, na página da Internet da Embrapa Soja (http://www.cnpso. embrapa.br/alerta/), foi menor do que na safra passada (459, em 2004/05, e 362, em 2005/ 06). No entanto, a doença foi mais agressiva nesta safra, na maioria das regiões produtoras, sendo definida principalmente pelo regime de chuvas de cada região. Na safra passada, como vários locais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentaram veranico durante as fases de formação de vagens e enchimento de grãos, a ferrugem se instalou, mas não evoluiu de modo agressivo, sendo os principais prejuízos contabilizados devido à seca.
Nesta safra, diversas regiões passaram por períodos de veranico, no início do desenvolvimento, o que não impediu a doença de se instalar. Após o estabelecimento das chuvas regulares, a partir de fevereiro, na maioria das regiões, a doença evoluiu de forma agressiva, tendo seu controle comprometido por fatores diversos. Nas principais regiões produtoras do Norte e do Nordeste, que englobam os estados do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia, apesar de presente em diversas lavouras, o controle foi satisfatório, sem causar perdas de produtividade. No estado do Maranhão e no Norte do Tocantins (municípios de Pedro
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Claudia Godoy
Afonso, Tupirama, Guaraí e Campos Lindos) praticamente não houve perdas por ferrugem nesta safra, e, mesmo nas áreas onde não foi aplicado fungicida, as pústulas morreram, não ocorrendo desfolha. No Maranhão, a distribuição das chuvas abaixo da média, combinada com altas temperaturas, praticamente anulou a presença da ferrugem no mês de janeiro. Em março, com o retorno das chuvas e a queda da temperatura, a doença reapareceu em vários locais, porém com baixa severidade. Em algumas regiões do Piauí, a estiagem de final de dezembro e de janeiro foi maior do que no Maranhão. Em lavouras sem aplicação de fungicidas no final do enchimento de grãos, foram encontradas pústulas mortas. Na Bahia, a ferrugem foi identificada apenas em lavouras no estádio reprodutivo. Um veranico, com duração média de 25 dias, que atingiu a cultura na fase de desenvolvimento vegetativo e se prolongou até a fase de floração e formação de vagens segurou a evolução da doença, no mês de janeiro. Com o retorno das chuvas no início de fevereiro, houve aumento da severidade da doença, e novos focos foram identificados. A média de aplicação de
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fungicidas nesses estados ficou ao redor de 1 a 1,5, nesta safra. A região Centro-Oeste, que compreende os estados do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul e de Goiás, e a região do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, foram as que apresentaram maiores problemas, principalmente próximo às regiões onde a soja é cultivada no inverno sob pivôs. No Mato Grosso, situações bastante distintas ocorreram em função das variações climáticas. Em outubro, o atraso das chuvas em algumas regiões do Norte retardou o plantio, exigindo o replantio das lavouras em alguns casos. Nessas regiões, os primeiros relatos da ferrugem ocorreram em unidades de alerta somente a partir do estádio reprodutivo, mesmo em lavouras próximas às áreas com cultivo de soja sob pivô na entressafra, provavelmente em função das condições climáticas desfavoráveis à doença. Nas regiões de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso, o nível de perdas ocasionado pela ferrugem foi menor do que nas outras regiões do estado. Já na região de Primavera do Leste, diversas lavouras tiveram focos registrados no período vegetativo, o que aumentou significativamente o custo de produção. O excesso de chuva em dezembro prejudicou a aplicação de fungicidas, dificultando o controle da ferrugem. Precipitações excessivas, a partir da segunda quinzena de fevereiro e da primeira de março, comprometeram a colheita da soja e favoreceram o desenvolvimento epidêmico da doença. O número médio de aplicações deve variar de região para região, sendo a pior situação a observada na região de Primavera do Leste, com média de três a 3,5 aplicações e casos de até sete aplicações. O Nordeste do Mato Grosso do Sul foi outra região que teve alta pressão do fungo causador da ferrugem asiática da soja. O apa-
Em Primavera do Leste, a ocorrência da ferrugem ainda no estádio vegetativo aumentou significativamente os custos de produção
recimento da doença em cerca de 30 dias mais cedo, em relação à safra passada, atingiu lavouras ainda na fase vegetativa, espalhando o fungo pela região. Apesar da forte seca em janeiro, houve intenso orvalho no período noturno, e, com o início das chuvas em fevereiro, as condições ficaram extremamente favoráveis para a explosão da doença. Nesta safra ocorreu a maior pressão da doença desde seu aparecimento, e, mesmo em áreas onde foram necessárias quatro aplicações, os rendimentos não foram muito elevados, ficando entre 20 a 30 sacas/ha. Em Goiás, a pressão da doença também foi alta nesta safra, com condições climáticas favoráveis à sua evolução. As lavouras de soja precoce devem finalizar a safra com a média de uma aplicação de fungicidas, mas as de ciclos médio e tardio devem fechar com média de três aplicações, havendo casos de até cinco aplicações. Em Minas Gerais, no Triângulo Mineiro, a ferrugem também foi bastante agressiva. O fato marcante da safra foi o elevado número de aplicações. Há relatos de propriedades que chegaram a fazer cinco aplicações, e a média do estado deve fechar entre 2,5 e três aplicações. Essas regiões apresentam vários fatores em comum que agravaram o problema da ferrugem. Em muitos locais, os agricultores ainda utilizam as aplicações “calendarizadas”, iniciando no estádio de florescimento, com nova aplicação 20 dias depois. Como em diversos locais a ferrugem tem sido observada ainda no estádio vegetativo, essa aplicação acaba sendo realizada tardiamente, comprometendo a eficiência dos produtos. O ideal é que o agricultor monitore as lavouras, principalmente em regiões onde há soja cultivada no inverno, pois a alta pressão de inóculo faz com que a
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tanto, até o momento, não existe comprovação para essa suposição. Na região Sul, como nas demais, períodos de veranicos se alternaram com excesso de chuva. No Paraná, de modo geral, foi observada estiagem a partir do final de dezembro e durante o mês de janeiro, com retorno das chuvas regulares a partir de fevereiro, onde foi constatada a evolução de modo mais agressivo da ferrugem. Apesar do veranico, a doença se instalou nas lavouras, em função do molhamento proporcionado pelo orvalho. No entanto, o agricultor retardou a aplicação, ao aparecerem os primeiros sintomas, em janeiro. O que se viu, em seguida, foi o início de um período chuvoso extremamente favorável à
Milton Cattapan
doença se instale ainda no estádio vegetativo. Com a intenção de reduzir o problema, os estados do Mato Grosso e de Goiás apresentaram instruções normativas para a próxima safra que instituem períodos de vazio sanitário de 90 dias entre a colheita da soja e a semeadura da safra de verão, locais onde deve haver ausência de plantas de soja no campo, além de definir a necessidade de cadastramento de sistemas de irrigação nos estados. Excepcionalmente, poderá haver autorização de cultivo em sistemas de irrigação, quando solicitada pelo interessado, através de requerimento e mediante assinatura de termo de compromisso e responsabilidade em situações de pesquisa científica, cultivo de material genético e avanço de gerações e produção de semente genética. Como o fungo pode sobreviver em outras plantas hospedeiras, ou plantas de soja voluntária, essas medidas não irão eliminar o problema da ferrugem. A intenção é que essa prática atrase a ocorrência da doença, evitando principalmente as incidências no estádio vegetativo, reduzindo a pressão da doença já nas primeiras semeaduras da safra. O município de Ituverava, estado de São Paulo, também apresentou vários registros de focos no vegetativo, no sistema de alerta, como conseqüência das áreas com soja sob pivô cultivadas na entressafra. Outros pontos em comum observados na maioria das regiões foram a redução na utilização de insumos como o adubo, a redução em volume de aplicação e a utilização de subdose dos produtos recomendados, a falta de domínio das tecnologias de aplicação de defensivos agrícolas e a aplicação em horários inadequados, em função do excesso de chuvas. Em função de erros no controle ou no momento de aplicação, foram observados, durante a safra, comprometimentos na eficiência dos produtos, existindo especulações sobre seleção de população do fungo resistente aos produtos. No en-
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evolução da doença e que dificultou a realização da aplicação dos produtos no horário ideal. Em muitos casos, como a doença já estava instalada, a eficiência dos produtos ficou comprometida. Essa situação foi bem característica nas regiões Norte e Centro-Sul do estado. As lavouras que estavam em fase de florescimento ou enchimento de grãos, durante o mês de fevereiro, foram as mais atingidas pela ferrugem devido às condições climáticas favoráveis. Lavouras com cultivares precoces, ou semeaduras realizadas mais cedo, não apresentaram alta severidade da doença, porque, quando o clima foi mais favorável a esta, já se encontravam próximas à colheita. No entanto, a soja precoce teve sua produção prejudicada pelo veranico de janeiro. No Rio Grande do Sul, a incidência de lavouras com ferrugem foi bastante alta, mas a severidade não foi considerada importante, com exceção de algumas regiões. No município de Ijuí, técnicos calculam que 20% das lavouras sofreram desfolha por ferrugem, e, em algumas, a desfolha foi da ordem de 80% da planta. Outras regiões que tiveram alta severidade estão localizadas próximas ao município de Sananduva (Norte do estado) e nos municípios próximos à divisa com Santa Catarina. Um dos problemas observados nesses locais foi a dificuldade para diagnosticar e controlar a doença. Como a ferrugem não foi observada com grande intensidade, nas últimas duas safras, surgiram muitas dúvidas em praticamente todas as regiões. O regime de chu-
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Fotos Claudia Godoy
ação, têm comprometido o controle em diversas regiões. O único vértice do triângulo que define a doença sobre o qual o agricultor não pode interferir é no ambiente. A distribuição da chuva tem mostrado grande influência no desenvolvimento epidêmico da doença, ano após ano, e, como regra, o clima bom para a soja tem sido bom para o desenvolvimento da ferrugem. C Aplicações “calendarizadas”, ainda utilizadas por alguns produtores, também contribuíram para a severidade da ferrugem em algumas regiões
vas irregular que atingiu a soja principalmente na fase de formação de vagens e enchimento de grãos novamente proporcionou um panorama da evolução da doença. Na maior parte do estado, ocorreram chuvas isoladas. Em março, nos primeiros quinze dias, houve estiagem, apenas com pancadas isoladas, e o retorno das chuvas a partir da segunda quinzena de março explica a ocorrência de ferrugem na região Norte do Rio Grande do Sul. Nas regiões Central e Sul, onde há vários municípios em situação de emergência, devido à falta de chuvas ocorreram poucos relatos da doença. De modo geral, tem sido observado, ano após ano, aumento no inóculo inicial do fungo Phakopsora pachyrhizi, proporcionado principalmente pela sobrevivência em cultivos na entressafra e em plantas de soja voluntária.
