Maquinas 16

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Do editor Edição Número 16 - Ano III Janeiro / Fevereiro 2003 ISSN - 1676-0158 EMPRESA JORNALÍSTICA CERES CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 7º andar Pelotas – RS 96015 – 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (06 edições): R$ 38,00

A Cultivar Máquinas deste mês destaca o sistema de manejo de irrigação usando estações meteorológicas automáticas e computadorizadas, com comunicação via satélite, que simplesmente se encarrega por todas as etapas de irrigação, da avaliação de necessidade à ativação e controle do pivô central. Ainda falando em avanços, apresentamos os premiados do Sima 2003, que neste ano privilegiou equipamentos de alta tecnologia. Neste número, iniciamos também uma série de três artigos sobre seleção de máquinas agrícolas, com critérios para escolher o equipamento ideal para cada tipo de necessidade.

•DIRETOR Newton Peter •EDITOR GERAL S.K.Peter •EDITOR ASSISTENTE Charles Ricardo Echer

Apresentamos, ainda, uma abordagem da construção de distribuidores de adubos sólidos, informações importantes sobre a troca do óleo do motor de seu trator, velocidade na semeadura, entre outros assuntos interessantes.

•CONSULTOR TÉCNICO Dr. Arno Dallmeyer •REDAÇÃO Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo •DESIGN GRÁFICO Fabiane Rittmann

Índice

•MARKETING Otávio Pereira •DIAGRAMAÇÃO Fabiane Rittmann Christian Pablo C. Antunes

Nossa Capa Foto Pablo Rodrigues

Rodando por aí

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•CIRCULAÇÃO Edson Luiz Krause Jociane Bitencourt

Hora de trocar o óleo do cárter

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Corte perfeito da cana-de-açúcar

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•SECRETÁRIA GERAL Simone Lopes

Seleção de máquinas agrícolas

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Máquinas para adubar

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Automação de pivô central

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Acidentes rurais

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Velocidade na semeadura

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Como preparar uma 4x4

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Agricultura de precisão

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Opinião

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•PROMOÇÕES Marilanda Holz •ILUSTRAÇÃO Rafael Sica •REVISÃO Carolina Fassbender •EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Index Produções Gráficas •FOTOLITOS E IMPRESSÃO Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES:

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• GERAL / ASSINATURAS: 3028.4008 • ATENDIMENTO AO ASSINANTE: 3028.4006 • REDAÇÃO : 3028.4001 / 3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING: 3028.4005 / 3028.4004 • EDITORAÇÃO: 3028.4007 • PROMOÇÕES: 3025.4254 • FAX: 3028.4001

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Destaques Hora da troca Por que não se deve prolongar o tempo de utilização do óleo do motor do trator ....................................................

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Corte perfeito

Caderno especial Eduardo Guimarães S. Filho explica como regular a colhedora antes da colheita

Lâminas serrilhadas e inclinadas melhoram o corte da cana-de-açúcar ...................................................

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Construção de distribuidores Aspectos construtivos dos distribuidores de fertilizantes e corretivos sólidos ...................................................

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Controle total Manejo de irrigação com estações meteorológicas automáticas, computadores e internet ...................................................

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Rodando por aí

Nova estrutura

OHSAS 18000

Valentino Rizzioli é o novo Presidente de Operações da CNH para a América Latina. O anúncio foi feito junto com a divulgação da nova estrutura mundial da empresa. Na América Latina, além de Rizzioli, foram anunciados o engenheiro Marco Mazzù, como Vice-Presidente Executivo da Área Agrícola; Francesco Pallaro como Diretor Comercial da Área Agrícola para a América Latina, e Hélvio Quintão foi confirmado no cargo de Diretor Superintendente do Banco CNH Capital.

Valentino Rizzioli

Tracker P A Goodyear já disponibiliza no Brasil o novo Tracker P, um pneu para quadricíclo que pode rodar

sem ar até 80 km a uma velocidade máxima de 40km/h, com a mesma segurança e dirigibilidade

de um pneu normal. O produto tem a tecnologia Runflat EMT (Extended Mobility Tire).

A AGCO passa a fazer parte do time de empresas brasileiras que receberam a certificação OHSAS 18000, após auditoria nas fábricas de Canoas e Santa Rosa. Criada em 1999, a norma OHSAS 18000 (Occupational Health and Safety Assessment Series) pode ser traduzida como uma Série de Avaliações para Segurança e Saúde Ocupacional. “Com a conquista, AGCO passa a integrar um seleto e pioneiro grupo formado por menos de 50 empresas no universo empresarial brasileiro”, explica o gerente de Meio Ambiente, Segurança e Saúde Ocupacional, Norbert Luckow Filho.

Homenagem O professor Milton Guerra, um dos fundadores da Cultivar, acaba de ser laureado com a Medalha e o Livro do Mérito, concedidos pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea). A Medalha teve como primeiros homenageados o ex-presidente Juscelino Kubistschek de Oliveira, o engenheiro Octávio Marcondes Ferraz e o arquiteto Lúcio Costa. No Livro do Mérito estão inscritos os nomes do engenheiro José Maria da Silva Paranhos – Visconde do Rio Branco – e do engenheiro Alfredo d’Escragnolle Taunay – Visconde de Taunay. A Condecoração, instituída em 1958, é um reconhecimento à contribuição de profissionais para o desenvolvimento tecnológico do país.

Extreme A Case IH lançou a nova colhedora de grãos Axial Flow Extreme, que traz como principal novidade o Rotor AFX, que promete um rendimento adicional de 20% em relação às colhedoras com sistema axial. “A AxialFlow Extreme foi aprimorada com base em resultado dos testes severos realizados em diferentes partes do Brasil e em condições mais adversas de cultura”, garante o engenheiro José Luis Veiga Leal, da Engenharia de Produto e Colheitadeira da Case.

Tuper A Tuper S/A, de São Bento do Sul/SC, investiu R$ 16,5 milhões na ampliação de sua Divisão Tubos, com destaque para uma máquina Formadora de Tubos, a quarta em operação na empresa. A capacidade do equipamento é de até 160 metros por minuto de tubulação de aço com costura, paredes de grande espessura de até 6,3 mm e diâmetro de até 3 polegadas. O resultado é um tubo 30% mais barato que o convencional sem costura, próprio para a utilização no setor sucroalcooleiro, automotivo, de máquinas agrícolas, móveis, condução de fluídos e trefilação. A empresa é responsável por 10% de toda a produção nacional, garante o diretor presidente da Tuper, Franck Bollmann.

Crescimento A AGCO do Brasil também está festejando crescimento nas vendas em 2002. Até novembro a empresa colocou no mercado 10.591 tratores, um crescimento de 16,4% sobre o período de janeiro a novembro de 2001, mantendo participação de mercado próxima dos 34%. Em 2002 a AGCO manteve a posição de maior exportadora de tratores do Brasil, com 70% das vendas totais para o exterior. Em cada dez tratores exportados pelo Brasil em 2002, sete saíram da fábrica

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Máquinas

de Canoas. O mercado de colheitadeiras Massey Ferguson cresceu 21% no período de janeiro a novembro. O ano que termina teve um significado especial para a AGCO do Brasil também em termos institucionais, sendo a empresa mais premiada do setor. “O esforço empreendido em todas as esferas da administração, da produção e da comercialização chegou ao cliente e retornou na forma de reconhecimento”, garante o superintendente do grupo, Normélio Ravanello.

Franck Bollmann

Moderfrota O mercado de máquinas agrícolas bateu todos os recordes de venda nos três anos de existência do

programa Moderfrota. Das 128.647 máquinas agrícolas produzidas de 2000 até novembro de 2002,

105.753 foram comercializadas no mercado interno. Com certeza, grande parte das negociações só

aconteceram graças aos R$ 2,82 bilhões liberados pelo programa de modernização de frota.

Agrale no Kuwait Líder nacional na fabricação de chassis leves desde 1998, a Agrale fechou novo contrato para a venda de 73 unidades de chassis para microônibus para o Kuwait. Os modelos MA 8.5, equipados com transmissão automática e montados com carroceria urbana Marcopolo Senior para 32 passageiros, serão utilizados no transporte urbano na capital daquele país. Além da transmissão automática, os chassis possuem retarder, equipamento que dá maior segurança ao veículo e minimiza o risco de superaquecimento do freio. Os novos modelos também incorporam características que proporcionam maior conforto aos usuários, como suspensão projetada exclusivamente para o transporte de pessoas e motor e eixo dianteiro avançados, que permitem melhor aproveitamento do espaço interno.

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Janeiro / Fevereiro 2003


Desempenho x Tecnologia

Jim Martinez

Exportações A John Deere Brasil comemora o crescimento nas exportações de tratores e colhedoras em 2002. Para Jim Martinez, presidente da empresa, 2002 foi um ano excelente. “A empresa conseguiu aumentar em 32% as vendas externas de tratores e 5% em colheitadeiras. Isso sem falar nos avanços tecnológicos de manufatura”.

Feliz 2002 A Kepler Weber está festejando os resultados de 2002. O lucro líquido da empresa, apurado nos primeiros nove meses de 2002, foi de 6,2 milhões, um crescimento de 39,4% em relação ao mesmo período de 2001. Além de brindar os bons resultados, o grupo também levou duas premiações importantes no ano passado. Uma no setor de meio ambiOthon D´Eça ente, com o Prêmio Expressão de Ecologia e o Top de Marketing da Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil, categoria Agrobusiness. “A Kepler já está na Turquia e é líder absoluta no mercado latino americano de armazenagem de cereais. Já estamos entre as três maiores indústrias do setor no mundo”, garante o presidente do grupo, Othon D’Eça Cals de Abreu. A empresa inicia em março a construção de sua segunda fábrica, na capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, com um investimento de R$ 85 milhões nos próximos dois anos. A nova fábrica deve fazer com que o processamento de aço - que hoje é de 40 mil toneladas anuais - dobre até 2005.

Paulo Hermann, diretor de marketing da John Deere do Brasil considerou o ano como “muito bom para a empresa”, que está comemorando o crescimento da participação no mercado nacional de tratores e colhedoras. Enquanto o índice geral de vendas do setor marca um crescimento de 20,1% e 39% respectivamente, a John Deere comemorou aumento de 35,3% em tratores e 43% em colhedoras. “Isso mostra a boa performance de nossos produtos”, garante Hermann.

Avanço O setor de máquinas agrícolas registrou em 2002 um dos melhores desempenhos dos últimos anos. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de janeiro a outubro de 2002 foram comercializadas 4.581 colhedoras contra 3.081 máquinas no mesmo período de 2001. O avanço contabilizado nesse caso é de 38,69%. No mercado de tratores, foram vendidas 29.029 unidades contra 23.979 em 2001, o que representa alta de 21,06%.

Paulo Hermann

Técnica 4x4 Já se encontra à venda a segunda edição do livro brasileiro Técnica 4x4 - Guia de Condução Fora de Estrada. A obra continua multimarcas e chega com mais dicas, agora com ilustrações em 3D, facilitando a interpretação das manobras com um 4x4. A segunda edição traz também instruções sobre utilização do guincho, uso de acessórios de resgate, radiocomunicação, preparação para expedições e recomendações sobre o meio ambiente. Segundo o autor João Roberto Gaiotto, a grande troca de experiência com aficcionados pelo 4x4 em todo o Brasil ajudou a acrescentar mais informação para quem deseja ingressar no mundo off-road. A obra teve como patrocinadores as empresas DPaschoal, Goodyear, Warn/Auto4, Land Rover e Rallye Design. O livro, com 256 páginas, pode ser encontrado nas livrarias virtuais e no site www.tecnica4x4.com.br, pelo preço de R$31,00.

Iraque A New Holland embarcou no final de dezembro 100 tratores TM 150, de 140 cv, para o Iraque. A exportação, no valor de 4 milhões de euros faz parte de um programa das Nações Unidas para a Agricultura (FAO), que troca óleo por alimentos. A CNH já exportou dois mil trato-

ABIMCI

Algodão A Algonorte Indústria Comércio e Representações Ltda em parceria com a Escola de Beneficiamento de Algodão do Senai, ambos de Rondonópolis, MT, criaram a Plataforma de colheita mecanizada de algodão, como forma de obter menor custo de produção sem desprezar a resistência mecânica e qualidade. A plataforma é ideal para algodão adensado e com altura de, no máximo, 75cm. O sistema de colheita é formado por pente e molinete e tem um limpador HL acoplado. O projeto teve o financiamento da Facual e o apoio do engenheiro agrícola do Senai, Cláudio Hessel.

As preferidas O mercado de pick-ups do tipo “mid-size” fechou os primeiros onze meses de 2002 com 46.195 unidades vendidas e revelou que o consumidor brasileiro prefere o modelo que reúne, como características básicas, quatro portas, cabine dupla, tração 4x4 e motorização a diesel. Em termos de participação, os

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veículos de tamanho médio corresponderam a 43%, enquanto os derivados de automóveis ficaram com 54% (58.441 unidades) e as pick-ups grandes, do tipo “fullsize”, com 3% (3.627 veículos ) No total, foram vendidas 108.263 pickups no mercado brasileiro. No período janeironovembro, as vendas de

res para o Iraque, dos quais 300 foram fabricados no Brasil. O programa Oil for Food foi criado há cinco anos com o objetivo de reduzir os impactos, sobre o povo iraquiano, do embargo comercial imposto ao país após a Guerra do Golfo em 1991.

veículos com tração 4x4 corresponderam a 67%, contra 33% das pick-ups 4x2. A participação dos modelos com cabine dupla foi de 87%, contra 10% de cabine simples e apenas 3% de versão estendida. A preferência pelos motores a diesel no volume de vendas é de 93%, contra 7% dos motores a gasolina.

