Maquinas 18

Page 1



Do editor Edição Número 18 - Ano III Março / Abril 2003 ISSN - 1676-0158 Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 7º andar Pelotas – RS 96015 – 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (06 edições): R$ 48,00 •DIRETOR Newton Peter •EDITOR GERAL Schubert Peter •EDITOR ASSISTENTE Charles Ricardo Echer

O sucesso no plantio é o primeiro passo rumo a uma boa safra. Se as falhas ocorrerem nesse estágio a lavoura inicia condenada a render menos. Os motivos que ocasionam essas falhas podem estar ligados à irregularidades na semente ou na plantadora e é justamente a questão da plantabilidade e densidade de sementes que a Cultivar Máquinas traz como assunto principal desta edição. Outro destaque é o caderno técnico sobre Agricultura de Precisão, uma tendência que já está ganhando força na agricultura brasileira e já é amplamente utilizada em países mais desenvolvidos, como é o caso dos países europeus. Um exemplo desta realidade pôde ser observado pela equipe da Revista Cultivar no Salão Internacional de Máquinas Agrícolas - Sima 2003, realizado de 23 a 27 de fevereiro em Paris, França, que conferiu todos os troféus de ouro para equipamentos de alta tecnologia, utilizados na agricultura de precisão.

•CONSULTOR TÉCNICO Dr. Arno Dallmeyer •REDAÇÃO Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo •DESIGN GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Fabiane Rittmann •MARKETING Otávio Pereira

Índice

Nossa Capa Foto Schubert Peter

Rodando por aí

04/05

Aerobarco para aplicações

06

Escolha de bico para pulverização

08

Marcha reduzida em 4 x 4

12

Erros no plantio: culpa de quem?

14

Critérios de seleção de máquinas (II)

18

Pronta para feijão

22

•ASSISTENTE DE VENDAS Fabiana Maciel

Consumo no plantio

24

Preparando o campo

27

•REVISÃO Carolina Fassbender

A Europa inova

30

Estoque de lubrificantes

31

Opinião

34

•ASSINATURAS Jociane Bitencourt •CIRCULAÇÃO Edson Luiz Krause •SECRETÁRIA GERAL Simone Lopes •PROMOÇÕES Marilanda Holz

•FOTOLITOS E IMPRESSÃO Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES:

(53)

• GERAL / ASSINATURAS: 3028.4006 • REDAÇÃO : 3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING: 3028.4005 • FAX: 3028.4001

Destaques Sobre as águas Aerobarco, a noviedade para aplicação de herbicidas aquáticos em barragens ....................................................

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

06

Culpa de quem?

Caderno especial Eduardo Guimarães S. Filho e Gregory Riordan abordam agricultura de precisão

Irregularidades no plantio podem estar ligadas à qualidade das sementes ou a regulagem da plantadora ................................................... 14

Preparando o campo Conheça os principais equipamentos para manejo de pastagens e plantas de cobertura ...................................................

27

Estoque adequado Cuidados necessários para armanezar lubrificantes na fazenda ...................................................

31


Rodando por aí

Lançamentos

Nova unidade A Kepler Weber investirá R$ 80 milhões em nova unidade que está sendo construída em Campo Grande (MS). A nova unidade vai produzir silos, secadores, máquinas de pré-limpeza, elevadores e demais equipamentos destinados à armazenagem e

Adriano Mallet

manuseio de grãos. Segundo Adriano Mallet, coordenador de Marketing, a nova unidade ficará pronta nos próximos 12 a 24 meses e irá transformar até 80 mil toneladas de aço por ano, juntamente com a unidade industrial de Panambi (RS).

Atração Os tratores da linha TS e da série Exitus foram os destaques da New Holland no Show Rural. A série TS se caracteriza pela aliança entre robustez e tecnologia com potência de 103 cv e 118 cv. Já a Série Exitus trouxe inovações, com motorização de 64 cv a 101 cv e opção de tração 4x4 em todos os modelos.

Exitus: opção de 4x4 em todos os modelos

Crescimento

Goodyear levou diversas atrações ao público

Festa A Goodyear do Brasil esbanjou alegria durante o Show Rural da Coopavel. Além do estande novo com ares de casa de fazenda, a empresa manteve o humor sempre em alta com as diversas atrações e brincadeiras realizadas na área ocupada pela empresa.

Moderfrota O Moderfrota, que gerou muita expectativa e aflição no início de 2003, recebeu um adicional de R$ 800 milhões para o restante da safra 2002/2003, que termina em junho. As empresas de máquinas agrícolas já prevêem um acréscimo nas vendas para o mês de março. Em janeiro, a venda interna caiu 42,4% em relação a dezembro.

04

Máquinas

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) prevê para 2003 um crescimento superior a 10% nas exportações de máquinas agrícolas. No ano passado as exportações já superaram em 17% a marca de 2001, somando US$ 642,85 milhões nos embarques para o exterior.

Fotojornalismo A New Holland lançou em fevereiro o Prêmio New Holland de Fotojornalismo Agrícola para fotógrafos profissionais que retratam a vida no campo. O prêmio será dividido em duas categorias: Agricultura, em que as fotos devem mostrar cenas envolvendo plantio, colheita, armazenamento e outras fases da produção; e máquinas New Holland, onde as fotos devem abordar, obrigatoriamente, máquinas da marca. Além de prêmio em dinheiro para os três primeiros colocados, 29 imagens serão selecionadas para compor a exposição Agricultura Brasileira, que percorrerá os principais pólos da atividade no próximo ano.

O grupo Fockink aproveitou o Show Rural Coopavel para lançar dois novos produtos: o novo modelo de espalhador de grãos e o silo alambrado. O espalhador de grãos, com modelos de capacidade de 120, 270 e 500 ton/ hora, funciona de forma a distribuir as impurezas e grãos em um perímetro maior em relação aos outros sistemas. Conforme Kurt Heuert, engenheiro do produto,

Grupo Fockink: dois novos produtos no mercado

Conbea De 28 de julho a 1º de agosto acontece o Conbea 2003 em Goiânia (GO), com o tema “Novas fronteiras: o desafio da engenharia agrícola”. Informações adicionais podem ser obtidas no site http:// www.sbea.org.br/conbea/Default.htm.

Ronaldo Rios

Exportações A Valtra está comemorando o grande número de tratores exportados. A empresa já embarcou 100 tratores da linha leve – modelo 785 (4x2) – de 75 cavalos para o Iraque, somente neste ano. Os Estados Unidos também estão levando 120 unidades da Série 100, modelos 600, 700, 800 e 900 (4x2 e 4x4) com negociações já em andamento para que sejam embarcados 300 tratores ainda este ano. Para Cláudio Costa, diretor de Marketing para a América Latina, a expectativa é mais do

o equipamento permite uma redução de energia elétrica no sistema de aeração de até 50%. Já o silo alambrado, com capacidades que vai de 160 sacos até 2.265 sacas por unidades, é uma solução que permite guardar a produção dentro da propriedade, com uma estrutura simples e fácil de ser montada, proporcionando maior segurança na preservação da qualidade dos grãos armazenados.

Novidades

Massey mostra vantagens da série Advanced

Demonstração Cláudio Costa que animadora. “Esperamos alcançar as mil unidades em 2004”, festeja. A Valtra embarcou também 20 unidades para o Canadá.

Os visitantes que passaram pelo estande da AGCO, no Show Rural Coopavel, puderam ir além de apenas olhar máquinas expostas. A equipe de engenheiros da Massey Ferguson deu uma verdadeira aula sobre as facilidades que a série Advanced pode proporcionar ao produtor através da agricultura de precisão. Uma colhedora equipada com datavision, de monitoramento de bordo, e o sistema Fieldstar foi utilizada para demonstrar como funcionam os sensores, os softwares e a série de vantagens que a utilização do sistema traz ao produtor.

www.cultivar.inf.br

Ronaldo Rios, gerente de produtos da linha de pneus agrícolas e fora de estrada, comemora o sucesso de vendas do Superflot, um pneu de alta flutuação, que garante menor compactação do solo. “O ano de 2002 foi excelente para a Goodyear e temos certeza que em 2003 não será diferente”, garante.

Março / Abril 2003


Cabinado A série 200 da Massey, lançada no ano passado, entrou 2003 desfilando com modelos cabinados. Os tratores 275 e 292 estão oferecendo cabines climatizadas e pressurizadas, que proporcionam mais segurança ao operador, com o mesmo conforto dos cabinados da série pesada. A cabine é ampla e oferece um amplo campo de visão ao operador.

Vendas O ano de 2002 foi altamente positivo para o setor de máquinas e equipamentos. O setor registrou um faturamento total de R$ 34,4 bilhões, 13,68% a mais do que em 2001, quando vendeu R$ 30,2 bilhões. Com o aumento das áreas plantadas e a expectativa em relação à colheita, tudo indica que o setor volte a vender bem a partir de março, quando o governo colocará à disposição mais recursos para o Moderfrota.

Extreme A colhedora Axial-Flow 2388 Extreme foi a vedete da Case durante o Show Rural Coopavel deste ano. A empresa promete desempenho diferenciado da colhedora em lavouras com grande quantidade de massa vegetal e massa verde, onde geralmente é necessário reduzir a velocidade de deslocamento da

Estréia Em sua primeira participação no Show Rural Coopavel, a Agrale levou sua linha completa de tratores, destacando os novos modelos médios 5075.4 e 5085.4 e o BX 6.150. O novo modelo da linha 6000 vem com siste-

ma hidráulico de capacidade de levante para 4.500kg, equipado com motor MWM turboalimentado, com 135 cv de potência e caixa de câmbio sincronizada com 12 velocidades à frente e quatro à ré.

máquina. “Isso não acontece com a Axial Extreme, que pode ter um rendimento adicional de até 20% se comparada com outras colhedoras com sistema axial, e até o dobro do rendimento de uma máquina convencional”, garante Isomar Martinichen, diretor nacional de Vendas da Case IH.

Um Show Rural Mais de 129 mil pessoas passaram pelo Show Rural da Coopavel 2003, que outra vez deu um espetáculo de organização e beleza. “Este foi o melhor evento entre os já realizados pela Coopavel”, disse o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli.

Cerca de 3.000 profissionais estiveram trabalhando e 226 empresas de máquinas agrícolas, insumos agropecuários, avicultura, suinocultura e pecuária, entre outras atividades, estiveram expondo seus produtos e tecnologias

Plataforma A Max Implementos Agrícolas lançou a plataforma de colher milho com espaçamentos de 40cm a 90cm, de até 15 linhas. O novo modelo é equipado com chassi perfurado, transmissão de linhas duplas, transmissão das linhas centralizadas e sistema de espigamento com corrente de 48 asas, o que torna a linha mais curta e elimina alavanca frontal. Mesmo com pouco tempo do mercado, a nova plataforma já está fazendo sucesso e atraiu um bom público que quis conferir de perto a novidade no Show Rural.

Assine Cultivar e ganhe um trator O Grupo Cultivar de Publicações lançou em fevereiro, durante o Show Rural Coopavel, a promoção “Assine Cultivar e ganhe um trator”. A campanha será realizada durante todo o ano de 2003. As pessoas que assinarem uma das revistas, nesse período, estarão concorrendo a um Valtra BM 110. A assinatura da Cultivar HF ou Cultivar Máquinas dá direito a um cupom. Já os assinantes da Cultivar Grandes Culturas terão direito a dois cupons. As assinaturas conjuntas acumulam os cupons e o assinante que optar pelas três revistas tem direito a cinco cupons. Para saber mais sobre a promoção acesse o site www.cultivar.inf.br.

Lombardini A Agrale passa a comercializar, a partir de março, os motores da marca Lombardini no Brasil. O acordo com o maior fabricante europeu independente de motores diesel permitirá à empresa brasileira - que já comerci-

Março / Abril 2003

www.cultivar.inf.br

aliza produtos das marcas Agrale e Ruggerini complementar sua linha de produtos com modelos refrigerados a ar e à água e ampliar a potência para até 72 cv. Segundo o diretor de vendas e marketing, Flávio

Crosa, com o acordo, a Agrale vai oferecer ao mercado brasileiro a mais ampla e diversificada linha de motores diesel, com potências entre 4,2 cv e 72 cv, e as melhores soluções técnicas.

