Maquinas 125

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Cultivar Máquinas • Edição Nº 125 • Ano XI - Dezembro 2012 / Janeiro 2013 • ISSN - 1676-0158

Nossa capa

Test Drive - Trator JD 8335R

Conheça o JD 8335R, o maior modelo da série 8R da John Deere e veja como este gigante de 335cv se saiu no Test Drive Cultivar Máquinas

Destaques

Semeadoras

Saiba quais são os principais custos da mecanização em lavouras de cana-deaçúcar no estado de São Paulo

Avaliação de 558 modelos mostra a média de capacidade dos reservatórios de fertilizantes e sementes nas semeadoras

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18

• Editor

Gilvan Quevedo

• Redação

Charles Echer Carolina Simões Silveira

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida

• Design Gráfico e Diagramação

NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL

• ASSINATURAS

• REDAÇÃO

• MARKETING

3028.2000 3028.2060

3028.2070 3028.2065

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Índice

Mecanização em cana

Cristiano Ceia

Capa: Charles Echer

Matéria de capa

• Comercial

Sedeli Feijó José Luis Alves Rithiéli de Lima Barcelos

• Coordenação Circulação

Simone Lopes

• Assinaturas

Natália Rodrigues Francine Martins Clarissa Cardoso

• Expedição

Edson Krause

• Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Rodando por aí

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Compactação em lavouras de café

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Consumo de combustíves em cana

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Ficha Técnica - MF 8600

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Depósito de fertilizantes

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Test Drive - JD 8335R

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Desempenho de escarificador

28

Hastes sulcadoras

30

Comparativo de sulcadores

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Empresas - Budny

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Ficha Técnica - Tratores Puma

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Entupimento de microgotejadores

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Desempenho de trator com eixo estendido 44

C Cultivar Grupo Cultivar de Publicações Ltda. www.revistacultivar.com.br Direção Newton Peter www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480

Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 € 110,00 Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


rodando por aí

Pró-Aviação Agrícola

A Campanha Pró-Aviação Agrícola, promovida pelo Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), foi lançada oficialmente no dia 30 de novembro durante reunião dos membros escolhidos entre de pilotos agrícolas e representantes do sindicato. O objetivo da campanha é divulgar a realidade da aviação agrícola, tendo como alvo a opinião pública e formadores de opinião. Com a contratação de profissionais especializados em comunicação e marketing, será feito levantamento dos problemas e desafios da aviação agrícola brasileira, para, posteriormente, elaborar um plano de divulgação da atividade no Brasil.

LS Tractor

Maior fabricante de tratores de Coréia do Sul, a LS Tractor anunciou a construção de sua primeira fábrica no Brasil, a primeira fora da Ásia, na cidade de Garuva, em Santa Catarina. A sede nacional alia-se ao objetivo da empresa, que pretende se tornar uma das cinco maiores fabricantes mundiais de tratores até 2015. O grupo LS tem, atualmente, vendas anuais acima de 30 bilhões de dólares e possui mais de 21 mil funcionários em todo o mundo. A conclusão da fábrica e o início da produção de tratores no Brasil estão previstos para julho de 2013.

Motorização nacional

Parceiros da Tecnologia

A John Deere, dentro do projeto desenvolvido pela empresa denominado Parceiros da Tecnologia, celebrou um convênio com a direção da Fatec de Pompéia em parceria com a Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia (FSNT). A parceria aliará o conhecimento das aulas teóricas com estudos de campo feitos diretamente nos equipamentos, para os alunos do curso de Mecanização em Agricultura de Precisão oferecido pela Fatec Pompéia. O curso é inédito e gratuito e oferece a cada semestre 80 vagas para os períodos diurno e noturno.

A MWM Internacional firmou parceria com a Budny e três modelos de tratores da marca contarão com os motores da empresa. Segundo o supervisor de Marketing da MWM Internacional, Rodrigo Kanno, e o gerente de Divisão de Vendas, Marketing, Gerenciamento de Programas e Assistência Técnica da MWM, Thomas Püschel, o objetivo da parceria é aumentar a nacionalização dos componentes dos tratores, para que as máquinas sejam 90% Rodrigo Kanno e Thomas Püschel fabricadas no Brasil.

Parceria

Nova identidade

A Lintec, empresa do Grupo Agrale, com atuação nos mercados de geradores, roçadeiras, motores e motobombas, passa a adotar nova logomarca. O objetivo é alinhar a identidade visual à das demais empresas do Grupo Agrale, inspirada em modernidade, tecnologia e vanguarda. A nova logomarca da Lintec tem como elemento central um felino estilizado e futurístico, que transmite agilidade e potência, incorporada a um emblema triangular que cria a associação da empresa com a identidade da Agrale, explica Hugo Zattera, presidente da Agrale.

Comemoração

A Agrale levou 120 clientes e distribuidores para visitar pontos turísticos da Serra gaúcha e conhecer as unidades fabris da empresa, sediada em Caxias do Sul (RS). O evento fez parte das comemorações dos 50 anos da empresa, festejado em outubro de 2012. Segundo Flavio Crosa, diretor de Vendas da Agrale, a iniciativa teve como objetivo reconhecer e estimular o bom relacionamento da rede com os produtores rurais e “proporcionar maior aproximação entre os concessionários e os clientes que têm a marca Agrale como parte de suas próprias histórias”.

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A festa de inauguração da nova fábrica de tratores da Budny em Içara (SC) contou com a presença de aliados e parceiros da empresa. Entre os convidados estiveram presentes a diretora da fábrica de equipamentos para armazenagem e beneficiamento de grãos Pagé, Angela Pascoali Boeira, e a administradora da fabricante de equipamentos hidráulicos de alta pressão, destinados a sistemas de automação aplicados em máquinas móveis e industriais Hybel, Natalia Boeira, ambas de Santa Catarina.

50 tratores

Angela e Natalia Boeira

A Tratormaster, concessionária Massey Ferguson em Salvador (BA) realizou a entrega de 50 tratores agrícolas em parceria com o Consórcio Nacional Massey Ferguson durante a Mega-assembleia, realizada dentro da programação da 25ª edição da Feira Nacional de Agropecuária da Bahia. Os 50 clientes que receberam seus tratores possuem cotas do Consórcio Nacional Massey Ferguson. Mais de 300 pessoas participaram do evento.

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Tráfego

Compactação localizada Estudo avalia a compactação do solo em lavouras cafeeiras e quais as consequências do tráfego localizado para a produtividade

Charles Echer

O

Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café há 150 anos, com estimativa de produção (Arábica e Conilon) para a safra 2012 de 50,45 milhões de sacas de 60 quilos do produto beneficiado (Conab, 2012; ICO, 2012). Segundo o IBGE (2012), a safra de café em grãos brasileira obtida em 2011 foi de 44,48 milhões de sacas. Por muitos anos o gargalo da produção de café foi a mão de obra, pelo seu custo e escassez, principalmente para colheita. Estudo realizado por Silva et al (2000), observou redução no custo com a utilização do sistema de colheita mecanizada, em relação ao manual, da ordem de 41% a 50%, para lavouras com produção de 1.800L/ ha a 2.100L/ha de café beneficiado. Com esses resultados, fica evidente que a mecanização da cultura do café apresenta vantagens econômicas e, atualmente, é indispensável no sistema produtivo brasileiro. Porém, sua introdução maciça pode ocasionar rápida e contínua degradação física do solo, principalmente nas linhas de tráfego de máquinas, uma vez que são concentradas paralelas as linhas de plantio. Isso pode apresentar problemas ao desenvolvimen-

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to radicular da cultura do cafeeiro em virtude do aumento da resistência à penetração das raízes. A compactação é um processo em que a porosidade e a permeabilidade são reduzidas e a resistência é acrescida, em função de cargas ou pressões aplicadas. Esse processo acarreta diminuição no crescimento e no desenvolvimento radicular, aumenta a densidade do solo, as perdas de nitrogênio por desnitrificação, o consumo de combustível das máquinas no preparo dos solos e a erosão do solo pela menor infiltração de água. Ainda, por diminuir a macroporosidade, a água retida nos microporos permanece sob altas tensões, apresentando baixa disponibilidade para as plantas. Dessa forma, o solo pode apresentar-se com umidade, porém, com menor disponibilidade de água às plantas. As operações motomecanizadas utilizadas no manejo das culturas perenes causam a degradação física do solo, especialmente quando realizadas com o solo úmido, mais suscetível à compactação. Assim, o planejamento das operações a serem realizadas na lavoura deve, também, levar em consideração a umidade do solo, assim como as características de ambiente.


A resistência ao penetrômetro é menor nos solos arenosos e menos coesivo e maior nos solos argilosos de alta coesão. Com isso, os solos arenosos oferecem menor limitação à penetração das raízes quando comparados aos argilosos cultivados com os mesmos métodos. Outro fator importante é a manutenção da cobertura do solo nas entre linhas da cultura que tende a diminuir a compactação ocasionada pelo tráfego de máquinas, além de favorecer a infiltração de água e diminuir a suscetibilidade do solo à erosão. As culturas perenes, como a cafeicultura, estão sujeitas ao aumento da resistência à penetração do solo devido ao crescente tráfego de máquinas em virtude da mecanização dos sistemas de cultivo. Ao contrário, as culturas anuais proporcionam alternativas para a compactação do solo mais difundidas que podem ser utilizadas anualmente. A descompactação do solo em culturas perenes, como a cafeicultura, via intervenção mecânica (aração, subsolagem, escarificação) resulta no dilaceramento do sistema radicular das plantas. Por isso, devem ser buscadas alternativas e dispensada a utilização dessas operações. Com o desenvolvimento desse trabalho objetivou-se comparar a resistência do solo à penetração em cafezais, cultivados com sistema mecanizado, em três localizações: linha de cultivo; linha de tráfego e entre linha. O estudo foi desenvolvido numa lavoura cafeeira, implantada no ano de 2003 com a cultivar Mundo Novo, situada no interior do município de Três Corações (MG) (situada entre as coordenadas

Jacto

A manutenção da cobertura do solo nas entre linhas da cultura de café tende a diminuir a compactação ocasionada pelo tráfego de máquinas

21°46’16” latitude Sul e 45°06’12“ longitude Oeste a uma altitude variando entre 855 a 865 metros). Na instalação do experimento a campo foram delimitadas seis parcelas distribuídas na gleba de forma aleatória. Para caracterizar a resistência do solo à penetração foram realizadas mensurações com penetrômetro eletrônico penetroLOG até a profundidade de 0,60m. Essas mensurações foram subdivididas, na área de cada parcela, sendo realizadas na linha

de cultivo entre as plantas (A); na linha de tráfego (B) (1,35m afastado em relação à linha de plantio onde ocorre o tráfego dos rodados) e no centro das entre linhas (C), conforme a Figura 1. As unidades experimentais foram demarcadas linearmente de acordo com o sulco de plantio com

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NÍVEL DE COMPACTAÇÃO

A área experimental apresenta declividade entre 6% e 10% e a análise de textura do solo apresentou os valores 460g/kg, 170g/kg e 370g/kg para areia, silte e argila, respectivamente, (classe textural argila arenosa). A umidade do solo manteve-se semelhante na camada 0m - 0,1m entre os três locais analisados (Tabela 1). Na camada de solo seguinte, observaram-se menores valores de umidade na linha de tráfego e na entre linha, sendo que na linha de cultivo foi maior possivelmente em função do maior sombreamento ocasionado pela cultura. Para profundidade superior (0,2m – 0,3m), a linha de tráfego, juntamente com a entre linha, apresentaramTabela 1 – Umidade do solo (kg kg-1) obtida nos três pontos amostrados de cada sistema de cultivo Camadas (m) 0 – 0,10 0,1 – 0,2 0,2 – 0,3 0,3 – 0,4 0,4 – 0,5 0,5 – 0,6

Mecanizado Linha de Cultivo 0,15 bA 0,19 aA 0,13 cB 0,16 bA 0,13 cB 0,15 bA

Linha de Tráfego 0,15 aA 0,13 aB 0,16 aA 0,16 aA 0,17 aA 0,16 aA

Entre linha 0,15 aA 0,15 aB 0,15 aA 0,12 bB 0,13 bB 0,16 aA

Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra minúscula e, em cada linha, médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade.

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Marcos Antonio Zambillo Palma

A

B

C

Figura 1 – Linha de Cultivo (A), Linha de Tráfego (B), Entre linhas (C)

se semelhantes e superiores à linha de cultivo. Na camada 0,3m a 0,4m, houve semelhanças entre a linha de cultivo e a linha de tráfego com valores superiores aos da entre linha. Na camada seguinte de solo (0,4m – 0,5m), a linha de tráfego de máquinas apresentou maior valor e na última camada analisada não houve diferenças estatísticas. Ao analisar a umidade, no perfil de solo estudado, foi possível observar que, na linha de cultivo, a camada 0,1m – 0,2m apresentou

maior valor em relação às demais. Os valores na linha de tráfego não apresentaram diferenças estatísticas. Na entre linha, as maiores umidades foram encontradas nas camadas até a profundidade de 0,3m e na última camada (0,5m – 0,6m). A resistência do solo à penetração foi maior na linha de tráfego até 0,25m de profundidade comparada aos demais locais de mensuração conforme observado na Tabela 2. Para profundidades superiores, as mensurações na linha de cultivo e na linha de tráfego foram semelhantes e superiores à entre linha nas camadas: 0,35m – 0,40m e 0,45m – 0,60m. Na camada de solo 0,25m – 0,35m e 0,40m – 0,45m não houve diferenças estatísticas. Ao analisar o perfil do solo é possível observar que a região onde trafegam os ro-

Tabela 2 - Resistência à penetração do solo (MPa) obtida nos três pontos amostrados Camadas (m) 0 – 0,05 0,05 – 0,10 0,10 – 0,15 0,15 – 0,20 0,20 – 0,25 0,25 – 0,30 0,30 – 0,35 0,35 – 0,40 0,40 – 0,45 0,45 – 0,50 0,50 – 0,55 0,55 – 0,60

Linha de Cultivo 0,47 cB 0,75 cB 0,74 cB 0,85 cB 1,38 bB 1,91 aA 2,38 aA 2,44 aA 2,42 aA 2,61 aA 2,71 aA 2,67 aA

Linha de Tráfego 2,26 bA 2,98 aA 1,96 bA 1,88 bA 2,04 bA 2,32 bA 2,61 aA 2,67 aA 2,53 aA 2,62 aA 2,70 aA 2,77 aA

Entre linha 0,59 cB 1,20 bB 1,11 bB 1,15 bB 1,42 bB 1,66 aA 2,00 aA 1,93 aB 1,97 aA 1,99 aB 1,90 aB 1,81 aB

Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra minúscula e, em cada linha, médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade.

