Cultivar Máquinas • Edição Nº 187 • Ano XVI - Agosto 2018 • ISSN - 1676-0158
Índice 4 Rodando por aí 6 Atuadores elétricos 10 Distribuição de peso do trator 12 Agricultura Digital 16 Agricultura de precisão 20 Seleção de marchas 22 Capa - Test Drive LS H 125 30 Colhedoras de arroz 34 Dosadores de fertilizantes 38 Geologia de viticultura 42 Empreendedores Sem Fronteiras 44 Semeadura de soja
Destaques
Test Drive - LS H 125 Conheça o integrante da mais nova e potente série de tratores da LS Tractor que começa a ser comercializada a partir de setembro
Atuadores elétricos Conheça os atuadores elétricos, saiba como eles funcionam e quais suas principais aplicações
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter
• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi
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Agricultura Digital Saiba como a Agricultura Digital vai impactar a vida dos produtores e as principais mudanças no agronegócio
Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00
• Coordenador Comercial Charles Echer
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
• Vendas Sedeli Feijó Rithiéli de Lima Barcelos José Luis Alves
• Design Gráfico Cristiano Ceia
• Coordenação Circulação Simone Lopes
Capa - Charles Echer
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Cultivar
• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause • Impressão: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
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NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL
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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
RODANDO POR AÍ John Deere adquire a PLA
Lançamentos A Valtra levou à Feacoop 2018, em Bebedouro (SP), três séries de tratores inéditas, com foco no setor sucroalcooleiro e no mercado de pequeno e médio produtor. O principal lançamento é o da Linha BH HiTech, evolução da Linha BH Geração 4, que agora passa a oferecer transmissão com troca de marcha automática. “Em 2017 lançamos a Geração 4 dessa família, com sete opções de motorização. Agora, na nova Linha BH HiTech, a grande novidade é a transmissão HiTech3 (HiTech ‘three’) PowerShift com troca automática dentro dos grupos, com 18 velocidades para frente e 18 para trás”, afirmou o supervisor de Marketing de Tratores da Valtra, Winston Quintas.
Winston Quintas
Três novas concessionárias
A JMalucelli Agromáquinas, revendedora da Case IH, começou o segundo semestre do ano inaugurando oficialmente três lojas na região Oeste do Paraná: Cascavel, Vitorino e Medianeira, para garantir mais comodidade e eficiência aos clientes das respectivas regiões. “A confiança que a Case IH está depositando em nosso trabalho e a parceria de sucesso já com a CNH Industrial há 25 anos são provas do estreitamento duradouro da tradicional experiência e credibilidade que oferecemos ao nosso cliente”, comentou o presidente do Grupo JMalucelli, Alexandre Malucelli.
A Deere & Company assinou um acordo definitivo para adquirir a PLA, uma fabricante de propriedade privada de pulverizadores, plantadeiras e produtos especializados para agricultura. A PLA está baseada na Argentina, e possui fábricas em Las Rosas, Argentina, e Canoas, Brasil. “A aquisição da PLA reforça o comprometimento da John Deere com os clientes, à medida que continuamos a fornecer equipamentos inovadores, com um custo-benefício efetivo, tecnologia e serviços para melhorar sua produtividade”, disse o presidente de Soluções Agrícolas e Tecnologia da Informação na Deere, John May. Fundada em 1975, a PLA foi a primeira empresa a fabricar pulverizadores autopropelidos na América Latina e traz soluções aos seus clientes desde então.
John May
Smart Factory Showcase
A AGCO apresentou durante o Smart Factory Showcase, realizado na sua unidade em Canoas (RS), inovações tecnológicas que já são utilizadas nas unidades brasileiras e outras que têm potencial para serem inseridas nos próximos anos. O evento que teve como tema “A fábrica do futuro” apresentou tecnologias como realidade aumentada e robótica, que podem ser incorporadas nas linhas de produção para gerar melhorias e aumentar a eficiência produtiva das unidades. Segundo Alexandros Aravanis, diretor de Engenharia de Manufatura e Melhoria Contínua da AGCO, “O evento mostra as mais recentes tecnologias implementadas nas fábricas da marca, que “visa integrar os pilares de pessoal, material, equipamento e processos, aumentando a produtividade e a qualidade das máquinas produzidas”, explica.
Profissionalização de operadores Com o intuito de promover a capacitação dos cotonicultores de Mato Grosso e a profissionalização dos operadores de máquinas, a John Deere firmou um Termo de Cooperação Técnica com a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), por meio do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt). “Estamos muito felizes com esta parceria, pois a tecnologia está avançando cada vez mais nas lavouras e é importante que os operadores conheçam todas as especificidades das máquinas agrícolas, para uma utilização correta e eficaz”, disse o presidente da John Deere Brasil, Paulo Herrmann.
Paulo Herrmann
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CEO CNH Industrial
Hubertus M. Mühlhäuser
A CNH Industrial anunciou a nomeação de Hubertus M. Mühlhäuser como Diretor Executivo Global (CEO), em vigor a partir de 17 de setembro de 2018. O executivo ficará situado nos escritórios de Burr Ridge, Chicago, EUA, e traz extensa experiência de liderança em empresas industriais multinacionais, um profundo conhecimento dos setores de agricultura e construção, e experiência estratégica.
MECANIZAÇÃO
Atuadores C elétricos
O uso de atuadores elétricos está cada vez mais presente nos projetos de máquinas agrícolas. Eles são precisos, exigem menos manutenção e consomem menos combustível quando comparados aos sistemas hidráulicos e pneumáticos
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om o avanço e a modernização da agricultura, a presença de componentes móveis em máquinas e implementos agrícolas está sendo cada vez mais constante, possibilitando realizar as regulagens necessárias ou monitorar o desempenho do equipamento. Estes devem possuir a capacidade de executar uma tarefa com precisão nas mais adversas condições de trabalho. Devido a isso, a procura pelo desenvolvimento de novos equipamentos, ou ainda a possibilidade de incorporar tecnologias já existentes às máquinas e aos implementos agrícolas, tem se tornado um importante recurso. Dentro desse contexto, é comum hoje a utilização de atuadores pneumáticos e hidráulicos aplicados em máquinas agrícolas, com o intuito de controlar as mais diversas funções com uma maior precisão e um menor consumo energético. Entretanto, com o desenvolvimento e a modernização da ciência, os atuadores de acionamento elétrico surgem como alternativa para substituir aqueles que são acionados de forma hidráulica ou pneumática, proporcionando maior precisão e controle das partes móveis, assim como maior confiabilidade e sustentabilidade, pois geram uma transmissão de energia mais limpa e simples, sem riscos de vazamentos. Hoje em dia, atuadores de acionamento hidráulico e pneumático ainda predominam em máquinas agrícolas, porém existe uma tendência de serem substituídos por atuadores elétricos, devido a sua versatilidade, precisão e rapidez na execução do comando. No Brasil, algumas empresas do ramo de controle e automação já realizam a substituição de componentes pneumáticos e hidráulicos por atuadores elétricos ou, até mesmo, utilizam esses atuadores visando substituir os ajustes que eram realizados de forma manual. Desta forma, proporcionam uma maior exatidão no controle dos mecanismos e maior conforto ao operador.
Fotos Bruno Christiano Corrêa Ruiz Zart
Atuador para ajuste do bocal de descarga
VANTAGENS
Os atuadores elétricos possuem a facilidade e a praticidade de instalação, eliminando alguns componentes que são utilizados pelos outros tipos de acionamento, como exemplo: bombas, mangueiras, filtros, entre outros. Ademais, são altamente versáteis, uma vez que são utilizados cabos elétricos para o acionamento e para a transmissão de sinais, onde não apresentam restrições relacionadas aà distância entre a fonte de alimentação e o próprio atuador. Além do mais, podem ser conectados e programados de forma relativamente rápida, oferecendo um feedback instantâneo dos dados gerados por ele. Também são facilmente controlados por unidades eletrônicas, onde as falhas elétricas são mais fáceis de diagnosticar, assim como geram menor ruído quando comparados aos outros tipos de acionamento. Essa facilidade do controle ser automatizado os torna mais precisos em alguns processos. Além disso, os atuadores elétricos, que por sua vez são de longa vida útil, também são praticamente livres de manutenção interna e externa, proporcionando uma economia de tempo e dinheiro. Por ser um componente elétrico, sua fonte de energia geralmente é composta por acumuladores de energia (bateria), o que elimina o uso de sistemas (bombas, motores) hidráulicos e pneumáticos onde exigem potência transmitida
Ajustador elétrico de posição montado em espelhos retrovisores de um trator agrícola
pelo motor. Com isso, ocorrerá redução da demanda de potência consumida e, por conseqüência, a redução do consumo de combustível. No caso de sistemas hidráulicos, também parte da energia gerada pelo motor poderá ser dissipada em atuadores hidráulicos devido a vazamentos ou forma de calor.
DESVANTAGENS
Nos dias de hoje, a principal desvantagem desses atuadores é o maior custo unitário inicial comparado aos atuadores pneumáticos e hidráulicos. Possuem também a dificuldade em se conseguir grandes cursos de atuação, bem como uma capacidade de carga mais alta, por esse motivo são mais utilizados quando se necessita de acionamentos ou regulagens de componentes que exijam menores forças. Outro fator é que os
Atuador elétrico de giro para direcionamento automatizado
atuadores elétricos não são adequados para todos os ambientes, sendo mais suscetíveis a riscos de incêndio, fato contrário aos atuadores pneumáticos.
FUNCIONAMENTO
Ao contrário dos demais sistemas no qual a bomba ou o motor de acionamento não está integrado ao atuador, nos sistemas elétricos esta fonte de alimentação faz parte do atuador elétrico podendo ser utilizada uma corrente interna alternada (CA) ou corrente contínua (CC) com saída linear ou rotativa.
UTILIZAÇÃO
Com a exigência cada vez maior do sistema produtivo para que as máquinas agrícolas possuam um alto grau de tecnologia na mecanização, cresce também a necessidade para que estas sejam cada vez mais ergonômicas e confortáveis (ajuste no assento e volante, controles por joysticks), para isso os atuadores elétricos são ideais, já que apresentam um curso preciso, limpo e podem ser de pequeno tamanho. Além disso, os atuadores elétricos possuem uma grande versatilidade de interação com o sistema de controle das máquinas, proporcionando uma precisão maior se comparados com os atuadores hidráulicos, uma vez que podem ser controlados pelo sistema de barramentos de dados (Data Bus), o qual é responsável por transportar Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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informações. Atualmente, este tipo de atuador é utilizado para abertura das comportas de distribuidores a lanço de adubos e fertilizantes, proporcionando um maior controle sobre a vazão do produto que sai pelo reservatório. Também, em colhedoras, pode ser utilizado na abertura e no fechamento das tampas do reservatório de grãos, bem como no ajuste do côncavo ou da barra de corte, contribuindo para uma colheita mais eficaz. Da mesma forma, os atuadores elétricos podem ser utilizados em cabines dos tratores para proporcionar um ambiente mais ergonômico através da abertura da janela e do teto, ajuste do espelho retrovisor, regulagem do volante e da altura do console, soluções essas para proporcionar maior conforto para o operador. Já em colhedoras de forragem, pode ser empregado para o ajuste das rodas dianteiras, dos cilindros de realimentação, do côncavo, bem como da bica de saída, proporcionando melhores resultados na colheita. Em semeadoras-adubadoras podem ser utilizados para o acionamento individualizado dos dosadores de sementes e fertilizantes, proporcionando grande versatilidade na regulagem dos mecanismos e auxiliando na execução do desligamento de seção (linha a linha)
Fotos Bruno Christiano Corrêa Ruiz Zart
Em semeadoras pode ser usado para taxas variáveis
e na aplicação da taxa variável de sementes e fertilizantes com eficiência e exatidão. Fato esse alcançado por ser um sistema limpo e com um tempo de resposta instantâneo. Além disso, os atuadores podem estar presentes no acionamento dos marcadores de linha. Algumas outras aplicações onde os atuadores elétricos podem ser empregados em substituição dos hidráulicos e pneumáticos são: na suspensão e recolhimento da plataforma de uma segadora; no processo de automação para passar o fio em torno de um fardo de palha em máquinas enfardadoras; no ajuste do cano de descarga de uma carreta graneleira.
