Cultivar 95

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Destaques

Cultivar Grandes Culturas • Ano IX • Nº 95 • Abril 2007 • ISSN - 1516-358X

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Nossa capa

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Nosso caderno

Dirceu Gassen

Trigo tratado A importância do correto tratamento de sementes na cultura do trigo

10 A passos lentos Os aspectos que entravam o emprego do controle biológico em grande escala no Brasil

John Deere

Novo e agressivo Cancroda haste, identificado recentemente no Brasil, desafia a pesquisa

24 Quase letal O uso de doses subletais no controle da lagartado-cartucho do milho

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br 3028.4013 cultivar@cultivar.inf.br • REDAÇÃO:

3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:

3028.4004 / 3028.4005

Índice

REDAÇÃO • Editor

Gilvan Dutra Quevedo • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Diretas

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Tratamento de semente em trigo

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Entraves ao controle biológico

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Reguladores de crescimento no algodão

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Crescimento da corda-de-viola em soja

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• Assinaturas: 3028.2070

Novo cancro da haste identificado no Brasil

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• Redação: 3028.2060

Adubação no milho safrinha

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• Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067

Doses subletais na lagarta-do-cartucho

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Controle de fungos de solo no feijão

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Simone Lopes

Informe técnico

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• Gerente de Assinaturas Externas

Coluna Andav

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Coluna Agronegócios

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Mercado Agrícola

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• FAX:

3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida

COMERCIAL Pedro Batistin

Sedeli Feijó

CIRCULAÇÃO • Gerente

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Raquel Marcos • Expedição

Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas

Cárie

Nutrição

Durante a Abertura Oficial da Colheita do Arroz em São Gabriel (RS), a Dow AgroSciences apresentou o herbicida Ricer e os fungicidas Bim e Systhane. Segundo Rogério Rubim, do departamento de pesquisa e desenvolvimento, os dois fungicidas, que estão com registro emergencial para aplicações contra a cárie do grão, apresentaram excelente desempenho no combate preventivo à doença.

A Solferti esteve presente em mais uma Expodireto com sua linha completa de fertilizantes. Segundo Gilberto Medeiros, gerente de vendas e responsável pelo estande na feira, a busca por fertilizantes foliares é crescente. “O incremento na produção, causado pela aplicação de nutrientes, é o melhor argumento de vendas”, defende.

Contra invasoras O uso da tecnologia Gamit/Permit foi o destaque da FMC na Abertura Oficial da Colheita do Arroz. Para Ali Hepal, representante técnico comercial para a região da campanha, o pacote tecnológico permite o controle das principais invasoras do arroz, evitando a matocompetição em lavouras irrigadas.

Júlio Lourenço (esq.)

Semente sadia Um dos focos da Basf na Expodireto 2007 foi o tratamento de sementes. Júlio César Lourenço, gerente de contas e tratamento de sementes, está otimista com a utilização da tecnologia por parte dos produtores. “Nas duas últimas safras, o conceito de tratamento de sementes tornou-se uma prática bem aceita e consolidada, graças à eficiência e maior segurança ao produtor”, explica.

Sementes salvas Fabrícia Andrade, gerente de Marketing da Nidera, destacou durante a Expodireto os prejuízos causados pelo cultivo de sementes salvas no Brasil. “Perdem todos. O governo pela evasão de impostos, os produtores ao adquirir material de baixa qualidade, além das empresas de melhoramento genético e produtoras de sementes, que fazem grandes investimentos em pesquisa Fabrícia Andrade para desenvolver novas tecnologias”.

Parceiro no campo A Dupont apresentou a campanha “O seu parceiro no campo”, com destaque para os recentes lançamentos do sistema Aproach, para prevenção da ferrugem asiática e o Accent, novo herbicida para milho.

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Produtividade A Pioneer apresentou na Expodireto três lançamentos para a região. O 30F36, híbrido precoce com elevado potencial e alta resposta ao manejo, o 32R48, superprecoce com qualidade de grão e altos rendimentos e o 32R22, híbrido hiperprecoce com elevada tolerância ao turcicum. “Resultados de campo mostraram que alguns híbridos tiveram produtividade com recorde histórico, o que mostra a evolução constante das sementes Pioneer”, destaca Daniela Didone, do departamento de Comunicação e Daniela Didone Marketing da empresa.

Bayer

Jadyr Souza

Avaliação positiva Jadyr Souza, gerente de produto da Milênia, elogiou a organização da Expodireto. “Além disso o evento conta com um público seletivo e focado, um ótimo lugar para prospectar novos clientes”, avaliou.

A Bayer Cropscience apresentou aos gaúchos a campanha “Muito Mais”, que reforça o uso de produtos para controle fitossanitário das principais culturas. Num estande bastante acolhedor, os visitantes puderam conferir parcelas com os produtos e tirar dúvidas com a equipe da empresa. José Carlos, marketing promocional; Wagner Zamberlan, gerente regional, e Fernando Rupolo, coordenador comercial, destacaram o interesse do público pelas inovações tecnológicas apresentadas José, Wagner e Fernando na feira.

Ampla estrutura

União de forças

Além de um laboratório montado em parceria com a UPF, com infra-estrutura moderna e voltada da para o público da feira, a Syngenta apresentou um estande com conceito diferenciado na Expodireto. A recepção interligada à loja por um deck único, formando uma grande sala de estar, tornou o espaço ainda mais convidativo. Milto Facco, gerente de suporte técnico e sua equipe, recepcionaram os visitantes com orientações sobre a importância dos principais produtos da empresa para as culturas de soja, trigo, miRicardo Perez e Milto Facco lho e feijão.

União da tradição do grupo Sipcam-Oxon com a Isagro S.A promete trazer novas soluções e tecnologias para o agricultor brasileiro com produtos e serviços de qualidade para uma agricultura sustentável. “Muito produtiva nossa participação na Expodireto 2007, aproveitando ao máximo a força da equipe e a interação com nossos principais canais, associada ao bom momento pelo qual passa a agricultura, especialmente o setor de grãos no Sul do país, diferentemente dos últimos anos”, avalia Celso Albino Andriolo, engenheiro agrônomo da Sipcam.

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Milenia

Biomatrix

João Eiras, novo gerente regional da Milenia para região Sul, destacou na Expodireto Cotrijal o otimismo dos produtores e também a presença de muitos visitantes de outros estados e países, o que ajudou a elevar ainda mais o nível de importância da feira João Eiras em Não-me-Toque (RS).

Syngenta Seeds Híbridos de milho foram o destaque da Syngenta Seeds na Expodireto 2007. Marcia Terzian, coordenadora de marketing da empresa para a região Sul, apresentou o trio precocidade, Advance, Sprint e NB3234 e a dupla produtividade, Maximus e Penta. Segundo Alexandre Develey, gerente da Syngenta Seeds, qualidade de grãos, sanidade de planta e produtividade são o compromisso da empresa Alexandre Develey com o produtor. Marcia Terzian

Boa forma O Hospital de Caridade Notre Dame, em parceria com a Syngenta, durante a Expodireto, montou uma sala de fisioterapia. O objetivo foi ensinar a importância de uma postura correta, da ginástica laboral e da fisioterapia no dia-a-dia. Os visitantes receberam uma cartilha com uma série de exercícios que podem ser feitos diariamente.

Dow AgroSciences A equipe da Dow AgroSciences apresentou durante a Expodireto o seu portfólio, esclarecendo dúvidas dos agricultores quanto às melhores formas de cultivo, controle e os produtos mais indicados para atender suas necessidades específicas. O destaque do evento foi o Spider, herbicida de alta seletividade indicado para controle de plantas daninhas de folhas largas.

A Biomatrix apresentou na Expodireto os híbridos de milho BM-1115 e o BM 3061 . Para Divanio Montagner, consultor em desenvolvimento de mercado, este foi um bom momento para contato com clientes e revendas.

Semente tratada A Rigran marcou presença na Expodireto com a nova linha de protetores de sementes, ColorSeed HE (HiEnhance), para as grandes culturas. Nelson Azambuja, diretor da empresa, salientou que a finalidade do uso de polímeros e pigmentos para sementes é conferir uma boa fixação dos defensivos, micronutrientes e inoculantes.

Agroeste Focada em sementes de milho híbrido, a Agroeste, presente na Expodireto, apresentou aos produtores seu portfólio de produtos com inúmeras opções de híbridos de alta tecnologia. A equipe técnica ofereceu informações atualizadas e precisas sobre toda a linha de produtos, resultados de produtividade de cada híbrido, informações sobre a cultura do milho e dicas de plantio.

Arysta Nilson Antonio da Silva, agora na função de desenvolvimento de mercado e de produto da Arysta, avaliou positivamente a Expodireto. “Após dois anos consecutivos de estiagem que atingiu o RS, com grandes prejuízos aos produtores, foi notável o otimismo entre os Nilson da Silva agricultores durante o evento”.

Fertilizantes A Serrana Fertilizantes também esteve presente na Expodireto, onde mostrou a linha Turbo Fertilizantes, que tem conseguido excelente destaque nas lavouras. De acordo com a engenheira agrônoma Tatiana Benedetti, a linha Turbo contribui para que o produtor consiga obter o máximo retorno de seus investimentos, otimizando a relação custo x benefício, com alto ínTatiana Benedetti dice de produtividade.

Muito trabalho Um grande número de visitantes acompanhou o trabalho da Agrichem na Expodireto. Leonardo Queiroz de Melo, coordenador técnico/comercial, destacou que muitos produtores passaram pelo estande durante a apresentação de um novo sistema de recomendação de adubação, baseado no PAM Nutri (Programa Agronômico de Monitoramento Nutricional), feita pela equipe de representantes de revendas de produtos Agrichem.

Cheminova

Pigmentos orgânicos

A Cheminova, preocupada com a saúde do agricultor, desenvolve um amplo trabalho de conscientização sobre o uso correto dos equipamentos de proteção individual (EPI). Durante a Expodireto divulgou informações e distribuiu aos visitantes folders explicativos de como vestir os equipamentos. Além do presidente e diretores da Cheminova no Brasil, a empresa levou ao evento o consul geral da Dinamarca no Brasil, Henrik Petersen, que elegeu a feira como uma das melhores do país.

Pelo segundo ano consecutivo a Lanxess participou da Expodireto Cotrijal 2007. A empresa apresentou a linha Levanyl ST, pigmentos orgânicos para tratamento de sementes de diversas culturas como soja, milho, trigo e arroz. Segundo Alejandro Gesswein, gerente de marketing, foi uma excelente oportunidade para apresentar ao mercado sementes com tecnologia Lanxees, com matérias-primas de ponta, visando outorgar ao tratamento um produto diferenciado, de alta qualidade, além de mostrar a evolução dos estudos e trabalhos realizados com os parceiros da empresa.

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Trigo

Emergência garantida As sementes estão diretamente envolvidas na continuidade do ciclo biológico de patógenos que afetam a cultura do trigo de uma safra para outra e muitas vezes são utilizadas como veículo de transporte ou abrigo à sobrevivência de doenças. Embora não deva ser empregado como medida de controle isolada, o tratamento de sementes, quando realizado com critério e fungicidas de qualidade, possibilita a emergência de plantas sadias e protegidas

O

trigo é uma cultura hiber nal de grande importância econômica no Sul do Brasil. Em 2006 a área cultivada foi de aproximadamente 2,4 milhões de ha, com produtividade de 2,1 t/ha e produção de 4,9 milhões de t (Conab, 2007). No entanto, o potencial de rendimento do trigo pode ser afetado pela ocorrência e intensidade das doenças, associado ao clima (chuva) adverso durante a estação de cultivo. Somado a isso, o uso de baixa tecnologia não permite que os produtores alcancem a lucratividade esperada. Em relação às doenças destacam-se, na ocorrência e na intensidade, o oídio, a ferrugem, as manchas foliares, a giberela, a brusone, a virose do mosaico do trigo e a virose do nanismo amarelo da cevada. Os fungos fitopatogênicos necrotróficos associados às sementes de trigo são os mesmos que causam as manchas foliares, a brusone e a giberela. Os principais agentes causais destas doenças são

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respectivamente, a mancha marrom causada por Bipolaris sorokiniana (Sacc.) Shoem., a mancha amarela causada por Drechslera tritici-repentis (Died.) Schoem., a septoriose causada por Septoria nodorum (Berk.) Berk., a brusone causada por Pyricularia grisea (Cooke) Sacc. e a giberela causada por Fusarium graminearum Shwab. Vale lembrar também que os fungos B. sorokiniana e F. graminearum estão associados ainda à podridão comum de raízes cujos danos podem chegar até 20% (Diehl et al., 1983). Esse grupo de fitopatógenos tem como principais fontes de inóculo as sementes e os restos culturais. O fungo B. sorokiniana pode também sobreviver como conídios dormentes livres no solo. Como regra, os patógenos necrotróficos de órgãos aéreos servem-se das sementes como veículo de transporte e como abrigo à sobrevivência. A semente, portanto, está diretamente envolvida na continuidade do ciclo biológico dos patógenos de uma safra para outra.

Devido a isso, aonde se cultiva uma espécie vegetal estão presentes os patógenos, porque a semente introduz os parasitas necrotróficos na lavoura (Reis & Casa, 1998). Pode também estar associado à semente, como micélio dormente no embrião, o fungo biotrófico Ustilago tritici Pers., agente causal do carvão da espiga. As principais estratégias para o controle das manchas foliares e da podridão comum de raízes incluem a rotação de culturas associada ao tratamento de sementes com fungicidas. O objetivo do tratamento de semente é eliminar os fungos dessa fonte de inóculo evitando o seu retorno para os órgãos aéreos. Tem sido claramente demonstrado que as sementes infectadas levam para a lavoura o fungo agente causal de manchas foliares e da podridão comum de raízes. Por isso, a eficiência do tratamento deveria ser de 100%, a fim de erradicar os fungos das sementes. No entanto, a eficiência de

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nece dados sobre as espécies de fungos presentes e suas incidências. Essas informações fornecem subsídios para a decisão quanto à aplicação de fungicidas em sementes; qual o fungicida a ser usado e se o tratamento exige a mistura de produtos para ampliar o espectro de ação.

ESCOLHA DO FUNGICIDA

Tratamentos

Órgão/Incidência (%) Raiz primária Mesocótilo Testemunha 37,3 a 17,9 a Tiofanato metílico 9,3 b 2,7 b Tiabendazol 0,7 b 1,3 b Carbendazim 0,7 b 0,0 b Benomil 0,0 b 0,0 b C.V. (%) 90,7 93,2

Média Emergência (%) Coroa 49,8 a 8,0 b 3,3 b 0,7 b 1,3 b 60,9

35,0 6,7 1,8 0,5 0,4

65,7 a 74,3 a 74,0 a 82,0 a 78,3 a 5,6

* Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de significância.

