Cultivar Grandes Culturas • Ano IX • Nº 94 • Março 2007 • ISSN - 1516-358X
Nossa capa
Destaques
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Rogério Inoue
Aparência em cheque O bom aspecto visual da espiga nem sempre significa integridade física dos grãos de milho
14 Sucesso na adubação Diversos aspectos devem ser observados para que a adubação em cana seja bem sucedida
20 Na soja! Mais duas lagartas passam a tirar o sossego de sojicultores no estado do Tocantins
24 Infestação crescente O avanço da moscabranca em lavouras de soja nas últimas safras
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br 3028.4013 cultivar@cultivar.inf.br • REDAÇÃO:
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Diretas
04
• Assinaturas: 3028.2070
• Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia • Revisão
Controle do bicudo em algodão
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Qualidade física do grão de milho
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COMERCIAL
Nutrição em cana-de-açúcar
14
Ataque de lagartas em soja
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Pedro Batistin
• Redação: 3028.2060 • Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
Aline Partzsch de Almeida
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REDAÇÃO
Sedeli Feijó
CIRCULAÇÃO • Gerente
Mosca-branca preocupa sojicultores
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Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Simone Lopes
Informe técnico - Pioneer
28
Percevejo-do-colmo em arroz
30
Raquel Marcos
Coluna Agronegócios
33
Dianferson Alves
Mercado Agrícola
34
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Gerente de Assinaturas Externas
• Expedição
• Impressão
Diretas
In loco
Variedades
Muito mais soja
O diretor executivo da BayerCropscience, Thomas Britze, acompanhado do diretor de negócios para a região Sul, Álvaro Simionato, visitou o estande da empresa no Show Rural da Coopavel. Além de elogiar a estrutura do evento, destacou o trabalho da Bayer na apresentação de parcelas que mostravam o desempenho dos principais produtos da empresa aos participantes do evento. Álvaro Simionato e Thomas Britze
Fabrícia Andrade, gerente de Marketing da Nidera Sementes, apresentou os lançamentos da empresa. “De 26 materiais expostos no Show Rural, 24 são novos.” Entre os destaques estão os híbridos de milho BX945, BX1100, BX 1149, BX1200 e BX1382, oito variedades de soja RG, sementes híbridas de girassol Super Paraíso 20, Super Paraíso 22, Super Paraíso 24 e Super Paraíso 33, além das cultivares de sorgo A9721R, A9737W, A9815RC, A9829R e A9939W.
A Bayer apresentou o programa de tratamento para soja “Muito mais soja”, que reúne um completo portfólio de produtos para a cultura, com soluções adequadas para o controle dos principais problemas fitossanitários da lavoura. “Essas soluções possibilitam o melhor desenvolvimento das plantas, gerando mais produção e grãos mais uniformes, um diferencial para o mercado externo” garante o gerente de MarkeAndré Kraide ting da região Sul, André Kraide.
Efeito fisiológico A Basf destacou um circuito onde demonstrou e explicou o efeito fisiológico dos produtos da linha F500, que é o resultado do aumento da fotossíntese líquida e da atividade da enzima nitratoredutase, combinado com a diminuição da produção do etileno. “Todos esses fatores reunidos contribuem para a produtividade e qualidade das lavouras, gerando um acréscimo de produção de 10 a 15%, segundo ensaios”, garante o gerente de Marketing Fábio Dias para milho e soja, Fábio Dias.
EPI’S A Vest Segura, empresa fabricante de vestimentas de proteção individual (EPI’s), destinadas a aplicadores de defensivos agrícolas, também marcou presença no Show Rural Coopavel. Durante o evento o engenheiro agrônomo responsável pela empresa, Francisco Grzesiuk, orientou os visitantes sobre a importância e modo correto de uso dos Equipamentos de Proteção Individual no manuseio de defensivos. Francisco Grzesiuk
Novo gerente Nilson Antonio Oliveira assumiu a posição de gerente de Cultura & Soluções da Syngenta, em São Paulo. Nilson, há 22 anos na empresa, tem como novo desafio a coordenação do grupo de gerentes de culturas e deNilson Oliveira senvolvimento da área de serviços.
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Fabrícia Andrade
Olho no mercado A Milenia em parceria com a corretora Futura levou aos visitantes do Show Rural, palestras com foco em mercado, apresentação de operações e uso de ferramentas do setor. No estande, a principal atração ficou por conta dos equipamentos ligados à Bolsa de Mercadorias e Futuros.
Ihara com café A Ihara recepcionou os visitantes com café da manhã em seu estande no Show Rural. Os produtores puderam assistir, ainda, a palestras que apresentavam resultados de pesquisa com os produtos Pirephos, Flumyzin e Celeiro.
Embalagens vazias O personagem símbolo da campanha educativa do InpEV, o espantalho Olímpio, também esteve na Coopavel 2007. Com a presença do mascote, agricultores puderam esclarecer suas dúvidas sobre o programa de descarte de embalagens de defensivos, tanto com a equipe como através de uma maquete explicativa. Vale destacar que este trabalho ocorre em conjunto entre agricultores, canais de distribuição e indústria fabricante, representada pelo InpEV.
Clearfield A Basf deu destaque para o Programa Clearfield durante Abertura Oficial da Colheita do Arroz, enfatizando o uso do Only, herbicida registrado para utilização no pacote tecnológico. Segundo Airton Leites, da regional Sul, o contrabando e o uso de produtos falsificados ainda são problemas que atrapalham a tecnologia.
Microquímica
Inovação
A Microquímica, empresa que atua há 30 anos no mercado, no segmento de nutrição de plantas, participou do Show Rural Coopavel. Durante o evento divulgou sua linha de produtos orientando agricultores e demais visitantes. Leandro Ferreira, responsável pelo departamento de Marketing, lembra que o evento mobiliza produtores rurais de todo o país, o que o torna uma excelente oportunidade de relacionamento e expansão de mercado.
A Basf inovou na apresentação do estande no Show Rural da Coopavel. Num espaço amplo e bastante arejado, a equipe de profissionais acolhia os visitantes, que eram encaminhados para visitas às parcelas demonstrativas onde foram mostrados os efeitos fisiológicos do Ópera.
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Há 18 anos
Proteção de cultivos
Douglas Scalon, coordenador de Marketing da Bayer para a região de Cascavel, gostou do resultado da presença da empresa no Show Rural 2007. “Participamos do evento há 18 anos e é sempre uma grande satisfação receber produtores de todo o Brasil. A Bayer é a empresa que mais investe em pesquisa no segmento e, por isso, sempre consegue oferecer inovações tecnológicas, a cada ano, essenciais para o desenvolvimento sustentável Douglas Scalon da agricultura”, explica.
Marcos Basso, gerente de Marketing de Negócio e Distribuição Sul da Syngenta, e André Pozza, gerente Comercial da Distribuição Sul se fizeram presentes no Show Rural Coopavel. Durante a feira, juntamente com a equipe, apresentaram os principais produtos para proteção de cultivos e tratamento de sementes, com destaque para os fungicidas Priori Xtra, Cruiser, Engeo Pleno e o herbicida Callisto. Marcos Basso e André Pozza
Agromen A Agromen divulgou durante o Show Rural, toda a sua linha de sementes híbridas de milho, com destaque para as variedades de verão AGN 30A05 e AGN 30A09 e safrinha AGN 30A03 e AGN 30A06. Joacilio Helene, supervisor de vendas, destacou a mobilização de produtores rurais de todo o país durante o evento.
Clairton da Silva
Negócios arroz Clairton Lima da Silva assumiu recentemente como Gerente de Negócios Arroz Sul, na regional da BASF em Porto Alegre. Engenheiro agrônomo, trabalha na empresa há 17 anos e ultimamente atuava no departamento de marketing na matriz em São Paulo.
Celeiro agrícola Rodrigo Bosch, gerente comercial da Nidera Sementes, destacou durante o Show Rural Coopavel, o grande potencial agrícola do Brasil e a aposta da empresa em investimentos para a proRodrigo Bosch dução de grãos e energia no país.
Marketing Joacilio Helene
Controle preventivo André Savino, gerente de Fungicidas e Joel Duerr, News Bussiness Scouting da Syngenta, prestigiaram o Show Rural. Savino destacou oPriori Xtra, com ação rápida e efeito prolongado no controle das principais doenças. “Quanto à ferrugem é imprescindível controlar de maneira preventiva. Caso contrário, a área de soja pode sofrer perda de produtividade devido à deficiência no André Savino e Joel Duerr controle”, observou.
Vicente Gongora é o novo diretor de Marketing da FMC. Na empresa desde 1995, atuava anteriormente como diretor de Vendas.
Pigmento orgânico A Lanxess, que participa pela segunda vez da Expodireto Cotrijal neste ano, leva para a feira os pigmentos orgânicos para sementes. Levanyl ST, uma dispersão líquida aquosa, é uma espécie de tintura auxiliar de sementes, feita à base de pigmentos orgânicos e polímeros, que tem como função principal, além da pigmentação (coloration), ajudar a agregar e fixar os defensivos agrícolas aplicados nos grãos (film coating).
Cooperativas
Vicente Gongora
O Engenheiro agrônomo Ricardo Perez assumiu a gerência de Marketing para Cooperativa da Syngenta.
Ricardo Perez
Cultivar e Agritours levam assinante aos EUA com tudo pago O engenheiro agrônomo Márcio Cruzetta é o assinante felizardo que viajará aos Estados Unidos com tudo pago pelo Grupo Cultivar e pela Agritours Brasil. A viagem grátis ao Farm Progress Show, a maior feira dinâmica de máquinas agrícolas do mundo, é fruto de uma promoção realizada durante o Show Rural Coopavel, em Cascavel/PR, através de parceria entre o Grupo Cultivar e a Agritours Brasil, agência de turismo especializada em viagens técnicas com enfoque na agropecuária. O vencedor da promoção tem 27 anos e atualmente trabalha como técnico de vendas da Syngenta Seeds na cidade de Laranjeiras do Sul (PR). Assinante da revista Cultivar Grandes Culturas há três anos, em sua visita ao Show Rural Coopavel aproveitou para passar no estande da Cultivar e renovar a assinatura. O sorteio foi acompanhado por funcionários de diversas empresas de máquinas agrícolas e defensivos químicos, além gerente do Show Rural Coopavel, Jorge Luiz Knebell. “No cenário atual, os agricultores e engenheiros agrônomos sabem que não há espaço para erros e que cada detalhe no manejo faz diferença no final da safra. É isso que os leitores buscam quando assinam nossas revistas”, avalia o diretor presidente do Grupo Cultivar, Newton Peter. O diretor geral da Agritours Brasil, Frank Partington, destaca que a parceria com a Revista Cultivar é um exemplo do que as
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empresas podem fazer para proporcionar aos produtores brasileiros formas de incrementar o conhecimento tecnológico. A viagem aos EUA ocorre entre 27 de agosto e 3 de setembro de 2007 e inclui no roteiro, três dias de visitação ao Farm Progress Show, em Decatur, Illinois; visitas à Bolsa de Cereais de Chicago (Chicago Board of Trade) e pontos turísticos da cidade; fazendas produtoras de milho e soja, instalações portuárias e cooperativas de produtores.
Pioneirismo O Grupo Cultivar é pioneiro no segmento a realizar grandes promoções. Em 2003, uma promoção para arrecadar novos assinantes sorteou um trator Valtra BM 110, no valor de R$ 114 mil reais, também entregue durante o Show Rural Coopavel, na presença do governador do Paraná, Roberto Requião. Para entrar em contato com a Agritours Brasil - e-mail: agritours@agritoursbrasil.com.br e telefones (11) 5083-8484 e (11) 9142-2370.
Márcio Cruzetta
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Algodão
Cultivar
Multiplicador de prejuízos
Devido a falhas no controle, Mato Grosso ainda sofre com os elevados danos causados pelo bicudo do algodoeiro. Nesta safra, os gastos com aplicação de defensivos podem chegar a mais de 15% do custo total de produção. Para que haja redução dos prejuízos são necessárias medidas complementares ao controle químico, como a destruição das soqueiras na entressafra e instalação de armadilhas com feromônio 60 dias antes da semeadura
O
Estado do Mato Grosso é o principal produtor de algodão do país, na safra de 2005/06 foi o responsável por cerca de 42% da área plantada (366 mil hectares) com uma produtividade média de 3.600 Kg/ha. Para a safra 2006/07 há previsão de um incremento na área plantada de cerca de 30%. O custo de produção de um hectare de algodoeiro está em torno de US$ 1.800,00 (mil e oitocentos dólares) e um dos itens que mais pesam no custo de produção é o controle fitossanitário com destaque para o controle de insetos. Para a safra 2006/07 a previsão é de que esses custos serão de 15,2%; 13,2% e 10,9% para
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os municípios de Sorriso, Campo Novo dos Parecis e Primavera do Leste, respectivamente.