Embora o patógeno possua diversos hospedeiros, além da soja, nos quais pode sobreviver, essa “contribuição” tem tido menor impacto quando comparada com a sobrevivência na própria soja. Como, até o momento, não há cultivares comerciais resistentes (hospedeiro) disponíveis para o produtor, outras medidas são tomadas para tentar reduzir o problema. As instruções normativas que instituem os vazios sanitários de 90 dias visam interferir no vértice patógeno do triângulo que define doença (patógeno, hospedeiro e ambiente), reduzindo o inóculo para o começo das safras. É sabido que essa medida vai apenas amenizar o problema. A cada começo de safra, o fungo vai aumentar seu inóculo nos primeiros cultivos, mas o objetivo é reduzir as constatações no período vegetativo e a pressão da doença já nesses cultivos, como vem ocorrendo em diversas regiões do Centro-Oeste e Sudeste. Outro modo de interferir no vértice patógeno é por meio do controle com aplicações de fungicidas, que devem ser feitas quando surgem os primeiros sintomas, ou quando a doença já está presente na região. Para saber o momento certo, há uma única regra: o monitoramento intenso da lavoura, com o auxílio da lupa, em busca dos minúsculos pontos da ferrugem. As aplicações “calendarizadas”, no estádio de florescimento, podem funcionar em algumas regiões, com menor pressão de inóculo. Mas, na atual situ-
Cláudia Godoy, Claudine Seixas, José Tadashi Yorinori, Maurício Conrado Meyer e Paulino Andrade, Embrapa Soja Leila Costamilan Embrapa Trigo Mônica Martins, Fundação Bahia Dulândula Silva Wruck, Epamig José Nunes Júnior, Convênio Cerrados
Claudia Godoy, fitopatologista e pesquisadora da Embrapa Soja, mostra como a doença evoluiu desde a última safra
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Soja Plantas frágeis ao ataque de moléstias e com dificuldades de crescimento, floradas deficientes e baixa resistência às adversidades climáticas podem ser resultantes de uma adubação desequilibrada no ciclo da cultura
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I
números são os fatores interferentes na produtividade da cul tura da soja, todavia merecem especial destaque a presença de doenças e pragas, que são responsáveis pela destruição de grandes quantidades de alimentos e de bens de sobrevivência, bem como amplificam os custos financeiros e energéticos da atividade agrícola. Uma das principais causas para a ocorrência e a predisposição das plantas a patógenos e insetos-pragas é o desequilíbrio nutricional (carência ou excesso). Segundo Choboussou (1999), o estado de equilíbrio nutricional pode ser considerado como um dos principais fatores responsáveis pelo desencadeamento dos mecanismos de defesa das plantas. Os fungos e bactérias são oportunistas, atacam com maior intensidade quando as plantas encontram-se mais frágeis, menos resistentes, ou seja, quando existe um desequilíbrio nutricional. Na agricultura moderna, a busca por altas produtividades tornou a adubação cada vez mais intensa. A adubação utilizada na maioria das vezes não é baseada em uma recomendação agronômica, muitas vezes é realizada sem verificar as fórmulas e as quantidades adequadas para cada cultura específica. Nesse caso, o produtor corre o risco de não estar realizando uma adubação correta, tornando esse processo mais oneroso em função de adquirir insumos em quantidades exageradas. Quando adicionados ao solo, estes poderão proporcionar um desequilíbrio nutricional, tornando as plantas mais suscetíveis a doenças e, conseqüentemente, na tentativa de sanar o problema, aumentando os custos de produção. Uma adubação desequilibrada pode proporcionar plantas com dificuldades de crescimento, estrutura frágil, floradas deficientes, poucos frutos, sementes de má qualidade, baixa resistência a adversidades climáticas e plantas mais frágeis ao ataque de moléstias, como é o caso de: a) Nematóides por deficiência de potássio em soja; b) Oídio na cultura da cevada e ferrugem na cultura do trigo, quando as plantas apresentam-se deficientes de boro; c) Manchas foliares em arroz e canade-açúcar por deficiência de potássio; d) Podridões radiculares em seringueira por deficiência de zinco; e) Infecções bacterianas em aveia por deficiência de manganês, dentre outras. Para racionalizar o uso de adubos, precisamos levar em consideração na recomendação de base: a) a fisiologia da variedade em que estamos trabalhando, uma vez que
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Rogério Richter
(Índice K = constante de Gápon), em plantas que se encontram com desequilíbrio de potássio.
BENEFÍCIOS DO FOSFITO DE POTÁSSIO
as exigências nutricionais são diferentes em função do porte da soja e b) a disponibilização de nutrientes de forma equilibrada no solo, pois o excesso de alguns nutrientes causa a indisponibilidade de outros, e nesse caso temos um desequilíbrio nutricional. A forma de recomendação de adubo de base da SolFerti leva em consideração o equilíbrio entre nutrientes no solo e extração da planta em função de sua fisiologia, pois sojas de porte baixo, normal e alto apresentam exigências nutricionais diferentes, que devem ser levadas em conta. Após a implantação da cultura, ainda existem outros processos para melhorar a nutrição, como o uso de fertilizantes foliares aplicados na parte aérea, visando auxiliar no processo produtivo e proporcionar às plantas maior resistência contra o ataque de doenças. Dentre os diversos fertilizantes aplicados via foliar, os fosfitos merecem um especial destaque. O fosfito de potássio (ácido fosforoso e potássio) está em plena evolução não só no Brasil, mas Célula sadia de plantas em equilíbrio potássico
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Estrutura frágil, causada por desequilíbrio de nutrientes, como, defiência de potássio pré-dispõem as plantas ao ataque de outras moléstias
também em diversos outros países onde se pratica agricultura tecnificada. O fosfito de potássio é um produto formulado a partir da reação do ácido fosforoso ou ácido fosfônico + hidróxido de potássio, produzindo um íon de grande espectro de ação. Por seu caráter sistêmico, é rapidamente absorvido pelas plantas através das raízes, folhas, ramos e troncos. Transloca-se nos vegetais no sentido ascendente e descendente, atingindo os tecidos das plantas num curto espaço de tempo. O potássio presente no fosfito atua induzindo a produção de compostos fenólicos (fitoalexinas) que vão se depositando na superfície das membranas das células, formando uma “capa de proteção” (faixa osmiófila). Esse efeito de proteção fica evidenciado com a utilização do fosfito
a) Modo de ação sistêmico (translocação simplástica e apoplástica); b) Rapidez na absorção; c) Ativação do sistema imunológico da planta (fitoalexinas); d) Aumento da transferência de fotossintatos das folhas e caules para os frutos e grãos; e) Maturação homogênea dos frutos; f) Formulação estável assegurando assimilação total pela planta; g) Responsável pela diminuição de distúrbios fisiológicos; h) Não deixa resíduo; i) Baixa toxicidade; j) Efeito residual duradouro, aumentando o desenvolvimento e sobrevida do sistema radicular com conseqüentes reflexos no aumento da produtividade, em função do fósforo e potássio que se encontram na sua formulação. O fósforo, dentre outras funções, é responsável pelas relações energéticas das plantas e pela maturação dos tecidos. O fósforo tem sido importante na redução do ataque dos fungos em diferentes espécies
Dirceu Gassen
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na abertura e fechamento dos estômatos, favorecendo a retenção de água e interferindo na qualidade do produto agrícola, uma vez que participa do enchimento de grãos e, conseqüentemente, do aumento da produtividade. A deficiência de potássio ocorre nas folhas mais velhas, que se apresenta amareladas nas margens, a clorose avança para o centro do folíolo, iniciando-se uma necrose nas bordas, que progride para o centro. Causa má formação de grãos. Atualmente, dentro da área de nutrição de plantas, vários trabalhos de
Fernando Daniel Warpechowski e Ivonel Teixeira, Solferti
Divulgação
de plantas. Em raízes com baixo nível de fósforo, foi observado um decréscimo de fosfolipídios com correspondente aumento na permeabilidade da membrana celular e da exsudação radicular, o que pode exercer acentuada influência na atividade de patógenos e na severidade das doenças. O fósforo, quando em concentrações adequadas nos tecidos vegetais, correlacionase negativamente com a exsudação de aminoácidos pelas raízes, reduzindo a proliferação de determinadas espécies de nematóides, insetos e fungos. O sintoma de deficiência de fósforo ocorre da seguinte maneira: as folhas mais velhas ficam pequenas com coloração verde azulada, plantas raquíticas, má formação de grãos e reduzido número de vagens por planta. O potássio presente na seiva e no protoplasma está até os sítios de utilização, o seu efeito freqüentemente está restrito à faixa de deficiência do elemento, visto que plantas deficientes em potássio são mais suscetíveis a pragas e doenças do que aquelas apresentando concentrações suficientes desse elemento (Huber & Army, 1985). Como norma geral, a suscetibilidade diminui (ou a resistência aumenta) na mesma proporção em que o crescimento da planta responde ao aumento do suprimento desse elemento (Zambolim & Ventura, 1996). O potássio é fundamental para as plantas, pois provoca o espessamento dos tecidos, conferindo maior resistência ao acamamento e às doenças, reduz a perda de água nos períodos secos, porque atua
O potássio provoca o espessamento dos tecidos, conferindo às plantas maior resistência porque atua na abertura e fechamento dos estômatos
pesquisas são realizados na busca de melhores colheitas, dentre esses, na cultura da soja foi avaliado o fosfito de potássio Phytosol PK, produto à base de fósforo (H3P0 3, 30%) e potássio (K20, 20%) com o objetivo de verificar o incremento na produtividade. O trabalho foi realizado pela FCAUnesp de Botucatu, de São Paulo, juntamente com a Universidade Federal de Santa Maria (RS), na safra de 2002/03 (www.ufsm.br/ppgcs/congressos/Fertbio2004/Np230.pdf). Foram realizadas aplicações de cobalto e molibdênio via sementes, mais duas aplicações foliares de molibdênio e mais a aplicação de fosfito. Como resultado, houve um ganho de produtividade de US$ 28,26 por hectare, sendo que o ganho com o tratamento completo foi de US$ 87,22 por hectare. Assim sendo, recomenda-se a aplicação de fosfito como um auxiliar das condições nutricionais da soja. O uso desse produto, além de nutrir a planta com fósforo e potássio, também aumenta a resistência natural das plantas contra pragas e doença, através da produção de compostos fenólicos, mas, no entanto, não é um substituto dos produtos fitossanitários (fungicidas e inseticidas), apenas auxilia na produção de fitoalexinas. O fosfito é um produto para ser usado com dupla finalidade, uma nutricional e outra protetora, ambas com ótimos resultados comprovados para as mais diversas culturas. O fosfito de potássio nuC tre e protege a sua lavoura.
Ivonel e Fernando mostram como a planta reage quando recebe um tratamento nutricional adequado
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Soja
Resistência que se multiplica No Mato Grosso, São Paulo e Paraná, os produtores, devido ao uso intensivo e repetitivo de herbicidas do grupo dos inibidores da ALS em áreas produtoras de soja, têm encontrado populações resistentes de espécies de picão-preto
B
plantas (Figura 1), muitos autores preferem tratá-las nos trabalhos publicados por Bidens spp., ou por complexo Bidens pilosa - B. subalternans (Monquero et al., 2000; Carvalho et al., 2004). A suscetibilidade de plantas daninhas a herbicidas é considerada uma característica inata das espécies em que os indivíduos têm seu desenvolvimento significativamente comprometido após a exposição à dose recomendada de determinado herbicida (Christoffoleti & López-Ovejero, 2004). Nesse sentido, segundo relatos de produtores, B. subalternans parece ter menor suscetibilidade à ação de alguns herbicidas, necessitando de doses maiores para seu adequado controle. O uso intensivo e repetitivo de herbicidas inibidores da ALS em áreas produtoras de soja de Mato Grosso, São Paulo e Paraná tem selecionado populaçõs resistentes de picão-preto (Bidens pilosa e B. subalternans), tornando mais difícil o controle dessas espécies. A resistência de plantas daninhas a herbicidas é definida como
a capacidade natural e herdável de alguns biótipos, dentro de uma determinada população, de sobreviver e se reproduzir após a exposição à dose de um herbicida que seria letal a uma população normal (suscetível) da mesma espécie (Christoffoleti & López-Ovejero, 2004). Embora esse tema seja bastante discutido, até o presente momento, nenhum estudo havia abordado o grau de suscetibilidade e de resistência de ambas espécies separadamente.
RESISTÊNCIA E SUSCETIBILIDADE Os herbicidas que atuam na enzima acetolactato sintetase (ALS), primeira enzima comum para a biossíntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina, estão entre os mais amplamente utilizados no mundo. Segundo Christoffoleti (1997), diversos grupos químicos, como as imidazolinas (IMI), sulfoniluréias (SU) e triazolopirimidas (TP), apresentam esse mecanismo de ação (Figura 4). O uso contínuo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação sobre grandes Reges Echer
idens pilosa L. e B. subalternans DC., conhecidas popularmente como picão-preto, são plantas daninhas anuais e herbáceas, cuja reprodução ocorre exclusivamente por sementes, sendo freqüentemente encontradas associadas à cultura da soja na região Centro-Sul do Brasil. A presença de altas infestações dessas espécies nas áreas de cultivo pode resultar em drásticas reduções na produção da cultura e, conseqüentemente, em prejuízos financeiros aos produtores. Bidens pilosa e B. subalternans podem ocorrer em populações isoladas ou mistas, sendo que em algumas regiões pode haver predominância de uma ou outra espécie (Kissmann & Groth, 1999). As semelhanças morfológicas no tipo de flor, folhas e frutos, associadas às semelhanças nos aspectos biológicos, como no ciclo de vida, têm propiciado a ocorrência de inúmeras confusões na identificação e separação dessas espécies. Devido à dificuldade de identificação, sobretudo nos estádios iniciais de desenvolvimento das
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Fotos Pedro Jacob Christoffoleti
tentes de ambas as espécies. Além disso, foi possível comprovar que diferentes populações apresentam diferentes níveis de resistência, o que deve, provavelmente, ser conseqüência do uso de práticas distintas de manejo de herbicidas que resultaram em pressões de seleção diferenciadas sobre as populações.