Espécies de fungos x especificidade dos fungicidas O primeiro passo consiste em se proceder a análise sanitária da semente, em laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura, para se saber quais as espécies de fungos presentes e sua incidência. Os fungicidas em geral, os mais eficientes, apresentam especificidade a gênero ou a famílias de fungos. Por exemplo, os fungicidas mais eficientes para o controle de Alternaria spp., B. sorokiniana e D. tritici-repentis, família dematiaceae, são a iminoctadina, a guazatina e a iprodiona. Os mais eficientes para o controle de F. graminearum são os benzimidazóis (carbendazim). Os benzimidazóis não apresentam fungitoxicidade à Alternaria spp., à B. sorokiniana e à D. triticirepentis. O fungicida iprodiona não apresenta toxicidade à F. graminearum e à Septoria nodorum. Por outro lado, fungicidas

Fotos Dirceu Gassen

controle está associada com a incidência dos fungos em sementes, com a potência do fungicida, com sua dose e com a qualidade da cobertura da semente pelo fungicida em sua formulação comercial (Reis e Casa, 1988). Outro objetivo do tratamento de sementes de trigo é a proteção das plântulas, nos estádios iniciais, do ataque do oídio causado por Blumeria graminis f.sp. tritici. Deve-se ressaltar que nesse caso não ocorre a sistemicidade do fungicida (triadimenol) na semente, pois essa não possui sistema vascular. O fungicida aplicado permanece aderido externamente à superfície da cariopse e quando semeada é dissolvido e lixiviado pela água do solo, sendo absorvido via radicular e translocado via xilema apicalmente nas plântulas. Através desse mecanismo a proteção da plântula, dependendo da dose do fungicida sistêmico, pode chegar a mais de 60 dias (Gráfico 1). Na realidade, o tratamento sendo eficiente impede a transmissão ou passagem dos fungos para as raízes e órgãos aéreos. Não havendo inóculo primário, não ocorrem ciclos secundários e em decorrência, o desenvolvimento da doença nos órgãos aéreos. Qual a relação entre análise sanitária da semente e o uso de fungicidas? O teste sanitário ou patologia de sementes for-

Tabela 1 - Transmissão (%) de Fusarium graminearum de sementes infectadas para diferentes órgãos de plântulas de trigo e emergência de plântulas tratadas com diferentes fungicidas na dose de 50 g de iprodiona + 50 g de benzimidazol/100 kg de sementes

Tabela 2 - Efeitos de fungicidas benzimidazóis (50 g de i.a./100 kg) aplicados em sementes de trigo na incidência de Fusarium graminearum Produto Testemunha Tiofanato metílico Tiabendazol Benomil Carbendazim C.V. (%)

Incidência (%) 68,3 a 57,0 b 31,8 c 4,5 d 4,5 d 14,67

*Incidência determinada em meio de batata-sacarose-ágar (BSA) suplementado com 50 ppm de iprodiona. * Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância (Fonte: Telles Neto, 2004).

como o captam e o metalaxil, utilizados no tratamento de sementes de milho, são específicos para estramenópilas do gênero Pythium, não tendo ação contra os fungos dematiáceos. Como este patógeno não é importante à cultura do trigo, aqueles fungicidas não são recomendados para o tratamento de sementes deste cereal. Outro fato a ser considerado é que a eficácia dos fungicidas pode variar em testes de controle conduzidos “in vitro” e “in vivo”. Em geral os triazóis são mais eficientes no teste “in vivo”, os mais difíceis de serem feitos. Por exemplo, o difenoconazol apresentou maior eficiência em testes conduzidos “in vivo” do que “in vitro”, no controle de B. sorokiniana em sementes de cevada (Barba, 2001). Como o tratamento de sementes visa a erradicação dos patógenos, quanto menor a incidência de um dado fungo na semente, maior é a possibilidade de ser eliminado. Disso decorre a importância da patologia de sementes. Por isso na produção de sementes deve-se tomar medidas que visem a produção de sementes com a menor incidência de fitopatógenos. Praticamente, não existe semente livre de patógenos necrotróficos de órgãos aéreos. Incidência dos fungos x fungicidas

Um tratamento de sementes eficiente impede a transmissão ou passagem dos fungos para as raízes e órgãos aéreos das plantas

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Cultivares suscetíveis ao oídio O controle do oídio via tratamento de sementes, não considera o teste sanitário, mas sim a reação do cultivar a esse patóge-

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Fotos Dirceu Gassen

Fazer uma análise sanitária da semente auxilia na tomada de decisão sobre qual o fungicida a ser usado no tratamento de sementes

no. Lembra-se que o agente causal, neste caso, não se encontra associado à semente. Para saber a reação do cultivar deve-se consultar as normas técnicas para a cultura do trigo que são anualmente atualizadas (Recomendações, 2005). Nesse caso sugere-se o tratamento de sementes com o triadimenol por ser o mais eficiente no controle de Blumeria graminis f.sp. tritici (Gráfico 1). Lembra-se que a dose de ingrediente ativo (i.a.) deve ser de 40 g/100 kg de sementes e que o período de proteção é proporcional à dose utilizada (Gráfico 1). Nesse caso, além do triadimenol utilizado para o controle do oídio, deve-se agregar outros fungicidas, por exemplo, a iprodiona para o controle de B. sorokiniana e de D. tritici-repentis e o carbendazim para o controle de S. nodorum e de F. graminearum . Cultivares resistentes ao oídio Embora Fusarium graminearum esteja

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presente na semente ela não é fonte de inóculo para a giberela. Sua incidência tem aumentado nas últimas safras e isso pode ser atribuído ao sistema plantio direto. O aumento da severidade da giberela em espigas de trigo determina um aumento da incidência em sementes Deduz-se que por essas razões deve aumentar a incidência e a severidade da podridão comum de raízes. Trabalhos conduzidos na Universidade de Passo Fundo, quantificaram a transmissão de F. graminearum a partir de sementes para raízes seminais, mesocótilos e coroas de plântulas de trigo. No caso de coroas a taxa de transmissão foi de 49,8% (Telles Neto, 2004). Observa-se que mesmo com o tratamento de sementes, a transmissão para esse órgão, não alcançou a erradicação (Tabela 1). Em outro trabalho demonstrou-se que ocorre uma perda da viabilidade do

fungo em sementes de trigo durante o armazenamento, em função do tempo, num valor mensal de 9,21% (Figura 1). Pode-se calcular que no mês de junho (época de semeadura) mesmo com o declínio na viabilidade, quando a incidência for maior do que 10% esse lote deveria ser tratado para controlar a transmissão para o sistema radicular. Nesse caso o lote deve ser tratado com 50 g de i.a./100 kg de sementes de um fungicida benzimidazol como o carbendazim (Tabela 2). O controle de Bipolaris sorokiniana e Drechslera. tritici-repentis com eficácia de 100% é difícil de ser alcançado. Por isso, sempre que forem detectados nos testes de sanidade, independentemente da incidência, deve-se proceder ao tratamento de semente. Lembre-se que a eficácia é maior quanto menor for a incidência. Por isso, utilize a iprodiona ou o difenoconazol na dose de 50 g de i.a. do primeiro e de 30 g de i.a. do segundo para 100 kg de sementes. Embora o fungo Septoria. nodorum. tenha sido responsável por epidemias da mancha da folha, é dificilmente detectado nos testes sanitários de sementes. Este fungo pode ser controlado facilmente pelos benzimidazóis, porém não é controlado pela iprodiona e não se tem informação da eficácia do difenoconazol, da guazatina e do triadimenol. Por isso, não se deve utilizar a iprodiona isoladamente em tratamento de sementes de trigo ou cevada. Uma opção, visando ao controle de S. nodorum, seria a mistura da iprodiona com o tiram ou o

A cobertura da semente com fungicidas deve ser perfeita para não comprometer a eficácia do tratamento

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Gráfico 1 - Eficiência e persistência do fungicida triadimenol no controle do oidio do trigo via tratamento de sementes (Reis et al., no prelo)

carbendazim. Veículos de cobertura x eficácia do tratamento Diversos trabalhos têm demonstrado que a cobertura da superfície da semente de trigo com fungicida é uma tarefa difícil e que a eficácia do tratamento depende da qualidade da cobertura. Cobertura deficiente compromete a eficácia do tratamento. Quando se empregam formulações líquidas de fungicidas a eficácia é maior do que se forem utilizadas formulações pó seco. Quando se agrega o fungicida na proporção de 2,0 L de água para 100 kg de sementes se obtém os melhores controles. Porém, a semente tratada poderá ter a germinação prejudicada, pois essa quantidade pode servir de estímulo à quebra da dormência do embrião. Uma solução seria o uso de veículos não aquosos. A substância mais promissora tem sido o propilenoglicol (PEG) na dose de 1,0 L para 100kg de sementes. Muitos técnicos envolvidos com a produção de sementes têm tentado utilizar substâncias espalhantes, como ve-

Figura 1 - Viabilidade, como incidência, de Fusarium graminearum em sementes de trigo em função do tempo de armazenagem (Fonte: Telles Neto, 2004)

ículo de fungicidas em sementes, porém sem o respaldo de trabalhos científicos. Recentemente tem sido testados polímeros que tem ação fungicida moderada e potencial para melhorar a distribuição do fungicida sobre a superfície da semente. Esta associação aumenta a eficiência do controle.

TRATAMENTO X PODER GERMINATIVO Em alguns casos, quando um lote de sementes apresenta poder germinativo baixo, porém próximo do padrão (90%), procura-se, via tratamento com fungicida, melhorar esse atributo. Às vezes o tratamento pode reverter essa situação. Nesse caso o produto que melhor desempenha essa tarefa é o tiram.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O tratamento de sementes não deve ser empregado como medida de controle isolada, mas, fazer parte de um conjunto de práticas na luta contra os fitopatógenos. Por exemplo, o tratamento de sementes visando evitar a transmissão de fungos patogênicos, agentes causais de manchas

foliares, das sementes para os órgãos aéreos, não deve ser recomendado para lavouras conduzidas em monocultura de trigo. Nesse caso, a fonte de inóculo nos restos culturais, anula o efeito do tratamento de sementes. Juntamente com o tratamento químico das sementes, outras medidas devem ser usadas, como cultivares resistentes/tolerantes, rotação de culturas, eliminação de plantas voluntárias e de hospedeiros secundários e monitoramento sistemático das lavouras. Neste último caso, tendo a intensidade alcançado o limiar de dano econômico (LDE) deve-se proceder o seu controle pela aplicação de fungicidas nos órgãos aéreos. Para detalhes da metodologia de monitoramento de lavouras e da determinação do LDE sugere-se consultar a publicação de (Reis C & Casa, 2001). Erlei M. Reis e Éder N. Moreira, FAMV/UPF Ricardo Casa, CAV/UDESC


Pragas

A passos lentos Embora se mostre eficiente, o controle biológico ainda esbarra em vários entraves no Brasil, como as dificuldades na transferência da tecnologia para o produtor

O

controle biológico é ainda muito pouco utilizado em nosso país e em todo o mundo. É um paradoxo, pois cada vez mais as pessoas se preocupam com o meio ambiente e com a sua preservação; cada vez mais aumenta a procura de jovens estudantes por cursos que tratem de controle biológico ou alternativas de controle de pragas. Hoje o Brasil dispõe de uma massa crítica considerável na área de inimigos naturais ou patógenos, formada nos Cursos de Pós-Graduação no Brasil a partir da década de 60 do século passado. Somos responsáveis por programas de controle biológico comparáveis (e muitas vezes melhores) aos maiores do mundo, especialmente em soja com o controle da lagarta-da-soja, com Baculovirus anticarsia em cerca de dois milhões de ha; em cana-deaçúcar, são cerca de 300.000 ha “tratados” anualmente com Cotesia flavipes (parasitóide importado) para controlar a broca-dacana, Diatraea saccharalis; são milhares de ha que recebem o fungo Metarhizium anisopliae para controlar as cigarrinhas-das-pastagens e da cana-de-açúcar; ainda em soja, o controle de percevejos com Trissolcus basalis já é uma realidade; Trichogramma, parasitóide de ovos, é, hoje, utilizado para controle de diversos lepidópteros em culturas como milho, algodoeiro, hortaliças etc. Muitos outros predadores, parasitóides e patógenos encontram-se em estudo ou em fase inicial de utilização. Entretanto, a despeito da nossa enorme biodiversidade, não há proporcionalidade

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entre o aumento de área plantada no Brasil e a utilização de controle biológico.

QUAIS SERIAM AS RAZÕES? • Sem dúvida, existe uma tradição em se controlar as pragas com produtos químicos. Desde a síntese do DDT em 1939, houve a sensação de que a solução era o controle com produtos químicos, fato não comprovado ao longo do tempo; • Especificidade dos produtos biológicos. Numa cultura com várias pragas, a utilização de vários agentes de controle biológico poderá levar a custos maiores, pois o agricultor poderá optar por um inseticida de largo espectro e matar, de uma só vez, todas as pragas. Por outro lado, numa cultura com três pragas, três agentes biológicos deverão ser utilizados. • Credibilidade. Como já está arraigada a “cultura” do controle químico em

nosso país, existe pouca informação e total desconhecimento sobre o controle biológico. Portanto, no caso de utilização de controle biológico, há necessidade de que o agricultor seja informado do que está acontecendo, através de campos de demonstração nos quais sejam demonstrados como é o parasitismo, como é o inimigo natural etc. Somente assim haverá credibilidade, pois o agricultor “quer ver a praga cair” que é como avalia, no controle químico, a eficiência do método de controle. • Conhecimento tecnológico. É este o grande entrave para maior aplicação de CB, sem dúvida alguma. Existe um desconhecimento muito grande do que é o controle biológico e como ele deve ser aplicado. Além de ser um programa a ser desenvolvido a longo prazo para se chegar ao agricultor (Figura 1), requer um conhecimen-

Figura 1 - Etapas de um programa de controle biológico aplicado (Parra et al., 2002). a) Coleta, identificação e manutenção de linhagens de Trichogramma spp.; b) Seleção de um hospedeiro alternativo para criação massal do parasitóide; c) Aspectos biológicos e comportamentais de Trichogramma spp.; d) Dinâmica de ovos da praga visada; e) Liberação de parasitóides: número de parasitóides liberados e pontos de liberação; época e forma de liberação; f) Seletividade de agroquímicos; g) Avaliação da eficiência; h) Modelo de simulação parasitóide/praga.