AVANÇOS NO CAMPO
Hoje em dia, agricultores estão cientes de que para obterem uma redução
Composição dos atuadores elétricos
O
s atuadores elétricos basicamente são compostos por: motor monofásico ou trifásico de corrente alternada (CA) ou corrente contínua (CC), um redutor (engrenagens) e, no caso dos que são de saída linear, possuem um parafuso sem-fim que controla a posição da haste, podendo estender ou retrair o
braço, como mostra a ilustração. Esses, sendo mais utilizados para abertura e fechamento ou deslocamento de componentes. Já os do tipo rotacional são utilizados quando se necessita de um torque rotacional para a máquina. Legenda: Partes básicas de um atuador elétrico
Motor elétrico do sem-fim de um sensor de umidade da colhedora
nos custos de produção é imprescindível que haja agilidade e precisão nas atividades realizadas no campo e que quanto maior for a automação de máquinas ou equipamentos agrícolas, maiores serão a economia de tempo, a redução de mão de obra e o lucro referente à atividade agrícola. Por essa razão, atividades que eram realizadas manualmente ou até mesmo acionadas por atuadores hidráulicos estão sendo substituídas por atuadores elétricos em alguns países mais desenvolvidos, proporcionando maior controle e precisão nos movimentos, assim como assegurando maior conforto e ergonomia ao operador. Além disso, problemas ambientais ganham cada vez mais a atenção dos engenheiros na hora de projetar novas máquinas, buscando a redução da poluição ambiental e a utilização de energia limpa, aliado a uma fácil manutenção. Esses fatos levam a crer que em alguns anos esta tecnologia estará muito mais atuante na agricultura brasileira e, portanto, trazendo grandes avanços na .M agricultura de precisão. Bruno Christiano C. Ruiz Zart, Airton dos Santos Alonço, Rafael Sobroza Becker, Antônio Robson Moreira, Tiago Gonçalves Lopes e Dauto Pivetta Carpes, Laserg/UFSM
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TRATORES
Peso distribuído A distribuição de carga nos eixos de tratores 4x2 é um fator que influencia diretamente no consumo da máquina e pode melhorar ou comprometer as atividades por ela desempenhadas
Charles Echer
Trator utilizado para avaliar três diferentes condições de lastragem líquida
A
introdução dos tratores agrícolas na agricultura brasileira possibilitou aos produtores expandir suas áreas de plantio, tendo em vista a grande versatilidade dessas máquinas agrícolas, que possibilitam a realização de inúmeras operações, como preparo do solo, tratos culturais e colheita da produção, que são indispensáveis para a implantação e a condução da lavoura. Para realizar as operações em campo com o trator agrícola de modo eficiente e seguro, é necessário que algumas regulagens e adequações sejam realizadas na máquina, como escolha correta do conjunto de pneus, distribuição de carga nos eixos do trator, distribuição de carga dinâmica, patinamento dos rodados, avanço cinemático, relação peso/potência, escolha do equipamento para realizar determinada operação e velocidade de trabalho adequada para o conjunto motomecanizado. Diante dessas transformações ocorridas na agricultura, fez-se necessário analisar métodos que apontem para melhorar o desempenho dos tratores nas operações agrícolas por meio de ensaios de campo. Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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A distribuição de cargas nos eixos do trator agrícola pode influenciar no desempeno da máquina em operações de campo e no coeficiente de tração. Visando analisar o coeficiente de tração, foram utilizadas duas distribuições de peso nos eixos do trator agrícola 4x2 TDA em operação de preparo de solo com escarificador. O experimento foi desenvolvido em área na Fazenda Experimental Vale do Curu (FEVC), pertencente ao Centro de Ciências Agrárias (CCA), da Universidade Federal de Ceará (UFC), localizada no município de Pentecoste, Ceará. Para a realização do experimento com escarificador, foi utilizado o trator agrícola (4x2 TDA) Valtra, modelo BM 120, com potência de 88,26kW (120cv) no motor na rotação de 2.000rpm, trabalhando com macha 3 L (lebre), com tração dianteira auxiliar (TDA) ligada. Com massa total do trator de 6.270kg (43% dianteira e 57% traseira) calculada para realizar operações médias, com relação peso-potência de 52,25kg/cv em metade do experimento e, posteriormente, com massa total de 4.360kg (47% dianteira e 53% traseira)
calculada para realizar operações leves, com relação peso-potência de 36,33kg/ cv (Figura 1). Na operação de escarificação foi utilizado o escarificador Marchesan, modelo AST/Matic 450, de arrasto configurado com cinco hastes espaçadas de 0,4m, equipado com ponteira estreita de 0,08m, disco de corte de palhada, rolo destorroador, sistema de segurança de desarme automático das hastes e apresenta massa total de 1.562kg. O controle da profundidade de trabalho foi realizado pelos pneus do escarificador, com o auxílio de anéis presos aos pistões hidráulicos, trabalhando a 0,28m de profundidade. Distribuição de cargas no trator
Fotos José Evanaldo Lima Lopes
Trator Valtra BM 120 e escarificador utilizados no experimento que definiu as melhores taxas de distribuição de peso sobre os eixos
Para determinar as duas lastragens a serem utilizadas no experimento foram realizadas duas pesagens: na primeira pesagem, o trator estava com lastragem sólida (dez lastros sólidos de 37,5kg na parte frontal da máquina agrícola, totalizando 375kg, e dez lastros sólidos de 85kg nos rodados traseiros distribuídos em cinco lastros em cada rodado, totalizando 850kg de lastros sólidos no eixo traseiro do trator) e 75% de água nos rodados dianteiros e traseiros (com lastros – Las-
tragem 1) e na segunda pesagem o trator agrícola nas atividades de mecanizadas estava sem lastragem sólida na parte na propriedade. A adequação correta do frontal e nos rodados traseiros e sem trator (relação peso/potência) para cada lastros líquidos nos rodados dianteiros operação agrícola realizada na lavora é e traseiros (sem lastros – Lastragem 2). muito importante para o desempenho As pesagens foram realizadas no labo- satisfatório da máquina. ratório de inspeção veicular pertencente à É importante destacar ainda que para Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial determinadas atividades nas lavouras que do Ceará (Nutec), em uma balança rodovi- não exigem potência elevada do trator, se ária que pesa cada eixo por vez. Os dados enquadrando como uma operação leve referentes às pesagens realizadas no ou média em termo de gastos energéticos trator podem ser verificados na Tabela 1. da máquina agrícola, a lastragem máxima Diante dos dados obtidos no experi- adequada para determinado trator deve mento, verifica-se que as lastragens, só- ser evitada, proporcionando redução no lida e líquida influenciam na distribuição consumo de combustível e desgaste preda carga estática e da carga dinâmica nos coce dos componentes da máquina. .M eixos do trator agrícola. Em relação ao coeficiente de tração, observou-se que José Evanaldo Lima Lopes, na pesagem 1, quando o trator se en- UFC Carlos Alessandro Chioderoli, contrava com lastragem sólida e líquida, UFTM o coeficiente de tração foi de 60%, já na Leonardo de Almeida Monteiro, pesagem 2, quando o trator se encontrava Mara Alice Maciel dos Santos, sem lastros sólido e líquido, o coeficiente Paulo Ricardo Alves dos Santos e Marcelo Queiroz Amorim, de tração foi de 86,40%. Esses resultados demonstram que UFC a distribuição de Tabela 1 – Pesagens do trator com lastragem e sem lastragem peso nos eixos do Pesagem 1 Distribuição de peso Pesagem 2 Distribuição de peso trator é uma va47% 43% 2.030kg riável importante Eixo dianteiro (1) 2.680kg 53% 57% 2.330kg para tomada de de- Eixo traseiro (2) 3.590kg 100% Total 6.270kg 100% 4.360kg cisão do produtor Tabela 2 – Valores de carga estática, carga dinâmica nos eixos dianteiro e traseiro do trator e coeficiente de tração Pesagem 1
As pesagens foram feitas em uma balança rodoviária
Pesagem 2
Carga Carga Coeficiente Carga Carga Coeficiente estática (kgf) dinâmica (kgf) de tração (%) estática (kgf) dinâmica (kgf) de tração (%) Eixo dianteiro (1) 2725 2315 2029 1620 86,40 60,00 Eixo traseiro (2) 3545 3954 2331 2740
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TECNOLOGIA
Agricultura Digital A nova revolução no agronegócio com o uso de Big Data, CloudComputing, Telemetria, Agricultura de Precisão, integração de sensores, mobilidade e alta disponibilidade de dados nos obriga a rever os conceitos sobre agricultura
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os dias de hoje, muito se fala em digitalização, processamento e uso de dados em todas as áreas de negócios, mas especificamente na agricultura esse assunto está latente e vem aparecendo como um “pop-up” nos principais eventos, feiras, seminários e congressos do agronegócio. Para chegarmos à Agricultura Digital, necessariamente precisamos comentar a evolução que aconteceu com a agricultura. Desde a Pré-História, há dez, 12 mil anos, onde se iniciou o domínio sobre as plantas, a Idade Antiga, que ocorreu há cinco mil anos, onde o homem começou a cultivar algumas plantas, a Revolução Industrial, em Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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que aconteceu principalmente a mecanização agrícola, e a Revolução Verde, quando se iniciou o emprego de técnicas agronômicas para maximização da produtividade nas lavouras. Enfim, todos estes períodos foram fundamentais para chegarmos ao período atual que se caracteriza pelo crescimento tecnológico exponencial. Com a Agricultura Digital, não será diferente. Sua evolução e o estabelecimento demandarão um tempo, porém o processo de desenvolvimento e transformação digital do agronegócio deverá acontecer de forma muito mais rápida, principalmente devido ao uso de Big Data, CloudComputing, Telemetria, Agricultura de Precisão, integração de
sensores, mobilidade e alta disponibilidade de dados, que estão cada vez mais presentes no dia a dia do agronegócio, desafiando o setor a repensar o modelo de negócios atual.
AGRICULTURA DIGITAL
Mais recentemente, a agricultura vem sendo cada vez mais atingida e influenciada pelo o uso de internet e sua digitalização. No início dos anos 2000, tivemos uma primeira onda do uso da internet voltado ao agronegócio, onde empresas inovadoras usaram esta tecnologia como forma de comunicação, divulgação e extensão dos conhecimentos e das técnicas agronômicas e ganha-
ram expressão nacional, muitas delas internacionalmente, se estabelecendo como referências nesse setor. Passada essa primeira fase de popularização do uso da internet no campo, uma nova onda vem tomando conta do mundo agrícola e impulsionando uma grande quantidade de negócios, a Agricultura Digital. A Agricultura Digital (AG) nada mais é do que o uso e o processamento de todos os dados gerados no campo, sejam eles através de sensores eletrônicos instalados nas máquinas, sensores nos talhões, uso de imagens de alta resolução (aéreas ou satélites), amostras e apontamentos físicos em campo (de solo, apontamento de pragas), que possam ser georreferenciados, e apontamentos econômicos que possam ser atrelados a um talhão. Tudo isso, obviamente, deve estar conectado para que o agricultor possa tomar a decisão mais acertada baseado nas informações que o campo tem gerado.
Charles Echer
Asagrisystems
O Brasil vem se estabelecendo como um dos líderes nessa revolução digital
Uma grande parte dessa rápida evolução está relacionada ao surgimento de inúmeras start-ups, que podem ser definidas como empresas formadas por um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócio repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza, que vem desenvolvendo novas soluções de forma ágil e efetiva para o agronegócio.
AMBIENTE COLABORATIVO
Por definições estratégicas e de po-
Charles Echer
Raven
A evolução da agricultura digital e o seu estabelecimento demandarão um tempo, porém o processo de desenvolvimento e transformação digital do agronegócio deverá acontecer de forma muito mais rápida
sicionamento de mercado, as principais empresas do agronegócio sempre desenvolveram soluções específicas para seus clientes que estavam correlacionadas exclusivamente a seus produtos, sem levar em consideração a interação com outras soluções do mercado, muitas vezes complementares, mas que estavam sendo desenvolvidas por outros setores e até pelos seus concorrentes. A mais revolucionária tendência da agricultura de hoje é a colaboração e a transparência. O esforço individual das empresas não é suficiente para garantir grandes transformações e ganhos de produtividade. A colaboração via parcerias estratégicas, atração de capital de risco, uso de empresas incubadoras e de redes colaborativas (crowdsourcing) é essencial hoje para o desenvolvimento da agricultura e de outros setores econômicos. Isso se deve principalmente porque não se pode esperar que uma empresa desenvolva sozinha tudo que é necessário para o uso de dados no campo. Dificilmente, uma empresa que desenvolve produtos como fertilizantes, defensivos químicos ou sementes e que esteja investindo em soluções digitais agronômicas para otimização da produtividade fará o desenvolvimento de soluções de telemetria de máquinas, “core business” do setor de máquinas agrícolas, ou mesmo soluções de controle e gestão financeira, que podem ser Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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desenvolvidos por grandes empresas de ERPs ou mesmo por novas start-ups. Para o agricultor, pouco importa de onde e por quem essas soluções estão sendo desenvolvidas. O que ele procura são soluções completas, em que seus dados estejam integrados e ele possa, a partir deles, tomar a melhor decisão agronômica e econômica para maximizar sua produtividade e/ou redução de custos de produção, visando sempre a maior rentabilidade para o seu negócio.
A AGRICULTURA DIGITAL NO BRASIL
Seria muito audacioso e pretensioso tentar prever o que acontecerá nas próximas décadas e, sem dúvida alguma, a única certeza é de que boa parte da forma e do modelo de negócios na agricultura irá se reinventar. O ambiente agrícola é vasto e fértil, e o Brasil vem se estabelecendo como um dos líderes nessa revolução digital da agricultura, por sua vocação agrícola, por sua liderança no avanço de produtividade e por seus profissionais e pesquisadores que são referência do agronegócio. Prova disso é que vem surgindo “clusters” e “hubs” de empresas ligadas à Agricultura Digital nas principais regiões ligadas ao setor, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Gostaria de citar apenas uma delas, que, inspirando-se no Vale do Silício (principal polo de desenvol-
vimento digital no mundo), criou o AgTech Valley, em Piracicaba, em conjunto com uma das principais universidades de agronomia do mundo, a Esalq/USP, e tem atraído inúmeras empresas com interesse em desenvolver soluções para o agronegócio e investidores visualizando um “oceano azul” de oportunidades. Não podemos esquecer a iniciativa do Hub Pulse da Raízen para atração de empresas ligadas principalmente ao setor canavieiro, com ideias inovadoras e que podem revolucionar o mercado sucroenergético. As empresas do Agro precisam se atentar ao surgimento dessas novidades e estar muito próximas a esses novos empreendedores se quiserem evoluir e manter a sua participação junto ao agricultor. Assim, neste contexto, a Agricultura Digital torna-se imprescindível tanto para as empresas do agronegócio quanto para os agricultores que deverão trilhar este caminho em busca de melhor rentabilidade para suas produções agrícolas. O ambiente agrícola é vasto e fértil, e o Brasil vem se estabelecendo como um dos líderes nessa revolução digital da agricultura, por sua vocação agrícola, por sua liderança no avanço de produtividade e por seus profissionais e pesquisadores que são referência do .M agronegócio. Guilherme Belardo, The Climate Corporation
AGRICULTURA DE PRECISÃO
Uma das formas de identificar a variabilidade do solo e determinar as classes de manejo é através da condutividade elétrica do solo que, junto com outras ferramentas de Agricultura de Precisão, ajuda a corrigir possíveis problemas de produtividade
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om a crescente demanda por alimento e a produção sustentável, é fundamental a adoção de práticas que viabilizem esses processos. Uma alternativa capaz de suprir boa parte dessas necessidades é a nova geração de práticas agrícolas chamada de Agricultura de Precisão (Dong; Vuran; Irmak, 2012). No sistema de agricultura de precisão, é necessário realizar uma análise da variabilidade espacial. Essa análise consiste em coleta de dados, gerenciamento da informação, aplicação de insumos a taxa variada e, por fim, avaliação socioeconômica dos resultados. Dessas etapas, talvez a mais importante seja a coleta dos dados, pois nesta fase é quantificada a variabilidade existente, identificada por meio do georreferenciamento e caracterizada em forma de mapas (Molin, 2002). Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Jhonatan Spliethff
Charles Echer
Ferramenta auxiliar
Segundo Rodrigues et al (2012), para se obter informações detalhadas das características de um solo, por exemplo, é necessária uma amostragem intensiva por meio de uma malha amostral e posterior análise laboratorial. Fato este de suma im-
Uma das etapas mais importantes na agricultura de precisão é a coleta de dados
portância na produção agrícola, pois estes índices podem ser utilizados como referência na adubação das culturas e no manejo de plantas daninhas (Merotto et al, 2012). Todavia, realizar amostragem intensiva na área tem custo elevado, o que inviabiliza este processo de coleta para o produtor rural. Nesse sentido, torna-se necessário adotar medidas, a fim de reduzir esses custos sem perder a qualidade das informações obtidas. Dentre as opções disponíveis para redução dos custos com coletas intensas, a definição das zonas de manejo tem se validado como metodologia eficaz, de confiança e principalmente de baixo custo, quando comparada ao método tradicional de coleta por grids. Zonas de manejo nada mais são que áreas com características semelhantes quanto à fertilidade química
Jhonatan Spliethff
Figura 1 - Foto aérea da área de estudo dividida de acordo com manejo
Equipamento Veris CE® acoplado a trator com sistema de posicionamento global em tempo real
ou biológica, ao relevo, ao manejo, entre outras. Dessa maneira, de uma forma simplista, as zonas de manejo poderiam ser definidas simplesmente com o histórico de manejo da área ou até mesmo com ferramentas avançadas como a condutividade elétrica. Independentemente do método, é importante conhecer as limitações de suas aplicações, por isso deve-se estudá-lo compará-lo. Conhecer o histórico de manejo da área é relativamente simples, uma boa conversa com o produtor ou responsável pela área é suficiente para tal. Além disso, ainda é possível utilizar imagens aéreas, disponíveis em plataformas on-line como o Google Earth, de maneira simples e gratuita. Por outro lado, a condutividade elétrica, por sua vez, requer equipamentos apropriados e calibrados para a região. Esse atributo coletado apresenta grande correlação com os atributos químicos e físicos do solo, como argila, água, nutrientes do solo, matéria orgânica, capacidade de troca de cátions (Machado et al, 2015). Com esta ferramenta, é possível elaborar zonas de manejo de acordo com as limitações do solo, pois têm grande correlação com as propriedades químicas e físicas do solo e também produtividade (FaAgosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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rooque et al, 2012; Molin e Faulin, 2013; Alcântara et al, 2012). Em pesquisa sobre condutividade elétrica do solo, Medeiros et al (2018) ressaltam que a CE é um parâmetro generalista, em função da correlação com vários atributos. Assim, a utilização dessa ferramenta para mapear a variabilidade espacial dos atributos do solo pode ser um bom parâmetro para definir zonas de manejo. Nesse sentido, o objetivo foi comparar classes de manejo definidas por meio qualitativo, simplesmente pelo histórico da área com imagem de satélite, e classes definidas por meio quantitativo pela condutividade elétrica do solo.