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Um grupo de 23 empresas do setor de madeira que trabalham com produtos de maior valor agregado, como blocks, blanks, molduras EGP e outros, acaba de se unir e formar o Comitê de PMCA (Produtos de Maior Valor Agregado), com o objetivo de discutir as tendências e desafios do mercado. A coordenação dos trabalhos fica a cargo do vicepresidente de Assuntos Internacionais da ABIMCI (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), Isac Chami Zugman. As coordenações regionais serão de César Xavier e Álvaro Luiz Scheffer, no Paraná; Cassiano De Zorzi, no Rio Grande do Sul e Maurício Zandavari, em Santa Catarina.

Máquinas

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Motores

óleo do cárter

Hora Hora da da troca troca Prolongar o tempo de utilização do óleo do cárter do motor do trator, na tentativa de ganhar tempo e dinheiro, na verdade pode ser o início de um problema mais sério

A

tendência de se prolongar o tempo de utilização do óleo lubrificante do cárter do motor se deve à dificuldade de parar o trator para manutenção, prejudicando a produção, ou à obtenção de ganho com a reutilização do lubrificante. A importância da substituição do óleo lubrificante de um motor dentro dos prazos estabelecidos pelo fabricante só pode ser desprezada quando houver controle do estado deste óleo lubrificante, através de acompanhamento de suas características por análises de óleo.

O QUE ACONTECE COM O ÓLEO À medida que trabalha, o óleo tem suas características originais modificadas. A principal característica de um óleo lubrificante é a sua viscosidade, que pode sofrer uma alteração máxima de ± 10 % em relação ao valor de medição do óleo novo. De uma maneira geral, o que costuma ocorrer é a queda da viscosidade, sendo a principal causa a contaminação por combustível, que passa pelos anéis do pistão e se deposita no cárter, diluindo ou, no popular, “afinando” o óleo. É claro que a contaminação varia de motor para motor. Um motor novo está menos suscetível à contaminação do que um motor já usado, pois à medida que envelhece, a contaminação aumenta. O desgaste natural contribui para isto, pois os bicos injetores passam a gotejar, a bomba injetora

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Fotos Cultivar

“A importância da substituição do óleo lubrificante de um motor dentro dos prazos estabelecidos pelo fabricante só pode ser desprezada quando houver controle do estado deste óleo lubrificante”

se desregula, os cilindros perdem compressão etc. Um óleo de motor com 6% de Diesel sofre queda de viscosidade de aproximadamente um grau SAE, ou seja, um óleo SAE 30 passa a ser um óleo SAE 20, inadequado para o trabalho indicado. A principal conseqüência é o desgaste acelerado por quebra do filme de lubrificação, o que ocasionará contato direto entre as peças e menor tempo de vida ao motor. A viscosidade também pode sofrer aumento. Uma das principais causas para que isto venha a ocorrer é o tempo excessivo de utilização do óleo. O “engrossamento” acontece por acúmulo de produtos insolúveis provenientes da combustão e do desgaste natural, ou que entram no motor com ar de admissão ou por outro meio qualquer: fuligem, poeira, metais de desgaste e resíduos de oxidação por umidade (água). Estes elementos além de engrossarem o óleo também são abrasivos e causam desgaste por se interporem entre as peças em movimento. Todos conhecem o resultado da presença de poeira no óleo. Outro dano causado é o desgaste excessivo das partes em movimento e, por incrível que pareça, óleo muito grosso dificulta o movimento e causa desgaste. Podemos ainda dizer que os aditivos, que são elementos químicos que melhoram o desempenho do óleo, se esgotam deixando de desempenhar suas funções, como proteger da corrosão, ferrugem etc.

bricante. Portanto, em 80 % das amostras onde em duas o óleo estava praticamente com o tempo de troca e, em seis com o tempo acima do estabelecido para a troca, houveram problemas de desgaste. Desta forma, fica claro ser bastante temeroso o prolongamento do tempo de trabalho do óleo do cárter do motor sem o acompanhamento sistemático através de análises de óleo.

QUANDO TROCAR O ÓLEO O API - American Petroleum Institute ou Instituto Americano do Petróleo é uma instituição americana que trata do desempenho e classificação dos lubrificantes e recomenda que os serviços de troca de óleo do motor, troca do elemento filtrante do óleo do motor e a manutenção

derando que o óleo de última classificação, sob condições normais, deve ser trocado com 200 horas de trabalho: • 100 horas - uso do veículo sob condições predominantes de andapára, longos e freqüentes períodos em marcha lenta (utilização da TDP para acionar máquinas que requerem pouca potência), sob alta temperatura e carga e esforço adicional (implemento que exige carga maior do que o trator possa oferecer); • 200 horas - veículo operado normalmente, com acoplamento de implementos para ele dimensionados; • Tempo de trabalho - quando o número de horas de trabalho não é atingido, recomenda-se a substituição a cada 6 meses para óleo de base mineral e 12 meses para óleo sintéti-

POR QUE NÃO PROLONGAR Para ilustrarmos o que pode ocorrer quando se prolonga a utilização, analisamos dez amostras de óleos lubrificantes dos motores de cinco tratores Massey Ferguson, sendo dois do modelo 275 e três do modelo 290. Fazem parte das análises realizadas os testes de: viscosidade, ponto de fulgor, presença de fuligem, presença de água e presença de elementos metálicos, onde foi verificada a presença de ferro, cobre, cromo, chumbo alumínio, níquel e silício. Os parâmetros de comparação para os valores obtidos nas análises são os do óleo novo utilizado nos motores dos tratores. Das dez análises realizadas somente em duas o óleo lubrificante estaria apto a continuar trabalhando, justamente naquelas em que o tempo de utilização estava aquém do tempo estabelecido para troca pelo faJaneiro / Fevereiro 2003

A tampa de enchimento e a vedação da vareta de nível são pontos onde ocorrem vazamentos e penetração de impurezas

e troca dos elementos filtrantes do ar de admissão acatem pelo menos as recomendações feitas pelos fabricantes de motores, quando não houver controle através de análises do óleo lubrificante. As recomendações, por período ou quilometragem, são sempre conservadoras, para não prejudicar excessivamente a vida útil dos motores. Evidentemente, os períodos podem ser antecipados ou duplicados, dependendo das condições de uso. Os fabricantes de veículos ou motores podem descrever em seus manuais operacionais os detalhes de operação, nos quais se aplicam menores ou maiores períodos de trocas. Podemos exercitar situações, consi-

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co. Para motores inativos, o óleo poderá permanecer no cárter no máximo 3 meses e 6 meses, respectivamente.

PROCEDIMENTO PARA A TROCA Toda troca de óleo, seja de motor, caixas de engrenagens ou fluído hidráulico, deve ser feita com o óleo quente, preferivelmente após o uso do veículo por um período que atinja a temperatura normal de operação. Após extrair o óleo pelo local de drenagem do reservatório, é aconselhável deixá-lo escorrer por algum tempo, por volta de 10 minutos, para assegurar que permaneça no reservaMáquinas

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... tório o mínimo possível. Uma alternativa

rápida, menos complicada e menos suja é sugar o óleo por uma bomba de sucção ligada a um tubo fino introduzido pelo orifício da vareta de nível de óleo. Este processo, no entanto, apresenta o inconveniente de não remover totalmente o óleo. O veículo deve estar em local plano e adequado para qualquer extração ou troca de óleo.

Marcos Bormio

“O desenvolvimento dos lubrificantes possibilitou a fabricação dos óleos de múltipla graduação e de primeira qualidade”

QUE ÓLEO SE DEVE UTILIZAR

Divulgação

Os melhores lubrificantes, óleo ou graxa, para serem utilizados no motor, no câmbio, no diferencial, no hidráulico e nos rolamentos e articulações do seu trator, são aqueles recomendados pelo fabricante do trator. No caso dos motores, normalmente são dadas algumas opções ao usuário. O óleo lubrificante para motores de ciclo Diesel, que são os mais utilizados em tratores, são classificados pela viscosidade e pelo desempenho que oferecem. A viscosidade é uma característica controlada pela SAE (Society Automotive Engineers). Existem óleos monograu, ainda bastante utilizados, onde a identificação é dada por um número (grau) antecedido da sigla SAE. É uma identificação que leva em conta a temperatura de trabalho do óleo a aproximadamente 100º C. Podemos ter óleos SAE 20, SAE 30, SAE 40 e SAE 50. O desenvolvimento dos lubrificantes possibilitou a fabricação dos óleos de múltipla graduação e de primeira qualidade. Esses óleos, SAE 20W 40, SAE 20W 50, SAE 5W 40 etc., são conhecidos como óleos multiviscosos. São largamente usados

Bormio explica por que não se deve prolongar o tempo de utilização do óleo do motor

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A reposição de óleo só é recomendada quando este atingir a marca mínima da vareta de nível

porque ao dar partida no motor, o óleo está frio. Nesta temperatura ele deve ser fino o suficiente para fluir bem e alcançar todas as partes do motor. Já em altas temperaturas, ele deve ter a viscosidade adequada para manter a película protetora entre as partes metálicas. Por exemplo, os óleos SAE 20W 40 são formulados para cumprir os requisitos de viscosidade em baixa temperatura de um óleo monograu SAE 20 e os requisitos de viscosidade em alta temperatura de um óleo monograu SAE 40. Os óleos SAE 20W são testados para viscosidade de partida a -15°C, logo, eles são formulados para uso em temperaturas ambiente mais baixas. Já os óleos classificados como SAE sem a designação W têm suas viscosidades medidas somente a 100°C para assegurar viscosidade adequada em temperaturas operacionais normais do motor. O serviço ou desempenho do óleo é classificado pela API. Para motores Diesel, a classificação é dada por duas letras, sendo sempre a primeira delas a C de compression, compressão em inglês, que identifica um óleo para motor de ignição espontânea ou Diesel. A classificação propriamente dita é dada pela segunda letra. À medida que esta segunda letra avança no alfabeto, o óleo sobe de especificação, é mais moderno. Para melhor entendimento vamos dar alguns exemplos, supondo que o manual do seu trator especifique o óleo SAE 15W 40 ou SAE 20W 50 API - CG - 4, foram dadas duas opções de viscosidade. O grau 15W deverá ser utilizado em regiões mais frias e o grau 20W em regiões mais quentes, considerando-se a temperatura ambiente. O mesmo ocorre para a medida de alta temperatura, 40 para regiões mais frias e 50 para regiões mais quentes. O desempenho API CG - 4 deve ser seguido com maior

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rigor. De nenhuma forma deve-se utilizar óleo de classificação anterior, por exemplo um API - CF ou inferior. Porém, pode-se utilizar um de especificação mais avançada, por exemplo um API - CH - 4. É importante esclarecer que estas especificações estão nas embalagens de qualquer marca de óleo utilizado.

CUIDADOS ADICIONAIS COM O SISTEMA • Não misture óleos de marcas diferentes. A utilização de elementos químicos diferentes para uma mesma finalidade de aditivação pode ocasionar aparecimento de ácidos corrosivos que irão destruir, principalmente, os mancais de liga do motor; • Somente complete o nível quando a marca de mínimo da vareta for atingida. Antes de completar verifique o tempo de utilização do óleo. Pode ocorrer de a troca estar muito próxima, e a reposição com óleo novo não estende o tempo de utilização da carga; • Utilize sempre óleo com a viscosidade correta; • Quando substituir o óleo, substitua também o filtro de óleo. Utilize sempre filtros de primeira linha. Filtros mais baratos nem sempre garantem a filtragem adequada do óleo. O mesmo raciocínio é válido também para os filtros de ar de admissão; • Examine sempre se não há vazamentos de óleo. Se houver, corrija-os imediatamente. A tampa de enchimento e a vedação da vareta de nível em seu tubo são pontos M onde ocorrem vazamentos e grande penetração de contaminantes externos. Marcos Roberto Bormio, UNESP Janeiro / Fevereiro 2003



Novidade corte na cana

Lâminas serrilhadas e inclinadas reduzem perdas, danos na soqueira, matéria estranha e melhoram a rebrota da cana-de-açúcar

Corte perfeito O

Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.), com uma área plantada de aproximadamente 5 milhões de hectares, sendo o Estado de São Paulo o maior produtor nacional. A mecanização da colheita tornouse uma necessidade dos tempos modernos para atender a demanda e evitar as queimadas necessárias na colheita manual. Entretanto, o Brasil ainda não possui níveis satisfatórios quando comparados com outros países produtores como os Estados Unidos, Austrália e África do Sul. Perdas de 10 a 15 % são freqüentes quando a cana é colhida crua (sem queima prévia), sendo o cortador de base o maior responsável. As colhedoras cortam a cana em sua base pelo impacto, usando um disco rotativo com múltiplas lâminas. O rolo defletor empurra a cana para frente antes de

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cortá-la para facilitar a alimentação pelos rolos alimentadores. A deflexão e o corte de base são responsáveis por danos na soqueira e na cana colhida, causando grande volume de perdas tanto de massa como de deterioração, além de facilitar o ataque de fungos e doenças na soqueira. Em alguns casos, as trincas vão além do nó, dividindo os toletes em duas ou mais partes quando a cana é picada, e estes pequenos pedaços ou fragmentos são facilmente arrastados junto com a palha no extrator. Outro grande problema para as usinas é a terra e a sujeira transportadas junto com a cana. As colhedoras modernas têm potência suficiente para colher abaixo da superfície do solo, se o operador considerar necessário, dentro de certas condições, o que, dependendo do sistema de limpeza, se constitui em uma grande fonte adicional de sujeira. Com o princípio do cor-

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te de base é impossível evitar tais perdas e danos. Os atuais cortadores de base além de causar um alto volume de perdas de cana, também provocam uma redução na produtividade potencial devido aos danos causados na soqueira.

