Cultivar 99

Page 1



Cultivar Grandes Culturas • Ano IX • Nº 99 • Agosto 2007 • ISSN - 1516-358X

Nossa capa

Destaques

06

Rogério Inoue

Ciperáceas resistentes Os problemas do uso intensivo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação em arroz

21 Milho em perigo A quimioesterilização como alternativa para barrar adultos da lagarta Spodoptera

Nossos cadernos

24

Fotos de capa

Coberto por fungo

Dirceu Gassen

Como frear os prejuízos causados pelo oídio na cultura do trigo

Charles Echer

26 Guerra à ferrugem A tentativa de conter o avanço da principal doença da soja através do vazio sanitário

NOSSOS TELEFONES: (53) Grupo Cultivar AO de ASSINANTE: Publicações Ltda. • ATENDIMENTO Rua:3028.4013/3028.4015 Nilo Peçanha, 212 Pelotas –• RS 96055 – 410 ASSINATURAS: 3028.4010/3028.4011 • GERAL www.cultivar.inf.br 3028.4013 cultivar@cultivar.inf.br • REDAÇÃO:

3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING:

3028.4004 / 3028.4005

Índice

REDAÇÃO • Editor

Gilvan Dutra Quevedo • Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Diretas

04

3028.4001 Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Resistência de ciperáceas no arroz

06

Números atrasados: R$ 15,00

Herbicidas no controle de angiquinho

10

Assinatura Internacional: US$ 80,00 70,00

O futuro do Clearfield no Brasil

12

COMERCIAL

Nossos Telefones: (53)

Manejo de nematóides em algodão

14

Pedro Batistin

Girassol como opção de lucro

18

Spodoptera no milho

21

Oídio em trigo

24

Guerra à ferrugem da soja

26

• FAX:

• Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Comercial: 3028.2065 / 3028.2066 / 3028.2067

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida

Sedeli Feijó

Gomose em cana-de-açúcar

30

Empresas - FMC lança inseticida

34

Coluna Andav

36

Coluna Agronegócios

37

Mercado Agrícola

38

CIRCULAÇÃO • Gerente

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Dianferson Alves • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas

Algodão

Congresso

Pólo alcoolquímico

Consagrado por reunir os maiores cotonicultores do país e renomados especialistas do setor, a 13ª edição do Clube da Fibra 2007– com realização da FMC Agricultural Products – apresentou entre os dias 26 e 27 de julho, na Bahia, painéis que discutiram o fortalecimento da marca do algodão brasileiro. Entre outros temas tratados estiveram o planejamento de safras futuras, tendências da produção e do mercado brasileiro, a visão da China e da Índia sobre produção, consumo e importação do algodão, oportunidades de mercado e desafios da logística, marketing e branding. Antônio Carlos Zem, diretor-presidente da FMC para a América Latina, destacou a importância do evento para a cotonicultuAntônio Carlos Zem ra brasileira.

De 14 e 17 de setembro de 2007 ocorre em Uberlândia (MG) o VI Congresso Brasileiro do Algodão, evento promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa ). A programação inclui feira de negócios, palestras, mesas redondas e salas especializadas da cadeia produtiva. A previsão é de que cerca de cem expositores nacionais e internacionais apresentem seus produtos e serviços para um público estimado em mais de nove mil pessoas durante os quatro dias.

A Dow e a Crystalsev vão construir o primeiro pólo alcoolquímico integrado do mundo. Será criada uma joint venture que terá produção inicial de 350 mil t/ano de polietileno a partir do etanol obtido da cana-de-açúcar. A joint venture vai unir a expertise da Dow em tecnologia e produção de polietileno e o know-how da Crystalsev na indústria sucroalcooleira. “Estamos felizes em participar desse projeto que diminuirá nossa dependência em combustíveis fósseis, protegendo o meio ambiente para as futuras gerações”, projetou o presidente e CEO da Dow, Andrew Liveris Andrew Liveris.

Glifosato De 15 a 19 de outubro, no auditório da Faculdade de Ciências Agronômicas – Unesp, em Botucatu (SP), ocorre o I Simpósio Internacional sobre Glifosato. O evento contará com a participação de renomados pesquisadores nacionais e internacionais que irão discutir assuntos científicos, técnicos e práticos sobre o produto, tais como: dinâmica da molécula nas plantas, mecanismos de ação, resistência de plantas daninhas, plantas transgênicas, efeitos de subdoses, entre outros. Outras informações pelo site www.glifosate.com.br

Fórum de soja Nos dias 31 de julho e 1o de agosto foi realizada em Campo Grande (MS), a 29ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. O evento ocorreu na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp) e reuniu aproximadamente 300 pesquisadores, profissionais da assistência técnica e outros representantes da cadeia produtiva da cultura. Além das palestras e dos relatos sobre a safra 2006/07 foram apresentados os resultados das discussões das comissões técnicas nas diferentes áreas que atualizam a publicação Tecnologias de Produção de Soja, editada anualmente pela Embrapa Soja.

Canasul 2007 O site do 1º Congresso de Tecnologia na Cadeia Produtiva da Cana-deaçúcar em Mato Grosso do Sul já está no ar e, as inscrições para o evento que ocorre entre os dias 27 e 29 de agosto, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camilo, em Campo Grande, já podem ser feitas. O encontro reunirá empresários, produtores rurais e outros segmentos da sociedade que estão em busca de novidades tecnológicas e oportunidades de novos negócios. Informações: http:// www.opeceventos.com.br/canasul

Ampliação de negócios A Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) quer ampliar os negócios com a Milenia Agrociências. Segundo o diretor de agronegócios da Bolsa de Mercadorias e Futuros BM&F, Ivan Wedekin, a Milenia implantou um mecanismo de troca de produtos agrícolas por insumos com os produtores, onde já no momento da aquisição dos insumos, é definida a quantidade de sacas que terá que pagar à empresa no final da safra. Segundo o diretor de Planejamento da Milenia, Luiz Traldi, o sistema de trocas vem sendo usado há cinco anos pela Luiz Tradi e Ivan Wedekin empresa e os resultados são excelentes.

04

Zoneamento para Soja A coordenação-geral de zoneamento agropecuário, do Mapa, publicou no Diário Oficial da União (DOU) doze portarias que aprovam o zoneamento para a soja em 11 estados e no Distrito Federal. Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Santa Catarina tiveram a totalidade dos municípios considerados aptos ao cultivo. Informações adicionais pelo site (www.agricultura.gov.br), no item zoneamento agrícola.

Seminário Milho Safrinha Entre os dias 26 e 28 de novembro ocorrerá em Dourados (MS), o IX Seminário Nacional de Milho Safrinha. Entre os temas estão: armazenamento e logística, melhoramento genético, sistemas de cultivo e fitossanidade. Informações www.cpao.embrapa.br/milhosafrinha

Híbridos campeões Na 5ª Vitrine Tecnológica da Cultura do Milho, realizada em junho pela Embrapa Milho e Sorgo e Emater (MG), em Sete Lagoas, a Dekalb foi destaque em híbridos de milho de alta produtividade. O concurso comparou o desempenho de 28 materiais de sete marcas, sendo o vencedor o DKB 390, que atingiu 11.411 quilos por hectare, conquistando o seu quarto prêmio nas cinco edições do evento. Já na categoria silagem, a vitória foi do híbrido DKB 466.

Campanha Opera A Basf lança nova campanha para o fungicida Opera. “O Mundo de Opera” ressalta as vantagens do produto lançado em 2002, com ênfase a aspectos da segurança do agricultor, proteção da lavoura contra as principais doenças da soja e ganhos adicionais proporcionados pelos efeitos fisiológicos positivos (benefícios AgCelence) do defensivo. “Nosso desafio é comunicar com clareza as soluções da Basf para ajudar os agricultores a serem cada vez mais bem-sucedidos”, ressalta Roberto Araújo, gerente de propaganda e promoção Roberto Araújo de produtos para agricultura.

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007



Arroz

Resistência inimiga As ciperáceas, distribuídas por todas as regiões orizícolas, além de elevadas perdas causadas à produção têm apresentado seleção de espécies resistentes a herbicidas. O problema se deve ao uso intensivo de defensivos com o mesmo mecanismo de ação Charles Echer

A

s espécies pertencentes ao gênero Cyperus incluem-se entre as principais plantas daninhas que infestam as lavouras de arroz irrigado, sendo responsáveis pela redução do potencial produtivo do cereal. Sua presença ocasiona perdas à cultura pela competição por recursos abióticos, hospedagem de pragas, acamamento de plantas, dificuldade de colheita, depreciação da qualidade do produto, aumento do custo de produção e diminuição do valor comercial das áreas cultivadas. As espécies de Cyperus se encontram distribuídas por todas as regiões orizícolas do estado do Rio Grande do Sul, e causam perdas variáveis na produção em função da espécie e da população presentes na área. A distribuição e freqüência das espécies são distintas entre as regiões produtoras de arroz do RS. As espécies de maior ocorrência na região da Fronteira Oeste são C. esculentus, C. ferax e C. iria; na Depressão Central: C. ferax e C. iria; na Campanha e Planície Costeira Externa à Lagoa dos Patos: C. esculentus e C. ferax; na Planície Costeira Interna à Lagoa dos Patos: C. difformis e C. iria; e, na região Sul: C. esculentus e C. fe-

06

rax. O controle destas espécies pode ser preventivo, impedindo a inclusão de novas sementes/tubérculos ao banco de propágulos do solo; cultural, como a utilização de espaçamento, população, época de semeadura e cultivares adequadas que favoreçam o estabelecimento da cultura; mecânico, através da remoção das plantas por arranquio ou Figura 1 - Principais espécies de ciperáceas que ocorrem em lavoura de arroz irrigado

cultivação; físico, pelo uso da água como barreira à emergência de novos fluxos de plantas; e, químico, pelo uso de herbicidas. Dentre os métodos de controle, a utilização de herbicidas se apresenta como o de maior uso em função principalmente da eficácia e Tabela 1 - Herbicidas registrados para o controle de ciperáceas na cultura do arroz irrigado Mecanismo de ação Inibidores de ALS1

Inibidores de PROTOX2 Inibidores do crescimento

Inibidores do fotossistema II Mimetizadores de auxinas Inibidores do fotossistema II + inibidores do crescimento Inibidores do fotossistema II + mimetizadores de auxinas

Ingrediente ativo Azimsulfuron Bispyribac-sodium Cyclosulfamuron Ethoxysulfuron Imazethapyr + imazapic Penoxsulam Pyrazosulfuron-ethyl Oxyfluorfen Molinate Thiobencarb Bentazon Propanil 2,4 –D Propanil + molinate Propanil + thiobencarb Propanil + triclopyr Propanil + 2,4–D

Adaptado de Recomendações Técnicas, 2005 e Agrofit, 2007.

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007



Fotos Charles Echer

08

O controle de Cyperus em pós-emergência é recomendado quando as plantas se encontrarem com até quatro folhas

Herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), são o principal grupo utilizado na cultura do arroz irrigado para controle de ciperáceas

uniformidade de controle das espécies presentes na área e da possibilidade de remoção das plantas daninhas em curto período de tempo, mesmo em grandes extensões de área. Atualmente, encontram-se disponíveis para o controle de ciperáceas 12 ingredientes ativos e cinco misturas formuladas (Tabela 1). O controle em pós-emergência é recomendado quando as ciperáceas se encontrarem com até quatro folhas, pois neste estádio as plantas são mais sensíveis à ação dos herbicidas. Nas últimas décadas se verificou aumento na utilização de herbicidas na lavoura de arroz irrigado. No entanto, o uso intenso de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação tem selecionado espécies resistentes. Os herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), também conhecida como acetohidroxiacido sintase (AHAS) constituem o principal grupo utilizado na cultura do arroz irrigado para controle de ciperáceas, apresentando elevada eficiência e seletividade com a utilização de baixas doses. Atuam na rota da síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina. Os herbicidas que atuam nesta rota pertencem ao grupo químico das sulfoniluréias, imidazolinonas, sulfonanilidas e pyrimidil-benzoatos. O primeiro registro de resistência de ciperáceas aos inibidores de ALS no Brasil, ocorreu para Cyperus. Difformis, no ano 2000, no estado de Santa Catarina (Noldin et al., 2002). A resistência aos herbicidas é resultado da seleção de biótipos com características que possibilitem a sobrevivência da planta após a aplicação do herbicida que, em condições normais, controlam os integrantes da

população. Uma planta é sensível a um herbicida quando o seu crescimento e desenvolvimento são alterados pela ação do produto. Já, a tolerância de uma planta a um herbicida é a capacidade inata de algumas espécies em sobreviver e se reproduzir após o tratamento herbicida, mesmo sofrendo injúrias (Vargas et al., 1999). A evolução da resistência em uma área depende da pressão de seleção, da variabilidade genética das plantas, dos genes envolvidos para resistência e do fluxo gênico no ambiente. O fluxo gênico, mediado pela dispersão de pólen, depende do movimento do pólen da planta resistente até a sensível e

posterior formação de sementes viáveis. A transferência do pólen entre plantas resistentes e sensíveis permite a dispersão da resistência principalmente em plantas com alta taxa de fecundação cruzada. Uma vez o problema da resistência estabelecido, este assume grande importância em função do limitado ou inexistente número de herbicidas alternativos para serem usados no controle dos biótipos resistentes. Assim, medidas preventivas devem ser adotadas para atrasar o desenvolvimento da resistência de plantas daninhas a herbicidas. Dentre as medidas se destacam: realizar rotação de cultura, prática que permite a rotação de herbicidas na área; aplicação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, reduzindo a pressão de seleção; associação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação ou aplicações seqüenciais dos mesmos; acompanhar possíveis alterações na área e, em caso de detecção de plantas-escape, isolar a área e eliminar as plantas antes que produzam semente; e, integrar as técnicas de manejo de plantas daninhas, ou seja, utilizar o manejo integrado de plantas daninhas (MIPD). Cabe ressaltar, que após a ocorrência de biótipo resistente em determinada área, sua erradicação torna-se economicamente inviável, restando apenas a opção de manejá-lo evitando a sua multiplicação e disC seminação. Taísa Dal Magro e Dirceu Agostinetto, UFPel

