Do editor Edição Número 14 - Ano II Setembro/Outubro 2002 ISSN - 1676-0158 EMPRESA JORNALÍSTICA CERES CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (06 edições): R$ 38,00
Grande parte do maquinário agrícola não rende o que poderia por falta de manutenção e regulagem adequadas. Nesta edição, procuramos abordar a questão das regulagens sob diversos aspectos em pulverizadores e colhedoras. São problemas muitas vezes simples, que podem ser solucionados com um pouco de paciência e atenção. Falando em soluções, o levantamento topográfico realizado com aeromodelo, uma novidade apresentada pela Embrapa Instrumentação Agropecuária, além de baratear o custo da operação em mais de 90%, gera imagens tão boas quanto aquelas feitas com métodos convencionais.
DIRETOR
Newton Peter
Saindo um pouco da linha agrícola, mas mantendo o foco em máquinas de grande porte, abordamos o transporte rodoviário de madeira e a tecnologia empregada nesse segmento cada vez mais presente e com sistemas que buscam maximizar o rendimento.
EDITOR GERAL
Schubert Peter
EDITOR ASSISTENTE
Charles Ricardo Echer
Por fim, nosso consultor técnico questiona o acesso dos pequenos produtores às máquinas agrícolas e tecnologias disponíveis para a lavoura.
CONSULTOR TÉCNICO
Dr. Arno Dallmeyer
REDAÇÃO
Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo
Índice
DESIGN GRÁFICO
Nossa Capa
Fabiane Rittmann
MARKETING
Foto Jacto
Otávio Pereira
DIAGRAMAÇÃO
Fabiane Rittmann Carla Tuche de Armas
CIRCULAÇÃO
Rodando por aí
04/05
Transporte de madeira
06
Perdas na colheita de soja
10
Rastreabilidade de produtos agrícolas 14
Edson Luiz Krause Jociane Bitencourt
Monitoramento com aeromodelo
16
Inspeção periódica de pulverizadores 21
ASSINATURAS
Simone Lopes
Erros na regulagem de pulverizadores 24
ILUSTRAÇÃO
Rafael Sica
REVISÃO
Carolina Fassbender
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Index Produções Gráficas
Enfardadoras
28
Transmissão - missão impossível IV
32
Escarificação e subsolagem
34
Opinião
38
FOTOLITOS E IMPRESSÃO
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES:
(53)
GERAL / ASSINATURAS:
Destaques
3028.4008
REDAÇÃO :
Transporte de madeira
3028.4001 / 3028.4002 / 3028.4003
Aspectos tecnológicos do transporte de madeira e a adequação à lei da balança ....................................................
MARKETING:
3028.4005 / 3028.4004
FAX:
272.1966
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
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Perdas na colheita
Caderno especial Perdas e regulagens em colhedoras é o assunto enfocado por Eduardo Guimarães S. Filho
Pesquisa mostra pequena diferença na perda de grãos em colhedoras com idades diferentes ................................................... 10
Monitoramento com aeromodelo
Levantamento topográfico com aeromodelo é eficaz e custa bem menos que os métodos convencionais ................................................... 16
Regulagem em pulverizadores
Máquinas sem manutenção e erros na regulagem comprometem a eficácia da aplicação ...................................................
21
Rodando por aí
Novos rumos
Marci Ducat passou a integrar o Departamento de Comunicações da CNH, dando suporte de comunicação na América Latina para a rede de concessionárias New Holland, Case IH Fiatallis e Case Construções. Antes de exercer a nova função, Marci era assessora de imprensa da New Holland.
SIMA 2003
A cinco meses de sua abertura, o SIMA 2003 já se anuncia sob as melhores expectativas. Programado para o período de 23 a 27 de fevereiro do próximo ano no Parque de Exposições de Paris-Nord Villepinte, na França, o evento já está com 90% da área de exposição reservada. Todas as grandes construtoras mundiais do setor agrícola estarão presentes nos sete pavilhões e numa extensa área externa onde acontecerão as demonstrações de equipamentos. Mais de 30 países estarão com estande no maior evento da França do setor.
Chaves
O Superintendente da AGCO do Brasil, Normélio Ravanello, entregou as chaves de um trator Massey Ferguson 5275 para o ex-capitão da Seleção Brasileira de Vôlei, Paulo André Jukoski, o Paulão, na Expointer 2002. Paulão levará o trator para a sua propriedade em Butiá, RS, onde cultiva frutas e cria cavalos crioulos e gado.
Marci Ducat
Mercado em expansão Em visita ao Brasil, o vicepresidente mundial de vendas, marketing e comunicação da Valtra, Arto Tiitinew, mostrou-se confiante com as possibilidades que a agricultura brasileira oferece. Estava curioso e queria conhecer de perto todas as regiões do Brasil e o potencial
agrícola de cada uma delas, pois só assim saberemos concretamente como agir frente a esse mercado , afirmou. Arto visitou o estande da Valtra na Expointer 2002 acompanhado de diversos gerentes da empresa e do diretor de marketing e vendas, Cláudio Costa.
Cláudio e Arto
Recondicionamento
O Comitê Técnico Internacional de Recondicionamento COTECIR, realiza o II Congresso Internacional de Recondicionamento de Peças e Equipamentos COTECIR 2003, em novembro de 2003. O evento é organizado e promovido pelo Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, com apoio de outras instituições afins como a Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola SBEA, Associação Brasileira de Materiais Metálicos, Associação Brasileira de Mecanização Agrícola, de empresas recondicionadoras de materiais metálicos, borracha e plástico, entre outras. O Congresso conta com o apoio institucional da COOPERAÇÃO IBEROAMERICANA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA CYTED, formado por 21 países da América Latina, Caribe e Europa.
Nova concessionária
A Massey Ferguson inaugurou mais uma concessionária em Salvador, BA, voltada à linha industrial de retroescavadeiras e empilhadeiras. Com a inauguração da Tratormaster, a AGCO espera conquistar na Bahia o mesmo share de mercado que possui no resto do Brasil, ao redor de 20% , garantiu entusiasmado o diretor de vendas, Carlito Eckert.
Grandes resultados
Werner Santos
Advanced 275 Citrus
A Massey Ferguson, além de levar o troféu ouro no Prêmio Gerdau Melhores da Terra 2002, teve um crescimento de 12% acima do resultado da Expointer anterior. O faturamento de R$ 16,5 milhões superou as expectativas da empresa. Para Werner o troféu ouro para a MF 34 na categoria Destaque do Prêmio consolidou o sucesso das colhedoras Massey, já que a MF 38 ganhou ouro na categoria novidade do mesmo prêmio em 1999 .
Máquinas
Othon d´Eça Cals de Abreu cações e também de equipamentos destinados à armazenagem de grãos , disse o diretor-presidente da empresa, Othon d Eça Cals de Abreu.
Reboque 6000 ts
A carreta Reboque 6000 TS da Stara Sfil levou o troféu ouro na categoria novidade no Prêmio Gerdau Melhores da Terra. A carreta possui um sistema inédito que realiza o tra-
tamento de sementes na hora de abastecer a plantadora, permitindo a aplicação de produtos líquidos e a pó, com capacidade de produção de até 100kg/min.
Crescimento
A Massey Ferguson colocou no mercado o trator Advanced 275 Citrus, especialmente ajustado para operar em pomares. É outro resultado de exaustivas consultas aos produtores de frutas, que ajudaram a definir um modelo ideal de máquina para trabalhar na citricultura. Os ajustes tecnológicos facilitam o manejo, manobras e deslocamentos em pomares, com iluminação auxiliar para trabalhos noturnos e páralamas.
04
Unidade galvânica
A Kepler Weber inaugurou sua unidade de galvanização a quente na cidade de Panambi, RS. O processo é o mais moderno do Brasil e um dos mais avançados do mundo, obedecendo aos mais rigorosos requisitos de proteção ao meio ambiente. A nova unidade tem capacidade de imersão de 3.300 ton./mês e processará a galvanização de torres metálicas para transmissão de energia e telecomuni-
O gerente de Vendas da Case IH, Paulo Gobbo, encerrou a Expointer 2002 satisfeito com as vendas, que superaram as expectativas para este ano. Essa evolução se deve principalmente ao fato de termos hoje uma oferta maior de produtos de tecnologia avançada fabricados no Brasil. Nenhum concorrente tem tantas máquinas agrícolas de grande porte nacionalizadas como a Case IH , garantiu. As vedetes da empresa na feira deste ano foram a linha MX Magnum, o maior trator do Brasil e a colhedora de grãos Axial-Flow 2388. Para Gobbo, o Moderfrota e a atuação do Banco CNH Capital são fatores que contribuíram para o crescimento nas vendas.
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Paulo Gobbo Setembro / Outubro 2002
John Deere
Paulo Hermann
Marketing integrado Paulo Hermann assumiu a direção de Marketing da John Deere para o Brasil, desde 1º de agosto, quando as operações de marketing e manufatura da empresa na América do Sul foram integradas. O comunicado, feito pelo presidente da Divisão Agrícola, David Everitt, informou a criação de novas diretorias para a região. Martin Mundstock, que era Di-
retor Comercial da empresa, responde pela diretoria de Marketing para a América do Sul, e Antônio Garcia assumiu a Diretoria Industrial para a América do Sul. A coordenação geral das atividades da John Deere na América do Sul continuará sob a responsabilidade de Jim Martinez, atual diretor-presidente no Brasil e Diretor Geral de Operações da empresa.
A John Deere aproveitou a Expointer 2002 para lançar três novos tratores da Linha 5000 Série 05, na faixa de 75 a 85cv. Os modelos 5605 e 5705 são resultado da evolução dos modelos 5600 e 5700. Já o modelo 5403 posiciona-se em relação aos demais modelos de sua linha como uma opção com preço competitivo, aliando simplicidade e alta tecnologia. Os três modelos utilizam motores da série 350, com camisas úmidas, 4 cilindros, capacidade volumétrica de 4,5 litros, apresentam reserva de torque de 27% e uma faixa de 2000 a 2400 rpm.
Patrola Frontal GP-3600F Fabricada pela Gihal, a máquina possui lâmina de 3.60m e peso de 2500kg. O equipamento pode ser acoplado em tratores com potência acima de 90hp e possibilita conservação de estradas, taipas e açudes, nivelamento de solos e terraplanagem com custo reduzido.
Recordes
O setor de máquinas agrícolas continua comemorando os bons resultados. Em agosto passado, o volume comercializado somou 4.239 máquinas, um total de 3,7% maior que o de julho e 11,7% superior ao de agosto de 2001, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O resultado é o maior desde outubro de 1994.
Roçadeiras Husqvarna
A Husqvarna lançou a sua nova linha de roçadeiras de pequena cilindrada 323R e 325Rxt. A 323 R é uma roçadeira leve (4,5 kg) e extremamente robusta, possuindo carcaça de liga de magnésio, com 24,5 cm3 de cilindrada e 1,2 cv de potência. A 325Rxt, é uma roçadeira que agrega todas as características da 323R e possui o sistema E-tech, que reduz a emissão de gases poluentes, de acordo com normas européias.
Retroescavadeira
ERRAMOS
A Randon lançou a retroescavadeira, projetada pela empresa, RK 406, construída com chassi monobloco e motor emissionado MWM com potência de 82 ou 109 hp. Possui sistema eletrônico de aceleração que ajusta automaticamente a rotação do motor às necessidades de força na operação de escavação.
O Show Rural Coopavel 2003 está prometendo. É o que afirma o coordenador geral do Evento, Rogério Rizzardi. Segundo ele, a cooperativa está fa-
Show Rural 2003 zendo grandes investimentos para maximizar a área e a participação das empresas e ampliar ainda mais a qualidade do evento. Entre outras novidades,
Balanço
A New Holland teve um aumento expressivo no número de negócios na Expointer desse ano em comparação com a edição anterior. O gerente de vendas, Luiz Feijó, atribui o crescimento nas vendas às novas séries Exitus e TS, ao aumento da safra de grãos no RS e ao Moderfrota .
Novas colhedoras de cana a feira do próximo ano terá mais ruas cobertas, avenida central com bancos em toda a sua extensão, área de lazer e um mirante com vista geral do parque.
A John Deere entregou duas novas colhedoras de canade-açúcar Cameco CHT 2500B à Usina Batatais. Com isso, a frota vai ampliar a capacidade de colheita em duas mil toneladas de cana por dia, chegado à marca de 11.500 toneladas diárias. Essa marca é considerada a ideal para a usina que produz 1,9 milhão de toneladas de cana.
Melhores da Terra 2002
Luiz Feijó
A 20ª edição do Prêmio Gerdau Melhores da Terra premiou seis equipamentos agrícolas divididos nas categorias Novidade e Destaque. Na categoria Novidade, o troféu ouro foi para o Reboke 6.000 TS da Stara Sfil S.A. e o troféu prata ficou com a Cultivadora Roçadeira Articulada em Linha, da AMV Fortaleza Ltda, e a Braçadeira de Ajuste Rápido para Plantio e para outros Equipamentos da Semeato S.A. O troféu prata na categoria Destaque ficou com a Plantadora e Adubadora da Metasa e o Motocultivador Yanmar TC 14 da Atritech Ltda. Já o troféu ouro, na mesma categoria, ficou com a colheitadeira MF 34 da Massey Ferguson.
Na última edição, publicamos equivocadamente uma ilustração de modelo da capa do Caderno Técnico em nossa Página 3. A ilustração em questão não passa de teste, não aprovado para publicação como capa por questões editoriais.