ALTERNATIVAS PARA O CORTE DE BASE A alternativa para o corte por impacto seria o corte por deslizamento. Isto é fácil de entender. Se houver um ângulo oblíquo entre a lâmina e o material a ser cortado, haverá um deslizamento e, estando o material aderido à lâmina, este será rompido por fricção. O corte por deslizamento, entretanto, não se aplica a cortadores de base para colhedoras de cana-de-açúcar, pois estes trabalham rente ou abaixo da superfície do solo, sendo impossível manter o perfil das lâminas amolado. Nestas condições, a cana acaba escorreJaneiro / Fevereiro 2003


Fotos Roberto da C. Mello

“As colhedoras cortam a cana em sua base pelo impacto, usando um disco rotativo com múltiplas lâminas”

Típico corte por impacto, que causa grandes danos na soqueira

gando ao longo da lâmina sem ser cortada adequadamente. Para evitar o corte por impacto e resolver este problema, foram sugeridos lâminas com perfis serrilhados. Os dentes do serrilhado iniciam o corte com maior facilidade, impedindo que a cana deslize ao longo do perfil, cortandoas com maior eficiência.

CORTE PERFEITO O desempenho dessas lâminas foi verificado em testes de laboratório, comparando-se diferentes passos (distância entre um dente e outro) do perfil serrilhado, assim como diferentes ângulos de inFig.01

Cortador com lâminas inclinadas para trás Janeiro / Fevereiro 2003

clinação das lâminas tanto para frente como para trás. Um corte perfeito, isto é, sem fragmentar a cana, é obtido com a utilização de lâmina serrilhada e inclinada para frente. A cinemática dos cortadores de base alternativos (lâminas inclinadas para trás e para frente, mostrados nas Figuras 1 e 2, respectivamente) foi exaustivamente estudada para definir um perfil curvo para as lâminas, além de uma adequada relação entre as velocidades normais e tangenciais (Vt/Vn) em um ponto específico do perfil.

DESEMPENHO NO CAMPO Devido a problemas operacionais e aos Fig.02

Cortador com lâminas inclinadas para frente www.cultivar.inf.br

processos de fabricação, as lâminas curvas foram substituídas por lâminas retas para serem testadas no campo. O cortador de base com lâminas inclinadas para trás apresentou bom desempenho apenas enquanto as lâminas eram novas, mas quando o perfil serrilhado começou a desgastar-se, a colhedora começou a apresentar problemas na alimentação, forçando o operador a cortar abaixo da superfície do solo, para se evitar o embuchamento. O cortador de base com lâminas inclinadas para frente apresentou melhor desempenho que os convencionais, mesmo com o perfil serrilhado desgastado. As lâminas serrilhadas foram fabricadas por processo de corte laser. Este sistema reduz o custo de fabricação quanto comparado a outros sistemas mecânicos (usinagem). A lâmina se apoia em um suporte inclinado e a lâmpada laser se desloca em zig-zag, proporcionando o perfil serrilhado. Existem algumas limitações neste processo quanto ao tamanho (passo) do serrilhado, mas segundo os resultados obtidos nos testes de laboratório, os perfis serrilhados com passos menores são mais eficientes. Foram feitos extensivos testes de campo em Mackay e Mossmam, Austrália, usando as lâminas serrilhadas e adaptadas em discos do tipo prato. Nestes testes, procurou-se cortar levemente acima da superfície do solo a fim de evitar o contato da lâmina com o solo. Se os cortadores de base convencional forem regulados para cortar acima da superfície, causam problemas na alimentação pelo fato de as lâminas não permanecerem amoladas, o que acaba derrubando a cana sem cortá-las adequadamente, enquanto que os cortadores de base com lâminas serrilhadas e inclinadas possibilitam o corte levemente acima da superfície, reduzindo o desgaste das lâminas, as perdas, os danos na soqueira, além da quantidade de terra e sujeira na cana fornecida às usinas. Os brotos remanescentes no campo logo após a colheita, que seriam eliminados no corte convencional, têm um crescimento bem mais rápido e apresentam uma maior tolerância aos veranicos, pois o sistema radicular não foi danificado pela ação dos cortadores de base. Na página seguinte vê-se uma área onde as ruas da esquerda foram colhidas com cortadores de base com lâminas serrilhadas e inclinadas enquanto que as ruas da direita foram colhidas com cortadores de base convencional. Nota-se uma grande diferença na rebrota, a favor da lâmina serrilhada e inclinada. Máquinas

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Roberto da C. Mello

“Outro grande problema para as usinas é a terra e a sujeira transportadas junto com a cana”

redução no teor de cinza e matéria estranha, o que acarretou em um aumento no teor de açúcar (brix). Este teste foi realizado em condições normais de operação e a quantidade de cana colhida para cada tipo de lâmina é apresentada na tabela em toneladas.

VANTAGENS DAS SERRILHADAS E INCLINADAS

Corte perfeito com a utilização de lâmina inclinada e serrilhada

...

As tabelas a seguir mostram dados colhidos no campo e fornecidos pela usina Mossmam Mill. Para se mensurar os danos causados na soqueira, foram contados os números de tocos remanescentes facilmente removíveis com a mão (soltos) e os que se apresentavam rígidos ou necessitavam de um certo esforço para serem removidos (firmes). Estes valores são as medias de cinco repetições em parcelas de cinco metros de comprimento ao longo da rua, determinadas ao acaso. A tabela 1 mostra os valores do primeiro teste realizado em Mackay, comparando cortador de base convencional com lâmina serrilhada e inclinada para trás.

No teste em Mossmam foram comparados dados entre um cortador de base com lâminas standard e serrilhada, ambas inclinadas para frente. A usina Mossmam Mill forneceu os dados apresentados na Tabela 3. Pode-se observar que houve uma significativa

Resumidamente, lâminas inclinadas e serrilhadas representam uma solução prática e econômica para minimizar perdas e danos na soqueira e na cana colhida. Pelo fato de ser possível colher levemente acima da superfície do solo, há uma sensível redução no desgaste das lâminas, além de reduzir a quantidade de terra na cana fornecida às usinas. As lâminas inclinadas para frente apresentaram melhor desempenho que as lâminas standard e inclinadas para trás, mesmo depois de desgastadas. Com uma simples modificação no disco do cortador de base, é possível adaptálas em qualquer colhedora comercial, a um M custo extremamente baixo. Roberto da Cunha Mello, IAC

Tabela 3: Dados fornecidos pela usina. Disc\Parametros Cinza % Brix* ME % Palha % Fibra % Toneladas Inclin. Standard 2.11 11.48 4.21 0.94 14.61 186.82 Inclin Serrilhado 1.71 12.2 2.53 0.86 14.28 201.75 Diferença - 0.4 + 0.7 - 1.6 - 0.1 - 0.3 * A diferença no Brix resulta da diferença na Matéria Estranha (ME) medida por NIR (near infra red).

Tabela 1: Quantidade de tocos remanescentes. Cort. de base Convencional Serrilhado

Firme 35 54

Solto 51 50

tocos/m % de firmes 3.4 41 4.2 52

A tabela 2 mostra os valores da rebrota em números de brotos e massa (kg) por metro linear obtidos através de amostragem, sendo cinco amostras de dois metros sobre as ruas, seis semanas após a colheita.

Tabela 2: Desenvolvimento da rebrota Cort. de base Numero de brotos/m Massa verde após 6 após 6 semanas semanas (kg/m) Convencional 22 0.307 Serrilhado 28 0.465

Diferença na rebrota: à esquerda o corte com lâmina serrilhadas e inclinadas, e à direita corte com lâmina convencional

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Máquinas

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Frota Parte I

Critérios de seleção

A partir desta edição, a Cultivar Máquinas publicará uma série de três artigos sobre seleção de máquinas agrícolas, onde o professor Fernando Schlosser explicará quais os critérios para escolher o maquinário ideal para cada propriedade

Fotos Fernando Schlosser

O

momento da compra de uma nova máquina agrícola é sempre tomado com preocupação pelo agricultor. Ele sabe da necessidade, vê perspectivas de melhorias no seu sistema de produção, mas preocupa-se com a capacidade de endividamento e com o retorno econômico que esta compra pode trazer. Isto se ele estiver convencido da qualidade técnica e da propriedade da escolha do modelo. Imaginamos ser difícil esta tomada de decisão, pois a situação econômica da Tomar cuidado na hora de escolher o grau de agricultura no Brasil não permite riscos tecnologia embarcada é uma boa decisão e um erro de grandes dimensões pode ser fatal para a continuidade do negócio. Nos parecem claros dois motivos que comprar máquinas baratas em manutenção, podem servir para que consideremos com que não ocasionem investimentos adicionais mais cuidado a seleção de tratores e máqui- inúteis ou com pequena utilidade para o sisnas agrícolas: tema produtivo do agricultor. Existem má• Como é impossível ou muito difícil quinas que oferecem recursos, opcionais e controlar as variações e quedas do valor de acessórios que nada mais fazem a não ser encomercialização do produto agrícola, pode- carecer o produto, o que acaba onerando o se reduzir o custo de produção, utilizando agricultor durante toda a vida útil da máquieficientemente os insumos de mecanização, na. Assim, tomar cuidado com as ofertas de liberando receitas para o lucro. Isto representa tecnologia é uma boa decisão. Uma máquiJaneiro / Fevereiro 2003

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na tecnologicamente desenvolvida é aquela que executa o seu objetivo funcional com o máximo rendimento e com a mínima intervenção em manutenção e ajustes. • O custo de mecanização pode incidir em até 40% sobre o custo de produção, sendo então um item de importância na racionalização econômica e minimização de custos. Estudos realizados para a avaliação dos custos de produção de determinadas cultuMáquinas

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constitui como um dos itens mais importantes. A máquina está envolvida em quase todas as etapas da produção e, em algumas, com muita intensidade. Muitos agricultores preocupam-se com informação para a compra de insumos que influem pouco no seu custo final e esquecem a máquina que está sempre trabalhando e muitas vezes acumulando prejuízos. Na utilização de máquinas agrícolas, algumas de suas características podem servir como uma advertência técnica, para a nossa análise: • As máquinas agrícolas têm uma prolongada vida útil (anos), assim os equipamentos agrícolas, quando forem mal dimensionados, poderão vir a ser uma penalização muito difícil de ser evitada em um médio prazo. Um agricultor que compra erradamente um produto, seja por uma má indicação ou por falta de qualidade do produto, ficará com este bem durante muitos anos, onerando o seu custo de produção; • Outro problema é que uma vez adquirido um produto sub ou superdimensionado, este provocará custos extras que terão de ser absorvidos pelo empresário no seu dia-a-dia. Alguns problemas são inerentes à mecanização:

TRATOR É UMA MÁQUINA POUCO AGRÍCOLA

A escolha, na maioria das vezes, é feita com base no que o produtor acredita que precisa e no que o revendedor pensa que o produtor necessita

camos a elevada altura do centro de gravidade, os problemas relacionados à aderência e à dificuldade em adapta-lo ao trabalho e às exigências dos implementos, como exemplo lembrase também a operação de lastragem e alteração de bitola.

FALTA DE CONHECIMENTO DO PRODUTO O nível de informação contido nos manuais e repassado ao comprador é bastante bom

para as operações de manutenção e extremadamente insuficiente para conseguir uma boa operação. Também o nível, a quantidade e a qualidade das informações técnicas são bastante ruins, pois como não temos obrigatoriedade de ensaios oficiais no nosso país, a informação é de exclusiva responsabilidade dos fabricantes. Em determinados países é obrigatória a apresentação de laudos técnicos que qualifiquem o equipamento, para que este possa receber benefícios de crédito oficial.

Charles Echer

O trator é um veículo de tração bastante desenvolvido, mas pouco adaptado às condições de trabalho a que ele é submetido nas operações agrícolas. Para entender isto, pode-se enumerar vários pontos, entre os quais desta-

Newton Peter

... ras indicam que a mecanização sempre se

As chamadas dinâmicas de máquinas, realizadas em feiras, são espaços onde o produtor pode comparar o desempenho dos modelos disponíveis

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Máquinas

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“Diferentemente da produção industrial, na agricultura o ciclo de produção é muito longo, demorando meses para que se colha uma cultura”

O MEIO É MUITO VARIÁVEL, A MÁQUINA NÃO O meio para o qual a máquina foi projetada é idealizado para favorecer o projeto, mas em realidade, quando da aplicação, as máquinas enfrentam uma grande diversidade de condições de solo, clima, cultura, sistemas de produção e um variável grau de conhecimento por parte do operador.

CICLOS DE PRODUÇÃO LONGOS Diferentemente da produção industrial, na agricultura o ciclo de produção é muito longo, demorando meses para que se colha uma cultura, passando diferentes estações, em condições de produção aberta, como se fosse uma fábrica sem teto, onde máquinas operatrizes estão com seus operadores expostos ao clima.

