Maquinas 147

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Cultivar Máquinas • Edição Nº 147 • Ano XII - Dezembro 2014 / Janeiro 2015 • ISSN - 1676-0158

Nossa capa

Test Drive colhedora S680

Confira o desempenho da S680, a maior colhedora produzida pela John Deere no Brasil que se destaca, além do tamanho, pela tecnologia embarcada e conforto ao operador

Destaques

Capa: John Deere

Matéria de capa

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Índice Rodando por aí

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Programa para auxiliar na lastragem

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Entenda as semeadoras pneumáticas

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Estabilizadores de barra de pulverizadores 12

Semeadoras Pneumáticas

Pulverizadores

Saiba como funcionam as semeadoras pneumáticas e quais as vantagens em relação às semeadoras convencionais

Conheça os desafios de pulverizar com a técnica de baixo volume

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• Editor

Gilvan Quevedo

• Redação

Charles Echer Karine Gobby Rocheli Wachholz

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL

• ASSINATURAS

• REDAÇÃO

• MARKETING

3028.2000 3028.2060

3028.2070 3028.2065

• Comercial

Sedeli Feijó José Luis Alves Rithiéli de Lima Barcelos

• Coordenação Circulação

Simone Lopes

• Assinaturas

Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

• Expedição

Edson Krause

• Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

C

Avaliação de consumo no plantio

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Barra auxiliar em pulverizadores

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Nossa Capa - Test Drive S680

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Quais os manejos que mais compactam

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Técnicas para aplicar em baixo volume

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Conjunto ideal de tratores e plantadoras

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Automação para aquisição de dados

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 189,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.

Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 € 130,00

Direção Newton Peter

Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br

Cultivar

www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


rodando por aí

Trator 540.4

A Agrale apresenta o novo trator 540.4, ampliando sua linha de tratores médios. “Em função das dimensões reduzidas do equipamento, o modelo é ideal para utilização em pequenas propriedades e também para operação em lavouras de café e fruticultura”, afirmou o diretor de Vendas da Agrale, Flavio Crosa. Entre as características do trator estão a motorização de quatro cilindros, a capacidade do levante hidráulico de 1.100kg e a transmissão 8x8, com inversor de marchas de série. Outro destaque é o eixo dianteiro reforçado, que permite o acoplamento de impleFlavio Crosa mentos frontais, como pá e plaina.

Loja Express

A Comid, concessionária John Deere que atende o sul do Mato Grosso do Sul, inaugurou em 19 de novembro a loja Express em Rio Brilhante (MS), em cerimônia que contou com mais de 500 pessoas, entre representantes da Comid e da John Deere, clientes e autoridades locais. “A inauguração da loja em Rio Brilhante fará com que os produtores possam ter acesso com mais proximidade ao amplo portfólio de produtos e serviços da John Deere, contribuindo, assim, com o crescimento da agricultura local”, contou o gerente da loja Express da Comid de Rio Brilhante, Abel Espindola dos Santos.

Agricase

A Agricase de Campo Mourão (PR) organizou recentemente uma demonstração estática do trator Farmall 80, voltado para pequenos e grandes produtores. O evento também buscou difundir a Case IH nos municípios de Barbosa Ferraz, Fênix, Quinta do Sol, Engenheiro Beltrão, Terra Boa, Peabiru, Araruna, Farol, Mamborê, Luiziana, Iretama e Roncador. A máquina ficou exposta em lugar estratégico, com grande fluxo de produtores rurais. “O intuito do projeto foi aproximar a mercadoria do cliente”, explicou o gerente de Vendas, Jhonnathan Lopes.

100 anos da soja no Brasil

Para comemorar um século da cultura de soja no Brasil, a John Deere lançou em novembro o livro “A Marcha do Grão de Ouro – Soja: a Cultura que Mudou o Brasil”. A publicação tem texto do escritor e historiador Nei Duclós e conta com apoio técnico e científico da Embrapa, além de suporte da Fundação John Deere. “O livro narra como o País é capaz de reunir forças e estratégias em torno de um único objetivo: produzir mais e com qualidade”, comentou o presidente da John Deere Brasil, Paulo Herrmann.

Auteq Telemática

Jhonnathan Lopes

Expedição Antarctica2

A Expedição Antarctica2 comemorou, no dia 9 de dezembro, a conquista do Polo Sul. Após enfrentar 17 dias de muito frio, a equipe da aventureira Manon Ossevoort, conhecida como “Garota Trator”, pode celebrar a conquista. O trator MF 5610 rodou 2.500 quilômetros praticamente sem parar desde que a expedição partiu no dia 24 de novembro de Nova Base, na Antártida Oriental, rumo ao Polo Sul. “Como exemplo de confiabilidade, robustez e qualidade, nosso trator tinha um trabalho a ser feito e o fez. Quando recebemos o convite da Manon para acompanhála nesta expedição, estávamos confiantes de que sairíamos vitoriosos”, afirmou o vice-presidente e diretor da Massey Ferguson para Europa, África e Oriente Médio, Richard Markwell.

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A Deere & Company adquiriu a Auteq Telemática, uma empresa de software embarcado e de computação localizada em São Paulo. Anteriormente, em 2009, a Deere havia criado uma joint venture com a Auteq para fornecer tecnologias e soluções integradas e inovadoras para a produção de cana-de-açúcar. A aquisição proporciona à John Deere especialização adicional no mercado de cana-de-açúcar e maior capacidade de desenvolver produtos e serviços. “A aquisição da Auteq é mais um passo para consolidar nossa estratégia de crescimento no segmento de cana-de-açúcar”, disse o presidente da John Deere Brasil, Paulo Herrmann.

Paulo Herrmann

Crescimento

A Pla comemorou as parcerias fechadas no ano de 2014 com a Agrícola Famosa, empresa de Icapuí (CE), maior produtora mundial de melão, e o contrato firmado com a O Telhar Agropecuária, multinacional de origem argentina focada na produção de commodities agrícolas. “Criamos neste ano um modelo de negócios para atender a estes grandes grupos, com ações diferenciais nas áreas de vendas, pós-vendas e treinamentos”, explicou o diretor comercial da Pla, Renato Silva. A marca também comemorou o aumento do número de revendas no Brasil, chegando a 43 unidades por todo Renato Silva e Tomas Lorenzzon o país, 65% a mais que 2013.

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TRATORES

Lastragem digital Charles Echer

Programa computacional para otimização da lastragem de tratores agrícolas facilita a vida dos usuários na hora de preparar o conjunto para as principais operações agrícolas

C

om o aumento das populações e a necessidade de se produzir mais alimentos, com um número cada vez menor de pessoas empregadas na agricultura, as operações agrícolas começaram a ser mecanizadas, e a grande variedade de máquinas agrícolas disponíveis hoje, para realizar estas operações, permite ao agricultor uma escolha adequada para atender a sua demanda. Porém, as características de cada modelo variam e podem afetar o desenvolvimento da cultura, interferindo negativamente ou positivamente desde o plantio até a colheita. Atualmente há a necessidade do aumento da eficiência em todos os setores da economia para a manutenção da competitividade, especialmente no setor agrícola. A otimização do projeto, a adequação de maquinário, as práticas de irrigação, o desenvolvimento de sistemas de informação geográfica e de posicionamento global e muitas outras técnicas estão proporcionado à agricultura ganhos crescentes, permitindo aumento da produção com redução de áreas cultivadas, insumos e danos ambientais.

INFORMÁTICA NO SETOR AGRÍCOLA

Ao oferecer vantagens no setor agrícola, com aumentos de produtividade, a informática também vem conquistando espaço neste setor. O uso dos computadores na agricultura aumentou consideravelmente nos últimos dez anos, período em que ocorreu rápido desenvol-

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vimento na tecnologia, redução no tamanho do equipamento e no seu preço final. No caso do produtor rural, o computador auxilia na coleta, no armazenamento e no processamento de dados e informações de maneira mais eficiente nos mais variados processos produtivos do setor. Assim, a informação passa a ser extremamente valiosa e deve ser considerada como mais um insumo no processo produtivo. Atualmente, com o surgimento de empresas especializadas e o trabalho dos órgãos governamentais de pesquisa e de assistência técnica, já existe uma quantidade considerável de programas específicos voltados para o campo. Uma das ferramentas atuais mais usadas para o desenvolvimento de programas de comunicação via internet é o PHP (Hypertext Preprocessor). O fato de seu código ser executado no servidor permite que computadores com poucos recursos de processamento executem-no. Este tipo de utilização torna mais fácil o uso do programa, uma vez que não existe a necessidade de instalação de arquivos específicos e o usuário pode ter acesso em locais diferentes ou acesso remoto utilizando algum dispositivo de conexão sem fio. O uso da informática e de programas computacionais no setor agrícola permite atingir objetivos específicos na área. Na mecanização agrícola, por exemplo, a seleção de máquinas e implementos agrícolas adequados ao sistema de produção é um processo bastante complexo e

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pode ser auxiliado por meio da informática.

DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA

Pesquisadores do setor de Mecanização Agrícola da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) desenvolveram um programa computacional que objetiva facilitar e tornar mais rápido o cálculo da lastragem de tratores agrícolas, visando a otimização de operações agrícolas, de modo a reduzir o custo e as perdas. O programa foi desenvolvido utilizando-se a linguagem Hypertext Preprocessor (PHP). O PHP é uma linguagem de programação de computadores interpretada, livre e muito utilizada para gerar conteúdo dinâmico na rede de alcance mundial. Foi utilizado o programa computacional Macromedia Dreamweaver MX para a edição da linguagem de marcação do hipertexto (HTML, ou HyperText Markup Language) e PHP do programa desenvolvido, sendo utilizado o banco de dados MySQL. O banco de dados MySQL é um sistema de gerenciamento de banco de dados que utiliza a linguagem SQL (Structured Query Language, ou Linguagem de Consulta Estruturada) como interface. É atualmente um dos bancos de dados mais populares, com mais de dez milhões de instalações pelo mundo. O navegador web solicita através do código em PHP que fica embutido no código HTML e executado internamente no servidor, sem exibição do código fonte


Tela inicial de inserção do tipo de operação agrícola (esquerda), de inserção do tipo de implemento (centro) e da entrada de dados (direita)

para o usuário, após essa solicitação e consulta ao banco de dados, é exibida uma resposta do código fonte na tela do usuário. O programa computacional foi desenvolvido para ser executado via internet, bastando o usuário ter acesso à rede para entrar no endereço que disponibiliza o programa. Este tipo de utilização torna mais fácil o uso do programa, uma vez que não existe a necessidade de instalação de arquivos específicos e o usuário pode ter acesso em locais diferentes, como seu escritório, fazenda ou acesso remoto, utilizando algum dispositivo sem fio de conexão à rede internet, desde celulares até tablets. A rede internet permite a hospedagem de documentos que podem estar na forma de vídeos, sons, hipertextos e figuras. Para visualizar a informação pode-se usar um programa de navegação na internet para descarregar informações de servidores e mostrá-los na tela do usuário. O usuário pode então seguir as ligações na página acessada para outros documentos ou mesmo enviar informações de volta para o servidor para interagir com ele. O programa desenvolvido foi hospedado em

um servidor que se encontra em um provedor de serviços de internet nos EUA, que conta com capacidade de 300MB. O programa computacional para determinação da lastragem de tratores agrícolas foi desenvolvido utilizando-se a Norma Asae D497.3 – Agricultural Machinery Management Data, para calcular a distribuição de lastro em tratores agrícolas.

VALIDAÇÃO DOS DADOS

Pablo Pereira Corrêa Klaver, José Sá Vasconcelos Junior e Ricardo Ferreira Garcia, Uenf Fotos Pablo Klaver

No trabalho realizado, implementou-se um sistema de aquisição automática de dados e se desenvolveu um programa em PHP para avaliação de máquinas agrícolas. Os dados teóricos, gerados pelo programa, foram comparados com os dados práticos, adquiridos pelos sensores que foram conectados a um aquisitor de dados. Os dados práticos medidos pelos sensores e calculados pelo algoritmo do programa computacional mostraram que a força de tração aumentou linearmente ao longo dos tiros independentemente de o solo ser solto ou firme, assim como o consumo e a patinagem. O algoritmo foi desenvolvido buscandose a coleta de dados Gráfico 1 - Gráfico de comparações dos valores medidos pelos sensores e os valores de forma eficiente e resultantes pelo algoritmo do programa computacional (força de tração, consumo de eliminando os erros combustível e patinagem) tradicionais gerados pela coleta de dados convencional, como anotações incorretas

em planilhas e perda de dados. Observou-se, durante os ensaios, facilidade de operação do sistema, permitindo rapidez na operação de aquisição de dados, e capacidade de combinar o sistema implementado para atender a demandas de diversas pesquisas, podendo ser utilizado em diferentes tipos de máquinas agrícolas. A partir do programa computacional desenvolvido, tornou-se possível a execução de tarefas para cálculos de avaliação da demanda de potência de máquinas e implementos agrícolas; determinação de patinagem para otimização do desempenho do trator agrícola; distribuição de lastro, consumo de combustível e transferência de peso de maneira adequada com eficiente economia de tempo. O programa foi avaliado estatisticamente obtendo dados muito próximos dos obtidos pelos sensores. Apresenta a vantagem de ser oferecido sem a necessidade de arquivos de instalação, bastando o usuário ter acesso à rede internet. Caso o usuário prefira, há também a versão de instalação remota no modo PHP-GTK, o que dispensa a necessidade do uso da internet cada vez que o programa for rodado. .M

Sensor de fluxo de combustível (esquerda) e sensor indutivo, utilizado para determinar a frequência da TDP do trator (direita)

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SEMEADORAS

Precisão absoluta

Fotos John Deere

As plantadoras pneumáticas são as máquinas ideais para os produtores que buscam distribuição homogênea de sementes e mais praticidade na hora de regular o equipamento

O

objetivo das semeadoras de precisão é distribuir no solo certa quantidade de sementes com uma densidade predeterminada, regulada de acordo com o número de sementes por metro linear e espaçamento entre linhas, seja em solo arado e gradeado, ou por plantio direto. Para realizar todas as operações numa só passada, as semeadoras contam com setores específicos que desempenham as funções de abrir um sulco no solo, dosar uma quantidade de sementes e posicioná-las no solo e cobrir o sulco e firmar o solo ao redor das sementes. Normalmente, as semeadoras também contam com a função de distribuição de adubo e outros produtos, fazendo esta distribuição na mesma passada – estas máquinas também são chamadas de semeadoras-adubadoras.

didade constante e possibilidade de trabalho a velocidades elevadas. As semeadoras devem atender aos diversos sistemas de produção das principais culturas de verão e inverno do Brasil – algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, canola, centeio, cevada, trigo, entre outras e, por isso, possuem sistemas de abertura e fechamento de sulco, e dosagem e distribuição de sementes e adubos com várias regulagens para atender as diferenças entre tamanhos de sementes e densidades. Atualmente, a semeadora-adubadora é

uma das máquinas agrícolas utilizadas no processo de produção agrícola que mais incorpora tecnologia. A precisão durante a operação de semeadura é garantida por mecanismos bem projetados, eficientes e precisos. Porém, são vários os fatores que influenciam sua precisão, principalmente seu mecanismo de distribuição de sementes.