Madeira
Fernando Seixas
transporte
Combinações de eixos e pneus são fatores importantes para diminuição de gastos em transporte rodoviário de madeira
O
principal modo de transporte de madeira no setor florestal brasileiro é o rodoviário, com poucas empresas utilizando-se do modo ferroviário e o transporte fluvial mais restrito à região Amazônica. Além dessa dependência, a importância do transporte por caminhões é marcante, principalmente pela participação na composição do custo final da madeira posta na fábrica, geralmente entre 30 e 50%. Ao envolver longas distâncias e o tráfego em estradas de terra e asfalto, o transporte principal de madeira exige o emprego de caminhões pesados (PBT entre 30 e 45 t). Grande parte das empresas florestais que possuem frota própria ou desenvolvem estudos para tanto, acabam optando por um caminhão com maior capacidade de carga, ressalvando-se as limitações quanto à qualidade do pavimento e à capacidade de aclive de cada veículo. Entre diversos outros fatores, o custo da operação de transporte é dependente da distância, da existência de frete de retorno, das condições da rede viária e da construção e manutenção de estradas, da eficiência das operações de carga e descarga, incluindo aqui os tempos de espera, a quantidade de
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Máquinas
Scania
Carga pesada
Além dos gastos com combustíveis e pneus, os pedágios influenciam no preço final do frete www.cultivar.inf.br
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A opção de montagem de uma balança na grua do carregador florestal pode ser mais econômica, entre US$7,656 e US$10,208, dependendo da instalação
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desgaste resultante na estrutura do pavimento. Um estudo feito nos Estados Unidos, país com excelente malha viária, procurou avaliar as conseqüências de uma proposta para a redução dos limites de carga por eixo ( Proposta Turner ) quanto ao impacto global na economia do país. Pela Proposta Turner , os limites de cargas por eixo nos EUA, que já se incluem entre os mais baixos em vigor no mundo, pasFig. 03. Esquema de uma balança Superior montada em uma grua sariam de 9,1 t para 6,3 t (eixo simples) e de 15,4 t para 12,7 t (Michaelsen, 1993) (tandem duplo). Prevendo-se redução de gastos com manucarga transportada por composição veicular, o tenção e conservação de rodovias e pontes, aupagamento de pedágios, combustível etc. Em mento da segurança, reavaliação dos valores de virtude da privatização de algumas rodovias, impostos e tarifas, reavaliação dos valores de notadamente no Estado de São Paulo, o nú- fretes, gastos adicionais para os operadores, em mero de pedágios aumentou significativamen- termos de necessidade de aumento do número te, assim como a fiscalização quanto à obser- de caminhões ou de eixos, concluiu-se que havância da Lei da Balança, resultado da preocu- veria benefícios globais da ordem de US$ 2 bipação das concessionárias quanto à conserva- lhões anuais, caso a proposta fosse aceita (TRB, ção das estradas sob sua administração. Por- 1990; citado por Fernandes Jr. et al., 1991). tanto, número de eixos na composição e o peso Tais valores são ainda mais expressivos em cada eixo são fatores hoje de preocupação quando comparados à realidade brasileira, uma para o transportador, sempre buscando a oti- vez que nossos limites legais vigentes (10 t, 17 mização da quantidade de madeira transporta- t e 25,5 t, respectivamente para os eixos simda por veículo, sem contudo ultrapassar os li- ples, tandem duplo e tandem triplo) são, via de mites estabelecidos na legislação. regra, desrespeitados, dada a baixa densidade de postos de pesagem em nossa malha viária.
COMBINAÇÕES DE VEÍCULOS
A chamada Lei da Balança , parte do Código Nacional de Trânsito, foi elaborada na década de 60 e posta em prática a partir de 1974, sendo um conjunto de artigos do referido código que influem nas limitações de dimensões e de peso para os veículos de carga e passageiros de fabricação nacional. O Peso Bruto Total (PBT) do caminhão, ou o Peso Bruto Total Combinado (PBTC) da composição veicular, não pode ultrapassar a Capacidade Máxima de Tração (CMT) estabelecida de 4,2 kW/t (5,71 cv/t), restringindo-se ainda ao limite máximo de 45 t. As figuras 1 e 2 ilustram os pesos máximos para os tipos de veículos utilizados no transporte florestal rodoviário. Machado et al. (2000) comentam que, de acordo com a Resolução 68/98, as combinações de veículos de carga (CVC), com mais de duas unidades, incluindo a unidade tratora (ex.: rodotrens, treminhões e tritens) ou duas articulações (ex.: bitrens), somente poderão circular portando uma Autorização Especial de Trânsito (AET). Estas combinações não poderão possuir PBTC superior a 74 toneladas, respeitando-se a CMT, ter comprimento máximo de 30 m e limitar-se ao peso máximo estabelecido por eixo. Um importante aspecto a ser considerado, quanto ao peso aplicado por eixo, refere-se ao
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Máquinas
USO DE BALANÇAS
Equipamento permite controlar a inflação dos pneus da própria cabina, com o veículo em movimento
carreta (Tabela). A opção de montagem de uma balança na grua do carregador florestal pode ser mais econômica, entre US$7,656 e US$10,208, dependendo da instalação. Contudo, um teste desenvolvido por Michaelsen (1993) apresentou diferenças de leituras acima do nível aceitável de 3% do total da carga (Figura 3). A eficiência do sistema era dependente do cuidado com que o operador manuseava a grua, introduzindo pequenas pausas para a estabilização do sinal após a colocação da madeira na pilha do caminhão. Essas pausas representaram um acréscimo entre 2 e 4 minutos no tempo total de carregamento e havia também um problema de técnica de calibração que pudesse ser feita pelo operador da grua. Um sistema CTI é um equipamento eletro-mecânico que permite ao motorista do caminhão variar a pressão de inflagem dos pneus da própria cabine enquanto dirige. Os benefícios da operação com pressões menores incluem: redução dos requisitos do pavimento; redução da manutenção da estrada; redução da
Devido ao maior rigor quanto à fiscalização em termos do cumprimento da Lei da Balança e da própria necessidade de redução dos custos de manutenção de estradas, a determinação do peso da carga de madeira no próprio local de abastecimento tornouFig.01. Tipos de veículos articulados e respectivos PBTC (Machado et al., 2000) se uma medida imprescindível. Michaelsen (1998) avaliou cinco tipos de balanças instaladas em composições rodoviárias e concluiu que quatro delas apresentavam uma calibração razoável, com erro menor do que 3%, equivalentes à tolerância legal, para o Canadá, de 1500 kg para um PBTC de 55.500 kg. Um dos sistemas era inteiramente mecânico (baseado em células de carga), dois eram inteiramente pneumáticos e os outros dois eram sistemas híbridos, ou seja, mecânico no cavalo mecânico e pneumático na
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Volvo
Descrição das balanças avaliadas pelo FERIC (Michaelsen, 1998) Tipo de Balança
Custo (US$)a
Erro
Sistemas
Fabricante
Caminhão
Carreta
Sistema
Instalação
(%)c
Mecânico Pneumáticos
Vulcan Vulcan Cléral SI Vulcan
Célula de carga Pneumático Pneumático Célula de carga Célula de carga
Célula de carga Pneumático Pneumático Pneumático Pneumático
n.d.b 1,510 1,496 3,270 2,822
n.d. 255 43 a 287 510 a 638 510
3,17 2,13 2,63 1,15 2,08
Híbridos a c
Valores aproximados sujeitos a diversos fatores. b Sistema não mais recomendado pelo fabricante. O erro significa o intervalo de confiança dividido pelo PBTC obtido na fábrica.
madeira estavam equipados com um sistema CTI no Canadá em 1998, sistemas com preços variando entre US$12,760 e US$19,140. O FERIC desenvolveu um protótipo para instalar tal sistema somente nos eixos de força do Fig. 04. Esquema de um protótipo CTI (Bradley, 1996) caminhão, buscando, como principal objetivo, aumentar a capacidade de tração do mesmo. O motorista pode melhorias na capacidade de tração e dirigibiliescolher entre 4 modos de operação: viajando dade do caminhão. Em outro teste realizado vazio ou carregado, em combinação com velo- durante três anos, abrangendo um total de cidades fora-de-estrada ou na estrada. O 2.088 carregamentos de madeira, foi obsermodo fora-de-estrada deve ser usado em es- vada a redução média de 80% na produção tradas secundárias a uma velocidade máxima de sedimentos (Bradley, 1995). A causa desde 55 a 60 km/h. O sistema é automático, per- ta diminuição foi a formação de sulcos mais mitindo estabelecer qualquer nível de pressão largos e superficiais, com a redução da presentre 25 e 110 psi, de acordo com o tamanho são dos pneus, que geralmente têm taxas de do pneu, configuração do veículo, carga e velo- escoamento menores. Amlin (1996) reforcidade. A velocidade ça que uma maior área de contato do pneu do caminhão é moni- proporciona maior tração e flutuação, metorada continuamen- nor deslizamento (patinamento) das rodas Fig. 02. Tipos de combinação de veículos de carga (Machado et al., 2000) te e, se a mesma ex- e conseqüente redução de danos à superfíceder aquela estabe- cie das estradas e menos danos aos pneus. lecida para o modo Testes comparativos entre caminhões em uso, o sistema avi- com pneus com alta e baixa pressão, carregasa ao motorista para dos e vazios, apresentaram os seguintes reque reduza a veloci- sultados: a) os custos de manutenção e repadade ou selecione um ros eram oito vezes maiores para o caminhão modo com uma pres- com a pressão de pneu maior; b) peças no são maior de infla- caminhão com pneus com maior pressão sogem. O custo do pro- friam impacto duas a dez vezes maior do que tótipo foi de US$ aquelas no caminhão com pneus com baixa 4,785 para as peças e pressão; c) os pneus com baixa pressão apremais 50 horas de tra- sentaram desgaste 15% menor; d) o camibalho para monta- nhão com pneus com alta pressão causou gem e instalação maior perda de cascalho nas curvas; e) ocor(Vincent, 1998). reu situação de maior conforto para o moCom relação às torista no caminhão com pneus com baixa vantagens do uso do pressão (Hodges, 1987). .M sistema CTI, Sturos et al. (1995) desta- Fernando Seixas, cam a ocorrência de ESALQ/USP fadiga do motorista e queixas médicas; menor custo operacional do veículo devido a menor número de danos por vibração e menos reparos nos pneus; aumento da mobilidade do veículo, possibilitando o tráfego inclusive em condições antes limitantes de maior presença de umidade no solo (Bradley, 1995). O conceito por trás desse sistema é de adequar as pressões de pneus do caminhão a condições operacionais específicas, definidas pela velocidade, terreno, carga e resistência da superfície da estrada. Esta idéia foi aprimorada pelos militares americanos durante a II Guerra Mundial, com o desenvolvimento de sistemas que permitiam ao condutor de um veículo controlar a pressão dos pneus e melhorar assim a sua mobilidade. Na década de 80, engenheiros do USDA Forest Service começaram a estudar a aplicação desse sistema no transporte de madeira considerado fora-de-estrada. O seu uso torna-se mais factível quando existir uma ampla variedade de condições de estradas e possibilidades de emprego de velocidades maiores. Cerca de 200 caminhões de transporte de
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Máquinas
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Colheita
Colheitadeiras antigas e em boas condições apresentam bom desempenho no trabalho de campo
Marcos A. Campos
perdas
Velha mas inteira
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Máquinas
em intensidade proporcional ao tempo em que a cultura permanecer no campo (EMBRAPA, 1999). Durante a colheita é normal que ocorram algumas perdas. Segundo IAPAR (2001), a colheita mal feita é responsável por 2 tipos de prejuízos, os diretos e os indiretos. Os prejuízos diretos estão relacionados às regulagens mal feitas das colhedoras, promovendo maiores perdas. Os indiretos estão ligados às dificuldades para a realização do plantio direto, devido à má distribuição das palhas, e à necessidade de dessecação das plantas provenientes dos grãos perdidos. Para COSTA & TAVAREZ (1995), as perdas de grãos nos últimos anos estão alcançando níveis preocupantes. Relatam que as perdas ocorrem devido ao manejo inadequado da cultura como, por exemplo, solos mal preparados, atraso na colheita, contribuindo para as perdas naturais, presença de plantas daninhas e falta de manutenção e regulagens das colhedoras, dificultando a operação de seus mecanismos. Com relação às colhedoras, para CAIXE-
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TA & SILVA (1998) as perdas ocorrem devido à má conservação das mesmas e à falta de treinamento dos operadores, que muitas vezes são desprovidos de recursos técnicos, e desconhecem as regulagens e cuidados que deve-se ter com as colhedoras. MESQUITA et al. (1998 a) estudaram durante 20 safras agrícolas a redução das perdas na colheita de soja e o respectivo retorno econômico, resultantes de programa de capacitação de mão-de-obra para monitoração das perdas, operação e regulagens das colhedoras. Amostras de mais de 10 mil lavouras, tomadas ao acaso, foram coletadas pela Embrapa Soja e Emater - PR de 1978/79 a 1997/98. O retorno proporcionado pelo programa de capacitação foi a redução de perdas em 3,2 sacos/ha, no Paraná, e de 1,2 sacos/ha nos demais Estados, em 20 anos. E para que se consiga efetuar essas regulagens é necessário realizar revisões nas colhedoras antes de se iniciar o processo da colheita. A falta de manutenção provoca desgastes nas colhedoras, com isso, ao passar dos anos, ocorreram dificuldades para Setembro / Outubro 2002
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esde a construção das primeiras colhedoras combinadas de grãos (que realizam o corte, alimentação, trilha, separação e limpeza) até os tempos de hoje, ocorreu um grande avanço tecnológico destas máquinas, para melhorar o desempenho durante a colheita das culturas, principalmente a da soja e a do milho, que apresentam grande destaque entre os produtos agrícolas brasileiros e são de considerável importância na alimentação humana e animal. A colheita constitui uma importante etapa no processo produtivo da soja e do milho, principalmente pelos riscos de perdas de grãos que está sujeita a lavoura destinada ao consumo ou à produção de sementes (CARDOSO, 2001 b). A colheita deve ser iniciada tão logo a cultura atinja a umidade adequada, a fim de evitar perdas na qualidade do produto (MESQUITA et al., 1999 a). Para tanto, o agricultor deve preparar suas máquinas e armazéns com antecedência, pois uma vez atingida a maturação da colheita, a tendência é a deterioração dos grãos e a debulha
A colheita constitui uma importante etapa no processo produtivo da soja e do milho, principalmente pelos riscos de perdas de grãos que está sujeita a lavoura
corte do tipo flexível de 15 pés (4,5 m). A plataforma espigadora possui 4 linhas, com espaçamento de 0,90 m entre linhas. TC 57 (98): marca New Holland, modelo TC57, ano 1998, potência de 170 cv (125 kW) a 2100 min, plataforma de corte do tipo flexível de 15 pés (4,5 m), barra de corte flexível com ajuste de pressão sobre o solo. A plataforma espigadora possui 4 linhas, com espaçamento de 0,90 m entre linhas.
