Cultivar Máquinas • Edição Nº 145 • Ano XII - Outubro 2014 • ISSN - 1676-0158
Nossa capa
Mais potência ou problemas?
Capa: Charles Echer
Matéria de capa
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Conheça as consequências da chipagem de motores em tratores e saiba quais são os maiores riscos de realizar esta prática no campo
Destaques
Índice Rodando por aí
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Como funcionam os cardans
05
Preparo profundo do solo em cana
08
Pulverizadores hidropneumáticos
12
Perdas na colheita causadas por invasoras 15
Colhedoras de algodão
Comandos avaliados
Comparativo avalia o desempenho de colhedoras de algodão picker e stripper em lavouras de algodão adensado
Avaliação de distribuição de comandos mostra o grau de acessibilidade e conforto no posto do operador em tratores
20
26
• Editor
Gilvan Quevedo
• Redação
Charles Echer Karine Gobby Rocheli Wachholz
• Revisão
Aline Partzsch de Almeida
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL
• ASSINATURAS
• REDAÇÃO
• MARKETING
3028.2000 3028.2060
3028.2070 3028.2065
• Comercial
Sedeli Feijó José Luis Alves Rithiéli de Lima Barcelos
• Coordenação Circulação
Simone Lopes
• Assinaturas
Natália Rodrigues Clarissa Cardoso
• Expedição
Edson Krause
• Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Como avaliar sua colhedora usada
18
Comparativo de colhedoras de algodão
20
Capa - Chipagem de motores em tratores
23
Avaliação dos comandos em tratores
26
Comparativo de distribuidores centrífugos 30 Mercado de tratores no Paraná
C
Assinatura anual (11 edições*): R$ 189,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 € 130,00
Direção Newton Peter
Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br
Cultivar
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Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
rodando por aí
Grupo Tracbel
Dia Especial
O Grupo Tracbel - parceiro da Massey Ferguson há 20 anos – inaugurou no dia 9 de outubro nova unidade em Governador Valadares (MG). “Esta nova unidade é inaugurada no momento em que nossa empresa está preparada para crescer no segmento de máquinas agrícolas no Brasil, juntamente com a já bem-sucedida parceria da Massey Ferguson”, afirmou o gerente geral de Máquinas Florestais e Agrícolas da Tracbel, Victor Franco.
Victor Franco
Dia dos Campeões
A New Holland realizou no dia 10 de outubro, em Pelotas (RS), mais uma edição do programa New Holland em Campo, o Dia dos Campeões. A marca reuniu os tratores das linhas T7, TL e o T6 em uma demonstração em campo na Associação Rural de Pelotas. “O primeiro Dia dos Campeões foi muito bem recebido pelos produtores brasileiros e pelos concessionários New Holland no Brasil. Por isso, decidimos encerrar o programa New Holland em Campo de 2014 com uma segunda edição do Dia dos Campeões”, comentou o diretor comercial Luiz Feijó da New Holland, Luiz Feijó.
Portas Mais Abertas
No mês de outubro, o evento Portas Mais Abertas da Valtra passou pelos estados de São Paulo e Maranhão. No dia 2, os produtores de Jaú (SP) tiveram a oportunidade de conhecer todo o portfólio da marca, além de condições especiais de compra. No dia 15 foi a vez da cidade São Mateus (MA) aproveitar as oportunidades oferecidas pela Valtra. Os clientes também tiveram acesso a uma consultoria personalizada sobre as soluções mais indicadas para cada tipo de produção. “É um dia especial, no qual os clientes podem conferir as facilidades que a Valtra está oferecendo na aquisição de novos tratores e peças”, afirmou o gerente nacional de Vendas da Valtra, Roberto Patrocínio.
Celso Monteiro
Capacitação
A representante Case IH, Suprema Máquinas, em parceria com o Governo do Estado do Mato Grosso, desenvolveu na cidade de Apiacás mais uma edição do curso de Operador de Máquinas Agrícolas, que faz parte do projeto Parceria Rural Agricultura. O curso teve início na primeira quinzena de agosto e capacitou cerca 61 operadores da região, durante os 15 dias de treinamento. O conteúdo ministrado no curso é dividido entre aulas práticas e teóricas, totalizando a carga horária de 108 horas/ aula. A capacitação é oferecida de forma gratuita, sendo a maioridade e a Carteira Nacional de Habilitação as únicas exigências para participação. O Farmall 80 da Case foi utilizado durante o treinamento.
Parceria
Roberto Patrocínio
Spray Day
Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre pulverização, a Massey Ferguson realizou o Spray Day no dia 8 de outubro, em Cachoeira do Sul (RS), onde foi apresentado o pulverizador MF 9030. Segundo o supervisor de Marketing de Produto Pulverizadores da Massey Ferguson, Vitor Kaminski, o MF 9030 possui chassi Flex Frame capaz de absorver as irregularidades do terreno. “Na concepção do Flex Frame, utilizamos ferramentas para análise de esforços e testes de laboratório em pista de condições extremas Vitor Kaminski de operação”, ressaltou Kaminski.
Colheita do trigo
No dia 27 de setembro foi aberta oficialmente a colheita de trigo no Rio Grande do Sul. O ato simbólico, que foi realizado durante a XI Feira Nacional do Trigo (Fenatrigo), em Cruz Alta, contou com a presença do governador em exercício, desembargador José Aquino Flôres de Camargo, e do ministro da Agricultura, Neri Geller. Ambos subiram na colheitadeira BC6500 da Valtra, que foi utilizada para marcar a cerimônia de abertura da colheita. A concessionária Razera Agrícola expôs o portfólio da Valtra durante a feira.
04
Para levar soluções ao mercado de cana, a John Deere realizou no final de setembro a 3ª edição do Dia Especial John Deere em Canade-açúcar, no Centro Universitário de Rio Preto (Unirp), em São José do Rio Preto (SP). O evento contou com três estações: Soluções Tecnológicas, Operações e Pós-vendas em formato de rotação, o que possibilitou a todos os participantes passarem por todas as etapas. “A iniciativa é exclusiva para o setor e traz as soluções desde o planejamento da área plantada até a colheita. As atividades contemplaram o gerenciamento agrícola, os maquinários, pós-venda e os simuladores”, contou o gerente de Marketing Tático para Cana-de-açúcar da John Deere, Celso Monteiro.
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A Agrale e a Chevron Brasil Lubrificantes, detentora da marca Texaco, assinaram acordo de cooperação para lubrificantes. A parceria prevê o fornecimento de produtos Texaco para o enchimento inicial dos veículos da montadora gaúcha e também a fabricação e distribuição da linha Agralub, destinada ao mercado de reposição. Segundo o diretor de Suprimentos da Agrale, Edson Martins, é muito importante a parceria com a Chevron. “Nosso parceiro possui fábricas e armazéns de distribuição em locais estratégicos do País, o que facilitará ainda mais o atendimento de nossos representantes e clientes”, explicou Edson Martins o executivo.
Carregadoras frontais
A CNH Industrial anunciou parceria técnica e comercial com a M-extend, responsável pela marca MX, empresa especializada em equipamentos para tratores agrícolas. Pelo novo acordo, os tratores das marcas Case IH e New Holland Agriculture serão complementados com carregadoras agrícolas frontais. Os novos produtos estarão à venda em toda a rede de concessionárias das marcas a partir de janeiro 2015 como um implemento e já sairão montados de fábrica a partir da segunda metade de 2015. “A CNH Industrial tem o compromisso de fornecer em todo o mundo produtos líderes no setor agrícola e que atendam aos mais altos padrões de desempenho e produtividade. Nossa parceria com a M-extend, uma das mais renomadas empresas de implementos para tratores, confirma essa postura”, afirmou o diretor de Desenvolvimento de Negócios da Corrado Mida CNH Industrial, Corrado Mida.
CARDanS
Transmissão simples Charles Echer
As transmissões articuladas a cardan são utilizadas em grande parte dos implementos que utilizam a TDP do trator e mesmo em outras máquinas, por ser um componente bastante dinâmico e simples
A
s transmissões articuladas a cardan, ou simplesmente eixos cardans, são mecanismos utilizados para transmissão de movimento entre árvores rotativas cujos eixos geométricos se interceptam segundo um ângulo qualquer. O termo “árvore”, embora aparentemente estranho, é empregado na área de mecânica para eixos giratórios que têm montados sobre si elementos como engrenagens, polias, volantes ou outros. O eixo cardan, assim como o sistema hidráulico de tratores, é uma das principais formas de transferir potência do trator para a operação de máquinas agrícolas a distância. Enquanto o sistema hidráulico utiliza o fluxo de óleo sob pressão, o eixo cardan utiliza energia mecânica para transmitir potência (torque e rotação) em ângulo aos implementos agrícolas. O eixo cardan conecta o eixo da tomada
de potência (TDP) do trator agrícola ao eixo da conexão de entrada de potência (CEP) do implemento.
COMPONENTES DO EIXO CARDAN
O eixo cardan compõe-se basicamente de duas juntas universais unidas por meio de dois eixos telescópicos maciços e/ou tubulares (Figura 1). A transmissão se dá através da chamada “junta universal” ou junta cardânica, composta por dois terminais (também chamados garfos ou luvas) acoplados a cada uma das árvores (do trator e do implemento) unidas por uma cruzeta na qual o movimento articulado em dois planos perpendiculares acontece.
JUNTAS UNIVERSAIS
As juntas universais (Figura 2) podem ser “simples” ou “duplas”, mais conhecidas como
homocinéticas. A junta simples é formada por dois terminais/garfos e uma cruzeta, sendo indicada para quando o eixo da TDP e o eixo da CEP estão angularmente alinhados na mesma altura. A junta homocinética é formada por um componente central e duas cruzetas, sendo indicada quando os dois eixos estão em ângulos diferentes e não na mesma altura, assegurando igualdade entre as rotações instantâneas de saída e de entrada. Este tipo de junta pode atingir por breve período um ângulo de trabalho de 80º facilitando manobras de cabeceiras. Quando temos apenas uma junta universal com ângulo de operação diferente de zero, a velocidade instantânea de saída, na maior parte das vezes, é diferente da velocidade de entrada. Com duas juntas é possível obter velocidade de saída igual à velocidade de entrada desde que os ângulos nas duas juntas sejam iguais. Já com
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Charles Echer
Tabela 1- Requisitos de torque estático Membros de conexão Categoria Conjunto de garfo, cruzetas e munhões Serviço normal Serviço pesado --- N.m --1.130 1 565 791 1.808 2 1.130 1.582 2.486 3 1.582 2.147 3.955 4 1.921 2.938 5.649 5 2.938 4.180 7.344 6 3.728 5.423 9.604 7 4.858 7.005 12.428 8 6.779 9.039
de maneira que em apenas uma posição é possível a montagem. Para garantir que, nos perfis quadrados, os garfos estejam com os olhais alinhados, os componentes macho e fêmea podem conter ranhuras e saliências de guia. Por exemplo, em altas rotações (1.000rpm) o perfil estriado é mais indicado pois diminui as folgas entre tubos. Os perfis tubulares circulares apresentam a relação capacidade de transmissão/massa mais favorável entre todos os demais e são, por isto, preferíveis em acionamentos de alta velocidade como em veículos automotores. Neste caso, é usual que uma de suas extremidades apresente um prolongamento em forma de espiga estriada, curta, a qual se encaixa numa luva que permite o movimento telescópico Em acionamentos agrícolas, com baixas velocidades de operação, além dos perfis circulares, outros como quadrados, retangulares, ovais, triangulares funcionam satisfatoriamente, sendo bastante utilizados. Os tubos são dimensionados para um torque máximo de segurança, sendo muitas vezes tratados superficialmente, para minimizar a pressão telescópica. Um dos tratamentos, denominado “Rilsan”, reduz o coeficiente de atrito de 50% em comparação com o contacto normal, A) Simples
juntas homocinéticas é garantida a uniformidade da velocidade de saída praticamente em qualquer condição de ângulo.
CRUZETAS
A cruzeta desempenha papel fundamental na transmissão de força pelo eixo cardan, pois através das castanhas e roletes que a compõem é que a transmissão acontece. A cruzeta é formada por dois eixos em cruz, cujas extremidades são chamadas de munhões. Em cada um dos quatro munhões da cruzeta articula-se uma castanha (espécie de capa), cujo espaço é ocupado por roletes, através dos quais são transmitidas forças responsáveis pelo movimento (Figura 3). O movimento alternativo na cruzeta penaliza as superfícies atritantes dos munhões e castanhas, levando a desgastes e até a “falha” prematura do componente quando as condições de operação
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são adversas.
EIXO TELESCÓPICO
O eixo telescópico poderá ter formato redondo, triangular, quadrado, oval, estrela, estriado ou outro formato, visando reduzir pressões de contato e reduzir vibrações. Para o bom funcionamento da transmissão, os olhais dos garfos da árvore intermediária (tubo telescópico) devem estar contidos num mesmo plano, isto é, em fase. Nos perfis quadrados, por exemplo, é possível uma defasagem de 90° entre os olhais dos garfos; nos estriados podem ocorrer várias angularidades, dependendo do número de estrias defasadas; nos retangulares e oblongos, a montagem só pode ser realizada em duas posições, uma deslocada de 180° em relação à outra, o que equivale a 0°, em condição ideal; os triangulares são construídos
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B) Homocinética
Figura 2 – Tipos de juntas universais
Figura 1 – Composição básica de um eixo cardans: 1. Juntas universais; 2. Eixo telescópico
entre duas superfícies de metal. Se as condições de trabalho forem altamente abrasivas, o tubo pode ser tratado termicamente para aumentar a sua dureza.
