Maquinas 108

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Cultivar Máquinas • Edição Nº 108 • Ano X - Junho 2011 • ISSN - 1676-0158

Nossa capa

Test Drive - Pla H3000I

Confira o desempenho do autopropelido H3000I da Pla, um pulverizador com barras frontais, direção nas quatro rodas e distribuidor de fertilizantes sólidos

Destaques

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Índice

Agricultura de Precisão

Cultivadores

Depois de se consolidar nas lavouras de grãos, a AP começa a ser realidade também em pomares de citros no Brasil

Conheça os principais tipos de cultivadores e quais as indicações de uso para cada modelo

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Rodando por aí

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Agricultura de precisão em citrus

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Principais tipos de cultivadores

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Perfil dos operadores de tratores

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Test Drive - Pla H3000I

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Certificação do plantio direto

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Risco de incêndios em silos

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Irrigação localizada em videiras

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Ficha Técnica - Plataforma Fankhauser

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Perdas na colheita de amendoim

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Coluna Estatística Máquinas

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 EUROS 110,00 Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


rodando por aí

Agrimec

O grupo Agrimec comercializou na Agrishow mais de 70 implementos agrícolas, como a capinadeira rotativa, para clientes do Brasil, Honduras, Costa Rica, Nicarágua, Venezuela e Bolívia. Segundo Odilo Marion, este recorde de vendas num único evento representa um mês de produção da empresa.

Uniport 2 500 Star

O grande destaque da Jacto em 2011, o Uniport 2 500 Star, foi apresentado nas principais feiras agrícolas brasileiras este ano. Na Agrobrasília, realizada de 14 a 17 de maio, além deste lançamento, a equipe apresentou outras linhas de pulverizadores da empresa. Segundo José Tonon, gerente de marketing, os resultados obtidos no evento superaram os do ano anterior.

Ronaldo N. da Cruz

Ampliação

Pagé

A John Deere comemora a ampliação da gama de produtos oferecidos ao mercado brasileiro. A linha de tratores da empresa passou de sete para 21 modelos diferentes nos últimos quatro anos, incluindo modelos para a área florestal, produção de frutas e pecuária, explicou Paulo Herrmann, diretor comercial da John Deere para a América Latina.

A Pagé, empresa de equipamentos para armazenagem, esteve presente na Agrishow 2011 expondo sua linha completa. Segundo o diretor comercial da Pagé, esta edição foi a melhor dos últimos anos em termos de público visitante e de negócios fechados.

NaanDan Jain

Primeiro pulverizador

A Massey Ferguson entregou no início de junho o primeiro pulverizador autopropelido da marca no mundo. O cliente é o produtor Márcio Luis Schreiner, do município de Coronel Bicaco, no interior do Rio Grande do Sul. Ele adquiriu o pulverizador na concessionária Pippi Máquinas e tem uma propriedade de 450 hectares onde cultiva trigo, milho e soja.

A NaanDan Jain, que desenvolve, produz e comercializa produtos e serviços em irrigação localizada, apresentou na Agrishow as tecnologias que a empresa disponibiliza. Segundo Egídio Osti Neto, gerente comercial, o objetivo é caminhar brevemente para a liderança mundial em equipamentos e tecnologias Egídio Osti Neto na área.

Geo Agri

A Geo Agri Tecnologia Agrícola realizou treinamento para seus distribuidores no final de maio. O objetivo do encontro foi realizar um treinamento técnico do novo sistema CFX750 Field IQ, para controle automático da pulverização e taxa variável granular de fertilizantes e corretivos.

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Arvus

Yanmar Agritech

A Arvus Tecnologia demonstrou durante a Agrishow o Titanium Corte de Seção, um controlador eletrônico de aplicação de insumos que proporciona até 15% de economia no uso de fertilizantes, corretivos e sementes. A equipe de especialistas da empresa fez demonstrações de todas as linhas oferecidas pela Arvus.

A Yanmar Agritech participou, em parceria com a concessionária Hanashiro, da terceira edição da Agrobrasília. No primeiro dia da feira, foram entregues no estande do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) seis microtratores e um trator Yanmar Agritech a produtores que adquiriram as máquinas pelo programa Mais Alimentos.

Centro de formação

A Agrale inaugurou no início de junho o seu Centro de Formação Profissional, que manterá em parceria com o Senai. De acordo com Paulo Ricardo dos Santos, gerente de Recursos Humanos da Agrale, o centro ajudará a suprir a necessidade de mão de obra qualificada, atualmente escassa no mercado. O centro tem capacidade para 60 alunos por turno e as primeiras turmas serão formadas por filhos de funcionários e jovens das comunidades locais.

América do Sul

Fabiana Nicoleti Franco, da equipe de marketing da John Deere, e Lucy Pereira, especialista de produtos, participaram da Agrishow 2011 onde aproveitaram a oportunidade para tirar dúvidas de clientes e apresentar os novos produtos da empresa. Fabiana é responsável por clientes especiais para a América do Sul.

Fabiana Nicoleti Franco (esq.)

Amanco

A Amanco, que comercializa tubos e conexões para os mercados predial, infraestrutura e irrigação, participou da Agrishow 2011 onde destacou o segmento de irrigação, com lançamento dos tubos de PVC de 350, 400 e 500mm, engate rápido metálico e engate rápido stander. Flávia Siquara de Andrade

Novo Secretário

João Luiz Szimanski assumiu o cargo de secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente da cidade de Capanema, Paraná. Formado em Engenharia Agronômica desde 2003, ele ficou conhecido no mercado agrícola por trabalhar nas empresas New Holland e Montana, onde realizou funções ligadas a marketing e comercial. De volta a sua cidade natal, assumiu o novo desafio João Luiz Szimanski no dia 1º de junho.

MaqCampo

Eugênio Brunheroto

A MaqCampo, de Formosa (GO), apresentou a linha de máquinas e implementos agrícolas da John Deere na feira Agrobrasília na sua terceira edição. Linhas de crédito facilitadas e programas como o Mais Alimentos, do Governo Federal, foram um fator importante para o aumento das vendas durante a feira, que movimentou R$ 212 milhões em negócios.

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agricultura de precisão Jacto

Citricultura de Precisão

Seguindo os passos dados nas lavouras de grãos, a Agricultura de Precisão começa a ser utilizada também na citricultura, onde os primeiros estudos mostram que a técnica tem proporcionado significativos ganhos na produtividade

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à AP. O setor é impulsionado pelo crescente interesse dos gestores agrícolas que buscam soluções para redução de custos e impactos ambientais. As primeiras ideias relacionadas ao manejo da variabilidade espacial do campo – premissa básica da AP – surgiram em culturas de grãos e cereais altamente mecanizadas, que hoje podem aplicar as ferramentas de AP em todo o seu ciclo de forma atrelada às operações mecanizadas. No Brasil, as práticas de AP, trazidas principalmente dos EUA, se difundiram rapidamente por esse tipo de cultivo. Mais recentemente, outras culturas como cana-de-açúcar, café e citros, altamente desenvolvidas na região Sudeste, também têm avaliado sua utilização. No caso dos citros, para que se apliquem os conceitos do manejo da variabilidade espacial e tratamento localizado, o conjunto de ferramentas fornecido pela AP deve passar por uma série de adaptações para atender as

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demandas de uma cultura perene, arbórea e que ainda não é mecanizada em todas as suas operações, como a cultura dos citros. Tais adaptações surgem em um novo conceito, denominado por alguns especialistas como Horticultura de Precisão, ou mesmo Citricultura de Precisão. Fotos André Colaço

A

laranja é uma das mais tradicionais culturas cultivadas no Brasil, que é o maior produtor e exportador de suco do mundo. A tecnologia empregada nessa cultura tem garantido boas produtividades, porém, a citricultura enfrenta hoje muitos desafios, principalmente fitossanitários que dificultam o aumento da produção. Dessa forma, novas técnicas de manjejo que possibilitam a otimização de recursos e assim maior sustentabilidade ao negócio são extremamente desejáveis. É nesse contexto que a Agricultura de Precisão (AP) tem sido buscada como uma alternativa de manejo para aprimorar a produção e torná-la cada vez mais competitiva. A prática da AP vem se expandido rapidamente no agronegócio brasileiro. Tal fato é verificado anualmente nas feiras de maquinários, onde se pode observar o grande aumento do número de empresas que fornecem serviços ou produtos relacionados

No Brasil, embora discretas, as práticas de Agricultura de Precisão em citrus são uma tendência


Mapa de produtividade em pomar de 25 hectares

As primeiras pesquisas em citricultura de precisão tiveram berço no estado da Flórida (EUA) no final da década de 1990, quando pesquisadores da Universidade da Flórida elaboraram os primeiros mapas de produtividade e ainda avaliavam o potencial de uso do sinal GPS (Global Positioning System) para as aplicações localizadas de insumos. Hoje, mesmo ainda não sendo significativamente populares, as técnicas de mapeamento de produtividade e taxa variável de adubação e pulverização já são utilizadas por um número considerável de citricultores americanos. No Brasil, tais práticas ainda se encontram em fase de investigação e a adoção em larga escala é discreta, mas não deixa de ser uma tendência para o setor. Deve-se salientar que existem diferenças importantes entre o ambiente e o manejo encontrados na Flórida e no Brasil, que fazem com que os focos de pesquisa sejam bastante diferentes entre os dois polos produtores. Quando se trata de variabilidade espacial, fator que justifica o tratamento localizado, nota-se que nas regiões produtoras da Flórida, ela está presente principalmente em características da planta e não do solo. Ou seja, normalmente os solos são homogeneamente arenosos e com baixa fertilidade química natural. Por outro lado, as características de planta como porte, altura ou mesmo incidência de pragas e doenças se apresentam de maneira variável nos pomares. A principal causa para a heterogeneidade do porte das plantas é o fato de as árvores serem constantemente replantadas sem que haja reforma frequente do pomar, como é feito usualmente na citricultura brasileira. Dessa forma, um dos principais fatores que guiam

Mapa de densidade de falhas em pomar de 25 hectares

as intervenções em taxa variável nos pomares da Flórida é o volume de copa das plantas, que faz alterar tanto doses em adubações como em pulverizações. Um segundo foco primordial das pesquisas americanas é o uso da AP para o manejo fitossanitário em taxa variável. A disseminação do HLB (Huanglongbing) ou Greening, tem causado grande impacto no custo de produção dos pomares americanos, o que justifica a busca por pesquisa e novas formas de otimizar os recursos aplicados na cultura. As pesquisas em AP se inserem nesse contexto tanto para manejar em taxa variável a aplicação de defensivos como para fornecer ferramentas que auxiliem a inspeção dessa doença nos pomares, minimizando os erros de observação dos inspetores e maximizando

o rendimento operacional. No Brasil, as primeiras iniciativas do meio acadêmico em avaliar o uso da AP em citros, a tomar como exemplo as pesquisas realizadas na Esalq/USP, se deram em meados da década passada, com foco no estudo da variação da produtividade que seria causada principalmente pela variabilidade de fatores de solo. Foi então necessário primeiramente a elaboração de um método de mapeamento da produtividade, visto que a colheita ainda é realizada manualmente. Tal método se adequou de forma bastante prática às condições de colheita, fornecendo mapas confiáveis e eficientes em evidenciar as manchas de produção. Hoje podemos afirmar que a elaboração de um mapa de produtividade de citros em colheita manual é bastante simples

