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Cultivar
Cultivar Máquinas • Edição Nº 207 • Ano XVIII - Junho 2020 • ISSN - 1676-0158
Índice
Destaques
04 Rodando por aí 06 Mundo Máquinas 10 Tratores
Manutenções para deixar o seu trator sempre pronto para o trabalho
14 Combustíveis
Quais serão os combustíveis para as máquinas do futuro
19 Semeadoras
Vantagens do sistema de Plantio Direto na preservação do solo
22 Capa
Test drive com tratores LS Tractor para cultivo de hortaliças e frutas
30 Pulverizadores
Demandas normativas para pulverização terrestre
33 Pulverizadores
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Influência do pH da água na qualidade da aplicação
Avaliação dos sistemas de limpeza em colhedora de café
Charles Echer
Nossa capa
36 Colhedoras
40 Pulverizadores Vantagens da redução de volume nas aplicações
44 Combustível
Influência da temperatura do combustível no consumo efetivo
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• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca • Revisão Aline Partzsch de Almeida • Design Gráfico Cristiano Ceia
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Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00
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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contatos@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
RODANDO POR AÍ Sessenta tratores
A Valtra realizou uma venda expressiva na região de Vacaria (RS), por meio da concessionária Razera: foram 60 tratores modelo A73F para um único cliente, reconhecido por ser um grande player no mercado fruteiro internacional. Além dos tratores, o negócio envolveu quatro pulverizadores Valtra BS3335H. “Em qualquer tempo seria importante fechar um negócio desta magnitude, mas em um momento como este, em que a maioria dos setores da economia nacional está parada, isso se torna ainda mais relevante. Mostra que a agricultura do País não parou, nem pode parar”, analisou o coordenador comercial de contas-chave da AGCO, detentora da marca Valtra, Reginaldo Munhoz.
Reginaldo Munhoz
Um ano de Brasil
A Fendt, que chegou ao País em 2019 com um portfólio de máquinas e soluções para a agricultura de larga escala, comemora um ano de trabalho e tecnologia em solo brasileiro. A partir de Sorriso, no Mato Grosso, as operações da Fendt se difundiram pelo País. “Foram traçadas metas importantes para o primeiro ano da marca no País. Hoje, completado este primeiro ano, superamos todas elas, sobretudo a mais importante – a conquista da confiança do agricultor profissional brasileiro. Trouxemos os tratores mais potentes e confiáveis do nosso portfólio, da série Fendt 1000 Vario, até então inédita na América do Sul e que vem encantando os agricultores brasileiros”, comemorou o diretor da Fendt América do Sul, José Galli.
José Galli
Agricultura de Precisão
A Trimble promoveu em junho o workshop “Conceitos básicos de Agricultura de Precisão”. Segundo a supervisora de Marketing e Vendas da Trimble Agricultura no Brasil, Lígia Amaral, a ideia foi oferecer conteúdo educacional de qualidade e gratuito, ajudando na capacitação do agricultor e de todas as pessoas envolvidas na produção. “A Trimble é referência mundial em agricultura de precisão e poder compartilhar conhecimento com quem está na linha de frente do agro é muito importante. Essas informações podem impactar no crescimento dos negócios e na melhoria de processos da operação. Estamos muito empolgados com essa iniciativa e já pensando em outras edições”, disse a supervisora.
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Ligia Peccin
Lígia Amaral
Sementes e fertilizantes
A nova versão da plantadeira dobrável Massey Ferguson Momentum conta agora com a entrega de fertilizantes em cada linha de plantio. “Esta nova versão da plantadeira tem como objetivo aliar alta qualidade, versatilidade e agilidade para o agricultor aproveitar ao máximo sua janela de plantio”, declarou o gerente de Produto e Marketing Estratégico para Crop Care da AGCO América do Sul, Fabrício Müller. O equipamento chega nas versões 24 e 30 linhas de 45cm (10,8m e 13,5m de largura de trabalho, respectivamente). A máquina continua com duas caixas para sementes com total para 5.130 litros, ganhando uma terceira caixa em inox, à frente, onde o fertilizante pode ser armazenado, com capacidade para 3.600 litros de adubo.
Celebração
A AGCO América do Sul realizou o 21º Encontro de Fornecedores AGCO. O evento, que este ano foi realizado on-line, ocorreu em junho e contou com a participação de Eric Hansotia, chief operating officer, Josip Tomasevic, chief product officer, Luis Felli, presidente da AGCO América do Sul, Carlo Martorano, diretor de Compras da AGCO América do Sul, e também os 275 principais fornecedores parceiros da companhia. Ao todo, nove empresas do Brasil e da Argentina receberam o grau de excelência nas ca-
Fabrício Müller
tegorias Pós-Venda, Inovação, Qualidade e Entregas, Serviços Logísticos, Materiais Indiretos, Fornecedor TOP Argentina, Parceria e Fornecedor do Ano de 2019. E pela primeira vez a AGCO incluiu a categoria Reconhecimento Especial – Diversidade e Inclusão. “Esta premiação acontece há 21 anos e para nós é uma grande satisfação reconhecer os melhores fornecedores anualmente”, celebrou Felli. Aponte a câmera do seu celular para o QRCode e confira os premiados.
Transformação digital
A John Deere lançou seu primeiro hub digital, que combina o virtual com o real, onde o cliente interage com todo o ecossistema e tem acesso às melhores condições de compras e conversa com seu concessionário direto de seu computador ou celular. Para o presidente da John Deere Brasil, Paulo Herrmann, os setores agrícola e de construção estão cada vez mais aderentes às novas tecnologias. "O produtor já está preparado para a inovação. Por isso, no hub mantemos nossa fortaleza: o relacionamento de confiança com os agricultores e construtores", avaliou. O ambiente digital apresentará tendências, máquinas e serviços e terá palestras de especialistas e conteúdos em vídeo. O John Deere Conecta poderá ser acessado pela internet e pelo aplicativo exclusivo.
Paulo Herrmann
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MUNDO MÁQUINAS
Nova linha de plantadeiras e novo pulverizador
A Case IH continua com seu plano de lançamentos para 2020 apresentando as plantadeiras Fast Riser. Dobrável, a Fast Riser 6100 está disponível em versões de 48 a 61 linhas e oferece emergência das plantas uniforme, devido ao sistema de distribuição de peso nas asas. A região central das plantadeiras dobráveis concentra cerca de 70% do peso. Ciente disso, o sistema hidráulico de distribuição de peso automático garante que todas as linhas da plantadeira tenham o mesmo peso de contato com o solo. A máquina também não apresenta pontos de lubrificação na linha de plantio, e tem apenas sete distribuídos ao longo do chassi – característica que diminui o tempo de manutenção. A caixa de sementes do novo equipamento
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tem capacidade para quatro mil quilos. Outra novidade da Case IH é o pulverizador Patriot 350. O vão livre de 1,73m é um dos principais destaques da máquina, característica que permite uma amplitude da altura de barra de 0,55m a 2,5m, ideal para milho e cana. O Patriot 350 oferece três opções de tamanho de barras: 27m (54 bicos), 30m (60 bicos) e 36m (72 bicos), além de espaçamento entre bicos de 50,8cm. O posicionamento do tanque de produto no centro do equipamento oferece melhor distribuição de peso. O pulverizador tem suspensão hidráulica ativa, aumentando a capacidade de tração em arrancadas e estabilidade e conforto durante o trabalho.
Novas Draper DynaFlex 9300 A Massey Ferguson lança a nova geração de plataformas Draper DynaFlex 9300 para colheitadeiras. Os produtos chegam nas dimensões Draper 25” (7,6m), Draper 30” (9,10m), Draper 35” (10,6m), Draper 40” (12,2m) e Draper 45” (13,7m). O lançamento é ideal para os médios e grandes produtores rurais de todo o Brasil e América do Sul. As plataformas podem ser acopladas às colheitadeiras axiais da marca e à híbrida MF 6690 (265cv). A série de plataformas DynaFlex 9300 apresenta uma capacidade superior de corte do produto e alta copiagem do solo. Com flexibilidade no trabalho, o novo equipamento oferece redução de perdas no processo de recolhimento em até 40% no processo de corte e de até 10% em grãos de inserção baixa.
Nova versão Plantadora Momentum
Projetada e fabricada no Brasil, a nova versão da plantadora dobrável Momentum, da Valtra, conta com caixa de fertilizantes e está disponível no mercado com opções de 24 e 30 linhas de plantio (10,8m e 13,5m de largura de trabalho, respectivamente). “Por ser dobrável, uma das características do projeto da Momentum sempre foi a versatilidade, para a otimização do tempo de trabalho na lavoura e o melhor aproveita-
mento da janela de plantio. Esse potencial é ainda maior na Momentum Sementes & Fertilizantes”, comentou o diretor de Vendas da Valtra, Alexandre Vinícius Assis. Com a mesma capacidade de 5.130 litros para sementes, distribuídos em duas caixas de armazenagem, a nova versão da Momentum recebe uma terceira caixa para fertilizantes. Com 3.600 litros de capacidade, a caixa é fei-
ta de inox, com construção robusta, para garantir durabilidade e segurança ao agricultor. A exemplo da tecnologia aplicada à distribuição de sementes, a distribuição de fertilizantes é feita pelo dosador composto por um duplo rotor para cada linha, com acionamento hidráulico para dosagem da taxa de fertilizantes. Por meio de um sistema pneumático, o fertilizante é conduzido para cada linha de plantio.
Lançamentos New Holland A plantadeira PL7000 e o pulverizador Defensor 3500 HC são as novidades da New Holland Agriculture para 2020. A nova linha PL7000 é voltada à agricultura em médias e grandes áreas - ela possui 27,5m de largura e em dez horas chegou a semear 220ha. Os modelos PL7061, com 61 linhas de 45cm, e PL7048, com 48 linhas de 45cm, recebem eixos dobráveis, facilitando o transporte na propriedade. Com distribuidor, condutor curvo e rodas limitadoras que trabalham junto aos discos duplos, a PL7000 oferece uniformidade nos espaçamentos entre sementes e profundidade de plantio. É indicada para soja, milho, algodão e feijão. Já o pulverizador Defensor 3500 HC (High Clearance) conta com 250cv de potência e um vão livre de 1,73m. O pulverizador possui versões com barras de 30m e 36m, com nove seções. A barra possui sistema autocenter para o melhor alinhamento durante a operação, e corte de seção automático, que evita sobreposição de produto, além de modo automatizado de abertura dos braços.
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Stara atualiza o Hércules 6.O
Mahindra tem trator sob medida para a orizicultura Desenvolvido no Brasil, o trator 8000S da Mahindra atende às necessidades de trabalho de produtores de arroz e pecuaristas devido às suas características técnicas. O modelo é equipado com motor agrícola de 80cv, transmissão mecânica com reversor sincronizado de 12 marchas à frente e 12 marchas para trás, sistema hidráulico de três pontos com capacidade de levante de 2.500kg (std) ou 3.700kg (opcional) e vazão para o controle remoto de 42 litros/minuto (std) ou 62 litros/minuto (opcional). O trator também pode ser cabinado - o design com contornos arredondados entrega maior visibilidade, e o acabamento
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interno agrega conforto durante longas jornadas de trabalho. O modelo se enquadra na linha de financiamento do Pronaf. “As taxas de juros caíram, estão de 2,75% a 4% ao ano, dependendo do tipo de projeto apresentado, a carência é de dois anos e o prazo de pagamento é de até dez anos. Existe uma demanda reprimida, desde janeiro, que será atendida principalmente no período de julho a novembro/2020. É hora do agricultor analisar, comparar e avaliar o que precisa para produzir mais e melhor”, salientou o especialista de Marketing de Produto da Mahindra Brasil, Gilberto Dutra.
Um dos carros-chefes da Stara, o autopropelido Hérculos 6.0 chega ao mercado com atualizações. Uma das novidades é que agora a máquina sai de fábrica pronta para a instalação do sistema Syncro. Através deste sistema, até quatro Hércules 6.0 podem trabalhar sincronizados no mesmo talhão, comunicando-se entre si via rádio, para evitar sobreposição. O novo Hércules 6.0 possui piloto automático TD3, que proporciona melhor capacidade de copiagem da linha, entrada na linha mais suave, melhor desempenho na passagem sobre curvas de nível e maior processamento de dados. A cabine também passou por mudanças e agora conta com uma porta do lado direito para acesso aos chicotes, caixa de fusíveis e manutenção da parte eletrônica da máquina, facilitando o acesso a esses componentes. O equipamento possui capacidade de carga de seis mil quilos e um coeficiente de variação abaixo de 12%.
Grupo SLC completa 75 anos O Grupo SLC completa 75 anos e chega a 2020 investindo em inovação, tecnologia e conectividade. Fundado em 1945, congrega duas empresas – a SLC Agrícola e a SLC Máquinas, que é o concessionário John Deere com 18 unidades, abrangendo 213 municípios no Rio Grande do Sul. O Grupo SLC tem cerca de quatro mil colaboradores e faturamento anual que já supera R$ 3 bilhões. “Neste marco de 75 anos, alguns dos nossos focos são os investimentos em inovação, tecnologia e conectividade no Brasil”, comentou o presidente do Grupo SLC, Eduardo Logemann. “Muitas transformações aconteceram em nossos negócios. A forma dinâmica como alocamos nossos investimentos, a disciplina em fusões e aquisições, o
controle obstinado dos custos e a busca permanente por aumento de produtividade são fatores importantes para o nosso sucesso até aqui”, avaliou o vice-presidente do Grupo SLC, Jorge Luiz Logemann. Segundo Eduardo Logemann, o futuro da agricultura brasileira é extremamente promissor. “O que podemos pensar sobre o futuro? Só temos perspectivas positivas. A agricultura brasileira continuará batendo recordes de produtividade. Nós estaremos ao lado do produtor, oferecendo soluções para que ele obtenha o máximo potencial produtivo, desenvolvendo novas variedades de grãos e aumentando a conectividade em nossas fazendas para que a comunidade local se desenvolva”, finalizou.
ConectarAGRO se torna uma associação Com o objetivo de promover conectividade nas áreas rurais, o ConectarAGRO se oficializa como uma associação civil sem fins lucrativos. A partir de julho, novas empresas podem se associar. A decisão faz parte da estratégia das oito empresas fundadoras - AGCO, Climate FieldView, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, TIM e Trimble, com o intuito de permitir a entrada de novos participantes e ter uma formação que fortaleça iniciativas relativas à conectividade. Desde o seu lançamento, na Agrishow de 2019, até dezembro do ano passado, o ConectarAGRO promoveu conectividade via banda larga 4G de 700 MHz para mais de 5,1 milhões de hectares de áreas rurais. Até o momento, mais de 575 mil pessoas em áreas rurais, 218 cidades e oito estados diferentes se beneficiaram pelo projeto, assim como mais de 24 mil quilômetros de estradas e rodovias.
