Maquinas 164

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Cultivar Máquinas • Edição Nº 164 • Ano XIV - Julho 2016 • ISSN - 1676-0158

Índice 4 Rodando por aí 6 Tecnologia em pequenas propriedades 8 Avaliação de patinagem em tratores 12 Tomada de potência elétrica 15 Empresas - Fábrica Michelin 16 Construção de terraços 18 Pulverização - Teste de adjuvantes 22 Capa - Ficha Técnica Frontier CFS 28 Consumo de colhedoras de cana 32 Pulverização - Como evitar a deriva 36 Semeadoras - Avaliação de ponteiras

Destaques

Ficha Técnica - Frontier CFS

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Conheça a nova plantadeira da Valtra, com reservatório central de sementes e diversas inovações tecnológicas

Teste dos adjuvantes Avaliação de campo compara efeito dos principais adjuvantes do mercado

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter

• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi • Revisão Aline Partzsch de Almeida • Design Gráfico Cristiano Ceia

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Velocidade x consumo Teste com colhedoras de cana-de-açúcar avalia o desempenho e o consumo em diferentes velocidades

Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00

• Coordenador Comercial Charles Echer • Vendas Sedeli Feijó Rithiéli de Lima Barcelos • Coordenação Circulação Simone Lopes

Capa - Valtra

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Cultivar

• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso Aline Borges Furtado • Expedição Edson Krause • Impressão: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

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NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL

• ASSINATURAS

• REDAÇÃO

• MARKETING

3028.2000

3028.2070

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3028.2065

Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


RODANDO POR AÍ Tratour John Deere Oferecer conhecimento, informações técnicas e condições atrativas para aquisição dos tratores das Séries 5 e 6 são os principais objetivos da caravana Tratour John Deere, que completou quatro meses no mês de julho. Com o intuito de visitar os municípios das principais áreas agrícolas onde a John Deere não possui loja física, a iniciativa quer percorrer 48 municípios, visitando 34 concessionárias em 14 estados até agosto. Dentre as localidades visitadas, a carreta já passou por RS, SC, PR, MG, GO e MT. “O objetivo é possibilitar que a comunidade conheça de perto os serviços e a qualidade da acessível tecnologia John Deere”, explicou o gerente de Marketing Tático da John Deere, Celso Monteiro.

Setor canavieiro Para atender às necessidades tecnológicas dos produtores de cana-de-açúcar, mercado que tem estimativa de crescimento de 2% em relação à safra anterior, a Valtra possui um portfólio dedicado para todas as etapas na lavoura. De acordo com o gerente de Marketing e Produto Cana-de-Açúcar da AGCO, Marco Antônio Gobesso, há anos a Valtra é referência no setor sucroalcooleiro, por oferecer produtos que atendem a todas as necessidades do produtor. “Neste ano, nossa grande aposta é a colhedora de cana BE1035e, que foi apresentada aos produtores em 2015 e agora está sendo trabalhada para ter seu período de consolidação, para ganhar maior participação de mercado”, ressaltou Gobesso.

Massey Show Entre os dias 11 e 15 de julho, a cidade de Naranjal, departamento de Alto Paraná, no Paraguai, recebeu o evento Massey Show, ação especial da Massey Ferguson que tem como objetivo levar ao produtor rural o acesso facilitado às últimas tecnologias desenvolvidas pela marca. Além de apresentar todo o portfólio da marca, o evento ofereceu aos agricultores a oportunidade de esclarecer dúvidas sobre produtos, serviços e peças da Massey Ferguson. “A ideia foi demonstrar aos clientes a qualidade e eficiência de nossas colheitadeiras, plantadeiras, pulverizadores, os tratores e os implementos, para que eles tenham a oportunidade de conhecer e avaliar os produtos de forma completa, inclusive operando as máquinas”, explicou o coordenador de Vendas da Massey Ferguson, Rafael Guarienti.

Rafael Guarienti

Conferência AFS

No mês de junho, a Case IH realizou a Conferência AFS, evento sobre agricultura de precisão que contou com mais de 100 participantes, entre concessionários e público interno. O encontro, que ocorreu no Centro de Treinamento da marca, em Sorocaba (SP), teve como principal objetivo explorar o tema “profissionalismo”. Em aulas teóricas e práticas, os participantes debateram temas como soluções de direcionamento, aplicação e plantio, além de sinais de correção e ainda tiveram um bate-papo sobre o portfólio de produtos da marca. A Conferência AFS, que acontece anualmente desde 2012, treina a equipe a fim de mantê-la atualizada para atender aos produtores rurais e clientes da marca.

Marco Antônio Gobesso

Gigantes

Vitor Kaminski

Apresentados ao público brasileiro durante a Agrishow 2016, os aplicadores Challenger Rogator 1300 Spinner e Terragator 8300 Spinner e o Airmax da Valtra passam a ser comercializados na Bahia, ampliando a região de atuação destes produtos que são referências da Valtra em distribuição de fertilizantes. Os dois modelos começaram a ser vendidos, inicialmente, apenas no Mato Grosso, para que seus concessionários tivessem tempo de ser treinados e adquirirem peças de reposição. “A Valtra realizou diversos treinamentos com concessionários nas áreas comercial e técnica para garantir que nossos clientes consigam extrair os melhores benefícios de ambos os aplicadores”, explicou o supervisor de Marketing de Produto Pulverizadores da AGCO, Vitor Kaminski.

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Construction

Paula Araújo

A New Holland Construction, por meio de sua concessionária Bamaq, participou da 42ª Exposição Agropecuária de Montes Claros, a Expomontes, em Montes Claros, Minas Gerais. A feira ocorreu de 1º a 10 de julho no Parque de Exposições João Alencar Athayde. “Com o equipamento adequado, é mais fácil padronizar o tamanho dos talhões, a largura dos carreadores, as áreas de carregamento e os modelos de curvas de nível a serem adotados”, explicou a gerente de Marketing de Produto da marca para a América Latina, Paula Araújo. Para demonstrar isso, a marca destacou uma retroescavadeira B95B e uma pá-carregadeira 12D.


Evolução no campo

Agregando valor

Desenvolvido especialmente para realizar treinamentos e demonstrações de máquinas agrícolas, o caminhão do projeto Evolução em Campo passou por diferentes cidades no Mato Grosso e capacitou mais 124 operadores de colheitadeiras em seis diferentes turmas em 2016. Entre os produtos que já fizeram parte dos treinamentos destacam-se colheitadeiras, plantadeiras, pulverizadores, tratores e soluções AFS de agricultura de precisão. O Caminhão Evolução em Campo já passou pelos estados da Bahia, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Piauí, Goiás e São Paulo. Os treinamentos de 2016 também já contam com o recente lançamento da marca no Brasil, a linha Axial-Flow Série 130.

A GSI realizou no dia 6 de julho um workshop para clientes do segmento de armazenagem de grãos. Com o tema “Agregando valor ao seu negócio: tecnologias, tendências e inovações”, o evento reuniu mais de 60 pessoas, representantes de cooperativas e grandes cerealistas nas duas unidades da GSI Brasil, localizadas em Marau e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. “Esse workshop vem para atender a preocupação da GSI em buscar e compartilhar as tendências em tecnologia para armazenagem de grãos”, afirmou o gerente de Marketing e Serviços da GSI, Ricardo Marozzin.

Trator Solidário

Agrobalsas

A New Holland, junto com o governo do Paraná, entregou dia 29 de junho o trator de número dez mil do programa Trator Solidário. A entrega foi comemorativa aos dez anos da iniciativa, que tem a New Holland como parceira desde o início. “Adquirir uma máquina pelo Trator Solidário é uma excelente oportunidade de inserir a mecanização nas pequenas propriedades do estado, além de facilitar o trabalho diário no campo para o produtor e garantir melhor rendimento na lavoura”, ressaltou o vice-presidente da New Holland para a América Latina, Alessandro Maritano.

A New Holland participou da Agrobalsas, em Balsas, no sul do Maranhão, com seu portfólio completo de tratores, colheitadeiras, pulverizador e plantadeira no final de junho. “Os produtores conheceram de perto toda a tecnologia embarcada e a simples operação das nossas máquinas. Além disso, encontraram condições especiais para a aquisição de alguns produtos, proporcionando a eles uma ótima oportunidade de aumentar sua produtividade no campo”, comentou o gerente comercial da New Holland, Claudio Calaça.

Hortitec

Pedro Bassi

A LS Tractor esteve presente pela primeira vez na feira Hortitec que aconteceu em Holambra (SP). A marca apresentou os modelos: P80, U60, G40 e o lançamento R60 cabinado. “Os diferenciais das linhas da LS Tractor são as tecnologias como tomada de potência independente operada a partir do painel, direção hidrostática, controle remoto independente, além disso, o motor LS possui baixo consumo de combustível, baixa emissão de gases e baixo nível de ruído e vibração”, explicou o coordenador de Serviços, Pedro Bassi.

Claudio Calaça

Cultivo Durante a Hortitec 2016, a Agritech, fabricante dos tratores Yanmar Agritech, expôs sua linha de tratores Cultivo, que possuem maior vão livre, desenvolvidos pensando no mercado de hortaliças e leguminosas. Também teve destaque a linha Parreira, desenvolvida para que trafegue por baixo dos parreirais e pomares. O trator 1160 Turbo também foi apresentado aos produtores. O 1160 Turbo possui motor Yanmar turbo de 55cv e levante hidráulico com capacidade de até 2.200kg. “O setor de hortifrúti foi um dos que menos sentiram os efeitos da crise e, por este motivo, a Agritech continuará investindo em mecanização e tecnologia”, afirmou o gerente de Pós-Vendas, Pedro Cazado.

Pedro Cazado

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AGRICULTURA DE PRECISÃO

Grande ajuda Fotos Fabrício Masiero

Avaliação mostra que adoção da agricultura de precisão aumenta a produtividade, quando comparada com agricultura convencional em pequenas propriedades

A

busca de elevadas produtividades em lavoura é um dos princípios almejados pelo produtor, para isto, conhecer a variabilidade de atributos do solo tem facilitado o gerenciamento da área para definir uma melhor tomada de decisão. Portanto, a agricultura de precisão é um conjunto de técnicas que permite o gerenciamento localizado de culturas (Balastreire, 1998). Porém, o grande entrave da adoção das técnicas de agricultura de precisão é o elevado custo de aquisição dos equipamentos e implantação do sistema, nem sempre garantindo o seu retorno e viabilidade econômica, principalmente aos pequenos produtores rurais e agricultura familiar. A preocupação em relação à adoção e aplicação dessas tecnologias refere-se à grande disponibilidade de informações, requerendo técnicos e agrônomos com conhecimento e experiência em interpretação dos dados coletados, Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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sob forma de mapas (Mantovani et al, 1998). Sabendo-se dessas limitações, objetivou-se nesse trabalho avaliar a produtividade e a variabilidade dos atributos químicos do solo e da produtividade da cultura do milho em relação à utililização das ferramentas disponivéis à agricultura de precisão comparada com a agricultura convencional em uma área produtiva do Instituto Federal Catarinense (IFC) – Campus Rio do Sul. A área foi conduzida em uma unidade produtiva da fazenda experimental do IFC - Campus Rio do Sul, em de Santa Catarina. O experimento foi formado por dez parcelas de 256m2, que foram divididas em cinco parcelas de agricultura de precisão (AP) e cinco parcelas de agricultura convencional (AC). As parcelas foram georreferenciadas com o uso de GPS Topcon Hiper II RTK, com coordenadas UTM. As amostras de solo foram coletadas por um trado do tipo calador, numa profundidade de

0,2m de forma aleatória nas parcelas (AC), formando uma amostra composta única, enquanto que nas parcelas (AP) foram coletadas de forma localizada retirando-se nove subamostras por parcela, formando uma amostra composta por parcela e encaminhada para análise laboratorial. Os resultados das análises de solo foram interpretados, e confeccionados os mapas de variabilidade espacial da fertilidade recomendada e produtividade final pelo programa software GS+ Geostatistics. A adubação foi realizada conforme a interpretação da análise de solo e recomendação para a cultura do milho de forma localizada para as parcelas (AP) e homogênea paras as parcelas (AC). A semeadura do milho foi definida com população de seis plantas/m² e espaçada a 0,80m entre linha e a regulagem procedeu-se manualmente tanto para a densidade populacional como também para a adubação, que foi realizada conforme a recomendação do Manual de Adubação e Calagem para os estados do RS/SC em suas respectivas parcelas. No decorrer do desenvolvimento da cultura foram realizadas pulverizações de acordo com as recomendações agronômicas de manejo e a adubação de cobertura conforme a recomendação da interpretação da análise de solo. A colheita foi realizada de forma manual, em cada parcela contendo três repetições de 10m2 para obter a produtividade média final. Após a debulha e secagem dos grãos, procederam-se os cálculos da produtividade final da cultura, transferindo os dados para o mapa de produtividade. A variabilidade espacial dos atributos químicos do solo foi evidente em função da análise estatística, segundo Nogueira (2007), um coeficiente de variação maior que 35% revela que a série é heterogênea, ou seja, o solo deverá ser manejado de forma localizada, conforme os resultados da análise de solo de cada zona de manejo (Tabela 1). Com os resultados obtidos nas análises de solo e suas variações, foi confeccionado o mapa da interpretação


da necessidade de nitrogênio, fósforo e potássio, conforme Figura 1. Portanto, foi verificada a variabilidade da quantidade do fertilizante a ser usado, resultando nas seguintes regulagens de adubação, conforme interpretação das análises de solo e recomendação para a cultura do milho, sendo que nas parcelas AP1 e AP5 na cor vermelha foi adicionada uma quantidade de 400kg/ha da formulação (7-28-14), enquanto nas parcelas AC, AP2, AP3 e AP4, em cor verde, foram adicionados 450kg/ha da mesma fórmula. A adubação de cobertura utilizada foi ureia (45% de nitrogênio), nas seguintes doses, 220kg/ha (AP3), 230kg/ ha (AP1), 264kg/ha (AP2, AP4 e todas as ACs) e 275kg/ha (AP5). Portanto, em questões de comparativo de médias entre as parcelas AP e AC houve variações na aplicação da adubação localizada nas parcelas avaliadas. Na Figura 2 observa-se o mapa de produtividade da cultura do milho que variou devido à adubação localizada em função da variabilidade espacial

