Cultivar Máquinas 189

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Cultivar Máquinas • Edição Nº 189 • Ano XVI - Outubro 2018 • ISSN - 1676-0158

Índice 4 Rodando por aí 6 Lançamento: Ford Cargo 3031 8x2 8 Planejamento de maquinário 11 Pulverização aérea 14 Dimensionamento de frota 18 Capa - Test Drive BH 184 HiTech 27 Motores eletrônicos 30 Perdas na colheita 34 Eficiência de discos horizontais 36 Pós-colheita de café 40 Uso de adjuvantes na pulverização

Destaques

Test Drive - BH 184 HiTech

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Conheça a nova série de tratores BH HiTech da Valtra e confira o desempenho do modelo 184 no preparo de solo

Frota ideal Saiba como avaliar a real necessidade de máquinas agrícolas numa propriedade rural

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter

• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi • Revisão Aline Partzsch de Almeida • Design Gráfico Cristiano Ceia

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Ângulo de colheita Saiba como o ângulo de colheita influencia na qualidade da operação e nas perdas totais

Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00

• Coordenador Comercial Charles Echer • Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves • Coordenação Circulação Simone Lopes

Capa - Charles Echer

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Cultivar

• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause • Impressão: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

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NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL

• ASSINATURAS

• REDAÇÃO

• MARKETING

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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


RODANDO POR AÍ Parceria para ampliar

Jeff Rohlena

A Raven Industries anunciou uma parceria de revendedores para ampliar, ainda mais, a presença da marca no Brasil. O acordo é com a Agrosystem, uma concessionária de tecnologia de agricultura de precisão localizada em Ribeirão Preto (SP). A parceria fornecerá aos clientes mais oportunidades de serviços e vendas. “Alinhados com os principais valores da Raven, o departamento técnico da Agrosystem é altamente comprometido em oferecer produtos e serviços de qualidade. Adicionar a Raven ao seu portfólio abrirá muitas oportunidades para ambas as empresas”, afirmou o diretor da Raven do Brasil, Jeff Rohlena.

Agricultura de Precisão De 2 a 4 de outubro a Stara participou do ConBAP – Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão -, realizado em Curitiba, Paraná, pela Associação Brasileira de Agricultura de Precisão. O evento reuniu cerca de 800 pessoas com o tema “A construção dos dados na era da digitalização agrícola”. No evento, a Stara apresentou as suas tecnologias voltadas para a agricultura de precisão, como o desligamento linha a linha Stara, a telemetria Stara e o leitor de condutividade elétrica Veris, além da sua linha de máquinas agrícolas com o controlador para Agricultura de Precisão Topper 5500.

Geradores

A AGCO inaugurou a sua primeira linha de produção de grupos geradores de energia elétrica no Brasil. Situada no polo tecnológico da empresa em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, a unidade abriga o único laboratório de controle de emissões da agroindústria e as linhas de fabricação dos tratores Valtra e dos motores AGCO Power. A nova linha fabril torna os grupos geradores disponíveis para consórcio e financiamento via Finame e programa Mais Alimentos (MDA), por meio das redes de concessionárias Massey Ferguson e Valtra. “Nossa estratégia é oferecer soluções em grupos geradores com motores a diesel, focando nas necessidades dos clientes e mantendo a sinergia com o portfólio de produtos da AGCO”, explicou o gerente de Vendas, Marketing e Pós-Vendas da AGCO Power, André Rocha.

Entrega gigante

André Rocha

Yanmar South America

Com o intuito de trazer soluções para o mercado agrícola brasileiro, a Yanmar inaugurou sua nova unidade fabril, em Indaiatuba (SP). A inauguração marcou o início da produção dos tratores da marca Solis no Brasil, reafirmando a parceria estabelecida com a ITL – International Tractors Limited (detentora da marca). “Indaiatuba tem se tornado cada vez mais estratégica para as operações da Yanmar na América do Sul. A fábrica conta com linhas de montagem de alto nível tecnológico e ações de sustentabilidade que são referência no Grupo”, disse o presidente da Yanmar South America, Kenji Kitahara.

A Case IH entregou mais 12 tratores Steiger, de 620 cavalos, à Amaggi (Agro, Commodities, Logística e Operações e Energia), um dos maiores produtores agrícolas do Brasil, que já conta com outras quatro unidades do modelo, mas com potência de 550cv na sua frota. As máquinas serão utilizadas na produção agrícola de soja, milho e algodão em grande escala no Mato Grosso. “Quando fechamos acordos com grandes empresas, como a Amaggi, temos a confirmação de que, além da qualidade das nossas máquinas, oferecemos um ótimo atendimento ao cliente, colocando os nossos modelos no topo do mercado”, avaliou o diretor de Marketing de Produto da Case IH, Silvio Campos.

Protagonismo feminino

Luís Felli

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Silvio Campos

O presidente da AGCO para a América do Sul, Luís Felli, marcou presença no 3º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, onde falou sobre os desafios do tratamento e utilização de mão de obra para a nova mecanização no campo. “Na AGCO, percebemos claramente o exponencial aumento do protagonismo feminino, tanto dentro das nossas equipes, considerando a empresa e sua rede de concessionárias, quanto nas empresas clientes e demais parceiros e fornecedores. A ascensão das mulheres na hierarquia das corporações é um movimento muito bem-vindo, que as coloca um passo à frente para enfrentar as principais adversidades que afetam o agronegócio”, ressaltou Felli.



CAMINHÕES Fotos Ford

Mais força

A Ford Caminhões apresenta o Cargo 3031 8x2, modelo que oferece mais força, capacidade de carga e durabilidade ao cliente da marca. A configuração é inédita na linha Cargo

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ocada na operacionalidade e no conforto do motorista, agregando ainda mais força na nova configuração, a Ford lançou o novo Cargo Power 3031 8x2. A nova formatação permite uma otimização no transporte rodoviário em médias e longas distâncias. Esse lançamento faz parte de uma série de renovações que a marca está realizando na sua linha de produtos. Segundo o diretor de Vendas, Marketing e Serviços da Ford Caminhões, Oswaldo Ramos, o momento é oportuno para essas introduções, devido à retomada de vendas do mercado, que já aponta 40% de aumento em relação ao ano passado, segundo informações do Renavam. O diretor ressaltou as novas funcionalidades do modelo, com foco na durabilidade, na robustez e na Outubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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economia. “Com o novo Cargo 3031 8x2, os clientes que precisam de um caminhão com maior capacidade de carga não têm mais de instalar o segundo eixo direcional no Cargo 6x2 em empresas parceiras. Eles agora contam com uma solução original, com garantia de fábrica, sem precisar esperar pela instalação do componente”, disse Ramos. O segundo eixo direcional original de fábrica proporciona versatilidade em suas diferentes configurações. O 3031 é disponível com cabine simples ou leito, transmissão manual ou automatizada Torqshift e dois comprimentos de chassi: longo, com 5.300mm, e extralongo, com 6.300mm, ampliando o espaço útil para carga. Pode ser equipado também com tanque de combustível simples (275L) ou duplo (550L).

O novo Cargo 8x2 tem peso bruto total de 29 mil quilos e capacidade técnica de 30.150 quilos. Pode ser equipado com diversos tipos de implemento, desde baú, carga seca, sider e guindaste, até graneleiro e tanque, oferecendo alta produtividade a grandes operadores logísticos, atacadistas, distribuidores e autônomos que buscam uma solução para otimizar o rendimento da frota. Além disso, o caminhão foi testado em aplicações em fazenda, tornando-se uma opção para o transporte de carga viva ou de grandes culturas. Seu motor Cummins ISB 6.7, de 306cv, conta com a tecnologia de emissões SCR (Redução Catalítica Seletiva), que favorece a economia de combustível sem prejudicar sua performance. Seus avanços incluem turbo com carcaça e rotor projetados


para trabalhar com maior pressão, novos bicos injetores, filtro de ar e sistema de refrigeração de alta capacidade. Como outros diferenciais, o novo caminhão tem transmissão com comandos a cabo, que oferece engates mais leves, suaves e precisos e operação silenciosa. Os freios ABS com distribuição eletrônica de frenagem (EBD) proporcionam mais estabilidade e segurança ao caminhão. Para o gerente de Engenharia de Chassis da Ford Caminhões, Luis Fernando Caldo, um dos principais diferenciais da linha é a opção da transmissão automatizada Torqshift, com recursos que otimizam o desempenho, a economia e a segurança do veículo, com mais conforto para o motorista. Além de dois modos de condução – Performance e Economia –, conta com piloto automático, função “Low”, assistência de partida em rampa e indicador de marchas no painel. “A nova transmissão automatizada vem sendo muito bem recebida pelo mercado e já responde por cerca de 50% das vendas dos modelos em que está disponível”, disse o gerente. Diante desse sucesso, a Ford anunciou também a ampliação da linha com

O novo Cargo 8x2 tem capacidade técnica para transportar 30.150 quilos

o futuro lançamento de sete novos modelos Torqshift, com trações 4x2 e 6x4.

SEU MUNDO NÃO PODE PARAR

Desde o ano passado, a Ford Caminhões adotou uma nova assinatura da marca – “Seu mundo não pode parar” –, que traduz a proposta de trabalhar ao lado do cliente em todos os momentos para garantir que seus veículos continuem sempre rodando e produzindo.

“Sintetizamos nesses três pilares todo o trabalho que é desenvolvido nas diferentes áreas da empresa para chegar ao resultado final que interessa ao cliente. Ou seja, fornecer caminhões potentes, duráveis e inovadores, com um serviço pósvenda ágil, de qualidade e com preço justo para manter a frota sempre em operação, e um relacionamento constante e transparente para atender suas necessidades”, destacou o gerente de Marketing da Ford Caminhões, .M Guilherme Teles.

O novo modelo foi também testado em aplicações em fazenda, tornando-se uma opção para o transporte de carga viva ou de grandes culturas

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TRATORES

Planejamento indispensável

Fotos Charles Echer

Ao dimensionar a frota agrícola, é necessário que o produtor analise o negócio quanto aos aspectos produtivos e financeiros. Custos reais de aquisição de um trator e seu real retorno sobre os investimentos devem atender a política de aquisição ou substituição dessa frota

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primeira questão a ser considerada pelo produtor ao dimensionar a sua frota deve ser como os tratores afetam a produção, identificando as razões pelas quais a compra deve ser considerada, bem como os benefícios dessa aquisição. Um trator pode ser adquirido por diversas razões, como tributação e obsolescência do modelo em operação. No entanto, a política de aquisição pode ser alterada ao identificar oportunidades de aumento do lucro. Um exemplo é o maior controle dos custos, principalmente em ambientes inflacionários, em que os preços dos insumos são mais expressivos quando comparados com os benefícios que o produtor teria com a maior cotação de seus produtos no mercado. Outro motivo para aquisição de um Outubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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novo trator é o aumento da produção. Tratores maiores (ou adequados) podem liberar a mão de obra para outras atividades na propriedade. Uma melhor organização da frota existente, por outro lado, pode produzir os mesmos resultados. Novos tratores podem substituir a mão de obra escassa ou não qualificada ou ainda melhorar as expectativas dos empregados, contribuindo para sua retenção e engajamento na propriedade. Todas essas questões envolvem o manejo empregado e como eles afetam a produção e os custos. De fato, a demanda de energia deve ser a principal preocupação, devendo as operações no campo alcançarem menores valores possíveis de uso específico de energia por área (UEA), em kWh/ha, calculado como razão entre a potência requerida

na barra de tração do trator e a capacidade de campo efetiva. A potência requerida pode variar com as características de solo, cultivo e clima. O desempenho do trator, contudo, sofre grande variação de acordo com as condições de operação e habilidade do operador. Nas operações que exigem menor esforço de tração como na pulverização, por exemplo, o tempo gasto pela máquina pode ser uma boa estimativa desse desempenho. Esse indicador, por outro lado, pode ser inadequado devido às diferenças no tamanho do trator, bem como às variações nos resultados obtidos por diferentes operadores, particularmente ao tracionar equipamentos pesados ou com grande carga. Nesses casos, o UEA líquido pode ser uma boa estimativa da energia requerida por esses equipa-


Agrale

mentos, “descontando” o efeito do tamanho do trator, perdas na transmissão e habilidades do operador. O fato é que a energia gerada no motor não pode ser inteiramente aproveitada, sendo uma parte da potência nominal disponível para trabalho útil. A potência total disponível para produção pode ser alterada, substituindo um trator por outro maior ou menor. Embora os tratores maiores possam aumentar a capacidade de campo, é necessário considerar a composição de práticas agrícolas adotadas, particularmente naqueles períodos de maior demanda, bem como as condições da área cultivada. Assim, a potência que viabilizará a produção e sua relação com o tempo está ligada às particularidades da propriedade, tanto em termos do empreendimento quanto das condições de operação. Tratores maiores estão associados a maiores custos de aquisição e de operação. Esses custos podem ser diluídos devido à maior escala de produção que essas máquinas proporcionam (economia de escala), devendo o produtor estabelecer os custos por área dentro dos limites economicamente aceitáveis. Tratores maiores em frota reduzida resultam em menor número de operadores, o que, por outro lado, reduz a folga em períodos críticos do sistema. Nesse caso, o tempo dispendido em reparos e manutenção nesses períodos é proporcionalmente maior. Por outro lado, o planejamento operacional se torna mais difícil quando o

Trabalho desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco e da UFV avaliou a demanda energética de semeadoras de fluxo contínuo

proprietário precisa avaliar a aquisição de um novo conjunto de máquinas, principalmente com tratores diferentes. A utilização do tempo da máquina na análise da capacidade de trabalho futura, assumindo que a relação entre ritmo operacional e potência do trator é a mesma para tratores de diferentes tamanhos, não é ideal. Por outro lado, pequenos aumentos na potência podem fazer a diferença entre trabalhar e não trabalhar. As características dos implementos utilizados na propriedade definem a necessidade de potência. O trator, contudo, apresenta perdas de potência bruta do motor relativa a seus órgãos internos, resultando em uma menor potência disponível na barra de tração. Segundo a Asabe (American Society of Agricultural and Biological Engineers), a potência líquida do motor corresponde a 92% da potência bruta do motor.