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Charles Echer

comprimento de oito metros (dez plantas), onde foram realizadas três mensurações de cada ponto avaliado. O espaçamento utilizado no plantio foi de 3,80m entre linhas e 0,80m entre plantas. O controle de plantas invasoras foi realizado com roçadoras mecânicas tratorizadas, com média de três a quatro roçadas ao ano, nas entre linhas. Ainda, realizaram-se pulverizações com micronutrientes e defensivos agrícolas duas vezes ao ano. Todos os implementos utilizados foram acoplados a um trator Massey Fergusson 265 (Potência de 47,807kW). Para colheita utilizou-se uma colhedora Jacto K3 Millennium, a partir do ano de 2008, sendo que o repasse ocorreu de forma manual. A umidade gravimétrica do solo foi obtida por meio de amostras da gleba em camadas de 0,10m no perfil do solo até a profundidade de 0,60m, as quais permaneceram em estufa com circulação forçada de ar a uma temperatura de 105 ± 30C, até atingirem massa constante. Também, foram coletadas três amostras de solo da camada 0m a 0,6m da gleba, onde estavam delimitadas as parcelas experimentais, para caracterização da textura do solo. Ainda, foi determinada a declividade da gleba com o auxílio de um nível ótico. Para a análise de estatísticas foi utilizado o software Assistat versão 7.6 pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância.

Compactação localizada proporciona áreas descompactadas que facilitam a infiltração de água


dados das máquinas os valores são maiores desde as primeiras camadas de solo. Embora a umidade tenha se apresentado semelhante a pelo menos uma das comparações (linha de cultivo ou entre linha), a resistência do solo foi maior nas camadas iniciais (0m a 0,25m) em função do tráfego de máquinas localizado. A compactação do solo ocasionada pelo tráfego de máquinas resulta em valores de resistência do solo à penetração maiores até a profundidade próxima a 0,15m, assim como a integração lavoura-pecuária. Devido ao tráfego localizado, em virtude das linhas de plantio do cafeeiro, encontrou-se maior resistência até profundidades superiores às normalmente encontradas. Destaca-se, ainda, que a textura do solo é argila arenosa, ou seja, os solos com teores de argila maiores serão mais suscetíveis a compactação do solo ocasionada em função dos tratos culturais serem realizados trafegando-se sempre na mesma linha (linha de tráfego). Por outro lado, a compactação localizada proporciona áreas descompactadas que facilitam a infiltração de água. Isso ameniza os efeitos da erosão do solo que, juntamente com a cobertura, garante certa estabilidade dos agregados. Outro fator que colabora na cafeicultura é o sistema radicular que é mais profundo, quando comparado às demais

Charles Echer

culturas anuais. Então, essa maior resistência do solo até a profundidade de 0,25m pode não prejudicar a cultura, porém, como observado no presente trabalho, nas profundidades superiores, a resistência também foi alta. Dessa forma, a linha de tráfego pode estar limitando o crescimento radicular, no sentido lateral, quando se observam altos valores desse parâmetro nas profundidades superiores, tanto na linha de cultivo como na linha de tráfego. No sistema de cultivo mecanizado do

cafeeiro ocorre maior resistência do solo à penetração até a profundidade de 0,25m na linha de tráfego em relação à linha de cultivo .M e ao centro das entre linhas. Marcos Antonio Zambillo Palma e Carlos Eduardo Silva Volpato, DEG Ufla Pauliane de Souza Divino, Eliseu Marcolino e Jéssica Aparecida Silva, Unincor


mecanização

Maior custo

Combustível e manutenções são os dois principais gastos observados no cultivo mecanizado da cana-de-açúcar no estado de São Paulo

E

Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), que vem se desenvolvendo desde 2008. A atividade canavieira paulista gera o maior valor da produção agropecuária e agrega parcela significativa de produtores rurais, calculados em torno de 16.805 fornecedores de cana, que produzem aproximadamente 31% da produção do

Valtra

ste artigo é um dos produtos de um grande projeto que avalia os aspectos econômicos dos sistemas de produção da cultura da cana-de-açúcar no estado de São Paulo, resultado de parceria entre a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, na figura do Instituto de Economia Agrícola, IEA e a Organização dos

A expansão da cana nos últimos anos, as novas tecnologias, exigências de legislação são os principais responsáveis pelas interferências ocorridas no manejo das operações para a produção da cultura de maneira produtiva

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estado. É uma atividade geradora de emprego e renda, no entanto, o contingente de trabalhadores caiu de 210 mil em 2007/2008 para 104 mil em 2011, principalmente por mudanças no sistema de produção, em decorrência da mecanização do corte em função de legislação que estabelece prazos para a erradicação da queima da palha de cana-de-açúcar. A crescente demanda interna e a potencialidade de crescimento da demanda externa, principalmente por etanol, abriram caminho também para avanços tecnológicos em busca de ganhos de eficiência e maiores níveis de produtividade no campo e na indústria. A expansão da cana-de-açúcar nos últimos anos, as novas tecnologias, exigências de legislação são os principais responsáveis pelas interferências ocorridas no manejo das operações para a produção da cultura de maneira produtiva, adequada e respeitando o meio ambiente, tem resultado em algumas mudanças na realização das operações e a evolução dos sistemas de produção, contribuindo para a crescente mecanização da cultura. A intensificação do uso da mecanização na agricultura tem exigido novos investimentos em máquinas com maior potência e tecnologia incorporada para atender a diversas demandas das atividades agrícolas. Do ponto de vista da propriedade agrícola, à medida que o tamanho e a complexidade do sistema mecanizado aumentam, mais importante se torna o impacto da gerência deste sistema sobre a rentabilidade dos negócios. A otimização do desempenho do sistema mecanizado passa, necessariamente,


Charles Echer

John Deere

A crescente demanda interna e o desenvolvimento externo abriram caminho para avanços tecnológicos

repetindo o ocorrido no preparo do solo. O menor valor encontrado na região de Catanduva justifica-se pela não realização da operação de quebra lombo, é comum a realização apenas do cultivo/adubação em cobertura e aplicação de herbicida, operações consideradas leves que demandam menor número de horas/máquina. Em termos monetários, o maior valor encontrado para a colheita manual encontra-se na região de Jaú relacionada à operação de tração de reboque, que alia alto número de utilização do trator e carreta transbordo, impactando no custo/hora do trator utilizado nesta operação. Nesse caso também o item combustível representa de 78% a 80% dos gastos. Nas colheitas mecanizadas os maiores valores estão relacionados com o uso intensivo da colhedora e de caminhões que exigem número maior de horas de trabalho por hectare devido à complexidade do sistema de colheita que envolve vários tipos de máquinas em sua realização. Nas regiões onde os produtores realizam a colheita mecânica por conta própria, Assis e Jaú, tanto os valores monetários como o número de horas/máquina sofrem a influência da produtividade. Nesse levantamento, apresentou-se maior na região de Jaú.

Case IH

por questões que requerem um adequado entendimento das relações existentes entre os aspectos técnicos e econômicos da mecanização. A intensidade do uso de tratores, colhedoras e caminhões apresenta forte impacto nos custos de produção. O conhecimento desses valores pode levar a maior eficiência no uso desses fatores de produção. Nesse sentido foram calculados e analisados os valores dos diferentes itens de custos variáveis, dos custos horários de tratores, colhedoras e caminhões utilizados na cultura da cana-deaçúcar em seis diferentes regiões do estado de São Paulo. Para o cálculo do custo de máquinas e equipamentos considerou-se a metodologia de classificação tradicional de valores em fixos e variáveis. Os custos variáveis são aqueles associados diretamente ao uso dos bens de capital, como combustíveis, filtros, óleos lubrificantes, pneus, peças, mão de obra, mecânica etc. São constituídos dos componentes: Reparos e manutenção: são realizados para manter os bens de capital em plena condição de uso. Em geral, esses custos estão relacionados com a intensidade de uso. Nesse estudo, os gastos com reparos foram calculados pela estimativa de uma taxa percentual anual em função do valor inicial. Os gastos com manutenção preventiva foram calculados pela somatória das despesas com lubrificantes, filtros e graxas, obedecendo ao período de substituição recomendado pelos fabricantes. Custo com operações: são os gastos realiza-

dos com o uso das máquinas, calculados pelo consumo de combustível. O cálculo dos custos horários de máquinas, utilizado pelo IEA, utiliza os dados fornecidos pelos fabricantes em relação à manutenção preventiva (consumo de óleos lubrificantes, graxas, filtros aditivos e outros elementos substituíveis na manutenção dos tratores, colhedoras e caminhões), multiplicados pelos valores de horas utilizados em cada operação. Para o item reparos determinou-se uma porcentagem do valor inicial em relação às horas de uso anual para cada máquina. O levantamento de campo ocorreu no período de junho a julho de 2009 e os preços dos insumos e serviços utilizados nas estimativas referem-se aos praticados no mês de março de 2010. A análise da Tabela 1, que apresenta as despesas com manutenção e operação dos tratores, colhedoras e caminhões, evidencia que mesmo havendo diferenças no conjunto de técnicas utilizadas na condução da cultura e uso de diferentes potências de tratores nas regiões estudadas, os valores de participação percentual para o item combustível mostrou-se o maior em todos os casos. Em particular nas operações de preparo do solo, justificado pelo uso de implementos que exigem maior força de tração e maior número de operações. Em termos monetários o maior gasto ocorreu na região de Piracicaba devido ao maior número de operações realizadas e por possuir propriedades de menores áreas que ocasionam aumento no número de manobras e demanda maior quantidade de horas/máquina. Os menores valores ocorreram em Araçatuba pelo fato de o sistema de produção se caracterizar por menor número de operações, pois existe, na região, a prática de contratação de serviços, o que acarreta menor uso de horas/máquina pelo produtor. Em relação às fases de cana-planta e soca, a região de Piracicaba possui os maiores valores,

A intensificação do uso da mecanização na agricultura tem exigido novos investimentos em máquinas com maior potência e tecnologia incorporada para atender a diversas demandas das atividades agrícolas

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Tabela 1 - Despesas com manutenção e operação dos tratores, colhedoras e caminhões e participação percentual nas diferentes fases da cultura da cana-de-açúcar em seis regiões do estado de São Paulo, em R$/ha Região Assis

Araçatuba

Operação Preparo de Terreno/ Plantio Manual Combustível Oléo Lubrificante e aditivo Graxa Componentes de Manutenção Reparos Total Cana Planta Combustível Oléo Lubrificante e aditivo Graxa Componentes de Manutenção Reparos Total Cana Soca Combustível Oléo Lubrificante e aditivo Graxa Componentes de Manutenção Reparos Total Colheita Manual (produtor) Combustível Oléo Lubrificante Graxa Componentes de Manutenção Reparos Total Colheita Mecânica Combustível Oléo Lubrificante Graxa Componentes de Manutenção Reparos Total

Catanduva

Jaú

Ribeirão Preto

Piracicaba

Total R$

% do item %

Total R$

% do item %

Total R$

% do item %

76,3 3,9 0,3 3,7 15,8 100,0

399,52 16,97 1,86 30,75 110,50 559,59

71,4 3,0 0,3 5,5 19,7 100,0

519,75 25,16 2,62 42,30 149,55 739,39

70,3 3,4 0,4 5,7 20,2 100,0

356,09 14,88 1,63 26,99 86,87 486,46

73,2 3,1 0,3 5,5 17,9 100,0

20,00 1,28 0,14 2,28 9,60 33,30

60,1 3,9 0,4 6,8 28,8 100,0

32,95 1,90 0,23 3,75 7,04 45,88

71,8 4,1 0,5 8,2 15,3 100,0

37,50 2,41 0,26 4,27 18,00 62,43

60,1 3,9 0,4 6,8 28,8 100,0

43,18 1,89 0,21 3,47 10,60 59,35

72,8 3,2 0,4 5,8 17,9 100,0

40,19 2,71 0,31 3,75 18,29 65,24

61,6 4,1 0,5 5,7 28,0 100,0

115,82 6,43 0,72 11,85 39,69 174,50

66,4 3,7 0,4 6,8 22,7 100,0

87,40 5,30 0,58 8,84 37,11 139,22

62,8 3,8 0,4 6,3 26,7 100,0

64,04 2,97 0,34 5,54 18,12 91,01

70,4 3,3 0,4 6,1 19,9 100,0

80,0 4,1 0,2 4,3 11,4 100,0

342,63 15,54 1,17 19,43 60,04 438,82

78,1 3,5 0,3 4,4 13,7 100,0

78,0 4,5 0,7 4,4 12,4 100,0

646,42 38,87 5,21 31,24 89,45 811,20

79,7 4,8 0,6 3,9 11,0 100,0

Total R$ % do item %

Total R$

% do item % Total R$ % do item %

273,63 12,41 1,38 18,58 73,22 379,23

72,2 3,3 0,4 4,9 19,3 100,0

511,36 21,21 1,90 46,34 102,41 683,23

74,8 3,1 0,3 6,8 15,0 100,0

478,60 24,64 1,65 23,29 98,89 627,06

38,63 1,90 0,21 2,61 11,21 54,57

70,8 3,5 0,4 4,8 20,5 100,0

30,81 1,15 0,16 14,05 13,53 59,70

51,6 1,9 0,3 23,5 22,7 100,0

49,24 2,31 0,26 3,34 13,62 68,76

71,6 3,4 0,4 4,9 19,8 100,0

49,49 1,93 0,22 8,35 12,34 72,33

68,4 2,7 0,3 11,5 17,1 100,0

175,36 8,98 0,34 9,46 25,06 219,19 618,76 35,85 5,59 35,09 98,38 793,67

No caso de combustível, deve-se levar em conta os valores relativos de consumo das máquinas e o preço relativo do óleo diesel no mercado. O segundo item de custo é o de gastos com reparos, que são despesas ocasionadas com quebras e troca de peças, que deve ser bastante considerado, pois pode indisponibilizar a máquina para o trabalho, atrasando o plano de produção da propriedade agrícola. A avaliação dos itens componentes dos custos de máquinas agrícolas de grande importância para a gestão de sistemas mecanizados, que apresentam alto valor de investimento nas empresas, gera cada vez mais impactos nos custos de produção das atividades. Indepen-

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dentemente do sistema de produção utilizado na cultura da cana-de-açúcar, os maiores valores despendidos são de combustível e reparos, evidenciando que a gestão da prática desses insumos é de grande importância para a racionalidade do uso de máquinas e equipamentos na realização das operações. Nesse caso, um programa organizado de seleção, manutenção e de uso das máquinas e equipamentos, pode levar a um controle eficiente desses custos, gerando forte impacto na rentabilidade da .M atividade. Marli Dias Mascarenhas Oliveira e Katia Nachiluk, IEA/Apta

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Divulgação

1 O item Total refere-se à soma dos gastos de combustível, óleos lubrificantes e aditivos, graxa, componentes de manutenção e reparos com tratores e equipamentos nas operações em cada fase da cultura. 2 A participação percentual refere-se ao item da despesa em relação ao total por hectare. Fonte: Dados de pesquisa.

Marli e Katia analisam os gastos realizados entre combustíveis e manutenção no plantio de cana



Ficha técnica

MF 8600

A Massey Ferguson apresenta a nova série 8600, com tratores voltados a operações em grandes áreas que exijam rendimento e precisão

A

nova série da Massey Ferguson 8600 Dyna-VT apresenta dois modelos no Brasil: o MF 8670 e o MF 8690. Esta série promete robustez, ergonomia e conforto. A transmissão destas máquinas é divulgada pela empresa como a mais moderna do mundo para a categoria.