Tabela 1 - Valores mínimos, máximos, mediana, desvio padrão e coeficiente de variação dos principais atributos químicos do solo .M Ref Mínimo Mediana Máximo Desvio Padrão Coefic.Variação

P 4,1 7,4 15,5 4,30 52,42

K 92 124 152 21,61 17,01

dos atributos químicos do solo, ou seja, o gerenciamento dessas áreas foi tratado de forma individualizada, mesmo utilizando duas doses de aplicação em taxa variável, conforme a necessidade da parcela e da cultura, assim expressando significativamente o aumento da produtividade final das parcelas AP comparado com as parcelas AC. As parcelas AP obtiveram os maiores valores de produtividade, com um valor médio de 10.014,2kg/ha (166,9sc/ha), sendo que a produtividade média da AC foi de 8.446,1kg/ha (140,8sc/ha), conforme Tabela 2. Foi verificado um acréscimo médio de 18,5% na produtividade, resultado explicado pelo efeito da adubação localizada de acordo com

M.O 2,0 2,1 2,8 0,37 16,01

Mg 2,9 3,35 8,1 1,98 47,34

Ca 4,7 5,1 11,7 2,69 42,44

pH 4,7 5,15 6,3 0,68 12,67

Tabela 2 - Valores médios de produtividade em sistema de agricultura de precisão e agricultura convencional (kg/ha) Tratamento AP AC

Produtividade kg/ha 10.014,2 8.446,1

as exigências. Desta forma, constatou-se que a agricultura de precisão pode ser adotada em propriedades pequenas e familiares com as tecnologias existentes .M na propriedade.

Marlon Goede, Fabrício C. Masiero, Ricardo K. Veiga, Guiherme Andrzejewski e Dionata Hotz, IFC - Campus Rio do Sul

Croqui da área experimental onde foi realizada análise de campo

Área experimental do Instituto Federal Catarinense simulou o sistema de produção de uma pequena propriedade rural

Figura 1 - Mapa da necessidade de NPK no solo

Figura 2 - Mapa de produtividade da cultura do milho na safra de 2014/2015

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TRATORES

Pressão certa Embora pareça um simples detalhe, a pressão dos pneus interfere em patinagem, deslizamento e rendimento operacional dos tratores

D

ispositivos de tração são componentes essenciais nos tratores agrícolas, pois são responsáveis por transferir a potência do eixo motriz para a superfície trafegada pela máquina. A capacidade de transferência da potência ao solo é condicionada ao tipo de dispositivo de tração, podendo ser utilizadas esteiras metálicas, esteiras de borracha e pneus de borracha. Os dispositivos de tração mais utilizados em tratores agrícolas são os pneus de borracha, que podem ser encontrados em diferentes tipos de construção: diagonais, radiais e BPAF – baixa pressão e alta flutuação. O deslizamento pode ser entendido como a não conversão do perímetro total do rodado em deslocamento real da máquina, sendo expresso como a diferença percentual entre a velocidade tangencial periférica e a velocidade de translação dos rodados. Em outros termos é o movimento dos rodados (pneus) que não é convertido em deslocamento do conjunto motomecanizado. Valores excessivos de patinagem podem eventualmente proporcionar aumento de consumo de combustí-

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vel, desgaste prematuro dos pneus e de demais mecanismos de tração do trator, além de reduzir a capacidade operacional e reduzir a eficiência no aproveitamento energético da máquina. A patinagem ideal para os pneus diagonais (máxima eficiência de tração) se obtém entre 8% e 12% e para os pneus radiais, 10% e 15%. De forma geral, pneus diagonais apresentam maiores valores de patinagem do que os pneus radiais, para mesmos níveis de carga e condições de solo, isso ocorre devido ao menor contato pneu/solo ocorrido nos pneus diagonais. As características dos pneus e suas interações com o solo são fundamentais para avaliar o desempenho de um trator. Inúmeros fatores técnicos e operacionais afetam a interação entre pneu e solo e assim na patinagem dos rodados, como tipo de solo, presença de cobertura vegetal, tipo de operação, nível de lastragem etc.

PATINAGEM AVALIADA NO CAMPO

A forma mais prática para deter-

minação da patinagem é a diferença entre a rotação dos pneus do trator, com carga e sem carga de tração. É um valor percentual entre os percursos do trator tracionando um implemento e aquele que seria obtido nas mesmas condições, após ter sido desacoplado o implemento.

INFLUÊNCIA DA PRESSÃO INTERNA DOS PNEUS

No intuito de avaliar o deslizamento dos rodados de um trator 4x2 com tração dianteira auxiliar (TDA), em função da velocidade do trator, da pressão interna e do tipo de construção dos pneus, foi conduzido um experimento na Universidade Federal de Viçosa, localizada no município de Viçosa (MG), sob um Argissolo Vermelho Amarelo distrófico, com declividade média de 1%. O solo foi classificado como textura argilosa; no momento do trabalho, este apresentou um teor de água de 0,19kg/ kg. Foi utilizado um conjunto mecanizado, composto por trator John Deere, modelo 5705 4x2 TDA, com potência de 62,56kW (85cv) no motor a 2.400rpm, e uma grade aradora de dupla ação produ-


zida pela Tatu Marchesan, modelo ATCR de 14 discos de 24”, acoplada ao trator pela barra de tração, com os discos espaçados a 0,23m. No momento dos ensaios foi mantida a abertura entre as seções na posição intermediária, o que proporcionou uma profundidade de trabalho de 0,3m.

EQUIPAMENTOS UTILIZADOS

O trator foi equipado com dois tipos de construção de pneus, sendo eles diagonais e radiais. Os pneus diagonais utilizados foram os modelos Goodyear Dyna Torque II 12.4-24 no eixo dianteiro e Pirelli TM 95 18.4-30 no eixo traseiro. Já os radiais foram os modelos 320/85R24 no eixo dianteiro e 460/85R30 no eixo traseiro, ambos da linha Optitrac da Goodyear. Buscando maior confiabilidade dos dados, foi utilizado um conjunto de sensores eletrônicos para mensuração da patinagem, com auxílio de um sistema de aquisição de dados da marca Hottinger Baldwin Messtechnik (HBM), modelo Spider 8, gerenciado pelo software HBM Catman 2.2 instalado em um computador portátil embarcado no trator. Os dados adquiridos pelo computador foram armazenados para posterior processamento. Durante a execução dos ensaios o sistema foi gerenciado para uma taxa de amostragem de 50Hz.

Daniel Mariano Leite

Figura 1 – Colhedora (A), unidade de colheita (B) e regulagem da folga da placa de pressão (C)

Conjunto utilizado no experimento era formado por um trator John Deere 5705 4x2 TDA e grade aradora ATCR de 14 discos de 24” da Tatu Marchesan

A velocidade desenvolvida pelo conjunto mecanizado durante a operação foi obtida com auxílio de um radar de efeito Doppler, da marca Dickey John, modelo Radar II. Para mensuração da velocidade rotacional das rodas motrizes do trator foram utilizados transdutores indutivos da marca Autonics, modelo PRCM 18, posicionados juntamente a uma coroa disposta de aletas equidistantes em seu entorno, montando em um sistema de tipo encoder. Para mensuração da pressão interna dos pneus, foram utilizados transdutores de pressão, da marca Sensata Technologies®, modelo 100CP7-1, acoplados

em cada pneu do trator por meio de um rotor cinemático. O deslizamento dos rodados foi obtido por meio da relação entre velocidade translacional e rotacional para cada um dos rodados da máquina, de acordo com a Equação 1. O trator utilizado foi lastrado com 75% de água nos pneus diagonais e 40% nos radiais, sendo que em todos os ensaios a tração dianteira auxiliar (TDA) foi mantida acionada, buscando alcançar a máxima tração possível do trator avaliado. Cada unidade experimental apresentava 40m de comprimento e 2m de largura, sendo a área útil de 80m2, demarcando-se 15m entre as mesmas no sentido longitudinal para manobras, tráfego de implementos e estabilização do conjunto antes da aquisição de dados. Charles Echer

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Figura 2 - Superfície de resposta e curvas de contorno para o deslizamento dos rodados traseiros do trator em função da velocidade de deslocamento e pressão interna nos pneus dianteiros para os pneus diagonais

Fotos Daniel Mariano Leite

Figura 1 - Superfície de resposta e curvas de contorno para o deslizamento dos rodados dianteiros do trator em função da velocidade de deslocamento e pressão interna nos pneus dianteiros para os pneus diagonais

Detalhe dos sensores instalados nos rodados do trator e sistema de captação de dados

Para cada tipo de construção de pneus foi montado um experimento. Os experimentos foram instalados utilizando o delineamento composto central rotacional (DCCR), um fatorial 23, incluindo seis pontos axiais e cinco repetições no ponto central. Para os pneus diagonais variou a pressão

Equação 1 δ=

Vf - Vt Vf

100

(1)

em que, δ - Deslizamento dos rodados, %; Vr - Velocidade rotacional, m s-1; e, Vt - Velocidade translacional, m s-1.

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interna dos pneus entre 68,95kPa e 137,90kPa (10psi - 20psi) e para os radiais 137,90kPa e 206,84kPa (20psi - 30psi), de forma a garantir o mesmo raio de rolamento dos rodados.

RESULTADOS

O deslizamento dos rodados do trator empregando-se pneus radiais não foi influenciado pela velocidade de deslocamento e nem mesmo pela pressão interna dos rodados dianteiros e traseiros. Por essa razão, foi representado pela equação da reta constituída por uma constante, cujo valor correspondia à média aritmética dos valores de deslizamento, obtidos experimentalmente em

todos os ensaios (Tabelas 1 e 2). Este comportamento pode ser compreendido por se tratar de uma forma construtiva, que resulta em pneus mais maleáveis às irregularidades do solo. Mas esta falta de rigidez, quando comparados com os diagonais, permite o deslocamento lateral do pneu, o que pode ter interferido na caracterização do comportamento do deslizamento frente aos tratamentos estabelecidos. O deslizamento dianteiro (Tabela 1) foi alterado de forma considerável pela pressão interna dos rodados. Tal fato ocorreu pela influência da pressão interna dos pneus ao raio de rolamento; nota-se que a influência da pressão interna ao deslizamento é positiva, ou


Tabela 1 - Equação de regressão ajustada para o deslizamento dos rodados dianteiros do trator Pneu Diagonal Radial

Equação Dd = 3,1484** + 3,2107*V + 0,0259**Pd Dd = 7,8031

R2 0,6300 -

* e **- Significativo ao nível de 1% e 5%, respectivamente, pelo teste t. Dd– Deslizamento dos rodados dianteiros (%); V – Velocidade de deslocamento (m s-1); Pd – Pressão interna dianteira e traseira (kPa).

Tabela 2 – Equação de regressão ajustada para o deslizamento dos rodados traseiros do trator Pneu Diagonal Radial

Equação Dt= 6,9336* + 2,9238*V + 0,0252**Pd – 0,0205**Pt Dt = 8,4036

R2 0,6811 -

* e **- Significativo ao nível de 1% e 5%, respectivamente, pelo teste t. Dt – Deslizamento dos rodados traseiros (%); V – Velocidade de deslocamento (m s-1); Pd e Pt – Pressão interna dianteira e traseira (kPa), respectivamente.

seja, para cada unidade de pressão interna (kPa) nos pneus dianteiros, para mesma de velocidade de deslocamento, promove-se ao rodado dianteiro um acréscimo 0,0259% no deslizamento. Maior influência é promovida pela velocidade de deslocamento, elevando 3,2107% de deslizamento ao acréscimo de uma unidade de velocidade de deslocamento. Ao aumentar a velocidade de deslocamento, é reduzida a aderência do pneu ao solo, ocasionando maiores níveis de deslizamento, tal efeito também foi evidenciado por Coelho et al (2012), onde avaliou o efeito da velocidade operacional em diferentes formas de preparo do solo. Independentemente da forma de operação, o aumento da velocidade de deslocamento corroborou ao acréscimo de deslizamentos dos rodados. Conforme observado nos rodados dianteiros, o maior efeito sobre o deslizamento dos rodados traseiros (Tabela 2) foi relacionado à velocidade de deslocamento, 2,9238% a cada unidade de velocidade de deslocamento, em seguida temos a pressão interna dos rodados dianteiros (0,0252%), o aumento da pressão interna nos pneus dianteiros, que altera o raio de rolamento, e assim o avanço cinemático, que por sua vez faz com que os rodados dianteiros exerçam uma maior tração, promovendo o arraste dos rodados traseiros. Observa-se também que a pressão interna dos pneus traseiros influencia de forma negativa ao deslizamento, ou seja, na medida em que se

aumentam os patamares de pressão interna destes, decresce o percentual de deslizamento dos rodados. Tal efeito ocorre em função do aumento da rigidez dos pneus que, ao coagir

sobre solo, favorece o deslocamento tangencial.

