Cultivar Grandes Culturas • Ano IX • Nº 96 • Maio 2007 • ISSN - 1516-358X
Nossa capa
Destaques
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Dirceu Gassen
Buva resistente Saiba como e quando controlar de forma eficiente os biótipos de buva resistente a glifosato
09 Micronutrientes em cana Apesar da pequena quantidade, os micronutrientes são essenciais no processo de desenvolvimento da planta
Nosso caderno
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Tiago Zanatta
Nova ameaça ao milho Doença recentemente detectada, a mancha ocular preocupa produtores de milho da região Sul
23 Sinal de alerta Cuidados necessários para evitar danos com corós, que foram problema nas duas últimas safras de trigo
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br 3028.4013 cultivar@cultivar.inf.br • REDAÇÃO:
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Índice
REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutra Quevedo • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Diretas
04
Cristiano Ceia
Como controlar buva resistente
05
Aline Partzsch de Almeida
• Revisão
Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Importância dos micronutrientes em cana 09
COMERCIAL Benefícios do silício contra doenças
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Algodão colorido
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Manejo de invasoras na entressafra
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Mancha ocular: nova doença do milho
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Como evitar o ataque dos corós em trigo
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Controle de doenças em trigo
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Coluna Andav
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Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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Pedro Batistin
Sedeli Feijó
CIRCULAÇÃO • Gerente
Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas
Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas
Raquel Marcos • Expedição
Dianferson Alves • Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
Sindag sob nova direção
Algodão
DuPont na Escola
O Sindag apresenta sua nova diretoria, eleita para o triênio 2007 - 2010. Quem assume como presidente no lugar de Antonio Carlos Zen, da FMC Agricultural Products na América Latina, é Laércio Valentin Giampani, diretor geral da Syngenta Brasil. João Sereno Lammel, da DuPont do Brasil, será o segundo vice-presidente e os executivos Luiz César Auvray Guedes e Paulo Elcio Pires de Moraes, da Milênia Agrociências e da Basf SA, respectivamente, permanecem nas funções que já ocupavam na gestão anterior: diretor administrativo e diretor finanLaércio Valentin Giampani ceiro.
Em Uberlândia (MG) ocorrerá o VI Congresso Brasileiro do Algodão, promovido pela Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão). O evento acontece entre os dias 14 e 17 de setembro de 2007, com feira de negócios, palestras, mesas redondas, salas especializadas, desfiles de moda, jantares e shows. A previsão é de que cerca de cem expositores nacionais e internacionais apresentem seus produtos e serviços para um público estimado em mais de nove mil pessoas durante os quatro dias.
DuPont na Escola está entre os três projetos finalistas da edição 2006 ao Prêmio Mérito Fitossanitário, outorgado pela Andef. “Nosso projeto de responsabilidade sócio-ambiental, se destina principalmente a levar a mensagem do uso correto e seguro dos defensivos agrícolas para os agricultores, por meio de seus filhos, estudantes das escolas rurais e é parte do programa Segurança e Saúde no Campo, implementado pela DuPont”, resume Donizeti Vilhena, gerente de segurança de produtos e meio ambiente para a Donizetti Vilhena América Latina.
Controle biológico De 30 de junho a 04 de julho ocorre o X Simpósio de Controle Biológico - Siconbiol. “Inovar para Preservar a Vida” será o tema do evento que ocorrerá no Hotel Meliá Brasília, em Brasília (DF). O principal objetivo é criar espaço para exposição dos recentes avanços na investigação científica, aliada às discussões e perspectivas sobre o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias e estratégias em controle biológico. Mais informações e inscrições no site http:// siconbiol.cenargen.embrapa.br
Certificação A Cheminova obteve as mais atualizadas certificações de Padrão em Saúde Ocupacional e Gerenciamento de Segurança (Occupational Health and Safety Management System Standard DS/ OHSAS 18001:2004) e de Padrão de Gerenciamento Ambiental (Envioromental Management System Standard DS/EM ISO 14001:2004). Estes certificados asseguram padrão internacional nas áreas de: proteção à saúde ocupacional, desenvolvimento, produção, formulação e embalagem de produtos para proteção de plantas e outros químicos, armazenamento, linha de materiais e produtos acabados.
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Arroz
Glifosato
De 7 a 10 de agosto de 2007, ocorre o V Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado em Pelotas (RS). A expectativa dos organizadores é de reunir aproximadamente 800 participantes de todo Brasil e países vizinhos. O evento tem como objetivo congregar pesquisadores e público envolvido com a cultura do arroz irrigado; oportunizar a apresentação de trabalhos de pesquisa e discutir os principais temas do momento, além de atualizar as “Recomendações Técnicas da Pesquisa para o Sul do Brasil” da cultura do arroz irrigado. Informações no site: www.sosbai.com.br/ cbai2007
De 15 a 19 de outubro, no auditório da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, em Botucatu (SP), ocorre o I Simpósio Internacional sobre Glifosato. O evento contará com a participação de renomados pesquisadores nacionais e internacionais que irão discutir assuntos científicos, técnicos e práticos sobre o produto, tais como: dinâmica da molécula nas plantas, mecanismos de ação, resistência de plantas daninhas, plantas transgênicas e efeitos de subdoses. Outras informações pelo site www.glifosate.com.br
Silício A Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, Botucatu (SP), promove nos dias 19 e 20 de junho o IV Simpósio Brasileiro sobre Silício na Agricultura. Diferenças no comportamento de plantas dicotiledôneas e monocotiledôneas em relação ao silício, interações entre silício e doenças em plantas, interações entre silício e pragas em plantas, estão entre os temas que serão abordados no evento. Informações no site: www.phytuseventos.com.br/silicio ou telefone (14) 3882-5300
Pigmentos em congresso
Ferrugem da soja
A Lanxess participou, pela primeira vez, do Congresso Brasileiro de Sementes, entre 5 e 11 de maio, em Foz do Iguaçu (PR). Durante a décima quinta edição do evento, a empresa destacou sua linha Levanyl ST, composta por pigmentos orgânicos para tratamento de diversas culturas de sementes como soja, milho, trigo, arroz, cevada e forrageiras. Para Alejandro Gesswein, gerente de marketing, a participação da Lanxess no Congresso foi muito importante, pois representa a oportunidade de apresentar ao mercado de sementes uma linha de produtos Alejandro Gesswein diferenciados e de alta qualidade.
A Coamo Agroindustrial Cooperativa, em parceria com a Syngenta realizou em Campo Mourão (PR) o “Workshop Ferrugem da Soja 2007”. O evento reuniu 160 profissionais que acompanharam palestras sobre a ferrugem da soja. Para o gerente de suporte técnico da Syngenta, José Erasmo Soares, os objetivos foram atingidos. “A idéia deste evento no Paraná foi motivada pela importância do Estado na agricultura brasileira. Como a ferrugem apareceu este ano com mais intensidade, tivemos a oportunidade de ouvir os mais renomados pesquisadores que apresentaram suas experiências José Erasmo Soares sobre o controle da doença.”
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Soja
No contrapé Com o surgimento de biótipos de buva resistentes ao glifosato é necessário encontrar alternativas eficientes para controlá-los. A aplicação de herbicidas durante o inverno, quando a planta se torna mais vulnerável, e em estádios iniciais de desenvolvimento da invasora são opções exitosas de controle
O
controle de buva (Conyza bonariensis e Conyza canadensis) no sistema de plantio direto para formar palhada é realizado geralmente com o herbicida glifosato. A utilização desse herbicida para o controle de buva em áreas com culturas anuais é prática que vem sendo utilizada há mais de 20 anos. O número de aplicações em uma safra é variável e depende da cultura, das espécies daninhas presentes e das condições de clima. A buva é uma planta daninha comum nos estados da região Sul do Brasil. O glifosato vem sendo usado na dessecação pré-
semeadura com controle eficiente da buva em diferentes estádios de desenvolvimento. Nos últimos três ciclos agrícolas da soja (2004/2005, 2005/2006 e 2006/07) observou-se controle insatisfatório da buva com uso do herbicida glifosato, sugerindo que esta espécie tenha adquirido resistência ao herbicida. Estudos preliminares confirmaram esta suspeita no Rio grande do Sul. O grupo de pesquisa composto pelos pesquisadores da área de plantas daninhas da Embrapa Trigo, Fundacep, Universidade de Passo Fundo e Universidade Federal de Viçosa, está avaliando a retenção, absor-
ção e translocação do glifosato, a sensibilidade da enzima EPSPs e determinando alternativas de controle em áreas infestadas com biótipos de buva resistentes ao glifosato. A buva foi a primeira espécie dicotiledônea a apresentar resistência ao glifosato. Estudos demonstram que os biótipos sensíveis e resistentes apresentam semelhanças na retenção e absorção do glifosato. Entretanto, o biótipo resistente transloca menor quantidade do herbicida para as raízes, assim como o azevém resistente. Além disso, a distribuição do glifosato, a partir do ponMauro Rizzardi
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Fotos Mauro Rizzardi
CICLO DA INVASORA
A
buva é uma espécie anual, nativa da América do Sul, que pertence a classe magnoliopsida e a família Asteraceae. É uma espécie autógama, que chega a produzir mais de 100 mil sementes por planta. Infestante em culturas anuais de inverno, sendo que nas áreas de plantio direto, onde não se plantou cultura de inverno ou onde essa cultura foi colhida com antecipação, tem ocorrido de forma intensa, exigindo controle de manejo, antes da semeadura da cultura de verão. As sementes da buva germinam durante o outono/inverno, as plantas desenvolvem-se durante a primavera/verão e encerram o ciclo no outono. A germinação é aumentada na presença da luz e em condições de campo as sementes só germinam se estiverem próximas da superfície do solo. A baixa dormência faz com que ocorram vários fluxos germinativos, dependendo das condições de clima. É comum encontrar plantas de buva em diferentes estádios vegetativos em lavouras de soja e milho no Rio Grande do Sul.
to onde foi aplicado na planta, é menor no biótipo resistente do que no sensível. Dessa forma, o glifosato concentra-se no ponto de aplicação, não distribuindo-se na planta resistente como ocorre na sensível. Os níveis da EPSPs nos tecidos do biótipo sensível e do resistente são altos, evidenciando que a enzima é sensível ao herbicida. Os resultados dos estudos realizados até o momento evidenciam que a resistência pode ser devido a uma alteração nos tecidos, que resulta em impedimento do carregamento do floema e a conseqüente redução da distribuição do herbicida na planta. A resistência da Conyza canadensis é devido a um gene nuclear, com dominância incompleta. A natureza autógama dessa espécie, a herança simples da resistência e a sobrevivência dos biótipos heterozigotos sugerem aumento rápido na freqüência da resistência em áreas com uso contínuo do glifosato. Entre os fatores que favoreceram o surgimento de plantas de buva resistentes ao glifosato destaca-se o controle com base única e exclusivamente nesse princípio ativo. O herbicida glifosato vem sendo utilizado com freqüência pelos agricultores, prin-
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cipalmente na dessecação da vegetação para formação da palhada e, mais recentemente, para o controle, em pós-emergência, em soja resistente ao herbicida glifosato. A introdução da soja transgênica, re-
sistente ao glifosato, fez com que o uso desse herbicida fosse ampliado. Atualmente, são realizadas de duas a três aplicações de glifosato por ciclo da soja, uma na dessecação e uma ou duas após a emergência da cultura. A tecnologia da soja resistente ao glifosato foi rapidamente aceita e adotada pelos
A buva foi a primeira espécie dicotiledônea a apresentar resistência ao glifosato, onde o biótipo transloca menor quantidade do herbicida para as raízes
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Mauro Rizzardi
Sementes da buva germinam durante o outono/inverno, mas podem ter vários fluxos germinativos
produtores. Isso se deve principalmente ao fato do glifosato ser um herbicida eficiente sobre a maioria das espécies daninhas, relativamente de fácil aplicação e de baixo custo. Além disso, a tecnologia da soja resistente ao glifosato elimina o uso de herbicidas de solo e a necessidade da aplicação de diferentes herbicidas, além de diminuir a quantidade de herbicida aplicado no ambiente e proporcionar manejo mais eficiente das plantas daninhas no sistema plantio direto. Entretanto, alguns aspectos sobre a dinâmica de populações das plantas daninhas e a possibilidade da seleção de espécies tolerantes e resistentes ao glifosato não foram adequadamente previstas. O tipo de manejo e os herbicidas utilizados em uma área provocam mudanças no tipo e proporção de espécies que compõem a população do local. Isso se explica pelo fato dos herbicidas não controlarem igualmente as diferentes espécies existentes na área, com isso algumas dessas acabam sendo beneficiadas e se multiplicam. Nessas situações, plantas de baixa ocorrência na área podem se multiplicar e se tornar um grave problema para o produtor. Dessa forma, o uso contínuo de um mesmo herbicida ou de herbicidas com mesmo mecanismo de ação, torna a seleção de espécies inevitável, como ocorreu com buva.
