Cultivar Grandes Culturas • Ano VIII • Nº 87 • Julho 2006 • ISSN - 1518-3157
Nossa capa
Destaques
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Foto Capa / Charles Echer
Sinal de alerta Conheça as estratégias para prevenir a giberela no trigo, uma doença bastante freqüente em todas as safras
16 Algodão Bt Conheça a tecnologia Bt, suas vantagens e tudo o que pode mudar com sua introdução em lavouras algodoeiras
Nossos cadernos
30
Foto de Capa / Charles Echer
Forrageiras no controle Estudos analisam a eficiência de adubos verdes utilizados no controle de nematóides em áreas infestadas
36 Raízes ameaçadas Saiba como controlar o Migdolus fryanus, praga de difícil controle na cana, por causa dos seus hábitos subterrâneos
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br 3028.4013 cultivar@cultivar.inf.br • REDAÇÃO:
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3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Índice
REDAÇÃO • Editor
Charles Ricardo Echer • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
Diretas
04
Giberela em trigo
06
Silvia Pinto
Distribuição de plantas em milho
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COMERCIAL
Capa: Algodão Bt no Brasil
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Pedro Batistin
Surto de pulgão em algodão
22
Químio-esterilização contra o bicudo
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Controle de nematóides em soja
30
Nativo para o Cerrado
34
• Revisão
Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067
Sedeli Feijó Silvia Primeira
CIRCULAÇÃO • Gerente
Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Simone Lopes Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Controle de Migdolus em cana-de-açúcar
36 • Gerente de Assinaturas Externas
Coluna Aenda
40
Raquel Marcos
Coluna Agronegócios
41
Dianferson Alves
Mercado Agrícola
42
• Expedição
• Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
Basf
Plantas Daninhas
Carlos Antônio Medeiros assumiu a gerência de desenvolvimento técnico de mercado em substituição a Waldemar Sanchez, que assume a gerência de cultivos soja e milho, ambos para a região Sul do Brasil, enquanto Sergio Zambon assume a gerência de desenvolvimento de produtos, ligada à América Latina.
Está online o site sobre matocompetição. Na página www.matocompeticao.com.br, além de o público poder acessar informações atualizadas, pesquisadores de diversas partes do país terão a oportunidade de interagir e trocar experiências, mostrar resultados obtidos em seus trabalhos, multiplicar e uniformizar métodos no que diz respeito às plantas daninhas, além de agilizar a chegada dessas pesquisas ao produtor rural.
Sergio Zambon
Carlos Antônio Medeiros
Inoculantes A BioArts também marcou presença no IV Congresso Brasileiro de Soja em Londrina (PR). Armando Saretta Parducci, responsável pela área agronômica, coordenou a equipe na demonstração da linha de produtos inoculantes (bactérias fixadoras de nitrogênio em meio de solução nutritiva) para as culturas de soja e feijão.
Marketing Basf Após retornar de delegação na Alemanha, Valdirene Bastos Licht assume a gerência de departamento de marketing Brasil em substituição a Gustavo Portis, que assume novas funções no marketing para a América Latina.
União
Valdirene Licht
Syngenta A cultura de algodão tem novo gerente: é Onydes Souza. Onydes, que ocupava o cargo de gerente regional de suporte técnico de Cuiabá, deixa o engenheiro agrônomo Marcelo Diniz responsável Onydes Souza pela função.
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Agritours Brasil A Agritours Brasil está com pacotes promocionais para o Farm Progress Show 2006, que acontece de 29 a 31 de agosto em Amana, Iowa, nos Estados Unidos. O grupo sairá do Brasil no dia 26 de agosto e retorna no dia 2 de setembro. No roteiro, além do evento, estão previstas visitas a instalações portuárias no Rio Illinois, a fazendas de milho e soja, à bolsa de cereais de Chicago e à fábrica da John Deere em East Moline. Interessados podem obter mais informações pelo site www.agritoursbrasil.com.br A Produquímica, focada em microminerais, diversifica sua área de atuação e traz ao Brasil a tecnologia do laboratório Nordum, da Alemanha, para analisar dioxinas e furanos. O convênio representa a conquista de garantia de qualidade e melhoria ambiental dos produtos destinados à agricultura, à produção animal e ao mercado de tratamento de água.
Marketing David Velazquez, da Bayer CropScience, também está assumindo novo cargo na empresa. David deixa a gerência de produto - inseticida para assumir a função de gerente David Velazquez de marketing Centro.
Herbicida Soja RR Marcus Santos, responsável pelo desenvolvimento de mercado para grandes culturas da Dow AgroScience, durante o IV Congresso Brasileiro de Soja, apresentou o reposicionamento do produto Spider no mercado de soja. O produto, que antes se caracterizava pelo uso no sistema convencional, agora tem um novo conceito de herbicida resiMarcus Santos dual no ambiente de soja RR.
Ihara Presente no IV Congresso Brasileiro de Soja, realizado em Londrina (PR), a Ihara oficializou a distribuição exclusiva de uma nova linha de produtos; são eles: Artea (fungicida), Flumyzin e Sumisoya (herbicidas para a cultura da soja). Em breve, novos produtos serão agregados ao portifólio da empresa.
Mudanças na Bayer CropScience
Basf
André Kraide Monteiro, da Bayer CropScience, deixa a gerência de cultura – milho e feijão para assumir como gerente de marketing Sul, compreendendo a região Sul do MS até o RS. Já Alfredo Kober, que ocupava o cargo de gerente de cultura –soja, assume a gerência de marketing Norte, responsável por todo o CerAndré Monteiro e Alfredo Kober rado brasileiro.
Wilson T. Bernardes, que ocupava a gerência comercial da unidade de negócios Leste, assume a gerência de relacionamento com clientes em substituição a Sônia Chapman, que também passa a assumir novas funções no marketing para América Latina. Ernani Costa assumiu a gerência de departamento comercial BraWilson T. Bernardes Ernani Costa sil.
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Trigo
Fugindo da giberela Além da alta capacidade de colonização saprofítica em restos culturais, Fusarium graminearum se beneficia de excessos de chuva do início do estádio de florescimento para a infecção das anteras das plantas. A diversificação da época de semeadura e o uso de cultivares com diferentes ciclos reprodutivos são estratégias de escape ao patógeno
A
Marco Antonio Lucini
giberela do trigo é uma doença preocupante para produtores, pesquisadores e pessoas envolvidas com a assistência técnica nos cultivos de grãos na região Sul do Brasil. De ocorrência e danos relatados, quase que exclusivamente, para todos os cereais de inverno, vem sendo detectada em muitas espécies de plantas, causando redução na quantidade e na qualidade de grãos ou sementes. Além da redução significativa no rendimento de grãos, no peso de mil grãos e no peso do hectolitro, a presença do fungo em grãos ou derivados pode levar à presença de micotoxinas. Em cereais de inverno, a doença vem sendo alvo de estudo há vários anos. A partir da década de 90, com a adoção e difusão do sistema plantio direto, a intensidade da
O fungo Fusarium tem alta capacidade de colonização saprofítica nos restos culturais em ampla gama de hospedeiros
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Fotos Ricardo Casa
Quadro 1 - Danos causados pela giberela em centeio, cevada e trigo, antes e após o incremento da área cultivada em plantio direto Cultura Centeio Cevada Trigo Trigo Trigo Trigo Trigo Trigo Trigo
Ano 2000 2000 1984 a 1994 1986 1999 2000 2001 2002 2003
Observação após o PDx após o PD antes e após o PD antes do PD após o PD após o PD após o PD após o PD após o PD
Dano (%) 43,9 de 3,5 a 14,5 de 0,4 a 14,0 0,34 1,3 de 4,2 a 25,9 de 6,4 a 23,1 de 3,1 a 20,6 de 9,6 a 49,6
Autor(es) Panisson et al., 2003 Panisson et al., 2003 Reis et al., 1996 Reis, 1986 Finco et al.,1999 Panisson et al., 2003 Casa et al., 2004 Casa et al., 2004 Telles Netto, 2004
PD- plantio direto
x
Quadro 2 - Micotoxinas, micotoxicoses e espécie animal mais sensível à Fusarium graminearum
Períodos de molhamento das espigas superior a 36 horas e temperaturas médias de 25°C são condições ideais para ocorrência de giberela
doença e seus danos aumentaram significativamente (Quadro 1). Esse fato pode ser atribuído à facilidade de colonização saprofítica do fungo nos restos culturais de inúmeras espécies de plantas que permanecem sobre a superfície do solo em plantio direto, resultando em incremento na densidade de inóculo do patógeno. O principal agente causal da giberela é o fungo ascomiceto Gibberella zeae (Schw.) Petch (anamorfo - Fusarium graminearum Schwabe). O fungo F. graminearum produz fiálides laterais curtas e conídios falciformes de 2,5-5 x 35-62 mm, com três a sete septos. Os peritécios de G. zeae são superficiais, gregários, de coloração púrpura-escura a preta, com diâmetro de 150 - 350 mm. Possuem ascos clavados, contendo oito ascosporos hialinos. Estes medem de 3-5 x 17-25 mm e apresentam de zero a quatro septos. Fusarium graminearum é a espécie de Fusarium predominante na giberela dos cereais. Outras espécies também são detecta-
Fungo
Micotoxina Zearalenona
Fusarium graminearum
Toxina T-2 (tricotecenos)
Desoxinivalenol (DON) (tricotecenos)
Micotoxicose - Espécie animal suínos: irritação dermal e desequilíbrio hormonal (hiperestrogenismo); em machos jovens ocorre o inchamento das glândulas mamárias e atrofia testicular; as fêmeas imaturas sexualmente apresentam inchamento e avermelhamento da vulva e em alguns casos prolapso da vagina e do reto aves: mau desenvolvimento, diarréia, fraqueza das pernas, lesão oral, empenamento anormal, redução de ganho de peso, redução na produção e qualidade dos ovos (casca fina), sensibilidade a machucaduras e pigmentação deficiente na carcaça; suínos jovens: refuga de alimento, diarréia, irritação dermal, hemorragia no trato intestinal aves: lesão oral; suínos: diminui consumo de alimento, redução do ganho de peso, diarréia, irritação dermal, hemorragia intestinal, refugo do alimento e vômitos
das, tais como: F. culmorum, F. avenaceum, F. equiseti e F. nivale. Grãos infectados, quando fornecidos como alimento para animais, principalmente aves e suínos, podem provocar problemas de micotoxicoses. As principais micotoxinas e micotoxicoses produzidas por F. graminearum constam no Quadro 2. As sementes, embora infectadas, apresentam pouca importância no ciclo de vida desse fungo, sendo responsáveis, principalmente, pela podridão comum das raízes em cevada e trigo. O principal inóculo para infecção em espigas é constituído pelos ascosporos provenientes de peritécios formados nos tecidos senescidos de inúmeras gramíneas cultivadas, nativas e invasoras (Quadro 3). O fungo também tem sido detectado em outros hospedeiros, como leguminosas e oleaginosas, cultivados no inverno ou no verão. Tem sido freqüentemente isolado de grãos, sementes e tecidos radiculares de soja e feijão. São escassas ou inexistentes na
literatura informações sobre tipo de inóculo, sítios de infecção, mecanismos de colonização e condições ambientais para que G. zeae (F. graminearum) colonize essas espécies de folhas largas, uma vez que sempre foi considerado um Fusarium de gramíneas. A alta capacidade de colonização saprofítica nos restos culturais de uma ampla gama de hospedeiros é sem dúvida o fator que mais contribui para a predominância da giberela nas lavouras de verão e de inverno do sul do Brasil. A produção abundante de peritécios e a liberação constante de ascosporos que são transportados pelo vento, a longas distâncias, atingindo os sítios de infecção, constituem-se respectivamente na principal fonte de inóculo e no agente de inoculação da giberela em cereais de inverno. Os sítios de infecção primária são as anteras das plantas durante a fase de florescimento dos cereais. Infecções secundárias podem ocorrer pela colonização do micélio do fungo na ráquis da espiga ou em partes das
Divulgação
Quadro 3 - Espécies de plantas cultivadas, nativas e invasoras hospedeiras de Giberrella zeae Alfafa Batata Doce Feijão Trigo Sorgo Andropogon bicornis Bromus catharticus Lolium multiflorum Sorghum halepense
Espécies cultivadas Arroz Centeio Milheto Triticale
Aveia Cevada Milho Soja
Espécies nativas e invasoras Avena Brachiaria strigosa plantaginea Cortaderia Digitaria sanguinalis, selloana D. ciliaris Pannicum Paspalum dilatatum, maximum P. notatum, P. urvillei
Quadro 4 - Índice de giberela e dano no rendimento de grãos de trigo Onix e BRS Louro em Lages (SC) Cultivar Ônix BRS Louro
Índice de giberela1 5,95 12,7
Dano2 (%) 12,3 19,6
1Índice de giberela: IG= (IxS)/100; Dano: redução no rendimento de grãos comparando-se a testemunha com uma aplicação de fungicida específico para giberela (média de cinco fungicidas).