Máquinas

05


Novidades Fotos FCA / Unesp

pulverização

Sobre as águas O aerobarco, última novidade para a aplicação de herbicidas aquáticos, possui sistemas eletrônicos para controle e monitoramento em barragens

A

s plantas aquáticas que infestam os cursos d’água representam um problema considerável para a geração de energia elétrica no país. O acúmulo de espécies como o aguapé, a alface d’água e a egéria nas tomadas d’água das usinas hidroelétricas geram perdas que podem chegar a 10% do potencial de geração. No sentido de gerar tecnologia para o manejo de plantas aquáticas, alguns projetos de pesquisa estão sendo desenvolvidos na FCA/ UNESP - Botucatu (SP), incluindo métodos biológicos, químicos e mecânicos. Através de um financiamento da CESP Companhia Energética de São Paulo - a FCA desenvolveu um aerobarco para aplicação de herbicidas aquáticos dotado de sistemas eletrônicos para controle e monitoramento das aplicações. Baseado em componentes importados,

06

Máquinas

na sua maioria, este aerobarco possui motorização veicular (motor GM V8 com 350 cv a 4500 rpm), hélice de passo fixo e sistemas de direcionamento dotado de dois lemes fixados no fluxo de ar da hélice. Assim, o aerobarco pode navegar sobre as áreas infestadas com plantas aquáticas sem os problemas inerentes aos sistemas convencionais de propulsão com hélice dentro da água. Como exemplo dessa característica, um barco com motor de popa dificilmente navegaria sobre as plantas sem que sua hélice ficasse presa na vegetação. Outro problema é o risco que um motor de popa pode representar para a fauna em alguns reservatórios (danos mecânicos causados pela hélice). Por isso, em alguns locais o uso desse tipo de propulsão é proibido. No caso do aerobarco, considerando-se que sua hélice fica fora d’água, a navegação se torna segura neste sentido.

www.cultivar.inf.br

O sistema de pulverização do aerobarco da FCA foi desenvolvido e equipado com correção de volume aplicado em função de variações da velocidade de nevegação, garantindo precisão nas aplicações. Dada a impossibilidade de utilização de dispositivos como radar ou sensores de rodas, a velocidade de navegação é obtida através de um equipamento DGPS (sistema de posicionamento global diferencial), o qual possui grande acurácia na definição da velocidade. Além disso, o sistema pulverizador se utiliza de um controlador com válvula reguladora de pressão acionada por motor elétrico e um sensor de fluxo, possibilitando o ajuste automático do volume aplicado. Diversos componentes do sistema eletrônico de controle da aplicação foram reprojetados pelo fabricante, de acordo com o projeto desenvolvido na FCA. Em termos operacionais, o aerobarco pode Março / Abril 2003


“O sistema de pulverização do aerobarco da FCA foi desenvolvido e equipado com correção de volume aplicado em função de variações da velocidade de nevegação, garantindo acurácia nas aplicações”

se deslocar com velocidades de até 50 km/h. Entretanto, as aplicações são realizadas com velocidades entre 8 e 20 km/h, aplicando-se uma faixa de 6 m de largura. Outra cartacterística importante deste sistema é que ele é utilizado também para registrar todas as fases do processo de aplicação, gerando mapas georeferenciados de todos os deslocamentos do aerobarco. Assim, estes registros informam onde as aplicações foram Projeto da Unesp é o primeiro do gênero no mundo, dotado realizadas, assim como a de DGPS, que garante precisão no descolamento e aplicação quantidade de produto que foi utilizada. Ainda, um sistema de barra nitoramento, pois as exigências dos órgãos amde luzes (“light bar”) oferece ao operador a pos- bientais no Brasil para este tipo de atividade sibilidade de navegar tendo como referência as são muito maiores do que em outros países. O trabalho desenvolvido na FCA é o prilinhas virtuais geradas pelo DGPS, garantindo assim a precisão necessária para sobrepor as fai- meiro do gênero no mundo, para aerobarcos, xas de aplicação de maneira adequada. Toda onde são unidas a tecnologia de aplicação e a essa tecnologia se torna necessária para que se eletrônica para controle e monitoramento. Um novo projeto de aerobarco está senpossa ter um sistema seguro de aplicação e mo-

do desenvolvido na FCA, agora contando com a maioria dos componentes desenvolvidos no Brasil. O casco, inclusive, está sendo desenvolvido por um aluno do curso de pós-graduação da FCA. Neste novo aerobarco, financiado pela empresa que administra os reservatórios do rio Tietê no Estado de São Paulo (AES-Tietê), os conceitos do sistema de pulverização, controle, navegação e monitoramento estão sendo ainda mais otimizados. A partir do desenvolvimento de novas tecnologias em conjunto com empresas nacionais, haverá também redução de custos na produM ção do aerobarco. Edivaldo Domingues Velini e Ulisses Rocha Antuniassi, FCA/UNESP - Botucatu/SP


Pulverizadores John Deere

regulagens

No momento de pulverizar, várias decisões importantes devem ser tomadas para garantir a eficácia da aplicação. Você sabe que bicos escolher e qual o volume de calda ideal?

A

Escolha Escolha aa dedo dedo

s doenças de plantas constituem uma das principais causas de baixa produtividade em algumas lavouras brasileiras. Muitas doenças podem causar, dependendo das condições do ambiente, perdas consideráveis em produção ou, então, dependendo do nível de contaminação, inviabilizar determinadas áreas para o plantio. Uma alternativa para contornar o problema é a aplicação de agrotóxicos, que deve estar inserida no contexto mais amplo do manejo integrado. Os fungicidas diminuem a severidade das doenças e podem aumentar a produtividade das culturas. O controle de doenças, pragas e plantas

08

Máquinas

daninhas nas áreas de cultivo constitui uma preocupação constante do agricultor. Esse processo só pode ser feito de maneira correta e rentável com emprego de tecnologia adequada. Na maioria das vezes, dá-se muita importância ao produto fitossanitário e pouca à técnica de aplicação. A conseqüência é a perda em eficácia, quando não o fracasso total do tratamento, com superdosagens ou subdosagens, que levam à perda em rentabilidade dos cultivos e a danos ao ambiente e à própria saúde das pessoas que realizam a aplicação. A obtenção da máxima eficiência depende de um completo entendimento sobre a interação entre agrotóxico, alvo, ambiente e

www.cultivar.inf.br

tecnologia de aplicação. Nesse contexto, uma característica importante dos fungicidas, na decisão sobre a técnica de aplicação, é o modo de ação do produto. Os fungicidas de contato são eficazes somente no local de aplicação, exigindo boa cobertura da planta. Os fungicidas sistêmicos, entretanto, translocam-se para partes distantes do local de aplicação. Vale ressaltar que, atualmente, novos tipos de produtos têm surgido no mercado.

A TÉCNICA DE APLICAÇÃO A grande maioria das aplicações de agrotóxicos é feita por meio de pulverização, ou Março / Abril 2003



... seja, pela geração e emissão de partículas lí-

O uso de pulverização eletrostática permite um menor volume de calda e maior aproveitamento do produto

nando uma satisfatória cobertura do alvo, essas gotas aumentam o risco de contaminação ambiental em função da deriva. Dessa forma, tem-se tentado buscar alternativas que minimizem tais problemas. As pontas de jato plano, bastante utilizadas na aplicação de herbicidas, apresentam um padrão de deposição triangular, o que facilita sua utilização em barras de pulverização. Além disso, por trabalharem submetidas a pressões menores, geralmente entre 100 e 400 kPa (15 e 60 psi), geram gotas de maior tamanho. Portanto, constituem uma possível alternativa para reduzir os inconvenientes das aplicações de fungicidas utilizando pontas de jato cônico vazio. No entanto, podem reduzir a cobertura e penetração do jato pulverizado.

John Deere

quidas. A divisão do líquido em pequenas gotas ocorre nos bicos de pulverização. Estes podem ser considerados como os componentes mais importantes dos pulverizadores hidráulicos, pois determinam as características da pulverização emitida. Atualmente, existe no mercado uma diversidade de bicos hidráulicos de pulverização para a desintegração do líquido em gotas, conferindo diferentes características técnicas operacionais. Genericamente, denomina-se bico o conjunto de peças colocado no final do circuito hidráulico, através do qual a calda é emitida para fora da máquina. Esse conjunto consiste de várias partes, sendo a ponta de pulverização a mais importante, pois regula a vazão, o tamanho das gotas e a forma do jato emitido. Tradicionalmente, para tratamentos fungicidas, recomenda-se a utilização de pontas de jato cônico vazio. Estas pontas têm como característica uma maior deposição de líquido na porção mais externa do cone, enquanto no centro, praticamente não há gotas. Possuem um padrão de distribuição com menos líquido no centro, aumentando depois um pouco, para voltar a cair bruscamente nos extremos, dificultando sua utilização em barra de pulverização. Geralmente, são recomendadas para aplicações em culturas com grande massa foliar, onde a penetração do jorro e a cobertura são essenciais. Normalmente, trabalham submetidas a uma pressão de 200 a 1000 kPa (30 a 150 psi), produzindo um ângulo de 60º a 80º e gotas pequenas. Embora proporcio-

AGCO

“A obtenção da máxima eficiência depende de um completo entendimento sobre a interação entre agrotóxico, alvo, ambiente e tecnologia de aplicação”

Fatores como cobertura exigida, formulação do fungicida, assistência do ar e área foliar devem ser observados, antes de definir o volume de calda e o bico utilizado

10

Máquinas

www.cultivar.inf.br

TENDÊNCIA ATUAL Nas décadas passadas, pouca atenção era dada à tecnologia de aplicação, pois o interesse consistia em molhar bem a cultura, o que se conseguia mediante um volume de calda bastante alto. Atualmente, entretanto, existe uma tendência em reduzir o volume de calda, a fim de reduzir os custos e aumentar a eficiência da pulverização. O uso de menor quantidade de água adicionada aos tanques aumenta a autonomia e a capacidade operacional dos pulverizadores, além de diminuir os riscos de contaminação ambiental, pois reduz o escorrimento e, em alguns casos, a evaporação e a deriva. Com o incremento da capacidade operacional, a máquina passa a pulverizar áreas maiores em períodos de tempo com boas condições de temperatura, umidade e velocidade do vento. Essa redução de volume de pulverização requer, no entanto, um aprimoramento da tecnologia de aplicação empregada no campo. Os trabalhos pioneiros com esta nova técnica foram desenvolvidos para aplicação de herbicidas. Constatada a eficiência da técnica, estuda-se a possibilidade de utilizá-la também na aplicação de outros agrotóxicos. A dificuldade está associada, principalmente, ao uso de pontas de jato plano, uma vez que, até então, a pesquisa recomendava pontas de jato cônico vazio para aplicação de fungicidas, as quais permitiam uma melhor penetração do jorro pulverizado na cultura e, conseqüentemente, melhor controle de doenças no dossel das plantas. As pontas de jato cônico vazio produzem gotas de pequeno diâmetro, susceptíveis à deriva. A redução do orifício de saída, visando a diminuição do volume de pulverização, acentua este problema, dificultando a aplicação de um volume reduzido. Para contornar este problema, uma alternativa seria a utilização de pontas de jato plano que, comparativamente, produzem menor proporção de gotas com diMarço / Abril 2003


de jato plano, em várias situações, para certas culturas como o feijão. O volume de pulverização não tem influência direta no resultado biológico, pois a adição de água à calda tem como finalidade diluir, transportar e facilitar a distribuição do ingrediente ativo so-

VARIÁVEIS IMPORTANTES A recomendação final da técnica de aplicação de um fungicida, incluindo a definição da ponta e do voluA uniformidade da aplicação garante que nenhuma me de pulverização, não é tarefa simárea da lavoura fique sem a cobertura necessária ples. Vários fatores devem ser avaliados, antes da tomada de decisão, como cobertura exigida, formulação do fungicida, assistência de ar, área foliar e bre o alvo. As aplicações em volumes de pulverização inferiores àqueles atualmente emcondições ambientais. A despeito da complexidade da interação pregados, utilizando bicos de jato plano e jato entre estes fatores, a pesquisa tem mostrado cônico vazio, podem propiciar densidade de a viabilidade de utilização de volumes de pul- cobertura superior a 70 gotas/cm2, explicanverização próximos a 100 L/ha com pontas do-se, assim, o controle de doenças. Vários

pesquisadores citam este valor de cobertura como sendo o valor mínimo recomendado para se obter um bom controle de doenças utilizando fungicidas. É importante ressaltar, ainda, que a escolha da ponta adequada a cada aplicação deve ser acompanhada de uma seleção criteriosa do sistema de filtragem do pulverizador, de forma a evitar problemas durante a aplicação. Algumas formulações de fungicidas, como o pó-molhável, podem apresentar restrições ao uso em pontas de jato plano de baixa vazão, em virtude do risco de entupimentos.

