Cultivar Grandes Culturas • Ano VIII • Nº 86 • Junho 2006 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
Destaques
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Foto Capa / Paulo Roberto Valle da S. Pereira
Prevenir para controlar Escolha de variedades resistentes é uma das melhores soluções para controlar o mosaico e o amarelinho na cana
16 De olho na semente Embora o fungo da Fusarium predomine no solo, a semente é a responsável pela disseminação à longa distância
24 Nutrição completa Saiba porque o trigo, assim como outras culturas, sofre perdas de até 40% provocadas pelas invasoras
32 Ataque surpresa Beneficiados pela estiagem do verão, os pulgões atacaram lavouras de milho, causando perdas de até 60% no Sul
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br 3028.4013 cultivar@cultivar.inf.br • REDAÇÃO:
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3028.4004 / 3028.4005
Índice
REDAÇÃO • Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
Diretas
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3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Como evitar o mosaico em cana
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Números atrasados: R$ 15,00
Controle de invasoras em feijão irrigado
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Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00
Como prevenir a murcha de fusarium
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Nossos Telefones: (53)
Controle da broca dos ramos em café
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Nutrição do trigo via foliar e sementes
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Nidera completa um ano no Brasil
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Ataque surpresa de pulgões no milho
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Cultivo do milho Bt na Argentina
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Molécula Thiamethoxam
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Simone Lopes
Nematóide de cisto na soja
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• Gerente de Assinaturas Externas
Coluna Aenda
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• FAX:
• Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
• Revisão
Silvia Pinto
COMERCIAL Pedro Batistin
Sedeli Feijó Silvia Primeira
CIRCULAÇÃO • Gerente
Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Raquel Marcos • Expedição
Dianferson Alves • Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
Luvas para cana
Errata
Livro
A Bracol lança as luvas canavieiras, confeccionadas com malha de algodão (100%) antialérgico. Com revestimento em látex nitrílico, as luvas garantem durabilidade e flexibilidade, evitando a passagem de sacarose, de fuligem da queimada e de água, com resistência à abrasão, ao corte e à perfuração. Além disso, o fio de aço encapado com PVC e fixado à parte interna da luva, da ponta do dedo indicador até a ponta do polegar, protege também parte do dorso da mão do trabalhador.
A Laborsan comunica que na edição anterior da Revista Cultivar (nº 85) foi divulgado o seu endereço equivocadamente. O endereço correto é Av. Pres. Costa e Silva, 485, Jardim Casa Grande - Diadema 09960-400 - São Paulo.
A Embrapa Meio-Norte, Teresina (PI), lançou o livro Planejamento de Irrigação – Análise de Decisão de Investimento. A obra foi elaborada pelos pesquisadores Aderson Soares de A. Júnior, José Antônio Frizzone, Jorge Luiz M. de Souza e João Luiz Zocolar. Com 626 páginas, o livro aborda temas que vão da Análise de Projetos em Irrigação e Drenagem, passando por Decisões de Investimentos sob Condições de Incerteza e Risco, até a Análise de Risco Econômico Aplicado ao Planejamento de Projetos de Irrigação para Cultura do Cafeeiro. Informações pelo fone (86) 3225-1141, ramais 224/228.
Connect para feijão A Bayer CropScience amplia o registro do inseticida Connect. Agora, além da soja, Connect foi lançado também para as culturas de feijão, batata, melão e tomate. Composto por dois ingredientes ativos pertencentes a grupos químicos diferentes, reduz a resistência das principais pragas que afetam as lavouras, como a moscabranca e vaquinha verde-amarela no feijão; pulgão-verde e vaquinha verde-amarela na batata; pulgão-verde, tripes e mosca-branca no melão; e tripes e mosca-branca no tomate. É indicado para a utilização preventiva, ou tão logo seja constatado o aparecimento dos insetos.
Turbine A FMC está lançando o inseticida Turbine para o controle do pulgão do algodoeiro. O produto é resultado de uma nova molécula, com modo inédito de ação sobre a praga. Para divulgar o lançamento, um caminhão de 15 metros de comprimento foi totalmente modificado e transformado em show room, para divulgar o produto pelo Brasil.
Grãos armazenados Em Campinas (SP), de 15 a 18 de outubro acontece a 9ª Conferência Internacional de Proteção de Produtos Armazenados (CIPPA). O objetivo é promover o intercâmbio em ciência e tecnologia na área de pós-colheita entre os diferentes países produtores, envolvidos em conservação e qualidade de artigos como grãos, malte, fibras, ração animal, produtos desidratados e alimentos em geral. A conferência contará com sessões plenárias, painéis, workshops, sessões de pôsteres, visitas técnicas e uma exposição paralela com o tema “Proteção de Produtos Armazenados”.
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Milho De 11 a 13 de julho, acontece a 51ª Reunião Técnica Anual de Milho e 34ª Reunião Técnica Anual de Sorgo, a ser realizada no anfiteatro da Embrapa Trigo, Passo Fundo (RS). O objetivo do evento é informar, debater e avaliar os avanços e demandas da pesquisa nas diferentes áreas que envolvem as culturas de milho e de sorgo, além de elaborar as indicações técnicas para o cultivo no RS.
Fitopatologia De 14 a 18 de agosto, Salvador (BA) sediará o XXXIX Congresso Brasileiro de Fitopatologia. O evento sob o tema “A fitopatologia, o meio ambiente e a sustentabilidade”, acontece no Centro de Convenções do Bahia Othon Palace Hotel, com apresentação e discução de temas técnico-científicos relevantes para a ciência, atuais e de interesse para a agricultura brasileira.
100% recicladas A Syngenta conquistou a marca de 100% na utilização de tampas produzidas com material reciclado em suas embalagens comercializadas no Brasil. A iniciativa representa um avanço considerável em preservação de recursos naturais e foi possível graças ao envolvimento da empresa em testes e pesquisas. A iniciativa envolveu uma parceria da Syngenta com o inpEV e a empresa Carboni, produtora de tampas para produtos agroquímicos.
Investimentos A Embrapa está acolhendo propostas de Projetos de P&D em biologia avançada e suas aplicações no agronegócio. O objetivo é fortalecer as Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (OEPAS) e estimular a competitividade e a sustentabilidade do agronegócio brasileiro. O valor máximo de recursos aplicados nessa chamada será de R$ 18, 5 milhões.
Prêmio Pelo terceiro ano consecutivo, a FMC ganhou o primeiro e segundo lugares no segmento Indústria, nas categorias “Projetos de Educação & Treinamento” e “Profissionais”, respectivamente, do IX Prêmio Mérito Fitossanitário 2005, promovido pela Andef. A entrega foi feita à diretora da área de Registro & Product Stewardship, Maria de Lourdes Fustaíno, e para o profissional Gustavo Henrique Domingues Canato.
DuPont na Escola
Terra na Terra
A Divisão Agricultura & Nutrição da DuPont lançou, em parceria com a sua rede de distribuidores, o programa DuPont na Escola. A iniciativa visa promover junto a escolas rurais de todo o Brasil os conceitos de crescimento sustentável da atividade agrícola, cidadania, conscientização preservacionista e segurança na aplicação de defensivos agrícolas. O projeto destina-se, sobretudo, a filhos de produtores rurais e é parte do programa Segurança e Saúde no Campo da DuPont. As escolas e alunos que apresentarem os melhores desenhos e textos sobre boas práticas agrícolas receberão 30 micro-computadores, para uso em sala de aula.
A Terra na Terra é título do livro que a Syngenta acaba de lançar. Em versões bilíngües, inglês/português, a obra traz artigos que privilegiam a reflexão intimista acerca da relação do homem com a Terra, as conquistas da modernidade, como a biotecnologia e o impacto de novas técnicas agrícolas em nosso futuro. Entre os autores estão Francisco Graziano, José Carlos Cafundó, Roberto Rodrigues, Romeu A. S. Kiihl, Célio Moreira, Dario Minoru Hiromoto, Edvaldo Cia, Eberson S. Calvo, Erivelton Sherer Roman, Francisco Graziano, João Baptista da Silva, José Braz Matiello, José Erasmo Soares e José Paulo Stupiello.
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Cana-de-açúcar
Charles Echer
Em busca de solução
Como não são recomendados produtos químicos para o controle das viroses, o emprego de variedades resistentes e o uso de mudas sadias são as principais ferramentas contra o mosaico e o amarelinho, transmitidos principalmente por pulgões
H
istoricamente, a principal doença de etiologia viral da cultura canavieira no Brasil foi o mosaico da cana-de-açúcar. Diversas epidemias da doença ocorreram no país na década de 1920, sendo controladas pela substituição das variedades suscetíveis por híbridos resistentes, no início da década de 1930. Posteriormente, na suposta erradicação do mosaico, variedades suscetíveis voltaram a ser plantadas pelos agricultores, ocasionando novos ciclos da doença. Potencialmente, o mosaico continua a ser uma das doenças que podem causar grandes prejuízos à cultura. O amarelecimento foliar da cana-deaçúcar, também conhecido por “amarelinho”, começou a se tornar um problema para a cultura canavieira a partir do início da década de 1990. No Brasil, a doença foi inicialmente relatada em 1989 e começou a assumir caráter epidêmico em 1993 em plantações comerciais no estado de São Paulo. A variedade de cana SP71-6163, alta-
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mente produtiva e uma das mais plantadas até o aparecimento da doença, foi a primeira a apresentar os sintomas da moléstia, atingindo perdas de até 50%, na época de epidemias da doença. Posteriormente, perdas em torno de 15 a 20% foram relatadas em outras cultivares suscetíveis
MOSAICO DA CANA-DE-AÇÚCAR Sintomas Os sintomas iniciais da infecção pelo mosaico consistem em pontos cloróticos com disposição linear no meio ou mais comumente na base das folhas, os quais evoluem para áreas alongadas formando um mosaico típico, que pode aumentar em severidade com a idade da folha. O crescimento das plantas pode ser acentuadamente reduzido conforme a espécie e estirpe do vírus e a variedade de cana, principalmente quando a infecção ocorre nos estágios iniciais de desenvolvimento. Ocasionalmente, em variedades altamente suscetíveis podem
ocorrer riscas e estrias nos colmos e encurtamento dos entrenós. Transmissão O vírus causador do mosaico pode ser transmitido por várias espécies de pulgões, com maior eficiência por Rhopalosiphum maidis, Schizaphis graminum e Myzus persicae, todos comumente encontrados no Brasil. O principal vetor em nossos campos é o afídeo R. maidis, que, além de incidir sobre a cultura da cana, coloniza e transmite o vírus para a cultura do milho, principal planta hospedeira do inseto. O mosaico também pode ser transmitido artificialmente pelo homem a partir de extratos de folhas infectadas, com o auxílio de substâncias abrasivas. No entanto, não há relatos ou evidências da transmissão do vírus por instrumentos de corte usados na propagação de mudas e na colheita. Diagnóstico Além dos sintomas observados nas plantas de cana infectadas, o método mais tra-
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Fotos Marcos C. Gonçalves
dicional empregado no diagnóstico do mosaico é o uso de plantas indicadoras da família Poaceae, principalmente algumas cultivares de sorgo e milho, as quais apresentam sintomas característicos quando inoculadas com o vírus. Apesar desse método ainda ser utilizado, atualmente, lança-se mão de técnicas serológicas e das baseadas em ferramentas de biologia molecular. As mais comumente empregadas em laboratórios bem equipados são o DAS-Elisa e a RTPCR, por oferecerem maior praticidade, sensibilidade e rapidez que o uso das plantas indicadoras. Controle A doença é considerada sob controle no país, porém freqüentemente observam-se plantas sintomáticas durante a avaliação de clones, propagação de mudas e em plantios comerciais. Apesar desse fato, o mosaico não tem ocasionado perdas de grandes proporções, devido à seleção de variedades resistentes e tolerantes associada à prática do roguing em viveiros de mudas e em plantios comerciais. A taxa de distribuição do mosaico no campo é influenciada principalmente pelos fatores: (i) nível de tolerância da variedade de cana-de-açúcar; (ii) estirpe ou estirpes do vírus presentes; (iii) número e distribuição dos focos de infecção; (iv) número, tipo e atividade de insetos vetores presentes; (v) e condições climáticas que afetam a suscetibilidade da cultura e a atividade dos insetos vetores. No entanto, esse vírus incide sobre outras poáceas de impor-
tância econômica, dentre as quais o milho e o sorgo granífero. A introdução de novas cultivares de milho no país nos últimos anos, associada ao grande aumento da área plantada e ao cultivo na safrinha, tem aumentado a incidência do mosaico nessa cultura e em campos de cana-de-açúcar próximos a lavouras de milho. Em conseqüência, a possibilidade de que novas estirpes ou mesmo espécies do vírus estejam se disseminando no país tem aumentado. Recentemente, foi relatada a ocorrência de uma nova estirpe do vírus capaz de infectar variedades consideradas resistentes
AGENTE CAUSAL
O
Planta de cana-de-açúcar da variedade SP71 6163, apresentando sintomas severos da infecção pelo Sugarcane yellow leaf virus (ScYLV)
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mosaico consiste em um subgrupo de cinco espécies distintas de vírus que infectam diferentes poáceas, como cana-de-açúcar, milho, sorgo, capim massambará, entre outras. Porém, apenas as espécies Sugarcane mosaic virus (SCMV) e Sorghum mosaic virus (SrMV) podem infectar naturalmente a cana-de-açúcar. Por sua vez, no Brasil, apenas a espécie SCMV é encontrada causando mosaico em cana (Gonçalves, M. C. ; Moreira, Y. J. C. B. ; Maia, I.G. ; Santos, A. S. ; Fantin, G. M. ; Chaves, A.L. Identificação e caracterização de isolados pertencentes ao subgrupo do Sugarcane mosaic virus no estado de São Paulo. Fitopatologia Brasileira. v. 29. p. 129, 2004). Esse grupo de vírus e suas diversas estirpes pertencem à família Potyviridae, gênero Potyvirus, um dos maiores e economicamente mais importantes gêneros de vírus que infectam plantas.
Detalhe da face abaxial de folha de cana, apresentando amarelecimento da nervura central, sintoma característico da infecção pelo ScYLV
à doença, como a RB72-454 (Gonçalves, M. C. ; Souza, G. R. ; Santos, A. S. ; Casagrande, M. V. Ocorrência de um novo isolado do Sugarcane mosaic virus que quebra a resistência de variedades comerciais de canade-açúcar. Fitopatologia Brasileira. v. 30. p. 189, 2005). Esse fato alerta para que o cuidado seja redobrado por parte dos agricultores na aplicação de medidas básicas para o controle do mosaico, como a realização do roguing e o uso de mudas sadias. A constatação dessas novas estirpes mais severas do vírus também vem sendo considerada nas avaliações dos programas de melhoramento genético da cana-de-açúcar.