CONFIGURAÇÕES DE EIXOS CARDANS
A norma ISO 5673-2:2005 apresenta três arranjos possíveis (Figura 4) envolvendo juntas universais simples e homocinéticas e que operam em conjunto em transmissões agrícolas, sempre com o objetivo de uniformizar o movimento de rotação na entrada e na saída de potência. Uma vez que a irregularidade do movimento rotatório gera ruído e vibração, que podem reduzir a vida útil dos seus componentes, é importante observar a melhor configuração. A configuração A é composta por duas juntas cardans simples; em ângulos pequenos e iguais, esta transmissão compensa as variações de ângulo e comprimento do tubo telescópico, garantindo uma transmissão uniforme do movimento de rotação. Já a configuração B conta com uma junta simples e uma homocinética; nesta forma é possível obter movimento de rotação praticamente uniforme desde que a junta simples opere em linha reta ou com ângulo abaixo de 10o. A configuração C é composta por duas juntas homocinéticas; é possível obter rotação final sempre uniforme, mesmo com diferentes valores de ângulos entre as juntas, podendo alcançar desalinhamento de 40º. Nesta situação o operador pode executar o trabalho em condições normais, mesmo nas manobras de curvas,
Figura 3 – Componentes da junta universal com detalhe para a cruzeta: 1. Garfo ou luva; 2. Cruzeta; 3. Castanha com roletes; 4. Anel-trava (ou anel de segurança)
sem requerer maior atenção ou esforço.
CLASSIFICAÇÃO DOS EIXOS CARDANS
Embora na prática cada fabricante tenha a sua classificação estabelecida em “séries”, onde cada série tem sua capacidade de torque, elas deveriam ter uma correspondência com as categorias estabelecidas pela norma americana Asabe/Ansi S331.5 (2010). Esta norma estabelece oito categorias de capacidade de torque estático para eixos cardans, cada um com dois subconjuntos de membros de conexão (eixo propriamente dito), um para serviço pesado, outro para serviço normal. Na Tabela 1 são apresentadas as categorias da norma americana em função dos requisitos de torque estático. Com isto é de se esperar que os componentes do eixo cardan sejam intercambiáveis dentro de uma mesma série ou de séries equivalentes quando se tratar de fabricantes diferentes.
MANUTENÇÃO DO CARDAN
A lubrificação dos componentes do cardan é fundamental para sua durabilidade. O ponto principal é a lubrificação das partes móveis do cardan – cruzetas e partes macho e fêmea – que deve ser feita de acordo com a recomendação do fabricante e com a graxa adequada de sabão de lítio (EP 2 - Extrema Pressão com grau de consistência 2), resistente à alta temperatura e à água. Produtos à base de silicone, graxas grafitadas e para chassis não são indicados, pois dão apenas proteção superficial. Além de reduzir o atrito, o lubrificante protege os componentes
contra ferrugem ou corrosão. Eixo cardan sem lubrificação, ou lubrificado com produto inadequado, apresenta desgaste prematuro dos componentes móveis. Em decorrência dela, temperaturas da ordem de 200ºC podem ser atingidas, situação em que algum lubrificante porventura ainda disponível, torna-se fluido o bastante, escapando dos locais onde deveria atuar, abreviando ainda mais a vida útil do componente. Pode ocorrer também carbonização da graxa nos condutos do lubrificante, bloqueando a sua passagem. O lubrificante aplicado por meio de bomba manual, através de pino graxeiro, é armazenado nos canais de lubrificação das cruzetas e conduzido às castanhas pela ação da força centrífuga, sendo essencial, por isso, que os mesmos não estejam obstruídos. Na árvore intermediária o lubrificante é aplicado entre as partes macho e fêmea, por meio de pincel. A lubrificação adequada ao bom funcionamento da transmissão varia com o uso. Quando o componente é utilizado em serviços leves, em pequenos ângulos de operação, a lubrificação permanente ou por um período longo pode ser adequada. Quando as transmissões são utilizadas com grandes ângulos de operação, altas velocidades, cargas excessivas e presença de intensa poeira e umidade podem exigir lubrificação diária. .M Claudio Alves Moreira, Ila Maria Corrêa e Moisés Storino, CEA/IAC
Figura 4 – Configurações de eixos cardans segundo a ISO 5673-2: A: com duas juntas simples; B: com uma junta simples e uma homocinética; C: com duas juntas homocinéticas
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IMPLEMENTOS
Cana no canteiro
Estudo feito em lavouras comerciais mostra que o preparo de solo profundo canteirizado reduz os custos operacionais, além de proporcionar um ambiente mais favorável ao desenvolvimento da cana-de-açúcar milhões de toneladas de açúcar a mais do que produziu na safra 11/12 até o ano de 2020, para atender a demanda dos mercados interno e externo, segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), a partir de dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e Secretaria de Comércio Exterior (Secex) em 2013. Acompanhando a crise enfrentada pelo setor, algumas mudanças na cadeia de produção ocasionaram a queda de produtividade agrícola do canavial. Dentre elas, se destacam a expansão da cultura da canade-açúcar para ambientes menos favoráveis ao seu cultivo; a concentração em poucas e antigas variedades; a falta de formação de viveiros e tratamento de mudas, e asperdas com a acelerada entrada da mecanização que exigiu mão de obra qualificada e sistematização de áreas. A mecanização por si só cobrou, ou ainda cobra, uma curva de aprendizado muito grande, tanto para o plantio
quanto para a colheita e, além disso, trouxe um novo ambiente ao sistema de produção. Apenas as duas últimas safras (2012/13 e 2013/14) mostraram uma recuperação da produtividade do canavial no Centro-Sul brasileiro, que só foi possível devido ao clima chuvoso dos últimos dois anos. Para atender as necessidades do mercado e vencer as dificuldades da produção, novas tecnologias que visem reduzir o custo e o aumento da produtividade devem ser avaliadas. Dentre essas tecnologias, a operação de preparo do solo é uma das mais importantes no manejo da cana-de-açúcar, cultura que apresenta um ciclo relativamente longo. O preparo de solo é a etapa que deve garantir à cultura as melhores condições para o desenvolvimento e a longevidade, o que reflete na produtividade, além de permitir uma boa sistematização do terreno para o tráfego de máquinas nas operações subsequentes, relação cliente-fornecedor. Além disso, apresenta grande participação no Tiago Correia
O
setor sucroalcooleiro destaca-se pela participação extremamente importante no agronegócio brasileiro, representando 25% do PIB do país, mas, atualmente, passa por crise e perda de competitividade. Com a entrada de grandes investidores e multinacionais, baseada na hipótese que o etanol seria o grande protagonista em matéria de energia renovável na matriz energética brasileira, o setor viveu um “boom” em 2006, o que levou a uma grande expansão e a investimentos. Porém, em 2008, o setor foi atingido pela crise econômica mundial, fato esse agravado pela queda na produtividade dos canaviais nas safras 2010/11 e 2011/12, pela elevação dos custos de produção e pela concorrência com os combustíveis fósseis, que não apresentam uma evolução de preços no mercado interno de acordo com o mercado mundial. Mesmo com esse cenário desfavorável, o Brasil precisa dobrar a oferta desse combustível e produzir aproximadamente 16
Figura 1 - Volume de raízes no perfil da trincheira nas diferentes profundidades amostradas. Fonte: Tomaz (2013)
Implemento de preparo de solo profundo canteirizado fabricado pela empresa Antoniosi Tecnologia Agroindustrial, utilizado no comparativo com preparo convencional
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custo de formação da lavoura. Segundo a Orplana (Organização de Plantadores de Cana da região Centro-Sul do Brasil), 2013, o preparo de solo chega a representar aproximadamente 20% do custo de formação do canavial. Uma nova tecnologia que vem surgindo no setor é o conceito do preparo de solo profundo canteirizado (PSPC). Esse conceito tem como princípio fornecer as melhores condições químicas e físicas ao solo para o desenvolvimento das raízes, permitindo maior crescimento e aprofundamento do sistema radicular e, consequentemente, o aumento da produtividade e longevidade da soqueira. Ensaios realizados por Tomaz (2013) mostraram que o volume de raízes do sistema de preparo de solo profundo canteirizado (PPF) foi maior ao se comparar com o preparo convencional (CON-D) e o cultivo mínimo (MIN-D) (Figura 1). Além desses benefícios, o preparo profundo diminui o número de operações necessárias, quando comparado ao preparo convencional, o que pode contribuir para a redução do custo operacional. Neste sistema de preparo profundo, o preparo é realizado na forma de um canteiro, o que permite a sistematização da área no espaçamento “combinado” (1,5m x 0,9m), auxilia no controle de tráfego de máquinas na área, aumenta a quantidade de metros lineares de cana ao se comparar com o espaçamento tradicional (1,5m x 1,5m) e reduz a distância percorrida pelas máquinas agrícolas por unidade de área. Para verificar a viabilidade do emprego dessa nova tecnologia, realizada por um implemento de preparo de solo profundo canteirizado, fabricado pela empresa Antoniosi Tecnologia Agroindustrial Ltda, modelo PSPC-1101, foi realizada uma avaliação para verificar a qualidade da operação, definida pela profundidade de trabalho, e compararam-se os custos da utilização desse implemento com o preparo convencional, aqui considerado como composto por quatro operações: três gradagens (pesada, intermediária e niveladora) e uma subsolagem. O implemento possui uma haste subsoladora que atinge até 80cm de profundidade e uma caixa de depósito com capacidade
Figura 2 - Fluxograma geral para o desenvolvimento de um algorítmo para a seleção de um sistema mecanizado agrícola
.M
para duas toneladas e para a aplicação de corretivos em profundidade. Localizada atrás da haste subsoladora encontra-se uma enxada rotativa com largura de trabalho de 1,2m. A enxada rotativa é acionada por um motor hidráulico independente e permite a incorporação de restos vegetais e corretivos, além de formar o canteiro para o plantio da cana-de-açúcar. Em uma única operação, o implemento realiza a subsolagem, a aplicação de corretivos em profundidade e a incorporação de matéria vegetal ao solo por meio da enxada rotativa.