DANOS DA PRAGA As principais injúrias, causadas pelo bicudo ocorrem nos botões florais, que são utilizados para alimento e/ou oviposição. Após o ataque ocorrem mudanças fisiológicas nos botões, causando a sua queda. Com o ataque, provocam a queda anormal dos botões florais, flores e maçãs. Os botões infestados apresentam perfurações, ficam com as brácteas abertas e pode-se notar a presença de um excremento amarelado; as flores ficam com aspecto de “balão” devido à
não-abertura das pétalas; as maçãs apresentam perfurações externas; fibras e sementes são destruídas, causando a abertura anormal da maçã “carimã”, além de um escurecimento interno. Nas condições climáticas tropicais, a espécie pode se manter em estado ativo alimentando-se em áreas de algodão abandonado ou em restos culturais. No caso de áreas abandonadas, não havendo ocorrência de estruturas reprodutivas, seu alimento preferido, os insetos podem se alimentar de folhas jovens, pecíolo e parte terminal do caule. Quando não há mais estruturas reprodutivas adequadas, o inseto abandona as áreas cultivadas com algodoeiros
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SITUAÇÃO ATUAL e se dirige para áreas de matas e capinzais, que lhe servirão de abrigo durante a entressafra. Esses insetos, então, reduzem o seu metabolismo, alimentando-se esporadicamente de grãos de pólen de diferentes espécies vegetais. Por ocasião de um novo plantio, os indivíduos sobreviventes da entressafra penetram na lavoura, se estabelecem nas bordaduras e alimentam-se das partes vegetativas até o surgimento dos primeiros botões florais. Tais botões estimulam a movimentação do inseto pela área cultivada e a partir daí ocorre um processo de distribuição generalizada do inseto pela lavoura. O bicudo, ao se instalar na cultura, se não manejado de forma correta e com presteza, é capaz de causar até a perda total da produção, devido ao seu alto potencial reprodutivo, uma vez que pode produzir até sete gerações por ano.
Divulgação
A
O BICUDO NO ESTADO DO MT Antes de iniciarem a postura, fêmeas recém-eclodidas, precisam se alimentar por três dias
que compreendem cerca de 141 municípios, destes, apenas em um (Campos de Júlio) ainda não foi detectada a praga. E em alguns municípios, como Cam-
José E. Miranda
O bicudo foi detectado pela primeira vez no Mato Grosso em junho de 1993, nos municípios de Cáceres e Mirassol D’Oeste, nesses 14 anos a praga vem sendo disseminada nas áreas cotonícolas do estado tanto por meio de maquinários agrícolas como pelas carretas que fazem o transporte da pluma e do caroço. O Mato Grosso é dividido em cinco regiões produtoras de algodão,
praga já é encontrada em todas as regiões produtoras do estado. A região de Campo Verde é a que apresenta a maior infestação de bicudo e onde os agricultores gastam mais com o seu controle. A principal razão desta situação é a não-aplicação das recomendações do plano regional. As soqueiras são mal destruídas propiciando a sobrevivência da praga nos talhões. Para que haja uma redução nos danos causados pelo bicudo durante a safra agrícola seguinte é fundamental o emprego das medidas de controle acima descritas para diminuir significativamente a população que deverá sobreviver na entressafra. A consciência coletiva é o ponto fundamental para o sucesso do combate ao bicudo. Caso não haja uma execução conjunta dessas ações, no prazo de poucos anos a cultura poderá se tornar inviável no estado do Mato Grosso, assim como ocorreu em outros estados do Brasil devido ao elevado potencial de dano do bicudo. po Verde, tido como o maior produtor do Brasil, existem situações que causam preocupação, pois alguns produtores abandonaram o plantio na safra passada e não efetuaram a destruição da soqueira na época recomendada. Constata-se, portanto, que não é apenas a ausência de fatores climáticos desfavoráveis ao seu desenvolvimento e o alto potencial reprodutivo, que têm contribuído para o crescimento populacional do bicudo a cada safra, mas, principalmente, o manejo inadequado que alguns produtores dão aos restos culturais.
MANEJO DO BICUDO
Se não houver um manejo correto, o bicudo pode causar perda total da lavoura devido ao seu alto poder reprodutivo
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O manejo, visando o controle do bicudo deve ser regional e não de poucos agricultores. Hoje, em algumas regiões do Mato Grosso, existem produtores que executam o plano regional de combate ao bicudo, o qual visa reduzir a praga na região. Esse plano é o mesmo utilizado em Goiás e no oeste da Bahia e consiste em medidas culturais e químicas de controle, divididas em oito ações prioritárias, que são descritas a seguir. 1) Aplicação de inseticidas junto com os desfolhantes e maturadores no final do clico da cultura para impedir o deslocamento de adultos para os refúgios. 2) Destruição de soqueira até 30 dias após a colheita, com limite máximo para o dia 31 de agosto, com o objetivo de
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Fotos José E. Miranda
Adulto do bicudo, Anthonomus grandis, perfura os botões tornando-os improdutivos
deixar o bicudo sem alimento por um período de 90 a 120 dias. 3) Instalar armadilhas com feromônio, 60 dias antes da semeadura nas periferias dos talhões que serão cultivados com algodão, a cada 150 a 300 metros. Monitorar o plantio duas vezes por semana. Determinar o índice de bicudo/ armadilha/semana (BAS). Talhões com BAS maior que dois: talhão vermelho; com BAS de um a dois: talhão amarelo; com BAS de zero a um: talhão azul e com BAS zero: talhão verde. 4) Diante do BAS, na fase de primeiro botão floral, aplicar inseticidas para evitar a entrada do bicudo na lavoura. Se o talhão se enquadrar na categoria vermelha, devem ser feitas três aplicações com intervalo de cinco dias. Se talhão amarelo: duas aplicações. Se talhão azul: uma aplicação. E se talhão verde: não aplicar. Os inseticidas que apresentam maior eficiência são: Fosforados (Parathion e Malathion), Ciclodieno (Endossulfan), Piretróides e misturas de Fosforados com Piretróides. Existem pesquisas, também, com Cartap e Neonicotinóides. 5) Concentrar a semeadura em um período máximo de 60 dias, para diminuir o tempo de exposição da cultura ao bicudo. 6) Fazer aplicações nas bordaduras com inseticidas, a cada cinco dias, desde a segunda folha verdadeira até a primeira maçã firme. 7) Monitorar intensivamente os talhões, as bordaduras e os locais onde o bicudo pode estar. Avaliar injúrias e insetos. O índice de controle é de 5% de botões danificados ou presença de adul-
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Detalhe das larvas do inseto, destruindo o interior do botão floral do algodoeiro
tos. 8) Talhões que apresentarem índice de controle na abertura do primeiro capulho, deverão ser feitas três aplicações com intervalo de cinco dias. Com o objetivo de proteger o baixeiro, do terço médio, bem como garantir o ponteiro. Além das ações prioritárias, a adoção de medidas complementares também é
interessante, como por exemplo: • eliminar tigüeras e rebrotas. • fazer plantio isca. • instalar tubo mata bicudo. • aplicar inseticidas na soqueira. • utilizar variedades precoces. • aplicar inseticidas em conjunto com o manejo de ervas invasoras. • fazer o arranquio de plantas nas margens de estradas, em volta de algoC doeiras e nas sedes das fazendas. Sandra Maria Morais Rodrigues, Embrapa Algodão Guilherme Almeida Ohl, Ceres Consultoria Agronômica
DESCRIÇÃO E ASPECTOS BIOLÓGICOS
O
algodoeiro é atacado por diversos artrópodes-praga em todas as suas fases fenológicas e, dentre aqueles presentes na fase reprodutiva, destaca-se o bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman. Os adultos são pequenos besouros de coloração cinza ou castanha e medem em média 7 mm de comprimento, possuem um rostro (bico) que alcança metade do tamanho do resto do seu corpo e apresentam nas pernas dianteiras um par de espinhos característicos de sua espécie. O bicudo é freqüentemente encontrado nos botões florais no período das nove às 17 horas. As fêmeas recémemergidas precisam se alimentar por três a cinco dias antes de iniciarem a postura. Após este período, ovipositam preferencialmente em botões florais, flores e maçãs do algodão. A fêmea deposita apenas um ovo por orifício feito com
o bico, sendo a cavidade posteriormente fechada com uma secreção gelatinosa. O período de maior suscetibilidade da cultura ao ataque da praga vai desde o aparecimento do primeiro botão floral (em torno de 30 a 40 dias após a emergência) até a colheita (entre 180 a 200 dias da emergência). Cada fêmea coloca cerca de seis ovos por dia, totalizando cem a 300 ovos colocados durante seu ciclo de vida. O período de incubação varia de três a quatro dias. As larvas são brancas, de cabeça marrom-clara e sem pernas, apresentando de 5 mm a 10 mm de comprimento e possuem formato de “C”. Após três a cinco dias atingem a fase adulta e podem ter uma longevidade de 20 a 40 dias. O ciclo de ovo a adulto varia de 11 a 67 dias e, dependendo das condições de temperatura, podem ocorrer até sete gerações durante o ano.
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Cultivar
Milho
A aparência engana Como o aspecto visual da espiga não significa integridade física de grãos de milho, produtores, de olho no mercado externo, precisam estar atentos à qualidade exigida por outros países. Conhecer o nível de resistência ao quebramento de uma cultivar e o correto manejo da cultura podem fazer a diferença em produtividade e lucratividade
Q
uase todo o milho produzido no país é consumido no mercado interno, principalmente em rações de aves e suínos (Figura 1), pelo seu alto teor de amido (entre 67 e 72% da massa) e elevada digestibilidade. As exportações ainda são pequenas, mas poderão aumentar substancialmente, o que exigirá maior ênfase na avaliação da qualidade dos grãos para convencer os compradores sobre as vantagens do nosso produto. Ressalte-se que não existe trabalho sistemático para caracterizar adequadamente a qualidade física e nutricional do milho produzido no Brasil. Embora exista variabilidade na composição química do grão, os critérios para sua classificação são embasados em características físicas e de aparência. No sistema de classificação oficial brasileiro, ocorre depre-
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ciação da qualidade com a presença de grãos ardidos, fermentados, mofados, imaturos e quebrados, os quais são considerados defeitos de origem mecânica, física ou biológica (Tabela 1). Já no sistema dos Estados Unidos da América, o principal critério para classificação é o peso volumétrico (peso do hectolitro), seguido pela avaliação visual dos grãos danificados, quebrados e impurezas (Tabela 2). Considera-se que a manipulação do produto sob condições inadequadas reduz o seu peso volumétrico. No mercado brasileiro, independente do sistema de classificação oficial, predomina a avaliação visual dos grãos pela aparência, com exceção de algumas empresas que possuem critérios próprios para a compra dos grãos, avaliando desde o peso volumétrico ou hectolitro até a presença de
micotoxinas. O objetivo deste artigo é apresentar os principais critérios utilizados na caracterização da qualidade física e mostrar que a avaliação da aparência é inadequada para avaliar a qualidade do milho commodity.
COR O grão é constituído por três partes principais: o pericarpo é a parte mais externa, sendo recoberto pela camada de aleurona; o endosperma é constituído principalmente de amido e representa 70 a 80% do peso total do grão; o germe ou embrião é a parte vegetativa e a fonte de óleo do grão de milho (Figura 2). O mercado brasileiro prefere grãos de milho de coloração alaranjada. Os grãos com endosperma de cor alaranjada apresentam maior teor de caroteno em relação
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Figura 1 - Consumo relativo de milho no Brasil (Fonte: ABIMILHO)
aos de coloração amarelo claro. No entanto, a cor que visualizamos nem sempre indica a cor do endosperma, já que o pericarpo e a camada de aleurona podem não ser translúcidos e incolores, variando de vermelho, vermelho-púrpura, marrom, laranja, variegado e incolor. Existe uma tendência de utilizar cada vez menos a coloração dos grãos como critério de qualidade. A cor é importante apenas para a ração de aves, não justificando a desvalorização dos grãos com endosperma claro em todos os segmentos. O mercado para aves, que representa cerca da metade do consumo de milho no Brasil (Figura 1), exige grãos de coloração alaranjada para atender a exigência do consumidor por ovos com gemas mais escuras e carne com pele amarelada. Existem corantes para serem adicionados na ração, mas com custo relativamente alto, e técnicas de processamento de carne que favorecem a permanência da cor amarela na pele. Ressalta-se que está aumentando o consumo de cortes ou pedaços de frango, em detrimento de animais inteiros, e as pessoas que compram o frango inteiro estão
mais atentas aos preços do que à coloração da pele. Logo, existe uma tendência desta exigência por grãos alaranjados perdurar apenas dentro do setor produtor de ovos e alguns nichos de mercado para carne.
