Cultivar Máquinas • Edição Nº 186 • Ano XVI - Julho 2018 • ISSN - 1676-0158
Índice 4 Rodando por aí 6 Compactação em café 10 Como projetar oficinas fixas 14 Segurança em pulverização aérea 16 Capa - Imperador 3.0 24 Qualidade na semeadura de soja 30 Como acoplar implementos frontais 33 Lastragem correta de trator 36 Inoculação no sulco de semeadura 40 Avaliação de colhedoras de cana
Destaques
Stara Imperador 3.0 Autopropelido que tem três diferentes sistemas numa máquina só: pulverizador, distribuidor de adubos sólidos e semeador pneumático
Oficina na fazenda Saiba como montar uma oficina na fazenda, estruturada para atender às mais diversas demandas de manutenção
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter
• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi
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Semeadoras eficientes Entenda quais são os detalhes construtivos mais importantes que tornam as semeadoras mais eficientes
Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00
• Coordenador Comercial Charles Echer
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
• Vendas Sedeli Feijó Rithiéli de Lima Barcelos José Luis Alves
• Design Gráfico Cristiano Ceia
• Coordenação Circulação Simone Lopes
Capa - Stara
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Cultivar
• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause • Impressão: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
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NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL
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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
RODANDO POR AÍ Semeadora Guapa
Fruticultura
No dia 29 de junho, a Stara lançou a linha de semeadoras de arroz da empresa, com os modelos Guapa e Guapa Supra. Cerca de 160 produtores de arroz dos estados do Rio Grande do Sul e do Tocantins, e da Argentina, do Paraguai e do Uruguai participaram do lançamento. “Nós sabíamos que o produtor arrozeiro merecia algo diferente, por isso projetamos uma semeadora pensada e desenvolvida para as suas necessidades, capaz de desempenhar uma ótima semeadura nessas lavouras tão desafiadoras”, afirmou o diretor-presidente da Stara, Gilson Trennepohl. A Guapa está disponível nos modelos de 24 e 28 linhas. Já a Guapa Supra estão disponível nas versões de 44 e 60 linhas com espaçamento de 17cm. Juliano Perelli
Gilson Trennepohl
A força da fruticultura impulsionou a New Holland Agriculture a lançar uma configuração fruteira do trator TT3840. A novidade foi apresentada na 27ª Feira Nacional da Agricultura Irrigada (Fenagri), de 11 a 14 de julho, em Juazeiro (BA). O trator superestreito é o principal produto da marca para a fruticultura, que conta com a abundância do Vale do São Francisco para fortalecer o segmento. A nova configuração do trator TT, que tem 55cv, consiste no rodado menor e no rebaixamento dos para-lamas. “É um trator econômico, de três cilindros, e maior reserva de torque, podendo trabalhar com vários implementos”, lembrou o especialista de produto da New Holland Agriculture, Juliano Perelli. “Hoje, tudo que existe em termos de qualidade em tratores de grande porte está resumido nos tratores de pequeno porte da New Holland, o que não acontece com a concorrência”, reforçou Perelli.
Ampliação AGCO
Presença feminina A presença feminina é cada vez mais forte nos campos do Brasil. Por isso, a Case IH convidou cerca de 30 empresárias do agronegócio da região de Assis (SP), que são atendidas pela concessionária Central Máquinas, para uma visita à fábrica da marca em Sorocaba (SP). Durante o encontro, as produtoras tiveram a oportunidade de ver de perto como as máquinas são produzidas em instalações de última geração, além de conhecer o mais moderno centro de distribuição de peças na América Latina. Também participaram do Axial-Flow Experience, um programa voltado para a apresentação detalhada do sistema axial, criado pela marca em 1977 e que, desde então, tornou-se referência em colheita em todo o mundo. Rafael Ferraz A fábrica AGCO de Ibirubá (RS) acaba de receber ampliação de 8.500m2 em diferentes construções, em projeto de investimentos de 16 milhões de dólares ao longo dos últimos cinco anos. Dentre as melhorias feitas na planta, a criação de um Centro de Treinamento, que será aberto para funcionários, concessionários e produtores rurais, e a ampliação da área de Engenharia de Produto, responsável por desenvolver novos produtos, testando inovações com simulações de campo dentro da própria unidade. Segundo o responsável pelas operações da unidade da AGCO em Ibirubá, Rafael Ferraz, o objetivo é tornar a planta AGCO Ibirubá uma referência em tecnologia de implementos, transformando a fábrica num centro de excelência do segmento. A renovação contou com a implementação de tecnologias de indústria 4.0, como a adoção do Google Glass. A planta também já foi adaptada para a ampliação de portfólio de implementos. A unidade de Ibirubá é responsável pela fabricação de equipamentos da linha de plantio, pás frontais e distribuidores de fertilizantes para as marcas Massey Ferguson e Valtra. Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Desbravando os Estados Unidos
Complemento
Durante dez dias, um grupo de 25 mulheres formado por funcionárias e produtoras rurais, clientes da Iguaçu Máquinas, concessionária John Deere, viveu uma verdadeira imersão no agronegócio norte-americano. O grupo, formado por produtoras do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul e de Goiás, participou de palestras na Universidade Estadual de Iowa (ISU), referência mundial para o ensino em agronegócio, visitou fábricas da John Deere em Des Moines, Waterloo (Iowa) e Moline (Illinois), além de empresas ligadas ao setor agrícola e fazendas na região dos “belts”, como são chamadas as extensas áreas agrícolas nestes estados. A viagem, planejada pela AgroBravo, terminou com um tour pela cidade de Chicago.
No artigo “Melhor escolha”, publicado na edição nº 182, de março de 2018, dos autores Paula Cristina Natalino Rinaldi, Cleyton Batista Alvarenga, Renan Zampiroli e Weslei da Siqueira Ribeiro, da Universidade Federal de Uberlândia, e Haroldo Carlos Fernandes, da Universidade Federal de Viçosa, faltou mencionar que o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores teve o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minais Gerais (Fapemig).
Carreira
O professor Marcelo da Costa Ferreira foi aprovado no concurso para professor titular da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Unesp, campus de Jaboticabal, em junho passado, na disciplina de Tecnologia de Aplicação de Produtos Fitossanitários. Professor Marcelo é docente dessa disciplina desde 2003, formando muitos alunos mestres e doutores na área, e é uma liderança nacional e respeitado pesquisador no âmbito internacional. Tem organizado congressos, reuniões e cursos na área e implantou também nova disciplina sobre Tratamento Domissanitário.
Marcelo da Costa Ferreira
COMPACTAÇÃO
Solo cuidado
Valtra
Uma das preocupações dos produtores de café deve ser em relação à avaliação da compactação do solo causada pelo tráfego de diferentes máquinas em área cafeeira, problema que interfere na produtividade e no desenvolvimento da cultura
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s diferentes sistemas de manejo utilizados na cafeicultura, principalmente os mecanizados, estão associados ao aumento na intensidade de tráfego e da carga aplicada sobre o eixo dos tratores, colhedoras e implementos agrícolas, que em algumas regiões do país podem exceder 15 operações em um ano agrícola. Toda esta movimentação de máquinas afeta a estrutura e a agregação do solo, que são atributos que condicionam à porosidade, densidade e permeabilidade do solo, capacida-
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de de retenção e movimentação de água e a compactação, principalmente em solos argilosos. Nestas áreas, a compactação tem sido identificada como um dos principais processos causadores de degradação da estrutura do solo, comprometendo sua qualidade física e dificultando a manutenção ou obtenção de maiores produtividades. O efeito da compactação é mais efetivo na linha de tráfego de máquinas, devido à pressão aplicada pelos rodados, pois na maioria das vezes ultrapassa a capacidade do solo de resistir às pressões exercidas pelo maquinário, chamada de capacidade de suporte de carga, gerando deformações plásticas na estrutura do solo. Conhecer a capacidade do solo de resistir a estas forças compressivas do tráfego de má-
quinas é de fundamental importância para a sustentabilidade dos sistemas de produção, uma vez que o uso da mecanização como ferramenta de produção é inevitável e crescente, pois permite maior eficiência nas operações e proporciona a viabilidade das lavouras cafeeiras. Atualmente, as lavouras dependem principalmente da redução dos custos, sendo que a colheita mecanizada pode diminuir em até 67% os custos de produção em relação à colheita manual, refletindo em maiores rendimentos para o produtor. Para avaliar a suscetibilidade à compactação e o momento adequado para executar as operações mecanizadas no campo, muitos atributos físicos e mecânicos do solo têm sido utilizados, sendo que algumas destas propriedades que estão relacionadas ao comportamento compressivo do solo são obtidas a partir da sua curva de compressão. Neste contexto, identificar a compactação do solo tem se tornado um importante fator para a produção da cultura e do manejo, que pode ser melhor entendido pelo estudo da com-
Fotos Henrique Barbosa Sandoval
O trabalho de avaliação da compactação do solo foi desenvolvido em três lavouras com idades diferentes: três anos de cultivo (esquerda), 16 anos (centro) e 32 anos (direita)
pressibilidade do solo, cuja definição está relacionada com a capacidade que os solos não saturados têm de sofrer redução de volume quando submetidos a pressões externas. Com isso, o entendimento do comportamento compressivo do solo adquire importância em razão de ser a base, do ponto de vista físico, para a escolha do manejo mais adequado. Problemas de compactação adicional ocorrem quando a pressão aplicada por rodados de máquinas ultrapassa a sua capacidade de suporte de carga, gerando deformações plásticas na sua estrutura. Assim, a avaliação da compressibilidade do solo e da sua capacidade de suporte de carga, sob diferentes condições de umidade e diversos sistemas de manejo, é de grande importância não só para determinar as pressões máximas que o solo pode suportar nessas condições, mas também para minimizar os riscos à compactação em solos cultivados com café. Portanto,
o objetivo desse estudo foi avaliar a compactação do solo cultivado com café sob diferentes épocas de implantação.
TRABALHO DE AVALIAÇÃO
Um trabalho de campo foi realizado em 2017 em uma lavoura cafeeira (Coffea arabica) intensamente mecanizada na Fazenda Nossa Senhora, no município de Muzambinho (MG), com objetivo de avaliar a compactação e a capacidade de suporte de carga de um Argissolo Vermelho-Amarelo (textura argilosa). Foram avaliadas três áreas, sendo que na Área 1, a lavoura foi implantada em 2014 (três anos de implantação), com espaçamento de 3,6m x 0,6m, em uma área total de 3,7ha. Na Área 2, a lavoura foi plantada em 2001 (16 anos de implantação),
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com espaçamento de 3,6m x 0,6m, em uma área de 10,2ha, e a Área 3 o cafezal foi implantado em 1985 (32 anos de implantação), com espaçamento de 4,0m x 1,5m, em uma área com 1,5ha. A coleta de solos para a determinação da densidade do solo, porosidade total e capacidade de suporte de carga ocorreu na linha de rodado das máquinas nas camadas de 0-0,10m, 0,100,20m e 0,20-0,40m. A resistência do solo à penetração foi determinada na linha do rodado até a profundidade de 0,40m, utilizando o penetrômetro de impacto.