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TRATORES
Sempre disponíveis Cuidados básicos e manutenção bem realizada ajudam a manter máquinas e tratores agrícolas em condições ideais de trabalho, e muitas vezes em estado de novo, mesmo com muitas horas trabalhadas
O
trator agrícola, numa propriedade rural, é a máquina responsável por tracionar, transportar e fornecer potência a outras máquinas e implementos. Por isso devemos direcionar um tempo para realizarmos a sua manutenção. O período da entressafra, ou pós-colheita, é o momento adequado para dedicar tempo e cuidados ao trator, máquina que realiza grande parte do trabalho nas propriedades rurais no dia a dia. A vida útil de uma máquina pode ser alterada significativamente pelo tipo de manutenção que lhe é fornecida ou pelo modo com que a mesma é realizada, exigindo conhecimento teórico/prático dos operadores para que consigam extrair o máximo de desempenho do trator. A correta manutenção e o cuidado com o trator minimizam os
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efeitos desagradáveis de quebra e o atraso nas operações diárias da propriedade rural e ainda evitam que o produtor tenha custos mais altos com o reparo destas máquinas. Por mais que os operadores de tratores estejam muito bem preparados, a nova geração de tratores que vem carregada de alta tecnologia, exige cuidados específicos até então desconhecidos por quem já estava habituado a trabalhar com tratores há muitos anos. Com relação à manutenção, podem ser encontradas divisões conforme o método de ação, deste modo, existem manutenções preventivas e corretivas. A manutenção preventiva é uma das mais recomendadas devido a corrigir problemas e falhas antes mesmo de isso acontecer, evitando a quebra ou o desgaste de componentes em série, bem como aumentan-
do a disponibilidade da máquina para uso diário. Já a manutenção corretiva é utilizada somente quando a máquina apresenta quebras ou falhas, essa ação normalmente não apresenta planejamento prévio, ocasionando a perda de eficiência da atividade diária, de modo que a máquina poderá permanecer parada devido ao risco de indisponibilidade de peças e profissional técnico habilitado para a realização do conserto. Dentre as atividades realizadas dentro destas duas modalidades, encontram-se lubrificações, troca e/ou adição de fluidos, ajuste de possíveis folgas, substituição de peças desgastadas ou danificadas, proteção e prevenção contra agentes nocivos que poderão ocasionar rupturas ou desgastes de componentes. Como qualquer equipamento mecânico, em algum momento o trator exigirá um
Fotos Dauto Carpes
Pequenas intervenções diárias podem detectar possíveis avarias
Manutenção correta evita paradas desnecessárias e prolonga a vida útil do trator
conserto ou uma troca de peças, cuja ação demandará um profissional especializado. Mas estas ocasiões de manutenção corretiva podem ser drasticamente reduzidas com o hábito de fazer o básico bem feito, o que chamamos de práticas de manutenção preventiva. Estes cuidados implementados pelo proprietário do trator ou pelo operador muitas vezes não implicam custos adicionais, muito pelo contrário, são rotinas compostas de cuidados simples que de uma certa maneira podem ser comparadas às dedicadas aos cuidados diários que temos com nossos automóveis, como a verificações dos níveis de óleo, líquido do arrefecimento e até mesmo examinar o aperto das porcas dos rodados.
No motor, para evitar falhas graves e elevar a vida útil do mesmo, é necessária a inspeção diária do nível de óleo, corrigindo o mesmo sempre que necessário. É importante consultar o manual do operador e utilizar o óleo recomendado pelo fabricante, bem como o número de horas em que seja efetuada a troca, inclusive do elemento filtrante, o que garante o correto desempenho e evita desgaste prematuro dos componentes móveis. Alguns modelos de tratores apresentam no painel de instrumentos informações como horas restantes até a próxima manutenção, aliado a sistemas de diagnóstico de erros e falhas, que advertem ao operador situações anormais de utilização, prevenindo a ocorrência de danos a componentes internos. Somados a estes sistemas, motores com sistema de gerenciamento eletrônico podem limitar a potência e o torque ao detectarem anormalidades no funcionamento.
VERIFICAÇÃO DIÁRIA
Antes do início de qualquer trabalho com o trator, a verificação visual do equipamento é importante, a fim de constatar se não há nenhuma avaria visível, como pneu furado ou murcho, algum vazamento ou até mesmo a falta de um componente que acidentalmente tenha se desprendido da máquina após a sua utilização. Realizada a verificação visual e rotineira dos níveis, ao dar a partida no trator é importante dedicar algum tempo ao painel de instrumentos e aos ruídos da máquina. Com o motor em funcionamento em marcha lenta, busca-se perceber se esse ou os sistemas hidráulicos, mecânicos ou elétricos estão em perfeito estado.
Verificação do nível de óleo nos diferentes sistemas é fundamental
SISTEMA DE ARREFECIMENTO
O sistema de arrefecimento contribui para a manutenção da temperatura de trabalho dos sistemas, sendo de extrema importância para que o motor possa oferecer a máxima eficiência. A conformação, o número e as funções dos radiadores variam conforme as marcas e potências dos tratores. Eles são utilizados para resfriamento da água ou líquido de arrefecimento do motor, resfriamento do óleo da transmissão, resfriamento de ar no caso de
O sistema de arrefecimento é um dos itens que exigem bastante atenção
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SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO
Com relação ao sistema de alimentação, a qualidade do combustível influencia diretamente na vida útil do sistema. O sistema de filtragem pode ser composto por pré-filtro e filtro, que executam a sedimentação de água e impurezas, evitando que as mesmas circulem pelo sistema. É importante que sejam realizadas diariamente a drenagem da água e limpeza das impurezas, de modo que não ocasionem a restrição da passagem de combustível para o sistema de injeção, o que poderá acarretar perda de potência do motor, além de entupimentos ou desgaste prematuro de componentes do sistema. A substituição do elemento filtrante deve considerar as recomendações contidas no manual do operador ou situações em que sua condição de atuação seja ineficiente. O sistema de filtragem do ar deve garantir a passagem de ar livre de impurezas, garantindo qualidade e quantidade para o sistema de admissão do motor, a manutenção dos elementos de filtragem se dá conforme a recomendação do fabricante. Filtros descartáveis devem ser substituídos sempre que ocorrer a advertência de restrição de ar no painel de instrumentos, filtros que permitem limpeza, o número de vezes será de acordo com a recomendação do fabricante, podendo ser feita batendo-se a estrutura em sentido oposto ao fluxo de ar ou utilizando-se jato de ar comprimido, com os devidos cuidados para evitar danos ao elemento filtrante, bem como à estrutura de vedação.
MANUTENÇÕES PROGRAMADAS
Os cuidados diários com a manutenção e o bom funcionamento de um trator não são tarefas apenas dos próprios usuários. É necessário estar atento também às revisões periódicas recomendadas pelos fabricantes. Em tratores recém-adquiridos, principalmente durante o período de garantia, é importante realizar estas revisões por profissionais e concessionárias especializados. A ocasião dessas revisões periódicas pode variar de marca para marca e de modelo para modelo, por isso deve-se consultar sempre o manual de operação. Os períodos ou o número de horas determinadas para essas revisões são informados no manual do operador e devem estar sempre presentes no posto de operação da máquina, para rápida consulta por parte do operador. O zelo com os tratores é tão valioso que dedicando-se aos cuidados diários de manutenção e operação, o produtor rural terá seu trator em plenas condições, sem paradas forçadas, contribuindo para a elevação da produtividade de trabalho, redução dos custos operacionais e economia de combustível, bem como aumento da eficiência dos recursos dis.M poníveis nos tratores agrícolas. Dauto Carpes Gustavo dos Santos Juan Paulo Barbieri Base Assessoria Agronômica Eder Dornelles Pinheiro AGCO Dauto Carpes
motores com intercooler e resfriamento do retorno de combustível para o tanque. Para um correto funcionamento dos sistemas deve-se observar o nível dos fluidos, completando sempre que houver a necessidade. Evitar o acúmulo de impurezas nas colmeias e aletas dos radiadores, o que contribui para a circulação de ar e funcionamento dos mesmos, para isso, pode ser feita a utilização de ar comprimido ou jato de água no sentido inverso ao fluxo de ar, além de manter livres de impurezas e obstruções as entradas de ar do capô de fechamento do motor.
TRANSMISSÃO
Os cuidados com a transmissão também devem ser periódicos, grande parte dos modelos disponíveis no mercado apresenta reservatório de óleo que contempla transmissão, sistema hidráulico e direção, deste modo, o nível incorreto ocasionará funcionamento ineficiente destes componentes. Como consequências, poderão ocorrer o superaquecimento e a aceleração do desgaste de componentes pela lubrificação insuficiente. Grande parte dos fabricantes apresenta sistemas de advertência no painel de instrumentos do trator, alertando para temperatura do óleo, bem como níveis incorretos, além de visores de nível fixados na carcaça do trator, o que facilita a visualização rápida. Para substituição do óleo, deve-se observar a recomendação de especificações e prazos pelo fabricante.
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É importante manter os pneus calibrados constantemente
COMBUSTÍVEIS Valtra
Combustíveis do futuro
Diferentes fontes de energia que movem motores são pesquisadas para aplicações em máquinas agrícolas e, num futuro não tão distante, podem estar presentes em motores agrícolas substituindo o óleo Diesel que hoje é o principal combustível utilizado pelo setor
A
agricultura está em constante evolução, não se pode assegurar com certeza o futuro dos combustíveis agrícolas, mas é de extrema importância analisar o quadro que nos encontramos na atualidade, projetar ideias e analisar o quadro que se pinta a nível mundial. No cenário brasileiro, o Diesel é o único combustível utilizado em tratores, colhedoras e outras máquinas autopropelidas.
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Apesar de ser o mesmo óleo combustível, há um universo de aditivação e misturas. Não encontra-se para a venda comercial no varejo o óleo Diesel puro, mas sim uma mistura deste com o biodiesel, na proporção crescente determinada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Atualmente é utilizado o biodiesel em mistura, um produto industrial formado a partir da transesterificação do óleo vege-
tal proveniente de diversas fontes renováveis que se apresenta como alternativa para a substituição do óleo mineral proveniente do petróleo. A concentração de biodiesel em mistura com o Diesel puro é de 12% (B12), mas em cumprimento ao cronograma de sustentabilidade brasileiro, haverá um crescente aumento nesta concentração, de forma que em 2023 se chegará ao B15, onde haverá mistura de 15%. Mesmo que a adoção plena do biodiesel 100% esteja distante de ser uma realidade, a maioria das empresas que produzem máquinas agrícolas autopropelidas é compatível com esta proporção por questões econômicas e logísticas da matriz energética.
ÓLEO DIESEL
O tradicional óleo Diesel também evoluiu e agora ganha o reforço da mistura do biodiesel
dendo padrões de qualidade exigidos pelas normas de controle de emissões. Os dois combustíveis são diferenciados comercialmente pelo corante que é colocado, sendo o S10 de cor amarela e o S500 de cor avermelhada, para o cumprimento da regulamentação estabelecida pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Existem também tipos de Diesel de melhor qualidade, recomendados para veículos leves e com alta tecnologia, re-
Tesla/Divulgação
O S-500 é o combustível Diesel de menor especificação e, quanto ao enxofre, tem concentração máxima em 500ppm. É o óleo Diesel mais comum e que serve a grande maioria dos veículos agrícolas e urbanos de tecnologia menos recente. O Diesel classificado como S-10, é aquele óleo combustível que apresenta teor máximo de enxofre de 10ppm, e dirige-se principalmente aos motores que pelo sistema de controle de poluição exigem esta especificação. Pela pureza, provoca uma diminuição de material particulado (carbono) e NOx nos gases de descarga, aten-
Divulgação
Estudos realizados pelo IFO da Alemanha concluíram que o automóvel elétrico Tesla Classe 3 é mais contaminante que outro movido por um motor moderno Diesel Euro 6
cebendo denominações comerciais como Máster, Podium etc. Este Diesel utiliza matéria-prima de melhor qualidade e aditivação especial, que garantem pureza para ser utilizado em sistemas de injeção de precisão, principalmente automóveis e caminhonetes com sistemas eletrônicos e de alto desempenho. Além disso, o manuseio deste produto desde o processo de formação até a distribuição é feito com procedimentos que garantem a entrega ao usuário de um produto Premium. Embora haja divergência entre os fabricantes de máquinas e motores, a maioria recomenda o S10 para aqueles motores de veículos agrícolas com tecnologia de diminuição de emissões e o S500 para os demais veículos fabricados antes da vigência da norma. Veículos que utilizam filtro de partículas e tecnologia SCR (Redução Catalítica Seletiva) devem obrigatoriamente utilizar o S10. Novos combustíveis, que venham a modificar este modal, substituindo o Diesel convencional e mesmo as crescentes misturas, ainda estão no âmbito da experiência científica e tecnológica e do marketing comercial. Comercialmente a oferta ainda não se consolidou, porém, pode-se afirmar, com convicção, que as diversas empresas de máquinas, mesmo
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Fendt
Como realizar limpeza/descontaminação dos equipamentos de pulverização
John Deere
Resíduos de produtos fitossanitários acumulados nas terminações das sessões da barra do pulverizador, nos filtros de sessão e em pontas de pulverização
com o combustível tradicional, estão oferecendo produtos com maior economia de combustível, principalmente com a recente introdução de sistemas eletrônicos de injeção de combustíveis em motores agrícolas. Embora o termo motor eletrônico tenha se popularizado, na verdade os motores continuam com a mesma constituição mecânica, mas agregados com uma tecnologia de injeção de combustível com apoio na eletrônica, por isto é mais adequado chamá-los de motores com injeção eletrônica e não de motores eletrônicos. Afora isto, várias propostas têm sido apresentadas no mercado, e há atualmente uma luta de marketing para ver quem tem ideias mais criativas sobre o tema, liderada por países mais desenvolvidos que já possuem produtos comerciais com combustíveis alternativos.