Regulagens
Fig. 2 - Perdas na colheita da soja em função de colhedoras com diferentes anos de fabricação
... realizar uma regulagem adequada, aumen-
tando as perdas na colheita ano a ano (CARDOSO, 2001 a). MESQUITA et al. (1999 a) estudaram a colheita mecânica da soja no Paraná, nas safras de 95/96, 96/97 e 97/98, comparando-se perdas de grãos e danos mecânicos de acordo com a marca e a idade de colhedoras. Não houve diferenças significativas entre os níveis de perdas e de danos mecânicos com as quatro marcas de colhedoras encontradas no Estado, bem como entre as colhedoras agrupadas em quatro faixas de idade. Apenas as colhedoras acima de 15 anos de utilização diferiram das outras. De acordo com MESQUITA et al (2001), dentre a frota de colhedoras amostradas no Paraná, tem-se 20% com mais de 15 anos e aproximadamente 67% com mais de 11 anos de idade. Como pôde ser verificado anteriormente, o parque de máquinas do Estado do Paraná já tem vários anos de utilização e, muitas vezes, se faz necessário escolher entre continuar utilizando a colhedora e fazendo sua manutenção ou substitui-la por uma nova, as quais atualmente estão cada vez mais desenvolvidas tecnologicamente. Para realizar tal escolha, faz-se necessário analisar alguns fatores, como o custo horário, as perdas alcançadas pelas máquinas antigas etc. Em vista do exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar as perdas quantitativas de três colhedoras com diferentes anos de utilização, nas culturas de soja (Glicyne max (L.) Merrill) e milho (Zea mays L.).
cultura da soja, as parcelas apresentavam 8,10 m de largura por 50 m de comprimento, utilizando-se para as avaliações apenas uma passagem útil da colhedora, restando duas bordaduras laterais de cada parcela. No milho, as parcelas apresentavam 7,20 m de largura por 50 m de comprimento. Na cultura do milho também utilizou-se apenas uma passagem útil da colhedora, mas nesse caso não era centralizada. Esse procedimento foi utilizado para que não ocorresse contaminação entre as parcelas avaliadas. Os dados foram submetidos à analise de variância e às médias comparadas pelo teste de Tukey, considerando-se 5 % de probabilidade em todos os testes.
Características e regulagem das colhedoras
NH 8040 (1988): marca New Holland, modelo 8040, ano 1988, potência de 125 cv (92 kW) a 2100 min, plataforma de corte do tipo flexível de 13 pés (3, 9 m). A plataforma espigadora possuía 4 linhas, com espaçamento de 0,90 m entre linhas. NH 8055 (93): marca New Holland, modelo 8055, ano 1993, potência de 150 cv (103 kW) a 2100 min, plataforma de
A rotação do molinete era de 1,33; 1,25 e 1,29 vezes a velocidade de deslocamento das colhedoras NH 8040 (88), NH 8055 (93) e TC 57 (98), respectivamente. A velocidade de deslocamento foi de 4,93 km/h, 5,14 km/h e 5,08 km/h para as colhedoras NH 8040, NH 8055 e NH TC57, respectivamente. A coleta do material perdido na cultura da soja e do milho foi feita utilizando uma armação com 2 m2, sendo uma medida a largura da plataforma e a outra medida (Y), Figura 1, a necessária para completar a área de 2 m2 (MESQUITA et al, 1998 c); e uma lona de 4 m x 6 m, para determinação e coleta das perdas referentes aos mecanismos de limpeza das colhedoras. Avaliou-se as perdas nos diferentes componentes das máquinas (plataforma, peneiras, saca-palha, perdas totais e perdas naturais).
RESULTADOS E DISCUSSÕES Cultura da Soja
A soja apresentou uma população de 374.074 plantas/ha, altura média das plantas e inserção da primeira vagem de 85,32 e 12,85 cm, respectivamente. O rendimento de grãos foi de 3815 kg/ha ,corrigido a 13 % de umidade. Não foram verificadas perdas naturais. As perdas totais das colhedoras ficaram acima do nível aceitável de perdas (60 kg/
Fig. 3 - Perdas na colheita de milho em função de colhedoras com diferentes anos de fabricação
ESTUDO DE CASO No ano de 2001 foi conduzido um trabalho no município de Tupãssi PR, com as culturas de soja e milho, utilizando-se o delineamento estatístico de blocos casualizados com 3 colhedoras e 4 repetições. Na
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Máquinas
www.cultivar.inf.br
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ha) proposto por MESQUITA et al. (1979). Porém, não foram observadas diferenças significativas entre as colhedoras, como pode ser verificado na Figura 2. Com relação às porcentagens de perdas dos mecanismos em relação às perdas totais, as colhedoras 1, 2 e 3 apresentaram 85,95, 89,95 e 87,94 % de perdas na plataforma; 4,21, 3,36 e 3,37 % de perdas na peneira e 6,84, 6,72 e 8,67 % perdas no sacapalha, respectivamente. Resultados similares também foram obtidos por PEREIRA et al. (1993) na colheita de trigo e por MESQUITA et al. (1979) na avaliação de perdas na colheita da soja.
Fig. 1 Armação para coleta de perda
Cultura do Milho
O milho apresentava uma população de 58.148 plantas/ha, altura média das plantas e inserção da espiga de 233,52 e 97,68 cm, respectivamente. O rendimento de grãos foi de 6694,4 kg/ha corrigido para 13 % de umidade. Não foram observadas perdas naturais, porém devido a fortes ventos que ocorreram dias antes da colheita, ocorreu o tombamento das plantas, mas não a ponto de ocorrerem perdas naturais. Como pôde ser observado, as perdas nas plataformas foram excessivas. Isto ocorreu devido ao tombamento que estas plantas sofreram, o que dificultou o recolhimento de todas as espigas dos pés e favoreceu para que ocorresse a debulha das espigas nos rolos puxadores. Pelo fato de não ter ocorrido diferença significativa de perdas nos mecanismos das colhedoras, estas também não foram verificadas nas perdas totais, como mostra a Figura 3. Com os dados das perdas totais pode-se efetuar o cálculo da percentagem de perdas em cada um dos mecanismos avaliados. As colhedoras NH 8040, NH 8055 e NH TC57 apresentaram 86,69, 84,90 e 82,25 % de per-
das na plataforma; 2,81, 3,31 e 3,36 % de perdas na peneira e 10,50, 11,79 e 14,37 % de perdas nos saca-palhas. A não diferenciação estatística dos resultados obtidos tanto na cultura da soja quanto na do milho, ocorreram devido às colhedoras estarem basicamente com as mesmas regulagens, velocidade do molinete, rotação do cilindro e abertura deste em relação ao côncavo, rotação do ventilador, abertura das peneiras e velocidade de deslocamento das colhedoras além da realização das manutenções necessárias igualmente em todas as colhedoras, para que estas permanecessem em condições de trabalho, uma vez que a falta de manutenção das colhedoras provoca desgastes, dificultando as regulagens necessárias para realização de uma colheita adequada. Estes resultados estão de acordo com os obtidos por MESQUITA et al. (1999 a), na avaliação de perdas com colhedoras de diferentes faixas de idade, sendo que apenas colhedoras acima de 15 anos tiveram resultados diferentes.
CONCLUSÕES Com relação aos mecanismos das colhedoras avaliadas, pôde-se observar que a plataforma foi a que proporcionou maior perda, tanto na cultura da soja quanto na do milho, sendo que na cultura do milho esta se elevou devido às adversidades climáticas. Com relação à avaliação dos diferentes anos das colhedoras, pôde-se observar que estas não apresentaram diferença significativa em nenhum dos mecanismos analisados. Portanto, pode-se dizer que as colhedoras avaliadas apresentavam-se com seus mecanismos em ótimo estado, assegurado pelas manutenções realizadas nas entressafras, que garantiram as regulagens necessárias .M para efetuar a colheita. Emerson Fey, Antonio Gabriel Filho, Mauro Luciano Manica e Leandro Dadalt, UNIOESTE
Tecnologia rastreabilidade
Várias empresas européias desenvolveram programas que permitem registrar todas as intervenções feitas no campo através da cartografia
Desde a origem sua terra no computador e cada uma delas fica automaticamente associada a telas de tomadas de vista que lhe possibilitarão armazenar um certo número de informações. Clicando simplesmente no mapa na tela, o agricultor poderá, diariamente, anotar os acontecimentos que se produzirão na sua parcela de terra, principalmente suas intervenções, como registrar os trabalhos que efetua (aragem, plantio , des-
baste ....), o nome da variedade semeada, as doses de sementes usadas, o nome dos adubos, as quantidades espalhadas, as matérias ativas de produtos fitossanitários usadas, as doses de aplicação e até a colheita. Ele poderá também acrescentar outras informações como o tempo de trabalho ou as condições meteorológicas, como também o preço do momento para obter margens econômicas por parcelas . Fotos Divulgação
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Europa foi atingida nestes últimos anos por várias crises alimentares sucessivas à ESB (vaca louca), à dioxina, ao medo das OGM - Organismos Geneticamente Modificados - que provocaram, sobretudo na França, fortes reações por parte dos consumidores em relação à origem dos alimentos. Para responder a esta preocupação do público em geral, firmas agrícolas, indústrias agroalimentares e as centrais de compras de grande distribuição desenvolveram uma rastreabilidade rigorosa das produções das parcelas do agricultor. A constituição de tais processos exige do agricultor um registro de grande precisão, com muitos dados sobre cada uma de suas parcelas e cada uma de suas culturas. Um trabalho extremamente cansativo quando é feito manualmente. Em muito pouco tempo, para ajudar os agricultores nesta tarefa, várias empresas conceberam programas que lhes permitiam registrar todas as intervenções feitas nos campos a partir da cartografia de sua exploração agrícola.
UM SIMPLES CLIQUE NUM MAPA Uma vez criados os mapas de suas terras, o agricultor procede a um recorte das parcelas de
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Agricultor equipado de programa de cartografia e os acompanhamentos parcelares www.cultivar.inf.br
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Clicando simplesmente no mapa na tela, o agricultor poderá, diariamente, anotar os acontecimentos que se produzirão na sua parcela de terra
INFORMAÇÕES TRANSMITIDAS Todos os dados podem ser consultados em função de vários critérios, por exemplo, o cultivo que foi usado, e uma tabela aparece com informações concernentes a todas as parcelas de terra implantadas deste cultivo . Os dados poderão ser selecionados e enviados para outras tabelas ou para outras ferramentas informáticas, como por exemplo, o computador da indústria agroalimentar que transformará o trigo macio ou os legumes produzidos pelo agricultor. O agricultor é dono de seus dados , insiste Vianney Danet. Ele é o único que capta estas informações e ele mesmo escolherá as que quiser exportar . A transmissão dos dados ao órgão de armazenamento ou para a indústria agroalimentar se faz num disquete, CDrom ou internet. A captação dos dados também é única, uma informação que deve aparecer em várias tabelas ou fichas parcelares, por exemplo, será repercutida imediatamente em todos os lugares onde ela deverá figurar após ter sido captada. As informações sobre a parcela trabalhada, as doses de adubo trazidas ou as quantidades de produtos fitossanitários realmente trazidos, sem ter que captá-los. O CDER informática também produziu suas ferramentas informáticas em versão vinhedo com uma janela concernente à produção no
campo e uma janela que trata de vinificação em armazéns ao nível do solo. Marcas tão famosas quanto a Château Petrus, Moët et Chandon ou Veuve Clicquot Ponsardin já adotaram esta versão. O editor do programa de ferramentas já está pensando num desenvolvimento internacional de seus programas que foram testados em inglês e em alemão e que muito em breve serão em espanhol. Nossas ferramentas também estão disponíveis em apostilas, para aqueles que são alérgicos à informática mas que querem entrar nas mesmas matérias de rastreabilidade dos outros sem sofrer danos , comenta Robert Love.
ANOTAÇÕES DE PLANÍCIE INFORMATIZADAS Para o agricultor, também pode ser muito prático registrar suas intervenções na hora em que são realmente efetuadas, isto é, de cima do trator, diz Robert Love, da Pestilem. É a razão pela qual nós criamos uma caderneta de planície num PDA (Personal Digital Assistant), ferramenta até agora muito apreciada pelos executivos para gerir suas agendas ou seus repertórios . Pestilem optou pelo palm. Os programas do CDER informática são compatíveis ao mesmo tempo com o Palm e os Pocket PC Windows. Todos os dados relativos ao acompanhamento parcelar podem assim ser captados
Blandine fala sobre o uso da informática na agricultura
no campo, acrescenta Robert Love. De volta no seu escritório, o agricultor poderá transferir em alguns segundos para o computador todas as informações registradas no Palm. Esta ferramenta de bolso pode também ser equipada de um GPS para o controle das áreas e medida .M das parcelas . Blandine Caillez, Redatora-chefe - Cultivar/França
Tecnologia monitoramento
AEROMODELOS
Qualidade por menos
Forbes Brasil
Fotografia aérea com Aeromodelo é um Sistema de Baixo Custo para o Monitoramento Agrícola
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avaliação de novos produtos e mapeamento sistemático dos solos de caráter geológico, topográfico e hidrológico, assim como mapeamentos de recursos naturais. As fotografias, em sua maioria, são obtidas através de aviões tripulados ou satélites. Esses meios de aquisição apresentam como principal desvantagem o seu alto custo, impossibilitando, muitas vezes, a sua utilização de forma sistemática. www.cultivar.inf.br
Os custos de aquisição de fotografias aéreas podem ser reduzidos drasticamente com a utilização dos veículos aéreos não tripulados - UAV (Unmanned Aerial Vehicle). Os UAV s não possuem um operador humano a bordo, seguem os mesmos princípios de operação das aeronaves convencionais e, normalmente, são de tamanho reduzido. Com a miniaturização dos componentes eletrônicos e o incremento Setembro / Outubro 2002
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fotografia aérea tem sido largamente utilizada pela comunidade agrícola para documentar e identificar muitos problemas e soluções na agricultura. Alguns exemplos desse uso são: avaliação de danos causados por doenças, por insetos, pela ação dos ventos e do fogo; problemas de aplicação de herbicidas e fertilizantes; avaliação da uniformidade na irrigação;
Os custos de aquisição de fotografias aéreas podem ser reduzidos drasticamente com a utilização dos veículos aéreos não tripulados - UAV (Unmanned Aerial Vehicle)
... do poder de processamento dos computado-
res, tornou-se possível a utilização de UAV s em diversas áreas. O projeto ARARA (Aeronaves de Reconhecimento Assistidas por Rádio e Autônomas) está centrado no desenvolvimento e uso de UAV s, de escala reduzida, para monitoramento aéreo. Seu principal objetivo é a substituição de aeronaves convencionais utilizadas na obtenção de fotografias aéreas, para monitoramento de áreas agrícolas e áreas sujeitas a problemas ambientais, por UAV s de pequeno porte que realizam missões pré-estabelecidas pelos usuários. O projeto ARARA está sendo desenvolvido no Laboratório de Computação de Alto Desempenho do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação USP, São Carlos, em cooperação com a EMBRAPA Instrumentação Agropecuária, São Carlos SP. O projeto ARARA está dividido em quatro fases. Os resultados de cada fase representam sistemas com níveis de complexidade e custo crescentes, adequados para aplicações com diferentes níveis de abrangência geográfica e automação.