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Jacto
Figura 1 - Resistência do solo à penetração na linha do rodado em área cafeeira com diferentes épocas de implantação (três, 16 e 32 anos), no município de Muzambinho (MG)
É necessário conhecer a capacidade do solo de resistir às forças compressivas do tráfego de máquinas
De acordo com os resultados do trabalho, observou-se que nas três áreas avaliadas, a resistência do solo à penetração (RP) foi elevada em todo o perfil de solo avaliado até a profundidade de 0,40m. Porém, verifica que a área com 32 anos apresentou a menor resistência do solo à penetração até a profundidade de 0,29m. A menor RP em uma área com maior tempo de manejo está relacionada a uma minimização que ocorre naturalmente com o passar dos anos devido ao acúmulo de material orgânico na camada superficial do solo. Para o limite crítico do crescimento radicular do café, estudos registram que valores entre 6 e 7MPa são críticos em solos arenosos, e de 2,5MPa para argilosos, no entanto, a RP limitante ao
crescimento radicular para a maioria das culturas, é de 2MPa. De qualquer forma, os solos das áreas em estudo foram classificados como argilosos, apresentando valores de RP acima de 2MPa em todo o perfil analisado (Figura 1). A elevada resistência do solo à penetração concomitantemente com a densidade do solo e a porosidade total (Figura 2) diminui com a profundidade e com o aumento da idade do cafezal, o que pode ser justificado pelo acúmulo de material orgânico nestes solos, que na camada superficial ocorre devido à deposição dos restos culturais. O solo na linha do rodado (LR) apresentou menor suscetibilidade de compactação em ambas as camadas para a área com 32 anos de cultivo,
com umidade do solo abaixo de 33% (Figura 3). Com o aumento na profundidade do solo, há também aumento na capacidade deste sofrer maior pressão das máquinas, desde que ocorra tráfego quando a umidade do solo esteja na capacidade de campo (33%) ou menor. Por outro lado, a área com três anos foi a que apresentou maior pressão de consolidação, possivelmente pelo maior preparo e desestruturação mais recente, com isto, menor proteção da matéria orgânica depositada sobre o solo. A LR promoveu redução nos valores absolutos da pressão de preconsolidação com aumento da camada de amostragem. Esses resultados refletem o efeito da maior compactação do solo na linha do rodado de 4,17MPa, na área
Figura 2 – Densidade do solo (A) e porosidade do solo (B) na linha do rodado em área cafeeira com diferentes épocas de implantação, no município de Muzambinho (MG)
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Figura 3 - Modelos de capacidade de suporte de carga do solo em função do teor de água em área sob cultivo de café na linha do rodado para áreas com diferentes épocas de implantação, no município de Muzambinho (MG)
Amostragem e coleta de solos para determinar a capacidade de suporte de carga e atributos físicos do solo
com 32 anos de manejo, causada pelo tráfego de máquinas agrícolas, principalmente durante a colheita do café. Contudo, o ideal é observar quando o solo está com a umidade menor que 33% - deve-se trafegar com máquinas e implementos, pois nessa umidade o solo pode suportar tal pressão, sem que ocorra prejuízo à sua estrutura e não comprometendo o desenvolvimento das plantas. Apesar disso, há uma tendência de que ocorra a compactação do solo se não for respeitada a capacidade de suporte de carga, juntamente com sua umidade crítica principalmente nas épocas de maior umidade no solo, isto é, período de maior precipitação. De forma geral, na área de três anos o ideal é que se trafegue em uma umidade menor que 36%, na área de 16 anos, o tráfego de máquinas deve ocorrer quando a umidade estiver menor que
34%, e na área de 32 anos, com umidade menor que 32%. A avaliação da suscetibilidade do solo à compactação e das alterações nos seus atributos causadas pelo tráfego de máquinas agrícolas deve ser uma preocupação dos agricultores, isso porque as limitações podem reduzir a produtividade das culturas e a rentabilidade da .M atividade agrícola.
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Fábio Henrique B. Sandoval, Zigomar Menezes de Souza, Elizeu de Souza Lima, Ingrid Nehmi Oliveira e Lenon Henrique Lovera, Feagri - Univ. Est. de Campinas Diego Alexander A. Esteban, Feagri, Univ. Est. de Campinas e 2Corporación Colombiana de Investigación Agropecuaria Reginaldo Barbosa da Silva, Unesp - Campus de Registro
Avaliação da compactação
ara o manejo da lavoura foram utilizados os seguintes tratores e colhedoras: trator Massey Ferguson, modelo Cafeeiro 275, com 75cv; trator Yanmar 1155 4 x 4 Cafeeiro, com motor 4TNV98-XAT de 55cv; trator marca Massey Ferguson 275 Advanced, com motor A4-4.1/MWM international, quatro cilindros com cilindrada de 4.100cm3, de 75cv; colhedora de café marca TDI, modelo
Electron, com motor MWM D 229-4 de 67cv. Os implementos utilizados na avaliação foram: adubadora Kmaq modelo comander H 10 S, com capacidade para 450kg de fertilizantes; soprador de café “varre tudo pé de boi”, marca Bertanha com peso médio de 400kg; recolhedora de café Mogiana Spirlandelli 25C, marca Bertanha; carreta para transbordo marca Jumil, com capacidade de 5mg/ha.
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MANUTENÇÃO Charles Echer
Tudo em casa
Ter uma oficina completa na propriedade rural é uma vantagem, pois possibilita realizar manutenções periódicas, preventivas e corretivas, desde que o espaço seja bem projetado e tenha todas as ferramentas necessárias para a realização do trabalho
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mecanização nas pequenas propriedades rurais demanda diferentes tipos de máquinas para atender as diversas atividades agrossilvipastoris. A rotina operacional, bem como o ritmo operacional, é bastante variável. Existem épocas com atividades intensificadas e outras em que as máquinas ficam ociosas, sendo este um período apropriado para a realização das manutenções e dos reparos. A fim de manter um bom funcionamento no campo, as máquinas agrícolas necessitam de manutenções periódicas (são as previstas no manual do fabricante da máquina ou implemento e que se repetem de tempos em tempos) e em alguns casos, manutenção corretiva (são as realizadas em função da quebra ou desgaste, normal ou forçado de peças ou componentes). A operação da manutenção repreJulho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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senta uma importante atividade na mecanização agrícola. “O conceito da mantenabilidade (de manter), conforme a norma NBR 5462, é definido como a capacidade de um item ser mantido ou recolocado em condições de executar suas funções requeridas, sob condições de uso especificadas, mediante procedimentos prescritos.” Para Branco Filho (2008), a manutenção busca melhorar os resultados com respeito às operações mecanizadas. Para a execução da manutenção de máquinas agrícolas, se faz necessária a utilização de ferramentas, equipamentos e um local adequado à realização da tarefa. Neste sentido, a oficina construída na unidade de produção rural é uma aliada no auxílio às manutenções. Não dispondo desta, as operações de manutenção demandarão da retirada das máquinas da propriedade até uma
oficina de confiança. As oficinas empregadas no meio rural podem ser fixas ou móveis. As oficinas móveis são utilizadas para reparos e manutenções diárias, que podem ser realizadas a campo (na área de produção), sem a necessidade de deslocamento das máquinas até a sede da propriedade. Enquanto as oficinas fixas são instalações localizadas dentro da propriedade, que dispõem de área, ferramentas e equipamentos capazes de proporcionar condições para realizar as operações de manutenção que requerem maior mão de obra. As operações agrícolas, normalmente, demandam serviços imediatos e eficientes, a fim de cumprirem com as janelas produtivas. Assim, as interrupções para a realização das intervenções de manutenção devem ser mínimas. Em função da distância das pro-
Fotos Divulgação
Exemplo de um painel básico de ferramentas para oficinas, com as principais peças utilizadas em pequenas manutenções
priedades rurais aos centros urbanos é importante uma oficina rural na propriedade agrícola. Isto porque o deslocamento da máquina ou do implemento agrícola defeituoso ou quebrado, até uma oficina na cidade, demanda logística, investimentos de tempo e custo. Outra opção é contratar o serviço de um mecânico para atender na propriedade rural. Além do custo, a intensidade e a frequência das atividades de manutenção são relevantes, a fim de evitar máquinas paradas, esperas longas, interrupções nas atividades agrícolas e, muitas vezes, perdas de produção.
ESTRUTURA DA OFICINA MECÂNICA FIXA
A construção da oficina requer planejamento de longo prazo e organização da disposição dos equipamentos. Este planejamento precisa considerar a evolução da propriedade em período mínimo de 20 anos. Se existe expectativa de expansão da área, será necessário prever as edificações em função do maior número de máquinas e, também, de suas dimensões. Isto reflete nas proporções do projeto, como: altura mínima do pé direito, dimensões e localização das esquadrias. A oficina deve ter paredes em alvenaria ou madeira, ter um portão de acesso com dimensões suficientes para permitir a entrada da maior máquina existente na propriedade. Ter a oficina fechada é necessário, em função do
valor dos equipamentos e ferramentas existentes no seu interior (risco de roubos) e, ainda, em função da segurança quando da presença de menores. Na Figura 1 é apresentado um exemplo de planta baixa de uma oficina fixa, com aproximadamente 60m², sendo apresentada também a disposição de equipamentos, assim como portas de acesso (4m) e pé direito mínimo de quatro metros para que permita a movimentação das máquinas. A localização da oficina dentro da propriedade agrícola deve abranger aspectos como: cuidado com o tipo de terreno (com boa drenagem e boa capacidade de suporte), perto do abrigo das máquinas (quando a oficina é construída separadamente), acesso de estradas, para movimentação das máquinas, área para manobra de máquinas no entorno da oficina. Recomenda-se que o piso da oficina seja construído em alvenaria, preferencialmente em piso industrial, que suporte o peso das máquinas e dos implementos, com sistema de captação da água utilizada na limpeza, com
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drenagem para uma caixa de areia em função do óleo. Deve-se dar atenção para o espaço interno da oficina, de modo a permitir a movimentação e a manobra das máquinas, bem como área para trabalho do operador mecânico no entorno da mesma. A iluminação e o arejamento são itens importantes no projeto e construção da oficina, de forma a dispor de boa ventilação e impedir a formação de umidade. A ventilação é fundamental em função dos gases produzidos pelos motores, bem como por máquinas de solda e ferramentas de corte. Torna-se indispensável a utilização da luminosidade natural (cobertura do telhado parcialmente transparente) e artificial. Para apoio das atividades de manutenção, a oficina deve dispor de alguns elementos, tais como: almoxarifado, ferramentaria, banheiro, escritório e enfermaria.
ALMOXARIFADO
No almoxarifado são guardadas peças de reposição periódica de acordo com o maquinário da propriedade. Deve-se atentar para um correto planejamento das peças a serem acondicionadas, a fim de evitar a desorganização do local por falta de espaço. As peças com maior demanda e guardadas no almoxarifado são filtros, rolamentos, porcas, parafusos, correias, pinos, contrapinos e outros.
ESCRITÓRIO
O escritório é o local para realizar o controle das máquinas: registro dos horímetros (número de horas trabalhadas); manutenções realizadas; peças utilizadas e controle do estoque;
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Alguns exemplos de equipamentos: morsa (A); esmeril (B); furadeira de bancada (C); bigorna (D)
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Fotos Charles Echer
Figura 1 - Exemplo de uma oficina fixa rural
Iluminação e arejamento são itens importantes no projeto e construção da oficina Fonte: adaptado de Silveira (2001)
determinação de custos operacionais; controle de horários, de funcionários e outros.
FERRAMENTARIA
Local para abrigar as ferramentas de forma segura e de fácil acesso. O local deve ser um ambiente fechado e de acesso somente a pessoas autorizadas. É importante a organização da disposição das ferramentas para facilitar a identificação correta no momento de realizar manutenções. Para facilitar a visualização e o manuseio destas, a montagem de um painel fixado à parede é recomendada.
EQUIPAMENTOS
Os equipamentos operacionais utilizados em uma oficina normalmente servem para realizar atividades de
solda, manutenção, elétrica, hidráulica, borracharia e outras. Os equipamentos necessários em uma oficina dependem de máquinas e implementos utilizados na propriedade. Entretanto, alguns equipamentos são essenciais, como: bancada, morsa, esmeril, furadeira de bancada, forja e serra policorte. A bancada é o local em que serão realizados os serviços. Deve oferecer uma base sólida com revestimento superior metálico. A morsa é um equipamento para fixação de peças para a realização da manutenção. O esmeril pequeno é utilizado na afiação de ferramentas e remoção de ferrugem superficial de peças. A furadeira de bancada é usada para realizar perfurações de diversos diâmetros. A forja, bigorna de ferreiro, é utilizada na conformação de peças, como as ponteiras de escarificadores, e
A construção da oficina requer planejamento de longo prazo, considerando a evolução da propriedade em período mínimo de 20 anos
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a serra policorte é utilizada para efetuar cortes em metais.