Sistema de distribuição de sementes pneumático MaxEmerge da John Deere

Para cada tipo e tamanho de sementes há um disco específico

SISTEMA PNEUMÁTICO

As semeadoras de precisão são as mais utilizadas no país e permitem a distribuição de sementes individualmente com distância

PRINCIPAIS FUNÇÕES

As semeadoras devem permitir também obter uma regularidade de profundidade e de repartição da semente na linha, alinhamento e espaçamento perfeitos, uma economia sensível de semente e uma maior rapidez de trabalho. E para atingir os objetivos mencionados, elas devem ser projetadas com sistemas que permitam a polivalência em relação ao tipo de sementes, distribuição regular e fácil regulagem, profun-

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Os desenhos mostram da esquerda para a direita a abertura e modelagem do sulco, dosagem e distribuição das sementes, cobertura do sulco e compactação da semente

umas das outras numa linha, visando facilitar os tratos culturais e a colheita com eficiência. Os espaçamentos das sementes e das linhas de plantio dependem da população desejada por hectare e, para atingir estas metas, as semeadoras precisam contar com um dispositivo específico de dosagem de sementes do seu reservatório e ajuste de linhas no chassi. Nas semeadoras de precisão comercializadas no Brasil, os principais sistemas de dosagem de sementes são do tipo mecânico, com disco horizontal perfurado, e sistema pneumático. Ambos os sistemas possuem vantagens e desvantagens, mas em se tratando de eficiência em relação ao enchimento de discos, o sistema pneumático apresenta a maior vantagem, onde praticamente não existem falhas na seleção de sementes, ocorrendo o maior aproveitamento da área plantada, com melhor uniformidade na distribuição de sementes no solo. Outra vantagem apresentada é o menor índice de danos mecânicos ocorridos nas sementes, pois não sofrem a ação mecânica que ocorre nos discos dosadores em máquinas de discos perfurados. Como principais desvantagens, é um sistema que requer manutenção mais dedicada e especializada, devido a inúmeras conexões e juntas dos sistemas pneumático e hidráulico, além de apresentar custo mais elevado de aquisição em relação às semeadoras mecânicas. Em alguns estudos comparativos de sistemas mecânicos e pneumáticos, não se justifica a aquisição de uma semeadora pneumática pelo aspecto custo-benefício, uma vez que ela apresenta pequena diferença em relação à qualidade de distribuição longitudinal de sementes, mas possui grande diferença em relação ao preço, comparando-se a uma máquina mecânica com o mesmo número de linhas.

enquanto estes giram. Normalmente, a pressão é proveniente de um ventilador central movido pela TDP ou motor hidráulico acionado pelo sistema hidráulico do trator, ou por ventiladores montados em cada linha acionados por motores elétricos. Um dispositivo limpador, ou singulador, é responsável por eliminar o excesso de sementes extras que podem estar presas num mesmo furo do disco dosador, evitando as sementes falhas e as duplas. Um mecanismo de corte do vácuo é responsável por interromper a ação da pressão negativa e promover a queda da semente no momento em que ela passa sobre um tubo, onde a semente é encaminhada e depositada

no solo. O tubo, em formato curvo, permite a queda livre da semente, dando a ela um impulso contrário ao movimento da semeadora, evitando os ressaltos e ricochetes durante a queda, melhorando a uniformidade de distribuição longitudinal das sementes. Quando houver a necessidade de troca de sementes, de acordo com a cultura a ser plantada, é necessária a escolha de um disco com furos compatíveis à nova semente, além do ajuste de pressão do sistema pneumático de acordo com a densidade e o peso da semente. São procedimentos que são realizados rapidamente pelo operador da máquina. Após a utilização no plantio, várias peças devem ser inspecionadas visando a manutenção periódica do sistema, observando-se principalmente os desgastes das peças plásticas que agem em contato com as sementes, presença de vazamentos de pressão, obstruções, desgastes ou empenos nos dutos de sementes e folga nos .M rolamentos de eixos. Ricardo Ferreira Garcia, Uenf

PARTES DO SISTEMA PNEUMÁTICO

Os sistemas pneumáticos podem ser do tipo pressão positiva e a vácuo, sendo este último o mais difundido entre os principais fabricantes. Neste sistema, um disco dosador vertical, montado em cada linha de plantio, seleciona as sementes de um pequeno reservatório localizado na base do disco. As sementes são fornecidas ao reservatório de um depósito principal. Uma pressão de negativa (vácuo) é responsável por manter as sementes aderidas aos furos localizados na periferia dos discos

Visão interna do sistema pneumático de semeadura montado em cada linha, com um pequeno reservatório de sementes, e disco vertical, responsável por selecionar as sementes e inseri-las no tubo para serem depositadas no solo

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Charles Echer

PULVERIZADORES

Estáveis

e à distância entre pontas. Em alguns modelos de pulverizadores, de acordo com as recomendações dos fabricantes, esta altura pode ser reduzida, visto que a distância entre as pontas hidráulicas foram reduzidas. Em campo, deve-se observar se a altura da barra em relação ao alvo, ao longo do seu comprimento, é a mesma. O papel dos estabilizadores de barra é manter esta altura, independentemente das irregularidades do terreno (declividade, obstáculos etc), mantendo a qualidade da pulverização. Atualmente, há diferentes sistemas de estabilização sendo empregados nos pulverizadores hidráulicos de barra, podendo ser dotados de dispositivos mecânicos

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adequada em relação ao alvo, paralela ao solo durante o trabalho e oscilar o mínimo possível. Assim, com o intuito de conservar a barra nivelada, foram desenvolvidos os estabilizadores das barras de pulverização. Esses estabilizadores minimizam as oscilações verticais e horizontais das barras, sua amplitude é proporcional ao comprimento da barra. As oscilações verticais são causadas principalmente por irregularidades do terreno, o que altera a altura de pulverização em relação ao alvo e prejudica a uniformidade de distribuição, promovendo excessiva sobreposição de calda. Quando há redução da altura da barra há uma falha na sobreposição. Além disso, quando há excessivas oscilações, pode ocorrer o choque da barra contra o solo, ocasionando danos. Já as oscilações horizontais, além de alterarem a uniformidade de distribuição, também provocam uma sobredosagem da aplicação. O desalinhamento permite que uma planta receba mais produto que a outra, podendo acarretar em fitotoxicidade à cultura, ineficiência da pulverização e ineficácia de controle (Sasaki, et al 2011). Comumente empregam-se a altura da barra de pulverização ao alvo de 50 centímetros. Esta altura se deve principalmente às características dos jorros de pulverização

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Montana

A

aplicação de produtos fitossanitários está entre as principais etapas dentro da produção agrícola, e o seu sucesso é dependente de diversos fatores. Com a expansão da agricultura no Brasil, aumenta-se, também, o uso dos produtos fitossanitários para o controle de insetos, doenças e plantas daninhas. Contudo, deve-se atentar à escolha correta da tecnologia a ser utilizada para garantir a máxima eficiência no controle com o mínimo de perdas de produto e contaminação do meio ambiente sem deixar resíduo nos alimentos. Apesar da importância da aplicação de defensivos, a escolha correta da tecnologia a ser utilizada não é tão simples. Muitos agricultores imaginam que um adequado emprego da tecnologia de aplicação está somente relacionado à escolha correta das pontas de pulverização, entretanto, estas devem estar corretamente dispostas na barra e operando dentro da sua faixa de pressão, garantindo, assim, adequada uniformidade de distribuição, ou seja, aplicação uniforme de líquido ao longo de toda a barra. Além do uso correto das pontas hidráulicas, para obtenção satisfatória de uniformidade na distribuição do líquido, a barra de pulverização deve ser mantida na altura

Jacto

Estabilizadores de barras de pulverizadores são componentes importantes que têm a difícil missão de manter as barras de pulverização sempre alinhadas

Exemplares de sistemas dotados de dispositivos mecânicos, dispositivo pendular (acima) e trapezoidal (abaixo)


Jacto

Divulgação

Alguns modelos de pulverizadores são dotados de dispositivos hidráulicos com controle eletrônico, denominada como suspensão ativa, com sensores de ultrassom nas extremidades das barras para captar a posição desta em relação ao solo e corrigi-la de forma contínua

terreno e alivia a tensão do operador, pois não há a necessidade de monitorar e ajustar constantemente a altura da barra. Ao se manter as barras de pulverização estabilizadas à altura correta do alvo, consegue-se uma boa uniformidade de distribuição da calda ao longo da barra e, em alguns casos, pode evitar a deriva. A deriva é o desvio da trajetória das gotas liberadas pelo processo de aplicação e que não atingem o alvo, ocasionando, portanto, perdas do produto, deficiência do tratamento fitossanitário e consequente contaminação do meio ambiente e de pessoas próximas às áreas tratadas. Lembrando que outro fator importante na deriva de produto é o tamanho de gota utilizada na aplicação, gotas mais finas são mais suscetíveis à deriva, enquanto gotas mais grossas são mais propícias ao escorrimento. O emprego dos estabilizadores facilita a utilização de marcadores de faixa de aplicação, reduz os movimentos de oscilação das

barras dos pulverizadores, diminuindo a variabilidade de depósito, além de permitir o desenvolvimento de pulverizadores mais rápidos e com maiores barras, melhorando a capacidade operacional durante a aplicação de defensivos. De modo geral, para evitar possíveis perdas de produto, ineficiência de controle, danos ao implemento e contaminações diversas, deve-se ficar atento ao funcionamento correto do estabilizador de barras, realizando as manutenções corretivas se houver necessidade e proceder sempre as manutenções periódicas recomendadas pelo .M fabricante. Robson Shigueaki Sasaki e Hêner Coelho, IF Minas Gerais Mauri Martins Teixeira, UFV Christiam Felipe Silva Maciel e Cleyton Batista de Alvarenga, UFU

Fotos Robson Sasaki

(pêndulos, trapézios e suspensões feitas por cabos), hidráulicos ou hidráulicos com controle eletrônico. O sistema de estabilização denominada suspensão por cabos baseia-se na fixação das extremidades de um cabo na barra de pulverização, passando esse cabo por uma polia que fica acoplada a um motor elétrico. Neste caso, se o pulverizador estiver trabalhando em um terreno inclinado é possível, por meio do acionamento do motor, corrigir o ângulo da barra. Já o sistema que utiliza dispositivos hidráulicos com controle eletrônico, denominado como suspensão ativa, dispõe de sensores de ultrassom nas extremidades das barras para captar a posição desta em relação ao solo de forma contínua. Tais sensores enviam a informação a um sistema que atua sobre cilindros hidráulicos que mantêm a barra paralela ao solo. Os sistemas automatizados de controle da barra permitem melhor controle da altura da barra. A barra segue as ondulações do

Alinhamento da barra de pulverização (esquerda). À direita, barra alinhada ao longo do seu comprimento (certo) e barra desalinhada ao longo do seu comprimento (errado)

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Valtra

TRATORES

Mais econômico

Ao comparar o consumo de combustível em operações agrícolas, o sistema de plantio direto é o que gasta menos em comparação com os sistemas de plantio convencional e cultivo mínimo

A

avaliação do consumo energético das operações mecanizadas pode ser utilizada para a tomada de decisão na seleção e no uso dos tratores e implementos agrícolas, uma vez que o conhecimento do gasto energético possibilita a escolha das operações que apresentam menor consumo de combustível, refletindo diretamente no custo operacional do maquinário agrícola. A quantidade de combustível consumida por um trator agrícola se dá em função da força exigida para realização da atividade e da velocidade do conjunto mecanizado. A força necessária para cada operação depende das características do implemento, como sua massa, tipo de órgão ativo e volume de solo mobilizado. A velocidade com que o conjunto trator-implemento irá realizar a operação é uma característica do tipo de trabalho a ser realizado e é estabelecida pela combinação do regime de rotação do motor do trator com a marcha selecionada.