TESTE NO CAMPO
A área amostral está localizada na Fazenda Escola da Universidade Estadual do Centro Oeste – Unicentro, Paraná. A precipitação pluvial anual média entre 1.600mm e 2.000mm (Iapar, 2000). O solo avaliado é classificado como Latossolo Bruno (Embrapa, 2013). Foram testadas duas formas para definir zonas de manejo, a primeira, qualitativa, na qual foram considerados parâmetros como histórico da área e análise visual de imagem aérea do local de estu-
do obtida pelo Google Earth. A segunda metodologia, determinação das zonas de manejo por método quantitativo, sendo realizado pela avaliação da condutividade elétrica do solo com equipamento Veris CE, utilizando faixa de obtenção de dados de 5m de largura. A área de estudo apresenta 2,8 hectares. O processamento das imagens foi realizado no software livre QGIS versão 2.14.15. Para gerar as classes no método qualitativo, fez-se perímetro das zonas de manejo, colorindo estas e determinando suas respectivas áreas. No método quantitativo, os dados obtidos pela avaliação da CE foram interpolados com complemento do software QGIS que faz interpolação baseado nos vértices de camada vetorial (pontos) por método do peso pelo inverso da distância. Em seguida, o arquivo raster (imagem) gerado pela interpolação foi filtrado, unificados 8 pixels. Também no software QGIS, fez-se análise estatística básica para camada vetorial, gerada pela avaliação da condutividade elétrica, a fim de identificar o coeficiente de variação dos pontos coletados. Na análise visual da área de estudo, foi possível identificar três subáreas dentro do talhão (Figura
1). A subárea 1 é caracterizada pelo intenso tráfego de máquinas em função da retirada de produto florestal, ocupando 16% do total da área de estudo. A subárea 2, caracterizada como ambiente agrícola, utilizada para experimentação, contemplando 76% da área. A subárea 3, caracterizada pela descompactação do solo, ocupando 9% da área total. Na Figura 2, foi possível observar a variabilidade do solo obtida por meio da condutividade elétrica. Ao todo, foram avaliados 1.163 pontos, sendo a média da geral da área de CE de 3,94ms/m-1, com coeficiente de variação de 41%. No mapa temático foi possível verificar a variabilidade obtida pela condutividade elétrica, evidenciando as áreas com possíveis problemas de manejo, identificados pelos valores inferiores de condutividade. Na Figura 3, o mapa de CE foi separado em três classes de interpretação, visando facilitar a tomada de decisão e manejo sobre a área. Foram definidas três classes de manejo: baixa (CE menor que 3ms/m), média (CE entre 3ms/m e 5ms/m) e alta (CE acima de 5ms/m). A classe com baixa condutividade elétrica representa 28% da área de estudo, a classe média 48% e a alta, 24%.
Figura 2 - Condutividade elétrica da área de estudo
Figura 3 - Definição de classes de manejo e percentual ocupado da área
Ao comparar a divisão das áreas de acordo com o manejo (Figura 1), é possível verificar que a separação qualitativa por aspectos visuais tende-se a considerar menor área com problemas de manejo. Entretanto, quando se utiliza parâmetro quantitativo (Figura 3), verifica-se que as áreas apresentam problemas imperceptíveis aos olhos humanos. Nesse sentido, ressalta-se a importância de avaliar as áreas de produção por meio de ferramentas que possam expressar a real variabilidade presente nestas, como a condutividade elétrica. A utilização de ferramentas como a agricultura de precisão
permite conhecer a variabilidade do solo, facilitando o diagnóstico e o manejo da área. A condutividade elétrica é parâmetro oportuno para definir zonas de manejo e consequentemente reduzir os custos de amostragem e posterior manejo da área. No presente trabalho, ficou clara a importância de utilizar métodos quantitativos, como a condutividade elétrica, para definir as .M classes de manejo.
Jhonatan Spliethoff, Leandro Rampim e Cristiano André Pott, Unicentro Paulo Alba, Fapa, Guarapuava
TRATORES John Deere
Tração e consumo A seleção da marcha interfere no desempenho operacional de um trator agrícola. Por isso, é importante sempre utilizar a marcha correta para cada velocidade e operação, a fim de garantir menos consumo de combustível
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tração. Um trabalho desenvolvido pelo Laboratório de Mecanização Agrícola (LMA) do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (UFV) avaliou o efeito da seleção da marcha de trabalho nos parâmetros de desempenho de um trator agrícola 4x2 com tração dianteira auxiliar (TDA). O experimento foi conduzido no Laboratório de Mecanização Agrícola (LMA) do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (UFV), localizada no município de Viçosa, Minas Gerais. Foram analisadas as características da vibração incidente na base do posto de operação do trator John Deere, modelo 5705, 4x2 com tração dianteira auxiliar (TDA) e potência de 62,56kW (85cv) no motor a 2.250rpm. O trator estava equipado com pneus radiais 12.4 – 24 no eixo dianteiro e 18.4 – 30 no eixo traseiro, ambos da linha Optitrac da Goodyear. Os tratamentos constituíram-se da combinação entre três marchas (3ª A, 1ª B e 2ª B) e três forças de tração (8,83; 11,36 e 15,50 kN), sendo utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. As velocidades teóricas obtidas com cada uma das marchas, no regime de rotação de 2.250rpm no
motor, foram: 3ª A – 1,07, 1ª B – 1,27 e 2ª B – 1,77 m/s.
AVALIAÇÃO
Fotos Marconi Ribeiro Furtado Júnior
A
utilização de tratores na execução de tarefas agrícolas proporcionou uma série de vantagens para a atividade. Entretanto, alguns pontos desfavoráveis podem ser citados como, por exemplo, o custo elevado dos combustíveis, a poluição ambiental e a dependência de fontes não renováveis de energia. O custo com combustíveis pode, em alguns casos, ultrapassar 50% do custo operacional da máquina, sendo então um dreno econômico relevante na exploração agrícola. O consumo horário de combustível de uma máquina agrícola é dependente de uma série de fatores, como a potência, o tipo de solo, a operação desempenhada, as condições atmosféricas e a altitude. A correta seleção da marcha de trabalho pode constituir-se de um meio simples de reduzir o consumo de combustível de tratores agrícolas, uma vez que essa ação pode influenciar no torque exigido pelo motor. A principal perda de eficiência energética em máquinas de tração constitui-se do deslizamento relativo entre o dispositivo de tração e a superfície trafegada, termo conhecido mais comumente como patinagem. A manutenção da patinagem em níveis adequados proporciona uma operação mais eficiente, econômica e garante maior vida útil dos dispositivos de
O trabalho foi executado em pista de concreto, com 40m de comprimento. A força de tração foi variada através da alteração das marchas de um trator lastro (marca Valtra Valmet, modelo 800), atrelada ao trator testado por meio de um cabo de aço. A força de tração foi monitorada por meio de uma célula de carga da marca Alfa Instrumentos, com capacidade para 50kN. A velocidade real de deslocamento foi monitorada por um radar de efeito Doppler da marca Dickey John, modelo
Radar utilizado para a determinação da velocidade
Figura 1 - Superfícies de resposta e equações ajustadas para descrever o comportamento do consumo horário de combustível (A) e da potência na barra de tração (B) em função da velocidade operacional (V, em m/s) e da força de tração (FT, em kN). **: Significativo ao nível de 1% de probabilidade pelo teste t
A Radar II, fixado ao chassi do trator. O consumo de combustível foi mensurado com um fluxômetro da marca oval, modelo LSF II. A rotação dos eixos motrizes do trator foi monitorada por meio de transdutores indutivos associados a um sistema referencial. A patinagem das rodas motrizes do trator foi obtida através do cálculo da diferença percentual entre a velocidade teórica e a efetiva. A instrumentação utilizada no experimento foi conectada a um sistema de aquisição de dados da marca Hottinger Baldwin Messtechnik (HBM), modelo Spider 8, sendo utilizada uma taxa de aquisição de 50 dados por segundo (50Hz). Os dados obtidos foram estudados por meio de regressão linear múltipla e os modelos selecionados com base do coeficiente de determinação (r2) e na significância dos coeficientes da regressão, utilizando-se o teste t. Posteriormente, os dados foram convertidos
B para o domínio da frequência, onde se analisou a característica espectral das vibrações na base do posto de operação obtida no experimento. Os fatores força de tração e marcha selecionada (velocidade) apresentaram efeito linear e positivo no consumo horário de combustível do motor do trator agrícola ensaiado, de acordo com a superfície de resposta e equação ajustada apresentadas na Figura 1A. A Figura 1B apresenta a superfície de resposta e o modelo ajustado para descrever a demanda de potência na barra de tração em função da força e da velocidade de operação do trator. A demanda de potência do trator é o produto entre a força de tração e a velocidade de trabalho, o que explica o aumento do consumo horário de combustível quando se aumentam a força e a velocidade de operação, resultados que condizem com os encontrados por Furlani et al (2010).
A patinagem apresentada pelos rodados motrizes do trator sofreu influência linear e positiva da força de tração. O aumento da velocidade proporcionou acréscimo no percentual de patinagem, porém de forma menos pronunciada que a força de tração. O percentual de patinagem é um parâmetro fortemente influenciado pela força de tração realizada pela máquina (Ismail et al, 1981; Motizi et al, 2013; Lee, 2015). A redução de 1m/s na velocidade (marcha com mais torque) proporciona uma redução de 0,4053% no percentual de patinagem das rodas motrizes, aumentando a eficiência de tração e otimizando o consumo de combustível.
CONCLUSÕES
As marchas de menor torque (maior velocidade) proporcionaram maior consumo horário de combustível em todas as forças de tração estudadas. O incremento da velocidade e da força de tração proporcionou aumento da potência na barra de tração. A utilização de marchas com maior torque (mais reduzidas) proporcionou redução dos percentuais em todas as forças estu.M dadas. Marconi Ribeiro Furtado Júnior, Paulo Roberto Forastiere, Haroldo Carlos Fernandes, Anderson Candido da Silva e Daniel Mariano Leite, Universidade Federal de Viçosa
Figura 2 - Superfície de resposta e equação ajustada para descrever o comportamento da patinagem em função da velocidade (V, em m/s) e da força de tração (FT, em kN). **: significativo e ns: não significativo, ao nível de 1% pelo teste t
C
Célula de carga utilizada para a determinação da força de tração
D
Fluxômetro utilizado para a medição do consumo de combustível
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CAPA
LS H 125
A Série H, formada pelos modelos H 125 e H 145 da LS Tractor, traz os maiores tratores da marca que além de maior potência, apresentam design arrojado e tecnologia avançada
A
LS Tractor do Brasil lançou recentemente na Agrishow, em Ribeirão Preto, a nova série H com os tratores de maior porte da marca. Entre o lançamento e a entrada em linha de produção, prevista para setembro, a empresa concluiu vários testes de campo e de validação, colocando à disposição de agricultores selecionados pela empresa, entre clientes de seus concessionários, um lote de seis unidades para testes de campo e demonstração do produto. Esta linha, que não é comercializada na Coreia do Sul, foi desenvolvida especificamente para o mercado brasileiro e outros países que a LS brasileira fornece equipamentos, por seu acordo com a matriz, como países da América do Sul, Central, Caribe, México, Filipinas e Africa. Inclusive, técnicos de países africanos como Nigéria e Angola já estão visitando o Brasil para ver estes modelos em funcionamento. A Série H será inicialmente formada por dois modelos, o H 125, de 128cv, e o H 145, de 145cv, utilizando o mesmo motor, com diferentes configurações do sistema de injeção.
