Cultivar Máquinas • Edição Nº 190 • Ano XVI - Novembro 2018 • ISSN - 1676-0158
Índice 4 Rodando por aí 6 Pulverização com sensores 9 Irrigação maximizada 12 Lastragem 16 Mistura correta 20 Capa - Como resgatar? 24 Tendências em manutenção 27 CVT e consumo 30 Colheita de café 36 Empresas - AGCO 40 Colheita de cana
Destaques
Plantio Direto - Como resgatar Grande parcela dos 32 milhões de hectares utilizados em plantio direto, atualmente, não consegue expressar seu potencial produtivo
Pivô central Uso de corner em pivô central pode aumentar a área irrigada em até 20%
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter
• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi • Revisão Aline Partzsch de Almeida • Design Gráfico Cristiano Ceia
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Mistura em tanque Como fazer adequadamente a mistura de produtos em tanque, avaliando a compatibilidade física dos produtos
Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00
• Coordenador Comercial Charles Echer • Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves • Coordenação Circulação Simone Lopes
Capa - Nilson Konrad
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Cultivar
• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause • Impressão: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
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NOSSOS TELEFONES: (53) • GERAL
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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
RODANDO POR AÍ Raven no ConBAP
Novas colhedoras de café
De 2 a 4 de outubro, a Raven do Brasil esteve presente no Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão – ConBAP em Curitiba. Durante o evento, a empresa apresentou a palestra “A nova era da tecnologia de aplicação: qualidade e otimização”, que mostrou os benefícios e diferenciais do sistema de controle bico-a-bico da Raven, a solução para pulverização Hawkeye. No estande, os visitantes puderam conferir as tecnologias oferecidas pela Raven e se informar sobre como deixar o pulverizador mais eficiente e preciso, garantindo a qualidade de aplicação e retorno do investimento com os equipamentos.
A redução de perdas e o aumento da área útil de colheita com menor dano às plantas são os principais destaques das novas colhedoras de café da Case IH: Coffee Express 100 Multi e 200 Multi. Com motor de 55 cavalos, a Coffee Express 200 Multi apresenta menor consumo de combustível e baixo custo de manutenção. Já a Coffee Express 100 Multi é a versão tracionada da Case IH. “As colhedoras de café da Case IH são as mais propícias para o trabalho em cafezais mais novos devido ao exclusivo sistema de derriça (freio hidráulico, design, quantidade e disposição das varetas), que proporciona menor dano ao caule, quebra de galhos e retirada de folhas, fatores determinantes do bom desenvolvimento e produção de café nos anos subsequentes”, explicou o gerente de Marketing de Produto da Case IH, Roberto Biasotto. Roberto Biasotto
Demonstração em campo
Nonononononono
No dia 11 de outubro, a Stara realizou uma demonstração da semeadeira Guapa Supra para produtores argentinos no Grupo Ceagro, em Uruguaiana, Rio Grande do Sul. A Guapa Supra é uma semeadeira desenvolvida para o cultivo de arroz e possui capacidade de articulação nas linhas de semeadura, o que garante a uniformidade da semeadura em todas as linhas e a copiagem do terreno mesmo em situações extremas. O exclusivo sistema de distribuição de sementes proporciona uma semeadura com excelente coeficiente de variação. Durante a demonstração, também foi apresentado também o pulverizador autopropelido Imperador 3100 CA, desenvolvido para as culturas de cana-de-açúcar e arroz.
Novas lojas A John Deere, junto a seus distribuidores de equipamentos de construção, inaugurou duas novas lojas. A primeira, localizada em Curitiba (PR), região já assistida pela Veneza Equipamentos Sul, vem para atender às necessidades do Estado, que tem registrado bom desempenho no uso da linha amarela para infraestrutura e também com aplicações na atividade agrícola. “A inauguração da loja de Curitiba vem para reconhecer o valor do mercado paranaense, trazendo mais agilidade e comodidade para nossos clientes da região”, disse Roberto Marques, diretor de Vendas da Divisão de Construção da John Deere. A outra unidade foi aberta pelo distribuidor Verdes Vales, em Eldorado do Sul (RS).
Roberto Marques
Dealer Meeting 2018
O Dealer Meeting 2018 da Case IH, realizado em Mendoza, na Argentina, reuniu cerca de 300 pessoas. Concessionários do Brasil, da Argentina e de mercados importadores da América Latina participaram das atividades. Este ano, o tema do encontro foi “Yourpassion, new ways”, que em português significa “Sua paixão, novos caminhos”. No encontro, as principais lideranças da Case IH e os concessionários fizeram um balanço de 2018 e traçaram estratégia para o próximo ano.
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Otimismo O presidente do conselho, presidente e CEO global da AGCO, líder global em concepção, fabricação e distribuição de máquinas e soluções agrícolas, Martin Richenhagen, reforçou o clima de confiança no cenário agrícola da América do Sul, durante sua visita ao Brasil no início de novembro. “Estamos otimistas com o cenário agrícola da América do Sul, em especial do Brasil. Mesmo com as incertezas na economia e política brasileira, alcançamos números positivos e apresentamos crescimento em relação ao ano anterior. As expectativas para os próximos anos são as melhores possíveis, por isso temos investido tanto na renovação do portfólio das nossas marcas como na alta tecnologia das nossas fábricas da região, consolidando a AGCO na era da Indústria 4.0”, disse Richenhagen. Martin Richenhagen
TECNOLOGIA Fotos Henrique Campos
Controle 24 horas A
Sensores possibilitam a aplicação automática de herbicidas para controlar plantas daninhas na cultura da cana durante o dia e a noite
vida do setor sucroenergético já fora mais doce. Além das perdas provocadas pelas plantas daninhas, exigências ambientais e trabalhistas obrigaram mudanças no método de controle das invasoras na cultura da cana. Neste cenário, o processo de mecanização tem se intensificado, com expressivos investimentos em tecnologias para poupar recursos naturais, financeiros e atender aos anseios da legislação brasileira. De acordo com pesquisadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, a aplicação manual de herbicidas em pós-emergência de plantas daninhas nas entre linhas das culturas caracteriza-se pelo Novembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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desperdício de energia, produtos e mão de obra, além de riscos ergonômicos e toxicológicos ao aplicador. Logo, o advento dos sistemas de detecção de plantas e aplicação em tempo real, embarcados em pulverizadores, propõe mudanças neste cenário, criando-se uma modalidade de intervenção fitossanitária mais sustentável. Sistemas automáticos de aplicação localizada, via sensores óptico eletrônicos, levam em consideração apenas a presença de organismos-alvos na área a ser tratada, conferindo-lhes a capacidade de pulverizar, automaticamente, um determinado alvo de forma localizada e precisa. Espera-se que os sistemas de
pulverização inteligentes, embarcados em quadriciclos, possam substituir a pulverização costal manual de herbicidas na cana, entretanto, há a hipótese de que esta modalidade de aplicação automática apresente limitações ou incógni-
Área de amostragem para identificação de daninhas nas entre linhas
Figura 1 - Cartas de controle para capacidade de campo efetiva (ha h-1) na pulverização Tabela 1 - Porcentagem de acurácia do sistema automático de aplicação localizada de herbicidas automática e manual por sensores Weedseeker® em plantas de B. decumbens com diâmetros entre 5cm e 10cm, sob velocidades de aplicação de 6 a 8, 8,5 a 11,5 e 12 a 14 km h-1, na entre linha da cana Velocidades de Controlador NO de plantas NO de plantas NO total Acurácia (%) deslocamento Weedseeker® não atingidas atingidas de plantas -1 6 45 86,6 6 a 8 km h Low 39 18 45 60,0 8.5 a 11.5 km h-1 Med 27 29 45 35,5 12 a 14 km h-1 High 16 53 135 60,74 Total 82 Tabela 2 - Porcentagem de acurácia do sistema automático de aplicação localizada de herbicidas por sensores Weedseeker® em plantas de B. decumbens com diâmetros maiores que 10cm, sob velocidades de aplicação de 6 a 8, 8,5 a 11,5 e 12 a 14 km h-1, na entre linha da cana Velocidades de Controlador NO de plantas NO de plantas NO total Acurácia (%) deslocamento Weedseeker® não atingidas atingidas de plantas -1 -1 1 45 97,8 6 a 8 km h Low 44 Figura 2 - Cartas de controle para o consumo de calda herbicida (L ha ) na pulverização 22 45 51,1 8.5 a 11.5 km h-1 Med 23 automática e na manual -1 31 45 31,1 12 a 14 km h ¹ High 14 54 135 60,0 Total 81 LSC: Limite Superior de Controle. LIC: Limite Inferior de Controle. X: média. AM: média da amplitude móvel.
Tabela 3 - Efeito da presença de luz nas médias das notas de porcentagens de controle de plantas daninhas na entre linha da cana aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação (DAA) automática de glyphosate¹ Irradiância Com luminosidade ambiente Sem luminosidade ambiente D.M.S. C.V. (%) LSC: Limite Superior de Controle. LIC: Limite Inferior de Controle. X: média. AM: média da amplitude móvel.
tas em condições reais de campo, sendo necessários estudos. Pesquisadores da Sabri Sabedoria Agrícola, de Jaboticabal (SP), junto à empresa Herbicat, de Catanduva (SP), utilizaram o sistema automático de aplicação localizado WeedSeeker, da Trimble, embarcado em quadriciclo e fizeram várias avaliações. A primeira avaliação foi sobre a acurácia na detecção de plantas, em função da velocidade de aplicação e do tamanho de plantas. As Tabelas 1, 2 e 3 mostram os tratamentos e os resultados obtidos neste teste. Na primeira avaliação já concluímos que o equipamento utilizado no quadriciclo apresenta grau de exatidão satisfatório para apli-
7 DAA 90,00 a 70,63 b
14 DAA 21 DAA 90,00 a 90,00 a 70,63 b 70,63 b 16,61 23,75
28 DAA 90,00 a 70,63 b
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey p > 0,05. D.M.S. – Distância Mínima Significativa. C.V.(%) - Coeficiente de variação. 1 = Glyphosate (Glifosato Nortox®) na dose de 360g.L-1¹de equivalente ácido.
cação localizada na entre linha da cana. No entanto, é muito importante iniciar a aplicação em plantas maiores que 10cm e na velocidade de 6 a 8km/h. A segunda avaliação foi sobre a
eficácia no controle de plantas daninhas durante o dia e a noite. Os autores concluíram que o Weedseeker, em quadriciclo, é eficaz no controle das plantas daninhas com apenas 5% de glifosato na calda e
Exemplos de controle: falha na detecção da planta (esq.); aplicação atrasada (centro) e aplicação no alvo (dir.)
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Fotos Henrique Campos
Monitor digital de ensaios de pulverização AAMS Salvarani usado para avaliar o consumo de calda utilizado em aplicação automática e manual
sob condições de luminosidade. De acordo com os dados, o sensor utilizado no experimento tem a mesma precisão durante o dia e a noite, porém, a menor porcentagem de controle sem luminosidade ocorreu devido à menor metabolização do glifosato pelas plantas durante a noite, fato já observado em várias outras pesquisas. Portanto, o sucesso das aplicações noturnas estará sempre relacionado ao tipo/característica do herbicida e às plantas daninhas presentes na lavoura. Por fim, a terceira avaliação foi sobre a comparação do rendimen-
to e da qualidade das aplicações automáticas com Weedseeker em quadriciclo e com a costal manual. Com os dados obtidos, foi possível concluir que a aplicação automática apresenta rendimento superior à costal manual, sendo também menos sujeita a falhas na aplicação. As Figuras 1 e 2 demonstram os resultados sob a óptica do método de avaliação chamado controle estatístico de processos. A média da CcE da aplicação automática foi de 0,68 hectare tratado por hora (ha/h). Em contrapartida, a aplicação manual atingiu a média de 0,26ha/h. O maior
rendimento da pulverização automática deve-se à maior velocidade de deslocamento desempenhada pelo conjunto quadriciclo-pulverizador em detrimento da aplicação costal manual. Com relação à qualidade da operação, os resultados sugerem que o volume de calda gasto pela aplicação manual pode não ser constante, apesar de ambos os pulverizadores estarem equipados com pontas de pulverização de mesma vazão e sob mesma pressão de trabalho. Além disso, a precisão da aplicação automática pode promover o uso de menores volumes de calda e diminuir os riscos de perdas por escorrimento. Outros pesquisadores já verificaram a economia de 90% de herbicida com o uso do sensor Weedseeker. Contudo, fica claro que o conhecimento dos fatores que limitam a eficiência dos sistemas automáticos de aplicação localizada faz toda a diferença para o sucesso no manejo das plantas daninhas. Por outro lado, é importante que soluções como estas estejam cada vez mais ao alcance do setor sucroenergético, permitindo que o setor de cana brasileiro continue crescendo com .M sustentabilidade.
