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Cultivar
Cultivar Máquinas • Edição Nº 205 • Ano XVII - Abril 2020 • ISSN - 1676-0158
Índice
Destaques
04 Rodando por aí 05 Mundo Máquinas 08 Implementos
Uso de conjunto mecanizado para distribuir calcário em bananais
12 Transbordos
Estudo mostra como dimensionar a frota correta de transbordos
16 Pulverizadores
Quais são os fatores que interferem na aplicação de defensivos em café
19 Capa
Como ferramentas específicas da AP auxiliam no controle de invasoras
24 Pulverizadores
Como fazer uma calibragem correta, para evitar desperdício de produtos
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30 Irrigação 33 Frota
Rometron
Nossa capa
Uso de sistema de irrigação autopropelido com barra irrigadora
Como planejar a frota, de acordo com o tamanho da propriedade
38 Mecanização
Desafios de aumentar a produção em áreas com mais tráfego
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter
• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca • Revisão Aline Partzsch de Almeida • Design Gráfico Cristiano Ceia
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Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00
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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contatos@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
RODANDO POR AÍ Sistema Multicontrol
Para oferecer mais tecnologia para o pequeno e médio produtor, a Jacto lançou em 2020 o novo sistema de aplicação Multicontrol para os modelos Condor 800 AM 18 e Advance 3000 AM 24. O sistema possui tecnologias semelhantes às já existentes nos pulverizadores automotrizes e está equipado com o conjunto Omni 700, que reúne funções de agricultura de precisão. “A busca contínua no desenvolvimento de nossos equipamentos é diminuir desperdício, aumentar produtividade na mesma área e reduzir os custos de operação. O novo sistema evita falhas e sobreposições de produtos, uma vez que possui maior precisão entre as passadas na lavoura e possibilita também a utilização do corte automático de seções, evitando desperdício de produto e proporcionando um cuidado maior com o meio ambiente”, avaliou o gerente de Produtos da Linha Pulverizadores Tratorizados da Jacto, Paulo Henrique Bueno.
Paulo Henrique Bueno
Feira on-line
Expansão
A J.Assy, especialista em soluções tecnológicas para o agronegócio, está expandindo sua presença no mercado internacional com a entrada na Argentina. Segundo o fundador e presidente da J.Assy, José Roberto Assy, estrategicamente a Argentina é muito importante. “O mercado argentino gosta e valoriza a nossa tecnologia, além de ser bem profissional. A proximidade e as semelhanças com o Brasil também são pontos positivos”, destacou. A empresa, que já atua nos Estados Unidos, visa os mercados da Austrália e África do Sul para o futuro de sua expansão internacional.
Lígia Amaral
A Trimble apresentou a primeira feira agrícola em formato digital para o Brasil, a Trimble Agroshow. O evento, que foi realizado em abril, durou mais de 12 horas, assim o produtor pôde acessar no momento mais apropriado à sua rotina. Foram 11 salas virtuais com até três especialistas para atender quaisquer dúvidas sobre agricultura de precisão. Segundo a supervisora de Marketing e Vendas da Trimble Agricultura no Brasil, Lígia Amaral, o objetivo era proporcionar uma experiência completa de visita a uma feira tradicional, ter acesso às demonstrações técnicas do produtos ao qual tem interesse e conversar ao vivo com um técnico. Lígia reforçou que outras edições poderão acontecer nos próximos meses.
Nova linha
José Roberto Assy
Correção
No artigo intitulado "Colheita mecanizada de uva", publicado na edição 204, páginas 8 a 11, a ordem correta dos autores é Rômulo Bock, Airton dos Santos Alonço, Gessieli Possebom, Henrique Eguilhor Rodrigues, Mayara Torres Mendonça, Wagner Alexandre Silveira da Cruz, Ítala Thaísa Padilha Dubal, Luan Pierre Pott e Tiago Rodrigo Francetto.
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A MP Agro, especialista em distribuidores de fertilizantes, apresenta aprimoramentos a seu portfólio em 2020. “Para 2020, todos os equipamentos receberam melhorias e chegam ao mercado este ano garantindo mais segurança e economia ao produtor”, destacou o diretor comercial, Michael Periani. Dentro das principais alterações, destaque à estrutura 100% inox dos produtos. “Nossa linha é confeccionada em um material à prova de corrosão e que proporciona muito mais durabilidade. É menos manutenção e mais tempo de vida útil no campo”, explicou. Os distribuidores também estão equipados com tecnologias de agricultura de precisão.
Michael Periani
MUNDO MÁQUINAS
PVT Agriculture agrega tecnologia Hexagon em pulverizadores A PVT Agriculture reduziu em 95% os custos com atendimentos técnicos de pós-venda no campo após investir em tecnologias embarcadas em tratores e implementos agrícolas. O sistema, desenvolvido pela divisão de Agricultura da Hexagon, possibilita à equipe técnica visualizar a tela do display e fazer a resolução de problemas em tempo real, por meio de conexão com a internet. A economia com deslocamentos até os clientes foi simultânea à implementação dos displays. O diretor da PVT Agriculture, Marcelo Variza, conta que a empresa procurou a Hexagon, sediada em Florianópolis (SC), após verificar uma deficiência nos controladores por
GPS de seus implementos. O problema gerava gasto elevado de atendimento pós-venda e visitas técnicas em campo. “Além de um produto de qualidade, o desafio estava em encontrar a tecnologia necessária para que os pulverizadores ganhassem valorização de mercado”, afirmou Variza. “Com a demanda, a Hexagon se adequou ao maquinário da PVT Agriculture. A PVT Agriculture não só aumentou suas vendas, como reduziu custos com pós-venda”, destacou o presidente da divisão de Agricultura da Hexagon, Bernardo de Castro. A parceria entre as duas empresas inclui um programa de capacitação contínua da equipe técnica PVT por parte da Hexagon.
Colhedora de arroz Novidade para 2020, a New Holland Agriculture apresentou a colheitadeira de arroz CR 7.90 Arrozeira, com potência de 425cv e tanque graneleiro de 12.330 litros. Equipada com o sistema de duplo rotor, ela conta com o sistema ASP, que evita a entrada de pedras no industrial da máquina; o sistema Intellicruise, que controla automaticamente a velocidade de colheita de acordo com as condições da lavoura; além do sistema de mesa nivelante, que garante a distribuição uniforme do material sobre o bandejão e peneiras. “É uma máquina que tem o diferencial de ser multicrop, ou seja, pode colher soja, arroz, milho, trigo, e tem muita flexibilidade e versatilidade. E é também um equipamento que o cliente consegue configurar com pneus ou esteiras, podendo usar plataforma draper ou caracol de 25 ou 30 pés”, explicou Guilherme Parize, gerente de Marketing de Produto da New Holland Agriculture.
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Informação on-line
Produtores contratam R$ 140,8 bilhões em crédito rural em oito meses De agosto de 2019 a março de 2020, os financiamentos contratados pelos produtores rurais somaram R$ 140,8 bilhões, aumento de 11% em comparação a igual período da safra passada. Os números mostram que o desempenho do crédito rural na atual safra não sofreu impactos da pandemia do coronavírus. Os destaques são para o investimento e o custeio, com montante de R$ 38,6 bilhões e R$ 77,2 bilhões, respectivamente, um crescimento de 20% e de 9%. Os financiamentos para comercialização tiveram redução de 16%, com R$ 15,8 bilhões. Os números fazem parte do Balanço de Financiamento Agropecuário da Safra 2019/2020, divulgado pelo Mapa com base nos dados do Sistema de Operações
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do Crédito Rural e do Proagro (Sicor), do Banco Central. O valor das contratações de custeio pelos pequenos e médios produtores, no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Programa Nacional de Médios Produtores (Pronamp), registrou elevação de 17% e 42%, respectivamente. Os demais produtores contrataram 1% a mais, ocorrendo aumento no valor dos financiamentos contratados. Em relação aos investimentos, os realizados dentro do Pronaf e do Pronamp cresceram 18% e 97%, atingindo R$ 10,3 bilhões e R$ 2,1 bilhões, respectivamente. Para os demais produtores, o aumento foi de 17%, passando de R$ 22,5 bilhões para R$ 26,2 bilhões.
Entre os meses de abril e maio, a Raven do Brasil está realizando uma série de webinars gratuitos voltados a discutir os desafios e soluções enfrentados no mundo agro. O primeiro tema abordado foi Agricultura 4.0, onde foi discutida a transformação que está ocorrendo com a inserção de alta tecnologia no campo, e contou com a presença do diretor de Operações para América Latina, Jeff Rohlena. “A Raven está cada dia mais inovando em tecnologia de aplicação – desde o sistema básico de controle até a agricultura autônoma. Com esses eventos on-line, providenciamos novas informações e formas inovadoras de aumentar a produtividade das operações agrícolas”, disse o diretor, durante o evento on-line. Já o segundo webinar foi um bate-papo com os engenheiros agrônomos e agricultores que deram seus depoimentos sobre a economia e a qualidade adquirida no dia a dia com o uso da tecnologia Raven. Todos os conteúdos estão disponíveis no canal da Raven no YouTube.
Jacto apresenta novos bicos para manejo de plantas daninhas
Com o objetivo de fornecer tecnologias que colaboram com os desafios de promover um manejo fitossanitário eficiente, a Jacto apresenta dois novos modelos de bicos para o manejo de plantas daninhas. A principal característica dos lançamentos é a redução de deriva, um dos prin-
cipais problemas para as aplicações de defensivos agrícolas. “O objetivo é atender aos mais diversos perfis de clientes com a oferta de tecnologia em bicos para manejo de deriva e complementar o amplo portfólio já disponível”, explicou o especialista em Tecnologias de Aplicação da Jac-
to, Daniel Petreli. O lançamento Jacto JMD possui ângulo de 130º, com tamanho de gotas na classe das extremamente grossas e ultragrossas, o que colabora com a máxima redução de deriva. Além disso, o bico conta com um conjunto de capa SnapLock, com filtro de bico e anel de vedação. Outro lançamento focado no manejo da deriva é o Jacto TTI. O bico de indução de ar possui ângulo de 110º e ainda um ângulo de 15º de avanço, características que colaboram para obter eficiência no processo de pulverização. Também possui gotas extremamente grossas e ultragrossas, em pressões mais baixas, com o principal objetivo de atender às boas práticas no manejo de plantas daninhas.
Preparo do solo Com a colheita da soja finalizando em várias regiões do Brasil, o produtor já começa a prestar mais atenção no preparo e na qualidade do solo. Um dos equipamentos para o preparo da terra nesse período é o escarificador EPCR 300, fabricado pela Piccin Tecnologia Agrícola. O equipamento, que rompe o solo por meio de propagação de trincas, é indicado para descompactar a camada superficial do solo. “A superfície não é revirada como na aração ou gradagem e assim há o rompimento nas suas linhas de fraturas naturais. Os subsoladores usam hastes que são cravadas no solo e provocam o seu rompimento para frente, para cima e para os lados, de forma menos profunda, gerando uma descompactação de até 300mm”, esclareceu o técnico de Agricultura de Precisão, Paulo Padilha.
