Cultivar 92

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Cultivar Grandes Culturas • Ano VIII • Nº 92 • Dezembro 2006 / Janeiro 2007 • ISSN - 1518-3157

Nossa capa

Destaques

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Capa / Lucia M. Vivan

Enrolador mortal Vírus do enrolamento chega a lavouras de arroz irrigado no Rio Grande do Sul

10 Aplicação eficaz A importância da qualidade da água nas aplicações de defensivos

Nossos cadernos

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Fotos de Capa / José Francisco Garcia

Mela controlada Como barrar os prejuízos causados pela mela da soja

20 Fibra tombada O tratamento de sementes no combate ao tombamento de plântulas em algodão

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br 3028.4013 cultivar@cultivar.inf.br • REDAÇÃO:

3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:

3028.4004 / 3028.4005 • FAX:

3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Índice Diretas

REDAÇÃO • Editor

Gilvan Dutra Quevedo • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

06 • Revisão

Aline Partzsch de Almeida

Manejo de capim-carrapicho

07

Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

Tecnologia de aplicação

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Nossos Telefones: (53)

Plantas daninhas em soja RR

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Sedeli Feijó Silvia Primeira

Controle da mela da soja

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CIRCULAÇÃO

Tratamento de sementes em algodão

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Informe Empresarial - Bayer

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Números atrasados: R$ 15,00

• Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067

COMERCIAL Pedro Batistin

• Gerente

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Simone Lopes Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Clube da cana 2006

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Vírus do enrolamento em arroz

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• Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Coluna Agronegócios

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Mercado Agrícola

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Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.




Diretas Tecnologia

Estrutura ampliada

O diretor do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Tadeu Andrade, apresentou durante o Clube da Cana as tendências tecnológicas na cultura. Extração hidrodinâmica de açúcar, mapeamento da produção via satélite e biotecnologia estiveram entre os pontos abordados.

A Agripec passa por ampliação em sua estrutura, com a criação de uma superintendência que será chefiada pelo diretor Carlos Alberto Studart Gomes. Deda, como é mais conhecido o executivo, acumula vasto conhecimento do mercado de agroquímicos no Brasil, fruto de anos de trabalho na organização. “Este crescimento estrutural representa nosso desejo de impor maior agilidade, inovando e renovando a oportunidade para o talento e a juventude”, explicou o presidente da empresa, Beto Studart.

Tadeu Andrade

Alerta O presidente executivo da União dos Produtores de Bioenergia (UDOP), Antonio César Salibe, fez um alerta aos usineiros durante o Clube da Cana 2006. “Cuidado com preços exorbitantes pagos no arrendamento de terra, porque a nossa margem de preço não é tão folgada. Quem Antonio Salibe desconsiderar isso pode quebrar”.

Figura 3 - Porcentagem de eficiência de controle de adultos de mosca branca. Primavera do Leste (MT). Safra 2005/06

Novidades Mais quatro novos produtos já estão no mercado à disposição dos produtores de milho e soja. Trata-se da liberação de registro para Platinum da Syngenta, um inseticida para soja e milho, Success da Dow Agroscience, inseticida para milho, Accent da DuPont, um herbicida também para a cultura do milho e Atento da Bayer Cropscience, fungicida para a cultura da soja.

Etanol

Correção Ao contrário do publicado no artigo “Exterminadora branca”, páginas 14 a 18 da edição 91do mês de novembro, a figura 3 que se encontra no texto corresponde ao controle de adultos de mosca branca e a figura 4 ao controle de ninfas da mosca.

Futuro Luiz Carlos Corrêa Carvalho, da Canaplan Consultoria Técnica e presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool, falou sobre as perspectivas do etanol no Brasil e no mundo durante o Clube da Luiz Carlos Carvalho Cana 2006.

Beto e Deda Studart

Novos Rumos Carlos Eduardo Zamataro passa a integrar a equipe da Bequisa. Ocupa o posto de gerente de novos produtos, negócios e registros da empresa que atua nos segmentos agrícola, doméstico, PET e póscolheita, além de saúde ambiental e veterinária.

Figura 4 - Porcentagem de eficiência de controle de ninfas de mosca branca. Primavera do Leste (MT). Safra 2005/06

O gerente de comércio de álcool e oxigenados da Petrobras, Paulo de Tarso, palestrou durante o Clube da Cana sobre a visão estratégica da companhia para o setor energético, com ênfase no etanol.

Paulo de Tarso

Concurso A Cooperativa Tritícola Taperense Ltda. (Cotrisoja) promove o “Concurso de produtividade das culturas de milho e soja, safra 2006/07”. Segundo o presidente, Aurélio Vicari, serão premiados quatro produtores que atingirem as produtividades mais elevadas em cada categoria. InformaAurélio Vicari ções: (54) 3385-3000.

Biotecnologia

Carlos Eduardo Zamataro

Mapa da ferrugem Goiás registra os primeiros seis focos de ferrugem asiática. A doença foi confirmada em Montividiu, Chapadão do Céu, Formosa do Oeste e Senador Canedo, em unidades de alerta. Até 27 de novembro, o Sistema de Alerta do consórcio antiferrugem havia registrado focos também em Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, onde a doença foi confirmada em lavoura comercial, próxima ao florescimento, em Laguna Carapã. No Paraná, a doença foi identificada na região de Marechal Rondon, em plantas voluntárias, em estádio vegetativo. Em Uberaba (MG), a confirmação foi em lavoura comercial em estádio ainda vegetativo. Já no Mato Grosso, as lavouras atacadas estão próximas ou já na fase de florescimento e a doença atinge Rondonópolis, Sapezal, Primavera do Leste, Jaciara e Sorriso.

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O trabalho da Syngenta de mostrar benefícios da biotecnologia já é reconhecido e leva prêmio na Argentina. O site www.porquebiotecnologia.com.ar, que conta com o apoio da companhia, acaba de receber do Portal Mate.ar o prêmio de melhor portal de Ciência e Tecnologia e também, de melhor site entre os mais de 1,7 mil concorrentes, levando o troféu Mate.ar de Ouro.

Time vencedor O diretor de Marketing e Desenvolvimento, Maurício Marques e o gerente Regional de Cana, Marcelo Magurno, ambos da FMC, foram os responsáveis pela abertura do painel “Panorama mundial do setor energético e a competitividade do Brasil”, na décima edição do Clube da Cana, em São Paulo. Coube também aos dois apresentar o time completo da companhia em cana-deMarcelo Magurno e Maurício Marques açúcar.

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Milho

Contra o carrapicho Fotos Robinson Luiz Contiero

Por adaptar-se a todos os tipos de solo e disseminar-se facilmente devido ao enraizamento dos colmos, o capim-carrapicho demanda medidas de controle que tornem a cultura mais competitiva, já que a invasora se desenvolve durante todo o ano et al., 1996; Ramos & Pitelli, 1994; Bonilla, 1984). Vale lembrar, que o sucesso das estratégias de manejo de plantas daninhas está diretamente relacionado com o controle durante o período de matocompetição. Com relação ao espectro de plantas daninhas presente nas áreas sob cultivo de milho no Brasil, observa-se a ocorrência tanto de espécies dicotiledôneas quanto de espécies monocotiledôneas, sendo que estas normalmente causam maiores prejuízos à cultura. O gênero Cenchrus é constituído por um grupo de 23 espécies, que ocorrem em regiões tropicais e subtropicais no mundo. De um modo geral, essas espécies apresentam espiguetas protegidas por invólucros epinescentes e por isso têm características indesejáveis (Kissmann, 1997). Um estudo sobre o gênero no Brasil foi apresentado por Filgueiras (1984), em Acta Amazônica, que serve de base para a afirmação de que ocorrem cinco espécies de forma nativa, no Brasil: Cenchrus echinatus L.; Cenchrus brownii Roem. & Schult.; Cenchrus myosuroides H.B.K.; Cenchrus pauciflorus Benth. e Cenchrus tribuloides L. A espécie de ocorrência mais freqüente é C. echinatus L. (vulgarmente conhecida como capim-carrapicho), planta originária da América Tropical, ocorrendo do sul dos EUA até a Argentina. No Brasil, é amplamente disseminada, sendo muito comum nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (principalmente nas áreas de cerrado).

MANEJO PREVENTIVO

A

s perdas na produção de milho ocasionadas pela interferência de plantas daninhas podem variar de 10% até 85%, dependendo das espécies infestantes, da capacidade competitiva do híbrido, das condições climáticas e, principalmente do período em que a comunidade de plantas daninhas e plantas cultivadas convivem e disputam os recursos do meio. A época do início do controle das plantas daninhas apresenta influência significativa na

intensidade da redução do rendimento da cultura do milho. Esse período é conhecido como “Período Crítico de Competição”, ou seja, o período em que não pode haver convivência das plantas daninhas com a cultura do milho, sob pena de perdas significativas na produtividade da cultura. De uma maneira geral, o período crítico de competição das plantas daninhas com a cultura do milho vai dos 15 aos 50 dias após a emergência das plantas (Rizzardi et al., 2004; Duarte et al., 2002; Haniz

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O princípio do manejo de controle preventivo está em evitar a introdução, o estabelecimento e a disseminação da planta daninha em áreas onde ela ainda não ocorre. A introdução de novas espécies, geralmente, ocorre através do uso de sementes contaminadas, máquinas agrícolas e animais. Ressalta-se a importância da utilização de sementes certificadas, livres de sementes de plantas daninhas, a limpeza cuidadosa de todas as partes de máquinas e implementos ao serem deslocados de uma propriedade para outra (ou mesmo de uma área para outra, dentro da mesma propriedade) e o manejo da espécie na entressafra, evitando assim que a mesma produza sementes, não só nas áreas agricultáveis, mas principalmente nas beiradas de cer-

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cas, estradas, carreadores, terraços, pátios, canais de irrigação ou em qualquer lugar da propriedade, para evitar a sua disseminação. No manejo de C. echinatus, destaca-se que medidas que proporcionem o fortalecimento da capacidade competitiva da cultura sobre a planta daninha, principalmente o rápido estabelecimento e desenvolvimento, reduzindo o período de matocompetição e aumentando a eficácia dos herbicidas. Dentre as diversas medidas culturais, podem ser destacadas o uso de híbridos adaptados às regiões, espaçamentos reduzidos, densidade de semeadura, época de semeadura, uso de cobertura morta, rotação de culturas, adubações adequadas, irrigação e manejo de pragas e doenças. Em regiões úmidas a planta daninha alonga seu ciclo com enraizamentos progressivos tornando semiperene

CONTROLE QUÍMICO O controle químico de C. echinatus é, normalmente, a forma de manejo empregada pela maioria dos produtores, principalmente pela facilidade e versatilidade de utilização, pela eficiência no controle da planta daninha, pelo

efeito residual dos produtos, o que permite que o milho “feche” no limpo, além da seletividade da maioria dos produtos para a cultura do milho. Em ensaio com o objetivo de de-

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

P

lanta anual de fotossíntese pelo ciclo C4, herbácea, ereta ou eventualmente semiprostrada. Possui os nós providos de pigmentação antociânica. com tamanho variando de 20 a 60 cm de altura. É uma das gramíneas mais importantes como infestante, no Brasil. O ciclo se completa, em média, em 210 dias e a reprodução é por sementes. Alastrase por enraizamento dos colmos, nos nós em contato com o solo. Aceita todos os tipos de solo, tanto os férteis solos agrícolas como os pobres solos arenosos do litoral. Mesmo sobre dunas de areia a planta sobrevive. Naturalmente, em solos ricos a vegetação é mais exuberante (Lorenzi, 2000; Kissmann, 1997). As folhas são abundantes, distribuídas sobre o colmo, com as bainhas lisas ou com alguns pelos marginais na porção superior. As lígulas possuem até 1,5 mm de altura e as margens são pilosas. A lâmina foliar é plana, com 5 a 35 cm de comprimento e 0,5 a 1,0 cm de largura, acuminadas, glabras ou com alguns pêlos na base. As margens são cortantes. A inflorescência é constituída por racemos espicifomes, formados por uma raque sobre a qual se assentam invólucros espinhosos que encerram as espi-

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guetas. Os invólucros são conhecidos como bardanas e sua morfologia é elemento muito importante na separação das espécies de Cenchrus. Os invólucros prendem-se em tecidos e outros substratos, facilitando a disseminação. Em regiões mais secas, o crescimento é limitado e o ciclo mais curto. Já em regiões com boa umidade o ciclo se alonga, com florescimento e frutificação durante longos períodos. Com enraizamentos progressivos, as plantas chegam a ser semiperenes, onde as condições são favoráveis. Especificamente na cultura do milho, C. echinatus é uma planta daninha bastante competitiva e de difícil controle, em lavouras da região Sul e, principalmente em áreas de cultivo no cerrado. Em ensaio com o objetivo de determinar o período de convivência de plantas daninhas com a cultura do milho, Duarte et al. (2002) constatou que a presença de plantas daninhas (entre elas, C. echinatus), reduziu a produtividade da cultura em cerca de 22%. Com crescimento e desenvolvimento em praticamente todas as épocas do ano, é uma planta daninha bastante prejudicial tanto na cultura do milho semeado na época normal, quanto no milho semeado na “safrinha”.

terminar o período de convivência de plantas daninhas com a cultura do milho, Duarte et al. (2002) constatou que a presença de plantas daninhas (entre elas, C. echinatus), reduziu a produtividade da cultura em cerca de 22%. De acordo com Kissmann (2000), a área de milho tratada com herbicidas, no Brasil, corresponde a apenas 28%, contra 98% e 65% das áreas plantadas na Argentina e Uruguai, respectivamente. A seleção de um herbicida deve ser baseada nas espécies de plantas presentes na área a ser tratada, bem como nas características físico-químicas dos produtos. As alternativas de herbicidas para o controle de plantas daninhas na cultura do milho estão apresentados na Tabela 1. Na aplicação, deve-se verificar as