John Deere

âmetro inferior a 100 mm. As gotas de diâmetro reduzido são biologicamente mais eficazes, porém pouco seguras sob o ponto de vista ambiental. Outro fator determinante nas aplicações com baixo volume é a uniformidade de aplicação. A redução do volume de calda é possível somente quando se dispõem de pontas de pulverização que propiciam uma distribuição transversal uniforme e um espectro de gotas uniforme e de tamanho adequado. Esta uniformidade transversal depende da ponta utilizada, da sobreposição dos jatos e da posição da barra porta-bicos em relação ao plano de tratamento. Em geral, para aplicações em barras de pulverização, as pontas de jato plano apresentam maior uniformidade de distribuição, quando comparadas às pontas de jato cônico vazio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Tradicionalmente, os agricultores têm utilizado bicos de jato cônico em volumes de pulverização superiores a 300 L/ha, para aplicação de fungicida em culturas anuais. Entretanto, em face de resultados de pesquisa obtidos recentemente, deve-se avaliar também a possibilidade de uso de bicos de jato plano, em menores volumes de pulverização, no caso de aplicação de fungicidas. Uma indicação final deve levar em conta as condições locais de aplicação e o nível tecnológico empregado. Em qualquer situação, é necessário garantir a segurança da aplicação, evitando a contaminação M do homem e do ambiente. João Paulo Rodrigues da Cunha e Mauri Martins Teixeira Universidade Federal de Viçosa


Camionetas tração

O uso da marcha reduzida em camionetas 4x4 possibilita ao condutor um controle maior sobre o veículo e o terreno, garantindo um deslocamento seguro e contínuo

Devagar e sempre M

uitos utilitários 4x4 têm o recurso das marchas reduzidas. O termo em inglês, comum em muitos modelos importados, é o low range. Este recurso reduz as marchas numa relação aproximada de 2:1, incluindo à ré, o que possibilita alcançar o torque máximo do motor em baixas velocidades, tornando o veículo capacitado para rebocar cargas pesadas, e o que é melhor ainda, facilitando seu controle em deslocamentos off-road radicais. Para engatar a marcha reduzida é necessário observar a alavanca usada para engatar a tração 4x4. Em alguns mode-

12

Máquinas

los ela contém mais uma posição que lhe permite engatar as marchas reduzidas, já em outros você terá mais uma alavanca para esta função. Para evitar o uso errado deste recurso, o acionamento da reduzida somente é possível após o engate da tração 4x4. O torque sobe consideravelmente e precisa ser distribuído entre os dois diferenciais, e não apenas para o traseiro, que poderá ser danificado com acelerações bruscas se a reduzida for acionada para apenas um eixo, havendo risco de quebra de engrenagens e pontas de eixo. Mesmo veículos mais antigos, como o Jeep brasileiro fabricado pela Ford até

www.cultivar.inf.br

a década de oitenta, têm o acionamento da alavanca de marcha reduzida condicionado ao engate prévio da tração 4x4. O engate da reduzida deve ser feito com o veículo parado e as rodas-livres devem ser acionadas previamente. Sistemas de acionamento elétrico, como na pick-up Ford Ranger 4x4 e no jipe Troller, acionam a reduzida através de uma chave elétrica. O sistema passa primeiro a tração para 4x4 e somente depois habilita o acionamento das marchas reduzidas. Não há como errar neste caso. Para desengatar a reduzida, pare o veMarço / Abril 2003


Fotos Técnica 4x4

“O engate da reduzida deve ser feito com o veículo parado e as rodas-livres devem ser acionadas previamente”

Localização da alavanca para acionar a reduzida na Land Rover Discovery

ículo e coloque a alavanca, ou controle elétrico, em 4x4 Alta (High). Nos sistemas mecânicos é previsível que a alavanca emperre e não volte para 4x4 Alta (High). Então, movimente um pouco o veículo para frente ou para trás e tente novamente. Use as marchas reduzidas sempre que rebocar cargas muito pesadas, subir ou descer grandes inclinações ou ainda atravessar terrenos com lama, áreas alagadas, rios etc. Com esse recurso é muito mais fácil administrar o veículo durante o deslocamento em uma trilha radical. As marchas reduzidas diminuem o uso freqüente dos freios, já que a com-

pressão do motor mais o aumento de torque proporcionado pelas marchas reduzidas resultam em um poderoso freiomotor, capaz de segurar sozinho, sem os freios, o peso do veículo em uma descida mais radical. Também a embreagem é poupada já que você mudará de marcha com menos freqüência. O consumo de combustível aumenta ligeiramente, mas por outro lado, o desgaste mecânico é muito menor, compensando plenamente o uso deste recurso. Ao contrário do que pode parecer, o motor não sofrerá superaquecimento. O que pode de fato provocar o superaquecimento é o escalonamento errado das marchas, para isto é importante se familiarizar com o ronco do motor. E, caso esteja equipado com um tacômetro/contagiros, fique de olho nele. Quando perceber que pode andar mais e o motor “pedir” marcha, com um ronco mais forte que o normal, engate uma marcha à frente e continue. Você pode ir até a quinta reduzida, apenas saiba que não poderá extrapolar o limite de velocidade máxima imposto pelo fabricante para cada marcha. Respeitando seus limites, o motor e a transmissão irão trabalhar folgadamente o dia todo sem prejuízo algum M para você. João Roberto Gaiotto e Dpaschoal & Goodyear

Em terrenos lamacentos é fundamental ter o máximo controle do veículo Março / Abril 2003

www.cultivar.inf.br

Máquinas

13


Plantadoras AGCO

Distribuição de sementes

Culpa de quem? Um dos problemas mais temidos na hora do plantio é a falha da distribuição que pode estar ligada à qualidade das sementes ou à regulagem da plantadora

N

a última década, a agricultura brasileira passou por enormes transformações em se tratando de tecnologias empregadas para cultivar plantas. Os métodos tradicionais utilizados, segundo modelos europeus, caracterizavam-se pelo excessivo revolvimento do solo, resultando em gravíssimos problemas de erosão hídrica e eólica, tornando as áreas improdutivas e sem valor. Os novos e modernos sistemas produtivos, diga-se Plantio Direto, passaram a exigir máquinas mais eficientes e com alto grau tecnológico. Neste aspecto, as semeadoras foram as máquinas que mais sofreram alterações para a operação em Plantio Direto, tendo em vista, principalmente, a necessidade de cortar a cobertura vegetal existente na superfície do solo. No processo produtivo de qualquer cultura, a semeadura constitui-se em um dos fatores fundamentais para o sucesso no estabelecimento e posteriormente na produtividade da lavoura. Em se tratando de PD, acentua-se sobremaneira a importância de uma semeadora que atenda alguns parâmetros básicos, tais como a homogênea e precisa distribuição de sementes e fertilizantes, o corte eficiente da cobertura existente e a deposição da semente e fertilizante em profundidades constantes e adequadas.

14

Máquinas

www.cultivar.inf.br

Março / Abril 2003


“A distribuição de sementes possui influência direta sobre o rendimento das culturas, tanto pela competitividade entre plantas por água, luz e nutrientes quanto pelo espaço vital”

por unidade de área, que as máquinas que realizam a semeadura destas culturas são chamadas de Semeadoras de Precisão. Neste tipo de máquinas, destaca-se a importância dos mecanismos dosadores de sementes, pois são os responsáveis pela precisão da máquina. Esses mecanismos têm por função individualizar as sementes contidas no reservatório, sem danificá-las, e distribuí-las uniformemente de acordo com a necessidade específica de cada cultura. De maneira geral, pode-se dizer que os mecanismos dosadores de precisão das semeadoras são classificados em dois tipos: a) mecânicos (discos alveolados; dedos prensores,...) e b) pneumáticos (pressão negativa ou positiva). O sistema mais difundido no Brasil, portanto o mais comum utilizado na grande maioria das semeadoras de precisão, é o sistema mecânico do tipo Disco Alveolado. Nesse sistema a individualização da semente é realizada através de um disco perfurado. Existe uma gama enorme de discos disponíveis, com diferentes espessuras, tamanhos de alvéolos e com diferentes números de alvéolos, o que faz com que o sistema se adapte às mais diversas culturas e às mais diversas formas e tamanhos de sementes. Porém, verifica-se que na maioria das vezes tais semeadoras perdem o caráter de precisão devido a alguns fatores que influenciam diretamente na performance do mecanismo dosador. Dentre outros fatores, pode-se destacar principalmente a velocidade de deslocamento da semeadora

Eduardo Copetti

A semeadura deve possibilitar o estabelecimento rápido e uniforme da população de plantas desejada. Para isso, a semeadora deve formar um ambiente propício para que a semente entre em íntimo contato com o solo, possibilitando a absorção de água, essencial para o início do processo de germinação, além de promover a dosagem apropriada de sementes para que se obtenha a população ideal de plantas/ha. A distribuição de sementes tem sido considerada como uma das principais funções da semeadora, pois possui uma influência direta sobre o rendimento das culturas, tanto pela competitividade entre plantas por água, luz e nutrientes quanto pelo espaço vital. A densidade ótima de plantas a ser utilizada por alguma cultura é determinada pelas exigências da própria espécie considerada e por fatores ambientais que influenciam diretamente no desenvolvimento das plantas e, conseqüentemente, na produtividade final da lavoura. Sabe-se que as culturas apresentam respostas diferentes à variação na população de plantas. Alguns autores afirmam que a cultura da soja, por exemplo, suporta variações de até 15% na densidade de semeadura, sem afetar o rendimento. Por outro lado, estudos mostram que a desuniformidade na distribuição espacial de plantas pode resultar em perdas de até 15% ou mais na cultura do milho; 35% ou mais no girassol e 10% ou mais na cultura da soja. A importância da distribuição das sementes é tão grande para algumas culturas ditas sensíveis à população de plantas

Problemas no stand da lavoura; a culpa nem sempre é da máquina Março / Abril 2003

www.cultivar.inf.br

Máquinas

15


“No processo produtivo de qualquer cultura, a semeadura constitui-se em um dos fatores fundamentais para o sucesso no estabelecimento e posteriormente na produtividade da lavoura”

... e a qualidade física das sementes.

fato de que, conforme aumenta a velocidade diminui o tempo para que ocorra o preenchimento dos alvéolos e também a capacidade do dosador individualizar as sementes, aumentando o número de falhas e duplos,e resultando em uma má distribuição espacial de plantas. O aumento da velocidade também provoca variação na trajetória das sementes, desde sua liberação do dosador até o solo, causado pelo “repique” dentro do condutor, atrasando ou antecipando a queda da semente. O excesso de velocidade também pode provocar o rolamento das sementes dentro do sulco. Para ilustrar melhor a influência da velo-

aproveitamento e também irão influenciar na quantidade a ser distribuída, em função, principalmente, do poder germinativo das mesmas e, também, porque geralmente os agricultores consideram somente essas características no momento da aquisição da semente. Porém, de nada adianta uma semente com excelentes qualidades fisiológicas se fisicamente deixam a desejar apresentando-se com tamanho e forma irregulares impedindo a obtenção do stand desejado, de acordo com as exigências de cada cultura. Até bem pouco tempo atrás, quando se falava em calibração de sementes, falava-se em milho, por ser uma cultura altamente exigenGassen

Com relação à velocidade de deslocamento, a ideal é aquela em que o sulco abre e fecha com mínima remoção de solo e está associada à capacidade da semeadora em distribuir as sementes nas quantidades desejadas e na capacidade da máquina em manter a regularidade de distribuição longitudinal das sementes, evitando ao máximo a ocorrência de “grãos duplos” e “falhas”. Segundo a ABNT, considera-se “duplo” quando a distância entre sementes é menor que 0,5 vezes o espaçamento nominal; “falhas” quando a distância entre sementes é maior que 1,5 vezes o espaçamento nominal e, “aceitáveis” quando os espaçamen-

Irregularidades no terreno podem ser vencidas por alguns modelos de plantadoras

tos estiverem entre 0,5 a 1,5 vezes o espaçamento nominal. Em avaliações técnicas realizadas pela Embrapa (1997/98), com diferentes velocidades de plantio de milho, concluiu-se que o percentual de falhas passou de 7,1% para 24,9%, quando a velocidade passou de 4,5 km/ h para 8,0 km/h. Já o percentual de duplos passou de 8,2% para 14,1%, para a mesma variação de velocidade. O percentual de “aceitáveis” caiu de 84,7%, na velocidade de 4,5 km/h, para 61,0%, quando a velocidade passou para 8,0 km/h. Pesquisas realizadas por NIELSEN (1997), em Indiana (EUA), mostram que para cada 1,5 km/h de aumento de velocidade, as perdas na produtividade de milho podem variar de 125 a 325 kg/ha. Isto ocorre devido ao