CONCLUSÕES

O deslizamento dos rodados diagonais traseiros foi afetado por todas as variáveis analisadas, enquanto os dianteiros apenas pela velocidade de deslocamento e pressão interna dos pneus dianteiros. Quando o trator foi equipado com pneus radiais, o deslizamento dos rodados não foi influenciado .M pelos fatores avaliados.

Daniel Mariano Leite, Univasf Marconi Ribeiro Furtado Júnior, Haroldo Carlos Fernandes, Anderson Candido Da Silva e Paulo Roberto Forastiere, UFV

Como medir a patinagem

A

patinagem pode ser medida em um determinado espaço percorrido pelo trator, demarcado por duas balizas, utilizando a equação a seguir. O trator deve partir de uma distância mínima que permite atingir a primeira baliza em regime normal de trabalho (no mínimo 30m), a rotação do motor deve ser exatamente a mesma com carga e sem carga.

P=

(Ncc - Nsc)

Ncc

x100

gesso • Acompanhando o seu deslocamento, conte o número de voltas do pneu • Ao cruzar a 2ª baliza, marque novamente o pneu e contabilize a fração de volta • Repita os procedimentos acima citados com o trator tracionando o implemento em regime normal de trabalho Observação: é recomendado que se repitam esses procedimentos para uma maior confiabilidade do resultado.

onde: P = patinagem (%) Ncc = número de voltas do pneu com carga EXEMPLO Nsc = número de voltas do pneu sem Na determinação da patinagem de um carga conjunto trator e implemento, obtiveram-se os seguintes resultados. PROCEDIMENTOS • O número de voltas da roda motriz • Demarcar a distância mínima de 30m sem carga foi de 16 voltas com duas balizas ou estacas, na área que • O número de voltas da roda motriz será trabalhada com carga foi de 17,5 voltas • Deve-se ligar o trator, colocando a marcha e a rotação do motor em que será Para determinação do nível de patinarealizado o trabalho gem, substituímos os valores observados • Percorrendo um trajeto mínimo de 10m na equação, conforme apresentado abaixo. antes para a 1ª baliza, para estabilização do regime de trabalho do trator (Ncc - Nsc) (17,5 - 16) x100 = x100=8,57% • Ao passar o pneu da roda motriz pela P = Ncc 17,5 1ª baliza, deve-se marcá-lo com um giz ou

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TRATORES Fotos gkn-walterscheid

Tomada moderna

Estudo analisa controle fuzzy aplicado em sistema de geração de energia elétrica embarcado em tratores para o acionamento de implementos agrícolas

A

demanda do setor agrícola por maior eficiência e controlabilidade das operações realizadas por tratores e implementos impulsiona o desenvolvimento de alternativas de acionamento destas máquinas, em substituição aos sistemas mecânicos e hidráulicos amplamente difundidos no mercado. Funções como aplicações a taxas variáveis (ATV), aplicações georreferenciadas, monitoramento e controle da operação por meio de dispositivos embarcados, como sensores de produtividade, e acionamentos complexos são exemplos de aplicações que alimentam esta demanda e que estão correlacionadas com o avanço da agricultura de precisão (AP). Nos tratores convencionais têmJulho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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-se como fontes de potência para os implementos a tomada de potência mecânica (TDP) e a tomada de potência hidráulica. Com a proposta de utilização de acionamentos elétricos, surge a necessidade de desenvolvimento de uma nova fonte de potência, a tomada de potência elétrica (TDPE). Ao contrário da TDP, uma TDPE pode eliminar a relação de dependência entre o acionamento do implemento e a velocidade angular do motor diesel, tradicionalmente utilizado nos tratores agrícolas, possibilitando, ainda, a utilização de sistemas de controle eletrônico.

GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA EM TRATORES A geração de energia elétrica em

tratores é algo que já vem sendo explorado por fabricantes há décadas. As primeiras vertentes são do início da década de 1950. Em 1954 a empresa International Harvester lançou o trator agrícola Farmall 400 Electrall que dispunha, opcionalmente, de um gerador elétrico trifásico (208Vca; 10kW) com o propósito de suprir com energia elétrica o acionamento de implementos e pequenas redes rurais. Um exemplo moderno da evolução do uso de energia elétrica é o trator RigiTrac EWD 120 - Diesel Electric, da empresa Rigitrac Traktorenbau AG, desenvolvido em conjunto com a Technische Universität Dresden, em 2011. O trator possui um sistema de propulsão diesel elétrico composto por um motor diesel de 91kW, um gerador de energia elétrica de 85kW e 650Vcc e quatro motores elétricos, um em cada roda motora, com potência nominal de 33kW cada. Atualmente existem três categorias de tratores que carregam a tecnologia de sistemas elétricos: (a) o diesel elétrico, com o sistema de geração acoplado diretamente ao motor e destinado principalmente ao uso da potência elétrica na tração;


(b) o totalmente elétrico, alimentado por baterias ou células de hidrogênio, porém, ainda fora do mercado devido a limitações decorrentes das tecnologias disponíveis; e (c) o trator diesel com gerador de corrente contínua integrado, que dispõe de uma TDPE de baixa potência, mas não destinada exclusivamente ao uso em implementos.

GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA EMBARCADA

Apresentaremos a seguir um sistema de geração de energia elétrica embarcado e acionado pela TDP do trator. O objetivo é validar a viabilidade operacional do controlador, projetado para regular a tensão gerada no sistema. Para o seu funcionamento, o sistema deve ser capaz de operar frente a variações simultâneas da potência de carga demandada e da velocidade angular de acionamento, mantendo a energia gerada dentro dos limites estabelecidos. O sistema proposto e seus principais componentes são mostrados na Figura 1, sendo: TDP, tomada de potência mecânica do trator; GS, gerador síncrono; w, velocidade angular do rotor do GS; Inversor de Frequência (onde PWM é modulação por largura de pulso); Vfd, tensão no circuito de campo do GS; Vdc, tensão no barramento DC do circuito inversor de frequência; Po, potência de carga. Pode-se observar que o gerador sincrônico é acionado pelo eixo da to-

Tabela 1 - Variáveis de operação do sistema; valores nominais, máximos e mínimos Variáveis do sistema Po w Vfd Vdc

Valores nominais 20,0 kW (100%) 188,5 rad s-1 (100%) 135,0 Vcc (100%) 515,0 Vcc (100%)

Valores máximos 20,0 kW (100%) 235,6 rad s-1 (125%) 200,0 Vcc (148%) 566,5 Vcc (110%)

Valores mínimos 0,0 kW (0%) 141,4 rad s-1 (75%) N.A. 1 463,5 Vcc (90%)

Po, potência de carga; w, velocidade angular do rotor do GS; Vfd tensão no circuito de campo; e Vdc, tensão no barramento DC do circuito inversor. (1) O valor mínimo de Vfd não é aplicável, por ser uma variável atuada do sistema.

Tabela 1 - Variáveis de operação do sistema; valores nominais, máximos e mínimos Controlador fuzzy PI MISO PD MISO PID MISO com regras PI PID MISO com regras PD PI SIMO

IAE 1013,60 332,06 177,17 176,76 182,37

mada de potência mecânica do trator, enquanto as três fases estão ligadas a um circuito inversor de frequência que fornece a alimentação para a carga, podendo ser um implemento elétrico, ou outra carga compatível. Os parâmetros do GS, necessários para a modelagem matemática do sistema, foram baseados em um modelo de gerador síncrono trifásico de polos salientes, com os valores nominais de tensão de 380Vca, frequência de 60 Hz, potência de 20kW e velocidade angular de 188,5rad/s (1.800rpm), do fabricante WEG, modelo GTA161AI22. A construção e a parametrização do sistema proposto, bem como o projeto e os testes com o controlador fuzzy, foram realizados por meio de simulações computacionais, utilizando o programa Matlab/Simulink.

Itae 1479,20 368,82 45,49 45,42 38,85

Nº de Regras 49 49 49 49 14

Na Tabela 1 são apresentados os valores nominais e os valores máximos e mínimos atribuídos às variáveis, baseando-se no gerador síncrono de 20kW adotado.

CONTROLADOR DO SISTEMA DE GERAÇÃO

Para o sistema proposto, optou-se pela utilização de um controlador fuzzy. No sistema, potência de carga e velocidade angular do motor são as variáveis independentes do sistema; tensão no circuito de campo a variável atua da tensão do barramento DC do circuito inversor à variável controlada, cujo comportamento determina a correta operação do sistema. Os controladores fuzzy são classificados como inteligentes. Controladores inteligentes são capazes de realizar decisões de operação

Detalhe da conexão da tomada de potência elétrica na colhedora de batatas

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Figura 1 - Diagrama de blocos da arquitetura do sistema de geração de energia elétrica Figura 2 - Distúrbios na velocidade angular (w) e na potência de carga (Po) aplicados nas simulações do sistema de geração para o ajuste dos controladores

Para a avaliação dos controladores foram avaliados os índices de desempenho: integral do erro absoluto (IAE) e integral do erro absoluto ponderado pelo tempo (Itae). Os índices foram calculados com os valores normalizados do erro de Vdc e o tempo na unidade dos segundos (s), registrados num mesmo período de simulação.

DETERMINAÇÃO DO CONTROLADOR

A Figura 3 ilustra os valores registrados de tensão no barramento DC do circuito inversor nas simulações do sistema com os controladores obtidos. Controladores Miso possuem múltiplas variáveis de entrada e uma variável de saída, enquanto os controladores Simo possuem uma entrada e múltiplas saídas. As curvas correspondentes aos controladores fuzzy PID Miso aparecem sobrepostas. Na Tabela 2 são apresentados os índices de desempenho IAE e Itae dos controladores fuzzy e o número de regras utilizadas.

Com os resultados obtidos, pode-se observar que ambas as arquiteturas de controle fuzzy PID Miso e fuzzy PI Simo mantiveram tensão no barramento DC do circuito inversor em seu valor nominal, obtendo valores próximos de desempenho, enquanto as demais apresentaram erros grosseiros durante regime e na transição da potência de carga (instantes de 2s). O controlador selecionado é o fuzzy PI Simo, que manteve o sistema operando nos limites estabelecidos, utilizando-se de uma arquitetura mais simples, com uma única variável de entrada e número reduzido de regras. Finalmente, os resultados demonstraram a capacidade operacional do sistema frente a distúrbios de carga e de velocidade de acionamento, mantendo a tensão no barramento DC dentro dos limites estabelecidos. .M

Fabricio Theodoro Soares, Nelson Luis Cappelli, Angel Pontin Garcia e Claudio Kiyoshi Umezu, Feagri - Unicamp

Figura 3 - Valores registrados de Vdc nas simulações do sistema com os controladores da primeira e segunda etapa de projeto

Sistema de acoplamento do trator e implemento abastecido pela tomada de potência elétrica do trator

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Fotos gkn-walterscheid

baseadas nas variáveis de trabalho e para isso se utilizam de instruções ou regras. Diferentemente de um controlador proporcional integral derivativo (PID), o controlador fuzzy também é capaz de absorver a dinâmica complexa do sistema (não linearidades) e atuar numa ampla faixa de operação, características necessárias para o controle do sistema proposto. A Figura 2 ilustra os distúrbios em velocidade angular e na potência de carga aplicados nas simulações do sistema de geração, para o ajuste dos controladores. Na Figura 2, os distúrbios adotados simulam a partida do sistema em estado zero até um patamar elevado de carga, com o sistema operando abaixo da velocidade angular nominal de acionamento, seguido pelo alívio da carga e aumento da velocidade angular de acionamento. Adotou-se esta sequência porque nela ocorrem variações simultâneas de velocidade angular e na potência de carga em dois cenários críticos para a operação do sistema.