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IMPLEMENTOS
Nas montanhas A simples distribuição de insumos, como calcário, pode ser um grande desafio quando aplicado em culturas como a bananeira em terrenos com grande declive, exigindo adaptações de implementos para viabilizar a mecanização nas áreas mais acidentadas
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bananicultura brasileira representa de 6% a 7% da produção mundial da fruta, com uma média (entre 2004 e 2017) de 5,92 milhões de toneladas em uma área aproximada 489,85 mil hectares cultivados, o que representa produtividade de 12,08t/ha. Segundo o IBGE/PAM (2017), a produção brasileira representa valor estimado superior a R$ 5,7 milhões, sendo que o estado de São Paulo é responsável por 14,6% e o Vale do Ribeira, o equivalente a 60% - 70% do valor gerado em território paulista. A mão de obra manual é um dos fatores de produção de maior impacto econômico na cultura, em especial para o Vale do Ribeira, onde parte significativa da produção se encontra em áreas montanhosas. Disto decorre que os custos operacionais tendem a se elevar com a diminuição da disponibilidade deste
O protótipo de distribuidor tem capacidade para 600kg, dotado de sistema dosador do tipo janela na base, com espalhador tipo pendular acionado por cardan
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tipo de trabalho e menor desempenho dos pretensos ofertantes. Marchetti (2014), estudando o perfil dos envolvidos na produção de bananas no Vale do Ribeira, especificamente em operações semimecanizadas ou mecanizadas, verificou que mais de 70% dos entrevistados possuíam mais de 40 anos de idade, com família constituída e baixo nível de escolaridade, ilustrando o quão necessária será a mecanização de algumas operações agrícolas nestas condições. A distribuição de fertilizantes e corretivos se enquadra nas operações com elevada demanda de mão de obra manual, e está associada à necessidade de realizá-la de forma mais uniforme possível. Pensando neste fator, fabricantes de máquinas agrícolas têm desenvolvido equipamentos visando suprir esta lacuna no mercado de agricultura de montanha. A empresa Marcássio Indústria de Máquinas, fabricante de máquinas para este segmento, disponibilizou um protótipo distribuidor de fertilizantes e corretivos ao Laboratório de Máquinas e Mecanização Conservacionista – Lammec (Unesp de Registro) para testes de campo e experimentação com o equipamento em áreas características da região do Vale do Ribeira. Neste contexto, realizou-se um trabalho com o objetivo de estudar a distribuição de insumos por um protótipo distribuidor de fertilizantes e corretivos acoplado a um microtrator, desenvolvido para áreas declivosas cultivadas com bananicultura, visando a otimização de mão de obra e melhoria da qualidade na operação. O experimento foi realizado em 2017 em uma área comercial de bananicultura, cultivada há 30 anos, na qual foram estabelecidas quatro glebas com classes de declividade crescentes. A área (0,9035ha) foi delimitada com GPS de navegação marca Garmin, modelo 60Cx, assim como as divisões das glebas. Em toda a área foram distribuídos 53 pontos georreferenciados e espaçados irregularmente entre si, onde os coletores foram posicionados (Figura 2). O trajeto do conjunto distribuidor-microtrator-operador (CMM) durante a distribuição do corretivo foi rastreado com o mesmo GPS, após abertura de pequenos carreadores no sentido da declividade, distantes entre si em aproximadamente 10m para passagem do CMM. O protótipo é um distribuidor de fertilizantes e corretivos constituído por um chassi tipo monobloco, sobre o qual é montado o reservatório hexagonal com capacidade para 600kg, dotado de sistema dosador do tipo janela na base, com variação
Fotos Wilson José Oliveira de Souza
entre as passadas) associada à busca pelos espaços mais favoráveis ao deslocamento do CMM, o que resultou no trajeto mostrado na Figura 3. A rota desenvolvida pelo conjunto acoplado se mostrou irregular, sem o paralelismo das linhas distantes 10m entre si, como previsto no plano de trabalho. Em terrenos planos ou suavemente ondulados, este paralelismo é facilmente conseguido, uma vez que os bananais são conduzidos de forma a manter alinhamento. No caso do Vale do Ribeira isto não acontece, inviabilizando a mecanização, pois as áreas são de declivosas a muito declivosas, a maior parte possui mais de dez anos de implantação e a
Fotos Charles Echer
do por Montgomery (1997), bem como a distribuição espacial da deposição de insumos. Os resultados obtidos no ensaio foram submetidos a análises estatísticas descritivas, visando verificar a normalidade dos dados (Pimentel Gomes & Garcia, 2002). Como resultados do trabalho com a máquina, foram obtidos dados que são apresentados nas figuras abaixo. Como a proposta deste trabalho foi iniciar ações que permitam quebrar este paradigma, sem realizar elevada supressão de plantas para o trânsito da máquina, a orientação ao operador foi de seguir as marcações de fitas zebradas (distância de 10m
da dose acionada manualmente por alavanca, delimitada por batente, espalhador tipo pendular e mecanismo distribuidor acionado por eixo cardan na rotação de 540rpm. O equipamento é acoplado ao microtrator por quatro parafusos e porcas, sendo o sistema de transmissão de potência ao eixo cardan, por polias e correias, bem como sistema de acionamento da tração do protótipo, constituindo-se, após o acoplamento, um conjunto articulado no ponto de engate entre máquina e fonte de potência. O equipamento foi regulado para aplicação de 2t/ha de corretivo, com velocidade média de 4km/h e largura teórica de 10m. Foram coletadas as doses efetivas de calcário aplicadas em cada ponto, com auxílio de dois modelos de coletores (retangular de 535,15cm2 e circular de 652,96cm2), que foram transferidas para frascos de polietileno e pesadas em balança de precisão, sendo em seguida, transformados em dose aplicada (t/ha), expressa em toneladas por hectare. A qualidade de cada operação foi avaliada utilizando-se metodologias de controle estatístico de processo (CEP), como recomenda-
Declividade acentuada, característica das áreas ocupadas com bananicultura no Vale do Ribeira, com conjunto acoplado (microtrator e distribuidor de calcário), realizando o trajeto
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Figura 1 - Área, produção e valores da produção de bananas no Brasil (IBGE/PAM, 2017)
Figura 2 - Mapa da área estudada e pontos de coleta de dados durante a realização do ensaio no município de Registro, SP, no ano de 2017
Figura 3 - Trajeto desenvolvido pelo conjunto motomecanizado durante a realização do ensaio na área, no município de Registro, SP, no ano de 2017
Tabela 1 - Resultado das análises de parâmetros para elaboração das Cartas-controle para doses aplicadas de calcário por um protótipo de distribuidor, acoplado a um microtrator, em área declivosa de bananicultura no município de Registro, SP, em 2017
Coletor Área (cm2) Média DP (σ) LCS (+2σ) LCI (-2σ) p-valor (A2) N Circular (Rd) 535,15 1,9814 0,5109 3,0032 0,9595 > 0,10 sim Retangular (Rr) 625,96 2,0230 0,4088 2,4318 1,6142 > 0,10 sim DP = desvio padrão da média; LCS = limite de controle Superior; LCI = Limite de Controle inferior. A2 = Teste de normalidade de Anderson-Darling; N = apresenta normalidade.
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condução em linha praticamente inexiste. Após a aplicação do corretivo na área, os coletores posicionados nos pontos georreferenciados (Figura 2) foram recolhidos, e o conteúdo pesado mostrou as doses de calcário aplicadas (t/ha) em cada ponto, apresentados nas Cartas Controle das Figuras 4 (Coletor circular) e 5 (Coletor retangular), construídas a partir dos parâmetros apresentados na Tabela 1. Os dois coletores utilizados mostraram que a aplicação de calcário com o protótipo resultou em distribuição normal (Tabela 1), com valores de p > 0,10, indicando homogeneidade na distribuição do corretivo. As doses médias de calcário aplicadas, obtidas com os dois tipos de coletores ficaram próximas da dose estabelecida na regulagem do equipamento, de 2t/ha, sendo de 1,9814t/ha (RD) e 2,0230t/ha (RR). Ainda que haja a necessidade de repetições destes estudos comparando com coletores padronizados (ABNT, Asae S341.3), estes dados indicam que o protótipo testado nas condições de campo declivoso garantiu a distribuição da dose recomendada, o que pode ser um indicativo de que a máquina pode contribuir com a melhoria da qualidade na distribuição de corretivos. Por outro lado, apesar da dose média ter sido próxima à dose recomendada, verifica-se nas Figuras 4 e 5 variação nas doses em cada ponto, ainda que estas tenham se mantido dentro dos limites de controle superior (LCS) e inferior (LCI). Analisando o comportamento das doses de calcário em cada ponto estudado, para ambos os coletores, há um comportamento cíclico de elevação e redução da dose entre o primeiro e último ponto da abcissa. Tomando como exemplo o ponto 33 (Figura 4), cujo valor foi maior, é possível que o não paralelismo do percurso tenha resultado em sobreposição (Figura 3), já que a máquina passou mais vezes próximo a ele, o mesmo acontecendo com o coletor RR (Figura 5), destacando-se neste os pontos 33, 46 e 49. A análise de correlação entre os dados dos dois coletores utilizados também foi realizada e é apresentada na Figura 6. Nota-se que houve uma correlação polinomial significativa entre os dados dos dois coletores, com coeficiente de correlação de 0,3994.
Figura 4 - Carta-controle obtida com coletores circulares (RD) para a operação de aplicação de calcário com um protótipo de distribuidor, acoplado a um microtrator em área declivosa de bananicultura no município de Registro, SP, em 2017. RD – coletor Circular; LCS – Limite de Controle Superior; LCI – Limite de Controle Inferior
É importante ressaltar que os estudos desta natureza são realizados em áreas planas, onde os coletores padronizados são colocados de forma nivelada e paralela à superfície (Reynaldo et al, 2016), coincidindo com uma linha paralela à do mecanismo espalhador da máquina. No caso do presente estudo, os coletores foram colocados na superfície do solo, uma superfície inclinada que forma um ângulo com o sistema de distribuição da máquina, estabelecendo, portanto, uma posição não paralela entre o coletor e o equipamento. Os coletores utilizados, embora não padronizados, apresentam bordas de 0,01m de altura, o que pode minimizar o efeito da inclinação do coletor durante a coleta dos dados, principal razão da opção por eles, neste experimento. Outrossim, estudos adicionais deverão ser realizados acerca do assunto, visando estabelecer as melhores condições de adequação da área para a mecanização, estudos de desempenho operacional desta categoria de máquinas, além de estudos de adequação de metodologias para as avaliações em áreas com características peculiares como a utilizada neste trabalho. Com os dados obtidos nas condições em que o ensaio foi realizado, é possível apontar que o protótipo testado apresenta potencial de emprego na distribuição de corretivos em áreas declivosas de bananicultura, onde não há linha definida da cultura. Embora a declividade reduza a qualidade da operação, o equipamento mostrou-se preciso, já que as doses médias aplicadas foram próximas às definidas na recomendação. Por se tratar de equipamento em fase de teste e comportamento operacional pouco conhecido do CMM, o ensaio propiciou anotar potenciais e necessidades de adequações no equipamento, na cultura cultivada em áreas com estas características e na tecnologia adotada. O planejamento de rotas em função do relevo é fundamental para o desempenho do conjunto e segurança do operador. É fundamental a continuidade do estudo, uma vez que a adequação do uso de máquinas em áreas de bananicultura de morro permitirá a melhoria da qualidade da correção e adubação da cultura, atualmente realizada manualmente nestas áreas. É importante ressaltar que o paradigma de que áreas decli-
Figura 5 - Carta-controle obtida com coletores retangulares (RR) para a operação de aplicação de calcário com um protótipo de distribuidor, acoplado a um microtrator em área declivosa de bananicultura no município de Registro, SP, em 2017. RR – coletor Retangular; LCS – Limite de Controle Superior; LCI – Limite de Controle Inferior
Figura 6 - Análise de correlação entre doses de calcário obtidas com coletores circulares (RD) e retangulares (RR) na operação de aplicação de calcário com um protótipo de distribuidor, acoplado a um microtrator em área declivosa de bananicultura no município de Registro, SP, em 2017
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Pesquisadores da Unesp avaliaram equipamento de distribuição de calcário no cultivo de bananeiras em terrenos montanhosos
vosas produtoras de banana não apresentam viabilidade para operações mecanizadas pode ser quebrado, desde que estudos de adequação sejam realizados, razão pela qual outros estudos devem ser conduzidos em condições semelhantes para subsi.M diar tomadas de decisão. Wilson José Oliveira de Souza, Lívia Ianhez Pereira e João Paulo Dominici de Godoi, Lammec/Unesp – Campus de Registro
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TRANSBORDOS
Colhedoras x transbordos Estudo mostra quais dados são necessários coletar para realizar o dimensionamento operacional dos transbordos para a colheita de cana-de-açúcar
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Fotos José Vitor Salvi
O
processo de colheita mecanizada da cana-de-açúcar é o componente mais representativo no valor operacional total, correspondendo a aproximadamente 40% nos custos de produção. Com a necessidade de otimização de custos, é necessário o correto dimensionamento operacional dos equipamentos utilizados na colheita, para evitar máquinas ociosas ou falta de equipamentos para o processo. Para gerenciar as operações agrícolas, se faz necessário trabalhar com base em informações geradas no processo, buscando e interpretando corretamente as informações disponíveis como forma de eliminar análises empíricas. Uma das técnicas de gestão de processos é o método PDCA (1: Plan - planejar; 2: Do - executar; 3: Check - controlar; 4: Action - agir), utilizado pelas empresas para gerenciar os processos e garantir o alcance de metas estabelecidas, tomando as informações como fator de direcionamento das decisões. A Figura 1 ilustra o ciclo PDCA com destaque para a etapa 1 (planejamento da colheita mecanizada). Tendo em vista estes paramentos, o texto tem como objetivo analisar os tempos e movimentos do processo de transbordo na colheita de cana-de-açúcar, utilizando dois tipos de transbordos com volumes de reservatórios distintos, para fins de planejamento do processo, definindo assim o tipo e a quantidade de máquinas necessárias para a minha colheita.
Com a necessidade de otimização de custos, é necessário o correto dimensionamento operacional dos equipamentos utilizados na colheita
COMO FOI REALIZADO O PLANEJAMENTO?
Durante o período de 1° de maio a 31 de agosto de 2018, em um período de 123 dias, foram coletados em uma usina de cana-de-açúcar, os tempos e movimentos de dois conjuntos trator-transbordo, sendo que um possui reservatório de dez toneladas e outro com 21 toneladas. Os dados foram coletados de computadores de bordo que realizam o monitoramento e apontamento dos tempos e movimentos das máquinas, sendo centralizados no controle operacional agrícola da empresa, do qual foram extraídos. Os transbordos realizam quatro tempos (Figura 2): primeiro é realizado o carregamento do transbordo com a colhedora e em seguida, com o transbordo carregado, é realizado o deslocamento até o ponto de descarregamento no caminhão para ser trans-
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Figura 1 - Ciclo PDCA, com destaque para a etapa de planejamento agrícola
Figura 2 - Tempos do ciclo do transbordo de cana-de-açúcar
Figura 4 - Perdas totais para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 3 - Procedimentos dos cálculos realizados
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portado para a usina. Por fim, o transbordo volta vazio para a colhedora para reiniciar o ciclo. A somatória dos quatro tempos resulta no ciclo total do transbordo. A Figura 3 mostra o fluxograma dos cálculos realizados. Nela é possível observar que a eficiência operacional do transbordo foi calculada por meio dos tempos produtivos, improdutivos a auxiliares em relação à jornada de trabalho (três turnos de oito horas). Com o tempo do ciclo do transbordo, a eficiência e a capacidade volumétrica dos transbordos, é definida a capacidade de produção em toneladas por hora. A demanda de transbordo por colhedora é mensurada pela relação entre o ciclo total do transbordo e a capacidade de produção da colhedora. Com os dados, foi realizada uma correlação entre o tempo de carregamento do transbordo em relação à demanda por colhedora e o tempo de carregamento do transbordo em relação ao ciclo do carregamento do transbordo.