Cultivar
Um fator que favorece o surgimento de plantas de buva resistentes, é o uso exclusivo do glifosato para seu controle, afirma Rizzardi
O uso repetido e continuado de um herbicida seleciona espécies tolerantes e/ou resistentes ao produto e isso está ocorrendo com o glifosato no Sul do Brasil. Atualmente as recomendações são no sentido de que as áreas infestadas com buva resistente sejam manejadas de forma que os biótipos resistentes não produzam sementes. O uso de controle manual, aplicações localizadas de herbicidas e a instalação de culturas para cobertura do solo são algumas alternativas. O controle dos biótipos resistentes é mais eficiente quando realizado durante o inverno, já que a buva é mais sensível aos herbicidas em estádios iniciais de desenvolvimento. Na Tabela 1 constam herbicidas utilizados para controle de buva no inverno, na dessecação pré-semeadura e na pós-emergência. O herbicida metsulfuron-metill apresenta residual no solo que deve ser considerado antes da semeadura de culturas sucessivas. A recomendação é que esse herbicida seja aplicado 60 dias antes da semeadura do milho ou da soja. Na dessecação, pré-semeadura do milho ou da soja, geralmente as plantas de buva estão em estádios avançados de desenvolvimento e apresentam maior tolerância aos herbicidas. Nesse caso, o controle eficiente da buva tem sido obtido com 2,4-D (1,5 a
Tabela 1- Herbicidas que controlam buva resistente e sensível ao glifosato Mecanismo de ação Inibidor da ALS Mimetizador de auxinas Inibidores do FS I
Inibidores da GS Mimetizador de auxinas Inibidor da ALS
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Grupo químico CONTROLE NO INVERNO Sulfoniluréia Ácido fenoxiacético NA DESSECAÇÃO PRÉ-SEMEADURA Bipiridílios
Ácido fosfínico Ácido fenoxiacético NA PÓS-EMERGÊNCIA DA SOJA Sulfoniluréia
Ingrediente ativo Iodosulfuron - metil Metsulfuron - metill 2,4-D Diquat Paraquat Paraquat + Diuron Amônio-glufosinato 2,4-D Clorimuron-etill
2,0 l/ha) e clorimuron (40 a 60 g/ha) associados ao glifosato (3 l/ha) (Tabela 1). Aplicações seqüenciais têm apresentado melhores resultados. Nesse caso, o glifosato associado ao 2,4 D ou ao clorimuron é aplicado 15 a 20 dias antes da segunda aplicação. A segunda aplicação, utilizando-se paraquat (2,0 l/ha) ou paraquat + diuron (1,5 a 2,0 l/ha), deverá ser realizada um a dois dias antes da semeadura. O herbicida amônioglufosinato apresenta-se eficiente no controle da buva (Tabela 1). Na pós-emergência da soja, o herbicida clorimuron apresenta-se como alternativa de controle (Tabela 1). Destaca-se que as dificuldades de controle aumentam com o desenvolvimento da buva e as doses dos herbicidas devem ser ajustadas de acordo com C o estádio dessa espécie. Mauro Rizzardi, UPF Leandro Vargas, Embrapa Trigo e Mario Antônio Bianchi, Fundacep/Fecotrigo
COMO EVITAR A SELEÇÃO DE ESPÉCIES
P
ara evitar o agravamento da seleção de espécies como buva e para prolongar o tempo de utilização eficiente da tecnologia da resistência ao glifosato recomenda-se a adoção das seguintes práticas: a) Arrancar e destruir plantas suspeitas de resistência; b) Não usar mais do que duas vezes consecutivas herbicidas com o mesmo mecanismo de ação em uma área; c) Fazer rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; d) Usar, sempre que possível, a semeadura de culturas de coberturas no período de inverno e) Realizar aplicações seqüenciais de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; f) Fazer rotação de culturas; g) Monitorar a população de plantas daninhas e o início do aparecimento da resistência; h) Evitar que plantas resistentes ou suspeitas produzam sementes; i) Usar práticas para esgotar o banco de sementes.
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Cana-de-açúcar
Pequenas doses, grande incremento Mesmo requeridos em pequenas quantidades, os micronutrientes são essenciais nos diversos processos enzimáticos da cana-de-açúcar. A correta identificação dos sintomas de deficiência e suprimento garante incrementos na produtividade da lavoura
A
cultura da cana-de-açúcar é uma das principais culturas do Brasil e atualmente, está num dos seus melhores momentos. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar e álcool do mundo e há uma forte tendência de aumento na área cultivada, na produção de cana, açúcar e álcool combustível nos próximos anos. Nas últimas décadas, a produtividade agrícola da cana teve aumentos crescentes devido principalmente ao desenvolvimen-
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Case IH
to de novas variedades cada vez mais produtivas e resistentes a pragas e doenças, manejo adequado do solo e uso racional de condicionadores de solo e fertilizantes, dentre os quais aqueles que fornecem os micronutrientes. Os micronutrientes são os nutrientes requeridos em pequenas quantidades pela cana-de-açúcar. A quantidade destes, absorvidos pela cana, é influenciada por uma série de fatores, dentre os quais, variedade, idade da planta e tipo de solo. Os mais
absorvidos e exportados pela cana em ordem decrescente são o ferro, manganês e o zinco. Estes elementos têm um papel fundamental no desenvolvimento e na produtividade da cana-de-açúcar e atuam nos mais diversos processos enzimáticos das plantas, conforme Tabela 2. Os micronutrientes apresentam baixa mobilidade nas plantas, exceto o molibdênio (Mo). Como conseqüência desta característica, os sintomas de deficiência dos
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Fotos Cultivar
micronutrientes ocorrem nos órgãos mais novos da cana, exceto o Mo (Tabela 3). De maneira geral, os micronutrientes mais deficientes na maioria das condições de cultivo da cana-de-açúcar no Brasil são o zinco (Zn) e o boro (B). Já as deficiências de cobre (Cu) e manganês (Mn) são localizadas em determinadas regiões do Brasil. A deficiência do Zn ocorre em solos com baixo teor do nutriente e pode ser agravada em solos com pH acima da faixa adequada para a cultura da cana. Além disso, adubações pesadas com fósforo (P) podem induzir a deficiência de Zn. Há uma tendência do aumento na deficiência de Zn com a expansão da cultura para solos de baixa fertilidade natural. A maioria dos solos cultivados com cana apresenta baixos teores de B e a sua deficiência ocorre principalmente em solos com baixo teor de matéria orgânica, regiões com chuvas concentradas em determinada época do ano associada a solos de textura média a arenosa proporcionando lixiviação do nutriente. Diversas pesquisas têm evidenciado a resposta da cana a aplicação do B no solo e em aplicações foliares com aumentos da ordem de 18% na produtividade da cultura. A deficiência de cobre é generalizada nos tabuleiros costeiros do Nordeste, Norte Fluminense, Espírito Santo e Vale do Paranapanema, no estado de São Paulo. No Nordeste Brasileiro é usual o fornecimento de cobre na cultura da cana. Nas regiões tradicionais de cultivo com cana, a deficiência de Mn é insignificante. Entretanto, com a expansão da cultura para solos de baixa fertilidade natural e para o Cerrado Brasileiro provavelmente, ocorrerá aumento da deficiência de Mn em cana.
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Zinco e boro são os micronutrientes mais deficientes na maioria das condições de cultivo da cana-de-açúcar no Brasil
Estes solos apresentam baixos teores de Mn e muitas vezes, a calagem diminui a disponibilidade deste micronutriente para a cana-de-açúcar. A deficiência de ferro (Fe) em canade-açúcar no Brasil é insignificante. Os solos cultivados com cana apresentam teores adequados de Fe. Eventualmente, pode ocorrer deficiência de Fe em solos com baixo teor do nutriente e com pH próximo a faixa alcalina. Atualmente, não existe metodologia de análise de solo para o Mo. Para o fornecimento do Mo, levar em consideração as características do solo que predispõem a cana à deficiência do nutriente: solos de textura média a arenosa, solos ligeiramente ácidos e cultivados a vários anos e uso recente de gesso agrícola. Existem diversas ferramentas que podem e devem ser utilizadas para a avaliação da disponibilidade dos micronutrientes para a cultura da cana-de-açúcar des-
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Tabela 1 - Quantidades de micronutrientes absorvidos e exportados pela parte aérea da cana-planta e canasoca para a produção de 100 t de colmos tacando-se a análise de solo, análise foliar, diagnose visual e histórico da área. O fornecimento de micronutrientes vai depender do tipo de cana: cana-planta ou cana-soca. A aplicação dos micronutrientes em cana-planta pode ser realizada de quatro formas: • Adubação no plantio: são aplicados no sulco de plantio com os fertilizantes fosfatados. De maneira geral, as fontes de micronutrientes são os oxi-sulfatos que apresentam solubilidade variável em água. • Adubação de cobertura: os micronutrientes são aplicados com os fertilizantes nitrogendados. De forma similar à adubação no plantio, são utilizados os oxi-sulfatos. • Via tolete: é uma das formas mais eficientes para o fornecimento à cultura da cana. Os micronutrientes são adicionados na calda com os inseticidas e esta solução é pulverizada sobre o tolete no momento do plantio (cobrição das mudas). As fontes de micronutrientes (sais solúveis) são totalmente solúveis em água. Os benefícios desta prática são a distribuição homogênea dos micronutrientes, proporcionando uma resposta mais rápida e homogênea da cana e redução do custo de aplicação, pois aproveita uma operação (aplicação dos inseticidas). • Adubação foliar: realizar a aplicação dos micronutrientes quando as brotações da cana estiverem com 60 a 70 cm de comprimento.
Micronutriente
Colmos
Boro Cobre Ferro Manganês Zinco
195 194 2.378 1.188 440
Cana-soca Folhas 55 116 4.538 1.189 163
Colmos+folhas 157 389 5.745 2.105 561
Fonte: Orlando Filho, 1993
Tabela 2 - Principais funções dos micronutrientes na cana-de-açúcar Micronutrientes Boro (B) Cloro (Cl) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganês (Mn) Molibdênio (Mo) Zinco (Zn)
Funções Translocação de açúcares, síntese de proteínas, divisão celular e formação da semente e da parede celular Não faz parte de nenhum composto orgânico. Fundamental na fotossíntese (fotólise da água) Ativador enzimático (polifenoloxidase, fenolase e a oxidade do ácido ascórbico). Maior resistência das plantas às doenças fungicas Ativador enzimático (catalase, peroxidade, nitrogenase, redutase do nitrato) Participação na fotossíntese (síntese de clorofila) Ativador enzimático (desidrogenases, descarboxilases, ATPases) Participação na fotossíntese (síntese de clorofila), síntese de proteínas e multiplicação celular Metabolismo do nitrogênio Fixação biológica do nitrogênio Crescimento das plantas (síntese do triptofano, que é o precursor do ácido indol acético (AIA)
Tabela 3 - Principais sintomas de deficiência de micronutrientes em cana-de-açúcar Micronutrientes Boro (B) Cloro (Cl) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganês (Mn) Molibdênio (Mo)
A aplicação dos micronutrientes em cana-soca pode ser realizada de três formas: • Adubação de solo: os micronutrientes são aplicados com os fertilizantes nitrogenados. De forma similar a adubação no plantio, são utilizadas os oxi-sulfatos. • Adubação foliar: realizar a aplicação dos micronutrientes quando as brotações da cana estiverem com 60 a 70 cm de comprimento.