FASE I
PILOTAGEM REMOTA, COM VISÃO DIRETA DA AERONAVE
FASE II
PILOTAGEM REMOTA POR INSTRUMENTAÇÃO, SEM VISÃO DIRETA DA AERONAVE
As aeronaves dessa fase são modelos desenhados especificamente para o Projeto ARARA. A aeronave típica que se mostrou totalmente adequada ao projeto pode ser observada na página 20. A aeronave ARARA II foi projetada de forma a minimizar custos e diminuir o tempo de construção. Esta aeronave é composta em sua estrutura de materiais simples e de fácil manuseio, de fácil operação e alta resistência a quedas. O seu peso total corresponde a 4 Kg, podendo transportar até 1,5 kg de carga útil. Também estão disponíveis modelos em escala maior, com carga útil de até 9kg. Empregada principalmente no monitoramento, inspeção e coleta de dados em áreas desprovidas de locais de pouso, a aeronave ARARAII não possui sistemas de aterrissagem (trem de pouso). A aeronave ARARA II dispõe de uma grande variedade de sensores a bordo para controle de vôo sem visão direta da aeronave, tais como GPS, altímetro, velocímetro, horizonte artificial, rotação do motor, nível de combustível etc. Duas câmeras instaladas na aeronave geram imagens que são transmitidas a um computador na estação em solo. Uma das câmeras, instalada na frente da aeronave, permite que o piloto possa pilotar a aeronave fora do seu alcance visual, enquanto que a outra câmera, voltada para baixo, permite a localização da área de interesse. As imagens trans-
Fotos Embrapa Instrumental Agropecuária
As aeronaves dessa fase são construídas a partir de kits convencionais de aeromodelo adquiridos em lojas de aeromodelismo. Uma câmera fotográfica digital é adaptada na aeronave e é disparada através de equipamento de rádio-controle. O alcance médio nestes sistemas é de 1000 metros. O tipo de câmera utilizada depende da aplicação, podendo ser desde uma câmera fotográfica 35 mm convencional, com velocidades de obturador normalmente acima de 1/ 2000s, câmeras fotográficas digitais ou até filmadoras digitais. Este tipo de sistema é adequado para apli-
cações onde o vôo da aeronave pode ser controlado de terra (pilotagem remota, com visão direta da aeronave). Como resultado, consegue-se imagens com nitidez aceitável para as aplicações previstas pelo sistema.
mitidas pela aeronave são sobrepostas à imagem de um painel convencional de avião pelo programa STT (Sistema de Telemetria e Telecomando do projeto ARARA) ilustrado abaixo. O STT foi divido em dois módulos: MA (Módulo Aéreo) e MB (Módulo Base). No MA, encontram-se os componentes embarcados na aeronave e, no MB, encontram-se os componentes da estação de solo. Os dados dos dispositivos de controle da
Sistema de telemetria e telecomando do Projeto Arara
aeronave como profundor, leme de direção, ailerons, flaps e aceleração do motor, ou outros tipos de dispositivos, como por exemplo, câmeras fotográficas (acionamento), câmeras de vídeo (seleção de câmera, captura de quadro e configuração de parâmetros de resolução) e pára-quedas (acionamento) são gerados pela aeronave e são utilizados principalmente na realização de vôos manuais. Eles indicam o estado da aeronave, como por exemplo, a direção e a altitude. Os dados de vídeo são transmitidos através de um link analógico. Aeronaves da fase II permitem vôos além do alcance visual, chegando neste caso a 10 km de raio.
FASE III
VÔO AUTÔNOMO
O sistema da fase III é similar ao da fase II. A diferença principal está no software ne-
Avião utilizado na Fase I adaptado com câmera fotográfica de 35 mm
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cessário para realizar operações autônomas piloto automático. No projeto ARARA, o piloto automático é composto pelo Sistema de Navegação e pelo Sistema de Controle. O propósito do Sistema de Navegação é guiar a aeronave ao longo de uma trajetória definida previamente pelo usuário. Para tal, são calculadas e enviadas as manobras a serem executadas pelo Sistema de Controle. Este, por sua vez, em resposta às manobras calculadas, deve atuar nas superfícies de controle da aeronave,
Helicóptero utilizado na fase I do projeto utilizando kits convencionais de aeromodelismo
FASE IV
PROCESSAMENTO DAS IMAGENS
Esta fase aborda o processamento das imagens obtidas com a aeronave. Duas formas de processamento estão sendo desenvolvidas: a bordo da aeronave, em tempo real, e na estação de base, posteriormente à coleta. Dentre os processamentos em tempo real, estão as aplicações de monitoramento total-
mente autônomas como a contagem de árvores em uma determinada área ou a localização de áreas sujeitas a desmatamento, contagem de animais, identificação de doenças e pragas, dentre outras. Nos processamentos pós-coleta, vários tipos de aplicações podem ser realizadas, como análise de pragas, deficiência hídrica, zoneamento de sítios homogêneos, monitoramento de culturas e estudos de conservação do solo. Muitas aplicações dependem do tipo de câmera utilizada e da resposta espectral da câmera. Através do processamento de imagens aéreas obtidas em diferentes bandas é possível detectar mudanças fisiológicas e estruturais em plantas, mesmo antes destas alterações estarem visíveis a olho nu (ex. redução de espaços interfoliares ou diminuição de teores de clorofila). Essas informações, quando processadas, podem orientar programas de aplicação
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colocando-a na posição desejada. Outra função do Sistema de Controle do projeto ARARA é estabilizar as características dinâmicas da aeronave, controlando sua atitude e velocidade. O Sistema de Navegação e o Planejador de Missão do Projeto ARARA, juntamente com o Sistema de Controle fazem com que as aeronaves do projeto ARARA possam realizar missões de forma completamente autônoma.
A diferença entre as imagens aéreas obtidas por satélite e por aviões está no nível de detalhes que cada um fornece
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... de defensivos agrícolas de forma otimizada.
Estimativas de evapotranspiração e índice de deficiência hídrica podem ser acompanhados pela análise de imagens multiespectrais, combinando duas imagens de bandas espectrais diferentes, normalmente uma na porção do infravermelho e outra na porção visível do espectro eletromagnético. Existem câmeras multiespectrais disponíveis que podem ser instaladas nos UAV s do projeto ARARA. Acompanhar o desenvolvimento de uma cultura tem sido cada vez mais imprescindível para a tomada de decisões. Ajustes em tratos culturais, irrigação e mesmo replantios podem ser executados pela detecção de falhas nos talhões da cultura ou diferenças no desenvolvimento. Imagens de alta resolução podem prover tais dados e auxiliar o acompanhamento do desenvolvimento de um campo de cultivo, uma vez que as falhas e as diferenças de padrões são claramente percebidas. Alguns trabalhos de processamento das imagens aéreas até então obtidas incluem a identificação e contagem de aves para monitoramento ecológico no pantanal mato-grossense, contagem de árvores, identificação da cobertura do solo e a medição de áreas. Outros estão em andamento como a geração automática de mosaicos fotográficos multi-resolução, a modelagem plano-altimétrica de terrenos e a geração de mapas multiespectrais para uso em agricultura de precisão. Identificação da cobertura do solo e medida de áreas:
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Foram desenvolvidas metodologias automáticas para o acompanhamento de uma área agrícola através de imagens aéreas. Especificamente a identificação e a classificação da cobertura do solo. A grande dificuldade está na falta de metodologias apropriadas para a análise e a classificação dos padrões de cobertura, principalmente para monitoramento de pequenas propriedades. Imagens de cobertura são imagens complexas, com padrões difíceis de serem definidos. Foram testados métodos clássicos de análise bem como técnicas não convencionais, como as Redes Neurais, principal-
mente pela possibilidade de implementação em hardware específico de alto desempenho. Nas figuras ao lado, pode-se observar uma imagem aérea obtida com o ARARA I e os respectivos resultados com a técnica de redes neurais. O que se pretende aqui é identificar e quantificar áreas com diferentes padrões de cobertura.
CUSTOS E VANTAGENS A diferença entre as imagens aéreas obtidas por satélite e por aviões está no nível de detalhes que cada um fornece. Enquanto a imagem de satélite tem abrangência área superior a 100 x 100 Km e resolução espacial de 30 m de pixel, nas imagens aéreas a área pode ser regulada pela altitude da aeronave, podendo variar de alguns centímetros a alguns metros. No caso dos satélites, existe também a periodicidade, que por exemplo pode ser de 16 dias, período que nem sempre pode coincidir com o pico do ciclo vegetativo da cultura. As nuvens também são impedimentos neste tipo de captura de imagens. As formas de monitoramento, seja por satélite ou por fotografias aéreas, não são muito distintas e dependem da quantidade de imagens, do tempo de processamento das mesmas e também da resolução desejada. O investimento inicial para cada imagem de satélite de alta resolução é de R$6000,00, já para o estudo com aeromodelo, cada vôo não custa R$100,00, sendo possível cobrir uma mesma área por este custo. Este trabalho está sendo iniciado em áreas de produtores de soja em plantio direto no Mato Grosso do Sul, em sistemas de agri.M cultura de precisão. Lúcio André de Castro Jorge,
EMBRAPA Instrumentação Agropecuária
Onofre Trindade júnior, ICMC-USP
Luciano de Oliveira Neris, ICMC-USP
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Fotos e o respectivo resultado utilizando sistema de redes neurais
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Aeronave Arara II e projeto com as dimensões do aparelho www.cultivar.inf.br
Setembro / Outubro 2002
Pulverizadores Ulisses Antuniasse / Antonio Gandolfo
manutenção
Velhos e sem manutenção A
presentado inicialmente na edição de setembro/outubro de 2001 da Cultivar Máquinas, o Projeto IPP - Inspeção Periódica de Pulverizadores - tem realizado visitas a propriedades agrícolas para inspecionar pulverizadores, com o objetivo de desenvolver metodologias e viabilizar a implementação de um sistema de inspeções periódicas no Brasil. Realizadas em mais de 20 países em todo o mundo (de maneira compulsória em muitos deles), as inspeções periódicas de pulverizadores têm se mostrado ferramenta importante na otimização do uso de defensivos e na redução do impacto ambiental das atividades agrícolas.
Projeto mostra o precário estado dos pulverizadores no Brasil e a necessidade de um sistema de inspeção periódica
O projeto IPP está sendo realizado no NEMPA - Núcleo de Ensaio de Máquinas e Pneus Agrícolas da FCA/UNESP - Botucatu/SP, contando com financiamento da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. O coordenador do projeto é o Prof. Ulisses Rocha Antuniassi, sendo que a primeira etapa do trabalho correspondeu à Tese de Doutoramento defendida em fevereiro de 2002 pelo Prof. Marco Antonio Gandolfo, da Fundação Faculdades Luiz Meneghel /Bandeirante/PR. A estrutura para inspeções foi estabelecida a partir de uma unidade móvel, a qual transporta os equipamentos necessários para as avaliações até as propriedades rurais. Priorizando a inspeção de pulverizadores de barras, os levantamentos foram iniciados em fevereiro de 2001. Até junho de 2002, foram realizadas visitas e entrevistas com mais de 100 produtores rurais, as quais resultaram em 82 pulverizadores inspecionados, abrangendo os Estados de São Paulo e PaSetembro / Outubro 2002
raná. Os locais e número de máquinas avaliadas estão mostrados na Tabela 1.
PROCEDIMENTOS DE INSPEÇÃO As inspeções têm sido realizadas tanto em máquinas de proprietários escolhidos ao acaso quanto em grupo de produtores convidados à participação. No caso de inspeções coletivas, os trabalhos são realizados de forma programada, após solicitação de alguma entidade para promover o Projeto IPP na região. Para isto, após estabelecido o período disponível, tal entidade providencia antecipadamente um local apropriado e cowww.cultivar.inf.br
munica os proprietários interessados em participar. Estes participantes são escalados de acordo com a previsão de tempo necessário e número de máquinas a serem avaliadas, recebendo informação antecipada da data e o horário provável da inspeção. Este cuidado tem sido tomado no sentido de que as máquinas fiquem paradas para a inspeção somente o tempo necessário, evitandose prejuízos às atividades normais da fazenda. A realização de inspeções coletivas facilita o uso de técnicas mais modernas de avaliação, como o uso de dispositivos eletrônicos para a automação dos procedimentos de inspeção (spray scanner). Máquinas
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O PROJETO IPP
O Projeto IPP continuará a realizar inspeções visando o desenvolvimento metodológico e o fomento das inspeções periódicas de pulverizadores
Local e número de máquinas inspecionadas até junho de 2002
Local de inspeção
Palmital SP Ibirarema SP Itambaracá PR Cândido Mota SP Pedrinhas Paulista SP Botucatu SP Paraguaçu Paulista SP Bandeirantes PR Carambeí PR Castro PR Total
Número de máquinas inspecionadas
10 02 02 09 04 01 11 09 14 20 82
pulverização; estado das pontas de pulverização; presença e adequação do manômetro; precisão do manômetro; proteção de partes móveis; taxa de aplicação; dosagem do produto e uniformidade de distribuição da pulverização.
Avaliação de problemas nas barras: pontas danificadas ou desgastadas e espaçamento incorreto são problemas comuns
Após cada inspeção, o proprietário da máquina recebe um certificado e um selo de conformidade do Projeto IPP.