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Com o objetivo de determinar o consumo de combustível e a demanda de potência e energia em função do sistema de manejo do solo (convencional, cultivo mínimo e plantio direto) e de duas marchas de trabalho (B1 e B2), foram realizados ensaios na área experimental do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa (MG), em solo classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo. Para mensurar a força necessária para tração dos implementos foi utilizado o esquema de comboio, no qual foi ensaiado um trator da marca John Deere, modelo 5705, 4x2 TDA, com 63kW (85cv) de potência a 2.400rpm que tracionou um trator marca Valtra Valmet, modelo 800, 4x2 TDA, com 58,88kW (85cv) de potência a 2.400rpm (trator lastro), no qual foram acoplados os implementos utilizados para o preparo do solo e semeadura. No sistema de manejo convencional foi realizada uma aração a 20cm de profundidade

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e duas gradagens, seguidas pela semeadura. Para o cultivo mínimo foi realizada a dessecação da vegetação com glifosato na dose de 2,5L/ha e a escarificação à profundidade média de 20cm, seguidas da semeadura. O plantio direto foi estabelecido com a dessecação utilizando glifosato na dose de 2,5L/ha seguida por semeadura. Foram determinados consumo horário de combustível, capacidade teórica de trabalho, demanda de potência, consumo operacional de combustível (razão entre consumo horário de combustível e capacidade de trabalho teórica) e demanda energética (razão entre potência requerida para tração e capacidade teórica de trabalho) em função da marcha de trabalho (B1 e B2) e do sistema de manejo do solo (convencional, cultivo mínimo e plantio direto). O experimento foi montado no esquema de parcelas subdivididas, sendo as marchas designadas às parcelas e os sistemas de manejo às subparcelas, no delineamento em blocos ao acaso, com quatro repetições. Os resultados obtidos foram analisados no programa estatístico


fluência do número de operações na Tabela 1 – Médias de potência de tração (kW) em função da marcha demanda energética dos sistemas de de trabalho e do sistema de manejo do solo manejo e também a influência de opeOperação Manejo Convencional Cultivo Mínimo Plantio Direto rações com alto consumo energético, como a aração no manejo convencioB1 B1 B1 B2 B2 B2 nal, sobre a demanda de energia do 8,16 a 16,13 b Aração sistema de manejo (Tabela 3). Primeira Gradagem 5,35 a 8,35b O sistema de plantio direto apre- Segunda Gradagem 5,30 a 8,14b sentou o menor consumo energético, 0,26a 0,26 a 0,26 a 0,26 a Pulverização evidenciando que o menor número de 14,28 a 20,58 b Escarificação operações configura menor demanda 2,92 a Semeadura 5,52 b 1,85 a 3,53b 3,55 a 5,41 b energética para este sistema de ma5,43 a Médias (kW) 9,54 b 5,46 a 8,13 b 1,91 a 2,83 b nejo. Além disso, o menor volume de CV (%) 5,43 3,22 6,54 solo mobilizado pelos implementos utilizados nos sistemas conservacio- Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem a 5% de probabilidade pelo nistas, como o cultivo mínimo e o teste de Tuckey. plantio direto, contribui para menores Tabela 2 – Médias dos consumos horário e operacional de combustível em valores de gasto energético. Diante dos resultados obtidos é função do sistema de manejo do solo e da marcha de trabalho possível concluir que a marcha de traSistema Consumo Horário (L h-1) Consumo Operacional (L ha-1) balho influencia a potência de tração, de Marcha Marcha o consumo horário e operacional de B1 B1 Manejo B2 B2 combustível e o consumo energético 46,53 Aa Manejo Convencional 30,59 Aa 38,46 Ab 40,71 Ab nos sistemas de manejo do solo. 26,06 Ba 25,90 Ba Cultivo Mínimo 31,01 Bb 24,39 Ba A marcha B1 apresenta o menor 14,93 Ca 17,74 Ca Plantio Direto 16,92 Cb 17,11 Ca consumo energético e horário de CV (%) 1,71 3,14 combustível em todos os sistemas de manejo do solo. O consumo opera- Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem a 5% de probabilidade pelo cional de combustível é menor para teste de Tuckey. marcha B2 no sistema de manejo Tabela 3 – Médias de consumo energético (MJ ha-1) em convencional do solo. função do sistema de manejo e da marcha de trabalho O consumo de energia, assim como o consumo horário e operacional de comSistema Marcha bustível, é maior no sistema de manejo B1 de Manejo B2 convencional do solo, seguido por cultivo 115,51 Aa Manejo Convencional 143,84 Ab .M mínimo e plantio direto. Haroldo Carlos Fernandes, Anderson Candido da Silva e Yarina M. Trujillo Rodríguez, Universidade Federal de Viçosa

Cultivo Mínimo Plantio Direto CV (%)

53,08 Ba 28,05 Ca

61,46 Bb 32,05 Cb

4,13

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tuckey.

Fotos Haroldo Fernandes

SPSS Statistics 21, sendo realizada análise de variância para a marcha, sistema de manejo do solo e sua interação. A comparação entre médias foi realizada pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Nos três sistemas de manejo do solo houve diferença significativa entre as duas marchas de trabalho, em todas as operações realizadas. A marcha B1 apresentou menor demanda de potência em todas as operações e todos os sistemas de manejo do solo (Tabela 1). A menor demanda de potência de tração da marcha B1 é resultado da menor velocidade desenvolvida pelo conjunto mecanizado operando com esta marcha. O manejo convencional, independentemente da marcha de trabalho utilizada, apresentou os maiores valores de consumo horário e consumo operacional de combustível, seguido por cultivo mínimo e plantio direto, evidenciando que o número de operações mecanizadas realizadas e a demanda energética de cada operação influenciam diretamente o consumo de combustível nos sistemas de manejo do solo (Tabela 2). A marcha utilizada nas operações também influenciou o consumo horário de combustível, uma vez que a marcha B1 apresentou os menores valores em todos os sistemas de manejo. O consumo operacional de combustível apresentou diferença significativa, entre as duas marchas, somente para o manejo convencional, no qual a marcha B1 apresentou maior consumo. Este maior consumo operacional de combustível é explicado pela menor capacidade de trabalho desenvolvida nessa marcha, consequência da menor velocidade em relação à marcha B2. O maior consumo energético foi observado no manejo convencional, seguido por cultivo mínimo e plantio direto, evidenciando a in-

.M

Arado utilizado no preparo convencional do solo, sistema que apresentou maior consumo de combustível em todas as simulações

Semeadora utilizada no experimento onde o sistema de plantio direto mostou ser o que menos consome combustível comparado com manejo convencional e cultivo mínimo

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Fotos Rafael Tavares

pulverizadores

Barra auxiliar Pesquisadores propõem um projeto de barra auxiliar para pulverizador que possibilita a aplicação de herbicidas próxima do solo, minimizando a deriva do produto

N

o sistema de semeadura direta, o controle químico das plantas daninhas com herbicidas tornouse uma prática constante, especialmente antes da instalação das culturas, em operações de dessecação. A aplicação de um herbicida sistêmico, como o glifosato, por exemplo, é uma boa alternativa devido ao seu amplo espectro de ação e baixa toxicidade a organismos não alvos (abelhas, pessoas, vegetação etc). Outro fator que contribuiu muito para a maior adoção deste princípio ativo foi o aumento do cultivo das culturas geneticamente modificadas. Entretanto, na maioria das vezes, dá-se muita importância ao produto fitossanitário a ser aplicado e pouca à técnica de aplicação. É preciso garantir que o

produto alcance o alvo, neste caso as plantas daninhas, de forma eficiente, minimizandose as perdas, como a deriva, a evaporação e o escorrimento de calda. Com a finalidade de tentar reduzir as perdas para o solo, promover maior contato do produto com o alvo da aplicação e empregar menor consumo de calda, foi desenvolvido um acessório de pulverização para ser acoplado à barra dos pulverizadores hidráulicos convencionais, denominado de Kit Alvo de Pulverização. O Kit é constituído de um tubo resistente, com tamanho proporcional à barra principal do pulverizador. Trata-se de uma barra auxiliar de pulverização dotada de pontas de pulverização ao longo de sua extensão, voltadas para trás,

com espaçamentos regulares entre os bicos, na qual, em seu interior, há uma rede de canos que comunicam a calda até as pontas. Para o seu funcionamento, a barra original do pulverizador é desativada, e o Kit é acoplado à barra do pulverizador por meio de bastões flexíveis. A altura em relação ao solo ou à cultura é regulável e depende do tipo de aplicação e do estádio vegetativo da cultura, de modo que a barra auxiliar fique o mais próximo do solo possível. Entretanto, ainda não existem muitos estudos sobre a eficiência real desse equipamento em campo. Dessa forma, foi realizado um trabalho para avaliar a eficácia do controle de plantas daninhas com herbicida em operação de dessecação, a deposição de calda nas plantas daninhas e as perdas para o solo em função de diferentes volumes de calda com e sem o uso de uma barra auxiliar de pulverização. O experimento foi realizado na fazenda Pasto do Passarinho, localizada no município de Uberlândia, Minas Gerais. Em delineamento experimental de blocos ao acaso (DBC), com cinco tratamentos e cinco repetições, avaliou-se o controle de plantas daninhas promovido pela aplicação de herbicida, conforme os tratamen-

Os ensaios com a barra auxiliar de pulverização tiveram a finalidade de tentar reduzir as perdas para o solo, promover maior contato do produto com o alvo da aplicação e empregar menor consumo de calda

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tos descritos na Tabela 1. Para a aplicação foi utilizado o ingrediente ativo glifosato (Crucial - sal de isopropilamina de glifosato 40,08% m/v; sal de potássio de glifosato 29,78% m/v), na dose de 4L/há de produto comercial, conforme indicação de bula para o controle de Paniccum maximum. Para o experimento foi utilizado um pulverizador terrestre da marca Montana, modelo Ranger 3000, com uma barra convencional de 18m de comprimento e, opcionalmente, com barra auxiliar acoplada ao sistema hidráulico. Para facilitar as operações, trabalhou-se apenas com metade da barra. A velocidade de operação em todos os tratamentos foi de 9,5km/h. Nesse experimento, a barra convencional ficou a 0,50m de altura e a barra auxiliar, a 0,15m. O reduzido volume de calda empregado com a barra auxiliar deve-se ao fato de que a mesma, segundo o fabricante, foi desenvolvida para esta finalidade, visto que se pode trabalhar com gotas finas, já que a aplicação é feita próxima ao solo. É importante ressaltar, contudo, que, independentemente da recomendação do fabricante, as aplicações devem ser realizadas dentro de condições climáticas favoráveis à pulverização. Para avaliar a deposição de calda nas plantas daninhas e as perdas para o solo, foi adicionado à calda de aplicação um traçador composto do corante alimentício Azul Brilhante na dose de 300g/há (ajustando-se a quantidade do corante adicionado ao tanque em função do volume de aplicação empregado), para ser detectado por absorbância em espectrofotometria. A determinação de perdas de calda para o solo foi realizada por meio da distribuição ao acaso de quatro lâminas de vidro (37,24cm2 cada) por parcela. Para avaliar a eficácia de controle das plantas daninhas, foram realizadas duas avaliações visuais de controle, aos sete e 14 dias após a aplicação (DAA) do herbicida, mediante a escala de avaliação visual de controle de plantas daninhas por meio de herbicida. As condições ambientais durante as aplicações foram monitoradas por meio de um termo-higro-anemômetro digital.

Tabela 1 - Descrição dos tratamentos avaliados Tratamento 1 Testemunha 2 Pulverizador de barra com Kit Alvo® 3 Pulverizador de barra auxiliar 4 Pulverizador de barra convencional 5 Pulverizador de barra convencional

Ponta Cone vazio (MGA 80005) Cone vazio (MGA 800067) Jato plano com indução de ar (AD-IA 11002) Jato plano com indução de ar (AD-IA 11002)

Volume de Calda (L ha-1) 30 50 100 150

Pressão (kPa) 483 689 310 448

Tabela 2 - Deposição de calda nas plantas daninhas (mg de traçador kg) e perdas para o solo (µg de traçador cm) em função da aplicação de calda herbicida com diferentes volumes de calda, com e sem o uso de uma barra auxiliar de pulverização Pulverizador Barra auxiliar Barra auxiliar Barra convencional Barra convencional CV (%)

Volume de calda (L ha-1) 30 50 100 150

Deposição de calda (mg kg-1) 485,230 a 513,917 a 684,009 a 671,944 a 37,66

Perdas para o solo (µg cm-2) 1,311 a 1,220 a 1,739 b 1,865 b 14,48

Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey, a 0,05 de significância. CV: coeficiente de variação. Dados analisados pelo programa Sisvar 5.3.

A temperatura média durante as aplicações foi de 31°C, a umidade relativa foi de 51% e a velocidade do vento de 5km/h. Não houve diferença entre os tratamentos avaliados quanto à deposição de calda nas plantas daninhas, entretanto, para as perdas para o solo, independentemente do volume de calda aplicado, a utilização da barra auxiliar proporcionou menores perdas (Tabela 2). Neste sentido, embora a deriva não tenha sido avaliada, possivelmente deve ter ocorrido maior perda atmosférica das gotas finas, de forma a equacionar o destino da aplicação: solo, planta ou perda atmosférica. Ainda que não tenham ocorrido diferentes depósitos nas plantas, o emprego da barra auxiliar permitiu maiores rendimentos operacionais, devido aos menores consumos de calda, o que se traduz em redução de custos. Os dados de eficácia de controle das plantas daninhas aos sete e 14 DAA (Tabela 3) não diferiram em função da presença ou ausência da barra auxiliar de pulverização e do volume de calda utilizado. De acordo com a escala de avaliação visual de controle de plantas daninhas (Alam, 1974), aos 7 DAA os tratamentos

Detalhe da barra auxiliar acoplada à barra do pulverizador na área onde foram realizados os ensaios

Tabela 3 - Eficácia de controle das plantas daninhas (%) aos 7 e 14 dias após a aplicação (DAA), em função da pulverização de glifosato, em diferentes volumes de calda, com e sem o uso de uma barra auxiliar acoplada ao pulverizador Pulverizador Barra auxiliar Barra auxiliar Barra convencional Barra convencional CV (%)

Volume de calda (L ha-1) 30 50 100 150

Eficácia de controle (%) 7DAAns 77,87 76,70 74,70 82,85 25,99

14 DAAns 98,30 91,60 96,40 98,60 8,24

Ns Não significativo pelo teste de F a 0,05 de significância. CV: coeficiente de variação. Dados analisados pelo programa Sisvar 5.3.

apresentaram boa eficácia de controle, exceto na aplicação convencional com 150L/ha, que foi considerada como muito boa. A avaliação realizada aos 14 DAA resultou em uma eficácia de controle considerada muito boa, demonstrando a viabilidade de todos os tratamentos. É possível concluir que a deposição de calda herbicida nas plantas daninhas não diferiu em função da presença ou ausência da barra auxiliar de pulverização e do volume de calda aplicado, demonstrando a viabilidade do uso de volumes de aplicação entre 30 e 50L/ha com a barra auxiliar. As perdas de calda para o solo foram maiores quando foi utilizada a barra convencional do pulverizador, nos maiores volumes de aplicação. A eficácia de controle das plantas daninhas com o herbicida glifosato foi muito boa, independentemente do uso ou não .M da barra auxiliar e do volume de calda. Rafael Marcão Tavares, Miller Galli Naves, Mariana Rodrigues Bueno e João Paulo Arantes R. da Cunha, UFU

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capa

S680 T

estamos para esta edição da Cultivar Máquinas a colhedora S680, a maior comercializada pela John Deere no Brasil. Também da Série S, nos EUA já é comercializado o modelo

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A S680, além de ser a maior colhedora produzida pela John Deere no Brasil, é também a que possui maior tecnologia embarcada e itens que fazem dela uma máquina fácil de ser operada e com muito conforto ao operador S690. No Brasil, a S680 é uma colhedora da classe VIII, sendo que o “S” indica a série, que corresponde à separação simples, enquanto que o “6” corresponde ao tamanho do corpo da colhedora, sendo classificado

