Cultivar Grandes Culturas • Ano IX • Nº 97 • Junho 2007 • ISSN - 1516-358X
Nossa capa
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Matheus Zanella
Destaques
Competidor desleal Como manejar corretamente o capim-marmelada na cultura do milho
09 Combate à ferrugem Os controles genético e químico de Puccinia triticina em trigo
Nossos cadernos
14 Aniquilado pela raiz A correta identificação e o combate ao ataque de nematóides em algodão
Tiago Zanatta
Dirceu Gassen
24 Búfalos na soja Nova praga relatada em lavouras do Nordeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil deixa pesquisadores em alerta
NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br 3028.4013 cultivar@cultivar.inf.br • REDAÇÃO:
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Índice Diretas
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Manejo de capim-marmelada em milho
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• Editor
Gilvan Dutra Quevedo • Coordenador de Redação
Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia • Revisão
Aline Partzsch de Almeida
Trigo: Controles genético e químico da ferrugem 09
Controle de nematóides em algodão
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Sementes salvas
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• Assinaturas: 3028.2070
Prejuízos da ferrugem asiática na soja
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• Redação: 3028.2060
Búfalos na soja
24
• Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067
Frio como barreira para o café
Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000
REDAÇÃO
COMERCIAL Pedro Batistin
Sedeli Feijó
CIRCULAÇÃO • Gerente
Cibele Oliveira da Costa
30 • Assinaturas
Café: Controle associado de pragas e ferrugem 33 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Empresas - Pioneer
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Coluna Andav
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Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas
Raquel Marcos • Expedição
Dianferson Alves • Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
Premiação
Cana-de-açúcar
Intercontinental
A Basf conquistou dois reconhecimentos no X Prêmio Mérito Fitossanitário – promovido pela Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal) e Cogap (Comitê de Boas Práticas Agrícolas) para valorizar o trabalho de empresas e profissionais que obtiveram destaque, em 2006, no trabalho de educação e treinamento do homem do campo. A agroquímica ficou com o segundo lugar de Melhor Empresa e Melhor Profissional, com o RTV da Regional HF de Campinas (SP), Rodrigo Campos Pífano. “Somos uma empresa responsável e comprometida com a segurança, a saúde e o meio ambiente e nossa estratégia de atuação é o envolvimento de todos nesse compromisso”, afirma Roberto Araújo, gerente de propaganda e promoção.
Ocorre de 4 a 6 de julho, o III Simpósio de tecnologia de produção de cana-de-açúcar. O evento vai ser realizado no Anfiteatro do Pavilhão da Engenharia e Anfiteatro da Engenharia Rural (Maracanã) da Esalq/USP, em Piracicaba (SP). Entre os objetivos estão difundir tecnologias para aumento da eficiência da produção da cana-de-açúcar, apresentar os rumos da pesquisa na área sucroalcooleira e promover interação entre produtores, empresas privadas, instituições e palestrantes. Informações adicionais: http:// www.fealq.org.br
Daniel Glat acaba de ser nomeado diretor regional da Pioneer para a América Latina, África e Ásia Pacífica. Glat, atualmente diretor da América Latina, iniciou na Pioneer em 1986. Sua experiência com o negócio passa por vendas, agronomia, marketing e administração. Nomeado gerente executivo do Brasil em 1998, e para a posição de diretor da América Latina em agosto de 2005, o executivo se mudará para Des Moines até o final do ano. Daniel Glat
X Siconbiol De 30 de junho a 04 de julho, em Brasília (DF) ocorre o X Simpósio de Controle Biológico 2007. Expôr recentes avanços na investigação científica, aliados às discussões e perspectivas sobre o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias e estratégias em controle biológico são alguns dos principais objetivos do evento. Informações: (61) 34484690 ou http:// www.siconbiol.cenargen.embrapa.br.
Vitória A equipe do professor Sílvio Moure Cícero, do departamento de Produção Vegetal (LPV), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/Esalq), conquistou o prêmio “ISTA Seed Symposium Award 2007”, durante a realização do “28th International Seed Testing Association Congress” pela pesquisa onde se utiliza a análise de imagens de Raios X para diagnosticar danos internos em sementes de feijão. Victor Augusto Forti, aluno de Engenharia Agronômica, o orientador Cícero e Taís Leite Ferreira Pinto, doutoranda em Fitotecnia, concorreram com outros 400 trabalhos.
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Registro A Cheminova obtém registro de Glifos Plus. O produto se trata de uma nova formulação de glifosato, com um concentrado solúvel, 600g/l de glifosato e 450g/l de equivalente ácido. Assim, Glifos Plus é 25% mais concentrado que o produto Glifos, já conhecido e usado por muitos agricultores. Sua formulação mais concentrada traz benefícios como menor quantidade de embalagens no campo, menor dosagem de trabalho e, portanto maior facilidade no descarte de embalagens. O registro contempla as culturas de soja, café, cana-de-açúcar, citros, arroz, milho, pastagem e trigo.
Fitopatologia “Sanidade vegetal para a agricultura sustentável” é o tema do XL Congresso Brasileiro de Fitopatologia, de 13 a 18 de agosto, no Centro de Eventos Araucária, em Maringá (PR). A organização do congresso é da Universidade Estadual de Maringá com a participação de várias instituições de ensino, de pesquisa e de difusão de tecnologia do estado do Paraná. Mais informações: www.congressofito2007.com.br/index.php.
Portfólio fortalecido A Sinon do Brasil acaba de incluir em seu portfólio o Rapel, novo inseticida/acaricida à base de acefato. Atualmente, a agroquímica já oferece cinco defensivos e aguarda a liberação do registro para mais dois até o início da nova safra de verão: um fungicida para ferrugem asiática e um inseticida para soja. Com a retomada do desempenho da agricultura, a empresa prevê dias promissores. “Apesar da baixa nos negócios, 90% das nossas vendas foram à vista na última safra, o que nos proporcionou maior tranquilidade”, afirma o diretor geral da Sinon, Alberto MassanoAlberto M. Koshiyama ri Koshiyama.
Reconhecimento
FMC
Pela sétima vez, em dez edições, a Syngenta conquistou o primeiro lugar, na categoria Melhores Empresas, do Prêmio Andef Mérito Fitossanitário, concedido pela Associação Nacional de Defesa Vegetal. Conquistou também o tetracampeonato na categoria Melhores Profissionais, pelo trabalho do engenheiro agrônomo Antonio Marques de Souza Neto. “A premiação, mais que o reconhecimento externo, comprova o compromisso de todos os profissionais da Syngenta com a responsabilidade sócio-ambiental. Promover a sustentabilidade do agronegócio vale a pena e dá retorno”, garante Laercio Giampani, diretor geral da empresa.
A campanha 2006 do programa Atuando com Responsabilidade da FMC, foi pelo quarto ano consecutivo reconhecida pelo Prêmio Mérito Fitossanitário. A empresa foi a campeã na modalidade Projetos de Educação & Treinamento, e ficou em terceiro na Modalidade Profissionais, coroando o trabalho desenvolvido no campo durante 2006. “É a união de todos os esforços pessoais, capacitações, empenho, vontade de melhorar cada vez mais e superar metas que fazem a FMC, as pessoas que trabalham conosco, assim como a todos que podemos atingir com nossas iniciativas, conquistarmos nosso lugar de destaque como profissionais e cidadãos responsáveis, e contribuir para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro”, avalia Antonio Carlos Zem, da FMC.
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Milho
Fotos Jordânia de Carvalho M. Gama
Competidor desleal O rápido crescimento do capim-marmelada, introduzido no país primeiramente como forrageira, faz da planta uma das principais infestantes da cultura do milho. Além disso, o potencial produtivo desta daninha supera mil sementes por m², o que agrava seu efeito competitivo em safras posteriores, podendo resultar em quebras de rendimento superiores a 50%. A recomendação é de que o produtor maneje a invasora com a finalidade de manter a lavoura limpa entre os estádios de quatro folhas até o início do pendoamento
B
rachiaria plantaginea, conhecida como capim marmelada ou papuã é uma planta, pertencente à família das Poaceae, originada da África e que pode ter sido introduzida nas Américas, ocasionalmente, através dos navios que transportam os escravos que utilizavam sua palha para descanso no período da viagem entre os dois continentes. No Brasil, esta planta foi inicialmente utilizada como forrageira verde, devido ao seu rápido crescimento e valor nutritivo, o que a tornou uma planta daninha em várias regiões produtoras, infestando várias culturas. Como forrageira há relatos de que esta espécie pode atingir uma produção de sementes de aproximadamente 700 kg por hectare. Atualmente o capim-marmelada é uma planta daninha encontrada em todas as regiões brasileiras, sendo considerada uma das principais plantas infestantes da cultura do milho, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Esta planta daninha é considerada uma planta anual, herbácea, entouceirada e ereta, podendo chegar até um metro de altura quando em áreas de alta fertilidade. Sua reprodução ocorre através de sementes alocadas em panículas ascendentes com dez a 30 cm de comprimento,
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que apresentam baixa viabilidade, mas uma planta do capim-marmelada pode chegar a produzir mais de 400 sementes. Essa espécie apresenta mais de 80% de sua emergência nos meses de outubro a janeiro, no período das águas. Considerando as altas infestações observadas nas regiões Sul e sudeste estima-se que áreas com infestação de 25 plantas m2, terão o potencial de
produção de mais de dez mil sementes m2, resultando em densidade populacional na próxima safra, de aproximadamente 500 plantas, considerando germinação de apenas 5%. A emergência dessa espécie é influenciada pelo sistema de plantio, sendo maior a sua incidência em plantios convencionais quando comparados aos sistemas de
Figura 1 – Picos de emergência de Brachiaria plantaginea (capim-marmelada)
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Figura 2 – Efeito do sistema de plantio na densidade populacional de Brachiaria plantaginea. Plantio convencional (PC), plantio direto (PD), plantio convencional com reinfestação (adaptado de Skora Neto, 2001) plantio direto. Outro fator de influência na germinação e emergência relaciona a liberação de compostos secundários (aleloquímicos) pela cultura. A cobertura vegetal resultante da cultura também pode funcionar como barreira física, dificultando a emergência desta espécie, além de modificar a temperatura, a umidade e a luminosidade do solo, reduzindo, assim, a viabilidade das sementes. Cada t de cana crua no solo implica na redução de 2% na capacidade de emergência do capim-marmelada. Vários pesquisadores têm relatado que o período crítico de competição das plantas daninhas com a cultura do milho é de 25 a 45 dias após a emergência da cultura, mas pode ser definido com base no estádio de crescimento da cultura, a exemplo do milho. Neste período as plantas do capim-marmelada devem ser controladas para evitar o efeito da competição. O produtor deve realizar o controle ou manejo das plantas daninhas para manter a cultura no limpo quando as plantas de milho estiverem no estádio de quatro folhas até o inicio do pendoamento. Como o efeito competitivo sobre a cultura do milho é determinado por fatores ligados à cultura e o capim-marmelada há grande variação observada nos resultados de pesquisa ao período crítico de competição. Na prática, os agricultores devem manter a cultura do milho sem a presença dessa planta daninha no intervalo compreendido entre 25 e 60 dias, após a emergência da cultura, o que reduzirá, significativamente, a probabilidade de perdas de rendimento pela competição da invasora com a cultura. As plantas do capim-marmelada, assim como as plantas de milho, apresentam assimilação fotossintética de CO2 do tipo C4, que tem como uma das características, a permanência dos estômatos abertos durante o dia e fechados durante a noite, contri-
Mais de 80% da emergência da planta daninha ocorre entre os meses de outubro a janeiro, no período das águas
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buindo para uma menor perda de água quando comparado às plantas do tipo C3, que ficam com os estômatos abertos durante a noite. As plantas C4 utilizam o CO2 atmosférico mais eficientemente do que outras plantas, pois são adaptadas às condições de altas temperaturas, altas intensidades luminosas e as condições de estresse hídrico. Conseqüentemente, o capim marmelada é uma planta altamente competitiva em função do seu rápido crescimento e desenvolvimento. O efeito competitivo do capim-marmelada com a cultura do milho, pode resultar em quebras de rendimento superiores a 50%, podendo essas perdas variar para mais ou para menos em função da época e extensão do
período de competição, bem como da densidade dessa planta. É importante lembrar que, embora o milho seja uma planta C4, esta planta foi melhorada para a produção de grãos em condições de não-estresse hídrico, o que a torna uma planta menos adaptada e menos competitiva do que o capim marmelada, considerando ser a água um fator limitante para a produção de grãos. O controle cultural do capim-marmelada pode contribuir para a redução da infestação desta espécie, bem como facilitar o uso de outros métodos a serem empregados durante o desenvolvimento da cultura. O uso do plantio tardio para a cultura do milho pode evitar o pico de
O plantio tardio do milho pode evitar o pico de maior emergência do capim-marmelada, contribuindo para a redução do efeito da competição
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Fotos Jordânia de Carvalho M. Gama
Figura 3 – Redução da emergência de Brachiaria plantaginea em função de palhada de cana crua no solo (adaptado Salvador, 2007)
Sementes apresentam baixa viabilidade, cerca de 5% de germinam
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luréias (nicosulfuron e foramsulfuron + iodosufuron) são os mais utilizados para o controle desta espécie, dado a alta eficácia de controle, que ocorre através da inibição da síntese de aminoácidos essenciais, como a valina, leucina e isoleucina. A utilização de híbridos (Clearfield) resistentes aos herbicidas da família das imidalozinonas, que inibem a enzima acetolactato sintase (ALS), é também considerada uma alternativa para o controle do capim-marmelada em pósemergência. Outra opção de uso para o controle do capim-marmelada são os herbicidas pertencentes à família das triquetonas que inibem a biossíntese de carotenóides
através da interferência na atividade da enzima HPPD (4-hidroxifenilpiruvato- dioxigenase) nos cloroplastos. Os sintomas fitotóxicos observados envolvem o branqueamento das plantas sensíveis com posterior necrose e morte dos tecidos vegetais em cerca de uma a duas semanas. Caso não seja possível o controle do capim-marmelada na pré-emergência ou na pósemergência, o controle dessa espécie pode ainda ser realizado em jato-dirigido quando as plantas de milho estiverem com altura de 50 a 80 cm. Nessa aplicação geralmente são utilizados os herbicidas de ação total, preferencialmente os herbicidas de contato. Entretanto ao adotar esta prática, o produtor deverá tomar cuidado para que as plantas de milho não sejam expostas aos herbicidas, pois os mesmos podem ocasionar a morte do milho. É importante ressaltar que a utilização de qualquer herbicida deve ser acompanhada de um técnico responsável e os aplicadores devem sempre utilizar equipamentos de proteção individual para evitar possíveis intoxicações. C Décio Karam, Embrapa Milho e Sorgo Jordânia de Carvalho M. Gama, UFMG Fotos Divulgação
maior emergência do capim-marmelada, contribuindo para a redução do efeito da competição, visto que um dos fatores associados ao grau de interferência é a densidade da espécie presente na lavoura. Outro método bastante utilizado é o controle químico que deve ser realizado seguindo as recomendações técnicas para evitar a contaminação ambiental e a intoxicação dos aplicadores. Dos produtos registrados junto ao Ministério da Agricultura e Meio Ambiente para a cultura do milho e para o controle do capim-marmelada, os herbicidas de pré-emergência foram os mais utilizados para o controle desta espécie, entretanto, na década de 90, com o descobrimento dos herbicidas da família das sulfoniluréias, o uso do controle químico de pósemergência tem aumentado. Para a cultura do milho, os principais herbicidas para o controle do capim-marmelada, no método de aplicação em pré-emergência, são os herbicidas da família das amidas (acetochlor, alachlor, dimethenamid, s-metolachlor), que possuem mecanismos de ação associados à inibição da parte aérea, atuando antes da emergência das plantas sensíveis, sem que ocorra a inibição da germinação de suas sementes. Herbicidas inibidores da síntese de carotenos (isoxaflutole) também podem ser utilizados no controle do capim-marmelada, entretanto devido ao seu modo de ação, esses herbicidas não devem ser aplicados em cultivares, variedade de milhos brancos, milhos pipoca e linhagens puras. Em condições de plantio direto, herbicidas aplicados em pré-emergência podem encontrar uma barreira para chegar ao solo, ficando mais expostos à radiação solar, altas temperaturas e adsorção nos resíduos vegetais, tendo seu efeito reduzido. Alguns casos, como o s-metolachlor, a chuva após a aplicação pode favorecer a eficácia de controle, dado à maior mobilidade do herbicida na palha. No método de aplicação em pós-emergência, os herbicidas da família das sulfoni-
Uma única planta do capimmarmelada chega a produzir mais de 400 sementes
Karam e Jordânia abordam a alta competitividade do capimmarmelada com a cultura do milho
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Amarilis Labes Barcellos
Trigo
Combate à ferrugem Cultivares altamente suscetíveis ao fungo da ferrugem enfrentam problemas para o controle da doença, visto que geralmente quando o sintoma se torna visível, a infecção já ocorreu há vários dias. Neste sentido, o controle genético de Puccinia triticina vem sendo o principal alvo de pesquisa no combate da ferrugem da folha, complementado pelo controle químico
A
perda de resistência à ferrugem da folha (Puccinia triticina) em trigos que estavam alcançando ampla difusão, a divulgação de informações sobre diminuição em eficiência de fungicidas e generalizada preocupação, nas últimas safras, de produtores, fitomelhoristas, extensionistas etc, devem-se ao desenvolvimento de novas raças do fungo e à virulência, que têm superado aos anteriores. O objetivo deste artigo é contribuir com esclarecimentos sobre a complexidade da doença e conseqüente necessidade de eficiente planejamento e acompanhamento das lavouras de trigo.