Henrique Campos, Sabri Unesp Luis César Pio, Herbicat
Sensores utilizados para controle localizado de plantas daninhas (esquerda) e controlador de velocidade e sensibilidade do equipamento (direita)
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IRRIGAÇÃO
Irrigação maximizada
CNA
Implantação do corner em pivô central pode aumentar em até 20% a área irrigada de um pivô central, garantindo maior produtividade nas bordaduras das lavouras irrigadas
A
evolução das tecnologias de irrigação tem possibilitado produzir mais alimentos com menor quantidade de água. Isso contribui não apenas para a melhoria do processo de produção de alimentos, mas também para a segurança hídrica, ambiental e econômica de várias regiões do País. Dessa forma, entende-se que a busca constante por equipamentos de irrigação mais eficientes em consumo de água e energia, e que sejam viáveis economicamente, é uma forma de
contribuição com a sustentabilidade na agricultura. A irrigação é uma técnica que viabiliza o aumento da produção e a produtividade das culturas, além da atenuação dos riscos meteorológicos, com consequente acréscimo nos ganhos econômicos das atividades agropecuárias. A priori, não existe um método de irrigação que seja ideal. Apesar disto, o sistema de irrigação por pivô central tem grande utilização no Brasil, com área correspondente a 1,40 milhão de hec-
tares em 2015, com uma parcela de quase 20% de toda a área irrigada nesta época. O uso de pivôs centrais é mais recorrente nos estados de Minas Gerais (31%), Goiás (18%), Bahia (16%), São Paulo (14%), Mato Grosso (6%) e Rio Grande do Sul (6%). Nestes equipamentos destacam-se a produção de grãos, em especial algodão, feijão, milho e soja (ANA, 2017).
PIVÔ CENTRAL
O pivô central convencional é um Novembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Fotos Job Teixeira de Oliveira
Ponto de encaixe do corner no pivô central
equipamento de irrigação versátil, fácil de operar, que requer baixa mão de obra para operação e manutenção, além de apresentar adequada eficiência de aplicação e distribuição de água. A implantação deste tipo de equipamento atende a uma área circular irrigada que sempre disponibiliza uma bordadura. Vulgarmente, a bordadura é chamada de “calcinha do pivô”. Na maioria dos casos, essa bordadura é cultivada em sistema de sequeiro. A tendência é de que a produtividade nessas áreas seja inferior às áreas irrigadas, já que estas ficam na dependência única de água de chuvas. Entretanto, mesmo ocorrendo chuvas, a cultura pode sofrer déficit hídrico durante os veranicos ao longo do ciclo. O déficit hídrico contribui para que a cultura fique mais suscetível ao ataque de pragas e doenças, e uma vez que esses invasores se multiplicam, torna-se uma porta de entrada para as plantas sadias que estão cultivadas sob o pivô central. Há também a possibilidade de irrigar estas áreas por meio de outros sistemas, como os de aspersão convencional, carretel enrolador, gotejamento etc. Entretanto, seriam necessários vários arranjos de pequenos segmentos de equipamentos de irrigação, dificultando o projeto e a operação do mesmo. Isso certamente acarreta aumento de mão de obra, o que pode provocar a inviabilidade do sistema. Novembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Com o corner, a área irrigada pode aumentar em até 20%
O CORNER
Para solucionar o problema exposto no item anterior, uma solução desenvolvida e patenteada em meados da década de 1970 foi o sistema de braço articulado, denominado de corner (tradução do inglês esquina, canto). Foi uma alternativa excelente para atender as áreas de reforma agrária dos Estados Unidos, que eram na maioria em formato quadrado, e a implantação do corner veio a reduzir significativamente as áreas de bordadura. No Brasil, houve o lançamento, em 2015, e veio agregar tecnologia às fazendas irrigantes. Uma particularidade nacional é que, além da oportunidade de implantação do corner entre pivôs, pode ser inserido o sistema também em outros campos, incrementando em torno de 20% a área irrigada, propi-
ciando maior produção e maior receita para o produtor. Na Figura 1 está apresentado o incremento do corner em um equipamento de pivô central convencional, passando de 85ha para 102ha, implicando aumento de 20% na área de cultivo.
ADAPTAÇÃO DO CORNER NO PIVÔ CENTRAL
O equipamento corner pode ser implantado em pivôs já existentes. Para a transformação, são necessários a retirada do vão em balanço do pivô (que será perdido) e ajustes para o suporte do novo equipamento. O painel do pivô necessita tecnologia para programação, e caso o painel original do pivô seja manual, será necessária a sua substituição. Mantendo-se a mesma lâmina de ir-
Figura 1 - Incremento do corner em um equipamento de pivô central convencional
rigação, haverá um aumento de vazão e pressão com o incremento do corner, e por isso o conjunto motobomba deverá ser redimensionado. Cuidados importantes devem ser tomados com a energia elétrica, pois com a troca do conjunto motobomba haverá um aumento da demanda energética e o transformador de energia poderá necessitar substituição. O mesmo pode ocorrer com a adutora (tubulação que geralmente é de PVC), pois o aumento da vazão implica uma maior velocidade de escoamento no interior da tubulação. Isso poderá acarretar a necessidade de substituição por uma adutora de maior diâmetro ou a adição de uma adutora auxiliar. O aumento na área e na vazão requer liberações de licenciamento ambiental e outorga d’água nas instituições competentes que são os órgãos ambientais do Estado. Já no caso da energia elétrica, há necessidade do pedido de aumento de demanda contratada na companhia de energia elétrica. Se o irrigante optar pela implantação do corner sem alteração de vazão do sistema, ficará isento de troca de adutora, motobomba, aumento de demanda e de pedido de aumento da vazão outorgada. Entretanto, a lâmina de irrigação do pivô será reduzida, necessitando o equipamento de maior tempo de irrigação para atender à demanda hídrica para uma mesma cultura. As treliças do lance corner são similares ao lance tradicional, diferenciando a unidade motora que possui um sistema de direção das rodas, ajustando o seu trajeto de acordo com a programação preestabelecida da área de bordadura que será irrigada. O conjunto de sistema de spray (emissores) é em maior número que os lances convencionais e composto de válvulas hidráulicas que operaram abertas e fechadas de acordo com a necessidade hídrica do alvo a ser irrigado. Caso o equipamento corner esteja aberto (esticado), todos os emissores estarão irrigando. Por outro lado, com o fechamento do corner (recolhido) para cobrir os cantos, as válvu-
las hidráulicas também são fechadas e interrompem a aplicação de água. Todo o sistema tecnológico embarcado é uma vez programado e obedecido por intermédio de um GPS RTK com precisão milimétrica, que propicia uma perfeita simetria entre posição e abertura e fechamento dos emissores. Isso confere ao corner a mesma uniformidade de aplicação de água que o restante do equipamento.
MANUTENÇÃO DO CORNER
A manutenção do corner é basicamente a mesma do restante do pivô central, onde é dividido em manutenções elétrica, hidráulica e mecânica. A manutenção mecânica refere-se ao reaperto de todos os parafusos a cada mil horas de funcionamento, conferência do sistema de transmissão, trocas das juntas flexíveis gastas, calibragem dos pneus, completar o nível de óleos de redutores e motorredutores. Já a manutenção elétrica inclui o reaperto de todos os contatos elétricos, a aplicação de repelentes contra insetos no interior das caixas elétricas e painéis, observando as vedações das mesmas para evitar umidade. A revisão hidráulica é mais trabalhosa devido à existência de válvulas solenoides e hidráulicas que compõem cada conjunto spray. Precisam estar bem apertados e vedados para que não aconteçam vazamentos que comprometam o perfeito funcionamento.
INVESTIMENTO DO CORNER
Como o corner é um equipamento importado, o mesmo está suscetível a oscilações da cotação do dólar. Dessa forma, em situações de dólar com valor alto, a implantação do equipamento requer um estudo de viabilidade para saber se há uma relação custo/benefício atrativa. Para esse artigo, foi realizada uma análise econômica da irrigação por pivô central convencional e pivô com corner, nas culturas de cana-de-açúcar e soja na entressafra, para um período de vida útil dos equipamentos de 27 anos. O estudo obteve como resultado um retorno do capital investido em 4,5 anos para pivô central convencional e 6,9 anos para pivô equipado com corner (período de amortização do investimento). Vale destacar que um equipamento de pivô central tem longevidade superior a 27 anos desde que bem manejado e com todas as revisões feitas adequadamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O corner é um aliado do produtor no campo com o objetivo de trazer tecnologia e aumento de produtividade, garantindo benefício e ren.M da para o irrigante. Job Teixeira de Oliveira, Fernando França da Cunha e Rubens Alves de Oliveira, UFV
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PNEUS
Equilibrado A lastragem correta de tratores agrícolas ajuda a aumentar a eficiência nas operações e a capacidade de tração e minimiza o desgaste de pneus e o consumo de combustível
O
trator agrícola moderno é uma máquina autopropelida cujas principais funções são aumentar a produtividade agrícola por trabalhador rural, tornar o trabalho no campo menos árduo e mais atrativo, reduzir os custos de produção e melhorar Novembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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as condições do meio, tal como o solo, para facilitar a germinação das sementes e o crescimento das plantas (Goering et al, 2003). Para executar tais funções de modo adequado, com maior eficiência de tração e reduzido consumo de combustí-
vel, é preciso realizar as manutenções periódicas, escolher a potência do trator que melhor atenda o trabalho a ser executado e proporcionar ao trator durante a operação uma patinagem das rodas motrizes (também chamado de redução do percurso) entre 10% e 15% em so-
Charles Echer
tração na maioria dos casos, também pode auxiliar na redução do consumo de combustível, o que contribui para a redução do custo de produção agrícola. Apesar da importância, muitos agricultores brasileiros nunca ou raramente alteram o lastro dos tratores que possuem. Isto compromete o desempenho do trator, e como consequência de um menor desempenho, ocorrem maior gasto de combustível, maior desgaste da máquina e maior custo de produção agrícola. Diante dessas premissas, o objetivo deste estudo foi agrupar algumas referências sobre o assunto, para material informativo a agricultores.
Leonardo Monteiro
LASTRAGEM
los agrícolas (Monteiro e Silva, 2009). A patinagem das rodas motrizes depende do tipo de pneu e seu estado de conservação, das condições de resistência do solo, do contato do rodado com o solo e do torque nas rodas. Quanto maior a aderência do solo com a roda motriz, menor a patinagem, e uma forma de aumentar a aderência é através da lastragem de tratores. Para o uso eficiente do trator, ajustes são necessários na máquina de acordo com a finalidade de uso. Ajustar os lastros de um trator, além de proporcionar maior aderência entre o solo e as rodas, e assim contribuir com o aumento da
Lastragem é o procedimento de aumentar a massa de tratores com o objetivo de aumentar a aderência do solo com as rodas motrizes, e assim proporcionar aumento da capacidade de tração e da estabilidade do conjunto trator-implemento, este último tornando o trator mais seguro quanto aos riscos de tombamento. Com o uso adequado de lastro, po-
de-se proporcionar aumento da vida útil do pneu e maior rendimento destes, além de reduzir os problemas de perda de tração, de excesso de patinagem e consumo de combustível. Portanto, a lastragem acarreta melhorias em termos de rendimento operacional (Monteiro, Lanças e Guerra, 2011; Spagnolo et al, 2012). O excesso de lastro em tratores agrícolas acarreta redução do desempenho do trator, aumento do consumo de combustível e maior desgaste das peças, visto que o trator estará usando parte de sua potência para mover o excesso de massa. Além disso, maior peso do trator acarreta maior compactação do solo. Já a lastragem insuficiente leva a excessiva patinagem, alto consumo de combustível e desgaste prematuro dos pneus. A massa bruta total do trator com quantidade de lastro correta é uma função do tipo de tração do trator: tração nas duas rodas; assistência mecânica na roda dianteira; ou tração nas quatro rodas, e da velocidade de deslocamento no campo. A Tabela 1 apresenta a relação massa/potência do trator em função da velocidade de deslocamento.
Marcas características deixadas no solo por rodas de tratores: (esq.) patinagem excessiva; (centro) pouca patinagem; e (dir.) patinagem e quantidade de lastro ideal
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Fotos Charles Echer
Lastros metálicos em tratores agrícolas: no rodado traseiro e na parte frontal
Uma vez que apenas as rodas motrizes fornecem tração, também é importante distribuir o lastro adequadamente entre os eixos dianteiro e traseiro. A massa ideal entre os eixos é afetada pelo tipo de tração e se o implemento acoplado é puxado ou montado. A Ta-
Diferentes rastros, de acordo com o tipo de lastragem
T
ipos característicos de marcas deixados pelas rodas motrizes de tratores no solo agrícola: (a) patinagem excessiva, marcas pouco definidas e necessidade de aumentar a quantidade de lastro; (b) patinagem insuficiente, marcas bem evidentes no solo, necessidade de reduzir a quantidade de lastro no trator; e (c) quantidade de lastro e patinagem correta, marcas bem definidas na extremidade e deslizamento no centro. Novembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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bela 2 apresenta uma regra prática de distribuição de massa do trator na roda dianteira e na roda traseira em função se o implemento é puxado, semimontado ou montado. Os dados das Tabelas 1 e 2 determinam a massa necessária de lastro que terá que ser adicionado à parte dianteira e à parte traseira do trator, de modo tal que a patinagem fica entre 10% e 15%, e assim proporcione economia de combustível e melhor eficiência tratória.