Para evitar entrada de Cenchrus em áreas ainda sem a presença da daninha, o primeiro passo é adquirir sementes de qualidade

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Tabela 1 - Herbicidas registrados para o controle de C. echinatus (capim-carrapicho) na cultura do milho Época de Aplicação

Pré-emergentes

Pós-emergentes

Princípio Ativo alachlor alachlor + atrazine atrazine atrazine + s-metolachlor atrazine + simazine isoxaflutole pendimethalin s-metolachlor trifluralin alachlor + atrazine ametryn1 amônio-glufosinato2 atrazine + simazine foramsulfuron + iodosulfuron methyl sodium4 glifosato imazapic + imazapyr3 mesotrione nicosulfuron4 paraquat2, 5 tembotrione

1 Utilizar nas entrelinhas, após o estádio de 50 cm de altura do milho. Adicionar adjuvante. 2 Utilizar em pós-emergência dirigida ou no manejo de plantas daninhas em plantio direto. 3 Somente recomendado para o sistema de produção Clearfield, com os híbridos C909, C901 e C806. 4 Não utilizar em misturas com inseticidas organofosforados. Verificar susceptibilidade de cultivares. 5 Aplicar nas entrelinhas, em jato dirigido, quando o milho estiver com mais de 8 folhas. Fontes: Rodrigues & Almeida (2005); Rizzardi et al. (2004).

condições climáticas (temperatura do ar, umidade relativa do ar, vento, possibilidade de chuva), bem como as condições do solo ou das plantas. Outro fator importante ligado aos herbicidas, é verificar a persistência média no solo dos herbicidas selecionados nas culturas antecessoras, uma vez que os mesmos podem tornar-se fitotóxicos para a cultura do milho em sucessão. Levar em consideração, na escolha de um herbicida para o controle de plantas daninhas, o intervalo de segurança, que é o intervalo mínimo entre a aplicação e a colheita do milho, além da seletividade dos mesmos à cultura. Quando a opção for pela utilização de herbicidas aplicados em pré-plantio ou em pré-emergência, deve-se verificar as condições de umidade do solo (quanto mais seco o solo, maior a adsorção dos produtos aos colóides, podendo prejudicar sua eficiência) e o tipo de solo, adequando as doses conforme o tipo de solo (maiores doses para solos com maiores teores de argila, e menores doses para solos mais arenosos). É importante também, que o efeito residual do produto seja suficiente para que a cultura fique livre da presença da planta daninha até o final do período crítico de competição. Caso contrário, controle adicional deverá ser utilizado para manter a cultura livre da planta daninha. Já se a opção for por herbicidas aplicados em pós-emergência (tanto do milho, quanto do capim-carrapicho) é importante que a aplicação seja realizada imediata-

mente antes do período crítico de competição, devendo-se considerar, também, as condições climáticas quando da aplicação, visando possibilitar a melhor performance dos produtos. Uma das vantagens de se utilizar herbicidas em pós-emergência, é que a aplicação pode ser feita racionalizando-se a aplicação, em função do índice de infestação e do estádio de desenvolvimento do capim-carrapicho, obtendo-se assim, maior eficiência no controle dessa planta daninha. Nesse tipo de aplicação é importante observar as condições em que se encontra a planta daninha evitando a aplicações em períodos de estresse. Considerando os diferentes métodos de controle, o Manejo Integrado de Plantas Daninhas deve ser priorizado, visando o uso racional de herbicidas. Um dos pontos-chave no manejo integrado é a rotação de herbicidas, com mecanismos de ação diferentes Uma nova molécula, tembotrione, estará disponível para o controle de plantas daninhas mono e dicotiledôneas na cultura do milho. Trata-se de um herbicida pós-emergente sistêmico do grupo químico das Tricetonas, inibidor da biossíntese

de carotenóides (enzima HPPD - hydroxy phenil pyruvate dioxygenase) nos cloroplastos. Apresenta formulação em Suspensão Concentrada, na concentração de 420 g L-1 de tembotrione. O produto está em fase de registro, com doses recomendadas de 75 a 100 g i.a./ha (180 a 240 ml p.c./ha). Em ensaios objetivando avaliar a eficiência e a seletividade do herbicida tembotrione no controle do capim-carrapicho (C. echinatus L.) na região Sul (Contiero, 2005) e no Cerrado (Carvalho, 2005), aplicado isoladamente ou em mistura com atrazine, o produto mostrou-se bastante eficiente no controle da planta daninha (Tabelas 2 e 3). Em ambos os experimentos, a utilização do herbicida tembotrione, tanto isoladamente quanto em mistura com atrazine, não apresentou nenhum sintoma de fitotoxicidade que comprometesse o crescimento, o desenvolvimento e a produtividade do milho, sendo, portanto, consideC rado seletivo para a cultura. Robinson Luiz Contiero, Unioeste

Tabela 2 - Porcentagens de controle de capim-carrapicho (Cenchrus echinatus L.) aos 7, 14, 28 e 42 dias após a aplicação (D.A.A.), observados no experimento na cultura do milho, híbrido AG 9010. Marechal Cândido Rondon (PR), 2004/05 Tratamentos 1. Testemunha Capinada 2. (Foramsulfuron + Iodosulfuron) + Atrazine 3. Nicosulfuron + Atrazine 4. Mesotrione + Atrazine 5. Tembotrione + Atrazine 6. Tembotrione + Atrazine 7. Tembotrione 8. Tembotrione 9. Testemunha sem capina F C.V. (%)

Dose (g/L i.a./ha) 40,0 + 1,00 20,0 + 1,00 140,0 + 1,20 80,0 + 1,00 100,0 + 1,00 100,0 130,0 -

7 D.A.A. 100,00 a 50,00 c 70,00 b 60,00 c 70,00 b 75,00 b 75,00 b 90,00 a 0,00 d 146,13** 5,93

% de controle 14 D.A.A. 21 D.A.A. 100,00 a 100,00 a 75,00 b 77,50 b 80,00 b 82,50 b 55,00 c 55,00 c 57,50 c 52,50 c 75,00 b 77,50 b 73,75 b 76,25 b 80,00 b 82,50 b 0,00 d 0,00 d 333,55** 139,44** 3,89 6,07

28 D.A.A. 100,00 a 73,75 b 80,00 b 56,75 c 43,75 d 62,50 c 61,25 c 77,50 b 0,00 e 206,99** 5,06

Médias seguidas de mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. No tratamento 2 adicionou-se espalhante adesivo Hoefix 280 SL, na dose de 0,28 g i.a./ha (1,0 L p.c./ha); nos tratamentos 5, 6, 7 e 8 adicionou-se óleo metilado de soja 72%, na dose de 0,72 g i.a./ha (1,0 L p.c./ha). Fonte: Contiero, 2005

Tabela 3 - Resultados médios dos tratamentos no controle de Cenchrus echinatus L. aos 7, 14, 30 e 50 dias após a aplicação (D.A.A.) dos produtos na cultura do milho, híbrido Fort. Uberlândia (MG), 2004/2005 Tratamentos Nome Comum Tembotrione + atrazine1 Tembotrione + atrazine1 Tembotrione + atrazine1 Foransulfuron + iodosulfuron + atrazine Nicosulfuron + atrazine Mesotrione + atrazine³ Testemunha sem herbicida C.V. (%)

Dose (g/L i.a./ha) 80,0 + 1,0 100,0 + 1,0 130,0 + 1,0 40,0 + 1,0 20,0 + 1,0 140,0 + 1,2 -

7 D.A.A. 91 a 92 a 90 a 68 b 68 b 23 c 0d 9,07

% de controle 14 D.A.A. 30 D.A.A. 92 a 94 ab 93 a 93 ab 93 a 97 a 38 c 50 c 56 c 82 b 13 d 0d 0e 0d 10,13 12,34

50 D.A.A. 83 a 83 a 85 a 40 b 29 c 0d 0d 2,35

*Médias seguidas pela mesma letra na vertical não diferem entre si, estatísticamente, ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Duncan. 1/ Adicionou-se óleo metilado (Lanzar) a 1,0 L ha-1 2/ Adicionou-se surfactante Hoefix (Lauril éter) a 1,0 L ha-1 3/ Utilizou-se a mistura pronta de atrazine + óleo mineral (Primóleo 400 SC).

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Jacto

Soja

Aplicação de qualidade AA preparação preparação de de caldas caldas com com água água de de má má qualidade, qualidade, aliada aliada aa não-avaliação não-avaliação da da compatibilidade compatibilidade de de misturas misturas nos nos tanques, tanques, podem podem elevar elevar ainda ainda mais mais os os custos custos de de produção produção das das lavouras lavouras com com aplicações aplicações ineficientes ineficientes

A

s culturas de grãos e fibras, representadas principalmente pela soja, milho e algodão, vêm atravessando um momento crítico, provocado entre outras coisas pela concorrência do mercado externo, pela defasagem interna de preços e pela queda do dólar, acarretando uma queda acentuada na área plantada e, para que se retome o crescimento, o produtor terá que investir em novas técnicas de produção, melhorar a qualidade do produto final, além de buscar o melhor caminho para evitar desperdícios e assim reduzir o custo de produção. Neste panorama, quando se analisa a redução dos custos de produção, a tecnologia empregada para o tratamento fitossanitário das culturas tem uma grande contribuição a proporcionar. A aplicação equivocada de produtos químicos é sinônimo de elevação de custos, pois além do prejuízo direto gerado pelo desperdício do produto aplicado, causa outros indiretos como resistência da praga ou doença e elevação dos riscos de contaminação da produção, das pessoas e do ambiente. Para que se tenha uma idéia, dados da literatura citam que até 70% dos produtos pulverizados nas lavouras são perdidos por má aplicação, escorrimento e deriva descontrolada. Quando se considera que o número de pulverizações por ciclo variam de 4 a 8 para culturas como a soja e o milho até 15 a 20 para o algodão, e que o custo com o tratamento fitossanitário

10

representa de 30 a 60% do custo total de produção, observa-se que pequenas adequações no sistema de pulverização podem ser revertidas em enormes benefícios para o agricultor. Uma pulverização eficiente, técnica e economicamente, inicia-se por compreender que fatores como o alvo a ser atingido, características do produto utilizado, a máquina, o momento da aplicação e as condições ambientais não agem de forma isolada, sendo a interação desses fatores a responsável direta pela eficácia ou ineficácia do controle. Tais interações já foram amplamente analisadas em diferentes artigos e publicações, entretanto, um conceito que ainda precisa ser discutido e que tem sido alvo de muitas discussões no campo, é o preparo da calda e a qualidade da água utilizada na sua elaboração. Muita verdade e muito mito têm sido ditos a respeito deste tema, que precisam ser esclarecidos para que o produtor possa buscar a máxima eficácia no controle fitossanitário ao menor custo possível. Tabela 1 - Formas de classificação da dureza da água Classe Muito Branda Branda Semi Dura Dura Muito Dura Fonte - Conceição, 2003

Ppm de CaCO3 < 71,2 71,2 – 142,4 142,4 – 320,4 320,4 – 534,0 > 534,0

Graus de Dureza (od) <4 4–8 8 – 18 18 – 30 > 30

QUALIDADE DA ÁGUA Muito se tem discutido atualmente sobre a qualidade da água utilizada nas pulverizações, principalmente com relação ao pH. Aliás, em algumas regiões, pH virou sinônimo de qualidade da água e, quando um produto não funciona como deveria, um técnico com um Phmetro, encontrando um pH 8, por exemplo, na água utilizada, se julga capaz de identificar exatamente o que aconteceu sem

EFEITOS DE MISTURAS • Aditivo: o efeito da aplicação da mistura será semelhante ao da aplicação dos produtos individualmente, ou seja, um produto não interfere na eficácia do outro; • Sinérgico: o efeito da aplicação da mistura será superior ao da aplicação dos produtos individualmente, ou seja, um produto melhora a eficácia do outro; • Antagônico: o efeito da aplicação da mistura será inferior ao da aplicação dos produtos individualmente, ou seja, um produto piora a eficácia do outro.

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Fotos Hamilton Ramos

nem mesmo observar as condições do pulverizador ou a técnica utilizada na aplicação, o que deve ser considerado um erro grave. Qualidade da água é importante e deve ser encarada de uma forma mais completa para que não se perpetue falhas em aplicações. Quando se pensa em qualidade da água, um fator muito importante a ser considerado é a qualidade física da mesma, ou seja, a quantidade de sedimentos em suspensão. Sedimentos como argila e matéria orgânica, além de obstruírem filtros e pontas, reduzindo a capacidade operacional dos pulverizadores, reduzirem a vida útil de bombas, pontas e componentes do pulverizador, podem se associar aos produtos químicos adicionados ao tanque, inativando-os ou reduzindo sua eficácia. Um exemplo disso é a inativação do glifosate pela argila, no solo ou na solução de aplicação. Já em 1974, Rieck et al mostraram que a adição de 1% de argila montmorilonita, bastante reativa e encontrada basicamente em países de clima frio, à solução de aplicação reduz a fitotoxicidade do glifosate em 80 a 90% mas que esta fitotoxicidade não é influenciada pela adição de 1% de argila caolinita, menos reativa e encontrada em países de clima tropical. Ramos & Durigan (1998), no Brasil, encontraram soluções construídas com até 10 g/l de um solo da região de Jaboticabal (SP) contendo 56% de argila e 3% de matéria orgânica não interferiram na eficácia de diferentes herbicidas, entre eles o glifosate, quando aplicados em pós-emergência das plantas daninhas (40 a 60 cm de altura) utilizando-se 300 l/ha de calda. Assim, a análise de tais interferências deve adquirir um caráter até mesmo regional, uma vez que a utilização de águas captadas em reservatórios abertos, onde a quantidade de sólidos em suspensão é dependente de fatores como chuvas por exemplo, pode ser possível sem que haja necessariamente uma interferência negativa sobre o produto utilizado, ampliando o período útil de pulverizações.