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Charles Echer

Diferente das plantas de cereais, as plantas cítricas possuem tamanhos distintos, ocasionados pelo constante plantio e pela renovação dos pomares

e de baixo custo. O uso da AP em citros foi novamente avaliado em um estudo que levantou mapas de produtividade, fertilidade e distribuição de doenças em um pomar comercial de laranja. Os resultados revelaram grandes manchas de baixa produtividade atreladas a manchas de alta ocorrência de falhas (oriundas da erradicação de plantas contaminadas com HLB e declínio). De forma muito clara o trabalho mostrou a importância do tratamento localizado e como o manejo convencional “pela média” poderia contribuir com um nível grande de erros nas intervenções agronômicas. No mesmo trabalho foram constatados importantes padrões de fertilidade do solo relacionados à forma de aplicação e ao tipo de máquina utilizada na adubação. Em um levantamento detalhado da fertilidade química no pomar avaliado, verificou-se que em amostras retiradas na região da projeção da copa das árvores, encontraram-se altos níveis de fósforo (P) e potássio (K) e baixas quantidades de cálcio (Ca) e magnésio (Mg). Em amostras obtidas no centro das entre linhas o oposto era observado. Adubos

granulares, normalmente fontes de P e K, e corretivos em pó, fonte de Ca e Mg, quando aplicados da mesma forma, com uma máquina de distribuição a lanço, atingem regiões diferentes no perfil transversal de aplicação. Sendo assim, os grânulos mais pesados chegam mais facilmente à região da projeção da copa, elevando os níveis de P e K no local. Os grânulos mais leves têm dificuldade em atingir essa área, prevalecendo quantidades maiores de Ca e Mg no centro das ruas dos pomares. O fato reforça a argumentação para melhoria e adequação das máquinas para fins específicos como a taxa variável de adubação em pomares. Confirmada a presença da variabilidade espacial na cultura e no solo e com isso o potencial de uso da AP nos pomares citrícolas, iniciou-se um projeto mais abrangente que aborda a adubação em taxa variável e os efeitos na produtividade, fertilidade do solo e nutrição das plantas. O estudo tem um amplo calendário e um rico cronograma de tarefas que englobam todo o ciclo da AP, do levantamento de mapas de produtividade e fertilidade até a elaboração de mapas de recomendação e as intervenções em taxa

variável. Desde o ano de 2008, vêm sendo observados bons resultados das práticas avaliadas quando comparadas com o manejo convencional. As vantagens estão principalmente na redução do uso de fertilizantes sem prejuízo à produtividade ou à nutrição das plantas. No longo prazo, os resultados indicam que as produtividades obtidas com o novo tratamento podem inclusive ser maiores do que no tratamento convencional. O estudo ainda será conduzido por mais três anos, mas já é possível observar que as técnicas sugeridas têm proporcionado significativo ganho econômico oridundo principalmente da redução do custo de produção. O retorno do investimento também é extremamente rápido. Além da adubação em taxa variável, a AP pode ser utilizada em uma grande variedade de operações nos pomares citrícolas. A exemplo das pesquisas americanas, o Brasil ainda deve desenvolver tecnologia para utilizar o tratamento localizado no manejo fitossanitário, onde hoje se encontram os maiores gargalos para a produção. Para concluirmos nossa avaliação sobre a nova “Citricultura de Precisão”, levando em consideração o cenário da pesquisa, a disponibilidade de produtos e serviços e também a disposição dos produtores para novos investimentos, é importante uma grande expansão do uso das técnicas de AP no cultivo de citros do Brasil. Essa tendência já é observada pelos produtores de maior porte e pelo setor industrial de processamento do suco. Ela é alimentada tanto por motivos de redução de custos quanto pelo apelo ambiental de redução de contaminantes químicos, atendendo assim as demandas por sustentabilidade dos .M clientes internacionais. André Freitas Colaço e José Paulo Molin, Esalq, USP

Mapas de produtividade e fertilidade do solo para compor a recomendação de adubação em taxa variável

André Colaço e José Paulo Molin explicam as particularidades da Agricultura de Precisão em citrus

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cultivadores

Nas entrelinhas

Além do controle químico, o sistema de cultivo mecânico é muito utilizado, principalmente em culturas como algodão e milho. Para este procedimento, existem diversos modelos de cultivadores capazes de realizar o trabalho de forma satisfatória herbicidas e o sistema com chamas, que usa um lança-chamas para matar as plantas daninhas.

CULTIVADORES MECÂNICOS

O modelo de cultivador depende da extensão da cultura, das condições do terreno e de índices pluviométricos

somente uma ou outra ação. Em geral, ocorrem as duas conjuntamente, isto é, os cultivadores mecânicos tanto arrancam e cortam as plantas daninhas, como as cobrem com terra. Assim, o cultivador pode, além de combater estas plantas daninhas, realizar a escarificação, a amontoa e a incorporação.

SISTEMAS DE CULTIVO

Atualmente, três sistemas de cultivo são empregados. O mais utilizado é o sistema mecânico, com uso de cultivadores de diversos tipos, seguido pelo sistema químico com uso de

Case IH

Fotos Amazone

C

ultivo é o conjunto de operações realizadas após a instalação e durante o desenvolvimento das culturas. Seus objetivos são de ordens física e biológica. Como objetivos de ordem física, temos: a escarificação, a amontoa e a incorporação. Como objetivos de ordem biológica: o desbaste ou raleamento e o combate de plantas daninhas. A escarificação visa conservar a umidade e melhorar a aeração e a permeabilidade do solo. Com a amontoa, pretende-se cobrir as raízes, garantindo maior fixação e sustentação da planta, incorporar adubos e abafar as plantas daninhas nas linhas. O desbaste tem por objetivo eliminar o excesso de plantas, impedindo que exerçam concorrência entre si. Entretanto, o combate às plantas daninhas constitui-se, basicamente na principal finalidade das operações de cultivo. O desbaste exige máquinas especiais, enquanto que o controle das plantas daninhas por sistema mecânico pode ocorrer de duas formas: as plantas daninhas são arrancadas e deixadas sobre a superfície, expostas para que morram, ou então são cobertas com terra movimentada pelo cultivador. Na realidade, é difícil obter-se

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Existe uma variedade enorme de cultivadores que vão desde os pequenos, os manuais, os usados em pequenas hortas, até os grandes, de 15 grades, atrelados a trator, capazes de trabalhar 40 a 50 ha/dia (Silveira, 2001). O tipo e o tamanho necessários para cada caso dependem da extensão da cultura, do tipo, do formato e das condições do terreno; das precipitações pluviométricas; e do tipo de tração disponível. Os cultivadores podem ser subdivididos em: manuais, de tração animal e motomecanizados. O exemplo típico de cultivador manual é a enxada. Como cultivador de tração animal, temos os de rabiças. Por outro lado, eles podem ter, ou não, roda de profundidade. Nestes cultivadores, os órgãos ativos são presos rigidamente ao suporte, embora possamos efetuar a regulagem do espaçamento existente entre eles e a largura de trabalho.


Exemplo de módulo de três e cinco enxadas utilizadas para o cultivo

CULTIVADOR MOTOMECANIZADO CONVENCIONAL

O cultivador motomecanizado convencional é constituído de uma armação que pode ser tracionada ou ligada ao trator por meio do sistema hidráulico. Na armação, acoplam-se diversos elementos reguláveis, na extremidade dos quais prendemse os órgãos ativos. Existem vários tipos de elementos: uns são rígidos, outros são flexíveis; cada tipo tem suas vantagens e suas desvantagens. Na barra porta-

ferramentas, de seção quadrada ou retangular (oca ou maciça), os elementos cultivadores são presos por meio de parafusos ou de presilhas que permitem a variação de sua posição na

armação, para adaptar-se aos distintos espaçamentos entre linhas. Em geral, encontram-se três tipos de colunas nos cultivadores: as rígidas, as articuladas e as flexíveis. As rígidas são antigas, sendo adequadas a terrenos que não apresentam obstáculos ocultos, como pedras e raízes. Os outros dois tipos são usados em solos com grande quantidade de pedras ou de raízes. As articuladas têm, na parte superior, molas que dão elasticidade, possuindo regulagem de profundidade independente. As colunas flexíveis possuem uma ou mais lâminas curvadas e arqueadas, cedendo aos obstáculos e, devido à sua vibração, destorroam melhor o solo e arrancam as plantas daninhas; porém, a profundidade de trabalho pode ser irregular. Existem certos tipos de cultivadores, chamados de arados de cinzel ou cultivadores de superfície, que têm colunas rígidas e molas duplas ou simples na parte superior, trabalhando a uma profundidade maior do que a trabalhada pelos cultivadores simples. Este sistema absorve as vibrações durante o processo, protegendo a coluna contra obstáculos e fazendo com que ela se articule e retorne automaticamente à posição normal de trabalho após o impacto. Embora os cultivadores, em geral, sejam empre-

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Esquema de cultivador mecânico para culturas com espaçamento ao redor de 0,8m

gados em culturas em linhas ou fileiras, tendo construção robusta, são também utilizados como ferramentas de preparo do solo, deixando a cobertura morta na parte superficial. Os órgãos ativos dos cultivadores, presos às extremidades das colunas, realizam seu trabalho de maneira diferente: nos de coluna rígida, as enxadinhas efetuam um corte do solo subsuperficial e, além do movimento dado pelo trator, produzem vibração, facilitando o arrancamento das plantas daninhas. As ferramentas destes cultivadores, denominadas de enxadinhas, apresentam-se de várias formas, cujos nomes variam de acordo com o fabricante e com a região. Dentre elas temos o tipo escarificador (enxadinha de ponta dupla, de ponta simples, ou picão, e de ponta-de-lança), e o tipo extirpador (enxadinha asa-de-andorinha). Existem também os tipos riscador e sulcador, este último mais utilizado na amontoa. Os tipos básicos de enxadinhas são o picão e a asa-de-andorinha. O picão é uma enxada estreita, medindo aproximadamente 20cm de comprimento por 7,5cm de largura e destina-se à realização de cultivos profundos, sem provocar o deslocamento lateral de terra. A asa-deandorinha efetua cultivos rasos, deslocando a terra lateralmente. Trata-se de uma enxada larga que mede de 25 a 30cm.

ACOPLAMENTO

Alguns procedimentos devem ser considerados no acoplamento do trator ao cultivador. Primeiro, é necessário escolher um local plano para realizar o engate do trator ao implemento;

operando com o trator em marcha ré lentamente para se aproximar ao máximo do cultivador. Ao se aproximar utilize a alavanca de controle de posição do hidráulico, deixando o braço inferior esquerdo no nível do pino de engate. Posteriormente, é necessário proceder na seguinte ordem: engatar o braço inferior esquerdo e colocar o pino de trava; engatar o braço do terceiro ponto do trator na torre do cultivador e colocar as presilhas; e finalmente engatar o braço inferior direito que possui regulagens através da manivela niveladora. Neste momento a rosca extensível do terceiro ponto do trator pode ser utilizada para aproximar ou afastar o cultivador, facilitando o engate do mesmo. A centralização do cultivador em relação ao trator deve ser feita a fim de que a resultante das forças resistentes do implemento se posicione sobre a linha de tração do trator. Para fazer esse alinhamento deve-se atuar nas correntes estabilizadoras até que a distância dos braços inferiores do trator até as rodas traseiras seja igual. Para verificar a centralização do cultivador ao trator, é importante seguir alguns passos. Primeiramente é necessário fazer o nivelamento e, para isso, deve-se colocar o cultivador em local plano e nivelar no sentido da largura (transversal) e no sentido do comprimento (longitudinal). No sentido da largura, o nivelamento é feito pela manivela niveladora do braço inferior direito do hidráulico, devendo-se deixar a torre do cultivador bem na vertical, ou seja, medidas iguais. O nivelamento do comprimento é feito através do braço superior do hidráulico (3º

ponto) e as enxadinhas do cultivador devem tocar ao mesmo tempo no solo.

REGULAGEM

Em cultivadores que permitem regulagens para o ataque das enxadinhas, estas deverão ficar com uma pequena inclinação para baixo, dando-se uma folga em torno de 3 a 6mm na sua parte traseira, para a manutenção da profundidade. O nivelamento feito no segundo ponto do sistema hidráulico deverá ser perfeito, para que todas as enxadinhas atinjam o solo na mesma profundidade, cabendo ao nivelamento no terceiro ponto promover o ataque correto dos órgãos ativos, principalmente para os cultivadores que não possuem regulagens individuais. O número de enxadinhas por linha de cultivo irá depender do espaçamento da cultura e da intensidade das plantas daninhas. A regulagem do espaçamento entre as enxadas é função do espaçamento entre fileiras da cultura a ser cultivada mecanicamente. Para culturas com espaçamentos maiores que 0,8m, tais como milho e algodão, a montagem das enxadas é feita de forma que na distância entre linhas trabalhem três enxadas, sendo duas à frente e uma atrás, de forma a evitar o acúmulo do material cortado nas hastes das enxadas. Nas extremidades laterais do cultivador são montadas apenas duas enxadas, de forma que o cultivo das entre linhas das extremidades é terminado na passagem seguinte do mesmo. A bitola do trator deve ser ajustada de maneira que as rodas traseiras do mesmo

Detalhes da adubação lateral com um depósito de fertilizantes para cada duas linhas; bilateral com depósito para cada linha; e central onde é utilizado um depósito de fertilizantes para cada duas linhas

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Kuhn

trafeguem nas entre linhas, a fim de evitar o esmagamento das plantas da cultura. No caso das culturas com espaçamentos ao redor de 0,8m, a bitola do trator é regulada para 1,82m. Para culturas com espaçamentos ao redor de 1,3m, como é o caso da cana-de-açúcar, a bitola do trator passa a ser de 1,42m. A disposição das enxadas é semelhante à utilizada anteriormente (três enxadas), apenas mais espaçadas entre si para ocupar o espaço correspondente à entre linha. Finalmente, para culturas com espaçamentos ao redor de 0,5 a 0,7m, a montagem das enxadas é feita de forma que na distância entre linhas trabalhem duas enxadas, montadas uma à frente e outra atrás. Na extremidade da barra é montada uma enxada de cada lado, sendo a operação de cultivo das entre linhas das extremidades completada na passagem seguinte do cultivador. A bitola do trator é novamente ajustada para 1,82m pelos mesmos motivos já mencionados anteriormente. As rodas de controle de profundidade devem ser reguladas de forma a trafegar também nas entre linhas, sendo a profundidade regulada através da haste de suporte das rodas.