Casa salienta que o manejo deve ser eficiente, já que ainda não se dispõe de cultivares resistentes
podem ser necessárias, sendo a primeira no início da antese, e a segunda, no meio da antese. Os fungicidas triazóis (metconazole, tebuconazole), benzimidazóis (tiabendazole, carbendazim, tiofanato metílico) e estrubilurinas em mistura com triazóis (piraclostrobina + epoxiconazole, azoxistrobina + ciproconazole, trifloxistrobina + tebuconazole) têm apresentado controle satisfatório da giberela. No entanto, no campo, devido à dificuldade de deposição dos fungicidas nos sítios de infecção, o controle tem-se situado na faixa entre 60 a 70%. O processo de infecção de F. graminearum em espécies de plantas dicotiledôneas deve ser estudado visando caracterizar o papel epidemiológico destas no ciclo biológico do patógeno. A identificação da população natural de F. graminearum, Grupo I e II, e a possibilidade de o fungo sobreviver no solo como estruturas de repouso (clamidosporo), ou na matéria orgânica, certamente contribuirá para esclarecer a presença do fungo nas raízes de cereais, leguminosas e oleaginosas. Mesmo assim, só o fato G. zeae colonizar saprofiticamente uma ampla gama de hospedeiros faz com que a giberela em cereais de inverno e milho seja considerada C a doença do plantio direto. Ricardo Trezzi Casa, Éder Novaes Moreira e Paulo Roberto Kunhem, Udesc Erlei Melo Reis, UPF Marta M. Casa Blum, URI
Ricardo Casa
espiguetas. O excesso de chuva do início do estádio de florescimento até a maturação fisiológica dos grãos é a condição climática mais importante para infecção do fungo em cereais. Por outro lado, florescimento, maturação e colheita sob condições de baixa precipitação pluvial, como as de 1999, são consideradas situações adversas ao desenvolvimento da giberela. No entanto, o clima predominante no Sul do Brasil, no inverno e na primavera, apresenta excesso de chuva. Na safra agrícola de 2005, constatou-se uma das maiores epidemias da giberela, ocorrendo com alta intensidade até mesmo em regiões consideradas de baixo risco, como Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul, Serra e Planalto Catarinense. Em Lages (SC), no CAV/ Udesc, com altitude de 960 m acima do nível do mar, a giberela foi detectada com alta
intensidade (Quadro 4). A doença em trigo ocorre, predominantemente, em regiões quentes e úmidas. Períodos de molhamento das espigas superior a 36 horas e temperatura média de 25oC (Tabela 1) são favoráveis à infecção. Possivelmente, a freqüência de invernos mais quentes nos últimos anos é um dos fatores climáticos que têm contribuído para ocorrência da giberela em locais até então considerados de baixo risco. As principais estratégias de controle da giberela em trigo se concentram nos princípios da imunização, do escape e do controle químico. Estratégias de controle cultural, como rotação e sucessão de culturas, que visam reduzir a quantidade de inóculo inicial presente nos restos culturais e impedir a dispersão do inóculo, têm sido de pouco sucesso, devido à falta de espécies vegetais cultivadas e rentáveis para integrar esses sistemas. A pesquisa no Brasil ainda não dispõe de cultivares resistentes à giberela. Cultivares com resistência moderada à infecção e à colonização estão disponíveis, no entanto, a variabilidade dos sintomas e os diferentes danos observados no campo ainda geram dúvidas entre a assistência técnica no momento de escolher a cultivar mais tolerante. Diversificação da época de semeadura e uso de cultivares com diferentes ciclos reprodutivos são estratégias de escape que possibilitam que as plantas atinjam o período de predisposição (antese) sob condições climáticas adversas ou menos favoráveis ao patógeno. O controle químico pela aplicação de fungicidas específicos tem sido indicado quando ocorrem períodos críticos na floração. Uma única aplicação no meio da antese completa é indicada nesse caso. Se a partir do espigamento ocorrerem períodos de três dias consecutivos com chuva, duas aplicações
Tabela 1 - Interação da temperatura e da duração do molhamento na incidência da giberela em espigas de trigo Temperatura (ºC)
As anteras, durante a fase de florescimento, são os principais sítios de infecção do fungo
15 20 25 30
0 < 18 < 17 < 35
Horas de molhamento Incidência em espigas (%) 1 – 25 26 – 50 40 – 50 18 – 50 > 60 18 – 36 37 – 40 36 – 40 48 – 55
> 50 > 72 > 48 > 60
Fonte: Modificado de Andersen (1948)
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Milho
Alta densidade O novo enfoque na produção de milho traz altas densidades de plantas e espaçamento entre linhas reduzido, porém é necessário observar requisitos fundamentais para que inovações no arranjo de plantas se tranformem em incrementos reais de produtividade
A
otimização do potencial pro du-tivo do milho depende da dura-ção do período de interceptação da radiação solar incidente, da eficiência de uso da radiação interceptada na fotossíntese e da distribuição adequada dos fotoassimilados produzidos às diferentes demandas da planta. O arranjo de plantas tem grande importância na interceptação e na eficiência de conversão da radiação fotossinteticamente ativa à produção de grãos, assim como no crescimento e no desenvolvimento.
DENSIDADE DE PLANTAS O incremento na densidade de plantas é uma forma de maximizar a interceptação da radiação solar. Contudo, ele também pode reduzir a atividade fotossintética da cultura e a eficiência de conversão dos fotoassimilados à produção de grãos, aumentando o intervalo entre o flo-
rescimento masculino e o feminino e reduzindo o número de grãos por espiga. Entre as formas de manipulação do arranjo espacial, a densidade de plantas é a que tem maior interferência na produtividade do milho, pois pequenas alterações na população podem afetar significativamente o rendimento de grãos. Essa resposta ocorre porque o milho não possui um mecanismo de compensação de espaços tão eficiente quanto outras Poaceas, pois raramente perfilha, possui baixa prolificidade e limitada capacidade de expansão foliar (Sangoi et al., 2003). Fatores que interferem na escolha da densidade A determinação da densidade ótima (população de plantas capaz de otimizar a utilização dos recursos disponíveis) depende de diversos fatores, relacionados ao genótipo, ao ambiente e ao manejo da cultura.
Disponibilidade hídrica A disponibilidade de água é o principal fator que afeta a escolha da densidade de plantas. Quando há alta probabilidade de falta de umidade durante a floração da cultura, deve-se diminuir a densidade para que o solo possa suprir as plantas com suas reservas hídricas. Isso ocorre porque o incremento na densidade aumenta o índice de área foliar e, conseqüentemente, o consumo de água. Índices de área foliar elevados, associados à restrições no suprimento hídrico, elevam o nível de estresse sobre a planta. Nessas situações, há uma redução acentuada na taxa de crescimento das gemas axilares, pois a cultura prioriza o meristema apical. Isso aumenta a defasagem temporal entre o desenvolvimento do pendão e da espiga, redundando numa assincronia entre o florescimento masculino e o feminino. Assim, estandes adensados só devem ser recomendados em regiões com alta precipiCharles Echer
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Charles Echer
tação pluvial, ou sob irrigação, e com alto nível de manejo. Nível de fertilidade do solo Quanto à necessidade nutricional, a cultura do milho é muito exigente em fertilidade do solo. O milho responde progressivamente à elevação na disponibilidade de nutrientes, desde que os demais fatores estejam em níveis ótimos. O nitrogênio é o elemento que exerce maior influência sobre o rendimento de grãos da cultura. Quando não há restrições hídricas, à medida que se eleva a densidade de plantas, são necessárias maiores doses de N para otimizar o rendimento.
A determinação da densidade de plantas por área tem a disponibilidade de água como principal fator limitante
Cultivar Os híbridos com menor exigência calórica para florescer geralmente requerem maior densidade de plantas para otimizarem o seu potencial produtivo. Isso ocorre porque a precocidade está positivamente correlacionada com a redução na estatura de planta e na área foliar. Assim, há necessidade de maior número de indivíduos por área quando se utilizam cultivares precoces, para gerar um índice de área foliar capaz de
PERSPECTIVAS potencializar a interceptação da radiação solar. As reduções na estatura da planta e da altura de inserção de espiga são benéficas em estandes adensados por manterem o centro de gravidade da planta mais próximo do nível do solo, o que auxilia a manter o colmo ereto até a colheita, prevenindo o acamamento. Época de semeadura Em regiões subtropicais, como o Sul do Brasil, as chamadas semeaduras “do cedo”, feitas antes do início da primavera (início de agosto a meados de setembro), usualmente requerem maiores densidades de plantas para maximizar o rendimento de grãos (Almeida et al., 2000). Nesses casos, as temperaturas atmosféricas mais baixas e a menor disponibilidade de radiação solar restringem a expansão foliar e a estatura da cultura, aumentando o número de plantas necessário para otimizar a eficiência de uso da radiação solar. Além disso, o milho semeado “no cedo” floresce antes dos meses de maior demanda evaporativa da atmosfera (dezembro e janeiro), o que pode reduzir a chance de deficiência hídrica na fase mais crítica do ciclo da cultura.
Latitude A população ideal de plantas para otimizar o rendimento de grãos é normalmente maior em regiões de alta latitude. Nessas zonas de produção, a duração da estação de crescimento estival é menor. Conseqüentemente, há necessidade da utilização de cultivares menos exigentes em soma térmica para concluírem o ciclo. Esses genótipos demandam maior população de plantas para otimizarem o rendimento de grãos, em função do menor número de folhas, menor área foliar e menor estatura de plantas (Sangoi, 2001). Incidência de doenças O incremento na população de plantas aumenta a incidência de doenças foliares, de colmo e de espiga. Com densidades elevadas, há menor circulação de ar no interior do dossel, o que favorece um período mais prolongado de deposição de orvalho nas folhas, estimulando a germinação de esporos de fungos que ocasionam doenças foliares. Altas populações impõem restrições à atividade fotossintética das folhas. A limitação imposta às folhas induz o colmo a redirecionar fotoassimilados em
O
uso de espaçamento reduzido nem sempre traz benefícios à produtividade da cultura. Produtores que trabalhem com tetos de rendimento inferiores a 7 mil kg/ha dificilmente terão acréscimos no rendimento com a utilização de linhas mais próximas. Deve-se considerar o incremento no custo de produção, devido à necessidade de aquisição de plataformas adaptadas à colheita com linhas mais próximas. Há também maior dificuldade para realização de tratos culturais em pós-emergência, tais como adubação nitrogenada de cobertura e controle da lagarta do cartucho. maior quantidade ao enchimento de grãos, fragilizando-o e facilitando a ocorrência de podridões. Diversos patógenos responsáveis por podridões de colmo podem migrar para a espiga, favorecendo a ocorrência de grãos ardidos (Sangoi & Silva, 2005). Assim, práticas de manejo, tais como a rotação de culturas, a adequação do genótipo à região de cultivo e o tratamento de sementes, são fundamentais.
VANTAGENS DA REDUÇÃO DO ESPAÇAMENTO
M
antendo-se a densidade de plantas constante, a redução do espaçamento entre linhas apresenta várias vantagens potenciais. A primeira é a de que ela incrementa a distância entre as plantas na linha, propiciando um arranjo mais eqüidistante dos indivíduos na área de cultivo (Argenta et al., 2001). Isso reduz a competição entre plantas por água, luz e nutrientes, podendo incrementar o rendimento de grãos. Os benefícios da utilização de espaçamentos reduzidos sobre a produtividade da cultura são potencialmente maiores nas semeaduras “do cedo”, com híbridos superprecoces e precoces com arquitetura de planta compacta e quando são utilizadas altas densidades populacionais. O fechamento mais rápido dos espaços disponíveis pela cultura, advindo da presença de linhas mais próximas, reduz a transmissão da radiação através da comunidade. A menor incidência luminosa nos extratos inferiores do dossel limita o desenvolvimento de plantas daninhas. Dessa forma, a redução do espaçamento entre linhas atua como um método cultural de controle das invasoras. O rápido sombreamento da superfície do solo obtido com espaçamentos reduzidos reduz a quantidade de água A cultura do milho tem sido tradicionalmente implantada no Brasil com espaçamentos entre linhas compreendidos entre 80 e 100 cm. Essa distância entre fileiras permite o adequado funcionamento dos equipamentos necessários à semeadura, aos tratos culturais e à colheita, independentemente do sistema de produção e do tipo de tração utilizado. A redução na distância entre os sulcos de semeadura é uma forma de modificar o arranjo de plantas e interferir na eficiência de utilização dos recursos do meio. O interesse em cultivar o milho utilizando espaçamentos entre linhas reduzidos de 45 a 60 cm cresceu nos últimos anos. O desenvolvimento de híbridos tolerantes a altas densidades, o aumento no número de herbicidas para o controle seletivo de ervas daninhas em pós-emergência e a maior agilidade da indústria de máquinas agrícolas no desenvolvimento de equipamentos adaptados ao cultivo do milho
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com linhas mais próximas são fatores que favoreceram a adoção dessa prática cultural. A recomendação de redução no espaçamento entre linhas deve levar em conta aspectos agronômicos e econômicos. A disponibilidade de equipamentos adaptados para cultivos com espaçamentos reduzidos tem aumentado nos últimos anos. Atualmente, existem diversos modelos de plataformas disponíveis no mercado que permitem colher lavouras instaladas com espaçamentos entre linhas de 45 a 50 cm. Contudo, a sua aquisição tem um custo elevado a curto prazo que precisa ser avaliado. A densidade de plantas e o espaçamento entre linhas são fundamentais para otimizar a exploração do ambiente pelo milho. A necessidade de incremen-
Charles Echer
ESPAÇAMENTO ENTRE LINHAS
perdida por evaporação no início do ciclo do milho. Isso, em associação à melhor exploração do solo pelo sistema radicular, em função da distribuição mais eqüidistante das plantas, aumenta a eficiência de absorção e de uso da água. Além disso, a cobertura antecipada da superfície do solo também pode auxiliar a protegê-lo, diminuindo o escoamento superficial e a erosão decorrente de precipitações pluviométricas intensas nas primeiras fases do desenvolvimento da lavoura. A redução do espaçamento entre linhas apresenta três vantagens potenciais quanto à mecanização agrícola. A primeira é a maior operacionalidade que espaçamentos de 45 a 50 cm proporcionam para produtores que trabalham com milho e soja, pois as semeadoras não necessitam ser substancialmente alteradas na mudança de cultivo para o outro. A segunda é a melhor distribuição das plântulas no sulco de semeadura, devido à menor velocidade de trabalho dos sistemas distribuidores de sementes. A terceira é a distribuição dos fertilizantes numa maior quantidade de metros lineares por hectare, o que melhora o aproveitamento dos nutrientes e reduz a possibilidade de efeitos salinos fitotóxicos à semente.