DUREZA O termo dureza dos grãos de milho é utilizado com dois diferentes significados: (1) composição física dos grãos relacionada à textura do endosperma, que varia de vítrea até farinácea devido aos diferentes arranjos dos grânulos de amido; (2) força requerida para quebrar os grãos, que é uma propriedade mecânica relacionada à suscetibilidade ao quebramento. A dureza do endosperma ou densidade dos grãos pode ser avaliada indiretamente pelo peso volumétrico, em que se determina a massa de um litro de grãos, e pela técnica dos grãos boiantes, no qual os grãos menos densos permanecem sem afundar na superfície de uma solução salina de nitrato de sódio. A avaliação de grãos boiantes estima a relação entre os tipos de endosperma farináceo e duro. Além dessas, podem ser utilizados os métodos de moa-
Figura 2 - Partes do grão de milho
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gem (força, tempo e proporção de endosperma farináceo na farinha) e abrasão (proporção removida). A integridade do grão é alterada ao longo do processo de colheita, secagem, armazenamento e transporte. Embora algumas cultivares apresentam grãos mais resistentes aos impactos, os cuidados durante a manipulação e secagem são os fatores mais críticos para a manutenção da qualidade (Figura 3). Deve-se evitar colher grãos muitos úmidos (acima de 20%) ou muito secos (abaixo de 16%), procurando regular adequadamente o mecanismo de debulha das espigas na colhedora. A temperatura excessiva durante a secagem provoca trincas imperceptíveis ao nosso olho, aumentando a fragilidade do grão aos impactos nos elevadores dos silos. Devido aos problemas de quebramento de grãos causados por colhedoras e/ou equipamentos de secagem e armazenagem, freqüentemente inadequados à manutenção da sua integridade física, a maioria das cultivares disponíveis no mercado possuem grãos vítreos, redondos e lisos. As cultivares que apresentam os grãos com a coroa dentada ou semidentada são preteridas por serem consideradas farináceos, de textura mole e mais suscetíveis ao quebramento. O mercado de exportação também é exigente em qualidade física dos grãos para que resistam aos inúmeros impactos durante os transbordos até chegar ao destino final. Quanto maior a proporção de grãos trincados e quebrados, maior a probabilidade de problemas biológicos pela presença de micotoxinas e as perdas pelo descarte dos grãos quebrados, além do risco de explosões de silos por poeira excessiva. A suscetibilidade ao quebramento é definida como o potencial de fragmenta-
Figura 3 - Como os grãos de milho quebram
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Tabela 1 - Padrões oficiais de classificação de milho no Brasil
Tipo TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3 Abaixo do Padrão
Umidade 14,5% 14,5% 14,5% 14,5%
Tolerâncias Máximas Avariados (% em Massa) Matérias Estranhas Impurezas e Fragmentos Total Máximo de Ardidos e Brotados 1,5% 11% 3% 2,0% 18% 6% 3,0% 27% 10% (a serem especificados em cada caso)
Fonte: Portaria MA n. 845, de 08/11/1976 e Portaria MARA n. 11, de 12/04/1996
veis ao quebramento), mas o índice de correlação foi muito baixo. Já Duarte et al. (2005), encontraram correlação positiva entre a densidade de grãos e a suscetibilidade ao quebramento em híbridos sob diferentes doses de nitrogênio (N). Logo, não é possível afirmar que as cultivares mais densas são menos suscetíveis ao quebramento. As práticas de manejo da cultura também interferem na produção de grãos de melhor qualidade. A adubação nitrogenada de cobertura, por exemplo, pode aumentar a densidade e reduzir a suscetibilidade ao quebramento dos grãos (Figura 4). Embora a ênfase do mercado quanto à qualidade dos grãos seja a escolha correta do híbrido, é imprescindível a realização de boas práticas de manejo da cultura e operações adequadas de colheita e pós-colheita.
CONCLUSÕES A aparência não deve ser utilizada para
Tabela 2 - Correlações da aparência das espigas com parâmetros de dureza e suscetibilidade ao quebramento dos grãos (1) Milho verão 2002/03 (2) Milho safrinha 2003 (3) (39 híbridos) (42 híbridos) -0.38** -0.38** Peso volumétrico Grãos boiantes 0.42** 0.46** não avaliado ns Suscetibilidade ao quebramento Notas: dentado=4, semidentado=3, semiduro=2, duro=1;** P<0,01; ns = não significativo; (2) Assis e Adamantina (Fonte: IAC/APTA) ; (3) Assis, Cruzália e Votuporanga (Duarte et al., 2006) (1)
predizer a densidade e a suscetibilidade ao quebramento dos grãos. Sugere-se a avaliação da qualidade física pelas técnicas do peso hectolitro ou dos grãos boiantes (densidade dos grãos) e pelos testes de suscetibilidade ao quebramento. Com relação à cor do grãos, existe uma tendência de enfatizar menos a cor alaranjada na comerciC alização do milho commodity. Aildson Pereira Duarte, IAC
Figura 4 - Efeito da adubação nitrogenada na qualidade dos grãos, em Votuporanga 2000/01 (Fonte: Duarte et al., 2005)
Aildson Pereira Duarte
ção ou quebra do grão quando sofre força de impacto. Esta característica é avaliada utilizando aparelhos que simulam os impactos que os grãos sofrem durante a colheita, secagem, armazenamento e transporte. Podem ser utilizados dois tipos de testes: Wisconsin Breakage Susceptibility Test e Stein Breakage Test. Nas nossas condições, a aparência dos grãos nas espigas não é critério seguro para diferenciar as cultivares quanto à sua densidade. Duarte el al. (2006) encontraram correlações baixas entre os parâmetros grãos boiantes e peso volumétrico versus a aparência dos grãos na espiga (Tabela 2). Embora os valores de grãos boiantes e peso volumétrico sejam indicadores indiretos da densidade dos grãos, a influência de uma variável sobre a outra foi parcial (r=0,58**). O peso volumétrico é um método mais prático do que o dos grãos boiantes, mas é influenciado tanto pela densidade como pela disposição dos grãos no recipiente (formato dos grãos). Da mesma maneira, não existe correlação entre a resistência ao quebramento e o aspecto visual dos grãos na espiga, logo, pode ocorrer a rejeição de alguns cultivares de elevado potencial produtivo que apresentam a falsa aparência de grãos “moles”. Mesmo quando se avalia a densidade dos grãos, as características de dureza e suscetibilidade ao quebramento não estão necessariamente associadas. Duarte et al. (2006) verificaram que a suscetibilidade ao quebramento correlacionou positivamente com a porcentagem de grãos boiantes (grãos menos densos foram mais suscetí-
Espiga com grãos de coroa lisa e espiga com grãos de coroa dentada
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Cana-de-açúcar
Sucesso na adubação Para que a nutrição na cultura da cana seja eficaz, não basta estar atento apenas às dosagens e à escolha do produto mais econômico. A análise e preparo adequado do solo, a qualidade das mudas, a escolha da variedade, a correção da acidez e de níveis baixos de fósforo e cálcio (calagem e gessagem), a regulagem correta dos implementos, o controle do mato, pragas e doenças e a rotação de culturas estão entre os fatores que precisam ser considerados
A
cana-de-açúcar faz parte da história do nosso país. Chegou aqui em 1530 e foi plantada no estado de São Paulo. Anos depois foi plantada também no Nordeste brasileiro. As canas daquele tempo, conhecidas como canas nobres, eram bem diferentes das novas variedades de cana que foram trabalhadas pelos pesquisadores e que temos hoje à disposição. As variedades de hoje são muito produtivas, têm alto perfilhamento, têm alta longevidade (alto índice de brotação e produtividade das soqueiras), têm alto teor de sacarose e são resistentes ou tolerantes às principais doenças e algumas pragas. Para desenvolver o alto potencial genético das novas variedades é necessário que estejamos atentos a vários requisitos iniciais. Entre eles, verificar a melhor alocação da variedade em seu ambiente de produção. Após a escolha da melhor variedade, temos que verificar as condições do solo antes de pensar na adubação. Verificar como estão as medidas de conservação do solo, a presença de impedimentos físicos, como compactação; a presença de mato e de pragas como cupins, migdolus, sphenophorus; enfim, verificar todas as possíveis variáveis que poderão interferir na adubação.
ANÁLISE DO SOLO Para se conhecer como estão as condições de fertilidade do solo, qual a acidez, qual o seu teor de fósforo (P) e de outros nutrientes, ou inferir em quanto de nutrientes esse solo poderá fornecer para a cana, devemos proceder à análise do solo. É importante que a análise seja feita bem antes da época de plantio, porque algumas ações em relação aos nutrientes como a calagem, a gessagem e a fosfatagem devem ser feitas na fase de preparo do solo. A amostragem do solo que será enviada para a análise deve ser bem feita e representar a área onde vamos plantar. O boletim da Cati ensina como fazer uma boa amostragem. Não esquecer que uma excelente análise do solo não corrige uma amostragem mal feita. Escolha um dia em que o solo não esteja muito úmido para facilitar a mistura das subamostras, e siga os passos contidos na Tabela 1.
HISTÓRICO DA ÁREA Conhecer o local onde vamos plantar é de grande importância. Saber se a área é sujeita à inundação, à erosão, verificar se a conservação do solo foi bem feita, se apresenta incidência de pragas, se apre-
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Tabela 1 - Amostragem do solo – Passos a seguir 1) Preparar 3 baldes, uma enxada, um trado ou um enxadão; caixinhas de amostras de solo ou saquinhos plásticos 2) Um balde recolherá a amostra que está sendo coletada. O segundo balde armazenará todas as subamostras coletadas de 0-25cm de profundidade, o terceiro balde armazenará todas as subamostras de 25-50cm de profundidade. Cuidado para não misturar as subamostras e não contaminar as amostras de 25-50cm com restos de terra da camada superior; 3) Percorrer a área em ziguezague e coletar 20 subamostras da camada de 0-25cm e 20 subamostras de 25-50cm; 4) Coletar a mesma quantia em cada ponto; 5) Misturar bem as 20 subamostras nos baldes; 6) Retirar mais ou menos 300g de cada profundidade e transferir para uma caixinha ou saquinho plástico; 7) Identificar e enviar ao laboratório
sentou sintomas de deficiências e toxidez nas plantas. Também saber qual o potencial de produtividade daquele solo é um bom indicativo para a adubação e se deve ter em mente as práticas realizadas anteriormente, como calagem, adubação verde etc. A observação de sintomas de deficiências e toxidez é importante. Esses sintomas ocorrem de forma homogênea no solo. Em geral ocorrem em praticamente todas as plantas de cana que estão naquele solo ou naquela faixa de topografia do solo. De acordo com a fisiologia vegetal existe mobilidade dos nutrientes dentro da planta e por isso os sintomas podem aparecer em folhas velhas ou novas, de tal forma que é possível elaborar chaves de diagnose visual, de acordo com a Tabela 2.
tornos econômicos aos produtores. A calagem é uma prática agrícola com seus benefícios muito bem estabelecidos, melhorando também a estrutura do solo e a atividade microbiana. O aumento do pH do solo melhora a capacidade do solo em adsorver alguns nutrientes, reduzindo assim suas perdas por lixiviação. Dentre esses nutrientes está o potássio (K), nutriente mais extraído pela cultura da cana e que normalmente possui alto potencial de perdas por lixiviação em condições de alta acidez do solo. Não esquecer que nem sempre o calcário tem poder de neutralização de 100%. O índice PRNT (poder relativo de neutralização total) relata a reatividade do material, que é dada pelo poder de neutralização do calcário, que depende da forma química dos neutralizantes (teor de CaCO3, MgCO3, CaO e MgO), além de sua granulometria. Quanto mais alto o PRNT, maior é sua reatividade, ou seja, mais rapidamente ocorrerá a correção da acidez do solo. Entretanto, a utilização de um calcário com PRNT mais baixo, poderá indicar que haverá um poder residual de neutralização da acidez que ocorrerá mais lentamente, isso pode ser vantajoso para a cana-deaçúcar. A aplicação do calcário deve ser uniforme em toda a extensão do terreno, de modo que haja grande contado entre as
A CANA E O SISTEMA RADICULAR O sistema radicular da cana explora em geral grandes volumes de solo. A compactação pode impedir o crescimento do sistema radicular e com isso, dificultar a absorção de água e nutrientes. O sistema radicular da cana-planta explora mais a superfície do solo. Já nas soqueiras, o sistema radicular tende a se aprofundar. Por isso é importante que o solo esteja bem corrigido e fértil não apenas na superfície. A Figura 1 apresenta o sistema radicular de uma soqueira de 8º corte.