BAIXA UTILIZAÇÃO ANUAL As máquinas agrícolas, embora fabricadas com um processo semelhante a outros produtos mecânicos têm uma baixa utilização anual, por exemplo, 500 horas/ano para

um trator, 200 horas/ano para uma colhedora. Para o caso do trator, isto representa em torno de 5,4 % do tempo total empregado enquanto que em comparação um torno mecânico, em uma indústria, em uma utilização normal, trabalha aproximadamente 43 % do tempo total. “Assim, a seleção de equipamentos agrícolas passa ser uma combinação entre o que o agricultor crê que necessita, e o que o fabricante e o revendedor crêem que os agricultores deveriam necessitar, de uma linha de produtos, que eles podem fabricar e revender com certa margem de lucratividade”. Dr. Luis Márquez – Universidade Politécnica de Madrid O desafio para o produtor moderno, que queira além de sobreviver, progredir economicamente, passa por: • Selecionar os equipamentos pela sua necessidade, com critérios técnicos e econômicos; • Encontrar equipamentos adequados para a sua situação particular, “o que serve para a maioria não necessariamente é o melhor para todo o agricultor”; • Comprar um equipamento de custo

compatível. Analisar a possibilidade de compra e a capacidade de pagamento; • Utilizar o equipamento de modo a proporcionar menores custos. Investir em treinamento de operadores e qualificar a informação técnica. Também é muito importante que o agricultor crie condições internas para receber e utilizar o equipamento agrícola que está sendo incorporado ao seu patrimônio. Neste sentido são bastante importantes as questões relacionadas ao armazenamento da máquina e ao treinamento dos operadores. O armazenamento tem caráter preventivo quanto aos fatores de deterioração que o meio ambiente e as intempéries provocam às partes constituintes da maquinaria agrícola. Os metais podem oxidar-se, as borrachas e os plásticos sofrerem ressecamento etc. Na nossa região são mais comuns os galpões abertos, encontrados em 44% das vezes, em pesquisa recente feita UFSM. Também foram encontrados 30% das ocorrências de galpões de madeira fechados e 18% de construções fechadas de alvenaria. Também foram encontrados 5% de propriedades onde todo o equipamento ficava ex-


“Atualmente o critério de fidelidade dos agricultores com a marca pode estar sendo difícil de ser aplicado”

... posto às intempéries. Neste sentido, cabe

deria ser concorrente, pode fazer e esteja disposto a vender. Alguns são conhecidos como construtores de motores, outros são especializados em transmissões e, neste sentido, ocorrem as uniões e incorporações. Uma empresa italiana chamada Agritália passou a fornecer os modelos de tratores estreitos para frutíferas na Europa para Case-IH, Deutz Fahr, John Deere, Renault e Valtra. Quer dizer, o mesmo trator estreito fabricado por ela trocava de cor e passava a ser de diferentes marcas. Algo impensável há tempos atrás. Um joint venture entre Pablo Rodrigues

ressaltar que alguns equipamentos como os tratores, as colhedoras, as semeadoras e os pulverizadores, entre outros, devem ficar protegidos das intempéries, mesmo considerando os altos custos destas construções. Os arados, as grades, e outros implementos de simples construção não justificam economicamente o armazenamento em condições de cobertura. Quanto à formação técnica dos operadores de máquinas, em outra pesquisa realizada recentemente, foi demonstrada a frágil situação agrícola regional. Enquanto que

Antes de sair às compras, o produtor deve estabelecer critérios que considera importantes para a escolha da máquina

o nível de escolaridade demonstra que 59% possuem primeiro grau incompleto e 20% possuem este mesmo grau completo, somente 1,42% são analfabetos, isto é, incapacitados de ter acesso ao material técnico fornecido pelos fabricantes. Quanto ao treinamento, 47% tiveram o treinamento inicial com seus familiares e somente 22% participaram de treinamento formal em cursos ou jornadas promovidas por fabricantes, centros de treinamento, extensionistas etc. Atualmente o critério de fidelidade dos agricultores com a marca pode estar sendo difícil de ser aplicado. Com a globalização no mundo das máquinas agrícolas, alguns fabricantes, buscando ampliar a escala de produção, passaram a unir-se em empresas mundiais, que intercambiam componentes, com o objetivo de horizontalizar a produção. Cada vez mais os fabricantes de tratores são montadores, deixando de produzir componentes que outro fornecedor que po-

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Máquinas

Claas e Catterpilar fazia com que o modelo de trator de esteira de borracha, modelo Challenger, fosse vendido com as cores da Claas para o mercado Europeu e a colhedora de grãos da Class, pintada de amarelo, fosse vendida no mercado americano como Catterpilar. O mesmo ocorre entre Landini e Massey Ferguson na Itália, onde os tratores podem ser pintados de azul e vermelho dependendo de que rede de concessionários os irá vender. Em transmissões, a Funk, que pertence ao grupo John Deere, fabrica transmissões que equipam tratores da John Deere, MF e New Holland no mercado europeu. A Gima, que pertence metade à Renault e metade à MF, equipa tratores de ambas marcas. A Steyer, de origem austríaca, fabrica caixas de câmbio que podem equipar tanto tratores da Case/Steyer como da Deutz Fahr. Os motores igualmente trazem surpresas nas associações. A marca Cummins equi-

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pa máquinas da John Deere e da MF. Os Deere aparecem em máquinas da Renault. Os Volvo equipam Massey Ferguson e CaseIH na Europa e os MWM aparecem em modelos da Fendt, Steyer e Valtra. Finalmente, devem ser analisados os grandes conglomerados de empresas, como a AGCO que engloba marcas que antes eram concorrentes diretos e em alguns locais mantém a sua independência comercial, como Massey Ferguson, AGCO-Allis, Deutz e Fendt. Há também a CNH que une forças em concessionários vendendo Case-IH, Steyer e Hew Holland, muitas vezes competindo entre si. Também há a SAME, italiana que em uma mesma fábrica monta tratores SAME, Lamborghini e Hurlimann. A justificativa para tal comportamento é que no comércio de máquinas e equipamentos há três razões básicas para não se lutar só: • Pequeno volume de comercialização para unidades motoras e de transmissão. O número de motores e transmissão vendidos com os tratores e colhedoras é pequeno em comparação aos automóveis, ficando difícil a competitividade; • Alto custo de desenvolvimento de projetos novos e com adaptação à agricultura. Quanto mais um projeto for deduzido em seus custos, melhor. Assim, os projetos de componentes devem ficar o maior tempo possível no mercando, ocasionando ao final um benefício para o agricultor; • Penetração e disputa pelos mesmos mercados em todo mundo. Certos fabricantes aproveitam-se destas associações para abrir e explorar mercados que não eram seus antes da associação. Partindo-se do princípio regional de que 77,5% dos agricultores compram tratores novos, está cada vez mais difícil manter esta fidelidade à marca, visto que embora aparentemente concorrentes alguns fabricantes estão unidos em escala de fabricação. Em resumo, gostaríamos de ressaltar a importância de realizar-se um estudo mais detalhado no momento da compra de equipamentos agrícolas, principalmente os de maior valor. O agricultor deve estabelecer uma matriz de critérios que deve considerar neste momento importante. No próximo número trataremos de colocar em apreciação os critérios, principalmente objetivos e técnicos que deverão ser considerados. Assim, como se diz no futebol que o pênalti é tão importante que deveria ser chutado pelo presidente do clube, a aquisição de equipamentos deve ser tratada com muita responsabilidade pelo próprio empresário. M

José Fernando Schlosser, NEMA / UFSM Janeiro / Fevereiro 2003


Distribuidores fertilizantes

Conheça alguns aspectos contrutivos dos distribuidores de fertilizantes e corretivos sólidos, que devem ser observados para obter o melhor desempenho possível da máquina

Máquinas para adubar P

ara desenvolver a construção e aplicação das máquinas devemos considerar que estas trabalham com três tipos básicos de fertilizantes, quanto às suas características físicas ou formas de apresentação: a) fertilizante mineral; b) corretivos; c) fertilizante orgânico. Os fertilizantes apresentam-se pulverulentos (em pouco uso atualmente), cristalinos e granulados. Com relação às máquinas, os fertilizantes granulados têm comportamento similar aos cristalinos, principalmente em termos de fluxo, ângulo de repouso e densidade, o que não ocorre com os pulverulentos. Os corretivos agrícolas no Brasil são, em volume de aplicação, amplamente dominados pelo calcário, que se apresenta sob forma pulverulenta-cristalina. Os maiores problemas em sua aplicação são devidos ao fluxo nos mecanismos, e à sua apresentação, geralmente úmido devido ao manuseio inadequado. Consistência bem diversa têm os fertilizantes orgânicos, que podem ser aplicados sob forma sólida (secos e granulados), pastosa ou líquida (chorume e vinhaça).

Fotos Divulgação

OS DISTRIBUIDORES

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Os distribuidores, quanto à forma de aplicação dos materiais, podem ser enquadrados na seguinte classificação: • por gravidade; • a lanço; • pneumáticos. Os distribuidores gravitacionais podem realizar a distribuição com eixo aletado ou caracol. Os distribuidores a lanço realizam a distriMáquinas

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... buição utilizando o princípio inercial (pen-

dular) ou centrífugo, quando então estarão equipados de discos (simples ou duplos), ou rotores (cônico). O diagrama de blocos da figura 1 mostra uma forma genérica de construção de distribuidores, e é segundo ele que vamos fazer uma análise de alguns aspectos cons-

ga dos pneus traseiros do trator. De acordo com o diagrama, a condição de equilíbrio estático longitudinal será:

=

[

]−[

( + )] + [

(

+

+

)] =

Através dessa equação é possível verificar-se o grau de adequação do acoplamento trator x máquina, desde que se conheça a

Fig. 01 - Componentes básicos de um distribuidor de fertilizantes

trutivos que influem na utilização daqueles.

ACOPLAMENTOS

As máquinas para distribuição de fertilizantes são acopladas aos tratores através de barra da tração (arrasto) ou sistema hidráulico de levantamento de 3 pontos (montadas), e tomada de potência. Com relação aos engates há de se observar se os mesmos estão dentro dos padrões (INMETRO/ISO) e é uma das primeiras características técnicas a ser observada. A normalização dos acoplamentos é importante para garantir uma intercambiabilidade de máquinas e tratores. As máquinas montadas (“hidráulicas”) conferem maior manobrabilidade ao conjunto, porém sua capacidade de carga fica limitada, conforme se verá a seguir. Em extensões maiores, ou talhões (“tiros”) mais longos dá-se preferência às máquinas de arrasto. Evita-se o grande número de abastecimentos, o que se torna fator de perda de tempo operacional. No caso das máquinas montadas, um aspecto importante a ser considerado além das dimensões padronizadas dos acoplamentos é a compatibilidade da massa da máquina (massa própria + carga) com a capacidade de levantamento do sistema hidráulico de levantamento em 3 pontos do trator e as condições de estabilidade longitudinal do conjunto trator/ máquina, conforme mostrado no diagrama de forças da figura 2. Considere-se também a capacidade de car-

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Máquinas

posição do centro de gravidade (CG) e a massa de ambos. Considere que 20 % do peso do trator deve ficar apoiado no eixo dianteiro, se for 4X2, ou 35-40 % se for 4X2 TDA. Este peso é necessário para garantir estabilidade direcional e dirigibilidade.

CHASSI O conjunto de partes estruturais da máquina cuja missão é de suporte para as demais partes denomina-se genericamente “chassi”. A robustez do chassi é essencial para as condições de ajustagem e funcionamento das demais partes, concorrendo para uma vida útil mais prolongada da máquina. Um aspecto importante a se observar no chassi é o fato de que robustez não significa necessariamente uso de bitolas superdimen-

sionadas que, além de encarecer, tornam a máquina muito pesada. Existem engenhosas maneiras de se obter um chassi robusto e ao mesmo tempo leve, por exemplo um conjunto monobloco; isso pode ser um indicativo do nível tecnológico do projeto e construção da máquina.

DEPÓSITO As principais características técnicas do depósito de uma máquina distribuidora de fertilizantes são: capacidade; altura de carregamento; conformação das paredes laterais; presença de cobertura (tampa); material utilizado. A capacidade do depósito reflete diretamente na área de ação da máquina entre reabastecimentos sucessivos. Os tempos consumidos em reabastecimentos constituem um dos principais fatores de redução da capacidade operacional das máquinas; assim, é importante considerá-lo em função da área de aplicação e das dosagens a utilizar. A altura de carregamento deve ser ergonomicamente dimensionada, principalmente para aqueles equipamentos cujo reabastecimento será realizado manualmente. A conformação das paredes laterais do depósito deve ser projetada de forma a evitar o máximo possível um efeito significativo da altura do fertilizante no seu interior sobre o mecanismo dosador ou alimentador. Assim, deve-se ressaltar a importância da adequação do ângulo de inclinação das paredes laterais com o ângulo de repouso do fertilizante1 , evitando desuniformidade de escoamento. Outro problema comum é o acúmulo de material nos cantos, não permitindo o descarregamento completo do depósito. A presença de cobertura no depósito, principalmente quando este for de grande capacidade, é interessante para evitar que uma chuva (ou orvalho) o danifique, inici-

Fig. 02 - Diagrama de forças que atuam no conjunto trator + distribuidor

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“Um aspecto importante a se observar no chassi é o fato de que robustez não significa necessariamente uso de bitolas superdimensionadas”

ando a corrosão, ou endurecendo o fertilizante ou corretivo contidos. O material de construção do depósito é importante pois a maioria dos fertilizantes possui características corrosivas e/ ou abrasivas. Assim, a resistência deve ser grande à oxidação, corrosão e ao desgaste mecânico por atrito. Os reservatórios primitivos de madeira estão sendo utilizados apenas em depósitos para distribuidores de fertilizantes orgânicos, por sua peculiaridade de resistir à umidade e ácidos. Os depósitos de chapa de aço estão sendo substituídos pelos de fibra de vidro e plásticos de alta densidade. Houve um início de utilização de depósitos de aço inoxidável, inviáveis pelo alto custo do material, e de plástico de baixa densidade (flexível), porém sem a resistência suficiente ao impacto e à carga.

RODADO

compactação (recalque acima de 2,5 kgf/ cm2).

MECANISMO DOSADOR-DISTRIBUIDOR É designado como mecanismo dosador aquele que tem a função de controlar o fluxo de saída do fertilizante do depósito. Pressupõese uma homogeneidade de distribuição tanto no sentido longitudinal quanto no transversal. Esta homogeneidade é representada pela uniformidade de vazão do mecanismo dosador, e pela similaridade de vazão entre diversos dosadores da mesma máquina. Os mecanismos dosadores podem ser enquadrados em dois grupos, basicamente: • gravitacionais; • volumétricos. Os mecanismos gravitacionais são aqueles que promovem e controlam o fluxo apenas por gravidade, são os mais simples de construção,

Arno Dallmeyer

As máquinas de arrasto são providas de rodados de sustentação e acionamento dos mecanismos dosadores/ distribuidores. O acionamento dos mecanismos dosadores pelos rodados traz a vantagem de uma maior facilidade e manutenção de uniformidade de regulagem das taxas de aplicação. Os rodados são importantes do ponto de vista de resistência ao rolamento, sustentação (afundamento), compactação e deslizamento. Os rodados devem ser projetados de forma que permitam o deslocamento da máquina nos terrenos agrícolas, sem comprometer seu acionamento (taxa de alimentação). Como forma de economia de construção algumas máquinas são equipadas com rodados muito pequenos, em especial as de grande capacidade, causando problemas de

Fig. 03 - Distribuidor de fertilizantes com dosador gravitacional (fonte: MIALHE, 1988)

mas mais sujeitos a problemas como entupimento, desigualdade de fluxo por modificação de características etc. Um exemplo desse tipo são os agitadores que atuam sobre uma janela, figura 3. Os dosadores volumétricos são aqueles em que um determinado volume de material é continuamente retirado pelo fundo do depósito e entregue ao mecanismo distribuidor. É o caso dos parafusos helicoidais, das esteiras transportadoras, das rodas dentadas horizontais, dos rotores acanalados, dos pratos giratórios etc. Em nosso país são mais utilizados os mecanismos de esteiras transportadoras seguido pelos parafusos helicoidais. Aqueles têm a vantagem de prover um fluxo mais regular (contínuo) que estes, o que tem reflexos sobre a uniformidade da lavoura a ser formada. Devem ser procurados sempre os dosadores com características de auto-limpeza, pois o material a ser distribuído muitas vezes se apresenta úmido ou empedrado, o que prejudica o fluxo.

