Maquinas 12

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Do editor Edição Número 12 - Ano II Maio/Junho 2002 ISSN - 1676-0158

Acidentes acontecem. É o que alguém sempre diz na hora da tragédia. Mas, se todos podem sofrer acidentes, os que não tomam cuidados básicos estão mais sujeitos. Manutenção correta, atenção ao dirigir e treinamento ajudam a diminuir as possibilidades de fatalidades na operação de tratores. Damos enfoque especial a esse

EMPRESA JORNALÍSTICA CERES

tema em nossa edição, esperando contribuir para a segurança do produtor e de seus

CGCMF : 02783227/0001-86

colaboradores.

Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar

Por falar em tratores, destacamos também o Museu da Agromen, empresa de semen-

Pelotas RS 96015 300

tes de Orlândia (SP). Em pouco mais de um ano e meio, seus técnicos juntaram e

E-mail: cultivar@cultivar.inf.br

restauraram mais de 150 tratores e 60 outras peças e equipamentos. Um trabalho

Site: www.cultivar.inf.br

louvável e respeitável. Como disse Arno Dallmeyer, presidente da Abrame e consul-

Assinatura anual (06 edições): R$ 38,00

tor técnico da Cultivar Máquinas, pode haver exemplares mais raros, mais antigos, mas mais de 150 tratores e 60 peças vai ser difícil de achar .

DIRETOR

Newton Peter

Alertamos ainda para o correto armazenamento de diesel, danos que podem ocorrer

EDITOR GERAL

em pneus, conservação de correias agrícolas e muito mais.

Schubert Peter

CONSULTOR TÉCNICO

Índice

Dr. Arno Dallmeyer

Nossa Capa

REDAÇÃO

Pablo Rodrigues Charles Ricardo Echer

Foto Schubert Peter

DESIGN GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Fabiane Rittmann

MARKETING

Otávio Pereira

CIRCULAÇÃO

Edson Luiz Krause

ASSINATURAS

Simone Lopes

ILUSTRAÇÃO

Rafael Sica

REVISÃO

Índice

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Rodando por aí

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Armazenamento de diesel

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Desgate de pneus agrícolas

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Língua eletrônica

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Transmissão em tratores

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Cuidados com correias agrícolas

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Videografia multiespectral

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Acidentes com tratores

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Óleo de girassol para motores

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Museu de máquinas agrícolas

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Opinião

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Carolina Fassbender

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Index Produções Gráficas

Destaques

FOTOLITOS E IMPRESSÃO

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES:

Armazenamento de diesel Cuidados necessários para quem armazena óleo diesel na fazenda

....................................................

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GERAL / ASSINATURAS: 272.2128

REDAÇÃO : 227.7939 / 272.1966

MARKETING: 3025.4254 / 272.2257

FAX:

272.1966

Caderno especial Tipos de colhedoras, sistemas de trilha e marcas existentes são enfocados por Eduardo Guimarães S. Filho

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Correias agrícolas Uso correto e boa manutenção podem fazer a correia durar mais ................................................... 22 Acidentes com tratores Improviso e falta de manutenção podem ser fatais

...................................................

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A força do girassol Óleo de girassol pode render até 20% mais que o diesel em motores ................................................... 34




Rodando por aí

CHASSI ZINCADO

GANHANDO MERCADO

A Gihal lançou a sua linha de plantadeiras com chassi zincado, que evita a danificação pela regulagem das linhas, com disco de corte articulado, sulcador pula-pedra e sulcador fixo.

Amom, Sheila, Flávio e Arno

FORÇA

LINHA COMPLETA

Suzana Thonnings

A Irmãos Thonnigs esteve presente na Agrishow 2002 com sua linha completa de produtos. Pulverizadores autopropelidos, plataformas, plantadeiras e demais implementos estiveram expostos ao público visitante da feira. Os números da feira superaram as expectativas.

Uma parceria do Sedai, Sebrae\RS e SIMERS, levou 20 empresas gaúchas ao Agrishow 2002. A iniciativa possibilitou a participação de empresas de pequeno e médio porte em um estande de 2.400m2. O projeto prevê a participação do grupo em diversos eventos, inclusive internacionais. Na foto, Amom Leal, do Centro Gestor de Inovação Tecnológica; Sheila Fogaça, do Sedai; Flávio Zacher, Tesoureiro do SIMERS; e Arno Dallmeyer, da Revista Cultivar Máquinas.

Sérgio Braun

Sérgio Braun, Coordenador de Vendas de Pulverizadores da AGCO, festeja a excelente fase de negócios com o novo pulverizador Spra-Coupe. O sistema ESP garante aproveitamento máximo do produto aplicado na lavoura. Os produtores se surpreendem com a qualidade da aplicação , garante Sérgio.

DUAL SPINNER 4X4

A Serv Spray lançou o Gafanhoto 2 em 1 Dual Spinner 4x4 com capacidade para 2,730m3. A novidade é a facilidade de troca de tanque, que transforma o pulverizador em adubadora com área de aplicação de até 24 metros. É compatível com GPS DGPS e tecnologia vazão variável. Apesar de recém lançado, o autopropelido já está ganhando mercado.

ESTRELA NA LAVOURA

A Massey Ferguson entregou seu primeiro trator da série Advanced para o ator global, Antônio Fagundes, que levou para a sua lavoura um modelo MF 650/4. O ator disse que para ampliar sua frota, mais uma vez, está levando um modelo da Massey Ferguson.

BONS NEGÓCIOS

SOB MEDIDA

A MacroJet possui uma linha de pulverizadores autopropelidos que podem ser montados em tratores novos e usados, sob medida, com tanques de capacidade para 2.300 l. As cabines são isoladas e proporcionam conforto ao operador.

ÊXITO EM SÉRIE

A New Holland lançou a linha tratores TS, com motorização de 103 a 108 cv. A empresa recomenda os novos tratores para tarefas pesadas como preparo de solo no plantio direto e convencional gradagem, aragem, subsolagem, descompactação e carregamento de carretas. É o lançamento mais importante dos últimos anos e a nossa resposta a uma tendência de mercado predominante: a de preferir máquinas de maior potência , garante Valentino Rizzioli, presidente da América Latina da CNH.

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Máquinas

Fagundes, Normélio e Werner

NOVOS PULVERIZADORES

A Jacto colocou no mercado a nova geração do pulverizador Uniport. São duas versões, o Uniport 2500\24 e Uniport 2500 Canavieiro, desenvolvidos para cobrir grandes áreas e garantir melhor produtividade com barras com 24 metros, tanque de defensivo com 2500 litros e cabines panorâmicas climatizadas com ar condicionado e assento anatômicos. O Uniport Canavieiro foi desenvolvido para melhorar a proteção às plantações de cana de açúcar, com pneus especiais mais largos e bomba que garante uma autonomia de trabalho de 300 litros por minuto.

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Cláudio Costa, Diretor da Valtra, festeja a boa fase nas vendas dos tratores de grande porte, principalmente o BH 180, líder de vendas no setor sucroalcooleiro, onde a Valtra detêm 70% do mercado. A empresa também ganhou o Prêmio Master Cana de melhor trator e melhor assistência técnica do setor no ano passado. Não basta fabricar o melhor trator do mundo; é fundamental a preocupação em prestar um serviço técnico de excelência, de forma que a satisfação do cliente seja completa , afirma. Cláudio Costa

PLANTIO

A Jumil lançou as plantadoras e adubadoras para plantio direto e convencional, nos modelos JM 7090 e JM 7080, com chassi robusto desenvolvido para atender as mais diversos sistemas de plantio. Possuem sistema pantográfico nas unidades adubadoras e semeadoras, sistema de corte de palha desencontrado, rodagem com sistema de levante hidráulico independente e pneus com alta capacidade de carga.

Maio / Junho 2002


17 LINHAS

A GTS apresentou no Agrishow 2002 a sua plataforma de milho US-1750 com 17 linhas. Além do tamanho, o implemento chamou atenção pela inovação no material usado em sua composição. O chassi de alumínio e os componentes em polietileno garantem uma leveza 40% maior do que as plataformas convencionais. Bom negócios estão surgindo para a empresa.

Carlito Eckert Rizzioli e Martinichen

MUDANÇAS

Carlito Eckert é o novo Diretor Nacional de Vendas da AGCO do Brasil. Ele compõe o time da AGCO juntamente com o Gerente de Marketing de Produto, Werner Santos, e o Superintendente de Operações na América do Sul, Central e Caribe, Normélio Ravanello, e o Gerente de marketing e comunicação, Paulino Jeckel.

SUPER LANÇAMENTO

A Goodyear lançou o pneu Superflot com construção diagonal em fibra têxtil 3T, que proporciona maior resistência a impactos laterais e, por ser climatizado, garante maior resistência a cortes e arrancamentos. É um pneu com produção nacional e com grandes vantagens que podem ser resumidas em poucas palavras: menor compactação, maior produtividade e menor custo. Para completar, a Goodyear garante a disponibilidade do pneu em toda a sua rede de distribuição além da assistência técnica especializada.

O BRASILEIRO MX MAGNUM

SLC AGRÍCOLA

O presidente da SLC Agrícola, Eduardo Logemann, compareceu no stande da John Deere do Brasil no Agrishow 2002 para renovar a frota da empresa. A renovação incluiu 29 colhedoras 9650 STS e 9750 STS, duas colhedoras de algodão, 29 tratores, 23 plantadoras e dois pulverizadores, totalizando R$ 105 milhões. É um investimento necessário , garante ele, já que neste ano a empresa cultivou 45 mil hectares de soja, 22 mil hectares de algodão e oito mil hectares de milho.

A Case IH lançou o MX Magnum, o maior trator rígido (não-articulado) fabricado atualmente, com modelos na faixa de potência acima de 220 cv. O MX Magnum possui computador de bordo e recursos exclusivos que garantem excelente desempenho em grandes fazendas de cana, algodão, milho e soja. Na foto, Valentino Rizzioli, presidente da América Latina da CNH e o novo Diretor Nacional de Vendas da Case IH, Isomar Martinichen.

ISO 14001

A Ina, fabricante de componentes automotivos, agrícolas e industriais de precisão, conquistou recentemente o ISO 14001, o maior prêmio concedido a quem investe na preservação do meio ambiente. Além desse prêmio, a empresa possui também as certificações ISO 9001, QS 9000 e VDA 6.1.

Logemann

ENCORTE E TECNOCORTE

LANÇAMENTO GIGANTE

A John Deere lançou as maiores colhedoras do mundo, a 9650 STS e 9750 STS, totalmente produzidas na fábrica de Horizontina, Paraná. A 9750 STS tem motor 8.1 litros, com 325 cv de potência nominal e tanque graneleiro com capacidade para 10.570 litros. O modelo 9650 STS tem tanque graneleiro de 8.850 litros, motor de 8,1 litros e 290 cv de potência nominal. As colhedoras têm o sistema exclusivo e patenteado pela Deere & Company, STS Single Tine Separation -, que garante uma infinita versatilidade operacional em todas as condições e culturas. Martin Mundstock, Diretor Comercial da John Deere, garante que a nacionalização das máquinas facilita o financiamento e uma negociação mais flexível .

Maio / Junho 2002

O Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (DMVP) e o Núcleo de Ensaio de Máquinas Agrícolas (NEMA) da Universidade Federal de Santa Maria realizaram o 1º Tecnocorte no Centro de Eventos da Universidade, dias 5 e 6 de abril. Na programação desenvolvida foram realizadas palestras técnicas e as demonstrações dinâmicas de máquinas, técnicas de manejo e produtos veterinários.O evento aconteceu dentro do 11º Encorte, criado em 1991, em que, além desta mostra de máquinas a campo, ocorreu o tradicional ciclo de Palestras e o Concurso Estadual de Carcaças Bovinas. Participaram do Evento aproximadamente 600 pessoas, entre técnicos, produtores e alunos de graduação e pós-graduação.

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COMPRA DE CAMPEÃO

O bicampeão de Fórmula Indy, Émerson Fittipaldi, levou para sua propriedade no interior paulista, onde cultiva citricos, 15 unidades da série 200 Advanced da Massey Fergusson. O bicampeão saiu satisfeito com seus tratores e garantiu que não dispensa uma boa máquina em qualquer ocasião. A série Advanced possui inovações tecnológicas de última geração nas linhas 200 (51 a 130 cv) e 600 (135 a 173cv) com sistema hidráulico de alta vazão, na embreagem auto-ajustável e painel de instrumentos, que possibilita a incorporação do sistema Fieldstar de agricultura de precisão. A semi-plataforma, a embreagem mais leve e o novo posicionamento dos comandos ajudam a reduzir o estresse diário do operador. Afinal, o avanço tecnológico deve trazer resultados, não problemas , diz o gerente de marketing e comunicação, Paulino Jeckel. Máquinas

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Armazenamento combustíveis

O armazenamento de combustível na fazenda requer alguns cuidados que, se não tomados, podem comprometer o maquinário

Qualidade garantida M

uito dinheiro é gasto desnecessariamente em manutenção de bombas e bicos injetores por falta de cuidados básicos no manuseio e armazenagem do óleo diesel. Bicos injetores são dispositivos de altíssima precisão e quaisquer impurezas no combustível podem levar à obstrução do bico injetor bem como ao seu desgaste prematuro. Elementos da bomba injetora são formados por um pistão e um cilindro com folgas de instalação da ordem de centésimos de milímetros. Desnecessário seria dizer o que a presença de água e/ou impurezas causam a estes dispositivos. Face ao exposto, o óleo diesel deve ser livre de água e sedimentos. Isso tem como objetivo minimizar a contaminação do combustível e impedir a proliferação de microorganismos que são admitidos no tanque pelo

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Máquinas

ar, quando ocorre redução da pressão interna no tanque, devido ao consumo ou à redução de temperatura no período da noite e madrugada. Esses microorganismos conduzem à degradação do combustível, favorecendo formação de emulsão água-diesel e de compostos prejudiciais ao motor. Produtos de degradação pastosos e de cor escura também podem ser formados pelo estressamento térmico do óleo diesel, causado pelo aumento de temperatura após a sua recirculação no sistema de combustível do veículo. Dessa maneira, como será comentado posteriormente, não se deve manter lastro de água nos tanques de estocagem do produto, bem como deve-se fazer drenagens periódicas para remover qualquer água eventualmente arrastada no transporte do óleo diesel. A presença de água e sedimentos, em valores acima do regulamentado pela especificação, tem as seguintes influências: No motor Desgaste dos elementos da bomba injetora e bicos injetores; entupimento do filtro e combustão inadequada; Nas emissões Aumento do monóxido de carbono e de hidrocarboretos; No veículo Formação de borra nos tanques. www.cultivar.inf.br

CUIDADOS NO ARMAZENAMENTO No armazenamento do óleo diesel existem alguns cuidados que precisam ser tomados para reduzir gastos com manutenção de tanques de armazenamento e do próprio veículo. É necessário levar em consideração os seguintes aspectos: 1) Evite presença de água nos tanques Drene a água dos tanques de diesel diariamente, pela manhã. Em caso de tanques aéreos, utilizar a válvula apropriada. Se o tanque for enterrado, retire a água utilizando bomba manual de sucção. É importante lembrar que a água presente no tanque provoca uma série de Maio / Junho 2002


No armazenamento do óleo diesel existem alguns cuidados que precisam ser tomados para reduzir gastos com manutenção de tanques de armazenamento e do próprio veículo

Fotos Cultivar

de telas, filtros e corrosão. Pelo rápido desgaste que provoca nos componentes da bomba injetora, é comum a borra levar ao travamento e quebra das peças. Esse material gelatinoso é conhecido como lama microbiológica e apresenta odor forte e característico de material em putrefação aumentando a corrosividade do óleo diesel e alterando suas propriedades. Outro problema é que os microorganismos transformam o enxôfre não corrosivo presente no combustível em ácido sulfídrico (H2S), o que torna a água com odor desagradável (ovo podre) e alto teor de acidez, acelerando o processo de corrosão do tanque. Eles produzem substâncias químicas chamadas tensoativas , que retêm a água no diesel sob forma de gotas muito pequenas. Esses microorganismos estão em toda parte: no ar, na água e no solo, e se

É importante limpar os tanques de óleo diesel periodicamente, no mínimo uma vez a cada dois anos

multiplicam onde há condições para crescer. Portanto, eliminar a água corresponde a impedir o desenvolvimento de microorganismos. Os tanques enterrados merecem especial atenção. Por exemplo, a acomodação do terreno pode mudar a inclinação do tanque, de modo que é possível que a água fique acumulada no lado oposto ao da boca de enchimento por onde é introduzida a bomba de drenagem e a régua de medição com pasta d água. A pasta d água é um produto que em contato com a água, mesmo em pequeníssimas quantidades, muda de coloração. É usada em fina camada sobre superfície metálica das réguas de medição de nível. Nesse caso, como a retirada de água é fundamental, deve-se corrigir a inclinação do tanque. Se isso não for feito, o tanque acabará furando, o que acarretará num trabalho maior e, logicamente, maiores custos. A água que acumula nos tanques tem diversas origens.