FERRAMENTAS
As ferramentas são elementos básicos na manutenção de máquinas agrícolas. Estas podem ser divididas em dois grupos: ferramentas de uso específico (desenvolvidas pelo fabricante da máquina agrícola) e de uso geral (utilizadas no dia a dia e, normalmente, o profissional mecânico tem em sua própria caixa). Para a execução das principais operações de manutenção são necessárias ferramentas como: chaves de fenda (simples e angular dupla), Philips, chave estrela, chave combinada, chaves soquetes ou tubulares, chaves sextavadas (em “L”: de vela ou chave de roda), Allen e chaves de boca ajustável (inglesa, francesa e grifo). Ainda, os alicates com diferentes tipos de pontas, bicos e mordentes, os martelos e as marretas. Deve-se observar a identificação das medidas das ferramentas, estas são identificadas e fabricadas na forma milimétrica ou polegadas, conforme opção do fabricante. Para a organização e o manuseio das ferramentas, se faz uso de placa de madeira compensada ou de metal e perfurada. Utilizam-se, normalmente, cores claras e com o auxílio de pregos ou ganchos se faz a fixação das ferramentas. É possível realizar uma pintura do formato das ferramentas para identificar a posição destas no painel. Assim, auxilia na praticidade na hora da busca pela ferramenta adequada, além de facilitar a identificação na falta da mesma.
Procedimentos para manter o almoxarifado em dia
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A organização das ferramentas facilitará a identificação e a utilização
CONTAMINANTES
Quanto à disposição dos resíduos sólidos e líquidos gerados na oficina agrícola, estes devem ser coletados separadamente para posterior descarte. Óleos lubrificantes usados devem ser reservados em recipiente para posterior recolhimento por empresas terceiras contratadas. Estas devem estar credenciadas no Ministério do Meio Ambiente e farão o refino do material (Resolução Conama nº 362, de 23 de junho de 2005). Além do cuidado com o descarte dos resíduos, é importante ter atenção com o manuseio de materiais e o transporte interno dos mesmos. Pois além da contaminação do local, estes resíduos e fluidos contêm substâncias tóxicas para os seres humanos e animais. Outro ponto relevante é realizar o serviço de deslocamento e manuseio dos produtos químicos
ara administrar o estoque das peças no almoxarifado se faz necessário seguir alguns procedimentos: 1º - Manter as peças em suas embalagens originais, pois nelas estão as informações importantes do fabricante. 2º - Organizar as peças por tipo de máquina e fabricante. 3º - Ao utilizar alguma peça prever a reposição de forma planejada. 4º - Sempre que uma máquina for substituída é importante se desfazer do
acompanhado de instruções básicas ou por profissional competente. A destinação correta dos resíduos e fluidos está interligada à legislação federal, estadual ou municipal, e concomitante a isso, a leis de zoneamento, código de obra, normas e legislação ambiental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo tendo em vista que há um investimento inicial para a construção e instalação de uma oficina fixa nas propriedades rurais, este pode ser viável. Se esta ação for planejada ao longo dos anos e houver demanda de serviços na propriedade em função das máquinas e dos implementos existentes, esta
estoque remanescente. 5º - Peças devem estar identificadas. 6º - Os parafusos devem estar organizados em caixas, podendo ser de papelão, PVC, madeira e outros. 7º - Importante dispor de prateleiras, com divisórias e identificação para acomodação e melhor organização do estoque. 8º - Manter um sistema para o controle de entrada e saída do estoque (planilha eletrônica ou caderno).
poderá gerar uma redução no custo de produção. Pois agiliza a manutenção, reduz o tempo de máquinas indisponíveis mecanicamente e a incerteza do serviço de terceiros. Ao iniciar um projeto de oficina fixa, é importante rever as dimensões das máquinas existentes na propriedade rural. Para estruturar o almoxarifado, lembre-se de realizar um inventário das máquinas e revisar os manuais dos fabricantes, para assim compor o estoque, para não realizar investimentos .M desnecessários. Bruna Batistella Francieli De Vargas Catize Brandelero Valmir Werner CCR/UFSM
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PULVERIZAÇÃO
Contra a deriva
Com o uso de ferramentas adequadas é possível medir a largura da faixa de aplicações aéreas, diminuindo a deriva e aumentando a precisão da deposição
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empresa Sabri Sabedoria Agrícola, que atua no Brasil, na China, na Índia, no Paquistão e nos EUA, juntamente com a empresa brasileira DoProBeSafe, trouxe em 2017 para o Brasil um equipamento desenvolvido junto ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para determinação da largura da faixa de aplicação aérea de produtos fitossanitários, assim como a verificação da uniformidade de distribuição de
Quando necessários, ajustes são feitos na barra de aplicação
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calda aplicada por aviões, helicópteros e drones. O equipamento também possui uma torre de deriva (Drift Tower) que permite determinar o potencial de deriva da calda aplicada composta por produtos fitossanitários e adjuvantes. A partir desta ferramenta, é gerado um “laudo” que pode assegurar que a aplicação realizada pela aeronave tem garantias de uma zona de deposição conhecida, ou seja, mitigando os riscos de deriva para áreas vizinhas com culturas sensíveis aos produtos que estão sendo aplicados, assim como apiários, centros urbanos e recursos hídricos. Com uso desta tecnologia é possível aumentar em até 70% a eficácia do controle de insetos-praga, doenças e plantas daninhas e isso se torna extremamente importante e promissor num país como o Brasil, que está em segundo lugar no ranking mundial de quantidade de aeronaves agrícolas, atrás apenas dos Estados Unidos. Do ponto de vista do prestador de serviços, a vantagem ao determinar a exata faixa de aplicação e a uniformidade de distribuição é aumentar o controle, o rendimento (ha/h) e a segurança ao se conhecer o potencial de deriva da aplicação. Já do ponto de vista dos fabricantes
de adjuvantes antideriva, tem-se uma ótima ferramenta para avaliar se os adjuvantes estão ou não sendo bem posicionados quanto à dose e à mistura de calda na redução de deriva. Por fim, do ponto de vista do agricultor, que contrata o serviço, tem-se a garantia que sua lavoura será 100% aplicada, evitando falhas no controle (aquelas faixas que ficam sem aplicação e ninguém sabe explicar o porquê) e também fitotoxidez na lavoura devido ao remonte ou ao excesso de produtos depositados nas plantas. Nos relatórios é possível verificar os resultados de uma clínica de aeronaves realizada pelas empresas Sabri&DoPro. No relatório 1, tem-se o resultado do padrão de aplicação aérea realizada do contratante e no relatório 2, tem-se o resultado do padrão de aplicação aérea após os ajustes realizados pela Clínica de Aeronaves Agrícolas DoPro. Verificou-se no padrão de aplicação aérea realizada do contratante que a faixa de aplicação de 66 ft (21 metros) adotada pelo piloto possuía coeficiente de variação (c.v.) de 26% no sistema de orientação “carrossel” (com passagens no mesmo sentido) e de 29% pelo sistema “bk-bk” (vai e vem), ambos acima dos 20% de c.v. recomendado. Ainda, a distribuição estava desuniforme, po-
dendo provocar falhas de controle e/ ou fitotoxidez. No relatório 2, verificam-se os resultados de ajustes realizados pela Clínica de Aeronaves Agrícolas DoPro para se obter a largura de faixa de aplicação ideal e distribuição uniforme. A faixa de aplicação foi mantida em 66 ft (21 metros), a mesma adotada pelo piloto, no entanto, agora com coeficiente de variação (c.v.) de 10% no sistema de orientação “carrossel” (com passagens no mesmo sentido) e de 15% pelo sistema “bk-bk” (vai e vem), ambos abaixo dos 20% de c.v. recomendado. Além disso, foram feitas alterações no posicionamento das pontas que tornaram a distribuição uniforme. Em complemento, também é feita a caracterização do tamanho das gotas produzidas pela aeronave. A adequação do tamanho das gotas produzidas por uma aeronave, também chamado de DMV (Diâmetro Mediano Volumétrico) é o principal fator responsável pela redução de deriva e eficácia do tratamento fitossanitário. Toda esta metodologia, aliada à tecnologia embarcada no software importado para a realização da Clínica de Aeronaves Agrícolas, permite que relatórios sejam feitos de forma rápida e prática. Contudo, eliminar completamente as falhas nas aplicações aéreas, assim como acabar com o risco de deriva, é praticamente impossível. Entretanto, é possível minimizar os efeitos não desejados nas aplicações por aeronaves com inovações tecnológicas como estas apresentadas aqui, seja para a
Fotos Henrique Borges Neves Campos
Com o uso das ferramentas é possível aumentar a eficácia da operação e diminuir a deriva de produtos
No relatório 1, tem-se o resultado do padrão de aplicação aérea realizada do contratante e no relatório 2, tem-se o resultado do padrão de aplicação aérea após os ajustes realizados pela Clínica de Aeronaves Agrícolas DoPro
prestação de serviços, treinamentos ou para a multiplicação de informações técnicas. A sustentabilidade econômica, ambiental e social no uso de defensivos agrícolas depende do entendimento
dos indivíduos envolvidos no processo de pulverização, pois não há aplicação 100% se o profissional responsável não .M for capacitado. Henrique Borges Neves Campos, Sabri
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CAPA
Imperador 3.0 O primeiro autopropelido com tripla função, lançado pela Stara, reúne numa só máquina pulverizador com barras centrais, distribuidor de fertilizantes sólidos e semeador pneumático
O
Imperador 3.0 é um autopropelido inédito e reúne um pulverizador com barras centrais, um distribuidor e um semeador pneumático, podendo realizar as três operações com o mesmo equipamento em momentos distintos. Esta máquina lançada pela
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Stara vem para atender aos anseios dos produtores rurais que buscavam por equipamentos autopropelidos com grande autonomia de trabalho, mas que esbarravam nos altos valores a serem investidos com a aquisição de mais de uma máquina para realizar os seus trabalhos na lavoura.
O projeto do Imperador 3.0 parte do conceito de viabilizar ao produtor ter em sua propriedade um autopropelido com tecnologia de ponta para pulverização e distribuição, além de permitir a semeadura de mix de sementes finas para cobertura do solo, tendência da agricultura brasileira,
aliado a um custo mais acessível. As características dessa máquina levam ao produtor eficiência nos trabalhos de sua lavoura, além da redução dos custos operacionais, tudo isso aliado à simplicidade operacional. O Imperador 3.0 permite o parcelamento das aplicações de fertilizantes e defensivos, utilizando o mesmo rastro, garantindo mais agilidade, rapidez e eficiência nas aplicações. Possui excelente relação custo x benefício, pois chega ao mercado para ser a máquina que mais vai trabalhar na propriedade, realizando a pulverização, a distribuição e a semeadura. De acordo com dados do Projeto Aquarius, os ganhos produtivos médios por utilizar um único
Fotos Stara
No sistema de pulverização, o autopropelido possui reservatório de calda de 2.400 litros e pode vir com barras de 27 a 30 metros
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Fotos Stara
para o implemento, acoplado ao motor, que proporciona mais eficiência e reduz o consumo de combustível.
PULVERIZAÇÃO
As barras centrais são exclusividade da Stara e garantem mais estabilidade nas aplicações
rastro nas operações de pulverização e distribuição são de uma saca/ha na soja e duas sacas/ha no milho.
Sobe e desce Precisou? Levantou!