MOTOR

Ambos os modelos são equipados com motores AGCO Power de seis cilindros de 8,4L, turboalimentados e com aftercooler, gerando 320/370cv de potência a uma rotação de 1.950rpm, e 1.455/1.540N.m de torque máximo a uma rotação de 1.400rpm nos modelos MF 8670/8690. Esses motores apresentam a mais recente tecnologia, que permite o ajuste contínuo da quantidade e tempo de injeção de combustível, de acordo com a rotação do motor e carga. Um tanque de combustível de 690L garante autonomia ampliada a estas máquinas. A rotação máxima, sem carga, do motor é de 2.160rpm, todavia, o usuário pode determinar qual rotação a máquina assumirá como máxima, ajustando o motor a regimes de trabalho específicos, otimizando desempenho e consumo de combustível.

dos com Transmissão Continuamente Variável Dyna VT, que possibilita progressão de velocidade e rotação de forma contínua, eliminando a necessidade de troca de marchas por parte do operador e, consequentemente, os solavancos e as perdas de velocidade característicos de câmbios convencionais. São dois os regimes de trabalho: Lebre, com velocidades que variam de 0,03km/h a 42km/h à frente, indicado para atividades de transporte; Tartaruga, com velocidades de 0,03km/h a 30km/h à frente, indicado para trabalho. Esta série possui diversos modos de operação da máquina, específicos para determinadas situações. No modo “Alavanca”, o usuário determina a progressão da velocidade de forma manual pela alavanca presente no descansa-braço direito da cabine. Já no modo “Pedal”, o usuário utiliza o pedal de aceleração para aumentar velocidade e rotação de forma contínua, sendo que a máquina se desloca

TRANSMISSÃO

Os tratores da série 8600 estão equipa-

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apenas quando o pedal é acionado (ideal para transporte, manobras em espaços reduzidos e acoplamento de implementos à barra de tração). No modo “Dyna TM” o operador determina qual é a faixa de rotação que o trator pode trabalhar (por exemplo, entre 1.500rpm e 1.900rpm), e a máquina assume a rotação mais adequada a cada situação de trabalho, diminuindo a rotação em períodos de menor carga e aumentando para vencer eventuais sobrecargas na operação, o que acarreta em otimização do uso do motor e do consumo de combustível. Além destes modos predefinidos, há a possibilidade de gravar até duas diferentes velocidades de trabalho e, para o usuário que fizer questão de trabalhar com rotações fixas e predeterminadas, há também a possibilidade de gravação de duas diferentes rotações do motor. Assim, com apenas um toque em qualquer uma das teclas de memorização, a máquina assume imediatamente o regime de velocidade e/ou rotação solicitado. Além dos modos já citados, estes tratores também podem operar no modo “Autopropelido”, onde a rotação do motor se mantém constante, de acordo com o estipulado pelo usuário nas teclas de memorização da rotação, e o pedal de aceleração confere somente velocidade de deslocamento e modo “Dyna-Step”, para o usuário que queira simular a troca de marchas neste câmbio CVT, assumindo assim


Fotos Massey Ferguson

Esses motores apresentam a mais recente tecnologia, que permite o ajuste contínuo de O sistema de levante hidráulico da série 8600 é totalmente eletrônico, de categoria III, quantidade e tempo de injeção de combustível, de acordo com a rotação do motor e carga com engate rápido e a capacidade máxima de levante deste sistema é de 12 mil quilos

21 marchas à frente e 15 à ré. Já no que diz respeito à TDP, a mesma funciona de forma independente, com acionamento eletrohidráulico, e ambos os modelos operam a 540rpm ECO, com eixo de seis estrias, e 1.000rpm com eixo de 21 estrias.

SISTEMA HIDRÁULICO

O sistema de levante hidráulico da série 8600 é totalmente eletrônico, de categoria III, com engate rápido. A capacidade máxima de levante deste sistema é de 12 mil quilos. Quanto ao sistema de controle remoto destas máquinas, ambos os modelos estão preparados para até seis conjuntos de válvulas eletrônicas. No entanto, cabe ressaltar que a configuração standard destas máquinas apresenta quatro conjuntos de válvulas de controle remoto, que operam a uma vazão máxima de 175L/min a 200bar de pressão. Para facilitar o desacoplamento de implementos conectados ao sistema, estes tratores estão equipados com tomadas de descompressão, que permitem a rápida

remoção das mangueiras hidráulicas que estejam ligadas ao trator.

RODADOS

Os tratores MF 8670 têm três opções de rodados: 520/85 R46 Duplo (traseiro) + 600/70 R28 (dianteiro); 710/75 R42 Duplo (traseiro) + 600/65 R34 (dianteiro), e 800/70 R38 (traseiro) + 600/70 R30. Já para os tratores MF 8690, apenas a primeira opção de rodado apresentado para o modelo de menor potência não equipa estas máquinas.

EIXO DIANTEIRO

Outro diferencial destes modelos encontra-se em seu eixo dianteiro com tração auxiliar, o qual é equipado com um sistema de suspensão hidráulica ativa Quadlink, que de forma unitária (agindo simultaneamente em ambos os eixos), ajusta o posicionamento da máquina em relação à inclinação do terreno, mantendo a aderência dos pneus ao solo e impactando de forma positiva na manutenção do centro de gravidade do trator. Além dos

fatores citados, este sistema de suspensão proporciona muito mais conforto ao operador durante a realização de trabalhos severos. O sistema de direção conta ainda com o modo de direção rápida, que, quando ativado, aumenta o fluxo de óleo para o sistema, acarretando em uma ampliação da resposta de direção, o que confere maior agilidade na realização de manobras de cabeceira, por exemplo. O operador também conta com bloqueio automático do diferencial (Hydralock) e tração dianteira auxiliar automática, que se desabilitam em condições de maior angulação e/ ou velocidade de deslocamento.

CABINE

A nova Série MF 8600 Dyna VT está equipada com cabines de ampla área envidraçada, que somada ao total de 24 faróis de trabalho da máquina garante excelente visibilidade mesmo em períodos notur-

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Fotos Massey Ferguson

Detalhamento das 4 válvulas de controle remoto com tomadas de descompressão, que permitem a rápida remoção das mangueiras hidráulicas que estejam ligadas ao trator

nos. Esta cabine dispõe de assento com suspensão a ar com regulagem elétrica de altura, que auxilia na diminuição da fadiga do operador durante longas jornadas de trabalho. A cabine conta com excelente espaço interno, que permite ao operador se movimentar fácil e confortavelmente, fator que alia-se à disponibilidade dos comandos principais de operação de forma ergonômica. Além dos fatores ergonômicos mencionados, vale ressaltar que há a opção de suspensão hidráulica ativa da cabine, que assegura mais conforto ao operador e adequação da cabine a diferentes cargas e inclinações. O apoio de braço multifuncional localizado ao lado direito do assento principal abrange os principais comandos de operação do trator. Através de um monitor colorido de sete polegadas (CCD), é possível visualizar e configurar

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Console contendo os principais comandos de operação do trator e painel CCD de sete polegadas para visualização e configuração das diversas funções do MF 8600

todas as funções do trator, acessando, por exemplo, regulagens de rotações do Modo Dyna-TM, vazão do sistema hidráulico, dados de desempenho operacional da máquina e sequências de manobras de cabeceira, onde o operador configura uma série de eventos que ocorrem de forma sequenciada ao pressionarmos por sete segundos a tecla de manobra de cabeceira. Tudo isso proporciona ao operador maior praticidade e agilidade no controle de suas tarefas.

da lavoura, sem falhas ou sobreposições, mesmo nas operações que exigem maior precisão, melhorando substancialmente o desempenho de máquinas nas operações agrícolas. Este sistema está disponível em diferentes níveis de precisão: centimétrico (correção por sinal de rádio RTK) e .M decimétrico.

SISTEMAS DE DIRECIONAMENTO AUTOMÁTICO

Todos os tratores da Série 8600 vem equipados com piloto automático System 150 da topcon. Sensores autuadores hidraulicos trabalham no direcionamento do trator e permitem que o conjunto mecanizado se mantenha no traçado exato

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Sistema de suspensão dianteira ativa mantém o melhor contato e aderência do rodado dianteiro com o solo



semeadoras

Quanto cabe?

Charles Echer

Fotos Renan Bernardi

Avaliação de 558 diferentes modelos de semeadorasadubadoras mostrou uma variação significativa entre as capacidades dos depósitos de sementes e fertilizantes mínima e máxima dentro da mesma classe do número de linhas. Em alguns casos, a diferença de capacidade do depósito pode ser até oito vezes maior entre modelos da mesma categoria

A

expansão da agricultura brasileira deve-se em grande parte pelo aumento da área cultivada no decorrer dos últimos 40 anos, permitindo um aumento substancial da produção agrícola. Contudo, apenas o incremento da área não é suficiente para que se busque a ampliação da produção. Novas tecnologias no campo, aliadas ao grande desenvolvimento da mecanização, auxiliaram, de forma significativa, para que se conseguisse atingir o atual patamar da produção agrícola nacional. Dentre os processos que receberam essa contribuição, tem-se a operação de semeadura, que é uma das atividades mais importantes envolvidas no sistema de produção agrícola, sendo a sua execução com qualidade um fator primordial para o sucesso da produção. Todavia, devido à agricultura ser um setor altamente influenciado por características externas, como o clima, por exemplo, deve-se buscar aliar a qualidade da operação com a máxima capacidade operacional possível, pois o período ideal destinado à semeadura, muitas vezes torna-se restrito por estes fatores. Esta capacidade é um fator médio demonstrativo da capacidade de trabalho efetiva horária ou diária proporcionada pelo uso de uma determinada máquina ou conjunto, que, desde bem dimensionada e adequada às condições específicas de um determinado local e/ ou situação de trabalho, pode vir a proporcionar maior produtividade por unidade de tempo. Desta forma, esta pode ser representada pela relação entre a área trabalhada e o tempo necessário para executá-la, como, por exemplo, hectare por hora. Em função disso, deve-se buscar maximizála, já que esta está envolvida diretamente no tempo de execução da tarefa e de forma significativa no custo final de produção, em uma agricultura cada vez mais competitiva e com retorno muitas vezes incerto. Assim, as semeadoras-adubadoras passaram a assumir um papel fundamental no sistema de produção agrícola, uma vez que estas máquinas apresentam menor capacidade operacional, em comparação a outros implementos, pois necessitam do abastecimento de insumos, no caso sementes e fertilizantes, nos reservatórios. Além disso, estas máquinas necessitam promover o corte eficiente dos resíduos culturais, a abertura dos sulcos e a dosagem e distribuição de sementes e fertilizantes segundo a densidade de semeadura e adubação, preestabelecidas em contato com o solo, funções que, somadas, também podem Tabela 1 - Valores máximos, mínimos e médios Máximo Mínimo Média Parâmetros 30 Número de linhas 1 10 Capacidade dos depósitos de sementes (kg) 1.700 19 439,8 Capacidade dos depósitos de fertilizante (kg) 6.400 42 1.539,4

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John Deere

As semeadoras-adubadoras passaram a assumir um papel fundamental no sistema de produção agrícola, uma vez que estas máquinas apresentam menor capacidade operacional, em comparação a outros implementos

semeadoras-adubadoras de 21 a 30 linhas é semelhante ao valor máximo das semeadorasadubadoras com uma a dez linhas. Além disso, evidenciou-se uma variação expressiva entre os valores máximos e mínimos, sendo esta de 820kg para classe de uma a dez linhas, 1.090kg para classe de 11 a 20 linhas e 860kg para a classe de 21 a 30 linhas. Tal fato pode sugerir a ocorrência de uma capacidade operacional distinta entre classes e entre modelos da mesma classe. Os valores máximos, mínimos e a média da capacidade dos depósitos de sementes por linha, distribuídas entre as classes, estão dispostos na Figura 3. Observa-se um incremento do valor médio da capacidade do reservatório de sementes com o aumento do número de linha, fato este teoricamente esperado e possivelmente um dos requisitos para um bom desempenho da máquina agrícola. Contudo, ressalta-se que em uma mesma classe ocorreram variações, entre valores máximos e mínimos, de 590,64% para

Baldan

reduzir a capacidade operacional. Desta forma, a capacidade dos depósitos de sementes e fertilizantes influencia de forma direta, tendo em vista que é um dos principais motivos das paradas. Sendo assim, torna-se necessário uma correta seleção do implemento para as condições requeridas pelo produtor a fim de minimizá-las. Neste contexto, buscou-se avaliar o número de linhas e a capacidade dos depósitos de sementes e fertilizantes contidos nos catálogos técnicos e na busca direta com os fabricantes de semeadoras-adubadoras de precisão do mercado nacional, confeccionando-se um banco de dados. Ao total, avaliaram-se as informações técnicas de 18 marcas, contabilizando 558 modelos, desde as destinadas para as pequenas e as grandes propriedades rurais. Estas foram separadas por marca e diferenciadas pelas características avaliadas. A Tabela 1 apresenta os valores máximo, mínimo e médio do número de linhas, capacidade dos depósitos de sementes e fertilizantes. A avaliação das informações evidencia uma grande variação, possibilitando a semeadura de áreas pequenas, médias e grandes, como resultado da variação do número de linhas de 1 a 30, capacidade dos depósitos de sementes de 19 a 1.700kg e a capacidade dos depósitos de fertilizante de 42 a 6.400kg. O número de modelos avaliados, separados por classes, está ilustrado na Figura 1. Observa-se que o maior número de semeadoras disponíveis no mercado nacional é composto de uma a dez linhas, com 315 modelos, seguido pelas equipadas com 11 a 20 linhas, correspondendo a 231 semeadoras, e as com 21 a 30 linhas com apenas 12. A Figura 2 ilustra os valores máximos, mínimos e médios da capacidade de depósitos de sementes distribuídas entre as classes. Pode-se observar que com o aumento do número de linhas, ocorre um incremento dos valores máximo, mínimo e a média da capacidade de sementes. Contudo, ressalta-se que, especificadamente, o valor mínimo das

semeadoras de uma a dez linhas, 768,74% de 11 a 20 linhas e 93,17% para as de 21 a 30 linhas. Portanto, evidencia-se que as semeadoras com menor número de linhas, inferior a 20, apresentam maiores alterações nos reservatórios, de forma que torna-se indispensável uma maior atenção a este fator, no momento da seleção. A Figura 4 ilustra os valores máximos, mínimos e a média da capacidade dos depósitos de fertilizantes distribuídos entre as classes. Verifica-se que ocorre um incremento dos valores máximo, mínimo e média da capacidade de fertilizante com o aumento do número de linhas. Entretanto, constatou-se uma proximidade entre a capacidade máxima das semeadoras-adubadoras de 11 a 20 linhas, com a carga mínima da classe constituída de 21 a 30 linhas. Do mesmo modo, a classe de semeadoras-adubadoras de uma a dez linhas apresentou uma diferença de 2.758kg entre o valor máximo e mínimo. Na classe de 11 a 20 linhas, uma diferença 3.110kg, e para classe de 21 a 30 linhas, 2.500kg.