AMARELINHO DA CANA-DE-AÇÚCAR Sintomas As plantas afetadas apresentam amarelecimento da nervura central das folhas na face abaxial, seguido do limbo foliar. As folhas mais velhas, a sexta ou a sétima a partir do ápice, apresentam uma coloração vermelha na face abaxial da nervura central, e, posteriormente, a perda de pigmentação distribui-se pelo limbo foliar, progredindo do ápice para a base, sendo eventualmente seguida pela necrose do tecido. As raízes e os colmos apresentam crescimento reduzido, e, conseqüentemente, a produção é significativamente prejudicada (Gonçalves, M.C., Vega, J., Oliveira, J.G., Gomes, M.M.A. Sugarcane yellow leaf virus (ScYLV) Infection Leads to Alterations in Photosynthetic Efficiency and Carbohydrate Accumulation in Sugarcane Leaves. Fitopatologia Brasileira, v.30, p. 10-16, 2005). Diagnóstico Um anti-soro policlonal produzido em
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Fotos Marcos C. Gonçalves
gentes serem elevados. É importante observar que o diagnóstico da doença baseado somente em sintomas não é confiável, uma vez que muitas variedades assintomáticas testam positivas para o vírus em laboratório.
coelhos a partir de partículas purificadas pode ser utilizado para detectar o vírus em amostras infectadas (Scagliusi, S.M., Lockhart, B.E. Transmission, characterization and serology of Sugarcane yellow leaf luteovirus. Phytopathology, 90, 120-124, 2000). As técnicas serológicas mais comuns empregadas na detecção do vírus são o DASElisa e o Tissue blot immunoassay (TBIA). Recentemente, com base nas seqüências nucleotídicas do genoma viral disponíveis, novas técnicas para detecção altamente sensível e específica para o ScYLV foram desenvolvidas ou otimizadas, como a RTPCR, o AmpliDet RNA e a TaqMan (Gonçalves, M. C., Klerks, M.M., Verbeek, M., Vega, J., Van Den Heuvel, J.F.J.M. The use
Detalhe de folha de cana-de-açúcar, apresentando sintoma de mosaico característico da infecção pelo Sugarcane mosaic virus (SCMV)
of molecular beacons combined with NASBA for the sensitive detection of Sugarcane yellow leaf virus. European Journal of Plant Pathology. 108:401-407, 2002; Korimbocus, J, Coates D, Barker I, Boonham N. Improved detection of Sugarcane yellow leaf virus using a real-time fluorescent (TaqMan) RT-PCR assay. Journal of Virological Methods 103:109-20, 2002). Esse tipo de diagnóstico, além de ser altamente sensível, permite a análise de um grande número de amostras de uma maneira rápida e eficiente, porém possui o inconveniente do custo inicial de implantação e de o preço dos rea-
Transmissão O vírus é transmitido pelas espécies de afídeos Melanaphys sacchari, Sypha flava e Rophalosiphum maidis e não é transmitido mecanicamente em laboratório. As três espécies de afídeos são de comum ocorrência no Brasil, porém a maior eficiência de transmissão se dá com o pulgão M. sacchari. Cabe aqui ressaltar que, apesar de que a principal causa das epidemias do amarelecimento foliar da cana-de-açúcar ocorridas nas Américas durante a década de 1990 seja o ScYLV, uma doença com sintomas similares pode ser provocada pela infecção por um fitoplasma, de ocorrência comum na África do Sul. Além desses patógenos, variações edafoclimáticas, portanto sem caráter epidêmico, podem provocar sintomas semelhantes em plantas sob condições de estresse. Por esses motivos, sugere-se o uso do termo “Síndrome do Amarelecimento
AGENTE CAUSAL DO AMARELINHO
V
árias hipóteses foram levantadas na tentativa do estabelecimento da etiologia da doença, desde fatores edafoclimáticos à infestação por patógenos diversos, como fungos, nematóides, vírus e fitoplasmas. Vega et al. (Vega J., Scagliusi S.M.M., Ulian E.C.. Sugarcane yellow leaf disease in Brazil: evidence of association with a luteovirus. Plant Disease 81:21-26, 1997) mostraram a presença de alterações no floema de plantas com sintomas que sugeriram o envolvimento de um vírus associado a esse tecido condutor. Testes de microscopia eletrônica de imunoadsorção (ISEM) denotaram uma fraca reação serológica desse vírus com um anti-soro para o Barley yellow dwarf virus (BYDV), espécie tipo do gênero Luteovirus. A Imunolocalização em membranas de nitrocelulose por “Tissue-Printing” e testes de “PTA-ELISA” com o mesmo anti-soro para o BYDV, também indicaram relação serológica entre esse luteovirus e o ScYLV. Gonçalves & Vega (Gonçalves, M. C., Vega, J. Purificação do vírus associado ao amarelecimento foliar da
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cana-de-açúcar. Fitopatologia Brasileira v.22. p.335, 1997) purificaram o vírus a partir de plantas infectadas e obtiveram elevadas concentrações de partículas isométricas de ca. 25nm de diâmetro. As partículas purificadas apresentam uma proteína principal de 27 kDa e proteínas secundárias de 17 e 58 kDa. A caracterização molecular e as análises das seqüências deduzidas de aminoácidos dos genes da capa protéica, da proteína de movimento e da polimerase mostraram que o ScYLV possui alta porcentagem de identidade com diversos membros da família Luteoviridae (Maia, I.G., Gonçalves, M.C. Arruda, P., Vega, J. Molecular evidence that sugarcane yellow leaf virus (ScYLV) is a member of the Luteoviridae family . Archives of Virology 145: 1009-1019, 2000). O seqüênciamento do genoma completo e a caracterização molecular de um isolado proveniente da Flórida confirmaram os dados relatados acima, estabelecendo o ScYLV como uma espécie definitiva do gênero Polerovirus, família Luteoviridae.
Folhas de planta de sorgo cv. Rio, inoculada com isolados virais do SCMV, apresentando sintomas de avermelhamento
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Micrografia eletrônica de transmissão de extratos de partículas purificadas do Sugarcane yellow leaf virus (ScYLV), agente causal do amarelinho
Foliar” para descrever o problema num contexto que englobe as diferentes causas do amarelecimento foliar da cana-de-açúcar. Controle A principal medida de controle da do-
Nova estirpe do Sugarcane Mosaic Virus é encontrada infectando variedades de cana resistentes ao mosaico
ença consiste no emprego de variedades resistentes. Atualmente, os programas de melhoramento genético levam em conside-
ração a incidência do vírus na avaliação de novos clones de cana-de-açúcar. Deve-se atentar também para o uso de mudas sadias no plantio, uma vez que os principais afídeos vetores estão presentes em nossos campos e podem disseminar o vírus em cultivares suscetíveis, aumentando gradativamente a porcentagem de infecção após cortes sucessivos. Por esse motivo, a cultura de tecidos, realizada de maneira apropriada, é altamente recomendada na propagação de mudas e pode ser útil no controle deste e de C outros patógenos. Marcos C. Gonçalves, Instituto Biológico
Feijão
Manejo sob pivô
AA semeadura semeadura de de extensas extensas áreas áreas de de feijão feijão no no inverno inverno éé comum comum no no Sudeste Sudeste ee Centro-oeste, Centro-oeste, assim assim como como oo aparecimento aparecimento das das plantas plantas daninhas daninhas favorecidas favorecidas pela pela irrigação das lavouras necessitando manejo adequado, no momento certo irrigação das lavouras necessitando manejo adequado, no momento certo
N
as regiões Sudeste e CentroOeste do Brasil, a cultura de feijão (Phaseolus vulgaris L.) é normalmente semeada sob irrigação, no período de inverno, em áreas extensivas, obtendo-se um bom retorno econômico ao produtor. Sendo assim, o feijoeiro cultivado nessa época (período seco) atrai médios e grandes produtores, geralmente usuários de alta tecnologia. Sendo regiões extensas, devido ao elevado custo da mão-de-obra e à baixa eficiência do cultivo mecânico nas linhas da cultura, o manejo de plantas daninhas é efetuado por meio da aplicação de herbicidas, que oferecem maior praticidade e eficiência. Ademais, por ser uma cultura de ciclo curto, as medidas de controle devem ser executadas no momento certo, porque a indecisão ou demora na aplicação das práticas de manejo geralmente resulta em prejuízos na produção final, causados pela interferência das plantas daninhas não controladas.
PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL O controle químico de plantas daninhas é realizado através da aplicação de
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herbicidas, cuja eficiência no controle depende de fatores técnicos, econômicos e climáticos. Algumas vantagens da utilização de herbicidas são: (i) o controle rápido e efetivo de plantas daninhas anuais e perenes; (ii) a facilidade operacional e (iii) a menor probabilidade de reinfestação, principalmente de plantas daninhas do tipo gramíneas (família botânica Poaceae). Os fatores a serem considerados para a seleção adequada de um herbicida são: (i) levantamento e mapeamento das plantas daninhas da área e controle da densidade populacional daquelas que causam prejuízos mais significativos; (ii) conhecimento do espectro de ação dos herbicidas registrados para a cultura; (iii) conhecimento do período crítico de interferência das plantas daninhas sobre a cultura; (iv) conhecimento do período residual do herbicida no solo; (v) conhecimento dos estádios fenológicos mais apropriados, tanto da cultura quanto das plantas daninhas, para a aplicação do herbicida, principalmente quando em condições de pós-emergência; (vi) conhecimento do equipamento de aplicação (princípios de
funcionamento e regulagem); (vii) realização de cálculos da relação custos/benefício do controle. No sistema convencional podem ser utilizados herbicidas aplicados em condições de pré-plantio-incorporado (PPI), pré-emergência (PRE) e pós-emergência (POS). No sistema de plantio direto são utilizados herbicidas para dessecação (D) e em pós-emergência (POS). Os herbicidas para aplicação em PPI e em PRE geralmente são pouco utilizados no plantio direto, visto que no primeiro caso não há revolvimento do solo e, no segundo, a eficiência dos herbicidas de pré-emergência depende da capacidade do produto transpor a palhada e atingir o solo. Controle em PPI e PRE Os herbicidas de Pré Plantio Incorporado (PPI) são aqueles aplicados antes da semeadura da cultura, e os de Pré-emergência (PRE), após a semeadura da cultura e antes da emergência das plantas daninhas. Para ambos, no momento da aplicação, o solo deve estar bem preparado e destorroado, sendo que os de PPI devem ser aplicados em solo com baixa umidade
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Fockink
Figura 1 - Representação esquemática dos estádios fenológicos do feijoeiro e períodos de interferência das plantas daninhas na cultura de feijão
para facilitar sua incorporação, e os de PRE, em solo úmido para favorecer a lixiviação do produto através das camadas
superfíciais do solo, nas quais se concentra a maioria das sementes das espécies daninhas, evitando perdas por volatilização e/ou fotodecomposição. O produto mais utilizado em PPI é a trifluralina 448 g/l, que exige incorporação após aplicação (7 a 10 cm de profundidade), no máximo, até oito horas, por ser volátil, comumente, fotodecomponível e de baixa solubilidade. De preferência, deve-se semear imediatamente após a incorporação ou no máximo até seis semanas após. Para incorporação faz-se uma gradagem em torno de 10 cm de profundidade e com velocidade de 6 a 8 km/h. Não é recomendada a aplicação desse produto em solos com teor de matéria orgânica inferior a 2% e superior a 6%. Dirceu Gassen
PPI e Pré-Dosagens são definidas em função da textura do solo e do nível de matéria orgânica
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Em PRE são utilizados produtos como trifluralina em formulação de 600 g/l ou metolachlor, aplicados simultaneamente, logo após a semeadura, no sistema plante-aplique, ou no máximo dois dias depois. Se aplicado em solo seco e não chover pelo menos 10 mm, no prazo de 5-7 dias, a eficiência do produto é reduzida. No caso da trifluralina, para aumentar a eficiência do produto, pode-se realizar incorporação superficial (2 cm), e a dose maior é para solos com teores de matéria orgânica acima de 5%. O metolachlor não deve ser aplicado em solos arenosos por provocar fitotoxicidade ao feijoeiro e é recomendado para solos com teor de matéria orgânica superior a 2% e baixa infestação de capim-marmelada (Brachiaria plantaginea). A dosagem desses produtos é definida em função da textura do solo e do teor em matéria orgânica, eles controlam gramíneas e algumas folhas largas, com período residual se estendendo, no mínimo, até a pré-floração (R5). Controle em pré-plantio através de dessecantes No plantio direto, a operação de manejo de vegetação consiste na dessecação da cultura de cobertura (adubo verde) ou da flora daninha espontânea que se encontram na área antes da semeadura da cultura, através de herbicidas que podem ter ação de contato e/ou sistêmica. O paraquat e o diquat são herbicidas POS, não seletivos e de contato, aplicados na pré-semeadura, em área total. Controlam plantas daninhas do tipo folhas largas e algumas de folhas estreitas anuais. Deve-se utilizar espalhante adesivo, e a ocorrência de chuvas, após 30 minutos da aplicação, não interfere no seu funcionamento. Após um dia de aplicação observa-se o resultado, permitindo rápida cor-
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PERÍODO CRÍTICO DE INTERFERÊNCIA
O
feijoeiro apresenta baixa capacidade competitiva em função de seu sistema radicular superficial, altura relativamente pequena (0,50 a 0,60 m) e crescimento inicial lento; sendo que, somente a partir do estádio V4 (3a folha trifoliolada), o desdobramento de folhas é acelerado. O período crítico de interferência, na lavoura de feijão, ocorre a partir do estádio V2 (folhas primárias expandidas) até o R5 (aparecimento dos botões florais), quando a presença de plantas daninhas poderá provocar redução média de até 52% do rendimento da cultura. Na prá-
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sendo assim, é necessária uma chuva ou irrigação para provocar sua lixiviação. O glifosate pode ser combinado com 2,4-D para controle de folhas largas. Herbicidas de pós-emergência (POS) Os herbicidas de POS são aplicados após a emergência da cultura e das plantas daninhas a serem controladas. Apresentam a vantagem da escolha racional do produto específico de acordo com a comunidade florística presente na lavoura e da possibilidade de mistura de ingredientes ativos para ampliar o espectro de ação. Para a cultura de feijão, esses produtos devem ser aplicados quando as plantas de feijão apresentarem entre uma a três folhas trifolioladas plenamente expandidas (V3-V4), sendo mais recomendadas as aplicações com dois a três trifólios, para
evitar problemas de fitotoxicidade. Deve-se considerar a capacidade de translocação de cada produto aplicado, já que a cobertura necessária para controle eficiente, utilizando-se um produto sistêmico, deve ser inferior à necessária para um produto de contato (ex: fomesafen, bentazon, bentazon + paraquat, acifluorfen-sódio). A ocorrência de chuvas ou irrigação logo após a aplicação pode reduzir a eficiência desses produtos, mas a maioria é absorvida rapidamente (precisa de uma hora sem chuva ou irrigação), e outros, como acifluorfen-sódio e tepraloxydin, precisam mais, de duas horas, e o bentazon aproximadamente de seis horas. Assim, de forma geral, recomenda-se irrigar a área tratada, no mínimo até uma hora após aplicação. A dosagem dos herbicidas para aplicação em POS é definida pelo estádio de desenvolvimento das plantas daninhas. As doses menores são utilizadas para as dicotiledôneas nos estádios de plântulas, apresentando 2-4 folhas, e, em gramíneas, até a emissão do primeiro perfilho. Já para dicotiledôneas nos estádios de 4-6 folhas e gramíneas até 4 perfilhos, recomendam-se doses maiores. Para a cultura de feijão existem herbicidas com ação específica para o controle de folhas largas (bentazon, bentazon +paraquat, fomesafen, imazamox, acifluorfensódio); outros, para gramíneas (clethodin, sethoxydin, clethodin + fenoxiprop-ethyl, quizalofop-ethyl, fluazifop-p-butil e tetraloxydim); e aqueles de ação mais ampla sobre fluxos das duas classes (fluazifop-p-
Carvalho, S.J.P
reção de falhas de aplicação. Sem efeito residual no solo, permite a semeadura da cultura logo após aplicação, podendo ser realizada a aplicação seqüencial. O glifosate também é um herbicida POS, não seletivo, sistêmico, que controla folhas largas e estreitas, anuais e perenes até em estádio avançado de desenvolvimento (pós-emergência tardia). As doses a serem aplicadas variam de acordo com a infestação e o estádio de desenvolvimento das plantas daninhas, sendo as menores doses recomendadas para áreas que apresentam baixas infestações e plantas daninhas com no máximo 15 cm de altura, e as maiores, recomendadas para áreas que apresentam altas infestações de plantas daninhas com estádios mais avançados de desenvolvimento - plantas com rizomas e raízes plenamente formadas, como capim-colonião (Panicum maximum), tiririca (Cyperus rotundus), gramaseda (Cynodon dactylon), guanxuma (Sida rhombifolia) e leiteira (Euphorbia heterophyla). Esse produto deve ser aplicado pelo menos sete dias antes da semeadura. O glyphosate desseca a planta entre dez a 14 dias, necessitando de seis horas entre a aplicação e chuva. Atualmente existem novas formulações (WG, transorb) desse produto com efeito mais rápido, absorção e translocação em uma hora e maior eficiência no controle de plantas daninhas, não necessitando de misturas. O herbicida 2,4-D também pode ser utilizado como dessecante no plantio direto para o controle de folhas largas, mas deve ser aplicado dez a 20 dias antes da semeadura. Existe a necessidade do intervalo entre a aplicação e a semeadura da cultura (feijão, soja) para evitar fitotoxicidade. O produto, para ser degradado, deve estar no solo e não retido na palha,
tica, se a cultura for mantida livre da interferência das plantas daninhas durante os estádios V0 (início da germinação) até R5-R6 (abertura das primeiras flores), maiores produções serão alcançadas (Figura 1). As plantas daninhas que eventualmente emergem após esse período não exercem interferência direta no rendimento da cultura, mas eventualmente necessitam de controle, pois podem causar prejuízos indiretos, dificultando a colheita e reduzindo a qualidade do produto final (grãos deformados, enrugados, pouco densos e, eventualmente, manchados).