16

Máquinas

cidade de deslocamento no funcionamento dos dosadores de precisão, pode-se acompanhar o seguinte raciocínio: distribuir 60.000 sementes/ha a 5,0 km/h significa que o dosador deverá distribuir 7,6 sementes a cada segundo. Se a velocidade passar para 8,0 km/h, o mesmo dosador deverá distribuir 11,8 sementes/segundo. O outro fator que também descaracteriza a precisão das semeadoras é a qualidade física e morfológica das mesmas. Daí, muitas vezes, nasce a idéia de que a máquina é a grande culpada quando o plantio não ocorre com a precisão desejada. É evidente que os produtores de sementes devem se preocupar com as qualidades fisiológicas das sementes, pois são essas características que irão proporcionar o seu melhor

www.cultivar.inf.br

te em população correta e precisa de plantas/ ha que exige um plantio “grão a grão”, o que torna-se impossível de realizar com sementes mal calibradas. No caso da soja, esta preocupação não existia, pois as cultivares não eram tão exigentes em população de plantas e se utilizava um número alto de plantas/ha (600700.000 plantas/ha), onde variações na população pouco influenciavam na produtividade da lavoura. Mais recentemente foram desenvolvidas novas cultivares de soja, que exigem baixas populações de plantas/ha (250-350.000 plantas/ha), portanto as variações na população de plantas não são mais aceitáveis nos percentuais que até então se admitiam. As cultivares requerem stands bastante precisos, pois caso contrário ocorrerá o surgimento de plantas débeis, suscetíveis ao acamamento, afetanMarço / Abril 2003


Eduardo Copetti

do sensivelmente o rendimento da lavoura. Por esse motivo, a classificação de sementes de soja por tamanho, semelhante ao milho, tornou-se uma necessidade técnica para a obtenção de lavouras com alto potencial de rendimento. Como já foi dito anteriormente, a grande maioria das máquinas de precisão que está no campo trabalha com dosadores mecânicos do tipo discos alveolados e este sistema exige um padrão uniforme e regular de tamanho das sementes para que ocorra a individualização da semente nos alvéolos do disco selecionado. Sabe-se que para o bom funcionamento desse sistema somente uma semente deverá ocupar cada alvéolo, para obter a população de sementes desejada. Uma semeadura precisa prevê a distribuição de sementes no solo, de uma a uma, depositadas a uma distância previamente determinada com uma profundidade constante. Em culturas com população de plantas reduzida, como por exemplo o milho, a importância de uma correta distribuição das sementes é muito grande, pois a produtividade está diretamente relacionada à população de plantas por unidade de área. O dosador deve selecionar, dentro de um lote de sementes, somente uma, que deverá ser distribuída por cada alvéolo do disco. Dessa operação dependerá a maior ou menor possibilidade de ocorrência tanto de “falhas”, que resultam em clarões nas linhas de plantio, como de amontoamento de plantas, devido à ocorrência de “grãos múltiplos”. A escolha do disco a ser utilizado para o plantio de determinada semente está diretamente relacionada ao tamanho das mesmas. Deve-se observar sempre uma folga mínima entre a semente e o alvéolo do disco. O alvéolo deve ter um tamanho no máximo, 10% superior ao das sementes. O disco deve permitir a passagem livre das sementes pelos alvéolos, sem que as mesmas permaneçam retidas no disco e, ao mesmo tempo, não pode permitir

Escolher o disco adequado e obedecer a velocidade aconselhada podem garantir uma perfeita distribuição das sementes

que duas ou mais sementes ocupem o mesmo alvéolo. Vale lembrar que um disco distribuidor de sementes possui um tamanho único de furos e uma única espessura, portanto, para ocorrer a individualização das sementes é necessário que as mesmas tenham uniformidade quanto ao tamanho e/ou forma. Sementes com características físicas irregulares não resultam em boa semeadura, pois originarão altos índices de falhas e/ou duplos. Outro fator a considerar, relacionado às características físicas das sementes, é o dano mecânico que pode aumentar significativamente com a utilização de sementes irregulares, pois as sementes grandes contidas dentro do volume total não conseguirão se alojar nos alvéolos e, conseqüentemente, serão danificadas pelo próprio mecanismo dosador. Ressalta-se que a calibração das se-

mentes tem influência direta no funcionamento do mecanismo dosador predominante nas semeadoras brasileiras, que é o Disco Alveolado. As características físicas da semente têm influência direta nos stands das lavouras e, conseqüentemente, nas produtividades das mesmas. É importante a conscientização e a preocupação dos produtores de sementes não somente com as características fisiológicas, mas também com as características físicas das sementes para que se possa obter stands adequados de plantas, de acordo com as exigências de cada cultura, visando a exploração total do potencial genético das plantas, com o intuito de atingir elevados índices de produtividadade. M Eduardo Copetti, SEMEATO S.A.


Frota

Newton Peter

parte II

Na hora de definir o modelo que deve ser adquirido, não basta levar em conta apenas o valor de mercado. Alguns critérios com pós-vendas e custo operacional do equipamento também devem ser observados

Critérios de seleção (II) Q

uais os critérios que devem ser utilizados para a aquisição das máquinas agrícolas?

CRITÉRIOS OBJETIVOS • Custo: Custo de aquisição, custo operacional, capacidade de pagamento etc. • Crédito: Acesso, condições, viabilidade. • Especificações técnicas: Capacidade de atender as necessidades da operação ou operações em que a máquina está envolvida.

CRITÉRIOS SUBJETIVOS • Tendência natural de aumentar o tamanho da máquina comprada, mesmo sem ter aumentado a área trabalhada e o rendimento do produto. Esta tendência também é seguida pelos fabricantes que

18

Máquinas

quase sempre lançam produtos dirigidos para as maiores escalas de produção, tratores mais potentes, semeadoras com maior número de linhas, colhedoras maiores etc; • Pressão exercida pelo vendedor da máquina que crê que o conhecimento que ele possui sobre a máquina é mais importante do que o produtor sabe sobre as suas necessidades. Também a sedução gerada pelos supostos avanços tecnológicos (muitas vezes de grande inutilidade). Desta forma o produtor criterioso, no momento da aquisição de uma máquina, deve fazer análises com três diferentes enfoques:

DO TIPO TECNOLÓGICO Nesta análise deve-se fazer uma comparação entre ofertas do mercado, com todas as opções disponíveis, contrastando

www.cultivar.inf.br

com as necessidades do sistema agrícola e empresarial utilizado. Neste caso não se deve omitir opções, todas devem ser analisadas. O atendimento pós-venda deve ser avaliado e a qualidade do atendimento de oficina e seção de peças da revenda também.

DO TIPO FINANCEIRO São analisadas as possibilidades de financiamento, a viabilidade do investimento, os valores de compra e os possíveis descontos e bonificações.

DO TIPO ECONÔMICO De posse da decisão de compra com os critérios técnicos e financeiros chega a hora de analisar o custo operacional da máquina em diferentes operações e o fluxo de caixa (conseqüência da aquisição) proporcionado pela compra. Março / Abril 2003


“O cálculo do custo operacional de um trator pode ser referenciado pela sua utilização em horas de trabalho, o que se chama de custo horário”

Quase se poderia dizer que no momen- ca. Isto é a tradição e a confiança que o Tipos de custos % sobre o to da aquisição de um bem de grande va- produto tem pelo seu conceito junto ao total lor se deveria fazer um “conselho famili- comprador. ar” para analisar estas perspectivas. Para Custos fixos 70 bem da verdade, alguns agricultores o faCUSTO OPERACIONAL Depreciação 11 zem. Custo financeiro 40 Assim é possível formar uma lista de O cálculo do custo operacional de um Seguro 8 critérios objetivos de compra de máqui- trator pode ser referenciado pela sua utinas: lização em horas de trabalho, o que se chaArmazenamento da máquina 11 •Custos: aquisição, operação, manu- ma de custo horário. O custo horário de Custos variáveis 30 tenção e reparação etc.; um trator pode ser dividido em dois tipos Reparação e manutenção 12 • Qualidade técnica: projeto bem de- e tem diferentes pesos sobre o total. Estes Combustível 10 senvolvido, aspecto visual, conforto e se- pesos variam de acordo como a marca e Mão-de-obra 8 gurança do operador etc.; seus modelos, com o grau de utilização, • Serviço de assistência: reputação do com o preço e as condições de compra, revendedor, estoque de peças e agilidade com o grau de manutenção e com a rede reposição, proximidade da proprieda- muneração da mão-de-obra. de (menores custos de atendimento) etc; Como havíamos salientado, o projeto mina a sua adaptabilidade a diferentes • Projeto: adaptação às condições par- técnico é um ponto bastante importante operações e sistemas. Para conseguir este ticulares, manobrabilidade, facilidade de para a decisão de escolha de uma máqui- índice, basta dividir o peso do trator em ajuste e manutenção, possibilidade de na e deve ser levado em conta com muito vazio, isto é, sem lastros e a potência do acoplamento de implementos; interesse. Dentro do projeto de uma má- motor. Existem tratores, com baixa rela• Modernidade: Garantia de que o quina, os itens que mais devem ser anali- ção peso/potência, que são mais versáteis e devem ser lastrados quando forem traproduto não fique obsoleto em pouco sados são: balhar em operações mais pesadas, que são tempo; as que exigem mais potência de tração. Os • Marca: nome comercial, linha, mo• Projeto mecânico; tratores com alta relação peso/potência são delo - fidelidade, prestígio do fabricante. • Aspecto visual; mais adaptados às operações pesadas, poIsso resulta em maior valor de revenda; • Conforto; rém carregam mais peso extra em opera• Dimensões da máquina: adequadas • Adaptabilidade; ções de pequena demanda de potência, às necessidades da propriedade. Esta aná• Manobrabilidade; lise pode ser feita por um técnico que poderá calcular a dimensão da máquina a ser comprada e a sua programação de uso durante os ciclos das culturas, com o seu conseqüente custo operacional. Em um levantamento de motivos que leva em conta o agricultor na hora da compra, realizado em diferentes países, concluiu-se que na Inglaterra os pontos mais valorizados são a confiabilidade da máquina, a adaptação ao trabalho e o rendimento operacional. Na Espanha, é o preço de revenda, as especificações técnicas e a recomendação de outro agricultor os fatores que mais influem. Na Argentina, pelas características duras da exploração agrícola e pela grande utilização de serviços de terceiros (empresas prestadoras Os revendedores e fabricantes têm condições de facilitar o conhecimento dos produtos aos de serviço), a capacidade de agricultores por meio de demonstrações particulares, dias de campo e exposições dinâmicas trabalho, a confiabilidade da máquina e a robustez (resistência) são mais valorizadas. No Brasil, • Facilidade de ajuste e manutenção; compactando o solo e provocando atolaem um levantamento feito no Rio Gran• Possibilidade de troca de implementos. mentos desnecessários. Enfim, o agriculde do Sul, o agricultor demonstrou que o Dentre as considerações mais impor- tor já conhece, pelo uso sistemático e pela fator mais decisivo de compra é o conhe- tantes no projeto mecânico de um trator, observação do trabalho de outros agriculcimento prévio do equipamento e da mar- a relação peso/potência do veículo deter- tores, quais são os tratores que se adapMarço / Abril 2003

www.cultivar.inf.br

Máquinas

19


“Quanto a pneus, o tipo, as especificações e a capacidade de suporte, além é claro de outros fatores de diferenciação de qualidade são importantes”

Uma transmissão moderna, deve conter marchas em diferentes velocidades para adaptar-se aos diferentes trabalhos exigidos em uma exploração agrícola. Não é preciso um número grande marchas, porém é necessário que haja um conjunto de marchas agrupado entre 2 e 10 km/h, para os trabalhos lentos de campo, outro para os trabalhos mais rápidos, entre 10 e 20 km/h e outras mais rápidas, que servirão ao transporte

... tam mais àquelas condições semelhantes

estabilidade lateral e longitudinal serão de grande importância na adaptação da máquina às condições de campo. O motor do trator tem especificações que necessitam ser avaliadas para a compra como: torque e potên-