PROCEDIMENTO PARA A LASTRAGEM
Há dois tipos de lastragem: líquida e sólida. A líquida consiste em adicionar água aos pneus do trator de acordo com o recomendado pelo fabricante. Já a lastragem sólida pode ser feita através de discos metálicos fixados nas rodas traseiras ou placas metálicas montadas na dianteira do trator. Para a lastragem com água, basta posicionar o bico do pneu na parte superior para enchê-lo com 75% de água; posicionar o bico na parte superior e formando um angulo de 45º com a superfície do solo para encher com 60%;
com o bico na posição mediana no pneu para encher 50%; com o bico na posição inferior formando um ângulo de 45º com o solo para encher 40%; e com o bico na parte inferior para encher 25% (Monteiro e Silva, 2009). A Figura 2 apresenta os lastros em forma de discos metálicos fixados nas rodas traseiras e o conjunto de placas metálicas montadas na parte frontal de tratores agrícolas. A lastragem está intimamente ligada à patinagem de tratores, de modo que um procedimento prático para determinar se o trator agrícola está ou não com a quantidade ideal de lastro e se o índice de patinagem encontra-se entre 10% e 15%, ideal para movimento em solos agrícolas, basta observar as marcas deixadas pelas rodas motrizes do trator no solo (Monteiro e Silva, 2009), conforme é possível observar no box.
ESTUDOS SOBRE LASTRAGEM
Estudo realizado por Lopes et al (2005) comparou o desempenho de um trator agrícola 4x2 TDA de 121cv em função do tipo de pneu, da condição de lastragem com água e em função da velocidade. Seus resultados mostraram que para o trator operando com maiores velocidades, a lastragem com água foi importante para aumentar a capacidade de campo efetiva e reduzir o consumo específico de combustível de tratores agrícolas. Monteiro, Lanças e Guerra (2011) compararam o desempenho de trator agrícola equipado com pneus radiais e diagonais com diferente lastragem líquida em três condições superficiais de um Nitossolo Vermelho. Os resultados do estudo mostram que o melhor desempenho do trator ocorreu na condição de 75% de água nos pneus, para o trator equipado com pneu diagonal, e 40% de água nos pneus, para tratores com pneus radiais. Para ambas as lastragens, o trator apresentou maior velocidade de deslocamento, menor patinagem, menor consumo específico de combustível e maiores potência e ren-
dimento na barra de tração. Estudos de desempenho de tratores agrícolas realizados em trabalhos de Gee-Clough, Pearson e McAllister (1982), de Jadhav et al (2013) e Sharma, Gaba e Singh (2016), concluíram que a lastragem proporciona aumento da eficiência de tração, maior potência disponível na barra de tração e menor consumo específico de combustível do trator agrícola. Os tombamentos laterais são os acidentes fatais que frequentemente envolvem tratores agrícolas. Estudos relacionados à estabilidade de tratores agrícolas, como os desenvolvidos por Li et al (2016), Ahmadi (2013), Baker e Guzzomi (2013), Gravalos et al (2011), mostram que ajustar os pesos de lastros em tratores agrícolas são de extrema importância, uma vez que tal procedimento modifica o centro de gravidade do trator, proporcionando maior estabilidade deste, reduzindo a possibilidade de tombamento, portanto dá maior segurança ao operador. Os lastros devem ser distribuídos de forma correta, seguindo a orientação do manual do tratar. A má distribuição dos lastros leva ao aumento do consumo de combustível, à maior compactação do solo e pode até mesmo desesta-
bilizar o trator (Pranav e Pandey, 2008). Diante destes estudos, fica claro que deixar de lastrear o trator agrícola ou fazê-lo de forma incorreta, leva à redução de eficiência global de operação e ao aumento dos custos operacionais, haja vista que o consumo de combustível é aumentado e a potência do trator mal utilizada, o que, consequentemente, aumenta custo final da produção agrícola.
CONCLUSÕES
Lastrear o trator agrícola precisa ser um procedimento feito antes de qualquer atividade desempenhada pelo trator no campo. A lastragem deve ser feita de modo a respeitar o manual do fabricante e proporcionar ao trator durante a operação uma patinagem das rodas motrizes entre 10% e 15% em solos agrícolas. A lastragem correta desempenha importante papel no trator, além de melhorar a eficiência de tração e reduzir o consumo específico de combustível do trator agrícola, regula a patinagem e aumenta a estabilidade, dando maior segurança ao operador. Isto implica redução .M no custo de produção agrícola. Lucas de Arruda Viana, UFV
Tabela 1 - Relação massa/potência do trator agrícola em função da velocidade de deslocamento em solo Tipo de tração 4x2 (kg/cv) 4x2 TDA (kg/cv) 4x4 (kg/cv)
7,24 58,16 58,16 49,21
Velocidade de deslocamento do trator (km/h) 8,04 53,68 53,68 44,73
A
B
C
D
8,85 49,21 49,21 40,26
Fonte: (Hanna, Harmon e Petersen, 2010). Tabela 2 - Distribuição da massa do trator na roda dianteira e na roda traseira em função se o implemento é puxado, semimontado ou montado Tipo de trator Eixo do trator Acoplamento Puxado (%) Acoplamento Semimontado (%) Acoplamento Montado (%) 25 30 35 4x2 Dianteiro 75 70 65 Traseiro 35 35 40 4x2 TDA Dianteiro 65 65 60 Traseiro 55 55 60 4x4 Dianteiro 45 45 40 Traseiro Fonte: (Hanna, Harmon e Petersen, 2010).
Fotos Leonardo Monteiro
E
Lastragem com água ocupando: (a) 75%; (b) 60%; (c) 50%; (d) 40%; e (e) 25% da câmara interna dos pneus
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PULVERIZADORES
Mistura correta É possível fazer mistura de produtos em tanque, desde que haja uma avaliação da compatibilidade física dos produtos e realizada de maneira correta
A
busca pela otimização da capacidade operacional dos pulverizadores tem incentivado a aplicação de caldas cada vez mais complexas, notadamente devido ao uso de misturas contendo vários defensivos agrícolas, adjuvantes e adubos foliares ao mesmo tempo. Apesar do resultado desta prática ser questionável em alguns casos, quando a mistura é feita sem aparente critério agronômico, é notório que o uso é cada vez mais frequente. Um agravante para este proces-
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so é a concomitante redução da taxa de aplicação (Figura 1), o que torna a mistura de vários produtos em uma reduzida quantidade de água um desafio técnico bastante complexo (Chechetto et al, 2014; Carvalho et al, 2017). Também é crescente a demanda pelas misturas em tanque com o objetivo de se proceder com o correto manejo da resistência das plantas aos defensivos agrícolas. Neste caso, chama a atenção a questão dos herbicidas, pois o número de casos de resistência ou tolerância de espécies
de plantas daninhas aos diferentes modos de ação vem crescendo ano a ano, requerendo o uso de estratégias de aplicação de misturas que possam dar longevidade e sustentabilidade ao controle químico das plantas daninhas. Com isso, compreender os fatores que interferem nas misturas em tanque contendo herbicidas à base de glifosato e 2,4-D, com vista à compatibilidade físico-química das misturas, se faz necessário. Testamos estes herbicidas variando a concentração (através da taxa de aplicação), a marca co-
Fotos Agroefetiva
Figura 1 - Redução da taxa de aplicação (L ha ) observada, na média, no estado do Mato Grosso na última década. Fonte: AgroEfetiva/Projeto Inspeção Periódica de Pulverizadores – IPP - Unesp/FCA, 2018 -1
Exemplos de misturas em tanque, contendo glifosato e 2,4-D, com e sem problema de compatibilidade
mercial e a ordem de mistura.
AVALIAÇÕES
Nesse sentido, as pesquisas foram conduzidas pela AgroEfetiva, em parceria com a Faculdade de Ciências Agronômicas, da Unesp, em Botucatu (SP). Inicialmente, foi realiza-
do um experimento com dois produtos comerciais à base de glifosato WG, descritos na Tabela 1. Foram analisadas duas marcas comerciais de glifosato WG com o herbicida 2,4-D (sal de dimetilamina de (2,4-dichlorophenoxy) aceticacid), 806g/L (670g.e.a./L), na dose de 3,5L/ha.
Os tratamentos foram compostos por duas sequências de mistura dos produtos (por exemplo, primeiro o glifosato e depois o 2,4-D, ou vice-versa) e diferentes taxas de aplicação, 40L/ ha, 80L/ha, 180L/ha e 250L/ha, oferecendo com isso diferentes concentrações dos produtos nas caldas.
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Fotos Agroefetiva
B
A
Problema de compatibilidade das misturas com gliwg1 + 2,4D nas taxas de aplicação de 40L/ha (a) e a 80L/ha (b) com resíduos, similares à espuma, nas peneiras de 100 mesh
Em um segundo momento, adicionou-se às caldas contendo glifosato um fertilizante foliar (suspensão homogênea; 2% nitrogênio, 3% óxido de potássio; e 1% Manganês), na dose de 0,4L/ha, sem a mistura com o 2,4-D. Para que se pudesse preservar o aspecto prático agronômico dos tratamentos propostos, todos os produtos à base de glifosato foram dosados nas caldas considerando-se uma recomendação básica de 1.800g.e.a./ha de glifosato. Desta maneira, a dose, em litros de produto comercial por hectare para cada herbicida, foi ajustada para se proceder a mistura de forma que todos os tratamentos oferecessem o mesmo potencial de controle (baseando-se numa dose padrão de 1.800g.e.a/ha). Todos os tratamentos partiram de uma taxa de aplicação inicial de 40 litros por hectare, e este valor foi A
B
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RESULTADOS
Foi possível observar que em todas as misturas, entre os glifosatos WG e 2,4-D, abaixo de 180L/ha, houve problemas de compatibilidade para qualquer herbicida testado e em
Exemplos de mistura em tanque com gliwg1 + 2,4-D, mostrando que na medida em que as caldas foram ficando cada vez mais diluídas, os problemas de compatibilidade desapareceram. (a) 40L/ha; (b) 80L/ha; (c) 180L/ha; e (d) 250L/ha
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Problema de compatibilidade da mistura com gliwg1 + 2,4-D (a) e mistura compatível com gliwg2 + 2,4-D (b) com resíduos na peneira de 100 mesh, na taxa de aplicação de 180L/ha
sendo aumentado até que houvesse a percepção de mudança de comportamento em caso de ter havido problemas de compatibilidade na mistura. Para os produtos WG, a taxa de aplicação máxima utilizada (250L/ha) representa a maior taxa recomendada em bula para estes produtos. A avaliação de compatibilidade foi realizada baseada na metodologia descrita na norma da ASTM E1518 – 05 (2012). A mistura é considerada compatível, quando ao final do processo de agitação a mesma esteja homogênea e não sejam constatados resíduos na peneira ou no recipiente onde são acondicionadas.
D
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qualquer ordem de mistura. Na Tabela 2 são apresentados os dados de compatibilidade referentes às avaliações para os dois herbicidas à base de glifosato WG (sal de amônio), em mistura com 2,4-D e também em mistura com o fertilizante foliar. Somente na mistura em tanque com 180L/ha foi possível observar diferenças entre os defensivos agrícolas para compatibilidade da mistura. Sempre que o 2,4-D foi adicionado primeiramente na mistura, até 180L/ha, houve problemas de compatibilidade de calda, independentemente da marca comercial de glifosato. Quando a ordem de mistura foi realizada com o glifosato WG adicionado primeiramente à mistura, os resultados foram diferentes para as duas marcas comerciais testadas. Neste caso, houve problemas de compatibilidade para a marca gliwg1, en-
A mistura é considerada compatível, quando ao final do processo de agitação a mesma esteja homogênea e não sejam constatados resíduos na peneira ou no recipiente onde é acondicionada
Charles Echer
A
quanto não foram observados problemas de compatibilidade para a marca gliwg2. Para a taxa de aplicação máxima recomendada em bula para as formulações WG (250L/ha) não houve problemas de compatibilidade com o método analisado para os dois produtos comerciais mesmo variando a ordem de mistura. Os resultados mostram na medida em que as caldas foram ficando cada vez mais diluídas (correspondendo à maior taxa de aplicação), os problemas de compatibilidade desapareceram. Entretanto, nesse processo foi possível observar claramente uma diferença de comportamento entre as marcas comerciais. Enquanto a mistura do herbicida gliwg1 ainda resultava problema de compatibilidade na diluição de 180L/ha, a mistura do herbicida gliwg2 já resultava em uma solução compatível nesta diluição. Portanto, as eventuais recomendações de mistura em tanque, no caso desses dois herbicidas, precisariam ser diferenciadas entre as marcas comerciais. Estas diferenças de comportamento entre produtos comerciais são esperadas na prática, devido às variações qualitativas e quantitativas dos componentes de cada formulação (os inertes), os quais podem interagir entre si na calda e causar ou não problemas de compatibilidade, dependen-
Tabela 1 - Descrição dos herbicidas à base de glifosato utilizados nesta pesquisa Formulação WG Equivalente ácido (g kg-1) Ingrediente ativo (conforme bula de cada produto) Dose* (kg ha-1) Gliwg1 720 Sal de amônio de glifosato 3,5 Gliwg2 720 Sal de amônio de glifosato 3,5 *A dose (em kg ou L do produto comercial por hectare) foi estabelecida para cada produto comercial visando garantir uma dose de 1.800g de equivalente ácido de glifosato por hectare.
do de suas concentrações. As misturas com o gliwg1 e o gliwg2 + fertilizante foliar não resultaram em problemas de compatibilidade para nenhuma taxa de aplicação e em nenhuma ordem de mistura avaliada.