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Este trator é montado integralmente na unidade da LS do Brasil a partir de um módulo proveniente da Coreia, composto pela transmissão de potência, incluindo-se nesta a caixa de câmbio, o eixo traseiro e os componentes do sistema hidráulico, com exceção dos braços de levante, que são adicionados aqui. O motor nacional é recebido pela fábrica em Garuva (SC) e montado neste conjunto coreano, assim como todos os demais componentes. Nota-se de imediato que o fabricante, nesta nova série, apresentou um novo visual, bastante moderno e arrojado, tanto na parte frontal como na traseira, com amplos faróis e iluminação de trabalho e espelhos laterais. Realmente, em uma vista distante, o modelo parece bem maior do que os demais tratores do mercado. Esta impressão também é facilitada pela presença de uma elevada tomada de ar para o motor, sobre a cabine, no lado esquerdo e uma saída do escapamento de gases também alta no lado direito. Este posicionamento, de um lado facilita
em muito a entrada de ar limpo para a admissão, com menos concentração de pó em suspensão, e de outro a saída de gases em posição superior a todas as entradas da cabine, respectivamente, resguardando a qualidade do ar interno da cabine. Como a cor padrão da marca é azul, o fabricante escolheu a cor preta para os demais componentes como pesos e suportes, espelhos, tubo de escape, tomada de ar e parte traseira, mantendo-se os rodados na cor branca. O capô é escamoteável, como é normal nesta gama de potência, facilitando o acesso aos componentes do motor,
Fotos Charles Echer
que necessitem acesso para a manutenção periódica e corretiva.
TESTE
Depois de conhecer as particularidades do novo modelo, novidade para nós até então, passamos a reconhecer as características que o diferenciavam dos modelos da LS já testados pela equipe da Cultivar Máquinas em edições anteriores. No trabalho com os implementos, tivemos o auxílio do técnico em agropecuária, Francisco Antônio Alves de Lima, que auxilia no trabalho mecanizado na propriedade onde
A Série H possui motorizações de 128cv e 145cv
realizamos o teste. Também tratamos de reconhecer a forma de utilização deste trator pelo produtor rural onde os testes estavam sendo realizados. Primeiramente, verificamos que uma das operações da época era a distribuição de esterco líquido, feita com um equipamento fabricado pela Ipacol, com capacidade de seis mil litros. Após testarmos com o distribuidor, recorremos ao equipamento mais pesado existente na pro-
O sistema hidráulico possui dois pistões reforçados
priedade e em utilização na época, que era uma grade intermediária, utilizada para incorporar as sementes de aveia e azevém todo o ano e para incorporar o esterco líquido após a aplicação com o distribuidor. A grade que utilizamos era da marca Tatu Marchesan de 42 discos de 26 polegadas.
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grupo da Catterpillar e tem unidade de produção no Brasil. O depósito de combustível diesel está colocado na parte inferior da cabine, com o bocal de abastecimento no lado esquerdo e capacidade de 300 litros, o que favorece a autonomia para um motor com esta capacidade volumétrica e consumo de combustível.
TRANSMISSÃO
A Série H pode vir equipada com sistemas avançados de telemetria e o sistema de monitoramento do motor
Com os dois equipamentos fizemos algumas parcelas, em terreno levemente ondulado e sobre uma superfície de resíduos de culturas de verão, com pisoteio do gado. Tanto em um como em outro equipamento o trator mostrou-se muito eficiente. Reconhecemos como as maiores qualidades deste trator a facilidade de manobras, a qualidade da cabine e sua vedação, assim como a facilidade em acessar os comandos, principalmente o dispositivo de reversão. Neste reversor, a velocidade de reação e a suavidade no controle foram os destaques. A transmissão Power Shuttle realmente deverá ser um dos grandes atrativos deste trator, além, é claro, do apelo positivo que é a utilização de um motor consagrado como o que é opção do fabricante. A expectativa de manutenção fácil e simples, mesmo nesta versão com injeção eletrônica, será um benefício a mais para o consumidor.
MOTOR
Há uma novidade na motorização destes dois modelos. O motor será da marca Perkins, modelo 1104D-E44TA, de quatro cilindros, 4.400cm3, 16 válvulas, com turbo intercooler. O fabricante informa que a potência máxima do modelo H 125 é de 128cv a 2.200rpm Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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e a reserva de torque é de 37%, o que se pode calcular que o torque máximo a 1.400rpm é de 560Nm. A novidade fica por conta da marca e do modelo do motor, que é de fabricação nacional e atende às normativas de emissões de poluentes do Proconve MAR-1. A marca Perkins é mundial e os motores são e foram utilizados por muitas marcas de tratores por anos seguidos. Pertence ao
A embreagem deste modelo é do tipo seco, com disco de diâmetro de 348mm, revestido com pastilhas cerometálicas, com acionamento mecânico por pedal. O modelo H 125 é disponibilizado aos clientes com dois tipos de transmissão, uma sincronizada, padrão, denominada Synchro Shuttle de 12 velocidades para frente e à ré, com possibilidade de incrementá-la, com adição de uma super-redução, Creeper, passando a 20 marchas para frente e à ré. A alternativa de transmissão, oferecida como opcional é a Power Shuttle, com inversor de acionamento hidráulico com 24 marchas à frente e 24 à ré, que igualmente poderá ser acrescida do super-redutor, para 40 velocidades à frente e 40 à ré. O
Fotos Charles Echer
A Série H é a maior série de tratores da LS, possui entradas pelos dois lados da cabine e teto solar que aumenta a luminosidade no posto do operador
fabricante estima que pela qualidade da versão Power Shuttle esta será demandada pela maioria dos clientes. Neste modelo de trator, a LS oferece - e deverá ser muito utilizado - o sistema Cruise Control, que possibilita que o operador do trator selecione uma velocidade-alvo através de um interruptor e a rotação do motor será mantida, sem que seja necessário fazer ajuste durante o trabalho. Nas manobras, a velocidade poderá ser reduzida e ao voltar ao trabalho, um simples toque
no interruptor fará o trator recuperar a velocidade previamente estabelecida. É um sistema interessante para trabalhos em que seja importante manter a constância no deslocamento. A transmissão do movimento à Tomada de Potência (TDP) tem acionamento independente por meio de um dispositivo eletro-hidráulico, mediante um interruptor no console. As velocidades angulares de 540rpm, 750rpm e 1.000rpm estão à disposição do usuário, sendo que às duas consideradas padrão (540rpm e 1.000rpm) se adiciona a de 750rpm, que normalmente se recomenda utilizar como uma TDP econômica,
O acesso para manutenções no motor e em sistemas de arrefecimento é facilitado pelo basculamento completo do capô
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Fotos Charles Echer
A cabine ampla e envidraçada possui os principais comandos distribuídos ergonomicamente na lateral direita do operador
pois se a de 540rpm funciona com motor em 2.052rpm e a de 1.000rpm a 2.130rpm, esta de 750rpm funciona com o motor levemente desacelerado em relação à rotação de potência máxima, 2.092rpm. O eixo da TDP é protegido por um escudo que dificulta o contato com o usuário, para evitar acidentes. Na parte superior, próximo às válvulas VCRs há uma tomada elétrica de seis pinos para uso com reboques e outros equipamentos que necessitem de iluminação e sinalização. O eixo traseiro é bastante reforçado e usa uma redução final, colocada nos
semieixos traseiros, com engrenagens epicicloidais, com um mecanismo de acionamento do bloqueio do diferencial também eletro-hidráulico. Estes mecanismos que utilizam estes dispositivos possibilitam que o acionamento deixe de ser feito por alavanca e sejam por interruptores, trazendo conforto ao operador. Assim como em outros modelos da LS, este utiliza um sistema de reversão do movimento para a inversão do sentido do movimento, para frente ou para trás. Como destaque tecnológico, neste sistema é possível configurar a reação do trator no engate da reversão. O ope-
O sistema Cruise Control possui pré-ajustes de controle de rotação do motor e pode ser acionado com um simples toque
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rador dispõe no painel de instrumentos um pequeno interruptor de forma que o operador pode variar o tempo de reação da reversão. Isto é útil, pois em diferentes operações, que exigem esforço ou velocidade de reação, é útil fazer este ajuste. Nas manobras mais rápidas e nas mais lentas o operador fará esta regulagem, de forma a otimizar o seu trabalho e aumentar a eficiência.
SISTEMAS COMPLEMENTARES
O sistema de direção na tração dianteira auxiliar (TDA) é do tipo hidrostático com auxílio de um eixo motriz, marca Carraro, com acionamento central, que pode ser acionado por meio de um interruptor, pois possui um sistema eletro-hidráulico. O sistema de freios traseiros utiliza discos umedecidos com óleo e o acionamento utiliza pistão hidráulico, o que diminui bastante o esforço de frenagem e aumenta a eficiência. O freio de estacionamento é acionado por meio de uma alavanca posicionada no
Alavanca do reversor hidráulico posicionada ao lado da direção possibilita a inversão de sentido sem tirar as mãos do volante
A
Painel com visual limpo, moderno e simples
piso à esquerda do assento do operador. Os pneus que equipavam o trator de teste eram da especificação 18.4-26 na parte dianteira e 24.5-32 no eixo traseiro. No entanto, há mais opções que mantêm o bom desempenho do trator, com os pares possíveis de montar, entre as versões de pneus R1 e R2, assim como também para quando se estiver utilizando pneus duplados. A distância entre eixos é de 2.650mm e o comprimento total é de 5.271mm. As alturas dependem da versão de pneus que o cliente escolher e as larguras dependem das bitolas escolhidas.
SISTEMA HIDRÁULICO
O sistema hidráulico de três pontos da categoria II utiliza uma bomba central de engrenagens com vazão de 112 litros por minuto e pressão máxima de 170bar. O sistema de funcionamento é o tradicional, com duas alavancas - uma de posição e outra de ajuste da profundidade -, que depois de reguladas, de acordo com o trabalho, poderá ser utilizado o comando de abaixamento e levantamento colocado no console central, com a configuração adequada e escolhida pelo operador. A capacidade máxima de levante dos braços inferiores do sistema hidráulico de três pontos é de 4.700kgf na rótula na versão standard e 5.500kgf como opcional. Notamos que o sistema de levantamento dos braços inferiores se dá por meio de dois enormes pistões laterais, com sistema
Tratores LS
LS tem fábrica no Brasil, na cidade de Garuva, Santa Catarina, desde 2013. São comercializadas atualmente seis séries: Série MT, Série G, Série R, Série U e Série Plus e Série H. A Série MT1, atualmente, é composta apenas pelo modelo MT1 25, que é um pequeno trator, voltado para jardinagem e pequenas operações agrícolas. Embora seja considerado um trator de jardim, possui em menor escala todos os dispositivos que se utilizam na agricultura, como arco de segurança, Tomada de Potência (TDP), controle remoto com duas válvulas e sistema de levante hidráulico de três pontos. Espera-se que este modelo tenha muita penetração como um dos menores tratores do mercado e atinja a expectativa que tem gerado nas feiras agrícolas onde tem sido mostrado. A Série G possui apenas o modelo G40, de 40cv, motor três cilindros e injeção direta. Apresenta uma transmissão de 12 marchas à frente e 12 à ré, com reversor de sentido. A Série R apresenta dois modelos, o R50, de 50cv, o R60, de 60cv, e o R65 de 65cv. Os motores são de quatro cilindros, tecnologia Tier
de estabilização. Nesta versão, o acionamento do sistema hidráulico poderá ser feito diretamente nos para-lamas traseiros, evitando a proximidade do operador com os braços do hidráulico, como forma de prevenir acidentes. Além do sistema hidráulico de três pontos, como é comum nos tratores atuais, este modelo dispõe de um sistema de válvulas de controle remoto independente, com três válvulas na versão standard e quatro como opcional e com previsão de válvulas para uso em semeadoras com fluxo de óleo para dispositivos de vácuo e pressão. A vazão máxima dos sistemas na versão standard é de 80 litros por minuto e 110 litros por minuto como opcional. A lastragem por adição de peso da parte dianteira estava configurada com 16 placas de 40kg, sendo possível chegar até 22 placas de 4kg, mais um suporte fixo de 110kg. Na parte traseira, a lastragem era metálica, com três discos de 55kg em cada lado. Este
III de controle de emissões. É possível adquiri-lo com super-redutor, podendo chegar a 32 marchas à frente e 16 marchas à ré, com reversor mecânico nas versões plataformada e cabinada. O modelo U60 é o representante da série U. Tem motor com 65cv de potência máxima e uma transmissão de 16 marchas frente e ré, com reversor de movimento, também podendo vir equipado com super-redutor. Mais recentemente, a série U passou a contar também com o modelo U80 plataformado e cabinado. A série Plus, que antes do lançamento da Série H era a gama de maior potência do fabricante, tem três modelos disponíveis com 80cv, 90cv e 100cv, respectivamente. Sendo os dois maiores com sistema de turbocompressor e o menor aspirado naturalmente. A transmissão é a tradicional, com reversor sendo comercializado nas versões plataformada ou cabinada. A nova série de H, que testamos para este número da revista Cultivar Máquinas, tem dois modelos com potência de 128cv a 145cv, com transmissão 16Fx16R. Estes modelos foram apresentados na Expointer 2017 e lançados oficialmente na Agrishow 2018 e serão disponibilizados para entrega na safra de verão 2018.
trator de teste estava com 7.180kg, o que representava 56kg/cv e, segundo a equipe da LS que nos acompanhou, é possível manter distribuição ótima de peso, com a combinação que é ofertada, com os discos para as rodas traseiras e para as placas no suporte dianteiro. A referência é 60% do peso sobre o eixo traseiro e 40% sobre o eixo dianteiro em condições estáticas.