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pria para insumos biológicos. • Transferência de tecnologia. Este é um problema existente em todo o mundo. Congressos são realizados em todo o globo sobre a melhor forma de se transferir tal tecnologia. Muitos trabalhos são “engavetados” pelos pesquisadores e não atingem o agricultor. Uma seqüência de etapas deve ser seguida no caso do CB Aplicado (Figura 2). • O controle biológico pode conviver com o controle químico, em culturas que tenham um grande número de pragas. Entretanto, neste caso, é necessária a aplicação de produtos seletivos, que não atinjam os inimigos naturais liberados ou existentes naturalmente. Faltam entre nós listas de produtos seletivos para as diferentes culturas. A aplicação de produtos não-seletivos após a liberação de inimigos naturais pode ser limitante para o sucesso de um programa de CB. • Época de utilização. O usuário acostumou-se com o efeito de “choque” de muitos produtos químicos, como os piretróides, por exemplo. Neste caso, independentemente do nível populacional da praga, os produtos são eficientes. Para agentes biológicos, por terem ação mais lenta (mesmo no caso do CB aplicado) a liberação ou utilização deverá ser feita no início da ocorrência da praga, com níveis populacionais mais baixos. • Predação. Se o sistema de liberação for inadequado, ou seja, com exposição dos parasitóides ou predadores, poderá, com certeza ocorrer insucesso da liberação. Em países de clima tropical, como o Brasil, tal

Fotos J.R.P. Parra

to detalhado por parte do usuário, da bioecologia da praga, pois um parasitóide de ovos tem que ser liberado quando houver ovos; o mesmo raciocínio é válido para parasitóides de ninfas, lagartas, pupas ou adultos. • Disponibilidade (comercialização) do insumo biológico. Diferentemente dos produtos químicos que são formulados e embalados, os produtos biológicos têm que ser liberados vivos. Portanto, há necessidade de empresas que comercializem os inimigos naturais à semelhança de países da Europa, EUA, Austrália, Canadá etc. No Brasil, agora começam a surgir as primeiras empresas do gênero (Parra, 2004). No Brasil, de forma diferente dos países da Europa, onde a comercialização é forte, as distâncias são muito grandes e se não houver um planejamento, os produtos biológicos podem chegar ao local da aplicação em condições inadequadas. • Para que o CB tenha credibilidade, o produto biológico deve ter “qualidade”, ou seja, deve ser “competitivo” com os insetos da natureza. Já houve casos no Brasil em que o CB deixou de ser utilizado, pela falta de qualidade do produto, às vezes produzido por empresas pequenas, que não tinham condições de fazer tal controle de qualidade. Este fato foi muito comum no início dos anos 70, com a produção do fungo Metarhizium anisopliae. Para que a qualidade seja preservada, deve haver controle desta qualidade por órgãos públicos (Universidades e/ou institutos de pesquisa). Esta legislação é ainda incipiente no Brasil, embora as sociedades científicas e o Ibama estejam empenhados em criar uma legislação pró-

Ageniaspis citricola: parasitóide introduzido da Flórida para o controle de Phyllocnistis citrella (minador-dos-citros)

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Figura 2 - Seqüência de etapas para que um programa de controle biológico aplicado tenha sucesso (Parra et al., 2002).

problema se agrava, especialmente pela ação de formigas, embora outros predadores como tesourinhas, crisopídeos, joaninhas etc, também possam ser importantes. Formas de liberação envolvendo cápsulas, que impedem a ação de predadores ou mesmo liberação de adultos ao invés de pupas ou outras fases de desenvolvimento, poderão minimizar a predação. • Dentre as diferentes etapas de um programa de controle biológico (Figura 1) o número de indivíduos a ser liberado por ha (parasitóides e predadores), bem como o intervalo entre liberações além do número de pontos de liberação é fundamental para se ter controle comparável aos métodos químicos convencionais. Os resultados negativos com Trichogramma nos EUA, no período de 1950-1970, se deveram à não-obediência destes fatores. • Custo/benefício. A agricultura é um investimento e, como tal, o investidor espera retorno. Portanto, se não houver vantagem imediata ou mesmo equivalência do custo de aplicação e de retorno de investimento, o agricultor, mesmo que muito sensibilizado por questões ambientais, dificilmente optará por uma alternativa biológica. • Seleção de “strains” (linhagens). Alguns parasitóides, como Trichogramma, são inespecíficos, atacando ovos de um grande número de espécies de lepidóptera. Nos primórdios da utilização de Trichogramma, coletavam-se espécies deste parasitóide em uma determinada região (fria às vezes) e as liberavam em outra área com clima diferente (às vezes, quente). Hoje sabe-se que existem especificidades com relação a microclimas; dentro da mesma espécie, devem ser separadas linhagens “strains” com adaptações climáticas diferentes. Estas linhagens devem ser mantidas em coleções para se-

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Fotos J.R.P. Parra

Detalhe de Trichogramma galloi parasitando ovo da broca da canade-açúcar

rem multiplicadas e liberadas nas respectivas áreas de coleta. Deve-se também dar preferência ao Trichogramma coletado em ovos da espécie de praga para ao qual é dirigido o controle. • Fatores ecológicos. Dentre os fatores ecológicos, o clima (chuva, umidade relativa, temperatura, vento, pressão atmosférica etc.) constitui-se no maior obstáculo aos programas de controle biológico (34,5%), vindo a seguir competição com fauna nativa (20,3%) e falta de alimento (liberações em épocas inadequadas) (16,9%) (Stiling, 1993); a dispersão do inimigo natural para outras áreas, a mortalidade compensatória e a ausência de refúgios para os inimigos naturais podem, também, ser importantes causas do fracasso da utilização de agentes de controle biológico (Collier & van Steenwyk, 2004). A despeito de todos estes fatores que podem diminuir a eficiência, pode-se afirmar, com base em estudos realizados no Brasil, que um programa de Controle Biológico bem conduzido e que seja adequadamente transferido ao usuário pode ser comparável ao controle químico convencional. Obviamente que é um processo cultural, que envolve sobretudo treinamento do usuário, pois massa crítica para desenvolver já existe em número suficiente no Brasil. O CB não é a solução de todos os problemas, mas tem, um grande espaço a ocupar, em diversas culturas. Atualmente, o controle químico é muito mais utilizado que o controle biológico e representa um mercado muitas vezes maior, embora exista uma tendência da utilização do CB aumentar de 15 a 20% neste início de século. É fundamental, com base nos conhecimentos atuais, que mesmo o controle químico obedeça a uma certa tecnologia, observando alguns preceitos básicos, ou seja, somente aplicar um inseticida (ou acaricida) quando for atingido o nível de controle da praga. Mesmo assim, muitas vezes, pode também haver insucesso (desenvolvimento

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de resistência pelas pragas, ressurgência de pragas, pouca ação devido ao clima, desequilíbrios biológicos e problemas ao meio ambiente, pragas secundárias que tornamse primárias etc). É curioso que às vezes, a não aplicação de produtos químicos leva a um controle da praga, pois dependendo do caso, pode haver controle da mesma pelos inimigos naturais já existentes no campo. Assim, para Spodoptera frugiperda, a lagarta-do-cartuchodo-milho, embora Trichogramma atopovirilia não dê 100% de controle, quando ele é liberado, sem a aplicação de produtos químicos, outros predadores, como as tesourinhas, atuam e um bom controle é conseguido. Existem também casos como o da canade-açúcar, cultura muito sensível aos inseticidas, para controle de pragas da parte aérea, em que a aplicação de produtos químicos pode levar a desequilíbrios desastrosos. Atualmente, vive-se esse problema em muitas áreas. Após anos de liberação de Cotesia

Parra salienta que agentes biológicos, por terem ação mais lenta, precisam ser liberados logo que surge a praga na lavoura

flavipes, para controle da broca-da-cana, o parasitóide foi substituído por inseticidas. Hoje, o nível populacional da broca aumentou e muitos laboratórios estão reativando a produção de C. flavipes. O mesmo ocorre em citros: a aplicação sistemática de piretróides no sistema “fogg” provoca desequilíbrios a favor de pragas como o bicho-furão, Ecdytolopha aurantiana e cochonilhas (como Orthezia praelonga por exemplo, entre outras). A pressão mundial para a retirada do mercado de produtos de alta toxicidade e a síntese de produtos seletivos, permitirão ainda o ressurgimento do controle biológico clássico (vide definições). Um exemplo recente no Brasil é o controle biológico do minador-dos-citros, Phyllocnistis citrella com o parasitóide introduzido em 1998 da Flórida (EUA), pela Esalq, o encirtídeo Ageniaspis citricola (Parra et al. 2004). A exigência pelo consumidor de produtos isentos de agroquímicos, gerados pela agricultura orgânica, poderá ter no controle biológico um dos seus grandes aliados. Agricultura familiar e áreas agrícolas menores (de alguns ha) serão, sem dúvida, as primeiras a serem beneficiadas, desde que seguidos os preceitos descritos neste trabalho. O controle biológico é viável sim, especialmente pela nossa biodiversidade e pelos pesquisadores formados nos últimos anos e que se dedicam ao assunto nos diferentes C pontos do país. J.R.P. Parra, Esalq/USP

DEFINIÇÕES

C

ontr ole biológico clássico: imontrole portação (introdução) e colonização de parasitóides ou predadores, visando ao controle de pragas exóticas. Consistem de liberações inoculativas (pequeno número de insetos) e, por este motivo, dão resultados a longo prazo e se aplicam apenas a culturas perenes e semiperenes. Controle biológico natural: consiste na conservação de inimigos naturais (inseticidas seletivos, práticas culturais adequadas, preservar habitat ou fontes de alimentação). Controle biológico aplicado: os inimigos naturais são multiplicados e liberados de forma inundativa, com base em criações massais. É mais aceito pelo agricultor por ter efeito mais rápido, de forma semelhante aos inseticidas.

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O excesso de massa verde produzida pelo algodoeiro dificulta o aproveitamento de nutrientes, interfere na formação das fibras e pode resultar na diminuição de produtividade. Neste contexto, o uso de biorreguladores surge como estratégia. Definir dose adequada e enfrentar os riscos de o produto ser lavado pelas chuvas são desafios que ainda se impõem

A

cotonicultura nacional, para ser competitiva na economia globalizada, requer demanda de tecnologia avançada, de modo a obter alta produtividade e qualidade de fibras e diminuição dos custos de produção. A tecnologia adotada atualmente consiste num sistema de produção baseado na adequada correção do solo e utilização de doses de fertilizantes relativamente altas. Em parte das regiões onde se encontram as maiores áreas de algodão no Brasil atualmente, o índice pluviométrico está ao redor de 2 mil mm anuais. Todas estas condições proporcionam um crescimento vegetativo muito vigoroso da planta que, se mal maneja-

do, pode levar à diminuição da produtividade. A grande quantidade de massa verde produzida pela planta do algodoeiro dificulta o aproveitamento dos nutrientes alocados para a formação das fibras. O aumento da quantidade de massa verde é resultante de condições de alta fertilidade natural dos solos ou mesmo adubações restauradoras. O grande desenvolvimento das plantas pode resultar em baixa produtividade, em razão não só da demanda de nutrientes pelas partes vegetativas e autosombreamento, como pelas dificuldades existentes na execução dos tratos culturais e fitossanitários, como também, princi-

palmente, na operação de colheita. A manipulação da arquitetura do dossel das plantas do algodoeiro com biorreguladores é uma das estratégias agronômicas para o incremento da produtividade. Com a utilização de reguladores vegetais pode ser possível melhorar a adubação, sem que ocorra crescimento vegetativo excessivo. A utilização de reguladores permite ainda melhores condições de cultivo, proporcionando redução da altura de plantas e do tamanho dos ramos laterais, aumento da precocidade, facilitando a colheita mecanizada. Um dos produtos muito utilizado nas lavouras comerciais no Brasil, visando regular o

Charles Echer

Algodão

Crescimento regulado

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crescimento das plantas de algodão é o à base de Cloreto de Mepiquat, um composto orgânico, solúvel em água, absorvido principalmente pelas partes verdes da planta que pode ser incluído no grupo de inibidores da biossíntese do ácido giberélico, que é um promotor de crescimento nos vegetais, sendo portanto, um inibidor do alongamento celular. A utilização de reguladores vegetais é uma das estratégias agronômicas para a manipulação da arquitetura das plantas. A aplicação exógena de reguladores vegetais poderia uniformizar as plantas, facilitando a colheita manual ou mecanizada. Os benefícios potenciais do Cloreto de Mepiquat são: redução do crescimento das plantas, melhoria de arquitetura, aumento da retenção de frutos nas primeiras posições dos ramos frutíferos, incrementando na precocidade de abertura dos frutos, melhoria da eficiência na colheita e na qualidade do produto colhido. Com a aplicação de cloreto de mepiquat têm-se plantas mais compactas, e isto se deve ao menor crescimento do caule e dos ramos provocado pelo produto, o que é vantajoso, pois assim têm-se plantas em que a relação entre matéria seca da parte reprodutiva e vegetativa é maior que uma unidade, e tal rela-

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A modificação da arquitetura das plantas contribui para a eficiência na aplicação dos inseticidas, facilitando, a distribuição dos produtos

ção se correlaciona positivamente com a produção de algodão. O cloreto de mepiquat altera a partição da biomassa, inibindo o crescimento de determinadas partes e estimulando outras, e que a combinação desses efeitos confere maior eficiência às plantas, inclusive maior tolerância ao estresse hídrico. O cloreto de mepiquat uniformiza a produção de botões florais, ocasionando o escape das pragas tardias. Plantas tratadas com o produto apresentam menor número de botões florais e maçãs danificadas por larvas de Heliothis. A modificação da arquitetura das plantas também pode contribuir para melhorar a eficiência na aplicação dos inseticidas, facilitando, assim, a melhor distribuição dos produtos, melhorando o controle de insetos-pragas que atacam os frutos. Frente a todas essas características, fica evidente a necessidade da aplicação do regulador de crescimento nas lavouras algodoeiras no Brasil e a necessidade de se reaplicar o produto caso ocorra lavagem deste por água da chuva para que se tenha o resultado desejado na lavoura. Um dos problemas que se apresentam atu-

almante é a definição da dose do produto que contém o princípio ativo do regulador a ser empregada. Embora existam recomendações das empresas e mesmo oficiais, nem sempre se consegue o resultado desejado. A época de aplicação dos reguladores vegetais recomendada no Brasil corresponde a um período de grandes índices de pluviosidade. Existe, portanto, grande risco do produto ser lavado pela água das chuvas sem ter sido absorvido pela planta. Sendo assim, seria necessário reaplicar a quantidade de produto perdida para que este possa exercer o efeito esperado no controle do crescimento das plantas de algodão. O problema neste caso é se quantificar a dose a ser reaplicada em função da intensidade da chuva a qual a lavoura foi atingida e também, em função do tempo transcorrido entre a aplicação do regulador e a ocorrência de chuvas. Sendo assim, pesquisas vêm sendo realizadas na Faculdade de Ciências Agronômicas, Câmpus de Botucatu/SP, junto ao professor Ciro Rosolem do Departamento de Produção Vegetal, Setor Agricultura com o objetivo de desenvolver uma recomendação de reposição do produto em lavouras comerciais de algodoeiro, focando as perdas do regulador vegetal por chuvas de diferentes intensidades, ocorridas em diferentes tempos após a aplicação do regulador vegetal, em diferentes doses aplicadas. Para realizar a simulação da chuva nos diferentes períodos após a aplicação do regulador foi utilizado equipamento de pulverização e simulação de chuva que encontra-se instalado em uma sala fechada do NuPAM (Núcleo de Pesquisas Avançadas em Matologia)/ UNESP – FCA – Campus de Botucatu – SP e constitui-se de uma estrutura metálica, com três metros de altura por dois metros de largura, que permite o acoplamento de um carrinho suspenso a 2,5 metros de altura. A esse carrinho, encontram-se acopladas duas barras de pulverização, uma responsável pelo sistema de simulação de chuva e a outra, pelo sistema de pulverização do regulador e defensivos agrícolas, as quais deslocam-se por uma área útil de 6 metros quadrados no sentido do comprimento do equipamento. A organização das unidades experimentais ao longo do percurso das barras do simulador foi feita utilizando espaçamento de 0,90 m, simulando uma população de 90 mil plantas por hectare. A barra de pulverização foi dotada com 4 bicos cônicos (Dx 8) e posicionados a 0,5 m do dossel das plantas. Para chuva a barra foi fixada a 1,75 m de altura, sendo a mesma dotada de 3 bicos de alta vazão, espaçados em 0,50 m. Logo antes da aplicação do regulador vegetal, mediu-se a altura de todas as plantas (colo até o último nó vegetativo) e as medições continuaram durante cerca de um mês, que foi o tempo necessário para que o