Com maior densidade de plantas, há também o aumento de doenças de folha, colmo e espigas, devido à baixa circulação de ar no interior do dossel
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Divulgação
tar a eficiência de interceptação de uso da radiação solar gerou um grande esforço por parte dos programas de melhoramento para desenvolver híbridos mais bem adaptados a altas densidades populacionais. A seleção de híbridos em altas densidades tornou-os mais tolerantes a estresses, permitindo uma elevação na população utilizada na lavoura, com incrementos na produtividade da cultura. Portanto, a tendência é a de que a densidade de plantas a campo aumente. Com isso, outras alterações no arranjo de plantas também se fazem
necessárias, como a redução no espaçamento entre linhas para obter uma melhor distribuição dos indivíduos na área. Densidades altas e espaçamentos entre linhas reduzidos fazem parte de um novo enfoque do arranjo de plantas na cultura do milho. Para que essas práticas de manejo possam incrementar o potencial produtivo da lavoura brasileira é fundamental que estejam associadas à emergência uniforme e à homogeneidade da distribuição das plantas no sulco de semeadura. Além disso, o controle da disponibilidade hídrica, da fertilidade do
A redução da distância entre sulcos é a forma de modificar o arranjo das plantas e interferir na eficiência de utilização dos recursos do meio
solo e a adequação da cultivar à região produtora são também requisitos fundamentais para que inovações no arranjo de plantas se traduzam em maior rendiC mento de grãos na colheita. Luís Sangoi, UDESC Paulo Regis Ferreira da Silva, UFRGS
Algodão
O Brasil com Bt O setor algodoeiro, preocupado com a redução de custos de produção, a maior preservação da biodiversidade e, principalmente, a maximização da produção, mostra expectiva quanto as perspectivas e demandas para a utilização do algodão-Bt
O
uso das tecnologias de engenharia genética para desenvolver plantas que produzam proteínas tóxicas com propriedades inseticidas tem revolucionado o desenvolvimento de cultivares de algodoeiro, particularmente em relação ao manejo integrado de artrópodes. O melhor exemplo é a inserção de genes da bactéria Bacillus thuringiensis var. kurstaki (Bt) em plantas que passam a sintetizar toxinas para alguns insetos, com usos comerciais autorizados na África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, China, Colômbia, Estados Unidos, Índia, Indonésia e México, dentre outros países que cultivam algodão. Além dos benefícios econômicos para os usuários da tecnologia (redução de custos de produção, controle mais eficiente e seguro das pragas, menor número de operações de campo, simplificação da logística de insumos etc.), melhorias ambientais decorrentes do uso do algodão-Bt têm sido alcançadas, como por exemplo: me-
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nor contaminação da água, do ar e do solo com os pesticidas, menor descarte de embalagens desses produtos e maior preservação da biodiversidade. Nesse aspecto, existem relatos de repovoamento de ambientes próximos às lavouras por batráquios (sapos e rãs, que são muito importantes para a cadeia alimentar e o equilíbrio dos ecossistemas, já que se alimentam de insetos) e aumento
da diversidade de espécies de pássaros. Além disso, a capacidade de predação de pragas pelos inimigos naturais em lavoura de algodão-Bt não foi reduzida, conforme uma série de estudos conduzidos recentemente. O Brasil é atualmente o segundo mercado mundial de produtos fitossanitários, cujas vendas são da ordem de
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Ademar Serra
quatro bilhões de dólares por ano. Trata-se de um país de grande interesse para quase todas as companhias globais de pesticidas. Por sua vez, o lançamento de cultivares comerciais com características de resistência às pragas poderá alterar este mercado de defensivos agrícolas existente. Para a cultura do algodão, globalmente, a Monsanto é detentora das marcas comerciais dos genes Bollgard®, a Syngenta detém a VipCot®, enquanto a Dow AgroSciences é proprietária da WideStrike®. A tecnologia VipCot® ainda está em desenvolvimento, enquanto Bollgard® está em uso comercial desde 1996, Bollgard® II teve uso autorizado em 2003 e WideStrike® foi registrada para uso em 2004. A China desenvolveu tecnologia própria de algodão-Bt. Nos últimos anos, as entidades exclusivamente nacionais de caráter público, privado, ou misto (empresas, institutos, universidades e fundações) não construíram uma base acadêmico-científica capaz de gerar cultivares locais com essa biotecnologia para controlar as lagartas-pragas do algodoeiro - devido a discussões sem fim, pressões político-ideológicas, falta de know-how, insuficiência de verbas para pesquisa e/ou inexistência de parcerias sólidas bem definidas. Essas entidades ainda hoje se encontram cientificamente obsoletas para atender às demandas dos
produtores brasileiros na oferta de cultivares próprias e geneticamente modificadas, que contribuiriam para melhorar a qualidade e competitividade do setor. Daí o importante papel do aproveitamento da experiência internacional como fonte de ciência e da tecnologia como alternativa para acelerar os estudos nacionais. No Brasil, em 2005, após a aprovação da Lei de Biossegurança, foi autorizada pelos órgãos regulatórios governamentais a comercialização e o cultivo da variedade comercial de algodoeiro Acala 90 Bollgard®, propriedade da MDM. Trata-se da primeira autorização comercial de uso da tecnologia de algodão-Bt incorporada em uma variedade comercial de algodoeiro no país, nove anos após o início do uso em larga escala noutros países do mundo, muitos deles competidores diretos do Brasil na produção de algodão. Essa decisão foi o primeiro passo, e muito importante, para minimizar riscos de agravamento da inviabilidade econômica da atividade agrícola, de contaminação ambiental, de ressurgência de pragas, de surto de pragas secundárias, de evolução da resistência e de dependência de derivados de petróleo.
Rogério Inoue
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Pesquisa brasileira pode utilizar experiência internacional em biotecnologia para acelerar estudos locais
AS TECNOLOGIAS EXISTENTES O algodão-Bt 1, no Brasil e nos Estados Unidos, é denominado comercialmente como Bollgard®, caracteriza-se por expressar aquela toxina Cry1Ac. Já na Austrália ele foi chamado de Ingard®. No mundo, Bollgard ® é considerada uma tecnologia de primeira geração, cujo uso
USO AUTORIZADO
A
cala 90 Bollgard® é uma cultivar rústica, produtiva, com alto rendimento e qualidade de pluma. Exige rigoroso controle de pulgões que são vetores de vírus, é altamente suscetível às viroses e bacterioses, além de ser medianamente resistente às demais doenças foliares, sendo indicada para produtores altamente tecnificados. Com a tecnologia Bollgard® as plantas são capazes de produzir a proteína tóxica Cry1Ac, tornando-se resistente a algumas lagartas que danificam a cultura do algodão. No Brasil, o gene Bollgard® expressa a delta-endotoxina (Cry1Ac) efetiva no controle da lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens), lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella) e curuquerê (Alabama argillacea). Para controlar H. zea, uma espécie que eventualmente compõe o complexo de lagartas-dasmaçãs, seu efeito tem sido parcial. Além disso, exerce alguma supressão da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignoselllus).
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CONTRATOS demonstram que WideStrike® promove um controle de amplo espectro de lagartas-das-maçãs (H. virescens e H. zea) durante a safra e possui atividade contra quase todos os demais lepidópteros-pragas, à semelhança do Bollgard® II. WideStrike® esteve disponível em quantidades limitadas a partir de 2004, na safra norte-americana. Hoje, diversas cultivares dos EUA já têm essa tecnologia incorporada, especialmente aquelas para Arizona, Califórnia e Novo México em plantas produtoras de fibras longas. VipCot ® teve seu lançamento de marketing na safra estadunidense de 2005 através de um acordo global de parceria de desenvolvimento entre a Syn-
C
isolado da toxina está em vias de sair de comercialização nos países que usam altíssima tecnologia de produção, por estar sendo substituída pela segunda geração de cultivares geneticamente modificadas resistentes às pragas, o algodão-Bt 2, que é mais efetivo e funcional no manejo da resistência, devido às características de alta dose da toxina e genes combinados (mistura de mais de uma toxina na planta). O algodão-Bt 2, nos Estados Unidos e Austrália, é denominado Bollgard® II. Na tecnologia Bollgard® II, as plantas são capazes de produzir duas proteínas tóxicas (Cry1Ac e Cry2Ab). Além de serem efetivas contra as pragas controladas pelo algodão-Bt 1, passa a controlar satisfatoriamente H. zea, Spodoptera frugiperda, Spodoptera eridania e Trichoplusia ni. Para os mesmos alvos controlados pelo Bollgard®, a toxina Cry2Ab não é necessariamente mais efetiva que aquela proteína original Cry1Ac. Entretanto, a proteína Cry2Ab é melhor que a Cry1Ac para lagarta-militar (Spodoptera) e lagarta-falsa-medideira (T. ni). Portanto, as duas proteínas juntas na mesma planta trazem um efeito prático melhor por ampliar o espectro de controle de lagartas e para manejar a resistência do algodão-Bt. Essa segunda proteína, Cry2Ab, é produzida em altas concentrações na planta. Os níveis de expressão de Cry1Ac estão usualmente entre um a três ppm, enquanto que Cry2Ab é expressada entre sete a nove ppm, uma dosagem realmente efetiva e que confere característica de alta dose. WideStrike® tem como propriedade os genes combinados que misturam as toxinas Cry1F e Cry1Ac. O detentor da tecnologia e vários estudos independentes
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genta e a Delta Pine & Land, porém ainda não está registrado e aprovado para venda nos Estados Unidos, ou em outro país. VipCot® combina a eficácia comprovada da toxina Cry1Ab com o distinto modo de ação da proteína inseticida Vip3A. Vip3A foi descoberta em 1994 e não é uma delta-endotoxina, sendo funcionalmente e estruturalmente diferente das proteínas ‘Cry’, por ser uma proteína inseticida produzida na fase vegetativa da bactéria B. thuringiensis. Os proprietários das patentes e alguns estudos independentes demonstraram que a combinação de toxinas contidas no VipCot® promove um controle de amplo espectro de lagartas-das-maçãs (H. vires-
Ademar Serra
om as primeiras liberações comerciais de algodão-Bt, o produtor deve assinar com o vendedor um termo de concordância de uso correto da tecnologia e como contrapartida ter as garantias da compra. Também deverá ser assumido o compromisso de cultivar uma parte de sua área com cultivares não-transgênicas, como refúgio, para preservar os genes de suscetibilidade às toxinas de B. thuringiensis das lagartas-das-maçãs, lagarta-rosada, curuquerê e outros lepidópteros-alvo da tecnologia, uma estratégia obrigatória de manejo da resistência.
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Rogério Inoue
cens e H. zea) durante toda a safra, possuindo ainda atividade contra outros lepidópteros-pragas.
MANEJO DA RESISTÊNCIA
refúgios da situação (a) 80:20, e os produtores têm percebido a praticidade de inserir os refúgios nas bordaduras da cultura por razões operacionais de manejo da cultura. Uma segunda tática de manejo da resistência é o uso de genes combinados, que consiste na introdução de mais de um gene na mesma planta, de modo que ela produza duas ou mais toxinas diferentes (mistura de toxinas). Presumivelmente, é menos provável que qualquer inseto seja simultaneamente resistente a mais de uma toxina. Espera-se que Bollgard® II, WideStrike®, VipCot® e os futuros produtos de outras companhias substituam conseqüentemente o Bollgard® num curto espaço de tempo. A terceira tática de manejo da resistência é a alta dose da toxina expressa na planta, capaz de ter eficácia superior a 99,9% da população, o que potencialmente diminui o risco de sobrevivência
Paulo E. Degrande
Se a tecnologia de algodão-Bt for extensivamente usada, parece bastante provável que alguma praga do algodão possa desenvolver a resistência. Os insetos, como a lagarta-das-maçãs, são bem conhecidos pela sua capacidade de evoluir à resistência aos inseticidas, inclusive toxinas de Bt. Por isso, há restrições associadas com o uso do algodão-Bt cujos objetivos são a prevenção ou retardo dessa evolução à resistência. A estratégia primordial de manejo da resistência é o cultivo obrigatório de um refúgio de algodão não-Bt. Esse refúgio serve de fonte criadora e conservadora de insetos suscetíveis aos modos de ação das toxinas, os quais posteriormente se reproduziriam com potenciais insetos resistentes gerados nos campos de algodão Bt próximos. A descendência desse acasalamento seria suscetível às toxinas de Bt (é assumido que a genética da resistência é pelo menos parcialmente recessiva). Usualmente, as duas estratégias básicas de refúgio preconizadas são: (a) 80:20; e (b) 96:4 - onde o primeiro número corresponde à área máxima que o produtor poderia cultivar com algodão Bt, e o segundo número seria o percentual mínimo da área com algodão nãoBt, obrigatoriamente. Assim, no caso (a), 20% da área têm algodão não-Bt, e as lagartas devem ser combatidas com inseticidas de modo de ação diferente daquele das toxinas de B. thuringiensis. No caso (b), 4% da área têm de ser algodão nãoBt, e as lagartas não devem ser controladas por nenhum produto fitossanitário. A legislação brasileira prevê o uso de
Países que já utilizam alta tecnologia na produção de algodão prevêem substituição por materiais ainda mais efetivos e funcionais
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Algodão-Bt: para evitar resistência de pragas, é obrigatório cultivo de refúgios de algodão não-Bt
de insetos com graus menores de resistência (como heterozigotos), além de praticamente não deixar alternativas de hospedeiro para pragas-alvo. Essa tática, em tese, retarda a evolução à resistência. Cabe lembrar que se houver a escolha de usar B. thuringiensis em pulverização, como Dipel® e Thuricide®, estes não devem ser aplicados nos refúgios de maneira alguma para evitar qualquer forma de pressão de seleção com produtos que tenham o mesmo modo de ação das toxinas de Bt. Já, as áreas de algodão Bt poderiam ser pulverizadas com B. thuringiensis sem restrições, aliás, essa prática iria fortalecer a estratégia de alta dose.
RESULTADOS EXPERIMENTAIS Em experimento de parcelas grandes, com repetições, durante cinco anos, o algodão Bollgard® reduziu em 56% as larvas de Heliothis comparativamente ao algodão não-Bt. Essa porcentagem provavelmente subestima a extensão do controle da lagarta-das-maçãs pelo Bollgard®, pois um grande número de vezes foram contabilizadas larvas recém eclodidas (primeiro ínstar) que ainda não tinham tido a chance de comer tecidos vegetais e morrer. Foram percebidas reduções de 77% de danos em botões florais por H. virescens e H. zea. Também, não houve 100% de redução de dano, e isso decorreu do ataque de H. zea. Esse estudo mostrou ainda uma significativa redução de danos nas maçãs no algodão-Bt 1, comparado com o não-Bt. Alguns danos observados foram oriundos de ataques de Spo-
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doptera, portanto não causados pelas verdadeiras lagartas-das-maçãs. Em campos do algodão-Bt 1 (Bollgard®) os produtores pulverizaram 0,7 dose de inseticida para lagarta-das-maçãs por hectare, enquanto em algodão não-Bt essa média chegou a 3,1 vezes. Foi uma redução significativa, mas não de 100%, porque foi necessário aplicar no algodão-Bt 1 para controle de H. zea e de outras lagartas ocorrentes. Em geral essa economia decorreu da menor utilização de misturas de inseticidas lagarticidas à calda. Foi notado que, apesar de Bollgard®
ser pulverizado menos que o algodão não-Bt, um pouco desse benefício foi perdido, pois, com a remoção das aplicações para lagartas-das-maçãs, as pragas como percevejos-migrantes-da-soja (principalmente Euschistus heros), percevejos rajados e bicudos cresceram na população, e foi necessário aplicar um pouco mais para o controle deles. Alguns estudos iniciais indicam que com a segunda geração de algodão-Bt a situação será similar. Apesar da melhoria dos controles de H. zea, T. ni, S. frugiperda e S. eridania, pode haver incremento da infestacão de pragas como perceve-
jos-migrantes-da-soja, percevejos rajados e bicudos. Se não combatermos os percevejos corretamente na cultura da soja, deixando populações numerosas de pragas nas regiões, a migração destes pentatomídeos se agravará e, conseqüentemente, a necessidade de controle nos algodoeiros. Ainda, mesmo com Bollgard® II, cujas reduções de populações de lagartas é de 95 a 97%, se não forem adotadas medidas de bloqueio, supressão ou bom controle do bicudo, como ditam os planos estratégicos regionais, as vantagens tecnológicas, mesmo da segunda geração de
COMPENSA PLANTAR COM A TECNOLOGIA INSERIDA NA PLANTA?