Doses e aplicações de produtos em pósemergência devem levar em conta o estádio de desenvolvimento das plantas daninhas
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Fotos Carvalho, S.J.P
Para reduzir a fitotoxicidade da cultura, aplicações em esquema seqüencial, com divisão da dose única, podem ser a saída
butil + fomesafen ou outras misturas). O fomesafem é compatível com graminicidas ou latifolicidas como fluazifop-p-butil, sethoxydim e alguns outros herbicidas POS. A maioria dos graminicidas são incompatíveis na mistura com herbicidas latifolicidas. No caso de fluxos de folhas largas podem ser utilizados herbicidas específicos ou misturas para aumentar o espectro de ação. Havendo predominância de gramíneas, podem ser utilizados os graminicidas, e no caso de infestação composta por
gramíneas e folhas largas, pode-se optar pela aplicação seqüencial de um graminicida e um latifolicida (ou inverso, dependendo do fluxo) ou de mistura formulada de fluazifop-p-butil + fomesafen. Aplicação seqüencial de herbicidas Atualmente, em lavouras de feijão, podem ser aplicados alguns produtos em esquema seqüencial, dividindo a dose única
Com a aplicação de POS, tem-se a vantagem da escolha do produto específico para a infestante, ou dos ingredientes ativos para melhorar o espectro de ação
em duas aplicações (½ dose + ½ dose), com objetivo de reduzir a probabilidade de ocorrência de fitotoxicidade nas culturas seguintes (herbicidas de residualidade acentuada), principalmente milho, e obter menor risco para a cultura (feijão). Ainda, aumenta-se a eficiência de controle de
FITOTOXICIDADE CAUSADA PELOS HERBICIDAS Charles Echer
É
Christoffoleti enfatiza que, além de saber o momento certo para o controle, é preciso conhecer a capacidade de translocação dos produtos aplicados
plantas daninhas em estádios de crescimento mais avançados, ou infestações densas, e permite o controle de diferentes fluxos de germinação (ex: leiteira). Em lavouras bem conduzidas existe, ainda, a possibilidade de evitar a segunda aplicação, o que implica em redução de custos e menor contaminação do meio. Isso pode ocorrer quando a cultura for-
muito comum ocorrerem, alguns dias após a aplicação, sintomas como clorose ou necrose das plantas de feijoeiro, em função da fitotoxicidade de alguns produtos recomendados para o controle de plantas daninhas de folha larga. Sendo assim, a aplicação desses produtos normalmente é recomendada nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura (entre o primeiro e o terceiro trifólio), uma vez que nessa fase de desenvolvimento a planta apresenta grande capacidade de recuperação sem que ocorra queda de rendimenma densa cobertura foliar rapidamente e suprime o desenvolvimento das plantas daninhas poucos dias após a primeira aplicação. Ocorrendo reinfestação, o controle deverá ser realizado novamente, a um custo final muito semelhante ao de uma única aplicação da dose recomendada. Os produtos utilizados nessa técnica são acifluorfen-sódio, fluazifop-p-butil + fomesafen e fomesafen. A primeira aplicação é feita a partir do primeiro trifólio,
to. No caso de áreas irrigadas, com semeadura seqüencial das culturas como feijão e milho, deve-se dar preferência a herbicidas de menor efeito residual, devendo-se respeitar o intervalo entre a aplicação do herbicida e a semeadura da cultura subseqüente, evitando-se prejuízos para esta última. O efeito fitotóxico de resíduos de herbicidas entre culturas em sucessão pode ser diretamente afetado pelas condições climáticas e pelo tipo de solo, devendo-se, dessa forma, seguir as recomendações do fabricante. e a segunda, até o início da formação do quarto trifólio (intervalo de sete a dez dias), respeitando o estádio em que as plantas daninhas são mais suscetíveis aos C herbicidas. Pedro Jacob Christoffoleti, Ramiro López Ovejero, Marcelo Nicolai e Saul Jorge Pinto de Carvalho, Esalq
Algodão
Cuidados com a m Embora o agente causal da murcha de fusarium seja um fungo predominante no solo, a transmissão via sementes contaminadas, tanto interna como externamente, é a grande responsável pela disseminação do patógeno a longas distâncias
O
algodoeiro (Gossipyum hirsutum L.) é uma das culturas anuais mais tradicionais, constituindo-se em uma importante opção do ponto de vista econômico e social para uma expressiva parcela da população brasileira. Trata-se de uma cultura que requer tecnologias de produção cada vez mais eficazes, pela sua própria natureza. Para a obtenção de produtividades cada vez mais próximas do máximo potencial de cada variedade, devem ser considerados inúmeros fatores de maneira integrada. Patógenos associados às sementes e à parte aérea do algodão constituem-se em fatores dos mais limitantes na obtenção de índices satisfatórios de produtividade. O fungo Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum, agente causal da murcha de fusarium ou fusariose, é transmitido pelas sementes tanto externamente como internamente. Embora seja predominantemente um fungo de solo, mesmo uma baixa taxa de transmissão pela semente pode ser de grande importância, se essa semente for lançada em solo não contaminado. O patógeno F. oxysporum f.sp. vasinfectum pode ocorrer em outras espécies
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e permanece por longo período no solo na forma de clamidósporos. O movimento de partículas de solo dissemina o patógeno dentro da lavoura, aumentando progressivamente as reboleiras características com plantas doentes. As sementes infectadas são responsáveis pela disseminação do patógeno a longas distâncias. Após o levantamento realizado nas áreas de produção de sementes de algo-
doeiro do estado do Mato Grosso, foi possível detectar, em 8,73 mil ha avaliados, focos de infecção de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum em seis municípios (Tabela 1). A rotação de culturas e a manutenção de níveis satisfatórios de disponibilidade de potássio podem reduzir o inóculo no solo. A disseminação do patógeno por sementes deve ser monitorada, para evitar a introdução deste em
Tabela 1 - Distribuição geográfica de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum em áreas de produção de sementes de algodoeiro no estado do Mato Grosso. Várzea Grande (MT) 2004* Região Norte Médio Norte
Sul
Centro-sul
Total
Município Sorriso Nova Mutum Brasnorte Jaciara Rondonópolis Itiquira Pedra Preta Guiratinga Alto Garças Campo Verde Primavera do Leste Novo São Joaquim Santo Antônio do Leste 13
Área Monitorada (ha) 230 200 300 450 150 750 1369 350 129 1830 630 1146 1198 8732
Nº Total de Amostras 2 3 2 3 2 1 12 3 3 49
Nº Amostras Positivas 1 0 0 2 0 1 4 1 1 10
* Pesquisa financiada com recursos do FACUAL
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urcha áreas isentas. A recomendação feita por monitores de campo de eliminar plantas doentes (rouguing) é extremamente eficiente na redução do inóculo inicial de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum no solo, transmitido pelas sementes. Essa prática normalmente é realizada até os 30 dias após o plantio, porém, pesquisas indicam a necessidade do rouguing pelo menos até os 60 dias após o plantio. Em áreas já infectadas, o uso de cultivares resistentes é a forma viável de controle da doença. De acordo com os resultados obtidos em ensaio sob condições controladas no Mato Grosso, foi possível observar que entre as variedades estudadas não houve reação de resistência ao patógeno em comparação ao padrão resistente IAC 22, porém, as variedades BRS Cedro e Sure Grow apresentaram-se como moderadamente re-
Tabela 2 - Reação de variedades de algodoeiro inoculadas com Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum, sob condições controladas, em avaliação aos 90 dias após o plantio. Várzea Grande (MT). 20041 Tratamentos ITA 90 CD406 CD 407 FMX 966 FMX 977 Fabrika Makina BRS Sucupira BRS Cedro Delta Opal Delta Penta Sure Grow ST 474 IAC 22 CV
Severidade de Fusarium oxysporum f sp vasinfectum* 4,56 def 4,88 f 4,75 ef 3,68 cd 3,44 bc 4,50 def 4,50 def 3,87 cde 2,68 b 3,75 cd 3,25 bc 2,94 bc 3,06 bc 1,43 a 10,58
Reação da variedade** AS AS AS S S AS AS S MR S S MR S R
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; *Escala de avaliação proposta por Nascimento et al., (1995); ** R = resistente; MR = moderadamente resistente; S = susceptível; AS = altamente susceptível. 1 - Pesquisa financiada com recursos do FACUAL
sistentes (Tabela 2). Foram observadas no Mato Grosso, em campos de algodoeiro das variedades ITA 90, BRS Cedro, BRS Acácia,
SINTOMAS
O
s sintomas dessa doença podem aparecer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta. Em plântulas, os cotilédones e as folhas murcham, amarelecem e caem, e o sistema vascular torna-se descolorido. Em plantas mais velhas os primeiros sintomas usualmente aparecem nas folhas do baixeiro, no período do florescimento, onde as folhas apresentam-se com margens amareladas a bronzeadas. O sistema vascular de plantas infectadas apresenta descoloração do marrom escuro ao preto, de forma que a secção transversal do caule ou da raiz pode apresentar escurecimento dos vasos, resultante da oxidação e polimerização de compostos fenólicos. Em função da obstrução dos vasos do xilema por tiloses, micélio, polissacarídeos e géis, o fluxo de água e nutrientes é interrompido, e os sintomas de murcha são notados na parte aérea da planta. Andréia Quixabeira Machado
Fungicidas para o controle de fusarium, respectivamente: Carbendazim + Tolyfluanid + Pencicuron, Carbendazim + Thiram e Thiabendazol + Thiram Charles Echer
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Charles Echer
Andréia Quixabeira Machado
Detalhe do crescimento do fungo da murcha de fusarium, inoculado em sementes de algodão em laboratório
BRS Jatobá, CD 406, CD 401, Fiber max 966, Makina, Fabrika, ST 474, SM3, IAC 24 e Destak, variações no quadro sintomatológico da murcha de fusarium, com ocorrência de infecção leve a infecção severa. Na avaliação in vitro de fungicidas para o controle de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum em sementes, os tratamentos que proporcionaram inibição total do crescimento micelial do fungo foram os fungicidas Carbendazim + Thiram (300 ml p.c/100 kg de semen-
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tes), Thiabendazol + Thiram (200 ml p.c/100 kg de sementes) e a mistura Carbendazim + Tolyfluanid + Pencicuron (200 + 150 + 300 ml ou g p.c/100 kg de sementes), semelhantes estatisticamente ao fungicida Tiofanato metílico (150 ml p.c/100 kg de sementes) (Tabela 3). A mesma tendência foi observada no tratamento de sementes para os fungicidas Carbendazim + Thiram (300 ml p.c/100 kg de sementes), Thiabendazol + Thiram (200 mL p.c/100 kg de se-
mentes) e a mistura Carbendazim + Tolyfluanid + Pencicuron (200 + 150 + 300 ml ou g p.c/100 kg de sementes), que proporcionaram nível de controle de 100% na ocorrência do patógeno nas sementes quando comparados com a testemunha sem fungicida (Tabela 4). Sabendo-se que no Centro-Oeste a murcha de fusarium não ocorre de forma generalizada, o tratamento de sementes com fungicidas apresenta-se como a técnica mais viável de controle dessa doença, principalmente quando o risco de disseminação da murcha por meio de sementes infectadas é tão grande com variedades resistentes quanto C com variedades suscetíveis. Andréia Quixabeira Machado, Univag Daniel Cassetari Neto, Famev/UFMT
Tabela 3 - Inibição do crescimento micelial de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum por meio do controle in vitro com diferentes fungicidas. Várzea Grande (MT) 2004*
Tabela 4 - Controle químico de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum, em sementes de algodoeiro da variedade Delta opal inoculadas. Várzea Grande (MT). 2004*
Tratamentos
Dose (g ou ml/ Crescimento 100 kg sementes) micelial (cm) Tiofanato metílico 150 0,34 a Carbendazim + Thiram 300 0a Carboxim + Thiram 500 2,00 b Carbendazim + Tolyfluanid + Pencicuron 200+150+300 0a Thiabendazol + Thiram 200 0a Fludioxonil 200 6,86 c Testemunha 8,55 d CV 12,91
Tratamentos
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. * Pesquisa financiada com recursos do FACUAL
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. * Pesquisa financiada com recursos do FACUAL
Tiofanato metílico Carbendazim + Thiram Carboxim + Thiram Carbendazim + Tolyfluanid + Pencicuron Thiabendazol + Thiram Fludioxonil Testemunha CV
Dose (g ou ml/ 100 kg sementes) 150 300 500 200+150+300 200 200 -
Porcentagem de ocorrência 0,50 a 0,00 a 19,90 b 0,00 a 0,00 a 68,50 c 85,70 c 18,24
Porcentagem de controle 99,60 100,0 76,78 100,0 100,0 20,10 -
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Café
Praga nova Perfurando os ramos das plantas, sejam eles produtivos ou ladrões, a nova praga dos cafezais ameaça a produção brasileira, principalmente porque ainda não se têm dados de estudos no país sobre controle da broca dos ramos
U
ma nova praga do cafeeiro, a broca dos ramos ou hastes, acaba de atingir a principal região de café robusta (Conillon) do Brasil, sendo constatada, nesse último ano, no Norte do estado do Espírito Santo. Trata-se de um pequeno besouro, marrom escuro, quase preto, com 1,2 – 1,6 mm de tamanho, muito parecido com a broca dos frutos (Hypothenemus hampei), aliás pertencendo à mesma família Scolitidae. A identificação da espécie dessa praga ainda depende das respostas sobre os exemplares enviados a taxonomistas. Mas, pelas suas características, é quase certo tratar-se de Xylosandrus compactus. Essa espécie foi constatada pela primeira vez no Brasil em 1999, em algumas plantas de cafeeiros robusta no Sul da Bahia (em Una),
mas as plantas atacadas foram eliminadas e a broca desapareceu naquele local (Matiello et alli, 1999). Em 2004/05, muitas lavouras de café Conillon foram observadas com ataque da broca de ramos, em vários municípios, como Colatina, Baixo Guandu e Santa Teresa, no estado do Espírito Santo. Nos últimos meses foi constatado também ataque em cafezais da região vizinha, no Vale do Rio Doce, em Mutum, Minas Gerais.
SINTOMAS DA PRAGA A identificação da broca dos ramos é bastante fácil, mesmo no campo, pela observação dos sintomas e sinais na lavoura. A princípio, deve-se verificar se existem ramos mortos nas plantas, tanto os ramos produtivos (laterais) como os ramos ortotrópicos
ou ladrões (verticais). Nesses ramos atacados as folhas secam, mas ficam bastante tempo presas aos ramos. Em seguida, deve-se verificar a existência de pequenos furos externamente, na região do ramo que divide a parte morta da parte que fica viva. Esses furos têm 0,2 a 0,5 mm. Caso não se consiga enxergar, externamente, os furos, corta-se, de cima para baixo, o ramo atacado, com um canivete, para observar, na parte central, junto à medula do ramo, a presença de uma galeria, escura, onde se podem encontrar os adultos, ovos e larvas da broca. Muitas vezes encontra-se a galeria sem a broca, e é comum a presença de formigas, que ali passam a habitar, podendo, não se sabe, até constituir um inimigo natural, comendo os ovos da broca. É freqüente observar vários adultos ou préJosé B. Matiello
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José B. Matiello
adultos (cor mais clara), até 20 por galeria. O adulto se parece com a broca do fruto, tendo 1,2 – 1,6 mm de comprimento e é de cor escura. Sob a lupa a diferença em relação à broca dos frutos é que a broca dos ramos é lisa, não tendo pêlos sobre o corpo como aquela. A porção atacada dos ramos, onde a broca fura, sempre se situa na parte com a casca ainda verde. No caso dos ramos ladrões ela ataca aqueles que saem na base da planta, desde bem jovens. Abaixo da área atacada eles podem rebrotar, mas, a renovação de hastes velhas, na poda de produção usada no cafeeiro Conillon, fica prejudicada. A morte dos ramos, nas porções acima da área atacada, ocorre pela destruição da medula do ramo e de pequena porção do lenho em volta dela. Na galeria é possível que haja, também, entrada de fungos, que apodrecem e aceleram a morte dos tecidos. À primeira vista parece que algumas plantas robusta, aquelas com folhas maiores, são mais atacadas que outras, tipo Conillon folhas-finas. Em uma área de lavoura verificou-se o ataque somente nas plantas de um clone usado como polinizador. Lembra-se que o primeiro ataque, na Bahia, só ocorreu em plantas de um tipo de robusta. Esses aspectos de suscetibilidade ou de preferência da broca devem ser objeto de observações pela pesquisa. Nas fotos aqui incluídas podem-se observar os sintomas do ataque da broca do cafeeiro nos ramos, o detalhe dos furos, das galerias e do inseto em si.