CABINE
Um dos pontos altos do nosso teste foi a excelente impressão que tivemos da amplitude da cabine, com grande área envidraçada e portas grandes e com boa abertura, nos dois lados, com fechadura externa e interna e pega-mãos para a subida e a descida do operador. A cabine é construída como uma peça única, sendo instalada sobre o trator sobre quatro pontos fixos dotados de amortecimento. No posto de operação está à disposição um painel digital, sobre a coluna de Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Fotos Charles Echer
Os modelos da Série H podem vir equipados com as tecnologias de última geração
O acesso à cabine, pelos dois lados, possui degraus e pegadores
direção, com tacômetro, termômetro, medidor de combustível, horímetro, voltímetro e velocímetro. Na parte de baixo do painel há vários interruptores de controle de operação. Diretamente na coluna da direção está o destaque deste modelo, que é o reversor hidráulico, na forma de uma simples alavanca, acionável apenas por um dedo da mão esquerda, sem a necessidade de tirar o contato com o volante. Na parte superior da cabine, o fabricante projetou uma escotilha, com teto solar e uma cortina de fechamento e
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proteção contra o sol. Como era de se esperar há um condicionador de ar, com ótima potência, que durante o teste, com a temperatura média que fazia, regulamos para a metade da capacidade, pois se exagerássemos, esfriaria demasiadamente o ambiente. Junto às saídas do condicionador de ar foi colocado um equipamento de sonorização, que verificamos ser muito utilizado pelo operador da máquina. No para-brisas dianteiro foi instalado um para-sol, que pode ser abaixado ou levantado de acordo com a posição de incidência do sol. Na parte traseira da cabine foi colocada uma janela. O assento do operador na versão standard é com amortecimento mecânico e, como opcional, de acordo com a escolha do cliente, pode ser pneumático. O assento do acompanhante é escamoteável, podendo ser rebatido quando não estiver sendo utilizado e
dispõe de um cinto de segurança, como mandam as normas de segurança. No lado esquerdo do operador há um conjunto de comandos formado pelas alavancas de troca do regime, baixo, médio e alto, freio de mão e acionamento da TDP. Em um plano mais elevado, o projeto contemplou um conjunto de nichos para guardar pertences do operador. No lado direito do assento, em posição inferior, está colocada a alavanca de troca de marchas (velocidades) e o controle do sistema hidráulico de três pontos, nivelamento e posição. No console posicionado à direita do operador estão distribuídas as alavancas de controle do sistema hidráulico VCR, a alavanca de controle do acelerador e a tradicional alavanca da marca LS de programação de levantamento e abaixamento do equipamento engatado no sistema hidráulico de três pontos. Também no console estão colocados todos os interruptores de iluminação e demais. O acesso à plataforma da cabine é feito por meio de duas escadas de três degraus, uma em cada lado do trator. A dimensão dos degraus é bastante adequada e todos têm proteção lateral e superfície antiderrapante.
TECNOLOGIA
De acordo com a vontade do
Quando houver qualquer problema de funcionamento que possa provocar danos ao motor, o sistema emite um alerta sonoro e luminoso que mostra a falha e, se esta for grave, nos casos de diminuição brusca da pressão de óleo ou superaquecimento do motor, faz o desligamento automático do motor. Estes dois sistemas estão sendo muito utilizados em diversos veículos
e particularmente nos tratores LS e estão apresentando ótimo desempenho funcional, a ponto de que atualmente a maioria dos clientes de tratores de maior porte da linha tem adquirido estes equipamentos no momento da .M compra. José Fernando Schlosser, Nema - UFSM
Local do teste e concessionária parceira
Novo sistema de iluminação mais moderno e eficiente
cliente, estes dois modelos da série H podem vir equipados com as tecnologias de última geração, que são piloto automático hidráulico, o sistema de telemetria e o sistema de monitoramento do motor. Vale a pena explicar para os leitores que ainda não conhecem estes dois sistemas adotados pela LS nos seus modelos. A telemetria adotada pela LS é um sistema denominado LS Tech Unit Control, de origem argentina, fabricado pela empresa Colven com quem a LS fez parceria para fornecimento aos seus clientes. O sistema, que está em contínuo desenvolvimento, proporciona o acesso a muitas informações de modo instantâneo sobre o posicionamento do veículo em operação, além de registrar e informar sobre a velocidade instantânea, horas de trator ligado, horas produtivas e possíveis problemas no motor e rotação em rpm da TDP. Durante e após o trabalho, o cliente poderá acessar a plataforma Gestya InfoWeb, de um computador pessoal ou celular e programar alertas ao operador da máquina. O sistema de monitoramento do motor, que se chama LS Tech Engine Protection, serve para a proteção eletrônica, pois faz o registro e informa ao operador a temperatura do motor, a pressão de óleo e a tensão da bateria.
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urante o teste, tivemos o apoio do pessoal da Concessionária LS Tractor, em Mafra (SC), a Yamagril, que nos acompanhou, juntamente com a equipe da LS Tractor. Estar no local de teste, para a equipe da Cultivar Máquinas, foi realmente um prazer. A Fazenda Agropecuária Dalmolin, na localidade de Avencal do Meio, na cidade de Mafra, é um ambiente muito bonito e aprazível. Um dos proprietários, o senhor Fernando Dalmolin, nos recebeu e nos concedeu seu dia de trabalho para acompanhar o teste e explicar todas as operações agrícolas utilizadas na propriedade da família. Na área de aproximadamente 190 hectares ou 80 alqueires paulistas, como usualmente se expressa a dimensão de área agrícola na região, a família produz soja, milho, leite e gado de corte. Mesmo com a intensidade de trabalho, principalmente em épocas de plantio, dois irmãos fazem todo o trabalho, com auxílio de apenas um funcionário. A história da família Dalmolin é muito interessante, e ouvir de quem cresceu na área e desde jovem trabalhou a terra em família
foi um prazer para a equipe que participou do teste. O pai do senhor Fernando, já falecido, migrou da região da Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul para Mafra e Rio Negro, em 1980, encontrando no local algumas condições muito difíceis, que foram vencidas em família. O senhor Fernando sempre esteve acompanhando o dia a dia da propriedade, e com o falecimento dos pais assumiu a liderança do negócio, deixando de lado o curso de Medicina Veterinária que cursava, já na fase final. Hoje mora na área com sua família e já tem nos filhos a companhia em vários momentos da atividade. Para as culturas de verão é utilizado o sistema de plantio direto. Nas áreas em que o gado fica boa parte do ano pastando sobre culturas de inverno, o produtor utiliza a operação de escarificação a cada dois ou três anos, seguida de uma gradagem para regularização da superfície. Nas áreas com pisoteio de gado, em que não se faz a escarificação, o produtor faz incorporação das sementes de culturas de inverno com uma gradagem superficial.
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COLHEDORAS Massey Ferguson
Colhendo satisfeito
Dados de pesquisa entre proprietários de colhedoras de arroz mostram que o índice de satisfação em relação às suas máquinas também está ligado à qualidade do serviço de pós-vendas prestado pelas concessionárias
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onsiderado um dos grãos mais importantes, tanto em valor econômico quanto em importância social, o arroz (Oriza sativa, L.) está presente na mesa de mais de 1/3 da população mundial. Cultivado em todos os continentes, os maiores índices de produção são encontrados no continente asiático, seguido dos países da América Latina, onde o Brasil Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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é responsável pela produção de aproximadamente 42% do total. No Rio Grande do Sul (RS), o grão é produzido no sistema irrigado, com irrigação controlada. O estado conta com aproximadamente 140 municípios produtores, onde a Fronteira Oeste caracteriza-se como maior região produtora. Estima-se que a cada 30 hectares de arroz produzido, um novo emprego
é gerado, logo, em municípios com grande produção, o mercado orizícola é o carro-chefe para a economia local. A colheita, última etapa da produção do grão, deve ser realizada com muito cuidado, considerando todos os fatores que possam influenciar nas perdas, desde a plataforma da colhedora até seus mecanismos internos. Tais perdas devem ser evitadas ao máximo. Na grande maioria das propriedades, as colhedoras são operadas por funcionários com pouco ou nenhum conhecimento técnico acerca da cultura ou de suas máquinas. Estas perdas influem diretamente na satisfação dos proprietários com suas colhedoras, uma vez que na maioria dos casos os produtores não possuem conhecimento sobre todos os processos da produção simultaneamente, ficando a cargo dos operadores a responsabilidade de contornar algumas adversidades que surgem durante o processo. Com base nessas informações, uma
equipe de pesquisadores da Unipampa realizou uma pesquisa de satisfação dos proprietários de colhedoras de arroz na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, através do uso de questionários aplicados aos produtores. O objetivo final da pesquisa foi reunir informações referentes tanto à parte técnica da máquina, quanto ao setor de serviços prestados pelas empresas aos produtores.
SÍNTESE DA METODOLOGIA
A pesquisa abrangeu municípios da região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, sendo eles Itaqui, Uruguaiana, Alegrete, São Borja e Maçambará. O trabalho contou com uma amostra de 72 colhedoras, as quais foram observadas individual e agrupadamente. A coleta dos dados se deu a partir da concepção e aplicação de questionários voltados para proprietários de colhedoras de arroz da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, compostos por questões abertas, fechadas e de múltipla escolha, sendo divididas em satisfação com elementos constituintes da colhedora e satisfação com a assistência técnica. Foram realizadas perguntas a respeito do desempenho da colhedora, do consumo de combustível, da facilidade de realizar reparos a campo, do conforto e de ruídos. Referente à assistência técnica, foram utilizadas questões citadas por Grimaldi e Mancuso (2004), como valorização do cliente, qualidade e rapidez no atendimento, cortesia, disponibilidade de atendimento em horários especiais e eficiência no atendimento.
Figura 1 - Estado de uso no momento da compra (a) e ano de fabricação (b) das colhedoras amostradas
Figura 2 - Grau de satisfação dos proprietários de colhedoras em relação ao desempenho (a) e ao consumo de combustível (b)
Figura 3 - Grau de satisfação dos proprietários de colhedoras em relação à manutenção (a) e à facilidade de realizar reparos rápidos (b)
Figura 4 - Grau de satisfação em relação: a) ao conforto; b) ao nível de ruído emitido pela colhedora
PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS
Com base nos dados obtidos, constatou-se que as características das lavouras variam consideravelmente entre os municípios. Tendo como base os municípios com maior participação na pesquisa, as lavouras do município de Itaqui têm em média 898 hectares, contando com cinco colhedoras de arroz por propriedade, enquanto as lavouras de Alegrete possuem proprie-
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John Deere
realizar reparos rápidos - ocorrem em casos em que as colhedoras são antigas ou que saíram da linha de produção, dificultando ao proprietário encontrar peças e mecânicos especializados nestas.
CONFORTO E NÍVEL DE RUÍDO
O desempenho das colhedoras pode estar diretamente relacionado ao dimensionamento da frota do produtor
dades médias de 194 hectares e apenas duas colhedoras por unidade produtiva. Quanto ao estado de uso no momento da compra das colhedoras, 75% do total foram compradas novas, em anos que variaram de 1986 a 2017, enquanto o restante, 25%, foi adquirido usado, com ano de fabricação até 2004 (Figura 1a). Ainda em relação ao ano de fabricação, 29% das colhedoras (21 exemplares) foram produzidas a partir do ano de 2010 (Figura 1b), o que pode classificá-las como colhedoras mais novas e com melhores tecnologias embarcadas.
DESEMPENHO E CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
O desempenho das colhedoras pode estar diretamente relacionado ao dimensionamento da frota do produtor. Ou seja, se o mesmo possui máquinas em quantidade inferior à sua necessidade, este será um produtor insatisfeito, uma vez que terá que colher de maneira mais acelerada, o que poderá elevar suas perdas. Assim, 8% dos produtores que se mostram insatisfeitos fazem parte do grupo com poucas colhedoras em relação à área plantada (Figura 2a), além de serem máquinas muito antigas ou de produtores que dependem de serviços terceirizados. O restante, 92% mostrou-se satisfeito, em virtude de possuir colhedoras adequadas, colhendo em velocidades padrão e concluindo a colheita dentro Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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do tempo estipulado para o período. Em relação aos parâmetros analisados, o consumo de combustível é o item com maior número de proprietários insatisfeitos – 44% do total (Figura 2b). Estes alegam como razões para a insatisfação os elevados preços do combustível e a baixa autonomia das colhedoras. Entre os fatores que podem influenciar no consumo de combustível na colheita mecanizada estão a umidade do solo, em que muitos produtores optam por iniciar a colheita no período do dia no qual a umidade se encontra mais baixa, os circuitos de manobras das colhedoras dentro dos talhões, a velocidade de colheita, o tamanho da plataforma e o número de paradas e posteriores arranques.
MANUTENÇÃO E FACILIDADE DE REPAROS
Em relação ao grau de satisfação quanto às manutenções e à facilidade de reparos das colhedoras, o percentual de produtores que se declararam satisfeitos (47%) foi igual em ambos os fatores analisados (Figura 3). Como explicação para este valor está a característica dos produtores em manter sua frota de colhedoras em marcas padronizadas, assim, peças e serviços podem ser utilizados em mais de uma máquina, facilitando os processos de manutenção e realização de reparos rápidos. Os pontos de insatisfação – 38% no quesito manutenção e 35% em facilidade para
Entre os entrevistados, 83% expressam satisfação em relação ao conforto da sua colhedora (Figura 4a). Vale ressaltar que apenas 15% das colhedoras são operadas por familiares ou proprietários, logo, este valor de satisfação pode não traduzir a realidade, uma vez que os mesmos não mantêm contato direto com a colhedora. Considerando o nível de ruído emitido pela máquina (Figura 4b), 33% mostraram insatisfação em virtude de 42% das colhedoras amostradas não possuir ou ter a cabine adaptada. Segundo Da Silva et al (2004), as colhedoras emitem ruído superior ao limite máximo estabelecido pela norma (NR 15), indiferente de possuir ou não cabine.
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
A assistência técnica é responsável pela manutenção dos clientes junto à concessionária. Após o alto investimento no momento da aquisição, os proprietários desejam que, sempre que necessário, a presença dos mesmos seja imediata. Outro setor importante é o de peças. Durante a colheita, paradas para reparos e manutenções são cruciais, então, se o cliente necessita de alguma peça e esta não estiver disponível para compra, o ele muitas vezes não pode aguardar a chegada da peça original, buscando, assim, genéricas e em compras futuras. Todos os dados referentes à satisfação dos proprietários em relação à assistência técnica são apresentados na Tabela 1. De acordo com os dados, foi possível constatar que muitos produtores preferem não utilizar o auxílio da assistência técnica (em média, 28% dos entrevistados) e realizam todos os processos necessários em suas
Tabela 1 - Grau de satisfação dos proprietários relativo aos atributos das concessionárias ATRIBUTOS Muito Insatisfeito Eficiência 2,78 Rapidez no atendimento 2,78 Cortesia 0,00 Valorização do cliente 0,00 Qualidade no atendimento 0,00 Disponibilidade de atendimento fora do horário comercial 0,00
Insatisfeito 2,78 2,78 2,78 2,78 2,78 2,78
GRAU DE SATISFACAO (%) Regular Satisfeito 16,67 44,44 16,67 33,33 0,00 48,61 8,33 37,50 9,72 52,78 23,61 34,72
Muito Satisfeito 13,89 13,89 18,06 23,61 6,94 11,11
Não utiliza* 19,44 30,56 30,56 27,78 27,78 27,78
propriedades. Este fator não está relacionado à idade das máquinas, em que várias colhedoras com ano de fabricação até 2014 têm manutenção realizada pelo proprietário ou mecânicos de sua confiança. A taxa de proprietários muito insatisfeitos ou insatisfeitos é baixa no que se refere à assistência técnica. Quanto aos clientes regularmente satisfeitos, 23,61% apontam o item relativo aos atendimentos fora dos horários comerciais como o de maior representatividade. Este tipo de atendimento é de suma importância na época da safra e comumente é oferecido pelos setores de peças e serviços, que normalmente dispõem de plantões nestes períodos, embora o serviço geralmente seja mais caro nestas condições. A qualidade no atendimento é o atributo de maior satisfação entre os clientes (52,78%). Neste quesito, entram características como educação, presteza
e cortesia por parte dos representantes das concessionárias, que, com o intuito de sempre manter o cliente junto à concessionária, mostram-se sempre disponíveis. Vários entrevistados citam o fato de, em muitos casos, não ter a sua necessidade atendida de maneira satisfatória, mas a convivência e a cordialidade dos vendedores fazem com que acabem voltando à concessionária. Ainda assim, ocorre de 33,34% dos clientes expressarem satisfação regular nos atributos eficiência e rapidez no atendimento. Já no quesito valorização do cliente, 23,61% mostram-se muito satisfeitos. Estes justificam que frequentemente recebem agrados das concessionárias, têm sua preferência pela marca exaltada, obtendo descontos, brindes e constantes convites para eventos especiais. Esta estratégia visa sempre manter o antigo cliente junto à concessionária, reduzindo as chances de o mesmo partir para a concorrência.