MOTOR E TRANSMISSÃO
O Imperador 3.0 permite a troca de marchas com a máquina andando, mantendo a velocidade de aplicação constante durante o trabalho. Possui motor eletrônico Cummins de 223cv turbo, atendendo a legislação MAR-I, destinada ao segmento agrícola. Além da maior durabilidade, o motor possui baixa emissão de poluentes e menor vibração e ruído. O Modo Eco disponível nesta máquina proporciona melhor desempenho e performance do conjunto motor e transmissão, assegurando redução no consumo de combustível em até 12%. Isso acontece através do Topper 5500, que se comunica com o motor do autopropelido. O sistema de transmissão é hidro 4 x 4, com controle de tração opcional, permitindo trabalhar em terrenos com inclinação de até 31,7%, sendo a maior capacidade de rampa da categoria. A bomba hidráulica é LS (Load Sensing), sistema inteligente que disponibiliza a vazão necessária Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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No sistema de pulverização, o autopropelido possui reservatório de calda de 2.400 litros, produzido em polietileno. As barras centrais, exclusividade patenteada pela Stara, garantem estabilidade durante a aplicação, mesmo em terrenos com desnível. Com as barras centrais o produtor tem a pulverização 75% do tempo em altura ideal, ou seja, sendo 58% mais eficiente, de acordo com estudos da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária. O produtor pode optar pelo comprimento da barra de 27 ou 30 metros, ambas com espaçamento entre bicos de 50 cen-
O
Imperador 3.0 conta com o Sistema Sobe e Desce, que permite que a máquina aumente o seu vão livre em 40 centímetros, ou seja, a altura passa de 1,43 metro para 1,83 metro com o sistema acionado. Com isso, o produtor pode realizar a aplicação fracionada e tardia de nitrogênio no milho e controle de pragas e doenças no pré e pós-pendoamento da cultura, garantindo a sanidade e aumentando a produtividade da lavoura. Além disso, proporciona o mesmo rastro para os trabalhos de pulverização, distribuição e semeadura de cobertura no final do ciclo da
cultura, diminuindo as perdas por amassamento e aumentando os ganhos produtivos. O Sistema Sobe e Desce possibilita trabalhar com a máquina com vão livre maior somente quando precisar. O acionamento é rápido e simples, através de um comando no Topper 5500. A altura de aplicação com Sistema Sobe e Desce e barras de 27 metros vai de 58 centímetros até 2,43 metros. Para o Imperador 3.0 com 30 metros de barra, a altura de aplicação vai de 78 centímetros a 2,63 metros. O vão livre passa de 1,43 metro para 1,83 metro com esse sistema.
tímetros. A altura de aplicação com barras de 27 metros vai de 60 centímetros a 2,05 metros. Já com barras de 30 metros, a altura de aplicação vai e 80 centímetros a 2,25 metros, com altura de vão livre de 1,5 metro, sem Sistema Sobe e Desce. Durante a pulverização, o peso da máquina está distribuído igualmente, sendo 50% na parte dianteira e 50% na parte traseira. Em pesquisa realizada pela Fapa – Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, foram comparados três modelos de pulverizadores autopropelidos para comprovar a qualidade do sistema de barras centrais. Nesse estudo, o sistema de barras centrais foi comparado com dois modelos com barras traseiras, com aplicação em três velocidades no mesmo
percurso, simulando as condições reais de trabalho. Os pulverizadores eram de produtores da região de Guarapuava, Paraná, e conduzidos pelos operadores da propriedade. O resultado deste estudo mostrou que o Imperador com barras centrais é 58% mais eficiente que os outros modelos testados, trabalhando 75%
do tempo em altura ideal de pulverização (50 cm do alvo com oscilação máxima de 20 cm para cima ou para baixo). O Imperador 3.0 possui reservatório de água limpa com capacidade de 240 litros, o que facilita o trabalho do produtor ao abastecer o incorporador e realizar a tríplice lavagem. A bomba de autoabastecimento, opcional desta máquina, possibilita o abastecimento total do reservatório em menos de cinco minutos. Ele também possui incorporador e lava-frascos com capacidade de 35 litros, dispensando a abertura da tampa do incorporador e proporcionando a reutilização do defensivo proveniente da lavagem para pulverização. O Sistema de Pulverização Stara (SPS) conta com o retorno calibrado, exclusivo da Stara. Esse sistema possui a vantagem de não sobrecarregar os bicos de pulverização, pois no momento em que acontece o desligamento das seções, o produto retorna para o reservatório de calda, não permanecendo nas mangueiras ou bicos que continuam trabalhando. Assim, é possível manter a mesma pressão, gerando mais precisão na aplicação, qualidade de informações sobre o trabalho e economia de produto. A fixação das barras do Imperador 3.0 é realizada em quatro pontos da máquina, isso confere ao pulverizador uma grande copiagem do solo, mantendo a estabilidade e o alvo de pulverização. As barras possuem sistema de amortecimento contra forças operacionais, o que aumenta Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Imperador 3.0 CA
P
ara atender às características peculiares das culturas de cana-de-açúcar e arroz, que normalmente são cultivadas em terrenos irregulares, a Stara traz ao produtor rural o Imperador 3.0 CA, com altura de aplicação variando entre 50 centímetros e 1,95 metro ou de
sua vida útil. A suspensão do Imperador 3.0 é pneumática ativa, com sistema de três pontos que traz grande uniformidade na pulverização. Além disso, permite a melhor copiagem do terreno, menor índice de patinagem e melhor qualidade de aplicação.
DISTRIBUIÇÃO
Para distribuição, o Imperador 3.0 possui reservatório em inox com capacidade de até três toneladas (dependendo do peso específico do produto), com alta resistência à oxidação provocada pelos produtos agrícolas utilizados, conferindo maior durabilidade ao reservatório. A comporta dupla, que é opcional, confere ao distribuidor maior precisão na aplicação.
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40 centímetros a 1,85 metro, variando de acordo com o pneu escolhido pelo produtor, podendo ser 380/80 R38 ou 540/65 R28. O modelo CA está disponível com barras de 27 metros e vão livre de 1,30 metro ou 1,40 metro, de acordo com o pneu.
Foi desenvolvida para economizar fertilizantes na realização de arremates, aplicações em bordaduras e também em áreas já aplicadas, evitando a sobreposição, seguindo a recomendação de dosagem ideal e corrigindo as variabilidades existentes no solo. Uma lona opcional para o reservatório é de fácil acesso para abertura e fechamento, através de uma manopla, que evita que o produto entre em contato com a umidade, protegendo contra o vento e a chuva. Possui coeficiente de variação (CV) abaixo de 12% em condições climáticas normais, mantendo excelente perfil de distribuição. Além disso, o Imperador 3.0 possui esteira de borracha com dispositivo autocentralizador da fita transportadora, para maior precisão na
aplicação. Os roletes têm distância reduzida entre eles, o que melhora consideravelmente a distribuição do peso na esteira, resultando na distribuição mais precisa e uniforme. O chassi da esteira é produzido em inox, o que proporciona maior vida útil ao equipamento. O sistema com esteira de borracha foi projetado dessa forma para evitar a formação de “barrigas” no componente, eliminando a variação indevida na dosagem e garantindo a uniformidade da aplicação. Os discos de aplicação possuem regulagem das palhetas e proporcionam uma faixa de aplicação de até 30 metros, com grande uniformidade. O peso do Imperador 3.0 durante a distribuição fica localizado 44% na parte dianteira e 56% na parte traseira. Como opcional para tornar a operação ainda mais eficiente, o Imperador 3.0 possui câmera para auxiliar ao dar ré na máquina e para visualizar o funcionamento da comporta dupla. Outra evolução do Imperador 3.0 é a utilização de pneus radiais 380/80 R38 que proporcionam menor índice de patinagem e compactação do solo. Os motores de roda possuem redutores axiais que permitem o desloca-
Fotos Stara
Na versão com 30 metros de barra, a altura de aplicação vai de 78 centímetros a 2,63 metros
mento mais rápido do equipamento e o torque maior para trabalhar em terrenos acidentados. Este autopropelido possui um sistema elétrico composto por chicotes modulares, integrados à máquina e devidamente posicionados no interior de eletrodutos de proteção, evitando a exposição e o contato direto com produtos corrosivos e intempéries, aumentando assim a proteção do produto. Com o mesmo objetivo, ocorre a aplicação de emendas derivadas nos chicotes, além do uso dos melhores conectores
Detalhe da saída do distribuidor pneumático para semeadura de sementes finas
do mercado com vedação resistente à aplicação no campo.
CABINE
A cabine do Imperador 3.0 possui grande espaço interno, é confortável e proporciona grande isolamento acústico. O ar-condicionado é digital e com filtro de carvão ativado, para garantir a melhor qualidade do ar que circula na cabine. Permite a ampla visibilidade da cultura e das barras durante a aplicação. Possui banco com suspensão pneumática,
CD player com entrada USB e Bluetooth, e o acabamento interno da cabine possibilita a fácil limpeza e higienização.
TECNOLOGIA
O Imperador 3.0 é equipado com o melhor pacote de tecnologia de série oferecido pela Stara, com piloto automático e Topper 5500. O piloto automático diminui falhas, transpasses e amassamento nas aplicações em modo reto e em modo curva, possibilitando o controle de tráfego
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e mais rendimento. O Topper 5500 é um controlador completo para agricultura de precisão que reúne as informações das máquinas agrícolas em um único dispositivo, com acesso simples e prático. Ele possibilita trabalhar com sinal livre ou pago, podendo ser utilizado nas aplicações em taxa fixa ou variável. Com esse pacote o produtor pode habilitar a Telemetria Stara que possibilita ter a sua fazenda na palma da mão. Ela proporciona o gerenciamento das informações em tempo real das operações realizadas na lavoura, através de um dispositivo com acesso à internet. Todos os hardwares e softwares da Stara são produzidos pela própria empresa em sintonia com a mecânica e a hidráulica da máquina, tudo isso com .M tecnologia 100% nacional.
O semeador pneumático que realiza a semeadura de mix de sementes finas é composto por turbina, misturador de sementes e saída de sementes
Semeador pneumático
A
ltas produtividades começam com a cultura de cobertura eficiente. Para tornar a semeadura de cobertura mais eficaz, o Imperador 3.0 traz um sistema pneumático, chamado de Ponte Verde, que proporciona a semeadura em toda a extensão da barra. Isso garante a cobertura com melhor uniformidade, utilizando o mesmo rastro da pulverização, reduzindo o tempo de operação, as perdas por amas-
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samento e o consumo de combustível. O semeador pneumático que realiza a semeadura de mix de sementes finas é composto por turbina, misturador de sementes e saída de sementes. A turbina é responsável por fornecer o ar necessário para a condução de sementes através dos tubos condutores. O misturador e separador de sementes realiza a mistura das diferentes sementes para distribuí-las uni-
formemente através da saída de sementes, garantindo a qualidade da distribuição de cobertura. Este sistema está disponível para os modelos com 30 metros de barra, com uniformidade garantida em toda a extensão da barra. Segundo Silva R.F. et al (2014), com o emprego de culturas de cobertura o incremento da diversidade do solo pode ser de, pelo menos, 18%, chegando até 78% (principalmente minhocas e ácaros). Isso está relacionado com a maior ciclagem de nutrientes e aumento da matéria orgânica do solo. Outros trabalhos com culturas de cobertura demonstram que o ganho produtivo pode chegar a 24% na cultura da soja, dependendo da cultura de cobertura utilizada, como o de Pacheco et al (2009). Outro grande ponto a ser observado é a estabilidade produtiva que se ganha ao longo dos anos, apresentado por Amado et al (1999) em estudo realizado durante nove anos. Na média deste período na cultura do milho, o incremento médio, usando a cultura de cobertura “ervilhaca” em relação à “aveia”, foi de 45,6%. O que se percebe neste trabalho é que, dependendo da cultura, também se pode ter uma importante fonte de nitrogênio.
SEMEADORAS
Detalhes decisivos O processo de semeadura está sujeito à interferência de diversos fatores, desde a escolha correta da semente até os mecanismos responsáveis por sua dosagem e deposição, que afetam a qualidade da distribuição das mesmas no solo e exigem atenção por parte dos produtores
U
m dos principais desafios enfrentados atualmente no processo de semeadura consiste em obter um estande adequado de plantas, para que as mesmas consigam expressar todo o seu potencial genético, com o mínimo de competição intra e interespecífica, possibilitando o alcance de altas produtividades. No entanto, muitos fatores atuam na obtenção deste, como o solo, o clima, o relevo, a cultivar que será utilizada, a velocidade de semeadura e os componentes de uma semeadora-adubadora. Por isso, é muito importante que informações sobre fatores com potencial
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para influenciar a qualidade final do processo de semeadura sejam levantadas e analisadas, para que os erros de semeadura sejam minimizados e o processo otimizado, visto que esta operação é realizada apenas uma vez durante o ciclo de uma cultura e, na maioria das vezes, em uma janela curta de tempo. A operação de semeadura, no entanto, deve levar em consideração as particularidades de cada propriedade, pois o tipo e a textura do solo, a precipitação e a luminosidade da região poderão influenciar na determinação da janela de semeadura da cultivar utilizada, bem como na
densidade de sementes por hectare. Segundo recomendações da Embrapa (2013), variações de 200 mil a 500 mil plantas de soja por hectare poderão ter produtividades muito semelhantes. No entanto, em menores densidades de semeadura haverá maior suscetibilidade ao surgimento de plantas daninhas, pois o ambiente torna-se mais favorável ao surgimento e desenvolvimento destas, devido ao menor sombreamento nas linhas e entre linhas da cultura, afetando negativamente o ciclo produtivo da soja. Já em densidades de semeadura mais elevadas, há maior custo para a obtenção de sementes além da com-
Charles Echer
Fotos Pablo Alonço
Exemplo de dosador de disco horizontal alveolado
petição intraespecífica ser elevada, em função do espaçamento entre plantas ser menor.