EMPRESAS

Made in Brazil

Fotos Michelin

Michelin inaugura primeira fábrica de pneus agrícolas fora da Europa na unidade industrial da empresa em Campo Grande, no Rio de Janeiro, e destaca a importância do pneu radial na conservação do solo para a produção agrícola

“B

uscar a máxima preservação do solo, ao mesmo tempo em que buscamos tecnologias que nos ajudem a produzir mais.” Essa foi a mensagem do presidente da Michelin para a América do Sul, Nour Bouhasson, no evento de lançamento da fábrica de pneus agrícolas da Michelin em Campo Grande, no Rio de Janeiro. O evento ocorreu no dia 30 de junho e além da presença do presidente, contou com o diretor mundial para Pneus Agrícolas, Emmanuel Ladent, com o professor de Agronomia e pesquisador da Harper Adams University, Peter Mills, e com o diretor de Comércio e Marketing de Pneus Agrícolas da Michelin América do Sul, Christian Mendonça. Bouhasson também ressaltou a importância do Brasil para a Michelin, com investimentos de 1,5 bilhão de euros nos últimos cinco anos no país. “Atualmente, a agricultura é responsável por 23% do PIB brasileiro. O Brasil tem o desafio de crescer ainda mais nos próximos anos e a Michelin confia nos mercados brasileiro e sul-americano e essa fábrica é uma forma de mostrarmos isso”, afirmou o presidente. Segundo o executivo, esse

crescimento precisa ser responsável e a conservação do solo é um dos fatores que devem ser observados para que o aumento da produtividade venha aliado à sustentabilidade e à garantia de um solo produtivo para gerações futuras. Um fator importante que deve ser avaliado para a preservação das qualidades do solo é a compactação ocasionada por máquinas agrícolas. Diferentes pneus causam diferentes impactos e a escolha do pneu correto pode conservar o solo, aumentar a produtividade da área manejada e gerar economia ao produtor rural. Atualmente, somente 6% dos pneus agrícolas vendidos no Brasil são radiais, contra 87% vendidos

Nour Bouhassoun, Peter Mills e Christian Mendonça

na Europa. Segundo Mills, que realizou pesquisas quanto às diferenças de produtividade em áreas manejadas com pneus diagonais versus pneus radiais, a produtividade da lavoura pode aumentar até 4% quando todas as máquinas utilizadas são equipadas com pneus radiais. “Isso se deve à sua engenharia, que dá a capacidade ao pneu radial de trabalhar sob baixa pressão, com flexibilidade, gerando maior contato com o solo, assim compactando menos, além de durar mais que pneus diagonais”, destacou o pesquisador. A Michelin foi a primeira empresa de pneus no mundo a produzir pneus radiais e o um dos objetivos da marca com a instalação da nova fábrica é conscientizar o produtor brasileiro quanto aos benefícios dos pneus de baixa pressão e auxiliar na radialização do país. “A gente moderniza nossas máquinas, mas esquece de modernizar nossos pneus, e esse é um dos nossos objetivos”, enfatizou o diretor Christian Mendonça. Segundo Mendonça, a unidade fabril já produz pneus Ultraflex para todo ciclo agrícola, adaptados a todo tipo de .M máquina.

No Brasil

A

Michelin já fabrica no Brasil diversas linhas de pneus destinados a maquinas agrícolas: • Michelin CargoxBib - Destinada a veículos de transporte de cana-de-açúcar e carretas agrícolas. • Michelin MachxBib - Destinada a tratores de alta potência, ideal para carregar grandes cargas sob pressões baixas. • Michelin AxioBib - Desenvolvida para máquinas agrícolas de mais de 250cv de potência, pois oferece melhor tração e menor resistência à rodagem.

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TRATORES

No nível

Fotos Marcos Roberto da Silva

A construção de terraços ainda é uma necessidade no cultivo de diversas culturas, como a cana-de-açúcar, que exige equipamentos específicos para realizar a operação

DIMENSÃO

N

os trópicos, a erosão hídrica é a principal forma de ocorrência do processo de degradação das áreas agrícolas, causado pelo desprendimento e carreamento das partículas do solo pela ação da água. A erosão resulta na degradação das terras agrícolas, provocando consideráveis prejuízos ao meio ambiente, em virtude desses danos, várias técnicas conservacionistas foram e vêm sendo desenvolvidas e aprimoradas com vistas a minimizá-los. Dentro das práticas que reduzem o escoamento superficial da água, a construção de terraços destaca-se por sua capacidade de minimizar o efeito da ação da água em áreas agrícolas em que há a supressão total ou parcial da cobertura vegetal. O terraceamento consiste basicamente da elevação de terra transversal ao sentido do declive do terreno de forma a interceptar a enxurrada antes que ela atinja uma velocidade capaz de provocar o arraste de partículas do solo. A estrutura de interceptação criada pela movimentação de solo permite a infiltração da água de forma lenta, mantendo a umidade do solo e contribuindo para o reabastecimento dos aquíferos. Após o desenvolvimento de grupo de estudos do Brasil no sentido do desenvolvimento de técnicas conserJulho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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rada ou lenta e de baixa infiltração. A movimentação de terra para construção da estrutura deste terraço é com curvas em desnível, denominado também de terraço em desnível. Já o terraço de infiltração ou em nível possui movimentação das terras para elevação da estrutura, ocorre em curvas em nível por isso, com função de interceptar a água e retê-la, fazendo-a infiltrar lentamente no perfil do solo.

vacionistas, a prática da construção dos terraços ganhou força na década de 70, utilizada tanto no sistema de preparo convencional com mobilização total do solo, como nos sistemas considerados conservacionistas, citando o Cultivo Mínimo com movimentação do solo verticalmente e o Sistema Plantio Direto sem movimentação praticamente.

TERRAÇOS

Os terraços são confeccionados levando em consideração algumas características e são classificados de acordo com a sua função e dimensão. Quanto à função, pode ser classificado como terraço de drenagem, neste caso ocorrem a interceptação e o escoamento parcimoniosamente do excesso de água, que é conduzida para um canal escoadouro. Este tipo de terraço é indicado para solos com permeabilidade mode-

A dimensão dos terraços diz respeito à largura da faixa de movimentação de terra, sendo classificados como: terraço de base estreita, recomendado nas condições de alto declive; terraço de base média, indicado para pequenas e médias áreas, sendo utilizados os arados de disco ou de aiveca para movimentação do solo; e terraço de base larga, recomendado para grandes áreas com declividade entre 6% e 8%, neste caso, requer um maquinário de grande porte denominado terraceador agrícola. Apesar de ser uma técnica conhecida e difundida no Brasil, ainda existe grande dificuldade quanto ao seu uso pela falta de conhecimento da importância da técnica para preservação das áreas agrícolas e, muitas vezes, pelo descaso produtor agrícola. Um dos maiores problemas verificados a campo é o dimensionamento incorreto para a alocação dos terraços levando em consideração as características do sistema de produção onde se pretende introduzir, reduzindo, desta forma, a sua eficiência.

CONSTRUÇÃO DE TERRAÇOS AGRÍCOLAS

O terraceamento altera a superfície do terreno de acordo com o tipo de terraço dimensionado previamente para a área com as diretrizes de conservação de solo. Dada esta característica, os terraços po-

O terraceamento é a elevação de terra transversal ao sentido do declive do terreno, interceptando a enxurrada para que ela não leve o solo para áreas mais baixas


Marca

Modelo

BALDAN

TACR TACR TC-20C TC-24C TSTA TSTA 16 - FX 42 - FX

CIVEMASSA TATU MARCHESAN ELEVA

Quantidade discos 14 22 20 30 14 22 16 42

Largura de Trabalho 5450 mm 8200 mm 8000 mm 10900 mm 5200 mm 7600 mm 6560 mm 15500 mm

dem ser construídos utilizando-se vários equipamentos agrícolas disponíveis nas propriedades rurais, desde implementos tracionados por animal ou trator, a exemplo de arados, plainas e terraceadores agrícolas. Utilizando-se os terraceadores, a terra é escavada e desagregada acumulando-se até formar uma estrutura elevada. O terraceador é o implemento que promove a desagregação, elevação da terra e acabamento na construção dos terraços com maior eficiência e qualidade. A mobilização é feita em dois sentidos, de cima para baixo e de baixo para cima, transversal à linha de declive e, neste momento, se faz necessário observar se as leivas de terra estão se sobrepondo, formando uma elevação uniforme após algumas passadas. Os terraços ao longo dos anos sofreram transformações causadas por agentes externos, como transporte de máquinas, vento, infiltração de água das chuvas em função de construção de galerias por animais. Outro problema que se observa ao longo dos anos é o acamamento do terraço, perdendo sua forma regular e, consequentemente, sua funcionalidade. Diante disso são importantes a avaliação periódica e a manutenção regular.

ESTRUTURA DOS TERRACEADORES

O terraceador agrícola indicado para construção de terraços é formado por três chassis, sendo um frontal, um direito e um esquerdo, e o cabeçalho com engate para acoplamento a barra de tração ou sistema de levante hidráulico do trator. O chassi frontal possui um conjunto de rodas acionadas por um pistão hidráulico através do controle remoto utilizado tanto no transporte quanto na operação, participando na regulagem do ângulo de

Diâmetro dos discos 26” X 6,0 mm 26” X 6,0 mm 26” X 4,5 mm 26” X 6,0 mm 26” X 6,0 mm 26” X 6,0 mm 26” X 6,0 mm 28” X 6,0 mm

Roda guia SIM SIM NÃO NÃO SIM SIM NÃO NÃO

Complemento lateral (opcional) NÃO NÃO SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO

Peso 1.885,0 kg 2.510,0 kg 3.200,0 kg 4.085,0 kg 1.967,0 kg 2.573,0 kg 2.736,0 kg 8.303,0 kg

corte dos discos, dando forma ao terraço. Nos chassis laterais estão acoplados os discos de corte, estes também são dotados de braços telescópicos articuláveis, que permitem o fechamento dos chassis facilitando o seu transporte. Ao final do último disco nos chassis laterais há a possibilidade de adicionar um complemento opcional com três discos, o que permite um melhor acabamento no desnível deixado pelo terreno. Há também a opção da roda guia dotada de regulagem para o alinhamento do terraceador quando em uso. Cada disco possui um mancal de

Espaçamento entre discos 400 mm 400 mm 450 mm 450 mm 400 mm 400 mm 450 mm 450 mm

Potência requerida no trator 90 - 110 Hp 143 - 154 Hp 140 - 160 Hp 220-270 Hp 84 Hp 158 Hp acima de 100 Hp acima de 330 Hp

rolamento que necessita regularmente ser lubrificado com óleo ou graxa. Os modelos de terraceadores disponíveis no mercado diferenciam-se principalmente quanto ao número de discos de corte, variando de 14 até 48 discos. Quanto maior o número de discos, maior o peso do implemento e, consequentemente, maior a potência requerida no trator para fazer a operação de forma .M eficiente.

Marcos Roberto da Silva e Fabrício Pedreira Santos, UFRB/CCAAB/GPESOA

Cuidados básicos na construção dos terraços com terraceadores

A

prática do terraceamento deve atender aos critérios de atenuação ou eliminação de fatores físicos, químicos e biológicos que limitam o desenvolvimento das culturas. Dentre eles, o estado de umidade do solo no momento da construção do terraço merece maior importância, pois interfere de forma significativa em sua eficiência. É preciso ficar atento ao momento correto de se fazer a construção dos terraços, o ideal é que a prática seja feita quando o solo estiver friável, ou seja, na sua capacidade de campo. Nos solos com elevada umidade, os tratores não terão suporte para tracionar o implemento e ocorrerá patinagem, reduzindo a eficiência da prática. Solos com baixa umidade dificultam a movimentação da terra, implicando maior resistência dos discos ao penetrar no solo. A construção dos terraços nesta condição promoverá a formação de torrões, fragilizando a estrutura. Apesar de ser uma tecnologia difundida em todo o Brasil, seu uso é limitado pela falta de conhecimento sobre sua implantação e custo, principalmente pelos pequenos e médios agricultores. No dimensionamento é preciso considerar fatores indispensáveis para

que haja eficiência dos terraços no controle da erosão. Apesar dos modelos existentes no mercado possuírem características gerais parecidas, a escolha do terraceador deverá atender às características da propriedade a qual será destinado. É fundamental para o sucesso da operação a capacidade do operador de entender as relações máquina-solo para que a qualidade final dos terraços, principalmente quanto à existência de fragilidade do camalhão. Os produtores agrícolas, ao reconhecerem o quanto é impactante a perda de solo de suas áreas agrícolas, como se fosse a perda de um patrimônio irrecuperável, se apropriam do conhecimento sobre manejo e conservação do solo, principalmente sobre as técnicas mecânicas de controle de erosão, como é o caso do terracemanto, estes perenizarão as áreas de produção do ponto de vista ambiental. E, sem dúvida alguma, o terraceador é um implemento que apresenta a melhor capacidade operacional e qualidade para a construção dos terraços quando comparado com os outros métodos, e a depender da condição da propriedade e cultura agrícola a ser explorada apresentará um menor custo operacional.