NOVAS FONTES DE ENERGIA
Sabe-se que as grandes marcas de veículos agrícolas no Brasil estão atentas ao momento de introduzir novas fontes de energia para as operações agrícolas, dentre elas a energia elétrica, a tecnologia híbrida Diesel-elétrica, combustíveis como as células de hidrogênio, o gás natural, o biogás e o biometano, aproveitando estudos e desenvolvimentos das empresas matrizes e que na maioria das vezes são geradoras de pesquisas e novos produtos. No que se refere à alternativa elétrica, que deslumbra a sociedade por meios
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de marketing e divulgação, devemos estar atentos às contrapartidas. No momento, a eletricidade é somente um “vetor energético”. Isto significa que uma bateria não é uma fonte de energia, e sim um acumulador de energia. Para verdadeiramente valorizar um “vetor energético”, devemos analisar o ciclo como um todo, do princípio ao fim, sendo então importante considerar as emissões de CO2 produzidas na fabricação de baterias ou dos motores elétricos, e a necessidade de elementos indispensáveis na sua fabricação (lítio, cobalto, níquel) e que, em grande parte, são provenientes de países com direitos trabalhistas precários, anos-luz atrás dos preconizados pelo mundo ocidental. Em uma análise recente de um estudo de abril de 2019 publicado pelo IFO alemão (Institute Centre for Economic Studies, CESifo GmbH), e realizado por uma equipe liderada pelo professor doutor Hans Werner Sinn, foi concluído que um automóvel elétrico Tesla Classe 3 é mais contaminante que outro movido por um motor moderno Diesel Euro 6, utilizando na comparação o mix energético alemão e utilizando emissão de CO2 em toda a vida útil. No momento, pensar em um trator movido totalmente por eletricidade é uma utopia, entretanto, não o será em poucos anos, visto que já existem tratores elétricos funcionando. Todavia, a grande maioria está sendo usada em instalações pecuá-
Projetos da John Deere e Fendt com motores elétricos
rias, serviços públicos etc., isto é, em que os trabalhos podem ser realizados com uma rotina previsível, com tempo suficiente para a recarga e com uma demanda de potência relativamente baixa, o que demonstra que o trator elétrico da forma como tem sido apresentado ainda está muito imaturo. Para tornar a eletricidade uma alternativa viável, é necessário melhorar questões como o tempo de reabastecimento e a autonomia ou vida útil das baterias que, pelo menos, deveriam igualar-se à vida do próprio veículo, e com preços razoáveis.
TRATORES ELÉTRICOS
Os exemplos mais populares de tratores elétricos são o John Deere Sesam (Suministro de Energía Sostenible para la Maquinaria Agrícola) e o Fendt e100 Vario. O Sesam é um projeto da John Deere, com apoio financeiro de governo alemão e desenvolvimento entre a Universidade de Kaiserlautern e a engenharia da John Deere de Mannheim, baseado na série 6R, oferecendo uma potência de 300kW proporcionada por dois motores elétricos de 150kW cada um e uma transmissão DirectDrive. No qual, um motor é utilizado para acionar a esteira que movimenta o veículo e proporciona a tração e o outro para a tomada de potência, acionamento hidráulico e sistemas auxiliares, alcançando o tempo de carga da bateria de três horas e a vida útil das baterias de aproximadamente três mil ciclos de carga
e a autonomia de aproximadamente quatro horas no trabalho de transporte ou de tração de equipamentos. O Fendt e100 Vario é um trator compacto de 50kW (até 150kW para uso instantâneo) e com transmissão CVT Vario, necessita somente de 40 minutos para alcançar 80% da bateria, com a necessidade de uma tomada convencional tipo 2, mas também dispõe de um cabo de carga para tomadas de 400 Volts e 32 Amperes e admite qualquer implemento, seja com acionamento elétrico ou hidráulico ou mecânico à TDP.
TECNOLOGIA HÍBRIDA
No tocante à tecnologia híbrida Diesel-elétrica, defendida por muitos especialistas, um motor Diesel é conectado a um gerador para proporcionar a eletricidade necessária, tanto aos componentes de potência como os sistemas auxiliares. O sistema híbrido oferece vantagens inclusive em relação ao sistema mecânico convencional, por exemplo, ao usar apenas o motor elétrico e as cargas da bateria quando o trator estiver parado, em marcha lenta ou alimentar o condicionador de ar, possibilitando a eliminação de baterias convencionais e o motor de arranque. Com este sistema é possível prescindir da embreagem e os custos de manutenção relacionados, já que é possível colocar o trator em movimento com o motor elétrico, visto que este pode dispor do torque máximo desde o início e depois conectar o motor térmico.
plosão, a pressão aumenta. Entretanto, apesar de todas as vantagens apresentadas, a maior dificuldade das células de combustível é a obtenção do hidrogênio, pois esse não se encontra de forma livre na Terra, sendo necessária sua produção a partir do gás natural, álcool (etanol ou metanol), do biogás ou pelo processo de eletrólise. Um exemplo seria a unidade HGS (Hydrogen Generating System) presente em alguns caminhões ou ônibus. No qual, um depósito com água destilada que vai se convertendo em hidrogênio mediante eletrólise. Nestes veículos, o hidrogênio, misturado com o ar, é injetado no motor fazendo a combustão com o óleo Diesel, podendo fazer 5.000km ou 100 horas de trabalho com apenas dois litros de água, a vantagem é uma combustão mais potente e uma marcante redução do consumo de combustível principal.
BIOGÁS
Outra alternativa em questão é o biogás, bastante popular na agricultura, gerado a partir da fermentação de biomassa formada em grande parte por metano, gás proveniente da fermentação de dejetos animais e vegetais tratados pela tecnologia de biodigestão. A produção de biogás, para seu uso em cogeneração, pode ser realizada com a pureza habitual de metano (CH4) presente na proporção de 60%-70% do total. Para o uso em motores de combustão se necessita uma pureza maior,
CÉLULAS DE HIDROGÊNIO
Já as células de hidrogênio são geradoras de eletricidade com base em processos químicos combinando hidrogênio e oxigênio. Convém esclarecer que uma célula de combustível não é uma bateria, pois, ainda que produza corrente elétrica, não se descarrega enquanto se dispõe do combustível, hidrogênio. É uma alternativa que vem ganhando destaque no cenário energético devido ao fato de produzir energia renovável e limpa, não tóxica, que produz pouco ou nenhum impacto ambiental, que possui a maior relação energia/peso de todos os combustíveis que têm sido adotados, pode ser transportada a longas distâncias na fase gasosa ou na fase líquida, pode ser acumulada e armazenada em grandes quantidades, e ser utilizada em uma ampla variedade de sistemas como combustível diretamente em motores “convencionais”, mas também em motores rotativos (Wankel) ou em células de combustível para alimentar um motor elétrico. Os motores de combustão interna utilizados com hidrogênio são quase idênticos aos motores de ignição por faísca, visto que o hidrogênio tem um alto número de octanos. Quanto ao motor rotativo, este também aceita muito bem o hidrogênio, pois não costuma dar problemas de autoignição pela própria geometria (relação volume/superfície) da câmara de combustão. Em ambos os motores, ainda que em maior proporção no motor Wankel, se chega a pulverizar água ao mesmo tempo que se injeta o hidrogênio, pois assim, ao evaporar-se com a ex-
Divulgação
A
B
A) Motor rotativo (Wankel), e B) unidade HGS (Hydrogen Generating System)
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Kubota
aproximadamente um mínimo de 97% de CH4. Nas experiências concretas, os tratores o carregam em depósitos submetidos a uma pressão de aproximadamente 200bar. O motor movido a biogás produz bem menos emissões que um motor Diesel normal, chegando a até 80% menos. Além de um catalisador de três vias garantir a conformidade total com as normas mais restritivas, sem necessidade de recorrer aos sistemas pós-tratamento adicionais. Dentre os vários fabricantes que estão desenvolvendo seus produtos para poder usar o biogás enriquecido, se destacam as marcas Valtra e New Holland. A Valtra desde 2013 dispõe de uma série de tratores com biogás. Em 2010 apresentou um protótipo baseado no seu modelo N101 com motor de quatro cilindros e em 2011 apresentou outro baseado na série T. A New Holland dispõe de um programa, Clean Energy Leader, de pesquisa tecnológica para o uso de novas fontes de energia para os tratores. Em 2013 apresentou a primeira geração de trator movido a metano baseado em um T6 e em 2015 a segunda geração. Em várias feiras internacionais (Agritechnica, Sima, Eima, Agrishow, Farm Progress, Obihiro etc.) foi apresentado um protótipo operacional, T6180 Methane Power, com motor de seis cilindros. A capacidade de gás deste modelo é de 460 litros (190 litros em depósitos laterais e 270 litros na parte dianteira) que lhe proporciona para trabalhos pesados uma autonomia de até sete horas. Já o gás natural, amplamente utilizado e difundido em automóveis no Brasil, trata-se de um combustível menos contaminante que o óleo Diesel. Além disso é, igual comparativamente em equivalência energética, menos custoso que o óleo Diesel (até 1/3 menos). Tanto no caso do biogás como no gás natural é interessante que ambos os combustíveis funcionem em conjunto com o óleo Diesel, isto é, o motor pode funcionar somente com um ou com a mistura de dois combustíveis. No caso em que o mo-
Protótipo da Kubota movido 100% a eletricidade
tor utilize os dois combustíveis ao mesmo tempo, estes devem ser introduzidos juntos na câmara de combustão. O biogás ou o gás natural é introduzido na linha de ar passando por uma válvula dosadora enquanto o óleo Diesel é introduzido nos cilindros através dos condutores de injeção convencional. Trata-se de motores com o mesmo rendimento que a versão Diesel; compatíveis com GNC (Gás Natural Comprimido), GNL (Gás Natural Líquido) e biometano. Dentro da esfera das misturas, o composto Diesel/etanol também é uma possibilidade que vem sendo desenvolvida. Em 2012, a AGCO tornou público o desenvolvimento de um motor flex para tratores, colhedoras e pulverizadores, possibi.M litando uso de Diesel e etanol. Heliodoro Francisco Catalán José Fernando Schlosser Junior Garlet Osmari Mateus Cassol Cella, UFSM
John Deere
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SEMEADORAS
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Inúmeros
benefícios O Sistema de Plantio Direto vem sendo adotado como alternativa para a preservação do solo, a recuperação de áreas degradadas e a diminuição da janela entre colheita e semeadura, permitindo o cumprimento do calendário agrícola. No entanto, seu planejamento adequado é indispensável para o sucesso do sistema hectares seguem de maneira completa o SPD. Destaca-se o estado do Paraná, que segundo o Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) apresenta cerca de 5,7 milhões de hectares em plantio direto, o que representa mais de 80% da sua área agricultável. As vantagens do SPD estão relacio-
nadas principalmente com a conservação da fertilidade do solo, através do controle da erosão. Segundo a Embrapa, deixam de ser erodidos até 100 milhões de toneladas de solo anualmente, com 18 bilhões de metros cúbicos de água mantidos no solo. A utilização da cobertura vegetal diminui o impacto
Charles Echer
busca pelo aumento da produtividade, aliada a ações que visam a sustentabilidade e a conservação do solo, tem sido o enfoque das técnicas de cultivo na agricultura. A utilização do preparo convencional através de arado de discos e grades pesadas ocasiona perdas de solo por erosão e redução da capacidade de infiltração, somadas à compactação das camadas mais inferiores, conhecida como pé de grade. Diante disso, o Sistema Plantio Direto (SPD) vem sendo adotado como alternativa para a preservação do solo. Cabe ressaltar a diferença entre plantio direto e SPD. O primeiro utiliza apenas dois princípios da agricultura conservacionista, a realização da semeadura sem mobilização prévia do solo e a manutenção da cobertura vegetal na superfície. Já o SPD consiste no plantio direto associado com a rotação de culturas, manejo da enxurrada e todas as demais práticas que visam manter a capacidade produtiva do solo. De acordo com a Embrapa, 32 milhões de hectares são cultivados em plantio direto no Brasil, no entanto, dentre estes valores, apenas 2,7 milhões de
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dura, o SPD exigiu a criação de semeadoras específicas, assim as mesmas necessitam de uma estrutura mais robusta e maior peso para aplicar a força necessária, a fim de realizar o corte dos resíduos culturais e a abertura dos sulcos.