Figura 1 - Área sob a curva de desenvolvimento da ferrugem da folha de trigo - cultivares OR e Frontana, fonte internacional de resistência durável Coxilha RS - Infecção natural e artificial 2006
2005
CARÁTER EXPLOSIVO DA FERRUGEM Um uredínio (pústula) do fungo produz cerca de três mil esporos/dia, por 20 dias, após período inicial de latência (sete-dez dias). Sob condições favoráveis, que ocorrem no Sul do Brasil, um uredínio produzirá 2.010.000 lesões após 22 dias. Em ausência da fase sexual, em Thalictrum (hospedeiro intermediário não detectado no Brasil), a propagação é em plantas voluntárias de trigo e em vegetação silvestre. Há comprovação da importância dos trigos voluntários nas entressafras no Brasil e sul da Argentina.
INÓCULO ENDÓGENO, LOCAL Nas regiões tritícolas brasileiras e, especialmente no Sul, o desenvolvimento da ferrugem é a partir da folhagem inferior; mais cedo,
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Coxilha 2005 e 2006 -reação média de 10 plantas/cultivar/data de avaliação. Barcellos, 2007.
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Tabela 1 - Virulência (%) de raças no Cone Sul da América do Sul, em relação a genes de resistência Ano Lr 2a 2001 3 1995 48
Lr 2c 3 51
Genes Lr Lr 3 97 63
de resistência Lr 9 Lr 16 Lr 24 Lr 26 3 21 44 98 0 0 42 66
Fonte: Embrapa Trigo
Tabela 2 - Raças identificadas na OR Melhoramento de Sementes em inóculo de ferrugem da folha de trigo, coletado em 2006, em lavouras e áreas experimentais Raças 2006 Ano detecção MFT-MT B55* (Ônix) Predominante 2004 MFP-CT B56* (BRS 194)2a em freqüência 2005 MDP (ou M) - MR* (CD 110) 2005 (no Uruguai em 2004) TFR-CT B54 2003 (no Uruguai em 2003) MFR-CT B51 2002 MCR-MT B48 1999 * Também na Argentina
Tabela 3 - Virulência (genes não efetivos para resistência) da raça predominante B55 MFT-MT B55 Lr 1 3 3ka 10 11 14a 14b 17 20 23 24 26*30 MDT-MR B55 Lr 1 3 3ka 10 11 14a 14b 17 20 23 24 30 Genes diferenciais de raças de Puccinia triticina, no Brasil: Lr 1 2a 2c 3 3ka 9 10 11 14a 14b 16 17 18 20 21 23 24 26 30 * A espressão do gene Lr26 varia dependendo das condições ambientais, podendo nas lavouras resultar em variação de suscetibilidade.
ESPECIFICIDADE DO FUNGO A resistência em cultivares com apenas genes de plântula (resistência durante todo o ciclo da planta, específica a raças) tem sido efêmera (um ou poucos anos).
RESISTÊNCIA DE PLÂNTULA NO BRASIL Combinações de dois genes de resistência (Lr) tornaram-se não-efetivas rapidamente. Lr16 + Lr3ka; Lr16 + Lr23; Lr23 + Lr24; Lr24 + Lr26; Lr 9 + Lr10; Lr9 + Lr24; Lr 9 + Lr26; Lr16 +Lr 26; Lr10 + Lr16 e Lr2a + Lr26 perderam efetividade de 1993 a 2002. Permanecem efetivas a todas as raças: Lr3 + Lr9, Lr3ka + Lr9, Lr9 + Lr16 e Lr16 + Lr24. Cultivares que possuam uma destas combinações serão resistentes a todas as raças. Provavelmente tornar-se-ão suscetíveis rapidamente, pela superação da resistência por nova raça do fungo.
TRIGO X Puccinia triticina “Para cada gene no fungo há um gene correspondente no trigo. Esta interação é que resulta em cultivar suscetível ou resistente.”
Amarilis Labes Barcellos
se comparado com o inóculo, que infecta as lavouras sendo trazido pelo vento de outras áreas. Neste tipo característico das lavouras do Sul do país, os primeiros plantios são infectados antes.
Condições favoráveis ao patógeno todos os anos, ponte verde no Cone Sul da América do Sul devido à ocorrência de trigos voluntários e cultivo contínuo do cereal, assim como a falta de diversificação de genótipos cultivados em áreas extensas são causas das freqüentes de epidemias e perdas elevadas de rendimento em cultivares suscetíveis sem controle químico.
Tabela 4A - Reações de cultivares OR à ferrugem da folha de trigo, em 1a folha e em folha bandeira, à raça B55 Raça B55
S* Abalone Alcover
Granito Ônix OR 1 Rubi Safira Supera Taurum Vanguarda
Predominante em 2005 e 2006 Detectada em 2004 1a Folha Folha bandeira RPA Reação intermediária R** Resistência de entre S e R planta adulta Abalone Marfim¶ Avante Jaspe Pampeano Quartzo¶ Granito
Rubi Safira Taurum Vanguarda
S - suscetível; R - resistente *Suscetíveis no campo à B55: Alcover Ônix OR 1 Supera S no campo - Vermelho Suscetíveis em 1a folha, mas RPA, à B55: Abalone; Granito; Rubi; Safira; Taurum; Vanguarda R ou RPA no campo - Verde O nível de resistência de planta adulta difere entre cultivares
Tabela 4B - Reações de cultivares OR à ferrugem da folha de trigo, em 1a folha e em folha bandeira, às raças B56 e MDM-MR (a ser numerada)
Concentração de poucas pústulas de suscetibilidade na base da folha bandeira da cultivar Frontana, fonte internacional de resistência durável
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A efetividade dos genes de resistência varia de acordo com a predominância das cultivares e conseqüente virulência das raças. Comparando-se as safras 2001 e 1995, por exemplo, observa-se que os genes Lr16 e Lr26 tornaram-se menos efetivos, ao contrário de Lr2a e Lr2c (Tabela 1). Cultivares com Lr16 e Lr26 passaram a ser cultivadas em área expressiva, interagindo com raças capazes de infectá-las. Ex: Lr2a não foi efetiva para resistência em 3% das isoladas identificadas em 2001;
Raça B56 2a raça em ordem de prevalência e 2006 Detectada em 2005 1a Folha S* Reação intermediária entre S e R R** OR 1 Alcover Abalone Taurum Jaspe Avante Marfim Granito Pampeano Ônix Rubi Quartzo Safira Supera Vanguarda Raça MDM-MR Detectada em 2005 1a Folha S* Reação intermediária R** Granito Jaspe Abalone Marfim Pampeano Alcover OR 1 Avante Safira Ônix Supera Quartzo Vanguarda Rubi S - suscetível; R - resistente *As cultivares suscetíveis (S) em 1a folha serão avaliadas quanto à resistência de planta adulta **As cultivares resistentes (R) em 1a folha, a uma determinada raça, são resistentes em planta adulta a esta raça
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CONTROLE GENÉTICO A resistência genética é o melhor controle à ferrugem – menos poluente e mais econômica. O melhoramento genético para resistência durável é a alternativa à contínua superação da resistência das cultivares, devido a alterações na população patogênica, que re-
X Zhang, University of Minnesota, St. Paul, MN, USA
Lr26 não conferiu resistência a quase totalidade das amostras analisadas (98%). Em 2006 e em 2005, a raça B55, que segundo o código norte-americano é MFT-MT ou MDT-MR, foi destacadamente predominante, infectando a cultivar Ônix, entre outras. Em 2006, foi também importante em ocorrência, a B56 (MFP-CT). As raças B56 e MDM-MR (ainda não numerada) foram detectadas a partir de 2005, inicialmente originadas das cultivares BRS194 e CD110, respectivamente (Tabela 2). Devido à predominância da B55, é alta a porcentagem de virulência em relação aos 13 genes (Lr1 3 3ka... 30) que não conferem resistência a esta raça, se estiverem na constituição genética das cultivares atuais; e os demais - Lr 2a, 2c, 9, 16, 18 e 21, baixa porcentagem (Tabela 3). Na Tabela 4 consta a reação de cultivares OR às raças B55, B56 e MDM-MR.
sultam em novas raças. A maioria das cultivares de trigo com resistência mais estável à ferrugem da folha, no mundo, é do tipo planta adulta e, provavelmente, originada no sul da América do Sul. A resistência pode ser: • Específica à raça - Efêmera • Não específica à raça, de progresso lento da ferrugem, parcial – Durável Confirma-se que uma cultivar tem resis-
A falta de diversificação de genótipos cultivados são causas das freqüentes epidemias de ferrugem (observe no detalhe a severidade da doença)
tência durável, se esta permaneceu efetiva por um longo período de anos, apesar de ampla exposição ao fungo. Cultivares com resistência parcial podem apresentar pústulas de suscetibilidade, em geral concentradas na base da folha bandeira. A ferrugem progride mais lentamente, quando comparada à suscetibilidade. A área sob a
Tabela 5 - Rendimentos de Ônix, diferindo número e época das aplicações da mistura de fungicida pyraclostrobin + epoxiconazole. Coxilha, 2005 1as pústulas + emborrachamento + espigamento 1as pústulas + espigamento Emborrachamento + floração Emborrachamento
No de aplicações 3 2 2 1 sem controle
kg/ha (média) 3566 3333 3222 2366 1595
% 224 209 202 148 100
% em relação a sem controle 124 109 102 48 0
Tabela 6 - Rendimento de grãos e porcentagem de ganho referente ao ensaio de controle químico à ferrugem da folha – cultivares Ônix e Supera. Coxilha, 2006 Ônix 2006 Trat T8 T7 T6 T3 T4 T2 T5 T1 Média
Mistura primeiras pústulas 0,5 l primeiras pústulas 0,3 l primeiras pústulas 0,3 l primeiras pústulas 0,5 l emborrachamento 0,5 l primeiras pústulas 0,5 l primeiras pústulas 0,5 l sem controle
Mistura embor. 0,5 l embor. 0,4 l embor. 0,4 l embor. 0,5 l floração 0,5 l embor. 0,5 l embor. 0,5 l
Mistura espig. 0,5 l floração 0,3 l floração 0,3 l floração 0,5 l
Triazol
0,4 l
floração 0,8 l
kg/ha - Média 5368 5343 5157 5116 5012 4908 4612 2765 4785
% ganho - relação T1 94 93 87 85 81 78 67 -
Diferença melhor tratamento e sem controle: 2603 Supera 2006 Trat T8 T6 T3 T7 T2 T4 T5 T1 Média
Mistura primeiras pústulas 0,5 l primeiras pústulas 0,3 l primeiras pústulas 0,5 l primeiras pústulas 0,3 l emborrachamento 0,5 l primeiras pústulas 0,5 l primeiras pústulas 0,5 l sem controle
Mistura embor. 0,5 l embor. 0,4 l embor. 0,5 l embor. 0,4 l floração 0,5 l embor. 0,5 l embor. 0,5 l
Mistura espig. 0,5 l floração 0,3 l floração 0,5 l floração 0,3 l floração 0,8 l
Triazol 0,4 l
kg/ha - Média 5666 5648 5626 5563 5543 5288 5117 3080 5191
% ganho - relação T1 84 83 83 81 80 72 66 -
Diferença melhor tratamento e sem controle: 2586 2005 Semeadura: 23 junho; Primeiras pústulas e Primeira aplicação: 17 agosto / 55 dias 2006 Semeadura: 30 junho; Primeiras Pústulas e Primeira aplicação: 9 agosto / 40 dias
curva de progresso da ferrugem pode ser medida. No caso de uma cultivar suscetível, a área é maior, provocando desfolha precoce. O. C. da Silva (informação pessoal, Fundação ABC, 2007) obteve curvas de progresso da ferrugem da folha diferenciadas, no Paraná (vários locais e safras), que confirmam os dados obtidos na OR (Figura 1), referentes às cultivares Ônix, Safira e Abalone. É possível obter quase imunidade (traços a 5% de severidade), sob alta pressão de ferrugem da folha, combinando três a quatro genes aditivos. Linhas de alto rendimento com combinações de quatro-cinco genes de progresso lento são disponíveis no Cimmyt (Singh e Huerta-Espino, 2003). O programa da OR de melhoramento genético para resistência à ferugem da folha de trigo está adicionando genes de resistência de planta adulta, visando aumentar a estabilidade da resistência das cultivares, a exemplo de programas da América do Norte, Austrália e Cimmyt (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e
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Trigo). Genes específicos de resistência de planta adulta - RPA - não conferem resistência na fase inicial (primeira folha), expressando-a à medida que a planta se desenvolve. Esses genes, em geral, podem variar sua efetividade para resistência, de acordo com alterações de temperatura e de luz.