ÁGUA NO PRÓPRIO DIESEL O óleo diesel pode conter uma determinada quantidade de água que nele fica dissolvida. Assim, quando o combustível resfria, em função de uma queda de temperatura ambiente, uma pequena parte dessa água deixa de ficar dissolvida e aparece sob a forma de gotículas. Se o óleo diesel resfriar rapidamente (ciclo dia-noite-madrugada), as gotículas serão pequenas. Se o resfriamento for lento, as gotículas serão maiores. Quanto maior for o tamanho das gotículas, mais rapidamente elas decantarão. À medida que o óleo diesel de um tanque vai sendo consumido, ocorre a entrada de ar contendo umidade. Com o resfriamento, a umi-

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transtornos, como o crescimento de microorganismos que se alimentam do óleo diesel. O cuidado na instalação do tanque é fundamental. Deixar uma pequena declividade na direção contrária ao abastecimento fará com que a água condensada possa ser drenada. A construção de uma bacia de contenção com volume 20% superior à tancagem instalada protegerá o meio ambiente de contaminação por combustível. Esses microorganismos (fungos e bactérias) só são visíveis ao microscópio e se desenvolvem entre a água e o óleo diesel. À medida que se multiplicam, começa a surgir uma massa de coloração marrom ou preta, conhecida como borra microbiológica, conforme citado anteriormente. Localizada na divisa entre o óleo diesel e a água, ou depositada no fundo do tanque, a borra causa problemas de entupimento


O uso de ligas metálicas também acelera a formação de depósitos, embora em menores intensidades que as ligas de cobre

... dade do ar condensa nas paredes do tanque e

na superfície do diesel, atingindo o fundo do tanque. Esse fato torna-se crítico em regiões com alta umidade do ar e/ou em instalações que não adotam rotina de drenagem. A água pode entrar nos tanques de estocagem e dos veículos durante uma chuva forte, se as bocas não estiverem bem vedadas, ou através de furos em tanques enterrados. 2) Não estoque óleo diesel por muito tempo. A estocagem longa favorece o envelhecimento do óleo diesel. A oxidação natural do produto pode propiciar o aparecimento de sedimentos de origem química que contribuem para obstruir os filtros. Esses sedimentos são o resultado de reações químicas complexas que ocorrem entre constituintes do óleo diesel. O contato do combustível com o cobre acelera a formação desses sedimentos. Deve-se, portanto, evitar o uso de válvulas, filtros, telas e outras espécies feitas de bronze, latão ou outras ligas metálicas que contenham cobre. O uso de ligas metálicas também acelera a formação de depósitos, embora em menores intensidades que as ligas de cobre. 3) Limpe os tanques de diesel periodicamente É importante manter limpos os tanques de armazenamento de óleo diesel. O período máximo entre uma limpeza e outra é de dois anos. Em tanques de veículos o intervalo entre as limpezas deve ser menor, no máximo um ano, porque durante o funcionamento do motor o óleo diesel é submetido a temperaturas mais altas que a ambiente. Nesse caso, o combustível que retorna da bomba injetora do veículo envelhece (oxida) mais rapidamente do que o óleo diesel armazenado à temperatura ambiente, gerando mais sedimentos. 4) Fique atento ao separador de água de combustível No caso de veículos com separador de água deve-se: Observar diariamente os recipientes de vidro do conjunto separador de água; Sempre que notar vestígios de água nos recipientes de vidro, soltar o bujão de cada seção do conjunto para escoar a água acumulada; Após o escoamento da água, apertar os bujões e comprovar sua estanqueidade; Observar no manual de manutenção os períodos recomendados para a limpeza do conjunto separador de água;

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Máquinas

Para efetuar a limpeza, desmontar o conjunto e lavar os componentes do conjunto separador de água com óleo diesel; Após a limpeza, montar o conjunto utilizando novos anéis de vedação e observar o correto posicionamento das peças. Funcionar o motor e comprovar a estanqueidade do conjunto separador de água. Lembre-se que a água do combustível facilita a formação de bactérias e borra oxidante, ocasionando o entupimento do filtro.

CUIDADOS NO MANUSEIO Deve-se prestar atenção no manuseio, pois o óleo diesel só deve ser manipulado em local aberto e bem ventilado. Se há algo que o diesel não tolera é fogo, faísca, chama, centelha. Por isso, não custa repetir: nunca se deve fumar próximo a um abastecimento. Se o manuseio tiver de ser prolongado, e se no local houver muita concentração de vapor ou névoa do produto, não hesite: use equipamentos de proteção individual (máscara com filtro para vapores orgânicos, óculos e luvas). Não guarde diesel em casa. O produto é inflamável e intoxicante e não existem recipientes domésticos adequados para este fim.

bustível líquido, nunca se deve usar água. Isso provocaria espalhamento do incêndio e o agravamento da situação. Recomendase usar extintor de CO2 ou pó químico e, no caso de pequenos incêndios, pode-se usar terra. O correto manuseio e armazenagem de óleo diesel é fundamental para a redução de manutenção nos equipamentos agrícolas. Muitos agricultores gastam centenas de milhares de reais adquirindo equipamentos de última geração e não dedicam cuidados mínimos à armazenagem e manuseio do óleo diesel. Procure adquirir o óleo diesel de uma fonte confiável. Diferenças gritantes no preço do produto são um alerta. Não há mágica neste aspecto. Se lhe oferecerem algo muito bom para ser verdade, tome cuidado. Com a liberação do mercado de distribuição de derivados de petróleo várias empresas inidôneas têm-se aproveitado disso para vender combustíveis de qualidade duvidosa. Em um próximo artigo estaFiltro típico de óleo diesel

EFEITOS TÓXICOS E PRIMEIROS SOCORROS Apresentamos, a seguir, um resumo dos efeitos intoxicantes do diesel e alguns socorros de emergência que podem ser prestados para cada caso: Ingestão: irritação na mucosa digestiva. Não provoque vômitos. Se a vítima estiver consciente, faça-a beber água. Aspiração até os pulmões: pneumonia química. Inalação prolongada: dor de cabeça, náuseas e tonturas. Remova a pessoa para ambiente fresco e ventilado. Mantenha-a quieta e agasalhada. Se ela não estiver conseguindo respirar, procure fazer respiração artificial. Contato com os olhos: irritação e congestão da conjuntiva. Não friccione. Lave em água corrente por 15 minutos. Contato repetido e prolongado com a pele: irritação e ressecamento. Remova as roupas contaminadas. Lave os locais atingidos com água e sabão. Cuidado! Retirar diesel do tanque através da sucção com a boca ou usá-lo como produto de limpeza pode parecer, às vezes, mais prático ou rápido, mas, pelo bem de sua saúde, não o faça.

COMBATE A INCÊNDIO Para a extinção de incêndio em óleo diesel, assim como em qualquer outro comwww.cultivar.inf.br

remos abordando como se pode realizar alguns testes básicos para se verificar a qualidade do óleo diesel. A Petrobrás Distribuidora S.A., subsidiária da Petrobras, conta com engenheiros treinados em todos os pontos do território nacional fornecendo orientações sobre armazenagem e manuseio de combustíveis, ministrando treinamentos sobre o assunto, esclarecendo sobre a melhor forma de construir instalações de combustíveis. Esse corpo técnico está à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas sobre o .M tema combustíveis . Marcos Thadeu G. Lobo, Engenheiro Mecânico Petrobrás Distribuidora S.A. Maio / Junho 2002


Pneus cuidados

Utilizados corretamente, os pneus agrícolas têm duração aumentada

Fotos Charles Echer

Desgaste mínimo A

expectativa de vida útil de um pneu de construção diagonal, sob condições normais de uso, é em torno de 3000 horas. Esse período tende a ser menor em condições de serviço pesado e mais reduzido ainda se os pneus tiverem mau uso. O desgaste e um certo nível de injúria no pneu sempre acontecem, mas os danos prematuros resultam de uma série de fatores cujas causas principais são: pressão de inflação incorreta, manuseio descuidado, sobrecarga e armazenamento inadequado, manifestando-se de diversas formas.

DANOS NAS LATERAIS DO PNEU

Maio / Junho 2002

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Os pneus são projetados para suportar determinadas cargas a pressões de inflação específicas. Nessa condição, o pneu flexiona apenas o suficiente para desenvolver tração, mas, não o suficiente para sobrecarregar a carcaça do pneu. No caso da pressão, a subinflação é o fator que causa mais danos do que qualquer outro. Quando o pneu

Pressão de inflação baixa pode causar trincas e rachaduras internas ou externas www.cultivar.inf.br

Máquinas

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Restos de culturas, como soqueira de algodão, milho e cana, podem tornar-se extraordinariamente rijos e, constituem por isso, uma ameaça aos pneus

duras internae/ou externamente ao pneu. A deformação continuada das laterais leva ao enfraquecimento e rompimento ou separação dos fios da carcaça. Quando a subinflação se soma à realização de serviço pesado na barra de tração, as rachaduras laterais se propagam às garras, podendo se estender completamente ao longo do costado. Já as tensões decorrentes da sobreinflação, reduzem a capacidade do pneu de resistir a impactos e aumentam o perigo de cortes por pedras. Isto também resulta em desgaste irregular da banda de rodagem, diminuindo a capacidade de tração, pois a área de contato do pneu no solo se restringe ao centro da banda de rodagem.

RUPTURA DA ESTRUTURA

DANOS NA BANDA DE RODAGEM A patinagem excessiva, acima de 20%, causada, em geral, pela sobreinflação ou lastragem inadequada para a tração requerida, contribui para o rápido desgaste da banda de rodagem. Normalmente, em situação de campo, a superfície do solo se ajusta à superfície de rodagem mas, quando o trator é operado em superfície dura como uma estrada, somente as garras fazem contato com a superfície, e isso força as garras a torcer irregularmente, gastando-as rapidamente. Restos de culturas, como soqueira de algodão, milho e cana, podem tornar-se exCharles Echer

Os pneus são construídos de camadas de tecidos que podem romper quando sub-

ores a velocidades mais altas. Se as trincas na estrutura forem pequenas, sua reparação é viável, entretanto, em locais onde a presença de obstáculos é comum e inevitável, uma forma de minimizar o problema é usar pneus com maior capacidade de lonas.

Impactos e cargas excessivas somados à sobreinflação podem causar a ruptura das lonas

metidas ao impacto de cargas excessivas. Esse tipo de avaria, resulta, em geral, do deslocamento descuidado sobre pedras, tocos e outros objetos pontiagudos. A estrutura romperá mais facilmente se o pneu estiver sob tensão excessiva causada pela sobreinflação e os danos tendem a ser mai-

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Máquinas

das passem entre as linhas. Outras causas comuns de danos no pneu são aros defeituosos, sobrecarga e pneus girando no aro. Um aro defeituoso pode causar pequeno vazamento de ar que acaba danificando o pneu por causa da conseqüente subinflação. Aro torto ou quebrado também pode prejudicar o talão do pneu. A sobrecarga, acima de 20%, acelera o desgaste da banda de rodagem, principalmente por causa do aumento da resistência ao rolamento e favorece a ocorrência de deslizamento no aro destruindo o talão. O assentamento inadequado do talão ou uso excessivo de solução de água e sabão vegetal, usada como lubrificante na montagem do pneu no aro, também podem causar deslizamento do pneu no aro.

CUIDADOS COM OS PNEUS Por tudo isso que foi exposto e, sendo o sistema de rodado um componente que

Ila Corrêa

com pressão de inflação baixa, come... opera ça a ocorrer uma série de trincas ou racha-

Desgastes nas garras ocorrem com maior intensidade quando operados em superfícies duras

traordinariamente rijos e, constituem por isso, uma ameaça aos pneus que neles transitam. A avaria pode expor os fios do pneu e, até mesmo, furar a carcaça. Em culturas em linhas, os danos causados por sequeiras de cultura podem ser evitados pelo ajuste da bitola do trator, de modo que as rowww.cultivar.inf.br

pode atingir de 6 a 10% do preço do trator, atitudes de prevenção e cuidados no manuseio do pneu são imprescindíveis para .M aumentar sua vida útil. Ila Maria Corrêa, CEA/IAC Maio / Junho 2002


Novidades Embrapa Instrumentação

pesquisa

Sensor Gustativo ajudará a indústria de alimentos, bebidas e produtos químicos

Língua eletrônica Maio / Junho 2002

disso, o uso da língua eletrônica evita a exposição de seres humanos a substâncias tóxicas ou de paladar desagradável, não havendo ainda a perda de sensibilidade com longos tempos de exposição, como ocorre com o ser humano. O invento está baseado na utilização de polímeros condutores (plásticos que conduzem eletricidade), e misturas destes com outros materiais, para a fabricação de um sensor gustativo em sistemas líquidos. A invenção dessa língua eletrônica utilizando polímeros condutores concedeu aos pesquisadores envolvidos o prêmio Governador do Estado categoria

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invento brasileiro de 2001, dado pelo SEDAI (Serviço de Assistência aos Inventores). As unidades sensoriais são fabricadas pela deposição de polímeros condutores em diferentes combinações e arquiteturas supramoleculares, na forma de filmes ultra-finos, sobre uma configuração pré-determinada de eletrodos interdigitados. Esses eletrodos estão representados na figura. Com relação à seletividade, a língua eletrônica utiliza o mesmo conceito da língua humana, conhecido como seletividade global. O sistema biológico não faz a identificação de uma Máquinas

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ob a coordenação do pesquisador Luiz Henrique Capparelli Mattoso, da Embrapa Instrumentação Agropecuária, um trabalho de equipe resultou num dos mais interessantes inventos do momento. Trata-se de um sensor que atua em sistemas líquidos, já chamado de língua eletrônica , servindo tanto para identificar os diferentes tipos de paladar quanto para verificar a presença de contaminantes orgânicos e inorgânicos em meio aquoso. O sensor é altamente desejável pelas indústrias de bebidas, alimentos, farmacêutica, e na agroindústria em geral. Além


Fotos Embrapa Instrumentação

A idéia da língua eletrônica se consolidou durante o projeto de pós-doutoramento do Dr. Antonio Riul Jr.