RESULTADOS DAS INSPEÇÕES Os dados apresentados neste trabalho representam resultados parciais, pois a quantidade de informação obtida nas mais de 100 entrevistas neste primeiro ano do projeto foi muito grande. Os resultados completos desta primeira etapa podem ser encontrados na Tese de Doutoramento do Prof. Marco A. Gandolfo. Os resultados mostraram que das 82 máquinas avaliadas até o momento, somente 13 (15,9%) tinham até 2 anos de fabricação. As demais, ou seja, 69 máquinas
Fotos Ulisses Antuniasse / Antonio Gandolfo
Tabela 1.
Em uma inspeção típica, os técnicos do projeto IPP avaliam e/ou identificam as seguintes características: vazamentos; mangueiras danificadas; localização e posicionamento de mangueiras; espaçamento entre bicos; estado de conservação do filtro de sucção; presença e estado de conservação do filtro de linha; presença e estado de conservação de antigotejadores; tipo de ponta de
Mangueiras dobradas ou posicionadas de maneira incorreta são defeitos comuns em barras de pulverizadores
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(84,1%) estavam em operação há mais de 2 anos. A idade média do grupo de máquinas não pôde ser calculada em toda a amostra, já que em 13 máquinas não foi possível identificar o ano de fabricação. As 69 restantes apresentaram média de idade de 6,8 anos. Estes valores sugerem um processo de envelhecimento da frota, indicando a necessidade de renovação ou modernização. Para efeito de comparação, pesquisa realizada na Itália em 1995 constatou que 35% das máquinas avaliadas tinham entre 5 e 10 anos de uso. No Brasil, hoje, este percentual é de 52,4%. Levando-se em consideração o conjunto total de máquinas (82 pulverizadores), a Tabela 2 mostra os principais resultados obtidos nas inspeções no Brasil, comparandose com os valores apresentados por Langenakens (1999), obtidos na Bélgica. Os resultados mostram que todas as máquinas (100% dos 82 pulverizadores) apresentaram algum tipo de falha, e seriam reprovadas caso a inspeção fosse realizada de maneira oficial. Entretanto, muitos destes pulverizadores poderiam ser aprovados em uma nova inspeção caso fossem submetidos a reparos simples. Como exemplos marcantes da magnitude do problema, podem ser citados os seguintes resultados (Tabela 2): 54,9% dos pulverizadores apresentaram vazamentos, contra apenas 0,5% observados na Bélgica; 92,3% possuíam problemas relacionados ao manômetro; falhas em pontas de pulverização ocorreram em 80,5% das máquinas inspecionadas; em cerca de 80% dos casos foram constatados erros na taxa de aplicação ou dosagem dos produtos, o que demonstra total despreparo dos operadores. Estes resultados indicam a necessiSetembro / Outubro 2002
Tabela 2.
dade urgente da aplicação de técnicas de melhor uso e manutenção nos pulverizadores, justificando um programa de inspeções periódicas no Brasil. Esta etapa do projeto IPP possibilitou também quantificar algumas perdas no processo de pulverização, as quais representam custos significativos. Pode-se mencionar as perdas por erros em taxa de aplicação, que superam, em média, a 18% da taxa pretendida. Tomando-se como exemplo o controle fitossanitário em soja (herbicidas, inseticidas e fungicidas), a um custo estimado de R$ 150,00 por hectare, o desperdício médio seria de R$ 27,00 por hectare. Isto significa o custo de um pulverizador de pequeno porte (R$ 13.500,00) a cada 500 hectares plantados. Além disso, ao considerarmos o des-
perdício por erros em espaçamento entre pontas e pontas desgastadas, haveria ainda um acréscimo de 10,4% nos custos. Sabe-se que as perdas citadas não são as únicas existentes no processo. Porém, uma análise simples permite avaliar a contribuição destes problemas no aumento dos custos das aplicações. Além dos cusTela do programa onde a amostra tos, estes problemas escaneada passa por avaliação elevam também os riscos ambientais, predispondo o ambiente a contaminações des- ção de componentes. Os resultados obtiPorcentagem de pulverizadores reprovados de acordo com as avaliações necessárias. dos nesta pesquisa justificam a implantaconsideradas, comparando-se os resultados aos valores apresentados por ção de inspeções periódicas em pulverizaLangenakens (1999) para a Bélgica. CONSIDERAÇÕES FINAIS dores agrícolas no Brasil. O Projeto IPP continuará a realizar insA estrutura física mon- peções visando o desenvolvimento metotada para o Projeto IPP, bem dológico e o fomento das inspeções perióItens avaliados - Projeto IPP - Brasil - até junho de 2002 % Reprovados como a metodologia empre- dicas de pulverizadores no Brasil. Além das Brasil Bélgica gada nos testes, demonstra- inspeções isoladas, novos contatos com coram ser adequadas para a operativas e associações de produtores esPresença, funcionamento e precisão do manômetro 92.3 20.0 identificação de falhas nos tão sendo realizados para viabilizar prograPontas ruins 80.5 1.4 pulverizadores, e também mas de inspeções coletivas. Erro na dosagem do produto 78.1 para respaldar modificações Paralelamente, ações de divulgação esErro na taxa de aplicação 76.8 0.1 que poderiam melhorar a tão em curso, com destaque a um prograAntigotejadores ruins ou ausentes 69.5 qualidade do trabalho exe- ma de palestras a engenheiros agrônomos CV da barra acima de 15% 69.2 cutado por tais máquinas. organizado pelo CREA/PR, onde o Prof. Falta de proteção de partes móveis 63.4 0.1 Considerando as variáveis Gandolfo está percorrendo as principais reavaliadas, conclui-se, até o giões paranaenses para participar de debaMangueiras mal localizadas 59.8 0.8 .M momento, que todos os pul- tes sobre o Projeto IPP. Vazamentos 54.9 0.5 verizadores de barras testaMangueiras danificadas 50.0 dos apresentaram condição Ulisses Rocha Antuniassi Espaçamento incorreto entre bicos 43.9 2.0 de uso e manutenção inade- FCA/UNESP quados, necessitando ajus- Marco Antonio Gandolfo, tes, reparos e/ou substitui- FFALM
Pulverizadores
Cultivar
manutenção
Na hora de regular e preparar o pulverizador é necessário saber qual é o alvo a ser atingido e onde ele se encontra
Regulagem errada O
controle químico de pragas e doenças é hoje o principal meio utilizado para a manutenção da fitossanidade das culturas, sendo a pulverização, a principal forma de aplicação dos diferentes agrotóxicos. Esta operação, no entanto, que pode ser responsável por 30 a 60% do custo de produção, é pouco entendida e considerada por técnicos e operadores dentro do sistema de produção, levando geralmente a expressivas perdas de produto, tempo e dinheiro. Conhecer a pulverização começa por compreender que fatores ligados à praga, ao produto, à máquina, ao momento da aplicação e ao ambiente interagem na operação, proporcionando seu sucesso ou insucesso. Um destes fatores que for desconsiderado, ou considerado erroneamente, poderá ser o responsável direto pela ineficiência do controle. Dessa forma, vamos aqui tentar entender como as interações entre alguns destes fatores, principalmente praga, produto e máquina, podem estar interferindo na eficácia da pulverização.
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Máquinas
INTERAÇÃO PRAGA X PRODUTO
ela se localiza na página inferior das folhas da cultura. Nas fases de ovo, e posteriormente de ninfa, é imóvel, entretanto, quando adultas, permanecem na página inferior das folhas durante o dia, alçando vôo nos períodos mais frescos do dia. Para o controle desta praga com agrotóxicos de baixa redistribuição, ou seja, que exerçam sua ação apenas no local em
A correta aplicação de agrotóxicos começa pela identificação da praga (inseto, doença ou planta daninha) que se deseja controlar e pelo conhecimento de aspectos básicos da sua biologia. Este é considerado o alvo biológico a ser atingido. Assim, aspectos como local de ocorrência da praga na cultura, hábitos de reprodução, mobilidaFig. 01 de etc., devem ser estudados. A interação entre o alvo biológico e Exemplos de filtros malhas (a) 100, (b) 50 e (c) 30 a capacidade de redistribuição na planta do agrotóxico a ser utilizado definem o alvo químico, que é o local onde se deve colocar o produto químico para que este exerça adequadamente sua função de controle da praga. Consideremos como exemplo o controle da mosca-branca (Bemisia sp) na cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris). Dados da biologia desta praga mostram que
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Hamilton Ramos
Conhecer a pulverização começa por compreender que fatores ligados à praga, ao produto, à máquina, ao momento da aplicação e ao ambiente interagem na operação
que foram aplicados, o alvo químico a ser considerado deverá ser necessariamente a página inferior das folhas, pois é lá que se encontra o alvo biológico. Todo produto atingindo a página superior das folhas, ou mesmo a haste e os ramos, pode ser considerado como perda. Neste caso, se durante a avaliação da pulverização for observado que a cobertura na página inferior é deficiente para o controle, duas alternativas podem ser analisadas. A primeira alternativa seria a troca do produto por outro com melhor redistribuição, como produtos com ação translaminar ou sistêmica por exemplo. Dessa forma, o alvo químico passaria a ser tanto a parte superior quanto a inferior das folhas, pois as áreas não atingidas seriam cobertas através do deslocamento do produto. A segunda seria a adequação do pulverizador à operação, através do redirecionamento das pontas de pulverização, ou mesmo da utilização de barras com assistência de ar, com o objetivo de melhorar a cobertura na página inferior das folhas. Uma terceira alternativa, viável apenas para pequenas áreas, seria concentrar as pulverizações à noite, ou nos períodos mais frescos do dia, moSetembro / Outubro 2002
Fig. 02
mentos estes em que a probabilidade de se atingir os adultos fora de seu abrigo aumenta, melhorando a eficácia da pulverização. Qualquer que seja a solução encontrada deve-se ter em mente que o produto que controla qualquer praga é aquele que chega no alvo e não o aplicado. Dessa forma, o objetivo da pulverização deve ser colocar o produto no alvo químico, definido em função da praga e do produto empregado, em uma quantidade e distribuição adequadas, com a menor perda possível. O volume de água utilizado, normalmente expresso por L/ha ou L/planta, é apenas o preço que se paga para colocar o produto adequadamente no alvo, devendo portanto ser conseqüência do processo de regulagem do pulverizador e nunca sua finalidade.
