Cultivar Máquinas • Edição Nº 119 • Ano XI - Junho 2012 • ISSN - 1676-0158
Nossa capa
Test Drive - Valtra S293
Conheça o Valtra S293, trator importado da França, com dispositivos que diminuem as chances de erro por parte do operador
Destaques
Capa: Charles Echer
Matéria de capa
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Índice
Para descompactar
Combustíveis mais limpos
Entenda quais os fatores aceleram a compactação nos canaviais e saiba quando e como deve-se realizar a descompactação
Saiba quais são as novas exigências para motores a diesel no Brasil e como isso ajudará a diminuir a emissão de poluentes
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16 Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Quevedo
• Redação
Charles Echer Carolina Simões Silveira
• Coordenação Circulação
Simone Lopes
Aline Partzsch de Almeida
Natália Rodrigues Francine Martins
• Design Gráfico e Diagramação
• Expedição
• Comercial
• Impressão:
Cristiano Ceia
Pedro Batistin
Direção Newton Peter
Edson Krause Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
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Rodando por aí
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Inovações agrícolas
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Aumento da mecanização e a compactação
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Avanços tecnológicos na pulverização
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Motores Diesel S-50
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Test Drive - Valtra S293
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Uso de GPS simples
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Estudo sobre a mobilização do solo no plantio 26
Ergonomia de tratores
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Lançamentos da Bahia Farm Show 2012
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Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 € 110,00 Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br
Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
rodando por aí
Parceria
Jumil
Silvio Campos participou do 26° Seminário da Cooplantio, onde destacou a parceria firmada entre a Case IH e a Cooplantio, que passa a oferecer ao associado uma estrutura que compreende desde a semente para o plantio até as máquinas para a sua colheita.
Os destaques da Jumil na Bahia Farm Show, além de toda a linha própria para a região, foram o lançamento da plantadora JM 8090 PD Exacta Terra e a distribuidora de fertilizantes Precisa. Segundo Gustavo Oliveira, diretor de marketing, a região do Centro-Oeste é muito significativa no faturamento da empresa, na ordem de 60% do total dos negócios.
Silvio Campos
Loja Prox
Case IH acaba de lançar um novo conceito de concessionárias, as lojas Prox, modelo de loja compacta, posicionada estrategicamente em regiões onde a marca ainda não conta com concessionárias do formato padrão, servindo de ponto de apoio para os agricultores com venda de máquinas, peças e serviços. A primeira loja Prox da marca foi inaugurada em maio, na cidade de Camaquã (RS) em parceria com a Cooplantio. A Case IH também inaugurou lojas em parceria com a Cooplantio nas cidades gaúchas de Pelotas e Eldorado do Sul.
Kuhn
A Kuhn aproveitou a feira Bahia Farm Show para apresentar para os produtores o lançamento da plantadora Marathhon nas versões 27, 31 e 35 linhas.
GTS
A novidade da GTS na Bahia Farm Show foi a Plaina Construction. Segundo Assis Strasser, diretor-presidente da GTS do Brasil, “além de primar pela qualidade dos produtos e estar atento às necessidades dos produtores, o foco em 2012 é fortalecer o portfólio de produtos”.
Montana
O equipamento para a agricultura de precisão Agronave-20º chamou atenção no estande da Montana na Bahia Farm Show. Para o diretor comercial da Montana, Carlos Magno Benfeita, “a empresa procura estar sempre em sintonia com as inovações do mundo agrícola, como forma de garantir aos clientes novidades para aumentar a produtividade”.
Agritech
A Bamagril, revenda autorizada da Agritech no oeste baiano, destacou o modelo 1155 NEW. Segundo Luiz Ziglioli Barcelos, sócio da Bamagril, os tratores da linha estão aptos a receber cabines de fábrica, proporcionando mais conforto e segurança para o operador da máquina, especialmente em aplicações como pulverização.
Miac
Ricardo Farizato, do departamento comercial da Miac, destacou que o sucesso na edição de 2011 impulsionou a empresa para expor mais equipamentos na Bahia Farm Show 2012. “Graças à nossa equipe de pós-vendas e à disponibilidade de peças de reposição, a empresa está crescendo cada vez mais no cerrado baiano”, comenta.
Errata
Ao contrário do que publicamos na reportagem de capa da edição 117, página 24, as potências nominais dos tratores da linha T.8 da New Holland são as seguintes: modelo T8.270, 232cv; modelo T8.295, 254cv; T8.325, 281cv; modelo T8.355, 307cv, e T8.385, 335cv.
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New Holland
As concessionárias da New Holland Justi Tratores e Jaraguá Bahia apresentaram as colheitadeiras da linha CR, as linhas de tratores T8 e T9, o pulverizador autopropelido SP3500 e as novas plantadeiras, frutos da parceria com a tradicional marca gaúcha Semeato. “São as novidades do setor que atraem o agricultor à feira. Por isso a New Holland levou lançamentos e produtos com alta tecnologia que colocam a marca como destaque neste evento”, declarou Bernhard Kiep, vice-presidente da New Holland para América Latina.
Case IH
Metalfor
A Metalfor expôs na Bahia Farm Show sua linha de autopropelidos e equipamentos de arrasto junto à sua revenda em Luis Eduardo Magalhães, Bamagril. Guilhermo Zenha, gerente geral da Metalfor, acompanhou a equipe durante o evento, com atenção especial sobre as novas tecnologias da empresa para a agricultura de precisão.
Fankhauser
Bernhard Kiep
A Case IH participou pela primeira vez do Seminário Cooplantio, realizado em Gramado (RS), onde o vice-presidente Case IH para América Latina, Mirco Romagnoli proferiu palestra sobre maquinários agrícolas com histórico e projeções futuras. Romagnoli ressaltou que “o compromisso da empresa é de estar sempre perto dos nossos clientes e nossos concessionários.
Guilhermo Zenha
A equipe da Fankhauser apresentou na Bahia Farm Show a linha de plantadoras, com destaque para as plantadoras/adubadoras autotransportáveis linha 5056. Outro destaque foi a fertilizadora de calcário e gesso preparada com agricultura de precisão.
John Deere
A concessionária Agrosul, da John Deere, destacou a colheitadeira de algodão Cotton 7760. A máquina, segundo Lucio Bruno, redefiniu o conceito de colheita de algodão, mudou o formato do fardo e criou um processo quase simultâneo de colher e enfardar.
Cycloar
Adriano Mallet, da Agracult, e Luis Mello, representante da Cycloar para o Tocantins, Bahia, norte do Mato Grosso e Piauí, apresentaram na Bahia Farm Show a linha de armazenagem e conservação de grãos. Adriano Mallet enfatiza que o sistema de exaustão da Cycloar gera economia para os produtores, independente da capacidade de armazenamento das unidades em que é instalado.
Luis Mello e Adriano Mallet
Rienke
Kepler Weber
Rogério Mizerkowski e Vinícios Gonçalves, da Kepler Weber, participaram da Bahia Farm Show, onde a empresa destacou a nova linha de secadores de grãos Krhonos. “A empresa se diferencia por investir constantemente em inovação para garantir os melhores resultados aos seus clientes, dentro de qualquer porte de produção”, destaca Vinícios Gonçalves.
A Rienke participou da Bahia Farm Show para divulgar a marca e seus produtos na região. Kurt Léo Baselides, gerente comercial norte, e Hardi Rienke, diretor da empresa, apresentaram ao público o opcional para fechamento das máquinas de limpeza de grãos, que tem como vantagens a proteção ambiental e a segurança Kurt Léo Baselides e Hardi Rienke dos operadores.
Massey
Rogério Mizerkowski e Vinícios Gonçalves
Arvus
A Arvus apresentou na Bahia Farm Show o novo monitor de plantio. O equipamento possui um monitor de sete polegadas e um sistema de gerenciamento do plantio, que permite identificar falhas no plantio, plantio de sementes duplas e ainda variações de distância de plantio. Ele pode ser totalmente integrado ao Titanium, sistema que realiza controle e monitoramento eletrônico da aplicação de insumos: fertilizantes, corretivos agrícolas e sementes.
A Massey Ferguson e a concessionária Agrovia apresentaram na Bahia Farm Show os tratores MF 8670 (320cv) e MF 8690 (370cv), capazes de realizar todas as aplicações sem a necessidade da troca de marchas e direcionados por piloto automático com precisão de 2,5cm. Os tratores são os maiores e mais avançados da Massey Ferguson no mundo.
Agrale
Márcio Blau (esquerda)
Jacto
A Jacto participou com uma grande equipe da Bahia Farm Show 2012, onde apresentou seu portfólio de produtos voltados para grandes áreas. Com entusiasmo e embalados pelos bons negócios da feira, os números comercializados na edição de 2011 foram superados.
Jose Odair Regula, gerente regional de Tratores para Goiás, Tocantins, Maranhão e Bahia, e João Alberto Paim, gerente para a linha de caminhões Agrale no Nordeste, acompanharam a equipe da concessionária Missioneira durante a Bahia Farm Show. A nova linha de caminhões da Agrale foi um dos atrativos da revenda baiana na feira.
Jose Odair Regula e João Alberto Paim
Valtra
A Valtra, através da concessionária Lavrobrás, apresentou na Bahia Farm Show portfólio completo de produtos que inclui tratores, colheitadeiras, pulverizador e implementos. “Os modelos de tratores da Série S, S293 de 325cv e S353 de 375cv chegam ao mercado brasileiro com itens que se destacam dos demais existentes no país”, destaca Moisés Gaio, coordenador comercial para o Sudeste Baiano, TocanMoisés Gaio tins, Piauí, Maranhão e Pará.
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pulverizadores
Altura monitorada
Instalação de sensores e softwares permite o monitoramento da altura do voo na aplicação de defensivos em tempo real, proporcionando aos pilotos agrícolas maior precisão e controle das variáveis da pulverização aérea
O Ag Laser pode ser instalado nos mais diferentes tipos de aeronaves, contribuindo para que o operador tenha uma real condição da determinação precisa da altura de sua aeronave durante os voos de pulverização
A
s aplicações de produtos químicos ou biológicos irão assumir, num espaço muito breve, uma importância nunca antes experimentada na agricultura, pois os principais indicadores mundiais com as projeções de crescimento agrícola, preveem que a população passará dos oito bilhões de habitantes nos próximos dez anos e, para que possamos atender esta demanda crescente de alimentos, há que se utilizar todas as técnicas possíveis que auxiliem na manutenção e obtenção de novas produções. Associado a este crescimento populacional, os mesmos indicadores apontam uma melhoria no poder de compra dos países emergentes, o que fará um aumento significativo no consumo per capita. Será necessário, de acordo com estes indicadores, que a produção de alimentos dobre neste espaço de tempo e o Brasil dentre as nações no mundo será diretamente responsável pela produção do maior volume de alimentos. Para que possamos então atender este crescimento, o uso de tecnologias que pro-
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movam o aumento de produção de forma eficaz, reduzindo custos, minimizando os impactos ambientais, se fará necessário. O uso destes produtos e também o aprimoramento nas técnicas de aplicação irão contribuir para este avanço. A deposição das partículas, sólidas ou líquidas, e as faixas operacionais utilizadas durante estas aplicações devem ser criteriosamente estudadas. A determinação da altura correta de voo, por exemplo, influencia de forma significativa na qualidade dos resultados, pois a distribuição das partículas sofre
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interferência da altura de lançamento na aplicação. Igualmente, faixas inadequadas, quer por excesso, superdimensionadas com extensões acima da permitida, ou estreitas, interferem nesta distribuição. A referência na altura de lançamento, na grande maioria das situações, é uma percepção exclusiva do piloto. Esta orientação de altura quando realizada nas aplicações de líquidos tem sido mais “fácil” de se identificar em função da proximidade com o solo; mas quando feita sobre plantas, em especial plantas com gran-
A utilização de papéis hidrossensíveis para coletar amostras no campo é, posteriormente, analisada automaticamente pelo programa Stain Master, que gerará diversos relatórios sobre a qualidade de deposição das gotas
de porte, como áreas com reflorestamento e áreas com variações de declive, áreas montanhosas, a avaliação de referência de altura fica totalmente ao critério e experiência do piloto. Equipamentos que contribuam para a redução destas variações de percepção entre pilotos de uma mesma empresa, ou mesmo aplicada a diferentes operadores, é uma necessidade para a aviação agrícola. Esta ferramenta possibilita uma uniformização na orientação na altura desejada, além de facilitar o treinamento dos novos profissionais que durante o processo de aprendizagem do voo agrícola começa a ser usada no mercado brasileiro. Denomidado de Ag Laser, o equipamento é bastante simples de se operar e sua instalação é muito fácil e rápida. Instalado no intradorso na asa da aeronave, seu cabeamento é interno, ficando totalmente embutido sem qualquer risco operacional e não afetando o desempenho da aeronave. A ferramenta ainda pode ser instalada em equipamentos terrestres para indicação da altura da barra de pulverização.