CUIDADOS NA HORA DE PLANTAR
A escolha das sementes também deve ser realizada com muito cuidado, buscando sempre maior poder germinativo e vigor possíveis, a fim de minimizar as falhas provenientes da não germinação de plântulas e, em função disso, o produtor estará aumentando as chances de obter um estande de plantas mais uniforme. Junto a isso, também deve-se saber que cada cultivar pode possuir diferenças significativas no que diz respeito ao porte, ao hábito de crescimento, à resistência a agroquímicos e à expectativa de produtividade. Além disso, tornou-se comum realizar a semeadura utilizando sementes com tratamentos fitossanitários, inoculação e coinoculação, pois a
Exemplo de dosador-apanhador com auxílio pneumático
utilização desses visa à proteção no estádio inicial de plântulas e no período vegetativo, inclusive favorecendo a fixação biológica de nitrogênio, apresentando reflexos positivos sobre a produtividade. Em função da utilização desses produtos, as sementes de soja acabam sofrendo alterações na sua estrutura física e rugosidade, podendo afetar a distribuição das mesmas no processo de semeadura em função do atrito com os mecanismos de dosagem das semeadoras. Desta forma, uma das alternativas para minimizar os erros de deposição é a utilização do lubrificante sólido grafite na quantidade de quatro gramas por quilograma (g/kg) de semente de soja (Mantovani, 1999), visando melhorar a escoabilidade das sementes e minimizar o efeito destes produtos no desempenho dos mecanismos dosadores de semente. Outra alternativa para amenizar os efeitos negativos provenientes do
Tipos de disco de corte de resíduos
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uso de produtos fitossanitários no processo de semeadura é a utilização de polímeros de recobrimento, que visam não só proteger a semente e o produto que nela foi aplicado, mas também proporcionar maior uniformidade na distribuição longitudinal. Segundo Alonço (2018) e Pires (2017), tanto em dosadores de disco alveolar horizontal como em dosadores-apanhadores com auxílio pneumático, a utilização de polímeros no processo de semeadura não apresentou diferença significativa quando comparado à semeadura utilizando a adição do lubrificante sólido grafite, o que indica que a utilização dos polímeros de recobrimento pode tornar-se uma boa opção aos produtores. No entanto, é importante salientar a necessidade de verificar as opções que mais se adaptam às necessidades da propriedade, para que sejam realizados os procedimentos mais rentáveis e corretos.
ANÁLISE DE FATORES ANTES DA SEMEADURA
Existem basicamente dois equipamentos para realizar a semeadura individualizada da soja, através da utilização de dosadores de disco alveolar horizontal ou com dosadores-apanhadores com auxílio pneumático. No primeiro, deve-se atentar para o tamanho e a uniformidade do lote de sementes em função do tamanho do alvéolo do disco dosador - elas deverão ser aproximadamente 10% menores que o alvéolo do disco -, desse modo, a deposição das sementes duplas poderá ser reduzida e o preenchimento dos alvéolos com as sementes será facilitado. Junto a isso também se deve procurar utilizar um disco dosador com alvéolos suficientes para atender a densidade de semeadura planejada. É possível encontrar no mercado nacional discos que variam de 45 a 110 alvéolos. Ao
utilizar discos com um maior número de alvéolos, a velocidade periférica do mesmo será menor, proporcionando maior tempo de exposição da semente ao orifício captador, reduzindo, dessa forma, falhas de preenchimentos e, consequentemente, espaçamentos falhos. Já na semeadora com auxílio pneumático, devemos atentar para a pressão de sucção que será utilizada (vácuo). Baixas pressões poderão ser insuficientes para fazer com que o mecanismo dosador consiga captar, fixar e transportar as sementes até o ponto de liberação. Segundo Becker (2016), em densidades menores, o dosador com auxílio pneumático tende a ter melhor desempenho que o dosador de disco horizontal, já em densidades mais elevadas, o mesmo equivale-se. Além disso, Reis e Alonço (2001) concluíram que em velocidades até 7,5km/h, o desempenho de
um dosador com auxílio pneumático tende a ser melhor e, acima de 7,5km/h, tende a se igualar. No entanto, em ambos os casos, a utilização de baixas densidades associadas a baixas velocidades de deslocamento proporcionou os maiores percentuais de espaçamentos aceitáveis. O fato de ocorrerem maiores falhas de semeadura em altas velocidades se dá em função de que a velocidade dos discos dosadores também será elevada, dessa forma, acarretará em falhas no preenchimento dos alvéolos, independentemente do tipo de dosador utilizado. Junto a isso, quanto maior for a velocidade utilizada, os danos mecânicos causados nas sementes poderão ser maiores, em função da necessidade de utilizar altas velocidades periféricas nos discos dosadores, podendo comprometer o vigor e o poder germinativo das sementes. Deste modo, as recomen-
Valtra
O processo de semeadura está sujeito à interferência de diversos fatores, desde a escolha da semente até os mecanismos da semeadora
dações da Embrapa (2013) indicam a utilização de velocidades de semeadura entre 4km/h e 6km/h. As falhas de semeadura também poderão ser maiores quando o terreno for declivoso. Segundo Alonço (2014), utilizando dosadores-apanhadores com auxílio pneumático para a semeadura de sementes de soja, tanto em inclinações transversais positivas como negativas, houve redução significativa na porcentagem de espaçamentos aceitáveis em relação à semeadura realizada sem inclinação transversal, ou seja, no plano. Assim sendo, é de suma importância analisar o terreno no qual será realizada a semeadura e, se necessário, realizar operações como construções de curvas de nível para reduzir os impactos da inclinação. Outro fator muito importante é a escolha correta do tubo condutor. Como os dosadores localizam-se a uma certa altura do solo, os tubos condutores são os responsáveis em realizar a condução e descarga das sementes, desde o dosador até o sulco de semeadura. No entanto, é imprescindível que a semente tenha a sua trajetória alterada o mínimo possível, de maneira que não ocorra o “repique” da semente dentro do tubo condutor, isso poderá ser causado pela presença de alterações na superfície interna do mesmo ou pelo diâmetro interno. Quando ele for de pequeno Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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diâmetro poderá ocasionar maior contato das sementes com o tubo e, de acordo com a variação da extremidade de saída das sementes, isso poderá afetar a distribuição longitudinal no solo, proporcionando espaçamentos múltiplos e falhos. Estudos de Carpes (2015), concluíram que tubos condutores com formato parabólico, voltado para a parte de trás da semeadora, garantem os melhores desempenhos na semeadura da soja.
ABERTURA DE SULCOS
Outro aspecto importante a ser observado são os mecanismos de corte de resíduos culturais e abertura de sulco. Segundo Becker (2017), cada tipo de disco de corte poderá apresentar diferentes desempenhos em função das condições em que for submetido, influenciando no consumo de combustível, na força de tração e na mobilização do solo.
Atualmente existem discos de corte lisos, ondulados, corrugados, estriados e recortados. Para a abertura do sulco no qual será depositada a semente, é necessária a análise de qual componente é o mais adequado - haste sulcadora ou disco duplo. No entanto, assim como na escolha dos demais mecanismos com relação máquina-solo, devemos observar as características e o tipo de solo, pois o desempenho das hastes sulcadoras e dos discos duplos poderá sofrer influência destes fatores. Segundo Silveira (1989), as hastes sulcadoras são comumente mais utilizadas em solos onde havia anteriormente preparo convencional e sem resíduos culturais. Além disso, também costumam ser utilizadas em locais onde há pisoteio animal. Desta maneira, as hastes sulcadoras também exercem a função de escarificação, descompactando a camada superficial do solo. Já os discos duplos, normalmente são mais utilizados em terrenos mais pesados e que tenham a presença de resíduos culturais. Também é necessária uma atenção especial na regulagem das rodas limitadoras de profundidade, estas exercem um papel importante no processo de semeadura. Usualmente é recomendado pela Embrapa (2013) que a semeadura ocorra em profundidades de 3cm a 5cm, variando conforme o tipo de solo. Desta forma, tornando possível que a semente de soja adquira 50% do seu peso em água, quantidade considerada necessária para germinar e ainda possuir vigor suficiente para emergir. Junto a isso,
Figura 1 - Exemplo de classificação da distribuição longitudinal de sementes de soja
(Fonte: Arquivo pessoal, adaptado de Becker, 2016)
deve-se regular também a roda compactadora para que consiga fechar e compactar lateralmente o sulco de semeadura, ocasionando o correto contato da semente com o solo, pois se a mesma compactar o solo em excesso na superfície, a emergência das plântulas será dificultada, podendo causar desuniformidade no estande de plantas ou até mesmo impossibilitando a emergência das plântulas.
FATOR OPERADOR
Há uma exigência cada vez maior de que os operadores possuam amplo conhecimento acerca dos equipamentos e dos fatores que poderão influenciar na operação que estiverem executando, pois serão os responsáveis em averiguar se os materiais estão adequados e, caso não estejam, devem saber identificar e corrigi-los, de modo a extrair todo o potencial de uso dos equipamentos. Com a crescente modernização de máquinas, implementos e tecnologias voltadas para o setor agrícola, estão sendo exigidos profissionais cada vez mais qualificados, que possuam experiência na operação, sejam eficientes e que também possuam conhecimento suficiente para a utilização de todas as tecnologias dos equipamentos e computadores de bordo, aplicando-os a cada operação a ser realizada, levando em consideração as necessidades e particularidades da propriedade; afinal, erros na operação de semeadura influenciarão negativamente na produtividade e poderão tornar o ambiente mais suscetível ao surgimento de plantas daninhas e doenças.
FATOR TRATOR
Muitas vezes adquirido apenas em função de potência e robustez, o trator, responsável por tracionar a semeadora, desempenha fundamental importância na realização do processo de semeadura. O dimensionamento do número de linhas que serão semeadas deve ser obtido através da capacidade de tração do trator que será utilizado. No entanto,
Como avaliar a qualidade da distribuição de plantas
A
maneira mais usual e fácil para analisar a uniformidade de distribuição de sementes é através da análise do espaçamento entre plantas que emergiram. Aqueles considerados “aceitáveis”, são os que estarão distantes de 0,5 a 1,5 vez o Xref(“X de referência”) de outra planta. Já os espaçamentos considerados múltiplos são aqueles em que as plantas estão espaçadas a uma distância menor que 0,5 vez o Xref e os espaçamentos falhos, quando forem superiores a 1,5 vez o Xref. Sendo o Xref a distância teoricamente ideal em que uma planta deveria estar da outra, ou seja, se desejarmos obter 13
não é aconselhável utilizar tratores com potência em excesso, pois a eficiência operacional, nesse caso, será baixa, visto que além do aumento no consumo de combustível, o patinamento e o desgaste das peças serão maiores, reduzindo a vida útil do mesmo além de prejudicar a distribuição longitudinal de sementes no processo de semeadura. Junto a isso, deve-se buscar sempre tratores equipados com sistemas de transmissão que possuam adequado escalonamento entre marchas, de forma que a troca de marchas seja sempre suave, sem apresentar trancos e, assim, contribuir para a qualidade de semeadura. Atualmente os tratores agrícolas são equipados por transmissões mecânicas deslizantes, parcialmente sincronizadas, totalmente sincronizadas e hidromecânicas, de modo que as últimas são as que apresentam melhor qualidade no escalonamento de marchas. Além disso, a capacidade de levante e a vazão da bomba do sistema hidráulico também devem ser analisadas, visto que estes serão responsáveis por realizar o levante dos implementos em determinadas velocidades. Assim sendo, quanto maior for a capacidade de levante do sistema hidráulico e a vazão da bomba, mais pesado poderá ser o
plantas de soja por metro linear, o Xref será 7,69 centímetros (cm): 100cm (1 metro) (Xref = =7,69cm). 13 sementes de soja Nesse exemplo, os espaçamentos considerados aceitáveis serão aqueles em que as plantas estarão de 3,8cm a 11,5cm distantes umas das outras, os múltiplos serão aqueles em que as plantas estarão a 3,8cm ou menos umas das outras e os falhos aqueles em que o espaçamento entre plantas for superior a 11,5cm, conforme pode ser observado na Figura 1.