E
ste tópico aborda e compara as duas tecnologias mais próximas do produtor brasileiro de algodão (Bollgard® e Bollgard® II), seja por estar devidamente autorizada, ou por estar em vias de análise. E a resposta imediata para a pergunta acima é que cada caso é um caso em particular na fazenda, e a escolha deve ser analisada pelo produtor-consultor agronômico e de mercado, não existindo uma resposta única para todas as regiões do país. Bollgard® II tem a finalidade de ser mais efetivo que Bollgard®, uma vez que praticamente irá oferecer um controle completo de lagartas. Mas, muito eventualmente, serão necessárias aplicações de inseticidas para combater alguma Spodoptera que se desenvolveu nas flores ou palhada. Isso pode acontecer porque as lagartas de Spodoptera neonatas migram para as flores e ali se desenvolvem por alguns dias, consumindo pólen ou pétalas, onde têm mortalidade reduzida. Por sua vez, ao crescerem e passarem a se alimentar de tecidos verdes (maçãs novas, folhas, brácteas e maçãs desenvolvidas) muitas não conseguem se intoxicar com as doses letais. Isso ocorre porque a expressão da toxina é menor em pólen e pétalas do que em tecidos verdes, em geral. No caso das lagartas oriundas da palhada, em especial a S. frugiperda do milheto dessecado, a redução da eficácia da tecnologia decorre da presença de lagartas de tamanho grande que sobraram do manejo na dessecação, como dito, mais difíceis de serem combatidas que as lagartas mais jovens. O valor (benefício) do Bollgard® II vai depender muito de onde está a proprieda-
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de do produtor. A presença da lagarta-falsamedideira e da lagarta Spodoptera em bases consistentes justificariam a opção pelo pagamento do segundo gene, fato que pode ser avaliado e programado por um histórico mínimo de cinco anos da ocorrência dessas pragas na região, ponderando-se os riscos e os custos de controle com os métodos alternativos à transgênia. É importante destacar a necessidade de repelir a situação similar que aconteceu em algumas regiões de países vizinhos, onde alguns produtores avidamente foram comprar a tecnologia sem considerar que os aspectos varietais são muito importantes. Daí a urgência de disponibilizar as tecnologias com transgenias devidamente autorizadas em um número maior de cultivares possível. Seja para dar opções de escolha ao produtor, como para ter plantas adaptadas para as várias condições do país. Tudo leva a crer que vai demorar certo tempo para se desenvolver uma grande lista de boas variedades com a tecnologia Bollgard® (I ou II) de uso em todo o território nacional - seja por rígidas regras existentes, entraves políticos e burocráticos, ou pelo desestímulo à inovação devido às sementes clandestinas, salvas ou piratas, que competem no mercado formal. Quanto às tecnologias VipCot® e WideStrike®, estas ainda precisam ter os genes autorizados para testes na cultura do algodão. O algodão-Bt é um bom seguro contra surtos de lagartas, muitas vezes associadas àqueles ataques de bicudo. Em particular, o algodão-Bt II (que tenha as toxinas Cry1Ac, Cry1F ou Vip3A) pode ser considerado como sendo à prova de lagartas, como nunca vis-
to pelos produtores, mas, devido ao custo das sementes, pode não compensar em algumas regiões de cultivo. O ideal é planificar o plantio baseando-se na ocorrência de pragas dos últimos cinco anos e aí decidir se compensa, ou não, comprar a tecnologia pelo preço do mercado. As áreas de refúgio são bons indicadores para comparação ao longo do tempo e a análise dos benefícios trazidos pela tecnologia transgênica, pois elas funcionariam como sistema convencional para observações comparativas. Variedades de algodão Bollgard® II têm previsão de serem lançadas no mercado brasileiro em 2007, após a aprovação comercial do gene pelos órgãos regulatórios nacionais (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) e das variedades comerciais (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O uso de variedade com a tecnologia Bollgard® tem levado às melhorias nas produtividades e qualidade de fibra, muitas vezes não somente por causa da pressão de lagartas, mas por causa da escolha de uma genética mais pura e conhecida, uma vez que os materiais similares que são cultivados no Brasil (D90, Ita-90, etc.) estão perdendo suas características genéticas originais por causa das inúmeras gerações (há casos de produtores cultivando F8) e da falta de retrocruzamento com genética mais pura, isso é notadamente percebido na prática pelo excessivo número de plantas dominantes (“plantas-girafas”) e desuniformidade acentuada das fibras num mesmo talhão, inclusive provocadas por mistura varietal.
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Márcio Trento
Com o uso de Bt, aplicações de inseticidas serão utilizadas eventualmente
namismo nas análises dos resultados por parte dos órgãos regulatórios. Outro ponto, relacionado ao reinvestimento de recursos nos estudos, é a necessidade de os produtores sinalizarem para as empresas de pesquisa agrícola com o reconhecimento das necessidades e dos direitos de retorno aos investimentos feitos em pesquisa no Brasil, não fomentando o comércio de sementes clandestinas. Também, seria útil para o setor o licenciamento legalizado dos eventos transgênicos para outras empresas que trabalham com variedades de algodão no país, evitando o monopólio. A morosidade nos pareceres, a conseqüente falta de clareza e planificação para cada
setor engajado agir têm trazido diversos prejuízos ao país. Dente eles, talvez o mais importante possa ser a perda potencial de jovens talentosos que poderiam se dedicar à genética molecular e à pesquisa com algodão, construindo base importante para nosso desenvolvimento. Os obstáculos criados para a pesquisa desestimulam os que já se dedicam a esse tipo de pesquisa e desestimulariam pesquisadores jovens a se dedicar à linha de trabalho. Podemos estar prejudicando o nosso futuro. C Paulo E. Degrande, UFGD Marcos G. Fernandes, CNPq Charles Echer
Rogério Inoue
algodão-Bt, serão pequenas, restringindo-se basicamente à economia nas dosagens de lagarticidas. Como dito anteriormente, lagartas médias ou grandes de S. frugiperda, como aquelas oriundas da palhada e que assumam o hábito de lagarta-rosca, assim como as que eventualmente cresçam em flores e ultrapassam os estágios de crescimento que a toxina seria efetiva, não são bem controladas e habitualmente exigem aplicações de inseticidas para prevenir danos econômicos. Resultados preliminares indicam que a tecnologia Bollgard ® exerce um efeito na supressão das populações da lagarta-elasmo (E. lignosellus) em áreas muito infestadas, pois muitas vezes ela já está presente sob a forma de lagartas de tamanho médio e grande na área, por ocasião da semeadura do algodão, necessitando se alimentar de mais de uma planta para se intoxicar com doses letais e, em decorrência, apresentar os sintomas. Na pesquisa, um fato que deve ser atentado é a menor produtividade das linhagens experimentais com as tecnologias inseridas ou ainda em fase de inserção, em comparação com os materiais convencionais ou mesmo Bollgard ® já consolidados, mesmo sendo relatadas como a mesma cultivar. Como às vezes encontra-se em desenvolvimento, pode não ser ainda exatamente o mesmo material genético comercial. Com base na experiência acumulada com a tecnologia em nível mundial, no reduzido número de genes existentes e nas raras cultivares disponíveis no Brasil hoje, urgem o desenvolvimento de um maior número de protocolos de pesquisa, mais agilidade e sensatez e di-
As inserções de genes da bactéria Bacillus thuringiensis var. Kurstaki em algodão não apenas representam ganhos econômicos como melhorias ambientais
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Paulo Degrande: morosidade pode prejudicar o desenvolvimento do setor algodoeiro brasileiro
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Algodão
Alto custo A dificuldade para conter os surtos de pulgões preocupa a cadeia produtiva. Até 12 aplicações de inseticidas chegam a ser realizadas em um mesmo ciclo de cultivo para conter a praga, que, além dos danos diretos causados pela sucção de seiva, é também transmissor de viroses às plantas
D
entre as pragas que atacam o algodoeiro, o pulgão Aphis gossypii (Glover, 1877) (Hemiptera: Aphididae) destaca-se em razão de seu alto potencial causador de injúria às plantas. Esse afídeo é uma praga cosmopolita e tem sido associado a 63 famílias, 192 gêneros e 302 espécies de plantas, atacando preferencialmente as culturas do algodão, melão e quiabo. Ocorre também em outras culturas, como melancia, pimenta, pepino, batata, cajueiro, tomate, pepino, citros, pimentão, café, cacau, berinjela e plantas ornamentais, e possui como hospedeiras alternativas diversas plantas daninhas. Apesar das diversas táticas que compõem o manejo integrado de pragas do algodoeiro, o controle desse pulgão tem sido realizado predominantemente pelo uso intensivo de inseticidas, chegando-se a realizar até 12 pulverizações em um mesmo ciclo de cultivo para contenção dos surtos
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populacionais do inseto. Com isso, tem-se observado aumento no número de surtos dessa praga, o que tem sido atribuído à perda da eficiência de inseticidas e à eliminação precoce de seus inimigos naturais. O aumento da pressão de seleção através da adoção contínua do controle químico pode vir a promover a seleção de indivíduos resistentes, os quais, uma vez selecionados, podem transmitir essa característica integralmente a seus descendentes, dado o seu modo particular de reprodução. Logo, outras táticas que não somente o controle químico devem ser adotadas para o manejo do inseto, visando prevenir a evolução de resistência. Dentre as possíveis táticas que podem ser implementadas para o convívio com o pulgão do algodoeiro têm-se: a) Uso da resistência de plantas a insetos: apesar de A. gossypii ser uma praga relativamente comum em cultivos do algodoeiro no Brasil, em geral, os programas de melhoramento não têm incorporado a seleção para resistência a esse inseto em suas avaliações. Todavia, a realização de bioensaios em casa-de-vegetação comprova que, mesmo entre as cultivares comerciais, existem diferenças quanto ao nível de resistência à praga. Os parâmetros da tabela de vida de fertilidade de A. gossypii apresentados na Tabela 1 demonstram que a variedade BRS Cedro apresenta-se como
mais resistente ao ataque do pulgão do que a variedade BRS Antares e a Ita 90. Enquanto na variedade BRS Cedro a média do número de descendentes gerados foi de 18,75 fêmeas/fêmea, nas variedades BRS Antares e Ita 90, esse número foi de 58,76 fêmeas/fêmea e 46,55 fêmeas/fêmea, respectivamente. Logo, espera-se que o esforço direcionado para controlar o inseto naquela variedade seja muito menor do que nestas últimas. Adicionalmente, espera-se
CONHEÇA A PRAGA
S
ão insetos de corpo pouco esclerotizado, ovalado e coloração variando entre o amarelo-claro e o verde escuro. Durante seu ciclo biológico passam pelas fases de ninfa e adulto, e, nas condições brasileiras, sua reprodução é assexuada sendo denominada de partenogênese telítoca, associada à viviparidade. Nesse tipo de reprodução, as fêmeas adultas produzem apenas ninfas fêmeas (não colocam ovos), que ao se tornarem adultas darão origem a outras ninfas fêmeas. Adicionalmente, quando em situação de alta competição por alimento ou em presença de elevadas densidades populacionais do inseto, é comum o aparecimento de formas aladas visando favorecer a dispersão dos insetos para novas plantas hospedeiras ou áreas cultivadas.
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TABELA 1 - Tabela de vida de fertilidade para Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae), em algodoeiro herbáceo. Primavera do Leste (MT), 2004 Parâmetros Descendentes/fêmea (Smx) Fertilidade específica (mx médio) Taxa líquida de reprodução(R0) Razão infinitesimal de aumento populacional (r) Razão finita de aumento (l) Duração média de geração(T)
BRS Antares 58,76 4,52 12,86 0,237 1,27 10,76
BRS Cedro 18,75 1,70 4,60 0,167 1,18 9,12
Ita 90 46,55 2,5861 14,48 0,257 1,29 10,41
teriormente, os cadáveres são atacados por outros fungos e passam a apresentar coloração cinza a esverdeada, como se estivessem mofados. Surtos de Neozygites fresenii (Nowakowski) Batko são freqüentes nas regiões produtoras de algodão do Meio-Sul e Sudeste dos Estados Unidos, dispensando em várias ocasiões o uso de inseticidas contra A. gossypii. O valor dessas epizootias para a produção de algodão é enorme, refletindo-se na economia de aproximadamente US$ 30 milhões por ano. No Brasil, ainda não existem estudos epizoóticos consistentes de Neozygites sp. em populações do pulgão do algodoeiro. Apesar da eficácia dos fungos Entomophthorales no campo, dificuldades na produção in vitro em larga escala e na formulação desses entomopatógenos atualmente limitam seu uso comercial, restando como alternativas a manipulação do ambiente e a liberação de cadáveres de insetos infectados para indução das epizootias nas lavouras. Os fungos mitospóricos (membros assexuados do subfilo Ascomycotina, também conhecidos como Hyphomycetes) mostram-se mais apropriados para uso como micopesticidas, embora epizootias naturais sejam raramente provocadas pelos mesmos. Por exemplo, o fungo Beauveria bassiana (Balsamo) Vuillemin pode ser produzido em grande escala mediante cultivo em diversos substratos sólidos de baixo custo, produz grande quantidade de conídios (propágulo do fungo que infecta os insetos), pode ser armazenado na forma de conídios puros (sob temperaturas de 10-12oC e 5-8% de umidade) por pelo menos seis meses. Além disso pode ser aplicado na for-
cida) após o parasitismo. Como ainda não existe possibilidade de aquisição dessas vespinhas no mercado brasileiro, sua ação pode ser potencializada através da adoção de medidas que possibilitem sua manutenção no agroecossistema algodoeiro (controle biológico conservativo). Algumas destas incluem: uso de pesticidas seletivos; plantio de espécies circundando a área que atuem como fonte de pólen (como o sorgo); coleta de folhas contendo pulgões parasitados e re-liberação das vespinhas por ocasião da emergência etc. Vários fungos entomopatogênicos, principalmente aqueles percententes à ordem Entomophthorales, podem infectar pulgões e causar rápido declínio populacional no campo. Na cultura do algodoeiro merece destaque o gênero Neozygites, que, em condições favoráveis de clima (umidade e calor) e elevada densidade populacional de A. gossypii, pode ocasionar epizootias (epidemia ou surto da doença) e a supressão da infestação em 7-10 dias. Pulgões infectados por esse fungo morrem tipicamente aderidos às folhas (face inferior) pelo aparelho bucal e apresentam coloração branca ou branco-amarronzada; pos-
Cristina C. Bastos
Fotos Miguel Michereff Filho
que, como conseqüência, haja menor necessidade de adoção de ações de controle curativo na variedade BRS Cedro. Isso traria implicações positivas no custo final de produção e nos efeitos secundários causados pelo uso de inseticidas. Outro fato positivo é que a variedade BRS Cedro não possui suscetibilidade às viroses transmitidas pelo pulgão, algo que pode ser considerado uma vantagem adicional ao seu cultivo. Variedades tolerantes às principais viroses do algodoeiro também são desejáveis, pois suportam maiores infestações de insetos vetores (mudança no nível de controle recomendado para pulgões), reduzindo o número de pulverizações no início do cultivo. b) Controle biológico: existe um complexo de inimigos naturais (predadores, parasitóides e fungos) na cultura do algodoeiro que, em ação conjunta, podem manter as populações dessa praga em níveis toleráveis, dispensando a aplicação de inseticidas químicos para seu controle. O pulgão do algodoeiro é parasitado naturalmente em campo pelas vespinhas Lysiphlebus testaceipes (Hymenoptera: Aphidiidae) e Aphelinus gossypii (Hymenoptera: Aphelinidae). Os pulgões parasitados por L. testaceipes adquirem formato de um balão e cor amarronzada, sintoma conhecido como “pulgão mumificado”. Já os pulgões parasitados pela vespinha A. gossypii geralmente não têm sua forma alterada e adquirem uma coloração escura (enegre-
À esquerda, detalhe de um pulgão infectado pelo fungo Beauveria bassiana, que sob umidade elevada cobriu todo o inseto com o micélio produzido
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Colônia do pulgão Aphis gossypii na face inferior da folha de algodoeiro
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DANOS CAUSADOS
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ximas ao cultivo. Por exemplo, a eliminação de hospedeiros alternativos e de soqueiras de algodoeiro da safra anterior podem reduzir substancialmente a velocidade de colonização dos pulgões nos novos cultivos. A eliminação de plantas exibindo sintomas de virose pode diminuir ainda a fonte de inóculo para novas contaminações. O cuidado na adubação do algodoeiro também deve ser redobrado; excesso na adubação nitrogenada torna as plantas mais suscetíveis ao pulgão e favorece a ocorrência de grandes infestações, principalmente quando o início do cultivo coincide com períodos de veranico ou de secas prolongadas. e) Controle químico: existem vários motivos para as dificuldades encontradas no manejo do pulgão com inseticidas, dentre eles: 1) a maior parte das colônias do pulgão se instala na face inferior das folhas, concentrando-se na parte da copa do algodoeiro onde nem sempre se consegue a cobertura ideal da planta com a tecnologia de aplicação utilizada; 2) a maioria dos
Alguns trabalhos relatam a eficiência de uso de armadilhas amarelas e azuis para o controle de pulgões. Todavia, antes que o uso e a agregação dessa tática no manejo de A. gossypii em algodoeiro se tornem uma realidade, é necessário que alguns estudos sejam conduzidos no sentido de determinar informações para controle e amostragem, como: coloração e formato mais atrativos (sistema de armadilhamento); número de armadilhas/ha; local e altura de instalação das armadilhas, intervalo de inspeção e troca etc. d) Controle cultural: considerando o grande número de hospedeiros que essa espécie é capaz de atacar, essa tática poderia ser empregada primordialmente no sentido de reduzir as fontes de infestação próJ. B. Torres
ma de suspensão aquosa, suspensão emulsionável ou formulação oleosa (UBV), utilizando-se os mesmos equipamentos para pulverização de pesticidas sintéticos, inclusive em ultra-baixo volume quando existem restrições ao uso de água. Estudos recentes no Brasil identificaram isolados promissores para o controle de A. gossypii em cucurbitáceas e algodoeiro. Pulgões infectados pelo fungo B. bassiana assumem coloração vermelho-amarronzada e, após sua morte, apresentam uma capa de coloração esbranquiçada e cotonosa, constituída por micélios e conídios, a qual sob umidade elevada pode cobrir completamente o inseto. O fungo Lecanicillium longisporum (= Verticillium lecanii) também ataca pulgões e inclusive ocasiona epizootias naturais, porém, exige elevada umidade para o processo de infecção, e isso pode inviabilizar sua eficiência em cultivos a céu aberto. Na realidade, os fungos B. bassiana e L. lecanii já são comercializados em outros países para o controle desse grupo de insetos, mas até o momento nenhum produto biológico (micopesticida formulado) equivalente encontra-se disponível no mercado brasileiro. c) Controle físico: o principal uso dessa tática de controle diz respeito à adoção de armadilhas coloridas, impregnadas com substâncias adesivas, para o controle de pulgões e mosca branca em geral.