Figura 1 - Número de semeadoras-adubadoras por classe

A capacidade dos depósitos de sementes e fertilizantes influencia de forma direta, tendo em vista que é um dos principais motivos das paradas

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Figura 2 - Capacidade dos depósitos de sementes

Figura 3 - Capacidade do depósito de sementes/linha

Figura 4 - Capacidade dos depósitos de fertilizante

Figura 5 - Capacidade do depósito de fertilizante/linha

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paradas para abastecimentos. Portanto, se faz necessário uma avaliação mais criteriosa por parte do agricultor no momento da aquisição deste item. É importante ressaltar que neste trabalho foram avaliadas somente as capacidades dos depósitos de sementes e fertilizantes dos modelos, componentes que, portanto, não deverão ser os únicos critérios avaliados pelo produtor na hora .M da seleção e/ou compra. Semeato

As capacidades dos reservatórios de fertilizante distribuídos por classes em valores máximo, mínimo e médio, são demonstradas na Figura 5. Os valores médios da capacidade dos reservatórios de fertilizantes por linha tendem a aumentar com o incremento do número de linhas. Além disso, constatou-se que as alterações entre os índices máximos e mínimos diminuíram em função do aumento das linhas, que, para a primeira classe evidenciou-se uma variação de 843,70%, para a segunda de 152,56% e para a terceira de 43,60%. Por outro lado, os valores máximos apresentaram-se contrários a esta tendência, em outras palavras, estes diminuíram com o acréscimo do número de linhas. Nesse cenário, pode-se observar a ocorrência de uma variação significativa entre as capacidades dos depósitos de sementes e fertilizantes mínima e máxima das semeadoras-adubadoras dentro da mesma classe do número de linhas. De forma que, em alguns casos, semeadoras-adubadoras de classes menores podem vir a apresentar uma capacidade operacional superior à de classes maiores, em virtude de seus reservatórios possuírem maior capacidade. Além disso, por se tratar de um item prontamente influenciador da autonomia dos insumos sementes e fertilizante, desde que bem dimensionados, podem diminuir o custo de produção devido à redução do número de

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Tiago Rodrigo Francetto e Airton dos Santos Alonço, Laserg/UFSM Ravel Feron Dagios Engenheiro agrícola João Augusto Leindecker, Unisc Mauro Fernando P. Ferreira, Faem/UFPel



capa

JD 8335R

Com motor que pode chegar aos 339cv, o John Deere 8335R mostrou potência e muita tecnologia embarcada, que fazem deste modelo um trator versátil e completo para operar em grandes áreas

O

município de São José dos Campos foi o destino da equipe da Revista Cultivar Máquinas para o teste do trator John Deere, modelo 8335R. Nós, que tínhamos tido a oportunidade de testar os gigantes de outras marcas, para edições anteriores, agora tivemos a chance de compará-los ao maior modelo da linha 8R, da marca instalada em Montenegro (RS). O trator 8335R, fabricado em Waterloo, estado de Iowa, nos Estados Unidos, teve o lançamento mundial em 2012 e, depois de chegar ao Brasil, passou a ocupar espaço entre o mercado de grandes tratores, principalmente nas áreas de produção de cana-de-açúcar e para as grandes culturas, em grandes áreas. Para este teste fomos até a área industrial da Unidade Moema da Bunge Açúcar e Bio-

energia, no município de Orindiuva, em São Paulo, onde nos encontramos com a equipe da John Deere e nos deslocamos ao interior do município de Riolândia, numa área de expansão da usina, que estava sendo trabalhada para substituir o pasto por cana, onde tivemos possibilidade de testar este modelo. Nesta localidade encontramos uma frota da empresa gradeando uma área e posteriormente plantando a cana, tudo de forma mecanizada. Desde o primeiro contato com o trator de teste ficamos impressionados com a potencialidade do seu trabalho, utilizando uma grade da marca Santa Izabel de 28 discos de 34” cada, com o chassi bastante pesado.

TESTE

Como tínhamos pressa em vê-lo trabalhan-

O rodado do trator que testamos era do tipo simples, com pneus 800/70R38 no eixo traseiro e 600/70R30 na parte dianteira da máquina

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O JD 8335R possui um motor de seis cilindros e nove litros de volume, gerando 339,73cv de potência

do, de imediato fomos para uma área coberta de pasto, com terraços de base larga e uma leve declividade lateral. Para o teste fizemos diversas combinações de marchas entre F5 e F7, com uma rotação recomendada e constante de 2.130rpm. Esta configuração nos proporcionou uma velocidade de 5,5km/h a 6,5km/h, com patinamento de 7%. Como o padrão recomendado pelo fabricante e, aceito pela empresa, é de até 13% de patinamento, chegamos a uma velocidade que consideramos ótima para a demanda de tração da grade e as condições do terreno de 7,9km/h, com o que obtivemos ao redor de 12% de patinamento. Para chegar-se a este desempenho bastou aumentar levemente a “trava” da grade, aumentando o ângulo de ataque dos discos, com um simples toque nos comandos da válvula de controle remoto correspondente. Durante o teste, verificamos no painel um consumo de 50 litros por hora, enquanto o engenheiro nos contava que, na média geral, os controles da usina contabilizam ao redor de 33 litros a cada hora de serviço. Como a capacidade operacional deste conjunto é de aproximadamente três hectares por hora, com a grade, são 11 litros gastos


Fotos Charles Echer

A nova série, lançada em 2012, ganhou faróis com novo design, mais quadrados, na versão 2012

de diesel por hectare, considerado bastante bom para os critérios adotados pela empresa. O engenheiro Luis Tronco, coordenador agrícola para as operações de preparo e plantio, nos explicou que, no sistema utilizado pela usina, os tratores de alta potência, como este, somente são utilizados no preparo do solo, enquanto que para o trabalho com as plantadoras são utilizados tratores de aproximadamente 210cv no motor. O trator que testamos está na usina, em pleno trabalho, desde março de 2012 e já tem registradas 1.392 horas e nos foi informado que não existe nenhum registro de manutenção, além da normal troca de óleo lubrificante. Em

Suspensão Dianteira Independente ILS possui um conjunto de balanças inferior e superior, semelhante ao sistema que equipa carros de passeio

face da qualidade do equipamento e, principalmente, pelo atendimento proporcionado pela concessionária Itaeté Máquinas, nos contaram que a empresa está em processo de padronização com a marca John Deere. Em uma usina que utiliza mais de 150 tratores, já são três do modelo 8335R e mais quatro unidades do modelo 8260R, que são utilizados, principalmente para subsolagem e para o trabalho de preparo com grades de 42 discos de 28”. Tronco também nos contou que a usina

transfere para o campo os ensinamentos da Bunge na área industrial. Assim, embora a empresa dê liberdade para os operadores desenvolverem seu trabalho, com os seus parâmetros, a partir de um treinamento exige-se que sejam levadas em conta três características, que são a

O capô dianteiro possui diversas entradas de ar para refrigeração dos radiadores de óleo

Cinco válvulas VCR standard, para o sistema de controle remoto, com acionamento das válvulas no painel lateral

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Para facilitar a manutenção do motor e dos sistemas de arrefecimento, o capô dianteiro possui um sistema de basculamento que, além de levantá-lo, também o mantém distanciado do vidro da cabine, quando está na posição aberta

qualidade no trabalho, o menor custo possível da operação e a sustentabilidade, expressa principalmente pela segurança no trabalho e a manutenção devida à máquina. Com base nisto, o operador escolhe as condições estabelecidas durante a operação. E não é pequena a quantidade de operadores, pois são aproximadamente 50 para as operações de preparo e outros 50 para a operação de plantio mecanizado. Muito interessante, também, ver que há mulheres operando estas máquinas. O sistema de trabalho é de três turnos, com oito horas por operador. Além do salário normal, a empresa ainda paga as chamadas horas in itinere, correspondentes ao deslocamento do operador, da entrada em serviço até a lavoura e as eventuais horas extras que venham a ser praticadas. Conversamos com um dos operadores que supre as folgas dos trabalhadores neste modelo de trator e ele literalmente demonstrou a sua satisfação com o desempenho do modelo 8335R: “Bom, confortável, muita força, boa iluminação”.

Detalhe do sistema de suspensão dianteira atuando num desnível de mais de 60cm

24

MOTOR

O JD 8335R possui um motor de seis cilindros e nove litros de volume, com turbo compressor e sistema de alimentação do tipo common rail. O motor enorme tem um cárter para 28 litros de lubrificante. Quanto ao combustível, a John Deere oferece como standard um sistema opcional nos EUA, que é de filtragem extra (separador de água) e protege o sistema de alimentação. Com base em um filtro de aço inoxidável evitam-se danos aos componentes quando da presença de água no diesel, algo comum no nosso país. Embora o mercado brasileiro ainda não faça exigência de controle de emissões, este trator atende ao padrão Tier II, exigido para o mercado norte-americano. Para alimentar esta “usina” mantendo uma boa autonomia, cabem 695 litros de diesel no

depósito. Tivemos acesso ao relatório de ensaio oficial deste modelo, realizado no Laboratório de Ensaios de Tratores da Universidade de Nebraska, em Lincoln, nos Estados Unidos, e verifica-se que durante estas provas alcançou 339,73HP de potência máxima a 1.800rpm na TDP. A potência máxima, medida no motor, à 1900 RPM desenvolve 374 cv pela Norma 97/68EC.

ERGONOMIA

Ficamos positivamente impressionados para a cabine espaçosa que encontramos inclusive para o acompanhante. O assento conta com todos os ajustes possíveis, como apoio para os braços, apoio para a lombar, regulagem do ângulo do encosto do banco, ajuste elétrico de altura e ajuste da proximidade e ainda a

A manutenção dos radiadores, localizados na parte dianteira do motor, é facilitada devido à possibilidade de articulação das duas metades

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Fotos Charles Echer

Detalhe dos pesos dianteiros instalados no suporte que também serve como lastro

possibilidade de estabelecer um giro lateral de até 25 graus, importante para aumentar a visibilidade do operador. Também notamos a presença de vários itens de conforto ao operador, como tomadas elétricas de 12 volts e um monitor vertical, colocado na coluna direita, com indicações de funcionamento do motor e da transmissão. Este trator também conta com um interruptor de presença do operador no assento, que impede que este trabalhe em pé ou que o trator seja ligado sem a presença do operador sentado, de preferência com o cinto de segurança colocado. Durante a operação também nos chamou a atenção a quantidade de itens de conforto como ar-condicionado, som ambiente etc, além de verificar que dentro da cabine, com as aberturas

Presença de sinalização é vasta neste modelo que segue os padrões americanos de segurança, com triângulo e extensões laterais dos intermitentes, para o tráfego em rodovias

todas fechadas o ruído era muito reduzido. Ao verificarmos as informações deste ponto, no relatório de ensaios de Nebraska, justifica-se que mesmo desenvolvendo potência máxima em oitava marcha, o nível de potência sonora foi de apenas 70,9dB(A). O monitor Green Star 3, colocado à direita e à frente do braço direito do operador, apresenta dados de funcionamento do motor, o desempenho do conjunto a campo, a capacidade operacional, o patinamento das rodas e o consumo de combustível, em litros por hora e por hectare. Informaram-nos também que esta tela pode apresentar uma imagem do implemento, desde que seja instalada uma câmera, opcional neste trator. Neste modelo estava instalado o sistema AMS de agricultura de precisão, que possibilita

O JD 8335R é o maior modelo da série 8R, lançada em 2010, que foi muito bem aceita pelo mercado brasileiro, principalmente em usinas de cana-de-açúcar e grandes propriedades rurais

o uso de piloto automático com previsão de memorização das manobras. Para a sinalização e iluminação verificamos a presença do triângulo de segurança e extensões laterais dos intermitentes, bem como farol rotativo sobre a cabine, para o transporte do equipamento. Quanto à iluminação, várias luzes dianteiras e duas luzes de serviço, colocadas sobre o para lamas traseiro. Outro ponto muito bem avaliado neste trator foi a questão da acessibilidade à cabine e aos pontos de manutenção. Para a entrada na cabine há uma escada muito bem posicionada e com amplos degraus, dotados de sistema de limpeza do calçado e com aparência muito robusta, que leva até o posto do operador, com adequados apoios de mão, bem dispostos. Para a manutenção, existe um ótimo sistema de basculamento do capô e pequenas plataformas de

O acesso à cabine é bastante facilitado, degraus bem projetados e com apoio de mãos adequado

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Monitor Green Star 3, instalado à direita e à frente do braço direito do operador, apresenta todas as funções de funcionamento do trator

O banco do operador possui todos os ajustes possíveis, além de um giro lateral de 25 graus. O assento para o acompanhante também é espaçoso, por conta da cabine

CONCESSIONÁRIO

O

concessionário John Deere que nos deu suporte para este teste foi a Itaeté Máquinas, fundada e revendendo a marca desde 2008, para a região de São José do Rio Preto. Além da loja matriz nesta cidade, a empresa mantém filiais em Votuporanga, Catanduva e Jales, abrangendo extensa área da região noroeste do estado de São Paulo, contando, para isto, com mais de 200 colaboradores diretos. A empresa trabalha com equipamentos novos e usados, peças originais, serviços de pós-venda e manutenção de equipamentos, além da intermediação

com o Banco John Deere e outros bancos, para o financiamento dos equipamentos ao produtor rural. Durante todo o teste nos acompanhou o consultor estratégico de negócios, Robinson Soares, demonstrando bom conhecimento do produto e fácil relacionamento com os clientes, como pudemos atestar. Por sinal, os representantes da usina nos informaram que uma das características deste concessionário é a qualidade do atendimento, principalmente no que se refere à entrega técnica e ao treinamento dos funcionários da usina, para operarem máquinas tão complexas como esta.

apoio para os pontos mais altos da cabine.

TDP E SISTEMA HIDRÁULICO

A transmissão é do tipo powershift integral, com 16 marchas à frente, quatro à ré. As marchas podem ser trocadas com um leve toque, em uma pequena alavanca, colocada à frente do painel de comandos laterais, onde se apoia o braço direito. O sistema hidráulico deste trator é de centro fechado, com bomba de pistão axial, sistema hidráulico de três pontos, com porta chassi e engate rápido para os braços inferiores. São cinco válvulas VCR standard, para o sistema de controle remoto, com acionamento das válvulas no painel lateral, só com um toque de único dedo. As definições de configuração das VCR, programadas pelo operador, podem ser vistas no painel. Junto às válvulas VCR notamos a presença de uma tomada elétrica e de um conector Isobus de nove pinos, de acordo com a Norma ISO 11783, para a ligação de implementos que tenham ligação lógica com o trator.