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Fotos Charles Echer

regulador pudesse expressar seus efeitos nos diferentes tratamentos empregados. Em experimento conduzido recentemente, foi utilizada uma dose de regulador de crescimento à base de cloreto de mepiquat (PIX) de 250 ml do produto por hectare e seis tempos transcorridos entre a aplicação do regulador e a chuva simulada de 20 mm, foram estes: tempo 0 (aplicação de chuva simulada logo após a aplicação do regulador), 2, 4, 8, 16 e 32 horas transcorridas entre a aplicação do regulador e a aplicação de chuva simulada. Outros trabalhos ainda vêm sendo desenvolvidos no sentido de se estudar o efeito de diferentes doses de regulador aplicado e diferentes intensidades de chuva na taxa de reposição de produto. Com os resultados obtidos, objetiva-se desenvolver tabelas de reposição do produto, onde o agricultor poderá recorrer em caso de ocorrência de chuvas em sua lavoura em momentos posteriores a aplicação do regulador de crescimento. Sendo assim, o agricultor, tendo dados de intensidade de chuva ocorrida, com a dose do regulador que foi aplicado na lavoura e com a informação do tempo que foi transcorrido entre a aplicação do regulador e a ocorrência daquela intensidade de chuva conhecida, poderá reaplicar uma determinada dose do produto para evitar comprometimento do efeito do regulador por este não ter sido

absorvido em decorrência da lavagem por água da chuva. Dados preliminares mostram que chuvas ocorridas de 20 mm de intensidade em momentos mais próximos a aplicação do regulador são capazes de lavar o produto das folhas do algodoeiro, comprometendo sua ação e sendo necessária a reaplicação de parte deste produto para que este possa expressar sua ação de melhor maneira nas plantas e exercer sua função. Chuvas ocorridas até 24 horas após a aplicação do regulador ainda causam prejuízo na ação do produto no crescimento do algodoeiro. A lavagem do produto das folhas por chuvas ocorridas até 12 horas após a aplicação provocam perdas relativamente maiores quanto maior for a dose aplicada. Conhecendo-se a altura atual das plantas, é possível calcular a dose de regulador a ser aplicada. Com os resultados da taxa de crescimento foi possível determinar a dose a ser reposta do regulador de crescimento em função do tempo para ocorrência de chuva após a sua aplicação. Portanto, caso ocorra chuva 0, 2, 4, 8, 16 ou 32 horas após a aplicação do produto, recomenda-se a reposição de 133, 128, 119, 107, 91 e 73 ml ha-1, respectivamente. Trabalhos objetivando avaliar o efeito da lavagem de diferentes intensidades de chuva (não só uma chuva de 20 mm) na lavagem de diferentes doses de regulador (além da dose

A lavagem de um regulador das folhas, por chuvas ocorridas até 12 horas após a aplicação, provocam perdas maiores quanto maior for a dose aplicada

de 250 ml do produto por hectare) foram já realizados e seus resultados estão sendo avaliados para que possa, no futuro, servir de parâmetro de reposição de produto para os agricultores. C Fábio Souza Unesp


Dirceu Gassen

Soja

Crescimento vertiginoso O salto de 40% para 90% da área de cultivo infestada com corda-de-viola em lavouras de soja no Rio Grande do Sul reforça a importância da rotação de princípios ativos de herbicidas para evitar a resistência de plantas daninhas. É indispensável, ainda, a máxima atenção ao estádio de desenvolvimento da planta e às condições climáticas na hora de iniciar o controle

A

lterações na flora daninha presente em lavouras de soja ocorrem com o passar dos anos, devido ao uso excessivo de herbicidas na cultura com vistas ao seu controle. Em geral, o controle químico é o mais utilizado e, por isso, o uso continuado de um mesmo produto controla algumas espécies e não controla outras. Nesse caso, ocorre gradativa seleção de plantas daninhas menos suscetíveis ao produto utilizado repetidamente. A história recente do controle químico de plantas daninhas aponta espécies que foram selecionadas devido ao uso continuado de herbicidas que possuem o mesmo mecanismo de atuar na planta. Por exemplo, o leiteiro (Euphorbia heterophylla) se tornou problema na lavoura de soja no início da década de 1980, devido à ineficiência dos herbicidas sobre esta espécie naquela época. Também devido à ineficiência de controle dos herbicidas para uso em soja, no final da década de 1980, surgiu como problema sério o balãozinho (Cardiospermum halicacabum). No início da década de 1990, inicia o registro de casos de resistência do leiteiro aos herbicidas inibidores da enzima ALS (ex. imazaquim, imazetapir, flumetsulan) e, logo em seguida, bióti-

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pos de picão-preto (Bidens pilosa) resistentes aos herbicidas deste mecanismo de ação. No Rio Grande do Sul, o uso de cultivares de soja resistentes ao herbicida glifosato permitiu que o controle de espécies resistentes aos herbicidas citados anteriormente, de balãozinho e de outras espécies comuns em lavouras de soja, fosse eficiente. Depois de aproximadamente oito anos de uso da soja RR, a pressão de se-

leção de espécies daninhas é muito grande, devido ao emprego do herbicida glifosato, além do manejo antes da semeadura (também utilizado na soja sem RR) em uma ou duas aplicações para o controle de plantas daninhas em pósemergência na cultura. Esse modo de controle vem selecionando espécies daninhas como corriolas ou corda-de-viola (Ipomoea spp.), poaia-branca (Richardia brasiliensis), trapoeraba (CommeliCultivar

A seleção de plantas daninhas tolerantes ou resistentes pode ocorrer quando um mesmo herbicida é usado continuamente

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Figura 1- Freqüência de espécies daninhas em lavouras de soja na região do planalto do Rio Grande do Sul. Fundacep, 2006. (Dados provenientes do projeto MIPD – safra 1994/05 e de levantamento realizado junto a 22 cooperativas agropecuárias – safra 2005/06)

na spp.). Além disso, no Rio Grande do Sul, já foram identificados biótipos de azevém (Lolium multiflorum), buva (Conyza bonariensis) e leiteiro, resistentes ao glifosato. A história se repete: o uso continuado e em grande extensão de área do mesmo herbicida seleciona espécies daninhas tolerantes ou biótipos resistentes. Como comentado anteriormente, é esperado que a flora daninha mude conforme o controle adotado. Nesse sentido, levantamento realizado junto aos departamentos técnicos de 22 coopera-

Figura 2 - Dose de glifosato aplicada no manejo em pré-semeadura da soja (dessecação), cultivada sob plantio direto na região do planalto do Rio Grande do Sul - safra 2005/06. Fundacep, 2006. (Dados provenientes de levantamento realizado junto a 22 cooperativas agropecuárias)

tivas agrícolas gaúchas, na safra 2005/ 06, indicou que a corriola aumentou sua freqüência nas lavouras de soja nos últimos 11 anos (Figura 1). Dados da safra 1994/95, indicavam que essa espécie ocorria em menos de 40% das lavouras; já, na última safra, estava presente em mais de 90% da área cultivada com soja. Nesse mesmo levantamento, a corriola foi apontada como a espécie que o glifosato enfrenta dificuldades em controlar eficientemente tanto no manejo em pré-semeadura como após a emer-

gência da cultura. Além disso, segundo a indicação dos departamentos técnicos das cooperativas, foi a principal espécie daninha presente por ocasião da colheita da soja. Verificou-se, também, que a dose utilizada em 93% das lavouras por ocasião da dessecação (Figura 2) e em mais de 90% das lavouras para o controle de plantas daninhas após a emergência da soja, foi 0,96 kg/ha (equivalente a 2,0L/ha de produto comercial com 48% de ingrediente ativo). Notase, portanto, que a corriola está presente antes da semeadura, permanece du-


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do dicloreto de paraquate com diurom (indicações técnicas para a cultura da soja no Rio Grande do Sul - safra 2006/ 07). Esses produtos são eficientes sobre corriola e outras espécies daninhas. Na cultura de soja, o controle de corriola em pré-emergência pode ser efetuado com herbicidas à base de diclosulam, flumetsulam, imazaquim e sul-

Mário Antônio Bianchi, Fundacep

Fotos Dirceu Gassen

rante o ciclo de crescimento da soja e continua na lavoura na maturação da soja e, por isso, a dose de 0,96 kg/ha de glifosato é insuficiente para o controle de plantas desta espécie. Esses resultados indicam, claramente, que o manejo adotado para o controle de corriola necessita ser reavaliado. Dessecação eficiente garante que a semeadura seja realizada na ausência de plantas daninhas, condição fundamental para alcançar alta produtividade de grãos de soja. A dessecação deve ser planejada de modo que garanta que todas as plantas daninhas presentes recebam o herbicida que está sendo aplicado. Essa operação pode ser realizada em duas etapas se for necessário. Estágio avançado da planta daninha e dose subdimensionada de herbicidas são os principais motivos para a baixa eficiência de controle na dessecação. A situação se agrava ainda mais quando as plantas se encontram sombreadas por outras e/ou quando a poeira recobrir suas folhas. Os herbicidas para a dessecação das plantas daninhas em pré-semeadura da soja no sistema de plantio direto são os seguintes: 2,4-D, clorimurom etílico, glifosato, glifosato potássico, dicloreto de paraquate e a mistura

fentrazona; e, em pós-emergência, com bentazona e clorimurom etílico (indicações técnicas para a cultura da soja no Rio Grande do Sul – safra 2006/07). Além desses produtos, em soja RR, é possível aplicar o herbicida glifosato em pós-emergência da cultura. Destaca-se que a eficiência do controle em pós-emergência depende do estádio de desenvolvimento da planta de corriola e das condições ambientais por ocasião da aplicação.O uso de herbicidas em pós-emergência da cultura e da planta daninha deve ser realizado quando as plantas de corriola apresentarem de quatro e seis folhas. Nessa aplicação, a umidade relativa do ar deve ser superior a 60% para que a planta possa absorver o produto em quantidade suficiente para proporcionar o controle. Por fim, é importante lembrar que o surgimento de uma nova espécie daninha ou de biótipos resistentes aos herbicidas, bem como o aumento da freqüência de espécies como a corriola em lavouras de soja, se deve ao uso quase exclusivo de herbicidas para o controle das plantas daninhas. Outras práticas de manejo, como a rotação de culturas e a utilização de plantas para cobertura do solo no período de entressafra (práticas atualmente em desuso pelos agricultores), permitem diversificar herbicidas e épocas de aplicação, dificultam a emergência das ervas e reduzem o porte e a densidade de espécies daninhas nas lavouras, se constituindo em importantes ferramentas para o manejo integrado de plantas daninhas. C

O uso de herbicidas em pós-emergência deve ser feito quando as plantas daninhas apresentarem de quatro a seis folhas

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Soja

Mais um vilão

Identificado Identificado recentemente recentemente no Brasil o cancro da haste, causado por Diaporthe Diaporthe phaseolorum var. caulivora, provoca infecções na fase vegetativa das phaseolorum var. caulivora, provoca infecções na fase vegetativa das plantas plantas de de soja e pode levá-las à morte a partir do florescimento. Pesquisadores trabalham soja e pode levá-las à morte a partir do florescimento. Pesquisadores trabalham na na tentativa tentativa de de encontrar encontrar variedades variedades resistentes, resistentes, mas mas por por enquanto enquanto as as principais principais medidas de controle ainda são o tratamento de sementes e a rotação de medidas de controle rotação de culturas culturas

E

m março de 2006, na área experimental da Embrapa Trigo, em Passo Fundo (RS), algumas plantas de soja morreram mais cedo que outras, ainda na fase de enchimento de grãos. As folhas, secas, permaneceram presas às plantas, na posição original. Ao se arrancar estas plantas, notava-se que as raízes das mesmas estavam sadias, o que eliminava a possibilidade de doenças radiculares, como podridão vermelha da raiz (Fusarium solani f. sp. glycines) ou podridão cinza da raiz (Macrophomina phaseolina). Outra alternativa seria o mofo branco da haste (Sclerotinia sclerotiorum), o qual foi descartado pelo exame externo da haste, que não apresentava micélio branco denso, nem a formação de estruturas escuras (escleródios). Estas hastes apresentavam uma área de tecido marrom, que circundava a mesma, iniciando na inserção de ramo lateral e extendendo-se por vários centímetros, em direção ao topo da planta. Cortando-se o exterior da haste no local desta lesão ou um pouco acima da margem superior, observava-se o lenho da haste também escurecido. A partir daí, outras plantas sintomáticas começaram a ser coletadas também no município vizinho de Coxilha. Estes sintomas conferem com a doença conhecida como cancro da haste, já conheci-

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da no Brasil desde 1998/89, porém diferenciam-se por não serem observadas folhas carijós (com necrose internerval), e pela lesão na haste ser relativamente grande e circundante, enquanto que o cancro antigo dificilmente circundava as hastes e apresentava margens bem definidas, marrom-avermelhadas. Esta doença, na década de 90, foi muito agressiva, causando perdas de até 100% em muitas lavouras de soja no Brasil. Os programas de melhoramento genético trabalharam intensivamente e a doença, hoje em dia, encontra-se sob controle com o uso de cultivares resistentes. Assim, levantou-se a hipótese de estarmos observando um outro tipo de cancro da haste, pois sabe-se que esta doença pode ser causada por duas variedades do mesmo fungo. Na década de 90, tivemos o cancro causado por Diaporthe phaseolorum var. meridionalis. Na safra 2005/06, o que poderia estar ocorrendo, pela primeira vez no Brasil, era outro agente causal de cancro, desta vez o Diaporthe phaseolorum var. caulivora. Ambos foram identificados nos Estados Unidos da América, nas décadas de 1970 e de 1940, respectivamente. A princípio, a variedade caulivora causou perdas de rendimento de grãos superiores a 50%, nos EUA e, em 1994, as perdas mundiais foram estimadas em 1,9 milhões de t de grãos

de soja, mas hoje em dia, com o uso de cultivares resistentes, não causa perdas significativas. O cancro por caulivora já foi observado no Canadá, na Europa e na Argentina. Neste último país, foi identificado em 1999 e, em 2004, foi coletado em 17 localidades na principal região produtora, na província de Santa Fé e em alguns locais das províncias de Córdoba e de Buenos Aires. A incidência máxima de plantas com sintomas, em uma lavoura, chegou a 60%. Na safra 2003/04, os dados argentinos de incidência de cancro da variedade caulivora foram de 13% e de 20%, em duas localidades. Para estes níveis de incidência, os valores percentuais de perdas de rendimento de grãos alcançaram 4% e 10%, respectivamente. Com o agente causal isolado, em labora-