MEDIDAS DE CONTROLE Não se dispõe, para as condições brasileiras, de estudos ou pesquisas de controle, os quais serão instalados nesse ano agrícola. Pela experiência em outros países, podem-
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Detalhe do local onde a broca fura os ramos do cafeeiro, sempre situado na parte com a casca ainda verde
se, entretanto, indicar dois tipos de controle: a poda sanitária, aplicada às pequenas plantações, onde o produtor vai cortando os ramos secos e queimando-os, para
reduzir a população da praga, e o controle químico, que a literatura cita como eficiente o uso de inseticidas organo-fosforados. Ambos tipos são difíceis, especialmente o segundo, pois a broca fica protegida dentro do ramo. O que se pode indicar, também, é o uso de produtos à base de endossulfan (Thiodan e outros) com prioridade nas áreas atacadas pela broca dos ramos, sabendo-se que o tratamento é bastante eficiente contra a broca dos frutos e, de forma paralela, pode reduzir a população da broca dos ramos. A nível de medidas gerais, para conhecer e controlar o problema, recomenda-se uma ação de organismos estatais (Mapa, Secretarias de Agricultura), visando efetuar um levantamento da infestação e, até, buscar medidas para reduzir a disseminação da praga. Nesse aspecto cita-se o fator desfavorável que é a grande quantidade de espécie de plantas (mais de 200) citadas pela literatura como atacadas por Xylosandrus. Citam-se, como exemplo, o cacaueiro, a mangueira, o eucalipC to, o abacateiro etc. J. B. Matiello, Mapa/Procafé
PRAGA SÉRIA EM OUTROS PAÍSES
X
ylosandrus compactus, cujo gênero era classificado anteriormente como Xyloborus é uma praga séria do cafeeiro na Ásia e na África. Tivemos oportunidade de observar forte seca de ramos em cafeeiros devida ao ataque da broca, no Vietnã, no Sul da China e no Timor Leste, por ocasião de viagens de estudo e de consultorias feitas em programas de colaboração técnica àquelas regiões. No Timor Leste, onde estivemos em duas ocasiões, para um Programa de Ajuda do Governo Brasileiro, através da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do MRE, verificamos os graves danos pela broca das hastes, que ali era restrita aos cafeeiros robusta, não se observando a praga sobre cafeeiros de variedades arábica, plantados próximos. Na África existem relatos de ataques severos da broca e, na América, a literatura cita sua ocorrência em cafezais no Equador. Para a cafeicultura brasileira Xylosandrus compactus é considerada, pelo Ministério da Agricultura, uma praga quarentenária, isto é, uma praga exógena ao cafeeiro, cuja entrada no país deve ser evitada.
Com a ocorrência recente, as observações iniciais em lavouras atacadas mostram já prejuízos significativos, preocupando os produtores, que ao verem vários ramos secos nos cafeeiros acham estranho e os levam até os técnicos, para saber do que se trata, achando, eles mesmos, que o problema está se tornando grave em suas lavouras. É preciso, no entanto, esperar e estudar a evolução do ataque em nossas condições; dependendo da sua adaptação ambiental, relativamente ao clima, à variedade (clone) e à presença de inimigos naturais, pode haver maior ou menor potencial de prejuízos. É necessário conhecer, também, através de levantamento, a distribuição da praga nas lavouras e nas regiões, inclusive para eventuais medidas de controle. De qualquer modo, fica o alerta, para os técnicos e produtores, no sentido de que devem conhecer e passar a acompanhar o ataque da broca dos ramos, e, assim, auxiliar na avaliação dos problemas causados pela praga e nos trabalhos futuros para seu controle.
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Trigo
Marco Antônio Lucini
Suplemento via semente e foliar
O fornecimento de nutrientes via sementes e foliar não substitui a aplicação via solo, mas serve de suplemento para a cultura. Isso evita desequilíbrios fisiológos no metabolismo vegetal, causados tanto pela deficiência como pelo excesso de um ou mais nutrientes, além de aumentar a resistência das plantas
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mentes e foliar, mas que ainda carece de maiores informações técnicas. Alguns trabalhos realizados nas culturas da soja e do milho têm indicado resultados positivos, com incremento na produtividade variando entre 4 a 6 sc/ha para soja e de 15 a 20 sc/ha para o milho. Apesar dos resultados apresentarem-se promissores, ainda há necessidade de pesquisas para que essa tecnologia possa ser recomendada com segurança e em grande
escala. Para verificar a eficiência da aplicação de micronutrientes como forma de elevar a produtividade, foi conduzido um ensaio na safra 2005 na Fazenda Record, localizada no município de Luziana (PR) (24º’16’58'’ S, 52º19’50'’ W e altitude aproximada de 600 m), sobre um latossolo vermelho Distroférrico (Tabela 1) e estudados quatro tratamentos (Tabela 2). O tratamento de sementes foi realizado
Dirceu Gassen
e acordo com dados publicados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o trigo é a segunda cultura de grãos mais importante no mundo, sendo superada apenas pelo milho. No Brasil, a importância desse grão é indiscutível, participando da mesa do consumidor em quase todas as refeições, seja na forma do pãozinho francês do café da manhã até a macarronada do final de semana. Mesmo apresentando tal importância, no Brasil não há uma política que incentive seu plantio, embora se saiba que o país importa cerca de 60% dos grãos que consome, apresentando uma produtividade média de 2,6 t/ha, enquanto países como a China alcançam produtividades de médias de 3,9 t/ha. Para reverter esse quadro, uma das alternativas é retomar o investimento em pesquisas de base, principalmente na melhoria das cultivares já existentes e no desenvolvimento de novas tecnologias. Neste sentido, uma prática de campo que vem ganhando espaço é a aplicação de micronutrientes, via tratamento de se-
O fornecimento de micronutrientes através de tratamento de sementes incrementou em 35% o perfilhamento das plantas
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Fotos Tadeu T. Inoue
manualmente em baldes plásticos, e a aplicação foliar dos produtos, realizada com bomba costal com pressão constante de CO2 de 25kgf/cm3, equivalendo a aplicação de um volume de calda de 150 l/ha. Foram realizadas duas aplicações foliares, aos 30 e 60 dias após a emergência (DAE). Para a cultura do trigo, o número de perfilhos produzidos por uma planta é uma variável importante, pois quanto maior o número de perfilhos, maior também a capacidade de produção de espigas, o que possibilitará a elevação da produtividade final da lavoura. Os tratamentos que receberam Q.Seed 78 - 45% de Zn (T3 e T4) em tratamento de sementes apresentaram um incremento médio de 35% na capacidade de perfilhamento das plantas, comparados à testemunha (Tabela 3). Esse resultado é devido, possivelmente, ao fornecimento direto de Zn às sementes, melhorando o desenvolvimento inicial do embrião, elevando o vigor e a germinação das sementes. O Zn é um micronutriente essencial
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Aplicação foliar dos produtos através de pulverizador costal com pressão constante de CO2
mento no peso da massa seca da parte aérea aos 65 DAE, sendo 6% maior do que o da testemunha. Na média geral, os tratamentos apresentaram um incremento de 2,9% na produção de massa seca da parte aérea, demonstrando que a aplicação de nutrientes via sementes e foliar melhora o desenvolvimento das plantas, elevando a produção de fotoassimilados, os quais poderão ser transportados para os grãos e armazenados. O fornecimento de nutrientes via sementes e foliar não tem como objetivo substituir o fornecimento via solo e sim servir como um suplemento para o vegetal, possibilitando uma melhora em termos gerais do seu metabolismo, por evitar pequenos desequilíbrios fisiológicos causados tanto pela deficiência como pelo excesso de um ou mais nutrientes. Assim, elevando-se a capacidade das plantas em resistir aos diferentes tipos de estresses, bióticos ou abióticos, principalmente ao hídrico e ao ataque de pragas e doenças. Quanto à produtividade, a aplicação de micronutrientes via tratamento de sementes (T4) apenas, ou combinada à foliar (T3) elevaram a produtividade de 29,8 sc/ha, na Testemunha, para cerca de 39,5 sc/ha (Tabela). Apesar da produtividade média da lavoura ser baixa (34,68 sc/ha) para os padrões regionais (45,00 sc/ha), os tratamentos com micronutrientes apresentaram um incremento de 31% na produção de grãos quando comparados com a Testemunha. A produtividade do talhão (160 ha) onde foi realizado o experimento foi de 25,2 sc/ha, apesar do clima favorável em quase todo o período de safra. O baixo rendimento da lavoura este ano foi causado pelo excesso de chuvas na época da colheita, sendo verificada uma precipitação de 375 mm no mês de outubro, 87% maior que a média histórica de 210 mm (www.simepar.br). O excesso de chuvas,
ao crescimento e desenvolvimento das plantas, atuando como precursor do aminoácido essencial triptofano, necessário para a produção de auxina, e ativador de enzimas, principalmente das ligadas aos mecanismos de detoxicação celular, como é o caso da SODZn (Superóxido-dismutase), Tabela 1 – Características químicas do Latossolo Vermelho Distroférrico que atua diminuindo a ação nociva de radicais livres (1/2 utilizado no experimento, na profundidade de 0 a 20 cm pH cmolc dm-3 mg dm-3 g dm-3 O2 e H2O2) sobre o metabolis3+ + 3+ 2+ 2+ 2+ + H2O CaCl2 Al H +Al Ca +Mg Ca K P C mo. 10,10 6,10 0,42 21,94 26,36 Já a aplicação de micronu- 5,99 6,64 0,00 3,71 mg dm-3 cmolc dm-3 % trientes via tratamento de seZn Fe Cu Mn B CTC m V mentes e foliar (T3) demons0,21 14,23 0 73 trou uma tendência de incre- 8,47 55,60 2,60 49,00 Tabela 2 – Produtos e doses estudados no experimento Tratamentos T1 T2 T3 T4
Produtos e doses utilizadas Testemunha Q.Fosfito (1,5 l/ha) Q.Seed 78 (2 ml/kg semente) + Q.Fosfito (1,5 l/ha) + Niphokam 108 (1 l/ha) + Q-Znitro (0,6 l/ha) + Q-Boro (0,8 l/ha) + Q-P30 (2 l/ha) Q.Seed 78 (2 ml/kg Semente)
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aliado a temperaturas elevadas neste período, além de causar atraso na colheita, também serviu para diminuir a qualidade dos grãos, principalmente o PH. Quanto aos teores dos macro e micronutrientes da parte aérea das plantas (Tabela 4), os maiores valores de Mg e S foram obtidos no T4, sendo 2,34 g/kg e 3,59 g/kg, respectivamente. Para o P o maior valor foi verificado no T3 (2,12 g/ kg). Esses valores são 9%, 34% e 25% maiores para o Mg, o P e para o S quando comparados com a testemunha, respectivamente. O T2 apresentou os maiores teores de N (20,10 g/kg), Ca (10,38 g/kg) e K (31,07 g/kg), sendo essa variação de 11,2% para o N, 12% para o Ca e de 1,5% para o K. Dessa maneira, podese afirmar que a elevação nos teores de todos macronutrientes, no tecido vegetal das plantas de trigo, pela aplicação dos diferentes tratamentos, proporcionou uma melhora em seu crescimento vegetativo desde a fase de germinação (maior vigor das sementes), perfilhamento (T3 e T4) e florescimento (T3), como mostra a Tabela 3. A aplicação das doses recomendadas para os produtos aparentemente causou
Vista das parcelas experimentais para avaliação da eficiência da aplicação de micronutrientes
a elevação do teor desses nutrientes no tecido vegetal de maneira uniforme, não acarretando interações antagônicas entre os mesmos, possibilitando ao metabolismo desempenhar suas funções equilibradamente, seja no metabolismo ener-
gético, como é o caso do P; na síntese de proteínas, no caso do N e do S; na estrutura de parede e membranas celulares, no caso do Ca e Mg, também importan-
Tabela 3 - Número de perfilhos aos 30 DAE, massa seca aos 65 DAE e produtividade de plantas de trigo submetidas a diferentes tratamentos Tratamentos T1 T2 T3 T4 Média
Perfilhos (no/plantas) 2,63 2,40 3,43 3,33 2,94
Massa Seca (g/10 plantas) 50,71 51,02 53,77 51,71 51,80
Produtividade kg/ha sc/ha 1,790,85 29,85 2,091,50 34,89 2,352,94 39,51 2,379,05 39,65 2,153,58 34,68
Produtividade relativa (%) 100,00 117,00 131,00 128,00 119,00
Obs.: Produtividade Relativa cálculo realizado considerando a testemunha (T1) como 100%
Tabela 4 - Teor de macronutrientes (g/kg) em plantas de trigo (colmo + folhas) submetidas a diferentes tratamentos aos 65 DAE
Tabela 5 - Teor de micronutrientes (mg/kg) em plantas de trigo (colmo + folhas) submetidas aos diferentes tratamentos aos 65 DAE
Tratamentos* T1 T2 T3 T4 Média
Tratamentos* T1 T2 T3 T4 Média
N Ca 18,01 9,22 20,10 10,38 19,64 8,85 19,98 8,55 19,43 9,25
Mg 2,15 1,98 2,51 2,34 2,24
P 1,58 1,64 2,12 1,79 1,78
K 30,63 31,07 26,43 24,38 28,12
S 2,86 3,14 2,87 3,59 3,11
Fe 375,33 582,83 239,63 261,30 364,77
Mn 103,33 114,17 101,67 93,33 103,12
Zn 23,92 32,63 54,25 28,68 34,87
Cu 7,15 6,93 7,85 8,25 7,54
os quais apresentaram maior produtividade (Tabela 5). Apesar de esses tratamentos apresentarem a redução nos teores destes nutrientes, eles apresentam-se dentro da faixa média de suficiência ideal (Tabela 6). A diminuição nos teores desses micronutrientes pode estar atrelada ao fornecimento de Zn, Cu e Mg através das aplicações foliares, favorecendo a atividade metabólica e estruturação das membranas celulares. O Zn apresentou tendência inversa ao do Fe e Mn, apresentando uma elevação no seu teor no T3 (54,25 mg/kg), sendo 27% mais elevado que o da Testemunha, situando-se na parte mediana da faixa de suficiência. Cabe salientar que a análise química da parte aérea foi realizada com a planta inteira (colmo + folhas) e não somente com a folha bandeira, como é reco-
Fotos Tadeu T. Inoue
te para o processo fotossintético através de sua participação na estrutura da clorofila e do K na manutenção da turgidez das células, transporte de açúcares e atividade de inúmeras enzimas essenciais para o metabolismo vegetal. Para os micronutrientes (Tabela 5) não foi observada uma tendência uniforme de resposta para todos os nutrientes dentro de um mesmo tratamento. As menores respostas foram verificadas para o B e o Cu, que não tiveram elevação significativa em seus teores na parte aérea, estando os teores em todos os tratamentos no limite inferior considerado ideal (Tabela 6). Para o Fe e o Mn, observa-se que os menores teores corresponderam aos tratamentos T3 (239,63 mg Fe/kg e 101,67 mg Mn/kg) e T4 (261,30 mg Fe/kg e 93,33 mg Mn/kg)
B 4,83 4,94 5,08 4,02 4,71
Tratamento isolado de nutrientes apresentou melhores resultados quando comparado com a utilização de Mix ou Pool de nutrientes
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Inoue avalia a resposta do trigo à nutrição via tratamento de sementes e via foliar
mendado pela pesquisa. A realização da análise de tecidos da planta inteira deveuse à necessidade da pesagem da parte aérea para a obtenção da massa seca das plantas, dificultando assim a separação da folha bandeira das demais partes da planta. A melhor relação benefício/custo foi alcançada na área onde foi utilizada apenas a aplicação de nutrientes via tratamento de sementes (Q.Seed 78 na dose de 2 ml/kg semente), com um retorno de 9,96 vezes o valor do produto aplicado (Tabela 7), seguido por aquela onde foi realizado apenas o foliar (T2), com um retorno de 3,56 vezes o valor do produto aplicado. Apesar do baixo retorno do capital investido, o tratamento com micronutrientes via tratamento de sementes e foliar (T3) ainda apresentou uma relação benefício/custo de 1,97 vezes o valor dos produtos aplicados Assim, observa-se que a aplicação de produtos isolados apresentaram melhor relação benefício/custo, indicando que nem sempre a utilização de um mix ou pool de nutrientes é mais viável financeiramente ao produtor. Comparando-se os tratamentos T4 e T3, que apresentaram produtividades similares (T4 1,1% maior), nota-se que o custo com a aquisição dos produtos aplicados influencia-
Implantação do experimento: plantio mecanizado com semeadora de parcelas (sete linhas, 19 cm entrelinhas)
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Tabela 6 - Teores de nutrientes considerados adequados para a cultura do trigo Nutriente
Teores g/kg 20 – 34,0 2,1 – 3,3 15 – 30,0 2,5 – 10,0 1,5 – 4,0 1,5 – 3,0
N P K Ca Mg S mg/kg Fe Cu Zn B Mn Mo
10 – 300 5 – 25 20 – 70 5 – 20 25 – 150 0,3 – 0,5
Fonte: Nutrientes: Teores e Interpretações (Fundação ABC, 2004)
ram diretamente na relação benefício/ custo. Assim, comparando estes dois tratamentos, verifica-se que, apesar de produtividades similares, o custo de R$ 18,90 do T4 contra o custo de R$ 91,50 do T3 foram decisivos na lucratividade da lavoura (Tabela 7). Outro fato importante é a comparação da aplicação de fungicidas e produtos como o Q.FOSFITO, que possuem ação protetora, por elevar a síntese de fitoalexinas e compostos fenólicos na planta, podendo diminuir a incidência e severidade de doenças como as manchas foliares, entre outras. No T2, onde foi utilizada a dose de 1,5 l/ ha de Q.FOSFITO, a produtividade foi 17% maior que a da testemunha, com um custo de R$ 27/ha. Considerando-se que na testemunha foram realizadas duas aplicações do fungicida Bayfidan CE na dose de 0,5 l/ha, representando um custo de R$ 102,82 (segundo Coopermibra, valor do
Diferença do aspecto visual de plantas que receberam o tratamento (esq) e das que não receberam
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Tabela 7 - Relação benefício/custo em R$/ha da lavoura do trigo submetida à aplicação de nutrientes via tratamento de sementes e foliar Tratamentos* T1 T2 T3 T4
Produtividade (kg/ha) 1.790,85 2.091,50 2.352,94 2.379,05
Receita Bruta 0,00 96,21 179,87 188,22
Custo 0,00 27,00 91,50 18,90
Receita Líquida 0,00 69,21 88,37 169,32
Relação Benefício/Custo 0,00 3,56 1,97 9,96
Obs.: - Corresponde a receita adicional conseguida através da aplicação dos produtos via tratamento de sementes e/ou foliar. - Para os cálculos da receita bruta, foi considerado o valor de R$19,20 o saco de trigo para região de Campo Mourão. - Valores dos produtos (NIPHOKAM 108 R$18,00 L; Q.FOSFITO R$18,00 L; Q.ZNITRO R$8,00 L; Q.BORO R$11,00 L; Q.P-30 R$7,00 L; Q.SEED R$90,00 L).