SEMEADORAS PARA SPD
O Sistema Plantio Direto (SPD) vem sendo adotado como alternativa para a preservação do solo
da chuva e o selamento da superfície do solo, permitindo que a água infiltre, auxiliando no controle dos processos erosivos. Assim, antes da semeadura é necessária a realização da dessecação, mantendo a palhada como proteção e também como fonte de nitrogênio para a cultura a ser estabelecida. A presença de restos vegetais é imprescindível no SPD, portanto, não se utilizam implementos como arado e grade, típicos do sistema convencional. Adotam-se apenas implementos sulcadores com o propósito de descompactar camadas inferiores. Para tanto, os escarificadores são os mais utilizados, trabalhando a uma profundidade de até 30cm, com menor mobilização do solo. Com a redução do uso do maquinário e equipamentos surge uma economia no consumo de óleo diesel em até 72% (Salton, 1998). A rotação de culturas é realizada através da alternância entre diferentes espécies na mesma área. Este processo tem o intuito de auxiliar na descompactação do solo, redução da proliferação de agentes causadores de problemas fitossanitários, redução da incidência de plantas daninhas e pragas. Deve-se
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dar preferência para culturas com lenta decomposição, permanecendo por mais tempo sobre a superfície do solo. Outras práticas que complementam os princípios conservacionistas do SPD são o terraceamento e cultivo em nível. Segundo Denardin et al (2005), o terracemento tem como objetivo controlar a erosão do solo em terrenos declives, quando a intensidade da chuva supera a taxa de infiltração de água no solo. Para tanto, é realizada a construção de uma estrutura transversal ao sentido do maior declive do terreno, sendo composta por um dique e um canal que retêm e permitem a infiltração da água ou fazem com que água escoe lentamente, perdendo força e reduzindo a erosão. Na prática de cultivo em nível, as linhas de semeadura acompanham as curvas de nível, ou seja, o plantio é realizado de acordo com os desníveis do terreno, diferentemente do terraceamento, em que os desníveis são artificiais. Assim, as linhas de plantio atuam como obstáculos para reduzir a velocidade do escoamento da água aumentando a taxa de infiltração no solo. Levando em consideração que não há preparo do solo anterior à semea-
Atualmente, o mercado brasileiro, segundo Schlosser et al (2016), apresenta 19 empresas que montam e/ou fabricam semeadoras voltadas para o plantio direto, totalizando 743 modelos disponíveis, com destaque para o Rio Grande do Sul, com 548 modelos fabricados (73,76%). As semeadoras para plantio direto podem ser classificadas em três tipos principais, as de fluxo contínuo, de precisão e múltiplas. As de fluxo contínuo trabalham com sementes miúdas (trigo, aveia, arroz), sendo depositadas continuamente no sulco. As semeadoras de precisão distribuem as sementes em um número predeterminado a cada metro a distâncias homogêneas. Já as semeadoras múltiplas podem ser adaptadas tanto para fluxo contínuo como de precisão. Hoje em dia encontram-se no mercado modelos com dosagem por pressão positiva (sopro), tanto para sementes quanto para fertilizantes, algo relativamente inovador no Brasil. Além disso, modelos que prometem dosar com eficiência em altas velocidades de semeadura. A diferença entre modelos de semeadoras não está atrelada apenas aos seus mecanismos constituintes, mas também à largura de trabalho, que dependerá do número de linhas. Portanto, áreas maiores necessitarão de semeadoras com maior largura de trabalho, aumentando, assim, a capacidade operacional. No momento da aquisição deve-se atentar à potência requerida pela semeadora, que deve estar de acordo com a potência do trator.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sem dúvida a adoção do SPD acelerou o desenvolvimento da agricul-
tura brasileira, colaborando para a preservação do solo, a recuperação de áreas degradadas e a diminuição da janela entre colheita e semeadura, permitindo o cumprimento do calendário agrícola. Neste contexto, projeta-se o aumento das áreas de cultivo sob esse sistema, principalmente ao se falar em estratégias de combate ao aquecimento global, pois a baixa mobilização do solo, a
manutenção da cobertura vegetal e a rotação de culturas aumentam a retenção de carbono no solo. Segundo o CGE ABC/RS (Comitê Gestor Estadual da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), até 2020 estima-se a expansão de oito milhões de hectares em SPD no Brasil. O planejamento adequado do SPD está diretamente relacionado ao su-
cesso do sistema, bem como na conservação e melhoria da fertilidade do solo, se caracterizando como um investimento a longo prazo para o produtor, tendo retorno garantido se bem .M implementado. Sueli Kullmann Vanessa Bassin Cogo Vilnei de Oliveira Dias Lamap/Unipampa Alegrete
Surgimento do plantio direto E
sta técnica surgiu em 1950 na Inglaterra, nas pesquisas com a molécula Paraquat, realizadas pela Imperial Chemical Industries (ICI), hoje denominada Syngenta. Posteriormente, foi levado para os Estados Unidos, onde as pesquisas tiveram maior significância, sendo que em 1973 já havia 430 mil hectares sob plantio direto nos EUA e Canadá (Carvalo; Freitas, 2008). No Brasil, Herbert Bartz, da cidade de Rolândia (PR) introduziu o SPD a nível de produtor. Preocupado com a degradação do solo na sua propriedade em função das enxurradas, em 1972 Bartz viajou até a Inglaterra para a estação experimental da ICI, onde os produtores estavam tendo bons resultados com o plantio direto. Partindo da Inglaterra, chegou até os EUA para conhecer os avanços que o produtor Harry Young estava tendo com o plantio direto. Na propriedade era utilizada uma semeadora Allis-Chalmers, que posteriormente Bartz importou do mesmo fabricante para iniciar o plantio de soja. Os resultados positivos na produtividade, conservação do solo e, principalmente, relacionados à economia de trabalho com o maquinário foram logo percebidos, fazendo com que mais produtores da região adotassem a nova técnica. Merece destaque também na introdução do SPD no Brasil, Manoel Henrique “Nonô” Pereira, que em setembro de 1976 utilizou a semeadora modelo Rotacaster, vinda da Inglaterra, adaptando um pulverizador nas entre linhas da mesma. Entretanto, com a alta mobilização do solo causada pela Rotacaster e a ineficiência dos herbicidas, ocorria a germinação do trigo. Diante disso, em dezembro do mesmo ano, Nonô semeou soja sobre a palha de centeio utilizando a semeadora modelo PS6 da marca Semeato, alcan-
çando melhores resultados. Adaptou ainda, uma barra porta-ferramentas para instalação de um disco de corte à frente da semeadora para o corte da palhada. Em 1979 foi lançado o modelo TDA 220 da Semeato, a primeira semeadora de plantio direto desenvolvida no Brasil. Era constituída por um dosador do tipo fluxo contínuo e sulcadores do tipo triplo disco. Posteriormente, a marca lançou o modelo TDA 300 que apresentava rodados articulados, mais indicada para terrenos irregulares e áreas de várzea. No início da implementação do SPD no Brasil muitos produtores não conseguiam adquirir semeadoras para o plantio direto em função do seu alto custo, realizando, portanto, adaptações nas semeadoras convencionais. Adicionavam-se discos de corte, rodas controladoras de profundidade, rodas pressionadoras de solo e colocação do fertilizante com utilização de facas estreitas. Nas semeadoras de sementes miúdas colocavam-se pipoqueiras para realizar a semeadura de sementes graúdas, prática que resultou nas multissemeadoras que conhecemos hoje.
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CAPA
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Tratores HortiFruti
A produção de hortaliças e frutas exige tratores bem projetados, que consigam realizar atividades em espaços reduzidos e muitas vezes em terrenos acidentados. E foi nestas condições que acompanhamos o desempenho dos tratores U60 Cabinado, o R65 Cabinado e o R50 Plataformado em operação na Serra Gaúcha produtores, utilizada pela revista nos testes. Durante o intenso dia de trabalho avaliamos de forma contextualizada três modelos de tratores da marca LS, o U60 Cabinado, o R65 Cabinado e o R50 Plataformado.
TRATOR LS MODELO U60 CABINADO
Acompanhamos a utilização do trator LS modelo U60 Cabinado, na localidade de Nova Palmira, Distrito de Vila Cristina, no município de Caxias do Sul, onde na propriedade da família Papke são cultivados 24 hecFotos Charles Echer
M
esmo com toda a ameaça que representa o coronavírus, a produção agrícola segue em marcha, produzindo alimentos para a população. Neste momento em que a economia sofre, o campo é que sustenta e contribui para que não se agrave ainda mais o estado atual. As recomendações de cuidados para evitar a disseminação do vírus têm sido objeto de medida dos governantes e a população de outra parte, em distanciamento, sofre e preocupa-se com a hipótese do desabastecimento, que graças ao contínuo trabalho dos produtores rurais não ocorreu. Com isto posto, a Revista Cultivar Máquinas, tomando todos os cuidados necessários, deslocou-se até a região da Serra gaúcha para acompanhar o trabalho mecanizado da atividade de produção de hortaliças e frutas, com clientes da marca LS Tractor. Utilizamos continuamente as máscaras, mantivemos o distanciamento recomendado de 1,5 metro, evitamos os cumprimentos e inserimos o álcool gel como elemento higienizador durante todos os movimentos de entrada e saída das propriedades. Além disso, não compartilhamos o mesmo veículo, viajando três pessoas em três carros, durante todo o dia. No final de cada visita evitamos a tradicional foto, com os
tares de área exclusivamente com hortaliças. A família de origem alemã, assim como a maioria da região, nos recebeu para contar da sua experiência com este novo trator e mostrar sua intensa rotina de trabalho. Fomos recebidos pelo produtor RoJacto drigo Papke, que trabalha com o pai Helio Papke, a mãe Hermínia Papke e a esposa Tatiana Papke, em uma área situada ao lado da rodovia estadual RS452, que liga Caxias do Sul a Vale Real, cidade próxima à residência da família. Em uma área totalmente plana, entre a estrada e o Rio Caí, a família produz culturas folhosas no inverno, como repolho, alface, chicória, que são plantadas em fevereiro e colhidas agora. Também cultiva plantas como o pimentão e a abobrinha, que são plantadas daqui a até agosto e colhidas no início do verão. Na entressafra ainda se produz o milho, que é usado apenas para o consumo próprio na produção de animais, como galinhas e porcos, mas que obriga o uso da mecanização para desmanchar canteiros com enxada rotativa, a semeadura e os tratos culturais. A colheita do milho é feita com uso de uma colhedora de uma linha acoplada ao trator. Mas é quando sai o milho, em fevereiro, que começam a temporada de verduras e um intenso trabalho de
Raio de giro e reversor são as duas principais vantagens do trator, citadas pelo produtor de hortaliças
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Fotos Charles Echer
O modelo U60 Cabinado é utilizado no cultivo de hortaliças durante o outono e inverno e no cultivo de milho na mesma área no período de verão
montagem de novos canteiros e transplantio de mudas, ção de montagem dos canteiros. Primeiramente, o produonde o trabalho braçal se mostra mais pesado. tor nos contou que no verão, após a retirada do milho são A chegada do trator LS modelo U60 Cabinado na proutilizados um escarificador e uma enxada rotativa para mopriedade representou, segundo o produtor Rodrigo, uma bilizar o terreno e é feita uma adubação química e orgânica, mudança radical, principalmente no que se refere ao concom esterco de cama de frango. A montagem da estrutura forto. Ele nos contou que conheceu o trator por meio de do canteiro ele nos mostrou com uma enxada rotativa, com uma demonstração feita pelo concessionário que atende canteirador da marca MEC-RUL. As dimensões que vimos na a região, a um dos seus vizinhos. A decisão de compra, há montagem são de um canteiro de 1,20m de largura e 30cm seis anos, veio instantaneamente pelo Programa Mais Alide altura, que acaba por consolidar-se com dimensão final mentos. A razão principal da aquisição e principalmente de 1m e altura de 20cm. Este canteiro é usado tanto para as pela versão Cabinada foi para atender a aplicação de proculturas que exigem cobertura de plástico ou não. dutos químicos de proteção aos cultivos. Vimos durante a operação, que ao trator se exige vão O modelo U60 utiliza motor da marca LS, modelo L4ALlivre para não tocar o canteiro e torque no motor para o T1-Tier 3, de quatro cilindros, com 2.500cm3 e turbocomacionamento da enxada rotativa, a tração e o esforço que pressor, com quatro válvulas por cilindro, que desenvolos defletores laterais fazem na montagem da estrutura. ve 65cv de potência na rotação nominal de 2.500rpm pela Além disto, vimos como é importante a presença neste tranorma ISO TR 14396. O torque máximo é de 203Nm a tor do super-redutor, que possibilita o trabalho a baixíssi1.600rpm. mas velocidades, que inclusive permite a formação de dreA transmissão deste modelo é sincronizada, denominada Synchro Shuttle, de 32 marchas à frente e 16 à ré com super-redutor (creeper) e reversor mecânico. A tomada de potência (TDP) é independente, com acionamento eletro-hidráulico em três rotações, 540/750/1.000 rpm. A rotação de 750rpm pode ser utilizada como TDP econômica. O eixo dianteiro é motriz, com acionamento mecânico. O sistema hidráulico de três pontos é da categoria II e tem vazão total de 55 litros por minuto. A pressão máxima do sistema é de 167kgf/cm2 e a capacidade de levante na rótula chega a 2.200kgf, na versão opcional. São duas as válvulas de controle (VCR) na versão standard e três como opcional, com vazão máxima de 36,4 litros/minuto. Rodrigo Papke produz hortaliças numa área de 24 hectares, que rotaciona com milho O teste de campo foi feito na opera-
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nos, tão necessários nestas áreas planas, com horticultura. Conversando com a família Papke, vimos muita satisfação e a importância que teve esta aquisição há seis anos. O trator, que agora está com 458 horas, passou a ser o responsável pelas atividades principais e as mais qualificadas. É o trator dos tratamentos fitossanitários e da colheita do milho, mas também monta os canteiros e atende outras necessidades. Rodrigo nos explicou que somente ele e seu pai utilizam o trator e para ele só há elogios. Eles consideram que as maiores vantagens são o reversor de sentido, pois é utilizada apenas uma marcha para frente ou ré, e o reduzido raio de giro, que auxilia nas manobras nos pequenos espaços entre os canteiros, permitindo que se saia de um canteiro e já entre no seguinte. Isto, segundo eles, provoca menos perda de tempo em relação aos tratores que utilizaram anteriormente. Quanto à manutenção, o produtor explicou que não houve nenhuma manutenção inesperada e somente foram feitas as trocas de óleo e filtros. Finalmente sobraram elogios para a cabine, que para Rodrigo é muito cômoda e fácil de entrar, e também ao condicionador de ar. Disse-nos que ela veda muito bem a poeira e evita a entrada de produtos químicos durante as aplicações, mantendo a segurança e o conforto do operador. Para eles este é um atributo importante.