ESPÉCIES E FORMAS DE DISSEMINAÇÃO

A

s principais espécies de Cyperus presentes em lavouras de arroz irrigado são difformis, esculentus, ferax e iria (Figura 1). O C. difformis (junquinho ou tiririca) apresenta ciclo de desenvolvimento anual, se reproduz por sementes e produz grande quantidade de sementes de tamanho pequeno o que facilita sua dispersão. C. esculentus (tiririca-amarela) se caracteriza por ser uma espécie perene com reprodução por sementes e principalmente por tubérculos, o que dificulta seu controle e aumenta sua multiplicação. A espécie C. ferax (junquinho) é uma planta anual, porém em ambientes quentes pode se comportar como perene, se reproduz por sementes, sendo bastante competitiva na fase inicial de desenvolvimento da cultura. C. iria

(junquinho, tiririca) é uma espécie anual, se reproduz por semente e apresenta rápido desenvolvimento inicial (kKissmann & Groth, 1999). Outra espécie de ciperácea que apresenta relatos de ocorrência na lavoura orizícola e merece destaque devido à capacidade de competição, bem como pela dificuldade de controle e/ou erradicação é C. rotundus (tiririca). Esta é considerada a planta daninha mais importante no mundo, em decorrência de sua ampla distribuição, ser de ciclo perene e multiplicação principalmente por tubérculos e bulbos subterrâneos, sendo a reprodução por sementes pouco significativa, C pois menos de 5% das sementes formadas são viáveis (kKissmann & Groth, 1999).

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007



Arroz

Dennis Girard

Múltiplos danos DESCRIÇÃO BIOLÓGICA

D

entre as espécies de angiquinho que infestam as lavouras de arroz no RS destacam-se o A. denticulata e A. indica. A espécie A. denticulata se caracteriza por apresentar folhas pecioladas com 10-15 mm de comprimento, limbo composto e serrilhado, inflorescência com racemos axilares e apresentando uma ou mais flores. Já, A. indica se distingue por apresentar folhas alternadas, face ventral com minúsculas pontuações e inflorescências com margens inteiras, raramente com um dente próximo do ápice. Ambas as espécies são anuais e se reproduzirem unicamente por sementes.

10

Experimento avalia o desempenho dos herbicidas ethoxysulfuron e imazethapyr no controle de angiquinho, planta daninha que além de comprometer a produtividade pode dificultar a colheita e depreciar o valor comercial do grão na industrialização

D

iversos são os impedimentos à produtividade potencial da lavoura orizícola, destacando-se a ocorrência de plantas daninhas. As espécies do gênero Aeschynomene (angiquinho) estão entre as mais importantes, comprometendo a produtividade da cultura caso não sejam adequadamente controladas. A competição de duas a 18 plantas por m 2 de angiquinho reduziu em 13,5 e 34,7% a produção de arroz, respectivamente (Menezes et al., 2001). Além disso, sua presença pode

dificultar a colheita e depreciar o valor comercial do grão na industrialização. O cultivo de genótipos de arroz tolerantes a herbicidas do grupo das imidazolinonas tem permitido a obtenção do controle eficiente de arroz-vermelho. Porém, tem-se observado dificuldade para controle de biótipos de angiquinho pela aplicação de alguns produtos. Assim, o objetivo da pesquisa foi avaliar a eficiência do controle de angiquinho pelos herbicidas imazethapyr e/ou ethoxysulfuron.

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


Lorenzi e Linda Lee

PRODUÇÃO NO BRASIL

A

produção média anual de arroz no Brasil, na última década, foi de aproximadamente 11 milhões de toneladas, ocupando área média de 3,5 milhões de há/ano, com produtividade de 3,2 t/ha. O Estado do Rio Grande do Sul (RS) contribuiu no mencionado período com cerca de 48% da produção e com 27% da área cultivada no país, equivalendo a 1,1 milhão de há/ano. A produtividade média de grãos, obtida na última década no RS, foi de 5,5 t/ha, quase o dobro da média nacional (Conab, 2007).

O experimento foi instalado em casa de vegetação na Universidade Federal de Pelotas, Capão do Leão (RS), no ano 2007. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro repetições. Cada unidade experimental foi composta por balde com capacidade de nove litros, onde foram estabelecidas dez plantas de angiquinho. Os tratamentos utilizados encontramse descritos na Tabela 1. Para a aspersão dos tratamentos herbicidas utilizou-se pulverizador costal pressurizado a CO 2, equipado com quatro bicos 110.02 e calibrado à pressão de 20 lb pol-2, o que proporcionou a aplicação de um volume de calda com 150 l/ha. No momento da aplicação as plantas de angiquinho encontravam-se em estádio de 2-4 folhas. A irrigação por inundação foi realizada um dia após a aplicação dos tratamentos (DAT). O efeito dos herbicidas sobre as plantas daninhas foi determinado pelo método qualitativo, sendo caracterizado por avaliações visuais, baseadas em escala percentual, utilizando-se como padrão a testemunha sem aplicação de herbicidas, que correspondeu a nenhum controle (zero %). As avaliações de controle foram realizadas aos 7, 14, 21 e 28 DAT. A coleta das plantas de angiquinho para a determinação da massa da matéria seca foi realizada aos 28 DAT, sendo coletadas oito plantas por unidade experimental e posteriormente levadas à estufa com circulação forçada de ar a 60 °C por cinco dias até massa constante. As eficiências de controle e de produção da massa da matéria seca do an-

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007

A competição de 2 a 18 plantas por m2 de angiquinho pode reduzir em quase 35% a produção de arroz

giquinho foram submetidas à análise da variância e, sendo significativa a comparação das médias, foi efetuada pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. As aplicações de ethoxysulfuron isolado ou em mistura com imazethapyr apresentaram-se eficientes no controle de angiquinho e, em geral, não diferiram entre si, porém demonstraram maior eficiência do que imazethapyr aplicado isoladamente, em todas as avaliações realizadas (Tabela 2). Nas duas últimas avaliações a aplicação de ethoxysulfuron isolado ou em mistura com imazethapyr apresentou controle superior a 90%, valor considerado como controle eficiente (Sosbai, 2005), enquanto que para a aplicação isolada de imazethapyr verificou-se controle médio de 47%. A produção de massa da matéria seca de angiquinho foi reduzida pela aplicação isolada de ethoxysulfuron ou na

mistura com imazethapyr, quando comparada à testemunha ou a aplicação isolada de imazethapyr (Tabela 2). Na média dos tratamentos com ethoxysulfuron, a massa da matéria seca foi reduzida em cerca de 16 e nove vezes, respectivamente, em relação à testemunha e à aplicação isolada de imazethapyr. Os resultados permitem concluir que a aplicação de ethoxysulfuron isolado (125 g/ha) ou em mistura com imazethapyr, mesmo na menor dose (75 + 75 g/ha), apresenta controle eficiente de C angiquinho. Luís E. Panozzo e Dirceu Agostinetto, UFPel Tabela 1 - Herbicidas avaliados para controle de angiquinho em casa de vegetação. Faem/UFPel, Capão do Leão (RS), 2007 Tratamentos Dose (g/ha) Testemunha Imazethapyr 75 Ethoxysulfuron 125 Imazethapyr+Ethoxysulfuron 75 + 125 Imazethapyr+Ethoxysulfuron 75 + 100 Imazethapyr+Ethoxysulfuron 75 + 75

Adjuvante (v/v) Hoefix 0,5% Hoefix 0,5% Hoefix 0,5% Hoefix 0,5%

Tabela 2 - Controle e massa da matéria seca de angiquinho em função da aplicação de ethoxysulfuron e/ou imazethapyr. Faem/UFPel, Capão do Leão (RS), 2007 Tratamentos Testemunha Imazethapyr Ethoxysulfuron Imazethapyr+Ethoxysulfuron Imazethapyr+Ethoxysulfuron Imazethapyr+Ethoxysulfuron C.V. (%) 1

Dose (g/ha) 75 125 75+125 75+100 75+75

7 DAT1 0,0 c2 38,8 b 73,3 a 71,7 a 75,8 a 70,5 a 8,06

Controle (%) 14 DAT 21 DAT 0,0 d 0,0 d 54,8 c 52,3 c 85,8 b 96,0 ab 95,3 a 97,5 a 95,0 a 96,8 ab 92,5 a 94,0 b 3,26 1,96

28 DAT 0,0 c 42,0 b 96,5 a 98,5 a 98,5 a 96,5 a 2,02

Massa seca (g) 5,33 a 3,13 b 0,43 c 0,33 c 0,30 c 0,28 c 30,00

Dias após a aplicação dos tratamentos; 2 Médias com letras idênticas na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p?0,05).

11


A

Basf anunciou no último dia 16 de julho que, a partir da safra 2007/08, não serão mais renovados os contratos de licenciamento da tecnologia Clearfield na cultura do arroz no Brasil. Com a decisão, a empresa suspenderá todos os investimentos previstos para o desenvolvimento de novas variedades desse sistema no mercado brasileiro. O uso indiscriminado da tecnologia Clearfield de forma não-autorizada e os processos judiciais em curso, movidos contra a Basf em março deste ano por um grupo de engenhos, cooperativas e outros participantes da cadeia arrozeira, que não concordam com a cobrança de indenizações pelo uso não-autorizado do sistema são as justificativas da empresa para a suspensão. Em entrevista exclusiva à Cultivar, Gustavo Portis, gerente de novos modelos de negócios de produtos para agricultura da Basf, esclarece como vão se dar na prática os efeitos da interrupção dos contratos e do investimento na tecnologia no Brasil. Cultivar: Com a suspensão do contrato de licenciamento da tecnologia, o que acontecerá com as sementes da variedade Irga 422 CL e do híbrido Tuno CL já estocadas ou aguardando a comercialização para a safra que se aproxima? Gustavo Portis: O anúncio da Basf é de que a partir da safra 2007/08 não serão mais renovados os contratos de licenciamento de sua tecnologia Clearfield na cultura do arroz no Brasil para as parceiras de produção de “variedades” e não de híbridos. Sendo assim, Tuno CL e outros híbridos em desenvolvimento pela Rice Tec não estão inclusos nesta decisão. Com relação às sementes estocadas já produzidas na safra passada, elas poderão ser comercializadas normalmente na safra 2007/08 pelos reprodutores de sementes licenciados. Cultivar: O Irga poderá comercializar essas sementes? GP: Os reprodutores da variedade IRGA 422 CL, ligados ao Irga, que tenham assinado o contrato de Licenciamento de

12

Propriedade Intelectual e uso da logomarca com a Basf têm o direito de comercializar o seu estoque de semente para esta safra 2007/08. Cultivar: Qual será o procedimento da Basf em relação aos produtores que utilizaram corretamente a tecnologia até o momento e pagaram royalties? GP: A Basf continua oferecendo o herbicida Only como também dará o apoio técnico necessário para aqueles que tenham adquirido as sementes certificadas e o herbicida. Basf

Empresas

Contrato cancelado

Gustavo Portis esclarece os aspectos práticos da não-renovação de contratos de licenciamento da tecnologia Clearfield no Brasil

Cultivar: Haverá fiscalização em busca de lavouras plantadas de forma irregular? GP: A Basf continua com o processo de negociação com o setor, como sempre esteve disposta, para implementar o modelo de cobrança de indenização pelo uso não-autorizado da tecnologia Clearfield. A Basf está tomando as medidas legais cabíveis contra diversos infratores para exigir que seus direitos de Propriedade Intelectual sejam respeitados pelo uso não-autorizado do Sistema de produção Clearfield