implemento que o trator tracionará, desde que possua potência disponível para tal e, junto a isso, o processo de erguer e baixar o implemento durante as manobras de cabeceira será facilitado, pois a velocidade com que este processo acontecerá será maior, aumentando a eficiência operacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de semeadura está sujeito à interferência de diversos fatores, que vão desde a escolha correta da semente que será utilizada até os mecanismos responsáveis pela dosagem e deposição das mesmas, sendo que todos esses fatores podem sofrer influências em função do local o qual estarão submetidos. Dessa forma, é de suma importância que o produtor saiba identificar as particularidades e características de sua propriedade e, a partir disso, realizar a escolha dos equipamentos e das tecnologias mais adequadas para lhe proporcionar as melhores condições na implantação da cultura no campo. .M Pablo do Amaral Alonço, Airton dos Santos Alonço, Dauto Pivetta Carpes e Antonio Robson Moreira, Laserg/UFSM
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IMPLEMENTOS
Engate rápido
Teste em campo mostra o tempo gasto para acoplar e desacoplar uma carregadora frontal em trator agrícola, com operadores recém-treinados e operadores experientes
O
tempo é precioso e cada vez mais escasso nos mais diversos setores do mundo moderno, e na agricultura não é diferente. Não é exagero quando é dito que “tempo é dinheiro”. As empresas de máquinas agrícolas estão oferecendo ao produtor produtos diferenciados que atendam as mais diversas necessidades, inovações tecnológicas que possibilitem maior facilidade, eficiência, qualidade e agilidade no campo. Cada vez mais as janelas entre safras são menores, exigindo maior capacidade operacional das máquinas agrícolas, proporcionando o preparo de solo, a semeadura, os tratos culturais e a colheita de forma mais rápida. Toda essa rapidez e a agilidade demonstradas em campo exigem também operações de apoio mais modernas e eficientes, como Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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abastecimento ou descarregamento, viabilizando um retorno mais rápido dessas máquinas ao campo. Um dos exemplos desta adaptação à escassez de tempo nas ativi-
dades agrícolas é o lançamento de modelos de carregadores frontais, utilizados em tratores agrícolas, com engate rápido. É o caso do carregador frontal produzido pela
Sistema de acoplamento dos braços ao trator e sistema hidráulico de engate rápido
Fotos Francisca Nivanda de Lima Estevan
Os carregadores frontais são acoplados por meio de uma adaptação no chassi e no sistema hidráulico de tratores agrícolas e não comprometem as outras funções da máquina
empresa Marispan, que ganhou o prêmio Gerdau Melhores da Terra na divisão Agricultura Familiar em 2016, utilizado na movimentação e no abastecimento de cargas nas operações cotidianas dentro de uma propriedade rural. A carregadora frontal consiste em braços hidráulicos acoplados em tratores agrícolas e junto a esses braços são engatados, de forma rápida, implementos diversos como pá carregadora, pá niveladora, guincho, garfo para silagem, garfo enleirador, entre outros. Normalmente são utilizadas máquinas autopropelidas que possuem a única função para a qual foram projetadas como, por exemplo, as pás carregadoras convencionais. O principal diferencial deste tipo de sistema é que é prático para acoplar e desacoplar, com segurança para o travamento e multifuncionalidade, além de permitir que o trator seja utilizado em outras atividades. Os carregadores frontais são acoplados por meio de uma adaptação no chassi e no sistema hidráulico de tratores agrícolas. Essa adaptação em nada compromete a utilização do trator em suas atividades rotineiras, inclusive podem ser acoplados equipamentos no sistema hidráulico de três pontos, tomada de potência e/ ou barra de tração simultaneamente ao acoplamento dos carregadores frontais. A utilização de ambos os
equipamentos acontece de forma assíncrona, em que uma alavanca instalada na cabine do trator direciona o fluxo de óleo do sistema hidráulico para a parte traseira ou dianteira do trator de forma simples e rápida, possibilitando o acionamento do carregador frontal ou de um equipamento acoplado na traseira do trator. Na prática, todas as etapas de acoplar e desacoplar devem acon-
tecer em poucos minutos, como é possível observar cada passo no Box a seguir. Pensando nisso, a equipe do Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola (Lamma) realizou um ensaio na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão (Fepe) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp/ Jaboticabal, objetivando avaliar a facilidade e a agilidade da operação de acoplamento e desacoplamento da
Figura 1 - Tempo de acoplamento da carregadora frontal (A); Tempo de acoplamento de um implemento na carregadora frontal (B)
Figura 2 - Perfil de aplicação da semeadora S1 para a taxa de aplicação T2 Figura 2 - Tempo de desacoplamento da carregadora frontal (A); Tempo de desacoplamento de um implemento na carregadora frontal (B)
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Francisca Nivanda de Lima Estevan
carregadora frontal modelo M105, com operador recém-treinado (no dia da entrega do equipamento e após um mês de trabalho).
TESTE DE OPERACIONALIDADE
O ensaio consistiu em comparar o tempo de acoplamento e desacoplamento da carregadora frontal e de seus implementos por operadores em diferentes níveis de experiência na operação do equipamento. Foram aferidos os tempos de um operador experiente (operador da fabricante, responsável por treinar novos operadores), de operador da Fazenda de Ensino Pesquisa e Extensão (treinado no dia da entrega do equipamento) e do operador da Fazenda de Ensino Pesquisa e Extensão (após um mês de trabalho com o equipamento). Observa-se que o acoplamento total da carregadora frontal, mesmo por um operador não experiente, exige um tempo relativamente pequeno, em torno de cinco minutos. Para o acoplamento da carregadora
Avaliação foi realizada para verificar o tempo dispensado no acoplamento e desacoplamento de carregadora frontal e de seus implementos
frontal, verificou-se que após um mês de experiência do operador esse tempo assemelha-se ao do instrutor, apresentando valores até menores, demonstrando que o sistema de acoplamento desenvolvido é realmente simples e fácil de operar. Em menos de dois minutos é possível fazer o acoplamento total
Passo a passo para acoplar e desacoplar carregadores frontais
O
acoplamento e o desacoplamento do carregador podem ser feitos sempre que necessário, de forma rápida e fácil. Para o acoplamento são seguidas as seguintes etapas: 1 – destravar alavanca dos braços da carregadora; 2 – aproximar o trator dos braços da carregadora; 3 – o operador deve descer da plataforma de operação e fazer o acoplamento do sistema hidráulico (engate rápido); 4 – retornar à plataforma de operação e encostar os ganchos nos pinos da carregadora; 5 – Acionar o cilindro de levante hidráulico para o encaixe; 6 – nesse momento o operador deve descer novamente da plataforma de operação, travar a alavanca dos braços da car-
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regadora ao suporte na lateral do trator; 7 - recolher o pé de apoio da carregadora. Lembrando que o implemento a ser utilizado deve ser engatado ao braço da carregadora após seu acoplamento. O desacoplamento ocorre quase que no sentido contrário às etapas de acoplamento: 1 - recolher o implemento acoplado e descer o pé de apoio, deixando próximo ao solo; 2 - destravar alavanca do suporte instalado no trator; 3 – bascular a carreadora até que o pino fique livre para sair; 4 – dar macha à ré para afastar o trator; 5 - recolher o implemento novamente para que fique apoiado no chão; 6 – desacoplar o sistema hidráulico.
da carregadora frontal, estando a mesma pronta para desenvolver suas tarefas. Os tempos de desacoplamento do braço frontal e do implemento, respectivamente, foram 3,32 minutos e 2,19 minutos, no dia da entrega (operador recém-treinado) e 1,44 minuto e 0,25 minuto após um mês de trabalho. Com isso, observou-se que o equipamento contribui para facilidade e agilidade das operações, possibilitando realizar muitas tarefas em uma mesma máquina. Os operadores que participaram do trabalho afirmaram que o equipamento promove rapidez nas atividades por meio do sistema de engate fácil, que proporciona a otimização das tarefas complementares da Fepe, auxiliando no transporte de cargas relativas à produção das culturas instaladas da fazenda, como milho e soja, no abastecimento das máquinas no momento da semeadura, além de outros serviços de manutenção da .M universidade. Renata Fernandes de Queiroz Francisca Edcarla A. Nicolau Francisca N. de Lima Estevam e Carlos Eduardo Angeli Furlani, FCAV/Unesp
TRATORES Charles Echer
Lastro correto
Avaliação com três diferentes lastragens líquidas em tratores mostra qual é a mais adequada para diminuir a patinagem, melhorar a tração e o consumo de combustível
O
desempenho dos tratores é influenciado significativamente pela lastragem selecionada para cada condição de carga, uma vez que o peso do trator influi diretamente na recomendação e no seu desempenho a campo. Ao se utilizar lastragem adequada no trator, é possível minimizar os problemas de perda de tração, patina-
gem e consumo de combustível. Para entender o efeito das diferentes lastragens líquidas foi desenvolvido um trabalho com o objetivo de avaliar o desempenho do trator através da patinagem dos rodados, rendimento na barra de tração e consumo específico de combustível, em razão de três condições de lastragem líquida (0%, 40% e 75%).
LASTRAGENS LÍQUIDAS
O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental Cangüiri (FEC), pertencente à Universidade Federal do Paraná (UFPR), localizada no município de Pinhais (PR). O experimento foi realizado com delineamento fatorial 3x4, com três índices de lastragem líquida (0%, 40% e 75%) e quatro velocidades Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Maíra Laskoski
Trator utilizado para avaliar três diferentes condições de lastragem líquida
diferentes (4km/h, 6km/h, 8km/h e 10km/h), com cinco repetições. Dois tratores foram conduzidos em pavimento de concreto na forma de comboio. O trator submetido ao ensaio foi o modelo T7 245, marca New Holland, com potência nominal 157kW, transmissão full powershift e gerenciamento automático de marchas. No ensaio, o trator deslocava-se a 4km/h, 6km/h, 8km/h e 10km/h, correspondendo, respectivamente, às marchas 5, 7, 9 e 10 do sistema de transmissão, tração dianteira auxiliar (TDA) acionada e rotação máxima de 2.230rpm no motor. O trator estava equipado com pneus dianteiros radiais (420/90R30) com insuflagem de 166kPa (24psi) e traseiros duplados (520/85R42) com insuflagem de 124kPa (18psi) nos pneus internos e 97kPa (14psi) nos pneus externos, proporcionando uma antecipação de 1,5%. Os pneus foram preenchidos, respectivamente, com 0%, 40% e 75% de água (no eixo traseiro somente os pneus internos), acrescidos de 22 placas de 0,44kN na dianteira e oito anéis de 2,23kN no eixo traseiro, conferindo ao trator peso, respectivamente, de 112kN (11.420,82kg), 1 1 8 k N ( 1 2 . 0 3 2 , 6 5 kg ) e 1 2 6 k N (12.848,42kg). O segundo trator, Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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denominado de “trator freio”, era o Magnum 340, da Case IH, potência nominal de 250kw e câmbio full powershift, foi acoplado no trator de ensaio por meio de cabo de aço, formando comboio, para fornecer força
de tração de 40kN (4.078,86kg). Os tratores foram conduzidos em pavimento de concreto, em que o trator teste deslocava-se em quatro velocidades teóricas (4km/h, 6km/h, 8km/h e 10km/h), com o “trator freio” simulando carga de 40kN na barra de tração. As velocidades foram testadas nas três condições de lastragem líquida. Para analisar o desempenho do “trator teste”, foi utilizada instrumentação eletrônica: a determinação da velocidade do trator foi através do radar da marca Vansco, modelo 740030A. Para mensurar o consumo de combustível foram utilizados dois fluxômetros Flowmate Oval M III – LSF 45L0-M2, instalados, respectivamente, na linha de admissão de combustível pela bomba common rail e na linha de retorno do combustível para o tanque. Para determinação das patinagens das rodas motrizes foram utilizados en-
Fotos Charles Echer
Tabela 1 - Síntese da análise de variância e do teste de médias para o rendimento na barra de tração - RBT (%), consumo específico de combustível – CCE (kg/kw/h) e patinagem – P (%). Pinhais/PR (2016) Lastragem líquida – L (%) 0 40 75 Velocidade – V (km h-1) 4,00 6,00 8,00 10,00 TESTE F L V LxV CV (%) O desempenho dos tratores é influenciado pela lastragem selecionada para cada condição de carga
coders da marca Autonics, modelo E50S*, com 360 pulsos por volta. O sistema de aquisição de dados (DAQ) foi oriundo de placa de circuito im-
RBT (%) 48,37 A 45,99 B 43,75 C
CCE (kg kw.h-1) 0,607 B 0,603 B 0,662 A
P (%) 5,79 A 3,26 B 3,44 B
27,64 D 39,27 C 57,32 B 59,91 A
0,729 A 0,656 B 0,583 C 0,528 D
5,19 A 4,02 AB 4,05 B 3,38 C
138,977** 4.577,708** 121,955** 1,90
4,959* 25,465** 2,666* 10,74
50,375** 10,615** 4,632** 21,37
.M
Em cada coluna, para cada fator, médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem, entre si, pelo “teste t”, a 5% de probabilidade. NS: Não significativo; *: Significativo (5%) e **: Significativo (1%). CV %: Coeficiente de variação.
presso (PCI), projetada em software Proteus 8.1 (Labcenter Eletronics) confeccionado em fresadora LPKF Proto Mat 93s, o gerenciamento do sistema é realizado por microcontrolador, modelo aTmega 2560, marca Atmel, com 16MHz de clock, conversor analógico digital de 10 bits e alimentação de 12 volts. A frequência de aquisição é de um hertz e os dados armazenados diretamente em disco rígido (HD Externo). A potência na barra de tração, o rendimento na barra de tração e o consumo específico foram obtidos através de relação das grandezas. Os dados foram submetidos à análise de variância (Anova) e quando significativos, as médias analisadas pelo “teste t - student”.