Conjunto que compõe a língua eletrônica auciliará na degustação de produtos como água, vinho e café

Depois de depositados os materiais, cada eletrodo compõe uma unidade sensorial da língua eletrônica . Os materiais utilizados possuem uma composição química otimizada de forma a ter propriedades elétricas específicas. Quando estes são mergulhados na solução que queremos analisar, cada um interage diferentemente, fornecendo um sinal elétrico característico de sua interação com a bebida analisada. É graças a essa diferença de resposta elétrica entre uma unidade sensorial e outra que montamos a impressão digital que identifica cada substância. O dispositivo então formado diferencia sem

Fig. 02

substância específica, mas agrupa toda a informação recebida em padrões que o cérebro identifica. Por exemplo: o ser humano reconhece o paladar de café, mas poucas pessoas sabem que o mesmo é composto por mais de mil moléculas distintas. Essa capacidade de agrupar uma grande quantidade de informações em pequenas classes é o melhor exemplo que podemos citar sobre o conceito de seletividade global. No sensor artificial trabalhamos com o mesmo conceito, ou seja, temos uma resposta global (impressão digital) que será utilizada para caracterizar e, posteriormente, reconhecer uma determinada substância.

dificuldades os padrões básicos de paladar (doce, salgado, azedo e amargo) em concentrações molares abaixo do limite de detecção biológico, através de medidas elétricas. A melhor maneira de representar os resultados é através do gráfico abaixo (figura 2). Os resultados obtidos do equipamento de medida são fornecidos a uma ferramenta matemática que os representa como ilustrado abaixo. Essa ferramenta matemática ajuda a visualizá-los de uma maneira mais simples e direta, eliminando qualquer tipo de redundância de informação. Na figura 2 as concentrações utilizadas (5 mM) estão abaixo do limite de detecção humano para os padrões doce e salgado. O limite de detecção biológico para o doce e o salgado está em torno de 10 mM. Em outras palavras, o ser humano só pode detectar quantidade acima de 685 mg de açúcar (ou 117 mg de sal) em um copo de 200 ml de água, sendo que abaixo destes valores a identificação do paladar é difícil, ou seja, a pessoa sentiria como se estivesse bebendo somente água. A língua eletrônica é mais sensível, tendo conseguido distinguir esses paladares em concentrações mais baixas, como por exemplo 342 mg de açúcar (ou 58,5 mg de sal) em 200 ml de água. Um protótipo do dispositivo está sendo desenvolvido na EMBRAPA Instrumentação Agropecuária com o apoio da FAPESP. O sistema apresenta, também, excelentes resultados na diferenciação de bebidas com o mesmo paladar, como por exemplo distinguir

Fase final e comercialização

Fig. 04

O invento já tem patentes nacional e internacional e entrará em fase definitiva de testes e montagem neste ano. Com um investimento de R$ 1 milhão, financiados pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Embrapa Instrumentação Agropecuária produzirá um protótipo com sistema simples de operação, que possa ser usado por qualquer usuário com conhecimentos básicos em informática. O protótipo será testado nos próximos dois anos pela Embrapa Café, Embrapa Uva e Vinho, Sindicato das Indústrias de Café do Estado de São Paulo e outras instituições. Diversas empresas, inclusive internacionais, mostraram interesse em comercializar a Língua Eletrônica, que estará no mercado, provavelmente, até 2004. 14

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diferentes tipos de vinho, café, chá e água mineral. A figura 4 ilustra um pouco a diferenciação de bebidas. Resultados recentes indicam a detecção de fenômenos de supressão, similar ao que ocorre no sistema de detecção humano, como por exemplo tornar algo amargo em doce, devido à adição de sacarose, permitindo sua quantificação por meio de recursos computacionais, como redes neurais artificiais (etapa em desenvolvimento no presente projeto). O desenvolvimento de redes artificiais é outra importante colaboração que temos com o Prof. André C.P.L.F. Carvalho, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, da USP de São Carlos. Como comentado anteriormente, há também forte colaboração também com o Prof. Osvaldo N. Oliveira Jr, do Grupo de Polímeros Bernhard Gross, do Instituto de Física de São Carlos (USP), tanto na parte de deposição de filmes ultra-finos dos polímeros condutores quanto em testar novos materiais. É a primeira vez que polímeros condutores são utilizados nesse tipo de aplicação, e a simplicidade de aquisição experimental, aliada à boa sensibilidade oferecida pelos filmes ultrafinos depositados nas unidades sensoriais, aumentam de maneira significativa o potencial de aplicação do presente invento, quando comparado aos métodos de análise convencionais (análises laboratoriais, etc..), que são muito caros, ou necessitam de um eletrodo de referência, que passa a ser problemático quando faz-se necessária a miniaturização do sistema. Ressalta-se ainda que os resultados obtidos com o sistema aqui proposto são mais sensíveis que aqueles encontrados na literatura com outras técnicas, como por exemplo medidas potenciométricas e voltamétricas, pela possibilidade de detecção de substâncias que não formam eletrólitos, como a sacarose, e ainda a detecção das substâncias responsáveis pelos diferentes paladares abaixo do limite mínimo de detecção biológico (humano). A utilização de técnicas computacionais, como por exemplo a aplicação de redes neurais, que é uma etapa em desenvolvimento no projeto apresentado, amplia o potencial de aplicação desses sensores. As aplicações estão destinadas para a avaliação e análise de paladar em diferentes tipos de bebidas tais como água de coco, água mineral, café, chás, leite, sucos, bebidas alcoólicas (vinhos, cachaças, cervejas, licores, etc.) e outras, tanto quanto a verificação de contaminantes orgânicos e inorgânicos em sistemas que lidam com o tratamento de água para o consumo humano. A sua aplicação pode ser estendida às indústrias far.M macêutica e de cosméticos.

Dr. Luiz Mattoso (centro) teve apoio de diversos pesquisadores

Dr. Luiz Henrique Mattoso, Embrapa Instrumentação Maio / Junho 2002

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Tratores

transmissão - parte II

Entender as transmissões

Uma missão impossível?

Conceitos, terminologia e dicionário das caixas de câmbio

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a primeira parte desta série dedicada às transmissões analisou-se sua missão específica: modificar simultaneamente o torque e a rotação que vem do motor. Partindo desta idéia, vamos analisar os distintos componentes que uma transmissão inclui. Para isto, vejamos primeiro os caminhos que pode seguir a transmissão.

O CAMINHO DA TRANSMISSÃO Pensemos que estamos situados no virabrequim de um motor como em uma estação de saída de trens e que as rodas motrizes é a

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estação de destino que vamos tomar. Consideremos somente o trajeto motor-rodas traseiras e deixemos outros itinerários para outra ocasião, como o motor-rodas dianteiras e o motor-tomada de potência, para não falar dos múltiplos trajetos como aqueles cujo destino são os elementos que o próprio motor precisa acionar para seu funcionamento, como o ventilador, diversas bombas e todos os mecanismos do sistema hidráulico. Nosso percurso passaria então pela embreagem, a caixa de câmbio, o diferencial e as reduções finais. Para que servem cada um desses elementos? www.cultivar.inf.br

A EMBREAGEM A embreagem permite tornar o motor independente das rodas, isto é, que o motor gire e as rodas estejam paradas. Se a transmissão for mecânica, isto não é possível, ao menos que exista algo que permita separá-los, já que, se estivessem unidos e um extremo parasse, o outro também pararia. No entanto, quando intervém a hidráulica, a coisa muda, porque já não há uma união mecânica completa entre o motor e as rodas. Por isso, quando há uma embreagem hidráulica (turboembreagem) ou uma transmissão hidrostática, em teoria, não há necessidade da embreagem (no Maio / Junho 2002


A embreagem permite tornar o motor independente das rodas, isto é que o motor gire e as rodas estejam paradas

proporcionam longevidade e funcionamento silencioso

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muitos outros elementos da transmissão se verá este tipo de elemento, com o mesmo fundamento que a embreagem anterior, mas com a estrutura de dois jogos de discos (porque já não há um disco, e sim vários), dois eixos e pistões para pressionar um jogo de discos contra o outro. Cada um dos jogos de discos é unido a um eixo. Com o óleo sob pressão, os pistões aproximam os jogos de discos e os dois eixos giram a igual velocidade. Diz-se que atua a embreagem ou posição embreada . Se o óleo não tem pressão, os dois eixos são independentes. A embreagem não atua ou posição desembreada . As restrições de emprego da embreagem mecânica são duas: o salto para frente que o trator pode dar e o fato de apagar o motor. Se ao embrear, o motor tem força suficiente para a carga que tem que vencer (por exemplo, entrar em movimento em uma subida), porque se pisou no fundo o acelerador, o veículo sai bruscamente e dá um salto para frente. Se, ao contrário, o motor não tem força, se apagará. Resumindo, a embreagem mecânica deve ser de: Ação progressiva (para evitar saltos). Ação total (tudo ou nada, não há meio termo). Para corrigir estes problemas da embreagem mecânica apareceu a embreagem hidráulica (turboembreagem), na qual não há uma união mecânica (disco) entre o motor e a caixa de câmbio. A transmissão se faz entre duas meias-rodas providas de aletas (palhetas), uma unida ao motor e a outra ao Máquinas

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entanto, sempre vem a prática, que sempre é diferente da teoria). Tradicionalmente, a embreagem se situa depois do motor, antes da caixa de câmbio. Normalmente existe um pedal para comandar seu funcionamento. Quando não se pisa o pedal, a potência circula do motor para a caixa de câmbio. Diz-se que a embreagem está embreada . Pisar a embreagem é desembrear , isto é, deixar de transmitir o movimento do motor à caixa de câmbio. Tradicionalmente, a embreagem é do tipo mecânico, de discos. O funcionamento é simples. O virabrequim e o eixo de entrada à caixa de câmbio (se costuma chamá-lo de primário) não são os mesmos. Este primário é unido a um disco que gira com ele e, por sua vez, pode deslocar-se, porque o eixo primário e o disco são estriados. Se o disco se desloca até o volante do motor e cola por aderência ao mesmo (aproveitando a grande superfície Transmissão de construção maciça do volante), ambos girarão juntos. Transmisassegura grande flexibilidade de utilização são embreada. Quando se separam, o movimento não se transmite à caixa de câmbio. Transmissão desembreada. O encarregado de veículos para assistir as operações que antes deslocar o disco é o prato de pressão que, se faziam à base da força muscular de braços tradicionalmente, se move graças a uma série (ou pés), aparecem as embreagens mecânicas de mecanismos acionados pelo movimento do de acionamento hidráulico. A embreagem, em pedal da embreagem. si, é igual, com disco (ou discos), mas o prato Como princípio de funcionamento, deve- de pressão é substituído por uma série de pismos recordar que a embreagem é um trans- tões acionados por óleo, cuja missão é deslomissor de torque. Não o modifica. Ou manda car o disco contra o volante. Neste caso, quanou não manda, o que também se pode descre- do não se pisa a embreagem (embreado), é ver como colado ou descolado, mas, em am- porque o distribuidor hidráulico do sistema bas situações, sem mover-se com relação à manda óleo com pressão aos pistões para que embreagem. Assim deve funcionar. Precisa- colem o disco ao volante. A embreagem atua . mente o incorreto é que não trabalhe nestas Quando se pisa a embreagem (desembrear), duas condições extremas. O termo colado é se libera a pressão sobre os pistões e o disco se muito intuitivo para descrever estas duas con- separa. A embreagem não atua . dições de funcionamento, porque se o disco O termo embreagem de discos de acionaestá mais ou menos colado é porque não mento hidráulico transcende ao mecanismo está colado totalmente ao volante, está se anterior (associado ao volante do motor). Em movendo e este atrito desgasta sua superfície prematuramente. No entanto, todos temos pisado muitas vezes o pedal mais ou menos para evitar que se apague o motor em algumas manobras difíceis. É um pecado, mas o grave é fazê-lo trabalhando (transmitindo muito torque), como temos visto algumas vezes em tratores arando. Poderia-se pensar em colocar uma recomendação no manual de instruções desta forma: Atenção!!!! Durante o trabalho de tração, manter o pé longe do pedal de embreagem. Inicialmente as embreagens de disco eram a seco , mas agora são em banho de óleo, que tem uma duração e rendimento superiores (Quando se diz rendimento nos estamos referindo, claro, à capacidade de transmitir torque motor). Transmissão com pinhões de corte helicoidal largos Com a entrada da hidráulica nos


Nos projetos mais antigos, a caixa de câmbios era uma caixa de quatro ou cinco marchas com três eixos, o primário, o intermediário e o secundário

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eixo primário da caixa de câmbios. Ambas meias-rodas se juntam para formar uma câmara que tem um óleo especial. A câmara é como uma roda de um trator, lastrada com água (neste caso, óleo) que estivesse dividida em duas pelo plano médio e tivesse as garras (muito perpendiculares à direção de deslocamento) por dentro, ao invés de por fora. Ao acelerar o motor, a meia-roda unida a ele começa a impulsionar o óleo com suas palhetas. O óleo adquire velocidade e choca contra as palhetas da meia-roda unida ao primário da caixa de câmbios. A velocidade do óleo produz uma força centrífuga que é a que acaba arrastando a roda da caixa de câmbios e transmitindo o torque motor, da mesma maneira que a embreagem mecânica é um transmisssor de torque e não o modifica. Conseguese arrastar o primário na mesma velocidade do motor e, se não consegue porque a velocidade do motor não produz suficiente força centrífuga para arrastá-lo, se dedica a mover o óleo no interior da câmara. Por isso, este óleo deve ter uma série de aditivos (antiespumante, etc) e não é conveniente que esteja assim muito tempo, porque também se aquece. Mas o interessante é que o motor não se apaga, porque pode seguir funcionando

mesmo que as rodas parem. Além disso, tampouco haverá saltos do trator, porque a inércia do óleo até que a tração comece faz com que, ainda que se levante o pé bruscamente, a entrada em funcionamento seja progressiva e suave. A teoria nos diz que uma embreagem hidráulica suaviza o funcionamento, evita que se apague o motor e haja necessidade do tudo ou nada e ... elimina a embreagem. Já não a necessitamos. Com o motor, traciono ou não. No entanto, tem também seus condicionantes: Diferentemente da embreagem mecânica, não se chega a produzir a independência absoluta motor-transmissão . Seu problema é, sim, a opção desembrear , que aqui consistiria em deixar de acelerar . Inclusive com o motor quase morto , sempre há um certo arraste , devido a que sempre circula óleo, ainda que seja com muito pouca força. Quando atrás da embreagem se encontra uma caixa de câmbios com dentes que devem engrenar-se (ainda que seja sincronizada), mover-se é um problema. Para a caixa de câmbios não tem a mínima graça. Tanto é assim que, a maioria dos veículos que tem embreagem hidráulica, tem, além dela, uma embreagem mecânica. Essa solução busca a comodidade

(nada de saltos, nem motores apagados), mas também a independência na hora de engrenar. Temos tudo (e o pagamos, claro).