CULTIVADORES-ADUBADORES

tivador equipado com adubadoras, no intuito de se promover a denominada adubação de cobertura. O emprego destas máquinas pode ser tanto em culturas perenes como em culturas anuais e, além de escarificar o solo, cultivam e incorporam o adubo, diminuindo bastante as perdas, principalmente por volatilização.

MANEJO DOS CULTIVADORES

Para maiores resultados, principalmente no uso dos cultivadores de enxadinhas, algumas observações: • De preferência, utilizar o mesmo número de linhas da semeadora; • Utilizar do mesmo método de trabalho da semeadura, ou seja, seguir as mesmas manobras, o mesmo sentido etc; • Utilizar estabilizadores que evitem oscilações laterais no cultivador, principalmente para os de maior largura de trabalho; • Sempre que possível, utilizar rodas de controle de profundidade; • Os melhores resultados serão obtidos em solos secos em dias de sol; • O cultivo será mais eficiente quando as plantas daninhas estiverem em estado de sementeira, ou até 7cm de altura. É importante lembrar que vários fatores interferem na qualidade das operações com

Cultivador equipado com enxada tipo asa de andorinha para cultivos rasos e com deslocamento lateral da terra

cultivadores. Quantidade de plantas daninhas, umidade, existência ou não de pedras e tocos, são fatores que devem ser levados em conta na hora de regular os cultivadores, a fim de tirar o máximo proveito e evitar .M danos à cultura. Welington Gonzaga do Vale, Univ. Federal de Mato Grosso

Kuhn

São máquinas associadas, ou seja, um cul-

Enxadas para cultivadores: a) riscadora, b) bico de pato com asa, c) asa de andorinha, d) bico de pato, e) cinzel

Welington G. do Vale

O nivelamento do cultivador é feito com os braços superior (3° ponto) e inferior direito, que possuem regulagens

Enxada tipo cinzel, com molas para absorver os impactos maiores causados por obstáculos

O pesquisador Welington do Vale explica os diferentes tipos de cultivadores e suas aplicações

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tratores

Perfil preocupante Valtra

Levantamento feito pela Universidade Federal de Lavras mostra o perfil dos operadores de tratores agrícolas no Brasil e desenha um profissional pouco qualificado, sem treinamento e trabalhando além do período recomendado

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a avaliação das condições de segurança na operação de tratores agrícolas, o homem pode ser considerado como parte fundamental do processo, uma vez que as falhas humanas constituem-se nas principais causas genéricas dos acidentes. No meio rural, a mecanização da lavoura agrícola e florestal promoveu a modernização da agricultura, propiciando diversas melhorias na questão produtiva, como também no conforto e na segurança dos operadores, mas concomitantemente trouxe aspectos negativos, provocando aumento potencial nos riscos de acidentes que envolvem o trabalhador rural. Apesar dos vários investimentos visando a melhoria tecnológica dos tratores agrícolas permitindo melhor rendimento e maior qualidade do trabalho, além de conforto para o operador, percebe-se que acidentes de trabalho envolvendo estes equipamentos continuam ocorrendo. Outra situação preocupante é o despreparo dos operadores de máquinas que não possuem treinamento adequado e se propõem a operar máquinas sofisticadas, podendo contribuir para a ocorrência de acidentes graves de trabalho.

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Uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras procurou caracterizar os operadores de máquinas agrícolas em alguns municípios das regiões nordeste, leste e central de Minas Gerais, onde foram entrevistados 389 operadores de tratores agrícolas distribuídos entre as 73 propriedades rurais visitadas. Visando a caracterização do operador de tratores e máquinas agrícolas e florestais, primeiramente, foi analisada a condição profissional deste operador. Esta análise diz respeito à situação profissional no qual o entrevistado se encontra na propriedade pesquisada. Foi verificado que 59,5% dos entrevistados são proprietários dos tratores ou filhos de proprietários e 40,5% são empregados fixos ou temporários (Figura 1). Uma explicação para este resultado se deve ao crescente número de tratores agrícolas presentes nas propriedades, o que dificulta encontrar operadores disponíveis no mercado. Na questão relativa à idade dos operadores dos tratores, pode ser verificado que a média foi de 26 anos e que a maior parte (49,9%) possui idade entre 18 e 25 anos, conforme

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a Figura 2. A menor idade encontrada entre os operadores entrevistados foi de 13 anos e a maior idade foi 78 anos. Abaixo de 18 anos foram encontrados 17 operadores (4,37%), enquanto acima de 55 anos foram encontrados 14 operadores (3,6%). Segundo os dados apresentados percebe-se que existem propriedades onde menores de idade operam tratores agrícolas realizando as diversas atividades diárias. Além da falta de experiência comum entre os mais jovens, existe a possibilidade de maior exposição a acidentes de trabalho, percebendo-se grande dificuldade destes em acionar alguns comandos ou em realizar atividades que exigem maior esforço como acoplamento de implementos, observando-se, ainda a ilegalidade de se permitir o trabalho de menores de idade. No quesito experiência no trabalho com tratores agrícolas, pode-se observar que apenas 14,5% dos entrevistados operam tratores há menos de dez anos e a maioria (85,5%) já possui bastante experiência no manuseio destas máquinas (Figura 3). A média de tempo de trabalho com tratores


Figura 1 - Caracterização dos operadores de tratores entrevistados no que se refere à condição profissional

Figura 2 - Caracterização dos operadores de tratores entrevistados no que se refere à idade

Figura 3 - Caracterização dos operadores no que se refere à experiência (em anos) no trabalho com tratores

Figura 4 - Caracterização dos operadores de tratores no que se refere ao nível de escolaridade

A maioria dos operadores entrevistados também não possui a habilitação prevista pelo CTB ou esta se encontrava abaixo da categoria recomendada (categoria C). Dos entrevistados, apenas 27,70% possuem CNH categoria C. Também foi pesquisada a origem do treinamento inicial dos trabalhos dos operadores com tratores agrícolas. A Figura 5 demonstra que 37,8% iniciaram suas atividades como ajudantes nos trabalhos de campo, passando, após algum tempo de observação, a operarem as

máquinas nas ausências do operador ou quando este deixava o trabalho. Também foi percebido que alguns operadores (29,8%) aprenderam a operar os tratores com familiares, geralmente o pai, ou então sozinhos (18%). Destaca-se, ainda, que nenhum dos entrevistados aprendeu a operar tratores através de cursos formais de treinamento e que estes cursos começaram a ser procurados pelos operadores como forma de aperfeiçoamento quando estes já executavam o trabalho com tratores há

Charles Echer

agrícolas como operador foi de 24,9 anos sendo o maior tempo equivalente a 52 anos e o menor tempo de trabalho encontrado de 18 meses. Outra questão analisada com relação aos operadores de tratores diz respeito ao nível de escolaridade dos mesmos. Neste item foram analisadas várias classificações visando demonstrar o nível de formação em que se encontram os operadores destas máquinas que, a cada dia, estão se tornando mais sofisticadas. De acordo com o levantamento de dados pode-se perceber que a maioria dos operadores (63,2%) não completou o primeiro grau, sendo que 8,9% destes não sabem ler. Isto pode ser uma agravante em termos de segurança, uma vez que, com máquinas cada vez mais sofisticadas, a capacidade de entendimento das instruções que as acompanham fica comprometida, podendo levar a acidentes diversos, além da execução errada de ações (Figura 4). Aliando-se a esta constatação, o fato de que a maioria dos operadores trabalha sozinha, em qualquer situação de risco de acidente ou necessidade de entendimento do trabalho a ser realizado, a possibilidade de acidente cresce consideravelmente.

Dos operadores entrevistados, 85% operam máquinas agrícolas por um período superior a 15 anos

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Figura 5 - Caracterização dos operadores de tratores no que se refere à origem do treinamento inicial na operação de tratores agrícolas

Figura 6 - Participação dos entrevistados em treinamento formal na operação de tratores agrícolas

Figura 7 - Formas como ocorreram os treinamentos formais dos operadores de tratores agrícolas

Figura 8 - Porcentagem dos entrevistados que trafegam em estradas ou rodovias com tratores agrícolas

Figura 9 - Comportamento dos operadores de tratores agrícolas em relação ao consumo de bebidas alcoólicas

Figura 10 - Distribuição dos operadores de acordo com a jornada diária de trabalho

algum tempo. Diante das condições acima citadas, verificou-se entre os entrevistados que alguns poucos já participaram de cursos de treinamento formal na operação de tratores agrícolas. Na Figura 6 está demonstrado que 72,24% dos operadores entrevistados jamais participaram de qualquer tipo de treinamento formal que visasse orientá-los quanto à operação correta destas máquinas.

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Destaca-se, ainda, que não foi verificada a participação de nenhum dos operadores amostrados em cursos específicos sobre segurança na operação de tratores agrícolas. Geralmente, o tema segurança na operação com máquinas agrícolas se encontra incluído no conteúdo ministrado nos cursos para operadores como complemento, sem que haja aprofundamento sobre o assunto. Foi verificado que 95,9% dos operadores

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jamais leram o manual de instruções que acompanha o veículo e os implementos agrícolas. Outros (3,4%) leram alguma parte diante de dificuldades no manuseio do trator e 0,7% já admitiu ler todo o manual sempre que possível (Figura 7). Entre todos os operadores consultados e proprietários, a totalidade não entende completamente as informações constantes nestes manuais. Verificou-se também que o tráfego em rodo-


vias e estradas com tratores agrícolas é um fator que torna maior o risco de acidentes com estes equipamentos, devido à natural inadequação destas máquinas a este emprego. De acordo com a Figura 8 os resultados apontam que a maioria absoluta dos operadores (98,45%) afirmou que já trafegou ou trafega regularmente em estradas ou rodovias com o trator. As razões mais alegadas para esta atitude são o deslocamento das máquinas entre áreas de trabalho dentro do município, transporte de produtos e insumos, uso como veículo de transporte de passageiros ou para manutenção do trator e do implemento (limpeza, lubrificação, abastecimento, reparos etc). Nesta pesquisa foi verificado o consumo de álcool pelos operadores por ser um fator que afeta significativamente a eficiência, a segurança e o rendimento do trabalho do operador. Devido ao poder de provocar a perda da capacidade operacional, o álcool pode levar a ocorrência de um número considerável de acidentes a partir do momento que o operador se dispõe a dirigir o trator sob seu efeito. De acordo com as pesquisas, percebeuse que 54,3% dos operadores consomem bebidas alcoólicas socialmente, enquanto

Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa entrevistaram 389 operadores de tratores em Minas Gerais

25,5% dos entrevistados fazem uso destas bebidas frequentemente (Figura 9). Assim como no interior de São Paulo através das pesquisas de Monteiro (2010) e no interior do Rio Grande do Sul nas pesquisas de Debiasi (2002), nesta pesquisa em Minas Gerais, analisando-se a mecanização nestes períodos, foi observado que 72% dos operadores têm uma jornada de trabalho diária que, nas épocas de maior serviço, ultrapassa as oito horas, ao contrário do período de baixa atividade onde a jornada de trabalho raramente atinge este tempo (Figura 10). Durante sete meses do ano (outubro a

abril), o trabalho com trator agrícola é intenso, com jornadas de trabalho superiores a dez horas diárias. Nos cinco meses restantes do ano (maio a setembro) há uma redução brusca na jornada de trabalho, não chegando, em alguns casos, a oito horas diárias. Vale ressaltar que jornadas de trabalho com duração superior a oito horas resultam na diminuição da capacidade do operador manter-se concentrado, aumentando os erros de tal maneira a diminuir a qualidade do trabalho e aumentar o risco de acidentes. Observando-se os dados pesquisados e analisados a respeito da caracterização dos operadores de tratores agrícolas entrevistados, pode-se verificar que uma parte considerável destes apresenta limitações de diversas naturezas (técnica, física, psicológica e fisiológica), o que torna ainda maior a possibilidade de ocorrência de vários acidentes nos mais diversos graus. Percebeu-se grande sentimento de autoconfiança na experiência no trabalho com tratores agrícolas entre os operadores entrevistados, fato que pode contribuir com .M a elevação dos riscos de acidentes. Haroldo Carlos Fernandes, Marconi Ribeiro F. Júnior e Daniel Mariano Leite, Universidade Federal de Viçosa


capa

Pla H3000I

Barras dianteiras, direção nas quatro rodas e possibilidade de acoplar distribuidor de fertilizantes sólidos são algumas das características que nos surpreenderam e que diferenciam o autopropelido H3000I da Pla

eletrônica. Esta configuração foi adotada desde a Agrishow 2010, em Ribeirão Preto, substituindo o motor da versão anterior que era da marca MWM. Pelo fato deste motor estar equipado com injeção eletrônica, os números de consumo de combustível, que foram obtidos pela equipe de teste de campo da empresa, sinalizam para uma boa economia, da ordem de 14 a 15 litros por hora, em condições de aplicação de campo. Outra vantagem, indicada pelos testes de campo, refere-se ao ótimo torque do motor na rotação de trabalho, que proporciona que se mantenha a pressão nos bicos, mesmo com toda a hidráulica do pulverizador em uso.