FUNGICIDAS Nas cultivares altamente suscetíveis é difícil o controle. Quando o sinal da ferrugem é visível, a infecção já ocorreu vários dias antes. Nas lavouras em que a aplicação do produto químico adequado foi preventiva ou no início da infecção, os resultados de 2005 foram excelentes, mesmo sob a alta pressão de inóculo natural nas lavouras e artificial em área experimental. Em Coxilha (RS), no ano de 2005, pyraclostrobin + epoxiconazole, dose de 0,5 l/ha, foram pulverizados em parcelas da cultivar Ônix (Tabela 5). De zero a três aplicações/ parcela, em três repetições, possibilitaram concluir que: • Os tratamentos em que o controle foi
desde o início da infecção produziram mais (kg/ha); • Com mesmo gasto (duas aplicações) é mais compensador aplicar cedo - no início da infecção, antes que a ferrugem se estabeleça. Em Coxilha (RS), no ano de 2006, pyraclostrobin + epoxiconazole (estrobilurina + triazol) e metconazole (triazol) foram utilizados em parcelas de Ônix e Supera. Os mesmos tratamentos para as duas cultivares e o rendimento de grãos estão descritos na Tabela 6. Em área com rotação de culturas, em três repetições, foram realizadas inoculações com a raça B55. Em 2006 a ferrugem iniciou antes, mas evoluiu mais lentamente e foi mais intensa em Ônix do que em Supera. A baixa severidade de giberela em 2006 não permitiu concluir o efeito do metconazole para esta doença. Em Supera foi efetivo adicionar à mistura (total um litro, em três aplicações), 0,4 litro de metconazole (T6). Em Supera e Ônix, com duas aplicações da mistura (total um litro), o rendimento (kg/ ha) foi maior quando adicionado na terceira aplicação 0,5 litro da mistura (T3), do que 0,8 litro de metconazole (T2) Em 2005 e 2006, a eficiência de estrobilurina + triazol, no controle da ferrugem e no rendimento de grãos, foi proporcional ao número de aplicações (zero a três). Em Ônix e Supera, o melhor tratamento com fungicida foi 1,5 litro da mistura quando ocorreram as primeiras pústulas + no início do emborrachamento + no início do espigamento (T8) e o pior foi a aplicação de um litro da mistura dividido em duas épocas – no aparecimento das pústulas + no início do emborrachamento (T 5). Na safra de 2006, a terceira aplicação foi mais eficiente no espigamento do que na floração (total 1,5 litro, T8 e T3). O resultado da pulverização de um litro da mistura, dividido no emborrachamento e na floração, resultou melhor do que no início da infecção (primeiras pústulas) + no emborrachamento (T4 e T5). Provavelmente, devido ao desenvolvimento tardio da ferrugem, a aplicação deveria ter sido no aparecimento das pústulas + após o emborrachamento. Um litro de estrobilurina + triazol em três aplicações foi mais eficiente do que em duas aplicações (T7, T4 e T5). O rendimento de grãos, quando aplicado o total de 1,5 litro da mistura, foi superior ao total um litro (T3 e T7) em relação à Supera, C mas não à Ônix. Amarilis Labes Barcellos, OR Melhoramento de Sementes Ltda.
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Algodão
Fotos Jaime Maia dos Santos
Aniquilado pela raiz A ocorrência de reboleiras com plantas subdesenvolvidas é um dos indicativos de ataque de nematóides no cultivo de algodão. Mas para identificar o problema são necessários procedimentos como a coleta e análise de amostras de solo e de raízes. Diante da escassez de variedades resistentes, novas estratégias são buscadas para deter o avanço da praga, responsável por enormes prejuízos e até mesmo pelo abandono da cultura em determinadas regiões
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O
s fitonematóides estão entre os principais problemas fitossanitários do algodoeiro no Brasil e em muitas outras regiões produtoras do mundo. As espécies de maior importância econômica para uma cultura podem variar de região para região. De fato, nos Estados Unidos, por exemplo, em ordem de importância são citados para o algodoeiro: Meloidogyne incognita (“root-knot nematode”), Rotylenchulus reniformis (“renifom nematode”), Hoplolaimus columbus (“lance nematode”) e Belonolaimus longicaudatus (“sting nematode”). Em certas regiões da África, espécies de Xiphinema e de Longidorus, também têm sido associadas ao pobre desenvolvimento de raízes e severa redução de crescimento de plantas de algodão. No Brasil, embora muitas espécies já tenham sido assinaladas associadas à cultura, as de maior
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importância econômica e mais freqüentemente encontradas associadas à cultura causando doença e com conseqüente redução na produção do algodoeiro são: Meloidogyne incognita raças 3 e 4 (nematóide de galha), Rotylenchulus reniformis (nematóide reniforme) e Pratylenchus brachyurus (nematóide das lesões radiculares). Nas lavouras, a ocorrência de reboleiras exibindo plantas com desenvolvimento inferior ao das do restante da área são indicativos da provável ocorrência de nematóides. A coleta e análise de amostras de solo e de raízes das reboleiras irão confirmar se os nematóides são ou não a causa de danos eventuais que estariam ocorrendo nas lavouras. Já que as reboleiras podem, também, ter outras causas, a análise de amostras é imprescindível. Meloidogyne incognita é a espécie de maior importância econômica para a cultura no Brasil. Está amplamente distribuída no país e possui uma ampla gama de hospedeiros. Das quatro raças de M. incognita conhecidas, apenas as raças 3 e 4 infectam o algodoeiro. Dessas, a raça 3 é a mais distribuída. Uma, a outra ou as duas podem ser encontradas em todas as regiões produtoras de algodão do país. O sintoma típico da infecção causada por M. incognita é a formação de galhas nas raízes (Figura 1). Em geral, as plantas atacadas por esse nematóide apresentam severa redução de crescimento e também exibem o sintoma referido como carijó, na parte aérea. As folhas exibem amarelecimento entre as nervuras e, no caso de severa infecção, pode ocorrer necrose e queda prematura de folhas. Na Figura 2 ilustrou-se um juvenil em forma de salsi-
Figura 1 - Formação de galhas nas raízes, sintoma típico de infecção causada por M. incognita
cha, parcialmente dissecado em uma raiz e, na Figura 3, uma fêmea inteira. Caracteres morfológicos usados na identificação da espécie também estão documentados, como o padrão perineal de uma fêmea adulta (Figura 4), a região labial de machos exibindo estrias transversais, ao microscópio eletrônico de varredura (Figura 5) e ao microscópio fotônico (Figura 6). Na Figura 7 está documentado o fenótipo isoenzimático para esterase das subpopulações de M. incognita que infectam a cultura no Brasil. Uma fêmea adulta colorida in situ ilustra o hábito endoparasito sedentário das espécies do gênero (Figura 8). Um corte histológico longitudinal de uma galha em raiz de algodoeiro, ilus-
trando as alterações anatômicas dos tecidos causadas pela infecção do nematóide está ilustrado na Figura 9. Um conjunto de células gigantes, que são os sítios de alimentação do nematóide, causam a interrupção de vasos do xilema e do floema, representando as severas alterações anatômicas que ocorrem nas raízes em resposta à infecção. Entretanto, sabe-se que o nematóide não causa apenas danos mecânicos, já que alterações fisiológicas e bioquímicas em plantas infectadas por esses nematóides também são conhecidas. No estado de São Paulo, durante muitos anos, houve exclusividade para o plantio de varieda-
Figuras 2, 3, 4, 5, 6 e 7 - Diferentes características morfológicas de M.incognita: forma Juvenil, com forma de salsicha, detalhe da fêmea e do macho, além do fenótipo isoenzimático para esterase
Figura 8 - detalhe de fêmea adulta colorida in situ de hábito endoparasito sedentário de M.incognita; Figura 9 - corte histológico longitudinal de uma galha em raiz de algodoeiro; Figura 10 - Plantas com problema de crescimento e sintomas de carijó, em geral, também estão sendo atacadas por M. incognita
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reniformis passou a ter uma importância muito maior, já que as variedades de série IAC não tinham resistência a esse nematóide. Com efeito, os prejuízos que esse nematóide causa, já levaram grandes grupos produtores a reduzir seus investimentos e, até mesmo, a desistir do cultivo de algodão em São Paulo. Rotylenchulus reniformis também causa carijó no algodoeiro. Em geral, as folhas com sintomas secam dos bordos
para dentro, encarquilham e caem prematuramente (Figura 10). Entretanto, não há formação de galhas nas raízes. Pequenos pontos escuros sobre as raízes são os sinais da doença, representados por fêmeas do nematóide com suas massas de ovos (Figuras 11 e 13). Na Figura 12, uma fêmea parcialmente coberta pela massa de ovos em raiz de algodoeiro foi documentada ao MEV e na 13 está ilustrada outra fêmea com a re-
Fotos Jaime Maia dos Santos
des de algodão da série IAC, as quais, em sua maior parte, tinham resistência à M. incognita e a outras importantes doenças da cultura. Por conseguinte, esse nematóide deixou de ser um problema para a cultura no estado e Rotylenchulus
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Figura 11 - pontos escuros sobre as raízes são fêmeas do nematóide com suas massas de ovos
Figuras 12 - fêmea parcialmente coberta pela massa de ovos em raiz de algodoeiro e fig. 13 fêmea com a região anterior imersa na raiz
gião anterior imersa na raiz tendo sido removida a gelatina que a recobre. R. reniformis tem hábito semi-endoparasito (Figuras 14 e 15) e as fêmeas adultas são vistas com a região anterior do corpo dentro da raiz, sendo que, elas exibem sua massa de ovos sobre a região posterior do corpo. P. brachyurus (Figura 16), é considerada a terceira espécie de nematóide de maior importância econômica para a cultura do algodoeiro no Brasil. A cauda hemisférica e lisa e a vulva localizada no terço posterior do corpo estão documentadas na Figura 17, enquanto a região labial angulosa com dois anéis e os nódulos basais do estilete esféricos estão ilustrados na Figura 18, representando os caracteres mais marcantes para a identificação da espécie.
Figuras 14 e 15 - ilustram hábito semi-endoparasito de R. reniformis
P. brachyurus tem hábito endoparasito migrador de P. brachyurus está na Figura 19. Diferente das outras duas espécies, o nematóide penetra nas raízes e continuamente se movimenta nos tecidos do córtex, deixando os ovos na trajetória. Como no caso de R. reniformis, ainda não há disponibilidade de variedades de algodoeiro resistentes à P. brachyurus. Informes da literatura dão conta de que Crotalaria spectabilis, Brachiaria ruziziensis e alguns cultivares de milheto, entre outros, não hospedam esses nematóides. Por conseguinte, o plantio desses materiais em áreas infestadas, precedendo o cultivo do
Figura 19 - hábito endoparasito migrador de P. brachyurus
algodoeiro, pode ser uma opção de manejo dessas pragas. Mais recentemente, o tratamento de sementes com o produto Avicta Completo® (Produto em fase de registro no Brasil) vem demonstrando que essa alternativa pode tornar-se um forte aliado na luta contra os nematóides, especialmente pelo fato do produto também ter ação sobre outras pragas iniciais, assim como sobre algumas outras doenças C de solo. Pedro Luiz Martins Soares e Jaime Maia dos Santos, Unesp/FCAV
A Figura 16 - fêmea adulta inteira de P. brachyurus; Figura17 - A cauda e a vulva de P. brachyurus, localizada no terço posterior do corpo; Figura 18 - região labial e os nódulos basais do estilete esféricos do nematóide
Semente
Salvando prejuízos O crescimento da área de soja plantada com sementes salvas pelo próprio produtor aumenta a cada safra, o que gera um ciclo vicioso que desestimula investimentos das empresas na busca por novidades genéticas
N
úmeros de fontes de pesquisa mostram que a área plantada com sementes salvas de soja no Brasil é de 6,35 milhões de hectares contra 5,83 milhões de hectares e 4,63 milhões de hectares nos últimos anos. Este crescimento é preocupante, pois gera uma situação em que ninguém ganha. Pelo contrário, todos perdem. Em 2004 o trabalho “Panorama de Produção e Utilização de Sementes no Brasil” apresentado por Ivo Carraro e publicado pela APPS, já mostrava a evasão de impostos de R$ 48 milhões pelo uso de sementes salvas. Se transportarmos esse número para o nível de semente salva que temos hoje, é ainda maior. Neste sentido, o governo deveria ser um dos mais interessados na defesa da semente certificada, pelo impacto que tem na Receita. Analisemos, agora, o setor das empresas detentoras de variedades. Sem dúvida, é muito difícil subsistir em um mercado onde o aumento da utilização de sementes salvas cresce da maneira como acontece no Brasil. Mercados similares, como é o caso da Argentina, já sofreram os prejuízos e o resultado foi que importantes empresas de pesquisa fecharam seus programas de melhoramento, tirando do mercado a possibilidade de ter mais um fornecedor de genética. Os anos de trabalho e o nível de investimento que uma empresa de melhoramento tem que realizar para obter uma variedade de soja produtiva são muito maiores que o valor de uma saca com 40 quilos de grão de boa germinação.