Outro fator a ser observado é a qualidade química da água, que pode ser analisada de várias formas. Uma delas, e que tem grande interferência sobre a eficácia dos defensivos, é a “Dureza”. A dureza da água é definida como a concentração de cátions alcalino-terrosos (Ca+2, Mg+2, Sr+2 e Ba+2) presentes na água, expressa na forma de ppm de CaCO3, representados normalmente por Ca+2 e Mg+2 originados de carbonatos, bicarbonatos, cloretos e sulfatos. A dureza, que pode ser classificada de acordo com a Tabela 1, é capaz de interferir negativamente na qualidade de calda de um defensivo em função destes, nas suas formulações, utilizarem adjuvantes que são responsáveis pela sua emulsificação (óleos) ou dispersão (pós) na água, denominados de tensoativos. Tais adjuvantes são sensíveis à dureza, pois atuam no equilíbrio de cargas que envolvem o ingrediente ativo, equilíbrio este que é alterado pela água dura. Um grupo específico de tensoativos, os aniônicos, que são geralmente sais orgânicos de Na+ e K+, reagem com os

Sedimentos como argila e matéria orgânica, além de obstruírem filtros e pontas reduzem a capacidade de operação dos pulverizadores

cátions Ca+2 e Mg+2 presentes na água dura, formando compostos insolúveis, reduzindo assim a quantidade de tensoativo na solução e causando grande desequilíbrio de cargas, ocasionando a floculação ou precipitação dos componentes da formulação, podendo causar uma baixa eficácia e a obstrução de filtros e pontas de pulverização. Felizmente as águas brasileiras, salvo algumas exceções, são brandas ou muito brandas, não ocasionando problemas à aplicação de defensivos. A qualidade química da água deve também ser analisada em função da quantidade de outros íons que a compõem e que não são constituintes da dureza. Íons como Fe+3 e Al+3 por exemplo, podem reagir com o agrotóxico reduzindo sua eficácia. No entanto, tal interferência é influenciada pela tecnologia empregada na pulverização, não existindo uma concentração alta ou baixa fixa para tais íons. Para uma mesma concentração, quanto menor for o volume de água utilizado por área para a

Comparativo de qualidade de água para aplicação de defensivos

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COMPATIBILIDADE DE PRODUTOS

A

pesar da mistura de defensivos ser proibida por lei no Brasil, tal prática é de uso bastante comum por produtores. Deve-se entender entretanto que, quando se misturam pelo menos dois produtos no tanque de pulverização, sejam eles considerados defensivos ou não, três diferentes efeitos podem advir desta mistura: aditivo, sinérgico ou Antagônico. Antes de se realizar qualquer mistura é importante saber se existe algum tipo de incompatibilidade entre eles e neste ponto o pH da calda pode ser um indicativo de antagonismo. Ao se adicionar um produto alcalino, como um hidróxido de cobre por exemplo, elevando-se o pH da calda, e logo em seguida um produto

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cou no mercado seguramente por mais de 20 anos e saiu recentemente por razões toxicológicas e não de eficácia. Tal produto, que já estava no mercado bem antes de começar a se pensar em pH, e que foi aplicado nas mais diferentes formas e condições, tem segundo tais tabelas, uma vida média de 12 minutos a pH 7, que é o pH da água pura. É no mínimo utopia acreditar que um produto com esta vida média pudesse permanecer tanto tempo no mercado sem trazer sérias e freqüentes conseqüências à empresa que o comercializava. O que dizer também do dicofol, acaricida ainda hoje comercializado por diferentes empresas e também no mercado há mais de 20 anos, que tem uma vida média de 15 minutos neste mesmo pH? Além disso, a água possui um poder tampão, que é a capacidade de manter o pH, muito baixo. Considerando-se que as empresas gastam milhões de dólares até a colocação de um produto no mercado e que o mesmo pode ter que ser retirado rapidamente em função de uma degradação indevida em função do pH, proporcionando sérios prejuí-

zos, qual a razão lógica para que corram tal risco no lugar de adicionar um tamponante à formulação e assim garantir a estabilidade do princípio ativo? Dessa forma, não há razão qualquer que sustente a necessidade de uma correção prévia do pH antes de se colocar o produto no tanque bem como para se acreditar que o pH da água foi o principal responsável pela ineficácia de um determinado defensivo. Via de regra, quem tem problemas com pH deve procurar onde está o problema. Qualquer necessidade da adição de adjuvantes à calda, seja ele um corretor de pH, um sequestrante ou mesmo um espalhante deverá ser orientado pelo representante técnico ou por um Engenheiro Agrônomo.

CONCLUSÃO Uma vez observadas todas estas características, a calda poderá então ser elaborada, observando-se os demais parâmetros técnicos previstos pela tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários para esta operação. Feito isso o produto poderá posteriormente ser aplicado dentro de uma certeza de que se estará proporcionando ao mesmo todas as condições para que expresse a sua máxima eficácia, que será observada através do controle adequado da praga ou doença. Minimizar o fator qualidade da aplicação a um ou outro parâmetro, induz invariavelmente a erros que se refletem na elevação do custo do tratamento fitossanitário, quer pela utilização de produtos desnecessários, pela ineficácia dos tratamentos ou pela necessidade de maiores volumes de calda. Neste contexto, informação também é parte importante da qualidade e deve ser buscada através de técnicos responsáveis ou de publicações idôneas nas diferentes áreas para que seja isenta e possa refletir eficientemente na qualidade da produção, na segurança do aplicador e do ambiente e na qualidade de vida C do agricultor. Hamilton Humberto Ramos e Douglas Sampaio R. da Rocha, IAC

Fotos Charles Echer

distribuição de uma mesma dose de defensivo, menor será a interferência destes sobre o princípio ativo. Assim, na aplicação de 1,0 l/ ha de um determinado produto, espera-se uma interferência muito menor da qualidade da água na aplicação aérea, onde se utiliza 30 l/ ha de água, do que na aplicação com um pulverizador de barras, utilizando-se 300 l/ha. Deve-se sempre consultar o representante técnico do produto a ser utilizado ou um Engenheiro Agrônomo competente para se certificar da adequação dos níveis destes ao produto e à tecnologia de aplicação a serem empregados. Quando forem incompatíveis, agentes sequestrantes, que quelatizam e inativam estes íons na água de pulverização, estão disponíveis no mercado e podem ser utilizados como forma a tornar a água adequada à aplicação. Por fim, o pH da água de aplicação deverá ser analisado na propriedade apenas como indicador de possíveis alterações nas características químicas da água. Caso apenas o pH esteja alterado, estando as demais características inalteradas, muito raramente se observará interferência na eficácia do produto aplicado. O pH importante, e que pode interferir na qualidade dos defensivos, é o da calda, e via de regra está associado à incompatibilidade entre produtos, como ver-se-á mais adiante. Apesar disso, hoje é muito comum ver-se no campo tabelas contendo o pH ideal de ação para diferentes princípios ativos bem como a vida média dos produtos em diferentes pH’s. O que todas elas têm em comum é: “Ninguém sabe quem as elaborou ou a fonte de onde foram tiradas”, assim, quem atesta a confiabilidade das mesmas? A baixa interferência do pH é até de certa forma evidente até mesmo para o próprio agricultor. Consideremos por exemplo o benomyl, ou seu nome comercial mais conhecido, o Benlate, que fi-

qualquer que seja passível de sofrer hidrólise alcalina, certamente a eficácia deste segundo será prejudicada mas, como já dissemos, isso não tem nada a ver com o pH inicial da água e sim com a incompatibilidade entre produtos. Neste caso a correção do pH, desde que não interfira na eficácia de nenhum dos produtos, pode ser recomendável. Uma clara evidência da ocorrência de incompatibilidade é a formação de precipitados ou grumos dentro do tanque de pulverização, que normalmente param nos filtros ou nas pontas de pulverização, obstruindo-os. Caso isso ocorra, deve-se buscar meios para substituir os produtos incompatíveis ou para aplicá-los de forma isolada.

Precipitados ou grumos no tanque são sinais de incompatibilidade de uma mistura

Hamilton Ramos mostra a importância da qualidade de água e pH da calda na hora da aplicação de defensivos

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Soja

Cautela no manejo O glyphosate apresenta alta eficiência no controle de plantas daninhas, além de facilidade e flexibilidade no emprego em pós-emergência na soja RR. Porém, fatores como estádio de desenvolvimento da invasora e da cultura, densidade de infestação, dose recomendada e época de aplicação precisam ser observados para prevenir problemas de resistência

O

passou a ser utilizado em todas as propriedades e foram disponibilizados no mercado novos grupos químicos, como os inibidores da ALS e ACCase, com importante evolução na eficiência e na segurança ao homem e ao meio ambiente. Novas tecnologias, como a semeadura direta e o milho safrinha, foram incorporadas aos sistemas de produção. Quanto às plantas daninhas, a maioria das espécies que eram relacionadas nos anos 70, continuam fazendo parte da lista das principais invasoras da cultura. Novos problemas surgiram, e outros mudaram de importância. Se por um lado Brachiaria plantaginea (capim-marmelada) teve sua presença reduzida nas áreas de semeadura direta, espécies, como Digitaria insularis (capim-amargoso), Conyza spp. (buva) e outras de semente pequena, aumentaram a

freqüência. Percebeu-se que o milho safrinha e as áreas de pousio tornaram-se locais de multiplicação do banco de sementes, desde que não tratadas convenientemente. A manifestação de biótipos resistentes a herbicidas foi notória e se espalhou pelo País. Biótipos resistentes de Bidens sp (picão-preto) e Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo) tornaramse um grave problema nacional enquanto a Commelina bengalensis (traporeba) passou a ser problema na maioria das regiões produtoras. As plantas daninhas adaptaram-se às novas condições, o que era possível ser previsto segundo a teoria evolucionista de Charles Darwin. Onde antes se usava um ou dois herbicidas passou-se a utilizar aplicações triplas ou duas a três aplicações de produtos em mistura e, em certos casos, até quatro aplicações. Fotos Dirceu Gassen

manejo de plantas daninhas na soja transgênica resistentes ao glyphosate (soja RR), incorpora um novo herbicida, com características que permitem mudanças profundas. Uma rápida olhada no tempo, mostra que quando a soja foi introduzida comercialmente no Brasil, os métodos de controle disponíveis para eliminar as plantas daninhas incluíam a capina manual, a capina mecânica, o controle cultural e o controle químico. No método químico, dispunha-se de alternativas como trifluralin, metribuzin, metolachlor, alachlor, linuron, vernolate, pendimethalin, bentazon, acifluorfen. Em outras palavras, dispunha-se de produtos com e sem ação residual para uso em pré-plantio-incorporado, pré-emergência e pós-emergência. De lá para cá, o herbicida

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Em algumas áreas de produção de soja, o controle das espécies infestantes tornou-se quase impossível. Herbicidas tidos no passado como a solução de problemas acabaram tornandose inócuos para muitas espécies. As experiências vividas na agricultura brasileira confirmam na prática, que a natureza responde às ações empreendidas pelo homem. Isso, sem dúvida, é o grande ensinamento que se pode tirar do passado. Ou seja, ainda que a relação das espécies dos anos 70 continue presente, observa-se que mudanças no sistema de semeadura e exploração das áreas provocaram mudanças na importância e freqüência da comunidade infestante, assim como, o uso continuado de herbicidas inibidores das enzimas ALS e ACCase permitiu a manifestação da resistência.

GLYPHOSATE A aplicação de glyphosate em pós-emergência da cultura da soja, representa mais do que a alternativa de um outro herbicida. Representa a possibilidade de uso de uma nova ferramenta no manejo de plantas daninhas e a oportunidade de rotacionar um produto com diferente mecanismo de ação para controlar plantas resistentes. A eficiência de controle, a facilidade de seu uso e a flexibilidade na aplicação são características complementares, consideradas essenciais no conceito de praticabilidade, item fundamental para o agricultor. As mesmas características que conferem o grande diferencial com as práticas atuais, podem representar também riscos com conseqüências sobre o controle das espécies daninhas e também na produtividade. A soja geneticamente modificada para a resistência ao glyphosate significa uma evolução técnica de destaque. Porém, para que o máximo proveito possa ser tirado de uma nova tecnologia é preciso saber utilizá-la.

Mudanças no sistema de semeadura e exploração de áreas provocaram mudanças também nas plantas infestantes

MANEJO As recomendações da pesquisa para o controle das plantas que germinam antes da semeadura (dessecação de manejo de pré-semeadura), normalmente indicadas para soja convencional, devem ser mantidas no caso de semeadura da soja RR, observando-se os critérios já estabelecidos. Apesar de glyphosate atuar sobre plantas novas e adultas, não se deve fazer uma única aplicação para controlar o mato nascido, antes e após a semeadura da soja. Não se pode ignorar na soja RR as informações sobre mato-interferência. Essa foi uma das primeiras preocupações dos pesquisadores brasileiros ao verificar que algumas propriedades estavam eliminando a operação de dessecação e semeando soja no mato. Eliminar a dessecação de pré-semeadura significa cometer um grave erro. Admite-se que, ape-

nas em casos raros, essa prática poderá ser alterada. Esses casos, estão associadas às áreas com manejo tecnificado, bem sucedidos, dependente da comunidade presente e de um reduzido banco de sementes. Ocorrendo a presença de espécies tolerantes na área, ainda que em baixa densidade é preferível seguir o modelo convencional de controle, fazendo-se a dessecação. Nos casos excepcionais, em que for possível suprimir a dessecação, geralmente é preciso antecipar a aplicação de glyphosate em pós-emergência. O estádio de desenvolvimento da planta daninha e da cultura, a densidade de infestação, a dose recomendada e a época de aplicação são parâmetros que precisam continuar a ser observados com critério nas aplicações em pós-emergência das ervas e da cultura.