redução na eficiência do processo de beneficiamento, acarretando perda no valor de mercado das fibras que apresentem este resíduo. Além disso, como os dejetos eliminados pelos insetos são açucarados, contribuem para o aparecimento de fungos oportunistas (fumagina) que passam a se nutrir desses resíduos. A ocorrência de fumagina nas folhas e na pluma do algodoeiro reduz a capacidade fotossintética da planta e deprecia a qualidade da fibra. Todavia, os maiores prejuízos advindos do ataque do inseto se relacionam à sua capacidade em transmitir viroses (vermelhão e doença azul) a algumas variedades de algodoeiro. As plantas atacadas por estas doenças viróticas apresentam crescimento reduzido, folhas com os bordos enrolados para baixo, aspecto envassourado (encurtamento de entrenós), folhas com coloração avermelhada e não são capazes de produzir, além de se constituírem em fonte de inóculo para novas transmissões.
J. R. Ruberson
E
stes insetos possuem um alto potencial reprodutivo, sendo capazes de produzir cerca de 46,55 fêmeas/ fêmea durante seu ciclo de vida sobre a variedade Ita 90 nas condições do Cerrado do Mato Grosso. Devido a essa grande capacidade em aumentar em número, a ocorrência de altas populações do inseto em plantas de algodoeiro é relativamente comum. Uma vez presentes nas plantas, esses insetos sugam a seiva do floema, através da introdução do seu aparelho bucal. As folhas atacadas viram os bordos para baixo, adquirindo um aspecto encarquilhado. Podem ocasionar ainda deformação dos brotos e das folhas devido às toxinas injetadas, redução severa e paralisação do desenvolvimento da planta, com conseqüente redução da produtividade. Sua ocorrência no final do ciclo do algodoeiro pode levar à deposição de secreção açucarada nas fibras (resíduo da alimentação), as quais se tornam mais difíceis de serem beneficiadas. Tal fato leva a uma
Adulto de Aphis gossypii parasitado por vespinhas Lysiphlebus testaceipes, adquirindo um formato de balão: sintoma conhecido como pulgão mumificado
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J. B. Torres
produtos possui curto efeito residual, enquanto o pulgão pode recolonizar rapidamente a área tratada, necessitando-se de mais de uma aplicação; 3) aplicação de inseticidas sistêmicos no solo durante período de seca prolongada, o que inviabiliza a absorção e translocamento do princípio ativo pela planta; 4) uso de produtos não seletivos, ou de forma seletiva, em favor dos inimigos naturais e 5) uso intensivo de produtos de amplo espectro de ação para controle do bicudo em safras sucessivas na mesma área, inviabilizando progressivamente o controle natural das pragas. No controle de A. gossypii com pulverizador costal, recomenda-se que o jato de pulverização seja direcionado de baixo para cima, utilizando-se preferencialmente bicos do tipo leque e velocidade de deslocamento inferior a 1 m/s, visando garantir melhor cobertura da face inferior das folhas; uma alternativa seria o emprego de pulverizador costal motorizado com jato lançado por fluxo de ar, o qual possibilita maior movimentação da folhagem e melhor penetra-
Pulgão infectado por fungo do gênero Neozygites. Surtos de Neozygites podem dispensar o uso de inseticidas
ção do inseticida no interior da copa, sem que a velocidade de deslocamento seja tão baixa. f) Adoção de monitoramento e dos níveis de controle na tomada de decisão: muitos agricultores adotam um programa de pulverização contra esse inseto por ocasião da detecção dos primeiros adultos alados em suas lavouras. Essa situa-
ção se verifica mais freqüentemente nos casos de cultivo de variedades suscetíveis às viroses transmitidas pelo pulgão. Todavia, como exposto anteriormente, considerando a forma de reprodução desses insetos e a possibilidade de transmissão integral de possíveis genes de resistência à prole, todo esforço deve ser direcionado no sentido de minimizar a pressão de seleção imposta pelos inseticidas. Nesse sentido, o emprego de amostragens sistemáticas para detecção dos surtos populacionais do inseto e a pulverização somente quando o nível de controle da praga é atingido constituem atitude indispensável para reduzir a freqüência com que os inseticidas são utilizados contra o pulgão e as demais pragas do algodoeiro. Vários níveis de controle têm sido sugeridos por diversos autores. Considerando que esses valores são determinados em função de limiares de lucro da cultura, variando com o valor de mercado alcançado pela mesma e o custo de controle do inseto, essa diversidade de valores disponíveis na literatura é pertinente. Entretanto, é necessário que essas recomendações sejam revistas, já que boa parte delas foram geradas há alguns anos, quando as variedades cultivadas eram outras, e o sistema de cultivo predominante, bastante diferente daquele atualmente empregado. Considerando que em várias regiões as áreas cultivadas com algodoeiro têm sofrido queda drástica, principalmente em razão dos altos custos de produção, caso o manejo do pulgão do algodoeiro seja realizado de forma a integrar as táticas disponíveis para seu controle, a lavoura algodoeira alcançará maior sustentabilidade. Nesse cenário, todos os efeitos deletérios ocasionados pelo uso indiscriminado do controle químico tenderão a ser minimizados, refletindo-se no agroecosC sistema como um todo. Cristina Schetino Bastos, Embrapa Algodão Miguel Michereff Filho, Divulgação
Embrapa Rec. Genéticos e Biotecnologia
Custos de controle podem ser reduzidos quando se integram táticas disponíveis, como controle biológico, salientam os autores
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Algodão
Nova estratégia AA quimio-esterelização quimio-esterelização pode ser uma nova arma no controle do do bicudo bicudo do do algodoeiro, algodoeiro, através do uso de produtos produtos de de efeitos efeitos fisiológicos fisiológicos sobre sobre a reprodução reprodução do do inseto inseto
C
om sua introdução no país, em fevereiro de 1983, o bicudo tornou-se a mais importante praga do algodoeiro, pois quando não controlado quimicamente pode destruir totalmente a produção dessa cultura. Sua capacidade de destruição está ligada ao expressivo dano por indivíduo, grande capacidade de proliferação e disseminação no campo. Decorridos 23 anos de convivência com essa praga, verificou-se que ela possui atividade durante o ano todo, desde que exis-
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tam restos da cultura algodoeira no campo. Essa condição existente pelo não cumprimento da lei que obriga o arrancamento da soqueira, em muitas regiões, permite que a praga se manifeste intensivamente, disseminando-se pelo país. O bicudo ataca botões, flores e maçãs, tendo preferência pelos primeiros, sendo seu alimento preferido o pólen dos botões florais; também oviposita nessas estruturas, que permitem desde o desenvolvimento larval até a formação do adulto, no solo, onde as condições de umidade são maiores, também para melhor conservação dos botões florais atacados. Por sua vez, os botões florais ficam envolvidos pelas brácteas, que protegem os adultos dos impactos diretos das pulverizações e dos inimigos naturais. Assim, as chances de eles serem contaminados pelos inseticidas são principalmente pelos resí-
duos deixados nas folhas, ao caminharem de um botão para outro. Considerando que cada adulto visita mais de um botão por dia, sua chance de contaminação é grande, o que permite intoxicá-los dessa maneira, recebendo as moléculas tóxicas pelos pés. Essa é a razão pela qual se recomendam três aplicações sucessivas em intervalos de cinco dias, fechando o cerco para os adultos emergentes no período de 20 dias. Entretanto, considerando que a incidência da praga coincide com a época chuvosa, que pode lavar as aplicações realizadas nas folhagens, não raro são necessárias mais de três aplicações, o que, além de encarecer o controle, cria problemas de desequilíbrio a outras pragas, sem contar com o aumento no índice de poluição ambien-
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Fotos Charles Echer
Tratamentos com Flufenoxuron 100 g.i.a/ha 150 g.i.a/ha Testemunha
7 dias 75 (07) 52 (07) 32 (15)
Dias após a pulverização 15 dias 21 dias 64 (02) 187 (04) 59 (01) 62 (04) 68 (17) 158 (95)
30 dias 28 (01) 24 (00) 56 (31)
( ) – adultos emergidos dos respectivos botões florais Dosagem de pulverização: 300 L de calda/ha
tal. Recente pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz mostra que é possível pulverizar a lavoura com uma infestação inicial de bicudo, com produtos que possuem efeitos fisiológicos sobre a reprodução, provocando esterilização nos bicudos, comprometendo as gerações subseqüentes; 60g do inseticida diflubenzuron na dosagem do ingrediente ativo por hectare foi suficiente para obtenção desses resultados. Knipling (1959) já demonstrava que, a médio prazo, a esterilização levava a um resultado mais efetivo, quando comparado ao controle com efeitos fulminantes. Diversos trabalhos realizados nos EUA como os de Taft (1974); Ganyard et alii
Quimio-esterelizadores não necessitam de equipamentos especiais, nem de processos sofisticados, para serem aplicados
(1978) e Shashank et alii (1981) têm demonstrado que o regulador de crescimento de insetos (IGR) conhecido por diflubenzuron pode alterar a capacidade reprodutiva do bicudo. A grande vantagem da quimio-esterilização é que não há necessidade de equipamentos especiais e nem de processos sofisticados. Os processos existentes para a esterilização normalmente são obtidos por radiação ionizante, seja através de aplicações de raios gama, X, alfa, beta, nêutrons ou elétrons acelerados. Além de estruturas adequadas e equipamentos próprios, o método exige a criação artificial
da praga visada e sua liberação em grande quantidade na lavoura, para permitir que indivíduos esterilizados no laboratório possam interferir na população nativa e reduzir seu potencial de reprodução. Mas o inseto a ser liberado não pode causar dano na fase em que tem o primeiro contato com o campo, pois causaria prejuízos mesmo sendo estéreis. Seria o caso do bicudo: embora estéril, sua liberação traria grandes prejuízos, porque os adultos são prejudiciais às estruturas frutíferas das plantas, com botões florais em maçãs. A esterilização por processo químico é vantajosa porque não necessita criar os insetos em laboratório; ela conta com a população natural do campo; para isso, basta idealizar um processo para atraí-los na forma de isca e contaminá-los por ingestão ou por contato. Os esterilizantes antigos como Afolato, Tepa, Metepa eram eficientes, porém cancerígenos aos mamíferos. Atualmente podem ser empregados inseticidas altamente seguros com esses efeitos e que já estão sendo utilizados no controle de pragas com algumas especificidades, como lagartas e cigarrinhas, em área total, visando tão somente as fases larvais ou ninfas, pois eles têm forte atuação na formação da pele, comprometendo-as por ocasião da ecdise. Esses mesmos produtos aplicados sobre os adultos por contato ou por ingestão
Fotos Octávio Nakano
demonstraram efeitos esterilizantes em algumas espécies de insetos; aplicados no campo e principalmente no início da cultura, quando os seus danos ainda são mínimos, poderiam impedir a geração que se sucede. Seriam mais recomendáveis para pragas cujos adultos não causam danos às plantas, como no caso das mariposas em geral, tolerando assim, populações mais numerosas. O uso de atrativos com esterilizantes, seja na forma de isca alimentar, seja como feromônio para aproximação e contaminação dos insetos, tem a vantagem de atingilos geralmente na fase inicial de sua atividade, pois alimentação e sexo são os dois parâmetros em que se baseiam os animais para iniciarem o aumento da prole. No caso do bicudo do algodoeiro, por exemplo, cada fêmea ovipõe até 300 ovos que se transformarão em larvas no interior das estruturas frutíferas; em geral para cada uma delas existe uma larva elevando o dano causado por essa praga. A esterilização da fêmea não evitaria essa oviposição, mas a geração seguinte seria truncada, razão pela qual se recomenda a contaminação do inseto tão logo surja na lavoura. Pesquisas com novos inseticidas com propriedades que impedem a salivação ou o dano dos adultos também estão sendo desenvolvidas; nesse caso, o bicudo ficaria impedido de abrir orifício nos botões ou maçãs e poderia morrer por inanição, depositando seus ovos em locais impróprios, onde seriam desidratados e, portanto, não vingariam, pois o bicudo costuma ovipositar em orifícios que faz com o aparelho bucal. As experiências para a esterilização do bicudo já se iniciaram há muito tempo no
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O bicudo fica protegido pelas brácteas no momento das aplicações e apenas são contaminados pelos resíduos dos inseticidas sobre as folhas
EUA; Klassen & Earle (1970) já haviam conseguido completa esterilização, alimentando o bicudo com dieta contendo 0,1% de busulfan; exames citológicos de 56 machos tratados mostraram conservação parcial em apenas um lóbulo testicular. No Brasil, Nakano e outros (1997) demonstraram que as pulverizações com lufenuron reduziram a viabilidade larval do bicudo, em condições de campo, na dosagem de 60g do ingrediente ativo por hectare. Outro teste com plantas de 80 dias de idade, da variedade IAC-20, empregando-se flufenoxuron, em pulverização sobre as plantas, mostrou os resultados apresentados na tabela da página anterior, em termos de número de botões florais atacados e de adultos emergidos desses botões, dias após a pulverização com flufenoxuron (teste em campo com 20 plantas x 5 casais de bicudos recém emergido, Piracicaba (SP), janeiro/97).