Para a operação de preparo profundo foi utilizado um trator de 235cv (172,7kW) de potência no motor. Para as demais operações do preparo convencional foi considerado o uso de um trator de 180cv (132,3kW) de potência no motor, tracionando os implementos: grade niveladora 64 x 22”; grade intermediária 28 x 28”; grade “pesada” 16 x 34”; subsolador AST Matic 500 (cinco hastes). Os valores iniciais dos tratores e implementos utilizados nos cálculos foram obtidos em concessionários no mês de novembro de 2013. Case IH
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Figura 3 – Esquema da amostragem realizada
nesta análise. As avaliações foram feitas em regiões situadas no município de Lençóis Paulista (SP) e contaram com o apoio da empresa agrícola Tecnocana. Para avaliar a profundidade de trabalho foi realizado um conjunto composto de sete amostras distantes 30cm uma da outra, transversais ao sentido de trabalho e dispostas na largura total do canteiro (Figura 3). Um total de cinco conjuntos, um grupo, foi avaliado, e os conjuntos foram distanciados de 20 centímetros entre si na longitudinal. Para cada cinco pontos localizados na mesma posição longitudinal (ponto central, 30cm à direita, 30cm à esquerda...) calculou-se a média da profundidade atingida (Figura 4). A 30cm de distância das amostras finais, pontos localizados a 90cm à direita e esquerda, situa-se a área de tráfego das máquinas e, portanto, considerou-se a resistência acima de 2MPa nesses locais. Desta forma é possível visualizar a profundidade de trabalho e os valores inferiores a 2MPa, na área total de trabalho do conjunto (trator + implemento), de 2,4m. Dessa maneira, os cinco conjuntos de
pontos, grupo, representam 35 amostras e na área foram analisados 15 grupos, espaçados de forma aleatória dentro da área de abrangência dos talhões, totalizando 525 amostras. Com os dados obtidos das amostragens obteve-se um mapa da profundidade de trabalho para cada posição transversal ao longo da área, sentido longitudinal (Figura 5). Nota-se que do ponto central até 30cm para direita e para a esquerda não há oscilação da profundidade. Dentro desta faixa central do canteiro de 60cm de largura a resistência à penetração foi menor que 2Mpa até 70cm de profundidade, limite do comprimento da haste do penetrômetro. Os pontos a 60cm de distância do ponto central mostram uma oscilação na faixa de trabalho, mas também em níveis profundos, oscilando na grande maioria entre 60cm e 70cm de profundidade. Os pontos a 90cm de distância do ponto central representam a faixa final da formação do canteiro e mostram um aumento da resistência à penetração com uma oscilação da profundidade, variando dentro de uma
Valtra
Para o dimensionamento de máquinas e o cálculo de custo operacional empregou-se a metodologia proposta por Milan e Borges (2004a) e Milan e Borges (2004b), apresentada na Figura 2. A necessidade de máquinas e implementos é baseada no ritmo operacional das operações e na capacidade de trabalho dos conjuntos trator-implemento envolvidos. A metodologia considera como custo fixo aquele relacionado à depreciação, juros, alojamento, seguros e taxas dos equipamentos. Já o custo variável é a somatória dos custos com reparo, manutenção e consumo de combustível. A capacidade de campo operacional é a razão entre capacidade efetiva (largura x velocidade de trabalho) e a eficiência da operação, considerada em 65% no estudo. O custo operacional é a razão entre o custo horário (custos fixos + variáveis) do trator-implemento e a capacidade de campo operacional. Os valores utilizados para os cálculos de custo são apresentados na Tabela 1. A profundidade foi medida de forma indireta, com auxílio de um penetrômetro manual, estabelecendo-se um limite no valor de 2MPa como indicador da profundidade de trabalho. O valor de 2 MPa é considerado em muitos estudos como limite ao crescimento radicular. Acima desse valor considerou-se que o solo não sofreu a ação do implemento. O tamanho da haste do penetrômetro (0,7m) é um fator limitante
Figura 4 – Esquema para realização da média de um ponto de análise
Tabela 1 – Base de dados para o cálculo dos custos operacionais PSPC-1101 Case MX240 Magnum Dados Estimados 280.000,00 130.000,00 Valor Inicial (R$) 84.000,00 6.500,00 Valor Final (R$) 6% 6% Taxa de juros (%) 2,30 Preço Diesel (R$/l) 24,6 Consumo de Combustível (l/h) 16.000 10.000 Vida Útil em Horas 0,8 0,8 Fator de Reparo e Manutenção 15,94 Custo Mão de Obra (R$/h)
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No estudo realizado, o preparo convencional apresentou um custo final 40% maior do que o preparo de solo profundo canteirizado
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faixa entre 30cm e 50cm de profundidade do solo. Com base na média para todas as análises de profundidade em cada ponto ao longo da largura, estabeleceu-se o perfil do canteiro formado (Figura 6). A Figura 7 mostra o perfil obtido com o trabalho realizado pelo implemento. Da área total possível de ser preparada, 1,68m2 (largura de 2,4m e profundidade de 0,7m), a área mobilizada correspondeu a 72%, aproximadamente. Com base nos dados iniciais apresentados na Tabela 1 estabeleceu-se a comparação entre os custos operacionais do preparo de solo profundo canteirizado e do convencional, em função da área a ser trabalhada. O preparo de solo profundo canteirizado apresentou redução de custo operacional em até 40% em relação ao preparo convencional. O aumento da área mostra atuação direta nos custos fixos, que podem ser diluídos até um limite, quando então se mostra necessária a aquisição de novos conjuntos, trator/ implemento, para suprir a necessidade de trabalho da área. O principal motivo da diferença entre os custos dos dois sistemas é a diminuição do número de operações necessárias para o preparo de solo no sistema de preparo profundo canteirizado. Para a utilização desse sistema devem ser analisadas as condições de sua aplicabilidade, porém, o seu emprego propicia o aprofundamento das raízes, fator de grande relevância para aumento de produtividade, resistência à seca e longevidade de canavial, principalmente em áreas localizadas em ambientes de produção menos favoráveis. Outras vantagens que podem advir do uso desse sistema é uma melhor conservação do solo, o armazenamento da água e a redução .M do consumo de combustível. Ciro Mendes Sitta, Canaplan Marcos Milan, USP/Esalq
Figura 5 - Profundidade de trabalho do preparo de solo profundo canteirizado feito com o implemento PSPC-1101 (Solo: LVd-1). Resistência à penetração até 2 MPa
Figura 6 - Perfil do canteiro feito pelo PSPC 1101 – Solo: LVd-1.Profundidade resistente à penetração até 2MPa
Figura 7 - Preparo de Solo Profundo Canteirizado versus Preparo Convencional. Comparação entre custos com evolução da área
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PULVERIZADORES Fotos Charles Echer
Mira torta
Uma avaliação rápida com pulverizadores hidropneumáticos mostrou que regulagens básicas e fundamentais, como direcionamento dos bicos de pulverização, posicionamento das aletas de condução da cortina de ar e dimensionamento do ventilador, deixam de ser realizadas pelos operadores, tornando a operação ineficiente
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pós o transplante das culturas perenes para o campo, os produtores passam a enfrentar uma série de desafios para manter as plantas longe do ataque das pragas, doenças e plantas daninhas. Como normalmente esses ataques resultam em elevadas perdas na produtividade das lavouras, torna-se necessário que as operações de controle sejam realizadas de forma rápida, mas também eficiente. Desta forma, deve-se fazer uso adequado dos pulverizadores e todos os outros fatores envolvidos na aplicação. Para aplicações em culturas perenes como café, abacate e citros, os pulverizadores hidropneu-
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máticos se destacam, pois eles apresentam ao mesmo tempo boa capacidade operacional e boa penetração da calda no dossel dessas plantas, que normalmente é muito fechado. Entretanto, muitas vezes, antes da pulverização, os operadores ou técnicos responsáveis pela aplicação levam em consideração apenas a etapa de calibração do pulverizador, ou seja, são realizadas apenas alterações na velocidade e ou pressão de trabalho para ajuste do volume de calda que será aplicado. Dessa forma, se esquecem de um procedimento de suma importância, o qual deve ser realizado anteriormente à calibração. Para que o pulverizador fique
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operacionalmente preparado, deve-se realizar a regulagem do mesmo. Esse procedimento consiste na verificação visual e operacional de todos os componentes do pulverizador, além da adequação destes quando necessário. No caso dos pulverizadores hidropneumáticos é fundamental se ater ao direcionamento dos bicos de pulverização, ao posicionamento das aletas de condução da cortina de ar e ao dimensionamento do ventilador. Esses aspectos são diretamente responsáveis pela correta distribuição e deposição da calda na lavoura. Durante a regulagem estas configurações devem se adequar ao produto aplicado e ao alvo a ser atingido, ou seja, o inseto ou doença que se deseja controlar e as características da cultura em questão. Ademais, os pulverizadores hidropneumáticos possuem como característica a produção de gotas pequenas, um dos aspectos que justificam a sua boa cobertura e penetração da calda no dossel das plantas. Porém, esse tamanho de gota facilita a ocorrência de deriva, que é caracterizada pelo deslocamento das gotas geradas pela pulverização da calda para locais diferentes de onde está sendo realizada a aplicação. Quando a deriva atinge áreas adjacentes com culturas suscetíveis, áreas de reserva ou de habitação, pode causar sérios prejuízos tanto ambientais como financeiros.
Estudos já realizados apontam que aplicações feitas com pulverizadores hidropneumáticos podem ser bastante ineficientes, chegando a perder mais da metade do produto aplicado. Outra questão é que a correta avaliação desses pulverizadores é complexa, principalmente por requerer equipamentos para a coleta da calda pulverizada na vertical, o que dificulta a realização dessa prática na maioria das propriedades agrícolas. Esses equipamentos, em geral, são de custos elevados e poucos difundidos no Brasil, sobretudo, por não existir em nosso País a obrigatoriedade de se realizar inspeções periódicas em pulverizadores. Desta forma, torna-se necessário o surgimento de formas alternativas para verificar a qualidade das aplicações com os pulverizadores hidropneumáticos. Foi realizada na região do Alto Paranaíba (MG) avaliação de 30 pulverizadores hidropneumáticos, no período compreendido entre os meses de maio e outubro de 2012. Em síntese, o objetivo geral do trabalho foi avaliar a uniformidade de distribuição de calda proporcionada por estes pulverizadores em lavouras de café. Com esse intuito, foi construída uma estrutura coletora de líquido vertical para avaliação de uniformidade de distribuição volumétrica vertical, constituída por 20 tubos de PVC com uma das extremidades vedada, contendo apenas
Para que o pulverizador trabalhe adequadamente, deve-se fazer a regulagem do equipamento, observando altura das plantas, direção dos bicos, velocidade adequada do ventilador, entre outros itens
uma saída onde foi adaptada uma mangueira siliconada, a qual levava o líquido até provetas graduadas. A outra extremidade foi cortada em formato de bisel. A estrutura coletora possuía 3,2 metros de altura, sendo que os tubos foram sobrepostos com ângulo de 45° em relação ao plano horizontal Antes de cada avaliação, a estrutura era umedecida e, em seguida, realizada a pulverização simulando uma aplicação normal. Para
isso, o pulverizador foi deslocado em frente à estrutura quantas vezes fossem necessárias para coletar quantidade de líquido suficiente para a realização da leitura nas provetas. Para verificar se o volume de calda coletado era realmente condizente com o necessário para ser aplicado na lavoura da propriedade, realizou-se a quantificação do volume vegetativo das plantas. Posteriormente, se recorreu ao teste estatístico (qui-quadrado), para verificar
Gráfico 1 - Comparação do perfil de distribuição volumétrico obtido em trinta pulverizadores hidropneumáticos e o volume vegetativos de plantas de café.
Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa avaliaram os principais problemas encontrados na pulverização com equipamentos hidropneumáticos
encontrado foi em média 10% do volume total pulverizado (Gráfico 1). Isso implica em maiores custos de produção e contaminação ambiental. Isso ocorreu, possivelmente, por haver um posicionamento inadequado dos bicos de pulverização. Estudos já realizados demonstraram que o correto posicionamento dos bicos é fundamental para se evitar essas perdas e, assim, aprimorar a distribuição volumétrica da calda ao longo do dossel da planta. Observou-se na relação entre os valores médios máximos e mínimos de volume vegetativo e deposição de calda (Gráfico 1) que, nos estratos mais inferiores das plantas, o volume de calda aplicado foi muito inferior ou muito acima do que realmente seria necessário para o volume vegetativo em questão. Por outro lado, na relação entre os valores médios de deposição de calda e de volume vegetativo, pode-se notar que eles seguiram o mesmo padrão de distribuição, conforme se varia a altura. Porém, essa relação no terço inferior é de maior volume vegetativo e menor deposição de calda, tendendo a se igualar no terço médio e inverter no superior. Ademais, na relação dos valores médios máximos de volume vegetativo e de deposição de calda nos estratos superiores, fica evidenciado que a deposição de calda sempre foi superior
ao que seria necessário para aquele máximo volume vegetativo. Conclui-se que a metodologia proposta possibilita mensurar a distribuição volumétrica dos pulverizadores hidráulicos empregando-se poucos recursos e apresentando resultados satisfatórios. A maioria dos pulverizadores avaliados não proporciona uniformidade de distribuição volumétrica vertical, quando se leva em consideração a relação com o volume vegetativo das plantas. O que demonstra a negligência existente com as técnicas preconizadas pela tecnologia de aplicação. Pequenos ajustes no direcionamento do jato de ar ou nos bicos hidráulicos, provavelmente proporcionariam bons resultados. Por fim, ressalta-se a necessidade da implantação de políticas de inspeções de pulverizadores em geral, a fim de se popularizar técnicas voltadas para aprimorar a qualidade operacional dos pulverizadores e elevar a efici.M ência das aplicações de agroquímicos. João de Deus Godinho Junior, Diego Sichocki, Guilherme Andrade Gontijo, Raí Miranda dos Reis e Renato Adriane Alves Ruas, UFV
Fotos João de Deus Godinho Junior
se a quantidade de calda pulverizada realmente estava em conformidade com o necessário para o respectivo volume vegetativo mensurado. Em média, a uniformidade de distribuição vertical observada nos pulverizadores avaliados foi de 19,5%, sendo que em mais de 60% deles não havia uniformidade de distribuição de calda proporcional ao volume vegetativo das lavouras. Isso ocorre, provavelmente, pela utilização de pontas hidráulicas com vazão inadequada. Seja por apresentarem elevada variação da vazão, não seguirem o padrão de distribuição da cultura ou estarem danificadas. As pontas são as partes mais importantes desses pulverizadores. Elas são responsáveis diretamente pela fragmentação em gotas da calda aplicada e no caso dos hidropneumáticos juntamente com o ventilador, são também responsáveis pela distribuição nos diferentes estratos da lavoura. Porém, muitas vezes a manutenção, a limpeza e a troca desses componentes são negligenciadas, o que pode acarretar grande ineficiência ao processo de pulverização. Isso pode ter contribuído para a falta de uniformidade detectada nesse trabalho. Comparando-se a altura da lavoura com a altura atingida pelas gotas da calda pulverizada, foi analisado e quantificado o volume de calda perdida acima do dossel das plantas. O valor
As pesquisas foram realizadas na região do Alto Paranaíba (MG), onde foram avaliados 30 pulverizadores hidropneumáticos. O estudo mostrou que mais de 60% dos equipamentos apresentavam problemas de uniformidade das gotas
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COLHEDORAS
Colheita invadida Tiago Sousa
Infestação de plantas daninhas tardias em lavouras de milho pode ser um grande problema na hora da colheita, dificultando o trabalho da colhedora e aumentando a quantidade de produto perdido na operação
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o Brasil, observa-se um rápido crescimento da cultura do milho, especialmente daquele plantando na safrinha. Este crescimento se dá tanto em área cultivada quanto em produtividade. No exercício da safra 2011/2012, a produção brasileira de milho contando a primeira e a segunda safra atingiu 72,9 milhões de toneladas, com produtividade média nacional de 4,48t/ ha na primeira. Dados da Conab/2012 revelam que na região Centro-Oeste houve um aumento expressivo de área cultivada, em torno de 40,25% em relação à safra anterior, atingindo uma produtividade
média de 7,67t/ha. O aumento no cultivo deste cereal se deve principalmente à alta na demanda pelo consumo e à diversidade de produtos empregados na suplementação animal e humana. O cultivo do milho envolve vários processos que levam ao sucesso na rentabilidade final da lavoura. Dentre estes processos, a colheita destaca-se como um dos mais importantes na cultura. Durante a colheita, a ocorrência de perdas se dá, principalmente, devido ao mau uso e à regulagem inadequada da máquina, bem como outros fatores, como condições ambientais, preparo inadequado
do solo, época incorreta de semeadura, espaçamento e densidade de plantas, cultivares não adaptadas, infestação de plantas daninhas, teor de umidade dos grãos, idade e estado de conservação da máquina e falta de treinamento dos operadores. No Brasil, estima-se que as perdas de grãos por interferência de plantas daninhas ficam em torno de 20% a 30%. Nessas culturas, essas plantas podem proporcionar aumento no teor de água dos grãos, diminuindo-lhes seu valor comercial e, consequentemente, influenciando no aumento do índice de perdas
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Fotos Tiago Sousa
Um dos problemas enfrentados na colheita de milho é a existência de plantas daninhas que competem com a cultura no estágio final de desenvolvimento, como é o caso da corda-de-viola, uma planta trepadeira que acaba complicando a operação da plataforma da colhedora
no momento da colheita. A sua presença na lavoura exige a adoção de práticas minuciosas de controle, diminuindo o rendimento da operação de colheita, aumentando o custo de produção e, por conseguinte, diminuindo a eficiência agrícola. A corda-de-viola (Ipomoea sp.) é uma planta anual, herbácea, trepadeira, de caules com densa pilosidade, germina, emerge e cresce podendo chegar até três metros de comprimento. Esta planta não chega a acarretar perdas na produção se incidir na cultura após o período crítico de competição, mas a sua alta população
As perdas totais em áreas infestadas foram dez vezes maiores do que as perdas em áreas sem infestação
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pode inviabilizar a operação de colheita, provocando embuchamento, arrastamento e tombamento da cultura e, posteriormente, desgaste dos componentes da plataforma de corte, além de afetar o rendimento final da cultura, trazendo prejuízos ao produtor. Na colheita mecanizada é comum a ocorrência de perdas, sendo aceitáveis até o limite de 0,8sc/ha. A rentabilidade final pela atividade está diretamente associada à redução máxima dessas perdas. Recente estudo sobre este problema, realizado na região sudeste do estado de Goiás, quantificou as perdas originadas pela infestação da corda-de-viola. Os resultados mostraram que o problema é de grande relevância ao produtor, pois leva a uma drástica queda na produtividade da cultura. No estudo realizado foi acompanhada a colheita de um híbrido de alto nível tecnológico, destinado à produção de grãos de ciclo médio, com densidade de semeadura variando de 60 a 65 mil plantas por hectare. O plantio foi realizado na primeira quinzena de novembro de 2011, utilizando o sistema de plantio direto, com semadora-adubadora regulada para distribuir 2,9 sementes por metro linear,
com espaçamento de 0,45m entre fileiras. Foram aplicados no sulco de semeadura 400kg/ha da fórmula 08-20-18 (N-P-K) e a adubação de cobertura com 200kg/ha de ureia, realizados nas fases de desenvolvimento V3 e V4. A colhedora utilizada foi uma máquina de rotor Axial, com plataforma de 13 linhas e espaçamento de 0,45m. A velocidade de trabalho adotada foi de 4km/h. Foram coletadas amostras constituídas de cinco repetições para os tratamentos com e sem a presença de cordade-viola, cada repetição com distância de 50 metros entre elas. Cada bloco foi representado pela repetição, realizada em áreas distintas no campo, representando o total da área cultivada de 60ha. A quantificação das perdas de grãos em espigas foi realizada por meio da colocação no solo, logo após a passagem da colhedora, de uma armação de madeira e barbante com área total correspondente a 30m², onde se coletaram apenas as espigas dentro dos limites da armação, sendo, em seguida, debulhadas e pesadas. Na quantificação das perdas de grãos soltos foi colocada uma armação de 2m², após a passagem da colhedora, onde se cole-
Os pesquisadores Tiago, Sebastião e Rute realizaram o comparativo de perdas utilizando uma colhedora de rotor Axial, com plataforma de 13 linhas e espaçamento de 0,45m
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Gráfico 1 - Relação das perdas de grãos soltos, perdas de grãos em espigas e perdas totais em sc/ha na colheita mecanizada de milho safra verão em função da infestação de corda-de-viola em áreas de cultivo, situadas no município de Ipameri (GO)
As perdas totais encontradas na área sem a infestação da corda-de-viola foram de 2,4sc/ha e para a área com infestação foram de 20,3sc/ha
taram e pesaram os grãos caídos no solo, sendo a umidade corrigida para 13%. A perda total foi quantificada por meio da soma das perdas de grãos em espigas com as perdas de grãos soltos no solo. As perdas ocorridas na área com corda-de-viola foram superiores às encontradas na área isenta da planta daninha. Esse aumento está relacionado ao fato de provocar embuchamento nos componentes da plataforma de corte e tombamento de plantas, dificultando assim o recolhimento dessas espigas. As perdas totais encontradas na área sem a infestação da corda-de-viola foram de 2,4sc/ha e para a área com infestação foi de 20,3sc/ha (Gráfico 1), ou seja, a corda-de-viola apresentou um aumento nas perdas de quase dez vezes mais do que as áreas sem infestação. As perdas em grãos soltos quantificadas na área com infestação de corda-deviola foram de 0,24sc/ha, e de 0,44sc/ha para a área com infestação de corda de viola, ou seja, quase duas vezes mais do que na área sem infestação. As médias das perdas encontradas neste trabalho apresentaram índices da ordem de 11,94%, dos quais 97,79% estão localizados na plataforma de corte e 2,21% nos mecanismos internos. O alto índice de perdas na plataforma de corte pode ser devido ao arrastamento e tombamento da cultura, causado pela planta daninha que tem hábito de enrolamento na cultura. Um segundo fator seria a incompatibilidade do número de linhas da plataforma de corte com o número de linhas da semadora-adubadora, favorecendo, assim, esse aumento na ocorrência das perdas de grãos em espigas. A fim de reduzir esse problema, torna-se necessário empregar práticas de manejo específicas para plantas daninhas
que interfiram na colheita mecanizada, visando otimizar a colheita, evitando a sua proliferação e reduzindo o banco de sementes dessas plantas no solo, possibilitando a produção de milho nas safras seguintes. Dentre essas práticas, pode-se empregar por meio da aplicação dirigida de herbicidas nas entre linhas em caráter complementar, tendo como objetivo principal melhorar as condições de colheita, ajudando o controle das chamadas plantas daninhas tardias. Esses herbicidas são aplicados nas entre linhas do milho, de forma que o jato do pulverizador atinja somente as folhas baixeiras e não atinja as
folhas superiores do milho, essas plantas devem estar com altura mínima de 40cm a 50cm. A corda-de-viola aumenta drasticamente as perdas na colheita mecanizada do milho. Recomenda-se o manejo destas plantas a fim de se evitar maiores prejuízos, tanto no rendimento da cultura como na redução do .M desgaste da colhedora. Tiago Rodrigues de Sousa, UEG Sebastião Pedro da Silva Neto, Embrapa Cerrados Rute Quélvia Faria, IFG
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colhedoras
Quanto vale sua colhedora usada?
Charles Echer
Conhecer o valor de mercado de uma colhedora usada é importante, principalmente na hora de realizar a troca por uma nova. Cada máquina, por conta de seu estado de conservação e tipo de uso, tem um valor específico, mas é possível ter uma ideia geral dos preços baseado em estudos que auxiliam no cálculo
A
média de 4.360 máquinas anuais, segundo dados da Anfavea. Quanto maior o número, o tamanho e a complexidade das máquinas, mais importante se torna o gerenciamento para uma melhor rentabilidade dos negócios. A colheita é uma das atividades mais importantes na agricultura devido ao seu alto valor agregado. Porém, a aquisição de uma colhedora nova necessita de
Divulgação
mecanização da colheita proporcionou um aumento expressivo da produção de grãos e no rendimento de trabalho, trazendo diversos benefícios, entre estes, a redução de custos e a agilidade na execução do trabalho. Considerando os últimos 15 anos, foram vendidas aproximadamente 65.400 colhedoras para o mercado interno, com uma
Gráfico 1 - Quantidade de colhedoras usadas à venda encontradas em cada ano
Pesquisadores da UFPel desenvolveram método para estimar o valor de colhedoras usadas
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um elevado investimento, que muitas vezes o agricultor não tem como obter, assim, a compra de uma usada pode ser a solução. Somente critérios técnicos poderão orientar para uma avaliação confiável, já que existem no mercado, muitas colhedoras usadas e em diversos estados de conservação. Pode-se conseguir um bom valor de revenda se forem observados certos aspectos: revisão geral em cada máquina após a safra ou período de utilização; uso de peças originais, mecânicos treinados e ferramentas adequadas; uso de revendedor autorizado; utilização da manutenção preventiva ou preditiva; uso de máquina com boa engenharia; planejamento de consertos, reforma e revisão; uso de insumos de primeira linha (combustíveis, lubrificantes, peças, mão de obra). Os custos referentes à mecanização das operações agrícolas, nas diferentes culturas, representam entre 10% e 30% dos custos totais de produção, demonstrando a importância da escolha do equipamento mais adequado para o processo produtivo. Sempre que possível, deve-se escolher um equipamento usado que, mesmo no final de sua vida útil, apresente boas condições de revenda. Esta escolha deve ter uma constante análise de mercado, pois somente critérios técnicos poderão orientar em uma avaliação
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Gráfico 2 - Relação entre a idade da máquina e porcentagem em relação ao novo
confiável, já que existem no mercado muitos equipamentos usados e em diversos estados de conservação.
DEPRECIAÇÃO
Todas as máquinas e equipamentos sofrem uma perda de valor e eficiência causada pelo passar do tempo através do desgaste ou pelo obsoletismo tecnológico, sendo conhecida pelo nome de depreciação. Diversas são as formas para se realizar o seu cálculo, sendo que o método do valor de mercado, realizado através de uma pesquisa dos valores praticados, estima o valor do equipamento usado e é considerado o mais preciso. Atualmente a popularização das páginas eletrônicas de revendedores de máquinas usadas favorece a pesquisa de valores praticados, podendo se estimar os valores, em relação ao ano de fabricação de diversos equipamentos. De maneira geral as páginas da internet trazem marca, modelo, ano de fabricação, valor de revenda, estado da federação, entre outros.
VALOR DE MERCADO DE COLHEDORAS
Para realizar a pesquisa de preços médios de veículos de passeio, utilitários, motos, caminhões e micro-ônibus são utilizadas empresas ou fundações de pesquisas (Molicar, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – Fipe, Webmotors, entre outras), mas em nenhuma dessas empresas é possível verificar preços médios de colhedoras agrícolas. Por exemplo, a tabela Fipe expressa preços médios de veículos efetivamente praticados no mercado com base nacional, havendo transações que ocorrem acima ou abaixo dos preços divulgados. Para a obtenção do valor médio de mercado são considerados preços de veículos das várias regiões do país e com diferentes características, sendo desconsiderados, para efeito de cálculo, aqueles preços excessivamente distantes da média servindo como uma referência para compra e para venda. Sendo analisada a ausência de informações sobre o preço médio de colhedoras usadas, foi criada uma equipe de trabalho e uma meto-
Gráfico 3 - Relação entre a idade da máquina e porcentagem em relação ao novo para o exemplo
dologia para, de uma forma isenta, criar um método que calcule o preço médio e sirvam como referência, refletindo o valor comercial mais próximo possível com a colhedora procurada. Com isso, este método de estimativa tem como objetivo auxiliar técnicos e produtores na pesquisa de valores de mercado das colhedoras, auxiliando na melhor escolha para a propriedade e necessidade do produtor.