TRATOR LS MODELO R65 CABINADO
Saindo da horticultura, fomos conhecer uma família de origem italiana produtora de frutas, na localidade de Vila São Roque, Distrito de Fazenda Souza, no município de Caxias do Sul, direção Leste, pela rodovia RS453, conhecida como Rota do Sol. Lá, fomos recebidos pela família Cantelle, proprietária de um trator LS modelo R65 Cabinado. Estavam trabalhando na produção de caqui, pera e ameixa o proprietário, senhor Antonio Cantel-
le, sua filha Aline Cantelle Castilhos e o esposo dela, Francis Castilhos. Embora não estivesse na lavoura no dia da nossa visita, Neiva Josefina Scariot Cantelle, esposa do senhor Antonio, igualmente trabalha na produção. A família, que é natural do local, trabalha com frutas há muitos anos e o jovem casal há 15 anos assumiu a responsabilidade de herdar os costumes e o trabalho da família. Encontramos a Aline podando as plantas de caqui juntamente com o seu pai, enquanto que o Francis trabalhava com o trator na aplicação de cobre sistêmico, no caqui, para o controle da antracnose. A família administra dois pomares, o primeiro na localidade de Vila São Roque, onde esteve a equipe da Cultivar Máquinas, e o outro menor, que está próximo da residência da família, a poucos quilômetros do primeiro. São dez hectares de área total, sendo que aproximadamente oito são destinados à produção frutífera, com estas três culturas. A rotina de trabalho na atividade
é bastante intensa. Nos meses de inverno são feitas podas e os tratamentos fitossanitários até o mês de agosto. Quando começam a primavera e a florada são feitos tratamentos específicos, e quando aparecem os frutos há que se proceder no raleio, para incrementar a qualidade das frutas que permanecem. No início do verão começa, primeiro, a colheita da ameixa, estendendo às demais culturas até chegar ao final com a colheita do caqui, que encerrou-se há pouco tempo. A operação de colheita demanda auxílio de trabalhadores externos, sendo uma atividade muito dependente de esforço físico e longas jornadas, às vezes com clima muito frio, devido à localização geográfica da região. A família é cliente LS desde o ano passado, quando adquiriu este modelo, R65, por meio do Programa Mais Alimentos. Antes, era cliente de outra marca, da qual tem mais três tratores. Depois da sua chegada, o novo trator ficou destinado às tarefas mais nobres e os mais antigos ficaram encarregados das atividades mais rústicas como
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Fotos Charles Echer
trituração de restos de poda e roçada da vegetação. O motor que equipa este modelo é da marca LS, modelo L4AL T1- Tier 3, tem quatro cilindros, com 2.621cm3 e 16 válvulas, com turbocompressor, que produz uma potência máxima de 65cv a 2.500rpm (norma ISO TR 14396) e torque máximo de 203Nm a 1.600rpm. A transmissão sincronizada Synchro Shuttle oferece 32 marchas à frente e 16 à ré com super-redutor (creeper). A tomada de potência (TDP) é independente, com acionamento eletro-hidráulico com três velocidades, 540/750/1.000rpm. O eixo dianteiro é motriz com acionamento mecânico. O sistema hidráulico tem vazão total de 46,8 litros/minuto e no sistema de engate em três pontos de categoria II alcança pressão máxima de 167kgf/ cm2, com capacidade de levante de até 2.100kgf na rótula, como opcional. O controle remoto é independente com duas válvulas de controle remoto na versão standard e três como opcional,
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com vazão máxima de 31,2 litros/minuto. Para vermos o trator LS R65 no trabalho, nos deslocamos até a área de caquizeiro onde o Francis, esposo da Aline, estava aplicando cobre sistêmico com um pulverizador da marca Jacto, modelo Arbus 1000 turbo, nas plantas de caqui. Durante a avaliação, Francis nos contou que trabalhou muitos anos como industriário e que há apenas 15 anos tornou-se agricultor e por isto se considera um pouco diferente dos outros produtores. Ele faz análise da operação e conhece muito bem os sistemas mecânicos e trata de interpretar as respostas da máquina. Disse também que faz avaliação do trabalho e mede parâmetros de desempenho, como o consumo de combustível. Relatou que o trator LS R65 nas suas condições particulares de utilização, dotado de cabine e com o condicionador de ar ligado, foi avaliado por ele em duas condições distintas de trabalho. Na aplicação de produtos
químicos com turboatomizador, com o ar-condicionado ligado, na rotação padrão de 540rpm na tomada de potência (TDP) o consumo de diesel foi ao redor de 4,5 litros por hora, e quando ele utilizou 750rpm, considerada uma TDP econômica, obteve valores aproximados de 3,5 litros por hora. Mas, segundo ele, o relevo e as condições do terreno nem sempre permitem o uso da rotação econômica e isto o produtor deve controlar e entender. Quando lhe perguntamos sobre quais eram suas impressões sobre o trator que havia sido adquirido pela família, ele explicou que, desde o início, a motivação para a aquisição era ter um equipamento que aplicasse os tratamentos fitossanitários com segurança ao operador, por isto a opção pela cabine. Mas, como técnico, ele disse que também foram pensados os aspectos dimensionais e quais os opcionais a escolher. Depois que iniciaram o uso do equipamento na propriedade, vários aspectos positivos foram descobertos.
Um deles é a cabine, que, segundo ele, é de nível superior, proporcionando conforto - principalmente pelo condicionador de ar - e segurança, pois sendo ela pressurizada, impede a entrada de ruído, pós e líquido em suspensão das aplicações. Contou-nos que inclusive o silêncio interior possibilita que ele possa fazer e receber chamadas pelo telefone móvel, além de poder trabalhar sem os incômodos equipamentos de proteção individual. Com esta comodidade houve acréscimo de qualidade de vida e sobrou mais tempo para a família, pois consegue fazer os tratamentos durante uma jornada de trabalho, que antes levava mais de um dia. Como curioso e criativo, fez algumas movimentações de acessórios, como espelhos laterais e sinaleiras do trator, e estreitamento dos difusores do pulverizador para diminuir a largura total do conjunto e adaptar-se ao formato de taça invertida (ou vaso aberto) utilizado tradicionalmente no caquizeiro e que torna difícil a mecanização. Nas plantas mais jovens já se está tomando medidas de podas no sentido de liberar espaço de movimentação das máquinas. Também foi mencionado pelo produtor que após 95 horas, neste quase um ano de uso, uma das maiores vantagens vista é a manobrabilidade. Ele acha que, devido ao reduzido raio de giro e à distribuição de peso, o trator ficou ágil e estável. A transmissão também ajuda neste aspecto, pois se pode selecionar a marcha ideal para a velocidade escolhida e ao final dos trajetos utilizar o reversor. Utilizando o seu conhecimento prévio, Francis explicou que fez um comparativo entre o trator utilizado anteriormente e este e concluiu que só em aproveitamento do tempo com manobras ele passou a ganhar uma hora ao dia. No seu entender, o grande número de marchas presente neste modelo LS exige que o usuário avalie as condições de trabalho, principalmente a declividade e o equipamento que está sendo utilizado. O produtor também tem que evoluir junto com as máquinas. Ressaltou um opcional importante que foi adquirido, o sistema de proteção eletrônica do motor, que dá tranquilidade ao usuário de que tudo esteja bem com o motor durante a operação. Este sistema monitora a temperatura do motor e o desliga completamente em caso de aquecimento dos líquidos de arrefecimento, evitando qualquer dano.
rio. Eles mantêm uma parceria de mais de 20 anos, sendo que atualmente cultivam somente uva em quatro hectares em terra própria e mais dez hectares em parceria com outros produtores. A uva produzida é a bordô, adequada para vinho de mesa e suco. O sistema de produção da videira para produzir uva para suco e vinho na região Sul é bem tradicional. Utili-
Pomar de caqui exige tratores estreitos com bom raio de giro
O modelo R65 em aplicação de cobre na cultura de pera
TRATOR LS MODELO R50 PLATAFORMADO
Tradicional cultura da Serra gaúcha, a videira não poderia ficar de fora da nossa avaliação. Fomos visitar um cliente da LS, proprietário de um modelo R50 Plataformado. Para isto nos deslocamos até a comunidade de Travessão Porto, município de Caxias do Sul, onde dois produtores da região, os cunhados Rogério Borth e Sergio Dall Alba, nos esperavam com a ajuda do Mateus, filho do Rogé-
Aline e Francis produzem pera, caqui e ameixa
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Fotos Charles Echer
O sistema EletroVortex garante Junhor eficácia na aplicação dos produtos
A estabilidade do trator faz diferença quando o terreno é íngreme
zam o sistema de condução das plantas em latada, onde os ramos são conduzidos para uma treliça de arame horizontal situada a uma altura de entre 1,80m e 2m do solo e onde os ramos são atados a arames. Os postes de sujeição suportam a estrutura. O fato de as máquinas necessitarem trabalhar sob este teto de plantas exige que os tratores sejam baixos, o que leva a não usarem cabines. Também devem ter pequena largura para deslocarem-se e manobrarem entre as fileiras de plantas que, em geral,
Rogério e Sergio utilizam dois modelos na produção de uva
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são espaçadas a 2,5m, com plantas a cada 1,5m na fileira. O LS R50 tem 1,32m de largura mínima. Mas mesmo com toda esta restrição de tamanho do trator e dos seus equipamentos, o motor deve ter potência necessária para trabalhar com os turboatomizadores, acoplados ao sistema hidráulico e à TDP, e devem ter condições de gerar a corrente de ar necessária para o transporte do produto que está sendo aplicado. Se não bastassem estas exigências, ainda deve ter estabilidade para
deslocar-se nas enormes pendentes características da região, dependendo de um centro de gravidade baixo e bitola considerável. Também não se pode descuidar do vão livre, pois além das ondulações do terreno, há pedras no caminho que se deslocam dos patamares ou que, por seu tamanho, não podem ser retiradas. Durante o ano, as atividades de mecanização são bastante intensas. São diversas as aplicações de diferentes defensivos de proteção contra insetos e doenças e também muitas práticas mecânicas, como a distribuição de fertilizantes e limpeza de vegetação, com roçadeira. Atualmente, a cultura espera a próxima atividade, que é a poda, que tem início na metade do mês de julho. No final do processo a colheita é feita manualmente e o transporte da uva à unidade de recebimento é feito em caminhão próprio da família, a granel, com a carroceria forrada com uma lona atóxica. Mas, tanto o Sergio como o Rogério nos explicavam que, para eles, a mecanização é a única forma de manutenção da produção desta cultura na região e a retenção das pessoas no campo. Dizem que há pouca renovação nas famílias produtoras e a maioria dos agricultores está velha, pois os jo-
Videiras com sistema de condução latada exigem tratores baixos
vens já não querem realizar atividades braçais e de muito esforço. Contaram que vários vizinhos acabaram abandonando a atividade, migrando para a cidade. Suas experiências como clientes LS se iniciaram com a visita a um vizinho que tinha um trator LS modelo G40, por ocasião de uma demonstração feita pelo concessionário local. Eles, que vinham de uma enorme decepção com o seu trator anterior, de outra marca, viram a oportunidade de terminar com a série de incômodos e manutenções inesperadas. Compraram através do Programa Mais Alimentos, no ano de 2017, um trator LS R60 de 56cv de potência máxima a 2.600rpm, que atualmente está com 1.318 horas. O processo de aquisição do modelo R50 foi na base da fidelização feita pelo concessionário e em outubro do ano o compraram, estando atualmente com 191 horas. O trator LS modelo R50 utiliza um motor marca LS, modelo Tier III – S4QL, de quatro cilindros, com 2.505cm3 e aspiração natural, que desenvolve 44cv de potência na rotação nominal de 2.600rpm referenciados pela norma ISO TR 14396. A transmissão é sincronizada Synchro Shuttle de 32 marchas à frente e 16 à ré com super-redutor (creeper) e reversor mecânico. A tomada de potência (TDP) é independente, com acionamento eletro-hidráulico em três rotações, 540/750/1.000. A rotação de 750rpm pode ser utilizada como TDP econômica. O eixo dianteiro é motriz, com acionamento mecânico. O sistema hidráulico tem vazão total de 47 litros por minuto, com engate de categoria II no sistema de três pontos. A pressão máxima é de 200kgf/ cm2 e a capacidade de levante na rótula é de 1.800kgf. São duas as válvulas de controle (VCR) na versão standard e três como opcional com vazão máxima de 31 litros/minuto. Para testar o LS R50 nos deslocamos para duas das áreas próprias da família com um turboatomizador mo-
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delo Bravo 400 do fabricante Vêneto Máquinas Agrícolas. A primeira área era excessivamente declivosa, talvez a maior declividade já alcançada em testes de máquinas da Revista Cultivar. A segunda, de mais recente abertura, estava melhor estruturada e era mais plana. Notava-se a grande dificuldade em manobrar o trator com o equipamento acoplado em um espaço tão pequeno e só a habilidade do operador dava conta de manobrar e deslocar-se nestas condições. Contaram sobre acidentes que ocorrem eventualmente na região por conta das condições dos terrenos. Durante o teste, Sergio nos contou que na safra passada eles fizeram algumas medidas de consumo de diesel trabalhando com o modelo U60 e conseguiram apurar que os níveis de consumo horário ficam entre 1,9L e 2L por hora na atividade de pulverização. Desde o começo da visita já concluímos que há muita satisfação com a escolha de marca. Rogério nos dizia que, depois de outras experiências a sua opinião é de que o trator LS é completo. Ele também valoriza o peso adequado, que faz com que o trator seja estável, mesmo nas árduas condições da propriedade, e conclui que o ponto alto dos dois modelos é que eles possuem o reversor de
sentido e a transmissão, que com seu maior número de marchas possibilita maior adaptação ao trabalho. Para ele também os bons freios ajudam na segurança. Como opcional importante eles destacam o sistema de proteção eletrônica do motor, instalado no R60, que desliga de forma automática o motor do trator, no caso de haver superaquecimento do líquido de arrefecimento ou queda da pressão do óleo. Para eles isto dá tranquilidade e evita gastos com reforma de motor. Os cunhados concordam que talvez ele seja o único trator que tenha tantos recursos na categoria e faixa de potência e que os concorrentes oferecem produtos mais simples e com poucos recursos para adaptarem-se ao trabalho que a situação requer. Durante todo o dia de intensas movimentações e testes tivemos o valioso apoio da concessionária local, Trator Serra, e do gerente da loja matriz, de Caxias do Sul, Julio Cesar Carniel. Ele nos explicava que desde a abertura da loja, em abril de 2013, já foram vendidos perto de mil tratores e que a marca cresce a cada ano na região. A Trator Serra tem loja matriz em Caxias do Sul e postos avançados em Veranópo.M lis e Vacaria. José Fernando Schlosser, Núcleo de Ensaios de Máquinas Agrícolas - UFSM
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PULVERIZAÇÃO
Regramento necessário
Apesar de o Brasil ser conhecido pela grande carga burocrática que tem, algumas regras são necessárias. Na pulverização terrestre, que pode ter perdas de até 50% dos produtos aplicados, a escolha, a correta utilização e as orientações para a aplicação dos produtos são fundamentais para evitar diversas perdas e prejuízos
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entre diversas características, o Brasil é conhecido pela grande carga burocrática que possui, e na mesma medida, somos especialistas em violar normas. Algumas porém, são necessárias e contributivas se bem preparadas, compreendidas e utilizadas.
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Dentre as demandas por normas brasileiras está a pulverização terrestre, pois não há um consenso formal estabelecido sobre as boas práticas que direcionam a atividade. Embora exista uma boa qualidade e disponibilidade de técnicas, equipamentos e acessórios, o seu uso ainda não é su-
ficientemente orientado. A ausência desta orientação implica carência de critérios para decisões mais consistentes, o que resulta em perdas durante a operação. A escolha do tamanho de gotas, por exemplo, não é ação simples e deve levar em conta aspectos como o clima, a especificidade, os hábitos e
Fotos Marcelo da Costa Ferreira
Exemplos de deriva em aplicações de produtos fitossanitários em lavouras de grãos e frutas
a movimentação do alvo, e o desenvolvimento do cultivo. Porém, muitas vezes o que se leva em conta são os gastos de volumes de aplicação e a capacidade operacional, relevando o aspecto principal que é a correta colocação dos produtos nos alvos. Nesse sentido há um desejo natural de obter eficiência no tratamento com o menor custo. Isso é justificável, e as aplicações realizadas podem ter baixo custo, mas a eficiência sem boa técnica nem sempre é alcançada. Esta dualidade entre desejo e necessidade, por si, requer uma análise que resulte no equilíbrio técnico entre eles. Esta análise considera alguns fatores e elementos, os quais observaremos a seguir.