Armadilha de cor amarela e feromônio para atração das fêmeas e contaminação destas por meio de tratamento da superfície com óleo + esterilizante
Nakano e outros (1997), trabalhando com a broca da bananeira, praga da mesma família do bicudo, verificaram que contaminando a isca usualmente empregada para captura desta praga com lufenuron 5%, na base de 1ml/l da calda para tratamento do pseudocaule (isca) obtiveram 90% de eficiência de controle, manifestada pela falta de postura e ovos inviáveis. Ávila & Nakano (1999) verificaram que o regulador de crescimento de insetos (IGR) lufenuron afetou a fecundidade da Diabrotica speciosa quando elas se alimentaram de folhas de feijoeiros tratadas com esse produto. Baseando-se nessas observações, um novo esquema está sendo idealizado, visando contaminar o bicudo do algodoeiro com produtos que tenham efeito esterilizante, atraindo-o com o feromônio já existente no mercado, em vez da pulverização em área total. As fêmeas contaminadas que chegam na cultura no início desta seriam atraídas pelo feromônio antes do florescimento, poderiam ser esterilizadas, inviabilizando as gerações que se sucedem. Embora se acredite que o problema do bicudo não seja definitivamente resolvido, os indivíduos sobreviventes desse processo poderiam continuar a ser alvos dos inimigos naturais, que tenderão a aumentar em função da preservação de seu alimento, destacadamente fungos e bactérias que vivem associados a população dos C bicudos. Octavio Nakano, Esalq/USP
Bicudo macho no interior da armadilha para atrair as fêmeas
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Soja
Divulgação
Forrageiras x nematóides Levando-se em conta a dificuldade de controle e, principalmente, as perdas de produtividade acarretadas pelos nematóides, estudos analisam a eficiência de adubos verdes utilizados em rotação de culturas para o controle de nematóides em áreas infestadas
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produtividade agrícola. Rotação de cultura é uma eficiente técnica para o controle do nematóide de cisto da
soja (Heterodera glycines) e do nematóide reniforme (Rotylenchulus reniformis). Porém, seu uso em áreas infestadas pelos nematóides das
Dirceu Gassen
O
controle dos nematóides de plantas em culturas de grande extensão geralmente é bastante difícil, por ser oneroso e de eficiência variável. O mais importante é prevenir o estabelecimento desses patógenos em locais onde ainda não ocorram, pois a sua erradicação é praticamente impossível. Infelizmente, grandes extensões no Brasil já estão infestadas por nematóides, sendo necessária a adoção de medidas para diminuir sua população e permitir o cultivo com perdas suportáveis para o produtor. Nematicidas, cultivares resistentes e rotação de cultura são as principais opções para a redução populacional dos nematóides do solo. Essas práticas têm sido adotadas tanto em áreas de preparo convencional do solo e monocultivo da soja ou do algodão, como em áreas de plantio direto, buscando-se ajustar as técnicas disponíveis com vistas à manutenção da
A rotação de culturas nem sempre é eficiente em áreas infestadas, já que para alguns nematóides quase todas as lavouras cultivadas são suscetíveis
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Fotos Divulgação
As crotalárias, pela liberação de substâncias com efeito nematicida no solo, são indicadas no controle de fitonematóides
galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica) e nematóide das lesões radiculares (Prtaylenchus brachyurus) é limitado, porque quase todas as plantas cultivadas são suscetíveis a eles. Alguns genótipos de feijão guandu, de crotalárias e de mucunas são resistentes aos nematóides das galhas e das lesões (Asmus & Ferraz, 1988; Silva et al., 1989, 1990), sendo importantes para o controle desses patógenos em culturas anuais, tais como soja, feijão, milho, algodão e cana-de-açúcar. Além disso, pertencendo à família Fabaceae, são importantes fontes de nitrogênio orgânico, razão pela qual são utilizados como adubos verdes. Por apresentarem crescimento vigoroso mesmo em solos com baixa fertilidade, as mucunas (Mucuna aterrima, M. utilis, M. deeringiana, M. nivea, M. conchinchinensis, M. hassjoo, entre outras), principalmente a mucuna preta (M. aterrima), sempre foram muito utilizadas como adubos verdes na região tropical (Bachmann, 2005). Em relação ao seu uso como culturas de rotação para o manejo de nematóides, apenas a mucuna anã (M. deeringiana) é ainda utilizada com esse fim no Brasil, principalmente para o controle de M. incognita em cafezais e outras culturas perenes. A mucuna preta tem sido preterida em favor de outras fabáceas por apresentar características vegetativas que dificultam seu manejo e pelo fato de ser suscetível a algumas importantes espécies de fitonematóides, como M. incognita e P. brachyurus. Alguns trabalhos provaram que ocorre redução populacional de nematóides das galhas depois de rotação com a mucuna preta. No entanto, hoje se sabe que para isso ocorrer é necessária a incorporação da sua parte aérea, pois a ação contra os nematóides é indireta e se dá pela degradação da
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planta e liberação de substâncias com efeito nematicida no solo. As crotalárias são mais indicadas que as mucunas para o controle de fitonematóides, e as mais estudadas para esse objetivo são Crotalaria juncea e C. spectabilis. Porém, existem discordâncias na literatura sobre sua eficiência no controle de fitonematóides, principalmente em relação a C. juncea (Wang et al., 2002). Ao que se sabe, à semelhança da mucuna preta, a C. juncea é suscetível a M. incognita e P. brachyurus, mas a incorporação da sua biomassa no solo pode resultar na diminuição populacional desses nematóides. Por apresentar crescimento rápido e produzir grande quantidade de biomassa, é a espécie de Crotalaria mais utilizada como adubo verde no Brasil, sendo cultivada em uma área de aproximadamente 50 mil ha, principalmente em áreas de reforma de cana-de-açúcar (80%). Também é utilizada na entrelinha de culturas perenes, como citros e outras frutíferas (Fonte: Sementes Piraí). As espécies de Crotalaria mais indicadas para o manejo de fitonematóides são C. spectabilis e C. breviflora, por serem resistentes a M. incognita, M. javanica e P. brachyurus. Infelizmente seu uso é limitado pelo fato de apresentarem crescimento vegetativo muito lento e, no caso de C. spectabilis, pouca tolerância à seca. Atualmente, a área plantada com C. spectabilis no Brasil é de cerca de cinco mil ha por ano, sendo 4,5 mil em áreas de reforma de cana-de-açúcar e 500 em áreas de rotação com hortaliças, e a de C. breviflora é de 1,5 mil ha, principalmente na entrelinha de cafezais (fonte: Sementes Piraí). Sabe-se que para algumas culturas, como a
do quiabo, C. spectabilis é eficiente no controle de nematóides das galhas mesmo como cultura intercalar. Outra espécie utilizada como adubo verde no Brasil é o feijão guandu (Cajanus cajan) e, mais recentemente, o guandu anão (também C. cajan), este principalmente na entrelinha de pomares de citros (cerca de quatro mil ha anuais) (fonte: Sementes Piraí). Os trabalhos com C. cajan têm mostrado resultados variados com relação à reação aos fitonematóides, talvez devido ao uso de diferentes cultivares. Num estudo de cultivares de guandu resistentes e suscetíveis a Rotylenchulus reniformis, foi observado que a resistência estava relacionada ao conteúdo de fenóis. Citamos a seguir alguns resultados obtidos recentemente em casa de vegetação sobre a reação de alguns adubos verdes a M. javanica e P. brachyurus. O trabalho, desenvolvido na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), em Piracicaba (SP), demonstrou que mucuna preta é resistente a M. javanica, mas suscetível a P. brachyurus, e guandu cv. Fava Larga é suscetível a ambos os nematóides. Por seu turno, C. spectabilis, C. breviflora e guandu anão cv. Iapar 43 são resistentes tanto a M. javanica como a P. brachyurus, demonstrando mais uma vez que essas crotalárias podem ser muito valiosas como culturas de rotação em áreas infestadas por esses nematóides, que são muito freqüentes no Brasil, desde que as limitações citadas acima sejam superadas. Outra importante informação obtida no trabalho foi a comprovação da variação genética existente em C. cajan em relação à resistência a esses nematóides. Portanto, o feijão guandu somente pode ser utilizado para o controle de fitonematóides se a reação (suscetibilidade ou resistência ao parasito) da cultivar a ser utilizada já tiver sido determinada por meio de experimentos em conC dições controladas. Andressa C. Z. Machado, Luis Cláudio C. Motta e Mario M. Inomoto, Esalq/USP
Autores avaliam a utilização de espécies forrageiras em rotação de culturas para controle de nematóides
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Fotos Eduardo de Sousa
Empresas
Nativo para o Centro-Oeste Bayer inova lançando fungicida específico para a região Centro-Oeste do país. Nativo é indicado para o controle das principais doenças da soja
A
Bayer CropScience inovou na forma de oferecer seus produtos ao agricultor brasileiro. A empresa acaba de lançar o fungicida Nativo para a cultura da soja, exclusivamente para a região Centro-Oeste do Brasil. Indicado como fungicida de ação preventiva no controle das doenças, o Nativo é o primeiro produto desenvolvido especificamente para uma determinada região, no caso, região CentroOeste, onde se cultiva cerca de 50% da área total de soja produzida no país. Trata-se de uma nova ferramenta que vai atender a um mercado específico, com características específicas daquela região, como extensas áreas de cultivo, altos índices de pluviometria, alta diversidade de patógenos, além da alta pressão de inóculo. Situação diferente da encontrada nas regiões mais ao Sul do país, onde geralmente a diversidade patogênica às plantas é menor e outros produtos irão atender às necessidade dessa região. Nosso foco é desenvolver soluções cada vez mais adaptadas à realidade de cada região em relação a clima, solo, pragas, doenças e ervas daninhas. “A ex-
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pectativa que a Bayer tem nesta regionalização do desenvolvimento é trazer soluções cada vez mais adequadas à realidade das diversas regiões do Brasil, ajudando o agricultor a ter soluções cada vez mais focadas no seu problema”, destaca o diretor de marketing, pesquisa e desenvolvimento da Bayer CropScience, Gerhard Bhone. Nativo é um produto composto pela combinação de dois ingredientes ativos de grupos químicos diferentes, o tebuconazole e o trifloxystrobin. A associação desses dois componentes dificulta o surgimento de resistência por parte dos fungos e lhe confere a principal característica: seu amplo espectro de ação. O tebuconazole lhe confere ação sistêmica, penetrando rapidamente no tecido vegetal e translocando-se uniformemente dentro da planta, enquanto que o trifluxystrobim tem ação mesostêmica, armazenando o produto de forma duradoura logo abaixo da superfície, criando um depósito de substância ativa, resistindo à lavagem da chuva. Trata-se de um produto completo, que possibilita a melhor prevenção logo no início da fase reprodutiva da cultura, ou seja, o período em que a lavoura está mais ex-
posta à ferrugem asiática, complementa Bhone.
CENÁRIO DA SOJA O Brasil é atualmente o segundo maior produtor de soja do mundo, com cerca de 58 milhões de toneladas de grãos colhidos (Conab 2006). Porém, mesmo com as mais avançadas tecnologias ao alcance dos produtores, as doenças fúngicas ainda são o principal entrave para que se possa explorar todo potencial produtivo das culturas. Na soja não é diferente, doenças como a ferrugem asiática podem levar a perdas de produtividade próximas a 80%. Isso acontece principalmente em condições climáticas com molhamento foliar superior a 12 horas e temperaturas entre 21 e 26ºC. É nesse ambiente que o fungo Phakopsora pachyrhizi encontra a condição ideal para seu desenvolvimento e ataque, reduzindo a área foliar fotossinteticamente ativa e queda prematura das folhas, impedindo a formação completa dos grãos. A ferrugem asiática diferencia-se principalmente pela sua severidade e agressividade nas diferentes regiões do Brasil, devido principalmente à diversidade climática encontrada em nosso país. Outras doenças de final de ciclo, como a mancha parda (Septoria glycines) e crestamento foliar de cercóspora (Cercospora kikuchii), menos agressivas que a ferrugem, mas não menos importantes, beneficiam-se das mesmas condições climáticas para ocorrência, ou seja, chuvas freqüentes e temperaturas eleC vadas.
A expectativa com a regionalização é trazer soluções cada vez mais adequadas ao agricultor, salienta Gerhard Bhone
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Divulgação
Cana-de-açúcar
Destruidor do sistema radicular e dos rizomas das plantas, Migdolus fryanus, por ter vida praticamente subterrânea, é de difícil localização para manejo e controle, já que somente aparece sobre o solo após as primeiras chuvas de outubro
M
igdolus fryanus (Westwood, 1863) (Coleoptera: Vesperidae) é um besouro polífago, nativo da América do Sul, que ataca diversas culturas de importância econômica, como eucalipto, videira, amoreira, algodão, feijão, café, mandioca, pastagens, sendo uma das principais pragas da cultura da cana-de-açúcar, no estado de São Paulo. Recentemente foi registrado atacando mudas de plantios de Pinus, completando a relação de culturas econômicas que esse inseto pode atacar. Os danos são provocados pelas larvas que, durante sua alimentação, destroem o sistema radicular das
plantas e no caso da cana-de-açúcar chegam a destruir os rizomas.
COMPORTAMENTO A fêmea de M. fryanus tem vida praticamente subterrânea, já o macho é bastante ativo, voa bem, ambos são escavadores e estão presentes fora do solo a partir do mês de outubro, assim que se iniciam as primeiras chuvas. O aparecimento dos machos é estimulado pelas fêmeas, que liberam um feromônio de atração sexual, provocando o fenômeno denominado de “revoadas de Migdolus” que ocorrem, após as primeiras chuvas de outubro,
variando de uma região para outra, podendo acontecer até o mês de março. A fase larval é longa, quase sempre de um ano, podendo prolongar-se em dois ou três. As larvas de M. fryanus têm hábito subterrâneo, podendo atingir até de quatro a cinco metros de profundidade . Esse comportamento tem dificultado estudos biológicos do inseto . O que se conhece sobre esse coleóptero refere-se apenas aos primeiros 60 cm de profundidade no solo. Concomitantemente, em função da dificuldade de realizar estudos nas camadas mais profundas, presume-se que as informações até agora obtidas sobre o inseto sejam apenas de uma parte da população, aspecto que pode estar dificultando o emprego de métodos de controle eficientes.