ENTRESSAFRA

Eliminação da dessecação em présemeadura é considerada um erro grave do produto

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Estádio de desenvolvimento da cultura e da planta daninha precisam ser observados na hora da aplicação

Outro ponto importante a ser observado, mesmo no cultivo da soja RR, diz respeito ao manejo de entressafra. Tem sido comum verificar que, em muitas propriedades as plantas daninhas não são adequadamente controladas na cultura de safrinha e/ou nos períodos em que a terra fica em pousio. Nesses casos ocorre a multiplicação de sementes das espécies infestantes e o aumento no banco de sementes. Certamente essa foi a razão do insucesso de muitas aplicações de herbicidas na soja convencional, pois a pressão de infestação chegou a tal ponto que impedia qualquer produto de funcionar de forma satisfatória. Estudos conduzidos com soja RR pela Embrapa Soja, por um período de três anos, mostram que, devido a alta eficiência de glyphosate sobre determinadas espécies como picãopreto, poderá ocorrer redução no banco de se-

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ESPÉCIES TOLERANTES E RESISTENTES mentes, enquanto para outros casos, como a trapoeraba, ocorre aumento, mostrando que a curto prazo, existem riscos com a seleção de plantas tolerantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Charles Echer

O surgimento da soja RR certamente irá impactar o mercado de herbicidas convencionais, mas não deve significar o fim do uso destes produtos, muito menos da pesquisa com novos herbicidas. Acredita-se que o glyphosate será um produto “standard” mas haverá espaço para os demais. Novas tecnologias estão em desenvolvimento, como a soja transgênica resistente aos herbicidas do grupo químico da imidazolinonas. É preciso que a tecnologia da soja resistente aos herbicidas seja incorporada ao manejo existente. Relatos do Paraguai indicam ter sido possível cultivar a soja com baixas doses de herbicidas ao se rotacionar culturas transgênicas com convencionais, em áreas onde no passado havia a necessidade de grandes quantidades de produtos. Espera-se que no Brasil, assim como aconteceu nos Estados Unidos, haja redução significativa no preço dos herbicidas convencionais, o que facilitaria a rotação com a soja RR. Sobre o custo da operação de manejo das plantas daninhas, haverá uma redução nominal no preço do produto utilizado, mas, não se pode esquecer a taxa tecnológica cobrada na semente. Mesmo sabendo que mudança na comunidade infestante pode ser agravada pela presença de espécies de difícil controle, o agricultor não irá deixar de utilizá-la enquanto, verificar vantagens financeiras e principalmente operacionais. No futuro, nas áreas manejadas inadequadamente, existe risco do aumento da dose e do número de aplicações de glyphosate. Portanto, com a soja geneticamente modificada para a resistência ao glyphosate, o produtor ganha nova opção de controle e a responsabilidade de utilizá-la corretamente.

A

tenção especial deve ser dada às espécies tolerantes a esse herbicida como as da família Commelinaceae (trapoeraba) e Convolvulaceae (corda de viola), além de Spermacoce latifólia (erva-quente), Tridax procumbens (erva-de-touro) Richardia brasiliensis (poaia-branca), Chamaesyce hirta (erva-de-santa-luzia), Chloris polydacyla (capim branco), Synedrellopsis grisebachii (agriãozinho) e outras. As espécies de difícil controle, podem ser selecionadas, em função do uso continuado desse produto. Além disso, existe no Brasil a tendência de uso de doses menores do que as recomendadas, fator comumente associado ao escape de controle, especialmente das espécies tolerantes. Ainda para essas espécies tem se observado que as aplicações seqüenciais podem produzir melhores resultados do que aplicações únicas. Além da melhor cobertura, existe maior concentração de produto por unidade de área nas plantas menores. É necessário ter em mente que as espécies tolerantes respondem mais positivamente a doses bem administradas do que ao uso de doses elevadas. Os erros e as conseqüências do uso Em um país tropical, mudanças na comunidade e na dinâmica das plantas daninhas ocorrem rapidamente e a combinação de fatores básicos como biologia e manejo podem determinar quando os novos problemas ocorrerão. Embora possa ser aplicada a este país de Sul aoNorte, esta observação é especialmente valida para a grande região do Brasil Central, que contempla parte do Estado do Paraná e demais Estados acima. É possível afirmar que temos uma condição diferenciada dos demais países que cultivam a soja RR e que o Brasil está aprendendo, com as próprias experiências. A tecnologia vem acompanhada de uma Flávio D. Haas

Gazziero alerta para cuidados essenciais para com o uso de glyphosate em soja RR

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Manejo das plantas daninhas na entressafra é fundamental para reduzir o banco de sementes

continuado de um mesmo herbicida já são conhecidos no Brasil e devem ser considerados para que os riscos inerentes a um programa como o da soja transgênica sejam evitados ou minimizados. Há registro de biótipos de várias espécies resistentes ao glyphosate, em diferentes países. Estão oficialmente confirmados os casos de Amaranthus palmeri (espécie de caruru, nos USA), Ambrósia artemisifolia (especie de losna, nos USA), Conyza bonariensis (buva, na África do Sul, Espanha e Brasil), Conyza canadensis (buva, nos USA e Brasil), Eleusine indica (pé-de galinha, na Malásia), Lolium multiflorum (azevem, no Chile, Brasil e USA), Lolium rigidum (azevem, na Austrália, USA, África do Sul) e Plantago lanceolata (espécie de tanchagem, na África do Sul). Recentemente foi confirmada a ocorrência de Sorghum halepense (capim massambará) resistente na Argentina, e o pior, Euphorbia hetrophylla (amendoim-bravo) no Brasil (RS). Vale lembrar que neste caso, já existe registro em nosso país, de biótipos de amendoim resistentes a herbicidas inibidores da ALS, da Protox e agora da EPSPs, e por isso a atenção deve ser redobrada. série de recomendações que devem ser seguidas obrigatoriamente para garantia de seu sucesso, segurança e longevidade. Plantas tolerantes, plantas resistentes, plantas com características biológicas que conferem capacidade de adaptação às práticas de manejo do solo e da cultura, dose reduzida, manejo inadequado de plantas daninhas em culturas de entressafra e em área de pousio na entressafra, aumento no banco de sementes, são algumas das ameaças que poderão influenciar a dinâmica das plantas infestantes nas lavouras de soja RR. Mudanças ocorrerão em vários sentidos. Porém, não devemos esquecer que não mudam os conceitos básicos sobre o manejo das plantas daninhas e que é fundamental conhecê-los e aplicá-los, mesmo em se tratando de tecnologia inovadora como esta. A relação entre o Engenheiro Agrônomo e o produtor deve ser estreitada, pois a não observação das recomendações e sua adaptação caso a caso poderá significar, em futuro próximo, maior nível de dificuldade e complexidade no manejo das plantas daninhas, maior custo de produção e, portanto, perda das vantagens que hora estão disponíveis. É preciso utilizar o conjunto de experiências e não acreditar que C um sistema ideal possa ser eterno. Dionísio Luiz Pisa Gazziero Embrapa Soja

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Soja

A

Atenção à mela

Chuvas freqüentes e calor úmido são determinantes para o desenvolvimento da mela entre o início da floração e a formação de grãos. Com a doença já instalada, fungicidas foliares do grupo das estrobilurinas despontam como mais eficientes no controle

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mela da soja, causada por Rhizoctonia solani AG1, ocorre principalmente no sul do Maranhão, no norte do Tocantins, no Pará, no centro-norte do Mato Grosso, em Rondônia, no sudoeste de Goiás e em Roraima. Reduções de produtividade de até 30% são comumente observadas, mas as perdas podem ser maiores quando as condições de ambiente forem extremamente favoráveis ao progresso da doença no período compreendido entre o início da floração (R1) e o início da formação de grãos (R5.1). As condições ideais para o desenvolvimento da mela são temperaturas médias de 28°C e a presença de água livre nas folhas por períodos prolongados (acima de 12 horas). Pancadas de chuvas freqüentes e calor úmido (mormaço) são fatores determinantes para o rápido desenvolvimento da doença. Os sintomas são notados em toda a parte aérea da planta, principalmente nas folhas do terço médio, surgindo inicialmente lesões encharcadas, de coloração pardoavermelhadas a roxas, com bordas mais escuras, evoluindo para marrom escuro. As lesões podem ocorrer como pequenas manchas ou tomar todo o limbo foliar em forma de podridão. Folhas infectadas normalmente ficam presas a outras folhas ou hastes através do micélio do fungo. Quando o fungo alcança as folhas do terço superior das plantas pelo desenvolvimento micelial ao longo dos pecíolos, as lesões se apresentam na base dos folíolos. Nas hastes, pecíolos e vagens, normalmente aparecem manchas castanho-avermelhadas. Em vagens, flores e racemos florais pode ocorrer completa podridão de coloração preta. É comum haver abundante produção de microescleródios de coloração bege a castanho-escuro, apresentando forma arredondada e diâmetro variando de 0,1 mm a 1,0 mm. O desenvolvimento ostensivo de micélio e a formação de escleródios (2 mm a 7 mm) dependem muito de condições ambientais favoráveis. É importante distinguir os sintomas da mela daqueles denominados de escaldadura foliar provocada pelo sol. A escaldadura ocorre normalmente nas folhas do terço superior das plantas e não no terço médio como a doença, e as lesões se desenvolvem das pontas para a base. A coloração é mais clara, variando de palha a marrom claro, sempre com tonalidade uniforme e sem bordas. Esse erro de diagnose tem levado alguns produtores à utilização desnecessária de fungicidas. A disseminação do fungo causador da doença ocorre principalmente através de

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Tabela 1 - Severidade (porcentagem de área foliar infectada) de mela e produtividade (kg/ha) para os diferentes tratamentos. Média de cinco ensaios. Safra 2005/06 Nome comercial Testemunha Priori Priori Xtra1 Priori Xtra1 Opera Opera Sphere2 Nativo2 Nativo2 Derosal Celeiro Cerconil Proline Domark

Nome comum

Dose L p.c./ha3

azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole azoxystrobin + ciproconazole pyraclostrobin + epoxiconazole pyraclostrobin + epoxiconazole trifloxystrobin + ciproconazole trifloxystrobin + tebuconazole trifloxystrobin + tebuconazole carbendazin flutriafol + tiofanato metílico tiofanato metílico + clorotalonil prothioconazole tetraconazole

0,30 0,30 0,40 0,50 0,60 0,40 0,50 0,60 0,80 0,60 2,00 0,40 0,50

Severidade (%) 32,6 f 4,5 a 5,9 b 2,9 a 5,5 b 4,3 a 6,0 b 6,8 b 6,5 b 19,8 d 16,4 c 22,7 e 7,6 b 17,7 c

Produtividade (kg/ha) 2341 a 2929 c 3102 d 3061 d 3125 d 3017 d 3067 d 3073 d 3198 d 2705 b 3000 d 2935 c 2880 c 2832 c

Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância. 1 adicionado Nimbus 0,5% v/v 2 adicionado óleo metilado de soja 0,5% (Lanzar) 3 L p.c./ha – litros de produto comercial/ ha

como hospedeiras. O controle da mela da soja é mais eficiente quando se integram medidas como

Fotos Mauricio Meyer

respingos de chuva, que levam fragmentos de micélio ou escleródios do solo para as folhas e pecíolos de plantas jovens, antes do fechamento das entrelinhas na lavoura. O inóculo secundário é formado pelo crescimento micelial e formação de microescleródios, com disseminação por contato de folha para folha ou de planta para planta. O ataque de lagartas desfolhadoras, injúrias causadas por alguns herbicidas pós-emergentes e queima foliar por adubação potássica em cobertura podem predispor as plantas a infecções precoces na soja devido aos ferimentos que provocam nas folhas, facilitando a penetração do fungo. O patógeno apresenta um amplo círculo de hospedeiros, afetando, além da soja, culturas como o feijão, arroz, caupi, algodão, sorgo, tomate e cucurbitáceas. Várias plantas invasoras também são relatadas

semeadura direta sobre palha, nutrição equilibrada das plantas (principalmente em relação ao K e Mn), rotação com culturas não hospedeiras, adequação de população de plantas e espaçamento entre linhas, tratamento de sementes com fungicidas recomendados, utilização de sementes de boa qualidade sanitária e fisiológica, eliminação de plantas invasoras e restevas de soja e a adoção de controle químico da doença através de fungicidas foliares. A formação de cobertura morta do solo, através do sistema de semeadura direta, é uma das medidas mais eficientes de controle da mela, por evitar o efeito dos respingos de chuva que levam os propágulos do fungo para as folhas e hastes da planta. Após a instalação da doença, a aplicação de fungicidas foliares é a única alter-

Semeadura sobre a palha evita o efeito dos respingos de chuva que levam propágulos do fungo até a planta

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Figura 8 - Índices de severidade da mela da soja em função de uma aplicação de fungicida no estádio R2 (floração), em Tasso Fragoso (MA). Py= pyraclostrobin, Epz= epoxiconazole, Tf= trifloxystrobin, Ppz= propiconazole, Az= azoxystrobin, Dfz= difenoconazole, Mtz= metconazole, Cpz= ciproconazole, Cbz= carbendazin

dos no Maranhão, as parcelas tratadas com estrobilurinas (em misturas formuladas com triazóis ou isoladamente) apresentaram diferenças de produtividade que superaram a testemunha em 666 kg/ha a 960 kg/ha. Nesse mesmo trabalho, o benzimidazol carbendazin foi significativamente menos eficiente no controle da doença, superando a testemunha em apenas 236 kg/ha e 278 kg/ha (figuras 8 e 9). Ensaios cooperativos em rede foram realizados pela Embrapa Soja - Balsas, CTPA e Tagro, nos Estados do Maranhão, de Tocantins e de Mato Grosso com o objetivo de verificar os melhores produtos e

doses para controle da mela da soja. Foram testados dez fungicidas com algumas variações de doses (Tabela 1). Dentre os produtos avaliados, apenas o Opera® (pyraclostrobin + epoxiconazole) apresenta registro no Mapa para controle da mela. Os demais têm registro somente para outras doenças da soja. Os ensaios foram realizados em Riachão (MA), Pedro Afonso, Tupirama e Porto Nacional (TO) e Nova Mutum (MT). Foi realizada apenas uma aplicação de fungicida, com pulverizador costal pressurizado com CO2 e volume de aplicação de 150 a 200 l/ha, em estádio de floração. Na análise conjunta da severidade (Tabela 1) os melhores tratamentos foram azoxystrobin + ciproconazole (Priori Xtra® 0,4 l/ha), pyraclostrobin + epoxiconazole