Enquanto espera decisão da Justiça, Basf cancela contratos de licenciamento da tecnologia Clearfield para arroz no Brasil Arroz. A Basf está confiante de que a decisão judicial será a seu favor. Cultivar: Haverá fiscalização sobre os multiplicadores? GP: A Secretaria de Agricultura do Estado tem a responsabilidade da fiscalização da produção de sementes certificadas, a Basf irá monitorar o mercado para que a comercialização da tecnologia Clearfield seja de forma legal. Cultivar: No caso do híbrido, é possível reproduzir e guardar sementes? GP: Até o momento a única empresa que está produzindo híbridos Clearfield é a Rice Tec, e normalmente, não é viável guardar o arroz produzido de híbridos para o uso como semente, acarretaria uma perda muito grande de produtividade ao se plantar “filhos” de híbridos. Cultivar: Contratos sobre desenvolvimento e investimentos em tecnologias como Sistema Clearfield Milho no Brasil sofrerão alguma alteração? GP: Os contratos, licenciamentos, investimentos relativos ao Sistema de Produção Clearfield em milho continuam de forma normal. Cultivar: Haverá alguma alteração no posicionamento do Only, com a suspensão da tecnologia Clearfield? GP: Não, a Basf mantém o posicionamento do herbicida Only e continua oferecendo o apoio necessário para o uso correto do Only, bem como do Sistema de Produção Clearfield em Arroz. É importante ressaltar que além do herbicida Only o Sistema é composto por semente certificada e o programa de monitoramento nas lavouras. Ele é considerado o único sustentável no longo prazo somente se os produtores o utilizarem corretamente. Caso esta tecnologia exclusiva não seja utilizada da forma recomendada, pode vir a perder sua eficácia. Desde o lançamento do Sistema de Produção Clearfield Arroz, a Basf tem ratificado seu compromisso com toda a cadeia arrozeira, bem como com a agricultura brasileira e a sociedade e continua a oferecer o produto Only no mercado. C

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007



Algodão

Terror das raízes Diante dos danos causados por nematóides em lavouras de algodão e da dificuldade de eliminar a praga, a regra básica para o manejo é interromper ou diminuir a sua dispersão. Para isso, as medidas são baseadas em controle químico, uso de cultivares resistentes e rotação de culturas

O

s nematóides constituem importante grupo de patógenos do algodoeiro e as perdas que lhes são atribuídas têm sido causa de crescente preocupação entre os produtores do Brasil, podendo chegar a 20% ou mesmo 50% nas áreas mais infestadas. Das três espécies tidas como patógenos do algodoeiro, o nematóide das lesões radiculares, Pratylenchus brachyurus, é o de ocorrência mais comum no Brasil. O nematóide das galhas, Meloidogyne incognita, e o nematóide reniforme, Rotylenchulus reniformis, as outras duas espécies importantes para a cultura, causam grandes perdas às lavouras de algodão em São Paulo e Paraná desde o final da década de 1950. No Mato Grosso, o nematóide mais comum em algodoais é o das lesões, mas a importância do nematóide das

14

galhas e do reniforme tem crescido acentuadamente. No Mato Grosso do Sul, Bahia e Goiás, M. incognita tem causado grandes perdas em áreas com solos arenosos e R. reniformis em áreas de solo médio-argiloso, sil-

toso ou argiloso, mas P. brachyurus é coadjuvante importante nos três estados. Geralmente, predominam baixas densidades populacionais de P. brachyurus no campo, com perdas chegando a cerca de 10%. Somente quan-

Detalhes de Pratylenchus brachyurus, nematóide das lesões radiculares, de ocorrência comum no Brasil

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


Fotos Charles Echer

Manter a lavoura livre dos danos provocados por nematóides exige medidas criteriosas

do muitas raízes apresentam escurecimento é detectada redução no desenvolvimento das plantas, indicando elevada tolerância do algodoeiro a esse nematóide. Porém, em áreas

irrigadas de algodão, situação na qual ocorrem populações acima de 600 nematóides por grama de raízes, acredita-se que P. brachyurus seja responsável por perdas de produção. Quando ocorre a associação desse nematóide com R. reniformis ou M. incognita, o controle desses parasitas, seja por resistência varietal ou rotação de culturas, torna-se mais difícil e complexo; isso porque, para P. brachyurus, não se conhece fontes de resistência até o momento, diferentemente das outras duas espécies, e também devido ao fato de várias plantas cultivadas não hospedeiras ou resistentes a R. reniformis e M. incognita serem suscetíveis a P. brachyurus. Além disso, devido ao grande número de plantas hospedeiras, entre elas milho e soja, que são importantes para os sistemas de produção de grãos nos estados produtores de algodão, e que fazem parte do programa de rotação e/ ou sucessão de culturas com o algodoeiro, as populações observadas em campo podem chegar a níveis suficientemente altos para que os danos observados em casa de vegetação sejam reproduzidos. A regra básica para o manejo de nematóides na cultura do algodoeiro é interrom-

per ou diminuir a sua dispersão. Provavelmente M. incognita foi levado às diferentes regiões do país por meio de mudas de cafeeiro, frutíferas e ornamentais, ou ainda tubérculos de batata (batata-semente). Atualmente, o transporte por meio de solo aderente a implementos agrícolas é de grande importância não só para o nematóide das galhas, mas também para o reniforme. Não é incomum produtores que possuem várias fazendas, sendo uma delas infestada, terminarem com todas na mesma situação por causa de seus implementos. Uma vez infestada a área, é necessária a adoção de uma série de medidas, que devem atuar de forma integrada, para a diminuição da população do(s) nematóide(s) presente(s) na área e possível convivência com o problema. As opções para o manejo de nematóides em algodoeiro são baseadas em três métodos: químico (nematicidas), genético (cultivares resistentes) e cultural (rotação com culturas resistentes). O controle desses patógenos, ou seja, a eliminação deles da área infestada, tem-se mostrado difícil, comple-


Quando se utiliza plantas não hospedeiras para manejo de nematóides, estas devem ser mantidas na área até que a população da praga seja reduzida

xo, fato que tem contribuído para aumentar o interesse pela busca de métodos alternativos ao químico, a exemplo do uso da adubação verde. Além disso, a adoção em larga escala do sistema plantio direto e/ou cultivo mínimo, e da integração lavoura-pecuária, têm favorecido o aumento dos problemas com nematóides em muitas culturas de interesse econômico, como da soja, do milho, ou mesmo do algodoeiro. Em algodoeiro irrigado, como na região do oeste da Bahia, onde as espécies de nematóides mais daninhas são M. incognita e P. brachyurus, uma opção para o manejo de ambas seria a implantação da rotação com Crotalaria spectabilis, mas esta apresenta restrições econômicas (ausência de renda durante um ciclo) e de manejo (no controle das ervas daninhas). Outras possíveis opções de coberturas vegetais para o sistema plantio direto ou cultivo mínimo seriam cultivares de nabo forrageiro e de amaranto definidas como resistentes a ambos os nematóides em estudos realizados pela Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS) e supervisionados pelo doutor Guilherme Asmus e na Esalq/USP, em Piracicaba (SP), liderados pelos professores Mário Inomoto e Luiz Carlos Ferraz e pela doutora Andressa Macha-

16

do. Entretanto, há pesquisas dando conta de que o nabo forrageiro pode ter efeito alelopático sobre o algodoeiro cultivado logo após, tornando-o, assim, inadequado para emprego. Plantas consideradas hospedeiras pouco favoráveis a P. brachyurus são: Brachiaria humidicola, guandu anão cv. Iapar 43, aveiapreta, segundo pesquisa da Esalq/USP. Para o nematóide das galhas, a cultura mais indicada é o amendoim, apesar de suscetível ao nematóide das lesões. Outras opções são mamona, Panicum maximum, Brachiaria brizantha, B. decumbens, B. humidicola e sorgo BR 601 (sorgo para silagem). Nesse caso, as plantas não hospedeiras devem ser mantidas na área até a população do nematóide das galhas cair para dez nematóides por 200 cm³ de solo. É importante conhecer também a lista de plantas a serem evitadas: milho, sorgo granífero, girassol, soja, caupi, milheto e capim pé-de-galinha (Eleusine coracana). As aveias também devem ser evitadas, pois, embora algumas aveias-brancas sejam resistentes, a maioria das utilizadas como coberturas vegetais, principalmente as aveias-pretas, mostra certa suscetibilidade a M. incognita.

Já no Mato Grosso do Sul, R. reniformis tem causado as maiores perdas, no geral ocorrendo associado a P. brachyurus, sendo a rotação com culturas resistentes a principal maneira de controle. Novamente, C. spectabilis, juntamente com C. breviflora seria boa opção, por serem resistentes às duas espécies de nematóides, mas as limitações já citadas para a C. spectabilis têm restringido o uso de ambas em larga escala. No caso das culturas que atuam como coberturas vegetais no sistema de plantio direto nesse estado, a maioria é resistente a R. reniformis, como milheto, sorgo, nabo forrageiro, aveias, centeio, braquiárias, capim pé-de-galinha etc., embora haja algumas suscetíveis, como amaranto granífero e quinoa, segundo pesquisas realizadas na Embrapa Agropecuária Oeste. A limitação ao uso delas em rotação com o algodoeiro para fins de controle está na elevada capacidade de sobrevivência desse nematóide no solo, sendo necessários pelo menos dois anos de cultivo para que ocorra adequada redução de sua densidade populacional, condição que desagrada aos produtores. Opções econômicas para o manejo do nematóide reniforme são o milho (qualquer cultivar ou híbrido) e as cultivares de soja resistentes (Monsoy 8001, Coodetec 201, Pintado e Tucunaré). Trabalho recente desenvolvido pela Embrapa Agropecuária Oeste demonstrou que capim-mulato (Brachiaria brizantha x B. ruziziensis) e sorgo forrageiro, utilizados como culturas de sucessão no período de ou-

CONTROLE QUÍMICO

E

m relação ao uso de nematicidas no Brasil, sua eficiência tem se mostrado muito variável. Em áreas tratadas com nematicidas, é comum verificar-se incremento de produtividade do algodoeiro, normalmente 20 a 30 arrobas de algodão em caroço, que depende, entre outros fatores, da textura do solo e do regime de chuvas do local. Outra questão da maior importância é a realização de uma análise econômica para verificação da viabilidade do uso dos produtos químicos, cujo custo por hectare varia na faixa de 250 a 350 reais. Por fim, é importante destacar os cuidados ambientais que devem ser tomados com o uso desses produtos, principalmente os de elevada solubilidade; nesse caso, é preciso respeitar distância mínima de cem metros em relação a coleções de água potável.

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


Fotos Charles Echer

tono-inverno, reduziram a população do nematóide. Em áreas de cultivo contínuo de algodão, onde se executa o controle de tráfego de máquinas, pode-se, ainda, efetuar o plantio de linhas alternadas daquelas do ano anterior, o que contribui para o aumento de produção de algodão em áreas infestadas com R. reniformis. Vale lembrar que, em áreas onde ocorram tanto R. reniformis quanto P. brachyurus, a lista de culturas que poderiam ser utilizadas fica ainda mais restrita, incluindo principalmente o nabo forrageiro, as aveiaspretas e certas cultivares de milheto, como BN-2, que mostraram reação de resistência. Nem sempre uma cultura resistente a uma determinada espécie de nematóide é também a outras; por isso, nas infestações mistas, tão freqüentes em lavouras de algodão, o problema do controle fica agravado. Em outros estados produtores, como Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Paraná, são comuns as misturas de P. brachyurus com M. incognita ou com R. reniformis, dependendo da região e do tipo de solo. Nessa situação, a seleção de uma cultura resistente aos dois nematóides presentes na área é difícil, caso se pense em retorno econômico. Geralmente, opta-se pelo controle de M. incognita ou de R. reniformis, por causarem danos mais visíveis e perdas mais acentuadas ao algodoeiro do que P. brachyurus; isso é feito plantando-se amendoim ou cultivares de milho ou soja resistentes a esses nematóides. Contudo, essas culturas são sabidamente suscetíveis a P. brachyurus e irão causar aumento significativo em seus níveis populacionais em poucos anos, persistindo assim os problemas com nematóides no local. Um método de manejo considerado ideal, por não implicar em riscos ambientais e ser de baixo custo aos produtores, é

Divulgação

Custos com o uso de produtos químicos no controle de nematóides variam na faixa de 250 a 350 reais/ha tratado, cuja eficiência também é bastante variável

Esforços são necessários para a obtenção de cultivares que aliem resistência aos nematóides e elevada produtividade, enfatiza Andressa

o uso de cultivares resistentes. No Brasil, estão disponíveis cultivares com resistência moderada a M. incognita, como IAC 24, Coodetec 405, BRS Aroeira e BRS Sucupira. A principal limitação ao seu uso é que são menos produtivas que as suscetíveis, como Delta Opal ou Fibermax 966. Por isso, são recomendadas para pequenos e médios produtores (com menos de 200 hectares). Nenhuma das cultivares utilizadas atualmente no Brasil apresenta níveis aceitáveis de resistência a R. reniformis, embora haja grande diferença entre as cultivares em termos de tolerância, como mostrado pelos trabalhos desenvolvidos na Embrapa Agropecuária Oeste. Além disso, essas cultivares também não apresentam resistência ao nematóide das lesões, segundo os resultados de pesquisa desenvolvida na Esalq/USP.