A potência requerida pode variar com as características do solo, o cultivo e o clima

A metodologia considera ainda o tipo de tração de pneu e as condições da superfície para estimar a potência disponível na barra de tração (BT). No caso de tratores 4 x 2 com tração dianteira auxiliar, essa potência pode corresponder a 59% (0,65 x 0,90) e a 78% (0,87 x 0,90) da potência líquida do motor quando a máquina se deslocar sobre solo solto e sobre concreto, nessa ordem. Conhecendo a potência disponível na BT do trator, o produtor deve estimar a potência requerida pelo equipamento a ser tracionado, considerando-o como o produto do esforço de tração pela velocidade do conjunto mecanizado. A norma técnica da Asabe estabelece uma equação que, substituindo os respectivos parâmetros da máquina, oferece uma estimativa da demanda de tração em condições gerais de solo e configurações básicas de operação.

Para semeadoras, o cálculo leva em conta a demanda energética por linha de plantio

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Charles Echer

Gráfico 1

O volume de água necessário é cada vez mais compatível com a realidade Tratores maiores (ou adequados) podem liberar a mão de obra para outras atividades na propriedade

Ao incluir condições operacionais típicas, no entanto, essa estimativa deve estar incluída em um intervalo de variação. Para semeadoras-adubadoras, por exemplo, essa variação é de ±25%. É oportuno frisar que, na estimativa do esforço requerido por semeadoras-adubadoras, a referida norma acaba considerando apenas o número de linhas. De fato, outras variáveis afetam a demanda de força e de potência, como a textura, a resistência do solo à penetração, teor de água, além da profundidade de atuação e do tipo dos mecanismos sulcadores. Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco e da Universidade Federal de Viçosa analisou resultados de experimentos conduzidos em campo com semeadoras-adubadoras, em diferentes condições operacionais. Esses resulta-

dos são oriundos de 43 trabalhos, entre artigos de periódicos indexados, dissertações, teses e relatórios técnicos de órgãos de pesquisa nacionais publicados entre 2000 e 2016. Esses trabalhos basicamente avaliavam a demanda energética de semeadoras de fluxo contínuo e de precisão, nos quais os pesquisadores avaliavam principalmente o esforço de tração requerido na barra de tração de um conjunto de arrasto. Os valores para força média e força máxima eram obtidos com o auxílio de células de carga ou extensômetros elétricos de resistência. Esses valores e as respectivas condições de operação e condições de solo formam o banco de dados que permitiu a geração de nove mil modelos para previsão de demanda de força na barra de tração. Ao considerar os atributos do solo como frações granulométricas, densidade do solo, massa de resíduos culturais de superfície, além de regulagens

EQUAÇÃO 1

F = -1,494 + 1,666 • D - 0,192 • R + 0,641 • P + 0,081 • V + 0,020 • R • P - 0,386 • D • P

em que: F = força específica (kN/linha); D = densidade do solo (Mg/m-3); R = massa de resíduos culturais de superfície por área (t/ha); P = profundidade de atuação do mecanismo sulcador (cm); e V = velocidade do conjunto mecanizado (km/h).

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como velocidade e profundidade de atuação dos sulcadores de adubo, foi possível encontrar modelos mais precisos para estimar o esforço de tração. Essa menor variabilidade pode levar a uma maior precisão no dimensionamento de máquinas e implementos de uma propriedade rural. O modelo proposto no estudo para previsão da força de tração específica (força de tração dividida pelo número de linhas da semeadora) apresentou menor erro de previsão quando comparado com aquele previsto na norma técnica da Asabe. O erro padrão do modelo foi de 2,93, ao passo que o referido avaliador para a norma técnica, segundo o estudo, foi de 63,51. Tal modelo é descrito por: A equação também pode ser utilizada para calcular a força média na barra de tração, bastando multiplicar “F” pelo número de linhas da semeadora-adubadora. Multiplicando o resultado pela velocidade do conjunto mecanizado, obtém-se a potência média requerida. O estudo concluiu que o número de linhas e a densidade do solo são as variáveis que mais afetam a demanda de força por semeadoras-adubadoras, seguidas da quantidade de resíduos culturais de superfície, profundidade de adubação e velocidade do conjunto me.M canizado.

Edmo Henrique M. Cavalcante, Daniel Mariano Leite, Marconi Ribeiro Furtado Júnior e Hugo Colombarolli Bonfá, Univasf


PULVERIZAÇÃO

Baixa qualidade A aplicação aérea realizada com voos muito baixos compromete a uniformidade de distribuição de calda, gerando deriva de produtos e falhas no controle

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urante as Clínicas de Aeronaves Sabri & Dopro tem sido observado que a altura de voo interfere na uniformidade de distribuição de calda ao longo da faixa de aplicação determinada pelo piloto. No entanto, para toda regra existem exceções. E o objetivo deste texto não é confrontar ou contestar a técnica de aplicação de pilotos, empresas ou fazendas. Temos como real objetivo neste texto compartilhar situações encontradas durante nossos trabalhos e assim colaborar com você, leitor, no entendimento deste fator altura de voo. Primeiramente, é preciso mencionar que nas avaliações do efeito da altura de voo no padrão de deposição de calda é

adotado o vento alinhado ou o vento de proa para as aplicações. Esta é a metodologia adotada nas Clínicas de Aeronaves aqui no Brasil pela Sabri e também pelas Clínicas de aeronaves nos Estados Unidos pela NAAA, entre outras. O motivo de ser usado vento alinhado ou de proa é simples, apenas assim poderíamos verificar irregularidades na distribuição de calda. Quando há vento lateral ou vento de través, as irregularidades na distribuição da calda são “mascaradas”. Isto posto, todo cuidado é pouco com relação a mudanças da direção do vento durante as avaliações. Por isso, monitoramos a direção do vento com auxílio de um anemômetro especial, que identifica a ocorrência de ventos laterais ou tam-

bém chamados de “crosswind”. Para demonstrar o efeito que a ocorrência de “crosswind” provoca no padrão de deposição de calda, apresentamos abaixo os resultados obtidos para uma mesma aeronave. Na Figura 1a, tem-se o gráfico em que houve ocorrência de vento lateral no sentido da asa esquerda para a direita. Já na Figura 1b, tem-se o gráfico em que não houve ocorrência de ventos laterais ou “crosswind”. Note que, dentro da mesma faixa de aplicação determinada pelo piloto (faixa central pontilhada), existiam falhas e possíveis subdosagens que não seriam identificadas com ocorrência de ventos laterais e, consequentemente, se fossem adotados voos de través

Charles Echer

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Fotos Henrique Campos

Anemômetro digital usado para monitoramento da velocidade do vento e de ocorrência de ventos laterais ou “crosswind”

durante as avaliações feitas nas clínicas de aeronaves. Uma vez demonstrada a importância de adotarmos o vento de proa, voltamos para as avaliações de altura de voo. Nelas, usamos uma metodologia parecida com a adotada em topografia. Temos um ponto de referência que chamamos de ponto zero, onde há uma bola branca como marco. A partir deste marco são posicionadas três bandeiras de sinalização para que a aeronave faça o voo alinhado e centralizado com estas bandeiras. Paralelo ao ponto zero há uma luneta com mira a laser e, por fim, entre o ponto zero e a luneta temos uma régua graduada para a orientação da altura de voo pela equipe em solo. Esta metodologia simples permite avaliar a altura de voo em aeronaves que não possuem altímetro digital no cockpit. Sendo que, naquelas aeronaves que cotam com altímetro digital, as al-

Luneta com mira a laser usada para verificação da altura de voo

turas obtidas em solo a partir desta metodologia conferem precisamente com as alturas informadas pelo piloto a partir do sistema digital dentro do cockpit. Uma vez compreendida a metodologia que usamos para avaliar a altura de voo, seguimos para a prática e entra em ação a tecnologia de espectrometria de fio. Nela usamos um fio ou barbante composto por algodão e poliéster para capturar a deposição de gotas concentradas com marcador não tóxico a partir da aplicação aérea. Então, este fio especial é levado até o equipamento, que faz a leitura das três ou mais repetições feitas no campo e gera um laudo, ou melhor, um gráfico detalhado da

aplicação feita pela aeronave. Nas avaliações com vento alinhado ou vento de proa, temos observado dois tipos de desuniformidade na distribuição de calda quando são adotadas pelo piloto alturas de voo iguais ou inferiores a dois metros. Neste primeiro caso, apresentamos os resultados do padrão de distribuição de calda com um Air Tractor 502 B voando a 1,8m de altura (Figura 2) e a mesma aeronave voando a 4,5m de altura (Figura 3). Ambos configurados com bicos hidráulicos D6 core 46 perfazendo um volume de calda de 15 litros por hectare. No primeiro caso, em que houve

Figura 1 - Efeito de ventos laterais no padrão de distribuição de calda. Dados obtidos durante uma Clínica de Aeronaves Sabri & Dopro no Brasil sob condições reais de campo

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Tecnologia DoPro para verificação do padrão de distribuição de calda

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Figura 2 - Efeito da altura de voo de 1,8 metro no padrão de distribuição de calda

Figura 3 - Efeito da altura de voo de 4,5 metros no padrão de distribuição de calda Henrique Campos mostra a influência da altura do voo na qualidade de aplicação

maior deposição de calda no centro da faixa de aplicação criando um desenho típico no gráfico em formato de U, acreditamos na hipótese de efeito do vortex da hélice prejudicando a distribuição de calda em função da altura de voo de 1,8m, pois verificamos em altura de voo de 4,5m que houve maior uniformidade de distribuição da calda. Por outro lado, nas Figuras 4 e 5 apresentamos os resultados do padrão de distribuição de calda com outra aeronave. Agora um Thrush 510 G voando a 2m de altura (Figura 4) e a mesma aeronave voando a 3,5m de altura (Figura 5). Ambos configurados com bicos hidráulicos TeeJet 4015 perfazendo um volume de calda de 28 litros por hectare. Neste segundo caso, em que houve menor deposição de calda nas extremidades da faixa de aplicação na altura de voo a 2m (Figura 4), nós também acreditamos na hipótese de que houve efeito negativo da menor altura de voo. Pois, ao adotar altura de voo de 3,5m, houve maior deposição de calda nos limites da faixa de aplicação (Figura 5). Portanto, verificamos ao aumentar a altura de voo que houve maior abertura de faixa, evitando falhas ou subdosagens nos limites da faixa de aplicação. Ainda neste segundo caso, verifica-se que houve maior depósito de calda no centro da faixa de aplicação também criando no gráfico uma deposição em formato de U. No entanto, neste caso em que é descartada a hipótese de ser resultado da menor altura de voo, o acúmulo de deposição no centro da faixa de aplicação pode ser devido à interferência de outros fatores,

Figura 4 - Efeito da altura de voo de 2 metros no padrão de distribuição de calda

Figura 5 - Efeito da altura de voo de 3,5 metros no padrão de distribuição de calda

Dados obtidos durante uma Clinica de Aeronaves Sabri & Dopro no Brasil sob condições reais de campo. Por politica de privacidade não foi divulgado o prefixo da aeronave e o nome do piloto.

tais como: posicionamento inadequado dos bicos, interferência das rodas, ausência de bicos na barriga da aeronave, entre outros que serão abordados nos próximos textos. Contudo, é intuitivo concluirmos que a altura de voo interfere na qualidade das aplicações. Porém, isto vai depender de diferentes fatores como tipo de aeronave, configuração e posicionamento das pontas na barra de pulveri-

zação, do modo como o piloto trabalha, da direção do vento durante as avaliações, entre outros. Logo, a realização de testes, pesquisas e ações extensionistas como as Clínicas de Aeronaves Sabri tem papel importante e fundamental para o desenvolvimento sustentável .M da aplicação aérea no Brasil. Henrique Campos, Sabri

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FROTA

Do tamanho ideal A mecanização das propriedades, quando dimensionada de forma correta, eleva de maneira significativa o rendimento na agricultura. No entanto, as máquinas agrícolas podem representar de 20% a 40% do custo total de produção das culturas e exigem critério e cuidado na sua escolha

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utilização de máquinas de tamanho e em quantidades abaixo ou acima do recomendado acaba acarretando um maior custo final de produção, devido à utilização não adequada desses equipamentos. A junção desses fatores pode interferir no potencial de realização das atividades mecanizadas, ocasionando prejuízos na qualidade e na quantidade do produto final. Planejar é um processo necessário que deve ser realizado de forma contínua, para que se possa definir as etapas que serão seguidas duranOutubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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te o ano agrícola de uma propriedade rural, permitindo o planejamento precoce das atividades e tendo escape dos possíveis problemas que poderão acontecer durante o plantio ou colheita de uma determinada cultura, ou até mesmo nos períodos entre as safras, onde se iniciam os cuidados com o preparo do solo. O dimensionamento da frota agrícola é extremamente importante para definir o sistema mecanizado, bem como o número de conjuntos necessários para suprir as necessidades do sistema de produção como implanta-