A METODOLOGIA PARA ESTIMAR O VALOR DE MERCADO
Os dados utilizados neste trabalho foram computados entre março e abril de 2011, setembro e dezembro de 2012, março e maio de 2013 e abril e maio de 2014, onde foram pesquisadas páginas eletrônicas especializadas na revenda de colhedoras usadas, sendo elas: AgroLink, Agromaquinasusada, MFRural, Real Tratores, Tratoresecolheitadeiras. As variáveis respostas foram: marca (Case, John Deere, Massey Ferguson, New Holland e Valtra), modelo, ano de fabricação do equipamento, preço e estado da federação (AL, BA, DF, ES, GO, MA MG, MS, MT, PB, PE, PR, RS, SC, SE, SP e TO). Os dados foram coletados entre os anos de fabricação de 1990 e 2014, sendo tabulados em uma planilha eletrônica formando uma sequência de dados conforme a ordem das variáveis respostas. Posteriormente foram feitas análises estatísticas: média amostral, intervalo de confiança
da média de 95%, desvio padrão, análise de regressão exponencial. Para validação foram encontradas 3.022 colhedoras distribuídas conforme o Gráfico 1. O Gráfico 2 apresenta o comportamento da perda de valor médio em porcentagem encontrada entre os anos de 1990 e 2014. Para estimar o valor de mercado de uma colhedora usada se obtém o valor da máquina nova e se multiplica pelo coeficiente da porcentagem em relação ao novo de acordo com Gráfico 2. Se o equipamento não existir mais na linha de produção do fabricante, utiliza-se o valor do similar atual.
EXEMPLO DE CÁLCULO
No box é possível visualizar a metodologia utilizada para avaliar o valor atualizado de mercado de uma colhedora usada. Este projeto tem como objetivo auxiliar na criação de um método técnico-científico de estimativa, isento, para o valor de mercado de colhedoras autopropelidas, assim auxiliando o técnico ou agricultor em uma negociação de seus equipamentos agrícolas, de forma semelhante praticado por Fipe, .M Molicar e outros. Adriano Soares da Silva, Renan Bernardy, Rihan Cardoso Centeno, Mauro Fernando Ferreira e Ângelo Vieira dos Reis, UFPel
EXEMPLO DE CÁLCULO DE DEPRECIAÇÃO DE COLHEDORA USADA
P
ara encontrar o valor atualizado da máquina usada, se usará a máquina abaixo como exemplo: Colhedora da marca Massey Ferguson, modelo MF 5650, ano de fabricação 2004. Valor da nova/similar nova: R$ 488.000,00. Idade da colhedora: dez anos. A partir do Gráfico 3 é possível encontrar a relação entre ano de fabricação e porcenta-
gem em relação à nova. Perda de valor: 40% (traçado vermelho) Estimativa do valor usado = Valor novo ou similar x % (decimal) em relação ao novo. Estimativa do valor usado: R$ 488.000,00 x 0,40 Estimativa do valor usado = R$ 195.200,00
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colhedoras
Colheita de fibra
John Deere
O cultivo de algodão adensado está crescendo no Brasil e, com ele, aumenta também a necessidade de máquinas adaptadas para colher nestas lavouras. Atualmente os modelos stripper e picker são os mais utilizados, mas você sabe qual é o melhor dos dois sistemas?
C
om a elevação dos preços dos fertilizantes, combustível e mão de obra, uma das alternativas encontradas por pesquisadores e cotonicultores, visando à redução nos custos de produção, foi o estreitamento do espaçamento entre fileiras no algodoeiro. Essa técnica, que surgiu nos Estados Unidos da América (EUA), visa diminuir o ciclo da cultura, possibilitando redução nas aplicações fitossanitárias, menor interferência de plantas daninhas, maior precocidade e, consequentemente, menores custos de produção, podendo apresentar, portanto, algumas vantagens sobre o sistema de cultivo convencional. Quando o algodão é cultivado em sistema adensado requer semeadura com espaçamento entre fileiras de 0,39m a 0,76m, com populações que variam de 173 mil a 300 mil plantas por hectare; já no sistema de cultivo convencional os espaçamentos são superiores a 0,76m com populações que variam de 80 mil a 120 mil plantas/ha.
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Para a colheita do algodão existem dois tipos de máquinas: a colhedora de fusos rotativos (picker), que consiste em retirar da planta apenas o algodão em caroço, e a colhedora stripper, que é dotada de molinete e rosca sem fim retirando capulhos inteiros e os invólucros. Na redução de custos com o sistema de cultivo adensado, o principal componente é a colheita, pois uma colhedora do tipo stripper acaba sendo de duas a três vezes mais barata que uma picker, tanto para a compra como para a manutenção. As colhedoras do tipo stripper, até 2011, eram as mais utilizadas na colheita de algodão adensado, pois, tradicionalmente, as colhedoras de fusos realizavam a colheita do algodão cultivado com espaçamento entre fileiras de 0,76m a 1,01m, não sendo, portanto, utilizadas no sistema adensado. Na colheita da safra 2011 foram disponibilizados no mercado agrícola equipamentos para adaptação das colhedoras de fusos já exis-
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tentes, para utilização na colheita de algodão em cultivo adensado, denominadas Cotton 45 (Deltamaq Indústria e Comércio), capazes de realizar a colheita de fileiras espaçadas em até 0,38m. Estas colhedoras têm como sistemas de funcionamento o corte e o transporte das plantas de uma fileira para a fileira adjacente, onde se procede a extração dos capulhos com mais qualidade na colheita e menores índices de impurezas, pois esse era o grande vilão do sistema de cultivo adensado, onde o sistema stripper colhe fibras com alto teor de impurezas, diminuindo sua qualidade e consequentemente o preço da venda. Por apresentarem sistemas colhedores distintos, as máquinas para colheita com sistemas picker e stripper podem originar diferentes perdas na colheita e condicionar o rendimento de fibra do algodão colhido. Uma equipe de pesquisadores realizou pesquisa de campo para avaliar a produtividade de cultivares de algodão em sistema adensado,
Fotos Francielle Ferreira
Tabela 1 - Produtividade média de algodão em caroço antes da colheita mecanizada Cultivar FMT 701 IMACD 408
Produtividade (kg ha-1) 3911,2 4108,8
Produtividade (kg ha-1) 3911,2 4108,8
Tabela 2 - Resultados médios de percentagem de fibra (%) em função das cultivares e dos sistemas de colheita Sistemas de colheita Picker Stripper
Facas rotativas adaptadas na plataforma de fusos para colheita de algodão adensado
bem como o percentual de fibra e as perdas na colheita em função dos sistemas colhedores picker e stripper. A pesquisa foi realizada no estado de Mato Grosso, na safra de 2012, no campo de produção da Fazenda Mirandópolis, localizada a 60km de Rondonópolis. O algodão foi produzido em sistema de cultivo adensado, semeado em janeiro de 2012 sobre sistema de semeadura direta (palhada de milheto e capim sudão), com espaçamento entre fileiras de 0,45m e população de 250 mil plantas/ha. Como delineamento experimental no campo, foi utilizado o de blocos casualizados com esquema de parcelas subdivididas, que consistem em ter nas parcelas duas cultivares (FMT 701 e IMACD 408) e nas subparcelas os dois sistemas de colheita (picker e stripper), totalizando quatro tratamentos com cinco repetições. A colheita mecânica foi realizada com colhedora de algodão, marca John Deere, modelo 9970, plataforma de 4,5m de largura adaptada pela Deltamaq (Cotton 45) com dez linhas de colheita com sistema picker (de fusos); e
Percentagem de Fibra (%) Cultivar FMT 701 IMACD 408 40,5 aB 42,6 aA 32,8 bA 32,1 bA
Médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05); Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).
Tabela 3 - Resultados médios para perdas no solo, perdas na planta e perdas totais para os sistemas de colheita picker e stripper Detalhe de colhedora adaptada com dez linhas com embuchamento dos fusos rotativos
colhedora de algodão, marca Case, modelo 2555, dotada de plataforma de pente, adaptação do modelo da marca Busa, com 6m de largura e sistema de colheita stripper (molinete com
Tratamentos Cultivar FMT 701 IMACD 408 Sistema de Colheita Picker Stripper
PS (kg ha-1)
PP (kg ha-1)
PT (kg ha-1)
367,3 a 379,5 a
83,2 a 101,4 a
450,5 a 480,9 a
478,68 a 268, 09 b
84,8 a 99,8 a
563,5 a 367,9 b
Colhedora de fusos com cinco linhas de colheita espaçadas a 0,90m para colheita de algodão convencional (a) e colhedora de fusos e plataforma adaptada para colher dez linhas de algodão adensado com espaçamento de 0,45m
Fotos Francielle Ferreira
Gráfico 1 - Resultados médios para perda total percentual dentre as velocidades de colheita
Significativa quantidade de algodão caído após a passagem da colhedora com sistema picker colhendo algodão adensado
rosca sem fim). As colhedoras foram conduzidas pelo mesmo operador durante todo o experimento, observando a velocidade de deslocamento e rotação de trabalho uniforme para cada tipo de colhedora. Por ocasião da colheita, realizouse a coleta manual do algodão em caroço para obtenção da produtividade máxima da cultura, e o levantamento de perdas na colheita foi determinado através da coleta do algodão caído no solo antes da colheita mecanizada (perdas pré-colheita), do algodão caído no solo após a passagem da colhedora (perda no solo) e do algodão que permanecia na planta após a passagem da colhedora (perda na planta). A área de amostragem para todas as avaliações foi de 2,7m2, totalizando cinco repetições por tratamento. Segundo os resultados obtidos no experimento, a produtividade coletada manualmente não apresentou diferenças significativas, resultando em 3.911kg/ha para a cultivar FMT 701 e 4.108kg/ha para a cultivar IMACD 408. Dentre as características buscadas no melhoramento do algodão está o percentual de fibra, por ser um dos componentes para produção de pluma. Observa-se que o sistema de colheita stripper reduziu consideravelmente o percentual de fibra de ambas as cultivares e, consequentemente, refletiu em reduções no rendimento de pluma. Essa redução do percentual de fibra do sistema stripper possivelmente é resultante da ação dos mecanismos, sendo bastante agressivo quando comparado ao sistema picker (de fusos rotativos). Antes de iniciar a colheita mecanizada avaliaram-se as perdas pré-colheita, constatando-se que a mesma foi desprezível, não sendo, portanto, considerada nas avaliações do presente experimento. Observou-se que todas as perdas não diferiram entre as cultivares, entretanto, para os sistemas de colheita, a maior perda total foi observada no sistema de colheita picker (13,5%). As perdas na planta não diferiram em nenhum dos tratamentos. Os resultados encontrados no experimento estão acima dos observados na literatura,
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onde, nas condições de cerrado, como é o caso da área em questão, as perdas totais situam-se entre 9,4%. No geral, autores referem-se ao nível de 10% como sendo o máximo aceitável de perdas na colheita do algodão, estando a faixa ideal situada entre 6% e 8%. Os elevados índices de perdas do sistema de colheita picker (13,5%) podem ser explicados devido à adaptação das facas rotativas na plataforma picker para colher dez linhas; esse fato veio a ocasionar maior volume de algodão em caroço, passando em cada unidade colhedora, fazendo com que os fusos rotativos e os desfibradores não apresentassem total eficiência em processar todo o algodão dos tambores de colheita para os dutos de ar, o que consequentemente pode ter ocasionado o aumento dos índices de perdas no solo. Aliado a isso, pode-se sugerir a reavaliação da velocidade de trabalho utilizada (média de 5,1km/h) pois, com o aumento do número de fileiras colhidas numa mesma passada, velocidades menores poderiam resultar em menores perdas. O percentual de 9,5% para perdas totais no sistema de colheita stripper, possivelmente, originou-se em decorrência da altura de plantas do experimento, que resultou em média de 0,91m, pois para a colheita stripper, é ideal que as plantas não ultrapassem os 0,70m ou 0,80m para não atrapalhar a colheita stripper. Com o novo modelo de colheita picker para algodão adensado, supera-se o inconveniente de
pior qualidade da fibra das colhedoras stripper, mas perde-se a vantagem do custo de colheita reduzido, que é o principal componente de mitigação do custo de produção no sistema adensado. Apesar desse sistema alcançar produtividade igual ou superior e custo de produção inferior ao sistema convencional, o algodão adensado colhido com stripper tem sido “freado” no seu desenvolvimento devido ao maior custo com limpeza no descaroçamento e menor preço na venda da fibra. Por fim, fatores de manejo cultural, regulagem das colhedoras, velocidade de operação das máquinas, bem como o treinamento dos operadores podem interferir de forma eficiente na redução das perdas na colheita. Nesse contexto, a escolha correta do sistema de colheita e a regulagem adequada dessas máquinas, associadas a cultivares produtivas com menor índice de perdas (boa retenção de pluma) e ao maior percentual de fibra, podem significar maior margem de lucro no cultivo do algodão .M adensado para os cotonicultores. Francielle Morelli Ferreira Unemat Antonio Renan Berchol da Silva Famevz – UFMT Diego Augusto Fiorese UFMT Elizabeth Haruna Kazama Unesp
Os pesquisadores Francieli Ferreira e Antonio Berchol da Silva compararam as perdas em colhedoras de algodão adaptadas para colheita em espaçamentos reduzidos
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capa OleGunnar - Fotolia
Potência extra ou problema? Conhecida por “chipagem” do sistema de injeção eletrônica de motores diesel, a prática divide opiniões e gera muita polêmica entre proprietários de máquinas agrícolas
T
odos conhecem o termo tunning, utilizado normalmente para designar as melhorias e personalizações feitas em automóveis com propósitos como melhorar seu desempenho e deixar seu visual mais bonito, entre outros. Nas máquinas agrícolas, embora o termo não seja utilizado, muitos proprietários também investem na tentativa de deixá-las melhores, modificando características originais de tratores e outras
máquinas. As alterações, exceto em casos raros, não têm propósito estético, mas o de melhorar o desempenho das máquinas. O avanço tecnológico dos últimos anos oferece ao mercado motores com maior reserva de torque e que conseguem manter a potência máxima em uma faixa maior de rotações, além de apresentarem menor consumo de combustível. Entretanto, o desempenho original nem sempre satisfaz os proprietários que, analogamente ao que
acontece no mercado automobilístico, buscam através da popular “chipagem” obter ganhos de torque e potência para aumentar a capacidade da máquina para realizar trabalho.