Sintomas da mela são notados em toda planta, mas principalmente, nas folhas do terço médio

Várias plantas invasoras da cultura são hospedeiras de Rizoctonia solani

Fotos Mauricio Meyer

nativa econômica para a redução dos danos. A maior eficiência do controle químico é conseguida quando adotado antes da severidade atingir o nível de 10% de área foliar infectada nos pontos de maior incidência da lavoura, ou se houver presença de micélio do fungo (teia micélica) nas hastes da soja entre os estádios R1 (início de floração) e R5.1 (início de formação de grãos). Todos os estudos realizados até o presente apontaram o grupo das estrobilurinas como os fungicidas mais eficientes no controle da mela da soja. Em experimentos de campo conduzi-

Figura 9 - Produtividade da soja em função da aplicação de fungicidas para controle da mela em Tasso Fragoso (MA). Py= pyraclostrobin, Epz= epoxiconazole, Tf= trifloxystrobin, Ppz= propiconazole, Az= azoxystrobin, Dfz= difenoconazole, Mtz= metconazole, Cpz= ciproconazole, Cbz= carbendazin

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(Opera® 0,6 l/ha) e azoxystrobin (Priori® 0,3 l/ha) seguidos de pyraclostrobin + epoxiconazole (Opera® 0,5 l/ha), azoxystrobin + ciproconazole (Priori Xtra® 0,3 l/ha), trifloxystrobin + ciproconazole (Sphere® 0,4 l/ha), trifloxystrobin + tebuconazole (Nativo® 0,6 e 0,5 l/ha) e prothioconazole (Proline® 0,4 l/ha). Os tratamentos com menor eficiência de controle foram tiofanato metílico + clorotalonil (Cerconil® 2 l/ha) e carbendazin (Derosal® 0,8 l/ha). A redução de produtividade nos ensaios individualizados variou entre 19% e 40%. Todos os tratamentos foram estatisticamente superiores à testemunha sem controle (Tabela 1). Considerando a variável produtividade, os melhores tratamentos foram trifloxystrobin + tebuconazole (Nativo® 0,5 e 0,6 l/ha), pyraclostrobin + epoxiconazole (Opera® 0,5 e 0,6 l/ha), azoxystrobin + ciproconazole (Priori Xtra® 0,3 e 0,4 l/ha), trifloxystrobin + ciproconazole (Sphere® 0,4 l/ha) e flutriafol + tiofanato metílico (Celeiro® 0,6 l/ha). O tratamento com menor produtividade foi carbendazin (Derosal® 0,8 l/ha). A forma de aplicação influencia diretamente a eficiência dos fungicidas, preconizando-se as aplicações que promovam de-

posição de calda em toda a planta, ou seja, que permita boa penetração do produto atingindo até as folhas baixeiras. É recomendável utilizar volume de aplicação de 150 a 200 l/ha em pulverizações terrestres e de 30 a 40 l/ha em pulverizações aéreas. Outro importante aspecto a ser considerado é a possibilidade de desenvolvimento de resistência do patógeno aos fungicidas. O emprego de fungicidas deve ser parte integrante de estratégias de manejo da doença, devendo-se prever a diversificação e rotação de produtos com diferentes modos de ação sobre o fungo. Os trabalhos de desenvolvimento de cultivares resistentes tiveram início na Embrapa Soja em 2002 com a identificação de genótipos tolerantes. Foram obtidas populações segregantes através do cruzamento de cultivares comerciais com as fontes de resistência à mela, mas os resultados desse trabalho não são esperados em curto prazo, uma vez que a resistência à doença provavelmente seja de caráter poligênico e os mecanismos de herança ainC da não são bem conhecidos. Mauricio Meyer, Embrapa Balsas

Folhas infectadas geralmente ficam presas às folhas sadias


Algodão

Fibra tombada

Plantios de algodão realizados antes de outubro costumam ser os mais atingidos por fungos que causam o tombamento de plântulas. Na maior parte dos casos é Rhizoctonia solani o grande vilão, tanto em pré-emergência como pós-emergência, sendo o tratamento de sementes a melhor alternativa de controle

A

cultura do algodoeiro é atacada por um grande número de doenças fúngicas, que podem causar prejuízos tanto ao rendimento quanto à qualidade das sementes. A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem no algodoeiro é causada por patógenos que são transmitidos pelas sementes, resultando na introdução de doenças em áreas novas ou mesmo na sua reintrodução em áreas cultivadas. Potencialmente, todos os organismos fitopatogênicos podem ser transmitidos pelas sementes, sendo o grupo dos fungos o mais numeroso. Com o incremento da área de plantio de algodão no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, tem-se observado um aumento significativo dos problemas fitossanitários dessa cultura, principalmente aqueles relacionados à ocorrência de doenças. Dentre elas, o “tombamento” de plântulas vem se destacando como uma das mais importantes, especialmente em áreas de plantio direto. Uma das maneiras de con-

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trolar esta doença inicial do algodoeiro é através do tratamento de sementes com fungicidas eficientes.

TOMBAMENTO DE PLÂNTULAS De todas as doenças que atacam o algodoeiro, o “tombamento” - também conhecido como “doença inicial do algodoeiro” - é considerado uma das principais, podendo causar grandes prejuízos, relacionados principalmente a falhas no estande, o que pode levar à ressemeadura, que sempre é muito cara. O “tombamento” é uma doença que ocorre na fase de plântula (tombamento de pósemergência) e as sementes por ocasião da germinação (tombamento de pré-emergência). Esta doença é causada por um complexo de fungos do solo e da semente, sendo que nas condições do Brasil, principalmente em se tratando do algodão do cerrado (onde está 85% do algodão cultivado no Brasil), o principal agente causal do tombamento de plântulas é Rhizoctonia solani, pela freqüência que ocorre

(mais de 95% dos casos) e pelos danos que causa na fase inicial de estabelecimento da lavoura. Alguns poucos relatos da ocorrência de tombamento causado por Colletotrichum gossypii, Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides e Fusarium spp. foram registrados, porém numa freqüência muito baixa.

CONTROLE DO TOMBAMENTO Uso de sementes sadias A semente de algodão tem um papel fundamental no estabelecimento da lavoura, além de ser o mais importante veículo de disseminação e sobrevivência de muito patógenos, principalmente nos casos de C. gossypii e C. gossypii var. cephalosporioides. Através das sementes esses microorganismos são introduzidos em novas áreas, sobrevivem através dos anos e se disseminam pela população de plantas, como focos primários de doenças. Para reduzir a disseminação de patógenos via sementes, o melhor método é o uso de se-

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Fotos Augusto César Pereira Goulart

mentes livres de contaminações ou dentro de padrões de tolerância estabelecidos para a cultura. Desta maneira, do ponto de vista sanitário, a semente ideal seria aquela livre de qualquer microorganismo indesejável. Entretanto, isso nem sempre é possível, uma vez que a qualidade sanitária das sementes é altamente influenciada pelas condições climáticas sob as quais foi produzida e armazenada. Época adequada de semeadura Em função de baixas temperaturas favorecerem a severidade e a incidência do tombamento (principalmente aquele causado por R. solani), recomenda-se evitar semeaduras anteriores a meados de outubro. Sob baixas temperaturas, sementes de algodoeiro exsudam maior quantidade de açúcares e amoniácidos, o que é extremamente favorável ao ataque do patógeno. Estas condições atrasam a germinação ou tornam mais lento o processo de emergência, mantendo a plântula num estágio suscetível por um período mais longo. Assim, a necessidade de adoção de medidas de controle, tais como o tratamento de sementes com fungicidas, tem sido claramente demonstrada sob condições de solo com temperaturas baixas.

BRS-Cedro, Fibermax 966, DeltaOpal e CNPA Ita 90-II), visando avaliar o comportamento destas frente à ação do fungo R. solani, demonstraram que as cultivares CNPA ITA 90 II e BRS Aroeira, seguidas de BRS Cedro e BRS Ipê, foram aquelas que apresentaram maior tolerância ao ataque de R. solani em comparação às demais.

Utilização de cultivares com melhor nível de resistência Trabalhos de pesquisa realizados na Embrapa Agropecuária Oeste, com seis cultivares de algodoeiro (BRS-Ipê, BRS-Aroeira,

Tratamento químico das sementes De todas as práticas recomendadas para o controle do tombamento, o tratamento das sementes com fungicidas eficientes assume

Sintoma do ataque de Rizoctonia: lesões deprimidas e de coloração marromavermelhada no colo e nas raízes das plântulas

um importante papel, sendo considerado, até o momento, a principal medida a ser adotada e a opção mais segura e econômica para minimizar os efeitos negativos desta doença. A cada ano, um grande número de fungicidas são testados com o objetivo de verificar sua eficiência no controle do tombamento. A performance desses produtos depende da população desses fungos no solo, ou seja, é influenciada pela pressão de inóculo do patógeno no solo e também pelas interações com outros fungos, o que Charles Echer

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PRINCIPAIS PATÓGENOS

pode evidenciar um controle biológico. Igualmente, a suscetibilidade das cultivares também poderá influenciar nos benefícios do tratamento de sementes com fungicidas. Por outro lado, os benefícios do tratamento de sementes de algodão com fungicidas são menos evidentes em áreas onde a densidade de inóculo do patógeno é relativamente baixa ou quando as condições de umidade e temperatura do solo são ideais a uma rápida germinação e emergência. Entretanto, deve-se considerar que, até o momento, não se tem evidências de que o uso de fungicidas em tratamento de sementes com ação específica contra R. solani possa ser dispensado em áreas com histórico de ocorrência deste patógeno.

ROTAÇÃO X TOMBAMENTO A escolha das culturas e do sistema de ro-

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tal alternativa integrante do sistema de rotação, pode lhe servir de substrato. Apesar de toda esta dificuldade, a adoção da rotação de culturas deve ser implementada, uma vez que, quando usada eficientemente, pode promover uma alteração qualitativa na microflora do solo, favorecendo o crescimento e o estabelecimento de microorganismos antagônicos ao patógeno, induzindo assim níveis de supressividade a doenças, diminuindo a população deste patógeno no solo. Outro aspecto que deve ser considerado é que, como citado anteriormente, o tratamento de sementes com fungicidas é a tecnologia mais empregada e eficiente para este tipo de problema. Uma das maneiras de aumentar a sua eficiência tem sido a sua adoção em conjunto com outras práticas culturais (como por exemplo, a rotação de culturas) que possibilitem minimizar a ocorrência dessa doença pela redução do inóculo inicial, uma vez que a performance de um determinado fungicida, depende, dentre outros fatores, da população de fungos no solo, ou seja, é influenciada pela pressão de inóculo do patógeno no solo e também pelas interações com outros fungos, o que pode evidenciar um controle biológico. Desta maneira, quando analisada sob a ótica dos princípios do manejo integrado de doenças, a rotação de culturas deve ser considerada como mais uma ferramenta no controle do tombamento de plântulas de algodão causado por R. solani.

missão de C.g.c planta-semente e semente-planta são bastante elevadas e por esta razão, a utilização de sementes portadoras do patógeno torna-se um sério risco de sua introdução em áreas novas (taxa de transmissão do patógeno das sementes para a parte aérea do algodoeiro é de aproximadamente 3:1, o que significa que 3 sementes com C.g.c. representa 1 planta no campo com ramulose). Em condições de clima favorável (temperatura de 25 a 30ºC e umidade elevada), a doença avança na lavoura 1m a cada 5 dias. Este microorganismo pode ainda sobreviver de um ano para outro em solo contaminado e em restos culturais. Este fungo pode provocar também o tombamento de pré e pós-emergência, reduzindo o estande. Lesões deprimidas, pardo-escuras, atingindo grande extensão do colo e da raiz das plântulas são os sintomas característicos provocados por este patógeno. 3) Colletotrichum gossypii – causador da antracnose. As sementes de algodão contaminadas ou infectadas por C. gossypii constituem-se no principal meio de disseminação da antracnose, podendo dar origem a plântulas com sintomas de tombamento. Deve-se ressaltar que este patógeno pode causar também tombamento de pré e pós-emergência, ocasionando redução de estande. A sua ocorrência é grandemente influenciada pela temperatura, sendo que o tombamento é mais severo a temperaturas de 20 a 26°C. Os sintomas, na fase de plântula, são semelhantes aos descritos anteriormente para o fungo C. gossypii var. cephalosporioides. tação deve ter flexibilidade, de modo a atender às particularidades regionais e às perspectivas de comercialização dos produtos. Além disso, deve ser feita no sentido de atender a alguns requisitos básicos. Assim, no contexto do manejo de doenças, dar preferência àquelas culturas que não sejam hospedeiras dos patógenos a que se pretende controlar. No caso específico do tombamento causado por R. solani, devido à versatilidade ecológica deste fungo, isto pode não ocorrer, o que o torna de difícil controle pela rotação de culturas. Isto é explicado, uma vez que este fungo, além de apresentar estruturas de resistência, possui uma habilidade de competição saprofítica muito grande, sendo capaz de manter-se viável por muito tempo em uma área, pois apresenta capacidade de trocar de substrato. Desta maneira, qualquer espécie vege-

TRATAMENTO DE SEMENTES A obtenção de uma lavoura de algodão com população adequada de plantas depende da utilização correta de diversas práticas culturais, merecendo destaque, dentre elas, o tratamento químico das sementes com fungicidas eficientes e doses corretas. Objetivo 1) Erradicar ou reduzir, aos mais baixos níveis possíveis, os fungos presentes nas sementes; 2) Proporciona proteção das sementes e plântulas contra fungos do solo; 3) Promover uniformidade na germinaAugusto César Pereira Goulart