INTERAÇÃO MÁQUINA X PRODUTO
Qualquer pulverizador, quando mal regulado, pode ter sua Capacidade de Campo Operacional (horas necessárias para pulverizar 1 ha) reduzida em função do agrotóxico utilizado, bem como interferir negativamente sobre a eficiência do mesmo. Entenda-se por regulagem o processo de adequação do pulveriza-
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Indicação da rotação do motor que proporciona 540 rpm na TDP
Máquinas
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Na agitação hidráulica, a interferência se dá pela redução do volume de calda retornando ao tanque
... dor à operação que irá realizar. Neste momento
da e reduzindo sua vida útil. Por outro lado, como a quantidade do agrotóxico retida pelo filtro pode ser significativa, pode-se estar aplicando subdoses do produto e limitando sua
Fotos Cultivar
são definidos, por exemplo, a malha dos filtros, o tipo, direcionamento e espaçamento das pontas a serem empregadas, a velocidade de
Rotação inadequada no motor pode comprometer a eficácia da operação
trabalho, a cobertura sobre o alvo químico selecionado etc. Após a regulagem, é realizada a calibração, onde se determina o volume de calda aplicado e a quantidade de produto a ser colocada no tanque do pulverizador. Não raro, a regulagem é simplesmente ignorada no processo de pulverização, realizando-se apenas a calibração. O primeiro passo no processo de regulagem deve ser verificar a adequação dos filtros do pulverizador (Figura 1) à formulação do(s) agrotóxico(s). Formulações pó-molhável (PM) ou suspensão concentrada (SC), por possuírem partículas sólidas em suspensão na calda, podem apresentar problemas quando o pulverizador for equipado com filtros malha 80 (80 aberturas em 1 polegada linear) ou superior. Apesar de as formulações estarem se desenvolvendo muito, o que tem permitido que alguns pós permaneçam em suspensão por até 24 horas, pode ocorrer que o diâmetro das partículas de pó seja superior ao da abertura de peneiras muito finas. Isso faz com que uma grande quantidade de produto pare no filtro, formando uma pasta sobre o mesmo que o bloqueia com frequência, obrigando o operador a realizar limpezas constantes, reduzindo o período útil de trabalho e elevando o risco de contaminação do aplicador. Além disso, quando uma parte considerável do filtro está entupida, a ação de sucção da bomba faz pressão sobre a parede do mesmo, provocando torções e o rompimento da peneira, criando espaços para a passagem da cal-
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Máquinas
eficácia. Para evitar este problema, quando da utilização de formulações PM e/ou SC, peneiras malha 50 devem ser colocadas em todas as posições de filtragem (bomba, linha e bicos). Pontas que exijam peneiras malha 80 ou superior também não devem ser utilizadas com estas formulações. Outro fator a ser observado, e que tem grande influência sobre a eficácia da pulverização, é a rotação do trator, por interferir diretamente na rotação da tomada de potência (TDP), normalmente responsável pelo acionamento dos pulverizadores. A grande maioria dos pulverizadores no Brasil está dimensionado para trabalhar a 540 rpm, portanto, uma operação importante na fase de regulagem é identificar qual a rotação no motor que proporciona 540 rpm na TDP e selecioná-la como rotação de trabalho. Quando necessário, a velocidade de deslocamento mais adequada às condições da operação deve ser avaliada apenas em função da alteração de marchas. A rotação do motor necessária para 540 rpm na TDP está normalmente especificada no próprio trator, no painel ou nos adesivos e placas metálicas onde se encontra a relação de marchas (Figura 2). Caso uma rotação inferior à especificada seja selecionada, interferências negativas sobre o funcionamento da bomba e do sistema de agitação poderão ser observadas. Na bomba, a baixa rotação interfere na vazão e na sua vida útil. A vazão especificada na bomba, de 80, 100 www.cultivar.inf.br
ou 150 L/min, por exemplo, refere-se à vazão a 540 rpm e será proporcionalmente reduzida com a rotação. Desta forma, o trabalho a baixas rotações pode fazer com que se tenha que investir em bombas de maior capacidade, com maior custo inicial e consumo de potência do trator, para suprir uma deficiência de vazão que poderia ser alcançada pelo trabalho em condições adequadas. Além disso, como a lubrificação da bomba é realizada por respingos de óleo proporcionados pelo impacto de partes mecânicas móveis sobre o óleo no cárter, uma redução na rotação de trabalho, por reduzir a velocidade do impacto, pode prejudicar a lubrificação e, conseqüentemente, a vida útil da bomba. No sistema de agitação, a baixa rotação interfere tanto na agitação mecânica quanto na hidráulica. Reduzindo-se a rotação, o número de revoluções da hélice do agitador mecânico é reduzida proporcionalmente, reduzindo a eficiência da agitação. Na agitação hidráulica, a interferência se dá pela redução do volume de calda retornando ao tanque. Ambas as reduções podem interferir diretamente na eficácia dos agrotóxicos utilizados, principalmente em função da sua formulação. Formulações PM ou SC, por possuírem partículas sólidas em suspensão, tendem a se depositar no fundo do pulverizador em condições de agitação ineficiente. Formulações concentrado emulsionável (CE), cujo princípio ativo é um líquido não solúvel em água (óleo por exemplo), tendem a migrar para a superfície nestas mesmas condições. Isso faz com que, no início da aplicação, a concentração de produto seja superior (PM ou SC) ou inferior (CE) ao final, ocasionando uma má distribuição mesmo quando a dose por área (kg ou L/ ha) está adequada. Em pulverizadores com tanque de alta capacidade, em condições onde o ponto de aplicação está longe do ponto de preparo, a agitação no abastecimento é efetuada com baixas rotações, e o deslocamento é realizado com baixas rotações e/ou com a TDP desligada, esta segregação do produto no tanque também poderá acontecer. O sintoma mais típico deste fenômeno é, na aplicação de produtos PM com cores acentuadas como formulações cúpricas e de mancozeb, observar-se áreas coloridas cuja intensidade vai diminuindo no sentido de deslocamento do pulverizador. Para resolver este problema, basta deixar o trator parado por pelo menos 1 minuto com o agitador ligado, na rotação de trabalho, imediatamente antes do início da pulverização. O problema da segregação de produtos na calda de pulverização é particularmente sentido na horticultura e fruticultura, quando da utilização de pulverizadores semi-estacionários. Nestes pulverizadores, o trator permanece parado na borda da área enquanto os operadores, arrastando compridas mangueiras, Setembro / Outubro 2002
fazem a pulverização da cultura. Nesta situação, além de se utilizar comumente formulações PM, o trator trabalha de 700 a 1000 rpm, com o intuito de se economizar combustível durante a aplicação, e o regulador de pressão sempre na posição de máxima pressão. Tal atitude, além de demonstrar um completo desconhecimento das curvas de consumo, por se acreditar que menores rotações correspondem a menores consumos de combustível, resulta em situações bastante críticas tanto para o agitador mecânico (baixa rotação) quanto para o hidráulico (mínimo retorno), ocasionando sérios problemas de distribuição do agrotóxico na área tratada. Tais problemas, não raro, resultam na necessidade de pulverizações complementares, onerando o custo de produção. Entretanto, a manutenção do trator na rotação adequada (540 rpm na TDP) e, quando necessário, a incorporação de válvulas e alívio ao sistema, constituem-se em soluções simples, viáveis e de baixo custo. Pelo exposto, entender o processo de pulverização e buscar equacionar adequadamente as diferentes variáveis envolvidas pode resultar em enormes benefícios ao produtor, através da melhoria da eficácia dos agrotóxicos e da redução no custo de produção, ao
O problema da segregação de produtos na calda de pulverização é sentido na horticultura e fruticultura
aplicador, através da redução na exposição ocupacional, e ao ambiente, através da redução das perdas e da contaminação. Trabalhos realizados pelo Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação (CAPTA Engenharia e Automação), do Instituto Agronômico (IAC), no Estado de São Paulo, com diferentes tamanhos de propriedades, equipamentos e culturas, têm mostrado que reduções de 20 a 70% no volume de calda aplicado é possível, apenas trabalhando-se adequadamente a regulagem
dos equipamentos. Tais reduções têm significado, em média, economia suficiente para adquirir um pulverizador novo, a cada 1 a 1,5 anos. Estes resultados demonstram que, através de soluções simples, avaliadas durante a regulagem do equipamento, uma economia significativa pode ser alcançada, além de se contribuir para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável e um .M uso mais racional dos agrotóxicos. Hamilton Humberto Ramos, IAC
Fenação Trend
enfardadoras
Enfardamento adequado Conheça alguns modos de enfardamento e qual se adapta melhor para cada situação
A
conservação de forragens, na forma de feno, requer diversas operações: o corte das plantas verdes no momento em que apresentam elevado teor de água e de nutrientes, o seu revolvimento para acelerar a secagem pela ação da radiação solar, o enleiramento, o recolhimento e o posterior armazenamento, para futura utilização. A forragem seca, com menos de 20 % de água, constitui-se no feno, que está apto para ser recolhido e armazenado, tanto a granel, quanto na forma de fardos. Para o recolhimento e armazenamento a granel, podem ser utilizadas ferramentas manuais, ou mesmo máquinas denominadas car-
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Máquinas
retas autocarregadoras/transportadoras. O armazenamento do feno em fardos requer menos mão-de-obra, evita em grande parte as perdas de folhas de forragens frágeis, como as leguminosas, diminui a exposição aos agentes atmosféricos e reduz a necessidade de espaço para armazenagem do alimento entre metade até um quarto do que seria necessário para forragem não enfardada. É importante destacar que deve-se evitar o armazenamento de forragem com umidade excessiva, uma vez que implica em risco de desenvolver mofos, deteriorando a qualidade do feno, podendo até mesmo ocorrer auto combustão. www.cultivar.inf.br
FENO A GRANEL Para manuseio do feno a granel, além de garfos e ancinhos manuais, pode ser utilizada a carreta forrageira autocarregadora/transportadora, tracionada por trator e acionada pela tdp (potência de acionamento de 18 a 30 kW). A carreta eleva a forragem enleirada, através de um molinete pick-up , até um mecanismo cortador, que se encarrega de cortá-la em fragmentos e de acomodá-la no interior da carroceria, com o auxílio de uma esteira. A montagem de um número maior de facas no mecanismo cortador permite a sua utilização na produção de silagem pré-secada, quando origina fragmentos de forragem medindo de Setembro / Outubro 2002
Stabra
ENFARDAMENTO DE FENO As máquinas utilizadas para a confecção dos fardos são denominadas enfardadoras e podem ser classificadas em convencionais ou prensas-enfardadoras, que produzem fardos prismáticos com dimensões de 40 a 60 cm de largura x 30 a 40 cm de altura x 50 a 130 cm de comprimento, ou ainda rotoenfardadoras, que produzem fardos cilíndricos com largura de 1,50 m a 1,70 m e diâmetro de 1,60 m a 1,80 m (ORTIZ-CAÑAVATE, 1984). Este autor classifica as prensas-enfardadoras em baixa pressão, média pressão e alta pressão (Tabela 1). As enfardadoras podem ser utili-
Prensa-enfardadora é a mais comum, porém vem sendo substituída por máquinas com mecanismos mais simples
zadas para enfardar restos de culturas (palhas) para diversas finalidades, como por exemplo alimentar animais, servir de cama para animais confinados, ou para fins energéticos em secadores ou mesmo em centrais termelétricas. Na Tabela 1 são apresentadas algumas características comparativas entre diferentes modelos de enfardadoras.
PRENSA-ENFARDADORA É a máquina mais comum, porém devido à complexidade e às exigências de manutenção de alguns dos seus mecanismos, vem sendo substituída por outros modelos mais simples. Os mecanismos que constituem a prensa-enfardadora são montados em um chassi apoiado sobre rodas, sendo a máquina tracionada pela barra de tração e acionada pela tdp do trator. O primeiro mecanismo que entra em contato com o feno é o mecanismo reco-
lhedor, composto por um molinete de dedos retráteis (pick-up), cuja altura em relação ao solo pode ser ajustada às necessidades. Os dedos retráteis giram em sentido oposto ao avanço dos rodados da máquina e elevam a leira de feno, introduzindo-a no mecanismo de alimentação do canal da prensa. O mecanismo de alimentação situa-se acima do mecanismo recolhedor, conduz o feno até o canal da prensa e pode ser composto por um transportador helicoidal em combinação com garfos que se deslocam lateralmente ou somente por um par de garfos. Os garfos introduzem a forragem no canal da prensa, através de uma janela lateral, no momento em que o êmbolo está próximo do seu máximo curso para frente (ponto morto inferior), afastando-se no momento em que o êmbolo é deslocado para trás, comprimindo o feno. A compactação do feno e a forma do fardo dependem da ação do êmbolo, que se desloca no
John Deere
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10 a 12 cm de comprimento. Quando todo o volume útil da máquina (10 a 30 m³) estiver ocupado com feno, a carreta desloca-se até o local de armazenamento do alimento, onde descarrega a carga por meio do acionamento de uma esteira localizada na base da carroceria. O feno é depositado em moegas, alimentando transportadores pneumáticos ou outros tipos de elevadores, responsáveis pela elevação e distribuição do feno dentro de galpões apropriados. No interior destes galpões, o feno armazenado a granel pode ser manuseado com o auxílio de garras metálicas fixadas em pontes rolantes. Esta modalidade de manuseio do feno não é comum no Brasil, mas sim em alguns países da Europa, como Áustria e Suíça, onde a fenação é tradição secular. No entanto, para a produção de silagem pré-secada, este tipo de máquina vem sendo utilizada, mais especificamente, na região dos Campos Gerais, Estado do Paraná.
Claas
interior do canal da prensa com freqüência de 65 a 100 ciclos por minuto. Na parte inferior do canal da prensa, na região de compressão do feno, existem duas aberturas longitudinais que permitem a subida das agulhas até o mecanismo nosador, no momento em que o fardo deve ser amarrado. Para conformar as paredes laterais do fardo, o êmbolo dispõe de uma lâmina que corta o material ao cruzar com uma contra-faca fixa localizada na parede vertical da janela de entrada de feno do canal da prensa. A compressão do feno ocorre pela resistência ao deslocamento dos fardos já amarrados, na saída do canal da prensa, e pelo afunilamento da saída do canal da prensa, que pode ser regulado através da alteração da tensão de molas localizadas na parte posterior da enfardadora. O mecanismo de amarração é o responsável pela amarração dos fardos com fios de sisal e é composto por agulhas, nosador, órgãos de acionamento, transmissão e estrela medidora do comprimento dos fardos. Os rolos de sisal são mantidos em um compartimento ao lado do canal da prensa e as extremidades de cada fio são presas no mecanismo nosador, passando pelos orifícios localizados nas pontas das agulhas, mantidas abaixo do canal da prensa. O deslocamento do feno no interior do canal, para trás, é medido por uma estrela medidora do comprimento do fardo e quando o comprimento estabelecido através de regulagem é alcançado, as agulhas portando os fios de sisal são deslocadas para cima e o mecanismo nosador é acionado, amarrando o fardo e cortando o fio, voltando as agulhas para a sua posição original. Esta operação é considerada a parte mais crítica do funcionamento de uma prensa-enfardadora. Os fardos produzidos por estas enfardadoras necessitam ser recolhidos e transportados para um local de armazenamento, ao abrigo da chuva, sob pena de o feno perder qualidade. Existem enfardadoras que dispõem de mecanismos destinados a arremessar os fardos produzidos para cima de uma carreta agrícola
Fardos enrolados com filme plástico podem ser armazenados no campo por alguns meses
adaptada para o transporte de feno enfardado, acoplada na parte traseira do seu chassi. Com o auxílio de uma pessoa, os fardos podem ser adequadamente empilhados sobre esta carreta, ocupando menor espaço e facilitando o descarregamento no local de armazenagem. Uma alternativa aos fardos prismáticos tradicionais são fardos com dimensões de 1,6 m x 0,7 m x 1,2 m e volume aproximado de 1,35 m3. A máquina que produz este tipo de fardo é a prensa-enfardadora hidráulica, e sua capacidade é para enfardar o feno de 2,5 a 3,5 hectares em uma hora de operação. Os fardos, por sua vez, tem de ser manuseados com o auxílio de garras montadas na parte frontal do trator, facilitando a mecanização integral do processo de fenação.
FARDOS CILÍNDRICOS OU REDONDOS Estas máquinas também facilitam a mecanização integral do processo de fenação, desde o corte da forragem até a distribuição do feno aos animais, o que não é plenamente atingido pelo sistema de enfardamento com a utilização das prensas-enfardadoras convencionais. As enfardadoras de fardos cilíndricos oportunizam uma redução no tempo da ope-
ração de enfardamento de 25 a 50 % em relação às prensas-enfardadoras, podendo-se recolher os fardos produzidos até duas ou três semanas após o enfardamento, sem prejuízo para a qualidade da forragem armazenada. As rotoenfardadoras são tracionadas pela barra de tração e acionadas pela tdp do trator, possuindo menor número de mecanismos do que as enfardadoras convencionais e podem ser de câmara variável ou de câmara fixa. O mecanismo recolhedor de feno é semelhante ao das enfardadoras convencionais, constituído por um molinete com dedos retráteis, apoiado sobre rodas calibradoras. Para um adequado funcionamento das rotoenfardadoras (alimentação uniforme e formação de fardos aproximadamente cilíndricos), é necessário que as leiras de feno apresentem a mesma largura do mecanismo recolhedor (varia entre 1,20 e 1,80 m). Quando a largura da leira for menor do que a largura do fardo a ser enrolado , a máquina deve ser conduzida em ziguezague sobre a leira, de forma a possibilitar a formação de um fardo com diâmetro semelhante ao longo da sua largura. Pela ação do mecanismo recolhedor, o feno é deslocado do solo até o mecanismo transportador inferior, onde a camada de forragem é encaminhada até o transVicon
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Características de diferentes tipos de enfardadoras Prensa-enfardadora Características
Baixa pressão
Média pressão
Alta pressão
Enfardadora de Fardos redondos
Largura (cm)
65-100
40-50
40-60
150-170
30-35
30-40
35-45
160-180
Densidade do fardo (kg/m )
50-75
75-120
100-200
130-160 (feno) 85-100 (palha)
Velocidade (km/h)
4-8
2-7
2-7
4-7
Capacidade trab. (ha/h)
1-2
1,5-2
1,5-2
2-3
Produção média (t/h)
3-6
4-6
6-9
4-12
Peso por fardo (kg)
6-10
10-20
20-40
400-700 (feno) 250-450 (palha)
Potência na tdp (kW)
20-25
25-35
35-40
35-45
Altura (cm) 3
priada. Como alternativa ao fio de sisal, existe uma tela de material sintético que envolve e dá firmeza ao fardo e ajuda a proteger contra a umidade do ambiente. Para extrair o fardo do interior da máquina, há necessidade de desligar a tdp do trator e acionar os cilindros hidráulicos de controle remoto que elevam uma
FONTE: ORTIZ-CAÑAVATE, 1984.