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PNEUS E PESOS

O rodado do trator que testamos era do tipo simples, com pneus 800/70R38 no eixo traseiro e 600/70R30 na parte dianteira da máquina. Além deste tipo de rodado, o simples, a empresa ainda oferece como opcional um rodado duplo, onde são colocados dois pneus 710/70-42 na traseira e outros dois 480/70-34 no eixo dianteiro do trator. Para esta configuração o eixo estriado standard de 2.438mm é substituído pelo fabricante por um mais longo, de 3.100mm. O lastro traseiro presente neste trator era de 205kg, mais um disco de 72kg e um suporte interno de impressionantes 625kg. Na dianteira, estavam colocadas 12 placas de 47kg cada, sobre o suporte dianteiro, que igualmente serve de lastro. A lastragem suplementar fez com que este trator passasse de um peso em vazio de 11.485kg para um peso total do trator analisado


Fotos Charles Echer

O trator que testamos estava equipado com sistema AMS de agricultura de precisão

superior, muito semelhante ao sistema utilizado em automóveis. Em determinadas situações, em que um dos rodados trafegava no sulco realizado pela grade e o outro pneu ficava sobre o terraço, havia um desnível de aproximadamente 60cm, totalmente absorvido pelo sistema de suspensão. Além desta vantagem, a suspensão ILS é um excelente meio para prevenir o power hop, ou galope, como é conhecido entre os .M operadores.

A coluna da direção possui diversos ajustes de altura e inclinação, facilitando sua adaptação aos mais diversos biotipos de operadores

de 16.400kg, com uma distribuição de peso de 42% sobre a dianteira e 58% na parte traseira, considerando ainda o acréscimo de 40% de água nos pneus. Particularmente interessante é a constituição deste trator na parte dianteira onde o rodado, para mudar de direção, encaixa-se no capô lateral, conseguindo raios excessivamente reduzidos, o que facilita as manobras de cabeceiras. Também nos trouxe uma bela impressão a suspensão dianteira independente ILS, que se constitui de um conjunto de balanças inferior e

José Fernando Schlosser, Nema - UFSM

Local do teste Um dos negócios da Bunge é açúcar e bioenergia, no que ela se coloca, desde 2006, como uma das maiores processadoras de cana do país, mantendo atualmente oito usinas, que superam 20 milhões de toneladas/ano. Tivemos oportunidade de visitar as unidades de Guariroba, onde fizemos os testes de campo, e Moema, e nos reunimos com a equipe técnica. O que se notou, principalmente na área de produção agrícola, é que há muita influência da área industrial na questão de organização, com muito cuidado

na aplicação de normas regulamentadoras do trabalho rural e o compromisso na adoção de máquinas e equipamentos seguros. Somente nesta unidade que utilizamos para o teste das máquinas são aproximadamente 60 mil hectares, entre áreas próprias e arrendadas, com cana de alta qualidade e com operações totalmente mecanizadas. Notamos igualmente um cuidado especial com a questão ambiental, manifestada pelo uso da técnica da compostagem, utilização e enriquecimento da torta.

O teste foi realizado na Usina Moema, no município de Riolândia (SP) de propriedade da Bunge

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ESCARIFICADOR

Na pressão

AGCO

Avaliação do desempenho de um escarificador em função do tipo de haste e da profundidade de trabalho aponta a força exercida pelo implemento em diferentes ocasiões

A

disponíveis. Segundo Lyne et al (1984), a otimização do desempenho de um trator requer um sistema de controle para a seleção apropriada dos valores relacionados ao motor e aos seus parâmetros de tração. A previsão precisa de energia ou da força requerida pelas ferramentas de preparo tem sido prejudicada devido às dificuldades na identificação de parâmetros relevantes no sistema solo-ferramenta, principalmente os parâmetros de resistência dinâmica do solo. O conceito de agricultura de precisão com o uso de tecnologias como sensores, sistemas de aquisição de dados e sistemas de direcionamento via satélite torna possível o desenvolvimento e a análise de sistemas solo-

Fotos Gustavo K. Montanha

mecanização agrícola permitiu grandes avanços na agricultura, dentre eles melhor eficiência nas operações agrícolas e aumento da produtividade na propriedade rural. Porém, essa intensificação no uso de máquinas agrícolas acarretou em maiores gastos energéticos e custos de produção para o produtor rural. Nesse processo de mecanização agrícola as operações de preparo do solo estão entre as que requerem maior demanda energética e consequentemente maiores custos. Os métodos utilizados no preparo de solo influenciam diretamente na eficiência dessas variáveis em função principalmente das condições e do tipo do solo, da declividade do terreno, do tipo de cultura e dos recursos mecanizados

Trator agrícola instrumentado para realização dos ensaios

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Gustavo avalia o desempenho de um escarificador em função do tipo de haste e da profundidade de trabalho

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ferramenta mais eficientes para as operações de preparo de solo. A instrumentação de máquinas e equipamentos agrícolas para a realização de ensaios de campo pode gerar informações importantes e proporcionar conhecimento de parâmetros que possibilitem o desenvolvimento de conjuntos solo-ferramenta com melhor eficiência energética, resultando maior retorno econômico para o produtor rural. Diversos trabalhos estão sendo desenvolvidos visando à melhor análise de sistemas solo-ferramenta. Glancey et al (1989) projetaram um escarificador instrumentado para medir a resistência mecânica do solo em diferentes profundidades no campo. Seu projeto incluiu seis extensômetros de resistência elétrica montados diretamente atrás da borda cortante frontal e outros seis na parte traseira da haste, na mesma profundidade que os extensômetros frontais. Um sensor adicional foi instalado para medir as forças verticais que agem no escarificador. Similarmente, Adamchuk et al (2001) usaram uma haste lisa vertical com extensômetros de resistência elétrica dispostos em diferentes níveis na parte traseira da haste. Andrade et al (2001) usaram uma haste equipada com células de carga para medir a resistência mecânica do solo a uma profundidade de 0,60m em incrementos de 0,07m


Figura 1 - Força horizontal (N) nas diferentes interações profundidade e tipo de haste

Tipos de hastes utilizadas nos ensaios

e, para tanto, utilizaram uma célula de carga separada para cada profundidade. O objetivo desse trabalho foi instrumentar um trator agrícola e mensurar a força horizontal exercida em uma haste escarificadora em diferentes profundidades de trabalho e diferentes tipos de haste (molduras). Os ensaios foram realizados no Distrito de Fuchu, estado de Tokyo, Japão, em área pertencente à Tokyo University of Agriculture and Technology. A área total utilizada foi de 1.728m2 com parcelas de 60m2. Para a realização dos ensaios foi utilizado um trator agrícola da marca Iseki modelo Sial Hunter 22, três cilindros com potência do motor de 24HP. Para medir a força horizontal exercida pelo trator agrícola, foram instalados na haste do equipamento extensômetros de resistência elétrica (strain gages) da marca Kyowa, modelo KFG 5-350-C1-11, atuação de 5mm, resistência 350ohms, uniaxial, dimensões de 9,4mm x 4,2mm e temperatura de operação de -196°C a 150°C. Strain gages são sensores elétricos cujo princípio de funcionamento é baseado na variação da resistência quando submetido a uma deformação, podendo medir grandezas físicas como deslocamento, força, torque, aceleração, temperatura, vazão, pressão entre outras. Para isolar os sensores foi utilizada uma cola adesiva Kyowa CC- 33A.

Foram utilizados três sistemas de aquisição de dados da marca Kyowa, modelo DBU-120A com alimentação de 5VCC, dimensões de 144mm x 90mm x 35mm e 0,35kg de massa. O sistema armazenou os dados obtidos pelos sensores de resistência elétrica (strain gages) com uma frequência de 1hz. Os dados do sistema de aquisição foram transferidos sincronizadamente em tempo real para um computador industrial da marca Panasonic, modelo Toughbook 30, utilizando as entradas USB do mesmo. Para o georreferenciamento dos dados coletados nos ensaios foi instalado no trator agrícola um receptor GNSS da marca Hemisphere GPS modelo Smart Antenna A100, com alimentação de 12VCC, massa 0,66kg e dimensões de 54,7mm x 129,5mm. As configurações de haste utilizadas foram: sem moldura, com moldura metálica e com moldura plástica realizando nove repetições para cada tipo de haste para as profundidades de trabalho de 15cm, 25cm e 35cm, totalizando 81 parcelas experimentais. Após análise dos dados, observou-se que não houve diferença estatisticamente significativa na interação dos fatores tipo de haste e profundidade de trabalho.

Não houve diferença estatisticamente significativa na força horizontal exercida na haste escarificadora na interação dos fatores de profundidade de trabalho e tipo de haste. O fator profundidade mostrou diferença estatisticamente significativa apresentando maiores valores de força horizontal nas profundidades mais elevadas de trabalho. Nota-se que a haste sem moldura apresentou sempre resultados numericamente menores em relação às configurações com molduras plástica e metálica na força horizontal, mas estatisticamente essas diferenças não foram significativas. Em relação às molduras metálica e plástica observou-se que a utilização da moldura plástica apresentou uma redução na força horizontal média de aproximadamente 5% em relação à moldura metálica nas três profundidades de trabalho. .M Gustavo K. Montanha, Saulo Guerra, Fernando H. Campos e Fabricio C. Masier, Unesp/Botucatu Kenshi Sakai, Tokyo Univ. of Agr. and Technology

Tabela 1 - Descrição dos tratamentos Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Profundidade 15cm 25cm 35cm

Descrição 15cm profundidade, sem moldura 25cm profundidade, sem moldura 35cm profundidade, sem moldura 15cm profundidade, moldura metálica 25cm profundidade, moldura metálica 35cm profundidade, moldura metálica 15cm profundidade, moldura plástico 25cm profundidade, moldura plástico 35cm profundidade, moldura plástico Força horizontal (N) Sem moldura Moldura plástica Moldura metálica 879 947 864 2023 2122 1866 3392 3533 3134

Instrumentação do trator com os sistemas de aquisição de dados e o computador industrial

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semeadoras

Haste ou disco?

Charles Echer

A semeadura da soja é feita de diferentes maneiras, com semeadoras dotadas de sulcadores tipo discos duplos ou hastes, além de ter a deposição de adubos feita no momento do plantio ou antecipadamente. Você sabe qual é a maneira mais rentável?

A

produção agrícola vem passando por transformações tecnológicas significativas em função da necessidade de se buscar cada vez mais competitividade e práticas que impactam na redução do custo de produção. Isso justifica em parte, a utilização em larga escala do sistema de semeadura direta, como manejo eficiente sob o ponto de vista conservacionista do solo e da água, além de propiciar economia de energia e maior capacidade operacional nas unidades de produção. Porém, em semeadura direta a realização das operações com tráfego de máquinas em solo com excesso de umidade tem provocado adensamento superficial (Kleins et al, 2008), podendo reduzir a produtividade das culturas (Kamimura et al, 2009). A compactação quase que inevitável na agricultura moderna, com o uso cada vez mais intensivo do solo, é complexa,

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afetando fatores físicos, químicos e biológicos do solo. A resposta das principais culturas em relação à compactação superficial e subsuperficial do solo tem se mostrado às vezes contraditória, isso porque, durante o ciclo de desenvolvimento de uma cultura, as raízes enfrentam períodos de menor e de maior resistência mecânica ao desenvolvimento radicular, devido à flutuação da umidade do solo, além da presença de regiões com menor resistência, por onde as raízes podem se desenvolver. A utilização de mecanismos para abertura de sulco na semeadura pode provocar alterações na relação solo-semente, de forma que o solo fique diretamente sobre as sementes e solto o suficiente para facilitar a emergência da plântula (Reis et al, 2006; Koakoski et al, 2007). Entretanto, diferentes condições físicas dos solos têm causado dificuldades na

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realização da semeadura, sendo difícil definir um único mecanismo que promova um melhor desenvolvimento inicial da cultura, para todas as variadas condições do solo (Reis et al, 2006) e até como forma de romper a camada adensada. Por isso, em lavouras sob semeadura direta deve-se ficar atento ao desempenho da semeadora-adubadora quanto ao corte eficiente dos restos culturais, abertura do sulco e a deposição das sementes e fertilizantes em profundidades corretas. Além disso, outro fator importante, quando se discute alguns nutrientes no sistema de semeadura direta, é com relação à dinâmica do fósforo. Por possuir baixa mobilidade no solo, principalmente naqueles com teores elevados de argila, a sua recomendação quando os teores são médios a baixos é incorporá-lo no sulco de semeadura. Porém, é cada vez maior a utilização por parte de produ-


Claudir José Basso

tores da sua aplicação a lanço, inclusive antecipadamente à semeadura da soja, buscando maior rendimento operacional da semeadora, principalmente em algumas regiões do Brasil, onde a janela de semeadura é pequena. Já para solos com teores de fósforo acima do nível crítico, também denominado nível de suficiência, a recomendação indica quantidade suficiente apenas para repor a exportação pelas culturas, sendo a forma de aplicação superficial e/ou incorporado, independentemente da expectativa de resposta das culturas. Operações com semeadoras são fundamentais para o bom estabelecimento e arranque inicial das plantas e, por isso, da realização desse trabalho com objetivo

John Deere

Em solos compactados o surgimento e o desenvolvimento de novas raízes são prejudicados e têm como consequência um menor volume de solo explorado, comprometendo a absorção de água e nutrientes

de avaliar a influência dos sistemas de abertura de sulco, tipo haste sulcadora e disco duplo e a própria deposição do adubo (superficial na linha de semeadura ou incorporado), sobre a cultura da soja.