RESULTADOS DO PLANEJAMENTO
Observa-se na Figura 4 que, para o período analisado, o transbordo com capacidade de dez toneladas possui tempo de carregamento entre cinco e 20 minutos enquanto no transbordo de 21 toneladas, os tempos de carregamento oscilaram entre dez e 30 minutos. O ciclo total do transbordo de dez toneladas oscila entre 20 e 45 minutos, enquanto o ciclo total do transbordo de 21 toneladas foi superior, com valores entre 25 e 50 minutos. Com isso, o transbordo de 21 toneladas apresentou tempo médio de ciclo total superior em 7,66 minutos, o que representa um aumento em 27,1% no ciclo. Como os tempos de deslocamento e descarregamento dos transbordos foram similares (17,07 minutos para os transbordos de 10t e 16,87 minutos para os transbordos de 21t), tem-se que o acréscimo do ciclo se deve ao tempo de carregamento dos transbordos. A Figura 5 mostra a relação entre o tempo de carregamento e a demanda de transbordos por colhedora para os dois tipos de transbordos analisados. Nota-se que, para o período analisado, o transbordo com ca-
Figura 4 - Relação entre o tempo de carregamento e o ciclo total dos transbordos analisados
Figura 5 - Relação entre o tempo de carregamento e a demanda de transbordo por colhedora para as máquinas analisadas
pacidade de dez toneladas possui demanda entre 1,5 a cinco unidades por colhedora e que para o transbordo de 21 toneladas, a demanda de transbordo oscila entre 1,4 e três unidades por colhedora. Com isso, o transbordo de 21 toneladas apresentou uma demanda média de 1,91 unidade, enquanto para o transbordo de dez toneladas ocorreu um acréscimo de 0,71 unidade devido ao valor inferior do tempo de carregamento deste tipo de transbordo. A Figura 6 mostra a utilização dos valores médios de demanda de transbordo por colhedora em frente de colheita com números distintos de colhedora. Com a utilização dos valores médios de demanda de transbordos encontrados para frentes de colheita com unidades distintas (três, quatro e cinco colhedoras, respectivamente), observa-se que para uma frente de colheita com cinco unidades, tem-se uma demanda de 9,55 transbordos para a frente de colheita, com uma redução 3,55 unidades, quando comparado à utilização de transbordos de dez toneladas.
utilização de transbordo de 21 toneladas, ocorre uma redução de demanda de transbordo em 27,1%, em comparação ao equi.M pamento de dez toneladas. José V. Salvi Amanda C. Parra, Fatec “Shunji Nishumura”, Pompeia Luis R. Bergamo Mylene I. A. Crespe, Solinftec, Araçatuba Figura 6 - Demanda de transbordos para diferentes unidades de colhedoras por frente de colheita
CONCLUSÕES DO PLANEJAMENTO
Para as condições do estudo, verifica-se que existe uma correlação negativa entre o tempo de carregamento do transbordo em relação à demanda de transbordo por colhedora, ou seja, quanto maior o tempo de carregamento, menor a demanda de transbordos. No caso de uma frente de cinco colhedoras, com a
Autores falam sobre a importância de verificar a velocidade da colhedora e a umidade dos grãos para evitar perdas desnecessárias na hora da colheita
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PULVERIZAÇÃO
Jacto
Aplicação certeira
Calibração correta das máquinas, uso de produtos fitossanitários específicos e controle no momento correto são aspectos fundamentais para garantir uma aplicação eficiente e segura na cultura do café
O
manejo fitossanitário em culturas perenes, como o café, é praticado recorrentemente ao longo do ano, mesmo em condições desafiadoras para se obter uma aplicação com boa qualidade. A aplicação para ser de qualidade deve reunir quatro aspectos fundamentais: 1) proteger a lavoura, afinal é o objetivo para o qual a mesma está sendo realizada; 2) ser segura para o aplicador que está executando a aplicação; neste caso, o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), desde o início do preparo da calda até a descontaminação do pulverizador e seus componentes, é o principal aliado, juntamente com treinamentos sistemáticos sobre tecnologia de aplicação; 3) proteção do meio ambiente, para não haver contaminação do solo, água, polinizadores, dentre outros, e entrar na cadeia trófica; e 4) proteção do consumidor, à medida que são utilizadas doses recomendadas, produtos registrados para a cultura, prazos de carência entre outras boas práticas que são premissas básicas da tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários. Atendidos esses quatro aspectos é possível afirmar que o uso de produtos fitossanitários na agricultura é seguro a todos os entes da cadeia, como produtores, consumidores e meio ambiente. Existe um entendimento genérico, cuja origem é difícil de precisar, de que gotas finas devem ser utilizadas para a aplicação de fungicidas; gotas médias para inseticidas e alguns herbicidas; e go-
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Fotos Jacto
tas grossas para herbicidas. Não é uma recomendação técnica, porém, existente no ambiente dos usuários da tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários, mas que não encontra sustentação e respaldo na pesquisa científica. A seleção do tamanho da gota deve ser uma tarefa de planejamento para cada aplicação, visto que não pode ser generalizada, pois está ligada a diversos fatores intrínsecos de cada momento da pulverização. Por exemplo, verão/inverno, condições psicrométricas instantâneas em que se pretende atingir determinado alvo, nível de infestação ou incidência, volume da copa e quantidade de folhas a serem cobertas com gotas. Entretanto, muitas vezes são feitas recomendações tabeladas ou presentes na bula dos produtos, o que geralmente acontece sem conhecimento prévio das condições específicas em que se realizará a aplicação. Simultaneamente ao tamanho da gota a ser selecionado, parâmetros como densidade de gotas, porcentagem de cobertura, amplitude relativa, deposição ou retenção foliar, entre outros, devem ser analisados. Esses funcionam como uma contraprova para a pergunta: selecionamos a ponta certa para produzir o tamanho de gotas desejado/recomendado? É fundamental a análise simultânea desses parâmetros com o tamanho da gota, pois se considerado isoladamente representa pouca informação, já que é um valor absoluto representado pelo Diâmetro da Mediana Volumétrica (DMV).
PULVERIZADORES
As aplicações com pulverizadores hidropneumáticos ou turboatomizadores na região produtora de café do Cerrado Mineiro são na sua maioria realizadas utilizando pontas que geram gotas finas e, tradicionalmente, quando o produtor substitui as pontas, ele opta pelo mesmo modelo. A questão não é a qualidade das pontas, mas o fato de raramente se ter um conjunto reserva que produza gotas de tamanhos diferentes na fazenda, utilizando-se sempre os mesmos modelos para aplicações de inseticidas, fungicidas e fertilizantes foliares durante todo o
A seleção do tamanho da gota deve ser uma tarefa de planejamento para cada aplicação
ano, independentemente das condições psicrométricas, do volume de calda, do alvo, dos produtos etc. O conhecimento em tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários preconiza que as condições são dinâmicas e que o responsável técnico deve se atentar aos fatores que afetam a aplicação, buscando adequar-se, praticamente em tempo real, às mudanças meteorológicas, no alvo, na cultura etc., para obter pulverizações eficientes e controle eficaz dos agentes nocivos às culturas. Os pulverizadores e a tecnologia disponível para manejo fitossanitário na cafeicultura estão bastante defasados comparados aos pulverizadores hidráulicos de barra. Nestes existem estações meteorológicas embarcadas, fechamento automático, capas com mais de uma ponta para facilitar a substituição do tamanho de gotas, controle eficiente de pressão de trabalho, entre outros avanços tecnológicos que ainda não foram adicionados aos pulverizadores empregados para manejo fitossanitário na cafeicultura. Segundo alguns fabricantes, a tecnologia está disponível, mas não há demanda por parte dos agricultores ou disposição para se investir um pouco mais nos equipamentos. Haveria uma explicação para este fato? Nas fazendas produtoras de café, é comum a equipe calibrar o pulveriza-
dor medindo a vazão de uma a três pontas em cada barra. Seria essa amostragem suficiente para dar uma percepção da uniformidade de distribuição da calda no dossel da planta? Entretanto o operador “toma um banho”, se optar por fazer a medição em todas as pontas. Uma alternativa, mais econômica frente aos sistemas de avaliação conjunto das pontas, seria um sistema de engate rápido na parte superior, permitindo que no momento da determinação da vazão a barra fosse posicionada na horizontal, assim os operadores amostrariam a vazão de um maior número de pontas ou, talvez, de todas, e seriam mais assertivos em relação ao volume de calda que estão aplicando.
ALTERNATIVAS
No anseio de apresentar uma alternativa, que atenda aos quatro aspectos fundamentais da tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários, quais sejam, proteção da cultura, aplicador, meio ambiente e consumidores, alguns trabalhos têm sido conduzidos pelo Grupo de Investigação em Mecanização Agrícola (Grima), constituído por pesquisadores de diferentes instituições de ensino, pesquisa e extensão brasileiras, em diferentes laboratórios na área de tecnologia de aplicação e mecanização agrícola. O objetivo é apresentar aos cafeicultores resultados de pesquisa que demons-
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Tabela 1 - Porcentagem de cobertura em diferentes posições do dossel na planta, Monte Carmelo/MG, 2018
Ponta A B
Cobertura (%) Inferior interno Mediano interno Superior interno 5b 16a 3b 9a 7b 5a
Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem-se entre si pelo teste F (p>0,05).
Tabela 2 - Densidade de gotas em diferentes posições do dossel na planta, Monte Carmelo/ MG, 2018
Ponta A B
Densidade de gotas (gotas cm-2) Mediano Mediano Superior Superior externo interno interno interno 530a 335a 431a 108a 199b 86b 137b 56b
Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem-se entre si pelo teste F (p>0,05).
Tabela 3 - Tamanho de gotas em diferentes posições do dossel na planta, Monte Carmelo/ MG, 2018
Ponta A B
DMV (μm) Mediano externo Superior externo 227b 204b 467a 416a
Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem-se entre si pelo teste F (p>0,05).
Tabela 4 - Eficácia biológica para controle do bicho-mineiro do café, Monte Carmelo/MG, 2018
Ponta A B
Eficácia biológica (%) Volume de calda (L ha-1) 200 400 53bB 65aA 70aA 56bB
Médias seguidas de letras distintas minúsculas na coluna e maiúsculas na linha diferem-se entre si pelo teste F (p>0,05).
trem eficácia biológica, selecionando gotas adequadas ao momento, alvo, volume de calda e porte da planta. Um exemplo desses esforços é resumido a seguir, onde se conduziu um trabalho de pesquisa com as seguintes condições da aplicação: ponta “A”, gotas finas, e ponta “B”, gotas grossas, segundo a classificação da Sociedade Americana de Agricultura, Biologia e Engenharia (Asabe) S 572.1. Ambas produzem jato cônico vazio e ângulo de 80º, volume de calda de 200L/ha e 400L/ha, velocidade de trabalho de 3,8km/h a 7,8km/h, pressão de trabalho de 565kPa a 1.241kPa, condições meteorológicas médias de 29°C de temperatura, 37% de umidade relativa e 4,3km/h de velocidade do vento, visando controle do bicho-mineiro do café. Este inseto apresenta pico de infestação que coincide com um período de baixa umidade relativa do ar e tem sido um dos maiores problemas da cafeicultura. A aplicação realizada de-
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monstrou-se segura sob diferentes aspectos e protegeu a lavoura, apresentando resultados parciais do trabalho e com efeitos significativos (Tabelas 1, 2, 3 e 4). Esta aplicação ocorreu em área com infestação de 65% de larvas vivas; portanto, em condições bastante críticas. O volume de 400L/ha é usual nas propriedades da região e como alternativa, 200L/ha apresentou uma eficácia maior com gotas grossas, em relação ao tradicionalmente empregado. Uma análise geral dos parâmetros apresentados permite inferir que o uso de gotas grossas pode ser uma alternativa viável ao cafeicultor, combinado com volume de calda menor. As mesmas pontas e os volumes de calda foram utilizados em um trabalho para controle da broca-do-café, e os resultados indicaram comportamento semelhante em termos de parâmetros da aplicação e eficácia de controle, com maior deposição de corante traçador nos frutos quando se utilizou a ponta “B”, que produz gotas grossas.
AVALIAÇÃO
A tomada de decisão em relação ao tamanho da gota a ser utilizada exige conhecimento amplo sobre alvo, ambiente, máquina, arquitetura da planta, entre outros. A necessidade de capacitação sistemática e continuada das equipes de campo é fundamental para se conduzir aplicações seguras sob todos os aspectos, sendo necessário que o produtor/empresário entenda essa realidade para não aumentar a animosidade da sociedade em relação à atividade agrícola e ao uso de produtos fitossanitários essenciais para os cultivos. É notório que boa parte dos produtores brasileiros é cautelosa e sabe de suas responsabilidades sociais. Entretanto, não tem sido suficiente guardar para si as preocupações e os cuidados tomados da porteira para dentro, será preciso demonstrar à sociedade que suas ações refletirão em alimentos sem resíduos e produzidos de forma técnica na mesa do consumidor em seus lares, nos centros urbanos. Por fim, as operações de pulverização de produtos fitossanitários têm sido criticadas pela sociedade e, em alguns casos, é possível afirmar que há razão e fundamento nas críticas. A saída para a harmonização entre consumidores e produtores é o uso correto da tecnologia de aplicação, que consiste na ciência de aplicar os produtos fitossanitários no momento e local corretos, com o mínimo de desperdício, como .M bem descrito pelo professor Tomomassa Matuo. Cleyton Batista de Alvarenga, Paula Cristina Natalino Rinaldi, João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha, Renan Zampiroli, Matheus Vilhena Parenti, Dalton Luiz Benz, Marcos Paulo Resende Ribeiro e Darlisson Medeiros Santos, Agronome Paul Saint-Paul Túlio Urban Lourenço Miranda Silva, Universidade Federal de Uberlândia
CAPA
Controle preciso Como a Agricultura de Precisão pode auxiliar no combate e redução de custos no manejo de plantas daninhas em um cenário marcado por problemas de resistência a herbicidas e de diferentes níveis de infestação dentro de um mesmo talhão
A
presença de plantas indesejadas na lavoura existe desde o início da agricultura, por convenção denominadas de invasoras ou daninhas. Com o surgimento das primeiras moléculas de herbicidas, na segunda metade do século passado, a agricultura passou por uma certa acomodação. Anos depois, surgiram as plantas geneticamente modificadas e resistentes ao glifosato, o herbicida mais utilizado nas lavouras, o que expandiu ainda mais seu uso e consequente dependência. Não tardou e paralelamente surgiram as plantas resistentes a este herbicida. Recentemente o produtor de soja passou a contar com novas cultivares transgênicas, por exemplo a tecnologia Cultivance (parceria entre Basf e Embrapa) resistente a herbicidas do grupo das imidazolinonas, Enlist (Corteva) resistente a 2,4-D, glifosato e glufosinato e ainda aguarda a Xtend (Bayer) resistente ao dicamba. Vale lembrar que algumas daninhas apresentam resistência múltipla, portanto já são resistentes a mais de um tipo de herbicida. Enquanto uma solução efetiva não chega, caminhos alternativos podem auxiliar o produtor na redução de custos. Embora pouco divulgadas, algumas tecnologias já existem e estão à disposição dos produtores. Nesse caso, é importante considerar que as plantas daninhas não estão distribuídas uniformemente em toda a lavoura. Na maior parRometron
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Rometron
do HTV, uma tecnologia desenvolvida e patenteada pela APagri Consultoria Agronômica em conjunto com a área de herbologia da Esalq-USP. O foco nessa modalidade de aplicação são diferenças que ocorrem na escala de centenas de metros. Além das interações com o solo, o uso de pré-emergentes de forma localizada ou em taxa variável também pode ser realizado com base em alguma estimativa da população de plantas daninhas que irão germinar, baseado normalmente no banco de sementes presente no solo para cada espécie. Essa estimativa pode ser obtida com base em um mapeamento anterior das espécies infestantes associado com as características biológicas de cada espécie, como quantidade de sementes produzidas, forma de dispersão, condições adequadas para germinação e ocorrência de dormência. O nível de resolução que se obtém para essa aplicação é da ordem de dezenas de metros.