BARRAS

A barra de pulverização do H3000I pode chegar aos 31,5 metros, mas o modelo testado estava equipado com barras de 25 metros de largura

N

a nossa sexta incursão no mundo dos pulverizadores autopropelidos, tivemos a oportunidade de testar agora o pulverizador da marca Pla modelo H3000I BTBD. Esta máquina, que não é um lançamento recente, representa para a empresa um excelente crescimento de vendas e capacidade de competir com a concorrência. Por isto ela foi objeto do nosso teste, em Ponta Grossa, no estado do Paraná. Este modelo faz parte do portfólio de produtos da marca Pla estabelecida no Brasil há sete anos. Junto a ele o fabricante fornece outros modelos, como o 2500 4x2, o 3000 4x2 (nas versões mecânicas) e o 3500 4x4 (versão hidrostática). Cada um deles tem seu mercado específico e a cada dia que passa demonstram a sua forte presença em um mercado, que está cada vez mais competitivo e recheado de produtos de ótima qualidade. A empresa

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está motivada pelo mercado promissor para este produto, em face da aceitação em diferentes situações. Desde a Bahia, passando pelo Centro-Oeste e chegando ao Sul, as oportunidades de vendas têm sido bem interessantes. A comercialização do modelo H3000I iniciou há dois anos e já é considerado o modelo mais vendido pelo fabricante.

CARACTERÍSTICAS

Destacamos inicialmente o design bastante interessante com a incorporação do depósito de calda em uma mesma estrutura em que a cabine é uma das peças. Tudo parece muito interligado e parte de um projeto visualmente muito bom. O motor que equipa este modelo é um Mercedes Benz OM 924 LA, de quatro cilindros e 220cv com injeção

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A barra de pulverização pode ter até 31,5 metros, embora a que equipava a máquina testada fosse de 25 metros. São opções que o usuário pode escolher na hora da compra, em função das características do terreno. No Paraná e no Rio Grande do Sul, por exemplo, é comum a escolha de barras de menores dimensões, que em outras situações, como no Centro-Oeste. Com as condições que proporcionam as maiores capacidades operacionais (ha/h), como altas velocidades e grandes larguras de barra, está sendo possível realizar trabalhos de até 100 alqueires por dia, em torno de 242 hectares diários, segundo o pessoal que está envolvido no desenvolvimento do produto e no atendimento de pós-venda. A limitação desta capacidade está relacionada ao fato de que em estados do Sul, onde o relevo é mais ondulado, a velocidade costuma ser de 12 a 18km/h, enquanto que nas lavouras baianas


Fotos Charles Echer

Turbina axial central é acionada hidraulicamente. Ela é responsavel por gerar uma corrente de ar que se desloca para as barras de pulverização

e do Centro-Oeste facilmente a máquina é operada a 30km/h. Uma das particularidades deste equipamento é a posição da barra, à frente da cabine. Este detalhe particular proporciona a maior visibilidade do operador, principalmente facilitando a realização das manobras, evitando os chamados recortes de cabeceira, comuns nos equipamentos com barra traseira. Esta barra também tem a característica de ser equipada com um sistema de cortina de ar (túnel de vento), produzido pela própria empresa, que tem a finalidade de evitar a perda de produto pela

parte traseira. Com este dispositivo é possível diminuir a deriva, conduzindo as gotas até o alvo, sem deixar que elas se percam pelo arrasto do vento relativo, derivado do natural deslocamento da máquina. Este sistema baseia-se em uma turbina axial central, que gera uma corrente de ar que deriva por orifícios colocados junto ao tubo de lona, que se forma pela pressão. O fluxo de ar é regulável e dependerá

Mola e válvulas têm a função de evitar movimentos bruscos na barra de pulverização

da habilidade do operador em ajustá-lo às condições específicas. A turbina é acionada hidraulicamente e tem um revestimento que conduz o ar captado, da parte dianteira do equipamento, e o direciona para os dois lados da barra. A barra tem dispositivos de controle de seções e pode cortar o fluxo de produto aos bicos, conforme informa o sistema de aplicação e de Agricultura de Precisão. Também possui

Um dos diferenciais do H3000I está no sistema de pulverização, que utiliza uma corrente de ar que passa por um tubo de lona e chega até os bicos, onde tem a função aumentar a eficiência da aplicação

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Fotos Charles Echer

Detalhe da estrutura da barra de pulverização, construção simples e limpa, deixando-a mais leve

A saída do cano de escape é pela parte inferior do motor, direcionado para a lateral do trator Com as barras montadas na parte dianteira da máquina, é possível instalar um distribuidor centrífugo na parte traseira, para aplicação de produtos sólidos

um sistema de amortecimento mecânico (molas) e hidráulico (câmaras de ar) para os movimentos bruscos da barra, evitando que toda a tensão gerada durante a aplicação, seja suportada pelas conexões da barra à estrutura. Para garantir a estabilidade da barra foi projetado um quadro basculante, que impede que a barra acompanhe as ondulações do terreno, mantendo-a na posição mais próxima à horizontal. Mesmo assim, foram colocados dois patins nas extremidades da barra para proteger a linha de bicos nas situações extremas.

PULVERIZAÇÃO E FERTILIZAÇÃO

A colocação da barra na posição anterior

O sistema de abastecimento de produto para a mistura da calda é escamoteável

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permite que a empresa ofereça algo realmente inovador, que é a possibilidade de colocação de um distribuidor centrífugo em um quadro colocado na posição traseira. Com isto, ao mesmo tempo em que se aplica o produto na forma líquida, pode ser feita uma adubação ou uma semeadura a lanço de alguma cultura. Vimos o sistema funcionando e nos pareceu de muita utilidade, principalmente em casos particulares. De parte de um agricultor que visitamos, após os testes, nos foi dito que no estado do Paraná é comum os agricultores terem dificuldade em aplicar nitrogênio em forma de ureia, em estágios vegetativos mais avançados do milho, como o pendoamento, o

Motores hidráulicos individuais são responsáveis pela transferência de força do motor às rodas

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que neste caso é plenamente possível, devido ao enorme vão livre deste tipo de máquina. Mesmo com esta posição central a empresa oferece a opção de barra na posição traseira. Na lateral direita, vista de trás, está colocado o sistema de abastecimento de produto para a mistura com a água. É escamoteável, podendo ser afastado da máquina para a mistura.

TRANSMISSÃO, DIREÇÃO E BITOLAS

O sistema de transferência de potência do motor deste pulverizador se baseia em uma transmissão hidrostática, marca Sauer Danfoss, baseada em uma bomba dupla, colocada junto ao motor, com acionamento por motores hidráulicos individuais às quatro rodas. O acionamento destes motores se faz de maneira cruzada, detalhe importante para adaptar-se às condições do terreno. A redução do sistema é de 35:1, o que, segundo a equipe que acompanha o desenvolvimento do equipamento, favorece


Local do teste com o H3000I

O

teste foi realizado na Fazenda Vila Palmeirinha, no bairro Boa Vista, em Ponta Grossa, Paraná. Fomos apoiados pela revenda JM Máquinas, principalmente pelo seu sócio-proprietário, o senhor João Marcelo Bastos, e pelo seu filho, Lucas Bastos, que nos proporcionaram a estrutura para que pudéssemos conhecer e transmitir a nossa impressão aos leitores da Cultivar Máquinas. Fundamental foi a

Plataforma possibilita o acesso à parte superior para manutenções periódicas no motor e no tanque

o modelo, em relação aos concorrentes, pois mantém melhor a velocidade e uniformiza mais a pressão nos bicos. O sistema de direção está acoplado às quatro rodas, o que favorece a ocorrência de menores raios de giro. Nos testes que fizemos, aproveitando a marca deixada na cultura por outro pulverizador, de menor porte, o uso de direcionamento nas quatro rodas pode exigir a metade do espaço

utilizado pelo sistema acoplado em apenas duas rodas. A distribuição de peso deste equipamento é bem equilibrada, de aproximadamente 52% do peso na dianteira e os outros 48% sobre o eixo traseiro, o que é a melhor situação para a posição dianteira da barra. Para um equipamento com volume de depósito como este, com três mil litros, é um desafio organizar os componentes sobre a estrutura para que não ocorra variação no trabalho, conforme o produto vai sendo aplicado. Os pneus que equipam este modelo são da medida 12.4x36. Um simples toque de botão pode provocar o bloqueio das rodas traseiras, em diversas posições, proporcionando que o equipamento se desloque na diagonal, gire quase sobre o seu próprio eixo ou manobre de forma convencional. Basta que o operador decida o que é melhor para cada situação.

presença do técnico-mecânico da revenda, Marcelo Capoletto, que nos apresentou tecnicamente a máquina e nos auxiliou a repassar todos os comandos e regulagens, assim como conhecer detalhes mecânicos do equipamento. Pela indústria nos acompanhou o senhor Dorival Bandeira, representante comercial da Pla na região, que demonstrou conhecer bem os produtos da indústria. Devido à importância em se variar a bitola da máquina para se adaptar às diferentes necessidades de espaçamento das culturas e, em determinados casos, aumentar a estabilidade do pulverizador em terrenos inclinados, este dispositivo está presente neste modelo, podendo este ajuste ser feito em movimento. Os limites desta regulagem de bitola são de 2,80 metros como mínimo e 3,20 metros como máximo. Não demanda nenhuma prática mecânica, bastando somente liberar alguns bloqueios e auxiliando-se de um deslocamento lento, proceder a operação.

ACESSIBILIDADE

O acesso ao posto de condução neste modelo de pulverizador se faz por uma escada posicionada na lateral esquerda (vista traseira). Antes de entrar diretamente na cabine há uma opção de acessar uma plataforma que dá passagem ao motor e ao depósito de calda. Como era de se esperar em um produto desta qualidade, toda a cabine está baseada em um sistema de amortecimento a ar comprimido,

Uma única escada dá acesso à cabine e também à plataforma superior do equipamento

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Fotos Charles Echer

Para facilitar o acesso à cabine, a plataforma que leva ao motor e ao tanque principal é retrátil. Um item que poderia deixar a máquina mais prática é a automação do movimento da escada de acesso

o que individualiza os movimentos da estrutura com os do compartimento do operador, aumentando o conforto. O peso aproximado da máquina com o tanque de calda vazio é de 8.000kg, o que, segundo a equipe de desenvolvimento do produto, lhe confere uma vantagem em relação à concorrência, que costuma montar pulverizadores mais pesados.