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PULVERIZADORES

Teste dos adjuvantes

Jacto

Apesar de alguns adjuvantes prometerem diversas soluções na aplicação de defensivos, há uma considerável distância entre as promessas e suas reais funções

A

história dos adjuvantes agrícolas tem início no século 18, quando resinas de pinheiro, farinha de trigo, melaço e açúcar foram utilizadas para promover modificações físicas e químicas nas caldas de pulverização, que nesta época eram à base de cal, enxofre, cobre e arseniatos, e assim melhorar o controle de pragas. Desde então, os adjuvantes têm feito parte da rotina das pulverizações. Dados do relatório “Mercado Mundial de Adjuvantes Agrícolas” apontam a América do Norte como controladora de 40% do mercado de adjuvantes. O Brasil, junto a toda América Latina e à Ásia, é considerado mercado “inexplorado” e com um enorme potencial para crescer. Os adjuvantes agrícolas são ferramentas poderosas que estão à disposição dos agricultores, estes produtos permitem driblar os fatores que Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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prejudicam a aplicação de defensivos. O processo de aplicação é bastante complexo e diversos fatores interferem positiva ou negativamente (Figura 1). Adjuvantes são quaisquer substâncias ou compostos sem função fitossanitária, ou seja, sem função de controle de pragas ou doenças. Portanto, não devem ser aplicados sozinhos. Os adjuvantes devem ser acrescidos na calda de pulverização com objetivo de facilitar a aplicação, aumentar a eficácia ou diminuir riscos de contaminação humana e ambiental por deriva. Estes produtos podem ser considerados como ativadores e têm como objetivo melhorar diretamente a atividade do defensivo, principalmente pelo aumento da taxa de absorção. Os adjuvantes ativadores incluem os surfatantes, óleos vegetais, óleos de sementes metilados, óleos minerais, derivados de silicones, bem como fer-

tilizantes nitrogenados. Os adjuvantes também podem ser denominados como úteis. Estes atuam como facilitadores do processo de pulverização por meio da redução dos efeitos negativos da pulverização e não influenciam diretamente na eficiência do defensivo. São considerados adjuvantes úteis os agentes compatibilizantes, depositantes, dispersantes, controladores de deriva, espumantes, condicionadores da água, acidificantes, tamponantes, umectantes, protetores de raios ultravioletas e corantes. Muitas vezes nem os próprios fabricantes têm noção da funcionalidade de seus adjuvantes, podendo haver equívocos na informação contida na bula ou no rótulo dos produtos. Sabendo disto, algumas instituições públicas de pesquisa e ensino (IAC, Unesp Botucatu e Jaboticabal, Uenp, UFU, entre outras) junto à iniciativa


Fotos Henrique Borges Neves Campos

Área experimental cultivada com milho

privada (Sabri Sabedoria Agrícola, Forplant, entre outras) têm sido pioneiras no desenvolvimento de métodos para avaliar adjuvantes. Pois, apesar de amplamente usados, os adjuvantes não possuem uma legislação específica, não existindo uma metodologia particular para sua avaliação. Devido ao número de variáveis envolvidas em estudos de campo, torna-se difícil a interpretação de resultados. Logo, vários pesquisadores têm defendido estudos em laboratório. Por exemplo, a produção de gotas suscetíveis à deriva durante uma pulverização pode passar despercebida em análises no campo, mas não sob condições controladas em laboratório. Estes estudos em laboratório são de grande importância, pois tais gotas suscetíveis à deriva no campo podem até não fazer diferença no controle de doenças, pragas ou plantas daninhas, mas podem ser fatais para insetos polinizadores como as abelhas, além de também contaminar cursos d’água e áreas urbanas.

Análise dos adjuvantes realizada em laboratório

registro de adjuvantes. Neste estudo foi avaliado o efeito que os adjuvantes provocam na tensão superficial das gotas, ou seja, no espalhamento das gotas sobre o alvo;

a alteração feita pelos adjuvantes no tamanho das gotas pulverizadas, bem como o potencial de risco de deriva que os adjuvantes proporcionam. A tensão superficial foi determinada por método gravimétrico, através da medição das massas de conjuntos de gotas em balança analítica de precisão. Já para as análises do tamanho das gotas, utilizou-se um analisador de gotas em tempo real (Spraytec – Malvern Spraytec Real Time Droplet Sizing System), com base na técnica da difração de raios laser. Este analisador de gotas verifica o DMV (Diâmetro Médio Volumétrico), ou seja, a média do tamanho das gotas produzidas por um bico de pulverização. Por fim, para analisar o potencial de risco de deriva dos adjuvantes utilizou-se um túnel de vento, feito em madeira e produzindo o vento necessário aos ensaios por um

Figura 1 - Roteiro da pulverização

TESTANDO OS ADJUVANTES

Isto posto, pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias de Botucatu (Unesp) realizaram um estudo detalhado com 18 adjuvantes comumente utilizados em misturas com defensivos em pulverizações agrícolas. Este estudo teve como principal objetivo facilitar na escolha de um adjuvante, na sua classificação e até mesmo no Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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Tabela 1 - Análise comparativa entre a função indicada no rótulo ou nas bulas e os resultados encontrados para os adjuvantes do grupo dos surfatantes quando comparados com a água Nome Comercial Antideriva Agral Break Thru Haiten In-Tec Silwet TA35

Composição Nonil Fenol Etoxilado Nonil Fenoxi Poli (Etilenoxi) Etanol 200 g L-1 Copolímero poliéter - polimetil siloxano (Silicone) 100% Polioxietileno aquil fenol éter 200 g L-1 Nonil fenol etoxilado 124,4 g L-1 Copolímero de Poliéster e Silicone 1000 g L-1 Lauril éter sulfato sódico, tensoativos, sequestrantes e emulsificantes

Função descrita Formulação Tensão Tamanho das Deriva pelo fabricante superficial gotas (DMV) Adjuvante redutor de Concentrado Sem ação Aumenta Reduz deriva e anti espumante Solúvel Espalhante adesivo, formação de película Concentrado Aumenta Reduz Reduz protetora auxiliando na absorção e penetração Solúvel Espalhante adesivo não-iônico Concentrado Sem ação Aumenta Reduz com ação penetrante Solúvel Espalhante Solução Aquosa Reduz Aumenta Sem ação adesivo não iônico Concentrada Espalhante adesivo e adjuvante, atua como Concentrado Sem ação Aumenta Reduz .M redutor de deriva, evaporação e anti espumante Solúvel Espalhante adesivo não iônico que reduz a tensão Concentrado Aumenta Reduz Reduz superficial e aumenta o tamanho de gotas Dispersível Adjuvante sequestrante de cátions, reduz a tensão Concentrado Reduz Reduz Reduz superficial e o efeito negativo das chuvas após aplicação Solúvel

As análises foram realizadas com a ponta de pulverização Teejet XR 8003 VK a 200kPa de pressão. Este estudo foi realizado por Ronde Batista de Oliveira e Ulisses Rocha Antuniassi (Fonte: http://www.pg.fca.unesp.br/Teses/PDFs/Arq0596.pdf)

ventilador. O sistema foi dimensionado para fornecer um fluxo de vento de 7km/h. Para melhor entendimento deste estudo, os pesquisadores optaram em apresentar os dados em tabelas com o nome dos adjuvantes, a sua composição, a função descrita no rótulo do produto pelo fabricante, o tipo da formulação e os efeitos provocados pelos adjuvantes na tensão superficial, no tamanho das gotas e no potencial

de deriva. Com base neste estudo, pode-se concluir que os adjuvantes avaliados reduziram a tensão superficial em relação à água, ou seja, todos os produtos promovem o espalhamento das gotas pulverizadas sobre a superfície depositada. Isto significa que é possível cobrir uma mesma área foliar aplicando-se menos água por hectare, consequentemente aumentando o rendimento da aplicação, tratando mais

hectares por hora, o que tem uma série de vantagens. Também foi possível observar neste estudo que alguns adjuvantes aumentam o tamanho das gotas. O aumento do tamanho das gotas tem como lado positivo reduzir o arraste de gotas pelo vento, o que aumenta as chances de que o defensivo aplicado atinja o alvo. Por outo lado, o aumento do tamanho das gotas pode ser uma desvantagem, pois prejudica a penetração do defen-

Tabela 2 - Análise comparativa entre a função indicada no rótulo ou nas bulas e os resultados encontrados para os adjuvantes do grupo dos redutores de deriva quando comparados com a água

Nome Comercial Antideriva AgBem Define Grip LI700 Nutrifix TacTic

Composição

Função descrita pelo fabricante Nonil Fenol Adjuvante redutor de Etoxilado deriva e anti espumante Resina sintética emulsionada 387 g L-1; Espalhante adesivo, auxilia no tempo de Agente tensoativo aniônico 129 g L-1 persistência dos agrotóxicos sobre as folhas Polímero Resina vegetal em grânulos dispersíveis com Vegetal características de redução de deriva e evaporação Látex sintético e fluído de organosilicone surfactante 450 g Espalhante adesivo de alta L-1. Álcool oxialquilado alifático primário 100 g L-1 deposição e retenção Mistura de fosfatidicolina (Lecitina) Acidificante, penetrante e Ácido propiônico 712,88 g L-1 e redutor de deriva Dodecilbenzeno sulfonato de sódio 30 g L-1; Espalhante e Adjuvante que reduz a tensão Carboximetilcelulose 30 g L-1 superficial aumentando a molhabilidade Látex sintético e fluido de Espalhante organosilicone surfactante (640 g L-1) adesivo

Formulação Concentrado Solúvel Emulsão Concentrada Concentrado Solúvel Concentrado Dispersível Concentrado Emulsionável Concentrado Solúvel Concentrado Dispersivel

Tensão Tamanho das superficial gotas (DMV) Sem ação Reduz

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Aumenta

Reduz

Sem ação

Reduz

Reduz

Aumenta

Aumenta

Reduz

Sem ação

Reduz

Reduz

Aumenta

Reduz

Reduz

Aumenta

Reduz

Reduz

Sem ação

Reduz

.M

As análises foram realizadas com a ponta de pulverização Teejet XR 8003 VK a 200kPa de pressão. Este estudo foi realizado por Ronde Batista de Oliveira e Ulisses Rocha Antuniassi (Fonte: http://www.pg.fca.unesp.br/Teses/PDFs/Arq0596.pdf)

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Deriva


Tabela 3 - Análise comparativa entre a função indicada no rótulo ou nas bulas e os resultados encontrados para os adjuvantes do grupo dos óleos vegetais quando comparados com a água Nome Comercial Agro’óleo Agrex Oil Veget Oil

Composição

Função descrita pelo fabricante Espalhante adesivo do grupo químico ésteres graxos, auxilia na distribuição e aderência da calda Inseticida e adjuvante do grupo químico ésteres graxos com ação de contato Inseticida de contato adjuvante

Éster de ácidos graxos 892 g L-1 Ésteres de ácidos graxos com glicerol 930 mL L-1 Ésteres de ácidos graxos de origem vegetal 930 g L-1

Formulação Concentrado Emulsionável Concentrado Emulsionável Concentrado Emulsionável

Tensão Tamanho das superficial gotas (DMV) Aumenta Reduz

Deriva Reduz

Reduz

Aumenta

Reduz

Reduz

Aumenta

Reduz

As análises foram realizadas com a ponta de pulverização Teejet XR 8003 VK a 200kPa de pressão. Este estudo foi realizado por Ronde Batista de Oliveira e Ulisses Rocha Antuniassi (Fonte: http://www.pg.fca.unesp.br/Teses/PDFs/Arq0596.pdf)

Tabela 4 - Análise comparativa entre a função indicada no rótulo ou nas bulas e os resultados encontrados para os adjuvantes do grupo dos óleos minerais quando comparados com a água Nome Comercial Joint Oil Nimbus

Composição Hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos 761 g L-1 Hidrocarbonetos alifáticos 428 g L-1

Função descrita pelo fabricante Adjuvante do grupo dos hidrocarbonetos alifáticos (Óleo mineral), reduz a tensão superficial e evaporação Adjuvante que auxilia na distribuição uniforme das gotas sobre as superfícies, auxiliando na penetração e absorção

Formulação Concentrado emulsionável Concentrado emulsionável

Tensão Tamanho das superficial gotas (DMV) Sem ação Reduz Reduz

Aumenta

Deriva Reduz Reduz

As análises foram realizadas com a ponta de pulverização Teejet XR 8003 VK a 200kPa de pressão. Este estudo foi realizado por Ronde Batista de Oliveira e Ulisses Rocha Antuniassi (Fonte: http://www.pg.fca.unesp.br/Teses/PDFs/Arq0596.pdf)

sivo nas partes inferiores no dossel das plantas ou baixeiro, uma vez que gotas maiores, ao atingirem o topo das plantas, sofrem o efeito guarda-chuva, havendo o escorrimento. Com relação à deriva, para muitos dos adjuvantes existe uma considerável distância entre o que é prometido pelos fabricantes e as suas reais funções. Alguns adjuvantes que prometem diminuir a deriva, na verdade aumentaram o potencial de deriva da aplicação, ou seja, a aplicação de água pura produz menos deriva do que a aplica-

Pesquisador Henrique Campos avaliou os principais adjuvantes do mercado

Fotos Henrique Borges Neves Campos

DERIVA

ção de água com estes adjuvantes. Contudo, o que o agricultor, agrônomo ou representante comercial deve compreender é que todo adjuvante tem seus pontos fortes e seus pontos fracos. Dessa forma, quando se conhecem os pontos fortes de um adjuvante é possível explorá-los ao seu favor. Da mesma forma, é indispensável conhecer os pontos fracos de um adjuvante para se precaver dos possíveis efeitos prejudiciais que podem ocorrer no

momento da aplicação. A sustentabilidade econômica, ambiental e social no uso de defensivos na agricultura depende de pesquisas, da transferência de informações e do treinamento dos indivíduos envolvidos no processo de pulverização, pois não há aplicação 100% se o profissional .M responsável não é capacitado. Henrique Borges Neves Campos, Sabri – Sabedoria Agrícola

Pulverizador com bicos de mesma vazão produzindo tamanhos distintos de gostas em três seções da barra de pulverização

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CAPA

Frontier CFS

A

A nova plantadeira da Valtra tem reservatório central de sementes e tecnologia que programa a distribuição de grãos e fertilizantes de acordo com mapa de recomendação do agrônomo

Valtra reforçou seu portfólio de implementos com a nova plantadeira Frontier CFS (Central Fill System), apresentada ao mercado na Agrishow 2015, ainda como conceito, e lançada oficialmente na Agrishow 2016. Uma das principais características do equipamento é o reservatório central de sementes, que agiliza o abastecimento. Outro atrativo da nova Frontier CFS é o sistema Taxa Variável, tecnologia que permite fazer uma programação específica para determinar a distribuição de sementes e fertilizantes de acordo com um mapa de recomendação planejado pelo produtor ou pelo agrônomo responsável.