dia 10/01/2006), e no T2 não foram realizadas as mesmas. O custo líquido final do T2 foi R$ 75,82 menor, quando comparado ao da testemunha, elevando o ganho líquido para R$ 145,03/ha. Cabe salientar que este ano foi atípico para o aparecimento de doenças, sendo as aplicações de fungicidas na área comercial realizadas preventivamente, não tendo estas causado danos à produtividade. Produtos indutores de resistência como o Q.FOSFITO devem ser utilizados associados ao manejo fitossanitário sob recomendação do técnico responsável da área produtiva, não devendo nunca ser utilizado como substituto desses. O intuito principal da utilização destes indutores de resistência é a possível redução de doses e número de aplicações de defensivos, bem como promover aumento na qualidade dos produtos comercializados.
CONCLUSÕES • A aplicação dos nutrientes via tratamento de sementes (T4) elevou a produtividade do trigo em 33%, comparada à testemunha (T1), e em 57%, quando comparada à produtividade média da área comercial (25,2 sc/ ha) da fazenda na qual foi conduzido o ensaio. • O aumento na produtividade pode estar ligado ao melhor balanço nutricional das plantas que receberam a aplicação dos nutrientes, tanto via semente como foliar, seja pela elevação dos teores dos macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S)
como também por equilibrar os teores dos micronutrientes, aumentando os teores de Zn e Cu em detrimento dos altos teores de Fe e Mn. • Apesar de a aplicação de nutrientes via tratamento de sementes e foliar demonstre-se uma prática viável, seus resultados são dependentes da interação com diversos fatores, entre eles a variedade, o tipo de solo e o tempo. Assim, necessitam-se mais pesquisas na área, C para sua validação. Tadeu T. Inoue, Sandra Regina Magro, Lucas Silvério e José Petruise Ferreira Junior, Faculdade Int. de Campo Mourão Noé Esteves, Agropecuária Ipê
Empresas
Vilso Júnior Santi
Um ano de Brasil H
á um ano no mercado brasileiro, a Nidera já está consolidada junto às principais regiões produtoras do país. A empresa iniciou suas atividades no país em maio do ano passado, através da compra dos Programas de Soja e Milho da Bayer Seeds, depois de cinco anos de estudo sobre o mercado brasileiro. Desde então vem trabalhando com vários centros de pesquisa que desenvolvem milhares de linhas, híbridos e variedades para obter os melhores genes de rendimento, aumentar a sanidade e a tolerância a diferentes pragas. Pesquisadores desenvolvem provas e cruzamentos em mais de 20 locais em distintas zonas produtivas do país; além do intercâmbio de material genético com várias entidades, organismos públicos e empresas privadas de todo o mundo, permitindo ter uma grande base genética para desenvolver os melhores produtos. Antes de serem lançados no mercado, todos os produtos são testados quanto a rendimento, condições de sanidade, reações ao stress em plantio convencional e direto e, também, em diferentes solos, com diferentes aplicações de fertilizantes e defensivos. Esse controle garante a qualidade das suas sementes. Dentre os produtos existentes no mercado, estão os híbridos de milho, com destaque para o A015, altamente tolerante a phaeosphaeria e ao acamamento, indicado para as regiões subtropicais e de transição; variedades de soja, com destaque para a
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variedade A7002 devido ao seu alto potencial produtivo, principalmente para a região dos Cerrados brasileiros, e, em breve, o sorgo e o girassol devem aumentar o portifólio, sendo lançados para as principais regiões produtoras A prioridade da Nidera Sementes é “levar rendimento ao produtor brasileiro e a toda a cadeia produtiva, através da qualidade e tecnologia na pesquisa e no desenvolvimento de produtos, pela a incorpora-
ção das mais modernas tecnologias, como, por exemplo, os marcadores moleculares, que permitem incorporar características desejadas unicamente nos genes de interesse, no menor tempo possível”, afirma Rodrigo Bosch, gerente comercial. “A Nidera veio para ficar, como prova disso já realizamos vários investimentos de ampliação e reestruturação para atendermos ao produtor brasileiro com excelência e quaC lidade”, complementa.
HISTÓRICO DA NIDERA
A
Nidera Holdings é um conjunto de trading global e diversificado de agrocommodities, sediada em Rotterdam, fundada em 1920 na Holanda, com negócios em Nederland, East Indies, Deutschland, England, Rússia e Argentina – as iniciais de cada país formam o nome da empresa: Nidera. A Nidera S.A. foi criada em 1929, sendo suas principais atividades compra, condicionamento e exportação de grãos. Nas quatro décadas seguintes formaram-se estreitos vínculos comerciais com importantes mercados estrangeiros. Em 1989 é adquirida a subsidiária argentina da companhia “Asgrow Seed Co”. Entre 1989 e 1995 são adquiridas três unidades de classificação de sementes em
Venado Tuerto, Chacabuco e Ballenera. Entre 1992 e 2002 efetua-se uma forte expansão dos programas de pesquisa de sementes, com a introdução de produtos (híbridos e variedades) de alto rendimento e prestígio técnico no mercado. Foi a primeira a lançar sojas RR e trigos europeus. Desde então, a Nidera se posiciona com êxito nas suas diversas unidades de negócio. Suas principais atividades na Argentina estão voltadas para pesquisa e desenvolvimento de sementes híbridas e varietais, venda e distribuição de sementes, fertilizantes, agroquímicos e outros insumos agrícolas, exportação de cereais, oleaginosas e seus subprodutos e processamento, refinação e embalagem de óleo vegetal.
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Beneficiados pela estiagem do último verão, surtos de pulgões atacaram lavouras de milho, causando perdas de até 60% em algumas propriedades na região Sul. Os insetos se alojam no cartucho e apenas são visualizados no estádio de pendoamento, quando a produção geralmente já está comprometida
Fotos Paulo Roberto Valle da S. Pereira
Capa
Ataque surpresa
N
a safra 2005/06, os produtores de milho da região-sul do país foram surpreendidos pela ocorrência em elevados níveis populacionais do pulgão-do-milho, inseto considerado praga secundária para essa cultura, uma vez que raramente causava impacto econômico negativo. O clima seco que predominou no início da safra foi provavelmente a principal causa do aumento na população desse inseto. Nas regiões onde os invernos são amenos, caso do Brasil, a reprodução desse inseto é assexuada (anhocíclicos), sendo realizada exclusivamente por partenogênese telítoca, isto é, os embriões desenvolvemse no interior do corpo das fêmeas, a partir de óvulos não fecundados, originando sempre fêmeas. A temperatura ideal para o desenvolvimento de R. maidis fica entre 18 e 24o C quando, aproximadamente sete dias após o nascimento das ninfas, esse inseto atinge a fase adulta. Nessas condições de temperatura e com clima seco, o pulgão-do-milho apresenta alta capacidade de proliferação, sendo a duração média do período reprodutivo de 12 dias, e cada fêmea podendo parir até seis ninfas por dia. A duração média do ciclo biológico de R. maidis a 20o C é de 28 dias. Fatores climáticos como vento e chuvas freqüentes são desfavoráveis ao crescimento populacional desse inseto. As altas infestações do pulgão-do-milho na safra 2005/06 foram desencadeadas principalmente pela estiagem que predominou até o final de janeiro, quando foram observadas precipitações médias inferiores à média dos últimos dez anos. Essa condição, combinada com altas temperaturas, beneficia o rápido desenvolvimento e a dispersão desse inseto, que ao colonizar lavouras novas não é percebido pelos agricultores. Além disso, a carência de água é benéfica para os afídeos, pelo aumento na concentração de nutrientes nos tecidos vegetais, até o ponto no qual a redução da pressão osmótica seja o fator limitante para Figura 1 - Rhopalosiphum maidis: A) fêmea áptera adulta em vista dorsal, B) antena e C) porção final do abdômen
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CARACTERÍSTICAS
O
pulgão-do-milho, cujo nome científico é Rhopalosiphum maidis (Fitch, 1856,), possui corpo alongado de coloração amarelo-esverdeada ou azul-esverdeada e com manchas negras na área ao redor dos sifúnculos; tamanho variando de 0,9 a 2,6 mm de comprimento; patas e antenas de coloração negra; antenas curtas, com seis segmentos, e processo terminal do segmento VI com 2 a 2,3 vezes o comprimento da base; sifúnculo com base mais larga que ápice, de coloração negra e com constrição apical; cauda de coloração a ingestão de seiva pelo inseto. Outro aspecto que pode ter contribuído para a ocorrência de populações elevadas foi o uso de inseticidas de amplo espectro de ação para o controle da lagarta-do-cartucho que, ao reduzirem ou eliminarem as populações de inimigos naturais, favoreceram o crescimento da população desse pulgão. Os indivíduos alados, responsáveis pela dispersão, alojam-se no cartucho do milho formando novas colônias que se desenvolvem no pendão em formação e nas gemas
Adultos de forma alada são os responsáveis pela dispersão das colônias de pulgões
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negra com dois pares de cerdas laterais . Os pulgões são insetos encontrados em colônias formadas por fêmeas adultas e jovens (ninfas), que se alimentam pela sucção de seiva nos tecidos mais tenros da planta, sejam eles estruturas vegetativas ou reprodutivas. A forma adulta freqüentemente observada é a áptera, e a forma alada, responsável pela dispersão das colônias, é encontrada quando a população do inseto na planta é alta, a fonte de alimento está se esgotando ou as condições ambientais são desfavoráveis. florais e só serão visualizadas no estádio de pendoamento, quando a população já está bem alta, e, muitas vezes, a produção, comprometida. Uma vez que esse inseto é considerado praga secundária na cultura do milho, pouca importância foi dada até o momento para a quantificação e qualificação dos danos por ele causados. Entretanto, em outros países, trabalhos científicos mostram que as infestações que ocorrem nos estádios vegetativos ou até o pendoamento são as que resultam em maiores prejuízos. Quanto mais cedo a infestação ocorrer, maior será o dano, e, dependendo do tamanho da colônia de pulgões no pendoamento, a redução na produção pode chegar a até 65%.
A redução na produção, com base no que foi observado a campo, é uma resposta fisiológica da planta e está associada com a interação entre a ação dos pulgões e os seguintes fatores: estresse hídrico; altas populações de pulgões; possível ação tóxica da saliva do pulgão; compactação dos grãos de pólen e cobertura dos estilo-estigmas pela excreção do excesso da seiva ingerida (solução açucarada denominada “honeydew”), causando falhas na polinização e deficiências na granação das espigas; desenvolvimento do fungo denominado fumagina sobre o “honeydew”, cobrindo a superfície foliar e prejudicando a fotossíntese e outros processos fisiológicos; e também o genótipo utilizado para cultivo. Os sintomas observados com mais freqüência são morte de plantas, perfilhamento de espigas, espigas atrofiadas e espigas com granação deficiente. Além disso, o pulgão-do-milho pode ser vetor de viroses, principalmente transmitindo o vírus do mosaico comum do milho, doença que tem se destacado nos últimos anos devido ao aumento na incidência e às perdas que pode causar na produção. Dentre os procedimentos para se evitar o ataque desse inseto podem-se citar a escolha de cultivares menos suscetíveis; a não realização de plantios em diferentes épocas para que não existam plantas de milho de diferentes estádios em áreas próximas; o tratamento de sementes utilizando inseticidas sistêmicos com o objetivo de evitar a infestação precoce nas lavouras de milho, quando as plantas estão na fase mais suscetível; e o monitoramento do inseto,
Espigas atrofiadas e sem produção de grãos são sintomas comuns do ataque da praga
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Fotos Paulo Roberto Valle da S. Pereira
observando-se em detalhe plantas ao acaso na região do cartucho. O monitoramento da população de pulgões deve ser iniciado na fase vegetativa da cultura, examinando-se cem plantas, em grupos de 20, formados aleatoriamente, repetindo-se essa operação para cada dez ha. O nível de infestação para cada planta é classificado da seguinte forma: 0 1 2
sem pulgões de um a cem pulgões por planta mais de cem pulgões por planta
O tratamento é justificado quando 50% das plantas amostradas estiverem na classe 2 (Figura 4), as plantas estiverem sob estresse hídrico e a população de pulgões estiver crescendo. A presença de inimigos naturais dos pulgões, como larvas e adultos de coccinelídeos (joaninhas), crisopídeos e microime-
Paulo e Salvadori alertam para os prejuízos causados pelo surto de pulgões na atual safra de milho
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nópteros (múmias), deve ser observada, pois um grande número de predadores e parasitóides sugere que o controle natural está reduzindo o número de pulgões. A diferenciação entre perdas causadas por estiagem e perdas causadas pela ação do pulgão-do-milho é uma tarefa difícil, uma vez que a ocorrência de infestações do inseto é estimulada pelo clima seco, e os danos finais podem se confundir. Entretanto, o produtor precisa estar consciente que, quando houver previsão de clima seco, um monitoramento constante das lavouras deve ser realizado para acompanhar o aumento e a disseminação das populações do pulgão-do-milho e, quando
Morte das plantas, perfilhamento de espigas, e granação deficiente podem ser evitados usando-se cultivares mais resistentes
necessário, adotar medidas para evitar seus danos, tendo como exemplo o que aconteC ceu na última safra. Paulo Roberto Valle da S. Pereira e José Roberto Salvadori, Embrapa Trigo José Magid Waquil, Embrapa Milho e Sorgo Rui Scaramella Furiatti, UEPG André Figueiredo, Monsanto
Quando em 50% das plantas monitoradas existirem de um a cem pulgões, é hora de entrar com o controle
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Milho
Autodefesa Bons resultados obtidos com o milho Bt, cultivado na Argentina há 8 anos, aumentam a expectativa de empresas e produtores que esperam a sua aprovação no Brasil
O
sonho de semear a lavoura e só voltar para colher no fi nal da safra já é realidade para os produtores de milho na Argentina. Atualmente mais de 1.950 milhão de hectares são plantados com híbridos transgênico BT (Bacillus thuringiensis), resistente a insetos, o que equivale a 65% dos três milhões de hectares cultivados no país. Além de resultados até 10% superiores em relação ao cultivo convencional, a adoção da biotecnologia resulta em economia na aplicação de inseticidas, que em muitos casos se torna absolutamente desnecessária. O cultivo de milho BT (na Argentina é chamado de Maiz Gard) é praticado na Argentina desde 1998, quando foram colocados no mercado daquele país os primeiros híbridos com a biotecnologia. Segundo o produtor Jean Luc Waimel, que planta 7 mil hectares do híbrido Bt MON 810 MG, na província de Tucumã, norte da Argentina, a principal vantagem da biotecnologia é a tranqüilidade que proporciona. “Semeio e depois saio de férias para Punta del Este. Só volto para a colheita”, brincou, referindo-se à facilidade do manejo. Por trabalhar com rotação de milho e soja e plantar soja RR há dez anos, praticamente não tem problemas com invasoras. Essa característica, somada à baixa incidência de doenças do milho na Argentina e à tecnologia Bt,
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geralmente, garante uma safra completa sem nenhuma aplicação de defensivos. “Se a mesma lavoura fosse plantada com milho convencional, eu seria obrigado a fazer pelo menos três aplicações de alto volume com piretróides e fosforados para controlar as lagartas, além do tratamento de sementes”, lembra. Relatos de produtores da mesma região dão conta de que na safra passada foram necessárias até cinco aplicações de inseticidas, demanda creditada em parte à maior incidência de diatréia. Hoje, a principal preocupação dos produtores de milho na Argentina é com o percevejo, praga que “ainda não é um problema, mas um alerta. Por enquanto o seu controle é feito com aplicações de piretróides”, explica o produtor Hugo Lazaro, que cultiva 20 mil hectares de soja e milho no Noroeste do país. Apesar de dados de pesquisa mostrarem que o Bt rende até 10% a mais que híbridos convencionais com as mesmas características, o que levou Hugo a escolher a tecnologia foi a possibilidade de dedicar mais tempo ao planejamento das safras de soja, sem se preocupar com o milho. Esses híbridos proporcionam uma janela maior tanto no plantio quanto na colheita, e, com isso, o produtor tem maior flexibilidade na hora de realizar as duas operações. “Posso deixar o milho por mais tempo na lavoura, se for necessário”, complementa. Prática que é possível, em boa parte, pela ausência
de danos nos talos da planta e na ponta da espiga, que são provocados pelas lagartas. O custo de produção do Bt é de aproximadamente US$ 260 por hectare, em uma produção de 7 mil kg/ha. Já o custo do cultivo convencional varia de US$ 260 a 300 (dependendo do número de aplicações necessárias), e o rendimento fica em torno de 6 a 7 mil kg/ha.