A CAIXA DE CÂMBIO A caixa de câmbio consiste no conjunto de elementos cujo objetivo é modificar o torque motor e o regime de rotação do virabrequim. Além desse objetivo principal, com a caixa de câmbio se pode conseguir: Liberar a embreagem de manter a posição de desembreado com o veículo parado (ponto morto); Inversão do sentido de deslocamento do veículo (marcha a ré); Não parar o veículo para trocar de marchas (câmbio sincronizado); Não desembrear para cambiar (câmbio em carga). Nem todas as caixas de câmbio contam com todas estas possibilidades. A estrutura é, em geral, modular, com sub-caixas postas em série e admite todo tipo de combinações nestas sub-caixas, umas são de câmbio em carga, outras são sincronizadas, outras agrupam a embreagem e o inversor, etc.


engrenagem que interesse para a marcha selecionada e o fazem engrenar com seu par. Se a caixa é por deslizantes , os pinhões do secundário estão loucos sobre o eixo, mas em união constante com seus pares do intermediário. Existem umas peças chamadas deslizantes que, como seu nome indica, são as que se deslizam pelo secundário. As engrenagens, não. Ao mover as alavancas do câmbio,se move o deslizante, que tem um dentado para engrenar com os dentados do lado às distintas engrenagens do secundário. Se a caixa é por sincronizador , se trata então de um deslizante provido de um dispositivo que iguala as velocidades dos dois elementos que vai unir (deslizante e pinhão do secundário), antes que se faça o engate dos elementos dentados ligados a cada um deles. Dessa maneira se facilita muito o acoplamento dos elementos dentados e não há necessidade de parar o veículo para trocar de marchas (mas sim pisar a embreagem). A razão de parar ou não e pisar ou não a embreagem é similar ao exemplo da corrida de revezamento. Para entregar-se o bastão com certa segurança, deve ocorrer uma de duas opções: ou estão os dois parados ou vão os dois à mesma velocidade. Pois bem, quando há

necessidade de encaixar um dentado em outro, ocorre o mesmo. Nos dois primeiros casos descritos, deve-se engrenar, por isso o veículo deve ser parado. Há pequenas soluções como a dupla embreagem (não confundir com a embreagem dupla ) que se empregam para reduzir a marcha (passar a uma mais curta), mas são soluções de emergência. Pelo contrário, os sincronizadores permitem igualar as velocidades dos elementos que serão engrenados, assim não necessita parar o veículo. De outra forma, engrenar é necessário, não sendo necessário parar o veículo, mas se deixa de transmitir torque (sempre o torque...) porque é como se fôssemos pedir às engrenagens que suportem o torque, enquanto uns dentes tratassem de engatar-se nos outros, é demais. Portanto, com sincronizadores, deve-se pisar a embreagem. A marcha direta, que se menciona em muitas ocasiões, se conseguia por meio de um acoplamento de garras que tinham tanto o primário como o secundário e, ainda que não fosse por engrenagens devia-se, encaixar as garras, isto é, não era sincronizada. Com esta disposição é necessário parar o veículo. O normal é que uma destas quatro ou cinco marchas que tinha a caixa, fosse a marcha

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Nos projetos mais antigos, a caixa de câmbio era uma caixa de quatro ou cinco marchas com três eixos, o primário, o intermediário e o secundário. O eixo de entrada era o primário (que vinha da embreagem). Nesse eixo havia um pinhão que estava sempre engrenado com outra engrenagem situada no eixo intermediário. Nesse eixo, além disso, estavam outros três ou quatro pinhões, de distinto tamanho e número de dentes, todos girando solidariamente com o eixo, isto é, todos ao mesmo regime de rotação. No eixo de saída da caixa, o secundário tem uma série de pinhões, que formam par com os do intermediário. Cada par determina uma relação de transmissão, ou seja, uma marcha . Com esta disposição haveria quatro ou cinco marchas: os 3-4 pares dariam 3-4 marchas e a conexão direta do primário com o secundário outra mais. Quando nenhum par está ativo , a caixa se encontra em posição de ponto morto. Para o comando da caixa há três possibilidades: Se a caixa é por engrenagens deslizantes , os pinhões do secundário são unidos com ele, mas em ponto morto não engrenam com nenhum do intermediário. As alavancas do câmbio deslizam, ao longo do secundário, a


O câmbio em carga por excelência nos tratores agrícolas está baseado nas engrenagens planetárias, mas esse tipo de engrenagens requer uma dedicação especial

... a ré que se consegue intercalando um pinhão

adicional em um dos pares intermediário-secundário. Depois veio a redutora. Tratava-se de uma caixa com duas velocidades que se colocava geralmente antes da caixa de marchas, de maneira que o eixo de saída da redutora se convertesse no primário da caixa de marchas. Se a redutora tem duas possibilidades, se duplica o número de velocidades da caixa de marchas. Em alguns casos, as relações dentro desta mini-caixa eram, uma marcha direta (nesta subcaixa, não confundir com a direta da caixa de marchas) e uma marcha mais curta ou reduzida, que dava nome à caixa. Depois, começamos a aumentar as possibilidades. A redutora deixa de chamar-se assim, porque já não tinha duas marchas, e sim 3,4.... e passa a chamar-se caixa de gamas, denominando as diferentes relações (gamas) que se podiam conseguir com termos como: baixa, média e alta; A, B, C e D; curtas, médias e longas ou denominações similares. Se multiplicarmos as marchas de uma pelas da seguinte e, assim, sucessivamente, nos encontramos com tratores de 24, 48, 72 marchas. Muitíssimas opções, com as quais se começa a vislumbrar que necessitamos alguma coisa que nos ajude a gerenciar e tirar proveito de tantas possibilidades. Deve-se ir pensando em sistemas automáticos. E o câmbio em carga? Aquele que não é necessário parar o veículo nem pisar a embreagem. Evidentemente, com os tipos de caixas descritas até agora não há solução. A forma de conseguir o câmbio em carga é: Com um conversor de torque Com pares de engrenagens de dentes retos comandadas por embreagens de acionamento hidráulico Com engrenagens planetárias Dos três sistemas, o mais usado é o baseado em planetárias, que trataremos em outra parte desta série. O conversor de torque é uma modificação da embreagem hidráulica. Tem suas duas meias-rodas com palhetas, mas além disto tem um anel, também com palhetas, chamado reator, que funciona de uma maneira muito peculiar. Assim como as duas meias-rodas, o reator somente pode girar em um sentido. Se estas giram a mesma velocidade, o reator as acompanha e o mecanismo trabalha como embreagem, transmitindo o regime de rotação e o torque. No entanto, se as duas meiasrodas não estão na mesma velocidade, em concreto, se a que está do lado de saída do mecanismo diminui sua velocidade porque o veículo assim o fez ante um aumento da resistência sobre o mesmo, o reator pára imediatamente e atua como elemento de apoio (daí seu nome) do óleo que circula. Este varia a direção na qual se move, com relação à que levaria se não houvesse reator e esta modifica-

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Parte traseira provida de freios a disco com banho de óleo e reduções reforçadas

ção da direção modifica também sua velocidade e, conseqüentemente, a força centrífuga e o torque transmitido. Neste caso, já não é uma embreagem. É, em essência, uma caixa de câmbios autônoma, que modifica o torque motor. Evidentemente, a modificação é sob carga. Nos tratores agrícolas não é um mecanismo muito difundido, pelo menor rendimento na transmissão com relação às transmissões mecânicas, mas são alternativas muito usadas em máquinas de movimento de terra. No caso de câmbio em carga, com pares de engrenagens retos, comandados por embreagens de acionamento hidráulico, os órgãos de manobra são embreagens de discos de acionamento hidráulico. As engrenagens estão em movimento constante, mas não há deslizantes nem sincronizadores. Cada engrenagem do eixo de saída da caixa se associa a um dos jogos de discos de uma embreagem de acionamento hidráulico. No outro jogo de discos, cada embreagem é unida ao próprio eixo de saída da caixa de câmbio. O movimento das alavancas de câmbio o que faz é, ordena ao distribuidor do sistema hidráulico que comanda a caixa, que envie óleo sob pressão à embreagem que interessa, de maneira que o eixo de saída tome a velocidade da engrenagem que está associada a esta embreagem. Para uma caixa com muitas marchas, o problema desta solução é o excessivo número de embreagens que necessita. O câmbio em carga por excelência nos tratores agrícolas está baseado nas engrenagens planetárias, mas esse tipo de engrenagens requer uma dedicação especial. Como conceito, deve-se mencionar que é uma solução compacta, que oferece muitas possibilidades e que, para transmissões em que a potência se baseia www.cultivar.inf.br

em altos torque e baixas velocidades, fica muito atrativa a possibilidade de repartir o torque entre um maior número de dentes do que com um único par, como ocorre com as engrenagens em eixos paralelos.

DIFERENCIAL Nesta parte da série de artigos, do diferencial somente deve-se mencionar sua missão (pois será objeto, também, de um capítulo aparte). Como seu nome indica, o diferencial tem como objetivo permitir diferenças de velocidade entre as rodas de um eixo motriz, para que possam fazer curvas. Como objetivo complementar, realiza uma forte redução das rotações (ou um forte incremento do torque) mediante o engate pinhão de ataque-coroa. O problema das rodas em uma curva é que temos uma série de elementos que devem permanecer alinhados quando fazem a curva. O exemplo é o desfile de uma tropa. O soldado que anda pelo interior vai com passinhos curtos e o que vai pelo exterior avança a passos longos. Nos veículos, se não há diferencial, o trabalho das rodas seria muito problemático. Vocês já notaram o incômodo que é dar a volta nos extremos dos corredores do supermercado com o carrinho de compras, que não tem diferencial? Sobretudo se o carro está cheio. No caso do trator, vamos por partes: A velocidade de giro de uma roda (de qualquer uma) é igual a velocidade de deslocamento dividido pelo raio da roda (unidades de medida a parte) As rodas de cada eixo são do mesmo diâmetro Maio / Junho 2002


É evidente que, em uma curva, a roda interior percorre menos caminho que a exterior. A velocidade de deslocamento da roda interior tem que ser menor que a da roda exterior e tendo o mesmo diâmetro, a interior tem que girar mais devagar. Quando um eixo é conduzido, não está unido cinematicamente ao motor. Que quer dizer isto? Quer dizer que a sua velocidade não vem imposta pelo motor. Neste caso, em uma curva estamos salvos. Como não foi imposta a velocidade, cada roda girará a velocidade que precise para fazer a curva. Quando o eixo é motor, a velocidade vem imposta e se o eixo que une as duas rodas fosse rígido, a velocidade de ambas rodas seria a mesma. Como se soluciona isto? Intercalando no eixo (que deixa de ser rígido) um mecanismo como o diferencial que permite conseguir estas diferenças de velocidade entre as rodas do mesmo eixo. Na linha reta vão à mesma velocidade, mas têm liberdade para comportar-se de maneira diferente na curva. Os veículos de passeio têm resolvido o problema das curvas com o diferencial, mas os tratores têm o problema adicional do terreno (como sempre, o bandido do filme). Este mecanismo tão necessário pode ser um inconveniente em algumas condições sobre terreno solto e, nestes casos, deve-se anulá-lo . Por isto, os tratores (como outros veículos off road que compartilham com o trator a necessidade de enfrentar-se com um terreno não preparado para circular) dispõem a opção de bloqueio do diferencial .

REDUÇÕES FINAIS Os veículos que aproveitam a potência mediante torque (força) e a pequena velocidade se encontram com o problema de que nas transmissões o que lhes dói, claro, é o torque. Como a potência em um eixo em rotação é o produto do torque pelo regime de rotações, quanto menor seja este, maior será o torque, para a mesma potência transmitida. Os dentes das engrenagens devem resistir, forças maiores quanto maior seja o torque que transmitem e já se compreende que quanto maior a força suportada, maior qualidade (e custo) do material. Interessa, pois, que a caixa de câmbio, sobretudo, tenha pouca redução de rotações do motor, ou pouco incremento de torque, deixando para depois da caixa fortes reduções. Já dissemos antes que no diferencial se faz uma grande redução no mecanismo pinhão de ataque-coroa. Os tratores, além disto, deixam uma última redução (daí seu nome de redução final ) no próprio eixo das rodas motrizes. As reduções finais mais difundidas (ainMaio / Junho 2002

da que não sejam as únicas) são do tipo de transmissão por planetárias.

INDEPENDENTE OU À MARCHA A RÉ

breado , são absolutamente independentes um do outro. No inversor, pela associação da embreagem e da marcha a ré, há 3 eixos: entrada, saída e outro intermediário ou auxiliar do mecanismo. Se o inversor é por planetárias, existem sempre os tres eixos. Na posição à frente , dois eixos estão unidos e o terceiro não deve estar freado. Todo o conjunto gira a uma velocidade igual. Na posição a ré o freio imobiliza o eixo intermediário, e o eixo de saída gira no sentido contrário (e a velocidade que seja, geralmente algo maior) que o de entrada. É lógico, a embreagem não atua. Na posição neutra não atuam nenhum dos órgãos de comando, o movimento chega do motor ou da caixa anterior e o eixo de saída pára.

Com o esquema tradicional de caixa de marchas e redutora, a marcha a ré era uma das opções da caixa de marchas. Depois, com a organização em caixa de gamas e caixa de marchas , a marcha ré se converte em uma marcha a mais, para ter várias possibilidades de funcionamento também para trás. À frente (ou entre as caixas), a embreagem de marcha, independe das sub-caixas. Nos últimos anos se aumentou o emprego de uma sub-caixa de câmbios que agrupa as funções da embreagem e a marcha ré, comandada por embreagens e freios de acionamento hidráulico. São os inversores em carga, que normalmente têm três possibilidades de funcionamento: neutro, à frente e para CONCLUSÕES DA SEGUNDA PARTE trás. Neste caso, o conceito tradicional de embreagem (conectado ou não conectado) A transmissão é um dos componentes do se modifica porque as posições de trabalho trator que mais evoluiu nos últimos anos. Com são: ela se pretende conseguir muitas coisas: À frente: seria equivalente a embreado; Oferecer uma ampla variação de mar Neutro: seria o equivalente a desem- chas : marchas, marchas e marchas; breado; Solucionar problemas específicos da Para trás: marcha a ré. locomoção em caminhos não pavimentados: A diferença está em que, ao estarem bloqueio do diferencial; combinados no mesmo mecanismo a em Adaptar-se às exigências dos veículos breagem e a marcha a ré, para conseguir as que desenvolvem potência em tração, redufunções embreado e desembreado deve-se ções finais, câmbios em carga; jogar com os dois órgãos de comando do Facilitar as manobras com inversores inversor, geralmente um freio e uma em- em carga; breagem. Em posição à frente (embrea Gerenciar da maneira mais eficiente o do), a embreagem tem que estar atuando, comando da caixa e, por extensão, do motor .M mas isto não basta, que, necessariamente, e do trabalho. o freio tem que estar desativado. Na posição neutro (desembreado) a embreagem Pilar Linares, e o freio não atuam. Em marcha a ré , Departamento de Engenharia Rural, atua o freio, mas, necessariamente, a em- Universidade Politécnica de Madrid, Espanha breagem não deve atuar. A diferença é que (Tradução: Fernando Schlosser antes a embreagem era independente e agora está associada com a marcha a ré. Estes mecanismos costumam estar baseados também em engrenagens planetárias (ainda que nem sempre) e de suas posições de trabalho; a mais curiosa é a neutra. Vejamos por que: Na embreagem tradicional ou independente há dois eixos, o de entrada e o de saída Na posição embreaado , estão unidos através do sistema de discos unidos a ambos Transmissão Dynalshift Na posição desemsimples e eficaz

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Maquinário manutenção

Correias em bom estado de conservação e com manuseio adequado garantem maior rendimento da máquina

Ollho nas correias O

bom funcionamento de máquinas e motores depende, e muito, da qualidade e do estado de conservação das correias utilizadas. Se o motor estiver em plena forma e as correias, que fazem a ligação com as demais partes da máquina, estiverem com problemas, certamente o desempenho geral do equipamento estará comprometido. Mesmo após a escolha da correia, tipo, tamanho etc., e a sua correta instalação, deve-se tomar alguns cuidados básicos de conservação e manutenção. A correia não deve ser forçada contra a polia, com uma alavanca ou qualquer outra ferramenta, pois poderá ocorrer a ruptura do envelope ou dos seus cordonéis. Na montagem, faça recuar a polia móvel, aproximando-a da polia fixa, de modo que possa ser montada suavemente sem ser forçada com qualquer tipo de ferramenta. Quando as correias funcionam em pares ou em conjuntos, não é recomendável o uso de correias novas com correias velhas, pois a correia nova será sobrecarregada. No caso de necessitar repor o jogo de correias, faça-o por um novo jogo completo e não parcial. Por exemplo: Na colheitadeira, quando houver a quebra da correia primária da tração, existe a necessidade de trocar a correia secun-

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dária da tração também, evitando assim a sobrecarga na correia nova.