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Na Década de 60, a produtividade da soja era de 1.089 kg/ha. Na década de 70, 1.439 kg/ha; de 80, 1.721 kg/ha; de 90, 2.112 kg/ha e no ano passado fechou em 2.627 kg/ha. E isso, claro, é o resultado de novas tecnologias, de melhores níveis de adubação, defensivos, etc. Mas com certeza, a principal influência está na genética. Além da genética, temos hoje os eventos de biotecnologia procurando não só a soja RR, mas também soja resistente à ferrugem, estiagem, insetos etc. Todos sabem o quanto isso é importante para o mercado brasileiro. Sendo assim, a utilização de semente pirata compromete ainda mais o investimento das empresas e a continuidade no negócio. Perdem as empresas de melhoramento genético. Outros, entre os prejudicados, são as empresas produtoras de sementes. Importantes no processo de transferir a genética das empresas detentoras ao produtor rural, certificando as sementes de alta qualidade para fornecer ao mercado. Um trabalho que para ser obtido, exige um nível de investimento constante, não só com as lavouras, mas também na indústria. Se nos basearmos no que aconteceu no Rio Grande do Sul, a Apassul (Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul) chegou
a ter 350 empresas produtoras de sementes associadas e hoje são apenas 120. Um número que preocupa. Se fizermos uma análise em todo Brasil, quantas empresas correm o risco de fechar? Quantas pessoas podem ficar sem emprego, e finalmente, quem fornecerá a semente com os padrões de qualidade que a lei exige e que o produtor gosta, se as empresas começam a fechar? Perdem as empresas produtoras de sementes. Entretanto, os produtores também não ficam fora. A perda de produtividade por falta de qualidade tanto genética quanto fisiológica é muito grande. As garantias de qualidade que as empresas fornecedoras dão ao produtor são de um valor incalculável, já que se trata de um negócio de alto risco por ano. E todos sabem que se a lavoura não dá certo num ano, somente no próximo para se recuperar.
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Fotos Charles Echer
INVESTIMENTOS
H
Rodrigo alerta para os problemas a longo prazo, causados pelo uso de sementes piratas: corte de investimentos em pesquisas genéticas
Será que em um mercado tão difícil como é o de produção de soja, onde o produtor depende do mercado internacional, da cotação do dólar, das chuvas, do controle de doenças, etc, é preciso pôr em risco a qualidade da semente e o início da lavoura, sendo este um problema de fácil solução através da compra de sementes certificadas? Muitas vezes os produtores são alvos de engano a respeito das variedades piratas que lhe são vendidas. Vale lembrar algumas anedotas como as sojas de oito grãos por vagem no Sul, que se converteram em argumento de vendas para os piratas e que só existiam no cartaz publicitário. Piratas que estavam muito longe das lavouras quando o produtor detectava que a variedade só tinha dois ou três grãos por va-
Na safra atual, a área plantada com sementes salvas de soja no Brasil é de 6,35 milhões de hectares contra 5,83 e 4,63 nos últimos anos
gem. Perdem os produtores rurais. Pesquisas mostram, por exemplo, que o mercado de sementes salvas, que utiliza genética Nidera (sementes que vieram ilegalmente para o Brasil), representa 13% do total plantado, ou seja, quase três milhões de
oje, o programa de pesquisa de soja da Nidera é um dos maiores do mundo. Há uma combinação do programa tropical desenvolvido para o cerrado com excelentes materiais como é o caso da A7002, AN8005, A7001, A7005 etc, combinado com o programa temperado da empresa na Argentina, com mais de 40 variedades RR nos mercados da Argentina, Uruguai, Paraguai e tão próximo do Brasil. Atualmente a Nidera conta com três estações de pesquisa de soja, com mais de 100 mil linhas e inúmeras combinações, que com certeza irão originar as principais variedades que serão plantadas nos próximos anos no Brasil. A equipe de desenvolvimento de produto testa as variedades no campo com a parceria dos produtores, usando a mesma tecnologia utilizada por eles para conferir a adaptação das mesmas nas diversas regiões. A biotecnologia como ferramenta da pesquisa para desenvolver novos produtos e novas tecnologias e o compromisso com a produtividade são alguns dos aportes que a empresa está trazendo ao mercado de soja. Certamente, para conseguir tudo isso, a Nidera precisa de todos os parceiros: as empresas produtoras e os produtores rurais. Assim, realmente, todos vão ganhar. hectares. Mas, o mais impressionante é que estas variedades são muito velhas, antigas para a empresa na Argentina. Várias já foram descontinuadas do programa e substituídas por outras muito mais produtivas. C Perdem os produtores rurais. Rodrigo Bosch, Nidera Sementes Massey Ferguson
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Soja
Fotos Claudia Godoy
Longe do fim Apesar de todos os esforços esforços despendidos despendidos contra contra aa ferrugem ferrugem asiática, asiática, aa soma soma dos dos custos custos de controle e perdas de grãos causadas pela doença resultou no gasto de 2,19 bilhões controle e perdas de grãos causadas pela doença resultou no gasto de 2,19 bilhões de dólares dólares na na safra safra 2006/2007 2006/2007 no no Brasil. Brasil. Fatores Fatores como como oo mau mau uso uso da da tecnologia tecnologia de de aplicação, atraso nas pulverizações devido às condições climáticas desfavoráveis e pulverizações devido às condições climáticas desfavoráveis e oo uso de doses abaixo abaixo das das recomendadas recomendadas despontam entre entre os os principais principais entraves entraves para reduzir reduzir os os danos danos causados causados pelo pelo fungo fungo Phakopsora Phakopsora pachyrhizi pachyrhizi
E
stimar o impacto de uma doença ou praga na produtividade da cultura é uma tarefa bastante difícil, uma vez que diversos fatores atuam ao mesmo tempo, sendo difícil isolar as variáveis no campo. Essa tarefa torna-se ainda mais difícil quando se observam ganhos de produtividade de uma safra para outra. O aumento da produção nacional de soja para 57,551 milhões de t (7,7% superior à safra passada), apesar da redução da área cultivada para 20,642 milhões de hectares (redução de 7% em comparação à safra passada), reflete os ganhos de produtividade proporcionados pelas boas condições climáticas que favoreceram as lavouras de soja, atingindo produtividade média nacional de 2.788 kg/ha, segundo o oitavo levantamento de grãos da Conab, safra 2006/07, divulgado em maio deste ano. Apesar da boa produtividade, comparada com às safras passadas, esses valores ainda estão abaixo do potencial produtivo da cultura. As chuvas bem distribuídas, resultantes do fenômeno El Niño, favoreceram a soja e também o progresso da ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. A maior ou menor dispersão e
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a severidade regional da doença, nas diferentes regiões, são influenciadas, principalmente, pelas condições ambientais e, dentre essas, a chuva exerce influência importante. Além de seu papel na epidemia,
a ocorrência de chuvas bem distribuídas restringe os momentos ideais de aplicação de fungicidas. A agressividade da doença nas últimas safras tem sido constante em regiões do Cerrado e atribuída, prin-
A ocorrência de chuvas bem distribuídas, muitas vezes, restringe os momentos ideais de aplicação de fungicidas contra a ferrugem
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Tabela 1 - Estimativa do custo da ferrugem nas safras 2005/06 e 2006/07 cipalmente, ao inóculo produzido na entressafra e a chuva bem distribuída durante a safra. Na safra 2006/07, a agressividade da doença foi elevada em regiões do Maranhão, do Paraná e do Rio Grande do Sul, onde nem todos produtores estavam preparados para enfrentar o problema. O número de focos relatados nessa safra (2.980 focos) foi maior que na safra 2005/06 (1.359 focos), o que se deve, provavelmente, ao melhor monitoramento das áreas, ao melhor preparo de técnicos e produtores em reconhecer a doença e à maior eficiência dos laboratórios credenciados pelo Consórcio Antiferrugem em repassar as informações e assim alimentar o Sistema de Alerta, hospedado no site da Embrapa Soja. Nessa safra, o estado com maior número de focos foi a Bahia (846), seguido pelo Mato Grosso do Sul (666), pelo Paraná (662) e pelo Rio Grande do Sul (425) (Figura 1). Esses números devem ser analisados com cautela devido às diferenças entre os estados quanto ao monitoramento, ao número de laboratórios credenciados e à dificuldade de repasse das informações para o Sistema de Alerta. Apesar do maior número de focos re-
Perdas estimadas de grãos Número médio de aplicações Custo do controle Custo ferrugem (custo médio dos produtos e da operação de aplicação, somados à perda em grãos)
2005/06 2,9 milhões t (U$ 640 milhões) 2 em 80% da área cultivada U$ 1,42 bilhões (U$ 40/aplicaçação x 2 aplicações) US$ 2,12 bilhões
2006/07 2,67 milhões t (U$ 615,7 milhões) 2,3 em 99% da área cultivada U$ 1,58 bilhões (U$ 33/aplicação x 2,3 aplicações) U$ 2,19 bilhões
Fontes: Conab; no Rio Grande do Sul: Embrapa Trigo; no Paraná e Santa Catarina: Coamo, C-Vale, Corol, Copavel, Coopermibra, Coagru, Coagel, Copacol, Cocamar, Fundação ABC, Emater, Campos Verdes Insumos Agrícolas, FAPA, Integrada, Agropar e Embrapa Soja; em São Paulo: CATI; em Minas Gerais: Epamig; no Mato Grosso: Fundação MT e Fundação Rio Verde; no Mato Grosso do Sul: Fundação Chapadão; em Goiás: Agenciarural/CTPA; em Tocantins: Unitins; na Bahia: Fundação BA, no Maranhão: Embrapa Soja.
latados, foi observado aumento de produtividade no país. Entretanto, técnicos de diferentes regiões produtoras são unânimes em afirmar que ainda ocorrem perdas causadas pela ferrugem. Essas perdas têm sido observadas em menor escala e de forma localizada, refletindo problemas na tecnologia de aplicação dos fungicidas, atraso nas aplicações devido às condições climáticas desfavoráveis e ao uso de doses abaixo das recomendadas. Levantamento realizado junto a fundações de pesquisa, cooperativas, universidades, órgãos de assistência técnica e extensão rural nos estados produtores, resultou em uma média ponderada nacional de 2,3 aplicações de fungicidas/ha (99,2% da área cultivada). Lavouras se-
meadas mais cedo, dentro da época recomendada, necessitaram de um menor número de aplicações de fungicidas para o controle da doença. À medida que se atrasou a semeadura, houve a necessidade de um maior número de pulverizações para controle da ferrugem, devido à multiplicação do fungo nas semeaduras iniciais. Essas aplicações não foram realizadas exclusivamente para controle da ferrugem, mas também para o controle de outras doenças fúngicas, que incidem na parte aérea da cultura. Como os fungicidas possuem amplo espectro de ação, mesmo que a ferrugem seja o principal alvo, outras doenças da parte aérea são controladas concomitantemente com essas aplicações.