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pela fábrica como corpo largo. O “80” representa o segmento de potência. Antes deste lançamento a maior máquina da marca no país era do modelo 9770 STS. O início do desenvolvimento do projeto desta máquina ocorreu em 2008, nos Es-


Fotos Charles Echer

tados Unidos da América. O lançamento ocorreu em em julho de 2011 na Europa, em agosto de 2011 nos EUA e em maio de 2012 na América do Sul. O lançamento da máquina nacionalizada ocorreu na Agrishow, em maio deste ano, e agora sendo fabricada na unidade de Horizontina (RS) ela pode ser adquirida com recursos de financiamento oficial, com código Finame. A S680 é uma máquina com motor de 13,5 litros, 480cv de potência nominal, importado dos Estados Unidos. Segundo a informação do fabricante o desenvolvimento do projeto foi focado no operador, objetivan-

A S680 é uma máquina com motor de 13,5 litros, 480cv de potência máxima, recentemente nacionalizada, o que permite que os produtores possam adquiri-la através de linhas de financiamento do Governo Federal

A plataforma disponível para esta máquina é da série 600FD HydraFlex Draper para colheita de soja, arroz, trigo e aveia, com 40 pés de largura

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A nova plataforma possui um sistema de acoplamento de um único ponto, que estabelece as conexões hidráulica e elétrica, além de travar a plataforma

do a melhoria da eficiência da máquina. A engenharia de fábrica considerou que, como os fatores de aumento de capacidade de trabalho e eficiência e como o aproveitamento da dimensão de largura de plataforma e a velocidade operacional já estão quase esgotados, era necessário, com isso, aumentar o conforto e a operacionalidade para que o operador pudesse desenvolver ao máximo o seu trabalho. Neste sentido, a máquina foi equipada com o que há de mais moderno em tecnologia embarcada e conforto do posto de operação, para proporcionar facilidade operacional aos usuários. Uma informação comercial que atesta a boa aceitação desta máquina no mercado é que, atualmente, há mais pedidos de compra do que o fabricante consegue produzir, gerando uma lista de espera que varia de região para região. Durante a fase de entrada no mercado internacional a máquina foi exaustivamente testada no campo, em diversas condições, de culturas e países, inclusive no Brasil. No País esta máquina será vendida com plataformas flexíveis draper de 40 pés e o mercado poten-

O depósito de grãos tem capacidade de 14.100 litros, o tubo de descarga é de 7,90m e a velocidade de descarga de 135 litros por segundo

cial será formado por grandes propriedades da América do Sul, onde atua a John Deere brasileira, principalmente para as culturas de soja e milho.

PLATAFORMA, ALIMENTADOR

A plataforma de colheita standard disponível para esta máquina é da série 600FD HydraFlex Draper para colheita de soja, trigo e aveia. Para a colheita de milho é disponibilizada a plataforma da série 600C, importada do mercado norte-americano, que possibilita o corte de 18 linhas da cultura, com espaçamento de 50cm. Esta plataforma de milho ainda possui a opção de ajuste hidráulico das chapas destacadoras e bico divisor, com possibilidade de alteração do ângulo de ataque, AutoTrac e Rowsense tecnologia que une os dados da posição geográfica da colhedora com os dados dos sensores de linha. O modelo de plataforma que equipava a colhedora S680 que utilizamos no teste era 640FD HydraFlex Draper com largura de 40 pés (12.200mm) do tipo flexível, sendo este modelo especial para colheita

de soja, permitindo também colher trigo e outros grãos. A utilização desta plataforma permite o uso dos sistemas HydraFlex, que ajusta a pressão da barra de corte em relação ao solo, e Dial-A-Speed, que sincroniza a velocidade do molinete de acordo com a velocidade da colhedora, possuindo ainda o controle automático de altura e Contour Master, que controla a de inclinação lateral da plataforma. O projeto de desenvolvimento desta plataforma que utiliza barra de corte flexível permite o aproveitamento total da colheita em solos de topografia acidentada, uma vez que sua amplitude de flexibilidade chega a 19cm. A engenharia de fábrica substituiu o tradicional sem-fim de alimentação, pela utilização de quatro correias laterais e uma central Draper, com isso, segundo informações provenientes de testes desenvolvidos pelo fabricante, aumentou-se em 10% a alimentação, quando comparada a utilização de plataforma com o sistema caracol. O sistema Draper conduz o material colhido até o tambor de alimentação, que possui 40,6cm de diâmetro com suas extre-

A plataforma que vem com a S680 é do tipo Draper, que substitui o tradicional sem-fim por quatro correias laterais e uma correia central, que possibilitam colher em velocidade maior. Sob a plataforma, detalhe dos Sensores Auxiliares de Altura para colheita em modo rígido, que são amplamente utilizados na região para colheita de trigo, aveia e outros grãos finos

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Fotos Charles Echer

midades cônicas e dedos coletores retráteis. Este tambor permite a alimentação de forma contínua e, quando acionado o sistema de reversão do alimentador da colhedora, este gira inversamente com a correia central e o molinete. O alimentador do cilindro possui capacidade de suportar altas cargas. Isso se deu pela utilização do sistema de estrutura central pivotante, que possibilitou o aumento na ordem de 15% na capacidade de alimentação da colhedora. Sua largura é de 139cm e seu comprimento de 173cm, possui coletor de pedras basculante e o acionamento do reversor de alimentação se dá de forma eletro-hidráulica, diretamente do posto do operador. Com um cilindro hidráulico de 90mm de diâmetro, a capacidade de levantamento da plataforma chega a 5.100kg. Segundo informações técnicas, a vida útil da esteira alimentadora passou de estimadas 600 horas para aproximadamente 1.200 horas, quando comparada com os modelos utilizados nas colhedoras STS, destacando ainda que, por possuir ponto único de acoplamento, o tempo necessário para a operação de acoplamento diminui até quatro vezes. Em relação aos demais modelos vendidos no mercado há uma novidade muito positiva, que é o conector único de união entre a máquina e sua plataforma, que além de estabelecer a conexão hidráulica e elétrica, trava a plataforma em um único dispositivo.

lador Isochronous, utilizado para manter a rotação de todo o sistema de trilha e limpeza constante. Este controlador permite que os sistemas não variem a rotação, sendo que somente irá ocorrer redução se a rotação do motor cair de 2.100rpm. O rotor é dividido em três seções com diâmetros distintos, que permitem que o material sofra processos de compressão e expansão, facilitando assim a separação. Na primeira seção ocorre a entrada do material no sistema de trilha por um compartimento localizado à frente do rotor, promovendo uma alimentação uniforme e suave. Na segunda parte do rotor ocorre a trilha, onde é possível variar a distância entre o côncavo e o rotor de trilha, dependendo do fluxo de massa e do tipo de cultura. É nessa parte do rotor que ocorre a única substituição de um componente em função da cultura. Para isso, existem quatro tipos de côncavos, a versão côncavo de arames finos, recomendada para trigo e grãos finos; côncavo de arames grossos, para sorgo e girassol; a versão stan-

dard ou de barras, recomendada para soja e milho; e a versão arrozeira, disponível apenas para as colhedoras S540, S550 e S660. Na terceira seção do rotor ocorre a separação dos grãos que permanecerem junto ao material. Essa máquina vem com um novo sistema de limpeza “DF3”, onde a peneira autonivelante foi substituída por peneiras com área 30% maior na superior e 19% maior na inferior. Também ocorreu um redimensionamento do sistema de ar e acréscimo na velocidade de rotação do ventilador, em torno de 100rpm em relação às colhedoras STS. Isso permite um aumento significativo no rendimento de limpeza de grãos, resultando em uma colheita mais eficiente. O sistema de retrilha nesta máquina é independente, permitindo a operação com retorno no sistema de limpeza e não no rotor, possibilitando, desta forma, melhor separação do material colhido. Segundo os representantes da John Deere, a utilização do espalhador de palha

MECANISMO de TRILHA, SEPARAÇÃO E LIMPEZA

A colhedora S680 possui o sistema de trilha e separação realizado em um único rotor, que é o mesmo utilizado nas anteriores colhedoras STS. Este sistema possui uma nova seção cônica da cobertura do rotor, que suaviza a transição entre as seções e reduz a força requerida para mover o material que está sendo trilhado. A colhedora testada possui um regulador de potência, o contro-

O motor da S680 tem 480cv e é dotado de um sistema de fornecimento de potência extra que é acionado automaticamente e possibilita chegar a 540cv quando a máquina está colhendo e descarregando ao mesmo tempo

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Fotos Charles Echer

do a demanda de força for grande como, por exemplo, ao vencer as ondulações da topografia, a marcha será trocada automaticamente (com acionamento hidráulico), não havendo a necessidade da parada da colhedora para redução de marchas.

ERGONOMIA E SEGURANÇA na CABINE

A escada de acesso à cabine bascula para frente quando a máquina está em movimento e possui seis degraus antiderrapantes com proteção na parte traseira para evitar acidentes

e resíduos acontece quando se adotam plataformas maiores que 30 pés. A colhedora testada estava equipada com difusor traseiro de resíduos, que consiste em um sistema de discos rotativos de acionamento hidráulico e que permite aos operadores efetuarem o gerenciamento dos resíduos da colheita através de controles de dentro da cabine. Também é possível fazer o controle da rotação de acionamento individual dos discos, trocar o sentido de rotação ao se realizar manobras de cabeceira e troca de sentido de corte, para que não seja depositada palha sobre a área a ser colhida.

MOTOR E TRANSMISSÃO

O motor utilizado nesta colhedora tem

um volume de 13,5 litros com potência nominal de 480cv. No entanto, este modelo de máquina possui um sistema de fornecimento de potência extra (Booster), que passa a ser acionado automaticamente quando se utiliza o tubo de descarga da máquina em operação. Neste caso, o motor desenvolve até 540cv pelo período de descarga, evitando que os demais componentes trabalhem com menos potência que na condição normal. A colhedora que avaliamos é de origem norteamericana, diferindo da brasileira somente quanto ao motor utilizado, mantendo as especificações de potência. A transmissão desta máquina é do tipo Pro Drive, automática, por meio de pacote de discos, com duas gamas sendo que, quan-

Ao realizar o teste, observamos que a colhedora S680 atende aos requisitos de segurança e ergonomia descritos na Normativa Regulamentadora Nº 12 (NR-12) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Segundo os representantes da fábrica, todas as máquinas agrícolas produzidas pela John Deere após o ano de 2012 estão de acordo com esta normativa. Esta é uma das tarefas da engenharia brasileira, pois as normas norte-americanas são diferentes e, portanto, se exige um trabalho de engenharia para deixar a máquina conforme a normativa nacional. O acesso ao posto de condução se dá por meio de uma escada escamoteável com seis degraus, posicionada ao lado esquerdo da máquina, que leva o operador a uma plataforma. Por medida de segurança, os degraus possuem um escudo na parte traseira e são antiderrapantes. Ao final da escada, uma pequena plataforma, com correntes de proteção e pega-mãos bem posicionados, conduz o operador à cabine, restringindo o acesso de pessoas durante a operação, para, assim, evitar acidentes de trabalho. No que se refere à cabine utilizada na série S, o projeto foi desenvolvido com design ergonômico para ser utilizado em colhedoras de grãos, algodão, cana-de-açúcar e forrageiras. A cabine é colocada em posição central avançada, chamando atenção por ser aproximadamente 30% maior que as cabines utilizadas nas colhedoras STS série 70. O sistema de ar-condicionado é eficiente e no interior da cabine há um compartimento

Pela parte traseira da máquina, através do deslocamento de uma das laterais, é possível baixar uma escada e acessar o motor, filtros, ventiladores, depósito principal de grãos e depósitos de óleo dos componentes hidráulicos

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O difusor de palha pode ser controlado totalmente da cabine, desde sua posição até a direção do giro

As peneiras autonivelantes das versões anteriores foram substituídas por peneiras com área 30% maior na superior e 19% maior na inferior

refrigerado (frigobar) com capacidade de 37 litros localizado abaixo ao assento do instrutor. O assento do operador possui quatro tipos de regulagens, incluindo suspensão a ar e ajuste lombar. A visão do operador é ampla, pois a cabine utiliza maior área envidraçada e colunas laterais estreitas quando comparada com as convencionais utilizadas nas colhedoras STS. Durante o teste não utilizamos a iluminação, mas observamos que existe vasto sistema de iluminação com faróis de trabalho e transporte, como determina a norma. Segundo o fabricante, o nível de pressão sonora no interior da cabine reduziu com o desenvolvimento deste projeto. Os dispositivos GreenStar3 (GS3) CommandCenter, display da coluna lateral PDU (Unidade de Display Primário) e alavanca multifunção permitem o controle de todas as operações de colheita no interior da cabine, realizando-as predominantemente

com a mão direita. Os controles do console CommandTouch são intuitivos, sendo que funções como ajustamento de colheita, controle de transmissão, luzes, rádio e arcondicionado são acionadas através de teclas de atalho no painel. Segundo informações técnicas, a facilidade de uso e o maior controle da operação de colheita foram as principais áreas de foco no desenvolvimento da nova cabine.

AP E MONITORES E COMANDOS

Como é comum nos produtos de colheita John Deere, o sistema de agricultura de precisão está presente integralmente. O grande diferencial dessa colhedora está na preocupação com o conforto e a segurança dos operadores, pois os controles estão ergonomicamente posicionados, portanto, fáceis de utilizar. Na alavanca multifunção estão os principais comandos utilizados durante a operação, como os da plataforma,

tubo descarregador e para deslocamento da colhedora. A colhedora possui sensor de massa e umidade, direcionamento para deslocamento (autotrac), mapa de produtividade, monitor para utilização da agricultura de precisão. O monitor GS2630 vem em todos os modelos, montado no apoia-braço do banco do operador, além do monitor GreenStar3, que permite ajustar e observar as funções da máquina, como orientação e produtividade. A máquina possui também o sistema Harvest Smart conhecido como colheita inteligente. Este é um sistema interativo de ajuste da colheita onde o mesmo escolhe a melhor velocidade, a fim de manter um fluxo constante de material processado pela colhedora. A máquina também conta com o sistema ICA (ajuste interativo da colhedora), que permite ao operador selecionar uma prioridade, como perdas de grãos, qualidade dos grãos colhidos ou ainda qualidade do resíduo, baseado na escolha do critério que se deseja melhorar na colhedora. Assim, o sistema irá recomendar o melhor ajuste, sendo que este item foi desenvolvido pensando nos mercados europeu, brasileiro e americano. Segundo o coordenador da

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Fotos Charles Echer

pela Anatel para que o sistema funcione integralmente.