CONCLUSÕES
Em relação à parte técnica das colhedoras, identificou-se que a maioria dos proprietários manifestou satisfação com suas máquinas, embora vários tenham relatado problemas advindos, em muitos casos, da abrasividade do grão e, em raros casos, defeitos de fabricação ou erro no momento da fabricação. No que se refere ao setor de serviços, não ocorreram críticas ou insatisfações, onde o maior incômodo para os proprietários refere-se à falta de peças em momentos de extrema necessidade. Em contrapartida, a grande maioria elogiou e mostrou-se satisfeita com a qualidade no atendimento por parte das concessionárias e as estratégias para .M valorização do cliente. Camila Dalcin, Vilnei Dias, Rômulo Bock, Luana Kinierim e Alcionei Dallaporta, Lamap – Unipampa/Alegrete
Massey Ferguson
New Holland
*Não utiliza com a assistência da concessionária.
A colheita, última etapa da produção do grão, deve ser realizada com muito cuidado, considerando todos os fatores que possam influenciar nas perdas, desde a plataforma da colhedora até seus mecanismos internos
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SEMEADORAS
Mais é melhor
Testes em laboratório mostram que mesmo que o conjunto semeadora-adubadora esteja trabalhando em aclive ou declive, a dosagem de fertilizante varia menos com a utilização de dosador com dois helicoides se comparado com a utilização de dosador com um único helicoide
A
correta dosagem de fertilizantes pela semeadora-adubadora, popularmente chamadas de semeadoras e plantadeiras, é uma importante etapa no processo de implantação de qualquer cultura, sendo um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento e a produtividade da mesma. Além disso, a dosagem correta de adubo no solo gera redução do risco de degradação do meio ambiente. Nesse contexto, a seleção de semeadora-adubadora eficiente tanto na deposição de sementes, quanto na distribuição de fertilizantes torna-se fundamental, pois na escolha deste tipo de implemento, geralmente não são levados em conta os mecanismos dosadores de fertilizante. No Brasil, a maior parte das semeadoras-adubadoras presentes no mercado é equipada com dosadores do tipo helicoidal “rosca sem-fim”, que nada mais é que um helicoide com movimento de rotação em torno de um eixo de acionamento, e conforme sua rotação, as dimensões e o passo, dosa quantidades variadas de adubo. Esse tipo de dosador está presente em pelo menos quatro diferentes modelos. No primeiro modelo, a rosca entrega o fertilizante por gravidade diretamente ao tubo condutor que
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está na sua extremidade, chamado de dosador de rosca convencional. No segundo modelo, no final da rosca há um anteparo que ocupa metade do corpo do dosador e para que o adubo seja dosado necessita transbordar de maneira longitudinal a rosca, sendo conhecido como dosador por transbordo longitudinal. No terceiro modelo, conhecido como dosador por transbordo lateral, a rosca ocupa todo o espaço do corpo do dosador e no final, na parte lateral, há o bocal de saída, desta forma o fertilizante, para ser dosado, necessita transbordar lateralmente. No quarto modelo, há duas roscas que funcionam em sentidos de rotação opostos, o bocal de saída está abaixo destas, este é chamado de dosador de rosca dupla. O quarto dosador citado entrou há poucos anos no mercado e está conquistando vários clientes. Neste dosador, a descarga de fertilizante ocorre por gravidade, sendo que nenhuma barreira impede a descarga
do mesmo, o qual é liberado ao fim de cada um dos dois helicoides. Desta forma, no presente trabalho procuramos determinar a eficiência deste dosador relacionando com os dosadores mais utilizados atualmente. Os testes foram conduzidos no laboratório no Centro de Engenharias da Universidade Federal de Pelotas (CEng-UFPel), com o uso de uma bancada. Esta bancada possui uma estrutura metálica de sustentação, um motor elétrico com um conversor de frequência para a variação de velocidade e, dispostos lado a lado, acionados em conjunto pelo mesmo eixo, três dosadores de fertilizante. Da esquerda para a direita na Figura 1 observa-se o dosador por transbordo lateral (D1) com um helicoide de passo 25,4mm (1”); o dosador de rosca dupla (D2) com dois helicoides de passo 15,9mm (5/8”); e o dosador transbordo lateral (D3) com um helicoide de passo 25,4mm (1”). O fertilizante utilizado foi NPK 05-20-20, de densidade de 1.063kg/m, ângulo de repouso de 33,49º e teor de água de
tamanho de rosca diferentes, mesmo quando nivelados (0° de inclinação) os dosadores apresentam doses diferentes. Neste caso, a avaliação deve ser a comparação entre cada ângulo testado dentro de cada dosador. Pode-se observar na Figura 2 que os dosadores D1 e D3 apresentaram variação na dosagem de fertilizante de forma proporcional à variação da inclinação do terreno. Com a utilização dos dosadores D1 e D3, observa-se que, quanto maior o ângulo de inclinação, maior é a vazão do fertilizante. Esses resultados indicam que a ação da gravidade influencia na elevada variabilidade de dosagem. Quando a semeadora está nivelada (0°), considera-se que os dosadores estão dosando a quantidade de fertilizante para o qual foram regulados. Na condição de inclinação positiva (+15°), a semeadora estaria semeando no sentido de subida da rampa, foi quando os dosadores D1 e D3 apresentaram dosagens acima da dose para o qual foram regulados. Isso ocorre, pois neste caso a rosca helicoidal gira para empurrar o fertilizante para baixo, e com auxílio da gravidade o adubo desce com maior facilidade, o que gera dosagens maiores. Já na condição de inclinação negativa (-15°), a semeadora está operando no sentido de descida da rampa, quando os dosadores D1 e D3 apresentaram dosagens abaixo da dose para o qual foram regulados, pois a rosca helicoidal gira para empurrar o fertilizante para cima, desfavorecidos
Figura 1 - Bancada de testes com dosadores de fertilizante D1
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Fotos Roger Spagolo
1,01% para base seca. A análise granulométrica foi realizada de acordo com a ABNT (2003) e o percentual retido acumulado nas peneiras com perfurações de 4mm, 2mm, 1mm e 0,5mm foi de 0,7%, 91,7%, 99,9% e 100%, respectivamente. Os testes foram realizados segundo a metodologia proposta pela norma ISO 5690/2 (1984). Cada teste teve duração de 45 segundos, sendo que nos 15 primeiros segundos não foram realizadas coletas de fertilizante para que ocorresse a estabilização do fluxo de massa. Os dosadores de fertilizantes foram submetidos a três ângulos de inclinação longitudinal: -15° (terreno com declive), 0° (terreno no nível) e +15° (terreno com aclive). Foi utilizado no experimento delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3x3, sendo utilizados três dosadores e três inclinações longitudinais e quatro repetições, totalizando 36 coletas. Os resultados dos testes comprovaram que existem variações na dosagem realizada pelos equipamentos avaliados em relação à distribuição longitudinal. Conforme se observa na Figura 2, os dosadores D1 e D3 apresentaram variação na dosagem conforme variação da inclinação longitudinal, já o dosador D2 apresentou maior uniformidade na deposição. Como a velocidade do eixo que toca os dosadores foi a mesma, e cada dosador possui características próprias, como por exemplo, quantidade e
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pela ação da gravidade. O dosador D2 apresentou maior uniformidade na dosagem, pois independentemente do sentido de operação da semeadora, na subida ou na descida, a dosagem foi similar, quando comparada com a utilização da semeadora em nível. Este fato pode ser explicado, pois a utilização de dois helicoides em sentidos opostos reduz os efeitos da ação da gravidade. Para determinação da quantidade de fertilizante dosada por hectare (kg/ha) durante a realização dos testes, consideraram-se constantes o tem-
Charles Echer
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Figura 2 - Inclinações utilizadas para realização dos testes
A dosagem correta de adubo no solo gera redução do risco de degradação do meio ambiente
po de coleta (30s), o espaçamento entre linhas (0,45m) e a velocidade de aplicação (5,5km/h). A Tabela 1 apresenta a variação na dosagem dos três dosadores conforme a inclinação do terreno. O gráfico da Figura 3 expressa a variação (%) da dosagem de fertilizante quando utilizado o conjunto trator-semeadora na subida (aclive +15°) e descida (declive -15°) em relação ao terreno nivelado (0°). Quando submetidos à inclinação de terreno -15°, considerando que a semeadora está descendo, os dosadores D1 e D3 apresentaram diminuição de 23,76% e 29,43%,
respectivamente na dosagem em relação à inclinação 0°, quando a semeadora está nivelada. Considerando a semeadura em uma subida, terreno com inclinação de +15°, o dosador D1 apresentou diminuição para 15,49% e o D3 piorou, aumentou para 32,50%. Já o dosador D2 teve variação de 5,53% na descida (terreno declive) e 10,27% na subida (terreno em aclive), portanto, o ângulo de inclinação longitudinal tem menor influência na vazão do fertilizante quando utilizado dosador com dois helicoides. Pode-se inferir que, independentemente se a semeadora-adubadora
Figura 3 - Variação da dosagem de fertilizante conforme tipo de dosador e declividade do terreno
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estiver trabalhando em terreno com aclive ou declive, nas condições testadas em laboratório, a dosagem de fertilizante varia menos com a utilização de dosador com dois helicoides comparado com a utilização de dosador com um único helicoide. Contudo, cuidados devem ser tomados, pois se considerada uma velocidade de 5,5km/h, no campo a semeadora-adubadora teria percorrido 45,83m, um trajeto muito comprido, onde teriam ocorrido vários pulsos, desta forma, a coleta em laboratório representa apenas a dosagem em 30 segundos, não representando a uniformidade de distribuição longi-
Figura 4 - Variações (%) da dosagem em relação ao nível de referência de 0°de inclinação
New Holland
Tabela 1 - Dosagem (kg ha-1) conforme inclinação do terreno Dosador D1 D2 D3
Inclinações do terreno -15° 0° +15° 129,09 169,33 195,52 224,24 212,48 234,30 133,70 189,45 251,03
tudinal na linha. Mesmo assim, a utilização de dosador com dois helicoides poderá proporcionar adubação mais uniforme na lavoura, principalmente quando o terreno tiver a presença de aclives e declives, podendo haver aumento de produção e diminuição da superdosagem que acarreta pre.M juízos ambientais. Roger Toscan Spagnolo, Marivan da Silva Pinho, UFPel André Oldoni, IFSul David Peres da Rosa, IFRS
A correta dosagem de fertilizantes pela semeadora-adubadora é uma importante etapa no processo de implantação de qualquer cultura
TECNOLOGIA Agrale
Aliados na produtividade As geotecnologias, cada vez mais presentes no cotidiano dos produtores, podem ser importantes aliadas para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade das uvas, permitindo maior rentabilidade nos vinhedos
O
s viticultores estão sempre preocupados com o quanto podem produzir e com a qualidade de suas uvas. No entanto, poucos são os que se preocupam em fazer um monitoramento do ambiente onde estão suas videiras, como uma Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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amostragem de solo, observar as condições micrometeorológicas que condicionam o comportamento e a condição hídrica das plantas, além do seu vigor. Apesar de muitos conhecerem a importância deste acompanhamento e reconhecerem que ajuda a prever
o período de maturação, a data de colheita, a quantidade a ser produzida e a qualidade das uvas, não o fazem por exigir uma amostragem extensiva a campo, muitas vezes dispendiosa dependendo do grau do monitoramento e pouco representativa de todas as microcondições dos vinhedos. Na Serra gaúcha, por exemplo, dentro de uma mesma propriedade, a caracterização do status hídrico dos vinhedos com base no conhecimento da água disponível no solo, na planta e na
Figura 1 - Monitoramento remoto e de superfície nos vinhedos monitorados pela equipe da Rede IrriGeo
atmosfera para o desenvolvimento do cultivo da videira é fundamental, pois é com base neste conhecimento que o viticultor pode definir os seus objetivos em relação aos produtos que espera obter de cada uma dessas áreas. Nem todas as áreas serão capazes de oferecer a matéria-prima para a elaboração do melhor vinho ou espumante. Mas, como conhecer qual o potencial máximo de cada área? Qual a melhor matériaprima que determinada área pode fornecer? Onde estão as melhores glebas de determinado terreno? Quais terrenos não estão aptos para a exploração de uma vitivinicultura de qualidade? Na ausência de respostas concretas a essas perguntas, de um modo geral, o potencial produtivo de um determinado ano é definido pela média do talhão, a qual, evidentemente, altera-se conforme a safra, e esta última está fortemente atrelada às variações atmosféricas e à capacidade hídrica do solo de cada parcela. Então, como “enxergar” melhor esta variabilidade entre vinhedos e até mesmo dentro de cada vinhedo? As geotecnologias podem cumprir esse papel. Pelo nome parece algo muito distante da realidade do produtor. Mito. As geotecnologias são ferramentas que vêm sendo muito utilizadas na agricultura nos últimos anos. Na viticultura brasileira poucas são as iniciativas ainda. No entanto, em outros polos vitivinícolas, como a Califórnia, por exemplo, o uso das Aeronaves Remotamente Pilotadas
Figura 2 - Estação de fluxo baseada no balanço de energia utilizada para calibração das imagens do satélite Landsat-8 e dos ARPs Aibotix X6 e X800 Geo
(ARP), o conhecido drone, está muito mais acessível e popularizado até mesmo ao pequeno viticultor por meio das organizações associativas ou cooperativistas. A avançada tecnologia dos ARPs, a possibilidade do uso gratuito de alguns sensores acoplados a satélites, a evolução dos sistemas de informação geográfica (SIG) associados a imagens térmicas e multiespectrais captadas pelos ARPs ou satélites, permitem que os viticultores e enólogos conheçam melhor e mais detalhadamente a saúde geral do vinhedo, o status hídrico e a sua produção. Com estas possibilidades, podem elaborar planos de manejo, colheita e destinação adequados, respeitando a variabilidade ambiental dos vinhedos e de suas parcelas. Com a evolução das geotecnologias,
elas se tornaram uma ferramenta mais acessível no Brasil e cada vez mais crucial para os produtores e as cooperativas de pequena escala, que enfrentam um dilema sabendo que precisam aumentar a produtividade, a qualidade e a eficiência se quiserem continuar competitivos no mercado. O que é preciso é estar aberto a novas tecnologias, soluções, conceitos e suporte técnico adequado. Nos EUA, por exemplo, o viticultor contrata um serviço, assim como fazemos ao comprar um plano de TV por cabo. Isso mesmo que você pensou, se contrata um plano/ serviço de assessoramento em vez de se comprar um equipamento que ainda vai requerer tempo para treinamento e dinheiro para manutenção, correndo o risco, muitas vezes, de não se ter um