BT NO MUNDO Além da Argentina, o milho Bt já é cultivado em países como Estados Unidos, Alemanha, Espanha, França, Portugal e Tchecoslováquia. Na Espanha, por exemplo, o aumento médio no rendimento com o híbrido é de 12,5%, aproximadamente 150 por hectare. Nos EUA, em 1999, ano do lançamento da tecnologia, deixaram de ser aplicados agroquímicos em 450 mil hectares. Projeções indicam que até 2009 o
O QUE É MILHO BT?
O
milho BT é um híbrido que tem inserido em seu DNA o gene de uma bactéria comum dos solos, denominada Bacillus thuringiensis, permitindo à planta produzir cristais protéicos (proteínas Cry), tóxicos para organismo de um grupo específico de insetos. Uma vez ingeridas as proteínas, os enzimas digestivos do inseto ativam sua forma tóxica, destruindo suas células e levando-os à morte dois ou três dias após a ingestão do primeiro bocado. Como conseqüência, a planta que contém a tecnologia Bt está protegida das principais pragas da cultura como lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), lagarta do colmo (Diatraea saccharalis) e lagarta da espiga (Helicoverpa zea). Esta característica permite um manejo completamente diferenciado da cultura durante todo o ciclo.
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Fotos Delfim Martins
O produtor Jean Luc Waimel aposta na biotecnologia para garantir maior tranquilidade no cultivo de soja e milho À esquerda, híbrido convencional; à direita, híbrido com a tecnologia BT, menos danos e mais viçosos
país deixará de aplicar 4,6 milhões de quilos de defensivos. No Brasil, os ensaios de campo com a a tecnologia começaram em 1996, sendo submetida à CTNBio em 1999. Segundo Ricardo Miranda, diretor de desenvolvimento em biotecnologia da Monsanto, a perspectiva é de que nos próximos anos a tecnologia Yeldgard (resistência a insetos) já esteja liberada no
Comparativo de produtividade entre híbridos
Brasil. “Acreditamos numa decisão baseada na ciência e na aprovação do pacote”, espera. Além da tecnologia BT, que já passou por vários estágios de avaliação, também foram submetidos à CTNBio pacotes com milho RR e algodão RR, em 2004 e 2005, respectivaC mente. CE
BRASIL AINDA ESPERA APROVAÇÃO DO MILHO BT
R
icardo Miranda, Diretor de Desenvolvimento Tecnológico da Monsanto, diz que falta pouco para a tecnologia ser liberada no Brasil e mostra os principais benefícios da cultura para o país. Cultivar - Existe alguma perspectiva de aprovação da utilização de milho BT no Brasil? Ricardo Miranda - Acreditamos que sim, a CTNBio tem cientistas de renome, e acreditamos numa decisão baseada na ciência. Afinal essa tecnologia já está no mercado há mais de cinco anos em vários países do mundo, trazendo benefícios incontestáveis aos agricultores e ao meio ambiente. C - Em que estágio aprovação se encontra hoje, quais os estágios já estão superados? RM - O pacote de dados da tecnologia YieldGard (resistência a insetos) foi submetido à CTNBio em 1999, e ao longo deste período foram feitas algumas perguntas, que foram respondidas. Aguardamos agora a decisão final. C - Já existem híbridos prontos no Brasil para receberem a tecnologia? Quais as regi-
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ões serão contempladas, logo que a tecnologia for aprovada no Brasil? RM - Já temos a tecnologia introduzida em híbridos adaptados a várias regiões do Brasil. Nós estamos nos preparando para o lançamento da tecnologia assim que a mesma for liberada. C - Existem pesquisas no Brasil sobre rendimento dos híbridos BT? RM - Sim, nossos estudos têm mostrado um incremento de 10% em produtividade em relação ao sistema de controle de pragas tradicional. C - Todas as principais pragas do milho no Brasil serão controladas com o BT? RM - Não. A tecnologia tem controle em lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), lagarta do colmo (Diatraea saccharalis) e lagarta da espiga (Helicoverpa zea). Um bom exemplo de praga não controlada é a Diabrotica, que ataca a raiz do milho e será controlada por outra tecnologia desenvolvida pela Monsanto. C - O que os produtores podem esperar com essa nova tecnologia? RM - Melhor eficiência, melhor rendimento e maior facilidade no gerenciamento da cultura.
C - Na linha de biotecnologia, quais são os projetos da Monsanto que provavelmente estarão disponíveis nos próximos dez anos? RM - Teremos tecnologias que controlam pragas que atacam as raízes, tecnologias que trarão à planta uma maior capacidade de usar melhor a água disponível, tecnologias que utilizam melhor o nitrogênio disponível no solo, tecnologias que homogeinizam a germinação mesmo em baixas temperaturas, além de adicionarem componentes importantes à qualidade do milho, como maior teor de óleo, por exemplo.
Ricardo Miranda
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Molécula
Thiamethoxam
Fotos Divulgação
Afetar a transmissão de estímulos nervosos dos insetos e, com isso, levar o sistema nervoso ao colapso é a maneira como a molécula inseticida thiamethoxam age controle das principais pragas do café do cafeeiro (bicho mineiro, cigarras, cochonilha-da-raiz).
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hiamethoxam é o primeiro composto do grupo dos tianicotinil pertencente à classe dos neonicotinóides. Essa molécula inseticida traz aos agricultores o moderno conceito de controle das mais importantes pragas do cafeeiro e, quando em mistura com ciproconazole, também da ferrugem. Tanto o (thiamethoxam + ciproconazole) como o thiamethoxam estão sendo amplamente utilizados. Ele também difere no mecanismo de ação dos organofosforados e carbamatos, já lançados no mercado. ATIVIDADE BIOLÓGICA Thiamethoxam age nos insetos por ação de contato e ingestão e possui uma potente ação sistêmica. Aplicado no solo em esguicho dirigido ao colo, ou em filete contínuo na linha da cultura, é rapidamente absorvido pelas raízes, translocando-se para as diversas partes da planta. O produto apresenta também atividade sistêmica quando aplicado sobre o caule ou tronco das plantas. A molécula permanece ativa contra pragas sugadoras e mastigadoras por longo período após a aplicação e apresenta forte atividade em baixas dosagens sobre cigarras, cigarrinhas, cochonilhas, bicho mineiro e alguns coleópteros através de aplicações no tronco ou no solo. MODO DE AÇÃO A molécula age no organismo dos insetos afetando a transmissão de estímulos nervosos, levando o sistema nervoso dos insetos ao colapso. Sua ação é totalmente diferente dos inseticidas convencionais como organofosforados,
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carbamatos e piretróides. Portanto, thiamethoxam permite o controle efetivo de insetos que desenvolveram resistência àqueles inseticidas. SELETIVIDADE Sua seletividade aos insetos benéficos é alta em função da modalidade de aplicação via líquida no solo, em filete contínuo, ou planta a planta via drench. É mais seletivo que a maioria dos inseticidas tradicionais comercializados para a cultura de café. PRAGAS E FERRUGEM DO CAFÉ A formulação do inseticida thiamethoxam 250 WG ou a formulação do inseticida + fungicida (thiamethoxam + ciproconazole) são altamente sistêmicos. Ao serem aplicados em drench (esguicho) no colo das plantas ou em filete na linha do cafeeiro, são absorvidos e incorporados à seiva, controlando com grande eficácia o bicho mineiro, matando as ninfas sugadoras das cigarras nas raízes e combatendo a ferrugem com alta eficácia. Essa modalidade de aplicação (líquida via solo) também é muito eficiente no controle da cochonilha-da-raiz, indicando que esses produtos, uma vez aplicados no colo dos cafeeiros, são incorporados à seiva do floema (vasos liberianos) e xilema (vasos lenhosos), sendo levados respectivamente às raízes e a parte aérea, onde atuam. Finalmente, o método de aplicação de “drench” no colo do cafeeiro, com aplicadores (pulverizadores) costais manuais e tratorizados, dotados de dosadores, é uma excelente opção para o controle da ferrugem e das pragas chave
CONTROLE DO BICHO MINEIRO Devido aos grandes danos que causam à planta de café, o bicho mineiro é a principal praga do cafeeiro na atualidade, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e maior déficit hídrico (Reis & Souza, 1986). O maior número de lesões é encontrado nas folhas do topo da planta, terço superior (Reis et all, 1975). Prejuízos: As lesões causadas pelas lagartas nas folhas causam intensa desfolha da planta. Em geral, as plantas que sofrem ataque do bicho mineiro apresentam principalmente o topo completamente desfolhado, podendo, no entanto, sofrer desfolha total. Em conseqüência da desfolha há redução significativa da produção e da longevidade dos cafeeiros. Lavouras intensamente desfolhadas pelo bicho mineiro podem levar até dois anos para se recuperar. No Sul de Minas, Reis et all (1976) constataram redução na produção do cafeeiro da ordem de 52% em conseqüência do ataque dessa praga. Posteriormente, Reis e Souza (1996) também constataram prejuízos de 72% na cafeicultura do Cerrado mineiro. Entre os produtos existentes no mercado, thiamethoxam é uma molécula bastante eficaz no controle do bicho mineiro em função de longo período de controle, trazendo segurança para o cafeicultor no controle da praga (Quadro 1) . CONTROLE DAS CIGARRAS As cigarras também são importantes pragas do cafeeiro, podendo causar grandes prejuízos às lavouras infestadas. A espécie mais importante e prejudicial é a Quesada gigas de maior tamanho. Ocorre nas lavouras do Sul de Minas, Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro e tam-
O modo de ação permite o controle efetivo de insetos que desenvolveram resistência a inseticidas comuns
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Quadro 1 - Porcentagem de folhas minadas pelo Bicho mineiro nas parcelas e média nos tratamentos. São Sebastião do Paraíso (MG), 15/07/2004, (Souza & Reis 2004) bém nos estados de São Paulo e Espírito Santo (Souza, 2003). As ninfas fixam-se nas raízes do cafeeiro, passando a sugar a seiva da planta. Em lavouras do Sul de Minas podem ser encontradas mais de 240 ninfas numa única planta, porém já foram observadas infestações de até 540 ninfas por cova. Prejuízos: Alta população de ninfas no cafeeiro causa severo dano. A sucção contínua de seiva causa o depauperamento das plantas, que se manifesta na parte aérea pelo definhamento e queda precoce das folhas, causando prejuízos na produção de até 87%, podendo ocasionar a perda total da lavoura. Os resultados de pesquisa demonstram também que thiamethoxam apresenta eficiência superior a 90% de controle (Quadro 2) CONTROLE DA FERRUGEM A ferrugem é a principal doença do cafeeiro podendo causar enorme prejuízo à produção devido à intensa desfolha das plantas de café, levando as plantas ao definhamento total. Com a desfolha os prejuízos podem ultrapassar os 80 % na produção. O ciproconazole contido na formulação do Verdadero 600 wg (thiamethoxam + ciproconazol) aplicado em drench é altamente eficaz no controle da ferrugem e, conforme pode ser visto no Quadro 3, sua eficiência nos níveis de controle pode ultrapassar 91,6 %. VIGOR E PRODUTIVIDADE A molécula thiamethoxam tem ação fitotônica sobre as plantas, sendo assim considerada um bioativador. Esse fato é comprovado em diversas culturas como a soja, por exemplo, onde pesquisadores da Esalq comprovaram a ação de bioativador do thiamethoxam. Essa ação também ocorre em cafeeiro, onde , além da eficiência no controle das principais pragas do café (bicho mineiro, cigarras cochonilhas e berne), a aplicação única ou seqüencial confere intenso vigor, enfolhamento e aumento do sistema radicular do cafeeiro, com aumento de produção da lavoura na safra atual e preparando as plantas para as próximas safras. PRECISÃO NA APLICAÇÃO Com a introdução da formulação WG (grânulos dispersíveis em água), a aplicação pode ser realizadas nas modalidades de esguicho (drench) no colo da planta e filete contínuo sob o cafeeiro, junto à linha de plantio, de um só lado da planta. Essas modalidades de aplicações, como, por exemplo, para o inseticida nemicotinóide thiamethoxam (Actara 250 WG), aplicado só ou em mistura com fungicida (Verdadero 600 WG), têm proporcionado resultados surpreendentes quanto ao controle do bicho-mineiro, cigarras e ferrugem, além de propiciar um intenso vigor ao cafeeiro e aumento de produtividade da lavoura (150% de aumen-
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Tratamento Thiamethoxam + Ciproconazole WG drench Thiamethoxam + Ciproconazole WG filete Thiamethoxam + Ciproconazole WG + Thiamethoxam 250 WG drench Thiamethoxam + Ciproconazole WG + Thiamethoxam 250 WG filete Imidacloprid 700 grda Triadimenol + Dissulfoton Testemunha
I 8,0 10,0 0,3 4,0 8,0 22,0 12,0
II 6,0 18,0 2,0 4,0 26,0 36,0 141,4
III 20,0 12,0 8,0 10,0 12,0 24,0 12,0
IV 12,0 10,0 8,0 4,0 22,0 26,0 26,0
m 11,50 cd 12,50 bc 5,50 e 5,50 de 14,00 bc 23,00a 17,50 abc
Quadro 2 - Média de ninfas vivas/cafeeiro das cigarras e porcentagem de eficiência nos tratamentos. São Sebastião do Paraíso (MG), 28/06/2004, (Souza & Reis 2004) Tratamento Thiamethoxam + Ciproconazole WG drench Thiamethoxam + Ciproconazole WG filete Thiamethoxam + Ciproconazole WG + Thiamethoxam 250 WG drench Thiamethoxam + Ciproconazole WG + Thiamethoxam 250 WG filete Imidacloprid grda Triadimenol + Dissulfoton Testemunha
I 3,3 4,7 3,3 10,0 23,3 42,1 133,3
II 9,3 16,0 2,0 4,0 26,0 36,0 141,4
III 12,0 25,4 3,5 12,7 30,5 48,7 166,7
IV m 12,8 9,32 de 10,0 14,02 d 8,0 4,20 e 4,0 7,66 de 18,3 24,52 c 26,0 38,20 b 126,0 141,85 a
% Eficiência 93,4 90,1 97,0 94,6 82,7 73,1 -
Quadro 3 - Porcentagem de folhas com ferrugem nas parcelas, porcentagem média de infestação e porcentagem de eficiência nos tratamentos. São Sebastião do Paraíso (MG), 05/07/2004, (Souza & Reis 2004) Tratamento Thiamethoxam + Ciproconazole WG drench Thiamethoxam + Ciproconazole WG + Thiamethoxam 250 WG drench Imidacloprid 700 grda Triadimenol + Dissulfoton Testemunha C.V. (%)
I 2,0 2,0 24,0 4,0 38,0
II 2,0 2,0 52,0 18,0 44,0
III 0,3 4,0 22,0 8,0 38,0
IV 4,0 6,0 40,0 12,0 46,0
m 2,00 c 3,50 bc 34,50a 10,50 b 41,50 a 27,7
% Eficiência 95,2 91,6 16,9 74,7 -
Quadro 4 - Produção de café em função do tratamento com thiamethoxam 250 WG e porcentagem de folhas minadas pelo bicho-mineiro, Leucoptera coffeella, e número de ácaro-vermelho do cafeeiro, Oligonychus ilicis, em função da aplicação de thiamethoxam 250 WG na água de irrigação. Monte Carmelo (MG) Tratamento1 Testemunha Thiamethoxam em fevereiro Thiamethoxam em março Thiamethoxam em abril C.V. (%)
Porcentagem de folhas minadas por L. coffeella2 97,8 c 30,3 ab 20,6 a 37,0 b 19,8
Número de ácaros O. ilicis em 25 folhas2 0,8 b 6,5 b 62,5 a 89,5 a 63,5 a 79,8 a 50,8 a 85,7 a 19,4 22,0
Sacas beneficiadas/ha 23,0 b 57,7 a 54,6 a 52,0 a 5,89
Aumento na produção (%) em relação à testemunha 100 251 226 226 -
Tratamentos: (2) Thiamethoxam 250 WG a 2 Kg/ha na água de irrigação por gotejamento (0,56 g/planta) em fevereiro de 2002; (3) Thiamethoxam em março de 2002; (4) Thiamethoxam em abril de 2002. 2Média seguidas por letras iguais na coluna não diferem entre si (Duncan 5%). 3e4174 DAA (dias após a aplicação de fevereiro do inseticida thiamethoxam). 5203 DAA (dias após a aplicação de fevereiro do inseticida thiamethoxam). Fonte - Reis & Souza (2002 - não publicado). 1
to em relação à área testemunha no Quadro 4, testemunha 23 sc/ha e thiamethoxam 57,7 sacos/ha). Outra vantagem da formulação WG são os equipamentos de aplicação que são extremamente simples e de fácil manuseio, proporcionando rapidez e precisão na aplicação, que é realizada de um só lado da planta; pode ser aplicado com ou sem chuvas (umidade). SEGURANÇA Produtos novos e mais modernos, quando são lançados no mercado, devem ter, além da eficácia superior no controle das pragas e doenças, formulações avançadas e mais seguras ao homem e ao meio ambiente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com introdução do inseticida neonico-