Na presente situação, o controle de nematóides na cultura do algodoeiro torna-se bastante difícil. Há a necessidade de maiores esforços para a obtenção de cultivares que aliem resistência aos nematóides e elevada produtividade. Se duas ou mais espécies ocorrerem simultaneamente na área, o manejo torna-se ainda mais complicado. Muitas vezes, a opção de controle adotada para uma espécie acaba favorecendo o desenvolvimento de outra, também presente na área. Portanto, os métodos de manejo ora apresentados, para que se tornem de fato úteis, devem ser inseridos num contexto mais abrangente e aplicados com o C maior critério possível. Andressa Cristina Z. Machado, Instituto Biológico


Girassol

Opção de lucro Com o advento do biodiesel, o girassol, além do uso na alimentação humana e animal, desponta como alternativa para a produção de biocombustíveis, não só pelo teor de óleo nos grãos e qualidade nutricional, como pela possibilidade de cultivo nas principais regiões agrícolas do país. As estimativas apontam que a área plantada no Brasil pode chegar de 200 a 300 mil hectares na próxima safra

O

girassol (Helianthus annuus L.) é uma planta cultivada nos cinco continentes, com grande importância na economia mundial. Figura, juntamente com o dendê, a soja e a canola, como uma das mais importantes culturas produtoras de óleo do mundo. No Brasil, vem despertando atualmente, grande interesse nas principais regiões agrícolas em função da grande adaptabilidade do girassol, desenvolvendo-se bem na maioria dos solos agricultáveis. Como se adapta em diversas condições edafoclimáticas, pode ser cultivado em praticamente todo o território nacional. Atualmente, ele é cultivado comercialmente principalmente nos estados de Goiás, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. No Brasil, as perspectivas do crescimento da área cultivada com girassol são bastante favoráveis. Inicialmente, o principal foco da cultura era para atender ao mercado de óleos comestíveis nobres, confeitaria, alimentação de pássaros, produção de mel de alta qualidade, produção de silagem, farelo e torta para alimentação animal, além da produção ornamental. No entanto, com o advento do biodiesel, o girassol desponta como nova opção para a produção de biocombustíveis, não só pelo teor de

18

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


César de Castro

Fotos Sedeli Feijó

óleo nos grãos e qualidade nutricional da torta, como pela possibilidade de cultivo nas principais regiões agrícolas do país. O desempenho de uma lavoura de girassol de elevado potencial produtivo está diretamente relacionado à escolha da época de semeadura, do genótipo, do manejo adequado da fertilidade do solo, considerando o sistema de rotação e sucessão de culturas, além dos fatores ambientais, como a distribuição de água uniforme durante o ciclo da cultura. Em função da disponibilidade hídrica e da temperatura características de cada região, pode ser cultivado como primeira cultura, aproveitando o início das chuvas (inverno-primavera), ou como segunda cultura (verão-outono), aproveitando o final das chuvas. A baixa sensibilidade fotoperiódica da planta de girassol permite que, no Brasil, o seu cultivo possa ser realizado durante o ano todo, em todas as regiões produtoras de grãos. Porém, altas temperaturas do ar verificadas nos períodos de florescimento, enchimento de aquênios e de colheita têm sido um dos maiores condicionantes para o sucesso da exploração agrícola. Desse modo, a experiência adquirida junto a produtores rurais e os resultados

O girassol pode ser cultivado tanto como primeira cultura, aproveitando o início das chuvas, como segunda cultura, aproveitando o final das chuvas

de pesquisa acumulados permitem indicar as seguintes épocas para a semeadura: 1) No Rio Grande do Sul, a cultura pode ser cultivada entre os meses de julho a setembro (período de inverno-primavera). A semeadura até meados de agosto com genótipos de ciclo precoce possibilita que a colheita seja feita até meados de dezembro, o que permite a implantação de uma segunda cultura (soja ou milho) em sucessão na mesma estação de crescimento, com ganhos para o sistema. 2) A época de semeadura recomendada para o Paraná é de agosto a meados de outubro, a partir do início das chuvas. Nas regiões norte e oeste do estado, existe a possibilidade de cultivo de safrinha, mas a época de semeadura não deve ultrapassar meados de março e deve-se optar por genótipos de ciclo precoce (cem dias entre a emergência e a colheita), para evitar baixas temperaturas no final do ciclo 3) No estado de São Paulo e sul do Mato Grosso do Sul, existe a possibili-

Área destinada ao girassol para a próxima safra deve ficar em torno de 200 a 300 mil ha

dade de semeadura em duas épocas, nos meses de agosto a setembro, aproveitando o início das chuvas e, de janeiro a março, no final delas. 4) Na região central do Brasil, nos estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, caracterizada por invernos menos rigorosos, porém mais secos, o cultivo do girassol ocorre principalmente como segundo cultivo, de fevereiro a início de março, pela sua capacidade de desenvolvimento radicular e mecanismos de tolerância a estresses hídricos. 5) Já nos cerrados do estado de Roraima, a época de semeadura é muito estreita, estabelecendo-se do final de maio a meados de junho. A semeadura é, provavelmente, a operação mais importante do manejo de cultivo de girassol. A distribuição de sementes e, conseqüentemente, a uniformidade e o desenvolvimento futuro das plantas, são o principal ponto falho no de-


Sedeli Feijó

senvolvimento da cultura. De modo geral, os maiores rendimentos de grãos são obtidos com população final de plantas entre 40 mil a 45 mil plantas/ha, cultivadas com espaçamento entrelinhas de 70 cm. Outrossim, o espaçamento entrelinhas pode variar de 50 a 90 cm, dependendo do tipo de semeadora e da colhedora. Para o estabelecimento, em termos técnicos e econômicos, além da escolha do melhor genótipo, adubação, em especial ao boro e outros aspectos relacionados à tecnologia de produção, duas premissas básicas devem ser seguidas: a implantação das lavouras deve ser efetuada em áreas corrigidas e sem problemas de compactação e nas épocas indicadas pelo zoneamento agroclimático do girassol, que define as épocas de semeadura com menor risco de déficit hídrico e de problemas fitossanitários à exploração da cultura. As principais pragas que atacam o girassol, em diferentes épocas, são a vaquinha (Diabrotica speciosa), a lagarta-preta (Chlosyne lacinia saundersii) e os percevejos (Nezara viridula, Piezodorus guildinii e Euschistus heros). Deve ser dada atenção especial ao ataque de vaquinhas, no início do ciclo, da lagarta-preta (Chlosyne), que é o principal inseto desfolhador da cultura e

20

Fatores como falta de registro de agroquímicos (inseticidas, herbicidas e fungicidas) para o manejo da cultura ainda são entraves para os produtores

importante na fase vegetativa, e dos percevejos sugadores, mais daninhos na formação e desenvolvimento dos aquênios (fase reprodutiva da planta). Outros insetos, embora possuam potencial de dano à cultura, geralmente ocorrem em populações baixas e ocasionalmente chegam a causar danos maiores. Quanto às doenças, as mais importantes são a mancha de Alternaria (Alternaria helianthi) e a podridão branca ou mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum). A mancha de Alternaria, que afeta principalmente as folhas, mas também a haste e o capítulo, torna-se mais severa em condições de altas temperatura e umidade. Assim, uma medida fundamental para minimizar a severidade da mancha de Alternaria é a escolha da época de semeadura da cultura, evitando-se implantar a cultura em épocas em que o florescimento coincida com períodos de chuva intensa. O fungo causador da podridão branca é considerado um dos patógenos mais importantes no mundo e está distribuído em todas as regiões produtoras, sejam elas temperadas, subtropicais ou tropicais.

No Brasil, ocorre com mais freqüência em regiões onde ocorrem condições climáticas amenas na safra de verão, principalmente nas chapadas dos cerrados, em áreas acima de 800 m de altitude. S. sclerotiorum pode produzir três sintomas diferentes em girassol, dependendo do órgão da planta afetado. A podridão basal ocorre desde o estádio de plântula até a maturação, a podridão na porção mediana da haste ocorre em plantas a partir do final do estádio vegetativo até a maturação, e a podridão do capítulo ocorre no final da floração ou mais tarde. S. sclerotiorum é um fungo polífago, que ataca diversas culturas, como soja, girassol, canola, ervilha, feijão, alfafa, fumo, nabo forrageiro, tomate e batata. Assim, por ser um hospedeiro suscetível, o girassol não deve ser cultivado em áreas com histórico da doença. Finalizando, apesar do grande interesse que o girassol vem despertando em diferentes segmentos do setor agrícola, alguns fatores ainda precisam ser estabelecidos para viabilizar definitivamente a expansão da cultura do girassol no Brasil, como: o registro de agroquímicos (inseticidas, herbicidas, fungicidas) para viabilizar estratégias de manejo da cultura, a melhor estruturação da cadeia de produção e de comercialização, o incentivo às pesquisas estaduais, bem como o desenvolvimento de ações específicas de transferência de tecnologia à assistência C técnica e aos produtores. César de Castro, Regina Maria V. B. de C. Leite e Cláudio Guilherme P. de Carvalho, Embrapa Soja

COMPARATIVO

O

bservando-se a distribuição de área das principais oleaginosas no Brasil, percebe-se que o girassol ocupa a quarta posição, com aproximadamente 110 mil hectares, atrás da soja e do algodão, com 22 milhões e 900 mil hectares, respectivamente, e muito próximo à área de mamona, com 150 mil hectares. Levando-se em consideração às questões relacionadas ao biodiesel e ao grande número de empresas fomentando a cultura, há grande expectativa de aumento de área de girassol, estimando-se que a área para a próxima safra totalize em torno de 200 a 300 mil ha de girassol.

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


Milho

Sem limites Hospedeira de diferentes culturas é no milho que a lagarta Spodoptera demonstra todo o seu potencial e causa os maiores estragos com ataques a vários órgãos da planta. A dificuldade de controle da praga, que geralmente permanece escondida dentro dos vegetais atingidos, em locais inacessíveis ao efeito de inseticidas, faz da quimioesterilização uma alternativa de controle, já que a técnica interrompe a reprodução do inseto com efeitos imediatos

A

lagarta Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797), pertencente à ordem lepidoptera e família Noctuidae, é a principal praga da cultura do milho. As lagartas pequenas são pouco representativas e consomem apenas parte das folhas, deixando a epiderme intacta, porém, depois de desenvolvidas, passam a danificar as folhas centrais do cartucho do milho, que pode ser totalmente destruído. Podem também se alimentar do colmo, causando sua quebra, ou seccionar a planta na base. Em ocorrências tardias, podem atacar as espigas, destruindo os grãos, além de propiciarem a entrada de patógenos e umidade, determinando o apodrecimento das mesmas. O ataque pode ocorrer desde a fase de plântula até as fases de pendoamento e espigamento (Ávila; Degrande; Gomez, 1997). O dano em espiga é muito freqüente no norte do Paraná e na região tropical; a partir da fase de pendoamento, quando desaparece o cartucho, que é substituído pelo pendão floral, e a lagarta penetra na espiga, buscando proteção (Cooplantio, 2001). Quando se dirige para a região da espiga, a lagarta pode atacar o pedúnculo e impedir a formação dos grãos. Pode também penetrar nas espigas na sua porção basal e danificar diretamente os grãos ou alimentar-se da ponta da espiga, à maneira de outra lagarta, a Helicoverpa zea. Além do milho, o inseto danifica também outras culturas, incluindo pastagens, arroz, cana-de-açúcar, trigo, aveia, cevada, amendoim, batatinha, alfafa e diversas hortaliças.

CONTROLE O controle dessa praga normalmente é realizado com aplicação de inseticidas logo no início da infestação, método recomendado pela técnica moderna, porém, quando a lagarta já se encontra em fase mais adiantada, o uso de inseticidas pode causar inconvenientes de desequilíbrio ecológico, resistência da praga, problemas toxicológicos e econômicos. Com a evolução da agricultura, aumenta o número de

André Shimohiro

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007

21


IMPORTÂNCIA Com exceção de lufenurom, todos os inseticidas reduziram a fecundidade de S. frugiperda, sendo que o menor número de ovos colocados foi encontrado no tratamento com flufenoxurom. O fato de lufenurom ter propiciado um grande número de posturas e de ovos colocados é importante, pois esses ovos constituem alimento para os inimigos naturais, como por exemplo a tesourinha, Doru luteipes. A viabilidade dos ovos também foi afetada pelos produtos, porém, os tratamentos que se mostraram mais eficientes em relação a esse parâmetro foram clorfluazurom e lufenurom, que causaram viabilidade de apenas 0,24% dos ovos colocados. A longevidade dos indivíduos, tanto

O

pesquisas visando à substituição de inseticidas de alta periculosidade no controle de pragas. Com esse propósito, vários métodos passaram a ser recomendados, como o uso de feromônio, emprego de parasitas e predadores como inimigos naturais, desenvolvimento de plantas resistentes a pragas, técnica do macho estéril e quimioesterilização (Salgado,1979). De acordo com Knipling (1979), a quimioesterilização é um método de controle eficiente e racional; interrompe a reprodução de populações naturais de pragas com efeitos imediatos, pois os indivíduos estéreis da população tratada tornam-se agentes biológicos capazes de anular o potencial reprodutivo de outros membros da população que não receberam o tratamento. Os modernos inseticidas que podem atuar como quimioesterilizantes são produtos de baixa toxicidade ao homem e demais mamíferos e são altamente seletivos; isso é importante porque preserva os inimigos naturais da praga, importantes em um programa de manejo integrado. Um experimento foi realizado no Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Esalq/USP, setor de Defensivos Agrícolas, visando testar o efeito de alguns inseticidas do grupo dos reguladores de crescimento de insetos sobre a mariposa de S. frugiperda. Os esterilizantes foram fornecidos às mariposas via ingestão juntamente com a solução de mel a 10%. Os inseticidas utilizados e respectivas dosagens foram abamectina (0,45 ml p.c./l água), clorfluazurom (2,0 ml p.c./l água), flufenoxurom (2,0 ml p.c./l água), lufenurom (0,75 ml p.c./l água), novalurom (2,0 ml p.c./l água) e piriproxifem (12,0 ml p.c./l água), além da testemunha. Os resultados obtidos podem ser observados na Tabela 1.