VERIFICAÇÃO DO ALINHAMENTO O mau alinhamento das polias pode comprometer a capacidade e diminuir o tempo de vida útil das correias. O correto alinhamento é essencial para obter-se uma longa vida das correias em V e das polias. Uma régua tocando nos quatro cantos indicados das polias garante o alinhamento, desde que as paredes laterais das polias tenham as mesmas dimensões.

mesmas venham a realizar o melhor trabalho em sua colheitadeira. Recomenda-se que as correias sejam armazenadas como segue: Não é recomendado o armazenamento das correias penduradas em cabides por longo tempo, quando estas forem compridas. O comprimento máximo da correia deverá ser 1,75 m.

TENSIONAMENTO No que se refere ao tensionamento, o lado bambo das correias deve ficar para cima, desde que as mesmas não estejam esticadas. Deve-se evitar que haja correias com lado bambo para cima e outras com lado bambo para baixo. Desta forma, elas não se acomodarão uniformemente quando forem tensionadas nas polias para o início da operação.

ACONDICIONAMENTO O correto acondicionamento das correias agrícolas é um fator importante para que as www.cultivar.inf.br

Graxa pode atrapalhar e comprometer o desempenho das correias Maio / Junho 2002


O acondicionamento em prateleiras é o mais indicado. Numerar o local de armazenamento em ordem seqüencial facilita uma rápida identificação. Nunca acondicionar as correias perto de janelas que permitam exposição à irradiação solar, poeira, umidade e calor excessivo. Não se deve armazenar as correias em locais onde possam entrar em contato com óleos, graxas, ou qualquer outro material que possa vir a contaminar as correias.

Fotos Charles Echer

O mau alinhamento das polias pode comprometer a capacidade e diminuir o tempo de vida útil das correias

CUIDADOS NA OPERAÇÃO As correias quando expostas a óleos, gorduras, gasolina e outros solventes (especialmente combustível tipo diesel), tendem a perder suas propriedades físicas originais em razão de expansão dos materiais (borracha). Além disso, gordura ou óleo podem causar escorregamento e deixar a transmissão impossível de ser operada. Isso acontece porque correias tipo V dependem da fricção lateral com as polias para um funcionamento correto. Portanto, todo cuidado deve ser tomado para proteger as correias e as polias contra gasolina, combustível diesel, vazamento e derrame de óleo. Não pinte a correia nem tente protegê-la com qualquer tipo de material. Use-a em seu aspecto natural, como fornecida pelo fabricante.

CARGAS DE CHOQUE

Cultivar

Ocorrem freqüentemente em máquinas agrícolas, porque os motores são comumente invadidos por cargas repentinas, as quais, obviamente, acrescentam inesperadamente uma tensão extra à correia. Até certo ponto, uma partida de motor ou engajamento da embreagem de transmissão também causam uma sobrecarga instantânea. Todos esses fatores podem e normalmente resultam em vida útil mais curta, causando danos às correias. O efeito da

Correias duplas ou de conjunto sempre devem ser trocadas juntas

carga de choque deve ser minimizado com a operação adequada da máquina conforme instruções do fabricante.

CORREIAS GASTAS E QUEBRADAS Paredes laterais gastas/espelhadas indicam constantes derrapagens (deslizes), e o motivo pode ser: sujeira excessiva, polias com canais irregulares, óleo no sistema ou falta de tensão nas correias. Correias quebradas ou excessivamente gastas podem ser o resultado da presença de materiais estranhos entre a correia e a polia. Correia arrebentada, quebrada em pedaços (despedaçada), acontece quando a máquina pega velocidade e o condutor tenta parar de repente, puxando a alavanca. Portanto, deve-se evitar ao máximo os trancos , evitando assim a ruptura da correia. Maio / Junho 2002

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Quando a máquina estiver parada ou estacionada, esta deverá ficar em local coberto e fresco. Antes de deixá-la parada, a colheitadeira deverá ser lavada apenas com jatos d água, pois a utilização de produtos químicos diminuem a vida útil da correia. Não se deve pulverizar com óleo queimado a máquina após a lavagem e, se possível, afrouxe as correias. Cuidados básicos e simples com as correias podem resultar numa economia considerável, aumento do tempo de vida útil e maior rendimento da máquina. Após períodos de colheitas ou antes de iniciar a safra, é bom observar o estado das correias e substituí-las quando comprometerem o rendimento da máquina. . M Suzan Petter, Engenheira de Vendas

Divisão de Correias Agrícolas Goodyear Máquinas

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Monitoramento imagens

Vídeo na agricultura A

videografia multiespectral é uma nova técnica de obtenção de imagens surgida na década de 80, como alternativa às imagens de satélite e às fotografias aéreas convencionais. Seu objeti-

A videografia apresenta um amplo espectro de aplicações nas áreas de agricultura, engenharia e meio ambiente com informações em tempo quase real

vo é fornecer imagens multiespectrais de alta resolução para utilização em agricultura e meio ambiente. O desenvolvimento de sensoriamento remoto multiespectral aerotransportado

baseado em câmaras de vídeo digitais de baixo custo tem crescido rapidamente nos últimos anos a um nível em que tais sensores competem, agora, com sensores maiores e mais sofisticados no mercado de ma-

Antonio Cavalli

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Máquinas

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Maio / Junho 2002


A área coberta no terreno depende da resolução da câmera, da distância focal e da altura de vôo

COMO FUNCIONA Sendo um sensor remoto, as imagens obtidas pela câmera multiespectral emulam os canais 2, 3 e 4 do satélite Landsat, correspondentes às faixas do verde, vermelho e infravermelho próximo, o que o torna extremamente interessante para estudos de biomassa. Como as imagens digitais são formadas por uma matriz de pontos chamados pixels, a sua resolução é tanto maior quanto maior for o número de pixels que as compõem. A câmera de vídeo digital utilizada pelo IAC

apresenta uma matriz de 1380 por 1040 pixels, o que dá uma imagem de excelente resolução, permitindo visualizar alvos de até 10 cm2 no terreno. O quadro 1 mostra a relação entre as imagens obtidas pelo satélite Landsat e pela câmera de vídeo digital utilizada. A Figura 1 mostra o diagrama de funcionamento dessas câmeras, onde um prisma separa a imagem em três bandas Imagens multiespectrais espectrais. Cada uma de falsa-cor las pode ser configurada para obter qualquer resposta espectral numa amplitude de 400 a 1100 nm. Assim, se as bandas forem configuradas para se ajustar nas cores primárias (vermelho, verde e azul), a câmera passa a obter imagens coloridas com alto desempenho. Ao ser ajustada para verde, vermelho e infravermelho, a imagem obtida passa a ser colorida infravermelha, também conhecida como falsa cor . As imagens são forA resolução permite visualizar alvos necidas em faixas separade até 10 cm2 no terreno das (Portas 1, 2, 3, e 4), o que permite o processamento digital em Sistema de Informação resolução da câmera, da distância focal e da Geográfica (SIG) para a obtenção de parâ- altura de vôo. O quadro 2 mostra a cobermetros digitais para a fotointerpretação dos tura no terreno e a resolução da imagem para alvos terrestres. a câmera Duncan MS3100®, utilizada no A área coberta no terreno depende da sistema IAC de videografia.

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peamento comercial e de pesquisas científicas. Desse modo, a videografia multiespectral aerotransportada vem encontrando sua aplicação mais efetiva onde são necessárias escalas de imageamento maiores, tamanho de pixels de 0,1m a 2,0m no solo e recobrimento do terreno pelas imagens individuais numa amplitude entre 100m a 2km. Para diversas organizações estrangeiras, o desenvolvimento de tais sensores é uma alternativa vantajosa e econômica para a obtenção de dados. De fato, na última década, a videografia aerotransportada tem se desenvolvido rapidamente, de pequenos projetos de pesquisa por alguns poucos grupos nos Estados Unidos e Canadá, chegando atualmente a uma variada gama de aplicações comerciais e científicas em uso por centenas de usuários. Esse desenvolvimento e aceitação da videografia vêm sendo conseguidos fundamentalmente pelo relativamente baixo custo dos componentes desse sensor, o que tem permitido a muitos grupos de pesquisa e firmas de mapeamentos projetar e construir seus próprios sensores, ou ter seus dados obtidos a custos baixos, quando tais sensores já estão disponíveis no mercado.


...

Antonio Cavalli

A câmera é acoplada no piso da aeronave, ligada a um computador, em cujo disco rígido armazena as imagens obtidas

PARA QUE SERVE Sendo um sensor remoto de alta resolução, a videografia apresenta um amplo espectro de aplicações nas áreas de engenharia, agricultura e meio ambiente, podendo fornecer informações em tempo quase real, dadas às facilidades oferecidas pelo sistema digital de obtenção de imagens. As principais aplicações das imagens obtidas por videografia multiespectral são: agricultura de precisão; zoneamento de microbacias; monitoramento de uso do solo; detecção de pragas e doenças de plantas; estudos ambientais (avaliação de impactos); levantamentos florestais; identificação de vegetação ciliar; monitoramento de corredores ecológicos; acompanhamento de fenômenos naturais (secas, geadas, inundações); engenharia de transporte (estradas, linhas de transmissão).

O SISTEMA IAC A câmera é acoplada no piso da aeronave, ligada a um computador, em cujo disco rígido armazena as imagens obtidas. Um monitor instalado no painel da aeronave permite acompanhar a progressão do vôo no terreno. A Figura 2 mostra o diagrama de montagem do equipamento na aeronave. O que se espera da videografia?

IMPACTOS ECONÔMICOS Os resultados a serem obtidos certamente abrirão um novo segmento no mercado de sensoriamento remoto, propiciando o desenvolvimento de sistemas similares, tanto para pesquisas como para levantamentos

Instalação da câmera de vídeo no piso do avião, permitindo obtenção de imagens verticais

Quadro1- Sensibilidade espectral satélite/câmera de vídeo Sensor

Resolução (m/pixel)

Landsat 7 Vídeo

Comprimento de onda Verde (nm)

Vermelho (nm)

30 525-605 630-690 A partir de 0,1 510-580 635-690

Infravermelho (nm) 750-900 750-900

Fonte: Duncan Technologies (1999)

Quadro 2 - Cobertura no terreno e resolução de imagem em função da altitude, com distância focal da lente de 17 mm Altitude (m) 5.00 1.000 2.000 4.000

Cobertura no terreno (m) Horizontal Vertical 188 141 376 282 453 565 1506 1.129

Fonte: Duncan Technologies (2000)

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Resolução da imagem (m/pixel) 0,14 0,27 0,54 1,09

rotineiros de dados necessários a tomadas de decisão na agricultura de precisão. Prestadores de serviços especializados de aplicação de insumos por taxas variáveis têm demonstrado a intenção de agregar valor aos seus serviços com o uso de monitoramento de culturas por videografia multiespectral Empresas ligadas ao meio ambiente já vislumbram a possibilidade de montar seus próprios sistemas de videografia aerotransportada para monitoramento de áreas de preservação e manejo florestal. O próprio IAC pode vir a se beneficiar através da execução de estudos e projetos utilizando o sistema de vide-

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ografia multispectral para os mais diferentes clientes, nas áreas agrícolas e ambientais. A aplicação correta de insumos agrícolas nas lavouras, decorrente do uso dos mapas gerado pela videografia, resultará em economia significativa para os agricultores, evitando desperdícios. A correção do solo pela aplicação de taxas variáveis de insumos propiciará uma homogeneização do mesmo, aumentando a produtividade global das lavouras, pela racionalização do manejo agrícola.

IMPACTOS SOCIAIS Sendo uma nova tecnologia, a videografia pode gerar novas oportunidades de trabalho no âmbito dos prestadores de serviços em agricultura de precisão e gestão de meio ambiente. Como ela se utiliza de aeronaves, o meio rural vai exigir a formação de pilotos, de técnicos agrícolas e de engenheiros-agrônomos Maio / Junho 2002


Fig. 01- Esquema de funcionamento da câmera digital com filtros separadores de faixas espectrais.

Fonte: Duncan Technologies (1999)

Fig. 02 - Diagrama representando o sistema IAC de videografia multiespectral instalado na aeronave

IMPACTOS TECNOLÓGICOS O sistema de videografia multispectral aerotransportada constitui-se em nova tecnologia no campo do sensoriamento remoto de alta resolução espacial e permite aos pesquisadores a obtenção de suas próprias imagens, liberando-os dos entraves e dificuldades na obtenção de fotografias e imagens convencionais. Sua capacidade de obter dados espectrais com pixels de 0,1 a 2,0m abre um novo leque de opções para o mapeamento em agricultura de precisão e levantamentos agroambientais. O sucesso dos trabalhos desenvolvidos pelo IAC nesse campo serão fundamentais para a adoção da videografia como ferramenta tecnológica por agricultores inovadores, cooperativas, instituições de pesquisas agrícolas e ambientais e prestadores de serviços técnicos em agricultura de precisão e meio ambiente.

IMPACTOS CIENTÍFICOS Em recentes congressos de sensoriamento remoto, a videografia tem tomado posição de destaque, onde o número de trabalhos científicos vem aumentando continuamente, o que vem demonstrar ser uma tecnologia emergente, dado seu baixo custo e alta versatilidade. Pessoal técnico de nível superior começa a se envolver em projetos, sendo encorajados a desenvolver trabalhos científicos e teses na área de sensoriamento remoto com imagens videográficas de alta resolução. . M Antonio Carlos Cavalli,

habilitados na obtenção, interpretação e uso de imagens videográficas. Desenhistas especializados em cartografia digital serão requisitados para a execução de mapas rotineiros de aplicação de defensivos, produtividade e manejo das lavouras. A agricultura de precisão pode representar uma nova era no campo, na medida em que traz tecnologia de ponta para uma área reconhecidamente carente nesse aspecto. Novas relações de trabalho e novas demandas por profissionais especializados deverão seguramente ocorrer.

IMPACTOS AMBIENTAIS O sistema de sensoriamento remoto por Maio / Junho 2002

videografia multiespectral é uma tecnologia limpa , não interferindo no meio ambiente, por ser operado por aeronave com taxas reduzidas de ruído e emissão de gases de escape. A correta aplicação de defensivos agrícolas, decorrentes da utilização dos mapas videográficos, favorecerá a minimização de impactos ambientais causados pelo uso excessivo desses insumos, como ocorre na atualidade.