Correção da acidez e adição de cálcio e magnésio A cultura da cana-de-açúcar, devido à sua rusticidade, apresenta grande tolerância às condições de acidez do solo. Entretanto, ganhos na produtividade podem ser obtidos com a calagem, se os solos, além da acidez, tiverem baixos teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) ou altos teores de alumínio (Al), fatores que impedem o crescimento radicular e a conseqüente melhor utilização da água nos períodos de seca a que o ciclo da cana-de-açúcar está sujeito durante alguns meses do ano. A calagem em profundidade também tem sido importante para manter a longevidade do canavial, garantindo maiores re-
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FOSFATAGEM E GESSAGEM A fosfatagem é a aplicação de fertilizantes fosfatados em área total, indicada quando o solo apresenta teores muito baixos nesse elemento (menor que 7mg/dm3 de fósforo extraído em resina). Geralmente utilizam-se fosfatos naturais, fosfatos reativos ou termofosfatos, na base de 150kg/ha de P2O5, incorporado ao solo. Fosfatos solúveis, como o superfosfato simples, também podem ser utilizados em dosagem correspondente a 100 kg/ha de P2O5 e podem ser aplicados na superfície. Outra opção é o uso do resíduo da usina, a torta de filtro, em quantidades que dependem do teor do elemento na torta. Este material aplicado em área total, deverá ser incorporado. Glória N. (comunicação pessoal), recomenda que o cálculo seja feito segundo a fórmula: Torta filtro (t/ha) = 11/ % P2O5 na torta de filtro úmida
A aplicação de gesso ao solo visa apli-
Fotos Raffaella Rosetto
A CALAGEM
partículas do solo. Deve ser incorporado o mais profundo possível e com antecedência de pelo menos dois meses do plantio. Se o solo for originalmente muito ácido, deve-se monitorar a acidez das soqueiras através de análise do solo e possivelmente aplicar calcário antes dos tratos culturais. A calagem costuma apresentar uma alta relação custo-benefício, já que é um corretivo relativamente barato diante dos demais insumos utilizados no setor sucro-alcooleiro, apresenta ganhos de produtividade da cana-de-açúcar em função da aplicação de calcário, quando se utilizou a dose recomendada. Os ganhos de produtividade nessas áreas mantiveramse entre oito e 13 t/ha. (Rossetto et al. 2004).
Detalhe da aplicação de resíduo (lodo de esgoto), fonte de nutrientes, em soqueiras de cana-de-açúcar
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car cálcio e enxofre (S) e também melhorar o ambiente do solo em subsuperfície. Ocorre que o gesso é uma fonte mais solúvel que o calcário, mas tem o inconveniente de não promover a neutralização da acidez. Para a cana-de-açúcar que extrai grandes quantidades de cálcio, o gesso pode ser uma importante fonte de fornecimento desse nutriente, principalmente nas soqueiras, quando a calagem não foi suficiente para fornecer esse elemento ao longo dos anos. A Tabela 1 indica as quantidades de gesso a serem aplicadas ao solo de acordo com sua análise para os teores de cálcio e alumínio, segundo a recomendação do Boletim 100 do IAC. É importante destacar que a aplicação de gesso deve ser feita juntamente com a aplicação de calcário. Nunca deve substituí-lo.
da cultura pode ser aplicada no plantio. Alguns solos muito pobres em fósforo podem responder a doses adicionais nas soqueiras. As fontes mais utilizadas são: superfosfato simples, superfosfato triplo, MAP, DAP, termofosfatos, multifosfato magnesiano, fosfatos naturais e resíduos. A torta de filtro é um importante resíduo da indústria sucroalcooleira utilizada como fertilizante fosfatado. Praticamente 50% do fósforo da torta pode ser considerado como prontamente disponível. A Tabela 4 apresenta a recomendação da adubação de nitrogênio e fósforo para cana-planta. • Potássio – A cana é uma cultura considerada como acumuladora de potássio (K). Ela exporta grandes quantidades e, portanto, a resposta à adubação é sempre alta, tanto na cana-planta como na cana-soca (Tabela 3). A vinhaça é outro importante resíduo da indústria sucroalcooleira muito utilizada como fertilizante. Neste caso, calcula-se a dosagem de vinhaça com base em seu teor de potássio, de tal forma que a necessidade da cultura pode ser suprida apenas pela vinhaça. Outros fertilizantes são: o cloreto de potássio ou o sulfato de potássio. • Micronutrientes - Solos de muito baixa fertilidade podem apresentar deficiência de micronutrientes, principalmente de cobre (Cu) ou zinco (Zn). O nível crítico obtido pela análise do solo é: 0,8ppm para o cobre e 0,5ppm para o zinco. Em caso de
Fotos Raffaella Rosetto
A.C.Vasconcellos
xas no plantio porque a resposta na produtividade é muito pequena, quando ocorre. Este assunto é ainda pouco compreendido, uma vez que, a extração de nitrogênio é muito grande pela cultura. Acredita-se que o solo possa fornecer grande quantidade de nitrogênio, através da mineralização da matéria orgânica existente, e que essa mineralização é favorecida pela movimentação do solo na época do plantio e pela época quando se faz o plantio (alta temperatura e alta pluviosidade). Além disto, a cana forma um sistema radicular extenso e profundo, que explora grande volume de solo e o rebolo (mudas), também fornece parte do nitrogênio. Por fim, sabe-se que a cana forma associações com bactérias fixadoras de nitrogênio do ar atmosférico, mas não se conhece exatamente a eficiência do processo. O fato é que, recomendam-se doses baixas de nitrogênio para a cana-planta e posteriormente doses altas do elemento nas soqueiras. As fontes de nitrogênio apresentam boa eficiência e se equivalem, ficando sua escolha mais em função do custo. São: uréia, sulfato de amônio, nitrato de amônio, MAP, DAP, resíduos vegetais e animais. A uréia deve ser incorporada por se tratar de uma fonte que pode se volatilizar resultando em perdas do nutriente. • Fósforo – Em geral toda a dosagem de fósforo (P) necessária para cinco anos
Figura 1 - Perfil do solo com raízes expostas visíveis até 2,4 metros de profundidade em soqueira de 8º corte
A ADUBAÇÃO DA CANA-PLANTA Após o preparo do solo para o plantio da cana, faz-se a sulcação. Durante essa operação temos a principal oportunidade de fazer a adubação no local mais próximo do sistema radicular da cana que irá brotar. Nessa ocasião é necessário prover os nutrientes necessários para a implantação da cultura. Não esquecer de calibrar bem os implementos. A sulcação bem paralela permite um melhor aproveitamento do terreno. Espaçamentos entre 1,20 e 1,50 são os mais comuns. Adquirir as fontes fertilizantes de acordo com sua economicidade e boa relação custo-benefício. • Nitrogênio - Em relação ao nitrogênio (N), a cana tem suas peculiaridades. Em geral podemos aplicar dosagens bai-
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Resposta à aplicação de potássio (K) é sempre bastante elevada, devido à grande quantidade deste nutriente ser exportada pela planta
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Tabela 2 - Principais sintomas de deficiência em cana-de-açúcar deficiência, aplicar: 5 a 8kg/ha de zinco ou cobre como sulfato no sulco de plantio
OUTRAS ALTERNATIVAS A rotação de culturas e a adubação verde têm o objetivo de adicionar matéria orgânica ao solo, promover cobertura do solo diminuindo, perdas por erosão, adicionar nutrientes e auxiliar no controle de pragas do solo, principalmente nematóides. Em geral, na cana-de-açúcar a rotação de culturas é feita com soja e amendoim cultivados de outubro a fevereiro. Os principais adubos verdes utilizados são: crotalária juncea, mucuna-preta e guandu, cultivados em setembro e outubro e incorporados em janeiro e fevereiro. A crotalária não necessita ser incorporada. Pode apenas ser tombada com o auxílio de tronco tracionado por um trator. Boa opção para algumas regiões é também o plantio de girassol nas áreas de reforma da cana. Quanto à adubação orgânica, todas as fontes de material orgânico que não contenham elementos tóxicos ou contaminantes podem ser utilizadas. É necessário lembrar que as fontes orgânicas não contêm todos os nutrientes em quantidades balanceadas e, portanto, é possível que se tenha
Sintomas nas 1) Amarelas folhas velhas 2) Verde-azuladas 3) Amarelas e depois necróticas nas bordas 4) Amarela internervuras Sintomas nas 1) Murchamento, morte da gema, entortamento do ápice folhas novas 2) Amarelecimento geral das folhas 3) Folhas menores e deformadas, morte do ápice
que adicionar também adubos químicos. Para a cana, os resíduos das usinas, como a torta de filtro e a vinhaça são excelentes fontes de fertilizantes orgânicos. De grande eficiência também são os compostos formados com essas fontes, onde podem ser adicionados outros resíduos como a cama de frango, palhadas, restos de cultura e outros dejetos animais.
CONCLUSÕES Para o sucesso da adubação da canaplanta não basta estar atento às dosagens de adubos e à escolha do adubo mais econômico. Precisamos pensar em todas as etapas. São passos importantes: a análise do solo, o preparo adequado do solo, a qualidade das mudas, a escolha da variedade mais indicada, a correção da acidez e de níveis baixos de fósforo e cálcio (calagem e gessagem), a regulagem dos implementos para proceder à adubação, o controle do mato, a conservação do solo, o controle de pragas e doenças, a rotação de culturas, entre outros. Todas as práticas estão interligadas e concorrem para o êxito da adubação e o aumento da produC tividade da cana.
Falta de N Falta de P Falta de K Falta Mg Falta de Ca Falta de S Falta de B
Tabela 3 - Recomendação de potássio para a canaplanta. IAC – Boletim 100 Produtividade Esperada K (mmolc/dm3) t/ha 0-0,7 0,8-1,5 1,6-3 3,1-6 K2O (kg/ha) 100 <100 80 40 40 100-150 120 80 60 150 >150 200 160 120 80
>6 0 0 0
Tabela 4 - Recomendação da adubação para canaplanta (IAC - Boletim 100) Produtividade Esperada t/ha <100 100-150 >150
N 0-6 N (kg/ha) 30 180 30 180 30 -
P (mg/dm3) 7-15 16-40 >40 P2O5 (kg/ha) 100 60 60 120 80 80 140 100 100
Obs: dependendo da meta de produtividade da cultura recomenda-se aplicar de 30 a 60 kg de nitrogênio além da dosagem indicada na tabela, preferencialmente em cobertura
Raffaella Rossetto, Fábio Luis Ferreira Dias e André César Vitti, IAC
C
Rogério Inoue
Soja
Na soja! Sojicultores do estado do Tocantins enfrentam surtos de mais duas lagartas nas lavouras. Plantio de feijão em áreas próximas e plantas invasoras que servem como hospedeiras estão entre os fatores que favorecem a migração de Omiodes indicata e Spodoptera eridania para a soja. Inseticidas já registrados para outras lagartas da cultura são recomendados para o controle quando estas pragas atingem entre 30% e 15% de desfolha, respectivamente, na fase vegetativa e reprodutiva das plantas
N
o estado do Tocantins, as plantas de soja em suas diferentes fases de desenvolvimento são atacadas por várias espécies de insetos-praga. Neste contexto, também temos por aqui aquelas espécies de ocorrência comum em outras regiões produtoras de soja no país e que apresentam maior capacidade de causar injúrias às plantas, como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) na fase vegetativa e os percevejos sugadores das vagens (Piezodorus guildinii e Euchistus heros) na reprodutiva, pragas estas bastante familiares dos produtores de soja. Também temos aquelas consideradas pragas secundárias, que podem também ser importantes, dependendo da região e das condições favoráveis às ocorrências. No Tocantins, nos últimos anos tem ocorrido surtos das lagartas-das-folhas Omiodes indicata (Lepidoptera: Pyralidae) e Spodoptera eridania (Lepidoptera: Noctuidae), a primeira de ocorrência comum na cultura do feijoeiro (Faseolus vulgaris).
asas. Uma fêmea coloca em média 300 ovos, sendo que a oviposição ocorre de maneira isolada, quase sempre na face dorsal das folhas. O período de incubação dos ovos dura cerca de quatro dias. Geralmente, as lagartas nos seus primeiros instares apresentam coloração verde-clara, passando a verde mais escura com o decorrer do tempo, atingindo cerca de 19 mm. Nos últimos estágios larvais entrelaçam várias folhas, formando uma massa de folhas, que ficam parcialmante consumidas, servindo de abrigo para pupas. As lagartas passam por seis estágios larvais até empuparem, sendo que este período dura em torno de 18 dias.