22

machos como fêmeas, foi afetada por todos os produtos, com exceção de lufenurom. O experimento foi repetido em casa de vegetação, onde os tratamentos apresentaram comportamento semelhante ao que apresentaram em laboratório, porém, como os parâmetros não são controlados como em laboratório, foram encontrados alguns valores diferentes. Além disso, foi realizada a contagem do número de espermatóforos presentes na bursa copulatrix das fêmeas, pois sabe-se que, em lepidoptera, cada espermatóforo corresponde a uma cópula. Com exceção de clorfluazurom, os produtos afetaram o número de espermatóforos encontrados nas fêmeas, sugerindo que, de alguma forma,

Dirceu Gassen

milho é um dos mais importantes cereais do mundo, pois representa a base da alimentação humana e animal. O Brasil é o 4º maior produtor mundial de milho, sendo que essa cultura ocupa aproximadamente 13 milhões de hectares, com uma produção média de 41 milhões de t por ano (FNP Consultoria & Comércio, 2006). Porém, o rendimento da cultura do milho é baixo, principalmente quando comparado ao de outros países produtores como a Argentina, China e Estados Unidos. Esse fato deve-se a diversos fatores, entre eles, ao ataque das pragas desfolhadoras das plantas.

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


Jean Carlos

Tabela 1 - Número de posturas, número total de ovos e viabilidade dos mesmos, quando adultos de S. frugiperda foram submetidos aos tratamentos Tratamento

Número de posturas Abamectina 1,38 ? 0,26 b Clorfluazurom 1,00 ? 0,00 b Flufenoxurom 1,38 ? 0,26 b Lufenurom 3,88 ? 0,42 a Novalurom 1,25 ? 0,23 b Piriproxifem 1,63 ? 0,26 b Testemunha 3,50 ? 0,29 a CV = 10,857%

Os modernos inseticidas que podem atuar como quimioesterilizantes são produtos de baixa toxicidade ao homem e aos mamíferos e são altamente seletivos

as substâncias afetaram o aparelho reprodutor das mariposas, seja na ovogênese, espermatogênese, embriogênse ou qualquer outro processo relacionado. Foi avaliado o efeito dos tratamentos sobre ninfas e adultos de D. luteipes, Os ovos provenientes de mariposas que se

alimentaram da isca com os produtos foram oferecidos às tesourinhas. Os produtos clorfluazurom, flufenoxurom, lufenurom e novalurom foram 100% seletivos a ninfas de D. luteipes; já em rela-

Número Viabilidade de ovos dos ovos (%) 303,63 ? 47,01 b 5,90 273,75 ? 33,28 b 0,24 156,25 ? 40,11 c 24,87 1037,75 ? 81,61 a 0,24 268,75 ? 48,16 bc 16,71 267,75 ? 40,04 bc 21,81 1080,00 ? 92,07 a 91,93 CV = 12,937%

ção aos adultos, apenas clorfluazurom e novalurom apresentaram 100% de seletividade. Pode-se concluir que a quimioesterilização é um método viável para ser inserido no manejo integrado de S. frugiperda, e sua grande vantagem é o controle da população a nível de ecossistema, uma vez que a praga é polífaga, atacando diversas C culturas. Octavio Nakano e Fabiana C. B. Romano, Esalq


Trigo

Dirceu Gassen

O oídio, caracterizado pelo pó branco sobre as folhas, pode afetar o rendimento do trigo em até 62% pela redução do tamanho e número de grãos por espiga. Como a doença costuma apresentar vários ciclos em uma única safra, a prevenção começa pelo uso de cultivares com resistência e tratamento com fungicidas via sementes e, posteriormente, aplicações foliares

24

área, quando a doença ocorre em estádios iniciais de desenvolvimento de plantas, o número de grãos por espiga e o tamanho de grãos, quando ocorre em fases mais tardias. Pode, também, diminuir em 7,5% os conteúdos de amido e de proteína dos grãos. Uma das características da doença é a de aumentar consideravelmente a respiração do hospedeiro, o que leva a desajustes fisiológicos e a prejuízos consideráveis ao desenvolvimento das plantas de trigo. Acredita-se que o inóculo primário do oídio mantenha-se, na entressafra, sobre plantas voluntárias de trigo, sendo disseminado pelo vento ou mesmo possa hibernar como micélio dormente ou ativo, em regiões mais quentes. Além disso, os esporos podem ser transportados rapidamente a centenas de quilômetros dentro de nuvens, onde há alta umidade e baixa temperatura, sobrevivendo por muitos dias. No Brasil, não foi identificada nenhuma outra gramínea de inverno ou de verão como hospedeira de oídio de trigo. O ciclo da doença é bastante rápido, pois a germinação, a infecção e a produção de novos esporos são completadas entre cinco e 25 dias,

o que leva à ocorrência de muitos ciclos consecutivos da doença em uma safra. Em nossas condições, bastam dois ciclos para causar uma epidemia. Os primeiros sintomas da doença aparecem, aproximadamente, cinco dias Antonio Milan

O

oídio, causado por Blumeria graminis f. sp. tritici, é uma das primeiras doenças foliares a aparecer no trigo durante a safra, sendo de fácil identificação, pois desenvolve uma espécie de pó branco sobre as folhas e colmos, que nada mais é do que o micélio, os conidióforos e os conídios do agente causal, que são relativamente grandes. Os conídios são facilmente dispersos por correntes de ar, o que dá o aspecto característico de poeira, quando se caminha por uma lavoura altamente afetada. Ocorre em todas regiões tritícolas do mundo, especialmente aquelas localizadas sob clima temperado. No Brasil pode ser encontrado na região Sul e em lavouras sob sistema irrigado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Em Passo Fundo (RS), há registros de danos entre 10% e 62% no rendimento de grãos, porém, na média de anos normais de ocorrência da doença, os danos alcançam de 5% a 8%. Esses níveis de perdas dependem da região, das condições do ano, da suscetibilidade da cultivar e do estádio em que a doença incide. Os principais componentes de rendimento afetados são o número de espigas por

Em nossas condições climáticas, bastam dois ciclos do fungo em uma safra para causar uma epidemia

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


Guatambu e BRS Tarumã, e, com moderada resistência, BRS 176, BRS 177, BRS 208, BRS 210, BRS Camboim e BRS Umbu. Como o fungo desenvolve raças, tornando-o capaz de infectar cultivares consideradas resistentes em anos anteriores, são também realizadas, nessa instituição, avaliações de efetividade de genes de resistência de trigo, através da análise de várias populações de oídio coletadas em diferentes estados do Brasil. Comparando-se observações realizadas no ano de 2005 com resultados obtidos nas safras de trigo de 2002, 2003 e 2004, foi constatado que alguns genes perderam a efetividade, como Pm1 e Pm2, a partir de 2002, e que apenas o gene Pm4a vem mantendo a reação de resistência a todas as populações de B. graminis f. sp. tritici estudadas ao longo dos anos. A maioria das raças (ou biótipos, termo mais usado atualmente) de B. graminis aparece esporadicamente, com sua proporção alterando-se a cada ano. O controle químico de oídio de trigo em cultivares suscetíveis é mais econômico via tratamento de sementes do que por meio de aplicação de fungicidas nos órgãos aéreos, além de conferir proteção por 30 a 45 dias após a emergência. O monitoramento do desenvolvimento da doença deve iniciar a partir do afilhamento. A pulverização de fungicida deverá ser realizada quando a incidência foliar for de 15% a 25%, a partir do estádio de alongamento, ou através do cálculo do limite de dano econômico. Fungicidas do grupo dos triazóis são eficientes no controle da doença. O oídio é muito vulnerável a fungicidas, na maior parte de seu ciclo de vida. As ocorrências de epidemias de oídio após o uso de fungicidas podem estar relacionadas, principalmente, ao atraso na aplicação do fungicida, e não a uma possí-

Marco A. Lucini

após a inoculação, caracterizando-se por amarelecimento, clorose e/ou necrose dos tecidos. O fungo é um parasita obrigatório, que age de forma a não matar rapidamente seu hospedeiro. Com a evolução da doença, há um declínio no processo de crescimento da planta e até queda de folhas. Geralmente ambas superfícies foliares são atacadas, mas o micélio pode predominar em uma das faces. O desenvolvimento das pústulas não vai além da linha do solo e as raízes não são diretamente atacadas. Embora o aparecimento precoce da doença, na estação de cultivo, seja, muitas vezes, seguido por severa epidemia, há anos em que não alcança seu máximo potencial de danos. Em climas temperados, como na região Sul do Brasil, temperaturas muito baixas ou longos períodos de chuvas, no outono, retardam a epidemia. Esta tem sua fase média em setembro; em outubro ocorre o pico sazonal, considerando-se o número de conídios no ar. Na fase final da epidemia, a velocidade de infecção declina, o que ocorre em novembro. Os métodos mais eficientes para controle de oídio em trigo são o uso de cultivares com resistência genética e a aplicação de fungicidas, em tratamento de sementes ou na folhagem. A busca de cultivares comerciais de trigo com resistência genética é constante nos programas de melhoramento da Embrapa Trigo. Anualmente, são realizados testes de avaliação da reação de plântulas e de plantas adultas, sob condições de inoculação naturais e artificiais. Há disponíveis, no mercado, várias cultivares lançadas pela Embrapa Trigo com resistência a oídio, como BRS 194, BRS 209, BRS 249, BRS Figueira, BRS Camboatá, BRS

Parasita obrigatório, o fungo Blumeria graminis age de forma a não matar rapidamente seu hospedeiro, a planta de trigo

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007

CONDIÇÕES FAVORÁVEIS

A

germinação dos esporos é favorecida por temperaturas amenas e pela ausência de água livre. O patógeno é adaptado a baixas temperaturas e não tolera temperaturas próximas de 30ºC. O maior desenvolvimento da doença ocorre entre 15ºC e 20ºC, mas é grande a amplitude na qual pode ocorrer epidemia. O oídio suporta condições secas, embora a umidade relativa para ocorrer a germinação esteja em torno de 100%, mas a água livre é limitante. Como o conteúdo de água nos esporos pode alcançar 75% de seu peso, é possível que a água necessária à germinação seja provida internamente. Embora o aparecimento precoce da doença, na estação de cultivo, seja, muitas vezes, seguido por severa epidemia, há anos em que não alcança seu máximo potencial de danos. Em climas temperados, como na região Sul do Brasil, temperaturas muito baixas ou longos períodos de chuvas, no outono, retardam a epidemia. Esta tem sua fase média em setembro; em outubro ocorre o pico sazonal, considerando-se o número de conídios no ar. Na fase final da epidemia, a velocidade de infecção declina, o que ocorre em novembro. vel resistência do patógeno ao produto químico. Recomenda-se consultar as informações técnicas para a safra 2007 – Trigo e triticale, no endereço http://www.cnpt.embrapa.br/culturas/trigo/Indicacoes_trigo-triticale2007.pdf, para mais informações acerca da eficiência de fungicidas para controle de oídio e de outras doenças de trigo. A rotação de culturas não é efetiva para controle de oídio, já que o patógeno encontrase presente em qualquer período do ano. Entre todos os nutrientes, o nitrogênio (N) parece ter efeito mais consistente e direto sobre o incremento da doença, pois sua adição, em qualquer estádio de desenvolvimento do trigo, aumenta a suscetibilidade. Outros trabalhos apontam que plantas deficientes em potássio (K) são suscetíveis a oídio. Semeaduras mais precoces podem diminuir os danos da doença, pois as plântulas ficam expostas a menores quantidades de inóculo justamente em estádio de desenvolvimento mais suscetível à C doença. Leila Maria Costamilan e Walesca Iruzun Linhares, Embrapa Trigo

25


Soja

Operação de guerra Em meio à batalha contra a ferrugem asiática, medidas governamentais tentam impedir o avanço da doença através do vazio sanitário, adotado em diferentes regiões do país. Com o período de 90 dias sem o plantio da oleaginosa, entre os meses de junho e outubro, a intenção é garantir que o fungo Phakopsora pachyrhizi não sobreviva de uma safra para outra