A caracterização do status hídrico dos vinhedos com base no conhecimento da água disponível no solo, na planta e na atmosfera é fundamental
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atendimento pós-venda suficiente. O que o viticultor precisa é de uma informação qualificada para as suas tomadas de decisões diárias e não perder tempo em conhecer a operacionalidade e a possível necessidade de reparação de um equipamento que não lhe é familiar. O custo, muitas vezes, é bem superior. Reconhecendo este paradigma na Serra gaúcha e, no sentido de aproximar e tornar viável o uso das geotecnologias na viticultura desta região, um grupo de professores, técnicos e alunos de ensino técnico, graduação e pós-graduação do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, juntamente com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado criou uma rede de colaboração chamada Rede IrriGeo, que conta com a participação da University of California, Davis (UCDavis), por meio do doutor Richard Snyder, e da empresa Tule Technologies, por meio do doutor Tom Shapland, seu fundador. Congregam esta rede, especialistas nas áreas de biometeorologia, manejo da água em biossistemas, sensoriamento remoto, fisiologia da videira, solos, enologia, geoprocessamento, informática e automação. A proposta deste grupo interdisciplinar é de estudar e estabelecer um processo de monitoramento remoto e de superfície em vinhedos, observando suas condições micrometeorológicas, o status hídrico no solo, na planta e na atmosfera por meio do balanço
Figura 3 - Modelo digital do terreno (MDT), curvas de nível com 1m de equidistância e ortomosaico em um dos vinhedos monitorados
energético e suas relações fisiológicas com a produtividade, qualidade da uva e do produto final elaborado, conforme demonstrado na Figura 1. Todas as medições na superfície, feitas diretamente no vinhedo, permitem calibrar e, portanto, qualificar as informações obtidas pelas imagens do satélite americano Landsat-8 desenvolvido pela Nasa em colaboração com o Serviço Geológico Americano (USGS), como também ajustar as imagens obtidas pelo ARP Aibotix X6 desenvolvido em colaboração entre a Aibotix e a Leica Geosystems e pelo ARP X800 Geo desenvolvido pela Xfly Brasil, recursos adquiridos e utilizados pela Rede. Para o imageamento, são utilizadas as câmeras Nikon Coolpix A, Red Edge Micasense e a câmera termal Flir Vue Pro, todas de propriedade do grupo de colaboração. Em parceria com a Universidade de Caixas do Sul (UCS), a Rede está desenvolvendo um protótipo de ARP de custo mais acessível para
Figura 4 - Sequência de imagens retiradas de um dos vinhedos monitorados pela câmera Nikon Coolpix A® embarcado no ARP AIBOTIX X6®
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auxiliar no imageamento dos vinhedos. Além de uma estação micrometeorológica instalada próxima aos vinhedos que permite a obtenção da evapotranspiração de referência (demanda evaporativa da atmosfera), há uma estação de fluxo utilizada nos vinhedos experimentais da Cave Geisse, que foi customizada com sensores de diferentes fabricantes e é a primeira e única no Brasil que se utiliza de termopares para a obtenção da diferença de temperatura do ar atmosférico sobre o dossel do vinhedo em altíssima frequência e, com isso, estima a densidade de fluxo de calor sensível com a metodologia precisa do Surface Renewal calibrado pela metodologia Eddy Covariance. Ou melhor, esta estação (Figura 2) permite obter a parte da energia do sol que fica na superfície do vinhedo (Rn) e é utilizada para o aquecimento do ar atmosférico (H), além da energia suficiente para o aquecimento do solo (G) e residualmente, a energia despendida na transformação
Figura 5 - Imagens-produto contendo informações sobre os componentes do balanço de energia (Rn, G, H e LE, em Watts por m2) de um dos vinhedos monitorados, processadas no software livre QGIS
física da água do solo e das plantas em vapor d’água (LE). Neste último, ao transformarmos em termos de massa, achamos a evaporação da água do solo + transpiração da água das folhas (= evapotranspiração em termos de altura/lâmina de água por unidade de tempo). Esta proposta está sendo utilizada nos Vales do Napa e do Sonoma, na Califórnia, pela empresa Tule Technologies, colaboradora da Rede IrriGeo junto a um projeto fomentado pelo CNPq/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Mas, e como é feito o monitoramento remoto pelas imagens do satélite e pelo ARP? Assim como tiramos uma foto numa câmera fixada num telefone celular, as imagens obtidas por satélite ou ARPs são formadas pelos pixels que são as menores parcelas imageadas. A resolução espacial (tamanho do pixel) depende do sensor e, no caso dos ARPs, a sua altura de voo também influencia. Utilizando câmeras profissionais acopladas em ARPs, é possível obter pixel na ordem de 1,2cm nos vinhedos monitorados. Uma altíssima resolução espacial, ou seja, é possível estratificar o vinhedo e obter informações diferenciadas em pequenas parcelas de 1,2m x 1,2m = 1,44m2. Além disso, a imagem é obtida na frequência que se desejar, diferentemente das imagens do satélite, que têm uma frequência temporal predefinida de acordo com o satélite e a sua órbita ao redor da terra. Ademais, pela altura de aquisição das imagens feitas pelos ARPs, a informação não sofre a interferência atmosférica como acontece com as imagens dos satélites. Por este motivo, a Rede IrriGeo vem dando atenção especial ao monitoramento remoto com o uso dos ARPs. E o que de fato é extraído de informação de cada pixel, se não teve nenhum contato físico entre o sensor (câmera) e o alvo estudado (planta, solo etc)? Estes alvos refletem e emitem radiação. A radiação refletida é captada pelas câmeras e compõe um conjunto de radiações eletromagnéticas
Divulgação
(formando um espectro característico) que nada mais é do que o resultado da subtração da radiação incidente (sol) menos o que foi absorvido de energia pelo alvo. A radiação solar incidente interage de modo diferente com cada tipo de alvo. Esta desigualdade é determinada principalmente pelas diferentes composições físico-químicas dos objetos. Estes fatores fazem com que cada alvo terrestre tenha sua própria “assinatura espectral”. Em outras palavras, cada alvo absorve ou reflete de modo diferente cada uma das faixas do espectro da luz incidente. Assim, o conjunto de alvos reunidos no pixel será uma unidade básica de informação eletromagnética. Portanto, quando se tem uma boa resolução espacial (pixel menor), que é o caso das imagens obtidas pelo ARP, melhor será a qualidade espacial da informação, pois essa tenderá a descrever cada alvo isoladamente e não uma média de vários alvos heterogêneos. A partir das imagens originais obtidas com o ARP, que segue um plano de voo elaborado em software específico da aeronave que contém um GPS de precisão centimétrica, as imagens aéreas são georreferenciadas pelo GPS da câmera e interpoladas com o GPS topográfico da placa controladora do ARP, onde passam a atingir a precisão dessimétrica. O conjunto
destas imagens é processado com ferramentas de softwares especializados em SIG para a obtenção do ortomosaico, contemplando todo o vinhedo monitorado. Com a identificação de pontos-alvo semelhantes, alinhamento e geração de um modelo 3D, é possível se obter as curvas de nível, o modelo digital de superfície (MDS), o modelo digital de elevação (MDE) e o modelo digital do terreno (MDT) (Figura 3). A partir do ortomosaico, e utilizandose de softwares específicos para o processamento da imagem e a inserção de algoritmos matemáticos que consideram aspectos físicos, químicos e biológicos envolvidos neste tipo de aplicação, é possível obter imagensproduto (dependendo da finalidade) (Figura 4), as quais apresentarão informações em cada pixel, respeitando a resolução espacial inicial captada pelo sensor (câmera). As geotecnologias usadas com critérios técnicos consolidados e associadas a informações de superfície possibilitam um manejo de precisão na viticultura, redução de custos, aumento da eficiência e, principalmente, da .M qualidade do produto final. Rodrigo Otávio C. Monteiro, Priscylla Ferraz C. Monteiro, Miguel da Guia Albuquerque e Jean Marcel de A. Espinoza, IFRS
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VIAGEM Fotos Charles Echer
Sem fronteiras
Programa Empreendedores Sem Fronteiras, promovido pela AgroBravo em parceria com a Iowa State University, leva jovens produtores brasileiros numa imersão sobre empreendedorismo rural nos Estados Unidos
A
segunda quinzena de julho foi especial para aproximadamente 40 jovens produtores rurais brasileiros que participaram do programa Empreendedores Sem Fronteiras, nos Estados Unidos. Promovido pela AgroBravo em parceria com a Iowa State University, o programa desenvolveu temas ligados à inovação, ao empreendedorismo rural e à formação de lideranças, sempre convergindo para a gestão da propriedade rural e sucessão familiar. Durante duas semanas, dois diferentes grupos participaram de etapas com programações distintas. O grupo que realizou a primeira etapa em julho de 2017 participou este ano da segunda etapa na semana de 23 a 28 de julho, na Califórnia, onde visitou empresas do Vale do Silício, São Francisco, Sonoma e Salinas Valley na costa central do estado. Já um novo grupo, formado em 2018, realizou a primeira etapa na semana de 16 a 20 de julho na Iowa State University, em Iowa, onde participou de programação técnica formada por palestras e visitas técnicas a grandes empresas agrícolas da Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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região de Des Moines. Por trás de cada jovem produtor brasileiro que participa do programa existe a preocupação comum de garantir a continuidade dos negócios de suas empresas agrícolas e uma sucessão bem feita, com pouca turbulência e de forma mais natural possível. São histórias parecidas, com angústias e dúvidas semelhantes sobre a melhor forma, o momento mais apropriado para essa transição ocorrer e o resultado final de um processo que tende a ser longo e muitas vezes pode até ser exaustivo e traumático. Este é o ponto-chave do programa Empreendedores Sem Fronteiras. Todas as questões sobre gestão, inovação, desenvolvimento de lideranças e empreendedorismo abordadas nas palestras ajudam a preparar os novos profissionais para assumirem postos de comando em empresas que estão em plena atividade e precisam continuar crescendo e se adaptando a realidades cada vez mais competitivas. Para Bob Riley, presidente da Feed Energy Company e colaborador no progra-
ma, a sucessão não é uma tarefa simples, principalmente para quem é sucedido no negócio. “Para um empreendedor, abrir mão da liderança e passá-la a um sucessor é uma tarefa muito difícil e árdua. É preciso ter humildade e coragem para tomar essa decisão, embora, ao mesmo tempo, seja uma necessidade e não uma escolha para quem quer garantir a continuidade dos negócios”, explica. Para ele, quando a sucessão é feita de forma adequada, as ideias que fazem sentido ao negócio são preservadas e as chances de ocorrer um fracasso diminuem. Para isso, é necessário encontrar um substituto o mais cedo possível, preparando-o e capacitando-o adequadamente para dar continuidade aos negócios. “Empresas que conseguiram passar da quarta geração chegaram a isso porque treinaram muito, começaram bastante cedo o processo e prepararam incansavelmente os sucessores, trabalhando, além de habilidades empresariais e qualificação com estudos, valores e ideais da empresa, de forma gradual e contínua, por um período relativamente longo”, explica.
Mas essa transferência de comando certamente irá encontrar barreiras, problemas gerados por conflitos de gerações, explica Karen Kerns, CEO da Kerns & Associates, referência mundial em consultoria de gestão para propriedades rurais. Para ela, quem está no comando das empresas atualmente é bastante diferente da geração que a sucederá, principalmente na maneira como veem a relação com o negócio. “Pais e filhos têm visões diferentes sobre a forma de trabalhar e essas diferenças precisam ser entendidas e superadas para gerar uma relação de confiança, que possibilite a sucessão de forma mais natural e sem traumas”, explica.
CONHECER NOVAS REALIDADES
Um dos participantes do programa, o diretor executivo da concessionária John Deere Maqcampo, José Augusto Araújo, passa uma semana por ano em universidades americanas para se atualizar em diferentes assuntos ligados ao seu negócio e entende que todos os agricultores brasileiros deveriam fazer esta experiência pelo menos uma vez na vida. “Este programa é realmente muito importante porque seu formato, com palestras e visitas técnicas, possibilita que os participantes conheçam o mundo acadêmico e empresarial dos Estados Unidos. Aqui há uma integração muito grande entre o mundo acadêmico e as empresas, pois elas sabem que é das universidades que sairão seus futuros presidentes, executivos e trainees. Por isso, as empresas respiram o mundo acadêmico local”, avalia. De acordo com o chefe do Departamento de Empreendedorismo da Iowa State University, e um dos coordenadores do programa Empreendedores Sem Fronteira, Kevin Kimle, esta imersão leva os alunos a repensarem de forma profunda seus conceitos sobre os negócios. “A cada geração o negócio precisa renascer para sobreviver. Por isso, o que trabalhamos diariamente nesta imersão é a necessidade de os jovens adquirirem mentalidade e habilidade para serem empreendedores. Queremos que cada um descubra o que os motiva e possibilitar que eles apliquem nos seus negócios”, garante. Essa experiência leva os participantes a avaliarem a forma como conduzem seus negócios, pois colocam frente a frente alunos e grandes empresários ligados à agricultura, que tem como
principais características o empreendedorismo e a inovação. Eles abrem as portas de suas empresas e dividem suas experiências com os brasileiros, como é o caso de Bruce Rastetter, CEO da Summit Ag Group, e de Harry Stine, dono da Stine Seeds e considerado o homem mais rico do estado de Iowa. A Stine Seeds desenvolve pesquisa com sementes e é responsável pela genética existente em mais de 60% da soja plantada nos Estados Unidos. Já a Summit Ag Group, um fundo de investimentos, movimenta grandes fortunas em negócios ligados à agricultura e possui no Brasil fazendas no estado do Pará, uma planta de produção de etanol de milho em Lucas do Rio Verde (MT) e outra em fase de construção no município de Sorriso (MT), que juntas receberão um investimento de 2 bilhões de dólares. Para o economista e coordenador do programa Empreendedores Sem Fronteiras, Dave Krog, outros pontos-chave desta experiência são o relacionamento e a chance de conhecer pessoas influentes, que podem até mesmo se tornar parceiras em futuros negócios. “No final das contas, tudo se resume ao relacionamento entre as pessoas. O network é sem dúvida uma característica existente em pessoas bem-sucedidas e negócios de sucesso”, explica.