ção, condução e retirada da cultura instalada na propriedade. Nesta etapa da produção se tem a influência dos fatores externos (solo e clima), e também a influência de fatores internos, como o tamanho da propriedade, o tipo da cultura implantada, o tipo de manejo e também o ritmo operacional das máquinas agrícolas da propriedade. O uso de máquinas agrícolas é de grande importância para a cultura da soja e de outras culturas, e cada vez mais a incorporação de tecnologia nesses equipamentos ocasiona a ele-


Fotos Charles Echer

vação da produtividade agrícola mundial, aumentando a eficiência operacional e melhorando o uso de insumos, reflexo de um ritmo operacional elevado. Assim, o objetivo deste trabalho foi de revisar o dimensionamento da frota agrícola de uma propriedade no Norte do estado de Mato Grosso. A fazenda em estudo está localizada no município de Santa Carmem, Mato Grosso, mais especificamente ao Norte do estado, 530km de distância da capital Cuiabá e possui área total de 1.900ha. O clima do município, segundo classificação de Koppen, é do tipo Am, ou seja, tropical chuvoso, com um pequeno período de chuvas inferiores a 60mm no mês mais seco. Os totais pluviométricos ultrapassam 2.000mm

(2.064mm), possuindo cinco meses secos. As temperaturas médias anuais são altas, sempre acima de 20ºC. reduzem-se no inverno e em dezembro/janeiro com as chuvas, caracterizando, portanto, duas ondas de maiores temperaturas, uma na primavera e a outra no final do verão. As temperaturas médias máximas são altas o ano todo, acima de 30ºC. Os preços das máquinas agrícolas da propriedade foram obtidos em concessionárias e representantes que comercializam as máquinas em estudo. As especificações técnicas de cada máquina agrícola da propriedade foram obtidas nos catálogos disponibilizados pelas empresas em seus sites oficiais na internet. Alguns maquinários acabaram saindo de linha, sendo substituídos por outros com maior tecnologia embarcada. Devido a isso, os cálculos foram efetuados para as máquinas e os implementos que os substituíram em linha de venda. Para efetuação dos cálculos de dimensionamento e custos de cada máquina agrícola foram utilizadas várias fórmulas que correspondem a cada máquina e implemento agrícola. A propriedade em questão trabalha com o sistema plantio direto e por isso a fazenda não possui equipamentos para

preparo do solo, como grades, grades niveladoras, escarificadores, subsoladores, dentre outros. As máquinas pertencentes à fazenda são descritas na Tabela 1. Na Tabela 2 pode-se verificar o planejamento das atividades agrícolas que foi definido para o ano agrícola da propriedade na safra de soja 2017/18, obtendo um período para realização de cada atividade e os dias a serem trabalhados, considerando o período desde a aplicação de corretivos até a colheita da cultura da soja, levando em consideração o ciclo vegetativo da cultura de 110 dias, totalizando 69 dias úteis trabalhados e uma jornada de trabalho total de 552 horas. Para o mês de julho, que é o período onde se iniciam as atividades agrícolas da propriedade com a semeadura da soja, foram designados 21 dias, tendo o desconto de finais de semana e feriados. Conforme o tempo disponível para esse mês e a jornada de trabalho de oito horas diárias da propriedade, foram designados todos os dias disponíveis no mês para a aplicação de calcário e corretivos, já que a propriedade não realiza atividades de revolvimento do solo, totalizando 168 horas de trabalho disponível para a realização dessas atividades. De acordo

Dimensionar corretamente a frota evita desperdício de dinheiro na compra e garante máquinas com potência e capacidade adequadas para a propriedade

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Fotos Charles Echer

O dimensionamento da frota agrícola é extremamente importante para definir o sistema mecanizado, bem como o número de conjuntos necessários para suprir as necessidades do sistema de produção

com os cálculos efetuados de dimensionamento, verificou-se que o conjunto trator-implemento (distribuidor de adubos Jan Lancer 12.000 TH) é apto para a realização das atividades, conseguindo executá-las durante o tempo planejado. A potência requerida na barra de tração pelo implemento é de 40cv Para o mês de outubro, ficou designada a atividade de semeadura da soja, sendo 22 dias úteis para a realização dessa atividade e uma jornada de oito horas diárias, totalizando uma jornada 176 horas. Verificou-se que a semeadora Case IH ASM modelo 1215 com 28 linhas (Tandem) espaçadas em 55cm está apta para a realização da atividade de semeadura da propriedade, requerendo 68cv na barra de tração, a qual foi arrastada pelo trator Case IH 340 Magnum que tem potência suficiente para o arrasto da semeadora. Para a realização da aplicação de

defensivos na cultura da soja foram 144 horas. Verificou-se que o necesdirecionados os meses de novembro, sário para atender a demanda da prodezembro e janeiro, sendo uma aplica- priedade na colheita seria de apenas ção de herbicida e uma de fungicida no duas colhedoras, porém a propriedamês de novembro, três aplicações de de conta com três colhedoras da marfungicida e uma de inseticida em pré- ca Case IH (modelos 8120 e 7120), o -emergência no mês de dezembro, ha- que se deve a uma maior preparação vendo outras aplicações não contabi- da propriedade para a colheita, tendo lizadas de inseticida quando ultrapas- escape das condições climáticas dessado o nível de dano econômico, e por favoráveis e tendo uma colheita em fim, uma aplicação de herbicida (des- ritmo acelerado quando se tem boas secante) no final do mês de janeiro, as- condições do clima. sim totalizando uma jornada de oito Em relação ao transporte da soja horas diárias e um total de 64 horas colhida até o local de armazenagem e trabalhadas. Foi verificado que o pul- posterior venda, foram alugados nove verizador Montana Parruda 3027H foi caminhões de uma empresa de transapto para a realização das atividades portes e logística, onde foi pago um determinadas para a safra 2017/18. preço diário por caminhão durante o Para o mês de fevereiro ficou desig- período de colheita da soja. nada a atividade de colheita da soja, de Em relação à mão de obra, a fazenacordo com o ciclo vegetativo da cul- da conta com quatro funcionários fitura. Foram levados em consideração xos, que trabalham durante todo o ano os descontos de feriados e dias inap- na propriedade, ou seja, 475 hectatos devido às condições climáticas, res por funcionário. Gimenez (2006), sendo 18 dias úteis em uma jornada em um trabalho realizado no estade oito horas diá- do do Paraná, região dos Campos GeTabela 1 - Frota pertencente à propriedade em estudo para a safra 2017/18 rias e um total de rais, encontrou um trabalhador para Quantidade Potência (Cv) Marca/Modelo Frota 1 John Deere 6205 J 205 Tabela 2 - Planejamento das atividades agrícolas da fazenda para a safra 2017/18 1 Case IH Maxxum 110 110 Trator Planejamento das atividades agrícolas 1 Case IH Magnum 340 340 2 Case IH 8120 468 Colhedora Atividades a serem realizadas Mês Dias trabalhados 1 Case IH 7120 420 Aplicação de Calcário e Adubação Corretiva Julho 21 1 Mac Don FD 75 Plataforma de Corte Semeadura Outubro 22 2 Case IH 2162 Pulverização Novembro 2 1 Montana Parruda 3027 H 185 Pulverizador Pulverização Dezembro 4 1 Jan Lancer 12.000 D. fertilizante Pulverização Janeiro 1 1 Case IH ASM 1215 Semeadora Colheita Fevereiro 18 Cv: Cavalo Vapor; R$: Reais; D.Fertilizante: Distribuidor de Fertilizantes.

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Tabela 3 - Custos das máquinas e dos implementos pertencentes à propriedade Custos Fixos Tratores D.Fertilizantes Semeadora Pulverizador Colhedoras Plataformas

Qtd. 3 1 1 1 3 3

Dpr.R$/h 126,54 131,25 143,18 447,7 2.383,7 664,4

Custos Fixos

Jur.R$/h Aloj.R$/h Comb.R$/h Lub.R$/h Man.R$/h 50,61 42,1 492,55 10,59 140,6 11,02 30,6 61,25 63 30 105 98,5 74,6 139,14 3,14 248,7 171,6 143 980,59 20,09 476,75 49,3 39,7 20,09 79,49 Total

Aluguel dos 9 Caminhões

M.O R$/h 40,44 40,44 40,44 -

700 R$/Dia Custo total mais transporte

V.U R$ V.T R$ 301,14 903,43 234,12 234,12 341,18 341,18 1.052,2 1.052,2 1.405,3 4.216,17 284,32 852,98 7.600,08 113.400,00 121.000,08

R$/h: Reais por hora; Qtd: Quantidade; Dpr: Depreciação; Jur: Juros; Aloj: Alojamento; Comb: Combustível; Lub: Lubrificante; Man: Manutenção; M.O: Mão de Obra; V.U: Valor Unitário; V.T: Valor Total.

aproximadamente 120 hectares, o que pode explicar a redução na folha salarial de uma propriedade com o aumento na mecanização, uma vez que na fazenda em estudo cada funcionário está relacionado a uma área relativamente grande. Os maiores valores de custos foram evidenciados nas colhedoras (Tabela 3), possivelmente em razão de serem máquinas que requerem mais cuidados, terem maior valor agregado e participarem de uma das etapas mais importantes de um ano agrícola da propriedade, que é a colheita, e que demanda muito tempo, custos e

cuidados. Custos elevados também foram observados nos tratores agrícolas, os quais participam das atividades da propriedade a maior parte do ano, e devido ao elevado tempo de uso se tem maiores gastos com combustíveis, lubrificantes, manutenções, entre outros, totalizando um gasto anual de R$ 121.000,08. Oliveira (2012), em um trabalho avaliando o dimensionamento operacional em uma propriedade cultivadora de cana-de-açúcar, com área de 3.500 hectares, encontrou um custo fixo anual de R$ 330.772,19, deixando de lado outros custos que incrementam ainda mais o

custo total anual, o que remete a uma preocupação no correto dimensionamento da frota agrícola onde se torne possível a redução dos gastos durante as safras agrícolas. Contudo, pode-se concluir que a propriedade estudada, por mais que não tenha efetuado o dimensionamento de sua frota agrícola, possui uma frota ideal para realização de suas atividades, o que pode ser visualizado também em outras propriedades. O custo das operações agrícolas se mostra altamente oneroso, evidenciando a necessidade de se economizar e otimizar ao máximo as operações agrícolas de uma propriedade rural. O dimensionamento da frota agrícola é de grande importância para que as propriedades rurais mantenham máquinas e implementos na quantidade e no tamanho ideal para aten.M derem suas necessidades. Weslley Buratto, Antonio Tassio S. Ormond, Unemat Willian Buratto, UFMT Alícia Cristino Arenhart, Gessiel Mendonça Leles e Marcos Ferreira do Prado, Unemat

Tabela 4 - Parâmetros para cálculo de custos com reparos e manutenção de máquinas agrícolas Equipamentos

Planejar é um processo necessário que deve ser realizado de forma contínua

Tratores Arados Grades Escarificadores Subsoladores Enxadas rotativas Semeadoras de sementes miúdas Semeadoras de sementes graúdas (de precisão) Plantio direto Plantio convencional Cultivadores Pulverizadores Colhedora de arrasto Colhedora combinada automotriz Colhedora de forragem Ceifadoras

Gasto total com reparos % do preço de aquisição 100 60 50 60 60 80 80 80 80 100 80 90 100 60 150

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CAPA

BH 184 HiTech

A nova Linha BH HiTech, da Valtra, traz nos seus cinco modelos a transmissão semi Powershift e inovações como três diferentes modos de condução, com acelerador eletrônico, sistema de transferência da função pedal e o Ecomode

D

e volta aos testes com tratores agrícolas tivemos a oportunidade de conhecer e trabalhar no campo com o trator Valtra BH 184 HiTech, um lançamento recente da marca de origem finlandesa. Este modelo, que faz parte de uma linha denominada HiTech, tem a companhia dos modelos BH 144, BH 154 e BH 184, com quatro cilindros, e BH 174 e BH 194, com seis cilindros. Todos estes modelos levam a nomenclatura HiTech. A diferença se estabelece porque há outra linha que também se chama BH, porém convencional, com os modelos BH 144, BH 154, BH 174, BH 194, BH 214 e BH 224. Todos os modelos das duas linhas são idênticos em dimensões, a não ser a distância entre eixos, que na linha convencional é de 10cm a menos, em função da transmissão que é montada. A diferença básica entre linhas é a transmissão Heavy Duty de engrenamento cons-

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tante, na convencional e a semi Powershift, na HiTech. Estas duas linhas representam uma evolução de marca e modelos, no que se constitui a geração 4 da linha BH. O modelo BH 184 HiTech que testamos é um lançamento da última Expointer 2018 e será totalmente fabricado no País. A empresa espera que a maior concentração de clientes se dê entre produtores de cana-de-açúcar, principalmente usinas, onde a linha BH é bastante respeitada pela resistência, a relação custo/benefício e por atributos importantes no setor, mas também podem ser clientes potenciais os produtores com maiores extensões de área e operações agrícolas de alta exigência. A empresa vem recebendo informações, provenientes dos registros das usinas, de que esta linha é a que tem a menor relação consumo combustível por

tonelada transportada na operação de transbordo. Estas informações são muito importantes para o posicionamento da marca no mercado e na constituição do seu portfólio de modelos. Neste sentido, o desenvolvimento do projeto de novos tratores utilizando atividades das usinas é uma ótima alternativa, pois, em geral, as empresas praticam controles gerenciais bem detalhados e precisos das atividades mecanizadas. Também é um atrativo para as empresas fabricantes fazer os acordos de


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O modelo que testamos tem motor AGCO Power, modelo 49CW3 de quatro cilindros com um volume deslocado de 4.900cm3 alcançando uma potência máxima de 132kW (180cv), pela Norma SAE J-1995, com sistema de injeção eletrônica Common Rail

desenvolvimento, com as usinas de cana-de-açúcar, pelo fato de que em pouco tempo se obtêm os resultados, pois enquanto em várias situações na produção de grãos a utilização média de um trator alcança ao redor de 800 a mil horas por ano, é muito frequente que na atividade de produção de cana-de-açúcar se chegue a quatro mil

horas/ano, com médias de 3.400 a 3.600 horas por ano. O grande diferencial e que nos motivou para o teste de campo deste trator é a transmissão de potência HiTech3 (HiTech Three), semi Powershift, da qual explicaremos as características e o funcionamento em operação. Todos os tratores da linha BH que levarem na designação o termo HiTech são equipados com este tipo de transmissão. Aplicado em toda a linha BH, nota-se, desde a parte frontal (grade) aos para-lamas, o novo design, premia-

do nos modelos produzidos pela Valtra para o mercado mundial, que recebeu o destaque durante a Feira de Hannover, com o Selo de Trator do Ano em 2016.