Um posto de condução adequado, com comandos posicionados em locais adequados, ba projetados e diminuição de ruído são condições básicas para a manutenção da saúde fís

Fotos Fernando Schlosser

à sua. Mas não custa dar um auxílio analisando antes da compra estas características técnicas. Também são dadas pelo projeto mecânico as facilidades de adaptação da máquina ao trabalho. Por exemplo, em uma semeadora, se a regulagem de vazão de sementes é muito difícil de ser feita pelo operador, ele vai tender a usar a que está posta e não a alterará, mas se, em contrapartida, a regulagem for fácil, então haverá motivação para “afiná-la” em função das necessidades. Em tratores, a distribuição de peso, a

Na fábrica, as máquinas devem passar por diferentes controles de qualidade para oferecer ao comprador segurança e qualidade no trabalho

20

Máquinas

www.cultivar.inf.br

cia do motor (dado pouco confiável no Brasil), sobre-alimentação (Turbo comprimido), eficiência termodinâmica, consumo de combustível, reserva de torque e durabilidade. Estes dados podem ser obtidos pelos ensaios oficiais nas curvas de desempenho. Infelizmente o Brasil não exige ensaios oficiais e os valores que se publicam nos catálogos, folhetos e outros materiais técnicos são de exclusiva responsabilidade do fabricante. Na transmissão de potência, são dados a analisar: o tipo de caixa de marchas, o escalonamento, a presença de redutores, os freios, a capacidade do sistema hidráulico e o tipo e regimes de rotação da TDP. Quanto a pneus, o tipo, as especificações e a capacidade de suporte, além é claro de outros fatores de diferenciação de qualidade são importantes. Finalmente, o posto do condutor e mais especificamente o banco, o painel, o arco de segurança, a cabina e os comanMarço / Abril 2003


pela análise do comprador. Dados publicados em nível mundial nos indicam que o serviço de operação de máquinas agrícolas é um dos mais perigosos em termos de danos à saúde física. Assim, escolher um trator seguro e confortável é muito importante. Lembre-se que o operador de máquinas agrícolas, pelo tipo de vibração e pela intensidade da exposição ao ruído sofre danos ao seu organismo, principalmente à coluna, que o tornam um enfermo em potencial. Estes dados mostram que 75% dos operadores de máquinas agrícolas tem problemas de coluna aos 25 anos de idade, enquanto que em outras profissões como os 40% dos operários em geral tem os mesmos problemas aos 45 anos de idade. O consumidor de um produto agrícola é

ncos ergonomicamente ica e mental do trabalhador rural

dos são itens que não podem ser deixados de analisar. Também a visibilidade, a facilidade de acesso e saída e o nível de ruído dos tratores devem ser passados

um cliente de um produto comercial que pode e deve exigir os direitos de análise e decisão, informando, comparando e pedindo demonstrações práticas do produto. O revendedor sério está preparado para isto. Ele pode lhe oferecer todas as condições para a adequada decisão de compra desde que seja solicitado a informar. Afinal, espera-se que tenha passado o tempo em que o agricultor ao comprar uma máquina tinha medo de dizer ao vendedor que não queria o seu produto. Não basta a existência de financiamento, a capacidade de pagamento deve ser mais importante. M

José Fernando Schlosser, NEMA / UFSM


Colhedoras regulagem

Produtores ainda vêem com cautela a colheita de feijão com colhedoras convencionais. No entanto, com ajustes adequados e kits específicos para a cultura, é possível realizar uma boa colheita, sem desperdícios

Pronta para o feijão O

feijão já está inserido na cultura nacional, sendo o arroz com feijão o prato tradicional do País e, por mais que algumas regiões tenham sua culinária típica, essa dupla de preto e branco faz a unidade nacional. A importância dessa produção deve-se também ao fato de o feijão ser um dos alimentos fornecedores de proteína na dieta alimentar da população economicamente menos favorecida. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de feijão, sendo o primeiro no Phaseolus vulgaris. Nos últimos anos, a área média cultivada no Brasil ficou próxima de 4 milhões de hectares, e a produção média ficou em torno de 2,8 milhões de toneladas. No Brasil, as informações disponíveis sobre colheita mecanizada são recentes. Por muito tempo a colheita manual foi a prática encontrada para recolher o produto, pois por ser muito sensível à batida, o feijão se parte com facilidade, devido à estrutura dos grãos. Também o baixo porte da planta e a baixa altura de inserção das vagens são características que dificultam a mecanização. O maior desafio da colheita mecanizada é baixar o

22

Máquinas

dano mecânico da matéria-prima, melhorando assim o índice de aproveitamento e elevando os níveis de vigor e germinação das sementes.

PRÁTICAS DE MANEJO E A COLHEITA Como o ciclo vegetativo do feijão é curto,

2

1

o resto das culturas anteriores não se decompõe plenamente e as irregularidades do solo não sofrem acomodacões pela ação do clima. E Isso, o que pode trazer algumas dificuldades para a colheita. Em função disso, é recomendado o uso do picador e espalhador de palhas na colheita da cultura anterior, para que facilite a ação de pre-

4

5

3 Kit para adaptação de colhedora convencional para a cultura do feijão www.cultivar.inf.br

Março / Abril 2003


paro e/ou o plantio do feijão. O preparo ou semeadura direta, mais rara, deve deixar o solo o mais plano possível, portanto, deve se ter bastante perícia ao escolher os sulcadores da semeadora, pois esses podem formar sulcos ou torrões e dificultar o corte e recolhimento limpo do feijão. Adicionar um destorroador e compactador atrás da plantadeira pode prevenir estes inconvenientes. A escolha de cultivares que apresentam características como porte ereto e alto, com ângulo de ramificação fechado, ponto de inserção das primeiras vagens elevado, maturação uniforme e resistência ao acabamento são bastante significativas para uma colheita mecânica mais fácil. O feijão tem maturidade variável e muitos agricultores fazem a dessecação para realizar o corte direto, com o objetivo de uniformizar a maturação variável das plantas e vagens do feijão.

CUIDADOS NO MOMENTO DA COLHEITA A umidade dos grãos tem influência direta sobre o índice de quebras; o ponto de colheita ideal é entre 15 e 18% de umidade dos grãos. Porém, se a umidade dos grãos baixar destes índices, é conveniente escolher os horários com menor incidência de sol, como a parte da manhã e o final da tarde, para realizar a operação com um menor índice de danos. Em áreas ou épocas chuvosas pode-se começar a colheita próximo aos 25% de umidade, porém ajustando-se o cilindro para rotações em torno de 200 rpm. Quanto mais secos estiveram os grãos menor deve ser a rotação, a fim de minimizar os danos mecânicos. Em função das dificuldades de corte e recolhimento, a velocidade de deslocamento da máquina é em torno de 3 a 5 Km/h, um pouco mais baixa do que em outras culturas como o milho e a soja.

Vista geral de um “ kit” para feijão, com destaque para fundo do canal alimentador perfurado (1), bandeja alimentadora com seção perfurada (2), tampas dos elevadores perfuradas (3), corrente do elevador de grãos com canecas (4) e polia variadora do cilindro de trilha (5)

Março / Abril 2003

Fotos AGCO

“Em áreas ou épocas chuvosas pode-se começar a colheita próximo aos 25% de umidade, porém ajustando-se o cilindro para rotações em torno de 200 rpm”

Levantador para ser instalado na plataforma de corte

MÁQUINAS VERSÁTEIS E DE QUALIDADE As colhedoras de grãos devem aliar duas características antagônicas que são a versatilidade e a alta qualidade na colheita, pois o agricultor brasileiro espera que a sua colheitadeira trabalhe em qualquer cultura que ele vier a cultivar, e com certeza ele não irá tolerar um trabalho de baixa qualidade. Essa necessidade da nossa agricultura - pois precisamos reduzir custos e aumentar qualidade - leva ao domínio das máquinas com trilha do tipo tangencial. Para cultivos de características tão específicas como o feijão, muitas dessas máquinas apresentam “ kits”, os quais devem ser insta-

lia variadora do cilindro de trilha; correia variadora das rotações do cilindro e extensões das hélices do caracol. Com o kit, alguns pontos da colhedora como o fundo do canal alimentador, o alimentador e os pés dos elevadores de grãos, recebem chapas vazadas. Esse dispositivo permite a separação da terra que eventualmente entrou na máquina, melhorando a aparência dos grãos, que ficam totalmente livres de vestígios de terra. A corrente elevadora é feita de canecas que conduzem o feijão até o tanque de forma suave. Quando feita a meia aceleração do motor, a descarga do tanque também reduz a possibilidade de quebra dos grãos. Possui também um conjunto variador que permite rotações baixas, que devem ser inferiores a 300 rpm mas com alta capacidade de trilha. Poder reduzir a velocidade do cilindro de trilha, mantendo a elevada qualidade de trilha exigida para a comercialização do feijão, está bastante ligado ao projeto do sistema de trilha da colhedora. Como as vagens do feijão abrem-se facilmente, recomenda-se a retirada parcial dos dedos retráteis do caracol no centro e totalmente nas laterais. As extensões das hélices no centro do caracol ajudam a distribuir uniformemente a entrada das plantas e conduzí-las suavemente até a esteira de alimentação.

CONJUNTO DE TRILHA

Plataforma com levantador para colher as vagens que ficam próximas do solo

lados para um melhor trabalho. Esses equipamentos extras da máquina devem ser de fácil colocação e remoção, pois serão usados apenas em alguns trabalhos. Além disso, os dispositivos terão de ter baixo custo. Dessa forma, os produtores serão estimulados a incorporá-los à colheitadeira, permitindo otimizar o processo de colheita do feijão e aumentar sua rentabilidade.

KIT PARA COLHER FEIJÃO O kit para a colheita do feijão é composto basicamente das seguintes especificações: fundo do canal alimentador perfurado; bandeja alimentadora com seção perfurada; tampas dos elevadores perfuradas, corrente do elevador de grãos com canecas; polia da embreagem; po-

www.cultivar.inf.br

O conjunto cilindro e côncavo deve ser de dentes, e para certas variedades de feijão, mais sensíveis à quebra, recomenda-se a utilização de apenas duas carreiras de dentes no côncavo, isto é suficiente para trilhar os grãos e obter um produto de alta qualidade. O batedor traseiro deve ser do tipo de barras dentadas, pois tem forte influência sobre a preservação da qualidade dos grãos.

LEVANTADORES NA PLATAFORMA Para recolher as vagens que ficam muito próximas do solo são instalados os levantadores de cultura em distâncias pré-determinadas, normalmente próximo a 30 cm entre elas. O feijão é um produto valorizado por sua aparência física, assim quanto mais íntegro e limpo for retirado da lavoura maior será seu valor comercial. Por essa razão, há importância de as máquinas estarem bem reguladas e adaptadas às condicões específicas de colheita, sem com isso significar a necessidade de altos valores investidos sobre a colhedora para que ela possa trabalhar com qualidade na laM voura de feijão. Eduardo G. de Sousa Filho e Jose Newton Scherer, AGCO Máquinas

23


Tratores New Holland

semeadura

As vantagens econômicas do Plantio Direto são amplamente difundidas; mas você sabe exatamente quanto poupa ou custa esse sistema?