TESTES

Ao iniciarmos os testes estávamos preocupados pelo relevo, que é um pouco inclinado, típico das lavouras da região Sul. No entanto, depois de haver ajustado a bitola e sentir os comandos e a facilidade de operação, tivemos uma sensação de segurança e conforto, mesmo tendo realizado os testes a uma velocidade superior a 14km/h. A ausência de um pedal de freio, que

nos conectaria com o sistema mecânico, também nos causou certo incômodo, mas quando nos habituamos ao controle central (joystick) foi muito interessante. A resposta aos comandos é muito boa, para aceleração e frenagem na mesma alavanca, com os comandos todos colocados no painel lateral ao alcance da mão direita. Neste painel, simples botões controlam a disponibilidade de um regime de velocidade alta e baixa e a direção pelo eixo traseiro, juntamente com o acelerador de mão. No painel dianteiro, com boa visibilidade aparecem os controles de pulverização, o comando do distribuidor traseiro e o tacômetro que mede a rotação do motor. Na coluna esquerda um painel vertical comporta todos os mostradores analógicos de diagnóstico da máquina, como

volume de combustível no depósito, amperímetro, manômetro etc. Para o controle da barra, botões auxiliam a estabelecer a altura e o recolhimento, em seções separadas. Como todo o produto que se utiliza de recursos de Agricultura de Precisão, o H3000I tem um piloto automático marca Trimble, modelo GPS EZ 500 que, juntamente com o sistema de controle da pulverização marca Arag, modelo Bravo 300S, auxilia numa aplicação precisa, e foram posicionados à frente e à direita do operador. Como se esperava para um produto da qualidade e da tecnologia deste, a Norma Regulamentadora NR31 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foi toda atendida, no que pudemos constatar. Em resumo, encontramos um produto

Detalhe dos filtros da parte hidráulica instalados na parte inferior do pulverizador

Como a barra está na frente, um bico é instalado no paralamas traseiro para aplicar no rastro do equipamento

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Joystick responsável pela movimentação da máquina e centro de controle da pulverização

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Detalhe do sistema hidráulico responsável pelos movimentos das barras de pulverização


O H3000I tem distribuição de peso equivalente a 52% na parte dianteira e a 48% na parte traseira, o que dá equilíbrio e estabilidade. O grande vão livre e a altura da barra possibilitam a entrada para aplicação de produtos mesmo em estágios mais avançados de culturas como milho

que nos surpreendeu, pela facilidade de operação e pelas soluções de inovação encontradas para resolver pequenas questões, em um produto complexo como este. A operação é muito fácil, a resposta aos comandos é muito rápida e destacamos, entre as várias qualidades deste produto, a manobrabilidade e a disponibilidade desta opção em colocar um distribuidor centrífugo na parte traseira, o que representa realmente uma boa solução para a diminuição de operações e economia de energia. Vimos que basta somente colocar um quadro traseiro, retirando o depósito de água limpa do seu posicionamento normal, e acoplar o cardã, que vai conectado a um pequeno motor .M hidráulico de acionamento. José Fernando Schlosser, Nema – UFSM

.M

José Fernando Schlosser conduziu o teste na Fazenda Vila Palmeirinha no município de Ponta Grossa, Paraná, onde a marca é comercializada pela revenda JM Máquinas

Da Argentina para o Brasil

A

A cabine tem suspensão pneumática que individualiza os movimentos da estrutura

Pla é uma tradicional empresa fabricante de máquinas agrícolas da Argentina e há 35 anos marca presença naquele país. Sua sede na Argentina está na cidade de Las Rosas, na província de Santa Fé. Evidentemente pelo tempo que está no mercado o maior número de unidades vendidas é na Argentina, onde a marca detém ao redor de 40% das vendas de pulverizadores autopropelidos. Só no país vizinho a comercialização anda ao redor de 400 a 500 máquinas por ano. No Brasil, já são sete anos de presença, primeiro em parceria com outro fabricante de pulverizadores e posteriormente com sua própria unidade fabril em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, no Rio

Grande do Sul. Na fábrica de Canoas já são fabricados entre três e quatro máquinas por semana e se estuda ampliar a produção, em face da excelente aceitação dos produtos. Nesta etapa de nacionalização, tudo é fabricado em Canoas, com exceção da cabine, que é argentina, e provém do país vizinho em função da sua qualidade e desenvolvimento como produto industrial. Por esta nacionalização do produto ele tem possibilidades de ser financiado com recursos do PSI e do Finame, o que .M tem impulsionado as vendas acima da expectativa inicial. Este modelo está disputando um mercado bastante concorrido e com produtos de ótima qualidade.

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mecanização

Plantio certificado John Deere

Ter certificação da qualidade no Sistema de Plantio Direto na Palha pode ser um diferencial para a propriedade, como processo de alavancagem da sustentabilidade e competitividade na produção agrícola

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suas ações para valorização de um ambiente produtivo, com destaque para o manejo de recursos naturais de forma a produzir efeitos Fotos Moises Storino

B

oa parte da produção de alimentos do Brasil que é exportada é resultado da adoção do Sistema Plantio Direto na Palha (SPDP), mas praticamente nenhum dos lotes exportados tem sua origem identificada. Os importadores, bem como os compradores internos, têm demonstrado a todo instante uma grande preocupação com a segurança alimentar além de estar atento em negociações que possam comprometer de alguma forma o ambiente. Hoje a organização internacional que importa alimentos quer ter uma garantia de que o produto é resultado de um sistema de produção com boas práticas agrícolas, com gestão ambiental, com segurança e saúde do trabalhador. Outro ponto fundamental a ser considerado é a adoção da filosofia da qualidade no SPDP como abertura de um caminho seguro para uma agricultura sustentável. Neste sistema as práticas agrícolas tradicionais ocorrem com racionalidade, voltando

positivos constantes, tornando as terras mais produtivas em vez de torná-las cansadas, como é o resultado da agricultura tradicional. É importante lembrar que a sustentabilidade é considerada como um parâmetro de avaliação de risco para os financiadores nacionais e internacionais.

CERTIFICAÇÃO E COMPETITIVIDADE

A certificação tem acompanhamento constante, através da re-certificação periódica

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Demonstrar que produz com qualidade é uma diferença positiva muito importante numa propriedade agrícola, ainda mais quando é decisão voluntária e estratégica. A adoção destes conceitos é muito influenciada por variáveis como a dimensão, os recursos humanos, o tipo de cultura, os processos operacionais e outras, fato que torna este processo único para cada propriedade. A certificação da qualidade do SPDP é o reconhecimento de uma entidade externa e independente de que a propriedade agrícola pratica o plantio direto de forma sistêmica, promovendo a sustentabilidade e a com-


Vantagens do SPDP

C

A filosofia da qualidade ajuda a diminuir perdas, defeitos em equipamentos e desperdícios

Pesquisadores Afonso e Moises explicam os passos necessários para obter a certificação

petitividade na produção e satisfazendo as exigências legais e regulamentares de forma eficiente.

segunda etapa, de avaliação, é feita reunião entre equipes de auditores e proprietários ou gerentes da propriedade agrícola interessada (para que a empresa conheça os procedimentos da auditoria e defina os canais e responsabilidade); realização da auditoria; nova reunião, indicação de não conformidade, recomendação ou não da certificação. Na terceira etapa, de pós-avaliação, é feita análise do relatório de auditoria pelo organismo de certificação; emissão do certificado e contrato; acompanhamento do desempenho (através de re-certificação periódica). Após a obtenção do certificado, a propriedade agrícola deverá receber os seguintes documentos: relatório de auditoria, informe de não conformidades, certificado de conformidades e procedimentos para a utilização do símbolo da empresa certificadora, entre outros. A certificação tem acompanhamento constante. O organismo de certificação tem o poder de suspender, cancelar ou revogar o certificado obtido pela empresa. Certificar propriedades agrícolas que têm no Sistema Plantio Direto na Palha um referencial contínuo de melhoria no desempenho da qualidade de suas atividades bem como na melhoria contínua do seu modelo de gestão ambiental é um avanço rumo a uma agricultura realmente sustentável. A certificação é fundamental para aumentar a compreensão e a visibilidade das

GESTÃO DE QUALIDADE

O tipo de certificação mais utilizado no mundo é o preconizado pelas normas de qualidade da International Organization for Standardization (ISO), que foram adotadas no Brasil pela ABNT tornando-se normas nacionais cuja identificação se dá pela sigla ABNT NBR/ISO Série 9000: 2000, sendo que há no Brasil outras certificadoras com propostas semelhantes. A certificação, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é um conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo independente da relação comercial com o objetivo de atestar publicamente, por escrito, que determinado produto processo ou serviço está em conformidade com os requisitos especificados. A certificação pode ser entendida como uma atividade formal realizada, por uma certificadora credenciada no Inmetro, para atestar que uma propriedade agrícola ou parte dela ou, ainda, determinados produtos estão em conformidade com alguma norma específica. Certificar consiste em utilizar um conjunto de regras que permitam auditar um sistema, um processo, um produto ou um resultado de forma a atestar ou assegurar que os mesmos estão em conformidade para atender preocupações sociais e em condição de estabelecer uma relação de confiança com o usuário ou consumidor. A certificação deve assegurar a qualidade ou a natureza da gestão. Portanto, podemos afirmar que certificar o SPDP consiste em auditar a veracidade de informações pertinentes à propriedade agrícola examinada. De acordo com Inmetro são três as etapas do processo de certificação. Na primeira etapa, ou de pré-avaliação, é feita a solicitação da certificação pela propriedade agrícola interessada; análise do processo pelo organismo de certificação (certificadora credenciada); visita preliminar do organismo à propriedade agrícola; e preparação da auditoria pelo organismo de certificação. Na

om a implantação da filosofia da qualidade no sistema plantio direto espera-se observar a ocorrência das seguintes características: • Condição para atuar em novos mercados ou para manter os mercados existentes; • Aumento da confiança, interna e externa, nos métodos de trabalho; • Reorganização da empresa; • Aumento da motivação dos colaboradores; • Diminuição da rotatividade de pessoal; • Maior controle dos custos, de fornecedores e de materiais; • Diminuição na produção de defeitos, perdas e desperdícios; • Aumento da satisfação dos clientes; • Reconhecimento no mercado. potencialidades do SPDP como atividade prática da responsabilidade social, ambiental e econômica. O Instituto Agronômico, por meio do Centro de Engenharia e Automação, desenvolve linhas de pesquisa para seleção de indicadores de qualidade de operações agrícolas, desenvolve metodologias para avaliação do desempenho ambiental de diferentes sistemas de produção, com o objetivo de contribuir para estabelecer critérios que possam ser aceitos pelo Comitê Brasileiro de Certificação, pelo Inmetro e compor metodologias de auditoria e avaliação da conformidade dos sistemas de produção agrícola em harmonia com as normas da .M ABNT e as exigências de mercado. Afonso Peche Filho e Moises Storino, CEA - IAC

Certificar o Sistema de Plantio Direto na Palha consiste em auditar a veracidade de informações pertinentes à propriedade agrícola examinada

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armazenagem

Pó perigoso

Jéssica Espíndola

A poeira originada por produtos agrícolas em unidades armazenadoras tem grande potencial para desencadear explosões e incêndios, colocando em risco a vida de funcionários e as instalações. Por isso, é necessário projeto adequado, bem como manutenção e limpeza constante da unidade

T

odo processo produtivo, de alguma forma, ainda que minimamente, oferece oportunidade de risco aos trabalhadores, e qualquer perda nesse processo, seja ela decorrente de consequências que influenciam diretamente na saúde do trabalhador ou questões materiais, incide substancialmente no fluxo operacional e no ambiente laboral. Por isso, estar atento para eventuais acidentes torna-se necessário nestes casos. Na atividade agroindustrial, em particular, os acontecimentos são de caráter ampliado devido ao tamanho da estrutura, à complexidade da cadeia produtiva e ao desconhecimento de algumas causas de situações de risco, como é o caso da poeira proveniente do processamento dos seus produtos Geralmente, acidentes de trabalho onde há a coexistência de poeira e equipamentos energizados, têm consequências graves. Por isso, procuramos abordar os riscos de processo em uma unidade de processamento e beneficiamento de produtos agrícolas, mais precisamente quanto ao risco do acúmulo indevido de poeira, além de fornecer medidas mitigadoras para que tais eventos não ocorram com maior frequência.

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AMBIENTE DE TRABALHO

As unidades de processamento de produtos agrícolas são locais onde coexistem várias máquinas, equipamentos e dispositivos responsáveis pela transformação do produto que, ao longo do processo, é submetido às ações mecânicas, como a movimentação que, aliada à vibração e ao atrito (entre as máquinas e os produtos, e entre os produtos em si), ocasiona sua desagregação e, consequentemente, a formação do resíduo particulado. Quando gerados em grandes quantidades e em um curto espaço de tempo, o particulado ascende pontualmente e ocasiona o que chamamos de nuvens de poeira. As nuvens de poeira adquirem velocidades inferiores às de sua geração, propagando-se e depositando-se nas superfícies próximas ao local de origem da suspensão, no interior das unidades, sobre as sacarias, no chão e aderidas às roupas dos trabalhadores. Por ser um dos contaminantes mais presentes em um ambiente laboral, as poeiras despertam particular interesse devido ao seu potencial em ocasionar danos. É justamente sobre a poeira, mais precisamente a poeira de produtos agrícolas, que abordaremos

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neste texto. A poeira é um material residual ou intencional (farinhas, féculas), e sua origem provém da desagregação do material quando submetido aos impactos intermitentes como: moagem, corte, serragem, fricção, dentre outros. A quantidade de poeira gerada varia com a natureza e a condição do material original, e tende a aumentar com a energia associada ao processo. O comportamento das poeiras, o tempo de deposição devido à gravidade e a inércia dependem do tamanho das partículas. Da mesma maneira, os efeitos sobre a saúde e a escolha de

Incêndios em unidades armazenadoras são ocasionados pela poeira do atrito entre cereais e equipamentos


Arquivo

equipamentos para reduzir as concentrações de partículas no ar também dependem desta característica. Pode-se dizer que a dispersão das partículas provenientes do processo depende tanto do layout quanto das características intrínsecas das partículas. A poeira é liberada durante as atividades laborais, desde os métodos manuais de transferência de material (posicionamento de um lugar ao outro), quanto aqueles mecanicamente mais exigentes, como carregamento e descarregamento de materiais. O reconhecimento, a avaliação e o controle da exposição ocupacional à poeira podem ser bastante complexos. Devem-se avaliar a natureza do risco, o alvo provável da poeira e as propriedades responsáveis pela resposta biológica do indivíduo a ser exposto.