Reservatório central com reforços internos

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A série de plantadeiras Frontier CFS foi concebida com foco nos produtores de médio e grande porte, para o plantio de diversas culturas de verão. Desenvolvida com alta tecnologia, alia robustez, precisão e versatilidade.

VALIDAÇÃO DE CAMPO

A nova plantadeira Frontier CFS passou por variadas avaliações em campo antes de seu lançamento. Foram realizados testes de plantio nas principais culturas, abrangendo as diversas condições e regiões de nosso país. Para tanto, as novas plantadeiras rodaram o Brasil nas últimas três safras. No último ano, mais de 40 máquinas estiveram em

campo, sendo avaliadas por clientes, antes de seguir para o mercado.

AUTONOMIA E EFICIÊNCIA

Esta nova série foi desenvolvida com o maior reservatório de sementes da categoria. Com 1.450 litros para máquinas individuais e 2.900 litros quando em tandem, apresenta capacidade de sementes até 28% maior. Dessa forma, reduz a necessidade de paradas para reabastecimento. Com 220kg de adubo por linha, apresenta relação ideal entre adubo e semente, necessitando de menor número de paradas. Com capacidade de abastecer um bag de sementes inteiro na caixa


Fotos Valtra

central, sem sobras, a Frontier CFS teve seu reservatório desenhado visando ao total aproveitamento das sementes e à alta rigidez estrutural. O sistema CFS foi projetado de tal forma que não haja a necessidade de movimentador de sementes no fundo do reservatório para que o abastecimento das linhas seja uniforme. Em uma situação de plantio de 8km/h, em sua versão de 30 linhas, tem capacidade de oito hectares por hora, ou 80 hectares por dia, em uma jornada de dez horas de trabalho.

PRECISÃO DURANTE O PLANTIO

Para garantir maior precisão durante todo o plantio, são utilizados dosadores pneumáticos acionados por eixo flexível (cable drive), que garantem alta precisão de distribuição linear, evitando falhas ou duplicidade de sementes. A garantia de profundidade da semente é obtida pelo uso de limitadores laterais posicionados próximos ao

Plantadeira com pantógrafos individuais para os sistemas de corte, deposição de adubo e semente

ponto de queda da semente no sulco, dispondo de regulagem simples por meio de alça tracionada e dentes escalonados. A precisão do plantio está também relacionada à qualidade de corte e à formação do sulco no solo.

A plantadeira é totalmente pantográfica, com braços pantográficos nas linhas de corte, linhas de adubo e linhas de semente. Esta característica proporciona um corte mais eficaz da palhada, copiando melhor as irregularidades do terreno, manten-

Fankhauser

Chassi com perfis quadrados e retangulares

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Fotos Valtra

Ampla área de abastecimento de adubo (esq.) e caixa central com capacidade para abastecer o reservatório de sementes por completo, sem sobras (dir.)

do uniformidade do sulco, evitando, assim, sementes descobertas ou depositadas sobre palhas mal cortadas. Na dosagem de adubo foram

Eixo flexível de acionamento montado paralelo à linha, garantindo maior vida útil

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utilizados dosadores Fertisystem, que garantem padrão uniforme na quantidade de fertilizante aplicado.

MANUTENÇÃO E SERVICIBILIDADE

O quesito manutenção foi observado pela Valtra para facilitar a vida do agricultor no campo. A começar pelo reservatório de adubo, que, por ser basculante, facilita a limpeza durante a troca de fertilizante e a qualquer regulagem necessária nos dosadores. Utilizando buchas autolubrificantes e retentores nos eixos de articulação do conjunto de pantógrafos das linhas de semente e adubo, não necessita de lubrificações diárias e garante alta rigidez e confiabilidade no desempenho das linhas ao longo do tempo. Rolamentos cônicos blindados sem pontos de lubrificação nos discos duplos da linha de adubo e de semente reduzem o número total de lubrificações diárias. Com o dosador de sementes pneumático acionado por eixo flexível, reduz o número de peças móveis como engrenagens, correntes e esticadores, assim como elimina a lubrificação desses componentes. Outra vantagem do uso do eixo flexível é que nesse sistema as peças rotativas são totalmente protegidas

e eliminam os tradicionais enrolamentos de palhas e quedas de corrente. Um ponto muito importante é que esse eixo flexível é montado paralelamente à linha de plantio, o que garante maior vida útil desse


reforços internos.

VARIADAS CONFIGURAÇÕES

Dosador pneumático acionado por eixo flexível (cable drive) e dosador de adubo FertiSystem

componente. A plantadeira Frontier CFS dispõe de apenas quatro pontos de lubrificação nas linhas de corte e adubo e nenhum ponto na linha de semente, ao utilizar o dosador pneumático. Isso representa entre 43% e 67% menos pontos de lubri-

ficação do que as plantadeiras dessa categoria. Por fim, para garantir vida útil prolongada, tem chassi mais robusto, peças desenvolvidas em ferro fundido com maior precisão, reservatórios com maior espessura e reservatório de sementes com

As novas plantadeiras apresentam grande número de possibilidades de configuração. São oferecidas entre 11, 13 e 15 linhas em chassi único, e de 22, 26 e 30 em tandem, nos espaçamentos de 45cm. Permitem também montar espaçamentos de 50cm, 60cm, 76cm e 90cm. Quando em tandem, é possível trabalhar com as máquinas separadamente, graças a sua forma construtiva com turbinas e cabeçalhos de tração individuais para cada plantadeira (exceto quando taxa variável). As máquinas saem de fábrica com discos de corte lisos, de diâmetro 22”, e têm ainda como opção lisos ou turbos de diâmetro 20”. Já para a deposição de adubo, utiliza o novo

.M

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Fotos Valtra

traseiros, os preferidos na Região Sul do País.

ESTRUTURA

Limitador lateral reduz a vibração na linha e a potência para tração

sulcador fixo, que com novo desenho e fabricado com aço forjado resulta em menor revolvimento do solo e alta resistência. Também há a disponibilidade de montar os sulcadores desarme-arme ou discos duplos desencontrados de diâmetro 17”. Para especificar a profundidade das sementes, utiliza os limitadores laterais com articulações rolamentadas e ajuste lateral de precisão, sistema exclusivo e patenteado. Dessa forma, permite total limpeza do disco duplo durante o plantio, garantindo melhor corte de palha e qualidade do sulco, possibilitando o início do plantio mais cedo. Outra característica desse limitador é que, por sua forma construtiva, ele é puxado, não gerando oposição ao sentido de plantio, o que promove a redução da vibração da linha e de potência de tração. Para fechamento do sulco e finalização do plantio, utiliza os compactadores em “V”, com buchas autolubrificantes e retentores em sua articulação principal, proporcionando redução de folgas ao longo do tempo. Os compactadores em “V” também contam com sistema para regulagem de ângulo e pressão das rodas compactadoras. É a única plantadeira da categoria que oferece a versão com dosador de sementes mecânico de disco horizontal, e também a versão montada com limitadores de profundidade Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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O chassi foi desenvolvido e fabricado de modo a proporcionar o máximo de rendimento, economia, versatilidade, durabilidade e facilidade de operação numa vasta gama de condições de trabalho. Sua construção com tubos quadrados e retangulares garante maior resistência a todo o conjunto. Conta com travessas móveis, de movimentação determinada por furos, o que facilita seu posicionamento no que se refere aos espaçamentos disponíveis. Dessa forma, todas as furações necessárias em chapas para os espaçamentos oferecidos de fábrica já saem na plantadeira.

Com plataforma traseira antiderrapante, guarda-corpo e transmissões totalmente protegidas, a plantadeira Frontier CFS proporciona segurança na operação e atende às normas de segurança da NR-12. Além disso, tem ampla área de abastecimento, oferecendo maior conforto, comodidade e segurança ao operador. O implemento dispõe de rodado duplo e articulado de atuação instantânea, que garante o contato permanente com o solo e o movimento constante das transmissões, tendo incorporado a ele todas as catracas, cilindro, suporte e balancim. Por conta dessa estrutura e do design aplicado ao chassi, o rodado pode ser deslocado livremente e, dessa forma, atingir todos os espaçamen-


tos mencionados anteriormente.

TECNOLOGIA

Todos os modelos da nova plantadeira Frontier CFS saem de fábrica com o monitor PM400 (exceto quando usa o sistema de taxa variável) para acompanhamento das linhas de sementes, visando a auxiliar o produtor a manter o plantio de maneira uniforme e sem falhar. O sistema monitora velocidade de plantio, armazena informações de até duas áreas parciais e uma total, informa o alvo de sementes (definida pelo produtor), evita falhas ao indicar a linha que está com problemas, informa o espaçamento e a quantidade de sementes por metro (mínima, média e máxima), além de ter a função autoteste, que checa automaticamente

Monitor PM400 para acompanhamento das linhas de sementes e monitor C3000 para a calibração das dosagens de adubo e semente

todos os sensores instalados. Outra tecnologia disponível nas plantadeiras é a transmissão hidráulica, conhecida popularmente como taxa variável. Esse sistema permite que a quantidade de adubo e sementes aplicada tenha uma taxa

fixa ou variável. Quando em taxa fixa, a definição dos valores de distribuição é invariável e pode ser alterada no monitor C3000, dentro da cabine do trator, sem a necessidade de recâmbio de engrenagens. Já quando em taxa variável, permite diferentes dosagens de plantio em determinada área, por meio da utilização de mapas de prescrição. Dessa forma, o sistema ajusta automaticamente a taxa de plantio quando entra em diferentes zonas no mapa. O principal objetivo desse recurso é reduzir o desperdício de produto e criar uma cobertura uniforme ao longo de determinado campo. O controle de taxa variável pode ser ativado e desativado facilmente por meio do terminal. Quando configurada com o sistema de taxa variável, a Frontier CFS utiliza o fluxo contínuo do trator para acionamento dos motores hidráulicos – um para adubo e outro para semente –, o qual recebe informação do sensor de pulsos, para garantir em tempo real a troca de doses nas mudanças de áreas de aplicação definidas no mapa de aplicação. Também utiliza o sistema Isobus para comunicação, o qual é integrado com a antena e o monitor C3000 do trator, e mantém o monitor de plantio integrado ao sistema. O monitor C3000 de 12 polegadas TouchScreen garante a praticidade na operação e calibração, com disponibilidade de apresentação de mais de 25 informações sobre o plantio em tempo real. .M Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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COLHEDORAS

Velocidade x consumo A grande vantagem das semeadoras pneumáticas é a possibilidade de distribuir de forma precisa as sementes na linha de plantio, característica que para ser eficaz demanda atenção do operador

U

ma colhedora de cana-de-açúcar gasta em média 60 litros de óleo diesel para colher um hectare de cana-de-açúcar. Considerando o atual preço do óleo diesel em torno de R$ 3,00 por litro, esta colhedora gastará, somente com combustível, em torno de R$ 180,00 por hectare colhido. Colhendo em média 10ha por dia, o gasto diário com combustível será superior a R$ 1.800,00. Os pesquisadores Ripoli e Ripoli (2008) afirmaram que fatores como condições agronômicas, ambientais, técnicas e de gerenciamento influenciam a operação de colheita mecanizada e caso esta não seja executada dentro de preceitos técnicos, podem comprometer a qualidade da matéria-prima, a produtividade e a longevidade do canavial. Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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Quanto maior a velocidade, maior será a capacidade operacional; com uma velocidade de deslocamento de 7km/h a eficiência de campo pode chegar a 75%. O consumo horário de combustível também é influenciado pela velocidade de deslocamento da colhedora, sendo que quanto maior a velocidade, maior o consumo horário e menor o consumo por tonelada de cana colhida. Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o consumo de combustível de duas colhedoras de cana-de-açúcar em função da velocidade de deslocamento e rotação do motor. Foram avaliadas duas colhedoras de cana-de-açúcar em canaviais de alta produtividade (mais de 100t/ha) e em canaviais de menor produtividade (menos de 40t/ha). A colhedora