Consumo no plantio A

s técnicas de semeadura direta são complementos das atuais técnicas de conservação de solo, que envolvem menor mobilização e remoção da terra e maior quantidade de restos vegetais na superfície do solo, tendo como vantagem a redução dos custos operacionais de mecanização, além dos aspectos conservacionistas e de recuperação das características físicas, químicas e biológicas do solo. A cultura da aveia preta (Avena strigosa) pode ser implantada de várias formas, entretanto, se realizada em linhas, com a mesma semeadora-adubadora de plantio direto utilizada

24

Máquinas

para a implantação de outros cereais de inverno, terá como vantagens a distribuição e a profundidade mais uniforme das sementes, bem como melhor cobertura e maior eficiência na utilização dos fertilizantes. Até o momento, os espaçamentos entre linhas de 17 a 20 cm e profundidades de 2 a 4 cm são os mais indicados para a produção de grãos, forragem e adubação verde ou cobertura vegetal. A cultura da aveia é responsável por grande parte dos programas alimentares de outono/inverno para bovinos em regime de pastejo na região Sul do Brasil. As gramíne-

www.cultivar.inf.br

as de inverno (hibernais) constituem a base da alimentação de 80% dos animais comercializados para abate no período de inverno, o que demonstra a influência das pastagens de aveia e azevém na recria e terminação de bovinos de corte. A utilização correta de máquinas e equipamentos agrícolas tem como vantagens melhorar a capacidade operacional, facilitar o trabalho do homem do campo e possibilitar melhores produtividades sem aumentar as áreas produtivas. No entanto, todas essas vantagens poderão ser anuladas em função da má utilização do equipamento Março / Abril 2003


pelo agricultor ou em função do desempenho operacional. As semeadoras-adubadoras têm um papel muito importante no processo de produção, pois, naquele momento, todo esforço de melhoria de produtividade (novas cultivares, preparo do solo, alternativas de correção e adubação etc) pode ser prejudicado por uma deficiência de regulagem ou pela qualidade do equipamento. A prática de semeadura direta na implantação de pastagens anuais de inverno não é tão difundida quanto para o milho, soja ou cereais de inverno, sendo utilizada principalmente a semeadura à lanço com uma leve incorporação. Tendo em vista a necessidade de avaliar as características operacionais da semeadura em diferentes manejos do solo para pastagens de inverno, diversas entidades de ensino e pesquisa do país, entre elas a Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV-UDESC), localizada em Lages (SC), estão realizando pesquisas com estas culturas para atender às necessidades dos agricultores e dos criadores de gados para auxiliar na escolha adequada de máquinas agrícolas. Uma das últimas pesquisas realizadas pelo Departamento de Engenharia Rural do Centro de Ciências Agroveterinárias da UDESC teve como objetivo avaliar o consumo horário de combustível, o consumo específico de combustível e o desempenho operacional de todos os conjuntos motomecanizados utilizados para semeadura de aveia preta em três manejos de solo: plantio convencional, plantio com escarificação e semeadura direta. Avaliou-se, também, o consumo horário de combustível, a capacidade operacional de campo e a patinagem de um conjunto trator-semeadora sobre os sistemas de manejo de solo. Os fatores que afetam a semeadura podem ser: sementes, solos, teor de água e cobertura do solo, máquina, clima, época de plantio, habilidade do operador e velocidade de semeadura. A velocidade de semeadura tem influência direta sobre a queda e cobertura das sementes, independente do tipo e marca da semeadora. A maioria das pesquisas aponta velocidades de 5 a 7 km/h como ideal, considerando as condições da propriedade e da semeadora em uso. Em maior velocidade as semeadoras de plantio direto poderão abrir sulcos maiores, revolvendo uma faixa mais larga e a roda compactadora não pressionará suficientemente. Em relação às técnicas convencionais de preparo e cultivo do solo, o sistema de plantio direto diminui a erosão; melhorou os níveis de fertilidade do solo, principalmente de fósforo; manteve ou aumentou a matéria orgânica; proporcionou redução dos custos de produção (menor desgaste de tratoMarço / Abril 2003

Fotos Alberto Nagaoka

“A velocidade de semeadura tem influência direta sobre a queda e cobertura das sementes, independente do tipo e marca da semeadora”

O plantio convencional foi o que apresentou maior índice de patinação e o que mais consumiu combustível

O plantio com escarificação teve o maior índice de consumo específico operacional (Kg/ha)

O sistema de semeadura direta apresentou maiores vantagens do que outros sistemas de manejo

www.cultivar.inf.br

Máquinas

25


“Como o sistema de semeadura direta ofereceu valores de patinagens abaixo de 6%, isso indica que este trator poderia ter trabalhado com velocidade ou largura de trabalho maior”

... res e maior economia de combustível, em

razão da ausência das operações de preparo); permitiu a melhor racionalização no uso de máquinas, implementos e equipamentos, possibilitando que as diferentes culturas sejam implantadas nas épocas recomendadas e, finalmente, proporcionou estabilidade na produção e melhoria de vida do produtor rural e da sociedade. Foi a partir dessas vantagens que se resolveu avaliar o desempenho operacional dos conjuntos motomecanizados utilizados para

Fig. 01

diferentes manejos do solo na semeadura da aveia preta. A operação de semeadura foi realizada na profundidade média de 3 cm; veloFig. 02

cidade média de 5 km/h e espaçamento entre linhas de 20 cm. Durante o ensaio obteve-se os valores de tempo, volume de combustível consumido, largura de trabalho e número de voltas do pneu. Realizou-se a semeadura com uma semeadora marca Imasa, modelo MPS - 63, com cinco linhas, regulada para semear 120 kg/ ha de semente e 200 kg/ha de adubo . Para tracionar a semeadora, o arado, a

26

Máquinas

grade leve e o escarificador, utilizou-se um trator marca New Holland, modelo TL70 com 47,8 kW de potência no motor. E, para obter a velocidade de deslocamento, utilizou-se o método indireto de cálculo, através da cronometragem do tempo durante a passagem do conjunto sobre cada parcela e medição da distância, através de trena. O consumo de combustível foi obtido utilizando-se um medidor de consumo composto por um reservatório e um tubo transparente com uma escala graduada com uma precisão de 0,5 ml e um registro de duas entradas com o objetivo de direcionar a origem do combustível para o motor do trator e/ou encher o tubo graduado. Corrigiuse o consumo utilizando a densidade e a temperatura do combustível, obtendo a massa de combustível consumida durante as operações realizadas sobre as parcelas. A Figura 01 apresenta os resultados obtidos de todas as operações realizadas em cada manejo do solo. O consumo horário de combustível (4,61 kg/ h) e o consumo específico operacional (19,69 kg/ ha) foram menores na semeadura direta, mostrando vantagem em relação aos demais tratamentos, principalmente pelo menor número de operações realizadas no sistema de plantio direto, enquanto que o sistema de manejo com escarificação apresentou vantagens em relação ao plantio convencional. Estes dados, ainda, não servem de comparação entre os tratamentos e, principalmente, entre as operações no campo, pois não levam em consideração a capacidade operacional do conjunto moto-mecanizado. Com relação ao desempenho operaci-

www.cultivar.inf.br

onal dos tratamentos (número de horasmáquina/ha), a semeadura direta (0,742 h/ha), novamente, ofereceu o melhor desempenho operacional, seguido do plantio com escarificação (1,012 h/ha) e do plantio convencional (1,804 h/ha). No sistema de plantio direto a semente é colocada diretamente no solo não revolvido, utilizando-se máquinas especiais. Somente é aberto um pequeno sulco (ou cova) de profundidade e largura suficiente para garantir uma boa cobertura e contato da semente com o solo e não mais de 25 a 30% da superfície do solo é preparada, reduzindo o número de operações. O extermínio de ervas daninhas antes e depois do plantio é, geralmente, feito com herbicidas. A Figura 2 apresenta os resultados da comparação apenas do conjunto tratorsemeadora sobre os diferentes sistemas de manejo de solo. O consumo horário de combustível do conjunto trator-semeadora foi menor para o sistema de semeadura direta (2,69 kg/h) em relação aos outros sistemas de manejo de solo, devido às condições de superfície homogênea que o sistema de semeadura direta ofereceu no momento da operação da semeadura. Ofereceu também menor resistência ao rolamento e menor recalque do solo. Quanto à capacidade operacional, verificou-se que o sistema de semeadura direta (1,62 ha/h) ofereceu vantagens em relação aos outros sistemas de manejo do solo, pois foi observado, durante a implantação do experimento, que este sistema ofereceu também uma maior velocidade de trabalho e, conseqüentemente, maior capacidade de trabalho, o que não foi observado nos outros tratamentos. Como o sistema de semeadura direta ofereceu valores de patinagens abaixo de 6% (valores considerados ideais: 8 a 10% em solos não mobilizados, CORRÊA et. al., 1999), isso indica que este trator poderia ter trabalhado com uma velocidade ou uma largura de trabalho maior. Entre os sistemas de manejo do solo avaliados constatou-se que o sistema de semeadura direta ofereceu melhor desempenho operacional, mostrando a possibilidade de aumentar, ainda mais, a sua capacidade de trabalho para a operação de semeadura na cultura da aveia. No entanto, é importante fazer uma análise econômica para verificar qual o sistema M de manejo é mais viável. Alberto Kazushi Nagaoka e Rodrigo Haruo Corrêa Nomura CAV/UDESC - Lages Março / Abril 2003


Manejo

John Deere

trituradores e roçadoras

Existem diversos equipamentos para realizar o manejo de pastagens e plantas de cobertura. Conheça os principais modelos e qual a finalidade de cada um

Preparando o campo O

s sistemas conservacionistas preconizam manter a superfície do solo coberta o maior tempo possível e que essa cobertura esteja distribuída o mais uniforme possível. O manejo da vegetação tem por finalidade cortar ou reduzir o comprimento da mesma e fornecer condições adequadas para utilização de máquinas, de preparo do solo e principalmente de semeadoras. O manejo da vegetação pode ser efetuado por dois métodos: o químico, utilizando-se pulverizadores, e o mecânico, que pode ser realizado durante a colheita da cultura principal, com o uso do picador de palhas acoplado às colhedoras combinadas, entretanto, esse manejo é realizado por equipamentos desenhados para essa finalidade como o triturador de palhas tratorizado, roçadora, rolo faca e grade de discos, ficando este último descarMarço / Abril 2003

tado no sistema de semeadura direta. Os diferentes manejos de plantas de cobertura devem ser realizados na fase de grão leitoso, o que propicia vantagens, principalmente o não uso de produtos químicos e a fragmentação da vegetação, facilitando as operações subsequentes. Porém, têm como desvantagem a aceleração da decomposição das plantas, que em alguns casos é prejudicial. A roçadora tem por função cortar/picar a vegetação. Essa máquina tem por princípio de funcionamento a elevada rotação dos mecanismos ativos, que são lâminas horizontais paralelas à superfície do solo. A altura de corte pode variar de 2 a 20 cm e a largura de corte de 0,5 m (roçadoras simples) até 3,0 m (roçadoras triplas). A elevada rotação dos mecanismos ativos (800 a 2000 rpm) exige que a máquina tenha proteção nas laterais para impedir o arremesso

www.cultivar.inf.br

de pedras o que pode acarretar em acidentes. Outro ponto importante é o balanceamento das lâminas, para minimizar o efeito de vibração e, conseqüentemente, rendimento da máquina. As roçadoras tratorizadas podem ser de três tipos: a) acionadas pela tomada de potência (TDP) do trator e acopladas ao sistema hidráulico de três pontos (SH3P), são as mais comuns, podendo ser centralizadas ou deslocadas. Essa máquina é composta de um chassi com chapas de 5 mm e travessas laterais para conferir-lhe resistência à mesma. Em sua parte anterior tem-se os pontos de acoplamento aos braços inferiores do sistema hidráulico e a torre para acoplamento do terceiro ponto. Nesse tipo, a torre deve ser articulada para que a máquina trabalhe sempre nivelada em relação ao solo, aumentando assim a eficiência. O controle de altura de corte é feito com rodas e/ou patins. Máquinas

27


John Deere

“O manejo da vegetação pode ser efetuado por dois métodos: o químico, utilizando-se pulverizadores, e o mecânico”

Na hora da colheita é possível triturar e espalhar as palhas através do picador instalado na própria colhedora

tos contra obstáculos, trabalhando como um sistema de segurança; existe também uma embreagem que absorve a diferença de rotação das lâminas quando em contato com algum obstáculo, preservando assim a TDP do trator e o próprio sistema de transmissão da máquina; b) roçadora acionada pela TDP e acoplada à barra de tração (BT) do trator. A constituição orgânica é semelhante à anterior, porém, possui rodas locomotoras e também o cabeçalho e c) roçadora acoplada à barra de tração do trator e acionada pelas próprias rodas locomotoras, as quais possuem garras especiais. A transmissão da rotação das rodas para as lâminas é realizada por um diferencial. Essas máquinas têm largura de corte em torno de 2,40 m, porém, exigem mais de 59 kW (80 cv) na barra de tração dos tratores. A manutenção dessas máquinas é relativamente simples. Primeiramente devem ser verificadas as correias e eixo cardan quanto a folgas, afiação ou troca de lâminas, nível de óleo das transmissões e lubrificação geral. Considera-se como bom rendimento para essas máquinas 1,5 ha/h. Segundo SILVEIRA (1988), as roçadoras acopladas ao sistema hidráulico de três pontos e acionadas pela TDP apresentam aproveitamento de 50% a mais da potência do trator, quando comparadas à de arrasto, representando grande economia de combustível e necessidade de tratores menores. BALASTREIRE (1987) cita que a cada 1,5 m de largura de corte exige-se ao redor de 8 kW (10,9 cv) de potência, e esta dobra no caso das lâminas estarem cegas. O requerimento de potência segundo a ASAE (1987) é de 4 kW (5,4 cv) a cada 1,3 m de largura de corte, considerandose cortes leves. Porém, LINO et al. (1995) citam a necessidade de até 22,5 kW (30,6