CONCLUSÕES
Os tratamentos com problemas de compatibilidade testados nessa pesquisa, com essas doses, nessas taxas de aplicações e para esses produtos, precisam de atenção quando utilizados em mistura. A partir desse cenário é possível concluir três principais parâmetros: a determinação da taxa de aplicação (L/ha) deve ser realizada considerando também os testes de compatibilidade das misturas em tanque e não apenas rendimento operacional. Baseando-se que para as menores taxas de aplicação, a mistura dos defensivos agrícolas é realizada em concentrações maiores, aumentando assim a chance de problemas de compatibilidade. As misturas em tanque devem ser recomendadas
Tabela 2 - Resultados para as avaliações com herbicidas à base glifosato com formulação WG. Os resultados em verde indicam caldas compatíveis em mistura. Resultados em laranja indicam a situação em que houve problemas de compatibilidade de caldas. E os resultados em negrito indicam diferença de comportamento entre produtos similares de marcas comerciais diferentes Ordem de adição Gliwg1 2,4-D Gliwg2 2,4-D 2,4-D Gliwg1 2,4-D Gliwg2 Gliwg1 2,4-D Gliwg2 2,4-D 2,4-D Gliwg1 2,4-D Gliwg2 Gliwg1 2,4-D Gliwg2 2,4-D 2,4-D Gliwg1 2,4-D Gliwg2 Gliwg1 2,4-D Gliwg2 2,4-D 2,4-D Gliwg1 2,4-D Gliwg2
Taxa de aplicação (L ha-1) 40 40 40 40 80 80 80 80 180 180 180 180 250 250 250 250
Presença de Resíduos Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Não Não Não Não
As misturas com os glifosatos WG + fertilizante foliar não apresentaram problemas de compatibilidade de calda nesse estudo. Por esse motivo, os tratamentos não estão inseridos na tabela.
levando-se em consideração as marcas comerciais dos produtos. Além disso, as recomendações de mistura devem ser detalhadas e específicas com relação à ordem de mistura .M dos produtos.
A determinação da taxa de aplicação deve ser realizada considerando também os testes de compatibilidade das misturas em tanque e não apenas rendimento operacional
Rodolfo Glauber Chechetto, Fernando Kassis Carvalho e Alisson Augusto Barbieri Mota, AgroEfetiva, Botucatu Ulisses Rocha Antuniassi, FCA/Unesp, Campus de Botucatu
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CAPA
Como resgatar? Leonardo Pereira Fortes
Atualmente, uma grande parcela dos 32 milhões de hectares utilizados em plantio direto com boa condição química do solo não consegue expressar seu potencial produtivo. De acordo com pesquisa, o problema é de ordens física e física-biológica, frutos de um sistema mais complexo que se tornou apenas uma técnica de plantio sem levar em consideração diversos fatores importantes
N
o decorrer das últimas quatro décadas, a agricultura brasileira teve uma significativa (re)evolução tecnológica estimada na ordem de 300% até 1.000% (dada com base em insumos, máquinas etc), evolução esta não acompanhada, em termos proporcionais, na produtividade das lavouras de grãos, as quais aumentaram ao redor de 130% a 140%. Nesta (re)evolução tecnológica está incluída a forma de manejar o solo, passando do preparo convencional de solo, com aração e gradagens sucessivas, para formas tidas como “mais conservacionistas”, como os sistemas de plantio direto e o preparo reduzido com escarificação do solo. Juntas, tornaram-se ferramentas importantes para a utilização do solo de forma mais sustentável em relação ao preparo convencional, cresNovembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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cendo a taxas na ordem de 11 mil ha/ ano no período entre 1974-1979; de 80 mil ha/ano, entre 1979 e 1991; atingindo a marca de 1,7 milhão de ha/ano, entre 1991 a 2006 e, aproximadamente, 640 mil ha/ano no período entre 2006 e 2017, conforme dados da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha. Essa mudança na forma de manejar o solo sob plantio direto contribuiu para sua melhoria no que tange à qualidade química, física e biológica muito rapidamente no início, e agora apresenta sinais de estagnação. Sim, estagnação. Por que está estagnado? Por que não avança em termos de área, por exemplo? Não há mais área para expandir? Há falta de atualização de dados de campo? Há falta de políticas públicas para difundir essa tecnologia? Há descrédito por parte de produtores (ou grupos)
sobre os benefícios do SPD? Há problemas que antes não eram “problemas” e agora são, como a compactação de solo? Há falta de um sistema para chamarmos de sistema plantio direto? Ou há outras perguntas mais? O que podemos descartar é a falta de área para expandir o uso desta tecnologia, nisso todos concordamos. Nos arriscamos, com certa margem de erro, a dizer que está havendo um esquecimento do real significado do que é sistema plantio direto. O que temos é um plantio direto, que na verdade é uma semeadura direta com algum grau de revolvimento do solo, em alguns momentos mais, outros menos, por semeadoras, semeadoras-adubadoras, modernizadas da linha de semeadura para cima, mas antiquadas da linha para baixo. Ou seja, dos mecanismos de abertura do sulco para deposi-
Embrapa
ção de fertilizantes e sementes. Comparativamente ao sistema convencional de preparo do solo evoluímos muito, mas estamos a desejar no real conceito de sistema plantio direto. Ações focadas na correção e melhoria das condições químicas do solo, na supressão da queima de palhada, na importância da rotação de culturas, no uso de terraceamento, entre outras tantas, foram intensamente trabalhadas em nível de Brasil. Neste processo de convencimento, os avanços deram-se em números anteriormente apresentados. Ao focar nestas ações urgentes à época, esteve fora de “foco” o fato de que, ao não revolver o solo, a estrutura antes pulverizada, homogeneizada por arações e gradagens, agora se reorganizaria noutra configuração, com expectativa de melhoria. Isso aconteceu, até certo ponto. Parcialmente, e nos arriscamos a dizer, o mais importante insumo, a água, antes problema por causar erosão (água em excesso), agora torna-se novamente problema, pela sua escassez no solo e não pela ausência de chuvas. Escassez essa oriunda de problemas de compactação do solo, que reduz a infiltração, aumentando o escoamento superficial e o arrasto da camada de solo mais rica em nutrientes, o armazenamento, a redistribuição, a aeração do ambiente radicular etc. Atualmente, temos uma grande parcela dos 32 milhões de hectares em plantio direto com boa condição quí-
GPRSM-UFRGS
Erosão do solo em lavouras sob semeadura inadequada (morro acima, morro abaixo) com deficiência de palhada na superfície do solo
mica do solo, mas que não consegue expressar seu potencial produtivo, pois o problema é de ordens física e física-biológica. Na falta de um sistema (Figura 1) se perderam e se perdem, primeiramente, estrutura de solo (a física), seguida pela redução de indicadores biológicos e, por último, fertilidade. Temos áreas de lavoura com características físicas similares a estradas, mas quimicamente perfeitas. Em nossa observação, isso ocorre por desconhecimento/despreocupação sobre a importância de água no solo, uma vez que ela governa processos não só químicos, mas químicos, físicos (principalmente), biológicos e mecânicos. Máquinas maiores, mais pesadas, com pouca área de contato pneu-solo, falta de calibração da pressão de inflação dos pneus, tipo de carcaça do pneu, transferência de peso do trator
em operação, patinagem, lastragem, baixa capacidade de suporte de carga dos solos, entre outros fatores, contribuem para aumentar a degradação da estrutura do solo. Dessa forma, os sistemas de manejo devem criar condições às propriedades do solo que aumentem sua eficiência nas dinâmicas de fluxos de água (infiltração, retenção e redistribuição), de nutrientes, de gases e de temperatura, processos que irão atuar na disponibilidade hídrica e nutricional das plantas, potencializando o crescimento, o desenvolvimento e a produtividade dos cultivos.
PESQUISAS
Experimentos de longa duração em Argissolo buscando avaliar a influência dos diferentes sistemas de mane-
Bioporos produzidos por ação de corós, raízes de plantas abrindo caminho para novos bioporos
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Fotos GPRSM-UFRGS
Restos da cultura do milho sob palhada de aveia preta dessecada cinco meses após a colheita do milho
jo de solo, tanto na qualidade estrutural do solo, quanto no desempenho de conjuntos mecanizados e a sua influência na produtividade das culturas, têm sido desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisas em Relação Solo-Máquina (GPRSM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os resultados apontam que, após 16 anos de conversão de áreas de campo natural (pastagem) para lavoura em SPD (na sua essência), houve melhorias na estrutura do solo, como redução na densidade, aumento na taxa de infiltração de água do solo, aumento da condutividade hidráulica saturada do solo, em comparação com áreas conduzidas com 13 anos em sistemas convencional e reduzido (Figura 2 e Tabela 1). Os dados ainda vêm apontando que, três anos após cessar o preparo convencional de solo (manejo realizado durante 13 anos) e iniciar o SPD, a densidade do solo ainda é 13,7% maior do que a encontrada na área manejada durante 16 anos sob SPD. Essa diferença de
13,7% pode parecer ser baixa à primeira vista e quando visualizamos apenas a densidade do solo. Porém, quando relacionamos esse parâmetro com a facilidade com que a água passa por determinado volume de solo (dada aqui pela Ksat), observamos a influência da densidade do solo alterando significativamente a movimentação de água no perfil do solo quando saturado na ordem de 90% (Figura 2). Comportamento semelhante vem sendo visualizado em ensaios da capacidade de infiltração de água no solo, buscando relacionar tal variável com o que acontece em um evento de precipitação de elevadas intensidades (Tabela 1). O solo manejado durante 16 anos em SPD apresentou uma taxa de infiltração 74% maior do que o solo com histórico de manejo de 13 anos em SPC (e que agora está em processo de manejo em SPD por três anos) para os primeiros cinco minutos de chuva, e ainda manteria uma taxa de infiltração, aproximadamente, 30% maior após uma hora (Ta-
Figura 1 - “Tripé” do sistema plantio direto e algumas das inter-relações entre fatores físicos, químicos, biológicos e mecânicos (GPRSM-UFRGS, 2018)
bela 1). Ou seja, esse sistema de manejo adequadamente trabalhado apresenta condições de absorver, infiltrar, reter e redistribuir muito mais água que do que os outros sistemas de manejo testados. Essa diferença se dá em função de o SPD empregado apresentar rotação de culturas no período estival (ano milho, ano soja) e no período hibernal (aveia mais azevém como culturas de cobertura de solo) e semeadura, junto das demais operações agrícolas em condições de friabilidade do solo. Associado a isso, está o fato de o intervalo entre colheita/manejo de uma cultura e a implantação da próxima ser muito reduzido, ou seja, a parte biológica do solo está em constante atividade, ciclando, reciclando e organizando constantemente os processos ordenativos no solo. Isso permite que haja um rearranjo continuado do sistema poroso, a criação e a manutenção de poros de origem biológica, o aumento gradativo de matéria orgânica, a qual melhora a retenção e a redistribuição de água por meio da recuperação na estruturação do solo. Algumas décadas se passaram desde a introdução da tecnologia do SPD e os reflexos de sua má aplicação começaram a surgir, afetando o fundamento da tecnologia: a estrutura do solo. A falta de entendimento e utilização do que é SPD, seus princípios básicos associados às práticas complementares de conservação do solo como semeadura em contorno, utilização de terraços, observa-
Figura 2 - Condutividade hidráulica saturada (Ksat) e densidade do solo em SPD com diferentes históricos de manejo (GPRSM-UFRGS, 2018)
*SPD 16 – Sistema de plantio direto com 16 anos; SPD3|SPR – Sistema de plantio direto com três anos após 13 anos de sistema de preparo reduzido; SPD3|SPC - Sistema de plantio direto com três anos após 13 anos de sistema de preparo convencional.
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Tabela 1 - Taxa de infiltração de água no solo (mm/h) sob diferentes históricos de manejo, em diferentes momentos de uma chuva (GPRSM-UFRGS, 2018) Tratamentos SPD16 SPD 3 (SPR) SPD 3 (SPC)
5 min 48,51 a 41,80 a 21,75 a
30 min 30,35 a 21,37 ab 6,72 b
60 min 22,28 a 17,48 ab 4,24 b
Acumulado (mm/h) 101,14 a 80,33 b 32,23 c
Letras iguais na coluna não diferem significativamente em nível de significância de 5%.