Durante testes realizados para avaliação do equipamento, a instalação em uma aeronave agrícola demorou cerca de 30 minutos sem qualquer dificuldade técnica. Ele emite feixes de onda na faixa de 905nm, com um raio de alcance de até 150 metros, apresenta um elevado nível de precisão (5cm) em tempo real, permitindo assim operar em diferentes condições de temperatura, com um peso final bastante reduzido (328 gramas). Este equipamento pode ser instalado nos mais diferentes tipos de aeronaves, contribuindo para que o operador tenha uma real condição da determinação precisa da altura de sua aeronave durante os voos de pulverização. Os dados obtidos em tempo real podem também ser armazenados e transferidos para o mapa de voo gerado quando associado ao DGPS. Uma vez instalado o equipamento, é necessário, para sua leitura precisa, realizar sua calibração da indicação inicial da altura em relação ao solo, operação que também é bastante simples e interativa, bastando apenas ao operador seguir os menus que aparecem no próprio display.
Durante esta etapa, o piloto deverá inserir no sistema uma altura padrão inicial: exemplo distância da asa (onde se encontra instalado o equipamento) até o solo ou altura de uma cultura no qual irá operar. A partir disto, os registros serão definidos com esta distância padrão. Para que pudéssemos avaliar o comportamento do equipamento e com isso comprovar a importância na manutenção da altura de voo durante as aplicações, os técnicos representantes da empresa MGC instalaram um equipamento AG Laser em uma aeronave, modelo Ipanema da Empresa Ultraer, conduzida pelo comandante Rogério, localizada na Cidade de Leme (SP). Para a verificação da influência da altura de voo, na qualidade e uniformização de distribuição e interferência na faixa de distribuição, foram distribuídos diversos coletores (papel hidrossensível) equidistantes de metro em metro, nas posições horizontal e vertical no campo. Após isso, a aeronave executou diversas passagens sobre lavouras (cana e milho) para familiarização com o equipamento e em seguida sobre a linha de
Os dados obtidos em tempo real podem também ser armazenados e transferidos para o mapa de voo gerado quando associado ao DGPS
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Fotos Wellington Pereira Alencar de Carvalho
Distribuição de coletores no campo para realização da avaliação de deposição
coletores realizando passagens com diferentes alturas. Os resultados obtidos permitiram visualizar a importância na manutenção da altura nas aplicações, o que reforça a função de auxílio do equipamento. A operação e o processo de determinação de faixas, o estudo do tamanho das gotas nas pulverizações são etapas onde a coleta das informações e a qualidade na obtenção dos dados são fundamentais para análise e conclusões precisas. Uma das grandes dificuldades operacionais que os pesquisadores normalmente se deparam são as dificuldades na identificação destas observações, quer na análise do tamanho das partículas, quer na determinação rápida da densidade de gotas, indicação percentual (%) do grau de cobertura, empregando técnicas precisas e aceitação técnico-científica. As observações visando estas análises técnicas geralmente se caracterizam por ser um trabalho demorado e de difícil execução, quando feito de forma manual com o uso de lupas graduadas. Objetivando atender esta situação e permitir análises rápidas e precisas dos materiais coletados, foi desenvolvido um software na Argentina criado pelos engenheiros Jeremias Garmendia e Esteban Ricagno denominado Stain Master, que chega ao mercado brasileiro, ainda na versão em espanhol. Uma versão em português está sendo finalizada, o que facilitará o manuseio para os operadores brasileiros. O programa trabalha utilizando as imagens obtidas com o uso de papéis hidrossensíveis que, após a realização das coletas em campo, devem ser escaneados e submetidos às análises laboratoriais.
campos amostrais, bastando apenas colocar na opção manual. Uma vez definidos estes campos, os dados são ordenados e armazenados em um subdiretório para posterior consulta. Após esta etapa o operador poderá optar por diferentes formas de análise, gerando gráficos explicativos do comportamento destas coletas. Dentre estas opções, há diferentes apresentações de gráficos, histogramas, interpolações diversas, que irão facilitar e auxiliar o técnico nas conclusões do trabalho executado, tais como a emissão de
AVALIAÇÃO DE DEPOSIÇÃO
Durante a execução do programa, caberá ao operador deixá-lo em módulo automático, onde de forma aleatória o sistema escolhe áreas a serem analisadas e que serão posteriormente processadas. Se o operador desejar, poderá definir os
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Pesquisadores que desenvolveram experimento com o sensor de altura e software para análise de gotas
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gráficos relacionando os níveis de depósitos com seu tamanho de gota e referências de aplicação, levando-se em conta as condições meteorológicas. O programa ainda permite seu uso em diferentes plataformas operacionais visando atender os principais sistemas atuais em uso, o que é um grande atrativo para sua adoção. .M Wellington Pereira A. de Carvalho e Jeremias Garmendia, Univ. Federal de Lavras - Ufla
mecanização
Pressão repetida O
uso de máquinas e implementos agrícolas nos canaviais brasileiros vem crescendo a cada ano. O benefício técnico e econômico sempre foi o responsável pelo advento da mecanização no setor canavieiro, embora a criação de leis que prevejam a proibição das queimadas tenha alavancado o andamento desse processo, principalmente em relação à colheita mecanizada. A substituição do corte manual pela colheita mecânica da cana crua apresenta vantagens operacionais para o sistema produtivo e ainda traz benefícios ao meio ambiente. Porém, a mecanização da colheita acarreta em intenso tráfego de máquinas, o que indesejavelmente afeta a estrutura física do solo, principalmente após contínuas operações. A necessidade de manejo em larga escala das extensas áreas produtivas de cana-de-açúcar demanda o emprego de máquinas e implementos de maior capacidade operacional e, neste cenário, os fabricantes deslumbram a criação de produtos cada vez maiores. Inevitavelmente é o solo agrícola que terá de suportar toda a carga das máquinas usadas nas operações de campo e, muitas vezes, a pressão exercida na interface de contato rodado/solo provoca deslocamento excessivo
Levantamento da resistência do solo à penetração com uso do penetrômetro acoplado ao quadriciclo e conectado a GPS
de suas partículas, que pode refletir até nas camadas mais profundas. A compactação do solo é resultado do adensamento causado por pressão externa ou interna. O adensamento se refere ao rearranjo das partículas e à aproximação dos agregados do solo, que provoca a deformação da sua es-
trutura em detrimento da redução do espaço poroso ocupado por ar ou água. As forças que causam a compactação do solo podem ser originadas por tráfego de veículos, pressão de implementos na profundidade de trabalho, pisoteio de animais e até pelo crescimento de raízes mais robustas. Quando estes eventos ocorrem em condições de elevada umidade do solo, o processo de compactação é agravado. As principais consequências da compactação podem ser a diminuição da infiltração e movimento de água no solo, a limitação da adsorção e absorção de nutrientes, a redução das trocas gasosas entre raízes, solo e atmosfera e o menor desenvolvimento do sistema radicular, que resultam em decréscimo da produtividade, maior risco de erosão e aumento da potência exigida no preparo do solo. Devido à característica semiperene da cultura, a compactação torna-se ainda mais preocupante na cana-de-açúcar, justamente pelo fato de não se poder revolver o solo até a reforma do canavial, que na média ocorre a cada cinco anos, diferentemente de culturas como o algodoeiro, por exemplo, em que a introdução de máquinas de grande porte levou, em alguns casos, a recomendações
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Charles Echer
Com o aumento da mecanização agrícola nos canaviais, aumenta também a compactação do solo, que pode reduzir a produção em até 50% entre o primeiro e o quarto corte
Figura 1 - Penetrômetro eletrônico acoplado a um quadriciclo proporciona maior capacidade operacional
anuais de subsolagem. Conhecer o nível de compactação de um solo ou pelo menos a ocorrência e localização de camadas compactadas auxilia o gerente na tomada de decisão sobre a reforma e recomendação para regulagem do implemento. A subsolagem ideal deve ser realizada de 5cm a 10cm abaixo da camada de maior dureza e quando os níveis de compactação atingirem valores críticos ao correto desenvolvimento das plantas. Em estudos realizados pela equipe do Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola (Lamma) da Unesp de Jaboticabal, foi monitorada a compactação do solo em um talhão de colheita mecanizada pertencente à Fazenda Santa Izabel, localizada no interior de São Paulo, nas proximidades da Usina São Martinho. Na Figura 1 é mostrado o equipamento utilizado no campo. Este penetrômetro é do tipo eletrônico e foi acoplado a um quadriciclo para proporcionar maior capacidade operacional. Ressalta-se que a força mensurada pode ser mascarada por variações na velocidade de penetração e na umidade do solo, por isso é muito importante que nesse tipo de levantamento seja utilizado um equipamento eletrônico de velocidade constante da haste, além de padronizar as avaliações sempre em condições semelhantes de umidade.
O trabalho foi realizado nos anos de 2009, após o terceiro corte da cana, e no ano de 2010, após o quarto corte. O objetivo desse estudo foi detectar a alteração ocorrida nos níveis de compactação do solo entre o terceiro e quarto corte deste talhão, ou seja, após um ano de cultivo mecanizado da cana-soca. A área avaliada tem aproximadamente oito a nove hectares e desde o plantio da variedade SP87-365 vem sendo colhida mecanicamente. Ao todo foram amostrados 184 pontos georreferenciados após o terceiro corte e 236 após o quarto corte, avaliando o solo até a profundidade de 50cm, na linha e na entre linha da cultura. O resultado dessa avaliação pode ser verificado nos mapas e gráficos das Figuras 2, 3 e 4. O estado de compactação do solo avaliado pela penetrometria é indicado pelos valores de resistência do solo à penetração (RSP), que são expressos em unidade de pressão (MPa), conforme a legenda da escala de cores no mapa. Para a geração desses mapas é preciso trabalhar no campo com um receptor GPS conectado ao sistema de aquisição de dados. Pela análise dos mapas da Figura 2, constata-se que os níveis de compactação foram maiores no segundo ano de avaliação, indicando que o tráfego de máquinas acumulado em um ano de cultivo mecanizado aumentou
Figura 3 - Mapas da resistência do solo à penetração nas camadas de 0-10, 10-20, 20-30, 30-40 e 40-50cm
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Figura 2 - Mapas da resistência do solo à penetração média da profundidade de 0-50cm em função dos pontos amostrados ao longo da área em 2009 (esquerda) e em 2010 (direita)
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o estado de compactação do solo. Um dado que concorda com esse resultado é o histórico de produtividade do talhão. Segundo informações do gerente agrícola, no primeiro corte do talhão a produção foi de 138 toneladas de colmo por hectare (TCH), caindo para 128 e 112 TCH no segundo e terceiro cortes, respectivamente. Porém, a queda na produção notada do terceiro para o quarto corte foi de 41 TCH, sendo colhidos apenas 71 TCH em 2010. Essa queda certamente é um reflexo do aumento de quase 1MPa ocorrido na média da RSP entre 2009 e 2010. Ainda nesse mapa é possível distinguir regiões com diferentes níveis de compactação, apresentando valores que variam de 1,4MPa até 6,4MPa de pressão. Um detalhe interessante é a ocorrência de valores elevados de RSP nas regiões de cabeceira dos talhões, onde o tráfego é mais pesado devido às manobras das máquinas, comprovando a relação do aumento da RSP em função da intensidade do tráfego. Na Figura 3 encontra-se uma divisão dos mapas da Figura 2 em diferentes camadas. Enquanto cada mapa isoladamente mostra apenas a distribuição espacial dos valores no sentido horizontal, a estratificação em camadas pode dar uma ideia da distribuição vertical da compactação, isto é, qual o nível de compactação ao longo do perfil
Figura 4 - Da resistência do solo à penetração média no perfil do solo amostrado
Fotos Divulgação
É necessário conhecer o nível de compactação para saber qual o método adotar
do solo. Tal aspecto pode ser ainda melhor representado em gráficos, como é mostrado na Figura 4. O gráfico da Figura 4 mostra que os valores de RSP apresentaram um grande acréscimo até 15cm de profundidade, mantendo níveis elevados até atingir o máximo na camada mais profunda, chegando a 3MPa na avaliação feita em 2009 e 4MPa na avaliação de 2010. Pelo gráfico fica claro que a RSP média do quarto corte foi maior que a média do terceiro corte em todas as profundidades. Levando-se em conta que pelo menos 70% das raízes de cana-de-açúcar são distribuídas até 50cm de profundidade e que o solo avaliado apresentou, até essa profundidade, valores próximos ao crítico indicado
na literatura (2MPa a 4MPa para culturas perenes ou semiperenes em solo argiloso não mobilizado anualmente), é recomendado que neste caso se faça subsolagem profunda a fim de garantir a exploração total do solo pelas raízes da cultura. Muito trabalho ainda precisa ser feito no âmbito da pesquisa visando aperfeiçoar as diretrizes para a consolidação do uso dessa importante ferramenta de análise no setor canavieiro. O próximo passo dessa linha de pesquisa seria relacionar a compactação com o crescimento de raízes e a produtividade das plantas, possibilitando definir valores de RSP críticos para cada solo e condição de umidade, que juntamente com mapas de fertilidade subsidiem a decisão de intervenção mecânica visando a descompactação e a reforma do canavial. Para isso o retorno em produtividade obtido com essa operação deve justificar seu custo. Também é interessante desenvolver estratégias para manejo em sítio-específico, como a subsolagem baseada nos mapas de compactação gerados, oscilando na profundidade exata e apenas nos locais necessários. Atualmente no Brasil já existe um equipamento preparado para esse tipo de trabalho, que finaliza o processo iniciado na avaliação do solo, conhecido como “escarificador a taxa variável”. .M
Situações que podem ocorrer devido à má subsolagem
A
falta de critérios para a mobilização do solo visando a desagregação da camada compactada pode gerar as seguintes situações controversas: 1) Realizar a subsolagem precipitadamente - o retorno em produtividade pode não justificar o custo. 2) Escarificação ou aração acima da camada necessária - pode acabar agravando o problema de pé-de-grade, além de recair no mesmo problema da situação citada anteriormente, devido à ineficiência dessa operação. 3) Subsolagem mais profunda do que o necessário - resulta em maior gasto de energia para realizar essa operação. 4) Intervenção realizada tardiamente – o período produzindo cana em condições inadequadas de solo gera baixas produtividades, o que representa um custo de oportunidade que se evitaria com o manejo no momento correto.