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) Rhizoctonia solani – principal agente etiológico do tombamento de plântulas no Brasil. R. solani é um parasita necrotrófico, habitante natural do solo. É um fungo polífago pois ataca um grande número de espécies vegetais. R. solani pode ser transmitido pelas sementes, porém raramente isto ocorre, motivo pelo qual a semente não é considerada a principal fonte de inóculo desse patógeno. É considerado, dentre os componentes do “complexo de fungos que causam o tombamento”, o mais prejudicial, por causar, em maior intensidade que os demais, o tombamento de préemergência, além daquele de pós-emergência. O ataque deste patógeno freqüentemente reduz o estande da lavoura, levando, muitas vezes à necessidade da ressemeadura. Este patógeno, estando presente no solo e/ou nas sementes, além de ocasionar perdas significativas na fase de plântulas (falha no estande), pode servir ainda como fonte de inóculo para culturas subseqüentes. Os sintomas caracterizam-se inicialmente pelo murchamento das folhas com posterior tombamento das plântulas. Este fungo provoca lesões deprimidas e de coloração marrom-avermelhada no colo e nas raízes das plântulas de algodão. 2) Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides (C.g.c.) – causador da ramulose. O patógeno é transmitido tanto externa quanto internamente pelas sementes de algodão, que são o mais eficiente veículo de disseminação do mesmo. O papel das sementes na transmissão do patógeno fica evidente ao constatar-se a doença em áreas novas. As taxas de trans-

Sob baixas temperaturas a emergência das sementes é mais lenta, tornando-as mais suscetíveis ao ataque dos fungos

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CUSTO DO TRATAMENTO

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evando-se em conta todos os gastos necessários ao cotonicultor para a produção de 1ha de algodão, o tratamento de sementes com fungicidas é a prática de menor custo quando comparada com as demais. O tratamento de sementes de algodão, com fungicidas representa apenas 0,17% do custo total com a cultura. Nem sempre a semeadura é realizada em condições ideais o que resulta em sérios problemas de emergência, havendo, muitas vezes a necessidade da ressemeadura, o que acarreta enormes prejuízos ao produtor. Assim, na cultura do algodão, esta prática onera o custo de produção em 4,07% no Sistema Convencional de Plantio e em 5,13% no Sistema Plantio Direto. Dessa maneira, em função do seu baixo custo e em vista dos benefícios que proporciona, busca-se, com este tipo de informação, estimular os cotonicultores a usar essa tecnologia. ção e emergência; 4) Evitar o desenvolvimento de epidemias no campo; 5) Proporcionar maior sustentabilidade à cultura pela redução de riscos na fase de implantação da lavoura; 6) Promover o estabelecimento inicial da lavoura com uma população ideal de plantas

Escolha do Fungicida Sugere-se, de maneira geral, que o tratamento de sementes seja precedido de um diagnóstico sobre a condição sanitária e fisiológica do lote a ser tratado, bem como sobre o histórico da área onde será realizada a semeadura. Um dos fatores que dificultam este diagnóstico da saúde das sementes é a escassez, no Brasil, de laboratórios de patologia de sementes credenciados. Entretanto, essa deficiência vem sendo gradativamente sanada, com o credenciamento de novos laboratórios para a execução de testes de sanidade. Para a escolha correta de um fungicida, o primeiro aspecto que deve ser considerado é o organismo alvo do tratamento. Nesse contexto, é sabido que, de forma variável, os fungicidas diferem entre si quanto ao espectro de ação ou especificidade. Os fungicidas recomendados para o tratamento de sementes de algodão se dividem em dois grandes grupos: os protetores ou de contato e os sistêmicos. A ação combinada desses fungicidas tem sido uma estratégia das mais eficazes no controle de patógenos das sementes e do solo, uma vez que o espectro de ação da mistura é ampliado pela ação de dois ou mais produtos. Desse modo, verificam-se melhores emergências de plântulas no campo e melhores índices de controle do tombamento e também de fungos nas sementes com a utilização de misturas, em comparação ao uso isolado de um determinado fungicida. Ressalta-se ainda que, com o uso das misturas, evita-se, em grande parte, o surgimento de populações resistentes entre os patógenos. Atualmente, os fungicidas mais utilizados para o tratamento de sementes de algodoeiro com fungicidas são: tolylfluanid + pencycuron + triadimenol, tolylfluanid + pencycuron + triadimenol + PCNB, carboxin + thi-

O tratamento químico de sementes é de baixo custo e de reflexos altamente positivos para a produtividade, garante Goulart

ram e carboxin + thiram + PCNB.

OUTRAS PRÁTICAS O tratamento químico de sementes com fungicidas, do ponto de vista de manejo integrado de doenças, é um dos métodos mais simples, de baixo custo e resulta em reflexos altamente positivos para o aumento da produtividade da cultura. Quando se analisa a questão ambiental, apresenta a vantagem ainda de não alterar a biologia do solo, pois a quantidade por hectare é mínima, sendo rapidamente diluída e degradada no solo. Além disso, dentre os demais defensivos, os fungicidas são os que apresentam o menor impacto negativo no ambiente. Quando comparado com as demais práticas de controle (pulverização foliar = distribuição do produto em 10 mil m2/ha e granulados no sulco de plantio = aplicação em 500 m2/ha), o tratamento das sementes com fungicidas apresenta a vantagem de a quantidade de produto utilizada corresponder à aplicação em apenas 50m2/ha (o que significa uma aplicação localizada de baixas doses/ha). C Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste

Fotos Augusto César Pereira Goulart

Quando é recomendado 1) Quando as sementes estiverem contaminadas por fungos (determinado através da realização do teste de sanidade de sementes) 2) Quando as condições de semeadura são adversas, principalmente em solos frios e úmidos (condição ideal para a ocorrência de tombamento);

Charles Echer

3) Em casos de práticas de rotação de culturas ou de cultivo em áreas novas; 4) Em áreas com histórico de ocorrência de tombamento.

A combinação de fungicidas protetores + sistêmicos, amplia o espectro de ação contra patógenos

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Empresas

Em teste

A

ferrugem asiática é uma das doenças fúngicas mais comprometedoras da sojicultura, sendo encontrada em quase todas as regiões produtoras, exceto no estado de Roraima. Sob condições favoráveis ao patógeno, as perdas na produtividade podem variar de 10% a 80%, causando grandes prejuízos – nas cinco últimas safras foram registradas perdas na ordem de US$ 7,7 bilhões. Uma das formas mais eficientes de controle da doença é feita por meio do uso de bons fungicidas, preferencialmente antes do surgimento dos sintomas, ou logo no início do seu aparecimento (Godoy, 2005). Experimentos em rede foram conduzidos durante as safras 2003/04, 2004/05 e 2005/06 por institutos de pesquisas, universidades, fundações e cooperativas e divulgados na XXVIII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, realizada neste ano em Uberaba (MG). Conforme a Tabela 1, verifica-se que os fungicidas mais eficientes são os dos grupos químicos dos triazóis e estrobilurinas puros ou em combinação (Embrapa Soja, 2006). Mas é importante destacar o triazol tebuconazole, um ingrediente ativo que compõe entre cinco e sete produtos comerciais que apresentam excelente controle da ferrugem asiática da soja.

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Diferentes formulações e doses do triazol tebuconazole são avaliadas quanto à sua eficiência no controle da ferrugem asiática da soja

O presente trabalho tem como objetivo avaliar a variabilidade do tebuconazole de quatro formulações comerciais existentes, para o controle da ferrugem asiática da soja, por meio do método “in vitro”. O ensaio foi realizado em outubro, com folhas unifolioladas da cultivar CD 208 e sem ocorrência da doença, que foram imersas em nove doses testadas (0; 0,125; 0,250; 0,5; 1; 2; 4; 8 e 16 ppm) de quatro formulações de tebuconazole (Tabela 1). Imediatamente as folhas foram acondicionadas em placas de petri de 14,5 cm de diâmetro, contendo dois papéis de filtro umedecidos com 10 mL de água destilada, de forma a mantê-las viáveis por mais de 15 dias. Posteriormente, as placas de petri foram inoculadas por meio da pulverização de 2 ml de solução por placa contendo uma suspensão 105 de esporos, sendo incubadas por 15 dias em Biotério com temperatura de 20ºC ± 1ºC e umidade relativa acima de 75%, com fotoperíodo de 12 horas de luz néon (Sanhueza, 1983). A avaliação ocorreu 15 dias após inoculação e foi feita em equipamento para leitura de chapa de Raio X, determinando a porcentagem de ferrugem em cada um dos quatro folíolos, em três repetições por tratamento. Os dados obtidos foram analisados pelo teste de ABBOTT.

Conforme a Tabela 1, observa-se que os tratamentos à base de tebuconazole que compõem os fungicidas Folicur 200 EC e Fungicida A, apresentaram os melhores índices de controle acima de 90% nas doses próximas a 4 ppm, enquanto o Fungicida C e Fungicida B necessitaram de doses acima de 16 ppm, isto pode ser analisado no ED 95 de cada produto como Folicur 200 EC a 4,2 ppm; Fungicida A, a 4,8 ppm; Fungicida C a 25,1 ppm e Fungicida B a 37,9 ppm. Todavia, verifica-se que o ED 95 de Fungicida C e Fungicida B são 5,98 e 9,02 vezes maiores que a dose em ppm do Folicur 200 EC, respectivamente. Quanto ao ED 50 dos fungicidas testados, verifica-se que os menores índices foram obtidos por Folicur 200 EC a 0,65 ppm, seguido de Fungicida A, a 0,754 ppm; Fungicida C a 1,5 ppm e Fungicida B a 3,1 ppm. Analisando os resultados descritos acima, verifica-se que foram necessárias 2,28 vezes a dose em ppm de Fungicida C e 4,71 vezes a dose em ppm de Fungicida B para equivaler com o ED 50 do Folicur 200 EC. Deste modo, segundo a metodologia empregada, verifica-se que os tratamentos compostos por Folicur 200 EC e Fungicida A apresentaram eficácia de controle da ferrugem em doses menores de ED 50 e ED 95 do que os trata-

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mentos feitos com Fungicida C e Fungicida B. Isso pode ser explicado, por exemplo, pelas variáveis na composição Folicur 200 EC, como o surfactante e o anticristalizante, na qual o primeiro (além das características normais inerentes à formulação) permite uma melhor penetração do produto por toda a planta e o segundo não deixa o produto comercial apresentar fusos estratificados na suspensão a ser aplicada, ou seja, se torna miscível ou não apresenta problemas na prática como entupimento de bicos decorrentes deste adensamento de calda. Sob condições de campo, é importante analisar que a dose dos produtos à base de tebuconazole é de 500 ml de p.c./ha em 200 l de água na calda (para facilitar o cálculo), representando uma concentração de produto a 500 ppm. Essa diferença entre os tebuconazoles, em termos práticos, significa que se houver uma condição adversa como uma chuva logo após a aplicação do produto, o que apresentar melhor performance de penetração poderá ter mais sucesso. Isso ocorre com o tebuconaloze do Folicur 200 EC, graças ao anticristalizante presente que determina uma melhor estabilidade da calda aplicada. Analisando a safra passada, sob condições de alta incidência (onde, chegou-se a observar até 1.138 esporos por semana em meados de março, sendo que o índice de alerta é de sete a dez esporos por semana), a se-

veridade da ferrugem asiática da soja no cerrado brasileiro, condições climáticas favoráveis às aplicações dos produtos e forte demanda de máquinas aplicadoras de defensivos, torna-se imprescindível o uso de um produto que dê uma formulação ou calda estável na hora da aplicação, assim como é fundamental que o produto ofereça uma cobertura efetiva do alvo e proporcione o controle da doença de forma eficaz. É extremamente importante salientar as boas práticas agronômicas na utilização dos produtos de acordo com a recomendação de cada empresa responsável pelo produto, para se evitar futuros problemas com uma possível resistência de patógenos aos fungicidas ou perdas de eficiência decorrente de uso inadequado. Hoje, o produtor sabe muito bem que a ferrugem asiática da soja pode lhe causar sérios problemas em sua lavoura em termos de perdas de produtividade e, conseqüentemente, grandes perdas financeiras. Portanto, assim como os manejos quase preventivos (determinados no início dos sintomas) e de controle da doença devem ser fortes e efetivos, a escolha do fungicida é fundamental, ou seja, o produtor não pode errar haja vista que é extremamente importante acertar a primeira aplicação de produto, assim como nas demais aplicações para se obter a manutenção de um efetivo controle da doença. Se o sojicultor não controla eficien-

Tabela 1 – Efeito do fungicida à base de tebuconazole, em diversas doses (em ppm de ingrediente ativo), expresso em porcentagem (% ABBOTT) de controle da ferrugem asiática da soja em folhas unifolioladas, cultivar CD 208, em experimento em placa de petri no laboratório, em São Paulo, safra 2006, sob condições de infecção artificial Dose (i.a.) Folicur 200 EC Fungicida A Fungicida B Fungicida C 0 ppm (89,58%)* (87,92%)* (89,58%)* (82,92%)* 0,125 7,4 8,5 8,4 9,5 0,25 20 15,6 15,3 27,6 0,5 47 28,9 17,2 29,1 1 49,3 63,2 22,8 22,1 2 90,1 84 22,8 58,1 4 99,1 98,8 65,4 74 8 100 100 68,7 84,1 16 100 100 92,8 98,6 ED 50 0,65 0,75 3,1 1,5 ED 95 4,2 4,8 37,9 25,1 * Resultados expressos em porcentagem (% ABBOT, 1925)

temente a ferrugem pode perder de 0,8 a 1,0 saca por hectare por dia, seja por erro de “tempo de aplicação” ou por baixa eficiência dos produtos aplicados. A incidência e severidade cada vez maiores da ferrugem asiática da soja são decorrentes da baixa qualidade do manejo geral da soja no pós-colheita, tanto pela baixa eficiência do vazio sanitário, quanto pela presença de soja tigüeras ou espontâneas na entressafra, favorecendo a doença em C termos epidemiológicos. Marcos Massamitsu Lamamoto, MCI Assessoria em Fitopatologia