CONCLUSÃO Os mecanismos distribuidores, elementos essenciais deste tipo de máquinas, merecem uma abordagem específica, à qual voltaremos oportunamente, enfocando notadamente o desempenho ligado a fatores construtivos. Verificamos que no restante da máquina existe uma série de detalhes construtivos que podem influir no melhor uso e desempenho dela. E estes detalhes nem sempre estão ligados a custo de aquisição, mas sim à qualificação técM nica do fabricante. Arno Dallmeyer, Centro de Tecnologia / UFSM 1 Ângulo de repouso é aquele ângulo formado pelo fertilizante ou corretivo com relação a uma base horizontal, quando derramado livremente sobre ela.

A escolha de rodados pequenos e estreitos implicará em maior compactação do solo Janeiro / Fevereiro 2003

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Máquinas

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Irrigação Pivô Central

Pablo Rodrigues

Controle total O manejo da irrigação usando estações meteorológicas automáticas, computadores e comunicação via internet garante precisão e menos despesas

N

o século que se encerrou, a agricultura passou por inúmeras modificações. Novas tecnologias e alternativas de melhorar o uso da terra e a eficiência dos insumos utilizados foram constantemente incorporados ao processo produtivo. Todas essas implementações auxiliaram e continuam auxiliando no aumento da produção de alimentos para uma população que aumentou 3,6 vezes nos últimos 100 anos. O clima é, seguramente, o fator dominante no estabelecimento da agricultura em determinada região. Os fatores climáticos são os principais agentes formadores dos solos, em especial a temperatura e a precipitação pluvial, que atuam na distribuição da vegetação e nas características químicas, físicas e biológicas de cada solo. Assim, nas regiões temperadas, a temperatura é o fator mais limitante na produção, enquanto que nas regiões tropicais, as precipitações pluviais são as que mais afetam a produtividade das culturas. Isso indica, também, que há uma estreita relação entre a quantidade e a distribuição das precipitações pluviais e as características físicas e químicas dos solos. O tipo e o estado da vegetação, além da conservação

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Máquinas

da água na sub-superfície, dependem da distribuição e quantidade das precipitações pluviais. Hargreaves (2000) destaca a irrigação como o principal instrumento para manter o agricultor no campo e possibilitar seu desenvolvimento econômico e social. Pode-se até mesmo dizer que a irrigação transformou o uso e a exploração das terras e a sociedade humana como nenhuma outra atividade havia feito anteriormente. Não obstante, registros históricos reportam que muitas civilizações da antiguidade, cuja atividade agrícola esteve baseada na agricultura irrigada, ruíram em função do uso inadequado da água. Isso significa que, a agricultura irrigada, assim como todo o sistema de irrigação, deve ser constantemente monitorada, para evitar que os custos de operação e manutenção não sejam maiores que benefícios advindos do sistema de produção. Com um adequado manejo da água de irrigação, os agricultores irrigantes podem aumentar a produtividade das explorações, além de possibilitar safras adicionais. Para isto, é necessário que a pesquisa disponibilize opções de manejo que possam contribuir para a conservação dos recursos naturais e garantir um desenvolvimento sustentá-

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vel. À exceção disto, é função da pesquisa oferecer dados sobre o manejo de culturas visando aumentar a produção, diminuindo os riscos da atividade agrícola.

HORA DE ACIONAR O SISTEMA DE IRRIGAÇÃO Um dos problemas clássicos que envolvem o manejo da irrigação é a determinação de quando e quanto irrigar. A escolha do momento de irrigar requer a consideração de algumas variáveis como: fatores do clima, tipo e estádio de desenvolvimento da cultura e capacidade de armazenamento de água no solo. Atualmente, existe um crescente interesse no controle da irrigação através de variáveis meteorológicas, visto que estas são as principais responsáveis pelas oscilações no rendimento das safras agrícolas no Brasil. Este método consiste na determinação do balanço hídrico do solo, ou seja, a disponibilidade de água no solo às plantas está relacionada com a intensidade das perdas pelo processo de evapotranspiração. O manejo da irrigação a partir de dados meteorológicos implica que estes sejam repreJaneiro / Fevereiro 2003


“Um dos problemas clássicos que envolvem o manejo da irrigação é a determinação de quando e quanto irrigar”

Fig. 01 Distribuição das estações meteorológicas automáticas ligadas em rede com a Universidade Federal de Santa Maria, RS, 2003

das lavouras. Assim, de posse dessas informações, o produtor poderia planejar suas atividades como compra de insumos, período ideal para semeadura, irrigação, aplicação de agroquímicos e colheita, entre outros.

APLICAÇÕES AGRÍCOLAS DA CLIMATOLOGIA O alastramento das observações meteorológicas durante o século XVIII, principalmente aquelas utilizadas na previsão de tempo, foi um fator determinante para o início do armazenamento dos dados de clima em quase todo o mundo. Durante a década de 80 e 90, a mais decisiva contribuição da pesquisa na área climatológica esteve relacionada aos alertas sobre UFSM

sentativos de uma propriedade ou região e que sejam coletados automaticamente. Embora o avanço da tecnologia na agricultura tenha possibilitado rapidez e facilidade no acesso a um grande contingente de dados, a coleta e disponibilização dos dados deve ser feita com precisão. Isso significa que o planejamento, instalação, manutenção e a procedência dos dados coletados automaticamente devem ser feitos por pessoas tecnicamente capacitadas. A estrutura de informações meteorológicas no Brasil é organizada em Distritos Meteorológicos, que recebem informações de diversas estações meteorológicas instaladas nos municípios de abrangência. Como exemplo, tem-se o 8º Distrito Meteorológico, com sede em Porto Alegre, o qual recebe informações meteorológicas diárias de diversos municípios, como é o caso da estação meteorológica de Santa Maria, situada no Campus da Universidade Federal de Santa Maria. No 8º Distrito Meteorológico as informações são processadas e um relatório diário é elaborado com as condições climáticas ocorridas. Esta estrutura de informação permite ao usuário uma visão geral das variáveis meteorológicas ocorridas e informações sobre previsão de tempo para uma determinada região. Porém, informações de uma pequena ou micro região podem não ser muito precisas, dificultando ou limitando o uso dessas informações na atividade agrícola. Além disso, as informações meteorológicas coletadas nessas estações oficiais não são disponibilizadas aos interessados na velocidade necessária. A situação considerada ideal seria o produtor ter ao seu dispor informações climáticas referentes a sua propriedade que, juntamente com as informações de um distrito meteorológico, auxiliassem no processo de planejamento, instalação e condução

Estação meteorológica automática instalada dentro de uma propriedade descreve as condições climáticas em tempo real Janeiro / Fevereiro 2003

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o aquecimento global do planeta em função do efeito estufa, além das previsões sobre catástrofes causadas por furacões e tempestades. Na verdade, todas as atividades econômicas são sensíveis ao clima. A construção civil, a aviação, a agricultura, assim como a medicina, são influenciados pelo tempo e, conseqüentemente, pelas condições meteorológicas. Especificamente na agricultura, a necessidade das informações meteorológicas é extremamente importante. A duração da estação de crescimento depende do tipo de planta, da temperatura do ar, da disponibilidade de água e do local (localização geográfica) onde a planta está sendo cultivada. A freqüência e a quantidade das precipitações pluviais, juntamente com a capacidade de armazenamento de água no solo, definem a eficiência do uso da água (Bergamaschi, 1992). Um importante componente que auxilia e facilita o acesso às informações são as chamadas estações meteorológicas automáticas. Essas estações são caracterizadas por um conjunto de instrumentos capazes de descrever as condições meteorológicas em tempo real e podem ser instaladas dentro da propriedade, próximo da área cultivada. As estações meteorológicas automáticas possuem sensores que medem as temperaturas do solo e do ar, radiação solar, precipitação pluvial, umidade relativa do ar, pressão atmosférica, velocidade e direção do vento. A partir dessas informações o produtor rural pode planejar toda a atividade agrícola, desde o plantio até a colheita. Os dados coletados por essas estações meteorológicas podem ser enviados diretamente para um computador instalado na propriedade. Programas (softwares) especiais que interpretam os dados gerados pela estação meteorológica possibilitam a visualização dos dados Máquinas

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“O avanço dos instrumentos eletrônicos para obtenção de dados meteorológicos, vem desenvolvendo-se rapidamente”

... coletados, tanto no painel de controle da esta-

ção como no monitor de um computador, em tempo real. Nos países desenvolvidos, como por exemplo os Estados Unidos, as variáveis meteorológicas de grandes áreas cultivadas são monitoradas e a semeadura só é efetivada quando um programa de computador indicar as condições ideais de umidade e temperatura do solo, para o processo de germinação e desenvolvimento inicial (Elliott et al, 2000). Esse sistema permite que o desenvolvimento das plantas seja acompanhado em tempo real, além de possibilitar o manejo da cultura de forma a obter melhores rendimentos. Essas novas tecnologias podem ser de grande utilidade ao produtor, uma vez que esse poderia determinar o momento exato e tecnicamente recomendado para realizar as operações agrícolas. As informações meteorológicas, associadas ao estádio de desenvolvimento da cultura, podem, por exemplo, fornecer informações sobre a previsão de ocorrência de pragas e doenças.

ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS AUTOMÁTICAS

Cultivar

O avanço dos instrumentos eletrônicos para obtenção de dados meteorológicos, vem desenvolvendo-se rapidamente, sobretudo o uso de

estações meteorológicas automáticas. Os dados fornecidos por essas estações, juntamente com os obtidos em observatórios oficiais permitem a avaliação e o planejamento das atividades agrícolas. Uma rede é formada pela interligação de estações meteorológicas, com comunicação via rádio, telefonia ou microondas, onde existe um ponto de coleta de informações. Essa interligação permite a visualização, em tempo real, de dados meteorológicos de uma microrregião, auxiliando na tomada de decisão de um grupo de produtores, ou o monitoramento de condições favoráveis ao aparecimento de uma determinada praga ou moléstia, ou determinação de períodos propícios à formação de geadas e, principalmente, para indicar o momento de acionar os sistema de irrigação e a indicação da quantidade de água a ser aplicada. Nos Estados Unidos e Canadá, embora exista um grande número de estações meteorológicas oficiais, o uso de estações compactas e a conseqüente formação de redes está sendo difundida rapidamente. Nesses países, existem aproximadamente 40 redes de informação para obtenção e monitoramento de dados atmosféricos e de solo através da utilização de estações meteorológicas compactas. Algumas dessas são controladas por órgãos governamentais, outras por instituições de pesquisa e um grande número são formadas por cooperativas de produtores rurais. No Brasil, a utilização das estações meteorológicas automáticas é recente, sendo que um grande número está instalada em instituições de pesquisa. Porém, o seu uso por produtores rurais vem crescendo continuamente.

MANEJO VIA INTERNET

O sistema possibilita uma redução no consumo de energia em até 40%

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Máquinas

O Departamento de Engenharia Rural, através do Setor de Irrigação e Drenagem, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), está implementando uma rede de estações meteorológicas automáticas. A principal importância do estabelecimento dessa é a possibilidade da previsão de quando irrigar e quanta água aplicar numa determinada área, dependendo da cultura e do tipo de solo. O cálculo da irrigação é feito a partir de dados meteorológicos, baseado na estimativa da evapotranspiração de referência para diferentes culturas. No momento, a rede é composta por catorze estações

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meteorológicas automáticas no Estado do Rio Grande do Sul, três no Uruguai e uma em Luziânia, no Estado de Goiás. Na figura 1 é apresentada a distribuição das estações meteorológicas ligadas em rede no Estado do Rio Grande do Sul. Os dados meteorológicos medidos pelas estações são transferidos para um computador em cada propriedade, onde são processados por um programa criado por uma equipe de pesquisadores da UFSM. Depois de processados por este programa, os dados são transferidos via satélite para um computador localizado no campus da Universidade (figura 2), onde é realizado o cálculo da evapotranspiração ou o requerimento hídrico das culturas. Os agricultores irrigantes, usuários do sistema, acessam-no através de um endereço eletrônico na Internet (http://www.ufsm.br/irrigacao), e lá podem encontrar informações específicas sobre o manejo da irrigação de sua propriedade. As informações são disponibilizadas diariamente (intervalo de 24 horas), detalhando por cultura e sistema de irrigação, quando e quanto irrigar, além de disponibilizar a previsão de ocorrência de necessidade de aplicação de água via irrigação para um período de 24 e 48 horas. O manejo da irrigação abrange, atualmente, as culturas do milho, milho doce, sorgo, milho pipoca, feijão, soja, batata, tomate, ervilha, algodão, trigo, cevada e café. O sistema conta com um conjunto de 32 irrigantes no Brasil e 05 no Uruguai, destacando-se as Fazendas Pamplona e Paineira, do grupo SLC Agrícola Ltda; Fazenda Ana Paula Agropastoril Ltda; Granja Três Irmãos (família Bohrz); Condomínio Rural Macagnan Ltda, entre outros. No total são 137 pivôs centrais cadastrados no sistema, totalizando uma área irrigada aproximada de 10.500 hectares. A previsão de abrangência do sistema de manejo da irrigação para 2003 é de 40.000 hectares, sendo 20.000 hectares no Estado do Rio Grande do Sul e 20.000 hectares no restante do Brasil. As vantagens do sistema de controle de irrigação via Internet são: (I) facilidade e rapidez no acesso aos resultados em tempo real; (II) os dados de entrada ao sistema, especialmente aqueles relacionados ao solo, planta e clima, são realizados por uma equipe técnica especialmente treinada para essa finalidade, desonerando o produtor irrigante do fornecimento de qualquer informação básica inerente ao sistema. O produtor irrigante necessita apenas informar a data de semeadura, a cultura implantada e o sistema de manejo adotado e, (III) a principal vantagem é a da redução no consumo de energia elétrica ou diesel (na ordem de 35 a 40%), com conseqüente redução de custos e aumento na eficiência do uso da água.