Danilo Baldan Rossini, Unesp
pulverização Fotos Jeferson Rezende
Terra ou ar?
Os avanços tecnológicos nos equipamentos de pulverização agrícola são visíveis tanto na aplicação aérea como na terrestre, mantendo a dúvida sobre qual o método usar na hora de realizar o controle de pragas, doenças e invasoras
A
agricultura tem se defrontado com alguns gargalos operacionais interessantes, justamente no momento em que dispõe de máquinas e equipamentos cada vez mais modernos. Com o advento das doenças na soja e, mais recentemente, no milho, a tecnologia de aplicação fitossanitária vem ganhando destaque, por conta da necessidade de se realizar adequada cobertura sobre a área foliar; sempre levando em conta rendimento/ qualidade/proteção ambiental. Ao longo dos anos, acompanhamos experimentos e ensaios a campo, que objetivam conhecer melhor as peculiaridades, as possibilidades de uso das diferentes máquinas pulverizadoras e quais seriam os melhores espectros de gotas. Neste contexto, levando ainda em consideração os trabalhos realizados por diferentes pesquisadores, é possível elencar algumas ponderações, que estão em sintonia com o que pode e deve ser praticado pelo produtor rural. Primeiro ponto a ser considerado é que tanto a tecnologia aérea, como a terrestre são eficientes e eficazes ferramentas de trabalho, desde que realizadas com as máquinas ajustadas/reguladas e dentro dos limites ambientais. E em segundo lugar, é possível observar que aplicações realizadas com volumes de vazões menores conseguem atender as especificidades técnicas e ainda reduzir tempo de trabalho, gasto com combustíveis
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e, perdas por pisoteamento excessivo (no caso das terrestres). Também é possível observar que os tratamentos realizados com menor quantidade de água conseguem gerar e manter melhores espectros de gotas e, consequentemente, atingem o alvo mais uniformemente, inclusive o baixeiro, e evitam ainda problemas de escorrimento. A tecnologia de aplicação disponível atualmente possibilita que o produtor realize pulverizações com ótima qualidade, nas melhores janelas e dentro do menor tempo, ou seja, hoje é possível adotar padrões operacionais para as aplicações terrestres muito parecidos com o que é usado nas aplicações aéreas. Outro ponto muito importante a ser lembrado, diz respeito à possibilidade de se fazer uso de adjuvantes para melhorar o trato cultural como eliminar espumas, entupimento de pontas, emulsão da calda, reduzir perdas por deriva e evaporação, reduzir ou evitar a presença de fitotoxidade, entre outros benefícios. No Brasil, estes produtos ainda estão “sob suspeita” em algumas regiões, por falta de informação e/ou posicionamentos equivocados. Alguns adjuvantes existentes, por exemplo, reduzem excessivamente o pH da calda ou são incompatíveis com determinadas moléculas, o que acaba causando precipitação da calda ou fitotoxidade. De qualquer modo, são produtos muito inte-
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ressantes que devidamente posicionados, podem contribuir sobremaneira para melhorar o tratamento fitossanitário. Hoje, já existem informações consistentes sobre grande parte dos adjuvantes disponíveis no mercado e sobre as vantagens de usá-los. Pesquisadores de renome, como Ulisses Antuniassi (Unesp/Botucatu); Heraldo Feksa (FAPA/Agrária); Sidnei Osmar Jadoski (NATA-PR/Unicentro); Edivaldo Velini (Unesp/Botucatu); Ricardo Barros (Fundação MS); Robinson Contiero e Jamil Constantim (UEM), entre outros, são fonte importante de informações relativas aos adjuvantes. Recomendamos como melhor espectro de gotas, o padrão de 200um – 250um. Gotas com estes tamanhos conseguem cobrir adequadamente a planta, não são suscetíveis
Coleta de dados em aplicações em lavouras de soja e trigo
Diferença de cobertura: com 100L em soja e 150L terrestre em batata
ao efeito guarda-chuva, dificilmente escorrem, mesmo quando aplicadas na presença de orvalho, e também não sofrem tanto com a ação do vento e temperatura. As aplicações aéreas geralmente produzem gotas com espectros ainda melhores: entre 150um e 200um e, pelas características do equipamento aplicador (avião), conseguem atingir uniformemente a cultura tratada. Por isso, existem situações em que o tratamento aéreo supera o terrestre em eficácia. Além do que, o avião aplica grandes áreas de maneira rápida, sem tocar o solo, ou injuriar a planta. Por outro lado, muitas lavouras possuem obstáculos que inviabilizam o voo. Nestes casos, uma máquina terrestre (rebocada ou autopropelida) pode fazer o trabalho com a mesma eficiência do avião, desde que esteja devidamente ajustada e com um operador treinado no seu comando. Aplicações aéreas com volumes de vazões entre dez litros por hectare e 20 litros por hectare são comuns nos dias de hoje em praticamente todo o tipo de cultura: soja, milho, trigo, cevada, batata, feijão, banana e arroz. Volumes menores, como, por exemplo, de sete litros por hectare, também são eventualmente usados em algumas situações e, de um a três litros por hectare, que também
é utilizado, mas com menos frequência. Já, nas aplicações terrestres, existem variações significativas, no meu entendimento, injustificadas. Numa mesma cultura são utilizados volumes de vazões de 70L/hectare, 100L/hectare, 150L/hectare, 200L/hectare e até 300L/hectare. Os experimentos demonstram que maiores volumes geralmente produzem gotas mais grossas e diluem o ativo no tanque. Volumes menores, por sua vez, conseguem gerar gotas mais adequadas e uniformes, melhoram o rendimento da máquina e não se perdem por escorrimento. Um fato praticamente sacramentado diz respeito à importância do tamanho das gotas, que é mais importante do que o volume de vazão (ou taxa de aplicação). Para obter o melhor tratamento, seja ele aéreo ou terrestre, é de suma importância escolher pontas de aplicação ou atomizadores de qualidade, compatíveis com o volume de vazão e o tamanho de gotas que se deseja. Para obtermos um melhor resultado final, é necessário trabalhar com pontas adequadas, pressão do sistema agrícola correta, tamanho de gota e velocidade
constante adequados, além de observar as condições ambientais na hora da aplicação. Ao trabalhar com pontas com indução de ar ou antideriva, é necessário levar em conta que elas produzem gotas muito grossas. É oportuno ressaltar ainda que alterações bruscas de velocidades nas máquinas terrestres ocasionam alteração na cobertura, por conta da oscilação da pressão na barra (sistema eletrônico). E isso pode efetivamente deixar brechas na aplicação, furos que facilitarão a presença de doenças, pragas e invasoras. Daí a importância de que seja escolhida uma velocidade média padrão para operar na lavoura, a fim de se evitar que a máquina ora esteja a 12km/h, ora a 7km/h. Para finalizar, é importante ressaltar que a escolha do meio de aplicação – aéreo ou terrestre – está relacionada ao interesse e à necessidade do produtor, já que ambas as tecnologias são eficientes e cumprem com qualidade o papel que se espera destas máquinas, desde que os princípios corretos de aplicação sejam respeitados .M Jeferson Luís Rezende, Nata-PR/Unicentro
A escolha do meio de aplicação - aéreo ou terrestre - está relacionada ao interesse e necessidade do produtor, já que ambas tecnologias são eficientes e cumprem com qualidade seu papel
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motores
O que é o Diesel S-50?
Fotos Marcos Lobo
Desde o início de 2012 está em vigor o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores fase P-7, que traz uma série exigências novas para os motores a diesel e muitos benefícios para o meio ambiente
E
m atendimento às exigências do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), fase P-7, que é similar ao programa europeu Euro V, desde 1º de janeiro de 2012 veículos equipados com motores de combustão interna ciclo diesel, produzidos no Brasil, deverão vir equipados com sistemas de pós-tratamento do gás de escapamento que podem ser com sistema de Recirculação do Gás de Escapamento (EGR - Exhaust Gas Recirculation) ou Redução Catalítica Seletiva (SCR - Selective Catalytic
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Reduction), além do Filtro de Particulados do Diesel (DPF - Diesel Particulate Filter). Com a entrada em operação da fase P-7 do Proconve o objetivo é reduzir as doenças respiratórias, como bronquite, rinite, asma e até mesmo o câncer, causadas pelas emissões veiculares. Esta adoção também contribuirá para a diminuição da ocorrência de chuva ácida (ácido sulfúrico + ácido nítrico) que causa corrosão em estruturas civis e metálicas e morte de plantas, bem como a redução do “smog”, que é a fumaça causada por poluentes (smoke) mais o nevoeiro (fog), que contribuem para o fechamento de aeroportos em certas épocas do ano. A intenção da implantação dos sistemas de pós-tratamento de gás de escapamento é que sejam reduzidas as emissões de hidrocarbonetos não queimados (HC), monóxido de carbono (CO), material particulado (MP) e, especialmente, os óxidos de nitrogênio (NOx). A título de ilustração, demonstrativo de como as emissões de óxidos de nitrogênio e material particulado vêm sendo reduzidas com o aprimoramento da mecânica dos motores Ciclo Diesel a partir do Proconve fase P-2, que equivale a Euro 0 pode ser conferido no Gráfico 01. A definição quanto a se o veículo vai utilizar sistema EGR ou SCR será da montadora mas, em princípio, veículos para serviços leves serão
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Detalhe do tanque de óleo diesel (acima) e tanque do Agente Redutor Líquido de NOx Automotivo (Arla)
equipados com EGR e veículos em serviços pesados com SCR nada obstando, no entanto, que o fabricante faça a opção contrária. Para incorporação do EGR ou SCR às mecânicas dos veículos Proconve P-7 (Euro V) será necessário também que haja redução no teor de enxofre do óleo diesel consumido no Brasil. Passaremos a ter disponível no postos de combustível óleo diesel com teor de enxofre abaixo de 50ppm (S-50), chamado popularmente de BTE, e, a partir de 2013, os Ultra BTE cujo teor de enxofre será inferior a 10ppm (S-10), conforme cronograma do Gráfico 02. Não se deve, em hipótese alguma, utilizar óleo diesel com teor de enxofre acima de 50ppm (B S1800 ou B S500) nos veículos com motores Proconve fase P-7 (Euro V), sob pena do aumento das emissões, entupimento do catalisador e do DPF, formação de depósitos e carbonização do motor, aumento do consumo de combustível, redução da vida útil do veículo e corte no torque do motor através do sistema de autodiagnose de bordo (OBD - On Board Diagnose). O diesel S-50 já se encontra disponível em postos de abastecimento de quase todas as localidades do país. Nos Estados Unidos
Marcos Lobo explica a nova fase do Proconve
Figura 1 - Função do Agente Redutor Líquido de NOx Automotivo - ARLA 32 ( 32,5% Gráfico 1 - Demonstrativo da redução das emissões de acordo com a fase de implede ureia técnica e 62,5% de água desmineralizada) mentação
verificou-se redução no consumo de óleo diesel nos motores com tecnologia similar ao Proconve P-7 (Euro V). Não há qualquer problema em se utilizar o óleo diesel S-50 em veículos com motores anteriores à fase P-7 havendo, inclusive, algumas vantagens, tais como redução de emissões, menor desgaste de anéis e cilindros, aumento da vida útil do motor e menor deterioração do óleo lubrificante. Os veículos que tiverem seus motores de combustão interna ciclo diesel equipados com o sistema SCR passarão obrigatoriamente a utilizar o Agente Redutor Líquido de NOx Automotivo – Arla 32, formado por 32,5% de ureia técnica e 62,5% de água desmineralizada, que tem a função de fornecer amônia para redução dos óxidos de nitrogênio, como pode ser observado na Figura 01. O Arla 32 será armazenado em tanque separado, onde será vaporizado diretamente no sistema de exaustão, e não deve ser adicionado ao óleo diesel em hipótese alguma e vice-versa. A utilização de Arla 32 de má qualidade ou caso o nível no tanque esteja abaixo do mínimo estabelecido pelo fabricante do veículo será indicada no painel do veículo e se nenhuma providência for tomada haverá redução de 25% até 40% no torque do motor pelo sistema OBD, que só voltará à condição normal de operação quando as anomalias forem corrigidas. O consumo de Arla 32 será, em média, de 5% do consumo de óleo diesel (um tanque de Arla 32 a cada três ou quatro tanques de combustível). Este produto não faz mal à saúde,