PREVENÇÃO E MANEJO DA RESISTÊNCIA
Figura 2 - Capítulos de Bidens pilosa (A) e de Bidens subalternans (B) Figura 1 - Plântulas de picão-preto (B. subalternans) com duas (A) e quatro (B) folhas definitivas completamente expandidas
áreas tem selecionado biótipos resistentes de plantas daninhas. No caso de plantas resistentes a herbicidas inibidores da ALS, a alteração do gene mutante responsável pela codificação dessa enzima promove a síntese de moléculas insensíveis à ação dos herbicidas, de modo que estes não conseguem bloquear a produção de aminoácidos e, portanto, não impedem o crescimento da planta daninha. Em um trabalho desenvolvido na Esalq/USP, populações de Bidens pilosa e B. subalternans obtidas em várias localidades produtoras de soja nos estados de Paraná (PR), Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS) e São Paulo (SP), nas quais herbicidas inibidores da ALS (chlorimuron-ethyl e imazethapyr) foram aplicados em pelo menos seis anos sucessivos, foram submetidas à aplicação de herbicidas inibidores da ALS para a elaboração de curvas de dose-resposta. Populações supostamente suscetíveis de ambas as espécies foram obtidas em áreas sem histórico de aplicação de herbicidas. Os resultados obtidos indicaram que biótipos suscetíveis de B. subalternans, sobretudo para a condição de sub-dose, apresentam menor suscetibilidade aos herbicidas inibidores da ALS que os biótipos suscetíveis de B. pilosa, confirmando as
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observações de agricultores que julgavam ser necessária uma maior dose de herbicida para o controle da primeira espécie. Entretanto, para a dose recomendada, ambos herbicidas foram eficazes no controle das populações suscetíveis de ambas as espécies. Os biótipos resistentes de B. subalternans apresentaram maiores níveis de resistência quando comparados com os biótipos resistentes de B. pilosa. Os herbicidas chlorimuron-ethyl e imazethapyr não foram eficazes no controle das plantas resis-
A melhor maneira de manejar a resistência de plantas daninhas a herbicidas em um sistema de produção (e isso vale para qualquer espécie de planta daninha) é por meio da prevenção. Existem diversas recomendações de boas práticas agrícolas que contribuem para evitar ou, ao menos, atrasar o processo de seleção dos biótipos resistentes. As medidas gerais mais importantes para a prevenção e manejo da resistência são a rotação de culturas, o emprego de métodos alternativos de controle de plantas daninhas (cultural e mecânico) e o uso correto e consciente de herbicidas. Dentre as alternativas de manejo químico que reduzem a pressão de seleção sobre biótipos resistentes, podem-se destacar: a) o uso de herbicidas de baixa atividade residual nos solos; b) a adequação de época, dose e número de aplicações; c) a inspeção das áreas de aplicação do herbicida em busca de falhas de controle ou tendências de mudanças na flora infestante; d) a manutenção de áreas testemunha para acompanhar o desenvolvimento da comunidade infestante, bem como da qualidade da aplicação; e) a rotação do mecanismo de ação dos herbicidas; e f) a utilização de herbicidas “parceiros” que apresentem espectro de ação semelhante ao herbicida tradicional, porém com mecanismo de ação diferente.
Figura 4 - Rota metabólica responsável pela síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina; local de ação da enzima ALS e de interferência dos herbicidas que atuam sobre o sistema
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Fotos Pedro Jacob Christoffoleti
da ALS envolvem o controle dos biótipos na dessecação (glyphosate, 2,4-D, paraquat, paraquat + diuron, diquat e glufosinato de amônio) e nas áreas de rotação soja/milho (atrazine e atrazina + mesotrione). Vale recordar que o controle é favorecido sempre que as aplicações são realizadas sobre plantas em estádio de até quatro folhas definitivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para as espécies Bidens pilosa/B. subalternans, depois que a resistência se manifestou, dificilmente a proporção original dos biótipos será alcançada, haja visto que os biótipos resistentes não têm apresentado perdas em sua adaptabilidade ecológica. Assim sendo, as melhores medidas de manejo e controle estão relacionadas com o emprego de herbicidas com outros mecanismos de ação. Na cultura da soja, os mecanismos de ação alternativos mais recomendados são os inibidores da Protox (lactofen, acifluorfen e fomesafen) e os inibidores do fotossistema II (bentazon). Nas lavouras de soja tolerante ao glyphosate, esse herbicida se apresenta
Figura 3 - Aquênios de Bidens pilosa (A) e de Bidens subalternans (B)
como uma excelente opção para manejo da resistência. Ainda, existem algumas alternativas para aplicação em pré-emergência (metribuzin e sulfentrazone), que, entretanto, podem exigir a complementação em pósemergência para controles satisfatórios. Outras medidas eficientes para manejo de biótipos de Bidens resistentes aos inibidores
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Pedro Jacob Christoffoleti, Ramiro Fernando López Ovejero, Saul Jorge Pinto de Carvalho e Marcelo Nicolai, Esalq Maria Tereza G. Guaratini, IBT/SMA Aluana Gonçalves Abreu, Unicamp Roberto Estevão B. Toledo, Arysta LifeScience
COMO IDENTIFICAR CORRETAMENTE
A
Pedro Christoffoleti fala sobre a resistência do picão-preto e como diferenciar entre as diferentes espécies
O conhecimento das características diferenciais das espécies de picão-preto (B. pilosa e B. subalternans) contribui para a otimização das medidas de manejo a serem adotadas em uma propriedade. Sabe-se que grandes infestações de Bidens podem apresentar indivíduos pertencentes às duas espécies, entretanto é imprescindível que a ação de manejo seja focada na espécie menos sensível ao produto (B. subalternans) para que não ocorram falhas de controle, ou mesmo seleção interespecífica. A diferenciação das características das espécies também favorece na elucidação dos casos de resistência. Por exigir doses ligeiramente superiores para a obtenção de controles satisfatórios, altas infestações de B. subalternans podem ser confundidas com casos de resistência quando neC cessariamente não o são.
pesar das semelhanças de alguns caracteres morfológicos, as espécies apresentam características bastante particulares, tanto nas flores como nos aquênios, permitindo separá-las com segurança. Bidens pilosa apresenta capítulos (inflorescências) com diferentes morfologias: radiado (com flores liguladas externas) e discóide (sem flores liguladas). Quando presentes, as flores liguladas da extremidade do raio apresentam coloração branca, creme ou salmão (Figura 2A). B. subalternans, por sua vez, sempre apresenta capítulos radiados com flores liguladas de coloração amarela ou
creme (Figura 2B). Os aquênios (frutos) de Bidens pilosa possuem predominantemente três aristas, cujo grau de angulação medido entre elas e o corpo do aquênio é de cerca de 135º; a superfície desses frutos em toda sua extensão apresenta pequenas protuberâncias de onde se originam pêlos (Figura 3A). Em B. subalternans os aquênios possuem predominam quatro aristas, cujo grau de angulação, medido entre elas e o corpo do aquênio, é de cerca de é de 180º; na superfície desses frutos não são encontradas protuberâncias, e os pêlos estão concentrados no ápice (Figura 3B).
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Trigo
Flavio R. Gassen
Início sem doenças Sementes infectadas são o principal meio de transporte de parasitas necrotróficos para áreas cultivadas. O tratamento de sementes com fungicidas, neste ponto, evita a disseminação e a transmissão de patógenos para plântulas
O
manejo integrado de doenças preconiza o emprego de todas as estratégias disponíveis que visem ao controle econômico de doenças e resultem num menor impacto negativo no ambiente. Dentro desse conjunto de táticas de controle de doenças, enquadram-se a produção de sementes sadias e o seu tratamento com fungicidas. No caso de sementes, a finalidade do controle é evitar a transmissão sementeplântula e manter na lavoura uma intensidade de doença abaixo do limiar de ação (LA). O LA é aquela incidência da doença na qual as medidas de controle devem ser implementadas (aplicação de fungicidas em órgãos aéreos) para evitar que o limiar de dano econômico (LDE) seja alcançado (Reis & Carmona, 2001). As táticas aqui discutidas baseiamse sempre no princípio de que a semente infectada transporta os parasitas necrotróficos para a área cultivada. Poste-
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riormente, esses patógenos mantém-se na fase saprofítica, multiplicando-se nos restos culturais. Isso resulta num aumento do inóculo disponível na área cultivada, o qual dependendo do clima, pode causar epidemias com danos e perdas na cultura. Em conseqüência, cabem duas medidas de controle: o tratamento eficiente da semente, com fungicidas e doses que levem à erradicação, e a rotação de cultura, que elimina ou reduz o inóculo disponível na lavoura. Trata-se de duas medidas de erradicação do inóculo primário. Neste trabalho, dá-se ênfase, principalmente, ao parasitas necrotróficos, agentes causais de manchas foliares. No entanto, o tratamento de sementes pode ser recomendado para o controle do carvão voador do trigo e do oídio em cultivares de trigo suscetíveis. Nesse caso o fungicida com maior eficiência é o triadimenol na dose de 30 g de ingrediente ativo para 100 kg de sementes.
Sanidade da lavoura e da semente colhida A incidência de um parasita necrotrófico em sementes é proporcional à intensidade da doença que ele causou nos órgãos aéreos da cultura na lavoura que as produziu. Por isso, deve haver a preocupação em manter baixa intensidade de doenças causadas por necrotróficos, nas lavouras produtoras de sementes. Portanto, sob monocultura e plantio direto, a intensidade das manchas foliares atinge os maiores níveis nas lavouras e nas sementes produzidas. Por outro lado, sob plantio direto e rotação de culturas, a intensidade tem sido significativamente reduzida. Experimentos em que a distância entre as parcelas era de aproximadamente 3 metros, a incidência das manchas foliares foi estatisticamente reduzida nos tratamentos com rotação de culturas. Isso é uma evidência de que o transporte dos esporos (ascosporos e conídios) processa-se à curta distância (Reis et al, 1992).
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Michel Alex Raimondi
Tem-se observado que a alta intensidade de manchas foliares na lavoura determina, conseqüentemente, a presença dos patógenos na semente colhida. Reis et al. (1997) relataram que, sob monocultura, a incidência de Drechslera tritici-repentis na semente colhida foi a mais elevada (11,3%). Nesse trabalho, os autores detectaram maior incidência e severidade das manchas foliares em monocultura e plantio direto. Com base nesses resultados, podese inferir que lavouras produtoras de semente não devem ser conduzidas em monocultura. Semelhante a D. triticirepentis, o fungo Bipolaris sorokiniana também foi detectado com maior incidência nas sementes produzidas sob monocultura, tanto em plantio direto
O tratamento de sementes e a rotação de culturas são duas medidas importantes de erradicação de inóculo primário de patógenos
como em cultivo mínimo. Lavoura sadia (com rotação) produz semente sadia, e o inverso é verdadeiro: lavoura com alta intensidade de doença (monocultura) produz semente com alta incidência dos parasitas necrotróficos. Como produzir semente sadia? A resposta é: manter a lavoura sadia. As lavouras sadias, com baixa intensidade de manchas foliares, são aquelas conduzidas sob rotação de culturas. O ciclo de vida de um patógeno necrotrófico desde a semente infectada, a transmissão para os órgãos aéreos, o progresso da epidemia nas folhas devido aos
Tabela 1 - Efeito de diferentes veículos de cobertura sobre a germinação de sementes de trigo Solventes Testemunha Monoetilenoglicol + Concentrado Propilenoglicol + Concentrado Polietilenoglicol + Concentrado Média
Doses de iprodiona (ml/100 kg de sementes) 0 100 B 91,25 a A 91 a A 86 c A 88,5 bc B88,75 b A 87,25 c A 87,5 bc B b90 a 88,37 89,18
Médias 91,12 87,25 88 88,75
ciclos secundários até, finalmente, a colonização das infrutescências e a infecção das sementes é um processo cíclico. Convém lembrar o princípio de que, na natureza, os patógenos procuram não se separar do hospedeiro, principal fonte nutricional ou substrato; uma vez separando-se, correm o risco de perecerem por desnutrição. Portanto, a maneira mais segura de garantirem o acesso ao substrato é manteremse associados às sementes. Sementes plantadas sem tratamento ou aquelas com tratamento que não leve à erradicação não cortam o ciclo de vida do parasita (Reis & Casa, 1998). A pesquisa em patologia de sementes deve concentrar-se em trabalhos que visam à quantificação da transmissão semente-plântula. Atualmente, são poucos os trabalhos e patossistemas que apresentam essa quantificação. Os fundamentos anteriormente descritos e discutidos permitem apresentar sugestões para padrões de lavoura, se o objetivo é combater os fitopatógenos e evitar os prejuízos que as doenças causam à agricultura.