Lesão grande e circundante da haste, caracteriza o cancro que se torna visível a partir da metade até o final do ciclo da cultura

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tório, foram realizados testes de identificação molecular e de agressividade em cultivares de soja com reação conhecida à D. phaseolorum var. meridionalis na Embrapa Soja, em Londrina (PR), e de compatibilidade vegetativa com a var. meridionalis, na Embrapa Trigo. Observou-se que três isolados, entre 22 coletados, demontraram padrões moleculares idênticos para aqueles publicados para a variedade caulivora, e depositados nos EUA. Além disto, em inoculações de plantas em casa de vegetação, observou-se que os isolados de 2006 apresentaram agressividade diferente daquela apresentada pela variedade meridionalis, causando morte de plantas na cultivar padrão de resistência. Quanto à compatibilidade vegetativa, in vitro, os isolados de 2006 foram compatíveis entre si e incompatíveis com a variedade meridionalis. Outras características morfológicas, como aparência e tamanho de estruturas de reprodução também diferenciaram as duas variedades. A partir dessas observações, concluímos que estamos na presença de mais uma nova doença de soja no Brasil. Em geral, os sintomas de cancro da haste tornam-se visíveis em plantas adultas e podem ser melhor observados desde a metade até o final do ciclo da cultura, o que, no Rio Grande do Sul, corresponde a meados de fevereiro a meados de março, embora o início da infecção possa ocorrer pouco após a emergência da planta. É uma doença de desenvolvimento lento, e infecções ocorridas na fase vegetativa vão produzir a morte de plantas a partir do florescimento. O patógeno é transmitido via semente (taxa de transmissão de 10% a 20%) e permanece viável em restos culturais de soja. Na fase sexual, forma peritécios no tecido afetado, em menor quantidade no final do ciclo de cultivo de soja, e mais freqüentemente em restos culturais, na entressafra, que dão origem a novas plantas in-

Períodos prolongados de chuva ou molhamento que ocorrem no início da fase vegetativa da cultura, podem desencadear danos severos na lavoura

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Tabela 1 - Fungicidas e respectivas doses, para o tratamento de sementes de soja. XXVIII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Uberaba (MG). Agosto/2006 Nome comum • Produto comercial2 I. Fungicidas de contato Captan • Captan 750 TS Thiram • Rhodiauran 500 SC • Thiram 480 TS Tolylfluanid • Euparen M 500 PM II. Fungicidas sistêmicos Carbendazin • Derosal 500 SC Carbendazin + Thiram • Derosal Plus4 • Protreat4 Carboxin + Thiram • Vitavax + Thiram PM4 • Vitavax + Thiram 200 SC3,4 Difenoconazole • Spectro Fludioxonil + Metalaxyl - M • Maxim XL4 Thiabendazole • Tecto 100 (PM e SC) Thiabendazole + Thiram • Tegram4 Tiofanato metílico • Cercobin 700 PM • Cercobin 500 SC • Topsin 500 SC

Dose/100 kg de semente1 Ingrediente ativo (gramas) • Produto comercial (g ou ml) 90 g • 120 g 70 g (SC) ou 144 g (TS) • 140 ml • 300 ml 50 g • 100 g 30 g • 60 ml 30 g + 70 g • 200 ml • 200 ml 75 g + 75 g ou 50 + 50 g • 200 g • 250 ml 5g • 33 ml 35 g + 10 g • 100 ml 17 g • 170 g ou 31 ml 17 g + 70 g • 200 ml 70 g • 100 g • 140 ml • 140 ml

As doses dos produtos isolados são aquelas para a aplicação seqüencial (fungicida de contato e sistêmico). Caso contrário utilizar a dose do rótulo. 2 Poderão ser utilizadas outras marcas comerciais, desde que sejam mantidos a dose do ingrediente ativo e o tipo de formulação. 3 Fazer o tratamento com pré-diluição, na proporção de 250 ml do produto + 250 ml de água para 100 kg de semente. 4 Misturas formuladas comercialmente e registradas no MAPA/DDIV/SDA. CUIDADOS: devem ser tomadas precauções na manipulação dos fungicidas, seguindo as orientações da bula dos produtos. 1

fectadas, no início da estação de cultivo seguinte. Danos severos dependem de infecções ocorridas no início da fase vegetativa da cultura, associadas com períodos prolongados de chuva ou molhamento. Como já foi citado anteriormente, existem outros problemas em soja que podem gerar sintomas parecidos e confundir na identificação deste cancro, como podridão vermelha da raiz (Fusarium solani f. sp. glycines), podridão cinza da raiz (Macrophomina phaseolina), mofo branco da haste (Sclerotinia sclerotiorum), podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae), morte em reboleira (Rhizoctonia solani), e mesmo danos de tamanduá ou bicudo da soja (Sternechus subsignatus). Como medidas de controle, são recomendados o tratamento de sementes, a rotação de culturas e o uso de cultivares de soja com resistência genética. O tratamento de sementes é fundamental para evitar a introdução do

Tabela 2 - Fungicidas indicados para tratamento de sementes de soja. XXXIV Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul. Pelotas (RS), 25 a 27 de julho de 2006 Nome comum

Dose/100 kg de semente Ingrediente ativo (g) • Produto comercial Produto comercial (g ou ml) Carbendazim + Captana1 30 g + 90 g • Derosal 500 SC + Captan 750 TS • 60 mL + 120 g Carbendazina + Tiram1 30 g + 70 g • Derosal 500 SC + Rhodiauram SC • 60 ml + 140 ml • Derosal 500 SC + Thiram 480 TS • 60 ml + 144 ml • Derosal Plus • 200 ml Carboxina + Tiram 75 g + 75 g ou 50 g + 50 g • Vitavax-Thiram WP • 200 g • Vitavax-Thiram 200 SC2 • 250 ml Difenoconazol + Tiram1 5 g + 70 g • Spectro + Rhodiauram SC • 33 ml + 140 ml • Spectro + Thiram 480 TS • 33 ml + 144 ml Fludioxonil + Metalaxil-M 2,5 g + 1 g • Maxim XL • 100 ml • Tiabendazole + Captana1 15 g + 90 g • Tecto 100 (PS e SC) + Captan 750 TS • 150 g ou 31 ml + 120 g Tiabendazol + Tiram 17 g + 70 g • Tecto 100 (PS e SC) + Rhodiauram SC • 170 g ou 35 ml + 140 ml • Tecto 100 (PS e SC) + Thiram 480 TS • 170 g ou 35 ml + 144 ml Tiabendazol + Tiram1 15 g + 50 g • Tecto 100 (PS e SC) + Rhodiauram SC • 150 g ou 31 ml + 140 ml • Tecto 100 (PS e SC) + Thiram 480 TS • 150 g ou 31 ml + 144 ml • Tegran • 200 ml Tiofanato metílico + Tolilfluanida 50 + 50/g • Cercobin 700 WP + Euparen M 500 WP 70 g + 100 g • Cercobin 500 SC + Euparen M 500 WP 100 ml + 100 g • Topsin 500 + Euparen M 500 WP 100 mL + 100 g Tolilfluanida + Carbendazina1 50 g + 30 g • Euparen M 500 PM + Derosal 500 SC • 100 g + 60 ml Mistura não formulada comercialmente. Fazer o tratamento com pré-diluição, na proporção de 250 g do produto + 250 ml de água para 100 kg de semente. 1 2

patógeno na lavoura, uma vez que a doença é disseminada através de sementes. Podem ser usados os produtos constantes nas “Indicações Técnicas para a Cultura da Soja 2006/ 2007”, nas Tabelas 1 e 2 de fungicidas para esta finalidade. Uma vez que a doença for identificada em determinada área, será necessário realizar rotação de culturas por, pelo menos, uma safra, para que os restos de soja possam sofrer decomposição sem a presença de novas plantas de soja, já que o fungo permanece vivo nos restos culturais. A indicação de cultivares de soja com resistência genética é a solução mais efetiva e econômica, mas só será possível a médio e longo prazos, pois não há, até o momento, ações de rotina no processo de melhoramento genético visando seleção C de linhagens de soja com resistência. Leila Maria Costamilan, Embrapa Trigo Álvaro Manuel R. Almeida, José Tadashi Yorinori, Claudine Dinali Seixas e Eliseu Binneck, Embrapa Soja

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Milho

Nitrogênio na safrinha

A adubação nitrogenada do milho é essencial para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Nutriente constituinte dos aminoácidos, o N fornece as proteínas necessárias para o momento de formação de grãos. A prática de parcelamento é forma recomendada para aplicação, com vistas ao aumento da eficiência da adubação

P

lantado geralmente em sucessão à soja, o milho safrinha aproveita o residual de parte dos nutrientes que foram colocados à disposição desta leguminosa. No caso do nitrogênio, considera-se que para cada tonelada de grãos de soja colhida ficam no solo cerca de 20 kg/ha de N. Outra fonte de N é a matéria orgânica do solo, o que significa que a cada 1% de matéria orgânica disponibilizaria ao longo do ano cerca de 30 kg/ha de N. Porém, quando se almeja produtividades elevadas (acima de 90 sc/ha), se faz necessário a reposição dos nutrientes. A demanda de nutrientes cresce linearmente com o aumento da produtividade, tornando a cultura extremamente exigente nutricionalmente. Tomando como exemplo, para uma produtividade de 4 mil kg/ha a extração de nitrogênio é em torno de 90 kg/ha de N, quando o rendimento chega próximo a 8 mil kg/ha a demanda de N vai a mais de 160 kg/ha de N. Considerando que uma boa produtividade para o milho safrinha é de 80 sc/ha, estima-se que a necessidade de nitrogênio seria algo em torno de 130 kg/ha de N. Dentre os nutrientes essenciais ao crescimento e desenvol-

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vimento das plantas, destaca-se o papel que o N desempenha no milho, como constituinte essencial dos aminoácidos, principais integrantes de proteínas. Como a formação dos grãos depende de proteínas na planta, a produção do milho está diretamente relacionada com o suprimento de N. Desta forma, a sua absorção tem uma dinâmica similar à acumulação de matéria seca pelo milho, sendo que os estádios de maior demanda são os compreendidos entre V4 (quatro folhas distendidas) e V12 (12 folhas distendidas), sendo este o período de definição do potencial de produção do milho. Por outro lado, tomando-se como referência o ciclo da cultura em dias, a absorção de N pelas plantas de milho ocorre em todo seu ciclo vegetativo, sendo pequena no primeiro mês, aumenta consideravelmente a partir daí, atingindo taxa superior a 4,5 kg/ha por dia, durante todo

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Fotos Cultivar

produção de grãos. Embora essas respostas variem de um material genético para outro, o incremento da área foliar parece ser a explicação para o melhor desenvolvimento das plantas favorecido pelo fornecimento de N. No caso de se fazer cobertura nitrogenada com uso da uréia, esta deve ser incorporada ao solo para diminuir as perdas do N amoniacal por volatilização. A necessidade nutricional da cultura é específica para cada local. Por isso, é importante o conhecimento do histórico da área para uma adequada recomendação de adubação. Quanto à necessidade de N, é possível estimá-la, de forma prática, considerando a necessidade da cultura, o fornecimento pelo solo e a eficiência da adubação Quando as condições climáticas não são favoráveis, podendo ocorrer risco de seca durante os estádios da cultura e a expectativa de produtividade for em torno de 2 a 3 t/ha, dar preferência pela aplicação de N em dose única, na semeadura, com 30 a 45 kg/ha. C Luiz Alberto Staut, Embrapa Agropecuária Oeste

o florescimento. Entre 25 e 50 dias, a planta de milho chega a acumular 80% do N que necessita. Assim, o parcelamento visando ao aumento da eficiência da adubação nitrogenada, constitui uma prática recomendada que, para se obter a máxima eficiência do fertilizante nitrogenado é importante que o suprimento de N seja realizado até mais ou menos próximo aos sessenta dias após a emergência, uma vez que nesta data verifica-se que mais de 80% do N absorvido já está no interior da planta. A adubação nitrogenada em cobertura tem sido bastante efetiva, ao minimizar as perdas do nutriente aplicado e atender à demanda da cultura. Entretanto deve-se levar em consideração a fenologia do milho, as condições climáticas e o tipo de solo, pois o parcelamento indiscriminado do adubo nitrogenado, em cobertura, pode comprometer o retorno econômico da adubação. A eficiência da adubação nitrogenada é dependente entre outras variáveis, das condições climáticas. Nas condições em que os fatores climáticos não são limitantes, a pesquisa tem mostrado expressivas produções obtidas com a safrinha. Experimentos realizados em Mato Grosso do Sul, em solos de alta fertilidade, após o cultivo de soja, observou-se resposta à

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Entre 25 e 50 dias, a planta de milho acumula 80% do N que necessita

adubação do milho safrinha, principalmente ao N. Foram testados seis doses de N (30, 60, 90, 120 e 150 kg/ha) aplicadas todas na semeadura; 1/3 na semeadura e 2/3 com quatro folhas expandidas; 1/3 na semeadura e 2/3 com oito folhas expandidas e 1/3 na semeadura e 2/3 com dez folhas expandidas. Para as doses menores de 30 e 60 kg/ha de N, não houve diferença entre os diferentes modos de aplicação e os rendimentos foram em torno de 4.500 kg/ha. Nas doses de 90, 120 e 150 kg/ha de N, a melhor resposta foi quando houve o parcelamento de 1/3 na semeadura e 2/3 com oito folhas completamente expandidas e os rendimentos foram em torno de 6,6 mil kg/ha. Resultados semelhantes foram obtidos na região do Médio Vale do Paranapanema, com o cultivo de milho safrinha após a soja, com retorno econômico à aplicação de N, principalmente em solos arenosos. Em solos argilosos as respostas foram pequenas porém constantes a até 40 kg/ha de N. Altas doses de fertilizante nitrogenado proporcionaram maior enchimento de grãos, e alguns híbridos mostraram aumento no teor de proteína e/ou

CRESCIMENTO NO CENTRO-OESTE

A

cultura do milho safrinha, implantada no início dos anos 80, no Paraná, ganhou destaque na região Centro - Oeste como mais uma alternativa econômica na entressafra. O milho safrinha, segundo dados oficiais, contribui com 25% (nove milhões de t/ano) do total de milho produzido no Brasil (42 milhões de t/ano). A região Centro-Oeste nunca plantou tanto milho safrinha quanto neste ano de 2007. Levantamentos realizados durante o mês de janeiro indicam que a área plantada com o grão durante o inverno poderá chegar a dois milhões de hectares nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Este aumento na área plantada é devido a estimativas de que a demanda por milho está aquecida e que os preços poderão ser maiores que os praticados em 2006. Isso ressalta a importância de que o produtor que investir em um programa de adubação mais arrojado e ajustado para a cultura do milho, terá como resultado altas produtividades e, conseqüentemente, maior rentabilidade na atividade.