Cana-planta Folhas Colmos+folhas Colmos g/100 t colmos 116 311 102 93 287 273 6.512 8.890 1.207 1.651 2.838 916 282 722 298
Zinco (Zn)
Sintomas de deficiência Folhas novas ficam torcidas com lesões translúcidas ou em forma de “sacos de água” entre as nervuras; folhas quebradiças e as folhas do cartucho podem ficar cloróticas Folhas imaturas ficam cloróticas e murchas, porém sem manchas necróticas e em dias quentes e ensolarados, as folhas murcham Folhas imaturas tornam-se cloróticas e murchas, porém sem manchas necróticas. Pode ocorre despigmentação das folhas tornando-as finas como papel Clorose internerval (reticulado fino sobre fundo amarelo) em folhas novas, formando estrias paralelas longitudinais em toda a superfície da lâmina foliar Folhas novas com variados graus de clorose internerval. O sintoma é similar ao do ferro com a diferença que a clorose ocorre do meio para a ponta das lâminas foliares Folhas mais velhas com estrias cloróticas longitudinais iniciando no terço apical da folha. Pode ocorrer secamento prematura das folhas do meio para as pontas Folhas novas com estrias cloróticas na lâmina foliar formando uma faixa larga no tecido clorótico de cada lado da nervura central; folhas curtas e largas na parte média e assimétricas e internódios curtos. Em deficiência severa, ocorre necrose na ponta das folhas
Fonte: Anderson & Bowen, 1992 e Orlando Filho et. al., 2001
• Via herbicida: os micronutrientes podem ser adicionados à calda de pulverização dos herbicidas e aplicados logo após o corte da cana. A dosagem dos micronutrientes em cana-
planta e em cana-soca depende do teor do nutriente no solo e a forma de aplicação é C função no tipo de manejo da cultura. Renato Passos Brandão, Bio Soja
Cana-de-açúcar
Divulgação
Macroeficiência Uso do silício (Si) na cana-de-açúcar, via solo ou foliar, começa a mostrar seus resultados. O micronutriente, devido ao acúmulo de sílica na folha provoca redução na transpiração, forma uma barreira contra fungos e pragas, além de reduzir a exigência de água pelas plantas
É
crescente o interesse dos agricultores quanto à utilização de silício (Si) na agricultura. Em razão desse interesse e do aumento na demanda, várias empresas têm se estabelecido no mercado para comercialização do silício, tanto para aplicação via solo como foliar. O Si é um elemento capaz de se concentrar na epiderme das folhas formando uma barreira física à invasão de fungos nas células, dificultando também o ataque de insetos sugadores e mastigadores e, portanto, diminuindo a população dessas pragas. Estudos têm demonstrado que a aplicação de Si na cana diminui a incidência de doenças foliares, como a ferrugem (Puccinia melano-
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cephala). Em condições de ataque de pragas, a planta com Si terá seu tecido “mais duro” para o inseto mastigar ou sugar, preferindo esse uma planta com baixo teor do elemento. Dessa forma, tem sido relatado que a incidência da broca-do-colmo (Diatraea Sacharalis) foi reduzida com o emprego do Si via solo. O efeito da proteção mecânica do Si nas plantas é atribuído, principalmente a sua deposição/acúmulo na parede celular na forma de sílica amorfa. Esse acúmulo de sílica na folha provoca redução na transpiração e faz com que a exigência de água pelas plantas seja menor, ou seja, a planta fica mais tolerante a veranicos e períodos de baixa disponibilidade hídrica, mantendo o
processo de crescimento por um período maior, em relação às plantas que não receberam o elemento. Além disso, o Si acumulado na folha permite que esta fique mais ereta e com isso aumente a área de exposição à luz solar. Como conseqüência, há um aumento na taxa fotossintética, aumento na produtividade e redução da queda de folhas. Outros benefícios proporcionados à planta são de maior resistência ao acamamento, facilitando a colheita, redução do efeito da geada. Os benefícios são observados com maior freqüência em solos pobres com Si e em anos com adversidades, como veranicos ou períodos secos prolonga-
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dos, geada, alta incidência de pragas e/ ou doenças. Sob tais condições, a planta bem nutrida com Si tolerará por um período maior a falta de água, pois usa melhor água absorvida e perde numa velocidade menor em relação à planta com baixo teor de Si. O Si é absorvido na forma de H4SiO 4 (ácido monossilicico) e é pouco móvel na planta, sendo encontrado nos tecidos de suporte/sustentação do caule e das folhas. As plantas variam quanto aos teores de Si presentes no tecido vegetal e podem ser classificadas em relação ao acúmulo deste micronutriente, como acumuladoras, intermediarias e não acumuladoras. A cana-de-açúcar é classificada como acumuladora e as concentrações do elemento nas folhas podem variar dependendo da idade da folha e da variedade, podendo chegar até 6,7% de Si, assim, todos os benefícios atribuídos ao Si podem ser verificados nessa cultura. Estudos têm demonstrado remoção de até 551 kg/ha de Si para uma produtividade de 100 t/ha de cana-de-açúcar. Na Usina Nova União a aplicação de silício no plantio em diferentes variedades de cana proporcionou incremento médio de 14 t/ha de colmos. No Ha-
Figura 1 - Valor de pH (CaCl 2), saturação por bases (V%), acidez potencial (H+Al) no solo e teores de Al, Ca e Mg trocável (mmolc dm-3 ) e Si (ppm) em função da aplicação de corretivos em superfície na cultura da cana-de-açúcar
vaí, houve aumento de 10% a 50% no rendimento de cana quando o silicato foi utilizado em solos com baixos teores de Si. Em pesquisa realizada com a variedade SP80-1842, constatou-se que
a aplicação de escória proporcionou melhor perfilhamento e conseqüentemente maior produção de colmos em relação à aplicação de calcário calcítico. Os resultados obtidos até agora, de-
Assessoria de Comunicação do Incaper
O Si é pouco móvel na planta, sendo encontrado nos tecidos de suporte ou sustentação do caule e das folhas
monstram aumentos de produção de cana-de-açúcar, em virtude da aplicação de Si, variando de 11 a 16% em cana planta e de 11 a 20% em cana-soca. Alguns pesquisadores têm atribuído a redução do nível de Si nas folhas, no decorrer dos cortes, a queda de produtividade da cana. Assim, a aplicação de Si em soqueiras eleva o teor do elemento nas folhas, minimizando a queda da produção de colmos e, conseqüentemente, aumenta a longevidade do canavial. Em função dos benefícios proporcionados pelo Si às plantas, o Ministério da Agricultura, pelo Decreto Lei número 4954, aprovado em 14 de janeiro de 2004, que dispõe sobre a legislação de fertilizantes, considera o silício um micronutriente benéfico. Basicamente o Si tem sido fornecido nas áreas de cana-de-açúcar sob a forma de silicato de cálcio (Ca) e magnésio (Mg). Os efeitos benéficos da aplicação dos silicatos, além de fornecer quantidades consideráveis de Si, Ca e Mg, estão normalmente associados à correção de acidez do solo, elevando o pH e reduzindo os teores de alumínio (Al) e manganês (Mn) tóxicos e aumentando a disponibilidade de fósforo (P). Portanto, a ação desses produtos é similar a do calcário, sendo, porém seis vezes mais solúvel que este. Isso significa que em aplicações, principalmente em superfície, onde não será realizada a incorporação, por exemplo, em áreas de cana crua e em soqueiras, a ação dos silicatos na melhoria da fertilidade do
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solo, provavelmente, será mais rápida que os calcários. Os resultados, contidos nos gráficos da Figura 1, comprovam essa hipótese. Em estudo realizado com a variedade SP81-3250 na Usina São Luiz/Dedini, Pirassununga (SP), em cana crua de terceiro corte, constata-se que a aplicação em superfície de silicato de Ca e Mg, comparado ao calcário, proporcionou melhoria da fertilidade no perfil do solo de forma mais rápida, resultando em acréscimo de 10 t/ha na colheita seguinte. Esse resultado foi decorrente do maior desenvolvimento radicular e, conseqüentemente, aproveitamento de água e nutrientes. Muitos produtos têm sido utilizados como fonte de Si para as plantas: escórias de siderurgia, wollastonita, termofosfato e silicato de cálcio. As escórias siderúrgicas são as fontes mais abundantes e menos onerosas de Si. Quando o fornecimento de Si for por meio da aplicação de produto com objetivo, também, de correção de acidez do solo, e este apresentar o teor de MgO
inferior a 5%, será necessário complementar com 50 kg/ha de MgO na adubação de plantio da cana ou adicionar 1,0 t/ha de calcário dolomítico na aplicação do produto. Em solos onde os valores de pH encontram-se em níveis desejáveis, o fornecimento de Si, por meio de produtos com efeito corretivo de acidez, deve ser no sulco de plantio para evitar desequilíbrio nutricional da cultura. Como as pesquisas têm revelado que o Si pode atuar de forma indireta sobre alguns aspectos fotossintéticos e bioquímicos, e, especialmente, quando estas plantas estão submetidas a algum tipo de estresse, de natureza biótica ou abiótica, recentemente tem sido sugerido a aplicação desse elemento via foliar com intuito de propiciar matéria prima de melhor qualidade para indústria sucroalcooleira, pois, há relatos que esse elemento atuaria interferindo na ação das enzimas invertases, incrementando o teor de sacarose nos colmos. Essa hipótese tem sido constatada em pesquisa realizada pela Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA/Unesp) em conjunto com o Grupo Cosan – Unidade Barra, onde foi constatado que a aplicação foliar de Si, associada a maturadores, melhorou a eficiência agronômica destes agentes químicos, refletindo na produtividade de cana e de açúcar devido à melhoria na qualidade tecnológica dos colmos, propiciando maior retorno econômico (Tabela 1). Portanto, a aplicação de Si em canaplanta ou em soqueira, dependendo das condições de estresse que a cultura se encontra, tem proporcionado inúmeros benefícios, dentre eles: menor incidência de pragas e doenças, resistência ao acamamento, tolerância à geada e deficiência hídrica, podendo atuar de forma indireta sobre aspectos bioquímicos e fotossintéticos, modificando a fisiologia da planta, com reflexos positivos na produC tividade de colmos e açúcar. Carlos Alexandre Costa Crusciol, Rodrigo Foltran e Glauber Henrique Pereira Leite, Unesp
Tabela 1 - Produtividade de colmos e de açúcar e margem de contribuição agrícola em função da aplicação de silício (Si) associado a maturadores. FCA/Unesp e Grupo Cosan – Unidade Barra, Igaraçu do Tietê (SP), 2006 Tratamentos
Produtividade de colmos (t/ha)
Glifosato Glifosato + Silício Sulfometuron metil Sulf. metil + Silício
77,50 81,00 82,40 88,90
Produtividade de açúcar (t/ha) Margem de contribuição agrícola (R$/ha) 45 Dias após aplicação 12,30 468,00 12,80 495,90 13,70 566,20 14,90 641,80
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Algodão
Mercado para a cor De olho no mercado mercado europeu, europeu, produtores produtores precisam precisam estar atentos aos cuidados cuidados básicos básicos para para o cultivo do algodão colorido orgânico orgânico e, e, assim, assim, obter a etiqueta comprovando comprovando aa qualidade qualidade de de seu seu produto produto
U
ma fibra obtida a partir de um polímero natural que seja fa bricada por processos industriais não é necessariamente uma fibra final natural e, menos ainda, ecológica. Constata-se, com freqüência, alguma confusão a este respeito, associada a designações publicitárias como “algodão natural” ou “algodão puro”. Novas tendências nas opções dos consumidores favorecem a diferenciação de produtos que respondem a nichos de mercado relativos à preservação do meio ambiente. Isso requer uma reestruturação dos sistemas de produção convencionais para adaptação às restrições de ordem ambiental. A questão ambiental representa um conjunto de novos valores que se interiorizam cada vez mais nos sistemas econômicos. Os têxteis em algodão orgânico representam uma alternativa aos impactos ambientais que decorrem da produção e do processamento da matéria-prima.
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Para ser considerado orgânico o algodão necessita ser certificado por entidades certificadoras internacionais e independentes, como garantia de ter sido produzido dentro de um conjunto mínimo de normas. Segundo as normas definidas pela Comunidade Européia, para ter a etiqueta “100% algodão orgânico”, o algodão deve provir de uma cultura cujos métodos sejam isentos de adubos e pesticidas, além de ser cultivado em terreno certificado isento de qualquer químico sintético durante pelo menos três anos. Na indústria, a fibra não deve ter sofrido tratamento de branqueamento com cloro, nem sujeita a corantes metalíferos, nem submetida a acabamentos químicos.
CULTIVO DE ALGODÃO COLORIDO O algodão com fibras naturalmente coloridas – verde e marrom - já existe há cerca de 5 mil anos, nativo de uma ampla dispersão geográfica como o Egito, Paquistão, China e América. Tem sido cultivado
por comunidades indígenas do México, Guatemala e, especialmente, do Peru. BRS 200, cor marrom claro, BRS Verde, BRS Rubi e BRS Safira, ambas de cor marrom-avermelhada são as primeiras variedades de fibra colorida desenvolvidas no Brasil e cultivadas desde o ano 2000. Existe um razoável número de empresas envolvidas com a industrialização do algodão colorido, não só no Nordeste, mas também no Centro-Sul do Brasil, que vendem seus produtos nos mercados interno e externo. A fibra da BRS 200 possui valor de mercado 30 a 50% superior às fibras do algodão branco normal, que associada à produtividade 64% superior às cultivares de algodoeiro mocó e maior rendimento de fibras, resulta em receita acima de 100%, em relação ao cultivo do algodoeiro arbóreo ou mocó. Orgânico desde o plantio, o algodão colorido é totalmente antialérgico e bastante resistente, motivo pelo qual tem ganhado atenção da indústria têxtil, setores
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aplicação dos agroquímicos nos últimos anos, tanto nas pulverizações terrestres quanto nas aéreas. Dispositivos geradores de gotas com características específicas para atingir folhas, hastes, flores, frutos, insetos ou solo, além de monitoramento eletrônico de velocidade e vazão, têm sido incorporados cada vez mais ao sistema produtivo.
da moda, confecção e lançamento de produtos.