DESCRIÇÃO DAS PRAGAS As mariposas da espécie O. indicata, também conhecidas como lagarta-enroladeira-das-folhas do feijoeiro, apresentam coloração amarelada com três estrias escuras dispostas de maneira transversal nas
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A produtividade da soja é prejudicada, em decorrência da perda de área foliar, quando a lagarta ocorre em densidades populacionais elevadas
O estágio de pupa tem uma duração de sete dias, emergindo o adulto que vive aproximadamente seis dias. O ciclo biológico completa-se em 30 dias. A lagarta-das-folhas S. eridania é uma praga em expansão nas culturas de algodão e de soja no cerrado. O adulto é uma mariposa de coloração cinza, com cerca de 4 cm de envergadura e vive cerca de sete dias. A postura é feita normalmente nas folhas e em massas de ovos de número variável. Uma fêmea adulta ovoposita em média 800 ovos, sendo que estes apresentam alta taxa de viabilidade (cerca de 80%). Decorridos três a quatro dias eclodem as lagartas, que são de coloração verde-escura, com uma lista amarela na lateral do corpo e uma mancha escura na região próxima a cabeça. O período larval dura aproximadamente 18 dias e as lagartas podem atingir 3 cm de comprimento. O 6o estágio larval é um dos mais agressivos, consumindo em média cerca de 120 cm2 de folha. Grupos de lagartas podem ser encontrados danificando folhas e em ataques mais severos até mesmo o caule. O ciclo do ovo até o nascimento do adulto é de 34 dias.
DANOS CAUSADOS PELO ATAQUE A lagarta-enroladeira-das-folhas do feijoeiro, até então considerada uma praga de
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Fotos Daniel de Brito Fragoso
importância secundária, pode reduzir a produtividade da soja, em decorrência da perda de área foliar, quando ocorre em densidades populacionais elevadas. As lagartas raspam o parênquima foliar, rendilhando o folíolo que se torna seco. O quinto estágio larval absorve 70% do total do alimento consumido durante todos os estágios larvais. As lagartas possuem o hábito de enrolarem as folhas atacadas com fios de seda para se protegerem, podendo ser observadas no seu interior juntamente com as fezes. Em ataques intensos reduzem significativamente a área foliar deixando somente as nervuras. Em função do hábito de enrolar e unir várias folhas, ficam protegidas dos inseticidas, tornando o controle via pulverização mais difícil.
MOTIVOS DA MIGRAÇÃO PARA A SOJA O plantio de feijão nas áreas de várzeas ou em áreas próximas pode ser um dos principais fatores de migração de O. indicata para as plantas de soja e, portanto, responsável pela ocorrência dos surtos. Já a lagarta-das-folhas S. eridania, tradicionalmente não era considerada uma praga importante para a cultura da soja,
sendo de ocorrência mais comum no cultivo do algodoeiro. Porém, em decorrência de surtos freqüentes, grande número de lagartas e severidade dos ataques (níveis de desfolhas maiores que o limite de controle, 30% e 15%, respectivamente para fase vegetativa e reprodutiva) tem se tornado nos últimos anos uma praga importante nas regiões de cultivo no cerrado e nas várzeas. Nessas áreas, plantas invasoras conhecidas como corda-de-viola (Ipomoea sp.), estão presentes na maioria dos cultivos e áreas adjacentes, onde permanecem vegetando por um período maior que as plantas de soja, ou seja, praticamente durante todo o ano. Por essa razão, a disponibilidade de hospedeiros alternativos viabiliza o de-
Detalhe do adulto da lagartaenroladeira-das-folhas à esq. À dir. pupa sobre a folha
senvolvimento e a permanência desta lagarta, em áreas de cultivo de soja, fazendo com que as lagartas migrem das plantas de soja em final de ciclo para plantas invasoras onde permanecem constituindo-se o foco inicial de infestação da safra seguinte.
CONDIÇÕES FAVORÁVEIS As lagartas são favorecidas por condições secas e quentes (agosto a setembro), período de cultivos de soja destinados para produção de sementes nas áreas de várzeas. Plantios adensados, além de dificultar o controle químico, também favorecem a ocorrência e ataque destas lagartas. A pre-
PRODUÇÃO DE SOJA EM TOCANTINS
Fotos Daniel de Brito Fragoso
O
Estado do Tocantins é o principal produtor de soja (Glycine max) da região norte, com uma área plantada de 269,3 mil hectares na safra 2006/07. A região de várzeas do vale do Javaés, uma área de 1.200 mil hectares situada entre os rios Tocantins e Araguaia, vem se destacando como importante pólo de produção de sementes de soja no período de entressafra. Nestas áreas se utiliza o sistema de subirrigação (umedecimento do solo por elevação do lençol freático), o que tem propiciado a produção de sementes com alta qualidade sanitária. sença de plantas hospedeiras nas áreas de cultivo e circunvizinhas é outro fator importante.
MANEJO A SER ADOTADO E CONTROLE A lagarta-enroladeira-das-folhas apresenta o hábito de enrolar e unir várias folhas, este abrigo protege as lagartas das aplicações dos inseticidas, tornando o controle químico mais difícil. Neste sentido, é importante entrar com as medidas de controle quando surgirem as primeiras lagartas, isso aumentará a eficácia de controle, pois a chance de contato da praga com os inseticidas é maior. O controle pode ser feito seguindo as recomendações de Manejo Integrado de
As lagartas unem as folhas atacadas com fios de seda para se protegerem
Controle deve ser iniciado logo que surgem as primeiras lagartas, evitando que se protejam dos inseticidas entre as folhas enroladas
Pragas (MIP), onde as medidas de controle são empregadas somente quando as injúrias/danos atingirem o nível de controle (30% de desfolha antes da floração e 15% após a floração). Vale a pena enfatizar a utilização de produtos seletivos a inimigos naturais, como os fisiológicos e piretróides, quando comparados com organofosforados. A eliminação de plantas hospedeiras conhecidas como corda-de-viola (Ipomoea spp.) é uma prática importante e recomendada, pois quebra a continuidade temporal e reduz os focos de infestação. Plantios muito adensados devem ser evitados, pois favorecem a ocorrência e dificulta o controle químico (pulverização). A utilização de bioinseticidas formulados à base de Bacillus thuringiensis (Bt) tem apresentando controle satisfatório das lagartas. Para o emprego do controle químico recomenda-se a utilização de inseticidas
recomendados ou registrados no Ministério da Agricultura para o controle de lagartas na cultura da soja. A rotação de princípios ativos das classes bioinseticida (Bacillus thuringhiensis), piretróides (permetrina e betaciflutrina), carbamatos (carbaril e tiodicarb), clorado (endosulfan), organofosforados (profenofós e tricorfon) e fisiológicos (diflubenzuron, triflumuron e lufenuron) deve ser adotada, sendo esta medida importante para o manejo de resistência a inseticidas nestas espécies. Neste panorama se observa que o conceito de praga primária (praga-chave) é dinâmico, podendo mudar ao longo do tempo e de região para região, como é o caso destas espécies de lagartas. Portanto, é muito importante o monitoramento dos insetos presentes nos plantios de soja em todas as regiões produtoras para acompanhar as ocorrências tanto das espécies normalmente importantes, como é o caso da lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) e do complexo de percevejo das vagens (Piezodorus guildinii e Euchistus heros), como também de outras espécies que, do ponto de vista nocivo, não podem ser consideradas menos importantes ou tidas C sempre como pragas secundárias. Daniel de Brito Fragoso e Roberta Zani da Silva, Unitins Agro
A lagarta raspa o parênquima foliar, rendilhando o folíolo que seca com o avanço dos ataques
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“Conceito de praga primária é dinâmico, podendo mudar ao longo do tempo e de região para região, como é o caso destas lagartas”, salientam os autores
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Lucia M. Vivan
Soja
Infestação crescente Cultivos Cultivos intensivos e a oferta constante constante de de alimento alimento são são os os principais motivos para principais motivos para o crescimento crescimento da da população população ee migrações migrações da da mosca-branca, mosca-branca, constatados nas últimas constatados nas últimas safras safras principalmente na cultura principalmente na cultura da da soja. A limitação da época de soja. A limitação da época de plantio plantio de de hospedeiras hospedeiras ee manejo manejo com com inseticidas inseticidas que que controlem a praga nos controlem a praga nos diferentes diferentes estágios estágios do do ciclo, ciclo, garantem redução dos ataques garantem redução dos ataques
A
ocorrência e os danos causados pela mosca-branca na cultura da soja têm sido freqüentes, tanto na época normal de plantio como também em áreas sob pivot central. As principais razões deste aumento, estão associadas aos cultivos seqüenciais de culturas hospedeiras da mosca-branca e também por uma estratégia de controle químico, com foco na eliminação apenas de adultos. Na cultura da soja, a mosca-branca causa danos diretos pela sucção da seiva provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. Durante a alimentação, a mosca-branca excreta substâncias açucaradas que cobrem as folhas, resultando no estabelecimento de um fungo sobre o substrato e na formação da fumagina. O escurecimento da superfície foliar reduz o pro-
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cesso de fotossíntese, causa a murcha e queda das folhas, antecipando o ciclo da cultura. Dependendo do nível populacional, o ciclo da cultura pode ser antecipado em até 20 dias. Todo este processo tem resultado em perdas de rendimento. Os danos indiretos são observados pela transmissão do vírus cujo sintoma é a necrose da haste. Dependendo do nível populacional da mosca-branca, as perdas de produção podem atingir 100%. Esta mesma porcentagem de perda, pode ocorrer em cultivares de soja, que sejam suscetíveis à necrose da haste.
DINÂMICA POPULACIONAL Na região Centro-Oeste, o sistema produtivo é composto de diversas culturas com a soja, tomate, algodão feijão, milho, sorgo e trigo. Excetuando as gramíneas, as demais culturas são hospedei-
ras da mosca-branca. As épocas de plantio das culturas e a dinâmica populacional da mosca-branca podem ser visualizadas de forma esquemática na figura 1. Com o cultivo intensivo das culturas e a oferta constante de alimentos, a população da mosca-branca se mantém em elevado nível populacional, causando danos diretos e indiretos. Esta alta densidade populacional da mosca-branca, nas diferentes épocas de cultivo tem sido a responsável pela infestação desde a fase inicial de desenvolvimento da cultura. As condições climáticas são fatores que influenciam no desenvolvimento populacional da mosca-branca. Em períodos de estiagem, o crescimento populacional pode ser acelerado, atingindo níveis que causam danos consideráveis na produção. Em condições de ocorrência de chuvas intermitentes, o crescimento po-
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HISTÓRICO DA MOSCA Figura 1 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
Legendas Soja (1) – plantio de soja sob pivot Soja (2) – plantio de soja – safra normal Soja (3) – plantio de soja sob pivot (vazio fitossanitário em alguns estados) Algodão (1) – Época normal Algodão (2) – Época de plantio em algumas regiões Tomate industrial – plantio de fevereiro a junho Feijão (1) – Safra das “águas” Feijão (2) – Safra da “seca” Feijão (3) – Safra de “inverno”
o Brasil a mosca-branca (Bemisia tabaci) Gennadius, 1889 é conhecida desde 1923, em plantas daninhas e cultivadas, sendo considerada importante vetor de vírus, como o mosaico dourado do feijoeiro. A sua presença foi relatada em lavouras de algodão, em 1968, no norte do Paraná. A partir de 1972/73, devido a condições favoráveis e à grande expansão da cultura da soja, surgiram elevadas populações de mosca-branca no norte do Paraná e sul de São Paulo, além de outras regiões do país (Faria 1988). Na década de 80, um novo biótipo, caracterizado por ter diversas plantas hospedeiras e principalmente por sua estreita associação com planta ornamental poinsetia “bico de papagaio” (Euphorbia pulcherrima) Wild, adquiriu enorme importância nos EUA, Caribe e América Central. A partir de 1986, este biótipo pulação atingia níveis elevados em fevereiro/março, época em que a cultura do feijoeiro sofria as maiores perdas devido à transmissão do mosaico dourado. Com a irrigação por pivot central, houve uma ampliação nas épocas de plantio das culturas. Mais recentemente temse constatado o plantio da soja em outubro/novembro (época normal), abril/maio para a produção de sementes e em setembro sob irrigação para a produção de grãos. Quando a lavoura de soja entra na fase de maturação, a população da mosca-
Massaru Yokoyama
pulacional da mosca-branca pode ser menor, devido à temperatura mais amena e em conseqüência pelo alongamento do ciclo de vida do inseto. Durante o ano, em condições de altas temperaturas, é possível a ocorrência de 11 a 15 gerações de mosca-branca. Antes da irrigação por pivot central, o plantio das culturas era realizado principalmente no período das chuvas (outubro/novembro) e em segunda safra denominada de safrinha, em janeiro e fevereiro. A colheita encerrava-se nos meses de abril e maio. Entre os meses de maio a outubro, período sem precipitação e cultivo das culturas, verificava-se a redução da população da mosca-branca pela falta de plantas hospedeiras para o seu desenvolvimento. Na implantação da nova safra em outubro, o nível populacional inicial da mosca-branca era baixo. Esta po-
N
Com altas temperaturas, em um mesmo ano, é possível a ocorrência de 11 a 15 gerações de mosca-branca
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foi observado causando danos em estufas de produção de poinsetia na Flórida. Após detalhados estudos biológicos e caracterização eletroforética, conclui-se pela existência de uma nova espécie, então denominada de Bemisia argentifolii (Bellows & Perring, 1994). Atualmente, esta espécie tem sido denominada de Bemisia tabaci biótipo B. No verão de 1990/1, no estado de São Paulo, detectou-se a presença, em altas populações de um novo biótipo da mosca-branca, possivelmente introduzido da Europa ou Estados Unidos, pela importação de plantas ornamentais. Atualmente esta espécie encontrase disseminada em quase todos os estados do Brasil. O ataque da moscabranca, causando prejuízos na cultura da soja, tem sido relatado desde 1995/ 6 nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. branca desenvolvida em cada época de plantio, começa o processo de migração, buscando novas alternativas de plantas hospedeiras, colonizando outras culturas em desenvolvimento. A coincidência entre as colheitas de soja, feijão e tomate com o início de desenvolvimento da soja, propicia uma condição inicial de um novo ciclo da cultura com alta população de mosca-branca.