Trimble
MAPEAMENTO DA DISTRIBUIÇÃO DE PLANTAS DANINHAS
Diferentes tecnologias disponíveis no mercado realizam aplicação localizada de herbicidas
te das vezes estão agregadas em reboleiras, principalmente devido à forma de dispersão das sementes, ou em focos de plantas isoladas e muito esparsas. Independentemente da situação, haverá uma tecnologia capaz de auxiliar no combate localizado.
MAPEAMENTO PARA APLICAÇÃO DE HERBICIDAS EM PRÉ-EMERGÊNCIA
No caso de herbicidas que são aplicados em pré-emergência, com o objetivo de controlar as plantas daninhas que ainda não germinaram, existem diversas interações que ocorrem entre a molécula do herbicida e os componentes do solo, o que faz com que a variabilidade espacial de atributos do solo, tais como teor de argila, matéria orgânica e pH, influenciem na dose ideal de produto a ser aplicado. Modelar corretamente essas interações para cada tipo de herbicida e de solo é uma tarefa complexa, entretanto existem soluções comerciais que entregam a recomendação pronta para o cliente, como é o caso
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A distribuição espacial e as formas de mapeamento da ocorrência de plantas daninhas vêm sendo estudadas há vários anos. Uma das primeiras formas utilizadas foi a amostragem, realizando-se uma metodologia padrão de levantamento de plantas daninhas em vários pontos de uma área e depois utilizando-se a interpolação para gerar o mapa de infestação de cada espécie. Essa metodologia requer intensiva utilização de mão de obra e apresenta baixa precisão, uma vez que normalmente o número de amostras coletadas é muito inferior ao que seria necessário para gerar uma representação precisa da distribuição de plantas daninhas na área. Embora seja antiga, essa técnica é pouco utilizada em larga escala. Outra possibilidade de mapeamento das plantas daninhas, desta vez com um menor emprego de mão de obra, é por meio da utilização de ferramentas de sensoriamento remoto. Neste contexto está inserido o uso de diversos sensores, passivos ou ativos, embarcados em várias plataformas, tais como satélites, aeronaves e máquinas agrícolas. Neste caso, a resolução espacial normalmente é de alguns metros no caso de sensores orbitais e pode chegar a alguns centímetros para sensores embarcados em aeronaves. Os sensores passivos são os mais utilizados nessa plataforma, e normalmente utilizam a luz solar como fonte de radiação, o que os deixa mais dependentes das condições climáticas. Normalmente esses sensores captam a energia refletida pelas plantas em diferentes regiões do espectro eletromagnético, incluindo a região visível, infravermelho e termal. Dentre os sensores ativos destacam-se o uso de radares e Lidar (Light Detection and Ranging), que podem estimar volume e altura das plantas. O uso de imagens de satélite com resolução de 5m, por exemplo, possibilita a identificação de reboleiras de plantas daninhas em uma área, enquanto que o uso de uma imagem aérea com resolução de 5cm possibilita a identificação de plantas daninhas de forma mais individualizada. Uma dificuldade presente na utilização de imagens, principalmente as de menor re-
solução, é a diferenciação de espécies de plantas, tanto entre diferentes plantas daninhas quanto em relação a plantas daninhas e à cultura instalada. As pesquisas apontam que o uso de imagens hiperespectrais, que trazem informações detalhadas sobre como a luz é refletida pelas plantas em regiões que são invisíveis ao olho humano, podem ser uma alternativa para solucionar essa limitação, entretanto esses sensores ainda apresentam alto custo e baixa oferta disponível. Para a realização de um mapeamento de qualidade a partir de dados de sensoriamento remoto, é fundamental que as coordenadas de cada elemento do mapa correspondam realmente à coordenada real desse elemento no talhão. Isso exige a utilização de vários pontos de controle em solo utilizando uma tecnologia de posicionamento por satélites muito precisa, tal como o real time kinematic (RTK) que possui um erro aproximado de 1cm. Tanto a aquisição como o processamento dos dados devem ser realizados com controle de qualidade rigoroso, para que o mapa possa depois ser utilizado em uma máquina para realizar a aplicação.
TECNOLOGIAS PARA PULVERIZAÇÃO LOCALIZADA E EM TAXA VARIÁVEL
ocorrência das plantas daninhas, torna-se necessário realizar intervenções de controle, como a aplicação de herbicidas. Para isso existem algumas tecnologias de aplicação distintas. A maioria dos pulverizadores modernos já é capaz de realizar aplicações com base em um mapa de prescrição. Nesse caso a variação das doses de herbicida é obtida pela variação na pressão do sistema de pulverização, que altera o volume de calda aplicado. Essa modalidade de taxa variável altera significativamente o tamanho das gotas de pulverização, o que normalmente restringe as variações de dose a mais ou menos 30% da dose padrão. Outro limitante é que a dose aplicada é a mesma em toda a largura da barra de pulverização, que varia de 20m a 40m, e, portanto, não permite o controle de forma individualizada. O controle de seção, que divide a barra em seções menores permitindo o seu acionamento de forma indepen-
Agroservice
Uma vez identificados os locais de
Funcionamento do sistema: sensor detecta a invasora e, na sequência, o bico aplica o herbicida sobre o alvo
Na identificação e pulverização de daninhas em tempo real os sensores são geralmente "ativos" por possuírem a sua própria fonte de radiação (luz), permitindo trabalhar tanto de dia como à noite
dente, está presente em boa parte destes equipamentos. Os principais benefícios dessa tecnologia são visualizados nas bordaduras das lavouras, diminuindo a região de sobreposição das aplicações. Neste sentido, o controle de seção auxilia ainda no controle localizado de plantas daninhas, através da pulverização de reboleiras ou pequenas faixas nas lavouras sem a necessidade de abrir todos os bicos das máquinas. Nesse caso as seções costumam variar de 5m a 0,5m, quando o controle é realizado em cada bico. Para realizar a abertura e o fechamento dos bicos com uma velocidade extremamente rápida, válvulas pulse width modulation (PWM) precisam ser utilizadas. As válvulas são instaladas diretamente no bico de pulverização e podem, ainda, dependendo da frequência de trabalho, mudar a dose de aplicação sem alterar a pressão do sistema, o tamanho de gota e o ângulo de abertura do leque de pulverização. Com essa tecnologia é possível obter-se diferentes doses de produto em cada bico, o que possibilita o controle localizado ao nível de cada planta individualmente. Sua utilização com essa finalidade, entretanto, depende de um mapa altamente detalhado e com exatidão das coordenadas das plantas daninhas, bem como da exatidão do sistema de posicionamento da máquina. Na prática, os monitores e controladores das máquinas não estão preparados para operar com mapas de prescrição nesse nível de detalhamento, existindo ainda a limitação de modelagem da dinâmica da máquina para identificar com exatidão a coordenada de cada bico em um dado instante. Outra limitação das tecnologias citadas é o fato de que a variação ocorre na
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Fotos Mateus Tonini Eitelwein
Detalhe da aplicação apenas nas áreas onde o sensor detecta a presença de plantas e realiza a aplicação localizada
calda de pulverização, o que impossibilita o uso de diferentes doses de cada herbicida mais eficiente para o controle de cada espécie de planta daninha. Isso pode ser superado com o uso de sistemas de injeção direta, que dosam os produtos químicos na calda de pulverização em tempo real. Em sua forma mais simples, os produtos concentrados são armazenados em tanques separados e misturados na linha principal do sistema de pulverização, o que permite um nível de resolução semelhante ao da taxa variável obtida por variação de pressão do sistema, mas que possibilita maior variação nas doses porque não afeta o espectro de distribuição das gotas de pulverização. A injeção direta pode ainda ser realizada em cada seção ou até mesmo em cada bico, o último caso é o mais flexível e equivale à existência de dois ou mais sistemas de pulverização independentes montados na mesma máquina.
IDENTIFICAÇÃO E PULVERIZAÇÃO EM TEMPO REAL
A pulverização de daninhas em tempo real é baseada na identificação da planta por sensor e aplicação instantânea de herbicida somente sobre o alvo. O processo de identificação de uma planta é realizado pelo reconhecimento de um padrão de reflectância (uma espécie de assinatura espectral) quando submetido a uma fonte de radiação. Neste caso, os sensores são geralmente “ativos” por possuírem a sua própria fonte de radiação (luz), permitindo trabalhar tanto de dia como à noite, podendo ser feita uma analogia com uma câmera fotográfica (sensor) e o flash (luz). Atualmente há dois equipamentos comerciais no Brasil que realizam a identificação e pulverização de plantas daninhas em tempo real: a) WEEDit (Rometron B.V., Holanda); b) WeedSeeker (Trimble Navigation Limited, EUA). Para a detecção das plantas, o primeiro sistema baseia-se na técnica de detecção da fluorescência de clorofila que é criada pela ação de uma potente fonte de luz, já o segundo faz a comparação de reflectância em duas bandas espectrais (índice de vegetação). A tecnologia destas ferramentas não se resume somente aos sensores, mas à velocidade extremamente rápida das vál-
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vulas responsáveis pela abertura e o fechamento dos bicos. No caso do WEEDit, a tecnologia Pulse Width Modulation (PWM) permite que a dose estipulada no monitor seja mantida independente de variações de velocidade da máquina, ou seja, a pressão do sistema permanece constante garantindo o tamanho de gota e abertura do leque padrão ao passo em que realiza aumento ou diminuição da vazão simplesmente pela pulsação do jato, podendo chegar a 60 aberturas/segundo. O PWM neste caso ainda permite uma compensação da vazão em operações de curva e manobra, ou seja, quando um lado da barra está mais rápido que o outro, o sistema ajusta automaticamente a vazão de cada metro de barra para corresponder à dose informada no monitor (L/ha). A vantagem da utilização de sensores para detecção em tempo real juntamente com a tecnologia PWM, em relação ao uso de mapas, é a redução dos erros de posicionamento que podem ser acumulados desde a obtenção das imagens até a decisão do momento de abrir ou fechar a válvula do bico, trazendo a possibilidade real de controle individualizado das plantas daninhas. Este tipo de tecnologia pode trazer um grande benefício ao produtor em operações de dessecação. O potencial de economia pode variar de 20% a 99%, sendo diretamente proporcional ao nível de infestação de plantas daninhas na área. Apesar de serem sistemas com um custo de aquisição moderado (≈R$ 18 mil a 30 mil por metro de largura), a viabilização da aquisição, bem como a opção de largura ideal de barra, deve considerar os investimentos anuais com defensivos e o potencial de economia em cada uma das operações. Outro benefício destes tipos de sistema está na possibilidade de realizar as aplicações com uma frequência maior, ou seja, como só será pulverizado sobre as daninhas, não é necessário esperar que todas as plantas daninhas germinem. Além disso, a espera pode dar a chance dessas plantas produzirem novas sementes, o que agrava o problema para as próximas safras. Este processo naturalmente irá reduzir o banco de sementes na área ao longo dos anos. Há relatos de produtores australianos com economia de 98% de herbicida na dessecação após sete anos de uso da tecnologia. Além da redução de gastos, a diminuição dos impactos ambientais e a garantia da sustentabilidade da produção tornam estas ferramentas essenciais para os produtores. Uma demonstração do potencial de economia de uma pulverização localizada pode ser visualizada na Figura 1. O mapa foi gerado pelo sistema WEEDit instalado em um pulverizador JD 4730 de 32 metros de barra, em Luís Eduardo Magalhães, Bahia. A aplicação foi realizada após a colheita do milho, gerando uma economia de 62% de herbicida em uma área de 322 hectares. Quando a área apresenta focos de capim-amargoso, o produtor adota a estratégia de realizar duas aplicações na mesma área: 1) Pós-colheita: dessecação utilizando herbicidas de custo reduzido (Figura 1); 2) Em torno de 20 dias após a primeira aplicação é realizada uma segunda dessecação (catação) utilizando graminicida. A catação é uma operação muito rentá-
Figura 1 - Mapa da economia de herbicida gerado pelo sistema WEEDit em uma área de 322ha no Oeste da Bahia. (Fonte: Agroservice/Carrol Farms, Luiz Eduardo Magalhães-BA)
vel e resulta em uma média de mais de 90% de economia. Semelhante ao que ocorre com as formas de mapeamento citadas anteriormente, cabe ressaltar que estas ferramentas são capazes de identificar plantas vivas, no entanto, não diferenciam umas das outras. Ambos os equipamentos disponíveis no mercado e citados possuem limites de detecção ajustáveis que permitem acertar alvos maiores ou menores, ainda assim, sem a plena capacidade de diferenciar espécies. Neste sentido há tecnologias sendo desenvolvidas e testadas em nível de pesquisa, principalmente utilizando reconhecimento de padrões em imagens RGB (formato da planta) e câmeras hiperespectrais (intensidade de reflectância em regiões específicas do espectro). Estes equipamentos ainda enfrentam barreiras devido à baixa velocidade e largura da operação, e ao alto custo. Um exem-
Figura 2 - Pulverização utilizando inteligência artificial para reconhecimento de espécies de plantas daninhas. (Fonte: Blue River Technology/John Deere - See and Spray System. http://smartmachines.bluerivertechnology.com)