O QUE É A “CHIPAGEM” DE MOTORES
Em sistemas de injeção de combustível governados eletronicamente, sejam eles de automóveis, caminhões ou tratores, independentemente do tipo de combustível, computadores controlam os parâmetros da injeção, como o ponto de ignição, a quantidade de combustível a ser injetado e até a pressão do turbo. A “chipagem” nada mais é do que a reprogramação dos parâmetros originais dos chips dos computadores de bordo ou a adição de chips suplementares, de forma que o sistema de injeção funcione com base em parâmetros que incrementam o desempenho.
O QUE OS FABRICANTES DIZEM
É improvável que você encontre algum fabricante de máquinas agrícolas que seja a favor da alteração de aspectos originais e estas restrições também existem no caso de mudanças nos motores. Quando um fabricante define o projeto de uma má-
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quina, por exemplo um trator, considera inúmeros aspectos técnicos e mercadológicos diferentes para determinar o nível de torque e potência que esta terá ao sair da linha de produção. Como exemplo, podemos citar: a necessidade de possuir um trator com determinado nível de potência para complementar o portfólio e brigar por uma faixa específica do mercado; a disponibilidade de motores que permitam atingir o nível de potência requerido com a longevidade esperada; a necessidade de utilizar componentes comuns a tratores com outros níveis de potência; a capacidade da transmissão do trator; e a relação peso-potência que o trator poderá suportar. Para trabalho pesado é necessário que ele suporte ao menos 60kg/Hp; as capacidades dos sistemas de arrefecimento e lubrificação do motor; a faixa de rotação em que o motor irá trabalhar; os níveis de rotação em que irá desenvolver torque e potência máxima; o nível de emissões permitido nos mercados onde a máquina será comercializada. Quando as primeiras unidades do produto são fabricadas, são submetidas a milhares de horas de testes para verificar e validar o projeto em cada aspecto. Não raro, componentes e sistemas completos são redesenhados e voltam para novas baterias de ensaios e testes até serem aprovados e o produto ser liberado para a produção e o mercado. Como domina o projeto e executa com rigor a metodologia e os processos, o fabricante conhece o produto como ninguém e logo se supõe que sua palavra seja a última em termos do que pode ou não ser feito com o produto final. Alterar os parâmetros que determinam como o sistema de injeção deve funcionar muda todo o equilíbrio entre os diversos critérios que o fabricante definiu como ótimos para um determinado modelo de máquina. Estas mudanças podem implicar em uma série de consequências negativas e causar prejuízos ao cliente final, eventualmente refletindo na imagem do produto e da marca; daí o motivo pelo qual fabricantes são absolutamente contra a prática, pois todos desejam ter uma relação longeva com seus clientes.
argumentos em favor das alterações nos sistemas de injeção, verificam-se alguns bastante comuns. Entre eles, pode-se citar que os fabricantes não tiram o máximo de desempenho possível de uma máquina e normalmente há uma reserva não explorada de torque e potência; a programação feita de fábrica nem sempre é tão eficiente quanto deveria ser, e que sempre há uma forma de melhorar o que já foi feito. Mas um dos argumentos mais utilizados é devido a aspectos mercadológicos, em uma mesma família de máquinas, como, por exemplo, três níveis de potência diferentes, utilizam-se motores e outros componentes com aspectos físicos iguais, mas distintos somente na programação que resultará em três níveis distintos de potência. Alterar os parâmetros de modelos de mais baixa potência, de forma que se aproximem dos modelos com potência mais alta, vai proporcionar o desempenho do modelo de alta potência, por uma pequena fração da diferença do preço que se pagaria para adquirir a máquina de potência mais alta. Há diferenças significativas entre as empresas que prestam este tipo de serviço e enquanto algumas possuem áreas de engenharia que procuram explorar situações onde realmente há capacidade para melhorar o desempenho, a despeito da perda da garantia original da máquina, outras aplicam suas fórmulas mágicas de forma indiscriminada e irresponsável, com consequências que você vai conhecer
a seguir.
QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DA “CHIPAGEM”?
O fato é que a maioria das soluções oferecidas no mercado realmente consegue elevar o nível de desempenho das máquinas. Entretanto, pode trazer consigo consequências indesejáveis, que precisam ser de conhecimento prévio do proprietário que desejar realizar alguma alteração. As principais consequências indesejáveis na chipagem de motores podem ser: alterações nos níveis de potência trazem consigo elevação do consumo específico de combustível da máquina; o motor utilizado na máquina pode originalmente estar trabalhando próximo de sua capacidade máxima e ultrapassar este limite implica em riscos de falha prematura; o sistema de arrefecimento pode não ter capacidade de sobra para acomodar o aumento de potência e o consequente aumento do calor gerado, podendo resultar em sobreaquecimento e falha do motor; o combustível adicional injetado na câmara de combustão pode não ser queimado conforme previsto originalmente e resultar em carbonização e danos ao motor, além de aumentar o nível de emissões. Além disso, a potência adicional pode não resultar em desempenho adicional no caso de tratores, se o mesmo não tiver capacidade de receber lastro adicional para tracionar implementos mais pesados ou em maior velocidade, e se a capacidade máxima de lastreamento do trator for ultrapassada
O QUE DIZEM AS EMPRESAS QUE FAZEM CHIPAGEM
Quando se fala em “chipagem” de motores de máquinas agrícolas, existe no mercado uma série de empresas que realizam estes tipos de alterações. Elas utilizam diferentes tecnologias para chegar ao resultado final, mas ao considerar seus
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A chipagem é algo comum em máquinas que são preparadas para competições como o tractor pulling, onde são ultrapassados todos os limites para obter o máximo desempenho
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Fotos Divulgação
Exemplo raro de tunning em trator, realizado por Chip Foose do Programa Overhauling
para alcançar uma relação peso-potência satisfatória, a vida útil da transmissão pode ser reduzida drasticamente. Mesmo que o motor tenha capacidade para gerar torque e potência adicionais, a máquina irá perder a garantia de fábrica.
A QUAIS CONCLUSÕES PODEMOS CHEGAR?
Aumentos de potência através de alterações nos sistemas de injeção de combustível de máquinas agrícolas sempre foram possíveis, pois mesmo nos sistemas com bombas injetoras governadas mecanicamente é fácil aumentar o débito de combustível. A eletrônica, no entanto, tornou a prática mais fácil. É preciso considerar que por mais sedutor que o aumento do torque e da potência possa parecer, pode comprometer a vida útil da máquina, haja vista o que ocorre em um esporte bastante popular em alguns países, o tractor pulling, onde são ultrapassados todos os limites para obter o máximo desempenho. A julgar pelo número de empresas focadas no mercado de “chipagem”, a demanda está bem aquecida, inclusive na aplicação em máquinas agrícolas. Estas empresas continuarão a oferecer suas soluções, buscando seu lugar ao sol com produtos que impressionam por realmente aumentar o desempenho, em boa parte dos casos, de forma bastante irresponsável. Quanto aos proprietários das máquinas, estes precisam buscar informação para conhecer os riscos em que incorrerão ao abraçar práticas não recomendadas pelos fabricantes de suas máquinas. De qualquer forma, como donos das mesmas, podem decidir o que fazer com elas e ao
optar por fazer alterações, aceitar as consequências, para o bem e para o mal. Os fabricantes de máquinas agrícolas, por outro lado, reservam-se o direito de recusar solicitações de garantia se constatarem que a máquina trabalhou fora dos parâmetros originais, independentemente das justificativas apresentadas. Estes não têm muito a fazer em relação ao tema, a não ser orientar suas redes de concessionários com o posicionamento que devem ter junto aos clientes. E o concessionário do fabricante de máquinas agrícolas, qual o papel deve assumir? Como representante da fábrica, precisa assumir o posicionamento da marca e principalmente orientar seus clientes com o máximo de informação possível, de forma que possam tomar decisões bem fundamentadas e de preferência evitar .M qualquer alteração. Valter Henke, Diretor Geral da Innova Solutions
Para medir o desempenho
P
ara medir o desempenho dos motores de máquinas agrícolas, sejam eles originais ou não, utilizam-se equipamentos chamados dinamômetros. Eles funcionam como um freio que aplica carga ao motor da máquina (diretamente no volante do mesmo ou na TDP – Tomada de Potência), simulando condições de trabalho e ao mesmo tempo medindo parâmetros como torque, potência e rotação. Os dinamômetros são utilizados para
comparar máquinas em demonstrações, pré-amaciar motores e, principalmente, para diagnosticar problemas de desempenho. Os dinamômetros da marca AW Dynamometer estão presentes em mais de 90% dos concessionários de máquinas agrícolas nos Estados Unidos e na América Latina são distribuídos com exclusividade pela Innova Solutions. Para conhecer mais sobre dinamômetros AW pode-se acessar o site http://innovasolutions.ag.
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tratores
Ao alcance Avaliação da distribuição dos comandos de operação em tratores agrícolas nacionais com 75cv de potência bruta do motor mostra que o grau de acessibilidade e conforto de operadores pode ser diferente mesmo em tratores da mesma categoria
O
trator agrícola foi a máquina que alavancou o processo de desenvolvimento da agricultura brasileira devido à sua versatilidade na execução de inúmeras tarefas no meio rural, servindo como fonte de potência e tração de diversos equipamentos e implementos agrícolas. Muitos autores consideram o trator agrícola como sendo a base da mecanização agrícola moderna. A operação com tratores agrícolas, assim
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como qualquer outra máquina agrícola, é uma tarefa árdua, exigindo esforço físico e mental por parte do operador, resultando em fadiga no decorrer de uma jornada de trabalho. A intensidade desta fadiga irá depender da qualidade do posto de operação da máquina. Níveis elevados de fadiga aumentam consideravelmente o risco de acidentes e perdas econômicas na cadeia produtiva. O posto de operação é o local de interação entre homem e máquina, composto
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por órgãos de comando e equipamentos que auxiliam na condução da máquina no ambiente de trabalho. Um posto de operação bem projetado deve ser composto por um local de trabalho organizado de acordo com a segurança e natureza do operador. As dimensões do posto de operação de uma máquina agrícola devem respeitar o fator humano, seguindo os padrões estabelecidos por normas como: ISO (International Organization for Standardization), ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e Asae (American Society of Agricultural Engineers). Essas normas definem parâmetros a serem utilizados em projetos de máquinas agrícolas, estabelecendo distâncias máximas e mínimas de acesso aos comandos e delimitando áreas onde os comandos de operação devem ser posicionados para conferir conforto e segurança ao operador. Para simular o operador sentado no posto de operação de uma máquina agrícola adotase um ponto de referência sobre o assento do operador, o Ponto de Referência do Assento (SIP), que é definido pela norma ISO 5353.
Claas
Fotos Marcelo Farias
Foram avaliados quatro modelos plataformados: John Deere 5078E, New Holland TL 75E, Massey Ferguson MF 4275 e Valtra A 750
Já a norma ISO 15077 delimita áreas de alcance para o operador sentado, em relação ao SIP, abrangendo todos os comandos presentes no posto de operação de máquinas agrícolas autopropelidas. Ainda segundo essa norma, os comandos acionados em um intervalo igual ou inferior a cinco minutos durante a operação são considerados de uso frequente, caso contrário, esses comandos são classificados como raramente utilizados.