Fotos Claudia Godoy
Uma aplicação de fungicida custou, em média, nessa safra, US$ 33,00/ha, o que resultou em um custo de US$ 1,58 bilhão. Antes da entrada da ferrugem no Brasil, estima-se que era feita uma única aplicação, em 80% da área cultivada, visando, principalmente, o controle das doenças de final de ciclo, consideradas de menor agressividade quando comparadas à ferrugem. Segundo informações obtidas nesse mesmo levantamento, as perdas causadas pela ferrugem foram ao redor de 2,67 milhões de t, o que representa 4,5% da produção nacional e U$ 615,7 milhões (considerando o preço médio da tonelada de
O custo para controle da ferrugem asiática nessa safra ficou em US$ 1,58 bilhão, com uma média ponderada nacional de 2,3 aplicações de fungicidas/ha
U$ 230,6). Somando o valor do custo do controle ao valor da perda de grãos, chega-se ao total de U$ 2,19 bilhões. Os números da safra atual são semelhantes aos da safra passada, onde foram estimados U$ 2,12 bilhões de custo para controle da doença mais o valor das perdas em grãos (Tabela 1). Na conjuntura atual, pode-se dizer que os números tendem a estabilizar nesses patamares, sendo as possíveis variações decorrentes da taxa cambial e do preço da saca de soja. Por mais eficientes que sejam os produtos para o controle das doenças, alguns pontos críticos, como o momento e a eficiência da aplicação, ainda podem comprometer os
resultados. Muitas vezes, o agricultor está preparado para combater a doença, mas as condições climáticas não permitem que se faça a aplicação, fato observado na maioria dos casos onde foram constatadas perdas nesta safra. A mudança no cenário pode ocorrer com a eficiência da realização do vazio sanitário (período de 90 dias sem soja durante a entressafra e eliminação de plantas voluntárias) bem como o desenvolvimento de cultivares resistentes ou tolerantes ao fungo. Uma mudança que tem sido observada na demanda para cultivares de soja após a entrada da ferrugem é a procura por materiais de ciclo precoce. Esses materiais, por permanecerem menos tempo no campo, apresentam mecanismo de escape, necessitando de um menor número de aplicações para o controle da doença. O vazio sanitário, adotado no Mato Grosso e em Goiás na safra 2005/06, já se encontra regulamentado nos estados do Maranhão, do Tocantins, do Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais e de São Paulo para a entressafra de 2007. No Paraná, a regulamentação está em estudo. O vazio sanitário não tem como objetivo resolver o problema da ferrugem. Essa medida é uma estratégia de manejo que visa reduzir o inóculo para os primeiros plantios, reduzindo a possibilidade de incidência no período vegetativo e, conseqüentemente, reduzindo o número de aplicações de fungicida e o custo de produção. C Cláudia V. Godoy, Claudine D. S. Seixas, Ivani de O. N. Lopes e Marcelo H. Hirakuri, Embrapa Soja
Figura 1 - Número de focos de ferrugem asiática da soja por estado produtor na safra 2006/07. Fonte: www.cnpso.embrapa.br/alerta
Cláudia destaca que o vazio sanitário tem como objetivos reduzir o inóculo para os primeiros plantios e diminuir a incidência no período vegetativo
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Soja
Búfalos na soja Nova praga encontrada na safra 2006/2007 nas regiões produtoras do Piauí, Maranhão e Tocantins, cuja ocorrência é relatada também no Rio Grande do Sul, tem preocupado produtores e pesquisadores. Com danos semelhantes aos do tamanduá-da-soja, ataca as hastes da planta, desta forma interfere na translocação da seiva, provocando perdas de até 60% da lavoura. A correta identificação do inseto e o estabelecimento de estratégias de controle são o principal desafio
O
aparecimento de danos de novas pragas nas culturas vem causando cada vez mais preocupação aos produtores. No caso da soja, cultivada em ambiente de clima tropical, o uso de inseticidas a cada safra vai se tornando mais oneroso na formação dos custos de produção da lavoura, ultrapassando em alguns casos o valor dos fertilizantes que sempre ocuparam maior percentual na formação dos custos. Uma nova praga que começa a surgir em diversas regiões é o popularmente chamada de búfalo-da-soja, um inseto da família Membracidae cuja correta identificação da espécie está sendo feita em par-
Perfurações contínuas e bem próximas umas das outras, causando um dano semelhante a um anelamento da casca da planta
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Fotos Thiago Zanella
ceria com entomologistas da Embrapa de Passo Fundo (RS) e outros especialistas na área. A ocorrência desta praga vem sendo observada na safra 2006/2007 nas regiões produtoras de soja do Piauí, Maranhão e Tocantins, embora apareçam relatos de sua ocorrência nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná.
DANOS Os danos ocorrem nas hastes da soja. O inseto, com o aparelho bucal sugador, introduz o estilete nos caules da soja sugando a seiva. Os danos são observados em caules novos (V3-VN) e também na fase reprodutiva da planta (R1-R6) em caules secundários, pecíolos das folhas e ramos mais jovens. Atinge a periferia do caule, com perfurações contínuas e bem próximas umas das outras, causando um dano semelhante a um anelamento da casca da planta. As perfurações fazem com que as plantas percam boa parte da sua sustentação e com qualquer força das intempéries do tempo pode causar o tombamento de plantas adultas. O principal dano se dá ao interferir na translocação de seiva para a raiz, causando perda de energia da planta,
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entrada de microorganismos e a morte antes da maturação fisiológica, o que acarreta na redução do peso dos grãos, com perdas no rendimento entre 20 e 30 % , podendo chegar até 60% se não controlado. É de grande importância a correta identificação dos danos e da praga, já que seu
A fase jovem (ninfa) do inseto perdura duas a três semanas
dano pode ser confundido com o de outras pragas que atacam a cultura, como o tamanduá-da-soja. Após a colheita, se observa a permanência de indivíduos em culturas sucessoras como feijão e em soja “ti-
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CARACTERÍSTICAS Fotos Thiago Zanella
É
güera”. Plantas daninhas e plantas do cerrado também servem de hospedeiros para esta praga no período de entressafra, fornecendo alimentação e refúgio. O monitoramento constante da lavoura, desde a emergência, permite a correta identificação do momento de entrada da praga e também o melhor momento de fazer o seu controle. O monitoramento deve ser priorizado nas áreas onde se encontram maiores concentrações de plantas daninhas. O inseto possui grande mobilidade e se movimenta com rapidez quando há aproximação do monitor, por isso recomenda-se observar primeiramente os adultos e posteriormente as ninfas. Ainda são necessários estudos mais aprofundados quanto ao nível de controle correto, mas recomenda-se que quando encontradas 20% das plantas com presença de ninfas, se faça o controle. É recomendável também fazer a dessecação antecipada das áreas, eliminando totalmente as plantas hospedeiras, principalmente as “folhas largas”, antes da entrada da cultura da soja. Inseticidas do grupo dos piretróides ou organofosforados na dessecação também auxiliam no controle. No Brasil ainda não existem produtos registrados para o búfalo-da-soja. Os inseticidas utilizados para o controle de percevejos e outros sugadores possuem um bom efeito no controle deste inseto. Podem ser citados alguns princípios ativos que em testes a campo apresentaram mais de 80% de controle de adultos, como a cipermetrina, lambda-cialotrina, metamidofós, fipronil, acefato e bifentrina. O controle dos adultos é mais fácil do que o das ninfas
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devido à maior facilidade de atingir o alvo, pois estas ficam localizadas no terço inferior das plantas, sendo necessária uma atenção especial à tecnologia de aplicação dos inseticidas. O controle deste inseto é facilmente solucionado quando identificado a tempo, por isso a necessidade de conhecer a biologia da praga, a fenologia da cultura e o correto monitoramento. Estes três aspectos são fatores decisivos para o sucesso no controle. C
No monitoramento é recomendado observar-se primeiro os adultos devido à grande mobilidade e movimentação quando percebe a presença do monitor
um inseto que possui aparelho bucal sugador, e quando adulto mede entre 6 e 7 mm de comprimento. Possui três pares de patas bem resistentes e que se prendem com eficiência nas plantas. As ninfas apresentam coloração marrom-esverdeada e se localizam geralmente na região do colo da planta, após eclodirem dos ovos colocados no solo. O tempo de incubação dos ovos é variável conforme a temperatura, ficando em torno de cinco a oito dias. Após a eclosão a ninfa passa por quatro instares, perfazendo a fase jovem em aproximadamente duas a três semanas. Os adultos alados migram para outros campos fazendo a postura. Quando adulto suas asas também servem de proteção, faz vôos curtos e tem hábito de saltar. É muito ágil e tem grande poder de disseminação para novas áreas. A ocorrência desta praga acontece de forma esporádica na soja, geralmente associada à presença de ervas daninhas que possibilitem sua reprodução. Estimase que se não controlado podem ocorrer de três a quatro gerações do inseto no ciclo da cultura. Matheus Zanella, Reativa – Consultoria & Soluções
O processo de correta identificação do búfalo-da-soja está sendo feito em conjunto com a Embrapa Trigo, salienta Zanella
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Cultivar
Café
Frio como barreira
Baixas Baixas temperaturas temperaturas podem alterar os os balanços balanços fisiológico e bioquímico do cafeeiro. Situações Situações de de estresse estresse desestabilizam desestabilizam as as estruturas estruturas ee funções funções da da planta, planta, prejudicando prejudicando oo seu seu desenvolvimento. desenvolvimento. Além Além de de práticas práticas de de campo campo usadas usadas para para amenizar amenizar oo problema, problema, estudos estudos são são realizados realizados com com intuito intuito de de identificar identificar linhagens linhagens tolerantes tolerantes ao ao frio frio
O
crescimento e desenvolvimento do cafeeiro depende de vários fatores, alguns deles possíveis de serem controlados, por meio de adequada adubação, controle fitossanitário, irrigação, entre outros. Contudo, as condições ambientais (temperatura, umidade relativa, radiação...) não são facilmente controláveis, fazendo com que o conhecimento das suas implicações para a cultura, nas áreas de produção, sejam determinantes para implantação e manutenção.
O ESTRESSE O comportamento vegetativo do cafeeiro tem sido pesquisado e tem-se observado que em regiões cafeeiras de latitudes superiores a 15º Sul, as maiores taxas de crescimento vegetativo coincidem com épocas em que os dias são mais longos, quentes e com maior precipitação, ocorrendo o menor crescimento vegetativo nos meses mais frios e com dias mais curtos (Barros & Maestri, 1974; Barros et al., 1997; Mota et al., 1997; Libardi et al., 1998; DaMatta et al., 1999; Amaral et al., 2001; 2006; Partelli., et al., 2001; 2006; Nazareno et al., 2003; Silva et al., 2004). Esta queda na taxa de crescimento não está associada com o fotoperíodo (Mota et al., 1997; Amaral et al.,
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2006), nem com a presença de grãos nos ramos, ainda que os ramos sem frutos possam apresentar maiores taxas (Mota et al., 1997; Libardi et al., 1998; Amaral et al., 2001; 2006). Todavia tem sido sugerido que o baixo crescimento (crescimento estacional) do cafeeiro possa estar relacionado com as temperaturas mínimas do ar (Mota et al., 1997), já que o declínio no crescimento vegetativo do cafeeiro Arábica (Coffea arabica) no campo parece ocorrer quando a temperatura é inferior a 14oC (Amaral et al., 2006). De fato, para as plantas em geral, temperaturas baixas positivas afetam diversos componentes da maquinaria fotossintética, pois reduzem a condutância estomática, a fotossíntese líquida, a eficiência fotoquímica do fotossistema II, o transporte tilacóidal de eletrões, a atividade enzimática e o metabolismo do carbono, alterando ainda a composição e a estrutura dos complexos de pigmentos fotossintéticos (Haldimann, 1998; Salonen et al., 1998; Allen & Ort, 2001). Também no gênero Coffea estes efeitos foram observados, com intensidades distintas entre diferentes espécies (Campos et al., 2003; Ramalho et al., 2003; Silva et al., 2004), devido provavelmente a características morfo-fisiológicas distintas (DaMatta et al., 1997; Carvalho et al. 2001).
Historicamente o estado do Paraná, bem como algumas regiões de São Paulo e Minas Gerais têm sofrido com geadas e/ou temperaturas muito baixas, havendo perda da produtividade das lavouras e levando mesmo a um decréscimo do cultivo. Também ocorre menor crescimento do cafeeiro conilon no inverno mesmo nas regiões de baixa altitude do estado do Espírito Santo (Libardi et al., 1998; Partelli et al., 2001; 2006), o que pode acarretar menor recuperação após a colheita e, conseqüentemente, influenciar a produtividade da futura safra agrícola. Em contrapartida, com o aquecimento global (Joos et al., 1999), pode haver entrada do conilon em áreas antes plantadas com arábica e cultivo de Arábica onde não se plantava a espécie por limitações de temperaturas mínimas baixas.
TEMPERATURA ADEQUADA X PREJUDICIAL Estudos indicam que a temperatura ótima para o crescimento do cafeeiro arábica jovem é cerca de 30/23°C (dia/noite), sendo que para as plantas com mais de 18 meses as temperaturas ideais diminuem para 23/17°C (dia/noite), apresentando uma faixa ideal entre 18 a 23°C e que para o sistema radicular é entre 24 a 27°C (Matiello et al., 2002). Também Alègre (1959) relata que a temperatura
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Cultivar
to da capacidade de dissipação do excesso de energia (Ramalho et al., 2003), apresentando uma maior tolerância ao frio e, conseqüentemente, uma melhor recuperação após o fim do estresse.