MANEJO FITOSSANITÁRIO
MEIO AMBIENTE
Ainda é considerada fraca a adesão dos consumidores ao algodão orgânico, devido a um conjunto de fatores, como: o baixo grau de informação do consumidor acerca dos efeitos nocivos da utilização de produtos químicos; a dificuldade em distinguir nas lojas entre roupas de algodão orgânico não tingidas das convencionais que são tingidas; a falta de oferta; o preconceito relacionado com as cores com as quais o algodão já nasce colorido e, por último, a idéia pré-concebida dos consumidores dos preços serem muito mais elevados. As vantagens para o consumidor final, que adota o algodão orgânico sem transformações químicas da indústria têxtil como peça de vestuário, consistem no fato deste ser antialérgico, proporcionar maior conforto e maior resistência e durabilidade do têxtil às lavagens mesmo em máquiC nas de lavar roupas. Lisa Ferreira Alves Schröder, Flor de Algodão Eugênio Passos Schröder, Schroder Consultoria
Fotos Cultivar
Os problemas ambientais mais importantes na indústria de têxteis de algodão ascendem logo a montante, quando da sua plantação e cultivo, pela grande quantidade de agroquímicos utilizados. Na indústria, as fases problemáticas são as etapas de acabamento, devido às substâncias tóxicas utilizadas para branquear e tingir o fio. Culturas de algodão orgânico recorrem a métodos sustentáveis como a rotação de culturas, fertilizantes orgânicos, insetos benéficos, e intervenção humana no controle de plantas daninhas. Estas práticas são mais seguras para os agricultores, para as populações circundantes e ecossistemas, além de reduzirem a quantidade de poluentes no solo, ar e lençóis de água. Aumento do número de pragas resistentes, transporte de produtos químicos pela atmosfera, contaminação da água, solo
MERCADO ORGÂNICO
Divulgação
Plantas daninhas podem reduzir a produtividade do algodoeiro em até 95%, além de prejudicarem a qualidade da fibra. Nas lavouras empresariais, o controle é efetuado com herbicidas, associados ou não com capinas mecânicas. O controle manual com enxadas nas áreas de cultivo orgânico é muito oneroso e lento. Estimativas indicam que são necessários de 15 a 20 homens/dia para efetuar a capina de um hectare de algodão muito infestado. A maioria dos produtores empresariais efetua de duas a quatro aplicações de fungicidas para o controle de doenças como ramularia, ramulose, bacteriose, alternaria/ stemphylium e murcha de fusarium. Mais de 250 espécies de insetos podem ser consideradas nocivas ao algodoeiro e causar grandes danos, com destaque para o bicudo-do-algodoeiro, inseto que afastou muitos cotonicultores da atividade. O modelo convencional do cultivo do algodoeiro é plenamente dependente do uso de inseticidas e acaricidas, sendo realizadas mais de nove aplicações por ciclo da cultura. A grande maioria dos produtores usa a tecnologia do manejo integrado de pragas, porém, alguns ainda fazem aplicações preventivas ou em datas pré-determinadas. As pragas que atacam as plantas de algodão colorido são as mesmas da lavoura de fibra branca, devendo ser adotado o manejo integrado de forma a assegurar o baixo nível de danos, sem utilizar agroquímicos. O manejo exige elevada utilização de mão-de-obra, a qual é remunerada pela redução de gastos com produtos químicos e venda da fibra por um valor mais elevado no mercado, mas deve-se ter em mente que a produtividade nessas áreas é menor que nas de agricultura empresarial. Muito tem evoluído a tecnologia de
e alimentos são algumas das conseqüências do uso excessivo e indiscriminado desses produtos agroquímicos.
Autores destacam que sistema de cultivo orgânico requer reestruturação para se adaptar às restrições de ordem ambiental
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Fibra de algodão possui valor de mercado 30 a 50% superior às fibras do algodão branco normal
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Milho
Fotos Décio Karam
Manejo na entressafra
15%das dasperdas perdasde deuma umalavoura, lavoura são devido à interferência de plantas 15% daninhas. Ainda assim, observa-se que muitos produtores deixam invasoras crescerem livremente após a colheita, incrementando o banco de sementes da próxima safra, o que resulta em custos de produção mais elevados e dificuldades no manejo da cultura subseqüente
O
ser vistos quando as plantas daninhas estão presentes em altas infestações.
BENEFICIAR AS CONDIÇÕES DE COLHEITA Muitas plantas daninhas apresentam germinação escalonada ou períodos de emergência diferenciados do período de
plantio das culturas (Figura 1), emergindo e crescendo no meio da lavoura após o período crítico de competição, o que não acarreta perdas diretas de produção. Entretanto, a colheita manual ou mecânica pode ser prejudicada ou dificultada. No caso da colheita manual, espécies como a
Dirceu Gassen
emprego do conhecimento do manejo integrado de plantas daninhas enfatiza o controle destas durante o período crítico, que é o período em que a convivência com as plantas daninhas pode causar danos irreversíveis à cultura, prejudicando o rendimento. Um segundo enfoque, tão importante quanto o controle, é dar condições para que a colheita mecanizada tenha a máxima eficiência, evitando-se a proliferação das plantas daninhas. Quando da utilização de qualquer método de controle de plantas daninhas o produtor deverá ter em mente que o manejo integrado visa evitar perdas de rendimento, beneficiar as condições de colheita, evitar o aumento da infestação e proteger o meio ambiente.
PERDAS DO RENDIMENTO Ressalta-se que as perdas ocasionadas pela interferência das plantas daninhas variam de ano para ano em função das condições climáticas e de propriedade para propriedade em função das variações do solo, do manejo da cultura e da população de plantas daninhas existentes na área. As perdas médias estimadas pela interferência dessas plantas estão na ordem de 15%, entretanto níveis superiores a 80% podem
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Áreas em pousio garantem a sementação de plantas daninhas aumentando a infestação da safra seguinte
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Mimosa invisa Mart Ex. Colla, conhecida popularmente como dormideira, Cenchrus echinatus, conhecida como capim-carrapicho ou Acanthospermum hispidum (carrapicho-de-carneiro) podem ocasionar ferimentos nas mãos dos trabalhadores, alem de depreciar a produção. No caso da colheita mecanizada, espécies como Ipomoea spp (corda-de-viola) e Commelina spp (trapoeraba), podem dificultar ou inviabilizar a colheita por ocasionar embuchamento dos componentes da plataforma de corte das colhedoras.
Figura 1 - Esquema hipotético do aumento do banco de sementes do solo. Banco de sementes sem manejo póscolheita (vermelho). Banco de sementes com manejo de plantas daninhas em pós-colheita (verde). Germinação de plantas daninhas ao longo do ano (amarelo)
EVITAR A INFESTAÇÃO
MANEJO PÓS-COLHEITA Tem sido observado que os produtores têm deixado que as plantas daninhas cresçam e produzam sementes após a colheita, devido principalmente ao aumento dos custos de mais uma aplicação de um método de controle e pelas dificuldades finan-
Detalhe da corda-de-viola (Ipomoea spp.), uma das principais plantas infestantes e problemáticas na colheita mecânica
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ceiras as quais os produtores têm passado nos últimos anos. Para evitar ou minimizar o aumento da população de plantas daninhas existentes em uma área pode-se adotar técnicas como a rotação de culturas e semeadura de cobertura. Culturas de cobertura como milheto, nabo forrageiro ou sorgo, assim como outras, na entressafra, têm grande capacidade de supressão na emergência e desenvolvimento das plantas daninhas. Operações de pós-colheita como o uso de roçadeiras ou a aplicação de herbicidas para dessecação das plantas daninhas, também podem ser realizadas evitando-se que estas plantas se desenvolvam e produzam sementes ou propágulos que irão contribuir para o aumento do ban-
co de sementes do solo. Devemos lembrar que com o uso intensivo de determinados grupos de herbicidas, tem sido observado o surgimento de plantas daninhas resistentes. O manejo de plantas daninhas póscolheita contribui para a não-proliferação das resistentes, facilitando o controle nas safras subseqüentes. Na maioria dos casos os herbicidas utilizados para o manejo póscolheita são à base de glifosato, 2,4D e paraquat. Qualquer utilização de herbicidas deve ser acompanhada por um técnico responsável e os produtos utilizados devem estar registrados no Ministério da AgriculC tura, Pecuária e Abastecimento. Décio Karam, Embrapa Milho e Sorgo Cultivar
Ao terminar a colheita da safra, o produtor deve sempre lembrar que a sustentabilidade da produção agrícola está atualmente associada ao sistema de produção, o que significa que se não houver um cuidado especial, os custos de produção tendem a aumentar, dificultando o manejo da cultura, conseqüentemente reduzindo a rentabilidade da propriedade. Caso o solo seja deixado em pousio, as plantas daninhas irão sementear e aumentar a quantidade de sementes depositadas no solo (banco de sementes). O banco de sementes de plantas daninhas, se não for manejado, evitando-se a introdução de novas sementes, causará um aumento de plantas emergidas, ocasionando um aumento de infestação nos anos subseqüentes, aumentando a dependência do uso de herbicidas, o custo do controle e elevará ainda mais por deficiência de controle, reduzindo a produção da cultura.