28

Máquinas

cv) com grandes quantidades de massa. O triturador de palhas tratorizado é outra máquina utilizada no manejo de restos culturais e plantas de cobertura. Também, tem por função cortar/triturar a massa com maior intensidade que a roçadora, com boa uniformidade de distribuição. Seu funcionamento é por meio de elevada rotação de facas dispostas em um eixo horizontal paralelo ao solo, possui altura de corte variando de 1 a 25 cm e largura de corte de 1,5 a 3,5 m. As facas são dobráveis com rotação de aproximadamente

Lagarde

... As lâminas são dobráveis para evitar impac-

3000 rpm, rotação esta que proporciona uma trituração bastante eficiente da massa. Essas máquinas podem ser centralizadas em relação ao trator, deslocadas para as laterais e ainda dianteiras. São compostas de um chassi de chapas de ferro, possuem pontos para acoplamento aos braços inferiores do sistema hidráulico e torre para acoplamento ao terceiro ponto; rodas para o controle de profundidade; defletores para esparramação homogênea do material triturado; sistema de transmissão por eixo cardan para acionamento do rotor onde são acopladas as facas. Têm como detalhe afiamento dos dois lados, o que possibilita a mudança quando desgastadas. Sua manutenção é bastante semelhante à roçadora: verificar correias e eixo cardan quanto a folgas, mudança de lado das facas, nível de óleo da transmissão e lubrificação geral. Segundo BOLLER et al. (1992), o triturador de palhas é eficaz no manejo da aveia e ervilhaca, produz 50% de fragmentos menores que 25 cm, facilita operações posteriores e os fragmentos cortados não se alteram com a variação da velocidade de deslocamento. BOLLER et al. (1993) citam a capacidade de trituração de 8,0 a 14,4 t/h para velocidade de 3,8 a 7,0 km/ h. LEVIEN (1999) encontrou exigência de potência de 3,9 kW (5,3 cv) na TDP para o manejo de aveia preta e FURLA-

O triturador tratorizado é utilizado para manejo de restos culturais e plantas de cobertura www.cultivar.inf.br

Março / Abril 2003


Unesp

rolo faca é pouco exigente em força de tração, proporciona cobertura uniforme no solo, sem fragmentação excessiva. LEVIEN et al. (1997), utilizando rolo faca em vegetação espontânea, encontraram exigência de Furlani, Lopes e Timossi abordam os equipamentos potência de disponíves para o manejo de pastagens e restos culturais 4,2 kW (5,7 cv) para 5,2 km/h. LEVIEN (1999), trabalhando com alta possibilidade de rebrotes de algumas rolo faca a 3,6 km/h no manejo de aveia das espécies de plantas de cobertura, preta, encontrou 0,73 ha/h, 2,98 t/h, 9,7 além da infestação de plantas daninhas L/ha e 2,49 L/ t, respectivamente para de difícil controle, quando somente subcapacidade operacional, capacidade de metidos ao manejo mecânico. Isto levarolagem, consumo por área e consumo nos à utilização de mais um tipo de mapor massa. FURLANI (2000), no mane- nejo para o devido controle. Resultados jo de aveia preta e nabo forrageiro com satisfatórios vêm sendo obtidos no marolo-faca em diferentes sistemas de pre- nejo, tanto de plantas de cobertura, paro do solo, não encontrou diferença no quanto de diferentes espécies de plantas consumo de combustível no sistema de daninhas, quando se utiliza de forma insemeadura direta e escarificação (média tegrada os métodos de manejo mecânico de 7,2 L/h), porém, no manejo sobre o e químico. Resultados obtidos por BRANQUINHO et al. (2002) mostram que o manejo integrado, através do uso de rolofaca e triturador de palhas, acrescido do uso de herbicidas dessecantes após a formação de cobertura vegetal pelos rebrotes de milheto, além da presença de plantas daninhas, levaram ao maior benefício no manejo de espécies de plantas daninhas de difícil controle quando comparado ao uso contínuo do manejo químico. Atualmente, a utilização somente de uma forma de manejo tem levado à dominância de espécies de plantas daninhas tolerantes à maioria dos herbicidas recomendados para este tipo de situação. Desta forma, observa-se a credibilidade do uso de manejo integrado para regiões onde a formação de palha ainda apresenta-se ineficiente na cobertura do solo, suprimindo a comunidade infestante de plantas daninhas, seja por barreira física A roçadora niveladora, através da alta rotação de suas lâminas, ou alelopática, promovendo a formação corta e pica a vegetação formando uma camada homogênea de povoamento puro com a cobertura M vegetal de interesse. a emergência de plantas daninhas. A ma- preparo convencional do solo consumiu Carlos Eduardo A. Furlani, nutenção desse equipamento é realizada 11,9 L/h. Em regiões quentes, em áreas de se- Afonso Lopes e com afiamento ou troca das facas e lumeadura direta, onde a formação de ge- Paulo César Timossi, brificação dos mancais. Segundo DERPSCH et al. (1991), o adas no inverno são pouco freqüentes, há FCAV - Unesp AGCO

NI, (2000) utilizando o mesmo equipamento, encontrou 10,8 kW (14,7 cv) na TDP no manejo de restos culturais de milho, o que mostra que as culturas influenciaram a exigência de potência. O rolo faca, também denominado de rolo picador ou cilindro picador, tem como função o pré-acamamento da vegetação. Esse equipamento provoca o esmagamento dos vasos das plantas, resultando na morte e/ou impedindo a rebrota. É muito utilizado no manejo de restos culturais e adubos verdes. O princípio de funcionamento é por meio da rotação de um ou mais cilindros com lâminas (facas) transversais dispostas na periferia; possui largura de corte de 1,0 a 3,0 m; a rotação do cilindro é variável com a velocidade de deslocamento do trator. O rolo faca pode apresentar 1, 2 ou 3 cilindros, dispostos lateralmente ou em tandem, que podem ou não possuir rodas de transporte, que facilitam muito a condução do mesmo até o campo. Existem também rolo facas com sistema de transporte pelo SH3P do trator, porém, exigem bastante do SH3P devido a seu peso, pois na maioria das vezes deve ser lastrado. A lastragem é necessária para que toda a vegetação sofra o esmagamento pelas facas. No caso de uma vegetação rala, é interessante a retirada do lastro, pois com pouca vegetação as facas mobilizam o solo e podem facilitar

Março / Abril 2003

www.cultivar.inf.br

Máquinas

29


Internacional Fotos Cultivar

Sima 2003

Mais de 1.300 empresas, representando de 39 países, marcaram presença no Salão Internacional de Máquinas Agrícolas – Sima 2003 – na França, que teve a agricultura de precisão como o carro chefe do evento

A Europa inova S

e o conjunto de novos equipamentos e práticas agrícolas conhecido genericamente como Agricultura de Precisão é a maior revolução na agricultura desde que, no início do Século XIII, o Homem descobriu novas técnicas de aração, responsáveis por um aumento sem precedentes na produtividade, ainda se discute. Aparte das questões debatidas por historiadores, os agricultores maravilharam-se com a capacidade dos novos instrumentos, resultado do trabalho conjunto da eletrônica e da informática. Tudo mostrado no Salão Internacional de Máquinas Agrícolas IMA 2003, realizado em Paris, de 23 a 27 de fevereiro. Numa feira onde 187 mil agricultores percorreram 220.000 m2, visitando 1.325 estandes das maiores empresas agrícolas do mundo – sendo 250 novos, provenientes de 39 países (inclusive do Brasil) -, os equipamentos de alta tecnologia eletrônica receberam as únicas quatro medalhas de ouro conferidas pelo comitê de incentivo à pesquisa. Certamente, é uma tendência. Houve mais 11 medalhas de prata e 21 menções. Os quatro premiados com a medalha de ouro foram as empresas: • Agrotonix, por seu gerenciamento de produção assistido por computador; • John Deere e CDER Informatique, com o seu sistema de aquisição automática de dados de gerenciamento agrícola; • Sulky Burel Sa, pelo dispositivo de segurança para dosador de semeadora (pneumática);

30

Máquinas

• Westfalia Japy, com um software para aquisição e análise de dados para monitoramente de tanques de resfriamento de leite. Este ano, 68% dos expositores no SIMA apresentaram novos produtos, sendo que 31% tiveram lá sua estréia mundial. Em termos de divulgação, quarenta revistas e jornais estiveram presentes, representando países como Alemanha (13), Austrália (2), Canadá (1), GrãBretanha (5), Itália (3), Polônia (1), Portugal (2), Espanha (8), Estados Unidos (2) e Brasil (3 – todas pertencentes ao Grupo Cultivar). Todos os produtos premiados confirmam as grandes tendências de evolução da

Diretor do Grupo Cultivar, Newton Peter, coordenou o trabalho da equipe na França www.cultivar.inf.br

agricultura e pecuária nos seis domínios principais: • Sistemas de informação e serviços de gestão de produção; • Técnicas originais para melhoria de produtividade nas cadeias produtivas; • Sistemas para aumentar a performance dos agro-equipamentos; • Tecnologias para uma agricultura sustentável, respeitando o ambiente; • Equipamentos essenciais à segurança; e • soluções visando a facilidade de emprego de mão-de-obra e manutenção do M equipamento.

Grupo Cultivar foi o único representante da imprensa brasileira no evento Março / Abril 2003


Lubrificantes

Charles Echer

armazenamento

Na Na hora hora de de armazenar armazenar lubrificantes lubrificantes na na fazenda fazenda éé necessário necessário observar observar alguns alguns cuidados cuidados para para evitar evitar aa perda perda do do produto produto

Estocagem adequada O

s lubrificantes estão entre os mais importantes insumos agrícolas, pois do seu uso adequado e da sua qualidade dependem a durabilidade, o desempenho e a disponibilidade dos tratores, máquinas e implementos agrícolas. Um lubrificante pode perder a sua qualidade durante o transporte, armazenamento e manuseio, que podem provocar a sua contaminação ou deterioração. O caminho que ele percorre desde a refinaria até a sua utilização em máquinas agrícolas é grande, e para manter a sua qualidade no momento de sua utilização, o mesmo geralmente é acondicionado em recipientes projetados para resistirem aos choques que ocorrem neste período. Porém alguns cuidados devem ser tomados durante o transporte, tais como evitar quedas bruscas ou rolar tambores em terreno irregular para garantir que estas embalagens mantenham seu estado original Março / Abril 2003

O QUE PREJUDICA OS LUBRIFICANTES Os lubrificantes quando estocados ou manuseados de maneira inadequada nas propriedades agrícolas podem sofrer contaminação por diversos tipos de materiais. Dependendo do tipo de contaminante, pequenas quantidades são suficientes para deteriorar os aditivos contidos nos lubrificantes. Os tipos mais comuns de contaminações são por água, por outros lubrificantes, impurezas e por outros produtos. A Contaminação com água provoca a deterioração dos lubrificantes, principalmente alguns tipos de graxas e óleos aditivados. Este tipo de contaminação pode ocorrer através de vasilhames danificados, ou mesmo através do bujão dos tambores e baldes. Com o resfriamento do lubrificante durante à noite, este diminui o seu volume, favorecendo a entrada de ar mesmo com os bujões bem apertados. Este ar contém umidade, que se condensa, formando gotas de

www.cultivar.inf.br

água no interior do recipiente que irão contaminar os lubrificantes. Esta situação é piorada quando os tambores de lubrificantes são armazenados no tempo, permitindo juntar água de chuva na sua tampa, que pode ser aspirada para dentro do tambor. Embora seja rara, é possível de acontecer a contaminação dos lubrificantes por outros tipos de lubrificantes. Pode ocorrer por exemplo a contaminação de um óleo de alta viscosidade por outro de baixa viscosidade, o que poderia aumentar o desgaste dos equipamentos, uma vez que não serão lubrificados adequadamente. Por isso é importante a perfeita identificação das embalagens, mantendo-as limpas de modo a facilitar a sua leitura. Impurezas como poeira, areia, fiapos etc.também podem contaminar os lubrificantes. Além de deteriorarem os lubrificantes, podem ainda causar obstrução de tubulações de lubrificação, grimpamento de válvulas de sistemas hidráulicos, e ainda desMáquinas

31


“A maior parte dos aditivos usados nas graxas ou óleos pode sofrer decomposição quando armazenados por tempo prolongado”

... gaste excessivo das peças, por causa de ma-

teriais abrasivos. Para evitar este tipo de contaminação, armazenados em locais extremamente limpos, sem poeira ou outro tipo de contaminante tais como adubos, ou outros insumos agrícolas, os baldes e funis devem ser bem limpos e evitado o uso de estopa para limpeza dos recipientes e bocais de abastecimento. É importante que os lubrificantes sejam armazenados em locais diferentes daqueles usados para armazenar produtos como tintas, solventes, detergentes etc., pois estes também podem contaminar os lubrificantes. Os lubrificantes podem ainda deteriorar-se devido a extremos de temperatura ou à armazenagem prolongada. Alguns tipos de óleo e, principalmente, as graxas são muito sensíveis a extremos de temperatura, e podem sofrer deterioração quando sujeitas as tais condições. Por isso ,algumas graxas não podem ser armazenadas em locais muito quentes, porque o calor poderá fazer com que o óleo se separe do sabão. A maior parte dos aditivos usados nas graxas ou óleos pode sofrer decomposição quando armazenados por tempo prolongado. Para evitar que isto ocorra, deve-se organizar um plano de circulação dos produtos , de maneira que os lubrificantes sejam usados conforme a ordem de chegada.