ESTIMATIVAS E FUTURO DO SISTEMA Estatísticas recentes indicam aumento na área irrigada por aspersão durante os últimos Janeiro / Fevereiro 2003


anos, fazendo do setor agrícola o maior consumidor de água e de energia elétrica no Brasil. O grande avanço nas áreas irrigadas tem contribuído de forma expressiva nas discussões acerca da melhor eficiência no uso da água, isto é, como incrementar a produção por unidade de água consumida. Cabe ressaltar que a irrigação é uma tecnologia que possibilita agregar valor ao produto gerado, proporcionando maior renda aos produtores. A eficiência no uso da água na agricultura pode ser bastante melhorada através do manejo da cultura visando um melhor aproveitamento das precipitações pluviais. Notadamente, a grande contribuição do adequado manejo da água de irrigação é o controle do uso da água, pois tanto o excesso como a deficiência hídrica causam redução no rendimento de grãos das culturas. Quando uma pequena quantidade de água é aplicada, esta é quase totalmente utilizada pela cultura e, para maiores quantidades, os acréscimos na produção são progressivamente menores, indicando perdas de água quando a cultura está próxima da condição de máxima produção. A água aplicada, além do ponto de produção máxima, provoca redução da produção em conseqüência da diminuição da aeração do solo, da lixiviação de nutrientes e, provavelmente, do desenvolvimento de doenças associadas ao excesso de umidade, além de aumentar os custos de produção e consumo de energia elétrica. A redução da lâmina de irrigação aplicada proporciona uma redução no número de horas de funcionamento dos sistemas, com redução no consumo de energia elétrica. Portanto, a proposta de manejo da irrigação visa o melhor aproveitamento das precipitações pluviais pelas culturas e a determinação do momento mais adequado da aplicação de irrigação suplementar, com conseguinte benefício de redução nos gastos energéticos. Estima-se, através de dados preliminares, redução nas lâminas aplicadas e conseqüente redução no consumo de energia

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de aproximadamente 30 a 35%, além de aumento na produtividade das áreas sob irrigação pela correta aplicação da água de irrigação. Uma análise de custos de áreas irrigadas e que adotam o sistema de manejo em discussão, indica uma redução significativa na lâmina acumulada aplicada, redução no consumo de energia e menor incidência de pragas e doenças, além de um substancial incremento no rendimento de grãos por unidade de área. O custo para a aplicação de 1 mm de água num pivô de 100 hectares equivale a R$ 100,00 (cem reais) aproximadamente, considerando-se somente os custos com energia elétrica. Esses valores correspondem a uma fração substancial no custo total de produção, daí a importância de minimizar o consumo de energia, com melhor utilização das precipitações pluviais e água armazenada no solo sem, entretanto, reduzir o rendimento de grãos das culturas. Num exemplo prático, podem ser citados os trabalhos de manejo da irrigação na Fazenda Pamplona, em Luziânia, Goiás. Na cultura do trigo foi obtido um rendimento de 90 sc/ha, com uma lâmina de irrigação aplicada de 250 mm, quando o consumo médio normal da cultura está entre 400 e 500 mm. A precipitação pluvial durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura foi de 31,80 mm. Para o tomate industrial, obteve-se um rendimento médio de 132 a 135 t/ha, com uma lâmina acumulada aplicada de 340 mm e uma precipitação pluvial de 33 mm. Além disso, foi observação uma redução entre 2 a 3 aplicações de fungicidas. Na

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Fig. 02 Fluxograma da transmissão dos dados via satélite

cultura do feijão obteve-se um rendimento de grãos de 60 sc/ha, para uma lâmina de irrigação acumulada de 235 mm. A precipitação pluvial acumulada foi de 32 mm. Em comparação a anos anteriores, observou-se um redução na lâmina aplicada de 60 a 70 mm, numa área irrigada de aproximadamente 600 hectares. Isso equivale a uma redução no custo de energia elétrica de R$ 36.000,00 a R$ 42.000,00 (trinta e seis a quarenta e dois mil reais), além da redução de uma aplicação de fungicida. Com a cultura da ervilha obteve-se um rendimento médio de 60 sc/ha, para uma lâmina de irrigação aplicada de 220 mm e total ausência de precipitações pluviais no período. O objetivo atual da equipe de pesquisadores da UFSM é fazer com que o programa abranja um número cada vez maior de culturas irrigadas e, por conseguinte, o aumento da área M monitorada. Reimar Carlesso, Mirta Teresinha Petry, Genésio Mario da Rosa e Marcio Zaiosc Almeida, UFSM

Máquinas

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Máquinas operação

IAC

Excesso de confiança, imprudência e treinamento informal são alguns dos principais fatores responsáveis pelo grande número de acidentes com máquinas agrícolas

Acidentes rurais A

pesar das raras estatísticas e do pouco que se toca no assunto, os acidentes no meio rural acontecem. Atingem pessoas de diferentes idades, independentemente da experiência de campo e ocorrem nas mais diversas situações. Os fatores potenciais de risco são também os mais diversos: falta de conhecimento, falta de atenção, de consciência sobre o perigo, hábitos, métodos equivocados de trabalho, uso de equipamentos tecnicamente inadequados, estresse, uso de máquinas que não atendem os princípios ergonômicos e fora do padrão de segurança, trabalho em condições insalubres (pouca iluminação, poeira, extremos de temperatura etc.) e ausência de equipamentos de proteção individual. Contribuem também para a ocorrência de acidentes, operações em terrenos inclinados, velocidade alta durante as operações, imprudência do operador ao trafegar em estradas, despreparo do operador, além do uso de bebidas alcoólicas. Normalmente, são os operadores de máquinas os principais envolvidos (72,1%). Levantamento realizado no Estado de São Paulo, no ano de 2001, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa, mostrou, entretanto, que em 28,9% dos casos, os acidentes também ocorrem com “terceiros”, isto é, com pessoas não diretamente envolvidas com a operação (parente, outro empregado, vizinho, amigo). Não escapam nem crianças (ver relatos de acidentes no final do texto). As figuras 1 e 2 mostram a distribuição das classes de idade dos operadores

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e “terceiros” envolvidos com acidentes. É de se esperar que um bom nível de instrução e a experiência do operador sejam fatores que favoreçam uma operação segura. Um operador que saiba ler e escrever certamente compreenderá melhor as instruções do manual de operação, bem como os avisos de advertência e a simbologia utilizada na máquina. Um operador mais experiente deveria saber evitar o acidente. A figura 3 mostra, entretanto, que é alta a porcentagem (55,6%) de pessoas com mais de 10 anos na função, envolvida em acidentes. Excesso de confiança, imprudência e, principalmente, o treinamento informal, onde nem sempre a informação é correta, poderiam ser apontadas como justificativas para este fato. O baixo número de operadores em cursos formais de treinamento (ver figura 4) oferecidos por sindicatos rurais, órgãos de extensão, fabricantes e revendedores de máquinas e instituições públicas pode ser um indício de que a oferta de cursos ainda é pequena ou de que os operadores não são incentivados a fazê-los. A atividade agrícola é uma tarefa que expõe o operador a condições insalubres: calor/frio, sol, poeira, ruído e vibrações de máquinas e esforço físico demasiado. Em qualquer tipo de operação agrícola é possível ocorrer acidentes, em maior ou menor grau (ver figura 5), os quais afetam distintas partes do corpo, principalmente os membros inferiores e superiores (ver figura 6), que são os mais expostos, e provocam diversos tipos de lesões (ver figura 7). Os acidentes relatados no levantamento de

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campo são geralmente associados ao uso de maquinaria agrícola, estando o trator envolvido em mais da metade dos casos (60,5%) conforme se vê na Figura 8, sendo expressivo o índice de tombamento de tratores agrícolas (Figura 9). Conhecer as características da ocorrência de acidentes no meio rural e discuti-las em cursos de treinamento operacional e de segurança, é uma forma de conscientizar os operadores para o potencial de riscos da atividade agrícola. O operador ao associar ocorrências semelhantes às situações do seu dia-a-dia, pode ajudar a prevenir os acidentes. Os relatos de acidentes fatais e não fatais, colhidos no levantamento em propriedades agrícolas e apresentados a seguir, pedem uma reflexão sobre o assunto: • ao ajudar no transporte de feno, o empregado caiu da carreta e esta passou por cima do seu peito; • vizinho (de 15 anos) estava de carona sobre o trator durante gradeação quando caiu sobre a grade, provocando lesão permanente em seu pé; • ao acoplar implemento, o cardan caiu sobre seu pé; • foi verificar a bomba do pulverizador e enrolou a camisa no cardan em movimento, ao tentar rasgá-la, esfolou a mão; • acendeu o isqueiro perto da boca do tanque de combustível do trator, que explodiu, queimando-lhe o rosto; • desceu do trator para descarregar a carreta com uva quando o trator se deslocou, prenJaneiro / Fevereiro 2003


“Muitos dos acidentes relatados poderiam ser evitados com a aplicação de medidas de segurança” Fig. 01

Fig. 02

Fig. 03

Fig. 06

sando-lhe o peito contra o caminhão próximo, fraturando-lhe a clavícula; • ao descer do trator, caiu e quebrou o tornozelo; • ao subir em barranco, o trator tombou e a roda pegou sua perna esquerda, quebrando-a; • ao passar sobre uma curva de nível durante a aplicação de defensivo, o trator tombou e o operador caiu sob um dos pneus, quebrando uma costela; • estava de carona sobre o trator quando escorregou o pé entre o pneu e o pára-lama, vindo a cair e morrer; • um pneu de trator estava encostado no muro, quando uma menina de 7 anos de idade sentou sobre ele; o pneu caiu em cima dela, matando-a; • o operador caiu do trator e a roçadora de arrasto passou sobre ele, matando-o; • foi intoxicado com produto químico durante tratamento de semente, o que causou a sua morte. Muitos dos acidentes relatados poderiam ser evitados com a aplicação de medidas de segurança, máquinas com dispositivos de segurança incorporados (ex. proteção de partes móveis, estruturas de proteção contra capotagem e outras), bem como com o uso de equipamentos de proteção individual.

Fig. 07

Fig. 08

SUGESTÕES E/OU RECOMENDAÇÕES

Fig. 04

Fig. 05

Janeiro / Fevereiro 2003

Para minimizar ou evitar a ocorrência ou gravidade dos acidentes rurais, diversas ações podem ser realizadas, entre elas: a) Incentivar, junto às universidades federais e estaduais, a introdução de disciplinas ou tópicos específicos sobre segurança e ergonomia de máquinas agrícolas no currículo dos cursos de agronomia, engenharia agrícola e cursos de pós-graduação dessas áreas. A disseminação desses conceitos contribuirá para a formação de profissionais com visão crítica do problema; b) Fazer gestões junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR e outros órgãos ministradores de cursos de treinamento operacional para que, além das regras de segurança normalmente enfocadas, seja dada ênfase aos requisitos/dispositivos de segurança existentes ou desejáveis na máquina agrícola, destacando-se as diferenças entre um dispositivo eficiente de um ineficiente. A percepção correta da função de determinados dispositivos ou configurações técnicas presentes na máquina agrícola e dos pontos ou locais de maior perigo, auxiliarão o operador a tomar as atitudes prevencionistas adequadas; c) Promover, junto aos órgãos de pesquisa e de ensino universitário, o desenvolvimento de estudos de tecnologia de segurança em máquinas agrícolas, particularmente no que se refere à configuração de projetos e materiais empregados, na proteção das fontes de riscos; d) Conscientizar o usuário de tratores e máquinas agrícolas da importância de exigir certifica-

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Fig. 09

ção da estrutura de proteção, seja ela atestada pelo fabricante ou por órgãos credenciados para tal; e) Implementar a figura do operador certificado, isto é, aquele operador que, tendo recebido treinamento específico para uma atividade agrícola, seja submetido a provas de avaliação de conhecimento e práticas, coordenadas por meio de um sistema de certificação institucional que, certamente, deverá contemplar os aspectos de segurança operacional em seu conM teúdo programático. Ila Maria Corrêa e Hamilton Humberto Ramos, IAC Máquinas

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Plantadoras

Cultivar

plantio direto

Velocidade e qualidade Em processos como a semeadura, onde as condições ideais de plantio podem ser temporárias, velocidade e boa distribuição das sementes são fundamentais

A

cultura da soja vem ocupando um espaço cada vez maior no mercado brasileiro e mundial com acessão de alguns países. No Brasil, a soja é uma das principais culturas implantadas, principalmente na Região Sul, onde vem se tornando uma das principais rendas da agricultura. Sabe-se que para implantação da cultura da soja é necessário conhecer qual a melhor maneira de semeadura, qual o melhor método, qual a melhor época entre outros fatores, pois os insumos usados nessa implantação são de alto valor e é preciso obter altos rendimentos para que se torne viável o cultivo da mesma, objetivando lucro aos produtores. A semeadura é uma das operações que define o potencial produtivo de uma cultura de grãos. Realizar essa operação em condições ideais de umidade do solo, distribuir as sementes com espaçamentos uniformes e na profundidade desejada são condições fundamentais para potencializar a produtividade. Aliado a isso, deseja-se ainda uma alta capacidade operacional, o que acarretará em redução nos custos. As semeadoras devem garantir uniformidade de distribuição em todas as linhas,