plo é a empresa BlueRiver, adquirida em 2017 pela John Deere por 305 milhões de dólares. O conceito de máquina inteligente para enxergar e pulverizar faz o uso de visão computacional e inteligência artificial para a diferenciação de espécies de plantas e aplicação em tempo real (Figura 2).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do contexto aqui abordado pode-se estabelecer que a presença de plantas daninhas em diferentes níveis de infestação dentro de um mesmo talhão abre caminhos para a utilização de ferramentas de agricultura de precisão como uma forma mais eficiente de controle, através da aplicação localizada e nas doses necessárias para cada parte de uma área agrícola. O aumento na ocorrência de plantas daninhas resistentes aos herbicidas cria demandas por essas tec-
nologias, pois as formas tradicionais de controle apresentam custos elevados e baixa eficiência. O risco de introdução ou seleção de novas espécies resistentes, associado ao lento desenvolvimento de novas moléculas de herbicidas, faz com que o manejo correto de plantas daninhas seja cada vez mais importante para a manutenção de um sistema de produção sustentável. O controle localizado utilizando sensores e aplicação de herbicidas em tempo real possibilita as maiores economias de produtos, além de reduzir os impactos no meio ambiente e contribuir para redução do proble.M ma no longo prazo. Mateus Tonini Eitelwein, Rodrigo Gonçalvez Trevisan e Marcos Nascimbem Ferraz, Smart Agri José Paulo Molin, USP/Esalq
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PULVERIZAÇÃO
Conhecimento indispensável Fotos Alfran Tellechea Martini
A adoção de tecnologias nas propriedades é realidade cada vez mais presente no dia a dia dos produtores rurais. No entanto, o conhecimento técnico sobre cada operação, como, por exemplo, na aplicação de produtos químicos, continua sendo fundamental para permitir a execução das atividades de forma eficiente
A
s áreas destinadas aos cultivos agrícolas, comerciais ou não, estão sujeitas à ação de plantas daninhas, insetos e doenças, quando as condições climáticas como temperatura, umidade e intensidade luminosa forem favoráveis ao seu desenvolvimento. Dentre os diversos métodos disponíveis ao manejo integrado destes agentes de perdas, e que apresenta bons resultados em curto prazo, está a aplicação de agroquímicos, desde que realizada de forma eficiente e consciente. Para que isso se torne possível, deve-se utilizar os princípios
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da tecnologia de aplicação, visando à deposição correta do ingrediente ativo no alvo biológico, de forma mais econômica e com o mínimo impacto ao meio ambiente. No entanto, para que a aplicação seja realizada de maneira satisfatória, nem sempre é necessário o uso de equipamentos novos, com eletrônica embarcada, sensores e atuadores, por exemplo, mas é necessária, principalmente, a correta utilização dos procedimentos, os quais são fundamentais para a obtenção de aplicações com qualidade. Estes procedimentos estão relacionados ao conhecimento do tipo de produto a ser aplicado, à finalidade de contro-
le e à dose a ser utilizada, da mesma forma que itens relacionados ao pulverizador como a correta seleção do conjunto de pontas de pulverização, o que possibilitará obter informações sobre pressão de trabalho e tamanho de gotas, espaçamento entre pontas, altura de trabalho em relação ao alvo, seleção do sistema de filtragem, bem como conhecimento relacionado à cultura implantada e à to-
REGULAGEM DO PULVERIZADOR
F
pografia da área para, assim, definir a velocidade de trabalho. De posse destas informações, será possível determinar o volume de aplicação e realizar a calibração do pulverizador. No entanto, muitas vezes observa-se um conhecimento reduzido sobre os princípios básicos relacionados à regulagem e à calibração de pulverizadores, o que pode ser reflexo da fal-
requentemente, o ato de regular e calibrar pulverizadores agrícolas é confundido como a mesma atividade, no entanto, são ações distintas. A regulagem a ser realizada está relacionada ao ajuste dos componentes da máquina às características das culturas a serem pulverizadas e aos produtos a serem utilizados. Já a calibração deverá ser realizada após a regulagem, ou de forma periódica, com o objetivo de aferir o volume de calda pulverizado. O princípio de um bom procedimento de regulagem pode ser considerado quando, previamente ao início das atividades de aplicação, se faz a seleção das pontas a serem utilizadas. O uso de pontas que produzam espectro de gotas médias a grossas se dá preferencialmente para aplicação de herbicidas; já pontas que geram gotas finas são mais utilizadas para aplicação de inseticidas e fungicidas. Este cuidado deve ser levado em consideração para evitar danos às culturas adjacentes por meio da perda de gotas por deriva quando, por exemplo, realizada aplicação de herbicidas. Portanto, para selecionar as pontas de pulverização devem ser levados em consideração o tipo de produto e a cultura. Esta seleção irá possibilitar ao aplicador informações como, por exemplo, a distância entre pontas na barra de pulverização e a altura de trabalho recomendada pelo fabricante. O uso da altura de trabalho adequada irá permitir melhor distribuição das gotas na faixa, no entanto quando não são observadas estas informações, podem ocorrer dois problemas principais. O primeiro está relacionado à utilização da barra de pulverização muito baixa, provocando a concentração de produto na área aplicada, o que poderá resultar em necrose e clorose das plantas (perda de plantas) pelo efeito fitotóxico. Desta forma, como existe uma relação da distância entre as pontas na barra e altura de trabalho em relação ao alvo, outro inconveniente que poderá ser observado relaciona-se à ineficiência do controle pela má deposição das gotas. Citando como exemplo o uso de pontas de jato plano, é importante salientar que, para alguns modelos, é necessário que haja o transpasse do leque aspergido, pois tem a finalidade de proporcionar a deposição adequada do produto no alvo em questão.
ta de investimento em treinamento dos operadores que realizam as atividades de aplicação de agroquímicos. Esta falta de conhecimento pode resultar não somente em perdas econômicas ao produtor, dada pela ineficiência no controle do alvo ou danos causados pelos efeitos fitotóxicos às culturas, mas também representar riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
O segundo problema poderá ocorrer ao ser utilizada uma elevada altura da barra de pulverização em relação ao alvo, o que pode ocasionar perdas por deriva e causar a redução da concentração de ingrediente ativo depositado, afetando negativamente o controle. Além disso, esta perda de gotas por deriva representa possíveis danos à saúde humana e ao meio ambiente quando transportadas pelo vento para áreas não objeto da pulverização. Relacionando-se ainda as regulagens, outras atividades, como a adequação da velocidade de trabalho e a rotação da tomada de potência (TDP), são de suma importância, uma vez que pequenos erros nesta etapa podem resultar em elevados prejuízos econômicos. Para determinar a velocidade de trabalho, recomenda-se que o reservatório de calda esteja preenchido com a metade da sua capacidade volumétrica e, que durante o deslocamento do conjunto mecanizado (trator + pulverizador) ou pulverizador autopropelido, se for o caso, a TDP esteja acionada.
O uso da altura de trabalho adequada irá permitir melhor distribuição das gotas na faixa
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DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE TRABALHO
P
ara determinar a velocidade de deslocamento, é necessário definir a marcha de trabalho que seja compatível com a topografia da área, bem como ajustar a rotação do motor que resulte em 540 rotações por minuto (rpm) na TDP. A rotação da TDP deve ser mantida fixa, pois é na qual que a bomba de pressurização do sistema hidráulico é projetada para obter sua maior eficiência. A coleta do tempo para deslocamento do conjunto deve ser realizada na própria área onde será executada a pulverização, a fim de minimizar possíveis erros na adequação do equipamento. Por meio do uso de uma trena métrica, duas estacas e um cronômetro, é possível determinar o tempo para percorrer os 50m, distância a qual será considerada para efeito da determinação da velocidade. Salienta-se que é recomendado realizar este procedimento no mínimo três vezes, onde a média dos valores de tempo deverá ser utilizada na equação 01. Ao realizar o percurso três vezes com o conjunto mecanizado na área a ser pulverizada, considerando uma distância de 50m, obtiveram-se os seguintes tempos: 22, 20 e 21 segundos, sendo a média dos tempos de 21 segundos. V = 180 = 180 t 21
Portanto, substituindo na equação os valores indicados no exemplo, obtém-se a velocidade de trabalho de 8,57km/h.
CALIBRAÇÃO DO PULVERIZADOR
D
epois de finalizada a etapa de regulagem, deve ser realizada a verificação do desempenho do pulverizador, caso não esteja de acordo com o planejado, podem ser realizados ajustes finos como, por exemplo, pequenas alterações na pressão de trabalho. Na calibração se destaca a verificação da vazão das pontas (L/ min), com o objetivo de determinar o volume de aplicação (L/ha). Esta etapa deve ser conduzida previamente ao início das atividades, com o objetivo de calibrar o pulverizador e, periodicamente para avaliar o desgaste ou a obstrução das pontas de pulverização. A determinação do volume de aplicação pode ser feita basicamente por duas formas distintas. Uma está relacionada ao uso da caneca graduada (copo medidor), a qual não é a forma recomendada de calibrar, mas representa uma alternativa prática para a verificação diária da
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Determinação da velocidade de deslocamento
calibração. Para este método de calibração, a coleta da vazão de cada ponta deve ser efetuada pelo período igual ao que o conjunto mecanizado levou para percorrer os 50m. Após a coleta, a leitura do volume de aplicação pode ser realizada de forma direta na coluna que representa o espaçamento utilizado entre as pontas (Figura 1). A forma mais precisa para se realizar a calibração dos pulverizadores é por meio da equação de calibração. Para tal, é necessárioo uso de provetas graduadas, as quais serão utilizadas para coletar a vazão das pontas pelo período de um minuto. Após ser obtida a média da coleta de todas as pontas que compõem a barra de pulverização, utiliza-se a equação 02 para determinar o volume de aplicação. Um pulverizador agrícola que irá trabalhar a uma velocidade de 8,57km/h (calculada anteriormente) está equipado com pontas que produzem jato do tipo plano, as quais estão espaçadas em 50cm (0,5m). Sabendo-se que a vazão média coletada nas pontas de pulverização foi igual a 0,57L/min e a pressão de trabalho é de 40Lb/in²
Fotos Alfran Tellechea Martini
Representação da escala do copo medidor para a determinação do volume de aplicação. Fonte: Rovian Bertinatto, 2019
(libras por polegada ao quadrado), substituindo estes valores na equação, obtemos: Q = 600 x q = 600 x 0,57 = 79,81 L/ha V x e 8,57 x 0,50
O valor obtido de 79,81L/ha representa o volume de aplica-
Determinação do volume de aplicação através de copo medidor
ção. No entanto, se de acordo com as recomendações técnicas, o volume desejado seja maior, há possibilidade de reduzir a velocidade de trabalho, trocar o conjunto de pontas por outras de maior vazão ou aumentar a pressão de trabalho (atentar para as recomendações do fabricante com relação à máxima pressão de trabalho). Porém, caso o volume de aplicação desejado for menor, será possível aumentar a velocidade de trabalho, trocar o conjunto de pontas por outras de menor vazão ou, ainda, reduzir a pressão de trabalho (neste caso, atentar para a mínima pressão de trabalho recomendada pelo fabricante, para não influenciar negativamente no transpasse das gotas). Independentemente do ajuste utilizado para adequar o volume de aplicação, se for alterada alguma das características relacionadas acima, após a calibração prévia, será necessário coletar novamente a vazão das pontas e recalcular o volume. É importante destacar que existe uma relação entre vazão e pressão de trabalho, e que a alteração da pressão para adequar o volume de aplicação é uma questão técnica, onde pequenas variações na pressão poderão influenciar no fracionamento de gotas e, consequentemente, na possível perda das gotas finas por deriva. Assim, o ajuste do volume de aplicação pela alteração da pressão de trabalho deve levar em consideração a equação 03. Considerando o volume de aplicação de 79,81L/ha obtido no cálculo da calibração mencionado acima e, sabendo-se que a pressão de trabalho foi de 40Lb/in², pode verificar se é possível aumentar a pressão do sistema hidráulico para obter um volume de 120L/ha. Caso não houver esta possibilidade, terá de ser realizada a troca do conjunto de pontas ou, então, reduzir a ve-
locidade de trabalho. 79,81 = √40 = P2 = 90,43 lb/in² 120 √P2
Ao considerar este exemplo, a melhor solução será reduzir a velocidade de trabalho ou alterar o conjunto de pontas por outras que proporcionem maior volume de aplicação, uma vez que pontas de pulverização do tipo jato plano são projetas para trabalharem em uma faixa de pressão que compreende 20Lb/in² a 60Lb/in². Ou seja, a pressão obtida neste caso está acima das características construtivas para este tipo de ponta, o que poderá resultar no seu desgaste acelerado e reduzir a vida útil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A melhoria na qualidade das aplicações de agroquímicos é proporcionada não somente pelo emprego das tecnologias, mas também pelo uso do conhecimento técnico na execução das atividades, permitindo que a utilização dos recursos seja realizada de forma consciente, a fim de preservar o meio ambiente, a saúde dos operadores e buscar pela .M maior eficiência no controle do alvo.