podendo ser manuseado sem problemas, não tem cheiro, não é poluente ao meio ambiente, mas não deve ser armazenado em recipientes metálicos que possam sofrer corrosão. Outro ponto importante a ser citado é que os motores com tecnologia Proconve P-7 (Euro V), com EGR ou SCR, deverão utilizar óleos lubrificantes com níveis de desempenho API CJ-4/SM ou Acea E-7-08/E9-08, com vistas a prolongar a vida útil do motor e do sistema de pós-tratamento do gás de escapamento. É importante detalharmos, um pouco mais, a função do sistema de autodiagnose de bordo OBD. Trata-se de equipamento obrigatório nos veículos de tecnologia P-7 que monitora permanentemente mais de 200 possibilidades de falhas, especialmente as do sistema de póstratamento do gás de escapamento. Quando houver alguma falha, o motorista será avisado por meio de luzes indicadoras no painel e, ocorrendo falha grave, haverá perda de torque no motor após a primeira partida do veículo, podendo as falhas de menor gravidade serem corrigidas em, até, 48 horas. Quais as falhas graves que implicarão em corte de torque do motor? Algumas delas são: uso de produto inadequado no tanque de Arla 32 (exemplo: óleo diesel); tanque de Arla 32 vazio; diesel que não seja o S-50; sensores de NOx com defeito. É bom frisar que o torque do motor não será reduzido com o veículo em andamento (para evitarem-se acidentes) e a redução só ocorrerá após a parada do veículo, sentindo o motorista a diminuição do torque
Sistema SCR -Rredução Catalítica Seletiva
do motor na próxima arrancada. Apesar da redução do torque do motor ser significativa (25% a 40%) será possível deslocar o veículo até alguma concessionária autorizada para correção do defeito. Os veículos com tecnologia Proconve P-7 virão com mudanças nas transmissões, motores, eixos motrizes, sistema de refrigeração e mapas dos sistemas de regulagem eletrônica. Atenção especial deve ser dada ao sistema de pós-tratamento do gás de escapamento sob pena de custosos reparos por falta dos cuidados anteriormente citados. Apesar do S-50 ter custo superior ao B S1800 ou B S500 não adianta, neste caso, tentar economizar com o combustível, valendo o mesmo comentário com respeito ao uso de Arla 32 de qualidade duvidosa. O custo da manutenção a ser efetuada em caso de avarias por negligência no uso dos citados produtos superará, em muito, a “provável” economia. Em veículos com tecnologia Proconve P-7 (Euro V) não há “jeitinho brasileiro” e vale o .M jargão popular: “O barato sai caro”. Marcos Thadeu G. Lobo, Petrobras Distribuidora S.A. Gráfico 2 - Cronograma de implementação das novas exigências do Proconve
Sistema EGR - Recirculação do Gás de Escapamento
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capa
Valtra S293
O Valtra S293 que testamos possui diversos dispositivos que minimizam ao máximo a possibilidade de o condutor operá-lo inadequadamente. Importado da França, ele chega ao Brasil para concorrer com os tratores de alta potência utilizados principalmente em lavouras de cana-de-açúcar e de cereais em grandes áreas
I
bitinga, no estado de São Paulo, foi o local escolhido para o teste desta edição, com o trator Valtra da série S, modelo S293. Este trator que foi lançado oficialmente no último Agrishow, em Ribeirão Preto, e que havia sido apresentado previamente no Show rural Coopavel, de Cascavel (PR), na Expodireto de Não-Me-Toque (RS) e na Exposição Agropecuária de Rio Verde (GO), é um dos
tratores internacionais da Valtra. Fabricado na unidade da AGCO, em Beauvais, na França, as primeiras unidades que vieram para o Brasil, chegaram na cor preta, realmente uma inovação que o mercado se encarregará de aprovar. Independente de gostos e preferências é uma novidade, pois ficou com um aspecto automotivo bastante interessante. A série S, da qual faz parte este modelo, tem na Europa cinco modelos. O que testamos é o intermediário em tamanho e potência de motor. Esta é uma linha já estabelecida comercialmente no velho continente e agora chega ao Brasil. A Valtra trouxe ao país um lote de quatro unidades para demonstração e teste, e os distribuiu pelo Brasil para que a equipe de desenvolvimento faça todas as provas necessárias para a adaptação do trator ao sistema agrícola nacional, principalmente o setor sucroalcooleiro, no preparo do solo, e as lavouras de grãos, principalmente na operação de plantio. Das quatro unidades, duas estão trabalhando no
O motor do S293 é AGCO Sisu Power de seis cilindros com potência máxima de 325cv
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estado de São Paulo e duas no Mato Grosso, acompanhadas de perto pelo pessoal técnico da Valtra. No entanto, este modelo está em plena comercialização e as primeiras entregas estão previstas para os próximos meses. É um trator de grande porte, com estrutura modular, um semichassi, com longarinas que vão até o início da cabine. Está direcionado às operações de alta exigência de tração e para agricultores que necessitem de tecnologia para vencer as árduas jornadas da lavoura de cana e dos grãos em grandes extensões de área. Para enfrentar este desafio de colocar no mercado um trator com estas características a rede de 53 concessionários e mais de 150 pontos de vendas estão se preparando e muitos terão que passar por treinamento especializado, para atender a necessidade de formação técnica, pois se trata de produto de alta tecnologia e complexidade.
MOTOR
O motor do S293 é um AGCO Sisu Power, de seis cilindros, com turbo intercooler e 8,4 litros de volume total, para proporcionar 325cv de potência máxima a 2.000rpm. O torque máximo chega a incríveis 1.455Nm a uma rotação de 1.400rpm. As curvas de torque e de potência, divulgadas pela marca, proporcionam que se calcule a reserva de torque em 28% e a elasticidade em 1,8, característicos de motores
Fotos Charles Echer
Junto aos faróis traseiros, no para-lamas, estão localizados botões que possibilitam ao operador manejar o sistema hidráulico fora da cabine O sistema hidráulico de três pontos é da Categoria III, com engate rápido nos braços inferiores
modernos com injeção eletrônica. Para o controle de emissões de poluentes este trator está preparado para atender o padrão Tier II, pois utiliza a tecnologia e3, com um processo SCR (Selective Catalytic Reduction). Este sistema se nota facilmente pela presença do sistema de escapamento, robusto e protegido no lado direito do trator. Foi testado durante anos em caminhões e agora a AGCO optou por utilizá-lo em tratores, dados os ótimos resultados na diminuição do óxido de nitrogênio (NOx) proveniente da combustão de diesel, como exige-se em diversos países. Esta tecnologia trata as emissões com o aditivo AdBlue, melhorando
inclusive a eficiência do motor, diminuindo a sua temperatura, principalmente em condições muito exigentes em clima e esforço de tração. Alia-se a este sistema uma injeção eletrônica, com commom rail. Ficamos impressionados positivamente com o dispositivo projetado pela Valtra para a dupla filtragem do ar. Em primeiro lugar pela sua posição, bem à frente do motor, e pela acessibilidade pelo basculamento do capô. O filtro de ar primário é colocado logo acima de um extrator de pó, que funciona pelo movimento do ventilador do radiador, muito fácil de ser retirado, e quando recolocado tem uma única posição que dificulta o erro do operador no momento da manutenção. O combustível homologado para este motor
é o diesel comercial nacional, porém, este trator pode funcionar com misturas podendo chegar ao biodiesel puro, se estiver nos padrões da ANP. O volume do depósito de combustível é para 690 litros, o que favorece grandes jornadas sem abastecimento.
TRANSMISSÃO
No teste que fizemos, consideramos a transmissão de potência o ponto alto deste trator. O sistema AVT consiste em uma transmissão continuamente variável, a mesma que equipa os modelos maiores da Fendt na Europa, que gerencia motor e transmissão de uma forma integrada. Não possui degraus (step) entre uma marcha e outra, como nas transmissões convencionais. Inclusive neste modelo e na série não
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Fotos Charles Echer
O S293 possui diversos faróis distribuídos em locais estratégicos
há nem o tradicional comando único que deve estar sempre acionado pelo operador (joystick). O comando de movimento é todo por botões no console. Na própria coluna da direção, ao lado esquerdo do volante, tem um inversor com três posições: estacionamento ou neutro, à frente e à ré, acionável pelo toque de um dedo. Há a possibilidade de estabelecer quatro modos de funcionamento da transmissão: manual, semiautomático, automático e automático com TDP. Durante o teste optamos, assim como o operador da fazenda, pelo modo automático, que é o mais recomendado para a tarefa e o terreno que estávamos trabalhando, além de ser o mais inovador. Colocado o trator neste modo, ele próprio gerencia o motor com a transmissão, escolhendo qual a maior veloci-
Sistema de suspensão dianteira ativa hidráulica, que absorve as vibrações no eixo dianteiro, proporciona uma maior aderência dos pneus dianteiros ao solo e maior conforto ao operador
dade que proporciona a máxima economia de combustível, alterando a rotação do motor em função da carga na barra de tração. Embora não seja o uso principal deste trator, ele está equipado com uma tomada de potência em quatro modos, 1.000rpm, 1000E econômica, 540rpm e 540E econômica. Além disto, este trator possui um recurso de utilizar a TDP de forma automática, quando estiver trabalhando com um equipamento ligado ao mesmo tempo à TDP e ao sistema hidráulico de três pontos. Neste modo o trator automaticamente desarma a TDP quando o sistema hidráulico é levantado,
O trator testado estava equipado com pneus radiais Michelin 800/70 R 38 e 600/70 R 28
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nas manobras de cabeceira. Pelos primeiros dados da equipe que está acompanhando este trator na Fazenda Santa Fé, em Ibitinga, o modo automático está proporcionando, em média, 20% a menos de consumo do que no modo manual, onde o operador gerencia a rotação e a velocidade de deslocamento. Como é uma transmissão continuamente variável, pode-se trabalhar com velocidades extremas de 0,03km/h até 42km/h, para deslocamento em estradas. Há um dispositivo que limita a velocidade máxima para trás, para
O filtro de ar está posicionado logo acima de um extrator de pó do ar, que absorve as particulas mais grossas antes que cheguem aos filtros primário e secundário
resguardar a segurança na operação. Para operar no modo automático, somente é necessário ligar o motor, pressionando a embreagem. Depois de liberá-la, acelerar até que seja possível alcançar uma velocidade estabilizada e acionar o botão (A) que foi previamente configurado para a velocidade de operação que se quer realizar. No momento da manobra, acionar o outro botão (B), configurado com a velocidade de manobras, mais reduzida e, em seguida, ao retornar para o trabalho, voltar a acionar o botão (A). A operação neste modo se torna muito simplificada, dando margem para que o operador se preocupe mais com a operação e menos com o trator, além de criar um sistema à prova de erro, pois reduz a influ-
Os radiadores dos sistema de arrefecimento do sistema hidráulico e do ar condicionado podem ser facilmente deslocados para a limpeza
ência do tratorista nos parâmetros operacionais, aumentado a eficiência.
SISTEMA HIDRÁULICO
O sistema hidráulico de três pontos é da Categoria III, com engate rápido para os braços inferiores, o que facilita o acoplamento de implementos grandes e pesados por apenas uma pessoa. A versão europeia deste trator pode ser equipada com sistema hidráulico de três pontos na dianteira, como opcional. No entanto, esta configuração não está disponível para o Brasil, pela inexistência de implementos e máquinas que possam utilizar este mecanismo. O acoplamento de implementos no sistema hidráulico de três pontos possibilita a utilização
de um dispositivo de controle de equilíbrio de patinagem e está preparado para atingir uma capacidade máxima de levante de até 12.000kg. Para o acionamento de implementos que utilizem pistões hidráulicos como grades, semeadoras e subsoladores, o modelo S293 oferece como equipamento standard um conjunto de quatro válvulas VCR e seis, como opcional. O acionamento das válvulas pode ser de duas maneiras, pelo joystick, empurrando para frente e para trás, ou por dois botões de acionamento colocados ao lado do joystick, para aquelas operações de demandem uma ação conjunta de acionar dos pistões, com ação diferente ao mesmo tempo. O sistema hidráulico dispõe de uma bomba de pistões com vazão máxima de 200 litros por minuto e pressão máxima de 204kgf/cm2. O sistema de controle remoto pode chegar a uma vazão de até 175 litros por minuto.