tinóide thiamethoxam a cafeicultura teve acesso ao mais moderno conceito de controle das principais pragas da cafeicultura, tendo uma série de vantagens, como, por exemplo, a aplicação líquida via solo. A molécula trouxe um novo patamar de controle das pragas que causam danos econômicos e, devido ao grande vigor, garante excelentes resultados de produtividade, qualidade e lucratividade da lavoura. Embora Verdadero WG controle as principais pragas e doenças do café,existem determinadas situações em que aplicações complementares são necessárias. C
Julio César de Souza e Paulo Rebelles Reis, Epamig
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Divulgação
Soja
Cisto na soja Embora a disseminação de nematóides seja mais lenta do que a de pragas e patógenos em geral, a sua presença nas lavouras, uma vez instalados, pode ser considerada definitiva, uma vez que não existe controle químico que seja econômico ou ambientalmente seguro para o manejo dessas áreas
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trole químico que seja econômico ou ambientalmente seguro para o manejo dessas áreas. Diferentemente dos insetos, os nematóides não voam para infestar a lavoura toda, ou para atingir outras lavouras. Também, ao contrário dos fungos, não possuem estruturas de dispersão que permitam serem disseminados a longas distâncias pelo vento. Por isso, por si só, sua disseminação é lenta, avançando apenas alguns centímetros por ano nas áreas infestadas. No entanto, sua disseminação pode ser bastante rápida, se forem carregados jun-
tamente com o solo, pelos implementos agrícolas, veículos, tratores, roupas e calçados e até mesmo pássaros. Se não houver cobertura do solo, também podem ser carregados pelo vento, juntamente com o solo na forma de poeira. Por este motivo, o manejo adequado das áreas infestadas por nematóides é fundamental para dificultar a sua disseminação. Se por um lado a disseminação é mais lenta do que a das pragas e patógenos em geral, a presença de nematóides nas lavouras, uma vez instalados, pode ser considerada definitiva. É possível manejar a lavoura para conviver com
Folha carijó: sintoma produzido pelo nematóide aparece depois da floração, enquanto que por deficiência nutricional aparece antes da floração
Nódulo assinalado acima trata-se do nematóide do cisto da soja, enquanto demais nódulos (menores) são fixadores de nitrogênio
Fotos Ivan Schuster
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dentificado no Brasil pela primeira vez em 1992, o nematóide de cisto da soja (Heterodera glycines Ichinohe) é um dos principais patógenos da cultura, podendo provocar perdas de até 100% em áreas altamente infestadas. Quatorze anos após surgir no país, o namatóide de cisto da soja já infecta mais de 2,5 milhões de hectares, em nove estados brasileiros (MT, MS, GO, BA, TO, MG, SP, PR e RS). Não existem informações precisas sobre as perdas provocadas especificamente por esse nematóide, no Brasil. Mas freqüentemente o nematóide de cisto da soja é relatado como o principal patógeno da soja, sendo responsável por mais perdas no mundo todo do que qualquer outra doença da soja. Nos Estados Unidos, onde o nematóide de cisto da soja foi identificado na década de 1950, a estimativa mais recente de perdas por esse nematóide é do ano de 1998. Estima-se que as perdas provocadas por esse nematóide, naquele ano, foram de 7,5 milhões de toneladas de grãos. O manejo de áreas infectadas por nematóides patogênicos difere consideravelmente do manejo utilizado para controlar outros patógenos ou pragas. Em geral, não existe con-
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Ilustração de como o uso continuado de variedades resistentes pode levar ao surgimento de novas raças de nematóide de cisto da soja na lavoura, quebrando a resistência das variedades o nematóide, mantendo-o com um baixo nível de infestação, mas não se pode eliminá-lo.
MANEJO DAS ÁREAS INFECTADAS Uma vez que a lavoura tenha sido infectada com o nematóide de cisto da soja, é necessário aprender a conviver com o patógeno, uma vez que é praticamente impossível eliminá-lo. A forma mais eficiente de controle desse nematóide é a utilização de variedades resistentes. Porém, existem diversas raças desse patógeno, e as variedades resistentes a uma determinada raça podem não o ser para as outras. Em uma área infestada pelo nematóide, sempre há o predomínio de uma raça, mas pode haver uma mistura de raças. Ao se cultivar, ano após ano, uma variedade resistente à raça predominante, a população de nematóides dessa raça irá diminuir. No entanto, as outras raças, para as quais a variedade não é resistente, vão aumentar de freqüência, e quebrando a resistência (Veja a ilustração ao lado). O nematóide de cisto da soja tem um ciclo de vida muito curto e, dependendo das condições de temperatura e umidade do solo, pode completar de três a quatro gerações em um ciclo da soja. Isso significa que o aumento da população pode ser bastante rápido, e um único cisto pode dar origem a milhares de cistos em um único ciclo da soja. No Brasil, a raça mais comum é a raça 3, mas já foi relatada a presença de 11 raças (1, 2, 3, 4, 5, 6, 9, 10, 14, 4+, 14+). Por esse motivo, é importante fazer rotação de culturas, para diminuir a população de nematóides, e rotação de cultivares, incluindo o uso de variedades suscetíveis. Quando a população da raça predominante estiver em níveis que não causem muito dano, o uso de variedades suscetíveis evita o predomínio de uma outra raça, para a qual ainda não exista varie-
dade resistente. Em áreas infestadas por nematóide de cisto da soja, é importante coletar amostras de solo para identificação de raça. Esse procedimento deve ser realizado com freqüência, como parte do manejo da área. A coleta de solo para
essa análise pode ser realizada da mesma forma que se faz para análise química, tomandose o cuidado de acondicionar o solo em sacos plásticos para enviar a um laboratório especializado. A redução de produtividade em áreas in-
Fotos Ivan Schuster
festadas por nematóides é menor se as plantas não forem submetidas a outros tipos de estresse. Por isso, as áreas devem estar com a fertilidade corrigida, sem compactação, e o plantio deve ser realizado na época adequada. Além disso, em áreas infestadas por nematóides deve-se evitar ao máximo a movimentação de solo, a fim de diminuir a disseminação dos mesmos.
ROTAÇÃO DE CULTURAS E DE CULTIVARES Diferentes esquemas de rotação de culturas e de cultivares podem ser adotados. Como sugestão, o esquema a seguir pode servir como base para a elaboração de outros, mais adequados à condição de cada produtor. O ideal é que as variedades resistentes uti-
lizadas neste esquema tenham diferentes origens para os genes de resistência. Embora possam existir diversas fontes de resistência, elas podem ser classificadas principalmente em dois grupos: tipo PI88788 e tipo Peking. Ao escolher a variedade resistente, o produtor deve se informar qual destes tipos de resistência a variedade possui e usar alternadamente os dois tipos de resistência. Além disso, é importante o uso de variedade suscetível, para diminuir a pressão de seleção sobre a raça predominante, a fim de que as variedades resistentes não percam a resistência. Algumas variedades suscetíveis são menos sensíveis à presença dos nematóides, mesmo permitindo a reprodução destes. Essas variedades, chamadas de tolerantes, devem ser consideradas nesta fase do
IDENTIFICAÇÃO DO NEMATÓIDE DE CISTO
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iferente dos nematóides que pro duzem galhas (Meloidogyne sp.), o nematóide de cisto da soja não provoca nenhum dano característico no sistema radicular. As raízes infectadas com o nematóide são raquíticas. O nematóide de cisto da soja diminui também o número de nódulos de fixação do nitrogênio nas raízes, e a infecção das raízes pelo nematóide de cisto da soja pode facilitar a infecção por outros patógenos do solo. Freqüentemente, é difícil reconhecer raízes como raquíticas e tendo poucos nódulos, a menos que algumas raízes não infectadas de soja estejam disponíveis para, lado a lado, fazer a comparação. Com auxílio de uma lupa de mão, podese observar nas raízes das plantas o corpo da fêmea do nematóide, que tem o formato de limão, com coloração branca no início, tornando-se amarelada depois. Estes são bem menores do que os nódulos de fixação de nitrogênio, sendo fáceis de diferenciar. Quando a fêmea morre, o seu corpo se transforma no cisto, de coloração marrom. O interior do corpo da fêmea contém de 200 a 600 ovos, que permanecem viáveis dentro dos cistos por mais de oito anos. Na parte aérea, os sintomas típicos nas lavouras infestadas é o aparecimento de reboleiras com plantas menos desenvolvidas, que não fecham as entrelinhas. Sintomas do tipo “folha carijó” também são observados, porém estes são comuns a diversos problemas que afetam o sistema radicular, como a compactação do solo, deficiências nutricionais, o estresse hídrico, além da fi-
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totoxicidade de herbicidas e também algumas doenças da planta. No caso de sintomas de deficiência nutricional, como a deficiência de ferro, os sintomas de “folha carijó” aparecem antes da floração, enquanto que os sintomas produzidos pelo nematóide de cisto da soja aparecem após a floração. Isso é comum em áreas de pH elevado, como nos locais onde fica depositado o calcário para ser aplicado nas lavouras, e pode ser confundido com manchas em reboleira, pois em geral são áreas arredondadas. Os sintomas podem variar de severos a inexistentes. A intensidade dos sintomas é influenciada pela idade e pelo vigor das plantas da soja, pela densidade de população do nematóide nos horizontes do solo, pela fertilidade do solo e pela umidade, entre outras circunstâncias ambientais. Os danos do nematóide de cisto da soja geralmente são mais severos em solos arenosos, mas ocorrem prontamente em todos os tipos de solo. A confirmação da presença de nematóide de cisto da soja em uma lavoura deve ser feita pela observação dos nematóides aderidos às raízes da soja, com auxílio de uma lupa de mão. Freqüentemente, as perdas de produtividade devido a este nematóide não são percebidas durante os primeiros anos, devido à ausência de sintomas na parte aérea, ou porque os sintomas foram atribuídos a algum outro problema. Perdas de produtividade de 10% ou mais, devidas à presença de nematóide de cisto da soja, podem ocorrer sem que a lavoura apresente nenhum sintoma.
Detalhe de reboleiras em lavouras de soja atacadas por Heterodera glycines
manejo. Como cultura não hospedeira, podem-se utilizar o milho, o sorgo, o arroz, o girassol, o algodão, entre outros, levando-se em conta na escolha o que for mais viável para cada condição. Embora o milho não seja hospedeiro de nematóide de cisto da soja, alguns híbridos podem multiplicá-lo. Ao se utilizar milho como cultura não hospedeira, é importante informar-se se o híbrido escolhido não multiplica o nematóide.
OBTENÇÃO DE VARIEDADES RESISTENTES Quando o nematóide de cisto da soja surgiu no Brasil, em 1992, não havia nenhuma variedade resistente no país. As fontes de resistência tiveram que ser introduzidas de fora do país. Na maior parte, foram introduzidas variedades dos Estados Unidos, onde esse nematóide já está desde a década de 1950, ou variedades silvestres da China. Essas fontes de resistência não possuíam adaptação para serem cultivadas no Brasil e foram utilizadas apenas nos cruzamentos com variedades nacionais, para transferirem os genes de resistência para o germoplasma adaptado. As plantas descendentes destes cruzamentos entre as fontes de resistência não adaptadas e as variedades adaptadas precisaram ser avaliadas, para se selecionarem as plantas que permaneciam resistentes e ao mesmo tempo apresentavam bom desempenho agronômico. A seleção de plantas resistentes ao nematóide de cisto da soja é uma atividade que pode ser bastante entediante em algumas situações. As plantas devem ser cultivadas em uma área infestada de nematóides, e as condições ambientais devem ser favoráveis ao desenvolvimento dos nematóides. Neste tipo 1O ano 2O ano 3O ano 4O ano 5O ano 6O ano
Cultura não hospedeira Variedade resistente Cultura não hospedeira Variedade resistente Cultura não hospedeira Variedade suscetível
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Trabalhos de pesquisa para avaliação e desenvolvimento de plantas resistentes são bastante dificultados devido à falta de controle da pressão de infecção
de teste, não há controle sobre qual a pressão de infecção a que cada planta é submetida, e pode ocorrer que algumas são submetidas a pressões de infecções maiores em relação às outras. Em muitas situações, as plantas selecionadas como resistentes podem não ter sido expostas a uma pressão de infecção adequada. Apesar dessas dificuldades, diversas variedades resistentes foram desenvolvidas no Brasil e estão sendo utilizadas pelos agricultores. Atualmente, estruturas mais adequadas para se selecionar plantas resistentes são utili-
zadas pelos programas de melhoramento de soja. Nestas estruturas, as condições ambientais são controladas para favorecer o desenvolvimento dos nematóides, e a quantidade de inóculo colocada em cada planta é a mesma, uniformizando a pressão de inóculo. Além disso, os genes de resistência já estão mapeados, e é possível utilizar marcadores moleculares para selecionar as plantas resistentes. Este tipo de seleção é feita em laboratório, a partir da análise de DNA das plantas. A análise de DNA identifica se as plantas possuem os genes de resistência, e as plantas a
serem avaliadas não precisam ser cultivadas e inoculadas. Com isso, os processos de seleção tornaram-se mais eficientes. Essas melhorias nos métodos de seleção devem possibilitar que as variedades resistentes sejam obtidas mais facilmente. Além disso, são essenciais para se conseguir variedades resistentes a um maior C número de raças. Ivan Schuster, Coodetec
Coluna Aenda
Defensivos Agrícolas
Quanto custam as pragas?
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epende! No Brasil, onde se vende “juro” como se fosse mercadoria, as pragas entram no bolso dos lavradores e se fartam. No Paraguai, de regime econômico mais parecido com o do resto do mundo, as pragas ficam restritas às sementes, raízes, caule, seiva, galhos, folhas e frutos. Comparem os custos nos dois países, em dólar, no tratamento fitossanitário da soja na safra 2005/06. Considerou-se uma cesta de produtos, com uma única aplicação de cada. Os preços refletem prazos iguais (prazos de safra). Imagine essa diferença (US$ 117,10 – US$ 49,91 = US$ 67,19/ha) em todos os 22 milhões de hectares plantados com soja. Confira aí, US$ 1,47 bilhões. É isso mesmo, 1 bilhão e meio de dólares. Claro que nem toda a soja é tratada assim, mas dá para ter uma idéia do tamanho do prejuízo que todo ano a agricultura brasileira sofre. Vamos comparar mais os dois países, para ver se descobrimos alguma explicação para diferença tão grande (Tabela acima). Mas, como? O mercado brasileiro é muito maior, por que só temos 12 empresas dominando 90% do mercado? Eis a primeira pista... poucas empresas com real capacidade de oferta (lembrem-se dos juros brasileiros... não são para qualquer empresa). Saibam, ainda, que no Paraguai 70% (dos 90%) do mercado são atendidos por empresas nativas; no Brasil, dos 90% do mercado só PRODUTOS
Glifosato 2,4 – D Carbendazim + Thiram Imidacloprid
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DOSES
2,0 0,5 200g / 100Kg 100cc / 100Kg
Imazetapir Clorimuron Cletodim
0,5 0,04 0,3
Tebuconazole Carbendazim
0,5 0,5
Cipermetrina Metamidofós Acefato TOTAL
0,1 0,5 0,5
FATORES Tamanho do mercado de pesticidas Número de empresas ofertantes em 90% do mercado Oferta por número de ingrediente ativo – i.a. e respectivo percentual
BRASIL US$ 4,10 bilhões 12 empresas 1 empresa = 317 i.a. (74 %) 2 empresas = 57 i.a. (13%) 3 ou mais empresas = 54 i.a. (13%)
3,5% são atendidos por empresas genuinamente daqui. Quer dizer que no Paraguai existe concorrência real em 88% dos ingredientes ativos e, no Brasil, só em 13% dos ingredientes ativos ofertados? É a segun-
“Quer dizer que no Paraguai existe concorrência real em 88% dos ingredientes ativos e no Brasil só em 13% dos ingredientes ativos ofertados?”