“A” apresentava 335cv de potência e rodados de esteiras e a colhedora “B” tinha 330cv e rodados de esteira. As colhedoras foram avaliadas em três faixas de velocidade (5km/h a 6km/h, 6km/h a 7km/h e 7km/h a 8km/h) e em três diferentes rotações do motor (1.900rpm, 2.000rpm e 2.100rpm). Para a medição do consumo horário e específico de combustível foram utilizados dois fluxômetros volumétricos de vazão de 10ml/pulso, um instalado entre os filtros e a bomba injetora do motor da colhedora e o outro no retorno do combustível ao tanque. O consumo real foi calculado pela diferença entre os valores dos pulsos gerados pelos fluxômetros, os quais emitiram ao sistema de aquisição de dados (CLP) uma unidade de pulso a cada 10ml de


Fotos Kleber Lanças

combustível que passou pelo mesmo. O consumo específico por tonelada colhida foi obtido pela razão entre o

Sistema de aquisição de dados de consumo da colhedora

Fluxômetros instalados para avaliar o consumo real

consumo de combustível por área (L/ ha) e a produtividade do canavial (t/ha). Para a determinação da velocidade de deslocamento das máquinas nas áreas, foi utilizado um receptor GPS. Os dados foram submetidos à análise estatística por meio da análise de variância e os valores comparados pelo teste Tukey a 5% de significância. A Figura 1 mostra os resultados do teste de Tukey a 5% de probabilidade para o consumo horário da colhedora “A” em função das rotações do motor nas diferentes faixas de velocidade de deslocamento. Observa-se que nas faixas de velocidade de 5km/h a 6km/h e de 6km/h a 7km/h não houve diferença significativa entre o consumo nas rotações de 1.900rpm e 2.000rpm, que foram significativamente menores que o consumo horário para rotação recomendada pelo fabricante (2.100rpm). A redução da rotação do motor das

colhedoras de 2.100rpm a 1.900rpm resultou em uma economia de mais de 20 litros de combustível por hora na faixa de velocidade de 6km/h a 7km/h. Na faixa de velocidade mais alta, o consumo foi significativamente menor na menor rotação (39,94L/h), gerando uma economia de 17,04L/h em relação à rotação de 2.100rpm, porém, não houve diferença significativa do consumo na faixa de velocidade de 6km/h a 7km/h. Independentemente da faixa de velocidade deslocamento, houve sempre maiores valores de consumo na mais alta rotação do motor da colhedora, não sendo significativo apenas na faixa de velocidade de 7km/h a 8km/h. A Figura 2 apresenta os resultados do teste de Tukey a 5% probabilidade para o consumo horário da colhedora “B” em função da rotação nas diferentes faixas de velocidade de deslocamento. Cada faixa de velocidade apresentou


Figura 1 - Gráfico dos resultados dos testes de Tukey a 5% de probabilidade para consumo Figura 2 - Gráfico dos resultados dos testes de Tukey a 5% de probabilidade para consumo horário de combustível da colhedora “A” em função da rotação do motor nas diferentes horário de combustível da colhedora “B” em função da rotação do motor nas faixas de faixas de velocidade velocidade de deslocamento

um comportamento diferente. Na faixa de 5km/h a 6km/h, o consumo horário foi significativamente menor quando a máquina operou com 2.000rpm do motor. Na faixa de velocidade de 6km/h a 7km/h, o consumo foi significativamente maior com 2.100rpm e não diferiu nas duas demais faixas. Na faixa de maior velocidade, o consumo horário não diferiu entre os tratamentos, porém, em todas as faixas de velocidade o consumo foi numericamente menor quando a colhedora operou com 2.000rpm no motor. A Figura 3 traz o gráfico com os resultados dos testes de Tukey a 5% de probabilidade para consumo de combustível por tonelada de cana-de-açúcar colhida em função das faixas de velocidade de deslocamento nas diferentes rotações do motor. Os menores consumos por tonelada de cana colhida pela colhedora “A” ocorreram na faixa de velocidade de 7km/h a 8km/h. Por conta da baixa produtividade dos talhões colhidos pela colhedora “A”, a mesma não necessitou de alta potência no motor e quanto maior a velocidade de deslocamento, maior a capacidade de colheita de colhedoras. Isso explica o menor consumo por tonelada ter sido observado na faixa de velocidade de 7km/h a 8km/h e na rotação de Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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Kleber Lanças

Figura 3 - Gráfico com resultados dos testes de Tukey a 5% de probabilidade para consumo Figura 4 - Gráfico com os resultados dos testes de Tukey a 5% de probabilidade para de combustível por tonelada de cana-de-açúcar colhida pela colhedora “A” em função das o consumo de combustível por tonelada de cana-de-açúcar colhida pela colhedora “B” faixas de velocidade de deslocamento nas diferentes rotações do motor em função das faixas de velocidade de deslocamento nas diferentes rotações do motor

1.900rpm (0,99L/t), e o maior consumo na faixa de velocidade de 5km/h a 6km/h operando com o motor a 2.100rpm (2,08L/t). Na Figura 4 observam-se os resultados dos testes de Tukey a 5% de probabilidade para o consumo de combustível por tonelada de cana-de-açúcar colhida pela colhedora “B” em função das faixas de velocidade de deslocamento nas diferentes rotações do motor. Para todas as rotações analisadas o consumo foi menor na maior faixa de velocidade de 7km/h a 8km/h, não sendo significativo apenas para 2.000rpm. A colhedora “A” em canavial de baixa produtividade obteve menor consumo de combustível com a máquina sendo operada a 1.900rpm no motor. A colhedora “B” no canavial com maior pro-

dutividade demandou maior potência para a realização da colheita, sendo o menor consumo observado a 2.000rpm. A velocidade de deslocamento influenciou o consumo de combustível por tonelada de cana-de-açúcar colhida tanto para áreas com altas como em áreas com baixas produtividades, sendo que, quanto maior a velocidade de deslocamento da colhedora, menor foi o consumo de combustível por to.M nelada colhida. Gabriel Lyra, IFMT Fabrício Campo Masiero, IFC Kléber Pereira Lanças, Carlos Renato Guedes Ramos e Camilo Giachini, FCA/Unesp Botucatu

O consumo horário de combustível também é influenciado pela velocidade de deslocamento da colhedora



PULVERIZAÇÃO Marco Antonio Gangolfo

Gotas perdidas A deriva é um dos principais complicadores da pulverização, fenômeno que exige muita atenção e técnica para ser minimizado nas operações

A

elevação da produção agrícola no mundo ocorre em resposta à crescente demanda de alimentos para necessidades nutricionais e de matérias-primas para a indústria. A otimização do potencial produtivo das lavouras é uma condição determinante para a existência da atividade como negócio, pois maximiza o rendimento com o menor uso de recursos na área cultivada. Estes recursos podem ser de âmbito local como o solo, a água e a luz, ou importados como as sementes, os fertilizantes e os agroquímicos. Independentemente de que seja local ou não, estes recursos devem ser utilizados de forma racional para que a exploração não caracterize um desperdício de Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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recursos, não antecipe sua escassez e não eleve custos de produção. Além do uso racional, a produção agrícola não deve condicionar a utilização de um recurso que comprometa outro. Assim, um fertilizante não pode ser usado de forma que contamine o solo, mesmo elevando a produção. Da mesma forma, um agroquímico não pode contaminar o ambiente fora do local de aplicação, mesmo que controle com eficácia um determinado agente de dano. Embora esta premissa seja lógica, ela não é fácil de ser obedecida, principalmente quando se trata de produção agrícola. Esta dificuldade se deve, entre outras razões, às condições locais variáveis em que esta atividade é praticada

e ao tempo, normalmente escasso, para execução dela. Dada a extensão do território brasileiro, pode-se considerar a grande variabilidade das condições climáticas, operacionais e culturais existentes nas diferentes regiões, o que exige do produtor um profundo conhecimento ou uma boa orientação das técnicas agrícolas necessárias para uma produção sustentável. Dentre os riscos da ocorrência de impactos negativos ao ambiente, a deriva de agroquímicos é um dos mais preocupantes, pois caracteriza-se pelo transporte do produto aplicado para um local indesejado. Esta deriva pode ocorrer dentro da área onde o agroquímico foi pulverizado, seja por escorrimento,



rebore ou não interceptação da gota no alvo, neste caso chamada de endoderiva. Já o transporte da gota que se dá para fora da área de pulverização é chamado de exoderiva. Esta última, além de submeter pessoas, animais e outros cultivos a riscos de desconforto, comprometimento da saúde ou queda da produção, também reduz a quantidade de produto aplicado na área agrícola, minimizando o nível de controle sobre o agente de dano e reduzindo o período residual do produto na proteção da lavoura.

OCORRÊNCIA DA DERIVA

Vários são os fatores que podem elevar os riscos da deriva de um agroquímico, entre eles alguns são bastante conhecidos e serão aqui destacados, tais como: a condição ambiental no momento da pulverização, o espectro de gotas produzido pelo equipamento e a composição da calda de pulverização.

CONDIÇÃO AMBIENTAL

Dentre as variáveis ambientais, a velocidade do vento, a temperatura e a umidade do ar são os mais relevantes. Embora seja frequentemente atribuída à ocorrência de vento a maior responsabilidade na deriva, deve-se considerar que o vento movimentara para fora da área de aplicação somente as gotas que não caíram na direção do alvo, caracterizando a deriva por transporte horizontal. A ausência de vento também pode favorecer a deriva, pois em momentos de desprendimento de calor do solo

ou deflexão do calor de sua superfície, seja dia ou noite, a ausência de vento intensifica a transferência de calor para o ar próximo em contato com o solo, reduzindo sua densidade e promovendo o deslocamento ascendente de massas de ar, chamadas de correntes convectivas, que retardam ou impedem a queda das gotas mais leves da pulverização na área que foi tratada, caracterizando a deriva vertical. A temperatura e a umidade do ar atuam de forma combinada, acelerando a evaporação dos compostos voláteis das gotas (Figura 1). Desta forma, a água que compõe a gota é retirada para o ambiente na forma de vapor, tornando a gota mais leve, expondo-a à ação convectiva do calor ou ao arrastamento pelo vento, que movimentará esta gota a um local indesejado. Este local pode ser a área vizinha, uma cidade ou uma fonte de água, próxima ou distante.

ESPECTRO DE GOTAS

A micronização das gotas na pulverização pode ser obtida de diversas formas, promovendo classes de gotas de diversos tamanhos, sendo as classes mais comuns as finas, médias e grossas. Cada classe de gotas deverá ser utilizada considerando as condições locais da aplicação como produto, condições climáticas, índice de área foliar, entre outros. Cada uma destas classes de gotas está caracterizada por um determinado intervalo de diâmetro, mas isto não significa que todas as gotas do espectro estarão dentro deste intervalo. Aquelas gotas mais finas da pulverização repre-

Dentre as variáveis ambientais, a velocidade do vento, a temperatura e a umidade do ar são as mais relevantes

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Fotos Marco Antonio Gangolfo

Estudos avaliam os fatores que interferem na deriva

sentam as de maior risco de deriva. Estudos são realizados para identificação de como alguns fatores afetam o espectro de gotas. Dentre os que mais podem ter efeito sobre a qualidade delas estão as pontas de pulverização e a pressão operacional. Pontas de jato plano de uso ampliado são reconhecidamente aquelas com a maior variabilidade das gotas, elevando o potencial de deriva numa pulverização devido ao elevado percentual de gotas muito finas. Já as pontas com indução de ar produzem níveis baixos de gotas finas, permitindo que produtos de maior risco ambiental possam ser usados com baixos riscos de deriva (Figura 2). Associada aos parâmetros de prestação da ponta de pulverização está a pressão de trabalho. A mesma pode ser modificada de acordo com a vazão e taxa de aplicação pretendida, sendo estes parâmetros diretamente proporcionais à pressão operacional. Quanto maior a pressão operacional, mais intenso será o choque do jato ou lâmina de líquido projetado pelo orifício da ponta com o ar da atmosfera, intensificando a micronização do líquido e a formação de gotas mais finas. Assim, embora a elevação da pressão aumente também a vazão para promover correções na taxa de aplicação, sua adoção pode aumentar os riscos de deriva (Figura 3), alertando que a forma mais segura de se aumentar a taxa de aplicação é a substituição de uma determinada ponta de pulverização por outra de maior vazão absoluta,


Figura 1 - Tempo de evaporação da gota após o contato com o alvo em diferentes Figura 2 - Deriva coletada em túnel de vento a 5, 10 e 15 metros de distância, com condições ambientais em pulverizações com e sem adjuvantes diferentes velocidades de vento em pulverizações com pontas de gotas finas e grossas

Fonte: Oliveira et al (2014)

Fonte: Gandolfo et al (2013)

Figura 3 - Deriva coletada em túnel de vento a 5, 10 e 15 metros de distância, com Figura 4 - Deriva coletada em túnel de vento a 5, 10 e 15 metros de distância, com diferentes pontas de pulverizações com duas pressões de trabalho diferentes formulações de agroquímicos em pulverizações com e sem adjuvantes

Fonte: Gandolfo et al (2014)

não requerendo elevação da pressão.