A cabine é espaçosa e a maioria dos comandos está localizada no console e na coluna à direita do operador
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brasileiro. A coluna de direção possui diferentes ajustes que se adequam a cada operador. Na mesma coluna, está localizado o inversor, com posições de neutro, à frente, à ré e parking
POSTO DE OPERAÇÃO
Além da transmissão, destacamos neste modelo o posto de operação com a sua cabine de alto padrão, atendendo ao exigente mercado europeu dos grandes tratores. Amplas portas, com escadas muito bem projetadas, levam ao interior da cabine espaçosa com muita área envidraçada e ótimo acabamento. Como é obrigatório na comunidade europeia, a saída de emergência é feita tanto pela porta do lado direito e como pela janela traseira. Como equipamento standard, a cabine está suportada por um sistema de amortecimento pneumático nos quatro apoios, denominado AutoComfort. O assento do operador, Valtra Evolution, também amortecido e regulado pneumaticamente, ajusta-se automaticamente pelo peso do operador antes de iniciar o funcionamento do motor. O sistema quando se integra entre cabine e assento trabalha absorvendo as vibrações e nivelando a cabine e o banco, quando a operação ocorrer em terrenos com inclinação lateral. Além destes requintes, o assento possui um sistema de ventilação interno que o aquece ou resfria conforme a temperatura ambiente. O condicionador de ar é totalmente digital, como utilizado nos melhores automóveis do mercado. Este trator também possui um sistema
de suspensão dianteira ativa hidráulica, que absorve as vibrações no eixo dianteiro, proporcionando, além de conforto, maior aderência dos pneus dianteiros ao solo, melhorando eficiência de tração. O volante da direção tem um dispositivo com regulagem de esterçamento, que altera a relação entre rotação e raio de giro, indicado para facilitar as manobras de cabeceiras. Na direita do assento está colocado o console Armrest, onde está posicionada a maioria dos comandos operacionais do trator. Durante o teste, nos impressionamos com a ótima visibilidade para trás, dada a imensa janela. Isto é justificado pois, para o mercado europeu, este trator tem a opção de reversão do posto de condução Twin trac, em que é possível girar todo o posto de operação junto com o assento, inclusive os comandos manuais e os pedais. O trator do teste não estava equipado com piloto automático, porém, a previsão é que este opcional seja equipado na maioria dos equipamentos que se venderão para o mercado
Botões auxiliares localizados na parte externa do console
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PNEUS E LASTROS
O trator que testamos estava equipado com pneus radiais Michelin 800/70 R 38 no eixo traseiro e 600/70 R 28 no eixo dianteiro. Como forma de lastragem, que estava próxima à máxima, na parte traseira havia sete discos de 80kg cada pelo lado externo do centro da roda e mais dois discos de 80kg, por dentro, em cada lado. Ainda há que se considerar o peso do centro da roda que é significativo. No suporte dianteiro havia 16 placas de 42kg cada uma, mais uma central com pino de engate com aproximadamente 84kg e ainda o “papo”, que é suporte de pesos, que tem 820kg. A pressão interna dos pneus estava em 18 PSI na traseira e 20 PSI na dianteira, conforme os valores iniciais dos testes que a equipe de desenvolvimento está utilizando. A massa total deste trator, no dia do teste, era de 16.800kg, porém, a equipe da Valtra está trabalhando para encontrar a melhor relação peso/potência, para esta situação em particular e para outras em que o trator seja aplicado.
TESTE
O teste que desenvolvemos para conhecer mais detalhadamente o trator Valtra S293 foi
Fotos Charles Echer
O S293 é produzido na fábrica de Beauvais, na França. Ele já está sendo comercializado no Brasil e as primeiras unidades serão entregues aos clientes nos próximos meses
realizado na Usina Santa Fé, na operação de preparo do solo, com uma grade intermediária de 44 discos, com 28 polegadas cada um, que segundo o pessoal da usina é muito utilizada lavoura de cana da região. A operação foi feita em terreno já preparado por outra grade pesada e com uma profundidade média de 15 centímetros, o que resultou em um patinamento de 10% a 12%, segundo o dispositivo de informação do trator. De acordo com o pessoal da Valtra, os trabalhos estão direcionados para alcançar a máxima eficiência com um percentual de 7% de patinamento para este tipo de pneu radial. Durante o teste estabelecemos percursos de aproximadamente 300 metros e realizamos manobras para conhecer melhor as reações do modo automático. Verificamos que facilmente o trator, quando está no modo automático, assume a velocidade operacional e reage rapidamente quando solicitado a fixar velocidades de manobras. Embora a grade que estava equipando o trator durante o teste estivesse exigindo bastante força de tração, não notamos alterações significativas da rotação do motor, podendo facilmente trabalhar em velocidades médias ao
redor de 7km/h, como havíamos programado. Como conclusão, podemos contar aos leitores a nossa ótima impressão geral sobre o trator. O padrão de qualidade é realmente internacional e supera a média dos tratores fabricados aqui no Brasil. Sobre a operação e a manutenção deste trator e pelo que pudemos conhecer durante o teste, saímos com a sensação de que se está frente a um trator à prova de erros de operação. Há vários dispositivos
que impedem que o trator realize atividades que demonstrem desconhecimento da técnica. De outra parte, verifica-se a necessidade de treinamento especial aos usuários e constatase que este tipo de máquina exigirá um perfil diferenciado de operador, o que já se nota, em geral, na lavoura de cana-de-açúcar e em .M grandes áreas de grãos. José Fernando Schlosser, Nema – UFSM
O teste foi realizado às margens do rio Tietê, no município de Ibitinga, interior de São Paulo, e contou com o apoio da equipe da Usina Santa Fé e engenheiros da Valtra
LOCAL DO TESTE
O
local do nosso teste foi uma parcela por uma gradagem pesada, seguida de duas de lavoura de cana-de-açúcar da intermediárias, depois vem a confecção do terUsina Santa Fé, que está localizada em Porto raço em curva de nível e a aplicação de calcário. Laranja Azeda, no município de Ibitinga (SP). A No final do processo é feita uma subsolagem Usina pertence ao Grupo Malzoni que produz a 50cm que prepara a área para o plantio, que o açúcar da marca Itaquerê, bastante conhe- é todo feito de forma mecanizada. Tivemos, cido no Estado. A usina tem atualmente 381 para este teste, o apoio da equipe de campo da operadores e aproximadamente 100 tratores. O Valtra, pelo Alberto Toledo, que é especialista senhor Jailson, encarregado do preparo do solo, de campo, e pelo engenheiro agrícola Rogério esteve acompanhando o teste e nos explicava Zanotto, coordenador de marketing do produto, que o sistema utilizado na Usina é formado tratores da Valtra.
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gps Massey Ferguson
GPS simples
O uso de aparelhos de GPS simples na agricultura é bastante comum, principalmente para realizar coletas de solos a serem analisados. Mas qual será a precisão deste tipo de aparelho?
S
istemas de navegação por satélites ou Sistemas GNSS (Global Navigation Satellite Systems), no qual se inclui o sistema estadunidense GPS (Global Positioning System), são sistemas que fornecem coordenadas de pontos sobre a superfície terrestre através da radionavegação. Devido à praticidade e à exatidão destes sistemas, eles têm sido cada vez mais utilizados em diversas aplicações, desde levantamentos cadastrais, como o georreferenciamento de imóveis rurais, monitoramento de frotas e de estruturas e, principalmente, nas navegações marítima, fluvial, aérea e terrestre,
na qual se enquadra a navegação de máquinas agrícolas. Dentre os sistemas GNSS existentes, o mais conhecido é o GPS, desenvolvido, implantado e mantido pelo departamento de defesa dos Estados Unidos, portanto, é um sistema administrado por militares. Ressalta-se que o desenvolvimento desta tecnologia veio num primeiro momento como um sistema de posicionamento voltado para aplicações militares, principalmente a navegação, a balística e a orientação em campo. Existem outros sistemas GNSS, como o Glonass, implantado também
Aparelhos utilizados no experimento: eTrex Vista Cx (esquerda) e eTrex Vista HCx (direita), ambos da Garmin
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para finalidades militares pela ex-URSS e hoje mantido pela Rússia e o sistema Galileu, em implantação pela União Europeia, no qual também participam países que não fazem parte da União Europeia. Nas últimas décadas, os sistemas GNSS saíram do âmbito exclusivamente militar e passaram a ser utilizados em larga escala pela sociedade civil, revolucionando a Geodésia, ciência que tem como objetivo a determinação da forma e dimensões da Terra e a navegação, como já citado. Ressalta-se que o posicionamento através de sistemas GNSS permite o
Marcos geodésicos do Laboratório de campo Departamento de Engenharia Rural da FCAV/Unesp, Jaboticabal (SP)
Fotos David Rosalen
Tabela 1 - Exatidão e precisão determinadas para os dois receptores avaliados, sem a utilização e com a utilização da ferramenta média Coordenada Leste Norte Planimetria Altitude
Receptor Cx s/f média Precisão Exatidão 0,13 0,17 0,82 3,82 0,70 1,25
Receptor Cx c/f média Precisão Exatidão 0,10 0,07 0,13 3,90 0,56 6,42
mapeamento em movimento e também a determinação simultaneamente das três coordenadas envolvidas no posicionamento: Latitude (Norte), Longitude (Leste) e Altitude. Nesse contexto, destaca-se que hoje um indivíduo portando um receptor GPS de “navegação”, de custo bastante acessível, pratica a geodésia de campo, isto é, determina latitudes e longitudes sem nenhum conhecimento técnico mais aprofundado. Com relação à agricultura, o surgimento dos sistemas GNSS permitiu a aplicação do conceito de Agricultura de Precisão em larga escala, pois tornou-se possível, com a determinação de latitudes e longitudes de forma rápida e instantânea, o georreferenciamento de máquinas agrícolas, o mapeamento de diferentes operações agrícolas no campo, assim como a navegação com exatidões que podem chegar na casa de centímetros e, também, georreferenciar amostragens diversas como, por exemplo, amostras de fertilidades do solo e propiciar, dessa forma, a aplicação de insumos a taxa variável. Existem diferentes tipos de receptores GNSS, dentre estes, os já citados receptores de “navegação”. Como são receptores de baixo custo e de fácil utilização, tornaram-se ferramentas muito utilizadas na AP, onde o georreferenciamento de pontos é fundamental. O principal uso desta categoria de receptores é no georreferenciamento de amostragens diversas realizado no campo. Porém, ressalta-se que essa categoria de receptores apresenta baixa exatidão quando comparada a outras categorias de receptores, pois utilizam, na maioria das vezes, o método de posicionamento denominado de “Posicionamento por Ponto Simples”, que seria o método mais básico de todos que os sistemas GNSS fazem uso. Sendo assim, a determinação da exatidão desta tecnologia torna-se imprescindível, principalmente quando a coleta de dados é destinada para a realização da análise geoestatística, que geralmente prevê o estabelecimento de grades de amostragens de espaçamentos variáveis, fato comum na Agricultura de Precisão. Manuais de receptores de navegação indicam, de maneira geral, uma exatidão na determinação de latitudes e longitudes inferiores a 10m ou 15m, dependendo do modelo. Dessa forma, no laboratório de campo implantado pelo Núcleo de Geomática e
Receptor HCx s/f média Precisão Exatidão 0,11 0,14 0,19 2,26 0,39 4,33
Receptor HCx c/f média Precisão 0,03 0,04 0,05 0,03
Exatidão 2,31 1,78
Agricultura de Precisão (NGAP) do Departamento de Engenharia Rural da FCAV/Unesp (campus de Jaboticabal, SP), foi realizado um experimento para a determinação da exatidão e da precisão de dois modelos de receptores GPS utilizados, amplamente no meio agrícola, para o georreferenciamento de pontos no campo. Além da avaliação do modelo, também foi avaliada a utilização da ferramenta “média”, disponível na maioria dos receptores dessa categoria e muitas vezes ignorada pelos usuários. Destaca-se que exatidão é o erro entre uma medida e um valor de referência; por exemplo, uma coordenada determinada com um método mais rigoroso do que o método avaliado. Já a precisão é a oscilação do valor da medida, quando repetida; por exemplo, ao realizar várias medidas com instrumentos de baixa precisão, as medidas irão apresentar uma oscilação elevada. A Tabela 1 exibe a exatidão e a precisão determinadas no experimento realizado; “s/f média” e “c/f média” indicam que não foi utilizada a ferramenta média e que foi utilizada a ferramenta média, respectivamente, na coleta das coordenadas para a determinação da exatidão e precisão dos receptores. Os valores relativos à “planimetria” indicam a exatidão e a precisão avaliando as coordenadas Leste e Norte simultaneamente. Observando a Tabela 1, nota-se nos resultados relativos à precisão que a utilização
David Rosalen explica as funções básicas de um GPS
da ferramenta média proporcionou melhores valores tanto para a planimetria, como para a altimetria (tanto para precisão, como para exatidão valores menores indicam melhor qualidade no posicionamento). Ao comparar os dois modelos de receptores, a precisão foi similar, sendo ligeiramente melhor para o receptor HCx. Com relação à exatidão, ocorreu uma diferença significativa entre os valores encontrados, apresentando o receptor HCx os melhores resultados para planimetria, em torno de 2,3m contra aproximadamente 4,0m para o receptor Cx. Para a altimetria os resultados encontrados são inconclusivos. Finalizando, dentro das condições experimentais, concluiu-se no experimento que o receptor eTrex HCx tem melhor exatidão para planimetria em relação ao receptor eTrex Cx e que a utilização da ferramenta média melhora a precisão do posicionamento planimétrico e altimétrico, mas não a exatidão. Também, as exatidões determinadas para ambos os modelos de receptores estão dentro dos valores declara.M dos pelo fabricante. David Luciano Rosalen, FCAV/Unesp Jaboticabal
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plantadoras
O
Solo mobilizado Estudo mostra a influência da largura e do ângulo das hastes sulcadoras de adubo na mobilização do solo durante a operação de plantio
Sistema Plantio Direto (SPD) é uma realidade na agricultura brasileira, que vem crescendo bastante, sendo necessários cada vez mais a modernização e o estudo do tema em questão. Neste contexto, este sistema destaca-se pela menor intensidade de mobilização do solo e pela redução da frequência de tráfego de máquinas agrícolas sobre o terreno, e por manter sobre a superfície do mesmo uma quantidade maior de massa vegetal, o que o caracteriza como conservacionista. Porém, o SPD, aliado ao tráfego de máquinas, pode ocasionar compactação nas camadas mais superficiais do solo, interferindo na produtividade das culturas. Com isso, o mecanismo de abertura de sulcos tipo haste torna-se necessário em determinados casos, principalmente em solos argilosos para romper a camada compactada. A haste pode ser regulada para maior profundidade, bem como o ângulo de ataque da haste e da ponteira com o solo, interferindo diretamente na mobilização do solo e na capacidade operacional do conjunto trator-semeadora. Além disto, se tem o rompimento das camadas de solo com maior resistência à penetração, proporcionando um ambiente mais favorável ao desenvolvimento do sistema radicular das plantas em profundidade. Isso resulta em maior volume de solo explorado pelo sistema radicular, garantindo maior quantidade de água e de nutrientes, principalmente em períodos de estiagens. Para verificar tal efeito relatado, objetivou-se avaliar a profundidade da haste sulcadora de adubo, assim como seu ângulo de ataque em sistema plantio direto.