Desempenho das diferentes concentrações de tebuconazole no controle da ferrugem asiática

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Eventos

Fotos Gilvan Quevedo

Presença consolidada FMC comemora no Clube da Cana uma década de atuação forte no setor canavieiro e anuncia metas para estreitar ainda mais os laços da companhia com o segmento

A

mpliar o fornecimento de defensivos para a cana-de-açúcar, com especial atenção aos desafios surgidos a partir da expansão da cultura no Cerrado brasileiro. Esta é uma das metas da FMC para 2007, anunciada durante a 10ª edição do Clube da Cana, realizada em novembro, em São Paulo. O evento reuniu aproximadamente 300 representantes de usinas, em torno de assuntos como produção, exportação e estratégias de controle de pragas e doenças. A cana-de-açúcar responde atualmente por 42% do faturamento da companhia no Brasil. “Pretendemos um crescimento linear,

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que acompanhe pelo menos o aumento da área plantada”, informou o presidente da FMC para a América Latina, Antonio Carlos Zem. Dados da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) apontam que, entre reativação de unidades e criação de novas usinas, há 89 projetos em andamento no país. O total de investimentos previstos para o segmento, nos próximos oito anos, alcança 8,4 milhões de dólares. Adaptar os produtos às demandas de cada região é uma das preocupações da FMC. “Os defensivos que usamos em São Paulo, nem sempre podem ser aplicados no Cerrado”, lembrou Zem. Dentro dessa perspectiva a com-

panhia pretende investir forte no desenvolvimento de pesquisa e ampliação do portifólio. Devido à demora na liberação de registros, novos produtos só chegarão ao mercado em 2008. O primeiro lançamento previsto é de um nematicida. Mas o portifólio da companhia deve começar a crescer antes disso, através de parcerias comerciais com empresas que não estão presentes na cultura da cana. A aquisição ou licenciamento de defensivos já existentes não é descartada. Glifosato e maturadores estão entre as áreas de interesse da FMC. Apesar do segmento de herbicidas liderar a aplicação de defensivos em cana-de-acúcar, com domínio de 71% do mercado (estatísti-

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cas do Sindag), Zem garante que a companhia vai investir igualmente no desenvolvimento de cupinicidas, inseticidas e nematicidas. “Principalmente nos produtos que representam uma maior lacuna no nosso portifólio”, explicou. Dentro das estratégias previstas para alavancar a expansão no fornecimento de defensivos e soluções para a cana-de-açúcar, a FMC pretende capitalizar a experiência acumulada ao longo de anos de trabalho com o segmento. “Sempre estivemos ao lado do produtor. Criamos o Clube da Cana há dez anos, no momento de maior crise do setor. De lá para cá avançamos muito e agora temos que nos manter firmes para garantir a sustentabilidade do negócio e atingir um futuro ainda mais glorioso”, projetou.

PROGRAMAÇÃO INTENSA Uma intensa programação, focada no debate sobre tecnologias, soluções e o futuro da produção canavieira dominou as discussões do Clube da Cana. Entre os destaques esteve

o painel “Panorama mundial do setor energético e a competitividade do Brasil”, composto por autoridades ligadas à cadeia produtiva bra-

PARCERIA DE LONGA DATA

O

Clube da Cana nasceu em 1996, como um marco da parceria entre o produtor de cana e a FMC na busca por soluções contra pragas e doenças que atacam a cultura e na luta por uma política econômica justa para o setor. Em meio à grave crise enfrentada pelo segmento sucroalcooleiro a empresa iniciou a campanha “Pró-álcool, Pró-cana, Pró-Brasil” e como forma de incentivo à substituição dos carros à gasolina por veículos movidos a álcool promoveu a renovação de toda a frota da equipe. Em agosto de 1998, em conjunto com a Usina Cocal, a companhia organizou um encontro de municípios ligados ao setor. No final do mesmo ano, voltou às ruas e, em conjunto com a Câmara Municipal de Araras, esteve à frente de uma manifestação pública em prol do segmento. Em julho de 99, a crise do setor atinge seu ápice e a FMC se une ao setor na volta por cima. O apoio materializa-se por meio do PMA - Programa Master em Agribusiness, que busca a profissionalização do segmento, através do uso de mais tecnologia; novas ferramentas de gerencia-

mento; visão mais ampla do negócio e uso racional dos recursos disponíveis. Depois de altos e baixos, em 2000, a oferta diminuiu devido aos escassos investimentos em produtividade e à forte seca nos canaviais. Como resultado os preços do açúcar e álcool melhoraram. Se os trabalhos pela recuperação do setor nos bastidores diminuíram, no campo a companhia dava seqüência ao desenvolvimento de novas soluções para a recuperação de soqueiras e para o controle das cigarrinhas. Em setembro de 2000 a falta de perspectivas para a produção faz cair o preço da cana. Aumentar a produtividade vira uma questão primordial e a companhia sai na frente com o lançamento de defensivos como o Sinerge, Boral, Furadan, Talstar e recentemente, o Discover. “A FMC oferece uma gama extensa de produtos de qualidade para o setor canavieiro, de forma a alavancar safras cada vez mais produtivas e que possam colaborar constantemente para o crescimento do nosso agronegócio”, defende Marcelo Magurno, gerente da Regional Cana da FMC.

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Gerente da Regional Cana, Marcelo Magurno, interage com o mascote Bacana durante o evento

sileira. A apresentação de trabalhos técnicos desenvolvidos por representantes de usinas, com experimentos realizados ao longo do ano, também teve espaço no evento, através do concurso Lua-de-mel 2006. A atuação responsável e os projetos ambientais desenvolvidos pela FMC mereceram destaque na apresentação coordenada pela diretora da área de Registro & Product Stewardship, Maria de Lourdes Fustaíno. A 10ª edição do Clube da Cana contou ainda com um mascote: o Bacana, um cão muito simpático e bem humorado, que através da interação com os apresentadores ajudou a anunciar as atrações do evento. O encerramento dos trabalhos coube ao diretor nacional de C vendas, Vicente Gongora.

Presidente da FMC para a América Latina, Antonio Carlos Zem, aposta em parcerias comerciais para aumentar o portifólio da companhia

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Arroz

Enrolador mortal Doença Doença causada causada pelo pelo RSVN RSVN chega chega às às lavouras lavouras de de arroz arroz irrigado do Rio Grande Grande do do Sul. Sul. Transmitido Transmitido por por um um protozoário protozoário do do solo, solo, oo vírus vírus do do enrolamento enrolamento mostra mostra os os primeiros primeiros sintomas sintomas 30 30 aa 40 40 dias dias após após aa semeadura semeadura ee tem tem aa capacidade capacidade de de levar levar as plantas à morte

O

arroz é considerado um dos cereais mais importantes por ser a base alimentar de uma grande parte da população mundial. No Brasil, o estado do Rio Grande do Sul contribui com mais de 50 % da produção nacional. A cultura do arroz irrigado, pode ser atacada por diversos fitopatógenos, que limitam a produtividade e diminuem a qualidade dos grãos colhidos. Dentre estes, destacam-se os fungos, causadores de doenças importantes, como por exemplo, a brusone (Pyricularia grisae) e, de diagnóstico mais recente, o vírus RSNV (Rice stripe necrosis vírus – RSNV) causador do “enrolamento do arroz”.

SINTOMAS Em torno de 30 a 40 dias após a semeadura, as plantas infectadas começam a

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mostrar os primeiros sintomas e até mesmo morrer. As folhas apresentam listras amareladas (cloróticas) e ficam retorcidas. Mais tarde, as panículas também podem

ficar retorcidas (forma de espiral), em casos de alta intensidade da doença. As raízes das plantas infectadas podem apresentar-se dobradas e logo se tornam necróti-

Uso de microorganismos como Trichoderma spp., pode ser a alternativa no controle do enrolamento

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Fotos Gustavo Daltrozo Funck

Semeadura escalonada pode favorecer a migração de insetos para aparecem novas áreas Falhasadultos no estande 30 dias após a semeadura, com a morte das plântulas provocada pelo vírus

cas (Calvert & Sedano, 2004). Na lavoura, os sintomas da virose ocorrem em áreas delimitadas, ou seja, em reboleira. Na Colômbia, o RSNV tem se disseminado numa velocidade relativamente expressiva nos últimos anos, como resultado do movimento de equipamentos contaminados para lavouras não contaminadas. Nas lavouras colombianas, foram registradas perdas médias de 20 % devido a presença de RSNV, chegando a atingir até 50 % em alguns casos (Corrêa et al., 2004).

O AGENTE CAUSAL E O VETOR O vírus RSNV pertence atualmente ao grupo dos Benyvirus, possui partículas alongadas de RNA de duplo filamento com dimensões que variam de 110 a 380 nm de comprimento e 20 nm de diâmetro (Büchen-Osmond, 2004). Este vírus é transmitido para as plantas de arroz atra-

vés de um vetor, o protozoário Polymyxa graminis. P. graminis, é habitante natural do solo, onde permanece por longos anos, mediante a formação de estruturas de sobrevivência denominadas de cistosoros. Estas estruturas dão origem a células dotadas de flagelos denominados zoósporos, as quais podem se deslocar através da água de uma planta doente para uma planta sadia (Rush, 2003). Os cistosoros presentes no solo também podem ser disseminados de diversas formas tais como, maquinaria agrícola, ferramentas ou botas. É provável ainda, que a forma mais importante de disseminação do patógeno, para áreas mais distantes, seja através da semente do arroz, embora não tenha sido comprovado que o vírus possa infectá-la. No entanto, a presença de partículas de solo contendo cistosoros aderidos às sementes viabiliza esta forma de disseminação do patógeno (Büchen-Osmond, 2004). Além do RSNV, P. graminis é vetor de diversas outras viroses de importância econômica em outros cereais, como trigo, aveia, cevada, sorgo, triticale, etc.

menda-se a rotação com espécies não gramíneas (sempre que possível), o manejo cuidadoso da água de irrigação e de suas fontes, evitando que a água de uma área contaminada possa arrastar partículas de solo e matéria orgânica para áreas não contaminadas. O manejo da adubação também é um fator importante para minimizar os danos desta virose. Embora tenha sido relatado que a predisposição à doença seja menor

CONTROLE As principais estratégias de controle para o enrolamento do arroz baseiam-se em práticas adotadas para controlar outros vírus transmitidos por P. graminis. Portanto, medidas preventivas são as mais indicadas para o controle desta virose. Entre estas, ressalta-se o uso de sementes provenientes de regiões produtoras não infestadas por RSNV, a restrição ao ingresso, em áreas livres do patógeno, de ferramentas, implementos, terra, água ou sementes de lavouras comprovadamente contaminadas. Também, como forma de controle, reco-

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Folhas retorcidas devido à alta incidência da doença

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HISTÓRICO

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primeiro registro do RSNV infectando o arroz foi realizado em 1977, na Costa do Marfim, África (Louvel & Bidaux, 1977). Entretanto, na América do Sul, plantas de arroz com uma doença conhecida como “entorchamiento“ foram observadas pela primeira vez em 1969 na Colômbia. Após o ano de 1991, o patógeno disseminouse nas principais regiões produtoras de arroz na Colômbia. A associação de plantas com sintomas desta doença com a presença de RSNV só foi confirmada em 1994, ou seja, três anos após o aparecimento da nova epidemia. No continente americano, além da Colômbia, o Panamá e o Brasil já registraram a ocorrência de RSNV (Martinez et al., 2005) Sintomas idênticos aos do “entorchamiento” foram observados pelos produtores e técnicos na Região da Depressão Central do Rio Grande do Sul, especialmente nos municípios de Dona Francisca e Agudo. As pesquisas culminaram com o primeiro diagnóstico da doença no território brasileiro em 2002, e desde então, esta doença vem sendo chamada de “enrolamento do arroz” (Maciel et al., 2002). Na safra de 2005/ 2006, os sintomas também foram encontrados em alguns municípios da Fronteira Oeste. em plantas com boas condições nutricionais, esse efeito positivo sobre a planta parece ser devido à compensação dos danos causados pelo enrolamento, através do aumento de produção de plantas não infectadas (Maciel et al., 2005). Alguns produtores de Dona Francisca (RS), relataram que a aplicação de nitrogênio em cobertura induziu a um maior perfilhamento das plantas não infectadas, reforçando assim a hipótese da compensação. Em relação à época de semeadura, esta também pode se tornar uma importante estratégia no controle desta doença. A variação da época pode alterar a faixa de temperatura à qual a planta e o vetor são submetidos no momento da possível infecção. Sendo assim, estudos desenvolvidos por Legréve et al.(1998), com isolados de P. graminis obtidos de área de clima temperado, evidenciaram uma maior infecção na faixa de 15 a 22 ºC.