Canal:
Semeato
portador superior, que apresenta sentido de giro oposto e tem a função de enrolar a camada, como se fosse um tapete. Nas enfardadoras de câmara variável, o transportador superior é composto por uma série de correias planas paralelas ou por um par de correntes interligadas por barras tubulares muito próximas umas das outras, tensionadas por molas situadas nas paredes laterais da máquina. À medida que o fardo vai sendo enrolado, aumenta a tensão das correias ou das correntes com barras transversais sobre a forragem, até que o diâmetro do fardo alcance o tamanho máximo possível, o que é indicado por uma seta que se desloca ao longo de um quadrante. Neste momento, o operador deve estacionar o trator e proceder o amarrio do fardo. Nas enfardadoras de câmara fixa, a forragem é transportada para o interior de uma câmara circundada por cilindros ou rolos com diâmetro aproximado de 25 cm. Estes cilindros giram sobre seus próprios eixos, fazendo com que a massa de feno adquira um movimento rotativo no interior da câmara. À medida que aumenta o volume de feno no interior da câmara, o formato vai se aproximando mais do cilíndrico, sendo que a camada externa apre-
pequenos estabelecimentos. Segundo informações do fabricante, esta máquina requer potência de acionamento mínima de 11 kW e os fardos são enrolados com uma espécie de tela ou rede. Para armazenar fardos cilíndricos no campo durante alguns meses, convém impermeabilizá-los, enrolando-os com um filme plástico. Para esta finalidade, existem máquinas que apanham os fardos cilíndricos, depositandoos sobre uma plataforma rotativa, envolvendo-os com algumas camadas de filme de polipropileno e depositando-os novamente sobre o solo. Este equipamento também vem sendo utilizado para conservar forragem na forma de silagem para ser armazenada no campo, desde que a forragem seja enfardada com teor de água adequado para ocorrer a fermentação.
CONCLUSÃO
Enfardadoras cilíndricas facilitam o processo, desde o corte até a distribuição do feno aos animais
senta-se mais adensada do que a interna. Quando a pressão do fardo sobre os cilindros atinge um nível escolhido como adequado através da regulagem da máquina, esta dispara um alarme alertando o operador para a necessidade de estacionar o trator e proceder o amarrio do fardo. Para ambos os modelos de máquinas, o amarrio do fardo requer que o trator pare e a tdp continue funcionando a 540 rpm. Através de um cordão ou de uma alavanca, o operador do trator comanda o deslocamento de um fio de sisal que é enrolado ao longo do fardo inteiro e, posteriormente, cortado com o auxílio de uma navalha aproSetembro / Outubro 2002
espécie de comporta até que a abertura seja suficiente para dar passagem ao fardo, que é deslocado para fora da máquina através do transportador inferior, tão logo a tdp seja acionada novamente. Os fardos cilíndricos pesam de 400 a 700 kg, quando são de feno, e de 250 a 400 kg, quando são de palha e o seu manuseio e transporte requerem ferramentas especiais (espécie de garfos) montadas ao trator. No mercado brasileiro de máquinas agrícolas é oferecida uma rotoenfardadora que produz fardos cilíndricos com dimensões de 60 cm x 65 cm e peso de 20 a 35 kg, própria para www.cultivar.inf.br
A fenação é uma excelente alternativa para conservar forragens de boa qualidade, em épocas de abundância, para suprir as necessidades dos rebanhos, nas épocas de escassez. A sua utilização, na prática, é uma das mais importantes ferramentas para melhorar os índices zootécnicos do Brasil, porém deve sempre ser precedida de estudos de viabilidade econômica. Sob o ponto de vista da utilização das propriedades rurais, a fenação consiste em uma das chaves para a implantação da integração lavoura-pecuária, podendo contribuir decisivamente para o sucesso desta prática. A quantidade de máquinas envolvidas na fenação e o elevado custo fixo das mesmas sugerem que, em estabelecimentos de pequeno porte, esta atividade tenha de ser terceirizada ou viabilizada através de cooperativas ou gru.M pos de mecanização. Walter Boller, Universidade de Passo Fundo Máquinas
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Tratores
transmissão - parte IV
Conceitos, terminologia e dicionário das caixas de câmbio
ENTENDER AS TRANSMISSÕES
Missão impossível? P
ara ajudar na compreensão da caixa de câmbio, vamos traduzir os termos mais importantes e utilizados, já que é muito comum a utilização de palavras inglesas em sua denominação (quadro 1). Depois, veremos se ficam mais compreensíveis. A partir do momento em que temos estas traduções, começamos a fazer combinações com elas, baseando-se na palavra CÂMBIO, para a qual podemos escolher: Shift; Split; Shuttle (para o inversor). Como a tendência atual é para câmbio em carga, posso pôr POWER (transmitindo potência) ou DYNA (transmitindo força, que é a mesma coisa). Recordemos que os instrumentos que servem para
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Máquinas
medir força são os DINAmômetros. Se quisermos destacar como é o inversor, fazemos a mesma coisa baseando-se em SHUTTLE, ao que também podemos adicionar Power ou Dyna. Para introduzir alguma variação, podemos tomar como base SPLIT, que também quer dizer caixa de câmbio ou caixa de escalonamentos, já que ao trocar se produz um salto ou degrau. Durante muito tempo se quis destacar que a caixa era sincronizada e por isto utilizamos o Synchro, mas também qualquer um dos qualificativos que expressem uma possível qualidade ou distintivo: Full; Automatic; Electronic; Dual; Twin; Termos do fabricante.
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Ou, mais simplesmente, usemos speed, que, tratando-se da caixa de câmbio, sempre serve. Sem pretender fazer uma análise exaustiva de todas as combinações possíveis, no quadro 2 aparecem as mais empregadas nas designações da caixa de câmbio. No quadro 3, sem pretender fazer uma varredura completa em todas as bases de dados do tema, aparecem diversas denominações empregadas por fabricantes de tratores para suas caixas de câmbio. Além disto, para evitar problemas, começo por dizer que se dividiram os termos comerciais para colocar em evidência as associações das palavras antes citadas. Agora chegam com força as transmissões CVT. Primeiro foi a VARIO, da FENDT, depois a HM8, da CLAAS, que não chegou a toda Europa porque o veículo que a equipava, o Xerion, não se comercializa em todos os países. Recentemente, a S-Matic, da STEYR e CASE e, por último, a ZF-Ecom, desenvolvida por JOHN DEERE e o Agrotron TTV, da DEUTZ. Como foi colocado no quadro de traduções, CVT significa Transmissão de Variação Contínua, de maneira que o número de relações de câmbio é infinito. Daí o nome em inglês - Step-less transmission ou Transmissão sem escalonamentos. Há dois tipos de transmissões CVT, as baseadas em variadores de correias/correntes, com gargantas variáveis e as que se baseiam em dividir a potência. As de variadores de correias são as que equipam os carros de passeio. Todas as empregadas em tratores agrícolas estão baseadas no sistema de DIVIDIR (SPLIT) a potência do motor em duas partes, uma mecânica e outra hidrostática, que é a que Setembro / Outubro 2002
Quadro 1
Tradução dos termos ingleses mais comuns na caixa de câmbio dos tratores agrícolas Termo Power Shift Split Step Dyna Shuttle Command Range Synchro Bajo Carga Hi-Lo High Low Dual Twin Automatic Speed Turbo Full
Quadro 3 Tradução dos termos ingleses mais comuns na caixa de câmbio dos tratores agrícolas Fabricante CASE DEUTZ FENDT JOHN DEERE
LAMBORGHINI LANDINI MASSEY FERGUSON
Denominação Power Shift Synchro Synchro Split Turbomatik Turbo Shift Overdrive Fully Synchromesh Power Clutch Speed Wheel Twin Shift PowrSync PowrQuad Power Shift Multi Speed Dyna Shift Power Six Speed Shift Speed Shift Plus Dyna Shift
NEW HOLLAND
Electronic Full Power Shift Power Shift Electro Shift Power Shuttle
RENAULT
Power Clutch Twin Shift Full Power Shift Quadri Shift Agro Shift Power Shift Electronic Power Shift Delta Power Shift Hi Shift
SAME VALMET
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Power Shift Power Shift Vario Power Shift Auto Quad AutoQuad II Auto Powr APS (Automatic Power Shift) Electronic Power Shift Delta SIX Dyna Shift Puls Power Shuttle Power Shift Power Shift Plus Power Command Synchro Command Dual Command Split Command Range Command Shuttle Command Rever Shift Tractonic Hydro shift Syncro Power Full Power Shift
Multi ....less Electronic CVT Transmissão HM Creep Creeper Forward Reverse Overdrive Agro/Delta/Quad/Six..... produz a variação contínua, como ocorre nas colhedoras. Por isto, se pode também chamá-las transmissões HM (MECÂNICA-HIDROSTÁTICA) ou HYDROMECHANICAL POWER SPLITTING TRASMISSIONS, que traduzido ficaria: Transmissão com divisão mecânica-hidrostática da potência. Pode-se dividir a potência e, depois, voltar a juntá-la. A Transmissão VARIO da FENDT, para dividir a potência emprega uma planetária, em que chega um eixo e depois saem dois - um para a
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Tradução Potência Trocar Troca Dividir/Partir/Decompor Divisão/Nível Nas caixas de câmbio, escalonamento. Degrau Unidade de força no sistema C.G.S. Mover-se alternativamente Inversor Órgão de comando/Acionamento Faixa Relação do câmbio Sincronizado Transmissão sem parar o veículo Transmissão sem parar a transmissão de potência Transmissão sem acionar a embreagem Transmissão em carga com duas possibilidades: Alta (High) Baixa (Low) Dupla Gêmeo Em caixas de câmbio, caixa com 2 marchas, habitualmente em carga Automático Velocidade Em caixas de câmbio, embreagem hidráulica. Completo Em caixas de câmbio, que corresponde a toda gama de marchas. Múltiplo.... Sem..... Eletrônico Transmissão de variação contínua, sem escalonamentos Transmissão CVT divisão da potência hidrostática e mecanicamente Arrastar-se O que se arrasta Em caixas de câmbio, marcha super-reduzida ou ultracurta Para frente Para trás Marcha multiplicada Termos próprios do fabricante parte mecânica e outro para a hidrostática, voltando a juntar-se no eixo somador. O sistema de planetária é divisor. De modo contrário, a caixa S-MATIC, da STEYR e CASE, e a ZF Ecom, da JOHN DEERE e AGROTRON TTV, da DEUTZ empregam um sistema com o mesmo princípio, isto é, são HM, mas neste caso a potência se divide primeiro e, depois, se juntam as duas partes da potência no sistema planetário que .M seria, então, somador. Pilar Linares, Departamento de Engenharia Rural, Universidade Politécnica de Madrid, Espanha Tradução: Fernando Schlosser
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Preparo do solo
Subsolagem ou escarificação Mobilização do solo sem muita agressão
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pesar dos muitos séculos passados, as preocupações dos agricultores da atualidade não têm sido muito diferentes daquelas que tinham os homens que iniciaram a semeadura da cevada, trigo e milho, quando deixaram de ser nômades. Os primeiros implementos utilizados na agricultura constituíam-se de hastes de madeira ou pedaços de ossos e tinham por principal finalidade o rompimento da camada superficial do solo, seca e compactada pela ação natural do tempo (ventos, impacto dos pingos de chuva e translocação de partículas do solo). Hoje, a compactação do solo, devido à ação do homem, em decorrência da utilização e preparo intensi-
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vos do solo agrícola, valendo-se de máquinas, implementos e tratores cada vez maiores e mais pesados e, considerando-se a intensificação da migração das partículas do solo devido a sua mobilização, tem gerado graves problemas na agricultura moderna. A utilização de máquinas tais como o arado, grade e enxada rotativa, resolve o problema da compactação do solo nas camadas superficiais; porém, na maioria dos casos, a transfere para camadas mais profundas. A utilização dessas máquinas, quase sempre à mesma profundidade de preparo do solo e por diversos anos consecutivos, tem contribuído para o surgimento das camadas compactadas logo abaixo da li-
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nha de ação dos órgãos ativos das mesmas, sendo denominada de compactação subsuperficial (conhecida também como soleira, pé de arado ou pé de grade). O interesse no projeto de equipamentos para romper as camadas compactadas do subsolo, principalmente aquelas oriundas da ação dos órgãos ativos das máquinas de preparo do solo, teve início em meados da década de cinqüenta, nos Estados Unidos da América e, no Brasil, a partir de da década de setenta. A máquina utilizada para romper essas camadas compactadas foi denominada subsolador (subsoiler) e, visto que é uma operação agrícola de aplicação ainda recente, sua implantação e Setembro / Outubro 2002
Fotos Claas
situações, a utilização dessa técnica se torna necessária e a seleção adequada do equipamento pode representar sensíveis economias. É importante esclarecer que as conclusões de um diagnóstico para a subsolagem agrícola de certa área nunca devem ser extrapoladas para áreas de características diferentes, mesmo que sejam de uma mesma propriedade agrícola. Finalmente, deve-se salientar que os efeitos visuais que a compactação do solo provoca nas plantas muitas vezes podem advir da falta de água no solo, da toxidez por alumínio ou por manganês ou pelo ataque de nematóides. Da mesma forma que a subsolagem do solo agrícola foi introduzida para resolver um problema específico, outro equipamento muito pa-
carificadores são conceituais e funcionais, ou seja, o primeiro tem a função básica de romper camadas compactadas do solo e o segundo de preparar o solo. Porém, em termos didáticos, suas diferenças básicas podem ser classificadas em: (vide tabela). Esses equipamentos foram introduzidos na agricultura quase na mesma época da adoção de técnicas conservacionistas de preparo do solo, tais como o cultivo mínimo e o sistema de plantio direto. Essa coincidência na realidade não foi um mero acaso, pois os precursores dessas novas tecnologias se ressentiam da falta de equipamentos específicos que mobilizassem de forma drástica e definitiva o solo anteriormente
Característica
Subsolador
Escarificador
Profundidade de trabalho
Maior do que 40 cm
Até 35 cm
Número de Hastes
Até 7
Maior do que 5
Espaçamento das Hastes
Maior do que 50 cm
Até 50 cm
Função
Rompimento de camadas compactadas subsuperficial
Preparo do solo e rompimento de camadas compactadas superficial
Modelo de ponteira com asas
recido com o subsolador passou a ser utilizado com bastante sucesso pelos agricultores, tendo sido denominado escarificador ou arado cinzel. O escarificador tem o mesmo princípio de rompimento do solo por propagação das trincas, ou seja, o solo não é cortado como na aração ou gradagem e sim rompido nas suas linhas de fraturas naturais ou através das interfaces dos seus agregados. Desta forma, ambos os equipamentos utilizam hastes que são cravadas no solo e provocam o seu rompimento para frente, para cima e para os lados. É o chamado rompimento tridimensional do solo em blocos. Isto permite dizer que este tipo de mobilização é menos agressiva do que aquelas nos quais as lâminas cortam o solo de forma indiscriminada e contínua, destruindo sua estrutura original. Na agricultura moderna, os escarificadores vêm substituindo com grandes vantagens os arados e grades e, em muitas regiões, estes passaram a fazer parte do passado histórico da agricultura. As diferenças entre os subsoladores e os es-
manipulado com as técnicas convencionais, rompendo assim as camadas compactadas do solo remanescentes para que pudessem implantar os sistemas conservacionistas sem sofrerem as conseqüências nocivas e duradouras das operações anteriormente adotadas. Desta forma, a subsolagem do solo passou a ser uma operação obrigatória antes da implantação do sistema de plantio direto e, hoje em dia, é uma recomendação fundamental para o sucesso desse sistema. Também, em função da forma como o sistema de plantio direto é conduzido, ou seja, como é gerenciado o tráfego de máquinas no trato cultural e na colheita, principalmente no tocante ao estado de umidade do solo durante essas operações e o tipo de rodado do maquinário utilizado, o agricultor se vê obrigado a interromper o ciclo de plantio sem mobilização do solo, sendo então recomendado o rompimento das camadas compactadas que passam a influir significativamente no crescimento das raízes, infiltração e capilaridade da água, absorção de nutrientes e troca catiônica e, finalmente, na produtividade das culturas. A partir do
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acompanhamento não têm recebido o devido respaldo técnico e científico, de forma a apresentar resultados operacionais favoráveis e retornos econômicos satisfatórios. A primeira característica a considerar, antes de se optar pela subsolagem de uma área agrícola, é que esta é uma operação de alto consumo energético, provavelmente o maior dentre as operações agrícolas. Portanto, somente devem ser mobilizados os solos que realmente necessitem desse trabalho, sendo que a profundidade de subsolagem deve ser compatível com a faixa compactada do solo. Levantamentos iniciais sobre o tipo de solo e suas condições (densidade do solo, resistência mecânica à penetração, teor de água e profundidade da camada compactada) são de extrema importância para a tomada de decisão. Deve-se observar também que, apesar de onerosa, a operação de rompimento das camadas compactadas do solo, quando não realizada, representa uma sensível diminuição da produção para a maioria das culturas comerciais, gerando prejuízo para os agricultores. Nestas
Na agricultura moderna, os escarificadores vêm substituindo com grandes vantagens os arados e grades e, em muitas regiões, estes passaram a fazer parte do passado histórico da agricultura
... diagnóstico da profundidade e intensidade da
compactação existente na área, o agricultor poderá optar pela escarificação ou subsolagem e, caso a propriedade esteja georeferenciada e sendo gerenciada através da agricultura de precisão, decisões de adoção da subsolagem ou escarificação poderão ser tomadas para toda a área, para talhões ou de forma localizada e em profundidade variável.