IAC

Centro de Engenharia e Automação/IAC

Antonio Cavali e Valdemar Maziero coordenam o trabalho no IAC

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Trabalho acidentes

A má conservação da máquina e a improvisação improvisação para garantir o dia de trabalho podem provocar acidentes graves

Acidentes com tratores C

to passou a ser um importante elemento, servindo de fonte de potência a diversos tipos de implementos e equipamentos, podendo, por isto, ser utilizado na execução de inúmeras tarefas. O crescente emprego Fernando Schlosser

oincidindo com o início da produção de tratores na década de 60, o trabalho manual foi sendo progressivamente substituído pelo trabalho mecanizado. O trator agrícola neste contex-

Os conjuntos tratorizados muitas vezes não estão adequados para o tráfego em rodovias

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dos conjuntos tratorizados em substituição ao trabalho manual e à tração animal pode ser caracterizado como um evento que trouxe várias conseqüências positivas. Entre elas, convém destacar que o trator agrícola colaborou para diminuir o esforço físico necessário para a execução de determinadas tarefas. Por outro lado, trouxe alguns aspectos negativos, entre os quais destaca-se o surgimento de uma nova fonte de acidentes de trabalho, na maioria dos casos de risco superior aos que ocorriam anteriormente. Embora haja uma carência de estatísticas oficiais bem como de trabalhos de pesquisa nesta área, não é difícil de se verificar na prática a importância dos acidentes de trabalho envolvendo tratores agrícolas, o que pode ser comprovado pela elevada freqüência e gravidade dos mesmos. Neste sentido, o presente artigo pretende trazer alguns elementos básicos a respeito de como os acidentes com tratores agrícolas se processam, de forma a embasar medidas de caráter específico e global que minimizem a ocorrência e a gravidade dos acidentes. Maio / Junho 2002


fini-los. Legalmente, a definição é dada pelo é preciso que um determinado evento proDecreto no 2.172, de 05 de março de 1997, duza lesões ao trabalhador para ser consino Regulamento dos Benefícios da Previ- derado acidente. dência Social . Segundo o artigo 131 desse A importância dos acidentes de trabadecreto, acidente de trabalho é o que ocorre lho que envolvem tratores agrícolas pode ser pelo exercício do trabalho a serviço da em- expressa em função de seu risco. O risco, presa, provocando lesão corporal ou pertur- por sua vez, é uma variável bidimensional, bação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Analisando-se outros pontos da legislação sobre acidentes de trabalho, verificase que são igualados os acidentes que ocorrem no local e no horário de trabalho; as doenças do trabalho, constantes ou não de relações oficiais; os acidentes que ocorrem fora dos limites da empresa e fora do horário normal de trabalho, estes sob certas condições. Da mesma forma, segundo a legislação brasileira, um determinado evento, para ser considerado acidente, deve obrigatoriamente causar lesões que prejudiquem a capacidade do trabalhador para a execução de seu trabalho. Levando-se em consideração a especificidade da definição legal, vários estudiosos do assunto propuseram um conceito técnico de aciOs agricultores improvisam no dentes, mais amplo, com um sentido de aumentar o conforto objetivo prevencionista. Segundo este conceito, os acidentes de trabalho são todas as ocorrências resultado do produto entre a freqüência e a não programadas que modificam a rotina gravidade das suas conseqüências (prejuínormal de trabalho, podendo resultar em zos). Embora careça de dados oficiais e/ou perdas de tempo e danos materiais ou físi- científicos, não é difícil comprovar na prácos ao trabalhador. Em outras palavras, não tica que a freqüência dos acidentes com conFernando Schlosser

Cultivar

A importância dos acidentes de trabalho que envolvem tratores agrícolas pode ser expressa em função de seu risco

Como ponto de partida para qualquer estudo relacionado aos acidentes de trabalho, torna-se necessário primeiramente de-

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DEFINIÇÕES E IMPORTÂNCIA


As causas dos acidentes com tratores agrícolas são definidas como sendo as condições ou atitudes inseguras

... juntos tratorizados é bastante elevada. Já os

No Brasil, estatísticas confiáveis a respeito da freqüência e gravidade dos acidentes com tratores agrícolas, conforme já mencionada anteriormente, são bastante raras. Todavia, um trabalho recente realizado pelo Núcleo de Ensaios de Máquinas Agrícolas (NEMA), ligado à Universidade Federal de Santa Maria (RS), em parceria com o Centro de Mecanização e Automação Agrícola (CMMA), do Instituto Agronômico de Campinas (SP), demonstrou que, na região Central do Rio Grande do Sul, ocorrem três acidentes de trabalho envolvendo máquinas agrícolas a cada 200 propriedades mecanizadas. Considerando o número total de propriedades existentes na referida região, estimase que ocorram 340 acidentes por ano envolvendo máquinas agrícolas somente nesta região. Deste total, os dados apontam que aproximadamente 75% (255 acidentes) envolvem, de alguma maneira, tratores agrícolas.

Charles Echer

prejuízos abrangem os operadores, os produtores agrícolas e a sociedade em geral. Com relação aos prejuízos ocasionados aos operadores, destaca-se o dano à sua integridade física, podendo resultar na perda temporária ou vitalícia de sua capacidade de trabalho ou até mesmo em sua morte. Enquadra-se aí, também, o sofrimento subjetivo e a angústia advindos do acidente, que acabam envolvendo não somente o operador, mas toda a sua família. Os produtores agrícolas, por sua vez, têm seus prejuízos traduzidos pelo tempo em que o operador fica sem trabalhar, pelo gasto na contratação de novos empregados ou mesmo pelos danos materiais ocasionados ao equipamento. Já a sociedade em geral sofre as conseqüências através do ônus gerado aos cofres da Previdência com o pagamento de indenizações, tratamento de reabilitação profissional ou benefícios.

Somente na região central do Rio Grande do Sul são registrados 340 acidentes com máquinas agrícolas por ano

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CARACTERÍSTICAS DOS ACIDENTES A caracterização dos acidentes com tratores agrícolas reveste-se de grande importância porque acidentes com características diferentes possuem causas e conseqüências específicas. Portanto, acidentes com características diferentes exigem práticas, na maioria das vezes, específicas para a efetiva minimização de seu nível de ocorrência e gravidade. Analisando-se a literatura disponível a respeito deste assunto, pode-se inferir que não existe uma metodologia criada especificamente para caracterizar os acidentes de trabalho envolvendo tratores agrícolas, como já ocorre de longa data no caso dos acidentes ocorridos em indústrias. Embora haja tentativas de extrapolar as metodologias empregadas na indústria para o caso específico dos tratores agrícolas, o mais usual é caracterizar os acidentes com esta máquina segundo o seu tipo, cuja definição não é bem clara. Apesar das dificuldades conceituais, pesquisas realizadas tanto no exterior como no Brasil, embora escassas, têm demonstrado que o tipo de acidente com tratores agrícolas de maior freqüência constitui-se no capotamento, ocorrido em 50 a 60% dos casos. O segundo tipo de acidente mais freqüente engloba as quedas de pessoas do trator com este em movimento que, em conjunto com os atropelamentos, respondem por 12 a 17% dos eventos. Outros tipos de acidentes envolvendo tratores agrícolas, de ocorrência comum, são as colisões do trator contra outros veículos ou obstáculos (5 a 14%), o contato com a tomada de potência (TDP) e outras partes ativas do trator (3 a 10%) e outros tipos (10 a 15%). Além do tipo, outras características relacionadas aos acidentes com tratores agrícolas são importantes. Uma dessas características é em que ocasião o acidente ocorre. Dados apontam que em países subdesenvolvidos, como o Brasil e a Índia, entre 40 a 50% dos acidentes acontecem durante o tráfego do trator em estradas e rodovias, sendo o restante em atividades de campo (preparo do solo, semeadura, entre outras), manutenção e no engate e desengate de implementos. A tendência de maior ocorrência de acidentes com tratores em estradas e rodovias em economias subdesenvolvidas pode ser explicada em função do uso do trator em atividades extra-campo, principalmente como veículo de transporte de passageiros, em substituição aos meios convencionais de transporte, inacessíveis à maioria dos produtores. Alia-se o fato de que as condições do trator para o tráfego em rodovias, especialmente no que se refere à iluminação e sinalização, são precárias consiMaio / Junho 2002


CAUSAS DOS ACIDENTES As causas dos acidentes com tratores agrícolas são definidas como sendo as condições ou atitudes inseguras que, se corrigidas a tempo, teriam evitado o acidente. O ato inseguro é a maneira como as pessoas se expõem, consciente ou inconscientemente, a acidentes. Condições inseguras, por sua vez, são as características do meio onde o trabalho é executado que comprometem a segurança do trabalhador ou, em outras

Fernando Schlosser

Os acidentes podem ocorrer a qualquer momento, desde que o operador tenha um atitude insegura

palavras, as falhas, defeitos e carência de dispositivos de segurança, que põem em risco a integridade física das pessoas. Atitudes e condições inseguras são consideradas como sendo causas genéricas de acidentes de trabalho, haja visto que cada uma delas engloba diversas causas específicas. Vários estudos têm indicado que aproximadamente 15 e 85% dos acidentes, respectivamente, são causados por condições

e atitudes inseguras, independente do setor produtivo considerado. Dados referentes aos acidentes de trabalho envolvendo tratores agrícolas que ocorrem na região central do Rio Grande do Sul confirmam a tendência apontada anteriormente. Segundo os referidos dados, cerca de 80% destes acidentes são causados por atitudes inseguras, enquanto 20% englobam condições inseguras, normalmente representadas por problemas

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derando a realidade da maioria das propriedades localizadas em países periféricos. Outra informação freqüentemente disponibilizada refere-se à idade. Trabalhos realizados nos EUA indicam que a probabilidade de morte, considerando os acidentes envolvendo tratores e máquinas agrícolas, é cerca de 17 vezes superior para os operadores com idade igual ou superior a 65 anos, comparativamente aos com idade entre 16 e 64 anos. Tempos de resposta mais lentos e menor capacidade de visão e coordenação motora são características que podem contribuir para o maior risco de acidentes com tratores agrícolas observado para os operadores com mais de 65 anos de idade.


Para reduzir custos e encontrar mercado numa agricultura em crise, os fabricantes são obrigados a retirar diversos componentes relacionados à ergonomia

inerentes ao trator agrícola. Na prática, o conhecimento das causas genéricas dos acidentes é de pouco valor em termos de segurança do trabalho. Com o intuito de delinear estratégias efetivas para a prevenção dos acidentes com tratores agrícolas, torna-se necessário conhecer as causas propriamente ditas. Em outras palavras, deve-se determinar com precisão quais condições e/ou atitudes inseguras que, se eliminadas, não teriam provocado o acidentemeio (ou evento perigoso). Cabe salientar que estas informações dificilmente encontram-se disponibilizadas. Novamente, dados obtidos pelo NEMA/UFSM apontam

tor em marcha neutra; Ingestão de bebidas alcóolicas; Permissão de passageiros junto ao posto de operação dos tratores agrícolas; Falta de proteção das partes móveis do trator e do implemento a ele conectado, entre as quais destacam-se o eixo da TDP, cardãs e dispositivos do tipo rosca sem-fim, muito comum em carretas graneleiras; Engate inadequado: relaciona-se ao engate do implemento em local inadequado, como por exemplo o fato de implementos, veículos ou objetos que deveriam ser engatados na barra de tração, serem acoplados no terceiro ponto do sistema hidráuli-

por diversas limitações humanas, as quais podem ser de natureza física, fisiológica, psicológica ou técnica. Quando estas limitações são ultrapassadas, ocorrem as falhas humanas que, conforme já especificado anteriormente, são as principais responsáveis pela ocorrência dos acidentes envolvendo tratores agrícolas. Cabe destacar que as limitações humanas dependem de características próprias do operador (peso, idade, medidas corporais, força, condição emocional, experiência, conhecimento a respeito da atividade, entre outras), mas são diretamente influenciadas pelas condições inerentes ao trator, à organização do trabalho e ao ambiente externo. As pesquisas conduzidas pelo NEMA/UFSM têm mostrado que mais de 80% dos operadores de tratores agrícolas nunca participaram de cursos de treinamento operacional referentes a esta máquina. Apesar disso, os operadores demonstram conhecer as regras de segurança mais importantes, relacionadas às seis causas majoritárias anteriormente citadas. Porém, na prática, os próprios operadores confessam não adotar as referidas medidas de segurança. Por exemplo, os dados obtidos mostram que cerca de 80% dos operadores permitem a presença de passageiros junto ao posto de operação. Disto, depreende-se que a ação prioritária, além da maior disponibilização de cursos de treinamento operacional e em segurança, é a conscientização dos operadores a respeito do elevado risco ligado ao trabalho com tratores agrícolas. No que se refere aos tratores agrícolas, pode-se destacar três problemas básicos que o tornam limitante quando se fala de acidentes de trabalho. Primeiramente, em países em desenvolvimento como o Brasil, os projetos dos tratores são normalmente importados de outros países, especialmente da Europa e dos Estados Unidos. Para reduzir custos e encontrar mercado numa agricultura em crise, os fabricantes são obrigados a retirar diversos componentes relacionados à ergonomia (definida como a ciência que visa adaptar o trabalho às limitações humanas) e segurança, tais como cabinas, estruturas de proteção contra o capotamento, proteção das partes ativas, escadas adequadas para o acesso ao posto de operação, requisitos para o tráfego em rodovias, entre outros. Assim, na maioria dos casos, os tratores em comercialização no Brasil não satisfazem plenamente os princípios de ergonomia e segurança, embora atualmente é justo destacar que os fabricantes têm dado maior atenção ao tema. Fernando Schlosser

...

A vida útil dos tratores no Brasil é bastante alongada em função das dificuldades em renovar a frota

que aproximadamente 75% dos acidentes que envolvem tratores agrícolas na região central do Rio Grande do Sul são frutos de 6 causas principais: Operação do trator em condições extremas: refere-se ao uso do trator em situações além dos limites para os quais foi projetado. Dentre estas situações, destacam-se o trabalho em terrenos de declividade acentuada e a aproximação excessiva da máquina em relação a valos, barrancos ou outros obstáculos; Perda de controle em aclives/declives: pode ser desdobrada nas seguintes causas: insucesso na mudança de marcha com o trator em movimento, tração de carretas agrícolas com excesso de peso e sem sistema próprio de freios, acionamento do freio de apenas uma das rodas traseiras do trator e a descida em declives acentuados com o tra-

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Máquinas

co. Isto culmina no capotamento do trator para trás. Portanto, pode-se inferir que a observação de apenas seis cuidados básicos pode reduzir a probabilidade de ocorrência do acidente em mais de 70%.

CONDIÇÕES DE SEGURANÇA As condições de segurança na operação de tratores agrícolas devem ser avaliadas mediante a análise do fator homem (operador), fator máquina (trator), a organização do trabalho e o ambiente externo. Em conjunto, eles são os responsáveis pela ocorrência dos acidentes de trabalho envolvendo conjuntos tratorizados. Dentre os fatores citados anteriormente, merecem destaque os operadores e os tratores agrícolas. Os operadores de tratores agrícolas são caracterizados www.cultivar.inf.br

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Principalmente em modelos de maior porte, pode-se observar melhorias consideráveis nestes aspectos. Em segundo lugar, a maioria dos usuários dá pouca importância aos elementos de ergonomia e de proteção nos tratores agrícolas. Dados de pesquisa mostram que a ergonomia e segurança não são levadas em consideração como fator de escolha no momento da aquisição do trator. Além disso, os agricultores negligenciam a manutenção de itens relacionados ao conforto e à segurança, por não serem imprescindíveis ao funcionamento da máquina. Por último, a frota de tratores, na maior parte do país, pode ser considerada bastante envelhecida. Neste sentido, cabe salientar que os tratores agrícolas encontrados na região central do Rio Grande do Sul possuem um tempo médio de uso superior a 17 anos. Máquinas antigas são mais perigosas que as mais modernas, levando-se em consideração o desgaste natural da máquina, o que aumenta a possibilidade de ocorrência de falhas mecânicas que podem culminar em um acidente, e o fato de que máquinas mais modernas possuem características ergonômicas e de segurança superiores às antigas.