TESTE

Os discos difusores de palhas podem ter seu ângulo alterado, possibilitando diferentes formas de distribuição dos resíduos, de acordo com o tipo de cultura colhida

propriedade onde testamos a máquina, a utilização destes itens é de suma importância para aumentar o rendimento operacional, tanto que, após testar o piloto automático desta máquina, adquiriu este sistema para as demais colhedoras e os tratores que possui na propriedade. Ele também relatou que esta tecnologia é altamente rentável, estimando seus ganhos diários de capacidade de trabalho em aproximadamente 5% devido ao seu uso. Esse modelo também pode contar com o sistema JDLink, que monitora a operação,

possibilitando, através de sinal telefônico, transmitir as informações para o produtor, concessionário ou até mesmo a fábrica. As informações estão relacionadas à produtividade da área, a perdas durante a colheita, à necessidade de manutenção e aos desgastes de peças. Além disso, este sistema permite a segurança da máquina quando ela estiver fora da área de trabalho, sendo que, em caso de roubo ou deslocamento da mesma indevidamente, o produtor ou preposto recebe esta informação. A John Deere ainda está esperando a homologação do sinal

Os comandos e monitores estão todos posicionados na lateral direita do operador, permitindo que as principais funções da máquina sejam realizadas com a mão direita, de forma simples e sem esforços

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Os testes de campo que fizemos com esta máquina foram em condições operacionais de colheita da aveia, em campo suavemente ondulado. Utilizamos as regulagens previamente estabelecidas pelos responsáveis da propriedade e pela equipe técnica do fabricante. Em função da complexidade do teste, não foram feitas variações de regulagens. A máquina testada em excelentes condições de conservação e limpeza estava com 785 horas de motor e 534 horas do sistema de trilha. Analisando-se sobre o ponto de vista de eficiência, verifica-se em torno de 68%. Durante e ao final do teste comentávamos da alegria da equipe em testar um modelo de máquina com tantos atributos positivos e com tantos itens tecnológicos. Ficamos bastante impressionados pelo desempenho e principalmente pela inserção da máquina no sistema produtivo do agricultor, que detém tecnologia e condições de campo, que, se não são as melhores em termos de terreno, possuem extensão para justificar a aquisição de uma máquina desta classe. Imaginamos que este equipamento, em terreno que proporcione melhores condições operacionais, como em várias regiões do Brasil, como Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, Bahia e outros estados de fronteira agrícola, poderá demonstrar toda a sua eficiência. No nosso teste, pela dimensão do grão que estava sendo colhido, optou-se por fechar completamente o côncavo e reduzir o fluxo de ar utilizando-se uma rotação de 810rpm no ventilador. As peneiras do sistema de limpeza foram colocadas na posição 11 para a peneira superior e 8 na inferior. O cilindro de trilha da máquina foi regulado para trabalhar a 1.030rpm e o motor a 2.100rpm. Escolhemos para a maioria dos trabalhos uma velocidade de deslocamento que variou entre 5,8km/h e 6km/h. Embora estivéssemos trabalhando em uma operação de colheita real, a condição da palha não era a mais indicada, pois havia sido dessecada apenas dez dias antes do teste, estando ainda um pouco rígida. O operador da máquina avaliada, Paulo Roberto Padilha, comentou que trabalha na empresa há dez anos e que antes de operar a S680, operou a JD 1550, bem como a 9750 STS e ressalta a qualidade da cabine utilizada na série S, a qual oferece mais conforto. Ele também comenta que pelas situações de área, dimensão e topografia, a utilização da tecnologia disponível pela mesma está próxima a 80% e que em relação aos demais modelos os quais já operou, há diferenças no


sistema de regulagem da colhedora S680. Nas regulagens, Paulo comenta ainda que a série S trabalha com menor rotação do cilindro e que há possibilidade de melhor regulagem do côncavo conforme o horário de colheita e o material colhido. Para ele, outro item que pode ser destacado é o consumo de combustível médio desta máquina, que é de 11,5 litros por hectare. Disse estar muito satisfeito por operar esta máquina e que ao final do dia chega a colher em torno de 80 hectares de trigo e 76 hectares de soja, mesmo nas condições de terreno da região, que demandam várias e seguidas manobras. Entre as dificuldades enfrentadas com a

Ventilador pode ser basculado, permitindo o acesso aos radiadores na parte superior da máquina

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LOCAL DO TESTE E CONCESSIONÁRIO

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ara realização desse teste contamos com o apoio da concessionária SLC Comercial. Fundada em 1964 e representando a marca John Deere desde 1996, quando a empresa norte-americana adquiriu percentual da fábrica SLC. Atualmente a revenda tem sua matriz em Horizontina e possui seis filiais, em Santo Ângelo, Ijuí, Cruz Alta e Tupanciretã, ainda existem as lojas Express em Três Passos e Ibirubá. Toda sua rede de lojas abrange 67 municípios da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Auxiliando-nos nesse teste estavam os representantes da concessionária SLC Comercial, Christian Jones Radunz e Ravel Feron Dagios, e representando a John Deere, Rodrigo Marin e Fabio Silva Schavinski, analistas de marketing, e Bruno Bertoldo Moro, da engenharia. A operação de colheita foi a cargo do funcionário da fazenda, Paulo

Padilha, que há dois anos trabalha como operador da colhedora S680. O test drive da Colhedora S680 foi realizado na localidade de Santa Tecla, distrito do munícipio de Tupanciretã (RS), na Sementes Ceolin, de propriedade do Senhor Duilio Ceolin e família. Nela são cultivados aproximadamente 6.000ha, sendo em sua totalidade utilizados com soja no verão, na safra de inverno são utilizados 2.400ha com trigo e 1.300ha com aveia, e o restante com pastagens. O empresário Duilio Ceolin, em suas propriedades rurais, possui 100% da frota de máquinas agrícolas da marca John Deere, sendo que na propriedade em que visitamos, a frota de colhedoras é composta por duas S680, uma STS 9570, uma STS 9770 e quatro STS 9750. A colhedora que testamos foi adquirida no ano de 2012.

Fotos Charles Echer

Para realizar o teste, a equipe do Nema da UFSM contou com o apoio de profissionais de engenharia e marketing da John Deere, da concessionária SLC, além de funcionários da Sementes Ceolin

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colhedora, ele destaca que, pelo fato de as condições de terreno não serem as mais indicadas para máquinas deste tamanho, há necessidade de mais cuidado para transporte e operação.

PESOS E DIMENSÕES, RODADOS

Quanto aos pneus utilizados pela colhedora S680, verifica-se que há uma única opção recomendada pelo fabricante, a qual é a maior disponível para colhedoras no mercado brasileiro. No Brasil, esta máquina é desenvolvida para utilizar rodados duplos no eixo dianteiro, porém, na agricultura norte-americana este modelo também utiliza rodado simples, o que pode ser a opção de alguns clientes brasileiros. Os pneus radiais que equipavam a máquina que testamos eram da marca Firestone do tipo R1-W. No eixo dianteiro estava configurada com rodado duplo na medida 650/85R-38, já os pneus do rodado traseiro diretriz, na medida 750/65R-26. No eixo traseiro ainda há a possibilidade de acoplar o “carrinho” para transporte da plataforma. A largura desta colhedora com rodado duplo sem a plataforma é de 5,49m, já o comprimento com tubo de descarga, sem plataforma, é de 12,08m, e sua altura para transporte é de 4,47m, o que lhe confere um peso de 21.037kg. O depósito de grãos possui capacidade de 14.100 litros, sendo que a dimensão do tubo de descarga é de 7,90m e a velocidade de descarga de 135 litros por segundo, verificando-se que a descarga do depósito ocorreu em menos de .M dois minutos. José Fernando Schlosser, Alfran Tellechea Martini e Juan Paulo Barbieri, Nema/UFSM



TRATORES Fotos Jorge Wilson Cortez

Para não compactar Seis diferentes sistemas de preparo de solo foram testados para descobrir qual deles é o que mais compacta e qual o sistema menos agressivo ao solo

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N

o processo de exploração agrícola existe a preocupação com o uso correto dos sistemas de preparo do solo. Com o uso constante dos maquinários agrícolas nas áreas produtoras e o recente aumento do tamanho destes, aliado ao não acompanhamento da largura dos pneus, o solo tem recebido uma carga considerável de pressão que pode resultar em processo de degradação de sua qualidade. Esta redução de qualidade se reflete, principalmente, em características físicas do solo, como o aparecimento de camadas compactadas, sobretudo se durante as operações mecanizadas não se leva em consideração a umidade do solo. Os sistemas de preparo do solo têm como objetivo básico fornecer um ambiente favorável ao desenvolvimento das sementes. No entanto, alguns destes sistemas têm mostrado seus efeitos negativos, ao longo do tempo, no processo de desenvolvimento e produção das culturas. Dentre os sistemas de preparo mais utilizados estão: convencional, reduzido, conservacionista e plantio direto. O sistema de preparo convencional, tradicionalmente, utiliza uma aração seguida de gradagens para destorroamento e nivelamento. O sistema de preparo reduzido caracteriza-se pela diminuição do número de operações na área, resultando em menor número de passagens de máquina, podendo ser caracterizado por uma única passagem de grade, em algumas situações o uso de escarificadores é considerado como reduzido, ou mínimo. O sistema conservacionista caracteriza-se por manter a cobertura vegetal do solo, pelo menos 30% após as operações de preparo, sendo isso, normalmente, conseguido quando se usam escarificadores, dotados de disco de corte para palha e rolo destorroador. Para fins de entendimento, os termos escarificação e subsolagem são utilizados neste artigo, considerando que até a profundidade de 0,40m realiza-se a escarificação e, abaixo de 0,40m realiza-se a subsolagem. O sistema plantio direto, onde não ocorre revolvimento do solo em área total, prevê a semeadura sobre os restos culturais. Tais restos culturais têm por finalidade a proteção do solo e, para isso, utilizam-se semeadoras-adubadoras com disco de corte para palha e haste sulcadora (botinha) para o preparo do solo apenas na fileira de semeadura. No sistema plantio direto, o uso inadequado de rotação de culturas, aliado à falta de adequação da massa e dos pneus do maquinário, tem causado o surgimento de camadas compactadas, com o passar dos anos. Desse modo, os produtores têm utilizado equipamentos com hastes para


Plantio direto escarificado cruzado

Preparo convencional

Preparo convencional

Plantio direto

Plantio direto

Plantio direto escarificado

Nas parcelas experimentais foram estudados e comparados sistemas de manejo como: plantio direto, plantio direto escarificado, plantio direto escarificado cruzado, preparo convencional, preparo reduzido e preparo conservacionista

de 0,15m (preparo convencional, reduzido e escarificado cruzado). Os tratamentos foram compostos por seis sistemas de manejo: plantio direto (PD), plantio direto escarificado (PDe), plantio direto escarificado cruzado (PDec), preparo convencional (PC), preparo reduzido (PR) e preparo conservacionista (PCs). Nesse estudo, o sistema plantio direto utilizou a sucessão de culturas com soja no verão e milho safrinha no inverno, como mobilização no verão e nenhum tipo de mobilização do solo na semeadura de inverno. O plantio direto escarificado (PDe) recebeu apenas uma operação de escarificação. O plantio direto escarificado cruzado (PDec) recebeu duas escarificações e uma gradagem niveladora para quebrar torrões e nivelar o solo. O preparo convencional (PC) recebeu uma aração e quatro gradagens destorroadoras-niveladoras. O preparo reduzido (PR) recebeu apenas uma gradagem destorroadora-niveladora. O preparo conservacionista (PCs) foi uma operação de escarificação e uma gradagem destorroadora-niveladora. Com a finalidade de caracterizar o teor

de água no solo coletaram-se amostras de modo aleatório nas parcelas. Na Figura 1 é apresentado o teor de água no solo no momento da coleta de dados de resistência mecânica do solo à penetração. Também foram coletados dados da resistência mecânica do solo à penetração (RP) com o uso de um penetrômetro de impacto modelo IAA/Planalsucar-Stolf, desenvolvido por Stolf et al (1983), adaptado pela Kamaq com colocação de régua para medição (Stolf et al, 2011) até a profundidade de 0,55m, na safra de soja. Com o objetivo de identificação de zonas de maior resistência no perfil após o tráfego, utilizou-se uma malha de coleta de 0,225m de largura x 0,10m de profundidade dentro da faixa de tráfego (sete linhas da semeadora de soja). A semeadora-adubadora, com sete linhas de semeadura espaçadas de 0,45m, fez a deposição de sementes de soja em cada sistema de preparo. Os dados médios da resistência à penetração - compactação (Figura 2) indicam que o sistema com preparo convencional (PC) apresentou maior valor quando comparado aos demais. Sistemas que utilizam hastes sulcadoras (escarificadores), como

Charles Echer

remoção das camadas compactadas, visando melhorar as características físicas do solo. Dessa forma, o estudo de sistemas de manejo como plantio direto, plantio direto escarificado, plantio direto escarificado cruzado, preparo convencional, preparo reduzido e preparo conservacionista, pode ajudar os produtores a definir qual o melhor sistema para sua área, principalmente em relação ao processo de compactação do solo. Com esse objetivo, foi conduzido na Faeca – Fazenda Experimental de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) no município de Dourados (MS), um estudo sobre a influência de sistemas de preparo do solo no processo de compactação em Latossolo Vermelho distroférrico textura argilosa (62,23% de argila, 20,43% de silte, 17,34% de areia). A área experimental foi conduzida por mais de dez anos com sistema plantio direto, porém, antes da instalação deste experimento, esta foi preparada com arado de discos (0,30m de profundidade), seguida de gradagem destorroadora-niveladora (0,15m de profundidade), seguida de subsolagem com equipamento de cinco hastes (0,50m de profundidade) e nova gradagemdestorroadora-niveladora (0,15m de profundidade). Tal preparo tinha por função a eliminação de problemas físicos do solo e o nivelamento do terreno. Para estabelecer uma cultura de cobertura, foi semeada a aveia (60 sementes por metro a 0,04m de profundidade em espaçamento de 0,20m entre linhas) que, posteriormente, foi dessecada e manejada com triturador de palhas para implantação deste experimento. No preparo das parcelas dos sistemas de preparo do solo, após trituração da aveia, foram utilizados escarificador de cinco hastes, com ponteira estreita de 0,08m a 0,40m de profundidade (tratamentos com escarificação); arado de aivecas recortadas com 0,40m de profundidade (preparo convencional); grade destorroadora-niveladora, tipo off-set, de arrasto, com 20 discos de 0,51m de diâmetro (20”), na profundidade