COMPOSIÇÃO DA CALDA

A composição da calda de pulverização tem também elevada influência nos riscos de deriva. Pesquisas têm mostrado que algumas formulações de agroquímicos podem reduzir o impacto ambiental destas aplicações (Figura 4). Atualmente, a indústria desenvolve formulações ou produtos específicos que permitem que o produtor possa fazer as pulverizações com segurança, minimizando as perdas para o ambiente e potencializando sua eficiência. Dentre os produtos mais usados estão alguns adjuvantes de calda com características antideriva e as formulações de baixa volatilidade e com baixo potencial de formação de gotas muito finas. Estes produtos estão difundidos no meio agrícola e são recomendados quando o risco de perdas em evaporação ou deriva é iminente, devendo ser escolhidos por sua segurança.

Fonte: Oliveira e Gandolfo (2016)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguns fatores potencializadores de deriva podem agir associados na sua ocorrência. Assim, as altas temperaturas e baixas umidades do ar podem reduzir rapidamente a massa das gotas pela evaporação da porção volátil, retardando sua queda, expondo estas gotas à flutuação pela ação convectiva que, combinadas com ventos fortes, terminam por arrastar estas gotas para outros locais. Da mesma forma, a tecnologia de formulações mais seguras, associada à ponta de pulverização mais indicada, também pode reduzir a níveis mínimos estas perdas, compensando-as mesmo nos períodos de maior risco. Uma tecnologia já estudada que poderá trazer à agricultura aplicações mais seguras é o uso da assistência de ar associada com sistemas eletrostáticos. A assistência é uma corrente de ar na barra de pulverização, gerada artificialmente que projeta a gota para

baixo. O sistema eletrostático, por sua vez, carrega as gotas com uma carga elétrica que tem por objetivo proporcionar a atração eletromagnética entre a gota e a planta. A fixação rápida da gota na planta diminui seu tempo de exposição no ambiente, reduzindo as perdas por evaporação e por deriva. Se a deriva é um fator nocivo à aplicação por reduzir o depósito no local desejado, o conhecimento e o uso das tecnologias de aplicação mais seguras são reconhecidamente alternativas para sua redução. Os conhecimentos técnicos para sua adoção devem ser buscados e divulgados na sua totalidade. Esta condição é essencial para que o crescimento da produção agrícola ocorra de forma segura e justa, permitindo o consumo de um alimento saudável em um am.M biente livre de contaminação. Marco Antonio Gandolfo e Ulisses Delvaz Gandolfo, Inst. Dashen de Pesq. Agronômica

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SEMEADORAS Semeato

Opções no sulco

Avaliação de quatro tipos de ponteiras de hastes sulcadoras mostra qual o perfil de sulco de cada uma delas e quais as melhores soluções para cada tipo de plantio

N

o sistema de semeadura direta, as semeadoras são equipadas com sulcadores tipo hastes e/ou discos. Porém, podem ser equipadas apenas com discos, uma vez que a haste é mais indicada para solos compactados, como em locais onde ocorre integração entre a lavoura e a pecuária. O sulco de semeadura desempenha um papel importante na germinação e no estabelecimento das culturas. Quando aberto por mecansimos do tipo haste, ocorre uma interessante descompactação da camada superficial do solo, promovendo um deslocamento de agregados do fundo do sulco para a superfície. No entanto, quando ocorrem períodos de seca, a utilização de haste sulcadora pode ser negativa, pois a maior exposição do solo favorece a perda de umidade. Neste caso, há uma vantagem na utilização de sulcadores tipo disco, que proporcionam uma menor exposição do solo, mantendo a cobertura de palha nas proximidades do sulco. Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br

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Um elemento importante dos sulcadores do tipo haste é a ponteira. Seu ângulo de ataque e largura influencia diretamente na qualidade do sulco. Por isso, é fundamental a substituição deste componente ao se verificar desgastes, pois a alteração na sua geometria, causada pelo atrito com as partículas do solo, resulta em sulcos com menor área de solo mobilizado. No mercado são oferecidos vários modelos de ponteiras com preços diversos. Porém, as informações técnicas a respeito das características do sulco são escassas. Por isso, foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar a área de solo mobilizada por quatro diferentes modelos comerciais de ponteiras de hastes sulcadoras, configuradas no sistema “guilhotina”, em três condições de umidade do solo. O experimento foi realizado na área experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Cerro Largo (RS), entre fevereiro e abril de 2015. O solo é classificado como Latossolo Vermelho distroférrico típico (LVdf) com

textura argilosa. A área utilizada para o estudo foi manejada com semeadura direta de culturas anuais por dez anos antecedentes ao ensaio. Foram realizados ensaios com quatro modelos de ponteiras (Figura 1) em três condições de umidade do solo (22%, 26% e 30%). As ponteiras números 1 e 2 possuem 53mm de largura, a ponteira número 3 possui 22mm, e a número 4 possui 20mm de largura. O delineamento utilizado foi o DIC, (Delineamento Inteiramente Casualizado) com quatro repetições, sendo que cada parcela foi constituída de um sulco aberto pelo mecanismo sulcador do tipo guilhotina, composto por disco de corte da palha e haste sulcadora. Os testes foram desenvolvidos utilizando um porta-ferramentas para o acoplamento do mecanismo de abertura do sulco e um trator da marca New Holland modelo TL75, com 57kW (78cv) de potência. A velocidade de deslocamento do trator foi de 1,39m/s (5km/h). Na caracterização do solo realizou-


-se a avaliação da textura (argila, silte e areia), umidade gravimétrica, densidade e resistência à penetração. Para a determinação da textura do solo foram coletadas cinco amostras na profundidade de trabalho (0mm a 100mm) distribuídas na área experimental. Para a determinação da umidade gravimétrica do solo foram coletadas cinco amostras em cada camada (0mm a 50mm; 50mm a 100mm) nas diferentes condições de umidade avaliadas. Após, as amostras foram transportadas em embalagens impermeáveis ao laboratório de mecânica dos solos da UFFS, onde utilizou-se a metodologia da pesagem e secagem em estufa por 24 horas. A densidade do solo foi avaliada com a coleta de cinco amostras indeformadas em cada profundidade (0mm a 50mm; 50mm a 100mm e 100mm a 150mm), utilizando anéis metálicos com volume interno de 200cm³ seguindo a metodologia proposta pela Embrapa (1997). A resistência do solo à penetração foi determinada com a utilização de um penetrômetro manual, até a profundidade de 300mm em oito pontos aleatórios nas três condições de umidade. A avaliação da área de solo mobilizada foi realizada através de um perfilômetro com precisão de 5mm. Este equipamento é constituído de uma estrutura metálica com 1,2m de altura e 1m de largura, onde uma fileira de varetas cilindricas é posicionada no sentido transversal ao sulco de semeadura. Desta forma, copiou-se a superfície do solo para o equipamento e determinou-se a área mobilizada. Para as análises estatísticas foi utilizado o software Assistat, versão 7.7, pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

Charles Echer

Fotos Marcos Antonio Zambillo

O sulco de semeadura desempenha um papel importante na germinação

Perfilômetro utilizado na avaliação

é classificado como argiloso. O solo apresentou-se friável entre a umidade de 0,22% (limite de contração) e 0,30% (limite de plasticidade). As análises de umidade gravimétrica realizadas durante os testes indicaram um aumento da umidade em função da profundidade para a condição de solo mais seco, e um efeito contrário na condição de solo mais úmido (Tabela 1). O teor de umidade média do solo, na profundidade de atuação dos sulcadores (0mm – 100mm), foi de 22%, 26% e 30% para as três condições avaliadas. Destaca-se que esses três valores de umidade ficaram dentro da faixa de friabilidade do solo, que é a condição indicada para determinação da resistência do solo à penetração, também, realizar as intervenções mecânicas, entre elas a semeadura direta. As análises de densidade do solo indicaram um aumento da compactação em função da profundidade (Tabela 2),

porém, não alcançando valores considerados críticos pela literatura. Estudos apontam que valores de densidade superiores a 1,34g/cm3 podem prejudicar o desenvolvimento das raízes em solos argilosos. No entanto, nas avaliações realizadas, a densidade média, na profundidade de atuação do sulcador (0mm – 100mm), foi de 1,24g/ cm3. A menor densidade nas camadas superficiais do solo pode ser atribuída à grande quantidade de raízes e restos culturais remanescentes do sistema de manejo. A resistência do solo à penetração apresentou uma variação significativa em função da umidade, mesmo dentro da faixa de friabilidade do solo. Foram obtidos valores médios de 3,60MPa quando a umidade do solo era de 22%; 2,09MPa quando a umidade era de 26%, e 1,75MPa quando a umidade do solo era de 30% na camada de 0mm a 300mm (Figura 2).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A avaliação granulométrica do solo apresentou os valores de 56,3% de argila, 33,3% de silte e 10,4% de areia. De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos, este solo

Ponteira sem desgaste à esquerda e ponteira desgastada à direita

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Tabela 1 - Umidade do solo das três condições avaliadas Profundidade Avaliação 1 Avaliação 2 Avaliação 3 (mm) Umidade (%) Umidade (%) Umidade (%) 21cC 26aB 31aA 0 - 50 23bC 25aB 29bA 50 - 100 25aB 25aB 28bA 100 - 150 4,56 CV (%) As médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

Tabela 2 - Densidade do solo em função da profundidade Profundidade (mm) 0 - 50 50 - 100 100 - 150 CV (%)

Densidade g.cm-3 1,21b 1,28a 1,31a 3,35

As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

Tabela 3 - Área de solo mobilizada (cm2) em função da umidade e da ponteira utilizada Ponteira 1 Ponteira 2 Ponteira 3 Ponteira 4 CV (%)

Umidade 22% Umidade 26% Umidade 30% 63,39aA 58,38aA 54,30aA 56,85aA 49,74aA 40,48bA 32,11bA 45,28bA 39,73bA 18,31cB 37,64bA 39,79bA 20,25

As médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

O crescimento das raízes das plantas é limitado pela resistência do solo à penetração. No entanto, há divergências na literatura sobre qual seria a resis-

tência limitante à produtividade das culturas, pois este é um fator que afeta o desenvolvimento das plantas de forma indireta e possui grande oscilação ao longo do tempo, principalmente em função do teor de umidade presente no solo. De acordo com Clark et al (1990, 2003) as raízes exercem uma pressão em torno de 0,2MPa a 1,2MPa durante o seu crescimento. Silva et al (1994) aponta um valor de 2MPa como restritivo ao crescimento das raízes. No entanto, estes valores podem não representar prejuízos à cultura, desde que haja disponibilidade de água e nutrientes. As avaliações de área de solo mobilizada indicaram que as ponteiras 1 e 2, com asas mais largas, apresentam maior mobilização do solo em relação aos modelos 3 e 4. Exceto na condição de maior umidade, onde a ponteira 1 apresentou valores superiores às demais, conforme a Tabela 3. Na condição de solo mais seco, as ponteiras com asas, modelos 1 e 2, mobilizaram maior quantidade de solo, não diferindo entre si. As ponteiras 3 e 4 obtiveram resultados de área mobilizada inferiores, sendo que o modelo 4 apresentou a menor mobilização. Na condição de umidade intermediária, as ponteiras 1 e 2 indeferiram e mobilizaram maior quantidade de solo do que os modelos 3 e 4. Já na condição de solo mais úmido, a ponteira 1 foi a que apresentou maior mobilização. Ao variar a umidade do solo observou-se um comportamento semelhante

Figura 1 - Modelos de ponteiras avaliadas

entre as ponteiras 1, 2 e 3 ao aumentar a umidade. Porém, destaca-se que o modelo 4 apresentou menor área de solo mobilizada na condição de menor umidade. Isso demonstra que em menores umidades, dentro da faixa de friabilidade do solo, é interessante utilizar as ponteiras mais largas para proporcionar maior área de solo mobilizada.

CONCLUSÃO

No sistema guilhotina, as características geométricas das ponteiras e a umidade do solo influenciam a quantidade de solo mobilizado pela haste sulcadora. As ponteiras, com asas mais largas, apresentam maior mobilização do solo no sulco de semeadura tanto em situações de solo mais seco como em solos mais úmidos. As ponteiras mais estreitas mobilizam menor área de solo, resultando em sulcos mais superficiais. Apesar de serem mais estreitas e, teoricamente, exercerem maior pressão sobre o solo, a ausência das asas é um fator que limita o aprofundamento da ponteira, principalmente em situações de menor umidade. .M

Marcos Antonio Zambillo Palma, Dailson Guimarães Dugato, Daiana Cristina Johanns, Adrik F. Richter, Rafael A. Kupske e Guilherme Welter De Oliveira, UFFS

Figura 2 - Resistência do solo à penetração em função da umidade gravimétrica

As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

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