A dormideira (Mimosa invisa), outra invasora que predomina nas lavouras
Karam destaca que o uso de culturas de cobertura contribui para a nãoproliferação de espécies daninhas
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Milho
Nova ameaça Patógeno que se desenvolve especialmente em clima úmido e intensifica seus danos no período de florescimento das plantas é oa mais novo nova entrave ameaça à cultura do milho. Kabatiella zeae, causador da mancha ocular, constatado em lavouras do sudoeste do Paraná e oeste de Santa Catarina, desafia pesquisadores na busca por estratégias de controle, dificultada pela falta de informações sobre a doença
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N
os últimos anos, a importância das doenças parasitárias que afetam esta cultura tem aumentado, constituindo um dos principais entraves para os crescentes ganhos de produtividade na cultura. Há pelo menos vinte patógenos ocorrendo na cultura que podem causar prejuízos expressivos no milho cultivado no Brasil. Quando uma doença de planta surge pela primeira vez em uma região, os danos na cultura podem se tornar expressivos. Isso se dá devido ao desconhecimento de agricultores e profissionais da área quanto aos sintomas, ao potencial de danos, às condições climáticas para o seu desenvolvimento, às estratégias de controle e, principalmente, quanto à ausência de materiais com resistência à nova doença. O surgimento recente, em lavouras do Sul do Brasil, de sintomas nas folhas de milho ocasionados pela doença conhecida por mancha ocular ou mancha de cabatiela (causada pelo fungo Kabatiella zeae) está ganhando importância, tendo em vista, a alta severidade constatada em alguns materiais. Essa doença foi constatada pela primeira vez no Japão em 1959, em seguida foi registrada nos Estados Unidos, Canadá, Argentina, Áustria, França, Alemanha, Iugoslávia e Nova Zelândia. No Brasil, ocorreu no ano agrícola de 1982/83, em plantas de milho em Dourados (MS), com baixa incidência. Folhas de milho do híbrido Agroceres 9020, oriundas das cidades de Campo Erê (SC) e Palmas (PR), foram recebidas no Laboratório de Microbiologia e Fitopatologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR/Campus de Pato Branco (PR), em dezembro de 2004, com os mesmos sintomas descritos na literatura internacional, ou seja, lesões pequenas de um a 4mm de diâmetro com centro de cor parda, circular ou oval, cercadas por um anel encharcado, tornando-se mais tarde de cor marrom. Quando colocadas contra a luz, as lesões apresentaram-se com centro mais escuro e bordo mais claro translúcido. As folhas de milho com a doença representavam a amostra de uma lavoura com alta intensidade da doença. No ano agrícola 2004/2005, até meados de janeiro, as condições climáticas foram marcadas por temperaturas amenas e chuvas regulares, no sudoeste do Paraná e oeste de Santa Catarina. O fungo foi isolado em meio de cultu-
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Fotos Idalmir dos Santos
Aspecto do encharcamento em lesões novas e halo amarelo em lesões mais antigas
ra BDA (batata-dextrose-ágar), submetido a fotoperíodo de 12 horas e temperatura de 24°C ± 2 durante sete a 15 dias. Nesse período, observou-se que a colônia apresentou crescimento lento, aspecto enrugado, inicialmente de cor creme passando por tonalidade rosa. Entre o 13º e o 15º dia, iniciou um escurecimento gradativo, tornando-se negra com o passar do tempo, sua consis-
tência é rígida e apresenta aspecto leveduriforme. Foi possível observar os conídios do fungo no centro da colônia. Observações em microscópio óptico evidenciaram conídios curvos, hialinos, unicelulares com dimensões de 27,1 x 3,8 µm (média de 50 conídios mensurados). As dimensões dos conídios, as caracte-
rísticas morfológicas e o aspecto da colônia conferem com o que está registrado na literatura internacional para o fungo Kabatiella zeae. No ano agrícola de 2005/2006 os mesmos sintomas foram observados nos híbridos 9020, 30A09 e 30A06 no município de Pato Branco (PR). Na safra seguinte, (2006/2007), a doença foi identificada em vários materiais genéticos de milho, em trabalho conduzido na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Campus de Pato Branco, para avaliação da sensibilidade de diferentes variedades comerciais de milho à mancha ocular. O trabalho foi realizado em duas épocas de semeadura, 13/10/2006 e 27/12/ 2006. Os resultados mais expressivos, em relação à intensidade da doença, ocorreram na primeira época de cultivo, onde foram verificadas chuvas freqüentes e temperaturas amenas. Entre os materiais mais suscetíveis à doença, estão o DKB 566, DKB 234, AX 890 com severidade (porcentagem do tecido foliar afetado pela doença) próxima a 14%, SG 150 com 16% de severidade, AG 9020 e Sprint próximo a 17% de severidade. Entre os materiais mais resistentes à doença destacaram-se o AS 1565, 30 F53,
Fotos Idalmir dos Santos
Faeosfaéria
Mancha ocular
Ferrugem
Diferenciação entre mancha ocular, ferrugem e faeosfaéria, em folhas de milho
Attack, 30R50, Cargo, com severidade da doença próxima a 6%. Em observações realizadas, verificouse que a severidade começa a intensificarse no início do florescimento do milho, o que pode vir a causar redução no rendimento de grãos. Novos estudos devem ser realizados com objetivo de avaliar os danos da doença na cultura. Tem-se verificado que, com o passar do tempo, está ocorrendo uma evolução quanto à intensidade da mancha ocular nas lavouras de milho do sudoeste do Paraná e oeste de Santa Catarina, conseqüentemente, aumentando gradativamente o potencial de inóculo. Isto expressa o potencial de ocorrência da doença em outras regiões do país, em anos agrícolas que as condições forem adequadas para seu desenvolvimento. Na literatura internacional destaca-se que o patógeno sobrevive em sementes e restos culturais, sendo que a doença se desenvolve em clima úmido. A disseminação do patógeno às plantas vizinhas se dá por respingos de chuva, onde podem germinar e dar origem à infecção (as lesões surgem entre quatro a dez dias após a infecção). Um fator que chama atenção é a facilidade de confusão dos sintomas com lesões iniciais de outras doenças. Por exemplo, da ferrugem, que inicia com uma pequena mancha clorótica, e da mancha de curvularia, que forma inicialmente pequenas manchas cloróticas, circulares a ovais, tornando-se de coloração parda com bordo marrom-avermelhado. Quando totalmente desenvolvidas, as lesões necróticas, dessa última, medem de 0,5 a 1,0 cm de diâmetro, sendo, portanto, maiores que as da mancha ocular. Isso mostra a importância do papel da assistência técnica para uma correta identificação da doença. A mancha ocular do milho pode se tratar de uma doença que, em determinadas
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Lesões vistas em lupa com aumento de 40x
condições climáticas irá causar prejuízos, e nenhum estudo foi encontrado em relação a esta doença em nosso país. Informações sobre sobrevivência e disseminação do agente causal, desenvolvimento da doença nas condições climáticas do Brasil e a reação dos materiais genéticos à doença, são importantes para adequar estratégias de controle e para que se possa trabalhar em programas de melhoramento genético visando à sua resistência. Para ampliar o conhecimento deste patógeno, está sendo conduzido um estudo para dissertação de mestrado na UTFPR – Campus Pato Branco (PR) que, num primeiro momento, irá avaliar a reação de variedades comerciais de milho à doença e caracterizar isolados do fitopatógeno, quanto a sua morfologia, fisiologia e genética. Em estudos posteriores serão investigados aspectos da epidemiologia da doença e do ciclo das relações patógeno-hospedeiro sob condições de solo e clima do Sul do Brasil. A equipe executora do projeto fica à disposição e conta com o apoio de colegas e
Aspectos da colônia de Kabatiella zeae, em meio de cultura BDA (batata, dextrose, ágar)
profissionais da área agrícola para o envio de material (folhas de milho) com sintomas da doença para que se possa realizar um estudo de abrangência nacional. O laboratório de Fitopatologia da UTFPR, em Pato Branco (PR), avalia materiais com sintomas da doença. Informações pelo telefone (46) 3220-2543. C
Idalmir dos Santos, Rubia Camochena e Gustavo Malagi, Univ. Tecn. Federal do Paraná
NÚMEROS DO MILHO
O
milho (Zea mayz L.), cuja produção vem crescendo a cada ano, tem sido de grande importância sócio-econômica para o Brasil, é cultivado em vários estados da Federação e consolidou-se ainda mais nos últimos 15 anos com o expressivo crescimento em área de milho safrinha. Isso contribui impulsionando as agroindústrias nacionais, patrocinando principalmente a expansão da avicultura, bovinocultura e suinocultura. Pelo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de milho na safra 2006/2007 deverá ficar entre 41,9 e 42,9 milhões de toneladas, o que significa um ganho de até 3% ou 1,2 mil toneladas. A região Centro-Sul responde por 89,5% da produção nacional, em média.
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Trigo
Sinal de alerta Com o início do plantio da nova safra de trigo começam as preocupações com os possíveis ataques de corós. Espécies rizófagas, que se alimentam de raízes, sementes e até da parte aérea de plantas recém-emergidas, merecem monitoramento constante e controle que começa pelo tratamento de sementes e phaga triticophaga Morón & Salvadori, 1998 são os corós-pragas mais importantes, tendo continua com o em vista os danos que são capazes de causar manejo integrado de pragas às culturas produtoras de grãos, principalmen-
O
manejo integrado de pragas (MIP) é uma estratégia de controle que visa evitar que insetos e outros organismos fitófagos causem danos às plantas cultivadas. Além de resultados economicamente viáveis, o MIP busca resultados ecologicamente aceitáveis. MIP baseiase em conhecimentos básicos sobre a praga e a planta, na tomada de decisões com critérios e na utilização integrada de métodos de controle disponíveis. A ocorrência de corós rizófagos em culturas graníferas no Sul do Brasil não é fato recente. Entretanto, foi a partir duas últimas décadas do século passado que esses insetos passaram a adquirir maior importância econômica. Apesar das dificuldades inerentes ao estudo de pragas subterrâneas, avanços no conhecimento sobre identificação de espécies, biologia, comportamento, inimigos naturais e práticas de controle permitiram o desenvolvimento do Manejo Integrado de Corós-pragas (MIPCorós) em sistemas de produção que envolvem trigo no Sul do Brasil (Salvadori, 1997; Salvadori & Pereira, 2007). Nos sistemas de produção de grãos não irrigados no extremo sul do país, ocorrem inúmeras espécies de corós, sendo que as espécies Diloboderus abderus Sturm, 1826 e Phyllo-
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te trigo, outros cereais de inverno (aveia, centeio, cevada e triticale), milho e soja. Várias outras espécies rizófagas ou não têm sido encontradas e estão em vias de identificação. Recentemente, Salvadori et al. (2006) registraram pela primeira vez em lavouras a ocorrência da espécie Demodema brevitarsis Blanchard, 1850 causando danos à soja em pequenas áreas no norte do Rio Grande do Sul, a qual denominaram “coró-sulino-dasoja”. • Coró-das-pastagens (D. abderus): trata-se de uma espécie univoltina (uma geração anual) e polífaga, há muitos anos citada como praga de pastagens e de lavouras no Rio Grande do Sul, na Argentina e no Uruguai. Sua ocorrência está relacionada a solos não-revolvidos e à disponibilidade de restos culturais (palha), que larvas jovens utilizam como alimento (Torres et al., 1976; Silva, 1995; Silva & Salvadori, 2004), o que explica sua associação a pastagens e a lavouras sob plantio direto. As larvas vivem dentro de galerias no solo, a uma profundidade média de 20 cm. Apesar dos danos que causa, esta espécie pode proporcionar, secundariamente, benefícios (Gassen, 1999), como aumento da infiltração de água (galerias) e incorporação e decomposição de restos culturais. Entretanto, antes que isto ocorra, causa danos expressivos às culturas. • Coró-do-trigo (P. triticophaga): também polífaga, mas de hábitos caracteristicamente rizófagos, esta espécie foi descoberta por Morón & Salvadori (1998), em lavouras no norte
do Rio Grande do Sul. O ciclo dessa espécie completa-se em aproximadamente dois anos. Ocorre tanto em solos sob sistema convencional de preparo como sob plantio direto. As larvas não constroem galerias permanentes, são favorecidas por solos não-compactados ou desestruturados e vivem muito próximas à superfície do solo (geralmente nos primeiros 10cm de profundidade), aprofundando-se nos períodos mais frios (Salvadori, 2000). • Corós não-pragas: nem todo coró presente no solo representa ameaça. Além de espécies pragas, existem espécies não-rizófagas, construtoras de galerias e outras de hábitos alimentares facultativos, que podem ser toleradas até certa densidade populacional. São exemplos: o coró-pequeno (Cyclocephala flavipennis), muito abundante em lavouras, que, sob plantio direto, não causa danos consideráveis (Salvadori, 1999b); o coró-da-palha (Bothynus sp.), que se alimenta de restos vegetais, sem causar danos diretos às culturas. Diversas espécies de corós coprófagos são comuns em sistemas de produção que integram lavoura e pecuária, promovendo a decomposição e a incorporação do esterco de animais, bem como o controle biológico de pragas de importância veterinária, que se desenvolvem em fezes bovinas frescas (Honer et al., 1992).
CULTURAS HOSPEDEIRAS E DANOS Embora os maiores danos ocorram em trigo e em outros cereais de inverno, outras culturas como soja, milho, canola, tremoço,
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azevém, trigo mourisco e ervilhaca, além de gramas e plantas daninhas, podem ser atacadas por corós. Os danos são causados pelas larvas, especialmente as de 3º instar (grandes), que se alimentam de raízes, mas também consomem sementes e parte aérea de plantas pequenas, as quais puxam para dentro do solo, após devorarem a parte subterrânea. Os prejuízos decorrem da mortalidade de plântulas e da diminuição da capacidade produtiva de plantas sobreviventes. Maiores danos ocorrem de maio a setembro, sendo, portanto, mais evidentes em culturas de inverno e em culturas de verão semeadas no cedo (como milho, em setembro-outubro) ou em fim de ciclo (como soja, em março-abril). Densidades médias de dez corós-pragas/ m2 comprometem o rendimento de cereais de inverno, e 25 a 30 corós/m2 podem ocasionar danos severos. Em soja e, especialmente, em milho, devido a menor população de plantas, o potencial de danos é ainda maior. A soja, entretanto, devido à época em que é semeada, normalmente não sofre danos expressivos pela ação de corós na fase inicial de desenvolvimento da cultura.