Alfran Tellechea Martini e Tiago Rodrigo Francetto, UFSM – Campus de Cachoeira do Sul Marcelo Silveira de Farias, UFSM – Campus de Frederico Westphalen Jacto
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IRRIGAÇÃO Fotos Marcelo A. Pedrozo
Barras de A irrigação O sistema de irrigação autopropelido com barra irrigadora pode ser uma alternativa vantajosa em relação a aspersores de canhão, pois diminui a sobreposição da lâmina d’água e garante maior uniformidade na distribuição 22 30
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irrigação utilizando um sistema autopropelido consiste, basicamente, na aspersão da lâmina de água sobre as plantas ou sobre o solo por meio de um sistema pressurizado composto por tubos e dispositivos mecânicos e hidráulicos. A aspersão da água ocorre por um único aspersor do tipo canhão, que é fixado em uma plataforma móvel. A plataforma é responsável pelo movimento linear na área cultivada, enquanto o canhão pode girar no próprio eixo para aumentar a distribuição de água. O canhão e a plataforma móvel são conectados por um tubo flexível a um sistema de carretel, que é enrolado pela
energia cinética da água. A força da água é responsável pelo acionamento de uma turbina que, durante a operação, recolhe o conjunto canhão e plataforma, fazendo o movimento linear na área a ser irrigada. Este sistema também é conhecido como carretel enrolador. Além da praticidade e da mobilidade, outra vantagem do sistema é a possibilidade de utilização para a fertirrigação com água residuária como vinhaça, dejetos da suinocultura, bem como adubação mineral. O uso do sistema de carretel enrolador também é comum para a irrigação de salvamento durante veranicos, esse período sem chuva e de calor intenso submete as culturas ao déficit hídrico e consequentemente à redução de absorção de água, nutrientes e ao acúmulo de biomassa. Para manter a cultura com ótimo desenvolvimento durante todo o ciclo, esse sistema de irrigação pode ser empregado na lavoura pela fácil mobilidade, toda sua estrutura pode ser transportada para a irrigação de diversas áreas na propriedade, desde que haja disponibilidade de água. Como qualquer outro sistema de irrigação, o carretel enrolador apresenta vantagens e limitações de ordem técnica ou econômica, portanto a escolha deve ser avaliada pelo produtor. De modo geral, o raio de alcance do sistema pode variar entre 52m e 70m, e a uniformidade da distribuição da lâmina vai depender de variáveis como pressão de operação, altura do canhão, velocidade do vento, sobreposição lateral, entre outros fatores. No entanto, algumas limitações operacionais podem ser minimizadas com o desenvolvimento de novas tecnologias para a distribuição da água, como exemplo o desenvolvimento e acoplamento de dispositivos de aspersão mais eficientes, que pode melhorar de forma substancial a uniformidade de aplicação da lâmina de água e fertilizantes, aumento da produtividade, bem como economia de água.
Aplicação da lâmina de água com aspersor do tipo canhão na cultura da soja
CARRETEL ENROLADOR COM BARRA IRRIGADORA
O sistema de irrigação formado por carretel enrolador com barra irrigadora consiste em uma mudança estrutural da plataforma móvel e a substituição do canhão por uma barra com emissores de água distribuídos na sua extensão. Este dispositivo é conhecido como barra irrigadora. Consiste em uma barra linear metálica na forma de treliças, que pode variar entre 50m e 60m de comprimento, tem altura da barra regulável na plataforma móvel e pode irrigar culturas com até 4m de altura. A plataforma móvel deve ser adaptada com o aumento da resistência de suporte, o aumento no número de rodados e um sistema de regulagem de altura da barra conforme o estádio de desenvolvimento ou o tipo de cultura. Essa estrutura permite que a barra seja movimentada lentamente de forma linear na área cultivada, aplicando a lâmina de água necessária para o ótimo desempenho da cultura.
VANTAGENS DA TECNOLOGIA
A barra irrigadora substitui o canhão de aspersão. Nesta mudança a água é distribuída de forma mais uniforme por emissores de água ao longo da barra metálica. Além disso, o sistema de ajuste de altura permite a distribuição da lâmina de água próximo ao solo ou do dossel da cultura. De modo geral, este sistema possui algumas vantagens em relação aos canhões convencionais de distribuição, como veremos a seguir.
MELHOR APROVEITAMENTO DA ÁGUA
Com a barra irrigadora, a água é aplicada próximo à copa das plantas, isso favorece a redução da perda de água por evaporação ou deriva pela ação do vento. No sistema de canhão convencional essa perda pode ser alta, dependendo das condições climáticas, do tamanho de gotas, da pressão de opera-
Plataforma móvel e aspersor do tipo canhão para irrigação de área plantada com cana
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Figura 3 - Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV) para as pontas de vazão “03” dos modelos AIXR, ULD e TTI. As barras de erro sobre as médias representam o Intervalo de Confiança ao nível de 95% de probabilidade (IC 95%). Fonte: AgroEfetiva (Botucatu, SP)
Fotos Marcelo A. Pedrozo
uniformidade de distribuição de água e comprometer a produtividade da área. Deve haver uma sobreposição em função do raio de alcance do aspersor, além disso, como é um sistema que exige alta pressão, pequenas variações podem reduzir sua eficiência. A irrigação com a barra irrigadora traz maior facilidade de manejo. A necessidade hídrica da cultura pode ser atendida de forma mais uniforme, bem como o volume necessário de água de irrigação pode ser regulado alterando a velocidade do equipamento no campo, apresentando-se como alternativa para substituir o canhão para a aspersão da água.
REDUÇÃO DO CUSTO DE OPERAÇÃO
Carretel enrolador equipado com barra irrigadora para aplicação da lâmina de água na cultura da cana
Exemplo de adaptação da barra na plataforma móvel
ção, do raio de alcance e da altura do canhão. Outras vantagens é são melhoria na eficiência de distribuição de água na extensão da barra e redução da necessidade de sobreposição. Portanto, essa tecnologia pode melhorar a eficiência do uso da água de irrigação e aumentar
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a produtividade agrícola.
MAIOR CONTROLE DA IRRIGAÇÃO
No sistema de canhão convencional alguns cuidados merecem atenção. A operação inadequada pode reduzir a
Os emissores de água acoplados na barra irrigadora, em geral, são de pequeno porte e sua pressão de operação pode ser relativamente menor em relação ao aspersor do tipo canhão. A redução da pressão de operação pode ter efeitos positivos na diminuição do custo com energia para operação do sistema. Além disso, a operação com pressões mais baixas apresenta menores riscos de degradação do solo e escoamento superficial. A suplementação de água via irrigação, bem como a aplicação da fertirrigação, tem papel importante no aumento do potencial produtivo das culturas. Sendo assim, o desenvolvimento de novas tecnologias e a melhoria de métodos convencionais têm um papel importante de aumentar a eficiência na aplicação de insumos na lavoura. Portanto, a inovação no campo tem reduzido de forma substancial o custo de aquisição de tecnologias e operação de equipamentos que hoje são essenciais para um .M bom manejo da cultura. Jaqueline Aparecida Batista Soares, Luiz Fernando Gomes, Caroliny Fatima Chaves da Paixão, Marconi Batista Teixeira e Leonardo Nazário Silva dos Santos, IF Goiano
FROTA
Na ponta do lápis O planejamento da mecanização numa propriedade agrícola é essencial para otimizar a frota, garantindo que serão adquiridas e utilizadas as máquinas corretas e nas dimensões adequadas para cada situação
New Holland
O
agronegócio brasileiro é uma das atividades mais importantes do país pela sua representatividade na economia, geração de empregos e na questão social através da produção de alimentos. No entanto, esta importante atividade, exigente em elevados investimentos em diferentes áreas e momentos, está sujeita a inúmeras variáveis que dependem de uma combinação positiva, para que resulte em sucesso. Destas variáveis a maioria delas não pode ser controlada pelo gestor e tem estreita ligação com fatores climáticos. A combinação destes fatores caracteriza esta atividade como de risco, justificando a realização de estudos, principalmente quanto a investimentos, para torná-la sustentável e lucrativa. O fator humano, responsável por gerenciar essa atividade, interpretar o que os números revelam e encontrar soluções apropriadas, para garantir o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, torna-se extremamente importante. O gerenciamento torna-se mais eficiente quando realizado através de um planejamento agropecuário, que consiste em organizar a distribuição de recursos produtivos no tempo e no espaço para racionali-
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zar e simplificar as operações, com base nos recursos disponíveis. Desta forma, é possível contar com este auxílio na programação das atividades, seleção dos meios de produção, antecipação do orçamento dos recursos necessários para a execução das operações, estimativa do provável lucro, necessidade de crédito, além de servir como um roteiro para execução das atividades. Dentre as rubricas que constam em um planejamento agropecuário, o item relacionado às máquinas e aos implementos agrícolas tem considerável contribuição no total dos recursos gastos em um empreendimento rural. Neste sentido, a realização de um planejamento específico para esta área contribui para conhecer melhor os recursos disponíveis, auxilia na tomada de decisão do momento de aquisição e substituição de equipamentos, facilita a interpretação para a harmonização dos conjuntos máquina/implemento, analisa a subutilização de máquinas, além de verificar em um determinado espaço de tempo a disponibilidade de máquinas e equipamentos para realizarem outras atividades, não relacionadas à atividade principal.
tabelecido de sucessão de culturas. A primeira atividade na realização de um planejamento da mecanização agrícola consiste em realizar o inventário das máquinas e dos equipamentos agrícolas, disponíveis na empresa rural, que são utilizados para a realização das atividades. No inventário constam informações como o tipo da máquina, o ano de fabricação, a potência nominal, a largura de trabalho, o valor de aquisição e o valor final, com base na estimativa da sua vida útil, informações fundamentais para a elaboração de tabelas e gráficos que auxiliam no desenvolvimento do planejamento.
Figura 2 - Área trabalhada (ha) com pulverização de herbicidas e fungicidas, semeadura e colheita em cada decêndio de cada mês na propriedade
Figura 3 - Quantidade de pulverizadores, tratores, colhedoras e caminhões utilizados em cada decêndio do ano na propriedade
CUSTOS DE UTILIZAÇÃO
Os custos de utilização das máquinas agrícolas dividem-se basicamente em dois tipos: o custo fixo e o custo variável. O primeiro refere-se a aquisição e propriedade (posse) da máquina e existe mesmo que a máquina não esteja sendo utilizada. Inclui os custos como depreciação do bem, juros e encargos, seguros e espaço físico para o armazenamento da máquina. As despesas com combustível, lubrificantes, pneus, reparos ou substituiPLANEJAMENTO DA MECANIZAÇÃO ção de peças, filtros, graxa, dentre outros custos, que são geraEntre os diversos projetos de Planejamento da Mecanização das pelo uso sistemático da máquina ou implemento, são denoAgrícola desenvolvidos no âmbito do Laboratório de Agrotecnominadas custos variáveis. logia, utilizando o Modelo do Núcleo de Ensaio de Máquinas AgríA soma dos custos fixos e variáveis representa o custo total colas (Nema/UFSM) descrito por Tatsch, M (2015), foi desenvolda máquina ou implemento, e serve como parâmetro para inúvido um projeto de gerenciamento em uma propriedade rural, meras avaliações gerenciais, inclusive para se conhecer a sua resituada na Região Central do Estado do Rio Grande do Sul, com lação benefício-investimento. A descrição dos custos fixos e vaárea de cultivo de 4.215 hectares, manejados em sistema de seriáveis de algumas máquinas e implementos agrícolas da promeadura direta. As culturas utilizadas na propriedade anualmenpriedade estudada (em função do tamanho da tabela) e o total te compreendem soja (verão), trigo (inverno) e aveia branca (inde todas as máquinas, juntamente com a quantidade de horas verno), as quais são implementadas através de um plano preesde trabalho anual desenvolvido pela mesma, no exemplo considerado, encontram-se detalhados nas Tabelas 1 e 2. Figura 1 - Descrição do Processo de Planejamento da Mecanização Agrícola, como explicado por Tatsch, M. (2015) O critério de rateio adotado para quantificar custos das máquinas da propriedade, em cada cultura, foi a utilização do tempo operacional total de cada máquina multiplicado pelo seu percentual de uso em cada cultura (decimal). Para facilitar a interpretação dos resultados, foram acrescentadas outras variáveis como: o custo horário da
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Tabela 1 - Utilização anual (h), custo fixo: depreciação (Depr.), juros, seguros, alojamento (Aloj.) das máquinas e implementos agrícolas da propriedade
Máquina/ Implemento Pulverizador Jd 4730 Pulverizador Jd 4730 Semeadora Ssm 27 Semeadora Mf 515 Trator Mf 7390 Trator Nw 8030 Colhedora Tc 59 Colhedora Case 8230 Aplicad. Lancer 5000 Reboque 15000 Caminhão 24250 Total*
Utilização anual (h) 501 501 540 200 144 540 208 288 344 144 144 13.032
Custo fixo (R$) Depr. 41.250,00 41.250,00 5.000,00 6.000,00 14.625,00 4.875,00
Juros 4.116,77 4.116,77 694,44 2.250,00 5.078,13 451,39
Seguros 1.317,37 1.317,37 222,22 720,00 1.625,00 144,44
78.750,00 1.000,00
13.671,88 218,02
4.375,00 69,77
7.500,00 559.011,68
3.906,25 104.141,45
1.250,00 33.333,60
Aloj. 2.195,61 2.195,61 370,37 1.200,00 2.708,33 240,74 3.846,15 7.291,67 116,28 305,56 2.083,33 73.355,18
Total Fixo (R$) 48.879,74 48.879,74 6.287,04 10.170,00 24.036,46 5.711,57 3.846,15 104.088,54 1.404,07 305,56 14.739,58 769.841,92
* Considerando todas as máquinas e implementos (ocultos na tabela em função do espaço)
Tabela 2 - Utilização anual (h), custo variável: combustível (Comb.), lubrificantes (Lubrif.), pneus, reparos, filtro, graxa das máquinas e implementos agrícolas da propriedade
Custo fixo (R$) Máquina/ Utilização Implemento anual (h) Comb. Lubrif. Pneus Pulverizador Jd 4730 501 68.813,92 10.322,09 2.004,00 Pulverizador Jd 4730 501 68.813,92 10.322,09 2.004,00 Semeadora Ssm 27 540 2.160,00 Semeadora Mf 515 200 800,00 Trator Mf 7390 144 15.338,70 2.300,81 576,00 Trator Nw 8030 540 36.933,98 5.540,10 2.160,00 Colhedora Tc 59 208 27.986,40 4.197,96 832,00 Colhedora Case 8230 288 83.313,36 12.497,00 1.974,86 Aplicad. Lancer 5000 344 1.376,00 Reboque 15000 144 576,00 Caminhão 24250 144 20.182,50 3.027,38 576,00 Total* 13.032 974.108,92 146.116,34 55.697,71
Total Reparos Graxa Filtro 22.962,50 250,50 105.104,50 751,50 22.962,50 250,50 105.104,50 751,50 27.000,00 162,00 29.322,00 12.000,00 60,00 12.860,00 2.340,00 72,00 20.843,51 216,00 2.925,00 270,00 48.639,07 810,00 11.093,33 104,00 44.525,69 312,00 40.320,00 144,00 138.681,22 432,00 2.064,00 103,20 3.543,20 950,40 43,20 1.569,60 2.880,00 43,20 26.925,08 216,00 482.936,74 12.712,50 5.518,20 1.677.090,42
* Considerando todas as máquinas e implementos (ocultos na tabela em função do espaço)
máquina na cultura e o custo por hectare. Representam-se estes custos em sacos do produto e em sacos por hectare. Na Tabela 3 estão representados os custos para a cultura da soja considerando-se o valor do saco da soja de R$ 70,00.