IMERSÃO NA SUCESSÃO
Para o diretor da AgroBravo, Julio Bravo, o tema da sucessão familiar é tão importante que merece atenção especial por parte de todos os envolvidos. “Preocupamos-nos com o equilíbrio dos
negócios e com o desafio das próximas gerações para perpetuar as atividades familiares. Por isso procuramos parceiros importantes como a Universidade de Iowa, que nos ajudam a pensar neste tema de forma que sucedido e sucessor possam ganhar neste processo tão complexo”, explica. Para ele, apesar do grupo ser formado por sucessores, é extremamente importante que os sucedidos também busquem informações e conhecimento que os auxiliem na construção de uma transição equilibrada e segura. “Um dos principais valores da empresa é oferecer aos clientes mais do que viagens, mas principalmente oportunidade de acessar novos mercados e ideias, que possibilitem um crescimento pessoal e profissional de cada um para que possam voltar às suas origens estendendo essa experiência e inspirando seus funcionários, filhos e parceiros a serem melhores nos seus negócios”, garante.
O PROGRAMA
O programa Empreendedores Sem Fronteiras é desenvolvido em quatro etapas. Nas duas primeiras etapas, realizadas em 2017 e 2018, além de palestras técnicas com professores, pesquisadores e empresários, os grupos visitaram mais de 20 empresas, startups e fazendas de referência nos estados de Iowa e Califórnia. As duas etapas finais do programa ocorrerão em 2019 e 2020, com encontros no Brasil, na Europa e na China. Informações sobre o programa Empreendedores Sem Fronteiras e outras viagens técnicas podem ser obtidas no site .M www.agrobravo.com.
Grupo de brasileiros que realizou a primeira etapa do Programa Empreendedores Sem Fronteiras, promovido pela AgroBravo e a Iowa State University
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SEMEADORAS
Semeadura ideal C
om a intensiva utilização de áreas para a produção de soja e a necessidade de melhorar o seu sistema de produção, surgiram as técnicas para a semeadura direta na palha e o sistema de plantio direto (SPD), caracterizados pela formação e manutenção de uma camada de cobertura vegetal sobre a superfície do solo. A implantação desta técnica visa o acúmulo de cobertura vegetal e o não revolvimento do solo, o que reduz os riscos de desestruturação do solo e erosão, aumenta a capacidade de infiltração e de armazenamento de água, mantém o solo úmido por mais tempo, o que pode resultar em aumento da vida microbiana. Além disto, uma camada densa de cobertura vegetal dificulta a germinação e a emergência de várias espécies de plantas daninhas. Assim, em um sistema de plantio direto, a semeadura é feita sobre a cobertura vegetal, com movimento mínimo do solo, havendo apenas a abertura dos sulcos, deixando uma camada de material orgânico como proteção. Neste caso, a quantidade de palha sobre a superfície do solo pode se tornar uma dificuldade a mais na hora da semeadura. Para resolver este problema foram adaptados discos de corte nas semeadoras, responsáveis pelo corte da palha na direção e à frente da linha onde será realizada a semeadura, o que facilita a distribuição do adubo e das sementes. Para a obtenção de uma semeadura com qualidade, as semeadoras devem ter mecanismos capazes de cortar a palhada, abrir os sulcos, depositar as sementes em densidade, espaçamento e profundidade adequados, além de cobrir os sulcos e promover o contato Agosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Charles Echer
O manejo mecânico da palhada é alternativa viável nos sistemas de plantio direto, favorecendo as culturas em sucessão com a ciclagem de nutrientes. Contudo, este tipo de manejo poderá deixar o solo desprotegido e sujeito a degradação, exigindo avaliação criteriosa por parte dos produtores
íntimo das sementes com o solo. Nas semeadoras utilizadas para a semeadura direta na palha, podem ser instalados logo após o disco de corte, os discos duplos defasados ou as hastes sulcadoras, que têm como função abrir o sulco para depositar o adubo
em profundidade. As hastes sulcadoras apresentam seus melhores resultados em solos bem drenados, que não possuam excesso de restos vegetais, tocos ou pedras. Os discos duplos adaptam-se melhor aos solos mais pesados, que apresentam grande quantidade de co-
Fotos Vandoir Holtz
Sistema de corte formado por discos duplos defasados utilizados no comparativo
bertura vegetal, exigem menor esforço de tração e sofrem menos desgaste. Entretanto, os solos podem apresentar alta resistência à penetração e/ou mesmo uma cobertura vegetal excessivamente densa. Nestes casos, o rompimento do solo pode ser comprometido e o corte da palhada ser incompleto, causando o embuchamento e impedindo a abertura dos sulcos ideais, deixando as sementes descobertas ou em profundidades inadequadas, bem como pode ocorrer o sombreamento parcial de plântulas, o que provocaria seu estiolamento. Neste contexto, pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso realizaram um estudo para avaliar a qualidade do processo de semeadura, o estabelecimento do estande de plantas e a produtividade de grãos de soja cultivada com diferentes coberturas vegetais e sistemas rompedores do solo. O trabalho foi realizado na Fazenda Casali, no município de Querência (MT), relevo plano e solo composto por 36% de argila. Para a avaliação foi montado um experimento no delineamento de blocos casualizados, em esquema fatorial 3 x 2, com quatro blocos, cada parcela tinha 25m de comprimento e 6,3m de largura. As coberturas vegetais utilizadas foram o milheto, a braquiária e a braquiária gradeada e os sistemas rompedores avaliados foram o de haste sulcadora e o de discos duplos defasados. A cultivar de soja semeada na área foi a CD 266 RR, com 311 mil sementes/ha e espaça-
mento entre linhas de 0,45m. Na época de semeadura o milheto apresentava 7.360kg/ha e a braquiária 11.500kg/ ha de matéria seca. No trabalho, foram determinados o número de sementes descobertas após a semeadura, o índice de velocidade de emergência, o número de plântulas estioladas, a uniformidade de distribuição de plantas na linha, a altura de inserção da primeira vagem, a altura da planta, o número de plantas por metro e a produtividade de grãos. Na análise estatística, os pesquisadores constataram que as coberturas vegetais (milheto, braquiária e braquiária gradeada) e os sistemas rompedores de solo (haste sulcadora e discos duplos defasados) não influenciaram o número de sementes descobertas. Mas que os sistemas rompedores influenciaram no número de plantas emergidas que estiolaram e que tanto as coberturas vegetais como os sistemas rompedores influenciaram no índice de velocidade de emergência (Tabela 1). Uma maior cobertura vegetal no solo poderia dificultar o processo de semeadura, caso ocorresse o corte inadequado da palha, seguido do arraste e o amontoamento da cobertura, deixando sementes descobertas em campo. Estas sementes descobertas provavelmente não se estabeleceriam como plantas, reduzindo o estande de plantas da cultura, podendo influenciar diretamente na produtividade. No estudo realizado não houve efeito sig-
nificativo dos tratamentos, bem como ocorreu um número insignificante de sementes descobertas. A maior quantidade de plantas estioladas nas parcelas semeadas utilizando discos duplos defasados pode ser explicada pelo fato de que o disco promove menor mobilização da camada de cobertura vegetal sobre o solo, o que é desejável em sistema de plantio direto. Contudo, a espessa camada de palha pode ter provocado o sombreamento parcial na plântula, obrigando-a a estiolar para chegar até a luz solar e se desenvolver. Nos resultados encontrados para o índice de velocidade de emergência, houve resultados significativos tanto para a cobertura do solo quanto para o sistema rompedor. A emergência mais rápida encontrada para as parcelas semeadas com haste sulcadora pode ser explicada pelo fato de que a haste promove maior mobilização e descompactação da camada superficial do solo, o que facilita o contato solo-semente, aumentando a capacidade de as sementes absorverem a água disponível no solo, acelerando sua germinação. Com relação à cobertura do solo, as parcelas que receberam a gradagem tiveram como resultado a menor velocidade de
Haste sulcadora utilizada no experimento
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emergência. Possível explicação para isto é que o solo gradeado tende a perder água mais rapidamente tanto por percolação como por evaporação, resultando em menor disponibilidade de água para as sementes e plântulas, o que resultaria em maior tempo até a emergência. Na avaliação da distribuição de plantas na linha de cultivo, a porcentagem de espaçamentos normais, falhos e duplos não apresentou diferenças significativas entre os tratamentos (Tabela 2). A semeadora utilizada teve desempenho regular, de acordo com a classificação de Tourino e Klingensteiner (1983), em que as semeadoras com percentagem de espaçamentos aceitáveis de 90 a 100 foram classificadas como de ótimo desempenho; de 75 a 90, de bom desempenho; de 50 a 75, de desempenho regular; e abaixo de 50, de desempenho insatisfatório. A porcentagem de espaçamentos falhos deve ser observada com cautela, uma vez que na formação do estande de plantas, as falhas podem ser causadas por outros fatores que limitaram a germinação e a emergência das plântulas, não podendo ser atribuídas unicamente a deficiências na semeadura. No trabalho, os pesquisadores também verificaram que a altura de inserção da primeira vagem e a altura das plantas foram maiores quando nas parcelas gradeadas. Este resultado pode ser indicativo da presença de uma camada superficial compactada, que foi desfeita com a gradagem e favoreceu o desenvolvimento vegetativo da cultura, uma vez que o manejo mecânico como a grade pode melhorar a distribuição da biomassa vegetal sobre o solo, reduzir a resistência à penetração e ao deslocamento dos sistemas de corte, de adubação e de semeadura da semeadora. Mas os pesquisadores alertam que o agricultor deve estar sempre preocupado com a conserAgosto 2018 • www.revistacultivar.com.br
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vação do solo e que estas diferenças não afetaram de forma significativa o número de plantas por metro e a produtividade de grãos (Tabela 3). A produtividade na área do experimento foi abaixo da média nacional e isso pode ser explicado pelo déficit hídrico, especialmente logo após a semeadura e no estádio R5, período de enchimento de grãos, mas também pode ter sido agravada pela distribuição irregular das plantas, uma vez que apenas 64,66% das plantas estavam adequadamente espaçadas na linha de cultivo. Com relação aos tratamentos avaliados, os pesquisadores puderam concluir que o manejo mecânico da palhada pode ser uma alternativa viável, uma vez que a desintegração, mesmo que parcial, do material de cobertura do solo poderá acelerar
a sua decomposição e favorecer o desenvolvimento das culturas em sucessão devido à ciclagem de nutrientes. Contudo, caso o solo seja submetido a este tipo de manejo, poderá ficar desprotegido e sujeito a degradação. Por fim, os pesquisadores sugerem que as áreas com presença de camada compactada recebam o manejo adequado como escarificação ou subsolagem e que em áreas com camada de cobertura vegetal densa, primeiramente seja avaliada a utilização de rolo-faca ou outro trato mecânico em substituição à .M gradagem. Vandoir Holtz e Andre Cezar Casali, Unemat Mateus Prolo Massola, UEG
Tabela 1 - Número médio de sementes descobertas, indice de velocidade de emergência e plântulas estioladas sob diferentes coberturas vegetais e sistemas rompedores do solo. Querência (MT) Cobertura Milheto Braquiária Gradeada Média
Sementes descobertas Disco Haste Média 0,25 0,50 0,37 1,75 2,00 1,87 0,00 2,00 1,00 0,66 1,50 1,08
Indice de velocidade de emergência Disco Haste Média 9,79 13,45 11,62a 9,91 13,32 11,62a 6,98 9,05 8,02b 8,89B 11,94A 10,42
Plântulas estioladas Disco Haste Média 9,79 13,45 11,62a 9,91 13,32 11,62a 6,98 9,05 8,02b 8,89B 11,94A 10,42
Médias seguidas de letra minúscula distinta na coluna e maiúscula distinta na linha diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Tabela 2 - Espaçamentos duplos, falhos e normais entre plantas, em porcentagem, sob diferentes coberturas vegetais e sistemas rompedores do solo. Querência (MT) Tratamento Milheto Braquiária Grade Média
Disco 19,05 16,40 15,83 17,09
Duplos (%) Haste 20,81 18,94 17,81 18,94
Média 19,93 17,67 16,45 18,01
Disco 15,60 17,27 16,34 16,41
Falhos (%) Haste 17,03 20,01 17,57 18,21
Média 16,32 18,64 16,96 17,31
Normais (%) Disco Haste Média 65,33 62,14 63,74 66,31 61,03 63,67 67,81 65,34 66,57 66,48 62,84 64,66
Médias seguidas de letra minúscula distinta na coluna e maiúscula distinta na linha diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Tabela 3 - Altura de inserção da primeira vagem (cm), altura de plantas (cm), plantas por metro e produtividade (sacas/ha) sob diferentes coberturas vegetais e sistemas rompedores do solo. Querência (MT) Inserção (cm) Disco Haste Média Milheto 16,25 14,75 15,5b Braquiária 15,75 16,25 16,3ab Grade 16,25 16,75 17,7a Média 17,08 15,91 16,5
Tratamento
Disco 47,65 44,95 46,15 46,25
Altura (cm) Haste Média 48,27 45,93b 50,42 47,68b 45,72 47,96a 48,14 47,19
Plantas por metro Disco Haste Média 12,12 11,62 11,87 11,50 11,35 11,42 11,42 11,52 11,48 11,68 11,50 11,59
Produtividade Disco Haste Média 47,65 48,27 45,93 44,95 50,42 47,68 46,15 45,72 47,96 46,25 48,14 47,19
Médias seguidas de letra minúscula distinta na coluna e maiúscula distinta na linha diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.