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Fotos Gustavo Daltrozo Funck

A adoção destas medidas por parte dos produtores colombianos e também gaúchos, vem promovendo uma redução na intensidade dos sintomas, apresentando portanto, uma boa perspectiva de controle desta virose. Recentemente, o uso de agentes de biocontrole, através de microrganismos antagonistas, está sendo uma alternativa de controle com resultados promissores. Dentre os antagonistas pesquisados e utilizados para o controle de patógenos presentes no solo, o fungo Trichoderma spp. tem sido um dos mais estudados, pelas suas características de antagonismo e por ser um fungo natural do solo. Em experimentos conduzidos no ano de 2005 pelo Irga em parceria com a Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi revelado que a utilização de Trichoderma spp, sob condições de lavoura, não afetou a incidência do enrolamento do arroz. Entretanto, em estudos anteriores realizados em casa-de-vegetação, houve uma diminuição da incidência do enrolamento de arroz em plantas tratadas com Trichoderma spp (Almança, 2005). A utilização de fungicidas e outros produtos químicos utilizados na esterilização do solo, em áreas reduzidas apresenta resultados positivos contra o vetor Polymyxa spp. Porém, para uso em lavoura esta prática torna-se inviável e onerosa. Uma alternativa seria o tratamento de sementes,

Detalhe de Polymyxa graminis vetor do RSNV

que tem sido estudado pelos pesquisadores do CIAT, na Colômbia. Todavia, em ensaios conduzidos pelo Irga e UFRGS em 2005, não foi observado efeito do tratamento de sementes, na intensidade do enrolamento do arroz. Em relação ao controle genético, experimentos realizados na Costa do Marfim, África, revelaram que a espécie de arroz Oryza glaberrima possui resistência ao enrolamento. Estes resultados foram confirmados pelos pesquisadores do CIAT, que estão obtendo sucesso na transferência destes genes para cultivares comerciais de Oryza sativa (arroz comum). Os resultados deste estudo segundo Correa et al. (2004), também sugerem que essa resistência possa ser efetiva contra o vetor P. graminis e não contra o vírus RSNV. Vale ressaltar que, para ocorrência de uma epidemia de uma virose transmitida por P. graminis, em determinada região, é importante considerar a suscetibildade do hospedeiro, a eficiência e a capacidade do vetor em transmitir o víC rus (Rush, 2003). Gustavo Daltrozo Funck, Irga

Listras amareladas são os primeiros sintomas apresentados pela planta

Gustavo salienta os cuidados para evitar a disseminação do vírus do enrolamento

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Agronegócios

Mercado de biocombustíveis: uma análise

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m 2002, o consumo mundial de energia (independente da fonte energética) foi de, aproximadamente, 10,5 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo (TEP). A demanda projetada de energia no mundo indica um incremento médio de 1,7% ao ano, entre 2000 e 2030, quando alcançará 18,3 bilhões de TEP/ano, de acordo com o cenário base traçado pelo Instituto Internacional de Economia. Em condições ceteris paribus, sem alteração da matriz energética mundial, os combustíveis fósseis responderiam por 90% do aumento projetado na demanda mundial, até 2030. Este cenário já prevê alterações na dinâmica da oferta de energia, em especial a escalada de preços de petróleo, as mudanças climáticas globais e a reação da sociedade globalizada aos efeitos deletérios das emissões provenientes de fontes energéticas de carbono fóssil. Para qualquer análise prospectiva do setor energético, é importante considerar dois fatos: o primeiro é a elevada concentração de fontes de carbono fóssil (80%) na matriz energética mundial, sendo 35% referentes à participação do petróleo na matriz; em segundo lugar, atente-se que as reservas comprovadas de petróleo do mundo eram de 2,3 trilhões de barris, em meados do século XIX, antes do início de sua exploração extensiva. Atualmente, as reservas são estimadas em 1,137 trilhões de barris, 78% dos quais no subsolo dos países do cartel da OPEP. Posto o consumo atual, estas reservas permitem suprir a demanda mundial por 50 anos. É evidente que tanto as reservas quanto o consumo se incrementarão, ao longo deste período. Admitindo-se que o crescimento projetado de 1,7% ao ano para a demanda global de energia possa ser extrapolado para o petróleo, o consumo atual de 80 milhões de barris/dia seria elevado para 120 milhões de barris/dia, em 2025. Assim, o consumo anual seria de 44 bilhões de barris, o que confirma o esgotamento das reservas até meados do presente século. Pela lei da oferta e da procura, concretizando-se o cenário de esgotamento das reservas de petróleo, os preços se

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manterão em trajetória ascendente, buscando um novo ponto de equilíbrio, que será obtido pela conjunção entre redução da demanda energética e substituição do petróleo por outras fontes competitivas e sustentáveis. Entre estas fontes estão aquelas derivadas da agroenergia, como biodiesel, etanol, carvão vegetal, biogás, briquetes, lenha, etc. No momento, o break even entre o preço do álcool e da gasolina oscila na amplitude do preço do barril de petróleo entre US$30,00 e US$35,00. Para biocombustíveis derivados de óleo vegetal, por ser uma tecnologia ainda imatura, o

“A demanda projetada de energia no mundo indica um incremento médio de 1,7% ao ano, entre 2000 e 2030, quando alcançará 18,3 bilhões de TEP/ ano, de acordo com o cenário base traçado pelo Instituto Internacional de Economia”

ponto de equilíbrio é estimado para o preço do barril de petróleo em torno de US$65,00, com forte tendência de declínio no médio prazo. Entende-se, portanto, que as condições econômicas estão postas, em forma estrutural, para a viabilização da agroenergia enquanto componente de alta densidade do agronegócio. As pressões social (emprego, renda, fluxos migratórios) e ambiental (mudanças climáticas, poluição) apenas reforçam e consolidam essa postura, além

de antecipar cronogramas. O mercado para produtos da agroenergia é amplo, encontra-se em expansão e possui um potencial quase ilimitado. No curto prazo, a principal força propulsora do crescimento da demanda por agroenergia será a pressão social pela substituição de combustíveis fósseis. Considere-se que a concentração de CO2 atmosférico teve um aumento de 31% nos últimos 250 anos, atingindo, provavelmente, o nível mais alto observado nos últimos 20 milhões de anos. Os valores tendem a aumentar significativamente se as fontes emissoras de gases de efeito estufa não forem controladas, como a queima de combustíveis fósseis e a produção de cimento, responsáveis pela produção de cerca de 75% destes gases. A rigor, o Brasil não é dependente do mercado internacional para assegurar a sua competitividade no negócio da agroenergia. Dispondo de um invulgar mercado consumidor interno, o Brasil pode alavancar um negócio poderoso na área de agroenergia, com invulgar competitividade. Sendo assim, o Brasil está destinado a ser o líder mundial não apenas na produção e comercialização de agroenergia, como também de biomateriais derivados de biomassa, que estão sendo viabilizados com os avanços da genética, biotecnologia, processos químicos e engenharia. Pela análise exposta, percebe-se uma invulgar oportunidade para o Brasil ingressar em um mercado potencialmente fabuloso, permitindo a consecução de diversos objetivos nacionais e globais, em especial aqueles vinculados aos temas social (criação de empregos, geração e distribuição de renda, desenvolvimento), ambientais (redução das emissões de gases de efeito estufa), econômicos (progresso, altas taxas de crescimento do PIB) e negociais (estabelecimento de um poderoso mercado de bioenergia). O autor é Engenheiro Agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energias Renováveis. C Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Corrente positiva para o setor agrícola nos próximos anos O mercado mundial e brasileiro dos produtos agrícolas está mostrando uma corrente positiva para as cotações nos próximos anos. Grandes especialistas mundiais apontam que teremos pelo menos três anos de bons indicativos pela frente, isso porque o quadro geral agrícola bateu no fundo do poço nos últimos dois anos e derrubou os investimentos em tecnologia para o setor que perdeu potencial de produtividade. Enquanto isso, o consumo mundial continua avançando em ritmo acelerado e já passou a produção, fortalecendo a queda nos estoques mundiais dos grãos e aumentando as cotações atuais e futuras de todos os produtos. O avanço começou com o trigo que mostrou pressão de alta em cima da quebra da safra de países como Austrália, Argentina e EUA, e agora com todos esperando que a China traga em seus números, redução de algo próximo a 10 milhões de t na safra deste ano, fazendo com que o país de exportador entre no mercado como um dos maiores importadores em 2007. Desta forma, também puxando o mercado do milho que devido à volta forte do setor de ração e principalmente pela grande demanda do cereal para a produção de álcool, fez o cereal saltar dos US$ 105 por t em 2005 para os US$ 165 por t neste ano. Isso indica que o milho poderá passar dos US$ 170 por t em 2007, e a nossa soja, apesar de ser o único que mostra safra maior que a demanda está se apoiando nestes pela relação de troca, puxando os indicativos que estavam abaixo dos US$ 210 por t e hoje estão na casa dos US$ 240 e devem operar entre US$ 250/260 por t no mercado internacional em 2007. Outro produto que sempre esteve lento no mercado é o arroz, que devido à estabilidade na produção e aumento constante no consumo está mostrando os estoques em queda livre e as cotações disparando para os melhores momentos da história. O ano está fechando, que foi duro para o setor agrícola brasileiro, com boas expectativas para o ano que começa e apostando que a crise já tenha passado e que venham bons ganhos pela frente. Sucesso em 2007. MILHO Puxando no final do ano O mercado do milho teve um ano de grandes exportações que devem passar das 3,5 milhões de t. As sobras desta safra foram todas exportadas e agora o governo está sendo obrigado a vender os estoques que formou para atender as necessidades dos consumidores, e a não deixar as cotações dispararem. Com indicativos variando dos R$ 17 aos R$ 20 por saca para as regiões produtoras, este deve ser o nível que chegaremos ao final do ano para o milho livre e entre R$ 3/4 acima para o produto na casa dos consumidores. Com boas expectativas para 2007, que mostra o mercado mundial aponta para níveis entre US$ 150 e US$ 170 por t. . SOJA Recuperando posições O mercado da soja teve um bom avanço nos indicativos em novembro, quando as cotações internacionais avançaram forte em cima da boa expectativa de demanda do farelo para ração e principalmente pela corrida que o mundo está promovendo para o Biodiesel, favorecendo o óleo que estava em ritmo lento. Com isso, as cotações avançaram pelo menos US$ 30 por t nos últimos dois meses e sinalizam boas cotações em 2007, que tende a ser o ano dos combustíveis alternativos , favorecendo o segmento das oleaginosas. Com o mercado interno mostrando pouca soja para negociar nestes últimos dias do ano e desta forma os negócios devem se dar caso a caso, com indicativos internos pelo menos 15% acima do que paga o mercado internacional. FEIJÃO Entrada da primeira safra O mercado de agora em diante estará atrelado à entrada da primeira safra, que ainda mostra grandes divergências entre os dados que nos chegam dos campos e os números oficiais. Indicativos de colheita segundo o IBGE mostram que chegará a 2 milhões de t e segundo a Conab será de pouco mais de 1,3 milhões de t, e assim deixando o setor com divergências, pelos problemas ocorridos nas lavouras do Sul do país que sofreram com geadas e frio e, agora, ainda podem ter problemas com as chuvas que caem

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regularmente em função do El Niño. Desta forma, caminhamos para ter bons indicativos porque a realidade dos campos não é tão otimista como apontam os órgãos oficiais e desta forma tende a favorecer os produtores. Com os indicativos devendo girar entre os R$ 60/75 por saca nestas próximas semanas até a virada do ano, lembrando que nos primeiros dias de 2007 poderá ocorrer uma puxada nos indicativos e superar estes níveis, porque normalmente ocorre um buraco na oferta, porque a colheita paulista encerra na primeira quinzena de dezembro. ARROZ

Governo vendendo estoques O governo entrou como principal vendedor de arroz em novembro, com ofertas no Sul e Centro Oeste do país, abastecendo as necessidades das indústrias. Como trouxe pregões com valores de abertura iguais aos indicativos do mercado livre, não houve queda nas cotações, já que se mostraram entre os R$ 23 aos R$ 27 por saca e caminham para se manter firmes nesta virada de ano. A nova safra tende a mostrar cotações médias maiores do que foram praticadas neste ano.

CURTAS E BOAS SOJA - o USDA apontou a safra mundial com 225 milhões de t, com EUA com 87,1, Argentina 41,3, Brasil 56 e China com 16,2 milhões de t, todos com condições otimistas de colheita. TRIGO - o USDA em seu relatório de novembro não levou em consideração a quebra da safra chinesa que, segundo fontes locais, seriam maiores do que 10 milhões de t . Assim, o país passaria de exportador para importador do grão e também ainda esteve otimista com a Austrália, que teve redução de apenas 500 mil t passando para 10,5 milhões de t, quando as empresas locais apontam que a safra que está em andamento deverá girar entre seis e nove milhões de t e assim o quadro mundial tende a ter uma produção na ordem as 570 milhões de t contra as 586 apontadas pelo USDA e, desta forma os estoques que estão apontados em 118 milhões de t tenderiam abaixo das 100 milhões de t, fato este que não ocorre há pelo menos 20 anos. O grão caminha para ter um dos melhores anos de sua história em 2007. ALGODÃO - a safra começa a ser plantada no Brasil e agora os produtores têm que buscar negócios antecipados para tentar fechar parte da produção que lhes garanta os custos e assim diminuindo o risco de colher sem suporte de venda. Isso porque a liquidez interna normalmente é pequena. O governo acena com apoio na comercialização, mas as fixações futuras normalmente trazem maior garantia ao setor. Caminhamos para um crescimento da safra em cerca de 20%, com o domínio da safra devendo ficar a cargo do MT seguido da Bahia, onde se colhe a melhor produtividade e maior qualidade. Sendo um ano de boas expectativas para o setor e indicativos de ganhos positivos. O quadro mundial mostra que teremos um consumo superando a produção em cerca de 3 milhões de fardos, para 118 milhões em 2007. BIODIESEL - as expectativas apontam que esta será a bola da vez com a produção mundial em 2005 chegando a 4,5 milhões de t, mostra expectativa de passar para 16 milhões de t em 2010. Com centenas de novas indústrias sendo instaladas pelo mundo afora e devendo criar suporte positivo para os óleos vegetais. ÁLCOOL - o Brasil continua como destaque mundial na produção e exportação deste combustível e para isso segue com crescimento médio na ordem os 10% ao ano e área plantada superando a marca dos 7 milhões de hectares neste ano de 2007 e mais de 10 milhões de ha antes de 2010. A demanda de álcool segue em ritmo acelerado, porque somente no Brasil são mais de 2,5 milhões de automóveis bicombustíveis que entram no mercado ao ano, e normalmente quem compra estes veículos o fazem para usar álcool.

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