CONTROLE
À esquerda: detalhe de ovos de Migdolus. À direita: a larva causadora dos danos às plantas
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A identificação e a síntese do feromônio sexual da fêmea de M. fryanus foi um grande avanço nos estudos com essa praga. O principal componente químico do feromônio sexual de M. fryanus é uma amida, o N-(2‘S)-methylbutanoyl 2 methylbutylamine. 1 mg desse feromônio, quando usado em condições de campo, é capaz de capturar 2,7 vezes mais machos que duas fêmeas virgens juntas. A formulação é em peletes ou pastilhas que são insolúveis em água; além de resistirem à radiação solar, podem permanecer por vários dias em condições de campo, sob chuva.
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Fotos Laerte Machado
Pela biologia e pelo comportamento, notase que M. fryanus é um inseto de difícil controle, além disso, é quase impossível uma previsibilidade exata dos talhões onde o inseto irá aparecer em cada ano. Com isso, faz-se necessário o emprego de medidas de controle basicamente por toda a área de plantio da cultura da cana-de-açúcar, elevando o custo da produção. Atualmente os produtores de canade-açúcar, de uma maneira geral, adotam um sistema de manejo para M. fryanus que envolve três tipos de controle: (1) comportamento, (2) cultural e (3) químico, os quais levam em consideração o fato de se tratar de cana planta ou cana soca.
Tabela 1 - Mortalidade de larvas recém-eclodidas de Migdolus fryanus causada por H. indica e Steinernema glaseri (temp. de 26 + 2 oC, Umidade Relativa de 70 + 10% e fotofase de 12 h) Tratamentos Testemunha H. indica S. glaseri
Mortalidade (%)1 30,00 + 10,00a 80,00 + 8,10b 100,00 + 0,00b
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade 1
Tabela 2 - Mortalidade de larvas (3 a 4 cm) de Migdolus fryanus causada por H. indica e Steinernema glaseri em duas concentrações (temp. de 26 + 2 oC, Umidade Relativa de 70 + 10% e fotofase de 12 h)
CONTROLE POR COMPORTAMENTO O controle por comportamento consiste, inicialmente, de monitoramento realizado através de levantamentos sistemáticos da população da praga por meio de armadilhas, distribuídas na plantação ao longo dos carreadores (uma a dez armadilhas a cada dez ha). A cada um a dois dias devem-se vistoriar as armadilhas, sendo aconselhável a troca dos peletes ou pastilhas a cada 15 a 20 dias. Detectada a presença de dois machos adultos por armadilha, parte-se para a coleta massal, que consiste em distribuir um número maior de armadilhas pelos talhões infestados (uma a quatro armadilhas/ha). Diversos tipos de recipientes têm sido adaptados como armadilhas, sendo hoje muito comuns garrafas plásticas tipo pet, utilizadas na embalagem de refrigerante e água mineral. Um dispositivo côncavo (tipo prato) é rosqueado na boca da garrafa contendo os peletes ou a pastilha, sendo o frasco enterrado rente ou ligeiramente abai-
Concentração 600 JIs/larva 600 JIs/larva
Tratamentos Testemunha S. glaseri S. glaseri H. indica H. indica
Concentração 400 JIs/larva 800 JIs/larva 400 JIs/larva 800 JIs/larva
Mortalidade (%)1 23,57 + 6,08a 47,86 + 12,35ab 47,71 + 9,99ab 76,57 + 6,08c 71,57 + 8,71bc
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem significativamente pelo teste de Duncan a 5 % de probabilidade 1
Fase larval pode durar até três anos e ser encontrada no solo a uma profundidade de até cinco metros
xo da superfície do solo. Diariamente, durante o período de revoadas, deve-se fazer a remoção dos besouros capturados.
PRÁTICA CULTURAL Esse método traz o inconveniente ao produtor da necessidade de reforma do canavial e consiste inicialmente da destruição das plantas atacadas. Visa, além da morte de larvas pela
ação do implemento, a exposição das mesmas a organismos predadores. Para isso, há de se considerar dois pontos importantes: a época de execução do trabalho e os implementos a serem utilizados. Estudos da flutuação de larvas de M. fryanus têm mostrado que a época do ano em que se encontra o maior número de larvas nos primeiros 20 a 40 cm do solo coincide com os meses mais frios e secos do ano (março a setembro). Com relação ao implemento a ser utilizado, já existe no mercado um destruidor de soqueira, que, segundo o fabricante, pode reduzir a população das larvas em mais de 80% quando comparado com grades aradoras. Posteriormente à eliminação das soqueiras, já nas épocas das chuvas (outubro a dezembro), com auxílio de um arado aiveca, realiza-se uma aração mais profunda (40 cm). Dessa vez, associada com o controle químico, quando se aplica inseticida no fundo do sulco, através de bicos colocados atrás das bacias do arado de aiveca, para formar uma faixa protetora contínua.
CONTROLE QUÍMICO
Na cana-de-açúcar, o ataque não se restringe apenas às raízes, os rizomas também são destruídos
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Os produtos com registro no mercado para uso contra o inseto devem ser aplicados da seguinte forma: em áreas de implantação da cultura e com baixas incidências da praga, recomenda-se uma única aplicação com auxílio de pulverizadores tratorizados, adaptados com bico tipo leque, com vazão de 300 litros de calda por hectare, no fundo e nas paredes do sulco do plantio, no momento da cobertura dos toletes de cana, com a dosagem recomendada pelo fabricante. Em áreas de altas infestações, deve-se uti-
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BIOLOGIA DE MIGDOLUS
A
dultos - Os machos vivem de três a nove dias, e as fêmeas de 28 a 38 dias, o número de ovos depositados por fêmea varia de 19 a 38, com uma viabilidade entre 65 a 98%, sendo o período de incubação 17 a 25 dias. No que diz respeito ao comprimento do corpo, são bastante heterogêneos. Os machos variaram de 1,5 a 2,6 cm de comprimento, e as fêmeas, de 1,7 a 2,2 cm. Os machos apresentam antenas maiores que as fêmeas, atingindo um pouco mais que a metade do corpo, com 11 antenômeros, As fêmeas possuem antenas menores com apenas oito antenômeros. As asas membranosas nos machos são desenvolvidas e funcionais para o vôo, enquanto que nas fêmeas são reduzidas, com nervação vestigial e em formato de pequena lâmina alongada e estreita, não sendo funcional para vôo. Os machos realizam uma revoada que ocorre associada a chuvas que necessitam alcançar um índice pluviométrico suficiente para estimular a saída dos mesmos do solo. Normalmente aparecem primeiro que as fêmeas e durante o dia todo, permanecendo sobre a vegetação, no próprio solo, ou se deslocando intensamente de um lado para outro na procura pelas fêmeas. As fêmeas aparecem em horário bem definido, sempre entre 8h e 10h da manhã, não se exteriorizam, permanecendo dentro do solo com apenas a cabeça e parte do tórax exposto até a chelizar o parcelamento de doses, conforme recomendações dos fabricantes dos produtos, aplicando a primeira parcela na ocasião da renovação do canavial, quando se faz a prática cultural, complementando, posteriormente, com a segunda parcela no momento da realização da cobertura da cana no sulco.
Detalhe de uma aplicação tratorizada do nematóide Heterorhabditis indica em cana soca para o controle das larvas de Migdolus
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gada de um macho, quando a mesma deixa a galeria expondo-se a ele para a realização da cópula. O período mais favorável às revoadas foi de novembro a fevereiro, embora elas possam ocorrer esporadicamente em outubro e março. Larvas - Larvas de M. fryanus são de formato cerambiciforme, com coloração branco-amarelada, sendo a cápsula cefálica levemente mais escura; medem de 5 a 5 cm de comprimento com 7 a 9 mm de largura no protórax. A porção anterior do corpo é mais alargada, com leve funilamento para a região posterior. A região ventral é plana, sendo a dorsal convexa. A segmentação do corpo é bem evidente, sendo que nos segmentos anteriores (1 a 5) apresentam ampolas dorsais em formato de calombo. Na região ventral essas ampolas projetam-se para a lateral, sendo voltadas para a parte posterior do corpo, em formato de arcos. Essas estruturas têm a função de auxiliar no deslocamento da larva pelo interior da galeria, no solo. Ovo - Os ovos são depositados no solo, sendo envolvidos por partículas do mesmo que ficam aderidas ao cório. Após serem depositados, apresentaram coloração branca leitosa e, ao longo do desenvolvimento embrionário, tornam-se mais amarelados. O cório do ovo, que possui formato elíptico, é bastante frágil, sendo facilmente rompido por manipulações. O tamanho varia de 3 a 5 mm. Nas áreas de cana soca (pós-colheita), o produto escolhido deve ser aplicado com implemento específico que incorpora a calda nos dois lados da linha da cana, a uma profundidade variável de 10 a 20 cm. Para esse método
Fotos Laerte Machado
Detalhe de dois machos de Migdolus fryanus (os de cor preta) em disputa pela mesma fêmea após a revoada
recomenda-se uma pulverização com um consumo de água variável de 400 a 1,2 mil litros por hectare.
CONTROLE BIOLÓGICO Como agentes de controle biológico, nematóides entomopatogênicos pertencentes às famílias Steinernematidae e Heterorhabditidae são conhecidos mundialmente como importantes grupos de organismos para o controle de pragas de solo. Vários estudos têm demonstrado a eficiência desses agentes na supressão de populações de insetos quando aplicados de forma inundativa. Estudos de Laboratório Em estudos sobre a patogenicidade dos nematóides entomopatogênicos, nativos, Heterorhabditis indica Poinar, Karunakar & David, 1992 (Rhabditida: Heterorhabditidae) (IBCB-n5) e Steinernrma glaseri (Steiner, 1929) (Rhabditida: Esteinernematidae) contra ovos e larvas de M. fryanus, observou-se
Armadilhas preparadas para a captura de machos adultos de Migdolus fryanus com o uso de feromôneo sexual sintético
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que o nematóide Heterorhabditis indica em duas concentrações de 60 e 600 Juvenis Infectivos (JIs)/ovo proporcionou percentuais de inviabilidades dos ovos de 36% e 45% (Inviabilidade corrigida), nas respectivas dosagens, mostrando a capacidade de parasitar ovos de M. fryanus. A penetração dos JIs de H. indica para o interior do ovo se deu pela região da aerópila, a qual apresenta porosidade e está relacionada com as trocas gasosas (O2 e CO2) entre o embrião e o meio externo. Nematóides entomopatogênicos possuem papilas quimiorreceptoras, na região cefálica, especializadas em identificar CO2 liberado pelo hospedeiro. Na Tabela 1 encontram-se os resultados de um experimento com larvas de M fryanus recém eclodidas. Observa-se que a testemunha diferiu significativamente dos tratamentos com os nematóides e que não ocorreu diferença significativa entre os dois nematóides. S. glaseri causou 100% de mortalidade e H. indica 80%. Para as larvas em final de desenvolvimento (Tabela 2), não ocorreu diferença significativa entre as duas concentrações avaliadas para S. glaseri e para H. indica. No entanto, com-
Falhas deixadas na lavoura pelo ataque das larvas da praga podem reduzir drasticamente a produtividade
parando os dois nematóides, H. indica diferenciou significativamente de S. glaseri e da testemunha, proporcionando mortalidade de 76,43%, na concentração de 400 JIs/larva, e de 71,57% na concentração de 800 JIs/larva. Estudos de Campo Em cana planta, onde se estudou o nematóide H. indica na concentração de 5 X109, obteve-se no primeiro corte da cultura um aumento de 4,1 toneladas/ha na produtividade do vegetal. Pela ocasião do segundo corte, não se constatou mais a população da praga, e o acréscimo na produtividade foi de 14,09 toneladas/ha. Com relação à cana soca, no que se refere ao controle, tanto um produto químico como o nematóide H. indica estudado provocaram uma supressão na população do inseto. O nematóide H. indica promoveu uma supressão na população de M. fryanus de 45,2 %, e o inseticida, de 41,5%, diferindo significativamente da testemunha. Nessa pesquisa não foi medida a produção do vegetal. Esses estudos evidenciam que nematói-
Laerte Machado mostra que nematóides entomopatogênicos parasitam diferentes fases de Migdolus, evidenciando seu potencial de controle
des entomopatogênicos parasitam diferentes fases do desenvolvimento de M. fryanus, tornando-os promissores para uso no controle do inseto em nível de campo. Ressalta-se a possibilidade de esses nematóides parasitarem outras pragas da cultura da canade-açúcar. Na Austrália foram registradas epizootias de H. indica em populações de escarabeídeos, na cultura da cana-de-açúcar. No Brasil, o potencial desses agentes tem sido demonstrado para o controle de besouros escarabeídeos, do bicudo da canade-açúcar, Sphenophorus levis, da lagarta do rizoma, Hiponeuma leocaniodes, e da cigarrinha das raízes, Marhanarva fimbriolata. Dessa forma, o uso de nematóides entomopatogênicos para o controle de M. fryanus pode resultar no controle simultâneo de outras pragas de solo, da cultura de cana-deC açúcar no estado de São Paulo. Laerte Machado, Luís Garrigós Leite e Lucas C. Carregari, Instituto Biológico Mohamed Habib, Unicamp
Coluna Aenda
Defensivos Agrícolas
Quatro anos e meio
E
m meados de 2005 escrevemos “O parto da equivalência”, onde apresentamos o herói dos defensivos genéricos - o Decreto 4074, nascido em 04/01/2004 como um menino de três anos e meio debilitado pelos maus tratos dos Ministérios-padrinhos. Naquela ocasião discorremos sobre a confusa Instrução Normativa da equivalência, o uso enganoso da Lei de Dados Proprietários, o indecifrável Produto de Referência e a impunidade para quem não entregou o laudo Five-Batch. Coitado do herói-menino, com tantos obstáculos, nada havia realizado para cumprir a missão pela qual viera ao mundo. Nenhum produto registrado por equivalência. Hoje, o menino tem quatro anos e meio. Já obteve quatro produtos equivalentes. Porém, definitivamente os padrinhos Mapa, Anvisa e Ibama não gostam dele, continuam a tratá-lo como um bastardo indigesto. Um preconceito descabido, sem paralelo no mundo.