MOTOR

O motor AGCO Power que equipa este trator é de projeto recente e foi configurado para atender todas as exigências do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores para Máquinas Agrícolas e Rodoviárias, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que desde janei-

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plástico no lado esquerdo, abaixo da cabine, com capacidade de 200 litros, para os modelos BH144 HiTech, BH154 HiTech e BH174 HiTech. Os modelos BH184 HiTech e BH194 HiTech possuem dois tanques de combustível com capacidade de 400 litros. Ainda que seja um trator de quatro cilindros, a filtragem de combustível é a mesma utilizada nos tratores de seis cilindros. Para quem é observador, nota-se a presença de um espaçador colocado à frente do motor, que preenche o espaço que resulta da passagem de seis para quatro cilindros, visto que os tratores têm igual dimensão na distância entre eixos.

TRANSMISSÃO

Conjunto de seis radiadores atende todo o sistema de arrefecimento do trator

Sistema hidráulico pode vir com Kit HiFlow II, com vazão de 170L/min

ro de 2017, em sua Fase 1 (Proconve MAR-1), exige que os motores das máquinas agrícolas emitam gases de descarga dentro de limites restritos. A opção da empresa foi pelo sistema de recirculação de gases internos (iEGR), que não necessita de adição de catalisador líquido (ureia). Para proporcionar este requisito obrigatório, todos os motores são equipados com turbocompressor e sistema de esfriamento do ar da admissão (intercooler). Este motor, AGCO Power, modelo 49CW3 de quatro cilindros, tem um volume deslocado de 4.900cm3, alcançando uma potência máxima de 132kW (180cv), pela Norma SAE J-1995, com sistema de injeção eletrônica Common Rail. Com toda a demanda que atende este motor, há um conjunto de seis radiadores para esfriamento de fluidos, dois para o óleo hidráulico, um para o óleo combustível, um para a água, um para o ar-condicionado e um do intercooler, posicionados à frente do motor. Em relação aos motores de quatro cilindros, utilizados anteriormente, o projeto com a nova geração dos motores previu um aumento do curso e manuten-

ção do diâmetro do cilindro, proporcionando, assim, mais torque, principalmente em médias rotações. Como é tradicional da Valtra, manteve-se o depósito (tanque) estrutural, no entanto, com óleo hidráulico em vez do diesel, que agora é armazenado em depósito de material

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O sistema de transmissão se inicia com um pacote multidisco de embreagem, banhada a óleo, que substitui a embreagem convencional de disco seco. Nestes modelos de trator com transmissão de auxílio hidráulico, a embreagem é cada vez menos exigida em tempo de utilização, mas com os grandes torques desenvolvidos pelo motor e com as exigentes operações que um trator desta fai-

Para manutenções de todos os tipos, é possível remover as tampas laterais do motor e o sistema basculante facilita o acesso


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Comandos instalados no para-lamas para controlar o sistema hidráulico

xa de potência é submetido, é necessário que seja cada vez mais robusta e de acionamento suave. Como contaremos no teste, ela pode ser acionada por pedal convencional ou por um interruptor colocado na alavanca. Desta forma, se poderá trocar de marcha em movimento. No entanto, a troca entre grupos deverá ser feita com o trator parado. No acionamento do reversor power shuttle não haverá necessidade de usar a embreagem. A transmissão HiTech3 deste trator é semi Powershift, com possibilidade de 18 marchas à frente e 18 à ré, pela presença de um reversor colocado no lado esquerdo da coluna da direção. Qualquer marcha pode ser utilizada com este reversor, no entanto, esta linha traz uma grande novidade. O reversor está programado para somente inverter o sentido de deslocamento do trator após satisfazer dois

Eixo dianteiro ZF com sensor de posição (detalhe)

parâmetros, ação do operador e velocidade de deslocamento. Ao acionar a alavanca de reversão, o operador satisfaz o primeiro requisito, mas o sistema somente fará a inversão de sentido uma vez que o segundo requisito seja atendido, ou seja, com velocidades menores que 2km/h. O operador aciona o reversor e o trator espera chegar a velocidade adequada e programada, apresentando esta informação em um pequeno painel situado na coluna dianteira direita da

cabine. O sinal de reversão fica em modo piscante e só se efetiva quando chegar à velocidade adequada. O fabricante acredita que com este dispositivo se solucione um problema frequente em todos os tratores que utilizam pacotes de discos, aumentando a durabilidade da transmissão, pois evita a queima dos pacotes. Este sistema Powershift proporciona três velocidades de deslocamento, que se

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A Linha BH HiTech apresenta um semichassi, com duas longarinas laterais que dão estrutura ao trator e possui uma relação peso/potência de 55kg/cv e distribuição de peso de 40% sobre o eixo dianteiro e 60% sobre o traseiro

combinam com as mecânicas. Como a transmissão é semi Powershift, a parte mecânica é acionada por duas alavancas, uma que aciona os grupos L, H e M, e outra que aciona as marchas, que são duas, A e B. Em função do inversor não há mais a posição de ré, na alavanca de regime. Desta forma, se proporciona uma combinação entre três grupos, duas marchas, com as três do sistema Powershift, proporcionado as 18 velo-

cidades no total. Para a transmissão da potência e do torque, o projeto dispôs um eixo dianteiro da marca ZF, com sensor de posição da roda embutido, muito útil quando se está utilizando sistema de piloto automático. A Tomada de Potência (TDP) é do tipo independente, com acionamento eletro-hidráulico, com velocidades de 540rpm e 1.000rpm, que se conseguem com rotações do motor de 1.874rpm e

O novo design do capô dianteiro foi premiado nos modelos produzidos pela Valtra para o mercado mundial, em Hannover

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2.000rpm, respectivamente.

ERGONOMIA

Analisando este modelo em termos ergonômicos, encontramos como item central uma espaçosa cabine, denominada pelo fabricante de HiComfort. Este projeto que é proveniente da Finlândia e fabricado no Brasil prevê a permanência do operador por longas jornadas de trabalho, como ocorre em diversas atividades agrícolas no nosso País. Notamos um ótimo espaço para o operador, tanto para frente como nas laterais, e com destaque em acabamento e disposição de locais para objetos, nos dois lados. Durante o teste nos chamou a atenção e comentamos com os técnicos que nos acompanhavam que o ruído que chega ao operador é bastante reduzido, em função da qualidade das vedações de portas e janelas, e talvez pelo próprio material de construção e amortecimento. Também notamos pouca vibração incidindo ao posto do operador e, pelo uso de assento com amortecimento pneumático, sentimos bastante conforto ao operar. O assento, por sinal, tem sensor de presença, impossibilitando o funcionamento em operação com o operador em pé e, portan-


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to, sem estar utilizando o cinto de segurança. Ao lado esquerdo, um assento para acompanhante. O acesso à cabine é possibilitado por meio de uma escada de quatro degraus, com destaque para o que observamos imediatamente, que é a altura do primeiro degrau, baixa, o que proporciona bastante conforto ao iniciar a subida ao posto do operador. Ao final da escada há uma ampla porta no lado esquerdo, não havendo previsão de entrada e saída pelo lado direito. No entanto, a janela traseira serve de saída de emergência, como previsto em norma de segurança. Na parte traseira externa da cabine há um reservatório de água limpa para a higiene do operador. No interior da cabine, à direita, está posicionado um painel de comandos, com as alavancas da transmissão à frente, depois as do sistema de controle remoto, os comandos do sistema hidráulico e da TDP. Em um pequeno painel, o fabricante posicionou o interruptor do acelerador eletrônico. Particularmente neste ponto, encontramos algo novo e interessante, que é um interruptor giratório para o acelerador e outro de pressionar que memoriza a rotação de retomada, após a manobra ou em qualquer outra ocasião em que reduzimos a rotação e desejamos retomar a uma usual. A coluna intermediária da cabine à direita também

O teste foi realizado numa fazenda de cana-de-açúcar, na operação de gradagem no preparo do solo para plantio da cultura

tem comandos e nela estão posicionados o monitor do sistema de piloto automático (Auto-GuideTM 3000) e demais itens de agricultura de precisão, com níveis de precisão decimétrico e centimétrico. Na coluna do volante, que possui regulagem de posição em profundidade e aproximação ao operador, também temos um pequeno painel com funções de operação do trator. Nota-se que a marca teve o cuidado de estabelecer cores padrão em uma convenção de atribuição por função, com o tom laranja para motor e transmissão e o amarelo para a TDP, por exemplo. Para as tarefas de manutenção, o modelo apresenta um capô escamoteável de boa abertura e os tradicionais painéis laterais removíveis. Ao abrir o capô, à frente dos radiadores destaca-se um grande filtro de ar, com fácil acesso para a limpeza.

para os motores de 6 cilindros e 162 litros por minuto para os motores de 4 cilindros. No sistema standard a vazão é de 67 litros por minuto para motores de 6 cilindros e 64 litros por minutos para motores de 4 cilindros. A bomba e as válvulas são todas externas e de fácil acesso para a manuten-

SISTEMA HIDRÁULICO

O sistema hidráulico do trator que testamos tinha um item opcional que é uma bomba de pistão com vazão variável (HiFlow II), que proporciona uma vazão de 170 litros por minuto

Acesso lateral facilitado com escada antiderrapante

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Na direita do operador está localizado o painel de comandos, com as alavancas da transmissão à frente, depois as do sistema de controle remoto, os comandos do sistema hidráulico e da TDP

ção. Com o depósito de óleo central e estrutural, este fluido é exclusivo para o sistema hidráulico, o que, de certa forma, é uma grande vantagem, principalmente em sistemas agrícolas como as usinas em que há uma grande variedade de equipamentos que são intercambiados entre os tratores. O usuário pode colocar um volume de óleo hidráulico compatível com a uti-

lização. O projeto do fabricante prevê que o retorno do óleo seja feito sem restrição de vazão por filtragem, indo diretamente ao depósito. O sistema de controle remoto compõe-se na versão standard de três VCRs, sendo uma com retorno normal e duas com o sistema kickout, mas podem, como opcional, ser quatro válvulas VCRs.

O sistema hidráulico de três pontos tem os braços inferiores com opção de engate rápido e pode elevar até uma capacidade máxima de 8.000kg. Nos dois braços inferiores do sistema existem células de carga para medir o esforço e adequar a posição para uma operação uniforme. Este sistema é denominado HiLift e propõe-se a diminuir o patinamento das rodas e a melhorar a eficiência da operação.