RITMO OPERACIONAL DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Durante o ciclo das culturas agrícolas diversas intervenções são exigidas no seu manejo, sendo normalmente realizadas por máquinas e implementos agrícolas. Dentre as principais atividades que compõem esse processo, destacam-se as pulverizações com aplicação de herbicidas, inseticidas e fungicidas, operações de semeadura para a implantação da cultura, colheita e trans-
porte dos grãos. Para o melhor desempenho de todas as atividades, um planejamento do ritmo operacional se fez necessário para que fosse possível programar as atividades em função do tempo. Neste trabalho, foram distribuídas as máquinas que operam em cada cultura nos decêndios do mês (Figura 2). Um decêndio corresponde a um período de dez dias. Através deste planejamento é possível organizar as operações de manutenção, escalonamento e descanso de operadores. Serve ainda como base para melhorar o aproveitamento das máquinas, pois as mesmas podem estar sendo exigidas de forma demasiada em determinados períodos e em outros sendo subutilizadas. Na Figura 3 são mostrados os tipos e a quan-
tidade de máquinas utilizadas em cada decêndio de cada mês ao longo do ano.
DIMENSIONAMENTO DA POTÊNCIA REQUERIDA PARA A SEMEADURA
O dimensionamento adequado dos conjuntos mecanizados utilizados nas propriedades agrícolas é de extrema importância para manter os conjuntos harmônicos. Isto é, que a potência fornecida pelo trator e a demandada pelo implemento sejam as mais próximas possíveis para prolongar a durabilidade da máquina, diminuir o consumo de combustível e evitar a ociosidade. Na avaliação dos conjuntos de semeadura na condição ideal, no caso estudado, a potência total necessária foi de 1.463cv. De Abril 2020 • www.revistacultivar.com.br
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Tabela 3 - Utilização anual na cultura da soja, participação do total (rateio) e custo de máquinas e implementos agrícolas (custo total, da cultura, por hora, por hectare, em sacas e em sacas por hectare) utilizados na propriedade
Máquina/ Implemento Pulverizador Jd 4730 Pulverizador Jd 4730 Semeadora Ssm 27 Semeadora Mf 515 Trator Mf 7390 Trator Nw 8030 Colhedora Tc 59 Colhedora Case 8230 Aplicad. Lancer 5000 Reboque 15000 Caminhão 24250 Total*
Utilização anual Total (h) Soja (h) 501 400 501 400 540 200 200 200 144 127 540 200 208 208 288 208 344 200 144 127 144 104
Rateio (%) 80% 80% 37% 100% 88% 37% 100% 72% 58% 88% 72%
Custo de máquinas e implementos Total (R$) Soja (R$) R$ hora-1 R$ ha-1 153.984,24 122.941,51 29,17 307,35 153.984,24 122.941,51 29,17 307,35 35.609,04 13.188,53 3,13 65,94 23.030,00 23.030,00 5,46 115,15 44.879,96 39.581,63 9,39 311,67 54.350,65 20.129,87 4,78 100,65 48.371,85 48.371,85 11,48 232,56 242.769,76 175.333,72 41,60 842,95 4.947,27 2.876,32 0,68 14,38 1.875,16 1.653,78 0,39 13,02 41.664,66 30.091,14 7,14 289,34 2.446.932,34 1.654.854,93 218,90 392,61
Sacos Sacos ha-1 1.756 0,42 1.756 0,42 188 0,04 329 0,08 565 0,13 288 0,07 691 0,16 2.505 0,59 41 0,01 24 0,01 430 0,10 23.641 5,61
* Considerando todas as máquinas e implementos (ocultos na tabela em função do espaço)
Tabela 4 - Dimensionamento das fontes de potência (tratores) necessários para o processo de semeadura da cultura da soja
Nº Largura Veloc. Potência Potência Potência Semeadora Linhas (m) Trabalho Requerida Requerida Requerida (km h-1) (N) (kW) (cv) 6 SSM 27 11 5,00 34408 57,30 77,90 6 SSM 27 11 5,00 34408 57,30 77,90 6 SSM 27 11 5,00 34408 57,30 77,90 6 SSM 27 11 5,00 34408 57,30 77,90 6 PRIMA 4590 11 5,00 34408 57,30 77,90 6 MF515 15 6,80 46920 78,20 106,30 6 ESTRELA 26 11,70 81328 135,50 184,20 6 PAR 3600 9 4,10 28152 46,90 63,80 6 PAR 3600 9 4,10 28152 46,90 63,80 TOTAL SALDO -
PBM* PBM* Conjunto Potência Diferença Conjunto Potência (cv) Sugerido (cv) atual (kW) (cv) (cv) 103,79 103,79 103,79 103,79 103,79 141,54 245,33 84,92 84,92 -
141 141 141 141 141 192 334 115 115 1463 -
JD 6165 JD 7505 MF 296 TM 7020 NH 8030 MF 7390 MF 8690 MF 680 MF 650 -
165 145 120 150 122 190 370 173 135 1570 -
24 4 -21 9 -19 -2 36 58 20 + 109
JD 6165 JD 7505 TM 135 TM 7020 MF 650 MF 7390 MF 8690 MF 296 NW 8030 -
173 145 137 150 135 190 370 120 122 1542 -
* PBM = Potência bruta no motor
Tabela 5 – Capacidade requerida em função da área a ser trabalhada para a cultura da soja
Capacidade Requerida para a cultura da Soja
Tipo(1) D Sem/Adub Ad. Cob. D, F, I F F, I F, I Colheita Transporte
Nº 2 1 1 1 1 1 1 1 1
Área de Nº Jorn. Tempo Veloc. Ef. Larg. de (4) (2) Área Trabalho dias Disp. Diária Horária (3) trabalho (ha/dia) (ha/h) (m) 4215 8430 26 10 319 264 32 12 0,6 44,4 4215 4215 26 10 160 0,5 53,2 264 16 6 4215 4215 26 10 160 264 16 10 0,7 22,8 4215 4215 9 468 10 90 47 12 0,6 65,0 4215 4215 9 468 10 90 47 12 0,6 65,0 4215 4215 9 468 10 90 47 12 0,6 65,0 4215 4215 9 468 10 90 47 12 0,6 65,0 4215 4215 26 10 162 0,7 57.9 260 16 4 4215 4215 26 10 260 -
Espaç. (m) 0,50 0,45 25,00 0,50 0,50 0,50 0,50 0,304 -
Órgãos Órgãos Diferença ativos ativos Necessários disponíveis 31 89 120 -4 118 114 0 1 1 -10 130 120 -10 130 120 -10 130 120 -10 130 120 46 190 236 -
(1)D= Dessecação; Sem/Adub= Semeadura e adubação na linha; AD. COB.= Adubação de cobertura; F= Aplicação de Fungicida; I= Aplicação de Inseticida; (2)Jorn. = Jornada de trabalho (h); (3)Veloc. = Velocidade de trabalho (km h-1) (4)Ef= Eficiência operacional
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acordo com os conjuntos atualmente empregados, contabilizando as nove semeadoras em operação, a potência total utilizada é de 1.570cv. A partir desse estudo foram sugeridos novos conjuntos operacionais e de acordo com os tratores disponíveis na propriedade. A sugestão de ajuste permitiu reduzir a potência para 1.542cv e, desta forma, proporcionar maior harmonia entre os respectivos conjuntos (Tabela 4). O saldo de potência ociosa que antes era de 109cv passou para 73cv com a nova conjugação.
CAPACIDADE REQUERIDA OU RITMO OPERACIONAL
É a capacidade de trabalho da máquina requerida para atender à demanda de trabalho, com base em um período de tempo (descontados os dias impróprios para o trabalho) e consideDiferença rando a jornada de trabalho. Dela (cv) parte o método para a estimativa da largura de trabalho neces24 sária para que uma máquina ou 4 conjunto de máquinas atenda o -21 ritmo operacional da proprieda9 de. Na Tabela 5 estão descritas -19 as máquinas selecionadas para -2 atender, da melhor forma, o nú36 mero de conjuntos operacionais 58 necessários nas diversas opera20 ções da propriedade. De acordo com os dados obtidos e demonstrados nesta tabe+ 109 la, pode-se constatar que a propriedade trabalha no limite de
sua capacidade requerida das máquinas para o manejo fitossanitário (pulverização) na cultura da soja. No caso de aplicação de fungicidas na soja, o aumento da eficiência operacional no trabalho realizado pela máquina é necessário. Isso significa que a propriedade precisa buscar a redução das perdas de tempo que ocorrem durante as aplicações, como por exemplo, dos deslocamentos desnecessários das máquinas, reabastecimentos, entre outros. Neste sentido, a melhoria da eficiência pode ser alcançada pelo reabastecimento programado e organizado, utilizando caldas pré-misturadas transportadas até o local de aplicação, planejamento do tráfego da máquina através de uma organização antecipada, objetivando reduzir tempo e número de manobras e arremates. Realizar a manutenção preventiva da máquina buscando evitar a corretiva, ampliar a jornada de trabalho com a possibilidade de operação no período noturno, onde se encontram condições favoráveis para aplicações com pulverizadores de barras. Por outro lado, cabe salientar que em caso de uma epidemia severa de ferrugem-asiática na soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Syd., as perdas decorrentes da limitação da capacidade podem compensar a aquisição de mais máquinas. Dependendo do tipo e das características da máquina, além de aumentar a eficiência operacional existe a possibi-
Máquina selecionada JD 4730; JD 4730 SSM 27; SSM 27;SSM 27; SSM 27; PRIMA 4590; MF 515; ESTRELA; PAR 3600; PAR 3600 Lancer 5000 JD 4730 + JD 4730 JD 4730 + JD 4730 JD 4730 + JD 4730 JD 4730 + JD 4730 CASE 2399; CASE 8120; CASE 8230; MF 34; MF 9790; CS 660; NH 8055; TC 59 -
lidade do aumento da velocidade de trabalho. No entanto, essa característica depende muito da operação agrícola que está sendo executada, pois na semeadura, por exemplo, a elevação da velocidade de trabalho resulta em perdas da qualidade de semeadura. Para a pulverização, o aumento da velocidade requer a substituição das pontas do pulverizador, o ajuste da pressão e o volume de aplicação para manter o tamanho de gotas e a qualidade de aplicação. Destaca-se que em alguns pulverizadores essas configurações já são realizadas automaticamente conforme o aumento da velocidade de trabalho. Este trabalho demonstra, também, que pode existir ociosidade de máquinas na propriedade rural. A Tabela 5 revela que para a operação de colheita existe uma sobra de, aproximadamente, 14 metros de largura corte (46 pés). Como recomendação o estudo possibilitou sugerir ao produtor que se desfaça de duas ou três colhedoras, sem comprometer o calendário de colheita, reduzindo, por outro lado, os custos da mecanização agrícola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto neste artigo, o planejamento da mecanização agrícola pode auxiliar o produtor rural em diversas tomadas de decisões importantes para o aumento da rentabilidade da sua lavoura. Permite sugerir, com base em informações práticas, a aquisição ou a venda de determinada máquina ou implemento agrícola. Torna possível analisar a opção de terceirização de serviços em períodos de ociosidade de máquinas e mão de obra ou mesmo organizar e programar as manutenções das máquinas e a organização das férias dos trabalhadores. Enfim, planejar a mecanização agrícola auxilia na otimização do uso das máquinas de forma a torná-las mais eficientes e .M sustentáveis. Gilvan Moisés Bertollo UTFPR – Campus Santa Helena Geomar Mateus Corassa CCGL José Fernando Schlosser Valmir Werner UFSM
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MECANIZAÇÃO
Desafios da produtiv Em lavouras que recebem máquinas cada vez maiores, mais tráfego de tratores, pulverizadores, caminhões e colheitadeiras a cada safra, um dos desafios é utilizar ferramentas, como a Agricultura de Precisão, para gerar diagnósticos que auxiliem na adoção de práticas que minimizem a compactação do solo e tornem a relação de custo/benefício mais vantajosa
P
Fotos Mateus Tonini Eitelwein
ara controlar e propor correções de causas que podem estar interferindo, por exemplo, na produtividade das culturas de grãos, devemos estabelecer um diagnóstico de todo o processo produtivo, seja do solo, do clima, da área abrangida, do tipo de cultura e dos componentes de manejo, como forma de mecanização, cultivares, adubação e controle de pragas e de doenças.