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Figura 1 - Umidade do solo (%) nos sistemas de manejo. Plantio direto (PD); plantio direto escarificado (PDe); plantio direto escarificado cruzado (PDec); preparo convencional (PC); preparo reduzido (PR) e preparo conservacionista (PCs)

convencional são momentâneos e que, após os primeiros tráfegos na área os valores de resistência aumentaram, superando, inclusive, os valores dos sistemas sem mobilização ou com mobilização mínima. Os dados de resistência foram verificados no perfil do solo por meio de uma malha de coleta com largura máxima igual à largura da semeadora, até a profundidade de 0,60m. Os dados desta coleta foram analisados pela geoestatística e verificou-se o ajuste do semi-

Jorge Wilson Cortez

plantio direto escarificado, plantio direto escarificado cruzado e preparo conservacionista, apresentaram os menores valores de resistência, mostrando o efeito benéfico do uso destes equipamentos na remoção de camadas compactadas. Os sistemas plantio direto e preparo reduzido apresentaram valores de compactação muito próximos ao preparo convencional. É possível perceber que os efeitos da aração e da gradagem do preparo

Figura 2 - Resistência à penetração (MPa) nos sistemas de manejo. Plantio direto (PD); plantio direto escarificado (PDe); plantio direto escarificado cruzado (PDec); preparo convencional (PC); preparo reduzido (PR) e preparo conservacionista (PCs)

Alguns dos sistemas de preparo têm mostrado seus efeitos negativos, ao longo do tempo, no processo de desenvolvimento e produção das culturas

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variograma esférico, com alcance variando de 33,2cm a 69,9cm, para todos os sistemas de manejo. A dependência espacial foi considerada como forte para todos os sistemas de manejo. A validação cruzada apresentou um bom coeficiente de determinação para todos os sistemas de manejo, a exceção do sistema plantio direto. Os mapas do perfil do solo para cada sistema indicaram o efeito dos manejos sobre o processo de compactação. Isto indica que os sistemas de manejo do solo resultam em diversos níveis de compactação do solo. Segundo Ribeiro (2010), ao compilar trabalhos sobre RP em Latossolo Vermelho eutroférrico típico, os valores dos níveis de resistência à penetração podem ser classificados como: baixo (0 a 2MPa); médio (2 a 4MPa); alto (4 a 6MPa) e muito alto (acima de 6MPa). De acordo com os mapas de isolinhas da compactação (MPa) para os sistemas de manejo (Figura 3), o sistema plantio direto (PD) apresentou valores de resistência (compactação) considerados altos (4MPa a 6MPa – faixa amarela) na camada de 0,05m0,35m. Por outro lado, os sistemas plantio direto escarificado (PDe) e plantio direto escarificado cruzado (e PDec) apresentaram valores altos apenas abaixo da camada de 0,40m, evidenciando a ação de escarificação como eficaz na remoção de camadas compactadas, podendo ser uma recomendação de uso para sistema de plantio direto que apresente camadas compactadas. Verificase que no sistema plantio direto ocorre a concentração da compactação na camada de 0,05m-0,35m, indicando que deve ser realizada subsolagem na profundidade de até 0,45m. Neste caso, é indicado o acréscimo de 0,10m como margem de segurança para a remoção da camada compactada. O preparo conservacionista (PCs), por realizar, também, a operação de escarificação com uma gradagem, apresentou valores altos de resistência à penetração abaixo da


camada de 0,35m. Nota-se, neste sistema, que a espessura da camada com resistência média (2MPa a 4MPa) é maior em relação ao plantio convencional. Este último sofre os efeitos da gradagem niveladora e da compressão ocasionada pelo tráfego e pela ação dos discos da grade, e apresentou em toda a extensão do perfil valores altos de compactação (4MPa a 6MPa).O preparo reduzido apresentou valores altos de compactação (4MPa a 6MPa) abaixo da camada de 0,15m. Observa-se nos mapas do sistema plantio direto escarificado e do sistema plantio direto escarificado cruzado (Figura 3) que estes não apresentaram diferenças entre si nos valores e nas camadas. Isto pode ser um indicativo de que, do ponto de vista da qualidade do solo, uma segunda operação de escarificação não é necessária. Além disso, há incremento do custo da operação e do tempo gasto para esta nova operação. Portanto, pode-se dizer, como indicativo de manejo nas áreas agrícolas, que o uso da escarificação em plantio direto é benéfico por reduzir a compactação normalmente existente entre as camadas de 0,05m-0,35m e que uma segunda operação de escarificação não é necessária, pois os resultados indicam não haver diferença entre o uso de uma e duas intervenções. O uso do preparo convencional (aração e gradagem) e os seus benefícios são pouco expressivos, pois após alguns meses os valores de compactação voltam a ocorrer na área. O uso dos sistemas com o mínimo revolvimento como o preparo reduzido utilizando grade faz com que abaixo da camada de 0,15m se concentrem os maiores valores de compactação, aumentado a espessura da camada compactada. .M Jorge Wilson Cortez, Paulo Henrique N. de Souza, Maurício Viero Rufino, Renan Miranda Viero e Eduardo de Freitas Rodrigues, UFGD Nelci Olszevski, Univasf

Figura 3 - Mapas de isolinhas da compactação (MPa) para os sistemas de manejo. Plantio direto (PD); plantio direto escarificado (PDe); plantio direto escarificado cruzado (PDec); preparo convencional (PC); preparo reduzido (PR) e preparo conservacionista (PCs)


PULVERIZAÇÃO

Baixo volume, alta complexidade Aplicações de defensivos utilizando a técnica do baixo volume somente terão ótimos resultados se houver sinergismo entre todos os fatores que envolvem a aplicação, o que acaba se tornando um grande desafio para os operadores

N

o contexto da agricultura contemporânea, a redução dos custos operacionais vem cada vez sendo mais importante dentro do processo de produção de grãos. Uma das operações mais importantes dentro dos tratos culturais é a pulverização de produtos fitossanitários. Na cultura da soja, esta operação representa de 25% a 30% do custo de produção e é justamente nesta cultura onde se concentram os esforços para aprimorar as técnicas de pulverização com objetivo de atingir o alvo de forma correta e com diminuição de custos operacionais. No Brasil, a técnica do baixo volume terrestre vem sendo adotada em grande escala desde os últimos cinco anos, já países como Argentina, Bolívia e Paraguai adotaram a técnica do baixo volume com maior antecedência utilizando pulverizadores de barra convencionais e pontas de pulverização de energia hidráulica (convencionais). A terminologia de “baixo volume” na aplicação terrestre é muito relativa e ainda não

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é possível encontrar na literatura e de forma específica as taxas de aplicação que se enquadram nesta categoria. Para algumas pessoas, baixo volume significa taxas de aplicação menores que 80L/ha, para outras, taxas menores que 50L/ha e para a realidade de alguns países taxas menores que 20L/ha, neste caso alguns autores até utilizam a terminologia de “ultrabaixo volume”. Qualquer que seja o volume aplicado, ao utilizar o termo baixo volume, é indicativo que houve uma redução na taxa de aplicação. Essa redução na taxa de aplicação com certeza traz vantagens operacionais que refletem na redução dos custos, porém, a técnica de redução de volume de aplicação deve ser levada muito a sério e com muito critério e profissionalismo, pois além de vantagens apresenta riscos. Diante disso, o volume de aplicação que deve ser procurado é o “ótimo volume”, aquele que, em conjunto com o tamanho de gota certa, adequação de calda e aplicação de conhecimento, proporcionará a cobertura adequada para controlar o alvo desejado.

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Existem muitos casos onde o aplicador procura um volume “x” de aplicação, seja por influência de colegas de profissão, palestras focadas em pulverização etc. Nestes casos há um risco muito grande de aplicar baixos volumes devido a que um “x” volume de aplicação não pode ser considerado “ótimo” sem antes avaliar a chegada das gotas no alvo e conhecer o efeito das condições climáticas sobre as gotas no percurso da saída da ponta de pulverização até a deposição e absorção total pela planta ou inseto-praga. Para isso, é indispensável a utilização de papéis hidrossensíveis que irão mostrar se houve ou não cobertura necessária. Independente da aplicação, a utilização do papel hidrossensível é muito importante, pois é a ferramenta que ajuda a definir o “ótimo volume” na tomada de decisão.

FATORES OPERACIONAIS

A técnica do baixo volume envolve diversos fatores que podem ser determinantes para o sucesso ou não da aplicação. Ao trabalhar com volumes mais baixos de calda os riscos


Case IH

Teejet

Figura 1 - Modelos de pontas de pulverização utilizadas para aplicações em baixo volume. Turbo TeeJet (TT) TXA XR

do ingrediente ativo por causa dos cátions presentes nas águas consideradas duras, ou seja, com alto teor de Ca2+ e Mg2+. Além disso, ao utilizar volumes de água menores, a concentração do ingrediente ativo na calda aumenta. Isto é um ponto benéfico e que em alguns casos proporciona controle do alvo de forma mais rápida. O ponto negativo é o risco de incompatibilidade entre os produtos fitossanitários. Ao utilizar concentrações maiores o risco aumenta, é por este motivo que é muito importante conhecer com detalhe o efeito da mistura que será realizada. Para evitar problemas com incompatibilidades recomenda-se fazer pré-misturas para estudar a compatibilidade na concentração que será utilizada em função do baixo volume de aplicação.

APLICAÇÃO

aumentam, mas, por outro lado, baixos volumes podem resultar em aplicações melhores, sempre e quando sejam realizadas com muito profissionalismo. Os fatores que devem ser levados em consideração são a qualidade da calda e a aplicação.

CALDA

A calda e o seu preparo são fatores importantes que devem ser levados em consideração, pois pulverizar baixos volumes de aplicação significa menor quantidade de água por hectare. O ponto positivo de utilizar menos água é a diminuição do risco de perda da molécula

No processo da aplicação existem muitos fatores que podem levar ao sucesso ou não de um tratamento fitossanitário. Um desses fatores é a cobertura do alvo que está diretamente relacionada a fatores de espalhamento, taxa de recuperação, superfície vegetal no hectare, volume de aplicação e tamanho de gota. O volume de aplicação é determinante no aumento ou redução da cobertura, porém, não é o fator principal para obter a cobertura desejada mesmo em condições diferentes de superfície vegetal no hectare. No baixo volume, pelo fato de reduzir a quantidade de calda que será aplicada por hectare, existe redução na porcentagem de cobertura. Na técnica do baixo volume, para manter uma cobertura adequada ou necessária para o sucesso do

controle do alvo, é preciso utilizar tamanhos de gota adequados, ou seja, com classificação entre fina a média. Porém, a classificação do tamanho de gota não é o suficiente, é preciso utilizar pontas de pulverização que, além de produzir esse tamanho de gota, sejam capazes de produzir gotas uniformes. Existem algumas opções de pontas de pulverização com estas características na formação das gotas, sendo em cone vazio (TXA), jato plano defletor (TT), até mesmo jato plano comum (XR). Cada modelo com suas características particulares (Figura 1). A escolha por qual modelo de ponta utilizar para determinada aplicação dentro do contexto do baixo volume vai depender da técnica que será utilizada e da menor capacidade em litros por minuto disponível em cada modelo de ponta, porém, é importante levar em consideração que, ao utilizar baixos volumes (menores que 20L/ha) a vazão da ponta de pulverização precisa ser muito baixa, mesmo com velocidades de aplicação alta. Num exemplo hipotético, para aplicar 20L/ha a 25km/h com espaçamento entre bicos de 50cm é necessário uma ponta com vazão de 0,42L/min. Isto quer dizer que as opções disponíveis seriam as pontas TXA8001, TT11001 ou XR11001 na pressão de 3,4bar aproximadamente. Numa análise prática, dentro dos três modelos citados, devemos levar em consideração qual apresenta maior risco de entupimento e descartar esta opção, pois entupimentos causam falhas e atrasos operacionais. Por serem pontas de baixa vazão, o orifício é menor e o risco de entupimento aumenta. Assim, considerando o

Figura 2 - Cobertura obtida na dessecação com papéis posicionados no solo

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Fotos Rodrigo Roman

Figura 3 - Cobertura dos papéis posicionados no solo

modelo construtivo das mesmas, a ponta com maior risco de entupimento seria a XR11001. Por este motivo poderíamos apenas escolher entre TT11001 que apresenta seu interior em formato tubular, o que facilita a passagem do fluido com menor risco de entupimento, e/ou TXA8001, que é a ponta com menor risco de entupimento, por ser um cone vazio e apresentar uma construção interna que facilita a passagem do fluido mesmo com partículas que podem levar ao entupimento parcial ou total. Mesmo assim, sempre é recomendada a utilização adequada dos filtros, desde o principal, de linha e os de bico com finalidade de minimizar entupimentos. Após esta análise é preciso levar em consideração o tamanho da gota. Se a aplicação é de herbicidas o mais adequado é a utilização de uma ponta com transição da classificação de gotas entre médias e finas, neste caso a ponta Turbo Teejet é uma ótima opção. No exemplo a seguir, pode ser observado o resultado de uma aplicação de dessecação (glifosato + adjuvante) com a ponta Turbo TeeJet TT11001 na taxa de aplicação de 22L/ha com velocidade de deslocamento de 15km/h e espaçamento entre bicos de 70cm. A pressão de trabalho foi aproximadamente de 3bar, o que gerou gotas na classificação de “finas” (Figura 2), que geraram uma ótima cobertura de gotas concentradas. Outro ótimo exemplo de aplicações de sucesso com baixo volume na dessecação é utilizando a taxa de aplicação de 8L/ha. Nesta situação foram utilizados os ingredientes