Existem áreas ou zonas que delimitam o posicionamento dos comandos no posto de operação, sendo classificadas como zonas de conforto, de acesso e zonas inacessíveis, abrangendo tanto comandos de acionamento manual quanto comandos acionados pelos pés. Assim, torna-se coerente conhecer o espaço do qual as mãos e os braços necessitam para a apreensão e o movimento, o que acarreta em um melhor planejamento do posicionamento de controles e comandos de operação. A zona de conforto permite um fácil acesso aos comandos pelo operador e nela devem estar situados os comandos principais, e se associa aos comandos frequentemente acionados por mãos e pés. A zona de acesso permite um alcance do condutor do trator
agrícola desde a sua posição sentada, admitindo um deslocamento e uma inclinação lateral ou adiante para acionar os comandos de operação nessa posição. Essa zona está associada aos comandos raramente acionados. Um comando localizado numa zona inacessível ao alcance do operador ocorrerá quando estiver localizado fora da zona de conforto ou de acesso definidas anteriormente. Nesse sentido, foi realizada uma avaliação por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria com o objetivo de identificar e comparar a localização dos comandos de uso frequente e raro pelo operador, em relação às áreas de alcance, em quatro diferentes modelos de tratores agrícolas nacionais, com 75cv de potência, estabelecendo como referencial o SIP, sob orientação das normas NBR ISO
Figura 1 - Planos utilizados como referencial para a determinação das coordenadas de Figura 2 – Áreas de alcance do operador sentado no plano vertical longitudinal (A) e no cada comando de operação plano superior horizontal (B)
Fonte: ISO 15077
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Figura 3 – Distribuição dos comandos de acionamento frequente e raro no PVL e PSH dos quatro tratores agrícolas avaliados
orientações da norma ISO 5353. Sobre esse dispositivo adicionaram-se massas metálicas padronizadas até atingir 75kg, que é considerada a massa média dos operadores brasileiros. Feito isso, com o auxílio de um nível de bolha, esquadro e fitas métricas, uma primeira linha era posicionada na horizontal entre o SIP e o centro do volante logo em seguida, outras duas linhas, passando pelo centro do SIP, perpendicularmente à primeira linha, foram fixadas horizontalmente nas laterais internas do trator. Cada comando de operação medido foi representado por um ponto identificado por coordenadas em três dimensões (x, y e z). Foram considerados três planos referenciais perpendiculares entre si, passando pelo SIP, apresentados na Figura 1. Assim, o plano vertical longitudinal divide o trator em duas partes: esquerda e direita, indicando o posicionamento lateral dos comandos em relação ao SIP. O plano vertical transversal, por sua vez, divide o trator em duas porções: anterior e posterior, indicando o posicionamento frontal e traseiro dos comandos de operação em relação ao SIP. Da mesma forma, o plano
MASSEY FERGUSON MF 4275
Foram avaliados 25 comandos de operação, sendo 15 classificados como comandos de acionamento frequente e dez como de acionamento raro. Ao analisar o PVL, 33,3% dos comandos de acionamento frequente estão distribuídos na zona de conforto;
Fotos Marcelo Farias
4253 e ISO 15077. Para a realização deste trabalho foram avaliados apenas tratores pertencentes à Classe III (70 a 100cv), segundo classificação proposta por Farias 2014. A opção por esta classe de tratores se justifica pelo fato de o mercado dessas máquinas se encontrar aquecido devido, em parte, aos incentivos fornecidos pelo Governo Federal, em especial ao programa Mais Alimentos. Assim, foram avaliados quatro postos de operação, do tipo plataformado, de tratores da marca Massey Ferguson, modelo MF 4275; New Holland, modelo TL 75E; Valtra, modelo A750, e da marca John Deere, modelo 5078E. As medições foram realizadas nas concessionárias representantes de cada marca, visto que todos os tratores estudados eram novos. Nenhuma das máquinas se apresentava na configuração de bitola reduzida (inferior a 1.150mm), permitindo a aplicação das normas NBR ISO 4253 e ISO 15077 como referencial de avaliação. Para a determinação do SIP, utilizouse um dispositivo metálico, seguindo as
horizontal divide o trator agrícola em dois hemisférios: superior e inferior, estabelecendo a altura dos comandos em relação ao SIP. As coordenadas do SIP tiveram origem no ponto zero (0, 0, 0). Foram medidos todos os comandos presentes no posto de operação dos tratores, sejam eles de acionamento frequente ou raro. Os comandos classificados como de uso frequente são: pedais de freio (direito e esquerdo); pedal de embreagem; pedal de acelerador; acelerador manual; comandos do sistema hidráulico (posição, profundidade, sensibilidade e controle remoto); comandos de câmbio (comando de marchas, seletor de grupos e seletor de regime). Já os classificados como de acionamento raro são: chaves de luzes; buzina; tomada de potência; comando de tração dianteira e bloqueio do diferencial. As coordenadas dos comandos de operação (x, y e z) foram confrontadas com a norma ISO 15077, que determina as regiões de alcance do operador sentado e as posições dos comandos em relação ao SIP. Nas Figuras 2A e 2B estão representadas as áreas de alcance no plano vertical longitudinal (PVL) e no plano superior horizontal (PSH), respectivamente. Os resultados da distribuição dos comandos nos postos de operação avaliados foram comparados entre si, com o objetivo de gerar informações para a realização de trabalhos subsequentes, demonstrando grande importância dos parâmetros de ergonomia e segurança para a elaboração e execução de projetos de máquinas agrícolas.
O trabalho realizado por pesquisadores da UFSM teve como objetivo identificar e comparar a localização dos comandos de uso frequente e raro pelo operador, em relação às áreas de alcance
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Massey Ferguson
New Holland
Valtra
John Deere
Embora todos os modelos tenham apresenado alguma desconformidade em algum item, os atuais projetos de máquinas agrícolas apresentam resultados satisfatórios, no que se refere à ergonomia e segurança dos tratores agrícolas fabricados no país
33,3% na zona de acesso e 33,3% na zona inacessível. Quando avaliados os comandos de acionamento raro, não foram encontrados comandos localizados na zona de conforto, sendo 70% na zona de acesso e 30% na zona inacessível. Já no plano superior horizontal (PSH), os comandos de acionamento frequente estiveram distribuídos na proporção de 60% na zona de conforto e 40% na zona inacessível.
VALTRA A750
Neste modelo foram avaliados 23 comandos de operação, sendo 13 classificados como de acionamento frequente e dez de acionamento raro. Quando avaliados os comandos de acionamento frequente no PVL, 38,5%, 23% e 38,5% localizavam-se na zona de conforto, de acesso e inacessível, respectivamente. Quanto aos comandos de acionamento raro, 100% estavam posicionados na zona de acesso. Na avaliação do PSH, os comandos frequentemente acionados estavam posicionados 38,5% na zona de conforto, 38,5% na zona de acesso e 23% na zona inacessível.
NEW HOLLAND TL 75E
Este modelo foi o que teve o maior número de itens avaliados, 27 ao total, sendo 16 classificados como de acionamento frequente
e 11 de acionamento raro. Na avaliação do PVL, 25% dos comandos de acionamento frequente localizavam-se na zona de conforto, 43,8% na zona de acesso e 31,2% na zona inacessível. Já os considerados como de acionamento raro, 72,7% estavam posicionados na zona de acesso e 27,3% na zona inacessível. Com relação ao plano superior horizontal (PSH), 50% dos comandos de acionamento frequente estavam localizados na zona de conforto, 12,5% na zona de acesso e 37,5% na zona inacessível.
JOHN DEERE 5078E
Este modelo foi o que apresentou o menor número de comandos de operação, 22 ao total, desses, dez são de acionamento frequente e 12 de acionamento raro. Ao avaliar o PVL constatou-se que 40% dos comandos de acionamento frequente estavam localizados na zona de conforto e 60% na zona de acesso. Quanto aos comandos de acionamento raro, 8,33% posicionavam-se na zona de conforto; 58,33% na zona de acesso e 33,33% na zona inacessível. Ao avaliar os comandos de acionamento frequente no PSH, 70% situavam-se na zona de conforto, 10% na de acesso e 20% na zona inacessível. Todos os resultados encontrados são apresentados na Figura 3. Em máquinas agrícolas mais modernas
é comum que a maioria dos comandos de operação se situe nas zonas de conforto e de acesso, expressando a evolução dos projetos dessas máquinas, no que se refere à ergonomia e à segurança. Analisando-se o PVL, o trator John Deere apresentou o maior número de comandos de uso frequente presentes nas zonas de conforto e de acesso, não possuindo comandos na zona inacessível. Com relação ao PSH, o trator JD 5078E apresenta o maior número de comandos de uso frequente na zona de conforto e o Valtra A750 o maior número de comandos de uso frequente na zona de acesso. Todas as máquinas apresentam alguma desconformidade no posicionamento de determinados comandos de operação. Embora existindo algumas desconformidades, tendo como base o perfil dos operadores brasileiros, os atuais projetos de máquinas agrícolas apresentam resultados satisfatórios, no que se refere à ergonomia e à segurança dos tratores .M agrícolas fabricados no País. Marcelo Silveira de Farias, José Fernando Schlosser e Juan Paulo Barbieri, Nema – UFSM Rodrigo Lampert Ribas, Trimble Brasil
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DISTRIBUIDORES
Distribuir para corrigir
à ação do vento quando são lançados, podendo facilmente causar a deriva do produto. É preciso estar atento, também, à lei da força centrífuga, onde as partículas de diferentes tamanhos e pesos tendem a ser lançadas para diferentes distâncias, sendo que as maiores e mais pesadas são jogadas mais longe e as menores e mais leves são jogadas a distâncias mais curtas, ocorrendo assim a segregação de partículas. A reatividade do calcário no solo está diretamente ligada ao tamanho de suas partículas,
O
Brasil vem se consolidando como um dos principais produtores e exportadores mundiais de alimentos, garantindo o abastecimento interno e aumentando a sua participação no comércio internacional. Ao longo dos últimos 35 anos, o país desenvolveu e consolidou uma das agriculturas mais eficientes do mundo (Mapa, 2013). Conforme dados da Conab (2013), a produção brasileira de grãos, que em 1991 foi de 60 milhões de toneladas, em 2013 atingiu 195,9 milhões de toneladas, sendo que o volume de soja produzido alcançou 90 milhões de toneladas. Grande parte dos solos brasileiros, principalmente aqueles onde ocorreram ou está ocorrendo a expansão da fronteira agrícola, como os solos sob cerrados, por exemplo, apresenta características de acidez, pH abaixo de 5,5, toxidez de alumínio e, também, baixos níveis de cálcio, magnésio e enxofre. Para tornar estes solos aptos para atingir grandes produtividades, é necessária a correção desses problemas através da aplicação de calcário e gesso.