O

cultivo da soja durante o inverno sob irrigação em pivô central ajuda o fungo causador da ferrugem asiática a se perpetuar no território brasileiro. A afirmação é da Embrapa Soja e, segundo os pesquisadores daquele centro de pesquisas, o plantio da soja safrinha aumenta o risco de incidência antecipada e a severidade da praga na safra de verão. O principal dano ocasionado pela ferrugem é a desfolha precoce, que impede a completa formação dos grãos, com conseqüente redução da produtividade. Com exceção do estado de Roraima, onde se planta soja em cerca de dez mil hectares ainda sem a ferrugem asiática, produtores de todos os demais estados que cultivam a oleaginosa têm sofrido para controlar a doença. Realmente, com o cultivo de soja após soja o fungo encontra condições para permanecer na região se multiplicando, pois sempre encontra a presença do hospedeiro. Devemos considerar que o fungo causador da ferrugem é um parasita obrigatório, ou seja, necessita de planta viva para sobreviver. Funciona as-

26

sim: enquanto uma lavoura já está no final do ciclo, outra propriedade vizinha na região tem plantas ainda em fase vegetativa e o fungo “pula” para lá. Isso acaba aumentando a quantidade de inóculo no ar quando se inicia o plantio seguinte. Tal fato pode ser observado se analisarmos as informações disponíveis no Sistema de Alerta

(www.cnpso.embrapa.br/alerta). As primeiras ocorrências da ferrugem asiática da soja têm aparecido cada vez mais cedo. Nas duas últimas safras a praga atingiu plantas ainda no estágio vegetativo, antes dos 30 dias após a germinação. Nos primeiros anos de convivência dos produtores brasileiros com a doença, os sintomas iniciais eram observados na fase inicial de floração, geralmente a partir do final de janeiro. O fato tem sido motivo de preocupação entre o setor produtivo, pesquisadores, técnicos e o governo, pois restringe as estraté-

QUADRO 1 – Proposta de Calendário de Plantio para a Soja nas diversas regiões do Brasil

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


PLANTAS HOSPEDEIRAS DA FERRUGEM

gias de controle recomendadas pela pesquisa. Medidas importantes de manejo da doença, como a antecipação da semeadura e o plantio de cultivares precoces acabam não tendo efeito. Não bastasse isso, o cultivo contínuo da soja vai contra os princípios das boas práticas agrícolas e conservacionistas, proporcionando o aparecimento de outras doenças, a multiplicação de pragas e de plantas daninhas, afetando as características físicas, químicas e biológicas do solo, entre outros problemas. Outro fator que vem sendo apontado pelos pesquisadores para a manutenção dos esporos da ferrugem asiática na entressafra são as plantas de soja que brotam após a colheita, as chamadas “plantas guaxas” ou “tigüera”. São grãos que caem no solo e na presença de umidade acabam germinando. Como obviamente não sofrem tratamento, a soja que nasce fica repleta de ferrugem, tornando-se fornecedora de esporos para a região. É muito importante uma perfeita regulagem das máquinas de colheita visando minimizar o problema. Se ainda assim germinarem plantas guaxas, a recomendação do pessoal da Embrapa Soja é pela dessecação com herbicida. No caso da soja transgênica o produtor terá que realizar a destruição mecânica da tigüera ou utilizar outro herbicida dessecante como o paraquat, por exemplo. O importante é eliminar os hospedeiros da ferrugem asiática da soja na entressafra.

bastasse tudo isso, o feijão também é um hospedeiro da ferrugem. Preocupa se considerarmos que o Brasil cultiva quase quatro milhões de hectares dessa leguminosa, principalmente nos estados do Paraná, Minas Gerais, Bahia e São Paulo. A diversidade climática do Brasil permite, de maneira geral, que diversas espécies de feijão sejam cultivadas de Norte a Sul do país ao longo das estações do ano. É comum encontramos plantações de feijão próximas a lavouras de soja ou, o que é pior, em sucessão a ela. Um sistema de rotação corretamente planejado é novamente uma ferramenta imprescindível para se evitar os possíveis impactos negativos para ambas as culturas em toda a região. Pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, vêm trabalhando no assunto. 7,7 bilhões, conseqüência da perda de grãos, custo com o controle da praga e perdas na arrecadação de impostos em decorrência da quebra da produção. Os principais motivos para as perdas, além do problema da safrinha, foram a descapitalização do produtor no momento de adquirir o fungicida, as pulverizações deficientes contra a praga e a falta de capacidade operacional para efetuar a aplicação no momento certo em toda a área plantada. Torna-se então imprescindível que, uma vez resolvido os problemas da safrinha, dos hospedeiros alternativos e das plantas guaxas, que o produtor seja adequadamente capacitado para efetuar o controle químico da ferrugem de maneira adequada. O problema é tão complexo que por solicitação do segmento produtivo e de órgãos estaduais de defesa agropecuária, o Ministério da Agricultura discutiu com os setores envolvidos uma proposta de Plano Nacional

de controle da ferrugem asiática da soja. O Plano será amparado por um manual técnico contendo recomendações aos produtores, estabelecendo responsabilidades e delegando competências para que seja evitada a disseminação da doença. Entre as orientações para se evitar a propagação da ferrugem, está previsto o estabelecimento de um calendário de plantio harmonizado entre os estados produtores. O calendário deverá respeitar o zoneamento agrícola, que determina as épocas de segurança para o plantio em função de condições climáticas, solo e outras particularidades, prevendo um período de pelo menos 90 dias no ano sem que haja o plantio da soja, prazo suficiente para garantir a não- sobrevivência, que não passa de 60 dias segundo dados levantados pela pesquisa. Trata-se de uma medida solicitada pelos próprios produtores e teoricamente amparada pela ciência. Lembremo-nos que a ferrugem asiática só sobrevive em tecidos vivos. Se então evocarmos o famoso triângulo da epidemiologia, no qual para que ocorra a doença são necessárias as presenças do patógeno, do hospedeiro e de condições ambientais favoráveis, o único vértice que podemos manejar é o do hospedeiro (no caso, a soja). Não temos controle sobre o clima e o patógeno se propaga a grandes distâncias pelo vento, fugindo a possíveis ações fiscalizatórias do governo. O caso é complexo mesmo, e polêmico. Mesmo entre os pesquisadores a questão é controversa.

CADA ESTADO TERÁ SUA LEGISLAÇÃO Seguindo o princípio constitucional da independência das unidades federativas, a regulamentação do calendário de plantio será feita pelo próprio estado produtor, sob responsabilidade da defesa agropecuária estadual (as agências ou os institutos de defesa ou ainda, em alguns casos, a própria Secretaria de Agricultura), ouvido o setor produtivo e a pesquisa agropecuária. Um bom fórum para discussão do assunto é a Comissão de Defesa Sani-

Fotos Dirceu Gassen

É

enorme o número de espécies hospedeiras do fungo Phakopsora pachyrhizi Sydow & P. Sydow, causador da ferrugem asiática da soja. Alguns autores chegam a mencionar até 80 diferentes plantas hospedeiras. Então, na ausência da soja, seja ela de plantio comercial ou “tigüera”, o fungo sobrevive e se multiplica num desses hospedeiros alternativos, tornando o controle da ferrugem ainda mais difícil. No Paraguai e no Sul do Brasil, por exemplo, a leguminosa kudzu (Pueraria lobata), de ocorrência espontânea, é altamente eficiente como hospedeira da praga. Especialistas afirmam que a kudzu, mesmo perdendo as folhas no inverno, mantém os ramos vivos e infectados pelo fungo, o que faz com que a brotação já apresente a doença logo com as primeiras chuvas. Não

FERRUGEM CONTINUA CAUSANDO PERDAS Segundo estimativas da Embrapa, desde o aparecimento da ferrugem asiática nas lavouras de soja na safra 2001/2002, os prejuízos aos produtores e ao país já chegam a US$

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007

O fungo Phakopsora pachyrhizi causador da ferrugem, é um parasita obrigatório, ou seja, necessita de planta viva para sobreviver

27


Dirceu Gassen

tária Vegetal do estado. A Comissão reúne todos os setores interessados no tema e nada mais justo que a medida seja referendada por ela. O Ministério da Agricultura vem coordenando esta ação e tem procurado orientar que os diversos calendários estaduais sejam compatibilizados pelo menos em uma mesma região. Caso contrário, a medida não surtirá o efeito desejado. O Quadro 1 exemplifica a tentativa de harmonização do calendário de plantio, elaborado a partir de reunião do Ministério da Agricultura e a Embrapa Soja. A proposta é acrescentar mais 30 dias como margem de segurança ao período proibido ao plantio. O estado do Paraná definirá o vazio sanitário para a safra 2007/2008 sendo proibido o cultivo da soja entre 15 de junho e 15 de setembro. Não haverá exceção nem para a produção de sementes genéticas. Esta é uma postura que deveria ser adotada por todos os demais estados. (Ver Quadro 2) Os estados de Mato Grosso e Goiás já possuem a medida regulamentada e saíram na frente na proibição da soja safrinha. Especialmente o Mato Grosso tem sofrido com a ferrugem e os produtores do estado têm registrado o aparecimento precoce da doença. Coincidência ou não, é na região de Primavera do Leste que encontramos a maior concentração de pivôs centrais do Brasil.

O calendário que respeita o zoneamento agrícola, prevê um período de pelo menos 90 dias no ano sem que haja o plantio da soja

favor da proibição incondicional do plantio por 90 dias. Segundo seus representantes, é necessário um esforço de guerra em todo o país para que a medida surta o efeito desejado, não abrindo concessões para produção de sementes e limitando a área cultivada em projetos de pesquisa durante o período proibido. No caso do Tocantins por exemplo, a região de várzea tropical do estado possui cerca de 40 mil hectares com potencial de cultivo da soja na entressafra sem a necessidade de pivôs centrais, pois permite a irrigação por subsuperfície. Com esse método de irrigação, mesmo com elevadas temperaturas do ar a temperatura do solo mantém-se baixa, sendo possível obter-se alta produtividade. Por não haver molhamento foliar, alegam os técnicos da Secretaria da Agricultura e da Agência de Defesa Agropecuária, a ferrugem não causa danos à soja. Grande parte da região é responsável pela produção de sementes de qualidade

e abastece os estados vizinhos do Maranhão, Piauí, Goiás e Mato Grosso. Pesquisadores de outros estados temem que com a exceção dada à região, acabe por ocorrer uma migração de empresas produtoras de sementes e que a área cultivada aumente, fugindo ao controle do estado. Outros estados também têm seguido a mesma linha e estabelecido suas exceções. Mais uma vez fica demonstrada a importância da medida ser referendada pela Comissão de Defesa Sanitária Vegetal. Como foi visto, o problema da ferrugem asiática da soja é complexo e os produtores devem ter em mente que vivemos novos tempos. A cultura da soja nessa fase pós-ferrugem asiática deve ser encarada de outra maneira. Margens de lucro curtíssimas não permitem erros. Do lado do governo, a mesma coisa. Trata-se de um outro período e devemos nos adequar a ele. Não basta regulamentar o plantio da soja ou de hospedeiros alternativos da praga na entressafra, regular a colheitadeira para minimizar perdas, eliminar plantas guaxas, saber a hora de aplicar o fungicida e a maneira correta de fazê-lo. É preciso também fortalecer a pesquisa, os órgãos de defesa agropecuária e os de assistência técnica e extensão rural. Discutir permanentemente a questão, aprendendo com os erros e acertos. E, acima de tudo, é preciso que todos estejam conscientes de que numa guerra cada um deve cumprir o seu papel. C Ademir Henning, CNPSO Andre Felipe Peralta, Ministério da Agricultura

QUADRO 2

EXCEPCIONALIDADES Como dito anteriormente, o tema é controverso. A maioria dos estados tem optado por autorizar, em casos excepcionais, o plantio da soja fora da data estabelecida no calendário quando para fins de pesquisa científica ou multiplicação de material genético (Quadro 2). Nestes casos, a entidade interessada tem que apresentar ao órgão de defesa agropecuária um plano de trabalho e obter a autorização, sob pena de multa, sanções civis e penais. Em uma das reuniões do Consórcio Antiferrugem - grupo de especialistas constituído para discutir a doença, treinar técnicos e produtores para o diagnóstico e controle da praga, definir prioridades de pesquisa, entre outros — a Embrapa Soja manifestou-se a

28

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007



Cana-de-açúcar

Leila Dinardo

Identificada pela goma A gomose, doença bacteriana que atinge a cana-de-açúcar, pode estar sendo confundida com outras doenças da cultura. A semelhança de sintomas externos da planta, como a estria vermelha e a escaldadura, faz do uso de variedades resistentes a arma contra a bactéria, que se diferencia apenas pela exsudação de uma goma nos colmos e pode inviabilizar toda produção de um canavial