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Milho

Quase letal

Jean Carlos

Ante a severidade dos danos causados por Spodoptera frugiperda na cultura do milho, pesquisadores avaliam estratégia de controle da praga com doses subletais, que, embora não provoquem a morte imediata, podem promover alterações na biologia ou na capacidade reprodutiva do inseto adulto, o que inviabiliza seu crescimento populacional. Além de reduzir o impacto dos defensivos sobre os inimigos naturais, o estudo promete ser uma importante ferramenta no manejo integrado de pragas

A

cultura do milho está sujeita ao ataque de diversas espécies de insetos, que podem, sob certas condições, se tornarem pragas importantes causando redução significativa na produtividade. Cujas perdas são agravadas pelas dificuldades encontradas pelos agricultores na realização do seu controle. Spodoptera frugiperda (J.E. Smith), (Lepidoptera, Noctuidae), conhecida no estágio larval como lagarta-do-cartucho do milho, é uma das mais importantes pragas dessa cultura no Brasil, alimentando-se da planta em todas as fases de crescimento, apresentando marcada preferência por plantas jovens e causando severos danos. Segundo Cruz (1999), seus danos podem ocasio-

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nar perdas superiores a 400 milhões de dólares anuais à produção de milho. Nos últimos anos, a severidade dessa praga para a cultura do milho vem aumentando em várias regiões brasileiras, devido principalmente, à tecnologia de produção de milho, que vem sendo adotada como o cultivo continuado sob irrigação que favorece o seu crescimento populacional, devido à maior disponibilidade de alimento durante o ano todo. Além disso, provoca desequilíbrio biológico, mediante a eliminação de seus inimigos naturais, e o aparecimento de populações resistentes a inseticidas. As mariposas de S. frugiperda põem de 1.500 a 2.000 ovos na página superior das folhas, segundo Gallo et al. (2002). Após

três dias nascem as lagartas, que passam a se alimentar raspando superficialmente, de preferência, as folhas mais novas do milho. A duração do período larval é de 12 a 30 dias. No final do período larval, as lagartas penetram no solo, onde se transformam em pupa, o período pupal é de oito dias no verão e de 25 dias no inverno. Os adultos vivem em média, cerca de 15 dias. As injúrias à superfície foliar ocorrem durante o 1º e 2º instares larvais. Quando as lagartas atingem o 3º instar, elas se alojam no interior do cartucho do milho, perfurando as folhas da planta, antes mesmo do seu lançamento, podendo destruí-lo completamente. Sob condições severas de ataque as lagartas podem cavar galerias no interior do

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NÚMEROS DA PRODUÇÃO DE MILHO

A

produção mundial de milho encontra-se, atualmente, em torno de 555 milhões de t, sendo os Estados Unidos o maior produtor com 234,6 mil t, a China o segundo maior produtor com 105 mil t, superando em oito vezes a produção do Brasil, que ocupa o terceiro lugar com 36 mil t (Agrianual, 2002). No Brasil, o milho é cultivado na grande maioria das propriedades agrícolas, sendo explorado tanto como cultura de subsistência em pequenas propriedades, com baixa utilização de tecnologia, como em grandes propriedades, empregando alta tecnologia, com elevasobre os inimigos naturais, possibilitando a associação dos inseticidas químicos com os métodos biológicos e culturais, constituindo uma importante ferramenta para o emprego do manejo integrado de pragas nessa cultura. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) visa a adoção de estratégias com o maior número possível de associações de táticas

André Shimohiro

colmo, saindo pela base do colmo próximo ao solo, confundindo com as injúrias provocadas por outras pragas. Na fase reprodutiva da planta de milho, podem atacar a espiga ainda verde, perfurando-a lateralmente, na face que fica encostada no colmo. Nos últimos anos tem sido observado um aumento no número de aplicações de inseticidas, devido ao crescimento do ataque da lagarta-do-cartucho. Muitos fatores podem explicar as causas do insucesso no seu controle, como a desuniformidade no plantio, especialmente quando a aplicação é tratorizada; escolha incorreta de produtos e doses; aplicações em momentos inadequados, tanto da biologia da praga como da fenologia da planta, e principalmente tecnologia inadequada de aplicação dos defensivos, que não possibilitam o contado do produto aplicado com a praga. Ou ainda, o manejo inadequado de outras pragas, indicando a necessidade da aplicação de técnicas mais elaboradas para o controle dessa praga (Cruz, 1995). Entre as diversas possibilidades de aprimoramento tecnológico das estratégias de controle dessa praga, visando melhorar sua eficácia, está o emprego de doses subletais, que visa reduzir o impacto dos defensivos

Com as doses subletais objetiva-se reduzir o impacto dos defensivos sobre os inimigos naturais da praga

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da produtividade, visando principalmente a produção de matéria-prima para a agroindústria (Siloto, 2002). A maior parte do milho produzido no país é destinada à produção animal, aves, suínos e pecuária de leite. A demanda por parte da comunidade européia por produtos de origem vegetal em razão de problemas sanitários, aliada às conquistas de novos mercados consumidores, requer uma maior eficiência na produção deste cereal. A exportação de carne suína cresceu 109,5% de 2000 para 2001, enquanto que a exportação da carne de frango para o mesmo período analisado cresceu 34,7% (Agrianual, 2002). de controle sem abandonar a preocupação com a economia da atividade agrícola e com a preservação do ambiente, conseguindo dessa forma obter maior eficácia de controle de cada uma das táticas empregadas isoladamente, resultando num melhor retorno econômico. A localização das lagartas de S. frugiperda no interior do cartucho do milho, muitas vezes, dificulta o seu contato com o inseticida aplicado. Porém, uma porcentagem relativamente alta de lagartas é atingida por doses subletais, que embora não provoquem sua morte, podem promover alterações na biologia ou na capacidade reprodutiva do inseto adulto, inviabilizando seu crescimento populacional ao longo das gerações no ano agrícola. As pesquisas relacionadas aos efeitos de inseticidas sobre insetos pragas, têm se limitado a sua ação letal, partindo-se do princípio que toda aplicação de inseticidas no campo atinge seu alvo. Por outro lado, quando se trata de insetos benéficos, não-alvo da aplicação dos inseticidas no campo, os estudos têm avaliado principalmente os efeitos subletais, visando principalmente conhecer a seletividade dos inseticidas. No entanto, as espécies-pragas também podem sofrer alterações nos processos fisiológicos que podem enfraquecê-las favorecendo a atuação de predadores e parasitóides. Geralmente a determinação do efeito das doses dos inseticidas nos insetos é realizada através de aplicações tópicas. Embora, não há dúvida de que uma significativa porcentagem de insetos no campo é diretamente atingida pelos inseticidas, contaminando-se através do caminhamento sobre superfícies tratadas ou da ingestão de partes contaminadas da planta. Os insetos que se contaminam através do contato, dificilmente absorvem a dose letal ou, a dose absorvida encon-

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David Riley

A localização das lagartas no interior do cartucho dificulta o contato da praga com o inseticida aplicado

trará diversas barreiras bioquímicas até atingir o sítio de ação. Os insetos que se contaminam através da ingestão do alimento, têm mais chances de resistir à ação do tóxico devido ao processo digestivo que irá dificultar a dose letal de atingir o sítio de ação. Diversos fatores interferem na contaminação dos insetos e, conseqüentemente, na ação dos inseticidas numa aplicação convencional no campo, como por exemplo, a desuniformidade da distribuição do inseticida sobre a área tratada ou mesmo sobre a planta, a forma como o inseto absorve a

dose, a capacidade metabólica do inseto, a toxicidade do produto, o sítio de ação e o modo de ação do tóxico. Estudos recentes demonstraram que lagartas de S. frugiperda alimentadas com folhas de milho contaminadas pelos inseticidas deltametrina, lufenuron e clorpirifós, são menos suscetíveis do que aquelas alimentadas com dietas artificiais contendo os mesmos produtos, indicando que o processo digestivo, de acordo com a composição do ali-

Figura 1- Mortalidade de lagartas de Spodoptera frugiperda em folhas de milho tratadas com clorpirifós em diferentes concentrações após 24, 48 e 72 horas da inoculação (T= testemunha)

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mento ingerido, pode interferir na degradabilidade ou na ação do defensivo. Por outro lado, a qualidade da dieta pode fornecer condições mais ou menos favoráveis à fisiologia do inseto, possibilitando uma maior resistência à ação dos inseticidas. As lagartas contaminadas com doses subletais de inseticidas morreram antes de atingir a fase de pupa, no entanto, muitas lagartas permaneceram vivas por períodos bem maiores (até 74 dias) do que a duração da fase larval das lagartas não contaminadas (20 dias), indicando que as lagartas que não absorvem a dose que provoca sua morte instantânea sofrem alterações fisiológicas que podem prolongar significativamente o ciclo biológico, conseqüentemente aumentando os seus danos. Por outro lado, aquelas que atingiram a fase adulta, não sofreram alterações no ciclo biológico. Comparando-se a ação letal dos inseticidas estudados verificou-se que tanto a deltametrina como o lufenuron causa maior mortalidade larval em 72 horas do que o inseticida clorpirifós. (Figuras 1 e 2). Considerando os dados apresentados, é necessário que sejam realizados mais estudos dos efeitos das doses subletais de inseticidas no comportamento e biologia dos insetos, tanto no laboratório como no campo, antes de se elaborar uma cartilha de recomendação. Teoricamente a recomendação do emprego de doses subletais é interessante como estratégia do MIP, no entanto, é necessário melhor conhecimento da relação entre a dose aplicada no campo com a dose absorvida de fato pelas lagartas. Não existem, ainda, informações precisas para as diferentes tecnologias de aplicação de defensivos, sobre a relação entre a dose aplicada e a quantidade do tóxico depositada sobre o tecido vegetal. O que dizer da dose C que atinge a praga? Rosemery Ferraz da Silva e Wilson Badiali Crocomo, Unesp

Figura 2 - Mortalidade de lagartas de Spodoptera frugiperda em folhas de milho tratadas com deltametrina e lufenuron em diferentes concentrações após 24, 48 e 72 horas da inoculação - (D = deltametrina; L = lufenuron e T = testemunha).

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Feijão

Fungos no controle Patógenos de solo, responsáveis por doenças importantes no feijoeiro como podridões radiculares e também mofo branco, estão sendo combatidos por controle biológico, através de aplicações de espécies de Trichoderma. Embora a utilização ainda não seja em larga escala, as características de rápido crescimento e proliferação do antagonista Trichoderma, quando aplicado em massa, coloniza e protege as raízes do hospedeiro

Embrapa Arroz e Feijão

O

feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris) é uma espécie altamente suscetível a patógenos que habitam o solo, causadores de podridões radiculares (Fusarium solani e Rhizoctonia solani) e do mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum). Os danos mais severos causados por estas doenças são em geral observados nas lavouras irrigadas por pivô central, que hoje concentram 30% da produção de feijão tipo “carioca”. Mais recentemente, os danos por estas doenças têm se expandido também para áreas de sequeiro, localizadas acima de 800m de altitude, atingindo regiões tradicionais produtoras ou de cultivo mais recente. Somente para o controle do mofo branco, estima-se que o custo adicional com fungicidas seja em torno 20% do custo de produção, que pode superar R$ 3 mil. Boa parte do sucesso no controle de patógenos de solo reside na proteção preventiva de plantas, na restauração da comunidade microbiana e recuperação da estrutura do solo, debilitada com a agricultura intensiva. Reconstruir o solo é possível, com práticas culturais em sistemas de integração lavoura-pecuária,

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e/ou com o aporte de matéria orgânica, em processos que podem durar dois anos ou mais, e que precisam sempre ser monitorados constantemente. Outra opção é o controle biológico de doenças, que consiste na aplicação em massa de microrganismos que controlam os fitopatógenos e protegem as plantas. Esta forma de controle foi viabilizada após décadas de pesquisa em vários países com o desenvolvimento de

formulações estáveis, que carregam uma grande quantidade de esporos viáveis, que possam ser competitivos no seu sítio de atuação. Há dezenas de espécies de fungos e bactérias com uso potencial no controle biológico de doenças. Atualmente, as de maior destaque são do gênero de fungos Trichoderma, o antagonista mais estudado e utilizado no mundo. A capacidade de espécies de Trichoderma em parasitar patógenos de solo, suas es-

Figura 1 - Produtividade do feijoeiro comum cv. pérola e soja cv. Luziânia, de acordo com a dosagem de Trichoderma harzianum 1303/ 1306 em formulação pó-molhável (108 conídios/g produto comercial), junto ao fungicida Fludioxonil (100 ml/100 kg sementes). Luziânia (GO), 2006. Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si, de acordo com o teste de Duncan (5%)

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CUIDADOS PARA O USO DE CONTROLE BIOLÓGICO • É essencial aplicar o antagonista na dosagem e número de esporos (conídios) recomendados. Para não comprometer a viabilidade dos esporos, a embalagem deve ser mantida sob condições adequadas, de preferência em geladeira. Após a data de vencimento, que deve constar nas embalagens, a viabilidade de esporos diminui para abaixo do necessário para reduzir as populações de patógenos. • Solo úmido sem a incidência de raios solares e temperaturas ente 20 e 25°C são, geralmente, as condições ideais para o desenvolvimento do antagonista. A eficiência de Trichoderma spp. é limitada sob temperaturas mais baixas, e nenhuma em solo seco. • Garantias sobre a quantidade e viabilidade de esporos e a compatibilidade com insumos químicos, são responsabilidades do fornecedor. Se necessário, testes de tratégias de sobrevivência e proliferação, rápido crescimento, produção de antibióticos, enzimas e toxinas diversas que atingem os patógenos, os credenciam para o controle biológico, uma vez que essas características os possibilitam competir, colonizar e proteger raízes do hospedeiro. O controle biológico atua onde outros métodos não conseguem ou são limitados, com a obtenção de resultados em curto período. Um exemplo de atuação é o parasitismo de escleródios, que sobrevivem por vários anos no solo. Esta vantagem tem impulsionado seu uso no Brasil, ainda que de forma relativamente empírica. Em campo, há poucos estudos realizados de forma sistematizada, o que tem dificultado sua aceitação por agricultores e profissionais da assistência técnica. Da mesma forma que fungicidas sintéticos, são necessários testes de eficiência agronômica e de outros ajustes para seu uso adequado. Os resultados são específicos para cada cepa, e não podem ser extrapolados para outras. A Embrapa Arroz e Feijão e instituições parceiras têm desenvolvido metodologias para avaliação e testes de eficiência de antagonistas em cultivos do feijoeiro comum e de outras culturas que são usadas em rotação com o feijoeiro. São testes para a avaliação de cepas e formulações, visando estimar sua eficiência real e possibilidade de inserção no manejo integrado de doenças e que apóiam também os registros de formulações de Trichoderma spp. Mapa1 para controle de doenças. Os métodos de aplicação de agentes de controle biológico devem naturalmente ser feitos sob condições ambientais que favoreçam o desenvolvimento e parasitismo dos pa-