ção do teor de umidade do solo no momento dos manejos com máquinas agrícolas nas lavouras, vem se constituindo em um desafio complexo de ser resolvido, pois há um conflito de interesses. De um lado, precisamos de uma agricultura competitiva, com produção de grãos e cereais em escala e com liquidez capaz de pagar os custos imediatos. Ao mesmo tempo, precisa produzir uma quantidade de palha e raízes suficiente para atender a um dos preceitos do SPD, e isso não temos de forma satisfatória, não no cenário atual e de forma massiva. Associado a isso, as máquinas de semeadura, modernas em distribuição e dosagem de sementes e fertilizantes, são antiquadas no seu princípio, a mobilização de solo, ou seja, mobilizam muito solo para fora do sulco de semeadura. Evoluímos em relação ao sistema convencional de manejo de solo. E como sistema plantio direto? Em nossa visão, precisamos avançar em pesquisa na relação solo-máquina, no uso da mé-
trica, na difusão da tecnologia já gerada pelos centros de pesquisa e na formação de profissionais capazes de identi.M ficar e solucionar problemas.
Leonardo Pereira Fortes, Michael Mazurana e Renato Levien, UFRGS
.M
O sistema de manejo adequadamente trabalhado apresenta condições de absorver, infiltrar, reter e redistribuir muito mais água do que os outros sistemas testados
FROTA
Operador mantenedor
Charles Echer
A implementação do operador mantenedor é uma parte importante da estratégia de manutenção avançada, que ajuda a diminuir custos da operação e paradas por quebras
cros e ganhos; e exerce grande impacto no planejamento. As empresas, de maneira geral, requerem um processo eficiente de manutenção. Esta operação deve ser exercida com competência, criatividade, flexibilidade, rapidez, cultura de mudança e, com certeza, com trabalho em equipe, pois não existe espaço para a manutenção sem compromisso e de improviso. Para isso, é primordial que o processo de gestão da manutenção seja eficaz e apresente diretrizes organizadas, de maneira que os ativos atendam o planejamento, obtendo, assim, o retorno do investimento. As diretrizes devem ser elaboradas de forma prática e objetiva, atendendo as necessidades, assim como fazer o uso dos diferentes tipos de manutenção.
TIPOS DE MANUTENÇÃO
A
intensificação da mecanização faz surgir a necessidade de manter as máquinas com disponibilidade operacional e maximizar sua vida útil. Este objetivo somente pode ser atingido através de eficiente estratégia de manutenção. Essa é necessária, pois envolve ações para que uma determinada máquina, equipamento ou Novembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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implemento, aqui tratados como ativo, seja conservado ou restaurado, de forma que possa permanecer em condições específicas e com a possibilidade de otimizar o processo. Para as propriedades rurais administradas como empresas, atualmente, a manutenção dos ativos passou a ser um dos alicerces para ampliação dos lu-
As operações de manutenção, atualmente, possuem diversos modos de implementação e atuação. Estas estão sendo empregadas junto a indústrias, setores de prestação de serviços e em máquinas e implementos utilizados no setor primário. No setor primário, nem todas as operações previstas em um plano de manutenção industrial são possíveis de implementação. Porém, muitas técnicas são utilizadas e possibilitam ganhos. O setor de manutenção, com frequência, é questionado quanto à retirada dos ativos de suas operações, pois, para muitos, o período investido na manutenção é perda de tempo. No entanto, deve-se analisar que a manutenção, sendo planejada sob seus vários segmentos, não irá gerar perda de tempo produtivo, e sim investimento para melhoria do processo. Nesse contexto, alguns tipos de manutenção, com possibilidade de emprego no meio rural, serão descritos a seguir.
MANUTENÇÃO PREVENTIVA OU PERIÓDICA
A manutenção preventiva ou periódica pode ser definida como ações com-
prometidas em prever ou eliminar a quebra ou queda no rendimento desejado de um ativo. Diversas ferramentas e técnicas são empregadas para identificar possíveis problemas, citando-se, como exemplo, a inspeção periódica. Esta demanda do gestor de manutenção conhecer o equipamento, seu histórico e suas falhas precoces, a fim de que compreenda as técnicas por meio das quais seja possível prever a correção sem prejudicar o andamento do processo. No planejamento da manutenção preventiva devem ser previstas, no mínimo, ações de lubrificação para que os ativos possam desempenhar suas funções conforme o esperado e projetado. Associado a este, a execução da manutenção deve adotar critérios de qualidade, citando-se como exemplos a eliminação de sujeira e a não contaminação dos lubrificantes. Nesta manutenção devem-se seguir as recomendações de manutenções previstas no manual do ativo, fornecido pelo fabricante.
MANUTENÇÃO PREDITIVA
Este tipo de manutenção consiste no monitoramento das condições de operação dos ativos para detectar sinais de desgaste que possam preceder às falhas. Seu caráter vai além de uma ferramenta da manutenção planejada. Isto porque oferece os melhores resultados no acompanhamento do desempenho dos ativos. Possibilita reduzir o número de paradas na produção para a manutenção, resultando em maior tempo operacional efetivo das máquinas e, consequentemente, na potencialização Figura 1
Fotos Agilis
Operador mantenedor garante um cuidado constante do equipamento
da produção. A manutenção preditiva pode ser usada para diversas áreas, pois além de mensurar as condições de operação dos equipamentos e máquinas, permite uma avaliação eficaz de todo o grupo funcional. Caso usada adequadamente, pode identificar boa parte dos fatores que limitam a eficiência operacional. Entretanto, mesmo com todos os dados oriundos das inspeções preventivas e preditivas, no decorrer da vida útil do ativo aumenta a probabilidade de ocorrer uma falha entre duas manutenções, o que implica, então, ação corretiva.
MANUTENÇÃO CORRETIVA
As manutenções corretivas são ações para corrigir falhas decorrentes do desgaste ou da deterioração. Prevê o conserto das partes que sofreram falha, quebra ou apresentam desempenho menor que o esperado. Engloba
atividades como: reparos, alinhamentos, balanceamentos, substituição de peças, ajustes das folgas em componentes, entre outras. Esse tipo de intervenção implica elevados custos e perda de tempo. Isso pode demandar períodos maiores para a reposição de peças, tornando a máquina inativa, além de diminuir a produtividade e a qualidade do processo e do produto. Não há como eliminar totalmente a manutenção corretiva. Contudo, cada propriedade rural deve realizar uma análise histórica em seu banco de dados e definir o índice de manutenções corretivas aceitáveis. Assim, quanto menos ações de manutenções corretivas emergenciais houver, menor será o custo envolvido com as paradas.
MCC E MPT
Os elevados custos envolvidos na manutenção corretiva e a necessidade de um método de manutenção planejada fizeram surgir a manutenção centrada na confiabilidade (MCC). Esta visa e trabalha em conjunto com a disponibilidade e a segurança do equipamento, sem aumento dos custos previstos. É compreendida como uma técnica usada para determinar o que deve ser feito para garantir que os equipamentos operem corretamente. Busca a interação e a otimização entre as manutenções preditiva e preventiva. Tem por função, ainda, avaliar a mantenabilidade dos equipamentos e identificar os pontos críticos para, quem sabe, posteriormente, melhorar o projeto da máquina. Associada a esse conceito de manutenção, centrado na confiabilidade, foi
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Charles Echer
desenvolvida a manutenção produtiva total (MPT), que também visa a diminuição dos custos de produção. Objetiva responsabilizar e unir supervisores, operadores e técnicos da manutenção, de modo a ampliar e facilitar o fluxo de informações sobre o funcionamento e a manutenção do ativo. Na Manutenção Produtiva Total os operadores desenvolvem rotinas de inspeção, lubrificação e limpeza, com a meta de aumentar a eficiência do equipamento. Nesse contexto, surge o operador mantenedor, definição atribuída ao operador que é capaz de operar a máquina e mantê-la em operação, executando pequenos serviços de manutenção.
Manter a máquina sempre em dia é uma das atribuições do operador
importante investigar as fontes de sujeira para evitar vazamentos de possíveis contaminantes. Manter o posto de operação limpo, pois um ambiente laboral confortável estimula o trabalho e impulsiona a produção. Conhecer o equipamento: a relação do operador mantenedor com a máquina é importante, visto que ele precisa conhecer profundamente o ativo para que possa extrair os melhores resultados nas operações realizadas. Com o conhecimento de cada uma das características do equipamento, ao ser cuidadosamente inspecionado, é possível distinguir o normal do anormal. Em casos de anormalidade, realiza a manutenção de imediato, otimizando a produção, sem comprometer a vida útil da máquina.
OPERADOR MANTENEDOR
Para implementar a estratégia de operador mantenedor pela busca incessante por redução de perdas, é primordial a execução de três princípios básicos apresentados por Paccola (2011), como podemos ver a seguir. Manter o equipamento limpo: inicialmente, deve-se considerar uma limpeza externa, para observar vazamentos, folgas, trincas, fumaça, peças ou componentes amassados. Também é
Como implementar um sistema com operador mantenedor
E
xistem fatores que podem facilitar a implementação da estratégia do operador mantenedor: • Implantar sistemas de incentivos aos trabalhadores (normalmente financeiros). • Capacitar os operadores de forma adequada até atingir o grau de conhecimento necessário para realizar a manutenção. • Monitorar a operação durante a fase inicial do processo, porque compreende uma mudança no comportamento dos operadores e dos gestores. Superadas as etapas de implementação, o conceito de operador mantene-
dor registra resultados positivos, pela interação entre a manutenção e a operação do ativo, assim como o fortalecimento da equipe. Um programa de manutenção com este enfoque só terá sucesso se deixar de ter uma rotina de administração da falha, para ter uma rotina de administração do ciclo de uso das máquinas. Normalmente, o caminho parte da manutenção de quebra em direção à manutenção planejada e passa para a manutenção de melhoria, alcançando o mais amplo conceito de gestão de ativos (Vieira, 2011).