DIMENSÕES E CARACTERÍSTICAS

Cabine projetada na Finlândia e denominada HiComfort foi pensada para operadores que permanecem longos períodos no posto de comando

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Este modelo apresenta um semichassi, com duas longarinas laterais que dão estrutura ao trator. No entanto, pela posição que se encontram, dão plena liberdade de movimentação aos rodados dianteiros, pois houve um cuidado no projeto de diminuir o raio de giro, melhorando as manobras. Uma das características deste modelo é o de manter, com as adaptações do trator ao trabalho, uma relação de massa-potência de 55kg/cv, distribuindo os aproximados 10.000kg em 40% sobre o eixo dianteiro e 60% sobre o traseiro. No entanto, também há a possibilidade de, utilizando os discos de roda e os pesos dianteiros, che-


Monitor AutoGuide TM 3000 equipa toda a série

Dois espaços estão disponíveis para lastragem mecânica dianteira

gar a 45% no eixo dianteiro, recomendado principalmente quando se utilizam grandes equipamentos no sistema hidráulico de três pontos. Por opção do cliente, o fabricante pode montar o trator com pneus radiais, embora a versão standard apresente pneus diagonais. No trator que testamos estavam montados pneus radiais de especificação 540/65-R30 na parte dianteira e 650/65-R38 na traseira, com 15 libras por polegada quadrada de pressão interna e 75% do volume preenchido com água, como lastro hidráulico, além do peso adicionado na forma metálica.

rência da função pedal e o Ecomode. Quanto aos três modos de operação, manual, Auto 1 e Auto 2, testamos individualmente cada um. No modo manual, o operador é o responsável por trocar as marchas, acelerar o trator, de forma convencional. Embora seja o mais simples, é o que coloca toda a decisão ao operador, podendo, em determinadas vezes, não ser o mais eficiente. O sistema Auto 1 não é programável, pois vem com parâmetros pré-ajustados pelo fabricante e faz a troca das machas na parte referente ao Powershift, de acordo com a programação de fábrica, aumentando e diminuindo a marcha de acordo com o torque do motor, buscando a faixa de rotações e velocidade mais ade-

TESTE

Para o teste de campo, as equipes da Revista Cultivar Máquinas e da Valtra se deslocaram para uma área de produção de cana-de-açúcar da Central Energética Moreno Açúcar e Álcool Ltda, na Rodovia SP-253, no município de Luiz Antônio, Região Metropolitana de Ribeirão Preto, no estado de São Paulo. Lá encontramos uma área de renovação de cana, com preparo convencional em solo seco, pois este ano, devido aos fatores climáticos, o preparo está bastante atrasado. Para o preparo secundário utilizamos uma grade niveladora da marca Civemasa, modelo GDFH de 72 discos, com 24 polegadas e 220mm de espaçamento entre discos. Decidimos optar pelo teste em operação para visualizar as características mais interessantes e inovadoras do modelo, que eram os três modos de condução, o acelerador eletrônico, o sistema de transfe-

quada para a tarefa. No modo Auto 2, a adequação da rotação e da marcha é feita com base em critérios programados pelo usuário, que no pequeno painel colocado na coluna dianteira e com dois interruptores fará a programação de limites inferior e superior de rotação do motor em que as marchas devem ser trocadas. Quando estes limites forem alcançados no campo, o sistema automaticamente fará a redução ou a ampliação da marcha no sistema Powershift. Testamos os três sistemas e realmente pode-se concluir que o sistema Auto 2 é o mais interessante, desde que os limites estiverem bem delimitados pelo operador. Experimentamos ampliar e estreitar esta faixa de delimitação e o sistema atua perfeitamente dentro do que se previu. De acordo com a desuniformidade do terreno, se os limites forem estreitos, ele troca muito frequentemente a marcha. Se os limites forem distantes um do outro, o sistema só troca de marchas quando ocorrerem grandes exigências. Com uma boa configuração o sistema é perfeito no que se propõe. O acelerador eletrônico também permite que se fixe rotação configu-

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Além do modelo BH 184 HiTech, tivemos acesso ao modelo BH 194 HiTech produzido na cor dourada para o lançamento, que estava equipado com eixo alongado

rada de trabalho, e somente com um toque de interruptor ela seja retomada. Neste sistema denominado Eco Power, que é standard para este modelo, há memória para a rotação escolhida. No nosso teste verificamos que isto auxilia na retomada, não demorando a aceleração e, por conseguinte, melhorando a qualidade do trabalho. Fizemos diversas configurações e o trator apresentou uma boa reação, mesmo com o implemento acionado e a grade travada. O motor arranca em velocidade próxima ao torque máximo e depois ele compensa buscando a rotação pré-configurada. Mesmo um operador descuidado ou com pouca prática de campo terá reiniciado o trabalho com este sistema, sem o perigo de apagar bruscamente o motor do trator. Também testamos o sistema Auto N, que transfere a função do pedal da embreagem para o pedal do freio. Com um simples acionamento do pedal do freio ele se transforma em um pedal de embreagem, parando o movimento do trator, sem que o motor apague. Esta função é bastante útil nas operações de transbordo da cana da colhedora para o reboque de transporte e outras operações de uso severo. Outubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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Durante os momentos em que testamos a máquina, realizando manobras e trechos de gradagem, verificamos que as várias e importantes funções são apresentadas no painel frontal da coluna da cabine, sem que seja necessário que o operador volte a cabeça para o lado. Também aproveitamos que tínhamos tempo e disponibilidade da máquina no campo para testar o sistema de embreagem acionado por um botão na alavanca de marchas. É impor-

tante ressaltar que apenas as marchas e não a troca entre grupos pode ser alterada com este dispositivo. Por fim, testamos um sistema que foi a grande novidade para nós, que é a função Ecomode. Neste modo, o acionamento de uma tecla faz com que o sistema eletrônico assuma outro mapa de configuração da injeção, entrando em modo economia, diminuindo em todos os tratores desta linha a potência do motor para 166cv, priorizando a redução do consumo de combustível. Depois de termos trabalhado várias horas com este trator, escolhemos como velocidade ideal para o trabalho a média (M), nos grupos, e a marcha B, na velocidade, fazendo alterar as três marchas do sistema Powershift, de engate bastante fácil por dois interruptores para cima e para baixo. Fomos acompanhados no teste pelo especialista de produto Flávio Pinotti Pastori e coordenador de Produto Alberto Toledo – Tratores da Valtra, que nos acompanharam desde a fase e o conhecimento do produto até as horas em que estivemos operando o trator, demonstrando conhecimento pleno do produto e paciência para .M explicar todas as funções. José Fernando Schlosser, Nema – CCR

O teste ocorreu na Usina Moreno, no interior do município de Luiz Antônio, onde fomos acompanhados pela equipe da Valtra


TRATORES

Menos consumo, mais eficiência Camila Parize

Atuação da válvula Mprop do sistema de injeção Common Rail auxilia no gerenciamento eletrônico do motor, contribuindo para uma redução no consumo de combustível e aumento da eficiência da máquina

O

trator agrícola tem a principal função de proporcionar potência para que seja possível a utilização dos implementos agrícolas, pois é nele que estes são acoplados, sendo necessário que exista determinada força e velocidade para que se execute a operação. Dentro da composição do trator, a transmissão tem por função propagar a potência do motor para os rodados e a tomada de potência (TDP) sendo constituída por embreagem, redutores, caixa de marcha, diferencial e se-

mieixos ou ponta de eixo, que assim possibilita uma interrupção e alteração da rotação do motor, que para tratores o que mais interessa são o aumento de torque (força) e a diminuição da rotação. Dentre as transmissões, podem ser classificadas como mecânicas, hidrostáticas ou hidrodinâmicas. A transmissão hidrostática ou semiautomática, chamada de câmbio em carga, que é o primeiro estágio de automatização da caixa de transmissão, porém para entendê-la é necessário conhecer como

funciona a transmissão pioneira. Na transmissão mecânica deslizante, que é a base, as engrenagens possuem ranhuras que se encaixam umas nas outras, e nessa situação a marcha é selecionada antes do início do trabalho, portanto, deve-se parar o trator para realizar a troca de marcha. Já na transmissão mecânica sincronizada, a marcha pode ser selecionada com o trator em movimento, pois com o acionamento da embreagem os anéis se adaptam à velocidade de giro das engrenagens a serem acopladas. Outubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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Charles Echer

Sistema de Injeção Common Rail. Fonte: Bosch

O gerenciamento eletrônico reduziu o ciclo de abertura da válvula Mprop

Fotos Camila Parize

Fonte: Bosch

Já a transmissão hidrodinâmica funciona pela transferência de potência por meio de energia cinética de um fluido hidráulico, porém atualmente nenhum trator agrícola faz uso desta, encontra-se presente em alguns pulverizadores autopropelidos. Assim como no avanço da tecnologia em automóveis, a transmissão automatizada também vem sendo adotada em tratores agrícolas no Brasil e conquistando produtores e operadores devido à comodidade, ao conforto e à durabilidade. A sua maior durabilidade acontece porque não é necessário acionar o pedal de embreagem para efetuar as trocas de marcha, ou seja, permite que seja precisa e suave, lembrando que a embreagem continua presente no sistema, porém não é necessário que o operador faça seu uso. Com uma simples alavanca de câmbio é possível que o operador escolha as trocas de marcha automática ou mes-

mo aumente ou reduza de modo sequencial em um único botão. Essa tecnologia é conhecida como gerenciamento automático de produtividade, que é conhecido como APM, que nada mais é do que permitir o trator trabalhar com o câmbio de modo automático ou em modo manual, ou seja, controla as marchas de trabalho e a rotação do motor com base na carga solicitada pelo motor, se adequando perfeitamente à operação que está sendo realizada e consequentemente resultando a uma economia comprovada de 15% no consumo de combustível. Outro sistema que influencia diretamente no desempenho do trator é o de injeção eletrônica de diesel, que surgiu na década de 1980, e pouco a pouco vem substituindo os sistemas de injeção mecânica. Isso vem acontecendo, pois na injeção controlada eletronicamente, a quantidade e o tempo de pulverização do

combustível são mais precisos, resultando assim em melhores rendimentos no motor, menor consumo de combustível e redução na emissão de poluentes.

TIPOS DE SISTEMAS

Existem três sistemas eletrônicos de injeção comumente utilizados: Diesel Eletrônico (EDC), Unit Injector System (UIS) e Common Rail System (CRS). O Diesel Eletrônico, lançado pela Bosch em 1989 foi o primeiro sistema de injeção eletrônica diesel. Nele, a injeção é controlada por sensores, contudo ainda há a presença da bomba injetora, mas esta não tem conexão mecânica com o pedal do acelerador. O sistema de injeção do tipo Unit Injector System (UIS), lançado no Brasil em 1994, também pela Bosch, tem como característica principal combinar a bomba injetora e o bico injetor em uma unidade única. Neste, é possível variar o período de injeção, e pode-se chegar

O gerenciamento eletrônico de marcha da válvula Mprop teve menor ciclo de abertura e menor pressão do óleo, reduzindo o consumo horário de combustível e a rotação do motor, promovendo otimização do seu desempenho

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a pressões de injeção de até 2.200bar. Já o sistema de injeção Common Rail (CRS) apresenta uma única bomba de alta pressão que envia combustível aos bicos injetores. Neste sistema é possível realizar mais de uma pulverização de combustível durante a fase de expansão, pois o processo de pressurização e de injeção é independente entre si. A particularidade é de que há uma bomba de baixa pressão (que tem por objetivo transportar o combustível até a bomba de alta pressão), a bomba de alta pressão (que pressuriza o diesel e supre o tubo rail à pressão que o combustível será injetado) e o tubo rail (Common Rail) que acumula o diesel em pressões elevadas (de até 1.350bar) e fornece este combustível sob pressão aos injetores. No Common Rail, há uma válvula que regula a pressão do combustível e a ajusta de acordo com as condições de rotação e carga no motor, dentro de parâmetros controlados pelo módulo do motor, liberando o combustível excedente de volta ao tanque de combustível. Esta válvula limitadora de pressão é a Mprop, e sua atuação faz com que a bomba de alta pressão somente gere a pressão requerida no momento, fazendo com que se reduza a potência consumida no funcionamento da bomba e o aquecimento de combustível.

AVALIAÇÃO DO SISTEMA

Para avaliar o funcionamento da válvula Mprop foi realizado um estudo do consumo horário de combustível e a atuação da válvula Mprop com o gerenciamento eletrônico da transmissão utilizando um trator da marca Case, modelo Magnum 340, com potên-

cia nominal de 250kW (340cv), dotado de Tração Dianteira Auxiliar, que permaneceu acionada durante o estudo, com transmissão Full Powershift 18x4 que proporciona a mudança contínua de 18 marchas à frente e quatro à ré. Este trator estava acoplado a uma semeadora modelo Case Easy Riser 2224, com 24 linhas de 0,50m no plantio de milho em área de plantio direto na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, e este conjunto deslocava-se em velocidade média de 5,8km/h. É importante lembrar que o gerenciamento de marchas se originou do setor automobilístico com a finalidade de melhorar a ergonomia do condutor. Esta tecnologia é dominada por poucos agricultores ainda e o maior objetivo das empresas é difundir nas propriedades agrícolas com o intuito de reduzir o consumo de combustível, aumentar o rendimento operacional e sem dúvida a qualidade do trabalho.