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quantidade e viabilidade de esporos podem ser feitos em laboratórios de empresas de pesquisa e universidades, com relativa facilidade. • Alguns entusiastas pregam ou vendem produtos para o controle biológico como solução definitiva para os patógenos de solo, o que definitivamente não ocorre. Dúvidas sobre a eficiência de formulações podem ser esclarecidas com testes no local comparando-se o antagonista com uma testemunha, para se checar as reais diferenças de controle e produção. • A dosagem mais eficiente para controle de um patógeno não é necessariamente a mais alta. Acima da dosagem “ideal”, a eficiência do controle biológico e a produtividade caem. E os custos de produção aumentam, pois o produtor está pagando pelo controle biológico. tógenos. Alguns cuidados a serem observados podem ser vistos no Box 1. Estes fatores são essenciais para o sucesso da prática, pois condições ambientais adversas, cepas de baixa competitividade e uso de esporos em número insuficiente são as principais causas do insucesso do controle biológico. Devido a esta reação diferencial a fatores bióticos e abióticos, um passo fundamental no uso do biocontrole é a realização de estudos sistematizados em campo, que estabelecem as formas de uso. A seguir, são apresentados alguns resultados obtidos a partir de 2004, de benefícios do controle biológico. Integração do tratamento biológico e químico Após o fim do efeito residual do fungicida

sintético aplicado às sementes, T. harzianum pode prolongar a proteção de raízes, gerando plantas com maior volume radicular, o que reflete na produção da cultura. Em Luziânia (GO), na safra 2005/2006, sob condições de sequeiro, a produtividade do feijoeiro obtido com tratamento de sementes com um quilo de T. harzianum das cepas 1303/1306 (Esalq/ USP) em formulação pó-molhável (108 conídios/g) + 100 mL de Fludioxonil/100kg de sementes gerou cerca de 400 kg a mais do que somente com o tratamento químico (Figura 1). Na soja cv. Luziânia, 0,5 kg da mesma formulação + 100 ml de Fludioxonil/100 kg de sementes produziram mais 600 kg, devido ao melhor controle de F. solani e R. solani em raízes. Além disso, parcelas tratadas com o antagonista suportaram melhor um veranico de mais de duas semanas, provavelmente devido ao maior volume de raízes. Redução do inóculo inicial de fungos O antagonista pode ser aplicado diretamente ao solo para a redução de inóculo inicial dos patógenos. O momento e a forma de aplicação variam de acordo com o patógeno a ser controlado. Para podridões radiculares, agentes de controle biológico podem ser aplicados em jato dirigido ao sulco de plantio, na semeadura. Testes realizados em Cristalina (GO) demonstraram que 800 ml e 1000 ml/ ha da suspensão oleosa (2 ´ 109 conídios/ml) de T. harzianum 1303/1306/ml foram as melhores opções para redução do inóculo de F. solani e R. solani junto às raízes. (Tabela 1). Em solo na linha de plantio houve redução de até 67% do inóculo de F. solani, enquanto que para R. solani o decréscimo de foi de até 85%, 30 dias após o plantio. No mesmo estudo também foi observado que as cepas 1303/1306 foram capazes de se multiplicar no solo da linha de plantio, pelo

Figura 2 - Resposta da produtividade do feijoeiro comum cv. pérola irrigado por pivô central, em relação à aplicação de diferentes dosagens de suspensão oleosa com 2,2 ´ 109 conídios de Trichoderma harzianum 1303/1306 / ml. Cristalina (GO), 2006

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Tabela 1 - Populações de Fusarium solani, Rhizoctonia solani e Trichoderma harzianum em solo no plantio do feijoeiro comum “pérola” sob sequeiro e 30 dias após, em parcelas com diferentes dosagens de Trichoderma harzianum 1303/1306 em suspensão oleosa com 2,2 ´ 1012 conídios/ml. Cristalina (GO), 2004/2005 Tratamento (ml/ha) 600 800 1000 2000 Testemunha (TS)

Avaliação Plantio 30 DAP* Plantio 30 DAP Plantio 30 DAP Plantio 30 DAP Plantio 30 DAP

Fusarium solani (PPG)** 3405 7195 9940 3310 8280 3405 6115 12040 3440 16225

*DAP = Dias após o plantio ** = Propágulos do fungo por grama de solo *** = % de resíduos orgânicos colonizados pelo patógeno

menos até os 30 dias após a semeadura (Tabela 1), contribuindo também para complementar o tratamento químico feito nas sementes. Em termos de produtividade, a aplicação de T. harzianum proporcionou um aumento de até 300 kg/ha, em comparação à testemunha, em 2006 (Figura 2). Dosagens excessivas de T. harzianum não forneceram aumento de produção, nenhuma redução de inóculo ou controle de doenças, em comparação com as testemunhas, nestes e em outros experimentos realizados. É provável que em dosagens muito altas ocorra algum tipo de auto-inibição, afetando o desenvolvimento do antagonista.

Trichoderma sp. (PPG) 1905 720 675 1500 1055 1770 1255 2525 1565 460

gonista formando um manto sobre o solo. Um elemento chave para um melhor parasitismo de escleródios é a aplicação do produto biológico sob condições ideais para o desenvolvimento rápido do antagonista. Sob estas condições favoráveis, em Jataí (GO) foi obtida uma redução de 65% do inóculo no solo, em testes em duas áreas diferentes cultivadas com soja. A redução de inóculo de S. sclerotiorum nos níveis já obtidos não dispensa o produtor de outras formas de controle, como o uso de palhada ou fungicidas, pois os escleródios restantes no solo também são capazes de promover epidemias do mofo branco. Porém, a vantagem evidente desta redução de inóculo é facilitar a atuação de outras práticas como o uso de palhada de braquiárias ou mesmo o controle químico, visto que a partir de 19 escleródios/m2 os fungicidas perdem em eficiência. Parte da eficiência de isolados de Trichoderma spp. no controle biológico depende também da capacidade de adaptação de isolados ao agroecossistema, do qual este não é original. Além disso, é necessário que o antagonista seja compatível com os diversos insumos aplicados ao solo, como herbicidas e alguns

Dirceu Gassen

Redução do inóculo de Sclerotinia sclerotiorum A aplicação do antagonista para controle de S. sclerotiorum deve ser feita via barra de pulverização ou água de irrigação, para cobrir 100% da área infestada com o patógeno. Não se deve esperar que o jato dirigido ou mesmo o tratamento de sementes sejam eficientes para controlar S. sclerotiorum, pois a área de contato do antagonista com o solo seria muito pequena, e não ocorre a proliferação do anta-

Rhizoctonia solani (%ROC)*** 2,78 7,22 10,00 1,65 16,35 5,55 7,22 5,00 8,32 16,62

É importante que a aplicação dos agentes de controle biológico seja feita sob condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento e parasitismo do patógeno

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inseticidas em suas dosagens recomendadas. Resultados da Embrapa Arroz e Feijão indicaram que as cepas 1303 e 1306 já mencionadas são compatíveis com os herbicidas Glifosato e 2,4-D, e com os inseticidas Imidacloprid, Thiametoxan e Acephate. As formulações de Trichoderma spp. atualmente disponíveis precisam ser reaplicadas a cada safra, pois os antagonistas aplicados não sobrevivem indefinidamente no solo em populações competitivas. Além de não resistir a períodos de seca, o pousio ou ausência de hospedeiras também é prejudicial aos antagonistas, que se beneficiam de exsudatos de raízes para seu desenvolvimento. Os resultados acima indicam um futuro promissor para o controle biológico, como integrante do manejo integrado de doenças. Outras informações úteis estão no Box 2. Há várias perguntas ainda sem resposta, como a eficiência de cepas selecionadas em sistemas de produção com diferentes níveis tecnológicos, a sobrevivência em longo prazo de antagonistas e as conseqüências da aplicação freqüente do controle biológico. Espera-se então que novas respostas sejam obtidas em breve, para que ocorra um melhor controle de patógenos de solo e maior produtividade nas laC vouras. Murillo Lobo Junior, Embrapa Arroz e Feijão

APRENDIZADOS EM CAMPO • A forma de aplicação mais adequada varia conforme o patógeno a ser controlado e a sua relação custo/benefício. Por isso o controle de podridões radiculares pode ser feito com o produto biológico aplicado nas sementes ou em jato direcionado ao sulco de plantio. • Para o mofo branco, recomendase a aplicação quando a cultura estiver com três a quatro trifólios. Além do sombreamento do solo fornecido pela cultura, o antagonista se beneficia também da maior atividade microbiana no solo, conseqüência da liberação de exsudatos pelas raízes. • Uma formulação que contenha mais cepas de um antagonista não é necessariamente mais eficiente do que outra que contenha menos. Não se impressione por fotos de parasitismo. Acredite no controle biológico que produz e apresenta resultados, e colha bons frutos com esta prática.

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Empresas

Julio Gasparotto Markus

Bactérias preservadas

Na inoculação de sementes para a fixação de nitrogênio (N), componente essencial para garantir o sucesso da produção de soja, a co-aplicação de fungicidas é prática usual. No entanto, é preciso estar atento na hora da escolha do princípio ativo, para que o produto não afete as bactérias fixadoras de N e comprometa o emprego da tecnologia

A

soja assume relevância econômica e social no agronegócio brasileiro. Entretanto, para que possa atingir os rendimentos esperados, requer, além de adequados tratos culturais, consideráveis quantidades de nitrogênio (N), sendo este um dos componentes críticos do processo de produção dessa cultura. As necessidades dessa cultura, para produzir 1 mil kg/ha de grãos é de 80 kg/ha de N, demanda essa, que pode ser suprida a partir de diferentes fontes, sendo a principal associada à capacidade da mesma em fixar o N atmosférico, processo estabelecido entre a planta e a bactéria, conhecido como fixação biológica de nitrogênio (FBN). Para suprir a demanda de N requerida pela soja, em condições de solo deficiente em N, sem, entretanto, elevar os custos de produção, faz-se necessário a inoculação de sementes ou do solo, com estirpes específicas de bactérias fixadoras de N. O sucesso dessa tecnologia está associado ao adequado estabelecimento da simbiose entre a planta e a bactéria, ação esta, resultante, entre outros fatores, de inoculantes de elevada qualidade. Com o intuito de aumentar o desempe-

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nho da cultura da soja pela fixação biológica de nitrogênio, a pesquisa tem colocado a disposição da agricultura tecnologias que vão, desde o melhoramento do potencial genético das plantas até a seleção de estirpes mais eficientes e mais competitivas. A ação conjugada desses fatores tem mostrado aumentos consideráveis no rendimento de grãos dessa cultu-

ra, chegando a 6 mil kg/ha, tendo potencial genético para atingir até 8 mil kg/ha (Hungria & Campos, 2006) Portanto, o desenvolvimento de técnicas, que visem maximizar o potencial fixador do N atmosférico por essa cultura, constitui constantemente tema para a pesquisa. Para que a cultura da soja expresse todo

A qualidade do inoculante utilizado garante o sucesso do tratamento com uma simbiose perfeita entre a planta e a bactéria

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seu potencial genético, um conjunto de medidas é necessário. Entre essas medidas, a escolha do inoculante assume relevância, conjuntamente, ao manejo de solo, à rotação de culturas, à escolha da semente e ao manejo integrado de pragas, entre outros. Vários são os fatores que promovem estresse às células bacterianas. Condições como o excesso de umidade e de acidez, deficiência de nutrientes e teores elevados de nitrogênio no solo, bem como estresse de planta, por seca prolongada e por fatores bióticos como, por exemplo, as doenças, causadas por fungos, bactérias e vírus etc., inibem o processo de formação de nódulos e, conseqüentemente, a fixação biológica de N. Entre os fatores, destacam-se a qualidade do suporte/substrato, utilizados para veicular as células de rizóbios, os quais influenciam diretamente na qualidade do produto, o inoculante. Propriedade essa, fundamental, de um bom inoculante, pois ele deve manter as células viáveis durante o período de armazenamento e após a sua aplicação à semente e ao solo. Dentre algumas características importantes para um inoculante, incluem-se, ser de fácil manipulação e aplicação, custo acessível, possuir padrões requeridos pela legislação vigente no país e não possuir toxicidade às células de rizóbios. Entre outras propriedades requeridas para os inoculantes, é que o substrato/veículo proporcione proteção às células bacterianas quan-

Fotos Dirceu Gassen

Detalhe da fixação biológica de nitrogênio. Bactérias do gênero Bradyrhizobium, em contato com as raízes da soja, infectam-as formando os nódulos

do essas estiverem em contato com produtos fitossanitário para tratamento de sementes e, a outros produtos que possam vir a afetar a sobrevivência celular. A inoculação de sementes associada à co-aplicação de fungicidas, inseticidas e micronutrientes, é prática usual na agricultura atual, o que poderá, inibir à atividade dos rizóbios e, conseqüentemente, reduzir a nodulação e a fixação biológica do N (CAMPOS & HUNGRIA, 2000). Contudo, não usar fungicida, talvez seja, uma decisão de risco. Estudos têm mostrado que muitos fungicidas proporcionam a morte de até 100%

das células bacterianas, em apenas 2 a 3 horas após a co-aplicação desses junto à inoculação. Isso acontece em decorrência das características físico-químicas dos ingredientes empregados em algumas formulações de fungicidas. Entretanto, alguns fungicidas apresentam baixa toxicidade e outras não afetam a sobrevivência dos Bradyrhizobium. (Campos & Hungria, 2000). Resultados recentes de pesquisa mostraram que, os princípios ativos fludioxonil + metalaxyl-m, tanto em condições de laboratório quanto de casa-de-vegetação, não afetam a nodulação, nem tão pouco, a fixação biológica de N. Os micronutrientes, Co e Mo, são moléculas indispensáveis para a eficácia da FBN. Podendo, esses micronutrientes afetarem, consideravelmente, o número de células de Bradyrhizobium. Para minimizar danos causados por determinados fungicidas e/ou micronutrientes sobre os rizóbios e, conseqüentemente, frustrações de lavoura devidas a ineficiente disponibilização de N e/ou perdas pela ausência de tratamento fitossanitário de sementes, certas medidas requerem atenção. É primordial, para o sucesso da lavoura, a aquisição de sementes certificadas ou fiscalizadas por laboratórios de sementes oficiais ou particulares, com dados relativos ao potencial de germinação, à pureza física, à pureza varietal e, fundamentalmente, à qualidade sanitária e sobretudo, atenção no processo de aplicação do inoculante e acerte na seletividade utilizando o fungicida mais seguro às bactérias fixadoras de N contidas no inoculante. C Norimar D´Avila Denardin, Universidade de Passo Fundo