PRÁTICAS RECOMENDADAS Rotação de culturas A rotação de culturas reduz o inóculo primário dos parasitas necrotróficos presentes nos restos culturais e, conseqüentemente, a intensidade das doenças nos órgãos aéreos. Esse é o caminho para a produção de sementes sadi-
Tabela 2 - Efeito de veículo de cobertura e de doses do fungicida Iprodiona na incidência de Bipolaris sorokiniana em sementes de trigo Solventes Testemunha Monoetilenoglicol + Concentrado Propilenoglicol + Concentrado Polietilenoglicol + Concentrado Média
0 A 40 a A 7,75 c A6c A 19,25 b 18,25
Doses 100 ml p.c./100 kg B 6,75 a B 4,5 ab B 2,25 b B 5,75 a 4,81
Médias 23,37 6,12 4,12 12,5
Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e mesma letra maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e mesma letra maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
Tabela 3 - Efeito de veículo de cobertura e de doses do fungicida Iprodiona na incidência de Drechslera tritici-repentis em sementes de trigo
Tabela 4 - Efeito de veículo de cobertura e de doses do fungicida Iprodiona na incidência de Fusarium graminearum em sementes de trigo
Solventes Testemunha Monoetilenoglicol + Concentrado Propilenoglicol + Concentrado Polietilenoglicol + Concentrado Média
0 A 26,75 a A 4,5 c A4c A 9,75 b 11,25
Doses 100 ml p.c./100 kg B0a B 0,5 a B 0,5 b B0a 0,25
Médias 13,37 2,5 2,25 4,87
Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e mesma letra maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
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Solventes Testemunha Monoetilenoglicol + Concentrado Propilenoglicol + Concentrado Polietilenoglicol + Concentrado Média
0 3,75 0 0 0 0,93 A
Doses 100 ml p.c./100 kg 0 0 0 0 0B
Médias 1,87 a 0b 0b 0b
Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e mesma letra maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
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Tabela 5 - Efeito de veículos de cobertura na germinação de sementes de trigo Tratamentos Testemunha Propilenoglicol Polímero LABORSAN + água Polímero LABORSAN + Propilenoglicol
Médias 92,5 a 68,75 b 92 a 64,75 c
Tabela 6 - Efeito de veículo de cobertura na incidência de Bipolaris sorokiniana em sementes de trigo Solvente Testemunha Propilenoglicol Polímero LABORSAN + água Polímero LABORSAN + Propilenoglicol
Médias 43,5 b 45,75 a 26 c 21 d
Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e mesma letra maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e mesma letra maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
as. Portanto, as lavouras produtoras de sementes devem apresentar como padrão a observância da rotação de culturas (Reis et al, 2004). Qual o percentual de lavouras produtoras de semente de trigo que são conduzidas sob rotação? O manejo da lavoura visa ao controle ou ao aumento da intensidade das doenças? Em conseqüência, deduz-se que as lavouras produtoras de sementes, por exemplo, de trigo, em rotação com aveia; as de aveia, com trigo ou cevada. Nesses casos, nenhuma espécie vegetal seria cultivada sobre seus próprios restos culturais. Contudo, o manejo correto (eliminação logo após a emergência) de plantas voluntárias é sempre necessário para que não seja anulado o efeito da rotação de culturas. Todos os parasitas necrotróficos que apresentam baixa habilidade de competição saprofítica, esporos relativamente grandes (> 50 mm), ou, se pequenos, veiculados e transportados em gotículas d’água, gama restrita de hospedeiros secundários e que não produzam estruturas de resistência (clamidosporos,
esclerócios e oosporos) são potencialmente controláveis pela rotação de culturas (Reis & Forcelini, 1995).
Cleber Bordignon
Tratamento eficiente da semente plantada Considera-se eficiente o tratamento de sementes com fungicidas e doses que levem à erradicação do(s) patógeno(s) alvo do controle. A eficiência depende da incidência na semente, ou seja, quanto mais elevada for a incidência, menor será a eficiência, e quanto menor for a incidência, maior será a possibilidade de eliminação do inóculo. Em trigo, tem sido demonstrado que os fungicidas registrados e recomendados (Indicações, 2005) para o controle de patógenos veiculados pelas sementes alcançam a erradicação somente nas amostras com incidência de B. sorokiniana inferior a 30% (Reis & Forcelini, 1992). O uso de semente livre de patógenos (submetidas a controle eficiente) em área de rotação de culturas determina, dependendo do clima, uma taxa de progresso da epidemia de manchas foliares que não alcança o limiar de ação (LA).
Um baixo índice de doenças foliares no ciclo da cultura indica também baixo índice de futuras sementes infectadas
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Manchas foliares quando atingem a folha bandeira e as infrutescências podem infectar as sementes
Monitoramento de manchas foliares Partindo-se do princípio de que quanto menor for a intensidade da epidemia nos órgãos aéreos menor será a incidência na semente colhida, deve-se, nas lavouras produtoras de sementes, com rotação de culturas e semente plantada tratada com fungicida e dose eficiente, proceder-se ao monitoramento do progresso das manchas foliares. Caso a epidemia alcance o LA, deve ser feita a aplicação do fungicida recomendado. Os LAs para o controle de manchas foliares do trigo e da cevada são preconizados nas recomendações técnicas (Recomendações, 1998 a, b). Sugere-se, para as lavouras produtoras de semente, que os LAs sejam inferiores aos recomendados para lavouras produtoras de grãos. Nesse caso, espera-se que as epidemias não alcancem as folhas-bandeiras e as infrutescências da cevada e do trigo. Nos casos em que as manchas foliares incidam sobre as folhas-bandeiras e as infrutescências, poderá ocorrer a infecção das sementes. Por isso, pelo manejo integrado, deve-se procurar manter as epidemias sempre abaixo dos LAs. Manejo de plantas voluntárias Os parasitas necrotróficos podem sobreviver também infectando plantas voluntárias no verão, após a colheita dos cereais de inverno. Se isso ocorrer, pode ser anulado o efeito da rotação de culturas para reduzir o inóculo nos restos culturais. Recomenda-se o manejo das plantas voluntárias logo após sua emergência pelo uso correto de herbicidas. Dessa maneira, procura-se evitar a pro-
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Fotos Dirceu Gassen
dução alternativa de inóculo. Fungicidas utilizados no tratamento de sementes Na seqüência resumem-se alguns resultados conduzidos na Universidade de Passo Fundo, visando à erradicação de fungos necrotróficos causadores de manchas foliares em trigo. Fato interessante pode ser observado na Tabela 2, onde mostram-se os efeitos de veículos de cobertura na incidência de B. sorokiniana em sementes de trigo. Demonstrou-se que o tratamento com propilenoglicol mais o polímero Laborsan reduziu em 85% a incidência do patógeno na semente, sem a mistura com o fungicida. Com esses dados, conduziu-se paralelamente um trabalho que buscou evidenciar qual o produto, o álcool ou o polímero Laborsan, ou a mistura destes, que proporcionou controle do fungo veiculado pela semente. Tais resultados podem ser visualizados nas Tabelas 5 e 6. Tratamentos T1 – Testemunha T2 – Propilenoglicol T3 – Polímero Laborsan + Água T4 – Polímero Laborsan + propilenoglicol
Sementes tratadas, por estarem protegidas contra insetos e doenças, germinam com maior vigor e tornam-se plantas mais sadias
Doses: Álcool (Propilenoglicol): 2 l/100 kg sementes; Polímero Laborsan + Água: 2 l/100 kg sementes (com 10% do volume do polímero); Polímero Laborsan + Álcool (Propilenoglicol): 2 l/100 kg sementes (com
10% do volume do polímero). Pode-se observar na Tabela 5 que, quando as sementes foram tratadas com o álcool (propilenoglicol) ou com o álcool mais o polímero Laborsan, houve
Tabela 7 - Efeito de diferentes fungicidas sobre o controle “in vitro” de Bipolaris sorokiniana, em sementes de trigo com diferentes incidências uma redução na germinação das sementes, o que não foi observado quando as sementes foram tratadas com o polímero Laborsan mais água. Com esses mesmos tratamentos, foi avaliado nas sementes o potencial de cada produto e de sua mistura no controle de B. sorokiniana, obtendo-se controle quando estas foram tratadas com o polímero mais água, apenas superado pela mistura do álcool mais o polímero, mas que apresentou o efeito de fitotoxidez às sementes. Portanto, evidenciou-se o potencial de controle de fungos vinculados via semente pelo polímero Laborsan utilizado. Novos trabalhos estão sendo conduzidos de maneira a obter-se um veículo que não cause fitotoxidez à semente e, ao mesmo tempo, proporcione uma cobertura uniforme, distribuindo o produto sobre toda a sua superfície. Além disso, será desenvolvido um trabalho, de modo a comprovar a eficiência do uso de solventes no tratamento de sementes ao invés de água. Nestes trabalhos serão utilizadas sementes tratadas com o concentrado, pelo fato de este ter demonstrado eficiência no controle de patógenos vinculados via semente. Sendo assim, com os resultados, comprova-se a eficiência do polímero Laborsan, que tem potencial de controle de fungos veiculados pela semente de trigo.
CONCLUSÕES
Cultivar
Os fitopatologistas precisam reconhecer a importância do inóculo associado às sementes na continuidade do ciclo vital dos fitopatógenos e, conseqüentemente, a importância da patologia de sementes. Trabalhos que relatam a “microflora associada às sementes” não apre-
Fungicida Iprodiona Iprodiona Iprodiona Iprodiona Iprodiona + Tiram Guazatina Guazatina Guazatina Guazatina Flutriafol Flutriafol Flutriafol Difenoconazole Difenoconazole Difenoconazole Difenoconazole Triticonazole Triticonazole Triticonazole Triticonazole + iprodiona Triadimenol Triadimenol Triadimenol Triadimenol Carboxina + tiram Carboxina + tiram Carboxina + tiram Carboxina + tiram Tiram Tiram Tiram
Dose (mL ou g p.c./ 100 kg de sementes) 100 100 100 100 100 + 200 300 300 300 300 300 300 300 200 200 200 200 225 225 225 225 + 100 270 270 270 270 300 300 300 300 200 200 200
Dose (g i.a./ 100 kg de sementes) 50 50 50 50 50 + 140 75 75 75 75 7,5 7,5 7,5 30 30 30 30 45 45 45 45 + 50 40 40 40 40 60 + 60 60 + 60 60 + 60 60 + 60 140 140 140
30
Incidência (Sementes Tratadas) 8,25 9 8,75 15,25 6,50 7 7,25 4,75 7 15,75 12 8,25 25 25 36,5 25 26,75 23,75 26,75 13 10 27,25 16,5 10 10 2,75 13 11,5 18,75 18 18,75
Controle (%) 79,87 80,32 84,01 62,80 84,14 82,92 84,15 91,32 82,92 61,58 73,77 79,87 39,02 45,35 33,33 39,02 34,75 48,08 34,75 68,29 75,60 40,43 69,86 75,60 75,60 93,29 71,58 78,99 54,26 60,65 54,26
p.c. = produto comercial; i.a. = ingrediente ativo; Médias de 5 experimentos
Tabela 7 - Efeito de diferentes fungicidas sobre o controle “in vitro” de Bipolaris sorokiniana, em sementes de trigo com diferentes incidências Fungicida Iprodiona Guazatina Flutriafol Triadimenol Triadimenol Carboxina + tiram
Dose (mL ou g p.c./ 100 kg de sementes) 100 300 300 270 270 300
Dose (g i.a./ 100 kg de sementes) 50 75 7,5 40 40 60 + 60
p.c. = produto comercial; i.a. = ingrediente ativo; Médias de 2 experimentos
Erlei aborda a importância do tratamento de sementes e a relação com rotação de culturas para a redução da incidência de doenças no trigo
Incidência testemunha (%) 41 45,75 54,75 41 41 41 45,75 54,75 41 41 45,75 41 41 45,75 54,75 41 41 45,75 41 41 41 45,75 54,75 41 41 41 45,75 54,75 41 45,75 41
sentam valor prático ao controle de doenças. Pergunta-se: Qual a relação dos fungos associados a sementes com o desenvolvimento de epidemias nos órgãos aéreos e com os danos decorrentes? Esse questionamento deve ser feito pelos pesquisadores freqüentemente. Há uma relação entre a presença dos patógenos em sementes e o início e o desenvolvimento de epidemias nos órgãos áereos da cultura. Coincidentemente, os patógenos que causam manchas foliares, cancros e antracnoses são sempre os mesmos associados a sementes. Outra coincidên-
Incidência testemunha (%) 16,25 36,5 16,25 16,25 36,5 16,25
Incidência (Sementes Tratadas) 4,25 9,25 6,25 6,75 26 5,5
Controle (%) 73,84 74,65 61,53 58,46 28,76 66,15
cia é a de que onde se cultiva uma espécie vegetal sempre as manchas foliares estão presentes. Seria o vento o responsável por trazer o inóculo a quilômetros de distância, ou seria o caso de transmissão eficiente da semente para as plântulas? Ou de tratamento de sementes C ineficiente? Erlei Melo Reis e Fábio Junior Benin, UPF Ricardo Trezzi Casa, UESC Saulo R.Fantini, Laborsan
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Trigo
Arno Dallmeyer
Sem sustos até o fim DESSECAÇÃO
P
oucos herbicidas são disponíveis e registrados para o manejo (dessecação) de plantas daninhas antecedendo a semeadura do trigo. Os herbicidas que podem ser utilizados são o 2,4-D, o metsulfuron, o glyphosate e o paraquat. Enquanto os dois primeiros controlam essencialmente plantas dicotiledôneas, o glyphosate e o paraquat são herbicidas totais, controlando tanto dicotiledôneas quanto gramíneas. Deve-se observar, contudo, que é necessário que as plantas daninhas tenham área foliar suficiente para absorver o herbicida. Uma situação em que é comum haver falhas no controle ocorre após a colheita da cultura de verão, quando há o corte da parte aérea das plantas daninhas. Nesses casos, é necessário aguardar o desenvolvimento de novas folhas antes da aplicação dos dessecantes.