O LOCAL DE ARMAZENAMENTO O local adequado para o armazenamento para lubrificantes deve ser amplo, permitindo fácil acesso, manobras e circulação de pessoas; bem ventilado, e longe de fontes

32

Máquinas

de contaminação tais como poeira, adubos e produtos químicos. Deve também estar distante de fontes de excesso de frio ou calor. O piso deve ser firme e resistente a choques e não absorvente. Deve ser de fácil limpeza, que não solte poeira e ainda ter proteção contra escorregamento, principalmente em rampas de acesso para evitar acidentes. É importante que neste local exista um sistema de proteção contra incêndio, uma vez que este tipo de material é altamente inflamável. E também que o local seja mantido limpo sem lubrificantes derramados no chão, estopa ou pano sujos de óleo ou graxa.

CUIDADOS NA ARMAZENAGEM Caso os óleos lubrificantes sejam armazenados em tambores, estes devem ser colocados sobre estrados de madeira, evitando-se assim o contato direto com o chão, que poderia causar danos às embalagens no caso de um armazenamento prolongado. Para se armazenar elevado número de tambores pode-se usá-los tambores deitados sobre ripas de madeira, bem calçados para impedir seu movimento e com os bujões em posição horizontal abaixo do nível do lubrificante, para impedir a entrada de ar, que poderia deteriorar o produto. Pode-se ainda usar os sistemas de “racks” ou “pallets”. É importante fazer inspeções periódicas, para verificar se há qualquer tipo de vazamento e se as marcas dos tambores estão legíveis. Os lubrificantes devem ser usados de acordo com a ordem de entrada no local de armazenamento, evitando que fiquem velhos e venham a deteriorar-se.

www.cultivar.inf.br

É importante colocar os lubrificantes separados por tipos, como por exemplo, óleos para motor, para transmissão e hidráulico, e também em ordem crescente de viscosidade (óleos) e consistência (graxas). Esta medida facilita o controle e a identificação dos lubrificantes. É fundamental fazer um controle dos produtos armazenados, afim de evitar confusões, trocas e garantir a reposição adequada dos estoques. Deve-se evitar a armazenagem de lubrificantes ao ar livre, caso isto não seja possível, deve-se armazenar os tambores deitados. Se eles precisarem ficar em pé, deve-se cobri-los com um encerado ou colocá-los numa posição inclinada, sendo que os bujões não devem ficar no lado mais baixo da

Fotos Charles Echer

O uso de calços evita o acúmulo de águas perto dos bujões

O local do armazenamento deve ser amplo, permitindo fácil acesso e manobras do produto Março / Abril 2003


CUIDADOS NO MANUSEIO O transporte dos lubrificantes deve ser feito de maneira segura, evitando quedas bruscas, que poderão provocar dano nas embalagens e até mesmo o derramamento do produto. Pelo mesmo motivo, não role os tambores em terrenos irregulares. É comum, ao fazer a lubrificação, trocar os lubrificantes por outro de tipo ou viscosidade diferente. Este tipo de confusão pode causar sérios problemas aos equipamentos que serão lubrificados. Portanto, certifiquese de estar utilizando o tipo de graxa ou óleo corretos. É importante manter bem legíveis os rótulos ou marcas das embalagens e reservar um recipiente de distribuição exclusivo para cada tipo de lubrificante, também devidamente marcado, para evitar este tipo de problema. Quando o tambor de lubrificante estiver em uso, deve-se colocar o mesmo na horizontal sobre cavaletes ou suportes próprios, ligeiramente inclinados para trás, para que, caso haja sujeira no tambor, esta fique no fundo. Além disso, deve-se adaptar torneiras que facilitem despejar o conteúdo nos recipientes de distribuição, que devem permanecer perfeitamente fechadas quando não estiverem sendo usadas, com pequenos recipientes que evitem qualquer gotejamento no chão. No caso dos tambores em uso precisarem permanecer em pé, deve-se usar bombas elétricas ou mecânicas para retirar o lu-

Março / Abril 2003

Lino

tampa onde pode haver acúmulo de água.

brificante. Porém, como é impossível eliminá-los completamente, deve usar uma bomba para cada tipo de lubrificante, evitando assim a sua contaminação. Quando for levantar um tambor cheio de lubrificante, deve-se fazelo com duas pessoa para se evitar esforço excessivo e acidentes. Para deita-lo, deve-se forrar o chão com uma almofada, que protegerá tanto o tambor quanto o piso. Os recipientes, usados na distribuição e os funis, bombas de graxa e almotolias, usados na aplicação, devem ser mantidos limpos e protegidos contra a entrada de impurezas que poderiam contaminar os lubrificantes na momento da lubrificação. Para a limpeza desses equipamenPesquisador do IAC aborda os cuidados necessários tos e dos locais a serem para o bom armazenamento de lubrificantes lubrificados recomendase o uso de panos limpos, e não de estopa, para não deixar fiapos, que possam vir a contaminar os lubrificantes. A prevenção de acidentes e a seguranOutra coisa importante é não deixar ça do pessoal envolvido na armazenagem os recipientes, principalmente de graxas, e aplicação dos lubrificantes deve ser uma abertos para que estas não sofram conta- preocupação de todos. minações. Ao encher as engraxadeiras As roupas umedecidas com óleo e gramanuais, utilize espátulas apropriadas, e xa são altamente inflamáveis, por isso a não pedaços de madeira, que possam dei- localização dos extintores deve ser de fáxar resíduos e contaminar a graxa. cil acesso, e os mesmos devem estar semCaso haja derramamento de lubrifican- pre em perfeitas condições de uso e pestes deve-se limpar o local, a fim de evitar soal treinado para utiliza-los corretamenacidentes. Não se deve usar serragem ou te. Também não se deve armazenar luoutro tipo de material para absorver o ex- brificantes ou manuseá-los próximo a cesso de óleo, pois este tipo de material chamas ou soldas, pois poderia causar inpode contaminar os lubrificantes. cêndios. Para evitar a deterioração dos lubrifiTambém deve-se ter cuidado com decantes devido à sua permanência no de- graus e plataformas, no local de armazepósito, deve-se utilizar os lubrificantes namento e com equipamentos a serem lupela ordem de chegada, isto é, primeiro brificados, pois podem estar cobertos de os mais antigos. Por isso, é importante or- óleo graxa que são escorregadios. Por isso, ganizar um plano de circulação dos pro- devem ser removidos o quanto antes para dutos estocados. evitar acidentes. Tão importante quanto a qualidade e Não se deve fazer a lubrificação de o uso adequado de lubrificantes é fazer equipamentos com componentes tais um bom plano lubrificação dos equipa- como eixos ou correias em movimento, mentos, para que todos eles sejam ade- nem usar roupas folgadas que podem se quadamente lubrificados. Para isso, deve- prender e causar acidentes. M se ter o nome ou código do equipamento, local a ser lubrificado, tipo de lubrificante e período de lubrificação. Antonio Carlos Loureiro Lino, SEGURANÇA IAC

www.cultivar.inf.br

Máquinas

33


Opinião

NEGÓCIOS

Tempos de fartura

34

Máquinas

mento. Algumas fábricas fecharam, outras se agregaram, mais mudanças virão, e a lição aprendida é: “não ir com muita sede ao pote”. A diferença entre outros momentos de acentuado crescimento do agronegócio e o atual é que se verifica muito mais cautela. Cautela por parte dos fabricantes, que não estão fazendo radicais ampliações de fábricas e de investimentos. O planejamento segue seu rumo normal, com pequenos ajustes necessários, mas sem sobressaltos. As exportações têm uma participação maior no faturamento das empresas, e elas têm um ritmo mais lento também. Fabiano Dallmeyer

E

stamos vivendo um raro momento de euforia no campo desde o ano passado. Andando pelas estradas do país verifica-se produtividade de grãos sem precedentes, aliada a um preço altamente convidativo em moeda nacional. Desgraça de uns, alegria de outros... E mais: publica-se neste momento a estimativa do Ministério da Agricultura de um crescimento da balança do agronegócio em 10,8 % no ano de 2003. De um negócio que significa, só de exportações, valores próximos dos 30 bilhões de dólares. Por muito tempo falava-se do valor e da importância do agronegócio para o País, mas sua função na estabilidade da moeda impedia audácias maiores. Nos últimos tempos tive oportunidade de ver, em várias fábricas, sejam grandes – montadoras – sejam médias, que não há mais lugar para novos pedidos imediatos. Nem o anunciado aumento dos preços do aço causou impacto neste ambiente, absorvido que pode ser, dizem-me alguns, pelo volume de produção e pelos ganhos de produtividade em função da fábrica “cheia”. Nas feiras agrícolas respira-se um ar de bons negócios, uma “alma lavada” de um período de contenção, até quase de recessão vivido ao longo de uma década, ou mais. Eu sou do tempo em que se fabricava cerca de 70.000 tratores por ano no Brasil. Lá se vão 25 anos... O trator é um indicador, claro que com ele se vendia implementos e outras máquinas. Falava-se então em 3 implementos por cada trator novo (em alguns locais, como nas fronteiras agrícolas em até 5). Hoje, além de estarmos em patamares bem mais baixos de volumes de fabricação, talvez perto da metade daquele, em função da mudança de tecnologia agrícola o número de implementos por trator novo é ao redor de um, ou menos, na média. Estes fatos trouxeram uma modificação no perfil industrial do seg-

Arno Dallmeyer é Consultor Técnico da Cultivar Máquinas e Professor Titular de Máquinas Agrícolas no CT/UFSM

www.cultivar.inf.br

De parte dos produtores também se verifica (e é recomendável) a necessária cautela em realizar apenas os investimentos necessários, resguardando-se para uma recuperação da descapitalização e do empobrecimento ocorrido no passado nem tão distante. Os clássicos chavões do “investimento” dos produtores em supérfluos, que sempre se ouve em rodas de conversa, já não são tão verdade assim. Verifica-se sim aquisição de terras, melhorias nas propriedades, nas habitações, na qualidade de vida da família. Enfim, um novo alento ao campo. Somando-se às boas novas e aos “pés-nochão” tanto do setor de insumos quanto do setor produtivo em si, vem a boa notícia da manutenção de programas oficiais de financiamento como o Moderfrota, agora renovado e atingindo uma faixa de produtores de menor porte, o que já se demandava há muito tempo. A equacionar ainda o problema dos financiamentos de máquinas usadas e sua recuperação, pois já aprendemos que, mesmo nas pequenas e médias propriedades, é melhor trabalhar com uma máquina um pouco maior embora usada, com sobra de desempenho, que investir em máquinas pequenas (tratores, máquinas de colheita) novas. A conta é simples, um trator pequeno, da metade do tamanho de um médio, não custa a metade deste! Custa mais, bem mais do esperado, tratase de escala evidentemente. Que sirvam, estes tempos de fartura, para a recuperação e a consolidação do campo. Mas não custa lembrar do comportamento dos animais menores quando vão à fonte de água pura para beber: espreitam sempre, reconhecem o terreno, e procuram saber onde está a “onça”, o predador. Se neste momento ele está saciado, deitado à sombra, haverá um novo momento de fome. Estejamos preparados para M a defesa, então.

Março / Abril 2003




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.