preparo se aproxima bastante ao cultivo mínimo ou ao cultivo com operações conjugadas, ou seja, preparo com equipamentos múltiplos numa mesma passada (mobilização do solo, semeadura, adubação e acabamento da superfície do solo). Talvez um exemplo de sistema de plantio direto sem mobilização do solo que ainda permanece sendo utilizado seja o coveamento direto no plantio de reflorestamento, principalmente quando se utilizam coveadoras mecanizadas com processo de trabalho contínuo, sem a necessidade de parada do trator para realizar as covas. Já a subsolagem com adubação e posterior plantio nas entre-linhas das árvores anteriormente retiradas é, tipicamente, um caso de cultivo mínimo do reflorestamento e não plantio direto.
MODELO DE RUPTURA DO SOLO
O solo, quando considerado como um corpo rígido, rompe-se através do cisalhamento, podendo este processo acontecer através do corte puro, da compressão (propagação da tensão de compressão) ou devido a ambos. Em função do tipo de ferramenta que penetra no solo e dependendo da sua umidade e compactação, haverá a predominância de um ou outro tipo de ruptura do solo. A ferramenta
AVALIAÇÃO DA COMPACTAÇÃO DO SOLO
Modelos de hastes e ponteiras
Os métodos para detectar a camada compactada do solo podem ser divididos em três grupos:
Ponteiras das hastes
a) MÉTODOS VISUAIS, SUBJETIVOS OU GROSSEIROS:
Sulcos de erosão, fendas nos rastros dos rodados, crostas superficiais, restos de resíduos não compostos meses após, raízes mal formadas, sistema radicular raso e espalhado, falhas localizadas de germinação, plantas com tamanhos menores que o padrão, emergência lenta da plântula, coloração deficiente, sintomas de carência de N e P e toxidez de Mn (calagem). b) MÉTODOS PRECISOS:
Padrão de ruptura do solo
Densidade do solo (Ds), percentagem de macroporos (%) (KIEHL, 1979), taxa de difusão de oxigênio (g02/cm2min) (BAVER et alii, 1973), condutividade hidráulica saturada (cm/ h) (BAVER et alii, 1973).
Dimensões da haste
c) MÉTODOS INTERMEDIÁRIOS:
Escarificador montado
As semeadoras utilizadas atualmente nos sistemas de plantio direto estão cada vez mais evoluídas e eficientes, graças às pesquisas realizadas por alguns pesquisadores brasileiros e, hoje em dia, pode-se dizer que o conceito de não mobilização do solo (no tillage ou zero tillage) não mais existe na área agrícola. O sistema de plantio direto atual utiliza o conceito de preparo em faixa ou na linha de plantio, uma vez que as semeadoras são equipadas com facões em cada linha de plantio e estes nada mais são do que hastes (cinzel) que chegam até a 35 cm de profundidade, dependendo do modelo e tipo de semeadora. Portanto, este modelo de
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Máquinas
Avaliação da resistência à penetração do solo, utilizando Penetrômetros e Penetrógrafos. A resistência à penetração é um indicador intermediário de compactação, não sendo uma medição física direta das condições do solo, pois é muito variável em função de outros fatores, principalmente com o teor de água e o tipo de solo. Apesar das limitações, a resistência à penetração é freqüentemente usada para a indicação comparativa de compactação em solos de mesmo tipo e mesmo teor de água, por causa da facilidade e rapidez na qual numerosas medidas podem ser realizadas. Os resultados são normalmente expressos em termos de força por unidade de área do cone (kPa ou kgf/cm2). O levantamento histórico da compactação de um solo, utilizando a resistência à penetração, tem sido realizado com bastante sucesso, uma vez que os dados são levantados sempre no mesmo solo e, a cada ano, no período seco, quando o teor de água do solo é bastante homogêneo.
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Profundidade crítica
de ataque do solo utilizada no seu rompimento pode ser classificada em três tipos principais: Chapas (blades), hastes (ripper, chisel ou tine) e pá (shovel). As chapas ou lâminas largas rompem o solo em duas dimensões: Para frente e para cima. Já as lâminas estreitas ou hastes (que é o caso dos subsoladores e escarificadores), rompem o solo,
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quando secos, em três dimensões: Para frente, para cima e para os lados. Os parâmetros que influem na ruptura do solo podem ser divididos em quatro categorias: a) CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DA FERRAMENTA:
Profundidade de subsolagem (p), Ângulo de inclinação da haste (ß), Largura da haste (W); b) CONDIÇÕES DO SOLO:
Densidade (ds), Ângulo de atrito interno (f), Coesão (c);
Profundidade de subsolagem recomendada
c) INTERAÇÃO HASTE/SOLO:
Adesão do solo (Ad) na haste, Ângulo de atrito solo/haste (d).
SUBSOLADORES E ESCARIFICADORES: OPERAÇÃO E REGULAGENS
Para se realizar uma operação adequada de mobilização do solo são necessárias algumas escolhas e regulagens: a) Profundidade de subsolagem: deve ser escolhida em função da localização da camada compactada ou adensada no perfil do solo, adotando-se uma profundidade de subsolagem 5 a 10 cm mais profunda do que a parte inferior da camada compactada. Existe uma profundidade máxima de trabalho para cada geometria de haste, a partir da qual a área mobilizada do solo não apresenta aumentos significativos e a própria haste co-
meça a provocar a compactação do solo, além de provocar um aumento significativo da resistência específica do solo (força de tração por unidade de área mobilizada). Essa profundidade apresenta grande correlação com a geometria da ponteira da haste e com as condições e tipo de solo, recebendo o nome de PROFUNDIDADE CRÍTICA . O solo se trinca a partir da profundidade crítica (pc) até a sua superfície, independentemente da profundidade da haste (p). A profundidade crítica é uma função direta da largura da ponteira (b) e, em função do tipo e condições dos solos ensaiados, ficou estabelecida a relação: p = (5 a 7) b. b) Número de hastes: o número de has-
tes a serem utilizadas num subsolador ou escarificador dependerá da disponibilidade de potência do trator para executar a tração. c) Espaçamento entre hastes: influi diretamente na largura de corte total do implemento que, por sua vez, é diretamente proporcional à capacidade de campo. SUBSOLADOR COM PONTEIRAS SEM ASAS:
Espaçamento entre hastes na faixa de 1,0 a 1,5 vezes a profundidade de trabalho. SUBSOLADOR COM PONTEIRAS COM ASAS:
1,5 a 2,0 vezes a profundidade de tra.M balho. Kleber P. Lanças UNESP
Opinião
MECANIZAÇÃO
E os pequenos?
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estes agricultores - que têm luz elétrica (em muitos casos), geladeira (a gás, pode ser), antena parabólica na sua TV, e uma moto 125 para as caminhadas do filho - uma tecnologia de implementos com um ou dois séculos de idade. Conheço poucas indústrias, muito poucas, que oferecem equipamentos pequenos, porém com tecnologia moderna. Basta ver os materiais utilizados em sua fabricação... O que fazer? Caso haja realmente interesse em melhorar as condições de vida e competitiviCultivar
Aí vem demagogia! Você há de pensar. Muito já se falou, muito dinheiro já se gastou, e muita esperança já se investiu nos pequenos . Refiro-me aos pequenos agricultores, claro. E são basicamente de duas origens, os pequenos : a) os que conseguem adquirir (ou arrendar) pequenas áreas de terra às custas de muito trabalho e sacrifício pessoal; b) os que chegam a pequenos pelo fracionamento de áreas maiores, das antigas colônias , ou até das sesmarias. No primeiro caso, geralmente são agricultores descapitalizados e com pouco conhecimento de gestão e nenhuma tecnologia acumulada. Os do caso b são mais capitalizados (dentro de seu universo, claro), têm noções administrativas (o conhecimento popular é muito rico em exemplos) e dominam razoavelmente a tecnologia. De toda forma, não podem realizar dispêndios altos. Olhando para estes dois tipos de agricultores pelo prisma das máquinas agrícolas, o que vemos? Um grande vazio, até que me provem o contrário. O discurso desenvolvimentista fala muito em agregar valor à produção, viabilizando a agricultura de pequeno porte, familiar , que é o rótulo da moda. Pois bem, e quem se preocupa em dar melhores condições de trabalho a esta gente? Aos grandes e médios fabricantes, dizem, não interessa este mercado marginal de máquinas pequenas, rústicas, de baixíssima tecnologia e custo que hoje temos no mercado. Pode ser muito romântico ver um agricultor preparando sua terra com tração animal, extraindo sua produção com carroças, ou arrastões . Sim! Mas venha pegar nas rabiças de um arado, venha semear a lanço, distribuir fertilizantes a mão, ou carregar o milho medido em balaios , e depois conversamos sobre visão romântica, bucolismo etc... Oferecemos a
Arno Dallmeyer é Consultor Técnico da Cultivar Máquinas e Professor Titular de Máquinas Agrícolas no CT/UFSM
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dade destes agricultores, caso se queira de fato servir ao povo , deve haver um novo posicionamento dos órgãos de fomento e dos financiadores. Quantas instituições existem no país, com competência, com qualificação, ávidas por realizar pesquisa e desenvolvimento de máquinas agrícolas? E quem, na área de pesquisa não gostaria de ver seus trabalhos, seu empenho, transformados em produtos reais , aplicados, ao invés de simplesmente ter trabalhos científicos (ou pseudo-científicos ) decorando estantes e currículos? Quanto dinheiro de todos, oriundo de impostos, é distribuído pelos órgãos financiadores públicos ou privados para pesquisas de alto nível, que, às vezes, servem mais ao preenchimento dos egos e do individualismo de pesquisadores que a resolver problemas práticos, imediatos? Será que desenvolver equipamentos modernos, porém de pequeno porte, e custos reduzidos, é menos nobre que trabalhar com tecnologia de satélites, computadores, ar condicionado etc...? Não que este tipo de conhecimento não seja necessário cultivar e desenvolver, mas que o façamos sem esquecer as necessidades de nossa base agrícola. Uma linha de fomento específica nos financiadores (de pesquisa e de produção) pode estimular esta criação muito rapidamente, e garantir a inclusão desta categoria de produtores no mundo atual, que, conforme sabemos eles já têm em outros momentos de sua vida cotidiana. E as pequenas indústrias locais e regionais podem e devem acessar seus parceiros de P&D dando também seu salto tecnológico em produto e processos de fabricação. Sem falar na pressão que pode ser exercida também pelos órgãos de classe, sindicatos e cooperativas. O desafio está posto. Quem se habilita? . M
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