COMPORTAMENTO DA POEIRA

A inércia de uma partícula dita o comportamento da poeira. Quando em movimento, ela desloca-se em linha reta, a menos que atue sobre ela uma força externa. Quando uma partícula é forçada a mudar de direção repentinamente, a inércia da partícula fará com que ela continue em frente, conforme o fluxo original, até certa distância antes que mude a direção do fluxo ao qual foi submetida. Se houver algum obstáculo nessa trajetória, a partícula pode ser capturada, por impactação, sobre a superfície do obstáculo.

O foco de incêndio ocorre quando há a junção de elementos constituintes do Triângulo do Fogo: combustível (a poeira), fonte de ignição e comburente

Dependendo da superfície e do posicionamento do obstáculo no layout, o particulado poderá assentar-se homogeneamente ou migrar-se por frestas e entrar em contato com dispositivos de alguns equipamentos quando este não possuir proteção adequada. A deposição em superfícies irregulares e profundas dificulta a limpeza ao rigor da higiene ocupacional. Caso

haja a obstrução de superfícies de equipamentos e dispositivos energizados, haverá grandes chances de ocorrer um incêndio provocado pelo superaquecimento destes itens. Os acidentes de trabalho possuem definições e interpretações que se distinguem conforme as variáveis envolvidas (pluricasualidade de acidentes), porém, convergem quanto à


Figura 1 - Triângulo do Fogo (a) e Quadrilátero do Fogo (b)

integridade do trabalhador e do patrimônio. A poeira, sob o ponto de vista técnico, é definida e classificada como um agente de risco químico (vide NR5) e requer a adoção de práticas de higiene ocupacional a rigor do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA – vide NR9). Dentre os acidentes, os químicos são os mais difíceis de controlar e com maior potencial destrutivo, como: fugas ou liberações de substâncias tóxicas, incêndios e explosões.

industriais não foi projetada para suportar. Uma forma de atenuar a geração de poeira e sua possível dispersão consiste em adicionar algum fluido ao processo como um meio de controle. Porém, ao fluidificálo, poderá ocorrer a fermentação, uma vez que a poeira agrícola é puramente orgânica. Recomenda-se atentar para outros tipos de medidas de controle.

IMPLEMENTAÇÃO DE MELHORIAS

INCÊNDIO

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É importante ressaltar a importância de manter a adoção de medidas prevencionistas de risco de incêndios, tais como: higiene ocupacional; suporte ou layout adequado de equipamentos, principalmente aqueles energizados, pois o ato da queda poderá produzir faíscas responsáveis pela ignição; atentar-se para a integridade dos componentes elétricos e fiações; verificar, frequentemente, os equipamentos de detecção de incêndios; utilização de vestimentas que não facultam a descarga eletrostática; treinamento de combate a incêndio para os funcionários; adequação da sinalização, não só em relação ao evento, mas também

aquelas relacionadas às rotas de fuga. Sob o ponto de vista técnico, a adequação de um sistema de ventilação é o mais recomendado, porém, a escolha incorreta desse sistema culminará no aumento da extensão do problema. Por se tratar de poeiras combustíveis, a adequação do sistema de ventilação deverá conter equipamentos à prova de explosão (como símbolo “EX” nas suas especificações) e eficientes na captura do particulado. Entretanto, o fator essencial constitui em não deixar que o incêndio seja precedente de explosão. Logo, como caráter adicional de conhecimento, recomenda-se a leitura tanto das normas nacionais NR10, NR23, NR31, NR33 e NBRs específicas, quanto os informativos de órgãos, instituições e agências internacionais, como HSE, OSHA, NFPA, CSB, dentre .M outros. Jéssica Z. Espíndola, Ednilton T. de Andrade, Luciana P. Teixeira e James Hal, UFF

Arquivo

O foco de incêndio ocorre quando há a junção de elementos constituintes do Triângulo do Fogo (Figura 1a): combustível (a poeira), fonte de ignição e comburente. Porém, para que o incêndio ocorra, faz-se necessário a inserção do quarto elemento, a continuidade, caracterizando o Tetraedro do Fogo (Figura 1b). Ou seja, quando há a combustão de uma poeira combustível, e esta se encontra em uma atmosfera com potencial concentração inflamável, há a ignição seguida da liberação continuada de energia, sob a forma de calor, iniciando o incêndio. O processo de queima se dá pelas camadas, em locais onde as poeiras estejam depositadas ao longo das jornadas de trabalho. Na maioria dos casos, a presença de equipamentos elétricos em áreas com atmosferas instáveis resulta em acidentes provocados por falhas de funcionamento, superaquecimento seguido da queima de itens componentes. O comportamento do particulado no evento do acontecimento distingue dos demais conforme as características físicas de sua composição, como energia de combustão, inflamabilidade, dentre outros. Uma delas discorre sobre a concentração de poeira mediante os limites inferior e superior de inflamabilidade, respectivamente, LII (situado entre 20g/m3 e 60g/m3) e LSI (2kg/m3 e 6kg/m3), como ilustra a Figura 2. Uma vez excedido esse limite, agravado pela coexistência entre a poeira e os equipamentos energizados (fontes de ignição), a elevação da pressão a níveis extremos perturbará o sistema, alcançando características de atmosfera explosiva com condições propícias para desencadear uma explosão na qual a maioria das plantas

Figura 2 - Esquema ilustrativo de limites inferior e superior de inflamabilidade

Na maioria dos casos, a presença de equipamentos elétricos em áreas com atmosferas instáveis resulta em acidentes provocados por falhas de funcionamento ou superaquecimento

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irrigação John Deere Water

Momento certo

Manejo da irrigação localizada na viticultura, com aplicação da água no momento e na quantidade adequados, aumenta a produtividade e a qualidade dos frutos

A

s videiras são plantas que se adaptam às mais variadas situações climáticas, existindo no Brasil condições para cultivá-las de Norte a Sul, com amplas possibilidades de sucesso. Em viticultura, geralmente se objetiva adotar estratégias de manejo para direcionar os recursos da planta visando a qualidade da produção. Por outro lado, a produtividade deve ser levada em consideração, pois atualmente a uva é vendida por peso e não por qualidade. O paradoxo entre qualidade e produtividade tem levado a investigações sobre um ponto de equilíbrio para a otimização da qualidade, sem penalizar significativamente a

produtividade (carga de frutos). Notadamente, este equilíbrio tem sido buscado em práticas de manejo e, em particular, pelo manejo da videira em relação à disponibilidade da água no solo e pelo ajuste da adubação.

IRRIGAÇÃO LOCALIZADA NA CULTURA DA VIDEIRA

Em áreas novas de videiras há uma tendência para utilização de sistemas de irrigação localizada (microaspersão e gotejamento), os quais normalmente apresentam maior eficiência de aplicação de água em relação aos sistemas por sulcos e aspersão, além de facilitar

a aplicação de nutrientes via água de irrigação (fertirrigação). Em irrigação localizada somente uma parte da superfície do solo é molhada, em consequência, reduz-se a evaporação direta da água do solo e o efeito da alta frequência de aplicação de água, mantendo o solo sempre próximo à capacidade de campo e favorecendo o aumento da transpiração. Por outro lado, ocorre uma diminuição na evapotranspiração da cultura (ETc), em relação aos demais sistemas de irrigação, cuja magnitude depende de várias características das partes transpirantes das plantas, como: massa foliar, superfície total das

Figura 1 – Fases de crescimento da baga de uva

Detalhe do sistema de irrigação instalado no experimento feito para constatar os efeitos da fertirrigação na cultura da uva

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Fotos Cristiane Busato

Tensiômetros instalados no parreiral para o monitoramento da umidade do solo

folhas, volume da copa, entre outras (Bernardo et al, 2008).

MANEJO DA IRRIGAÇÃO

O manejo da irrigação está diretamente relacionado com o sistema de irrigação selecionado, em decorrência de suas características hidráulicas, coeficiente de uniformidade e eficiência de aplicação, entre outros. Dentro de um contexto amplo, consiste na determinação do momento, da quantidade e de como aplicar a água, levando em consideração os demais aspectos do sistema produtivo como a adubação (fertirrigação), o controle fitossanitário, as informações climatológicas e econômicas e as estratégias de condução da cultura, e pode ser realizado via planta, solo, clima ou pela associação destes. O monitoramento da umidade visa determinar com precisão a lâmina de água, considerando o armazenamento de água no solo, podendo ser feito medindo-se a umidade do solo por diversos métodos. Os métodos são normalmente classificados como diretos, quando permitem determinar

diretamente a umidade do solo; o principal método direto de determinação da umidade do solo é o método padrão da estufa (Reichardt, 1987; Bernardo et al, 2008), e os indiretos, quando permitem estimar a umidade a partir de medições de resistência elétrica, de potencial da água no solo etc. Dentre os métodos indiretos para a determinação do teor de água no solo, destaca-se o método da tensiometria. O tensiômetro apresenta a limitação de medir o potencial matricial apenas na faixa de 0 a -80kPa, quando a faixa de potencial de água no solo disponível à planta varia de 0 a -1.500kPa. Mas, segundo Millar (1989), a maioria das culturas requer irrigações antes da água do solo atingir o potencial de -70kPa na zona efetiva do sistema radicular. Antes de ser instalado no campo, o tensiômetro deve passar por um processo chamado de escorva. O primeiro passo é deixá-lo destampado em um recipiente com água limpa e filtrada por 24 horas e depois preencher com água limpa até 2cm da borda. Posteriormente deve-se suspender o tensiômetro para fora da água e bater repetidamente com a mão, verifi-

Detalhe do emissor Microjet utilizado na irrigação do parreiral onde foi conduzido o experimento

cando a subida de bolhas de ar. Em viticultura, muitas pesquisas de manejo da irrigação têm sido feitas pela medida do potencial matricial com emprego de tensiômetros instalados em pontos correspondentes a 50% da profundidade efetiva das raízes e imediatamente abaixo destas. Como a maior parte das raízes se concentra de 40cm a 60cm de profundidade, os tensiômetros devem ser instalados para que as cápsulas fiquem entre 20cm e 30cm de profundidade e a ¼ da distância entre plantas. Se o espaçamento entre plantas for, por exemplo, igual a 2,0m, os tensiômetros devem ser instalados a 0,5m das plantas, que devem ser representativas da área cultivada.

IRRIGAÇÃO E QUALIDADE DA UVA

O período crítico ao déficit hídrico nas videiras ocorre na fase de desenvolvimento vegetativo e floração, seguido da fase de enchimento das bagas. Se ocorrer estresse hídrico abrupto, o crescimento diminui e ocorre murchamento das folhas e necrose das bagas. Por outro lado se o estresse for gradativo, a planta se ajusta por meio

Fotos John Deere

Figura 2 – Sólidos solúveis (oBrix) e acidez total titulável em uvas da cultivar Niágara Rosada em função dos critérios de manejo da irrigação

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área de 480m2. As plantas foram irrigadas por meio do sistema de irrigação localizada com emissor Microjet. O manejo da irrigação foi realizado com turno de rega fixado em quatro dias. A partir da leitura de tensão observada no tensiômetro, calculava-se a umidade do solo de acordo com a curva de retenção. A lâmina de irrigação era determinada pelo valor de umidade referente à tensão lida no tensiômetro, subtraída da umidade correspondente à capacidade de campo. Este cálculo fornecia a lâmina a ser aplicada por irrigação para o tratamento M1 = 100%, ou seja, a umidade do solo variou do valor de umidade estimado indiretamente pelo tensiômetro à capacidade de campo, repondo todo o déficit hídrico. Este manejo foi adotado para todos os níveis até 60 dias após o florescimento. Após este período, na fase de veraison (na mudança de cor e textura das bagas), foram avaliados mais três níveis de manejos da irrigação. Ou seja, nos níveis M2, M3 e M4 a umidade do solo não foi elevada para a condição de capacidade de campo e a cultura foi submetida a um estresse hídrico que variou com os tratamentos. Os níveis de manejo da irrigação foram assim denominados: • Nível 1 (M1): reposição de 100% da lâmina de irrigação (testemunha); • Nível 2 (M2): reposição de 67% da lâmina de irrigação;