DESEMPENHO

No trabalho, foram mensurados o consumo de combustível, a rotação do motor, o ciclo de abertura da bomba (Ciclo), a pressão do óleo do motor (POM) e a temperatura do líquido de arrefecimento do motor (Tlam) para que fossem avaliados o desempenho da válvula Mprop e o gerenciamento de marchas, sendo as informações adquiridas pelo Datar - que é uma interface de comunicação entre máquina e computador - permitindo a coleta dos dados e armazenando as informações que são recebidas via rede CAN (Controller Area Network). Com base nesses parâmetros foi possível comparar o desempenho do gerenciamento eletrônico e da transmissão Full Po-

Tabela 1 - Síntese da análise de variância (Anova) e do teste de médias para consumo horário de combustível (CHC) e rotação do motor (RPM). Dourados/ MS (2016) Gerenciamento eletrônico Automático Manual TESTE F CV (%)

CHC (L/h) 47,31 B 59,88 A 38,634** 5,97

RPM 1.742 B 2.064 A 3.539,909** 0,45

wershift e assim concluiu-se que com o uso do gerenciamento eletrônico houve menor consumo horário de combustível (CHC) e menor rotação por minuto (RPM) do trator em comparação à troca de marchas feita de maneira manual pelo operador. (Tabela 1). O ciclo de abertura da bomba (Ciclo) e a pressão do óleo do motor (POM) nas condições de automático e manual de gerenciamento de marchas tiveram diferença no comportamento durante o teste realizado (Tabela 2). Nesse trabalho foi possível observar que o gerenciamento eletrônico reduziu o ciclo de abertura da válvula Mprop e a pressão do óleo do motor (POM), não interferindo na temperatura do líquido de arrefecimento do motor (Tlam). O menor ciclo de abertura da Mprop é explicado através do uso do gerenciamento automático de marchas, pois com a utilização deste, o operador seleciona a velocidade de trabalho e a transmissão, então altera a marcha automaticamente conforme a necessidade do motor. No término desse estudo foi possível concluir que o gerenciamento eletrônico de marcha a válvula Mprop teve menor ciclo de abertura e menor pressão do óleo do motor, o que consequentemente reduziu o consumo horário de combustível e a rotação do motor, promovendo otimização do desempenho do motor, aumento da eficiência trativa e da adequação do implemento com .M a fonte de potência. Camila Weber Langhinotti Parize, Yasser Alabi Oiole, Leonardo Leonidas Kmiecik, Thiago Xavier da Silva e Samir Paulo Jasper, Lata - UFPR

Tabela 2 - Síntese da análise de variância (Anova) e do teste de médias para ciclo de abertura da bomba (Ciclo), pressão do óleo do motor (POM) e temperatura do líquido de arrefecimento do motor (Tlam). Dourados/MS (2016) Gerenciamento eletrônico Automático Manual TESTE F CV (%)

CICLO (%) 33,79 A 32,23 B 19,146* 1,71

POM (kPa) 595 B 600 A 16,963* 0,28

Tlam (oC) 80,91 84,93 6,830 NS 2,94

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COLHEDORAS John Deere

Ângulo de colheita

Avaliação mostra que as perdas na colheita mecanizada da soja diferem de acordo com o ângulo em relação às linhas de semeadura e à velocidade de colheita

T

odo processo de colheita mecanizada de espécies vegetais implica maior ou menor perda de produto, tanto em função das características morfológicas das culturas, como da estrutura construtiva das máquinas agrícolas. Estudos indicam que uma parcela significativa das perdas de Outubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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grãos ocorridas durante a colheita mecanizada de soja poderia ser evitada, aumentando o lucro da propriedade. Para evitar perdas excessivas de soja, acima de uma saca por hectare, os pesquisadores indicam alguns cuidados básicos, que se iniciam com a seleção de cultivares adaptadas à região e à épo-

ca de semeadura, além da população de plantas adequada. Isto porque uma população de plantas acima do indicado, além de elevar o custo da aquisição de sementes, pode resultar em plantas estioladas, muito sensíveis ao acamamento. Um déficit na população de plantas resultará em plantas de menor porte, com vagens muito próximas ao solo. Em ambos os casos a máquina colhedora terá dificuldades em recolher todo o material a ser trilhado, deixando parte da produção no campo. A colhedora deverá ser regulada de acordo com a arquitetura das plantas, características morfológicas, teor de água do grão, velocidade de colheita e nível aceitável de dano nas sementes. A época de colheita também é um aspecto relevante, uma vez que o atraso na colheita pode resultar em menor qualidade do produto colhido e em maior quan-


Fotos Vandoir Holtz

tidade de grãos perdidos em campo. Em relação à colheita mecanizada da soja, um fato que está chamando a atenção dos produtores é o ângulo de deslocamento da colhedora em relação às linhas de cultivo. Tradicionalmente o operador da máquina buscava deslocar com a colhedora seguindo as linhas de cultivo da soja (ângulo 0º). Contudo, muitas áreas de cultivo de soja são declivosas e requerem a construção de terraços para evitar a erosão. Nestas áreas, a existência de terraços impõe uma nova característica às áreas de cultivo, que leva o produtor a uma difícil decisão, que é a semeadura em nível seguindo os terraços, que reduz a capacidade operacional efetiva do conjunto trator-semeadora ou semear em linhas retas e paralelas, transpondo os terraços. Qualquer que seja sua decisão, também será afetada a forma como serão conduzidos os tratos culturais e a colheita mecanizada da área. Neste contexto, pesquisadores avaliaram as perdas na colheita mecanizada da soja realizada com a colhedora deslocando na direção paralela, transversal e perpendicular (ângulos de colheita 0º, 45º e 90º) em relação às linhas de semeadura, nas velocidades de 5km/h, 6km/h e 7km/h, em experimento conduzido em esquema fatorial 3x3, com quatro repetições, montadas no delineamento em faixas. A pesquisa foi realizada na Fazenda Lira, no município de Querência-MT, no mês de março de 2018. Na área foi se-

meada a cultivar Bônus IPRO no espaçamento entre linhas de 0,45m e ao final foi verificada a população de 261.600 plantas/ha, com altura média das plantas de 0,87m e produtividade média de 3.420kg/ha. Para a colheita foi utilizada uma colhedora combinada da marca SLC, modelo 6200, fabricada no ano de 1986, com sistema de trilha radial e plataforma de 13 pés, com regulagens usuais da propriedade. Para a determinação das perdas, foi utilizada uma armação retangular, com área interior de 2m2, e comprimento igual ao da plataforma de corte, conforme metodologia descrita por Mesquita et al (1998). Para determinar as perdas ocorridas na plataforma, a máquina foi colocada em operação na direção e velocidade desejada até o momento em que a colheita foi interrompida bruscamente, desligando seus sistemas. Seguidamente a máquina foi recuada e a armação foi montada à sua frente, em área delimitada pelos rastos dos pneus dianteiros da colhedora e as plantas ainda não colhidas. Dentro da área delimitada pela armação, foram coletados todos os grãos, as vagens e as plantas para quantificar a massa dos grãos perdidos. As perdas totais foram determinadas recolhendo todos os grãos e as vagens presentes sobre o solo, em área delimitada com a mesma armação, montada após a passagem da colhedora. As perdas nos mecanismos internos foram determinadas pela diferença entre as perdas totais e as perdas na pla-

taforma. Os dados foram submetidos à análise de variância a 5% de probabilidade e suas médias foram comparadas pelo teste de Tukey. Ao analisar os resultados, os pesquisadores observaram que perdas ocorridas na colheita da soja apresentaram diferenças estatísticas (p<0,05) tanto em função do ângulo de colheita quanto da velocidade de deslocamento da colhedora, bem como ocorreu a interação entre os fatores, o que sugere a necessidade de maior atenção aos detalhes de regulagens durante a colheita. As diferenças estatísticas verificadas para as perdas de grãos na plataforma em função dos ângulos de colheita (Tabela 1) possivelmente ocorreram devido à forma como as plantas ficavam distribuídas à frente da barra de corte e do molinete da plataforma, que resultava em variação do fluxo de material cortado pela barra de corte e conduzido até o sistema de trilha. Quando a colheita foi realizada paralelamente às linhas de cultivo (ângulo 0º), foi observado que as plantas acumulavam-se na mesma posição à frente das facas de corte, sendo que praticamente todas as plantas da linha de cultivo eram cortadas na mesma posição da plataforma e pelas mesmas facas da barra de corte. Nesta mesma posição, havia maior atrito entre as barras transversais do molinete e as plantas, ocasionando a debulha das vagens antes do material entrar na colhedora. Contudo, quando a colheita era realizada na direção trans-

Com ângulo de colheita de 0º houve um acúmulo no corte; no ângulo 45º houve uma distribuição homogênea de produto; no ângulo 90º, o fluxo de produto era mais variável intercalando sobrecargas e repousos na alimentação

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Fotos Vandoir Holtz

versal (ângulo 45º), a entrada do material cortado na plataforma e sua condução pelo transportador helicoidal para dentro da colhedora acontecia de forma mais contínua e suave, com todas as facas da barra de corte desempenhando sua função, sem a formação de “amontoados” ou “buchas” no transportador helicoidal, seguindo de igual modo para o sistema de trilha. Já com a colheita realizada na direção perpendicular (ângulo 90º) às linhas de cultivo, o fluxo de material para dentro da colhedora era mais variável. Alternavam-se intervalos de sobrecarga na barra de corte ao cortar uma linha de cultivo e de repouso ao passar pela entre linha. Esta intermitência no sistema de corte também resultava em descontinuidade no fluxo material conduzido pelo transportador helicoidal ao sistema de trilha. As maiores perdas na plataforma encontradas na velocidade de cinco 5km/h podem ser explicadas pela relação entre a velocidade da colhedora e a velocidade periférica do molinete, que deve ser, em média, 20% superior à velocidade de deslocamento da máquina. No trabalho foram mantidos os ajustes usuais da propriedade, com velocidade periférica do molinete 50% superior à velocidade de deslocamento da colhedora na velocidade de 5km/h. Quando a velocidade de deslocamento da máquina foi aumentada, naturalmente esta proporção diminuiu. A rotação do molinete acima do limite aumenta as perdas na plataforma de corte porque as barras transversais do molinete atingem Outubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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John Deere

A máquina do experimento tinha 32 anos de uso e apresentou perdas totais dentro do limite aceitável, mostrando que regulagem e condução interferem na qualidade

as plantas com maior velocidade, provocando abertura das vagens. Na Tabela 2 observa-se maior perda de grãos nos mecanismos internos quando a colheita foi realizada no ângulo de 90º na velocidade de 7km/h, condição em que possivelmente ocorreu sinergismo entre os fatores. Nesta combinação de fatores, o fluxo descontínuo do material devido ao ângulo de deslocamento, aliado à maior quantidade de material processado devido à maior velocidade, pode justificar essas perdas. Para reduzi-las, é recomendável que seja aumentada a rotação do cilindro de trilha e/ou reduzir a abertura entre o cilindro e o côncavo. As perdas totais de grãos em

campo na colheita mecanizada de soja apresentaram diferenças estatísticas em função do ângulo de deslocamento e velocidade de deslocamento, bem como a interação entre estes fatores (Tabela 3). Estas perdas são resultado do somatório das perdas na plataforma de corte e recolhimento e das perdas nos sistemas de trilha, limpeza e separação, consequentemente influenciados pelos mesmos fatores. Os resultados apontam que apenas a colheita realizada na direção perpendicular (90º) às linhas de plantas na maior velocidade (7km/h) resultou em perdas maiores do que o limite tolerável indicado pela Embrapa (60kg/ha). Outro ponto importante é que a diferença entre a menor e a maior perda média de grãos foi de 53,75kg/ha, o que ressalta a importância da atenção do produtor quanto à velocidade de trabalho e à direção de colheita durante a operação. Também chamou a atenção dos pesquisadores o ano de fabricação da colhedora. O tempo de uso das colhedoras e a tecnologia embarcada podem ser apontados como fatores que também interferem nas perdas de grãos. No entanto, neste trabalho


Tabela 1 – Média das perdas na plataforma de corte e recolhimento (kg/ha) durante colheita mecanizada de soja Velocidade 5,0 km/h 6,0 km/h 7,0 km/h Média

0º 36,56 aA 16,05 bB 13,13 bB 21,91 B

Ângulo 45º 90º 15,36 aB 46,72 aA 16,15 aB 41,26 aA 11,56 aB 36,55 aA 14,36 C 41,51 A

Tabela 2 – Média das perdas nos mecanismos internos colheita da colhedora (kg ha-1) na colheita mecanizada de soja Velocidade

Média 32,88 a 24,49 b 20,41 b

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

5,0 km/h 6,0 km/h 7,0 km/h Média

0º 1,66 aA 1,03 aB 6,03 aB 2,91 B

Ângulo 45º 90º 2,80 aA 3,72 cA 1,01 aB 14,14 bA 4,02 aB 31,07 aA 2,61 B 16,31 A

Média 2,73 b 5,39 ab 13,71 a

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 3 – Média das perdas totais de grãos (kg ha-1) na colheita mecanizada de soja Velocidade 5,0 km/h 6,0 km/h 7,0 km/h Média

0º 37,48 aB 15,29 bB 19,17 bB 23,98 B

Ângulo 45º 90º 17,95 aC 50,44 bA 13,48 aB 55,40 bA 14,85 aB 67,23 aA 15,43 C 57,82 A

Média 35,29 a 28,06 b 33,88 a 32,41

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

foi utilizada uma colhedora com 32 anos de uso e que apresentou perdas totais de grãos dentro do limite aceitável. Isto permite afirmar que a idade da colhedora não é fator principal na geração de perdas, mas a forma como é conduzida a máquina em campo, bem como suas regulagens e manutenções. Por fim, os pesquisadores concluíram que é possível reduzir as perdas de

As perdas totais variaram de acordo com o ângulo de colheita utilizado

grãos e melhorar o processo de colheita com ajustes simples executados pelo operador da máquina a partir do posto de operação. Para isto, indicam - além da manutenção geral da máquina o monitoramento sistemático das perdas em campo seguido de imediatas regulagens na máquina com a finalidade de compatibilizar a velocidade de deslocamento com rotação do molinete, além da abertura e a rotação no sistema

de trilha com a umidade e o fluxo de soja que estarão sendo processados, tendo em vista que o aumento da velocidade de deslocamento amplia o .M fluxo recolhido de plantas. Vandoir Holtz, Jelvonei Darlan Lira e André Maller, Unemat – Nova Xavantina (MT) Mateus Prolo Massola, UEG/Unucet – Anápolis (GO)