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O início do processo de calagem no Brasil se deu com a famosa Operação Tatu em 1964, no Rio Grande do Sul, coordenada por dois professores da Universidade de Wisconsin, Estados Unidos, juntamente com pesquisadores da Embrapa e UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Este processo revolucionou a agricultura e proporcionou que se elevassem consideravelmente as produtividades, sendo que, até hoje, a calagem tem grande influência para se alcançar grandes tetos produtivos e é também muito utilizada na Agricultura de Precisão. Para realizar este processo se dispõe basicamente de dois tipos de máquinas agrícolas: os distribuidores do tipo centrífugo duplo disco, popularmente chamados de equipamentos de aplicação a lanço, os mais utilizados, e os distribuidores por gravidade. Os produtos em pó, como o calcário e o gesso agrícola, são de granulometria muito pequena e densidade muito baixa, sendo que a qualidade da sua aplicação fica muito vulnerável
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John Deere
Avaliação da qualidade da distribuição de calcário por distribuidores centrífugo e gravimétrico
A qualidade da aplicação de calcário e gesso é influenciada pela ação do vento
Stara
New Holland
Aplicação a lanço deve ser feita com produtos de granulometria maior
sendo que partículas inferiores a 0,30mm reagem 100% no primeiro ano e partículas superiores a 0,84mm reagem apenas 20% no primeiro ano. Isto tem efeito direto na produtividade das culturas, já que apenas parte do problema estará sendo resolvida já no primeiro ano da aplicação de calcário ou gesso agrícola. Pensando nisso, foi desenvolvida uma pesquisa para avaliar qual o melhor distribuidor para produtos em pó, analisando os equipamentos a lanço e por gravidade, comparando cada um deles em relação à segregação de partículas, se existe diferença entre tamanhos de partículas depositadas ao longo das faixas Faixa do meio Repetições Hércules 1 Hércules 2 Hércules 3 Hércules 4 Média
21,5 a 21,0 a 29,5 a 29,5 a 29,25 a
Repetições Bruttus1 Bruttus2 Bruttus3 Bruttus4
33 b 33 b 33 b 33 b 33 b
Faixa da ponta Repetições Hércules 1 Hércules 2 Hércules 3 Hércules 4 Média
21,5 a 21,0 a 22,5 a 20,0 a 21,25 a
Repetições Bruttus1 Bruttus2 Bruttus3 Bruttus4
33 b 33 b 33 b 33 b 33 b
*Hércules e Bruttus são nomes comerciais de distribuidores à lanço e a gravidade
seja, a 12 metros. Na média das quatro repetições houve uma diferença entre a bandeja 1 (1m do equipamento) e a bandeja 6 (transpasse 12m) de 23,75% na quantidade de partículas menores que 0,30mm (reagentes 100% no primeiro ano). A bandeja 1 obteve 88,1% das partículas reagentes 100% no primeiro ano e a bandeja 6 obteve 64,35%. Segundo Tukey a 5%, houve diferença estatística na quantidade de partículas reagentes 100% no primeiro ano da bandeja número 1 (faixa atrás da máquina) para a bandeja número 6 (faixa de transpasse) no distribuidor centrífugo. Já para o caso do distribuidor gravimétrico não houve diferença estatística com relação à segregação das mesmas partículas. No momento em que houver diferença de reação do calcário ao longo da faixa, será perdida acurácia e, ao invés de se buscar o equilíbrio dos solos, estarão se criando ou aumentando manchas de fertilidade, indo ao contrário do que se busca em Agricultura de Precisão, que é obter maior acerto possível e maximizar os resultados com maiores produtividades. Portanto, o Bruttus (distribuidor por gravidade) é o equipamento ideal para aplicação de corretivos em pó, garantindo uma maior uniformidade e precisão na aplicação dos corretivos, bem como o aproveitamento dos mesmos já no primeiro ano de aplicação, o que resulta em ganhos de produtividade, objetivo da correção dos solos. .M
de aplicação e se isso acarreta em problemas na correção dos solos. O experimento foi realizado na fazenda Três Irmãos, em Não-Me-Toque, Rio Grande do Sul, onde o clima da região é do tipo Subtropical Úmido, conforme a classificação de Köppen. A área está sob cultivo de plantio direto consolidado, sendo que o experimento foi realizado em uma área com cobertura de aveia-preta (Avena strigosa). O solo do local do experimento é classificado como Latossolo Vermelho distrófico segundo a classificação brasileira de solos (Embrapa, 2004). O delineamento experimental utilizado foram faixas com 300 metros de comprimento por 12m de largura para o equipamento centrífugo duplo disco e seis metros para o distribuidor por gravidade, sendo que o mesmo realizou duas passadas, ida e volta, para completar os 12 metros, com quatro repetições para cada Rafael Schmidt Magni, máquina com três bandejas, representando três UFSM diferentes medidas para cada uma das máquiTabela 1 - Croqui do Experimento: 300 Metros x 12 nas. Para a avaliação estatística foi utilizado o Metros teste Tukey a 5%. FAIXA 3 Após a coleta do material a campo, feita FAIXA1 pelos dois equipamentos, as amostras foram avaliadas em laboratório seguindo os mais reFAIXA 2 levantes tamanhos de peneiras, determinando, FAIXA 4 assim, o percentual de reatividade do calcário Tabela 2- Reatividade do calcário de acordo com sua ao longo das faixas. A granulometria, segundo a legislação granulometria brasileira (ABNT), deve seguir as seguintes Fração granulométrica Peneira ABNT Reatividade (%) características: 95% do material deve passar > 2,00 mm Retida no 10 0 na peneira 10 (2mm), 70% deve passar na pe0,84 - 2,00 mm Passa no 10, retida no 20 20 neira 20 (0,84mm) e 50% passar na peneira 50 0,30 - 0,84 mm Passa no 20, retida no 50 60 (0,30mm). Através das frações granulométricas, pode-se estimar a reatividade do material corre£ 0,84 mm Passa no 50 100 tivo, em função das peneiras usadas, conforme Fonte: Comissão de Fertilidade do Solo-MG, 1999. tabela a seguir. Tabela 3 - Análise da faixa de aplicação A variabilidade se acentua conforme se aumenta o tamanho PENEIRA REAGENTE da faixa de aplicação, sendo que Amostra 0,3MM 0,21MM 0,15MM 0,12MM FUNDO COLETADO 1º ANO % na primeira bandeja, posicionada H 1 0,5g 0,75g 1g 1,5g 25g 33g 28,75g 88,1 um metro distante do centro 26g 78,8 do equipamento, há uma maior H - 4 0,75g 0,5g 2,5g 1,75g 20,5g 33g H 6 1,25g 1g 0,75g 1g 16,75g 33g 20,75g 64,30 quantidade de partículas reagentes 100% em relação à última bandeja, H1 = 1 m de comprimento na faixa de aplicação; H4 = 4 m de comprimento na faixa de aplicação; que representa o final da faixa, ou H6 =6 m de comprimento na faixa de aplicação.
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TRATORES Valtra
Desigual
A distribuição de tratores na agricultura brasileira aconteceu de forma irregular quando analisados os diferentes tipos e tamanhos de propriedades. Conhecer essa evolução pode dar pistas para sustentar o crescimento e as vendas de máquinas observados nos últimos anos
S
a evolução e as perspectivas para o futuro da agricultura. Uma das características do avanço no uso de tratores na agricultura brasileira é que esse não ocorreu de modo uniforme quando são analisadas variáveis relacionadas aos diferentes tipos e tamanhos dos estabelecimentos agropecuários. No estado do Paraná, essa história não
New Holland
Charles Echer
eja pelos ganhos que oferecem para aumentar a produtividade do trabalho, seja pela contribuição para a redução da penosidade na execução das tarefas agropecuárias, qualidades ainda mais importantes nos dias atuais marcados pela escassez de mão de obra no campo, o uso de tratores constitui-se em elemento-chave para discutir
foi diferente, de tal forma que é conveniente examinar um pouco dessa trajetória para se pensar melhor sobre o seu futuro. Em 1970, por exemplo, a cada 100 estabelecimentos rurais que eram visitados no Paraná, em menos de três deles eram encontrados tratores. Esse número aumentou em 6,1 vezes entre 1970 e 2006, possibilitando que no mesmo período fosse reduzida de 253,4ha para 56,3ha a relação das áreas de lavouras temporárias e permanentes existentes por trator. Entretanto, deve-se destacar que no período 1995/96 a 2006 houve, pela primeira vez desde 1970, uma diminuição do número de tratores, os quais em 2006 poderiam ser encontrados em pouco mais de 1/5 dos estabelecimentos. Por outro lado, este último período apresenta um salto na potência de trabalho da frota, com os tratores com 100 ou mais cavalos alcançando quase 30% do total. Quando considerada a área total dos estabelecimentos com trator, se observava em 2006 que na agricultura paranaense ¼ dos tratores
Atualmente, mais de 160 mil tratores estão em atividade no Paraná, número que cresceu 40% nos últimos seis anos e que ajuda a impulsionar o agronegócio no estado
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Tabela 1 - Evolução do número de tratores, da relação área com lavouras temporárias e permanentes por trator, do número de estabelecimentos agropecuários com tratores e da potência dos tratores. Paraná. 1970 – 2006 ANO No de tratores Área lavouras total (em milhões de ha) por/trator (ha) Estabelecimentos total (no) com trator/es (no)1 com trator/es (%) Potência dos tratores < 100 cv (%) ≥ 100 cv (%)
1970 18619
1975 52498
1980 81727
1985 101346
1995/96 121827
2006 113718
4,719 253,4
5,628 107,2
6,085 74,5
6,063 59,8
5,101 41,9
6,398 56,3
554488 14278 2,6
478453 36406 7,6
454103 55864 12,3
466397 68660 14,7
369875 81487 22,0
371063 76233 20,5
97,4 2,6
91,1 8,9
88,8
91,4 8,6
87,9 12,1
70,3 29,7
11,2
1 Um mesmo estabelecimento pode contabilizar mais de um trator em diferentes intervalos de potência. Fonte: elaborado pelos autores a partir de dados dos Censos Agropecuários do IBGE.
Quando se consideram os subtipos no interior desse grupo, definidos conforme a remuneração pelo custo de oportunidade da mão de obra familiar, remuneração essa decrescente dos subtipos A ao D, constata-se que os agricultores de menor remuneração, os quais tendo correspondido a 42% dos estabelecimentos, perfaziam o mais representativo de todos os subtipos da agropecuária do estado, possuíam somente 20% do total de tratores. Por outro lado, os estabelecimentos patronais que perfaziam 12% do total somavam 36% dos tratores, com destaque ao seu subtipo
2, no qual o produtor conduz diretamente a atividade, mas contando com mais mão de obra contratada do que familiar. Nesse subtipo, se concentrava a maior fatia relativa da frota entre todos os subtipos, 24% dos tratores, mesmo que correspondendo a somente 7% do total de estabelecimentos. Entretanto, deve-se considerar que essa condição observada em 2006 passou por uma rápida e intensa transformação. Apoiada em programas de âmbito nacional como o Moderfrota e, mais recentemente, o Pronaf Mais Alimentos, e também de caráter estadual como
Massey Ferguson
concentrava-se nos estabelecimentos entre 20ha e 50ha, os quais correspondiam a 18% do total. De modo natural em função da escala de trabalho e de questões de ordem econômica, os estabelecimentos com menos de 10ha, amplamente majoritários - correspondendo a 45% do total, possuíam somente 12% dos tratores, ao passo que as unidades com área total igual ou superior a 100ha respondem por 1/3 da frota, mesmo não alcançando 10% do total de estabelecimentos. De modo semelhante, se observa ainda que os estabelecimentos dos grupos de área de lavouras superiores a 50ha, mesmo não alcançando 6% do total, somavam 1/3 da frota, seguidos pelas unidades do grupo de áreas de lavouras entre 20ha e 50ha, nas quais se encontravam 20% dos tratores existentes. O grupo de até 10ha de área de lavouras somava 56% dos estabelecimentos mas detinha somente ¼ dos tratores. Quanto à atividade econômica predominante dos proprietários de tratores, o Censo Agropecuário de 2006 indicava que os estabelecimentos que possuíam nas lavouras temporárias a sua principal atividade econômica, os quais correspondiam a 45% do total, concentravam 64% dos tratores, sendo que outros 26% dos mesmos distribuíam-se nos 41% dos estabelecimentos dedicados principalmente à pecuária e à criação de outros animais. A continuidade da análise permite observar um conjunto de outras características quando se consideram os tipos de agricultores presentes na agricultura do Paraná, analisados aqui segundo critérios definidos em projeto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (FAO/Incra). A primeira delas diz respeito aos dois grandes grupos analisados, quais sejam os agricultores familiares e patronais. Cabe aos primeiros 63% dos tratores e 74% dos estabelecimentos com tratores, mesmo que tendo correspondido no ano de 2006 a 87% do total de estabelecimentos agropecuários do estado.
Gráfico 1 - Participação relativa dos estabelecimentos agropecuários e do número de tratores nos grupos de área total e grupos de área de lavouras. Paraná. 2006, em %
Fonte: elaborado pelos autores a partir de dados do Censo Agropecuário 2006 do IBGE.
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Fotos Charles Echer
Gráfico 2 - Participação relativa dos tipos familiar (FAM) e patronal (PATR.) e subtipos de agricultores no total de estabelecimentos agropecuários, nos estabelecimentos agropecuários com trator e no número de tratores existentes. Paraná, 2006, em %.
Fonte: elaborado pelos autores a partir de dados do Censo Agropecuário 2006 do IBGE
o Trator Solidário, esses dois últimos possivelmente atenuando as distorções apontadas no tocante aos agricultores familiares; a frota paranaense incorporou um volume significativo de novos tratores, tendo as vendas no atacado realizadas no estado entre 2007 e 2013 somado 47.788 unidades, correspondentes a 42% da frota apurada em 2006. Em conclusão pode-se afirmar que no período 1995/96–2006 a frota paranaense de tratores reduziu-se em 6,7%. Naquele ano se observava uma série de distorções na distribuição da frota quanto aos grupos de área total, área de lavouras e, sobretudo, entre os diferentes tipos de agricultores do estado. Tomando em consideração os aspectos de economicidade, escala, acesso aos serviços terceirizados ou, ainda, a possibilidade de que tal situação tenha sido atenuada nos anos seguintes, condição que poderemos verificar no recenseamento agropecuário previsto para 2015, parece ser fundamental a manutenção dos programas
Programas de financiamentos disponíveis aos produtores nos últimos anos somaram mais de 42 mil tratores à frota do estado do Paraná entre 2007 e 2013
existentes, além da criação de novas alternativas para ampliar o uso de tratores, cuja disponibilidade estava restrita em 2006 a somente 20,5% dos estabelecimentos paranaenses. Em conclusão pode-se afirmar que uma análise retrospectiva aponta uma série de distorções na distribuição da frota paranaense quanto aos grupos de área total, área de lavouras e, sobretudo, entre os diferentes tipos de agricultores do estado. Contudo, considerando a evolução das vendas nos últimos sete anos, acredita-se que tal situação esteja sendo atenuada, fato que poderá ser confirmado no recenseamento agropecuário previsto para 2015. Os dados mostram também que, sem deixar de levar em consideração os aspectos de economicidade, escala, e a disponibilidade de serviços terceirizados ou associativos, é fundamental a manutenção dos programas existentes, além da criação de novas alternativas para ampliar o uso de tratores nos estabelecimentos agropecuários paranaenses.
Tal proposição se justifica não somente pela necessidade de garantir uma maior autonomia, eficiência e eficácia aos produtores na condução de suas atividades, mas também pela perspectiva de redução da penosidade do trabalho, condição importante para tornar as atividades agropecuárias mais atraentes aos jovens, ampliando assim a possibilidade de êxito dos processos de sucessão nas unidades produtivas, notadamente naquelas de caráter familiar. Para tanto, é desejável também que as empresas do setor considerem cada vez mais as características dos estabelecimentos rurais e dos agricultores na definição de suas estratégias mercadológicas. .M Dimas Soares Júnior e Rafael Fuentes Llanillo, Iapar Otávio Jorge Grigoli Abi Saab e Ricardo Ralisch, UEL
Gráfico 3 - Vendas internas de tratores de rodas no atacado. Paraná, 2007 – 2013
Fonte: elaborado pelos autores a partir de dados da ANFAVEA.
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