CONDUÇÃO DO EXPERIMENTO
Para avaliar a profundidade da haste sulcadora de adubo e o ângulo de ataque em sistema de plantio direto, uma equipe do Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola (Lamma) montou um ensaio na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Produção da Unesp/Jaboticabal, no estado de São Paulo, em uma área com declividade média de 4%. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho Eutroférrico típico, textura argilosa (48,1% de argila). O delineamento experimental foi em blocos casualizados em esquema fatorial 2x3, com quatro repetições, perfazendo total de 24 parcelas. Os tratamentos foram constituídos por duas hastes sulcadoras (18° e 30° de ângulo de ataque) (Figura 1), definidas em função de três profundidades de trabalho (5cm, 12cm e 19cm). A
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parcela experimental foi de 100m2 (25m x 4m), constituída de quatro linhas de milho, espaçadas de 0,90m. A cultura do milho foi implantada em Sistema Plantio Direto com dez anos de cultivo, sob palhada da cultura de soja, utilizando o híbrido simples BG 7049 precoce da empresa Pioneer. Para a semeadura foi utilizado o trator Valtra BM125i, 4x2 TDA, 91,9kW (125cv) de potência no motor, operando com 2.300 rotações no motor, com massa de 5.400kg, e a Semeadora-adubadora Jumil JM3060PD, com dosador mecânico e sistema pantográfico. Para a determinação do teor de água no solo no momento da semeadura, foram coletadas amostras nas camadas de 0-10cm e 10-20cm de profundidade. Utilizou-se para a coleta das amostras um trado tipo holandês, sendo o solo acondicionado em latas de alumínio e estas colocadas para secagem em estufa a 105ºC até massa constante. Os resultados do teor de água do solo na camada de 0-10cm e 10-20cm foram 15,5% e 21,3% de umidade, respectivamente. As variáveis analisadas foram largura e profundidade do sulco, que foram avaliadas
Fotos Vicente Silva
Facões sulcadores utilizados no experimento; com 30º (dir.), que apresentaram comportamento superior para as variáveis analisadas em função das profundidades de trabalho em relação aos de 18º (esq.)
com um perfilômetro constituído de 45 hastes espaçadas de 1cm e altura máxima de 30cm. Ao fundo do perfilômetro foi colocado um quadro de linhas na horizontal, espaçadas de 0,5cm para facilitar a leitura realizada por imagens fotográficas, sendo quatro repetições por parcela experimental (Figura 2). A largura foi definida a partir da primeira e última haste que tocou o sulco. A profundidade foi avaliada pela média das três hastes que apresentaram maior medida. A área mobilizada foi definida pela soma das leituras das hastes do perfilômetro utilizadas para medir a largura.
RESULTADOS
O ângulo de ataque não influenciou a área mobilizada, a largura e a profundidade do sulco, porém, para as profundidades ocorreu aumento significativo, sendo que a largura de corte apresentou interação significativa para os fatores. (Tabela 1). Observou-se que para a haste de 18º a largura do sulco foi maior para as profundidades de 12cm e 19cm, alcançando respectivamente 28,2cm e 28,3cm, e para a haste de 30º a largura do sulco não variou com as profundidades adotadas, sendo que somente na profundidade de
Tabela 1 - Síntese da análise da variância para área mobilizada, largura e profundidade do sulco Tratamentos Haste (H) 30º (H2) 18º (H3) Profundidade (P) (P) 5cm (P1) 12cm (P3) 19cm (P5) Teste F H P HxP CV (%)
Área Mobilizada (cm2)
Largura (cm)
Profundidade (cm)
171,8 A 170,8 A
26,5 A 26,8 A
13,38 A 12,45 A
123,5 C 176,1 B 214,4 A
25,2 B 27,3 AB 27,6 A
9,15 C 13,10 B 16,50 A
0,01 ns 23,43** 0,81 ns 15,58
0,16 ns 4,95* 3,90* 6,17
1,89 ns 39,13** 0,08 ns 12,88
Médias seguidas de mesma letra maiúscula na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. ns: não significativo; *: significativo (P<0,05); **: significativo (P<0,01); C.V.: coeficiente de variação.
5cm foi 9,54% maior que na haste de 18º, e na profundidade de 19cm proporcionou maior largura de sulco (Figura 3). Este comportamento pode ser explicado, devido à maior largura da ponteira na haste
Figura 1 - Tipos de hastes e ângulos de ataque
de 18º, mostrando que a haste de 30º não conseguiu mobilizar adequadamente na profundidade intermediária e na maior. A haste de 30º alcançou profundidades maiores que a haste de 18º, não variando estatisticamente entre as hastes para a mesma profundidade, provavelmente pelo fato da primeira apresentar menor espessura da ponteira (23mm contra 24mm) e menor espessura da haste (10mm contra 13mm). Quanto às profundidades testadas, as mesmas apresentaram diferença
significativa, como esperado (haste de 30º: 9,6cm; 13,5cm e 17,2cm e haste de 18º: 8,8cm; 12,8cm e 15,9cm), porém, diferente da regulagem da máquina que foi de 5cm, 12cm e 19cm (Figura 4). A área mobilizada do solo foi maior para a haste de maior ângulo, somente na profundidade de 5cm cerca de 18,2%. Já para as outras profundidades, a haste de 18º apresentou maiores valores de área mobilizada. Esta última haste possui ponteira de 24mm de espessura, contra 23mm da haste menor, fato que pode estar diretamente relacionado à maior mobilização do solo (Figura 5). Com relação às profundidades de trabalho, é interessante notar que ao calcular a área mobilizada teórica (largura e profundidade), observa-se que a haste de 30º apresentou na profundidade de 19cm a área mobilizada medida no campo 10% menor que a teórica (232,2 teórica e 210,9 medida), isso significa dizer que ocorreu menor mobilização do solo do que deveria, inviabilizando o uso destes tipos de hastes para profundidade de 19cm. Dessa forma, torna-se
Figura 3 - Largura do sulco em função da profundidade da haste sulcadora de adubo (5cm, 12cm e 19cm) e ângulo de ataque (30o e 18o)
Figura 2 - Perfilômetro de varetas utilizado para medir largura, profundidade e área de solo mobilizado
Figura 4 - Profundidade do sulco em função da profundidade da haste sulcadora de adubo (5cm, 12cm e 19cm) e ângulo de ataque (30o e 18o)
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Figura 5 - Área mobilizada de solo em função da profundidade da haste sulcadora de adubo (5cm, 12cm e 19cm) e ângulo de ataque (30o e 18o)
No experimento foram utilizados o Trator Valtra BM125i, 4x2 TDA, 125cv de potência no motor, e a Semeadora-adubadora Jumil JM3060PD, com dosador mecânico e sistema pantográfico
importante a definição da profundidade crítica (máxima) e também da profundidade mínima de trabalho de hastes de semeadoras-adubadoras. No caso em questão a haste está apenas “riscando” o solo, sem a mobilização adequada, o que pode estar relacionado à regulagem e à umidade do solo no dia do plantio. De posse dos resultados para área mobilizada, largura e profundidade de trabalho, verifica-se que a largura da ponteira tem influência direta no rompimento vertical do solo, ou seja, pode-se inferir que
a largura da ponteira delimita a profundidade máxima de trabalho da haste, que no caso do presente estudo foi adequado para a haste de 30º e inadequado para a haste de 18º, pois se a largura de trabalho não foi diferente, a profundidade sim.
CONCLUSÃO
As hastes (ângulos de ataque) proporcionaram em média valores próximos de área mobilizada (171,3cm²), sendo que a de 30º apresentou comportamento superior para as variáveis analisadas em função
das profundidades de trabalho. O ângulo de ataque da haste sulcadora pode propiciar mudanças nas variáveis estudadas. A largura da ponteira deve indicar os limites de mínima e máxima profundidade e largura de trabalho. .M Vicente Filho Alves Silva, Cristiano Zerbato, Rafael Scabello Bertonha, Érica Tricae e Carlos Eduardo Angeli Furlani, Lamma – Unesp Jaboticabal
Claas
tratores
Numa boa A correta projeção do posto de trabalho do operador garante, além de segurança, maior desempenho das atividades desenvolvidas e mais concentração no serviço realizado
N
a Inglaterra em 1949, a Ergonomics Research Society (Sociedade Pesquisa em Ergonomia) definiu Ergonomia como o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução de problemas surgidos desse relacionamento. Em 1961, a Associação Internacional de Ergonomia (IEA), que representa uma associação de 40 países diferentes com 19 mil sócios, definiu Ergonomia como uma disciplina científica que estuda as interações do homem com elementos do sistema, fazendo aplicações da teoria, princípios e métodos de projeto, com o objetivo de melhorar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Couto (1996), afirma que a ergonomia é capaz de dar sustentação positiva às formas de administrar a produção e diminuir a incidência de acidentes e traumas oriundos do trabalho. Ergonomia
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pode ser definida como a ciência que estuda as relações entre o homem, o seu trabalho e o ambiente que o circunda. Segundo Murrel (1965), a Ergonomia consiste no estudo da adaptação do trabalho ao homem, em concordância com diversos pesquisadores (Wisner, 1987; Iida, 1990; Panero & Zelnilk, 1991); (Grandjean, 1998). O pesquisador Wisner (1987) separou a Ergonomia em três grandes áreas: A - Ergonomia de Concepção: que permite agir na fase inicial da implantação de um produto ou de uma organização. Já B - Ergonomia de Correção: é aplicada em situações reais já existentes, para resolver problemas ligados à segurança, à fadiga, a doenças relacionadas ao trabalho, a acidentes ou na produtividade, implicando em correções ergonômicas. Quando os problemas não podem ser resolvidos pelas intervenções ergonômicas acima citadas, aplica-se a C - Ergonomia de Conscientização: que se resume na capacitação dos recursos humanos frente às imposi-
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ções ergonômicas presentes, se beneficiando vantagens obtidas pelas outras intervenções ergonômicas. No século XVIII, época da Revolução Industrial, as fábricas eram sujas, barulhentas, perigosas e escuras, as jornadas de trabalho chegavam até 16 horas diárias, sendo o regime de trabalho de semiescravidão e sem direito a férias. Como ocorreu em muitas áreas a ergonomia obteve um grande desenvolvimento no decorrer da Segunda Grande Guerra. A interdisciplinaridade desta área permitiu que diversos pesquisadores se interagissem para obtenção de melhores condições, em termos de conforto e segurança, nos campos de batalha. Foram utilizados conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis, para construir instrumentos bélicos complexos (submarinos, tanques, aviões etc). O objetivo era adaptar os instrumentos bélicos às características e capacidades do operador, melhorando o desempenho e reduzindo a fadiga e os acidentes. Para Santos & Fialho (2007),
Claas
John Deere
Em razão do maior espaço existente em tratores com cabine, os comandos são projetados de maneira mais eficiente para proporcionar conforto ao operador
o trabalho interdisciplinar de profissionais na Segunda Guerra Mundial visava melhorar a eficiência dos armamentos e, com isso, diminuir erros humanos nos campos de batalha. Em 16 de fevereiro de 1950, foi proposto o nome Ergonomia por estes mesmos pesquisadores, que na ocasião fundaram a Ergonomics Research
Society, na Inglaterra. A partir de então a ergonomia se expandiu no mundo industrializado. Em 1961 foi fundada, na Europa, a Associação Internacional de Ergonomia. IEAA Associação Brasileira de Ergonomia. Devido ao fato de os trabalhadores rurais terem pouco poder de organização e reivindicação, a ergonomia não é tão frequente na agricultura. Os tratores têm sido o principal objeto de estudo e pesquisa por empresas que produzem máquinas agrícolas devido a sua larga utilização. Segundo Márquez (1986), na Espanha e nos demais países europeus, aproximadamente 40% do total de acidentes ocorridos no setor agrário envolvem máquinas agrícolas e, destes, metade ocorre devido ao mau uso do trator agrícola. Em uma pesquisa de caracterização dos acidentes graves no trabalho rural, realizada no estado de São Paulo, Silva & Furlani Neto (1999) concluíram que o trator, as motosserras, as máquinas e os equipamentos agrícolas encontram-se envolvidos na maior parte dos acidentes graves ocorridos. A gravidade dos acidentes com tratores agrícolas é confirmada por Field (2000) que, em trabalho realizado no estado de Indiana,