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Os planos de inspeção são importantes durante a realização da manutenção, pois garantem que determinados procedimentos sejam executados, conforme a recomendação do fabricante. A interação do operador com o ativo, em um ciclo constante de identificação de anormalidades e rápida solução, caracteriza uma melhoria gradativa nos ativos. Ainda, o operador é motivado a buscar constantemente por capacitação para que possa realizar a manutenção com qualidade. Cabe ressaltar que nesse processo de inspeção, a comunicação entre o operador e o setor de manutenção/gestão deve ocorrer de forma eficiente, evitando que as informações sejam perdidas. O controle e o registro são fatores importantes para o sucesso do operador mantenedor, pois permite manter o banco de dados atualizado para a gestão das informações. Se o sistema para registro das anormalidades ou serviços não for totalmente digital, é importante o uso de etiquetas, fichas ou mesmo um caderno, que devem ser preenchidos pelos operadores, contendo: identificação do operador e do ativo, data, horímetro (quando presente), relatar as anormalidades e o tempo investido na solução. Executar pequenos reparos: por conhecer a máquina, o operador mantenedor executa pequenos reparos. Muitas vezes, as anormalidades são simples e necessitam de rápida correção. Se realizado pelo operador, agiliza a operação e otimiza a produção. Para que isso seja possível, o operador deve ser treinado e capacitado, dispor de ferramentas adequadas e realizar apenas os reparos e serviços que foram definidos, antecipadamente, em reunião com o responsável. Para a efetivação do operador mantenedor, o processo deve ser estruturado, respeitando o tempo necessário para evolução de cada etapa, sendo elas .M citadas na Figura 1. Gessieli Possebom Catize Brandelero Valmir Werner, CCR, Nema/UFSM
TRATORES
CVT e consumo
Análise com transmissão continuamente variável mostra como a rotação do motor e a força na barra de tração influenciam no consumo de combustível em tratores
C
om o avanço da agricultura no Brasil, houve um aumento na produtividade, principalmente pelo crescimento de novas tecnologias. Os produtores rurais estão cada vez mais exigentes porque se tornaram altamente dependentes da mecanização agrícola, e o trator agrícola é o elemento fundamental na elevação dos padrões produtivos. Os tratores agrícolas são movidos por motores que transformam energia térmica em mecânica que posteriormente é transferida para o eixo, que move os rodados e disponibiliza potência por meio da barra de tração, possibilitando que tracione e reboque implementos agrícolas também oferecendo potência necessária para que
alguns trabalhem parados. Basicamente, os tratores se deslocam pela gestão do motor e da trasmissão, porém o motor sempre está acoplado em um sistema de transmissão, conhecido como caixa de transmissão, que tem por finalidade fornecer rotação e/ou torque. As transmissões são classificadas, basicamente, em: mecânica (engrenagens deslizantes e sincronizadas), hidrostáticas e hidrodinâmicas. Porém, existe a transmissão automática, que permite a mudança sem o uso da embreagem, ou seja, o eixo de entrada continua solidário à rotação do motor, não interrompendo a transmissão de potência. Durante a década de 1950, iniciou-
-se o uso do sistema CVT (Continuously Variable Transmission) em algumas máquinas agrícolas, e as colhedoras lideravam esse uso, pois além de ser responsável pela movimentação do implemento, aplicava-se no sistema mecânico para a trilhagem dos grãos, mas não era utilizado em larga escala. Assim, com o avanço da tecnologia em automóveis, a transmissão automatizada também começou a ser adotada com mais frequência em tratores agrícolas no Brasil, e pouco a pouco vem conquistando produtores e operadores devido à comodidade, ao conforto e à durabilidade. Essas transmissões automáticas são classificadas em semi Power Shift e Full Power Shift, sendo feita a troca de mar-
Charles Echer
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Charles Echer
Figura 1 - Gráfico de relação da Rotação do Motor (RPM) x Força na Barra de Tração (BT) x Consumo Horário de Combustível (CHC)
Relação entre motor e transmissão é responsável pelo aumento de eficiência
cha com o acionamento de apenas um botão, sem que seja necessário o uso da embreagem ou totalmente mecanizada, respectivamente. Mas a transmissão, que tem se proliferado e vem chamando bastante atenção, é a CVT, equipada com um sistema de controle que possibilita ajustar a relação de transmissão e a rotação do motor, que proporciona uma operação com o ponto máximo de eficiência no consumo de combustível, portanto é capaz de oferecer maior potência do motor com alcance de máxima eficiência, sem o uso de marchas. A sua maior durabilidade acontece porque não é necessário acionar o pedal de embreagem para efetuar as trocas de marcha, ou seja, permite que seja precisa e suave, lembrando que há embreagem contínua presente no sistema, porém não é necessário que o operador faça seu uso. Com uma simples alavanca de câmbio, é possível que o operador escolha as trocas de marcha automática ou mesmo as aumente ou reduza de modo sequencial em um único botão. Mas basicamente a transmissão CVT mais comum é a do tipo fricção, que tem o funcionamento baseado Novembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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em dois corpos que se atraem no contato em pontos da distância variando as cunhas da rotação, e assim permite que a friccção transfira toda a energia gerada de um corpo ao outro, em algumas vezes pode estar contido no sistema um terceiro corpo, que pode ser uma roda ou uma correia. Como benefícios e características, podem ser citadas a eliminação do “choque da troca”, fazendo que seja suavizada a troca de marcha; a diminuição do consumo de combustível; mantém o motor na sua melhor faixa de potência, independentemente da velocidade que está exercendo; menos perdas de potência; não fica “procurando” marcha com a diminuição da velocidade, facilitando o trabalho em terrenos com declives, além de se tornar atraente sob o ponto de vista ambientalista devido à redução da poluição atmosférica. A necessidade de se desenvolver a tecnologia CVT na agricultura foi com a intenção de reduzir o consumo de combustível, pois é um dos custos mais elevados nas operações agrícolas desenvolvidas, como subsolagem, aração e gradagem, que também está ligado diretamente à adequação do trator, ao tipo de implemento, à pro-
fundidade e quantidade de operação, aos tipos de solo, dentre outros. O consumo de combustível em algumas operações agrícolas tem como influências também o lastro, a força que a barra de tração está demandando, o tipo de pneu utilizado, a declividade de trabalho, o uso de tração dianteira auxiliar, a velocidade de deslocamento e outros, além de observar a seleção de marchas durante o trabalho. Com base em todos os fatores que influenciam o consumo de combustível de um trator agrícola, a rotação do motor tem importância direta, pois ao aumentar a velocidade é necessário que se aumente a rotação, o que acarreta queda de torque e consequentemente aumento do consumo. Os motores diesel, ou seja, do ciclo Otto, apresentam maior eficiência e torque, pois possuem maior capacidade em admitir oxigênio, resultando em maior tempo para completar o ciclo da combustão, assim operam com menores rotações e a tendência de menor consumo de combustível é certa. Porém, os motores agrícolas apresentam maior consumo de combustível quando atingem a rotação de potência máxima e o acelerador
no máximo, assim tende a diminuir o consumo com a queda de rotação. Portanto, a finalidade da transmissão CVT é selecionar uma rotação constante do motor com a trasmissão, oferencendo a possibilidade de alterar a velocidade, de forma que sempre seja adequada com a operação que está sendo realizada, assim é possível que se mantenha uma baixa rotação e consequentemente maior economia no consumo de combustível.
Fotos Yasser Alabi Oiole
TESTE EM CAMPO
Para avaliar a relação entre a rotação do motor e o consumo horário de combustível em um trator com transmissão CVT, foi realizado um estudo utilizando um trator para teste da marca New Holland, modelo T 7070 com potência nominal de 167kW (227cv), motor diesel intercooler turbocompressor com seis cilindros, sistema de combustível Common Rail, transmissão CVT (Continuously Variable Transmission), 4x2 MFWD 4WD. Os pneus utilizados foram Trelleborg, sendo na dianteira o modelo 600/65 R28 com pressão de 12psi (82kPa) com 40% de lastro hidráulico, e na traseira 710/70 R38 com pressão de 14psi (96kPa) com
40% de lastro hidráulico (água), ambos single e com capacidade de carga de 4.789kg (46,97kN) no eixo dianteiro e 8.819kg (86,49kN) no eixo traseiro, que proporcionou antecipação de 2%. O peso total do trator era de 12.280kg (120,43kN), sendo 5.172kg (50,73kN) na dianteira e 8.819kg (86,49kN) na traseira. Nas avaliações de simulação de cargas na barra de tração foi utilizado um trator de 340cv que se ligava ao trator teste através de um cabo de aço e realizava frenagens controladas, iniciando com o trator teste em movimento até atingir as cargas desejadas. Os dados da coleta foram fornecidos através de uma célula de carga alocada na barra de tração e instantaneamente enviados para um sistema de aquisição de dados de placa de circuito impresso projetado em software Proteus 8.1 (Labcenter Eletronics), sendo a frequência de aquisição de um hertz. Posteriormente, os dados foram armazenados em um disco rígido (HD externo). Os dados coletados foram submetidos a uma análise de regressão polinomial com o auxílio do software SigmaPlot (Systat Software, 2006), que é um assistente gráfico interativo que oferece a opção de
modelagem e visualização dos dados técnicos. Após as análises dos dados, foi possível observar que o trator conseguiu sua maior rotação do motor quando a barra de tração estava com uma força de 6.000kgf e consequentemente houve aumento no consumo horário de combustível (CHC), pois é exigida maior potência do motor para o aumento de torque. Foi possível concluir na pesquisa sobre a transmissão CVT que o consumo horário de combustível é influenciado tanto pela rotação do motor como também pela força na barra de tração, ou seja, as duas exigem do motor. Com o aumento da força na barra de tração, foi possível notar que a rotação por minuto respondeu de maneira linear, ou seja, é necessário aumentar a rotação do motor para se obter maior torque para tracionar carga, isto é, quanto mais rotação, maior será .M o torque do trator. Yasser Alabi Oiole, Leonardo Leonidas Kmiecik, Marcos Cristiano Machioski, Thiago Xavier da Silva e Samir Paulo Jasper, Lata – Laboratório de Adequação de Tratores Agrícolas
O trator instrumentado para teste foi um New Holland, modelo T 7070 com potência nominal de 167kW (227cv), motor diesel intercooler turbocompressor com 6 cilindros, sistema de combustível Common Rail, transmissão CVT, 4x2 MFWD 4WD
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COLHEDORAS Marcelo Tufaile Cassia
Colheita circular A
O plantio de café em pivô central faz com que as plantas produzam diferentes quantidades de frutos dependendo da posição em que se encontram no círculo, exigindo do operador intervenções e regulagens constantes na colhedora durante o processo de colheita
experiência da utilização de colhedoras de café vem sendo realizada no Brasil desde a década de 1970, como alternativa para a redução dos custos de produção, devido às dificuldades na contratação de mão de obra. Sua execução bem realizada é de suma importância no processo produtivo, por se tratar do momento de retorno de investimentos realizados durante todo o ciclo de produção. Pesquisas e aperfeiçoamentos na engenharia das máquinas têm melhoraNovembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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do cada vez mais a eficiência do processo, proporcionando maior quantidade de café colhido, menores danos às plantas e redução do tempo de colheita. Inicialmente, devido ao alto investimento e à restrição imposta por relevos ondulados, a utilização das colhedoras era restrita à cafeicultura empresarial. No entanto, com a expansão da cafeicultura para as regiões de cerrado, houve maior difusão da mecanização nas operações agrícolas, fato que possibilitou ao Brasil,
a continuidade da liderança mundial no setor. Além disso, o aperfeiçoamento das máquinas tem permitido atuar em áreas de maior declive, com espaçamentos mais adensados, abrangendo dessa forma maior número de propriedades. Dentre as pesquisas realizadas com a colheita mecanizada de café, a adequada utilização de vibrações das hastes de acordo com as condições da cultura (idade e tamanho das plantas, carga e maturação dos frutos) possibilitou incremento na capacidade ope-
racional. Desta forma, considerando que a expansão da colheita mecanizada de café leva à necessidade de se reduzir os índices de perdas e, ao mesmo tempo, de se manter em níveis aceitáveis os danos causados às plantas, surge a oportunidade do emprego de novas ferramentas na gestão destas operações, buscando otimizar a qualidade da operação, bem como o emprego de recursos e serviços. Pelo fato de a colheita ser influenciada pelas condições da cultura, há de se considerar fatores externos que possam alterar as condições da mesma dentro de uma área a ser colhida. Uma variação ambiental que provoca alterações fisiológicas na planta de café é o nível de irradiância solar, que faz com que as plantas criem mecanismos de adaptações, tendo, como consequência, a interferência sobre a produtividade e a maturação dos frutos. Desta forma, partindo da hipótese de que a exposição solar das plantas pode alterar a maturação da cultura, e que a frequência de vibração das hastes possa otimizar os índices de colheita e reduzir as perdas, pesquisadores da Unesp e da UFV realizaram trabalho de campo com o objetivo de avaliar a qualidade da operação de colheita mecanizada da cultura do cafeeiro, conduzida sob pivô central, em quatro alinhamentos de plantio e duas frequências de vibra-
ção das hastes, sob a ótica do controle estatístico de qualidade (CEQ). O experimento foi conduzido na Fazenda São João Grande, localizada no município de Patos de Minas (MG), que possui cerca de 300ha de café plantado, com quase toda sua totalidade irrigada. As avaliações foram realizadas em área de cafeeiros irrigados sob pivô central com emissores tipo Lepa (Low Energy Precision Application), sendo o plantio realizado de maneira circular, para possibilitar a irrigação localizada apenas sobre a copa das plantas. A área experimental de 30ha tinha 6% de declividade, altitude média de 1.100m e clima classificado como Cwa, pelo método de Köeppen. As avaliações foram com a cultivar Catucaí Vermelho 78515, com seis anos de idade na primeira avaliação, no espaçamento de 4m entre linhas e 50cm entre plantas, totalizando cinco mil plantas/ha.
EXPERIMENTO
Para a colheita mecanizada do café, foi utilizada a colhedora da marca Jacto, modelo KTR, fabricada em 2003 com aproximadamente quatro mil horas no início do trabalho. Essa colhedora operou deslocada e acoplada ao sistema hidráulico de três pontos de um trator da marca Massey Ferguson, modelo 265 cafeeiro 4x2 TDA, com 65cv de potência no motor a 36,6Hz (2.200rpm), cujo acionamento se faz por meio da TDP a 540rpm.
Imagem de satélite do pivô em estudo, com destaque para a área avaliada
A colhedora, por possuir estrutura tipo pórtico, trabalha montada (“a cavaleiro”) sobre as plantas na linha do cafeeiro, possuindo dois cilindros derriçadores, dotados de hastes vibratórias, que envolvem o cafeeiro lateralmente, derriçando os frutos pelo efeito da vibração das hastes, os quais caem no sistema de recolhimento, que, depois de ventilados, são simultaneamente descarregados em um conjunto de transbordo que acompanha a operação. Durante a operação de colheita, foram utilizadas todas as hastes nos dois cilindros da colhedora, sendo a velocidade média fixada em 1,74km/h, com a colheita realizada sempre no mesmo sentido de deslocamento. Os testes foram realizados com a colheita mecanizada de duas safras, sendo a safra 2009/10 denominada de “baixa produção” (bienalidade negativa) e a safra 2010/11 de “alta produção” (bienalidade positiva), com datas de colheita definidas em função do índice de frutos verdes na planta. A primeira colheita foi realizada em junho, com média de 14% de verde, 21% de cereja e 65% de passa na planta, e a segunda em maio do ano seguinte, tendo, em média, 10% de verdes, 65% de cerejas e 25% de passa, sendo consideradas como adequadas para colheita, uma vez que o desejável é que a mesma se inicie com a porcentagem de frutos verdes abaixo de 20% (Pimenta et al, 2003). Foram testadas duas frequências de
Figura 1 - Malha amostral georreferenciada, com indicação dos alinhamentos de plantio e frequências de vibração das hastes
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Fotos Marcelo Tufaile Cassia
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Avaliação da carga inicial de café: (a) derriça manual dos frutos; (b) limpeza e separação dos frutos
vibração das hastes (F) utilizadas em linhas alternadas de colheita, comparadas aos quatro eixos de plantio (E). Os alinhamentos foram nomeados de eixos I a IV, variando a posição em 45º, sendo o eixo I considerado como a condição de plantio mais favorável para a região, no qual os raios solares incidem a maior parte do dia sobre as copas das plantas, enquanto que no eixo III, parte do dia o sol incide em apenas um dos lados da planta e no restante do dia, no lado oposto. Os eixos II e IV são considerados como situações intermediárias às anteriores. Na operação de colheita mecanizada, variaram-se as frequências de vibração em 12,5Hz e 15,8Hz (750 e 950 ciclos por minuto).