Calendário com o ciclo biológico das duas principais espécies de corós: D. abderus e (abaixo) P. triticophaga
MANEJO INTEGRADO
lação de corós no solo, incluindo a mortalidade natural e c) aplicação de tática de controle (o mais seletiva possível). • Identificação das espécies: espécies de corós diferem quanto à biologia, hábitos alimentares e potencial de danos, tendo em comum ciclo biológico longo, hábitos polífagos
Dirceu Gassen
O controle de corós é necessário quando espécies daninhas atingem níveis populacionais que podem causar reduções significativas no rendimento de grãos. As decisões de controle não devem ficar para a véspera do plantio e sim resultar do acompanhamento das áreas, sistematicamente, nas safras e nas entressafras. Os passos a serem seguidos no MIPCorós são: a) identificação das espécies presentes no solo (se são pragas ou não), b) monitoramento de sintomas e danos nas plantas e da popu-
Danos de corós são causados principalmente quando as larvas atingem o 3º instar, quando se alimentam de raízes, sementes e parte aérea
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e ocorrência em reboleiras. Corós de espécies diferentes são semelhantes quanto ao aspecto geral, diferindo quanto ao tamanho, se comparados no mesmo estádio de desenvolvimento, e ao mapa de pêlos e espinhos na região ventral do último segmento abdominal. O coró-da-palha pode ser confundido com o coró-das-pastagens, entretanto, apresenta a peculiaridade de, se colocado na superfície do solo, locomover-se de costas, contorcendo o corpo, arrastando-se com as pernas para cima. C. flavipennis é morfologicamente semelhante ao coró-do-trigo, porém é menor. Os adultos (besouros) dessas espécies são muito diferentes quanto ao aspecto geral, especialmente em tamanho e cor. • Monitoramento e amostragem: a presença de corós rizófagos no solo deve ser monitorada através de sintomas em plantas (morte ou desenvolvimento reduzido de plântulas e afilhos; baixa produtividade das culturas) e confirmada por meio de escavações expeditas na área. Antes de plantios, amostragens de solo (trincheiras de 0,5 a 1 m de comprimento x 0,25 m de largura x 0,20 m de profundidade), devem ser feitas para conferir as espécies e quantificar a densidade média de corós por unidade de área. Em áreas extensas, as trincheiras devem ser concentradas onde houve
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Caracterização e diferenciação das espécies
ou há sintomas de ataque nas plantas. Aberturas de galerias, na superfície do solo, podem dar um indicativo da presença do coró D. abderus, no entanto, galerias podem estar vazias ou terem sido feitas por outros artrópodes (aranhas, grilos, corós não-pragas etc.). O acompanhamento das áreas deve ser feito ao longo de todo o ano, visando identificar a ocorrência e a evolução de possíveis infestações, gerando uma espécie de histórico da área, o que facilita o planejamento e as decisões sobre o controle de corós. • Níveis populacionais tolerados: quanto maior a população de corós-pragas, maior é o potencial de danos e maior a dificuldade de controle, dentro de padrões técnica e economicamente aceitáveis. Em trigo e em cevada, a densidade populacional média de corós, a partir da qual recomenda-se o controle, é cinco corós-pragas/m2. Nestas culturas, maiores densidades de corós implicariam no emprego de doses crescentes de inseticidas, diminuindo a probabilidade de retorno econômico da prática de controle. Assim, para fins de res-
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posta econômica ao controle químico em cereais de inverno, considera-se cinco corós/m2 como uma infestação baixa, na qual são conseguidos os melhores resultados, dez a 15 corós/m2, uma infestação média e 20 corós/m2, uma infestação alta, na qual o resultado do controle químico geralmente fica muito aquém da expectativa. Em soja, o nível de ação não está determinado e em milho é em torno de 0,5 corós-pragas/m2 (Silva & Costa, 1996). Para evitar que o problema se agrave e se expanda nos anos seguintes e para diluir o custo, quando possível, o controle pode ser aplicado apenas nas manchas de ataque (reboleiras).
MEDIDAS DE CONTROLE • Controle cultural: o comportamento polífago dos corós limita o uso da rotação de culturas como método de controle. Em plantas cultivadas com pequena ou sem expectativa de retorno financeiro imediato, com culturas usadas para proteção de solo contra a erosão, para produção de palha em plantio dire-
to, para alimentação animal, para adubação verde ou para descompactação de solo, tolerase maior nível populacional e, em conseqüência, maiores danos de corós. No caso de P. triticophaga (ciclo biológico de dois anos) o uso da área pode ser planejado para minimizar danos, como por exemplo, produzindo grãos no ano com menor risco e palha, pasto, adubo verde etc, no ano mais sujeito ao ataque de corós. Em situações em que clima e sistema de sucessão/rotação de culturas permitem flexibilidade na época de semeadura, é possível escapar do ataque ou minimizar os danos. Um exemplo disso, é o retardamento da semeadura de milho e de soja para época em que os corós já cessaram a alimentação e/ou passaram à fase de pupa (Salvadori, 2000; Silva et al., 2002). No caso de D. abderus, que necessita de palha para nidificação e alimentação de larvas pequenas, a disponibilidade de resíduos vegetais influencia na oviposição e no estabelecimento da espécie. Em milho semeado em setembro-outubro, antecedido por azevém, canola, ervilhaca ou tremoço, a quantidade de palha disponível sobre o solo em janeiro-março é menor que em soja antecedida por aveia-preta, o que desfavorece a espécie (Silva et al., 1996; Silva & Salvadori, 2004). • Controle natural e biológico: as populações de corós flutuam naturalmente em função de inimigos naturais (predadores, parasitóides e patógenos) e de condições ambientais (clima, alimento etc.) desfavoráveis à sobrevivência de ovos, larvas, pupas e adultos (Salvadori & Silva, 2004; Silva & Salvadori, 2004). O longo ciclo biológico das espécies as tornam muito sujeitas a colapsos populacionais em função de fatores adversos. O fato de existir infestação de corós num local não significa que ela se manterá ou aumentará nos anos seguintes. Geralmente, porém, a população vai aumentando até certo clímax, a partir do qual declina naturalmente. Em longos períodos de estiagem ou de frio muito intenso, os corós aprofundam-se no solo, diminuem a atividade e a alimentação, com implicações no potencial de dano, na sobrevivência e na reprodução. Microorganismos causadores de doenças (fungos, bactérias etc.) constituem os mais importantes agentes de controle biológico natural de corós no Sul do país. Epizootias causadas por fungos têm sido a principal causa do colapso de corós em trigo. Em larvas de D. abderus, constatou-se mortalidade natural de 87,3%, sendo 77,7 % devido aos fungos Cordyceps sp. e Metarhizium anisopliae e o restante a bactérias (Salvadori & Oliveira, 2001). • Controle químico: o tratamento de sementes com certos ingredientes ativos, como por exemplo carbossulfano, fipronil, furatiocarbe, imidacloprido, tiametoxam e tiodicarbe tem se mostrado eficiente no controle de
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Fotos José Roberto Salvadori
a) controle natural de corós por fungos habitantes do solo; b) Diferença entre área que utilizou tratamento de semente e área sem uso
ESPÉCIES-ALVO
C
corós em trigo, cevada e aveia (Gassen, 1997; Goellner et al., 2001; Link & Link, 2001ab; Salvadori, 1998ab, 1999a, 2001ac; Salvadori & Barison, 1999; Silva, 1995, 2000). Em milho, a eficiência deste método de aplicação de inseticida também já foi comprovada para controle de corós (Silva, 1996; Silva & Salvadori, 2004). Entretanto, em qualquer das culturas citadas, além da escolha do inseticida e da dose adequada, o tratamento de sementes pode não proporcionar o resultado esperado se aplicado isoladamente, fora do contexto de MIP. Por outro lado, a viabilidade econômica do tratamento de sementes depende do potencial de produtividade da lavoura (Salvadori, 1999a; Salvadori & Silva, 2004). Assim, o tratamento de sementes com inseticidas para controle de corós deve ser aplicado integradamente com
as demais práticas do MIP, especialmente com a realização de monitoramento e amostragens para identificação das espécies e determinação da densidade de infestação (nível de ação ou de controle). A pulverização de inseticidas, em área total, antes ou após a semeadura, ou após a emergência das plantas, não é recomendada por apresentar resultados inconstantes. A eficiência depende da espécie de coró presente (profundidade, comportamento, existência de galerias etc.), do ingrediente ativo (volatilização, mobilidade do solo etc.), da dose usada (três a quatro vezes maior que a normal) e, principalmente, da ocorrência de chuva em quantidade adequada, logo após a aplicação, que transporte o inseticida para dentro do solo. Um dos grandes inconvenientes dessa prática é o seu amplo
orós são larvas de besouros das famílias Scarabaeidae ou Melolonthidae, das quais muitas espécies, por apresentarem comportamento rizófago, podem ser pragas agrícolas. Entre corós que habitam o solo (edafícolas), de acordo com alimento, além de espécies rizófagas (raízes), existem espécies saprófagas (material orgânico em decomposição), coprófagas (fezes), necrófagas (cadáveres) e facultativas. A condição de praga depende não só da densidade populacional e do interesse econômico existente em cada situação específica, como também do hábito alimentar das espécies. impacto (altas doses e em área total) sobre organismos não visados. Independentemente do método de aplicação, o uso de inseticidas para controle de corós depende do registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e C Abastecimento. José Roberto Salvadori e Paulo Roberto V. S. Pereira, Embrapa Trigo
Dirceu Gassen
Trigo
Controle por grupos Novo método para barrar doenças em trigo já é empregado com sucesso nas lavouras. Através do agrupamento de cultivares são reunidas informações de práticas antigas e utilizadas estratégias de controle que se diferenciam em quatro grupos de acordo com o nível de dano que representam à cultura
C
ultivar trigo no Brasil é um desafio em que vários fatores interferem na produtividade e qualidade. Planejamento da semeadura à comercialização são determinantes para uma boa lucratividade. Nosso clima úmido e quente favorece o desenvolvimento de várias doenças, causadas principalmente por fungos, bactérias, e vírus, onde o manejo sustentável destas enfermidades é essencial para manutenção do potencial produtivo e qualidade. Os mercados nacional e internacional já ditam parâmetros rígidos de comercialização do trigo, e o manejo das doenças se tornou uma necessidade para garantir a qualidade. São vários os mecanismos para o manejo sustentável das doenças do trigo, podemos citar os principais métodos: rotação de cultura, época de semeadura, resistência genética e o uso de fungicidas via tratamento de sementes e aérea. Devido a uma pressão considerável destas enfermidades sobre a cultura, a utilização integrada destes métodos é fundamental para o manejo sustentável. Para utilizar racionalmente os fungicidas também são sugeridos alguns sistemas para auxiliar na tomada de decisão, como podemos citar: A) Aplicações preventivas: são baseadas em estádios fenológicos da cultura e probabi-
lidade de ocorrência das doenças segundo histórico. B) Limiar de Dano Econômico (LDE) ou Limiar de Ação (LA): é baseado na intensidade das doenças que causam perdas iguais ou menores que o custo do controle, sendo que quando o LA for alcançado é recomendado controle. C) Aplicação baseada em condições climáticas: todas as doenças possuem condições ambientais ideais para seu desenvolvimento, principalmente temperatura e umidade, sendo assim, modelos de previsão epidemiológicas podem ser utilizados no auxílio da tomada de decisão das aplicações. Podemos observar que em condições de campo qualquer um desses sistemas para auxiliar o controle possui vantagens e desvantagens, pelo excesso ou falta, sendo assim desenvolvemos um método de agrupamento de cultivares, que contempla um ou mais métodos citados anteriormente. Através do monitoramento intensivo dos cultivares ao longo dos anos em diversos ambientes, permitindo a caracterização das intensidades das epidemias por genótipo e a quantificação dos danos causados pelas enfermidades. Com o conhecimento do desenvolvimento das epidemias por genótipo e os possíveis danos, foi possível propor estratégias próprias
por cultivar ou grupo de cultivares. Para cada cultivar ou grupo pode se utilizar métodos de controle baseados no LA, prevenção ou até mesmo favorabilidade climática para doenças de espiga. O LA normalmente é utilizado em situações onde as epidemias são de baixa virulência, e os fungicidas não possuem limitação para o controle eficiente. O monitoramento das lavouras, principalmente na fase vegetativa, é determinante para orientar a necessidade do controle. O controle preventivo é recomendado em situações em que as doenças foliares possuem elevada agressividade, e os fungicidas apresentam limitações para um controle eficiente. O estágio reprodutivo também requer a prevenção, principalmente, no controle das doenças da espiga, como brusone e giberela. A favorabilidade climática também pode ser uma ferramenta útil, principalmente para auxiliar na tomada de decisão no controle das doenças de espiga. No manejo da giberela já Quadro 1 - Fluxograma do método “ Grupos de Controle”
Tabela 1 - Doenças mais freqüentes do trigo Nome comum Patógeno Duração do Temperatura Redução no Referências da doença molhamento (h) média (ºC) rendimento de grãos Oídio do trigo Blumeria graminis f. sp. tritici Não requer molhamento 15 - 22 Até 62% Reis et al., 1998 Ferrugem da folha do trigo Puccinia graminis f. sp. tritici 10 19 - 22 Até 63% Barcellos et al., 1982 Helmintosporiose do trigo Bipolaris sorokiniana 18 15 - 18 Até 80% Mehta, 1993 Mancha Amarela Drechslera tritici-repentis 24 20 Giberela Gibberella zeae > 48 15 - 20 Até 25% Panisson, 2001 Brusone Pyricularia grisea 10 - 14 21 - 27 Até 50% Goulart et al., 1992
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Quadro 2 - Exemplo de probabilidade de intensidade da epidemia, conforme diferentes cultivares de trigo
estão disponíveis no mercado sistemas de alerta baseados em condições climáticas com ótimo índice de acerto.