MANEJO Diversas práticas podem ser utilizadas visando o controle da mosca-branca. Entre as medidas de maior efetividade estão a limitação das épocas de plantio, eliminação de plantas voluntárias (tigüera)/restos culturais e de plantas daninhas, visando impedir a manutenção da população da praga. A limitação da época de plantio, visa reduzir a oferta de alimentos para o inseto. Com esta prática existe maior flexibilidade quanto à implantação de novos plantios, após o encerramento da colheita das culturas antecedentes. Na prática o cultivo intensivo propicia a sobreposição de culturas em diferentes estágios de desenvolvimento principalmente entre a fase de maturação com a fase de implantação de uma nova cultura, onde a mosca-branca migra das culturas em fase de colheita para as em início de desenvolvimento. A eliminação de restos culturais deve ser uma prática imediata à colheita. Eli-
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Fotos Massaru Yokoyama
tretanto, poucos deles têm se mostrado eficientes. Em testes realizados em condições controladas, diversos princípios ativos do grupo dos organofosforados, piretróides, carbamatos, foram eficientes no controle de adultos da mosca-branca B. tabaci raça A, mas ineficientes para a B. tabaci raça B. Atualmente, os inseticidas do grupo dos neonicotinóides têm sido eficientes no controle de adultos da mosca-branca B. tabaci raça B. Os princípios ativos thiamethoxan, acetamiprid e imidacloprid foram os mais eficientes no controle de adultos da mosca-branca B. tabaci raça B. O inseticida pyriproxyfen, análogo do hormônio juvenil, afeta o balanço hormonal dos insetos causando a supressão da embriogenesis quando o adulto ou o ovo é tratado e, a formação dos adultos, quando as larvas são expostas ao produto. Possui um espectro mais amplo de controle da mosca-branca, atuando sobre ovos e ninfas. Este produto exibe atividade translaminar, pois no tratamento da superfície foliar, os ovos e as ninfas presentes na face inferior, são afetados. No estabelecimento de uma lavoura de soja sob pivot ou da época normal, com possibilidade de ser infestada pela mosca-branca proveniente de outras culturas em fase de colheita, recomenda-se como medida preventiva o tratamento de sementes. Com o controle de adultos, haverá uma redução na postura de ovos e na população de ninfas. Em cultura de soja estabelecida com alta infestação de mosca-branca, recomenda-se o controle químico com inseticida de ação sobre ovos e ninfas, complementado com a aplicação de adulticidas, visando a quebra do ciclo da praga na lavoura. As aplicações, visando somente o controle de adultos, têm resultado em pulverizações seqüenciais, com elevação dos custos de produção, sem o efeito desejado na C eliminação da mosca-branca. minando-se os restos culturais seja por método químico ou físico, elimina-se a mosca-branca, evitando a migração e infestação de cultivos subseqüentes. No processo da colheita da soja, existe a perda de grãos que irá promover a emergência de plantas. Estas plantas voluntárias (tigüera), poderão ser uma fonte permanente de manutenção da população da mosca-branca. A eliminação das plantas voluntárias, reduz a oferta de alimentos e a multiplicação da mosca neste ambiente. Em propriedades que adotam o sistema de plantio direto, recomenda-se a realização de amostragens em plantas dani-
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nhas, visando determinar o nível populacional da mosca-branca. Detectando-se a ocorrência de altas populações de moscabranca, o produtor poderá tomar medidas preventivas como a realização da dessecação, deixando a área em pousio (duas semanas), antes da semeadura. Em caso de semeadura imediata após a dessecação das plantas daninhas, recomenda-se a aplicação de um inseticida na área de plantio para o controle de adultos da mosca-branca, antes da emergência das plantas. O principal método de controle da mosca-branca continua sendo o químico. Diversos princípios ativos estão registrados para o controle da mosca-branca, en-
Massaru Yokoyama, Embrapa Arroz e Feijão
Fumagina, fungo que se estabelece sobre as folhas devido a uma excreção açucarada, liberada pela mosca durante sua alimentação
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Empresas
Fotos Charles Echer
Embalado pelo otimismo O milho safrinha apresenta-se como uma opção bastante vantajosa neste ano. Mas para garantir alta produtividade, atrelada à qualidade, alguns passos importantes devem ser seguidos desde a escolha da semente até a colheita
A
cultura do milho safrinha consolidou-se no Brasil nos últimos 15 anos com expressivo crescimento em área, produção e produtividade. Em algumas regiões, como oeste do Paraná e sudoeste do Goiás, muitos produtores têm alcançado produtividades acima de 6.500 Kg/ha, resultado da utilização de tecnologia e profissionalização por parte dos produtores. Atualmente, a cultura do milho safrinha no Brasil ocupa uma área de aproximadamente três milhões de hectares, sendo responsável por cerca de 25% da produção nacional deste cereal. Basicamente, os plantios estão distribuídos nas regiões oeste, centro e norte do Paraná, sudoeste goiano, Mato Grosso, sul do Mato Grosso do Sul e parte de São Paulo. Devido à época de plantio, existem diferenças que devem ser observadas no cultivo do milho safrinha. Como a disponibilidade hídrica é menor e existe uma redução na quantidade de horas de luz du-
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rante o desenvolvimento da cultura, é necessário que o produtor tome alguns cuidados, começando pela plantação para reduzir os riscos que este plantio apresenta. O sucesso na colheita do milho safrinha é altamente dependente de um bom planejamento e de adoção de tecnologias que podem minimizar esses riscos e aumentar a produtividade.
ROTAÇÃO DE CULTURAS O planejamento de uma safrinha de sucesso começa com a escolha da área que será destinada ao plantio do milho. Os melhores resultados são obtidos nos plantios após a soja, principalmente as de ciclo precoce, porque permitem uma melhor época de plantio. Além da antecipação de plantio, a semeadura do milho após a colheita da soja torna-se vantajosa pelo aproveitamento do residual de fertilidade deixado pela cultura da soja como, também, por diminuir o potencial de inóculo de doenças de colmo e de grãos.
RESIDUAL DE HERBICIDAS Um ponto importante a ser lembrado pelos produtores ainda no manejo da cultura da soja, é o período residual dos herbicidas que serão aplicados. Alguns herbicidas recomendados para a cultura da soja, podem ter longos efeitos residuais e causar danos à cultura do milho safrinha, reduzindo assim a produtividade final. Recomenda-se que antes da escolha do herbicida, sejam observadas as recomendações da bula, considerando-se não apenas a cultura da soja, mas também as culturas subseqüentes que serão plantadas na área.
ÉPOCA DE PLANTIO Um dos principais pontos que devem ser levados em consideração no cultivo do milho safrinha, é a época de plantio. Como o ciclo do milho é definido pela soma térmica diária (acúmulo de grau/dia), diferenças de até 30 dias na data de plantio no milho verão, têm pouca influência na data da colheita. Contudo, nos plantios realizados na safrinha, intervalos de apenas sete
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dias podem significar diferenças de até 20 dias no ciclo final da cultura do milho, aumentando os riscos no decorrer do ciclo da cultura e tornando-se um fator decisivo no sucesso do produtor. Desta forma, o sucesso da safrinha, primordialmente, depende de um bom planejamento desde o plantio da lavoura no verão, já que o tempo na safrinha é peça-chave para um bom resultado final. Este ano, em muitas regiões produtoras de safrinha, observa-se um aumento do plantio de cultivares de soja transgênicas. De acordo com o zoneamento destas variedades, a grande maioria só pode ser plantada a partir da segunda quinzena de outubro, o que leva a um atraso no plantio do milho safrinha, conseqüentemente, aumentando os riscos para esta cultura. A antecipação de plantio pode ser conseguida através do plantio de cultivares de soja precoce e, também, pelo plantio imediato após a colheita da soja, que pode ser realizado através de um adequado planejamento de utilização de máquinas, equipamentos e tecnologia na propriedade.
ESCOLHA DO HÍBRIDO A escolha de híbridos de milho para a safrinha, deve ser feita, levando-se em conta as peculiaridades de cada região e as características especiais deste período de cultivo. Como os riscos são maiores durante o desenvolvimento da cultura, a safrinha exige híbridos de milho com elevada defensividade às principais doenças, como por exemplo, a cercospora, phaeosphaeria, turcicum e complexo de doenças de colmo. Além da defensividade, é necessário que os híbridos escolhidos, apresentem alta estabilidade, uma vez que deverão manter o desempenho em condições adversas, principalmente de estresse hídrico, temperatura e luminosidade. E, como característica importante, é necessário que o híbrido plantado para a safrinha, tenha alto potencial produtivo, proporcionando ao produtor, bons resultados na colheita. Como infelizmente, ainda não se conseguiu desenvolver um híbrido que supra todas essas necessidades, o ideal é o plantio do sistema de combinação de híbridos, selecionando-se híbridos que possuam essas características separadamente e que proporcionarão combinados, ótimos resultados na colheita.
TRATAMENTO DE SEMENTES O tratamento de sementes com inseticidas do grupo dos neonicotinóides, deve ser considerado como um seguro pelo pro-
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dutor, principalmente nas regiões que já possuem histórico de ataque por insetos sugadores. Esses insetos, por serem de difícil visualização no campo, dificultam o controle através de pulverizações foliares e, quando detectados, já causaram danos irreversíveis à cultura. O plantio de sementes já tratadas com inseticidas do grupo dos neonicotinóides diretamente na empresa, além do controle a esses insetos, reduz os riscos de intoxicação do tratador, a necessidade do descarte de embalagens e regulagem do aplicador e garante uma distribuição mais uniforme do produto na semente.
POPULAÇÃO E ESPAÇAMENTO O plantio de milho safrinha em espaçamento reduzido tem as vantagens de proporcionar uma maior distribuição espacial de plantas na lavoura, diminuindo o sombreamento das plantas na mesma linha e aumentando a interceptação da radiação solar pela cultura. Além disso, o fechamento mais rápido das entrelinhas proporcionado pela redução do espaçamento, reduz a evaporação de água no solo e tem o potencial de reduzir a infestação tardia de plantas daninhas, o que acarreta em um maior aproveitamento da água do solo. Essas vantagens são especialmente importantes na safrinha, período em que dois dos fatores limitantes da produtividade são a diminuição da radiação solar durante o
ciclo da cultura e o déficit hídrico. A população de plantas deve ser definida respeitando-se os limites máximo e mínimo recomendados pela empresa produtora de sementes e com base no manejo que se pretende adotar. Para solos de alta fertilidade, populações mais altas, mesmo na safrinha, proporcionarão maiores produtividades.