PRÁTICAS DE CAMPO
As baixas temperaturas provocam distúrbios em plantas de café devido a alta viscosidade da água e da menor condutância hidráulica das raízes
média favorável ao crescimento para a mesma espécie se situa entre 16 e 23ºC, com um ótimo de 18 a 21ºC. Quando a temperatura permanece várias horas entre zero e 10°C e durante vários dias consecutivos, as extremidades das brotações novas do café ficam distorcidas, murcham e podem tornar-se negras, podendo levar à morte da planta (Rena, 2000). Além disso, quando a temperatura atinge valores de três a 4ºC ou inferiores, as folhas podem sofrer descoloração não uniforme, com maior incidência nas margem da lâmina foliar, e necroses, podendo em seguida senescer, sendo essas características variáveis de acordo com a cultivar (Campos et al., 2003. Ramalho et al., 2003). Esses distúrbios são provocados, entre outros, pela defasagem entre a perda de água por transpiração e pela sua absorção radicular e translocação pelo xilema, em conseqüência da alta viscosidade da água e da menor condutância hidráulica das raízes, impostas pela baixa temperatura (Rena, 2000) e pelo comprometimento do metabolismo fotossintético (Campos et al., 2003; Ramalho et al., 2003). Estes efeitos são visíveis na fotossíntese líquida, que em alguns casos já decresce quando a temperatura é entre 20/15ºC (dia/noite), imposta no cafeeiro em condições ambientais controladas (Ramalho et al., 2003). Assim, mesmo que não tenha ocorrido geada (cujos efeitos são substancialmente mais graves), o frio pode alterar todo o balanço fisiológico e bioquímico da planta, podendo mesmo causar morte das gemas terminais, com perda da dominância apical, e alterar a fisiologia das gemas axilares dos ramos plagiotrópicos, as quais, são potencialmente floríferas, promovendo, posteriormente, uma excessiva brotação e desordenado desenvolvimento vegetativo (Rena, 2000). Ocorre, também, que temperaturas médias baixas, inferiores a 18°C, provocam o atraso no desenvolvimento dos frutos, cuja maturação pode sobrepor-se ou ultrapassar a florada seguinte, prejudicando a colheita (mai-
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ores cuidados para não derrubar as flores), o desenvolvimento vegetativo e a produção (Camargo, 1985). O sistema radicular, em particular o ápice radicular de mudas arábica, é sensível a baixas temperaturas, sofrendo danos quando estas são inferiores a 15°C durante seis dias consecutivos e sendo completamente inibido quando inferiores 10°C (Queiroz et al., 2000). O cafeeiro conilon apresenta maior taxa de crescimento quando a temperatura se situa entre 18 a 27ºC (Viani, 1986; Wrigley, 1988; Partelli et al., 2006). Contudo, apresenta queda acentuada do crescimento no Inverno, associado a baixas temperaturas (Libardi et al., 1998; Partelli et al., 2001; 2006), sendo particularmente sensível a geadas (Feio, 1991) e apresentando severa destruição dos frutos quando a temperatura é inferior a 5ºC (Willson, 1985; Wrigler, 1988). Confirmando diferenças entre as principais espécies produtoras, por exemplo o C. arabica cv. Icatu apresenta menor impacto negativo na fotossíntese líquida às baixas temperaturas positivas do que C. canephora cv. Apoatã, fato que pode estar relacionado com a baixa atividade inicial da enzima ribulose1,5-bifosfato carboxilase/oxigenase (rubisco) (Ramalho et al., 2003) e/ou com o maior dano na integridade da membrana celular (Campos et al., 2003) observado nesta última cultivar. A diminuição do crescimento de ramos do cafeeiro sob baixas temperaturas, poderá também estar relacionada com a diminuição do metabolismo respiratório (Oliveira et al., 2002; Ramalho et al., 2005) e com resistências bioquímicas nos cloroplastos (Ramalho et al., 2003, Amaral et al., 2006). Contudo, os cafeeiros possuem alguns mecanismos de defesa/aclimatação, como a maior produção de lípidos (por exemplo, do ácido 3-trans-hexadecenóico) (Campos et al., 2003) e o aumen-
Geralmente as práticas de campo não são totalmente eficientes, no entanto, podem amenizar o efeito do frio. De acordo com Bicalho et al. (2005), o simples fato do lado da planta receber primeiro o sol pela manhã (nascente), faz com que este lado da planta produza mais que o outro lado que recebeu sol à tarde (poente). Fato semelhante também pode ser observado em áreas em que a lavoura recebe insolação logo pela manhã, fazendo com que haja um aquecimento logo nas primeiras horas do dia, havendo menor estresse pelo frio nas horas mais críticas. Plantas consideradas como adubos verdes também podem ser utilizadas para amenizar efeitos do frio, geada e vento forte nos cafeeiros, principalmente quando novas e cultivadas em regiões de altitudes elevadas que são mais propícias a baixas temperaturas (Gorreta, 1998; Caramori et al., 1998). Por exemplo, o feijão guandu (Cajanus cajan) como adubo verde, a utilização de grevilea (Grevillea robusta) como sombreamento no cafeeiro, proporcionaram menor concentração de prolina nos tecidos do cafeeiro, indicando que o cafeeiro sombreado por estas plantas apresenta menor estresse hídrico, corroborando com Barbosa et al. (2005) que descrevem que a acácia e leucena permitiram que os efeitos da seca e do frio fossem reduzidos, favorecendo o crescimento do cafeeiro no início da época chuvosa. Outras técnicas como a utilização de “quebra vento” com árvores de médio e grande portes e o adensamento da lavoura também podem ser utilizadas para mitigar os efeitos do frio. Atualmente vêm sendo realizados trabalhos a níveis fisiológico, bioquímico e de biologia molecular em plantas do cafeeiro submetidas ao estresse por frio (temperaturas baixas positivas e negativas), com intuito de aprofundar o conhecimento dos mecanismos de tolerância e de se identificarem marcadores moleculares essenciais para trabalhos de caracterização e seleção de germoplasma (cultivares/linhagens) e de melhoramento genético, visando a tolerância de Coffea sp. a baixas temperaturas. C Fábio Luiz Partelli, CCTA/UENF Paula Eichler, Ana Ribeiro e José Cochicho Ramalho, ECO-BIO/IICT/Portugal
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Café
Carlos Becker
Controle associado O
inseticida thiamethoxam 250 WG ou a mistura do inseticida + fungicida (cyproconazole 300 WG) são altamente sistêmicos. Ao serem aplicados em “drench” (esguicho) no colo das plantas, em filete no solo na linha de cafeeiros ou na água de irrigação (gotejamento e lepa), são absorvidos e incorporados à seiva. O thiamethoxam controla o bicho-mineiro nas folhas e as ninfas móveis (sugadoras) das cigarras nas raízes, e o cyproconazole apresenta eficácia contra a ferrugem. A modalidade de aplicação líquida via esguicho (“drench”)
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no colo da planta também se apresenta muito eficiente no controle das cochonilhas-farinhentas na raiz, indicando que esses produtos, uma vez aplicados no colo dos cafeeiros, são incorporados à seiva elaborada do floema (vasos liberianos) e bruta do xilema (vasos lenhosos), sendo levados respectivamente às raízes e parte aérea, onde atuam. O método de aplicação de “drench” no colo do cafeeiro, feito com aplicador (pulverizador) costal manual, dotado de dosador (para pequenos e médios cafezais), ou tratorizado com barra aplicadora em filete
Paulo Rebelles Reis
Dois produtos altamente sistêmicos tem garantido a lucratividade do cafeicultor. Estudo aponta que a soma das características de Thiametoxam e Ciproconazole destaca-se frente a pragas e à ferrugem do cafeeiro, além de conferir maior vigor às plantas
Lagartas de bicho-mineiro em lesão onde foi a epiderme superior da folha
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Fotos Paulo Rebelles Reis
contínuo na linha de plantio (para grandes cafezais), constitui uma excelente opção para o controle da ferrugem e das pragas-chave da cultura (bicho mineiro, cigarras e cochonilhas-farinhentas).
BICHO-MINEIRO O bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae), é a principal praga do cafeeiro na atualidade, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e maior déficit hídrico (Reis & Souza, 1986). O maior número de lesões é encontrado nas folhas do terço superior ou topo da planta (Reis et al., 1975). As lesões causadas pelas lagartas nas folhas resultam na desfolha da planta. Em geral, as plantas que sofrem ataque do bicho-mineiro apresentam principalmente o topo completamente desfolhado, podendo, no entanto sofrer desfolha total. Em conseqüência da desfolha há redução sig-
Ninfa móvel de cigarra alimentando-se na raiz do cafeeiro
Tabela 1 - Evolução da infestação do bicho-mineiro em porcentagem de folhas minadas (% FM) e porcentagem de eficiência (%E) dos tratamentos aplicados em 28/2/2002. Monte Carmelo (MG) (Souza et al., 2006) Porcentagem de folhas minadas e eficiência por amostragem realizada Tratamentos1 02/05 05/06 09/07 % FM % E % FM % E % FM % E 1. Thiamethoxam 250 WG (gotejo) 3,0 87,6 8,2 88,5 17,9 79,0 2. Thiamethoxam 250 WG (esguicho) 0,4 98,4 5,2 92,7 20,5 70,1 3. Testemunha 24,3 - 71,1 85,9 1 Trat. 1 = thiamethoxam 2000g p.c./ha, em gotejamento; Trat. 2 = thiamethoxam 2000g p.c./ha, esguicho no colo das plantas; Trat. 3 = testemunha sem aplicação de pesticidas.
nificativa da produção. Lavouras intensamente desfolhadas podem levar ate dois anos para se recuperar. No Sul de Minas, Reis et al. (1976), constataram redução na produção do cafeeiro da ordem de 52% em conseqüência do ataque da praga. O thiamethoxam, contra o bicho-mineiro, apresenta eficiência superior a 80% e longo período de controle, trazendo segurança para o cafeicultor no controle desta praga (Tabela 1).
Tabela 2 - Média de ninfas vivas de cigarra por cafeeiro infestado e porcentagem de eficiência nos tratamentos aplicados em dezembro. São Sebastião do Paraíso (MG) 28/7/2003 Tratamentos 1. Thiamethoxam 10 GR
Dosagem kg p.c./ha 50,0
2. Thiamethoxam 250 WG
2,0
3. Thiamethoxam 10 GR + Thiamethoxam 10 GR + cyproconazole 20 GR 4. Thiamethoxam 250 WG + Thiamethoxam 300 WG + cyproconazole 300 WG 5. Testemunha
25,0 + 30,0 1,0 + 1,0 -
Modo de aplicação Dois sulcos projeção copa Esguicho colo do cafeeiro Dois sulcos projeção copa Esguicho colo do cafeeiro -
Ninfas vivas/cafeeiro 2,12
Eficiência (%) 97,7
3,88
95,8
6,38
93,0
1,92
97,9
91,62
-
CIGARRAS-DO-CAFEEIRO A cigarra é uma outra importante praga do cafeeiro podendo causar grandes prejuízos às lavouras infestadas. A espécie mais prejudicial é a Quesada gigas (Hemiptera, Cicadidae), de maior tamanho. Ocorre nas lavouras do Sul de Minas, Alto Paranaíba e Triangulo Mineiro, e também nos estados de São Paulo e outros (Souza, 2003). As ninfas fixam-se nas raízes do cafeeiro passando a sugar a seiva da planta. Em lavouras do Sul de Minas podem ser encontrada mais de 240 ninfas numa única planta, porém já foram observadas
Tabela 3 - Porcentagem de folhas com ferrugem nas parcelas, porcentagem média de infecção e porcentagem de eficiência dos tratamentos aplicados em novembro. São Sebastião do Paraíso (MG) 05/7/2004. (Souza & Reis 2004) Tratamentos1 1. Thiamethoxam 300 WG + cyproconazole 300 WG 2. Thiamethoxam 300 WG + cyproconazole 300 WG e Thiamethoxam 250 WG 3. Testemunha
Repetições II III 2,0 0,3 2,0 4,0
Média
Eficiência
I 2,0 2,0
IV 4,0 6,0
2,00 3,50
95,2 91,6
38,0
44,0
46,0
41,50
-
38,0
1Tramentos: 1 - Verdadero a 1kg p.c./ha aplicado em novembro, em drench; 2 - Verdadero a 1kg p.c./ha aplicado em novembro, em drench + actara a 1kg p.c./ha aplicado em fevereiro, em drench.
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Folhas de cafeeiro infectadas pela ferrugemalaranjada
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plantas que se manifesta na parte aérea pelo definhamento e queda precoce das folhas, causando prejuízos na produção de até 87%, podendo ocasionar a perda total da lavoura (Souza et al., 1984). O thiamethoxam apresenta eficiência de controle, contra todas as espécies de cigarras, superior a 93%, em qualquer modalidade de aplicação realizada no mês de dezembro (Tabela 2).
Tabela 4 - Produção de café em função do controle do bicho-mineiro com thiamethoxam 250 WG, em três épocas de aplicação, na água de irrigação por gotejamento. Monte Carmelo (MG), 8/2002. (Souza et al, 2006) Tratamentos1
1. Testemunha 2. Thiamethoxam em fevereiro 3. Thiamethoxam em março 4. Thiamethoxam em abril CV (%)
infestações de até 540 ninfas por cova. População acima de 35 ninfas por cova de cafeeiro causa severo dano. A sucção contínua de seiva causa o depauperamento das
Índice de aumento 100 251 237 226
1 Tratamentos: - Actara (thiamethoxam 250 WG) aplicado a 2kg p.c./ha na água de irrigação por gotejamento (0,56g p.c./planta) em fevereiro, março e abril de 2002. 2 Médias seguidas por letras iguais na coluna não diferem entre si (Duncan 5%). 3 Médias seguidas por letras iguais na coluna não diferem entre si (Scott-Knott 5%).
CONTROLE DA FERRUGEM
Aplicador costal manual de formulações WG dotado de dosador e bico aplicador para esguicho “drench”
Porcentagem de produção Sacos de 60 kg de café beneficiado/ha3 (colheita em julho de 2003) 97,8 c 23,0 b 30,3 ab 57,7 a 20,6 a 54,6 a 37,0 b 52,0 a 19,8 13,75
A ferrugem-alaranjada (Hemileia vastatrix), principal doença do cafeeiro, pode causar enorme prejuízo à produção devido à intensa desfolha resultante da sua ocorrência, podendo levar as plantas ao definhamento total. Com a desfolha os prejuízos podem ultrapassar os 80 % na produção. O cyproconazole contido na formulação de Verdadero (thiamethoxam + cyproconazole) aplicado em outubro-novembro na modalidade “drench”, uma das formas de aplicação, mostrou eficiência no controle da
ferrugem superior a 92 % (Tabela 3).
EFEITO NO VIGOR E PRODUTIVIDADE A utilização do thiamethoxam em aplicação única ou seqüencial confere intenso vigor e enfolhamento ao cafeeiro (aumento do sistema radicular e enfolhamento) que juntamente com a excelente eficácia no controle das pragas-chave resulta em aumento de produção da lavoura na safra pendente e preparando a planta para as próximas safras (Tabela 4).
CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a introdução do inseticida neo-
Carlos Becker
manual com lança aplicadora e dosador ou barra aplicadora tratorizada, de fácil manuseio, possibilitando uma aplicação rápida e com maior precisão, dispensando o uso de matracas e granuladeiras de difícil manutenção. O moderno thiamethoxam trouxe um novo patamar de controle das pragas que causam danos econômicos e devido ao grande vigor que proporciona, garante excelentes resultados de produtividade, qualidade e lucratividade da lavoura. C Detalhe da aplicação tipo “drench” com aplicador costal tratorizado
Charles Echer
nicotinóide thiamethoxam a cafeicultura teve acesso ao mais moderno conceito de controle das principais pragas da cafeicultura. As principais vantagens, são, por exemplo, sua aplicação líquida através da formulação WG (grânulos dispersíveis em água) nas modalidades de esguicho (“drench”) no colo da planta e filete contínuo no solo sob o cafeeiro, de um só lado junto à linha de plantio, ou na água de irrigação por gotejamento ou lepa). Nessas modalidades de aplicação, inseticida neonicotinóide thiamethoxam, aplicado só (Actara 250 WG) ou em mistura com o fungicida cyproconazole (Verdadero 600 WG), têm proporcionado resultados surpreendentes. Citam-se o longo período de controle, e eficácia, do bicho-mineiro, cigarras, cochonilhas-farinhentas na raiz e da ferrugemalaranjada, além de propiciar um intenso vigor ao cafeeiro e conseqüente aumento de produtividade da lavoura [151% de aumento em relação à área testemunha - testemunha 23,0 sc/ha e thiamethoxam 57,7 sc/ha - (Tabela 4)]. Outra vantagem da aplicação líquida é a utilização de equipamentos extremamente simples, costal
Rebelles apresenta resultados de estudos realizados com thiamethoxam e cyproconazole
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Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, Epamig/EcoCentro
THIAMETHOXAM
É
o primeiro composto tianicotinil pertencente à classe dos neonicotinóides e traz aos agricultores o moderno conceito de controle de pragas-chave do cafeeiro (bicho-mineiro e cigarra), e quando associado ao fungicida cyproconazole também do controle da ferrugemalaranjada em cafeeiro. Tanto o thiamethoxam + cyproconazole como somente o thiamethoxam estão sendo amplamente utilizados e o desempenho de controle que apresentam os posicionou como líderes de mercado. Nos cafezais, ou em campos experimentais, o inseticida Actara 250 WG e o inseticida-fungicida Verdadero 600 WG tem alcançado excelentes resultados no controle de pragas importantes e da ferrugem do cafeeiro, até mesmo as mais difíceis pragas sugadoras, com incomparável flexibilidade e superior performance. Além disso, exibe algumas características importantes devido às propriedades físico-químicas do ingrediente ativo thiamethoxam cujo perfil pode ser traçado como segue: 1 - Seguro para o aplicador; 2 - É utilizado na maioria das culturas agricultáveis; 3 - Possui excepcional eficácia em mais de 70 espécies de pragas importantes; 4 - É utilizado em quantidades muito pequenas; 5 Age rapidamente, paralisando o dano das pragas; 6 - É altamente sistêmico, portanto é utilizado convenientemente em aplicações, via esguicho (“drench”), em filete contínuo no solo e via irrigação por gotejamento ou pivô central (lepa); 7 Pode ser utilizado em todos os tipos de solo e é rapidamente degradado em con-
dições de campo, não havendo risco de bio acumulação e 8 - É uma excelente ferramenta para operações de manejo integrado de pragas, pois não causa qualquer tipo de desequilíbrio. Atividade Biológica - possui uma potente ação sistêmica e além da ingestão age nos insetos também por ação de contato. Aplicado no solo, nas modalidades já mencionadas, é rapidamente absorvido pelas raízes translocando-se para as diversas partes da planta. O produto apresenta também atividade sistêmica quando aplicado sobre o caule ou tronco das plantas. Thiamethoxam permanece ativo contra pragas sugadoras e mastigadoras por longo período após sua aplicação e apresenta forte atividade em baixas dosagens sobre cigarras, cigarrinhas vetoras da bactéria xilela, cochonilhas-farinhentas na raiz, bicho-mineiro e alguns coleópteros através de aplicações no tronco, no solo ou na água de irrigação. Modo de Ação - age afetando a transmissão de estímulos nervosos, levando o sistema nervoso dos insetos ao colapso. Sua ação é totalmente diferente dos inseticidas clássicos, lançados há várias décadas, como os organofosforados, carbamatos e piretróides. Portanto thiamethoxam permite o controle efetivo de insetos que desenvolveram resistência àqueles inseticidas. Seletividade - pode ser classificado como um inseticida de leve a moderada toxicidade para a maioria dos organismos benéficos. Entretanto é praticamente não tóxico para sirfídeos e ácaros predadores (Phytoseiidae).
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Empresas
Fotos Pioneer
História de superação
No ano em que completa 35 anos no Brasil, a Pioneer Sementes comemora muitas vitórias. Entre elas, o reposicionamento no mercado em meio à grave crise que atingiu o setor na década de 80 e a volta por cima através dos investimentos em alta tecnologia e no contato direto com o produtor
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á 20 anos, a Pioneer do Brasil encontrava-se diante de uma encruzilhada que ajudaria a reescrever a história da empresa no país. O momento agrícola e o da empresa não eram dos melhores. Vendas consignadas e milho barato puxavam as empresas do setor e produtores para baixo. Mas, como crises são momentos de superação para os empreendedores, foi nesse período que a empresa parou para repensar o posicionamento no mercado e definir o futuro. A escolha foi uma guinada radical e a decisão por fazer o caminho inverso das principais sementeiras daquela época. Mesmo com um cenário difícil para a agricultura brasileira, a aposta foi no trabalho com produtores pioneiros, foco em alta tecnologia, genética refinada e desenvolvimento de produtos com qualidade superior. “Apostamos que um dia o milho deixaria de ser produzido de forma amadora e sem tecnologia”, lembra Daniel Glat, diretor para América Latina. A partir desse período, a empresa manteve o foco na alta tecnologia, sem abrir mão da busca pelo contato direto com o produtor. Essa foi a fórmula que a Pioneer encontrou para crescer: desenvolver linhagens com alta tecnologia, incorporando o que há de
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melhor em cada semente e, ao mesmo tempo, garantir o máximo rendimento nas lavouras através do contato estreito com os produtores, auxiliando-os no processo de cultivo com suporte técnico direto no campo. “Conseguimos ser inovadores e ao mesmo tempo manter nossos princípios básicos e valores inalterados. Hoje, quando come-
Peixoto considera a postura da empresa, responsável pelo crescimento constante nos últimos 20 anos
moramos 35 anos no Brasil, a empresa é reconhecida pelos produtores justamente pela tecnologia dos nossos produtos e parceria com o homem do campo”, explica Cláudio Peixoto, diretor de marketing e regulamentação da empresa. Tecnologias de ponta, incorporadas nas sementes nas décadas de 80 e 90, hoje já podem ser encontradas em grande parte dos híbridos disponíveis no mercado. Características como superprecocidade e porte diferenciado, atualmente são comuns, por isso, o desafio de apresentar novas soluções é constante. A Pioneer está desregulamentando no Brasil o uso do gen GAT, que confere à planta a tolerância ao glifosato e a todos os herbicidas à base de inibidores de ALS, em diferentes combinações, já comercializados pela Dupont. O mercado norte-americano poderá contar com esses híbridos a partir de 2009. Já os produtores brasileiros deverão aguardar mais algum tempo e, provavelmente só poderão plantá-los por aqui a partir de 2011. Atualmente, a Pioneer detém aproximadamente 60% do mercado de sementes de milho de alta tecnologia no Cerrado. Paraná e Rio Grande do Sul também são estados onde a empresa lidera nesse segmento. Desde 1999, com a criação da Lei de Proteção de
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Cultivares, a empresa entrou também na comercialização de sementes de soja, com foco para o mercado do Cerrado, onde possui aproximadamente 12% de participação, com seis variedades RR, sendo que duas delas são também tolerantes ao nematóide do cisto.
A CHEGADA AO BRASIL No Brasil, a Pioneer iniciou suas atividades por meio de uma parceria comercial com a Proagro Comércio e Indústria PróPecuária Ltda; do Grupo Gomes Filho, de Bagé, Rio Grande do Sul. Em 6 de março de 1972, em Porto Alegre, se decidia o destino da mais nova empresa do setor de sementes no Brasil – a Proagro-Pioneer S/A, Agricultura, Indústria e Comércio, cuja fundação ocorreu meses mais tarde, mais precisamente no dia 22 de maio de 1972. Em 1982, ocorreu a incorporação da Proagro-Pioneer pela Pioneer Agricultura passando a operar com
o nome de Pioneer Sementes Ltda. Essa década foi marcada pela definição de foco no mercado de alta tecnologia, quando foram lançados os primeiros híbridos triplos com destaque para o 3232, o 3210 e o 3230. No início dos anos 90, a empresa lançou os primeiros híbridos simples modificados, como por exemplo o 3072 e o 3069, que apresentavam maior potencial produtivo, ciclo superprecoce, grão duro e com grande aceitação no mercado e dos híbridos 3041 e 3051 como forma de combater um surto de ferrugem ocorrido em São Paulo e Minas. Em 2000, a Pioneer, passa a fazer parte do grupo DuPont, em uma de suas cinco plataformas, a Agrícola, que reúne o setor de sementes, defensivos agrícolas e tecnologia de derivados protéicos destinados ao ramo alimentício. Novos produtos deverão ser lançados dando continuidade aos atuais lançados no
início desse século. Na soja, após os lançamentos das cultivares convencionais 98C21 e 98C81 e das resistentes a nematóide do cisto 98N31, 98N71 e 98N82, outras cultivares com novas características e genes serão incorporadas às atuais. Só de 2000 até hoje, a Pioneer lançou seis cultivares com o gene Roundup Ready - 98R62, 98R31, 98R91, 99R01, 98Y11 e 98Y51. Destes, o 98Y11 e o 98Y51 são também tolerantes ao nematóide do cisto. Também no milho, novos híbridos com diferentes características, entre elas a resistência a insetos – milho BT, virão para aumentar ainda mais o poder de combinação e segurança proporcionado pelos atuais híbridos existentes no mercado. Só no início desse século foram lançados 12 híbridos: 30R50, 30F53, 30P34, 30F36, 30R32, 30K73, 30S40, 30F87, 30K64, 30F35, 32R22 e C 32R48.
CRESCIMENTO SÓLIDO
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aniel Glat, diretor para América Latina, avalia o mercado de sementes e garante que a atual expansão do milho é sólida, o que torna a cultura um excelente investimento para os produtores. Cultivar: Essa euforia em torno da cultura do milho é sustentável? Daniel Glat - É um crescimento muito sustentável, impulsionado pela demanda mundial, não por queda pontual de algum país. Só nos Estados Unidos, mais de 150 usinas para produção de etanol estão funcionando ou em fase final de construção, onde, somente este ano, serão moídas mais de 150 milhões de t. Mais do que todo o milho que o Brasil produz atualmente será utilizado nos EUA apenas para a produção de etanol. Outra força grande é o consumo na China, que de exportadora de milho, passará para importadora em poucos anos. Cultivar: Em quanto por cento poderá crescer a área plantada no Brasil? Glat: Depende. A última safrinha cresceu em torno de 40% em relação ao ano passado. Ainda precisamos ver o que vai acontecer com o preço do produto no Brasil, para ver como vai ficar. O cenário internacional é sustentável, mas no Brasil nós temos o fator câmbio e, também, precisamos garantir a exportação, porque o nosso mercado interno não absorve tudo
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o que produzimos. Com o câmbio em baixa, o preço pago no exterior não se reflete em aumento de valores aqui dentro. Cultivar: Que momentos na História foram tão significativos como esse? Glat: Não vejo um momento definitivo. Para nós da Pioneer, por exemplo, nos últimos 20 anos, crescemos em 17 deles. O nosso sucesso não é em um ano ou em episódios pontuais, mas sim muita continuidade e consistência. Uma geração de negócios foi acertando o passo para a próxima. A partir de 1985, quando focamos em produtores de alta tecnologia, passamos a oferecer ao mercado produtos diferentes, que possibilitassem aumentar a produção de forma considerável. No início da década de 90, a Pioneer vendia aproximadamente 300 ou 400 sacas de milho, sendo que 90% dessas sementes eram destinadas ao mercado de alta tecnologia, por conta de um produto exclusivo que tínhamos. Na safra do próximo verão, por exemplo, comercializaremos aproximadamente dois milhões de sacas vendidas e teremos em torno de 50% do mercado. O que quero mostrar é o quanto cresceu esse mercado de alta tecnologia, no qual nós apostamos há 20 anos. Cultivar: Quais os principais desafios para o milho? Glat: Hoje sem dúvida é a transgenia. Esse
assunto no Brasil é uma vergonha, estamos muito atrasados. Os principais produtores de milho, EUA, Argentina e China já plantam o milho BT, por exemplo, e nós ainda estamos lutando para aprovar essa tecnologia que beneficia muito a produção e não tem risco. A maior necessidade do mercado de milho hoje é o milho BT e, posteriormente, inserir nessas linhagens a tolerância às principais doenças. Hoje existem linhagens altamente produtivas, mas ainda são suscetíveis a doenças. O que vai diferenciar uma empresa da outra será a genética, isto é, a quantidade de tecnologia embutida numa única semente.