Em função dos problemas anteriormente expostos, pesquisas têm apontado que os tratores agrícolas em uso no Brasil, na maioria dos casos, são muito inseguros além de não oferecer conforto ao operador. Por exemplo, na região central do Rio Grande do Sul, apenas 3% dos tratores são equipados com cabinas, sendo que quase 70% não possuem estruturas de proteção contra o capotamento. Cabe destacar ainda que o NEMA/UFSM, através de um trabalho de dissertação de mestrado, criou o coeficiente parcial de ergonomia e segurança em tratores agrícolas usados (COPES), que consiste num valor de 0 a 100 atribuído em função da presença e estado de conservação de 57 itens relacionados à ergonomia e segurança. Os tratores analisados na pesquisa obtiveram um COPES médio inferior a 35. Isto indica que, em média, os tratores analisados não atenderam a 35% dos requisitos previstos pelo COPES.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no que foi brevemente apresentado e discutido anteriormente, a minimização do risco de acidentes de trabalho envolvendo tratores agrícolas, de uma

maneira genérica, deve abranger três aspectos principais. Em primeiro lugar, é necessário que sejam oportunizados com maior freqüência cursos de treinamento na operação de tratores agrícolas, que abordem também o tema segurança, dando ênfase, sob este aspecto, à conscientização do operador. Outro aspecto de fundamental importância centra-se na melhoria dos projetos dos tratores no que se refere às condições de ergonomia e segurança, juntamente com a continuidade programas que incentivem a renovação da frota, como o Moderfrota. Por último, mas não menos importante, está a formulação e aplicação imediata de legislação específica sobre assunto, que cobre, tanto dos fabricantes quanto dos proprietários e operadores, a observação de medidas que visem à redução da freqüência e gravidade dos acidentes. Um exemplo desta legislação é o Código de Trânsito Brasileiro; porém, a parte referente às máquinas agrícolas ainda não foi regulamentada, de forma que ela, na .M prática, não vem sendo aplicada. Henrique Debiasi e José Fernando Schlosser, NEMA UFSM


Combustível alternativa

A força do girassol Óleo extraído da semente pode substituir o diesel e render até 20% a mais

U

te, mas neste caso trata-se muito mais de uma validação de tecnologia que se pesquisa em si . Temos por certo que há, de fato, necessidade da validação da tecnologia, principalmente porque o nosso clima não sendo frio, pouco conhecemos sobre a obtenção do óleo de colza ou mesmo sobre a tecnologia agrícola para produção desta espécie, que talvez seja cultivada em regiões com restrições climáticas a outras oleaginosas, apesar de possuir alto teor de óleo. A espécie que escolhemos é o girassol, com grandes vantagens como veremos adiante.

A PRODUÇÃO E USO DO ÓLEO VEGETAL Com o desenvolvimento pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos do Estado de São Paulo ITAL das mini ou pequenas prensas portáteis para extrair óleo de grãos de espécie com teores superiores a 40 %, encontramos um meio simples e fácil de obter óleo vegetal na propriedade rural. Estas prensas contínuas, produzidas em escala comercial por duas indústrias, localizaSérgio Sugahara

sar óleo vegetal como combustível não é nenhuma novidade, uma vez que isto remete aos primórdios da concepção do motor diesel. Estes óleos podem ser usados na forma direta, como são obtidos, ou transesterificados através de processos químicos que consistem basicamente na retirada de glicerina para uso em motores que não queimam totalmente estas moléculas. A adoção definitiva em motores de ciclo diesel deve ser analisada tanto pelo aspecto da viabilidade econômica quanto da técnica de adaptação ou não dos atuais motores e, evidentemente, na escolha das oleaginosas em função das características edafo-climáticas de cada região. Na edição n.º 07 de janeiro / fevereiro de 2002 desta nossa revista, o consultor técnico Arno Dallmeyer, referindo-se ao biodiesel, afirma: A mídia está fazendo grande alarde sobre algumas pesquisas com este combustível, derivado basicamente do óleo de colza transesterificado. A pesquisa do tema é importan-

Testes mostraram que o motor rende 20% a mais com óleo de girassol, sem causar nenhum problema à máquina

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Máquinas

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das nas cidades de Bauru Ecirtec Rua Dr. José Raniéri l 80 CEP. 17030-370 fone (14) - 2312256 e Manduri Ominsa Rua Amazonas nº 500 CEP. 18780-000 fone (14) - 3561673, no Estado de São Paulo têm capacidade para processar 40, 80 ou 300 kg. de grãos de girassol por hora, rendendo em torno de 70 % do óleo existente no grão. Os cultivares de girassol comercializados no Brasil possuem de 40 a 50 % de óleo. Este óleo, após a prensagem, passa por um processo físico de filtragem, obtendo-se um produto puro, limpo e natural. Na fazenda Ataliba Leonel, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo destinada à produção de sementes, é onde estamos fazendo nossos testes, usando diretamente o óleo de girassol. Ele é extraído nessas prensas e apenas filtrado. Não estamos retirando a Maio / Junho 2002


Sérgio Sugahara

glicerina, supondo que nada de anormal ocor- novação de cana. O biodiesel seria usado nas rerá com o motor do trator, provavelmente ape- máquinas e nos caminhões canavieiros. nas maior constância na limpeza de bicos injetores. A CULTURA DO GIRASSOL O trator em uso no momento é o seApesar de ter sido introduzido no períogundo dos testes e, assim como o primeiro, não tem apresentado nenhum problema me- do da colonização, pouca expressão econôcânico, e ainda constatamos na prática me- mica teve a cultura do girassol no Brasil até a lhora no rendimento do motor com econo- década de 90, apesar da existência de algumia de combustível em torno de 20%, com- mas áreas significantes na década de 80, por parado com o diesel comum. Não estamos tentativa de empresas de sementes e óleo. Os cultivares de então eram susceptíusando a tecnologia de transesterificação do óleo de girassol porque nosso objetivo é veis a algumas doenças como a ferrugem, transferir ao produtor rural, depois dos tes- por exemplo, apresentavam baixas produtes efetuados, uma metodologia simples de tividades, baixo teor de óleo, problemas de produção e uso de óleo vegetal, que possa comercialização e os agricultores pouco colevá-lo a auto-suficiência de combustível. Os trabalhos de transesterificação no óleo de girassol extraído em nossas miniprensas vêm sendo desenvolvidos na USP / Ribeirão Preto, na faculdade de Química, área de orgânica e em escala comercial pela Soyminas Biodiesel na cidade de Cássia MG, com produção de biodiesel e diversos produtos Dilson Caceres mostra os benefícios da utilidade derivados da gliceride óleo de girassol em substituição ao diesel na. Essa tecnologia será oferecida às associações de produtores nheciam da tecnologia agrícola. Atualmente, graças aos trabalhos de merurais que poderão em conjunto produzir o biodiesel, ficando auto-suficientes em com- lhoramento genético e difusão tecnológica bustível, agregando valores à produção com conduzidos pela EMBRAPA, CATI, IAC, ala venda de glicerina. Associações de produ- gumas Universidades, outros Institutos de Pestores de cana-de-açúcar enquadram-se per- quisa e, recentemente, com a fundação da Asfeitamente nestas condições, uma vez que sociação Brasileira de Girassol, podemos afiro girassol pode ser plantado em áreas de re- mar que o girassol vem se consolidando como

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Joana Becker

Existem vários trabalhos de pesquisa sobre uso de óleo vegetal in natura em motores com injeção direta e indireta


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cultura de expressão no Brasil. Neste último ano agrícola ultrapassamos a área de 100.000 hectares, apresentando potenciais produtivos semelhantes aos de países tradicionais produtores, como verificamos nos ensaios de avaliação de genótipos conduzidos pela Embrapa Londrina em várias regiões brasileiras. A espécie tem características ímpares. É grande produtora de óleo de excelente qualidade, com 70 % de ácidos graxos poliinsaturados em média, principalmente o linoleico, como pode ser verificado no quadro 1. As raízes são do tipo pivotante, promovem grande reciclagem de nutrientes, exploram grande volume de solo e buscam sais minerais em camadas não alcançadas por raízes de outras culturas. Aproveita, portanto, muito bem a adubação residual da cultura anterior, além de proporcionar considerável quantidade de matéria orgânica deixada no solo ao final do ciclo. É por excelência uma planta melhoradora de solos Devido a maior eficiência na absorção de água e maior tolerância a baixas temperaturas, o girassol é indicado como segunda cultura e proporciona aumentos de produtividades nas culturas posteriores. Estima-se que estes aumentos são de 15 a 20 % para milho e 10 a 15 % para soja, porém, para que o girassol faça uso de todo este potencial do sistema radicular, é necessário que o solo esteja bem preparado, eliminando possíveis camadas de impedimento físico e corrigindo o pH, caso este esteja abaixo de 5,2, elevando o índice de saturação de bases para 70 %. O plantio de outono, ou safrinha, é outra grande vantagem da cultura de girassol, uma vez que as culturas desse período não são exatamente as maiores formadoras da renda da propriedade agrícola, que são normalmente as grandes culturas de verão.

CUSTO DE OBTENÇÃO DO ÓLEO O custo de produção desse óleo combustível está em função direta da tecnologia empregada na produção de grãos, resultando conseqüentemente em maior ou menor produtividade agrícola. O que deve ser procurado é a melhor relação custo/benefício, observando que alguns dos benefícios, não são mensurados diretamente, como melhoramento do solo, incrementando produtividades nas próximas culturas; controle de algumas ervas daninhas, através do efeito alelopático; formação de fitomassa para plantio direto e outros; e como benefícios diretos a produção de 30 Kg de mel por hectare, através da apicultura bem manejada e o uso ou venda da torta resultante da prensagem, com largo emprego na alimentação de animais devido às boas características bromatológicas, como pode ser verificado na tabela 1. A venda desta torta a R$ 0,25 / kg, que é preço corrente no mercado,

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Máquinas

Sérgio Sugahara

O que deve ser procurado é a melhor relação custo/benefício, observando que alguns dos benefícios não são mensurados diretamente

Prensas com operação simplificada podem processar de 40 a 300 Kg de girassol/ hora

paga parte do custo de produção e extração do óleo, se consi-derarmos um custo de produção de R$ 500,00 / hectare para um rendimento médio de 1.500 kg. de grãos também por hectare. O rendimento de óleo será de aproximadamente 500 litros / hectare. Alertamos que o preço das sementes variedade é normalmente 1/5 do preço das sementes híbridas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O nosso objetivo é transferir ao produtor rural a tecnologia agrícola para produzir girassol, extrair o óleo e fazer uso para movi-

Quadro 1 DETERMINAÇÕES Índice de peróxido (MEQ/Kg) Ácidos graxos livres, em ácido oleico (G/100g) Composição em ácidos graxos Saturados Monoinsaturados Poliinsaturados

RESULTADOS 5,7 +- 0,3 1,46 +- 0,00 (%) 11,5 14,07 74,5

Tab.1 - Composição média centesimal da torta de girassol obtida por prensagem a frio Umidade Matéria graxa Proteína Calorias ( Kcal / Kg ) Cinza bruta Carbohidratos

8% 16,6 % 22,9 % 4.350 3,9 % 48,6 %

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mentar tratores, colheitadeiras, picadeiras, motores de irrigação, e de geração de energia elétrica, etc., partindo de conceitos de viabilidade na substituição total do diesel fóssil esgotável em 30 anos por diesel vegetal, renovável e, ao mesmo tempo em que estará sendo auto-suficiente em energia, estará preservando o meio ambiente, contribuindo para diminuir a carga de poluentes em artigo publicado na Folha de São Paulo em 9 de abril de 2.002, o economista Eduardo Pereira de Carvalho escreve Enquanto no Brasil o óleo diesel comum pode apresentar até 3.500 ppm (partes por milhão) de enxofre, o produto europeu está limitado a 350 ppm e ao mesmo tempo divulgando a escola da biomassa que prepara o homem para esta nova matriz energética. Com relação aos motores diesel, reafirmamos que os problemas possíveis de ocorrer serão passíveis de solução. Existem vários trabalhos de pesquisa sobre uso de óleo vegetal in natura em motores com injeção direta e indireta e com uso de óleo vegetal transesterificado. Nenhum desses estudos inviabiliza o uso desse combustível, portanto queremos fazer dos conceitos a prática, incluindo a produção da oleaginosa e o método prático e fácil de obtenção do óleo. Esta é nossa contribuição para equacionarmos um dos problemas da agricultura no Brasil: a produção de energia. Em se plantando tudo dá, principalmente na América do Sol, como diria Oswald de Andrade, citado por Gilbert F. Vasconcellos no brilhante artigo (A civilização dos hidratos de carbono) caderno mais! de 27 de maio .M de 2.001da Folha de São Paulo. Dilson Rodrigues Caceres, Núcleo de Produção de Sementes de Ribeirão Preto / DSMM / CATI Maio / Junho 2002


História

máquinas agrícolas

Maior e mais novo do setor, o Museu de Máquinas Agrícolas da Agromen impressiona pela diversidades das peças

História preservada tivo recuperar e conservar algumas máquinas que contribuíram durante muito tempo nos trabalhos desenvolvidos na fazenda da família de José Ribeiro de Mendonça, fundador e presidente da Agromen. A primeira máquina a fazer parte do acervo foi comprada nova, antes mesmo de a empresa existir, um Ferguson 35, fabricado no Canadá, foi adquirido em 1953 e utilizado

Fotos Francisco Sampaio

tórico sobre trajetória da agricultura mecanizada no Brasil. O local é convite ao passado e remete o visitante à história das primeiras máquinas agrícolas que chegaram ao Brasil e que muito contribuíram para o crescimento do setor. O que hoje pode ser considerado como maior do Brasil, no setor, nasceu de uma idéia despretensiosa que tinha como obje-

Case de 1919, com apito semelhante ao de uma locomotiva, é a peça mais rara do acervo Maio / Junho 2002

Oliver 80 Row Crop necessitou de pesquisa internacional e peças vindas dos Estados Unidos www.cultivar.inf.br

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poucos quilômetros da cidade de Orlândia, na macroregião de Ribeirão Preto, São Paulo, encontra-se o maior e mais novo museu de máquinas agrícolas do país. Inaugurado na primeira semana de maio, o Museu Agromen de Máquinas Agrícolas possui uma área de aproximadamente 3.200m2 onde estão expostos exemplares de alto valor his-


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durante 30 anos na fazenda da família. Um similar do primeiro trator da família também está no museu. O original, um Massey Harris 33, adquirido em 1947, perdeuse com o tempo, mas outro com as mesmas características foi encontrado e restaurado. Distribuídas pelo jardim da empresa, as poucas máquinas expostas já chamavam a atenção das pessoas pelo ótimo estado de conservação. Após alguns anos, a idéia transformouse no projeto de um museu de máquinas agrícolas, quando mais raridades foram adquiridas e somavam-se às peças já restauradas. Com um acervo grande, foi necessário projetar um prédio para proteger as máquinas. Movidos pela vontade de auxiliar na preservação da história nacional, que se desmanchava em pátios pelo Brasil, um movimento de toda Agromen levou à criação do museu, hoje instalado em prédio adequado, com mais de 200 vagas de estacionamento. De norte a sul do país, representantes, colaboradores e amigos saíram em busca de tratores, colheitadeiras, implementos e peças antigas que pudessem ser de interesse. Algumas pessoas, ao saberem da formação do museu, doaram espontaneamente máquinas ou implementos que até então guardavam com carinho em suas propriedades. Parte do acervo encontra-se, também, disposto ao ar livre, intencionalmente, em gramados ao redor do prédio principal, compondo o entorno do museu. Hoje, o museu conta com 210 peças, sendo 150 tratores e 60 implementos catalogados que, literalmente, arrancam suspiros de quem passa pelo local, sejam eles aficionados por máquinas, pesquisadores ou até mesmo simples curiosos. Com a inauguração e a abertura para visitação do público, com certeza, novas peças surgirão. Outro prédio, este de 1.000m2, está sendo

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Máquinas

Minneapolis-Moline em duas fases de fabricação: com rodas de ferro e, posteriormente, pneus

erguido para receber colheitadeiras e outros implementos antigos que estão aguardando um abrigo.