DESEMPENHO DO TRATOR
Na Tabela 1 nota-se que houve diferença significativa no rendimento na barra de tração, a 1% de probabilidade, nas três condições de lastragem, nas quatro velocidades, ou seja, a lastragem interfere na capacidade do trator tracionar. O consumo específico de combustível diferiu significativamente com 75% de lastragem líquida, e nas diferentes velocidades houve desigualdade
significativa. O índice de patinagem diferiu na condição de 0% de lastragem líquida e houve desigualdade significativa nas quatro velocidades. Verificou-se, como disposto na Tabela 1, que a velocidade de 10km/h proporcionou maior rendimento na barra de tração, com menor consumo específico e menor índice de patinagem. O maior índice de patinagem demonstrou-se na condição de 0% de lastragem líquida.
QUAL LASTRAGEM É A MAIS ADEQUADA?
Foi comprovado nos testes que o uso de 75% de água nos pneus aumenta o consumo de combustível e reduz a velocidade efetiva do trator, logo onera o custo do produtor. A lastragem com 40% de água é a mais adequada, para velocidades inferiores a 8km/h. O fator limitante para uso de somente lastro sólido é a patinagem. Para velocidades superiores a 8km/h recomenda-se lastro sólido. .M Maíra Laskoski, Guilherme Luiz Parize, Leonardo Leonidas Kamiecik, Thiago da Silva Xavier e Samir Paulo Jasper, Universidade Federal do Paraná
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TECNOLOGIA Orion
No sulco
A inoculação de soja via sulco de semeadura é uma operação que ajuda a aumentar a fixação de nitrogênio, garantindo maior eficiência operacional, econômica e produtividade da cultura
A
soja tem capacidade de se associar simbioticamente a bactérias fixadoras de nitrogênio, tipicamente pertencentes ao gênero Bradyrhizobium. Para produzir grãos de soja é necessário suprir nutricionalmente a cultura com nitrogênio, tornando-se economicamente inviável caso sejam utilizados apenas fertilizantes químicos. Segundo a literatura especializada, o processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN) possibilita no Brasil uma economia aproximada de 320kg/ha de N ao ano, o que significa Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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US$ 3 bilhões em fertilizantes nitrogenados. O processo de fixação biológica com Bradyrhizobium é capaz de suprir grande parte do nitrogênio necessário à cultura, com menor custo, sendo outra parte fornecida pela matéria orgânica e o nitrogênio mineral do solo. Para que a fixação biológica de nitrogênio ocorra é necessário que as bactérias estejam presentes no solo, junto às sementes de soja, vindo a formar nódulos nas raízes. No entanto, as bactérias não são nativas de solos brasileiros, devendo ser introduzidas
e disponibilizadas através de insumos denominados inoculantes. A disponibilização das bactérias à cultura da soja é feita basicamente por meio da inoculação, prática operacional compreendida pela incorporação homogeneizada de inoculantes, turfosos ou líquidos, às sementes de soja. O método tradicional de inoculação ocorre via semente, pela mistura feita em tambores, betoneiras ou máquinas específicas para tratamento de sementes. Geralmente este método é realizado na sede das propriedades, demandando tempo, mão de obra e programação gerencial para não faltar sementes inoculadas durante a operação de semeadura, além da demanda de tempo necessária para realizar tal operação. Outra opção de inoculação é por meio da pulverização do inoculante no sulco de semeadura, simultaneamente à deposição das sementes no solo. Algumas vantagens podem ser consi-
Fotos Stara
deradas para este método de inoculação em relação à inoculação via semente, dentre elas a menor necessidade de mão de obra e o menor risco de morte das bactérias por tratamento das sementes com fungicidas no mesmo tambor de inoculação. Além da inoculação via sementes e sulco, é possível a aquisição de sementes já inoculadas por tratamento industrial de sementes (TSI), sendo menos comum devido ao alto custo agregado e a problemas de logística. Devido à participação da semeadura mecanizada no método de inoculação via sulco, seu planejamento passa a ter integral importância no rendimento operacional e também eficácia da fixação biológica de nitrogênio. Fatores como taxa de aplicação e dose de inoculante podem apresentar influência direta na eficiência operacional, eficiência de nodulação e, consequentemente, nos custos de produção. Para as características atuais do cultivo de soja, em que são curtas as janelas entre a colheita de uma safra e semeadura de outra, é indispensável a racionalização dos tempos operacionais. O aumento desse tempo para reabastecimentos pode gerar atrasos, reduzindo a eficiência operacional da semeadora e elevando os custos.
EXPERIMENTO
Com base nestes dados, um grupo de pesquisadores da UnB, da Unesp e da Agroefetiva avaliou a produtividade e a eficiência operacional e econômica da inoculação de soja via sulco de semeadura, utilizando diferentes taxas de aplicação e doses de inoculante em áreas com e sem histórico de inoculação. O experimento foi conduzido na Fazenda Santa Fé, localizada no município de Pardinho (SP), região Centro-Oeste do Estado de São Paulo. Segundo classificação da Embrapa (1988), o clima da região caracteriza-se com estação seca no inverno, temperaturas médias anuais em torno de 20°C e índice pluviométrico entre 1.100mm e 1.700mm anuais. O solo das áreas experimentais é de textura argilosa na área com histórico de cultivo de soja inoculada via semente desde o ano 2000 (área A), e textura média na área sem histórico de cultivo de soja (área B). A semeadura foi realizada na primeira quinzena de dezembro de 2014, utilizando sementes da cultivar de soja NA5909 RG, fornecidas com tratamento industrial de inseticida, fungicida e nematicida. A densidade de semeadura utilizada foi 17,5 sementes por metro e
A inoculação por meio da pulverização do inoculante no sulco de semeadura tem como vantagem a redução da mão de obra em relação ao tratamento de sementes
Tabela 1 - Taxas de inoculação e doses de inoculante utilizados para composição dos tratamentos em ambos os experimentos Taxas de inoculação Testemunha (sem inoculação) Inoculação via semente com D1 (Vsem)* Via sulco de semeadura a 10L ha-1 (VS10) Via sulco de semeadura a 20L ha-1 (VS20) Via sulco de semeadura a 30L ha-1 (VS30 Via sulco de semeadura a 40L ha-1 (VS40) Via sulco de semeadura a 50L ha-1 (VS50) Dose de inoculante Testemunha sem dose de inoculante (D0) 1.200.000 UFC** semente-1 (D1) 2.400.000 UFC semente-1 (D2) 3.600.000 UFC semente-1 (D3) 4.800.000 UFC semente-1 (D4) 6.000.000 UFC semente-1 (D5) *Foi utilizada a dose via semente (1,2x106 UFC) recomendada pelo fabricante. **Unidades formadoras de colônia.
Tabela 2 - Características agronômicas da soja sem inoculação, inoculada via semente e inoculada via sulco, para áreas A e B Produtividade (kg/ha) Área A Área B
Sem inoculante Via semente Via Sulco* 3.119 c 3.409 b 3.744 a 1.608 c 2.387 b 2.873 a
*Média fatorial dos tratamentos via sulco (5 taxas de aplicação x 5 doses de inoculante). Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem estatisticamente pelo teste t de Student a um nível de probabilidade de 5%.
espaçamento entre linhas de 0,45m. A adubação de base foi realizada com 100kg/ha e 360kg/ha de MAP nas áreas A e B, respectivamente, aplicada pela semeadora-adubadora. Herbicidas, inseticidas, fungicidas e fertilizantes foliares utilizados durante o ciclo da cultura e condução do experimento foram semelhantes para as áreas A e B. O inoculante utilizado foi o de formulação líquida MasterFix L, fabricado pela Stoller, indicado para a cultura da soja. Segundo indicações contidas na embalagem do produto, sua concentração mínima é de 5x109 UFC*/ml (*unidades formadoras de colônia) de Semia 5019 (Bradyrhizobium elkanii) e Semia 5079 (Bradyrhizobium japonicum). A dose indicada para inoculação via semente é de 100ml para 50kg de sementes, e inoculação via sulco a inJulho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Tabela 3 - Interação entre taxa de aplicação e dose de inoculante para as variáveis nódulos por planta e produtividade de grãos na área A Taxa de aplicação (L ha-1)
D1
VS10 VS20 VS30 VS40 VS50 Média
3.173 cbC 3.216 cbC 3.254 cbC 3.414 baB 3.465 aC 3.304
VS10 VS20 VS30 VS40 VS50 Média
2.350 bD 2.363 bD 2.387 bD 2.417 bD 2.602 aD 2.424
Dose de inoculante D2 D3 D4 Produtividade (kg ha-1) na área A 3.450 bB 3.474 bB 3.576 aAB 3.495 aB 3.485 aB 3.663 aB 3.508 aB 3.508 aB 3.690 aA 3.533 aB 3.516 aB 3.711 aB 3.843 aAB 3.850 aAB 3.805 aB 3.566 3.567 3.689 -1 Produtividade (kg ha ) na área B 2.607 bC 2.804 aC 3.075 aB 2.566 bC 2.815 aC 3.041 aB 2.661 bC 2.876 aC 3.116 aA 2.711 bC 2.773 aC 3.054 aB 2.850 aC 2.845 aC 3.131 aB 2.679 2.823 3.083
Média D5
Erro Padrão
3.592 bA 3.849 aA 3.869 aA 3.902 aA 3.937 aA 3.830
3.453 3.542 3.566 3.615 3.780
21,32
3.405 aA 3.536 aA 3.335 aA 3.374 aA 3.413 aA 3.413
2.848 2.864 2.875 2.866 2.968
35,39
Fotos Stara
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e mesma letra maiúscula na linha, não diferem estatisticamente pelo teste t de Student a um nível de probabilidade de 5%.
dicação é 900ml ha-1 em 30L a 50L de água sem cloro. A semeadora-adubadora utilizada foi da marca John Deere, modelo JD2113 CCS, configurada com 12 unidades de semeadura espaçadas em 0,5m, mecanismo dosador de sementes pneumático, caixa de sementes central com capacidade de 850kg, caixa de adubo múltipla com capacidade de 2.800kg e conjunto para inoculação e tratamento das sementes via sulco de semeadura, conforme a Figura 1. A semeadora foi tracionada por um trator John Deere modelo 6180J (4x2 TDA) de 132,39kW (180cv) de potência, transmissão automática PowrQuad e sistema de aquisição de dados constituído por sensores, monitor GS3 2630 e antena receptora de sinal GPS. O monitor tem por finalidade registrar e fornecer
dados relativos ao funcionamento e ao desempenho do trator nas operações agrícolas, tais como velocidade de trabalho, rendimento operacional, consumo de combustível, manutenções, entre outros.