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ativos glifosato, fluroxipir e um adjuvante. Dos 8L/ha, 4L eram de produto e 4L de água, isto mostra a alta concentração da calda, o que resultou numa rápida ação e controle. Os responsáveis por estas aplicações somente utilizam esta taxa de aplicação, pois contam com operadores treinados, usam pulverizadores com eletrônica embarcada adequada, respeitam e monitoram limites climáticos, além de utilizar pontas de pulverização de ótima qualidade, neste caso foram utilizadas as pontas TX-VS2. O resultado da cobertura é apresentado na Figura 3, na qual podem ser observadas gotas muito finas e concentradas. Alguns profissionais questionam a utili-

zação da ponta de jato cônico em aplicações com pulverizadores de barra e mais ainda para aplicação de herbicidas. O principal motivo do questionamento, além do risco de deriva, é que a teoria mostra a distribuição volumétrica da ponta de jato cônico desuniforme, o que não causaria uma aplicação adequada ao longo da barra. O que leva a essa conclusão é a análise de distribuição volumétrica em mesas coletoras e adequadas para essa finalidade, porém, a análise da distribuição volumétrica neste caso é realizada com o pulverizador parado ou de forma estática num laboratório. Na prática, nenhum pulverizador trabalha parado, e é por este motivo que o resultado observado na mesa de distribuição volumétrica em condições estáticas não se aplica à prática, pois nas aplicações a campo entram em jogo fatores vetoriais por causa do deslocamento da máquina e a energia cinética das gotas, fazendo com que a barra de pulverização forme uma cortina de aplicação, sempre e quando seja utilizada a adequada altura de barra. Neste contexto as pontas de jato cônico podem ser utilizadas sim em pulverizadores de barra, preferencialmente com baixos volumes, pois com volumes de aplicação convencional há outras opções com menor risco. No baixo volume os maiores cuidados devem ser em relação à deriva e sobreposição, pois pontas de jato cônico apresentam ângulo de 80°, isto requer uma atenção maior do operador em relação à altura de barra utilizada. Já para aplicações onde existe uma maior massa foliar da cultura, como por exemplo, aplicações de inseticida e fungicida na cultura da soja em final de ciclo, a melhor indicação seria a ponta TXA (jato cônico vazio), pois produz gotas finas a muito finas. Nestes casos é preciso de maior penetração das gotas no dossel e superar o efeito guarda-chuva criado pela superfície vegetal. Neste tipo de aplicação é muito importante adotar a técnica do “ótimo

Figura 4 - Cobertura dos terços inferior (acima) e médio (abaixo) da cultura da soja em estádio R3

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Teejet

condições noturnas. Outro risco muito alto na técnica do baixo volume é o operador do pulverizador. Existem muitos casos onde o técnico responsável pela aplicação tem conhecimentos sobre a técnica, calibra adequadamente a máquina, estipula o “ótimo volume” para a aplicação e ainda assim ocorreram falhas. Na maioria destes casos o único fator causador das falhas é o operador da máquina, que somente pelo fato de desviar das recomendações pelo responsável, causa grandes perdas de eficiência no processo da aplicação. Isto evidencia que a técnica do baixo volume somente terá ótimos resultados se houver sinergismo entre todos os fatores que envolvem a aplicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

volume” e verificar qual é o volume de aplicação adequado para atingir o baixeiro. Na Figura 4 são apresentados os ótimos resultados de uma aplicação de fungicida com adjuvante na cultura da soja em estágio R3 com volume de aplicação de 30L/ha em condições climáticas favoráveis. A velocidade de deslocamento da máquina foi de 15km/h com espaçamento entre bicos de 50cm e ponta de pulverização TXA8001 a 3bar, aproximadamente. É importante lembrar que apenas a chegada ao alvo não é suficiente, é preciso conhecer o tempo de vida da gota após a sua deposição, pois se trata de gotas finas e com maior suscetibilidade à evaporação. Em muitos casos a gota se deposita, mas evapora antes de penetrar no tecido da planta e isto reflete diretamente no controle.

RISCOS

Nas aplicações de produtos fitossanitários existem muitos riscos de perdas e contaminação, e nas aplicações com baixo volume esses riscos são ainda maiores, pois se trata de aplicações com gotas mais suscetíveis a perdas. Estas perdas podem ser por deriva (endoderiva e exoderiva), inversão térmica e evaporação. Neste caso a exoderiva, inversão térmica e a evaporação são os processos de perdas que merecem maior destaque, pois aplicações em baixo volume são feitas com gotas que podem ser perdidas por deriva ou evaporar tanto no processo de chegada ao alvo, como no processo de absorção. Por este motivo é muito importante levar em consideração a utilização de adjuvantes, como condicionares de calda e principalmente aqueles que protejam as gotas da evaporação e proporcionem o tempo de vida adequado para completar seu processo. Nas aplicações convencionais pode ser

utilizada a técnica de alteração do tamanho de gota em casos de condições climáticas desfavoráveis. Por exemplo, numa aplicação de fungicida onde são utilizadas gotas finas para obter boa penetração e cobertura, quando há condições adversas é possível alterar para uma ponta com gotas médias ou máximo grossas, neste caso é preciso aumentar a taxa de aplicação para não comprometer a cobertura. Já em aplicações com baixo volume, se houver alteração do tamanho da gota a cobertura fica muito comprometida, pelo qual, na maioria das situações os aplicadores optam por aplicar somente em condições ideais e não ultrapassando os limites máximos de temperatura (30°C) e vento (10km/h), assim como os limites mínimos de umidade relativa (50%) e vento (3km/h). Em muitos casos a aplicação noturna se torna uma ótima opção, sempre e quando o pulverizador esteja equipado com eletrônica embarcada adequada e um operador capaz de realizar a operação noturna, além de ter condições da cultura adequadas. Por exemplo, uma aplicação noturna de fungicida pode não ser tão eficaz quanto a diurna, pelo fato de as gotas terem maior dificuldade de atingir o terço inferior da cultura devido ao posicionamento das folhas. Já aplicações diversas de herbicida, assim como inseticida na cultura do milho, são favorecidas pelas

Detalhe do excelente controle obtido na aplicação de 8 litros por hectare

A técnica do baixo volume, considerando aplicações abaixo dos 40L/ha, assim como qualquer tipo de aplicação que envolva produtos fitossanitários, exige muita responsabilidade e profissionalismo. Ao reduzir o volume de aplicação, os riscos aumentam e é por este motivo que o baixo volume não é uma técnica que pode ser adotada de forma simples. É necessário contar com profissionais capacitados, pulverizadores em ótimo estado e com circuito de produto fitossanitário preparado para baixas vazões, pontas de pulverização de alta qualidade, monitoramento da chegada de gotas no alvo, monitoramento das condições climáticas, conhecimento da interação entre os produtos na calda e principalmente conhecer em detalhe os riscos que esta técnica apresenta. Por outro lado, uma vez dominados a técnica e os fatores que a envolvem, aplicações mais seguras e eficazes podem ser alcançadas. .M Rodrigo Alandia Roman, TeeJet Technologies

Rodrigo Roman explica a complexidade de aplicar com a técnica de baixo volume

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SEMEADORAS

Casal perfeito

Obter um “casamento perfeito” entre trator e semeadora não é simples. Variações entre os terrenos da propriedade, declividade, condições de umidade do solo, compactação e cobertura vegetal têm que ser consideradas na hora de escolher o trator e a semeadora que serão utilizados no plantio

A

s chuvas intensas dos últimos meses, coincidindo com épocas de semeadura e estabelecimento das lavouras e pastagens, causaram considerável preocupação pelo recrudescimento da erosão do solo. Problema de proporções colossais nas décadas de 60 e 70, acreditava-se resolvido com a adoção do Sistema Plantio Direto. O desenvolvimento de máquinas de semeadura capazes de implantar culturas sem a necessidade de preparo prévio do solo fez com que a superfície pudesse permanecer com cobertura de palha, fator primordial na quebra da energia da gota da chuva, e, portanto, do início do processo erosivo. O não revolvimento anual do solo, no entanto, conduziu a um aumento da resistência ao corte de discos e sulcadores para abertura do(s) sulco(s) para a deposição do fertilizante e da semente. Semeadoras convencionais tinham pouca massa e os discos e sulcadores não penetravam à profundidade desejada. Peso foi acrescentado às semeadoras e potência aos tratores para uma eficiente abertura de sulco. A adoção do “Sistema Plantio Direto” que prevê rotação cultural, manutenção de superfície coberta durante todo ano, manejo para aumentar a matéria orgânica do solo e, assim, permitir uma reestruturação do solo para uma boa absorção de água, foi muitas vezes reduzida apenas à semeadura na resteva da cultura anterior. Acreditando que apenas esta operação já fosse “plantio direto”, muitos proprietários rurais retiraram os terraços para facilitar a operação de máquinas de semeadura, pulverização e colheita.

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A simples adoção do sistema de semeadura direta, mesmo que com solo coberto e com rotação cultural, não significa que o solo esteja estruturado para a absorção da água das chuvas principalmente quando ocorre elevada precipitação em curto espaço de tempo. A porosidade do solo, existente em solos bem estruturados, necessita ser “construída” por práticas culturais que promovam um incremento no desenvolvimento de “canais” contínuos, que, além de permitirem rápida infiltração de água, também permitam boa aeração da camada ocupada pelas raízes. Culturas de famílias diferentes têm sistemas radiculares de hábito de crescimento diferenciados, explorando volumes de solo diferentes. Quando a planta entra em senescência, o sistema radicular é decomposto; se não houver mobilização do solo este dá origem a poros, que, juntamente com os bioporos formados pelos organismos que atuam nesta camada, permitem o desenvolvimento de uma estrutura. Um solo bem estruturado, com boa presença de macro e mesoporos, permite uma infiltração de água e um armazenamento da mesma para disponibilização às plantas da cultura seguinte. A formação da estrutura do solo, porém, não é um processo imediato, demandando tempo para ser consolidada. Na agricultura atual,

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tecnificada em maior ou menor escala, a presença do tráfego sobre o solo agrícola é constante, sejam tratores operando semeadoras, adubadoras, pulverizadores ou colhedoras e caminhões para a retirada do grão. Em condições normais de exploração, pouca atenção tem sido dada à compactação que advém desta pressão sobre o solo exercida pelo tráfego. A tendência das áreas atingidas pelos pneus é de resistirem à carga a elas aplicada. Quando a resistência não é suficiente, a estrutura colapsa, sendo traduzida como compactação do solo. Solos com maior compactação são mais resistentes ao corte, forçando a utilização das semeadoras com menor número de linhas (diminuição da largura útil) ou o seu uso em condições de solo mais úmido, cuja resistência ao corte é menor. E, tráfego sobre o solo com teor de água elevado é a maneira mais fácil de compactá-lo,


pois a água em excesso pode atuar como lubrificante entre as partículas sólidas. Toda esta situação contribui para uma perda no potencial de produção das culturas, independentemente da quantidade de insumos aplicada. Sem água, e no momento apropriado, não se atinge o pleno potencial produtivo. A semeadura é uma das operações mais importantes em todo o processo produtivo. Uma boa germinação depende de a semente ser colocada num ambiente de umidade adequada. Um ambiente mais úmido é mais facilmente obtido pela abertura de um sulco em uma profundidade em que o solo apresente umidade adequada. A semeadora deve posicionar a semente, cobri-la e firmar o solo à sua volta. O sulco permite a colocação da semente onde as condições de umidade são mais favoráveis do que as condições encontradas na superfície. Mais importante se torna em regiões onde altas taxas de evaporação secam a camada superficial muito rapidamente. A cobertura da semente e a compactação do solo à sua volta auxiliam a estabilizar tanto a temperatura como a umidade na imediata vizinhança

Fotos Charles Echer

Um solo bem estruturado permite infiltração de água e armazenamento da mesma para disponibilização às plantas da cultura seguinte

da semente em germinação e também a protege da ação de pássaros e formigas. É necessário que se diga que a ação do sistema sulcador de uma semeadora não se restringe apenas à ação de abertura do sulco e é por isso que se torna tão difícil obter uma semeadura onde todas as condições ótimas para a semente e planta sejam atingidas. Critérios para avaliar sulcadores fixos, de discos ou conjuntos de outras formatações, devem contemplar: o corte da palha superficial; mínima mobilização do solo, a profundidades uniformes, suficiente para um bom contato solo-semente - desta forma é induzida a máxima difusão de umidade através da superfície de contato solo-semente; profundidade de deposição da semente uniforme, com cobertura e pressão adequadas; a capacidade de “copiar” a superfície do terreno e seguir contornos,

mantendo a qualidade do sulco; a capacidade de ultrapassar obstáculos como pedras, raízes, sem quebrar ou “embuchar”; um grau de mobilização subsuperficial para facilitar o desenvolvimento de raízes, ao mesmo tempo evitando mistura do solo subsuperficial com o superficial; retorno da palha deslocada pelo sulcador para diminuir emergência de plantas indesejadas (competidoras); durabilidade dos componentes, resistência à abrasão para que o conjunto não perca o desempenho (demanda de tração, corte de resíduos e posicionamento das sementes). A capacidade de satisfazer os critérios acima varia tanto para sistemas sulcadores de discos ou com sistemas com sulcadores fixos; isto é facilmente assimilável se considerarmos a quantidade de variação no solo que é introduzida pelo tráfego não controlado, ou ao efetuar uma distribuição de insumos inadequada. O solo trafegado compacta até o ponto em que possa resistir à pressão aplicada pelos pneus enquanto que onde não há tráfego, esta resistência é menor. As regulagens de pressão sobre o disco cortador de palha, profundidade de ação de sulcadores ou discos, são feitas pela condição média da lavoura. A resposta, em termos de qualidade do sulco, será variável em função das condições de solo encontradas. A própria velocidade de

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John Deere

operação da semeadura, mesmo que constante, influi na qualidade do sulco pela interação dos elementos de penetração no solo com condições de solo mais ou menos resistentes (compactados, quantidade de remanescentes de raízes, grau de resistência ao corte). Em suma, a variação da resposta da implantação de culturas é função da variabilidade induzida pelo tipo de cultivo em anos anteriores. Significa dizer que não se pode obter uma resposta satisfatória da semeadora a todas as condições. Uma estratégia que pode melhorar consideravelmente a questão da excessiva compactação do solo pelos pneus é um correto dimensionamento do trator e semeadora, embora isto nem sempre seja fácil se não for feito um bom diagnóstico da área. Implementos que são muito grandes para os tratores que os tracionam, causam sobrecarga e aumentam a patinagem, incorrendo desta forma em aumento do gasto de combustível e quebras de peças, ao mesmo tempo em que o desempenho geral deixa a desejar. Implementos subdimensionados, por outro lado, além de operação ineficiente, produção baixa e aumento dos custos, encorajam o operador a trabalhar com uma velocidade acima da ideal para uma boa qualidade do serviço. A demanda de potência de uma semeadora adubadora pode ser calculada tomando-se por base a força de tração por linha de semeadura. Quando o solo é preparado convencionalmente, ano após ano, a necessidade de tração por linha de semeadura, usando abridor de sulcos tipo facão estreito (não mais de 2cm de largura da ponteira) era estimada em 1.500N,