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Empregar o manejo correto e identificar o momento certo de controlar plantas daninhas, como a buva e o azevém na cultura do trigo, garantem ao produtor um bom rendimento final de grãos, além de não incentivar a resistência que já mostram a determinados herbicidas
D
evido à ampla diversidade de regiões brasileiras em que o trigo é cultivado, várias espécies daninhas causam perdas econômicas na produtividade da cultura. Em grande parte das áreas da região Sul, as gramíneas Lolium multiflorum (azevém) e Avena strigosa (aveia-preta) são as que causam os maiores prejuízos ao trigo. Na classe das dicotiledôneas, destacam-se Raphanus raphanistrum e R. sativus (nabo ou nabiça), Polygonum convolvulus (cipó-de-veado ou erva-de-bicho), Rumex spp. (língua-de-vaca), Echium plantagineum (flor-roxa), Bowlesia incana (erva salsa), Sonchus oleraceus (serralha), Silene gallica (silene), Spergula arvensis (gorga ou espérgula), Stellaria media (esparguta) e Conyza bonariensis (buva). O azevém teve sua ocorrência e densidade aumentadas nos últimos anos, devido ao seu uso para cobertura do solo, na rotação de
culturas, que evita o cultivo seqüencial de trigo na mesma área, e também à dificuldade de controle nos cultivos de trigo, cevada, triticale e outros cereais. A intensidade do efeito negativo da infestação de plantas daninhas está associada à espécie de planta daninha, à época de emergência das plantas daninhas em relação à cultura e à densidade de plantas daninhas. De maneira geral, espécies que possuem características de similaridade com a cultura, mesma família botânica ou gênero, ou mesmas exigências nutricionais ou de luz, reduzem mais intensamente o rendimento da cultura. De forma similar, aquelas plantas daninhas que emergem antes ou junto com a cultura causam maior prejuízo. A época de início do controle de plantas daninhas tem grande influência na intensidade de redução no rendimento de grãos da cultura. O período em que os efeitos das plan-
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Dirceu Gassen
tas daninhas efetivamente causam prejuízos à cultura e durante o qual a competição não pode existir é chamado de “período crítico de competição”. Esse período crítico, para a cultura do trigo, é variável, ocorrendo na maioria das situações dos 14 aos 47 dias após a emergência. As variações no período crítico de competição são devidas ao genótipo; à época de semeadura; à época de emergência; à espécie de plantas daninhas e à sua densidade. No caso de uma cultivar de trigo com ciclo de 140 dias, o período crítico se estende aproximadamente até 47 dias após sua emergência. Porém, é importante ressaltar que o momento de controle deve levar em consideração não só o período crítico de competição, mas também o estádio de desenvolvimento em que a planta daninha é mais suscetível ao herbicida. O manejo e controle de plantas daninhas na cultura do trigo constituem-se, principalmente, nos métodos preventivos, culturais e químicos, devendo ser utilizados, preferencialmente, de maneira integrada. As estratégias técnicas que compõem os métodos preventivos são baseadas em dois pressupostos: o primeiro consiste em evitar a entrada de plantas daninhas na área, enquanto o segundo se baseia em evitar a sua disseminação. Os métodos preventivos são componentes importantes nos programas de manejo de plantas daninhas. Embora requeiram atenção por parte do produtor, constituem-se em medidas eficientes e de baixo custo.
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Duas estratégias técnicas são consideradas como métodos preventivos: evitar a entrada das daninhas e segundo evitar a disseminação destas
Os métodos culturais de manejo de plantas daninhas se baseiam em técnicas que visam aproveitar as interações entre as ervas e a cultura, de maneira que as condições sejam favoráveis à cultura e desfavoráveis às plantas daninhas. As características de competitividade do trigo e a rotação de culturas são duas importantes práticas culturais. A competição cultural consiste em dar condições para que a cultura se estabeleça bem, com desenvolvimento rápido e vigoroso, assim competindo eficientemente por água, luz
e nutrientes. Vários fatores contribuem para isso, entre os quais a semeadura sem a presença de plantas daninhas, a adubação correta, o uso de sementes de boa qualidade e de cultivares bem adaptadas, além da densidade, da época e da profundidade de semeadura dentro dos níveis ótimos à cultivar utilizada. A redução da população de plantas daninhas pode ser obtida através da variação da época de implantação da cultura, atrasandose a semeadura. Assim, uma elevada proporção de plantas daninhas germina, sendo manejada antes da semeadura do trigo (com dessecantes ou com manejo físico), reduzindo a infestação durante o ciclo da cultura. Esse método é efetivo quando o clima for adequado para a germinação e a emergência e as espécies daninhas forem ruderais, com épocas relativamente bem definidas de germinação (no outono-inverno, por exemplo). A infestação de plantas daninhas pode ser mais facilmente manejada, ou mesmo reduzida, quando é adotado um sistema de rotação de culturas na lavoura. Isso diversifica o ambiente agrícola e favorece o manejo de plantas daninhas. Com a rotação de culturas, ocorrem espécies de diferentes ciclos, nas quais podem ser utilizados vários tipos de manejo, como épocas de semeadura, práticas culturais e até diferentes tipos de herbicidas. Em áreas com alta infestação e banco Tabela 1 – Herbicidas indicados para o controle seletivo de azevém e buva, em trigo Nome comum
Produto comercial Época de (g ou l/ha) aplicação AZEVÉM Diclofop 1,5 a 2,0 2 a 4 folhas do azevém Iodosulfuron 100 Início do perfilhamento do azevém BUVA Metsulfuron 4,0 2 a 6 folhas da planta daninha 2,4-D amina 1,0 a 1,5 2 a 6 folhas da planta daninha
Tabela 2- Toxicidade provocada por doses crescentes de glyphosate e pelos herbicidas glufosinate, haloxyfop-r, diclofop e paraquat, aplicados sobre um biótipo de azevém (Lolium multiflorum L.) resistente e um sensível PRODUTO
Testemunha Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glufosinate Haloxyfop-R Diclofop Paraquat
DOSE g/ha
0,0 360* 720* 1440* 2880* 5760* 400 60 284 400
TOXICIDADE (%) 7 DAT1 0 b2 90 a 95 a 95 a 95 a 95 a 100 a 95 a 95 a 100 a
Biótipo sensível 14 DAT 0b 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a
25 DAT 0b 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a
7 DAT 0e 0e 6 de 11 d 25 c 38 b 95 a 90 a 90 a 100 a
Biótipo resistente 14 DAT 0d 0d 14 c 20 c 40 b 48 b 100 a 100 a 100 a 100 a
25 DAT 0e 0e 12 d 15 d 30 c 45 b 100 a 100 a 100 a 100 a
*Dose g e.a./ha. 1 Dias após o tratamento. 2 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. Fonte: Roman et al. 2004.
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Dirceu Gassen
de sementes de azevém, que apresenta características morfológicas e biológicas semelhantes à do trigo, a implantação de dicotiledôneas como a ervilhaca (Vicia sativa) ou o nabo forrageiro (Raphanus sativus) possibilita a utilização de herbicidas seletivos pré ou
A buva é uma das invasoras que mais competem com o trigo
pós-emergentes para o controle das espécies gramíneas. A rotação de culturas pode contribuir na
redução da infestação de azevém e buva em trigo de duas formas principais: as culturas de cobertura geralmente ocupam de forma mais uniforme o solo do que o trigo e não permitem o desenvolvimento vigoroso das plantas daninhas, reduzindo o vigor e a produção de sementes destas; além disso, quando as plantas de cobertura de inverno são dessecadas ou manejadas para a implantação de cultivos de verão, pode-se realizar essa operação antes da formação de sementes da buva ou do azevém, diminuindo o potencial de infestação dessas plantas daninhas. Sementes de azevém têm vida relativamente curta no solo (três a quatro anos), de modo que, ao se evitar a formação de sementes por esse período, reduz-se significativamente a população dessa espécie. Medidas de manejo que favorecem o desenvolvimento sadio e bastante vigoroso do trigo farão com que as infestações de plantas daninhas sejam reduzidas. Essas reduções ocorrem na própria cultura e nas próximas a serem implantadas. Por exemplo, se houver primaveras chuvosas e quentes e as técnicas de manejo forem inadequadas, o trigo poderá produzir quantidade relativamente pequena de biomassa, e algumas espécies de plantas daninhas de verão poderão germinar precocemente (setembro,
por exemplo), estando bem desenvolvidas por ocasião da implantação das culturas de verão. Isso demandará doses mais elevadas de herbicidas para controle. Quando o clima for favorável e o manejo for apropriado, o trigo produzirá quantidade maior de biomassa, e as plantas daninhas terão sua germinação atrasada, ocorrendo redução na quantidade necessária de herbicidas para o seu controle. Os herbicidas constituem-se no método mais utilizado para o controle de plantas daninhas em cereais. As estratégias de controle podem ser adotadas mais rapidamente e eficientemente quando se usam herbicidas, em comparação ao uso de somente medidas mecânicas. A eficiência dos herbicidas tem levado, muitas vezes, a uma grande dependência desses compostos químicos, com a exclusão de outros métodos. O controle químico deve ser visto como uma ferramenta adicional e não como o único método para diminuir os prejuízos com plantas daninhas. Os herbicidas devem ser utilizados com critérios rígidos, considerando custos, eficiência e segurança ao ambiente e ao homem, devendo ser considerados como parte de um programa integrado de controle de plantas daninhas.
Tabela 3 - Avaliação de toxicidade aos 15, 30 e 45 dias após o tratamento (DAT), provocada por diferentes doses de glyphosate e herbicidas com diferentes mecanismos de ação, aplicados sobre um biótipo de azevém (Lolium multiflorum L.) resistente e um sensível em casa-de-vegetação PRODUTO
Testemunha Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Glyphosate Paraquat Glufosinato Haloxyfop Clethodim Sethoxydim Diclofop Fenoxaprop Fluazifop Paraquat + diuron Atrazine + simazine Trifluralin Metolachlor
TOXICIDADE (%)
DOSE g/ha
--720 e.a. 1440 e.a. 2880 e.a. 720 + 720 e.a. 720 + 1440 e.a. 600 i.a. 400 i.a. 120 i.a. 120 i.a. 184 i.a. 426 i.a. 110 i.a. 250 i.a. 300 + 600 i.a. 1500+1500 i.a. 3000 i.a. 1920 i.a.