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Coluna Andav

Elo entre indústria e produtor

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partir da edição de março de 2007, a Andav - Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários, passa a desenvolver artigos exclusivos para a revista Cultivar. A associação certamente fará deste importante meio de comunicação de abrangência nacional e formador de opinião de qualidade, um espaço de reflexão das principais questões que envolvem as revendas de insumos agrícolas e veterinários de todo o Brasil. Neste primeiro contato com os leitores, a Andav apresentará detalhes de sua missão: “representar, defender e contribuir com a profissionalização do setor, buscando o fortalecimento e a união entre os associados, com ética e respeito à sociedade e ao meio ambiente”. Nos seus quase 17 anos de existência, a Andav trabalha para que o sistema de distribuição seja cada vez mais valorizado e reconhecido como lídimo representante deste setor tão importante para a agropecuária nacional. Com associados em todos os estados brasileiros, tem atuado nos diferentes segmentos do agronegócio, podemos ressaltar todo o envolvimento no trabalho que vai desde a correta recomendação de produtos até a destinação final das embalagens utilizadas, passando pela recomendação do uso de EPI, vestimenta necessária à preservação da saúde do trabalhador rural, instruções sobre o armazenamento correto, preocupação necessária, para que se evite problemas ambientais, o transporte de cargas perigosas faz parte do trabalho diário da associação, pois além de evitar possíveis riscos ambientais, recomenda-se a segurança contra roubos. Importante salientar a enorme campanha contra

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os defensivos ilegais apoiada integralmente pela Andav, campanha esta que visa a segurança do agricultor,

“Neste primeiro contato com os leitores, a Andav apresentará detalhes de sua missão: “representar, defender e contribuir com a profissionalização do setor, buscando o fortalecimento e a união entre os associados, com ética e respeito a sociedade e ao meio ambiente” pois este iludido pela falsa economia apregoada, põe em risco sua saúde, o meio ambiente e sua lavoura, além

de estar cometendo um ilícito. O que dizer das embalagens utilizadas pelos agricultores? A Andav se engajou neste objetivo desde o primeiro momento da promulgação de lei específica orientando os canais de distribuição a se adequarem a esta legislação, o que foi amplamente efetuado, e hoje estão disponíveis para os agricultores devolverem as embalagens vazias utilizadas. São várias centenas de unidades de recebimento e para isto o setor investiu mais de R$ 30 milhões na construção dessas unidades, fazendo com que o Brasil seja hoje referência mundial no processo de destinação final das embalagens vazias. Participações em comissões regionais e nacionais, atividades desenvolvidas juntamente a órgãos públicos são a rotina diária da associação, mostrando a responsabilidade social e ambiental do setor que representa, do empresário que acredita na agropecuária como fonte de recursos para o agronegócio brasileiro. Parcerias são feitas para dispor ao associado as mais modernas técnicas de gestão empresarial, serviços, pesquisa de mercado e até entretenimento. Fundamental é o entendimento do associativismo, a regra que diz “a união faz a força” é mais do que cabida neste setor, mola propulsora da difusão de tecnologia, empregadora de profissionais que levam aos mais afastados rincões de nossa fronteira agrícola o conhecimento e tecnologia necessários ao aumento da produtividade, fazendo com que o agricultor cada vez mais aumente a rentabilidade por área cultivada. C Henrique Mazotini Presidente executivo da Andav

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Agronegócios

A riqueza que vem do lixo

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urante séculos o álcool de rivou de um processo exclusivamente biotecnológico, seja para elaboração de bebidas ou para fins industriais e energéticos. A obtenção de etanol combustível a partir da fermentação do caldo de cana-de-açúcar é o processo mais eficiente e sustentável disponível no mundo. Entretanto, o avanço da ciência pode impor mudanças dramáticas num dos ramos mais florescentes do agronegócio brasileiro. Recentemente, assisti a uma apresentação do Dr. Mark Holtzapple, da Texas A&M University, que está desenvolvendo um processo denominado MixAlco. A proposta é utilizar uma ampla gama de matérias-primas (como dejetos de esgotos urbanos, lodo de tratamento de água, restos da agricultura e da agroindústria, esterco etc.) para extrair uma mistura de álcoois combustíveis, envolvendo uma seqüência de reações químicas e conversões biotecnológicas. Os produtos finais são álcoois, ácidos carboxílicos e cetonas, entre outros. Eu fiquei particularmente feliz em observar esta linha de pesquisa, porque coincide ipsis litteris com a proposta do grupo de trabalho que propôs a criação da Embrapa Agroenergia (do qual participei), de concentrar as pesquisas em processos de aproveitamento da matéria-prima, visando à obtenção de carriers energéticos e bioprodutos – as biorefinarias.

PLANTA PILOTO A equipe do Dr. Mark envolve 130 cientistas e um orçamento anual de US$ 2,1 milhões – e estamos falando de um único projeto de pesquisa! A planta piloto utiliza microrganismos altamente eficientes, selecionados a partir de coletas efetuadas em rúmen bovino, intestino de cupins e de áreas de decomposição natural de matéria orgânica. Estes microrganismos são responsáveis pela digestão anaeróbica da biomassa, em suas etapas iniciais (acidogênese e acetogênese), porém, a fase final (metanogênica) é inibida. O controle do pH, para garantir a eficiência do processo, é efetuado com adição de carbonato de cálcio ou

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bicarbonato de amônio. A interrupção da digestão antes da fase metanogênica é efetuada pela presença de íons de amônio ou por adição de tri-iodometano. Completada a etapa de digestão, o caldo resultante é desidratado por evaporação através de compressão de vapor. A água resultante da evaporação pode retornar ao início do processo de digestão da matéria orgânica ou ser aproveitada para tratamento e abastecimento de água industrial ou doméstica. No estágio atual da pesquisa, são

“No futuro próximo, técnicas de engenharia genética serão fundamentais para atingirse o potencial teórico de transformação da biomassa em energia e bioprodutos”

utilizadas seleções de microrganismos mais eficientes. Porém, no futuro próximo, técnicas de engenharia genética serão fundamentais para atingir-se o potencial teórico de transformação da biomassa em energia e bioprodutos.

BIOPRODUTOS Os ácidos carboxílicos podem ser regenerados a partir dos sais orgânicos resultantes da adição de sais inorgânicos de cálcio, no início do proces-

so de digestão. Os ácidos produzidos são acético, propiônico e butírico. O segundo grupo são as cetonas (acetona, metil-etil-cetona e dietil cetona), provenientes da conversão térmica dos sais orgânicos de cálcio ou via conversão dos ácidos carboxílicos vaporizados num leito catalítico de óxido de zircônio. A obtenção da fração alcoólica é mais complexa. Parte-se de sais orgânicos resultantes da reação de sais inorgânicos com ácidos carboxílicos e do hidrogênio molecular obtido pela gaseificação dos resíduos de biomassa. Inicialmente são obtidos álcoois de peso molecular mais alto (hexanol, heptanol) que, por hidrogenólise, resultam em álcoois primários, como etanol, propanol e butanol. Porém a fração energética contém também álcoois secundários (como isopropanol, 2-butanol e 3-pentanol), obtidos por hidrogenação catalítica de cetonas.

PERSPECTIVAS A tecnologia entrará em fase comercial no início da próxima década. A mistura de álcoois gera um produto com 30% mais calorias que o etanol. Assim, ao invés de três litros de etanol para substituir dois de gasolina, a relação passa a ser 2,4:2. Com base nestes cálculos, o professor Mark estima que seria possível substituir integralmente a gasolina utilizada nos EUA (500 bilhões de litros/ano), a partir de um bilhão de toneladas de lixo ou resíduos orgânicos, prontamente disponíveis. Espero, com este artigo, contribuir para que as autoridades brasileiras e os formadores de opinião entendam que não há vantagem natural (terra, clima, mão-deobra) que resista a uma mudança de paradigma tecnológico. Se não investirmos em desenvolvimento tecnológico de forma adequada e permanente, colocamos em risco a perspectiva brasileira de ser o líder da produção e comercialização de agroenergia em esC cala global. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Safra vem acima das expectativas e coloca em xeque sistema de armazenagem O Brasil está colhendo a melhor safra da história do país, com mais de 58 milhões de t de soja, outros 49 milhões de t de milho, 11 milhões de t de arroz e mais outros 10 milhões de t entre feijão, trigo, sorgo e demais grãos, somando assim entre 127 e 130 milhões de t que devem encontrar o estrangulamento no sistema de transporte e armazenagem. Desta forma, passaremos por alguns meses com problemas para os produtores, que normalmente perdem quando isso ocorre. Portanto, está na hora de termos uma nova injeção de capital por parte do governo para melhorar o sistema nacional de armazenagem, com mais armazéns e melhoria daqueles que já existem. Para que se possa segurar a safra e negociar nos melhores momentos do ano, fato que nos últimos tempos não tem sido a prática dos produtores que têm que negociar grande parte logo na colheita para quitar dívidas, boa parte dos comerciantes, por terem baixa capacidade de armazenagem, acabam tendo que forçar os produtores ao fechamento de parte do que entregam logo na colheita para que possam desovar o produto para os consumidores ou para exportação e, desta forma, o quadro tende sempre a ser prejudicial aos produtores. Com a expectativa da nova safra, espera-se que o quadro novamente cresça, com a soja podendo saltar para casa dos 65 milhões de t e o milho passar a marca dos 50 milhões de t, assim, vermos os demais grãos também crescendo, podendo ir para faixa dos 135 milhões de t para mais e, como melhorar o quaro de armazenagem demora muito tempo, está na hora de pensar a nova safra em plena fase de colheita da safra atual. Teremos que crescer em pelo menos cinco milhões de t na capacidade de armazenagem para poder acompanhar o quadro de crescimento que estamos entrando. O setor agrícola está saindo do fundo do poço e para que possa crescer e trazer rentabilidade aos produtores, o sistema de armazenagem terá que avançar junto. MILHO Colheita andando lenta em função da soja O mercado do milho teve nas últimas semanas a colheita diminuída de ritmo, em favor da colheita da soja que tem maior risco de perdas e está mostrando as lavouras prontas em grande parte do país, principalmente no Sul, onde se concentra a maior parte da safra de verão do milho. Com isso, o mercado esteve quase que estabilizado, com leve pressão de baixa que veio neste final de março em função da alta dos fretes que diminuiu os valores da exportação e também inibiu muitos negócios com as indústrias. O setor industrial esteve recebendo balcão diretamente dos produtores e sem interesse em formar estoques e assim deveremos seguir o mês de abril, com poucas expectativas de alterações. O mercado internacional segue altamente comprador, mas neste mês e em maio, a soja terá preferência nos embarques dos principais portos brasileiros, somente de junho em diante veremos o milho voltar a crescer na exportação, porque para abril e maio já há grande volume de contratos programados. SOJA Safra chegando acima das expectativas Estamos no pico da colheita e pelos números que estão chegando, deveremos confirmar uma colheita recorde, como já foi apontado em março pela Abiove, que espera uma colheita de 58,6 milhões de t, mas que é contestada por parte dos produtores que teme que a grande safra sirva apenas para derrubar as cotações. Os indicativos internacionais da soja sofreram ligeira pressão de baixa nas últimas semanas em função das boas condições da safra da América do Sul e desta forma limitou os indicativos praticados no Brasil, que viu os indicativos recuarem dos R$ 36 por saca em Paranaguá, para os R$ 33 no final de março. Com expectativa de melhoria nos indicativos somente nos próximos meses com o andar da safra americana que deverá ter queda na área plantada. Para os produtores do Centro-Oeste, neste mês de abril a melhor opção será negociar via pregões do governo de Pepro e Prop.

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FEIJÃO Pouca oferta e podendo mostrar alta em abril O mercado do feijão teve em março um mês de poucas alterações nas cotações com o produto de melhor qualidade, sendo cotado nos R$ 60 a levemente acima, enquanto isso o comercial se manteve nos R$ 50 abaixo, sendo pressionado pela grande oferta ainda de produto chuvado do Brasil Central. Agora em abril veremos poucas ofertas e o produto novo que estiver chegando poderá conseguir cotações maiores pelos produtores, porque no Nordeste já não tem oferta de feijão para negociar e assim deve-se puxar o produto restante de Minas e Goiás, sobrando espaço para ganhos no produto de melhor qualidade que aparecer. Este é o momento do plantio do feijão irrigado da terceira safra, que deverá ser uma boa alternativa para os produtores.

ARROZ Governo apoiando e cotações firmes O mercado do arroz mostrou movimento positivo em março em cima do apoio do governo e de uma semana de chuvas que atrasou a colheita e concentrou os compradores para os primeiros volumes que apareciam. Como o governo veio realizando pregões de opções, junto com AGFs e EGFs, os indicativos saíram dos R$ 18 aos R$ 21/22 e devem se manter dentro dos valores do preço mínimo de garantia em abril, quando as indústrias devem vir a campo para formar estoques. Nos estados centrais, principalmente em MT, a safra está em colheita, mas pouco arroz tem aparecido nos armazéns das indústrias, o que já está trazendo temor ao setor, que a safra não chegará à marca das 900 mil t e assim as cotações, mesmo em colheita, estavam em alta e os produtores segurando o pouco que colhiam.

CURTAS E BOAS ARGENTINA - A briga do trigo deverá continuar, porque o governo portenho liberou as exportações de farinha, com impostos menores que os do trigo, que esteve com novos embarques proibidos, trazendo reclamações das indústrias brasileiras e também servindo para limitar a alta nos indicativos do trigo praticado aos produtores por aqui. TRIGO - O mercado interno, vendo o mercado internacional em alta e a Argentina proibindo a exportação do grão, puxou as posições e negociava cerca de R$ 50 por t acima do que trabalhava em fevereiro, com indicativos entre os R$ 490/530 para as posições do Paraná e Sudeste, e nos R$ 450/460 para as posições do restante do Sul do país para lotes livres e indicativos de R$ 30 abaixo para os produtores via balcão. ALGODÃO - O mercado continuou mostrando pouco movimento e as lavouras em bom desenvolvimento nos estados do Centro-Oeste e Nordeste, com indicativos de novo avanço na safra da Bahia, que tem tido bons resultados com o algodão. Com expectativa que tenhamos um crescimento de 300 a 400 mil t na produção da pluma nesta safra, contra 1,03 milhão de t colhida no último ano. MILHO - As novas estimativas da safra da Argentina estavam apontando números entre os 22,5 até os 24 milhões de t por parte dos mais otimistas, superando em cerca de 10% as indicações apontadas no mês anterior. Com embarques previstos na casa dos 15 milhões de t, mas podendo superar este nível em função do consumo mundial em alta. EUA - O plantio da safra começou com o milho que está disparando na frente, com expectativa de crescer dos 31,5 para 35,5 milhões de ha e mostra a soja com 28,4 milhões de ha, mas devido ao grande avanço do milho o número poderá ser menor e a safra vir abaixo dos 80 milhões de t de soja frente a 86,7 colhidas neste último ano. Boas expectativas para os grãos.

Cultivar Cultivar • www.cultivar.inf.br • www.cultivar.inf.br • Fevereiro • Abril de 2005 2007




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