O

estabelecimento da monocultura cana-de-açúcar e a inexistência no Brasil de um programa de melhoramento para a produção de variedades adaptadas às nossas condições, foram responsáveis pelo aparecimento de problemas fitossanitários trazidos com as mudas importadas, que eram diretamente usadas na grande lavoura. Dessa forma, tivemos as epifitias de mosaico, de escaldadura etc., que foram contornadas com a substituição das variedades suscetíveis por outras mais resistentes. O mesmo aconteceu com a gomose da cana-de-açúcar, causada pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. vasculorum (sin.: X. campestris pv. vasculorum tipo A), a primeira doença bacteriana de vegetais descrita no mundo, numa época em que não se concebia que bactérias pudessem causar doenças em plantas. Observada pela primeira vez no Brasil em 1863 no estado da Bahia, a gomose foi descrita também no estado de Pernambuco em 1880 causando grandes prejuízos. O principal sintoma da doença era a produção de uma substância amarelada que exsudava do colmo das plantas doentes quando cortado transversalmente. Essa substância, denominada goma, causava sérios problemas durante o processamento dos

30

colmos para a obtenção do açúcar. Além disso, as plantas doentes morriam precocemente. Portanto, além das perdas na grande lavoura, a doença também causava prejuízos nos engenhos. Sua importância foi tão grande que, quando da sua primeira constatação, foi trazido para o Brasil um cientista alemão, F. M. Draenert, especialmente para estudar essa doença. Com a substituição das variedades em uso naquela época por outras mais resistentes, a doença deixou de ser problema em nosso país e não foram mais observados outros casos, acreditando-se que ela teria sido erradicada. Entretanto, é importante salientar que a identificação da doença se deu apenas por sintomas, sem o isolamento do agente causal e, portanto, sem preencher os postulados de Koch. Em 1989 - de materiais de cana-de-açúcar provenientes de Sertãozinho (SP) e 1o de Maio (PR), com sintomas de estrias vermelhas nas folhas, uma outra doença conhecida em cana-de-açúcar e causada pela bactéria Acidovorax avenae subsp. avenae (sin.: Pseudomonas rubrilineans) - foram obtidos isolados bacterianos pertencentes ao gênero Xanthomonas, que se mostraram patogênicos em inoculações artificiais. Apesar dos testes utilizados na identificação da

bactéria (testes bioquímicos e culturais) indicarem tratar-se de X. a. pv. vasculorum, a caracterização desses isolados bacterianos em nível de patovar não pôde ser conclusiva, uma vez que a presença de goma nos colmos não foi observada. A comprovação da classificação dessa bactéria foi feita em 2003 através de técnicas moleculares de hibridização DNADNA, tendo os isolados brasileiros apresentado 100% de homologia com os isolados de X. axonopodis pv. vasculorum.

SINTOMATOLOGIA Os sintomas iniciais são de estrias avermelhadas que acompanham longitudinalmente o comprimento das folhas e atingem seu máximo desenvolvimento nas folhas maduras. Nas variedades suscetíveis, podem alcançar o colmo e a infecção se tornar sistêmica. Essas estrias normalmente se iniciam na margem das folhas e se dirigem para a nervura central, sendo geralmente uniformes, com 3-6 mm de largura. O comprimento varia de poucos milímetros até a extensão total da folha, podendo desaparecer durante períodos secos, após a queda das folhas com a idade. Estrias vermelhas, estreitas, curtas, bem definidas podem ser observadas nas infec-

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


Irene Maria Gatti de Almeida

ções sistêmicas e, neste caso, são muito semelhantes àquelas da doença denominada estria vermelha, causada por Acidovorax avenae subsp. avenae. Clorose das folhas, lembrando sintomas da fase aguda de “escaldadura das folhas”, também pode ocorrer e, em alguns casos, provocar a morte do broto terminal. Contudo, o sintoma mais importante e produzido unicamente por essa bactéria é a produção de goma em colmos de variedades suscetíveis. Essa substância gomosa causa sérios problemas durante o processamento dos colmos para a obtenção do açúcar.

TRANSMISSÃO E IMPORTÂNCIA ECONÔMICA A infecção primária ocorre pelo plantio de toletes doentes ou pela contaminação de toletes sadios pelo uso de podões contaminados. As plantas resultantes da germinação dos toletes contaminados poderão se apresentar aparentemente sadias, com bom desenvolvimento, ou cloróticas, sem vigor, caso as condições ambientais sejam favoráveis ao desenvolvimento da doença. O tolete contaminado é a maneira mais eficiente de disseminação da doença a longas distâncias. Implementos agrícolas, veículos de transporte, trabalhadores e animais

Estrias vermelhas dispostas longitudinalmente que acompanham o comprimento da folha são os sintomas iniciais da gomose

podem carregar o patógeno de um campo para o outro dentro de uma mesma propriedade. Além disso, o trânsito de canas infectadas pelos carreadores pode ser responsável pela infecção de outras plantas através do contato entre elas.

Entretanto, de acordo com diversos autores, o mais importante fator de disseminação no campo é o efeito da chuva com vento: as partículas sólidas carregadas pelo


Irene Maria Gatti de Almeida

plicada pela introdução da colheita mecanizada que pode estar atuando como agente disseminador. No Brasil, estudos preliminares realizados, nas condições do estado de São Paulo, com algumas variedades atualmente em uso na grande lavoura, revelaram que todas as variedades estudadas apresentaram maior ou menor grau de suscetibilidade à X. campestris pv. vasculorum, sendo RB835486, uma das menos sensíveis à bactéria. Esses resultados vêm reforçar a importância desta doença e a preocupação quanto à ocorrência de uma nova epifitia, que poderia causar grandes transtornos a toda cadeia produtiva canavieira. A confirmação de X. axonopodis pv. vasculorum causando sintomas de estrias foliares avermelhadas em cana-de-açúcar sugere que essa bactéria vem ocorrendo no Brasil por muito tempo e sua presença não tinha sido detectada devido aos sintomas serem muito semelhantes aos da “estria vermelha”, causada por Acidovorax avenae subsp. avenae (sin.: Pseudomonas rubrilineC ans). Irene Maria Gatti de Almeida, Instituto Biológico

ORIGEM DA CANA

T

vento vão funcionar como agente abrasivo, promovendo ferimentos nas folhas, além do vento espalhar as placas de exsudato bacteriano da superfície das folhas para outros locais; a presença da água da chuva proporciona condições ideais para a colonização do hospedeiro nesses novos sítios de infecção. É justamente esta situação que ocorre nas ilhas Mauritius, na costa da África, e Reunion, na França, onde a doença é muito importante: surtos epidêmicos ocorrem normalmente logo após a passagem de furacões. As perdas causadas pela doença no campo podem ser tão severas, inviabilizando a colheita de talhões inteiros, com conseqüente quebra na produção. Nos engenhos, o suco extraído de canas doentes pode causar problemas durante o processamento para produção de açúcar. Além disso, existem também perdas indiretas, provocadas pelo impedimento do plantio de variedades suscetíveis, normalmente mais ricas em açúcar e com características agronômicas mais desejáveis, que

32

O vento é excelente disseminador pois leva exsudatos bacterianos presentes na superfície das folhas infectadas para outras plantas

são substituídas por outras mais resistentes, porém menos produtivas.

CONTROLE DA DOENÇA O plantio de toletes sabidamente sadios é muito importante, impedindo o estabelecimento da doença no campo. Além disso, o uso de variedades resistentes é indicado para controle e eventual erradicação da doença. Nos países onde essa doença é problema, o plantio de variedades suscetíveis é proibido. A partir de 2001, plantas com sintomas foliares de estrias vermelhas têm sido observadas com maior freqüência em variedades comerciais de cana-de-açúcar, provenientes de importantes regiões produtoras do estado de São Paulo, sendo a bactéria X. axonopodis pv. vasculorum consistentemente isolada de plantas com tais sintomas. A ocorrência mais freqüente da bactéria nos últimos anos pode ser em parte ex-

udo faz supor que a Ásia seja o centro de origem da cana-deaçúcar, mais precisamente a Índia. De lá, ela foi trazida para a China, Ceilão, Arábia, lado ocidental do Mar Mediterrâneo, norte da África e Europa. Entretanto, quando o Brasil foi descoberto, o açúcar era mercadoria escassa na Europa, privilégio dos grandes senhores e produto de grande valor comercial. Acredita-se que as primeiras mudas de cana-de-açúcar tenham chegado ao Brasil com Martim Afonso de Sousa, em 1532. O clima quente e úmido proporcionou boa acolhida à cultura e em pouco tempo as plantações se multiplicaram, marcando o início de uma atividade que iria se transformar em grande fonte de riqueza para Portugal. Em pouco tempo, o Brasil e as colônias espanholas, francesas e inglesas da América Central começaram a fornecer aos europeus todo açúcar que desejassem. Desta forma, há vários séculos, a cana-de-açúcar ocupa posição de destaque no cenário socioeconômico brasileiro.

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007



Empresas

Fotos FMC

Novo inseticida FMC faz o lançamento oficial do inseticida Mustang, registrado para o emprego em 13 culturas e 22 pragas como lagarta-do-cartucho em milho, mosca minadora em batata e besourinho verde em feijão

A

FMC Agricultural Products lançou oficialmente, em junho, em São Paulo, o inseticida Mustang, que deverá render aos cofres da companhia US$ 10 milhões nos próximos três anos. Com registro para 13 culturas e emprego no controle de 22 pragas, o novo produto age no sistema nervoso central e periférico do inseto, provocando choques repetitivos nos nervos, até a paralisação e morte da praga. Absorvido pela derme, respiração ou ingestão, o inseticida possui excelente diluição e espalhamento das gotas durante a aplicação, o que aumenta a área protegida e a probabilidade do inseto entrar em contato com o produto. O defensivo possui registro para culturas como soja, milho, batata, tomate, feijão, arroz irrigado, arroz, café, trigo, uva, couve e milheto. Entre as recomendações de controle estão lagarta-do-cartucho (milho), mosca minadora (batata), besourinho verde (feijão), vaquinha verde (uva) e lagarta-da-soja. Cada praga exige dose específica. O defensivo estará disponível para a próxima safra nas principais revendas e cooperativas do país nas embalagens de um e cinco litros.“Os diferenciais de Mustang estão na sua versatilidade, custo-benifício e alta tecnologia e eficácia no combate às principais pragas que atingem as planta-

34

ções”, destacou Renato Nivolini, gerente de marketing da FMC.

PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO Líder no fornecimento de inseticidas para cana-de-açúcar e algodão, a FMC busca através do novo produto ampliar sua participação no fornecimento de defensivos, focando de modo especial grãos, soja e milho. Já para a próxima safra a companhia projeta crescimento de 10% no mercado agrícola brasileiro. E para os próximos três ou quatro anos atingir um faturamento de US$ 500 milhões, ante os US$ 256 milhões do ano passado. “Olhando para o futuro tenho a plena

Apresentação do defensivo foi feita em junho, em São Paulo

convicção de termos um plano de ação bem elaborado e com o usual compromisso e a determinação para buscar um crescimento que não seja apenas pontual, mas que se sustente por muitos anos, proncipiando uma longa era de prosperidade” discursou, Antônio Carlos Zem, diretor-presidente da FMC para a AméC rica Latina.

Antônio Carlos Zem, diretorpresidente da FMC para a América Latina

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007



Coluna Andav

AgroAção é novo conceito em treinamento e conscientização sobre o uso correto de EPI

P

ara vender qualquer produto é necessário saber como ele funciona e para qual finalidade foi desenvolvido. Com o EPI- Equipamento de Proteção Individual, não poderia ser diferente, embora muitas vezes as revendas agrícolas ficam com a árdua missão de comercializá-lo sem ao menos saber como é a sua utilização prática e para qual uso ele é recomendado. Assim, o primeiro treinamento a distância AgroAção, desenvolvido pela AndavAssociação Nacional dos Distribuidores Agrícolas e Veterinários, não poderia deixar de abordar esta problemática que tem uma solução simples: a disseminação do conhecimento. O treinamento EPI- “venda que protege seu cliente”, são 12 aulas realizadas pela Internet através do site www.agroacao.com.br e supervisionadas por pedagogos e profissionais especialistas em saúde e qualidade de vida no campo, que fornecem aos participantes o conhecimento técnico para diferenciar produtos e fidelizar clientes com respostas a quaisquer dúvidas sobre o EPI, legislações, responsabilidade social e vendas. Os apoiadores do projeto são as empresas fabricantes Azeredo zbx e Protect EPI e também o Selo Quepia - Qualidade de equipamentos de proteção individual na agricultura - um programa desenvolvido pelo IAC- Instituto Agronômico de Campinas. O AgroAção 2007 rapidamente expandiu suas ações para a concretização de um modelo de vestimenta ideal, que traduzisse toda a experiência das empresas e também a eficiência e qualidade proporcionadas pelas pesquisas em torno do Selo. Este novo modelo de EPI está disponível para

36

as revendas . As vantagens da vestimenta são muitas: tecido que permite maior troca gasosa entre o corpo e meio ambiente, responsável por maior conforto e melhor desempenho no