15 DAT 0 c* 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 15 b 100 a 100 a
Sensível 30 DAT 0b 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a
45 DAT 0b 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a
15 DAT 0e 5d 8c 20 b 8c 10 c 100 a 91 a 90 a 98 a 95 a 92 a 90 a 95 a 100 a 10 c 100 a 100 a
Resistente 30 DAT 0d 6 cd 10 c 30 b 15 c 35 b 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a
45 DAT 0d 10 c 12 c 30 b 15 c 35 b 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a
*Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Duncan ao nível de 5 % de probabilidade. Fonte: Roman et al. 2004.
CONTROLE DE AZEVÉM E BUVA Alguns herbicidas foram desenvolvidos para o controle de plantas daninhas monocotiledôneas na cultura do trigo (Tabela 1). Entre os herbicidas atualmente recomendados para essa finalidade, destaca-se o diclo-
fop-metil (Iloxan CE). Esse herbicida é usado em pós-emergência, e sua eficácia é dependente do estádio de desenvolvimento da planta daninha, sendo os melhores resultados obtidos quando aplicado em plantas jovens, com duas a quatro folhas.
Vilso Júnior Santi
Outra alternativa de controle de azevém é o herbicida iodosulfuron-methyl (Hussar), recentemente registrado para o uso seletivo na cultura do trigo, em pós-emergência, na dose de 100 g/ha do produto comercial, para o controle de azevém. Iodosulfuron é um herbicida que pertence ao grupo das sulfoniluréias, cujo mecanismo de ação é a inibição não competitiva da enzima acetolactato sintase (ALS) ou acetohydroxi sintase (AHAS) na rota de síntese dos aminoácidos ramificados valina, leucina e isoleucina. Essa inibição interrompe a síntese protéica que, por sua vez, interfere no balanço hormonal, na síntese de DNA e no crescimento celular. O controle de buva pode ser obtido com o uso de 2,4-D e chlorimuron (Tabela 1). Herbicidas à base de 2,4-D são compostos químicos, reguladores do crescimento, usados para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas anuais e perenes. Sistêmicos, são aplicados na folhagem e translocados às raízes, pelo simplasto e apoplasto.
O trigo é mais tolerante a esses produtos quando se encontra entre o estádio do afilhamento e o início da elongação do colmo.
AZEVÉM E BUVA RESISTENTES AO GLYPHOSATE
O
controle do azevém e buva no sistema plantio direto para formar a palhada, é realizado geralmente com o herbicida glyphosate. A utilização do glyphosate para controle de azevém e buva em áreas com culturas anuais é prática que vem sendo utilizada há mais de 20 anos. O número de aplicações em uma safra é variável e depende da cultura, das espécies daninhas presentes e das condições de clima. No caso de buva, nas culturas da soja e do milho, o controle é realizado, principalmente, com o uso de glyphosate, na dessecação pré-semeadura da soja e do milho. Alguns produtores, na tentativa de superar a falta de controle, aumentaram mais de três vezes a dose utilizada sem obter sucesso. Esses fatos indicam que a buva adquiriu resistência aos herbicidas à base de glyphosate (Bianchi et al., 2006), como já foi detectada em outros países. No Brasil, Roman et al. (2004) e Vargas et al. (2005) identificaram e caracterizaram biótipos de azevém resistentes ao glyphosate em pomares e culturas anuais. As indicações relacionadas à prevenção da resistência não foram consideradas de grande importância, já que o glyphosate, devido às suas características, é considerado um produto com bai-
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xo risco para seleção de biótipos resistentes. O controle dessas populações de buva resistentes ao glyphosate pode ser obtida com a aplicação de 2,4-D em présemeadura do trigo, na operação de manejo, ou mesmo de metsulfuron. O controle dos biótipos de azevém resistentes ao glyphosate evidencia-se como um grande problema, devido ao reduzido número de produtos registrados para fruticultura com potencial de uso nesse caso. Para as culturas anuais existe um maior número de moléculas disponíveis e igualmente eficientes sobre o azevém, contudo, o custo do tratamento com esses produtos pode ser até quatro vezes superior ao do tratamento com glyphosate. Vale salientar que, mesmo utilizando-se um graminicida, a necessidade de utilização de glyphosate para controlar as espécies dicotiledôneas (folhas largas) permanece. Assim, a resistência de plantas daninhas faz com que produtores necessitem acrescentar mais um herbicida na lista de aplicações ou a alterar o manejo da vegetação nessas áreas, utilizando métodos de manejo e controle muitas vezes menos eficientes e com maior custo de aplicação. Esses fatos ilustram o custo da resistência para o produtor.
A Buva e o Azevém podem ser controladas ou ter sua população reduzida com o emprego da rotação de culturas
As dificuldades de identificação do momento de maior tolerância do trigo em aplicações de herbicidas hormonais têm provocado fitotoxicidade à cultura. Aplicações muito precoces podem causar deformações morfológicas (espigas defeituosas, folhas enroladas, estatura reduzida das plantas) não necessariamente associadas com redução no rendimento de grãos. A aplicação precoce de 2,4-D pode reduzir o rendimento de grãos pela interferência nos primórdios de espiguetas, localizadas no ápice de crescimento (geralmente denominado “ponto de crescimento”). Um dos sintomas mais típicos de fitotoxicidade é a retenção das espigas no colmo após a elongação, as quais permanecem tortas, com o ápice preso ao colmo pelas aristas. As aplicações de herbicidas hormonais em fases tardias (após o início do alongamento) causam redução no rendimento de grãos devido à interferência na esporogênese.
Rizzardi aborda a interferência de plantas daninhas no trigo e mostra o manejo que deve ser adotado para contolar principalmente a Buva e o Azevém
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O herbicida 2,4-D foi, por Tabela 4 - Características biológicas de um biótipo de azevém sensímuito tempo, comercializado vel e de um resistente ao glyphosate nas formulações salinas de éster Biótipo sensível Biótipo resistente e de amina. Atualmente as for- Característica biológica Produção de matéria seca (mg/planta) 7,1 a* 4,2 b mulações éster não estão sendo 7,2 a 4,4 b mais comercializadas no Brasil, Número de perfilhos 1382 a 633 b devido às restrições ambientais Número de sementes produzidas 192 a 144 b do herbicida, principalmente Número de sementes por inflorescência Dias até a floração 121 b 140 a pela sua alta volatilidade. A for173 b 198 a mulação amina é menos volátil, Ciclo (dias) mais adsorvível pelo solo e mais * Médias seguidas de mesma letra, na linha, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. solúvel na água do que a formulação éster. Essa característica pode lhe con- lhas largas por até 30 dias após a aplicação. A ferir maior persistência no ambiente, poden- exemplo de outros herbicidas pós-emergendo causar até fitotoxicidade à cultura que será tes, sua aplicação é recomendada nos estádios iniciais de crescimento da cultura e das implantada logo após a sua aplicação. O herbicida metsulfuron é eficaz no con- plantas daninhas (no máximo de seis folhas), trole de várias espécies de plantas daninhas evitando-se, assim, a matocompetição e o dicotiledôneas, como buva. Para o controle efeito de cobertura da folhagem, quando o dessa espécie, são indicadas doses de 4,2 gra- jato de aspersão não atinge as plantas menomas de ingrediente ativo por hectare. É reco- res devido a estas serem cobertas pelas planC mendada a adição de um surfactante a 0,25% tas daninhas mais desenvolvidas. v/v, ou de óleo mineral, à calda herbicida. Embora seja degradado no solo tanto por mi- Mauro Antônio Rizzardi, croorganismos como por processos não bio- Universidade de Passo Fundo lógicos, resíduos desse produto podem inju- Leandro Vargas, riar culturas implantadas após a sua aplica- Embrapa trigo ção. Metsulfuron é persistente no solo e con- Mário Bianchi, trola novos fluxos de plantas daninhas de fo- Fundacep Fecotrigo
PREVENÇÃO
1
) Uso de sementes livres de sementes de plantas daninhas. A aquisição de sementes de fontes não confiáveis pode causar sérios problemas, como a introdução de espécies exóticas; 2) Limpeza de máquinas e equipamentos antes de transferi-los de áreas infestadas para áreas limpas. Essa é uma das maneiras mais fáceis de se reduzir os problemas com as plantas daninhas; 3) Manutenção das áreas próximas da lavoura livres de plantas daninhas, tais como em locais próximos de cercas e bordas de lavouras; 4) Não permitir que animais movam-se diretamente de áreas infestadas para áreas livres de plantas daninhas; 5) Evitar que as plantas daninhas produzam sementes ou outros órgãos de reprodução.
Cana-de-açúcar Com dois picos populacionais de adultos, o maior deles entre abril e julho, a broca-gigante perfura o colmo internamente, leva as plantas à morte, ou as torna debilitadas, ocasionando a baixa produtividade
D
esde que foi encontrada ocasionando danos em culturas de importância econômica, a broca-gigante, Castnia licus Drury, 1770, lepidóptero da família Castniidae, tem sido objeto de inúmeros estudos em alguns países do continente americano, notadamente nas Américas Central e do Sul. No Brasil a incidência de C. licus, vez por outra, aumenta consideravelmente, preocupando os produtores envolvidos com o controle dessa praga em canaviais das regiões Norte e Nordeste. Sua distribuição inclui os estados do Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Sergipe (Mendonça, 1996). Em condições de campo, em região de Cerrado, no município de São Raimundo das Mangabeiras, estado do Maranhão, a broca-gigante foi detectada pela primeira vez em 1996. Nessa região, C. licus apresenta dois ciclos completos durante o ano. Isso é
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comprovado pela ocorrência de dois picos populacionais de adultos, após cinco anos de levantamentos: um maior nos meses de abril-julho (inverno) e outro menor nos meses de outubro-dezembro (verão).
Levantamento populacional, médio, de lagartas (A), crisálidas (B) e adultos (C) da broca-gigante, Castnia licus, na Agro Serra (MA), durante cinco safras (2000/01 - 2005/ 06) pode ser observado nos gráficos ao lado.
Detalhe externo dos danos provocados pela lagarta de Castnia licus em colmos da canade-açúcar para a saída do adulto
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Fotos José Francisco Garcia
Adultos obtidos em laboratório não acasalaram, e as fêmeas produziram ovos inférteis. Quando capturados no campo, copulando, e levados para laboratório, as fêmeas produziram ovos férteis.
PREJUÍZOS As lagartas perfuram internamente o colmo, causando a morte de plantas, ou considerável perda de peso, e facilitam a penetração de fungos da podridão vermelha, que invertem a sacarose, diminuindo a produção de açúcar. As lagartas, com a mínima perturbação, procuram se proteger, enterrando profundamente nos túneis abertos anteriormente no rizoma ou entre as raízes, o que contribui para protegê-las. Logo após o corte da cana, a lagarta tem o hábito de vedar, com restos de alimento (fibras), o orifício deixado aberto pela galeria interna onde vivia visando proteger-se. A lagarta passa então a viver escondida durante o dia na parte mais profunda e fresca da touceira, alimentando-se do rizoma, de restolhos e de raízes, debilitando e reduzindo o poder germinativo da touceira. Na cana pequena, recém-brotada, especialmente de
A fase de pupa da broca gigante tem uma duração de até 45 dias e ocorre num casulo confeccionado a partir de fibras de cana
População média de lagartas da broca-gigante, na Agro Serra (MA), nas 5 safras (2000/01 - 2005/06)
População média de Crisálidas da broca-gigante, na Agro Serra (MA), nas 5 safras (2000/01 - 2005/06)
População média de adultos da broca-gigante, na Agro Serra (MA), nas 5 safras (2000/01 - 2005/06)
Porcentagem média de infestação da broca-gigante na Agro Serra (MA), durante oito safras (1998/99 - 2005/06)
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Divulgação
Janice Ebel
José Francisco Garcia
Métodos de controle químicos e biológicos não tem mostrado efeitos satisfatórios. Somente a catação manual tem trazido bons resultados, dizem os autores
soqueiras, as lagartas, em busca de melhor alimento, saem da touceira e atacam os rebentos, penetrando por alguns centímetros nos tecidos destes, destruindo seu poro vegetativo, causando a secagem e, às vezes, o apodrecimento da gema apical. Devido ao pobre poder nutritivo dos tecidos atacados, as lagartas passam sucessiva e rapidamente a outros rebentos, causando, com a morte destes, o aparecimento do “coração morto”, isto é, a morte da gema apical. O “coração morto” apresenta, na sua base, galeria de cerca de 1 cm de diâmetro que, ao ser cor-
tada, aparece no geral limpa e vazia.