É UM CASTIGO ATRÁS DO OUTRO O menino quer brincar de pesquisa, os padrinhos dificultam com um Registro Especial Temporário, de regras e burocracias que traduzem a barreira interna contra a inovação tecnológica. Aí, todo o esforço empreendedor para registrar os produtos sob o regime da equivalência fica represado nesse cipoal por mais de ano. Aqueles produtos que conseguem enfim superar esse obstáculo transplantado da época da inquisição e realizar suas pesquisas, até formar o dossiê que os qualificam para almejar o sonhado Certificado de Registro, enfrentam mais uma fila. A fila da lentidão e do descaso. Em 13 meses de avaliações foram quatro registros, ou seja, em um mês é concedido um registro, nos dois meses subseqüentes nenhum. A lentidão nesse caso é filha da rejeição que o governo explicitamente tem para com o regime da equivalência, pois, se é uma operação bem menos complexa que o procedimento para registro de produtos des-
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conhecidos, conseqüentemente, seu exame presumível deveria ser de muito maior celeridade. O que mais causa consternação, entretanto, é o pouco caso que esses órgãos avaliadores têm para com o agricultor brasileiro. O agricultor acreditava que o regime da equivalência forçaria a queda de preços de diversos produtos ainda ofertados com exclusividade no mercado brasileiro e agora se depara com mais uma frustração: - os quatro produtos equivalentes registrados não servem para nada,
“A agilização do sistema de registro dos produtos técnicos equivalentes e de seus produtos formulados derivados é uma necessidade de competitividade do país” pois seus respectivos produtos formulados ficaram de castigo e não foram ainda avaliados e aprovados. Mais uma safra sem nenhum equivalente na praça. O herói-menino com quatro anos e meio está totalmente desacreditado, e o agricultor apela para abertura das fronteiras. Os contrabandistas aproveitam a situação e avançam indômitos. Impunes continuam esses e aqueles. Ano passado, quando muitos queriam unificar o registro em uma Agência Regulamentadora justamente no
momento em que as avaliações sob o regime da equivalência estavam começando, defendemos o sistema da avaliação tríplice. Insistimos na ocasião que precisávamos testar o regime da equivalência dentro do modelo construído pelo Decreto 4074/2002, apesar do desespero dos agricultores que clamavam até por importações sem registro, durante o movimento tratoraço. No nosso entendimento o sistema carece de organização. É preciso fazêlo funcionar. O subgrupo que avalia os produtos candidatos a equivalentes precisa que a coordenação-rodízio do CTA (Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos) opere tal como ou determine uma chefia. Essa chefia deve ser responsabilizada pelo andamento das ações e pela obtenção dos resultados. O CTA precisa apresentar relatórios sistemáticos sobre o assunto para oferecer transparência à sociedade. Infelizmente, a baixíssima operacionalidade do sistema nesses 12 meses de exercício já balança a confiança de todos os envolvidos e tem provocado reações de insatisfação, incluso aí a primeira parte deste editorial. A agilização do sistema de registro dos produtos técnicos equivalentes e de seus produtos formulados derivados é uma necessidade de competitividade do país. Senhores ministros e secretários executivos do Mapa, MMA e MS, por favor, atentem para o que se passa no andar de baixo. Se o número de técnicos é insuficiente, ou se o subgrupo não consegue reunir-se com periodicidade adequada, não é problema da sociedade, é de vocês. A missão é: aumentar o número de produtos via oferta diversificada de empresas, em especial daqueles com pouca oferta no mercado brasileiro. Essa missão deve ser feita em curto espaço de tempo, pois é perfeitamente factível. Se o sistema não estiver funcionando, mudem-no! Os agricultores e a nação contam com vocês. C Tulio Teixeira de Oliveira, Diretor Executivo da AENDA
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Agronegócios
Desvantagens competitivas
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ia desses eu conversava com o ministro Roberto Rodrigues, que lamentava sua impotência para mitigar as causas e conseqüências do que ele considerava “o pior ano do agronegócio brasileiro”. Obviamente, não quis consolá-lo, mas lembreio de que o pior ano será o de 2007, a menos que sobrevenha um governo com capacidade de enfrentar as desvantagens competitivas do nosso agronegócio. Pode parecer paradoxal, pois estamos acostumados a ouvir loas sobre as vantagens comparativas do Brasil (terra, clima, tecnologia, mão-de-obra, capacidade de gestão privada, empreendedorismo etc.). Porém, na ante-sala da mãe das crises do agronegócio, é bom atentar para as nossas “desvantagens competitivas”, que, no frigir dos ovos, passam a ser as vantagens de nossos competidores.
TRIBUTAÇÃO Sem dúvida, a maior das desvantagens. Quase 50% do PIB brasileiro é sugado pelo governo, que o reaplica de forma ineficiente e perdulária. Apesar das promessas e juras em contrário, o atual Governo tanto incrementou a pressão tributária sobre os contribuintes, quanto aumentou os gastos em despesas de custeio, diminuindo os investimentos. Em resumo, piorou a qualidade do gasto público. Estatísticas demonstram que o brasileiro trabalha quase seis meses por ano, apenas para pagar tributos – sem que os serviços públicos correspondentes sejam prestados. No agronegócio, o exemplo mais catastrófico é a “desindustrialização” da cadeia produtiva da soja. Alicerçada nas nossas miopia tributária e incompetência para solver a questão, a Argentina está se transformando na maior potência mundial de processamento de soja. Como não consegue produzir toda a soja que necessita, importa o grão do Brasil, para agregar valor e mão-deobra, antes de re-exportá-la. Ou seja, estamos exportando grãos, empregos e renda, tudo empacotado a preço vil.
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA Enquanto nos EUA e nos países mais competitivos do mundo, do total despendido pelo empregador, entre 85 e 90% é recebido pelo empregado como remuneração, no Brasil o trabalhador recebe, em média, 50% do que o patrão desembol-
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sa. Às vezes, o valor dos encargos sobre os salários é maior que o salário recebido pelo empregado. Com isso, os empregadores preferem a automação, os contratos com pessoas jurídicas ou a informalidade. Perde o Brasil, e perde o trabalhador. É só olhar as estatísticas e perceber que o emprego no Brasil cresce abaixo da taxa de ingresso de jovens no mercado e que os empregos criados são de baixa remuneração.
LOGÍSTICA O que há de bom no setor de transporte e armazenamento é o que foi privatizado nos anos 90 (ferrovias, estradas pedagiadas, armazéns). As estradas federais estão intrafegáveis, fazendo com que, muitas vezes, o preço do
“É só olhar as estatísticas e perceber que o emprego no Brasil cresce abaixo da taxa de ingresso de jovens no mercado e que os empregos criados são de baixa remuneração” frete seja superior ao do custo de produção. Nos últimos anos, além do espalhafato de uma operação “tapa-buracos”, contestada quase integralmente pelo Tribunal de Contas do próprio Governo, nada mais foi feito. Aliás, você já refletiu o que significa “tapaburacos” para um país que deveria ser um canteiro de novas hidrovias, ferrovias e até rodovias? É outro símbolo didático de desvantagem competitiva criada por nós, um contraponto às vantagens comparativas que Deus nos legou!
SEGURANÇA PATRIMONIAL Basta dizer que, durante o atual governo, o número de filiados ao MST morando sob as lonas passou de 230 mil para mais de um milhão. O custo de garantir o patrimônio (terra, máquinas, benfeitorias) está onerando cada vez mais o nosso agronegócio. E, às vezes, não há como proteger o patrimônio, que é simplesmente perdido, sem qualquer apoio dos governos para manter a legalidade. Na ausência de controle das invasões de terras produtivas, os mesmos movimentos agora resolvem atuar na área urbana. A invasão do Congresso Nacional pode ser comparada ao aviso que antecedeu a Queda da Bastilha!
JUROS E CÂMBIO Pagando as mais altas taxas de juros do mundo, nossos produtores têm demonstrado uma habilidade gerencial superior a qualquer outro concorrente. Enquanto nos EUA, na Europa e no Japão, os governos subsidiam a agricultura, aqui ela é fortemente taxada e, quando há necessidade de empréstimos, os juros são escorchantes. Nunca antes na história deste país o real esteve tão apreciado, muito superior à relação 1:1 do início do Plano Real, que tanto prejudicou o agronegócio. A valorização do real é um dos principais fatores da atual megacrise do agronegócio.
RECRIAR O que deveria ser uma “vantagem” das desvantagens é o fato de que elas podem ser superadas com uma gestão competente. Entretanto, essa parece ser mais uma das nossas desvantagens! O povo brasileiro não pode continuar acomodado, deitado eternamente em berço esplêndido, vendo escorregar entre seus dedos as oportunidades de desenvolvimento e renda, oriundas das vantagens comparativas naturais que Deus nos conferiu. Alguém parou para olhar como a China cresce contra as desvantagens naturais? Israel? Espanha? Índia? Será que precisaremos invocar ao Criador que zere o jogo, nos dê as desvantagens naturais e nos contemple com capacidade para não criar C desvantagens competitivas? Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
brandalizze@uol.com.br
Produtor planejando safra nova têm que olhar para frente e não para trás Os produtores neste meio de ano estarão planejando a nova safra e, para isso, têm que olhar para frente, porque se olharem para trás não tomarão as decisões mais sábias. Estamos passando por um dos piores períodos de estiagem que já ocorreu no Sul do país, como em regiões do Paraná e Santa Catarina, sem chuvas desde o final de março. Assim, é importante abrir a visão ao se posicionar, e, para isso, temos as indicações internacionais de forte demanda dos principais produtos, queda na produção e nos estoques de milho, trigo e arroz - que certamente trabalharão com níveis de preços maiores em 2007 - e também temos de levar em consideração forte demanda do óleo de soja no mercado de biodiesel; se o petróleo se mantiver em alta no mercado, certamente será o fator de apoio para a nossa oleaginosa, para que possamos ter cotações que nos dêem margem de segurança para o plantio. O mercado internacional está se abrindo para todos os produtos brasileiros, e junto estamos voltando a exportar em ritmo normal as carnes de frangos, suínos e bovinos e, assim, criando demanda por uma boa safra de grãos para dar sustentação ao crescimento previsto do setor para 2007. Outro ponto importante é que o setor da cana continuará crescendo em ritmo acelerado, e muitas áreas que hoje têm grãos nas regiões produtoras desde o Norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul irão passar a receber esta nova alternativa de cultivo para os produtores, a qual está lhes dando bons resultados econômicos. O produtor agora tem que pensar que o setor agropecuário está ligado diretamente ao setor energético, um apoiando o outro, para que ambos cresçam de maneira sustentável, trazendo sucesso aos produtores brasileiros. Estamos entrando numa nova fase da agricultura brasileira e mundial. MILHO Safrinha sofre com estiagem O mercado do milho no último mês esteve operando em ritmo lento, com o apoio do governo através dos pregões que têm dado liquidez ao cereal nos estados do Centro do país, deixando, assim, o mercado livre com poucos negócios. As cotações tiveram ligeira pressão de baixa em função da colheita da safrinha que chegou e, somente no final de junho, é que tivemos pressão do lado de cima, através das indicações de que a seca estava ceifando boa parte da produção do Paraná e também de pontos de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Dessa forma, os números reais da colheita devem ficar abaixo das indicações oficiais e em resumo: o quadro de oferta e demanda nacional não deverá ser tão folgado como tem sido pintado. SOJA Governo confirma safra baixa Muitos meses depois de mostrarmos que houve perdas na safra da soja, o governo divulgou no mês de junho as estimativas da produção, confirmando os números, que foram menores do que estavam sendo apontados: segundo a Conab, foram colhidas 53,8 milhões de t e, segundo o IBGE, foram 53,3 milhões de t, contra números que estavam muito acima das 55 milhões de t. Esses dados colocam a safra dentro da realidade dos campos, mas, para os produtores, isso veio tarde, e o mercado internacional pouca importância deu, porque os olhos estavam voltados para o novo plantio americano, que se deu em período normal, sob condições de clima favoráveis, pressionando dessa maneira as cotações e não permitindo reação destas. O apoio do governo criou liquidez aos produtores para que pudessem vender com margem para cobrir os custos, devendo continuar em julho, sendo a melhor alternativa para os produtores das regiões distantes dos portos. FEIJÃO Segunda safra cresceu O mercado do feijão passou o mês de junho praticamente sem alterações nos indicati-
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vos, que, depois de terem atingido níveis acima dos R$ 80 em abril, se acalmaram. A chegada da segunda safra, que mostrou crescimento do volume e ultrapassou a casa de 1,4 milhão de t, tem abastecido os compradores que trabalhavam das mãos para boca e sem fôlego para reação, porque ainda tem produto chegando, e as lavouras do Nordeste mostravam boas condições de desenvolvimento. A demanda em julho geralmente é fraca em função do período de férias escolares, e dessa forma há pouco fôlego para reação, que, se aparecer, será na segunda quinzena através de problemas no Nordeste. Há pouco espaço no curto prazo, que vem trabalhando entre os R$ 55/60 por saca.
ARROZ Reação chegou em junho Com apoio do governo, associado à pressão de alguns compradores que entraram fechando com números aquecidos, o mercado do arroz cresceu e saltou dos R$ 16 para os R$ 20 por saca do produto comercial do RS, com indicativos de R$ 23 e R$ 24 para o casca de melhor qualidade, assim indicando que os números também cresciam nas regiões distantes do Centro-Oeste e Norte do país, que neste ano têm safra curta. O fôlego de alta continua existindo para julho, quando mais pressão poderá aparecer. O governo deverá realizar AGF em julho, e assim poderemos ver as cotações passarem dos R$ 22 no período.
CURTAS E BOAS SOJA - o quadro de oferta e demanda mundial continua frouxo e, segundo o USDA, deverá ter grandes estoques de passagem, com isso os comentários são de limitação de grandes altas nas cotações, porém é importante apontar que o biodiesel está em alta no mercado mundial, e o petróleo não dá sinais de queda e poderá estar em forte alta no próximo inverno do hemisfério Norte e, junto à soja, terá apoio para sustentação e crescimento. TRIGO - o quadro está mais apertado no Brasil, porque as previsões de 4,2 milhões de t não deverão ser confirmadas, pois a seca não deixou plantar o que estava previsto, e as áreas plantadas do PR foram tomadas por estiagem, e há grandes perdas. Assim, dificilmente iremos muito além das 3 milhões de t colhidas e, com isso, necessitaríamos de 7 milhões de t para suprir o consumo, que no mercado mundial está em alta e não chegará por aqui abaixo dos US$ 220 por t. ALGODÃO - o governo continua sendo o ponto de apoio do setor do algodão, que continua tendo dificuldade para exportar devido ao câmbio, fraco. A boa notícia para o setor vem do USDA, que mostra os estoques finais da nova safra 06/07 para 47 milhões de fardos, contra 53 milhões da safra atual, assim sinalizando um quadro melhor para a safra nova; enquanto isso segue o ritmo lento nos negócios. EUA - o quadro das lavouras até o final de junho se mostrava favorável, mas é em julho até a primeira quinzena de agosto que a safra local se define, por isso, é importante acompanhar. BOA NOTÍCIA - a boa vem da China, que em junho divulgou as expectativas de oferta e demanda de grãos para os próximos anos, sinalizando que a partir de 2010 haverá necessidade de importação de 10 milhões de t de milho anualmente, para atender à demanda crescente pelo setor industrial, porque está crescendo o setor de ração e agora também está se apostando forte na produção de álcool do cereal.
Cultivar Cultivar • www.cultivar.inf.br • www.cultivar.inf.br • Fevereiro • Julho de 2005 2006