ESCOLHA DO PULVERIZADOR
Muitos agricultores escolhem os seus equipamentos por tradição. Essa tradição surge por fatores emocionais ou por especialidades em um nicho. De toda forma, os diferentes fabricantes de equipamentos buscam a fidelidade de seus clientes destacando cores e formatos que nem sempre distinguem qualidade e tecnologia. Independentemente da marca, a seleção de um equipamento não precisa considerar especificamente o seu tamanho, cor ou preço. É adequado que se considere, no entanto, a robustez desde o conceito do projeto até o atendimento pós-venda. Lembre-se de que o pulverizador é adquirido para pulverizar e não deve passar boa parte do tempo parado por avaria. Por outro lado, capacidade ociosa significa que o investimento foi superdimensionado, o que pode ser traduzido em desperdício de recursos. Neste caso, é muito importante ponderar o tamanho e a quantidade de pulverizadores frente à necessidade de tratamentos e demandas na propriedade. Estes cálculos são razoavelmente simples e resultam numa boa economia de dinheiro, tanto na aquisição quanto na manutenção e no uso dos equipamentos.
COMO USAR O PULVERIZADOR
Definir, portanto, a janela de utilização dos pulverizado-
res de maneira técnica requer alguma capacidade de gestão. Responder perguntas simples, tais como qual o tamanho da área a tratar, quantos dias são disponíveis devido ao clima e ao período crítico de ação, qual a taxa de parada para calibrações e manutenções (preventivas e corretivas), colabora para o planejamento. O estabelecimento de um fluxograma de dimensionamento para a tomada de decisão de aquisição de um equipamento é matéria constante no currículo dos profissionais de Engenharia Agronômica.
PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS
Já os procedimentos operacionais de preparo de caldas, ou da aplicação propriamente dita, configuram uma atividade em constante atualização. O dinamismo vai da legislação até a disponibilidade de novas formulações. Desde outubro de 2018, por exemplo, a mistura de produtos nos tanques dos pulverizadores é permitida em receituário agronômico, sendo “de competência e responsabilidade do engenheiro agrônomo a interpretação das recomendações oficiais, visando a elaboração da receita agronômi-
Detalhe de restos de produto dentro dos filtros
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Fotos Marcelo da Costa Ferreira
Manômetro com problemas por falta de manutenção
ca em consonância com as boas práticas agrícolas e com as informações científicas disponíveis” (IN SDA n. 40, 11/10 2018, Art. 3º). Para estes aspectos, os profissionais responsáveis devem se manter atentos às leis, aos novos produtos disponibilizados e à sua compatibilidade. Neste particular, há um bom número de reuniões científicas no País, onde as inovações são apresentadas, com complementos em publicações de natureza diversa. Os procedimentos para a configuração ou regulagem e para a calibração dos pulverizadores, também são bastante conhecidos nos meios acadêmicos. Mas este conhecimento não encontra a capilaridade suficiente para atingir a todo o setor produtivo. O resultado disto é uma casuística intensa de ocorrências, desde o entupimento de filtros e pontas de pulverização até graves relatos de deriva. Há trabalhos que atestam perdas que podem variar de 20% a mais de 50% nas aplicações, decorrentes de práticas inadequadas na aplicação. Essas perdas afetam diretamente o bolso dos agricultores que investem alto para obter um resultado, e uma boa parte deste investimento não produz o efeito esperado. Considerando o percentual de 20% de perdas, o prejuízo direto em produtos seria atualmente em torno de US$ 2 bilhões anuais no
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Brasil. Além disso, há as perdas indiretas relativas aos prejuízos em cultivos adjacentes e a eventuais indenizações e contaminações ambientais com riscos de intoxicação humana. Adequações nos projetos e componentes dos pulverizadores, no de preparo e agitação das caldas, no uso dos adjuvantes, na seleção e instala-
ção das pontas de pulverização, na pressurização da calda, na altura das barras, nos programas de manutenção dos equipamentos e na habilitação dos operadores podem colaborar para a diminuição das perdas. A necessidade de elaboração de procedimentos e normativas que orientem as atividades nacionalmente é evidente. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem envidado esforços neste sentido. Há também projetos de extensão e consultoria que levam conhecimentos aos agricultores. Porém, ainda há demanda nacional por um trabalho coordenado destas atividades, como já existe em outros países, ao qual esperamos que a efetivação ocorra em breve, para que a agricultura que já é forte e emblemática no Brasil se torne ainda mais .M econômica e segura. Marcelo da Costa Ferreira, NEDTA/Unesp
PULVERIZAÇÃO
Jacto
pH ajustado
Um dos segredos para uma aplicação eficiente é utilizar água com pH adequado, garantindo assim a preservação da integridade dos defensivos e seus princípios ativos
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abe-se que o custo de uma lavoura com a aplicação de agroquímicos ou defensivos agrícolas varia de 20% a 30%. A melhoria da eficiência da aplicação pode reduzir o volume de defensivos utilizados em até 40%. É possível obter esse cenário através de conhecimentos em tecnologia de aplicação, o que, além de prover benefícios econômicos, contribui para a segurança ambiental. Diversos fatores influenciam na qualidade das aplicações e eficácia dos defensivos agrícolas no controle dos agentes nocivos. Dentre as condições ambientais citam-se a temperatura, a radiação solar, a luminosidade, a velocidade do vento e umidade relativa do ar, a umidade do solo e chuva antes, durante e após a aplicação; fatores atribuídos à operação propriamente dita como regulagem e calibração do pulverizador, velocidade de aplicação, pontas de pulverização, tecnologia embarcada, características físico-químicas da água e mistura da calda de pulverização; e fatores relacionados ao alvo biológico como arquitetura de plantas, estágio de desenvolvimento da cultura, mobilidade do produto na planta, hábitos do agente nocivo e parte da planta a ser tratada. Para a diluição dos defensivos agrícolas e composição da calda de pulverização, normalmente utiliza-se água. Quando há inadequação da sua qualidade físico-química a eficácia do controle é afetada, estando associada principalmente a condição de elevado conteúdo de minerais (água dura) e calda com pH alcali-
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Charles Echer
O pH da calda de pulverização possui alta relevância na eficácia do controle de pragas e doenças por defensivos agrícolas
no (acima de sete). Além disso, a presença ou ausência de substâncias químicas, tais como cálcio, cloro, enxofre e magnésio, bem como de elementos em suspensão, a exemplo de argila, areia e matéria orgânica, pode comprometer severamente a eficiência da aplicação e eficácia do controle. Nesse contexto, o pH da água merece destaque, pois quando inadequado, pode não preservar a integridade dos defensivos e reduzir a atividade de vários princípios ativos. Muito conhecido, o pH define o grau de acidez ou alcalinidade de uma solução em uma escala de 0 a 14, onde 7 significa neutralidade, isto é, mesma quantidade de hidrogênio e hidroxila. A maioria dos produtos formulados é mais eficiente numa determinada faixa de pH da calda. De modo geral, os defensivos apresentam maior eficiência quando em caldas com pH levemente ácido, variando de 5 a 6. A utilização de caldas com distância muito ampla entre a melhor faixa de ação e a utilizada afeta a estabilidade dos ingredientes ativos no campo e pode tornar o controle ineficaz. Dificilmente são utilizadas caldas com pH inferior a 3,5, pois abaixo deste valor poderá ocorrer dissociação iônica e precipitação do produto. Neste caso, há a redução da solubilidade e a segregação da solução, o que concentra o produ-
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to numa parte e a água em outra, tendo como consequência calda e aplicação não homogêneas. Neste caso, uma parte da área aplicada pode ficar sem controle e em outra, quando o equipamento aplicar o produto segregado concentrado, pode ocorrer fitotoxicidade nas plantas. Quando há a necessidade de baixar o pH da água, a correção pode ser feita pela adição de um ácido fraco ou de um ácido forte diluído. De forma prática, os agricultores podem utilizar sumo de limão, vinagre ou ácido fosfórico diluído. Outras substâncias ácidas como ácido muriático, cítrico, acético-vinagre, sulfatos etc. também podem ser usadas. Além disso, existem produtos comerciais com esta finalidade. A utilização de sumos ácidos como o de limão para o ajuste da calda exige aferições do pH a cada preparo, pois o pH varia com a cultivar de limão utilizada, com o grau de amadurecimento e com o teor de água no fruto. Já o uso do vinagre ou ácido fosfórico é facilitado devido a esses produtos terem uma ação acidificante conhecida. Para exemplificar, o pH normalmente encontrado nas águas da região de Brasília (DF) varia entre 5 e 7. Normalmente as águas de superfície são mais próximas do neutro, variando de 6,5 a 7, já as águas do subsolo, provenientes
dos poços tubulares (artesianos), variam de 5 a 7. Poucas regiões no País possuem águas com pH elevado, acima de 7. Neste caso, elas contêm altos teores de bicarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos de cálcio e magnésio. Raras regiões possuem águas minerais e alcalinas, onde o pH pode atingir níveis superiores a 9. Neste caso, muitos defensivos agrícolas reduzem drasticamente a meia-vida hidrolítica, que é o tempo necessário para que 50% do produto deixe de ser efetivo. Para o ajuste recomenda-se a medição do pH em duas épocas do ano, no período seco (inverno) e no chuvoso (verão), pois chuvas e enxurradas alteram as características físico-químicas da água. Desta maneira é possível obter a média de pH de cada época, em cada propriedade e, melhor ainda, em cada fonte de água a ser utilizada na pulverização. A partir da medição determina-se a quantidade necessária de ácido a ser adicionada para a correção do pH. A aferição do pH da água pode ser realizada utilizando-se kits de teste rápido por reagente vermelho fenol, aparelhos pHmetro portáteis e até mesmo papel sensível. Outra maneira menos prática para o produtor rural é fazer a titulação em laboratório e determinar a concentração necessária de determinado produto para atingir o pH desejado. Independentemente do método, sugere-se que o agricultor faça a medição do pH sempre que adicionar uma quantidade do corretivo em 20 a 50 litros de água, para que este não ultrapasse o valor desejado. Ressalta-se que o ajuste deve ser realizado de forma cautelosa, especialmente quando são utilizados ácidos fortes e com risco à saúde humana. Após descobrir a quantidade de ácido necessária, completa-se a quantidade do tanque do pulverizador até a metade, adiciona-se o redutor de pH e o defensivo agrícola e, por fim, completa-se a quantidade do tanque com água até a sua capacidade máxima. Para praticidade e informação ao pro-
Tabela 1 - Efeito de pH da calda sobre a vida média de produtos fitossanitários, reguladores de crescimento e fertilizantes
Produto comercial Omite 720 CE BR Vertimec 18 CE Decis Dicarzol 500 SP Dipel PM Karate Zeon 50 CS Lannate BR Match EC Nomolt 150 Orthene 750 BR Cercobin 700 PM Daconil BR, Bravonil Dithane PM, Manzate 800 Reconil, Agrinose, Cupravit Score Afalon SC Fusilade 125 Glifosato Nortox, Roundup Tordon 2,4 D
Ingrediente ativo Propargite Abamectina Deltametrina Cloridrato de formetanato Bacillus thuringiensis Lambda-cialotrina Metomil Lufenurom Teflubenzurom Acefato Tiofanato metílico Clorotalonil Mancozeb Oxicloreto de Cobre Difenoconazole Linuron Fluazifop Sal de isopropilamina Picloram 2,4 D
Sérgio Rufino Maciel, Emater, DF Francisco Faggion Tiago Pereira da Silva Correia Victória Linhares, UnB
Kuhn
Fonte: Informativo 061 Cooplantio, s.d. e Campo & Negócio. Grãos. Fev 2016.
pH ideal 6,0 5,0 4,0 6,0 5,0 4,0 5,0 5,0 5,0 5,0 5,0 Não afetado 5,0 5,0 - 6,5 5,0 5,0 4,0 3,0 5,0 5,0
dutor, na Tabela 1 são apresentados alguns defensivos agrícolas, com seus respectivos ingredientes ativos e o pH ideal da calda de pulverização. Como mostrado, o pH da calda de pulverização possui alta relevância na eficácia do controle de pragas e doenças por defensivos agrícolas. Desta forma, recomenda-se o ajuste do pH da calda de acordo com o ideal de cada produto de forma a melhorar a sua eficácia e diminuir o volume aplicado. Ainda são restritas as informações sobre o tema, sendo necessários mais estudos e divulgação de dados, especialmente nas bulas dos defensivos agrícolas e por profissionais da área, para que os agricultores tenham as informações necessárias a fim de melho.M rar as aplicações.
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COLHEDORAS
Pinhalense
Limpeza lucrativa
Com o uso de máquinas e tecnologias cada vez maior por parte dos cafeicultores, a colheita é uma das etapas mais importantes, proporcionando mais qualidade e agilidade e redução nos custos da operação. Mas é preciso conhecer bem os sistemas que compõem as máquinas, como os de limpeza, para mantê-los sempre funcionando adequadamente
O
Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) a produção total do País no ano de 2019 foi de 49,31 milhões de sacas. Para 2020, a Conab estima um crescimento na produção entre 15,9% a 25,8% em relação à temporada passada, ou seja, de 57,2 a 62,02 milhões de sacas beneficiadas. Para o café Arábica, a produção estimada (Conab) chega a 45,93 milhões de sacas e aumento de 1,4% na área plantada. Com esse cenário de crescimento na
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produção, área e de novos mercados consumidores, o uso de máquinas e novas tecnologias tem sido cada vez mais requisitado pelo cafeicultor, a fim de reduzir os custos de produção e atender à demanda. Dentre os processos de produção, a colheita é uma das etapas na qual a mecanização tem contribuição expressiva. Com intuito de proporcionar a redução dos custos, a colheita mecanizada também garante agilidade no processo, proporciona melhor qualidade do produto, preserva as plantas e coloca o cafeicultor
mais competitivo no mercado agrícola. Assim, a procura por colhedoras de café tem aumentado significativamente nos últimos anos, em diversas regiões produtoras. Em consequência disso, novos modelos de colhedoras de café têm surgido no mercado recentemente. As colhedoras de café são classificadas em automotrizes (possuem motorização para deslocamento e acionamentos) e tracionadas (também conhecidas como de arrasto, que necessitam de uma fonte de potência externa como o trator, para tracio-
Pinhalense
tor hidráulico.
AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS DE LIMPEZA
As avaliações dos sistemas de limpeza foram realizadas em três situações. Na primeira, os grãos colhidos pela máquina foram descarregados diretamente na carreta, no segundo, os grãos foram colhidos e direcionados para o graneleiro e por último foi realizada avaliação proveniente da descarga dos frutos que estavam no graneleiro.