Para Glat, o produtor brasileiro de milho está se profissionalizando cada vez mais, aumentando a produtividade a cada safra
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Coluna Andav
AgroAção inova capacitação de revendas em todo o país
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capacitação profissional é hoje um dos maiores desafios do agronegócio brasileiro. E no canal de distribuição de produtos agrícolas e veterinários não poderia ser diferente. O agravante é que essa falta de informação, na maioria das vezes técnica, tem deixado os funcionários das revendas desqualificados para o atendimento direto ao cliente. E mais: a barreira geográfica é um entrave para qualquer treinamento, sendo apenas possível se as revendas brasileiras disponibilizarem aos seus funcionários o acesso à Internet. Foi estudando este “quebracabeça” educacional que a Andav Associação Nacional dos Distribuidores Agrícolas e Veterinários, desenvolveu o AgroAção. Foram necessários 11 meses de intensa pesquisa para que a solução apresentada contemplasse uma metodologia de fácil entendimento e participação de todos. É claro que, como todo novo paradigma, o sucesso só será dimensionado após sua total implantação, nos próximos meses. Já em junho, o AgroAção estará em pleno funcionamento e disponível para todas as revendas associadas à Andav. Em poucas palavras, AgroAção é um treinamento a distância, que tem como objetivo a capacitação de profissionais das revendas associadas à Andav e espalhadas pelo Brasil. Através de 12 aulas supervisionadas por pedagogos e profissionais especialistas em saúde e qualidade de vida no campo, o projeto fornece aos participantes o conhecimento técnico para diferenciar produtos e fidelizar clientes com respostas a quaisquer dúvidas sobre produtos, legislações, responsabilidade social e vendas. O primeiro tema escolhido para a realização do AgroAção 2007 foi EPI - Equipamento de Proteção Individual e conta com o apoio das empresas Aze-
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redo zbx e Protect EPI e do Selo Quepia - Qualidade de Equipamentos de Proteção Individual na Agricultura um programa desenvolvido pelo IACInstituto Agronômico de Campinas. Isto porque a utilização da vestimen-
“É claro que, como todo novo paradigma, o sucesso só será dimensionado após sua total implantação, nos próximos meses. Já em junho, o AgroAção está em pleno funcionamento e disponível para todas as revendas associadas à Andav”
ta no trabalho rural precisa ser melhor incentivada e o canal de distribuição tem a árdua missão de comercializá-la. Outro fator interessante é que o EPI pode ser uma importante ferramenta de responsabilidade social das revendas, pois o ato de conscientizar o agricultor é a única maneira de assegurar sua saúde e vitalidade para o trabalho no campo. Assim, é justificável pensar em proteger o cliente ao mesmo tempo em que se realiza uma venda consciente. O slogan central desta edição do AgroAção é “venda que protege seu cliente” e todo o treinamento será realizado por intermédio do site www.agroacao. com.br. Após a matrícula de participação gratuita no treinamento AgroAção, os funcionários das revendas devem realizar todos os módulos e testes contidos na aula. Ao serem aprovados, eles recebem um certificado de conclusão e também participarão de sorteios periódicos de prêmios que têm como objetivo estimular os funcionários a colocarem em prática todo o seu aprendizado. Além de o aprendizado possibilitar aos participantes conhecimento e prêmios, o funcionário poderá ajudar a sua revenda a conquistar o Selo AgroAção de Qualificação Profissional que tem como objetivo parabenizar as empresas que treinaram no mínimo 80% de sua equipe de profissionais. Este será o tema de nosso próximo artigo da Revista Cultivar, importante parceira da Andav na disseminação do conhecimento. Para os interessados em conhecer todas as etapas do AgroAção, bem como seus regulamentos de participação, o site www.agroacao.com.br está à disposiC ção. Henrique Mazotini Presidente executivo da Andav
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Agronegócios
Sanidade e nanotecnologia
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s sensores fazem parte do nosso dia-a-dia. São eles que acionam alarmes contra invasões de propriedades ou incêndios. Estão nas estações meteorológicas, nas caixas d´água, nos veículos flex fuel. Existem, também, os sensores biológicos, como o olfato, a audição, a visão, o paladar e o tato. Estamos acostumados a perceber os sensores apenas na macroescala, ou seja, percebemos o odor, mas é necessária muita abstração para imaginar a cadeia de reações químicas deflagradas quando uma molécula se liga aos receptores de odor existentes em nosso nariz. Isso é fundamental para que, ao final do processo, o cérebro acuse qual odor está sendo percebido, por comparação com um banco de dados neuronal, fruto de nossa experiência de vida.
INSPIRAÇÃO Os cientistas que lidam com nanotecnologia inspiram-se neste sistema para criar sensores com uma sensibilidade muito mais aguçada e uma redução no tempo de resposta, antecipando a ocorrência de perigos. Por exemplo, imagine um biosensor que possa detectar uma única partícula de vírus, antes que a multiplicação ocorra e muito antes do surgimento dos sintomas em plantas ou animais. Algumas aplicações dos nanosensores no agronegócio envolvem a detecção de patógenos ou insetos-praga, contaminantes, características do ambiente (claro/escuro, frio/quente, seco/úmido), deficiências minerais, metais pesados, toxinas, alergogênicos ou material particulado. Para tanto, os nanosensores deverão possuir algumas características (além da pequena dimensão) como especificidade, capacidade de quantificação, precisão, reprodutibilidade, robustez, estabilidade e durabilidade.
nicação sem fio, nanochips e biologia molecular, envolvendo conhecimentos de economia, agricultura e biossegurança.
BIOSSENSORES Um exemplo da integração entre nanotecnologia e biotecnologia, para a produção de biossensores é a introdução do gene da luciferase em bactérias. Essa enzima está envolvida com a luminescência dos vaga-lumes, que ocorre pela oxidação da proteína luciferina, na presença do ATP. Os biossensores com luciferina permitem denunciar a presença de substâncias tóxi-
“Um exemplo da integração entre nanotecnologia e biotecnologia, para a produção de biossensores é a introdução do gene da luciferase em bactérias”
PESQUISA BÁSICA Como não é possível investigar tudo ao mesmo tempo, a prioridade é o desenvolvimento de sensores para detecção de patógenos, nutrientes e contaminantes. Os estudos ainda carecem de pesquisa básica, para o perfeito entendimento do funcionamento dos sensores na nanoescala, antes da construção dos primeiros protótipos. Os estudos estão focados nos mecanismos de tomada de amostra e na detecção do patógeno ou identificação da substância. O sistema pretendido é assaz complexo, imiscuindo sistemas microeletromecânicos, comu-
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cas na água ou para bioprospecção de bactérias em alimentos. Como os pesquisadores já identificaram enzimas que fazem com que a luciferina produza diferentes cores (azul, amarelo, verde, vermelho), é possível não apenas denunciar o alimento estragado, como identificar qual patógeno está presente.
DESENVOLVIMENTO Ao tempo em que se elucidada o funcionamento dos sensores, os cientistas já se debruçam sobre outros temas necessários
ao seu desenvolvimento. Por exemplo, formas alternativas para que os nanosensores capturem e retenham o patógeno ou a substância química que seja de seu interesse. Os novos métodos de captura e imobilização se baseiam em técnicas químicas, biológicas ou elétricas. Efetuada a captura, há necessidade de reconhecimento. Para tanto, estão sendo desenvolvidos estudos básicos em nanomateriais, biomimetismo, nanotubos de carbono, polímeros moleculares e biossensores com DNA recombinante. Efetuada a identificação, será necessário enviar um sinal para a “central de controle”. Novos mecanismos de transdução, envolvendo impedância, eletroquímica, sistemas óticos e piezoelétricos, nanocircuitos de DNA e técnicas de fotolitografia de DNA estão sendo desenvolvidos para captar e interpretar os sinais dos sensores.
O FUTURO Ainda nesta década estarão disponíveis as seguintes tecnologias: a) Sensoriamento remoto e permanente de produtos agrícolas, durante a sua produção, adaptados a diversos ambientes; b) Sensores baseados em ácidos nucléicos e métodos para amplificar os sinais de detecção de patógenos ou contaminantes; c) Biossensores para detectar patógenos ou contaminantes tanto na fase de produção (campo), quanto de processamento; d) Biossensores para detectar proteínas associadas a materiais transgênicos;
O QUE ESPERAR PARA PRÓXIMA DÉCADA? a) Biossensores para identificação e controle de patógenos, contaminantes e toxinas, ao longo de toda a cadeia de produção e processamento; b) Sistemas de ação imediata para pronta resposta aos sinais de ataque de pragas ou contaminação; c) Novas ferramentas da medicina veterinária, incluindo diagnóstico preciso e precoce e novas formas de terapia, baseadas na nanoescala. Quando estas tecnologias chegarem na fazenda, certamente o produtor rural coçará a cabeça, tentando imaginar como era C possível produzir sem elas! Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola
Brandalizze Consulting
brandalizze@uol.com.br
Safra colhida, o que fazer de agora em diante? Uma luz no fim do túnel Nestes últimos dias nos têm chegado algumas indagações, mas uma é mais comum e vale uma pequena dissertação. Os produtores têm nos perguntado: a colheita está encerrada e agora, o que fazer? Para tentar dar uma luz ao setor ou mostrar as possibilidades, apontamos para os seguintes pontos: primeiro temos que ver o que realmente ocorreu com a safra, sendo que estamos com um grande volume colhido. A soja está fechando na casa dos 57,5 milhões de t, o milho caminha para os 50 milhões de t, mas parte ainda estava em fase de risco em função do clima que mostrava geada para parte das regiões produtoras. O arroz tem a maior parte das indústrias abastecidas, com 11,2 milhões de t colhidas, o feijão vem com grandes perdas e recuperação das cotações antes das expectativas e o algodão amarga o câmbio baixo que dificulta as exportações. Com uma colheita ao redor de 127 milhões de t, estamos com a maior parte dos armazéns lotados e parte desta safra ainda está para chegar, como é o caso do milho safrinha. Desta forma, a pressão de venda continuará grande e neste mês temos um grande problema ou obstáculo para reação das cotações dos produtos, o vencimento das dívidas dos produtores que em boa parte ocorre neste mês e, assim, continuaremos vendo pressão de venda maior que interesse de compra, porque as indústrias e compradores continuarão com os armazéns lotados. Ou seja, para junho, somente problemas nos EUA podem dar uma luz para soja e milho. Enquanto isso, para o segundo semestre, continuamos com expectativas de que todos estes produtos devam ter crescimento acima das aplicações financeiras, com ajustes médios entre dez e 20% nas cotações do setor agrícola e assim, tenderemos a ver um quadro de alta a partir de agosto e pouco espaço de avanços para o curto prazo. MILHO Exportações perdendo ritmo O mercado do milho no Brasil esteve em marcha lenta em maio em função de que as exportações perderam o ritmo devido à forte queda no dólar, que derrubou as cotações nos portos e, desta forma, inviabilizou muitos fechamentos. Produtores e comerciantes foram obrigados a reclamarem junto ao governo por apoio via PEP de exportação. Os indicativos internos ficaram estabilizados e não mostravam potencial de alta. Somente no final de maio mostravam alerta em função do clima, que apontava geada sobre a safrinha. Mesmo com perdas na safrinha, há pouco espaço para reação no curto prazo porque a safra de verão está em colheita, vindo acima das expectativas e caminha para ser calma em junho, período de quitação de dívidas dos produtores. SOJA Colheita ficou abaixo das expectativas O número final da safra da soja ficou pouco abaixo das expectativas de 58 milhões de t, vindo em 57,5 milhões, mas o que vem comandando o mercado são o clima e a safra nos EUA. A cada problema mostra pressão de alta, como vimos em maio, quando operava acima dos US$ 8,00 por Buschel recuperando a queda ocorrida em abril. Continua com bom potencial porque temos queda na safra dos EUA e também limitação na nova safra do Brasil. Desta forma teremos um segundo semestre com boas expectativas e potencial de alta interna e externa. Ainda há necessidade de pregão de apoio nos estados centrais em função dos custos dos fretes. FEIJÃO Alta antecipada pode estimular irrigado O feijão teve perdas fortes nas lavouras da segunda safra, com seca em março e problemas na colheita em abril, além de chuvas e queda na área plantada. Desta forma, pouco produto está aparecendo e, com isso, as cotações para o produto de melhor qualidade na linha do carioca foram novamente para marca dos R$ 80/ 100. Como não temos boas opções de abastecimento, o número não deverá parar por aí, abrindo espaço para novos avanços e, assim, devendo servir de estímulo para o plantio da terceira safra irrigada, que ainda acontece em junho. A safra das regiões de Ribeira do Pombal e Serri-
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nha, que têm tucano, Adustina e outros municípios da região como produtores deste momento, tiveram clima irregular no começo do plantio e muitos produtores temem, devendo plantar menos neste ano, podendo dar fôlego às cotações nos próximos meses que devem se manter firmes, principalmente para o feijão de boa qualidade, porque o produto inferior normalmente não tem aceitação no mercado. ARROZ Antecipação das opções A comercialização do arroz vem andando em ritmo lento, com os produtores fechando das mãos para boca para caixa de curto prazo e esperando reação. Como o governo realizou vários pregões de opções e também de PEP no Sul, houve pouco espaço para alta. Nos estados centrais as cotações se mantiveram firmes,
mas estáveis, porque o irrigado se manteve em baixa no Sul com potencial bom para meio prazo, mas ainda lento para junho, que terá como melhor opção aos produtores a antecipação dos contratos de opções, que resultaram em maio em R$ 22,45 por saca, com pagamento no final de junho. Com o mercado livre ainda sem fôlego para reação porque a indústria continua travando uma grande batalha no varejo em busca de crescimento na participação e algumas marcas estavam queimando estoques para conseguir se manter, fato este que somente se altera no segundo semestre. A safra é menor que o consumo, mas o câmbio barato favorece a importação do Mercosul, que tem câmbio mais atraente que o nosso e desta forma veremos crescer as importações de agora em diante e reação somente mais adiante. O sequeiro continuará sendo comandado pelos vendedores.
CURTAS E BOAS ARGENTINA - A safra local também está chegando ao final, sendo a melhor da história portenha, com 44 milhões de t de soja e 22,5 milhões de t de milho, que dominam a produção local no verão. Agora com a colheita do feijão em andamento, os vendedores já estão buscando colocar o preto no mercado brasileiro, com indicativos que tenham mais de cem mil t para nos vender e assim limitando avanços por aqui. TRIGO - Continua com mercado internacional aquecido e mesmo com queda no dólar, as cotações praticadas aos produtores estão em alta, mostrando níveis de R$ 510/540 no Paraná, tentando se aproximar dos R$ 500 no RS e superando os R$ 550 em São Paulo e região Central do país, onde o irrigado foi estimulado via insumos. Continua mostrando bom potencial aos produtores e o plantio deve avançar agora de junho em diante. ALGODÃO - O câmbio em queda livre serviu para segurar os negócios no mercado interno, que voltam a ter necessidade dos pregões de apoio do governo, que continuam sendo o lastro para os negócios. A redução na área plantada nos EUA deverá ser um bom fator nos próximos meses para manter as cotações internacionais em alta e favorecer a comercialização tardia no Brasil. Os produtores colhem de agora em diante na Bahia e no Mato Grosso e as primeiras lavouras devem vir para quitar dívidas. CARNES - A volta das exportações das carnes do Brasil para vários países deverá movimentar o setor de insumos para ração no segundo semestre. Espera-se por uma disparada nos embarques destes, criando liquidez para milho e soja no mercado interno. Tanto o setor de frangos como de suínos vêm mostrando níveis históricos de vendas neste primeiro semestre e têm tudo para bater recorde histórico em 2007. Somente nos primeiros quatro meses do ano o setor do frango já faturou mais de US$ 1 bilhão e caminha para superar a marca dos US$ 3 no ano. Boa notícia para todo o setor agrícola. EUA - Estamos entrando na fase crítica para a safra americana, que será neste mês de junho e julho, quando as plantas entram em fase de floração e formação da produção, sendo importante acompanharmos a La Niña que pode nos trazer boas notícias para garantir um segundo semestre positivo e a safra nova 07/08 com grande potencial de lucros.
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