nos Estados Unidos da América, coletou dados que demonstram que entre 500 e 600 pessoas morrem a cada ano naquele país em função de acidentes com tratores agrícolas e que a cada pessoa morta, outras 40, no mínimo, são feridas. A caracterização dos acidentes com tratores agrícolas reveste-se de grande importância, porque diferentes tipos de acidentes (capotamento, quedas, atropelamentos, entre outros) possuem causas e consequências específicas (Márquez, 1986). Segundo Zócchio (1971), Alonço (1999) e Cardella (1999) existem dois grandes grupos de causas de acidentes de trabalho: atos inseguros e condições inseguras. O primeiro grupo relaciona-se diretamente às falhas humanas, enquanto o segundo engloba as limitações inerentes à máquina. Em pesquisa desenvolvida na Espanha, Márquez (1990) indica que 84% dos acidentes com tratores agrícolas são causados por atitudes inseguras. O esforço físico e mental leva à fadiga, o que diminui a capacidade de concentração do operador, aumentando, em consequência, a ocorrência de acidentes de trabalho, que podem resultar em erros (Márquez, 1990). O operador trabalha num ambiente que pode ser afetado
Charles Echer
A utilização de tratores agrícolas ergonomicamente bem projetados reduz a probabilidade de acidentes, doenças ocupacionais no operador, além de aumentar sua produtividade no trabalho
por uma série de fatores oriundos da própria máquina e do meio ambiente, como os ruídos, as vibrações, as poeiras, a temperatura, a umidade, a iluminação, dentre outros, conforme (Iida, 1990; Márquez, 1990; Schlosser et al, 2002. A preocupação com o conforto e a segurança do operador tem chamando a atenção de profissionais de diversas áreas no sentido de considerar os fatores humanos (ergonomia) na concepção do projeto de tratores agrícolas, em razão das adversidades impostas pela natureza no meio agrícola e, também, à periculosidade que essas máquinas apresentam e aos acidentes envolvidos nesse contexto. Operar um trator agrícola pode ser uma tarefa árdua, se forem consideradas todas as limitações e adversidades presentes no ambiente de trabalho no meio agrícola (Rozin, 2004). Silveira (2001) relata que o trator agrícola deve se adaptar às mais diversas condições oferecidas pelas múltiplas funções que exerce. Também, deve possuir boa manobrabilidade, proporcionar comodidade e segurança ao operador, visibilidade em todas as direções, acoplamento simples e rápido de equipamentos, além de uma fácil manutenção. Debiasi et al (2002) relatam que a presença de itens relacionados ao conforto e ergonomia é menor quanto mais antigos forem os tratores agrícolas, implicando numa maior severidade dos efeitos dos fatores ambientais sobre o operador, nessas condições. Segundo Liljedahl et al (1996), quando os fatores humanos são corretamente incorporados ao projeto, permitem que o operador faça uma grande quantidade de tarefas complexas com eficiência, segurança e um mínimo de fadiga. Para que o posto de operação dos tratores agrícolas possa ser dimensionado corretamente, é necessária a intervenção de outra ciência, a
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antropometria que, segundo Minette (1996), é a parte da antropologia física que estuda as dimensões do corpo humano. As dimensões que caracterizam o posto de operação dos tratores agrícolas encontram-se normatizadas. Entre essas normas, destacam-se a norma ISO 3462.1979 (Tratores e Máquinas Agrícolas. Ponto de Referência do Assento. Método de Determinação), a ISO 4253.1977 (Tratores Agrícolas. Banco do Operador Dimensões) e a UNE 68.046.83 (Tratores Agrícolas. Acessos, Saídas e Posto do Condutor. Medidas).
VIBRAÇÃO EM TRATORES
Fernandes (2003) explica que os níveis de vibração excessivos, em tratores agrícolas são bastante desconfortáveis para o operador, que consequentemente aumenta sua fadiga física e mental. Para verificar o conforto do operador, pode-se fazer análises subjetivas ou objetivas. A análise subjetiva é feita através de um ou mais
Cada vez mais as cabines têm seu campo de visão ampliado, facilitando o trabalho do operador
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trabalhadores que tenham experiência na área. A análise objetiva é feita pela determinação das amplitudes, direções, frequências e duração das vibrações. Ruídos que estejam no intervalo de 65dB a 85dB (A), surtem efeitos psíquicos e físicos no trabalhador por intermédio do sistema nervoso, que se deve ao aumento da pressão sanguínea e de batimentos cardíacos (Delgado, 1991). A norma brasileira que trata de ruídos em máquinas está descrita na ABNT, dentre elas as que dizem respeito ao meio agrícola são: NBR 9999 (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1987), Medição do Nível de Ruído no Posto de Operação de Tratores e Máquinas Agrícolas; a NBR 10400, NBR (1988), Tratores Agrícolas - Determinação das Características Técnicas e Desempenho; e a NR 15, Atividades e Operações Insalubres. Altos índices de ruído, excedendo as normas, são bastante comuns quando se trata de máquinas agrícolas. Santos (2004) realizou um trabalho onde foram medidos os níveis de ruídos em um trator agrícola acoplado a um equipamento. O resultado mostrou níveis de ruído acima do permitido na NR 15 para uma jornada de oito horas de trabalho. Em outro trabalho realizado por Souza (2004) foram quantificados os níveis de ruído de uma recolhedora de feijão, que também estava em desconformidade com a NR 15 para uma jornada de oito horas de trabalho, ou seja, acima dos 85dB. O pesquisador Burgess (1995) também destaca que o trabalho nas atividades agrícolas depende da compreensão dos limites humanos, sendo eles físico, fisiológico e mental, e da sua correta aplicação nas situações reais encontradas.
ILUMINAÇÃO DO AMBINETE DE TRABALHO
A iluminação correta do ambiente de trabalho infere diretamente nos resultados, no conforto e na produtividade do trabalho realizado. Um local de trabalho bem iluminado oferece ao indivíduo um ambiente agradável e amigável, visto que a falta de iluminação, assim como seu excesso, pode ser prejudicial. Nas máquinas agrícolas, em período diurno, quando o equipamento não possui cabine, a única maneira de se controlar o excesso de iluminação é através da utilização de algum EPI (Equipamento de Proteção Individual), contudo, quando a máquina possui cabine, o excesso de iluminação pode ser controlado, através do tipo de vidro utilizado na composição física da cabine, podendo este absorver mais ou menos a luz do ambiente, proporcionando maior conforto para o operador durante o trabalho. Durante a noite, para a iluminação no campo são utilizadas as próprias iluminações contidas em cada máquina, visando à realização de um trabalho noturno com rendimento semelhante ao período diurno, independentemente da
máquina possuir cabine ou não. Para a correta iluminação do ambiente de trabalho existe a NBR-5413 (Norma de Iluminação) NR-9 (Norma de Prevenção de Riscos Ambientais), que normatiza a iluminação necessária do ambiente de trabalho levando em conta a tarefa que será nele executada.
Charles Echer
New Holland
CAMPO DE VISÃO DO OPERADOR
Aliado à boa iluminação é essencial que o operador possua um campo de visão limpo, ou seja, sem nenhuma obstrução para atrapalhá-lo durante a realização de sua atividade no campo. Comumente nos tratores agrícolas é observada a posição do escapamento do trator no campo de visão do operador. O escapamento do trator não atrapalha significativamente a operação do trator, contudo, este é um fator que pode ser melhorado renovando-se o projeto do trator, projetando o escapamento em outro lugar que não comprometa o campo de visão do operador.
POSTURA INADEQUADA DO OPERADOR
A postura inadequada em qualquer tarefa é a principal causa de lombalgia, dor nas costas ou dor na coluna, sendo esta uma das morbidades que mais causam incapacidade para o trabalho. A preocupação com a postura se estende aos
Com ou sem cabines, os tratores devem vir dotados de arco de segurança, estrutura que evita o esmagamento do operador em caso de capotamento da máquina
operadores de máquinas agrícolas, que passam horas sentados na operação do trator. Deve-se dar atenção à posição da coluna, das pernas, à altura dos olhos, entre outros. Após certo tempo de operação, por exemplo, se as pernas do operador não estiverem bem apoiadas ou o banco estiver mal dimensionado, pode ocorrer câimbras e outras morbidades em longo prazo. Trabalhos de pesquisa desenvolvidos por Bonvezi & Betta (1996), Yadav & Tewari (1998) e Mehta & Tewari (2000) mostram que o trabalho estático gera fadiga muscular, o que aumenta o risco de ocorrência de acidentes de trabalho, além de potencializar a ocorrência de
determinadas doenças ocupacionais no operador, como lombalgias e surgimento de hérnia de disco. Segundo Iida (1990), o operador de trator gasta de 40% a 60% do seu tempo olhando para trás, o qual gera um grande número de movimentos rotacionais da cabeça do operador, chegando de 15 a 20 rotações por minuto. Esse fato faz com que o operador mantenha o pescoço torcido para trás, com o intuito de diminuir a quantidade de rotações, porém, aumenta a tensão dos músculos do pescoço, provocando fadiga prematura dos músculos do pescoço e da coluna vertebral. Iida (2000) propõe um redesenho dos assentos, de modo a absorver
as vibrações e facilitar as rotações do tronco e da cabeça, uma vez que a coluna vertebral do operador sofre o impacto das vibrações e das torções do corpo. O operador deve se manter numa postura estável apesar de vibrar e sacolejar o tempo todo. Em seu estudo da análise de conforto do assento do trator Mehta & Tewari (2000), concluíram que para a realização de um estudo completo sobre o conforto, é necessário levar em conta informações específicas como distribuições de peso no assento, níveis de vibração, biomecânica, postura do operador e material do coxim.
dos ruídos, assim como das vibrações e também a concentração de partículas a que o operador é exposto no caso da aplicação de defensivos agrícolas na cultura. Este detalhe gera diversas condições inseguras para o operador, sendo que pela falta de vedação adequada, a cabine perde sua eficiência em proteger o operador de ruídos, poeira, calor e de partículas de defensivos agrícolas.
ESTRUTURA DE PROTEÇÃO AO CAPOTAMENTO
Segundo Corrêa & Yamashita (2009), estrutura de proteção contra capotamento (EPC) é uma estrutura montada sobre o trator com a finalidade de proteger o condutor em caso de capotamento durante a sua utilização normal, garantindo um espaço seguro para o operador. Assim, ela deve ser construída de maneira que resista ao impacto do tombamento sem sofrer deformações que atinjam a zona de segurança destinada ao operador. Existem três tipos de EPC: EPC de dois pontos, EPC de quatro pontos e cabine de segurança. A EPC de dois pontos de fixação ou dois pilares, também chamados de arco de segurança, constitui-se de um elemento estrutural fixo ao trator em dois pontos resistentes nos chassi, à frente ou atrás do operador (Corrêa & Yamashita, 2009). A estrutura de quatro pontos é constituída de um conjunto de barras resistentes que se fixam à frente e atrás do operador em quatro pontos de apoio no trator (Corrêa & Yamashita, 2009). Já a cabine de segurança é formada por um conjunto de elementos resistentes semelhantes à EPC de quatro pontos, sobre os quais são feitos recobrimentos para proteger o operador de sol, poeira, chuva, calor e frio (Corrêa & Yamashita, 2009).