ADUBAÇÃO Principalmente na safrinha, em que há uma menor disponibilidade de água para a cultura, é importante o manejo correto da adubação, dando-se a possibilidade à planta de desenvolver seu sistema radicular para que este possa atingir maiores profundidades no solo. Os princípios usados na recomendação de adubação para o milho safrinha, devem ser os mesmos utilizados para o milho verão, baseando-se na produtividade esperada e em uma taxa de conversão média de 1Kg N para cada saca de 60 kg a ser produzida. Deve se levar em conta que uma planta bem nutrida, resiste melhor às adversidades climáticas e ao ataque de doenças e insetos. Utilizando-se de todas essas práticas de manejo, o produtor consegue minimizar o efeito das condições adversas da safrinha, aumentando a produtividade da cultura e resultando em um maior retorno aos invesC timentos realizados. Pioneer Sementes
Como os riscos são maiores durante o desenvolvimento da cultura, a safrinha exige híbridos resistentes às principais doenças que atacam o milho
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Arroz
Charles Echer
Colmos perfurados Coração morto e panícula são os principais danos causados pelo percevejo-do-colmo na cultura do arroz. Ataques intensos da praga nas últimas safras e a escassez de defensivos para emprego nos diferentes sistemas de cultivo estão entre os entraves ao controle do inseto
O
percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) é uma das pragas primárias da cultura do arroz, espalhada por várias regiões do Brasil. No Rio Grande do Sul, a predominância de plantas sobre as taipas, muitas vezes não atingidas pela lâmina da água de irrigação, são um local ideal à multiplicação e ao refúgio do inseto, que dificilmente é atingido por inseticidas químicos, principalmente os aplicados por via aérea. Em Santa Catarina, onde predomina o cultivo de arroz pré-germinado, o percevejodo-colmo ocorre em todas as regiões orizícolas. Os abrigos preferenciais são canaviais e capineiras (capim-colonião, capim-rabo-deburro, touceiras de gramíneas, capim-cidró entre outros). Nas regiões Centro Oeste, Norte e Nordeste, a praga tem sido constatada tanto em cultivo de arroz de terras altas (sequeiro e irrigado por aspersão) como em várzeas (irrigado por submersão ou várzea úmida). Em terras altas, sua importância tem sido maior nas regiões mais favorecidas por chuvas como no norte do Mato Grosso, Pará e Maranhão. Nos cultivos irrigados e várzea úmida, o percevejo
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tem sido predominante. Na safra de 2006/07, em Formoso do Araguaia (TO), a maioria dos arrozais monitorados apresentaram densidade populacional do inseto superior ao nível de controle econômico. O percevejo-do-colmo inicia os danos às plantas de arroz ao perfurar colmos em formação (na fase vegetativa), provocando o aparecimento do sintoma conhecido por coração
morto. A perfuração de colmos já desenvolvidos (na fase reprodutiva das plantas) origina o sintoma conhecido por panícula branca. Na bainha da folha, no ponto onde o inseto introduziu o estilete, é possível observar uma pequena mancha de coloração marrom, a qual coincide internamente com o estrangulamento do colmo. O inseto se instala principalmente em partes do arrozal não atingidas pela lâmina da água de irrigação, sendo os prejuízos maiores quando o ataque ocorre entre a fase
Detalhe de ninfas de Tibraca limbativentris iniciando sua alimentação
Ninfas e adultos descem nos colmos, ficando próximos ao solo onde ficam refugiados e atacam
DANOS
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Fotos Honório Francisco Prando
Tabela 1 - Inseticidas registrados no Mapa, recomendados para controle do percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) na cultura do arroz1
de pré-floração (emborrachamento) e a de formação de grãos. Os resultados são reduções quantitativas e qualitativas na produção de grãos. As perdas em qualidade são devidas à maior percentagem de grãos manchados, em hipótese, conseqüência de fungos oportunistas que se estabelecem mais facilmente nas plantas debilitadas por toxinas injetadas pelo inseto.
Ingrediente Ativo Tiametoxam Ciflutrina Carbaril Carbaril Malationa Malationa Fenitrotiona Triclorfom
CONTROLE QUÍMICO No Brasil, a aplicação de inseticidas é o método mais utilizado contra o percevejo-docolmo em arroz. Uma das principais limitações, nesse caso, decorre da escassez de produtos. Atualmente, existem poucos princípios ativos com registro oficial para controle do inseto na cultura. Desses, três são organofosforados, um carbamato, um neonicotinóide e um piretróide, cujas doses recomendadas constam na Tabela 1. Os inseticidas estão registrados tanto para cultivos em várzeas como em terras altas, ecossistemas onde predominam arrozais irrigados por submersão (inundação) e aspersão, respectivamente. Portanto, evidencia-se que não houve uma ação no sentido de selecionar produtos direcionados a cada um dos sistemas de cultivo de arroz, podendo isso resultar em ineficiência de controle do inseto, devido às diferenças significativas que existem entre as várzeas e as terras altas em relação ao manejo da cultura. Nas lavouras, os inseticidas geralmente são aplicados por via aérea, atingindo, principalmente, parte da população de ninfas de 4° e 5° instar, e adultos, que em determinados ho-
A
Dose (kg ou l de p.c./ha)2 0,10 a 0,15 0,20 1,0 a 1,5 1,5 a 2,0 1,5 a 1,5 1,0 a 1,5 1,0 a 2,0 1,5
Classe Toxicológica III III II II III III II II
1 Adaptado de: Arroz irrigado: Recomendações Técnicas da Pesquisa para o Sul do Brasil. Santa Maria (RS). SOSBAI, 2005. 2 Doses de produto comercial (p.c.) registradas para controle do inseto tanto na cultura do arroz em terras baixas (irrigado por submersão; várzea úmida) como em terras altas (sequeiro; irrigado por aspersão).
Sintoma de coração morto, causado pela perfuração dos colmos na fase vegetativa da planta
rários encontram-se no topo das plantas. A maior parte da população, desde ninfas de 1° instar a adultos, mantém-se entre os colmos de arroz, principalmente na base, próxima à superfície do solo, sendo dificilmente atingida diretamente pelos inseticidas aplicados na extremidade superior das plantas. Assim, mesmo que algum inseticida aplicado tenha ação sistêmica, de imediato, apenas agirá por contato sobre parte da população e dificilmente haverá um movimento descendente nas plantas, de modo a promover a mortalidade dos insetos, de hábito sugador, abrigados entre os colmos. Os insetos remanescentes muitas vezes constituem-se na base para a ressurgência de elevados níveis populacionais nos arrozais. A época de aplicação dos inseticidas é outro fator que pode comprometer o controle.
Assim, pulverizações antecipadas, na fase inicial de perfilhamento do arroz, podem não evitar o crescimento da população do percevejo, demandando nova aplicação entre o final de perfilhamento e início de diferenciação das panículas, que é o período mais crítico de ataque e recomendável ao monitoramento do inseto e tomada de decisão sobre a real necessidade de controle. Os casos de ineficiência do controle químico de T. limbativentris em arroz, provavelmente devido às causas supra indicadas, muitas vezes induzem aos orizicultores utilizarem inseticidas indicados para controle de diferentes espécies de percevejos que ocorrem em outras culturas, como a soja, cujo portfólio proporciona mais opções. Nesta circunstância, no mínimo, dois aspectos básicos não são contemplados: o desconhecimento sobre a eficiência técnica dos inseticidas no controle de T. limbativentris e a seletividade dos produtos a inimigos naturais. No Rio Grande do Sul, conforme consta na publicação Arroz irrigado: recomendações
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A) À esq. postura de Tibraca e à dir. ninfas eclodidas; B) Detalhe do arranjo da oviposição do percevejo sobre as folhas
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OUTROS MÉTODOS DE CONTROLE
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que há grande potencial para o controle biológico de T. limbativentris por meio de fungos entomopatogênicos (principalmente Metharizium anisopliae). Cultural – É essencial para reduzir a população natural do percevejo-do-colmo. A destruição dos restos culturais imediatamente após a colheita, contribui para reduzir o tamanho da população hibernante, que infestará os arrozais na próxima safra. A exploração da soca, prática exercida principalmente no Brasil Central, contribui para o aumento da população hibernante. Cultivares resistentes - Não existe cultivar de arroz, em uso comercial, resistente ao percevejo-do-colmo. Contudo, estudos realizados na Embrapa indicam que há materiais genéticos que possuem níveis elevados de resistência ao inseto. Controle por comportamento - Em Santa Catarina, nas proximidades das arrozeiras são cultivadas a palmeira-real, cana-de-açúcar, capineiras sobre as taipas principais, entre outras atividades agrícolas. Estes locais são propícios para o abrigo e hibernação do percevejo-docolmo. A colocação de pedaços de tábuas sobre as taipas, por ocasião da colheita, serve para a captura dos adultos, se não houver nas proximidades outros abrigos preferenciais do inseto.
técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil, a cada percevejo adulto, em média/m2, a partir do início do perfilhamento das plantas, até a fase de floração, é esperada uma redução de 1,2% na produção de grãos, devendo o controle ser efetuado quando tal densidade populacional for atingida. Em Santa Catarina, o controle químico não depende do uso de aeronaves, podendo ser praticado, em duas épocas, principalmente quando métodos físicos e biológicos são impraticáveis. De preferência os inseticidas devem ser aplicados para controle de insetos hibernantes, no início do perfilhamento (1ª época), quando forem detectados dois ou mais percevejos/m2. Para aplicações na fase reprodutiva (2ª época), é necessário que a barra do pulverizador esteja mais baixa do que a folha bandeira do arroz. A aplicação de inseticidas deve ser realizada com pulverizador tratorizado, utilizando-se aproximadamente 200 litros de calda/hectare, com alta pressão (60 lb/pol2 ou mais), de modo a formar uma névoa que atinja os perfilhos, onde os insetos se alimen-
tam. Na região tropical é recomendado monitorar a população do percevejo-do-colmo nos arrozais, entre 35 e 45 dias após a semeadura. O tratamento químico somente deve ser realizado se for constatada uma população de um percevejo/m2. Se o monitoramento for efetuado por meio de rede entomológica (38 cm de diâmetro), o nível de controle é de 0,3 e 0,5 percevejo/redada. Com rede, a amostragem deve ser realizada nas horas mais quentes do dia, período em que os insetos se movimentam ao topo das plantas, facilitando a captura.
danos causados pelo inseto em todas as regiões orizícolas do país, é premente, que no contexto do MIP, o sistema de controle químico do inseto seja aperfeiçoado, prioritariamente a tecnologia de aplicação, incorporando produtos modernos que além de mais eficazes no controle do inseto, apresentem o maior grau possível de seletividade a inimigos naturais. No mínimo, há necessidade de registrar inseticidas separadamente para os sistemas de cultivo de arroz irrigado por submersão (predominante no na região Sul), de sequeiro e irrigado por aspersão (predominantes no Brasil Central, Norte e Nordeste). Simultaneamente à identificação de novos inseticidas há necessidade de reavaliar a eficiência técnica dos atualmente registrados para controle do inseto. Um dos objetivos é definir se os produtos em uso possuem ou não o poder de reduzir a população da praga ou se os casos de insucessos no controle são decorrentes de inadequações da tecnologia de aplicação. Para tal, há necessidade que os estudos sejam realizados em condições de lavoura comercial, considerando as possíveis falhas apontadas. C José Francisco da Silva Martins, Embrapa Clima Temperado Honório Francisco Prando, EPAGRI José Alexandre Freitas Barrigossi, Embrapa Arroz e Feijão Uemerson Silva da Cunha, UFPel Fotos Honório Francisco Prando
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ísico - Consiste em aumentar a altura da lâmina da água de irrigação até atingir a metade das plantas, sendo necessário para isto que as sejam resistentes e altas (30 cm ou mais). Os colmos do arroz devem permanecer submersos por três a quatro dias. Em plantas menores, com 30 cm de altura, estabelecer uma lâmina de água com aproximadamente 15 cm. Os ovos de Tibraca, submersos por mais de três dias, se tornam inviáveis, ninfas recém-eclodidas não sobrevivem e percevejos adultos abandonam a lavoura e/ou também não sobrevivem. Biológico – Atualmente é efetuado com marrecos-de-pequim. Tem sido sugerida a colocação, por hectare, de cinco a oito marrecos, de 20 a 35 dias de idade, necessariamente, no início do perfilhamento das plantas de arroz. Os marrecos, como excelentes predadores de Tibraca, capturam os insetos que estiverem sobre as folhas. Porém como não procuram percevejos entre os perfilhos, o aumento da espessura da lâmina d’água, ao ponto de cobrir os colmos, obriga os insetos a deslocarem-se às folhas, tornando-os presas fáceis dos marrecos, que não devem ser alimentados antes da colocação na lavoura. Tanto no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e no Brasil Central, foi detectado
CONSIDERAÇÕES FINAIS A pequena quantidade de inseticidas registrados, destinados ao controle de T. limbativentris em arroz, pode ser decorrente de menor interesse da indústria de defensivos em desenvolver produtos para tal fim, de acordo com a dimensão das áreas historicamente infestadas pelo inseto no Brasil. Com o aumento significativo da área de ocorrência e dos
Controle biológico do percevejo-docolmo pelo fungo entomopatogênico Metharizium anisopliae
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Agronegócios
Mudanças climáticas e agronegócios
E
studiosos dos cenários que projetam o comportamento do clima nos próximos anos, apontam para aumento da temperatura média da Terra, variando entre dois e 4 oC, dependendo do autor. Porém todos os modelos concordam que haverá aumento de temperatura e que parte da escalada térmica já está “contratada”, pelas emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, no último quarto de século. Meu amigo Eduardo Assad (Embrapa Informática Agropecuária) é um dos estudiosos do tema. Em suas preleções, ele chama a atenção que, no limite, a produtividade de grãos na face da Terra pode cair até 50%, em meados deste século. Ou seja, população e demanda de alimentos crescendo e oferta em baixa, acirrarão o espectro da fome endêmica. Sei que esta projeção não é tão linear assim, mas se considerarmos que o agronegócio representa 28% do PIB brasileiro, estamos falando em reduzir 11% do PIB do Brasil. Perdemos o bonde do crescimento nos últimos quatro anos e agora surge o espectro da redução do desenvolvimento. Como fica o abastecimento interno? E as exportações? Vai valer a máxima selvagem da economia (quem tem dinheiro paga o preço, quem não tem morre de fome) ou virão medidas de fechamento de fronteiras e de controle de preços, para garantir o acesso da população aos alimentos?