BRASIL Preço – US$ Custo/ha – US$ Dessecação 4,50 9,00 6,00 3,00 Tratamento de sementes 21,00 4,20 200,00 20,00 Herbicidas 23,00 11,50 150,00 6,00 60,00 18,00 Fungicidas 40,00 20,00 22,00 11,00 Inseticidas 19,00 1,90 8,00 4,00 17,00 8,50 117,10
PARAGUAI Preço – US$ Custo/ha – US$ 3,50 3,50
7,00 1,80
5,00 50,00
1,00 10,00
11,50 24,00 20,00
5,75 0,96 6,00
18,00 5,00
7,20 2,50
7,00 5,00 9,00
0,70 2,50 4,50 49,91
PARAGUAI US$ 0,45 bilhões 20 empresas 1 empresa = 12 i.a. (9%) 2 a 5 empresas = 37 i.a. (28%) 5 a 10 empresas = 47 i.a. (36%) 10 ou mais empresas = 36 i.a. 27(%)
da pista...poucas empresas com real capacidade de oferta (lembrem-se do nosso sistema de registro de produto...não é para qualquer empresa). É simples assim? A chave é o número de empresas? Bom, na verdade não sou economista, só um curioso. Um especialista poderia falar do câmbio (ops!, mas aí a conta do prejuízo brasileiro aumentaria); outro especialista poderia dizer que o mercado paraguaio não tem muitas travas contra o contrabando e que os produtos chineses invadem suas lavouras, muito baratos por serem mal fabricados e cheios de impurezas (pera aí! como então os europeus e japoneses continuam a comprar a soja paraguaia; e lá, como cá, as multinacionais de exportação de grãos não são as mesmas ?). A essa altura preciso esclarecer que a pesquisa de preços foi revertida para dólar, a fim de permitir uma comparação um pouco mais duradoura, em razão da variação cambial ao longo dos meses vindouros. Também, devo informar, que os preços do Paraguai foram coletados com base na oferta da maior empresa de defensivos daquele país, a Tecnomyl S.R.L., justamente para evitar comentários maldosos de que poderiam ser preços advindos de produtos contrabandeados. Asseguramos também que a incidência de impostos estivesse inclusa (por sinal, no Brasil é cerca de 12% e no Paraguai um pouco mais). A Tecnomyl é uma empresa que detém boa fatia daquele mercado, possui uma fábrica moderna que processa com excelência formulações tipo suspensão, concentrado emulsionável, pó molhável e solúvel, granulada e outras; com início de sínteses de produtos em grau técnico; com rigoroso controle de qualidade; com tratamento dos efluentes; com incinerador para rejeitos e embalagens devolvidas contaminadas; e é a maior importadora do setor privaC do do país. Tulio Teixeira de Oliveira, Diretor Executivo da AENDA
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Agronegócios
O MST era o que havia de pior?
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iz a sabedoria popular que, quando se chega ao fundo do poço, pode cair muita terra sobre nossa cabeça. Há décadas não se via algo parecido com as atitudes do excocaleiro, hoje presidente da Bolívia, que, seguramente, vão custar muito caro a ele – pessoalmente – e ao povo boliviano. Por alguns anos, investidores sérios não vão querer absolutamente nada com a Bolívia. E assim irão para o ralo as divisas, os empregos, o progresso. Morales não foi nada original, pois estava tudo escrito no “Manual do Perfeito Idiota Latino Americano” (Plinio A. Mendoza, Carlos A. Montaner e Alvaro Vargas Llosa - Editora Bertrand Brasil, 1997).
POLÍTICA EXTERNA Pode ser que não se aplique o bordão da moda (“Nunca antes na História deste país...”), mas dá para dizer que foram poucos os momentos em que a nossa política externa foi uma sucessão tão grande de fiascos como agora. Perdemos as eleições na OEA, no BID, na OMC, dilaceramos o Mercosul, deixamos de apoiar a Argentina quando esta precisou, mas cedemos em tudo quando Kirchner exigiu privilégios comerciais. A cúpula de Viena foi um fracasso total. Perdoamos dívidas externas (inclusive da Bolívia), mas pagamos com o sangue do cidadão brasileiro a nossa dívida. Cedemos nossa liderança ponderada na América Latina para o histrionismo do companheiro Chavez, que pinta e borda de Norte a Sul. Recentemente, ele ofendeu com palavras de baixo calão um dos candidatos à presidência do Peru. Soberanamente, o presidente peruano chamou de volta seu embaixador em Caracas. Agora Morales segue o mesmo script, porém sem reação à altura do governo brasileiro.
CUCARACHADAS Temo pelo pior. Acho que, mais uma vez, a Bolívia fará jus ao seu passado, e vislumbro um cenário em que Morales não completará seu mandato. Infelizmente para a democracia e para a América Latina, vista lá de fora como um amontoado de republiquetas de bananas. Quem semeia ventos colhe tempestades. Para se eleger, Morales prometeu mundos e fundos a todos os grupos de reivindicação, muitos conflitantes entre si. Uniu-os, precariamente, para eleger-se,
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mas não conseguirá cumprir todas as promessas. Com isso já havia perdido 20% de sua popularidade entre março e abril. No desespero, Morales confiscou os bens das companhias petrolíferas, para atender a uma parte das reivindicações, de olhos postos nas eleições de julho. Já havia feito algo semelhante com a EBX (sem reação do nosso governo), agradando a alguns companheiros radicais, mas desagradando quem perdeu emprego e renda.
CHAVEZ Morales não nega que seu conselheiro e inspirador é o companheiro Chavez. Talvez por essa razão o governo brasileiro, na prática, não reagiu à expropriação sofrida pela Petrobras. Deveria ter reagido, pois o governo deve proteger os interesses, a dignidade e o patrimônio nacionais. E deveria ficar mais preocupado ainda com os boatos que correm o mun-
O alinhavo anterior serviu para evidenciar as ameaças e oportunidades contidas no ato retrógrado de Morales
do de que, passada a eleição boliviana, reverter-se-ia, parcialmente, a legislação expropriatória. Parcialmente, porque, ao que consta, o patrimônio seria entregue para gestão da PDVSA. Você não sabe o que é PDVSA? Bingo: Petróleos de Venezuela! Caso Chavez transfira a Morales todo o seu know-how, lembre-se de que os índices de pobreza da população cresceram acima de 50% e a criminalidade aumentou mais de 400%, desde que Chavez assumiu o poder.
NOVIDADES De parte de Morales, a novidade (?)
será uma nova expropriação. Para garantir mais alguns votos, promete desapropriar cerca de dez milhões de hectares de terras que, atualmente, produzem soja e milho. Parte dessa terra foi adquirida por brasileiros, que venderam o patrimônio que possuíam no Brasil, para investir na Bolívia. Agora arriscam ser escorraçados de volta ao Brasil, sem qualquer apoio do nosso governo, restando-lhes engrossar o MST, cujo negócio agora é atuar na área urbana, de acordo com análise de seus líderes - que entendem que ações apenas na área rural não têm mais impacto na opinião pública. Vem aí o MSS (sem supermercados), MAS (sem apartamentos), MSR (sem revistas), MSJ (sem jornal), MSB (sem bancos), MSI (sem igreja). Acho que vou aderir ao movimento, pois eu me enquadro em todos os itens, desde sem terra até sem igreja!
AGRONEGÓCIO O alinhavo anterior serviu para evidenciar as ameaças e oportunidades contidas no ato retrógrado de Morales. Uma das ameaças recai, diretamente, sobre os brasileiros que plantam na Bolívia, ou nos empresários que venderam para estes agricultores. Outra ameaça é a elevação do custo do gás, logo, do custo de produção de agrotóxicos e fertilizantes e de processamento de produtos agrícolas. Os empresários ficarão altamente inseguros em investir em ampliação de fábricas, devido à instabilidade energética. Você confiaria no abastecimento e no preço do gás boliviano? A maior ameaça é que, para os investidores estrangeiros, Bolívia, Venezuela ou Brasil “são tudo farinha da mesma América Latina”, afastando investimentos do continente a cada cucarachada. A oportunidade: cada vez fica mais claro que não podemos continuar dependentes de combustíveis fósseis, em especial do exterior. Precisamos cumprir nosso destino de ser o líder mundial da produção de agroenergia. Além dos excelentes negócios que propicia, a independência energética nos livraria de ver o país chantageC ado, e sem reação à altura. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
brandalizze@uol.com.br
O Brasil só cresce se o setor agropecuário estiver em crescimento O mercado neste último mês mostrou poucos negócios, com os produtores esperando pelo apoio do governo e a garantia dos preços mínimos, ambos empurrados com a barriga. Os representantes do governo prometem muita coisa e pouco fazem. Para que o setor trabalhe sem sobressaltos, tem que se ter uma política agrícola definida, com os valores e período de liberação definidos. A cada nova crise o governo vem com grandes promessas e curativos paliativos. O setor agropecuário continua sendo a principal mola propulsora de mão-de-obra no Brasil e com competitividade internacional, porque os demais segmentos normalmente sofrem com a concorrência da Ásia, com mão de obra mais barata, e de países Europeus e EUA, quando se refere à alta tecnologia. O grande problema para o setor neste momento é o câmbio, com o real valorizado de maneira artificial. O governo continua gastando muito e mal, e desta forma tem que pagar juros altos, e com isso muito dinheiro estrangeiro entra para aplicar nos papeis públicos brasileiros e provoca uma sobrecarga de dólar alta do real, assim inviabilizando exportadores e achatando o setor agrícola. A solução para isso é um enxugamento dos gastos do governo, para que não tenha que emitir novos papéis da dívida publica, que internamente já supera a marca de um trilhão de reais e, desta maneira, segurar a entrada de dólar especulativo e somente ficando a entrada do caixa das exportações. Isso garantiria uma moeda em níveis atraentes para o crescimento das exportações, como ocorre atualmente com a China, que cresce 10% ao ano, contra 2,3% do Brasil. Como reflexo, haveria uma nova onda de empregos e de ganhos aos produtores, que neste ano estão tendo que demitir e segurar os investimentos. O Brasil tem solução, e esta certamente passa pelas boas condições do setor agropecuário. MILHO Fundo do poço passou O milho bateu o fundo do poço em março e abril e começou a sair em maio, com apoio do governo e das exportações, que já levaram mais de um milhão de toneladas. Tivemos crescimento das cotações entre R$ 1 e R$ 2 no balcão aos produtores. O governo divulgou a nova estimativa da safra do milho, com divergências entre Conab e IBGE: a primeira aponta para as 40,8 milhões de t, o segundo, para 42,2 milhões de t, ou seja, muito grande a variação, e provavelmente ambos diferentes da realidade, porque a seca ceifou boa parte da safrinha, e a primeira safra não foi excelente como foi pintado pelo governo. Agora com grandes exportações, estamos vendo o quadro enxugar, e pouco milho estará em oferta no segundo semestre. Os bons momentos ainda estão por vir. SOJA Safra fechada ao redor das 54 MT O mercado da soja esteve realizando grandes protestos, segurando o transporte em boa parte do mês de maio, e os produtores esperando pelo apoio do governo, que, depois de muito apertado, divulgou um sistema de pregão de PROP, tão complicado que alguns negociantes apontavam que parecia estar escrito em chinês. Enquanto isso, os olhos continuavam voltados para o plantio americano, e as cotações internacionais sendo consideradas boas. Os chineses apontavam que a demanda de reação está voltando ao normal, e o verão na região afasta o problema da gripe das aves, e assim o quadro está se normalizando. O governo apontou que o consumo de ração deste ano devera chegar a 107 milhões de t, ou seja, mantendo crescimento, e continua programado chegar à marca das 150 milhões de t de ração em 2010. FEIJÃO Frango barato ganhou espaço O mercado do feijão, que vinha trabalhando bem, entre os R$ 80 e até acima dos R$ 100 por saca na base do Carioca, teve no ultimo mês um período de fraqueza, porque enfrentou de perto o reflexo do setor do frango, que colocou produto nas gôndolas abaixo de R$ 1 por kg, e desta
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forma o feijão foi deixado de lado, perdeu fôlego e mostrou queda nas cotações. Agora o quadro de baixa está passando, e somente ainda temos um período fraco para o preto, que tem pressão de oferta do produto da Argentina ficará no mercado até o começo de julho. No lado do carioca temos a entrada de produto do Centro Oeste, de produtores que não são tradicionais do feijão, e assim segurando um pouco o fôlego, que em poucas semanas passará e daí para frente o quadro deverá voltar a mostrar pressão de alta, porque no Nordeste o plantio na região de Ribeira do Pombal, Adustina, Serrinha e vizinhança andou a conta-gotas, com chuvas irregulares, e desta forma não tendo uma garantia de boa produção. Se o quadro não melhorar neste mês, certamente teremos nova corrida nos preços ainda em junho.
ARROZ Começando a reagir O arroz está mostrando ligeira pressão de alta nos indicativos, e os pregões de PEP e PROP, agora com AGF, devem dar um fôlego aos produtores. Com isso espera-se por reação nas cotações neste mês de junho, com indicativos podendo avançar de R$ 2 a R$ 3 sobre as médias efetivadas em maio. O setor ainda tem fôlego para colocar mais reação, mas as principais indústrias do Sul estão com os armazéns lotados e, dessa forma, não irão forçar fechamentos se os indicativos avançarem muito. Mesmo em alta, esta estará mais atrelada ao apoio do governo do que ao mercado livre. Para os produtores garantirem o Preço Mínimo de R$ 22 tem que se apegar às políticas do governo, via PEP, PROP, EGF ou AGF.
CURTAS E BOAS SOJA - O USDA voltou a reduzir a safra da soja mundial da soja e do Brasil, ainda assim mantendo muito otimismo no quadro, porque para o BR está apontando 56,5 milhões de t, contra os 54 milhões que acreditamos estar mais próximo da realidade. O mercado se manteve na casa dos US$ 6 e acima e mostra bom fôlego para o ano. A China importou sete milhões de t de soja entre abril e maio, sinalizando a volta da normalidade depois da gripe das aves. TRIGO - o quadro mundial está cada dia mais apertado, e segundo o ultimo relatório do USDA os estoques estão caindo para 128 milhões de t, os mais baixos deste século, e sinalizando com cotações internacionais em alta. Deve haver benefícios aos produtores brasileiros que estão em dúvidas com o plantio que ainda está em andamento. ALGODÃO - o governo em seu último relatório fechou a área em 850 mil ha, contra os 1.179 do ano passado, e indica a colheita em 1,1 milhões de t contra mais de 1,3 milhões de t de pluma do ano passado. Mesmo assim com o câmbio em baixa o setor segue na dependência do apoio do governo. Tudo indica que, mesmo com safra menor, teremos um ano de comercialização a conta-gotas e atrelada ao apoio do governo. ARGENTINA - o governo anunciou a nova estimativa da safra local, com o milho colhendo 14 milhões de t, a soja 40 milhões e o trigo 12,5 milhões, este correndo o risco de ter as exportações suspensas, porque se teme pela falta de produto para o mercado interno. Essa historia já ocorreu com a carne. Para os produtores do Brasil que estão plantando a safra é uma boa notícia que obrigará as indústrias a valorizar o nacional e/ou pagar mais caro no Canadá, EUA, Europa ou Austrália. Lembrando que o mercado internacional do trigo está com cotações em alta. BOA NOTICIA - a Petrobrás anunciou que agora estará entrando efetivamente no biodiesel, com planejamento de duas refinarias produzindo em 2007 e 2008, com 256 mil t de óleo de soja sendo usado por ano. Mais demanda de soja, e começa a caminhar para o lado que tem garantia de oferta de matéria-prima.
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