DESCARGA NA CARRETA
Caracteriza a operação quando a colheita é realizada com os frutos de café colhidos sendo transportados para a carreta do trator que acompanha a máquina. Nessa situação, o café derriçado é recolhi-
do e direcionado para os elevadores que os levam para o transportador horizontal e em seguida transportado para a bica de descarga que deposita os frutos na carreta. Neste circuito, os frutos de café passam pelo sistema de limpeza uma única vez, na saída do transportador transversal para a bica de descarga.
DESCARGA NO RESERVATÓRIO GRANELEIRO
A colheita com descarga no reservatório do graneleiro é feita quando esta é realizada com os frutos de café colhidos sendo direcionados diretamente para o próprio reservatório da máquina. Nessa situação, o café derriçado é recolhido e direcionado para os elevadores que os levam para o transportador horizontal, o
Fotos LD Gonzaga
nar a colhedora). Ambas são constituídas por sistemas que em conjunto realizam os processos de derriça, recolhimento, transporte, limpeza, armazenamento e descarga dos frutos. Cada um desses sistemas realiza funções importantes e está diretamente relacionado ao sucesso da colheita, e por isso é fundamental que o cafeicultor esteja atento aos detalhes e às diferenças entre cada tipo de sistema para que não haja prejuízos na colheita. Dessa forma, o presente estudo apresenta uma avaliação comparativa entre três sistemas de limpeza dos frutos colhidos (abanação). Os ensaios de campo foram realizados em uma lavoura de cultivar Catuaí Vermelho IAC 144, plantada no espaçamento 3,50m x 0,70m, produção média de 11 litros por planta e porcentagens de maturação de 47% de frutos verdes, 32% de frutos cerejas e 22% de frutos passa e secos. A colhedora utilizada para avaliar os sistemas foi a de modelo P1000 fabricada pela Pinhalense S/A Máquinas Agrícolas. Para fins comparativos, cada um dos sistemas foi montado e avaliado no mesmo modelo de máquina. O sistema de limpeza dessas máquinas é responsável por retirar impurezas como folhas e fragmentos dos galhos da planta de café que permanecem juntos aos frutos que foram derriçados. Quanto mais limpo estiver o café colhido, menores os custos operacionais nos sistemas de pós-colheita (pré-limpeza, via úmida, secagem natural e mecânica) e maior a tendência de preservar a qualidade do café. Esses sistemas são formados por uma voluta e uma ventoinha acionada por mo-
Detalhes da situação da lavoura onde o experimento foi conduzido para testar os sistemas de limpeza da colhedora de café
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Fotos LD Gonzaga
Sistemas de limpeza avaliados Para cada uma das situações de descarga avaliaram-se três sistemas de limpeza. O sistema de limpeza 1 foi constituído por ventiladores que utilizam ventilação de baixo para cima, empurrando as impurezas com fluxo de ar no sentido ascendente (“sopro”). Esse sistema possui dois ventiladores, um posicionado na saída do transportador transversal para o graneleiro e outro na saída do transportador transversal para a bica, ambos abaixo do fluxo de café, “soprando” as impurezas. O sistema de limpeza 2 é constituído por dois exaustores que utilizam sucção das impurezas de baixo para cima. Ambos estão posicionados nas extremidades superiores do transportador transversal. O sistema de limpeza 3 é constituído por dois exaustores que utilizam sucção das impurezas de baixo para cima. Ambos estão posicionados na parte superior dos elevadores. Sistema de limpeza 1
Sistema de limpeza 2
Sistema de limpeza 3
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Figura 1 - Condição do café colhido
qual transporta os frutos para o reservatório graneleiro. Neste circuito, os frutos de café passam pelo sistema de limpeza uma única vez, na saída do transportador transversal para o graneleiro.
DESCARGA NA CARRETA DO TRATOR
Esta situação pode acontecer com a máquina parada ou em operação de colheita. Quando parada, os cafés que estão no graneleiro, saem pela parte inferior e são direcionados para a carreta passando pelo elevador direito, transportador transversal e bica de descarga. Assim, os frutos que estavam armazenados no graneleiro e que já passaram uma vez pelo sistema de limpeza, passam novamente pelo segundo sistema de limpeza. Quando em operação, os cafés que estão saindo do graneleiro passam duas vezes pelo sistema de limpeza e os cafés que estão sendo colhidos passam uma única vez pelo sistema de limpeza. O experimento consiste de um fatorial 3 x 3 x 3, sendo três situações de descarga (circuito do café na máquina), três tipos de sistemas de limpeza (posições dos ventiladores) e três repetições, respectivamente, totalizando 27 tratamentos. Para cada tratamento foi coletada amostra de 60L utilizando balde graduado. Em seguida, as amostras foram abanadas manualmente utilizando peneiras e as impurezas foram separadas dos frutos de café e calculada a proporção em cada amostra. Após a medição das três repetições, calculou-se a média. Após a coleta das amostras, foram obtidos os seguintes resultados. Para o sistema de limpeza 1 (ventiladores posicionados abaixo do transportador transversal, fazendo separação por “sopro” de baixo para cima), verificou-se que o café colhido e direcionado para descarga direto na carreta, sem passar pelo graneleiro, apresentou 13% de impurezas. As amostras retiradas de dentro do graneleiro apresentaram 8% de impurezas, uma redução de 5% em relação ao café direcionado direto para a bica de descarga (carreta). E as amostras retiradas na carreta, após descarga do café que estava no graneleiro, apresentaram 7% de impurezas, indicando que ao retornar do graneleiro, o café passa novamente pela ventilação na saída para a bica, passando então por duas limpezas. Para o sistema de limpeza 2 (ventiladores no transportador transversal e separação por sucção), os resultados demonstram que as amostras correspondentes à descarga na carreta apresentaram 5% de impurezas. As amostras coletadas no graneleiro também apresentaram 5% de impurezas. Já as amostras coletadas na carreta, correspondentes à descarga do graneleiro, apresentaram 3% de impurezas. Isso significa que por pas-
sar duas vezes pela ventilação, houve redução de 2% na quantidade de impurezas encontradas. Para o sistema de limpeza 3 (ventiladores posicionados na “cabeça” dos elevadores e separação por sucção), os resultados demonstram que as amostras coletadas na carreta apresentaram 3% de impurezas. As amostras coletadas dentro do graneleiro apresentaram 2,5% de impurezas. E as amostras coletadas na carreta, correspondentes da descarga do graneleiro, apresentaram apenas 1,2% de impurezas, redução de até 1,8% das impurezas. Os resultados discutidos são apresentados no Gráfico 1. Os resultados mostraram melhoria de até 80% na limpeza do café colhido. Os sistemas 2 (ventiladores por sucção montados no transportador transversal) e 3 (ventiladores por sucção montados na cabeça dos elevadores) apresentaram melhoria significativa quando comparados ao sistema atual. A condição do café colhido é evidenciada através da Figura 1, que representa os sistemas 1, 2 e 3 avaliados, respectivamente. Pode-se notar a redução das impurezas no café depositado no terreiro, melhorando a limpeza na sequência 1, 2 e 3 respectivamente. De acordo com os resultados, concluiu-se que o sistema de limpeza 3, que possui os ventiladores posicionados sobre os elevadores realizando separação por sucção, apresentou menor quantidade de impurezas no café colhido. Esse
Figura 2 - Cálculo do volume de impurezas transportadas nos diferentes sistemas avaliados, considerando a descarga do graneleiro (melhor condição encontrada)
Período
1 dia Safra de 60 dias
Sistema de Limpeza 1 2.940 L/dia ou 0,74 carreta de 4.000 L/dia 44,1 carretas de impurezas
sistema pode reduzir consideravelmente os custos com logística, combustível, custos operacionais das etapas de pré-limpeza, redução da energia necessária para secagem dos cafés, além de facilitar os trabalhos no pós-colheita e ser favorável à qualidade final do produto. Geralmente, as impurezas são observadas pelo cafeicultor apenas quando o café é depositado no terreiro ou nos sistemas de pré-limpeza. Quantificar e buscar redução da quantidade de impurezas é tarefa importante e pode reduzir custos consideráveis durante o processo. Considerando, por exemplo, uma colheita com rendimento médio de 70 medidas por hora, com jornada de trabalho de dez horas por dia, obtém-se um total de 700 medidas ou 42 mil litros, ou seja, 10,5 carretas de quatro mil litros por dia. Sendo assim, ao final de uma sa-
Sistema de Limpeza 2 1.260 L/dia ou 0,3 carreta de 4.000 L/dia 18,9 carretas de impurezas
Sistema de Limpeza 3 504 L/dia ou 0,12 carreta de 4.000 L/dia 7,5 carretas de impurezas
fra fictícia de 60 dias, neste ritmo de colheita, têm-se os resultados de impurezas com os sistemas avaliados, conforme Figura 2. Assim, conhecer a diferença entre os sistemas que compõem as máquinas colhedoras de café é fundamental para os cafeicultores. A simulação apresentada evidencia a realidade do transporte de impurezas que estão misturadas aos frutos colhidos, para os diferentes sistemas avaliados. Quando as impurezas são separadas e quantificadas, é possível entender o benefício de se utilizar sistemas .M mais eficientes. Luiz de Gonzaga Ferreira Júnior, Lucas Kemps Ferreira e Renata Rezende Nogueira, Gonzaga Consultoria Agrícola Ltda Cassiano A. F. de Godoy e Bruno Rodolfo Mune Zuim, Pinhalense S/A Máquinas Agrícolas
Gráfico 1 - Avaliação dos Sistemas de Limpeza “Abanação”
Pesquisador Luiz de Gonzaga Ferreira Júnior, responsável pelo experimento
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PULVERIZAÇÃO
Menos é melhor Apesar de muitos produtores ainda relacionarem maior pressão e grandes quantidades de calda aplicada com eficiência de pulverização, experimentos mostram que a redução no volume de aplicação pode melhorar a qualidade da operação em videiras, além de evitar danos ambientais e perdas 40
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A
região da Serra gaúcha se destaca pela tradição no cultivo da uva, e esta continua ganhando cada vez mais importância econômica. Entretanto, junto com esta tradicional produção, arraigaram-se métodos e costumes dos agricultores. Quando surgiram os primeiros métodos de aplicação de produtos químicos, que foi a bomba hidráulica estacionária com a calda conduzida por mangueiras até as plantas a serem tratadas, utilizava-se grande pressão para atingir a maior distância possível do produto aplicado e, logo por consequência, maior quantidade de calda, reduzindo ao máximo possível o deslocamento humano. Muitos agricultores passaram a utilizar grandes taxas de aplicação (litros/ha de cal-
Charles Echer
proporcionam maior capacidade de penetração são indicadas quando é necessária uma boa cobertura no dossel, caso dos produtos com ação por contato, exemplo da maioria dos fungicidas e inseticidas. Por outro lado, as gotas maiores são recomendadas para princípios ativos com forte ação sistêmica, apresentada nos mais comuns. O número de impactos de gotas de pulverização por área, parâmetro que deve ser monitorado para evitar o escorrimento, descreve a cobertura, densidade de gotas (número de gotas/cm2). Esse valor geralmente é desconsiderado pelo fabricante na bula do agroquímico, deixando a cargo do agricultor a adequada escolha. No entanto, recomendam-se as respectivas densidades conforme o produto a ser aplicado. Para fungicidas, densidades entre 60 e 70 gotas/cm2, quando sua ação for por contato. Quando a ação deste agroquímico for sistêmica, uma densidade menor é necessária, passando para 40 a 60 gotas/cm2, pelo fato deste tipo de atuação não exigir grande cobertura dos alvos. Já para a aplicação de inseticida, recomenda-se densidade mínima de 40 gotas/cm2. Para evitar a translocação aérea e as perdas por deriva, recomenda-se diâmetro entre 100µm e 200µm, e densidade de 70 a 100 gotas/cm2 para a melhor eficiência dos fungicidas. Para descrever a qualidade da pulverização de uma condição tradicional comparativamente a alternativas simples que poderiam ser facilmente adotadas pelos produtores, foram empreendi-
Rogério Aimi
da) e altas pressões quando adotaram os pulverizadores tratorizados, pois perpetuou-se o costume utópico de quanto mais pressão e maior quantidade de calda aplicada, maior será a garantia de
uma boa pulverização. O conceito de qualidade de pulverização na videira é estipulado pelo número de impactos das gotas em função da área. Nessa condição, caso a diluição do agroquímico tenha sido corretamente calculada, a meta da quantidade de defensivo depositada pretendida será obtida. Ultrapassar excessivamente esse parâmetro significa extrapolar a capacidade de retenção da videira, que as gotas não serão fixadas e, em seu movimento de escorrimento sobre a folhagem, irão juntar-se com outras gotas e aumentar ainda mais as perdas para o solo. Pode-se dizer que em condições de escorrimento, mesmo usando mais calda, menos agroquímico resta depositado sobre as folhas. Para evitar a deriva e o escorrimento é essencial a formação de gotas com o diâmetro ideal para a aplicação. O diâmetro mantém relação inversamente proporcional à pressão, em vista disso então, para cada tipo de ponta, é possível obter gotas maiores com a redução da pressão de trabalho, e, quando esta é aumentada, são geradas gotas menores. O tamanho médio das gotas e a qualidade do espectro gerado são afetados também por outros fatores, como a composição da calda em função da sua formulação. O tamanho de gotas é um bom indicativo da capacidade da aplicação em cobrir o alvo e penetrar na massa foliar. As gotas menores são mais capazes de cobrir todo o alvo, por apresentarem maior número de gotas, e como
Detalhe da cobertura de produto sobre as videiras na aplicação com volume reduzido
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Fotos Charles Echer
Muitas vezes, a substituição do bico de aplicação já é suficiente para tornar a operação mais eficiente
das atividades com o objetivo de avaliar o índice de impactos de gotas de pulverização em função de duas pontas, dos terços do dossel e da face das folhas. Os testes foram organizados na forma de um experimento fatorial, de duas pontas, três terços e duas faces (2x3x2) com quatro repetições. Um experimento foi realizado na Estação Experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Bento Gonçalves, no distrito de Tuiuti. O vinhedo era de variedade Isabel, conduzida no sistema latada, na época de preenchimento de grãos, onde a massa folhar apresenta-se bem densa, entretanto, não atingindo seu pleno crescimento vegetativo. Para a pulverização utilizou-se um trator agrícola de rodas 4x2 com TDA, marca Yanmar modelo 1155 acoplado a um pulverizador hidropneumático de turbina axial da marca Jacto, com capacidade de 500 litros, com defletor de ar interno em forma de cone, equipados com duas pontas de tipo cone, para modificar a vazão e a quantidade de calda aplicada. Na pulverização utilizou-se a ponta laranja,