O TRABALHO

Não houve diferença em produtividade da soja para os diferentes mecanismos de abertura do sulco

O experimento foi desenvolvido na Fazenda Vila Morena, localizada no município de Boa Vista das Missões (RS). O solo é classificado como Latossolo Vermelho distrófico típico com textura argilosa (640g/kg de argila) e um teor de fósforo de 5,9mg/ dm. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com quatro repetições. Foram testados os seguintes tratamentos: T1) semeadura com haste sulcadora e com adubo químico incorporado, T2) semeadura com haste sulcadora e sem adubação química, T3) semeadura com disco duplo e com adubo químico na superfície (padrão do produtor), e T4) semeadura com disco duplo e sem adubação química. A profundidade da haste sulcadora foi de 13,5cm e a do disco duplo de 6,5cm. Na adubação

de base foram utilizados 150kg/ha de monofosfato de amônio (MAP) e a semeadura, da cultivar BMX Apolo (RR), realizada no dia 29/11/2010 com espaçamento de 0,56m entre linhas, utilizando uma semeadora tratorizada de 11 linhas. A densidade de semeadura foi de 11,5 sementes viáveis por metro linear, buscando uma população final de 205.357 plantas/ha. Todas as parcelas tiveram 5,0m de comprimento e 11 linhas (uma passada de semeadora) sendo que somente as quatro linhas centrais foram colhidas, para avaliação do peso de mil sementes (PMS) e da produtividade, em uma área útil de 8,96m2. Após a colheita, foi efetuada a trilha mecanicamente e posterior pesagem dos grãos, sendo os dados corrigidos a 13% de umidade. Todos os manejos fitossanitários na cultura da soja seguiram-se o recomendado para a cultura (Reunião, 2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 mostra que o mecanismo de abertura do sulco na semeadura da


Fotos Claudir José Basso

Figura 1 - Resposta do sistema radicular 14 dias após a emergência da soja com dois diferentes mecanismos de abertura de sulco usados na semeadura. Boa Vista das Missões (RS), ano agrícola 2010/11. UFSM, Campus de Frederico Westphalen (RS)

soja afetou o comportamento inicial de desenvolvimento do sistema radicular da cultura. Quando comparado à semeadura com haste sulcadora, a semeadura com disco duplo mostra um desvio lateral no crescimento radicular. Isso mostra que na semeadura com haste sulcadora, o mecanismo de abertura de sulco, que trabalhou numa profundidade de 13,5cm, foi eficiente em romper essa camada compactada, facilitando o crescimento vertical e em profundidade do sistema radicular da soja. Para alguns autores, em solos compactados o surgimento e

o desenvolvimento de novas raízes são prejudicados e têm como consequência, um menor volume de solo explorado, comprometendo a absorção de água e nutrientes. Além da ruptura da camada compactada, no mecanismo de semeadura com haste sulcadora, o crescimento radicular em profundidade pode ser estimulado pela deposição do fertilizante em maior profundidade, já que no sistema de semeadura com disco duplo e do próprio sistema de semeadura direta em função da ciclagem, ocorre maior concentração desses nutrientes na camada mais super-

ficial do solo. No campo, dez a 12 dias após a emergência da soja, já é possível observar a presença de nódulos em número significativo no sistema radicular e, mesmo assim, as plantas apresentaram um aspecto mais amarelado quando comparadas àquelas que receberam uma dose inicial de fertilizante nitrogenado. Isso fica evidente quando se observa a Figura 2, com e sem utilização de MAP na semeadura com haste sulcadora, onde se observa uma coloração verde mais intensa na parte aérea da soja que recebeu MAP na adubação de base. Isso se justifica pelo fato de que as bactérias da espécie Bradyrhizobium necessitam de um certo tempo de adaptação nessa fase inicial de desenvolvimento da soja, enquanto que o nitrogênio adicionado via fertilizante está prontamente disponível para ser utilizado. Esse amarelecimento desaparece após alguns dias, e vale lembrar que em diversos trabalhos conduzidos por órgãos de pesquisa, não foi observado nenhum efeito positivo na produtividade de grãos, com a aplicação de nitrogênio na base, aliás, conforme abordado por Hungria et al (2000), a aplicação de 20kg/ha de nitrogênio na semeadura reduziu em 14% a nodulação, avaliada aos 30 dias com queda de 147kg/ha (2,45sc/ha) na produtividade final da soja. Para o PMS, com exceção da semeadura com disco duplo e sem aplicação de MAP (T4), que apresentou o menor PMS (155,3g), não houve diferença significativa para os demais tratamentos (Tabela 1). Quando se compara o T2 e o T4, semea-

Figura 3 - Distribuição e volume total de chuva acumulado em cada mês durante todo o ciclo da cultura da soja. Boa Vista das Missões (RS). Ano agrícola 2010/11. UFSM, Campus de Frederico Westphalen (RS)

Figura 2 - Aspecto visual da soja 14 dias após a emergência, na semeadura com haste, com e sem monofosfato de amônio na base. Boa Vista das Missões (RS), ano agrícola 2010/11. UFSM

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Divulgação

Tabela 1 - Peso de mil sementes e produtividade de grãos de soja submetida a dois mecanismos de semeadura e deposição da adubação química. Boa Vista das Missões (RS), ano agrícola 2010/11. UFSM, Campus de Frederico Westphalen (RS) Tratamentos* T1 T2 T3 T4

PMS - gr 167,3 a 158,2 ab 160,3 ab 155,3 b

Produtividade - kg ha-1 73,0 a 70,5 a 71,4 a 69,8 a

*T1) semeadura com haste sulcadora e com adubo incorporado, T2) semeadura com haste sulcadora e sem adubação química, T3) semeadura com disco duplo e com adubo na superfície (padrão do produtor) e T4) semeadura com disco duplo e sem adubação química.

dura com disco duplo e haste sulcadora, respectivamente, sem aplicação de MAP, não houve diferença significativa entre os diferentes mecanismos de semeadura no PMS da soja, embora a magnitude dos números mostre um incremento de 2,9g no PMS da soja na semeadura com haste sulcadora. No presente trabalho, desconsiderando o fator adubação e na média dos dois diferentes mecanismos de semeadura, a produtividade de soja foi de 71,7 e 70,6sc/ ha para semeadura com haste sulcadora e disco duplo, respectivamente. Em um sistema de semeadura direta consolidada a longos anos, era de se esperar uma resposta quanto ao sistema de abertura de sulco, bem como a adubação superficial e/ou incorporada, o que não ocorreu, e isso pode estar associado ao fator distribuição e volume total de chuva durante todo o período de condução do trabalho, conforme mostrado na Figura 3. O uso de hastes sulcadoras em semeadoras-adubadoras tem se generalizado em áreas de solos com textura argilosa, como alternativa para romper a compactação da camada mais superficial, porém, a resposta por parte das plantas pode estar também relacionada às condições hídricas. No trabalho de Cardoso et al (2006), não houve correlação com o crescimento radicular e o estado de compactação do solo, medida pelo penetrômetro, e para os autores, a compactação não afeta o acúmulo de matéria seca e a produtividade de grão da soja, quando não ocorre restrição hídrica.

Autores avaliaram o desempenho de semeadoras com sistemas de hastes sulcadoras e discos sulcadores na semeadura de soja em diferentes sistemas de plantio

pode ser atribuído à boa distribuição e volume de chuva durante todo o período de condução do trabalho, condição essa que minimiza eventuais problemas de compactação e a própria deficiência de alguns nutrientes. A questão que fica é: haveria alguma resposta da soja a esses tratamentos com um pequeno estresse hídrico durante os estádios de enchimento de grãos? A nosso ver, em uma condição de veranico como ocorreu nesse último ano agrícola (2011/12), há uma grande probabilidade de resposta da soja aos diferentes mecanismos de abertura do sulco e a própria deposição (superfície ou incorporado) da adubação. Por isso, em anos

onde as previsões climatológicas mostram possibilidade de ocorrência de veranicos durante algum estádio da cultura, deve-se priorizar a semeadura com mecanismo de haste sulcadora, a fim de facilitar o desenvolvimento radicular da planta e o arranque inicial da cultura. .M Claudir José Basso, Cristiano Fabbris, Lucindo Somavilla, Fabiane Pinto Lamego, Antônio Luiz Santi, Elizandro Kluge e Lucas Endler Rosa, UFSM/Cesnors

CONCLUINDO

Não houve diferença em produtividade da soja para os diferentes mecanismos de abertura do sulco, bem como aplicação superficial ou incorporada da adubação de base sobre o peso de mil sementes e na produtividade final de grãos. Isso, conforme já discutido anteriormente,

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semeadoras

Kuhn

Abrindo caminho Comparação Comparação econômica econômica de de diferentes diferentes mecanismos mecanismos sulcadores sulcadores na na semeadura semeadura de de milho milho cultivado cultivado em em plantio plantio direto direto mostra mostra em em quais quais cenários cenários éé mais mais viável viável usar usar um um ou ou outro outro sistema sistema

A

integração lavoura-pecuária e características físicas do solo, principalmente em solos argilosos. Uma das maiores preocupações dos agricultores tem sido o custo operacional para reverter esse problema, que pode ser reduzido por meio de melhorias em projetos de máquinas e implementos e melhores procedimentos operacionais. O alto custo dos combustíveis, hora-máquina e a baixa remuneração do produtor exigem o uso de técnicas de gerenciamento dos serviços, principalmente aquelas ligadas às operações motomecanizadas, visando minimizar o consumo de energia. Em trabalho realizado na Faculdade de Ciências Agronômicas, pertencente à Universidade Estadual Paulista (Unesp) os engenheiros agrônomos Samir

Paulo Jasper e Paulo Roberto Arbex Silva avaliaram o desempenho produtivo de uma lavoura de milho e o custo operacional por hectare de dois mecanismos de abertura de sulco (haste sulcadora e disco duplo) em função de dois espaçamentos mais utilizados comercialmente no milho (0,90m e 0,45m). O ensaio foi conduzido no ano agrícola 2010/2011, na Fazenda Experimental Lageado, localizada no município de Botucatu (SP), região centro-oeste do estado de São Paulo. A área é cultivada há 15 anos no sistema de plantio direto, soja e/ ou milho no verão e aveia-preta e/ou triticale no inverno. Os equipamentos utilizados na operação de semeadura do milho, bem como as características e o valor de aquisição são

Paulo Roberto Arbex Silva

técnica da semeadura direta encontra-se difundida e praticada pelos agricultores brasileiros, principalmente, em virtude da sustentabilidade que esta proporciona ao produtor, ocasionada pela conservação do solo. A semeadura direta utilizada juntamente com a prática de rotação de culturas resulta no sistema de produção agrícola mais difundida na agricultura nacional na última década, proporcionando vantagens físicas, químicas e biológicas no solo. Produtores que adotam o sistema de plantio direto relatam que ao passar dos anos, as camadas superficiais do solo tendem a compactar em razão de fatores como o tráfego de máquinas agrícolas, o pisoteio de animais em sistemas de

A semeadora utilizada para os experimentos dos diferentes sistemas sulcadores foi uma Marchesan, modelo PST2, com quatro linhas espaçadas de 0,90m ou seis linhas espaçadas em 0,45m

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Tabela 1 - Equipamentos utilizados no ensaio, suas características e valor de mercado Marca Características Equipamento Jonh Deere, Modelo JD 6600 TDA, potência de 121cv/89 kW Trator Semeadora-Adubadora Marchesan, Modelo PST2 4 linhas espaçadas de 0,90m, ou 6 linhas espaçadas em 0,45m

apresentados na Tabela 1. Para composição do custo operacional estes foram divididos em fixos e variáveis. Os custos fixos nesta metodologia são dados por depreciação, juros, alojamento, manutenção e mão de obra. A depreciação foi estimada pelo método linear, que implica numa redução constante do valor do equipamento para cada ano de vida útil. O custo decorrente dos juros reflete o custo de oportunidade do capital e foi determinado multiplicando-se pela taxa de juro sobre o valor médio do capital. O custo de alojamento, seguro e manutenção foi determinado admitindo-se percentual de sobre o valor de aquisição das máquinas e/ou implementos. Para o cálculo do custo da mão de obra foi utilizada a seguinte metodologia: tratorista e um funcionário recebendo salários de R$ 1.000,00 e R$ 700,00 por mês, respectivamente, com acréscimo de 96,27% de encargos sociais (13º salário, férias e INSS). Efetuou-se a conversão em custo horário de mão de obra, considerado uma jornada diária de oito horas de trabalho e 20 dias mensalmente. Os custos variáveis foram dados pelo combustível, graxa e óleos lubrificantes. A determinação do consumo horário de combustíveis baseou-se no preço do combustível (R$ 1,89 por litro) e no consumo horário de combustível pela máquina agrícola. O custo horário

Valor de Aquisição (R$) 117.833,00 55.392,00

Modelos de disco e haste utilizados no experimento

O ensaio foi conduzido na Fazenda Experimental Lageado, localizada no município de Botucatu (SP)

produtor deve ser criterioso no momento de escolher reduzir o espaçamento entre fileiras na cultura do milho. Os pesquisadores concluíram que ao utilizar mecanismo sulcador tipo disco duplo, deve-se optar pelo espaçamento entre fileiras de 0,45m, ao trabalhar com mecanismo sulcador tipo haste, o espaçamento .M recomendado é o 0,90m. Samir Paulo Jasper e Paulo Roberto Arbex Silva, Unesp Tabela 2 - Síntese da análise de variância e do teste de médias para velocidade de deslocamento – VD (km.h-1), consumo horário de combustível – CHC (L.h-1), tempo demandado – TD (h.ha-1) e custo por hectare – CPH (R$.ha-1), para operação de semeadura do milho. Botucatu/SP (2010/2011)

Divulgação

Aline Grego

com óleos lubrificantes e aplicação de graxa correspondeu a 15% do custo despendido com combustível. Os parâmetros descritos anteriormente foram submetidos à análise de variância (P<0,05) e a comparação entre médias foi realizada pelo “teste t” a 10% de probabilidade. Na Tabela 2, são apresentados os resultados da síntese da análise de variância para os parâmetros de velocidade de deslocamento, consumo horário de combustível, tempo demandado e custo por hectare da operação de semeadura do milho. Primeiramente observa-se que todos os parâmetros responderam significativamente as variáveis analisadas. Em relação ao mecanismo sulcador, o disco duplo apresentou velocidade de deslocamento superior, estatisticamente, à da haste sulcadora, resultado que corrobora para um menor tempo demandando por hectare (Tabela 2), logo, explica o menor custo por hectare semeado com o disco duplo. É preciso ressaltar que os resultados concordam com Levien (1999) que comparou velocidade de deslocamento entre diferentes mecanismos sulcadores. O espaçamento entre linha reduzido (0,45m) apresentou velocidade de deslocamento do conjunto motomecanizado, significativamente, inferior ao espaçamento entre linhas convencional (0,90m), com maior consumo de combustível horário. Porém, ao adotar o espaçamento reduzido o produtor trabalha na semeadora-adubadora com mais unidades (linhas) de semeadura, o que resulta no menor tempo demandado por área, como se observa na Tabela 2. Ao utilizar o espaçamento entre linhas reduzido o custo por hectare da operação de semeadura será menor que o espaçamento convencional. Estes resultados colaboram para análise de Dias et al (2007), que ressalta que o

Jasper e Arbex avaliaram o desempenho produtivo de uma lavoura de milho e o custo operacional por ha

VD (km.h-1) CHC (L.h-1) TD (h.ha-1) CPH (R$.ha-1) Mecanismo Sulcador (MS) 106,38 A Haste 4,18 B 12,49 A 0,77 A 83,52 B Disco Duplo 4,48 A 10,57 B 0,63 B Espaçamento entre Linhas (EL) 91,75 B 0,45m 4,22 B 12,51 A 0,66 B 98,15 A 0,90m 4,43 A 10,55 B 0,73 A TESTE F MS 13,843** 74,009** 87,811** 118,727** 9,323** EL 6,407* 76,923** 19,703** 6,566* MS x EL 12,300** 57,540** 14,297** 4,42 CV (%) 3,79 3,88 4,37 Em cada coluna, para cada fator, médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem, entre si, pelo “teste t”, a 10% de probabilidade. NS: Não significativo (P < 0,05); *: Significativo (P < 0,05) e **: Significativo (P < 0,01). CV %: Coeficiente de variação.

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empresas

Ampliação Fotos Carolina Silveira

Com a inauguração da nova fábrica de tratores em Santa Catarina, a Budny terá um acréscimo de 320% na produção atual da empresa

S

anta Catarina acaba de receber sua primeira fábrica de produção de tratores. A Budny inaugurou seu novo parque fabril em novembro na cidade de Içara, localizada ao sul do estado com uma área de 30 mil metros quadrados e cinco mil metros quadrados de área construída. O lançamento marcou os 22 anos da empresa e foi comemorado com a presença de autoridades e funcionários da empresa.