VARIÁVEIS ANALISADAS
A determinação da produtividade da cultura, também denominada de carga inicial, foi estimada pela derriça manual de três plantas em cada célula amosA
tral, sendo o volume de café produzido de cada lado das plantas quantificado individualmente, para posteriormente se calcular a produtividade média (L/ planta). Foram retiradas amostras do café derriçado em cada célula amostral para separação, de acordo com o estádio de maturação (verde, cereja e passa), sendo para as demais análises realizadas, considerados como frutos de maior interesse (maduros), a somatória da porcentagem de frutos cereja e passa (C+P). Na colheita mecanizada, foram determinados índices relativos à qualidade da operação, que foram considerados como perdas na operação realizada, uma vez que os frutos não foram colhidos com a passagem da máquina. Entretanto, vale ressaltar que estes valores não devem ser considerados como perdas no processo produtivo, uma vez que são realizadas ainda operações de repasse, varrição e recolhimento na área. Assim, após a passagem da colhedo-
B
ra, determinou-se o volume de frutos caídos no chão (perda de café caído) e de café remanescente na planta. Assim como para a produtividade da cultura, os frutos obtidos nas amostras de perdas foram separados conforme estádio de maturação, e novamente foram considerados os frutos maduros (C+P) para análises. Na determinação da perda do café caído, foram utilizados panos de colheita manual, estendidos em cada célula amostral, embaixo da saia de cinco plantas consecutivas, sobre os quais a máquina operou. O volume de frutos caídos sobre o pano após a passagem da colhedora foi recolhido, separado e quantificado. Para determinação do café remanescente na planta, procedeu-se a derriça manual das mesmas cinco plantas onde se coletou o café caído, e os frutos não colhidos foram também separados e quantificados, para posterior cálculo da perda de café remanescente. O volume de café colhido foi determinado pela diferença entre a carga inicial presente nas plantas e os volumes de café caído no chão e remanescente na planta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve diferença entre os alinhamentos de plantio e as faces das plantas para a safra 2009/10. Este fato demonstra que, apesar da baixa produtividade da cultura, houve uniformidade no volume de café produzido e na maturação C
Avaliação do volume de café caído: colocação dos panos de derriça (a); passagem da colhedora (b); recolhimento dos frutos (c)
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Conjunto trator-colhedora utilizado na colheita dos cafeeiros
dos frutos ao longo de todas as condições de insolação das plantas. Para a safra 2010/11, o comportamento se repetiu para a produtividade da cultura, e mesmo com maior volume de café (ano de alta produção), esta variável se manteve estável entre os alinhamentos de plantio e para as diferentes faces. A maturação dos frutos apresentou diferença entre os eixos avaliados para a proporção entre café verde e café maduro (C+P) produzidos, com maior concentração de café maduro no eixo III em relação ao eixo I, o que pode estar relacionado à maior incidência de raios solares sobre as laterais da planta ao longo do dia. Nas cartas de controle para a produtividade da cultura (Figura 2) observa-se que, assim como a produtividade média aumentou na safra 2010/11, também houve maior variabilidade nesta safra, o que pode ser observado pela maior amplitude entre os limites de controle. Nas cartas de valores individuais, observa-se que o eixo I destacou-se dos demais quanto à variabilidade, podendo-se constatar que a produtividade neste eixo apresentou comportamento semelhante para as duas safras avaliadas, tendo maior variabilidade em relação aos demais eixos na sa-
fra 2009/10 e menor variabilidade na safra 2010/11. A porcentagem de frutos verdes apresentou maior uniformidade, destacando-se os eixos IV e III, nas safras 2009/10 e 2010/11, respectivamente. Devido à baixa variabilidade, a ocorrência de um ponto com 20% de frutos verdes no eixo III, apesar de estar dentro do aceitável para a colheita mecanizada, extrapolou o LSC, caracterizando a instabilidade na safra 2010/11. A produção de frutos nos estádios cereja e passa apresentou grande variabilidade entre os pontos amostrais nas duas safras avaliadas, porém, mantendo todos os resultados dentro dos limi-
tes de controle, atribuindo estabilidade ao processo, quando considerado o indicador de qualidade de maturação dos frutos. Assim, a variabilidade existente para estas variáveis pode ser atribuída apenas a causas comuns (aleatórias) da produção da cultura, ou seja, é intrínseca ao processo. Para as cartas de controle para o café colhido (Figura 3) observou-se grande variabilidade entre os pontos amostrais para as duas frequências de vibração das hastes testadas. Na safra 2009/10, nota-se que em alguns eixos, a variação fez com que os limites de controle ficassem próximos aos extremos, o que não atribuiu instabilidade do processo, mas
Figura 2 - Cartas de controle para: produtividade de café total (a); distribuição de café verde (b), cereja (c) e passa (d)
.M
LSC: limite superior de controle; LIC: limite inferior de controle
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Figura 3 - Cartas de controle para café colhido em cada vibração das hastes: safra 2009/10 (a); safra 2010/11 (b)
Figura 4 - Cartas de controle para a perda de café caído em cada vibração das hastes: safra 2009/10 (a); safra 2010/11 (b)
Safra 2009/10
Safra 2009/10
Safra 2010/11
LSC: limite superior de controle; LIC: limite inferior de controle
permitiu observar ocorrência de pontos de colheita praticamente nula, bem como pontos com colheita de praticamente a totalidade da carga disponível, no caso do eixo I (Figura 3a). Para o eixo IV, a variável se comportou de maneira semelhante ao eixo I para a frequência de 12,5Hz, porém, com o aumento da frequência de vibração das hastes, a variação no processo foi reduzida, elevando a média acima dos 80%, mantendo a colheita a níveis desejáveis de maneira estável. Por outro lado, o aumento na frequência de vibração aumentou a variação nos resultados e reduziu as médias de café colhido para os eixos II e III, sendo, neste caso, o melhor comportamento observado para a vibração de 12,5Hz. Ainda para a safra 2009/10 observa-se a ocorrência de um ponto abaixo dos limites de controle, o que atribui instabilidade ao processo nestas condições. Deve-se ressaltar que, em razão da variação ter sido reduzida nestas condições, diminuindo a amplitude entre os limites, o ponto extrapolou o LIC. Esta ocorrência pode estar ligada a problemas na cultura a ser colhida ou à operação de colheita, sendo que ao obserNovembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Safra 2010/11
LSC: limite superior de controle; LIC: limite inferior de controle
varmos mais adiante a carta para as perdas de café caído (Figura 4a), detectou-se que a causa deste ponto de menor café colhido está diretamente ligada a um ponto de elevadas perdas de café caído, que representa uma deficiência no sistema de recolhimento da colhedora. Assim como na safra anterior, na safra 2010/11 (Figura 4b) houve grande variabilidade entre os resultados, sendo que, por apresentar maior carga de café nas plantas, o incremento na vibração das hastes elevou as médias de café colhido e reduziu a variação do processo de maneira geral, exceto para o eixo I, onde ocorreram pontos abaixo dos limites em ambas as frequências de vibração. Para este eixo, apesar de ser mais estável em relação aos demais quanto à produção e à maturação dos frutos (Figura 3) por receber insolação apenas sobre as copas das plantas, os resultados foram deficientes para os tratamentos avaliados, podendo ser alvo de novos estudos. Comparando as duas safras avaliadas (Figura 4), observa-se que para a safra 2010/11, por ter maior carga de café a ser colhida, a operação apresentou menos ocorrências de pontos extre-
mamente baixos. Pelo mesmo motivo, o aumento na frequência de vibração melhorou os valores de colheita também na safra de alta produção, enquanto que na safra 2009/10 variou conforme os eixos. As perdas de café caído na safra 2009/10 foram elevadas no eixo I, independentemente da frequência de vibração das hastes (Figura 4a), se mostrando novamente esta condição com colheita ineficiente dentro dos tratamentos testados, assim como para o café colhido. O aumento na frequência de vibração das hastes reduziu as perdas apenas no eixo IV, sendo este um resultado esperado para esta variável, uma vez que as perdas de café caído estão relacionadas mais com a eficiência de recolhimento e limpeza da máquina. Observa-se ainda a presença de um ponto de perdas na ordem de 50%, que excedeu o LSC, no eixo II para a vibração de 12,5Hz, sendo este mesmo ponto amostral responsável pela instabilidade na variável café colhido, que pode ser causado por alguma irregularidade na cultura neste local, uma vez que a falha não foi detectada em mais nenhum momento para esta variável.
Para a safra 2010/11 houve significativa redução da variabilidade dos resultados (Figura 4b), sendo que as médias se mantiveram predominantemente baixas. Porém, houve diversas ocorrências de pontos acima dos limites de controle para a frequência de 12,5Hz, o que pode esta relacionado a regulagens na colhedora, uma vez que, ao se elevar a frequência de vibração para 15,8Hz, estas ocorrências foram eliminadas, exceto para o eixo IV. Ainda para a mesma safra, podem-se constatar diversas ocorrências de pontos fora do controle nas cartas de amplitude móvel, que, por representar a variação do processo, pode-se atribuir a existência destes pontos a amostras com elevadas perdas comparados às amostras seguintes, o que caracterizou instabilidade na operação para esta variável. Nas cartas de controle para as perdas de café remanescente, observou-se que, na safra 2009/10 houve predominância de estabilidade entre os tratamentos analisados, sendo os melhores resultados obtidos com a vibração de 12,5Hz para os eixos II e III, e para 15,8Hz no eixo IV (Figura 5a). Nestes casos foram observados baixos valores
de perdas, com reduzida variação, sendo estes resultados concomitantes com os obtidos em café colhido (Figura 4a). Para a safra 2010/11, o incremento na frequência de vibração das hastes reduziu a variabilidade dos resultados, mantendo as perdas em níveis mais baixos, exceto para o eixo I (Figura 5b). Novamente vale ressaltar que, para a qualidade na operação de colheita, os tratamentos avaliados não apresentaram resultados satisfatórios para esta condição de plantio, demandando novos trabalhos com outras regulagens na colhedora. Ainda para as perdas de café remanescente (Figura 5), ao se comparar as safras observa-se que para a safra 2010/11, houve maior variação nos resultados com pontos de perdas muito elevados, chegando ao redor de 80%, o que pode estar relacionado à maior carga de café a ser colhido nas plantas, comparado à safra 2009/10. Nota-se ainda que, mesmo para a maior frequência de vibração das hastes, a ocorrência de pontos de perdas elevadas, ou a variação entre amostras conseguintes, acarretou pontos acima dos limites de controle, o que mostra que esta variável está sujeita a causas especiais de va-
riação, principalmente devido às condições da cultura.