RESTAURAÇÃO COM PACIÊNCIA Quem visita o museu não tem idéia do estado original em que estas máquinas são encontradas. Como são descobertas em todo o Brasil, muitas delas podem ter ficado abandonadas debaixo de sol e intempéries por muitos anos, sem receber nenhum tipo de cuidado. A restauração destas peças é um trabalho difícil, demorado, que requer grande dose de paciência e determinação. Em alguns casos, só foi possível montar um trator original utilizando-se peças de até três sucatas em estados de conservação dos mais diversos e pesquisas em catálogos e livros do exterior. A partir destas buscas foi possível construir peças e até mesmo adesivos, confeccionados como os originais, da época de fabricação das máquinas. O tempo de restauração de algumas peças pode variar de 60 dias até um ano inteiro. Um trator Oliver, de rodas de ferro, localizado no Sul de Minas Gerais, é um exemplo da necessidade da pesquisa internacional, já que o mesmo demandou, para a restauração do capô, das rodas dianteiras e de algumas outras peças, catálogos específicos vindos dos Estados Unidos.

lo funcionar deve-se acender um charuto ou cigarro e lançá-lo dentro de um espaço determinado do motor. O condutor consegue ligar o trator acionando em seguida uma manivela. É uma peça rara e a Agromen desconhece a existência de outro exemplar no Brasil. As peças expostas retratam também o

Charles Echer

Minneapolis-Moline R destaca-se pelas cores e design arrojados

Charles Echer

Francisco Sampaio

Algumas pessoas, ao saberem da formação do museu, doaram espontaneamente máquinas ou implementos que até então guardavam com carinho em suas propriedades

MODELOS O museu tem hoje como peça mais antiga um Fordson de 1908. Contudo, a mais rara é um trator americano Case Modelo FG ZSM 713 15-27, de 1919, de rodas de ferro, motor transversal e dotado de um apito similar ao das antigas locomotivas. O mecanismo de ignição desta unidade surpreende pela sua originalidade. Para fazê-

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Porshe-Diesel Júnior de uma série que começou a ser produzida em 1956 e durou até 1962 Maio / Junho 2002


AMPLIAÇÃO O museu conta hoje com 210 peças restauradas, mas encontrase em permanente ampliação. A grande maioria das peças existentes chegou até a Agromen através de seus clientes e funcionários que, ao encontrar uma máquina antiga, fotografaram e enviaram a foto para o museu. Segundo o Diretor Geral da Agromen, Francisco Sampaio, se alguém tiver alguma peça que considere importante para o museu basta fotografá-la e enviála o seguinte endereço: Agromen Sementes Agrícolas, Rua Quatro, 620 CEP: 14620-000 - Orlândia, SP. Todas as peças que possam ampliar e enriquecer o valor histórico do museu são bem-vindas, garan.M te Francisco. Maio / Junho 2002

Fotos Charles Echer

desenvolvimento no setor de máquinas agrícolas, impulsionado pelo crescimento da indústria automobilística. No final da década de 40 e início da de 50, a Ford era já uma organização comercial moderna que oferecia sonhos de consumo e de produtividade no campo em forma de veículos com rodas mesmo que pesadíssimos. O Brasil e o resto do mundo importaram diversas unidades dos modelos Ford 8N e Ford 9N. Outra empresa que também forneceu tratores ao Brasil os CUB foi a International Harvester (MC Cormick, Deering-Farmal). Bastante atenção também chama a família dos vermelhinhos, tratores das marcas Massey-Harris e Ferguson, que são as formadoras da atual Massey Ferguson, líder no mercado de tratores no Brasil. O interesse maior dos visitantes do museu geralmente recai nas unidades de rodas de ferro da década de 20 ou 30 ou em peças diferentes dos diversos modelos das marcas Oliver, Ford, John Deere, Case, Allis Chalmers, Internacional (Farmal), Minneapolis-Moline, Cockshut, David Brown, (dos Estados Unidos), Ferguson (Canadá), Deutz e Lanz (Alemanha), Ursus (Polônia), Landini (Itália) e outras. Embora de pequeno porte, uma peça que chama atenção dos visitantes é o trator Porshe-Diesel Júnior alemão, da década de 60, que pertence a uma série que começou a ser produzida em 1956 e durou até 1962. Na coleção há, ainda, peças curiosas como ceifadeiras de trigo e arroz puxadas a trator, colheitadeiras também rebocadas por trator, ceifadeiras e roçadeiras a tração animal, tratores de esteira com levante por meio de cabos de aço e tratores de esteira tão pequenos que parecem de brinquedo, quando comparados aos que se produzem hoje.

Ford modelo 8N de 1949, com quatro cilindros, movido a gasolina

Lanz Buldog, com pneus de borracha, fabricado na Alemanha

Case modelo LA, movido a querosene, todo em vermelho www.cultivar.inf.br

Máquinas

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Francisco Sampaio

Estima-se que na mencionada década havia no país uma população de 50.000 tratores, oriundos de 150 fabricantes diferentes, e representados por cerca de 450 modelos

Um Museu de valor

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Fachada do museu de máquinas agrícolas Agromen, construído para abrigar as peças recuperadas pela empresa

combustíveis diferentes (carvão ou lenha, gás, querosene, gasolina e óleo diesel). O grande impulso de importação brasileira, no entanto, veio após a segunda guerra mundial com os planos governamentais de desenvolvimento apoiando os diversos setores industriais e o agrícola, concentrado na região Sul. A década de 1950-60 foi a mais marcante neste setor. Por conta do citado desenvolvimento, importou-se tratores (e implementos correspondentes) dos mais variados tipos e das mais variadas origens. Claro que predominavam os americanos e alemães, mas o próprio Museu Agromen retrata a diversidade de origens. Estima-se que na mencionada década havia no país uma população de 50.000 tratores, oriundos de 150 fabricantes diferentes, e representados por cerca de 450 modelos. Imagine-se os problemas de

Charles Echer

m povo que não tem passado é um povo sem futuro, vem a afirmativa do cotidiano popular. Tantas outras frases cunhadas nos dão conta de que é necessário construir o futuro, com um olhar no passado. Temos que olhar para trás, não para ser retrógrados, mas para aprender com o passado. Com seus erros, mas também com seus acertos. E aí reside, a meu ver o valor de um museu, seja de que segmento for. No caso da mecanização agrícola do Brasil, importante setor do agrinegócio do País, existe agora um repositório riquíssimo, o Museu da Agromen, em Orlândia-SP. O País vinha importando tratores desde o início do século 20, para auxiliar nas lides da lavoura cafeeira, por isto as maiores ocorrências daquela época estão em São Paulo e no Sul de Minas Gerais. Nos Estados Unidos, por volta de 1920 havia 180 fabricantes (embora alguns não passassem de pequenas ferrarias), produzindo tratores movidos a 5

assistência técnica, e reposição de peças, daí decorrentes. Este caos comercial acabou desencadeando a instituição do Plano Nacional da Indústria de Tratores Agrícolas, em 1959, e que trouxe inicialmente 6 fabricantes a se instalarem no Brasil. Mas isto é outro capítulo de nossa história... Confesso que fiquei vivamente impressionado ao visitar o Museu na semana de sua inauguração. Por vários motivos, a saber: pela quantidade de exemplares da coleção. É a maior coleção de que se tem notícia, no mundo. Pode haver exemplares mais raros, mais antigos, ou algo assim, mas 150 tratores, e mais 60 outras peças de equipamentos, vai ser muito difícil de achar! pela qualidade da restauração. É fácil de entender que os exemplares chegaram, muitas vezes, literalmente aos pedaços. E o trabalho foi feito em casa , nas instalações da própria empresa, com pessoal local. Mais valor a dar ao Museu. pela rapidez da montagem. Quase todo este acervo, ao que consta foi adquirido e posto em condições em cerca de um ano ou ano e meio. Respeitável capacidade de organização e trabalho! pela proposta. O Museu é aberto, tanto à incorporação de novos exemplares, quanto à visitação. Embora seja uma coleção particular, está posta para servir à comunidade. E é importante que todos quantos tenham interesse, e necessidade, dela se sirvam. A gentileza e o interesse de seu instituidor e seus colaboradores nos dão a garantia de uma longa vida de contribuição à cultura material deste setor do agronegócio, a mecanização agrícola, reforçando num crescente sucesso obtido nos primeiros dias de funcio.M namento. Arno Dallmeyer

Presidente da ABRAME Associação Brasileira de Mecanização Agrícola

Entrada do museu enche os olhos, impressiona e leva o visitante a uma verdadeira viagem ao passado

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Máquinas

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Agromen

ualquer profissional ligado ao meio rural, seja ele um trabalhador braçal, um promissor empresário agro-industrial ou até mesmo o mais titulado técnico do setor primário, com certeza ao visitar o Museu de Máquinas Agrícolas do Centro Hípico Agromen em Orlândia/SP, sentirá, racionalmente, um grande orgulho de pertencer a uma elite profissionalizada brasileira, que pode contar com um acervo histórico de equipamentos de trabalho, principalmente de tratores agrícolas, que cuja importância, maior do que o número de exemplares, é a representatividade mundial de máquinas e equipamentos produzidos em vários países, demonstrando a capacidade do

Francisco de Abreu Sampaio, diretor da Agromen Sementes, projetou o museu

Francisco Sampaio

Tratores: razão e emoção

Família John Deere é a mais numerosa do museu, somando 30 peças entre os populares quarentinha e peças mais raras

homem em gerar tecnologias necessárias ao desenvolvimento do agronegócio. O trabalho de aquisição, restauração, organização e exposição dessa coleção de tratores que datam fabricação desde o início do século passado, é um exemplo de idealismo, profissionalismo, competência e determinação dos proprietários e de toda a equipe de colaboradores da Agromen Sementes Agrícolas Ltda. Ao mesmo tempo que enaltecemos nesta oportunidade esse exemplar trabalho de recuperação e manutenção da memória da mecanização agrícola brasileira, realizado pela Empresa Agromen, gostaríamos de lembrar aos dirigentes de instituições estatais (Cen-

COLHE MAX

tros de P&D, Universidades, Empresas de Economia Mista , Secretarias de Agricultura, entre outros), que na impossibilidade sejam por quaisquer razões imagináveis de recuperar, conservar e expor ao público seus exemplares de máquinas e implementos agrícolas históricos e memoráveis, oportunizem de forma legal, profissional e patriótica a cessão desses equipamentos ao Museu da Agromen, uma vez que na maioria dos casos se encontram abandonados e deteriorados pelos tempos cronológico e climatológico. . M Luiz Antonio Daniel,

Dir. Rel. Institucionais ABRAME , Professor UNICAMP


Opinião

PEÇAS

Vale a pena ser original ?

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xiste, há muito, uma discussão sobre a validade de usar peças e componentes originais ou não em nossas máquinas agrícolas. Inicialmente vejamos o que é original : são consideradas as peças e componentes fabricados, ou homologados, pelos respectivos fabricantes de máquinas e implementos agrícolas. Atualmente com os programas de qualidade vigentes na maioria das empresas de máquinas de grande porte como tratores e colhedoras a garantia de fornecimento deve ser ainda maior e as margens de tolerância mais estreitas. As indústrias são em verdade montadoras de máquinas e não fabricantes propriamente ditos, pois se valem em grande percentagem de componentes fabricados por outros, chamados de fornecedores. Os fornecedores podem ter contratos de exclusividade de fornecimento ou não. As peças de reposição, assim como as destinadas às linhas de montagem, já saem das fábricas dos fornecedores devidamente embaladas e acondicionadas. Este procedimento diminui os riscos de fraude. Este tipo de peça tem toda a garantia de qualidade do fabricante, pois é por ele autorizada, e fabricada de acordo com suas especificações. O termo especificações não compreende apenas aspectos dimensionais, como às vezes é interpretado, mas também processos de fabricação, materiais, dureza, e revestimentos superficiais (pintura, por exemplo). Por estes cuidados na fabricação, e nas especificações os fabricantes de máquinas estendem a garantia às peças como se fossem de sua própria fabricação. Aliás, não há distinção de tratamento entre as origens. Há no mercado outro tipo de peças, as não originais, isto é, as que não tem a marca da montadora que por elas se responsabiliza. Deve-se distinguir entre peças do mercado paralelo e peças não conformes, conhecidas como piratas . As peças do mercado paralelo são anunciadas como sendo com as mesmas especi-

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Máquinas

ficações das originais, porém mais baratas. Cabe aí um certo cuidado, pois pode haver uma pequena diferença de preço, pois as peças do paralelo não têm os custos de embalagem e da tramitação na montadora. Mas estes valores não podem ultrapasCharles Echer

Arno Dallmeyer é Consultor Técnico da Cultivar Máquinas e Professor Titular de Máquinas Agrícolas no CT/UFSM

sar cerca de 20% do valor da peça original. Quando a diferença de preço for muito maior, desconfie: ou as especificações não são idênticas, ou alguém está cobrando um preço muito alto... As peças do mercado paralelo podem ser

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fabricadas especificamente para tal fim, ou serem peças que não passaram pelo controle de qualidade das originais, e então serem desviadas para o mercado paralelo, numa atitude não ética de algum fabricante. O perigo real está nas chamadas peças piratas , estas sim vendidas a preços muito convidativos, e que por vezes não passam de grotescas imitações das originais. Costumam ser peças que não cumprem os requisitos de conformidade a alguma especificação. De imediato verifica-se que há grandes variações nas tolerâncias (ajustes, folgas) com relação ao modelo original. Não há garantia que o material usado na fabricação seja das mesmas características ou da mesma qualidade. Afinal visualmente aços de diferentes teores de carbono (e dureza) são muito parecidos. Só se podem comprovar estas características em laboratórios nem sempre à mão. Além das considerações feitas há alguns aspectos a considerar: Garantia as montadoras retiram a garantia de suas máquinas quando nelas tiverem sido montadas peças não originais. Funcionamento peças perfeitamente ajustadas, conforme foram projetadas, casam melhor entre si provendo um funcionamento mais harmonioso. Durabilidade conjuntos com menos atrito, menos vibrações funcionam bem e sem quebras por mais tempo. Confiabilidade o uso de peças originais garante o funcionamento correto da máquina, evitando perdas de tempo (e de dinheiro!) quando em trabalhos críticos, como semeadura, aplicação de agroquímicos ou colheita. Valor de revenda máquinas e equipamentos mantidos com peças de melhor qualidade mantém um valor de revenda mais elevado e por mais tempo. Isto pode ser facilmente comprovado no mercado de máquinas usadas. Então, reflita comigo e tire suas conclusões. A meu ver, vale à pena ser origi.M nal .

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