A cabine do trator tem a função de proporcionar ao operador proteção contra sol, chuva, frio, poeira, fumaça do escapamento, ruídos, além de tentar minimizar as vibrações que chegam ao operador e proporcionar conforto térmico ao mesmo. Pela cabine já fazer parte de seu projeto, os tratores cabinados de fábrica oferecem maior conforto e maior proteção ao operador. Como podemos observar na Figura, o operador tem maior espaço para a movimentação no interior da cabine, os comandos são projetados de maneira mais eficiente para seu conforto e existe uma vedação eficaz para a proteção do operador contra ruído, poeira e partículas de defensivos agrícolas. O trator com cabine de fábrica, contudo, não indica que o operador está totalmente seguro, pois mesmo com a presença da cabine os níveis de ruído, vibração e de contaminação por partículas, mesmo que menores, ainda podem estar acima dos recomendáveis para a segurança do operador. Schlosser e Debiasi (2002) realizaram uma avaliação dos níveis de ruído, próximos ao ouvido do operador, considerando o mesmo trator com cabine e sem cabine. Na ausência de cabines, os ruídos obtidos foram os que causaram maior dano ao operador. Ao avaliar os níveis de ruído causado por um trator, sem cabine, em diferentes velocidades de trabalho, concluiu-se que os valores indicaram uma condição de trabalho extremamente desconfortável para o operador, acarretando grande risco de perda de audição (Santos Filho, 2002). Santos et al (2004) avaliaram o conforto térmico em tratores agrícolas sem cabine e concluíram que as atividades realizadas pelos operadores agrícolas são insalubres em função do calor sofrido e de serem executadas a céu aberto. A saída para os tratores que não vêm equipado com cabine pode ser sua adaptação, contudo, esta adaptação deve ser estudada e avaliada, em relação ao nível de proteção e conforto que oferecem ao operador. Uma cabine mal adaptada, ao invés de oferecer conforto e proteção ao operador pode piorar as condições de trabalho e aumentar o risco de saúde para o operador. Cabines mal planejadas podem aumentar o desconforto térmico, a intensidade
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João Eduardo G. dos Santos e Abílio Garcia do Santos Filho, FEB – Unesp Bauru
Charles Echer
TRATORES COM CABINES
Boa parte dos tratores em circulação no País apresenta problemas de conforto e segurança para os operadores, que ficam expostos a níveis de insalubridade acima do permitido pelas normas de segurança no trabalho. A utilização de tratores agrícolas ergonomicamente bem projetados reduz a probabilidade de acidentes, doenças ocupacionais no operador, além de aumentar sua produtividade no trabalho (Rozin, 2004). As normas ISO (International Organization for Standardization), ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e Asae (AmericanSociety ofAgricultural Engineers) determinam parâmetros recomendados no projeto de máquinas, principalmente para tratores agrícolas. Desde seu início a essência da ergonomia é a adequação do trabalho ao indivíduo proporcionando condições para realizar uma atividade segura sem prejuízo a sua saúde, seja a curto ou em longo prazo. Através dos estudos ergonômicos, é possível identificar condições inseguras que podem comprometer a saúde do trabalhador com mais antecedência e, paralelo a isso, o desenvolvimento tecnológico evolui e proporciona aos pesquisadores equipamentos para mensurar e avaliar danos ao corpo humano em função das condições inseguras. Contudo, nada disso é válido se não houver um trabalho eficaz de conscientização dos trabalhadores rurais sobre seus direitos e seus deveres e uma forte fiscalização por parte do governo nas empresas rurais, para que se faça cumprir o direito mínimo que é a segurança do trabalhador em .M seu posto de trabalho.
Estrutura de Proteção ao Capotamento e cinto de segurança são itens de uso obrigatório em tratores sem cabine
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A 14ª edição da Bahia Farm Show superou as expectativas de público e negócios, mostrando uma crescente comercialização de máquinas agrícolas nos últimos três anos
E
maiores do país, teve um aumento de 18% da área e registrou um crescimento da ordem de 4,5% no volume de negócios em relação à edição 2011, superando a expectativa dos organizadores, que era de igualar ou superar discretamente os números de 2011. Considerado o contexto em que se deu este ano - em que a seca comprometeu parcialmente a safra
de soja e de algodão no cerrado da Bahia - o balanço da feira foi definido como positivo pelos organizadores do evento. “É um ótimo resultado, principalmente em relação à visitação. Já considerávamos excelente um empate com 2011, já que o ano passado foi excepcional em todos os sentidos: clima, mercado e produtividade, e o cenário deste
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ntre os dias 29 de maio e 2 de junho aconteceu a Bahia Farm Show no município de Luís Eduardo Magalhães, Bahia. Nos quatro bancos oficiais foram contabilizados R$ 595 milhões durante os cinco dias de feira e as bilheterias registraram a presença de 60 mil visitantes. A feira, que já é considerada uma das cinco
Plantadora-Adubadora Autotransportável Linha 5056, da Fankhauser, desenvolvida para o trabalho em grandes propriedades
Plantadora JM 8090 PD Exacta Terra Jumil, com configurações para 20, 30 e 33 linhas
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Plaina Construction da GTS, com 7,22 metros de comprimento, é uma solução para grandes movimentações de terra
ano não foi tão favorável”, disse o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e também da Bahia Farm Show, Walter Horita. De acordo com o coordenador geral da Bahia Farm Show e diretor executivo da Aiba, Alex Rasia, o número de negócios movimentados no período pode ser ainda maior, pois no montante só são considerados os valores contratados junto aos bancos oficiais do evento. “Há um grande volume realizado em transações à vista ou captados em outros bancos. Mesmo assim, esta avaliação, que tem sido um padrão ao longo de todas as edições da feira nos fornece um excelente termômetro”, explica. A Bahia Farm Show é uma realização da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), em parceria com a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Associação das Revendas de Máquinas e Implementos Agrícolas do Oeste da Bahia (Assomiba), Fundação Bahia e Prefeitura Municipal de Luís Eduardo Magalhães. Destacamos a seguir os principais lança-
mentos e destaques da feira.
FANKHAUSER
A Fankhauser destacou a PlantadoraAdubadora Autotransportável Linha 5056, desenvolvida para o trabalho em grandes propriedades. Ela apresenta grande economia de plantio e facilidade no deslocamento pela propriedade. As principais características são o plantio de precisão de grãos graúdos com sistema dosador de sementes por discos horizontais ou pneumáticos, a execução de plantio direto e convencional, as linhas pantográficas largas que copiam as ondulações do solo, o reservatório de semente e adubo confeccionado em polietileno de alta resistência, o sistema de regulagem de semente por caixa de câmbio.
JUMIL
O principal destaque da Jumil foi o lançamento no Centro-Oeste da plantadora JM 8090 PD Exacta Terra Jumil. O modelo foi desenvolvido para eliminar principalmente a “janela de plantio” que existe hoje nas culturas. A plan-
Trator 9460R, que faz parte da série 9R da John Deere, articulado com chassis e eixos super-reforçados
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A Jacto destacou o Uniport 3000 Plus Vortex e o Uniport 2500 Star
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tadora tem capacidade para 29, 30 e 33 linhas, cabeçalho telescópico e sistema de articulação que permite a movimentação e o fechamento do implemento para o transporte.
GTS
A GTS lançou oficialmente na Bahia Farm Show a Plaina Construction. A plaina oferece maior agilidade para abertura e manutenção de estradas, solução para nivelamento e grandes movimentações de terra, e ideal para abertura de canais e valas. O equipamento possui comprimento total de 7,22m, peso total com lastro de quatro mil quilos e exige tração mínima de 100cv e máxima de 200cv.
JACTO
A Jacto apresentou na Bahia Farm Show seu portfólio de produtos, entre os quais se destacaram o autopropelido Uniport 3000 Plus Vortex e o Uniport 2500 Star. O Uniport 2500 Star teve aumentada a barra de pulverização de 24 metros para 28 metros. Equipado com motor Cummins 4BTAA, quatro cilindros, desenvolve potência máxima de 139cv a 2.200rpm. Com transmissão mecânica 4x2 com diferencial de dupla velocidade, apresentando dez velocidades à frente e duas para trás. Possui chassis
Colhedora Master Café da Miac, projetada para cafezais com espaçamento entre linhas acima de 2,8 metros
Kit Rodado Duplo Dianteiro, da Marini, exposto no trator MF 8690
resistentes para suportar diferentes condições de trabalho
MIAC
A Miac apresentou na Bahia Farm Show a Master Café. O equipamento foi projetado para trabalhar em cafezais com espaçamento entre linhas acima de 2,8 metros. Possui caçamba basculante em capacidade de dois mil litros, velocidade de trabalho entre 1,0km/h e 2,0km/h. A plataforma recolhedora com rolo levantador elimina terra proporcionando melhor qualidade do café.
JOHN DEERE
A John Deere, entre outros destaques e lançamentos, destacou o trator 9460R, que faz parte da série 9R. O modelo 9460R é do tipo articulado com chassis e eixos superreforçados para trabalhar nas condições mais difíceis. Os tratores 9R possibilitam um nível de produtividade com alto poder de desempenho no campo brasileiro, permitindo o uso de plantadeiras ou de implementos de preparo de maior porte.
Trator T9 da New Holland, com tração integral nas quatro rodas, eixo de alta capacidade e potência nominal de 507cv
MARINI
Presente na quinta edição da Bahia Farm Show, a Marini Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas, além de apresentar seus produtos em seu estande, mostrou seu grande destaque exposto no estande da Massey Ferguson no trator MF 8690: o kit Rodado Duplo Dianteiro. Para a linha de tratores MF modelo 8690 possui a configuração de aros dianteiros de 600x65x34 e para os traseiros de 710x70x38.
NEW HOLLAND
A New Holland esteve presente na Bahia Farm Show, onde expôs os destaques da marca, levando uma linha completa de produtos para o campo desde o plantio até a colheita. Através das concessionárias Justi Tratores e Jaraguá Bahia, apresentou um vasto portfólio de produtos para pequenos, médios e grandes produtores. No segmento de colheitadeiras mostrou a linha CR, com exclusivo sistema de duplo rotor; a linha de tratores modelos T8 e T9; pulverizador autopropelido SP3500 e as novas plantadeiras, fruto da parceria com marca gaúcha Semeato.
Trator S293 da Valtra, que traz como principal diferencial o câmbio AVT (AGCO Variable Transmition)
O destaque da feira foi para o Trator T9. A série T9 possui tração integral nas quatro rodas, eixo de alta capacidade, potência máxima EPM de 557cv, potência nominal de 507cv, torque máximo 2.374Nm e transmissão Ultra Command Full Powershift.
VALTRA
A Valtra levou para a Bahia Farm Show um completo portfólio de produtos como: os tratores pesados BH e a linha BT; colheitadeiras e plataformas; pulverizadores; Agricultura de Precisão e ainda no segmento de implementos as plantadoras, semeadoras e distribuidores. O destaque da Valtra ficou por conta dos Tratores da Série S, modelos S293 e S353, com potência acima de 300cv. Ambos possuem como diferencial o câmbio AVT (AGCO Variable Transmition), que difere das tecnologias de mudanças de marcha automáticas conhecidas no mercado. Essa transmissão inteligente busca o equilíbrio entre potência e torque do motor de acordo com a força exigida, otimizando o consumo de combustível. Outro destaque da Série S é a suspensão da cabine AutoComfort,
Trator Rinno S 240 da Stara é articulado e não possui braço hidráulico na traseira, projetado para tracionar grandes implementos
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A Agrale destacou a linha de caminhões com motorizações que atendem as novas leis de emissão de poluentes, norma Euro 5
que permite o máximo de conforto nas operações.
STARA
A Stara lançou oficialmente na Bahia Farm Show a linha de tratores Rinno S. Os modelos maiores como o Rinno S 240 são articulados e não possuem braço hidráulico na traseira. Estes equipamentos são fabricados para tracionar implementos maiores, como plantadeiras de grande porte destinadas aos produtores do Cerrado brasileiro.
MASSEY
A Massey Ferguson levou para a Bahia Farm Show toda a linha de tratores, dos 55cv aos 370cv. Os destaques foram para os tratores de alta potência, colheitadeiras axiais, pulverizadores autopropelidos e implementos de alta precisão. O maior expoente da tecnologia e força da marca, o trator MF 8690, de 370cv, foi apresentado como a mais avançada máquina da Massey Ferguson no mundo.
Colhedora Axial-Flow 8120 Black Edition da Case IH é uma máquina comemorativa, com edição limitada
Missioneira, de Luís Eduardo Magalhães, apresentou na Bahia Farm Show, a nova linha de caminhões Agrale. A linha ganhou uma nova e moderna cabine, além de melhorias no interior e motorizações para atender as novas leis de emissão de poluentes, norma Euro 5 (Conama P7). Os modelos ganharam um novo painel de instrumento, além de alterações que visam melhorar a ergonomia. A linha 2012 será composta pelos modelos 6500, 8700, 10000 e 14000.
MONTANA
A Montana destacou a linha de autopropelidos, distribuidor de fertilizantes e a linha agricultura de precisão Agronave, que possibilita salvar os dados de trabalho para retomar a aplicação futuramente, descarregar dados por Pen-Drive, gerar relatórios de qualidade da pulverização, relatórios de velocidade, hectares
trabalhados e velocidade na tela inicial, mapa em 3D, trabalho em reta e curva.
CASE
Este ano, a Case IH apresentou na feira as novas plantadeiras, fruto da parceria com a Semeato, a edição limitada comemorativa aos 35 anos do sistema Axial-Flow, o modelo Axial-Flow 8120 Black Edition e o trator de Alta potência Steiger. Os visitantes também puderam conferir os maquinários já consagrados, como a colhedora Module Express 635, as colheitadeiras AxialFlow 7120 e 2799, juntamente com o pulverizador Patriot 350 e os tratores da linha Farmall e Magnum, que em 2012 comemora 25 anos de lançamento. Além disso, foi montada uma área especial para demonstração dos equipamentos de agricultura de precisão AFS. .M
AGRALE
Além da linha de tratores, a concessionária
A Montana destacou sua linha de agricultura de precisão Agronave
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O destaque da Massey Ferguson ficou por conta do trator MF 8690, de 370cv, que estava equipado com rodados duplos
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