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Máquinas

colocar as sementes em profundidade uniforme e adequada e cobri-las com terra. Observa-se ainda que a profundidade não deve ser afetada sensivelmente pelo microrelevo do solo e que o desempenho da máquina não deveria ser afetado pela inclinação do terreno, pela velocidade de avanço e pela altura das sementes nos depósitos. Normalmente são usados dois tipos de máquinas para a semeadura da soja: a semeadora de fluxo contínuo e a de precisão. As primeiras, embora não tão precisas, têm a vantagem da simplicidade de funcionamento e manejo, ao passo que as de precisão apresentam maior regularidade na distribuição das sementes, porém exigem maior atenção nas regulagens e na operação. As semeadoras de precisão em uso para a soja podem ser equipadas com dosadores para sementes do tipo discos perfurados horizontais, inclinados ou verticais, correias perfuradas, dedos prensores, canecas e com dosadores pneumáticos de sucção (vácuo) ou pressão. A velocidade de semeadura afeta o desempenho da semeadora-adubadora. Segundo pesquisas, essas máquinas dotadas de mecanismo dosador de disco horizontal devem ser operadas a uma velocidade máxima

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em torno de 5 km/h. Em velocidade superior, o preenchimento das células ou furos é problemático, podendo aumentar as lesões nas sementes. O ideal é operar a uma velocidade de 4 km/h ou menos. Com o objetivo de avaliar o efeito da velocidade na operação de semeadura direta de soja, utilizando uma semeadora com mecanismo dosador de sementes do tipo discos alveolados horizontais, realizou-se esse trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS Avaliou-se a capacidade operacional teórica, percentual da superfície do solo coberto com restos culturais, percentual de plântulas com espaçamento normal, duplo e falho e número de plantas por m2 após a semeadura e na colheita. Antes da colheita de 20 m das 3 linhas centrais da parcela, coletou-se nas linhas laterais 10 plantas para determinação do número de vagens por plantas e número de grãos por vagem. Nos grãos colhidos determinou-se a umidade e o peso de 100 grãos. A capacidade operacional teórica do conjunto trator-semeadora foi incrementada Janeiro / Fevereiro 2003



“A semeadura é uma das operações que define o potencial produtivo de uma cultura de grãos” Fig. 3 – Capacidade teórica de trabalho

Fig. 4 – Espaçamentos entre plântulas

... com o aumento da velocidade, au-

mentando de 1,09 ha/h para 3,2 ha/ h da menor para a maior velocidade. Uma alta capacidade operacional é fundamental, pois condições ideais de semeadura, principalmente umidade adequada do solo, são temporárias. Nesse sentido, velocidades mais elevadas obviamente poderão reduzir custos, pois áreas maiores poderão ser semeadas em condições ideais em menor tempo. Para os espaçamentos duplos , falhos , número de plântulas por m2 e coeficiente de variação da distribuição das plântulas , a análise estatística não apresentou diferenças significativas, demonstrando que a velocidade de deslocamento da semeadora-adubadora com dosador de sementes do tipo discos

Em relação ao percentual de restos culturais sobre a superfície do solo após a semeadura, fator importante na prevenção dos riscos de erosão hídrica, na germinação e emergência de plantas daninhas e na regulação da temperatura do leito de semeadura, ocorreu um incremento significativo no percentual de incorporação com o aumento da velocidade de semeadura, demonstrando que para esse parâmetro avaliado, velocidades menores são melhores. A avaliação da distribuição das plantas antes da colheita não mostrou diferenças significativas entre os tratamentos tampouco para as linhas de semeadura avaliadas para os parâmetros número de plantas (NP) por m2 e espaçamentos duplos, normal e falho . Em relação aos componentes de rendimento e rendimento de grãos, os resultados não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos, indicando que efeti-

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Fig. 5 – Número de Plantas por m2

Fig. 6 – Percentual de solo coberto com restos culturais

Problemas de má distribuição de sementes nem sempre estão relacionados à velocidade de trabalho

Fig. 7 – Rendimento de grãos

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alveolados horizontais não afeta significativamente a distribuição das sementes. Em relação ao coeficiente de variação da distribuição das plântulas, observa-se que os valores são bastante altos, demonstrando a pouca uniformidade e precisão na distribuição das sementes. A distribuição das sementes, com conseqüente germinação, emergência e desenvolvimento das plântulas e o espaçamento normal, somente foram afetados pela velocidade de deslocamento da semeadora em uma das linhas, sendo significativamente menor na velocidade de 8,33 km/h.

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vamente velocidades maiores de semeadura podem ser utilizadas sem afetar a produtividade da cultura da soja.

CONCLUSÕES Maior velocidade de semeadura da soja aumenta a capacidade operacional e a incorporação de restos culturais no solo, não afetando significativamente o percentual de espaçamentos duplos ou falhos nem o número de plântulas emergidas (27 DIAS). O número de plântulas com espaçamento normal foi afetado somente em uma velocidaM de e numa linha. Vilson Antonio Klein, UPF Janeiro / Fevereiro 2003


Camionetas

Fotos João Roberto Gaiotto

4x4

Pronta para a lama

Antes de enfrentar um terreno lamacento com uma pick-up 4x4, é necessário tomar algumas precauções como checagem da tração e acorrentamento dos pneus, de modo que o desempenho desejado seja garantido

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uem tem uma camionete 4x4 sabe muito bem o seu valor quando se depara com um lamaçal ou um terreno escorregadio. Não é à toa que estes veículos são desejados por grande parte dos motoristas, e quem já teve a oportunidade de pilotar um 4x4 não quer nem ouvir falar em carros convencionais quando precisa encarar a lama. Uma 4x4 tem particularidades que devem ser muito bem observadas para que o veículo renda o máximo quando for exigido. Não basta entrar, sentar, dar a partida e sair pensando que qualquer terreno será vencido sem nenhum problema. É necessário preparar o veículo de acordo com as condições da estrada ou trilha que se tem pela frente. Em alguns casos, mesmo no barro, não há necessidade de acionar a tração nas quatro rodas. Em outros, porém, além de engatar a tração 4x4, é necessário colocar correntes nos pneus. Para que você possa aproveitar e tirar o máximo da sua pick-up é bom seguir algumas recomendações básicas. Em alguns veículos equipados com o sistema de tração 4x4 Part Time, a tração dianJaneiro / Fevereiro 2003

Arranje as correntes para que fiquem bem distribuídas no pneu

teira só entra em operação quando é feita a conexão das rodas dianteiras com os semi-eixos, isto é realizado através das rodas-livres. Uma vez acionadas, elas conectam as rodas dianteiras com a transmissão, auxiliando então as rodas traseiras a tracionarem o veículo. Quando as rodas dianteiras estão desconecta-

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das, elas giram livres e sem contato mecânico com a transmissão. Mas após o acionamento das rodas-livres, o condutor ainda precisa acionar uma alavanca, ou controle elétrico, dentro do veículo para que todo o conjunto entre em funcionamento. A roda-livre pode ser de acionamento manual ou automático. Máquinas

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“Alguns veículos permitem o acionamento da alavanca/comando elétrico de tração 4x4 em pleno movimento”

RODA-LIVRE MANUAL No centro de cada uma das rodas dianteiras há uma chaveta na roda-livre, e nela uma inscrição que sinaliza 4x2 e 4x4. Em alguns modelos pode-se ler “Free” e “Locked”, o que significa “Livre” e “Travada”. Para ligar as rodaslivres, estacione, saia do veículo e gire as chavetas no sentido horário e, para desligá-las, basta girar no sentido anti-horário. O acionamento não deve ser muito pesado a ponto de se precisar de um alicate para girar a chaveta, e nem muito folgado a ponto de girar apenas com um dedo. Faça a revisão regular das rodas-livres de sua 4x4. Em uma trilha, é previsível que uma ou outra roda-livre se desligue sozinha, quando um galho de árvore ou uma pedra trava rapidamente a chaveta fazendo-a girar durante o deslocamento. Se perceber que o veículo perdeu a tração dianteira, pare e inspecione as duas rodaslivres. Como citado acima, é necessário ainda que a alavanca ou comando elétrico de tração 4x4 seja acionado para que o conjunto entre em operação. Sem isso, todo o sistema dianteiro não receberá torque do motor, ou seja, as rodas dianteiras não ajudarão o veículo a se locomover. Verifique como é em seu veículo e familiarizese com os comandos. Alguns veículos permitem o acionamento da alavanca/comando elétrico de tração 4x4 em pleno movimento, para isto respeite o que manda o manual e veja qual é a velocidade máxima para o acionamento. Aos demais usuários, a melhor dica é parar totalmente para o engate.

RODA-LIVRE AUTOMÁTICA Sistema que dispensa, na operação, a saída do condutor para fora do veículo. Existem basicamente dois sistemas de engate automático das rodas dianteiras: o acionamento mecânico por alavanca e o elétrico. Ambos sistemas acoplam as rodas dianteiras aos semi-eixos mediante acionamento hidráulico, a vácuo, com motores ou solenóides. Existe também o acionamento automático independente, que detecta a necessidade de tração nas quatro rodas acionando o sistema sem intervenção do condutor. Em alguns modelos como o Mitsubishi

Sistema de engate elétrico da tração 4x4 da pick-up Ranger

Pajero e o Jeep Cherokee o engate pode ser feito em pleno movimento, recurso denominado “Shifting-on-the-Fly”. Para desengatar a tração 4x4, completamente, coloque a alavanca ou controle elétrico em 4x2 e não se esqueça de desligar também as rodas-livres, caso o veículo esteja equipado com elas. Tanto faz a seqüência de operação, se primeiro as rodas-livres e depois a alavanca interna, ou vice-versa.

CORRENTES NOS PNEUS Outro recurso que pode literalmente livrar Fotos João Roberto Gaiotto

...

o motorista de situações desagradáveis quando enfrenta terrenos molhados é o uso de correntes nos pneus. Se você utiliza pneus de uso misto e enfrenta esporadicamente estradas enlameadas, pode precisar de mais tração nestes trechos. Para estes casos você pode colocar correntes nos pneus, o que vai lhe proporcionar tração adicional e mais condições de dirigibilidade em lama ou, até mesmo, na neve. Mas use-as apenas em situações limite, pois as correntes são extremamente agressivas e antiecológicas, cavando sulcos profundos no terreno a ser transposto. Procure atender às seguintes recomendações simples, mas muito úteis para usar adequadamente este recurso: • Não coloque as correntes se a pressão dos pneus foi reduzida, porque o movimento do veículo vai fazer as correntes mastigarem a borracha, danificando seriamente os pneus; • Ao colocar as correntes nos pneus dianteiros, verifique se não há risco de elas se chocarem com componentes da suspensão ao esterçar o volante; • Evite que os pneus patinem. Eles podem adquirir muita velocidade e ao tocar novamente o solo a corrente agirá como um poderoso freio, provocando impactos na ponta de eixo e engrenagens do diferencial, com sérios riscos de danos. Trafegue em 4x4 se possível, use marchas reduzidas e aplique a velocidade adequada ao trecho; • Após a colocação, ande alguns metros para que as correntes se acomodem aos pneus. Se precisar, volte a ajustá-las e distribuí-las. Então, todo o conjunto estará pronto para o deslocamento. Para montar adequadamente o conjunto de correntes, siga a seguinte ordem: Em primeiro lugar, posicione a corrente no chão e na frente das rodas. Depois movimente o veículo até que as rodas fiquem em cima da corrente. Arranje as correntes para que fiquem bem distribuídas no corpo do pneu e verifique se estão instaladas corretamente e presas por tirantes elásticos. Não trafegue em hipótese alguma usando correntes em pisos como asfalto ou estradas de terra firme. Além do desconforto gerado pelo atrito, as correntes poderão danificar seriamente os pneus. Se o trecho crítico acabou, remova as correntes. Seguindo estas recomendações e prestando atenção em todos os itens e particularidades de cada modelo, é bem provável que até mesmo os terrenos mais acidentados e enlameados sejam vencidos. De qualquer forma, uma 4x4 é mais complexa do que um carro convencional e a leitura detalhada do manual de instruções é o primeiro passo para quem deseja aproveitar ao máximo sem danificar a sua camioneta. M

Roda livre automática

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Roda livre manual

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João Roberto de C. Gaiotto, Consultor técnico Janeiro / Fevereiro 2003


Solos

Odair Santos

mapeamento

Em busca da precisão Alguns cuidados devem ser tomados ao analisar os mapeamentos gerados na agricultura de precisão, já que, por exemplo, dois talhões com baixa produtividade numa mesma lavoura podem ter causas em combinação de diferentes fatores

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agricultura de precisão vem sendo discutida dentro das tecnologias alternativas para o manejo agrícola, viabilizada através do maior detalhamento e aproveitamento da informação sobre um sistema de produção, o que tem sido feito pela integração de técnicas de manejo com a observação de eventos em locais determinados dentro da lavoura. Os eventos citados se referem, na grande maioria, à expressão do potencial produtivo da lavoura e possíveis fatores influentes (limitantes de algum modo) no crescimento, desenvolvimento e produção final dos cultivos anuais ou perenes. O conjunto de técnicas, que pode ir das mais simples até as mais complexas, prevê o aproveitamento da estrutura da variação espacial de elementos do meio físico, condicionantes da produtividade agrícola, para avançar na racionalização da aplicação de insumos e abrandamento de eventuais impactos ambientais advindos de superdosagens, por locais específicos, dentro da lavoura. Existem críticas quanto à adoção e aos Janeiro / Fevereiro 2003

resultados práticos destas metodologias como estratégia complementar de manejo. Porém, o assunto necessita ainda maiores estudos e os pilares básicos desta questão não foram ainda adequadamente tratados para a realidade agrícola brasileira, inspirando reflexão e cautela. Se considerarmos o aumento do grau de informação como uma etapa importante do processo de profissionalização do sistema produtivo e ponderarmos que existe uma grande variação de tipos de propriedades agrícolas, com os mais variados níveis de tecnificação, o assunto poderá ter importância em curto prazo para alguns produtores e carecer de significado imediato para outros. Por outro lado, a aplicação das citadas tecnologias pode não estar ligada unicamente à busca do aumento de produtividade, mas à viabilização de algumas práticas de manejo e à racionalização de outras, portanto, tratamos de vários níveis de aplicabilidade, que poderiam ser conseguidos a partir da adoção de níveis crescentes de informação. Candidatos à adoção de algumas práticas, nesta área, necessitariam saber, ini-

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cialmente, qual o nível de contraste entre eventuais “manchas” de solo e a expressão do potencial produtivo ao longo dos anos, dentro do espaço da lavoura. Igualmente, é preciso saber se é possível mapear e reconhecer alguns fatores que sistematicamente limitam o potencial produtivo de um determinado cultivo, e que possam merecer atenção diferenciada, no espaço de uma mesma lavoura.