“O AgroAção 2007 rapidamente expandiu suas ações para a concretização de um modelo de vestimenta ideal, que traduzisse toda a experiência das empresas e também a eficiência e qualidade proporcionadas pelas pesquisas em torno do Selo”

trabalho; novo tratamento faz com que haja maior hidrorepelência e também maior vida útil do EPI. Há também uma maior garantia de produto, pois o EPI é desenvolvido pelos dois fabricantes que estão envolvidos com o projeto, o que resulta em maior agilidade na entrega e controle de qualidade. Todas as vestimentas têm o Selo de Qualidade Quepia, que está estampado em cada peça, dando assim ao agricultor a segurança no que está sendo adquirido. Os benefícios são muitos, o que faz do AgroAção um projeto inovador na agricultura brasileira. As revendas terão equipe de vendas treinada com direito a certificado fornecido pela Andav. Por isso é importante que as revendas se unam em torno do objetivo maior que é conscientizar sobre o uso correto do EPI ao mesmo tempo que executa vendas de qualidade a seus clientes. Certamente estarão fazendo parte de um grupo seleto de empresas que são promovidas pela Andav como aquelas que atendem às responsabilidades sociais e preocupadas com a saúde de seus clientes. As revendas participantes do programa Agroação concorrem ao troféu AgroAção em Excelência em Vendas e também poderão ter seu funcionário como destaque dentro do projeto. Para os interessados em conhecer todas as etapas do AgroAção, bem como seus regulamentos de participação, o site www.agroacao.com.br está à disposição, assim como o portal da Andav no endereço eletrônico C www.an-dav.com.br. Henrique Mazotini Presidente executivo da Andav

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007


Agronegócios

Células de combustível microbianas

A

brindo ainda mais o leque de oportunidades para o agronegócio, a sociedade mundial toma o rumo das energias renováveis, movida pelas mudanças climáticas globais, pelo esgotamento das reservas de petróleo e pelos conflitos pela posse das últimas reservas. As mudanças climáticas estão ultrapassando a ameaça de uma guerra atômica, na avaliação dos riscos de extinção da espécie humana sobre a face da Terra. Por este motivo, autoridades e a sociedade civil se movem em busca de tecnologias de baixo potencial de agressão ao ambiente, especialmente com baixa emissão de gases de efeito estufa. Assim, as células de combustível, em que produtos orgânicos são usados para gerar energia em forma contínua, através de reações químicas, ganham espaço na agenda do desenvolvimento tecnológico dos países centrais. Uma derivada deste conceito, as células de combustível microbianas, começam a despertar atenção, pela potencialidade de utilizar bactérias para produção de energia elétrica, usando biomassa como substrato. O conceito se baseia no fenômeno de que todo o ser vivo produz energia elétrica. Por que, então, não utilizar esta propriedade para gerar energia elétrica de forma limpa? Utilizando biomassa produzida pela agricultura, resíduos agrícolas ou lixo orgânico?

A CÉLULA Quando um organismo atua sobre um substrato (açúcar, por exemplo), na presença de oxigênio (O), ele decompõe a substância de forma seqüencial, até a formação de água e gás carbônico (os “tijolos” iniciais da fotossíntese). No entanto, quando o oxigênio não está presente, a reação é incompleta, com produção de gás carbônico, de prótons e de elétrons, conforme a reação a seguir: C12H22O11 + 13H2O à 12CO2 + 48H+ + 48e As células de combustível microbianas, que se baseiam nesta lógica, compõem-se de duas câmaras, uma biológica e outra química. Na câmara biológica, existe um substrato (biomassa), uma cultura de um microorganismo apropriado e um mediador elétrico (por exemplo, azul de metileno). Neste compartimento há ausência total de oxigênio li-

Cultivar • www.cultivar.inf.br • Agosto de 2007

vre, o que força o microorganismo a usar a via respiratória anaeróbica, consumindo apenas parcialmente a energia da biomassa. O mediador transporta os elétrons do interior do microorganismo até um eletrodo negativo (ânodo) mergulhado no meio de cultura, Após transferir o elétron ao ânodo, o mediador torna a ingressar na célula, buscando mais elétrons - um vai-e-vem que só acaba quando os microorganismos cessarem as reações químicas. Em teoria, numa célula de combustível, as reações nunca cessam, portanto este movimento é um moto contínuo.

“Autoridades e a sociedade civil se movem em busca de tecnologias de baixo potencial de agressão ao ambiente, especialmente com baixa emissão de gases de efeito estufa”

A GERAÇÃO DE ENERGIA O compartimento químico da célula contém uma solução de um agente oxidante e o eletrodo positivo (cátodo). O ânodo e o cátodo estão em extremidades opostas de uma carga, ou seja, de um equipamento (como um rádio ou uma lâmpada) que demanda energia elétrica para funcionar. O agente oxidante captura o elétron que ingressou no sistema pelo ânodo, atravessou a carga e chegou ao cátodo. Para completar o ciclo, existe uma membrana de troca iônica, que interliga as duas câmaras da célula, que permite a passagem seletiva de prótons da câmara biológica para a química. Na

câmara química, prótons e elétrons se juntam ao oxigênio para formar água, completando o ciclo da decomposição da biomassa. Por este processo, a biomassa é transformada em água, gás carbônico e energia elétrica. O caminhamento dos elétrons e prótons se repete dezenas de vezes por segundo, sendo o número de ciclos medido em Hertz. Assim, um equipamento que opera em 60 Hertz significa que ocorreram 60 ciclos de passagem de elétrons a cada segundo de operação.

A TECNOLOGIA O processo em si é essencialmente biotecnológico. Os elementos fundamentais são a biomassa e uma cultura de um microrganismo para metabolizar a biomassa. O segredo é o ambiente anaeróbico que obriga a seqüência de reações químicas a acontecerem em câmaras separadas, permitindo o fluxo de prótons e elétrons, que gera a energia elétrica. Esta não é uma tecnologia acabada, embora disponha um futuro muito promissor e compõe o conteúdo programático que propusemos para a futura Embrapa Agroenergia. O conceito é utilizar lixo, detritos, resíduos e dejetos para produzir energia, e os empregos, a renda e o desenvolvimento decorrentes. Entretanto, não é qualquer microorganismo que pode ser utilizado em células microbianas. É necessário identificar quais características são desejáveis, em quais organismos elas se encontram, efetuando o mapeamento cromossômico e identificando os genes associados, para construir um microorganismo ideal para células de combustível, através da biologia molecular. Parece ficção científica, mas é o futuro chegando às portas das nações que investirem em novos processos biotecnológicos para produção de energia, ajudando a resolver os problemas climáticos, sociais e energéticos. Ao menos para aquelas nações onde não prevalece o obscurantismo científico de bloquear toda a inovação baseada em métodos biotecnoC lógicos. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

www.gazzoni.pop.com.br

37


Mercado Agrícola

Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Governo tem obrigação de ajudar os produtores O governo está deixando o câmbio navegar na linha baixista, com os patamares atuais na faixa de R$ 1,80, contra os R$ 2,30 e acima do momento do plantio da safra, desencadeando, desta forma, alto custo das lavouras em reais, baixo faturamento com as exportações e com as vendas no mercado interno. Mesmo com as altas cotações dos grãos no mercado internacional, não estamos conseguindo ter grande renda porque os custos foram altos em reais e, agora, mesmo faturando alto em dólar, não estão sobrando reais. O governo, que segue mantendo uma política de juros altos, os maiores do mundo, atraindo grande volume de capital para vir buscar estes ganhos no país da agiotagem, tem obrigação de garantir sustentabilidade aos produtores, através de pregões de PEP, Pepro ou Opções para que assim, parte da grande safra colhida seja exportada e se diminuia a pressão interna, como vemos no milho e algodão, que ainda têm um segundo semestre com dificuldade para a comercialização. Também há a necessidade de garantir liquidez aos produtores do arroz que seguem com grandes volumes de produto no Rio Grande do Sul e com grandes dívidas para quitar nos próximos meses. Por isso, apontamos que o governo tem obrigação de ajudar os produtores que têm garantido abastecimento de alimentos e, com isso, segurado a inflação, enquanto o setor financeiro tem conseguido os melhores lucros da história do Brasil. MILHO Safrinha deixando cotações fracas Estamos no final da colheita da safrinha que deverá se encerrar no final de agosto. Assim, as cotações seguem calmas, com pouco espaço para avanços em função da dificuldade de novos fechamentos de contratos de exportação em função do câmbio, que em julho operou nos piores momentos desde outubro de 2000.Este fato não tem estimulado os exportadores a novos contratos. Como existem grandes volumes de milho programados para serem entregues nos portos neste mês, o setor segue na expectativa para posterior volta às compras de novos volumes de milho para serem exportados. Enquanto isso, no mercado interno, o suporte às cotações do Centro-Oeste e Nordeste vem sendo dado pelos pregões do governo. No Sul e Sudeste seguimos com estabilidade e pouco espaço para alterações no curto prazo. A safrinha continuará abastecendo as necessidades dos consumidores e cumprindo contratos de exportação para agosto. SOJA Entre altos e baixos segue firme O mercado da soja teve em julho os melhores momentos do ano, com alta, chegando a superar a marca dos US$ 9,50 por bushel para os meses longos da safra nova. Também teve forte queda via liquidação no meio do mês em função do clima que voltou a registrar chuvas nos EUA, com recuperação na seqüência em cima de novas condições adversas do clima naquele país. Este mercado continua dando boas cotações para a safra nova e assim teve grande volume da safra 07/08 negociada antecipadamente via fixação de cotação e via troca por insumos. Com indicativos que mais de 40% da safra nacional já foi negociada antecipadamente, contra níveis que não passavam dos 30% nos anos anteriores e pegando os estados do Centro-Oeste na casa dos 50% ou perto desta, sinalizando boa relação de troca para os produtores. Com poucos fechamentos de soja disponíveis, porque as cotações estavam em crescimento e passavam dos R$ 35 nos portos quando houve uma forte queda para os R$ 32 e recuperação parcial na seqüência, há poucos vendedores em atividade que seguem apostando em níveis melhores à frente. No Sudeste e Centro-Oeste, a cultura mostrou pressão de alta dos vendedores, que

41 38

apontam pouca soja. Assim, as indústrias, para conseguir escala para esmagamento, tiveram que pagar níveis acima do que liquida na exportação. A tendência é que continue assim nos próximos meses. FEIJÃO Poucas ofertas e cotações firmes O mercado do feijão continuou mostrando pressão de alta nos indicativos dos produtores porque poucas lavouras estavam sendo colhidas no Brasil central e não tinham ofertas de produto de boa qualidade nas demais regiões do país. Assim, as cotações seguem firmes e devem continuar desta forma nos próximos meses, porque não há expectativa de que tenhamos grandes ofertas até o final de outubro. As primeiras lavouras da primeira safra 07/08 começaram a ser plantadas no estado de São Paulo e também, agora em agosto, em outros pontos do Sul e Sudeste, se o clima permitir. Este feijão tende a dar bom resultado

econômico aos produtores porque chegará a um mercado desabastecido. Os indicativos do feijão Carioca se mantiveram entre R$ 80 e R$ 90 e podem ter níveis melhores em agosto. ARROZ Muito arroz e poucos negócios O mercado do arroz continuou em marcha lenta em julho, com muito produto parado no Sul e indústrias trabalhando com o que têm nas mãos. Os produtores do Centro-Oeste forçam as posições para cima, mas com poucos ganhos porque o varejo não pagou as cotações pretendidas pelas indústrias, que buscavam ajustes no fardo e pouco conseguiram. Enquanto isso o câmbio esteve no fundo do poço, abaixo de R$ 1,90 e com comentários de que poderá ir ainda mais fundo, favorecendo as importações e limitando as cotações no Sul do país. Os valores se mantiveram entre os R$ 21/ R$ 23 com pouco espaço para alterações a curto prazo.

CURTAS E BOAS ARGENTINA - A safra está fechada, com 22 milhões de t de milho, 45,2 da soja, 14 de trigo, 1,08 milhão de t de arroz e 300 mil t de feijão. TRIGO - Continua mostrando indicativos de alta e segundo o USDA em seu relatório de oferta e demanda, a safra mundial terá 612 milhões de t e consumo de 620 milhões, derrubando os estoques mundiais para 116 milhões de t. Mantendo expectativa de um mercado firme em 2008. ALGODÃO - A nova safra aponta para os 115,8 milhões de fardos, contra os 118 colhidos no último ano, basicamente em cima da queda nos EUA, onde houve a redução do plantio em favor do milho. O produto mostra queda de 21,6 para 17,5 milhões de fardos. Mesmo com as cotações internacionais ao redor dos US$ 0,60 aos US$ 0,70 por libra, níveis altos porque historicamente se trabalha abaixo dos US$ 0,50, o cenário não tem sido favorável aos produtores brasileiros em função do câmbio no fundo do poço. Assim seguimos na dependência dos pregões de apoio do governo brasileiro. EUA - O clima segue dando a linha do mercado, com forte alta em julho em função do calor, depois, queda e novamente alta. Segue com indicativos de safra cheia para o milho e fraca para a soja. CARNES - O Brasil continua batendo recorde de embarques no primeiro semestre, com 1,363 milhão de t de carne bovina, crescimento de 26,7% em relação ao mesmo período do ano passado e 1,544 milhão de t de carne de frango com crescimento de 24,4% em relação a 2006, sinalizando aumento no consumo de ração.

Cultivar Cultivar •• www.cultivar.inf.br www.cultivar.inf.br •• Fevereiro Agosto de 2005 2007




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.