• Nível 3 (M3): reposição de 33% da lâmina de irrigação; • Nível 4 (M4): sem irrigação; No final do ciclo a produção foi avaliada através de medidas do teor de sólidos solúveis (°Brix) e acidez total titulável. Verificou-se na pesquisa que a disponibilidade hídrica influenciou os valores de °Brix das bagas da uva Niágara Rosada, sendo que as plantas que sofreram com um déficit hídrico (sem irrigação após a fase de veraison) obtiveram valores mais elevados em relação às plantas irrigadas. O fato pode ser explicado pela influência da irrigação, reduzindo os teores de açúcares pela diluição dos mesmos. Observa-se que os maiores valores de °Brix encontrados ocorreram nas plantas que sofreram déficit hídrico de 33% da lâmina e restrição total (0%). O teor de sólidos solúveis totais pode ser considerado muito bom, com média superior a 17 ºBrix (Figura 2). Em relação à acidez total titulável, valores mais altos foram verificados nos níveis de 100 e 67%, resultado semelhante ao encontrado por Santos e Kaye (2008) que também observaram aumento no valor da acidez com a restrição de água para a videira “Syrah”. Por ser uma uva consumida in natura, fatores como o balanço entre açúcares e acidez das bagas são importantes e podem ser observados pelo aspecto de qualidade dos cachos colhidos. Conclui-se na pesquisa que a irrigação prolongada até a colheita provoca alterações nas características químicas da uva, reduzindo os valores de sólidos solúveis e aumentando os valores de acidez, não sendo recomendado seu uso no período de maturação dos frutos, ou seja, nos meses próximos à colheita. Através de um manejo adequado da irrigação, pode-se economizar água, energia, aumentar a produtividade da cultura e melhorar a qualidade da uva. No campo experimental de uva Niágara Rosada do Ifes Itapina, com emprego desta estratégia de manejo da irrigação com suspensão da água após a fase de veraison, tem-se obtido colheitas de até 15t/ha/ano. .M Cristiani Campos M. Busato e Antônio dos Santos Teixeira, Ifes

Parreiral de uva Niágara Rosada, de 480 metros quadrados, teve produção de 15 toneladas por hectare

Cristiani Busato foi a responsável pela condução do experimento em Colatina (ES)

Refratômetro de campo utilizado para medir o teor de açúcares nas bagas de uva

da diminuição do crescimento da parte aérea, acarretando menores produções e maturação precoce dos frutos. O índice de maturação mais usado para definir o ponto de colheita das uvas é o teor de sólidos solúveis (ºBrix), empregando-se o refratômetro manual. Em normas internacionais de comercialização, o teor mínimo de sólidos solúveis para uvas de mesa varia de 14,0 a 17,5 °Brix, dependendo da cultivar. Como a uva é uma fruta não climatérica, ou seja, que não amadurece após a colheita, só deve ser colhida quando atinge as condições apropriadas para o consumo ou para processamento. No caso da videira, um déficit hídrico moderado pode adicionar qualidade enológica à uva, pois aumenta os níveis de açúcares nas bagas. Estudos têm demonstrado que tais alterações dependem da intensidade do estresse provocado e em que fase de desenvolvimento das bagas o déficit hídrico ocorre (Soares e Leão, 2009). Da formação dos frutos ao início da maturação (até 60 dias após o florescimento) não pode faltar água no solo, pois, observa-se na Figura 1 que, nesta fase ocorre a multiplicação celular com natural aumento do teor de açúcares e diminuição da acidez (Busato, 2010). A fase de veraison (Figura 1) é caracterizada por mudança de cor e amolecimento das bagas de uvas rosadas ou pretas e amolecimento das brancas, isto é, troca de cor das bagas. Um correto manejo de irrigação aplicado nesta fase pode aumentar o acúmulo de açúcares nas bagas. Com o objetivo de estudar o real efeito do manejo da irrigação sobre a produção da uva, foram realizadas pesquisas para avaliar quatro estratégias de manejo da irrigação sobre a qualidade da uva Niágara Rosada no município de Colatina (ES). Para isso, foi conduzido um experimento de campo, em uma área do Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes Campus Itapina, com a cultivar de uva Niágara Rosada no sistema de latada, com espaçamento 3,0m entre plantas e 2,0m entre linhas, no período de 15 de maio a 6 de outubro de 2009, em uma

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ficha técnica Fotos Fankhauser

PM 9050

A plataforma de milho PM 9050 da Fankhauser com engate universal possui modelos de cinco a 20 linhas, com três diferentes opções de espaçamento com carenagens de polietileno

P

roduzida pela Fankhauser, a linha de plataformas para colheita de milho PM 9050 foi projetada para desempenhar sua função com alto rendimento em configurações para colhedoras pequenas, médias ou grandes. A linha PM pode ser configurada de cinco a 20 linhas, nos espaçamentos 45, 52,5 e 70cm com carenagens de polietileno, havendo possibilidades de se conseguir outros espaçamentos, com carenagens de chapa, vendidas sob consulta. O chassi da linha PM é reforçado, e pode ser acoplado a qualquer marca de colheita-

deira, através de adaptador. Tem o propósito de adequar-se às solicitações de agricultores e prestadores de serviço exigentes que pedem o mais alto nível de rendimento, resultando em maior robustez e menor tempo requerido para a manutenção, evitando largos intervalos nos serviços, proporcionando máxima rentabilidade. As plataformas para colheita de milho da linha PM 9050 foram desenvolvidas para a fácil instalação em colheitadeiras de marcas nacionais e importadas. As carenagens em rotomoldado de polietileno têm vantagem com relação à resistência à corrosão ocasio-

nada pelo atrito, são mais leves e duráveis. Possuem sistema de segurança que faz com que os bicos basculem quando tocam em algum corpo estranho como pedras, tocos, entre outros, evitando danos maiores. Os bicos basculantes e as carenagens também facilitam o transporte e o deslocamento entre propriedades, reduzem o espaçamento para armazenagem e facilitam o acesso à unidade colhedora, tornando prático e livre o acesso ao seu interior caso seja necessário fazer alguma manutenção. O chassi é robusto para o trabalho com colheitadeiras de vários tamanhos. O

A PM 9050 possui adaptador intercambiável de acordo com a marca e com o modelo de colheitadeira, podendo ser regulado com ângulo entre 20º e 27º de ataque ao produto a ser colhido

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Detalhe da caixa de transmissão

diâmetro do sem-fim é de 400mm e a sua velocidade é sincronizada com as caixas. A regulagem da altura e do avanço é realizada mecanicamente. Um conjunto de embreagem possibilita o desarme automático do sistema, caso haja alguma sobrecarga, para não comprometer outros componentes. A PM 9050 possui adaptador intercambiável de acordo com a marca e o modelo de colheitadeira, podendo ser regulado com ângulo entre 20º e 27º de ataque ao produto a ser colhido. Podem ser utilizadas caixas de transmissão em ferro fundido ou alumínio que, com seu formato, agilizam o deslocamento das unidades de linha no processo de conversão de espaçamentos. As chapas cobre-rolos, que têm a finalidade de selecionar o material colhido e evitar que os rolos fiquem expostos, possuem bordas tratadas para maior vida útil. Sua regulagem é centralizada, podendo ser mecânica realizada no cabeçalho, elétrica (opcional) ou hidráulica (opcional), ambas efetuadas diretamente da cabine da colheitadeira. Se a regulagem for hidráulica é necessário que o comando hidráulico da colheitadeira seja de duplo efeito/fluxo. São oferecidos dois modelos de rolos removíveis-cambiáveis. Eles podem ser de quatro lâminas afiadas tratadas termicamente, que trabalham alinhadas umas com as outras, picando melhor o material colhido, o que facilita a ação posterior da semeadora na hora do plantio. Seu formato permite que sejam desarmados com facilidade para

Os bicos e as carenagens podem ser recolhidos para facilitar o transporte e o deslocamento

Detalhe construtivo das linhas de colheita e das chapas cobre-rolo

A regulagem das chapas cobre rolos pode ser mecânica, elétrica ou hidráulica

a manutenção necessária. Na opção de rolos com seis lâminas, as mesmas formam um só conjunto e trabalham intercaladas umas com as outras, deixando o material colhido mais alto e triturando menos. As linhas trabalham independentes umas das outras e possuem um sistema de segurança do tipo catraca individual que, caso ocorra alguma sobrecarga, não danificam outras células de colheita. As correntes alçadoras possuem nove aditamentos e regulagens autoajustáveis por mola tensionadora. A transmissão é realizada por meio de correntes de rolos ASA 80 e banhadas a óleo nos modelos de seis linhas acima. A PM 9050 também possui viseira na parte frontal, proteção que dificulta o repique do material colhido. .M

Detalhe das correntes de rolos ASA 80 que fazem a transmissão e das catracas independentes em cada linha

Rolos removíveis-cambiáveis podem ter quatro ou seis lâminas, de acordo com a escolha do cliente

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colhedoras

Perdas no arranquio

A colheita mecanizada do amendoim possibilitou o cultivo de grandes áreas, com menor número de pessoas. No entanto, as perdas no arranquio mecanizado ainda são grandes, exigindo atenção dos operadores

H

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possibilidades de expansão de áreas de cultivo. Entretanto, as perdas decorrentes do processo da colheita mecanizada do amendoim são inevitáveis, todavia, torna-se necessário estabelecer condições de trabalho de forma a minimizar perdas e garantir a viabilidade econômica da cultura. Outro fator de extrema importância na produção é a qualidade das sementes, que junto com as práticas culturais, permitem altas produtividades. Este insumo representa 7,81% do custo total da cultura e, para um bom estabelecimento da cultura, com um estande de plantas desejável há uma dependência direta da qualidade dessas sementes. O experimento foi conduzido em área Fotos Miac

á algum tempo boa parte da produção paulista de amendoim vem sendo realizada em áreas de renovação de canaviais e se fortalecendo como ótima opção, não só por conta dos resultados obtidos na recuperação do solo, mas também como uma alternativa viável economicamente para a produção do grão. Essa relação tem possibilitado atender aos novos padrões de qualidade e ao aumento da demanda do segmento confeiteiro brasileiro, além da conquista do mercado externo. Isso reflete as mudanças tecnológicas e organizacionais, ocorridas nos últimos anos, nos vários elos da cadeia de produção do amendoim. A colheita, última etapa do cultivo, é o momento em que o produtor retira da lavoura sua produção e toma posse da recompensa de seus cuidados durante a safra. Este processo quando feito sem o emprego de alguns critérios e cuidados pode acarretar em perdas e, consequentemente, redução na rentabilidade do produtor. Autores afirmam que a evolução tecnológica das colhedoras e consequentemente o aumento progressivo no tamanho e preço destas máquinas, tornaram a operação da colheita mais onerosa na produção de grãos. A operação de arranquio e o recolhimento mecanizados proporcionam, dentre outros benefícios, maior rendimento operacional e

A mecanização da colheita possibilita expansão da área plantada com a cultura no Brasil

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da Fazenda de Ensino, Pesquisa e Produção da Universidade Estadual Paulista (Unesp), localizada na cidade de Jaboticabal (SP). Foram utilizadas 24 parcelas de 20 metros de comprimento cada. O experimento constou de duas velocidades de arranquio, sendo VA1: velocidade de arranquio de 4,3km/h e VA2: velocidade de arranquio de 5km/h. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com dois tratamentos e 12 repetições.

CONDUÇÃO DO EXPERIMENTO

O arranquio foi realizado utilizando um arrancador/invertedor Miac C-200, tracionado por um trator Massey Ferguson 6350 com potência de 140kw (190cv), que trabalhou em duas velocidades de arranquio (4,3 e 5km/h). Este arrancador/invertedor operava pegando duas linhas e formando uma leira. Para a determinação das perdas no arranquio de amendoim estas foram classificadas em três tipos: perdas visíveis do arranquio (PVA), perdas invisíveis do arranquio (PIA) e perdas totais do arranquio (PTA). A determinação das perdas visíveis foi feita utilizando uma armação de área conhecida de 2m2. Após o arranquio a leira foi levantada cuidadosamente e, neste local, colocou-se a armação, sendo então recolhidas todas as vagens e sementes soltas que estavam sobre o solo no


Leandra Barrozo

Figura 1 - Médias (kg/ha) das perdas no arranquio visíveis (PVA), invisíveis (PIA) e totais (PTA) em duas velocidades do conjunto trator-arrancador

Armação utilizada para determinar as perdas no arranquio, antes do recolhimento da colhedora

interior na armação que foram colocadas em sacos de papel identificados, em seguida foram levados ao laboratório onde foram posteriormente pesadas. Para mensurar as perdas invisíveis e visando facilitar o trabalho de coleta das perdas invisíveis foi utilizada uma armação de área menor, de um metro quadrado na mesma área onde foram coletadas as perdas visíveis. Nesta área, com ajuda de uma enxada cavou-se aproximadamente 0,20m onde ainda poderiam ter vagens não arrancadas, procedeu-se então com um

peneiramento do solo, onde foram separadas as vagens e as sementes que se encontravam retidas no solo, em seguida o material era guardado em sacos de papel que eram identificados e posteriormente levados para serem pesados. As perdas totais do arranquio foram obtidas a partir do somatório das perdas visíveis e das perdas invisíveis no arranquio.