RESULTADOS DA INOCULAÇÃO
As taxas de inoculação e as doses de inoculante utilizadas nos tratamentos estão apresentadas na Tabela 1. Os resultados de produtividade de grãos, comparando o método de inoculação via sulco, via semente e sem inoculação (Tabela 2) indicaram vantagens do método via sulco em ambas as áreas cultivadas. Na área A, a inoculação via sulco proporcionou produtividade de 3.744kg/ha, sendo 8,9% e 16,6% maior que as obtidas na inoculação via
semente e sem inoculação, respectivamente. Na área B, a produtividade na inoculação via sulco foi de 2.873kg/ha, 16,9% e 44% maior que na inoculação via semente e sem inoculação, respectivamente. Além da vantagem produtiva da inoculação via sulco, os resultados expressam a importância da reinoculação (prática anual de inoculação de solos já cultivados com soja e colonizados por Bradyrhizobium) e inocular (primeira inoculação de solos sem colonização por Bradyrhizobium), independentemente do método utilizado. A simples tomada de decisão de utilizar inoculante já contempla ganhos expressivos na produtividade de grãos de soja. Realizando-se a interação entre os fatores taxa de aplicação via sulco e dose de inoculante na área A, nota-se que as produtividades foram predominantemente maiores quando utilizando taxa de aplicação mínima de 20L/ha e dose de inoculante de 6.000.000 UFC/ semente (D5). Aumentando a dose de inoculante, a concentração de bactérias fixadoras é maior na calda, e aumentando a taxa de aplicação o molhamento do solo é maior, sendo assim, a inoculação ocorre de forma satisfatória, pois ambos os fatores auxiliam para o maior contato da rizosfera com as bactérias fixadoras, induzindo maior nodulação das raízes e assegurando a eficiência de utilização de N pela planta, incrementando a produtividade de grãos. Utilizando maior dose, a média de produtividade foi de 3.830kg/ha, sendo 13,7% maior que o resultado obtido com D1. Comparando VS20 a VS10,
Fatores como taxa de aplicação e dose de inoculante podem apresentar influência direta na eficiência operacional, eficiência de nodulação e, consequentemente, nos custos de produção
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Figura 1 - Esquema ilustrativo do conjunto para inoculação via sulco instalado na semeadora, bico de pulverização posicionado entre os discos sulcadores de sementes
ambos com dose D5, a produtividade foi 6,6% maior no VS20. Entre VS20 e VS50, as produtividades foram iguais estatisticamente, podendo haver desvantagens das maiores taxas em função da eficiência operacional. Na área B, nota-se que a produtividade foi predominantemente maior com dose maior de inoculante, independentemente da taxa de aplicação utilizada. Se utilizadas doses menores (D1 e D2), a produtividade somente é maior se aplicadas com taxa VS50. Principalmente em solos não colonizados com Bradyrhizobium, o aumento da dose de inoculante torna-se determinante para a concentração e a colonização do solo com as bactérias. Utilizando maior dose, a média de produtividade foi de 3.413kg/ha, sendo 28,9% maior que o resultado obtido com D1. Pela ótica da eficiência operacional
(Figura 2), não gastar tempo inoculando seria a melhor opção. No entanto, sobre este resultado deve-se levar em consideração o custo-benefício de ter maior Efc na operação de semeadura ou a possibilidade da produtividade de grãos comprometida pela não fixação biológica de nitrogênio. Como visto anteriormente, a produtividade é drasticamente reduzida em até 44% quando não utilizado algum método de inoculação. Considerando a realização de inoculação, a maior eficiência operacional (Efc) foi obtida no método via sulco com taxa de aplicação de 10L/ha (VS10), sendo 1,8% maior que o método de inoculação via sementes (Vsem). Devido à elevada taxa de aplicação do VS50, é excessivo o número de paradas e o tempo demandado para reabastecimento, reduzindo consequentemente sua eficiência operacional. Em relação a
Figura 2 - Eficiência operacional (Ef) da inoculação
VS10, a Eficiência operacional de VS50 foi 33,5% menor, desta forma, torna-se vantagem operacional menores taxas de aplicação via sulco. Considerando os custos mecanizados, foi possível determinar os custos operacionais da inoculação (Figura 3). Devido à maior EF e a não utilização de inoculante, o menor custo operacional (CO) é possível não inoculando, mas não é demais ressaltar que o déficit produtivo e consequentemente a rentabilidade serão consideravelmente prejudicados. Tomada a decisão de inocular, o menor custo operacional é possível utilizando VS10, cujo valor foi de R$ 120,50/ha. É importante ressaltar que a tomada de decisão deve considerar aspectos produtivos, operacionais e econômicos, desta forma, conclui-se que devido à alta produtividade, à satisfatória eficiência operacional e ao baixo custo operacional, a melhor alternativa para inoculação é utilizando VS20. Embora VS10 apresente maior eficiência operacional e menor custo operacional, sua .M produtividade é reduzida. Tiago P. da S. Correia, FAV/UnB Paulo Roberto A. Silva, FCA/Unesp Gil Miguel de S. Câmara, Esalq Leandro Augusto F. Tavares, UFVJM Saulo Fernando G. de Sousa, Agroafetiva Vinícius Paludo e Patrícia Pereira Dias, FCA/Unesp
Figura 3 - Custo operacional da inoculação
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COLHEDORAS
Controle necessário
Apesar dos avanços tecnológicos na colheita mecanizada da cana-de-açúcar, a qualificação e o treinamento dos operadores ainda são pontos que precisam avançar para garantir melhores resultados na operação
O
Brasil cultiva um terço de toda cana-de-açúcar do planeta, correspondendo a cerca de nove milhões de hectares, sendo mais da metade deste total cultivada apenas no estado de São Paulo. Após a criação do Protocolo Ambiental em 2007, acordo firmado entre o estado de São Paulo, a indústria e os fornecedores de cana para antecipar o fim da queima da palha, o setor sucroenergético passou por grandes transformações, principalmente quanto ao uso de Julho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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máquinas na colheita. De acordo com informações do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), no Centro-Sul, principal região produtora de cana-de-açúcar, a colheita mecanizada passou de 48% em 2008 para um valor próximo a 100% nos dias atuais, enquanto que o valor médio considerando todo Brasil seria de 75%. Com o estabelecimento do Protocolo e a redução da mão de obra
disponível, a colheita mecanizada no Brasil se tornou um processo irreversível, mas causou grandes impactos em longevidade, perdas e produtividade dos canaviais, fazendo com que canaviais que produziam 80t/ha entre 2004 e 2006 passassem a produzir 70t/ha atualmente. Diante da dimensão da cana-de-açúcar no Brasil e do cenário estabelecido nos últimos anos, temos visto a busca por alto rendimento operacional, com colheitas realizadas 24 horas por dia e o surgimento de novos modelos de colhedoras, chamadas de multilinhas, capazes de colher duas ou mais linhas simultaneamente. Entretanto, são poucos os trabalhos realizados com o intuito de avaliar a qualidade da operação realizada por essas máquinas e em turnos diurnos e noturnos, que afetam diretamente a visibilidade do operador. Sendo assim, um grupo de pesquisadores da Unesp e do Ifro realizou uma avaliação da qualidade operacional da colheita
Fotos Lucas Gírio
Vista da plataforma ajustável, capaz de adequar a abertura frontal ao espaçamento do canavial (esquerda), e detalhe do mecanismo de corte de base externamente e no centro da máquina o mecanismo recolhedor (direita)
mecanizada de cana-de-açúcar realizada por uma colhedora multilinhas nos turnos diurno e noturno de colheita. O estudo foi realizado em uma área agrícola com altitude de 610m e declividade de 3,5%. O solo predominante da área estudada foi classificado como Latossolo Vermelho Distrófico (Santos et al, 2013), o clima Cwa pela classificação de Köppen (Alvares et al, 2013) e a variedade cultivada foi a CTC 20. A colhedora avaliada foi uma Case modelo A8800 multi-row, com potência nominal de 263kW (358cv) à rotação de 2.100rpm, equipada com rodados de esteiras (largura 45mm) e bitola de 2,4m,
operada à velocidade média de deslocamento de 2,5km/h durante o dia e 2km/h à noite, rotação média no motor de 1.800rpm e, no momento da colheita, o sistema de direcionamento automático estava desligado. O sistema de corte de base frontal da colhedora, com sistema independente de controle de altura, composto por dois discos de 1m de diâmetro, equipados com 12 facas de corte cada e inclinação de 45°, trabalhou à pressão média de 85bar. Já o sistema recolhedor (central), composto por dois discos equipados com cinco elementos recolhedores (facas de corte) e sistema de controle automático de
altura de corte Autofloating, trabalhou à pressão média de 55bar. Este modelo de colhedora era capaz de colher duas ou mais fileiras de cana-de-açúcar simultaneamente, devido à sua plataforma ajustável (sistema “abre e fecha”) capaz de adequar a abertura frontal ao espaçamento do canavial. Para avaliar a colheita, foram seguidas as premissas do controle estatístico de processo, sendo 42 pontos por turno avaliados aproximadamente a cada cinco minutos, totalizando 84 pontos. Como indicadores de qualidade, foram utilizados os índices de dano de soqueiras propostos por Toledo et al (2013), correspondendo aos
Danos verificados na soqueira após a colheita. À esquerda é possível visualizar uma soqueira com danos extremos e à direita uma soqueira sem danos, ilustrando uma situação de corte perfeito
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Lucas Gírio
Tabela 1 - Classificação dos danos causados aos colmos após a colheita mecanizada da cana-de-açúcar Classificação*1 Sem Danos (SD) Danos Parciais (DP) Danos Extremos (DE)
Limite Inferior
Limite Superior
Peso*2 0,00
0,33
1,00 Perdas de material rico em sacarose causadas pela baixa visibilidade no momento da colheita
*1Classificação proposta por Kroes (1997) e *2pesos propostos por Toledo et al. (2013).
valores calculados baseados na soqueira amostrada e avaliada em uma armação de 0,25m2. Os danos às soqueiras são classificados visualmente baseados nos limites estabelecidos pelo australiano Sander Kroes (Tabela 1), e o cálculo do índice de danos é realizado baseado nos valores atribuídos a cada faixa de danos. Durante a avaliação foram encontradas diferentes situações, com danos extremos, com a soqueira bastante danificada após a colheita mecanizada e também situação ideal, com o corte realizado perfeitamente, não causando nenhum dano à soqueira, o que favorecerá a longevidade do canavial. Como ferramenta para analisar os dados, foi utilizada a carta de controle de valores individuais do controle estatístico de processo, em que a linha central (verde) representa a média geral do processo e as linhas vermelhas representam os limites superior (LSC) e inferior (LIC) de controle ou a variabilidade do processo. Este recurso é muito aplicado para monitorar a qualidade operacional de máquinas na indústria e adaptado para condições agrícolas. Quando observados os efeitos dos turnos sobre o índice de danos, verificou-se que a variabilidade foi superior no turno noturno, ou seja, menor qualidade operacional, enquanto que os valores de danos exJulho 2018 • www.revistacultivar.com.br
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tremos foram próximos e elevados para ambos os turnos, com 74% no turno diurno contra 71% no turno noturno (Figura 1). A visibilidade é um fator extremamente importante na colheita mecanizada de cana-de-açúcar (Noronha et al, 2011), e por se tratar da colheita simultânea de duas linhas, torna-se ainda mais importante, pois não foi utilizada qualquer tecnologia de direcionamento automático, o que favorece a perda de orientação no momento da colheita, acarretando maiores danos às soqueiras e perdas de material rico em sacarose. Além do desgaste observado nas facas do mecanismo de corte de base, outro fator importante foi que durante a colheita noturna a umidade relativa do ar estava elevada, fazendo com que o material colhido apresentasse maior umidade e prejudicasse a qualidade do corte, muitas vezes observada pela sobrecarga da
colhedora, sendo necessárias pausas contínuas da colhedora. Com isso, verifica-se que tecnologias, como a colhedora multilinhas, são necessárias para suprir as novas demandas que surgiram com a transformação do setor. Porém, a qualidade operacional ainda esbarra em fatores já conhecidos, mas ainda negligenciados que vão desde a falta de manutenção das facas de corte, o não uso do piloto automático para orientação em condições de baixa visibilidade, até a não consideração das condições ambientais e dos canaviais no mo.M mento da colheita. Lucas Augusto da Silva Gírio, FCAV-Unesp Jaboticabal Patricia Candia de Menezes, Ifro, Colorado do Oeste Franciele Morlin Carneiro, Tiago de Oliveira Tavares e Rouverson Pereira da Silva, FCAV- Unesp Jaboticabal
Figura 1 - Carta de controle de valores individuais para o índice de danos nos turnos diurno e no turno noturno