IMPLEMENTOS

Charles Echer

Melhores opções O

milho (Zeamays L.), com centro de origem na América Central, é uma das plantas mais importantes do mundo e mais domesticadas pelo homem ao longo de sua história. Bem adaptada ao Brasil, a cultura do milho possui papel de destaque na economia nacional, haja vista que 30% das áreas agricultáveis em nosso país foram semeadas na safra 2017/2018, segundo a Conab (2018). Além disso, o último levantamento feito aponta que as produtividades na primeira e na segunda safra foram de 5.556 e 5.564 quilos por hectare, respectivamente. Diversas tecnologias novas vêm contribuindo para que a safrinha produza mais, e neste aspecto a área de mecanização tem sido uma das que mais evoluíram nos últimos anos. No quesito semeadura, cada vez mais os produtores rurais e as empresas do ramo estão adquirindo consciência de que a boa realização deste processo é extremamente importante para que o milho atinja altas produtividades. Plantabilidade é um termo novo que pode ser classificado como característica qualitativa e que na práOutubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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tica significa realizar uma boa instalação da lavoura, sempre buscando ser o mais satisfatório possível. Isso envolve diversos aspectos ligados à regulagem da semeadora, como o bom corte da palha, a boa dosagem de adubo, o bom fechamento de sulco, dentre outros. No entanto, o ponto mais importante é a distribuição das sementes, no espaçamento e na profundidade corretos. A irregularidade na distribuição longitudinal das sementes na linha pode comprometer o aproveitamento eficiente de água, luz e nutrientes, aumentando o número de plantas com desenvolvimento fenológico retardado, colmos frágeis, produzindo espigas pequenas e se apresentando dominadas na lavoura (Sangoi et al, 2012). No mercado, existem dois tipos de dosadores de sementes para semeadoras de precisão, os de disco alveolar horizontal (popularmente denominados de mecânicos) e os dosadores-apanhadores com auxílio pneumático (comumente chamados apenas de pneumático), segundo Dias (2009). Recentemente, algumas empresas do

Fotos Luan Solér Francichinelli

Uma boa implantação da lavoura é fator fundamental para se alcançar altas produtividades e o rendimento desejado pelo produtor. Dentre os diversos aspectos que influenciam esse processo, o ponto mais importante é a distribuição das sementes, no espaçamento e na profundidade corretos, e por isso empresas têm investido em tecnologias que favorecem o avanço das semeadoras mecânicas e que ainda são as mais usadas no Brasil mercado têm investido em tecnologias que favorecessem o avanço das semeadoras mecânicas, e que ainda são as mais usadas no Brasil. Uma tecnologia que surgiu para contribuir com a qualidade dos discos horizontais foi a chamada Rampflow, que se caracteriza por possuir rampas estriadas nos furos, que facilita a raspagem e a retirada de possíveis sementes duplas. O Grupo de Plantio Direto (GPD) pertencente à Unesp de Botucatu realizou um estudo avaliando a distribuição longitudinal de sementes de milho utilizando os dois discos em

Check-list sendo realizado pelo Grupo de Plantio Direto em semeadora


Tabela 1 - Valores médios para espaçamentos entre sementes (cm), Desvio Padrão (DP), Coeficiente de Variação (CV), Diferença mínima significativa (DMS) para as sementes de milho depositadas por disco horizontal convencional e Rampflow Disco sementes Convencional Rampflow DMS CV (%)

Espaçamento médio (cm) 20,78 b* 25,37 a 1,87 26,21

DP 7,38 4,63 -----

Erro Padrão 0,75 0,51 -----

CV (%) 32,39 18,25 -----

Tabela 2 - Mostra melhor desempenho para o disco Rampflow que atingiu o maior índice de espaçamentos aceitáveis. Para os espaçamentos duplos houve uma diferença grande para o convencional, que obteve também o maior índice de falhas Disco sementes Convencional Rampflow

Aceitável 87,62 96,30

*Médias seguidas de letras diferentes nas colunas diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.

esteira simuladora de bancada trabalhando a uma velocidade de 4km/h. Na ocasião, foi utilizada a peneira de 11 milímetros para ambos e os espaçamentos entre sementes foram medidos com o auxílio de uma trena. Os valores obtidos foram submetidos à análise de estatística descritiva e classificados como aceitáveis, falhos e duplos segundo a metodologia de Kurachi (1989), que trata como aceitável as sementes espaçadas entre 50% abaixo e acima do ideal. Valores menores que a margem de 50% são classificados como espaçamentos duplos, e maiores como espaçamentos falhos. A Tabela 1 mostra que o espaçamento médio mais próximo ao ideal (23,9cm) foi verificado no disco Rampflow, resultados semelhantes foram encontrados por Correia et al (2015). O maior desvio padrão (DP) foi verificado no Convencional, com aumento de 59,39% em relação ao Rampflow. O maior coeficiente de variação (CV) foi obtido pelo disco convencional. O que se pretende mostrar com

esse trabalho é que o produtor rural pode melhorar bastante a semeadura em sua propriedade investindo pouco dinheiro, haja vista que discos de plantio não costumam custar muito. Claro que isso não substitui a boa regulagem da semeadora aliada a baixas velocidades de deslocamento do trator. Além de tudo isso, é importante realizar inspeções nas semeadoras nos períodos de entressafra com a máquina no barracão. Com base nisso, surgiu o programa Inspeção Periódica de Semeadoras (IPS) realizado pelo Grupo de Plantio Direto, que tem rodado pelo Brasil inteiro e que consiste na visita às propriedades rurais para realizar um check-list do estado da máquina e entregar um relatório final para o produtor, de modo que ele possa realizar as tomadas de decisão, que algumas vezes são apenas nas regulagens, ou até mesmo troca de peças em que foi constatado desgaste.

Aferição dos espaçamentos entre as sementes em esteira simuladora

Disco mecânico Rampflow (esq.) e disco mecânico convencional (dir.)

Índice (%) Dupla Falha 10,31 2,06 1,23 2,47

Mediana Precisão 10,09 12,47

24,50 24,50

Principalmente para a cultura do milho, o potencial produtivo da lavoura é definido no momento da semeadura, pois esta cultura não possui hábito de engalhamento que compense algumas falhas cometidas no campo. Seguindo este raciocínio, cada semente que deixa de ser depositada no sulco significará para o produtor uma planta a menos, deixando de produzir uma espiga. Às vezes, um erro de, por exemplo, 5% que possa parecer pouco, se torna três mil plantas a menos por hectare, se a população desejada fosse de 60 mil plantas. E esse mesmo número de falhas será a quantidade a menos de espigas que serão colhidas no fim da safra. Portanto, os prejuízos são muito grandes, e toda atenção para a etapa de semeadura é necessária. Os investimentos realizados para melhorar este cenário conseguem trazer bom retorno financeiro, pois estão diretamente relacionados com o aumento da produtividade .M final de grãos. Luan Solér Francischinelli e Paulo Roberto Arbex Silva, Unesp

Pesquisadores mostram perdas que ocorrem por falta de regulagens

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COLHEDORAS Charles Echer

Qualidade pós-colheita Além da colheita mecanizada, outros detalhes de pós-colheita são importantes para garantir a qualidade final do café

H

á muito tempo o café tem sido sinônimo de bebida agradável, aromática e estimulante, propriedades que atraem cada vez mais consumidores. Diante disso, nos últimos dez anos, a procura e a exigência, do mercado e dos consumidores, e a consequente preocupação das pessoas envolvidas no setor cafeeiro em produzir café com qualidade têm crescido consideravelmente. Contudo, ofertar qualidade ao merOutubro 2018 • www.revistacultivar.com.br

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cado consumidor não tem sido uma tarefa fácil para os cafeicultores, pois a qualidade do café sofre influência direta do ambiente, seja por fatores bióticos ou abióticos. Neste sentido, o clima, a altitude, os tratos culturais, a colheita, o processamento, o armazenamento e a atividades até a etapa de preparo para o consumo podem interferir diretamente na qualidade da bebida. Dessa forma, todas as etapas da produção do café devem ser realizadas da

melhor maneira possível, seguindo as premissas para produção de cafés com qualidade superior e se atentando à interação dos frutos de café com o clima, principalmente com o fator umidade. Então, o conhecimento sobre as características que implicam maior valorização do café no mercado é de grande importância para o cafeicultor, para que nos momentos de tomada de decisão, os métodos utilizados sejam voltados à qualidade, e que, especialmente, estes sejam perceptíveis na avaliação do produto.

COLHEITA

A colheita, assim como as demais etapas, interfere fortemente na qualidade do café. Diante disso, algumas práticas devem ser adotadas para a obtenção do potencial máximo do fruto de café. Neste sentido, sabe-se que o cafeeiro emite mais de uma florada e possui, consequentemente, maturação desuniforme. As fases de maturação são dividi-


sidade de vibração e da velocidade da colhedora também auxilia no processo.

VIAS DE PROCESSAMENTO

Diego Egídio

das em chumbinho, verde, verde-cana, cereja, passa e seco, respectivamente, em que a fase cereja do fruto é quando o mesmo atingiu o seu total desenvolvimento, ou seja, ele está maduro, pronto para ser colhido. Por conseguinte, preconiza-se fazer a colheita com a maior quantidade de frutos cereja possível, pois frutos em fase avançada de secagem natural na planta são mais sujeitos à contaminação por micro-organismos indesejados, que são responsáveis pelas fermentações negativas na qualidade. A tomada de decisão para dar início à colheita deve ser dada a partir da quantificação do percentual de grãos verdes, sugerindo-se de 5% a 20% destes para o início da colheita. Além disso, também devem ser levados em consideração outros fatores como disponibilidade de mão de obra e de equipamentos, volume da safra e estrutura de secagem. Diante disso, a colheita pode ser feita a partir de diferentes métodos, dentre estes tem-se a colheita manual, a colheita semimecanizada e a colheita mecanizada. A colheita manual se baseia na retirada total, manualmente, dos frutos do cafeeiro por meio de colhedores, podendo ser realizada também de forma seletiva, onde os frutos cerejas são selecionados e colhidos um a um. Este tipo de colheita seletiva traz bons resultados, porém, pelos diversos repasses na lavoura, pode ter um alto custo. Outro método é o semimecanizado, que retira o fruto por meio de equipamentos manuais, conhecidos como derriçadores. Este método possui maior rendimento quando comparado ao manual, porém, não pode ser feito de forma seletiva. E, por fim, o método mecanizado, que por meio de colhedoras automotrizes ou tracionadas possibilita a colheita de forma otimizada. A colheita mecanizada também pode ser feita de forma seletiva, pela retirada dos conjuntos de varetas vibratórias inferiores da colhedora, de forma que somente o terço superior da planta seja colhido. A regulagem da inten-

Após a colheita, o café segue vias de processamento, podendo ser via seca ou via úmida. O preparo por via seca é o mais difundido e utilizado no Brasil, e se baseia na secagem diretamente no terreiro, ou pela lavagem e separação hidráulica após a colheita, originando dois lotes, um de café cereja e verde e outro lote com café boia, ou seja, em estado avançado de maturação, sendo que estes lotes são levados para a secagem em terreiro ou em secadores mecânicos. Ressalta-se que neste processamento não se retira nenhuma parte constituinte do fruto. Aliado a isto, têm-se o preparo do café por via úmida que se baseia em descascamento, desmucilamento ou despolpamento dos frutos após a lavagem e separação dos lotes. Este tipo de processamento dá origem ao café cereja descascado, desmucilado ou despolpado. Desta forma, o preparo por via úmida é a melhor escolha para locais com alta umidade relativa, além de que, po-

de-se obter também cafés de excelente qualidade com menor suscetibilidade a fermentações indesejadas. Os cafés da via seca, normalmente, se manejados corretamente, principalmente no processo de secagem, originam cafés de melhor qualidade quando comparados aos processados por via úmida, apesar de serem mais sujeitos à ação de fermentações indesejadas.

SECAGEM VERDE

É inevitável a colheita com a presença de cafés verdes junto aos frutos cerejas, porém, cabe ao cafeicultor adotar práticas que possam viabilizar a produção de cafés com qualidade. Sobretudo, a separação dos frutos por meio do uso de separação hidráulica, aliada ao descascamento dos frutos cereja, separando assim os frutos verdes, se mostra como o primeiro manejo a ser seguido. Posteriormente, ocorre a secagem deste café, que é o momento em que na maioria das vezes o erro ocorre, depreciando assim a sua qualidade. A maioria dos cafeicultores que separam os grãos de café verde dos grãos cerejas e optam pela secagem do mesmo com a presença do exocarpo, ou seja, sem realizar o

Separação hidráulica após a colheita originando dois lotes: um de café cereja e verde e outro lote com café em processo de maturação mais avançado

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Charles Echer

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técnica possibilita que cafés que tradicionalmente produziriam defeitos tenham um melhor mercado de comercialização.