Para a construção da fábrica, a Budny investiu R$ 30 milhões e será capaz de produzir, a partir de agora, 760 unidades por ano, o que representa um aumento de aproximadamente 320% em sua produção atual. “Hoje fabricamos um trator por dia e com a nova fábrica teremos o aumento para cinco tratores/dia. O nosso objetivo para 2013 é produzir dez tratores/ dia, explica o diretor da empresa, Carlos Budny.

Para a construção da fábrica, a Budny investiu R$ 30 milhões e será capaz de produzir, a partir de agora, 760 unidades por ano

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O novo parque fabril produzirá tratores de 25cv a 110cv, voltados para a agricultura familiar e lavouras empresariais. Os tratores de 25cv são desenvolvidos principalmente para hortifruticultura e avicultura; os de 50cv para transporte de alimentação, produção de pecuária e ainda para as culturas de café, feijão, milho e silagem. Já os de 75cv e 90cv são indicados para propriedades maiores nas culturas de cana, milho, soja, trigo e arroz. Uma das novidades apresentadas durante a inauguração da fábrica da Budny foi a parceria com a empresa de motores MWM. Três modelos de tratores da marca serão fabricados com motorização MaxxForce 3.0A e MaxxForce 4.0A, com três e quatro cilindros, respectivamente, nas potências de 62cv, 83cv e 103cv. Estes modelos terão um índice de nacionalização de 90% e serão fabricados a partir de 2013. Ainda para 2013, a Budny pretende investir em exportação. A empresa já negociou com países do Mercosul e agora prepara-se para vender tratores e outros equipamentos agrícolas à África, tendo em vista a semelhança dos territórios com o Brasil. “Os contatos com a Angola foram feitos em janeiro deste ano e a previsão é de fecharmos parcerias que irão gerar negócios e divisas para a região”, explica o diretor Carlos Budny. Ele ainda projeta que para os próximos cinco anos explorar mais o mercado brasileiro, com a construção de uma nova unidade em Rondônia e em Mapitoba, que engloba as regiões de Maranhão, Bahia, Tocantins e Piauí. “A agricultura familiar teve um aumento bastante significativo nessas regiões, por isso optamos por explorar melhor e inves.M tir nesses espaços”, diz.

“O nosso objetivo para 2013 é produzir dez tratores/dia”, explica o diretor da empresa, Carlos Budny



ficha técnica

Tratores Puma

A nova linha de tratores médios da Case IH chega ao mercado com motorizações de 197cv e 213cv, projetados para atender ao mercado de grãos e também canavieiro

A

Case IH lançou durante a Expointer 2012 sua nova linha de tratores Puma com fabricação nacional. Estes tratores estão sendo produzidos na fábrica de Curitiba, nos modelos Puma 205 e Puma 225, com potência nominal de 197cv e 213cv, respectivamente. Eles são equipados com motores Case IH de certificação Tier III, com capacidade para 6,75L. O sistema de injeção eletrônica Commom Rail da série permite que as máquinas trabalhem em apli-

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cações pesadas como plantio, preparo do solo com gradeamento e subsolagem sem perder rendimento, com menor consumo de combustível. Os tratores são equipados ainda com o Power Boost, responsável por um aumento de potência de até 35cv nas operações de TDF, no transporte, em condições de alta exigência de fluxo hidráulico ou em terrenos íngremes.

MOTOR

Esta nova linha está posicionada den-

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tro do segmento de tratores médios e vem equipada com motores Case IH FPT de 6,75L, que possui um projeto que pretende disponibilizar potência e torque com baixo consumo específico de combustível. O sistema de injeção de combustível é eletrônico e possibilita que os motores apresentem uma característica extra, o Power Boost, que permite ao motor um pico de potência extra de até 35cv, que pode ser utilizada quando o trator encontra momentaneamente uma


Fotos Case IH

Circuito de injeção de diesel Common Rail faz com que o combustível chegue a altas pressões

demanda maior de potência na operação. O motor possui cabeçotes com quatro válvulas por cilindro (02 x de admissão e 02 x de escape), totalizando 24 válvulas. Essa característica permite melhor circulação de gases de admissão e escape e, por consequência, disponibiliza mais potência com menor consumo de combustível. O sistema de injeção Common Rail consiste um método de pressurização que faz com que o combustível chegue a altas pressões na câmara de combustão, sendo melhor queimado e, com isso, melhor aproveitada a sua energia, o que permite maior potência com redução de consumo de combustível. O sistema de arrefecimento do motor garante adequada refrigeração em condições severas de operação. Isto ocorre basicamente por que a caixa de refrigeração possui três radiadores principais que exigem menos potência de ventilação forçada, que permite ao motor dedicar mais cvs para puxar implementos. O sistema de acionamento do ventilador vistronic ajusta eletronicamente a velocidade com base na temperatura, para que a ventoinha só gire com a velocidade necessária. Já a tomada de ar é feita na parte frontal do trator, fornecendo ar mais limpo para manter a vida útil do motor. Um filtro de ar único localizado na lateral-esquerda do trator possui sistema ejetor de pó que elimina até

A velocidade do ventilador se ajusta eletronicamente com base na temperatura

Os motores Case IH FPT de 6,75L possuem cabeçotes com quatro válvulas por cilindro (dois x de admissão e dois x de escape) totalizando 24 válvulas

95% de partículas pesadas que entram pela tomada de ar. O sistema de ventilação do bloco é fechado para emissões baixas.

TRANSMISSÃO

A transmissão da série Puma é do tipo Full-Powershift e possui 18 velocidades à frente e seis à ré. Um sistema avançado que também equipa a linha Puma é o APM Diesel Saver que possibilita reduzir o consumo de combustível em até 24% em algumas condições. O gerenciamento automático de produtividade possui as configurações predeterminadas APM Estrada, APM Campo, onde motor e transmissão “trocam as marchas” automaticamente para economizar combustível enquanto mantêm a velocidade desejada. Quando a alavanca do acelerador estiver no modo APM, ela comporta-se como um manípulo de propulsão.

SISTEMA HIDRÁULICO

Um sistema hidráulico da linha Puma foi

Filtro de ar único possui um sistema de ejetor de pó que elimina até 95% de partículas pesadas

projetado para atender uma maior demanda de vazão hidráulica e pode ser considerado de alto fluxo para a categoria, com 150 litros por minuto padrão, quatro válvulas hidráulicas de controle remoto. O sistema de levante hidráulico possui eixo de acionamento em aço, tem maior espaço para as válvulas auxiliares e cilindros com 110mm para manutenção da capacidade de levante, que é de 6.894kg. O eixo dianteiro que equipa a série é classe IV, com bloqueio eletro-hidráulico, considerado adequado para serviços pesados. Sua estrutura principal é fundida em aço maleável e a extensão da estrutura é feita de ferro fundido cinzento. Possui um raio de giro que chega a 6,10 metros, tornando-o apropriado para operações em culturas plantadas em linhas estreitas. O eixo dianteiro pode ser configurado para diferentes aplicações/bitolas, sem a necessidade de adquirir eixo adicional. Na condição de espaçamento estendido com

O sistema de levante hidráulico tem capacidade para 6.894kg

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Fotos Case IH

A linha Puma possui duas bitolas que podem variar entre 1,8m - 2,2m ou 2,8m - 3,0m com eixo estendido

Detalhe dos comandos das quatro válvulas de controle remoto

2,8m – 3,0m, pode ser utilizado em aplicações canavieiras. Para voltar á bitola de 1,8m – 3m, utilizada para plantio e preparo de solo, basta retirar as duas prolongações (lados direito e esquerdo).

EIXO TRASEIRO

O eixo traseiro tem lubrificação pressurizada, para garantir máxima lubrificação ao conjunto eixo/transmissão mesmo em longas jornadas de trabalho. Possui diferencial com bloqueio multidisco, reduzidas finais com três planetárias e freios a discos acionados hidraulicamente. Também possui ajuste de bitolas de 1,52m a 2,44m e na versão standard o eixo traseiro tem 112 polegadas de comprimento.

CABINE

A cabine da série Puma possui uma área envidraçada de 5,87m2, descansa-braço direito multifuncional que permite maior controle das diversas ferramentas que o trator oferece. Esta cabine, denominada Surveyor, possui sistema de suspensão, com suportes frontais montados verticalmente, dois conjuntos de amortecedor e mola ajustável montados sob estrutura da cabine, buchas de borracha grandes em todas as ligações e barra estabilizadora para equilíbrio lateral. O resultado deste conjunto de componentes é vibração reduzida para o operador, menor nível de ruído – até 69dB – e uma movimentação mais confortável. A cabine também possui assento adicional que permite a acomodação de duas pessoas no seu interior. O descansa-braço direito permite ao operador controlar muitas das funções que a linha Puma oferece. O manete do ace-

A linha pode vir com sistema de Piloto Automático, da Case IH, AFS Guide

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O descansa-braço localizado na direita do operador é multifuncional

lerador foi projetado a fim de se encaixar perfeitamente na mão direita do operador, permitindo a ele que tenha conforto total na operação do trator.

AGRICULTURA DE PRECISÃO

Os tratores da linha Puma já vêm com o sistema AFS Ready que traz pré-instalados de fábrica chicotes e válvulas para trabalhar com agricultura de precisão e pode, opcionalmente, vir de fábrica equipado com o sistema AFS Guide, o piloto automático da Case IH O sistema de Agricultura de Precisão vem com monitor AFS, com tela sensível ao toque e interface intuitiva, que permite ao operador monitorar as funções específicas do trator, tais como distância percorrida, consumo de combustível, possibilitando também a sua utilização em outros equipamentos.

CONFIGURAÇÕES ESPECIAIS

A linha Puma também foi projetada

tendo em vista a aplicação no mercado de cana. Por isso, os tratores saem de fábrica com predisposição para piloto automático, incluindo as partes elétrica e hidráulica, faltando apenas a montagem de monitor, a antena e o módulo de controle de navegação. Também pode ser configurado com pneus específicos para o mercado de cana-de-açúcar, eixo dianteiro reforçado, HD de categoria Classe IV para trabalhar com bitolas de três metros de largura, levante hidráulico de três pontos de alta capacidade, com espaço de até 6.894kg, freios pneumáticos para aplicação com transbordos e engate pino bola. .M

Porta de acesso à cabine, com degraus antiderrapantes

A cabine da linha Puma, denominada Surveyor, possui uma área envidraçada de 5,87 metros quadrados e sistema de suspensão com amortecedores e molas montadas sob a cabine

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A

irrigação por gotejamento subsuperficial (GSS) é uma variação da irrigação por gotejamento e pode ser definida como a aplicação de água abaixo da superfície do solo, através de emissores, com vazão geralmente na mesma faixa da irrigação por gotejamento. A profundidade de instalação dos emissores, bem como o espaçamento entre linhas laterais, é definida em função do tipo de solo, cultura a ser plantada e práticas de cultivo utilizadas na área; de modo geral, as profundidades utilizadas variam de 0,2m a 0,3m. Os problemas associados ao gotejamento enterrado são idênticos ao gotejamento superficial, adicionando-se a entrada de raízes no orifício de saída de água do gotejador bem como a entrada de partículas de solo dentro dos emissores em virtude da formação de vácuo no momento que o sistema é desligado, causando entupimento dos mesmos. Para este último caso, a prevenção é feita através da colocação de válvulas antivácuo, facilmente disponíveis no mercado, em maior número que o normalmente utilizado. Para intrusão de raízes a melhor estratégia é a prevenção, dado que uma vez que a raiz tenha penetrado no labirinto dos gotejadores, torna-se muito difícil sua remoção. Dessa forma, a intrusão de raízes deve ser encarada como um sério obstáculo ao sucesso da irrigação localizada subsuperficial em longo prazo. A cana-de-açúcar, sendo uma gramínea, apresenta sistema radicular fasciculado. Durante os primeiros 30 dias de brotação das gemas, a cana-de-açúcar utiliza as reservas de nutrientes contidas no tolete e, parcialmente, do suprimento de água e nutrientes proporcionados pelas primeiras raízes de fixação. Após esse período, iniciase o desenvolvimento das raízes a partir dos perfilhos primários e, posteriormente, dos secundários. Encontra-se frequentemente na literatura referência ao fato que apenas com o correto manejo da irrigação é possível evitar o processo da intrusão das raízes nos gotejadores enterrados. Parte-se do princípio de que proporcionando um regime de umidade do solo adequado, as raízes não precisarão adentrar os gotejadores em busca da água remanescente no seu interior. A ideia é que o manejo da irrigação pode influenciar a probabilidade de ocorrer intrusão de raízes, dado que interfere no ambiente imediatamente adjacente ao emissor; isso porque a irrigação de alta frequência, que mantém o solo em volta do emissor sempre próximo à saturação, pode inibir o crescimento radicular nessa área para algumas plantas. De modo contrário, déficit de umidade do solo, seja por manejo deficiente da irrigação ou

Charles Echer

irrigação

Entupiu

Com ampla gama de modelos oferecidos no mercado, as carretas graneleiras tornam-se cada vez mais dinâmicas, possibilitando sua utilização em operações do plantio à colheita nos diversos tipos de culturas

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1)

2) 4)

3)

Intrusionamento de raízes de cana em diferentes níveis: 1. Sem raiz; 2. Raiz na câmera de saída de água; 3. Raiz obstruindo todo o labirinto do gotejador e 4. Raiz atingindo o interior da mangueira de irrigação

outras estratégias de prevenção adotadas são a utilização de gotejadores que apresentam uma barreira física à entrada de raízes; tais modelos de gotejadores têm a propriedade de praticamente fechar o orifício de saída de água, quando não irrigando. A estratégia mais utilizada é a imposição de uma barreira química à entrada de raízes nos gotejadores: a formação de barreira química é, principalmente, efetuada com aplicação de herbicida através do sistema de irrigação (quimigação). Em função de características de mobilidade e estabilidade no solo, entre outras, a trifluralina é o princípio ativo com ação herbicida mais recomendado, sendo aplicado em doses da ordem de 0,15cc a 0,25cc por gotejador. Os conteúdos de matéria orgânica e argila do solo são os fatores mais importantes, os quais, indiretamente, influenciam todos os processos, afetando os herbicidas.

METODOLOGIA

Ocorrência de intrusionamento de raízes em diferentes modelos de gotejadores

algumas vezes imposto com o objetivo de controle da frutificação, da qualidade na maturação ou do crescimento vegetativo, pode aumentar a intrusão como consequência da alta concentração de raízes na área

do emissor.

ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DA INTRUSÃO RADICULAR

Além do correto manejo da irrigação,

Com o objetivo de avaliar se o nível de atendimento da demanda hídrica do cultivo está relacionado à entrada de raízes em gotejadores enterrados, foi realizado um estudo na Usina Coruripe SA, localizada no município de mesmo nome, no estado de Alagoas, em que parcelas de cana-deaçúcar foram irrigadas por quatro ciclos de cultivo utilizando o método de irrigação por gotejamento subsuperficial, em duas profundidades de instalação dos tubogotejadores (0,25m e 0,35m) e com base na reposição de 45%, 90%, 135% e 180% da evapotranspiração de referência (ETo). Ao fim do quarto ciclo, os tubogotejadores foram retirados e uma amostra aleatória de 720 gotejadores foi utilizada para averiguação da ocorrência de intrusão de raízes. Primeiramente foram efetuados testes de vazão em bancada e posteriormente os mesmos gotejadores foram dissecados para confirmação da ocorrência da intrusão no

Figura 1 - Percentual de gotejadores com e sem presença de raízes no seu interior, para diferentes níveis de irrigação

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Fotos Ronaldo S. Resende

Tabela 1 - Vazão média de gotejadores (n=80) em função do manejo da irrigação e da profundidade de instalação do tubogotejador

ET45 ET90 ET135 ET180 Média CV F

Qm (L h-1) P1 P2 1,26aA 1,40aA 1,46aB 1,41aA 1,54aB 1,36bA 1,46aB 1,43aA 1,43 1,40 30,5 34,0 ** ns

CV (%) P1 P2 42 36 32 28 19 38 23 30 29 33

Rq (%) P1 26 14 10 15 16

P2 18 17 20 16 18

Letras minúsculas indicam diferenças de médias entre os níveis do fator P e maiúsculas indicam diferenças de médias entre os níveis do fator W. ** p < 0,05, ns = não significativo.

seu interior. A cana foi plantada em fileiras duplas, com espaçamento de 0,5m entre fileiras simples e de 1,3m entre duplas. O gotejador era do tipo plano, não compensante de pressão, com vazão nominal (Qn) de 1,7L/h.

RESULTADOS

Na Tabela 1 são apresentadas as vazões médias dos gotejadores (Qm) e o percentual de redução de vazão (Rq), que pode ser considerado como nível de entupimento do gotejador. Observa-se que para a profundidade de 0,35m, a vazão observada para o menor nível de aporte de água (ET45) foi significativamente inferior aos demais níveis, não se verificando diferenças estatisticamente significativas entre estes. No entanto, esse comportamento não se repete para a profundidade 0,25m, onde a maior redução de vazão ocorreu no tratamento ET135, não diferindo, no entanto, dos demais níveis de água. Dessa forma, considerando-se a variável vazão média, os dados não permitem estabelecer uma relação clara entre o nível de depleção da umidade do solo permitida no manejo da irrigação e a intensidade do processo de intrusionamento de raízes. A maior parte do sistema radicular da cultura se man-

Os problemas associados ao gotejamento enterrado são idênticos ao gotejamento superficial

tém restrita à camada do solo que vai da superfície até 0,30m de profundidade. A análise do interior de cada gotejador amostrado permitiu visualizar quais deles apresentavam raízes intrusas e nesse caso em que parte do gotejador elas estavam localizadas. A Figura 1 representa o percentual de gotejadores com e sem raízes para cada manejo da irrigação. Embora na profundidade de 0,25m a cana que recebeu uma adequada quantidade de água (ET135) tenha resultado em um menor percentual de gotejadores com presença de raízes no seu interior, vê-se que na profundidade de 0,35m esse comportamento foi inverso, ou seja, foi o tratamento com maior nível de intrusão. O nível de redução de vazão resultante do processo de intrusão de raízes na irrigação por gotejamento dependerá de fatores, como a arquitetura de diferentes modelos de gotejadores, o tempo desde o início da intrusão, o posicionamento da raiz no interior do gotejador, a dinâmica do crescimento em espessura da raiz,

entre outros fatores. No interior do gotejador a raiz percorre o caminhamento inverso ao da água e pode alcançar o interior do tubogotejador e aí enovelar-se, formando uma barreira ao fluxo da água em toda linha lateral de irrigação. Dependendo da posição da linha onde isso ocorre, o efeito negativo do intrusionamento se amplia significativamente.

CONCLUSÃO

A relação entre o manejo da umidade na zona radicular da cultura da cana-deaçúcar e a ocorrência de intrusionamento de raízes no orifício de gotejadores não foi claramente estabelecida. Assim, não há uma indicação clara que o manejo da irrigação por si só possa evitar que ocorra a entrada de raízes nos gotejadores .M enterrados. Ronaldo S. Resende, Julio R. A. De Amorim, Anny K. M. Rodrigues, Embrapa Tabuleiros Costeiros

Desenho em escala do gotejador avaliado e enovelamento de raízes no interior de tubogotejador

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tratores Fotos Marcelo Cassia

Tráfego controlado

Estudo que avaliou o desempenho de trator agrícola com bitola estendida para operações mecanizadas mostra as vantagens de utilizar o tráfego controlado nas lavouras canavieiras

O

uso de máquinas de grande porte em áreas de produção de cana-deaçúcar tem afetado sensivelmente o desenvolvimento e a longevidade da cultura, principalmente pela incompatibilidade entre o espaçamento de plantio da cultura e a bitola destas, ou seja, o espaçamento entre os rodados das máquinas. Este fato acarreta, dentre outros efeitos, a compactação excessiva do solo e o “pisoteio” da cultura pelo tráfego de tratores e equipamentos agrícolas ao longo do ciclo produtivo. A compactação do solo é o efeito direto da passagem dos rodados das máquinas agrícolas, sejam estes pneus ou esteiras, sendo que 85% a 90% deste efeito podem ser ocasionados já na primeira passagem de alguma máquina. Dentre outros efeitos, a compactação do solo acarreta na redução da infiltração de água no solo, na suscetibilidade à erosão, no desenvolvimento da cultura, reduzindo a produtividade e a longevidade do canavial. Estima-se que na cultura da cana-de-açúcar, 87% da superfície do solo sejam compactados pelo tráfego de máquinas dentro de um ciclo produtivo (uma safra), fato este que restringe os

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locais de desenvolvimento das plantas, que não sejam “pisoteadas”. Neste contexto, a prática do Controle de Tráfego visa minimizar os efeitos, pois separa as zonas de tráfego daquelas em que há crescimento das plantas, concentrando a passagem de pneus em linhas delimitadas, as entre linhas da cultura. Desse modo, uma área menor será submetida ao tráfego agrícola, embora mais intensamente, o que pode reduzir em até 45% a área compactada, o que traz como benefícios melhorias na estrutura física do solo, pois uma área maior não apresentará impedimento à infiltração de água e desenvolvimento das raízes; aumento da eficiência operacional das máquinas, pela melhoria no potencial de tração do solo, relação pneu-solo; menor consumo de combustível e, consequentemente, do tráfego do maquinário em solo mais firme - linhas de tráfego; e principalmente aumento da longevidade e produtividade do canavial. O Tráfego Controlado trabalha com a Uniformização das Bitolas (padronização em tratores, plantadoras, pulverizadores, distribuidores de fertilizantes, colhedoras, transbordos, entre outros) para mesmas medidas compatíveis com

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o espaçamento da cultura (1,40m – 1,50m, ou compatíveis); com Sistemas de Direcionamento Automático (traçando trajetos previamente definidos e carregados em sistemas de piloto automático), usando GPS e Glonass, que podem ser usados em diferentes equipamentos orientados por uma base em comum, garantindo precisão de centímetros. Visando empregar o Controle de Tráfego, soluções alternativas têm sido buscadas pelas empresas, como a utilização de prolongadores nas pontas dos eixos, entretanto, estas soluções

Trator Valtra BH 205i utilizado no ensaio, já com o eixo estendido


Quadro 1 - Caracterização dimensional do trator Valtra BH 205i Eixo AS-3065 Dimensões Comprimento máximo Altura máxima Largura máxima Distância entre eixos Bitola Dianteira Bitola Traseira Distribuição de massa Eixo Dianteiro Eixo Traseiro TOTAL RELAÇÃO MASSA/CV

Standard

Estendido

5,53m 2,98m 2,78m 2,87m 1,90m 1,94m

--3,56m -2,72m 2,68m

4.070kg (37,1%) 6.956kg (62,9%) 11.026kg 56,5kg cv-1

4.382kg (39,6%) 6.684kg (60,4%) 11.066kg 56,8kg cv-1

podem interferir no desempenho operacional das máquinas, bem como na durabilidade das mesmas, uma vez que tais componentes não foram previamente dimensionados pela indústria. Diante desta realidade, foram desenvolvidos e lançados no mercado máquinas e equipamentos com eixos para bitolas estendidas ou que possam ser estendidas, dimensionados principalmente para atender à cultura da canade-açúcar. Por se tratar de uma nova configuração em relação ao projeto original, é necessário que avaliações comparativas sejam realizadas quanto ao desempenho das máquinas nestas configurações (eixos standard e estendidos), trabalho que foi realizado pelo Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola (Lamma), do Departamento de Engenharia Rural da Unesp de Jaboticabal (SP).

O TESTE

Para realizar o comparativo, foi utilizado um trator da marca Valtra, modelo BH 205i de 195cv de potência no motor (143,4kW), pertencente à classe de potência de maior utilização em operações mecanizadas na cultura da cana-de-açúcar, que apresenta tração 4x2 com tração dianteira auxiliar (TDA). O modelo é equipado com o eixo trativo direcional AS-3065 (eixo dianteiro), fabricado pela ZF do Brasil, que apresenta a possibilidade de ser montado em duas configurações de bitolas: standard (1,90m) e estendida (2,80m a 3,00m), ou ser convertido entre as duas. Para a realização dos testes, o trator foi ensaiado inicialmente na sua configuração de bitola standard e, em sequência, o eixo dianteiro foi convertido para configuração estendida pelos técnicos da ZF do Brasil, empregando componentes originais, pertencentes ao projeto do eixo. No eixo traseiro, por não haver esforços de torção e esterçamento, são inseridos espaçadores fixados às pontas de eixos e às rodas, o que

Após o ensaio com bitola standard o eixo dianteiro foi convertido para configuração estendida, empregando componentes originais, pertencentes ao projeto do eixo

também permite a conversão entre bitolas. O trator foi dimensionado a partir da configuração com que foi recebido da fábrica, para adequação da lastragem e da distribuição de massa de acordo com as recomendações técnicas para o modelo (4x2 TDA), resultando em distribuição de massa em torno de 40% e 60% para os eixos dianteiro e traseiro, respectivamente, e relação massa/potência no motor, entre 52kg/cv e 58kg/cv. O dimensionamento do trator também foi adequado com as mudanças de bitola, visando evitar desequilíbrio no conjunto com a adição de novos componentes, mantendo o trator em mesmas condições para o ensaio conforme apresentado no Quadro 1. Vale ressaltar que na configuração estendida foi fixada a bitola em torno dos 2,80m, em função dos modelos de aros e pneus disponíveis para o ensaio, e obedecendo a recomendação técnica de que as bitolas dianteiras e traseiras trabalhem com dimensões uniformes. Quanto à distribuição de massa, observa-se que a mudança da bitola no eixo dianteiro aumentou a massa no mesmo em torno de 300kg, o que, combinado à alteração na lastragem traseira, melhorou o equilíbrio entre os eixos e prati-

camente manteve a mesma relação massa/ potência no motor. O trator ensaiado foi ainda instrumentado para a aquisição e armazenamento de dados inerentes ao desempenho operacional, utilizando-se sistema de aquisição do tipo Datalogger, tendo sido monitorados o consumo de combustível (volumétrico horário, operacional e por solo mobilizado), a velocidade real de deslocamento (velocidade operacional e capacidade de campo) e a patinagem dos rodados dianteiros e traseiros.

RAIO E ESPAÇO DE GIRO

Raio e espaço de giro são características dimensionais que refletem as características de manobrabilidade de máquinas autopropelidas, isoladas ou integrando conjuntos mecanizados (trator + equipamento + operador). O raio de giro é definido pelo raio do menor círculo, descrito por um ponto da intersecção da roda mais externa do trator com o plano de apoio, sobre o qual a máquina desloca-se em círculo, à direita ou à esquerda. Espaço de giro é o espaço circular descrito a partir do raio delimitado pelo deslocamento do ponto mais externo do trator

Ensaios de Desempenho Operacional em preparo do solo utilizaram diferentes implementos nas duas configurações de eixos

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com o plano de apoio em nível. O método de ensaio empregado para determinação do raio e espaço de giro dos tratores encontra-se na NBR 12566/1992, sob o título “Trator agrícola - Determinação do raio de giro e espaço de giro - Método de ensaio”. O ensaio foi realizado com o trator em condições de operação (TDA acionada, marcha e rotação de trabalho, velocidade média de 6,0km/h), nas duas configurações de bitolas em avaliação, realizando-se os testes apenas com o trator livre, no conjunto trator + grade e no conjunto trator + escarificador/subsolador. Nos resultados observa-se que a mudança na configuração da bitola aumentou os valores de raio e espaço de giro, em 10,2% e 7,6%, respectivamente, independentemente do conjunto avaliado. Ao se acoplar algum equipamento no trator, os mesmos valores se elevam na ordem de 25% para o raio e 15% para o espaço de giro. Para os índices de relação do raio e espaço de giro e de simetria do raio de giro, os indicadores também não apresentaram diferenças significativas quanto à alteração da bitola. Entretanto, quando se observa a classificação destes quando o trator trabalha com um equipamento, os índices se elevam para classificações piores, principalmente devido à grade se tratar de um equipamento assimétrico.

DESEMPENHO OPERACIONAL

Foram realizados testes de desempenho operacional do trator com as duas configurações de bitolas avaliadas, em operações de preparo de solo típicas em áreas de cana-de-açúcar: a) Gradagem: operação de preparo periódi-

Divulgação

Equipe da ZF do Brasil e do Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola da Unesp que participou do ensaio com operações típicas de lavouras canavieiras

co do solo realizada por meio de implementos de discos, que mobiliza toda a camada superficial do solo. b) Escarificação: operação de preparo periódico do solo realizada por meio de implementos de hastes, cuja profundidade atinge no máximo 0,35m. c) Subsolagem: prática agronômica realizada por meio de implementos de hastes, a profundidades superiores a 0,35m. Os resultados mostraram que, independentemente da operação avaliada, desde condições de deslocamento livre do trator até operações altamente severas como a subsolagem, o desempenho não foi afetado pela mudança na configuração da bitola em nenhuma das variáveis monitoradas. As operações de gradagem e escarificação demandaram potência de maneira semelhante durante os ensaios, fato que refletiu em todas as variáveis monitoradas,

Resultado dos testes de raio de giro

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o que demonstrou ainda que a operação de subsolagem apresentou demanda em excesso, que pôde ser notada principalmente pelos índices de patinagem em excesso, dentre outros. De maneira geral, a alteração na configuração da bitola do trator Valtra BH 205i não influenciou nos índices de qualidade do raio e espaço de giro, havendo incremento em torno de 10% nesta característica; o desempenho operacional também não foi afetado, ao se testar o trator até mesmo em operações .M bastante severas como a subsolagem. Marcelo Tufaile Cassia, Rafael Scabello Bertonha, Fábio Alexandre Cavichioli, Rafael Gomes de Azevedo Carlos Eduardo A. Furlani e Rouverson Pereira da Silva, Lamma – Unesp Jaboticabal

Resultados de desempenho operacional dos conjuntos




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