GRUPOS DE CONTROLE Os grupos de controle estão baseados principalmente nas doenças causadas por fungos na parte aérea e espiga. As viroses como VNAC e VMC possuem um manejo semelhante para todos os grupos, sendo que o uso de tratamento de sementes com inseticidas à base de neonicotinóides é sugerido para todos os grupos no controle do VNAC. No manejo do VMC, em áreas com histórico desta doença e regiões de clima propício (frio e úmido), o uso de cultivares com resistência, tais como ônix, granito etc é sugerido. As epidemias para as doenças foliares são classificadas quanto a sua virulência ou agressividade, e os genótipos são agrupados segundo essa classificação: D) Sem importância no controle, genótipo Resistente (R). E) Doença importante somente no complexo, genótipos Moderadamente R (MR). F) Doença alvo, com virulência mediana, muito dependente das condições climáticas, controle efetivo, possibilidade de utilização do LA, genótipos M Suscetível (MS). G) Doença alvo, com virulência elevada, elevada freqüência de ocorrência, grande di-
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Quadro 3 - Histórico de danos causados por doenças foliares e espiga, e agrupamentos dos cultivares conforme dano
ficuldade de controle, com possível perda de sensibilidade a fungicidas, controle preventivo é o mais eficiente, genótipos S ou Altamente S (AS). Os danos ocasionados por essas doenças são determinantes para divisão entre grupo de cultivares, sendo que os grupos de menor risco apresentam danos históricos entre 1020% e os de maior risco entre 30-80%. Baseando-se na virulência e nos danos, podemos traçar estratégias seguras e com uma relação custo/benefício adequada. Os cultivares estão dispostos em quatro grupos, nos quais as estratégias de controle se diferenciam para cada grupo. Outros aspectos importantes nos grupos são as doenças de espiga, que dependem das condições ambientais regionais e suscetibilidade dos genótipos, onde o manejo preventivo é decisivo. Brusone: ocorre em regiões de temperaturas elevadas, Norte/Oeste do Paraná, São Paulo e Cerrado, semeaduras antecipadas e anos chuvosos. O controle é preventivo e re-
alizado na emissão das primeiras aristas na lavoura, principalmente com fungicidas à base da mistura estrobilurina + triazol. A resistência genética para esta doença é restrita a materiais como a BRS 229. Giberela: doença que se tornou importante e freqüente a partir do surgimento do sistema de plantio direto, ocorrendo principalmente na região Sul e Sudeste do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Poucos são os genótipos com resistência, sendo assim a utilização de fungicidas para supressão desta doença torna-se importante. Em condições climáticas favoráveis o estádio de aplicação de fungicidas está entre 25-50% de floração. Além do que, é possível dispor de sistemas de apoio à tomada de decisão de controle com base em previsão climática.
MANEJO POR GRUPOS As sugestões seguintes são recomendadas para lavouras que realizam a rotação de culturas adequadamente.
Quadro 4 - Aspectos de controle relacionados aos grupos Aspectos do controle Custo do Controle (Kg trigo/ha) Nº de aplicações prováveis Custo do controle (% da Produção) Dano Esperado
I 100 a 160 1a2 3.2 - 5.3 10 – 20%
Grupos de Controle II III 195 a 260 195 a 260 2a3 2a3 6.5 - 8.7 6.5 - 8.7 20 – 40 % 20 – 50 %
IV 260 – 340 3a4 8.7 - 11.3 30 – 80 %
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BRS 208 – SAFRA 2007 (Tipo: Pão) OÍDIO (Virulência)1
Dificuldade de Controle
Ferrugem da Soja (Virulência)1
Dificuldade de Controle
Suscetibilidade Doenças de espiga
Virose VNAC VMC 2 3 MR
4
5 MS
M S
vo, preventivamente, principalmente no controle de doenças de espiga, brusone e giberela, sendo que as doenças foliares são importantes dentro do complexo.
Giberela Brusone
1 R
Dano2
Dificuldade de Controle
Média
Manchas foliares (Virulência)1
Baixa
M R
Baixa
M R
6
7
8 9 S
10
(1) Linhas de tendência, para máxima e média severidade, com base nos oito últimos anos, de três a oito locais dos campos gerais do Paraná. (2) Resposta ao controle das doenças foliares com fungicidas. Doença alvo.
• Normalmente são realizadas duas aplicações, sendo que, a ocorrência de oídio na fase inicial da cultura pode representar uma aplicação extra. • No estádio vegetativo é necessária uma aplicação entre início da emissão da folha bandeira a pleno emborrachamento, baseada principalmente no monitoramento e LA. • No estádio reprodutivo a aplicação é preventiva, no controle de doenças de espiga, bru-
Grupo II - Dano entre 20 a 40% Características: • Os danos variam entre 20 a 40%. • As doenças foliares são de virulência média, com controle eficiente. Esquema de controle
Grupo I - Dano de 10 a 20% Características: • Danos causados pelas doenças estão entre 10-20%. • As doenças foliares são de baixa a média virulência, com controle eficiente. • O número de aplicações varia entre um e dois. • No estádio vegetativo da cultura as doenças foliares são de baixa ocorrência e dificilmente estão relacionadas com danos. Mesmo assim é sugerido o monitoramento e a utilização do LA para possíveis controles. • A aplicação principal deste grupo é realizada no estádio reproduti-
30
Semente
Perfilhamento
Elongação
Emborrachamento
Espigamento
Flor
Grão
10.51 a 10.54
11.1 a 11.4
ou
Feekes Doença alvo para controle Oídio Manchas foliares Ferrugem da folha Giberela Brusone VNAC
2
5
6
7
8
10
10.1
10.5
Controle (LA=incidência %)1 e/ou Proteção 15 a 25% 15 a 25% 15 a 25%
Proteção Proteção Proteção
Proteção
(1) Limiar de ação
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Grupo I - Doenças alvo/Dificuldade de controle sone e giberela, e no complexo das doenças foliares. Grupo III – Doença chave “manchas foliares” - Dano entre 20 a 50% Características: • Os danos estão entre 20-50%. • O que caracteriza esse grupo é a ocorrência de cultivares suscetíveis, principalmente, a mancha amarela, que apresenta elevada agressividade e elevado grau de dificuldade de controle. • O momento decisivo no controle das manchas foliares está entre o início de emissão da folha bandeira a pleno emborrachamento, é realizado preventivamente. Além do que, existe restrição ao uso de fungicidas, a mistura estrobilurina + triazol é a opção mais recomendada. • A agressividade das manchas foliares está diretamente ligada ao regime de chuvas. • No estádio reprodutivo a aplicação novamente é preventivamente, principalmente no controle de doenças de espiga, brusone e giberela, e novamente as manchas foliares. Grupo IV - Dano entre 30 a 80% Características: • Elevado potencial de dano, de 30-80%.
• Uma ou duas doenças foliares são de virulência ou agressividade elevada e de difícil controle. • O número de aplicações varia entre dois a quatro. • Para as doenças foliares de agressividade elevada é recomendado o controle preventivo ou até 5% de incidência. • Oídio de elevada agressividade, é recomendada a proteção do estádio de perfilhamento à elongação, via fungicidas via semente e/ou foliar. • Ferrugem de agressividade elevada, é importante o monitoramento a partir do início do estádio de elongação, com aplicações com 5% de incidência ou preventivamente, para garantir o bom funcionamento dos fungicidas no emborrachamento e no estádio reprodutivo. Existe restrição ao uso de alguns fungicidas pelo aparecimento de raças resistentes, sendo que, a mistura estrobilurina + triazol é recomendada. Manchas foliares de agressividade elevada, recomendação semelhante ao grupo III. C Olavo Corrêa da Silva, Carlos André Schipanski e José de Freitas, Fundação ABC – Defesa Vegetal
Cultivar BRS 208 Fundacep raízes
Doenças foliares Doenças espiga Virose Manchas Oídio Ferrugem Giberela Brusone VNAC foliares da folha Si
Grupo II - Doenças alvo/Dificuldade de controle Cultivar
Doenças foliares Doenças espiga Virose Manchas Oídio Ferrugem Giberela Brusone VNAC foliares da folha
CD 110 IPR 87
Grupo III - Doenças alvo/Dificuldade de controle Cultivar
Doenças foliares Doenças espiga Virose Manchas Oídio Ferrugem Giberela Brusone VNAC foliares da folha
CD 108
Grupo IV - Doenças alvo/Dificuldade de controle Cultivar
Doenças foliares Doenças espiga Virose Manchas Oídio Ferrugem Giberela Brusone VNAC foliares da folha
CD 111 Ônix Doença chave, virulência severa, aplicações preventivas ou LA=5%. Doenças importantes no complexo ou chave, virulência média, aplicações curativas (15 a 25% incidência), ocorrência depende das condições climáticas. Doenças importantes no complexo, aplicações curativas (>25% incidência), ocorrências muito dependentes de condições climáticas, controle depende da prioridade de outras doenças. Doença sem importância no complexo. Si: Sem informação
Coluna Andav
Quase uma realidade
É
notória a morosidade para se resolver as principais questões que dependem o bom funcionamento da cadeia agrícola brasileira. Um exemplo claro disso é a criação do FRA – Financiamento de Recebíveis do Agronegócio, que seria liberado no início do ano através de recursos provenientes do FATFundo do Amparo ao Trabalhador, com a criação de um fundo garantidor e participação do agricultor, fornecedores e governo. A discussão vem desde a época do primeiro turno das eleições presidenciais, no ano passado. Nos palanques, muito se conversou sobre o endividamento da agricultura e, hoje, os fatos são bastante conhecidos por todos e pior, vêm se agravando ainda mais. Vale lembrálos das dificuldades das safras passadas, quando problemas climáticos e com pragas foram marcantes em diversas culturas; o preço do combustível acumulou altas significativas e a valorização do real que fez com que o dólar mantivesse (continua ainda hoje), a manter níveis baixíssimos, o que repercutiu negativamente no grau de endividamento dos agricultores. Como já dissemos anteriormente, os problemas são conhecidos por todos e o FRA é uma solução prática que depende apenas da publicação de uma MP - Medida Provisória. A Casa Civil aguarda o parecer do Ministério do Trabalho e Emprego. Não há uma data para que isso ocorra. Enquanto isso, toda a cadeia produtiva do agronegócio brasileiro espera a tão sonhada nova realidade de braços cruzados. Assim, mais uma vez, os entraves políticos fazem de todos nós reféns de uma situação que “poda” qualquer previsão animadora de futuro. A utilização dos recursos do FAT na agricultura, gerou toda a discussão sobre o refinanciamento das safras agrícolas com dívidas contraí-
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das a partir de 01/01/2005. O Banco do Brasil, através da Diretoria de Agronegócios, nos últimos meses discutiu com os representantes dos for-
“A discussão vem desde a época do primeiro turno das eleições presidenciais, no ano passado. Nos palanques, muito se conversou sobre o endividamento da agricultura e, hoje, os fatos são bastante conhecidos por todos e pior, vem se agravando ainda mais”
necedores (defensivos e fertilizantes), valores, juros, prazos e formas para a disponibilização de recursos para utilização do FRA. Como resultado dessas reuniões criou-se um fundo garantidor, onde o agricultor participa com um percentual, assim como os fornecedores e o Tesouro, ou seja, os produtores rurais (10%), fornecedores (20%), Tesouro Nacional (até 15%) e o restante pelo Citibank. Para a identificação dos montantes, o Banco do Brasil enviou aos fornecedores uma tabela onde consta o nome do agricultor, o CPF e o valor em aberto. Os fornecedores já enviaram essas tabelas ao Banco do Brasil e incluíram também uma relação contendo o valor em aberto com as revendas. As revendas por solicitação do Banco do Brasil e intermédio da Andav, continuam enviando suas planilhas onde consta o nome do agricultor, o CPF e o valor em aberto. Assim, a Andav ao ser incluída nas negociações, participou de diversas reuniões realizadas sobre o tema com o Ministério da Fazenda, Banco do Brasil, representantes dos agricultores, Sindag e Anda. Uma das conseqüências destes encontros foi a discussão das formas de como será processada essa operação. O FRA será uma conquista de todos, um vez que, é garantido e o produtor terá sua dívida alongada por cinco anos, com dois anos de carência e taxa de juros de cerca de 11% ao ano (TJLP) + 5 %. É necessário que todos os envolvidos nesta cadeia se mobilizem para viabilizar a efetiva disponibilização dos recursos, atendendo assim, grandes, médios e pequenos agricultores, transformando o “quase” em realidade. C Henrique Mazotini Presidente executivo da Andav
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Agronegócios
No limite da ficção
P
rimeiro você enfrenta uma fila enorme para conseguir a autorização de exame. Depois, uma fila maior para a coleta de sangue, com jejum, abstinência de carne e outras restrições. Aí, espera muitos dias, angustiado, pelo resultado e, se for o caso, pelo tratamento médico. Agora imagine se, ao invés de tudo isso, você tivesse apenas que passar por um umbral, igual àqueles de fiscalização de raio X de aeroporto e, numa fração de segundo, já recebesse a dosagem de colesterol ou de glicose no sangue?