MONITORAMENTO E MANEJO Devido à ausência de informações bioecológicas da praga e de uma forma segura de amostragem, não existe ainda nível de controle da praga. No momento está sendo desenvolvido pelo pesquisador Luciano Pacelli Medeiros Macedo, sob a orientação do professor José Roberto Postali Parra (Esalq/USP), um tra-
Detalhe do ovo de Castnia licus que tem período de incubação de sete a 14 dias
balho visando conhecer a bioecologia e o manejo adequado da broca-gigante em condições de campo. O trabalho está sendo desenvolvido na Agro Serra (MA), e os resultados são animadores e promissores, principalmente no tocante à criação do inseto em laboratório, cujo objetivo é conhecer o seu comportamento e a sua biologia, garantindo, com isso, o correto manejo da praga. Nesse sentido, algumas dietas estão sendo testadas, conseguindo-se obter nestas todos os estágios de desenvolvimento da broca (ovo, lagarta, pupa e adulto).
DESCRIÇÃO E BIOLOGIA
MÉTODOS DE CONTROLE Para o controle dessa praga já foram tentados os métodos químico, mecânico, mecânico-químico, biológico (fungo), mecânico-biológico e de resistência de plantas, sem resultados satisfatórios. O controle químico do inseto, até o momento, não tem se mostrado eficiente, nas dosagens recomendadas pelos fabricantes. Nos últimos anos, alguns inseticidas químicos e/ou biológicos, eficientes em testes de laboratório, não apresentaram desempenho satisfatório em campo. Apenas a catação manual de lagartas e de pupas e a captura de adultos com rede entomológica possibilitam bons resultados em algumas usinas nordestinas, porém com baixa rentabilidade. A diminuição na porcentagem de infestação da praga foi evidenciada a partir da safra 1999/2000. Eventualmente, ocorrem infestações mais elevadas, como na safra 2003/04, em função de mãode-obra insuficiente durante a coleta das formas imaturas. Na natureza, aparentemente não existem muitos agentes de controle biológico, embora na Agro Serra tenham sido encontradas inúmeras pupas do parasitóide
E
mbora existam trabalhos que tratem da biologia de C. licus, pode-se dizer que os dados ainda são incipientes. No entanto, são referidos alguns dados: Ovos: inicialmente apresentam coloração rosada e, posteriormente, tornam-se verde-azeitona e alaranjados. Possuem 4 mm de comprimento com cinco arestas longitudinais e apresentam um período de incubação que varia de 7 a 14 dias. Lagartas: impressionam pelo seu tamanho, com até 80 mm de comprimento e 12 mm de largura no protórax, são de coloração branca com algumas pintas pardas no pronoto; a Sarcodexia spp. (Diptera: Sarcophagidae) em uma única lagarta de C. licus em decomposição; parasitóides que já tinham sido referidos por Mendonça (1972) em Alagoas. C
largura é decrescente da parte torácica para a anal. O período larval é bastante variável, chegando a atingir até 10 meses, passando por cinco instares. Pupas: a transformação ocorre no interior de um casulo feito de fibras de cana, sendo que essa fase tem duração de 30 a 45 dias, quando emergem os adultos, que têm longevidade de 10 a 15 dias. Adultos: possuem cerca de 35 mm de comprimento e 90 mm de envergadura alar, e são de coloração escura ou quase preta, com manchas brancas na região apical e uma faixa transversal branca nas asas anteriores. Luciano Pacelli Medeiros Macedo Alessandro Oliveira de Arruda Agro Serra - MA José Francisco Garcia, Esalq - USP
Empresas
Três pragas, uma solução
A
Bayer CropScience acabou de lançar no Brasil o Oberon, um inseticida-acaricida com performance diferente que controla as pragas que mais comprometem a produtividade das lavouras no momento: a mosca-branca e os ácaros branco e rajado. O produto pertence a um novo grupo químico descoberto pela empresa, que permite ‘performance inteligente’ nas três fases do inseto e do ácaro (ovo, ninfas e adulta). O Oberon tem exclusivo mecanismo de ação, que inibe a biossíntese de lipídios e interfere na atividade hormonal tanto do ácaro como da mosca-branca. Essa ação causa deformação e infertilidade dos ovos no interior dos insetos e ácaros, o que impossibilita a oviposição e acarreta a morte das pragas. Por causa do seu ingrediente ativo, o produto atua, imediatamente após a aplicação, sobre o metabolismo do inseto ou do ácaro, independente da fase de desenvolvimento nas quais os mesmos se encontram. Outro diferencial do novo inseticida- é sua propriedade lipofílica, que garante sua adesão às camadas cerosas da planta e permite a rápida penetração do produto nas folhas, onde são formados pequenos depósitos do seu eficiente ingrediente ativo. Segundo a empresa, estão entre as características do Oberon a alta eficiência sobre ovos, ninfas e adultos da mosca-branca e ácaros branco e rajado; o melhor controle e menor transmissão de virose; baixo risco de lavagem por chuvas, o que prolonga o período de proteção; e boa seletividade aos inimigos naturais. “O compromisso da Bayer CropScience é contribuir para o desenvolvimento da agricultura brasileira, oferecendo soluções inovado-
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ras e com tecnologia de ponta a produtores de todo o Brasil, que buscam a alta produtividade e melhor qualidade do que é produzido, seja grãos, frutas ou fibra. O Oberon chega ao mercado como uma nova ferramenta para que o agricultor maneje de forma eficiente e eficaz as lavouras e obtenha resultados positivos no controle dessas pragas que podem comprometer em até 100% a produtividade da lavoura”, destaca o gerente do portfólio Inseticidas, Luis Henrique Feijó. O Oberon começa a ser comercializado a partir de abril em todo o Brasil e é recomendado para o controle, de forma eficaz, da mosca-branca e dos ácaros rajado e branco, nas culturas de tomate, feijão, algodão e melão.
MOSCA-BRANCA A mosca-branca é um inseto da ordem Hemiptera, com dois biotipos: Bemisia ta-
baci e Bemisia tabaci B. O inseto é minúsculo e ataca a parte de baixo das folhas, suga a seiva, deixando a planta debilitada. Além de enfraquecer a planta, a moscabranca pode transmitir vírus e injetar toxinas nos frutos produzidos. Por sua alta capacidade de reprodução e seu grande poder de destruição, a mosca-branca é considerada uma das principais pragas da atualidade na agricultura mundial. São hospedeiros preferenciais da mosca-branca: algodão, melão, feijão e tomate, e o inseto ataca mais de 700 espécies de plantas atualmente. Presente em praticamente todos os Estados brasileiros, em virtude do clima favorável (altas temperaturas e clima seco), o inseto é responsável por perdas superiores a 10 bilhões de reais para a agricultura, segundo dados da Embrapa.
ÁCAROS RAJADO E BRANCO
O
ácaro-rajado (Tetranychus ur ticae) é considerado um dos mais comprometedores de sua espécie, pelos inúmeros hospedeiros que possui e sérios prejuízos que causa em diferentes culturas. O principal efeito do ataque desse tipo de praga é a queda parcial ou total das folhas, o que resulta na diminuição da produtividade ou na depreciação dos frutos. Isso ocorre porque o ácaro rajado raspa a epiderme das folhas e alimenta-se do conteúdo celular das partes da planta atacada.
O ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) é uma praga polífaga e possui tamanho extremamente reduzido, o que dificulta sua visualização a olho nu. O ataque desse tipo de ácaro resulta num encurtamento dos ramos das plantas, como resultado da alimentação contínua das folhas novas. Em situações de elevada infestação, as folhas ficam coriáceas e quebradiças. O ataque é mais significativo em plantas novas, tanto em mudas como nos porta-enxertos, pois o ácaro-branco reduz o desenvolvimento e atrasa a formação dos frutos.
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Coluna Aenda
Defensivos Agrícolas
A via sacra de uma amostra
D
etendo o segundo mercado mundial de produtos fitossanitários, mais de quatro bilhões de dólares ao ano, o Brasil é hoje um país de grande interesse para quase todas as indústrias de pesticidas, que vislumbram possibilidades ainda maiores de expansão desse mercado. Entretanto, a burocracia para obter uma licença de comercialização é tamanha, que não é exagero afirmar ser mais fácil importar uma amostra de plutônio do Irã do que trazer para o Brasil uma inofensiva amostra de pesticida com a finalidade de pesquisa e registro para uso na agricultura (a maior parte já comercializados com diferentes marcas há vários anos em nosso país). Essa restrição à pesquisa não existe em nenhum lugar do mundo, apenas no Brasil, onde o pedido de importação para qualquer pesticida (visando pesquisa e experimentação) pode levar mais de um ano. Essa barreira à livre concorrência começa com uma solicitação de Registro Especial Temporário – RET, apresentada em três órgãos governamentais – Mapa, Ibama e Anvisa. Uma vez conseguida a permissão para importar as amostras, permanece ainda toda a tramitação legal de despacho e liberação destas, que passam por uma análise tão crítica das autoridades que levanta dúvidas sobre o real propósito de tanta burocracia. Após vencer a primeira grande barreira imposta pelo sistema brasileiro (autorização para pesquisa), o incauto empreendedor vai ao laboratório e ao campo para realizar as pesquisas e preparar um dossiê para registro. No laboratório fazem-se profunda análise química para conhecer a identidade do produto e alguns experimentos de caráter toxicológico e ambiental. Essa fase pode perfeitamente ser realizada em um ano, embora os poucos laboratórios brasilei-
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ros capacitados ainda tenham dificuldade para dar vazão a toda a demanda do mercado na velocidade desejada. Os testes de eficácia e quantificação de resíduos, em geral, levam dois anos, dependendo principalmente do sucesso em encontrar as pragas visadas para testar a eficácia e quantificar o resíduo do produto. O empresário que aqui chega para investir não consegue entender para
“Uma vez conseguida a permissão para importar as amostras, permanece ainda toda a tramitação legal de despacho e liberação destas, que passam por uma análise tão crítica das autoridades que levanta dúvidas sobre o real propósito de tanta burocracia.”
que servem esses testes de campo, se a dose por alvo biológico e o limite máximo de resíduo já estão estabelecidos em Monografias Oficiais, de conhecimento público. Ora, em se
tratando de produtos genéricos, a dose e o limite de resíduo não podem ser alterados, salvo por um estudo muito mais amplo. Ou seja, na concepção do registro de um produto genérico por equivalência ao produto referência (anteriormente registrado e que deu base para os dados da Monografia), o registrante deve apresentar para cada alvo-praga a mesma dose (ou faixa de dose) e o mesmo limite de resíduo do produto já estabelecido no país. É papel para guardar? As pesquisas em laboratório e em campo também são inspecionadas pelos ministérios responsáveis, mesmo tratando-se de produto genérico, com centenas ou milhares de quilos sendo utilizados no território nacional. Até parece que o país é rico e pode se dar ao luxo desses evidentes exageros! Por fim, formatado o dossiê, as empresas de agroquímicos genéricos entram então com o pedido de registro por equivalência (similaridade como genéricos) novamente nos três ministérios (Agricultura, Saúde e Meio Ambiente). Essa avaliação é outra via sacra. Até hoje, após dez meses de avaliações, entre todos os pedidos protocolizados, apenas três produtos obtiveram o registro por equivalência. Mas as empresas estão impedidas de comercializá-los, pois o governo aprovou apenas o produto em grau técnico e segurou o pedido de registro de suas respectivas formulações. Ou seja, as empresas de genéricos ganharam, mas não levaram, graças à competente barreira interna montada pelo governo. Acreditamos que a livre competição de mercado seria extremamente benéfica para a agricultura brasileira. Os preços dos pesticidas ainda exclusivos, embora com patentes vencidas, seriam drasticamente reduzidos, refletindo diretamente no crescimento do agronegócio. Mas, com essa C barreira-burocrática, não dá. Tulio Teixeira de Oliveira, Diretor Executivo da AENDA
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Agronegócios
Embrapa e inovação
A
o contrário da música dos Titãs, na Embrapa você pode confiar, apesar de a instituição ter mais de 30 anos, em 26 de abril. Consolidada, a Embrapa prepara-se para galgar um novo degrau em sua escalada conceitual do desenvolvimento tecnológico. No início, a Embrapa concentrou seus esforços na recuperação, consolidação e introdução de tecnologia, nacional ou alienígena, para compor pacotes tecnológicos. Seguiu-se uma etapa de experimentação e adaptação, desaguando em investimentos em pesquisa própria. Os anos 80 testemunharam o crescimento das investidas em desenvolvimento, plasmando grupos de competência em P&D na Embrapa.