FATORES LIMITANTES DA PRODUTIVIDADE Notadamente, o mapeamento da produtividade tem sido bastante divulgado, como uma etapa importante para um possível gerenciamento da lavoura de modo diferenciado, uma vez que poderia ser um indicador de “manchas” ou zonas com fatores limitantes comuns, sendo, portanto, uma ferramenta auxiliar para a divisão da lavoura em subáreas de manejo, onde o produtor poderia vislumbrar a viabilidade de tratamento diferenciado. No entanto, este dado, isoladamente, apresenta alguns problemas quanto a sua correta interpretação e utilização, no que se refere à identificação e mapeamento de fatoMáquinas

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“Os níveis de argila decrescem a partir da primeira classe e os de areia grossa fazem o caminho contrário” Fig. 1A

Fig. 1B

Classificação de pontos de amostragem, para área de 40 ha de milho, a partir de 11 variáveis de solo e distribuição das áreas de milho mais produtivas (roxo) e menos produtivas (amarelo), divididas pelo valor da mediana da produtividade da área (~ 6 t/ha), em duas safras (1999/2000), para duas direções de plantio, na localidade de Campina do Monte Alegre (SP).

... res limitantes da produtividade. Estes fatores (água, nutrientes, propriedade de solo, clima, pragas etc.) apresentam ações características que nem sempre são fáceis de detalhar, merecendo atenção as que seguem: a) alguns influenciam diretamente a produtividade; b) alguns interagem com outros; c) alguns fatores limitantes ocorrem todo ano, outros não; e) alguns influenciam de modo distinto os diferentes cultivos; f) o clima interage com a maioria dos fatores limitantes. Desse modo, dois talhões na lavoura, que apresentam baixa produtividade, podem ter causas em uma combinação diferente de fatores. Além disso, a variação temporal da produtividade (advinda da pressão climática sobre fatores limitantes do potencial produtivo) pode ser mais importante que a variação espacial, ou seja, pode ocorrer agravamento da inconsistência na expressão do potencial produtivo ao longo da lavoura, de um ano para outro, para os mesmos talhões, dificultando o aparecimento de um padrão. No entanto, cada lavoura se constitui em um particular de solo, de manejo e de clima que devem ser considerados.

INTEGRAR E GERAR INFORMAÇÕES A existência de contrastes fortes, consistentes, levantados ao longo dos anos e a

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integração de dados nesta área são a chave para se chegar a informações úteis, que poderiam ser um suporte ao manejo, desde que tenham um custo justificável. O mapeamento da produtividade, feito ao longo de algumas safras, pode ser cotejado com algumas características do solo, e o agrupamento de talhões com características físicas e de potencial produtivo similares pode ser feito com o intuito de se mapear possíveis áreas com potencial produtivo diferenciado. A título de exemplo prático, a figura 1(A e B) mostra uma área de 40 ha, cultivada com milho, onde foram retiradas várias amostras, numa distância de 50m entre elas. Em cada ponto foram determinados os valores de argila, cinco diâmetros de areia, matéria orgânica, densidade do solo e a água que fica retida sob dois valores de pressão no solo (caracterizando um intervalo prático de disponibilidade da água para as raízes). Os pontos foram agrupados em duas e três classes, de acordo com características físicas similares, através de técnica denominada “segmentação multivariada”. Excluiu-se do agrupamento, neste caso particular, os dados de produtividade obtidos na área, para se ter um dado separado (independente) para análise [veja comparação das classes, com os dados de produtividade obtidos em duas safras, com direções de plantio diferentes, na figura 2 (A e B)]. Os valores de argila, areia grossa e silte foram

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os dados mais importantes para a separação das classes, conforme dados resultantes da própria análise. Os níveis de argila decrescem a partir da primeira classe e os de areia grossa fazem o caminho contrário. Este tipo de informação, cotejada com o histórico de chuva de uma determinada microrregião, pode ser candidata a auxiliar na escolha e escalonamento de épocas de plantio de cultivares e manejo de alguns nutrientes, por exemplo, o nitrogênio, desde que os contrastes físicos sejam evidentes, a ponto de justificar a divisão proposta, ou seja, se as classes apresentadas na Figura 1 (A e B) apresentam diferenças marcantes, a ponto de serem aproveitadas como classes de manejo. Para a correta implementação destas técnicas, estudos seriam necessários, na realidade agrícola brasileira, para desenvolver práticas de manejo que levem em consideração este tipo de informação, particularmente quanto à recomendação de nutrientes. A ausência de conhecimento agronômico, que dê suporte a esta idéia, tem levado a poucos resultados práticos na aplicação de nutrientes a taxas variáveis que, na grande maioria das lavouras dos países mais desenvolvidos, tem sido implementada a partir de recomendação ainda pouco evoluída para relação entre subáreas com potencial produtivo diferenciado e aplicação de nutrientes, principalmente em estudos envolvendo nitrogênio. Janeiro / Fevereiro 2003


Fig. 2A

Por outro lado, a idéia de agrupamento de manchas, na lavoura, com fatores limitantes comuns (ou com potencial diferenciado) é antiga, sendo que provavelmente o melhor caminho para o levantamento de dados de solo não seja a metodologia usada para levantar os dados da área, na Figura 1 (A e B), mas sim, o uso de ferramentas que estão em evolução em nosso meio, como a videografia multiespectral, dentre outras, que poderiam fornecer alguns dados de solo, além de outros, de modo mais rápido e com custo menor. Este fato tem importância crucial quando áreas mais extensas são consideradas. A Figura 2 (A e B) dá uma idéia do comportamento da malha de produtividade de um ano para outro, e a relação com as classes da Figura 1 (A e B). No primeiro ano (Figura 2A), a produtividade apresenta-se com duas áreas distintas, a área mais produtiva e a menos produtiva. Para a primeira safra é possível notar uma relativa coincidência entre a classe 1 (maior teor de argila, maior retenção de água) e as áreas mais produtivas. Janeiro / Fevereiro 2003

Fig. 2B

Para o ano seguinte (Figura 2b), ocorre uma distribuição diferente das manchas mais produtivas, neste caso com a influência adicional da mudança da direção de plantio, sugerindo que, a presença física do milho (caule e raízes) se sobrepõe às condições do solo (propriedades hidráulicas), influenciando a distribuição da água no solo da área e a distribuição da malha de produtividade. A divisão dos pontos amostrais em três classes não parece ser adequada, para a área em questão, em nenhuma das safras, pois em termos práticos, a produtividade mostra uma concentração maior em duas classes. Este fato, porém, necessitaria ser cadastrado por um número maior de anos. O produtor deve ficar atento ao fato de que os dados de solo foram mantidos separados nesta exposição, para uma análise simples entre condições de solo e da produtividade do milho. Se uma nova análise fosse feita juntando os dois conjuntos de dados (solo e produtividade), ainda assim, necessitaria ser provado que as classes resultantes teriam contrastes suficientes para serem consideradas “de manejo”.

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INFORMAÇÃO VERSUS INCERTEZA A agricultura de precisão ainda está na construção do seu alicerce, sendo que certamente este tipo de tecnologia segue o fluxo natural do trâmite tecnológico em cadeias produtivas, alcançando primeiro os que já estão no ponto mais alto, em termos de tecnificação, onde terá vários usos, conforme a adequação do nível de informação necessário e a justificativa econômica para aplicação das técnicas discutidas. Em todo caso, porém, é bom lembrar que a atividade agrícola sofre de grande incerteza, pois depende da natureza para se desenvolver, e um detalhamento da informação sobre o sistema produtivo, a um custo justificável, pode ser um meio eficaz de amenizar aquela incerteza e melhor aproveitar os recursos da terra. Os resultados experimentais apresentados foram realizados na R & F Lavouras Ltda/Estância dois Irmãos, em ItapetininM ga, SP. Antonio Odair Santos IAC - APTA Máquinas

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Opinião

O legado de um “Guru” Nossa apologia ao professor Altir Corrêa S

ua última mensagem aos “colegas” – era assim seu tratamento para com todos os profissionais das ciências agrárias – desta vez via Internet, fraseava: “Sejamos um vetor semeador de paz, amor e alegria” (09.11.2002). Mensagem ilustrada com a letra da música Imagine, com direito à sua linda melodia. Essa mensagem não foi esporádica e tampouco acerca das eleições ou de boas festas. Não, essa era mais uma das inúmeras e incansáveis mensagens enviadas (por conta própria, como carta social) de forma a incentivar aos muitos colegas de todo o Brasil, tratando de temas relacionados à Mecanização Agrícola e Conservação da Água e Solo, mas também à Desertificação, Energia, Selo Verde, Efeito Estufa, Rio São Francisco, Pau Brasil, Sustentabilidade e tantas outras preocupações com o nosso Meio Ambiente Brasileiro e Mundial. O Professor Altir Corrêa era exemplar, implacável e sistemático em suas “lições de escola e de vida”, pois sempre foi ímpar em “lembrar” a todos sobre o Dia Nacional da Conservação do Solo, Dia Internacional da Terra e da Água, Dia do Engenheiro Agrônomo, Dia da Engenharia Agrícola, e tantos outros dias e dias vivenciados por ele e abordando, institucional e pessoalmente, como ninguém o fez de forma tão dedicada e persistente durante toda a sua vida, caseira e profissional. Era incrível e formidável a disposição, questionamentos e moções abordados pelo nosso querido “Barão” em todos os tipos de eventos, onde sempre podíamos contar com sua crítica construtiva e participativa. Isso em quaisquer fases de sua vida profissional, ativa, aposentada, convidada, voluntária ou simplesmente presencial. Estas lembranças não significam prestar uma homenagem póstuma ao Professor ALTIR ALVES MARTINS CORRÊA, pois tivemos o privilegio de homenageá-lo em vida por várias oportunidades, tais como pela ABRAME-Associação Brasileira de Mecanização Agrícola, SBEA-Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola, UNICAMP-Universidade Estadual de Campinas sem olvidar aquelas recebidas do CREA-RJ, Clube dos Engenheiros do Rio de Janeiro, UFRJ, entre outras. O que desejamos nesta oportunidade é exaltar a

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figura humana e profissional do Professor Altir Corrêa, deixar registrado que o nosso “Guru” da Fazenda Ipanema (CENEA), com certeza o engenheiro agrônomo que por mais tempo de sua vida – foram 55 anos de atividades – se dedicou às causas relativas a todos os aspectos que se relacionem com as ciências

légio de vivenciar sua amizade, já sentimos sua ausência e teremos saudades de sua presença em nossos eventos. Pessoalmente tive essa sorte. Fui carregado em seu colo quando de minha infância na Fazenda Ipanema, recebi como seu presente para minha biblioteca particular o exemplar do livro Plowman’s folly (Edward H. Faulkner), em cuja contra-capa lê-se a inscrição: “Altir Corrêa, Buenos Ayres, 26/12/46” (o Livro foi editado em 1945). Enfim a vida nos ensina sempre, e com o Professor Altir tivemos belas lições que podem ser resumidas no pensamento: “O que move os homens geniais não são as novas idéias, mas a sua obsessão pela idéia de que o que já foi dito ainda não é suficiente” (Eugène Delacroix). Exaltamos nossos sentimentos de pesar e apresentamos nossas condolências a nossa estimada FRIDA, apaixonada e respeitosa esposa, que em tantos momentos de sua vida soube compreender e de maneira também exemplar, colaborou para que recebêssemos as profícuas mensagens deixadas pelo seu honroso marido, nosso saudoso Professor Altir. Que Deus esteja contigo e familiares. Luiz Antonio Daniel CEETEPS/UNICAMP

agrárias, sejam elas econômica, social ou ambiental. Terá a ciência agrária um legado das “anotações e ocorrências” anotadas, arquivadas e deixadas por esse incentivador de Colegas? Esta nossa apologia, de forma singela e emotiva, não obstante as razões profissionais, é louvar a atenção e o profissionalismo com que, em vida, o Professor ALTIR CORRÊA tratou e cuidou da nossa profissão em todos os meios em que teve oportunidade de defender e enaltecer, onde sua mensagem sempre foi de otimismo e confiança no desenvolvimento da engenharia agrícola e de um Brasil melhor. Aqueles que conviveram não só com o profissionalismo do ALTIR, mas tiveram o privi-

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De quando os gurus se vão... Entendo bem o sentimento de Luiz Daniel, e, certamente de todos quantos conheceram o Prof. Altir, com quem tive o privilégio de trabalhar na SBEA. A pessoa se sente um pouco mais só, abandonada. Foi assim quando meu primeiro “chefe”, Prof. Hugo de Almeida Leme – ex-ministro da agricultura e responsável pela industrialização de tratores no Brasil – nos deixou, há alguns anos. Ou no ano passado, quando eu soube que desencarnara o Prof. Helio Ramos Bemfica, responsável por minha opção profissional pela mecanização agrícola e grande estimulador de minha carreira. Por estes sentimentos optamos por publicar a apreciação de Daniel neste espaço... M Arno Dallmeyer Consultor Técnico – Revista Cultivar Janeiro / Fevereiro 2003




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