CONCLUSÕES
O controle estatístico permitiu caracterizar a colheita mecanizada como próxima a alcançar a qualidade operacional, e que a frequência de vibração das hastes tem resultado variável de acordo com as condições de exposição solar, o que demanda a regulagem dinâmica da colhedora ao longo da operação. Para a melhor condição de exposição solar das plantas (E-W), a produção e a maturação dos frutos se mostraram mais estáveis, porém a qualidade da colheita mecanizada foi deficiente, demandando estudos com novas regulagens. Na safra de alta produção, o aumento na frequência de vibração melhorou a qualidade da colheita em todas as condições de exposição solar, sendo que estes fatores não influenciaram nos danos .M causados à cultura. Marcelo Tufaile Cassia e Rouverson Pereira da Silva, Lamma, Unesp/Jaboticabal Alberto Carvalho Filho, UFV, Campus Rio Paranaíba
Jacto
Figura 5 - Cartas de controle para a perda de café remanescente em cada vibração das hastes: safra 2009/10 (a); safra 2010/11 (b) Safra 2009/10
Safra 2010/11
LSC: limite superior de controle; LIC: limite inferior de controle
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EMPRESAS
Ano novo, máquina nova Nilson Konrad
Colhedora Ideal, plantadora Momentum e trator Fendt chegarão ao mercado brasileiro no próximo ano, ampliando a oferta de máquinas de ponta da AGCO em três segmentos
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urante a coletiva anual que a AGCO realiza no Brasil para divulgar seus resultados e expectativas para o próximo ano, o CEO global da marca, Martin Richenhagen, anunciou o lançamento de dois produtos estratégicos no Brasil em 2019: a plantadeira dobrável Momentum e a linha de colheitadeiras Ideal. A Momentum é uma plantadeira que chega ao mercado brasileiro com a tecnologia Precision Planting, reconhecida pela eficiência na distribuição de sementes no campo. O produto terá versões de 24, 30 e 40 linhas. Além disso, a plantadora conta com 18 metros de largura quando aberta, o que aumenta a rapidez no plantio, e 3,6 metros quando fechada, para facilitar o transporte. O armazenamento de sementes também é destaque, com uma capacidade de até 5.130 litros. Já para a área de colheita, a grande novidade é a nova linha de colhedoras axiais de alta performan-
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ce Ideal. Com máquinas disponíveis nas classes VII, VIII e IX, as novas colhedoras trarão embarcadas as mais recentes inovações tecnológicas disponíveis para a colheita. O principal diferencial do lançamento é um sistema de processamento inteligente, que preserva a qualidade dos grãos e oferece melhor manuseio, eficiência energética e capacidade, em uma grande variedade de condições de solo. A colheitadeira Ideal trará também as mais recentes novidades tecnológicas na área de agricultura de precisão, oferecendo serviços conectados como o gerenciamento de informações e dados do campo. “A colheitadeira Ideal é o resultado de muitos anos de pesquisa e desenvolvimento, inúmeras horas de
engenharia, trabalho em equipe e experiência como líder do setor”, afirmou o presidente e CEO da AGCO. “É mais um resultado dos incansáveis esforços da AGCO para entregar soluções inovadoras para os produtores que alimentam o mundo”, completa. De acordo com o presidente da AGCO para a América do Sul, Luís Felli, a linha Ideal é um projeto mun-
dial desenvolvido em conjunto pelas empresas Fendt e Massey Ferguson. No Brasil, a produção das novas colhedoras será na fábrica da AGCO em Santa Rosa, Rio Grande do Sul, e o modelo de comercialização da nova linha ainda está em fase final de construção. Além dos dois lançamentos confirmados, tudo indica que, ainda em 2019, a ACGO passe a comercializar no Brasil os tratores de alta potência da Fendt. “Há muito tempo os produtores brasileiros estão ansiosos pelos tratores da marca, que trazem, além de potência, as mais avançadas tecnologias disponíveis em tratores agrícolas”, afirma Felli. Algumas máquinas já estão sendo testadas em lavouras brasileiras e a intenção é comercializar tratores com potência acima de 450cv.
EXPECTATIVAS MERCADO SUL-AMERICANO
Martin Richenhagen reforçou o clima de confiança no cenário agrícola da América do Sul. Com vendas globais 17% maiores nos últimos nove meses, comparadas ao mesmo período de 2017, impulsionadas pelo bom desem-
Charles Echer
CEO global da AGCO e executivos da marca estiveram no Brasil para divulgar resultados de 2018 e projetar 2019
penho das safras na região, o CEO da AGCO prevê que 2019 será um ano de mais crescimento. “Estamos otimistas com o cenário agrícola da América do Sul, em especial do Brasil. Mesmo com as incertezas na economia e na política brasileira, alcançamos números positivos e apresentamos crescimento em relação ao ano anterior. As expectativas para os próximos anos são as melhores possíveis, por isso temos investido tanto na renovação do portfólio
das nossas marcas como na alta tecnologia das nossas fábricas da região, consolidando a AGCO na era da Indústria 4.0”, disse Richenhagen. Além do esperado novo recorde da safra de soja no Brasil, a mais recente pesquisa de hábitos do produtor rural, promovida pela Associação Brasileira De Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), apontou que 34,14% dos produtores pretendem adquirir novos maquinários no pró-
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Nilson Konrad
Fendt
ximo ano. A disputa comercial entre EUA e China também deve favorecer a exportação dos equipamentos produzidos no país. Para atender essa demanda e a evolução tecnológica dos maquinários agrícolas, a AGCO deve completar em 2019 o processo de renovação de 100% do seu portfólio, iniciado em 2017. Trata-se da maior transformação da oferta de produtos de toda a história da companhia, com 159 novos equipamentos. Entre os novos produtos, estão as linhas de tratores Massey Ferguson MF 4700 e MF 5700, que são a evolução da família de tratores mais consagrada da marca e mais vendida do país, a MF 4200. Em 2018, a AGCO destinou um aporte R$ 112 milhões em investimentos, sendo R$ 60 milhões apenas para modernização e aplicação de novas tecnologias na planta da companhia em Santa Rosa (RS) e quadruplicou o tempo de treinamento dos colaboradores da empresa, para reforçar o conceito de “Smart Factory” em suas linhas fabris. “Além de todo o aporte financeiro que temos feito em nossas fábricas, somos pioneiros mundiais no uso de tecnologias como o Glass
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Trator Fendt com mais de 450cv de potência é um dos prováveis lançamentos de 2019 no Brasil
para a fabricação dos nossos produtos. Estamos prontos para atender às necessidades do produtor rural sul-americano, nosso principal parceiro na nossa missão de alimentar o mundo”, destaca Luís Felli, presidente da AGCO para a América do Sul. O Brasil é líder na produção e exportação de itens como a soja, o café
e o açúcar, e das carnes bovina e de frango. Ainda assim, o País possui cerca de 219 milhões de hectares de terra livres para o agronegócio. Isso, somado ao clima favorável e à disponibilidade de água e terra fértil, coloca o Brasil como um dos países de maior potencial para atender à crescente demanda por alimentos .M no planeta.
COLHEDORAS Case IH
Eficiência medida
Avaliação da eficiência de campo da colheita mecanizada da cana-de-açúcar mostra que o consumo de combustível diminui em velocidades de colheita maiores
A
cana-de-açúcar é uma das culturas de mais impacto econômico do mundo e representa uma importante fonte de renda e mão de obra em mais de 100 países. A colheita de cana no Brasil está em plena transformação do sistema de colheita manual com queima Novembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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preliminar da área, para o sistema de colheita mecanizada e crua. A eficiência de campo efetiva de uma colhedora de cana é um importante critério após analisar a capacidade de campo efetiva da máquina e para adotar importantes decisões para o gerenciamento das má-
quinas agrícolas, sendo que a velocidade de operação e a eficiência de campo são variáveis de grande influência no desempenho operacional e econômico da colheita mecanizada de cana. Já está provado em diversos trabalhos que quanto maior a velocidade de operação, maior será a capacidade efetiva de uma máquina agrícola. Para colhedoras de cana-de-açúcar que trabalham com o espaçamento entre linhas de 1,5 metro e considerando uma velocidade de deslocamento de 7km/h, a eficiência de campo efetiva chega a 75%. O consumo horário de combustível também é influenciado pela velocidade de deslocamento da colhedora, sendo que quanto maior a velocidade, maior o consumo horário e menor o consumo por tonelada de
Rafael de Oliveira Faria
cana colhida. Alguns pesquisadores comprovaram que na faixa de velocidade de 5km/h a 6km/h o consumo horário foi significativamente menor quando a máquina operou com o motor em rotações próximas 2.000rpm e para velocidades de 6km/h a 7km/h o consumo foi significativamente maior com o motor trabalhando a 2.100rpm. Trabalho realizado por pesquisadores da Ufla avaliou a eficiência de campo e a capacidade de campo efetiva da colheita mecanizada, seguindo os parâmetros de colheita já pré-selecionados pela gerência de mecanização da usina. Os testes foram executados na região de Assis, estado de São Paulo, onde os terrenos possuem declividade menor que 12%. A variedade colhida foi a SP835073 de porte ereto e com produtividade média de 90 toneladas por hectare. Para a colheita foi utilizada uma colhedora autopropelida de uma linha, com 356cv, fabricada em 2011, com 4.439,95 horas de motor. As configurações do computador de bordo da máquina gravadas foram as seguintes informações: contador de transbordo, nome da tarefa, mo-
Tabela 1 - Resumo dos dados de colheita Descrição Velocidade média em trabalho* Pressão média do corte de base* Rotação do Motor Médio* Carga média do motor* Distância m* Área ha* Prod. Média t/ha** Peso colhido em toneladas*** Consumo por tonelada colhida l/t***
Repetição 1 5,0 45,0 1.800 66% 5.080 0,8 90,0 68,6 0,77
Repetição 2 4,6 39,9 1.800 64% 6.030 0,9 90,0 81,4 1,08
Repetição 3 5,2 39,4 1.799 63% 3.975 0,6 90,0 53,7 0,92
Repetição 4 5,3 44,0 1.798 67% 3.150 0,5 90,0 42,5 0,87
* dados analisados pelas informações geradas no monitor; **dados informados pela usina; ***dados calculados
tivo de parada, operador, combustível total utilizado, horas do motor, horas do elevador, tempo em trabalho e tempo em campo. O consumo de combustível por tonelada de cana-de-açúcar colhida foi calculado utilizando equações disponíveis na literatura, que resumidamente é a divisão do consumo de combustível em litros pela quantidade de cana colhida no tempo do teste. A área colhida e a distância percorrida foram calculadas utilizando a antena de navegação de sistema global de posicionamento (GNSS) calculando alguns dados de posicionamento geográfico, como: velocidade, distância percorrida, área e
Resultados de trabalhos em campo mostram que a eficiência de campo efetiva de uma colhedora de cana chega a 75%
rumo do equipamento. Foram padronizados os parâmetros de colheita para diminuir possíveis interferências de outras variáveis relacionadas à colheita, sendo a velocidade de colheita a 5km/h, a pressão no corte de base de 45bar, a altura de corte de base de 65 unidades e a rotação nominal do motor a 1.800rpm. Foram realizadas quatro repetições com duração média de uma hora e 30 minutos de aquisição de dados para a avaliação e comparação dos dois métodos de medição do consumo de combustível, seguindo os parâmetros de colheita predefinidos. A variação do consumo de combustível por tonelada colhida foi de 0,77 a 1,08, sendo o maior valor encontrado na repetição 2, onde a velocidade média menor e os dados da planilha de campo mostram que houve maiores paradas para espera de transbordos e um abastecimento, que justifica o maior consumo, visto que o operador aguarda o transbordo com a máquina ligada para aproveitar o ar-condicionado e também a máquina deslocou da lavoura até o carreador para fazer o abastecimento. O menor valor de consumo por tonelada colhida na repetição 1 é justificado pelo menor tempo de espera dos transbordos. Outro dado importante avaliado é a homogeneidade do canavial durante a coNovembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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Fotos Rafael de Oliveira Faria
Figura 1 - Eficiência de campo considerando o horímetro do motor
Monitor traz informações precisas sobre consumo de combustível
lheita, pois a pressão média do corte de base ficou próxima da pressão predefinida (45bar) e a carga média do motor variou próxima a 65%, indicando que a máquina estava trabalhando com uma reserva de carga aceitável. Segundo trabalhos anteriores, os contadores de combustíveis das máquinas agrícolas que utilizam motores eletrônicos são extremamente precisos. Eles são estimados através de alguns valores dos sensores, tais como controle das temperaturas de trabalho dos fluidos de arrefecimento e lubrificação e pressão no common-rail, tempo de abertura do bico injetor, entre outros. Assim, após os cálculos, estes dados são enviados ao monitor do operador pela rede CAN utilizando normalmente o padrão de comunicação SAE J1939. Segundo a Associação de Engenharia Agrícola (Asabe), a capacidade de campo efetiva depende de fatores como habilidade do operador, formato da área, métodos de trabalho, tempos perdidos: manobras, descanso do operador, abastecimento, descarregamento etc. No dia a dia, este pode ser calculado a partir do tempo de trabalho em campo, ou seja, o horímetro do motor da máquina. Sendo assim, para o cálculo da eficiência de campo efetiva deste trabalho, foi considerada a capaciNovembro 2018 • www.revistacultivar.com.br
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dade de campo teórica utilizando a velocidade média de trabalho de 5km/h e um espaçamento de entre linhas de 1,5 metro, que resulta em 1,33 hectare por hora. Como visto anteriormente, a segunda repetição apresentou maior tempo de parada devido à espera de transbordo e abastecimento, afetando também na eficiência de campo que ficou em 29%. Somente a repetição 1 comportou-se próxima da eficiência dos trabalhos realizados por outros autores, em que seus resultados variaram de 44,44% a 39,35% para uma velocidade operacional de 4,45km/h, porém os testes realizados neste trabalho não tiveram interferência da parte operacional da
colheita da usina, representando os valores reais de trabalho. Também foi possível concluir e validar que o consumo por área colhida decresce quando aumenta a velocidade média de trabalho. E a eficiência de campo variou de 44% a 29%, sendo que as diferenças relatadas estão diretamente ligadas aos tempos de espera de transbordo e abastecimento da máquina, que são fatores corriqueiros nas frentes .M de colheita. Rafael de Oliveira Faria Gabriel Araújo e Silva Ferraz Alan Andrade Diego Alonso Ufla
O trabalho concluiu que o consumo por área colhida decresce quando aumenta a velocidade média de trabalho