OS RESULTADOS

Durante a colheita o teor médio de água das vagens permaneceu em torno de 47,5%. Na

Figura 1 encontram-se os valores para perdas visíveis, perdas invisíveis e perdas totais no arranquio de amendoim para as duas velocidades trabalhadas. Pode-se verificar na Figura 1 que não ocorreu diferença significativa para nenhum dos tipos de perdas avaliadas, não havendo efeito das velocidades de deslocamento para os valores de perdas no arranquio. A produtividade real média para este experimento foi de 2.646,7kg/ha, sendo bem inferior à encontrada por Jorge (2008) que, avaliando


Produção de amendoim no Brasil

A

No estado de São Paulo, a estimativa da safra 2008/09 para o amendoim da “safra das águas” (setembro/outubro) será de 11,9 mil hectares de área plantada, mantendo a safra 2007/08; a produção será de 22 mil toneladas, observando-se uma queda de seis mil toneladas em relação à safra anterior. E para a produtividade este valor também caiu de 1.902 para 1.850kg/ ha. Enquanto para o amendoim da “safra da seca” (fevereiro a junho) a área plantada também se manteve em 69,4 mil hectares; a produção decaiu de 213,8 para 206,8 mil toneladas na safra 2008/09, e a produtividade acompanhou esse declínio, passando de 3.081 para 2.980kg/ha.

produção de amendoim no Brasil cresceu significativamente nos últimos anos, passando de 183 mil toneladas em 1998 para 304,9 mil toneladas em 2008 (Conab, 2008). A região Sudeste apresentou maior índice de produção (248,4 mil toneladas), seguida das regiões Sul (24 mil toneladas), Centro-Oeste (14,4 mil toneladas), Nordeste (11,8 mil toneladas) e Norte (6,3 mil toneladas). Segundo dados da Conab (2008), no cenário agrícola nacional para a safra 2008/09 destacam-se os estados de São Paulo, Bahia, Mato Grosso e Paraná com maiores quantidades de área cultivada com o amendoim.

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ram que as perdas ocorridas no arranquio do amendoim durante a colheita mecanizada da cultivar Runner foram de aproximadamente 6,9% (309,3kg/ha), excedendo as perdas ocorridas no recolhimento que foram de 3,5%. Para Sant’Ana et al (2006), o arrancador/invertedor se caracterizou como o maior responsável dos resultados de perdas elevadas ocasionadas na colheita mecanizada do amendoim. Em seu trabalho os autores encontraram produtividade de 4.457,1kg/ha para a cultivar Runner IAC 886, e perdas totais (visíveis e invisíveis) no arranquio de aproximadamente 5,6% (248,3kg/ha). Smith (1996) citado por Souza (2001), avaliando perdas decorrentes do processo de colheita mecanizada da cultura do feijão, verificou que elas variaram entre 1,0 e 13,0%, apresentando média de 3,7%, sendo que destas 20% ocorreram na operação de arranquio (com ceifador), 20% no enleiramento e 60% no recolhimento. Por outro lado, Souza (2001) quando comparou velocidades de deslocamento de 4,7

Leandra Matos Barrozo, UFPB Rouverson Pereira da Silva e Ronaldo Rosa Simões, Unesp/Jaboticabal Apolyana Lorrayne Souza, Fesurv

Miac

o efeito da velocidade e do espaçamento entre hastes sobre a ocorrência de perdas realizada no município de Santa Mônica (PR), na fazenda Santa Helena, encontrou 6.699,0kg/ha e 5.174,0kg/ha, verificando o efeito da profundidade de arranquio em diferentes cultivares. Esta baixa produtividade pode ser explicada pela concorrência das plantas invasoras com a cultura do amendoim, uma vez que se constatou alta infestação de plantas invasoras no final do ciclo. Desta forma, quando se observam a produtividade do experimento e os dados de perdas verifica-se que estas foram elevadas. No município de Santa Mônica (PR), Jorge (2008), avaliou perdas visíveis no arranquio de amendoim para três velocidades de deslocamento conjunto trator-arrancador de 472,3kg/ ha (3,6km/h), 362,5kg/ha (5,5km/h) e 397,9kg/ ha (7,2km/h). Almeida (2008), trabalhando com outras velocidades de arranquio (3,3; 4,4 e 5,0km/h), obteve com as velocidades de 4,4km/h a maior ocorrência de perdas visíveis em relação às demais velocidades, as quais não diferiram entre si. Com relação à porcentagem de perdas visíveis em relação à produtividade real, observou-se que a média encontrada no presente trabalho foi de 31,2%, valor este muito superior quando comparado com os de Jorge (2008) e de Olivatti (2007), que encontraram 5,5 e 9,5%, respectivamente. Entretanto, convém ressaltar que estes valores que foram obtidos por Olivatti (2007) correspondem à média de perdas visíveis do arranquio obtida para o amendoim cultivado em espaçamento duplo (0,22m e 0,68m entre linhas de cultivo). Para o amendoim cultivado em espaçamento de 0,90m, Olivatti (2007) encontrou perdas da ordem de 42%, concordando com os resultados encontrados neste trabalho apesar da velocidade mais elevada apresentar valores mais altos para todos os tipos de perdas analisadas no arranquio. Câmara et al (2006) verifica-

e 10km/h na colheita mecanizada do feijão, verificou que na menor velocidade houve menor ocorrência de perdas. Câmara et al (2007) também avaliaram o efeito da velocidade na colheita de soja e verificaram que no intervalo de 3,0 a 6,0km/h não houve alteração na ocorrência de perdas totais. Para as perdas invisíveis (Figura 1) também não foram observados efeitos da velocidade, resultados semelhantes aos encontrados por Olivatti (2007) e Jorge (2008), cujo percentual em relação à produtividade real foi em média 23,55%, enquanto que para o presente trabalho a média foi superior a 34,1%. De acordo com os resultados apresentados na Figura 1 verificou-se que as perdas totais não foram influenciadas pelas velocidades de arranquio. Enquanto, pode-se observar que as perdas totais foram elevadas (em média 47,1% da produtividade real). Olivatti (2007) encontrou valores de perdas totais no arranquio do amendoim, semeado em espaçamento duplo, de 29,8%. Avaliando as perdas totais no arranquio do amendoim em espaçamento simples, a autora encontrou valores que corresponderam a 4,39% da produtividade real (417,1kg/ha). Por outro lado, Almeida (2008) encontrou valores de 435,9kg/ha de perdas visíveis totais para a variedade Runner e de 532,7kg/ha para a variedade Tatu. Diante dos dados obtidos durante os ensaios, é possível afirmar que as velocidades de arranquio e recolhimento não influenciaram as perdas na colheita de amendoim .M cultivar Runner.

Junho 2011 • www.revistacultivar.com.br

Os autores concluíram que as velocidades de arranquio e recolhimento não influenciaram nas perdas da colheita



MÁQUINAS EM NÚMEROS

VENDAS INTERNAS DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS AUTOMOTRIZES NACIONAIS E IMPORTADAS - ATACADO Total Nacionais Importadas Tratores de rodas Nacionais Importados Tratores de esteiras Nacionais Importados Cultivadores motorizados Nacionais Importados Colheitadeiras Nacionais Importadas Retroescavadeiras Nacionais Importadas Mil unidades 2009 2010 2011

JAN 3,1 4,6 4,0

2011 ABR B 5.746 5.625 121 4.751 4.643 108 95 86 9 84 84 0 343 341 2 473 471 2

MAI A 6.085 6.004 81 5.143 5.072 71 83 73 10 129 129 0 233 233 0 497 497 0

Unidades

FEV 3,6 5,3 5,2

MAR 4,1 6,6 5,9

ABR 3,9 6,0 5,7

2010

JAN-MAI C 26.952 26.475 477 21.951 21.541 410 419 377 42 416 416 0 1.930 1.909 21 2.236 2.232 4 MAI 4,0 6,4 6,1

JUN 4,2 6,1

MAI D 6.381 6.350 31 5.549 5.531 18 88 79 9 195 195 0 162 161 1 387 384 3 JUL 4,8 6,4

JAN-MAI E 28.923 28.660 263 23.933 23.726 207 335 315 20 704 704 0 1.968 1.942 26 1.983 1.973 10 AGO 5,1 6,5

SET 5,4 6,1

Variações percentuais A/D -4,6 -5,4 161,3 -7,3 -8,3 294,4 -5,7 -7,6 11,1 -33,8 -33,8 43,8 44,7 0,0 28,4 29,4 0,0

A/B 5,9 6,7 -33,1 8,3 9,2 -34,3 -12,6 -15,1 11,1 53,6 53,6 -32,1 -31,7 0,0 5,1 5,5 0,0 OUT 6,2 5,9

NOV 5,3 4,7

DEZ 5,5 3,9

C/E -6,8 -7,6 81,4 -8,3 -9,2 98,1 25,1 19,7 110,0 -40,9 -40,9 -1,9 -1,7 -19,2 12,8 13,1 -60,0 ANO 55,3 68,5 27,0

MÁQUINAS AGRÍCOLAS AUTOMOTRIZES POR EMPRESA Unidades

2011 ABR B 5.746 4.751 143 140 1.235 1.288 735 1.051 159 343 31 214 26 60 12 84 95 473

MAI A 6.085 5.143 152 140 891 1.330 1.233 1.202 195 233 47 38 51 71 26 129 83 497

Total Tratores de rodas Agrale Case CNH John Deere Massey Ferguson (AGCO) New Holland CNH Valtra Yanmar Agritech Colheitadeiras Case CNH John Deere Massey Ferguson (AGCO) New Holland CNH Valtra Cultivadores motorizados (1) Tratores de esteiras (2) Retroescavadeiras (3)

2010

JAN-MAI C 26.952 21.951 699 600 4.123 6.127 4.440 5.136 826 1.930 247 788 292 504 99 416 419 2.236

MAI D 6.381 5.549 194 116 661 1.756 1.400 1.199 223 162 40 2 24 86 10 195 88 387

JAN-MAI E 28.923 23.933 820 451 3.216 7.434 5.133 5.842 1.037 1.968 257 645 305 667 94 704 335 1.983

Variações percentuais A/D -4,6 -7,3 -21,6 20,7 34,8 -24,3 -11,9 0,3 -12,6 43,8 17,5 1.800,0 112,5 -17,4 160,0 -33,8 -5,7 28,4

A/B 5,9 8,3 6,3 0,0 -27,9 3,3 67,8 14,4 22,6 -32,1 51,6 -82,2 96,2 18,3 116,7 53,6 -12,6 5,1

C/E -6,8 -8,3 -14,8 33,0 28,2 -17,6 -13,5 -12,1 -20,3 -1,9 -3,9 22,2 -4,3 -24,4 5,3 -40,9 25,1 12,8

Fonte: ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

(1) Empresas não associadas à Anfavea; (2) Caterpillar, New Holland CNH (sucede Fiatallis CNH a partir de 1º/02/05), Komatsu; (3) AGCO, Case CNH, Caterpillar, New Holland CNH (sucede Fiatallis CNH a partir de 1º/02/05).

38

PRODUÇÃO DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS AUTOMOTRIZES Unidades Total Tratores de rodas Tratores de esteiras Cultivadores motorizados Colheitadeiras Retroescavadeiras Mil unidades 2009 2010 2011

JAN 4,7 5,9 5,3

2011 ABR B 6.923 5.587 273 55 574 434

MAI A 7.217 5.975 316 30 252 644 FEV 4,4 6,5 7,0

MAR 5,6 7,9 7,5

ABR 5,2 7,8 6,9

2010

JAN-MAI C 33.947 26.929 1.214 405 3.011 2.388 MAI 4,5 8,1 7,2

JUN 4,1 7,7

MAI D 8.057 6.917 162 180 271 527 JUL 5,6 8,5

JAN-MAI E 36.119 29.313 696 792 2.844 2.474 AGO 5,7 8,6

Junho 2011 • www.revistacultivar.com.br

SET 6,1 8,2

Variações percentuais A/D -10,4 -13,6 95,1 -83,3 -7,0 22,2

A/B 4,2 6,9 15,8 -45,5 -56,1 48,4 OUT 7,0 8,1

NOV 7,3 7,3

DEZ 6,2 4,2

C/E -6,0 -8,1 74,4 -48,9 5,9 -3,5 ANO 66,2 88,9 33,9




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