ANÁLISE EM LINHA Parece ficção, difícil de acreditar. Se ainda não chegou tão longe, o colega Luiz Alberto Colnago (Embrapa Instrumentação Agropecuária) está desenvolvendo um equipamento que chega muito perto do descrito acima. Ao menos para alimentos, como lingüiças e salsichas, picanha, soja, vinho ou frutas. A sua inovação consiste em colocar, na correia transportadora de uma fábrica de alimentos, um equipamento que fornece, instantaneamente, os teores das substâncias que o fabricante queira efetuar num controle de qualidade. Na seqüência, a correia pode ter um desvio (igual a um desvio ferroviário), separando os produtos que estejam abaixo ou acima de determinados teores. O mesmo equipamento também será útil para apoiar pesquisas que objetivem produzir novas variedades.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR O nome pomposo dá um calafrio, mas não se preocupe, é tecnologia do bem, nada a ver com mensalão. O princípio científico é o mesmo utilizado nos laboratórios de análises clínicas, para examinar o corpo de pacientes em busca de detalhes ínfimos de importância médica, como a tomografia computadorizada. Sabe-se que qualquer átomo responde à presença de um campo magnético poderoso. Na ausência de magnetismo, os átomos estão dispersos, dispostos ao acaso. Ao passarem pelo campo magnético, eles se alinham em uma mesma direção, como agulha de bússola. Para melhor entender, imagine um punhado de limalha de ferro sobre uma mesa: os filetes apontam ao acaso, em qualquer direção. Quando se coloca um imã próximo da limalha, imediatamente elas se orientam seguindo as linhas da força magnética.
Cultivar • www.cultivar.inf.br • Maio de 2007
ANÁLISE E daí? pergunta o leitor. Ocorre que quanto menor a molécula, maior é a sua agitação, quando submetida ao magnetismo. Como a ciência sempre opera com base em diferenças, o que o pesquisador fez foi associar as substâncias que pretende analisar com o tamanho da sua molécula. Depois, calibrou o equipamento, para que os sinais magnéticos provenientes das diferenças na “dança” dos átomos pudessem ser precisamente associados a determinadas moléculas. Assim, o equipamento inicialmente diferencia o tama-
“O consumidor moderno exige qualidade e inocuidade dos alimentos. As duas palavraschave para o sucesso no agronegócio globalizado do futuro são certificação e rastreabilidade”
nho da molécula, a partir dos sinais recebidos do alimento em exame. Na seqüência ele associa esse tamanho de molécula com determinada substância, constante do seu banco de dados. E, pela intensidade do sinal, o equipamento fornece o teor dessa substância, com grande precisão.
SEMENTES Por exemplo, para aumentar a densidade energética das matérias-primas utilizadas, é necessário aumentar o teor de óleo das oleaginosas, bem como conhecer
o seu perfil de ácidos graxos. A mesma informação é importante para se desenvolver cultivares nutricionalmente mais adequadas. No momento, os pesquisadores utilizam uma metodologia demorada e trabalhosa, que exige a secagem dos grãos e sua posterior moagem, a extração exaustiva com solventes orgânicos em extratores soxhlet e evaporação do solvente até peso constante. Nesse método, o óleo é considerado como o material solúvel no solvente e não apenas os triglicerídeos. Além de ser demorado, para fazer esta análise, a semente é perdida e, quando se está iniciando uma pesquisa, a quantidade de sementes disponível é muito pequena. Com o novo equipamento, além da vantagem de se trabalhar com um método mais rápido e menos trabalhoso, a semente é preservada, permitindo utilizálas tanto para análise química quanto para plantio, a fim de investigar outras características.
CERTIFICAÇÃO O consumidor moderno exige qualidade e inocuidade dos alimentos. As duas palavras-chave para o sucesso no agronegócio globalizado do futuro são certificação e rastreabilidade. Ninguém vai conseguir se manter em um negócio lucrativo se não puder garantir a qualidade do que vende. Deve também, em caso de nãoconformidade, poder voltar atrás em toda a cadeia produtiva e descobrir exatamente onde o processo apresentou desvios, para que possam ser corrigidos. É na etapa de certificação que o equipamento de ressonância magnética nuclear que está sendo desenvolvido pela Embrapa garante a qualidade dos produtos. Ele pode medir o teor de gordura da carne e processados, o teor de óleo da soja, o açúcar das frutas ou o álcool do vinho. Os exemplares que fogem da especificação podem ser descartados, antes da etapa de embalagem. E as aplicações podem ir mais longe pois, seguramente, conforme o equipamento for sendo utilizado, novos usos serão descobertos e desenvolvidos. Os interessados podem obter mais informações pelo email sac@cnpdia.embrapa.br C Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
brandalizze@uol.com.br
Do fundo do poço para uma nova era da agricultura O mercado agropecuário brasileiro está saindo do fundo do poço nesta safra, para isso conseguiu uma colheita recorde com mais de 130 milhões de t de grãos colhidos, sendo o maior volume chegando da soja com aproximadamente 58,5 milhões de t, que mesmo tendo perdas no final da colheita está chegando com recorde de safra e produtividade. O mesmo ocorre com o milho, que está chegando na casa dos 50 milhões de t, e desta forma o Brasil cresce na participação dos dois principais produtos em expansão no mundo, porque ambos têm dupla utilidade, como alimento e fonte de energia renovável e, junto, estamos crescendo na exportação dando maior liquidez aos produtores brasileiros que agora estão sentindo o milho como uma commoditie, e que o fundo do poço nestes próximos anos é raso, com muito mais forças para crescer do que cair. No caso da soja, esta entrando numa nova fase, como grande fonte de produção de proteína e agora provedora de biodiesel, porque tem o óleo mais barato do mercado podendo competir com facilidade com outros óleos vegetais, usados para a produção deste combustível alternativo, como é o caso dos óleos de girassol e canola, que são usados na Europa e Canadá. Como exemplo temos dois casos, o primeiro do etanol nos EUA, que em 2005 teve uma demanda de 15,2 bilhões de litros e deverá consumir 26,6 bilhões no próximo ano, com 17,5 bilhões consumidos no ano passado, e o biodiesel mostrou uma produção e consumo mundial de 4,5 milhões de t em 2005 e estará consumindo 16 milhões de t em 2010. Tudo isso caindo de presente para o setor agrícola brasileiro. Desta forma mostra-se um bom cenário pela frente, com produção crescente e aumento das margens de lucro do setor. Estamos reinventando a agropecuária, que de agora em diante estará mais profissional e assim força os produtores a novas tecnologias e mais informações para terem sucesso econômico. Bons tempos estão por vir. MILHO Plantio americano comandando o mercado O mercado do milho no Brasil agora está sob o comando das cotações internacionais, porque estamos na lista dos maiores exportadores mundiais e assim os valores que liquidam nos portos é que formam as cotações mínimas no mercado interno. Com o plantio americano comandando as cotações em Chicago, também ficamos na dependência do quadro climático americano, fato que já éramos dependentes anteriormente no setor da soja. Nas primeiras semanas do plantio em abril, os produtores estavam com grande atraso. Com expectativa que neste mês de maio, 36,6 milhões de hectares estejam concluídos nos EUA e assim deixem as cotações internacionais entre os US$ 150/160 por t, níveis considerados altos para o mercado internacional, mas que de agora em diante devem fazer parte do dia-a-dia dos produtores. O mercado interno esteve em plena fase de colheita e pouco movimento dos consumidores e desta forma tivemos queda nos indicativos médios, que aparentemente chegaram ao fundo do poço em abril e devem se manter calmos em maio, porque há boa disponilibilidade do cereal e a safrinha, apesar de sofrer com a seca, começa a indicar as primeiras colheitas no próximo mês, sem criar uma corrida dos consumidores para formar estoques. Com as cotações devendo se manter estabilizadas entre os R$ 14/16 para o Sul e Sudeste e abaixo nas posições mais distantes do Centro-Oeste. Com boas expectativas a médio prazo em função do avanço das exportações e redução das ofertas internas. SOJA Colheita fechada acima dos 58 milhões de t O mercado da soja esteve calmo em plena fase de colheita, mostrando pequenas alterações, mas não apresentando grande baixa como ocorria em anos anteriores, porque o mercado de Chicago, apesar de ter recuado dos US$ 8 por bushel para casa dos US$ 7 em cerca de 30 dias, fato este comum no período da colheita da América do Sul, agora pode esperar por alguns ganhos em cima dos movimentos climáticos que devem ocorrer no mercado de Chicago. O plantio americano ocorre em maio e na primeira quinzena de junho, deve ser acompanhado, porque estamos em ano de La Niña, que normalmente nos traz boas notícias. O mercado brasileiro trabalhou as últimas semanas entre os R$ 31/32 nos portos e não mostrou fôlego para alta ou baixa. O governo deverá continuar dando suporte aos negócios no Centro-Oeste
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e Nordeste, via Pepro e Prop, garantindo base dos R$ 22,5 acima. FEIJÃO Aumento do poder aquisitivo favorecendo O mercado do feijão trabalhou calmo em abril, sem pressão de alta ou baixa, mas com pouca disponibilidade de produto de melhor qualidade, que tinha indicativos entre os R$ 60/70, mas sem ofertas, enquanto o produto comercial e chuvado aparecia em grandes volumes e níveis dos R$ 55 abaixo e até nos R$ 30 havia posição de feijão de baixa qualidade. Confirmando que a demanda de feijão está em cima do produto de melhor qualidade e o produto inferior não desperta interesse e tem preços baixos. O mercado de maio em diante contará com um bom fator de demanda, que vem do aumento do salário mínimo, que ajustará todas as aposentadorias e também o ajuste nos valores pagos do Bolsa Família que passará dos R$ 95 para R$ 110, aumentando o poder de consumo da população e certamente mais feijão e arroz serão levados para casa, favo-
recendo a desova do feijão que ainda está sobrando e dando fôlego para alta no produto que chegará nos próximos meses. ARROZ Governo criando apoio e colheita fechada A colheita está fechada na faixa dos 11 milhões de t para um consumo de 13 milhões ou levemente acima e desta forma grande necessidade de consumo de estoques e importações. Com bom espaço de alta nos próximos meses porque o governo do RS aprovou uma lei, que taxa a importação do arroz em R$ 0,33 por saca e desta forma favorece para o mercado interno que em abril trabalhava ao redor dos R$ 20/21 pelo casca do RS e mostrava um mercado firme nos estados centrais, onde pelo segundo ano consecutivo têm colheita menor que o potencial de beneficiamento e está fazendo uma corrida para o produto em plena colheita, deixando as cotações locais firmes. Falando em R$ 25,5 aos R$ 27,5 na base do lote do MT. Com avanços nos indicativos no Sul a partir do final de maio em diante.
CURTAS E BOAS ARGENTINA - A colheita do feijão começa neste mês e novamente o preto portenho deverá atrapalhar o mercado brasileiro, com ofertas do produto na casa dos US$ 20, limitando avanços do preto brasileiro, que continuará dependente do governo para criar liquidez. A colheita da soja e do milho teve problemas em abril em função das chuvas, com atraso e algumas perdas localizadas, mesmo assim há recorde de safra, com 22,5 milhões no milho e 45,5 milhões na soja. TRIGO - O mercado continua buscando ajustes nas cotações porque há pouca disponibilidade do cereal no mercado mundial e este segue bem valorizado com indicativos nos R$ 480/520 no Paraná e R$ 450 no RS, com algumas indústrias estimulando o plantio irrigado no Brasil Central garantindo níveis de R$ 480 acima para estimular os produtores que plantaram em pivô na região de Brasília e pontos de MG. O clima seco prejudicou o início do plantio no Paraná e este já é um bom fator para os produtores porque há limitação da safra e favorece as lavouras gaúchas que entram em plantio de agora em diante. ALGODÃO - O mercado esteve recebendo apoio do governo via pregões, criando liquidez para a pluma, que mesmo tendo boas cotações no mercado internacional, segue atrelada a um câmbio baixo como limitante na exportação e também no mercado interno. A colheita começa a andar neste mês e mostra boas condições das lavouras do MT e BA, que devem ser os maiores produtores. Continuará atrelado a vendas através do apoio do governo e aumento na produtividade para aumentar os ganhos. O quadro mundial continua mostrando queda nos estoques mundiais dos 53,8 para os 52,5 milhões de fardos. Com expectativa de queda no plantio nos EUA, com áreas passando para o milho que vai para etanol. PARAGUAI - A safra está chegando ao final e mostra uma colheita de 6 milhões de t, recorde histórico, frente à safra de 3,2 milhões colhidos no ano passado. As exportações do país agora estão sendo realizadas pela Argentina e não mais por Paranaguá, fato decorrido da má administração do porto paranaense, que tem perdido cargas para outros portos. EUA - Está em cima do plantio da safra local e este mês será importante para as primeiras indicações de colheita, que mostram queda de 10 milhões de t na soja, aumento de 40 milhões de t no milho, além de queda no arroz em mais de 1,3 milhão de t e também queda no algodão.
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