INVERTER A RODA Infelizmente, estas medidas são apenas paliativas, não há como reverter a roda da história e fazer desaparecer as centenas de milhões de toneladas de gases de efeito estufa, que jogamos na atmosfera no final do século passado. O governo britânico encomendou a um de seus mais brilhantes economistas, Sir Nicholas Stern, uma análise do impacto econômico das mudanças climáticas. Recomendo a leitura do relatório final (apesar de ser um calhamaço de mais de 700 páginas), denominado The Stern Report. As conclusões principais: (I) o aquecimento global implicará em perdas de centenas de bilhões de dólares anuais, especialmente na agricultura, turismo e transporte; (II) para minimizar (apenas minimizar) o impacto
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destas mudanças, todas as nações deveriam tomar medidas radicais de controle das emissões de gases de efeito estufa e investir, no mínimo, 1% do PIB em medidas paliativas. Com o seguinte alerta: as ações propostas só fazem sentido se iniciadas já, imediatamente. No próximo ano pode ser tarde demais.
PRODUTIVIDADE O doutor Hilton Silveira Pinto, diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas aplicadas à Agricultura da Unicamp, faz um alerta apocalíptico: a queda na produtividade agrícola brasileira, no médio prazo, é inevitável. Os pesquisadores que trabalham com o doutor Hilton estudam os efeitos
“Para evitar que o patrimônio do agricultor se esfarele, seria necessário investir centenas de milhões de dólares em pesquisa agronômica, para adaptar as culturas aos novos paradigmas climáticos”
das mudanças climáticas nos cinco principais grãos plantados no país (arroz, feijão, soja, milho e café), aplicando à safra as projeções de 2001 do Painel Internacional de Mudanças Climáticas da ONU, que apontam aumentos na temperatura média da Terra entre 1,4° e 5,8°C, até 2100. Pelos estudos do grupo, o café seria o mais afetado, podendo ter sua produtividade reduzida entre 23 e 92%, depen-
dendo da intensidade do aquecimento. A soja, principal grão produzido no Brasil, teria quedas de rendimento entre 10% a 64%. Transformando em moeda sonante, os prejuízos poderiam alcançar mais de dez bilhões de dólares anuais, apenas na perda de exportação destes dois produtos. Achou muito? Pois o quadro pode piorar, vez que o IPCC já está reavaliando seu relatório anterior e admite aquecimentos variáveis entre dois e 6°C. Não apenas a produtividade será afetada, porém o próprio zoneamento agrícola vai mudar. Por exemplo, atualmente, 66% da terra agricultável de Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo têm um clima propício para a plantação de café. Com o aquecimento, a área cai para 50,1% (aumento de 1°C); para 27,7% (aumento de 3°C) e para 5,4% (aumento de 5,8°C). Para a soja, nos estados do Mato Grosso, Paraná e São Paulo, a aptidão é próxima a 100%. Mas os valores caem 92% (aumento de 1°C), 83% (aumento de 3°C) e 32% (aumento de 5,8°C).
INVESTIMENTOS Para evitar que o patrimônio do agricultor se esfarele, seria necessário investir centenas de milhões de dólares em pesquisa agronômica, para adaptar as culturas aos novos paradigmas climáticos. Aí temos três problemas: primeiro que as dotações orçamentárias para pesquisa agropecuária, como proporção do PIB agrícola, vêm caindo sistematicamente nos últimos anos. Segundo, que a maturação do desenvolvimento tecnológico pode demorar uma a duas décadas, o que significa que já deveria ter iniciado na década passada, para enfrentar os problemas que virão no final desta década. Terceiro, que as mudanças no clima serão tão intensas, que mesmo com instituições e cientistas altamente eficientes, temo que não será possível atender integralmente às futuras demandas dos agricultores, ao menos com o nível de sucesso com que as mesmas instituições trabalharam C no passado recente. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
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La Niña coloca o bode na sala dos americanos e favorece produtores brasileiros O mercado agrícola está na expectativa do relatório do USDA que será divulgado no próximo dia 30 de março, onde são apontados os números para o plantio das lavouras americanas que começa em abril e normalmente tem grande importância para a formação das cotações internacionais dos principais grãos. O relatório de intenção do plantio é divulgado anualmente no último dia útil do mês de março, ou seja, a poucos dias do início do plantio e traz as expectativas próximas da realidade que vem pela frente. Neste ano tudo aponta que teremos um crescimento do plantio do milho entre três a mais de quatro milhões de hectares e junto, tenha queda na área do algodão e da soja, que devem conseguir sustentabilidade nas cotações em função da menor oferta dos americanos. Mas nas últimas semanas, cresceu a presença dos senhores do clima, que no jargão popular estão colocando o bode na sala dos produtores americanos, porque dados dos principais institutos americanos apontam para a formação do fenômeno La Niña neste novo verão americano e, quando isso ocorre, aumentam as temperaturas médias, ou seja, mais calor para as lavouras. Também ocorrem alterações no fluxo das chuvas, com menor volume e concentradas em pontos localizados, faltando em outros. Desta forma, com veranicos em pontos do meio-oeste americano e risco para as principais lavouras que começarão a ser plantadas em abril. Com isso, o mercado de fevereiro foi bastante aquecido na Bolsa de Chicago e indica que teremos boas notícias para os produtores brasileiros, que agora estão voltando a ter boas lucratividades e bons motivos para investir nos plantios que vêm pela frente. O Brasil tende a crescer nas exportações dos principais produtos agrícolas e as cotações destes tendem a ser as maiores dos últimos anos, como já tivemos em fevereiro, com o milho nos melhores níveis em mais de dez anos e a soja nos melhores patamares desde 2004. Ambos ainda têm fôlego para crescer porque a safra americana ainda não começou e tudo indica que La Niña nos trará boas notícias nos próximos meses. MILHO Exportação e consumo interno dando suporte O mercado do milho, apesar de estar em plena colheita, teve no final de fevereiro ajustes positivos nas cotações, quando que em anos anteriores estaria em queda livre. O mercado exportador bastante agressivo para embarcar e as cotações internacionais crescendo todas as semanas, junto com as indústrias nacionais entrando forte nas compras, fizeram com que o mercado se mantivesse firme ou ajustasse as posições entre R$ 0,5 e R$ 1, em cima dos baixos estoques dos consumidores e das chuvas que seguraram a colheita, atrasando a entrega de contratos programados. Agora em março teremos aumento das ofertas, mas tendo pouco espaço de baixa, porque o mercado internacional está comprando nos US$ 170 por t nos portos, criando desta forma, um suporte nas cotações no interior. Como estamos na colheita e os produtores necessitam de caixa e a safra está chegando cheia, há pouco espaço de alta no curto prazo. Mas segue lucrativo em plena colheita. Em Chicago, o milho está nos melhores patamares desde julho de 1996. SOJA Melhores níveis em três anos A soja teve em fevereiro os melhores níveis de preços desde 2004 em Chicago, com as cotações superando a marca dos US$ 8 por bushel e agora já indicando nova busca de patamares maiores para os próximos meses. Os negócios internos andaram restritos a poucos volumes porque a colheita andou em ritmo lento devido às chuvas, havendo grandes perdas na produtividade do Mato Grosso e Goiás que, juntos, perderam mais de 650 mil t. Desta forma, o volume final da safra já está comprometido, sendo assim, é apontando como um fator positivo para o restante da safra, porque tende a diminuir o quadro de oferta e estoques mundiais em ano de forte avanço da demanda internacional. A boa notícia continua sendo a queda no plantio americano que deverá ser confirmada no final de março, criando assim, suporte para que as cotações da safra nova 07/08 também nos tragam boas cotações. No mês de fevereiro, poderia se fixar à soja, de abril de 2008 em cima dos US$ 18,00 por saca, nos principais portos brasileiros, ou seja, US$ 1 acima do que está sendo trabalhado atualmente e quase US$ 5 por saca a mais do que era trabalhado por saca há um ano. Os bons ventos estão voltando para a soja. Para melhorar, necessitamos que o governo faça al-
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guma coisa para o câmbio sair da casa dos R$ 2 e caminhe pelo menos para a faixa dos R$ 2,2. FEIJÃO Quebra no Irecê pressiona cotações para cima O mercado do feijão teve forte quebra da safra da região do Irecê, principal produtora do Nordeste neste momento, assim, as cotações do produto que estavam abaixo dos R$ 50 por saca, agora já indicam níveis de R$ 65 aos R$ 75 pelo produto de melhor qualidade e também criando boa liquidez até para o produto chuvado do Brasil Central que terá compradores firmes do Nordeste para cobrir o espaço deixado pela falta de produto local. Houve perdas superiores a 90% na safra da região do Irecê, abrindo um espaço superior a 80 mil t na região para os próximos três meses. Os produtores que plantam o feijão Irrigado normalmente têm grande lucratividade nos anos em que há grandes perdas no Irecê, assim, está na hora de planejar o novo plantio nos estados centrais e também no Mato Grosso, que tem alguns pivôs.
ARROZ Governo entrando e mercado crescendo O mercado do arroz neste ano teve forte queda nas cotações antes mesmo da colheita, com o produto saindo de níveis de R$ 23/24 em janeiro no RS, para os R$ 17/18 praticados até a metade de fevereiro, e com o anúncio de pregão de Opção, liberação de recursos de EGFs e AGFs, que estão em vigor em março criou-se uma sustentabilidade nas cotações. Não podemos deixar de apontar que a campanha de órgãos representativos do setor arrozeiro do RS, apontando para que os produtores não vendam a safra abaixo do preço mínimo, também teve efeito sobre o mercado que teve retração das ofertas e alta nos indicativos em plena colheita. Em março estaremos vendo grandes volumes da safra chegando às mãos dos consumidores e tudo indica que veremos as cotações trabalhando entre os R$ 20 e acima na base do RS e nos R$ 23,00 acima na base dos estados centrais, que devem ter o pico da colheita também em março.
CURTAS E BOAS ARGENTINA - A safra da soja está em bom desenvolvimento, mas em fevereiro muitos focos de ferrugem no país, fato que não ocorreu nos anos anteriores nesta fase inicial do desenvolvimento das plantações locais, podendo ter perdas na produtividade. Mesmo assim segue com boas expectativas de safra que chegam a níveis entre 42/43 milhões de t. TRIGO - O mercado está forçando a um movimento em cima da limitação das importações de farinha de trigo da Argentina através de cotas, porque tem atrapalhado as negociações internas do trigo e até derrubado as cotações, pois os moinhos e indústrias têm preferido comprar a farinha que tem imposto de exportação menor que o grão. Os produtores estão otimistas com a safra porque o mercado mundial segue aquecido e há poucos fornecedores internacionais. ALGODÃO - O mercado vem buscando sustentabilidade nas cotações internacionais em cima da possibilidade da queda da safra americana, que caminha para perder área para o milho e também em cima da oferta e demanda mundial mais apertada neste ano, onde mostra safra de 116,5 milhões de t para um consumo de 121,4 milhões de t, tendo assim, queda nos estoques finais e criando apoio porque tudo aponta que a nova safra dos EUA poderá vir com queda de 2 milhões de t, deixando o quadro de 07/08 ainda mais ajustado, forçando as cotações internacionais para cima. MILHO - A Argentina caminha para uma safra cheia, porque o clima tem sido favorável e mesmo o veranico ocorrido na província de Buenos Aires não deverá afetar o quadro que indica colheita de 21 a 22 milhões de t, das quais entre 14 e 15 milhões, devem ser exportadas. IGC - O International Grains Council, divulgou nos últimos dias, na Europa, os novos números para o quadro geral de oferta e demanda de grãos forrageiros, apontando que a produção total para safra 06/07 está apontada em 1.559 milhões de t contra um consumo de 1.626 milhões de t, ou seja, um déficit de 67 milhões, que devem sair dos estoques e, desta forma, criando suporte para as cotações internacionais que tendem a se manter firmes para todas as commodities agrícolas, porque atualmente uma está ligada à outra. O trigo segue com déficit, com produção de 590 e consumo de 607 milhões de t e os menores estoques da década.
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