Tráfego sobre o solo com teor de água elevado é a maneira mais fácil de compactá-lo, pois a água em excesso pode atuar como lubrificante entre as partículas sólidas

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aproximadamente 150kgf por linha de semeadura. Se o sulcador fosse do tipo discos duplos, a necessidade de tração diminuía para 400N por linha. O sistema plantio direto, porém, trouxe um aumento na demanda de tração, que varia tanto para o tipo de solo como para o tipo de sulcador usado. Se o sistema sulcador das semeadoras adubadoras for constituído somente de discos, a estimativa de força de tração necessária para cada linha é de 1.820N (cerca de 182kgf) em solos argilosos, diminuindo para 1.750N para solos médios e 1.675N para solos arenosos. Já os sulcadores tipo facão estreito demandam 3.400N em solo argiloso, 3.200N em solos médios e cerca de 2.800N em solos arenosos. A potência necessária para tracionar uma semeadora (= potência na barra de tração) pode ser calculada multiplicando a força de tração demandada pelo total de linhas da semeadora multiplicada pela velocidade da operação. Como exemplo, uma


Fotos Charles Echer

da Asabe, referendadas por uma série de pesquisas realizadas no Brasil, o rendimento de tração em solos consolidados (solos sob plantio direto) para tratores 4 x 2 com tração dianteira auxiliar é de 64% da potência desenvolvida no motor. Isto significa que a potência desenvolvida na barra de tração é de apenas 64% da potência do motor (Pm x 0,64 = Pbt). (Tratores que não têm tração dianteira auxiliar tem rendimeto de tração de apenas 60%) Considerando o exemplo acima, para tracionar uma semeadora de nove linhas a 6km/h, que demanda 51kW na barra de potência, necessitaremos de um trator com potência de (51/0,64) cerca de 80kW (108cv). A potência considerada é a líquida do motor, ao redor de 90% da potência máxima, que é informada no catálogo dos tratores. Como se pode depreender do que foi dito anteriormente, a questão de obter um “casamento perfeito” entre trator e semeadora não é simples. Variações entre os terrenos da propriedade, sua declividade, condições de umidade do solo, sua compactação e cobertura vegetal têm que ser consideradas além das condições do trator (desgaste do motor, pneus e lastragem) e semeadora (carga, desgaste dos sulcadores e necessidade de potência para acionamento dos dosadores). Uma cuidadosa avaliação destes fatores resultará em conjuntos compatíveis, o que significa um desempenho otimizado, em que a semeadura é realizada nas melhores condições possíveis sem compactação do solo ou desperdício .M de combustível. Carlos Ricardo Trein, UFRGS semeadora-adubadora de precisão de nove linhas, trabalhando em latossolo, necessita de um total de (nove linhas x 3.400N) 30.600N para ser tracionada. Se a velocidade de trabalho for de 6km por hora, a potência necessária na barra de tração (Pbt) será de (30,6 x 6.000/3.600) 51kW ou 69cv. A potência na barra é o resultado da força de tração (Ft) necessária multiplicada pela velocidade (v). Se a força for defininada em quilonewtons (kN) e a velocidade em metros por segundo, a potência é definida em quilowatts (kW) (Pbt=Ft x v). Os tratores são definidos em termos de potência desenvolvida no motor. No entanto, esta potência não “chega” integralmente à barra de tração. Há perdas em todo o processo de transmissão (internos ao trator) e há perdas na interface pneu-solo. A quantidade de palha da superfície, o tipo e a umidade do solo, a área de contato pneu-solo e o peso sobre o pneu afetam diretamente o potencial de tração. Segundo observações

O nível de compactação do solo existente na área definirá a qualidade do plantio, do sulco e também da germinação da semente que está sendo depositada

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AGRICULTURA DE PRECISÃO

Faça você mesmo

Fotos Divulgação

É possível criar seu próprio sistema de aquisição de dados utilizando o Arduino, uma plataforma que proporciona obter diversas informações sobre conjuntos mecanizados

A

aquisição e a automação de dados são atividades essenciais nas áreas onde existe a necessidade de apresentar, ao observador, os valores de variáveis e parâmetros que estão sendo medidos e executar uma tomada de decisão em função dos valores, controlando processos em tempo real, enviando sinais a um periférico, controlando portas, atuadores, motores, entre outras aplicações. Uma vez que a tomada de dados é uma das etapas mais tediosas de um ciclo de pesquisa, pode-se automatizar o sistema de aquisição sem comprometer a precisão com as vantagens de reduzir os erros gerados pela transcrição de dados, eliminar as variações induzidas pelo operador nos processos de coleta de dados e aumentar a taxa de leitura de dados. Na agricultura, por exemplo, vários pes-

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quisadores têm trabalhado em diferentes áreas, utilizando algum tipo de sistema de aquisição com a finalidade de monitorar eventos em suas pesquisas. Além da aplicação científica, o monitoramento de dados também é aplicado de forma intensa em máquinas e sistemas agrícolas, como tratores, colhedoras autopropelidas, implementos e unidades de processamento, secagem e armazenamento de produtos. A versatilidade de um sistema de aquisição também se torna importante, permitindo sua adaptação para diferentes pesquisas sem grande elevação de custos. Nos equipamentos que se deseja monitorar, ou controlar, são instalados sensores, que transformam um fenômeno físico em sinais elétricos. Os sinais elétricos produzidos variam de acordo com os parâmetros físicos, que estão sendo

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monitorados, e devem ser condicionados para fornecer sinais apropriados à placa de aquisição de dados. Os acessórios de condicionamento de sinais amplificam, isolam, filtram e excitam sinais para que estes sejam apropriados às placas de aquisição. Uma vez condicionados e trabalhados na forma desejada, os sinais podem ser lidos em computadores, com placas específicas instaladas e armazenados em diferentes formas, como arquivos de texto. Sensores de posição, velocidade, aceleração, força, vazão, torque, pulso, GPS, temperatura e umidade são alguns exemplos de transdutores utilizados na composição de um sistema de aquisição de dados.

SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE BAIXO CUSTO

A procura de soluções de baixo custo é, hoje em dia, uma exigência quando se fala em aqui-


Placa Arduino UNO existente no mercado

sição de equipamentos para empresas e instituições - essa procura torna-se ainda mais iminente quando as soluções disponíveis comercialmente são caras e não traduzem por completo os objetivos para as quais se destinam. O Arduino é um exemplo de sistema de baixo custo. Criado em 2005 para facilitar o aprendizado de eletrônica e programação de estudantes de um curso de design pelo professor Massimo Banzi, o Arduino é uma placa de aquisição baseada num microcontrolador muito versátil que potencializa suas funções para além de uma simples interface passiva de aquisição de dados, podendo operar sozinha no controle de vários dispositivos e tendo assim aplicações em instrumentação embarcada e robótica. Todo o projeto eletrônico, incluindo a plataforma para o desenvolvimento dos programas de controle, é de acesso público e gratuito. Uma extensa comunidade internacional se formou em torno do projeto Arduino, envolvendo técnicos e desenvolvedores de diversas áreas, alunos e professores, hobistas, artistas plásticos, que interagem através de sites, blogs e eventos patrocinados por diferentes instituições mundo afora. Na Web, é possível encontrar farta documentação sobre aplicações e de troca de experiências entre usuários. Essa malha internacional de usuários, muito cooperativa, é um fato muito auspicioso para os iniciantes que de outra forma encontrariam dificuldades naturais de uso dessa tecnologia. Outro fato positivo é que, atualmente, podem-se encontrar diferentes versões da placa Arduino, no mercado nacional, com preços muito acessíveis, ou mesmo instruções de montagem a partir dos componentes eletrônicos básicos, o que pode atender o interesse de profissionais com maior capacitação em eletrônica. O Arduino é uma plataforma de hardware tipo código aberto, de fácil utilização, ideal para a criação de dispositivos que permitam interação com o ambiente, dispositivos estes que utilizem como entrada diferentes tipos de sensores, e como saída leds, motores, displays, autofalantes etc, criando desta forma possibilidades ilimitadas. A plataforma utiliza-se de uma camada

Tela de apresentação dos dados do aplicativo desenvolvido

Módulo de GPS conectado a uma placa Arduino

simples de software implementada na placa e uma interface amigável no computador que utiliza a linguagem Processing, baseada na linguagem C/C++, a qual é também código aberto. Através do software, dispensa-se o uso de programadores para o chip, facilitando ainda mais o seu uso, uma vez que não exige compiladores ou hardware adicional. Neste ambiente de desenvolvimento, são disponibilizadas bibliotecas que permitem o interfaceamento com outros hardwares, permitindo o completo desenvolvimento de aplicações simples ou complexas em qualquer área. Um dos modelos de placa mais simples disponíveis no mercado é o Arduino UNO.

Arduino UNO R3 e um computador para a programação e o armazenamento de dados. O programa utilizado foi o ambiente de desenvolvimento Arduino 1.0.5, na versão de instalação para sistema operacional Windows. Utilizando-se o ambiente de desenvolvimento Arduino, foi desenvolvido um aplicativo para coletar e apresentar os dados de fluxo de fluido na porta serial USB, enquanto lidos pelo sensor de fluxo. Para a determinação do fluxo de fluido, foi utilizado o sensor de fluxo modelo Oval M-III LSF45L0-M2, com sensor magnético, unidade de leitura de pulso de 10ml/ pulso, fluxo máximo de 500L/h, alimentação de 12V a 24V de corrente contínua (VCC), consumo máximo da 10mA e pulso de saída do tipo 0/1 = máximo 0,5VCC/6,2 a 7,6VCC, com resistência mínima de 10kΩ. O sensor foi conectado numa placa de terminais modelo Protoboard 840 e, utilizando-se fios jumpers e cabo USB AB, realizou-se a ligação do sensor, placa Arduino e computador. O sistema de aquisição de dados, depois de implementado, foi testado com a finalidade de verificar a precisão dos dados provenientes do

DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA

Utilizando uma placa Arduino, pode-se montar rapidamente um sistema de aquisição específico, de acordo com a demanda operacional visando baixo custo e confiabilidade. Neste pressuposto, propõe-se neste artigo a montagem de um sistema simples de medição de fluxo de combustível. Para seu desenvolvimento, foi utilizado como hardware a placa modelo

Conexão do sensor de fluxo e placa Arduino para testes

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Fotos Divulgação

sensor e calibrá-lo. O sensor foi avaliado utilizando-se a medição de volumes previamente determinados de água, de 250ml, 500ml, 1.000ml e 2.000ml, à temperatura de 20°C. Utilizou-se, para a determinação do volume, uma proveta de medição com graduação, com capacidade de 250ml, ± 2ml. Os dados provenientes do sensor foram coletados através da porta serial USB do computador, sendo apresentados em tela do programa Arduino. O aplicativo desenvolvido inicia sua execução com a estrutura de declaração de variáveis, definindo a porta de entrada conectada ao sensor e os valores iniciais das variáveis que serão utilizadas no sistema. Em seguida, realiza a estrutura de Setup, com a definição do modo de funcionamento da porta como entrada (Input) e início da transmissão serial com definição da taxa de transmissão de dados de 9600bauds. Na sequência, inicia a estrutura de Loop, rea-

lizando a contagem dos pulsos convertendo para volume, onde um pulso corresponde a 10ml, e imprimindo a saída da porta serial da placa Arduino para entrada do PC em tela serial. O aplicativo utilizado para a determinação do fluxo de fluido usou o código fonte. Para avaliar o sistema, o sensor de fluxo foi conectado ao sistema de aquisição de dados implementado e avaliado em laboratório. Os valores determinados por proveta graduada e os valores determinados pelo sensor de fluxo apresentaram ajustamento estimado pela equação linear y = 0,0043 + 0,9927x, com coeficiente de determinação r2 = 0,9999, sendo o modelo estatisticamente significativo ao nível de 1% de probabilidade. O diagrama de dispersão apresentou uma correlação positiva das variáveis.

CONSIDERAÇÕES

Concluiu-se que o aplicativo desenvol-

Display básico de 16 caracteres por duas linhas (esquerda) e placa Arduino UNO R3 (direita)

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vido apresentou facilidade de operação do sistema, permitindo rapidez na operação de aquisição de dados, e a capacidade de combinar o sistema implementado para atender a demandas de diversas pesquisas, podendo ser utilizado em diferentes tipos de máquinas agrícolas e em diferentes necessidades de aquisição de dados, como atributos de força, torque, velocidade, posição, frequência de rotação de eixos, entre outros exemplos. Numa aplicação mais avançada, sugerese a instalação do sensor de fluxo na linha de alimentação de combustível de um trator agrícola para realização de operação de campo e determinação do consumo de combustível do trator em trabalhos agrícolas, além disso, a instalação de um display digital na placa Protoboard, ligado ao Arduino, para a verificação, em tempo real, do volume consumido e o consumo horário. Nesta mesma placa, podem ser conectados demais sensores, como de força, torque, radar e GPS, e um módulo SD com um cartão de memória pode ser instalado na placa principal do Arduino, com a finalidade de armazenar os dados sem a necessidade de um PC conectado e a alimentação da placa com uma bateria de 9V, ou do próprio trator permite seu funcionamento adequado em qualquer condição de trabalho. O preço de uma placa Arduino UNO R3 é de R$ 79,00, um módulo de GPS para o Arduino custa R$ 299,00, um módulo para cartão microSD custa R$ 69,00 e um display básico de 16 caracteres por duas linhas custa R$ 29,00. Somando todos os equipamentos citados, o custo estimado para implementar .M o projeto fica abaixo dos R$ 500,00. Ricardo Ferreira Garcia e Rodrigo Cavalcante de Lima, Uenf Alan Carvalho Galante, FSMA, INSG e FeMASS




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