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Um dos problemas mais comentados na literatura agronômica, bem como tem sido tema recorrente em dias de campo, palestras e cursos, é o processo de compactação nas áreas sob plantio direto no Brasil. Mas aí começam as dúvidas para o completo entendimento do problema da compactação. Quando se trata de plantio direto, de que estamos falan-
do? Alguns mais técnicos dirão que o correto seria semeadura direta, pois para colher grãos, são semeadas sementes diretamente no solo sem preparo prévio, a não ser uma mínima mobilização na linha de semeadura. E não seria plantio direto, pois tecnicamente envolve colocar partes vivas de plantas no solo, como o plantio de manivas de mandioca, de tubérculos de batata ou de toletes de cana-de-açúcar. Também não seria denominado de transplantio direto, pois esse manejo envolve transplantar diretamente mudas ao solo, como, por exemplo, as de frutíferas ou de eucaliptos. Outros dirão que o processo popularmente consagrado como plantio direto (PD) é mais amplo do que simplesmente colocar as sementes na linha de semeadura com mínimo preparo, tomando outras denominações como plantio direto na palha, sistema de plantio direto na palha
vidade (SPDP), entre outros. Outra dúvida se refere à área de grãos cultivada sob PD ou SPDP no Brasil. Segundo dados oficiais, a área de grãos semeada utilizando essa forma de manejo teve aumento gradativo e rápido até o ano 2010, chegando ao patamar de 36 milhões de hectares. A partir de 2010, a área estabilizou e, segundo analistas de mercado, reduziu nos últimos anos. Isso tem sido explicado por diversas razões, desde aumento do estado de compactação do solo, uso de algum preparo para minimizar efeito de invasoras resistentes a herbicidas ou manejo de palhadas, bem como promover incorporação de insumos a maior profundidade no solo. Além de não se saber qual a área total atual nem qual o percentual que usa efetivamente o conceito de SPDP, com rotação de culturas, aporte que uma quanti-
O cultivo de grãos integrado com pecuária significa um desafio maior para que o sistema de plantio direto seja eficiente
dade substancial de massa vegetal (resíduos da parte aérea e de raízes) e preparo localizado realizado pelos órgãos ativos da semeadora somente no sulco de semeadura, não há informações reais do total de área sob PD em que é semeada somente uma cultura, duas ou até mais no ano agrícola. Igualmente não se sabe ao certo qual percentual de terras sob
Tráfego (descontrolado) de máquinas em área de lavoura produtora de grãos no RS sob PD
PD em que se emprega integração com pecuária, por exemplo. Outro fator, tido como importante no processo de compactação do solo em PD, além do já citado acima (integração da lavoura de grãos com pecuária), é a mecanização empregada para os cultivos no período em que as áreas foram manejadas com esse sistema. Esse tempo de emprego do sistema também é muito variável, desde poucos anos até mais de 35 anos consecutivos. Ao longo desse período de utilização sob PD, os tratores e as demais máquinas também variaram muito, em especial a potência, o peso e o tipo de pneus dos tratores; tipo (montados, arrasto e autopropelidos) e peso dos pulverizadores e distribuidores a lanço e tamanho (número de linhas e peso total) e
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tipo de órgãos sulcadores das semeadoras-adubadoras. Outra máquina que mudou drasticamente seu conceito, peso e largura de colheita é a colhedora autopropelida de grãos. A combinação de todas essas variáveis ao tipo (classes) de solo, ao teor de água do solo no momento em que as máquinas e ou animais atuaram sobre (patas e pneus de tratores e de autopropelidos) e dentro (sulcadores da semeadora) do solo, pode causar influências diversas no processo de compactação do solo em áreas sob PD. Todos esses fatores têm sido pouco considerados nos estudos para um correto diagnóstico e estabelecimento de propostas para mitigação do processo de compactação do solo. Em geral, os estudos são pontuais e não buscam entender o porquê do processo, mas sim somente seus efeitos (só olhar as teses, dissertações e artigos científicos). Nem sempre se tem ou se procura saber do histórico da respectiva área para que se possa ter uma análise mais profunda do que efetivamente ocorreu ao longo do tempo. Outra situação, mais recentemente adotada em muitos estudos, é estabelecer tráfego (patas ou pneus) intensivo, com diferentes cargas e aplicadas no mesmo dia em parcelas de campo. A partir daí são obtidos dados relativos à compactação induzida ao solo, como resistência mecânica à penetração de uma haste metálica no solo, fluxos (água e ar), densidade e porosidade, capacidade de suporte e resistência do solo a cargas aplicadas, crescimento e expansão do sistema radicular, componentes de rendimento e produção de grãos dos cultivos, entre outras medidas. Essa forma rápida de obtenção de resposta ao problema compactação do solo tem fundamentação teórica? Primeiro há que se considerar que o sistema PD, por si e ao longo do tempo, vai aumentando sua variabilidade, em relação
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ao preparo convencional do solo, por diversos motivos: a) pela ausência de revolvimento uniforme em toda uma camada de solo, já não ocorre mistura de camadas, não há homogeneização de nutrientes e corretivos aplicados e há incorporação de material orgânico das camadas mais superficiais para as mais profundas; b) os pneus (e patas) ainda, na maioria das lavouras, não passam sempre nos mesmos locais da lavoura (tráfego controlado) e, assim, podem provocar mudanças estruturais no solo devido a este não suportar a carga imposta; c) a ausência de preparo em toda uma camada de solo permite que os sistemas radiculares das culturas e a fauna do solo interfiram na sua porosidade e aporte de material orgânico; d) a permanência por longo tempo nesta forma de manejo pode aumentar a resiliência do solo a cargas impostas por pneus e patas, pode interferir nos fluxos de água e ar e, consequentemente nos processos de emergência, desenvolvimento e produtividade das culturas produtoras de grãos e e) de que classe de solo estamos falando, ou seja, qual a base em que estão sendo implantados a cultura e os manejos. Desta forma, forçar diferentes estados de compactação do solo por cargas diferenciadas em um só momento e daí tirar conclusões possuem validade limitada somente para o período imediatamente subsequente e curto, pois a resiliência e o processo de umedecimento e secagem do solo podem anular estes resultados em maior ou menor período de tempo sob PD. Além da variabilidade intrínseca ocorrente no solo sob PD, devido aos processos já mencionados, deve ser levada em conta também a variabilidade imposta pelos sistemas mecanizados que operam e distribuem insumos nas lavouras que empregam este sistema de manejo. Nos países mais desenvolvidos e que têm especial preocupação com a contaminação das águas (superficiais e subterrâneas) devido à disposição de insumos que possuem nitrogênio na sua composição (adubos formulados e adubação orgânica), é estabelecido que estes sejam aplicados respeitando um coeficiente de variação ao redor de 14%. No Brasil, em função da baixa qualidade da maioria dos distribuidores a lanço, falta de calibração adequada da largura útil de trabalho e também pela maior área das lavouras sob PD, muito dificilmente esse valor de CV de 14% é respeitado ou então conhecido por quem possui e opera esses equipamentos. Não raras são as aplicações efetuadas com CV de mais de 25%. Isto, na prática, significa dizer que se foi planejado aplicar 300kg/ ha de determinado insumo a lanço, com CV de 25%, haverá locais da lavoura que receberam 75kg a mais ou a menos do que os 300kg/ha, ou seja, poderá haver variação de dosagem entre 225kg/ha e 375kg/ha. Da mesma forma, a legislação brasileira permite que o espaçamento entre plantas na linha de semeadura seja até 50% maior ou menor do que o ideal. Isso, na prática se obtém dividindo o número de plantas por hectare pelo número de metros de linha de semeadura por hectare. Considerando que o resultado desse cálculo de espaçamento ideal entre duas plantas na linha fosse de 0,5m, caso estas tivessem distanciamento entre
Fotos Renato Levien e Michael Mazurana
26cm e 74cm entre elas, a semeadura estaria adequada pela norma atual. Entretanto, temos especialistas falando em plantabilidade, aceitando e recomendando tecnicamente isso. Até quando? Outra máquina muito utilizada no PD, a exemplo de distribuidores a lanço e semeadoras, são os pulverizadores (distribuidores de líquidos, de gotas). Da mesma forma como ilustrado para distribuidores de sólidos, também há, nas melhores condições de dosagem e de aplicação, um CV de 15% dentro de cada leque das pontas. Em algumas situações, vários pesquisadores constataram variações muito maiores, devido fundamentalmente à falta de troca das pontas de pulverização. Considerando um CV de 20% e que o pulverizador foi calibrado para aplicação de 4L/ha de um determinado produto comercial, haverá locais na largura coberta por bico (em geral de 50cm) que será aplicada a dosagem entre 3,2L/ha e 4,4L/ha. A pergunta que fica é: biologicamente, mesmo no sistema de PD isto não causa variabilidade adicional? Outra pergunta que fazemos é em relação à comparação estatística das médias dos parâmetros obtidos nas pesquisas conduzidas em áreas cultivadas sob PD. Qual deve ser o rigor para comparar as médias de tratamentos, considerando as variabilidades citadas até aqui? Com um CV de 15%, dado
Distribuição de sementes com espaçamento regular (esquerda) e com espaçamentos duplos e falhos (direita), entretanto com mesma população de plantas por área
pelas condições de realização do ensaio (desconsiderando a variabilidade natural dos outros fatores) se um teste estatístico mais restritivo que isso encontrar diferenças é bem provável que haja problemas, ou não? Mais recentemente as máquinas vêm sendo comercializadas equipadas com ferramentas para promover Agricultura de Precisão (AP), gerando um novo conceito muito comentado atualmente e referido como Agricultura 4.0. No entanto, como referido acima, mesmo nas melhores condições de regulagem e aplicação (o que sabemos que isso não ocorre), a “precisão” deve ser sempre relativizada em função de todas as variáveis de solo, clima, mecanização e resiliência que ocorrem nas lavouras semeadas sob PD.
É dito que com auxílio da AP pode-se atingir o máximo de uniformidade de produtividade entre glebas (que as vezes podem ser 400 ou mais hectares), o que muitas vezes se obtém graças à aplicação de mais insumos. Pelos dados publicados por diferentes órgãos, verifica-se que nos últimos 20 anos em geral triplicou-se (em volume e ou em valor, dependendo do insumo) a utilização de fertilizantes, agroquímicos, defensivos, mecanização, mão de obra, valor da terra e genética das culturas, sem, no entanto, refletir em triplicação ou duplicação da produtividade das culturas. De que modo essa diferença é absorvida pelos agricultores? Quem vem adotando o PD há muitos anos tem uma realidade diferente do citado? A relação benefício/custo não está aumentando nos últimos anos no Brasil, em
Renato Levien e Michael Mazurana
Visão do que se entende, no campo, como plantio direto, área em semeadura direta com baixa cobertura de solo
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energia gerado pelos produtos produzidos (grãos), em relação às unidades de energia investidas para a sua produção. Essa redução tem sido verificada especialmente em anos com deficiência hídrica (que não é estiagem), lavouras mal manejadas, com invasoras resistentes, solo com alto estado de compactação e uso intensivo e/ou sem critérios técnicos de sistemas de irrigação de baixa eficiência, como a de aspersão. Assim, considerando os pontos mencionados, como e quando o agricultor poderá contar com uma ferramenta capaz de diagnosticar claramente os efeitos da compactação do solo sobre o desenvolvimento das principais culturas produtoras de grãos, manejadas sob PD ou SPDP, considerando todas as variabi-
Stara
especial pela estabilização da produtividade e do preço pago para os grãos das principais culturas (soja, milho, feijão, trigo, arroz) e pelos crescentes aumentos dos preços dos insumos, especialmente óleo diesel, fertilizantes, agroquímicos, defensivos, tratores e implementos e sementes. Assim, já tem sido comentado por muitos produtores e também recentemente em simpósios e mesmo dentro das universidades e centros de pesquisa que, para a sustentabilidade do produtor, a meta não deve ser “produzir cada vez mais”. Parece ser consenso que se deva produzir mais, sim, mas produzir em cada gleba da lavoura aquilo que lhe gera um retorno financeiro líquido justo com o menor risco possível. Neste aspecto, as ferramentas difundidas pela AP podem auxiliar em muito a tomada de decisão por parte dos produtores e ou técnicos. Cultivar o quê? Quando? Como? Onde? Com quê? Qual risco? Isso também deve ser válido para quem emprega o sistema PD, especialmente a última pergunta “qual o risco?” que deveria ser a primeira a ser feita. Também, na contramão para uma agricultura mais sustentável, muitos trabalhos têm mostrado que a relação entrada/saída de energia tem se estabilizado e, na maior parte dos casos, reduzido com o passar dos anos, mesmo em sistema PD. Significa que há estabilização e até redução do número de unidades de
lidades comentadas? Entendemos que devemos seguir o exemplo adotado há muitos anos pela especialidade “fertilidade do solo”, embora esta hoje também esteja sob forte questionamento, em especial pelos usuários do SPDP. Entendemos que a formação de uma rede de pesquisa, que gere resultados de parâmetros relacionados a solos (classe, mineralogia), física e biologia do solo, biofísica, mecanização, fitotecnia, produção animal, manejo do solo e agricultura de precisão e com pessoal especializado para integrar estes conhecimentos obtidos em diferentes locais, possa se chegar ao entendimento do processo de compactação do solo no sistema PD. Mesmo com uma enormidade de estudos pontuais e sem considerar todas as variáveis e variabilidades inerentes ao sistema, não se avançou muito nos últimos anos em diagnóstico e recomendações econômica, ambiental e energeticamente sustentáveis para prevenir e/ou atenuar o processo de compactação dos solos em PD. Dados ajudam a criar cenários. Mas com conhecimento de como ele foi obtido, suas variações, o histórico que o cerca e, principalmente, qual é o grau de instrução do material humano na outra ponta, o produtor, poderemos fazer uma agricultura .M convergente. Renato Levien e Michael Mazurana, UFRGS