CAFÉ CEREJA/ CAFÉ DESCASCADO

A secagem do café dependerá em grande parte do método de processamento escolhido e da estrutura física para a realização desta etapa. No que diz respeito à qualidade, os terreiros de concreto são indispensáveis, visto que há um menor contato dos frutos com o solo, reduzindo assim a possibilidade de contaminação com micro-organismos indesejados. Para a secagem do café descascado, aplica-se um manejo diferenciado, visto que sem a proteção da casca, os grãos ficam mais expostos, além de que quando se elimina a casca, grande quantidade de água e açúcar é perdida, diminuindo o tempo de secagem. Diante disso, é recomendada a esparramação com sete litros de café por m² de terreiro no primeiro dia. No segundo dia, é recomendado realizar a dobra de camada, de forma

FERMENTAÇÃO

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seu descascamento, maneja a secagem de uma maneira equivocada, resultando, assim, em um grande número de defeitos no lote deste tipo de café. O manejo até então realizado se baseava na formação de leiras de 15cm a 20cm logo após a separação no descascador, permanecendo nesta espessura até o momento em que este tivesse sua coloração externa alterada, saindo do aspecto verde para o aspecto de coloração escura, próximo da cor preta. Posteriormente, era realizada a redução da espessura da leira, deixando-a grão a grão, com o intuito de finalizar o processo de secagem de maneira mais acelerada. Contudo, este método de secagem fazia com que, na maioria dos casos, a presença de defeitos PVA (preto, verdes e ardidos) fosse muito elevada, e consequentemente a qualidade do café era inferior, se caracterizando como bebida dura/fenicada. Hoje, recomenda-se a esparramação grão a grão destes frutos, até a casca escurecer, posteriormente, aumenta-se a camada de secagem rapidamente e prossegue-se com o maior número possível de revolvimentos deste lote. Esta

que serão alocados 14 litros de café por m² de terreiro. Após a dobra no segundo dia, este café deve ser revolvido no mínimo 16 vezes ao dia, realizando a interposição de leiras. A partir do terceiro dia, sempre realizar dobras de camada diariamente, reduzindo a área ocupada no terreiro. A partir da “meia seca”, o café deve ser amontoado e coberto após as 15 horas de cada dia, até chegar em uma umidade de 11,5% a 11%. Para a via seca, em seu primeiro dia de terreiro, colocam-se os frutos grão a grão com 12 litros m², sem revolvimento, até o murchamento da casca, geralmente no segundo ou terceiro dia de terreiro. Seguinte a isto, realiza-se a dobra de camada, com cerca de 12 revolvimentos diários. Após a “meia seca”, realizam-se a amontoa do café e o seu cobrimento com pano nos finais de tarde, até atingir a umidade ideal. Salienta-se que o manejo de secagem adotado na propriedade dependerá do nível tecnológico disponível ao cafeicultor, de forma em que ela poderá ser feita tanto em terreiros, como em secadores mecânicos. A integração dos dois métodos é uma ótima alternativa para a produção de cafés de alta qualidade, onde são feitos o início da secagem em terreiros e o término em secadores mecânicos. A fermentação ocorrente nos frutos de café foi tratada por muito tempo como prejudicial, com correlação

Secagem de café via seca grão a grão


direta à ocorrência de cafés com qualidade inferior. Entretanto, a tendência é de mudança, visto que estudos recentes comprovam que em alguns casos a fermentação quando induzida e controlada pode elevar a qualidade sensorial do café e melhorar seu preço final. Todo café sofre um processo fermentativo, seja no preparo via seca ou via úmida, pois no fruto estão presentes diversos micro-organismos que auxiliam no consumo do mesocarpo (mucilagem) do fruto. No preparo via seca o café vem da lavoura, é colocado no terreiro e leva um certo tempo até a secagem, o que ocasiona um processo fermentativo natural durante esse tempo no terreiro. Em via úmida, o café é descascado e colocado em tanques de fermentação, onde permanece em período de tempo variável, entre 12-24 horas, resultando também na retirada do mesocarpo via agentes fermentativos. Os dois processos resultaram em bebidas de diferentes características sensoriais.

lar alguns destes micro-organismos dominantes, e a partir de seleção posterior, selecionar os que implicavam características de maior interesse. Neste sentido, alguns ensaios conduzidos pela professora Rosane Schwan, do Departamento de Microbiologia da Ufla, indicam melhora no perfil sensorial do café e um aumento na pontuação final da bebida, que pode chegar a até quatro pontas na escala da SCAA. Desta forma, ressalta-se a importância da ciência neste segmento, visando elucidar cada vez mais os componentes envolvidos neste processo, e que a entrada e a comercialização desses micro-organismos no mercado irão respaldar os cafeicultores na produção de cafés com melhor qualidade.

CONSIDERAÇÕES

Por fim, a produção de cafés com qualidade superior deve ser cada vez maior, visando atender o crescente mercado consumidor neste segmento. Aliado a isto, a maior qualidade do café assegura maior precificação ao produto, fazendo com que o cafeicultor deixe de ser refém do merca.M do commodity de café. Joana Caroline D’arc de Oliveira, João Pedro Miranda Silvestre, Giovani Belutti Voltolini, Larissa Cocato da Silva e Ademilson de Oliveira Alecrim, Ufla

Diego Egídio

Diego Egídio Charles Echer

Exemplo de processamento via seca e via úmida

O que difere um processo controlado de um não controlado é que em uma fermentação não controlada o processo é espontâneo, onde os grãos ficam expostos com a finalidade de fazer com que a mucilagem seja retirada. Entretanto, o problema é que a qualidade final é influenciada por vários fatores, fazendo com que a bebida possa apresentar características distintas, visto que a repetitividade do processo é difícil. Já em uma fermentação controlada, o café é colocado em contato com alguns tipos de micro-organismos no terreiro ou em tanques, que podem acentuar os aromas e modificar componentes do grão, implicando, assim, quando positiva, fragrâncias como as de chocolate e de frutas. Neste processo controlado, fatores como o pH, a temperatura e o grau Brix inicial dos frutos são de grande importância para a manutenção da repetitividade e o sucesso na obtenção de cafés com melhores características sensoriais. Estudos ligados à microbiologia, ou seja, referentes aos micro-organismos presentes no processamento do café, indicam que pode-se encontrar diversos micro-organismos junto aos frutos, e que estes variam de acordo com as condições ambientais e geográficas de uma lavoura de café. A solução encontrada para iniciar os estudos com maior controle foi iso-

Exemplo de secagem via úmida, onde os frutos são descascados e colocados para secar em terrenos próprios para a operação

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PULVERIZADORES

Com adjuvantes A

Avaliação da pulverização mostra eficiência da operação utilizando diferentes adjuvantes siliconados e óleos vegetais

calibração dos equipamentos, a escolha da formulação e a aplicação correta de defensivos agrícolas são fatores que asseguram uma pulverização eficiente no controle de pragas e doenças com baixa contaminação ao meio ambiente e ao operador. O objetivo da calibração de pulverizadores e equipamentos de pulverização é verificar se os mesmos estão como o previsto pela regulagem, para posteriormente serem utilizados. Este procedimento pode ser realizado apenas por um simples ajuste fino na pressão de trabalho. Na calibração também é feito o diagnóstico do estado das pontas. Verificando a vazão do sistema, determinando o volume de aplicação e a quantidade de produto a ser colocada no tanque. É muito comum os operadores ignorarem a regulagem e realizarem apenas a calibração, o que pode provocar perdas significativas de tempo e de produto. Para alcançar a máxima eficiência no controle dos organismos indesejados, os fatores, antes citados, de-

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vem ser manipulados de forma que a calda aplicada atinja em totalidade o alvo desejado. Fatores climáticos, como temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento, devem ser monitorados, com o objetivo de se escolher o momento ideal de aplicação. Em situações de altas temperaturas (acima de 30ºC), baixas umidades (abaixo de 50%) e fortes ventos (superiores a 10km/h), velocidade do vento menor que 3km/h, também não se recomenda a aplicação de defensivos agrícolas, pois constituem-se em condições propícias à evaporação e deriva, alterando assim a trajetória das gotas em relação ao alvo. Desta forma, as aplicações devem ser realizadas, preferencialmente, nas primeiras horas da manhã ou no final do dia. Na intenção de aumentar a eficácia e reduzir os custos do tratamento fitossanitário, são adicionados na preparação das caldas os adjuvantes, que desempenham a função de alterar as propriedades físicas e químicas da mistura, podendo aumentar o molhamento, a absorção dos componentes pelas folhas e reduzir a for-

mação de espuma, momento em que a maioria dos ingredientes ativos é desperdiçada. A adição de adjuvantes à calda de pulverização pode alterar a tensão superficial do líquido, promovendo, assim, alteração no espectro de gotas formado. Gotas de maior diâmetro possuem maior resistência às perdas por deriva e evaporação, porém podem causar maiores perdas por escorrimento. Caso o alvo a ser controlado encontre-se no interior do dossel ou na parte inferior das folhas das plantas, gotas de diâmetros elevados terão maior dificuldade para penetrar. Em contrapartida, gotas com diâmetro reduzido conseguem alcançar o alvo. Devido ao menor diâmetro e à maior superfície específica de contato, as gotas menores possuem maior suscetibilidade a condições climáticas, favorecendo perdas por evaporação e deriva. Para melhor entender os efeitos dos adjuvantes, foi realizado um experimento com a finalidade de testar cinco produtos (adjuvantes) misturados com água e apenas água como teste-


Fotos Charles Echer

Tabela 1 - Médias dos valores do Diâmetro da Mediana Volumétrica, DMV (µm) Médias Produtos x Volumes (DMV) Produto Testemunha* A B C D E C.V (%)

Volume 165 L ha-1 80 L ha-1 377,27 bA 350,61 aA 565,56 aA 310,93 aB 594,51 aA 333,74 aB 419,20 bA 315,29 aB 463,52 abA 287,73 aB 379,33 Ba 330,85 aA 15,86

As médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna diferenciaram estatisticamente entre si pelo o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. *(Testemunha) = Água pura.

munha, sendo quatro de base siliconada, (Poliflex), (Naft), (TA35) e (Silkon) na dose de 0,5ml/L de calda, e outro à base de óleo vegetal (Agr’óleo), na dose de 0,5% da calda por hectare. Para cada tratamento empregaram-se dois volumes de aplicação, 80L/ha e 165L/ha, e tais aplicações foram feitas com um pulverizador centrífugo montado sob uma barra com comprimento de nove metros equipado com um motor elétrico. Para a avaliação do espectro de gotas, as etiquetas de papel sensível foram digitalizadas e as imagens foram processadas através do programa computacional Ima-

Para ajudar a aumentar a eficiência da pulverização, são indicados produtos adjuvantes que devem ser acrescentados na calda

ge Tool, versão 3.0. De posse das análises foram avaliados alguns parâmetros em cada tratamento, sendo eles: o diâmetro da mediana volumétrica (DMV), que representa o diâmetro que divide uma população de gotas em duas metades volumetricamente iguais; o coeficiente de homogeneidade (CH), que quanto mais próximo de 1 representa um espectro de gotas mais uniforme; a densidade de gotas; a amplitude relativa ou Span, que também indica a homogeneidade do espectro; e a porcentagem de cobertura do alvo. Nas condições ambientais de temperatura entre 180C e 200C, umidade relativa do ar entre 45% e 58% e ausência de

Tabela 2 - Médias dos valores da Densidade de gotas (gotas cm-2) Médias Produtos x Volumes (gotas cm-2) Produto Testemunha* A B C D E C.V (%)

Volume 165 L ha-1 80 L ha-1 155,12 aA 73,68 cB 121,82 abA 123,11 aA 83,24 bB 119,95 abA 118,06 abA 75,01 bcB 121,69 abA 98,55 abcA 126,28 abA 95,94 abcA 19,77

As médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna diferenciaram estatisticamente entre si pelo o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. *(Testemunha) = Água pura.

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Fotos Tiago Mencaroni Guazzelli

O experimento comparou diferentes adjuvantes siliconados com óleos vegetais

vento, observou-se que não houve interação entre o volume e o produto nos testes de cobertura do alvo, visto que a 165L/ha o resultado chegou a 28,78% e a 80L/ha atingiu 15,1%. Os valores de coeficiente de homogeneidade obtidos ficaram entre 2,78 e 4,28 para o volume de aplicação de 165L/ha e para o volume de 80L/ha, os resultados variam de 2,07 a 2,63. Os Span variaram de 0,9775 a 1,2775 para o maior volume e 0,92 a 1,015 para o menor. À medida que se deseja aumentar a qualidade da pulverização, deve-se exigir mais homogeneidade do espectro de gotas. É necessário analisar o DMV em conjunto à amplitude relativa para avaliar os efeitos dos adjuvantes na calda, principalmente na uniformidade e distribuição das gotas. Os valores de DMV variaram de 377,26μm a 594,50μm para 165L/

ha, e de 287,73μm a 330,85μm para 80L/ha, conforme a Tabela 1. Na análise de densidade de gotas, o resultado mostrou uma tendência diretamente proporcional ao volume (Tabela 2), ou seja, quanto maior o volume de pulverização, maior a densidade de gotas. A densidade de gotas proporcionada pela pulverização com adjuvantes encontra-se acima da densidade mínima recomendada para controle de doenças, insetos e plantas daninhas, portanto, por promoverem gotas de maior tamanho menos suscetíveis à deriva e à evaporação, as diferentes formulações podem influenciar na pulverização, melhorando a qualidade e reduzindo os impactos ambientais na cultura e na propriedade. O maior volume de aplicação empregado possibilitou maior cobertu-

As formulações com óleo apresentaram formação de espuma

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Fita utilizada para medir o pH da calda

ra do alvo. Nos resultados de cobertura, DMV e densidade de gotas dentro de cada volume não houve diferença significativa. A utilização de adjuvantes na calda de pulverização melhorou o espectro de gotas para a .M pulverização. Tiago Mencaroni Guazzelli, Universidade Federal de Viçosa Humberto Santiago, Univ. Federal do Oeste da Bahia Marconi Ribeiro Furtado Júnior, Victor de Souza Lopes e Paulo Roberto Forastiere, Universidade Federal de Viçosa

Calda preparada com adjuvantes siliconados (esq.) e calda com óleos vegetais (dir.)




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