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com maior vazão, da marca MagnoGet (pulverização original realizada no vinhedo), em seguida a ponta preta da mesma marca, porém de menor vazão (condição alternativa visando melhorar a qualidade da pulverização). Foram medidos os tamanhos dos impactos das gotas e sua densidade em ambas as faces da folha, parte diretamente exposta à pulverização e também na face posterior, foi conduzido pela metodologia de cartões hidrossensíveis, pelos quais se identificam as variáveis cobertura da pulverização, número de gotas/cm2 e diâmetro mediano das gotas, pela análise destes após a digitalização. Para esta etapa utilizou-se o programa “Gotas”, desenvolvido pela Embrapa. O programa utiliza imagens digitalizadas dos alvos de pulverização com as manchas de gotas do cartão especial, com a face impregnada com o corante azul de bromofenol, onde, na sua forma normal, apresenta coloração amarela. Quando as gotas atingem a superfície, produzem manchas azuis, gerando bom contraste com a cor de fun-
do, tornando facilitada sua visualização. Para fornecer uma interpretação da densidade de gotas que pudesse ser alinhada com as recomendações de cobertura e que pudesse ser expedita para atender o acompanhamento da pulverização, foi criado o índice de Impactos de Gotas de Pulverização (IMP). Estes índices foram classificados em cinco níveis de cobertura de acordo com a quantidade de impactos de gotas no alvo/cm2. O índice de impactos desenvolvido atribui notas de classificação, pela avaliação visual dos cartões, tendo como referencial a Tabela 1. Durante a execução desse processo utilizaram-se dois parâmetros, a verificação do número de diâmetros gerado pelo programa Gotas e a comparação visual entre os cartões, que se complementaram, pois o primeiro não permite identificar a coaliescência de gotas e a condição de escorrimento. Para delimitar a avaliação visual, tomaram-se por base os cartões da Tabela 2, com as respectivas referências: Os resultados encontrados demonstram que a média geral obtida no índice de impactos foi de 3,97, valor considerado ideal com cobertura em torno de 100 gotas/cm2. Esta média representa valor limite para evitar-se escorrimento e perdas ambientais. A distribuição das amostras nas categorias do IMP está disposta na Tabela 3. A predominância do IMP 4 na ponta laranja demonstra que, embora a média esteja em um padrão de IMP adequado, esse índice encontra-se no limite entre o excesso de calda e o escorrimento, enquanto que na ponta preta, ainda que o IMP também esteja concentrado no nível 4, demonstra que o índice tende entre o excesso de calda e o ponto ideal. A ocorrência de escorrimento em oito das 36 amostras, predominante na ponta laranja, retrata o excesso do volume de calda aplicado quando utilizada essa ponta. Quando observada a ponta preta, o IMP fica distribuído entre 4 e 3, resultado quase ideal, visando que o IMP 3 seria o objetivo da aplicação. Quando comparadas as duas pontas
de pulverização, estas apresentaram os valores descritos na Tabela 4. Apesar do resultado do índice ser maior para a ponta Laranja, isso não é positivo, pois quando se obtém um valor maior que 4, temos escorrimento, ou seja, há uma perda da calda aplicada para o solo. Ao analisar as faces das folhas, os resultados foram dispostos na Tabela 5. A face inferior das folhas apresentou média maior no índice de impactos, esse resultado é explicado pelo fato dessa face estar diretamente voltada para o pulverizador e sentido de encontro ao movimento das gotículas de calda, resultando no impacto direto destas. Já a face superior encontra-se voltada ao lado oposto do alvo da aplicação, onde as gotas maiores não atingem essa parte, sendo mais frequente o alvo das gotas menores. Na média dos terços, a ponta preta deteve IMP dentro do ideal, de 3,67 a 3,83, considerado uma boa pulverização, enquanto a laranja apresentou valores de 4 a 4,3, representando excesso de calda aplicada. O simples processo de substituir a ponta do bico de pulverização pode gerar ganhos no combate às pragas e doenças na videira, diminuir desperdício, reduzir custos e, principalmente, diminuir
Tabela 1 - Níveis considerados do Índice de Impacto nas análises dos cartões
IMP
Intervalo
1 2 3 4 5
1 a 1,99 2 a 2,99 3 a 3,99 4 a 4,99 5
Cobertura da pulverização Baixa Regular Ideal Excesso Escorrimento
Densidade (Gotas/cm2) D < 40 40 > D > 70 71 > D > 100 D > 100 Grande área com sobreposição de gotas Tabela 2 - Parâmetros para a análise dos cartões hidrossensíveis
o impacto ambiental, obtendo-se, portanto, a otimização dos recursos e processos aplicados na produção agrícola. A alteração apenas das pontas de pulverização foi eficaz em reduzir o índice de impactos em níveis recomendados, sendo capaz de auxiliar na melhoria da qualidade da pulverização e na redução dos impactos ambientais. Quando reduzido o volume da calda aplicada, há uma significativa diminuição do escorrimento nas folhas mais próximas ao pulverizador, aumentando a qualidade da aplicação, e, quando abordada a parte superior do dossel, a densidade de gotas manteve o .M mínimo recomendado. Rogério Aimi e Otávio Dias da Costa Machado, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
Alvo
Parâmetro D < 40 gotas/cm2 D 40 gotas/cm2 D 70 gotas/cm2 D 100 gotas/cm2 D > 100 gotas/cm2 Escorrimento
Tabela 3 - Distribuição do IMP pela cor da ponta
IMP 1 2 3 4 5
Pontas de pulverização Laranja 0 0 2 10 6
Preta 0 0 7 9 2
Tabela 4 - Médias das duas pontas de pulverização
Ponta de pulverização Laranja Preta
Índice de impactos 4,22 b 3,72 a
Tabela 5 - Média nas duas faces da folha
Face da folha Superior Inferior
Índice de impactos 3,50 a 4,44 b
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COMBUSTÍVEIS
Temperat A temperatura do diesel sempre interfere no consumo de combustível específico, e quando há mistura de biodiesel este comportamento sofre ainda mais influência da temperatura
A
busca por novos insumos com características renováveis para a produção de combustíveis, com o intuito de substituir os derivados de petróleo, está abrindo portas para a biomassa, que possui grande disponibilidade, baixo custo e rápida degradação. O biodiesel é um combustível renovável, provindo de óleos vegetais, que pode ser utilizado nos motores de ciclo diesel, podendo servir como fonte de energia para movimentar veículos pesados como tratores e caminhões. Atualmente, o diesel comprado nos postos brasileiros vem com no mínimo 10% de biodiesel, porcentagem esta regida por lei (nº 13.263/16), sendo que o país tem como meta subir essa quantidade de mistura até 20% nos próximos anos. Essa obrigatoriedade da adição de biodiesel no diesel é decorrente da necessidade da diminuição da emissão de gases de efeito estufa, além de que, a utilização do biodiesel é importante na economia do campo, fomentando a indústria do agronegócio, sendo mais um subproduto de valor, além de ter como vantagem ser biodegradável. O biodiesel apresenta maior viscosidade que o diesel, que é totalmente proveniente do petróleo, e quando adicionado ao mesmo, altera suas características originais. Sendo assim, os veículos atuais movidos a diesel exigem filtros mais específicos, devido à utilização da sua mistura com biodiesel. Essa mistura, proporciona uma redução na emissão de gases de efeito estufa, e dependendo da porcentagem de mistura entre diesel e biodiesel, pode chegar a mais de 50% de redução na emissão. A letra B, seguida de um número, é utilizada para informar o percentual de biodiesel adicionado à mistura, por exemplo, diesel B10, corresponde a 10% de biodiesel na mistura. O biodiesel apresenta menor poder calorífico, exigindo maior temperatura de queima na câmara de combustão dos motores. Por isso, geralmente o consumo de biodiesel é superior em até 10% ao consumo de diesel puro. No entanto, o biodiesel apresenta custo mais elevado que o diesel, e baixa instabilidade quando exposto ao ar, podendo sofrer degradação (oxidação), também pode cristalizar em baixas temperaturas e formar cristais, dificultando a partida do motor frio, além de possuir característica higroscópica (afinidade pela água). Quando a água é absorvida no diesel, torna-se um problema, principalmente no sistema de injeção (bicos injetores). Além de promover oxidação dos componentes do sistema e do motor, essa mesma água absorvida pelo combustível pode propiciar a disseminação de
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Fotos Lauro Strapasson Neto
ura x consumo Trator T6050 instrumentado, para a aquisição de dados e no sistema de comboio, método pelo qual o ensaio foi conduzido
micro-organismos formadores de “borras”, que poderão obstruir filtros e bicos injetores. Sendo assim, é fundamental manter a qualidade do diesel juntamente com a correta manutenção do sistema de filtros do trator, que quando não realizadas, interferem diretamente na performance da máquina, ocasionando desgaste precoce do motor. Portanto, a manutenção periódica destes itens mantém o equipamento em boas condições de uso e de trabalho. É importante ressaltar que o diesel não apresenta prazo de validade regido por lei, porém existem recomendações quanto ao seu período de armazenamento, segundo a ANP (Agencia Nacional de Petróleo) indica-se que o diesel não seja armazenado por período de tempo superior a 30 dias, pois pode oxidar e absorver água. Entretanto, esse período pode ser prolongado, variando da condição que está sendo armazenado, todavia quando mal armazenado, pode trazer sérios riscos aos sofisticados motores eletrônicos atuais, que trabalham com alta pressão de injeção. O consumo de combustível do trator agrícola engloba um dos custos mais elevados nas operações agrícolas, sendo que o total consumido está diretamente ligado a fatores como adequação, regulagem e condição do conjunto motomecanizado, profundidade de operação, tipo e condição de solo, declividade, número total de operações realiza-
das no processo de preparação do solo, entre outros. Os novos motores eletrônicos que utilizam biodiesel são mais eficientes energeticamente, devido aos modernos sistemas de arrefecimento, que apresentam um rigoroso controle de temperatura, garantindo melhor aproveitando do sistema. Mensurar a quantidade de combustível gasto pelo trator é fundamental, visto que essa mensuração representa a informação de combustível consumido, implicando diretamente desempenho do motor, responsável este por converter a energia mecânica em energia de trabalho. Um importante fator a ser mensurado é o consumo de combustí-
vel específico, que considera a densidade do diesel utilizado, obtida em função da temperatura do mesmo. O consumo específico de combustível é um parâmetro de comparação muito usado para mostrar quão eficientemente um motor está transformando combustível em trabalho, sendo definido como a massa de combustível consumida (consumo mássico) em um certo período de tempo, dividido pela potência desenvolvida, ou seja, pode ser definido como a quantidade de combustível necessária para produzir uma unidade de potência. Portanto, é uma medida da eficiência do motor. Quanto menor for o consumo específico, maior será a eficiência da máquina.
Diferença no consumo em função da temperatura do combustível
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TEMPERATURA X CONSUMO
A temperatura do óleo diesel interfere diretamente na densidade deste, o que implica alteração da sua viscosidade, que modifica a qualidade da formação de mistura ar/combustível ideal. Uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná buscou confrontar, através da mensuração, a influência da temperatura do diesel no consumo de combustível específico, através de fluxômetros instalados no sistema de alimentação de combustível do trator, o qual possibilita a obtenção dos dados de consumo, além de termopares responsáveis por mesurar a temperatura. O trator teste utilizado para a determinação do consumo específico foi da marca New Holland, modelo T6050 série Plus, com 126cv de potência nominal, com motor turbo, de seis cilindros, injeção mecânica e transmissão Semi-PowerShift 16 x 16, 4 x 2 estando com a TDA acionada. O motor do trator trabalhou com combustível óleo diesel S10 a 1.970rpm, rotação do motor equivalen-
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instalados no motor do trator, multiplicado pela densidade calculada do biodiesel em função da temperatura coletada, sendo em média 0,827kg/L, na temperatura corrigida (32°C). Os dados coletados foram submetidos à análise de regressão linear, posteriormente calculados o erro de ajuste (kg/L) e o erro relativo (%). Medindo-se o consumo horário sob regime conhecido de carga, pode-se determinar o consumo específico através do consumo mássico. A partir dos dados obtidos, foi possível obter uma regressão do consumo mássico, que leva em consideração o consumo horário de combustível, a densidade e a temperatura do mesmo. Ao confrontar os diferentes consumos mássicos, tanto na temperatura padrão (20°C), quanto na temperatura corrigida (32°C), houve diferença significativa, o que provocou tal diferença foi a variação da temperatura, que, por consequência, alterou a densidade do diesel, portanto, de fato, a temperatura do diesel afeta o consumo mássico, o qual interfere diretamente no consumo específico, demonstrando a importância da temperatura do diesel sobre o consumo específico, que é uma variável importante a ser considerada, pois demonstra o quão eficientemente um motor está transformando .M combustível em trabalho. Lauro Strapasson Neto Gabriéle Santiago de Campos Leonardo Leonidas Kmiecik Daniel Savi Samir Paulo Jasper UFPR
Charles Echer
Lauro Strapasson Neto
A densidade do diesel foi determinada em laboratório
te à rotação da TDP (540rpm). Os pneus adotados foram radiais, com capacidade de 17,34kN de carga no eixo dianteiro e capacidade de 27,38kN de carga no eixo traseiro, ambos da marca Continental, com pressão de insuflagem de 10psi, proporcionando antecipação de 3,8%. Também foi estabelecido lastro hidráulico de 40% nos quatro pneus. Utilizou-se a marcha B6 para a condução, correspondente à velocidade de trabalho de 8km/h. A carga selecionada foi de 30kN na barra de tração, onde para o fornecimento da mesma, foi utilizado um trator de frenagem da marca New Holland, modelo T8, que foi tracionado pelo trator teste. O trator testado foi instrumentado com sensores que emitiam sinais para o sistema de aquisição de dados. Os dados foram armazenados diretamente em disco rígido com posterior tabulação e análise. A função da densidade do diesel S10 utilizado no ensaio foi obtida em laboratório, com densímetro e termômetro para petróleo. Com a função de densidade, foi possível calcular a densidade do diesel, de acordo com a temperatura do combustível em cada ensaio. O consumo sem correção foi calculado pela diferença de consumo entre os fluxômetros instalados no motor do trator (entrada e retorno), multiplicado pela densidade do diesel S10 de 0,853kg/L, na temperatura de 20ºC, recomendado na literatura da Petrobras (2017). O consumo com correção foi calculado pela diferença de consumo entre os fluxômetros
Estudos demonstram que a temperatura interfere no consumo específico