PRIMEIRAS MUDANÇAS Os novos paradigmas da década de 90 exigiram reformulações conceituais, solidificando o conceito de inovação. A organização conquistou a respeitabilidade das autoridades públicas e da iniciativa privada, por atender às diretrizes das políticas públicas governamentais, imiscuindo-as com as demandas dos atores do agronegócio e com as exigências do consumidor, atentando para os componentes sociais e ambientais do desenvolvimento tecnológico, sem esquecer os requerimentos do mercado internacional. No presente, atenta à dinâmica dos cenários de C&T, a Embrapa amplia seu escopo, plasmando um novo conceito, que atende pela sigla de PDI&E – E de empreendedorismo, bafejada pelo advento da Lei de Inovação.
namento tiveram destaque especial na Embrapa, mormente aqueles que apontavam para a internalização do conhecimento, tornando-a um repositório do estado da arte da tecnologia agropecuária mundial.
INOVAÇÃO Como resultado da cultura organizacional, que sempre perseguiu o avanço tecnológico, com fulcro na inovação, a Embrapa é hoje uma organização científica respeitada por seus pares e seus clientes, reconhecida no mundo inteiro como referência em tecnologia para a agropecuária tropical. O portfólio de inovações da Embrapa abrange um amplo leque, que inclui material genético que se ombreia ao estado da arte internacional, tecnologias de nutrição de plantas e animais e de controle de pragas que permitem a expressão do potencial genético das
O advento da Lei de Inovação embute um novo desafio à Embrapa, que assesta sua visão estratégica no empreendedorismo
ESTRATÉGIA A par desse complexo arranjo, a Embrapa reservou parte da energia institucional para investir em projetos estratégicos, resultantes de cenários que indicavam visões de futuro globais ou setoriais, com oportunidades tecnológicas para as quais a instituição deveria estar preparada. A trilha programática foi entremeada de ações que expandiram a capacidade inovativa da empresa e asseguravam a correção das prioridades e diretrizes de P&D. A Embrapa sempre foi aberta a parcerias e associações de cunho estratégico, com seus pares públicos ou privados, ou com organizações que partilhavam objetivos comuns. Os programas de trei-
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culturas e criações. A melhor expressão dos resultados atribuíveis às inovações geradas pela Embrapa pode ser visualizada, de forma didática, no invulgar crescimento da produtividade da agricultura brasileira. Tomando-se os últimos 15 anos como referência, a área cultivada expandiu meros 22%, enquanto a produção cresceu 124%, resultado de um crescimento espetacular de 82% na produtividade.
RISCOS E OPORTUNIDADES A trajetória da inovação na Embrapa tem enfrentado obstáculos, como o ele-
vado custo de equipamentos de laboratório e de treinamento de seus cientistas, agravado pelas dificuldades inerentes à rigidez dos processos burocráticos governamentais. O orçamento da Embrapa não tem acompanhado o crescimento das demandas, o que pode ser evidenciado quando se compara a sua evolução orçamentária com o crescimento do PIB do agronegócio nacional. De outra parte, a Embrapa conta com parceiros e alianças estratégicas, atuando complementar ou suplementarmente às suas próprias competências. Juntamente com a capacidade de acessar fundos competitivos nacionais e internacionais, foi possível superar, parcialmente, as dificuldades orçamentárias. O advento da Lei de Inovação embute um novo desafio à Embrapa, que assesta sua visão estratégica no empreendedorismo. A nova etapa permitirá estreitar ainda mais as alianças e parcerias estratégicas, a sua associação com empresas de base tecnológica e uma aderência ainda maior com políticas públicas e com as demandas e exigências de seus clientes.
RESULTADOS Em conseqüência do trabalho da Embrapa, a cesta básica diminuiu o custo, e o superávit da balança comercial superou US$ 38 bilhões, em 2005, devendo ser ainda maior em 2006. Assumimos a liderança de exportação de produtos, como carne, frango ou soja. Abrimos novos e importantes mercados e nichos comerciais, expandindo o leque de produtos comercializados pelo Brasil. Outro resultado palpável da atuação da Embrapa foi a sua constante preocupação com o impacto ambiental e social de suas inovações, o que conduziu a uma redução palpável de poluição de cursos de água ou perdas de solo, assim como a uma contração espetacular nas intoxicações causadas por agrotóxicos. Em suma, as inovações da Embrapa são as responsáveis pelos avanços na qualidade de vida do cidadão brasileiro, nos anos C recentes. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
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Governo deverá apoiar produtores em maio No mês de abril os produtores conseguiram, mediante muita pressão, que o Governo divulgasse o “pacote do bem”, ou de ajuda ao setor, com rolagem das dívidas de custeio, de investimentos e também com a liberação de recursos para EGFs, PEP e provavelmente AGFs para os alimentos básicos, como arroz e milho. Como houve atraso na aprovação do Orçamento da União, que foi realizado na noite do dia 18 de abril, o apoio prático deverá chegar ao setor somente a partir do mês de maio, quando os produtores deverão ver o apoio chegando, com expectativa de vermos AGF para milho e arroz e, principalmente, apoio via PEP pelo Governo, que prefere esse tipo de operação, que traz a mesma garantia, mas repassa imediatamente aos compradores e consumidores os estoques e diminui os estoques oficiais e os custos de carregá-los. O Governo deverá gastar com o setor neste ano mais de R$ 12 bilhões, sendo que pelo menos R$ 7 bilhões são de rolagem de dívidas de investimentos e custeio, e o restante, de outras rolagens, além de recursos diretos para comercialização, programados em R$ 500 milhões em abril e outros R$ 500 em maio. Há indicativos de que novos recursos devam aparecer em maio. Como estamos em ano eleitoral, e o Governo está com baixo prestígio junto ao setor agrícola, está na hora de trazer apoio. Mesmo com todo o apoio que o Governo trouxer, não compensará as perdas que provocou nos últimos três anos e a descapitalização geral do setor, que perdeu competitividade internacional e, aos poucos, deverá reverter o quadro, que foi ao fundo do poço. MILHO PEP apoiando produtores O milho teve os indicativos em queda neste ano e chegou ao fundo do poço em abril, quando chegou aos patamares de exportação, em cima do câmbio nos piores momentos dos últimos cinco anos. Com isso, os indicativos ficaram entre os R$ 10 e R$ 12 aos produtores e em níveis menores para as posições distantes. A safra está chegando ao final e mostra indicativos ainda variando das 30 e 32 milhões de t; enquanto a safrinha, neste último mês, teve chuvas regulares e mostrava bom desenvolvimento em todas as regiões produtoras do Brasil. Assim, mantém-se a expectativa de colher entre sete e oito milhões de t, lembrando que houve queda no uso de insumos, principalmente de adubo e defensivo, mas aumentou o uso de sementes de melhor qualidade, fato este que não garante melhor produtividade, porque estas necessitam de maior grau de investimentos em insumos, e isso não ocorreu. Há expectativa de que o milho mostre ganhos de R$ 1 a talvez R$ 2 em maio. SOJA Colheita fechada e abaixo das expectativas O mercado da soja está vendo a colheita fechada na casa das 54 milhões de t, com alguns indicativos abaixo e outros acima, mas pouca diferença entre os valores. Com isso, está bem abaixo das expectativas iniciais; até mesmo o USDA, que trabalha sempre otimista, mostrou redução da estimativa, porque trabalhava com 58,5 milhões de t e, em abril, indicou 57 milhões de t. Com isso, registra-se queda na produção mundial e certamente haverá correção para baixo e, dessa forma, melhora para os produtores, em função do quadro que tende a ser ajustado para menor volume de produção e estoques finais, assim criando base de preços melhores em Chicago. O plantio da safra americana que está em andamento deverá comandar as cotações em Chicago neste mês de maio, quando esperamos que haja algumas alterações, porque há indicativos de clima irregular para as lavouras dos EUA nestes próximos meses, com o mercado brasileiro podendo ter pequenos ganhos nos indicativos nestas próximas semanas. FEIJÃO Calmaria no carioca e muita oferta no preto O mercado do feijão, que no mês passado atin-
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giu os maiores níveis do ano, operou calmo em abril, com o carioca entre os R$ 80 e os R$ 100 e, assim, mantendo-se bastante atrativo aos produtores que colheram a segunda safra e imediatamente a comercializavam. Enquanto isso, registra-se fraqueza do lado do preto, que teve bom volume de ofertas no período e aumento da safra da seca que continuará em maio, junto com a expectativa da entrada do produto da Argentina, deixando os indicativos entre os R$ 45 e R$ 60, contra os mais de R$ 100 do começo do ano. Continua mostrando estabilidade no carioca, que tem colheita localizada, principalmente na região Central do país, e seguirá lento no preto, pela concorrência que poderá sofrer com o produto da Argentina a partir do final do mês.
ARROZ Parou de cair e deve crescer em maio O mercado do arroz chegou ao fundo do poço em abril, mas o Governo acertou apoio via EGFs e agora também via PEP e com chances de AGF em maio, junto com a rolagem das dívidas dos produtores servindo de limitante de queda, com o produto gaúcho chegando aos R$ 14, para o casca com maior volume de quebrados, e aos R$ 15,5, para o comercial, os quais deverão sofrer pressão de ajuste positivo neste mês de maio, porque o Preço Mínimo é de R$ 22. Assim, poderemos ver os indicativos tentando ir na direção dos R$ 18 e R$ 20 para o mercado livre.
CURTAS E BOAS SOJA - o USDA ajustou o quadro mundial, com a safra indicada em 222 milhões de t e os estoques abaixo das 54 milhões, assim, trazendo apoio ao mercado de Chicago, que esteve operando ao redor dos US$ 6 por bushel e sinalizando pouco espaço na linha de baixo. ALGODÃO - o quadro mundial do algodão vem sendo mantido com poucas alterações, com safra ao redor dos 113,5 milhões de fardos nesta safra, contra os 120,5 do ano passado, mas ainda com estoques grandes, porque está com 52,9 milhões frente aos 54,3 da safra passada. Aos produtores, segue como melhor alternativa a venda via PEP do Governo, que deverá ter pagamento direto vai governamental, sem passagem pelos compradores e depois repasse ao setor produtivo. TRIGO - Os produtores estão plantando as primeiras lavouras no Paraná. Há expectativas de manter os indicativos estabilizados nestas próximas semanas, que continuarão atreladas ao produto da Argentina, que neste ano tem forte queda na safra e, dessa forma, terá menos trigo para vender no segundo semestre. Assim, o quadro favorece os produtores brasileiros, que devem ter boas cotações em dólar, que no mercado mundial opera cerca de US$ 40 por t a mais do que em 2005. ARGENTINA - a safra está chegando ao final da colheita neste mês de maio, quando a maior parte da 39,5 milhões de t da soja deverão estar nos armazéns, assim como das 13,8 milhões de t do milho e da maior parcela dos outros grãos do país, como por exemplo, aproximadamente um milhão de t de arroz. Também veremos nas próximas semanas as primeiras colheitas do feijão preto, que deverá segurar as cotações do produto no Brasil. Os produtores argentinos levam a vantagem no câmbio, porque localmente está acima dos três por um dólar, e aqui, pouco acima dos dois. BOA NOTÍCIA - o biodiesel e o álcool estão sendo apontados no mundo dos investimentos como sendo a bola da vez, porque o petróleo está na casa dos US$ 70 pelo barril e, dessa forma, faz com que indústrias para a produção desses dois substitutos sejam montadas da noite para o dia nos EUA, Europa e Ásia, enquanto no Brasil o álcool da cana está com cerca de 180 projetos de novas usinas a serem montadas nos próximos cinco anos, o que fará dobrar a produção.
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